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    DAS MOBILIZAES S REDES DEMOVIMENTOS SOCIAIS*

    Ilse Scherer-Warren**

    Resumo:A realidade dos movimentos sociais bastante dinmica e

    nem sempre as teorizaes tm acompanhado esse dinamismo. Coma globalizao e a informatizao da sociedade, os movimentossociais em muitos pases, inclusive no Brasil e em outros pases daAmrica Latina, tenderam a se diversificar e se complexificar. Porisso, muitas das explicaes paradigmticas ou hegemnicas nosestudos da segunda metade do sculo XX necessitam de revisesou atualizaes ante a emergncia de novos sujeitos sociais oucenrios polticos. Este estudo busca, inicialmente, uma compreensoacerca da nova configurao da sociedade civil organizada,

    explicitando os mltiplos tipos de aes coletivas do novo milnio.1A partir desta compreenso, busca-se explorar a diversidadeidentitria dos sujeitos, a transversalidade nas demandas por direitos,as formas de ativismo e de empoderamento atravs de articulaesem rede e, finalmente, a participao poltica das organizaes emrede.

    Palavras-chave: movimentos sociais, sociedade civil, redes,cidadania, empoderamento.

    Sociedade e Estado, Braslia, v. 21, n.1, p. 109-130, jan./abr. 2006

    * Verso preliminar deste trabalho foi apresentada no VII Corredor das Idias do ConeSul, Unisinos, em agosto de 2005 e no XXV Congresso da Associao Latino-Americana de Sociologia (ALAS), Porto Alegre, em agosto de 2005.

    **

    Professora do Departamento de Sociologia e Cincia Poltica da Universidade Federalde Santa Catarina e Coordenadora do Ncleo de Pesquisa em Movimentos Sociais damesma universidade.

    Artigo recebido em 5 mar. 2006 e aprovado em 13 maio 2006.

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    Novos formatos de organizao da sociedade civil

    Parte-se aqui de uma noo genrica e contempornea de

    sociedade civil. De fato, trata-se de um conceito clssico da sociologiapoltica, mas, na atualidade, ele tende a ser utilizado num modelo dediviso tripartite da realidade: Estado, mercado e sociedade civil.2

    Nesta perspectiva terica, a sociedade civil, embora configure umcampo composto por foras sociais heterogneas, representando amultiplicidade e diversidade de segmentos sociais que compem asociedade, est preferencialmente relacionada esfera da defesa dacidadania e suas respectivas formas de organizao em torno de

    interesses pblicos e valores, incluindo-se o de gratuidade/altrusmo,distinguindo-se assim dos dois primeiros setores acima que estoorientados, tambm preferencialmente, pelas racionalidades do poder,da regulao e da economia. importante enfatizar, portanto, que asociedade civil nunca ser isenta de relaes e conflitos de poder, dedisputas por hegemonia e de representaes sociais e polticasdiversificadas e antagnicas. s vezes, tambm, a sociedade civil

    tratada como sinnimo de terceiro setor, mas isso no adequadoe comporta certa ambigidade. O termo terceiro setor tem sidoempregado tambm para denominar as organizaes formais semfins lucrativos e no-governamentais, com interesse pblico. Asociedade civil inclui esse setor, mas tambm se refere participaocidad num sentido mais amplo. Pode-se, portanto, concluir que asociedade civil a representao de vrios nveis de como os interessese os valores da cidadania se organizam em cada sociedade para

    encaminhamento de suas aes em prol de polticas sociais e pblicas,protestos sociais, manifestaes simblicas e presses polticas. Essesnveis, presentes na sociedade brasileira, na atualidade, podem sergenericamente tipificados da seguinte maneira:

    Num primeiro nvel, encontramos o associativismo local, comoas associaes civis, os movimentos comunitrios e sujeitos sociaisenvolvidos com causas sociais ou culturais do cotidiano, ou voltados

    a essas bases, como so algumas Organizaes No-Governamentais(ONGs), o terceiro setor.3 Essas foras associativistas so expresseslocais e/ou comunitrias da sociedade civil organizada. Para citar

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    apenas alguns exemplos dessas organizaes localizadas: ncleosdos movimentos de sem-terra, sem-teto, piqueteiros, empreendimentossolidrios, associaes de bairro, etc. As organizaes locais tambm

    vm buscando se organizar nacionalmente e, na medida do possvel,participar de redes transnacionais de movimentos (Movimento dosTrabalhadores Rurais Sem Terra, Movimento dos Catadores de Lixo,Movimento Indgena, Movimento Negro, etc.), ou atravs dearticulaes inter-organizacionais, caracterstica central de outro nvela ser mencionado a seguir. Entretanto, no nvel local existem tambmcoletivos informais, sem nenhuma ou pouca institucionalidade, que

    lutam por modos de vida alternativos, por reconhecimento ou soprodutores de novas formas de expresso simblicas, como gruposde neo-anarquistas e outras tribos urbanas.

