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Das causas às conseqüências econômicas da transição demográfica no Brasil Paulo de Tarso Almeida Paiva * Simone Wajnman ** As relações entre crescimento populacional e desenvolvimento desafiam estudiosos por muito tempo e referem-se tanto aos impactos do crescimento e estrutura da população sobre o crescimento e a distribuição da renda (crescimento econômico), quanto sobre os impactos do crescimento econômico sobre o crescimento e a estrutura da população. Há cerca de três décadas discutiam-se as causas e conseqüências do crescimento populacional. Hoje, discutem-se as causas e conseqüências da transição demográfica. Muita coisa mudou no mundo e, do ponto de vista demográfico, a maior mudança foi a universalização do processo de transição demográfica. Expressões como “bomba demográfica” foram substituídas por “bônus demográfico” ou “janela de oportunidades”. Este artigo pretende examinar como essas relações entre população e economia foram interpretadas e discutidas e como influenciaram o pensamento, a pesquisa acadêmica e, eventualmente, algumas propostas de políticas públicas no Brasil. O artigo procura sumariar os avanços que estão em curso na pesquisa sobre população e economia e suas implicações para as políticas públicas e o desenvolvimento. Palavras-chave: Transição demográfica. Envelhecimento populacional. Desenvolvimento. Crescimento econômico. Políticas públicas. As relações entre crescimento da população e desenvolvimento desafiam estudiosos por muito tempo. É vasta a biblio- grafia sobre o tema e não é tão longa a lista de evidências que possam comprovar as inter-relações entre os dois processos de transformação. Complexas por sua nature- za, essas inter-relações podem ser encon- tradas nas conexões tanto entre cresci- mento populacional e crescimento da renda (crescimento econômico), quanto entre crescimento populacional e distribuição da renda (distribuição dos frutos do cresci- mento econômico). Para identificar tais relações torna-se necessário perguntar quais seriam, por um lado, as possíveis conseqüências do crescimento popu- lacional sobre o crescimento e a distribuição da renda e, por outro, quais seriam os possíveis efeitos do crescimento e da distribuição da renda sobre o crescimento populacional. Se por desenvolvimento se entende mais do que crescimento da renda, levando- se em conta também os processos de trans- formações estruturais em diferentes esferas * Professor do Departamento de Demografia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). ** Professora do Departamento de Demografia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 22, n. 2, p. 303-322, jul./dez. 2005

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Das causas às conseqüências econômicas datransição demográfica no Brasil

Paulo de Tarso Almeida Paiva*

Simone Wajnman**

As relações entre crescimento populacional e desenvolvimento desafiamestudiosos por muito tempo e referem-se tanto aos impactos do crescimento eestrutura da população sobre o crescimento e a distribuição da renda(crescimento econômico), quanto sobre os impactos do crescimento econômicosobre o crescimento e a estrutura da população. Há cerca de três décadasdiscutiam-se as causas e conseqüências do crescimento populacional. Hoje,discutem-se as causas e conseqüências da transição demográfica. Muita coisamudou no mundo e, do ponto de vista demográfico, a maior mudança foi auniversalização do processo de transição demográfica. Expressões como “bombademográfica” foram substituídas por “bônus demográfico” ou “janela deoportunidades”. Este artigo pretende examinar como essas relações entrepopulação e economia foram interpretadas e discutidas e como influenciaram opensamento, a pesquisa acadêmica e, eventualmente, algumas propostas depolíticas públicas no Brasil. O artigo procura sumariar os avanços que estão emcurso na pesquisa sobre população e economia e suas implicações para aspolíticas públicas e o desenvolvimento.

Palavras-chave: Transição demográfica. Envelhecimento populacional.Desenvolvimento. Crescimento econômico. Políticas públicas.

As relações entre crescimento dapopulação e desenvolvimento desafiamestudiosos por muito tempo. É vasta a biblio-grafia sobre o tema e não é tão longa a listade evidências que possam comprovar asinter-relações entre os dois processos detransformação. Complexas por sua nature-za, essas inter-relações podem ser encon-tradas nas conexões tanto entre cresci-mento populacional e crescimento da renda(crescimento econômico), quanto entrecrescimento populacional e distribuição darenda (distribuição dos frutos do cresci-

mento econômico). Para identificar taisrelações torna-se necessário perguntarquais seriam, por um lado, as possíveisconseqüências do crescimento popu-lacional sobre o crescimento e a distribuiçãoda renda e, por outro, quais seriam ospossíveis efeitos do crescimento e dadistribuição da renda sobre o crescimentopopulacional.

Se por desenvolvimento se entendemais do que crescimento da renda, levando-se em conta também os processos de trans-formações estruturais em diferentes esferas

* Professor do Departamento de Demografia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da UniversidadeFederal de Minas Gerais (UFMG).** Professora do Departamento de Demografia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da UniversidadeFederal de Minas Gerais (UFMG).

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da sociedade, percebe-se logo que acomplexidade das relações é ainda maior.A evolução do debate, das pesquisas e daprodução científica sobre o tema no Brasilsegue, em linhas gerais, a mesma tendên-cia dos estudos, discussões e da agendano plano internacional.

Há cerca de três décadas discutia-seas causas e conseqüências do crescimentopopulacional. Hoje, discute-se as causas econseqüências da transição demográfica.A chamada “bomba demográfica” já foidesativada, muita coisa mudou no mundoe, do ponto de vista demográfico, a maiormudança foi a universalização do processode transição demográfica. Em todas asregiões do mundo, mais cedo ou mais tarde,mais rapidamente ou mais lentamente, osníveis de mortalidade e de fecundidadeestão caindo. O que parecia imutável nascondições de subdesenvolvimento doinício dos anos 60 tornou-se, a partir doconhecimento daquela época, surpreen-dentemente mutável. Expressões como“bomba demográfica” foram substituídaspor “bônus demográfico” ou “janela deoportunidades”.

Este artigo pretende examinar comoessas relações entre população e econo-mia foram interpretadas e discutidas ecomo influenciaram o pensamento e apesquisa acadêmica e, eventualmente,algumas propostas de políticas públicas noBrasil. Não pretendemos fazer uma revisãobibliográfica extensiva nem abordar todosos aspectos das complexas relações entrepopulação e desenvolvimento,1 mas sim-plesmente gostaríamos de situar o debateno Brasil, de identificar as principais linhasde investigação acadêmica relacionadascom o tema e de sumariar os avanços queestão em curso na pesquisa sobre popula-ção e economia e suas implicações paraas políticas públicas e o desenvolvimento.2

Antecedentes

É impressionante como houve um enor-me avanço no conhecimento científico sobrepopulação no Brasil. Consolidaram-se nopaís uma excelente base de dados, principal-mente sobre o mercado de trabalho, umsólido conhecimento técnico e uma invejávelprodução acadêmica. Talvez valesse a penalembrar os quatro pilares que foram impor-tantes para que isso acontecesse. Primeiro,a criação de um programa de estudospopulacionais na Escola de Saúde Públicada USP, liderado pela professora ElzaBerquó, que foi o embrião para o desen-volvimento do Núcleo de Demografia doCentro Brasileiro de Análise e Planejamento(Cebrap) e, posteriormente, do Núcleo deEstudos de População (Nepo) da Unicamp.Segundo, a criação de um Núcleo de Demo-grafia no Centro de Desenvolvimento ePlanejamento Regional (Cedeplar) daUniversidade Federal de Minas Gerais(UFMG), liderado pelo professor JoséAlberto Magno de Carvalho, que se cons-tituiu, posteriormente, no Departamento deDemografia do Cedeplar/UFMG. Terceiro, ofortalecimento da pesquisa econômica, sociale demográfica e a modernização do processode produção de informações econômicas esociais do IBGE, sob a liderança do professorIsaac Kerstenetzky.3 Quarto, e como conse-qüência natural do que vinha acontecendo,a criação da Associação Brasileira deEstudos Populacionais (Abep), em 1977.4

Isto tudo aconteceu, aproximadamente,no curto espaço de uma década, o que dáuma idéia de como era grande o interessepelos estudos populacionais naquela épo-ca, havendo disponibilidade de recursos edemanda por pesquisas.

