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CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL COMISSÃO ESPECIAL - APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO EVENTO: Congresso N°: 557/2002 DATA: 23/5/2002 INÍCIO: 9h TÉRMINO: 13h7min DURAÇÃO: 4h7min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 4h7min PÁGINAS: 101 QUARTOS: 51 SUPERVISÃO: Cláudia Luiza, Daniel, Débora, J. Carlos, Lívia CONCATENAÇÃO: Debora DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO JUSTINA IVA DE ARAÚJO SILVA –Secretária Municipal de Educação de Natal, Rio Grande do Norte. VERA CRUZ – Major da Polícia Militar e Diretora da Divisão de Educação de Trânsito do DETRAN de São Paulo. RITA DE CÁSSIA FERREIRA CUNHA - Coordenadora-Geral de Qualificação do Fator Humano no Trânsito do DENATRAN. JOAQUIM LOPES DA SILVA JUNIOR – Chefe de Gabinete do Secretário de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo. JOSÉ CARLOS SACRAMONE Secretário Municipal de Transportes de Jundiaí. ROBERTO VAZ DA SILVA - Coordenador-Geral do Programa de Redução de Acidentes no Trânsito- PARE. ROBERTO SCARINGELLA - Ex-Presidente do CONTRAN e Diretor-Superintendente do Instituto Nacional de Segurança no Trânsito – INST. LUCIENE MARIA BECACICI ESTEVES VIANA – Secretária Municipal de Transportes e Infra- estrutura Urbana de Vitória – ES. JOSÉ PAULINO DE CASTRO Coordenador-Geral de Planejamento Operacional do DENATRAN. ROMUALDO THEOPHANES DE FRANÇA JÚNIOR – Diretor-Presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano – CONURB de Joinville, Santa Catarina. JOSÉ EDUARDO QUINTELLA - Técnico do Projeto RENACOM (Registro e Câmara Nacional de Compensação de Multas Interestaduais). ALTAMIRO SATHLER FILHO - Diretor-Geral Substituto do Departamento de Polícia Rodoviária Federal. WALDEMAR ANTONIO LEMOS FILHO – Presidente da União dos Vereadores do Brasil. JOSÉ DO ESPÍRITO SANTO – Presidente do Insituto Brasileiro de Segurança no Trânsito. FRANCISCO JOSÉ DE MATOS NOGUEIRA – Presidente da Autarquia Municipal de Trânsito e Serviços Públicos de Cidadania de Fortaleza – CE. IVAN CARLOS ALVES BARBOSA – Secretário Municipal de Transportes Urbanos de Salvador – BA. AROLDO CEZÁRIO DINIZ Delegado de Polícia de Rio Claro – SP. LUIZ GONZAGA SANTOS – Vereador da Câmara Municipal de Taubaté – SP. SUMÁRIO: I CONBRAM – Congresso Brasileiro de Municipalização do Trânsito. Painel “E” – Tema “Educação para o trânsito; promoção e participação do Município nos Programas Educacionais de Educação e Segurança do Trânsito. Inteligência dos art. 74 a 79 do Código de Trânsito Brasileiro. Papel das Câmaras Municipais no Código de Trânsito Brasileiro. Painel “F” – Tema “Responsabilidade fiscal no gerenciamento do trânsito por parte da

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CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

COMISSÃO ESPECIAL - APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIROEVENTO: Congresso N°: 557/2002 DATA: 23/5/2002INÍCIO: 9h TÉRMINO: 13h7min DURAÇÃO: 4h7minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 4h7min PÁGINAS: 101 QUARTOS: 51SUPERVISÃO: Cláudia Luiza, Daniel, Débora, J. Carlos, LíviaCONCATENAÇÃO: Debora

