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DECLÍNIO FUNCIONAL COGNITIVO E RISCO DE QUEDAS EM DOENTES IDOSOS INTERNADOS José Pedro dos Santos Rodrigues Trabalho de Projeto apresentado à Escola Superior de Saúde de Bragança para a obtenção do grau de Mestre em Enfermagem de Reabilitação Orientada por: Maria Eugénia Rodrigues Mendes Bragança, maio, 2012

Declínio Funcional Cognitivo e Risco de Quedas Em Doentes Idosos Internados

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Quedas idosos

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  • DECLNIO FUNCIONAL COGNITIVO E RISCO DE QUEDAS

    EM DOENTES IDOSOS INTERNADOS

    Jos Pedro dos Santos Rodrigues

    Trabalho de Projeto apresentado Escola Superior de Sade de Bragana para a

    obteno do grau de Mestre em Enfermagem de Reabilitao

    Orientada por: Maria Eugnia Rodrigues Mendes

    Bragana, maio, 2012

  • DECLNIO FUNCIONAL COGNITIVO E RISCO DE QUEDAS

    EM DOENTES IDOSOS INTERNADOS

    Jos Pedro dos Santos Rodrigues

    Trabalho de Projeto apresentado Escola Superior de Sade de Bragana para a

    obteno do grau de Mestre em Enfermagem de Reabilitao

    Orientada por: Maria Eugnia Rodrigues Mendes

    Bragana, maio, 2012

  • iii

    Aquele que envelhece e que segue atentamente

    esse processo poder observar como, apesar de

    as foras falharem e as potencialidades

    deixarem de ser as que eram, a vida pode, at

    bastante tarde, ano aps ano e at ao fim, ainda

    ser capaz de aumentar e multiplicar a

    interminvel rede das suas relaes e

    interdependncias e como, desde que a memria

    se mantenha desperta, nada daquilo que

    transitrio e j se passou se perde.

    Hermann Hesse

  • iv

    Aos meus pais Jos e Angelina pela alegria e

    compreenso.

    minha esposa Solange pelo amor e dedicao.

    minha irm Sandra pelo apoio incondicional.

  • v

    AGRADECIMENTOS

    minha orientadora Professora Maria Eugnia Rodrigues Mendes agradeo o

    apoio, a disponibilidade a partilha do conhecimento e ideias, mas sobretudo pelas

    preciosas contribuies, que tornaram possvel este trabalho.

    A todos os idosos internados no servio de Medicina Interna que, apesar da sua

    condio de doena, colaboraram para a realizao deste estudo.

    E a todos aqueles que direta ou indiretamente, contriburam para a concretizao

    deste estudo, o meu muito obrigado.

  • vi

    ABREVIATURAS E SIGLAS

    CAM - Confusion Assessment Method

    cols. - colaboradores

    CHTMAD Centro Hospitalar Trs-os-Montes e Alto Douro

    DCL - Dfice Cognitivo Ligeiro

    DMAI - Dfice de Memria Associado Idade

    et al. - e todos

    GDS - Geriatric Depression Scale

    HAMT - Hodkingson Abbreviated Mental Test

    INE - Instituto Nacional de Estatstica

    MIF - Medida de Independncia Funcional

    MMSE - Mini Mental State Examination

    OE - Ordem dos Enfermeiros

    OMS - Organizao Mundial de Sade

    SPMSQ - Short Portable Mental Status Questionnaire

    SPSS - Statistical Package for the Social Sciences

  • vii

    RESUMO

    O processo de envelhecimento caraterizado pela presena de dfices cognitivos

    que devem ser avaliados pormenorizadamente para compreender a sua gravidade e

    prevenir a sua evoluo para quadros mais graves e patolgicos como a demncia. A

    hospitalizao contribui para uma maior debilidade/fragilidade do idoso, sendo

    considerada de grande risco para o declnio da aptido fsica e da funo cognitiva

    potenciando, assim, o risco de queda.

    Com o objetivo de perceber em que medida o declnio funcional cognitivo se

    acentua durante a hospitalizao e influencia no risco de queda em doentes idosos

    desenhou-se um estudo exploratrio, descritivo e correlacional. Utilizaram-se como

    instrumentos de avaliao a Escala de Morse, a Medida de Independncia Funcional

    (MIF) e o Mini Mental State Examination (MMSE).

    Foram avaliados em dois momentos, admisso e alta, 51 idosos (75,537,16

    anos), 53% dos quais eram mulheres, com uma mdia de 14,276,45 dias de

    internamento num servio de Medicina Interna.

    O risco de queda, avaliado com a escala de Morse, evolui no sentido da

    diminuio do risco, correlaciona-se positivamente com a idade e com a durao do

    internamento no se evidenciando diferenas quanto ao tipo de residncia. Para as

    restantes medidas em anlise (MIF, MIF subescala cognitiva e MMSE) foram

    encontradas diferenas estatisticamente significativas no sentido da diminuio das

    pontuaes da admisso para a alta. Encontraram-se ainda correlaes negativas em

    ambos os momentos entre a idade e a durao do internamento e as pontuaes obtidas

    em todas as medidas. exceo da MIF subescala cognitiva na admisso, todos os

    idosos residentes em casa prpria ou de familiares obtiveram melhores resultados que

    os institucionalizados em todas as medidas e ambos os momentos de avaliao.

    Existem mltiplos fatores de risco associados ao declnio funcional cognitivo e

    ao risco de queda nos idosos durante a hospitalizao que podem ser minimizados ou

    evitados atravs de programas de Enfermagem de Reabilitao.

    Palavras-Chave: Envelhecimento; Declnio funcional cognitivo; Quedas;

    Hospitalizao

  • viii

    ABSTRACT

    The aging process is characterized by the presence of cognitive deficits that must

    be evaluated in detail to understand its gravity, preventing its progression to more

    severe clinical and pathological states, such as dementia. The hospitalization contributes

    to a greater weakness/frailty of the elderly and is considered high risk for decline in

    physical fitness and cognitive function increasing the risk of falling.

    In order to understand if the cognitive functional decline is accentuated during

    hospitalization and influences the risk of falling in elderly patients it was design an

    exploratory, descriptive and correlational study. As measures were used the Morse

    Scale, the Functional Independence Measure (FIM) and the Mini Mental State

    Examination (MMSE).

    Were evaluated at two times, admission and discharge, 51 elderly (75.53 7.16

    years), 53% were women, admitted in an internal medicine service with a mean of

    14,276,45 days of hospitalization.

    The risk of falling assessed with the Morse scale evolves towards decreased risk,

    is positively correlated with age and length of hospitalization were not evident

    significant differences in type of residence. For all of the other measures under

    consideration (FIM, FIM cognitive subscale and MMSE) were found statistically

    significant differences in the direction of lower scores from admission to discharge.

    There were also negative correlations at both time points between age and length of stay

    and the scores on all measures. Except for the FIM cognitive subscale at admission, all

    elderly residents in their own home or family fared better than the institutionalized in all

    measures and both time points.

    There are multiple risk factors associated with functional decline and the risk of

    cognitive decline in elderly patients during hospitalization that can be avoided or

    minimized with Rehabilitation Nursing programs.

    Key Words: Aging, Cognitive Functional Decline; Falls; Hospitalization

  • ix

    NDICE GERAL

    INTRODUO .............................................................................................................. 1

    PARTE I ESTADO DA ARTE ................................................................................... 3

    1. ENVELHECIMENTO ....................................................................................... 5

    2. DECLNIO FUNCIONAL COGNITIVO NO IDOSO ................................... 8

    2.1 FATORES QUE INFLUENCIAM O ENVELHECIMENTO COGNITIVO 9

    3. HOSPITALIZAO DO IDOSO ................................................................... 17

    4. QUEDAS ........................................................................................................... 19

    5. REABILITAO COGNITIVA EM IDOSOS ............................................. 23

    PARTE II ESTUDO EMPRICO ............................................................................ 27

    1. METODOLOGIA ............................................................................................. 29

    1.1 QUESTO DA INVESTIGAO ............................................................... 29

    1.1.1 Justificao do tema............................................................................ 29

    1.2 OBJETIVOS DE ESTUDO ........................................................................... 30

    1.3 TIPO DE ESTUDO ........................................................................................ 30

    1.4 CONSIDERAES TICAS ........................................................................ 31

    1.5 INSTRUMENTO DE RECOLHA DE DADOS ........................................... 32

    1.5.1 Escala de MORSE .............................................................................. 32

    1.5.2 Medida de Independncia Funcional .................................................. 33

    1.5.3 Mini Mental State Examination (MMSE) .......................................... 35

    1.5.4 Definio de Termos .......................................................................... 36

    1.6 AMOSTRAGEM E CRITRIOS DE INCLUSO ...................................... 36

    1.7 PROCEDIMENTO ......................................................................................... 37

    1.8 PROCEDIMENTOS ESTATSTICOS ......................................................... 38

    2. APRESENTAO DE RESULTADOS ........................................................ 38

    3. DISCUSSO DOS RESULTADOS ................................................................ 48

    CONCLUSO ............................................................................................................... 53

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ....................................................................... 54

    APNDICE A - QUESTIONRIO APLICADO AOS IDOSOS ............................. 59

  • x

    NDICE DE TABELAS

    Tabela 1 - Distribuio dos participantes por idade ....................................................... 39

    Tabela 2 - Distribuio dos participantes por nmero de dias de internamento............. 39

    Tabela 3 - Escala de Morse Score na admisso e na alta ............................................ 41

    Tabela 4 - Medida de Independncia Funcional na admisso e na alta .......................... 43

    Tabela 5 - Medida de Independncia Funcional Sub-Escala Cognitiva na admisso e

    na alta .............................................................................................................................. 44

    Tabela 6 Mini Mental State Examination Pontuao na admisso e na alta ............ 45

  • xi

    NDICE DE QUADROS

    Quadro 1 - Alteraes nas aptides com o decorrer do envelhecimento (Sequeira, 2010)

    ........................................................................................................................................ 12

    Quadro 2 - Escala de declnio cognitivo de Reisberg e col. (1982) ............................... 13

    Quadro 3 Instrumentos de avaliao do risco de queda (Almeida et al., 2010) .......... 21

    Quadro 4 - Nvel de risco de queda e medidas recomendadas (Morse, 1997) ............... 33

    Quadro 5 - Classificao dos nveis da avaliao na Medida de Independncia Funcional

    (Sequeira, 2010) ............................................................................................................. 34

    Quadro 6 - Funes avaliadas na medida de independncia funcional .......................... 34

    Quadro 7 Comparao das pontuaes mdias obtidas para as escalas de avaliao

    aquando da admisso e alta dos utentes.......................................................................... 46

    Quadro 8 Correlaes entre as pontuaes das escalas nos dois momentos de

    avaliao e a idade e nmero de dias de internamento dos utentes ................................ 46

    Quadro 9 Mdias obtidas nas vrias escalas de avaliao pelos grupos dos utentes que

    residem em casa prpria/famlia e os institucionalizados .............................................. 47

