20
Universidade Presbiteriana Mackenzie 1 “HABITAÇAO EM ÁREAS INVADIDAS” - ESTUDOS DE CASO E INTERVENÇÃO Débora de Almeida Moraes Binja (IC) e Denise Antonucci (Orientadora) Apoio: PIBIC Mackenzie/MackPesquisa Resumo O processo de expansão da cidade de São Paulo se deu em grande medida em função da ausência de planejamento do território, mas também em função da crise habitacional advinda do crescimento industrial, do êxodo rural, bem como da chegada de imigrantes, entre outros fatores. Como uma das poucas alternativas para a moradia popular, a cidade cresce espraiada, sendo ocupada nas bordas, em áreas sem infra-estrutura, acarretando problemas ambientais, enfim, gerando altos custos aos cofres públicos para que este possa então levar equipamentos e infra-estrutura á áreas completamente ausentes deste serviço, ao mesmo tempo em que se presencia um esvaziamento de áreas centrais da cidade. No nosso trabalho buscamos conhecer como se constrói esse universo da habitação periférica, de certo modo quais são os processos de transformação deste espaço da cidade, quais as intervenções realizadas na área, e de que modo esses serviços foram fornecidos a população. Palavras-chave: Habitação, movimentos sociais, periferia Abstract The process of expansion of the city of São Paulo was in large measure due to the lack of planning the territory, but also due to the housing crisis arising from industrial growth, rural exodus and the arrival of immigrants, among other factors. As one of the few alternatives for affordable housing, the sprawling city grows, being busy at the edges, in areas without infrastructure, causing environmental problems, ultimately, causing high costs to the public coffers so it can then lead equipment and infrastructure areas will be completely absent from the service at the same time that witnesses a dissection of inner-city areas. In our work we know how to build this universe of peripheral housing, in a sense what the processes of transformation of this area of the city, which the interventions in the area, and how these services were provided to the population. Key-words: Habitation, social movements, suburbs

Debora de almeida

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Em parceria com a Professora Helena Abascal, publicamos os relatórios das pesquisas realizados por alunos da fau-Mackenzie, bolsistas PIBIC e PIVIC. O Projeto ARQUITETURA TAMBÉM É CIÊNCIA difunde trabalhos e os modos de produção científica no Mackenzie, visando fortalecer a cultura da pesquisa acadêmica. Assim é justo parabenizar os professores e colegas envolvidos e permitir que mais alunos vejam o que já se produziu e as muitas portas que ainda estão adiante no mundo da ciência, para os alunos da Arquitetura - mostrando que ARQUITETURA TAMBÉM É CIÊNCIA.

Citation preview

Page 1: Debora de almeida

Universidade Presbiteriana Mackenzie

1

“HABITAÇAO EM ÁREAS INVADIDAS” - ESTUDOS DE CASO E INTERVENÇÃO

Débora de Almeida Moraes Binja (IC) e Denise Antonucci (Orientadora)

Apoio: PIBIC Mackenzie/MackPesquisa

Resumo

O processo de expansão da cidade de São Paulo se deu em grande medida em função da ausência de planejamento do território, mas também em função da crise habitacional advinda do crescimento industrial, do êxodo rural, bem como da chegada de imigrantes, entre outros fatores. Como uma das poucas alternativas para a moradia popular, a cidade cresce espraiada, sendo ocupada nas bordas, em áreas sem infra-estrutura, acarretando problemas ambientais, enfim, gerando altos custos aos cofres públicos para que este possa então levar equipamentos e infra-estrutura á áreas completamente ausentes deste serviço, ao mesmo tempo em que se presencia um esvaziamento de áreas centrais da cidade. No nosso trabalho buscamos conhecer como se constrói esse universo da habitação periférica, de certo modo quais são os processos de transformação deste espaço da cidade, quais as intervenções realizadas na área, e de que modo esses serviços foram fornecidos a população.

Palavras-chave: Habitação, movimentos sociais, periferia

Abstract

The process of expansion of the city of São Paulo was in large measure due to the lack of planning the territory, but also due to the housing crisis arising from industrial growth, rural exodus and the arrival of immigrants, among other factors. As one of the few alternatives for affordable housing, the sprawling city grows, being busy at the edges, in areas without infrastructure, causing environmental problems, ultimately, causing high costs to the public coffers so it can then lead equipment and infrastructure areas will be completely absent from the service at the same time that witnesses a dissection of inner-city areas. In our work we know how to build this universe of peripheral housing, in a sense what the processes of transformation of this area of the city, which the interventions in the area, and how these services were provided to the population.

Key-words: Habitation, social movements, suburbs

Page 2: Debora de almeida

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011

2

INTRODUÇÃO

Grande parte da população brasileira não tem acesso à moradia, o déficit habitacional em

regiões metropolitanas chega a atingir 70%1 da população. Isto se traduz no aumento de

favelas, loteamentos irregulares, cortiços, etc. As atuações por parte do Estado em busca de

soluções para este problema urbano, rapidamente nos remete à imagem de conjuntos

habitacionais em cidades como São Paulo, onde temos claras referencias da espoliação

(KOWARICK, 1993) que se manifesta sobre uma classe de trabalhadores já explorados

através de outros meios, e se traduz na forma de grandes conjuntos, depósitos humanos,

onde são colocados sem uma mínima infra-estrutura, que lhes ofereça condições daquilo

que Lefebvre (2001) chama de necessidades especificas, de como construtores da cidade,

participar de sua obra2.

Dentro desse panorama, fizemos um recorte sobre uma região periférica de São Paulo, para

buscar compreender, como se forma esse universo da habitação, seus pressupostos

históricos, como ocorreu seu desenvolvimento e suas características.