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃOJUSTINA IVA DE ARAÚJO SILVA –Secretária Municipal de Educação de Natal, Rio Grande doNorte.VERA CRUZ – Major da Polícia Militar e Diretora da Divisão de Educação de Trânsito doDETRAN de São Paulo.RITA DE CÁSSIA FERREIRA CUNHA - Coordenadora-Geral de Qualificação do Fator Humanono Trânsito do DENATRAN.JOAQUIM LOPES DA SILVA JUNIOR – Chefe de Gabinete do Secretário de TransportesMetropolitanos do Estado de São Paulo.JOSÉ CARLOS SACRAMONE Secretário Municipal de Transportes de Jundiaí.ROBERTO VAZ DA SILVA - Coordenador-Geral do Programa de Redução de Acidentes noTrânsito- PARE.ROBERTO SCARINGELLA - Ex-Presidente do CONTRAN e Diretor-Superintendente do InstitutoNacional de Segurança no Trânsito – INST.LUCIENE MARIA BECACICI ESTEVES VIANA – Secretária Municipal de Transportes e Infra-estrutura Urbana de Vitória – ES.JOSÉ PAULINO DE CASTRO Coordenador-Geral de Planejamento Operacional do DENATRAN.ROMUALDO THEOPHANES DE FRANÇA JÚNIOR – Diretor-Presidente da Companhia deDesenvolvimento Urbano – CONURB de Joinville, Santa Catarina.JOSÉ EDUARDO QUINTELLA - Técnico do Projeto RENACOM (Registro e Câmara Nacional deCompensação de Multas Interestaduais).ALTAMIRO SATHLER FILHO - Diretor-Geral Substituto do Departamento de Polícia RodoviáriaFederal.WALDEMAR ANTONIO LEMOS FILHO – Presidente da União dos Vereadores do Brasil.JOSÉ DO ESPÍRITO SANTO – Presidente do Insituto Brasileiro de Segurança no Trânsito.FRANCISCO JOSÉ DE MATOS NOGUEIRA – Presidente da Autarquia Municipal de Trânsito eServiços Públicos de Cidadania de Fortaleza – CE.IVAN CARLOS ALVES BARBOSA – Secretário Municipal de Transportes Urbanos de Salvador –BA.AROLDO CEZÁRIO DINIZ Delegado de Polícia de Rio Claro – SP.LUIZ GONZAGA SANTOS – Vereador da Câmara Municipal de Taubaté – SP.

SUMÁRIO: I CONBRAM – Congresso Brasileiro de Municipalização do Trânsito.Painel “E” – Tema “Educação para o trânsito; promoção e participação do Município nosProgramas Educacionais de Educação e Segurança do Trânsito. Inteligência dos art. 74 a 79do Código de Trânsito Brasileiro. Papel das Câmaras Municipais no Código de TrânsitoBrasileiro.Painel “F” – Tema “Responsabilidade fiscal no gerenciamento do trânsito por parte da

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autoridade municipal, nos termos da Lei Complementar nº101, de 4/5/2000. Aplicação exclusivada receita de multas. Inteligência do art. 320, do Código de Trânsito Brasileiro. Existe indústriade multas? Banco de Multas em nível nacional — RENACOM e o papel da Polícia Rodoviáriafederal.

OBSERVAÇÕES- Não há casamento entre os quartos 30 e 31 (página 58)- Há orador não identificado.

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O SR. APRESENTADOR (Ronald Pimenta) – Neste momento, daremos início

ao último dia do I Congresso Brasileiro de Municipalização do Trânsito —

CONBRAM.

Solicito que todos tomem assento, a fim de que possamos dar início ao

Seminário. (Pausa.)

Este congresso é promovido pela Comissão Especial destinada a

acompanhar a aplicação da Lei nº 9.503, de 1997, que institui o Código de Trânsito

Brasileiro.

Daremos início ao Painel “E”, que tratará dos temas “Educação para o

Trânsito. Promoção e Participação do Município nos Programas Educacionais de

Educação e Segurança do Trânsito. Inteligência dos arts. 74 a 79 do Código de

Trânsito Brasileiro. O Papel das Câmaras Municipais no Código de Trânsito

Brasileiro”.

