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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA REGIONAL DA REPÚBLICA - 5ª REGIÃO Exmo. Sr. Desembargador Relator e demais Membros do TRF - 5ª Região Referência : Inquérito Policial nº 414/2010-SR/DPF/SE Interessado : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Indiciados : JOÃO ANDRADE VIEIRA DA SILVA E OUTROS D E N Ú N C I A N º 0009/2013 EAOR/AMANDA DENUNC 89.DOC O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por sua Procuradora abaixo firmada, com base no inquérito policial epigrafado, vem oferecer denúncia contra: JOÃO ANDRADE VIEIRA DA SILVA, brasileiro, casado, atual ocupante do cargo de Secretário da Fazenda de Sergipe , inscrito no CPF sob o nº 11167394534, com RG de nº 190860 SSP/SE, residente na Av. Pedro Valadares, 650, Apto. 1102, Cond. Mansão Tramandaí, Jardins, Aracaju/SE; MOACIR JOAQUIM DE SANTANA JÚNIOR, brasileiro, casado , inscrito no CPF sob o nº 34258329568, com RG de nº 694078SSP/SE, residente na Rua Antônio Gonçalves Soares, 410, Edf. Eucaliptos, apto. 1302 – Luzia, Aracaju/SE;

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Exmo. Sr. Desembargador Relator e demais Membros do TRF - 5ª Região

Referência : Inquérito Policial nº 414/2010-SR/DPF/SEInteressado : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALIndiciados : JOÃO ANDRADE VIEIRA DA SILVA E OUTROS

D E N Ú N C I A N º 0009/2013EAOR/AMANDADENUNC 89.DOC

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por sua Procuradora abaixo firmada, com base no inquérito policial epigrafado, vem oferecer denúncia contra:

JOÃO ANDRADE VIEIRA DA SILVA, brasileiro, casado, atual ocupante do cargo de Secretário da Fazenda de Sergipe, inscrito no CPF sob o nº 11167394534, com RG de nº 190860 SSP/SE, residente na Av. Pedro Valadares, 650, Apto. 1102, Cond. Mansão Tramandaí, Jardins, Aracaju/SE;

MOACIR JOAQUIM DE SANTANA JÚNIOR, brasileiro, casado , inscrito no CPF sob o nº 34258329568, com RG de nº 694078SSP/SE, residente na Rua Antônio Gonçalves Soares, 410, Edf. Eucaliptos, apto. 1302 – Luzia, Aracaju/SE;

FÁBIO JOSÉ DA SILVA, brasileiro, casado, inscrito no CPF sob o nº 59128275500, com RG de nº 878962 SSP/SE, residente na Rua Francisco Gumercindo Bessa, 316, Apto. 704, Ed. Santorini, Grageru, Aracaju/SE;

SÍLVIO ALVES DOS SANTOS, brasileiro, divorciado, inscrito no CPF sob o nº 14888920591, com RG de nº 180159SSP/SE, residente na Rod. José Sarney, nº 230, Cond. Praia do Sul – Quadra “G”, casa 15 - Mosqueiro, Aracaju/SE;

LUCIMARA DANTAS PASSOS, brasileira, divorciada, inscrito no CPF sob o nº 03168652733, com RG de nº 1027158 SSP/SE, residente na Rua Delmiro Gouveia, 1429, Coroa do Meio, Aracaju/SE;

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PETRÔNIO DE MELO BARROS, brasileiro, casado, inscrito no CPF sob o nº 103.742.995-87, com RG de nº 263715 SSP/SE, residente na Av. Antônio Fagundes de Santana, 370, apt. 601, 13 de Julho, Aracaju/SE;

JAIR ARAÚJO DE OLIVEIRA, brasileiro, casado, inscrito no CPF sob o nº 08940576500, com RG de nº 1332219 SSP/BA, residente na Av. Pedro Valadares 940, Edf. Le Bristol, Bl. A, apto. 1102, Jardins, Aracaju/SE;