  • xii

    NDICE DE FIGURAS

    Figura 1 - Modelo de Fatores de Risco de Quedas em Idosos Adaptado de (WHO,

    2007) ............................................................................................................................... 20

    Figura 2 Cascata da dependncia (Creditor, 1993)...................................................... 22

  • xiii

    NDICE DE GRFICOS

    Grfico 1 - Populao residente em Portugal, comparao entre 1991 e 2010 (INE,

    2011) ................................................................................................................................. 5

    Grfico 2 - ndice de Envelhecimento em Portugal, 1991 - 2010 (INE, 03 de junho de

    2011) ................................................................................................................................. 6

    Grfico 3 - Projees de Populao Residente em Portugal 2010 - 2060 (INE) .............. 7

    Grfico 4 - Distribuio dos participantes por sexo ....................................................... 38

    Grfico 5 - Distribuio dos participantes por estado civil ............................................ 40

    Grfico 6 - Distribuio dos participantes por residncia .............................................. 40

    Grfico 7 - Escala de Morse Classificao na admisso e na alta ............................... 42

  • 1

    INTRODUO

    O aumento da longevidade requer dos profissionais de sade uma maior ateno

    e capacidade para equacionar a problemtica que o processo de envelhecimento acarreta

    para o indivduo idoso, sociedade e instituies de sade. Torna-se cada vez mais

    necessrio estar atento problemtica da qualidade de vida, bem como os aspetos da

    independncia, autonomia para as atividades de vida dirias, a segurana social e

    ambiental da pessoa idosa (Rebelatto & Morelli, 2004). A capacidade funcional refere-

    se autonomia da pessoa para a realizao de tarefas que fazem parte do seu quotidiano

    e lhe asseguram a possibilidade de viver sozinha em contexto domicilirio. A perda da

    capacidade funcional decorrente do prprio envelhecimento e da falta de estimulao

    cognitiva, so das principais causas de institucionalizao dos idosos (Pal, 1997).

    Atualmente objetivo fundamental avaliar frequentemente os diferentes nveis

    de incapacidade para se planificar de forma adequada os cuidados de sade, permitindo

    uma melhor organizao dos recursos existentes de forma a promover a sade,

    identificando antecipadamente as pessoas de risco. Os Enfermeiros Especialistas em

    Enfermagem de Reabilitao so detentores de um conjunto de competncias (OE,

    2011) que lhes permite avaliar as necessidades especficas desta populao bem como

    prescrever, implementar e monitorizar planos e programas de Enfermagem de

    Reabilitao para prevenir ou minimizar o impacto do declnio funcional.

    Particularmente importante pode ser a sua interveno nos servios de internamento

    hospitalar, como a medicina interna, onde a grande maioria dos doentes internados tem

    idade igual ou superior a 65 anos.

    Num estudo realizado por Diogo e Kawasaki detetaram-se taxas de deteriorao

    funcional em cerca de oitenta por cento dos idosos durante a hospitalizao (Kawasaki

    & Diogo, 2005). Entre os fatores de risco predisponentes ao declnio funcional dos

    idosos internados, a literatura salienta a idade avanada (Cunha, Cintra, Cunha, Couto,

    & Giacomin, 2009), estados confusionais graves, dfice cognitivo (Inouye et al., 1993),

    iatrogenias, gravidade da condio fsica e histria de quedas (Cunha et al., 2009).

    Inmeros estudos realizados em ambiente hospitalar indicaram que utentes

    idosos com tendncia a quedas tm maior risco de apresentar declnio funcional durante

  • 2

    o perodo de internamento (Anpalahan & Gibson, 2008; Cornette et al., 2006; Siqueira,

    Cordeiro, Perracini, & Ramos, 2004).

    Assim, dada a pertinncia da temtica em questo, avaliar a relao existente

    entre o declnio funcional cognitivo do idoso e o risco de quedas durante o

    internamento, foi delineado este projeto.

    A finalidade principal deste evidenciar a necessidade de planos de interveno

    em Enfermagem de Reabilitao, personalizados e direcionados aos dfices avaliados,

    que diminuam o impacto negativo do internamento sobre a funo cognitiva dos idosos

    durante o internamento hospitalar.

    Salienta-se, ainda, como objetivo o desenvolvimento de competncias no ambito

    da investigao em contexto da prtica de cuidados.

    Este trabalho encontra-se estruturado em duas partes. A primeira parte remete

    para o estado da arte, com o intuito de expor o conhecimento atualizado da literatura

    sobre temtica em questo e a segunda parte abrange o estudo emprico, onde so

    abordadas as questes metodolgicas, apresentao e discusso dos resultados.

  • 3

    PARTE I ESTADO DA ARTE

  • 4

  • 5

    1. ENVELHECIMENTO

    A populao idosa Portuguesa, seguindo a tendncia mundial, tem vindo a

    aumentar. Na dcada de 90, a proporo de indivduos com menos de 24 anos

    representava, em mdia, 33,4% do total, na dcada seguinte um pouco menos de 28,0%,

    situando-se, em 2010, nos 26,0% (INE, 2011).

    Grfico 1 - Populao residente em Portugal, comparao entre 1991 e 2010 (INE, 2011)

    O ndice de Envelhecimento a relao existente entre o nmero de idosos e a

    populao jovem, normalmente expresso em nmero de residentes com 65 ou mais anos

    por 100 residentes com menos de 15 anos. Esta relao constitui o melhor indicador de

    envelhecimento da populao.

    A populao envelheceu e espera-se que, a um ritmo mais lento, a populao

    com 65 e mais anos e a mais idosa, continue a envelhecer. Perante esta realidade,

    irrefutvel, as recomendaes internacionais apontam para encarar o envelhecimento

    das sociedades como um desafio e uma oportunidade. preciso potenciar tanto a

    experincia como as capacidades das pessoas idosas de modo a dar-lhes oportunidades

    para intervirem na vida em sociedade (Gonalves & Carrilho, 2007).

  • 6

    Grfico 2 - ndice de Envelhecimento em Portugal, 1991 - 2010 (INE, 03 de junho de 2011)

    O ndice de envelhecimento ultrapassou pela primeira vez os 100 idosos por

    cada 100 jovens em 1999 (INE, 2002) ascendendo a 102 idosos por cada 100 jovens em

    2001, passando para 110 em 2005 e para 128,6 data dos Censos 2011.

    Com o aumento do envelhecimento da populao, o cuidado com o doente idoso

    deve ser uma preocupao da sociedade em geral e dos profissionais de sade em

    particular. Exige um maior desenvolvimento e empreendimento em termos de cincia

    terica e aplicada, havendo necessidade de aprofundar os conhecimentos acerca do

    processo de envelhecimento no respeitante interatividade e repercusso

    multidimensional (bio-psico-social). Do mesmo modo implica mais profissionais com

    especializao na rea e intervenes em reabilitao, que podem ajudar a ultrapassar

    ou compensar incapacidades funcionais/cognitivas e incluir estratgias de adaptao s

    atividades de vida dirias bem como modificaes no meio ambiente e ajudas tcnicas,

    criando condies de autonomia e independncia de modo a reduzir as incapacidades e

    limitaes do idoso.

    Segundo as Projees de Populao Residente em Portugal, 2008-2060, cuja

    publicao foi disponibilizada no Portal do INE a 19 de maro de 2009, prev-se, at

    2060, um decrscimo populacional, acompanhado de um aumento no ndice de

    Envelhecimento da populao com reduo dos efetivos mais jovens, consequncia dos

    nveis de fecundidade abaixo do limiar de substituio das geraes e do esperado

    aumento da esperana de vida.

  • 7

    Assim, antev-se no perodo de projeo (2008-2060) uma reduo da populao

    jovem (0-14 anos de idade), de 15,3% para 11,9% e um aumento de 17,4% para 32,3%

    dos indivduos com 65 ou mais anos de idade. Resultante sobretudo do aumento da

    esperana mdia de vida, a populao com 80 e mais anos de idade evoluir de 4,2% do

    total de efetivos em 2008 para valores entre 12,7% e 15,8% em 2060.

    Projeta-se que, em 2060, residam no territrio nacional cerca de 3 idosos por

    cada jovem.

    Grfico 3 - Projees de Populao Residente em Portugal 2010 - 2060 (INE)

    Por observao do grfico 3 verifica-se que o fenmeno do envelhecimento se

    tornou numa realidade irrefutvel mantendo-se uma tendncia crescente no peso da

    populao idosa. Sendo este um processo progressivo, irreversvel e incontrolvel de

    declnio das funes fisiolgicas, no implica que conduza impreterivelmente

    incapacidade do indivduo, no entanto, o risco de leses causadas por acidentes

    aumenta, constituindo as quedas uma das principais causas de leses na velhice.

  • 8

    2. DECLNIO FUNCIONAL COGNITIVO NO IDOSO

    A funcionalidade do idoso relaciona-se com a sua autonomia e independncia

    para manter as suas atividades quotidianas, resultando no somente da capacidade fsica

    como tambm das capacidades cognitivas e fatores psicossociais.

    A cognio reside num conjunto de funes mentais envolvendo ateno,

    raciocnio, memria, perceo, imaginao, juzo, pensamento, linguagem e

    inteligncia, utilizados para processar a informao e o conhecimento (Hoeman, 2011).

    Um bom funcionamento cognitivo fundamental para um envelhecimento com

    qualidade. Para muitos envelhecer sinnimo de declnio cognitivo, no entanto,

    verifica-se na velhice uma enorme variabilidade, manifestando alguns indivduos apenas

    pequenas mudanas enquanto que, em outros, a degenerao enorme.

    No existindo uma definio instituda para declnio cognitivo, pode entender-se

    como uma diminuio no rendimento de diferentes aptides cognitivas. Algumas

    funes cognitivas declinam pouco no decurso da vida, enquanto outras parecem

    mesmo aumentar, estes aspetos so influenciados, semelhana da funo, por vrios

    fatores: histria familiar, condies psiquitricas, hbitos de vida e outros(de Len-

    Arcila, Milin-Suazo, Camacho-Caldern, Arvalo-Cedano, & Escartn-Chvez, 2009).

    Segundo estudos de orientao mdica, o declnio cognitivo na velhice, est

    intimamente relacionado com diferentes tipos de demncia, sendo as mais comuns a

    doena de Alzheimer e a demncia vascular, e para a sua medio , na maioria dos

    casos, utilizada a escala Mini Mental State Examination (Folstein, Folstein, & McHugh,

    1975).

    No desempenho intelectual, as aptides cognitivas atingem o seu auge aos 30

    anos, continuando estveis at ao perodo dos 50-60 anos comeando posteriormente a

    diminuir. O seu declnio acelera-se a partir dos 70 anos.

    As alteraes cognitivas inerentes ao envelhecimento normal dificultam o

    diagnstico de perturbaes mentais orgnicas, como o caso da demncia.

