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www.centrodeestudospresbiteriano.blogspot.com CENTRO DE ESTUDOS PRESBITERIANO 2015 DA GRANDEZA DAS ESCRITURS Uma Exposição do Primeiro Capítulo da Confissão de Fé de Westminster Pr. João Ricardo Ferreira de França. WWW.CENTRODEESTUDOSPESBITERIANO.BLOGSPOT.COM

Da Grandeza Das Escrituras

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Este e-book completamente grátis é uma breve exposição do primeiro capítulo da Confissão de fé de Westminster - este material pode ser usado como uma introdução à Bibliologia ou mesmo como um recurso para aulas de Escolas Dominicais.

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    CENTRO DE ESTUDOS PRESBITERIANO

    2015

    DA GRANDEZA DAS

    ESCRITURS

    Uma Exposio do Primeiro Captulo da Confisso de F de Westminster

    Pr. Joo Ricardo Ferreira de Frana.

    W W W . C E N T R O D E E S T U D O S P E S B I T E R I A N O . B L O G S P O T . C O M

  • Prof. Rev. Joo Ricardo Ferreira de Frana

    2

    CENTRO DE ESTUDOS PRESBITERIANO

    ESTUDOS NA CONFISSO DE F DE WESTMINSTER

    Rev. Joo Ricardo Ferreira de Frana.

    A GRANDEZA DAS

    ESCRITURAS

    Teresina, 2013.

  • Estudos Na Confisso de F de Westminster Parte I: A Grandeza das Escrituras.

    3

    SUMRIO

    DEDICATRIA. ...................................................................................................................... 9

    APRESENTAO. ................................................................................................................ 10

    Captulo 1 ................................................................................................................................ 11

    A ORIGEM DA CONFISSO DE F DE WESTMINSTER ............................................ 11

    1 ANTECEDENTES HISTRICOS DA CONFISSO DE F DE WESTMINSTER ....... 11

    1.1 A Inglaterra Catlica: ................................................................................................... 11

    1.2 Os Puritanos: Os Pais da Confisso de F de Westminster. ........................................ 12

    2 A ASSEMBLEIA DE WESTMINSTER. .......................................................................... 13

    3 ORGANIZAO TEOLGICA DA CONFISSO DE F DE WESTMINSTER ......... 14

    Concluso: ................................................................................................................................ 16

    Captulo 2 ................................................................................................................................ 17

    TEOLOGIA DA REVELAO ........................................................................................... 17

    1 A REVELAO GERAL. ................................................................................................. 18

    1.1 O Que a Revelao Geral? ....................................................................................... 18

    1.1.1 Revelao Geral Imediata. ........................................................................................ 18

    1.1.2 Revelao Geral Mediata: ........................................................................................ 20

    1.2 A Revelao Geral E O Conhecimento Redentivo. .................................................... 21

    2 REVELAO ESPECIAL. ............................................................................................... 21

    2.1 A Natureza desta Revelao: ...................................................................................... 22

    2.1.1 Ela era Progressiva .................................................................................................. 22

    2.1.2 Ela era Orgnica: ...................................................................................................... 22

    2.2 A Finalidade da Revelao Especial: .......................................................................... 23

    2.2.1 Preservao da Verdade: .......................................................................................... 23

    2.2.2 Propagao da Verdade: ........................................................................................... 23

  • Prof. Rev. Joo Ricardo Ferreira de Frana

    4

    2.2.3 A Santidade da Igreja ............................................................................................... 23

    3 CARACTERSTICAS DA REVELAO. ....................................................................... 24

    3.1 - Uma Revelao Completa: Foi Servido Escrever Toda ........................................ 24

    3.2 - uma Revelao Suficiente: Isto Torna A Escritura Indispensvel, Tendo Cessado As Antigas Formas De Deus Se Comunicar. ...................................................................... 24

    Concluso: ................................................................................................................................ 24

    Captulo 3 ................................................................................................................................ 26

    A NATUREZA DAS ESCRITURAS. ................................................................................... 26

    1. A SACRALIDADE DA PALAVRA. .................................................................................. 26

    1.1 Significa que a palavra santa porque fruto da vontade de deus. ............................ 26

    1.2 Significa que a escritura assim adjetivada porque separada dos demais livros. .... 27

    2. A BBLIA COMO PALAVRA DE DEUS. ......................................................................... 27

    2.1 O Liberalismo Teolgico. ............................................................................................ 27

    2.2 O Barthianismo ou Neo-Ortodoxia.............................................................................. 28

    3. A UNIDADE DA PALAVRA DE DEUS. ........................................................................... 29

    4. A PALAVRA DE DEUS COMO NOSSA REGRA. ........................................................... 31

    4.1 Uma Regra de F. ........................................................................................................ 31

    4.2 Uma Regra de Conduta................................................................................................ 32

    Concluso: ................................................................................................................................ 32

    Captulo 4 ................................................................................................................................ 33

    O CNON DAS SAGRADAS ESCRITURAS. .................................................................... 33

    1. A DOUTRINA DA CANONICIDADE DAS ESCRITURAS. ........................................... 33

    1.1 A Estrutura Cannica do Antigo Testamento .............................................................. 34

    1.2 A Estrutura Cannica do Novo Testamento ................................................................ 36

    2. CRITRIOS PARA A CANONICIDADE. ......................................................................... 37

    2.1 Apostolicidade. ............................................................................................................ 37

  • Estudos Na Confisso de F de Westminster Parte I: A Grandeza das Escrituras.

    5

    2.2 Leitura Eclesistica. ..................................................................................................... 37

    2.3 A Harmonia Doutrinria .............................................................................................. 38

    2.4 A Inspirao ................................................................................................................. 38

    2.4.1 - Concepo de Inspirao Dinmica: ......................................................................... 39

    2.4.2 - Concepo de uma Iluminao: ................................................................................ 39

    2.4.3 A Concepo de Inspirao Plenria: ....................................................................... 39

    2.4.4 A Concepo da Inspirao Verbal: ......................................................................... 39

    3. A DOUTRINA DA CANONICIDADE E OS APCRIFOS .............................................. 40

    3.1 - Por no serem Inspirados possuem Autoridade sobre A Igreja. .................................. 40

    3.2 Devem ser empregados como Meros Livros Humanos. .............................................. 40

    Concluso: ................................................................................................................................ 41

    Captulo 5 ................................................................................................................................ 42

    A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS SAGRADAS I. ..................................................... 42

    4.1 uma Doutrina atestada por Cristo:............................................................................ 42

    4.2 uma Doutrina atestada Pelos Apstolos: .................................................................. 43

    4.3 A Negao da Autoridade das Escrituras: ................................................................... 44

    4.3.1 - O Dispensacionalismo: ............................................................................................. 44

    4.3.2 - A Neo-Ortodoxia e o Liberalismo Teolgico. ......................................................... 44

    4.3.3 - O Tradicionalismo .................................................................................................... 45

    Captulo 6 ................................................................................................................................ 48

    A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS SAGRADAS II. ................................................... 48

    1 O TESTEMUNHO DA IGREJA E A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS SAGRADAS. .................................................................................................................................................. 48

    1.1 O Testemunho da Igreja nos move e induz a aceitar a autoridade das Escrituras. ...... 48

    1.1.1 - Na Experincia Apostlica: ....................................................................................... 49

    1.1.2 - Na Suficincia da Palavra de Deus: .......................................................................... 49

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    6

    1.2 O Testemunho da Igreja nos leva a ter um alto conceito a respeito da autoridade das Escrituras. ............................................................................................................................. 49

    2 - AS CARACTERSTICAS INTERNAS APONTAM PARA A AUTORIDADE DIVINA DAS ESCRITURAS. ................................................................................................................ 50

    2.1 A Sublimidade de seu contedo: ................................................................................. 50

    2.2 A Harmonia e a perfeio das Escrituras apontam para a autoridade das mesmas. .... 50

    3 O TESTEMUNHO INTERNO DO ESPRITO SANTO E A AUTORIDADE DIVINA DAS ESCRITURAS SAGRADAS. ......................................................................................... 52

    Captulo 7 ................................................................................................................................ 54

    A SUFICINCIA DAS ESCRITURAS. ............................................................................... 54

    1 - O QUE O SOLA SCRIPTURA? ..................................................................................... 55

    2 - O SOLA SCRIPTURA O QUANTO AS ESCRITURAS SO SUFICIENTES? ......... 56

    3 - O SOLA SCRIPTURA E A DOUTRINA DA ILUMINAO DO ESPRITO SANTO. 58

    4 - O SOLA SCRIPTURA E AS QUESTES INDIFERENTES. ..................................... 58

    Captulo 8 ................................................................................................................................ 60

    A CLAREZA DAS ESCRITURAS ....................................................................................... 60

    1 NEM TUDO EST CLARO NAS ESCRITURAS. ........................................................... 60

    1.1. Devido natureza do contedo da Bblia. .................................................................. 61

    1.2. Por causa da corrupo do homem. ............................................................................ 61

    1.3. A prpria Bblia reconhece certa dificuldade no seu entendimento. ............................ 61

    2 A ESCRITURA: SUA CLAREZA PARA A SALVAO ............................................. 62

    2.1 Que a Prpria Escritura declara sua prpria clareza. ................................................... 62

    2.2 Que sendo uma revelao escrita destina-se nossa compreenso. ............................ 63

    2.3 Que a Escritura destinada a todos os homens, ou a todos os crentes. ....................... 63

    Captulo 9 ................................................................................................................................ 64

    A PRESERVAO DAS ESCRITURAS ............................................................................ 64

    INTRODUO ........................................................................................................................ 64

  • Estudos Na Confisso de F de Westminster Parte I: A Grandeza das Escrituras.

