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DA PRODUTIVIDADE À SATISFAÇÃO: COMO AS INSTALAÇÕES FÍSICAS SE RELACIONAM COM A CULTURA ORGANIZACIONAL Luiz Felipe Braga Gomes Raíssa Silva Rotolo Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Maria Alice Ferruccio da Rocha Rio de Janeiro Setembro de 2017

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DA PRODUTIVIDADE À SATISFAÇÃO: COMO AS INSTALAÇÕES FÍSICAS SE

RELACIONAM COM A CULTURA ORGANIZACIONAL

Luiz Felipe Braga Gomes

Raíssa Silva Rotolo

Projeto de Graduação apresentado ao

Curso de Engenharia de Produção da

Escola Politécnica, Universidade Federal

do Rio de Janeiro, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientador: Maria Alice Ferruccio da Rocha

Rio de Janeiro

Setembro de 2017

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Gomes, Luiz Felipe Braga; Rotolo, Raíssa Silva

Da Produtividade à Satisfação: Como as Instalações

Físicas se Relacionam com a Cultura Organizacional/ Luiz

Felipe Braga Gomes; Raíssa Silva Rotolo – Rio de Janeiro:

UFRJ/ Escola Politécnica, 2017.

vi, 76 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Maria Alice Ferruccio da Rocha

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso

de Engenharia de Produção, 2017.

Referências Bibliográficas: p.71-74.

1. Produtividade. 2. Satisfação. 3. Instalações Físicas. 4.

Cultura Organizacional. 5. Ambiente de Trabalho.

I. da Rocha, Maria Alice Ferruccio. II. Universidade

Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de

Engenharia de Produção. III. Titulo.

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção.

Da Produtividade à Satisfação: Como as Instalações Físicas se Relacionam com a

Cultura Organizacional

Luiz Felipe Braga Gomes

Raíssa Silva Rotolo

Setembro/2017

Orientador: Maria Alice Ferruccio da Rocha

Curso: Engenharia de Produção

As características do ambiente de trabalho possuem reconhecida influência nas organizações modernas, não só pela interferência nos aspectos objetivos do sistema, como também nos aspectos subjetivos, como o elemento humano, sendo responsáveis diretos pelo alcance dos propósitos e resultados estratégicos dela. O desenvolvimento de novas dinâmicas e modelos de organização do trabalho, o avanço tecnológico, o aumento da natureza colaborativa e a inclusão do fator humano como foco indispensável das discussões são alguns dos componentes que alimentam o crescente desafio e caracterizam o planejamento das instalações físicas como ferramenta primordial na busca pela vantagem competitiva das empresas contemporâneas. Por meio de uma pesquisa bibliográfica e de um estudo de caso, que englobou uma pesquisa de campo, o trabalho busca compreender a relação entre os inúmeros componentes que constituem o ambiente físico e a cultura organizacional das instituições, identificando os elementos-chave dessa dependência e analisando como esses fatores interferem na percepção dos colaboradores em relação aos aspectos que afetam a cultura como a produtividade, a criatividade, a motivação e a satisfação.

Palavras-chave: produtividade, satisfação, instalações físicas, cultura organizacional,

ambiente de trabalho

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Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Industrial Engineer.

From Productivity until Satisfaction: How Workplace Facilities Relate to Organizational

Culture

Luiz Felipe Braga Gomes

Raíssa Silva Rotolo

Setembro/2017

Advisor: Maria Alice Ferruccio da Rocha

Course: Industrial Engineering

The characteristics of the work environment have a recognized influence in modern organizations, not only by interfering in the objective aspects of the system, but also in the subjective aspects, such as the human element, being directly responsible for the achievement of its purposes and strategic results. The development of new dynamics and models of work organization, technological advance, the increase of the collaborative nature and the inclusion of the human factor as an indispensable focus of the discussions are some of the components that feed the growing challenge and characterize the layout planning as a main tool in the search for the competitive advantage of contemporary companies. Through a bibliographical research and a case study, which encompasses a field research, the work seeks to understand the relationship between the numerous components that constitute the work environment and the organizational culture of the institutions, identifying the key elements of this dependence and analyzing how these factors interfere in the employees' perception in relation to aspects that affect the culture such as productivity, creativity, motivation and satisfaction.

Keywords: productivity, satisfaction, facilities, organizational culture, workplace

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 7

1. CULTURA ORGANIZACIONAL ........................................................................................... 10

2. WORKPLACE: UM FATOR ESTRATÉGICO .......................................................................... 14

3. AS ABORDAGENS DO LAYOUT E SEU ASPECTO SOCIAL E PSICOLÓGICO ........................... 19

4. WORKPLACE X CULTURA: POTENCIALIZADOR OU MINIMIZADOR ................................... 24

5. VTEX: O CASO PRÁTICO ................................................................................................... 41

5.1. CONHECENDO A ORGANIZAÇÃO .................................................................................. 41

5.1.1. Histórico, Produto e Mercado ................................................................................ 41

5.1.2. Porte e Localização ................................................................................................. 44

5.2. JEITO VTEX DE SER ....................................................................................................... 44

5.3. PEOPLE & PLACES: O RH DA VTEX ................................................................................ 49

5.4. VTEX LAB ...................................................................................................................... 50

5.4.1. O Escritório ............................................................................................................. 50

5.4.2. A Opinião dos Colaboradores ................................................................................. 62

5.4.3. Raio-X da Cultura .................................................................................................... 67

CONCLUSÃO ........................................................................................................................... 70

REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 71

ANEXO A – PLANTA DA COMUNA ........................................................................................... 75

ANEXO B – PLANTA DAS ESTAÇÕES DE TRABALHO ................................................................. 76

ANEXO C – PLANTA DA ÁREA DE DESCOMPRESSÃO ............................................................... 77

ANEXO D – STATEMENTS DO RAIO-X DA CULTURA ................................................................. 78

APÊNDICE A – FORMULÁRIO DA PESQUISA DE CAMPO .......................................................... 79

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INTRODUÇÃO

As pessoas são o bem mais importante de uma organização, sendo capazes de

influenciá-la em todos os aspectos objetivos e subjetivos, determinando sua

produtividade, estratégia e resultados. Considerando a complexidade do elemento

humano, entende-se que diferentes fatores são capazes de influenciar no seu

comportamento e, por consequência, no de toda a organização. Fairs (2016) afirma que

os três grandes pilares da cultura são as pessoas, a tecnologia e o ambiente, sendo

este último o fator mais forte na sua determinação. Nesse contexto, o desafio torna-se

compreender como as instalações físicas de uma organização influenciam na cultura

organizacional.

A natureza cada vez mais colaborativa do trabalho intelectual tem incentivado a

criação e modificação dos ambientes de trabalho de uma forma que possibilitem tanto

o trabalho individual e focado quanto as interações entre os colaboradores. Davenport

& Prusak, Drucker e Sheridan (1998, 1999 e 2008 apud HUA, et al., 2011) afirmam que

a essência do trabalho corporativo tem sido modificada, juntamente com a evolução dos

modelos de negócio e das estruturas organizacionais, avanços na tecnologia da

informação e comunicação e a crescente pressão sobre as organizações para se

tornarem mais ágeis e competitivas. Segundo Hua, et al. (2011), com a colaboração

ganhando um papel gradativamente valorizado pelas organizações e com as estratégias

de gerenciamento realinhadas para apoiar a colaboração, as configurações espaciais

do ambiente de trabalho precisam ser reconhecidas como ferramentas poderosas para

facilitar tanto as interações desejadas quanto o desempenho individual efetivo.

Essas mudanças trazem desafios para o Planejamento das Instalações de forma

que é necessário e importante entender a relação entre os diversos elementos que

compõem um arranjo físico de um escritório e a percepção que os indivíduos possuem

de como o ambiente de trabalho é afetado por este. Hua, et al. (2011) compreendem o

local de trabalho como uma plataforma de colaboração e apoiam o design eficaz do

ambiente de trabalho como uma intervenção estratégica para a competitividade

organizacional. Complementarmente, o valor do ambiente físico de trabalho como

suporte e estimulante da colaboração dos trabalhadores é reconhecido na literatura dos

estudos de locais de trabalho (BECKER, 2004; BECKER & SIMS, 2001; DUFFY, 1992;

DUFFY & POWELL, 1997; LAING, 2006; WORTHINGTON, 1997 apud HUA, et al.,

2011) e gestão do conhecimento (ALLEN & HENN, 2007; DAVENPORT, 2005;

DAVENPORT, THOMAS, & CANTRELL, 2002 apud HUA, et al., 2011).

O presente trabalho, portanto, busca compreender como se dá a relação de

influência entre o ambiente físico de uma organização e a cultura organizacional nela

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existente, identificar os principais elementos das instalações físicas que influenciam na

cultura organizacional, analisar como esses elementos exercem essa influência,

verificar se a cultura em si é capaz de despertar a motivação para modificações no

planejamento das instalações e entender como os colaboradores, parte primordial do

estudo, enxergam essa relação.

Realizou-se uma Pesquisa Bibliográfica acerca dos temas de Cultura

Organizacional e de Planejamento das Instalações, buscando-se considerar na

consolidação teórica do trabalho desde as literaturas fundamentadoras até os artigos

mais recentes. Além disso, buscou-se embasamento em artigos que já tratavam da

relação entre a cultura e o ambiente de trabalho, a fim de inspirar a fase seguinte do

desenvolvimento deste projeto. Essa fase engloba uma Pesquisa Exploratória do tipo

Estudo de Caso, para a qual foi escolhida uma empresa de tecnologia do ramo do e-

commerce que passou por mudanças significativas tanto em suas instalações quanto

no que diz respeito a preocupação com o desenvolvimento de uma cultura

organizacional. Essa pesquisa incluiu uma pesquisa de campo, desenvolvida pelos

autores, com a finalidade de avaliar a percepção que os colaboradores possuem da

relação do ambiente físico com seu trabalho, além dos resultados de diagnóstico da

cultura organizacional da organização em questão, feito por uma consultoria externa, e

do levantamento feito pelo RH da percepção dos colaboradores a respeito da cultura da

empresa.

Buscou-se validar as hipóteses de que a cultura organizacional é modificada

pelas instalações físicas da organização, de que estas sofrem influência da cultura e de

que os trabalhadores não compreendem a influência entre o ambiente físico e a cultura

organizacional. A partir dos resultados apresentados, o trabalho irá possibilitar uma

maior compreensão de como as instalações físicas de uma organização relacionam-se

com sua cultura, permitindo maior poder de decisão para gestores a respeito de como

planejar seus escritórios e plantas, bem como empoderando os colaboradores para que

se utilizem dessas instalações de modo a construir a cultura organizacional que

almejam.

Não serão considerados no estudo de caso todos os escritórios da empresa

escolhida como objeto de estudo, uma vez que, existem limitações geográficas para tal

e pelo escritório escolhido ser aquele que melhor representa a cultura da empresa e

possui mais insumos para realização do estudo, tanto em número de funcionários

quanto em disponibilidade das instalações. Nesse mesmo contexto, diversos públicos

se relacionam com as instalações físicas da organização, mas somente os

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colaboradores serão considerados no estudo. Por fim, não será considerada a influência

da marca no ambiente físico nem na cultura organizacional.

Esse trabalho está divido em cinco capítulos, o primeiro trata de uma revisão dos

conceitos disponíveis na literatura no que diz respeito a cultura organizacional, em

seguida, no capítulo 2 foi aplicado a mesma metodologia, mas considerando a temática

do planejamento das instalações, abordando seus conceitos mais gerais. Já no capítulo

3, tratou-se das perspectivas mais humanas do planejamento das instalações e, no

capítulo 4, os diversos fatores que influenciam e são influenciados pelo ambiente de

trabalho. Por fim, no capítulo 5, realizou-se um estudo de caso, a fim de compreender

na prática os assuntos anteriormente abordados.

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1. CULTURA ORGANIZACIONAL

Dentro das organizações, as pessoas se destacam por serem os únicos elementos vivos e inteligentes, por seu caráter dinâmico e por seu incrível potencial de desenvolvimento. Elas têm enorme capacidade para aprender novas habilidades, captar informações, adquirir novos conhecimentos, modificar atitudes e comportamentos, bem como desenvolver conceitos e abstrações (CHIAVENATO, 2000 apud REGATO, 2014, p. 116).

Greenberg e Baron (2000 apud AHMADI e MIRSEPASSI, 2010) definem

organização como um sistema social estruturado constituído por grupos e indivíduos

trabalhando juntos a fim de atingir certo objetivo. Paralelamente, Chiavenato (2000 apud

REGATO, 2014) define a organização como um sistema de atividades conscientemente

coordenadas de duas ou mais pessoas que agem cooperativamente e estão dispostas

a contribuir com ação conjunta a fim de alcançar um objetivo comum.

Complementarmente, Regato (2014) infere que, acima de tudo, as organizações são

sistemas abertos, sendo sistema um conjunto de elementos dinamicamente

relacionados, que desenvolvem uma atividade para atingir determinado objetivo ou

propósito.

É importante notar, portanto, que as organizações compreendem muito mais do

que simples estrutura física, recursos financeiros, equipamentos, normas e

procedimentos. Talvez mais importante do que esses aspectos seja o fato de que

englobam também estruturas humanas e sociais, com vida própria, que crescem,

desenvolvem-se e adaptam-se às exigências impostas, interagindo em prol de um

objetivo ou propósito comum. Assim, é fácil predizer que a cultura organizacional está

intimamente ligada à própria definição de organização, sendo fundamental para seu

sucesso a curto e longo prazo.

A cultura pode ser entendida, ainda, como o conjunto das artes e outras

manifestações da realização do intelecto humano no que tange à coletividade, sendo

usada para definir o resultado da atividade humana, espaço físico e seus limites,

atitudes, ideias, valores e estilo de comunicação. Essa ideia promove o conceito de que

a cultura envolve o sucesso do time e não do indivíduo. Uma vez que a cultura do

ambiente de trabalho essencialmente não pode existir sem seus colaboradores, ela é

algo que é aprendido por pares e interações entre eles (HEIPLE, 2017).

Segundo Robbins, Judge e Sobral (2010) a cultura organizacional é um sistema

de valores compartilhados que existem em uma organização e que a torna diferente das

demais. Mais amplamente, ela pode ser entendida como o conjunto de pressupostos

básicos, valores, crenças, ritos, rituais, cerimônias, estórias, mitos, heróis, tabus,

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normas, preconceitos, comunicação, dentre outros, que influenciam o desempenho

global da organização (DA ROCHA, 2015).

Edgar Schein (1984, p. 2) define cultura organizacional como sendo

o padrão de pressupostos básicos que um dado grupo inventou, descobriu e desenvolveu, aprendendo a lidar com os problemas de adaptação externa e integração interna, e que têm funcionado suficientemente bem para serem considerados suficientemente válidos e serem ensinados aos novos membros como o modo correto de compreender, pensar e sentir, em relação a esses problemas.

De acordo com Robbins (1999) cultura organizacional não seria mais do que um

sistema de significados partilhados, conjunto de características chave que uma

organização valoriza e que refletem a sua essência. É com base nestas características

que segundo o autor, as organizações definem a sua cultura, podendo cada uma das

delas variar em uma escala, de acordo com a percepção, sentimentos ou entendimentos

partilhados, do modo como os serviços ou produtos são gerados e os comportamentos

assumidos pelos seus membros.

Na última década, o termo cultura organizacional tem sido avidamente utilizado

para descrever a sinergia entre colaboradores no ambiente de trabalho. Esse conceito

relata à formação de indivíduos que compartilham valores e crenças de forma a

representar uma identidade de grupo unificada. Como os humanos diferem em

personalidade, valores e experiências, o ambiente de trabalho físico tem o desafio de

abarcar essa diversidade (HEIPLE, 2017).

Assim como ao visitar a casa de alguém pode indicar uma grande quantidade de

informação pessoal, o ambiente silenciosamente comunica seus valores aos seus

residentes. O mesmo ocorre com a configuração do ambiente de trabalho, no qual os

valores da organização devem ser aparentes simplesmente ao caminhar pelo espaço

(HEIPLE, 2017).

Para Chiavenato (2004) a melhor maneira de se conhecer uma organização é

conhecendo sua cultura. A cultura assegura o sentimento de lealdade, delimita a

fronteira, o compromisso e os princípios de comportamento pré-estabelecidas pela

organização, passando, portanto, a condicionar na maneira de realizar as coisas, suas

atitudes e ações nas variadas atividades que devem estar de acordo com a cultura

organizacional. A cultura conduz a organização na direção dos objetivos, determinando

os comportamentos e ações, fixando as metas e resultados a ser alcançados.

