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DEFININDO O PERFIL DE CONSUMO CONSCIENTE DA POPULAÇÃO RECIFENSE: A IDENTIFICAÇÃO DO PAPEL DO INDIVÍDUO POR MEIO DE SUAS ATITUDES E COMPORTAMENTOS Minelle Eneas da Silva (UFPE) [email protected] Ana Paula Machado Correa (UFPE) [email protected] Ana Carolina Vital da Costa (UFPE) [email protected] Ana Elisabete Cavalcanti de Albuquerque (UFPE) [email protected] Jose Alvaro Jardim de Almeida (UFPE) [email protected] Continuamente vem surgindo, em caráter mundial, a ampliação das práticas socioambientais desenvolvidas, estas direcionadas para o alcance do desenvolvimento sustentável. Nesse contexto, observa-se um contínuo envolvimento individual junto aa essas práticas, o que sugere que os indivíduos assumem seu papel de responsabilidade diante dessa nova forma de desenvolvimento. Esse papel pode estar relacionado dentre outras coisas, com a prática de um consumo consciente, no qual o comportamento e as atitudes desse novo consumidor, que assume função de cidadão, torna-se mais responsável. Entendendo que de forma alguma o consumir pode deixar de ser praticado pela população, na medida em que os recursos se tornem escassos, o consumo consciente se efetiva ao ser levado em consideração os impactos provocados pelo consumo, buscando maximizar os impactos positivos e minimizar os negativos de acordo com os princípios da sustentabilidade (INSTITUTO AKATU, 2010). Com isso, toma-se como objetivo desse trabalho caracterizar o perfil de consumo consciente da população de Recife, a partir de suas atitudes e comportamentos, para conseguir entender como se pode contribuir para com o desenvolvimento sustentável. Realizou-se uma pesquisa exploratório- descritiva com abordagem quantitativa, a partir das informações que foram coletadas por um grupo de pesquisadores. A análise dos dados obtidos foi desenvolvida utilizando-se como ferramentas de apoio os softwares SPSS 17.0 e Excel 2010. A partir das considerações observadas de maneira geral, pode-se dizer que os consumidores recifenses apresentam comportamentos direcionados a práticas de um XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

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DEFININDO O PERFIL DE CONSUMO

CONSCIENTE DA POPULAÇÃO

RECIFENSE: A IDENTIFICAÇÃO DO

PAPEL DO INDIVÍDUO POR MEIO DE

SUAS ATITUDES E

COMPORTAMENTOS

Minelle Eneas da Silva (UFPE)

[email protected]

Ana Paula Machado Correa (UFPE)

[email protected]

Ana Carolina Vital da Costa (UFPE)

[email protected]

Ana Elisabete Cavalcanti de Albuquerque (UFPE)

[email protected]

Jose Alvaro Jardim de Almeida (UFPE)

[email protected]

Continuamente vem surgindo, em caráter mundial, a ampliação das

práticas socioambientais desenvolvidas, estas direcionadas para o

alcance do desenvolvimento sustentável. Nesse contexto, observa-se um

contínuo envolvimento individual junto aa essas práticas, o que sugere

que os indivíduos assumem seu papel de responsabilidade diante dessa

nova forma de desenvolvimento. Esse papel pode estar relacionado

dentre outras coisas, com a prática de um consumo consciente, no qual

o comportamento e as atitudes desse novo consumidor, que assume

função de cidadão, torna-se mais responsável. Entendendo que de

forma alguma o consumir pode deixar de ser praticado pela

população, na medida em que os recursos se tornem escassos, o

consumo consciente se efetiva ao ser levado em consideração os

impactos provocados pelo consumo, buscando maximizar os impactos

positivos e minimizar os negativos de acordo com os princípios da

sustentabilidade (INSTITUTO AKATU, 2010). Com isso, toma-se como

objetivo desse trabalho caracterizar o perfil de consumo consciente da

população de Recife, a partir de suas atitudes e comportamentos, para

conseguir entender como se pode contribuir para com o

desenvolvimento sustentável. Realizou-se uma pesquisa exploratório-

descritiva com abordagem quantitativa, a partir das informações que

foram coletadas por um grupo de pesquisadores. A análise dos dados

obtidos foi desenvolvida utilizando-se como ferramentas de apoio os

softwares SPSS 17.0 e Excel 2010. A partir das considerações

observadas de maneira geral, pode-se dizer que os consumidores

recifenses apresentam comportamentos direcionados a práticas de um

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consumo consciente, no entanto ainda há a necessidade de melhora

por parte desses em grande parte das suas práticas cotidianas.