    7

    1 DEFININDO A DOUTRINA ............................................................................................. 65

    2 IMPLICAO DA DOUTRINA ....................................................................................... 66

    1. Envolve a providncia: .................................................................................................... 66

    2. Envolve a convico de que a Escritura um dom de Deus dado Igreja: .................... 66

    3 PROVA BBLICA DA DOUTRINA: ................................................................................ 66

    Captulo 10 .............................................................................................................................. 67

    A INTERPRETAO DAS ESCRITURAS. ...................................................................... 67

    1. DEFINIO DA DOUTRINA: ........................................................................................... 67

    2- A NECESSIDADE DA HERMENUTICA. ...................................................................... 68

    2.1 - As Duas Naturezas da Bblia: ...................................................................................... 69

    2.1.2 - A Bblia como Livro Humano. .................................................................................. 69

    2.1.2.1 - O Problema do contexto Histrico: ....................................................................... 69

    2.1.2.2 - O Problema da cultura: .......................................................................................... 70

    2.1.2.3 - O Problema da Lngua: ......................................................................................... 70

    2.1.3 - A Bblia como livro divino: ...................................................................................... 71

    3 A REGRA UREA DA INTERPRETAO BBLICA: SCRIPTURA, SCRIPTURAE INTERPRES. ............................................................................................................................ 71

    4. OS MTODOS DE INTERPRETAO E O SENTIDO AUTORAL ............................... 72

    4.1 Que devem ser rejeitados todos os mtodos de interpretao de multiplicidade de sentidos: ................................................................................................................................ 72

    4.1.1 Mtodo Alegrico de Interpretao: ......................................................................... 73

    4.1.2 Mtodo de Espiritualizao ..................................................................................... 73

    4.2 A Inteno do Autor afirmada na Confisso de F de Westminster ......................... 74

    CONCLUSO: ......................................................................................................................... 75

    Captulo 11 .............................................................................................................................. 76

    A SUPREMACIA DAS ESCRITURAS. .............................................................................. 76

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    8

    1 A BBLIA COMO JUIZ SUPREMO: ................................................................................ 77

    1.1. Porque ela estabelece o que se deve crer em todas as controvrsias religiosas: ........... 77

    1.2.1 As decises conciliares: ............................................................................................ 79

    1.2.2 As opinies particulares: .......................................................................................... 79

    2 A BBLIA E A SEGURANA DOUTRINRIA DA IGREJA. ....................................... 79

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS: .................................................................................... 81

  • Estudos Na Confisso de F de Westminster Parte I: A Grandeza das Escrituras.

    9

    DEDICATRIA.

    Dedico este trabalho minha esposa Gssica Arajo Soares Nascimento

    de Frana que me tem mostrado a importncia das Sagradas Escrituras para o

    nosso casamento.

  • Prof. Rev. Joo Ricardo Ferreira de Frana

    10

    APRESENTAO.

    O texto que o leitor lana os olhos o resultado de alguns anos de estudos

    e meditao sobre a temtica desenvolvida aqui. Falar sobre as Sagradas

    Escrituras em um tempo em que nos parece que a Igreja Evanglica Brasileira

    tem se permitido viver longe das pginas das Escrituras desafiador.

    Esta obra foi desenvolvida e aplicada em lugares diferentes. Ela comeou

    no ano de 2000 na Igreja Presbiteriana do Ibura em Recife PE. Onde

    mantnhamos uma classe de Estudos na Confisso de F de Westminster

    destinada aos que seriam batizados ou professar a f um discipulado sobre as

    doutrinas de nossa Igreja. Naquela ocasio as aulas eram tipo esboos com os

    tpicos seguidos da exposio de professor.

    No segundo momento esta obra tambm foi apresentada Congregao

    Presbiteriana de Prazeres em Jaboato dos Guararapes PE; antes filiada IPB

    (hoje Igreja Presbiteriana Conservadora do Brasil) sendo utilizada com um

    cunho apologtico. Posteriormente aplicamos estes estudos na Congrega

    Presbiteriana de So Raimundo Nonato no Piau. Mas, foi na Congregao

    Presbiteriana de Todos os Santos em Teresina que o trabalho assume a forma

    atual. Sendo aulas da Escola Dominical tendo como objetivo apresentar de

    forma sistmica o pensamento reformada a respeito das Escrituras Sagradas.

    O nosso desejo que Deus utilize este trabalho para a edificao da Igreja

    de Cristo. Ele pode ser usado nas Escolas Dominicais ou reunies doutrinais da

    Igreja, bem como para discipulados e estudos dirigidos, visando sempre a Glria

    de Deus em tudo.

    Rev. Joo Ricardo Ferreira de Frana

    Presidente do Centro de Estudos Presbiteriano.

  • Estudos Na Confisso de F de Westminster Parte I: A Grandeza das Escrituras.

    11

    Captulo 1

    A ORIGEM DA CONFISSO DE F DE WESTMINSTER

    Introduo:

    Falar sobre a confessionalidade em nossos dias tornou-se algo ultrapassado, algo de

    um tempo to distante que parece ser totalmente irrelevante. Muitos presbiterianos

    desconhecem sua identidade bblico-teolgica. Boa parte desta ignorncia se d pelo simples

    fator de no conhecer a histria da igreja. Isso abarca todos os crentes e de modo particular os

    presbiterianos. Como algum acertadamente disse:

    Todavia, ocorre que muitos presbiterianos ignoram a sua identidade, no sabem exatamente o que so, como indivduos e como igreja. No conhecendo suas origens histricas, teolgicas, denominacionais [...] muitas vezes quando questionados por outras pessoas quanto as suas convices e prticas, sentem-se frustrados com sua incapacidade de expor de modo coerente e convincente as suas posies1

    Isso percebido na falta de conhecimento que muitas de nossas igrejas tem da

    Confisso de F de Westminster e dos catecismos maior e breve. Este breve estudo visa

    apresentar de modo geral, tambm lacnico, a histria da nossa Confisso de F.

    1 ANTECEDENTES HISTRICOS DA CONFISSO DE F DE

    WESTMINSTER.

    1.1 A Inglaterra Catlica:

    A Inglaterra havia sido catlica Romana at o ano 1534. Mas, o rei Henrique VIII

    rompeu com essa tradio, e assim criou a Igreja Nacional da Inglaterra conhecida como

    Igreja Anglicana. Desta feita o rei passou a ser o lder supremo da Igreja, embora houvesse

    esse rompimento esta igreja nacional ficou com a teologia catlica romana como expresso de

    sua f.

    1 NASCIMENTO, Ado Carlos. & MATOS, Alderir de Sousa. O que todo Presbiteriano Inteligente deve Saber,

    So Paulo: Socep, 2007, p.9

  • Prof. Rev. Joo Ricardo Ferreira de Frana

    12

    No ano de 1547 morre HenriqueVIII, e sobe ao trono o seu filho Eduardo VI que s

    tinha nove anos2. Ele sob a influncia de seu tio o duque de Somerset que era simpatizante

    do protestantismo. Fez com que Eduardo implantasse reformas significativas na Igreja da

    Inglaterra, entre muitas citamos algumas: comeou-se a administrar a Ceia de ambas as

    espcies [ o vinho dado aos leigos, ao povo], permitiu-se o matrimnio do clero, e foram

    retiradas as imagens das igrejas.3No avano da teologia da reforma protestante na Inglaterra

    foi a elaborao, sob a liderana de Thomas Cranmer, dois importantes documentos, ambos

    influenciados pela teologia calvinista: Os Trinta e Nove Artigos e o Livro de Orao

    Comum. Vrias outras reformas foram realizadas, tendo-se a impresso de que a f protestante

    iria triunfar.Todavia, a morte prematura do jovem rei, em 1553, interrompeu bruscamente este

    processo.4

    Aps a morte de Eduardo VI sobe ao poder a sua meia-irm chamada Maria Tudor [

    conhecida como Maria, a sanguinria] catlica romana de devoo desejou levar a Igreja da

    Inglaterra de volta para Igreja Catlica Romana. Muitos lderes religiosos foram mortos,

    incluindo o Cranmer, na fogueira por serem protestantes. E muitos outros foram exilados ou

    expulsos da Inglaterra, uma boa porte destes foram para a cidade de Genebra na Suia, onde

    o reformador Joo Calvino tinha grande influncia e ensinava a Palavra de Deus. E muitos

    destes ingleses absorveram os ensinos da f reformada, depois, de um longo tempo, aps a

    morte de Maria Tudor, sobe ao trono ingls Elizabete para um longo reinado de 45 anos ela

    tinha inclinaes protestantes. Logo aps ela concedeu permisso aos protestantes exilados de

    retornar para a Inglaterra.

    1.2 Os Puritanos: Os Pais da Confisso de F de Westminster.

    Neste processo todo surgiu um movimento que era apegado teologia Calvinista. Eles

    queriam uma igreja pura, um estado puro e um culto puro. Da eles foram pejorativamente

    2 CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Atravs dos Sculos. Traduo: Israel Belo de Azevedo & Valdemar Kroker. So

    Paulo: Vida Nova, 2008, p.299.

    3 GONZLEZ, Justo L. Histria Ilustrada do Cristianismo. Traduo: Itamir Neves de Souza. So Paulo: Vida Nova,

    2011, volume 2, p. 75.

    4 NASCIMENTO, Ado Carlos. & MATOS, Alderir de Sousa. O que todo Presbiteriano Inteligente deve Saber,

    So Paulo: Socep, 2007, p 67-68.

  • Estudos Na Confisso de F de Westminster Parte I: A Grandeza das Escrituras.

    13

    chamados de puritanos. Um escritor lembra-nos que o Puritano no podia mais ficar

    satisfeito com uma igreja [ a Igreja da Inglaterra] parcialmente reformada, mas desejava uma

    Igreja plenamente Reformada5

    O que o puritanismo? O puritanismo foi parte do movimento da Reforma

    Protestante na Inglaterra [...] comeou especificamente como um movimento especificamente

    eclesistico [...] comeou com uma reforma litrgica, mas desenvolveu-se numa atitude

    distinta em relao vida.6 Lloyd-Jones nos diz o puritanismo verdadeiro, eu sustento, se

    acha ultima e finalmente no presbiterianismo7.

    2 A ASSEMBLEIA DE WESTMINSTER.

    Aps a morte de Elisabete, Tiago VI da Esccia, filho de Maria Stuart, educado como

    presbiteriano na Esccia, tornara-se Tiago I da Inglaterra todavia, queria manter um sistema

    episcopal eclesistico, e assim, decepcionando os puritanos. Tiago foi sucedido por seu filho

    Carlos I.

    Carlos I era um catlico romano decidido. Ele desejava tornar a Igreja da Esccia e da

    Inglaterra a se tornar uma igreja governada pelos bispos [ e assim destruir a noo

    presbiteriana da Esccia]. Carlos I se tornou alvo dos escoceses que se uniram aos Ingleses e

    derrotaram o rei.