A cultura organizacional, de acordo com Chiavenato (2000 apud RIBEIRO, 2006)

engloba aspectos formais e informais, sendo caracterizada por um iceberg por possuir

elementos visíveis e invisíveis. Os aspectos formais, facilmente perceptíveis, são os

componentes visíveis e publicamente observáveis, orientados para aspectos

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operacionais e de tarefas, estando relacionados com as políticas, diretrizes,

procedimentos, objetivos, estruturas e tecnologias existentes. Já os aspectos informais

são os componentes invisíveis e ocultos, afetivos e emocionais, orientados para

aspectos sociais e psicológicos – por vezes difíceis de interpretar e compreender,

transformar ou mudar –, estando relacionados com as percepções, sentimentos,

atitudes, valores, interações informais e normas grupais.

Desvendar o que está oculto, submerso, é fundamental para se entender o

próximo passo a ser tomado no gerenciamento da cultura organizacional. As

organizações estão inseridas dentro de um ambiente e interagem com ele, recebendo

dele influências e influenciando-o. As pessoas que atuam nas organizações são agentes

que contribuem para esse intercâmbio constante, sendo seus valores componentes

para a formação da cultura da organização.

Nesse contexto, Chiavenato (2000 apud REGATO, 2014) cita Lewin e observa

que o ambiente do qual as pessoas participam constitui um campo dinâmico de forças,

que ganham valências positivas ou negativas. A valência é positiva quando os objetos,

as pessoas ou as situações podem ou prometem satisfazer às necessidades presentes

do indivíduo e é negativa quando podem ou prometem ocasionar algum prejuízo ou

dano. Desse modo, as instalações físicas do ambiente de trabalho podem contribuir

positivamente quando, ao suprir as necessidades dos colaboradores, assume valência

positiva, mas, por outro lado, quando insuficiente, tem poder degradador sobre as

relações e capacidade produtiva.

Heiple (2017) complementa que, uma vez que as companhias possuem valores,

missões e formas de gerenciamento diferentes, assim também são os ambientes de

trabalho. A configuração desse espaço deve ser baseada nos objetivos estabelecidos

pela empresa e ele deve ser designado de maneira que os funcionários possam utilizar

o ambiente físico de forma a adicionar o máximo de valor possível, permitindo escolha

sobre a quantidade de interação eles querem em dado momento. E ressalta que não

existe certo ou errado no que tange ao planejamento do espaço, pois ele apenas deve

servir à cultura das pessoas e da organização.

A fim de facilitar a compreensão e aplicação dos conceitos de cultura

organizacional, foram propostos alguns modelos visando categorizar as organizações.

Um dos modelos mais famosos na literatura é o Competing Values Framework, criado

na década de 1980 por Robert E. Quinn e John Rohrburgh, que classifica a cultura

organizacional em quatro tipo, a depender do tipo de trabalho a ser realizado.

A cultura controladora (também conhecida como estruturada) está relacionada

a empresas que possuem uma comunicação linear e onde é essencial “fazer as coisas

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corretamente”, proporcionada por uma organização em um ambiente controlado que

busca estabilidade e eficiência. Já a cultura competitiva visa o “fazer as coisas rápido”,

focando em competição externa, foco no resultado, e em concluir o trabalho rápida e

eficientemente. A cultura colaborativa está associada a organizações que possuem

foco em trabalho em equipe e preocupação com as pessoas, buscando “fazer as coisas

em conjunto” em um ambiente tido como familiar. Por fim, a cultura criativa (ou

empreendedora) tem como premissa “fazer as coisas primeiro”, prezando pela

experimentação e individualidade, e encorajando a tomada de riscos em busca da

inovação (FAIRS, 2016).

O autor complementa que a maioria das organizações tem um dos tipos de

cultura como dominante, mas frequentemente permutam com aspectos dos outros, fato

que torna cada empresa ainda mais única. Além disso, é importante reconhecer as

distintas subculturas que podem se desenvolver em grupos específicos dentro de uma

organização e que, ao entender e aceitar as várias culturas e subculturas existentes, ela

pode focalizar as diferenças para o sucesso estratégico.

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2. WORKPLACE: UM FATOR ESTRATÉGICO

O planejamento das instalações não é mais apenas a tarefa de planejar instalações, mas uma estratégia para navegar em uma economia global competitiva. Toda entidade deve insistir em instalações que apoiem o sucesso do negócio tanto no curto prazo quanto no longo prazo (TOMPKINS, WHITE, et al., 2013, Prefácio).

O planejamento das instalações é um campo de estudo que se originou com o

início da engenharia industrial, a partir da Revolução Industrial e, principalmente, com a

popularização dos experimentos de Taylor em administração científica (MOORE, 1962).

Esses experimentos foram marcados por um cenário de crescente competitividade entre

as organizações, o que transformou o planejamento das instalações em um assunto

estratégico de vido à sua reconhecida importância e atuação nas condições de trabalho.

Uma definição proposta por Barradas, Cardoso e Alves (2015) diz é que o

planejamento das instalações é o ramo que lida com problemas de otimização com o

objetivo de melhorar a eficiência do layout, levando em consideração todos os aspectos

físicos da instalação e a interação desta com as partes que constituem o processo de

trabalho, como o manuseio de material, equipamentos e pessoas.

O conceito pode ainda ser entendido como o processo de definir o melhor arranjo

físico de todos os recursos que consomem espaço em uma determinada instalação, e

que incluem desde objetos simples, móveis, equipamentos e pessoas até um escritório

ou departamento inteiro. As decisões a respeito desse arranjo de recursos em um

negócio não são apenas feitas no momento da projeção, e sim a qualquer momento em

que haja mudança na disposição dos recursos, como a adição de um novo colaborador,

a mudança de um equipamento ou uma alteração nos processos implementados. Ainda,

o planejamento é performado a qualquer momento em que ocorra uma expansão ou

redução no espaço disponível.

Muther (1978, p. 1), em uma leitura clássica, mas que continua atual, afirma que

o tempo despendido no planejamento do arranjo antes da sua implementação evita que as perdas assumam grandes proporções e permite a todas as modificações se integrarem segundo um programa global e coerente, que permite o estabelecimento de uma sequência lógica para as mudanças, além de facilitá-las.

Tompkins, White, et al. (2013) complementam essa visão firmando que o

planejamento de instalações contemporâneo considera a instalação uma entidade

dinâmica e que os requisitos fundamentais de um plano de instalações bem-sucedido

são a sua adaptabilidade e sua capacidade de tornar-se adequado para novos usos.

Desse modo, as instalações que são planejadas hoje em dia devem ajudar uma

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organização a alcançar a excelência na satisfação do cliente final, atuando como

componentes críticos das redes globais de vários níveis.

Em seu trabalho, Muther (1978) indica que todo arranjo físico baseia-se em três

conceitos fundamentais – interrelações, espaço e ajuste – e que o planejamento desse

arranjo é composto por quatro fases, a saber:

• Fase I – Localização: Determina a localização da área para a qual faz-se o

planejamento das instalações, o que não necessariamente representa um

problema de nova localização. Na maioria das vezes, é necessário

determinar se o novo layout ou o rearranjo deve ser instalado na área

atualmente utilizada ou em uma área que poderia ser liberada, aproveitada

ou adquirida.

• Fase II – Arranjo Físico Geral: Estabelece a posição relativa entre as diversas

áreas. Nesta fase, os modelos de fluxo e as áreas são trabalhados em

conjunto de forma que as interrelações e a configuração geral da área sejam

grosseiramente estabelecidas.

• Fase III – Arranjo Físico Detalhado: Envolve a localização de cada recurso,

portanto é quando é estabelecida a localização de cada uma das

características físicas específicas da área, incluindo todos os suprimentos e

serviços.

• Fase IV – Implantação: Na última fase, planeja-se cada passo da

implantação, trata-se da apropriação de capital e faz-se a movimentação dos

recursos, a fim de que sejam instalados conforme o planejamento.

É importante notar que as quatro fases apresentadas se sucedem e sobrepõem

de forma a garantir que a instalação possua todos os requisitos necessários não só à

alocação de todos os recursos, humanos ou não, mas ao atingimento do resultado com

os atributos ideais. Tompkins, White, et al. (2013) discorrem sobre esses atributos,

afirmando que todas as instalações devem ter as seguintes características:

• Flexibilidade - As instalações flexíveis devem ser capazes de lidar com vários

requisitos sem sofrer alterações.

• Modularidade - As instalações modulares são aquelas com sistemas que

cooperam de maneira eficiente em um intervalo amplo de taxas de operação.

• Capacidade de Atualização - As instalações atualizadas facilmente

incorporam avanços em sistemas de equipamentos e tecnologias.

• Adaptabilidade - Isso significa levar em consideração as implicações dos

calendários, ciclos e picos de uso das instalações.

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• Operabilidade Seletiva - Isso significa compreender como cada segmento da

instalação opera, permitindo a implementação de planos de contingência.

• Atitude favorável ao Meio Ambiente e à Energia - Uma abordagem completa

para a sustentabilidade reconhece o desempenho em cinco áreas

fundamentais da saúde humana e ambiental: desenvolvimento sustentável da

planta, economia de água, eficiência energética, escolha dos materiais e

qualidade ambiental interna.

Esses aspectos são determinados pelos desafios que as organizações precisam

enfrentar em um ambiente de negócios que se modifica rapidamente e da necessidade

de um mesmo espaço ser utilizado para diferentes atividades. É notável que para

desenvolver um bom design do ambiente físico é necessário compreender todo o

processo que leva ao produto ou serviço final. Uma forma de fazê-lo é estabelecer um

canal de informações direto entre os departamentos que possuem visão estratégica de

como o processo de trabalho é realizado e das projeções futuras para a organização.

Ademais, outro aspecto importante é enxergar a organização sob a ótica de uma cadeia

de suprimentos, uma vez que o arranjo físico é afetado pela compreensão da logística

que afeta as relações entre a empresa, seus fornecedores e seus consumidores.

Uma das tarefas mais importantes para o planejamento das instalações é

entender profundamente os fluxos necessários de produtos e pessoas e é apenas

estudando esses requerimentos e suas importâncias para cada estação de trabalho,

serviço auxiliar, interrelações e o caminho do produto pelo espaço, que se torna possível

alcançar a performance ideal. O resultado tem um efeito positivo direto na produtividade

e qualidade, com a distribuição dos espaços que permitem um fluxo de processos

regular (MOORE, 1962) (MUTHER, 1978) (TOMPKINS, WHITE, et al., 2013).

Ademais, as considerações econômicas obrigam a uma reavaliação constante e

a um reconhecimento dos sistemas, do pessoal e dos equipamentos existentes. Novas

máquinas e novos processos tornam obsoletos os modelos e métodos mais antigos. O

planejamento de instalações deve ser uma atividade contínua em qualquer organização

que planeje se manter na vanguarda dos desenvolvimentos do seu campo de atuação.

Sendo assim, a criação dessas instalações requer uma abordagem holística

(TOMPKINS, WHITE, et al., 2013), sendo seus elementos:

• Integração Total - a integração do fluxo de materiais e de informações em

uma verdadeira progressão de cima para baixo que começa com o cliente.

• Fronteiras Indistintas - a eliminação das relações tradicionais

cliente/fornecedor e produção/armazenagem, bem como as relações entre

entrada de pedidos, serviços, produção e distribuição.

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• Consolidação - a fusão de entidades empresariais similares e díspares que

resulta em um número menor, porém mais forte, de concorrentes, clientes e

fornecedores. A consolidação também inclui a fusão física de locais,

empresas e funções.

• Confiabilidade - a implementação de sistemas robustos, sistemas

redundantes e sistemas tolerantes a falhas para criar níveis de disponibilidade

muito elevados.

• Manutenção - uma combinação preventiva e preditiva. A manutenção

preventiva é um processo contínuo que minimiza os futuros problemas de

manutenção. A manutenção preditiva antecipa os problemas potenciais

monitorando as operações de uma máquina ou sistema.

• Progressividade Econômica - a adoção de práticas fiscais inovadoras que

integram as informações dispersas em um todo que pode ser utilizado na

tomada de decisão.

Com as mudanças rápidas nos sistemas de produção e distribuição, nas técnicas

e nos equipamentos que ocorreram no passado recente e as que são esperadas para o

futuro, poucas empresas serão capazes de manter suas instalações ou seus arranjos

físicos antigos sem prejudicar gravemente a sua posição competitiva no mercado. As

melhorias de produtividade devem ser realizadas tão rapidamente quanto se tornarem

disponíveis para a implementação. Se uma organização atualiza continuamente as suas

operações para ser tão eficiente e eficaz quanto possível, então deve haver um contínuo

reprojeto do arranjo físico e contínua reorganização. Apenas em situações muito raras

um novo processo ou equipamento pode ser introduzido em um sistema sem perturbar

as atividades correntes. Uma única mudança pode ter um impacto significativo nos

sistemas integrados tecnológicos, de gestão de pessoal, resultando em problemas de

subotimização que podem ser evitados ou resolvidos apenas por meio de reprojeto da

instalação (TOMPKINS, WHITE, et al., 2013).

Nesse contexto, a noção de melhoria contínua para a excelência na satisfação

do cliente deve ser um elemento integrante do ciclo de planejamento das instalações. O

ciclo exibido na Figura 1 detalha esse conceito. O processo inicia-se com a

especificação das atividades primárias e relacionadas ao cumprimento dos objetivos

propostos para a organização, a partir disso, são determinados os requisitos de espaço

para cada uma dessas atividades e avaliada a viabilidade de incorporar as operações

referentes a essas atividades no espaço existente. No caso de uma resposta positiva, é

determinada a localização da instalação, caso contrário, são desenvolvidos e avaliados

planos alternativos. Em seguida, é selecionado e implementado o plano de instalações,

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que é mantido e melhorado continuamente retroalimentado o sistema de volta a primeira

etapa. No caso do planejamento de uma nova instalação ou na atualização de uma

instalação existente, o processo de planejamento de instalações não se altera

(TOMPKINS, WHITE, et al., 2013).

Figura 1: Ciclo de planejamento de instalações com melhoria contínua Fonte: Tompkins, White, et al. (2013, p. 5).

É importante notar, porém, que o ambiente de trabalho não está limitado à

definição das características físicas de diversidade, enclausuramento e flexibilidade. É

necessário reconhecer as dimensões sociais, psicológicas e os benefícios intangíveis

do espaço, como o sentimento de pertencimento e de propriedade, a identidade

encorajadora, a presença ou ausência de diretrizes comportamentais claras e os

espaços interpretativos individuais e coletivos (MARTENS, 2011). Os capítulos

seguintes apresentam essas dimensões.

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3. AS ABORDAGENS DO LAYOUT E SEU ASPECTO SOCIAL E

PSICOLÓGICO

Segundo Schuler, Ritzman e Davis (1981) existem na literatura duas abordagens

dominantes no que se refere a arranjos espaciais. A primeira, que está mais relacionada

ao gerenciamento das operações, é prescritiva, e enumera uma variedade de

procedimentos para o planejamento de configurações ótimas de layout. Essa

abordagem busca alocar indivíduos em seus locais ideais de forma a ajustar de forma

ótima o fluxo de trabalho, porém dando pouca atenção aos contatos sociais, grau de

privacidade e senso de propriedade. A segunda abordagem, chamada de

comportamental, tem seu foco nesses efeitos mais subjetivos e em como eles

impactam os comportamentos e as atitudes dos indivíduos. É importante notar, no

entanto, que uma vez que essas duas abordagens foram desenvolvidas de forma

independente, existe uma lacuna a ser preenchida na busca por ferramentas mais

efetivas que comportem o melhor das duas visões.

O autor complementa que a abordagem prescritiva é dividida em três

subabordagens. A primeira, caracterizada como modelo tradicional, refere-se aos

conceitos de arranjos espaciais que foram utilizados primariamente para o cenário de

fábricas e posteriormente em escritórios. Esses conceitos englobam diversos princípios

e técnicas visando agrupar entidades semelhantes, permitir espaço suficiente e prover

um fluxo de trabalho ordenado. O modelo tradicional, porém, enxerga o indivíduo

apenas como um aspecto do ambiente, e não leva em consideração como ele é

influenciado por esse ambiente. Além disso, uma outra dificuldade associada a esse

modelo é que o processo de solução é deixado a cargo do analista em um processo de

acerto e erro.