  • 9

    2.1 FATORES QUE INFLUENCIAM O ENVELHECIMENTO COGNITIVO

    So vrios os fatores que levam a alteraes cognitivas (Spar & La Rue, 2005):

    genticos, sendo estes responsveis por aproximadamente 50% da variabilidade

    cognitiva no idoso;

    sade;

    instruo/escolaridade, responsvel por 30% da variabilidade cognitiva na

    terceira idade;

    atividade fsica e mental, a execuo de atividades que estimulem o corpo e a

    mente esto intimamente relacionadas com um desempenho cognitivo mais

    eficaz e um menor declnio longitudinal;

    conhecimentos especializados, apesar de um declnio das capacidades cognitivas

    resultante do avanar da idade, aqueles que efetuam treinos/estratgias

    compensadoras apresentam um elevado nvel de desempenho;

    personalidade e humor, verifica-se uma correlao entre a depresso e a

    insuficincia autopercebida da memria e dfices do desempenho;

    contexto scio-cultural;

    treino cognitivo;

    diferenas entre gneros, etnias e raas;

    idade, quanto mais avanada maior o risco de aquisio de dfices cognitivos

    decorrentes da hospitalizao. As pessoas mais idosas apresentam menor

    capacidade de recuperao e maior tendncia a tornarem-se dependentes durante

    a sua permanncia no hospital.

    Os idosos demonstram maior dificuldade nas tarefas de raciocnio que obrigam a

    uma anlise lgica e organizada de material abstrato/no familiar, revelando-se mais

    lentos na execuo de tarefas que exijam o planeamento, execuo e avaliao de

    sequncias complexas. Deste modo, apresentam uma lentificao mais acentuada que os

    jovens relativamente aos aspetos percetivos, mnsicos, cognitivos e motores (Spar & La

    Rue, 2005).

    A eficcia da comunicao por meio da linguagem permanece estvel durante a

    vida adulta. Na senescncia verifica-se uma maior dificuldade na compreenso de

    mensagens longas ou complexas e na reproduo de termos especficos, tornando-se o

    discurso mais repetitivo.

  • 10

    Relativamente s aptides visuais, no que remete para o espao, os idosos

    conseguem manter a capacidade de reconhecer imagens, lugares e caras que lhes so

    familiares e reproduzirem/identificarem formas geomtricas vulgares. Em contrapartida,

    demostram um declnio na capacidade de reconhecerem e reproduzirem configuraes

    complexas ou pouco habituais.

    A inteligncia permanece estvel ao longo de toda a vida adulta podendo atingir

    um ligeiro declnio em idades avanadas, o que normalmente se traduz apenas na

    execuo de novas tarefas. Pode ser dividida em inteligncia fluida e cristalizada

    (Umpherd, 2010). A primeira remete para o processo bsico de informao, capacidade

    de raciocinar, perceber a relao entre objetos, criar novas ideias e na adaptao a

    mudanas. Atinge o auge aos 25 anos, declinando a partir dessa idade. A inteligncia

    cristalizada consiste no processo de aquisio do conhecimento, centralizando-se na

    educao, no conhecimento, na experincia adquirida no contexto sociocultural. Tem

    tendncia a manter-se e aperfeioar-se ao longo da vida. Deste modo, indubitavelmente,

    as atividades/experincias do passado tm repercusses no presente e so fundamentais

    para um envelhecimento bem-sucedido no futuro (Umpherd, 2010).

    Relativamente ateno, os idosos mantm uma capacidade estvel em

    dirigirem e manterem a ateno sobre tpicos ou acontecimentos especficos,

    demostrando dificuldade em filtrar informao que ocorra ocasionalmente, em repartir a

    ateno por diversas tarefas ou desviar a ateno para um outro ponto (Spar & La Rue,

    2005).

    Park (1999) afirma que o declnio da velocidade a que a informao

    processada, da memria de trabalho e das capacidades sensorial e percetual, esto

    intimamente relacionados com as alteraes cognitivas verificadas com o avanar da

    idade (Spar & La Rue, 2005).

    A velocidade de processamento da informao/resposta , segundo Salthouse

    (1996), traduzida pela lentificao da realizao de componentes percetuais e operaes

    mentais afeta a ateno, a memria e a tomada de decises (Spar & La Rue, 2005).

    McGeer & McGeer (1980) defende que com o avanar da idade, a capacidade de

    aprender reduz-se. Este processo depende de diferentes fatores como, por exemplo, a

    deteriorao sensorial, o que provoca um abrandamento da velocidade percetiva, a

    reduo de sntese de determinados produtos qumicos para a memorizao (Shepard,

    1997).

  • 11

    Segundo Shephard (Shepard, 1997), o componente de reconhecimento da

    memria de longa durao relativamente bem preservado, porm h dificuldades na

    recuperao de informaes desse armazenamento.

    A memria desempenha um papel fulcral na construo da identidade social do

    indivduo, do seu valor social e relacional. constantemente renovada pelos novos

    sentidos e significados adquiridos no momento contemporneo.

    Com o processo de envelhecimento surge uma diminuio da velocidade de

    recuperao de vrios recursos da memria, sendo maior o declnio na memria

    imediata, devido a alteraes no sistema sensrio-motor.

    memria de trabalho, memria a curto prazo ou imediata est inerente a

    reteno e a manipulao de informao registada na memria consciente/a curto prazo.

    Este tipo de memria deteriora-se com a idade, principalmente quando necessrio

    efetuar uma manipulao ativa da informao, criando dificuldades na aprendizagem e

    na recordao de informao nova. Assim, torna-se necessrio ensaiar ou continuar a

    concentrar a ateno(Spar & La Rue, 2005).

    A memria a longo prazo, tambm denominada por memria de recordao

    mantm-se estvel ou com declnio reduzido com a idade.

    A perda da memria dificulta a aproximao das pessoas e as suas relaes

    afetivas, sociais e familiares, o snior fica com limitaes nos seus relacionamentos. A

    perda de memria impede-o de se cuidar, planear sua vida diria e, consequentemente,

    perder a autonomia e qualidade de vida.

    Spar e La Rue (2005), mencionam que o envelhecimento pode influenciar o

    desempenho cognitivo mediante as alteraes das aptides (Quadro 1) e que todas as

    alteraes mencionadas variam de acordo com as caratersticas individuais, contexto e

    vivncias pessoais (Sequeira, 2010).

    O envelhecimento preconizado como normal caraterizado pela presena de

    dfices cognitivos que devem ser avaliados pormenorizadamente para compreender a

    sua gravidade e prevenir, impedindo, a sua evoluo para quadros mais graves e

    patolgicos, tais como a demncia. Assim, surge o dfice de memria associado idade

    (Cancela, 2007).

    Os indivduos que padecem de dfice de memria associado idade tm idade

    igual ou superior a 50 anos, referem queixas subjetivas de perda de memria que afeta

    atividades de vida diria e o seu desempenho em testes padronizados de memria

    inferior ao nvel mdio dos adultos jovens (Cancela, 2007).

  • 12

    Segundo Larrabee e Crook, (1994), verifica-se uma prevalncia de dfice de

    memria associado idade de 85% em idosos com mais de 80 anos (Spar & La Rue,

    2005).

    Quadro 1 - Alteraes nas aptides com o decorrer do envelhecimento (Sequeira, 2010)

    Aptides Caractersticas

    Habilidades Percetivo-motoras Declina a partir dos 50-60 anos.

    Ateno Mantm-se estvel ou sofre um ligeiro declnio.

    Inteligncia Declina ligeiramente em idade muito avanada. Mais

    evidente em tarefas novas.

    Linguagem:

    - Comunicao

    - Sintaxe, conhecimento de palavras

    - Fluncia e nomeao

    - Compreenso

    - Discurso

    - estvel: na ausncia de dfice sensorial;

    - estvel: varia com o grau de instruo;

    - lapsos ocasionais em encontrar palavras;

    - mensagens complexas dificultam mais a

    compreenso;

    - pode ser mais impreciso e repetitivo

    Memria

    - Memria de trabalho (recente)

    - Memria remota ou a longo prazo

    - estvel, declnio ligeiro ou moderado. Diminuio

    da capacidade para manipular a memria de curto

    prazo com dfices na codificao e recuperao.

    - estvel para aspetos mais relevantes da vida do

    idoso.

    Visuo-espacial:

    - copiar desenhos

    - orientao topogrfica

    - varivel: intacta para figuras simples e com

    dificuldades em figuras complexas.

    - em declnio: mais notvel em terreno familiar

    Raciocnio:

    - resoluo de problemas

    - raciocnio prtico

    - em declnio: alguma redundncia e desorganizao

    - varivel, mas intacto para situaes familiares

    Funes executivas Ligeiro declnio. Planeamento e execuo menos

    eficiente de comportamentos complexos.

    Velocidade Em declnio, com lentificao da ao e pensamento.

    Alm do dfice de memria associado idade, existem idosos cujas capacidades

    cognitivas se encontram mais deterioradas relativamente idade que tm, surgindo o

    dfice cognitivo ligeiro (DCL), em que so predominantemente afetadas a

    aprendizagem e a memorizao de nova informao. No entanto, podem ainda verificar-

    se alguns problemas ao nvel da linguagem, das capacidades visuo-espaciais ou do

    raciocnio. Existem trs tipos de DCL (Nunes, 2005)

    puramente amnsico,

    defeito isolado, no mnsico,

    defeitos cognitivos mltiplos.

  • 13

    As pessoas com DCL encontram-se com maior predisposio ao

    desenvolvimento da demncia, sendo importante que esses idosos sejam alvo de

    programas de estimulao e/ou reabilitao cognitiva, com o intuito de melhorar a

    capacidade intelectual.

    Reisberg e colaboradores (1982) referenciaram uma escala de classificao do

    declnio cognitivo (Quadro 2) que permite uma identificao do estado da pessoa

    (Fontaine, 2000).

    Quadro 2 - Escala de declnio cognitivo de Reisberg e col. (1982)

    Estdio Fase

    clnica

    Sintomatologia

    1 Ausncia de

    declnio cognitivo Normal

    Ausncia de queixas mnsicas e de perturbaes

    objetivas

    2 Declnio cognitivo

    muito ligeiro

    Perda de

    memria

    Queixa mnsica centrada nos nomes prprios e locais,

    estando ainda a pessoa adaptada socialmente.

    3 Dfice cognitivo

    ligeiro

    Incio do

    estado de

    confuso

    A pessoa comea a estar incapacitada na sua vida

    diria, adotando uma atitude de negao. A famlia

    comea a tomar conscincia da gravidade da situao.

    4 Declnio cognitivo

    mdio

    Estado de

    confuso

    grave

    O estado da pessoa j se manifesta na consulta clnica.

    Surge perda de autonomia e a capacidade de

    aprendizagem declina muito. Surgem lacunas mnsicas

    na histria pessoal do doente, no entanto reconhece

    rostos e locais familiares. A negao permanente.