    O Parlamento Ingls decidiu convocar uma Assembleia para tratar das questes

    pertinentes ao culto, teologia, e ao governo da Igreja da Inglaterra. Foram convocados 121

    telogos. As pessoas destinadas a constituir essa Assembleia eram citadas na convocao, e

    compreendiam a flor da Igreja naquela poca.8

    5 LLOYD-JONES, David Martyn. O Puritanismo e suas origens. So Paulo: PES, p.30

    6 RYKEN, Leland. Santos no Mundo Os Puritanos como Realmente Eram. So Paulo: FIEL, 1992, p.22.

    7 LLOYD-JONES, David Martyn. O Puritanismo e suas origens. So Paulo: PES, p.33

    8 HODGE, Alexander A. Confisso de F de Westminster Comentada. Traduo: Valter Graciano Martins. So

    Paulo: Os Puritanos, 2010, p.41.

  • Prof. Rev. Joo Ricardo Ferreira de Frana

    14

    bom lembrar que inicialmente a assembleia recebeu a incumbncia de revisar os

    Trinta e Nove Artigos da Igreja da Inglaterra a fim de remover quaisquer vestgios de

    arminianismo ou catolicismo romano.9

    A Assembleia de Westminster iniciou seus trabalhos na majestosa abadia com esse

    nome, em Londres, no dia 1 de julho de 1643, e continuou em atividade durante cinco anos e

    meio.10

    Os documentos produzidos nesta distinta Assembleia foram os seguintes: 1. A

    Confisso de F; 2. O Catecismo Maior & Breve 3. O Diretrio de Culto; 4. Forma de

    Governo Eclesistico e ordenao; 5. O Saltrio. Esses documentos molduram para ns o

    pensamento, a teologia e a piedade presbiteriana.

    3 ORGANIZAO TEOLGICA DA CONFISSO DE F DE

    WESTMINSTER.

    A forma como a Confisso de F de Westminster foi escrita e organizada, mostra a

    mente sistematizadora dos puritanos para com as doutrinas bblicas da palavra de Deus.

    Seguindo um todo harmnico eles colocaram de forma ordeira e sistemtica toda a doutrina

    bblica na confisso. Esse sistema, sumarizado em captulos, pode se colocado de modo

    prtico como segue abaixo:11

    Como posso saber com certeza qual a verdade suprema?

    Das Sagradas Escrituras

    Existe uma Fonte suprema da verdade?

    De Deus e da Santssima Trindade

    H Algum no Controle do Mundo?

    Dos Decretos Eternos de Deus

    Da Criao 9 LUCAS, Sean Michael. O Cristo Presbiteriano Convices, Prticas e Histrias. Traduo: Elizabeth Gomes.

    So Paulo: Cultura Crist, 2011, p. 126.

    10 NASCIMENTO, Ado Carlos. & MATOS, Alderir de Sousa. O que todo Presbiteriano Inteligente deve Saber,

    So Paulo: Socep, 2007, p 67-68.

    11 KENNEDY, D. James. Como Deus Verdades Transformadoras sobre um Deus Imutvel. Traduo: Josu

    Ribeiro. So Paulo: Cultura Crist, 2000,23-24.

  • Estudos Na Confisso de F de Westminster Parte I: A Grandeza das Escrituras.

    15

    Da Providncia divina

    Se existe um Deus, ento por que...?

    Da queda do homem, do pecado e do seu castigo

    Existe alguma esperana?

    Do pacto de Deus com o homem

    De Cristo, o Mediador

    Do livre-arbtrio

    Da Vocao Eficaz

    Da Justificao

    Da Adoo

    Da Santificao

    Da f salvadora

    Do arrependimento para a vida

    Das boas Obras

    Da perseverana dos Santos

    Da certeza da graa e da salvao

    Ento como devo viver?

    Da lei de Deus

    Da liberdade crist e da liberdade de conscincia

    Do culto religioso e do domingo

    Dos juramentos e votos legais

    Qual deve se a minha relao com os outros?

    Do magistrado civil

    Do matrimnio e do divrcio

    Da Igreja

    Da comunho dos santos

    Como Deus lidera seu povo hoje?

    Dos sacramentos

    Do batismo

    Da Ceia do Senhor

    Das censuras eclesisticas

  • Prof. Rev. Joo Ricardo Ferreira de Frana

    16

    Dos snodos e conclios

    Para onde estou indo?

    Do estado do homem depois da morte e da ressurreio dos mortos

    Do juzo final.

    Concluso:

    Este breve histrico uma introduo primria identidade presbiteriana ligada a

    confessionalidade da nossa Igreja. Esta srie de estudos tem como objetivo traze lume estas

    verdades sistematizadas pela Confisso de F de Westminster, mostrando assim, os laos de

    unidade doutrinria que temos com o presbiterianismo mundial.

  • Estudos Na Confisso de F de Westminster Parte I: A Grandeza das Escrituras.

    17

    Captulo 2

    TEOLOGIA DA REVELAO

    SEO I

    I. Ainda que a luz da natureza e as obras da criao e da providncia de tal modo

    manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusveis,

    contudo no so suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade

    necessrio para a salvao; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes

    modos, revelar-se e declarar sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor

    preservao e propagao da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da

    Igreja contra a corrupo da carne e malcia de Satans e do mundo, foi igualmente

    servido faz-la escrever toda. Isto torna indispensvel a Escritura Sagrada, tendo cessado

    aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo.

    Ref. - Sal. 19: 1-4; Rom. 1: 32, e 2: 1, e 1: 19-20, e 2: 14-15; I Cor. 1:21, e 2:13-14; Heb. 1:1-

    2; Luc. 1:3-4; Rom. 15:4; Mat. 4:4, 7, 10; Isa. 8: 20; I Tim. 3: I5; II Pedro 1: 19.

    Estamos diante de uma grande declarao de f. Chama-nos a ateno o fato de que a

    Confisso de F de Westminster no comece sua declarao doutrina com o estudo do ser de

    Deus. Por qu? Qual a razo dos telogos puritanos no iniciarem sua confessionalidade com

    o ser de Deus? As teologias sistemticas de nossos dias comeam com esta noo em primeiro

    plano, mas a nossa Confisso de F no segue este caminho.

    A resposta para esta posio est no fato de que ns no podemos conhecer a Deus

    sem que primeiro ele se revele a ns. de fundamental importncia reconhecermos que o

    estudo da Teologia no em primeiro plano o estudo do ser de Deus, mas o estudo de sua

    revelao, ou como coloca-nos Gordon Clarck: A Escritura fala-nos de Deus; por isso,

    deveramos estud-la 12 Esta a razo principal pela qual devemos sempre estudar a Bblia.

    12

    CLARCK, Gordon. H. Em Defesa da Teologia. Tradutor: Marcos Jos Soares de Vasconcelos. Braslia: Editora Monergismo, 2010, p.21.

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    18

    A Bblia em sua totalidade fala-nos de um ser Soberano governador de todas as coisas

    isso pressuposto por todos aqueles que acr18editam ser a Bblia uma fonte confivel da

    verdade. O que podemos aprender desta primeira seo da Confisso de F de Westminster?

    1 A REVELAO GERAL.

    A primeira questo a ser entendida deve ser o conceito fundamental do que venha a ser

    revelao. O que revelao? James I. Packer nos apresenta o seguinte conceito mostrando

    que o termo procede do latim revelare e significa tirar o vu ou descobrir 13 Este o

    conceito mais bsico que podemos ter a respeito deste vocbulo.

    1.1 O Que a Revelao Geral?

    Podemos apresentar a questo da revelao sob a seguinte definio como aquela

    forma de Deus se revelar por meio das coisas que foram criadas a revelao geral tem dois

    aspectos: (1) Revelao Geral Imediata (2) Revelao Geral Mediada.

    1.1.1 Revelao Geral Imediata.

    A Confisso de F de Westminster comea a sua declara em termos interessantes e

    importantes para a vida da Igreja: Ainda que a luz da natureza [ no homem]14 Este aspecto

    da revelao de Deus diz respeito aquela revelao que Deus faz de si mesmo ao homem sem

    precisar de meios para faz-lo, por exemplo, quando a Lei de Deus foi implantada no corao

    de todos os homens, conforme aprendemos na Escritura conforme vemos em Romanos 2.14-

    16:

    Quando, pois, os gentios, que no tm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, no tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada no seu corao, testemunhando-lhes tambm a conscincia e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se, no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu evangelho.

    13

    PACKER, James I. Vocbulos de Deus. So Paulo: FIEL, 2002, p.15

    14 Devemos entender que a CFW [Confisso de F de Westminster] tem o entendimento que a frase luz da

    natureza diz respeito a semente da religio implantada no ser humano

  • Estudos Na Confisso de F de Westminster Parte I: A Grandeza das Escrituras.

    19

    Observe a expresso "norma da lei gravada no corao; 15 a palavra norma no grego =

    ergon no grego que significa trabalho de onde vem a nossa palavra energia o trabalho da lei.

    A segunda palavra que aparece no texto de romanos "gravada" a palavra grega aqui

    grapton = esculpir, registrar, entalhar a obra da lei foi esculpida ou trabalhada em nossos

    coraes; a isto ns chamamos de Revelao Geral Imediata. O quadro abaixo nos ajuda a

    visualizar este ensino16:

    Calvino chama isso de semente da religio ou senso da divindade:

    Ns, inquestionavelmente, afirmamos que os homens tm em si mesmos certo senso da divindade; e isto, por um instinto natural. ...Deus mesmo dotou todos os homens com certo conhecimento de sua divindade, cuja memria ele constantemente renova

    e ocasionalmente amplia.17

    15

    to. e;rgon tou/ no,mou grapto.n evn tai/j kardi,aij auvtw/n to ergon tou nomou grapton en tais kardiais autn Literalmente: a obra da lei esculpida nos coraes deles.

    16 SPROUL, R.C. Verdades Essenciais da F Crist Caderno 1. So Paulo: Cultura Crist, 1999, p.10

    17 CALVINO, Joo. Institutas da Religio Crist. So Paulo: Cultura Crist, 2009 Livro II, I,43

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    20

    uma revelao direta de Deus sem meios ao homem, por isso, se chama de

    revelao geral imediata. Isso implica no fato de que ningum nasce ateu neste mundo criado,

    pois, todos os homens nascem com o senso de Deus implantado dentro deles; e mais, que isso

    o homem um ser moral porque a lei foi colocada em seu corao.

    1.1.2 Revelao Geral Mediata:

    Ainda lemos na Confisso de F de Westminster o seguinte: [...]e as obras da

    criao e da providncia de tal modo manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de

    Deus[...]. Podemos definir este aspecto da revelao geral consiste no fato de Deus d-se a

    conhecer por meio das coisas que foram criadas. Paulo Anglada nos lembra que o universo

    fsico uma pregao 18 ao declarar isso tem em mente textos das Escrituras como Salmo

    19.1-4:

    Os cus proclamam a glria de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mos. Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. No h linguagem, nem h palavras, e deles no se ouve nenhum som; no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, at aos confins do mundo. A, ps uma tenda para o sol.