    Num segundo nvel, encontram-se as formas de articulaointer-organizacionais, dentre as quais se destacam os fruns dasociedade civil, as associaes nacionais de ONGs e as redes deredes, que buscam se relacionar entre si para o empoderamento da

    sociedade civil, representando organizaes e movimentos doassociativismo local. atravs dessas formas de mediao que sed a interlocuo e as parcerias mais institucionalizadas entre asociedade civil e o Estado. Essas articulaes tambm se tornarampossveis porque h meios tcnicos que as viabilizam: a Internet e ose-mails so prticas cotidianas das redes do novo milnio. Osencontros presenciais podem ser mais circunstanciais e espaados,

    quando a comunicao cotidiana est garantida pelos meios virtuais.Conseqentemente, tem se observado um crescimento expressivode redes de ONGs e associaes, de fruns e de redes de redes,conforme constatado em nossa pesquisa.4

    Mas at agora destacamos formas organizacionais quepossuem certa institucionalidade: algumas com registros legais ecertificaes, outras apenas com normas ou procedimentos internos

    associao. Essas normas disciplinam o cotidiano de atuao doassociativismo civil. Todavia, h formas de protestos sociais de maiorabrangncia, por um lado, e mais conjunturais, por outro, compondo

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    o terceiro nvel organizacional: so o que chamo de mobilizao naesfera pblica.

    Nesse terceiro nvel, observa-se que as mobilizaes naesfera pblica so fruto da articulao de atores dos movimentossociais localizados, das ONGs, dos fruns e redes de redes, masbuscam transcend-los por meio de grandes manifestaes na praapblica, incluindo a participao de simpatizantes, com a finalidadede produzir visibilidade atravs da mdia e efeitos simblicos para osprprios manifestantes (no sentido poltico-pedaggico) e para asociedade em geral, como uma forma de presso poltica das maisexpressivas no espao pblico contemporneo. Alguns exemplosilustram essa forma de organizao, incluindo vrios setores departicipantes: a Marcha Nacional pela Reforma Agrria, de Goiniaa Braslia (maio de 2005), foi organizada por articulaes de basecomo a Comisso Pastoral da Terra (CPT), o Grito dos Excludos eo prprio MST e por outras, transnacionais, como a Via Campesina.Tambm se realizaram articulaes com universidades, comunidades,

    igrejas, atravs do encaminhamento de debates prvios marcha. AParada do Orgulho Gay tem aumentado expressivamente a cadaano, desde seu incio em 1995 no Rio de Janeiro, fortalecendo-seatravs de redes nacionais, como a ABGLT, de grupos locais esimpatizantes.5 A Marcha da Reforma Urbana, em Braslia (outubrode 2005), resultou no s da articulao de organizaes de baseurbana (Sem Teto e outras), mas tambm de uma integrao mais

    ampla com a Plataforma Brasileira de Ao Global contra a Pobreza.A Marcha Mundial das Mulheres tem sido integrada por organizaescivis de todos os continentes. A Marcha vinculada III Cpula dosPovos, em Mar Del Plata (novembro de 2005), foi convocada pelaAliana Social Continental, por estudantes, trabalhadores, artistas,lderes religiosos, representantes das populaes indgenas e dasmulheres, juristas, defensores dos direitos humanos, parte dessemovimento plural, que, pela terceira vez, celebra o encontro, aps os

    realizados em Santiago do Chile (1998) e Qubec (2001) (cf. Adital,4 nov. 2005). A Marcha Zumbi + 10 desmembrou-se em duasmanifestaes em Braslia (uma em 16 e outra em 22 de novembro

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    de 2005), expressando a diversidade de posturas quanto autonomiaem relao ao Estado. Portanto, vale destacar, que essas organizaesem rede abrem-se para a articulao da diversidade, mas com limites

    quanto capacidade de absoro de posturas ideolgicas ou polticasconflitivas, vindo a se cindir quando os conflitos se tornam nonegociveis, como no caso acima.

    No nvel da captao de recursos materiais de sustentaoorganizacional, registram-se os apoios financeiros, especialmenteos das agncias no-governamentais nacionais e internacionais e,freqentemente, governamentais. Mas, h tambm contribuiesindividuais advindas do campo da solidariedade cidad.