Quais eram as principais questões daagenda relativa a população e desenvol-vimento?

1 Uma resenha recente sobre população e desenvolvimento na América Latina é o artigo de Potter e Tuirán-Gutiérrez (2005).2 Em não sendo uma revisão extensiva, vários tópicos ficarão à margem. O texto reflete muito mais a experiência dos autores napesquisa sobre mercado de trabalho.3 Mais recentemente, a Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE) do IBGE criou o Programa de Mestrado em EstudosPopulacionais.4 Em 1984 foi criada a Revista Brasileira de Estudos de População (Rebep).

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Logo após a Segunda Guerra Mundial,o debate circunscrevia-se a duas linhas depensamento que se contrapunham. De umlado estavam os chamados pessimistas,que, seguindo a tradição malthusiana,entendiam que a população crescia muitorapidamente em relação aos recursosdisponíveis e, em conseqüência, tornava-se, no longo prazo, um impedimento aocrescimento econômico. De outro ladoestavam os otimistas, que acreditavam queo crescimento populacional, ao contrário,estimularia o consumo e ofereceria a mão-de-obra necessária ao crescimento econô-mico. Ademais, nos países geograficamentemuito grandes, com baixa densidade de-mográfica, o crescimento populacionalpoderia, eventualmente, também assegurarcondições para a ocupação e a proteçãodo território.

Mas é interessante também registrar oque se discutia na época acerca das alter-nativas para promover o desenvolvimentoe sobre o papel das estratégias dos paísesdesenvolvidos e das instituições multila-terais com relação aos chamados paísessubdesenvolvidos.

Passada a guerra, os Estados Unidose as instituições de Bretton Woods, o FundoMonetário Internacional e o Banco Mundial,empenharam-se na reconstrução daEuropa através da implementação dochamado Plano Marshall.

Nos anos 50 e início dos anos 60,os países subdesenvolvidos, em geral,apresentavam crescimento econômicorelativamente acelerado, acompanhando odesempenho das economias avançadas.A ajuda ao desenvolvimento era, predo-minantemente, o resultado de relaçõesbilaterais e a ação do Banco Mundialconcentrava-se sobretudo na reconstruçãoda Europa.

Naquela época, desenvolvimento eco-nômico era de alguma maneira identificadocom crescimento econômico e industriali-zação. Entendia-se que os determinantesdo crescimento econômico, que seria abase para o desenvolvimento, eram univer-

sais e, assim, todos os países eventual-mente passariam pelo mesmo processo. Ospaíses subdesenvolvidos estariam noestágio em que estiveram no passado osatuais países desenvolvidos. Haveria, pois,uma convergência para os níveis dedesenvolvimento dos países avançados,como os Estados Unidos e os países daEuropa Ocidental. Ficaram famosos oschamados estágios de desenvolvimento deRostow.5 Também teve grande repercussãoe impacto nos estudos sobre desenvol-vimento econômico a teoria de Lewis, queestabelecia que havia um excedente demão-de-obra nas atividades tradicionaisrurais com baixa produtividade e que o cres-cimento das atividades urbano-industriaiscom maior produtividade poderia valer-sedessa mão-de-obra. Dada sua oferta ilimi-tada, em razão do crescimento demográficono campo, a absorção de mão-de-obra nasatividades urbano-industriais dar-se-ia semaumento dos salários, que ficariam no nívelde subsistência. Os resultados dos censosdemográficos dos anos 50 e 60 mostraramque, acompanhando o processo rápido deurbanização, crescia uma parcela da popu-lação que não se incorporava ao mercadode trabalho, mas ocupava-se de atividadestradicionais de baixa produtividade. Erauma população que crescia nos centrosurbanos, excluída do mercado de trabalho,que vivia de atividades de baixa produ-tividade e/ou esporádicas, resultando noaumento do segmento da população pobreurbana. Graças ao impacto da difusão deantibióticos e outras medidas que resul-taram na queda da mortalidade infantil, astaxas de crescimento populacional eleva-ram-se. Enfim, parecia que, ao invés de sedesacelerar, o crescimento demográficoacelerava-se com o processo de desenvol-vimento econômico e, apesar do crescimen-to econômico, a pobreza não se reduzia.Ao contrário, crescia.

No âmbito das relações internacionais,consolidava-se a chamada Guerra Fria,formando-se dois blocos: de um lado osEstados Unidos e seus aliados da Europa

5 Vozes divergentes surgiram na América Latina com as contribuições, principalmente, de Prebisch e Furtado, na Cepal.

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Ocidental e de outro lado o Bloco Soviético(União das Repúblicas Socialistas Sovié-ticas e o Leste Europeu). Esse conflito tevepapel importante nas estratégias relativasà ajuda e às alianças com os países dochamado Terceiro Mundo.

Foi nesse contexto que o debate sobrepopulação e crescimento econômico tor-nou-se central nas discussões sobre odesenvolvimento nos anos 60. A principalcontribuição acadêmica dessa época parase entender as relações entre população eeconômica foi, sem dúvida, o livro de Coalee Hoover (1958), que, com base em amploestudo sobre a Índia e o México, trouxe umanova interpretação à visão malthusiana. Es-ses autores inovaram ao incorporar oconhecimento sobre a dinâmica demográ-fica nos modelos de crescimento econô-mico. O mais importante foi examinar osefeitos das mudanças na estrutura etáriada população, causadas pelas quedas damortalidade e da fecundidade, sobre ocrescimento econômico. Uma de suas prin-cipais conclusões, utilizando um modeloconvencional de crescimento econômico,era a de que, com a redução da relação dedependência, devida à queda de fecun-didade, haveria um aumento na taxa depoupança e, em conseqüência, na taxa decrescimento. Ao contrário, com a manu-tenção de taxas altas de fecundidade, comredução da mortalidade infantil, elevava-sea proporção de jovens e, em conseqüência,o consumo, eliminando-se a poupança elevando a economia à estagnação. Valedizer, com a mesma renda familiar, domi-cílios com número maior de criançasconsomem mais e não poupam, ao passoque domicílios com menor número de filhosconsomem menos e poupam. As implica-ções para as políticas públicas decorrentesdessa interpretação são diretas: dadas asexternalidades negativas resultantes damanutenção de um tamanho maior de

família, seriam necessárias políticas deplanejamento familiar para promover ocontrole da natalidade. Essa orientação depolítica pública passou a ter vasta aceitaçãoe foi, em certa medida, incorporada aosprogramas de ajuda aos países emdesenvolvimento.

Ao mesmo tempo em que, entre oseconomistas, ao menos do ponto de vistalógico, parecia incontestável que o rápidocrescimento populacional teria um impactonegativo sobre a população, outras interpre-tações foram tomando corpo. Certamente avoz oposta mais influente foi a de Boserup(1981), que, com base em estudos sobre aagricultura na África, argumentava que mu-danças tecnológicas seriam induzidas pelocrescimento populacional. Assim, rápidocrescimento populacional e aumento dadensidade demográfica na agricultura le-variam à mudança tecnológica, com con-seqüente aumento da produtividade e docrescimento econômico. Mas foram, comcerteza, os resultados dos estudos empí-ricos de Kuznets (1963, 1966 e 1973) quemais dúvidas colocaram acerca dos im-pactos negativos causados pelo cresci-mento populacional sobre o crescimentoeconômico.

Foi nesse ambiente que ocorreu a Pri-meira Conferência Internacional de Popu-lação e Desenvolvimento, promovida pelasNações Unidas, em Bucareste, em 1974,onde duas visões foram contrapostas. Deum lado, os defensores do planejamentofamiliar, que propunham a implantação depolíticas públicas controlistas e a subor-dinação de ajuda aos países em desenvol-vimento à adoção de políticas de planeja-mento familiar. De outro lado, os defensoresde que a melhor política para a queda dafecundidade seria o desenvolvimentoeconômico.6 Estabelecia-se, então, umaprofunda oposição de duas visões relativasàs inter-relações entre população e desen-

6 É interessante notar que um debate semelhante foi travado anos antes em relação à América Latina. O governo americanodefendia a necessidade de se fortalecer a segurança na região em face do perigo do comunismo e, em oposição, o presidente JK,em carta ao presidente Eisenhower comentando a repercussão negativa da visita do vice-presidente Nixon à América Latina,sugeria que a região precisava mais de desenvolvimento econômico e social do que de segurança. O desdobramento da iniciativade JK foi a criação da Aliança para o Progresso, no governo Kennedy (ver Couto, 1999). Qualquer semelhança com o que ocorreatualmente, a ênfase em terrorismo e segurança da administração Bush, não necessariamente é coincidência.

