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Promotoria de Justiça da Comarca de Planaltina Edifício do Fórum – Praça Cívica, S/N – Centro, Planaltina/GO – CEP 73.750-005 Telefone/Fax: (61) 36373684 / 4536/7970 _____________________________________________________________________ 1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE PLANALTINA – GO Denunciados: JOÃO DE DEUS SILVA CARVALHO, LEONARDO ANDRÉ AMORIM MACHADO GOMES, ROBERTO MÁRCIO MORAIS DE CASTRO, FÁBIO BRAZ DE QUEIROZ, MACIEL MORAES DE CASTRO, JOSÉ DOMINGOS GOMES DE OLIVEIRA, ALEXSANDRO JOSÉ DE OLIVEIRA, GRAZIELLY PEREIRA BARBOSA e SINTIA MARIA GONÇALVES. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, pelo Promotor de Justiça que esta subscreve, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, com fundamento no artigo 129, inciso I, da Carta Republicana de 1988 e no artigo 24 do Código de Processo Penal, vem oferecer DENÚNCIA em desfavor de: 1) JOÃO DE DEUS SILVA CARVALHO, brasileiro, casado, ex-prefeito de Água Fria de Goiás-GO, portador do CPF n. 145.982.991-34, RG 394.018 SSP/DF, título de eleitor n. 007896762003, residente na Rua 14, Quadra 48, Lote 15, Centro, Água Fria de Goiás-GO ou QNL 21, Bloco C, S/N, Apto. 104, Centro, Taguatinga Norte-DF, CEP: 72152-113; 2) LEONARDO ANDRÉ AMORIM MACHADO GOMES, brasileiro, servidor público, nascido em 02/07/1975, natural de Jaraguá/GO, filho de Paulo Marcos Machado Gomes e Dalva de Lourdes Amorim Machado, portador do CPF n. 771.726.551-68 e do RG n. 2124142 DGPC/GO, residente na Avenida Eloy Pinto Araújo, Chácara Vô Manuel, Zona Rural, Água Fria de Goiás/GO; 3) ROBERTO MÁRCIO MORAIS DE CASTRO, brasileiro, nascido em 20/09/1976, em Penedo/RJ, filho de Benedito de Castro Silva e Sildete Moraes de Castro, portador do CPF n. 025.514.754-65 e RG n. 2022496 SSP/DF, residente na Rua 20, Quadra 18, Lote 04, Centro, Água Fria de Goiás/GO;

Denúncia-Operação Show de Horrores - 26.02...2019/06/28  · constitucionais e legais, com fundamento no artigo 129, inciso I, da Carta Republicana de 1988 e no artigo 24 do Código

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4ª Promotoria de Justiça da Comarca de Planaltina

Edifício do Fórum – Praça Cívica, S/N – Centro, Planaltina/GO – CEP 73.750-005

Telefone/Fax: (61) 36373684 / 4536/7970

_____________________________________________________________________ 1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA

CRIMINAL DA COMARCA DE PLANALTINA – GO

Denunciados: JOÃO DE DEUS SILVA CARVALHO, LEONARDO ANDRÉ

AMORIM MACHADO GOMES, ROBERTO MÁRCIO MORAIS DE CASTRO, FÁBIO

BRAZ DE QUEIROZ, MACIEL MORAES DE CASTRO, JOSÉ DOMINGOS GOMES

DE OLIVEIRA, ALEXSANDRO JOSÉ DE OLIVEIRA, GRAZIELLY PEREIRA

BARBOSA e SINTIA MARIA GONÇALVES.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, pelo

Promotor de Justiça que esta subscreve, no uso de suas atribuições

constitucionais e legais, com fundamento no artigo 129, inciso I, da Carta

Republicana de 1988 e no artigo 24 do Código de Processo Penal, vem oferecer

DENÚNCIA em desfavor de:

1) JOÃO DE DEUS SILVA CARVALHO, brasileiro, casado,

ex-prefeito de Água Fria de Goiás-GO, portador do CPF n. 145.982.991-34, RG

394.018 SSP/DF, título de eleitor n. 007896762003, residente na Rua 14,

Quadra 48, Lote 15, Centro, Água Fria de Goiás-GO ou QNL 21, Bloco C, S/N,

Apto. 104, Centro, Taguatinga Norte-DF, CEP: 72152-113;

2) LEONARDO ANDRÉ AMORIM MACHADO GOMES,

brasileiro, servidor público, nascido em 02/07/1975, natural de Jaraguá/GO,

filho de Paulo Marcos Machado Gomes e Dalva de Lourdes Amorim Machado,

portador do CPF n. 771.726.551-68 e do RG n. 2124142 DGPC/GO, residente

na Avenida Eloy Pinto Araújo, Chácara Vô Manuel, Zona Rural, Água Fria de

Goiás/GO;

3) ROBERTO MÁRCIO MORAIS DE CASTRO, brasileiro,

nascido em 20/09/1976, em Penedo/RJ, filho de Benedito de Castro Silva e

Sildete Moraes de Castro, portador do CPF n. 025.514.754-65 e RG n. 2022496

SSP/DF, residente na Rua 20, Quadra 18, Lote 04, Centro, Água Fria de

Goiás/GO;

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Realce
AdministradorMP
Realce
AdministradorMP
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4ª Promotoria de Justiça da Comarca de Planaltina

Edifício do Fórum – Praça Cívica, S/N – Centro, Planaltina/GO – CEP 73.750-005

Telefone/Fax: (61) 36373684 / 4536/7970

_____________________________________________________________________ 2

4) FÁBIO BRAZ DE QUEIROZ, brasileiro, divorciado,

Administrador de Empresas, portador do RG n. 698.637 SSP/DF, CPF n.

297.246.941-00, residente na Rua 03, Quadra 09-A, Lote 33, Cond. Chácaras

Recreio Paraíso, Colonial Park I, Padre Lúcio, Águas Lindas de Goiás-GO;

5) MACIEL MORAES DE CASTRO, brasileiro, solteiro,

motorista, portador do RG n. 2315960 SSP/DF, CPF n. 000.377.861-48,

nascido em 09/06/1983, residente na Rua 20, Quadra 13, Lote 17–A, Etapa II,

Água Fria de Goiás-GO;

6) JOSÉ DOMINGOS GOMES DE OLIVEIRA, brasileiro,

solteiro, motorista, nascido em 06/11/1972, portador do RG n. 1603998

SSP/DF, CPF n. 602.891.201-87, residente na Rua Aníbal Modesto, Quadra 11,

Lote 16, Água Fria de Goiás-GO;

7) ALEXSANDRO JOSÉ DE OLIVEIRA, brasileiro, casado,

comerciante, nascido em 15/09/1984, natural de Santo Antônio-RN, filho de

José Severino de Oliveira e de Maria Galvão de Lima, portador do RG n.

002.415.130 SSP/RN, CPF n. 059.270.814-44, residente na Quadra 08, Lote 3,

Setor de Mansões, Águas Lindas de Goiás-GO, CEP: 72910-000;

8) GRAZIELLY PEREIRA BARBOSA, brasileira, solteira,

comerciante, natural de Brasília-DF, nascido em 18/07/1989, filha de Carlos

Humberto Pereira Barbosa e de Maria de Fátima Alves Pereira, portadora do

RG n. 2.705.449 SSP/DF, CPF n. 026.604.831-59, residente na SNO, Quadra

08, Bloco C, Loja 02, Brazlândia-DF, CEP: 72.720-080;

9) SINTIA MARIA GONÇALVES brasileira, solteira,

servidora pública, natural de Brasília-DF, nascida em 05/04/1979, filha de

Maria José da Cunha Gonçalves, portadora do RG n. 1731634 SESPDS DF, CPF

n. 868.589.801-30, residente na Rua 16, Quadra 15, Lote 11, Centro Água Fria

de Goiás-GO.

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_____________________________________________________________________ 3

I– DO INTRÓITO:

No bojo do Procedimento nº 201400229044 (Portaria n.

27/2014), instaurado no dia 09 de dezembro de 2014, nesta 4ª Promotoria de

Justiça, foi descortinada a existência de uma organização criminosa1 que agiu

no interior da Prefeitura do Município de Água Fria de Goiás-GO, nos anos de

2013 e 2014, capitaneada pelo Prefeito Municipal à época, o denunciado

JOÃO DE DEUS SILVA CARVALHO, que atuava em concurso com

servidores públicos municipais e com os empresários das pessoas jurídicas

TECNOBRASIL ASSESSORIA E EVENTOS e GENERAL BRAZ LTDA-

ME2, objetivando o desvio de verbas públicas.

A partir de representação formulada pelos cidadãos Nilton

Geraldo da Silva, Nilson Teles Salgado e Francisco Alves de Oliveira,

vereadores da cidade de Água Fria de Goiás-GO à época dos fatos, na qual

noticiaram ao Ministério Público irregularidades na formalização de contratos

entre o Município e as empresas TECNOBRASIL ASSESSORIA E

EVENTOS e GENERAL BRAZ LTDA-ME3, teve início a investigação que

desbaratou a existência da organização criminosa, que atuou em processos

licitatórios destinados à realização das festividades em comemoração aos 26º e

27º aniversários da cidade de Água Fria de Goiás-GO.

Aduziram os agentes públicos que as mencionadas empresas

teriam como sócio oculto o denunciado FÁBIO BRAZ DE QUEIROZ,

secretário municipal de articulação política4 à época e responsável pela

formalização de contratos entre as suas empresas e o Poder Executivo de Água

Fria de Goiás-GO.

1 Art. 1º, § 1º e Art. 2º, § 4º, II, da Lei n. 12.850/2013.

2 Vide representação de fls.04/08.

3 Vide representação de fls.04/08.

4 Vide documentos de fls. 712 e 715.

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_____________________________________________________________________ 4

Após minuciosa investigação, evidenciou-se que a organização

criminosa atuou fraudando onze processos licitatórios para a contratação

de empresas especializadas na realização de eventos, bem como para a

contratação de artistas que realizaram shows artísticos nas festividades

comemorativas dos 26º e 27º aniversários da cidade de Água Fria de Goiás-

GO, nos anos de 2013 e 2014.

Apurou-se que as empresas investigadas tinham por função

precípua viabilizar o desvio de verbas públicas, razão pela qual foi deflagrada a

denominada “Operação Show de Horrores”, no dia 20 de fevereiro de 2019,

que esclareceu o “modus operandi” da organização criminosa ao fraudar os

seguintes processos: Processos Licitatórios – Convites – ns. 09/2013 e

10/2013 e Processos Administrativos ns. 61/2013, 80/2013, 81/2013

e 124/2013, realizados no ano de 2013, bem como os Processos

Licitatórios – Convites – ns. 06/2014 e 07/2014 e Processos

Administrativos ns. 06/2014, 07/2014, 92/2014, 93/2014 e 94/2014,

realizados no ano de 2014.

II – DO RESUMO DAS IMPUTAÇÕES

Extrai-se do bojo do Procedimento nº 201400229044 (Portaria

n. 27/2014) que, nos anos de 2013 e 2014, os denunciados JOÃO DE DEUS

SILVA CARVALHO, LEONARDO ANDRÉ AMORIM MACHADO

GOMES, ROBERTO MÁRCIO MORAIS DE CASTRO, FÁBIO BRAZ

DE QUEIROZ, MACIEL MORAES DE CASTRO, JOSÉ DOMINGOS

GOMES DE OLIVEIRA, ALEXSANDRO JOSÉ DE OLIVEIRA e

SINTIA MARIA GONÇALVES, agindo de forma consciente e voluntária,

constituíram organização criminosa para a prática de crimes de fraude à

licitação e contra a Administração e a fé públicas, em face do Município de

Água Fria de Goiás-GO.

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_____________________________________________________________________ 5

Decorre, também, do bojo do Procedimento nº 201400229044

(Portaria n. 27/2014) que, entre os meses de fevereiro e maio de 2013, no

município de Água Fria de Goiás-GO, os denunciados JOÃO DE DEUS

SILVA CARVALHO, LEONARDO ANDRÉ AMORIM MACHADO

GOMES, ROBERTO MÁRCIO MORAIS DE CASTRO, FÁBIO BRAZ

DE QUEIROZ, MACIEL MORAES DE CASTRO, JOSÉ DOMINGOS

GOMES DE OLIVEIRA, ALEXSANDRO JOSÉ DE OLIVEIRA e

GRAZIELLY PEREIRA BARBOSA, agindo com consciência e vontade,

fraudaram, mediante ajuste, combinação e outros expedientes, o caráter

competitivo dos Processos Licitatórios n. 09/2013 e 10/2013, com o intuito de

obter, para eles, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação.

Ainda, nas mesmas circunstâncias de tempo e local acima

alinhavados, os denunciados JOÃO DE DEUS SILVA CARVALHO,

FÁBIO BRAZ DE QUEIROZ, MACIEL MORAES DE CASTRO, JOSÉ

DOMINGOS GOMES DE OLIVEIRA, agindo com consciência e vontade,

inseriram informação falsa nas duas Atas de fls. 43 e 625 (Convite n.

09/2013), 144 e 1466 (Convite n. 10/2013), com a finalidade de alterar a

verdade sobre fato juridicamente relevante.

Extrai-se, do mesmo modo, que, no ano de 2013, no município de

Água Fria de Goiás-GO, o denunciado JOÃO DE DEUS SILVA

CARVALHO, no exercício do cargo de Prefeito do Município, com plena

consciência de seu ato, inexigiu licitação fora das hipóteses previstas em lei e

sem a devida observância às formalidades pertinentes à inexigibilidade, a fim

de beneficiar o denunciado FÁBIO BRAZ DE QUEIROZ, contratando

5 Por oportuno, vale frisar que as folhas das atas estão fora de ordem, pois preservou-se no

procedimento conforme encaminhado pela Prefeitura de Água Fria de Goiás à época.

6 Por oportuno, vale frisar que as folhas das atas estão fora de ordem, pois preservou-se no

procedimento conforme encaminhado pela Prefeitura de Água Fria de Goiás à época.

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diretamente os serviços da empresa GENERAL BRAZ, nos Processos

Administrativos ns. 61/20137, 80/20138, 81/20139 e 124/201310.

Da mesma forma, os denunciados JOÃO DE DEUS SILVA

CARVALHO e FÁBIO BRAZ DE QUEIROZ, agindo com consciência e

vontade, inseriram informação falsa nos Contratos Administrativos ns.

10/201311, 61/201312, 80/201313, 81/201314, 121/201315 e 124/201316,

com o objetivo de alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante.

Prosseguindo, extrai-se do bojo do Procedimento nº

201400229044 (Portaria n. 27/2014) que, entre os meses de abril e maio de

2014, no município de Água Fria de Goiás-GO, os denunciados JOÃO DE

DEUS SILVA CARVALHO, LEONARDO ANDRÉ AMORIM

MACHADO GOMES, ROBERTO MÁRCIO MORAIS DE CASTRO,

FÁBIO BRAZ DE QUEIROZ, SINTIA MARIA GONÇALVES, MACIEL

MORAES DE CASTRO, JOSÉ DOMINGOS GOMES DE OLIVEIRA,

ALEXSANDRO JOSÉ DE OLIVEIRA e GRAZIELLY PEREIRA

BARBOSA, agindo com consciência e vontade, fraudaram, mediante ajuste,

combinação e outros expedientes, o caráter competitivo dos Processos

Licitatórios ns. 06/201417 e 07/201418, com o intuito de obter, para eles,

vantagem decorrente da adjudicação dos objetos das licitações.

7 Vide fls. 204/221.

8 Vide fls. 222/241.

9 Vide fls. 242/259.

10 Vide fls. 260/286.

11 Vide fls. 820/821. (Documentação complementar não encaminhada inicialmente pelo Município de

Água Fria de Goiás).