Figura 2: Taxonomia das Abordagens Fonte: Schuler, Ritzman e Davis (1981, p. 132)

A segunda subabordagem surgiu do desenvolvimento de algoritmos

computadorizados, sendo chamada de modelo de proximidade, e visando a

Perspectiva Comportamento

Modelos

Tradicionais

Modelos de

Proximidade

Modelos de

Multicritério

Relações

Sociais

Sócio-

Técnica

Percepção

de Papéis

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diminuição das distâncias entre entidades que possuam fortes interações ou conexões

entre elas. O trabalho de Vollmann et al. (apud SCHULER, RITZMAN e DAVIS, 1981)

demonstra a utilização desse modelo em ambientes de escritório, utilizando um

algoritmo modificado para colocar próximas as entidades - pessoas, objetos e espaços

- que interagem frequentemente, assumindo que isso aumenta a eficiência. Todavia,

duas dificuldades inerentes a esse modelo são a restrição a um único critério e o pouco

controle nas partições e formas específicas dos espaços destinados às entidades.

Em resposta às deficiências dos modelos anteriormente apresentados, surgiu a

terceira subabordagem da abordagem descritiva, conhecida como modelo

multicritério. Nesse modelo são levados em conta objetivos conflitantes como

distâncias mínimas entre departamentos, distribuição equitativa de espaços,

minimização de realocação e minimização de desvio dos padrões espaciais,

possibilitando soluções mais assertivas. Mas apesar dos avanços na abordagem

prescritiva, ainda há o questionamento sobre a falta de preocupação com o impacto das

atitudes e comportamentos dos funcionários desses modelos pois, uma estação de

trabalho pode ser reorganizada de forma a ser teoricamente mais eficiente, mas menos

trabalho será realizado se seu usuário odiar estar ali e usar toda oportunidade que tiver

para sair de seu posto (SCHULER, RITZMAN e DAVIS, 1981).

Nesse contexto, a abordagem comportamental, citada anteriormente, surge para

demonstrar a importância do espaço físico como influenciador do comportamento

humano e do entendimento dos efeitos psicológicos do ambiente de trabalho, uma vez

que tanto os campos da engenharia quanto da psicologia podem permutar

conhecimento para ajudar um ao outro (BARRADAS, CARDOSO e ALVES, 2015).

Assim como na abordagem prescritiva, a abordagem comportamental também

compreende três subabordagens. A subabordagem chamada de relações sociais

favorece um ambiente físico aberto, enquanto a sóciotécnica valoriza um ambiente

com áreas delimitadas por paredes e divisórias e, apesar das duas tratarem de

preocupações comportamentais, suas predições sobre os efeitos do ambiente no

indivíduo diferem substancialmente (SCHULER, RITZMAN e DAVIS, 1981).

A definição e classificação do ambiente físico corporativo em termos do tipo de

escritório, sendo aberto e fechado os mais comuns, é profundamente enraizada na

literatura. Uma vez que o termo layout refere-se a como o espaço é arranjado e seus

limites são definidos, é natural que isso possa determinar o tipo do escritório, bem como

o desempenho de um espaço estabelecido em determinado arranjo e limite. A literatura

estabelecida a respeito desse conteúdo normalmente resume-se ao debate comparativo

entre os dois tipos principais de arranjo: escritórios fechados - tradicionais, com postos

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de trabalho individuais e separados - e escritórios abertos - que faz uso de grandes

espaços abertos que minimizam as separações, paredes e divisórias.

Apesar das duas subabordagens oferecerem argumentos convincentes, como

será apresentado no capítulo 4, não existem evidências na literatura que sugerem

suporte extensivo ou consistente em favor de nenhuma das proposições. Assim, apesar

de haver certo suporte da subabordagem sóciotécnica aos aspectos sociais do arranjo

espacial, ela não fornece uma completa operacionalização da privacidade nem

reconhece a influência que o ambiente tem nas percepções do papel de cada indivíduo.

Enquanto isso a visão de relações-sociais ainda possui dificuldades em incluir aspectos

sobre a importância e influência da privacidade e outros fatores.

Desse modo, o modelo de percepção de papéis, terceira e última

subabordagem, busca agregar o melhor dos dois cenários. Ele sugere que o

planejamento do arranjo físico afeta o alcance de determinados objetivos no ambiente,

que por sua vez influenciam as percepções dos indivíduos sobre a característica do

trabalho e de seu papel nele, que então, após ser influenciado por características

pessoais, modifica os resultados individuais dos funcionários, principalmente

performance, criatividade, motivação e satisfação (SCHULER, RITZMAN e DAVIS,

1981).

Visando atingir esse objetivo, alguns autores propõem formas de organizar o

ambiente que permitam unir os fatores tecnológicos, emocionais, sociais que habilitem

características dos dois cenários, flexibilizando as possibilidades de arranjo e

objetivando a satisfação de todos os colaboradores. Os arranjos flexíveis, portanto, que

consistem em espaços com objetos e espaços ajustáveis e possibilidade de

reorganização de postos de trabalho, compreendendo tanto ambientes que promovem

o trabalho individual e focado, quanto o trabalho em grupo e a interação, suprem a

necessidade essa necessidade inerente às organizações modernas.

Além das considerações quanto às abordagens, é importante notar a influência

do arranjo físico quanto a aspectos subjetivos. Embora sabido que o ambiente físico de

trabalho pode expressar e refletir a identidade e cultura de seus usuários

(KORNBERGER e CLEGG, 2003) (KORNBERGER e CLEGG, 2004) (VILNAI-YAVETZ

e YAACOV, 2005), e que o planejamento das instalações é capaz de atuar restringindo

ou favorecendo características particulares do trabalho e interações entre os

colaboradores, não existem na literatura muitos estudos a respeito de como o arranjo

físico afeta a cultura organizacional como um todo.

O desafio torna-se ainda maior considerando que o espaço físico possui uma

dimensão social psicológica, portanto as pessoas podem ter concepções diferentes

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sobre o mesmo ambiente. Isso significa que essa dimensão e seu efeito nos

colaboradores podem variar de irrelevante a altamente motivador caso a caso

(MARTENS, 2011).

Schuler, Ritzman e Davis (1981) reafirma esse aspecto subjetivo como

complicador ao relatar que a percepção de um indivíduo a respeito do ambiente como

sendo apropriado ou inapropriado é, em parte, determinada pela cultura e

adaptabilidade desse indivíduo. Ele exemplifica que dois funcionários podem possuir

postos de trabalho idênticos em termos de paredes ou divisórias, por exemplo, mas

podem responder de forma distinta por haverem se acostumado ou adaptado a

diferentes níveis de privacidade ao longo de experiências de trabalho anteriores. Ainda,

estudos realizados por diversos autores, incluindo Haynes (2008), relatam que, além do

tipo de ambiente montado, os traços da personalidade de cada indivíduo – como a

aceitação, extroversão, estabilidade emocional, abertura para experiências e

consciência – afetam a percepção dele em relação ao ambiente.

Na tentativa de entender as organizações, os planejadores do ambiente físico

devem ter profundo entendimento de que os indivíduos dentro das organizações podem

atuar em tarefas similares, mas abordam seu trabalho de maneira completamente

diferente. Isso significa que um trabalho que é motivador e satisfatória para um pode ser

percebido por outro como tedioso e sem propósito. Uma das formas de explicar esse

fenômeno é utilizando os conceitos da consagrada teoria da princípio da hierarquia

das necessidades de Maslow, um dos métodos mais utilizados e compreensivos na

definição dos requisitos humanos (TRICKETT, 1992). Maslow acreditava que as

necessidades humanas podiam ser expressas como um processo em constante

mudança, ao invés de uma lista fixa de requisitos que se aplicam a todas as pessoas.

Seu sistema em forma de pirâmide inclui, do nível mais baixo ao mais alto, as

necessidades fisiológicas, de segurança, de pertencimento, de autoestima e,

finalmente, de autorrealização.

No planejamento do ambiente de escritórios, os requisitos de níveis mais baixos

podem ser atingidos normalmente com a provisão de condições espaciais e ambientais

que, no seu mínimo, conformam com regulações de saúde e bem-estar. Apesar dos

planejadores não poderem ter essas necessidades como garantidas apenas por seguir

normas clássicas, existem boas razões para que foquem seu trabalho nas necessidades

dos níveis mais altos. Ao contrário das outras, as necessidades de autoestima e

autorrealização não podem ser satisfeitas com a provisão apenas de melhor suporte ao

ambiente. Elas são satisfeitas apenas com resultados que são internos aos

colaboradores e que são, essencialmente, alcançados por conta própria, como o

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sentimento de realização e crescimento. O ponto principal é que é possível planejar

conscientemente um ambiente onde as condições de trabalho encorajam os resultados

e realizações internas.

Trickett (1992) afirma então que o sucesso no planejamento de um ambiente de

trabalho pode assegurar que:

i. Diferentes personalidades na organização sintam-se confortáveis com o

ambiente à sua volta porque a eles são ofertadas escolhas de configurações

espaciais. Pequenas diferenças podem significar muito.

ii. O ambiente de trabalho compensa variações de perícias e habilidades

individuais porque ele consiste em uma série de componentes que podem

ser ajustados pelo usuário sem a ajuda de um especialista.

iii. Um senso de ordem emerge da diversidade ao contrário da abordagem

normal onde a expressão das diferenças individuais é caracterizada como

uma “quebra de regras”.

iv. Comunicações informais perpetuam em todos os níveis da organização sem

causar constante invasão dos espaços individuais.

v. Um clima de colaboração é criado, tanto inter quanto intragrupos, pela

provisão de áreas de encontro informais.

vi. O interior do escritório contribui para a autoestima das pessoas porque não

ditam sistemas de gerenciamento ou impõe métodos de trabalho. Assim, a

escolha permanece individual.

Estes resultados, que não são facilmente atingidos, levam em conta tanto

questões sociais como psicológicas que devem agora fazer parte dos novos ambientes

de trabalho. Longe das limitações de um planejamento tradicional, que tende a suprimir

a individualidade e a expressão da variedade, a abordagem moderna proposta busca

assistir as pessoas na obtenção completa das recompensas intrínsecas.

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4. WORKPLACE X CULTURA: POTENCIALIZADOR OU MINIMIZADOR

Uma vez que os funcionários são o ativo mais importante de uma organização, projetar e gerenciar o ambiente de trabalho físico, virtual e social para alcançar a produtividade e satisfação tem se tornado imperativo para as empresas que almejam atingir vantagem competitiva. A natureza do trabalho passou por mudanças radicais durante as últimas décadas. O trabalho não mais é para onde se vai, e sim o que se faz - em qualquer lugar. Flexibilidade relacionada a tempo e espaço tem se tornado cada vez mais comum como consequência de que existem hoje - mais do que nunca - variadas formas de trabalhar. Não apenas existem diferenças entre as tarefas realizadas performadas, mas também as pessoas que realizam essas tarefas são diferentes. A força de trabalho constitui-se de uma grande variedade de trabalhadores com diferentes experiências, estágios de vida, interesses e personalidades (ZHU, 2013, p.1).

Considerando que, como descrito no capítulo 1, a cultura organizacional

compreende um conjunto complexo de diversos fatores objetivos e subjetivos e, ainda,

essas percepções individuais e coletivas, há uma dificuldade inerente ao realizar a

análise sobre quais aspectos do arranjo físico são determinantes para o alcance de um

ambiente físico ideal, que permita ao colaborador alcançar resultados alinhados com os

objetivos da organização de forma produtiva, criativa, motivada e satisfatória. Além

disso, o desafio torna-se ainda mais complexo ao considerar as inter-relações que os

diferentes aspectos, características, fatores e qualidades de um ambiente tem entre si,

e como afetam a percepção de cada componente humano em relação aos resultados.

Na tentativa de avaliar isoladamente alguns desses fatores, um estudo de Brill

et al. (2001 apud HAYNES, 2008) identificou as dez qualidades mais importantes que

um posto de trabalho deve possuir, a saber: habilidade de realizar trabalho sem

distrações; suporte a interações improvisadas; suporte a reuniões e trabalho em grupo

sem distrações; posto de trabalho confortável, ergonômico e com espaço suficiente para

acomodar as ferramentas de trabalho; posto de trabalho que favorece interação lado a

lado e iniciação de conversas; localização próxima ou de fácil acesso a colegas de

trabalho; posto de trabalho com bons espaços para descansos; acesso à tecnologia

necessária; iluminação de qualidade e acesso à luz natural; e controle de temperatura

e da qualidade do ar.

Os fatores espaciais impactam os colaboradores no ambiente de trabalho,

incluindo o efeito psicológico das configurações espaciais nas reações desses

indivíduos no seu trabalho e meio. Como evidenciado por Hawthorne, o ambiente físico

capaz de impactar o comportamento humano, e a importância do layout em eventos

como formação de amizade, atração interpessoal, coesão do grupo e formação de

liderança já é conhecida (SCHULER, RITZMAN e DAVIS, 1981). Assim, o interesse no

estudo do arranjo físico como fator-chave para o alcance dos resultados individuais e

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coletivos em termos de performance, criatividade, motivação e satisfação dos

colaboradores é de grande importância.

Segundo Rotundo e Sackett (2002 apud AHMADI e MIRSEPASSI, 2010), a

performance do trabalho pode ser definida como a medida em que cada colaborador

apresenta comportamentos que promovem os objetivos da organização, sendo estes

não só comportamentos formais e prescritos, mas também de natureza social. A

performance individual é, reconhecidamente, o conceito básico de avaliação de cada

organização, mas é importante notar que, uma vez que o indivíduo faz parte de um

sistema organizacional e dele não pode ser isolado - até porque a literatura mostra que

a performance de um influencia na dos demais - esse aspecto deve ser caracterizado

como coletivo e não como particular.

Segundo Levin e; Lindholm e Levainen (2005 e 2006 apud MARTENS, 2011), o

espaço físico pode ser uma ferramenta poderosa para que as organizações suportem

suas estratégias e melhorem suas performances e produtividade. O ambiente de

trabalho tem um impacto fundamental no recrutamento, retenção, produtividade e

fundamentalmente na habilidade da organização em alcançar sua estratégia de

negócios (GENSLER, 2005, apud HAYNES, 2008).

Em relação aos traços de personalidade de cada indivíduo, citados

anteriormente, uma revisão de Seddigh, Berntson, et al. (2016) encontrou que a

manifestação positiva da consciência consistentemente predizia a performance de

todos os grupos estudados, assim como a extroversão para o caso de trabalhos que

demandam interações entre os colaboradores.

Pesquisas científicas indicam que o layout do ambiente de trabalho pode

contribuir, em geral, para a performance, processos e pessoas de uma organização à

medida em que:

• Não devem existir reflexo da luz ou brilho na área de trabalho;

• Deve existir iluminação apropriada, de acordo com a tarefa desempenhada;

• A iluminação deve ser uniforme dentro do campo de visão do colaborador;

• Não deve existir calor ou frio incômodos no ambiente de trabalho;

• O acesso ao posto de trabalho deve ser seguro e desobstruído;

• O fluxo de trabalho deve ser facilitado;

• A cooperação, tanto entre pessoas internas quanto externas, deve ser

facilitada;

• Deve haver conformidade entre a estrutura organizacional e a localização

das estações de trabalho;

• A privacidade deve ser assegurada, se requerida;

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• Deve haver acesso fácil a elementos como janelas, aparelhos de

resfriamento ou aquecimento, para propósito de utilização e manutenção.

Considerando esses e muitos outros fatores explorados na literatura, percebe-

se que projetar o arranjo de estações de trabalho de forma a contemplar apenas os

princípios ergonômicos já é uma tarefa complexa, uma vez que deve considerar um

número importante de interações e elementos variáveis, e deve tentar contemplar um

grande número de requerimentos, alguns muitas vezes parecendo contraditórios. De

fato, a interdependência entre o ambiente de trabalho, seus componentes, os

trabalhadores e seus requerimentos e o desempenho do trabalho configura-se como o

maior fator complicador no planejamento.

Um dos exemplos da atuação das técnicas ergonômicas nesse ambiente é no

rearranjando do layout para trazer próximos os colaboradores que se comunicam

frequentemente, o que significa que eles podem conversar pessoalmente mais

facilmente, sem depender de equipamentos. Isso não só diminui as percepções de

ruídos como torna o processo decisório mais rápido e melhor, o que pode levar a

melhores resultados e ao aumento de produtividade. Adicionalmente, o rearranjo pode

evitar movimentos desnecessários pelo escritório, liberando áreas congestionadas e

reduzindo o desconforto dos colaboradores que sentam próximos às passagens em

relação à ruídos e movimentações, ajudando-os a focar em suas atividades.

É interessante notar que, com a evolução do estudo da ergonomia no ambiente

de trabalho moderno, cada vez mais o entendimento do homem e suas necessidades

tornou-se o foco central das discussões. Brooks (1998) cita que entender as

necessidades das pessoas pode fazer a real diferença para a eficiência do escritório e

para a produtividade do quadro de funcionários pois, uma organização física impopular,

como sabe-se, reduz a moral, aumenta a hostilidade e pode ter efeitos desastrosos no

resultado do trabalho. E complementa indicando que, além dos benefícios óbvios de

obter um design correto, a grande vantagem de buscar entender as necessidades de

todos os colaboradores é que eles se tornam envolvidos com o processo de mudança,

o que leva a maiores sentimentos de propriedade e comprometimento com as

transformações.