    Finalmente, como resultado de todo esse processo articulatriovai se constituindo o que denominamos, enquanto conceito terico,de rede de movimento social. Esta pressupe a identificao desujeitos coletivos em torno de valores, objetivos ou projetos em comum,os quais definem os atores ou situaes sistmicas antagnicas quedevem ser combatidas e transformadas.6 Em outras palavras, oMovimento Social, em sentido mais amplo, se constitui em torno deuma identidade ou identificao, da definio de adversrios ouopositores e de um projeto ou utopia,7 num contnuo processo emconstruo e resulta das mltiplas articulaes acima mencionadas.A idia de rede de movimento social , portanto, um conceito dereferncia que busca apreender o porvir ou o rumo das aes demovimento, transcendendo as experincias empricas, concretas,

    datadas, localizadas dos sujeitos/atores coletivos.

    Na sociedade das redes (para usar uma terminologia de ManuelCastells), o associativismo localizado (ONGs comunitrias eassociaes locais) ou setorizado (ONGs feministas, ecologistas,tnicas, e outras) ou, ainda, os movimentos sociais de base locais (demoradores, sem teto, sem terra, etc.) percebem cada vez mais anecessidade de se articularem com outros grupos com a mesma

    identidade social ou poltica, a fim de ganhar visibilidade, produzirimpacto na esfera pblica e obter conquistas para a cidadania. Nesseprocesso articulatrio, atribuem, portanto, legitimidade s esferas de

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    mediao (fruns e redes) entre os movimentos localizados e o Estado,por um lado, e buscam construir redes de movimento com relativaautonomia, por outro. Origina-se, a partir desse fato, uma tenso

    permanente no seio do movimento social entre participar com e atravsdo Estado para a formulao e a implementao de polticas pblicasou em ser um agente de presso autnoma da sociedade civil.

    A Figura 1 ilustra o atual cenrio da organizao da sociedadecivil, contemplando os nveis descritos.

    Figura 1 Cenrio atual da organizao da sociedade civil

    Fonte: Ilse Scherer-Warren, 2005.

    Pode-se ilustrar uma rede de movimentos sociais atravs do

    Movimento Nacional Quilombola, ainda que se trate de um movimentoemergente, na medida em que esse vem se constituindo numaexpresso ativa do movimento negro brasileiro e pode ser considerado

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    como uma rede, tendo em vista seus aspectos organizacionais e deao movimentalista.8 Do ponto de vista organizacional, inclui vriasredes de redes, desde a Coordenao Nacional de Articulao das

    Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), criada em 1996,at as organizaes das comunidades locais de mocambos,quilombos, comunidades negras rurais e terras de preto, queso vrias expresses de uma mesma herana cultural e social, eONGs e associaes que se identificam com a causa.9 Do ponto devista da ao movimentalista, apresenta as vrias dimensesdefinidoras de um movimento social (identidade, adversrio e

    projeto):

    unem-se pela fora de uma identidade tnica (negra) e declasse (camponeses pobres) a identidade; para combater o legadocolonialista, o racismo e a expropriao o adversrio; na luta pelamanuteno de um territrio que vive sob constante ameaa deinvaso, ou seja, pelo direito terra comunitria herdada oprojeto.Nesse momento, unem-se tambm ao Movimento Nacional pelaReforma Agrria na luta pela terra, mas mantendo sua especificidade,isto , pela legalizao da posse das terras coletivas.

    A articulao em torno de novas identidades polticas e de

    valores

    Nas sociedades globalizadas, multiculturais e complexas, asidentidades tendem a ser cada vez mais plurais e as lutas pela cidadaniaincluem, freqentemente, mltiplas dimenses do self: de gnero,

    tnica, de classe, regional, mas tambm dimenses de afinidades oude opes polticas e de valores: pela igualdade, pela liberdade, pelapaz, pelo ecologicamente correto, pela sustentabilidade social eambiental, pelo respeito diversidade e s diferenas culturais, etc.

    As redes, por serem multiformes, aproximam atores sociaisdiversificados dos nveis locais aos mais globais, de diferentes tiposde organizaes , e possibilitam o dilogo da diversidade de interesses

    e valores. Ainda que esse dilogo no seja isento de conflitos, oencontro e o confronto das reivindicaes e lutas referentes a diversosaspectos da cidadania vm permitindo aos movimentos sociais

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    passarem da defesa de um sujeito identitrio nico defesa de umsujeito plural. Por exemplo, a Articulao das Mulheres Brasileiras(AMB), rede tradicionalmente feminista, hoje

    carrega um sub-ttulo que diz Articulao de Mulheres Brasileiras uma articulao feminista e anti-racista. Isso se definiu afirmando ofeminino e tambm afirmando o anti-racismo como uma questocentral. Isso tudo fruto das mulheres negras dentro da AMB...(Entrevista com Guacira, ex-coordenadora da AMB, 2005).10