12 Vide fls. 218/221.

13 Vide fls. 228/230.

14 Vide fls. 248/250.

15 Vide fls. 60/61.

16 Vide fls. 262/264.

17 Vide fls. 287/390.

18 Vide fls. 391/505.

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_____________________________________________________________________ 7

Do mesmo modo, no ano de 2014, no município de Água Fria de

Goiás-GO, o denunciado JOÃO DE DEUS SILVA CARVALHO, no

exercício do cargo de Prefeito do Município, com plena consciência de seu ato,

inexigiu licitação fora das hipóteses previstas em lei e sem a devida

observância às formalidades pertinentes à inexigibilidade, a fim de beneficiar

os denunciados FÁBIO BRAZ DE QUEIROZ e ALEXSANDRO JOSÉ DE

OLIVEIRA, contratando diretamente os serviços da empresa

TECNOBRASIL ASSESSORIA E EVENTOS, nos Processos

Administrativos ns. 92/201419, 93/201420 e 94/201421.

Ainda, o denunciado JOÃO DE DEUS SILVA CARVALHO,

valendo-se da sua função de Prefeito Municipal, entre os meses de fevereiro e

maio de 2013, por 06 vezes, pelas mesmas condições de tempo, lugar e

maneira de execução, com plena consciência de seus atos, e com o auxílio do

denunciado FÁBIO BRAZ DE QUEIROZ, desviou rendas públicas, em

proveito de ambos, que importou na dilapidação do patrimônio do município

de Água Fria de Goiás.

Extrai-se, finalmente, que o denunciado JOÃO DE DEUS

SILVA CARVALHO, valendo-se da sua função de Prefeito Municipal, entre

os meses de março e maio de 2014, por 05 vezes, pelas mesmas condições de

tempo, lugar e maneira de execução, com plena consciência de seus atos, e com

o auxílio dos denunciados FÁBIO BRAZ DE QUEIROZ e ALEXSANDRO

JOSÉ DE OLIVEIRA, desviou rendas públicas, em proveito deles, que

importou na dilapidação do patrimônio do município de Água Fria de Goiás.

19 Vide fls. 506/540.

20 Vide fls. 541/586.

21 Vide fls. 587/619.

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III – DOS FATOS EM MINÚCIA:

A organização criminosa aqui denunciada teve seu embrião nos

idos de janeiro de 2013, em face da expedição da Portaria nº 01/201322, de 02

de janeiro de 2013, da lavra do denunciado JOÃO DE DEUS, prefeito

municipal à época dos fatos, que nomeou os denunciados FÁBIO BRAZ,

MACIEL e JOSÉ DOMINGOS para comporem a Comissão de Licitação do

Município de Água Fria de Goiás-GO, nas funções de Presidente, Secretário e

Membro, respectivamente, a fim de possibilitar a prática de fraudes em

detrimento da Administração Pública.

Desvelou-se, também, que os denunciados LEONARDO e

ROBERTO MÁRCIO ostentavam, respectivamente, os cargos públicos de

Secretário de Administração e Secretário de Finanças, ocasião em que

recebiam forte influência do ex-prefeito, denunciado JOÃO DE DEUS, para a

realização de licitações, com a finalidade de contratar empresas determinadas.

Nesse ponto, veio à luz que, na composição da organização

criminosa, também figurava o denunciado ALEXSANDRO, cujas empresas

de sua propriedade, GENERAL BRAZ e TECNOBRASIL, foram

beneficiadas pelos esquemas ilícitos perpretados. O denunciado

ALEXSANDRO, no ano de 2013, figurou como sócio da empresa GENERAL

BRAZ, juntamente com Heriberto Laurentino Dias, pessoa falecida no ano de

201123, tendo também sido representante da empresa TECNOBRASIL,

juntamente com a denunciada GRAZIELLY, no ano de 201424.

22 Vide fl. 12.

23 Vide Certidão de Óbito de fl. 742.

24 A empresa encerrou as suas atividades no dia 14 de setembro de 2017 – Vide

documento de fls. 677/678.

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Além disso, foi apurado que FÁBIO BRAZ, a um só tempo,

ocupava as funções de Secretário Municipal de Articulação Política – Decreto

n. 04/201325 –, de presidente da Comissão de Licitação26, e, também, figurava

como sócio oculto de ambas as empresas investigadas, o que viabilizou a

prática das fraudes.

A denunciada SINTIA aderiu às condutas integrando a

organização criminosa no ano de 2014, vez que substituiu FÁBIO BRAZ na

função de presidente da Comissão de Licitação27, chancelando diversas fraudes

a processos licitatórios que sequer chegaram a existir, visando apenas conferir

ares de legalidade às contratações fraudulentas praticadas.

O incremento das investigações, por meio de diversas diligências,

teve o condão de demonstrar que a organização criminosa atuava de forma

estruturalmente ordenada, caracterizada pela divisão de tarefas e com o

objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem indevida, por meio da

prática dos crimes de fraude à licitação, inexigibilidade de licitação, falsidade

ideológica e desvio de verbas públicas.

De início, vale destacar que as atividades criminosas se iniciaram

com a contratação de serviços para a realização das festividades

comemorativas ao 26º Aniversário da Cidade de Água Fria de Goiás-GO. Para

tanto, o Município firmou o Convênio n. 22/2013, com a AGÊNCIA

GOIANA DE TURISMO (GOIÁS TURISMO), que teve como objeto: apoio

à realização do 26º aniversário da cidade, 10º desfile de carros de boi e 7º

festa de moagem, no Município de Água Fria de Goiás, no período de 13 a 16

de junho, mediante o repasse de verba estadual, por intermédio da GOIÁS

25 Vide fl. 712.

26 Vide fl. 12.

27 Vide fl. 286.

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10

TURISMO, bem como a respectiva contrapartida do Município, conforme

detalhadamente constante do Plano de Trabalho28.

O modus operandi de que se valeu a organização criminosa para

a consecução da fraude à licitação no bojo do PROCESSO LICITATÓRIO –

CONVITE n. 09/2013 –, o primeiro a ser fraudado, foi repetido em

diversas licitações realizadas posteriormente e que serão aqui delineadas.

A investigação demonstrou que, para todas as fraudes realizadas

no ano de 2013, houve a participação da empresa GENERAL BRAZ, que,

na verdade, tratava-se de empresa de fachada utilizada pelo presidente da

Comissão de licitação, FÁBIO BRAZ, para viabilizar que a organização

criminosa pudesse promover o desvio de verbas públicas.

Da análise do Convite n. 09/2013, observou-se que, após as

justificativas da necessidade de abertura e do termo de referência com o valor

da contratação – R$ 79.200,00 (setenta e nove mil e duzentos reais) –,

FÁBIO BRAZ expediu carta-convite para que a empresa GENERAL BRAZ,

participasse do processo licitatório29.

Em seguida, a carta-convite mencionada foi supostamente

recebida e assinada pelo Sr. Heriberto Laurentino Dias, constando, inclusive,

o carimbo da empresa GENERAL BRAZ ao lado de sua assinatura:

28 Ver Cláusula 2ª do Convênio - fl. 827.

Obs. A cláusula 4ª fixou os valores do supracitado Convênio, nos seguintes moldes: “O valor

total deste Convênio é de R$ 158.000,00 (cento e cinquenta e oito mil reais), sendo

concedido pelo Estado, através da GOIÁS TURISMO, o montante de R$ 100.000,00 (cem mil

reais), a ser depositado em conta corrente aberta especificamente para a movimentação dos

recursos, ficando como contrapartida do Município, a importância de R$ 58.000,00

(cinquenta e oito mil reais), que será depositado na mesma conta corrente”. (Destacou-se).

29 Vide documento de fl. 29.

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_____________________________________________________________________

11

Esse carimbo indicou que ela estava localizada na cidade de Água

Fria de Goiás-GO. Diante dessa informação, foi expedida a ordem de serviço n.

06/201830, para que o Oficial de Promotoria se dirigisse ao endereço indicado

e certificasse a sua existência.

30 Vide fl. 656.

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Telefone/Fax: (61) 36373684 / 4536/7970

_____________________________________________________________________

12

Conforme certidão31 lavrada pelo oficial de promotoria, Sr.

Lázaro Barbosa de Barros, constatou-se que a empresa GENERAL BRAZ

não possuía e nunca possuiu funcionamento naquele endereço.

Ainda, na oportunidade, o Oficial de Promotoria certificou que

conversou, pessoalmente, com o denunciado FÁBIO BRAZ, que se

apresentou como atual proprietário da empresa GENERAL BRAZ, ocasião

em que afirmou ter transferido o seu endereço, da cidade de Água Fria de

Goiás-GO, para a cidade de Águas Lindas de Goiás-GO32.

Contudo, fato é que se tratava de empresa de fachada, que nunca

existiu na cidade de Água Fria de Goiás-GO, tendo sido utilizada pelos

denunciados tão somente para a prática das fraudes. Tal afirmação decorre

não apenas da certidão do Oficial de Promotoria, mas também pelas diversas

diligências realizadas por este Órgão Ministerial durante as investigações.

Em declarações prestadas na sede do Ministério Público pelos

Srs. Nilton Geraldo da Silva, Nilson Teles Salgado e Francisco Alves de

Oliveira33, restou uníssono de seus depoimentos que a empresa GENERAL

BRAZ não existia no endereço apontado no carimbo utilizado nos contratos

administrativos celebrados com o Município de Água Fria de Goiás-GO. 31 Vide fl. 657.

32 Confira-se Certidão de fl. 659, em especial que: “General Braz Ltda. não funciona em

Água Fria, vizinhos não tinham quaisquer informações. Em Águas Lindas-GO, conversei

pessoalmente com Fábio Braz de Queiroz (061 99942 8971) e-mail:

[email protected], que se identificou como proprietário da empresa

General Braz LTDA localizada no endereço citado na determinação, o mesmo

afirmou que a empresa existia em Água Fria GO e ele transferiu para Águas

Lindas GO. Fotos anexas. Por ser verdade assino e dou fé”. Destacou-se.

33 Vide termos de declarações de fls. 635/637; 641/643 e 648/650 dos autos. Vejamos, nesse

ponto, pequeno trecho do termo de declarações do Sr. Nilton Geraldo da Silva: “(...); que

chegou a procurar o endereço da sede da empresa GENERAL BRAZ LTDA-ME no local

indicado no contrato, mas não encontrou qualquer empresa na localidade (sede na Av. Eloy

Pinto de Araújo, Quadra 14, Lote 03, Centro, Água Fria de Goiás); (...)”.

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13

O Ministério Público buscou, ainda, informações sobre o quadro

societário da empresa GENERAL BRAZ, em especial pelo documento de fls.

103/106 – REATIVAÇÃO COM ALTERAÇÃO CONTRATUAL N. 02 –,

com as seguintes informações relevantes:

Os Srs. Sidney José Nogueira de Godoy e Marcos Feliciano

Machado, únicos sócios componentes da sociedade denominada “AUTO

POSTO DE COMBUSTÍVEL BAIXÃO LTDA.”, resolvem de comum acordo

reativar e alterar o contrato social, mediante as seguintes cláusulas e

condições:

“PRIMEIRA: Que se retira da sociedade o sócio Sr. SIDNEY JOSÉ

NOGUEIRA GODOY, acima qualificado, possuidor de 30.000 (trinta

mil) quotas no valor de R4 1,00 (um real) cada uma, totalizando R$

30.000,00 (trinta mil reais) equivalente a 30% (trinta por cento) do

capital social, cedendo e transferindo como cedido e transferido estar o

total de suas cotas de capital ao Sr. HERIBERTO LAURENTINO

DIAS, brasileiro, solteiro, empresário, nascido em 13.05.1977, portador

da Identidade n. 36.500.616-6 SSP/SP e do CPF n. 026.572.314-03,

residente e domiciliado na Avenida Eloy Pinto de Araújo, Quadra 14,

Lote 03, Centro, Água Fria de Goiás-GO, CEP 73.780-00034, dando-lhe

plena, geral e irrevogável quitação das mesmas;

SEGUNDA: Que se retira da sociedade o sócio Sr. MARCOS

FELICIANO MACHADO, acima qualificado, possuidor de 70.000

(setenta mil) quotas no valor de R$ 1,00 (um real) cada uma,

totalizando R$ 70.000,00 (setenta mil reais), equivalente a 70%

(setenta por cento) do capital social ao Sr. ALEXSANDRO JOSÉ DE

OLIVEIRA, brasileiro, solteiro, empresário, nascido no dia

15.09.1984, portador da Identidade n. 002.415.130 SESPFC/RN e do

CPF n. 059.270.814-44, residente e domiciliado na Avenida Eloy Pinto

de Araújo, Quadra 14, Lote 03, Centro, Água Fria de Goiás – GO, CEP 34 Atente-se Excelência, que o endereço que consta no documento indicando a residência do

Sr. HERIBERTO é o mesmo em que se situava a suposta sede da empresa GENERAL

BRAZ LTDA-ME.

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14

73.780-00035, e as restantes 60.000 (sessenta mil) quotas de seu

capital, ao outro sócio ora admitido na cláusula anterior, Sr.

HERIBERTO LAURENTINO DIAS, dando-lhes plena, geral e

irrevogável quitação das mesmas;

(...)

QUARTA: Que altera a denominação social da sociedade para:

GENERAL BRAZ LTDA;

QUINTA: Que altera o endereço comercial da sociedade para:

Avenida Eloy Pinto de Araújo, Quadra 14, Lote 03, Loja 02,

Centro, Água Fria de Goiás – GO, CEP: 73.780-00036;

SEXTA: Que altera o objetivo comercial da sociedade para:

Prestação de serviços de soluções tecnológicas e

desenvolvimento de programas de computador sob

encomenda, suporte técnico, manutenção e outros serviços

em tecnologia da informação; Serviços de consultoria

administrativa e de projetos para Órgãos Públicos Federais,

Estaduais e Municipais, empresas privadas e ONG e OCIP;

Serviços de construção; Serviços de manutenção elétrica,

hidráulica, serralheria, marcenaria, fornecimento de mão de

obra especializada e temporária de limpeza, conservação,

dedetização, desratização, conservação de gramados,

jardins, piscinas, e serviços de reforma em geral; Locação de

estruturas de arquibancadas, palco, sonorização, filmagem,

coberturas, circos e tendas, fechamentos, alambrados,

banheiros químicos, iluminação para eventos; Promoção de

eventos, congressos, contratação de shows artísticos e

musicais e rodeios; Locação de veículos leves, pesados,

ambulâncias, utilitários, de passeio, tratores, retro

escavadeiras, moto niveladoras e demais equipamentos 35 Novamente, o endereço que consta no documento indicando a residência do Sr.

HERIBERTO é o mesmo em que se situava a suposta sede da empresa GENERAL BRAZ

LTDA-ME.

36 O mesmo endereço de residência e domicílio dos Srs. HERIBERTO e ALEXSANDRO.

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15

pertinentes; Transporte de cargas, encomendas, passageiros

e escolares; Manutenção de móveis e mobiliários; Reformas

e pinturas de imóveis; Desmontagem, remanejamento e

montagem de foros e divisórias.

SÉTIMA: Que a administração e gerencia da sociedade cabe apenas ao

sócio Heriberto Laurentino Dias, com poderes e atribuições de

representá-la em juízo ou fora dele ativa e passivamente, autorizado

ainda o uso da denominação social;

(...).

O documento mencionado fora assinado por todos os envolvidos

na transação, no dia 02 de maio de 2012:

Conforme se observa pela análise do contrato social da

GENERAL BRAZ, a pessoa responsável por assinar os atos da empresa,

incluindo os documentos de sua participação nos processos licitatórios, era o

Sr. Heriberto Laurentino Dias.

Contudo, em pesquisa realizada no site da Receita Federal (fl.

632), cadastro nacional de pessoa física, apurou-se que a pessoa de

Heriberto Laurentino Dias faleceu no ano de 2011, ou seja, um ano

antes da alteração do contrato social e dois anos antes dos processos

licitatórios serem realizados pela Prefeitura de Água Fria.

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16

Visando checar tal informação, foram expedidos os ofícios ns.