A comunicação, interação e colaboração são alguns dos fatores interligados

que representam as necessidades desses colaboradores. Entender a rede de

comunicação e os requisitos do escritório podem ser a chave para o alcance da estrutura

ideal. Enquanto canais de comunicação clássicos como reuniões, relatórios e fluxo de

informação interdepartamental, possam ser bem entendidos, a experiência mostra que

é a comunicação informal, mais nebulosa, a diferença entre o sucesso e o fracasso.

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Dessa forma é essencial compreender essas ligações inexplícitas - quem tem acesso

regular a quem, como as coisas são feitas, quais áreas da empresa precisam estar mais

próximas, e quais precisam estar separadas (BROOKS, 1998). Segundo Hua, Loftness,

et al., (2011), com a crescente valorização do papel da colaboração e as estratégias de

gerência sendo realinhadas a suportá-la, as configurações espaciais precisam ser

reconhecidas como ferramentas poderosas para facilitar tanto as interações desejadas

quanto a performance de tarefas individuais.

O layout pode impactar na frequência, intervalo e duração da comunicação, que

é um sistema de comportamento que inclui tanto hábitos e práticas individuais quanto

interativas (HUA, LOFTNESS, et al., 2011). Ademais, para que a colaboração seja

bem-sucedida é importante nutrir interações férteis, ao mesmo tempo em que deve

haver preocupação com a necessidade de tempo de trabalho ininterrupto para um

trabalho concentrado. Em escritórios fechados e celulares, cada colaborador tem seu

próprio espaço individual e isolado com apenas algumas áreas comuns onde podem se

encontrar e conversar, o que favorece a colaboração pontual. Já nos escritórios abertos,

foi avaliado que os gerentes se comunicam três vezes mais frequentemente, e por

períodos mais curtos, e também tem tempos mais longos sem comunicação, portanto

existem mais trocas, mas que não necessariamente se convertem em colaboração real.

De acordo com Oldham, Kulik, and Stepina (1991), três características espaciais

desses ambientes relacionam-se mais consistentemente à reação dos seus ocupantes,

incluindo sua satisfação e performance. Esses fatores são a densidade espacial, o

número de gabinetes ou recintos que circundam a área de trabalho do indivíduo, e a

distância interpessoal.

Estudos sobre o impacto da distância interpessoal, ou proximidade, mostram

que a distância entre os indivíduos possui influência significativa na probabilidade de

haver comunicação e colaboração. Allen e Henn (2007 apud MARTENS, 2011)

declaram que os colaboradores são mais propensos a se comunicar com colegas que

estão na sua vizinhança, uma vez que interações pessoais rapidamente declinam após

30 metros de distância no ambiente de trabalho. Stryker e Farris (2004 apud MARTENS,

2011) mostram que maiores densidades, combinadas a locais propícios a comunicação

informal tem efeito positivo na comunicação do time. No entanto, proximidade física

também pode ter desvantagens na comunicação quando, por exemplo, a comunicação

espontânea suportada pela proximidade não é sempre bem-vinda, e conversas cara-a-

cara geram demandas cognitivas e responsabilidades (KRAUT, FUSSELL, et al., 2002).

A proximidade física também influencia a tendência às pessoas de interagir

dentro das organizações. Os laços sociais também estão associados com a proximidade

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nos ambientes de trabalho, uma vez que a distância entre as estações prediz a

probabilidade dos indivíduos em termos de colaboração e amizade, o que tem sido

replicado por estudos em vários cenários, incluindo escritórios de engenharia (ALLEN e

HENN, 2007), ambientes científicos, firmas de arquitetura e ambientes públicos.

Alguns estudiosos teorizam que a proximidade influencia os laços sociais porque

menos esforço é necessário para conectar os indivíduos que estão fisicamente

próximos, comparado aos que estão mais distantes. A distância aumenta o “custo” de

interação, e a probabilidade de interagir decresce nessa proporção. Outros teorizam que

a proximidade física influencia os laços devido à exposição: quanto maior a proximidade

entre duas pessoas, mais provável é elas estarem expostas umas às outras, e maior a

chance de existir um laço social. A exposição é um fator relevante uma vez que

encontros não planejados, breves e cara a cara possibilitam interações sociais.

Outros fatores que promovem a comunicação e a interação entre os grupos são

a visibilidade do posto de trabalho, que depende particularmente da sua posição e

orientação no espaço disponível, a função que cada colaborador tem na organização e

o tipo de tarefa que executa (MARKHEDE e STEEN, 2006 apud MARTENS, 2011), uma

vez que nesse caso a própria natureza do trabalho indica o nível de intersecção de

informais que deve ocorrer.

Heerwagen, Kampschroer, Powell, & Loftness; Hua, (2004 e 2007 apud HUA,

LOFTNESS, et al., 2011) citam que um ambiente de trabalho colaborativo não apenas

acomoda e estimula interações ativas e dinâmicas, como também suporta o trabalho

individual necessário ao alcance de alta performance nas organizações. Nesse

contexto, Hua, Loftness, et al., (2010) discursam sobre quais os fatores chave da

configuração espacial do ambiente de trabalho que afetam o suporte à colaboração e

sua percepção pelos indivíduos, utilizando cinco variáveis espaciais relacionadas à

estação de trabalho derivadas da literatura e outras seis relacionadas ao arranjo físico

geral em si, propostas com base nas experiências prévias dos autores.

As cinco variáveis espaciais do posto de trabalho estudadas são o tamanho da

estação de trabalho; o nível de enclausuramento, dada a altura da divisória; a distância

interpessoal, de cadeira a cadeira para o companheiro mais próximo; a densidade

espacial do ambiente, em número de colaboradores a cada 25 pés e; a existência ou

não de portas, ou seja, se era um escritório fechado ou aberto. Já as seis variáveis de

arranjo, que se referem à forma como os espaços funcionais estão arranjados no

ambiente de trabalho e às relações espaciais entre eles (nos quais os espaços

compartilhados possuem um interesse particular), são: a distância das estações de

trabalho individuais ao espaço comum mais próximo; a distância das estações de

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trabalho individuais à área de impressão mais próxima; a distância das estações de

trabalho individuais à cozinha ou café mais próximo; o grau de abertura do arranjo, ou

seja, percentagem de postos abertos em relação ao total de estações de trabalho; a

percentagem de área útil dedicada a salas de reunião e espaços comuns abertos e; a

percentagem de área útil dedicada a serviços compartilhados ou amenidades, como

área de impressão, cozinha ou café, lounge, etc).

Os resultados desse estudo indicaram que um maior nível percebido de

facilitação na colaboração pelo espaço físico estava significativamente associado à

maiores distâncias para o próximo colaborador, ao menor número de colegas próximos

(menor densidade), à menor distância entre postos de trabalho, ao arranjo físico aberto

reduzido, a maior percentagem de área dedicada a espaços comuns e também de

serviços compartilhados e amenidades. Um menor nível de percepção a respeito da

distração nestes ambientes estava intimamente associado a maiores distâncias entre

os postos de trabalho e às áreas comuns e a um maior percentual de área útil dedicada

a serviços compartilhados e amenidades.

Segundo Hua, Loftness, et al. (2011), altos níveis de densidade espacial

produzem um senso de aglomeração e são associados a baixos níveis de satisfação e

performance, aumento de afastamento social e maiores intenções de turnover.

Complementarmente, apesar de ser associada diretamente à densidade do local de

trabalho, o tamanho das estações de trabalho tem sido menos frequentemente

examinado na literatura. Estações maiores são vinculadas a percepções maiores de

privacidade e satisfação do ambiente de trabalho, e com percepções menores de

distração.

A significativa correlação negativa do estudo entre a densidade do ambiente de

trabalho e a facilitação percebida corrobora com a inferência de que espaços densos

tornam a concentração mais difícil, possivelmente reduzindo a colaboração efetiva. A

correlação positiva entre a distância ao próximo companheiro de trabalho e a percepção

de colaboração parece, em uma primeira avaliação, contradizer o argumento de que a

proximidade nutre a colaboração. Assim sendo, a preferência por longas distâncias

entre os trabalhadores reforça o achado inicial de que o aumento da densidade de fato

afeta negativamente a percepção de colaboração entre os ocupantes. Os dados

também mostraram que uma simples abertura - espaço vasto com alta visibilidade - não

necessariamente suporta a percepção de colaboração (HUA, LOFTNESS, et al., 2011).

No ambiente de trabalho, pesquisas mostram que os padrões de movimento

estão fortemente associados às interações sociais. Por exemplo, a densidade de

movimento em determinadas áreas (particularmente escadas e corredores) está ligada

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a um aumento na frequência de interação (DESYLLAS, DESYLLAS, et al., 1999).

Similarmente, um estudo que examinou o ambiente acadêmico descobriu que

faculdades cujos escritórios estavam localizados nos corredores centrais possuem

maiores graus de coautorismo em relação aos que tinham escritórios periféricos

(WINEMAN, FELICHISM e DAVIS, 2009). Outro trabalho encontrou uma relação onde

a ilha central de um ambiente colaborativo amplo é frequentemente a área mais densa

de interação entre os colaboradores (HILLIER e GRAJEWSKI, 1990 apud SPILLANE,

SHIRRELL e SWEET, 2017).

Como uma plataforma de uma variedade de atividades individuais e coletivas,

os espaços de trabalho são compostos não apenas de escritórios e cubículos, mas

também de uma combinação de espaços compartilhados, que incluem áreas de

encontro, de impressão, cozinha e/ou café, lounge e áreas de circulação. A grande

diversidade de ambientes no trabalho promove escolhas para as pessoas sobre onde,

quando e como eles trabalham (BECKER, 2004), e também variadas oportunidades

para os indivíduos se encontrarem e interagirem. Uma exploração da relação entre o

layout de espaços compartilhados no ambiente de trabalho, adicionalmente às

características espaciais das estações de trabalho individuais e a resposta de seus

ocupantes é de grande valia e oportuna (HUA, LOFTNESS, et al., 2010) uma vez que

relaciona o arranjo local na reflexão e suporte ao aumento do trabalho colaborativo.

Ao examinar a literatura existente em como as percepções e satisfação

relacionam-se ao comportamento interativo, nota-se que a maioria dos parâmetros

espaciais que têm sido estudados relacionam-se a características das estações de

trabalho individuais. Hong et al. (2003) afirmam que um escritório deve possuir tanto

espaços de trabalho quanto de encontros, e devem suportar compartilhamento informal

de conhecimento. E, complementarmente, Tompkins, White, et al. (2013) sugerem

considerar especialmente os chamados espaço para amenidades, como salas de

relaxamento, jardins e cafés.

No estudo de Hua, Loftness, et al., (2011) concluiu-se que a percepção a respeito

da facilitação para colaboração que o arranjo físico proporciona aos colaboradores é

mais acentuada quando (a) os espaços de reunião estão localizados próximos às

estações de trabalho individuais, (b) quando a cozinha ou área de café compartilhada

está localizada mais distante das estações individuais e (c) quando uma maior

proporção da área é dedicada a serviços compartilhados e amenidades. Em relação à

percepção a respeito da distração, concluiu-se que ela é maior quando a área de

impressão está mais próxima às estações de trabalho individuais.

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Além disso, a configuração espacial do ambiente de trabalho tem um impacto

significativo na percepção ao suporte para colaboração pelos indivíduos e as

características do próprio posto de trabalho são menos significativos do que as variáveis

do layout que destacam os locais comuns do ambiente. A localização das salas de

reunião, áreas de impressão comuns, cozinha ou área do café, e no geral o tamanho da

área dedicada a espaços compartilhados se mostraram mais importantes na percepção

do suporte à colaboração pelos seus ocupantes, segundo o mesmo autor.

De acordo com o modelo construído por Hua, Loftness, et al. (2011), as salas

e/ou espaços de reunião devem ser localizados próximos às estações de trabalho para

garantir um nível de percepção de suporte à colaboração. Esses recintos, quando

próximos aos ocupantes em estações adjacentes, promovem oportunidades de

melhoria de trabalho colaborativo e conversas casuais quando necessário, sem o ônus

da distração dos colegas de trabalho em outros postos. Obviamente, essas salas de

reunião necessitam de um bom isolamento acústico para prevenir que se tornem fontes

de distração. O estudo concluiu que quando as salas de reunião estão distribuídas em

volta do centro e/ou nos cantos, a média de distância entre as estações de encontro são

menores. Salas de reunião e espaços de encontro próximos são benéficos às

necessidades de colaboração; a localização dos espaços de impressão e cozinha ou

copa são preferidas em certas distâncias da área aberta para garantir menores níveis

de distração e maiores níveis na percepção da facilitação da colaboração no ambiente.

Os layouts das áreas de impressão e cópia, caracterizados como cenários de serviços

centrais (espaços para equipamentos compartilhados que possuem bom

enclausuramento para interações e trabalho colaborativo) foram entendidos como

associados com níveis significativamente altos de percepção de facilitação de

colaboração pelo ambiente de trabalho e níveis baixos de percepção da distração. Em

contraste, os layouts típicos para cópias e impressões, nos quais os equipamentos estão

inseridos nas áreas de circulação, promovem grau de facilitação de colaboração

moderado e maiores distrações.

Complementarmente, para o layout da área de cozinha e/ou copa, maiores

distâncias entre esses espaços e as estações de trabalho foram associadas à maior

colaboração, apesar de que essas áreas não foram caracterizadas como de distração

como as de fotocópia foram. Ainda, espaços de serviços compartilhados e amenidades

promovem oportunidades para encontros agendados entre colegas de trabalho,

portanto essas áreas precisam ser cuidadosamente planejadas, dado o entendimento

de que possuem funções críticas como nós para colaboração casual e planejada.

Ademais, localizações dedicadas a essas funcionalidades (fotocópias, impressoras,

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cafés e copa/cozinha) não só promovem oportunidades para serviços como eliminam a

necessidade de que equipamentos estejam alocados em áreas de circulação ou postos

de trabalho vacantes, onde conversas podem se tornar distrações sérias aos indivíduos

adjacentes. Mais espaço dedicado à interação informal também aumenta a

possibilidade de afastar atividades barulhentas das estações. O estudo mostrou que

mais espaço dedicado a serviços compartilhados e amenidades estão associados a

menores níveis de distração, o que contribui para um ambiente mais saudável para

trabalhos concentrados (HUA, LOFTNESS, et al., 2011).

O tipo de arranjo físico, já citado no capítulo 3, também é um fator chave na

influência da produtividade e satisfação da organização. Os efeitos da utilização do

layout clássico, fechado, são amplamente conhecidos devido ao fato de que esse foi o

primeiro tipo de escritório efetivamente utilizado globalmente. Já o layout aberto, surgido

na década de 1970, tornou-se popular por se acreditar que traria grandes benefícios à

comunicação, colaboração e produtividade, além de oferecerem vantagens

econômicas. No entanto, estudos recentes indicam efeitos negativos como a falta de

isolamento acústico e privacidade, altos níveis de ruídos e distrações, aumento de

estresse e conflitos, o que resulta em menores níveis de produtividade e satisfação

(ZHU, 2013).

Schuler, Ritzman e Davis (1981) citam que a subabordagem de relações sociais,

citada no capítulo 3, indica que um arranjo físico aberto influencia positivamente a

satisfação e motivação dos funcionários por meio das interações e relações sociais

fortes. Essa abertura também é responsável por menores graus de conflito

interdepartamental, maior chance de criação de amizades, aumento de feedback entre

os companheiros de trabalho e melhor performance no geral. Por outro lado, a

subabordagem sóciotécnica sugere que paredes e divisórias estão positivamente

associadas à satisfação, motivação e performance dos funcionários, baseando-se na

importância da privacidade dos indivíduos como fator-chave.

Pensadores sóciotécnicos como Cummings e Griggs (1976) e Rice (1958)

também argumentam que paredes e divisórias interferem na satisfação, motivação e

performance do funcionário ao criar barreiras e espaços bem definidos, contribuindo

positivamente para a sentimento de proprietário da tarefa, ou seja, a percepção do

indivíduo de que ele é o responsável pela função e trabalho que lhe foi designada, e

cujo resultado depende majoritariamente dele. Ao contrário, um escritório aberto

contribui negativamente nesse sentido uma vez que nesse ambiente o produto de toda

a empresa é visto como resultado de toda a equipe, diminuindo o sentimento de

propriedade individual. Nesse sentido, deve ser notado, porém, que outras literaturas

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explicitam a visão exatamente oposta, onde o ambiente aberto favorece a percepção do

indivíduo em como sua tarefa se encaixa no plano geral das operações, resultando em

maior identidade do indivíduo com o todo.

