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Quedas idosos
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DECLNIO FUNCIONAL COGNITIVO E RISCO DE QUEDAS
EM DOENTES IDOSOS INTERNADOS
Jos Pedro dos Santos Rodrigues
Trabalho de Projeto apresentado Escola Superior de Sade de Bragana para a
obteno do grau de Mestre em Enfermagem de Reabilitao
Orientada por: Maria Eugnia Rodrigues Mendes
Bragana, maio, 2012
DECLNIO FUNCIONAL COGNITIVO E RISCO DE QUEDAS
EM DOENTES IDOSOS INTERNADOS
Jos Pedro dos Santos Rodrigues
Trabalho de Projeto apresentado Escola Superior de Sade de Bragana para a
obteno do grau de Mestre em Enfermagem de Reabilitao
Orientada por: Maria Eugnia Rodrigues Mendes
Bragana, maio, 2012
iii
Aquele que envelhece e que segue atentamente
esse processo poder observar como, apesar de
as foras falharem e as potencialidades
deixarem de ser as que eram, a vida pode, at
bastante tarde, ano aps ano e at ao fim, ainda
ser capaz de aumentar e multiplicar a
interminvel rede das suas relaes e
interdependncias e como, desde que a memria
se mantenha desperta, nada daquilo que
transitrio e j se passou se perde.
Hermann Hesse
iv
Aos meus pais Jos e Angelina pela alegria e
compreenso.
minha esposa Solange pelo amor e dedicao.
minha irm Sandra pelo apoio incondicional.
v
AGRADECIMENTOS
minha orientadora Professora Maria Eugnia Rodrigues Mendes agradeo o
apoio, a disponibilidade a partilha do conhecimento e ideias, mas sobretudo pelas
preciosas contribuies, que tornaram possvel este trabalho.
A todos os idosos internados no servio de Medicina Interna que, apesar da sua
condio de doena, colaboraram para a realizao deste estudo.
E a todos aqueles que direta ou indiretamente, contriburam para a concretizao
deste estudo, o meu muito obrigado.
vi
ABREVIATURAS E SIGLAS
CAM - Confusion Assessment Method
cols. - colaboradores
CHTMAD Centro Hospitalar Trs-os-Montes e Alto Douro
DCL - Dfice Cognitivo Ligeiro
DMAI - Dfice de Memria Associado Idade
et al. - e todos
GDS - Geriatric Depression Scale
HAMT - Hodkingson Abbreviated Mental Test
INE - Instituto Nacional de Estatstica
MIF - Medida de Independncia Funcional
MMSE - Mini Mental State Examination
OE - Ordem dos Enfermeiros
OMS - Organizao Mundial de Sade
SPMSQ - Short Portable Mental Status Questionnaire
SPSS - Statistical Package for the Social Sciences
vii
RESUMO
O processo de envelhecimento caraterizado pela presena de dfices cognitivos
que devem ser avaliados pormenorizadamente para compreender a sua gravidade e
prevenir a sua evoluo para quadros mais graves e patolgicos como a demncia. A
hospitalizao contribui para uma maior debilidade/fragilidade do idoso, sendo
considerada de grande risco para o declnio da aptido fsica e da funo cognitiva
potenciando, assim, o risco de queda.
Com o objetivo de perceber em que medida o declnio funcional cognitivo se
acentua durante a hospitalizao e influencia no risco de queda em doentes idosos
desenhou-se um estudo exploratrio, descritivo e correlacional. Utilizaram-se como
instrumentos de avaliao a Escala de Morse, a Medida de Independncia Funcional
(MIF) e o Mini Mental State Examination (MMSE).
Foram avaliados em dois momentos, admisso e alta, 51 idosos (75,537,16
anos), 53% dos quais eram mulheres, com uma mdia de 14,276,45 dias de
internamento num servio de Medicina Interna.
O risco de queda, avaliado com a escala de Morse, evolui no sentido da
diminuio do risco, correlaciona-se positivamente com a idade e com a durao do
internamento no se evidenciando diferenas quanto ao tipo de residncia. Para as
restantes medidas em anlise (MIF, MIF subescala cognitiva e MMSE) foram
encontradas diferenas estatisticamente significativas no sentido da diminuio das
pontuaes da admisso para a alta. Encontraram-se ainda correlaes negativas em
ambos os momentos entre a idade e a durao do internamento e as pontuaes obtidas
em todas as medidas. exceo da MIF subescala cognitiva na admisso, todos os
idosos residentes em casa prpria ou de familiares obtiveram melhores resultados que
os institucionalizados em todas as medidas e ambos os momentos de avaliao.
Existem mltiplos fatores de risco associados ao declnio funcional cognitivo e
ao risco de queda nos idosos durante a hospitalizao que podem ser minimizados ou
evitados atravs de programas de Enfermagem de Reabilitao.
Palavras-Chave: Envelhecimento; Declnio funcional cognitivo; Quedas;
Hospitalizao
viii
ABSTRACT
The aging process is characterized by the presence of cognitive deficits that must
be evaluated in detail to understand its gravity, preventing its progression to more
severe clinical and pathological states, such as dementia. The hospitalization contributes
to a greater weakness/frailty of the elderly and is considered high risk for decline in
physical fitness and cognitive function increasing the risk of falling.
In order to understand if the cognitive functional decline is accentuated during
hospitalization and influences the risk of falling in elderly patients it was design an
exploratory, descriptive and correlational study. As measures were used the Morse
Scale, the Functional Independence Measure (FIM) and the Mini Mental State
Examination (MMSE).
Were evaluated at two times, admission and discharge, 51 elderly (75.53 7.16
years), 53% were women, admitted in an internal medicine service with a mean of
14,276,45 days of hospitalization.
The risk of falling assessed with the Morse scale evolves towards decreased risk,
is positively correlated with age and length of hospitalization were not evident
significant differences in type of residence. For all of the other measures under
consideration (FIM, FIM cognitive subscale and MMSE) were found statistically
significant differences in the direction of lower scores from admission to discharge.
There were also negative correlations at both time points between age and length of stay
and the scores on all measures. Except for the FIM cognitive subscale at admission, all
elderly residents in their own home or family fared better than the institutionalized in all
measures and both time points.
There are multiple risk factors associated with functional decline and the risk of
cognitive decline in elderly patients during hospitalization that can be avoided or
minimized with Rehabilitation Nursing programs.
Key Words: Aging, Cognitive Functional Decline; Falls; Hospitalization
ix
NDICE GERAL
INTRODUO .............................................................................................................. 1
PARTE I ESTADO DA ARTE ................................................................................... 3
1. ENVELHECIMENTO ....................................................................................... 5
2. DECLNIO FUNCIONAL COGNITIVO NO IDOSO ................................... 8
2.1 FATORES QUE INFLUENCIAM O ENVELHECIMENTO COGNITIVO 9
3. HOSPITALIZAO DO IDOSO ................................................................... 17
4. QUEDAS ........................................................................................................... 19
5. REABILITAO COGNITIVA EM IDOSOS ............................................. 23
PARTE II ESTUDO EMPRICO ............................................................................ 27
1. METODOLOGIA ............................................................................................. 29
1.1 QUESTO DA INVESTIGAO ............................................................... 29
1.1.1 Justificao do tema............................................................................ 29
1.2 OBJETIVOS DE ESTUDO ........................................................................... 30
1.3 TIPO DE ESTUDO ........................................................................................ 30
1.4 CONSIDERAES TICAS ........................................................................ 31
1.5 INSTRUMENTO DE RECOLHA DE DADOS ........................................... 32
1.5.1 Escala de MORSE .............................................................................. 32
1.5.2 Medida de Independncia Funcional .................................................. 33
1.5.3 Mini Mental State Examination (MMSE) .......................................... 35
1.5.4 Definio de Termos .......................................................................... 36
1.6 AMOSTRAGEM E CRITRIOS DE INCLUSO ...................................... 36
1.7 PROCEDIMENTO ......................................................................................... 37
1.8 PROCEDIMENTOS ESTATSTICOS ......................................................... 38
2. APRESENTAO DE RESULTADOS ........................................................ 38
3. DISCUSSO DOS RESULTADOS ................................................................ 48
CONCLUSO ............................................................................................................... 53
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ....................................................................... 54
APNDICE A - QUESTIONRIO APLICADO AOS IDOSOS ............................. 59
x
NDICE DE TABELAS
Tabela 1 - Distribuio dos participantes por idade ....................................................... 39
Tabela 2 - Distribuio dos participantes por nmero de dias de internamento............. 39
Tabela 3 - Escala de Morse Score na admisso e na alta ............................................ 41
Tabela 4 - Medida de Independncia Funcional na admisso e na alta .......................... 43
Tabela 5 - Medida de Independncia Funcional Sub-Escala Cognitiva na admisso e
na alta .............................................................................................................................. 44
Tabela 6 Mini Mental State Examination Pontuao na admisso e na alta ............ 45
xi
NDICE DE QUADROS
Quadro 1 - Alteraes nas aptides com o decorrer do envelhecimento (Sequeira, 2010)
........................................................................................................................................ 12
Quadro 2 - Escala de declnio cognitivo de Reisberg e col. (1982) ............................... 13
Quadro 3 Instrumentos de avaliao do risco de queda (Almeida et al., 2010) .......... 21
Quadro 4 - Nvel de risco de queda e medidas recomendadas (Morse, 1997) ............... 33
Quadro 5 - Classificao dos nveis da avaliao na Medida de Independncia Funcional
(Sequeira, 2010) ............................................................................................................. 34
Quadro 6 - Funes avaliadas na medida de independncia funcional .......................... 34
Quadro 7 Comparao das pontuaes mdias obtidas para as escalas de avaliao
aquando da admisso e alta dos utentes.......................................................................... 46
Quadro 8 Correlaes entre as pontuaes das escalas nos dois momentos de
avaliao e a idade e nmero de dias de internamento dos utentes ................................ 46
Quadro 9 Mdias obtidas nas vrias escalas de avaliao pelos grupos dos utentes que
residem em casa prpria/famlia e os institucionalizados .............................................. 47
xii
NDICE DE FIGURAS
Figura 1 - Modelo de Fatores de Risco de Quedas em Idosos Adaptado de (WHO,
2007) ............................................................................................................................... 20
Figura 2 Cascata da dependncia (Creditor, 1993)...................................................... 22
xiii
NDICE DE GRFICOS
Grfico 1 - Populao residente em Portugal, comparao entre 1991 e 2010 (INE,
2011) ................................................................................................................................. 5
Grfico 2 - ndice de Envelhecimento em Portugal, 1991 - 2010 (INE, 03 de junho de
2011) ................................................................................................................................. 6
Grfico 3 - Projees de Populao Residente em Portugal 2010 - 2060 (INE) .............. 7
Grfico 4 - Distribuio dos participantes por sexo ....................................................... 38
Grfico 5 - Distribuio dos participantes por estado civil ............................................ 40
Grfico 6 - Distribuio dos participantes por residncia .............................................. 40
Grfico 7 - Escala de Morse Classificao na admisso e na alta ............................... 42
1
INTRODUO
O aumento da longevidade requer dos profissionais de sade uma maior ateno
e capacidade para equacionar a problemtica que o processo de envelhecimento acarreta
para o indivduo idoso, sociedade e instituies de sade. Torna-se cada vez mais
necessrio estar atento problemtica da qualidade de vida, bem como os aspetos da
independncia, autonomia para as atividades de vida dirias, a segurana social e
ambiental da pessoa idosa (Rebelatto & Morelli, 2004). A capacidade funcional refere-
se autonomia da pessoa para a realizao de tarefas que fazem parte do seu quotidiano
e lhe asseguram a possibilidade de viver sozinha em contexto domicilirio. A perda da
capacidade funcional decorrente do prprio envelhecimento e da falta de estimulao
cognitiva, so das principais causas de institucionalizao dos idosos (Pal, 1997).