As intervenções governamentais na nossa área de estudo são manifestas majoritariamente

através de conjuntos habitacionais, que por um lado oferecem ao cidadão uma unidade

habitacional, em melhores condições de salubridade que a sua moradia anterior, por

exemplo, no entanto são conjuntos empobrecidos e empobrecedores, sob os aspectos

urbanos, estéticos e sociais.

No entanto, neste universo de precariedade econômica, vemos exemplos de como a

presença do projeto arquitetônico, pode contribuir na melhora da qualidade desses

conjuntos de habitação. Isso pode ser exemplificado no condomínio União da Juta, onde o

escritório responsável pelo projeto, também participou na Assessoria Técnica da obra, que

foi construída por mutirão.

1 Nas capitais mais ricas estamos falando de um quarto a um terço da população - SP, BH, POA -, metade no RJ

e mais do que isso nas capitais nordestinas. Nos municípios periféricos das Regiões Metropolitanas essa proporção pode ultrapassar 70% até 90%. Áreas vulneráveis, sobre as quais incide legislação ambiental, desprezadas (de modo geral) pelo mercado imobiliário são as áreas que “sobram” para os que não cabem nas cidades formais, e nem mesmo nos edifícios vazios dos velhos centros urbanos cujos números são tão significativos que dariam para abrigar grande parte do déficit habitacional de cada cidade (MARICATO, 2011). 2 O ser humano tem também a necessidade de acumular energias e a necessidade de gastá-las, e mesmo de

desperdiçá-las no jogo. Tem necessidade de ver, de ouvir, de tocar, de degustar, e a necessidade de reunir essas percepções num “mundo”. A essas necessidades antropológicas socialmente elaboradas (isto é, ora separadas, ora reunidas, aqui comprimidas e ali hipertrofiadas) acrescentam-se necessidades específicas, que não satisfazem os equipamentos comerciais e culturais que são mais ou menos parcimoniosamente levados em consideração pelos urbanistas. Trata-se de uma atividade criadora, de obra (e não apenas de produtos e de bens materiais consumíveis), necessidades de informação, de simbolismo, de imaginário, de atividades lúdicas.

Page 3: Debora de almeida

Universidade Presbiteriana Mackenzie

3

Outra constatação foi a relevante atuação dos movimentos sociais, que conquistaram muitos

benefícios para a população, ao mesmo tempo em que atuaram de forma democrática num

período pós ditatorial, e contribuíram para a formação de uma consciência coletiva,

emancipada, e coesa, inserida num ambiente conflituoso e vulnerável.

REFERENCIAL TEÓRICO

O urbanista Nabil Bonduki (1999) relata o processo histórico de crescimento urbano, bem

como as alternativas que foram surgindo desde o começo do século XX até meados da

década de 80, quando a escolha de moradia periférica, já era a principal causa da expansão

da malha urbana. Neste sentido o autor nos dá embasamento histórico para pesquisarmos a

habitação periférica, como um processo ocorrido na área de estudo.

Embora Bonduki aponte o processo de periferização da habitação, Nunes e Jacobi (1983) e

Silva e Zicardi (1983) trabalham a questão da importância dos movimentos sociais no

processo de urbanização destas áreas periféricas, num período de intensa crise urbana. As

suas pesquisas apresentam tanto os movimentos independentes, quanto as

CEB’s(Comunidades Eclesiais de Base), como alternativas aos trabalhadores para lutarem

por seus direitos, seja moradia, saúde, transporte, educação, etc, enfim, uma luta pelo

estabelecimento de um estado democrático.

Os estudos realizados por Arantes (1983) trazem uma abordagem sobre um aspecto

importante da nossa pesquisa, que é o ambiente do canteiro de obras de um mutirão. Neste

caso, ele estuda o mutirão da Associação União da Juta. Neste texto ele estabelece

algumas relações entre o desenho e o canteiro, tema que foi objeto de pesquisa do grupo

Arquitetura Nova, onde se trabalha as relações entre o construtor e a obra, no sentido de

que este participe como artesão, e não como no processo industrializado, onde a construção

é segmentada, e o operário tem domínio sob parte do processo, se tornando um operário

alienado da obra.

Na sua tese, Nogueira (2003) pesquisa a habitação periférica, seu processo histórico, suas

relações interpessoais, as tipologias e os reflexos desta urbanização. Sua área de estudo se

concentra na região leste, em especial Sapopemba, onde por cuidadoso levantamento

histórico, entrevistas com moradores, pesquisa de alguns condomínios verticalizados,

construídos pela COHAB e CDHU, constatou-se o espaço insuficiente reservado a áreas

coletivas, onde os projetos em especial, com forma padrão das companhias não privilegiam

estas áreas, suas pesquisas apontam que as relações intra-condominiais são menos

Page 4: Debora de almeida

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011

4

conflituosas nos condomínios construídos por mutirão e a prática de venda de apartamentos

é muito reduzida, em relação aos outros condomínios.

MÉTODO

Embora tivéssemos inicialmente o objetivo de ter uma aproximação da área de estudo, em

termos de contato com os moradores, isto não foi possível, porque este contato deveria ser

intermediado por uma associação, num primeiro momento. E as nossas tentativas em

contatar a Associação União da Juta não obtiveram êxito.

Também tentamos contatar os responsáveis pelo projeto do Conjunto Habitacional Fazenda

da Juta, junto a CDHU, mas foi possível conversarmos unicamente com Maria Luiza dos

Santos Mota, assessora da presidência para projetos especiais, ela é responsável pelo

projeto de regularização de toda a área do Conjunto, e pode esclarecer muitas dúvidas com

relação a área de estudo. Embora não tenha sido possível ter acesso a documentos e

mapas que descrevem os tipos de condomínios implantados ali.