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volvimento e, como conseqüência, diferen-tes sugestões para políticas públicas e paraajuda aos países do chamado TerceiroMundo. Um corolário do argumento favorá-vel ao controle da natalidade referia-se àspolíticas de combate à pobreza. O plane-jamento familiar teria impacto positivo naredução da pobreza ao promover a quedado número médio de filhos por domicílio.Assim, o controle do crescimento popula-cional poderia estimular o crescimentoeconômico e a redução da pobreza.

A repercussão do debate no Brasil

Nesse período, final dos anos 60, iníciodos anos 70, a economia brasileira cresciaa níveis relativamente altos e o país estavasob um regime de ditadura militar. Era a fasedo chamado milagre econômico. As idéiasneomalthusianas não encontraram terrenofértil no Brasil.

Do lado acadêmico havia reservas mui-to grandes quanto às implicações políticasda tese que enfatizava os efeitos negativosdo crescimento populacional. Foi desseperíodo a publicação do livro de Singer(1970) refutando a visão de Coale e Hoover(1958).7

O debate sobre população e desen-volvimento teve mais fôlego nas pesquisassobre o setor informal e as relações entrepopulação e mercado de trabalho. Váriaspesquisas sobre a dinâmica dos mercadosde trabalho no país e o papel do setorinformal foram desenvolvidas na época.8

Com a economia crescendo, o debate maiscaloroso era sobre a concentração darenda, que tendia a agravar-se ao longo doprocesso de crescimento econômico. Setorinformal e concentração de renda, entreeconomistas, e marginalidade urbana,entre os cientistas sociais, eram os temas

predominantes do debate e das pesquisas.Não havia motivação nem interesse paraaprofundar os estudos sobre os possíveisimpactos do crescimento populacionalsobre o crescimento econômico. A contribui-ção da análise demográfica para os estudosde mercado de trabalho concentrava-se nostemas das migrações internas e da ofertade mão-de-obra: aumento da participaçãoda mulher na população economicamenteativa (PEA) e variações nos níveis de ativi-dade e composição da PEA. Chamavammais a atenção dos especialistas os pro-cessos de migração, como a ocupação dasregiões Centro-Oeste e Norte, a chamadanova fronteira agrícola, e a acelerada urba-nização.9

No plano político, o país vivia sob umaditadura militar e entre os militares predo-minava uma visão muito particular sobrecrescimento demográfico, qual seja, que otamanho da população é importante para aocupação do país e é tema de segurançanacional. Um país grande, em território epopulação, será um país também mais fortedo ponto de vista político e militar.

Somando-se a isso, a Igreja Católicaopunha-se publicamente a qualquer açãodo Estado no sentido do estabelecimentode programas de controle da natalidade. E,finalmente, a esquerda entendia que aAmérica Latina e o Brasil, em particular,necessitavam de desenvolvimento econô-mico e de melhor distribuição de renda, nãode controle da população. Nessas condi-ções, parece-nos que também não haviaterreno para as idéias de controle da po-pulação prosperarem no plano político.10

Faltariam canais para que vozes defen-soras de políticas controlistas pudessem terrepercussão relevante para alterar o rumodas políticas públicas. O Congresso Nacio-nal, espaço natural para a repercussão das

7 Paul Singer havia estudado em Princeton e sua tese é uma crítica à chamada visão neomalthusiana.8 Ver os Anais dos Encontros Nacionais de Economia, promovidos pela Associação Nacional de Pós-Graduação em Economia(Anpec), para uma amostra da produção. Quanto à introdução no Brasil dos estudos sobre as relações entre população e mercadode trabalho, ver o prefácio de Paulo Paiva em Wajnman e Machado (2003).9 Veja, por exemplo, que no primeiro número da Revista Brasileira de Estudos de População, dois artigos referiam-se ao tema dadistribuição espacial da população: Sawyer (1984) e Martine e Camargo (1984).10 As instituições que surgiram na época e os defensores do planejamento familiar operaram, em conseqüência, através dos canaisda área de saúde (médicos, assistência à saúde etc.).

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opiniões da sociedade, não tinha liberdadede ação como em uma democracia e a mídianão parecia dar grande espaço para otema.11

Já no final da década de 70, as primei-ras evidências da queda da fecundidadeno Brasil chamaram a atenção dos es-pecialistas, sobretudo porque o país nãohavia adotado nenhuma política explícitade controle da natalidade.12 Os pesqui-sadores brasileiros passaram a buscar ascausas13 da queda da fecundidade e foramtalvez pioneiros ao enfatizar os aspectosinstitucionais.

A literatura econômica sobre os deter-minantes da fecundidade era predomi-nantemente de cunho microeconômico eapontava os efeitos da mudança nos custosrelativos dos filhos sobre a determinaçãode tê-los. A qualidade se sobrepunha àquantidade na formação do tamanho idealde família. A educação era elemento-chavena determinação de se ter ou não um filhoadicional, assim como a queda damortalidade infantil, ao permitir o aumentono número de filhos sobreviventes. Essesmodelos, que se tornavam mais complexosdo ponto de vista de sua especificação,supunham um mundo simples e homo-gêneo, onde preço e quantidade definiriamo tamanho da família, tudo o mais constante.

A Pesquisa Nacional de ReproduçãoHumana14 desenvolvida no Cebrap nosanos 70 foi um esforço para determinardiferentes contextos aos quais se rela-cionariam diferentes comportamentosreprodutivos.15 Buscar entender o papel dasescolas, da igreja, da mídia e da comu-nidade médica era a contribuição impor-tante dessa pesquisa.

A preocupação com elementos institu-cionais na determinação da ruptura docomportamento reprodutivo tradicionalfoi partilhada também por Paiva,16 queprocurou argumentar que mudanças institu-cionais nas relações de trabalho no campobrasileiro poderiam estar na base dadesestabilização do aparente equilíbrioentre tamanho médio da família e relaçõesde trabalho no campo.

Finalmente, cabe mencionar, comofizeram Potter e Tuirán-Guitiérrez (2005), asobservações de Faria sobre os possíveisefeitos esperados ou não-esperados depolíticas públicas implementadas no Brasil(Faria, 1989; Faria e Potter, 1999), como aexpansão da cobertura médica e a conse-qüente “medicalização” do comportamentoreprodutivo e sexual, a expansão da co-bertura dos serviços da previdência sociale o papel da mídia, em especial da tele-visão, na formação de padrões de família,17

na mudança no padrão de consumo, comaumento da participação de bens duráveis,em um período em que a produçãoindustrial crescia rapidamente.

Enfim, tomando-se em conta os temasde pesquisa e a produção acadêmica daépoca, verifica-se que, no Brasil, aspreocupações com as causas da queda dafecundidade ocuparam mais os esforçosdos pesquisadores do que os efeitos docrescimento populacional sobre o cresci-mento econômico.

O contexto internacional também mudou

Quanto Malthus escreveu o seuclássico ensaio sobre população, ascondições que eventualmente estimulavam

11 A mídia viria a influir, eventualmente, através da difusão de padrões de família, como será mencionado adiante.12 Sobre este ponto ver Potter e Tuirán-Gutiérrez (2005), quando comparam o caso do Brasil com o do México.13 Os efeitos da queda da fecundidade sobre o crescimento econômico só mais tarde chamaram a atenção dos estudiosos.14 Ver na série Estudos de População, do Cebrap, os relatórios sobre os diferentes contextos (www.cebrap.org.br/outrospub_estudospopu.htm).15 Potter e Tuirán-Gutiérrez (2005) apontam o fato inovador desta pesquisa, em termos internacionais, ao tomar em conta oambiente onde as famílias decidem sobre sua reprodução.16 Acerca dos impactos do processo de proletarização sobre os níveis de fecundidade ver Carvalho et al. (1981) e a avaliação dePotter e Tuirán-Gutiérrez (2005). Estes autores chamam a atenção para o fato de que o argumento de Paiva mostra uma direçãooposta à visão tradicional do impacto da proletarização nos estudos históricos na Europa.17 Diria o economista, na formação das preferências.

