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REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E CRISE ESTRUTURAL DO CAPITAL 1 Pedro Saulo Nascimento Mascarenhas 2 [email protected] Dayse Maria Souza 3 [email protected] GT 7: TRABALHO, FLEXIBILIZAÇÃO E TERCEIRIZAÇÃO RESUMO O presente artigo faz parte da pesquisa de conclusão de curso que teve como objetivo, analisar a precarização do trabalho na indústria calçadista em Vitória da Conquista Ba. A fim de compreender o processo de precarização, será abordado ao longo das reflexões, como se estabelece o modo de funcionamento do capital em plena crise estrutural. Em um primeiro momento, buscou-se compreender como se configura o sistema de produção fordista/taylorista e como se dá as relações de trabalho neste modelo de produção. E, posteriormente, refletir como o processo de transição entre o sistema fordista e a acumulação flexível, põe os processos de produção e de trabalho com um novo formato, caracterizando uma força de trabalho cada vez mais precarizada, elevando assim os níveis de exploração. PALAVRAS-CHAVE: reestruturação produtiva, trabalho, precarização. 1. INTRODUÇÃO O presente artigo tem como objetivo de analisar como se estabelece o modo de funcionamento do capital em plena crise estrutural tendo em vista sua reprodução 1 O presente artigo faz parte das discussões apresentadas no trabalho de monografia defendido no ano de 2015 do curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, sob orientação da Profª. Dr.ª. Dayse Maria Souza. 2 Graduado em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) Bolsista da Iniciação Científica UESB/ Voluntário, vinculado à pesquisa “Luta pelo trabalho na periferia urbana de Vitória da Conquista: mobilidade, permanência camponesa e reprodução da vida nas contradições do urbano”. 3 Professora Doutora do Departamento de Geografia - UESB/Campus de Vitória da Conquista. Membra do Grupo de Pesquisa, Estado, Capital, Trabalho e as Políticas de Reordenamentos Territoriais http://estadocapitaltrabalho.wordpress.com/ e do Grupo de Pesquisa Trabalho, Mobilidade do Trabalho e Relação Campo- Cidade.

dayse mra@hotmail - engpect.files.wordpress.com · massa organizada e concentrada de capital-dinheiro que, ao contrário da produção real, esta colocada sob controle dos banqueiros”

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REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E CRISE ESTRUTURAL DO CAPITAL1

Pedro Saulo Nascimento Mascarenhas2

[email protected]

Dayse Maria Souza3

[email protected]

GT 7: TRABALHO, FLEXIBILIZAÇÃO E TERCEIRIZAÇÃO

RESUMO

O presente artigo faz parte da pesquisa de conclusão de curso que teve como objetivo, analisar a

precarização do trabalho na indústria calçadista em Vitória da Conquista –Ba. A fim de compreender o

processo de precarização, será abordado ao longo das reflexões, como se estabelece o modo de

funcionamento do capital em plena crise estrutural. Em um primeiro momento, buscou-se

compreender como se configura o sistema de produção fordista/taylorista e como se dá as relações de

trabalho neste modelo de produção. E, posteriormente, refletir como o processo de transição entre o

sistema fordista e a acumulação flexível, põe os processos de produção e de trabalho com um novo

formato, caracterizando uma força de trabalho cada vez mais precarizada, elevando assim os níveis de

exploração.

PALAVRAS-CHAVE: reestruturação produtiva, trabalho, precarização.

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objetivo de analisar como se estabelece o modo de

funcionamento do capital em plena crise estrutural tendo em vista sua reprodução

1 O presente artigo faz parte das discussões apresentadas no trabalho de monografia defendido no ano de 2015 do

curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, sob orientação da

Profª. Dr.ª. Dayse Maria Souza. 2 Graduado em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)

Bolsista da Iniciação Científica UESB/ Voluntário, vinculado à pesquisa “Luta pelo trabalho na periferia urbana

de Vitória da Conquista: mobilidade, permanência camponesa e reprodução da vida nas contradições do urbano”. 3 Professora Doutora do Departamento de Geografia - UESB/Campus de Vitória da Conquista. Membra do

Grupo de Pesquisa, Estado, Capital, Trabalho e as Políticas de Reordenamentos

Territoriais http://estadocapitaltrabalho.wordpress.com/ e do Grupo de Pesquisa Trabalho, Mobilidade do

Trabalho e Relação Campo- Cidade.

contraditória, que gera constantes crises e todas elas impactando a classe trabalhadora.

Compreende-se que o capital se mundializa tentando se reproduzir superando suas

contradições internas via expansão de suas relações para outros espaços, ocorrendo assim

reestruturações necessárias ao seu funcionamento.

