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1.INTRODUÇÃO O presente trabalho esclarece questões importantes no que diz respeito à responsabilidade civil dos seguintes profissionais da área de saúde: o médico, farmacêutico, laboratório e o dentista. A responsabilidade civil consiste na obrigação que surge para aquele que causa um dano a alguém, de indenizar o dano que causou. Esta responsabilidade nos dias de hoje, se faz, cada vez mais presente na vida dos profissionais da área da saúde. O trabalho mostra que a identificação da responsabilidade civil não é tão simples como achamos. Nesse tipo de responsabilidade a diversos fatores a serem analisados, tanto para o advogado como para o magistrado. Quando se ocorre um dano, teremos que analisar qual a natureza desse dano, ou seja, se é uma obrigação subjetiva ou objetiva, se advém de um contrato ou se poderá ser extracontratual e outras não menos importantes que os citados. 1

DANIELA SILVA OLIVEIRA - Pensando Direito!  · Web viewA divulgação indevida ou publicidade de laudo de exame. A ausência de informação correta e precisa. O erro de diagnóstico,

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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho esclarece questões importantes no que diz

respeito à responsabilidade civil dos seguintes profissionais da área de

saúde: o médico, farmacêutico, laboratório e o dentista.

A responsabilidade civil consiste na obrigação que surge para aquele

que causa um dano a alguém, de indenizar o dano que causou.

Esta responsabilidade nos dias de hoje, se faz, cada vez mais

presente na vida dos profissionais da área da saúde.

O trabalho mostra que a identificação da responsabilidade civil não é

tão simples como achamos. Nesse tipo de responsabilidade a diversos

fatores a serem analisados, tanto para o advogado como para o

magistrado. Quando se ocorre um dano, teremos que analisar qual a

natureza desse dano, ou seja, se é uma obrigação subjetiva ou objetiva,

se advém de um contrato ou se poderá ser extracontratual e outras não

menos importantes que os citados.

A partir desses fatores é que desenvolvemos o nosso trabalho.

Esperamos que alcance o objetivo proposto pelo nosso orientador.

1

2. RESPONSABILIDADE CIVIL DOS MÉDICOS

Breve Histórico

O primeiro documento histórico que faz referência ao erro médico é

o Código de Hamurabi (1790-1770 a.C.), que trazia também algumas

normas sobre a profissão médica na época.

O Código dizia, por exemplo, que nas operações difíceis de serem

realizadas, haveria uma compensação pelo trabalho. Por outro lado, era

exigida muita atenção e perícia por parte dos médicos, pois caso algo saísse

errado, penas severas eram impostas a eles.

Comparando-se com os dias atuais, verifica-se que não existia o

conceito de culpa subjetiva, mas somente objetiva. O médico que causasse

a morte ou lesão do paciente, por imperícia ou até má sorte, poderia ser

penalizado com a amputação das mãos. Não importava se ele utilizou-se de

todos os meios disponíveis, com total perícia e cumprindo rigorosamente os

"procedimentos" corretos. Se o paciente viesse a falecer, o único culpado

seria o médico1.

1 Extraído do endereço http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1867

2

2.1 A relação Médico Paciente

Os a direitos á vida e á segurança são direitos que estão garantidos na

Constituição Federal, em seu art. 5º, conforme Preâmbulo da Carta Magna,

decorre a integridade corporal e supõe o direito á saúde e acesso aos meios

de cura, sem que subsista qualquer doença ou seqüela, em razão da má

pratica do profissional da Medicina.

Visa desenvolver o bem-estar físico e espiritual, a atividade médica

tem vinculo estreito com os direitos da personalidade. Para evitar

transtornos e violações a quaisquer destes direitos, devem os médicos agir

com extremo cuidado e zelo, buscando sempre o reto exercício que advém

de seu titulo universitário e da habilitação profissional conseguida.

Para Gregório Marañon, (1944) “Ao procurar um médico o paciente

aceita a margem de possível erro que implica o exercício da Medicina,

posto que suponha no médico escolhido, aptidões para não errar tanto

quanto os demais médicos”

Com o fim do médico família, daquele que todos confiavam, pouco a

pouco, essa atividade se transforma em prestação médica. Agora, o

atendimento médico, sobretudo em postos do INSS ou aos que depende do

poder público, é feito de forma que nem o paciente conhece o médico, nem

este o paciente.

A pressa no atendimento para diminuir a enorme fila, torna a

Medicina difícil de ser exercida e seus médicos diante da dificuldade

material e de outros meios, fornece um mínimo de cuidado para que o

paciente receba tratamento adequado.

3

Por isso, fala-se que é necessário mostrar a culpa da Medicina, a

relação de causalidade do tratamento médico com a lesão sofrida e, efetuar

a prova da culpa médica.

2.2 Responsabilidade Civil dos Médicos

Em sentido geral responsabilidade exprime a obrigação de alguém

responder por alguma coisa que fez ou deixou de fazer em prejuízo de

terceiros. Significa a obrigação de alguém satisfazer e executar um ato, que

se tenha contratado, ou decorrente da culpa.

Atualmente, discute-se muito sobre a responsabilidade civil dos

profissionais liberais, sobretudo a da classe médica.

É claro que o médico, ao exercer suas atividades junto ao paciente,

sua intenção é beneficiá-lo. Mesmo assim, o dano pode surgir. Isso o

obriga, pela teoria objetiva da responsabilidade, a reparar o prejuízo.

Com a promulgação do Código de Proteção ao Consumidor, muitos

direitos foram abarcados em favor dos consumidores e, usuários dos

serviços profissionais liberais. O Código de Defesa do Consumidor, em

alguns artigos, deve ser analisado criticamente:

“O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o

consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as

circunstâncias relevantes, entre as quais:

I - o modo de seu fornecimento;

II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

III - “a época em que foi fornecido” (art. 14, parágrafo 1º).

Já o parágrafo 2º do citado artigo afirma que: “O serviço não é

considerado defeituoso pela adoção de algumas novas técnicas.”

4

Se ocorrer um erro na prestação do serviço médico no sistema do

consumidor durante essa responsabilidade, em tese, não há diferença entre

o erro pelo fato de serviço ou de produto. Em todas as situações, são

analisados os danos causados no interesse do consumidor. Em consonância

com o que afirma a lei, serão responsabilizados, solidariamente e

independente de averiguação de culpa, todos aqueles que prestaram

serviços: “Seguro de saúde. Atendimento de segurado por estágio. Lesão

permanente. Redução da capacidade laborativa. Indenização pelo

estabelecimento hospitalar” (RT 559/193).

O ressarcimento material e moral, em pecúnia (dinheiro) é uma

compensação diante da dor sofrida pelo lesado frente à culpa do

profissional, por imprudência, negligencia ou imperícia.

“Ao lesado compete o ônus da prova “(art. 333, I do CPC) necessita

provar a culpa do profissional.

É necessário estabelecer distinções entre as obrigações de meios e as

de resultado, para que se caracterize a responsabilidade do profissional

liberal. Quando a obrigação do profissional liberal for de meio – que é caso

dos médicos e anestesistas – desde que não se trate de cirurgia plástica e

estética, pois neste caso trata-se de obrigação de resultado, a

responsabilidade só existirá mediante apuração da culpa. Portanto, o

contrato com médico é um contrato de meio e não de resultado, salvo

cirurgia plástica e estética.

De acordo com Carlos Roberto Gonçalves

Para o cliente é limitada a vantagem da concepção contratual da responsabilidade médica, porque, o fato de não obter a cura do doente não importa em reconhecer que o médico foi inadimplente. Isso porque a obrigação que tais profissionais assumem é uma obrigação de meio e não de resultado. O objeto do contrato médico não é a cura, mas a prestação de cuidados conscienciosos, atentos, e, salvo circunstâncias excepcionais, de acordo com a aquisição da ciência. Comprometem-se, ao tratar o cliente com zelo utilizando-se de todos os recursos adequados, não se obrigando, contudo, a curar o doente. Responsabilidade Civil Saraiva, 4ª Ed. p. 122.