Palavras-chaves: Desenvolvimento Sustentável; Consumo Consciente

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1. Introdução

Continuamente percebe-se que as transformações ocorridas em âmbito mundial, sejam

elas nas áreas econômicas, sociais e/ou ambientais indicam a necessidade de surgimento de

uma nova forma de desenvolvimento que esteja direcionada para questões coletivas em

detrimento dos aspectos egoístas e individualistas atualmente apregoados. Nessa perspectiva,

o desenvolvimento sustentável (DS) emerge como alternativa possível de ser alcançada na

medida em que se discute a busca pela harmonização entre as dimensões social, econômica e

ambiental, fundamentais para a efetivação desse novo modelo (SACHS, 2007).

Para que essa mudança possa ser disseminada em toda a sociedade, faz-se necessário o

envolvimento de diferentes atores sociais, nomeadamente Governo, Empresa e Sociedade, que

devem realizar ações de forma concomitante ao estabelecimento desse paradigma de modo

que o mesmo possa ser efetivado (SILVA, 2010). Contudo, não se deve idealizar apenas a

mudança no posicionamento do governo para com essas práticas, mudança de

comportamentos organizacionais de empresas e organizações do terceiro setor, no sentido de

alcance de objetivos positivos para toda a população.

Ao contrário, cada indivíduo deve começar a redirecionar seu posicionamento dentro

do contexto ao qual se encontra, para que o desenvolvimento sustentável se torne possível.

Aspectos pontuais como: a redução no consumo de produtos com prejuízos socioambientais

visíveis, uma pressão pela produção de produtos sustentáveis, bem como a punição para

empresas insustentáveis por meio do boicote aos seus produtos, simbolizam uma mudança de

atitude não só individual como coletiva, a qual se dá o nome Consumo Consciente. Essa nova

forma de consumir e esse novo perfil de cidadão são indícios do papel fundamental que cada

indivíduo tem na busca pelo desenvolvimento, com continuidade e durabilidade.

Além disso, esse consumidor-cidadão apresenta ainda preocupações no ato de

consumir que vão além do individual para um patamar de maior consciência social (SANTOS

et al., 2008). Porém, para que se possa despertar a essa realidade emergente, algumas

características podem ser observadas pela sua influência na tomada de iniciativa do indivíduo,

dentre as quais: o estilo de vida adotado, a cultura na qual se está inserido, os padrões de

renda a qual o indivíduo e sua família estão submetidos. Com isso, toma-se como objetivo

desse trabalho caracterizar o perfil de consumo consciente da população de Recife, a partir de

suas atitudes e comportamentos, para conseguir entender como se pode contribuir para essa

nova forma de desenvolvimento.

2. Referencial teórico

2.1. Desenvolvimento Sustentável: De quem é o papel para seu alcance?

O entendimento da complexidade que essa temática apresenta é de suma importância,

uma vez que a mesma sugere a necessidade de modificação no estilo de vida da população

mundial rumo a um ambiente favorável, não apenas focando o crescer por crescer, mas

levando em consideração a necessidade de um crescimento direcionado a durabilidade ou

sustentação da atividade humana dentro de um contexto “igualitário” para toda sociedade

(SILVA, 2009). Uma das mais elaboradas definições para desenvolvimento sustentável surgiu

do Relatório de Brundtland (1987), que conforme a ótica de Dias (2008), é tido como um

procedimento de alteração, por meio do qual ações como a exploração dos recursos, a direção

dos investimentos, a orientação do desenvolvimento ecológico e a transformação institucional

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se adaptam e animam o potencial presente e futuro, a fim de respeitar às necessidades e

aspirações humanas.

Em suma, pode-se dizer que se refere ao atendimento das necessidades das gerações

atuais levando em consideração a satisfação das necessidades futuras. A literatura apresenta

uma vasta gama de autores que trabalham com o tema, todavia existe um ponto em comum

entre todos, em relação aos critérios fundamentais para que o desenvolvimento sustentável

seja alcançado. Observa-se que é necessário manter concomitantemente a equidade social, o

crescimento econômico e a preservação ecológica (ambiental). Ao longo das últimas décadas,

intensificou-se as discussões sobre como modificar essa tendência negativa a qual o mundo

está se direcionando. Apesar de se apresentar como uma questão ampla na qual,

normalmente, direciona-se toda a responsabilidade de seu alcance ao Estado (possuidor de um

grande papel nesse sentido), é notável a necessidade de que toda a sociedade se envolva

focada em harmonizar as dimensões básicas do desenvolvimento sustentável.

Deste modo, na busca pela manutenção dessa solidariedade, fato essencial para a

sustentabilidade, percebe-se que além do Estado, cada empresa, organização do terceiro setor

e indivíduo deve tornar-se consciente de seu papel na busca pelo desenvolvimento

sustentável, uma vez que a mudança na forma de atuação posta em prática é o ponto de

partida inicial para que se consiga atingir a meta coletiva da população. O Estado,

sucintamente, apresenta o papel de regulador e fiscalizador das atividades gerais no sentido de

melhor organizar a sociedade. Tal aspecto envolve um maior empenho público rumo ao

desenvolvimento sustentável, já que o mesmo deve ter a percepção de que a longo prazo suas

ações refletirão num desenvolvimento benéfico para a coletividade mundial.