SAUMÍNEO DA SILVA NASCIMENTO, brasileiro, casado, inscrito no CPF sob o nº 26709449572, com RG de nº 730289 SSP/SE, residente na Rua Flávio Menezes Prado, 171, Ed. Monet, Apto. 1101, Jardins, Aracaju/SE;

GILVAN SILVA GARCIA, brasileiro, casado, inscrito no CPF sob o nº 17058848572, com RG de nº 312168 SSP/SE, residente na Rua Vereador João Silvestre dos Santos, 239, Conjunto Orlando Dantas – São Conrado, Aracaju/SE; e

GILVAN PORTO PEREIRA, brasileiro, solteiro, inscrito no CPF sob o nº06855024572, com RG de nº 227924 SSP/SE, residente na Rua Dr. José Luciano Siqueira, 102, Pereira Lobo, Aracaju/SE, pelos fatos e fundamentos que passa a expor.

O inquérito policial que embasa a presente denúncia fundou-se em notitia criminis relatando uma suposta fraude praticada pela Empresa Municipal de Serviços Urbanos de Aracaju – EMSURB, em conluio com o Banco do Estado do Sergipe – BANESE, inclusive para que a primeira não tivesse valores bloqueados por ordem judicial, o que ocorreu no período de 17/01/2005 a 30/04/2010.

Foi apurado, assim, que a EMSURB, através do seu então Presidente JOÃO ANDRADE VIEIRA DA SILVA, atualmente ocupando o cargo de Secretário da Fazenda do Estado de Sergipe, o que atrai a competência dessa Corte Regional para o feito, celebrou um contrato de prestação de serviços com o BANESE, no qual este se obrigou a centralizar todas as operações financeiras daquela empresa pública municipal (fls. 153/156 – Apenso I).

No contrato, consta que “o BANESE se encarregará, diariamente, de efetuar as transferências de recursos da conta contábil de Depósito Vinculado para a conta corrente centralizadora da movimentação de pagamentos, no exato montante que permita a cobertura dos pagamentos nesta conta, inclusive da CPMF” (fls. 154).

Conforme previsão contratual, o Banco transferia valores de uma conta contábil vinculada, de nº 5234-5, para a conta corrente

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de nº 700.000-0, da Agência 058, Antônio Carlos Barreto Franco, nos exatos valores que a EMSURB determinava e autorizava.

Essa conta contábil, por sua vez, era vinculada ao CNPJ do Banco e, não, ao CNPJ da EMSURB, o que não é permitido pelas normas que regem o sistema financeiro, pelo que não era possível, dessa forma, identificá-la, entre outras situações, quando da expedição de ordem judicial de bloqueio de valores da empresa pública municipal, através do sistema BACEN-JUD (documentos do Apenso II, Volume I).

Com essa conduta, inclusive, entre outras que poderão ser eventualmente esclarecidas e apuradas no curso da ação penal, os denunciados obstruíram a justiça, tendo em vista que todos os dias, ao final do expediente, a conta corrente da empresa possuía saldo igual a zero, enquanto que, na conta contábil vinculada (do Banco, repita-se, e, não, da EMSURB), existiam saldos em vultosas quantias, quantias essas mais do que suficientes para pagar, dentre outros, os vários débitos existentes em nome da EMSURB nos processos judiciais em que essa empresa municipal figurava como ré.