5

Para o Superior Tribunal de Justiça

Responsabilidade Civil do Médico é de meio e não de fim... em se

tratando de médico a culpa não decorre do resultado da operação, mas

dos meios empregados, se a prescrição da medicação foi pertinente e

cercadas das cautelas recomendáveis e não havendo prova de que o

profissional da medicina foi negligente, imperito ou imprudente no

acompanhamento do tratamento, não há como considerar procedente a

ação de indenização. RT 613/46

2.3. Natureza da responsabilidade Civil Médica

Na esfera de danos causados no exercício da medicina, é de pleno

rigor estabelecer se a relação que se desenvolve entre médico e paciente se

é contratual ou extracontratual.

De acordo com a doutrina, a relação a considerar é contratual. Mas,

não se pode deixar de lado, os casos que emergem a extracontratual idade.

A responsabilidade aquiliana a respeito da atividade médica foi

sistematizada por Alberto Bueres (Responsabilidad Civil de los Medicos, p.

163), que assinala os seguintes exemplos de relação fora do contrato:

a) Serviços médicos requeridos por uma pessoa distinta do paciente,

sempre e quando, por lógica, aquela não abrigue contratualmente

uma representação legal ou voluntária.

b) Quando o ato médico responsável configura sem prejuízo da ilicitude

civil – um crime, com o qual se viabiliza a opção aquiliana.

6

c) Nos casos em que o médico preste o serviço de forma espontânea,

sem intervenção alguma da vontade do paciente (como, por exemplo,

o médico que auxilia a vitima de um acidente ocorrido na via

pública)

d) A atividade do médico desenvolvida contra a vontade do paciente no

caso, por exemplo, do suicida que recebe assistência.

Qualquer que seja a fonte da obrigação do médico, se ele esta

vinculado ao paciente por meio de uma obrigação contratual ou

aquiliana, deverá atuar visando à cura do paciente.

O Código Civil brasileiro diz respeito à responsabilidade dos

médicos, dos farmacêuticos, dos cirurgiões dentistas e parteiras:

No art. 951: O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplicam-se ainda no caso de indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho.

O art. 948 trata de homicídio, o art. 949 trata da ofensa ou lesão à

saúde, e o art. 950 trata da ocorrência de um defeito que poderá impedir o

ofendido de praticar seu ofício ou profissão, ou então diminuir a

capacidade de trabalho.

2.4. Responsabilidade Solidária de toda a Equipe Médica

7

Quando se trata de uma cirurgia realizada por uma equipe médica,

em caso de acidente provocado por culpa médica, a responsabilidade é

considerada solidária, respondendo todos os profissionais que participaram

da cirurgia.

Este caso é analisado desde o anestesista que não pode ausentar em

nenhum momento da cirurgia e do operador-chefe que é responsável por

toda sua equipe.

Tereza Ancona Lopez de Magalhães (Responsabilidade Civil, p.

323), analisa que “a figura do anestesista, chamado também de anestesista

reanimador, é, nos dias atuais, de suma importância, não só dentro da sala

de operação, mas, também no período pré ou pós operatório. Dessa forma,

não pode mais o operador-chefe ser o único responsável por tudo que

aconteça antes, durante e após uma intervenção cirúrgica”.

A jurisprudência tende a considerar como solidaria a

responsabilidade de toda a equipe médica, responsável pela operação.

2.5. Requisitos na Culpa da Responsabilidade Civil dos Médicos

A responsabilidade civil é definida pelo art. 186 C.C. que diz:

“Aquele que por ação ou omissão voluntária; negligência ou imprudência

violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral,

comete ato ilícito“.

É complementada pelo art. 927 do C.C que diz: “Aquele que, por ato

ilícito causar dano a outrem fica obrigado a repará-lo“.

Pode-se dizer que a responsabilidade médica é subjetiva, pois deverá

ser apurada a culpa por negligência (ex. controle devido, cuidados,

diligência exigível etc.), imprudência (ex. agir médico, exige técnica

8

adequada, tempo requerido, doses terapêuticas etc.) e imperícia (ex. falta de

insuficiência técnica).

Para que o médico seja responsável pelos fatos cometidos no

exercício de sua profissão, o paciente deve demonstrar a existência dos

seguintes pressupostos:

a) Culpa em relação à atenção médica prestada;

b) Existência de dano que tenha ocorrido em razão do fato;

c) Relação de causalidade entre o descumprimento do dever de

assistência e o dano experimentado.

A ausência de qualquer um desses requisitos frustra a ação de

indenização por dano moral (ou patrimonial), ficando o profissional isento

da responsabilidade civil em decorrência do exercício de sua atividade

médica.

2.6. Direitos do Paciente

Ao doente interessa a cura da doença. Ao médico, fomentar os meios

necessários e que estejam a sua disposição para deixar o seu cliente são e

distante do mal que o afligia

Alguns direitos que o paciente possui:

1. Eleger seu médico com total liberdade.

9

2. Concluir a relação com seu médico quando a considerar

necessária.

3. Discutir com seu médico os custos relativos á prestação dos

serviços que serão prestados.

4. Receber adequada e necessária informação, para dar ou negar

o seu consentimento.

5. Requerer uma segunda opinião.

6. Conhecer sobre os serviços de saúde existentes e como se

pode fazer o melhor uso deles.

7. Dar consentimento informado a qualquer procedimento de

diagnostico ou de terapia.

8. A confidencialidade da informação.

9. Um resumido relatório escrito dos fatos relativos a seu estado

de saúde, se é requerido em condições razoáveis.

10.Ser tratado de acordo com os níveis médicos geralmente, mais

aceitáveis.

Enfim são vários os direitos que o paciente possui perante a escolha

de um médico, e perante o medico já escolhido.

2.7. Código de Ética do Médico

Resolução CFM nº 1.246, de 8 de janeiro de 1988 (Dispõe sobre

o Código de Ética Médica) Fonte de Publicação: Diário Oficial da

União; Poder Executivo, Brasília, DF, de 26 jan. 1988. Seção 1, p. 1574-

7

10

PREÂMBULO

I - O presente Código contém as normas éticas que devem ser seguidas

pelos médicos no exercício da profissão, independentemente da função ou

cargo que ocupem.

II - As organizações de prestação de serviços médicos estão sujeitas às

normas deste Código.

III - Para o exercício da Medicina, impõe-se a inscrição no Conselho

Regional do respectivo Estado, Território ou Distrito Federal.

IV - A fim de garantir o acatamento e cabal execução deste Código, cabe

ao médico comunicar ao Conselho Regional de Medicina, com discrição e

fundamento, fatos de que tenha conhecimento e que caracterizem possível

infringência do presente Código e das Normas que regulam o exercício da

Medicina.

V - A fiscalização do cumprimento das normas estabelecidas neste Código

é atribuição dos Conselhos de Medicina, das Comissões de Ética, das

autoridades da área de saúde e dos médicos em geral.

VI - Os infratores do presente Código sujeitar-se-ão às penas disciplinares

previstas em lei.

2.8. CAPÍTULO I - PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

Art. 1º - A Medicina é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e

da coletividade e deve ser exercida sem discriminação de qualquer

natureza.

11

Art. 2º - O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em

benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua

capacidade profissional.

Art. 3º - A fim de que possa exercer a Medicina com honra e dignidade, o

médico deve ter boas condições de trabalho e ser remunerado de forma

justa.

Art. 4º - Ao médico cabe zelar e trabalhar pelo perfeito desempenho ético

da Medicina e pelo prestígio e bom conceito da profissão.

Art. 5º - O médico deve aprimorar continuamente seus conhecimentos e

usar o melhor do progresso científico em benefício do paciente.

Art. 6º - O médico deve guardar absoluto respeito pela vida humana,

atuando sempre em benefício do paciente. Jamais utilizará seus

conhecimentos para gerar sofrimento físico ou moral, para o extermínio do

ser humano ou para permitir e acobertar tentativa contra sua dignidade e

integridade.

Art. 7º - O médico deve exercer a profissão com ampla autonomia, não

sendo obrigado a prestar serviços profissionais a quem ele não deseje salvo

na ausência de outro médico, em casos de urgência, ou quando sua negativa

possa trazer danos irreversíveis ao paciente.

Art. 8º - O médico não pode, em qualquer circunstância ou sob qualquer

pretexto, renunciar à sua liberdade profissional, devendo evitar que

quaisquer restrições ou imposições possam prejudicar a eficácia e correção

de seu trabalho.

Art. 9º - A Medicina não pode, em qualquer circunstância ou de qualquer

12

forma, ser exercida como comércio.