    A Marcha Mundial das Mulheres (MMM) um casoemblemtico de luta transversal de direitos para a Amrica Latina e

    para a sociedade global.A MMM teve sua origem no movimento demulheres e caracteriza-se por ser um projeto de mobilizao socialno qual participam ONGs feministas, mas tambm comits eorganismos mistos de mulheres e homens que se identificam com acausa do projeto. Essa causa parte do princpio da existncia de umadiscriminao de gnero, mas se associa luta contra discriminaese excluses sociais em outras dimenses, especialmente em relao

    igualdade, solidariedade, liberdade, justia e paz. Dessa forma, central em sua plataforma poltica:

    o combate pobreza (demanda por terra, trabalho, direitossociais);

    o combate injustia (contra a violncia em todas as esferasda vida social, que vai do trfico de mulheres ao trabalhoescravo at o cancelamento da dvida externa, como forma

    de explorao injusta).

    Portanto, a MMM, como muitos movimentos sociais que seconstituram luz dos movimentos alterglobalizao, uma rede inter-organizacional, mas, no momento de suas mobilizaes na praapblica se amplia consideravelmente com a presena de muitos(as)cidados(s) participantes, como ocorreu no lanamento da CartaMundial das Mulheres para a Humanidade, em 8 de maro de 2005,

    em So Paulo, onde foi estimada a presena de 30 mil mulheres de16 Estados brasileiros e representantes de outros pases (Mujeres delas Amricas, 2005). A viagem da Carta pelas Amricas permite no

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    s uma ao integrada do movimento feminista latino-americano, mastambm alianas com o conjunto dos movimentos sociais, em tornode uma pauta multidimensional que foi se construindo medida que

    passava pelos vrios pases: por moradia, pela reforma agrria, porsalrio justo, sade, direito ao aborto, pela paz, contra a violncia, oracismo, a guerra, etc. agenda essa que vai caracterizando umaface multi-identitria de um feminismo em movimento, latino-americano e mundial. A Carta chegou a Burkina Faso, na frica, nodia 17 de outubro de 2005, ltimo porto dessa ampla rede mundial desolidariedade e de luta simblica por um outro mundo possvel,

    lema do Frum Social Mundial (FSM).11

    Outras oportunidades polticas e reflexivas para as articulaesem rede se encontram em fruns transnacionais como o FSM e aCpula dos Povos da Amrica. De fato, o FSM, ocorrido por quatrovezes em Porto Alegre, tem se constitudo em um momento centralde mobilizao para as redes de movimentos na Amrica Latina. OFSM, enquanto espao de articulao da sociedade civil, tem servido

    de inspirao criao de vrios outros fruns (por exemplo, o FrumBrasileiro de Economia Solidria surgiu a partir do III FSM e o IFrum Mundial da Sade, ocorreu imediatamente antes do V FSM,realizado em Porto Alegre, em 2005); alm de estimular o crescimentoe o fortalecimento de outras redes, tais como a Via Campesina e aMarcha Mundial das Mulheres, j mencionadas.

    A transversalidade de direitos na luta pela cidadania

    O Frum Social Mundial (FSM) bem como outros fruns eredes transnacionais de organizaes tm sido espaos privilegiadospara a articulao das lutas por direitos humanos em suas vriasdimenses sociais. Assim, atravs dessas articulaes em rede demovimento observa-se o debate de temas transversais, relacionadosa vrias faces da excluso social, e a demanda de novos direitos.

    A transversalidade dos direitos tem uma referncia organizadana Plataforma DhESCA (direitos humanos econmicos, sociais,

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    culturais e ambientais), a qual defende a indivisibilidade dos direitos.Essa referncia reflete o crescimento da presena de sujeitos e redesdiversas no interior do Movimento Nacional de Direitos Humanos e

    no Frum de Entidades Nacionais de Direitos Humanos (FENDH),no Brasil, onde se associaram s Comisses de Direitos Humanos,fundadoras do movimento, as pastorais sociais, ONGs, entidadesindgenas, de negro(as), de mulheres, ambientalistas e outras, trazendopara o Movimento a necessidade da idia de indivisibilidade dos direitoshumanos.

    O diagrama mostrado na Figura 2 representa a transversalidade

    das lutas sociais por direitos, atravs da atuao em redes.

    Figura 2 Transversalidade das lutas sociais por direitos

    Fonte: Ilse Scherer-Warren, 2005.