Porém, com o esgotamento do ajuste espacial, as contradições são deslocadas para o

tempo, e com isso ocorre a hipertrofia do sistema financeiro. Nesse sentido, após a crise de

1929, surge o fordismo/taylorismo junto com o Estado keynesiano para a saída dessa crise, e

então levar o capital ao seu período de maior crescimento, onde o seu operário-massa, mesmo

sendo apêndice da máquina, com uma função repetitiva, aceitava suas condições de via o

“contrato social” que lhe garantiam melhores condições de vida. Por outro lado, a segunda

geração desses trabalhadores já não aceitam essas condições mesmo com “contrato social” e

começam a gerar ofensivas a produção, esse fator, junto a crise de 1970, virá com a

necessidade de uma nova reestruturação produtiva. Assim se instaura o toyotismo, do Japão

para o mundo, trazendo seu receituário flexível, pois a rigidez fordista já não servia para

manter o capital em funcionamento. E, mais uma vez, a classe trabalhadora mundial sofre

ataques mais pesados.

2. A CRISE ESTRUTURAL E A MUNDIALIZAÇÃO DO CAPITAL

Segundo Mészáros (1995) apud Antunes (2009), o capital é incontrolável desde seu

microcosmo até uma escala mais totalizante. Essa essência expansionista do capital se

evidência, pois o capital surge no seio do feudalismo, e se totaliza, e predomina como modo

de produção dominante, o capitalista. Também em sociedades pós-capitalistas (URSS), o

capital se mostrou incontrolável, mantendo a hierarquia social do trabalho, e a hipertrofia do

Estado. É nesse sentido que Antunes alerta a necessidade de se romper o tripé capital, trabalho

e Estado, para que o trabalho se emancipe.

Quanto mais aumentam a competição e a concorrência intercapitais, mais

nefastas são suas consequências, das quais duas são particularmente graves:

a destruição e/ou precarização, sem paralelos em toda a era moderna, da

força humana que trabalha e a degradação crescente do meio ambiente, na

relação metabólica entre homem, tecnologia e natureza, conduzida pela

lógica societal subordinada aos parâmetros do capital e do sistema produtor

de mercadorias. (ANTUNES, 2009, p. 28)

Então o capital tem em sua essência a fome infinita de acumulação, essa prenhe de

contradições, devido aos problemas entre conciliar a produção e o consumo, como ocorreu no

fordismo/taylorismo, tende a superproduzir, sem levar em conta a absorção do mercado. O

valor de uso é cada vez mais subordinado ao valor de troca, mostrando o caráter irracional do

capital, que se preocupa apenas em manter sua acumulação, e não realizar as necessidades

básicas dos indivíduos que o produzem.

Segundo Harvey (2006), as crises podem de manifestar de diferentes formas,

dependendo das condições de circulação e produção do momento. Analisando melhor esse

processo, “Marx observa a produção, a distribuição, o consumo e o reinvestimento como fases

(ou momentos) separadas na totalidade do processo capitalista de produção.” (HARVEY,

2006, p.45)

Assim a produção e o consumo se integram no modo capitalista de produção, de

maneira dialética, e contraditória. E as crises que assolam o capitalismo pode acontecer tanto

na esfera do consumo, como na esfera da produção, ou da circulação, tendo um equilíbrio

muito tênue, para a realização do lucro, e a produção e reprodução do capital.

Nesse sentido Harvey (2006) incita uma reflexão de como surgiria uma crise citando

Marx, “tendência a produzir sem levar em consideração os limites do mercado” (p.45). Ainda

a partir de Marx, Harvey (2006) demonstra um tipo de realização de crise, quando capitalistas

tendem a expandir suas mercadorias no mercado, sem um aumento no salário, restringindo

assim o poder aquisitivo das massas. Consolidando assim, uma superprodução relativa, um

volume de mercadorias no mercado, sem compradores a vista.

Chega um ponto então que esse capital encontra sinais de limite de sua expansão.

Desde a crise de 1929, que foi os “anos dourados” do pós-guerra, como aprontado por Harvey

(2006), todo período após uma crise abre lastro para uma nova fase longa de crescimento para

a acumulação capitalista. Só que o capitalismo entra, a partir da década de 1970, em uma crise

estrutural, onde esse sistema não consegue mais crescer muito e por muito tempo, mas se

arrasta. Essa crise se da dentro do regime de acumulação fordista e keynesiano, apresentando

alguns sinais, como mostra Antunes (2009):

1) Queda da taxa de lucro, causada entre outros fatores pelo aumento do preço da

força de trabalho;

2) O esgotamento do padrão de acumulação taylorista/fordista de produção, dado a

incapacidade de responder à retração do consumo;

3) Hipertrofia do capital financeiro, que ganhava relativa autonomia em relação ao

capital produtivo;

4) A maior concentração de capitais graças às fusões entre as empresas monopolistas

e oligopolistas;

5) A crise do Welfare State ou “Estado de bem-estar social”, necessidade de retração

dos gastos públicos e transferência para o capital privado;

6) Aumento das privatizações, tendência generalizada às desregulamentações e à

flexibilização do processo produtivo, dos mercados e da força de trabalho;

Nesse processo, as indústrias fordistas/tayloristas não conseguem mais manter a

expansão desejada da esfera produtiva, devido ao crescente aumento da concorrência

internacional, Japão e Alemanha aumentaram significativamente seu domínio sob o mercado

internacional, o que gerou queda de lucro para os Estados Unidos e todos os outros países. A

queda da taxa de lucros gera uma reação em cadeia, como a diminuição da produtividade,

com isso a diminuição de salários e emprego, o que diminui a demanda. Devido a essa

incapacidade da esfera produtiva manter o consumo, surge a transferência de capitais para a

esfera do capital financeiro.