Art. 10 - O trabalho médico não pode ser explorado por terceiros com

objetivos de lucro, finalidade política ou religiosa.

Art. 11 - O médico deve manter sigilo quanto às informações confidenciais

de que tiver conhecimento no desempenho de suas funções. O mesmo se

aplica ao trabalho em empresas, exceto nos casos em que seu silêncio

prejudique ou ponha em risco a saúde do trabalhador ou da comunidade.

Art. 12 - O médico deve buscar a melhor adequação do trabalho ao ser

humano e a eliminação ou controle dos riscos inerentes ao trabalho.

Art. 13 - O médico deve denunciar às autoridades competentes quaisquer

formas de poluição ou deterioração do meio ambiente, prejudiciais à saúde

e à vida.

Art. 14 - O médico deve empenhar-se para melhorar as condições de saúde

e os padrões dos serviços médicos e assumir sua parcela de

responsabilidade em relação à saúde pública, à educação sanitária e à

legislação referente à saúde.

Art. 15 - Deve o médico ser solidário com os movimentos de defesa da

dignidade profissional, seja por remuneração condigna, seja por condições

de trabalho compatíveis com o exercício ético profissional da Medicina e

seu aprimoramento técnico.

Art. 16 - Nenhuma disposição estatutária ou regimental de hospital ou

instituição pública ou privada poderá limitar a escolha, por parte do

13

médico, dos meios a serem postos em prática para o estabelecimento do

diagnóstico e para a execução do tratamento, salvo quando em benefício do

paciente.

Art. 17 - O médico investido em função de direção tem o dever de

assegurar as condições mínimas para o desempenho ético profissional da

Medicina.

Art. 18 - As relações do médico com os demais profissionais em exercício

na área de saúde devem basear-se no respeito mútuo, na liberdade e

independência profissional de cada um, buscando sempre o interesse e o

bem-estar do paciente.

Art. 19 - O médico deve ter, para com os seus colegas, respeito,

consideração e solidariedade, sem, todavia, eximir-se de denunciar atos que

contrariem os postulados éticos à Comissão de ética da instituição em que

exerce seu trabalho profissional e, se necessário, ao Conselho Regional de

Medicina.

2.9. CAPÍTULO II - DIREITOS DO MÉDICO

É direito do médico:

Art. 20 - exercer a Medicina sem ser discriminado por questões de religião,

raça, sexo, nacionalidade, cor, opção sexual, idade, condição social,

opinião política ou de qualquer outra natureza.

14

Art. 21 - Indicar o procedimento adequado ao paciente, observadas as

práticas reconhecidamente aceitas e respeitando as normas legais vigentes

no País.

Art. 22 - Apontar falhas nos regulamentos e normas das instituições em

que trabalhe, quando as julgar indignas do exercício da profissão ou

prejudiciais ao paciente, devendo dirigir-se, nesses casos, aos Órgãos

competentes e, obrigatoriamente, à Comissão de Ética e ao Conselho

Regional de Medicina de sua jurisdição.

Art. 23 - Recusar-se a exercer sua profissão em instituição pública ou

privada onde as condições de trabalho não sejam dignas ou possam

prejudicar o paciente.

Art. 24 - Suspender suas atividades, individual ou coletivamente, quando a

instituição pública ou privada para a qual trabalhe não oferecer condições

mínimas para o exercício profissional ou não o remunerar condignamente,

ressalvadas as situações de urgência e emergência, devendo comunicar

imediatamente sua decisão ao Conselho Regional de Medicina.

Art. 25 - Internar e assistir seus pacientes em hospitais privados com ou

sem caráter filantrópico, ainda que não faça parte do seu corpo clínico,

respeitadas as normas técnicas da instituição.

Art. 26 - Requerer desagravo público ao Conselho Regional de Medicina

quando atingido no exercício de sua profissão.

Art. 27 - Dedicar ao paciente, quando trabalhar com relação de emprego, o

tempo que sua experiência e capacidade profissional recomendarem para o

15

desempenho de sua atividade, evitando que o acúmulo de encargos ou de

consultas prejudique o paciente.

Art. 28 - Recusar a realização de atos médicos que embora permitidos por

lei, sejam contrários aos ditames de sua consciência.

CAPÍTULO III - RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL

É vedado ao médico:

Art. 29 - Praticar atos profissionais danosos ao paciente, que possam ser

caracterizados como imperícia, imprudência ou negligência.

Art. 30 - Delegar a outros profissionais atos ou atribuições exclusivos da

profissão médica.

Art. 31 - Deixar de assumir responsabilidade sobre procedimento médico

que indicou ou do qual participou, mesmo quando vários médicos tenham

assistido o paciente.

Art. 32 - Isentar-se de responsabilidade de qualquer ato profissional que

tenha praticado ou indicado, ainda que este tenha sido solicitado ou

consentido pelo paciente ou seu responsável legal.

Art. 33 - Assumir responsabilidade por ato médico que não praticou ou do

qual não participou efetivamente.

Art. 34 - Atribuir seus insucessos a terceiros e a circunstâncias ocasionais,

exceto nos casos em que isso possa ser devidamente comprovado.

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Art. 35 - Deixar de atender em setores de urgência e emergência, quando

for de sua obrigação fazê-lo, colocando em risco a vida de pacientes,

mesmo respaldado por decisão majoritária da categoria.

Art. 36 - Afastar-se de suas atividades profissionais, mesmo

temporariamente, sem deixar outro médico encarregado do atendimento de

seus pacientes em estado grave.

Art. 37 - Deixar de comparecer a plantão em horário pré-estabelecido ou

abandoná-lo sem a presença de substituto, salvo por motivo de força maior.

Art. 38 - Acumpliciar-se com os que exercem ilegalmente a Medicina, ou

com profissionais ou instituições médicas que pratiquem atos ilícitos.

Art. 39 - Receitar ou atestar de forma secreta ou ilegível, assim como

assinar em branco folhas de receituários, laudos, atestados ou quaisquer

outros documentos médicos.

Art. 40 - Deixar de esclarecer o trabalhador sobre as condições de trabalho

que ponham em risco sua saúde, devendo comunicar o fato aos

responsáveis, às autoridades e ao Conselho Regional de Medicina.

Art. 41 - Deixar de esclarecer o paciente sobre as determinantes sociais,

ambientais ou profissionais de sua doença.

Art. 42 - Praticar ou indicar atos médicos desnecessários ou proibidos pela

legislação do País.

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Art. 43 - Descumprir legislação específica nos casos de transplantes de

órgãos ou tecidos, esterilização, fecundação artificial e abortamento.

Art. 44 - Deixar de colaborar com as autoridades sanitárias ou infringir a

legislação pertinente.

Art. 45 - Deixar de cumprir, sem justificativa, as normas emanadas dos

Conselhos Federal e Regionais de Medicina e de atender às suas

requisições administrativas, intimações ou notificações, no prazo

determinado.

2.10. CAPÍTULO IV - DIREITOS HUMANOS

É vedado ao médico:

Art. 46 - Efetuar qualquer procedimento médico sem o esclarecimento e o

consentimento prévios do paciente ou de seu responsável legal, salvo em

iminente perigo de vida.

Art. 47 - Discriminar o ser humano de qualquer forma ou sob qualquer

pretexto.

Art. 48 - Exercer sua autoridade de maneira a limitar o direito do paciente

de decidir livremente sobre a sua pessoa ou seu bem-estar.

Art. 49 - Participar da prática de tortura ou outras formas de procedimento

degradantes, desumanas ou cruéis, ser conivente com tais práticas ou não as

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denunciar quando delas tiver conhecimento.

Art. 50 - Fornecer meios, instrumentos, substâncias ou conhecimentos que

facilitem a prática de tortura ou outras formas de procedimentos

degradantes, desumanas ou cruéis, em relação à pessoa.

Art. 51 - Alimentar compulsoriamente qualquer pessoa em greve de fome

que for considerada capaz, física e mentalmente, de fazer juízo perfeito das

possíveis conseqüências de sua atitude. Em tais casos, deve o médico fazê-

la ciente das prováveis complicações do jejum prolongado e, na hipótese de

perigo de vida iminente, tratá-la.

Art. 52 - Usar qualquer processo que possa alterar a personalidade ou a

consciência da pessoa, com a finalidade de diminuir sua resistência física

ou mental em investigação policial ou de qualquer outra natureza.