332/2018 e 337/2018, ao 2º Tabelionato de Notas, Protestos e Ofício de

Registro Civil da cidade de Santo Antônio-RN, oportunidade em que o Cartório

encaminhou ao Ministério Público cópia da CERTIDÃO DE ÓBITO37 do Sr.

HERIBERTO LAURENTINO DIAS, falecido no dia 28 de agosto de

2011, aos 34 anos de idade.

Chegou-se, dessa forma, à surpreendente conclusão de que o

MUNICÍPIO DE ÁGUA FRIA celebrou inúmeros contratos administrativos

com a empresa GENERAL BRAZ, durante o ano de 2013, que tinha como

proprietário e, inclusive, fora o responsável por assinar todos os documentos

dos processos licitatórios, uma pessoa falecida no ano de 2011, na cidade de

Santo Antônio-RN.

Assim, tem-se o processo licitatório n. 09/2013, modalidade

convite, que fora aberto tendo como objeto a “prestação de serviços na

realização das festividades comemorativas ao 26º aniversário de Água Fria

de Goiás-GO”38.

Em 04 de fevereiro de 2013, o denunciado ROBERTO

MÁRCIO, na condição de Secretário Municipal de Finanças, solicitou a

JOÃO DE DEUS autorização para contratação de empresa especializada na

realização de eventos, justificando a necessidade da medida para atender às

festividades comemorativas ao 26º aniversário de Água Fria de Goiás39.

37 Vide Certidão de Óbito de fl. 742.

38 Vide documentos de fls. 14/112 dos autos.

39 Vide fl. 15.

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17

Após as justificativas da necessidade de abertura e do termo de

referência com o valor da contratação, na quantia de R$ 79.200,00 (setenta e

nove mil e duzentos reais), o presidente da Comissão de Licitação, FÁBIO

BRAZ, expediu carta-convite para que a empresa GENERAL BRAZ

participasse do processo licitatório40.

O Processo Administrativo n. 09/2013 teve seu objeto

adjudicado41 a duas empresas vencedoras, quais sejam: TOTAL

EMPREENDIMENTOS LTDA (ANEXO II/Itens 1/2/3/4/5), no valor de R$

58.800,00 (cinquenta e oito mil e oitocentos reais) e GENERAL BRAZ

(ANEXO II/Itens 6/7), no valor de R$ 20.500,00 (vinte mil e quinhentos

reais).

Na ATA DE JULGAMENTO DA SESSÃO (fls. 43 e 62 dos

autos42), constou a presença do “de cujus” Heriberto Laurentino Dias na

própria sessão de julgamento das propostas, revelando a participação de todos

os membros da Comissão de Licitação na empreitada criminosa, que

assinaram referido documento:

40 Vide fl. 29.

41 Vide fl. 42.

42 A documentação foi organizada e, inclusive, carimbada fora de ordem pela própria

Prefeitura de Água Fria de Goiás-GO, motivo pelo qual decidiu-se mantê-la dessa forma.

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18

O denunciado JOÃO DE DEUS homologou o processo

licitatório43 e o contrato n. 121/201344 fora realizado com a empresa

GENERAL BRAZ, no valor de R$ 20.500,00 (vinte mil e quinhentos reais),

sendo o documento assinado pelo ex-prefeito JOÃO DE DEUS, pelo “de

cujus” Heriberto e pelos denunciados FÁBIO BRAZ e LEONARDO, este

Secretário de Administração à época dos fatos.

Dessa forma, tem-se evidenciado o modo de agir da organização

criminosa, que contava com os denunciados MACIEL e JOSÉ DOMINGOS,

como integrantes da Comissão de Licitação45, além de FÁBIO BRAZ,

presidente da Comissão, e sócio oculto das empresas GENERAL BRAZ e

43 Vide fl. 41.

44 Vide documento de fls. 60/61 dos autos.

45 Vide fl. 12.

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19

TECNOBRASIL. Ainda, os denunciados LEONARDO e ROBERTO

MÁRCIO colaboravam, de maneira ativa, para as atividades criminosas, vez

que toda análise documental passava por eles nas Secretarias de

Administração e Finanças, respectivamente.

Além disso, os denunciados LEONARDO e ROBERTO

MÁRCIO eram os responsáveis pela abertura dos processos licitatórios,

mediante Solicitação de Autorização46, para contratação. Eles também

assinavam, na condição de testemunhas, os próprios contratos administrativos

firmados com a empresa GENERAL BRAZ, representada pelo falecido

Heriberto Laurentino Dias.

Após a deflagração da denominada Operação Show de

Horrores, no dia 20 de fevereiro de 2018, constatou-se, novamente, a

inexistência das sessões de julgamentos materializadas nos documentos

encaminhados ao Ministério Público47.

46 Vide fls. 15; 115; 206; 224; 244; 281.

47 Confira-se Termo de Depoimento de JOSÉ DOMINGOS juntado às fls. 1.697 e 1.702

(mídia) dos autos, em especial: “Que é servidor do Município de Água Fria de Goiás desde o

ano de 2006; que ocupa a função de motorista; que, à época dos fatos, foi procurado por

ROBERTO MÁRCIO para compor a Comissão de Licitação, ao que ele respondeu que não

iria, pois não tinha conhecimento acerca de licitação; que lhe foi dito que bastaria assinar; que

participou de julgamentos de licitação para a contratação de máquinas e remédios; que para as

contratações de shows artísticos e serviços de estrutura para shows, não se recorda de ter

participado; que não sabia que FÁBIO BRAZ era presidente da Comissão de Licitação, tendo

tomado conhecimento de tal informação após ter vindo prestar declarações ao Ministério

Público, no ano de 2018; que foi chamado para assinar os documentos em mais de uma

oportunidade, por ROBERTO MÁRCIO e também por LEONARDO; que recebia ligações

pedindo para que ele fosse à Prefeitura para assinar documentos, sendo que outras vezes foi

abordado na rua; que nunca participou das licitações em que houve a contratação da empresa

GENERAL BRAZ; que não conhece a empresa TECNOBRASIL; que não esteve presente à

sessão de julgamento trazida na ata de fls. 406/407; que nunca participou de processos

licitatórios envolvendo a contratação de tal empresa(...)”. José Domingos. Confira-se Termo de

Depoimento de MACIEL, juntado às fls. 1703/1711 (mídia), em especial: “Que pediu para

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20

E não é só! Além dos crimes de fraude à licitação praticados para

a contratação da empresa GENERAL BRAZ, nos processos licitatórios –

CONVITES – ns. 09/2013 e 10/201348, evidenciou-se que a organização

criminosa continuou agindo contra o interesse público nos meses seguintes.

Para atender às festividades comemorativas ao 26º Aniversário

de Água Fria de Goiás-GO, a organização criminosa utilizou novamente a

empresa GENERAL BRAZ para se sagrar beneficiária de processos, por meio

de inexigibilidade de licitação, mediante cessão do direito de exclusividade de

empresas que agenciavam os artistas contratados.

Com relação a esses processos, realizados por meio de

inexigibilidade de licitação (PROCESSOS ADMINISTRATIVOS ns.

61/2013, 80/2013, 81/2013 e 124/2013), tem-se que não houve

observância às normas previstas na Lei n. 8.666/9349.

fazer parte da Comissão de Licitação, em razão da gratificação que era acrescentada à

remuneração; que havia reuniões; que possui pouco conhecimento técnico acerca de licitação,

não conhecendo a lei que trata de licitação; que ao ser questionado acerca de sua função na

Comissão de Licitação, disse não se recordar do que fazia; que não tem conhecimento de que

FABIO BRAZ era presidente da Comissão de Licitação; que se lembra de JOSÉ

DOMINGOS; que é irmão do ROBERTO MÁRCIO e parente do JOÃO DE DEUS; que

não conhece as empresas GENERAL BRAZ e TECNOBRASIL; que não se recorda da

pessoa de Heriberto (...)”.

48 Vide fls. 114/203.

49 A Lei de Licitações, em seu artigo 25, inciso III, exige, para a contratação direta, a

demonstração de que o profissional do setor artístico é consagrado pela crítica especializada

ou pela opinião pública, de modo a inviabilizar a competição: Art. 25. É inexigível a licitação

quando houver inviabilidade de competição, em especial: III- para contratação de

profissional de qualquer setor artístico, diretamente ou através de empresário exclusivo,

desde que consagrado pela crítica especializada ou pela opinião pública.

(Destacou-se).

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21

Em 14 de fevereiro de 2019, o cantor Lindomar Pimenta

Pires50, da dupla Ricardo & Fabiano, foi ouvido pelo Ministério Público,

oportunidade em que declinou a forma como fora assinada a Declaração de

Exclusividade51 com a empresa GENERAL BRAZ, delimitando a atuação dos

denunciados FÁBIO BRAZ e JOÃO DE DEUS.

Nesse mesmo sentido, de modo a evidenciar como o desvio de

verbas públicas era efetivado, tem-se as declarações do Sr. Alessandro Correa

Campos52, contratado por meio do Procedimento Administrativo n. 81/2013.

50 Confira-se Termo de Depoimento juntados às fls. 1320-1322, em especial: “Que compõe

dupla Ricardo e Fabiano; que já havia feito show para o Município de Água Fria de Goiás em

outra oportunidade (...); que conhecia o prefeito JOÃO DE DEUS que o ajudava com

divulgação, tendo participado de seu programa de rádio; que foi convidado por telefone; que

foi à Prefeitura com sua dupla conversar com o prefeito JOÃO DE DEUS; que o cachê foi

fixado em R$ 8.000,00 (oito mil reais); que JOÃO DE DEUS disse que deveriam tratar a

respeito do pagamento com a pessoa de FÁBIO BRAZ; que foram até a sala do FABIO

BRAZ, que determinou ao depoente e a sua dupla que assinassem uma carta de exclusividade,

dizendo que era o proprietário da empresa GENERAL BRAZ; que, na oportunidade, FABIO

BRAZ pagou metade do cache; que após a realização do show, ele pagou mais R$ 4.000,00

(quatro mil reais) mediante a entrega de dinheiro e cheque; que o depoente reconhece sua

assinatura aposta à fl. 276; que FABIO BRAZ, no momento do pagamento, se queixou pelo

fato de JOÃO DE DEUS ter contratado o seu show, pois não irá dar lucro à sua empresa

GENERAL BRAZ; que FABIO BRAZ não quis lhe fornecer recebido; que o cheque que lhe

foi entregue não era da prefeitura, que era em nome de pessoa física (...)”.

51 Vide fl. 276.

52 Restou da investigação, a partir do documento de fls. 1.770/1.771, que o Padre Alessandro

Campos fora procurado pelo denunciado JOÃO DE DEUS, que contratou seu show, a fim de

que participasse do evento destinado à comemoração do aniversário da cidade de Água Fria de

Goiás-GO, pelo valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais).

A testemunha informou que o aludido valor fora pago em espécie, não tendo havido a

celebração de contrato escrito, mas somente do documento de exclusividade com a empresa

GENERAL BRAZ, o qual encaminhou anexo à sua resposta, afirmando ser de praxe a

celebração desse tipo de documento para garantir exclusividade apenas para a realização na

data do show.

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22

No ano de 2014, a organização criminosa continuou com o

mesmo modo de agir, dessa vez para as contratações destinadas às festividades

do 27º Aniversário de Água Fria de Goiás-GO, por meio da empresa

TECNOBRASIL, que também tinha FÁBIO BRAZ como sócio oculto.

Valendo-se de condutas análogas, a organização criminosa fraudou os

Processos Licitatórios – Convites ns. 06/2014 e 07/2014 –, bem como os

Processos Administrativos ns. 92/2014, 93/2014 e 94/2014.

Para a realização das atividades comemorativas ao 27º

aniversário da Cidade de Água Fria de Goiás-GO, fora firmado o Convênio

nº 043/2014, com a AGÊNCIA GOIANA DE TURISMO (GOIÁS

TURISMO), cujo objeto ficou assim delimitado em sua cláusula segunda: “O

presente Convênio tem por objeto o apoio à realização do 27º Aniversário de

Água Fria de Goiás, 11ª Festa do Carreiro e 8ª Festa da moagem município

de Água Fria de Goiás, no período de 12 a 15 de junho de 2014,mediante o

repasse de verba estadual, por intermédio da Goiás Turismo, bem como a

respectiva contrapartida do MUNICÍPIO, conforme detalhamento do Plano

de Trabalho53.

Conforme mencionado, nessa ocasião, a Comissão de Licitação

era formada pela denunciada SINTIA, que substituiu FÁBIO BRAZ na

função de presidente da Comissão de Licitação, bem como pelos denunciados

MACIEL e JOSÉ DOMINGOS.

53 Vide mídia juntada à fl. 1.761, encaminhado pela Agência Goiana de Turismo (GOIÁS

TURISMO).

A cláusula 4ª fixou os valores do supracitado Convênio, nos seguintes moldes: O valor total

deste Convênio é de R$ 158.000,00 (cento e cinquenta e oito mil reais), sendo concedido pelo

Estado, através da GOIÁS TURISMO, o montante de R$ 100.000,00 (cem mil reais), a ser

depositado em conta corrente aberta especificamente para a movimentação dos recursos,

ficando como contrapartida do Município, a importância de R$ 58.000,00 (cinquenta e oito

mil reais), que será depositado na mesma conta corrente.

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23

A empresa TECNOBRASIL, que atualmente consta nos

cadastros da Receita Federal com o status de “baixada”54, tinha como sócios os

denunciados ALEXSANDRO e GRAZIELLY, além de FÁBIO BRAZ, seu

sócio oculto.

Nesse período, FÁBIO BRAZ também continuava no exercício

da função de Secretário de Articulação Política da Prefeitura de Água Fria55,

sendo o responsável, juntamente com JOÃO DE DEUS, por firmar

CONVÊNIOS com a autarquia estadual GOIÁS TURISMO, visando a

liberação de recursos públicos para o Município de Água Fria de Goiás-GO 56.

Assim, do mesmo modo que no ano de 2013, os Processos

Licitatórios – Cartas-Convites n. 06/2014 e 07/2014 – também foram

fraudados. Isso porque não existia sessão de julgamento das propostas, sendo

os documentos entregues prontos aos membros da Comissão de Licitação

apenas para serem assinados, a fim de beneficiar a empresa TECNOBRASIL.

Reforçando esses fatos, tem-se o depoimento do denunciado

JOSÉ DOMINGOS, nas duas oportunidades em que foi ouvido pelo

Ministério Público no âmbito da investigação57. Ademais, o denunciado

MACIEL demonstrou total desconhecimento das funções que desempenhava

na Comissão58.

54 Vide fls. 627/628 e 677/678.

55 Decreto n. 04/2013 – fl. 712.

56 Vide documento de fl. 1.014, cujo teor demonstra e-mail encaminhado pela GOIÁS

TURISMO ao denunciado FÁBIO BRAZ. Do mesmo modo, ocorreu no bojo do Convênio n.

22/2013 - fl. 835.

57 Confira-se Termos de Depoimentos de fls. 693/695 e 1.697/1.702.

58 Confira-se Termo de Depoimento de fl. 1.711.

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24

Os denunciados LEONARDO e ROBERTO MÁRCIO, por sua

vez, continuaram auxiliando nas atividades criminosas, vez que toda análise

documental passava por eles nas Secretarias de Administração e Finanças,

respectivamente, a exemplo dos documentos que seriam encaminhados à

AGÊNCIA GOIANA DE TURISMO (GOIÁS TURISMO), em razão do

convênio firmado59.

Também de forma ilegal, foram realizados os Processos

Administrativos ns. 92/2014 e 93/2014, mediante inexigibilidade de

licitação, para a contratação direta de artistas previamente escolhidos, os

quais assinaram carta de exclusividade com a empresa TECNOBRASIL.

- DO ACÓRDÃO N. 07205/2018, DA LAVRA DO TRIBUNAL DE

CONTAS DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DE GOIÁS (TCM-GO)

O Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de Goiás (TCM-

GO), em julgamento de tomada de contas especial, constatou a existência de

irregularidades no âmbito da gestão do Município, no exercício de 2013, tendo

por objeto de análise os mesmos fatos da presente denúncia60.