Para compor a Mesa, convidamos o Exmo. Sr. Deputado Ary Kara, Presidente

da Comissão Especial de aplicação da lei que institui o Código de Trânsito

Brasileiro. Para coordenar os trabalhos, convidamos a Dra. Luciene Maria Becacici

Esteves Viana, Secretária Municipal de Transportes e Infra-estrutura Urbana de

Vitória, Espírito Santo. Para conferenciar, convidamos a Professora Justina Iva de

Araújo Silva, Secretária Municipal de Educação da cidade de Natal, Rio Grande do

Norte, e ex-Diretora do DETRAN desse mesmo Estado. Como debatedores,

convidamos o Major PM Vera Cruz, Diretor da Divisão de Educação de Trânsito do

DETRAN de São Paulo, a Dra. Rita de Cássia Ferreira Cunha, Coordenadora-Geral

de Qualificação do Fator Humano no Trânsito do DENATRAN, o Dr. Joaquim Lopes

da Silva Júnior, Chefe de Gabinete do Secretário de Transportes Metropolitanos do

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Estado de São Paulo, o Dr. José Carlos Sacramone, Secretário Municipal da cidade

de Jundiaí, São Paulo, o Dr. Roberto Vaz da Silva, Coordenador-Geral do Programa

de Redução de Acidentes no Trânsito (PARE), e o Dr. Roberto Scaringella, ex-

Presidente do CONTRAN.

Passamos a palavra ao Exmo. Sr. Deputado Ary Kara, que presidirá os

trabalhos deste painel.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ary Kara) – Cumprimentamos todas as

senhoras e senhores aqui presentes, em especial a Profa. Justina Iva de Araújo

Silva, conferencista desta manhã, e a Dra. Luciene Maria Becacici Esteves Viana,

Secretária Municipal de Transportes e Infra-estrutura Urbana de Vitória, Espírito

Santo, que coordenará os trabalhos.

Todas as pessoas que discutem a área de educação conhecem a Profa.

Justina Silva. Em seu Estado, S.Sa. já exerceu e exerce os cargos mais importantes

nessa área, atividade que desempenha com dedicação e muita competência.

Cumprimentamos o Dr. Roberto Vaz da Silva, o Major PM Vera Cruz, o Dr.

José Carlos Sacramone, o Dr. Joaquim Lopes da Silva Júnior, a Dra. Rita Ferreira

Cunha e o Dr. Roberto Scaringella, que serão os debatedores deste painel. Depois,

o Dr. Roberto Scaringella usará a palavra para proferir pequena conferência aos

companheiros presentes.

Como Presidente da Comissão Especial destinada a estudar a aplicação do

Código de Trânsito Brasileiro, agradecemos à conferencista, à coordenadora e aos

debatedores o fato de gentilmente terem aceito o convite formulado pela Câmara

dos Deputados e pela União dos Vereadores do Brasil para comparecem a este

congresso. O convite foi aceito de forma graciosa, pois todas as pessoas que

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participam deste debate compareceram com recursos próprios. Tal fato é muito

interessante, pois demonstra a importância que as pessoas que compõem a Mesa

dão ao trânsito em nosso País. Além de nos deixar muito satisfeitos, esse tipo de

dedicação mostra aos Deputados como os homens que integram a área técnica do

País e trabalham com segurança, educação e trânsito realmente se interessam pela

melhoria de nosso trânsito.

Obrigado a todos os que compõem a Mesa.

O debate será iniciado por nossa conferencista, que disporá do prazo de vinte

minutos, prorrogável se for necessário, para fazer sua explanação. A partir deste

momento, os trabalhos serão coordenados pela Dra. Luciene Maria Becacici Esteves

Viana, que será a responsável pela interação deste I Congresso Brasileiro de

Municipalização do Trânsito.