    5 Declnio cognitivo

    mediamente grave

    Incio do

    estado

    demncia

    A pessoa deixa de estar apta a viver sozinha, no est

    orientada no tempo, nem no espao, s reconhece o

    nome de pessoas muito prximas, no entanto ainda

    consegue comer, lavar-se, manifestando apraxias

    graves principalmente ao vestir-se.

    6 Declnio cognitivo

    grave

    Estado

    demencial

    mdio

    Perda de autonomia total, pessoa incontinente, incapaz

    de se alimentar, a memria parcelar, inteligncia

    declina muito, o reconhecimento de familiares

    espordico, a personalidade muda, surgem iluses,

    obsesses, ansiedade e labilidade emocional.

    7 Declnio cognitivo

    muito grave

    Demncia

    profunda

    Perda de linguagem, comportamentos incoerentes e

    perda de autonomia total.

    As alteraes ao nvel cognitivo so prevalentes nos idosos com patologia

    aguda, contribuindo, em parte considervel, para o prognstico em termos de

    morbilidade e mortalidade. Deve-se efetuar um esforo com o intuito de reconhecer este

    tipo de alteraes, que podem ser secundrias a estados confusionais agudos como o

    delrio ou, do mesmo modo, envolver situaes prolongadas de demncia, podendo

    surgir tambm depresso ou psicose. Deste modo, fundamental realizar uma distino

  • 14

    das diversas situaes que possam ocorrer, uma vez que os estados agudos (delrio,

    agitao, depresso, entre outros) podem ser reversveis mediante intervenes

    atempadas de correo ou minimizao dos seus efeitos, o mesmo no acontecendo no

    caso de demncias prolongadas (exemplo: doena de Alzheimer). Porm, pode-se estar

    perante diferentes casos, em que a demncia o fator de risco mais importante para a

    ocorrncia de delrio nos doentes idosos, em contrapartida, o delrio em idosos

    hospitalizados com demncia leva diminuio das capacidades funcionais e perda de

    independncia.

    O delrio surge com um quadro inicialmente agudo, com dfices de ateno, de

    organizao do pensamento, alterao do nvel de conscincia, desorientao, dfices na

    memria, distrbios da perceo, alteraes psicomotoras e perturbao do ritmo do

    sono.

    So diversos os instrumentos que podem ser utilizados para identificar os

    diferentes dfices cognitivos:

    Mini Mental State Examination (MMSE): breve teste de rastreio cognitivo,

    simples e frequentemente usado;

    Hodkingson Abbreviated Mental Test (HAMT): avalia rapidamente a

    possibilidade de demncia em idosos. Embora validado essencialmente em

    idosos, a sua utilizao estendeu-se avaliao da confuso e declnio cognitivo

    em geral;

    Short Portable Mental Status Questionnaire (SPMSQ): testa a orientao,

    memria remota e recente, habilidades prticas e habilidades matemticas em

    idosos;

    Confusion Assessment Method (CAM): avalia a existncia de delrio;

    Geriatric Depression Scale (GDS): avalia a presena de sintomas de depresso.

    A demncia uma patologia com um conjunto de sintomas especficos

    caratersticos da doena mental, que englobam alteraes da cognio, do

    comportamento e da interao. Demncia um termo genrico, que carateriza

    sndromes de etiologias diversas, em que surge, como aspeto fundamental, a

    deteriorao intelectual adquirida devido a uma causa orgnica no especfica. Ocorre

    na sequncia de uma doena cerebral, geralmente de natureza crnica, progressiva e

    com perturbao de diversas funes corticais, em que h comprometimento da

    memria (de fixao e evocao), do pensamento abstrato, do julgamento e mudanas

  • 15

    da personalidade. Posteriormente estes comprometimentos tambm tm influncia em

    alteraes da linguagem, praxias, gnosias, entre outras.

    A demncia uma decadncia progressiva da capacidade mental em que a

    memria, a reflexo, o juzo, a concentrao e a capacidade de aprendizagem esto

    diminudos e pode produzir-se uma deteriorao da personalidade.

    A demncia mais representativa, com 60% a 70% dos casos, remete para o

    Alzheimer. Por sua vez, a demncia constitui um dos maiores problemas de sade da

    populao idosa da Europa (Sequeira, 2010).

    O diagnstico de um quadro de demncia, inicialmente complicado devido ao

    carter heterogneo do funcionamento cognitivo dos idosos e frequncia com que

    surgem patologias associadas (exemplo: depresso).

    A demncia, uma doena de evoluo lenta, pelo que podem passar

    despercebidos os sintomas iniciais. Os sintomas mais significantes da demncia

    englobam:

    Alterao da memria a curto ou longo prazo;

    Esquecimento de pessoas, lugares, acontecimentos, objetos e rotinas dirias;

    Alterao na linguagem, dificuldade em encontrar a palavra certa ou em fazer

    clculos com nmeros;

    Modificao ou acentuao da maneira de ser (prostrao/agitao, desinibio

    social, choro fcil).

    A evoluo da doena diferente de pessoa para pessoa. Perante a inexistncia

    de novos fatores desencadeantes da demncia, a evoluo de cada indivduo mantm o

    mesmo ritmo, de ano para ano. Em doentes com demncia num estado avanado, o

    crebro perde quase todas as suas capacidades funcionais. H maior dificuldade em

    controlar o seu comportamento e linguagem. Podem ser incapazes de construir uma

    frase completa e at de falar.

    Na maioria, a demncia uma doena progressiva e sem cura. O tratamento visa

    atrasar a sua evoluo e dirigido causa.

    A manuteno de um ambiente familiar ajuda a pessoa com demncia a

    conservar a sua orientao. H particularidades que podem facilitar o quotidiano destes

    indivduos e de quem os rodeia, devendo-se manter um ambiente calmo, sem grandes

    estmulos, atitudes protetoras e/ou repreensivas e efetuar a manuteno das rotinas

    dirias.

  • 16

    A estimulao cognitiva essencial e engloba todas as atividades que

    contribuem para melhorar o funcionamento cognitivo em geral (memria, linguagem,

    ateno, concentrao, abstrao, operaes aritmticas e praxias) atravs de programas

    de estmulo. Consiste em exercitar e manter as capacidades cognitivas existentes, com o

    objetivo de melhorar e manter o funcionamento cognitivo e diminuir a dependncia do

    idoso. Tudo isto contribuir para uma melhoria na conduta do idoso, no seu estado de

    nimo, na sua auto-eficincia e autoestima.

    Em formato de ilao, verifica-se que todas estas alteraes cognitivas e

    funcionais levam a um aumento de dependncia da pessoa idosa, que se encontra muito

    mais fragilizada em ambiente hospitalar, devido patologia que a levou ao

    internamento, bem como alterao do seu ambiente, que passa a ser completamente

    desconhecido, aumentando o receio/medo.

    A diminuio da capacidade funcional observada no indivduo idoso tem

    implicaes diversas na sua qualidade de vida, tornando-o gradualmente menos ativo,

    menos autnomo, mais dependente, afetando a capacidade de fazer exerccio e realizar

    atividades.

    As consequncias das alteraes cognitivas podem surgir a longo prazo e

    comprometer a capacidade da pessoa viver independentemente interferindo na sua

    autonomia, ou a curto prazo, impossibilitando o idoso internado de participar nas

    decises relacionadas com o seu tratamento e hospitalizao.

    A independncia a capacidade de se ser responsvel pelos prprios atos e

    desejos, um idoso pode ser independente usando ajudas tcnicas num meio ambiente

    que foi alterado em sua funo. Estas intervenes, em conjunto com o uso de

    estratgias de adaptao a atividades do quotidiano, permitem uma reduo das

    incapacidades do idoso podendo este desempenhar tarefas importantes na sociedade que

    o rodeia.

  • 17

    3. HOSPITALIZAO DO IDOSO

    A hospitalizao considerada de grande risco principalmente para os idosos.

    Para alm dos dfices cognitivos e funcionais considerados normais para a idade, surge

    ainda o acrscimo do internamento aquando da existncia de uma patologia

    significativa, contribuindo, no geral, para uma maior debilidade do idoso. Por outro

    lado, no podemos esquecer que esta condio implica que o idoso abandone o seu

    domicilio, o seu lar, a sua casa e tenha que encarar um mundo que desconhece e no qual

    se encontra fragilizado.

    A hospitalizao necessria para o controlo da situao clnica e, muitas das

    vezes, leva ao aparecimento de dfices adicionais. Os aspetos do envelhecimento

    interagem com aqueles que esto associados ao cuidado hospitalar levando a um

    culminar de acontecimentos que se traduzem em incapacidade e dependncia dos

    idosos.

    importante mencionar que em termos funcionais cognitivos, os dfices

    observados no momento da hospitalizao podem seguir trajetrias diferentes, podendo

    a incapacidade surgir durante a permanncia no hospital ou, do mesmo modo, ser

    resolvida durante o internamento, manter-se estvel ou sofrer um agravamento. So

    diversos os meios que podem ser utilizados na avaliao do desempenho funcional, os

    mais referenciados na literatura abrangem: Medida de Independncia Funcional, ndice

    de Atividades de Vida Diria de Barthel e ndice de Katz (indispensveis avaliao da

    autonomia do idoso nas atividades do quotidiano) surgindo, para uma avaliao mais

    complexa, a escala de Lawton (permite avaliar as atividades instrumentais da vida

    diria).

    A hospitalizao, embora necessria em casos de doena aguda ou crnica

    descompensada, pode levar a uma srie de complicaes no relacionadas com o motivo

    inicial do internamento. Muitas dessas complicaes levam a aumento do tempo de

    permanncia no hospital, aumento do declnio funcional/cognitivo (muitas vezes

    irreversvel), mudanas na qualidade de vida e maior mortalidade (Sales, Silva, Gil Jr.,

    & Filho, 2010). Muitas vezes o internamento hospitalar pode ajudar a desmascarar e/ou

    a acelerar problemas cognitivos que anteriormente no haviam sido identificados. Um

    em cada trs idosos hospitalizados evolui com perda de capacidade em realizar

  • 18

    atividades bsicas da vida diria e pelo menos 20% desenvolvem delirium durante o

    internamento (Sales et al., 2010).

    Perante um idoso hospitalizado essencial que a sua avaliao inclua medidas

    de funcionalidade e cognio, uma vez que estas se refletem na capacidade de o idoso

    desempenhar as suas atividades de vida diria e se encontram relacionadas com o

    prognstico, tendo em conta a durao do internamento, destino aps alta e

    mortalidade.

    Nas ltimas dcadas, tem sido foco de ateno a importncia desses problemas,

    tendo em vista suas complicaes mdicas, sociais e polticas.