Vê-se do Acórdão n. 07205/2018, que o TCM-GO julgou

irregulares as contas tomadas dos senhores JOÃO DE DEUS (ex-prefeito) e

Simão Rodrigues Mendes (Ex-gestor do Município de Água Fria), resultando

na imputação de débito a eles. Dentre as irregularidades apuradas, destacam-

se as seguintes:

a) Constatação de dano ao erário na condução dos gastos com

prestação de serviços para realização das festividades (rodeio)

comemorativas ao 26º aniversário da cidade, incluindo a

59 Vide mídia juntada à fl. 1.761, encaminhado pela Agência Goiana de Turismo (GOIÁS

TURISMO).

60 Processo n. 20410/2013 – Acórdão nº 07205/2018 – fls. 02/41 do APENSO I.

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25

contratação de profissionais do setor artístico, despesas estas

efetuadas pelo órgão do Poder Executivo;

b) Falhas formais na condução do Convite nº 9/2013, como por

exemplo a ausência de identificação da data de recebimento,

impossibilitando a verificação de prazo de cinco dias úteis, de

acordo com o art. 21, §2º, da Lei 8.666/1993;

c) Contratação com duplicidade parcial de objetos, oriundo de

pagamentos ilegais do procedimento licitatório objeto do Convite

nº 10/2013 (serviços de sonorização e iluminação profissionais);

d) Pagamentos ilegais de contratações diretas, via inexigibilidade de

licitação (Duplas Sertanejas: JHONY & RAHONY, Leandro &

Ricardo, Ricardo & Fabiano, Diogo Valadares e o cantor gospel

Padre Alessandro Campos61);

De se notar, portanto, que o TCM-GO também constatou a

existência de dano ao erário, entendendo que houve o pagamento em

duplicidade parcial de objetos (sonorização e iluminação), oriundo de

pagamentos ilegais de notas fiscais à empresa GENERAL BRAZ, bem como

em razão de contratações diretas realizadas com diversos artistas, mediante

inexigibilidade de licitação.

No que diz respeito à inexigibilidade de licitação, instrumento de

contratação de diversos artistas, por meio da empresa GENERAL BRAZ,

entendeu o TCM-GO que o denunciado JOÃO DE DEUS não logrou

demonstrar a legalidade das despesas:

Insta destacar que o fundamento para tais contratações diretas foi com

base no art. 25, III, da Lei n. 8.666/93, com apresentação da razão da

escolha dos artistas.

61 Confira-se fl. 04 (v) do Apenso

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26

Em relação à caracterização da inexigibilidade de licitação, a priori,

não se vislumbra a presença dos requisitos ensejadores da contratação

direta, pois conforme o art. 25 da Lei n. 8.666/93 para que seja viável a

inexigibilidade de licitação há que se ter a inviabilidade de competição.

Desse modo, para a contratação de shows artísticos segundo o art. 25,

III da Lei n.º 8.666/93, não restou provado nos autos que os artistas

Padre Alessandro Campos, Jhony e Rahony, Leandro e Ricardo,

Ricardo e Fabiano e Diego Valadares sejam consagrados pela crítica

especializada ou pela opinião pública.

Inclusive, cumpre ressaltar que os referidos objetos poderiam ser

licitados em plena viabilidade de competição. O que se veda é a

inexigibilidade de licitação para a contratação de bandas não

consagradas pela crítica, processos feitos de forma direta, em ausência

de licitação, não havendo nenhum caso de inviabilidade de licitação

propriamente dita.

Além disso, o art. 17, inciso IV da Instrução Normativa TCM/GO nº

015/12 prescreve que os contratos de show artístico devem ser

instruídos com:

a) Justificativa do preço contratado, com apresentação de cópia de

outros contratos públicos e privados e respectivas notas fiscais,

demonstrando que os valores contratados estão dentro dos parâmetros

do mercado de shows;

b) Apresentar documentos que demonstrem a consagração do

artista pela mídia e/ou crítica dos meios artísticos;

c) Demonstrativo da composição detalhada dos custos unitários

dos itens que compõem os preços contratuais – artista, apoio, palco,

energia, segurança, hospedagem, iluminação e outros;

d) Documentos que demonstrem que a contratação foi realizada

diretamente com o artista ou por meio de empresário exclusivo.

Quanto à inexigibilidade de contratação relativa à dupla “Gian e

Giovani” para o 26º Aniversário de Água Fria de Goiás, apesar de tal

dupla ser notoriamente conhecida pela sociedade, perfazendo o

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requisito legal da contratação direta por inexigibilidade de licitação, os

demais requisitos previstos no inciso VI do art. 17 da IN nº 015/12 não

se encontram nos autos62.

De se notar que as irregularidades descritas pelo TCM-GO se

fizeram presentes também em todos os processos licitatórios realizados, via

inexigibilidade de licitação, pela organização criminosa, no ano de 2014, a

partir da celebração de cessão de exclusividade dos direitos dos artistas que

seriam contratados por meio da empresa TECNOBRASIL.

- DO PROCESSO LICITATÓRIO – CONVITE – N. 09/2013:

Além das fraudes licitatórias já delineadas no âmbito do processo

n. 09/2013, para a celebração do Contrato Administrativo n. 121/201363,

houve a prática de crime de falsidade ideológica, pois o Município de Água Fria

de Goiás, por meio do ex-prefeito JOÃO DE DEUS, firmou contrato com a

empresa GENERAL BRAZ, no valor de R$ 20.500,00 (vinte mil e

quinhentos reais), representada pelo “de cujus” Heriberto Laurentino Dias,

tendo também sido assinado pelos denunciados FÁBIO BRAZ e

LEONARDO, este Secretário de Administração à época dos fatos.

Dessa forma, nota-se, que após a prática dos crimes de fraude à

licitação e falsidade ideológica (na ata de julgamento e no contrato), os

denunciados FÁBIO BRAZ e JOÃO DE DEUS lograram desviar dinheiro do

erário, em proveito de ambos.

O TCM-GO também demonstrou a existência de irregularidades,

apontando que houve omissão na identificação da data de recebimento nas

62 Confira-se fl. 15(v) do Apenso I.

63 Vide fls. 60/61.

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convocações dos licitantes, o que gerou o descumprimento de prazo fixado art.

21, §2º, IV, da Lei 8.666/199364.

Ainda, a retirada do instrumento convocatório formalizado no

documento de fl. 29 reflete que o ato foi realizado por pessoa falecida.

- DO PROCESSO LICITATÓRIO – CONVITE – N. 10/2013:

O processo licitatório n. 10/2013, modalidade convite, teve

novamente por objeto a “prestação de serviços na realização de rodeio para

as festividades comemorativas ao 26º aniversário de Água Fria de Goiás-

GO”65.

Do mesmo modo, o denunciado ROBERTO MÁRCIO exarou

solicitação66 para que o Prefeito Municipal autorizasse a contratação de

empresa especializada na realização de eventos, cujo objeto foi acima

especificado.

64 Diante da irregularidade apontada, o TCM-GO imputou multa ao denunciado JOÃO DE

DEUS, nos seguintes moldes:

65 Vide fls. 114/203.

66 Vide fl. 115.

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Após as justificativas da necessidade de abertura e do termo de

referência com o valor da contratação no valor de R$ 78.800,00 (setenta e oito

mil e oitocentos reais), o presidente da Comissão de Licitação, denunciado

FÁBIO BRAZ, expediu carta-convite para que as empresas GENERAL

BRAZ e TECNOBRASIL, MV Eventos Artísticos LTDA e Star Locação de

Serviços LTDA participassem do processo licitatório67.

No que se refere à empresa GENERAL BRAZ, relevante notar

que a carta-convite acima mencionada foi recebida e assinada pelo falecido

Heriberto Laurentino Dias, constando, inclusive, o carimbo da empresa

GENERAL BRAZ ao lado da assinatura do Sr. Heriberto, nos mesmos

moldes do processo licitatório anterior.

Já com relação à empresa TECNOBRASIL, importante tecer as

seguintes considerações:

1ª – A carta-convite fora retirada pelo representante da empresa,

o denunciado ALEXSANDRO:

67 Vide fls. 130/133.

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2ª – A empresa possuía sede no endereço localizado na Quadra

01, Lote 115, Sala 05, Setor Norte, Brazlândia, Brasília-DF, mesma cidade-

satélite de residência do denunciado FÁBIO BRAZ68;

3ª – Além disso, documento apresentado pelos Srs. Nilton,

Nilson e Francisco – vide doc. de fls. 07/08 – apontava o denunciado FÁBIO

BRAZ como sócio oculto da empresa, constando, inclusive, os seus números

telefônicos e e-mail para contato. Ressalta-se que o e-mail apontado na página

virtual da empresa TECNOBRASIL69 é de propriedade de FÁBIO BRAZ,

qual seja: [email protected]. Esse endereço de e-mail é o mesmo

fornecido por ele ao oficial de promotoria, Lázaro Barbosa de Barros, durante

diligência realizada em 25 de maio de 2018 (vide certidão de fl. 657)70;

4ª – Ademais, a empresa TECNOBRASIL encerrou suas

atividades no dia 14 de setembro de 2017, conforme distrato social

encaminhado pela Junta Comercial do Distrito Federal em 16 de maio de

201871. No documento, assinado pelos denunciados ALEXSANDRO e

GRAZIELLY, mais especificamente em sua cláusula quinta, constou que

ficaria a cargo do denunciado ALEXSANDRO a manutenção dos livros e

documentos da sociedade, podendo eles serem encontrados na Quadra 08,

Lote 03, Bairro Setor Mansões, Águas Lindas de Goiás, CEP: 72910-000;

68 Por meio do Cadastro Nacional de Pessoa Física da Receita Federal (fl. 629) constata-se que

o endereço do investigado FÁBIO BRAZ era na Quadra 19, n. 2, Apartamento 08, CEP:

72720-190, Brazlândia, Brasília-DF, ou seja, na mesma cidade-satélite da sede da empresa

TECNOBRASIL.

69 Vide fl. 08.

70 De igual modo, o denunciado FÁBIO BRAZ utilizou o e-mail [email protected] para

manter contato com a GOIÁS TURISMO, enquanto tratava de assuntos referentes aos

convênios firmados com o Município de Água Fria de Goiás-GO (fls. 835 e 1.014). Esse e-mail é

o mesmo disponibilizado pelo site da empresa TECNOBRASIL (fl. 08).

71 Vide fls. 677/678.

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5ª – Nessa mesma oportunidade, o denunciado FÁBIO BRAZ

também se mudou para Águas Lindas de Goiás e, inclusive, transferiu a sede

da empresa GENERAL BRAZ, de Água Fria de Goiás-GO, para Águas Lindas

de Goiás-GO, conforme certidão de fl. 657 e qualificação de termo de

declarações de fl. 697:

TERMO DE DECLARAÇÕES

AUTOS EXTRAJUDICIAIS N. 201400229044

NOME: FÁBIO BRAZ DE QUEIROZ

NACIONALIDADE: Brasileira

NATURALIDADE: Brasília-DF

DATA DE NASCIMENTO: 27-09-1963

RG n. 698.637 SSP/DF

CPF n. 297.246.941-00

ESTADO CIVIL: Divorciado

PROFISSÃO: Administrador de Empresas

ENDEREÇO: Rua 03, Quadra 09-A, Lote 33, Colonial Parque I,

Águas Lindas de Goiás (Residencial e empresarial).

TEL: (61) 999428971.

6ª – Se não bastasse, o denunciado ALEXSANDRO, sócio da

TECNOBRASIL, juntamente com a denunciada GRAZIELLY, é o mesmo

que figurava como sócio da empresa GENERAL BRAZ, ao lado do falecido

Heriberto72, antes da empresa ser transferida para o Sr. Firmino Braz de

Queiroz73, pai de FÁBIO BRAZ, tendo ALEXSANDRO se tornado sócio

dessa empresa em maio de 2012, ou seja, um ano antes do contrato com a

Prefeitura de Água Fria;

72 Vide documento de fls. 181/184 dos autos.

73 Vide documento de fls. 625/626 dos autos.

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7ª – Nota-se que o denunciado ALEXSANDRO é da mesma

cidade natal do falecido Heriberto, qual seja, Santo Antônio-RN74, e até os

documentos pessoais de ALEXSANDRO e Heriberto apresentados à

Comissão de Licitação foram autenticados no mesmo dia: 12 de novembro

de 200775, denotando que havia estreita relação entre eles;

8ª – Dessa forma, o denunciado ALEXSANDRO, revelando-se

próximo de FÁBIO BRAZ, presidente da Comissão de Licitação, figurou

como sócio de duas empresas que participaram do certame, que culminou com

a contratação da empresa GENERAL BRAZ, conforme ata de sessão de

julgamento76, termo de adjudicação77, termo de homologação78, nota de

empenho, no valor de R$ 20.150,00 (vinte mil cento e cinquenta reais)79, e

extrato de contrato80, assinado pelo denunciado LEONARDO.

Do mesmo modo que no processo anteriormente analisado, na

ATA DE JULGAMENTO DA SESSÃO (fls. 144 e 146 dos autos81) foram

inseridas informações falsas, porquanto consta a presença do “de cujus”

Heriberto na própria sessão de julgamento das propostas:

74 Vide documentos de fls. 185 e 198.

75 Vide documentos de fls. 185 e 198.

76 Vide documentos de fls. 144 e 146.

77 Vide documento de fl. 143

78 Vide documento de fl. 145

79 Vide documento de fl. 138.

80 Vide documento de fl. 141.

81 A documentação foi organizada e, inclusive, carimbada fora de ordem pela própria

Prefeitura de Água Fria, motivo pelo qual decidiu-se mantê-la dessa forma.

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A partir das fraudes apontadas foi firmada a contratação

consubstanciada no Contrato Administrativo n. 10/201382, no qual também

foram inseridas informações falsas, vez que assinado pelo Sr. Heriberto.

O empenho foi realizado em favor da empresa no valor de R$

20.150,00 (vinte mil cento e cinquenta reais)83, tendo sido o extrato de

contrato84 assinado pelo denunciado LEONARDO.

O TCM-GO, no Acórdão n. 07205/2018, corroborou as

irregularidades do processo licitatório, acrescentando que houve a expedição

de cartas-convites sem data de recebimento, bem como pagamento ilegal em

virtude da duplicidade parcial de objetos, razão pela qual imputou débito ao

denunciado JOÃO DE DEUS. Confira-se:

- DO PROCESSO ADMINISTRATIVO N. 61/2013:

O processo administrativo n. 61/201385 fora inaugurado para

viabilizar a contratação de show artístico com a dupla sertaneja GIAN &

GIOVANI, que se apresentaria nas festividades do 26º aniversário da cidade.

82 Vide fls. 820/821.

83 Vide fl. 138.

84 Vide fl. 141.

85 Vide fls. 204/221 dos autos.

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De acordo com o termo de referência86, assinado pelo

denunciado LEONARDO, então Secretário Municipal de Administração à

época, o show teria duração de 2 horas e custaria o valor de R$ 120.000,00

(cento e vinte mil reais).

Declarado inexigível o processo licitatório pelo denunciado

JOÃO DE DEUS87, no dia 01º de fevereiro de 2013, a empresa GENERAL

BRAZ, no mesmo dia, ofertou proposta para a realização do show com a dupla

GIAN & GIOVANI, no valor total de R$ 107.483,00 (cento e sete mil,

quatrocentos e oitenta e três reais)88, apresentando uma DECLARAÇÃO DE

EXCLUSIVIDADE, emitida pela empresa SUNSHINE PRODUÇÃO E

EVENTOS LTDA., transferindo a exclusividade da data do show musical, que

foi realizado no dia 15/06/2013, para a empresa GENERAL BRAZ, com a

consequente formalização contratual no mesmo dia 01º de fevereiro de 201389:

86 Vide fl. 208.

87 Vide fl. 209.

88 Vide fl. 210.

89 Vide fls. 218/221.

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Nesse passo, a investigação descortinou que a contratação dos

artistas, a partir da cessão de exclusividade, teve o condão de possibilitar, mais

uma vez, o desvio de verbas públicas, com a contratação sendo firmada por

empresa de fachada.