Atualmente objetivo fundamental avaliar frequentemente os diferentes nveis
de incapacidade para se planificar de forma adequada os cuidados de sade, permitindo
uma melhor organizao dos recursos existentes de forma a promover a sade,
identificando antecipadamente as pessoas de risco. Os Enfermeiros Especialistas em
Enfermagem de Reabilitao so detentores de um conjunto de competncias (OE,
2011) que lhes permite avaliar as necessidades especficas desta populao bem como
prescrever, implementar e monitorizar planos e programas de Enfermagem de
Reabilitao para prevenir ou minimizar o impacto do declnio funcional.
Particularmente importante pode ser a sua interveno nos servios de internamento
hospitalar, como a medicina interna, onde a grande maioria dos doentes internados tem
idade igual ou superior a 65 anos.
Num estudo realizado por Diogo e Kawasaki detetaram-se taxas de deteriorao
funcional em cerca de oitenta por cento dos idosos durante a hospitalizao (Kawasaki
& Diogo, 2005). Entre os fatores de risco predisponentes ao declnio funcional dos
idosos internados, a literatura salienta a idade avanada (Cunha, Cintra, Cunha, Couto,
& Giacomin, 2009), estados confusionais graves, dfice cognitivo (Inouye et al., 1993),
iatrogenias, gravidade da condio fsica e histria de quedas (Cunha et al., 2009).
Inmeros estudos realizados em ambiente hospitalar indicaram que utentes
idosos com tendncia a quedas tm maior risco de apresentar declnio funcional durante
2
o perodo de internamento (Anpalahan & Gibson, 2008; Cornette et al., 2006; Siqueira,
Cordeiro, Perracini, & Ramos, 2004).
Assim, dada a pertinncia da temtica em questo, avaliar a relao existente
entre o declnio funcional cognitivo do idoso e o risco de quedas durante o
internamento, foi delineado este projeto.
A finalidade principal deste evidenciar a necessidade de planos de interveno
em Enfermagem de Reabilitao, personalizados e direcionados aos dfices avaliados,
que diminuam o impacto negativo do internamento sobre a funo cognitiva dos idosos
durante o internamento hospitalar.
Salienta-se, ainda, como objetivo o desenvolvimento de competncias no ambito
da investigao em contexto da prtica de cuidados.
Este trabalho encontra-se estruturado em duas partes. A primeira parte remete
para o estado da arte, com o intuito de expor o conhecimento atualizado da literatura
sobre temtica em questo e a segunda parte abrange o estudo emprico, onde so
abordadas as questes metodolgicas, apresentao e discusso dos resultados.
3
PARTE I ESTADO DA ARTE
4
5
1. ENVELHECIMENTO
A populao idosa Portuguesa, seguindo a tendncia mundial, tem vindo a
aumentar. Na dcada de 90, a proporo de indivduos com menos de 24 anos
representava, em mdia, 33,4% do total, na dcada seguinte um pouco menos de 28,0%,
situando-se, em 2010, nos 26,0% (INE, 2011).
Grfico 1 - Populao residente em Portugal, comparao entre 1991 e 2010 (INE, 2011)
O ndice de Envelhecimento a relao existente entre o nmero de idosos e a
populao jovem, normalmente expresso em nmero de residentes com 65 ou mais anos
por 100 residentes com menos de 15 anos. Esta relao constitui o melhor indicador de
envelhecimento da populao.
A populao envelheceu e espera-se que, a um ritmo mais lento, a populao
com 65 e mais anos e a mais idosa, continue a envelhecer. Perante esta realidade,
irrefutvel, as recomendaes internacionais apontam para encarar o envelhecimento
das sociedades como um desafio e uma oportunidade. preciso potenciar tanto a
experincia como as capacidades das pessoas idosas de modo a dar-lhes oportunidades
para intervirem na vida em sociedade (Gonalves & Carrilho, 2007).
6
Grfico 2 - ndice de Envelhecimento em Portugal, 1991 - 2010 (INE, 03 de junho de 2011)
O ndice de envelhecimento ultrapassou pela primeira vez os 100 idosos por
cada 100 jovens em 1999 (INE, 2002) ascendendo a 102 idosos por cada 100 jovens em
2001, passando para 110 em 2005 e para 128,6 data dos Censos 2011.
Com o aumento do envelhecimento da populao, o cuidado com o doente idoso
deve ser uma preocupao da sociedade em geral e dos profissionais de sade em
particular. Exige um maior desenvolvimento e empreendimento em termos de cincia
terica e aplicada, havendo necessidade de aprofundar os conhecimentos acerca do
processo de envelhecimento no respeitante interatividade e repercusso
multidimensional (bio-psico-social). Do mesmo modo implica mais profissionais com
especializao na rea e intervenes em reabilitao, que podem ajudar a ultrapassar
ou compensar incapacidades funcionais/cognitivas e incluir estratgias de adaptao s
atividades de vida dirias bem como modificaes no meio ambiente e ajudas tcnicas,
criando condies de autonomia e independncia de modo a reduzir as incapacidades e
limitaes do idoso.
Segundo as Projees de Populao Residente em Portugal, 2008-2060, cuja
publicao foi disponibilizada no Portal do INE a 19 de maro de 2009, prev-se, at
2060, um decrscimo populacional, acompanhado de um aumento no ndice de
Envelhecimento da populao com reduo dos efetivos mais jovens, consequncia dos
nveis de fecundidade abaixo do limiar de substituio das geraes e do esperado
aumento da esperana de vida.
7
Assim, antev-se no perodo de projeo (2008-2060) uma reduo da populao
jovem (0-14 anos de idade), de 15,3% para 11,9% e um aumento de 17,4% para 32,3%
dos indivduos com 65 ou mais anos de idade. Resultante sobretudo do aumento da
esperana mdia de vida, a populao com 80 e mais anos de idade evoluir de 4,2% do
total de efetivos em 2008 para valores entre 12,7% e 15,8% em 2060.
Projeta-se que, em 2060, residam no territrio nacional cerca de 3 idosos por
cada jovem.
Grfico 3 - Projees de Populao Residente em Portugal 2010 - 2060 (INE)
Por observao do grfico 3 verifica-se que o fenmeno do envelhecimento se
tornou numa realidade irrefutvel mantendo-se uma tendncia crescente no peso da
populao idosa. Sendo este um processo progressivo, irreversvel e incontrolvel de
declnio das funes fisiolgicas, no implica que conduza impreterivelmente
incapacidade do indivduo, no entanto, o risco de leses causadas por acidentes
aumenta, constituindo as quedas uma das principais causas de leses na velhice.
8
2. DECLNIO FUNCIONAL COGNITIVO NO IDOSO
A funcionalidade do idoso relaciona-se com a sua autonomia e independncia
para manter as suas atividades quotidianas, resultando no somente da capacidade fsica
como tambm das capacidades cognitivas e fatores psicossociais.
A cognio reside num conjunto de funes mentais envolvendo ateno,
raciocnio, memria, perceo, imaginao, juzo, pensamento, linguagem e
inteligncia, utilizados para processar a informao e o conhecimento (Hoeman, 2011).
Um bom funcionamento cognitivo fundamental para um envelhecimento com
qualidade. Para muitos envelhecer sinnimo de declnio cognitivo, no entanto,
verifica-se na velhice uma enorme variabilidade, manifestando alguns indivduos apenas
pequenas mudanas enquanto que, em outros, a degenerao enorme.
No existindo uma definio instituda para declnio cognitivo, pode entender-se
como uma diminuio no rendimento de diferentes aptides cognitivas. Algumas
funes cognitivas declinam pouco no decurso da vida, enquanto outras parecem
mesmo aumentar, estes aspetos so influenciados, semelhana da funo, por vrios
fatores: histria familiar, condies psiquitricas, hbitos de vida e outros(de Len-
Arcila, Milin-Suazo, Camacho-Caldern, Arvalo-Cedano, & Escartn-Chvez, 2009).
Segundo estudos de orientao mdica, o declnio cognitivo na velhice, est
intimamente relacionado com diferentes tipos de demncia, sendo as mais comuns a
doena de Alzheimer e a demncia vascular, e para a sua medio , na maioria dos
casos, utilizada a escala Mini Mental State Examination (Folstein, Folstein, & McHugh,
1975).
No desempenho intelectual, as aptides cognitivas atingem o seu auge aos 30
anos, continuando estveis at ao perodo dos 50-60 anos comeando posteriormente a
diminuir. O seu declnio acelera-se a partir dos 70 anos.
As alteraes cognitivas inerentes ao envelhecimento normal dificultam o
diagnstico de perturbaes mentais orgnicas, como o caso da demncia.