    O aparecimento de uma doena leva a uma alterao na integridade do idoso e a

    um obstculo ao exerccio normal da sua vida. Podem ocorrer alteraes das funes

    fsicas, do vigor e da resistncia para a realizao de atividades dirias; perda de

    autonomia, independncia e de liberdade em funo do tratamento e das interferncias

    do mesmo, perdas sociais, afetivas, entre outras. O paciente passa a depender do

    hospital, da famlia, de factos que podem gerar insegurana permanente, levando ao

    desgaste e stress emocional (Sales et al., 2010).

    A maneira como cada idoso reage doena depende de mltiplos fatores, tais

    como: caratersticas de personalidade, histria de vida, crenas pessoais, estado

    emocional, organizao de capacidades defensivas, interpretao que faz da situao

    atual, forma como vivncia a doena e a situao de internamento, capacidade de tolerar

    frustraes, vantagens e desvantagem advindas da posio de doente, projetos de vida,

    apoio que possa receber e aceitar as relaes que estabelece consigo mesmo, com seus

    familiares/cuidador e com a equipa multidisciplinar. Assim, a doena traz consigo

    significados e sentimentos que interferem, alteram e determinam seu processo.

    A ao do enfermeiro especialista em Reabilitao no cuidar do idoso de

    fulcral importncia, na identificao das necessidades de cuidados dos idosos

    hospitalizados, sendo fundamental para o incrementar da qualidade de vida.

    Os programas de enfermagem de reabilitao a implementar no idoso deve ter

    como objetivo a manuteno e valorizao da autonomia. Para tanto, necessrio

    avaliar o grau de dependncia e instituir medidas voltadas para o alcance do maior grau

    possvel de independncia funcional.

  • 19

    4. QUEDAS

    Como referenciado anteriormente, o nmero de indivduos com mais de 65 anos

    tem vindo a evoluir a um ritmo superior ao de qualquer outro grupo etrio.

    Com o envelhecimento surgem inmeras mudanas fsicas, sensoriais e

    cognitivas que diminuem a eficincia, a aptido para se adaptar e a funcionalidade, algo

    inevitvel manifestando-se ao longo do processo natural e complexo que o

    envelhecimento e levando a um aumento do risco de queda e leses decorrentes de uma

    queda.

    Segundo publicado no Relatrio Global da OMS sobre Preveno e Quedas na

    Velhice (WHO, 2007), Aproximadamente 28% a 35% das pessoas com mais de 65

    anos de idade sofrem quedas a cada ano, aumentando para 32% a 42% para as

    pessoas com mais de 70 anos. A frequncia das quedas aumenta com a idade e o nvel

    de fragilidade.

    O risco de queda existe para ambos os sexos, contudo, ocorrem com maior

    frequncia em idosos do sexo feminino, encontrando-se os idosos do sexo masculino

    mais propensos a morrer de uma queda.

    Existem imensos fatores associados, sendo que o risco destas ocorrerem aumenta

    significativamente sempre que o idoso apresente mais do que um fator em simultneo.

  • 20

    Figura 1 - Modelo de Fatores de Risco de Quedas em Idosos Adaptado de (WHO, 2007)

    Segundo a Organizao Mundial de Sade, uma queda habitualmente definida

    como sendo o evento que inadvertidamente leva a pessoa a ficar no solo ou em outro

    nvel inferior, excluindo mudanas de posio intencionais para se apoiar em mveis,

    paredes ou outros objetos.

    Em meio hospitalar, as quedas podem originar consequncias fsicas,

    psicolgicas e sociais. A queda habitualmente considerada sndrome geritrico em

    consequncia da sua enorme incidncia em idosos (Almeida, Abreu, & Mendes, 2010).

    Existem inmeros tipos de abordagem para identificar fatores de risco de queda,

    no entanto, para uma adequada interveno necessrio e til que sejam utilizados

    instrumentos sistematizados e objetivos de avaliao de risco do doente (Quadro3).

    QUEDAS E LESES

    RESULTANTES DE QUEDAS

    FATORES DE RISCO AMBIENTAIS

    Desenhos arquitetnicos inadequados

    Escadas e pisos escorregadios

    Tapetes soltos

    Iluminao insuficiente

    Piso irregular ou em mau estado

    FATORES DE RISCO COMPORTAMENTAIS

    Uso de mltiplos medicamentos

    Consumo abusivo de lcool

    Falta de exerccio

    Calado inapropriado

    FATORES DE RISCO SCIO-AMBIENTAIS

    Baixa renda e baixos nveis de educao

    Moradia inadequada

    F alta de interaes sociais

    Acesso limitado aos servios de sade e sociais

    Falta de recursos da comunidade

    FATORES DE RISCO BIOLGICOS

    Idade, gnero e raa

    Doenas crnicas (ex. Parkinson, artrite, osteoporose)

    Declnio das capacidades fsicas, cognitivas e afetivas.

  • 21

    Quadro 3 Instrumentos de avaliao do risco de queda (Almeida et al., 2010)

    Autores Fatores de Risco Apontados

    Hendrich et al. (1992)

    histria de quedas anteriores;

    depresso;

    alteraes ao nvel da eliminao;

    tonturas/vertigens;

    diagnstico de cancro;

    confuso;

    mobilidade alterada;

    Watson e Mayhew (1994)

    mobilidade diminuda;

    deficincia visual;

    ordens de restrio;

    uso de medicao anti-hipertensiva.

    Gluck et al. (1996)

    histria prvia de quedas;

    confuso ou desorientao;

    incontinncia, diarreia ou necessidade de ajuda para se

    deslocar ao WC.

    Mendelson (1996) antidepressivos, hipnticos, benzodiazepinas

    tranquilizantes minor e tranquilizantes major.

    Morse (1997)

    histria de queda;

    presena de um diagnstico secundrio;

    uso de ajudas em ambulatrio;

    terapia endovenosa ou heparin lock;

    marcha prejudicada;

    m orientao do doente para as suas prprias

    capacidades.

    Oliver et al. (1997)

    pontuao 3 ou 4 na transferncia e mobilidade;

    presena de preocupao de queda;

    ida frequente ao WC;

    deficincia visual;

    agitao;

    instabilidade da marcha;

    uso de medicao anti-arritmica.

    O risco de queda no idoso mais elevado em meio hospitalar. Deve ter-se em

    ateno que o hospital um ambiente estranho e por vezes hostil para a pessoa e que se

    vo acumular no mesmo indivduo os efeitos do envelhecimento normal e as

    consequncias do repouso no leito e da hospitalizao (Almeida et al., 2010; Creditor,

    1993).

  • 22

    Figura 2 Cascata da dependncia (Creditor, 1993)

    Devido ao progressivo declnio da funcionalidade e tambm ao medo de voltar a

    cair, o idoso acaba por traar um percurso que termina com a institucionalizao. O grau

    de dependncia e funcionalidade do idoso ser um fator primordial que ir afetar a sua

    relao com o meio, condicionando a sua forma de ultrapassar os obstculos e barreiras

    do ambiente. Gradualmente, a pessoa isola-se e perde confiana nas suas capacidades,

    tornando-se cada vez mais sedentrio e dependente, necessitando de apoio dos

    familiares e cuidadores de sade (Almeida et al., 2010).

    Dependendo dos fatores de risco de queda encontrados em cada idoso, podem

    ser prescritos e implementados planos e programas de enfermagem de reabilitao

    personalizados que incluam programas de exerccio que melhorem a fora muscular, a

    postura e o equilbrio que devero sempre ser associados a medidas universais de

    preveno como a eliminao dos riscos ambientais e a reduo ou substituio de

    frmacos com ao no sistema nervoso central.

  • 23

    5. REABILITAO COGNITIVA EM IDOSOS

    A reabilitao exige uma perspetiva sistemtica, em que a pessoa e o impacto do

    dfice cognitivo possam ser visualizados no contexto da sua rede de apoio e cuidados,

    na qual os familiares so aliados essenciais para que o processo de reabilitao seja

    eficaz (Gomes & Santos, 2006).

    O objetivo da reabilitao cognitiva capacitar os doentes/familiares a conviver,

    lidar, minimizar e superar os dfices cognitivos desenvolvendo-se estratgias para

    melhorar a qualidade de vida dos doentes nas suas atividades quotidianas (Hoeman,

    2011).

    Nos programas de reabilitao indispensvel avaliar e definir o perfil

    cognitivo de cada doente, para efetuar uma anlise dos aspetos cognitivos que esto

    preservados ou deteriorados. Isto permite adequar o tratamento ao nvel intelectual,

    cultural e social de cada doente, devendo este atuar sobre mltiplos fatores,

    nomeadamente na adaptao/alterao do contexto scio-cultural, no tratamento

    psicoteraputico, nos cuidados somticos e no apoio famlia (Hoeman, 2011).

    O desafio na reabilitao planear um processo de tratamento de modo a que a

    compensao e a modificao maximizem a habilidade do paciente idoso com dfices

    cognitivos para se adaptar maioria das situaes de vida. Nos idosos a inatividade

    comum, predominando a desocupao e a manuteno da disfuno, surgindo uma

    diminuio do contacto com o meio em que est inserido. Este facto ocorre

    principalmente devido s incapacidades e limitaes do idoso e ao isolamento

    (Umphred, 2010).

    O equilbrio entre a manuteno do desempenho cognitivo e da capacidade

    funcional garante ao idoso manter sua participao nas atividades quotidianas e

    aumenta a sensao de bem-estar, atravs do desenvolvimento da competncia e do

    controle de si mesmo e do seu ambiente. O desenvolvimento de atividades de lazer em

    horrios livres aumenta a autoestima e a participao social dos idosos.

    No tratamento em reabilitao cognitiva usam-se atividades que mantenham

    ativas a concentrao, a sequncia de pensamento, a ateno e a capacidade de fazer

    escolhas do idoso.

  • 24

    A literatura (Gomes & Santos, 2006; Umphred, 2010) destaca cinco tipos de

    tcnicas a utilizar na Reabilitao Cognitiva:

    Tcnicas comportamentais: As respostas comportamentais e emocionais podem

    ser condicionadas a certos estmulos que so indutores de respostas especficas,

    envolvendo reforo positivo. Estimulam a mudana de comportamento

    indesejado do idoso doente, potencializando a participao nas atividades de

    vida diria e a socializao.

    Terapia de Orientao para a Realidade (TOR): com o intuito de reduzir a

    desorientao e confuso nos doentes. Tem como princpio apresentar dados da

    realidade ao doente de forma organizada e contnua, criando estmulos

    ambientais que facilitem a orientao e levando em conta que a realidade no

    consiste apenas em orientao temporal. Deve-se evocar o passado para

    significao do "eu", como forma de prazer e lembranas positivas. No presente,

    promover a independncia, a orientao temporal e estimular a socializao. No

    futuro, despertar o interesse em novos projetos de vida.

    Estimulao Cognitiva: Com base na capacidade de adaptao e na plasticidade

    cerebral, deve-se estimular o que estiver conservado, compensar o que foi

    perdido e desenvolver potenciais remanescentes. As atividades devem

    apresentar um aspeto ldico, favorecer os atos da vida quotidiana, utilizando

    cores, dias da semana, ms e ano, hora, sabores entre outros.