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- DO PROCESSO ADMINISTRATIVO N. 80/2013:

Este processo n. 80/201390, instaurado para a contratação da

dupla sertaneja JHONY & RAHONI, para as festividades do 26º Aniversário

da cidade de Água Fria-GO, resultou na contratação da empresa GENERAL

BRAZ, pela quantia de R$ 36.000,00 (trinta e seis mil reais), conforme

contrato administrativo91, para apresentação com data certa, qual seja,

14/06/2013, contando novamente com a assinatura do falecido Heriberto nos

documentos (proposta comercial e contrato administrativo).

Observa-se que a proposta comercial da empresa GENERAL

BRAZ foi oferecida ao Município no dia 12 de março de 2013, ou seja, antes

mesmo do ex-prefeito JOÃO DE DEUS declarar inexigível o processo

licitatório para a contratação da dupla JHONY & RAHONI, o que somente

ocorreu no dia 13 de março de 2013.

Do mesmo modo que no processo anterior, não há nos

documentos encaminhados pela prefeitura de Água Fria de Goiás-GO qualquer

demonstrativo indicando o valor efetivamente auferido pelos artistas.

Assim, foram inseridas informações falsas no Contrato

Administrativo n. 080/201392 celebrado pelo Município de Água Fria de Goiás

e pela empresa GENERAL BRAZ.

Consoante já descrito, o TCM-GO imputou débito ao

denunciado JOÃO DE DEUS, em razão da contratação, ora analisada.

Confira-se:

90 Vide fls. 222/241.

91 Vide fls. 228/231.

92 Vide fls. 228/230.

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- DO PROCESSO ADMINISTRATIVO N. 81/2013:

Este processo administrativo n. 81/201393, instaurado para a

contratação do show artístico gospel com o PADRE ALESSANDRO CAMPOS,

para as festividades do 26º Aniversário da cidade de Água Fria de Goiás-

GO, resultou na contratação da empresa GENERAL BRAZ, pela quantia de

R$ 30.000,00 (trinta mil reais), conforme contrato administrativo94, para

apresentação com data certa, qual seja, 10/06/2013, contando novamente com

a assinatura do falecido Heriberto nos documentos (proposta comercial e

contrato administrativo).

Observa-se, também, que a declaração de inexigibilidade de

licitação aconteceu no dia 22 de março de 2013, ou seja, no mesmo dia em que

a proposta comercial da empresa GENERAL BRAZ foi oferecida ao

Município, e no mesmo dia da assinatura do contrato administrativo. Assim,

todos os atos foram feitos em um único dia!

Do mesmo modo que no processo anterior, não há nos

documentos encaminhados pela prefeitura de Água Fria de Goiás-GO qualquer

demonstrativo indicando o valor efetivamente auferido pelos artistas. 93 Vide fls. 242/259.

94 Vide fls. 248/250.

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In casu, portanto, não há dúvida de que foram inseridas

informações falsas no Contrato Administrativo n. 81/2013, celebrado entre

Município de Água Fria de Goiás-GO e a empresa GENERAL BRAZ,

representada pelo Sr. Heriberto Laurentino Dias.

Neste caso, o TCM-GO também imputou débito ao denunciado

JOÃO DE DEUS, em razão da contratação, ora analisada. Confira-se:

- DO PROCESSO ADMINISTRATIVO N. 129/2013:

Este processo administrativo n. 129/201395, instaurado para a

contratação do show artístico com LEANDRO & RICARDO, RICARDO &

FABIANO e DIEGO VALADARES, para as festividades do 26º Aniversário da

cidade de Água Fria-GO, resultou na contratação da empresa GENERAL

BRAZ, pela quantia de R$ 32.000,00 (trinta e dois mil reais), consoante

contrato administrativo96, para apresentações com datas certas – 13/06/2013,

14/06/2013 e 16/06/2013 –, contando novamente com a assinatura do

falecido Heriberto nos documentos (proposta comercial e contrato

administrativo).

95 Vide fls. 260/286.

96 Vide fls. 262/264.

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Observa-se, do mesmo modo, que a declaração de inexigibilidade

de licitação aconteceu no dia 19 de maio de 2013, ou seja, um dia antes da

formalização de contrato administrativo com a empresa GENERAL BRAZ.

Ainda, não há nos documentos encaminhados pela prefeitura de

Água Fria qualquer demonstrativo indicando o valor efetivamente auferido

pelos artistas.

Assim, foram inseridas informações falsas no Contrato

Administrativo n. 129/201397, celebrado entre o Município de Água Fria de

Goiás-GO e a GENERAL BRAZ, representada pelo Sr. Heriberto Laurentino

Dias.

Consoante já descrito, o TCM-GO imputou débito ao denunciado

JOÃO DE DEUS, em razão da contratação, ora analisada. Confira-se:

- DO PROCESSO ADMINISTRATIVO – CONVITE - N. 06/2014:

No ano de 2014, a organização criminosa continuou com o

mesmo “modus operandi”, passando a agir, no entanto, por meio da empresa

TECNOBRASIL. 97 Vide fls. 262/264.

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Ocorreu, também, no início de 2014, a substituição da

presidência da Comissão de Licitação, com a saída de FÁBIO BRAZ e a

nomeação da denunciada SINTIA para exercer tal função98. Os demais

membros permaneceram os mesmos.

Cumpre salientar que FÁBIO BRAZ continuou a exercer cargo

comissionado no Município nessa época, permanecendo na função de

Secretário Municipal de Articulação Política até 01º de fevereiro de 201599.

No dia 22 de abril de 2014, após solicitação do denunciado

ROBERTO MÁRCIO, foi lançada a carta-convite n. 06/2014, com a

finalidade de contratar empresa para realização de rodeio para as festividades

comemorativas do 27º aniversário de Água Fria de Goiás-GO, entre os dias 12

e 15 de junho de 2014100.

O processo licitatório resultou na contratação das empresas MV

EVENTOS ARTÍSTICOS LTDA. (fls. 292/293) e TECNOBRASIL (fls.

295/296).

De acordo com o contrato administrativo de fls. 295/296, a

empresa TECNOBRASIL venceu a licitação para fornecer serviços técnicos

especializados na sonorização e montagem de iluminação, no valor total de R$

20.270,00 (vinte mil, duzentos e setenta reais).

Conforme já mencionado anteriormente, a empresa

TECNOBRASIL, atualmente inativa, estava registrada em nome do

denunciado ALEXSANDRO, ex-sócio da empresa GENERAZ BRAZ.

98 Vide fl. 286.

99 Vide fls. 709/715.

100 Vide fls. 378/383.

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Telefone/Fax: (61) 36373684 / 4536/7970

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44

FÁBIO BRAZ e ALEXSANDRO se uniram para a prática de

crimes de fraude à licitação e contra a Administração Pública, utilizando-se de

duas empresas para a consecução das ilicitudes, quais sejam GENERAL

BRAZ e TECNOBRASIL.

Durante todo o ano de 2013, os investigados utilizaram a

empresa GENERAL BRAZ para a prática dos crimes. Em 2014, foi a vez da

TECNOBRASIL entrar em cena, acarretando a formalização de inúmeros

contratos com o Município de Água Fria de Goiás-GO.

Dessa forma, a partir dos conchavos espúrios realizados entre os

denunciados FÁBIO BRAZ, ALEXSANDRO, JOÃO DE DEUS e os

membros da Comissão de Licitação, os denunciados SINTIA, MACIEL e

JOSÉ DOMINGOS, que contavam com o auxílio dos denunciados

ROBERTO MÁRCIO e LEONARDO, houve, de fato, a realização da

contratação direta da empresa, já que não existiu a realização de processo

licitatório destinado à escolha da melhor proposta para a Administração

Pública.

- DO PROCESSO ADMINISTRATIVO - CONVITE - N. 07/2014:

No dia 22 de abril de 2014, ou seja, no mesmo dia da licitação

anterior, também foi lançada a carta-convite n. 07/2014, com a finalidade de

contratar empresa para realização de rodeio para as festividades

comemorativas do 27º aniversário de Água Fria de Goiás-GO, entre os dias 12

e 15 de junho de 2014101.

O processo licitatório resultou na contratação das empresas

TOTAL EMPREENDIMENTOS LTDA. (fls. 395/397) e TECNOBRASIL (fls.

399/400).

101 Vide documento de fls. 486/491 dos autos.

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45

De acordo com o contrato administrativo102, a empresa

TECNOBRASIL venceu a licitação para fornecer serviços técnicos

especializados na montagem de palanque e tendas calhadas, no valor total de

R$ 20.440,00 (vinte mil, quatrocentos e quarenta reais).

Por oportuno, importante mencionar que as notas fiscais

emitidas pela TECNOBRASIL103 orientavam o Município de Água Fria de

Goiás-GO a transferir o dinheiro diretamente para a conta do investigado

ALEXSANDRO, pessoa física, revelando tratar-se de uma transação atípica.

Ademais, observando-se as transferências eletrônicas bancárias

realizadas diretamente para a conta do denunciado ALEXSANDRO,

constata-se que, em uma das transferências, há uma divergência entre o valor

da nota fiscal e o montante depositado pelo Município, cuja autorização da

transação foi feita por meio dos denunciados JOÃO DE DEUS e ROBERTO

MÁRCIO104.

De se notar que tais indicativos de fraude foram corroborados

quando da deflagração da denominada Operação Show de Horrores, no dia 20

de fevereiro de 2019, pois o denunciado JOSÉ DOMINGOS foi categórico ao

afirmar que não participou de qualquer licitação envolvendo a realização de

shows no ano de 2014, muito embora sua assinatura tenha constado nas atas

de julgamento.

102 Vide fls. 399/400.

103 Vide fls. 198/499.

104 Vide fls. 498 e 501.

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- DO PROCESSO ADMINISTRATIVO N. 92/2014:

Este processo administrativo n. 92/2014105 fora inaugurado para

viabilizar a contratação de show artístico, com a dupla sertaneja MILIONÁRIO

& JOSÉ RICO, que se apresentaria nas festividades do 27º aniversário da

cidade.

De acordo com o termo de referência106 assinado pelo

denunciado LEONARDO, então Secretário Municipal de Administração à

época, o show teria duração de 2 horas e custaria a quantia de R$ 150.000,00

(cento e cinquenta mil reais).

Declarado inexigível o procedimento licitatório pelo denunciado

JOÃO DE DEUS107, no dia 05 de março de 2014, a empresa

TECNOBRASIL, um dia após a declaração de inexigibilidade, ofertou

proposta para a realização do show com a dupla no valor total de R$

150.000,00 (cento e cinquenta mil reais)108, apresentando uma DECLARAÇÃO

DE EXCLUSIVIDADE109, emitida pelo Sr. ANDRÉ RENATO MARTINS,

transferindo a exclusividade da data do show musical da dupla MILIONÁRIO

& JOSÉ RICO, que foi realizado no dia 14/06/2014, para a empresa

TECNOBRASIL, de propriedade dos denunciados ALEXSANDRO e

FÁBIO BRAZ, com a consequente formalização contratual no mesmo dia 06

de março de 2014110.

Dessa forma, mediante inexigibilidade de licitação absolutamente

ilegal, foi realizada a contratação da dupla MILIONÁRIO & JOSÉ RICO, por

meio da empresa TECNOBRASIL.

105 Vide fls. 506/540.

106 Vide fl. 511.

107 Vide fl. 510.

108 Vide fls. 518/519.

109 Vide fl. 517.

110 Vide fls. 512/515.

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- DO PROCESSO ADMINISTRATIVO N. 93/2014:

Este processo administrativo n. 93/2014111 fora inaugurado para

viabilizar a contratação de show artístico com a dupla sertaneja ANDRÉ &

ANDRADE, que se apresentaria nas festividades do 27º aniversário da cidade.

De acordo com o termo de referência112 assinado pelo denunciado

LEONARDO, então Secretário Municipal de Administração à época, o show

teria duração de 2 horas e custaria o valor de R$ 70.000,00 (setenta mil reais).

Declarado inexigível o processo licitatório pelo investigado

JOÃO DE DEUS113, no dia 05 de março de 2014, a empresa

TECNOBRASIL, no mesmo dia da declaração de inexigibilidade, ofertou

proposta para a realização do show com a dupla no valor total de R$

68.000,00 (sessenta e oito mil reais)114, apresentando uma DECLARAÇÃO DE

EXCLUSIVIDADE115, emitida pelo Sr. JOSÉ DE FREITAS MACHADO,

transferindo a exclusividade da data do show musical da dupla ANDRÉ &

ANDRADE, que foi realizado no dia 13/06/2014, para a empresa

TECNOBRASIL, de propriedade dos denunciados ALEXSANDRO e

FÁBIO BRAZ, com a consequente formalização contratual no dia 06 de

março de 2014116.

Dessa forma, mediante inexigibilidade de licitação absolutamente

ilegal, foi realizada a contratação da dupla ANDRÉ & ANDRADE, por meio da

empresa TECNOBRASIL.

111 Vide fls. 541/586.

112 Vide fl. 545.

113 Vide fl. 510.

114 Vide fls. 554/555.

115 Vide fl. 552.

116 Vide fls. 547/550. Atente-se, Excelência, que o investigado FÁBIO figura como testemunha

nesse contrato administrativo (fl. 550).

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- DO PROCESSO ADMINISTRATIVO N. 94/2014:

Por fim, fora realizado o processo administrativo n. 94/2014117,

instaurado para viabilizar a contratação de show artístico com a dupla

sertaneja BONI & BELUCO, que se apresentaria nas festividades do 27º

aniversário da cidade.

De acordo com o termo de referência118 assinado pelo denunciado

LEONARDO, então Secretário Municipal de Administração à época, o show

teria duração de 2 horas e custaria o valor de R$ 40.000,00 (quarenta mil

reais).

Declarado inexigível o procedimento licitatório pelo denunciado

JOÃO DE DEUS119, no dia 05 de março de 2014, a empresa

TECNOBRASIL, no mesmo dia após a declaração de inexigibilidade, ofertou

proposta para a realização do show com a dupla no valor total de R$

32.000,00 (trinta e dois mil reais)120, com a consequente formalização

contratual no dia 06 de março de 2014121.

Dessa forma, mediante inexigibilidade de licitação absolutamente

ilegal, foi realizada a contratação da dupla BONI & BELUCO, por meio da

empresa TECNOBRASIL.

117 Vide documentos de fls. 587/619 dos autos.

118 Vide fl. 590.

119 Vide fl. 619.

120 Vide fl. 596.

121 Vide fls. 591/594. Atente-se, novamente Excelência, que o denunciado FÁBIO figura como

testemunha nesse contrato administrativo (fl. 594).

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- DOS VALORES PAGOS PELO MUNICÍPIO DE ÁGUA FRIA DE

GOIÁS-GO ÀS EMPRESAS UTILIZADAS PELA ORGANIZAÇÃO

CRIMINOSA

Consoante se observa dos extratos bancários juntados aos

autos122, a empresa GENERAL BRAZ, no ano de 2013, foi beneficiária de

11 (onze) transferências bancárias realizadas da conta da Prefeitura Municipal

de Água Fria de Goiás, perfazendo o valor atualizado de R$ 263.027,96

(duzentos e sessenta e três mil, vinte e sete reais e noventa e seis

centavos)123.

A empresa TECNOBRASIL124, por sua vez, foi beneficiária, no

ano de 2014, da quantia atualizada de R$ 325.891,14 (trezentos e vinte e

cinco mil, oitocentos e noventa e um reais e quatorze centavos)125,

por meio de 14 transferências bancárias realizadas da conta da Prefeitura

Municipal de Água Fria de Goiás para a conta do denunciado

ALEXSANDRO, sócio da aludida empresa.