Outra área de pesquisa envolvia entrevista com o escritório responsável pelo projeto do

Condomínio União da Juta, e a entrevista foi realizada em agosto de 2010, com Pedro Fiori

Arantes, coordenador do escritório Usina, que apesar de não ter participado do projeto

explicou como e em que contexto o projeto foi elaborado, qual é a metodologia utilizada na

elaboração de projetos para movimentos sociais, etc.No entanto, por meio de documentos,

teses e dissertações foi-nos possível realizar a pesquisa. Os documentos encontrados sobre

a área de estudo foram extraídos da produção acadêmica existente. Como método fizemos

um levantamento sobre os aspectos históricos da áreas de estudo, os aspectos

socioeconômicos, as intervenções existentes, e estudamos um conjunto que se destaca

pelo projeto, e que de certo modo serve como referencia para o fortalecimento das relações

entre a assistência técnica e movimentos de luta por moradia.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Antecedentes históricos da ocupação

A área de estudo esta localizada no município de São Paulo, no limite entre as

subprefeituras de Vila Prudente/Sapopemba e São Mateus e o município de Santo André, e

possui uma das maiores densidade do município: 21.965,65 hab/km2, enquanto que o

município possui uma densidade de 6.915 hab/km2.

Page 5: Debora de almeida

Universidade Presbiteriana Mackenzie

5

Ao olharmos para a área podemos ingenuamente caracterizá-la como uma região periférica,

que não foi contemplada por um projeto urbano, e por um olhar mais cuidadoso dos

governantes em seu início, no entanto é preciso compreender que a própria anomia, ou

seja, a própria ausência de atuação por parte do Estado nestas áreas periféricas faz parte

de um projeto, uma estrutura de ordem lógica, econômica e social de produção do espaço

da cidade.3

Sapopemba e São Mateus, bairros residenciais de trabalhadores, têm sua urbanização

caracteristicamente periférica iniciada já na década de 50 4. O mapa de São Paulo, datado

de 1952, inclui a retícula do loteamento de São Mateus, bem como de outros bairros ao

longo da já existente Estrada de Sapopemba.

FONTE:http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/img/mapas/1952.jpg

Desde a metade do século XX, podemos observar que o loteamento clandestino e irregular

já se faz presente nesta região, no entanto a partir da década de 70 vemos o início, através

de iniciativas governamentais, de construções de grandes conjuntos habitacionais nesta

região, como é o caso do Conjunto Habitacional Teotônio Vilela. A região estudada em

função de aspectos históricos e geográficos é convencionalmente chamada de área urbana

periférica5 (TASCHNER & MAUTNER, 1982).

Podemos perceber, sob o aspecto da geografia, que a Avenida Sapopemba se localiza no

espigão da região, cortando-a no sentido leste oeste, tendo ali uma perspectiva privilegiada

sob a área circundante, isso se traduz também no aspecto hidrográfico, pois suas águas se

3 O espaço foi sempre ao logo da história, adequado, preparado e produzido metodicamente em vista de um

uso determinado destinado a cumprir uma missão definida. Esta produção – ação de torná-lo efetivo- possui uma organização própria e resulta do trabalho coletivo desenvolvido dentro da História. Ela dota o espaço de uma estrutura, de uma determinada constituição, de um modo de funcionamento. Por ser, agora produto social o espaço ganha também a dimensão estratégica e política (MEYER, 1978). 4 http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/historico/img/mapas/1952.jpg

5O termo “periferia” passa a designar assim, parcelas do espaço caracterizadas pelo baixo preço da terra, com

serviços públicos precários ou inexistentes e acesso difícil, onde vive uma população com precárias condições materiais.

Page 6: Debora de almeida

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011

6

dividem entre o Córrego do Aricanduva e o Córrego do Oratório, o primeiro desemboca no

Rio Tiete, e o segundo no Rio Tamanduateí (NOGUEIRA, 2003).

É importante também considerar os municípios que fazem divisa com a área de estudo, pois

seus bairros são de classe média, diferentemente da caracterização econômica da

população residente na área de estudo, e a distância do centro de São Paulo, que é de 15

km, se modifica de maneira significativa em relação aos centros dos outros municípios:

Santo André, São Caetano e Mauá, que é de 7 km, em média. O córrego do Oratório se

constitui, portanto um elemento de divisão entre essas realidades distintas. Essa

proximidade de centralidades municipais é um fator que explica o contínuo crescimento

demográfico desta área.

A região (BONTEMPI, 1970 apud NOGUEIRA, 2003) fazia parte do antigo distrito de São

Miguel Paulista, que inclui toda a região leste da capital, além de outros municípios como

Ferraz de Vasconcelos, Itaquaquecetuba, etc. Ela anteriormente pertencia a uma aldeia

indígena, que aos poucos foi tomada pelos colonos portugueses, transformando-a em área

de cultivo de lavoura e gado, tendo como mão de obra os escravos indígenas. A partir do

Século XIX as atividades agrícolas se mudam para outras regiões ao mesmo tempo em que

São Paulo, que já era capital da província começa a se destacar como núcleo intelectual e

político, tornando-se a região um subúrbio e parte do cinturão “caipira”, fruto da

miscigenação entre índios e brancos, que sobreviveram ali desenvolvendo uma cultura de

subsistência, além de fornecer alimentos, lenha, material de construção, etc., para a cidade.

O leito das ferrovias criadas no século XX também influenciou o desenvolvimento urbano da

região, pois a linha Central do Brasil fica a cerca de 8 km de distância ao norte, e a São

Paulo Railway (Santos-Jundiai) fica a 6 km ao sul, importantes porque formaram novas

centralidades ao longo de suas paradas. As ferrovias também determinavam as localizações

das áreas industriais e a partir destas determinações que Santo André se consolidou como

subúrbio industrial.