O capital produtivo se vê dependente do capital financeiro, ou parasitário, como já

observava Marx, nos anos de 1860-1870. Como expõe Marx apud Chesnais (1996) “uma

massa organizada e concentrada de capital-dinheiro que, ao contrário da produção real, esta

colocada sob controle dos banqueiros” ( livro II, capítulo XXV). Com isso o capital financeiro

partilha sempre de uma parte da mais-valia, que é o lucro, gerado pela reprodução ampliada

do capital. Como coloca Chesnais (1996), o nível da partilha da mais-valia vai depender do

grau de centralização e concentração atingido pelo capital financeiro. “A globalização

financeira elevou essa capacidade ao grau mais alto que já teve.” (CHESNAIS, 1996, p. 247)

Então o regime de acumulação fordista/taylorista não consegue mais crescer como

antes, frente a crise estrutural. Essa devido à tendência da taxa decrescente dos lucros,

impostas pela diminuição da produtividade, gerada por fatores a cima mencionados. Tal crise

gerou também a taxa decrescente do valor de uso, mecanismo da natureza incontrolável do

capital, na busca desesperada por manter o crescimento das taxas de lucro. Com o

aprofundamento da crise também entra em crise a regulação do trabalho, que se manteve

durante o período pós-segunda guerra.

Para solucionar os problemas da crise o capital começa a de reorganizar, a se

reestruturar, com o objetivo de retomar seu crescimento. Para isso é necessário mudar o

padrão de dominação ideológico e político, para isso surge o neoliberalismo, com ele o

desmonte do Welfare State, a desregulamentação do trabalho. Segue uma necessidade de

reestruturação do trabalho, e a necessidade de dominar esse, caracterizando a necessidade de

uma nova ofensiva pelo capital.

Além disso, soma-se a novas técnicas de gerenciar o trabalho, com a expansão dos

mercados, e o domínio tecno-científico, que centralizou a acumulação em países centrais. São

eles: Estados Unidos, Japão e Alemanha. Já os países periféricos, não conseguem acompanhar

o ritmo de produção tão corrido, se tornando subordinados aos países centrais.

E quanto mais se avança na competição intercapitalista, quanto mais se

desenvolve a tecnologia concorrencial em uma dada região ou conjunto de

países, quanto mais se expandem os capitais financeiros do países

imperialistas, maior é a desmontagem e desestruturação daqueles que estão

subordinados ou mesmo excluídos desse processo, ou ainda que não

conseguem acompanhar a intensidade do ritmo tecnológico hoje vivenciado,

que também é controlado pelos países da tríade. São crescentes os exemplos

de países excluídos desse movimento de reposição dos capitais produtivos e

financeiros e do padrão tecnológico necessário, o que acarreta repercussões

profundas no interior desses países, particularmente no que diz respeito ao

desemprego e à precarização da força humana de trabalho. (ANTUNES,

2009,P. 35)

A crise estrutural, iniciada a partir da década de 1970, gerou reestruturações no regime

de acumulação fordista, e no “Estado do bem estar social”. Gerou a corrida pela tecnologia,

essa concentrada em alguns países centrais, como vimos, deixando à margem todos os outros

países, principalmente os periféricos, que tem sofrido mais com a crise. A crise tem afetado

inclusive os países centrais, como mostra Antunes (2009), Inglaterra e Japão, apesar de

estarem na ponta do desenvolvimento tecnológico, e poderem diminuir a jornada de trabalho,

tem feito o inverso, aumentando a mais valia relativa e absoluta, na busca de sobreviverem na

concorrência. O capital na medida e que se desenvolve, tem desenvolvido também suas

contradições, com o aumento da precarização do trabalho, do desemprego, assim como a

destruição da natureza, ao seu processo destrutivo produtor de mercadorias cada vez mais

supérfluas.

3. O FORDISMO/TAYLORISMO MAIS UMA SOLUÇÃO TEMPORÁRIA

Com o objetivo de analisar a última grande crise do capital, considerada a estrutural,

essa que segundo Mészáros (1995) apud Antunes (2009) é a última grande crise, pois a partir

desta o capitalismo vai se arrastar, e não mais conseguir grandes crescimentos. Por foi

escolhido o recorte temporal do início do século XX até 1970, período esse em que se tem a

ascensão do regime fordista e taylorista de acumulação, até sua decadência e substituição para

o toyotismo.

A data que marca o surgimento do fordismo e suas técnicas de acumulação é o ano de

1914, quando Henry Ford introduz o dia de oito horas de trabalho e cinco dólares como

recompensa para os trabalhadores da linha automática de montagem de carros (HARVEY,

2014). Porém só foi a partir do pós-guerra, depois da crise de 1929, que esse regime de

acumulação tornou-se predominante na produção global.