9
2.1 FATORES QUE INFLUENCIAM O ENVELHECIMENTO COGNITIVO
So vrios os fatores que levam a alteraes cognitivas (Spar & La Rue, 2005):
genticos, sendo estes responsveis por aproximadamente 50% da variabilidade
cognitiva no idoso;
sade;
instruo/escolaridade, responsvel por 30% da variabilidade cognitiva na
terceira idade;
atividade fsica e mental, a execuo de atividades que estimulem o corpo e a
mente esto intimamente relacionadas com um desempenho cognitivo mais
eficaz e um menor declnio longitudinal;
conhecimentos especializados, apesar de um declnio das capacidades cognitivas
resultante do avanar da idade, aqueles que efetuam treinos/estratgias
compensadoras apresentam um elevado nvel de desempenho;
personalidade e humor, verifica-se uma correlao entre a depresso e a
insuficincia autopercebida da memria e dfices do desempenho;
contexto scio-cultural;
treino cognitivo;
diferenas entre gneros, etnias e raas;
idade, quanto mais avanada maior o risco de aquisio de dfices cognitivos
decorrentes da hospitalizao. As pessoas mais idosas apresentam menor
capacidade de recuperao e maior tendncia a tornarem-se dependentes durante
a sua permanncia no hospital.
Os idosos demonstram maior dificuldade nas tarefas de raciocnio que obrigam a
uma anlise lgica e organizada de material abstrato/no familiar, revelando-se mais
lentos na execuo de tarefas que exijam o planeamento, execuo e avaliao de
sequncias complexas. Deste modo, apresentam uma lentificao mais acentuada que os
jovens relativamente aos aspetos percetivos, mnsicos, cognitivos e motores (Spar & La
Rue, 2005).
A eficcia da comunicao por meio da linguagem permanece estvel durante a
vida adulta. Na senescncia verifica-se uma maior dificuldade na compreenso de
mensagens longas ou complexas e na reproduo de termos especficos, tornando-se o
discurso mais repetitivo.
10
Relativamente s aptides visuais, no que remete para o espao, os idosos
conseguem manter a capacidade de reconhecer imagens, lugares e caras que lhes so
familiares e reproduzirem/identificarem formas geomtricas vulgares. Em contrapartida,
demostram um declnio na capacidade de reconhecerem e reproduzirem configuraes
complexas ou pouco habituais.
A inteligncia permanece estvel ao longo de toda a vida adulta podendo atingir
um ligeiro declnio em idades avanadas, o que normalmente se traduz apenas na
execuo de novas tarefas. Pode ser dividida em inteligncia fluida e cristalizada
(Umpherd, 2010). A primeira remete para o processo bsico de informao, capacidade
de raciocinar, perceber a relao entre objetos, criar novas ideias e na adaptao a
mudanas. Atinge o auge aos 25 anos, declinando a partir dessa idade. A inteligncia
cristalizada consiste no processo de aquisio do conhecimento, centralizando-se na
educao, no conhecimento, na experincia adquirida no contexto sociocultural. Tem
tendncia a manter-se e aperfeioar-se ao longo da vida. Deste modo, indubitavelmente,
as atividades/experincias do passado tm repercusses no presente e so fundamentais
para um envelhecimento bem-sucedido no futuro (Umpherd, 2010).
Relativamente ateno, os idosos mantm uma capacidade estvel em
dirigirem e manterem a ateno sobre tpicos ou acontecimentos especficos,
demostrando dificuldade em filtrar informao que ocorra ocasionalmente, em repartir a
ateno por diversas tarefas ou desviar a ateno para um outro ponto (Spar & La Rue,
2005).
Park (1999) afirma que o declnio da velocidade a que a informao
processada, da memria de trabalho e das capacidades sensorial e percetual, esto
intimamente relacionados com as alteraes cognitivas verificadas com o avanar da
idade (Spar & La Rue, 2005).
A velocidade de processamento da informao/resposta , segundo Salthouse
(1996), traduzida pela lentificao da realizao de componentes percetuais e operaes
mentais afeta a ateno, a memria e a tomada de decises (Spar & La Rue, 2005).
McGeer & McGeer (1980) defende que com o avanar da idade, a capacidade de
aprender reduz-se. Este processo depende de diferentes fatores como, por exemplo, a
deteriorao sensorial, o que provoca um abrandamento da velocidade percetiva, a
reduo de sntese de determinados produtos qumicos para a memorizao (Shepard,
1997).
11
Segundo Shephard (Shepard, 1997), o componente de reconhecimento da
memria de longa durao relativamente bem preservado, porm h dificuldades na
recuperao de informaes desse armazenamento.
A memria desempenha um papel fulcral na construo da identidade social do
indivduo, do seu valor social e relacional. constantemente renovada pelos novos
sentidos e significados adquiridos no momento contemporneo.
Com o processo de envelhecimento surge uma diminuio da velocidade de
recuperao de vrios recursos da memria, sendo maior o declnio na memria
imediata, devido a alteraes no sistema sensrio-motor.
memria de trabalho, memria a curto prazo ou imediata est inerente a
reteno e a manipulao de informao registada na memria consciente/a curto prazo.
Este tipo de memria deteriora-se com a idade, principalmente quando necessrio
efetuar uma manipulao ativa da informao, criando dificuldades na aprendizagem e
na recordao de informao nova. Assim, torna-se necessrio ensaiar ou continuar a
concentrar a ateno(Spar & La Rue, 2005).
A memria a longo prazo, tambm denominada por memria de recordao
mantm-se estvel ou com declnio reduzido com a idade.
A perda da memria dificulta a aproximao das pessoas e as suas relaes
afetivas, sociais e familiares, o snior fica com limitaes nos seus relacionamentos. A
perda de memria impede-o de se cuidar, planear sua vida diria e, consequentemente,
perder a autonomia e qualidade de vida.
Spar e La Rue (2005), mencionam que o envelhecimento pode influenciar o
desempenho cognitivo mediante as alteraes das aptides (Quadro 1) e que todas as
alteraes mencionadas variam de acordo com as caratersticas individuais, contexto e
vivncias pessoais (Sequeira, 2010).
O envelhecimento preconizado como normal caraterizado pela presena de
dfices cognitivos que devem ser avaliados pormenorizadamente para compreender a
sua gravidade e prevenir, impedindo, a sua evoluo para quadros mais graves e
patolgicos, tais como a demncia. Assim, surge o dfice de memria associado idade
(Cancela, 2007).
Os indivduos que padecem de dfice de memria associado idade tm idade
igual ou superior a 50 anos, referem queixas subjetivas de perda de memria que afeta
atividades de vida diria e o seu desempenho em testes padronizados de memria
inferior ao nvel mdio dos adultos jovens (Cancela, 2007).
12
Segundo Larrabee e Crook, (1994), verifica-se uma prevalncia de dfice de
memria associado idade de 85% em idosos com mais de 80 anos (Spar & La Rue,
2005).
Quadro 1 - Alteraes nas aptides com o decorrer do envelhecimento (Sequeira, 2010)
Aptides Caractersticas
Habilidades Percetivo-motoras Declina a partir dos 50-60 anos.
Ateno Mantm-se estvel ou sofre um ligeiro declnio.
Inteligncia Declina ligeiramente em idade muito avanada. Mais
evidente em tarefas novas.
Linguagem:
- Comunicao
- Sintaxe, conhecimento de palavras
- Fluncia e nomeao
- Compreenso
- Discurso
- estvel: na ausncia de dfice sensorial;
- estvel: varia com o grau de instruo;
- lapsos ocasionais em encontrar palavras;
- mensagens complexas dificultam mais a
compreenso;
- pode ser mais impreciso e repetitivo
Memria
- Memria de trabalho (recente)
- Memria remota ou a longo prazo
- estvel, declnio ligeiro ou moderado. Diminuio
da capacidade para manipular a memria de curto
prazo com dfices na codificao e recuperao.
- estvel para aspetos mais relevantes da vida do
idoso.
Visuo-espacial:
- copiar desenhos
- orientao topogrfica
- varivel: intacta para figuras simples e com
dificuldades em figuras complexas.
- em declnio: mais notvel em terreno familiar
Raciocnio:
- resoluo de problemas
- raciocnio prtico
- em declnio: alguma redundncia e desorganizao
- varivel, mas intacto para situaes familiares
Funes executivas Ligeiro declnio. Planeamento e execuo menos
eficiente de comportamentos complexos.
Velocidade Em declnio, com lentificao da ao e pensamento.
Alm do dfice de memria associado idade, existem idosos cujas capacidades
cognitivas se encontram mais deterioradas relativamente idade que tm, surgindo o
dfice cognitivo ligeiro (DCL), em que so predominantemente afetadas a
aprendizagem e a memorizao de nova informao. No entanto, podem ainda verificar-
se alguns problemas ao nvel da linguagem, das capacidades visuo-espaciais ou do
raciocnio. Existem trs tipos de DCL (Nunes, 2005)
puramente amnsico,
defeito isolado, no mnsico,
defeitos cognitivos mltiplos.
13
As pessoas com DCL encontram-se com maior predisposio ao
desenvolvimento da demncia, sendo importante que esses idosos sejam alvo de
programas de estimulao e/ou reabilitao cognitiva, com o intuito de melhorar a
capacidade intelectual.
Reisberg e colaboradores (1982) referenciaram uma escala de classificao do
declnio cognitivo (Quadro 2) que permite uma identificao do estado da pessoa
(Fontaine, 2000).
Quadro 2 - Escala de declnio cognitivo de Reisberg e col. (1982)
Estdio Fase
clnica
Sintomatologia
1 Ausncia de
declnio cognitivo Normal
Ausncia de queixas mnsicas e de perturbaes
objetivas
2 Declnio cognitivo
muito ligeiro
Perda de
memria
Queixa mnsica centrada nos nomes prprios e locais,
estando ainda a pessoa adaptada socialmente.
3 Dfice cognitivo
ligeiro
Incio do
estado de
confuso
A pessoa comea a estar incapacitada na sua vida
diria, adotando uma atitude de negao. A famlia
comea a tomar conscincia da gravidade da situao.
4 Declnio cognitivo
mdio
Estado de
confuso
grave
O estado da pessoa j se manifesta na consulta clnica.
Surge perda de autonomia e a capacidade de
aprendizagem declina muito. Surgem lacunas mnsicas
na histria pessoal do doente, no entanto reconhece
rostos e locais familiares. A negao permanente.
5 Declnio cognitivo
mediamente grave
Incio do
estado
demncia
A pessoa deixa de estar apta a viver sozinha, no est
orientada no tempo, nem no espao, s reconhece o
nome de pessoas muito prximas, no entanto ainda
consegue comer, lavar-se, manifestando apraxias
graves principalmente ao vestir-se.