Estudos sobre os efeitos de escritórios abertos indicam que esses ambientes,

em comparação com os escritórios tradicionais, facilitam a comunicação e a

socialização, mas diminuem a privacidade e aumentam a percepção de barulho e

distração. Sundstrom e Kamp (1977) relatam como resultado de seu trabalho que as

avaliações a respeito da privacidade são menores com o aumento do número de

colegas de trabalho, porém são maiores quando existem mais paredes ou divisórias.

Além disso, os funcionários expressaram mais satisfação com ambientes de trabalho

que avaliam como privados ou quietos, e suas próprias performances são maiores

comparadas aos colegas que possuem menos percepção de privacidade e mais

vizinhos. Os autores comentam que, para que um ambiente aberto conduza a maior

satisfação e performance, deve-se reduzir os ruídos com o tratamento acústico das

paredes e do teto.

Haynes (2007 apud HAYNES, 2008) evidencia que a distração é o componente

que possui maior impacto negativo na percepção da produtividade e a interação como

tendo o maior impacto positivo. Claramente podem haver tensões no ambiente do

escritório no que tange a possibilitar a coexistência entre o trabalho individual privado e

o trabalho em grupo colaborativo. E Haynes (2008) ilustra que aumentando o número

de ocupantes em um escritório aumenta também a quantidade de queixas de distração

reportadas. Esse fator é uma das causas pelas quais o arranjo físico aberto gera

problemas de produtividade.

A respeito da privacidade, Desor; Oldham & Fried; Sundstrom, Burt, & Kamp;

Veitch et al.; (1972, 1987, 1980, 2003 apud HUA, LOFTNESS, et al., 2011) citam que

para colaboradores em estações abertas - ou seja, espaços individuais que não

possuem uma porta em contraste aos escritórios fechados - o número de divisórias que

limitam a área de trabalho e a altura delas definem o nível de enclausuramento para um

indivíduo particular. Em geral, o número de partições relaciona-se positivamente à

percepção do ocupante em termos de privacidade e satisfação do ambiente e do

trabalho. A altura da divisória também afeta o nível de privacidade visual e acústica e o

montante de distração experimentado pelo ocupante. Hatch (1987) identifica uma

relação positiva entre a altura das partições e a quantidade de tempo de interação

percebido nas estações de trabalho.

Altman (1975) define privacidade como “um processo de fronteira interpessoal

no qual uma pessoa ou grupo regula a interação com os outros” e afirma que é um

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processo dialético que envolve tanto a restrição à interação como a busca por ela. A

privacidade de um indivíduo é um dos fatores de grande relevância na análise do

impacto do arranjo físico de uma organização, uma vez que influencia na percepção da

cultura organizacional pelo colaborador. Ela permite que o indivíduo regule, gerencie e

controle as interações interpessoais e tenha o sentimento de propriedade e

autocontrole, permitindo, ainda, o controle sobre interrupções e distrações e facilitando

o atingimento da alta performance. Ainda, ela facilita o feedback de outros e as

oportunidades de amizade honesta e autêntica, o que resulta em satisfação do

funcionário (SCHULER, RITZMAN e DAVIS, 1981). Altman (1975) ainda argumenta que

os indivíduos são capazes de criar privacidade por mecanismos pessoais como

definição do espaço pessoal, territorialismo, comportamentos verbais e não verbais e

até mesmo pensamentos; e que a própria cultura ao qual está inserido geralmente dita

qual o método utilizado mais eficaz.

Mascitelli (2000) defende que espaços comuns, contato visual e proximidade tem

relação direta com a oportunidade de haver encontros e interações produtivas entre os

colaboradores, sugerindo que esses fatores são importantes catalisadores ao avanço

da inovação. Um ambiente físico percebido como atrativo pode ser inspirador e

motivador para as pessoas, e pode simbolizar inovação e criatividade (HANER, 2005

apud MARTENS, 2011). A criatividade pode ser definida como a geração de ideias por

um indivíduo ou grupo com o propósito de resolver um problema ou tornar um processo

ou produto melhor, porém é necessário destacar que o estudo a respeito da criatividade

organizacional é diferente dos estudos de criatividade individual ou de pequenos grupos,

pois tem seu foco na interação entre grupos separados e em um grande número de

indivíduos. Ressalta-se que a criatividade e a inovação devem ser estimuladas por toda

a organização e que o processo criativo deve acontecer para todos os colaboradores e

não apenas para os que trabalham especificamente com objetivos inovativos.

Lapierre e Giroux (2003) destacam a importância da criatividade possuir uma

posição formal, defendendo, por um lado, que as organizações devem agir para priorizar

os processos criativos, encorajando os colaboradores e, por outro, que a criatividade

deve estar alinhada à estratégia da empresa a longo prazo. Quanto mais a configuração

do ambiente é percebida como inovativa em termos de promover a interação, maior é a

produtividade dos funcionários e a qualidade dessa produtividade (ILOZOR et al., 2002

apud HAYNES, 2008).

Segundo Mathisen e Einarsen (2004 apud MARTENS, 2011), os

comportamentos relacionados a criatividade e inovação no trabalho são promovidos por

uma flexibilidade cognitiva criada por uma combinação de qualidades pessoais e fatores

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do ambiente de trabalho. Por meio do espaço físico é possível não apenas criar

sensações que impactam o trabalho criativo - com uso de fatores visuais complexos,

cores e objetos - mas também suportar propriamente o processo criativo em si,

disponibilizando meios de comunicação adequados, promovendo arranjos espaciais

que facilitam a interação, dentre outros.

Em uma organização os processos criativos devem focar em estímulos

complexos e variados que possam envolver tanto atividades divergentes quanto

convergentes. A natureza divergente desse processo é a etapa em que o indivíduo

procura e digere informações, levando à geração de ideias. Essa etapa está relacionada

a atividades analíticas, como ordenação, filtragem e desenvolvimento de ideias que

podem eventualmente conduzir à inovação (BARRADAS, CARDOSO e ALVES, 2015).

Nesse sentido, a presença de plantas, flores, janelas, iluminação adequada, espaços

assimétricos e ambientes de encontro têm sido associada à sensação de liberdade e,

portanto, favorecedora dessa natureza divergente.

Já a natureza convergente do processo criativo está relacionada à concentração,

disciplina e pensamento analítico. Espaços silenciosos, ordeiros e privados provam-se

mais úteis para esse tipo de atividade, pois os indivíduos sentem-se mais satisfeitos

nesses ambientes ao executar tarefas complexas (BARRADAS, CARDOSO e ALVES,

2015). O desafio então é em como a empresa consegue agregar ambientes que

favorecem os dois tipos, quase antagônicos, de atividades. Para resolver essa questão

a literatura sugere ambientes que possam ser, ao mesmo tempo, abertos e fechados,

espaços para encontros de grupos e que permita compartilhamento, bem como que

permita análise e pensamento individual. Esses espaços multitarefa consistem em

ambientes com diversas salas com mobília, espaços e atmosfera ajustáveis, o que

configura uma solução para as duas visões. Complementarmente, Kornberger e Clegg

(2003 apud MARTENS, 2011) inferem que o aumento da inovação e criatividade nas

empresas passam pela criação de uma construção que encoraja pluralidade e

contradições, o que afeta também a motivação dos funcionários e promove o alcance

dos objetivos estratégicos da organização.

A motivação é um processo psicológico responsável pela formação e

manutenção da conduta humana (REGATO, 2014), e, portanto, capaz de habilitar os

colaboradores a manter o interesse pelo trabalho durante longos períodos. Sendo

assim, é um objeto de estudo bastante valioso para o meio corporativo, uma vez que a

obtenção de resultados depende muito desse processo.

O conceito de motivação passa por aspectos intrínsecos e extrínsecos. O

primeiro provém de cada indivíduo de forma pessoal, uma vez que o colaborador gosta

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do trabalho por ser engajador, satisfatório e desafiante. O segundo é desencadeado

pelo ambiente, de forma que o colaborador faz seu trabalho tão bem quanto possível

porque existe uma recompensa externa, como um prêmio ou bônus a ser ganho

(MARTENS, 2011). Ehler et al. (2005 apud MARTENS, 2011) relatam que, na impressão

dos usuários finais de escritórios, a atratividade do ambiente é o item mais importante

para percepção do bem-estar do ambiente de trabalho, o que gera satisfação.

Por longo tempo, satisfação e motivação no trabalho estiveram juntas nas

teorias que tratavam das características individuais responsáveis por comportamento

de trabalho. Essas teorias defendiam a noção da satisfação ser um componente da

motivação que levava trabalhadores a apresentarem indicadores de comportamento de

trabalho importantes para os interesses empresariais, tais como aumento do

desempenho e da produtividade, permanência na empresa e redução de faltas ao

trabalho (SIQUEIRA, 2008).

No que diz respeito a atuação como gerador de valor, segundo Regato (2014),

a satisfação de um colaborador dentro de sua área de atuação depende do modo como

ele o enxerga e percebe que obtém qualidade de vida. Portanto, não basta que a

organização forneça os recursos para que o profissional desempenhe sua função

satisfatoriamente, o ambiente de trabalho é um fator chave na formação da cultura

organizacional e, consequentemente, nos resultados alcançados.

Spector (2002 apud REGATO, 2014) observa que a satisfação no trabalho é uma

variável de atitude, que reflete como uma pessoa se sente em relação às suas

atividades de forma geral e em seus vários aspectos. A importância do planejamento

organizacional para os colaboradores é associada à ideia de que a organização que se

programa aumenta as chances de prover satisfação para os colaboradores e,

consequentemente, um bom ambiente (ANDRADE, 2009 apud REGATO, 2014). Assim,

as empresas que buscam saúde organizacional como pilar para o próprio

desenvolvimento, devem fornecer condições ideais de trabalho e de relacionamento

interpessoal.

No contexto da sociedade contemporânea, as organizações são a principal fonte

para a satisfação das necessidades do homem moderno (REGATO, 2014), o que inclui

trabalhos e serviços, ou seja, o indivíduo atua como o que gera e consome o valor

produzido pelas organizações. Segundo Spector (2002 apud REGATO, 2014), aspectos

em comum entre os que se consideram satisfeitos no trabalho são salário,

possibilidades de ascensão, benefícios, bom clima, boas condições de comunicação e

natureza do trabalho compatível com o próprio interesse e desejo. Desse modo, Siqueira

(2008) relata que, desde os primeiros anos de sua concepção, já existiam proposições

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defendidas por diversos estudiosos de que satisfação no trabalho é um conceito

integrado por várias dimensões. Um esquema que representa a as diversas interações

existentes entre os aspectos ambientais e culturais que afetam, por exemplo, a

performance/produtividade é encontrado na Figura 3.

Figura 3: Mapa de Relações Fonte: Elaboração Própria

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Finalmente, no que tange aos tipos de cultura organizacional apresentados no

capítulo 1, Fairs (2016) indica que a cultura é a única vantagem sustentável pois, ao

contrário de inovação em produtos ou serviços, ela não pode ser duplicada. Ademais,

os ambientes de trabalho refletem e encorajam a cultura gerando funcionários

motivados, e no centro de um colaborador motivado reside a cultura da companhia.

Especificamente, o autor cita as características principais para cada tipo de cultura

organizacional citada.

A cultura colaborativa é melhor nutrida por um ambiente flexível com um layout

orgânico, níveis médios de enclausuramento, espaços informais, baixa proporção de

estações individuais, design flexível e grande quantidade de ambientes comuns (Figura

4).

Figura 4: Layout da Cultura Colaborativa

Fonte: Fairs (2016)

A cultura criativa também é auxiliada por um ambiente altamente flexível com

layout orgânico, espaços coletivos informais e baixa proporção de estações individuais,

mas responde melhor a baixos níveis de enclausuramento (Figura 5).

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Figura 5: Layout da Cultura Criativa Fonte: Fairs (2016)

Já a cultura controladora responde melhor com uma alta proporção de estações

individuais, mais espaços formais com alto enclausuramento, layout estruturado e

simétrico, e um ambiente menos flexível (Figura 6).

Figura 6: Layout da Cultura Controladora Fonte: Fairs (2016)

Por fim, a cultura competitiva é promovida por uma proporção média de estações

individuais, um misto entre espaços formais e informais, nível baixo a médio de

enclausuramento e layout estruturado e simétrico (7).

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Figura 7: Layout da Cultura Competitiva Fonte: Fairs (2016)

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5. VTEX: O CASO PRÁTICO

5.1. CONHECENDO A ORGANIZAÇÃO

5.1.1. Histórico, Produto e Mercado

All we do follows the belief in the positive impact that the selling and buying activities have on our society (VTEX, 2017e).

A VTEX é uma multinacional brasileira de tecnologia com foco em cloud

commerce desenvolvedora da plataforma VTEX Cloud Commerce disponibilizada no

mercado como Software as a Service (SaaS) – um modelo de distribuição de software

onde o fornecedor do software se responsabiliza por toda a estrutura necessária à

disponibilização do sistema e o cliente o utiliza via internet. Atualmente é a maior

plataforma de e-commerce da América Latina e em intensa expansão para outros

mercados, já operando nos Estados Unidos e Europa (VTEX, 2017e), e com clientes

como Walmart, Whirlpool, Lego, Disney, L'Óreal, Sony, Coca-Cola, Staples e outras

2.000 lojas em 17 países.

Figura 8: Líder global de e-commerce e omni-channel Fonte: VTEX (2017b)

A sigla, atualmente nome, teve origem na expressão Vitrine Têxtil, que era para

ser um marketplace – um modelo de negócio de comércio eletrônico que funciona de

maneira similar a um shopping center no comércio físico – para a indústria têxtil. Junto

ao seu ecossistema, a VTEX auxilia organizações e varejistas a eficientemente unificar

seu comércio. Desenvolvendo uma plataforma SaaS, multitenant – todas as lojas

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utilizam um mesmo servidor –, homogênea e extensível, a VTEX confia em sua

comunidade para escalar e alavancar suas soluções.

Sua origem se deu em 1999 como uma empresa de software para Customer

Relationship Management (CRM) – conjunto de práticas, estratégias de negócio e

tecnologias focadas no cliente que se pode utilizar para gerenciar e analisar as

interações com seus clientes, antecipar suas necessidades e desejos, otimizar a

rentabilidade e aumentar as vendas e a assertividade de suas campanhas de captação

de novos clientes (SALESFORCE, 2017) –. Dois anos depois, em 2001, a primeira loja

e-commerce foi aberta para a Sacks, uma marca hoje mundialmente conhecida no

mercado de moda (SACK'S, 2017), com finalidade de arrecadação de fundos para a

Vitrine Têxtil, e, em 2005, teve seu primeiro cliente de SaaS.

Em 2007, iniciou-se o projeto de e-commerce para o Walmart – uma

multinacional estadunidense de lojas de departamento – no Brasil. Esse foi o primeiro

projeto realizado com recurso e, o fato de ter entrado em produção, fez com que ele se

tornasse uma referência para o trabalho da VTEX. Já em 2008, forneceu o máster data

do Bradesco, que gerou aporte suficiente para que o CRM fosse refatorado – processo

de modificação da estrutura interna de um software para melhorar sua estrutura de

código, sem que seu comportamento externo seja alterado –, e, em 2009, adquiriu a

MIGWeb, uma concorrente cujos fundadores passaram significativamente a fazer parte

da equipe da VTEX, permanecendo até a atualidade.

Figura 9: Linha do Tempo VTEX Fonte: Documentos Internos da Empresa (2017)

Somente em 2010, foi desenvolvida a VTEX Commerce Suite, o único produto

da empresa atualmente, e adquiriu-se a WX7, trazendo seus sócios fundadores para

agregar a equipe e ao faturamento, que correspondia a mais de um terço do faturamento

da VTEX na época. No ano seguinte, foi recebido o investimento da Naspers – uma

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organização global de internet, entretenimento e um dos maiores investidores do mundo

em tecnologia (NASPERS, 2017) –, ganhando fôlego para, em 2012, iniciar sua

expansão global. Os primeiros países foram Argentina, Uruguai e Chile. Já países como

México e Estados unidos logo se uniram a lista de países com filiais.

No ano de 2013, houve a aquisição da Loja Integrada, que tem como missão

democratizar o empreendedorismo no Brasil por meio de uma plataforma de comércio

eletrônico fácil e acessível, ou seja, plano grátis. Para a VTEX, a compra da Loja

Integrada significa atuar em um segmento de micro e pequenas empresas que precisam

ter sua primeira experiência no mundo do e-commerce e com isso se tornar líder de

mercado em todas as camadas de clientes, desde o iniciante até o profissional. Nesse

mesmo ano houve o lançamento do VTEX SmartCheckout™, o primeiro checkout sem

senhas, do mundo, reduzindo o abandono de carrinhos e aumentando as vendas

(VTEX, 2017d).