A partir de 1920, a região recebe inúmeros imigrantes portugueses, que adquirem chácaras

para o cultivo de hortifrutigranjeiros e flores. Mesmo mantendo esta característica a região

começa também a despertar o interesse para loteamentos, que com o avanço dos

transportes torna viável, este tipo de moradia suburbana.

O primeiro loteamento da região se chamava Cidade São Mateus, e foi promovido por

Matteo Bei, um imigrante italiano que comprava terras da Fazenda Rio das Pedras com o

interesse de loteá-las (PONCIANO, 2002). Para incentivar o crescimento, o imigrante

oferecia para o comprador do terreno 500 telhas e 2 mil tijolos.

Page 7: Debora de almeida

Universidade Presbiteriana Mackenzie

7

FONTE:http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/img/mapas/urb-1950-1960.jpg

Embora a população da região Sapopemba e São Mateus não fosse muito significativa

perante o crescimento da cidade de São Paulo, encontrava-se numa posição

geograficamente interessante, pois estabelecia um pólo nas raras relações transversais da

cidade (LANGENBUCH, 1971 apud NOGUEIRA, 2003).

O papel da cidade de Santo André, como pólo industrial acabou por valorizar o preço do

solo, impedindo o acesso a este, por parte dos trabalhadores, que acabaram por procurar na

região circunvizinha a possibilidade de adquirir a sua moradia6. Segundo Langenbuch (1971)

as linhas de ônibus que partiam de Santo André para Itaquera passavam por São Mateus.

Todo esse panorama acaba por contribuir com o crescimento demográfico pelo qual passa a

região desde a década de 1960, somado a crescente crise habitacional da cidade de São

Paulo (BONDUKI, 1999) recebendo a mesma, enorme contingente de migrantes

nordestinos, que por oferecer mão-de-obra barata, lhes resta como uma das principais

alternativas de moradia, a aquisição de terrenos periféricos7.

6 O preço do solo urbano/mercadoria determina imediatamente a expulsão desta massa de trabalhadores para

áreas periféricas (Meyer, 1978). 7 Os baixos salários pagos aos trabalhadores, além da abundante oferta de mão-de-obra liberada do campo,

completam esse quadro: reprimidos em suas iniciativas reivindicatórias, sem poder aquisitivo para comprar a moradia no mercado imobiliário privado, sem oferta significativa de moradia subsidiada financiada pela políticas públicas, incapaz de atender ao aumento dos aluguéis, a massa trabalhadora urbana recorre a compra

Page 8: Debora de almeida

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011

8

Aspectos socioeconômicos

Segundo dados do IBGE, a população de Sapopemba cresceu em 78.628 pessoas entre

1980 e 1991, ou seja, um acréscimo de 43,9%, e entre 1980 e 2000 um acréscimo de

103.250 pessoas, 57,7%.

O nível de renda de São Mateus, dos responsáveis pela família em 64,8% está abaixo dos

cinco salários mínimos, e em Sapopemba este índice sobe para 71,8% dos domicílios. Se

considerarmos que o fator financeiro somado a este urbanismo precário acentua o grau de

vulnerabilidade da população, podemos perceber ali uma barreira muito frágil contra a

violência e marginalidade, que tem atingido com freqüência a população da região,

oferecendo a estes subempregos ligados ao trafico e a ilegalidade8.

do terreninho irregular, ou constrói no terreno de parentes, ou invade terras que em geral são públicas. A dimensão da ocupação ilegal de terras e imóveis no Brasil é realmente gigantesca, chegando a quase 50% do território em muitas cidades. Infelizmente parte dessa ocupação é predatória em relação ao meio ambiente.

8 Essa dominação viabilizou-se pela presença escassa de instituições com: escolas, equipamentos de saúde,

postos policiais, locais de trabalho, além da condição de pobreza, miséria e desamparo de sua população e ainda por oferecer a muitos de seus moradores uma forma de obtenção de renda e garantia de sobrevivência. (Nogueira, 2003)

Page 9: Debora de almeida

Universidade Presbiteriana Mackenzie

9

Tabela 1 - Índice de Vulnerabilidade Juvenil (IVJ) e seus Componentes

Distritos do Município de São Paulo Marsilac Sapopemba São Mateus Moema Total IVJ 92 67 62 8 - Grupos de Vulnerabilidade 5 5 4 1 População Total 8.404 282.239 154.850 71.276 10.434.252 Participação da População Jovem de 15 a 19 Anos, no Total de Jovens do Município

0,09 2,94 1,58 0,50 100,00

População de Jovens de 15 a 19 Anos 904 29.212 15.640 4.968 992.660 Taxa de Anual de Crescimento Populacional

3,83 1,05 0,33 -0,89 -

Taxa de Anual de Crescimento Populacional (Escala 0 a 100)

47 30 26 19 -

Participação dos Jovens de 15 a 19 Anos no Total da População dos Distritos (%)

10,76 10,35 10,10 6,97 -

Participação dos Jovens de 15 a 19 Anos no Total da População dos Distritos (Escala de 0 a 100)

97 88 82 13 -

Taxa de Mortalidade por Homicídio da População Masculina de 15 a 19 Anos (por 100.000 Hab.)