6 Declnio cognitivo
grave
Estado
demencial
mdio
Perda de autonomia total, pessoa incontinente, incapaz
de se alimentar, a memria parcelar, inteligncia
declina muito, o reconhecimento de familiares
espordico, a personalidade muda, surgem iluses,
obsesses, ansiedade e labilidade emocional.
7 Declnio cognitivo
muito grave
Demncia
profunda
Perda de linguagem, comportamentos incoerentes e
perda de autonomia total.
As alteraes ao nvel cognitivo so prevalentes nos idosos com patologia
aguda, contribuindo, em parte considervel, para o prognstico em termos de
morbilidade e mortalidade. Deve-se efetuar um esforo com o intuito de reconhecer este
tipo de alteraes, que podem ser secundrias a estados confusionais agudos como o
delrio ou, do mesmo modo, envolver situaes prolongadas de demncia, podendo
surgir tambm depresso ou psicose. Deste modo, fundamental realizar uma distino
14
das diversas situaes que possam ocorrer, uma vez que os estados agudos (delrio,
agitao, depresso, entre outros) podem ser reversveis mediante intervenes
atempadas de correo ou minimizao dos seus efeitos, o mesmo no acontecendo no
caso de demncias prolongadas (exemplo: doena de Alzheimer). Porm, pode-se estar
perante diferentes casos, em que a demncia o fator de risco mais importante para a
ocorrncia de delrio nos doentes idosos, em contrapartida, o delrio em idosos
hospitalizados com demncia leva diminuio das capacidades funcionais e perda de
independncia.
O delrio surge com um quadro inicialmente agudo, com dfices de ateno, de
organizao do pensamento, alterao do nvel de conscincia, desorientao, dfices na
memria, distrbios da perceo, alteraes psicomotoras e perturbao do ritmo do
sono.
So diversos os instrumentos que podem ser utilizados para identificar os
diferentes dfices cognitivos:
Mini Mental State Examination (MMSE): breve teste de rastreio cognitivo,
simples e frequentemente usado;
Hodkingson Abbreviated Mental Test (HAMT): avalia rapidamente a
possibilidade de demncia em idosos. Embora validado essencialmente em
idosos, a sua utilizao estendeu-se avaliao da confuso e declnio cognitivo
em geral;
Short Portable Mental Status Questionnaire (SPMSQ): testa a orientao,
memria remota e recente, habilidades prticas e habilidades matemticas em
idosos;
Confusion Assessment Method (CAM): avalia a existncia de delrio;
Geriatric Depression Scale (GDS): avalia a presena de sintomas de depresso.
A demncia uma patologia com um conjunto de sintomas especficos
caratersticos da doena mental, que englobam alteraes da cognio, do
comportamento e da interao. Demncia um termo genrico, que carateriza
sndromes de etiologias diversas, em que surge, como aspeto fundamental, a
deteriorao intelectual adquirida devido a uma causa orgnica no especfica. Ocorre
na sequncia de uma doena cerebral, geralmente de natureza crnica, progressiva e
com perturbao de diversas funes corticais, em que h comprometimento da
memria (de fixao e evocao), do pensamento abstrato, do julgamento e mudanas
15
da personalidade. Posteriormente estes comprometimentos tambm tm influncia em
alteraes da linguagem, praxias, gnosias, entre outras.
A demncia uma decadncia progressiva da capacidade mental em que a
memria, a reflexo, o juzo, a concentrao e a capacidade de aprendizagem esto
diminudos e pode produzir-se uma deteriorao da personalidade.
A demncia mais representativa, com 60% a 70% dos casos, remete para o
Alzheimer. Por sua vez, a demncia constitui um dos maiores problemas de sade da
populao idosa da Europa (Sequeira, 2010).
O diagnstico de um quadro de demncia, inicialmente complicado devido ao
carter heterogneo do funcionamento cognitivo dos idosos e frequncia com que
surgem patologias associadas (exemplo: depresso).
A demncia, uma doena de evoluo lenta, pelo que podem passar
despercebidos os sintomas iniciais. Os sintomas mais significantes da demncia
englobam:
Alterao da memria a curto ou longo prazo;
Esquecimento de pessoas, lugares, acontecimentos, objetos e rotinas dirias;
Alterao na linguagem, dificuldade em encontrar a palavra certa ou em fazer
clculos com nmeros;
Modificao ou acentuao da maneira de ser (prostrao/agitao, desinibio
social, choro fcil).
A evoluo da doena diferente de pessoa para pessoa. Perante a inexistncia
de novos fatores desencadeantes da demncia, a evoluo de cada indivduo mantm o
mesmo ritmo, de ano para ano. Em doentes com demncia num estado avanado, o
crebro perde quase todas as suas capacidades funcionais. H maior dificuldade em
controlar o seu comportamento e linguagem. Podem ser incapazes de construir uma
frase completa e at de falar.
Na maioria, a demncia uma doena progressiva e sem cura. O tratamento visa
atrasar a sua evoluo e dirigido causa.
A manuteno de um ambiente familiar ajuda a pessoa com demncia a
conservar a sua orientao. H particularidades que podem facilitar o quotidiano destes
indivduos e de quem os rodeia, devendo-se manter um ambiente calmo, sem grandes
estmulos, atitudes protetoras e/ou repreensivas e efetuar a manuteno das rotinas
dirias.
16
A estimulao cognitiva essencial e engloba todas as atividades que
contribuem para melhorar o funcionamento cognitivo em geral (memria, linguagem,
ateno, concentrao, abstrao, operaes aritmticas e praxias) atravs de programas
de estmulo. Consiste em exercitar e manter as capacidades cognitivas existentes, com o
objetivo de melhorar e manter o funcionamento cognitivo e diminuir a dependncia do
idoso. Tudo isto contribuir para uma melhoria na conduta do idoso, no seu estado de
nimo, na sua auto-eficincia e autoestima.
Em formato de ilao, verifica-se que todas estas alteraes cognitivas e
funcionais levam a um aumento de dependncia da pessoa idosa, que se encontra muito
mais fragilizada em ambiente hospitalar, devido patologia que a levou ao
internamento, bem como alterao do seu ambiente, que passa a ser completamente
desconhecido, aumentando o receio/medo.
A diminuio da capacidade funcional observada no indivduo idoso tem
implicaes diversas na sua qualidade de vida, tornando-o gradualmente menos ativo,
menos autnomo, mais dependente, afetando a capacidade de fazer exerccio e realizar
atividades.
As consequncias das alteraes cognitivas podem surgir a longo prazo e
comprometer a capacidade da pessoa viver independentemente interferindo na sua
autonomia, ou a curto prazo, impossibilitando o idoso internado de participar nas
decises relacionadas com o seu tratamento e hospitalizao.
A independncia a capacidade de se ser responsvel pelos prprios atos e
desejos, um idoso pode ser independente usando ajudas tcnicas num meio ambiente
que foi alterado em sua funo. Estas intervenes, em conjunto com o uso de
estratgias de adaptao a atividades do quotidiano, permitem uma reduo das
incapacidades do idoso podendo este desempenhar tarefas importantes na sociedade que
o rodeia.
17
3. HOSPITALIZAO DO IDOSO
A hospitalizao considerada de grande risco principalmente para os idosos.
Para alm dos dfices cognitivos e funcionais considerados normais para a idade, surge
ainda o acrscimo do internamento aquando da existncia de uma patologia
significativa, contribuindo, no geral, para uma maior debilidade do idoso. Por outro
lado, no podemos esquecer que esta condio implica que o idoso abandone o seu
domicilio, o seu lar, a sua casa e tenha que encarar um mundo que desconhece e no qual
se encontra fragilizado.
A hospitalizao necessria para o controlo da situao clnica e, muitas das
vezes, leva ao aparecimento de dfices adicionais. Os aspetos do envelhecimento
interagem com aqueles que esto associados ao cuidado hospitalar levando a um
culminar de acontecimentos que se traduzem em incapacidade e dependncia dos
idosos.
importante mencionar que em termos funcionais cognitivos, os dfices
observados no momento da hospitalizao podem seguir trajetrias diferentes, podendo
a incapacidade surgir durante a permanncia no hospital ou, do mesmo modo, ser
resolvida durante o internamento, manter-se estvel ou sofrer um agravamento. So
diversos os meios que podem ser utilizados na avaliao do desempenho funcional, os
mais referenciados na literatura abrangem: Medida de Independncia Funcional, ndice
de Atividades de Vida Diria de Barthel e ndice de Katz (indispensveis avaliao da
autonomia do idoso nas atividades do quotidiano) surgindo, para uma avaliao mais
complexa, a escala de Lawton (permite avaliar as atividades instrumentais da vida
diria).
A hospitalizao, embora necessria em casos de doena aguda ou crnica
descompensada, pode levar a uma srie de complicaes no relacionadas com o motivo
inicial do internamento. Muitas dessas complicaes levam a aumento do tempo de
permanncia no hospital, aumento do declnio funcional/cognitivo (muitas vezes
irreversvel), mudanas na qualidade de vida e maior mortalidade (Sales, Silva, Gil Jr.,
& Filho, 2010). Muitas vezes o internamento hospitalar pode ajudar a desmascarar e/ou
a acelerar problemas cognitivos que anteriormente no haviam sido identificados. Um
em cada trs idosos hospitalizados evolui com perda de capacidade em realizar
18
atividades bsicas da vida diria e pelo menos 20% desenvolvem delirium durante o
internamento (Sales et al., 2010).
Perante um idoso hospitalizado essencial que a sua avaliao inclua medidas
de funcionalidade e cognio, uma vez que estas se refletem na capacidade de o idoso
desempenhar as suas atividades de vida diria e se encontram relacionadas com o
prognstico, tendo em conta a durao do internamento, destino aps alta e
mortalidade.
Nas ltimas dcadas, tem sido foco de ateno a importncia desses problemas,
tendo em vista suas complicaes mdicas, sociais e polticas.
O aparecimento de uma doena leva a uma alterao na integridade do idoso e a
um obstculo ao exerccio normal da sua vida. Podem ocorrer alteraes das funes
fsicas, do vigor e da resistncia para a realizao de atividades dirias; perda de
autonomia, independncia e de liberdade em funo do tratamento e das interferncias
do mesmo, perdas sociais, afetivas, entre outras. O paciente passa a depender do
hospital, da famlia, de factos que podem gerar insegurana permanente, levando ao
desgaste e stress emocional (Sales et al., 2010).