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o mecanismo que determinava o equilíbrioentre tamanho de população e recursos naInglaterra já haviam sido alteradas. No finaldo século XVIII, os níveis de fecundidadeapresentavam uma clara tendência deelevação naquele país.

Algo semelhante estava acontecendoquando ocorreu a Primeira Conferênciade População e Desenvolvimento emBucareste, no início dos anos 70. Em váriospaíses, a fecundidade já começava a cair,embora não de maneira homogêneainternamente, e as condições da economiados países em desenvolvimento não erammais as mesmas das décadas de 50 e 60.

A década de 70 inicia-se sob mudançasprofundas na economia com repercussõessobre todos os países e, principalmente,sobre os chamados países subdesen-volvidos. Em agosto de 1971 os EstadosUnidos abandonaram a regra de paridadefixa da moeda estabelecida no acordo deBretton Woods. Iniciava-se uma nova fasede instabilidade e volatilidade das moedas,tornando as economias emergentes muitomais vulneráveis. O aumento dos preçosdo petróleo e, mais tarde, a elevação das

taxas de juros nos mercados financeirosinternacionais tiveram impacto devastadornas dívidas das economias emergentesque, na sua maioria, com desequilíbrio fiscal,enfrentaram crises profundas, com iliquidez,alta inflação e recessão.18 Seguiu-se umperíodo de instabilidade que representou,na América Latina, a transição de ummodelo de crescimento econômico combase na substituição de importações e naliderança do Estado para outra estratégiade crescimento econômico que buscava aintegração da economia no mercadointernacional via fluxo de comércio e decapitais. É a nova globalização.

É também evidente o impacto da rupturado modelo de crescimento sobre o desem-penho das economias na América Latina.Se até a década de 70 o crescimento erarelativamente mais elevado e estável, apartir dos anos 80 as taxas médias decrescimento são mais baixas e há umaenorme volatilidade no crescimento19 (vero Gráfico 1 para o caso do Brasil).

No plano político internacional, têminício a era Regan nos Estados Unidos e aera Thatcher na Inglaterra. Agora são os

18 Para uma análise do impacto desses desdobramentos sobre a economia da América Latina ver Thorp (1998).19 No caso brasileiro ver, por exemplo, Bacha e Bonelli (2004) e Pinheiro (2004).

GRÁFICO 1Taxas anuais de crescimento do PIB, Brasil, 1950-2000

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novos conservadorismo político e libe-ralismo econômico que terão enormerepercussão sobre os programas de ajudae a política das instituições multilaterais. Emseguida cai o muro de Berlim e com ele vai-se a Guerra Fria.

Essas mudanças foram importantespara refazer a agenda internacional. Desdeentão, passam a ter prioridade, naseconomias emergentes e em transição, osprogramas de reformas estruturais, aredução da intervenção do Estado naeconomia e os ajustes macroeconômicos.Busca-se construir blocos econômicos eacordos de comércio.20 Eliminam-se barrei-ras aos fluxos de capitais. Crescimentoeconômico, projetos de investimentos eminfra-estrutura e perspectivas de longo prazoperdem sua importância relativa na agendaeconômica, dominada então pela volatilida-de do mercado financeiro e pela vulnerabili-dade das economias emergentes. O capitalexterno assume maior relevância nos inves-timentos nas economias dos países emdesenvolvimento. Crescimento populacionalperde espaço na agenda internacional.21

Nesse contexto prevalecem as preo-cupações com a condução da políticamacroeconômica, com o controle dainflação, da dívida e do déficit públicos.Derrubam-se barreiras alfandegárias e não-alfandegárias para estimular o comércioexterior.

O governo conservador dos EstadosUnidos reduz seu apoio aos programas deplanejamento familiar e deixa de exercerpressões sobre os organismos interna-cionais para fomentar o controle popula-cional nos países em desenvolvimento. Aocontrário, reduz-se o financiamento aos

programas de estímulo às políticaspopulacionais e ao planejamento familiar.

Nesse novo ambiente é realizada aConferência Internacional de População eDesenvolvimento do Cairo, em 1994,22 cujoresultado não surpreendeu mais ninguém.Não mais se enfatizou os programas deplanejamento familiar. A ênfase foi no“empowerment” das mulheres, especial-mente na área da escolha reprodutiva.Enfatizou-se o poder das mulheres e aliberdade. A saúde reprodutiva da mulher éo novo tema. Uma dimensão importante nonovo conceito de desenvolvimento preconi-zado por Amartya Sen (1999).23 Sen desen-volveu a idéia da importância da mulhercomo agente de mudança social e acreditaque o acesso da mulher tanto à educaçãoquanto ao mercado de trabalho são ele-mentos essenciais ao seu “empowerment”.E associado ao aumento da participaçãoda mulher no mercado de trabalho e do seunível educacional, segundo Sen, está aredução dos níveis de fecundidade.

Na visão de Sen, a ênfase sobre oconceito de desenvolvimento deixa de seconcentrar no crescimento econômico paratratar do acesso às oportunidades econô-micas, sociais e políticas. A liberdade é umconceito central não apenas como meiomas também como o próprio fim do desen-volvimento. Nesta nova visão de desenvol-vimento enfatiza-se muito a importância daredução da pobreza e da desigualdade, queserão temas centrais na agenda dasagências multinacionais a partir dos anos90. Todavia, nenhuma delas retoma algumtipo de política populacional controlistacomo condição à ajuda aos países emdesenvolvimento. Seja por influência da

20 O Nafta é o exemplo mais acabado de acordo comercial no continente americano. No Cone Sul vê-se fortalecido o Mercosul eem toda a região expandem-se os acordos bilaterais.21 Algumas agências multinacionais, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento, nunca tiveram os temas do crescimentopopulacional e do planejamento familiar nas suas agendas. Com o fortalecimento de organizações não-governamentaispreocupadas com o meio ambiente, as instituições financeiras passaram a se preocupar com o tema. Finalmente, as preocupaçõescom população e desenvolvimento passaram a ser vistas muito mais no contexto dos possíveis impactos do crescimentopopulacional sobre o meio ambiente e, em conseqüência, sobre o próprio desenvolvimento econômico em escala global.Crescimento populacional e preservação ambiental são elementos importantes do conceito de desenvolvimento sustentável.22 A conferência do Cairo aconteceu 20 anos depois da conferência de Bucareste, em ambiente internacional totalmente diferente.Entre as duas houve a conferência do México, em 1984 – uma espécie de transição, embora ainda muito dominada pela visãocontrolista.23 Ver, principalmente, os capítulos 8 e 9.

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nova agenda econômica concentrada nasquestões de curto prazo e nas reformasestruturais, seja por influência da orientaçãoconservadora do governo norte-americano,o fato é que o planejamento familiar nãoaparece como componente em nenhumprograma de ajuda ou em agenda dereformas e políticas.24

Os impactos da transição demográfica

Atualmente, há um enorme acervo depesquisas e de resultados encontradossobre as relações entre crescimento popu-lacional, crescimento econômico e distri-buição da renda. Embora os resultadosempíricos não sejam totalmente conclu-sivos, há avanços importantes que estãoinstruindo os estudos mais recentes. Comoobservam Birdsall e Lustig (1998), as re-lações são muito complexas e os efeitos,negativos e positivos, se anulam quer sejaem relação ao crescimento da renda, querseja em relação à pobreza (distribuição darenda), e por isso os resultados apresen-tados na literatura não confirmam uma clararelação de causalidade.