    Aqui vislumbramos a noo de que a revelao de Deus para ser comunicada necessita

    de meios. O texto que temos diante de ns nos apresenta essa verdade.

    O que faz os cus? proclamam a glria de Deus, o verbo proclamar no hebraico

    mesaperim ~yriPe.s;)me. este verbo tem o sentido de narrar, contar com exatido, revelar, pregar, ser selecionado e destinado para contar algo. A criao o canal no

    qual Deus se apresenta diante dos homens como sendo o criador de tudo o que existe. Neste

    sentido podemos dizer, sem sombra de dvida, que a criao puramente revelacional. Ela

    no est vinculada a uma crena peculiar do judasmo sobre a origem de todas as coisas.

    Antes de tudo a prpria revelao de Deus.

    Paulo vai ecoar esta mesma tnica sobre a Revelao geral de Deus na criao

    conforme vemos em Romanos 1.18-20:

    A ira de Deus se revela do cu contra toda impiedade e perverso dos homens que detm a verdade pela injustia; porquanto o que de Deus se pode conhecer

    18

    ANGLADA, Paulo R. B. Sola Scriptura A doutrina Reformada das Escrituras. So Paulo: Os Puritanos, 1998, p.26

  • Estudos Na Confisso de F de Westminster Parte I: A Grandeza das Escrituras.

    21

    manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisveis de Deus, assim o seu eterno poder, como tambm a sua prpria divindade, claramente se reconhecem, desde o princpio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens so, por isso, indesculpveis;

    Tudo o que homem pode conhecer sobre Deus como criador de tudo o que existe est

    ligado criao. Isso bem ilustrado no texto que acabamos de citar. Paulo reconhece que a

    criao revelacional, ela nos apresenta Deus.

    Os atributos de Deus so manifestados neste aspecto da Revelao Geral. A bondade

    de Deus; a sabedoria e o poder. Isto implica que toda a criao que vemos mostra-nos Deus

    nestas trs facetas: ele bom poque decidiu criar-nos, ele sbio poque sabe porque nos

    trouxe existncia e poderoso porque do nada criou todo o universo que conhecemos.

    1.2 A Revelao Geral E O Conhecimento Redentivo.

    Na revelao geral o homem no tem um conhecimento redentivo. Ou seja, ele no

    salvo porque contempla o v as obras da criao e da providncia; a Confisso de F

    enftica neste aspecto, ao declarar que os homens ficam inescusveis, contudo no so

    suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessrio para a

    salvao;.

    A revelao geral torna o homem mais cupvel diante de Deus; eles ficam

    indesculpveis diante de Yahweh conforme lemos em Romanos 1.20: Porque os atributos

    invisveis de Deus, assim o seu eterno poder, como tambm a sua prpria divindade,

    claramente se reconhecem, desde o princpio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas

    que foram criadas. Tais homens so, por isso, indesculpveis;. Ainda que o homem tenha

    esse conhecimento de Deus que fica indesculpvel, pois, este conhecimento no pode

    promover o conhecimento de Deus como redentor, apenas mostra-nos Yahweh como o

    Criador de tudo o que h.

    2 REVELAO ESPECIAL.

    Isto posto somos agora introduzidos ao segundo aspecto da revelao de Deus. Deus ele

    se revela redentoramente ao homem de uma forma especial; esta forma chamada pela

    teologia de Revelao Especial. Poderamos dizer que a Revelao Especial de Deus uma

    forma de revelao mediada, pois, ela significa que Deus revelou-se nas pginas das

  • Prof. Rev. Joo Ricardo Ferreira de Frana

    22

    Escrituras. Ou seja, toda a Bblia a revelao de Deus. Na Bblia Deus se revela como

    criador e redentor do homem.

    A Confisso de F nos apresenta uma definio mpar deste aspecto da Revelao de Deus:

    [...]por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservao e propagao da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupo da carne e malcia de Satans e do mundo, foi igualmente servido faz-la escrever toda. [...]

    Aqui so importantes aspectos que precisam ser estudados com mais parcimnia. Esta

    declarao dos telogos de Westminster. Pois, nesta declarao temos conceitos importantes

    para compreendermos a Revelao de Deus nas Escrituras.

    2.1 A Natureza desta Revelao:

    Aqui temos a caracterizao desta revelao de Deus dada ao homem, isto pode nos

    ajudar a entender a supremacia da Palavra de Deus para o homem.

    2.1.1 Ela era Progressiva

    A Confisso reconhece o conceito de progressividade da revelao ao dizer: por isso

    foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se aqui ns temos o conceito de

    progressividade diversos tempos e diferentes modos, revelar-se, ou seja, Deus revelou sua

    palavra em diferentes locais. O autor da carta aos hebreus nos lembra esta grande verdade:

    Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas,

    nestes ltimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo

    qual tambm fez o universo.(Hebreus 1.1-2)

    2.1.2 Ela era Orgnica:

    A revelao especial orgnica ela a mesma mensagem tem o mesmo contedo

    desde o seu inicio; o conceito de orgnica pode ser exemplificado do seguinte modo

    imaginemos que temos um caroo de manga que plantamos naquela semente temos a

    mangueira de forma potencial, quando ele germina e cresce, assim, temos a mangueira que o

    caroo de manga plantado.

  • Estudos Na Confisso de F de Westminster Parte I: A Grandeza das Escrituras.

    23

    2.2 A Finalidade da Revelao Especial:

    Aprendemos pela Confisso de F de Westminster que a Revelao Especial tem

    objetivos especficos na vida do povo de Deus, eis o que diz a nossa declarao de f:

    [...] e depois, para melhor preservao e propagao da verdade, para o mais seguro

    estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupo da carne e malcia de Satans e do

    mundo, [...]

    2.2.1 Preservao da Verdade:

    Deus em sua santa e sbia sabedoria decidiu que a sua revelao tinha que ser

    preservada; a verdade preservada por Deus, por meio da revelao especial a doutrina da

    preservao traz paz ao corao da Igreja em saber que a mensagem redentora de Deus no se

    perdeu no tempo. A Escritura nos mostra isso de forma bem clara: Para que a tua confiana

    esteja no SENHOR, quero dar-te hoje a instruo, a ti mesmo. Porventura, no te escrevi

    excelentes coisas acerca de conselhos e conhecimentos, para mostrar-te a certeza das

    palavras da verdade, a fim de que possas responder claramente aos que te

    enviarem?(Provrbios 22.19-21)

    Ns temos a certeza de que as palavras que lemos na Bblia verdade de Deus porque

    ele assim o quis.

    2.2.2 Propagao da Verdade:

    A verdade no deveria apenas ser preservada, mas tambm ser propagada, anunciada,

    dita e proclamada. Deus preservou as suas palavras para que a partilhemos com os outros,

    uma vez que ns precisamos da verdade para nos orientar, nos guiar na tomada de decises de

    igual modo ela deve ser propagada aos homens. Foi o que Lucas fez: igualmente a mim me

    pareceu bem, depois de acurada investigao de tudo desde sua origem, dar-te por escrito,

    excelentssimo Tefilo, uma exposio em ordem, para que tenhas plena certeza das verdades

    em que foste instrudo. (Lucas 1.3-4)

    2.2.3 A Santidade da Igreja:

    A Escritura como revelao de Deus dada para o mais seguro estabelecimento e

    conforto da Igreja contra a corrupo da carne e malcia de Satans e do mundo

  • Prof. Rev. Joo Ricardo Ferreira de Frana

    24

    Ou seja, a igreja no enganada quando tem a Escritura como centro de sua vida, e se

    h hoje enganos na Igreja porque se est negligenciado a Escritura. Isto porque a Igreja tem

    trs grandes inimigos: a corrupo da carne, a malcia do acusador e acusao do mundo. Por

    isso, com a Escritura a Igreja santificada. Sem ela os homens no podem ser consolados e

    santificados: Rom. 15:4; Mat. 4:4, 7, 10; Isa. 8: 20.

    3 CARACTERSTICAS DA REVELAO.

    A nossa Confisso de F, com base na Palavra de Deus, apresenta-nos duas

    caractersticas importantes a respeito da revelao especial, quando afirma: [Deus] foi

    igualmente servido faz-la escrever toda. Isto torna indispensvel a Escritura Sagrada,

    tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo.

    3.1 - Uma Revelao Completa: Foi Servido Escrever Toda

    Aqui ns aprendemos que Escritura nada a falta est completa para aquilo que ela se

    destina revelar ao homem. O apstolo Paulo j d mostra desta verdade em Romanos 15.4:

    Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela

    pacincia e pela consolao das Escrituras, tenhamos esperana.

    3.2 - uma Revelao Suficiente: Isto Torna A Escritura Indispensvel, Tendo

    Cessado As Antigas Formas De Deus Se Comunicar.

    O registro da verdade gera a infalibilidade e a suficincia da Palavra de Deus. Os

    telogos chamam esta verdade de Sola Scriptura Somente as Escrituras, indicando assim,

    que aquelas antigas formas de Deus se comunicar, como sonhos, profecias, vises e lnguas j

    cessaram a muito tempo [discutiremos isso com mais propriedade em outro estudo]. A palavra

    de Deus nos suficiente conforme lemos na Bblia Sagrada em 2 Timteo 3.15-17:

    e que, desde a infncia, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sbio para a salvao pela f em Cristo Jesus. Toda a Escritura inspirada por Deus e til para o ensino, para a repreenso, para a correo, para a educao na justia, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.

    Concluso:

    Temos visto que o estudo da Revelao de Deus nos ajuda a compreender mais sobre ele e a

    sua palavra que ns foi manifestada; as implicaes disso so importantes e severas para ns.

  • Estudos Na Confisso de F de Westminster Parte I: A Grandeza das Escrituras.

    25

    Precisamos estudar a Palavra de Deus para que assim possamos saber como ador-lo como

    convm e am-lo com todo o nosso entendimento.

  • Prof. Rev. Joo Ricardo Ferreira de Frana

    26

    Captulo 3

    A NATUREZA DAS ESCRITURAS.