O BACEN, ao fazer a análise dos documentos contidos no Procedimento Administrativo de nº 1.35.000.000949/2009-85 (Apenso II, Volume II), assim concluiu, verbis:

“Atendendo a requisição de documentos, o Banese enviou cópias dos pedidos de bloqueio judicial de recursos da Emsurb, de janeiro/2007 a outubro/2009, onde foi possível constatar que, do total de 57 ordens judiciais emitidas, somente seis tiveram a quantia solicitada bloqueada. As demais não tiveram os recursos bloqueados pois, como os bloqueios são efetuados somente na primeira tentativa, não havendo saldo suficiente para cumprimento da ordem judicial, não ocorre bloqueio. Como ficou demonstrado nos diversos procedimentos de execução das ordens de bloqueio, em várias das tentativas onde se exigia que fossem verificadas todas as contas da empresa em todo o Banco, não havia saldo suficiente em nenhuma delas. Para alguns casos, foi determinado o bloqueio de qualquer valor até o limite acionado e, ainda assim, nada foi bloqueado, o que faz supor que o saldo das contas permanece sempre zero (fls. 11/213).” (fls. 265 do Apenso II, Volume II).

O BACEN demonstra, também, tal como se vê do Apenso II, Volume II, que a conta vinculada era utilizada com desvio de

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finalidade. Confira-se, verbis:“A conta de uso interno da agência, de nº 5234-5 – Depósitos Vinculados – Emsurb possuía saldos expressivos em todas as datas nas quais foram solicitados bloqueios de saldos, pelo Judiciário, em contas da Emsurb, no Banese. De 57 solicitações apuradas no período de 9.1.2007 a 20.10.1009, somente em 6 casos houve o bloqueio do valor integral pedido. Em 51 casos, o Banese informou à Justiça que não havia valores suficientes para efetuar o bloqueio nas contas da Emsurb. No entanto, (...) em pelo menos 47 dessas ocasiões onde foi possível verificar a movimentação, havia saldo superior ao valor solicitado na conta de uso interno da agência de número 5234-5 (...), denominada “Depósitos Vinculados - Emsurb” e ainda assim o valor não foi bloqueado, indicando possível desobediência às ordens judiciais. (...)Assim, (...) verificamos que somente houve acatamento de mandados de bloqueio judicial quando foram feitas intimações de teor mais firme, direcionado diretamente ao gerente da agência 058 e declarando penalidades tanto a esse gerente quanto ao Banco se o pedido fosse descumprido. Esses casos confirmam materialmente que era possível acatar os pedidos de bloqueio, ainda que o dinheiro estivesse na conta de uso interno da agência. E sugerem que o não pagamento das ordens era questão de livre arbítrio do gerente da agência, que escolhia se acatava ou não os pedidos” (fls. 266/267-v do Apenso II, Volume II)

Ao serem ouvidos, as testemunhas e os ora denunciados confirmaram a existência de conta contábil vinculada ao CNPJ do Banco, conforme se pode ver dos depoimentos de Aline Sampaio Silva Ivo (fls. 135 do Apenso I), Gilvan Porto Pereira (fls. 164/166 do IPL), Gilvan Silva Garcia (fls. 171/173 do IPL), Petronio de Melo Barros (fls. 111/112) e Jair Araújo de Oliveira (fls. 207/209 do IPL).

Em seu interrogatório, JAIR ARAÚJO DE OLIVEIRA, Presidente do BANESE de março de 2003 a janeiro de 2007 (fls. 207/209 do IPL), confirma a irregularidade na celebração do contrato em questão, ao afirmar que, “na realidade, a assinatura do referido contrato não respeitou o procedimento estatutário do Banese, pois foi firmado sem o conhecimento do interrogado, não tendo passado, sequer, pelo crivo do Departamento Jurídico do Banese”.

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O denunciado GILVAN SILVA GARCIA, gerente administrativo do BANESE de agosto de 2003 a setembro de 2007, por sua vez, ao depor (fls. 171/173 do IPL), declarou “que o declarante nunca chegou a comunicar à Emsurb sobre a existência de determinação de bloqueio, quando não houvesse saldo disponível na conta corrente, pois as comunicações se limitavam ao banco interno do banco; que tal procedimento era adotado diante da determinação de bloqueio se limitar ao saldo existente na conta-corrente, não abrangendo a Conta de Depósitos Vinculados; que o declarante se recorda de bloqueios frustados, por falta de saldo na conta-corrente, mesmo quando havia saldo disponível na Conta de Depósitos Vinculados”.