A maneira como cada idoso reage doena depende de mltiplos fatores, tais
como: caratersticas de personalidade, histria de vida, crenas pessoais, estado
emocional, organizao de capacidades defensivas, interpretao que faz da situao
atual, forma como vivncia a doena e a situao de internamento, capacidade de tolerar
frustraes, vantagens e desvantagem advindas da posio de doente, projetos de vida,
apoio que possa receber e aceitar as relaes que estabelece consigo mesmo, com seus
familiares/cuidador e com a equipa multidisciplinar. Assim, a doena traz consigo
significados e sentimentos que interferem, alteram e determinam seu processo.
A ao do enfermeiro especialista em Reabilitao no cuidar do idoso de
fulcral importncia, na identificao das necessidades de cuidados dos idosos
hospitalizados, sendo fundamental para o incrementar da qualidade de vida.
Os programas de enfermagem de reabilitao a implementar no idoso deve ter
como objetivo a manuteno e valorizao da autonomia. Para tanto, necessrio
avaliar o grau de dependncia e instituir medidas voltadas para o alcance do maior grau
possvel de independncia funcional.
19
4. QUEDAS
Como referenciado anteriormente, o nmero de indivduos com mais de 65 anos
tem vindo a evoluir a um ritmo superior ao de qualquer outro grupo etrio.
Com o envelhecimento surgem inmeras mudanas fsicas, sensoriais e
cognitivas que diminuem a eficincia, a aptido para se adaptar e a funcionalidade, algo
inevitvel manifestando-se ao longo do processo natural e complexo que o
envelhecimento e levando a um aumento do risco de queda e leses decorrentes de uma
queda.
Segundo publicado no Relatrio Global da OMS sobre Preveno e Quedas na
Velhice (WHO, 2007), Aproximadamente 28% a 35% das pessoas com mais de 65
anos de idade sofrem quedas a cada ano, aumentando para 32% a 42% para as
pessoas com mais de 70 anos. A frequncia das quedas aumenta com a idade e o nvel
de fragilidade.
O risco de queda existe para ambos os sexos, contudo, ocorrem com maior
frequncia em idosos do sexo feminino, encontrando-se os idosos do sexo masculino
mais propensos a morrer de uma queda.
Existem imensos fatores associados, sendo que o risco destas ocorrerem aumenta
significativamente sempre que o idoso apresente mais do que um fator em simultneo.
20
Figura 1 - Modelo de Fatores de Risco de Quedas em Idosos Adaptado de (WHO, 2007)
Segundo a Organizao Mundial de Sade, uma queda habitualmente definida
como sendo o evento que inadvertidamente leva a pessoa a ficar no solo ou em outro
nvel inferior, excluindo mudanas de posio intencionais para se apoiar em mveis,
paredes ou outros objetos.
Em meio hospitalar, as quedas podem originar consequncias fsicas,
psicolgicas e sociais. A queda habitualmente considerada sndrome geritrico em
consequncia da sua enorme incidncia em idosos (Almeida, Abreu, & Mendes, 2010).
Existem inmeros tipos de abordagem para identificar fatores de risco de queda,
no entanto, para uma adequada interveno necessrio e til que sejam utilizados
instrumentos sistematizados e objetivos de avaliao de risco do doente (Quadro3).
QUEDAS E LESES
RESULTANTES DE QUEDAS
FATORES DE RISCO AMBIENTAIS
Desenhos arquitetnicos inadequados
Escadas e pisos escorregadios
Tapetes soltos
Iluminao insuficiente
Piso irregular ou em mau estado
FATORES DE RISCO COMPORTAMENTAIS
Uso de mltiplos medicamentos
Consumo abusivo de lcool
Falta de exerccio
Calado inapropriado
FATORES DE RISCO SCIO-AMBIENTAIS
Baixa renda e baixos nveis de educao
Moradia inadequada
F alta de interaes sociais
Acesso limitado aos servios de sade e sociais
Falta de recursos da comunidade
FATORES DE RISCO BIOLGICOS
Idade, gnero e raa
Doenas crnicas (ex. Parkinson, artrite, osteoporose)
Declnio das capacidades fsicas, cognitivas e afetivas.
21
Quadro 3 Instrumentos de avaliao do risco de queda (Almeida et al., 2010)
Autores Fatores de Risco Apontados
Hendrich et al. (1992)
histria de quedas anteriores;
depresso;
alteraes ao nvel da eliminao;
tonturas/vertigens;
diagnstico de cancro;
confuso;
mobilidade alterada;
Watson e Mayhew (1994)
mobilidade diminuda;
deficincia visual;
ordens de restrio;
uso de medicao anti-hipertensiva.
Gluck et al. (1996)
histria prvia de quedas;
confuso ou desorientao;
incontinncia, diarreia ou necessidade de ajuda para se
deslocar ao WC.
Mendelson (1996) antidepressivos, hipnticos, benzodiazepinas
tranquilizantes minor e tranquilizantes major.
Morse (1997)
histria de queda;
presena de um diagnstico secundrio;
uso de ajudas em ambulatrio;
terapia endovenosa ou heparin lock;
marcha prejudicada;
m orientao do doente para as suas prprias
capacidades.
Oliver et al. (1997)
pontuao 3 ou 4 na transferncia e mobilidade;
presena de preocupao de queda;
ida frequente ao WC;
deficincia visual;
agitao;
instabilidade da marcha;
uso de medicao anti-arritmica.
O risco de queda no idoso mais elevado em meio hospitalar. Deve ter-se em
ateno que o hospital um ambiente estranho e por vezes hostil para a pessoa e que se
vo acumular no mesmo indivduo os efeitos do envelhecimento normal e as
consequncias do repouso no leito e da hospitalizao (Almeida et al., 2010; Creditor,
1993).
22
Figura 2 Cascata da dependncia (Creditor, 1993)
Devido ao progressivo declnio da funcionalidade e tambm ao medo de voltar a
cair, o idoso acaba por traar um percurso que termina com a institucionalizao. O grau
de dependncia e funcionalidade do idoso ser um fator primordial que ir afetar a sua
relao com o meio, condicionando a sua forma de ultrapassar os obstculos e barreiras
do ambiente. Gradualmente, a pessoa isola-se e perde confiana nas suas capacidades,
tornando-se cada vez mais sedentrio e dependente, necessitando de apoio dos
familiares e cuidadores de sade (Almeida et al., 2010).
Dependendo dos fatores de risco de queda encontrados em cada idoso, podem
ser prescritos e implementados planos e programas de enfermagem de reabilitao
personalizados que incluam programas de exerccio que melhorem a fora muscular, a
postura e o equilbrio que devero sempre ser associados a medidas universais de
preveno como a eliminao dos riscos ambientais e a reduo ou substituio de
frmacos com ao no sistema nervoso central.
23
5. REABILITAO COGNITIVA EM IDOSOS
A reabilitao exige uma perspetiva sistemtica, em que a pessoa e o impacto do
dfice cognitivo possam ser visualizados no contexto da sua rede de apoio e cuidados,
na qual os familiares so aliados essenciais para que o processo de reabilitao seja
eficaz (Gomes & Santos, 2006).
O objetivo da reabilitao cognitiva capacitar os doentes/familiares a conviver,
lidar, minimizar e superar os dfices cognitivos desenvolvendo-se estratgias para
melhorar a qualidade de vida dos doentes nas suas atividades quotidianas (Hoeman,
2011).
Nos programas de reabilitao indispensvel avaliar e definir o perfil
cognitivo de cada doente, para efetuar uma anlise dos aspetos cognitivos que esto
preservados ou deteriorados. Isto permite adequar o tratamento ao nvel intelectual,
cultural e social de cada doente, devendo este atuar sobre mltiplos fatores,
nomeadamente na adaptao/alterao do contexto scio-cultural, no tratamento
psicoteraputico, nos cuidados somticos e no apoio famlia (Hoeman, 2011).
O desafio na reabilitao planear um processo de tratamento de modo a que a
compensao e a modificao maximizem a habilidade do paciente idoso com dfices
cognitivos para se adaptar maioria das situaes de vida. Nos idosos a inatividade
comum, predominando a desocupao e a manuteno da disfuno, surgindo uma
diminuio do contacto com o meio em que est inserido. Este facto ocorre
principalmente devido s incapacidades e limitaes do idoso e ao isolamento
(Umphred, 2010).
O equilbrio entre a manuteno do desempenho cognitivo e da capacidade
funcional garante ao idoso manter sua participao nas atividades quotidianas e
aumenta a sensao de bem-estar, atravs do desenvolvimento da competncia e do
controle de si mesmo e do seu ambiente. O desenvolvimento de atividades de lazer em
horrios livres aumenta a autoestima e a participao social dos idosos.
No tratamento em reabilitao cognitiva usam-se atividades que mantenham
ativas a concentrao, a sequncia de pensamento, a ateno e a capacidade de fazer
escolhas do idoso.
24
A literatura (Gomes & Santos, 2006; Umphred, 2010) destaca cinco tipos de
tcnicas a utilizar na Reabilitao Cognitiva:
Tcnicas comportamentais: As respostas comportamentais e emocionais podem
ser condicionadas a certos estmulos que so indutores de respostas especficas,
envolvendo reforo positivo. Estimulam a mudana de comportamento
indesejado do idoso doente, potencializando a participao nas atividades de
vida diria e a socializao.
Terapia de Orientao para a Realidade (TOR): com o intuito de reduzir a
desorientao e confuso nos doentes. Tem como princpio apresentar dados da
realidade ao doente de forma organizada e contnua, criando estmulos
ambientais que facilitem a orientao e levando em conta que a realidade no
consiste apenas em orientao temporal. Deve-se evocar o passado para
significao do "eu", como forma de prazer e lembranas positivas. No presente,
promover a independncia, a orientao temporal e estimular a socializao. No
futuro, despertar o interesse em novos projetos de vida.
Estimulao Cognitiva: Com base na capacidade de adaptao e na plasticidade
cerebral, deve-se estimular o que estiver conservado, compensar o que foi
perdido e desenvolver potenciais remanescentes. As atividades devem
apresentar um aspeto ldico, favorecer os atos da vida quotidiana, utilizando
cores, dias da semana, ms e ano, hora, sabores entre outros.