    SEO II Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se

    agora todos os livros do Velho e do Novo Testamento, que so os seguintes, todos dados por

    inspirao de Deus para serem a regra de f e de prtica:

    O Velho Testamento: Gnesis, xodo, Levtico, Nmeros, Deuteronmio, Josu, Juzes,

    Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crnicas, Esdras, Neemias, Ester, J, Salmos, Provr-

    bios, Eclesiastes, Cantares; Isaas, Jeremias, Lamentaes, Ezequiel, Daniel, Osias, Joel,

    Ams, Obadias, Jonas, Miquias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e

    Malaquias.

    O Novo Testamento: Mateus, Marcos, Lucas, Joo, Atos dos Apstolos, Romanos, 1 e 2

    Corntios, Glatas, Efsios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timteo,

    Tito, Filemon, Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3 Joo, Judas e Apocalipse.

    Ref. Ef. 2:20; Apoc. 22:18-19: II Tim. 3:16; Mat. 11:27.

    Vivemos em um tempo no qual a natureza da Bblia Sagrada no mais levada em

    considerao. Neste segundo estudos estaremos nos concentrando na Natureza das Escrituras;

    pois, somente assim poderemos perceber e viver a grandeza da Palavra de Deus. O que ns

    podemos aprender desta segunda seo da Confisso de F de Westminster? Vejamos:

    1. A SACRALIDADE DA PALAVRA.

    A primeira considerao a ser feita a questo da sacralidade da Palavra de Deus. Os

    telogos puritanos pensaram muito neste tema a ponto de iniciarem esta seo com a seguinte

    declarao: Sob o nome de Escritura Sagrada O que significa esta declarao?

    1.1 Significa que a palavra santa porque fruto da vontade de deus.

    A santidade da Palavra de Deus notada e percebida porque a mesma fruto da

    vontade de um ser que sumamente santo esta vontade perfeita nos conclama a uma vida de

  • Estudos Na Confisso de F de Westminster Parte I: A Grandeza das Escrituras.

    27

    obedincia isto tem implicaes significativas,pois, requer de ns que reconheamos esta

    vontade boa e perfeita: E no vos conformeis com este sculo, mas transformai-vos pela

    renovao da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradvel e perfeita

    vontade de Deus.( Romano 12:2 )

    1.2 Significa que a escritura assim adjetivada porque separada dos demais livros.

    As religies pelo mundo a fora possuem seus livros. Todavia, apenas a Bblia capaz

    de libertar o homem, de torn-lo sbio para a salvao. O apstolo nos lembra: que, desde

    a infncia, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sbio para a salvao pela f em

    Cristo Jesus.( 2 Timteo 3.15).

    Chama-nos ateno aqui neste texto o termo:sagradas letras -iera. gra,mmata- hyer

    gramata. O termo usado para sagrada de uma raiz que apenas o sacerdote dignificando

    assim a natureza da Bblia Sagrada. Ento, a Bblia continua sendo a Palavra de Deus.

    2. A BBLIA COMO PALAVRA DE DEUS.

    Em nossos dias existe uma tentativa de fazer uma distino entre a Palavra de Deus e

    as Escrituras, ou melhor, entre a Bblia e a Palavra de Deus; e muitos, pensam que tal

    distino algo novo; todavia, to antigo quanto qualquer outro ensinamento. Nesta seo

    que estamos analisando temos uma resposta sobre a questo da Bblia como palavra de Deus.

    Os autores da Confisso de F declaram: sob o nome de Sagrada Escritura, ou

    Palavra de Deus escrita. Aqui claramente se condenam diversos ensinos que surgiram na

    histria da Igreja e que continuam atuando na mente de muitas pessoas na atualidade, eis os

    ensinos que so rejeitados:

    2.1 O Liberalismo Teolgico.

    No sculo XVIII e XIX surgiu um movimento conhecido na histria como

    Liberalismo Teolgico que em hiptese alguma considerava a Bblia como Palavra

    autoritativa de Deus. Eles ensinavam que a Escritura era cheia de mitos. Podemos definir o

    Liberalismo Teolgico como o esforo por interpretar, reformular e explicar a f crist dentro

  • Prof. Rev. Joo Ricardo Ferreira de Frana

    28

    de uma perspectiva iluminista.19 Ou seja, tudo aquilo que a razo no pudesse explicar

    entrava na categoria de mito.

    O Liberalismo aflora em 1920 e encontra um opositor chamado John Gresham

    Machen, pastor presbiteriano, que ecoa sua trombeta declarando ser o Liberalismo Teolgico

    um inimigo da f crist e sendo outra religio.20 Um dos grandes expoentes do pensamento

    liberal foi o Rodolph Bultmann que ensinava a Bblia na Universidade propondo que a mesma

    estivesse cheia de mitos, sendo assim, necessrio tirar os mitos fundantes da Palavra de

    Deus e assim, nasce o processo hermenutico chamado de desmitologizao das

    Escrituras.

    Para o Liberal os milagres, as curas e a ressurreio de Cristo no foram reais. Um

    exemplo clssico disso a multiplicao dos pes e peixes realizada por Jesus, onde uma

    criana traz estes elementos. Bultmann ensina que aquilo no aconteceu milagrosamente, mas

    que as pessoas viram a atitude do menino e decidiram partilhar tudo o que tinham com o

    prximo este o ensino moral da passagem segundo os liberais.

    2.2 O Barthianismo ou Neo-Ortodoxia.

    Neste conflito entre os liberais e os conservadores surgiu um homem chamado Karl

    Barth que desenvolveu um mtodo para responder as criticas liberais sobre as Escrituras. O

    mtodo Barthiano ficou conhecido como dialtica ou neo-ortodoxia. Para Barth a revelao

    de Deus se dava em trs esferas: na criao, no querygma [pregao] da igreja e na Escritura

    segundo ele Deus fala-nos por meio de uma Bblia cheia de erros e contradies.

    A fragmentao da revelao pela neo-ortodoxia gerou muitos problemas, porque na

    concepo barthiana havia parte nas Escrituras que eram palavra de Deus e outras no;

    todavia, o ponto culminante desta concepo de Barth era que para ele a Bblia se tornava a

    Palavra de Deus na pregao quando era sentida no corao do ouvinte, em outras palavras o

    mtodo de Barth era empirista [o conhecimento por meio da experincia] a medida

    19

    COSTA, Herminstem Maia Pereira da. Razes da Teologia Contempornea. So Paulo: Editora Cultura Crist, 2004, p.287

    20 Para um estudo profundo deste assunto recomenda-se a leitura de: MACHEN, J. Gresham. Cristianismo e

    Liberalismo. Traduo: Denise Pereira Meister. So Paulo: Editora os Puritanos, 2011.

  • Estudos Na Confisso de F de Westminster Parte I: A Grandeza das Escrituras.

    29

    avaliadora se a Bblia era Palavra de Deus estava na experincia do individuo que a recebesse

    como tal.

    Todos estes dois ensinos no so bblicos, pois, sabemos que a Bblia a Palavra de

    Deus escrita. Ela no se torna e nem se transforma quando a lemos ou a sentimos no corao.

    Ela aberta Palavra de Deus e fechada continua sendo a mesma verdade divina. Nenhuma

    experincia pode aprovar ou desaprovar a Palavra de Deus. Foi exatamente isso que o Senhor

    Jesus nos ensinou em Lucas 16.29-31:

    Respondeu Abrao: Eles tm Moiss e os Profetas; ouam-nos. Mas ele insistiu: No, pai Abrao; se algum dentre os mortos for ter com eles, arrepender-se-o. Abrao, porm, lhe respondeu: Se no ouvem a Moiss e aos Profetas, tampouco se deixaro persuadir, ainda que ressuscite algum dentre os mortos.

    Esta passagem importante para ns. Pois, aqui temos uma histria de dois homens

    um rico e um personagem chamado Lzaro, ambos morrem um vai para o cu e outro para o

    inferno; todavia, o que est no inferno [o rico] pede para que o Pai Abrao enviasse Lzaro

    de volta para mostrar aos seus irmos que se eles morressem iriam para um lugar de

    tormentos; mas, tal pedido lhe negado. E por qu? O texto nos informa porque se eles no

    escutam a Lei de Deus [Moiss e os Profetas] no importa os milagres que se faa, no

    importa a experincia que tenham; a simples recusa em acreditar no que est escrito na Bblia

    declara-os rus do juzo de Deus.

    3. A UNIDADE DA PALAVRA DE DEUS.

    O terceiro aspecto a ser considerado nesta declarao da Confisso de F diz respeito a

    unidade das Escrituras; pois, nos nossos dias ouvimos pessoas declararem que vivem no

    tempo da graa [ ou do Novo Testamento ] e que o tempo da Lei [ Antigo Testamento ]

    passou.

    A Confisso de F de Westminster nos ensina de forma clara e inquestionvel a

    unidade das Sagradas Escrituras sob a seguinte declarao: Sob o nome de Escritura

    Sagrada [...] incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo Testamento. Aqui temos

    uma resposta ao Dispensacionalismo que tem ensinado uma ruptura entre o Antigo e Novo

    Testamento. E que nada do Antigo Testamento se relaciona com o cristo do Novo

    Testamento. A proposta enunciada por este princpio que Deus tem dois povos. Esta postura

    levanta um dos grandes problemas para os pregadores de nossos dias: a quem deve ser

  • Prof. Rev. Joo Ricardo Ferreira de Frana

    30

    dirigido o Antigo Testamento? A Bblia de Scofield acentua essa distino nos seguintes

    temos:

    Que o cristo herda agora as promessas caractersticas dos judeus no foi ensinado nas Escrituras. O cristo da semente celestial de Abrao e participa das bnos espirituais da Aliana Abramica; mas Israel como nao sempre ter o seu prprio lugar e ainda receber a maior exaltao como o povo de Deus na terra.21

    Tal declarao coloca na berlinda os pregadores que lidam com o Antigo Testamento,

    pois, eles so desafiados a entender que a mensagem do Antigo Testamento direcionada

    apenas ao povo judeu. Esta distino que apresentada pelo Dispensacionalismo prejudicial

    exatamente aqui.

    Como olhar para o texto do Antigo Pacto e abord-lo para a igreja neotestamentria?

    No h nada no Antigo Testamento destinado Igreja? Fecharemos de fato a primeira parte

    do livro sagrado e iremos ensinar uma doutrina apenas no Novo Testamento? Mas, o que o

    Novo Testamento? a interpretao legtima do Antigo.