Relativamente à transição demográfica,podemos identificar três fases distintas em

relação às mudanças da distribuição etária(veja o Gráfico 2 para o caso brasileiro). Naprimeira fase ocorre um aumento na pro-porção de jovens e, em conseqüência,aumento na taxa de dependência, em fun-ção da queda da mortalidade infantil.Depois, segue-se um período de reduçãoda taxa de dependência, graças à reduçãoda proporção de jovens, em decorrência daqueda de fecundidade, e, mais tarde, a taxade dependência volta a se elevar, porqueaumenta a proporção da população idosa,enquanto as coortes menores chegam àsidades produtivas. Essas mudanças naestrutura etária ocorrem ao longo dedécadas e em cada fase pode-se pensarem diferentes impactos. Por exemplo, aspreocupações de Coale e Hoover eraminformadas pela experiência da primeirafase nas mudanças da estrutura etária e,parece-nos, concentravam-se então noexame dos impactos mais imediatos daredução da fecundidade, isto é, o aumentorelativo do segmento da população emidade de trabalhar, no início da segundafase. As evidências recentes25 mostram, porexemplo, que o aumento na parcela dapopulação em idade produtiva (PIA) estápositivamente relacionado com o aumento

24 É interessante notar que nem mesmo na famosa agenda do Consenso de Washington aparece qualquer referência ao temapopulacional.25 Ver “The global demographic transition” em World Economic Outlook (IMF, 2004). É interessante notar o interesse do FMI pelatransição demográfica.

GRÁFICO 2Evolução das proporções dos grupos estários jovens, adultos e idosos e da razão de dependência da população

brasileira – Anos selecionados entre 1900 e 2050 – Brasil

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da poupança e da produtividade e, emconseqüência, com o crescimento econô-mico. Ao contrário, o aumento da proporçãoda população idosa está negativamenterelacionado com essas variáveis. A pou-pança gerada no período da idade repro-dutiva será consumida no período davelhice, com efeitos tanto sobre a poupançaprivada quanto sobre os gastos públicos.26

Além da continuidade na exploraçãodas relações entre mudanças na estruturademográfica e poupança/investimento, quefoi iniciada com Coale e Hoover, a discus-são atual introduz um novo componenteimportante que é a relação entre as mu-danças na estrutura demográfica e a políticafiscal, com efeitos tanto sobre o equilíbriodas contas públicas quanto sobre aspolíticas sociais.

Atualmente, acredita-se que nos paísesem desenvolvimento, em particular nospaíses da América Latina, que estão nasegunda fase das mudanças na estruturaetária em razão da transição demográfica,há possibilidades de se tirar proveito daredução da taxa de dependência (aumentorelativo da população em idade de trabalhar)para promover os ajustes necessários paraenfrentar a fase seguinte em décadasfuturas. É o que se chama de “bônus de-mográfico” ou “dividendo” demográfico.Esses países passam pela fase em que ocrescimento populacional tem efeito positivosobre o crescimento econômico. Comoobserva o relatório do Fundo MonetárioInternacional (IMF, 2004), deve-se apro-veitar a oportunidade para implementarpolíticas que assegurem potencializar osbenefícios do dividendo demográfico. Vejaque não se trata mais de discutir políticasde controle da natalidade, mas sim de,compreendendo o processo de transiçãodemográfica, definir políticas que possamajudar o crescimento e melhorar a distri-buição da renda.

Um outro tema que merece atençãorefere-se aos fluxos migratórios interna-cionais. O processo de globalização dos

últimos anos, diferentemente do que ocor-reu no final do século XIX, não se completou.Desta feita, os mercados se abrem ao livrefluxo de bens, serviços e capitais, mas nãose abrem às pessoas. Naquela época, tam-bém as barreiras aos fluxos de migrantesforam eliminadas, o que permitiu um movi-mento expressivo de migrantes da Europapara o chamado Novo Mundo, por exemplo.Agora, barreiras à imigração internacionalrestringem os fluxos de pessoas e são umtema de discussão nas relações interna-cionais e na determinação de políticas deintegração.27 Para vários países, principal-mente países menores, as migrações sãoimportantes para a formação da poupança,em razão das transferências de rendimentosdos imigrantes para seus familiares, e, comoconseqüência, para o próprio crescimentodessas economias.

Além das migrações internacionais,outro tema relativo à população que passaa ter maior importância nos estudos sobredesenvolvimento é a mortalidade. A inci-dência de Aids em vários países subdesen-volvidos, efeitos da violência e de guerrascivis sobre segmentos jovens da populaçãoe diferenciais de mortalidade nas idadesmais avançadas são questões relevantesna discussão sobre desenvolvimentoeconômico e social nos dias atuais.

Os avanços recentes nos estudos sobrepopulação e desenvolvimento no Brasil

Estudos sobre os impactos da quedada fecundidade sobre as políticas sociaise, conseqüentemente, sobre a distribuiçãodos gastos públicos já estão na agenda dospesquisadores brasileiros há vários anos.Embora os primeiros estudos que cons-tataram a queda da fecundidade no Brasilestivessem muito centrados em descrevere indicar as causas desse processo, a preo-cupação quanto às suas conseqüênciassobre, pelo menos, o sistema educacional,o mercado de trabalho e a previdênciasocial sempre esteve presente.28 Ao longo

26 Essa interpretação baseia-se no modelo de ciclo de vida. Veja, por exemplo, Schimidt-Hobbel e Servén (1999).27 Veja os casos dos migrantes ilegais nos Estados Unidos e na Europa.28 Uma referência pioneira desse debate no Brasil é Paiva et al. (1981).

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das duas últimas décadas, porém, estapreocupação foi se tornando mais refinada,pela própria influência da literatura interna-cional, ampliando o debate sobre o chama-do bônus demográfico, e com isso cresceuo interesse por temas relacionados com osimpactos do processo de envelhecimentoda população no Brasil.

Enquanto surgiam as primeiras evidên-cias da queda da fecundidade no Brasil e odebate sobre suas conseqüências tomavacorpo, crescia, paralelamente, o volume depesquisas sobre o funcionamento do mer-cado de trabalho no país. É nesse contextoque algum investimento foi feito no sentidode se tentar compreender os mecanismosatravés dos quais as mudanças no tamanhoe na composição da oferta de trabalhodeveriam afetar, no curto e no longo prazo,as diversas variáveis econômicas.

Com base na ampla experiência comtécnicas de padronização para controle dosefeitos de composição da estrutura etária nosdiferenciais de taxas brutas de mortalidade,os demógrafos contribuíram ao debateidentificando o papel dos perfis etários daatividade econômica de homens e mulherese de seus rendimentos do trabalho. Comodecorrência, mensuraram os efeitos de com-posição causados pelas mudanças na es-trutura etária da população economicamenteativa sobre a distribuição de rendimentos.

De fato, a preocupação com a desi-gualdade da distribuição de renda vinhaintensificando-se no Brasil desde os anos70, quando o quadro de recrudescimentodo processo de concentração estimulou umdebate altamente ideológico, no qual qual-quer tentativa de identificar mecanismos de

concentração que não se baseasse ex-clusivamente no modelo político de desen-volvimento adotado era recebida comdesconfiança. Algumas vozes consideradasconservadoras, como Langoni (1973) eSimonsen (1978), defendiam a idéia de queo aumento da participação de jovens nomercado de trabalho brasileiro, ocorrido nosanos 60 e 70 em decorrência da queda damortalidade do período anterior, teria desem-penhado seu papel no aumento dos índicesde desigualdade.29

Se esse argumento era verdadeiro, coma queda da fecundidade, em curso a partirdos anos 70, o efeito esperado do novocenário de reversão das tendências demo-gráficas deveria ser o de diminuição dadesigualdade de renda. Alguns estudostentaram identificar essa tendência e asinovações metodológicas desse períodoforam as rigorosas análises de decom-posição das medidas de desigualdade, quepassaram a explicitar, uma a uma, ascomponentes da desigualdade, mensu-rando o exato papel da estrutura etária. Comas análises de shift-share, ou os chamadosexercícios contrafactuais, tornou-se possívelsimular os efeitos esperados da mudançada estrutura etária da população ocupada,assim como da composição educacional,regional, por sexo, por setor de atividade, eassim por diante.30

Estimadas as contribuições de cadauma das componentes da desigualdadetotal, desde logo ficou claro que, conquantohouvesse, de fato, uma parcela a seratribuída à estrutura etária da população, amagnitude desse efeito não deveria serexagerada.31 De longe, a componente

