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O artigo apresenta a análise semiótica dos objetos desenvolvidos para uma exposição de astronomia, a partir das percepções de visitantes, investigação que faz parte de dissertação de mestrado defendida em 2012. Para tal, foi organizado um projeto exposicional, a qual enfatiza a importância do design dos artefatos visuais que o compõem, no sentido de discutir a efetiva atuação dos profissionais da imagem nos processos de ensino e divulgação científica.
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SEMINRIO DESIGN DE IMAGEM
A Convergncia Visual
Centro da Imagem da Escola de Design UEMG - Universidade do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, 08 a 11 de Setembro de 2014.
www.seminariodeimagemeduemg.blogspot.com.br
De Peirce ao Cosmos:
Anlise semitica das imagens visuais a partir das percepes de visitantes em
uma exposio de astronomia.
Dlcio Julio Emar de Almeida1
Maurcio da Silva Gino2
Ronaldo Luiz Nagem3
Resumo Expandido
O artigo apresenta a anlise semitica dos objetos desenvolvidos para uma exposio de
astronomia, a partir das percepes de visitantes, investigao que faz parte de dissertao
de mestrado defendida em 2012. Para tal, foi organizado um projeto exposicional, a qual
enfatiza a importncia do design dos artefatos visuais que o compem, no sentido de
discutir a efetiva atuao dos profissionais da imagem nos processos de ensino e
divulgao cientfica. Para o desenvolvimento da pesquisa foi concebido um objeto
simulador de efeitos siderais, nomeado Modelo Anlogo ao Espao Sideral em 3D no
Meio Fluido MAES-3DMF. Posteriormente, foi organizada a exposio design de
painis informativos, projeto de sinalizao, ambiente para projees multimdia e a sala
dos MAES-3DMF propriamente ditos. Objetivando expandir os horizontes da divulgao
dos temas relacionados cincia, buscou-se organizar um grupo de sujeitos de pesquisa
heterogneo, no necessariamente associados a instituies de ensino regular. A pesquisa,
portanto, se caracterizou qualitativa, se apoiando em questionrios, observao
estruturada participativa, Think-aloud Protocol e grupo focal. Os sujeitos de pesquisa
seguiram um roteiro preestabelecido, no intento de constatar impresses, atos, reaes e
relatos, com os quais foi possvel verificar o processo de interpretao dos signos que
compunham a exposio, de acordo com os princpios da Teoria Geral dos Signos
(PEIRCE, 2005). Os resultados da anlise apontaram a importncia do papel do design na
concepo de projetos destinados divulgao de contedos cientficos luz da dinmica
representacional dos signos, ou seja, dos objetos, imagens, palavras, sons e dilogos,
mediadores das relaes de significado nos processos de comunicao e construo do
conhecimento.
Palavras-chave
Semitica peirceana; signos; design; analogias; museus de cincias
1 Mestre em Educao Tecnolgica, Designer e Professor no Centro Universitrio de Belo Horizonte -
UNIBH. [email protected]. Artigo apresentado no GT2 - IMAGENS VISUAIS E
AUDIOVISUAIS POR MEIO DE ANLISE DE DISCURSO. 2 Doutor e Professor na Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. [email protected] 3 Ps-Doutor e Professor no Centro Federal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais - CEFETMG. [email protected]
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1 Introduo
indiscutvel a importncia da imagem nos sistemas de comunicao, no qual as
relaes miditicas tornam-se cada vez mais hbridas, passando a exercer papel
preponderante na transmisso e codificao de informaes. Santaella & Noth (2008)
discutem que, apesar de se apresentarem como essenciais para a humanidade, o estudo
das imagens carece de uma metodologia prpria, como uma cincia da imagem, ou,
segundo os autores, uma imagologia ou iconologia (SANTAELLA & NOTH, 2008,
p.13).