Figura 10: Gartner Magic Quadrant for Digital Commerce Fonte: Gartner (2017)

Em 2014 foi anunciado faturamento superior a R$44 milhões e, em 2015, a

entrada do grupo de investimento Riverwood Capital, consolidando a empresa no

mercado Latino Americano. Neste mesmo ano, tornou-se a primeira empresa da

América Latina a ter sua plataforma de comércio eletrônico citada pelo Gartner Group –

a principal empresa de pesquisa e consultoria mundial (GARTNER, 2017) – como

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fornecedor de plataforma e-commerce SaaS. Em 2016, foram inaugurados novos

escritórios nos EUA, Inglaterra e Alemanha, atingindo um faturamento superior a

R$100.000.000,00 e, por fim, em 2017, entrou no Gartner Magic Quadrant – o recurso

para uma perspectiva objetiva sobre mercados de tecnologia e serviços (GARTNER,

2017) – para o comércio digital (Figura 10).

5.1.2. Porte e Localização

A VTEX possui 11 escritórios distribuídos em 10 países nos continentes

Americano e Europeu, são eles:

• São Paulo: Avenida Brigadeiro Faria Lima, 4440, 15º andar, 04538-132

• Rio de Janeiro: Praia de Botafogo, 300, 2º andar, 22250-040

• Colômbia: Calle 93 # 18-28 - Oficina 603, Bogotá

• México: Lago Alberto 319 Int. 606, Col. Granada, 11520, D.F.

• USA: 4000 Hollywood Blvd, Suite 555-S, Hollywood, FL 33021

• Peru: Avenida Alfredo Benavides 1180 piso 6, Miraflores, Lima

• Chile: Avenida Enrique Foster Sur 110, Las Condes, Santiago

• Argentina: Av. Chiclana 3578, Piso 4, 1260, C.A.B.A. - Buenos Aires

• Germany: Bernburger Straße, 10963, Berlin

• Spain: Alcalá, 61, Floor 2, 28014, Madrid

• UK: 2 Fountain Court, Victoria Square, St Albans, AL1 3TF

No que diz respeito ao número de funcionários, possui um total de 219

colaboradores, sendo 115 no Rio de Janeiro, 73 em São Paulo, 15 em Buenos Aires, 5

em Hollywood, 4 na Cidade do México, 3 em Santiago, 2 em Bogotá, 1 em Madri e 1 em

Londres.

5.2. JEITO VTEX DE SER

Demonstrate trust in your smaller actions. The resulting confidence is key to real innovation. (Geraldo Thomaz – CEO)

Ao longo dos últimos anos, a VTEX explorou uma ideia de elevado self-

management com uma noção descentralizada de controle, fluidez e arranjos orgânicos

(JAMES INSIGHT & STRATEGY, 2017), o que está totalmente alinhado com a

confiança a se depositar nos colaboradores nas menores ações, conforme citado pelo

CEO Geraldo Thomaz como sendo a chave para a inovação. As definições de papéis

são baseadas no trabalho e não nas pessoas, das quais se espera que cumpram

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múltiplos papéis. As equipes, comumente chamadas de times, são livres para se

organizar da maneira que acreditarem ser melhor para desenvolver suas tarefas. As

decisões são tomadas de maneira local e a autoridade surge livremente, assim como

se distribui e, nessa linha, as regras são claras e acessíveis a todos, não existindo

nenhuma pessoa superior a elas e diminuindo a dependência de autoridade na tomada

de decisão.

Essa dinâmica de trabalho inspirou-se nos princípios da holocracia, um sistema

de gestão de negócios que se dá pela remoção do poder de uma estrutura hierárquica,

que é então substituída por um sistema de distribuição de autoridade. Além disso, sofreu

influência do desdobramento desse e de outros conceitos presentes no livro Reinventing

Organizations de Frederic Laloux, que enfatiza o fato de que o crescimento da procura

pela compreensão de novas ideologias de organização do trabalho se dá pelo fato de

que os indivíduos sentem internamente que o modelo tradicional está se tornando

obsoleto e que existe algo quebrado nas organizações tradicionais (LALOUX, 2014).

O surgimento da hierarquia se dá de maneira orgânica, em alguns tópicos,

alguns colaboradores terão mais expertise do que outros, mais paixão ou mais

disposição em ajudar (REINVENTING ORGANIZATIONS WIKI VOLUNTEERS, 2017).

Com isso, a organização busca dar mais agilidade a tomadas de decisão, possibilitando

mais responsividade aos desafios e necessidades do mercado. Essa ideologia encoraja

a experimentação e o aprendizado em ciclos rápidos, refletindo-se em traços do

comportamento organizacional da VTEX como:

• Decentralization: Qualquer um que identificar um problema ou uma

oportunidade pode dar início a um processo decisório, utilizando-se da

inteligência coletiva da organização sobre o tópico em questão.

• Trial & Error: A organização acredita que é melhor pedir desculpas do que

permissão, uma vez que erros levam a aprendizado e aprendizado leva a

inovação.

• Moving Fast: O foco está sempre em fazer o que tem que ser feito, o que

resulta em um ambiente dinâmico e fast paced.

A influência de uma pessoa está então relacionada ao seu talento, interesse,

habilidades e na confiança que seus colegas de trabalho tem nela, não sendo mais

determinada por sua posição no organograma (REINVENTING ORGANIZATIONS WIKI

VOLUNTEERS, 2017). Assim, a VTEX possui uma estrutura organizacional horizontal,

com poucas posições de liderança oficiais – limitando-se essencialmente aos dois

Chiefs Executive Officer (CEO’s) – (Figura 11), traduzindo a hierarquia fluida e natural

que surge em prol do desenvolvimento, expertise e reconhecimento. Nesse sentido, a

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empresa não possui um plano de carreira definido com metas numéricas claras, mas

mede a evolução do colaborador a partir da sua capacidade de influenciar e ser

referência no que faz e no mercado que a organização faz parte. Essa ausência oficial

de hierarquia aliada a liderança natural que surge, gera um tabu comunicativo no diz

respeito a explicitar que, muitas vezes, existem pessoas cuja opinião e posicionamento

são mais influentes em um processo decisório.

Figura 11: Organograma VTEX Fonte: Elaboração Própria

Também traduzida pelo organograma, mas, principalmente, vivenciada no dia a

dia da empresa, é a referência que os CEO’s exercem sobre os outros colaboradores.

Amigos de faculdade e ex-alunos do curso de Engenharia Mecânica da Universidade

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Geraldo Thomas e Mariano Gomide foram os

idealizadores e fundadores da VTEX, dividindo até hoje a liderança da empresa com

frentes de atuação dividas basicamente, mas não essencialmente, entre vendas e

desenvolvimento. O posicionamento e a influência dos dois transitam entre as duas

frentes, mas, pode-se dizer, que existe uma orientação não proporcional de cada um. A

forma com que se comunicam, muitas vezes na frente de toda a empresa, deixa muito

clara a transparência com que executam sua liderança e diminuem a usual distância

que existe entre líderes e o restante da organização.

CEO's

People & Places

Customer Care

Finance

Direct Sales

Inbound Sales

Integrando-se

Loja Integrada

Marketing

Reseller

Market Intelligence

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Figura 12: VTEX Day 2017 Fonte: VTEX (2017c)

Outra característica que fica clara observando-se o organograma é a estrutura

majoritariamente voltada para o produto e sua difusão. Todas as áreas criadas são

diretamente voltadas para o desenvolvimento, melhoria e manutenção da plataforma ou

para que se continue a sua expansão no mercado, possuindo times diversos de vendas,

atuando em diferentes frentes. Um pouco menos diretamente relacionado, temos os

times que atuam no suporte ao cliente, cuidando de sua satisfação e da utilização da

plataforma VTEX. Como exceção a essa regra, temos o time Financeiro, que surgiu no

início de 2016, e o de Recursos Humanos (RH), que surgiu no começo de 2017. Esse

surgimento recente, se comparado ao tempo de existência e porte da organização, de

equipes que assessoram a gestão da empresa, se deve ao objetivo de manter a

estrutura enxuta e com esforços voltados para o produto. Somente cedeu-se

organicamente a formação dessas equipes quando se percebeu que a realização de

tarefas tradicionalmente dessas áreas não era mais suportada pelos colaboradores que,

para realizá-las, se dividiam entre sua principal atividade e elas.

Nos valores da organização, percebe-se mais uma vez a influência do self-

management e seus desdobramentos:

Earn Trust: To trust is to believe with eyes closed and to delegate responsibilities. To be trustworthy you need honesty, transparency and consistency in quality and performance. This bond is built upon exchange: trust to be trusted.

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Build for Community: It’s all about being ready to grow and reach new levels. Have a solid foundation, modular thinking and flexible essence, and you’re building for scale. We are global but we’re audacious enough to aim for the stars. Be Bold: Boldness is about challenging the status quo and not being afraid to make mistakes or take risks. Test new alternatives, walk into the unknown and explore possibilities no one thought about. To be bold is to apologize, not ask for permission. (VTEX, 2017a)

Do mesmo modo, o meio oficial de comunicação da organização é o Slack, um

cloud software que permite um espaço compartilhado e acessível de comunicação e

integração com outras ferramentas utilizadas no desenvolvimento das tarefas dos times

da empresa. Similar ao Whatsapp no que diz respeito a troca de mensagens, o Slack

possui funcionalidades que permitem conversas mais organizadas e registros mais

funcionais. A comunicação por meio dessa ferramenta é objetiva e simplificada,

dispensando a formalidade dos tradicionais e-mails. A incorporação dessa ferramenta

no processo produtivo foi fundamental para tornar a comunicação mais alinhada com a

horizontalidade da organização e a produção mais escalável, princípio que tem norteado

diversas decisões da empresa, a fim de se tornar cada vez mais global.

Para manutenção e difusão desses princípios, a organização possui alguns

eventos. Semanalmente, ocorre a Demo Friday, um momento onde os colaboradores

podem realizar apresentações sobre os projetos que vem desenvolvendo, mostrando

seus erros e acertos, prezando pelo aprendizado e atualização da equipe em relação

as experiências vividas. Além disso, anualmente ocorrem outros dois eventos. O

primeiro, VTEX Day (Figura 12), ocorre no primeiro semestre do ano, usualmente em

São Paulo, e tem como objetivo gerar negócios para o ecossistema que existe em torno

da atividade fim da VTEX, assim como fortalecer a imagem da empresa. Na última

edição, de 2017, teve a presença de Richard Branson, fundador do grupo Virgin, e show

de encerramento com a Ivete Sangalo. O segundo, VTEX Partner Summit (VPS), tem

por objetivo fortalecimento e alinhamento do time da VTEX com as empresas parceiras,

desse modo, além de conteúdo e prestação de contas do ano que está se encerrando,

o evento promove a integração entre os participantes, tendo a última edição ocorrido

em um Resort em Campinas, conforme a Figura 13.

No que diz respeito a vestimenta, não existem regras, ficando a cargo do

colaborador utilizar a vestimenta que deseja e se adequa as atividades que irá

desempenhar. Desse modo, no escritório do Rio de Janeiro, a vestimenta é

predominantemente informal, pelo clima da cidade e estilo de trabalho, enquanto no

escritório de São Paulo, observa-se uma diferença entre os que apenas executam

tarefas internamente no escritório para aqueles que visitam clientes ou participam de

eventos, vestindo-se de maneira mais formal. Também não há regras para a realização

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de custos em nome da empresa, a política é que se deve ter consciência dos gastos

assim como você teria se fossem feitos com seu budget privado. Ambos aspectos

reforçam a autonomia que é dada a seus colaboradores, para executarem suas funções

da maneira que acreditarem ser melhor. Além disso, a VTEX, por ser global, incentiva

que seus colaboradores aprendam Inglês e Espanhol – idiomas que suprem a maior

parte de seu mercado – contribuindo com reembolso de 65% do valor investido na

aprendizagem.

Figura 13: VPS 2016 Fonte: VTEX (2017c)

5.3. PEOPLE & PLACES: O RH DA VTEX

Na VTEX a tradicional área de recursos humanos das empresas foi concebida

como People & Places, agregando aos componentes clássicos o aspecto humano dos

colaboradores e o espaço que compartilham. Em um mundo cada vez mais globalizado

e colaborativo, enxergar cada indivíduo como um ser único é essencial para garantir a

pluralidade e o crescimento a longo prazo, e isso só é possível ao considerar também o

ambiente em que os colaboradores estão inseridos. Esse pensamento está totalmente

alinhado com a ideia apresentada no presente trabalho de que o ambiente afeta o

indivíduo e vice-versa, portanto a existência dessa área por si só já justifica e corrobora

o conteúdo apresentado.

Com base nos valores da empresa e a visão ampla do papel de cada um no

alcance dos objetivos estratégicos, a área visa estimular as pessoas a trabalharem de

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forma livre e responsável, promovendo uma estrutura e um espaço agradável e

saudável não só ao cumprimento das atividades quanto ao desenvolvimento pessoal e

profissional de cada um. Desse modo, a estrutura física e não física pensada pretende

fazer com que cada colaborador agregue sua particularidade ao negócio, encorajando

o processo decisório independente, o compartilhamento de informações, a eficiência e

a eficácia. Todo esse ambiente e seu entorno é valorizado pelos funcionários e retorna

à empresa como resultados tangíveis e intangíveis.

5.4. VTEX LAB

5.4.1. O Escritório

Figura 14: Café da Manhã no VTEX Lab

Fonte: Arquivo da Empresa (2016)

Como dito anteriormente no tópico 5.1.2, o escritório do Rio de Janeiro acolhe

115 funcionários, majoritariamente atuando no desenvolvimento do produto – por isso,

VTEX Lab –, além de englobar áreas administrativas e de suporte técnico. Assim, o

escritório carrega o core da organização e, por ter mudado de endereço e tido seu

planejamento voltado para entender as necessidades da empresa, alinhado com a sua

cultura, com como quer trabalhar e com o que quer ser, acaba hoje sendo um referencial

para o espírito da VTEX. Neste escritório ainda ocorrem alguns acontecimentos

particulares, todas as terças e quintas-feiras acontece o café da manhã (Figura 14) e,

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às sextas-feiras, após a Demo Friday, ocorre o happy hour oficial da VTEX, com direito

a chopp e aperitivos. Além disso, na Black Friday, boa parte do time permanece mais

de 48h de plantão no escritório para acompanhar o desempenho da plataforma com o

aumento das vendas e estar disponível para possíveis emergências, principalmente no

período da madrugada de quinta para sexta-feira. Por isso, acaba que esse dia se torna

mais um evento, mais um momento de celebração e integração dos colaboradores.

5.4.1.1. Praia de Botafogo, 518

Figura 15: Escritório Andar Sobre Loja Fonte: Arquivo Pessoal de Colaborador (2016)

O Praia de Botafogo, 518 foi o último endereço da VTEX antes de ocupar seu

atual escritório. Em um prédio mais simples e com andares de tamanho mais limitado,

a empresa ocupava 2 andares do prédio: a sobre loja e o 2º andar. Assim, o time ficava

distribuído e sem comunicação espacial direta. Esse escritório não teve seu interior

devidamente planejado, pensando-se nas necessidades e identidade da organização.

O banheiro e a cozinha tinham espaço limitado e sem condições de adequar todos os

elementos que os compunham, conforme pode-se observar na Figura 17 e na Figura

18. Sendo assim, era motivo de diversas reclamações dos colaboradores, apesar de

que, em maioria, não eram insatisfeitos com o ambiente de trabalho.

O ambiente possuía baixa incidência de luz natural, possuindo janela apenas na

parede de menor tamanho nos dois andares. As estações de trabalho eram menores

dos que as atuais e possuíam uma barreira entre um lado e o outro dos ocupantes. Além

disso, no segundo andar, podia-se observar uma parede que dividia a sala em dois

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ambientes (Figura 19), isolando equipes mesmo ocupando o mesmo andar. O espaço

disponível não condicionava todos os itens utilizados pela organização e não possuía

locais suficientes para condicionar todos os membros da equipe na realização da Demo

Friday (Figura 16). O espaço também não possuía ambientes isolados para trabalhos

que exigem maior concentração ou para realização de reuniões das equipes.

Portanto, em termos dos atributos que Tompkins, White, et al. (2013) descrevem

como necessários ao arranjo físico, apresentados no capítulo 2, esse escritório

apresentava baixa flexibilidade, capacidade de atualização, adaptabilidade e atitude

favorável ao meio ambiente e à energia; devido às próprias limitações de espaço, da

mobília e das divisões físicas presentes.