De imediato, concedemos a palavra à Dra. Luciene Viana, a fim de que S.Sa.

dirija os trabalhos desta manhã.

A SRA. COORDENADORA (Luciene Maria Becacici Esteves Viana) – Exmo.

Presidente da Comissão, Deputado Ary Kara, demais membros da Mesa, senhoras

e senhores aqui presentes, bom dia a todos. Sejam muito bem-vindos a mais um dia

de debates sobre o trânsito, assunto de tamanha importância para todos os que

trabalham, em suas diferentes áreas, pela melhoria da qualidade de vida em nossas

cidades.

Antes de mais nada, agradeço à Comissão Especial o convite formulado para

coordenar os trabalhos desta Mesa, o que muito me honra.

Parabenizo o Deputado Ary Kara pela idealização deste evento e todos os

que participaram da organização do mesmo.

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Considero muito importante a oportunidade de envolvermos nos debates os

Poderes Executivo e Legislativo. Todos precisam se engajar na mesma

preocupação e trabalho, tendo em vista as questões de trânsito nas cidades do

nosso País.

Vitória é uma cidade na qual o trânsito foi municipalizado a partir de 1998. Ao

longo desses anos, muito temos feito, porém ainda há bastante o que fazer, já que

os desafios são grandes. Assim sendo, eventos como este propiciam a todos os que

se encontram ou que estão entrando agora no processo de municipalização a troca

de experiências, o que é muito importante. Os contatos feitos e o aprendizado que

ocorre são fundamentais. Muitas etapas de trabalho são queimadas e podemos

avançar quando conhecemos as experiências de cidades vizinhas.

Em minha cidade, muito temos falado a respeito da educação para o trânsito,

tendo em vista que, sempre que são abordados assuntos como a violência no

trânsito, a perda da qualidade de vida e o estresse urbano, somos remetidos à

obrigação de nos lembrar de que tudo começa a partir da mudança de

comportamento das pessoas.

Além de todas as ações que as cidades vêm adotando com relação à

operação e à fiscalização, talvez o nosso maior desafio seja a educação. De fato,

precisamos mudar conceitos, romper paradigmas e criar novos valores nas cidades

e em todos os segmentos da sociedade. E a inserção do Município nesse processo

é muito importante exatamente porque é nessa Unidade da Federação que ocorrem

as relações de convivência e de organização de comunidade.

Entendemos que o desafio na área educacional refere-se à mudança de

consciência em todos os segmentos da sociedade. As estratégias e formas de

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abordagem podem ser as mais diferentes possíveis, mas é preciso o envolvimento

efetivo das comunidades e suas lideranças, com engajamento e geração de um

clima de co-responsabilidade real. Afinal, todos e cada um nós, cidadãos, temos de

nos sentir parte integrante desse processo, para que possamos mudar o cenário de

violência no trânsito.

A efetividade de todas as ações na área de educação passa,

necessariamente, pela integração daquilo que foi feito por todos os setores

envolvidos e, principalmente, pelo engajamento de nossas comunidades em

trabalhos como os que algumas cidades já implementaram e outras estão

planejando. Em tais trabalhos, lideranças, escolas, diferentes igrejas,

empreendedores e demais segmentos da sociedade, além dos Poderes Executivo e

Legislativo precisam participar da empreitada; o trabalho é de todos nós. Dessa

forma, com certeza, no futuro colheremos os frutos da melhoria da qualidade de vida

e da própria mobilidade urbana em nossas cidades.

Para falar sobre o desafio da educação para o trânsito, convidamos nossa

conferencista, Profa. Justina Iva de Araújo Silva, Secretária Municipal de Educação

de Natal e ex-Diretora do DETRAN do Rio Grande do Norte.