Thibault-Laulan (1971) afirma que as imagens compem toda estrutura perceptvel, o
agrupamento de todos os sentidos reunidos nos processos de comunicao e
percepo, nos quais, segundo a autora, se caracterizando hora concretas, hora
abstratas, mas essencialmente sgnicas em sua materialidade, indo ao encontro do que
Moles (1971, p.49) define como um suporte da comunicao visual, materializando
fragmentos do universo perceptivo.
Portanto, verifica-se que as sociedades modernas podem ser caracterizadas como
sociedades das imagens, as quais definem como os indivduos percebem, codificam e
expressam o universo em que se encontram inseridos. Tais imagens se referem a
objetos que podem ser materiais ou imateriais, das fotografias, pinturas, desenhos,
diagramas, filmes dentre outros, at os produtos da mente, como modelos mentais,
sonhos, pensamentos (SANTAELLA & NTH, 2008; SANTAELLA, 2010)
Sartre (1996) discute que a imagem o que conecta o ausente ou inexistente, se
tornando o representante anlogo realidade. Pode-se, dessa forma, entender uma
imagem como um ato intencional, estrutura sgnica, no momento em que signo ato
de se criar signo, recorte sobre o objeto real, de escolha de pensamento.
A reflexo sobre os processos em que se baseiam a construo dos artefatos visuais
que formam o complexo sistema de identidade negociado nas relaes de
comunicao faz-se, dessa maneira, imprescindvel para entender o porqu das
escolhas individuais e coletivas na construo, interpretao, consumo e absoro dos
produtos visuais, processos os quais, na maioria das vezes, so percebidos
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automaticamente, ou seja, sem a anlise do que subjaz nos processos de negociao
de significados.
Imagens, semitica e modelos
A discusso do conceito de imagem encontra ressonncia nos estudos semiticos e na
cincia cognitiva. A semitica peirceana, ou a Teoria Geral dos Signos (PEIRCE,
2005), explora as tentativas de compreenso da significao que as imagens, mentais
ou materiais, podem transmitir, concorrendo para a dinmica da comunicao,
mediando os processos de conhecimento, das artes cincia. Tal cincia objetiva
investigar todas as linguagens, ou seja, tudo que pode transmitir algum significado ou
sentido (SANTAELLA,1983). Por signo, entende-se aquilo que representa algo para
algum em determinado contexto, um substituto, mediador do fenmeno para a mente
interpretadora (NIEMEYER, 2003).
Segundo Peirce (2005, p. 46), o signo dirige-se a algum, isto , cria na mente dessa
pessoa um signo equivalente, ou talvez um signo mais desenvolvido, somente
fazendo sentido se gerar outro signo na mente do sujeito interpretador, entretanto
nunca representando o fenmeno em sua plenitude, apenas possibilitando o acesso a
facetas particulares de suas particularidades. O terico conceitua o signo como
representamen e o produto da mente como interpretante. Dentro da classificao
peirceana, possvel verificar que o que gera o signo nomeado como Objeto
Dinmico, ou seja, aquilo que est alm do signo, possuindo existncia independente
do signo (NIEMEYER, 2003). Um fenmeno, enquanto objeto dinmico, no
depende do signo para existir, mas a partir do momento em que se d como signo, tal
signo apresenta caractersticas que lhe so prprias. Isto significa que cada objeto
dinmico pode possuir um sem fim de signos, cada um caracterizado de uma maneira
particular. Tais particularidades so nomeadas por Objeto Imediato, classificado por
Peirce (2005, p.177) como o Objeto tal como o prprio Signo o representa, e cujo
Ser depende assim de sua Representao no Signo
Todo signo gera ou provoca o surgimento de outro signo, em um processo infindvel
de busca por significao. Igualmente, tem-se uma classificao para tal processo, no
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qual o signo gerado o interpretante. Quando ocorre a percepo, o signo ainda no