No que tange às abordagens apresentadas no capítulo 3, pode-se afirmar que o

arranjo tinha como foco a abordagem prescritiva uma vez que buscava permitir um

agrupamento de entidades semelhantes. Porém, devido às limitações, ele não era capaz

de permitir espaço suficiente para os colaboradores e de prover um fluxo ordenado de

trabalho, o que fica evidenciado pela própria divisão da equipe em dois andares.

Figura 16 Área de lazer e de realização da Demo Friday Fonte: Arquivo Pessoal de Colaborado (2016)

Em termos dos fatores potencializadores e minimizadores apresentados no

capítulo 4, o ambiente antigo caracterizava-se por falhas nos aspectos ergonômicos,

evidenciados por defeitos na iluminação e conforto, apesar de apresentar como

qualidades o baixo grau de ruídos e de distração. O ambiente também não supria as

necessidades dos colaboradores quanto à comunicação e interação intradepartamental,

por causa dos ambientes separados e mais apertados, que impediam uma colaboração

efetiva, e também da escassez de espaços compartilhados. Porém, pela proximidade

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entre os postos de trabalho, a comunicação e colaboração interdepartamental era

percebida como positiva. Ademais, a densidade e distância interpessoal inadequadas

afetavam a percepção de privacidade, diminuindo a motivação e satisfação.

De forma geral, o ambiente de trabalho pode ser caracterizado como o de um

arranjo físico fechado devido às características dos postos de trabalho. Apesar disso,

diferente do apresentado como vantagem na literatura, não era capaz de habilitar o foco

no trabalho individual e os altos níveis de produtividade particular, além de claramente

não buscar agregar características de criatividade no trabalho.

Figura 17: Banheiro Masculino Sobre Loja

Fonte: Arquivo Pessoal de Colaborador (2016)

Figura 18: Cozinha Sobre Loja

Fonte: Arquivo Pessoal de Colaborador (2016)

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Figura 19: Escritório Segundo Andar Fonte: Arquivo Pessoal de Colaborador

5.4.1.2. Praia de Botafogo, 300

Com 977,15m², o Praia de Botafogo, 300 é o lar do VTEX Lab desde outubro de

2016. Com um ambiente planejado para atender as necessidades atuais e de um futuro

idealmente sem um crescimento exponencial no número de colaboradores em relação

ao que se espera para o crescimento da empresa, há quase 1 ano o escritório tem

proporcionado que o ecossistema da VTEX se aproxime ainda mais de seu core. Com

um ambiente novo e com condições de receber pequenos eventos, já foi palco para uma

aula de um curso de MBA em Gestão de Negócios e, até mesmo, foi uma das sedes da

22ª edição da Maratona de Programação da SBC em 2017, além de receber diariamente

clientes e parceiros.

Para a criação desse espaço acolhedor e adequado para as intenções da VTEX,

iniciou-se o projeto com uma pesquisa de campo em diversos escritórios do mundo,

para que fosse possível identificar as soluções existentes para as necessidades que

deveriam ser atendidas. Nesse contexto, alguns pontos foram destacados:

• Talkspace: Alinhado com a ideia de tornar o escritório um local cada vez

mais frequentado por pessoas de fora da empresa promovendo eventos de

pequeno porte;

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• Food Lounge: Na mesma linha de raciocínio do talkspace, mas pensando

em suportar os eventos no aspecto de integração, no momento que os

participantes se reúnem para comer e beber;

• Commune: Possivelmente aproximando as áreas de talkspace e food

lounge, a fim de promover um espaço de convivência, para reuniões

informais e relaxar;

• Collabs: Para auxiliar o trabalho colaborativo característico dos times da

VTEX, espaços que favorecem a troca e a geração de ideias são essenciais

para que os times possam se reunir, criar e discutir com conforto;

• Meeting Room: Quando é necessária maior privacidade, ambientes com

isolamento acústico são necessários, no entanto, impedimento visual não

está alinhado com a filosofia do open space, sendo importante que seja

possível visualizar através da sala e que, na existência de paredes, essas

sejam convertidas em espaços úteis para geração de ideias;

• Open Office: O modo de trabalho da VTEX, no qual existe a independência

das equipes e a forma como elas se modificam com o tempo e as demandas

faz com que o espaço precise ser flexível e dinâmico.

Para atender ainda melhor a necessidade de postos de trabalho flexíveis e

dinâmicos, pensou-se incialmente em 120 postos de trabalho de 0,72m² (Anexo B) não

definidos como lugar específico de determinado colaborador, ou seja, não haveria lugar

marcado. No entanto, percebeu-se que os hábitos dos funcionários não se adaptariam

a indefinição de lugar e, desse modo, a solução passou a ser tornar fácil a mobilidade,

ou seja, todos os postos de trabalho possuem a mesma configuração – cadeira, mesa,

tomadas, cabos de rede, iluminação, monitor, etc. – (Figura 20 e Figura 21), enquanto

todos os colaboradores possuem notebook. Essa mentalidade está de acordo com

Laloux (2014), cujo modelo de organização proposto é comparado a um organismo vivo.

A metáfora se dá pelo fato de que a natureza gerencia os ecossistemas de forma sempre

evoluir para a plenitude, complexidade e consciência (LALOUX, 2014). A mudança

acontece em qualquer lugar, a qualquer momento, de forma auto organizada e provém

de toda célula e organismo sem necessidade de um comando ou controle central.

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Figura 20: Estação de Trabalho Padrão Fonte: Arquivo Pessoal de Colaborador

Figura 21: Estações de Trabalho Padronizadas Fonte: Arquivo Pessoal de Colaborador

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A quantidade de postos de trabalho foi pensada em alinhamento com o planejado

de manter a equipe de tamanho aproximado a médio prazo, independentemente de o

crescimento esperado para a empresa ser proporcionalmente maior, conforme

mencionado anteriormente, e de acolher os visitantes de outros escritórios que,

eventualmente, vão trabalhar no escritório do Rio de Janeiro. No entanto, recentemente

percebeu-se que a folga de postos de trabalho estava reduzida e que algumas equipes

não estavam conseguindo se posicionar no escritório de modo que todos os integrantes

ficassem próximos. Sendo assim, foram incluídos 12 novos postos de trabalho, pela

inserção de 4 novas mesas. Essa fácil adaptação se deu pelo fato de os postos de

trabalho serem previamente padronizados e de o escritório ter espaço livre suficiente

para que, necessitando de replanejamento, novos lugares poderem ser implementados.

Do brainstorm e pesquisa inicial que foram realizados, um aspecto que

evidentemente foi concretizado foi a criação de collabs (Figura 23 e Figura 25) pelo

escritório, propiciando o desenvolvimento colaborativo e criativo do trabalho das equipes

e entre elas, o que foi reforçado pela inserção de diversos quadros brancos para

escrever por todo o escritório (Figura 21), aproveitando qualquer empecilho físico como

espaço de criação (Figura 22), sendo inclusive o material que reveste o armário de

utensílios do escritório ou a mesa de um dos modelos de collab.

Figura 22: Espaços de Relaxamento, Integração e Criação

Fonte: Arquivo Pessoal de Colaborador

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As salas de reunião com isolamento acústico foram elaboradas com paredes de

vidro (Figura 24), mantendo a ideologia do open office trazida na pesquisa de campo

para o projeto. O foco principal dessas salas caba ficando para reuniões externas e

vídeo conferências – estando todas as salas equipadas para tal –, já que os collabs

suprem bem a demanda de interação dos times, exceto em reuniões específicas, mais

longas e envolvendo mais pessoas. Dentre as 6 salas disponíveis no escritório, 2 se

localizam na parte frontal do prédio em que o escritório está localizado e permitem que

o Pão de Açúcar (Figura 26), ponto turístico mundialmente conhecido da cidade, seja

visto e, portanto, são priorizadas para reuniões importantes, nas quais são relevantes

causar uma boa imagem quanto a estabilidade alcançada pela empresa.

Figura 23: Vista dos collabs e estações de trabalho padronizadas Fonte: Arquivo Pessoal de Colaborador

A ideia da comuna (Figura 27) foi totalmente implementada, sendo esse o nome

do espaço que atende a necessidade do talkspace e food lounge. Esse espaço

materializou perfeitamente as necessidades que a Demo Friday implica. Com o vídeo

wall e o púlpito, as apresentações ocorrem muito bem condicionadas e a arquibancada

acolhe todos os colaboradores e visitantes presentes e, após o encerramento das

apresentações, o happy hour tem como suporte dois aparadores, uma choppeira e

bancada com pia e armários. Durante os outros dias da semana, o espaço serve para

relaxar e descontrair ou como palco de outros pequenos eventos.

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Figura 24: Uma das salas de reunião

Fonte: Arquivo Pessoal de Colaborador

Figura 25: Um dos modelos de collab do escritório

Fonte: Arquivo Pessoal de Colaborador

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Outro aspecto importante, cujo acondicionamento foi preocupação no

planejamento do escritório, é o de diversos sistemas de monitoramento da plataforma

precisarem ficar expostos em televisores. Sendo assim, ao longo de todo o escritório,

no topo das paredes, tem-se uma fileira de televisores que ficam indicando os status

dos sistemas, englobando performance e resultados, bem como indicadores de

atendimento e números de vendas das lojas que utilizam a plataforma. Essas

informações ganham grande destaque na Black Friday, onde o uso da plataforma

aumenta exponencialmente, e, assim, desde que ocorreu a primeira no novo escritório,

o vídeo wall da comuna também passou a ficar permanentemente indicando essas

informações. Além disso, também se incluiu, próximo a região ocupada pelas áreas

administrativas, relógios indicando o horário local de cada uma das cidades que a VTEX

possui escritório. Isso auxilia na operação de atividades administrativas que dependem

do horário comercial para ocorrer e na comunicação dos colaboradores que estão em

diferentes fusos.

Figura 26: Vista do Pão de Açúcar na sala de reunião

Fonte: Arquivo Pessoal de Colaborador

Áreas de lazer também foram implementadas no espaço, originalmente, pensou-

se em incluir minigolfe e dardos, mas, o que se tem atualmente é um fliperama, um

vídeo game e um boneco de pancada, próximos a cozinha (Figura 28), sendo uma área

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isolada dos ambientes onde os colaboradores desenvolvem suas atividades

profissionais, chamada área de descompressão.

A partir das características apresentadas, é possível concluir que a instalação

atual teve grande influência da cultura organizacional da empresa. Com base nos tipos

de cultura apresentados no capítulo 1, é possível definir que a VTEX possui uma cultura

colaborativa e criativa, com traços de cultura competitiva. Isso reflete em um ambiente

com design flexível, com presença de diversos ambientes compartilhados e de

amenidades, informais e que favorecem a interação e colaboração, permitindo, porém,

espaços para o trabalho individual focado.

Figura 27: Comuna

Fonte: Arquivo Pessoal de Colaborador

Percebe-se claramente o poder que o planejamento das instalações tem quando

se realiza a análise comparativa entre o escritório atual e o antigo à luz dos referenciais

apresentados ao longo dos capítulos. Em relação aos atributos apresentados por

Tompkins, White, et al. (2013) no capítulo 2, o novo ambiente habilita a flexibilidade, a

modularidade, a capacidade de atualização, a adaptabilidade e a operabilidade seletiva.

Já em relação às abordagens descritas no capítulo 3, visivelmente há um foco na

abordagem comportamental e, mais especificamente, na subabordagem de relações

sociais, valorizando-se o ambiente físico aberto, que visa a transparência, a colaboração

e a comunicação, apesar de possuir também algumas características de um ambiente

híbrido e flexível, que permite a flexibilidade e adaptação das estações de trabalho a

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diferentes tipos de tarefas e atividades. A mudança para que todas as equipes ficassem

em um único e amplo ambiente tem efeito muito positivo na comunicação e interação, o

que se reflete na percepção da motivação e satisfação dos usuários.

Figura 28: Área de Descompressão

Fonte: Arquivo Pessoal de Colaborador

Em relação aos diversos aspectos apresentados no capítulo 4, a visão

ergonômica no planejamento permitiu o alcance de condições ótimas de iluminação,

cores e conforto, e evidentemente houve preocupação em fornecer condições

adequadas de densidade e distância interpessoal, o que teve impacto positivo na

percepção de privacidade, comunicação, interação e colaboração. Apesar disso, devido

ao arranjo aberto e falta de divisórias entre os postos e áreas comuns, e entre cada

posto de trabalho em si, a percepção de distração devido ao ruído é um fator que afeta

negativamente a produtividade. Apesar desse ponto, o ambiente atual manifestamente

promove melhores condições de trabalho visando o alcance de superiores graus de

produtividade, criatividade, motivação e satisfação dos colaboradores.

5.4.2. A Opinião dos Colaboradores

A fim de avaliar a impressão que os colaboradores têm do escritório em que

trabalham, realizou-se uma pesquisa por meio de questionário virtual (Apêndice A). O

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formulário basicamente pedia que os entrevistados atribuíssem notas de 1 a 5 para os

critérios: Ergonomia; Distância, Proximidade e Privacidade; Interação e Colaboração;

Criatividade; Satisfação e Motivação; Produtividade e Performance – fatores

apresentados no capítulo 4 –, permitindo que comentários fossem realizados quando

julgassem necessário. Essas perguntas se repetiam para o escritório antigo e para o

escritório novo, mas, os que não trabalharam nos dois escritórios, podiam responder

considerando apenas o atual. Dos 115 colaboradores alocados nesse escritório, 63

responderam à pesquisa, desse modo, obteve-se um intervalo de confiança de 76%,

com uma margem de erro de 5%.

Foram 33 respondentes que chegaram a trabalhar no escritório do número 518

e 30 respondentes que somente trabalharam no número 300, o atual. Dentre eles, 34

possuem até 27 anos, 22 entre 28 e 35 anos, 5 de 36 a 43 anos e 2 com mais de 43

anos (Gráfico 1), sendo que a idade média dos colaboradores é de 30,7 anos. Além

disso, 26 começaram a trabalhar na VTEX em 2017, 10 em 2016, 3 em 2015, 12 entre

2012 e 2014 e 12 entre 2008 e 2011, não havendo respondentes que iniciaram seu

trabalho na VTEX antes de 2008 (Gráfico 2).

Gráfico 1: Faixa Etária dos Respondentes

Fonte: Elaboração Própria

No que diz respeito a ergonomia, no antigo escritório, 24,2% dos respondentes

atribuíram nota 5, 36,4% nota 4, 27,3% nota 3, 9,1% nota 2 e 3% nota 1. Desse modo,

a nota final atribuída para esse quesito foi 3,7 de 5. Já no escritório atual, 77,8% dos

respondentes atribuíram nota 5, enquanto 22,2% dos respondentes atribuíram nota 4,

sendo assim, a nota final atribuída para esse quesito em relação ao novo escritório foi

4,8 de 5. De tal maneira, observa-se uma melhora de 1,1 pontos na nota pela mudança

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de espaço físico, que também foi traduzida nas observações dos colaboradores que

passaram de “meio sufocante porque não tinha janelas e o teto era baixo, não sabia que

horas eram ou se chovia lá fora” para “apesar de ser um espaço totalmente aberto, tem

lugares bem definidos, uma boa iluminação, temperatura agradável”. Alguns relataram

problemas com luminosidade excessiva, que acaba refletindo na tela dos

computadores, no entanto, nenhum comentário deixou de enaltecer o maior conforto

propiciado pela nova instalação.

Gráfico 2: Ano de Entrada na Empresa

Fonte: Elaboração Própria

No critério distância, proximidade e privacidade, sobre o escritório antigo, 18,2%

atribuíram nota 5, 39,4% nota 4, 30,3% nota 3 e 12,1% nota 2. Assim, a nota final

atribuída para esse critério foi 3,6 de 5. Já sobre o escritório atual, 54% atribuíram nota

5, 38,1% nota 4, 6,3% nota 3 e 1,6% nota 2. Desse modo, obteve-se como nota final

para o novo escritório nesse quesito 4,4 de 5. Sendo assim, observa-se uma melhora

de 0,8 pontos na nota de escritório novo em relação ao antigo. No entanto, alguns

relataram acreditar que a mudança dificultou a comunicação entre pessoas de uma

mesma equipe, que já sentavam próximas, visto que a distância entre as estações de

trabalho é maior no escritório atual e a sonoridade parece atrapalhar.