IV- CONCLUSÃO

Diante de todo o exposto o MINISTÉRIO PÚBLICO DO

ESTADO DE GOIÁS denuncia:

1) JOÃO DE DEUS SILVA CARVALHO pela prática do crime

de organização criminosa, previsto no art. 2º, § 4º, II da Lei 12.850/2013, bem

como pela prática do crime de fraude à licitação, previsto no art. 90, “caput”,

da Lei 8.666/93, por quatro vezes, na forma do art. 71 do Código Penal;

inexigibilidade de licitação, previsto no art. 89, “caput”, da Lei 8.666/93, por

122 Vide fls. 1.732/1741.

123 Vide fls. 1.777/1.787.

124 Vide fls. 1.743/1756.

125 Vide fls. 1.788/1.801.

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50

sete vezes, na forma do art. 71 do Código Penal; falsidade ideológica, previsto

no art. 299, parágrafo único, do Código Penal, por seis vezes, na forma do art.

71 do Código Penal; e artigo 1º, inciso I, do Decreto-Lei nº 201, de 27 de

fevereiro de 1967, por onze vezes, na forma do art. 71 do Código Penal, sendo

todos na forma dos arts. 29 e 69 do Código Penal;

2) LEONARDO ANDRÉ AMORIM MACHADO GOMES

pela prática do crime de organização criminosa, previsto no art. 2º, § 4º, II da

Lei 12.850/2013, bem como pela prática do crime de fraude à licitação,

previsto no art. 90, “caput”, da Lei 8.666/93, por quatro vezes, na forma do

art. 71 do Código Penal, sendo todos na forma dos arts. 29 e 69 do Código

Penal;

3) ROBERTO MÁRCIO MORAIS DE CASTRO pela prática

do crime de organização criminosa, previsto no art. 2º, § 4º, II da Lei

12.850/2013, bem como pela prática do crime de fraude à licitação, previsto no

art. 90, “caput”, da Lei 8.666/93, por quatro vezes, na forma do art. 71 do

Código Penal, sendo todos na forma dos arts. 29 e 69 do Código Penal;

4) FÁBIO BRAZ DE QUEIROZ pela prática do crime de

organização criminosa, previsto no art. 2º, § 4º, II da Lei 12.850/2013, bem

como pela prática dos crimes de fraude à licitação, previsto no art. 90, “caput”,

da Lei 8.666/93, por quatro vezes, na forma do art. 71 do Código Penal;

inexigibilidade de licitação, previsto no art. 89, parágrafo único, da Lei

8.666/93, por sete vezes, na forma do art. 71 do Código Penal; falsidade

ideológica, previsto no art. 299, parágrafo único, do Código Penal, por oito

vezes, na forma do art. 71 do Código Penal; e artigo 1º, inciso I, do Decreto-Lei

nº 201, de 27 de fevereiro de 1967, por onze vezes, sendo todos na forma dos

arts. 29 e 69 do Código Penal;

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5) MACIEL MORAES DE CASTRO pela prática do crime de

organização criminosa, previsto no art. 2º, § 4º, II da Lei 12.850/2013, bem

como pela prática do crime de fraude à licitação, previsto no art. 90, “caput”,

da Lei 8.666/93, por quatro vezes, na forma do art. 71 do Código Penal; e

falsidade ideológica previsto no art. 299, parágrafo único, do Código Penal, por

duas vezes, na forma do art. 71 do Código Penal, sendo todos na forma dos

arts. 29 e 69 do Código Penal;

6) JOSÉ DOMINGOS GOMES DE OLIVEIRA pela prática

do crime de organização criminosa, previsto no art. 2º, § 4º, II da Lei

12.850/2013, bem como pela prática do crime de fraude à licitação, previsto no

art. 90, “caput”, da Lei 8.666/93, por quatro vezes, na forma do art. 71 do

Código Penal; e falsidade ideológica previsto no art. 299, parágrafo único, do

Código Penal, por duas vezes, na forma do art. 71 do Código Penal, sendo todos

na forma dos arts. 29 e 69 do Código Penal;

7) ALEXSANDRO JOSÉ DE OLIVEIRA pela prática do

crime de organização criminosa, previsto no art. 2º, § 4º, II da Lei

12.850/2013, bem como pela prática dos crimes de fraude à licitação, previsto

no art. 90, “caput”, da Lei 8.666/93, por duas vezes, na forma do art. 71 do

Código Penal; inexigibilidade de licitação, previsto no art. 89, parágrafo único,

da Lei 8.666/93, por três vezes, na forma do art. 71 do Código Penal; e artigo

1º, inciso I, do Decreto-Lei nº 201, de 27 de fevereiro de 1967, por cinco vezes,

na forma do art. 71 do Código Penal, sendo todos na forma dos arts. 29 e 69 do

Código Penal;

8) GRAZIELLY PEREIRA BARBOSA pela prática do crime

de fraude à licitação, previsto no art. art. 90, “caput”, da Lei 8.666/93, por

duas vezes, na forma dos arts. 29 e 69 do Código Penal;

4ª Promotoria de Justiça da Comarca de Planaltina

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9) SINTIA MARIA GONÇALVES pela prática do crime de

organização criminosa, previsto no art. 2º, § 4º, II da Lei 12.850/2013, bem

como pela prática do crime de fraude à licitação, previsto no art. 90, “caput”,

da Lei 8.666/93, por duas vezes, na forma do art. 71 do Código Penal, sendo

todos na forma dos arts. 29 e 69 do Código Penal.

Desse modo, REQUER o MINISTÉRIO PÚBLICO:

a) O recebimento desta denúncia, a citação dos denunciados para

responderem à acusação e sua posterior intimação para audiência, de modo a

serem processados no rito comum ordinário (art. 394, § 1º, I, do CPP), até final

condenação, na hipótese de ser confirmada a imputação, nas penas da

capitulação;

b) O arbitramento de valor mínimo de reparação dos danos

causados pelas infrações a título de danos materiais, que perfaz a quantia

atualizada de R$ 588.919,10 (quinhentos e oitenta e oito mil,

novecentos e dezenove reais e dez centavos), bem como a título de

danos morais coletivos, a ser arbitrado com base no prudente critério do

Magistrado, fundamentando-se o referido pedido no art. 387, “caput”, e IV, do

CPP.

Rol de testemunhas:

1. Lindomar Pimenta Pires, qualificado à fl. 1.320 dos autos.

Planaltina-GO, 20 de março de 2019.

RAFAEL SIMONETTI BUENO DA SILVA

Promotor de Justiça

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA

CRIMINAL DA COMARCA DE PLANALTINA – GO

Denunciados: JOÃO DE DEUS SILVA CARVALHO, LEONARDO ANDRÉ

AMORIM MACHADO GOMES, ROBERTO MÁRCIO MORAIS DE CASTRO, FÁBIO

BRAZ DE QUEIROZ, MACIEL MORAES DE CASTRO, JOSÉ DOMINGOS GOMES

DE OLIVEIRA, ALEXSANDRO JOSÉ DE OLIVEIRA, GRAZIELLY PEREIRA

BARBOSA e SINTIA MARIA GONÇALVES.

COTA DE OFERECIMENTO DA DENÚNCIA

MM(a). Juiz(a),

1) O Ministério Público do Estado de Goiás oferece

DENÚNCIA, em 52 (cinquenta e duas) laudas impressas e assinadas, em

desfavor de JOÃO DE DEUS SILVA CARVALHO, LEONARDO ANDRÉ

AMORIM MACHADO GOMES, ROBERTO MÁRCIO MORAIS DE

CASTRO, FÁBIO BRAZ DE QUEIROZ, MACIEL MORAES DE

CASTRO, JOSÉ DOMINGOS GOMES DE OLIVEIRA, ALEXSANDRO

JOSÉ DE OLIVEIRA, GRAZIELLY PEREIRA BARBOSA e SINTIA

MARIA GONÇALVES, requerendo, nesta oportunidade:

2) Como providência preliminar, que sejam juntadas aos

autos certidões circunstanciadas atualizadas do que constar criminalmente

contra os denunciados, emitidas pelo Instituto Nacional de Identificação –

INI, bem como pelo distribuidor local;

3) A inaplicabilidade da regra estabelecida no art. 2º, I, do

Decreto-Lei n. 201/67:

Como se sabe, alguns procedimentos especiais preveem a

oportunidade de a defesa se manifestar anteriormente ao recebimento da

denúncia, a exemplo dos crimes de responsabilidades dos funcionários

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públicos (artigo 514 do Código de Processo Penal) e nos crimes de

responsabilidade dos Prefeitos (Decreto-Lei 201/67), este objeto da presente

denúncia.

Em que pese a existência de tais previsões normativas, a

jurisprudência entende que a fase de defesa prévia pode ser dispensada,

quando a ação penal for precedida de investigação preliminar, vez que tais

normas visam evitar a instauração de lides desprovidas de lastro indiciário

mínimo.

A presente denúncia, conforme demonstrado, está embasada e

apoiada no procedimento nº 201400229044 (Portaria n. 27/2014), instaurado

no dia 09 de dezembro de 2014, nesta 4ª Promotoria de Justiça, circunstância

que dispensa a notificação prévia, antes do juízo de admissibilidade da

acusação.

Nesse sentido, é o entendimento preconizado pelo Superior

Tribunal de Justiça em sua Súmula nº 330126, ao tratar da resposta

preliminar do artigo 514 do CPP, entendimento que se aplica por analogia ao

procedimento investigatório a cargo do Ministério Público, afastando a

necessidade de apresentação da defesa.

O Supremo Tribunal Federal, analisando a questão, posicionou-

se pela ausência de nulidade em virtude do desatendimento da fase prevista no

artigo 2º, I, do Decreto Lei 201/67, nos casos em que exista investigação prévia

a dar supedâneo ao oferecimento da denúncia, nos termos do voto da Relatora

Ministra Rosa Weber, no bojo da AP 947/MT127.

Vale a transcrição de excerto do voto, confira-se:

126 “É desnecessária a resposta preliminar de que trata o artigo 514 do Código de Processo

Penal, na ação penal instruída por inquérito policial”.

127 http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=311807557&ext=.pdf

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“Apesar de os precedentes tratarem da fase prevista no art. 514

do CPP, e inexistirem precedentes específicos quanto à

supressão da defesa prévia em questão (artigo 2º, I, do DL 201/67),

identifico analogia entre as situações, pois (i) ambas as defesas são

preliminares ao recebimento da denúncia, (ii) estão previstas em

procedimentos especiais e (iii) possuem a mesma razão de ser. A

fortiori, não há nulidade pelo desatendimento da fase prevista no

artigo 2º, I, do DL 201/67 (i) desde que existente investigação

prévia a fornecer substrato mínimo ao oferecimento da denúncia e (ii)

se não demonstrado o prejuízo pelo interessado”.

4) A DECRETAÇÃO da prisão preventiva dos denunciados

ALEXSANDRO e GRAZIELA.

No dia 20 de fevereiro de 2019, por ocasião da deflagração da

denominada Operação Show de Horrores, não se obteve êxito no

cumprimento dos mandados de prisão temporária expedidos em desfavor dos

denunciados ALEXSANDRO e GRAZIELLY, vez que eles não foram

localizados.

Diante da gravidade concreta dos fatos que lhes são atribuídos,

bem como para a aplicação da Lei Penal, observa-se a necessidade da

decretação de suas prisões preventivas, pelas razões que se passa a expor:

Conforme já detidamente analisado, o denunciado

ALEXSANDRO teve suas empresas TECNOBRASIL e GENERAL BRAZ

beneficiadas pelos esquemas ilícitos desbaratados. No ano de 2013, o

denunciado figurou como sócio da empresa GENERAL BRAZ, juntamente

com Heriberto Laurentino Dias, pessoa falecida no ano de 2011, ou seja, em

momento anterior às contratações, sendo que no ano de 2014 figurou como

sócio da empresa TECNOBRASIL, juntamente com a denunciada

GRAZIELLY, tendo firmado diversos contratos com o Município de Água

Fria de Goiás.

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No tocante à prisão preventiva, o arcabouço processual penal

estabelece três requisitos para seu deferimento, por ser medida excepcional,

conforme o escólio do professor Guilherme de Souza Nucci, que apregoa:

prova da existência do crime (materialidade), indício suficiente de autoria,

uma das situações descrias no art. 312 do CPP, a saber: a) garantia da ordem

pública; b) garantia da ordem econômica; c) conveniência da instrução

criminal; d) garantia da aplicação da lei penal128.

O denunciado ALEXSANDRO, num primeiro momento,

integrou a organização criminosa para que sua empresa GENERAL BRAZ,

empresa de fachada, celebrasse seis contratos administrativos com o

Município de Água Fria de Goiás-GO, possibilitando o desvio de verbas

públicas.

Num segundo momento, os denunciados ALEXSANDRO e

GRAZIELLY eram os responsáveis pela empresa TECNOBRASIL, que, por

meio de fraude a cinco processos administrativos, obteve benefícios

decorrentes de fraudes para que se apropriassem de dinheiro público.

Como visto, a materialidade dos crimes perpetrados e os indícios

suficientes de sua autoria delitiva quanto aos denunciados ALEXSANDRO e

GRAZIELLY podem ser observadas por meio da farta prova documental, que

levou à deflagração da denominada Operação Show de Horrores, no dia 20 de

fevereiro de 2019.

Ademais, hipóteses de cabimento da prisão preventiva se aplicam

à espécie, porquanto as prisões preventivas, ora requeridas, se perfazem na

necessidade de se garantir e ordem pública e para a aplicação da lei

penal, vez que os denunciados demonstraram ser pessoas propensas à prática

criminosa, estando, além disso, foragidos. 128 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 6. ed. ver., atual.

e ampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2010. p. 601.

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Tem-se que os denunciados buscam evitar a atuação da

Justiça. Por oportuno, vale a transcrição de julgado do Superior Tribunal de

Justiça no sentido de que, devidamente fundamentada, a prisão preventiva se

justifica para aplicação da lei penal, mesmo quando o investigado ostenta boas

condições pessoais. Confira-se:

HABEAS CORPUS. SUBSTITUIÇÃO AO RECURSO ORDINÁRIO.

IMPOSSIBILIDADE. HOMICÍDIO QUALIFICADO. MOTIVO TORPE.

RECURSO QUE DIFICULTOU DEFESA DA VÍTIMA. PRISÃO

PREVENTIVA DECRETADA QUANDO DO RECEBIMENTO DA

DENÚNCIA. NULIDADE DA CITAÇÃO. ADVOGADO CONSTITUÍDO

NOS AUTOS. IRREGULARIDADE SUPERADA. CUSTÓDIA

FUNDADA NO ART. 312 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.

NECESSIDADE DE ASSEGURAR A APLICAÇÃO DA LEI PENAL E

PARA A GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. EVASÃO DO DISTRITO

DA CULPA. GRAVIDADE DIFERENCIADA DA CONDUTA.

SEGREGAÇÃO FUNDAMENTADA E NECESSÁRIA. CONDIÇÕES

PESSOAIS FAVORÁVEIS. IRRELEVÂNCIA. MEDIDAS

CAUTELARES ALTERNATIVAS. INSUFICIÊNCIA E

INADEQUAÇÃO. COAÇÃO ILEGAL NÃO EVIDENCIADA. WRIT

NÃO CONHECIDO.

(...)

3. Não há que se falar em constrangimento ilegal quando a prisão

preventiva está fundamentada nos termos do art. 312 do Código de

Processo Penal, notadamente para assegurar a aplicação da lei penal e

para a garantia da ordem pública.

4. A evasão do distrito da culpa para outra cidade é

fundamento suficiente a embasar a manutenção da custódia

preventiva, que se revela imprescindível para o fim de se

assegurar o cumprimento de eventual condenação, pois

nítida a intenção do réu de evitar a ação da Justiça.

(...)