531,50 326,40 305,80 0,00 -

Taxa de Mortalidade por Homicídio da População Masculina de 15 a 19 Anos (Escala de 0 a 100)

100 61 58 0 -

Proporção de Mães Adolescentes de 14 a 17 Anos, no Total de Nascidos Vivos (%)

12,42 8,47 7,77 1,43 -

Proporção de Mães Adolescentes de 14 a 17 Anos, no Total de Nascidos Vivos (Escala de 0 a 100) 100

65 59 3 -

Rendimento Nominal Médio Mensal das Pessoas Responsáveis pelos Domicílios Particulares Permanentes (R$) 447,04

724,70 845,83 5576,78 -

Proporção de Jovens de 15 a 17 anos que não Freqüentam à Escola %) 41,30

26,38 24,71 7,52 -

Densidade Demográfica (Hab./Km2) 42 20.907 11.912 7.920 -

Taxa de Fecundidade das Adolescentes de 14 a 17 Anos (por 1.000 mulheres)

56,02 38,98 42,21 6,69 -

Proporção de Jovens, de 18 a 19 Anos, que não Concluíram o Ensino Fundamental (%)

66,30 40,71 41,47 16,46 -

Intervenções Urbanas

A presença de conjuntos habitacionais é marcante no bairro, pois habitações verticalizadas

representam um total de 14,1% do total de moradias, realidade muito próxima a

porcentagem do município, que é de 21,5%9, porém segundo dados do Seade 2006(PCV) o

índice municipal de unidades verticais caiu para 14,6%. Percebe-se, portanto que a tipologia

9 IBGE, Censo Demográfico, 2000

Page 10: Debora de almeida

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011

10

de unidade horizontal se constitui na maior percentagem de uso do solo, sendo que esta se

divide, em casas isoladas, casa frente e fundo, e favela. A casa auto-construída pressupõe a

ausência de projeto, embora tenha o objetivo de produzir um bem a família, se produz

muitas vezes de forma precária e insalubre (ARANTES, 2004).

O primeiro conjunto habitacional registrado na região tem seu início datado na década de 60

- Conjunto Habitacional Mascarenhas de Morais e foi promovido pela COHAB, contando

com 1.117 casas embrionárias e 176 apartamentos (NOGUEIRA, 2003). Segundo

informações da própria Companhia, o conjunto encontra-se totalmente regularizado.

FONTE: TARALLI (1984)

Page 11: Debora de almeida

Universidade Presbiteriana Mackenzie

11

Uma parcela significativa da área, que foi destinada a áreas verdes, pela impossibilidade

topográfica de ser loteada, foi rapidamente ocupada por uma favela, chamada Fazenda da

Juta, que hoje abriga cerca de 1.000 famílias. Situação semelhante ocorre também com o

Conjunto Habitacional Fazenda da Juta, onde se formou uma favela na área preservada que

abriga cerca de 160 famílias: Favela Mata da Juta.

O mapa abaixo mostra os projetos de intervenção pelo qual a área passou sendo o mais

recente o Conjunto Habitacional Fazenda da Juta, que, no entanto ainda espera receber

alguns equipamentos. Percebe-se também no mapa a formação de favelas em parte das

áreas verdes/residuais dos Conjuntos.

Fonte: Ortofotocartas EMPLASA, 2007

No site da Habisp, é possível ver que á área ocupada tanto por parte do loteamento, quanto

pela Favela Mata da Juta, encontra-se em área de risco de escorregamento, conforme os

níveis de gravidade, os índices presentes são: R4 (muito alto), R3 (alto) e R2 (médio).

Conjunto Habitacional Fazenda da Juta (CDHU) Favela Mata da Juta Loteamento em processo de regularização Fazenda da Juta Conjunto habitacional Mascarenhas de Moraes (COHAB) Favela Fazenda da Juta

Page 12: Debora de almeida

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011

12

Fonte: http://mapab.habisp.inf.br/?bbox=347827.09375,7387265.5,348151.03125,7387699&l=SGRIS

Na década de 80 e 90 parte das glebas desocupadas recebeu dois grandes conjuntos

habitacionais, o Conjunto Habitacional Teotônio Vilela (final da década de 70) e o Conjunto

Habitacional Fazenda da Juta. O conjunto Teotônio Vilela foi promovido pela COHAB e é

composto por 5.240 apartamentos e 1748 casas-embrião10. O conjunto habitacional

Fazenda da Juta, construído pela CDHU, a partir da década de 1990, abriga hoje cerca de

10% da população de Sapopemba, e ainda não foi totalmente concluído, no que se refere

aos equipamentos urbanos planejados para a área.

O projeto da CDHU foi pensado sob o conceito de operação urbana, que era a linha mestra

da companhia na época do Governo André Franco Montoro (1983/1987) chamada

Empreitada Global, onde os terrenos próximo a Av. Sapopemba, mais valorizados seriam

destinados a um público de renda média. O retorno destes empreendimentos deveria

subsidiar a implementação do restante do projeto destinado à habitação social.

No Conjunto Fazenda da Juta, foram construídas 4.225 unidades habitacionais, setecentas

unidades horizontais, construídas pelo sistema de mutirão, recebem o conceito de casa

embrionária, porém com uma dimensão mais generosa, contando com sala, banheiro,

cozinha e dois dormitórios, onde os terrenos já urbanizados foram doados ao movimento

social ligado a UMM (União dos Movimentos por Moradia), que com a Assessoria Técnica e

10

O Promorar paulista consistia no fornecimento de lotes de 75 m² (5x15) providos de infra-estrutura e de habitações evolutivas com um tamanho inicial de 25 m² (cômodo de habitação/ducha/sanitário) podendo aumentar em dois níveis, chegando a atingir 100 m² de superfície habitável. Para estimular a criação de empregos locais, uma parte da casa (até 20 m²) poderia ser usada para atividades comerciais e de serviços...O programa previa além disso, prédios de cinco andares, destinados a populações de renda mais elevada. Para diminuir o preço de venda dos terrenos de uso residencial, os lotes a beira das vias de circulação foram reservados para fins comerciais e industriais (SACKS, 1999).