Terapia de Reminiscncias: Permite a valorizao do passado e do
conhecimento do idoso, favorecendo as conversas, ordenando cronologicamente
factos importantes e lembranas significativas da vida. Essa tcnica tem sido
muito utilizada para relembrar emoes vividas previamente, gerando maior
sociabilizao e entretenimento como parte da terapia.
Tcnicas de Validao: Oferecer suporte emocional e sentido s expresses dos
idosos. Esta tcnica permite proporcionar alvio a desconfortos emocionais e de
conflitos relacionais, aumento da ateno, do autocontrole, da autoestima e o
envolvimento do idoso no contexto sociocultural.
De acordo com o Regulamento das Competncias Especficas do enfermeiro
Especialista em Enfermagem de Reabilitao da Ordem dos Enfermeiros (OE, 2011), os
programas/planos de cuidados no mbito da reabilitao cognitiva inserem-se na
competncia n. 1 Cuida de pessoas com necessidades especiais, ao longo do ciclo de
25
vida, em todos os contextos da prtica de cuidados. Assim, e atendendo a que todos os
programas/planos de interveno em Enfermagem de Reabilitao devem ser
personalizados e adaptados s necessidades reais da pessoa, entendemos necessria a
operacionalizao das seguintes unidades de competncia dos Enfermeiros Especialistas
em Enfermagem de Reabilitao (OE, 2011) nos cuidados ao idoso com risco de
declnio funcional cognitivo durante o internamento:
Avalia o risco de alterao da funcionalidade a nvel cognitivo;
Recolhe informao pertinente e utiliza escalas e instrumentos de medida para
avaliar a funo cognitiva;
Avalia os aspetos psicossociais que interferem nos processos adaptativos e de
transio sade/doena e ou incapacidade
Faz o diagnstico das respostas humanas desadequadas a nvel cognitivo;
Identifica as necessidades de interveno para otimizar e/ou reeducar a funo a
nvel cognitivo;
Discute as prticas de risco com a pessoa, concebe planos, seleciona e prescreve
as intervenes para a reduo do risco de alterao da funcionalidade a nvel
cognitivo;
Discute as alteraes da funo a nvel cognitivo com a pessoa/cuidador e
define com ela quais as estratgias a implementar, os resultados esperados e as
metas a atingir de forma a promover a autonomia e a qualidade de vida;
Concebe planos, seleciona e prescreve as intervenes para otimizar e/ou
reeducar a funo e elabora programas de reeducao funcional cognitiva;
Implementa planos de interveno para a reduo do risco de alteraes da
funo ao nvel cognitivo;
Implementa programas de reeducao funcional cognitiva;
Monitoriza a implementao e os resultados dos programas de: Reduo do
risco; Otimizao da funo; Reeducao funcional; Treino.
Deste modo, deve efetuar-se uma estimulao cognitiva global, com o objetivo
de reforar os recursos cognitivos, afetivos e sociais subsistentes, estimulando e
treinando o doente para a utilizao das suas capacidades cognitivas inatas
remanescentes. Uma boa capacidade cognitiva permitir ao doente uma maior
autonomia e capacidade de deciso e uma maior e melhor adeso ao plano teraputico,
contribuindo, assim, para uma mais eficaz recuperao e melhor qualidade de vida.
26
27
PARTE II ESTUDO EMPRICO
28
29
1. METODOLOGIA
A escolha da metodologia a usar fundamental na realizao de um estudo pois
atravs dela que conseguimos obter as respostas ao problema definido e recolher
informaes que nos permitam encontrar explicaes para o mesmo. Funciona como
alicerce de uma investigao. Segundo Fortin, (Fortin, 2003), a metodologia engloba
um conjunto de modos e de tcnicas que servem de linha orientadora na elaborao do
processo da investigao cientfica. Deste modo, podemos afirmar que funciona como
alicerce, constituindo a base do processo de investigao.
1.1 QUESTO DA INVESTIGAO
Este trabalho foi norteado pela seguinte questo de investigao: em que medida
o declnio funcional cognitivo se acentua durante a hospitalizao e influencia no risco
de queda em doentes idosos?
1.1.1 Justificao do tema
Como enfermeiro a exercer funes no servio de medicina interna, aps concluso da
ps-licenciatura em Enfermagem de Reabilitao, despertou-me fundamental interesse
um tema inserido na minha rea de interveno. O envelhecimento da populao ,
como vimos, uma realidade presente e futura, constituindo as quedas um grave
problema de sade pblica com elevada incidncia nesta populao das quais decorrem
leses que exigem, muitas vezes, interveno mdica podendo, em alguns casos, ser
fatais. O risco de leses graves ou morte nas pessoas mais velhas pode ser consequncia
das modificaes fsicas, sensoriais e cognitivas que vo surgindo com o
envelhecimento. Os custos resultantes de leses associadas a quedas so avultados.
Verifica-se, por parte do idoso, uma maior frequncia na utilizao dos servios
hospitalares que os demais grupos etrios. A hospitalizao pode, muitas vezes, ser
encarada como uma aspeto negativo particularmente para a populao envelhecida,
podendo levar a um comprometimento da capacidade funcional cognitiva e consequente
dependncia funcional e alteraes na qualidade de vida.
30
A reabilitao cognitiva constitui uma vertente pouco difundida ao nvel da
enfermagem de reabilitao, no entanto, a avaliao, o diagnstico e intervenes
desenvolvidas pelos profissionais de enfermagem no processo de reabilitao revelam-
se fulcrais na manuteno da funcionalidade do idoso, contribuindo assim para uma
melhoria nos rendimentos intelectuais, na qualidade de vida e recuperao da
independncia.
1.2 OBJETIVOS DE ESTUDO
Com base na questo de partida, foram definidos os seguintes objetivos:
Avaliar a capacidade funcional cognitiva dos idosos internados, na admisso
e na alta;
Avaliar o risco de queda desses idosos na admisso e na alta;
Analisar os resultados das avaliaes da capacidade funcional cognitiva e do
risco de queda na admisso e na alta.
Verificar se as alteraes identificadas na capacidade funcional cognitiva
influenciam o risco de queda
1.3 TIPO DE ESTUDO
Para dar resposta ao problema de partida e tendo em ateno os objetivos
definidos, desenhou-se um estudo exploratrio, descritivo, transversal e correlacional.
Segundo Fortin e Ducharme (Fortin & Ducharme, 2003), um estudo
exploratrio-descritivo reporta para a caraterizao do fenmeno em estudo por meio da
descoberta dos fatores envolventes e sua descrio, possibilitando desta forma o seu
conhecimento.
O estudo transversal teve como finalidade, atravs da aplicao dos
questionrios em momentos nicos, obter prontamente associaes comuns entre factos,
sem um perodo de seguimento, proporcionando um diagnstico imediato.
Este estudo correlacional na medida em que avalia e quantifica a relao entre
variveis, visando a sua descrio.
31
Segundo Ribeiro (Ribeiro, 2007), na investigao correlacional analisam-se as
relaes entre as variveis sem que se manipulem as variveis em estudo. Os dados
recolhidos expressam as relaes entre as variveis tal como elas existem
naturalmente.
Adotou-se uma abordagem quantitativa em que as informaes foram traduzidas
em nmeros a fim de se proceder sua classificao e anlise.
1.4 CONSIDERAES TICAS
Segundo (Fortin, 2003), a tica a cincia da moral e a arte de dirigir a conduta,
abrangendo um conjunto de permisses e de interdies de valor significativo na vida
dos indivduos e na qual se inspiram para guiar a sua conduta. Assim no decorrer desta
linha de pensamento foi solicitada, por escrito, a autorizao para implementar o
questionrio, ao Conselho de Administrao do CHTMAD,EPE que o remeteu para a
Comisso de tica da instituio e s aps aprovao e autorizao foi iniciado o
trabalho de campo que decorreu durante o perodo de 19 de maro a 05 de maio de
2012.
Inerente ao preenchimento do questionrio surge o consentimento, para a
participao do idoso no presente estudo. Um consentimento legal deve ser obtido de
forma livre e esclarecida. livre se cedido sem ameaas, promessas ou presses
exercidas sobre a pessoa e quando esta se encontra nas suas faculdades mentais, por sua
vez, para que o consentimento seja esclarecido deve ser informado sobre o que pedido
e o fim a que se destina a informao obtida para permitir aos participantes analisar as
consequncias da sua participao (Fortin, Prud'homme-Brisson, & Coutu-Wakulczyk,
2003).
Do mesmo modo, e como em qualquer trabalho de investigao, foi assegurado
o respeito pelos direitos de todos os participantes: direito autodeterminao,
intimidade, ao anonimato e confidencialidade, proteo contra o desconforto e
prejuzo e a um tratamento justo e leal.
32
1.5 INSTRUMENTO DE RECOLHA DE DADOS
Recolha de informao pode ser definida como () um processo organizado
posto em prtica para obter informaes junto de mltiplas fontes com fim de passar de
um nvel de conhecimento para o outro nvel de conhecimento ou de representao de
uma dada situao, no quadro de uma ao deliberada cujos objetivos foram
claramente definidos e que d garantias de validade suficientes. (Ketele & Rogiers,
1993)
O instrumento de recolha de dados utilizado foi o questionrio (Apndice A) por
se tratar de um mtodo rigoroso obtido atravs de uma resposta escrita do participante e
que possibilita organizar, normalizar e controlar os elementos recolhidos (Fortin,
Grenier, & Nadeau, 2003).
O questionrio utilizado constitudo por perguntas fechadas e escalas de
avaliao, distribudos do seguinte modo:
1. Dados biogrficos;
2. Escala de Morse;
3. Avaliao da Medida de Independncia Funcional;
4. Mini Mental State Examination.
O pr-teste, consiste no preenchimento do questionrio por uma pequena
amostra que reflita a diversidade da populao visada, com intuito de verificar se as
questes so bem compreendidas e viveis (Fortin, Grenier, et al., 2003). Como se
pretendia avaliar idosos em situao de doena aguda e, portanto, em situao de maior
fragilidade e menor disponibilidade para a participao em estudos de investigao,
testou-se o instrumento de recolha de dados em 4 idosos para aferir da razoabilidade da
aplicao bem como do tempo necessrio. S depois de garantido que a aplicao do
instrumento no constitua qualquer constrangimento para o idoso se prosseguiu o
estudo.