Art. 53 - Desrespeitar o interesse e a integridade de paciente, ao exercer a

profissão em qualquer instituição na qual o mesmo esteja recolhido

independentemente da própria vontade.

Parágrafo único - Ocorrendo quaisquer atos lesivos à personalidade e à

saúde física ou psíquica dos pacientes a ele confiados, o médico está

obrigado a denunciar o fato à autoridade competente e ao Conselho

Regional de Medicina.

Art. 54 - Fornecer meio, instrumento, substância, conhecimentos, ou

participar, de qualquer maneira, na execução de pena de morte.

Art. 55 - Usar da profissão para corromper os costumes, cometer ou

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favorecer crime.

2.11. CAPÍTULO V - RELAÇÃO COM PACIENTES E

FAMILIARES

É vedado ao médico:

Art. 56 - Desrespeitar o direito do paciente de decidir livremente sobre a

execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de

iminente perigo de vida.

Art. 57 - Deixar de utilizar todos os meios disponíveis de diagnósticos e

tratamento a seu alcance em favor do paciente.

Art. 58 - Deixar de atender paciente que procure seus cuidados

profissionais em caso de urgência, quando não haja outro médico ou

serviço médico em condições de fazê-lo.

Art. 59 - Deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os

riscos e objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta ao

mesmo possa provocar-lhe dano, devendo, nesse caso, a comunicação ser

feita ao seu responsável legal.

Art. 60 - Exagerar a gravidade do diagnóstico ou prognóstico, complicar a

terapêutica, ou exceder-se no número de visitas, consultas ou quaisquer

outros procedimentos médicos.

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Art. 61 - Abandonar paciente sob seus cuidados.

Parágrafo 1º - Ocorrendo fatos que, a seu critério, prejudiquem o bom

relacionamento com o paciente ou o pleno desempenho profissional, o

médico tem o direito de renunciar ao atendimento, desde que comunique

previamente ao paciente ou seu responsável legal, assegurando-se da

continuidade dos cuidados e fornecendo todas as informações necessárias

ao médico que lhe suceder.

Parágrafo 2º - Salvo por justa causa, comunicada ao paciente ou a seus

familiares, o médico não pode abandonar o paciente por ser este portador

de moléstia crônica ou incurável, mas deve continuar a assisti-lo ainda que

apenas para mitigar o sofrimento físico ou psíquico.

Art. 62 - Prescrever tratamento ou outros procedimentos sem exame direto

do paciente, salvo em casos de urgência e impossibilidade comprovada de

realizá-lo, devendo, nesse caso, fazê-lo imediatamente cessado o

impedimento.

Art. 63 - Desrespeitar o pudor de qualquer pessoa sob seus cuidados

profissionais.

Art. 64 - Opor-se à realização de conferência médica solicitada pelo

paciente ou seu responsável legal.

Art. 65 - Aproveitar-se de situações decorrentes da relação médico-

paciente para obter vantagem física, emocional, financeira ou política.

Art. 66 - Utilizar, em qualquer caso, meios destinados a abreviar a vida do

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paciente, ainda que a pedido deste ou de seu responsável legal.

Art. 67 - Desrespeitar o direito do paciente de decidir livremente sobre

método contraceptivo, devendo o médico sempre esclarecer sobre a

indicação, a segurança, a reversibilidade e o risco de cada método.

Art. 68 - Praticar fecundação artificial sem que os participantes estejam de

inteiro acordo e devidamente esclarecidos sobre o procedimento.

Art. 69 - Deixar de elaborar prontuário médico para cada paciente.

Art. 70 - Negar ao paciente acesso a seu prontuário médico, ficha clínica

ou similar, bem como deixar de dar explicações necessárias à sua

compreensão, salvo quando ocasionar riscos para o paciente ou para

terceiros.

Art. 71 - Deixar de fornecer laudo médico ao paciente, quando do

encaminhamento ou transferência para fins de continuidade do tratamento,

ou na alta, se solicitado.

2.12. CAPÍTULO VI - DOAÇÃO E TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E

TECIDOS

É vedado ao médico:

Art. 72 - Participar do processo de diagnóstico da morte ou da decisão de

suspensão dos meios artificiais de prolongamento da vida de possível

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doador, quando pertencente à equipe de transplante.

Art. 73 - Deixar, em caso de transplante, de explicar ao doador ou seu

responsável legal, e ao receptor, ou seu responsável legal, em termos

compreensíveis, os riscos de exames, cirurgias ou outros procedimentos.

Art. 74 - Retirar órgão de doador vivo quando interdito ou incapaz, mesmo

com autorização de seu responsável legal.

Art. 75 - Participar direta ou indiretamente da comercialização de órgãos

ou tecidos humanos.

2.13. CAPÍTULO VII - RELAÇÕES ENTRE MÉDICOS

É vedado ao médico:

Art. 76 - Servir-se de sua posição hierárquica para impedir, por motivo

econômico, político, ideológico ou qualquer outro, que médico utilize as

instalações e demais recursos da instituição sob sua direção,

particularmente quando se trate da única existente na localidade.

Art. 77 - Assumir emprego, cargo ou função, sucedendo a médico demitido

ou afastado em represália a atitude de defesa de movimentos legítimos da

categoria ou da aplicação deste Código.

Art. 78 - Posicionar-se contrariamente a movimentos legítimos da

categoria médica, com a finalidade de obter vantagens.

23

Art. 79 - Acobertar erro ou conduta antiética de médico.

Art. 80 - Praticar concorrência desleal com outro médico.

Art. 81 - Alterar a prescrição ou tratamento de paciente, determinado por

outro médico, mesmo quando investido em função de chefia ou de

auditoria, salvo em situação de indiscutível conveniência para o paciente,

devendo comunicar imediatamente o fato ao médico responsável.

Art. 82 - Deixar de encaminhar de volta ao médico assistente, o paciente

que lhe foi enviado para procedimento especializado, devendo, na ocasião,

fornecer-lhe as devidas informações sobre o ocorrido no período em que se

responsabilizou pelo paciente.

Art. 83 - Deixar de fornecer a outro médico informações sobre o quadro

clínico de paciente, desde que autorizado por este ou seu responsável legal.

Art. 84 - Deixar de informar ao substituto o quadro clínico dos pacientes

sob sua responsabilidade, ao ser substituído no final do turno de trabalho.

Art. 85 - Utilizar-se de sua posição hierárquica para impedir que seus

subordinados atuem dentro dos princípios éticos.

2.14. CAPÍTULO VIII - REMUNERAÇÃO PROFISSIONAL

É vedado ao médico:

24

Art. 86 - Receber remuneração pela prestação de serviços profissionais a

preços vis ou extorsivos, inclusive através de convênios.

Art. 87 - Remunerar ou receber comissão ou vantagens por paciente

encaminhado ou recebido, ou por serviços não efetivamente prestados.

Art. 88 - Permitir a inclusão de nomes de profissionais que não partiparam

do ato médico, para efeito de cobrança de honorários.

Art. 89 - Deixar de se conduzir com moderação na fixação de seus

honorários, devendo considerar as limitações econômicas do paciente, as

circunstâncias do atendimento e a prática local.

Art. 90 - Deixar de ajustar previamente com o paciente o custo provável

dos procedimentos propostos, quando solicitado.

Art. 91 - Firmar qualquer contrato de assistência médica que subordine os

honorários ao resultado do tratamento ou à cura do paciente.

Art. 92 - Explorar o trabalho médico como proprietário, sócio ou dirigente

de empresas ou instituições prestadoras de serviços médicos, bem como

auferir lucro sobre o trabalho de outro médico, isoladamente ou em equipe.

Art. 93 - Agenciar, aliciar ou desviar, por qualquer meio, para clínica

particular ou instituições de qualquer natureza, paciente que tenha atendido

em virtude de sua função em instituições públicas.

Art. 94 - Utilizar-se de instituições públicas para execução de

25

procedimentos médicos em pacientes de sua clínica privada, como forma

de obter vantagens pessoais.

Art. 95 - Cobrar honorários de paciente assistido em instituição que se

destina à prestação de serviços públicos; ou receber remuneração de

paciente como complemento de salário ou de honorários.

Art. 96 - Reduzir, quando em função de direção ou chefia, a remuneração

devida ao médico, utilizando-se de descontos a título de taxa de

administração ou quaisquer outros artifícios.