Page 13: Debora de almeida

Universidade Presbiteriana Mackenzie

13

projeto do escritório Usina, e financiamento da CDHU construíram as unidades horizontais

por mutirão.

As unidades verticais foram construídas em sua maioria por empresas contratadas da

CDHU, não tendo a população neste caso, participação no processo de elaboração do

projeto, nem na fase de construção. No entanto, diferente do que ocorreu com o Teotônio

Vilela, este conjunto abrange uma variedade maior de tipologias e sistemas construtivos,

isso porque levou mais tempo para ser construído, passando por diferentes administrações

da CDHU, e a Companhia sofreu diversas pressões dos movimentos sociais, para que em

alguns casos, participasse com mutirão, em outros casos, que os projetos fossem feitos por

suas assessorias técnicas, e com a supervisão do movimento (NOGUEIRA, 2003).

Grande parte do Conjunto Habitacional encontra-se irregular, no entanto uma das diretrizes

da CDHU atualmente é regularizar a área onde implantou suas unidades habitacionais.

Segundo Maria Luiza dos Santos Mota11 cerca de 70% da área já passa por este processo

que acaba sendo complexo e muito longo, pois o projeto do Conjunto Habitacional foi

primeiramente executado pela Companhia, e agora a gleba passa a ser registrada no

município, conforme a disposição dos condomínios e lotes ali existentes, para que depois

seja feita a escritura de cada moradia. Maria Luiza ainda afirma que a regularização é o

principal instrumento para que a taxa de mobilidade12 diminua, ou seja, mutuários que

adquirem a unidade habitacional, mas posteriormente a revendem e voltam a morar numa

situação de risco, mudando assim o perfil socioeconômico dos conjuntos, pois muitos

compradores possuem uma condição econômica superior aos primeiros.

Lutas Sociais

É importante ressaltar que o nascimento dos movimentos sociais dentro de uma

determinada sociedade está ligado historicamente a épocas de grande precariedade urbana

(ZICARDI, 1983). Neste sentido, as benfeitorias alcançadas ao longo da história da região

estão muito ligadas aos movimentos sociais13, de luta por moradia e melhores condições de

habitabilidade. A gleba de parte da Fazenda da Juta foi ocupada ainda no Governo Orestes

Quércia (1987/1991), por movimentos de moradia que compunham o UMM (União dos 11

Assessora da Presidência da CDHU, responsável pelo processo de regularização do Conjunto Habitacional Fazenda da Juta (entrevista realizada no dia 04/01/2011). 12

Já no Araroba IV e Águia Dourada notou-se que a venda de apartamentos tem sido pratica comum... observou-se a fragilidade da situação de propriedade dos apartamentos tão decantada pelas empresas promotoras e muito valorizada pelos moradores. O mais grave foi observar grande numero de situações em que o novo morador era uma pessoa de melhor situação social que o antigo. 13

Movimentos sociais urbanos podem ser tanto mobilizações de um determinado grupo de pessoas afetadas por algum plano de renovação urbana, como também podem ser mobilizações de um grupo dominante na sociedade, que expressam e defendem interesses próprios (ZICCARDI, 1983).

Page 14: Debora de almeida

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011

14

Movimentos por Moradia), e após pressão destes foi comprada pela CDHU, no final da

década de 80.

Segundo Arantes (2004), este conjunto abriga a maior concentração de mutirões do

município de São Paulo. Isto é reflexo da marcante presença dos movimentos sociais no

desenvolvimento da região. Neste sentido é importante considerar a atuação relevante das

CEB’s (Comunidades Eclesiais de Base) que atuaram junto às comunidades periféricas,

cedendo espaços e promovendo discussões, eventos, enfim, sendo mediadores de uma

população que isolada não teria voz perante as autoridades governamentais, pois no

período ditatorial, ocorreu imenso esvaziamento das SAB’s (Sociedade de Amigos do

Bairro)NUNES E JACOBI, 1983.

São as CEB’s que vão prover o espaço para lutas pelos direitos da população, num

momento em que outros grupos não têm abertura para tal interlocução. Somente a partir de

1974, é que esses movimentos populares autônomos retomam suas atividades em busca do

Estado de Direito(SILVA E ZICARDI, 1983).

Embora a presença da UMM na área seja responsável pelas conquistas em termos de

moradia, muitas das associações pertencentes a ela cederam às pressões da CDHU e das

Construtoras, para se abster do processo de desenho e construção de seus respectivos

condomínios, resultando em projetos padronizados pelos tipos da CDHU. Alguns mutirões

participaram no processo construtivo parcialmente, onde as construtoras fizeram a parte

estrutural, e de vedação, e os moradores entraram com o acabamento. Dentro dessa

realidade, uma Associação se destaca - União da Juta, que participou ativamente desde a

etapa do projeto, até a fase de conclusão da obra, este exemplo tem como marco

importante a abertura dada a grupos de assistência técnica pelos movimentos sociais.

Apesar da área em questão ser periférica, e com urbanização precária, as reivindicações

dos movimentos sociais são responsáveis pela conquista de muitos empreendimentos

públicos que acabaram por valorizar a região. Hoje a existência de equipamentos tais como

o Hospital Sapopemba, a ETEC Sapopemba, os CEU’s Rosa da China e Sapopemba, entre

outros amortizam alguns dos efeitos da exclusão que marcou a região ao longo dos anos.

Porém, este processo caminha numa via de duas mãos, pois ao mesmo tempo em que

amortiza os efeitos da segregação e exclusão social, acabam por valorizar o solo, atraindo

investimento imobiliário, e expulsando parte de seus moradores para áreas mais longínquas.