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58

6. Condições pessoais favoráveis não têm o condão de

revogar a prisão cautelar, se há nos autos elementos

suficientes a demonstrar a sua necessidade.

7. Indevida a aplicação de medidas cautelares diversas da prisão

quando a segregação encontra-se justificada e mostra-se

imprescindível para acautelar o meio social da reprodução de fatos

criminosos.

8. Habeas corpus não conhecido. (STJ - HC: 444888 SP

2018/0081884-2, Relator: Ministro JORGE MUSSI, Data de

Julgamento: 07/08/2018, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação:

DJe 15/08/2018) – Destacou-se.

5) A MANUTENÇÃO da prisão preventiva dos denunciados

JOÃO DE DEUS e FÁBIO BRAZ.

Após a deflagração da denominada Operação Show de Horrores,

confirmou-se que o denunciado JOÃO DE DEUS liderava organização

criminosa instalada no seio do Município de Água Fria de Goiás-GO, para o

desvio de verbas públicas, sendo que, para atingir tal finalidade, contava com o

imprescindível auxílio do denunciado FÁBIO BRAZ.

Como visto, por meio de fraudes praticadas em onze processos

administrativos para a contratação de serviços para as comemorações festivas

aos 26º e 27º aniversários da cidade de Água Fria de Goiás-GO, tais

denunciados praticaram os crimes de fraude à licitação, inexigibilidade de

licitação, falsidade ideológica e desvio de rendas públicas (Art.1º do DL

201/67).

É de se espantar a gravidade das condutas dos denunciados que

se valeram do nome do Sr. Heriberto Laurentino Dias, pessoa falecida no ano

de 2011, para celebrar contratos administrativos a partir de uma empresa de

fachada, GENERAL BRAZ, tão somente para garantir o sucesso no desvio de

dinheiro público.

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A aludida empresa que, de fato, não existia, se sagrou vencedora

dos CONVITES n. 009/2013 e 010/2013, sendo a segunda contratação

declarada ilegal pelo Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de Goiás

(TCM-GO). Além disso, apurou-se que, nos processos administrativos de

inexigibilidade de licitação para a contratação de artistas que realizariam

shows nas festas, não foram observadas as normas previstas na Lei de

Licitações, já que se tratavam de contratações realizadas após escolha do

denunciado JOÃO DE DEUS.

Restou da investigação que as negociações entre os artistas e o

Município eram realizadas pelos denunciados JOÃO DE DEUS, a quem cabia

realizar a escolha, e FÁBIO BRAZ, que efetuava o pagamento, sendo que eles

se valiam da empresa GENERAL BRAZ, sob pretexto de que ela tinha

exclusividade com os artistas contratados. Nesse sentido foram as declarações

feitas pelas testemunhas Lindomar Pimenta Pires e Alessandro Correa de

Campos129.

Ademais, em relação ao denunciado JOÃO DE DEUS, constata-

se dedicação profissional ao crime, já que é réu em outro processo130, por

associação criminosa, peculato e falsificação de documentos referentes a fatos

que ocorreram no Município de Água Fria de Goiás-GO, entre os anos de 2012

e 2013, período em que era prefeito da cidade.

Constatada a gravidade das fraudes praticadas, bem como a

possibilidade de reiteração em condutas criminosas, conclui-se pela presença

de risco concreto à ordem pública, caso o denunciado JOÃO DE DEUS seja

colocado em liberdade.

129 Confira-se Termo de Declarações de Lindomar Pimenta Pires, juntado às fls. 1.320/1.322

dos autos, e também resposta encaminhada por Alessandro Correa de Campos, juntada às fls.

1.770/1.771. 130 Autos n. 201800255440 – 2ª Vara Criminal de Planaltina.

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60

No que diz respeito ao denunciado FÁBIO BRAZ, observa-se

que ele, durante a investigação criminal, buscou atuar embaraçando os

trabalhos do Ministério Público na apuração dos fatos.

Ao que se apurou, a empresa GENERAZ BRAZ foi transferida

para o Sr. Firmino Braz de Queiroz, pai do denunciado FÁBIO BRAZ,

conforme consulta realizada no site da Receita Federal no dia 23 de agosto de

2018 (fls. 625/626).

Ocorre que, a partir de nova consulta ao site da Receita Federal,

realizada no dia 13 de dezembro de 2018, verificou-se que o Sr. Firmino Braz

de Queiroz transferiu a propriedade da empresa para o investigado FÁBIO

BRAZ.

Como visto, FÁBIO BRAZ era servidor público da Prefeitura de

Água Fria, exercendo cumulativamente o cargo de Secretário Municipal de

Articulação Política, além da função de presidente da Comissão de Licitação,

julgando propostas ofertadas pelas suas próprias empresas GENERAZ BRAZ

e TECNOBRASIL.

Restou da investigação, ademais, ter sido a sua participação na

organização criminosa de fundamental importância para a consecução de

todas as fraudes desbaratadas, além de ter realizado os pagamentos

supostamente feitos pela empresa GENERAL BRAZ aos artistas contratados,

entregando valores menores do que aqueles que foram declarados pela

empresa de fachada.

Demonstrou-se que FÁBIO BRAZ agiu com afinco por mais de

2 anos para que as suas empresas formalizassem contratos de apresentação

artística com o Município de Água Fria, mediante inexigibilidade de licitação,

visando desviar recursos da Prefeitura.

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61

Por ocasião de seu depoimento em decorrência da Operação

Show de Horrores, FÁBIO BRAZ continuou negando os fatos, chegando a

afirmar ter o Sr. Heriberto, falecido em agosto de 2011, participado das sessões

de julgamento ocorridas nos anos de 2013 e 2014. Assim, não há dúvida de que

sua personalidade é propensa a condutas reprováveis, o que coloca em risco a

ordem pública, acentuado pela possibilidade de reiteração criminosa.

Consoante o escólio do Professor Renato Brasileiro de Lima, a

prisão preventiva para garantia da ordem pública firma-se num juízo de

periculosidade do agente, que, caso positivo, justifica a necessidade de sua

retirada cautelar do convívio social131.

Nesse mesmo sentido é o entendimento há muito sufragado pelo

Supremo Tribunal Federal: “É da jurisprudência da Corte o entendimento

segundo o qual, "quando da maneira de execução do delito sobressair a

extrema periculosidade do agente, abre-se ao decreto de prisão a possibilidade

de estabelecer um vínculo funcional entre o modus operandi do suposto crime

e a garantia da ordem pública" (HC nº 97.688/MG, Primeira Turma, Relator o

Ministro Ayres Britto, DJe de 27/11/09). 3. Habeas corpus denegado. (HC

102083, Relator (a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em

25/05/2010, DJe-164 DIVULG 02-09-2010 PUBLIC 03-09-2010 EMENT

VOL-02413-03 PP-00597).

No mesmo sentido:

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. ORGANIZAÇÃO

CRIMINOSA, LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIME CONTRA

ECONOMIA POPULAR. PRISÃO PREVENTIVA. PREENCHIMENTO

DOS REQUISITOS. GRAVIDADE CONCRETA DO DELITO.

NECESSIDADE DE GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA.

131 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 5. Ed. ver., ampl. e

atual – Salvador: Ed. JusPodivm, 2017. p. 965.

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ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA VOLTADA PARA A LAVAGEM DE

DINHEIRO ORIUNDO DE ROUBOS E TRÁFICO ILÍCITO DE

ENTORPECENTES. NECESSIDADE DE INTERROMPER AS

ATIVIDADES DO GRUPO. CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS.

IRRELEVÂNCIA. EXTENSÃO DE BENEFÍCIO CONCEDIDO ÀS

CORRÉS. IMPOSSIBILIDADE. SITUAÇÃO FÁTICO-PROCESSUAL

DISTINTA RECURSO IMPROVIDO.

[...]

2. Mostra-se fundamentada a prisão como forma de garantir a ordem

pública em caso no qual se constata a existência de organização

criminosa destinada a lavagem de dinheiro oriundo de delitos graves,

como roubos e tráfico de entorpecentes, e estruturada com nítida

divisão de tarefas, mormente pelo fato de que as atividades ilícitas

permaneceram mesmo após a prisão de um de seus líderes (Tiago

Gonçalves, companheiro da ora recorrente), evidenciando o alto risco

de reiteração delitiva e a necessidade de desestruturar a organização

criminosa a fim de interromper a atividade ilícita.

3. A jurisprudência desta Corte é assente no sentido de que se justifica

a decretação de prisão de membros de organização criminosa como

forma de interromper as atividades do grupo. [...] 8. Recurso ordinário

improvido. (RHC 83.321/RS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA

FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 22/08/2017, DJe

01/09/2017).

Além disso, há o risco concreto de que em liberdade o

denunciado FÁBIO BRAZ haja de modo a interferir no andamento da

investigação e da ação penal que lhe será movida, seja ocultando outras provas,

seja produzindo documentos falsos ou manipulando testemunhas. Não se

pode, diante do comportamento pretérito verificado, correr novos riscos.

A presunção de inocência, mesmo sendo princípio cardeal em

processo penal do Estado de Direito, não serve de abrigo para a ação de

investigados que ocultam ou destroem provas.

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Nesse passo, a manutenção da prisão preventiva dos denunciados

justifica-se para a garantia da ordem pública em relação ao denunciado JOÃO

DE DEUS, bem como em relação ao denunciado FÁBIO BRAZ, para a

garantia da ordem pública e para conveniência da instrução criminal.

6) A suspensão/proibição do exercício de função pública

pelos denunciados ROBERTO MÁRCIO MORAIS DE CASTRO,

LEONARDO ANDRÉ AMORIM MACHADO GOMES, MACIEL

MORAES DE CASTRO e SINTIA MARIA GONÇALVES.

Como visto, os denunciados, à época dos fatos, concorreram, de

maneira direta, para que processos licitatórios, na modalidade convite, fossem

fraudados, quais sejam, PROCESSOS ADMINISTRATIVOS números

09/2013, 10/2013, 06/2014 e 07/2014, bem como auxiliaram em

processos de inexigibilidade de licitação.

De se notar que o denunciado ROBERTO MÁRCIO, e o

denunciado LEONARDO já respondem a processo criminal132 por associação

criminosa, peculato e falsificação de documentos, referentes a fatos que

ocorreram no Município de Água Fria de Goiás-GO, entre os anos de 2012 e

2013.

O denunciado MACIEL exerce o cargo efetivo de motorista do

no município de Água Fria de Goiás-GO, ao passo que a denunciada SINTIA

ocupa o cargo comissionado de Diretora de Captação de Recursos junto ao

Município de Planaltina-GO133, sendo necessária a decretação do afastamento

de suas funções públicas.

132 Autos n. 201800255440 – 2ª Vara Criminal de Planaltina.

133 Vide Decreto Nº 654, de 27 de novembro de 2018, juntado à fl. 1.776.

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Isso porque os denunciados demonstraram atuar em

descompasso com padrões éticos mínimos, especialmente dos servidores

públicos, que devem ostentar conduta proba, compatível com os princípios

mais comezinhos à Administração Pública e, por consequência, à República.

O vigente arcabouço processual penal prevê a possibilidade de

decretação de medidas cautelares diversas da prisão em qualquer fase da

persecução penal134, como alternativa à segregação provisória que apenas

deverá ser decretada quando a permanência do indivíduo em liberdade obstar

a devida prestação jurisdicional.

Dentre as medidas cautelares, há a expressa previsão da

suspensão do exercício de função pública, como se observa:

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:

VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de

natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua

utilização para a prática de infrações penais;

A necessidade da decretação de tal medida cautelar se assenta na

possibilidade de reiteração delituosa, vez que os denunciados praticaram

condutas criminosas valendo-se do cargo para tanto.

Em relação a todos os denunciados não há dúvida de que o

exercício da função pública acentua sobremaneira a possibilidade de reiteração

delituosa, na exata medida em que as práticas delitivas narradas ocorreram

como decorrência das atribuições que lhes propiciavam seus cargos, sendo

134 Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-

se a: § 2o As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de ofício ou a requerimento das

partes ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial

ou mediante requerimento do Ministério Público.

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certo que encontrarão meios para, mais uma vez, ofender bens jurídicos caros

à Administração Pública.

Portanto, presentes estão os requisitos para o deferimento de

medida liminar, quais sejam, o fumus commissi delicti e periculum libertatis,

porque a função desempenhada pelos denunciados guarda relação com os

fatos pelos quais estão sendo processados, bem como pelo fato de que, caso

sejam mantidos no exercício da função, poderão reiterar em prática delituosa.

Aliás, nesse sentido é o entendimento do Superior Tribunal de

Justiça que autoriza o afastamento cautelar da função pública, quando há

possibilidade de reiteração da conduta delituosa:

HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.

QUADRILHA, PECULATO, PECULATO POR ERRO DE OUTREM,

INSERÇÃO DE DADOS FALSOS EM SISTEMA DE INFORMAÇÕES E

EXTRAVIO, SONEGAÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE LIVRO OU

DOCUMENTO. PLEITO DE REVOGAÇÃO DA MEDIDA CAUTELAR

ALTERNATIVA DE SUSPENSÃO DO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO

PÚBLICA. IMPOSSIBILIDADE. BINÔMIO NECESSIDADE E

ADEQUAÇÃO DEMONSTRADOS. GRAVIDADE DOS DELITOS.

RETORNO À FUNÇÃO QUE ACARRETA O RISCO DE REITERAÇÃO

DAS CONDUTAS E DO COMPROMETIMENTO DE PROVAS.

CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE. ORDEM DENEGADA

(Habeas Corpus n. 2014.030497-0, de Içara, Rel. Des. Substituto José

Everaldo Silva, Primeira Câmara Criminal, j. 27 de maio de 2014).

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO.

ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA E PECULATO (15 VEZES). VEREADOR

E PRESIDENTE DE CÂMARA MUNICIPAL. PRISÃO PREVENTIVA.

FUNDAMENTAÇÃO. IMPRESCINDIBILIDADE NÃO

DEMONSTRADA. MEDIDAS CAUTELARES. ADEQUAÇÃO E

SUFICIÊNCIA. WRIT NÃO CONHECIDO. OREM CONCEDIDA DE

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OFÍCIO. SUBSTITUIÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA POR OUTRAS

MEDIDAS CAUTELARES.

1. O habeas corpus não pode ser utilizado como substitutivo de recurso

próprio, a fim de que não se desvirtue a finalidade dessa garantia

constitucional, com a exceção de quando a ilegalidade apontada é

flagrante, hipótese em que se concede a ordem de ofício.

2. Caso em que o paciente, na condição de Vereador e de Presidente da

Câmara Municipal de Correntina/BA, teve a prisão Documento:

88735009 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/10/2018

Página 3 de 7 Superior Tribunal de Justiça preventiva decretada em

23/10/2017 no bojo da operação denominada "Último Tango", a qual

tinha por objetivo apurar a suposta prática de crimes contra a

Administração Pública no âmbito da Câmara de Vereadores do

Município de Correntina/BA, tendo sido denunciado pela suposta

prática dos crimes de peculato (art. 312 do Código Penal), por 15 vezes,

e associação criminosa (art. 2º da Lei nº 12.850/2013).

(...)

6. "A prisão preventiva somente se justifica na hipótese de

impossibilidade que, por instrumento menos gravoso, seja alcançado

idêntico resultado acautelatório." (HC n. 126.815, Relator Ministro

MARCO AURÉLIO, Relator p/ Acórdão Ministro EDSON FACHIN,

Primeira Turma, julgado em 04/08/2015, publicado em 28/8/2015).