    A pregao afetada diretamente porque sem o Antigo no se pode entender o Novo

    Testamento dentro da estrutura querigmtica do reino e da redeno. A igreja no vista

    como povo de Deus, logo a Bblia no Antigo Testamento no possui uma nica passagem

    para confortar os crentes, e nem para ensin-los; isso implica que se adotarmos a leitura do

    Dispensacionalismo estaremos contradizendo o apstolo Paulo em Romanos 15.4 Pois tudo

    quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela pacincia e

    pela consolao das Escrituras, tenhamos esperana.

    Ento, tudo que est escrito no Antigo Testamento tambm destinado para a Igreja

    de Cristo e deve ser base para as nossas pregaes; as Escrituras do Antigo Testamento so,

    segundo Paulo, a base para a catequizao da igreja gerando assim consolo e esperana. Sem

    isso o antigo povo de Deus no poderia sobreviver e de igual modo a igreja que o Israel de

    Deus subsistir.

    21

    Apud, SANTOS, Valdeci S. Anotaes da Bblia de Scofield sob uma tica Reformada. In: FIDES REFORMATA, janeiro junho, 2000, vol. V, n. 1, pp. 135 148.

  • Estudos Na Confisso de F de Westminster Parte I: A Grandeza das Escrituras.

    31

    O que nos chama ateno na argumentao paulina que ele diz tudo (o[sa- hosa)

    nada deixado de fora; o que foi escrito antecipadamente (proegra,fh proegrf) tem por

    objetivo o ensino da Igreja. E assim a igreja neotestamentria confortada e consolada.

    A viso interpretativa do Dispensacionalismo ignora substancialmente o ensino de

    Romanos 11.17 fomos enxertados na oliveira nos alimentamos da mesma raz; isto indica

    que existe uma unidade basilar e necessria, pois, Deus no tem dois povos, Greidanus

    comenta o seguinte:

    J que os antigos israelitas e ns somos um povo da aliana por meio de Cristo, o Deus deles o nosso Deus, os antepassados deles so nossos antepassados, a histria deles a nossa histria, e a esperana deles a nossa esperana. Do mesmo modo, os livros deles so os nossos livros, pois os livros que Deus tinha pretendido, antes de tudo para eles so teis tambm para ns (2 Tm.3.16)22.

    Ento, devemos rejeitar toda e qualquer noo de ruptura entre o Antigo e Novo

    Testamento no autorizado pela Palavra de Deus; existem descontinuidades sim entre o

    Antigo Testamento no autorizado pela Palavra de Deus; existem descontinuidades sim entre

    o Antigo e o Novo Testamentos, mas nada que seja para descartar a totalidade da revelao

    veterotestamentria.

    4. A PALAVRA DE DEUS COMO NOSSA REGRA.

    Os puritanos confessionais declararam: todos dados por inspirao de Deus para

    serem a regra de f e de prtica. O que a Escritura sagrada para ns?

    4.1 Uma Regra de F.

    O que significa dizer que a Bblia a nossa regra de f? que tudo o que ns fazemos

    em matria de adorao e culto deve est fundamentado na Palavra de Deus; ou seja, tudo o

    que ns cremos deve ter base bblica. Devemos estar fundamentados na doutrina dos

    apstolos e profetas: edificados sobre o fundamento dos apstolos e profetas, sendo ele

    mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular;(Efsios 2.20).

    22

    GREIDANUS, Sidney. O Pregador Contemporneo e o Texto Antigo Interpretando e Pregando Literatura Bblica. Tradutor: Edmilson Francisco Ribeiro. So Paulo: Cultura Crist, 2006, p.211.

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    32

    Tudo aquilo que ns realizamos em matria de f deve ser aprovado pelas Escrituras,

    qualquer crena ou ensinamento deve ser proposto apartir das Escrituras, seguindo os

    mtodos coerentes de interpretao Bblica, por meio da anlise contextual da passagem, a

    inteno do autor e a gramtica exegtica do texto. Este o ponto que precisamos considerar

    sempre que desejamos aplicar um ensino na vida da igreja a partir das Escrituras.

    4.2 Uma Regra de Conduta.

    O segundo aspecto que precisamos analisar nesta declarao confessional que a

    Bblia tambm a nossa regra de prtica ou conduta. Durante muito tempo se perguntou se os

    cristos deveriam ter um manual de tica e a resposta um ressonante no! Isto porque a

    Bblia j a nossa regra de conduta.

    Isto significa que a nossa tica e moralidade deve ser baseado naquilo que as

    Escrituras determinam que faamos; pois, toda conduta que esteja em desarmonia com as

    Escrituras deve ser corrigida, tratada e modificada. A Escritura no nos foi dada apenas para

    questes doutrinrias, mas tambm para questes prticas: Toda a Escritura inspirada por

    Deus e til para o ensino, para a repreenso, para a correo, para a educao na justia, a

    fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. (2

    Timteo.3.16-17 ).

    Todo o nosso comportamento e vida crist devem ser baseados e alicerados pela

    Palavra inerrante de Deus ortodoxia e ortopraxia devem ser sempre andar jutos na nossa

    vida crist.

    Concluso:

    A natureza das Escrituras nos mostra a grandeza de Deus em se comunicar com o seu

    povo. Revelando a santidade de sua mensagem, mostrando-nos que ela de fato a sua palavra

    revelacional e por causa disso, vemos a coerncia e harmonia entre os dois testamentos que

    nos conduz para uma vida prtica na aplicao de nossa doutrina.

  • Estudos Na Confisso de F de Westminster Parte I: A Grandeza das Escrituras.

    33

    Captulo 4

    O CNON DAS SAGRADAS ESCRITURAS.

    SEO III Os livros geralmente chamados Apcrifos, no sendo de inspirao divina,

    no fazem parte do cnon da Escritura; no so, portanto, de autoridade na Igreja de

    Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados seno como escritos

    humanos.

    Ref. Luc. 24:27,44; Rom. 3:2; II Pedro 1:21.

    Esta mais uma daquelas estupendas declaraes da Confisso de F de Westminster.

    Aqui nesta seo vamos trabalhar vrios conceitos do tipo: o que um livro apcrifo? O que

    se refere a doutrina da canonicidade? Quais os critrios usados pela igreja para se chegar ao

    cnon que possumos?

    Estas e outras questes ns abordaremos aqui neste estudo. Pois, de suma

    importncia para a Igreja entender adequadamente a doutrina aqui enunciada.

    1. A DOUTRINA DA CANONICIDADE DAS ESCRITURAS.

    O que significa o termo cnon? Geralmente se entende que a Escritura o Cnon

    de nossa f. A formao e a estrutura da Bblia para ns requer que procuremos uma definio

    simples, todavia, clara e profunda do que o conceito encerra.

    A palavra cnon uma mera transliterao do termo grego kanw,n kann que

    significa vara reta, rgua, regra. uma palavra usada com referncia para indicar a

    autoridade suprema da Bblia sobre a vida dos cristos. Ou seja, refere-se aos livros que

    compem a Bblia conforme conhecemos.23

    Uma definio mais lexical nos informa que a origem da palavra cnon derivada

    23

    ANGLADA, Paulo R. B. Sola Scriptura A doutrina Reformada das Escrituras. So Paulo: Os Puritanos, 1998, p.33-34.

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    34

    de uma de uma raiz semtica [assrio Qan; ugartico:Qn; hebraico: hn

  • Estudos Na Confisso de F de Westminster Parte I: A Grandeza das Escrituras.

    35

    1. Josu 2. Juzes 3. Rute 4. 1Samuel 5. 2Samuel 6. 1Reis 7. 2Reis 8. 1Crnicas 9. 2Crnicas 10. Esdras 11. Neemias 12. Ester

    A. Maiores

    1. Isaas 2. Jeremias 3. Lamentaes 4. Ezequiel 5. Daniel

    B. Menores

    1. Osias 2. Joel 3. Ams 4. Obadias 5. Jonas 6. Miquias 7. Naum 8. Habacuque 9. Sofonias 10. Ageu 11. Zacarias 12. Malaquias

    A tabela apresentada acima mostra a disposio dos livros conforme aparecem em

    nossa Bblia, esta a atual estrutura cannica das Escrituras conforme temos na Escritura

    Protestante (evanglica. Esta diviso foi ocasionada devido a influncia da verso grega do

    Antigo Testamento conhecida como Septuaginta (LXX), conforme nos diz dois estudiosos:

    A diviso do Antigo Testamento em quatro sees baseia-se na disposio dos livros por tpicos, com origem na traduo das Escrituras Sagradas para o grego. Essa traduo, conhecida como a Verso dos septuaginta (LXX), iniciara-se no sculo III a.C. A Bblia hebraica no segue essa diviso tpica dos livros, em quatro partes. Antes, emprega-se uma diviso de trs partes, talvez baseada na posio oficial de seu autor. Os cinco livros de Moiss, que outorgou a lei, aparecem em primeiro lugar. Seguem-se os livros dos homens que desempenharam a funo de profetas Por fim, a terceira parte contm livros escritos por homens que, segundo se cria, tinham o dom da profecia, sem serem profetas oficiais..26

    Paulo Anglada chama a nossa ateno exatamente para isso quando diz: Embora o

    contedo cannico protestante seja o mesmo do cnon hebraico, a diviso e a ordem dos

    livros so diferentes27 conforme vemos no quadro abaixo:

    26 GEISLER, Norman L. & NIX, William E. Introduo Bblica - Como a Bblia chegou at ns. Tradutor: Oswaldo Ramos. So Paulo: Vida, 1997, p. 8

    27 ANGLADA, Paulo R. B. Sola Scriptura A doutrina Reformada das Escrituras. So Paulo: Os Puritanos, 1998,

    p.35.

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    36

    DISPOSIO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO HEBRAICO

    A lei

    (Tora)

    Os profetas

    (Nebhiim)

    Os escritos

    (Kethubhim)

    1. Gnesis 2. xodo 3. Levtico 4. Nmeros 5. Deuteronmio

    A. Profetas anteriores

    1. Josu 2. Juzes 3. Samuel 4. Reis

    B. Profetas posteriores

    1. Isaas 2. Jeremias 3. Ezequiel 4. Os Doze

    A. Livros poticos

    1. Salmos 2. Provrbios 3. J B. Cinco rolos (Megilloth)

    1. O Cntico dos Cnticos 2. Rute 3. Lamentaes 4. Ester 5. Eclesiastes C. Livros histricos

    1. Daniel 2. Esdras-Neemias 3. Crnicas

    Essa disposio confirmada no Novo Testamento pelo prprio Senhor Jesus em

    Lucas 24.44

    1.2 A Estrutura Cannica do Novo Testamento

    Podemos dizer que a estrutura e organizao do Novo Testamento so simples.