Para as organizações com finalidades lucrativas a sua atuação está condicionada à

busca pela harmonização no caráter de atuação e na abrangência na realização de suas

atividades (BORGER, 2006). Fato este que pode ser dado pela equivalência das dimensões

básicas do desenvolvimento sustentável ao conceito de sustentabilidade em organizações

(BARBIERI e CAJAZEIRA, 2009). Práticas mais coletivas demonstram o caráter socialmente

responsável de uma empresa junto à população local. No terceiro setor, pelo seu papel

contributivo a solução de problemas sociais e em prol do bem comum a sustentabilidade

também está condicionada a essa harmonização das dimensões da sustentabilidade, todavia

adaptada ao caráter não lucrativo do setor.

Quanto aos indivíduos, em sua singularidade, a responsabilidade está em modificar a

situação mundial, a qual apresenta atualmente um estilo de vida populacional e padrões de

consumo incompatíveis com a possibilidade de um desenvolvimento sustentável. De certo

modo, cada indivíduo tem condições de reestruturar a maneira como age na sociedade, uma

vez que possui um poder de influência sobre as ações das demais instituições supracitadas.

Para, Gomes (2007) a atuação do consumidor no mercado pode ter reflexos positivos ou

negativos sobre a economia, o meio ambiente e o comportamento das empresas. Desta feita,

percebe-se que quanto mais informados sobre a melhor maneira de agir, os cidadãos (muitas

vezes visualizados apenas como consumidores) assumem em maior grau um papel de

destaque, na busca pelo desenvolvimento sustentável.

Diante dessas características, é importante entender e reconhecer que as ações e

atitudes individuais sugerem uma mudança na maneira de visualização global sobre os

aspectos pertinentes a esse novo modelo de desenvolvimento. É necessário, assim, reconhecer

quais características envolvem essa nova postura do indivíduo como consumidor para que se

possa alcançar os objetivos e direcionar-se rumo ao desenvolvimento sustentável. Então a

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ideia de consumo consciente esta relacionada com as ações responsáveis de cada indivíduo de

maneira tal que se consiga desempenhar suas práticas de forma ativa.

2.2. Consumo Consciente

Ao levar em consideração que toda sociedade é responsável pelo alcance do

desenvolvimento sustentável, pode-se dar um maior foco para as questões individuais, visto

que uma coletividade é resultado de um conjunto de indivíduos e que, portanto, facilita o

alcance de um determinado objetivo. Nas discussões sobre DS, a cada evento realizado, seja

uma conferência ou um encontro internacional, às vezes mesmo que de maneira sutil surgem

novas perspectivas quanto às maneiras de se buscar essa nova forma de desenvolvimento.

Como resultado da conferência mundial Eco-92, uma das mais importantes quanto a

essa temática, surgiu a Agenda 21 como marco das questões pertinentes a sustentabilidade.

Esse documento elenca, em seus quarenta capítulos, questões pertinentes para o

desenvolvimento sustentável, dentre as quais: mudanças na forma de atuação do governo, das

organizações com e sem finalidade lucrativa e da população, na busca por uma

“operacionalização” do desse desenvolvimento, ao ratificar a necessidade de mudança na

forma de pensamento da sociedade.

Sabe-se que para o alcance do desenvolvimento sustentável é necessária a inter-relação

de alguns atores sociais (Governo, Empresas e Sociedade) nesse sentido, na medida em que

inexiste a possibilidade de desenvolvimento sem envolvimento coletivo. Visualizando o

indivíduo como o principal responsável pelas transformações necessárias ao alcance do

desenvolvimento sustentável, entende-se que o consumidor-cidadão é um dos agentes

responsáveis pelo desenvolvimento sustentável. Por vezes ele é observado como apenas um

participante de um nicho de mercado, todavia é de suma importância que o mesmo seja

considerado um co-responsável pela atual situação.

Ao se focar as questões individuais dentro de um contexto mais amplo, percebe-se que

a capacidade de escolha de cada indivíduo sugere alternativas para a mudança na forma de

atuação junto ao meio ambiente e as questões da sociedade. Entendendo que de forma alguma

o consumir pode deixar de ser praticado pela população, na medida em que os recursos se

tornem escassos, o consumo consciente se efetiva ao ser levado em consideração os impactos

provocados pelo consumo, buscando maximizar os impactos positivos e minimizar os

negativos de acordo com os princípios da sustentabilidade (INSTITUTO AKATU, 2002).