algo decifrvel, manifesto, ele nomeado como Interpretante Imediato. Quando
efetivamente produzidos na mente e se do por conhecer, por meio de alguma
expresso fsica, verbal, emocional, tais interpretantes so nomeados Dinmicos. De
acordo com Santaella (1983), tais interpretantes possuem a potencialidade de
significao do objeto imediato causal. Um signo se manifesta na sua totalidade, ou
seja, percebido em uma dinmica to rpida, muitas vezes instantnea, que se faz
complexa sua anlise em termos de componentes perceptuais. Entretanto, Peirce
(2005) prope que possvel a anlise por meio de categorias, partindo do
representamen, do objeto e do interpretante, nomeadas tricotomias. Nth (1995)
argumenta que os signos se manifestam em trs etapas ou categorias bsicas e no
excludentes a saber: primeiridade, secundidade e terceiridade
Na qualidade do representamen, observa-se a relao do signo com ele mesmo, na
qual h o Quali-signo, guardando caractersticas iniciais de percepo com o prprio
signo, qualidades possibilitando as sensaes bsicas que o signo pode manifestar, um
quase- signo, uma promessa de significado. A secundidade trata do Sin-signo, o signo
em seu carter de existncia singular no tempo e espao, caracteres que apontam para
algo que possui uma individualidade existencial. Quanto terceiridade, tem-se o
Legi-signo, na qual o signo se d como lei, um consenso. Um exemplo que pode
ilustrar tal relao do signo com ele mesmo seria um sinal de trnsito. Uma luz
vermelha, por si s, no possui nenhum significado explcito, apenas a qualidade de
ser vermelha, de ser luz, de possibilitar um sem fim de conotaes. Mas, em um
semforo, possui caracteres singulares sua localizao em um poste ao lado de
outras duas luzes amarela e verde, um posicionamento hierrquico em relao a tais
luzes, dentre outros que lhe atribuem a existncia sinssgnica que levar o motorista
a parar, pois foi atribuda a tal luz a fora legissgnica que a reveste enquanto signo de
lei. Entretanto, essa mesma luz, deslocada do semforo, possivelmente perder seu
status de sinal de trnsito, mas igualmente possibilitar interpretaes vrias, outras
qualidades, singularidades e convenes.
O signo possui uma relao com seu objeto, pode-se dizer a manifestao do signo,
categorizados como cone, ndice e smbolo. No cone, signo de primeiridade,
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observa-se suas qualidades, representaes anlogas ao objeto apresentado, abrindo os
caminhos conotativos de interpretaes mentais. O cone possui uma subclassificao,
nomeada como hipocones, apresentados como imagem, diagrama e metfora.
Enquanto imagem, a dimenso da aparncia, representao de qualidades que
instigam busca do conhecimento do objeto dinmico que o gerou. Entretanto, pode
at levar ocultao do fenmeno original, posto que simulacro. O diagrama se
remete por analogias funcionais entre o signo e o objeto representado, enquanto a
metfora se referencia por meio de relaes implcitas entre esses (NIEMEYER,
2003).
No ndice, signo de secundidade, observam-se as singularidades do signo. Niemeyer
(2003, p.37) argumenta que, enquanto o cone traz o Objeto para dentro do signo,
por traos de semelhana, o ndice aponta para fora do signo, para o Objeto; o seu
movimento para fora. O fenmeno objeto dinmico indica sua existncia por
meio de pistas. Uma pegada pode indicar que algum ou alguma coisa passou por
algum lugar, mas no afirma, apenas sugere possveis atos de origem.
O Smbolo o prprio estado de lei do signo, na qual a relao entre o objeto e o
signo que o representa se d por convenes. Peirce (2005) argumenta que todas as
palavras e sua organizao enquanto frases, que formam textos que possibilitam livros
e assim por diante, so smbolos. A luz vermelha, enquanto semforo, passa
categoria de smbolo.