1.5.1 Escala de MORSE
A escala de Morse um instrumento de rpida e fcil aplicao que permite, em
poucos minutos, avaliar a probabilidade de um idoso internado sofrer uma queda. Muito
utilizada em ambiente hospitalar em doentes na fase aguda e em centros de
33
internamento de doentes crnicos, esta escala encontra-se organizada em seis
parmetros que originam uma pontuao que varia entre 0 e 125 pontos, so eles:
Histria de queda nos ltimos trs meses;
Diagnstico secundrio;
Ajuda na mobilizao;
Terapia endovenosa;
Marcha;
Estado mental.
Depois de somada a pontuao obtida em cada uma das seis variveis, o total de
pontos alcanado permite identificar o nvel de risco, as aes recomendadas como a
no necessidade de interveno, intervenes padro de preveno de quedas,
intervenes de preveno de alto risco.
Assim temos:
Quadro 4 - Nvel de risco de queda e medidas recomendadas (Morse, 1997)
Pontuao Nvel de risco de queda Medidas
0 24 Baixo Cuidados bsicos.
25 50 Mdio Implementar um plano padronizado de
preveno de quedas.
51 Alto Implementar medidas especficas.
Esta escala foi selecionada porque a escala utilizada para avaliao do risco de
quedas no servio onde foi desenvolvido o estudo.
1.5.2 Medida de Independncia Funcional
A Medida de Independncia Funcional (MIF), foi desenvolvida em 1980 tendo
como referncia a Classificao Internacional de Deficincias, Incapacidades e
Desvantagens publicada pela Organizao Mundial da Sade com carter experimental
em 1980. uma escala muito utilizada em reabilitao, constituindo um instrumento
auxiliar fundamental para a avaliao do estado funcional de um indivduo.
A utilizao deste instrumento tem como finalidade a apreciao quantitativa da
incapacidade de pacientes, avaliando o desempenho do indivduo e a necessidade de
cuidados exigida para a realizao de uma srie de tarefas motoras e cognitivas de vida
diria. Reflete desta forma a carga global de cuidados, para a incapacidade em questo,
34
sendo as atividades classificadas em dependncia ou independncia, sendo baseada na
necessidade de o indivduo ser assistido ou no por outra pessoa, e em caso de
necessidade em que proporo conforme se pode ver no quadro 5.
Quadro 5 - Classificao dos nveis da avaliao na Medida de Independncia Funcional (Sequeira,
2010)
Independncia
(sem ajuda)
7 Independncia completa (em segurana, em
tempo normal);
6 Independncia modificada (ajuda tcnica);
Dependncia modificada
(com ajuda)
5 Superviso, orientao;
4 Ajuda mnima (indivduo 75%);
3 Ajuda moderada (indivduo 50%);
Dependncia completa
(com ajuda)
2 Ajuda mxima (indivduo 25%)
1 Ajuda total (indivduo 0%)
Trata-se de um instrumento de avaliao constitudo por 18 itens (Quadro 6),
sendo atribuda a cada um deles uma pontuao mxima de 7 pontos, correspondente
independncia completa do indivduo, e mnima de 1, para uma dependncia total.
Quadro 6 - Funes avaliadas na medida de independncia funcional
Auto cuidados
Alimentao;
Higiene pessoal;
Banho ou lavar o corpo;
Vestir a metade superior do corpo;
Vestir a metade inferior do corpo;
Utilizao da sanita.
Controle dos esfncteres Vesical;
Intestinal.
Mobilidade/Transferncia
Leito; Cadeira; Cadeira de rodas;
Sanita;
Banheira ou duche.
Locomoo Marcha; Cadeira de rodas;
Escadas.
Comunicao Compreenso;
Expresso.
Cognio social
Interao Social
Resoluo de problemas da vida quotidiana;
Memria.
35
No total dos 18 itens avaliados podem ser identificadas duas sub-escalas:
Motora - agrega 13 itens referentes a Auto cuidados, Controle dos
esfncteres, Mobilidade/Transferncia e Locomoo.
Cognitiva - agrega 5 itens referentes a Comunicao e Cognio social.
O total mximo de 126 pontos e indica independncia total e o mnimo de 18
pontos e designa dependncia total.
Em diversos estudos onde foi utilizada (Glenny & Stolee, 2009; Hsueh, Lin,
Jeng, & Hsieh, 2002; MacNeill & Lichtenberg, 1997; Nagano, 2002), a MIF revelou ser
um instrumento mais apropriado e fivel para avaliao de idosos e destacado que a
dimenso motora foi adequada para avaliao das atividades de vida diria.
1.5.3 Mini Mental State Examination (MMSE)
O Mini-Mental State Examination (Folstein et al., 1975) foi desenvolvido nos
Estados Unidos da Amrica na dcada de 70 e traduzido e validado para a populao
Portuguesa em 1994 (Guerreiro et al., 1994). uma ferramenta amplamente utilizada na
prtica clnica, nomeadamente para rastreios populacionais de demncias e de defeito
cognitivo ligeiro (Burns, Lawlor, & Craig, 2002; Nunes, 2008), e para estudos de
investigao.
O MMSE encontra-se estruturado em 30 questes, pontuadas com 0 ou 1 ponto,
agrupadas em sete categorias, com o objetivo de avaliar funes cognitivas especificas:
Orientao temporal (5 pontos),
Orientao espacial (5 pontos),
Reteno registro de trs palavras (3 pontos),
Ateno e clculo (5 pontos),
Evocao das trs palavras (3 pontos),
Linguagem (8 pontos),
Habilidade construtiva (1 ponto).
A pontuao possvel varia entre 0 e 30 pontos. Vrios pontos de corte foram
definidos em diversos estudos que utilizaram o MMSE (Rami et al., 2009; Siqueira et
al., 2004) para o presente estudo considerou-se o ponto de corte nos 24 pontos (Siqueira
et al., 2004).
36
As vantagens da utilizao deste instrumento so amplamente conhecidas.
Revela-se eficaz na triagem de doentes com disfuno cognitiva revelando uma
validade aceitvel na deteo de demncia com uma sensibilidade discriminativa de at
68% (Agrell & Dehlin, 2000) Por ser de fcil e rpida administrao (cerca de 15
minutos), pode ser usado repetidamente e de forma rotineira, possibilitando assim uma
monitorizao de alteraes no estado cognitivo.
1.5.4 Definio de Termos
No contexto do presente estudo considerar-se- declnio funcional uma
diminuio estatisticamente significativa na pontuao das escalas (MIF, MIF subescala
cognitiva e MMSE) do primeiro para o segundo momento de avaliao.
1.6 AMOSTRAGEM E CRITRIOS DE INCLUSO
Fortin (Fortin, 2003) refere que a populao um conjunto de sujeitos que tem
caratersticas em comum em determinado nmero de critrios. Martinez e Ferreira
(Martinez & Ferreira, 2007) so peremtrios em definir populao como, o objeto de
estudo, ou seja, o conjunto de elementos que tem alguma caraterstica em comum que
se pretende estudar.
Mediante o referido a populao deste estudo constituda pelos idosos em
internamento hospitalar do CHTMAD, EPE Unidade Hospitalar de Vila Real.
Numa investigao estuda-se fundamentalmente uma parte da populao e o que
se observa na parte constitui o que se poderia ver no seu total, ou seja, a amostra
carateriza a totalidade da populao (Polit & Hungler, 1995). Por sua vez Fortin (Fortin,
2003) menciona que uma amostra em investigao cientfica () um sub-conjunto
de uma populao ou de um grupo de sujeitos que fazem parte de uma mesma
populao.
A amostra no presente estudo no probabilstica intencional, ou seja formada
a partir da necessidade do investigador ou da imagem que o investigador projeta da
investigao.
Segundo Smith (1975), existem diferentes tipos de amostras no probabilsticas:
acidentais, homogneas, heterogneas, estruturais, e de informantes estratgicos
37
(Ribeiro, 2007). Surge ainda a amostra sequencial, que uma amostra tpica do sistema
de sade e que designa a amostra em que as unidades constituintes so escolhidas
estritamente na base primeiro que aparece, primeiro escolhido. Todos os indivduos
que so elegveis para participar no estudo so includos conforme vo aparecendo
(Ribeiro, 2007).
A amostra composta por idosos com idade igual ou superior a sessenta e cinco
anos, de ambos os sexos, admitidos no internamento no servio de medicina do
CHTMAD, EPE unidade hospitalar de Vila Real.
Os critrios de incluso dos idosos neste estudo foram:
Encontrar-se internado no servio de medicina interna.
Aceite participar aps consentimento informado;
Foram excludos deste estudo idosos com dfice cognitivo que comprometesse a
compreenso/resposta do instrumento de avaliao e aqueles cujas capacidades visuais
e/ou auditivas se encontrassem comprometidas ou no compensadas pelo uso de culos
e/ou aparelhos auditivos.
Foram avaliados 63 idosos na admisso no entanto s se conseguiram executar
51 avaliaes finais completas. Os excludos tiveram como causas: falecimento (1),
recusa na execuo de algumas tarefas da avaliao final (4) e os restantes (7)
encontravam-se ainda internados quando terminou o prazo para a recolha de dados.
1.7 PROCEDIMENTO
A recolha de informao foi realizada individualmente, em dois momentos,
aquando da admisso do idoso e na alta. A presena de familiares junto ao idoso no foi
restringida, no entanto, apenas este respondeu s questes do inqurito.
Para e execuo deste estudo foram recolhidos os seguintes dados:
1. Data de nascimento/idade, gnero, estado civil e residncia;
2. Avaliao da histria de queda nos ltimos trs meses, diagnstico secundrio,
ajuda na mobilizao, terapia endovenosa, marcha e estado mental;
3. Avaliao do grau de independncia no auto cuidado, controle dos esfncteres
mobilidade/transferncia, locomoo, comunicao, cognio social;
4. Avaliao da orientao temporal, orientao espacial, reteno, ateno e
clculo, evocao, linguagem e habilidade construtiva.
38
1.8 PROCEDIMENTOS ESTATSTICOS
Os dados recolhidos da pesquisa, obtidos aps o processo de recolha, foram
tratados estatisticamente no software aplicativo de tratamento estatstico de dados
SPSS
19 (Statistical Package for the Social Sciences). Foi feita anlise estatstica
descritiva e, para estudar a relao entre as variveis, foram utilizados testes
paramtricos e no paramtricos, dado que a amostra superior a 30 indivduos
(Pestana & Gageiro, 2005).