Também vale destacar a informação prestada pelo Juízo da 4ª Vara do Trabalho de Aracaju à Procuradoria da República de Sergipe, na qual o Magistrado titular dessa Vara declara que determinou a quebra do sigilo bancário da EMSURB para averiguar por que as suas ordens de bloqueio não eram atendidas, afirmando “que durante todo o período pesquisado apenas uma conta apresentava movimentação financeira, mas que demonstrava a existência de créditos suficientes apenas para cobrir os débitos, importando em saldo nulo ao final de cada expediente bancário (…). Deste modo, verificou-se o porquê do não atendimento das ordens de bloqueio” (fls. 25/26 do IPL).

Portanto, provadas, estão a materialidade dos delitos previstos no artigo 11, da Lei nº 7.492/86 e no artigo 347 do Código Penal, que reproduzimos abaixo, haja vista a presença de várias provas que apontam para a abertura, manutenção e uso indevido de conta vinculada paralela à conta oficial da EMSURB e, mais, entre outras finalidades a serem apuradas, com o comprovado fim de obstruir a justiça.

Confiram-se aqueles dispositivos legais, verbis:

“Art. 11 Manter ou movimentar recurso ou valor paralelamente à contabilidade exigida pela legislação:Pena – Reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.”

“Fraude processualArt. 347 - Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou administrativo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito:Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.”

Realmente, a materialidade do crime do

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artigo 347 do CP também resta comprovada, tendo em vista o fato de o BANESE, na pessoa dos seus responsáveis, ora denunciados, tal qual será discriminado abaixo, reiteradamente informar à justiça, diante das solicitações de bloqueio judicial, que inexistiam valores suficientes para tanto, nos termos do que aponta o BACEN, verbis:

“A conta de uso interno da agência, de número 5234-5 – Depósitos Vinculados – Emsurb possuía saldos expressivos em todas as datas nas quais foram solicitados bloqueios de saldos, pelo judiciário, em contas da Emsurb, no Banese. De 57 solicitações apuradas no período de 9.1.2007 a 20.10.2009, somente em 6 casos houve o bloqueio do valor integral pedido. Em 51 casos, o Banese informou à justiça que não havia valores suficientes para efetuar o bloqueio nas contas da Emsurb. No entanto, conforme quadro resumo (fl. 261), em pelo menos 47 dessas ocasiões onde foi possível verificar a movimentação, havia saldo superior ao valor solicitado na conta de uso interno da agência de número 5234-5 (e sua sucessora 4118599002 no plano de contas, a partir de janeiro/2009), denominada 'Depósitos Vinculantes – Emsurb' e ainda assim o valor não foi bloqueado, indicando possível desobediência às ordens judiciais.” (Apenso II, Volume II).

No que concerne à autoria delituosa dos crimes da Lei nº 7.492/86, assim está nela previsto, verbis:

“Art. 25. São penalmente responsáveis, nos termos desta lei, o controlador e os administradores de instituição financeira, assim considerados os diretores, gerentes.”

Sendo assim, as pessoas que devem ser responsabilizadas pela prática dos crimes descritos nesta denúncia são os administradores do BANESE e da EMSURB, no período de 17/01/2005 a 30/04/2010, sendo os daquele JAIR ARAÚJO DE OLIVEIRA, JOÃO ANDRADE VIEIRA DA SILVA e SAUMÍNEO DA SILVA NASCIMENTO (fls. 86/89 do IPL), tendo como Gerentes Administrativos GILVAN SILVA GARCIA e GILVAN PORTO PEREIRA (fls. 146 e 151 do IPL) e os da última, JOÃO ANDRADE VIEIRA DA SILVA, MOACIR JOAQUIM DE SANTANA JÚNIOR, FÁBIO JOSÉ DA SILVA, SÍLVIO ALVES DOS SANTOS E LUCIMARA DANTAS PASSOS (fls. 43 do IPL), bem como PETRÔNIO DE MELO BARROS, Diretor Financeiro do BANESE, esse último, entretanto, como veremos abaixo, tão somente pela prática do crime do artigo 11, da Lei nº 7.492/86.