Ford introduziu a esteira na linha de montagem, fazendo o trabalho chegar ao

trabalhador numa posição fixa, porém com dramáticos ganhos de produtividade (HARVEY,

2014). A linha de montagem permite um maior controle sobre os tempos e ritmos de

produção, diminui o papel repressor das chefias imediatas e permite um aumento da mais-

valia relativa (SANDRI, 1995). Com isso combatia o desperdício na produção, reduzindo o

tempo e aumentando o ritmo de trabalho, visando à intensificação das formas de exploração

(ANTUNES, 2009). Porém a grande contribuição de Ford foi sua visão de produção em

massa e consumo em massa. Acreditando que quanto mais se produzisse e se consumisse,

consequentemente, maiores seriam os lucros e a acumulação de capital.

Foi então com as técnicas de F.W. Taylor, que a produtividade foi radicalmente

aumentada. Nas empresas onde Taylor implantou seu método, o aumento de produtividade foi

da ordem de 300 a 400% (SANDRI, 1995). Taylor, que considerava o trabalhador como um

indolente natural ou proposital analisou de forma minuciosa os processos de trabalho,

elaborando princípios de administração científica, onde aperfeiçoa a separação entre trabalho

manual e intelectual, separando gerência e execução, o que demonstra a produção

hierarquizada (verticalizada)

Um tipo de homem é necessário para planejar e outro diferente para executar

o trabalho [...] em quase todas as artes mecânicas, a ciência que rege as

operações do trabalho é tão vasta e complexa que o melhor trabalhador

adaptado as suas funções é incapaz de entendê-la, quer por falta de estudo,

quer por insuficiente capacidade mental (TAYLOR 1990 apud BATISTA,

2008, p.5)

Esse padrão produtivo estruturou-se com base no trabalho parcelar e fragmentado,

gerando uma desantroporfização do trabalho, se transformando em apêndice da máquina

(ANTUNES, 2009). Tal processo intensificou a mais-valia relativa, assim como a mais-valia

absoluta. Esse regime de acumulação é marcado pela junção da produção em série fordista

com a redução de tempos tayloristas.

Porém, como coloca Harvey (2014), o modo como o modelo fordista se constituiu

como predominante, demorou quase meio século. Foi direcionado por uma gama de decisões

individuais, corporativas, institucionais e estatais, muitas em respostas à grande depressão de

1930. Depois, na época da guerra, era necessário um esforço de total racionalização da

produção, o que fez com que os trabalhadores aceitassem a linha de montagem. Então para

Harvey (2014) surgem dois problemas para a aceitação do fordismo nos anos entre as guerras.

O primeiro é a aceitação do trabalhador em trabalhar por mais tempo em um trabalho

puramente rotinizado, principalmente em um contexto de ebulição de luta de classes. A

segunda barreira estava na intervenção do Estado, onde diversos teóricos e comandantes do

capitalismo, estavam sem saber o que fazer, pensando em diversas formas de administração

do estado, para melhor gerir a economia, e controlar os conflitos de classe.

O problema da configuração e uso próprios dos poderes do Estado só foi resolvido

depois de 1945, levando à maturidade o sistema fordista, junto com o modelo de Estado

Keynesiano, o welfare State (HARVEY, 2014). Esse processo produtivo se expandiu para

toda indústria automobilística dos EUA, e depois para todos os países capitalistas centrais

(ANTUNES, 2009). Ocorre uma acumulação intensiva, devido à produção em massa,

produzida por operários pouco qualificados, conhecido como o operário-massa, trabalhador

coletivo de grandes empresas.

Com a introdução do taylorismo e do fordismo, o capitalismo obteve um longo

período de crescimento no período pós-guerra, caracterizando a forma mais avançada de

racionalização do trabalho, até a década de 1970. Como mostra Harvey (2014), ao longo desse

período o capitalismo nos países centrais, alcançou fortes taxas de crescimento econômico,

assim como se elevaram os padrões de vida. O fordismo se aliou ao keynesianismo, e o

capitalismo conseguiu crescer de maneira absurda, expandido o mercado internacional.

Porém para que a classe trabalhadora aceitasse as novas condições de trabalho

impostas pelo modelo taylorista/fordista de produção, foi necessário, principalmente após a

segunda guerra, uma série de compromissos por parte dos principais atores do processo de

desenvolvimento capitalista (HARVEY, 2014). Tal “compromisso” para Antunes (2009),

embora restrito aos países centrais, não passa de uma ilusão de que o metabolismo social do

capital pudesse ser controlado, e regulado o conflito capital-trabalho pelo Estado. Essa ação

política foi gerida por partidos tantos de direita como de esquerda (social-democracia), e por

sindicatos, na busca da manutenção desse compromisso, que segundo Bihr (1991) apud

Antunes (2009) era a melhoria dos salários, de condições de trabalho e a seguridade social.