Art. 97 - Reter, a qualquer pretexto, remuneração de médicos e outros

profissionais.

Art. 98 - Exercer a profissão com interação ou dependência de farmácia,

laboratório farmacêutico, ótica ou qualquer organização destinada à

fabricação, manipulação ou comercialização de produtos de prescrição

médica de qualquer natureza, exceto quando se tratar de exercício da

Medicina do Trabalho.

Art. 99 - Exercer simultaneamente a Medicina e a Farmácia, bem como

obter vantagem pela comercialização de medicamentos, órteses ou

próteses, cuja compra decorra de influência direta em virtude da sua

atividade profissional.

Art. 100 - Deixar de apresentar, separadamente, seus honorários quando no

atendimento ao paciente participarem outros profissionais.

26

Art. 101 - Oferecer seus serviços profissionais como prêmio em concurso

de qualquer natureza.

2.15. CAPÍTULO IX - SEGREDO MÉDICO

É vedado ao médico:

Art. 102 - Revelar o fato de que tenha conhecimento em virtude do

exercício de sua profissão, salvo por justa causa, dever legal ou autorização

expressa do paciente.

Parágrafo único - Permanece essa proibição:

a) Mesmo que o fato seja de conhecimento público ou que o paciente tenha

falecido.

b) Quando do depoimento como testemunha. Nesta hipótese o médico

comparecerá perante a autoridade e declarará seu impedimento. Art. 103 -

Revelar segredo profissional referente a paciente menor de idade, inclusive

a seus pais ou responsáveis legais, desde que o menor tenha capacidade de

avaliar seu problema e de conduzir-se por seus próprios meios para

solucioná-lo, salvo quando a não revelação possa acarretar danos ao

paciente.

Art. 104 - Fazer referência a casos clínicos identificáveis, exibir pacientes

ou seus retratos em anúncios profissionais ou na divulgação de assuntos

médicos em programas de rádio, televisão ou cinema, e em artigos,

entrevistas ou reportagens em jornais, revistas ou outras publicações legais.

27

Art. 105 - Revelar informações confidenciais obtidas quando do exame

médico de trabalhadores inclusive por exigência dos dirigentes de empresas

ou instituições, salvo se o silêncio puser em risco a saúde dos empregados

ou da comunidade.

Art. 106 - Prestar a empresas seguradoras qualquer informação sobre as

circunstâncias da morte de paciente seu, além daquelas contidas no próprio

atestado de óbito, salvo por expressa autorização do responsável legal ou

sucessor.

Art. 107 - Deixar de orientar seus auxiliares e de zelar para que respeitem o

segredo profissional a que estão obrigados por lei.

Art. 108 - Facilitar manuseio e conhecimento dos prontuários, papeletas e

demais folhas de observações médicas sujeitas ao segredo profissional, por

pessoas não obrigadas ao mesmo compromisso.

Art. 109 - Deixar de guardar o segredo profissional na cobrança de

honorários por meio judicial ou extrajudicial.

2.16. CAPÍTULO X - ATESTADO E BOLETIM MÉDICO

É vedado ao médico:

Art. 110 - Fornecer atestado sem ter praticado o ato profissional que o

justifique, ou que não corresponda a verdade.

28

Art. 111 - Utilizar-se do ato de atestar como forma de angariar clientela.

Art. 112 - Deixar de atestar atos executados no exercício profissional,

quando solicitado pelo paciente ou seu responsável legal.

Parágrafo único - O atestado médico é parte integrante do ato ou

tratamento médico, sendo o seu fornecimento direito inquestionável do

paciente, não importando em qualquer majoração dos honorários.

Art. 113 - Utilizar-se de formulários de instituições públicas para atestar

fatos verificados em clínica privada.

Art. 114 - Atestar óbito quando não o tenha verificado pessoalmente, ou

quando não tenha prestado assistência ao paciente, salvo, no último caso, se

o fizer como plantonista, médico substituto, ou em caso de necropsia e

verificação médico-legal.

Art. 115 - Deixar de atestar óbito de paciente ao qual vinha prestando

assistência, exceto quando houver indícios de morte violenta.

Art. 116 - Expedir boletim médico falso ou tendencioso.

Art. 117 - Elaborar ou divulgar boletim médico que revele o diagnóstico,

prognóstico ou terapêutica, sem a expressa autorização do paciente ou de

seu responsável legal.

2.17. CAPÍTULO XI - PERÍCIA MÉDICA

29

É vedado ao médico:

Art. 118 - Deixar de atuar com absoluta isenção quando designado para

servir como perito ou auditor, assim como ultrapassar os limites das suas

atribuições e competência.

Art. 119 - Assinar laudos periciais ou de verificação médico-legal, quando

não o tenha realizado, ou participado pessoalmente do exame.

Art. 120 - Ser perito de paciente seu, de pessoa de sua família ou de

qualquer pessoa com a qual tenha relações capazes de influir em seu

trabalho.

Art. 121 - Intervir, quando em função de auditor ou perito, nos atos

profissionais de outro médico, ou fazer qualquer apreciação em presença do

examinado, reservando suas observações para o relatório.

2.18. CAPÍTULO XII - PESQUISA MÉDICA

É vedado ao médico:

Art. 122 - Participar de qualquer tipo de experiência no ser humano com

fins bélicos, políticos, raciais ou eugênicos.

Art. 123 - Realizar pesquisa em ser humano, sem que este tenha dado

consentimento por escrito, após devidamente esclarecido sobre a natureza e

30

conseqüência da pesquisa.

Parágrafo único - Caso o paciente não tenha condições de dar seu livre

consentimento, a pesquisa somente poderá se realizada, em seu próprio

benefício, após expressa autorização de seu responsável legal.

Art. 124 - Usar experimentalmente qualquer tipo de terapêutica ainda não

liberada para uso no País, sem a devida autorização dos órgãos

competentes e sem consentimento do paciente ou de seu responsável legal,

devidamente informados da situação e das possíveis conseqüências.

Art. 125 - Promover pesquisa médica na comunidade sem o conhecimento

dessa coletividade e sem que o objetivo seja a proteção da saúde pública,

respeitadas as características locais.

Art. 126 - Obter vantagens pessoais, ter qualquer interesse comercial ou

renunciar à sua independência profissional em relação a financiadores de

pesquisa médica da qual participe.

Art. 127 - Realizar pesquisa médica em ser humano sem submeter o

protocolo a aprovação e acompanhamento de comissão isenta de qualquer

dependência em relação ao pesquisador.

Art. 128 - Realizar pesquisa médica em voluntários, sadios ou não, que

tenham direta ou indiretamente dependência ou subordinação relativamente

ao pesquisador.

Art. 129 - Executar ou participar de pesquisa médica em que haja

necessidade de suspender ou deixar de usar terapêutica consagrada e, com

31

isso, prejudicar o paciente.

Art. 130 - Realizar experiências com novos tratamentos clínicos ou

cirúrgicos em paciente com afecção incurável ou terminal sem que haja

esperança razoável de utilidade para o mesmo, não lhe impondo

sofrimentos adicionais.

2.19. CAPÍTULO XIII - PUBLICIDADE E TRABALHOS

CIENTÍFICO

É vedado ao médico:

Art. 131 - Permitir que sua participação na divulgação de assuntos

médicos, em qualquer veículo de comunicação de massa, deixe de ter

caráter exclusivamente de esclarecimento e educação da coletividade.

Art. 132 - Divulgar informação sobre assunto médico de forma

sensacionalista, promocional, ou de conteúdo inverídico.

Art. 133 - Divulgar, fora do meio científico, processo de tratamento ou

descoberta cujo valor ainda não esteja expressamente reconhecido por

órgão competente.

Art. 134 - Dar consulta, diagnóstico ou prescrição por intermédio de

qualquer veículo de comunicação de massa.

Art. 135 - Anunciar títulos científicos que não possa comprovar ou

32

especialidade para a qual não esteja qualificado.

Art. 136 - Participar de anúncios de empresas comerciais de qualquer

natureza, valendo-se de sua profissão.

Art. 137 - Publicar em seu nome trabalho científico do qual não tenha

participado; atribuir-se autoria exclusiva de trabalho realizado por seus

subordinados ou outros profissionais, mesmo quando executados sob sua

orientação.