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Ora, a participação dos Presidentes, tanto do BANESE, quanto da EMSURB, nos fatos criminosos, é mais do que clara, revelando-se a partir do artifício ou mecanismo de natureza contábil, através do qual, depois de ser aberta, mantiveram e utilizaram uma conta do passivo circulante do Banco, a fim de registrarem todas as disponibilidades da EMSURB, sob sua custódia, mas a rubrica era contabilizada com o CNPJ da instituição financeira, conforme indica o Relatório de Pesquisa realizado pela ASSPA desta PRR-5ª Região e que ora vai anexado (doc. nº 01).

Diga-se, ainda, em relação ao tipo do artigo 11 da Lei nº 7.492/86, que ele não prevê a necessidade da presença de dolo específico, para a configuração do crime, bastando, para aperfeiçoá-lo, ‘manter ou movimentar recurso paralelamente à contabilidade própria da instituição’, sem qualquer finalidade específica, aliás, o que se entende, já que aquela Lei, ao tipificar as condutas nela previstas como crime procura garantir a regularidade, a saúde do sistema financeiro nacional.

Assim é que, por isso, já que não é exigida a presença de qualquer finalidade específica para que a manutenção de conta paralela à contabilidade da instituição respectiva, no caso da EMSURB, seja considerada crime, a conduta de obstruir a justiça, com a prestação de informações falsas sobre a real condição financeira da empresa pública municipal, configura um crime autônomo, praticado, portanto, em concurso material com aquele da Lei nº 7.492/86, crime esse que é o do artigo 347 do Código Penal.

Assim, devem ser responsabilizados, em co-autoria, pela prática do crime do artigo 11, da Lei nº 7.492/86, o Presidente da EMSURB, JOÃO ANDRADE VIEIRA DA SILVA e o Diretor Financeiro do BANESE, PETRÔNIO DE MELO BARROS, haja vista que ambos firmaram o contrato que deu origem ao fato ilícito e movimentaram ilicitamente os recursos da referida empresa municipal que, a despeito de contabilizados, o eram não na contabilidade do próprio órgão, mas na contabilidade do Banco, tudo conforme prova o contrato de fls. 30/33 e os depoimentos de fls. 111/112 e 222/224.

Além disso, tal como já dito, durante todo o período sob investigação, que vai de janeiro de 2005 a abril de 2010, período esse em que ocorreram os fatos ilícitos, os sucessores da presidência dessas entidades também devem ser igualmente responsabilizados pela prática daquele crime, crime esse de caráter permanente, que se protrai no tempo, portanto, posto que mantiveram plenamente vigente o acordo irregular anteriormente pactuado, inobstante sua ilegalidade patente, motivo pelo qual também ora denunciamos MOACIR JOAQUIM DE SANTANA JÚNIOR, FÁBIO JOSÉ DA SILVA, SÍLVIO ALVES DOS SANTOS, LUCIMARA DANTAS PASSOS, JAIR ARAÚJO DE OLIVEIRA e SAUMÍNEO DA

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SILVA NASCIMENTO, pela prática do ilícito da Lei especial.Por fim, do depoimento destacado às fls.