Esse compromisso e aumento de poder sindical foi aceito a contragosto pelas corporações

fordistas, porém aceitavam a condição dos sindicatos regularem seus membros para aumento

de produtividade em troca de ganho de salários, o que aumentava a demanda (HARVEY,

2014).

Então esse ciclo de expansão durante o “Estado de bem-estar social” começa a

apresentar sinais de esgotamento, junto com sua regulação Keynesiana (ANTUNES, 2009).

Com o ressurgimento de ofensivas socialistas, a intensificação das lutas de classes. Esse

processo se deu entre final dos anos 60 e início dos anos 70, com a explosão do operário-

massa, este que havia se ressocializado, emergindo em escala ampliada na indústria,

marcando a construção de uma nova identidade de classe. Com Bihr (1991), Antunes (2009)

nos mostra a contradição que o capitalismo gerou criando esse tipo de proletário, que aceitou

a expansão do compromisso social-democrata, porém esse mesmo proletário se revoltou e

produziu as lutas pelo controle social da produção ao final dos anos 60.

O taylorismo/fordismo realizava uma expropriação intensificada do

operário-massa, destituindo-o de qualquer participação na organização do

processo de trabalho, que se resumia a uma atividade repetitiva e desprovida

de sentido. Ao mesmo tempo, o operário-massa era frequentemente chamado

a corrigir as deformações e enganos cometidos pela „gerência científica‟ e

pelos quadros administrativos. (ANTUNES, 2009, p. 43)

Essas contradições em dar autonomia e não dar autonomia, assim como a contradição

de um trabalho exploratório e repetitivo entrava em contraste com a liberdade exercida

durante o consumo, produziam a falência da dominação do compromisso fordista

(ANTUNES, 2009). Se esse compromisso social-democrático conseguiu regular as lutas da

primeira geração do operário-massa, a segunda geração não a aceitava perante as condições

de trabalho em que estavam submetidos. Essas contradições geraram o começo de revoltas

operárias, desde o boicote ao trabalho, às pequenas greves, e formas de controlar a produção.

Isso em conjunto a crise econômica no final dos anos 60, aumentavam o risco de ofensivas do

trabalho à produção. Ocorre o descontentamento com as formas de lutas geridas pelo

sindicado, na busca de articular as bases devido a nova ressocialização do trabalhador.

Segundo Bihr (1991) apud Antunes (2009) essas lutas contra os sindicatos, afirmavam a auto-

organização do coletivo de trabalhadores dentro da empresa, resgatando a busca da

emancipação dos trabalhadores com sua autoatividade.

Contudo as ações ofensivas da classe trabalhadora ainda estavam muito presas à

herança do compromisso social-democrático, consolidado durante décadas (ANTUNES,

2009). Além disso, o movimento operário não conseguiu se articular de uma maneira mais

ampla, propondo um novo modelo de sociedade, se unindo a outros movimentos sociais,

apenas se restringiu ao espaço da fábrica. Com isso as investidas operárias enfraqueceram-se,

junto com o surgimento de um salto tecnológico, apresentava um ataque do capital ao

trabalho. Então com as derrotas da luta operária e as condições técnicas presentes, ocorria a

possibilidade e a necessidade de uma reestruturação capitalista.

4. A ACUMULAÇÃO FLEXÍVEL RESPOSTA A CRISE DA DÉCADA DE 1970 E A

EXPANSÃO DO CAPITAL PARA A AMÉRICA LATINA

A partir da década de 1970, o capitalismo entra em crise mais uma vez, pois o regime

de acumulação fordista/taylorista não consegue mais assegurar o desenvolvimento do capital

em escala ampliada. Tal crise segundo Harvey (2008), Antunes (2009) e Alves (1999) gerou a

necessidade de um novo padrão de acumulação, ou seja, de uma nova reestruturação na busca

da retomada do crescimento capitalista, e manutenção de sua reprodução.

Na superfície, essas dificuldades podem ser melhor apreendidas por uma palavra:

rigidez (HARVEY, 2014). Rigidez essa nos investimentos em capital fixo, tendo como base a

produção em massa, essa que requeria uma sempre crescente demanda. Rigidez nos mercados,

na regulamentação do trabalho, que toda vez confrontada gerava lutas trabalhistas. A rigidez

do compromisso do Estado Keynesiano com seu assistencialismo e gastos públicos.

A acumulação flexível como define Harvey (2014), foi a resposta à rigidez fordista, se

apoiando na flexibilidade dos processos de trabalho, mercados, produtos e padrões de

consumo. Surgem novos setores da produção, novos serviços financeiros, novos mercados,

inovação tecnológica e organizacional. A flexibilização da alocação do trabalho, com o

crescimento do trabalho no setor de serviços e diminuição do trabalho na indústria, assim

como a flexibilidade da localização das indústrias.