    Terapia de Reminiscncias: Permite a valorizao do passado e do

    conhecimento do idoso, favorecendo as conversas, ordenando cronologicamente

    factos importantes e lembranas significativas da vida. Essa tcnica tem sido

    muito utilizada para relembrar emoes vividas previamente, gerando maior

    sociabilizao e entretenimento como parte da terapia.

    Tcnicas de Validao: Oferecer suporte emocional e sentido s expresses dos

    idosos. Esta tcnica permite proporcionar alvio a desconfortos emocionais e de

    conflitos relacionais, aumento da ateno, do autocontrole, da autoestima e o

    envolvimento do idoso no contexto sociocultural.

    De acordo com o Regulamento das Competncias Especficas do enfermeiro

    Especialista em Enfermagem de Reabilitao da Ordem dos Enfermeiros (OE, 2011), os

    programas/planos de cuidados no mbito da reabilitao cognitiva inserem-se na

    competncia n. 1 Cuida de pessoas com necessidades especiais, ao longo do ciclo de

  • 25

    vida, em todos os contextos da prtica de cuidados. Assim, e atendendo a que todos os

    programas/planos de interveno em Enfermagem de Reabilitao devem ser

    personalizados e adaptados s necessidades reais da pessoa, entendemos necessria a

    operacionalizao das seguintes unidades de competncia dos Enfermeiros Especialistas

    em Enfermagem de Reabilitao (OE, 2011) nos cuidados ao idoso com risco de

    declnio funcional cognitivo durante o internamento:

    Avalia o risco de alterao da funcionalidade a nvel cognitivo;

    Recolhe informao pertinente e utiliza escalas e instrumentos de medida para

    avaliar a funo cognitiva;

    Avalia os aspetos psicossociais que interferem nos processos adaptativos e de

    transio sade/doena e ou incapacidade

    Faz o diagnstico das respostas humanas desadequadas a nvel cognitivo;

    Identifica as necessidades de interveno para otimizar e/ou reeducar a funo a

    nvel cognitivo;

    Discute as prticas de risco com a pessoa, concebe planos, seleciona e prescreve

    as intervenes para a reduo do risco de alterao da funcionalidade a nvel

    cognitivo;

    Discute as alteraes da funo a nvel cognitivo com a pessoa/cuidador e

    define com ela quais as estratgias a implementar, os resultados esperados e as

    metas a atingir de forma a promover a autonomia e a qualidade de vida;

    Concebe planos, seleciona e prescreve as intervenes para otimizar e/ou

    reeducar a funo e elabora programas de reeducao funcional cognitiva;

    Implementa planos de interveno para a reduo do risco de alteraes da

    funo ao nvel cognitivo;

    Implementa programas de reeducao funcional cognitiva;

    Monitoriza a implementao e os resultados dos programas de: Reduo do

    risco; Otimizao da funo; Reeducao funcional; Treino.

    Deste modo, deve efetuar-se uma estimulao cognitiva global, com o objetivo

    de reforar os recursos cognitivos, afetivos e sociais subsistentes, estimulando e

    treinando o doente para a utilizao das suas capacidades cognitivas inatas

    remanescentes. Uma boa capacidade cognitiva permitir ao doente uma maior

    autonomia e capacidade de deciso e uma maior e melhor adeso ao plano teraputico,

    contribuindo, assim, para uma mais eficaz recuperao e melhor qualidade de vida.

  • 26

  • 27

    PARTE II ESTUDO EMPRICO

  • 28

  • 29

    1. METODOLOGIA

    A escolha da metodologia a usar fundamental na realizao de um estudo pois

    atravs dela que conseguimos obter as respostas ao problema definido e recolher

    informaes que nos permitam encontrar explicaes para o mesmo. Funciona como

    alicerce de uma investigao. Segundo Fortin, (Fortin, 2003), a metodologia engloba

    um conjunto de modos e de tcnicas que servem de linha orientadora na elaborao do

    processo da investigao cientfica. Deste modo, podemos afirmar que funciona como

    alicerce, constituindo a base do processo de investigao.

    1.1 QUESTO DA INVESTIGAO

    Este trabalho foi norteado pela seguinte questo de investigao: em que medida

    o declnio funcional cognitivo se acentua durante a hospitalizao e influencia no risco

    de queda em doentes idosos?

    1.1.1 Justificao do tema

    Como enfermeiro a exercer funes no servio de medicina interna, aps concluso da

    ps-licenciatura em Enfermagem de Reabilitao, despertou-me fundamental interesse

    um tema inserido na minha rea de interveno. O envelhecimento da populao ,

    como vimos, uma realidade presente e futura, constituindo as quedas um grave

    problema de sade pblica com elevada incidncia nesta populao das quais decorrem

    leses que exigem, muitas vezes, interveno mdica podendo, em alguns casos, ser

    fatais. O risco de leses graves ou morte nas pessoas mais velhas pode ser consequncia

    das modificaes fsicas, sensoriais e cognitivas que vo surgindo com o

    envelhecimento. Os custos resultantes de leses associadas a quedas so avultados.

    Verifica-se, por parte do idoso, uma maior frequncia na utilizao dos servios

    hospitalares que os demais grupos etrios. A hospitalizao pode, muitas vezes, ser

    encarada como uma aspeto negativo particularmente para a populao envelhecida,

    podendo levar a um comprometimento da capacidade funcional cognitiva e consequente

    dependncia funcional e alteraes na qualidade de vida.

  • 30

    A reabilitao cognitiva constitui uma vertente pouco difundida ao nvel da

    enfermagem de reabilitao, no entanto, a avaliao, o diagnstico e intervenes

    desenvolvidas pelos profissionais de enfermagem no processo de reabilitao revelam-

    se fulcrais na manuteno da funcionalidade do idoso, contribuindo assim para uma

    melhoria nos rendimentos intelectuais, na qualidade de vida e recuperao da

    independncia.

    1.2 OBJETIVOS DE ESTUDO

    Com base na questo de partida, foram definidos os seguintes objetivos:

    Avaliar a capacidade funcional cognitiva dos idosos internados, na admisso

    e na alta;

    Avaliar o risco de queda desses idosos na admisso e na alta;

    Analisar os resultados das avaliaes da capacidade funcional cognitiva e do

    risco de queda na admisso e na alta.

    Verificar se as alteraes identificadas na capacidade funcional cognitiva

    influenciam o risco de queda

    1.3 TIPO DE ESTUDO

    Para dar resposta ao problema de partida e tendo em ateno os objetivos

    definidos, desenhou-se um estudo exploratrio, descritivo, transversal e correlacional.

    Segundo Fortin e Ducharme (Fortin & Ducharme, 2003), um estudo

    exploratrio-descritivo reporta para a caraterizao do fenmeno em estudo por meio da

    descoberta dos fatores envolventes e sua descrio, possibilitando desta forma o seu

    conhecimento.

    O estudo transversal teve como finalidade, atravs da aplicao dos

    questionrios em momentos nicos, obter prontamente associaes comuns entre factos,

    sem um perodo de seguimento, proporcionando um diagnstico imediato.

    Este estudo correlacional na medida em que avalia e quantifica a relao entre

    variveis, visando a sua descrio.

  • 31

    Segundo Ribeiro (Ribeiro, 2007), na investigao correlacional analisam-se as

    relaes entre as variveis sem que se manipulem as variveis em estudo. Os dados

    recolhidos expressam as relaes entre as variveis tal como elas existem

    naturalmente.

    Adotou-se uma abordagem quantitativa em que as informaes foram traduzidas

    em nmeros a fim de se proceder sua classificao e anlise.

    1.4 CONSIDERAES TICAS

    Segundo (Fortin, 2003), a tica a cincia da moral e a arte de dirigir a conduta,

    abrangendo um conjunto de permisses e de interdies de valor significativo na vida

    dos indivduos e na qual se inspiram para guiar a sua conduta. Assim no decorrer desta

    linha de pensamento foi solicitada, por escrito, a autorizao para implementar o

    questionrio, ao Conselho de Administrao do CHTMAD,EPE que o remeteu para a

    Comisso de tica da instituio e s aps aprovao e autorizao foi iniciado o

    trabalho de campo que decorreu durante o perodo de 19 de maro a 05 de maio de

    2012.

    Inerente ao preenchimento do questionrio surge o consentimento, para a

    participao do idoso no presente estudo. Um consentimento legal deve ser obtido de

    forma livre e esclarecida. livre se cedido sem ameaas, promessas ou presses

    exercidas sobre a pessoa e quando esta se encontra nas suas faculdades mentais, por sua

    vez, para que o consentimento seja esclarecido deve ser informado sobre o que pedido

    e o fim a que se destina a informao obtida para permitir aos participantes analisar as

    consequncias da sua participao (Fortin, Prud'homme-Brisson, & Coutu-Wakulczyk,

    2003).

    Do mesmo modo, e como em qualquer trabalho de investigao, foi assegurado

    o respeito pelos direitos de todos os participantes: direito autodeterminao,

    intimidade, ao anonimato e confidencialidade, proteo contra o desconforto e

    prejuzo e a um tratamento justo e leal.

  • 32

    1.5 INSTRUMENTO DE RECOLHA DE DADOS

    Recolha de informao pode ser definida como () um processo organizado

    posto em prtica para obter informaes junto de mltiplas fontes com fim de passar de

    um nvel de conhecimento para o outro nvel de conhecimento ou de representao de

    uma dada situao, no quadro de uma ao deliberada cujos objetivos foram

    claramente definidos e que d garantias de validade suficientes. (Ketele & Rogiers,

    1993)

    O instrumento de recolha de dados utilizado foi o questionrio (Apndice A) por

    se tratar de um mtodo rigoroso obtido atravs de uma resposta escrita do participante e

    que possibilita organizar, normalizar e controlar os elementos recolhidos (Fortin,

    Grenier, & Nadeau, 2003).

    O questionrio utilizado constitudo por perguntas fechadas e escalas de

    avaliao, distribudos do seguinte modo:

    1. Dados biogrficos;

    2. Escala de Morse;

    3. Avaliao da Medida de Independncia Funcional;

    4. Mini Mental State Examination.

    O pr-teste, consiste no preenchimento do questionrio por uma pequena

    amostra que reflita a diversidade da populao visada, com intuito de verificar se as

    questes so bem compreendidas e viveis (Fortin, Grenier, et al., 2003). Como se

    pretendia avaliar idosos em situao de doena aguda e, portanto, em situao de maior

    fragilidade e menor disponibilidade para a participao em estudos de investigao,

    testou-se o instrumento de recolha de dados em 4 idosos para aferir da razoabilidade da

    aplicao bem como do tempo necessrio. S depois de garantido que a aplicao do

    instrumento no constitua qualquer constrangimento para o idoso se prosseguiu o

    estudo.