Art. 138 - Utilizar-se, sem referência ao autor ou sem a sua autorização

expressa, de dados, informações, ou opiniões ainda não publicados.

Art. 139 - Apresentar como originais quaisquer idéias, descobertas ou

ilustrações que na realidade não o sejam.

Art. 140 - Falsear dados estatísticos ou deturpar sua interpretação

científica.

2.20. CAPÍTULO XIV - DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 141 - O médico portador de doença incapacitante para o exercício da

Medicina, apurada pelo Conselho Regional de Medicina em procedimento

administrativo com perícia médica, terá seu registro suspenso enquanto

perdurar sua incapacidade.

Art. 142 - O médico está obrigado a acatar e respeitar os Acórdãos e

33

Resoluções dos Conselhos Federal e Regionais de Medicina.

Art. 143 - O Conselho Federal de Medicina, ouvidos os Conselhos

Regionais de Medicina e a categoria médica, promoverá a revisão e a

atualização do presente Código, quando necessárias.

Art. 144 - As omissões deste Código serão sanadas pelo Conselho Federal

de Medicina.

Art. 145 - O presente Código entra em vigor na data de sua publicação e

revoga o Código de Ética Médica (DOU 11/01/65), o Código Brasileiro de

Deontologia Médica (RESOLUÇÃO CFM Nº 1.154 de 13.04.84) e demais

disposições em contrário.

São deveres básicos de qualquer médico não podendo jamais serem

infringidos tais obrigações.

34

2.21. Responsabilidade Civil do Laboratório

Exercida por entidade hospitalar, a atividade laboratorial se insere

dentre aquelas que se aproximam á prestação dos serviços médicos, motivo

pelo qual deve ser tratada no mesmo plano, no que respeita á

responsabilidade civil, seja quanto aos elementos para a sua caracterização,

seja mesmo quanto aos efeitos que produz. Ao divulgar um resultado de

exame, o sujeito prestador deve precaver-se de todos os procedimentos

necessários á preservação da integridade física e moral do paciente,

inclusive quanto aos riscos do exame e a imprecisão do resultado, sob pena

de responder pelos danos produzidos em decorrência da indicação de

diagnóstico errôneo. O HIV é uma moléstia de efeitos trágicos, e o erro na

informação de resultado de exame laboratorial indicando erroneamente a

presença de vírus causa constrangimento de toda a ordem na pessoa que ao

mesmo se submeteu, justificando assim, a condenação do responsável ao

pagamento de indenização por danos morais.

A fixação dos danos morais contém inegável carga de subjetividade,

uma vez que os valores tutelados são insuscetíveis de mensuração, dada a

sua própria natureza.

Incorre sucumbência parcial em ação de indenização, quando a parte

foi condenada em quantia inferior aquela pleiteada na inicial, por se tratar

de indenização estimativa.

Afastada pela prova a hipótese de erro de diagnóstico, não há como

atribuir culpa ao laboratório que laborou exame destinado a investigar a

presença de anticorpos anti-HIV no sangue do paciente, responsabilidade

35

por eventual constrangimento moral por este sofrido, pelo modo como o

resultado positivo lhe foi comunicado por integrante de “programa social”

do ministério da saúde, principalmente se no laudo constou o

esclarecimento de que tal resultado poderia não ser definido, e que cabia ao

médico requisitante determinar a realização de exames confirmatórios.

A responsabilização decorrente da atividade prestada pelo laboratório

clinico.2

A atividade desenvolvida pelo laboratório gera uma responsabilidade

contratual, pois a prestação de serviço desempenhada consiste em típica

relação de consumo.

“No desempenho de suas atividades, o laboratório de analises clinicas

assume com o seu cliente uma obrigação de resultado, em que o

profissional se compromete a fornecer um resultado (laudo) para o

material analisado”.

A conduta profissional, na atividade laboratorial, pode acarretar a

chamada responsabilidade objetiva ou legal, “Pautada na inexistência da

obrigação de provar a culpa do fornecedor ou prestador do serviço

para que seja civilmente responsabilizado, bastando neste caso, à

existência do nexo causal entre a conduta do agente e o resultado

obtido”.

2.22. Causas que Deparam com a Responsabilidade Civil

Dentre as causas que se deparam com a responsabilidade civil nos casos

de laboratório clínicos podemos apontar:3

2 Sobre o assunto: Silvio de Salvo Venosa, pág. 127: Responsabilidade Civil 8º edição.3 Acesso ao: http://www.abac.org.br/pt/pdfs/acessoria_juridica/j06pd

36

1) O uso indevido da imagem

2) A divulgação indevida ou publicidade de laudo de exame

3) A ausência de informação correta e precisa

4) O erro de diagnóstico, que é considerado como a maior causa dos

processos buscando a responsabilização civil.

2.23. Causas Excludentes Da Responsabilidade Civil

Somente estará desobrigado á reparação de danos pretendidos pelo

consumidor, o fornecedor ou prestador de serviço, se comprovar alguma

das hipóteses descritas no parágrafo 3°, incisos I e II do art. 14.

“§ 3° - O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando

provar:

I – Que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;

II – A culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro”.

2.24. As causas Excludentes De Responsabilidade Já Citadas Podem

Ser De:

1) Inexistência de defeito na prestação de serviço, ou seja, o individuo

pretendeu a reparação por um dano que não existiu, sendo obra do

imaginário do consumidor, ou ainda, objeto de má fé.

37

2) A culpa exclusiva do consumidor, que ocorrerá quando este der causa

ao resultado equivocado

3) Culpa de terceiros, incluindo-se nestas hipóteses as situações

decorrentes de caso fortuito ou de força maior.

2.25. Ações Preventivas Da Responsabilidade Civil

Existem algumas condutas que poderão evitar em muitos casos um

processo de responsabilidade civil sobre a atuação dos laboratórios, são

elas:

1) A informação tem que ser precisa, e o cliente têm que ser informado

sobre o tipo de exame ou teste a que será submetido, quais os

eventuais riscos e, até mesmo dos possíveis desdobramentos.

2) O constante investimento em capacitação de pessoal e equipamentos,

o laboratório deve estar sempre atualizado e com aprimoramentos

das técnicas e inovações para o trabalho, a observância do uso

correto dos kits e reagentes e prestar atenção quanto ao prazo de

validade destes.

3) A observância das questões inerentes ás BPLC, matéria de suma

importância no dia-dia do laboratório, incluindo as questões e

aspectos técnicos e éticos a serem observados no desempenho da

atividade laboratorial.

38

2.25. Responsabilidade Civil Dos Farmacêuticos

Tal responsabilidade será analisada sob dois ângulos distintos que

compõem a atividade profissional farmacêutica. Farmacêuticos como

Auxiliares dos Médicos e Executor de suas Prescrições e Farmacêuticos

como Comerciantes.

Atribui-se ao seu dever como tal de modo geral:4

Assumir a responsabilidade de todos os atos farmacêuticos

praticados no estabelecimento (laboratório e

comércio/farmácias e drogarias),

Esclarecer ao público o modo de utilização de medicamentos e

seus possíveis efeitos colaterais,

Manter os medicamentos em bom estado de conservação,

garantindo qualidade, eficácia e segurança do produto bem

como a conservação e limpeza do próprio estabelecimento,

Colaborar com o Conselho de Farmácia e autoridades

sanitárias sobre irregularidades detectadas em medicamentos

no estabelecimento sob sua direção técnica,

Preparar e fornecer medicamentos conforme prescrições

médicas,

Aprontar produtos farmacêuticos conforme fórmulas

estabelecidas,

Compor estudos, análises e testes com plantas medicinais para

extrair seus princípios ativos e matérias primas,

4 Extraído de: http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=502. Acessado no dia 9/10/2008.

39

Controlar entorpecentes e produtos similares, registrando a

venda em guias e livros, conforme receituário, atendendo aos

dispositivos legais,

Seus atos personalíssimos proveniente da formação acadêmica

profissional não podem ser delegados.

A legislação aplicada a esta classe profissional provêm de várias

fontes,

podendo ser do Código Civil, Comercial, Consumidor, Criminal. Mas

específico mesmo será as normas que o Conselho Federal e Regional de

Farmácia, O Conselho de Farmácia, estabelecem.