Outro problema da crise foi a intensificação das lutas sociais geradas pelo trabalho, e a

falta de controle pelo capital. Como mostra Antunes (2009) um dos ataques à classe

trabalhadora foi em seu subjetivismo, buscando fragmentar a classe, fomentando a apologia

ao individualismo, e não às formas de solidariedade e atuação conjunta. O trabalho

organizado foi solapado pela reconstrução de focos de acumulação flexível em regiões que

careciam de tradições industriais anteriores e pela reimportação para centros mais antigos

(HARVEY, 2014). Assim como o aumento do desemprego e a relocalização das indústrias,

ocorre a diminuição do poder de mobilização dos sindicatos.

As novas formas de organização industrial gerou uma nova relação entre o capital e o

trabalho, onde o primeiro é mais ofensivo para com o segundo que no período

fordista/taylorista (ANTUNES, 2009). O trabalhador se torna mais qualificado, participativo,

com mais funções, não sendo mais um apêndice da máquina, o que anima mais esse

trabalhador. Porém onde ocorre a implantação do just in time, o trabalho é mais intensificado

(TOMANEY apud ANTUNES, 2009).

A dinâmica toyotista é incomparavelmente mais veloz e tem como filosofia a

superação constante, melhorando e modificando os componentes técnicos e a organização do

trabalho, produzindo uma contínua evolução da força técnica (SANDRI, 1995). Segundo

Antunes (2009), essa velocidade é gerada pela necessidade de girar a roda do lucro, de obter

cada vez mais lucro e de maneira mais rápida. Esse processo gera o valor decrescente do valor

de uso, onde as mercadorias são cada vez mais descartáveis, com tempo de vida útil cada vez

menor, para gerar uma rápida reposição do mercado, contrapondo à falácia da qualidade total.

A indústria de computadores, conforme mencionamos anteriormente,

mostra-se, pela importância no mundo produtivo contemporâneo, exemplar

dessa tendência depreciativa e decrescente do valor de uso das mercadorias.

Um sistema de softwares torna-se absoleto e desatualizado em tempo

bastante reduzido, levando o consumidor à sua substituição, pois os novos

sistemas não são compatíveis com os anteriores. As empresas, em face da

necessidade de reduzir o tempo entre produção e consumo, deitada pela

intensa competição existente entre elas, incentivam ao limite essa tendência

destrutiva do valor de uso das mercadorias. (ANTUNES, 2009, p.53)

Temos então mais uma contradição, onde é importante para a humanidade o

desenvolvimento tecnológico e com isso seus benefícios, porém isso sob a lógica reprodutiva

do capital, onde a produção é cada vez mais intensa e mais descartável, ocorre sem respeitar

os limites naturais. E todo esse processo de acumulação e riqueza está na mão de poucos,

onde a grande maioria se encontra sem recursos básicos para manter sua vida, e o trabalho é

cada vez mais escasso. Assim analisa Conceição (2004), sobre a essa produção atual de

supérfluos, dentro de regime de acumulação toytotista, desmistificando ao discurso do

desenvolvimento sustentável, apregoado pela classe dominante:

O sistema metabólico socioeconômico do capital induz a ampliação da

velocidade da produção de valores de troca que emerge cada vez mais

crescente. A tendência expansionista intrínseca do sistema produtivo

subverte a qualidade do produto, quanto mais qualidade total, menor tempo

de vida útil dos produtos, o tempo médio de vida útil do produto é cada vez

mais reduzido, ou seja, os produtos devem ter reposição ágil no mercado

para a garantia de maior lucro. Desperdício e destrutividade são seus traços

determinantes (Antunes, 1999). Consumo e destruição são equivalentes

funcionais, o que denota o caráter contraditório do discurso do

desenvolvimento sustentável, o caráter de sua insustentabilidade.

(CONCEIÇÃO, 2004, p. 6)

Segundo Antunes (2009), na acumulação flexível encontramos padrões de

continuidade e descontinuidade, que confrontam o padrão fordista/toyotista. Com base em um

novo padrão organizacional gerado pela tecnologia avançada, assim como a introdução de

computadores na produção, e o aumento dos serviços. Isso conforme aponta Antunes (2009) e

Alves (1999) possibilitou uma maior flexibilidade ao capital. Com uma estrutura produtiva

mais flexível, desconcentrando as indústrias, terceirizando empresas. O trabalho também se

torna mais flexibilizado, com o trabalho em equipe, times de trabalho, grupos com mais

autonomia, participação dos trabalhadores. O trabalho é polivalente, multifuncional e mais

qualificado, num ambiente de trabalho horizontalizado, porém o trabalho continua alienado e

controlado.

Na acumulação flexível tem-se a necessidade de intensificar o trabalho, reduzindo ao

máximo do trabalho improdutivo, que não gera valor, como atividades de manutenção,

acompanhamento, inspeção de qualidade, funções que foram passadas para o trabalhador

produtivo. Antes no fordismo/taylorismo quando mais trabalhadores mais lucro essa empresa

obtinha, já no toyotismo é interessante uma menor quantidade de trabalhadores, porém que

conseguem produzir mais.