Fabi, Lourenço e Silva (2010, p.6) ratificam o conceito do Instituto Akatu ao indicar

que o consumo consciente pode ser considerado como “o ato ou decisão de compra ou uso de

serviços, de bens industriais ou naturais, praticado por um indivíduo levando em conta o

equilíbrio entre satisfação pessoal, as possibilidades ambientais e os efeitos sociais de sua

decisão”. Surgindo desse modo o envolvimento do consumidor como ator cidadão na

sociedade, ao perceber sua responsabilidade – por meio do consumo socialmente responsável

tido como equivalente ao consumo consciente (VIEIRA, 2010).

Nesse sentido, como forma de prevenir o colapso da civilização humana, a mudança

no padrão de consumo dominante e o emergir desse novo padrão, mais consciente, indica uma

alternativa para a mudança na maneira como se visualiza essa nova situação, direcionando-se

do consumismo para uma prática de consumo mais responsável (ASSADOURIAN, 2010).

Desse modo, compreendendo essa nova prática como uma relação de mutualidade, uma nova

forma de atuação em todas as esferas, para Furriela (2001) “depende da conscientização dos

indivíduos da importância de tornarem-se consumidores responsáveis”.

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Na compreensão ampla da maneira como cada indivíduo deve atuar em relação à

questão do consumo consciente (CC), torna-se necessário considerar características tais como:

a cultura na qual essa sociedade do consumo está envolvida, o estilo de vida adotado, o poder

aquisitivo da população, as questões éticas assumidas por cada um, bem como a educação a

qual essa sociedade está sujeita para obter uma percepção sistemática da necessidade de se

tornar mais consciente.

Cada um desses aspectos devem ser direcionados para que o consumo seja

considerado mais sustentável na medida em que harmonizem suas características rumo ao

desenvolvimento sustentável. Diante da dinâmica a qual a sociedade do consumo atualmente

vive, com uma grande oferta de produto, bem como o desordenado incentivo pelo consumir,

faz-se necessário estudar cada uma dessas características de forma distinta no sentido de um

melhor entendimento da temática.

3. Procedimentos Metodológicos

Com o objetivo de caracterizar o perfil de consumo consciente da população de

Recife, a partir da adaptação de um conjunto de indicadores, a presente pesquisa assume uma

abordagem qualitativa como aquela principal na medida em que o fenômeno estudado

especifica e representa um processo de reflexão e análise de um contexto para uma

compreensão detalhada do objeto de estudo (OLIVEIRA, 2005). A utilização da referida

abordagem justifica-se ainda, segundo Richardson et al. (2008, p.79), “por ser uma forma

adequada para entender a natureza de um fenômeno social”. Salienta-se, ainda, a utilização de

uma abordagem quantitativa para a identificação do perfil de consumo consciente do

recifense. Seguindo essa perspectiva de pesquisa, a mesma está caracterizada como

exploratória e descritiva, no sentido de melhor compreensão do estudo.

A pesquisa caracteriza-se como exploratória por proporcionar uma maior familiaridade

para com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito e compreensível, e descritiva por

apresentar a descrição das características de dada população ou fenômeno em estudo, com

caráter conclusivo para análise (GIL, 1991; MALHOTRA, 2006). Para operacionalizar a

presente proposta de pesquisa, realizou-se a aplicação de questionários que foram elaborados

a partir da literatura sobre a temática, na busca pela compreensão sobre como se dá a

interação entre organizações e consumidores. Foram aplicados 601 questionários com pessoas

selecionadas aleatoriamente a partir da definição e cálculo de uma amostra probabilística em

relação à população existente.

O cálculo foi realizado considerando que o erro assumido foi de 4% e que o grau de

confiança era de 95% (z = 1,96). Como a população investigada possui uma quantidade acima

de 100.000, torna-se indispensável a realização da correção do cálculo da amostra

(RICHARDSON et al., 2008), por isso os questionários aplicados representam o perfil de toda

a população. A pesquisa foi realizada em todas as regiões político-administrativas (RPA) da

capital pernambucana, de modo que grande parte dos bairros foram contemplados. Vale

salientar que não houve abrangência para a região metropolitana da grande Recife (RMR). O

período de coleta de dados foi de 28 de setembro de 2010 a 06 de outubro de 2010.

A aplicação do questionário se deu por conveniência, seguindo a estratificação em

relação ao sexo, a faixa etária e o RPA no qual vive o indivíduo. A partir das informações que

foram coletadas por um grupo de pesquisadores, a análise dos dados obtidos foi desenvolvida

utilizando-se como ferramentas de apoio os softwares SPSS 17.0 e Excel 2010. Com as

informações tratadas nos referidos softwares, foram utilizadas algumas técnicas estatísticas

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para validar as informações e para melhor apresentar os resultados foram elaborados gráficos

e tabelas que representam o comportamento de consumo consciente da população recifense.