    Conforme podemos ver no quadro abaixo:

    LIVROS DO NOVO TESTAMENTO

    Evangelhos Histria

    1. Mateus 2. Marcos 3. Lucas 4. Joo

    1. Atos dos Apstolos

    Epstolas

    1. Romanos 2. 1Corntios 3. 2Corntios 4. Glatas

    12. Tito 13. Filemom 14. Hebreus 15. Tiago

  • Estudos Na Confisso de F de Westminster Parte I: A Grandeza das Escrituras.

    37

    5. Efsios 6. Filipenses 7. Colossenses 8. 1Tessalonicenses 9. 2Tessalonicenses 10. 1Timteo 11. 2Timteo

    16. 1Pedro 17. 2Pedro 18. 1Joo 19. 2Joo 20. 3Joo 21. Judas

    Profecia

    1. Apocalipse

    2. CRITRIOS PARA A CANONICIDADE.

    A questo de se ter um cnon : como saber se os livros do Novo Testamento que

    temos so os verdadeiros? Eis ai a nossa questo.

    Quando no inicio do primeiro sculo comeou a surgir uma variedade de livros

    arrogando-se serem os livros verdadeiros do cristianismo. A igreja se viu na obrigao de

    dizer quais livros eram divinos ou no; e por isso, se estabeleceu critrios pertinentes para se

    avaliar tais livros.

    2.1 Apostolicidade.

    Este o primeiro critrio estabelecido. Um livro para ser reconhecido como regra na

    vida da Igreja deveria ter sido escrito por um apstolo ou por alguma pessoa ligada ao mesmo.

    Por exemplo, Joo Marcos (autor do evangelho de Marcos) no fora apstolo, mas a tradio

    informa que Marcos fora o intrprete de Pedro28; esse critrio era pertinente para evitar

    grotescos abusos que estavam sendo feito pelos inimigos da verdade.

    2.2 Leitura Eclesistica.

    O segundo critrio aponta para o fato de que os livros cannicos seriam reconhecidos

    tambm, por meio da leitura litrgica de tais livros. Se a igreja sempre usou aquele referido o

    28

    Eusbio de Cesrea, Apud, COSTA, Herminstem Maia Pereira da. Inspirao e Inerrncia das Escrituras. So Paulo: Cultura Crist, 1998, p.39.

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    38

    mesmo este deveria ser coloca na lista cannica. Este critrio pode ser encontrado na prpria

    escritura em Colossenses 4.16 e em 1 Timteo 4.13.

    Um exemplo deste fato pode ser visto na apologia de Justino ao descrever o que

    ocorria em culto eucarstico:

    E no dia chamado Domingo, todos quantos moram nas cidades ou no interior renem-se juntos num s lugar, so lidas as memrias dos apstolos ou os escritos dos profetas, por tanto tempo quanto possvel; depois, tendo terminado o leitor, o presidente instrui verbalmente, e exorta imitao dessas coisas virtuosas. Em seguida, todos nos colocamos de p e oramos e, conforme dissemos antes, ao terminarem as nossas oraes so trazidos po, vinho e gua, e o presidente, de modo semelhante, oferece oraes e aes de graas, segundo a sua capacidade, e o povo concorda dizendo amm.

    29

    2.3 A Harmonia Doutrinria

    Um livro para se cannico deveria ensinar fundamentado no que j havia sido

    estabelecido; ou seja, se um livro ensinasse algo contrrio aquilo que os apstolo e a

    sabedoria da Igreja sempre ensinou deveria se rejeitado como sendo um livro no-cannico.

    Estes so os trs fundamentais critrios para a questo do Cnon do Novo Testamento,

    e sem eles nada podemos ensinar pregar, ou mesmo defender o evangelho.

    2.4 A Inspirao

    O que significa Inspirao? O termo imprprio para aquilo que visa designar. Isto

    porque o termo no seria inspirao (soprar para dentro), mas expirao (soprar para fora);

    pois, foi isso que Deus fez conosco.

    O que entendemos por inspirao como sendo a influncia sobrenatural do Esprito

    de Deus sobre os homens separados por ele mesmo, a fim de registrarem de forma inerrante e

    suficiente toda vontade de Deus, constituindo esse registro na nica fonte e norma de todo o

    conhecimento cristo 30

    29

    MRTIR, Justino. Primeira Apologia, Cap. 67, In: Ante-nicene Fathers, p.69. [nfase nossa]

    30 COSTA, Herminstem Maia Pereira da. Inspirao e Inerrncia das Escrituras. So Paulo: Cultura Crist, 1998,

    p.98.

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    39

    De acordo com o Novo Testamento a doutrina da inspirao diz respeito a Deus soprar

    a sua revelao nas pginas das Escrituras (2 Timteo 3.16). O leitror deve tambm saber que

    existem vrias teorias a respeito da inspirao.

    2.4.1 - Concepo de Inspirao Dinmica:

    Algumas pessoas acham que a doutrina da Inspirao consiste em um ditado. Onde

    Deus dinamicamente falou ao escritor sagrado palavra por palavra, ponto por ponto de toda a

    Bblia.

    Essa concepo ignora a existncia de estilos variados nas Escrituras que negam a

    possibilidade de um ditado. E a Escritura clara quanto a existncia de estilos literrios de

    cada escritor da mesmo, e, ns vemos isso na em 2 Pedro 3.13-16. Pedro reconhece que Paulo

    tem um estilo prprio ao escrever suas cartas.

    2.4.2 - Concepo de uma Iluminao:

    Outra ideia equivocada que geralmente ouvimos que inspirao a mesma coisa que

    iluminao. Sendo apresentado a ideia de que os autores humanos das Escrituras fossem

    apenas homens iluminados e nada mais do que isto.

    2.4.3 A Concepo de Inspirao Plenria:

    Devemos acreditar que a inspirao das Escrituras est em toda a Bblia, no so

    algumas partes que so inspiradas e outra no. O conceito de Inspirao Plenria. Desde o

    Gnesis at o apocalipse, tudo o que foi registrado, foi por vontade de Deus (2 Timteo 3.16;

    2 Pedro 1.20-21).31

    2.4.4 A Concepo da Inspirao Verbal:

    Esta concepo deve ser aceita como verdadeira, pois, entendemos que Deus falou sua

    palavra por meio dos autgrafos originais a sua mensagem. (2 Samuel 23.2; Jeremias 1.9;

    Mateus 5.18; 1 Corntios 2.13).

    31

    COSTA, Herminstem Maia Pereira da. Inspirao e Inerrncia das Escrituras. So Paulo: Cultura Crist, 1998, p.99.

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    40

    3. A DOUTRINA DA CANONICIDADE E OS APCRIFOS

    A doutrina do Cnon inevitavelmente nos levar para a questo dos livros chamados

    de Apocrifos. O que um livro apcrifo? Na concepo popular um livro duvidoso. O

    termo vem do grego e significa sem assinatura, ou seja, no possui assinatura de Deus.

    Tambm o termo pode ser entendido como oculto. Indicando a no identificao de sua

    autoria.32

    Por que eles so classificados nesta categoria de livros sem assinatura? A resposta

    pode ser apresentada em duas nagativas consistentes conforme aprendemos aqui nesta seo

    da Confisso de F Os livros geralmente chamados Apcrifos, no sendo de inspirao

    divina, no fazem parte do cnon da Escritura.

    3.1 - Por no serem Inspirados no possuem Autoridade sobre A Igreja.

    Aqui ns aprendemos que somente os livros cannicos podem ter autoridade de

    governo e doutrina sobre a vida da Igreja, toda doutrina fundamentada em um livro no

    autorizado canonicamente uma heresia. Eles no devem ser usados como livros autoritativos

    na vida do povo pactual de Deus.

    3.2 Devem ser empregados como Meros Livros Humanos.

    O segundo aspecto que devemos levar em considerao o fato de que tais livros

    podem ser teis pelo conhecimento que transmitem. A Confisso de F de Westminster diz

    que tais livros no so, portanto, de autoridade na Igreja de Deus, nem de modo algum

    podem ser aprovados ou empregados seno como escritos humanos. .

    Ns devemos ler estes livros apcrifos, estud-los buscar compreend-los, mas

    meramente como livros humanos. Paulo Anglada nos traz uma palavra positiva sobre este

    tema:

    32

    O surgimento dos livros apcrifos deve-se ao perodo intertestamentrio, onde houve um silencio proftico de 400 anos a.C, o homem na ansiedade de ouvir uma voz proftica decidiu escrever obras nas quais tencionava dizer que Deus estava se revelando ao seu povo. O silncio proftico compreende de Malaquias at Mateus.

  • Estudos Na Confisso de F de Westminster Parte I: A Grandeza das Escrituras.

    41

    Alguns dos apcrifos so realmente teis como fontes de informao a respeito de uma poca importante da histria do povo de Deus: o perodo inter-testamentrio. Os protestantes reconhecem o valor histrico dele. Seguindo a prtica dos primeiros cristos, as edies modernas protestantes da Septuaginta normalmente incluem os apcrifos , e at algumas bblias protestantes antigas os incluam, no final, apenas como livros histricos.33

    Concluso:

    O cnon das Escrituras nos foi dado para ser a nossa nica regra de obedincia e

    prtica; isto implica no fato de que as Escrituras conforme temos no fruto da tradio dos

    homens, mas da vontade de Deus que deseja orientar-nos por meio de suas palavras

    registradas de forma clara e compreensvel aos homens.

    33

    ANGLADA, Paulo R. B. Sola Scriptura A doutrina Reformada das Escrituras. So Paulo: Os Puritanos, 1998, p.41.

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    42

    Captulo 5

    A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS SAGRADAS I.

    Seo IV A autoridade da Escritura Sagrada, razo pela qual deve ser crida e

    obedecida, no depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende

    somente de Deus (a mesma verdade) que o seu autor; tem, portanto, de ser recebida,

    porque a palavra de Deus.

    Ref. II Tim. 3:16; I Joo 5:9, I Tess. 2:13.

    O que significa a doutrina da Autoridade das Escrituras? O que este vocbulo quer nos

    dizer? Packer vai nos dizer que a autoridade das Escrituras repousa na inspirao34 mas, o

    que significa essa autoridade? Esta a questo que precisamos responder.

    A declarao da Confisso de F de Westminster clara em nos oferecer uma

    definio precisa do que seja a Autoridade das Escrituras. Notemos que se figura aqui a ideia

    de que esta autoridade no derivada de homem algum ou de qualquer igreja; mas, de Deus ser

    a prpria verdade.