O modelo flexível de acumulação nasce no Japão na segunda metade do século XX,

gerando uma incrível recuperação econômica nesse país. Povo esse que por tradição produziu

ações imperialistas em diversas regiões da Ásia. Apesar de possuir um território pequeno,

com pouco potencial agrícola e energético. Depois do arraso gerado pelos EUA, conseguiu se

reerguer em duas décadas, e se igualar às potenciais capitalistas mundiais (SANDRI, 1995). O

toyotismo, ou ohnismo (Ohno, engenheiro que produziu as bases do toytismo), nasce na

empresa Toyota, e se propaga para os outros países capitalistas. E suas principais inovações,

ou momento de descontinuidade com o fordismo são segundo Antunes (2009):

1) Produção segundo a demanda, com exigências mais específicas, em contraposição

com a produção em série e em massa taylorista/fordista;

2) Trabalho operário em equipe, com multifuncionalidade, rompendo com o caráter

parcelar do fordismo;

3) Ação do trabalhador mais flexível, podendo operar até 5 máquinas, diferente do

fordismo, onde o trabalhador era um apêndice da máquina;

4) Se baseia no just in time, melhor aproveitamento do tempo de serviço;

5) Se utiliza do sistema kanban, placas ou senhas para reposição de peças e estoque.

No toyotismo, os estoques são mínimos, em contraposição ao fordismo;

6) No processo produtivo, incluindo as terceirizadas, a estrutura é horizontal, ao

contrário da verticalização fordista. No fordismo aproximadamente 75% da

produção é realizada dentro da empresa, no toyotismo a produção é em média

25%. Essa horizontalização se estende às subcontratadas, às firmas terceirizadas.

Desse modo, flexibilização, terceirização, subcontratação, CCQ, controle de

qualidade total, kanban, just in time, kaizen, team work, eliminação do desperdício,

“gerencia participativa”, sindicalismo de empresa, entre tantos outros, são levados

para um espaço ampliado do processo produtivo;

7) A busca de se utilizar do trabalho intelectual do trabalhador com os círculos de

controle de qualidade (CCQs), onde os trabalhadores discutem e pensam como

melhorar seu trabalho e a forma de produzir. O fordismo só se utilizava do

trabalho manual;

8) O toyotismo implantou o “emprego vitalício”, para uma parte dos trabalhadores

das grandes empresas (cerca de 25% a 30% da população trabalhadora, onde se

excluía as mulheres).

O processo de racionalização, de forte disciplinamento do trabalhador, e com isso a

intensificação do trabalho, foi a saída do capital com o toyotismo, para retomar seu

crescimento. Além disso, a diminuição dos operários fabris. E, com isso, menos gastos com

salários. A horizontalização da produção, tornou desnecessário o papel da gerência científica,

onde o controle de qualidade é feito pelos próprios trabalhadores em grupo. Então o trabalho

em equipe significa a intensificação do trabalho, seja pela necessidade do trabalhador operar

várias máquinas, ou pela imposição de um ritmo acelerado de trabalho dentro de uma mesma

jornada de trabalho (ANTUNES, 2009).

O toyotismo aumenta a extração de mais-valia tanto absoluta como relativa. Como é o

caso do governo Japonês que quer aumentar a jornada de trabalho de 9 para 10 horas, e a

jornada semanal de 48 para 52 horas (ANTUNES, 2009).

Para desvalorizar a mão de obra interna, aceita a imigração, para executar trabalhos

com baixa qualificação e ilegais. Constitui apenas um pequeno número de trabalhadores

qualificados, e multifuncionais, porém aumenta o conjunto de trabalhadores flutuantes

(flexível) com aumento de horas extras, aumento da terceirização, essa que quanto mais

distante da empresa, mais seu trabalho é intensificado (ANTUNES, 2009).

A reestruturação produtiva gerada pela crise de 1970 transferiu o receituário toyotista

para o capital ocidental. Porém em cada país sua inserção foi singular, por diversos fatores,

como as condições políticas, ideológicas, sociais e econômicas. O neoliberalismo ajudou

muito a adaptação do toyotismo no ocidente, assim como o toyotismo deu a base material

para a implantação do projeto ideopolítico neoliberal (NETTO apud ANTUNES, 2009, p.60).

Harvey (2006), no capítulo IV do seu livro A produção capitalista do espaço, ira

analisar sobre a forma como o capitalismo de um país específico sairá de uma crise interna,

essa gerada pela inevitável superacumulação que irá ser gerada, é sanada por uma via externa.

Essa que será a via a transformação de outros países, em países com relações capitalistas,

transferindo seu excedente de capital, via empréstimos e transferência de maquinários antigos.

Assim, um novo país capitalista, poderá absorver a demanda que sobrou internamente,

e não tem como ser absorvida, via a transformação de sociedade não-capitalistas. Assim essa

nova sociedade capitalista adquirirá, trabalhadores assalariados, e produzira capital, também

assumindo suas contradições.