4. Apresentação e Discussão dos resultados

Para que seja possível o reconhecimento das atitudes e comportamentos específicos à

população recifense quanto ao consumo consciente, faz-se necessário identificar

detalhadamente os aspectos que podem influenciar essa prática, dentre os quais: faixa etária,

sexo, estado civil, renda familiar e escolaridade. Compreendendo de maneira relacionada

esses aspectos, fica possível verificar de forma mais clara qual vem a ser o perfil dessa

população para que em seguida, torne-se possível identificar características do consumo

consciente. Para tanto, após realizar o cálculo da amostra utilizou-se os dados fornecidos pelo

IBGE (2009) para estratificar a amostra, foram selecionadas cinco faixas etárias para análise

da população, essas sendo distribuídas de acordo com a proporção por gênero e por região

político-administrativa (RPA).

Por ser a amostra uma representação da população, observa-se no Gráfico 01 que a

maior parte dos entrevistados é composta por mulheres, já que 345 do total de entrevistados

são desse sexo, enquanto que os demais, 256 entrevistados, são homens. Essa quantidade

indica que 57,41% da amostra selecionada é do sexo feminino, enquanto que 42,59% sendo

do sexo masculino. Essa diferença retrata o perfil da cidade, cuja maior parte da população

(53,59%) é composta por pessoas do sexo feminino. Com relação às faixas etárias, observa-se

que aquela com maior concentração é a faixa a partir de 50 anos, tanto para o sexo masculino

(25% dos homens entrevistados) quanto para o sexo feminino (28,12% das mulheres

entrevistadas), representando 26,79% de todos os entrevistados. A faixa etária que apresenta a

menor concentração de entrevistados é a que compreende entrevistados com idades entre 15 e

19 anos, contendo 12,89% da população masculina entrevistada e 9,85% da população

feminina entrevistada.

Gráfico 01: Relação entre faixa etária e gênero da

amostra em quantidade

Fonte: Dados da pesquisa (2010)

Gráfico 02: Estado civil

Fonte: Dados da pesquisa (2010)

No tocante ao estado civil percebe-se, a partir da análise do Gráfico 02 que a maior

parte dos entrevistados são solteiros, aproximadamente 48%, a segunda maior concentração é

dos casados ou com união estável que representam 43% do total da amostra. Considerando os

divorciados ou separados identificou-se na pesquisa uma porcentagem de 6%, enquanto que

apenas 3% da população entrevistada é viúva. Outro aspecto importante para identificação das

características pertinentes a práticas de consumo consciente está relacionado com o poder

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aquisitivo da população. Pois, percebe-se atualmente que para que se possa desenvolver

algumas ações que o papel de consumidor-cidadão exige é preciso despender mais ativos,

desse modo torna-se justificável o questionamento acerca da renda familiar do respondente.

Ao analisar o Gráfico 03 é possível perceber que houve uma maior concentração de

respondentes cuja renda familiar é superior a 10 salários mínimos mensais (SMM) e que

quanto maior a renda familiar maior o nível de escolaridade que o respondente apresenta, o

que confirma o fato de renda e escolaridade serem bastante correlacionadas. Dos 156

respondentes que possuem renda familiar maior que 10 salários mínimos mensais (SMM) 61,

que representam 39%, estão no nível de pós–graduação. Se adicionarmos a essa quantidade o

número de entrevistados, dessa mesma faixa de renda, que está no nível de ensino superior, o

percentual eleva-se para 90%. O percentual dos respondentes que possuem nível a partir do

superior, com renda familiar entre 5 e 10 SMM diminui em 14%, mas ainda apresenta índice

elevado de pessoas (76%). No entanto, percebe–se que ao diminuir o nível de renda familiar

em mais uma classe (2 a 5 SMM) o percentual de pessoas que possui nível superior diminui

ainda mais, sendo representado por 66 pessoas que equivale a 48%.

Gráfico 03: Relação da renda familiar em salários mínimos mensais e escolaridade

Fonte: Dados da pesquisa (2010)

Por entender que a questão educacional apresenta-se como aspecto fundamental para o

desenvolvimento do consumo consciente. Optou-se por enfatizar o perfil dos entrevistados

quanto a esse aspecto. Vale salientar que a estratificação da escolaridade foi mais detalhada

que o apresentado no gráfico anterior e, portanto a análise pode ser mais detalhada. Segundo

os dados coletados a maior parte dos entrevistados apresenta o ensino superior incompleto

como grau de escolaridade (21% da população entrevistada), sendo a segunda maior

frequência a do ensino médio completo (20,1% dos entrevistados). Esse grau de escolaridade

sugere que o grau de comportamento de consumidor consciente pode ser bem desenvolvido,

todavia é importante atentar que muitas vezes, apesar do alto nível de escolaridade, não

recebem instruções corretas relacionadas a coletividade, ou seja, direcionada para o alcance

de um desenvolvimento sustentável.