Por sua vez, para a apresentao grfica foi utilizado o programa informtico de
folha de clculo Microsoft Excel 2007, para o Windows Vista.
2. APRESENTAO DE RESULTADOS
Fortin (Fortin, 2003) menciona que () os resultados provm dos factos
observados no decurso da colheita de dados, estes factos so analisados e apresentados
de maneira a fornecer uma ligao lgica com o problema de investigao
Para alm dos grficos, os resultados so ainda apresentados em quadros e
tabelas respetivamente numerados e por ordem sequencial.
Considerando os 51 doentes que responderam ao inqurito e a informao
recolhida sobre os seus dados pessoais observa-se, no grfico 4, que 53% pertencem ao
sexo feminino e 47% ao sexo masculino.
Grfico 4 - Distribuio dos participantes por sexo
24 27
Masculino
Feminino
39
Em seguida apresenta-se a Tabela 1 relativa idade dos 51 inquiridos contendo
as medidas de localizao central: mdia e mediana; as medidas de disperso absoluta:
varincia, desvio padro e ainda a amplitude das idades.
Tabela 1 - Distribuio dos participantes por idade
Feminino Masculino Total
N 27 24 51
Mdia 76,04 74,96 75,53
Mediana 76,00 75,00 75,00
Desvio padro 8,23 5,84 7,16
Varincia 67,73 34,13 51,21
Range 23,00 22,00 23,00
Mnimo 65,00 65,00 65,00
Mximo 88,00 87,00 88,00
No que respeita idade dos indivduos constituintes da amostra, verificamos que
o valor mdio se situa nos 75,537,16 anos (76,048,23 para as mulheres e 74,965,84
anos no caso dos homens). A amplitude de idades na amostra idntica nas mulheres e
nos homens sendo que, no primeiro caso de 23 anos (88 65) e, no segundo caso, 22
anos (87 65).
Do mesmo modo procedeu-se elaborao da tabela 2, relativa ao nmero de
dias de internamento, contendo as mesmas medidas de disperso e variabilidade.
Tabela 2 - Distribuio dos participantes por nmero de dias de internamento
Feminino Masculino Total
N 27 24 51
Mdia 14,93 13,54 14,27
Mediana 14,00 11,00 12,00
Desvio padro 7,16 5,60 6,45
Varincia 51,30 31,39 41,60
Range 38,00 22,00 38,00
Mnimo 4,00 8,00 4,00
Mximo 42,00 30,00 42,00
Verifica-se que os idosos inquiridos tiveram, em mdia, 14,276,45 dias de
internamento, variando entre 4 dias (mnimo) e 42 dias (mximo). No que respeita s
mulheres, a mdia de dias de internamento foi de 14,937,16 e, no caso dos homens,
13,545,60.
40
O grfico seguinte diz respeito ao estado civil dos 51 idosos que constituem a
amostra.
Grfico 5 - Distribuio dos participantes por estado civil
Pela observao do grfico 5, constata-se que 45,1% dos indivduos se
encontram casados ou vivem em unio de facto (10 mulheres e 13 homens),
verificando-se ainda que 40% dos mesmos j esto vivos (13 mulheres e 7 homens).
De seguida apresenta-se o grfico referente residncia dos idosos inquiridos.
Grfico 6 - Distribuio dos participantes por residncia
Podemos verificar que os indivduos constituintes da amostra habitam
predominantemente em casa prpria ou com familiares (74,8%).
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26
Solteiro
Casado/Unio de facto
Divorciado/Separado
Vivo
Homens Mulheres
0 2 4 6 8
10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42
Prpria/famlia Institucionalizado
Mulheres
Homens
41
Depois de avaliados os itens constantes na Escala de Morse aquando da
admisso e na alta, os scores obtidos foram os constantes na tabela 3.
Tabela 3 - Escala de Morse Score na admisso e na alta
Admisso Alta
Feminino
N 27 27
Mdia 45,56 26,48
Mediana 45,00 25,00
Desvio padro 22,16 22,27
Varincia 491,02 495,80
Range 65,00 65,00
Mnimo 20,00 0,00
Mximo 85,00 65,00
Masculino
N 24 24
Mdia 35,42 19,17
Mediana 32,50 15,00
Desvio padro 19,22 20,52
Varincia 369,38 421,01
Range 80,00 70,00
Mnimo 10,00 0,00
Mximo 90,00 70,00
Total
N 51 51
Mdia 40,78 23,04
Mediana 40,00 25,00
Desvio padro 21,25 21,57
Varincia 451,37 465,08
Range 80,00 70,00
Mnimo 10,00 0,00
Mximo 90,00 70,00
A mdia dos scores obtidos para a Escala de Morse relativa ao total da amostra
foi na admisso 40,7821,25 e na alta 23,0421,57 sendo que para as mulheres foi de
45,5622,16 na admisso e 26,4822,27 na alta e para os homens de 35,4219,22 na
admisso e 19,1720,52 na alta. Para o total dos indivduos estudados verificou-se na
admisso um mnimo de 10 pontos e um mximo de 90 e na alta um mnimo de 0 e um
mximo de 70.
O score obtido para a Escala de Morse traduzido pelo risco graduado em trs
nveis: baixo, mdio e alto, encontrando-se a classificao obtida para os indivduos que
responderam ao inqurito no grfico seguinte.
42
Grfico 7 - Escala de Morse Classificao na admisso e na alta
Os resultados obtidos na classificao da Escala de Morse evidenciam diferenas
aquando da admisso e na alta no que toca ao nvel de risco de queda. Comparando os
resultados da primeira avaliao com os da segunda constata-se que, ao nvel do sexo
masculino, o nmero de homens com risco baixo de queda aumentou (de 10 indivduos
na admisso passou a 17 na alta) e os riscos mdio e alto diminuram (de 11 para 5 e de
3 para 2, respetivamente).
O nmero de mulheres com riscos baixo e mdio de queda aumentou (de 8 no
momento da admisso para 11 aquando da alta e de 9 na admisso para 13 na alta,
respetivamente). O risco alto de queda diminuiu de 10 mulheres na admisso para
apenas 3 na alta.
Em suma, verifica-se um decrscimo bastante acentuado no total de indivduos
que apresentam risco alto de queda desde o instante da admisso at alta (de 13
25,5%, para 5 9,8%), uma diminuio menos marcada dos que apresentam risco
mdio de queda (de 20 39,2%, para 18 35,3%) e um aumento daqueles que possuem
baixo risco de queda (de 18 35,3%, para 28 54,9%).
Os resultados obtidos aps aplicao da Medida de Independncia Funcional
total, na admisso e na alta, encontram-se organizados na tabela seguinte.
Homens
Mulheres
Homens
Mulheres
Ad
mis
so
A
lta
10
8
17
11
11
9
5
13
3
10
2
3
Risco Alto Risco Mdio Risco Baixo
43
Tabela 4 - Medida de Independncia Funcional na admisso e na alta
Admisso Alta
Feminino
N 27 27
Mdia 98,52 96,30
Mediana 98,00 97,00
Desvio padro 23,25 23,94
Varincia 540,72 573,22
Range 75,00 75,00
Mnimo 51,00 51,00
Mximo 126,00 126,00
Masculino
N 24 24
Mdia 107,29 106,67
Mediana 113,00 113,00
Desvio padro 19,10 19,33
Varincia 364,74 373,80
Range 76,00 78,00
Mnimo 50,00 48,00
Mximo 126,00 126,00
Total
N 51 51
Mdia 102,65 101,18
Mediana 108,00 108,00
Desvio padro 21,65 22,30
Varincia 468,51 497,35
Range 76,00 78,00
Mnimo 50,00 48,00
Mximo 126,00 126,00
A mdia das pontuaes da Medida de Independncia Funcional para o total da
amostra foi na admisso 102,6521,65 e na alta 101,1822,30 sendo que para as
mulheres foi de 98,5223,25 admisso e 96,3023,94 alta para os homens
107,2919,10 admisso e 106,6719,33 alta. De salientar que para o total dos
indivduos estudados se verificou na admisso um mnimo de 50 pontos e um mximo
de 126 e na alta um mnimo de 48 e um mximo de 126.
Em particular e no que toca mdia da Medida de Independncia Funcional
cognitiva j se observam valores mais equiparados entre mulheres e homens, como se
pode observar na tabela 5.
44
Tabela 5 - Medida de Independncia Funcional Sub-Escala Cognitiva na admisso e na alta
Admisso Alta
Feminino
N 27 27
Mdia 30,52 29,85
Mediana 31,00 30,00
Desvio padro 4,34 4,61
Varincia 18,88 21,21
Range 11,00 13,00
Mnimo 24,00 22,00
Mximo 35,00 35,00
Masculino
N 24 24
Mdia 31,54 30,75
Mediana 31,50 31,00
Desvio padro 2,96 3,59
Varincia 8,78 12,89
Range 12,00 13,00
Mnimo 23,00 22,00
Mximo 35,00 35,00
Total
N 51 51
Mdia 31,00 30,27
Mediana 31,00 31,00
Desvio padro 3,76 4,14
Varincia 14,12 17,16
Range 12,00 13,00
Mnimo 23,00 22,00
Mximo 35,00 35,00
Tal como na MIF total, tambm neste caso se verifica uma diminuio do valor
mdio da admisso para a alta.
Assim, para o total da amostra a mdia na admisso foi 31,003,76 e na alta
30,274,14. Para as mulheres foi de 30,524,34 admisso e 29,854,61 alta e para os
homens 31,542,96 admisso e 30,753,59 alta. Para o total dos indivduos estudados
verificou-se na admisso um mnimo de 23 pontos e um mximo de 35 e na alta um
mnimo de 22 e um mximo de 35.
De seguida apresenta-se a tabela referente aos dados obtidos relativamente
aplicao do Mini Mental State Examination.
45
Tabela 6 Mini Mental State Examination Pontuao na admisso e na alta
Admisso Alta
Feminino
N 27 27
Mdia 23,37 21,04
Mediana 24,00 21,00
Desvio padro 4,96 5,77
Varincia 24,55 33,35
Range 16,00 19,00
Mnimo 14,00 10,00
Mximo 30,00 29,00
Masculino
N 24 24
Mdia 25,67 24,62
Mediana 26,50 25,00
Desvio padro 3,81 5,09
Varincia 14,49 25,90
Range 16,00 23,00
Mnimo 1