2.27. Auxiliar do Médico e Executor de suas Prescrições

Esta é a principal atribuição do profissional farmacêutico. É seu

dever atender exatamente como manda as prescrições médicas de casa

paciente. Caso o faça de forma errônea ou desobediente e cause dano

àquele aquém se dirigiu a ação, poderá o farmacêutico responder pelos seus

atos danosos, ou de preposto, o que lhe acarretará sanções éticas, Civis e

criminais.

Sendo o dano decorrente de ato do próprio profissional, ter-se-á

presente a Culpa, sendo esta constituída pela Negligência, Imprudência e

Imperícia. Logo, reza o artigo 951 que fica responsável a indenizar aquele

que no exercício de suas atividades profissionais, causar dano ao paciente.

O mesmo dispositivo faz ligação e referência em seu texto legal sobre os

artigos antecedentes, 948, 949 e 950 onde também há previsão legal da

40

responsabilidade incumbida ao profissional em caso de dano no exercício

de suas atividades.

Pode o profissional ser responsabilizado não só na esfera cível, mas

também na criminal, dependendo da responsabilidade, da gravidade do ato

e do dano que este causar a outrem. Exemplo disso é o que o artigo 282 do

código penal prevê quando faz referencia ao exercício Ilegal da medicina,

ao se tratar de quando o farmacêutico, na prática, age receitando e

sugerindo medicamentos e executando aplicações destes no paciente.

Lembrando que o exercício da atividade farmacêutica, assim como

qualquer outra ligada à área as saúde, tem origem Contratual, o que implica

em responsabilidade Subjetiva do agente, ou seja, é necessário que se prove

a culpa nos seus atos. E ainda, encontra-se também em seu rol de

responsabilidade, a ação de qualquer preposto praticada onde estejam

sujeitos tais atos a sua responsabilidade, ou seja, os atos praticados por

aqueles que estão sob responsabilidade do profissional farmacêutico

implica-lhe em responsabilidade Objetiva, caso haja danos a terceiros

provenientes destas ações.

2.28. Farmacêutico como Comerciante

No tocante ao exercício de sua profissão voltada ao comércio

correspondente, há também que se averiguar a responsabilidade do

referente indivíduo.

Será caracterizado como tal quando dedicar-se a venda de

medicamentos em estabelecimentos adequado para tal. Sendo assim, ficará

sujeito ao CDC, Código de Defesa do Consumidor, uma vez que se

encontra como fornecedor de produtos. A Doutrina faz referência aos

41

artigos 6º, 8º parágrafo único e 12º deste mesmo diploma Legal, quando se

trata do direito do consumidor ser informado sobre o produto que está

adquirindo e o dever do farmacêutico em passar-lhe as informações

necessárias.

No que se refere a distribuição de remédios, prevê o artigo 931 do

nosso atual código civil, que serão responsabilizados, independente de

culpa, os empresários Individuais e as Empresas pelos danos causados que

os produtos postos em circulação via intermédio seus.

Enfim, em qualquer hipótese, havendo dano ao enfermo, proveniente

da conduta farmacêutica; seja do preposto quanto do profissional, e

fundada na Negligência, Imprudência ou Imperícia, haverá a

responsabilidade de indenizar. E esta garantia, positivada nas leis vigentes,

veio para nos assegurar de que se algum direito for violado, restringido ou

lesado, poderá o indivíduo inocente ser ressarcido pelo dano sofrido.

2.29. Excludente de Responsabilidade

De acordo com a realidade, há casos em que mesmo presentes muitos

dos requisitos que compõem a responsabilidade do profissional, haverá

casos em que esta não se dará por reconhecida, tanto na qualidade de

auxiliar do médico como comerciante. Quando:5

O comerciante/fornecedor provar que o defeito não existe (art.

12, §3º, II, CDC)

Comerciante/fornecedor provar que não colocou o

medicamento em circulação no mercado (art. 12, §3º, I, CDC)

não tendo nenhuma responsabilidade pelo medicamento.

5 Extraído de: http://WWW.boletimjuridico.com.br//doutrina/texto.asp?id=802.

42

De culpa exclusiva da vítima ou de terceiro ou inexistente o

nexo de causalidade.

2.30. RESPONSABILIDADE CIVIL DO DENTISTA

Os princípios da responsabilidade civil buscam restaurar um

equilíbrio patrimonial e moral violado. Um prejuízo ou dano não reparado

é um fator de inquietação social. Desse modo surge a responsabilidade civil

do odontólogo, assim como tantas outras ligadas as mais diversas áreas e

profissões.

Para que seja configurada essa responsabilidade devemos analisar o

tipo de obrigação em que se enquadra esse profissional.

Em regra, a obrigação é de resultado, e, portanto, não atingindo esse

resultado o profissional responderá objetivamente. Sendo responsável

independente da análise da culpa.

Se o caso fugir da regra por força da especialidade do dentista

configurar-se-á obrigação de meio, portanto a responsabilidade será

subjetiva, necessitando ser apurada mediante a verificação da culpa,

conforme dispõe o art. 186 do Código Civil de 2002. Devendo apurar, se o

profissional agiu com negligência, imprudência ou imperícia. Também

devemos citar que para se configuração do dever de indenizar deve-se

observar os seguintes requisitos:

Ação ou omissão voluntária;

Relação de casualidade ou nexo causal;

43

Dano;

E finalmente a culpa.

Importante se faz citar que o Código de Defesa do Consumidor em

seu art. 14 §4: “A responsabilidade será apurada mediante a verificação da

culpa”. Colocando assim a responsabilidade do dentista como subjetiva.

Para melhores esclarecimentos veremos breves considerações

calcadas no ponto de vista dos seguintes doutrinadores: Carlos Roberto

Gonçalves, Maria Helena Diniz, Silvio Salvo Venosa.

No que diz respeito aos cirurgiões dentistas, embora existam casos

em que sua responsabilidade é de meio, na maioria das vezes sua obrigação

é de resultado.

Embora mais acentuada a obrigação do dentista seja de resultado,

pois as doenças dentárias costumam ser específicas e seus procedimentos

mais regulares e restritos, sem comprometimento das relações que possam

terminar em desordens patológicas gerais; os métodos são mais definidos,

sendo mais fácil o profissional comprometer-se a curar6.

Gonçalves apresenta, que em determinados procedimentos

odontológicos, como: a colocação de jaqueta, pivot e implante, existem

uma preocupação estética da parte do cliente, nesse caso a obrigação de

resultado se torna mais evidente.

Maria Helena Diniz, também diz que o dentista assume uma

obrigação de resultado, em se tratando de ordem estética. Todavia, na

cirurgia da gengiva, no tratamento de canal, na obturação de uma cárie,

situada atrás do dente, terá uma obrigação de meio, comprometendo-se em

aplicar toda sua perícia, todo cuidado, no trato com o cliente.

6 Partes do texto extraído do autor Carlos Roberto Gonçalves,Direito Civil Brasileiro, vol.IV-Responsabilidade Civil. 3º Ed. Saraiva

44

Existem situações que juntamente com a cura alia-se a questão da

estética, nesse caso, deve-se analisar a situação concreta e verificar se agiu

adequadamente.

Não será responsabilizado nos casos, em que, o evento danoso, for

por erro escusável, em face do estado da ciência, por culpa da vítima, por

caso fortuito ou força maior e se ele agir sem culpa e de conformidade com

as normas norteadoras de sua profissão7.

Para Venosa, a odontologia tem autonomia própria, não sendo parte

da medicina. Contudo, a responsabilidade do dentista situa-se no mesmo

patamar da responsabilidade do médico.

O art. 951 do Código Civil os coloca em nível de igualdade. A

responsabilidade do dentista por ser eminentemente contratual, reforça a

responsabilidade de ser uma obrigação de resultado. Por sua própria

natureza a responsabilidade do dentista é contratual. Com freqüência, o

dentista assegura um resultado ao paciente.

Podem ocorrer situações em que a obrigação do dentista seja de meio

e não de resultado.

A responsabilidade eventualmente poderá ser extracontratual. No

caso de tratamento de emergência, sem a existência de um negócio jurídico

prévio, até mesmo sem consentimento do paciente ou seu responsável.

Com o avanço cientifico os equipamentos e recursos odontológicos

desenvolveram expressivamente. Com tal avanço cresceu as especialidades

da odontologia.