Observando o Gráfico 03 visualiza-se que apenas 12,1% da amostra se apresenta

como tendo até o ensino fundamental completo. No entanto se desconsidera-se os que não

concluíram o percentual cai para 3,8% sendo essa a menor frequência com relação a essa

variável e isso pode ser um ponto favorável na definição de um consumidor-cidadão

consciente, pelo fato de haver um nível maior de escolaridade entre os entrevistados.

Considerando a importância do acesso as informações, a educação e o conhecimento dos

impactos de produtos e serviços no meio ambiente, no social e no econômico e tendo em

vistas a mudanças na dinâmica do mercado, pode-se afirmar que na medida em que o

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processo educacional seja melhor desenvolvido junto a sociedade, há uma maior possibilidade

de que a prática de um consumo consciente possa ser efetivado.

4.2 Atitude da população com relação ao consumo

Na busca pela assimilação das características da população recifense junto a ideia de CC

que vem sendo trabalhada, a pesquisa realizada busca identificar alguns aspectos pertinentes as

atitudes de compra que os respondentes possuem enquanto propensos consumidores conscientes

E os comportamentos que efetivamente apresentam, partindo do pressuposto teórico de que nem

sempre as atitudes, que são pré-disposições, conseguem ser refletidas nos comportamentos.

Desse modo, o presente tópico visa apresentar, por meio de aspectos estatísticos, quais foram as

respostas fornecidas pelos pesquisados, lembrando que o objetivo maior está na identificação de

perfil de consumo, resultado este apresentado nas considerações finais.

4.2.1 Análise Fatorial

No instrumento utilizado para coleta de dados foram elencados 25 atributos que o

consumidor poderia levar em consideração no momento da compra de um determinado

produto. Porém, desses 25 atributos alguns podem apresentar uma relação positiva forte,

permitindo que sejam agrupados em componentes mais essenciais, o que reduziria as

variáveis a serem analisadas. Pra tanto, foi realizada análise multivariada de dados

denominada de Análise Fatorial (AF), técnica que, a partir de um conjunto de variáveis, retira

alguns poucos fatores que representam bem as correlações entre as variáveis iniciais.

Existem diferentes métodos estatísticos que são utilizados para a redução de dados,

dentre eles o Método de Componentes Principais, o utilizado na pesquisa. Esse método

consiste na busca por uma combinação linear das variáveis iniciais (denominada de

componente) que apresenta a máxima variação possível das variáveis. Dessas componentes

são extraídas as componentes principais, aquelas que representarão a maior parte da

variabilidade das variáveis iniciais. No caso dos atributos de escolha de um produto, fez-se

uma análise fatorial inicial para determinar a variabilidade de cada atributo.

Antes da utilização de testes estatísticos deve-se verificar a consistência dos dados de

forma a não inviabilizar as análises quanto à confiabilidade. Optou-se por utilizar o modelo de

análise de confiabilidade baseado no Alfa de Cronbah. Segundo esse modelo, valores do alfa

maior que 0,7 indicam que os dados são confiáveis, ou seja, as escalas utilizadas apresentam

consistência suficiente para aplicação de análises multivariadas. Em relação às variáveis que

descrevem os atributos de escolha de um produto (V1 a V25), o valor do Alfa de Cronbah (α)

foi de 0,844, indicado boa consistência nos dados. A AF inicial identificou alguns atributos

que apresentavam baixo grau de explicabilidade do fenômeno - grau de explicabilidade menor

que 0,5 - conforme pode ser visualizado na Tabela 01. Porém, optou-se por deixar esses

atributos na análise fatorial final como forma de aumentar as possibilidades de resultados.

Tabela 01: Representação dos atributos e seu grau de explicabilidade

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Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

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Fonte: Dados da pesquisa a partir do software SPSS

A Tabela 02 apresenta o resultado da aplicação da Análise Fatorial ao conjunto de

dados. Pode-se perceber que dos 25 atributos iniciais, foram obtidos 7 componentes principais

que podem ser utilizados para análises posteriores e que representam estatisticamente bem os

atributos levados em consideração por um consumidor no momento da compra de um produto

qualquer.

Tabela 02: Análise Fatorial

Extraction Method: Principal Component Analysis.

Através da Matriz de Componentes obtida com a Análise Fatorial (Tabela 03), os

atributos puderam ser agrupados em 7 componentes principais de análise, da seguinte forma:

Os atributos: Certificação ambiental, Ser reciclável, Ter refil, Atividade de descarte,

Ser orgânico e Ser biodegradável foram agrupados na Componente 1, denominada de

Respeito ao Meio Ambiente.

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Os atributos: Segurança do Produto, Durabilidade, Qualidade e Facilidade de Compra

foram agrupados na Componente 2, denominada de Qualidade e Segurança.