O Interpretante, ou seja, o resultado do signo na mente interpretadora, pode ser
analisado pelas suas dimenses como Rema, Dicente e Argumento. O Rema - do
grego rhema, que significa fala, discurso, aquilo que se diz a respeito de algo
referencia o signo por suas caractersticas sensoriais, o primeiro hausto, a fora que
possivelmente comunicar, mas imprecisa e nebulosa, a emoo gerada no primeiro
contato, abrindo as portas para as tentativas de decifrao, s possveis conotaes.
Em seguida, a mente interpretadora busca sinais que individualizem o signo, a
dimenso Dicente do mesmo. Quando se alcana uma concluso, uma certeza ou
preciso, tem-se o Argumento.
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Quando o indivduo se depara com algo, o processo de percepo se d integralmente,
sendo a categorizao proposta uma tentativa de analisar o processo. Dessa forma,
importante esclarecer que todo signo possui dimenses qualissgnicas, sinssgnicas,
legissgnicas, icnicas, indiciais, simblicas, remticas, dicentes e argumentativas, em
um processo dinmico, sensorial e intenso, cada qual dependendo da situao em que
se manifesta, passando pelos filtros sociais e idiossincrticos da mente interpretadora
estimulada pelo signo em questo.
A elucidao a respeito da semitica peirceana remete aos estudos relacionados s
analogias enquanto ferramentas para a compreenso do mundo. Uma mente exposta a
certo estmulo buscar construir paralelos, efetuar comparaes, semelhanas com
algo j experienciado. Duarte (2005, p.8) afirma que no h a determinao da
existncia de uma igualdade simtrica, mas antes uma relao que assimilada a
outra relao, com a finalidade de esclarecer, estruturar e avaliar o desconhecido a
partir do que se conhece. De acordo com Gombrich (1995, p.54), a capacidade
humana de eleger diferenas e similaridades, de ajustar a percepo, possibilita
equilibrar o estado das coisas, argumentando que [...] estaramos perdidos neste
mundo se no tivssemos a aptido de descobrir relaes.
Corroborando com a declarao de Gombrich, observa-se que o uso de analogias se
mostra eficaz no que tange a popularizao, ensino e divulgao de contedos
cientficos, antes restritos a ncleos especficos, nas universidades e centros de
pesquisa (GLYNN, 1994; NAGEM, 1997; TERRAZAN et al, 2005). O conhecimento
prvio do sujeito, exposto a uma nova informao, servir como aporte no processo
de aprendizagem e apreenso de contedos, pois a bagagem de experincias, o
repertrio individual exercer forte influncia nesta dinmica, tornando o aprendizado
eficiente, permitindo conexes (NAGEM et al., 2001; HARRISON & TREAGUST,
2006). Mesmo cientistas e profissionais de vrias reas lanam mo das analogias
para a busca de solues e inovao, conforme afirma Broeck (1989, p.98) as
analogias auxiliam [...] estudo dos sistemas e organizaes naturais visando analisar
e recuperar solues funcionais, estruturais e formais para aplic-las resoluo de
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problemas humanos atravs da gerao de tecnologias e concepo de objetos e
sistemas de objetos.
Entretanto, faz-se imprescindvel a discusso a respeito da sistematizao das tcnicas
e metodologias que abordam o uso de analogias, pois, se utilizadas de forma
planejadas, equvocos e erros epistemolgicos poderiam ser evitados ou minimizados
(OLIVA et al, 2005). Na semitica, enquanto teoria que discute o efeito do signo na
mente interpretadora, subjaz o conceito de analogias para a busca da compreenso do
fenmeno. Forma-se o modelo mental, o interpretante peirceano, que somente ser
acessvel por meio de um outro signo, ou modelo, no plano da representao.