Page 15: Debora de almeida

Universidade Presbiteriana Mackenzie

15

Condomínio União da Juta

O condomínio União da Juta se destaca na área como um importante referencial sob vários

aspectos: projeto arquitetônico, tecnologia construtiva, mão-de-obra utilizada. O projeto

desenvolvido pelo escritório Usina levou em consideração o diálogo e a participação intensa

dos associados na concepção, desde o projeto do espaço coletivo até o projeto da unidade,

ou seja, a implantação dos blocos residenciais conforma praças que são interligadas,

utilizadas por moradores de várias idades, e que acabam por fortalecer o sentido de

comunidade, conquistado ao longo do processo de luta e da construção do conjunto.

(NAKASHIGUE, 2008) No projeto também foi considerado o fato do empreendimento ser

construído por mutirão, definindo o sistema construtivo adotado, no caso bloco cerâmico

estrutural, com a escada metálica, serviram não só para possibilitar a construção com a

mão-de-obra disponível, como também como uma pedagogia que ofereceu a muitos

mutirantes uma experiência, com um sistema construtivo diferente do sistema tradicional. A

escada metálica serviu como gabarito, bem como meio de transporte dos materiais,

constituindo o primeiro elemento da construção.

Fonte: Revista Arquitetura e Urbanismo n. 82 (Fev/Mar-1999)

Com relação à mão-de-obra utilizada, que no caso foram os próprios mutirantes, é preciso

considerar que o subsídio oferecido pela CDHU, que tem um valor determinado, neste caso,

o custo com o pagamento da Construtora, foi transformado em benefícios diretos a unidade

habitacional, possibilitando a construção de uma unidade mais generosa espacialmente -

enquanto que as unidades da CDHU têm em média 42 m2, as unidades do Condomínio

União da Juta têm 60 m2 14. Nogueira (2003) também explica que os laços comunitários nos

condomínios onde seus moradores são provenientes de movimentos sociais, e mais

especificamente nos condomínios construídos por sistema de mutirão são menos

conflituosos, e suas ações mais coesas15. Abaixo os três tipos de unidades, resultantes das

14

A atribuição do valor de mão-de-obra em autoconstrução reduz, evidentemente, a vantagem econômica comparativa do projeto Vila Nova Cachoeirinha, mas em todas as hipóteses consideradas, os custos de construção permanecem inferiores aos outros projetos do Promorar, e isso para uma qualidade superior do produto, segundo a opinião dos arquitetos envolvidos no projeto. 15

“...a formação de mão-de-obra no canteiro de obras funciona como uma verdadeira escola profissional... o mutirão cria laços de solidariedade entre os futuros moradores dos conjuntos auto construídos, estabelecendo assim um ponto de partida para sua gestão participativa no futuro” (SACKS,1999) .

Page 16: Debora de almeida

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011

16

necessidades e desejos dos moradores, estas unidades conformam blocos que compõem

uma praça central.

Fonte: Revista Arquitetura e Urbanismo n. 82 (Fev/Mar-1999)

O projeto do conjunto União da Juta é composto por um centro comunitário, que foi o

primeiro edifício construído, dando suporte durante a construção dos edifícios, uma creche,

e 20 blocos contando com 160 unidades. A associação continua atuando junto à

comunidade com educação, atividades culturais, cursos profissionalizantes, etc.

É preciso considerar, porém os aspectos espoliativos deste sistema, pois a Associação

levou 6 anos para concluir sua obra, porque os trabalhadores dispunham apenas dos finais

de semana, de uma mão-de-obra que era composta por mulheres em sua maioria, jovens e

homens, mas que tinham uma jornada de trabalho semanal, e que durante todos esses anos

doaram o seu descanso para um trabalho exaustivo. Além disso, a Associação, como

outras, sofria pressões tanto da Companhia, tornando o processo de liberação das verbas

algo demorado e burocrático, como das Construtoras, que queriam executar as obras

padrões da CDHU, e obter seus lucros, porém com resultados que hoje são questionáveis.

Page 17: Debora de almeida

Universidade Presbiteriana Mackenzie

17

CONCLUSÃO

Nossa pesquisa possibilitou a visão, embora genérica (não existe até o momento, seja feita

pela CDHU, ou particular, uma pesquisa de pós-ocupação da área, que mostre com maiores

detalhes), dos resultados gerados pela implantação do Conjunto Habitacional, sob os

aspectos urbanos, econômicos e sociais. Pudemos constatar, porém a complexidade que

um projeto urbano possui, o tempo que leva até sua implantação e consolidação, no caso da

área de estudo, do início até a fase em que se encontra são aproximadamente 20 anos, e

alguns equipamentos ainda estão em projeto, ou seja, a CDHU ainda continua atuando na

área, sob o departamento de obras e sob o departamento de regularização, trabalho que

ainda levará algum tempo para ser concluído.

É importante perceber como a interação entre a Companhia e os demais atores, sejam

Associações, sejam outros órgãos estaduais, é necessária para o desenvolvimento da área.

No entanto um fator a ser considerado como um aspecto relevante à constituição de cidade

é a oferta de comércio e serviços na área (NAKASHIGUE, 2008). Ou seja, tanto no projeto

do Conjunto Teotônio Vilela, quanto no Conjunto Fazenda da Juta, o comércio ocorre de

maneira informal, seja em barracas fixadas nas calçadas, ou em pequenos cômodos de

alvenaria construídos aleatoriamente ao longo das principais vias. Isto indica uma

necessidade básica que o morador tem, não só de consumo, mas, como possibilidade de

geração de renda.