    Essa transversalidade na demanda por direitos implica o

    alargamento da concepo de direitos humanos e a ampliao dabase das mobilizaes. Por exemplo, a Marcha Mundial das Mulheres(MMM) teve incio numa manifestao pblica feminista no Canad,

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    em 1999, cujo lema, inspirado em uma simbologia feminina po erosas expressava j a resistncia contra a pobreza e a violncia.Mantm at hoje esse primeiro mote, mas vem ampliando suaconotao, convocando o conjunto dos movimentos sociais para aluta por um outro mundo, e por novos direitos humanos, onde sejamsuperados vrios legados histricos do patriarcalismo e do capitalismo,conforme foi registrado na Carta Mundial das Mulheres para aHumanidade (2005, n. 6):

    Esses sistemas se reforam mutuamente. Eles se enrazam e seconjugam com o racismo, o sexismo, a misoginia, a xenofobia, ahomofobia, o colonialismo, o imperialismo, o escravismo e o trabalhoforado. Constituem a base dos fundamentalismos e integrismosque impedem s mulheres e aos homens serem livres. Geram pobreza,excluso, violam os direitos dos seres humanos, particularmente osdas mulheres, e pem a humanidade e o planeta em perigo.

    Essa luta pela transversalidade dos direitos humanos expressana Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade, possui cinco

    valores de referncia: igualdade, liberdade, solidariedade, justia epaz. Esses valores transformam-se em reivindicaes coletivas daMarcha, das quais destacamos a sntese mostrada na Figura 3. Podemser observados a os direitos humanos clssicos e os direitos humanosde uma nova gerao (das minorias e ambientais). Vale ressaltar quecada um desses direitos perpassado pela conotao de uma lutacontra a excluso e a violncia que contemple as dimenses de gnero,

    tnica, etria, regional, de eqidade e de qualidade de vida. Portanto, em torno dessa plataforma ampla que a MMM no s consegue secomunicar com o conjunto das tendncias do feminismo, dosmovimentos de mulheres de base local, mas tambm com os maisglobais, com movimentos sociais de outras especificidades, comsimpatizantes de suas causas, formando redes de redes de movimentos,identidades plurais, radicalizando a democracia a partir dos nveis

    locais, regionais, nacionais at os transnacionais na direo de umacidadania planetria.

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    Figura 3 Sntese das reivindicaes contidas na Carta

    Mundial das Mulheres para a Humanidade

    Compilao: Ilse Scherer-Warren, 2005.

    O ativismo nas redes de movimento

    Muitos tm afirmado que o ativismo e a militncia vm perdendoflego nas ltimas dcadas. A militncia que se autodefinia comorevolucionria, certamente sim. Mas h um outro tipo de ativismo,

    que se alicera nos valores da democracia, da solidariedade e dacooperao e que vem crescendo significativamente nos ltimos anos.Por exemplo, o Movimento de Economia Solidria, que tem suasexpresses empricas nos empreendimentos populares solidrios, noFrum Brasileiro de Economia Solidria (FBES) e na Rede deEntidades Brasileiras de Economia Solidria (REBES), mostrou suafora organizativa no Frum Social Mundial de 2005, pelo nmero deoficinas, experimentos e tendas organizados.

    O ativismo de hoje tende a protagonizar um conjunto de aesorientadas aos mais excludos, mais discriminados, mais carentes e

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    mais dominados. A nova militncia passa por essa nova forma de sersujeito/ator. Portanto, a diviso clssica de ONGs think tanks (ouprodutoras de conhecimento), ativistas (ou cidads) e prestadoras de

    servio (ou de caridade) tende a dar lugar a organizaes quemesclam, cada vez mais, essas trs formas de atuao,12 tendo emvista seus compromissos com o pr-ativismo no campo dademocracia.

    Um exemplo emblemtico do encontro do ativismo com umprotagonismo mais pragmtico pode ser encontrado nas aes doFrum Brasil do Oramento (FBO), especialmente em sua atuao

    pela construo democrtica de uma Lei de Responsabilidade Social,orientada a partir dos seguintes princpios:

    Pagamento da dvida social brasileira;

    Publicizao do Estado e monitoramento das polticassociais;

    Empoderamento social e mudanas na gesto pblica;

    Construo de um sistema de governana social.

    Portanto, a se conjugam reivindicaes para a superao daexcluso social, para a transparncia do poder pblico e para aparticipao ativa da sociedade civil organizada.