Muitos autores discutem o termo modelo e suas diversas classificaes, que vo dos
mentais, como j citado, aos modelos didticos, tais como imagens, esculturas,
experimentos, simuladores virtuais dentre outros (JOHNSON-LAIRD,1983,
MOREIRA, 1996; KRAPAS et al,1997). So todos signos, representaes dos
estados e sistemas fsicos objeto dinmico que portam caractersticas prprias de
acordo com sua manifestao objeto imediato. Se do por analogias e tornam os
fenmenos palatveis, na medida em que ampliam as possibilidades de conexo entre
dois domnios, um familiar e outro nem tanto ou completamente desconhecido
(JOHNSON-LAIRD,1983; NORMAN,1990; GENTNER, 2002).
importante observar que o uso de modelos, no processo de divulgao de contedos
cientficos, no se restringe aos sistemas formais de educao, tais como escolas e
centros de pesquisa. Os modelos anlogos aos sistemas fsicos encontram um grande
espao de atuao em outras mdias, tais como revistas, vdeos, museus e exposies
cientficas, ou seja, estratgias no formais de educao. Os museus e exposies,
particularmente, tendem o foco no sujeito, no necessariamente nas prticas
sistemticas de ensino, incentivando o convvio e a troca de experincias, baseados no
prazer e protagonismo individuais e coletivos (GRIFFIN, 1998; ELIAS et al., 2007;
CHELINI & LOPES, 2008).
Uma exposio comunica e informa, abrindo possibilidades de permutas e dilogos,
nos quais o raciocnio vem atrelado emoo, mediados por signos que devem
despertar o interesse do visitante. Um processo complexo, que deve ser analisado com
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cuidado e planejado de forma a proporcionar tais experincias sinestsicas e a
concepo e construo dos artefatos visuais que compem tais exposies merecem
uma ateno cada vez mais premente (RAMEY-GASSERT et al, 1994; QUEIRZ et
al, 2002; CURY, 2004; MARANDINO & DIAZ ROCHA, 2011).
Metodologia
O presente artigo descreve parte dos resultados do processo metodolgico organizado
para avaliar um modelo simulador de fenmenos astronmicos, inicialmente
direcionado ao ensino de astronomia. Tal modelo passou por processos de
reconstruo que permitiram sua insero em outros ambientes alm do escolar, como
museus e exposies cientficas, no intuito de abranger diversos pblicos (OLIVEIRA
& NAGEM, 2010; EMAR DE ALMEIDA, 2012).
Figura 1: MAES-3DMF
Autoria: Jlio Alessi, 2013 (arquivo pessoal)
O artefato, nomeado como Modelo Anlogo ao Espao Sideral 3D em Meio Fluido -
MAES-3DMF, formado por substncias simples, tais como gua, lcool e leo,
sendo esse ltimo acrescido de pigmentos fluorescentes que, sensibilizados por luz
UV, criam o efeito de esferas ou aglomerados de esferas flutuando no espao,
conforme pode ser observado na fig.01.
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Figura 2: Detalhes do MAES-3DMF Autoria: Jlio Alessi, 2013 (arquivo pessoal)
Os MAES-3DMF foram instalados em ambiente apropriadamente iluminado, no
sentido de potencializar a experincia visual, sensorial e imagtica dos participantes.
A sala dos modelos faz parte de um complexo exposicional, denominado Espao
Multiverso. Este espao, organizado em estrutura modular, contm cartazes, banners e
painis informativos, alm sala para projeo de vdeos relacionados ao tema
astronomia.
Conforme citado anteriormente, os sujeitos participantes formavam grupos
heterogneos, caracterstica imprescindvel para a coleta de dados. Dessa forma,
possuam faixas etrias, graus de instruo e profisses diversas, o que contribui para
a verificao do mximo de impresses e conceitos preestabelecidos a respeito do
tema proposto para a pesquisa qualitativa. Para tal, foram aplicados instrumentos de
coleta de dados, como a observao estruturada participativa, questionrios, Think-
aloud Protocol e grupo focal.