29 Ver também Morley (1979), que, incorporando a tradição dos estudos demográficos, analisa o crescimento da concentração derenda brasileira entre 1960 e 1970 por meio da decomposição da força de trabalho de 1970 em “novos membros” e “sobreviventesde 1960”.30 Aqui, é preciso mencionar que os trabalhos desenvolvidos por Barros e colaboradores definiram de forma crucial o arcabouçometodológico e, conseqüentemente, o rigor analítico incorporado a esse tipo de estudo, redefinindo os rumos da pesquisa sobredeterminantes da desigualdade de renda no Brasil. Ressalta-se, também, a contribuição de Lam (1984 e 1987), que, focando comespecial interesse o caso brasileiro, elucidou as questões metodológicas essenciais ao tratamento do efeito da mudança daestrutura etária sobre a distribuição da renda, explicitando o papel das componentes intra e intercoortes.31 Decomposições estáticas de medidas de desigualdade atribuíram uma magnitude de algo em torno de 10% para a importânciarelativa da estrutura etária na desigualdade salarial no Brasil (ver Wajnman, 1989; Barros e Mendonça, 1996; Ramos e Vieira, 2000).Evidentemente, em decomposições dinâmicas o papel da mudança da estrutura etária pode ser de maior monta, dependendoda magnitude da mudança ocorrida. Entretanto, como explicitado por Lam (1987) e Wajnman (1989), mudanças na estruturaetária tendem a criar efeitos de sinais contrários sobre a desigualdade, resultando em um impacto final que pode ser bastantediscreto. Observe-se que esta constatação confirma as conclusões de Birdsall e Lustig (1998).

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educacional, dada pelo nível tanto quantopela distribuição da escolaridade dapopulação brasileira, mostrou ser a demaior impacto e, assim, o principal foco daanálise sobre os determinantes da desi-gualdade no Brasil voltou-se, nos últimosanos, para a questão educacional.

Todavia, o entrelaçamento da mudançada estrutura etária e das transformações nadistribuição de escolaridade da populaçãoeconomicamente ativa faria com que osefeitos do envelhecimento da populaçãocontinuassem sendo objeto de interessedas pesquisas sobre desigualdade. Proje-tando a escolaridade das diversas coortesde entrada no sistema educacional noBrasil, estudos têm apontado o papel dainércia demográfica na redefinição dasdotações educacionais da PEA brasileira(Wajnman e Menezes Filho, 2003; Vélez,Soares e Medeiros, 2002). Em outraspalavras, esses trabalhos indicam que nãoé possível mudar dramaticamente aquantidade e a distribuição de escolaridadeda população, dada a sobrevivência decoortes cujo patamar de escolaridade má-ximo já foi atingido em períodos anterioresàs maiores mudanças no sistema escolardo país. Wajnman e Menezes Filho (2003)mostram o efeito dessa limitação sobre osdiferenciais de rendimento no mercado detrabalho brasileiro, indicando que, duranteo processo de acomodação dos ganhoseducacionais na trajetória de envelhe-cimento das coortes, previsto para aspróximas décadas, a desigualdade no Brasilpode se elevar ainda mais.32

Olhando da perspectiva histórica,uma vantagem comparativa da demografiatem sido sua ênfase no trato das fontesde dados e de métodos que propiciama abordagem de ciclos de vida e acombinação de informações transversais

para a inferência da perspectiva lon-gitudinal. A prática do uso do diagramade Lexis, um dos instrumentos maissimples e mais poderosos da análisedemográfica, permite aos demógrafos acombinação das dimensões de coorte,período e idade na análise das variáveiseconômicas. É o uso desse instrumentoque sugere a decomposição das ten-dências de coorte, período e idade nosprocessos de mudança social. Essaabordagem considera que uma mudançasocial pode ser determinada pelas al-terações no ambiente sócio-econômico-cultural, pelas alterações inerentes aosciclos de vida dos indivíduos quecompõem uma sociedade, ou ainda pelaconstante substituição de gerações comcomportamentos distintos (ver Ryder,1965). Inicialmente proposto como métodode análise das tendências de fecundidade,os chamados modelos IPC (idade-período-coorte) foram recentemente incorporadosà pesquisa econômica.

Nesse aspecto, o Brasil apenas seguiude perto a literatura dos países desen-volvidos, que produziu estudos dessastendências em variáveis como taxas departicipação, consumo, poupança, crimina-lidade etc.33 A exuberância da produçãolocal nessa linha pode ser atestada pelovolume de trabalhos que, no curto espaçode tempo entre o final dos anos 90 e o iníciodos anos 2000, focaram uma grandevariedade de temas segundo a abordagemde período, coorte e idade.34 Tendências decomportamento das taxas de participaçãoeconômica foram analisadas por Rios-Netoe Oliveira (1999). O estudo da evolução dadesigualdade da distribuição de rendimen-tos também recebeu esse tratamento emFirpo, Gonzaga e Narita (2003) e Wajnmane Menezes Filho (2003). Mudanças no

32 Ainda no rol de exemplos da literatura que inter-relacionam as tendências demográficas com as mudanças educacionais noBrasil, citam-se também os estudos sobre o efeito da queda da fecundidade nos ganhos em escolaridade (Marteleto, 2002; Lame Duryea, 1999) e na melhora da qualidade da educação (Rianni e Rios-Neto, 2004).33 Ver, por exemplo, Attanazio e Browning (1995), Clogg, Eliason e Wahl (1990) e MaCurdy e Mroz (1995).34 O forte espírito de cooperação entre economistas e demógrafos para a realização desse tipo de estudo foi materializado numprojeto desenvolvido no âmbito do Programa Procad da Capes, de cooperação interinstitucional, no qual demógrafos e economistasdo Cedeplar juntaram-se a economistas da PUC-RJ e da USP para o desenvolvimento de um conjunto de pesquisas visando àimplementação dos modelos de período-coorte-idade aplicados a uma série de dimensões do mercado de trabalho.

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mercado de trabalho, como tamanho dejornada (analisado por Gonzaga, Machadoe Machado, 2003), distribuição dos tra-balhadores por posição na ocupação(Magalhães, 2003), evolução das taxas dedesemprego (Penido, 2003) e a partici-pação econômica dos idosos (Souza,2003), foram decompostas segundo tendên-cias de período, coorte e idade.35

Vale notar, no entanto, que o quepossibilitou e impulsionou a farta produçãode estudos nessa linha no país foi adisponibilidade da série histórica de dadosanuais da PNAD, que se inicia em 1976 eque hoje já completa uma série de 27 anosde informações socioeconômicas e demo-gráficas observadas. A enorme melhoria noacesso aos microdados das PNADs, tantoquanto os exemplos da literatura interna-cional, motivaram a incorporação dasdimensões demográficas aos estudos docomportamento de diversas variáveiseconômicas. Uma vez que a partir de dadostransversais como os da PNAD não épossível identificar e acompanhar cadaindivíduo ao longo do tempo, a conca-tenação das informações através dos anosdeve se dar por meio de alguma ca-racterística de grupos de indivíduos queseja possível acompanhar no tempo. Acoorte surge então como unidade deanálise natural para a construção doschamados pseudopainéis, com a idadeservindo de marcador das coortes atravésdos períodos, de tal modo que, para cadaano observado, os indivíduos de umadeterminada coorte tornam-se um ano maisvelhos. Assim, a adequação da dimensãoda coorte à construção de pseudopainéisparece ter sido uma importante motivaçãopara que coortes se tornassem unidadesde análise bastante usuais na pesquisaeconômica no Brasil.

É importante destacar ainda que, nesseprocesso de incorporação dos conceitos einstrumentos típicos da análise demográficapelos cientistas sociais das mais diversasáreas, as fronteiras da pesquisa entre as

diferentes áreas das ciências sociais têmse estreitado. Contribuiu para isso o fato dea pesquisa aplicada com uso de microdadosno Brasil ter se disseminado paulatina-mente, como decorrência da própria am-pliação de sua oferta. Nesse sentido, o IBGEdesempenhou papel fundamental, aodemocratizar o acesso aos microdados detodas as suas pesquisas, de forma cada vezmais barata, mais ágil e simples de lidar. Dolado dos usuários, o crescente interesse portécnicas de pesquisa empírica, a ampliaçãodo leque de métodos estatísticos e adisponibilidade de pacotes computacionaiscada vez mais poderosos explicam amudança radical nos contornos da pes-quisa sobre as relações entre população eas distintas dimensões do desenvolvimentosocioeconômico.