A área que hoje acaba por ser beneficiada pelos investimentos públicos, também começa a

atrair investimento privado, com a construção de condomínios tipo clube, por meio do

programa MCMV, configurando um novo tipo de segregação do espaço periférico, com uma

classe de renda distinta da classe pré-existente. Não é negativo, a não ser pela pobreza do

desenho urbano que configuram novos guetos na periferia. É preciso considerar que quase

a totalidade dos projetos urbanos sofre este processo de valorização do solo, que é um

elemento de exclusão e uma questão em aberto.

Ao analisarmos o conjunto Fazenda da Juta, percebemos na maior parte dos condomínios

que a divisão entre a rua e estes, se dá através de um muro de alvenaria com

aproximadamente 3 metros de altura, conformando no espaço da rua áreas enclausuradas e

inseguras a caminhada do pedestre, no entanto no Condomínio União da Juta, a divisão se

dá com uma mureta a 1,20 de altura aproximada, e grade na parte superior, isto confere

uma relação com o entorno muito positiva, e até mesmo com maior segurança aos

moradores do condomínio e da vizinhança, pois obtém se um controle visual, que acaba por

inibir atos de criminalidade.

Page 18: Debora de almeida

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011

18

Acesso padrão do Conjunto Fazenda da Juta Acesso ao Condomínio União da Juta

Fonte: Google Earth

É interessante constatar que apesar de São Mateus estar geograficamente mais distante do

centro de São Paulo, o que poderia justificar um maior índice de vulnerabilidade, em relação

a Sapopemba, porém o que acontece é justamente o contrário, isto também pode ser

verificado em relação ao nível de renda média, que em São Mateus é um pouco maior. A

leitura em termos de desenvolvimento socioeconômico aqui deve considerar o tempo de

existência de cada região. A área de Sapopemba é mais nova do que São Mateus, e isto se

traduz minimamente sob o aspecto de coesão comunitária, pois esta última já tem 50 anos

de existência, e muitos de seus moradores estão lá desde então. Fato distinto do que ocorre

em grande parte dos conjuntos habitacionais em Sapopemba, pois em muitos casos os

moradores vieram de diferentes lugares e culturas, e apesar do esforço em oferecer a

moradia, a falta do sentido de comunidade entre “diferentes”, se tornou um elemento de

vulnerabilidade maior ainda.

A pesquisa alcançou seus objetivos porque apesar de não obtermos respostas nos lugares

esperados, as publicações acadêmicas existentes foram suficientes para tal. No entanto, a

pesquisa nos apontou caminhos desconhecidos até então, como a importante relação entre

os movimentos sociais e a arquitetura na busca por melhores respostas a elaboração de

projetos de habitação social, apontando ao arquiteto novos desafios, e oportunidades de

trabalho, que envolvem não só a elaboração do projeto, mas o processo construtivo.

Essa pesquisa mostra como é extremamente necessária a valorização por parte do poder

público do projeto arquitetônico, ou seja, não podemos mais aceitar que projetos de

habitação social sejam genéricos, aplicáveis a diferentes comunidades e espaços, neste

sentido vemos a enorme importância do projeto e da assistência técnica, que não devem ser

vistos apenas como um processo tecnocrático.

Page 19: Debora de almeida

Universidade Presbiteriana Mackenzie

19

REFERÊNCIAS

ARANTES, Pedro F. Arquitetura Nova: Sérgio Ferro, Flávio Império e Rodrigo Lefèvre,

de Artigas aos mutirões. São Paulo: Editora 34, 2004, 2ª Ed.

BONDUKI, Nabil. Origens da Habitação Social no Brasil: Arquitetura Moderna, Lei do

Inquilinato e Difusão da Casa Própria. Ed. Estação Liberdade FAPESP, 1999.

KOWARICK, Lúcio. A espoliação urbana. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1979.

LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo: Centauro.2001. 5ª Ed.

MARICATO, Ermínia. Habitação e Cidade. São Paulo: Atual, 1997. 6ª Ed.

MEYER, Regina M. P. Segregação Espacial - Brasília in A luta pelo espaço. BLAY. Eva

Alterman (org.) São Paulo: Vozes. 1979. 2ª Ed.

NAKASHIGUE, Katia Luli. Mutirões verticalizados em São Paulo: avaliação de qualidade

dos projetos e satisfação dos moradores. São Paulo: FAUUSP, 2008. Dissertação de

Mestrado.

NOGUEIRA, Aida Pompeo. O habitar no espaço urbano periférico: conjuntos de

habitação social. São Paulo: FAUUSP, 2003. Tese de Doutorado

NUNES, Edison e JACOBI, Pedro. Movimentos populares urbanos, participação e

democracia in Movimentos Sociais urbanos, minorias étnicas e outros estudos.

ANPOCS. Brasília, 1983

PASTERNAK, T. S.; MAUTNER, Y. Habitação de pobreza: alternativa de moradia

popular em São Paulo. São Paulo, FAUUSP, 1982.

SACHS, Céline. São Paulo: políticas públicas e habitação popular. São Paulo: Editora

da Universidade de São Paulo, 1999.

SILVA, Luis A. M. da, e ZICARDI, Alicia. Notas para uma discussão sobre “Movimentos

Sociais Urbanos” in Movimentos Sociais urbanos, minorias étnicas e outros estudos.

ANPOCS. Brasília, 1983.

TARALLI. Cibele Haddad. Mudança de tecnologia na Habitação: os conjuntos

habitacionais da COHAB-SP. Dissertação de Mestrado: FAUUSP, 1984.

Revista Arquitetura e Urbanismo no 82. Fev/Mar de 1999

http://www.capital.sp.gov.br

http://mapab.habisp.inf.br

Page 20: Debora de almeida

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011

20

Contato: [email protected] e [email protected]