Os questionrios, estruturados com o objetivo de levantar dados a respeito do perfil
dos sujeitos participantes, tais como formao acadmica, conhecimentos e interesse a
respeito do tema astronomia e as impresses relacionadas visita ao Espao
Multiverso. Antes de entrarem no ambiente escuro, no qual se encontravam os
modelos, foi solicitado que os participantes no trocassem nenhuma impresso e no
se pronunciassem a respeito do que estavam observando. Tal solicitao se devia ao
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fato de no ocorrer alguma interferncia nas opinies e impresses dos demais
participantes. Outro detalhe importante que os sujeitos no tiveram acesso a
nenhuma outra informao, pea, quadro que remetesse ao tema da exposio.
Somente aps a aplicao dos questionrios que foram convidados a visitar o
restante da exposio.
As primeiras respostas permitiram verificar o impacto inicial gerado pelos MAES-
3DMF aos sujeitos participantes. Respostas como Observei algumas esferas, s
vezes agrupadas e imersas em um lquido, Recipiente com algumas substncias e
formas variadas, Quatro aqurios que me levaram as profundezas do oceano e ao
Espao permitem perceber a manifestao imediata, remtica, icnica e
qualissgnica, a primeira imagem, o nvel de primeiridade peirceana (NIEMEYER,
2003), O ambiente e os modelos denotam caractersticas que geram impresses,
qualidades. O objeto dialoga com o sujeito e se abre a interpretaes, significados, o
interpretante dinmico, segundo Santaella (1983), aquele que guarda possibilidades
sgnicas, os modelos mentais se formando na mente do sujeito (PEIRCE, 2005).
Entretanto, observa-se no ltimo exemplo, que a tendncia de se buscar
simbolizaes, argumentos ou leis algo irresistvel, quase instantneo. Tal
observao se d pelo fato de que, apesar das categorias preconizadas por Peirce
(2005), o processo espectral, no se dando separadamente.
Outras respostas, relacionadas pergunta que tinha com o objetivo de se verificar as
percepes que mostrassem o que parecia tais modelos, indicando singularidades.
Respostas como A forma como foram apresentados, num ambiente escuro que fazia
com que apenas os globos ficassem em evidncia, A iluminao semelhante ao 3D,
e as cores contrastando ao ambiente escuro ou Representao de algo que me
pareceu o Universo, em diferentes situaes. Alguns representando planetas, outros
estrelas, a Via Lctea, indicam pistas visuais, permitindo acessar a secundidade
peirceana, os ndices, as possibilidades de algo aconteceu ou est para acontecer, que
existe no tempo e espao, podendo, dessa forma, revelar o objeto dinmico, aquele
que gerou os signos que se apresentam na fora de modelos anlogos, que por sua vez
gerar outros signos na mente interpretadora, em um processo cclico (JOHNSON-
LAIRD, 1983; PEIRCE, 2005).
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Tal processo ocorre porque o momento das escolhas feitas para buscar respostas,
baseando-se em conhecimentos prvios para obter concluses posteriores, por
analogia. Portanto, as afirmaes pronunciadas pelos visitantes, relacionadas s
perguntas constantes no questionrio que solicitavam concluses, tais como Parece
a miniatura de galxias. Adorei, para falar a verdade, viajei..., Espao ou
Universo ou ainda O lugar onde Deus fica gerenciando o universo demonstram
convenes e generalidades. Observa-se, destarte, categorizaes simblicas,
pertencentes terceiridade peirceana, regularidades argumentativas e consensuais.