Os atributos: Ser orgânico, Não ser transgênico, Não ser de origem animal foram

agrupados na Componente 3, denominada de Origem do Produto.

Os atributos: Preço, Consumo de energia e Consumo de água foram agrupados na

Componente 4, denominada de Preço do Produto e Custos Associados

Os atributos: Não ser pirata, Tipo de embalagem, Marca, Propaganda foram agrupados

na Componente 5, denominada de Marketing do produto

Os atributos: Preço, Saudável, Light/Diet, Informações dos produtos foram agrupados

na Componente 6, denominada Elementos facilitadores de compra

Os atributos: Atividade de descarte e Ser descartável foram agrupados na Componente

7, denominada Descarte do produto

Tabela 03: Matriz de componentes

Componentes

1 2 3 4 5 6 7

Preço 0,436 0,463

Original / Não ser pirata 0,473

Tipo de embalagem 0,602

Marca 0,756

Propaganda 0,600

Certificação ambiental 0,702

Ser reciclável 0,797

Ter refil 0,631

Consumo de energia 0,847

Consumo de água 0,838

Segurança do produto 0,603

Durabilidade 0,706

Atividade de descarte 0,458 0,548

Ser descartável 0,654

Serviços pós-venda

Ser orgânico 0,404 0,592

Não ser transgênico 0,725

Não ser de origem animal 0,636

Facilidade de compra 0,540

Qualidade 0,710

Ser biodegradável 0,637

Saudável 0,459

Light / Diet 0,547

Informações do produto 0,604

Estado da embalagem

Extraction Method: Principal Component Analysis.

Rotation Method: Varimax with Kaiser Normalation

A partir dos agrupamentos supracitados (Tabela 03), pode-se observar a relação direta

de alguns atributos com mais de um componente. Desse modo, esses atributos foram

considerados como atuantes nos componentes a que pertencem. Vale salientar também que as

variáveis Serviço Pós-venda e Estado da Embalagem, não apresentaram alinhamento com

nenhum dos componentes definidos.

A análise de correlação nada mais é do que a verificação estatística da existência (e do

grau) de uma relação entre duas variáveis quaisquer. O coeficiente de correlação indica a

força e a direção do relacionamento entre as duas variáveis, porém nada pode indicar sobre

relações de casualidade. Existem diferentes coeficientes de correlação em estatística, cada um

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adaptado a determinada natureza de dados. Para este estudo em particular, utilizou-se o

coeficiente de correlação de postos de Spearman (representado pela letra grega “ρ” – rho).

Diferentemente do mais comumente utilizado coeficiente de correlação de Pearson, a

correlação de Spearman não faz nenhuma suposição inicial sobre a distribuição de frequência

das variáveis analisadas. Ou seja, ele não requer a suposição inicial de que a relação entre as

variáveis é linear, e pode ser utilizado mesmo para avaliação de variáveis ordinais.

O Quadro 01 apresenta os resultados para a análise de correlação. Conforme pode ser

observado, existem correlações fracas positivas entre o grau de escolaridade e os elementos

facilitadores de compra; bem como, entre a idade e a qualidade e segurança, a origem, o

marketing envolvido e os elementos facilitadores de compra do produto. Existe correlação fraca

negativa entre o grau de escolaridade e a origem do produto. Quanto à renda familiar, não foi

encontrada nenhum tipo estatisticamente significativo de correlação com as variáveis estudadas.

Quadro 01 – Correlações entre fatores sócio-demográficos e componentes dos atributos de compra

Respeito ao

Meio

Ambiente

Qualidade e

Segurança

Origem Preço e

Custos

Associados

Marketing Facilitadores de

compra

Descarte

Renda familiar Correlation Coefficient

-0,0330 0,0747 -0,0425 -0,0486 0,0153 0,0300 0,0168

Sig. (2-tailed) 0,4391 0,0796 0,3184 0,2547 0,7204 0,4823 0,6933

N 552 552 552 552 552 552 552

Grau de escolaridade

Correlation Coefficient

-0,0457 0,0397 -0,1496** -0,0569 -0,0568 0,0852* 0,0088

Sig. (2-tailed) 0,2711 0,3388 0,0003 0,1702 0,1707 0,0397 0,8325

N 583 583 583 583 583 583 583

Idade Correlation Coefficient

-0,0270 0,0925* 0,1523** 0,0736 0,1028* 0,1821** 0,0623

Sig. (2-tailed) 0,5157 0,0255 0,0002 0,0756 0,0130 0,0000 0,1329

N 583 583 583 583 583 583 583

** Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed).

* Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed).