146, conclui-se que “as CONTAS DE DEPÓSITOS VINCULADOS são diretamente controladas pelos GERENTES ADMINISTRATIVOS, com base nos termos do contrato”, de modo que, por isso, é oferecida a presente denúncia, pela prática do crime do artigo 11, da Lei nº 7.492/86, contra GILVAN SILVA GARCIA e GILVAN PORTO PEREIRA, gerentes administrativos do BANESE no período sob investigação, de acordo com as informações prestadas pelo próprio Banco às fls. 98, já que eles eram os responsáveis diretos pelas movimentações ilicitamente realizadas, inclusive visando obstar os bloqueios judiciais que eram enviados para cumprimento.

Vale ressaltar que, em seus interrogatórios, os denunciados, sobretudo os sucessores dos primeiros contratantes do BANESE e da EMSURB, admitiram saber da existência da conta vinculada naquele Banco, de titularidade da EMSURB, porém nada fizeram no sentido de regularizar a situação ou até, em relação àqueles com menor poder de mando, de denunciar a irregularidade. Convenientemente, a conta ilícita existiu por anos, impedindo, dentre outras consequências, que a EMSURB tivesse valores bloqueados por ordem judicial.

Por isso, não se pode, pois, admitir o fato de que os Presidentes da EMSURB e do BANESE, bem como os gerentes administrativos desse último, nessa qualidade, desconhecessem, por exemplo, que a empresa estava sendo demandada em vários processos de execução e que as dívidas não estavam sendo pagas, já que a conta-corrente existente no BANESE ao fim do expediente sempre apresentava saldo zero.

Assim é que os denunciados incorreram, também, na prática do crime do artigo 347 do Código Penal, posto que, no exercício dos seus cargos, inobstante cientes da existência de recursos suficientes para satisfazer os bloqueios judiciais determinados pelas autoridades judiciais, nada comunicaram a estas quando instados, enviando-lhes, ao contrário, informação falsa de que não haveria cifra suficiente na conta da EMSURB para cobrir as medidas restritivas determinadas através do BACENJUD.

Sendo assim, evidente era a intenção dos denunciados de manter uma conta paralela da EMSURB, de movimentar recursos através dela e, também, de, com isso, entre outras condutas que podem vir à tona durante a instrução, obstruir a justiça, motivo pelo qual devem ser responsabilizados, nos termos da Lei nº 7.492/86 e do artigo 347 Código Penal.

Dessa forma, devem ser responsabilizados pela prática dos crimes do artigo 11, da Lei nº 7.492/86 e artigo 347 do Código Penal, praticados em co-autoria:

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(a) JOÃO ANDRADE VIEIRA DA SILVA, que, na condição de Presidente da EMSURB, no período de 01.01.2005 a 25.01.2007, firmou o contrato que deu azo à movimentação ilícita dos recursos da referida empresa públicamunicipal que, a despeito de contabilizados, o eram não na contabilidade do próprio órgão, mas na contabilidade do Banco, havendo permitido que tal prática ocorresse durante todo o período de sua gestão, bem como porque, ainda na condição de Presidente do BANESE, no período de 26.01.2007 a 01.02.2009, forneceu informação falsa às autoridades judiciais de que não haveria cifra suficiente na conta da EMSURB para cobrir as medidas restritivas determinadas através do BACENJUD;

(b) MOACIR JOAQUIM DE SANTANA JÚNIOR, que, na condição de Presidente da EMSURB, no período de 25.01.2007 a 15.08.2007, manteve íntegro o funcionamento da conta irregular da empresa no BANESE, nada fazendo para cessar o cumprimento do contrato que deu azo à movimentação ilícita dos recursos da referida empresa municipal que, a despeito de contabilizados, o eram não na contabilidade do próprio órgão, mas na contabilidade do Banco, havendo permitido que tal prática ocorresse durante todo o período de sua gestão, havendo, inclusive, informado ao Poder Judiciário a inexistência de recursos para atender as determinações de bloqueio, quando esses recursos da EMSURB existiam na conta irregular;