As demais etapas de pesquisa, o Think-aloud Protocol e no grupo focal foram
imprescindveis para reafirmar tais afirmaes que remetem anlise da tricotomia
semitica, no sentido de corroborar para o intento da pesquisa, que demonstrar a
validade dos modelos propostos MAES-3DMF e a exposio em si como eficazes
na divulgao de conceitos cientficos, despertando o interesse dos participantes pelo
tema astronomia. Destacam-se algumas falas:
O que achei legal? Bom... conhecer a respeito da matria,
porque eu tenho um conhecimento bsico... bsico, bsico
mesmo... e um negcio diferente. Nunca tinha visto nada
parecido (rs). Nunca tinha visto este lance de voc fazer uma
comparao do universo com esses pequenos... pequenos...
muito bacana... muito legal e te leva em um lugar em que
nunca voc pensou em ir... quando eu entrei aqui eu nunca
pensei que ia ver...
Parecia mais uma obra de arte... pontos positivos? T perto.
A gente no tem acesso a observatrio... a gente custa a ir.
Pouca gente conhece observatrio pra chegar perto.
Discursos como esses demonstram que iniciativas que intentam a divulgao de
conceitos cientficos por meio de estratgias visuais podem contribuir para mitigar o
desinteresse por tais temas, revertendo o cenrio. Tal afirmativa pode igualmente ser
observada na anlise dos dados levantados pelas tcnicas de pesquisa, na qual foi
possvel verificar, durante a observao dos painis e projeo de vdeos, o clima
descontrado e a intensa interao entre os participantes, troca de impresses e
traando paralelos entre o que foi visualizado nos MAES-3DMF e as informaes nos
painis e vdeos.
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Consideraes finais
A anlise dos artefatos comunicacionais desenvolvida a partir dos discursos dos
indivduos expostos a elas remete importncia da concepo e construo de tais
objetos sob a tica das teorias semiticas, em especial Teoria Geral dos Signos.
Pode-se constatar que possvel captar nveis representacionais dos signos inseridos
em objetos anlogos, j que se portam como um meio para transformar contedos
complexos em informaes palatveis, rompendo com as que supostamente so
impostas pela cincia.
Os signos atuam como intermediao com a realidade e o processo contnuo,
cclico, possivelmente infinito e, enquanto representantes dos fenmenos, se do por
analogias e podem se portar como ferramentas importantes no que tange a divulgao
de conceitos e construo do conhecimento. Da a importncia do estudo das
analogias como instrumentos da cognio e da gramtica especulativa de Peirce em
um processo sistemtico de aplicao e busca de escolhas visuais em todo aparato
visual, imagem e palavra, potencializando dilogos e permutas significativas.
O presente artigo tentou descrever sinteticamente a anlise semitica peirceana de
artefatos que serviram de base para uma pesquisa muito maior, que teve como pano
de fundo o tema astronomia. Em tal pesquisa, outras teorias foram abordadas, outros
pontos discutidos, apontando a vocao multidisciplinar do design enquanto rea do
conhecimento e cincia. Como conseqncia, os resultados foram alm do processo
inicial de coleta e anlise de dados, permitindo que os pesquisadores envolvidos
pudessem propor inovaes outras, no somente nos MAES-3DMF, mas em todo o
aparato visual da comunicao, onde o dilogo com o pblico visitante se mostrou e
se mostra imprescindvel. A exposio j foi apresentada em diversos congressos,
seminrios e hoje se permite que seja instalada, de forma modular, em instituies que
se interessem por tal assunto, em um processo contnuo de divulgao do tema.
No presente momento, a pesquisa parte para a explorao de novos horizontes,
vislumbrando novos panoramas, reforando a vocao transdisciplinar dos produtos e
servios que dela surgiro. Tais esforos se justificam pelo fato que, ao se observar os
discursos do sujeito, acessam-se, pelo menos em parte, os modelos mentais os quais
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os fenmenos geram e, enquanto interpretantes sgnicos, interferem na forma como
tais fenmenos so compreendidos. Alinhar as iniciativas de divulgao cientfica
com os dilogos da surgidos, permitir a formao de sujeitos mais conscientes de
seu papel na sociedade, participativos e protagonistas na construo de seus saberes.
Referncia Bibliogrfica:
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