    O empoderamento nos movimentos sociais em rede

    Pode-se, enfim, indagar: Nos movimentos sob a forma de redes,asestruturas de poderse dissolvem? Pressupe-se, freqentemente,que, numa organizao em rede h uma distribuio do poder, oscentros de poder se democratizam, ou, como h muitos centros (ns/elos), o poder se redistribui. Isso parcialmente verdadeiro, porm,mesmo em uma rede h elos mais fortes (lideranas, mediadores,

    agentes estratgicos, organizaes de referncia, etc.),13 que detmmaior poder de influncia, de direcionamento nas aes, do que outroselos de conexo da rede. Tais elos so, pois, circuitos relevantes

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    para o empoderamento das redes de movimento. As redes, assimcomo qualquer relao social, esto sempre impregnadas pelo poder,pelo conflito, bem como pelas possibilidades de solidariedade, de

    reciprocidade e de compartilhamento. Portanto, o que interessa saber como se d o equilbrio entre essas tendncias antagnicas dosocial e como possibilitam ou no a autonomia dos sujeitos sociais,especialmente os mais excludos e que, freqentemente, so asdenominadas populaes-alvo desses mediadores.

    Pergunta-se ento: Como o trabalho de mediao das ONGs junto aos movimentos de base local pode ser direcionado ao

    empoderamento dos sujeitos sociais socialmente mais excludos,no sentido de no estimular as hierarquias de poder? Dentre outras,trs orientaes poltico-pedaggicas podem ser citadas comorelevantes no trabalho de mediao social:

    1) Atuar no sentido de resgatar a dignidade dos sujeitossocialmente excludos, porque sem a desconstruo dasdiscriminaes introjetadas pelos dominados socialmente no

    h luta por direitos; atuar no sentido de resgatarpositivamente suas razes (culturais, simblicas, estticas),sem abrir mo de avaliaes auto-crticas transformadoras,potencializando as iniciativas da base para enfrentar eresolver os problemas sociais (por exemplo, redes de artee cidadania, desenvolvidas atravs de vrios projetossociais);

    2) Promover novas formas de ao coletiva junto s populaesexcludas (por exemplo, atravs de trocas solidrias, detrabalho cooperativo, de iniciativas artsticas e da mstica),potencializando os mecanismos de reconhecimento social,de solidariedade, de cooperao, de confiana, dereciprocidade, enfim, construindo uma nova tica para osocial.

    3) Associar-se a outras experincias (articulao e trocas deexperincias de vrios coletivos em redes, formando redesde redes, e participando de mobilizaes de base),14

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    empoderando-se, assim, na direo de uma rede demovimento social.

    Enfim, as seguintes dimenses sociais merecem estarcontempladas para um trabalho de empoderamento democrtico ede incluso social das bases: o combate excluso em suas mltiplasfaces e a respectiva luta por direitos (civis, polticos, socioeconmicos,culturais e ambientais); o reconhecimento da diversidade dos sujeitossociais e do respectivo pluralismo das idias; a promoo dademocracia nos mecanismos de participao no interior das

    organizaes e nos comits da esfera pblica, criando novas formasde governana.

    Novas formas de governana na organizao em rede

    Preparar os sujeitos para se tornarem atores de novas formasde governana requer a participao em diversos espaos:

    mobilizaes de base local na esfera pblica; empoderamento atravsdos fruns e redes da sociedade civil; participao nos conselhossetoriais de parceria entre sociedade civil e Estado; e, nos ltimosanos, a busca de uma representao ativa nas conferncias nacionaise globais de iniciativa governamental em parcerias com a sociedadecivil organizada.

    No espao das mobilizaes de base local onde se re-

    afirmam e se consolidam:

    as identidades coletivas, reforando o sentimento depertencimento (o que ser, se sentir e atuar como um sem-terra, um quilombola, um afro-brasileiro, um neo-zapatista,uma feminista, etc.);

    os simbolismos/msticas das lutas, criando-se a idia de

    unidade na diversidade e fora interior para prosseguir(atravs do culto a bandeiras dos movimentos, msicas,objetos culturais, ritos, etc.);

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    os projetos/utopias, que do longevidade e significao aomovimento(projetos da reforma agrria, territrio comunal,aes afirmativas e igualitarismo e reconhecimento das

    diferenas de gnero, tnicas, etc.).

    Portanto, nesse espao que o empoderamento poltico esimblico das organizaes de base local se constri e se reconstride forma mais efetiva.

    No espao dos fruns da sociedade civil onde se voconstruindo de forma mais sistemtica, as propostas para a

    transformao social e formas de negociao com o Estado e omercado. Para citar elementos das plataformas de alguns fruns,que visam uma poltica de negociao com o Estado:

    Frum em Defesa dos Direitos Indgenas (FDDI) garantirdireitos originrios dos povos indgenas (especialmente aterra), conforme previsto na Constituio de 1988;

    Frum de Entidades Nacionais de Direitos Humanos(FENDH) participao no Plano Nacional de DireitosHumanos, com incluso da Plataforma DhESCA;

    Frum Brasil do Oramento (FBO) Campanha sobreSupervit Primrio e pela Democratizao da Lei deResponsabilidade Social;

    Frum Nacional de Reforma Agrria (FNRA) limite da

    propriedade da Terra (Carta da Terra, que contemplatambm um modelo de sociedade);

    Frum do Lixo e Cidadania (FLC) erradicar lixes, retirarcrianas do lixo; criar coletas seletivas e gerao de rendapara os catadores.