As circunstâncias podem, de fato, o que torna o desenvolvimento do

capitalismo “condicional em relação aos modos de produção fora do seu

próprio estágio de desenvolvimento”. O grau de alívio propiciado, portanto,

depende da natureza da sociedade não-capitalista e da sua capacidade de

integração ao sistema capitalista e de absorção do capital excedente. No

entanto, as crises só poderão ser controladas se os países não-capitalistas

“consumirem e produzirem a uma razão que harmonize com a produção

capitalista”. (HARVEY, 2006, p.116)

Veja como é delicado, é sempre delicada a solução para as crises, além de desenvolver

a economia em outros locais, essas economias têm de estar em sintonia com a crescente

demanda do país natal. Mas como coloca Harvey (2006), esse processo necessita de um

controle, pois o segundo país não aceitara sempre ser inundado com as mercadorias de outro

país, a não ser que esse processo seja vantajoso para o segundo. Porém, esse processo é

temporário, garantias de mais lucros, significa mais massa de capital produzido e com isso e a

necessidade de mais mercados. “A dialética interna da sociedade civil é perpetuamente

mitigada e reproduzida mediante o recurso constante ao ajuste espacial”. (HARVEY, 2006,

p.117)

Esse processo tem presumivelmente um fim, veja que sempre que as contradições

internas surgem, problema inerente a todas as sociedades capitalistas, essas vão buscar sua

expansão, via ajuste espacial, a fim de colonizar outras regiões. Mas, além do planeta ter um

limite espacial, essas outras regiões vão naturalmente entrar em conflito com a com outros

países capitalistas, se tornando rivais, na disputa pelo mercado mundial, a fim de sanar sua

crise.

Assim Chico de Oliveira, coloca sobre a formação do capitalismo na América Latina:

O “subdesenvolvimento” pareceria a forma própria de ser das economias

pré-industriais penetradas pelo capitalismo, em “transito”, portanto, para as

formas mais avançadas e sedimentas deste; sem embrago, uma tal postulação

esquece que o “subdesenvolvimento” é precisamente uma produção da

expansão do capitalismo. Em raríssimos casos – dos quais os mais

conspícuos são México e Peru – trata-se da penetração de modos de

produção anteriores, de caráter “asiático”, pelo capitalismo; na grande

maioria dos casos, as economias pré-industriais da América Latina foram

criadas pela expansão do capitalismo mundial, como uma reserva de

acumulação primitiva do sistema global. (OLIVEIRA, 1972, p. 8)

Oliveira (1972), analisando o processo de formação do capitalismo na América Latina,

assim como vimos com Harvey (2006), coloca que a introdução desse modo de produção

capitalista aqui, veio no sentido de pegar essa reserva de acumulação primitiva, ou seja,

desafogar as contradições internas de outros países de capitalismo mais avançado. E não por

acaso a maioria dos países da América Latina está em uma se situação de atraso

mundialmente, mas precisa estar para manter o forte desenvolvimento de países centrais.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vemos que o sistema capitalista de produção tem em sua essência a necessidade de se

expandir espacialmente e constantemente como solução para as contradições internas. Fator

que gerou a mundialização do capital. Porém, devido ao próprio limite espacial do planeta, o

esgotamento dos recursos naturais e de pessoas a margem das relações capitalistas, como nos

mostra David Harvey com o conceito de ajuste espacial, surge então uma nova forma se

solucionar as contradições, via sistema de crédito e com isso a hipertrofia do sistema

financeiro.

Nesse sentido é a partir da crise de 1929, a necessidade de reestruturar a produção,

nasce com o regime de acumulação fordista/taylorista junto com o Estado keynesiano, esse

proporcionará ao capital seu período de maior acumulação, que garantirá a classe

trabalhadora, o contrato social, melhores condições de vida, mesmo que apenas para os

trabalhadores dos países centrais.

Contudo, a partir da década de 1970, o fordismo/taylorismo começa a entrar em

falência, e mais uma vez ocorre a necessidade do capital se reestruturar. Assim surge a

alternativa toyotista junto com o Estado neoliberal, e o início ao processo de flexibilização,

rompendo toda a fixidez do regime anterior. Há neste processo, o desmonte dos direitos

trabalhistas, com a flexibilização da carga horária; o trabalhador se torna multifuncional, o

trabalho é intensificado, havendo maior cooptação da subjetividade do trabalhador, além, do

enfraquecimento dos sindicatos e a ampliação da terceirização.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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do Trabalho na era da Globalização. 2ª Ed. Londrina: Práxis, 1999.

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trabalho. 2ª Ed. São Paulo: Boitempo, 2009.

BATISTA, Erika. Fordismo taylorismo e toyotismo: apontamentos sobre suas rupturas e

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CONCEIÇÃO, Alexandrina. A insustentabilidade do desenvolvimento sustentável. III

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HARVEY, David. A produção capitalista do espaço. 2ª Ed. São Paulo: Annablume, 2006.

HARVEY, D. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural.

25ª Ed. São Paulo. Edições Loyola, 2014.

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Paulo, 1972.

SANDRI, Adriano. Sindicalismo em tempos de qualidade total. 2ª edição, contagem:

Palesa, 1995.