A antiga agenda revisada

Ao longo dos últimos anos, o escopodo debate sobre as possíveis conse-qüências do envelhecimento só tem feitoaumentar, com os estudos incorporandomaiores possibilidades metodológicas deidentificação de tendências e, também,maior arsenal de informações nas quais sebaseiam. Desse modo, atualmente sãovárias as áreas de interesse para as quaisa preocupação sobre os efeitos da transiçãodemográfica tem se estendido.

Na área de economia da saúde, porexemplo, cresce a preocupação com osprováveis impactos da transição demo-gráfica sobre os gastos públicos comsaúde. Sabe-se que a mudança do padrãoepidemiológico que acompanha o processode envelhecimento reconfigura inteira-mente o perfil etário dos gastos com asaúde, afetando não apenas a saúde dosidosos, para quem o padrão de morbidadetorna-se crescentemente mais complexo eoneroso, mas também os gastos nasdemais faixas etárias. Dadas as enormesdisparidades sociais e regionais que oBrasil abriga, o principal desafio nessa área

35 Ver também Rezende et al. (2005), que tratam da evolução da cobertura de serviços de saneamento no Brasil urbano daperspectiva do modelo de período, idade e coorte.

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é o fato de que o perfil de gastos já semodifica, como nos países desenvolvidos,com o dramático aumento do peso relativodos gastos com recém-nascidos e comidosos (cada vez mais numerosos e maislongevos), ao mesmo tempo em que umaparcela significativa dos gastos ainda édirecionada para as morbidades típicas depaíses subdesenvolvidos (ver Saad, 1990;Kilsztajn et al., 2002; Nunes, 2004; Berenstein,2005).

Outra área que recebe atenção cres-cente é a que relaciona os impactos doenvelhecimento com a economia das fa-mílias. Alguns aspectos têm sido discutidosneste caso. Em primeiro lugar, o envelhe-cimento da população, convivendo com adiminuição do tamanho das famílias e acrescente participação das mulheres nomercado de trabalho, suscita a questão dequem se ocupa com os cuidados com osidosos e as perspectivas de redução debem-estar desse segmento populacional(ver Goldani, 2004; Camarano et al., 2004).Por outro lado, estudos sobre transfe-rências intergeracionais no Brasil têmmostrado que, por meio do sistema pre-videnciário, a política social brasileira temsido muito mais eficaz em combater apobreza dos idosos do que a das criançase dos jovens.36 Como resultado, os rendi-mentos dos idosos brasileiros, contabi-lizando-se seus rendimentos do trabalho ede aposentadoria, têm respondido porparcelas crescentes da composição desuas rendas familiares e exercido papelfundamental na redução da pobreza dosdomicílios em que vivem (ver Camarano etal., 2004; Wajnman et al., 2004).

Um tema diretamente associado a esteé o dos determinantes das mudanças nascondições de participação dos idosos no

mercado de trabalho (ver Liberato, 2003;Perez, 2005). Além disso, permanece aquestão da crescente inviabilidade finan-ceira e política do sistema previdenciáriobrasileiro, que, baseado no modelo derepartição simples e em uma razão dedependência crescente, tende a gerarretornos cada vez mais negativos para ascoortes atuais e futuras (ver Fernandes,1993).

Com tudo isso, um outro campo incipi-ente e promissor da pesquisa em populaçãoe desenvolvimento é o estudo da magnitudee da direção dos fluxos intergeracionais dastransferências públicas e privadas na socie-dade brasileira (ver Turra, 2000). Conheceras perspectivas da transição demográficacom relação a esses fluxos é essencial paraa formulação correta das políticas sociaisvisando ao longo prazo.

Assim, um breve inventário do rol detemas que têm sido contemplados naspesquisas sobre relações entre as variáveispopulacionais e o desenvolvimento so-cioeconômico aponta que, ao menos noâmbito acadêmico, os estudos há muito sedistanciaram do enfoque político-ideológicoque marcou o início do debate, para seconcentrarem cada vez mais nos aspectostécnicos das relações entre população edesenvolvimento.

Entretanto, os novos rumos da pes-quisa acadêmica não significam que oantigo debate ideológico esteja superadono Brasil. Muito pelo contrário, nos últimostempos a sociedade brasileira vê reacendero interesse pelas relações entre populaçãoe pobreza, a partir das evidências sobre aineficiência do crescimento em gerar redu-ção de pobreza e dos ainda relativamentealtos níveis de fecundidade remanescentesnos bolsões de pobreza do país.37 Na

36 Ver, por exemplo, Barros, Mendonça e Santos (1999). Um aspecto das políticas sociais que merece destaque e discussão refere-se aos objetivos do programa de previdência social. Este programa não parece ter sido concebido com o objetivo de combate àpobreza, mas como instrumento de poupança na idade ativa para proteção ao trabalhador na velhice. Em razão de seu objetivoe seu financiamento, é um programa diferente dos que são financiados exclusivamente com recursos dos impostos gerais. Éinteressante que a mesma discussão está em curso nos Estados Unidos, em relação às propostas de mudança da previdênciasocial do governo Bush.37 Cabe relembrar aqui uma distinção fundamental apontada anteriormente neste artigo. A partir dos anos 80 – e nesse sentidoa Conferência de População e Desenvolvimento do Cairo foi um marco –, a ênfase na inclusão do planejamento familiar nosprogramas de políticas públicas passou a recair sobre a universalização dos direitos da mulher e, não mais, no seu papel comopolítica alternativa de combate à pobreza.

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contramão das tendências do debate noâmbito internacional, alguns políticos eoutras figuras públicas do cenário nacionaltêm se manifestado a favor da necessidadede regulação da fecundidade dos pobrescomo forma de combate à pobreza. Odebate acerca dessas declarações temaparecido na mídia com bastante freqüên-cia e mobiliza a opinião pública de formapouco usual.38

Na esfera das ações governamentais,por outro lado, cabe lembrar que, desde osanos 90, a agenda política brasileira temprocurado incorporar as recomendações doPrograma de Ação Mundial aprovado naConferência Internacional de População eDesenvolvimento do Cairo, de 1994. Assim,em 1996 o governo Fernando HenriqueCardoso criou o Conselho Nacional de Po-pulação e Desenvolvimento (CNPD), com oobjetivo de fortalecer as relações entre oEstado e a sociedade e visando à formula-ção, implementação e avaliação de políticasrelativas à população e ao desenvol-vimento, com destaque para a garantia àsaúde integral da mulher.39 Mais especi-ficamente, o Estado brasileiro assumiu atarefa de promover o planejamento familiargratuito com a Lei 9.263, de 1996. Recen-temente, em 2005, o governo Lula lançou a“Política Nacional de Direitos Sexuais eDireitos Reprodutivos”, reafirmando ocompromisso da Lei do PlanejamentoFamiliar e prevendo ações em três eixosprincipais: ampliação do acesso aosmétodos anticoncepcionais reversíveis,ampliação do acesso à esterilizaçãocirúrgica voluntária e introdução dareprodução humana assistida no SistemaÚnico de Saúde (SUS).

Observações finais

Atualmente há uma crescente preocu-pação com as conseqüências da transiçãodemográfica sobre o desenvolvimento.

A possibilidade de se tirar proveito dochamado bônus demográfico sugere anecessidade de se implementar políticasque tomem em consideração o processode mudança populacional e suas relaçõescom as diferentes variáveis econômicas. Oideal seria levar em conta o conhecimentosobre a distribuição demográfica futura esuas implicações para a economia para setomar, hoje, as decisões de políticas públicasque terão repercussões também no futuro.

Isto, contudo, deve ser feito de acordocom as condições específicas de cada país.Alguns exemplos são importantes para seentender as questões.