    Articulao das Mulheres Brasileiras (AMB)

    integralidade e universalidade das polticas pblicas deatendimento mulher, contra a violncia, contra o sexismo,contra o racismo, etc.

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    Nesse espao as organizaes de base encontram um canalde representao (ainda que bastante informal) e de mediao polticapara as negociaes com o Estado e o mercado.

    Nas parcerias entre sociedade civil, Estado e mercadohmltiplas formas de atuao, mas em termos de participao para aelaborao de polticas pblicas, merecem destaque os conselhos econferncias. Nos conselhos setoriais (popular e/ou paritrio) ondeh, pelo menos teoricamente, um espao institucional para oencaminhamento de propostas da sociedade civil para uma novagovernana junto esfera estatal. Alguns exemplos dessas parceriaspodem ser citados:

    A Secretaria Especial de Polticas de Promoo daIgualdade Racial (SEPPIR) criou, em 2003, o CNPIR(Conselho Nacional de Promoo da Igualdade Racial), com20 representantes da sociedade civil e 20 do governo, tendocarter consultivo, para a interlocuo entre sociedade civil

    e governo; Por ocasio da Mobilizao Nacional Terra Livre, realizada

    pelo Movimento Indgena, na Esplanada dos Ministrios,em abril de 2005, durante a audincia com 30 lideranasindgenas, o ministro da Justia, Marcio Thomaz Bastos,comprometeu-se com a criao de um Conselho Nacionalde Poltica Indigenista ser um conselho para formulao

    de diretrizes da poltica para os povos indgenas, do qualparticiparo representantes dos ndios, das entidadesindigenistas e do governo;

    Os conselhos setoriais possibilitam tambm umaparticipao sistemtica e institucional da sociedade civilorganizada nas conferncias nacionais e globais, como nasvrias cpulas e/ou conferncias mundiais organizadas pela

    ONU e, no Brasil, nas Conferncias Nacionais dos DireitosHumanos, das Mulheres, da Promoo da Igualdade Racial,dentre outras j realizadas, ou que esto sendo programadas,

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    como as da Economia Solidria e da Juventude, organizadasa partir das Secretarias Especiais do Governo Federal;

    Resta lembrar os conselhos setoriais estaduais e municipais(crianas e adolescentes, sade, segurana alimentar,educao, assistncia social e outros), alguns comparticipao ativa das organizaes da sociedade civil, outrosainda muito controlados pelo poder pblico. Frente a estedesafio, Raichelis (2005), acrescenta que:

    Estudos e pesquisas tm destacado a importncia dos fruns,

    plenrias, audincias pblicas, mesas de concertao, redes e outrasformas de articulao enquanto espaos polticos estratgicos paraa ampliao da participao e democratizao da informao, bemcomo mecanismos de ativao e dinamizao dos prprios conselhos.No entanto, a dinmica de funcionamento e o desenho organizacionaldesses novos espaos pblicos precisam ser cuidadosamentepensados, pois condiciona, em larga medida, a capacidade deincluso de novos atores coletivos, especialmente aqueles excludosde outras arenas decisrias.

    Enfim, a gesto das polticas pblicas poder ser mais ou menoscidad, ou seja, influenciada pela sociedade civil. Isto depender dasrelaes de fora ou das possibilidades de convergncia entrerepresentantes das redes de movimentos, da esfera estatal e domercado nos conselhos setoriais e nas conferncias de promoo dedireitos da cidadania; bem como das possibilidades e efetivoempoderamento e democratizao no interior das prprias redes de

    movimento, na direo do desenvolvimento de sujeitos com relativaautonomia na construo de seus destinos pessoais e coletivos.

    Concluindo

    A sociedade civil organizada do novo milnio tende a ser umasociedade de redes organizacionais, de redes inter-organizacionais e

    de redes de movimentos e de formao de parcerias entre as esferaspblicas privadas e estatais, criando novos espaos de governanacom o crescimento da participao cidad. As redes de movimentos

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    sociais possibilitam, nesse contexto, a transposio de fronteirasterritoriais, articulando as aes locais s regionais, nacionais etransnacionais; temporais, lutando pela indivisibilidade de direitos

    humanos de diversas geraes histricas de suas respectivasplataformas; sociais em seu sentido amplo, compreendendo opluralismo de concepes de mundo dentro de determinados limitesticos, o respeito s diferenas e a radicalizao da democraciaatravs do aprofundamento da autonomia relativa da sociedade civilorganizada.15 Essa a nova utopia do ativismo: mudanas comengajamento com as causas sociais dos excludos e discriminados e

    com defesa da democracia na diversidade.