    1.5.1 Escala de MORSE

    A escala de Morse um instrumento de rpida e fcil aplicao que permite, em

    poucos minutos, avaliar a probabilidade de um idoso internado sofrer uma queda. Muito

    utilizada em ambiente hospitalar em doentes na fase aguda e em centros de

  • 33

    internamento de doentes crnicos, esta escala encontra-se organizada em seis

    parmetros que originam uma pontuao que varia entre 0 e 125 pontos, so eles:

    Histria de queda nos ltimos trs meses;

    Diagnstico secundrio;

    Ajuda na mobilizao;

    Terapia endovenosa;

    Marcha;

    Estado mental.

    Depois de somada a pontuao obtida em cada uma das seis variveis, o total de

    pontos alcanado permite identificar o nvel de risco, as aes recomendadas como a

    no necessidade de interveno, intervenes padro de preveno de quedas,

    intervenes de preveno de alto risco.

    Assim temos:

    Quadro 4 - Nvel de risco de queda e medidas recomendadas (Morse, 1997)

    Pontuao Nvel de risco de queda Medidas

    0 24 Baixo Cuidados bsicos.

    25 50 Mdio Implementar um plano padronizado de

    preveno de quedas.

    51 Alto Implementar medidas especficas.

    Esta escala foi selecionada porque a escala utilizada para avaliao do risco de

    quedas no servio onde foi desenvolvido o estudo.

    1.5.2 Medida de Independncia Funcional

    A Medida de Independncia Funcional (MIF), foi desenvolvida em 1980 tendo

    como referncia a Classificao Internacional de Deficincias, Incapacidades e

    Desvantagens publicada pela Organizao Mundial da Sade com carter experimental

    em 1980. uma escala muito utilizada em reabilitao, constituindo um instrumento

    auxiliar fundamental para a avaliao do estado funcional de um indivduo.

    A utilizao deste instrumento tem como finalidade a apreciao quantitativa da

    incapacidade de pacientes, avaliando o desempenho do indivduo e a necessidade de

    cuidados exigida para a realizao de uma srie de tarefas motoras e cognitivas de vida

    diria. Reflete desta forma a carga global de cuidados, para a incapacidade em questo,

  • 34

    sendo as atividades classificadas em dependncia ou independncia, sendo baseada na

    necessidade de o indivduo ser assistido ou no por outra pessoa, e em caso de

    necessidade em que proporo conforme se pode ver no quadro 5.

    Quadro 5 - Classificao dos nveis da avaliao na Medida de Independncia Funcional (Sequeira,

    2010)

    Independncia

    (sem ajuda)

    7 Independncia completa (em segurana, em

    tempo normal);

    6 Independncia modificada (ajuda tcnica);

    Dependncia modificada

    (com ajuda)

    5 Superviso, orientao;

    4 Ajuda mnima (indivduo 75%);

    3 Ajuda moderada (indivduo 50%);

    Dependncia completa

    (com ajuda)

    2 Ajuda mxima (indivduo 25%)

    1 Ajuda total (indivduo 0%)

    Trata-se de um instrumento de avaliao constitudo por 18 itens (Quadro 6),

    sendo atribuda a cada um deles uma pontuao mxima de 7 pontos, correspondente

    independncia completa do indivduo, e mnima de 1, para uma dependncia total.

    Quadro 6 - Funes avaliadas na medida de independncia funcional

    Auto cuidados

    Alimentao;

    Higiene pessoal;

    Banho ou lavar o corpo;

    Vestir a metade superior do corpo;

    Vestir a metade inferior do corpo;

    Utilizao da sanita.

    Controle dos esfncteres Vesical;

    Intestinal.

    Mobilidade/Transferncia

    Leito; Cadeira; Cadeira de rodas;

    Sanita;

    Banheira ou duche.

    Locomoo Marcha; Cadeira de rodas;

    Escadas.

    Comunicao Compreenso;

    Expresso.

    Cognio social

    Interao Social

    Resoluo de problemas da vida quotidiana;

    Memria.

  • 35

    No total dos 18 itens avaliados podem ser identificadas duas sub-escalas:

    Motora - agrega 13 itens referentes a Auto cuidados, Controle dos

    esfncteres, Mobilidade/Transferncia e Locomoo.

    Cognitiva - agrega 5 itens referentes a Comunicao e Cognio social.

    O total mximo de 126 pontos e indica independncia total e o mnimo de 18

    pontos e designa dependncia total.

    Em diversos estudos onde foi utilizada (Glenny & Stolee, 2009; Hsueh, Lin,

    Jeng, & Hsieh, 2002; MacNeill & Lichtenberg, 1997; Nagano, 2002), a MIF revelou ser

    um instrumento mais apropriado e fivel para avaliao de idosos e destacado que a

    dimenso motora foi adequada para avaliao das atividades de vida diria.

    1.5.3 Mini Mental State Examination (MMSE)

    O Mini-Mental State Examination (Folstein et al., 1975) foi desenvolvido nos

    Estados Unidos da Amrica na dcada de 70 e traduzido e validado para a populao

    Portuguesa em 1994 (Guerreiro et al., 1994). uma ferramenta amplamente utilizada na

    prtica clnica, nomeadamente para rastreios populacionais de demncias e de defeito

    cognitivo ligeiro (Burns, Lawlor, & Craig, 2002; Nunes, 2008), e para estudos de

    investigao.

    O MMSE encontra-se estruturado em 30 questes, pontuadas com 0 ou 1 ponto,

    agrupadas em sete categorias, com o objetivo de avaliar funes cognitivas especificas:

    Orientao temporal (5 pontos),

    Orientao espacial (5 pontos),

    Reteno registro de trs palavras (3 pontos),

    Ateno e clculo (5 pontos),

    Evocao das trs palavras (3 pontos),

    Linguagem (8 pontos),

    Habilidade construtiva (1 ponto).

    A pontuao possvel varia entre 0 e 30 pontos. Vrios pontos de corte foram

    definidos em diversos estudos que utilizaram o MMSE (Rami et al., 2009; Siqueira et

    al., 2004) para o presente estudo considerou-se o ponto de corte nos 24 pontos (Siqueira

    et al., 2004).

  • 36

    As vantagens da utilizao deste instrumento so amplamente conhecidas.

    Revela-se eficaz na triagem de doentes com disfuno cognitiva revelando uma

    validade aceitvel na deteo de demncia com uma sensibilidade discriminativa de at

    68% (Agrell & Dehlin, 2000) Por ser de fcil e rpida administrao (cerca de 15

    minutos), pode ser usado repetidamente e de forma rotineira, possibilitando assim uma

    monitorizao de alteraes no estado cognitivo.

    1.5.4 Definio de Termos

    No contexto do presente estudo considerar-se- declnio funcional uma

    diminuio estatisticamente significativa na pontuao das escalas (MIF, MIF subescala

    cognitiva e MMSE) do primeiro para o segundo momento de avaliao.

    1.6 AMOSTRAGEM E CRITRIOS DE INCLUSO

    Fortin (Fortin, 2003) refere que a populao um conjunto de sujeitos que tem

    caratersticas em comum em determinado nmero de critrios. Martinez e Ferreira

    (Martinez & Ferreira, 2007) so peremtrios em definir populao como, o objeto de

    estudo, ou seja, o conjunto de elementos que tem alguma caraterstica em comum que

    se pretende estudar.

    Mediante o referido a populao deste estudo constituda pelos idosos em

    internamento hospitalar do CHTMAD, EPE Unidade Hospitalar de Vila Real.

    Numa investigao estuda-se fundamentalmente uma parte da populao e o que

    se observa na parte constitui o que se poderia ver no seu total, ou seja, a amostra

    carateriza a totalidade da populao (Polit & Hungler, 1995). Por sua vez Fortin (Fortin,

    2003) menciona que uma amostra em investigao cientfica () um sub-conjunto

    de uma populao ou de um grupo de sujeitos que fazem parte de uma mesma

    populao.

    A amostra no presente estudo no probabilstica intencional, ou seja formada

    a partir da necessidade do investigador ou da imagem que o investigador projeta da

    investigao.

    Segundo Smith (1975), existem diferentes tipos de amostras no probabilsticas:

    acidentais, homogneas, heterogneas, estruturais, e de informantes estratgicos

  • 37

    (Ribeiro, 2007). Surge ainda a amostra sequencial, que uma amostra tpica do sistema

    de sade e que designa a amostra em que as unidades constituintes so escolhidas

    estritamente na base primeiro que aparece, primeiro escolhido. Todos os indivduos

    que so elegveis para participar no estudo so includos conforme vo aparecendo

    (Ribeiro, 2007).

    A amostra composta por idosos com idade igual ou superior a sessenta e cinco

    anos, de ambos os sexos, admitidos no internamento no servio de medicina do

    CHTMAD, EPE unidade hospitalar de Vila Real.

    Os critrios de incluso dos idosos neste estudo foram:

    Encontrar-se internado no servio de medicina interna.

    Aceite participar aps consentimento informado;

    Foram excludos deste estudo idosos com dfice cognitivo que comprometesse a

    compreenso/resposta do instrumento de avaliao e aqueles cujas capacidades visuais

    e/ou auditivas se encontrassem comprometidas ou no compensadas pelo uso de culos

    e/ou aparelhos auditivos.

    Foram avaliados 63 idosos na admisso no entanto s se conseguiram executar

    51 avaliaes finais completas. Os excludos tiveram como causas: falecimento (1),

    recusa na execuo de algumas tarefas da avaliao final (4) e os restantes (7)

    encontravam-se ainda internados quando terminou o prazo para a recolha de dados.

    1.7 PROCEDIMENTO

    A recolha de informao foi realizada individualmente, em dois momentos,

    aquando da admisso do idoso e na alta. A presena de familiares junto ao idoso no foi

    restringida, no entanto, apenas este respondeu s questes do inqurito.

    Para e execuo deste estudo foram recolhidos os seguintes dados:

    1. Data de nascimento/idade, gnero, estado civil e residncia;

    2. Avaliao da histria de queda nos ltimos trs meses, diagnstico secundrio,

    ajuda na mobilizao, terapia endovenosa, marcha e estado mental;

    3. Avaliao do grau de independncia no auto cuidado, controle dos esfncteres

    mobilidade/transferncia, locomoo, comunicao, cognio social;

    4. Avaliao da orientao temporal, orientao espacial, reteno, ateno e

    clculo, evocao, linguagem e habilidade construtiva.

  • 38

    1.8 PROCEDIMENTOS ESTATSTICOS

    Os dados recolhidos da pesquisa, obtidos aps o processo de recolha, foram

    tratados estatisticamente no software aplicativo de tratamento estatstico de dados

    SPSS

    19 (Statistical Package for the Social Sciences). Foi feita anlise estatstica

    descritiva e, para estudar a relao entre as variveis, foram utilizados testes

    paramtricos e no paramtricos, dado que a amostra superior a 30 indivduos

    (Pestana & Gageiro, 2005).

    Por sua vez, para a apresentao grfica foi utilizado o programa informtico de

    folha de clculo Microsoft Excel 2007, para o Windows Vista.