No que diz respeito a interação e colaboração, considerando o antigo escritório,

15,2% atribuíram nota 5, 21,2% nota 4, 36,4% nota 3, 21,2% nota 2 e 6,1% nota 1,

sendo a nota final obtida nesse critério 3,2 de 5. Para o novo escritório, 52,4% atribuíram

nota 5, 34,9% nota 4, 11,1% nota 3, 1,6% nota 2, resultando em uma nota final de 4,4

de 5. Para esse aspecto, observa-se também uma melhora de 1,2 pontos na nota final

e, nos comentários, a existência dos collabs e o maior número de salas de reunião são

extremamente enaltecidos, só perdendo o destaque para o benefício de todos os

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colaboradores estarem em um mesmo andar e poderem ganhar em interação

profissional e pessoal, conforme o comentário a seguir: “O novo escritório por ser on-

floor já ajuda bastante na interação entre as áreas e diferentes equipes”.

Para o critério de criatividade, no escritório antigo, 6,1% atribuíram nota 5, 36,4%

nota 4, 33,3% nota 3, 18,2% nota 2 e 6,1% nota 1. De tal modo, a nota final obtida nesse

critério foi 3,2 de 5. Já no escritório atual, 39,7% atribuíram nota 5, 36,5% nota 4, 22,2%

nota 3 e 1,6% nota 1, sendo a nota final 4,1 de 5. Nesse aspecto, observa-se um

aumento de 0,9 pontos e os comentários realizados pelos colaboradores respondentes

não enaltecem esse aspecto como algo muito interferido pelo espaço físico, talvez por

sua subjetividade, até mesmo em autoavaliação.

Considerando satisfação e motivação, para o escritório antigo 57,6% atribuíram

nota 5, 24,2% nota 4, 9,1% nota 3, 6,1% nota 2, 3% nota 1, obtendo nota final de 4,3 de

5. Para o escritório atual, 71,4% atribuíram nota 5, 25,4% nota 4 e 3,2% nota 3,

resultando em uma nota final de 4,7 de 5. Com a menor variação de nota, tendo subido

apenas 0,4 pontos com a mudança de escritório, a satisfação e a motivação foram

recorrentemente mencionadas nos comentários como aspectos que sim são reforçados

pelo conforto e beleza do escritório, além do aumento na autoestima, no entanto, “você

acreditar e amar o que faz, acreditar no trabalho que faz, nas pessoas que estão no

mesmo barco que você e na empresa em que você trabalha” parece ser algo que existe

dentro da cultura da VTEX independentemente de em que escritório se está

trabalhando. Aspectos como “a empresa possui outros valores que me fornecem a

inspiração necessária para me manter motivado, como, por exemplo, liberdade,

responsabilidade, impacto na vida de outras empresas e pessoas” também foram

bastante mencionados.

Por fim, no que diz respeito a produtividade e performance, para o escritório

antigo, 15,2% atribuíram nota 5, 21,2% nota 4, 39,4% nota 3, 9,1% nota 2 e 15,2% nota

1. Desse modo, a nota final obtida nesse critério foi de 3,1 de 5. Considerando o

escritório atual, 44,4% atribuíram nota 5, 38,1% nota 4, 12,7% nota 3 e 4,8% nota 1,

resultando em uma nota final de 4,2 de 5. Assim como no critério ergonômico, a

produtividade e performance tiveram uma melhora de 1,1 em sua nota final. No entanto,

nos comentários, podem-se perceber opiniões contraditórias, alguns mencionam as

áreas de lazer e espaços disponíveis para trabalho como fundamentais para a

produtividade, tendo as áreas de descanso papel estratégico. Por outro lado, outros

mencionam o barulho gerado por esses espaços e o escritório ser totalmente open

space como fator prejudicial para seu desempenho, reforçando a necessidade de

espaços mais privativos e silenciosos tanto para trabalho quanto para relaxar. No

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entanto, a ausência de problemas operacionais que faziam com que se perdesse tempo

de trabalho no outro escritório, foi uma melhoria unânime.

No geral, todos os aspectos definidos e estudados no capítulo 4, tiveram uma

melhora na perspectiva dos colaboradores devido ao ambiente de trabalho atual possuir

maior planejamento e adequação às necessidades das atividades desenvolvidas nesse

escritório. Um aspecto interessante, é a identidade que os colaboradores criaram com

o novo escritório. Foi recorrente a aparição de termos como “é a cara da VTEX” ou “é a

nossa cara”, “a autoestima foi elevada”, “agora sim alguém consegue entender o que é

a VTEX indo ao escritório do Rio” ou, até mesmo, a perspectiva de identidade com o

produto: “acreditava que nós não éramos nada inovadores e estávamos muito mais

próximos de um produto superburocrático e engessado. O novo escritório me passa a

impressão exata do contrário”.

Os resultados quantitativos encontrados na pesquisa de campo corroboram não

só os conceitos definidos e desdobrados nos capítulos anteriores, como também

reafirmam as relações de causa e efeito entre as diversas características que compõem

um ambiente de trabalho e as percepções dos colaboradores em relação ao espaço à

sua volta. Assim, a pesquisa foi capaz de confirmar o que as observações dos autores

e a pesquisa bibliográfica apresentaram anteriormente, complementando as discussões

com insumos que adicionam ao sistema percepções humanas reais e atuais a respeito

da influência do meio no homem e vice-versa.

Gráfico 3: Notas Atribuídas para Cada Critério por Escritório

Fonte: Elaboração Própria

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5.4.3. Raio-X da Cultura

Com o objetivo de identificar como os colaboradores entendem a cultura da

VTEX, a área de People & Places realizou uma pesquisa com os colaboradores a partir

de afirmações pré-definidas (Anexo D) acerca dos desdobramentos dos valores e

aspectos culturais da empresa. A pesquisa solicitou que os colaboradores

expressassem seu grau de concordância com cada uma das afirmações apresentadas,

que foram agrupadas em macrocritérios: definição de papéis, autonomia, transparência,

erros, desenvolvimento de pessoas, cultura, propósito, confiança e união. Separou-se

as respostas com base na localização, deixando os resultados dos maiores escritórios

em número de colaboradores individualizados – Rio de Janeiro e São Paulo – e

agrupou-se todos os resultados dos escritórios internacionais, uma vez que não faria

sentido analisar separadamente as respostas de pessoas individualmente. Os autores

somente tiveram acesso aos resultados numéricos da pesquisa e a listagem das

afirmações utilizadas. Os gráficos 4, 5 e 6 apresentam essa análise.

Gráfico 4: Resultados do Raio-X de Cultura no Rio de Janeiro

Fonte: Elaboração Própria

A partir dos gráficos apresentados, é interessante notar que, em relação aos

outros macrocritérios, a cultura foi a que obteve maior taxa de discordância no Rio de

Janeiro e em São Paulo, e a segunda maior considerando os escritórios internacionais.

Nestes, só perdeu ligeiramente para a definição de papéis, o que faz sentido uma vez

que esses colaboradores trabalham quase que totalmente isolados fisicamente do

67% 73%

46%

71% 78%

41%

76% 74% 71% 65%

17% 9%

32%

9%6%

34%

11%5% 12% 16%

16% 18% 22% 20% 15%26%

12%22% 18% 19%

Concordância Discordância Indiferente

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restante da empresa. Nesse nicho, o percentual de concordância geral foi mais alto do

que nos outros dois, o que pode ter ocorrido pois esses indivíduos estão mais focados

em exercer suas funções, não tendo oportunidade de relativizar as suas percepções em

relação aos outros colaboradores.

Gráfico 5: Resultados do Raio-X de Cultura em São Paulo

Fonte: Elaboração Própria

Gráfico 6: Resultados do Raio-X de Cultura Internacional

Fonte: Elaboração Própria

69% 74%53%

65%82%

51%

76% 84% 75% 69%

13% 10%

17%11%

5%

23%

4%2%

11%12%

19% 16%30% 24%

13%26% 19% 13% 14% 19%

Concordância Discordância Indiferente

65%76% 72% 73%

83%64%

82% 75% 68% 73%

21% 8% 7% 10%5%

19%

7%3% 11% 11%

14% 16% 21% 17% 12% 17% 11%22% 21% 16%

Concordância Discordância Indiferente

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Esse estudo possui relevância pois apresenta como resolução que a impressão

que cada grupo de colaboradores possui é influenciada pelo ambiente em que está

inserido. Ademais, pode-se considerar que a instalação física pode atuar na unificação

da cultura da VTEX, mesmo considerando as distâncias geográficas. Para isso, assim

como realizou-se o planejamento do VTEX Lab, realizar-se-á um guideline destacando

os aspectos que devem ser replicados em todos os escritórios da organização para que,

em qualquer lugar no mundo, qualquer pessoa que estiver em um desses escritórios

compreenda o que é a VTEX e perceba o seu jeito de ser.

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CONCLUSÃO

O presente trabalho buscou avaliar de forma holística o sistema compreendido

pela interação do ambiente físico com os fatores humanos, visando o entendimento das

relações entre o espaço corporativo e a cultura organizacional, um tema atual e de

crescente relevância no contexto das organizações, devido à sua importância no cenário

econômico e social. Apesar da literatura disponível apresentar satisfatoriamente

conteúdos diversos a respeito da dimensão do ambiente de trabalho para a estratégia

das companhias modernas, e de interligar os componentes das instalações físicas às

diversas percepções possíveis para os colaboradores, pouco ainda é explorado no

âmbito da cultura organizacional como um todo. Isso ocorre devido ao caráter complexo

do tema, uma vez que envolve elementos subjetivos e complicadores da perspectiva

humana nas avaliações.

Sob a perspectiva do estudo de caso, considerando que o escritório estudado

surgiu pensando-se na cultura já existente na empresa, a relação que mais se destaca

é a da cultura influenciando no planejamento das instalações, e não o inverso. No

entanto, a partir da revisão bibliográfica realizada, percebeu-se que a cultura pode ser

afetada por um ambiente existente, uma vez que pode influenciar na dinâmica de

trabalho e, por conseguinte, alterar o comportamento organizacional, que é a expressão

da cultura. Além disso, a pesquisa de campo realizada dentro do estudo de caso

evidenciou a forte compreensão dos colaboradores a respeito da tradução de sua

cultura naquele espaço físico. Em muitos comentários ficou clara a compreensão por

parte dos funcionários, de quanto o ambiente em que estão inseridos representa a

cultura da organização.

Os autores acreditam que os resultados apresentados sejam de utilidade a

outros estudiosos que pretendem investigar a fundo a interferência recíproca entre os

elementos básicos do layout e a cultura organizacional, e sugerem que os dados

apresentados sejam utilizados para estimular a criação de modelos objetivos que

apresentem relações diretas de causa e efeito dos componentes do arranjo físico com

essa cultura, e não apenas com elementos de desdobramento dela. Por fim, avalia-se

que o estudo apresentado foi capaz de contribuir para a comunidade acadêmica ao

revisar, sintetizar e propor as relações desses aspectos, tornando mais claro o

entendimento e destacando a magnitude que o planejamento das instalações tem como

fator estratégico na sociedade contemporânea.

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ANEXO A – PLANTA DA COMUNA

Fonte: Arquivos da Empresa

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ANEXO B – PLANTA DAS ESTAÇÕES DE TRABALHO

Fonte: Arquivos da Empresa

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ANEXO C – PLANTA DA ÁREA DE DESCOMPRESSÃO

Fonte: Arquivos da Empresa

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ANEXO D – STATEMENTS DO RAIO-X DA CULTURA

Fonte: Arquivos da Empresa

1 A definição de papéis e funções é importante para mim

2 Na VTEX os papéis são claramente definidos

3 Quando entrei na VTEX, meu papel foi claramente comunicado e senti que sabia o que precisava fazer

4

Tenho liberdade para desempenhar papeis e funções que podem agregar mais valor a empresa sem precisar

pedir autorização ou ser direcionado a fazê-lo

5 Na VTEX, papéis e funções são facilmente negociados para que as coisas aconteçam

6

Meus colegas me dão abertura para conversar sobre melhores maneiras de desempenhar nossas funções

como equipe

PAPEIS

7 Estar em uma empresa que valoriza uma gestão mais autônoma dentro dos times é importante para mim

8 Acredito que o modelo de autonomia da VTEX é claro para todas as equipes

9 Acredito que o modelo de autonomia funciona bem na minha equipe

10

Acredito que tenho voz ativa no meu time e posso enxergar o impacto do meu trabalho no resultado que

buscamos

11 Acredito que o modelo de autonomia da VTEX nos permite criar produtos e serviços melhores

12 Acredito que o modelo de autonomia aproxima as equipes

13

Acredito que o modelo de autonomia da VTEX permite que eu me sinta empoderado, seja mais criativo e

produtivo

14

Acredito que o modelo de autonomia da VTEX permite que meu time tome decisões e ações de forma mais

consciente e assertiva

15 Eu não mudaria a cultura de autonomia

AUTONOMIA

16 Estar em uma empresa que age e se comunica com transparência é importante para mim

17 Acredito que todas as regras da VTEX para como devemos nos comportar são claras

18 Acredito que o posicionamento da VTEX com relação à cultura é claro

19 Acredito que o posicionamento da VTEX com relação à cultura é compartilhada entre todas as equipes

20

Me sinto confortável conversando com membros de qualquer equipe da VTEX sobre o trabalho que está sendo

realizado

21 Acredito que a VTEX é transparente em suas ações e comunicação

TRANSPARENCIA

22 Estar em uma empresa que enxerga os erros como parte do aprendizado é importante para mim.

23 Acredito que todos os meus colegas de VTEX são compreensíveis com erros que podem acontecer

24 Acredito que errar faz parte de uma cultura de inovação

25 Não me importo que outras equipes/indivíduos errem

26 Me sinto julgado quando erro na VTEX

27 Meus erros são encarados de forma positiva pela minha equipe, como parte do aprendizado

ERROS

28 Estar em uma empresa que está focada no desenvolvimento de pessoas é importante para mim.

29 Quando eu entrei na VTEX, me senti bem-vindo por todos os membros da minha equipe

30 Me sinto acolhido e ajudado pela minha equipe quando preciso aprender algo novo ou ser corrigido

31 Me sinto confortável pedindo ajuda para membros de outras equipes

32 Sinto que a VTEX dá condições para que os funcionários possam crescer dentro da organização

33 A VTEX permite que eu procure ou tenha acesso a ferramentas para meu desenvolvimento

34 A VTEX proporciona um ambiente de aprendizado e desenvolvimento para mim

35 Sinto-me incentivado a me desenvolver pelo meu time e ajudo os meus colegas a se desenvolverem também

36 Eu busco feedback dos meus colegas constantemente

37 Busco sempre dar feedback aos meus colegas para que eles possam se desenvolver com minha ajuda

DESENVOLVIMENTO DE PESSOAS

38 Estar em uma empresa que possui uma cultura forte com valores e identidade claros é importante para mim.

39 A cultura, valores, e identidade da VTEX são claros para mim

40 Eu me sinto inspirado pela cultura da VTEX

41 Concordo com a cultura, valores e identidade da VTEX

42 Sinto que a VTEX tem uma cultura de colaboração entre equipes e indivíduos

43 Sinto que colaboração entre equipes (independente de área) faz o meu trabalho ficar melhor

44 Acredito que todas as equipes na VTEX tem interesse em compartilhar conhecimento

45 Acredito que a cultura da VTEX é igual em todos os escritórios

46 Acredito que a cultura da VTEX é igual em todas as equipes

47 Sinto que todas as equipes e escritórios da VTEX compartilham os mesmos valores e cultura

48 Do ponto de vista de cultura, eu me sentiria confortável trabalhando em qualquer escritório da VTEX

49 Acredito que todos os settlers da VTEX compartilham os mesmos valores e cultura

CULTURA

50 Estar em uma empresa que possui um propósito claro e objetivos definidos é importante para mim

51 Tenho total clareza do propósito e objetivos da VTEX como empresa

52 Me sinto inspirado pelos propósitos e objetivos da VTEX

53 Acredito que a VTEX é uma empresa global

54

Acredito que o que fazemos na VTEX compete de igual para igual com as empresas mais inovadoras do

mundo

55 Sinto que todos na VTEX compartilham da mesma visão para a VTEX

PROPOSITO

56 Estar em uma empresa que possui confiança no meu trabalho e decisões é importante para mim

57 Confio na liderança da VTEX

58 Confio nos meus colegas de equipe

59 Confio nos Settlers

60 Confio nas pessoas de outras equipes

61 Sinto que confiam em mim

CONFIANÇA

62 Estar em uma empresa que tem união, colaboração e sinergia entre as pessoas é importante para mim

63 Me sinto inspirado em trabalhar na VTEX

64 Me sinto inspirado por todos os meus colegas de equipe

65 Me sinto inspirado pela liderança da VTEX

66 Sinto que existe um clima de união entre todas as equipes da VTEX

67 Sinto que, independente de diferenças pessoais, todos conseguimos colaborar bem

UNIÃO

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APÊNDICE A – FORMULÁRIO DA PESQUISA DE CAMPO

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Fonte: Elaboração Própria