    Notas

    1 O trabalho tem por base alguns resultados de uma pesquisa em andamentosobre fruns e redes nacionais de organizaes da sociedade civil doProjeto As mltiplas faces da excluso social (Projeto AMFES), doNcleo de Pesquisa em Movimentos Sociais da UFSC, cuja pesquisa

    emprica foi realizada durante estgio enquanto pesquisadora visitantedo CNPq, junto Universidade de Braslia (UNB), no perodo de setembrode 2004 a agosto de 2005.

    2 A sociologia contempornea tem privilegiado essa perspectiva analtica,vide, dentre outros, o estudo j clssico de Cohen & Arato, 1992.

    3 H distines histricas sobre a origem dos dois termos e seu uso,nesse sentido vide a obra coletiva organizada por Haddad (2002).

    4 Cf. o projeto As mltiplas faces da excluso social (ver nota 1); destaca-se a multiplicidade de campos de atuao e de formas de articulao, noBrasil, e apenas para citar alguns exemplos:

    Associaes de ONGs

    Associao Brasileira de ONGs (ABONG),Associao Brasileira de Gays, Lsbicas e Transgnero (ABGLT), etc.

    Fruns de entidades da sociedade civil

    Articulao das Mulheres Brasileiras (AMB),Frum de Entidades Nacionais de Direitos Humanos (FENDH),Frum em Defesa dos Direitos Indgenas (FDDI),Frum do Lixo e Cidadania (FLC),Frum Brasileiro de Economia Solidria (FBES),

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    Frum Nacional de Mulheres Negras (FNMN),Frum Nacional de Preveno e Erradicao do Trabalho Infantil(Frum Peti),

    Frum Brasil do Oramento (FBO),Frum Nacional de Reforma Agrria (FNRA).

    Redes de redes

    Inter-redes Direitos e Poltica (Inter-redes),Rede Cerrado,Rede Brasileira de Scioeconomia Solidria (RBSES),Rede Mata Atlntica (RMA),Rede de Informao do Terceiro Setor (RITS).

    Na Amrica Latina, para alguns exemplos

    Consejo de Educacin de Adultos de Amrica Latina (CEAAL),Coalizo Rios Vivos, Via Campesina.

    5 Em So Paulo, a primeira ParadaGay, em 1997, teve cerca de 2 mil pessoase a nona, em 2005, cerca de 2,5 milhes. Cf. .

    6 Vide outros desdobramentos sobre a noo de redes de movimentossociais em Scherer-Warren (1999, 2000, 2002 e 2005).

    7 Cf. Touraine (1997), Melucci (1996), Castells (1996), entre outros.

    8 No sentido atribudo por Doimo (1995).

    9 Levantamento realizado sob a coordenao de Anjos (2005) mapeou aexistncia de 2.228 territrios quilombolas no Brasil.

    10 Dados do Projeto AMFES (vide nota 1).

    11 Neste dia chegou em Ouagadogou, Burkina Faso, a Carta Mundial das

    Mulheres para a Humanidade e a Colcha, que foi sendo costurada comos retalhos que expressam o mundo que querem as mulheres dos 53pases por onde a Carta passou.Cf. .

    12 Vide a esse respeito, sobre as ONGs ambientalistas, a tese de FlviaBarros (2005).

    13 O que ficou evidenciado em nosso trabalho de campo com organizaesda sociedade civil (ver nota 1).

    14 Sobre o assunto vide tambm Scherer-Warren (2002).

    15 Sobre essas categorizaes, vide Scherer-Warren (2005a).

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    From social movements to the political participation of network

    organizations

    Abstract: The reality of social movement is quite dynamic, andtheorizations do not always follow this dynamism. With globalizationand the information age, the social movements in several countries,including Brazil and Latin America, are more diversified and complex.Therefore, many paradigmatic or hegemonic explanations from thelast century are in need of revision or updating vis--vis theemergence of new social subjects or political scenarios. This studybegins by elucidating organized civil societys new forms, aiming toregister the multiple types of collective action in the new millennium.

    From this comprehension the study seeks to explore the diversity ofidentity of the social subjects, the transverse nature of demands forcitizens rights, the forms of activism and the empowerment throughnetworking and, finally, the political participation of networkorganizations.

    Key-words: social movements, civil society, network, citizenship,empowerment.

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