Fonte: Dados de Pesquisa (2010)

4.3. Comportamentos de consumidores conscientes

Como o objetivo principal desse trabalho está relacionado diretamente com a

identificação do perfil de consumo consciente da população recifense, alguns

questionamentos tiveram que realizados no sentido de buscar identificar quais são os

comportamentos que refletem essa prática consciente de consumo. Para tanto, houve uma

inspiração por parte dos pesquisadores em utilizar alguns questionamentos já validados pelo

Instituto Akatu para o consumo consciente, em pesquisa anterior, que visava de forma mais

genérica identificar o perfil brasileiro de consumidores conscientes. Desse modo, os

comportamentos apresentados no Gráfico 04, com as devidas adaptações buscam representar

os comportamentos de consumidores da cidade do Recife e indicar o quanto poderiam ser

considerados como consciente. Perguntas referentes aos hábitos dos respondentes além das

compras, tais como separação do lixo para reciclagem, e planejamento foram investigadas por

meio de uma escala de cinco pontos que se estende de “Nunca” até “Sempre”.

Percebe-se que os hábitos mais frequentes entre os respondentes, ou seja, aqueles que

receberam maior frequência como resposta “sempre”, foram os comportamentos de evitar

deixar lâmpada acesa em ambientes desocupados e fechar a torneira enquanto escovam os

dentes (75% e 72,9%, respectivamente). Já os hábitos que receberam maior frequência de

resposta “Nunca” foram os de separar o lixo para reciclagem pela família e o costume de

planejar as compras (23,8% e 45,5%; respectivamente). Pode-se dizer que, dentro os hábitos

relacionados, aqueles que mais frequentemente são adotados podem ser aqueles que afetam

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diretamente o orçamento familiar, pois estão relacionados também a despesas como contas de

água e de energia, dentre outros aspectos que podem influenciar.

Gráfico 04: Comportamentos de consumidores

Fonte: Dados da pesquisa (2010)

Percebe-se que os hábitos mais frequentes entre os respondentes, ou seja, aqueles que

receberam maior frequência como resposta “sempre”, foram os comportamentos de evitar

deixar lâmpada acesa em ambientes desocupados e fechar a torneira enquanto escovam os

dentes (75% e 72,9%, respectivamente). Já os hábitos que receberam maior frequência de

resposta “Nunca” foram os de separar o lixo para reciclagem pela família e o costume de

planejar as compras (23,8% e 45,5%; respectivamente). Pode-se dizer que, dentro os hábitos

relacionados, aqueles que mais frequentemente são adotados podem ser aqueles que afetam

diretamente o orçamento familiar, pois estão relacionados também a despesas como contas de

água e de energia, dentre outros aspectos que podem influenciar.

5. Considerações Finais

As analises desenvolvidas nessa pesquisa, permitem inferir que as práticas de consumo

consciente refletidos por meio dos comportamentos dos entrevistados ainda são pouco

sofisticadas, isso se reflete pelos comportamentos classificados como mais frequentes ou mais

importantes, como exemplo, os comportamentos de evitar deixar lâmpadas acessas e fechar a

torneira enquanto escova os dentes, já que esses são comportamentos que trazem resultados a

curto prazo como economia nas despesas da casa em detrimento do hábito de planejar

compras, que é um dos comportamento que obteve maior frequência de respostas que nunca

são realizados.

Pôde-se observar também que as mulheres apresentam em sua maioria mais

frequentemente hábito de comportamento de consumidores conscientes do que os homens

entrevistados, como por exemplo, nos resultados apresentados sobre a propensão dos

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entrevistados em pagar mais por produtos socioambientalmente responsáveis. Observa-se

também pouca infra estrutura ou ações públicas que possam promover hábitos de consumo

consciente, a exemplo da coleta seletiva disponível apenas a 33% da população recifense.

De uma forma geral a população entrevistada considera-se consciente atribuindo-se

uma nota média de 7,20. Para esse público o consumo consciente está relacionado com a

redução do consumo e a não agressão ao meio ambiente, fatos estes que se observados na

teorização do conceito está intrinsecamente relacionado com o mesmo, embora questões

como preocupação social deveriam estar inclusas. Esse conceito, entretanto, não se reflete em

alguns atributos classificados como mais importantes pelos entrevistados como, por exemplo,

o fato do produto ter qualidade e ser saudável, estes estando relacionados mais diretamente

com um consumo corriqueiro.

A partir de todas essas considerações de maneira geral, pode-se dizer que os

consumidores recifenses apresentam comportamentos direcionados a práticas de um consumo

consciente, havendo ainda a necessidade de melhora por parte desses em grande parte das

suas práticas cotidianas. Tal aspecto segundo os dados obtidos reflete-se também pela

existência mais ampla de mulheres que vivem na cidade e, que, como observado possuem

comportamentos mais direcionados a tal prática de consumo. De modo geral, percebe-se ser

possível uma ampliação na prática do consumo consciente desses cidadãos, ao entender que

outros atores sociais podem atuar nesse sentido, dentre os quais pode-se indicar as empresas,

as ONGs e o poder público.

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