(c) FÁBIO JOSÉ DA SILVA, que, também na condição de Presidente da EMSURB, no período de 16.08.2007 a 24.08.2007, de 04.04.2008 a 13.10.2008 e de 01.01.2009 a 30.01.2009, praticou idênticas condutas de manter a conta ilícita da EMSURB no BANESE e de prestar informações falsas ao Poder Judiciário, o que configura a prática dos crimes da Lei nº 7.492/86 e do artigo 347 do Código Penal;

(d) SÍLVIO ALVES DOS SANTOS, que, na condição de Presidente da EMSURB, no período de 24.08.2007 a 04.04.2008 e de 13.10.2008 a 31.12.2008, praticou idênticas condutas de manter a conta ilícita da EMSURB no BANESE e de prestar informações falsas ao Poder Judiciário, o que configura a prática dos crimes da Lei nº 7.492/86 e do artigo 347 do Código Penal;

(e) LUCIMARA DANTAS PASSOS, que, na condição de Presidente da EMSURB, no período de 30.01.2009 a 16.08.2010, praticou idênticas condutas de manter a conta ilícita da EMSURB no BANESE e de prestar informações falsas ao Poder Judiciário, o que configura a prática dos crimes da Lei nº 7.492/86 e do artigo 347 do Código Penal;

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(f) PETRÔNIO DE MELO BARROS, que, na condição de Diretor Financeiro do BANESE, no período de janeiro de 1995 a julho de 2005, firmou o contrato que deu azo à movimentação ilícita dos recursos da EMSURB que, a despeito de contabilizados, o eram não na contabilidade do próprio órgão, mas na contabilidade do Banco, havendo permitido que tal prática ocorresse durante todo o período de sua gestão, praticando, assim, o crime do artigo 11, da Lei nº 7.492/86;

(g) JAIR ARAÚJO DE OLIVEIRA que, na condição de Presidente do BANESE, no período de 07.03.2003 a 25.01.2007, manteve íntegro o funcionamento da conta irregular da empresa municipal no Banco que presidia, nada fazendo para cessar o cumprimento do contrato que deu azo à movimentação ilícita dos recursos da referida empresa municipal que, a despeito de contabilizados, o eram não na contabilidade do próprio órgão, mas na contabilidade do Banco, havendo permitido que tal prática ocorresse durante todo o período de sua gestão e havendo, também, prestado informação falsa às autoridades judiciais de que não haveria cifra suficiente na conta da EMSURB para cobrir as medidas restritivas determinadas através do BACENJUD, o que configura a o que configura a prática dos crimes da Lei nº 7.492/86 e do artigo 347 do Código Penal;

(h) SAUMÍNEO DA SILVA NASCIMENTO, que, na condição de Presidente do BANESE, no período de 02.02.2009 até os dias atuais, manteve íntegro o funcionamento da conta irregular da empresa municipal no Banco que preside, nada fazendo para cessar o cumprimento do contrato que deu azo à movimentação ilícita dos recursos da referida empresa municipal que, a despeito de contabilizados, o eram não na contabilidade do próprio órgão, mas na contabilidade do Banco, havendo, também, prestado informação falsa às autoridades judiciais de que não haveria cifra suficiente na conta da EMSURB para cobrir as medidas restritivas determinadas através do BACENJUD, o que configura a prática dos crimes da Lei nº 7.492/86 e do artigo 347 do Código Penal;

(i) GILVAN SILVA GARCIA, que, na condição de gerente administrativo do BANESE, no período de 24.01.2000 a 02.09.2007 e de 06.07.2009 até os dias atuais, movimentou direta e ilicitamente os recursos da EMSURB que, a despeito de contabilizados, o eram não na contabilidade do próprio órgão, mas na contabilidade do Banco, bem como forneceu informação falsa às autoridades judiciais de que não haveria cifra suficiente na conta da EMSURB para cobrir as medidas restritivas determinadas através do BACENJUD, o que configura a

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prática dos crimes da Lei nº 7.492/86 e do artigo 347 do Código Penal;