7. Para a imposição da medida prevista no artigo 319, VI, do

Código de Processo Penal, consistente na determinação pelo

Poder Judiciário de suspensão do exercício da função

pública, é necessário que se demonstre, concretamente, a

forma pela qual fora esta utilizada indevidamente pelo

agente para a consecução Documento: 88735009 - Despacho

/ Decisão - Site certificado - DJe: 26/10/2018 Página 4 de 7

Superior Tribunal de Justiça do crime sob

investigação/processamento. 8. No caso, mostra-se

imprescindível o afastamento do paciente da função de

Presidente do Legislativo local e de Vereador do município,

tendo em vista que os crimes imputados teriam sido

praticados exatamente em razão dessa posição política que

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exerce. O decreto ressalta a liderança do paciente nas ações

ilícitas, o seu prestígio político, o conhecimento das

vulnerabilidades dos órgãos de controle e que ele agiria em

todas as frentes possíveis para alcançar ganhos em cada

licitação ou gratificação, em claro desvio do interesse público

para alcançar seus intentos delitivos. Esses aspectos

ressaltados pelas instâncias ordinárias demonstram que a

medida se mostra indispensável para interromper e afastar o

risco de reiteração em ações ilícitas. Precedentes.

9. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para

substituir a prisão preventiva do paciente pelas medidas cautelares

relacionadas no voto, as quais deverão ser rigorosamente fiscalizadas

pelo Juízo de primeiro grau, inclusive notificando o paciente de que o

descumprimento ensejará a decretação da prisão preventiva. O

afastamento do mandato de parlamentar e da função de gestor da

Câmara deverá ser reavaliado no prazo máximo de 180 dias, a contar

do efetivo cumprimento desta decisão. (HC 449.680/BA, Rel. Ministro

REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em

04/09/2018, DJe 13/09/2018). Destacou-se.

7) A proibição de todos os denunciados celebrarem

contratos com quaisquer entes da administração pública, seja na esfera

municipal, estadual ou federal, até a conclusão da presente ação penal.

Como visto, os denunciados ALEXSANDRO, GRAZIELA e

FÁBIO BRAZ se valeram das empresas GENARAL BRAZ LTDA e

TECNOBRASIL ASSESSORIA E EVENTOS para a prática de crimes

contra o processo licitatório, ao passo que os denunciados JOÃO DE DEUS,

LEONARDO, ROBERTO MÁRCIO, FÁBIO BRAZ, MACIEL, JOSÉ

DOMINGOS e SINTIA se utilizaram das funções públicas que ocupavam à

época dos fatos nos quadros da Prefeitura Municipal de Água Fria de Goiás-

GO.

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Nesse passo, a proibição de que contratem com o Poder Público é

medida que se impõe para o resguardo da ordem pública, razão pela qual

requer-se seu deferimento, com fulcro no art. 319, VI, do Digesto Processual

Penal.

8) A DECRETAÇÃO de ARRESTO de bens dos

denunciados, em valor suficiente a garantir a reparação dos danos por eles

causados.

Como é sabido, as medidas assecuratórias ou cautelares

patrimoniais no direito brasileiro são previstas nos artigos 125 a 144-A do

Código de Processo Penal, sendo requeridas por duplo fundamento: a) porque

os bens são produto, proveito ou equivalentes ao produto ou ao proveito da

atividade criminosa e; b) porque os bens, excluídos os relacionados no item a,

são necessários para a indenização do dano (incluído eventual dano moral),

para as despesas processuais e para garantir o pagamento da multa penal.

Ademais, a espécies de medidas cautelares previstas no

ordenamento jurídico brasileiro para os crimes em geral carecem de

sistematização adequada, vez que preocupação da doutrina penal ortodoxa

sempre esteve voltada à apuração de autoria e materialidade de crimes

unitários cometidos por pessoas singularizadas contra um indivíduo ou um

patrimônio.

No Direito Brasileiro, podem ser citadas as seguintes medidas

cautelares patrimoniais: sequestro, especialização e registro de hipoteca legal,

arresto prévio, arresto subsidiário e o sequestro previsto no Decreto-lei

3.240/41, além das medidas previstas em outras leis extravagantes, não

aplicáveis ao presente caso.

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Os instrumentos processuais penais voltados a garantir os efeitos

dos pronunciamentos judiciais definitivos, isoladamente considerados,

portanto, estão defasados, embora sejam coerentes com o suporte teórico que

lhes deu origem.

A manutenção dessa visão teórica contribui negativamente para o

desenvolvimento econômico sustentável nacional, diante do potencial lesivo ao

erário dos delitos praticados pela criminalidade econômica, dos delitos de

corrupção e das fraudes em geral, algo que já havia sido vislumbrado por

Edwin Sutherland na década de 40 ao tratar do white-collar crime, mas que

apenas despertou a atenção do sistema de justiça criminal brasileiro nas

últimas duas décadas.

Dito de outra forma, é dever de um Estado Democrático

de Direito fazer com que o crime não compense, de modo a impedir

a criação de modelos de conduta negativos bem-sucedidos.

A espera até o final do processo criminal para a

decretação do confisco e para a execução da indenização cível e da

multa penal tem demonstrado a sistemática impossibilidade de

obtenção de bens suficientes e a completa ineficiência do sistema,

sendo essa a razão suficiente para o manejo das cautelares aqui

citadas.

In casu, aplica-se o arresto, vez que tal medida se destina à

apreensão de bens de origem lícita de acusados com a finalidade de garantir a

reparação do dano, inclusive o dano moral, o pagamento da multa e das custas

processuais.

Para a decretação das cautelares pleiteadas, basta a certeza da

infração e indícios razoáveis de autoria.

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Da análise do Procedimento nº 201400229044 (Portaria n.

27/2014), tem-se elementos seguros quanto à materialidade dos crimes

praticados em desfavor da Administração Pública, bem como não paira

qualquer dúvida quanto à autoria dos denunciados.

Por se tratar de crime contra a Administração Pública, aplica-se o

Decreto-lei n. 3.204/41, que confirma a desnecessidade de se comprovar atos

de dilapidação patrimonial, vez que em seu artigo 3º não consta previsão e tal

requisito. Confira-se:

Art. 3º Para a decretação do sequestro é necessário que haja indícios

veementes da responsabilidade, os quais serão comunicados ao juiz em

segredo, por escrito ou por declarações orais reduzidas a termo, e com

indicação dos bens que devam ser objeto da medida.

Nesse sentido, aliás, é o entendimento dos Tribunais Pátrios que

entendem ser o arresto medida adequada para a garantia de eventuais danos

causados pelas práticas criminosas, como se colhe do seguinte caso julgado

pelo Superior Tribunal de Justiça:

AGRAVO INTERNO EM MEDIDA CAUTELAR. LAVAGEM DE

DINHEIRO. MEDIDA ASSECURATÓRIA. ARRESTO

COMPLEMENTAR DE BENS MÓVEIS. REPARAÇÃO DO DANO

DECORRENTE DE INFRAÇÃO PENAL ANTECEDENTE.

REQUISITOS CONFIGURADOS.

1. Uma vez que a reparação do dano causado pelo delito é

finalidade, ainda que secundária, da tutela penal

condenatória, o sistema processual penal necessita de

medidas cautelares que assegurem tal resultado, nas

hipóteses em que o tempo necessário para a investigação da

responsabilidade penal permita que a situação patrimonial

do investigado ou do acusado se altere, gerando o risco de

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que, quando do provimento final, tal finalidade seja

frustrada pela demora processual.

2. Quando não houver bens imóveis para o arresto e posterior hipoteca

legal, poderão ser arrestados os bens móveis, assim entendidos aqueles

suscetíveis de penhora. 3. É possível a decretação de medidas

assecuratórias sobre o patrimônio lícito do acusado, para assegurar a

reparação do dano decorrente da infração penal antecedente, além do

pagamento de multa pecuniária e despesas processuais. Inteligência do

§ 4º do artigo 4º da Lei federal nº 9.613/1998. 4. Para que as referidas

providências acautelatórias ocorram, indispensável a existência de

indícios de autoria e materialidade (art. 134 do CPP). Precedentes do

STJ. 5. AGRAVO INTERNO CONHECIDO, MAS DESPROVIDO.

(TJ-GO - MC: 508608620178090000, Relator: DES. ELIZABETH

MARIA DA SILVA, Data de Julgamento: 10/10/2018, ORGAO

ESPECIAL, Data de Publicação: DJ 2614 de 23/10/2018). Destacou-se.

Confira-se o seguinte julgado do Tribunal de Justiça do Estado de

Goiás:

AGRAVO INTERNO EM MEDIDA CAUTELAR. LAVAGEM DE

DINHEIRO. MEDIDA ASSECURATÓRIA. ARRESTO

COMPLEMENTAR DE BENS MÓVEIS. REPARAÇÃO DO DANO

DECORRENTE DE INFRAÇÃO PENAL ANTECEDENTE.

REQUISITOS CONFIGURADOS. 1. Uma vez que a reparação do dano

causado pelo delito é finalidade, ainda que secundária, da tutela penal

condenatória, o sistema processual penal necessita de medidas

cautelares que assegurem tal resultado, nas hipóteses em que o tempo

necessário para a investigação da responsabilidade penal permita que a

situação patrimonial do investigado ou do acusado se altere, gerando o

risco de que, quando do provimento final, tal finalidade seja frustrada

pela demora processual. 2. Quando não houver bens imóveis para o

arresto e posterior hipoteca legal, poderão ser arrestados os bens

móveis, assim entendidos aqueles suscetíveis de penhora. 3. É possível

a decretação de medidas assecuratórias sobre o patrimônio lícito do

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acusado, para assegurar a reparação do dano decorrente da infração

penal antecedente, além do pagamento de multa pecuniária e despesas

processuais. Inteligência do § 4º do artigo 4º da Lei federal nº

9.613/1998. 4. Para que as referidas providências acautelatórias

ocorram, indispensável a existência de indícios de autoria e

materialidade (art. 134 do CPP). Precedentes do STJ. 5. AGRAVO

INTERNO CONHECIDO, MAS DESPROVIDO. (TJ-GO - MC:

508608620178090000, Relator: DES. ELIZABETH MARIA DA SILVA,

Data de Julgamento: 10/10/2018, ORGAO ESPECIAL, Data de

Publicação: DJ 2614 de 23/10/2018).

No caso analisado, o dano causado ao erário perfaz a quantia

atualizada de R$ 588.919,10 (quinhentos e oitenta e oito mil,

novecentos e dezenove reais e dez centavos), considerando os

documentos juntados às fls. 1.732/1.756 e 1.777/1.801, do Procedimento nº

201400229044 (Portaria n. 27/2014), que denotam pagamentos ilegais feitos

às empresas GENERAL BRAZ e TECNOBRASIL.

Assim, constata-se a necessidade do deferimento da medida

cautelar para se assegurar a reparação dos danos provocados pelos

denunciados, a partir da indisponibilidade de bens, a ser realizada: a) por

meio do Sistema Bacen Jud de determinação para que tornem indisponíveis

ativos financeiros existentes em nome dos denunciados; b) em caso de

frustração da ordem anterior, proceda-se à indisponibilidade de veículos

automotores de propriedade dos denunciados no RENAJUD; c) a

indisponibilidade de imóveis dos denunciados, via Central de

Indisponibilidade de bens, na forma que prescreve o Provimento 013/2012, da

CGJ do TJ, procedendo às averbações necessárias.

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8) O COMPARTILHAMENTO DA PROVA produzida nos

presentes autos para a instrução de ações penais e cíveis em desfavor dos

denunciados.

Isso porque, certamente, os fatos analisados irão repercutir na

esfera da improbidade administrativa, de tal sorte que o compartilhamento da

prova é medida eficaz para que sejam observados os princípios da razoável

duração do processo e do devido processo legal.

A prova emprestada tem por finalidade maior evitar dilações

desnecessárias na instrução do processo, desde que sejam observadas as

garantias constitucionais asseguradas à defesa do acusado, em especial o

contraditório.

Ainda, a doutrina tradicional estabelece outros requisitos para

permitir o uso da prova emprestada, sendo eles: a) serem os fatos apurados

semelhantes; b) ter sido produzida em processo formado entre as mesmas

partes ou no qual figure como parte quem lhe suportará os efeitos; c) a

observância do procedimento sobre a natureza originária da prova; e d) a

observância do procedimento sobre a prova documental135.

In casu, afiguram-se presentes todos os requisitos elencados, vez

que as ações para as quais se pretende compartilhar a prova produzida nos

presentes autos terão por objeto os fatos analisados e versarão sobre as

pessoas dos denunciados, sendo certo que lhes será assegurada a participação

efetiva no processo.

Há muito a jurisprudência dos Tribunais Superiores sinaliza a

possibilidade do uso da prova emprestada, tanto no processo penal quanto

para a instrução de inquérito civil, como se nota:

135 ARANHA, 2006, p. 256; INELLAS, 200, p. 118.

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PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. EXTORSÃO MEDIANTE

SEQÜESTRO SEGUIDA DE MORTE. UTILIZAÇÃO DE PROVA

EMPRESTADA. POSSIBILIDADE. CONDENAÇÃO AMPARADA EM

VASTO CONTEÚDO PROBATÓRIO PRODUZIDO PERANTE O JUÍZO

DA CAUSA. OPORTUNIZADA À DEFESA A POSSIBILIDADE DE SE

MANIFESTAR SOBRE A PROVA EMPRESTADA. AUSÊNCIA DE

QUALQUER MÁCULA. PROVA LÍCITA. AUSÊNCIA DE ILICITUDE

DAS DEMAIS PROVAS POR DERIVAÇÃO. INDEFERIMENTO DE

DILIGÊNCIA REQUERIDA EM ALEGAÇÕES FINAIS. PRECLUSÃO.

FALTA DE AMPARO FÁTICO A JUSTIFICAR A

IMPRESCINDIBILIDADE DA DILIGÊNCIA. INDEFERIMENTO

MOTIVADO.ORDEM DENEGADA. É possível a utilização de

prova emprestada no processo penal, desde que ambas as

partes dela tenham ciência e que sobre ela seja possibilitado

o exercício do contraditório. Precedentes. Nessa hipótese, não

obstante o precário valor da mencionada prova, inviável a declaração

da nulidade da sentença cujo édito condenatório também se esteou em

vasto conteúdo probatório colhido perante o Juízo da causa, servindo a

prova emprestada apenas para corroborá-lo. Precedentes. Reconhecida

a validade da utilização da prova emprestada, impossível a declaração

da nulidade por derivação das demais provas dela advindas. Inexiste

nulidade quando o Magistrado indefere a realização de diligências

desprovidas de embasamento fático apto a justificá-las, além de que

requeridas em sede de alegações finais, oportunidade em que já se

encontrava preclusa a produção de novas provas. Ordem denegada.

(STJ - HC: 91781 SP 2007/0234423-7, Relator: Ministra JANE SILVA

(DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), Data de

Julgamento: 27/03/2008, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação:

DJ 05.05.2008 p. 1). Destacou-se.

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM MANDADO DE

SEGURANÇA. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE.

NÃO OCORRÊNCIA. PROCESSO PENAL. PROVA PRODUZIDA EM

AÇÃO PENAL EMPRESTADA PARA INSTRUÇÃO DE INQUÉRITO

POLICIAL CIVIL. POSSIBILIDADE. DIREITO LÍQUIDO E CERTO

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VIOLADO. INEXISTÊNCIA. RECURSO A QUE SE NEGA

PROVIMENTO.

1. Não há falar em violação do princípio da colegialidade se a decisão

monocrática foi proferida com fundamento no caput do artigo 557 do

Código de Processo Civil, que franqueia ao relator a possibilidade de

negar seguimento a recurso manifestamente inadmissível,

improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com

jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo

Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior.

2. A autorização de compartilhamento de prova obtida em

ação penal para fins de instrução de inquérito civil público

que investiga os mesmos fatos não importa em ofensa a

direito líquido e certo do investigado. 3. Agravo regimental

a que se nega provimento. (STJ - AgRg no RMS: 44825 MT

2014/0013787-5, Relator: Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS

MOURA, Data de Julgamento: 11/03/2014, T6 - SEXTA TURMA,

Data de Publicação: DJe 24/03/2014). Destacou-se.

Planaltina-GO, 20 de março de 2019.

RAFAEL SIMONETTI BUENO DA SILVA

Promotor de Justiça