A traumatologia buco-maxilo-facial, a endontia, a periodontia, a

odontopediatria, entre outras, que merecem o exame casuístico, não

admitem um resultado, constituindo-se geralmente obrigação de meio.

Vale lembrar que ao lado do dentista, existem inúmeros profissionais

que o auxiliam , podendo assim aflorar as responsabilidades. São atividades 7 Parte do texto extraído de Maria Helena Diniz, Curso de Direito Civil Brasileiro -Responsabilidade Civil. 22º Ed. Saraiva.

45

acessórias de que depende o dentista para seu exercício. Embora o produto

final de seu trabalho seja aplicado no paciente, é ao dentista que se destina

sua atividade.

Como a responsabilidade final é do dentista, sempre que houver

responsabilidade desses profissionais, responderão eles, quanto muito,

solidariamente com o profissional principal. Eventualmente, pode ocorrer a

responsabilidade regressiva do dentista contra os auxiliares.8

Como vimos no desenrolar deste trabalho, o entendimento da

natureza da responsabilidade do cirurgião dentista não é pacífico. Com o

intuito de esclarecer melhor o entendimento, tomei por base uma pesquisa

que trata do “Levantamento das jurisprudências de processos de

responsabilidade civil contra o cirurgião – dentista nos tribunais do Brasil

por meio da internet.” 9

Foram levantadas 482 jurisprudências, sendo uma no Supremo

Tribunal Federal, três no Superior Tribunal de Justiça e 478 nos Tribunais

Estaduais e Distrito Federal. Dessas 478, foi possível verificar uma

tendência de aumento no numero e na quantidade de Estados que tiveram

experiências com processos judiciais.

Com relação à origem:

18,6% foram consideradas contratuais;

6% relacionavam-na como extracontratual;

10,6% como obrigação de resultado;

4,1% como obrigação de meio.

Com relação ao fundamento:

58,15% tiveram a Teoria Subjetiva;

8,15 a teoria objetiva

8 Parte do texto extraído de Silvio de Salvo Venosa, Direito Civil – Responsabilidade Civil. 8º Ed. Atlas.9 Pesquisa realizada por Fernando Jorge de Paula em sua tese de doutorado pela FO – área de concentração – Odontologia Social, através do site: http//www.teses.usp.br/teses/disponíveis/23/23/48/id.

46

Com relação à responsabilidade do agente:

99,3% tiveram responsabilidade direta;

0,6% tiveram responsabilidade indireta.

Em 48,3% foi possível identificar as especialidades

odontológicas, das quais as mais citadas foram:

32,9% cirurgias;

26,4% prótese;

15,6% ortodontia;

13% implantodontia;

6,5% endontia;

2,6% periodontia;

0,9% patologia;

0,4% disfunção têmporo-mandibular e dor oro-facial.

3. CONCLUSÃO

47

Percebe-se claramente que no decorrer deste trabalho nos deparamos

com o problema de identificar o tipo de obrigação, para somente então,

podermos atribuir o tipo de responsabilidade do profissional da área da

saúde. Sabemos que o Código de Defesa do Consumidor, como

profissionais liberais, os coloca em igualdade. No entanto, não são iguais.

O médico no exercício de sua profissão, desde que não seja estética, não

poderá garantir um resultado a seu cliente, pois inúmeras complicações

poderão ocorrer. Já o dentista na maioria das vezes, promete um resultado a

seu cliente, até mesmo, porque os procedimentos usados no exercício de

sua função são mais regulares. O que os doutrinadores nos coloca é que

dependendo da especialidade a obrigação será de resultado, exemplo seria o

cirurgião plástico, que promete um resultado a seu paciente. E no caso do

dentista será de meio, quando, no tratamento de um canal, coloca toda a sua

perícia, todo seu equipamento para talvez chegar num resultado

satisfatório, mas não pode garantir um resultado perfeito.

REFERÊNCIAS

48

VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 8ª ed. – São Paulo: Atlas, 2008 – (Coleção direito civil; v.4)

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Responsabilidade Civil. 22ª Ed. - São Paulo: Saraiva, 2008.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Responsabilidade Civil - vol.IV. 3ª Ed. – São Paulo: Saraiva, 2008.

FRANÇA, G V. Direito Médico,Fundo Editorial Procienx, 6ª Ed.,São Paulo, 1995.

BUCCI, Mário César. Revista de Responsabilidade Civil, 1ª Ed., Vol. I Campinas: Mizuno, 2000.

SANTOS, Antonio Jeová da Silva. Dano Moral Indenizavél.3ª Ed. São Paulo: Editora Método, 2001.

STOCO, Rui. Direito Civil. Responsabilidade civil e sua interpretação jurisprudencial. 4° Ed. São Paulo: Revista dos tribunais LTDA.2000.

Acesso ao http://www.sbac.org.br/pt/pdfs/assessoria_juridica/j06.pdf no dia 8/10/2008.

http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://i232.photobucket.com/

albums/ee53/Idalinatome/idalina/clip_image00111.jpg&imgrefurl=http://

groups.msn.com/k2ohbqmal0oreimb3r1uq1jlo6/general.msnw%3Faction

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ANEXO(S)

49

Fotos de erros médicos

Medico deixou a tesoura no abdômen do paciente

Esqueceram régua de 33 cm dentro do doente!

O norte-americano Donald Church virou personagem de um caso

incrível de erro médico. Meses depois de ser operado em um hospital da

50

Universidade de Seattle para remoção de um tumor, ele continuou sentindo

dores e teve uma surpresa. Os médicos haviam esquecido uma régua de

metal de 33 centímetros dentro de seu corpo.

A cirurgia ocorreu em junho do ano passado. Por causa do tumor, médicos

extirparam o apêndice e parte do intestino de Church. Na cirurgia, algum

médico desavisado acabou esquecendo a régua. Foi o início de um período

de dor e constrangimento para o paciente, que passou a sofrer dores e a

enfrentar situações constrangedoras, como fazer disparar os alarmes nos

aeroportos e bancos.

Um mês depois de ser operado, Church passava por um exame de

rotina quando um raio-X descobriu o objeto. Foi feita, então, em outro

hospital, nova cirurgia para retirar a régua.

"Foi um erro infeliz", definiu o porta-voz do hospital, L.G.

Blanchard. Segundo ele, o hospital assumiu toda a responsabilidade pelo

erro e chegou a um acordo com Church para pagar uma indenização de

US$ 97 mil (R$ 242,5 mil).

(Retirado da Internet)

51

Jurisprudência Selecionada sobre Responsabilidade Civil por erro

Médico

“INDENIZAÇÃO – INTERNAÇÃO – HOSPITALAR – RELAÇÃO –

CONSUMO – CARACTERIZAÇÃO – RESPONSABILIDADE

OBJETIVA – NEXO CAUSAL – COMPROVAÇÃO – ÔNUS – AUTOR.

A prestação de serviço hospitalar esta tipificada nas disposições dos art. 2º

e 3º, do CDC como relação de consumo, razão por que sua

responsabilidade é objetiva, nos termos do art. 14 do CDC, não se havendo

de perquirir a culpa do estabelecimento. Em tais circunstancias, o

consumidor lesado deverá comprovar o dano e o nexo causalidade,

porquanto constituem fatos constitutivos de seu direito”. (Ac. TAMG, na

Ap. Cív. 372.078-3,j. 07-11-02)

“RESPONSABILIDADE CIVIL – INDENIZAÇÃO POR DANO

MÉDICO – AGULHA DE SUTURA DEIXADA NO CORPO DO

PACIENTE – INSTRUMENTO DE ESPESSURA E TAMANHO

REDUZIDOS. IRRELEVÂNCIA – NEXO CAUSAL COMPROVADO.

Danos morais evidenciados pela apreensão da autora, ciente da existência

de corpo estranho em seu abdômen. Indenização majorada. Recurso

provido para esse fim. ”. (Ac. 6ª Câm. De Direito Privado do TJSP, na Ap.

Cív. 98.039-4, j.. 29-06-00).

“Indenização – Responsabilidade civil – Ato ilícito – laboratório –

Divulgação errônea de resultado – Acusação do paciente ser portador do

vírus da AIDS – Síndrome da imunodeficiência adquirida – Danos morais –

Caracterização – Critérios de fixação – Dever de incolumidade psíquica –

Procedência do pedido – Inaplicabilidade de sucumbência recíproca – Voto

vencido”.

52

53