(j) GILVAN PORTO FERREIRA, que, na condição de gerente administrativo do BANESE, no período de 03.06.1997 a 03.05.2009, movimentou direta e ilicitamente os recursos da EMSURB que, a despeito de contabilizados, o eram não na contabilidade do próprio órgão, mas na contabilidade do Banco, havendo permitido que tal prática ocorresse durante todo o período de sua gestão, bem como forneceu informação falsa às autoridades judiciais de que não haveria cifra suficiente na conta da EMSURB para cobrir as medidas restritivas determinadas através do BACENJUD, o que configura a prática dos crimes da Lei nº 7.492/86 e do artigo 347 do Código Penal.

Por fim, insta salientar que a competência para o julgamento da ação penal, e em relação a ambos os crimes, é da Justiça Federal, não só porque o ramo do Poder Judiciário que foi atingido pela prática do crime do artigo 347 do Código Penal foi a Justiça do Trabalho, como por expressa disposição do artigo 26, da Lei nº 7.492/86, verbis:

“Art. 26. A ação penal, nos crimes previstos nesta lei, será promovida pelo Ministério Público Federal, perante a Justiça Federal.”

Do mesmo modo, é esse Tribunal Regional Federal da 5ª Região o órgão jurisdicional competente para processar e julgar o feito, tendo em vista que o denunciado JOÃO ANDRADE VIEIRA DA SILVA ocupa, atualmente, o cargo de Secretário da Fazenda de Sergipe, conforme dados obtidos por esta Representante no sítio eletrônico do Governo daquele Estado (doc. nº 02).

Ora, a Constituição do Estado de Sergipe, em seu artigo 91, confere aos Secretários de Estado a prerrogativa de serem, nos crimes comuns e de responsabilidade, processados e julgados pelo Tribunal de Justiça, o que, por aplicação do princípio da simetria, por se tratar de crime cometido contra a União, de competência da Justiça Federal, acarreta a competência desse Tribunal Regional Federal para o feito.

Diante de todo o exposto, oferece o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL a presente denúncia contra MOACIR JOAQUIM DE SANTANA JÚNIO, FÁBIO JOSÉ DA SILVA, SÍLVIO ALVES DOS SANTOS e LUCIMARA DANTAS PASSOS, empregados da EMSURB, JOÃO ANDRADE VIEIRA DA SILVA, JAIR ARAÚJO DE OLIVEIRA, SAUMÍNEO DA SILVA NASCIMENTO, GILVAN SILVA GARCIA e GILVAN PORTO FERREIRA, empregados do BANESE, pela prática dos delitos tipificados no artigo 11

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DA REPÚBLICA - 5ª REGIÃO

da Lei nº 7.492/86 e 347 do Código Penal, c/c artigo 29 desse mesmo Código, e contra PETRÔNIO DE MELO BARROS, esse último, tão somente, pela prática do crime do artigo 11, da Lei nº 7.492/86, c/c artigo 29 do Código Penal, tudo conforme acima descrito, requerendo, de logo, que, após autuada a denúncia, seja determinada por V. Exa., a realização das seguintes diligências:

a) a notificação dos acusados para que apresentem defesa preliminar, no prazo de 15 dias (art. 4º, caput da Lei nº 8.038/90) e, após recebida a denúncia, a citação deles, para serem interrogados, com o prosseguimento da ação penal até prolação do acórdão condenatório;

b) a expedição de ofício ao Setor de Distribuição da Seção Judiciária do Estado do Sergipe e ao Foro Estadual, a fim de requisitar o envio das Certidões de Antecedentes Criminais das ora denunciadas e, posteriormente, o recebimento da denúncia, a fim de que sejam os denunciados processados e, ao final, condenados pelas práticas delituosas acima descritas.

Pede deferimento.

Recife, 09 de maio de 2013.

ELIANE DE ALBUQUERQUE OLIVEIRA RECENAProcuradora Regional da República

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