    2. APRESENTAO DE RESULTADOS

    Fortin (Fortin, 2003) menciona que () os resultados provm dos factos

    observados no decurso da colheita de dados, estes factos so analisados e apresentados

    de maneira a fornecer uma ligao lgica com o problema de investigao

    Para alm dos grficos, os resultados so ainda apresentados em quadros e

    tabelas respetivamente numerados e por ordem sequencial.

    Considerando os 51 doentes que responderam ao inqurito e a informao

    recolhida sobre os seus dados pessoais observa-se, no grfico 4, que 53% pertencem ao

    sexo feminino e 47% ao sexo masculino.

    Grfico 4 - Distribuio dos participantes por sexo

    24 27

    Masculino

    Feminino

  • 39

    Em seguida apresenta-se a Tabela 1 relativa idade dos 51 inquiridos contendo

    as medidas de localizao central: mdia e mediana; as medidas de disperso absoluta:

    varincia, desvio padro e ainda a amplitude das idades.

    Tabela 1 - Distribuio dos participantes por idade

    Feminino Masculino Total

    N 27 24 51

    Mdia 76,04 74,96 75,53

    Mediana 76,00 75,00 75,00

    Desvio padro 8,23 5,84 7,16

    Varincia 67,73 34,13 51,21

    Range 23,00 22,00 23,00

    Mnimo 65,00 65,00 65,00

    Mximo 88,00 87,00 88,00

    No que respeita idade dos indivduos constituintes da amostra, verificamos que

    o valor mdio se situa nos 75,537,16 anos (76,048,23 para as mulheres e 74,965,84

    anos no caso dos homens). A amplitude de idades na amostra idntica nas mulheres e

    nos homens sendo que, no primeiro caso de 23 anos (88 65) e, no segundo caso, 22

    anos (87 65).

    Do mesmo modo procedeu-se elaborao da tabela 2, relativa ao nmero de

    dias de internamento, contendo as mesmas medidas de disperso e variabilidade.

    Tabela 2 - Distribuio dos participantes por nmero de dias de internamento

    Feminino Masculino Total

    N 27 24 51

    Mdia 14,93 13,54 14,27

    Mediana 14,00 11,00 12,00

    Desvio padro 7,16 5,60 6,45

    Varincia 51,30 31,39 41,60

    Range 38,00 22,00 38,00

    Mnimo 4,00 8,00 4,00

    Mximo 42,00 30,00 42,00

    Verifica-se que os idosos inquiridos tiveram, em mdia, 14,276,45 dias de

    internamento, variando entre 4 dias (mnimo) e 42 dias (mximo). No que respeita s

    mulheres, a mdia de dias de internamento foi de 14,937,16 e, no caso dos homens,

    13,545,60.

  • 40

    O grfico seguinte diz respeito ao estado civil dos 51 idosos que constituem a

    amostra.

    Grfico 5 - Distribuio dos participantes por estado civil

    Pela observao do grfico 5, constata-se que 45,1% dos indivduos se

    encontram casados ou vivem em unio de facto (10 mulheres e 13 homens),

    verificando-se ainda que 40% dos mesmos j esto vivos (13 mulheres e 7 homens).

    De seguida apresenta-se o grfico referente residncia dos idosos inquiridos.

    Grfico 6 - Distribuio dos participantes por residncia

    Podemos verificar que os indivduos constituintes da amostra habitam

    predominantemente em casa prpria ou com familiares (74,8%).

    0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26

    Solteiro

    Casado/Unio de facto

    Divorciado/Separado

    Vivo

    Homens Mulheres

    0 2 4 6 8

    10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42

    Prpria/famlia Institucionalizado

    Mulheres

    Homens

  • 41

    Depois de avaliados os itens constantes na Escala de Morse aquando da

    admisso e na alta, os scores obtidos foram os constantes na tabela 3.

    Tabela 3 - Escala de Morse Score na admisso e na alta

    Admisso Alta

    Feminino

    N 27 27

    Mdia 45,56 26,48

    Mediana 45,00 25,00

    Desvio padro 22,16 22,27

    Varincia 491,02 495,80

    Range 65,00 65,00

    Mnimo 20,00 0,00

    Mximo 85,00 65,00

    Masculino

    N 24 24

    Mdia 35,42 19,17

    Mediana 32,50 15,00

    Desvio padro 19,22 20,52

    Varincia 369,38 421,01

    Range 80,00 70,00

    Mnimo 10,00 0,00

    Mximo 90,00 70,00

    Total

    N 51 51

    Mdia 40,78 23,04

    Mediana 40,00 25,00

    Desvio padro 21,25 21,57

    Varincia 451,37 465,08

    Range 80,00 70,00

    Mnimo 10,00 0,00

    Mximo 90,00 70,00

    A mdia dos scores obtidos para a Escala de Morse relativa ao total da amostra

    foi na admisso 40,7821,25 e na alta 23,0421,57 sendo que para as mulheres foi de

    45,5622,16 na admisso e 26,4822,27 na alta e para os homens de 35,4219,22 na

    admisso e 19,1720,52 na alta. Para o total dos indivduos estudados verificou-se na

    admisso um mnimo de 10 pontos e um mximo de 90 e na alta um mnimo de 0 e um

    mximo de 70.

    O score obtido para a Escala de Morse traduzido pelo risco graduado em trs

    nveis: baixo, mdio e alto, encontrando-se a classificao obtida para os indivduos que

    responderam ao inqurito no grfico seguinte.

  • 42

    Grfico 7 - Escala de Morse Classificao na admisso e na alta

    Os resultados obtidos na classificao da Escala de Morse evidenciam diferenas

    aquando da admisso e na alta no que toca ao nvel de risco de queda. Comparando os

    resultados da primeira avaliao com os da segunda constata-se que, ao nvel do sexo

    masculino, o nmero de homens com risco baixo de queda aumentou (de 10 indivduos

    na admisso passou a 17 na alta) e os riscos mdio e alto diminuram (de 11 para 5 e de

    3 para 2, respetivamente).

    O nmero de mulheres com riscos baixo e mdio de queda aumentou (de 8 no

    momento da admisso para 11 aquando da alta e de 9 na admisso para 13 na alta,

    respetivamente). O risco alto de queda diminuiu de 10 mulheres na admisso para

    apenas 3 na alta.

    Em suma, verifica-se um decrscimo bastante acentuado no total de indivduos

    que apresentam risco alto de queda desde o instante da admisso at alta (de 13

    25,5%, para 5 9,8%), uma diminuio menos marcada dos que apresentam risco

    mdio de queda (de 20 39,2%, para 18 35,3%) e um aumento daqueles que possuem

    baixo risco de queda (de 18 35,3%, para 28 54,9%).

    Os resultados obtidos aps aplicao da Medida de Independncia Funcional

    total, na admisso e na alta, encontram-se organizados na tabela seguinte.

    Homens

    Mulheres

    Homens

    Mulheres

    Ad

    mis

    so

    A

    lta

    10

    8

    17

    11

    11

    9

    5

    13

    3

    10

    2

    3

    Risco Alto Risco Mdio Risco Baixo

  • 43

    Tabela 4 - Medida de Independncia Funcional na admisso e na alta

    Admisso Alta

    Feminino

    N 27 27

    Mdia 98,52 96,30

    Mediana 98,00 97,00

    Desvio padro 23,25 23,94

    Varincia 540,72 573,22

    Range 75,00 75,00

    Mnimo 51,00 51,00

    Mximo 126,00 126,00

    Masculino

    N 24 24

    Mdia 107,29 106,67

    Mediana 113,00 113,00

    Desvio padro 19,10 19,33

    Varincia 364,74 373,80

    Range 76,00 78,00

    Mnimo 50,00 48,00

    Mximo 126,00 126,00

    Total

    N 51 51

    Mdia 102,65 101,18

    Mediana 108,00 108,00

    Desvio padro 21,65 22,30

    Varincia 468,51 497,35

    Range 76,00 78,00

    Mnimo 50,00 48,00

    Mximo 126,00 126,00

    A mdia das pontuaes da Medida de Independncia Funcional para o total da

    amostra foi na admisso 102,6521,65 e na alta 101,1822,30 sendo que para as

    mulheres foi de 98,5223,25 admisso e 96,3023,94 alta para os homens

    107,2919,10 admisso e 106,6719,33 alta. De salientar que para o total dos

    indivduos estudados se verificou na admisso um mnimo de 50 pontos e um mximo

    de 126 e na alta um mnimo de 48 e um mximo de 126.

    Em particular e no que toca mdia da Medida de Independncia Funcional

    cognitiva j se observam valores mais equiparados entre mulheres e homens, como se

    pode observar na tabela 5.

  • 44

    Tabela 5 - Medida de Independncia Funcional Sub-Escala Cognitiva na admisso e na alta

    Admisso Alta

    Feminino

    N 27 27

    Mdia 30,52 29,85

    Mediana 31,00 30,00

    Desvio padro 4,34 4,61

    Varincia 18,88 21,21

    Range 11,00 13,00

    Mnimo 24,00 22,00

    Mximo 35,00 35,00

    Masculino

    N 24 24

    Mdia 31,54 30,75

    Mediana 31,50 31,00

    Desvio padro 2,96 3,59

    Varincia 8,78 12,89

    Range 12,00 13,00

    Mnimo 23,00 22,00

    Mximo 35,00 35,00

    Total

    N 51 51

    Mdia 31,00 30,27

    Mediana 31,00 31,00

    Desvio padro 3,76 4,14

    Varincia 14,12 17,16

    Range 12,00 13,00

    Mnimo 23,00 22,00

    Mximo 35,00 35,00

    Tal como na MIF total, tambm neste caso se verifica uma diminuio do valor

    mdio da admisso para a alta.

    Assim, para o total da amostra a mdia na admisso foi 31,003,76 e na alta

    30,274,14. Para as mulheres foi de 30,524,34 admisso e 29,854,61 alta e para os

    homens 31,542,96 admisso e 30,753,59 alta. Para o total dos indivduos estudados

    verificou-se na admisso um mnimo de 23 pontos e um mximo de 35 e na alta um

    mnimo de 22 e um mximo de 35.

    De seguida apresenta-se a tabela referente aos dados obtidos relativamente

    aplicao do Mini Mental State Examination.

  • 45

    Tabela 6 Mini Mental State Examination Pontuao na admisso e na alta

    Admisso Alta

    Feminino

    N 27 27

    Mdia 23,37 21,04

    Mediana 24,00 21,00

    Desvio padro 4,96 5,77

    Varincia 24,55 33,35

    Range 16,00 19,00

    Mnimo 14,00 10,00

    Mximo 30,00 29,00

    Masculino

    N 24 24

    Mdia 25,67 24,62

    Mediana 26,50 25,00

    Desvio padro 3,81 5,09

    Varincia 14,49 25,90

    Range 16,00 23,00

    Mnimo 1