Por exemplo, o aumento da partici-pação relativa da população em idadeprodutiva tem uma relação positiva com ocrescimento econômico. Todavia, para sepotencializar essa relação, no caso do Bra-sil, torna-se necessário estimular a geraçãode emprego feminino, a eliminação dadiscriminação no mercado de trabalho e aextinção do trabalho infantil, bem comoreduzir tanto o tamanho das atividadesinformais de trabalho – isto é, promover aformalização do emprego – quanto o de-semprego. Certamente, um dos meca-nismos importantes para tanto, no casobrasileiro, é a redução da pobreza e dadesigualdade. Assegurar acesso à edu-cação e à saúde é indispensável para oaumento da produtividade dos segmentosda população que estão ingressando ouvão ingressar no mercado de trabalho nospróximos anos. Implementar políticas queassegurem a atuação das mulheres comoagentes de mudanças e do desenvol-vimento é outro passo importante parapromover o desenvolvimento. Promover aformalização do mercado de trabalho éessencial, muito embora sua concretizaçãoseja complexa e dependa, em parte, dereformas difíceis de serem acordadas eaprovadas no Congresso Nacional e deserem implementadas. Cremos que, neste

38 Pesquisa de opinião pública (CNT/Sensus) divulgada em 14 de abril de 2005 incluiu o planejamento familiar entre os temas deinteresse do cidadão e revelou que 84,4% dos entrevistados declararam-se a favor da distribuição, pelo governo, de preservativose da pílula do dia seguinte a famílias de baixa renda.39 Potter e Tuirán-Gutiérrez (2005) mostram as diferenças na criação dos Conselhos de População no México e no Brasil.

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aspecto, talvez a oportunidade do bônusdemográfico esteja sendo perdida. O melhoraproveitamento do período em que a razãode dependência é menor depende daspossibilidades de absorção da mão-de-obra em atividades mais produtivas. Ahistória passada de baixos níveis relativosde escolaridade das coortes que atual-mente estão em idade produtiva e apresente estrutura do mercado de trabalhosão fatores que dificultam obter os ganhosdo bônus demográfico. Do mesmo modo,as enormes dificuldades na implementaçãode reformas no programa de previdênciasocial, que possam eliminar os desequi-líbrios correntes, contribuem para que seesvaziem as oportunidades concedidaspela transição demográfica. Como se podever no Gráfico 2, a partir de 2020 a taxa dedependência demográfica iniciará outroperíodo de crescimento.

Outro exemplo, com vistas aos im-pactos da estrutura demográfica sobre aspolíticas públicas, principalmente previ-dência social e saúde, refere-se aosestudos de mortalidade, que terão grandeprioridade. Estudos sobre padrões ediferenciais de mortalidade de segmentosadultos e de idosos segundo diferentescaracterísticas socioeconômicas poderãotrazer subsídios importantes para as po-líticas sociais.40

Ainda outro exemplo. Há de se pes-quisar mais, também, o impacto das migra-ções internacionais sobre a economia. Nocaso do Brasil, se de um lado as trans-ferências de recursos dos migrantes têmefeitos positivos, embora com impactosregionais diferentes, de outro lado cabeexaminar se essas migrações não estariampromovendo transferência de capital hu-mano para o exterior, na sua maioriaresultado de investimento público.

Outra questão importante refere-se aoimpacto futuro sobre a previdência socialprevisto para quando a transição demo-gráfica entrar na sua terceira fase e a taxa

de dependência voltar a crescer. Essaquestão é bastante complexa porque osistema de previdência no Brasil já operaem desequilíbrio estrutural. Do lado dareceita, há uma parcela considerável dapopulação ativa que não contribui por estarno setor informal; do lado das despesas osgastos são crescentes. No futuro, nãoapenas o desequilíbrio poderá se agravar,mas também é possível que o aumento dovolume de população idosa sem coberturada previdência torne ainda mais grave oproblema social no país.

Diante das evidências, dos estudos edas discussões, é possível fazer umalistagem das questões e alertar para seusimpactos e para a necessidade de políticaspúblicas visando enfrentá-las. Contudo,é necessário também entender as dificulda-des em passar do conhecimento à imple-mentação de políticas.

Em primeiro lugar, o timing das mudan-ças demográficas e o das decisões depolíticas públicas não são exatamentecoincidentes. O agente público, em geral,prioriza as decisões sobre questões cujosresultados aparecem no horizonte de suaadministração. As questões demográficasindicam a necessidade de medidas cujosresultados só advirão depois de décadas.

Em segundo lugar, muitas das suges-tões relativas, por exemplo, às finançaspúblicas referem-se a opções entre gastarcom a população presente ou gastar comgerações futuras. Taxar as gerações pre-sentes ou taxar as gerações futuras. Sãodecisões sobre fluxos entre gerações. Nãoé uma opção trivial escolher entre opresente e o futuro.

Em terceiro lugar, ainda no campo dasdecisões de políticas públicas, é necessárioentender que elas quase sempre decorremde pressões da sociedade, quer mediantemanifestações no Poder Legislativo, queratravés da mídia, quer, ainda, por meio damobilização da sociedade organizada.Parece-nos razoável supor que é pouco

40 Parece-nos que seria importante uma avaliação do sistema de geração de informações demográficas, visando adequá-lo àsnovas exigências. Com certeza, uma boa base de dados sobre mortalidade nas idades mais avançadas deverá contribuir parapesquisas e conseqüentes propostas de políticas públicas.

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Em quarto lugar, mesmo no caso depolíticas cujos impactos podem ocorrer maisimediatamente, como as que se referem aomercado de trabalho, as opções não sãonecessariamente consensuais. Muito aocontrário. Por exemplo, não há dúvidas deque todos concordam que o país deveriavoltar a crescer em termos sustentados eter taxas de desemprego mais baixas. Mascomo fazer é outra estória. O desafio aocrescimento econômico no Brasil pode, parauns, indicar a necessidade de se aprofundare concluir o programa de reformas econô-micas e manter a austeridade fiscal e, para

outros, ao contrário, pode indicar a neces-sidade de se reduzir as taxas de juros eelevar os gastos públicos. Parece-nos quea discussão dos possíveis impactosdemográficos dificilmente irá influenciar aescolha de políticas e reformas paraestimular o crescimento econômico.41 Oque é lamentável, posto que diferentespolíticas públicas terão impactos diferentessobre um cenário que já é conhecido e nãofoi levado em conta.42

Parece-nos, por fim, ser desejável quese entenda que o crescimento econômicoé elemento necessário ao processo dedesenvolvimento. Contudo, mudançasestruturais são determinantes para que odesenvolvimento seja amplo e inclusivo, ea transição demográfica é uma dessasmudanças que oferece oportunidades edesafios para o desenvolvimento futuro.

41 Como propõe o Relatório do FMI (IMF, 2004).42 A idéia do “bônus demográfico” sugere que, conhecida a tendência da população, pode-se escolher, no presente, as políticaspúblicas mais compatíveis com a tendência demográfica. Em muitos casos as decisões já foram tomadas e revertê-las é muitodifícil, como no caso dos programas de previdência social ou de formalização do mercado de trabalho. Neste caso, a possível janelade oportunidade não pode ser aproveitada.

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Abstract

From the causes to the economic consequences of the demographic transition in Brazil

Relationships between development and population growth have challenged scholars andresearchers for many years, and refer to the impacts of population growth and distribution oneconomic growth, and to the impacts of economic growth on population. Three decades agothe major issue was the causes and consequences of population growth. The central issuetoday is about the causes and consequences of demographic transition on the economy. Manychanges have taken place over the last thirty years. From the demographic point of view, themost important change has been the generalization of the so-called demographic transition.“Demographic bonus” and “window of opportunities” have become substitutes for “thedemographic bomb.” This article describes how the relations between population and economyhave been understood and how changes in these relations have affected academic research,academic thought and some public policies in Brazil. It summarizes recent findings onrelationships between population and economy and their implications for public policies anddevelopment.

Key words: Demographic transition. Population aging. Development. Economic growth. Publicpolicies.

Recebido para publicação em 17/05/2005.Aceito para publicação em 24/06/2005.