    Significa que toda a Palavra de Deus conforme est registrada inerrante, e, no

    possuem erros em nada do que se prope dizer e ensinar, por isso, deve ser aceita como

    autoridade suprema na vida e no culto do povo de Deus.

    4.1 uma Doutrina atestada por Cristo:

    No Novo Testamento temos Cristo falando a favor desta doutrina da autoridade das

    Escrituras. Cristo sempre apelou para as Escrituras como a um tribunal supremo.

    Em qualquer controvrsia ele usava a expresso est escrito indicando que a palavra

    final deve ser dada a Palavra inspirada por Deus. Vejamos isso detalhadamente em Mateus

    4.4,6,710:

    34

    PACKER, James I. Vocbulos de Deus. So Paulo: FIEL, 2002, p.33.

  • Estudos Na Confisso de F de Westminster Parte I: A Grandeza das Escrituras.

    43

    Jesus, porm, respondeu: Est escrito: No s de po viver o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus e lhe disse: Se s Filho de Deus, atira-te abaixo, porque est escrito: Aos seus anjos ordenar a teu respeito que te guardem; e: Eles te sustero nas suas mos, para no tropeares nalguma pedra. Respondeu-lhe Jesus: Tambm est escrito: No tentars o Senhor, teu Deus. Ento, Jesus lhe ordenou: Retira-te, Satans, porque est escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorars, e s a ele dars culto.

    Cristo ao usar a expresso est escrito usa um verbo grego ge,graptai ggraptai

    um verbo no perfeito que indica uma ao contnua, significando permanece escrito,

    ento, o Senhor Jesus est apelando para a autoridade da Bblia como fonte autorizada da

    verdade; Satans utiliza a mesma expresso reconhecendo tal autoridade, todavia, vale-se de

    uma interpretao distorcida para tentar enganar o Cristo, mas o Jesus novamente diz

    permanece escrito que no se deve tentar a Deus.

    Outro texto onde contemplamos Cristo fazendo defesa desta autoridade das Escrituras

    quando ele busca corrigir os erros dos escribas e fariseus de seu tempo em Mateus 22.29:

    Errais, no conhecendo as Escrituras; todavia, o texto que podemos ver claramente a defesa

    da autoridade bblica provinda dos lbios de Cristo aquele de Joo 10.35: E a Escritura no

    pode falhar.

    No texto de Joo 10. 35 nos chama a ateno o verbo falhar no grego temos

    luqh/nai- lythnai um verbo usado para descrever a quebra do sbado (Lucas 13.16), a

    ideia de quebrar, ser quebrada, ou mesmo de ser diminuda a sua importncia e valor. Cristo

    diz que toda a Escritura a autoridade na vida da Igreja.35

    4.2 uma Doutrina atestada Pelos Apstolos:

    O Apstolo Paulo atesta sobre a autoridade da Palavra de Deus ao declarar que os

    crentes de Tessalonicenses acataram a verdade por ele pregada, no como palavras de

    homens, mas como palavra de Deus( 1 Tessalonicenses 2.13).

    E, ainda o Apstolo Pedro reconhece os escritos de Paulo como escritos cheios da

    autoridade do prprio Deus, ao colocar as cartas de Paulo no mesmo patamar das demais

    Escrituras (2 Pedro 3.15-16) Pedro reconhece a autoridade do Antigo e do Novo Testamento.

    35

    SCHWERTLEY, Braian. O Modernismo e a Inerrncia Bblica. Tradutora: Denise Meister. Recife: Os Puritanos, 2000, p.30-31

  • Prof. Rev. Joo Ricardo Ferreira de Frana

    44

    4.3 A Negao da Autoridade das Escrituras:

    A autoridade das Escrituras tem sido solapada de diversas formas. E, sendo assim

    precisamos identificar essas formas para que possamos fazer uma apologtica segura da

    Bblia como nossa autoridade suprema. Ns s podemos identificar tais perigos se

    oferecermos a resposta correta velha pergunta: O que a Palavra de Deus?

    E a resposta deve ser: As Escrituras Sagradas o Velho e o Novo Testamento so

    a Palavra de Deus, a nica regra de f e prtica36

    Diante desta definio podemos podemos ver a presena de quatro inimigos da

    Autoridade Bblica na igreja em nosso presente sculo.

    4.3.1 - O Dispensacionalismo:

    A primeira negao da autoridade bblica, o Dispensacionalismo ou como foi

    conhecido nos anos anteriores, e ainda em tempos atuais, o Antinomianismo que sustenata a

    ideia de que o Antigo Testamento passou e que agora s temos o Novo Testamento para

    basear a nossa f.

    O catecismo, na citao que fizemos acima, nos mostra que tal idia no tem

    fundamentao teolgica, pois o catecismo nos informa que o Antigo e o Novo Testamento

    , ou seja, ambos so a Palavra de Deus; o Novo no mais Palavra de Deus que o Antigo, e

    nem o Antigo menos Palavra de Deus que o Novo, mas que ambos, formando uma unidade

    na mensagem crist, so a Palavra de Deus.

    Quando se nega a unidade das Escituras se lhe diminui autoridade , e mais se coloca

    em contraposio o Antigo e o Novo Testamento levando toda a Escritura se contradizer.

    4.3.2 - A Neo-Ortodoxia e o Liberalismo Teolgico.

    A autoridade das Escrituras solapada pela , Neo-ortodoxia, e pelo Liberalismo

    teolgico. O primeiro sistema ensina que a Bblia no a Palavra infalvel de Deus, mas que

    36

    Catecismo Maior de Westminster, resposta pergunta 3.

  • Estudos Na Confisso de F de Westminster Parte I: A Grandeza das Escrituras.

    45

    apensa contm a Palavra de Deus, ela se transforma em Palavra quando leio, ou quando

    escutamos algum sermo a ns dirigido com base na Bblia.

    No segundo sistema a Bblia no de modo algum a Palavra infalvel de Deus, pois,

    segundo pensam, est cheia de mitos e contos que no condiz com a razo do homem, e por

    isso, no pode ser autoridade final e deve ser apenas usado como um livro de tica e moral

    nada mais do que isso. Todavia, o Catecismo diz:...o Velho e o Novo Testamentos so a

    Palavra de Deus... no existe espao para a noo de que a Bblia venha a se tornar a Palavra

    de Deus. (2 Timteo 3.16-17).

    Paulo declara que toda a Escritura divinamente inspirada, ela no se torna e nem

    contm, ela toda a revelao proposicional de Deus aos homens.37

    4.3.3 - O Tradicionalismo

    O terceiro ataque autorida bblica vem do Tradicionalismo catlico Romano que

    entende que a tradio eclesistica superior a Bblia. Negando assim, a autoridade final das

    Escrituras e a sua suficincia.

    O Senhor Jesus falou muito bem contra tal ataque, pois, quando a tradio est acima

    da Palavra de Deus o que resta a transgresso Lei de Deus conforme vemos em Marcos

    7.7-13:

    E em vo me adoram, ensinando doutrinas que so preceitos de homens. Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradio dos homens. E disse-lhes ainda: Jeitosamente rejeitais o preceito de Deus para guardardes a vossa prpria tradio. Pois Moiss disse: Honra a teu pai e a tua me; e: Quem maldisser a seu pai ou a sua me seja punido de morte. Vs, porm, dizeis: Se um homem disser a seu pai ou a sua me: Aquilo que poderias aproveitar de mim Corb, isto , oferta para o Senhor, ento, o dispensais de fazer qualquer coisa em favor de seu pai ou de sua me, invalidando a palavra de Deus pela vossa prpria tradio, que vs mesmos transmitistes; e fazeis muitas outras coisas semelhantes.

    A tradio quando contrria a Lei de Deus ela nos leva pra longe dele. Precisamos

    entender que

    As tradies, antigas, que foram testadas pelo tempo e que carregam consigo a sabedoria de uma raa, trazem profundidade e perspectiva para os dias em que a vida, frequentemente, se mostra sem razes, superficial e banal

    38 37

    SCHAEFFER, Francis A. O Deus que se Revela. Tradutora: Gabrielle Greggersen. So Paulo: Cultura Crist, 2008, p.129-135.

  • Prof. Rev. Joo Ricardo Ferreira de Frana

    46

    disso que estamos tratando, a Bblia e a tradio (vista como o testemunho da Igreja)

    devem andar juntas, ns precisamos ouvir a ambas ou como coloca sabiamente um autor

    reformado presbiteriano:

    A Bblia sozinha seria a religio dos protestantes. O problema que a Bblia nunca est sozinha. O prprio Calvino, que falou da autoridade da Bblia nos termos mais elevados, sempre leu-a e ouviu-a segundo as tradies. Sua reviso litrgica foi feita de acordo com as prticas da Igreja Antiga, o mesmo sucedendo com a organizao eclesistica por ele desenvolvida39 ().

    Ento, podemos ler a Bblia com as tradies, o problema encontra-se quando as

    tradies esto se opondo Bblia. A Igreja a coluna e baluarte da verdade (1 Tm.3.15). E

    vivemos uma poca em que a histria da igreja (que funciona como testemunho para ns) tem

    sido negligenciada, mais uma vez Leith nos adverte para isso:

    Os protestantes tm sido sempre tentado a crer que, de alguma forma, podem ignorar todos os sculos da histria crist, estudando a Bblia sem ajuda e os embaraos dos que os antecederam. Na verdade, porm, aqueles que se recusam a ler a Bblia luz das tradies da Igreja acabam sendo dominados pelas suas prprias tradies histricas e culturais40

    4.3.4 - O Pentecostalismo

    O quarto e ltimo perigo autoridade da Bblia , o conhecido sistema Pentecostal

    que nega a autoridade da Bblia e a sua suficincia, quando sustenta a crena de existncia de

    novas revelaes supostamente produzidas pelo Esprito Santo; a isso o catecismo responde

    da seguinte forma, resposta esta que vale para os dois ltimos sistemas acima mencionados:

    As Escrituras Sagradas...so a nica regra de f e prtica. Ou seja, a vida crist no

    regida por tradicionalismo, nem pelo misticismo que aflora no pentecostalismo.

    A definio do Catecismo prioriza a questo da autoridade final quando afirma que as

    Escritura suprema em todas as coisas. Na vida, na igreja, na sociedade, na cincia nela no

    existe erro ou contradio.

    38

    LEITH, John. A Tradio Reformada Uma Maneira de ser a Comunidade Crist. Traduo: Eduardo Galasso Faria; Ge