A SRA. JUSTINA IVA DE ARAÚJO SILVA – Sr. Presidente, Deputado Ary

Kara, Sra. Coordenadora, Dra. Luciene Maria Viana, Dr. José Carlos Sacramone,

Major PM Vera Cruz, Dr. Roberto Vaz da Silva, Dr. Joaquim Lopes da Silva Júnior,

Dra. Rita Ferreira Cunha, Dr. Roberto Scaringella, minhas senhoras e senhores, bom

dia.

Nossas palavras iniciais são de agradecimento à confiança manifestada pelo

Deputado Ary Kara, que gentilmente nos convidou para aqui vir e falar sobre o tema

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“Educação e Segurança no Trânsito”. Certamente, essa foi uma gentileza de S.Exa.,

que entendeu que a vivência de dois anos na direção de um órgão de trânsito no

Estado do Rio Grande do Norte, associada à formação em educação e à experiência

na área, poderia trazer alguma contribuição a V.Exas.

Sem dúvida, há na platéia inúmeras pessoas mais competentes que nós, mas

a gentileza e a consideração do Deputado Ary Kara não nos permitiram recusar seu

convite. Assim sendo, esperamos contribuir com os trabalhos mediante a discussão

de algumas questões contidas no Código de Trânsito pertinentes ao tema, bem

como por meio do relato de algumas experiências vivenciadas na área de educação

de trânsito.

O tema proposto foi “Educação para o Trânsito; Promoção e Participação do

Município nos Programas de Educação e Segurança do Trânsito; Inteligência dos

arts. 74 a 79 do Código de Trânsito Brasileiro; o Papel das Câmaras Municipais no

Código de Trânsito Brasileiro”. Dispomos de vinte minutos para expor nosso

trabalho. Assim sendo, passaremos à citação no capítulo IV do Código de Trânsito

Brasileiro, que trata da educação para o trânsito nos arts. 74 a 79.

O art. 74 assevera que a educação para o trânsito é direito de todos os

cidadãos e dever prioritário dos componentes do Sistema de Trânsito Brasileiro. Em

seu § 1º, afirma que é obrigatória a existência de uma coordenação de educação em

cada órgão de trânsito. Sem dúvida, os órgãos do Sistema de Trânsito têm em sua

estrutura essa coordenação. Mesmo que denominem tal coordenação de setor ou

departamento, os órgãos do Sistema de Trânsito, em sua estrutura, dispõem de um

departamento, setor ou coordenação de educação.

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O § 2º desse mesmo artigo afirma que os órgãos ou entidades de trânsito

devem promover, em seu interior, o funcionamento das escolas públicas de trânsito,

nos moldes estabelecidos pelo CONTRAN. Entretanto, até então, o CONTRAN não

regulamentou essa matéria.

Sabemos de algumas experiências e iniciativas, independentemente da

regulamentação pelo CONTRAN, de criação de escolas públicas de trânsito. Salvo

engano, o DETRAN de Brasília realizou a primeira experiência. Mesmo assim, essa

experiência foi revista e repensada; a escola pública de trânsito não mais existe,

pelo menos da forma inicialmente desenhada. Hoje existem centros de formação de

condutores.

Na verdade, algumas resoluções do CONTRAN, como as de nºs 50, 74 e 89,

tratam apenas da formação do condutor, ou seja, daqueles que pretendem adquirir a

Carteira Nacional de Habilitação — CNH, que lhes dá permissão para dirigir. Sobre

a matéria específica de educação para o trânsito, o CONTRAN tem sido, até o

momento, omisso. Não há qualquer regulamentação nesse sentido.

V.Exas. poderiam perguntar se é necessária ou pertinente a exigência do

código no sentido de que os órgãos e entidades do Sistema de Trânsito tenham, em

seu interior, uma escola pública de trânsito. Dito de outra forma, é realmente preciso

que tenhamos escolas públicas de trânsito? Temos posição bastante clara e

consistente a respeito desse tema: não reconhecemos como necessária ou

pertinente a existência de escolas públicas de trânsito no interior dos órgãos ou

entidades de trânsito. Afinal, a educação para o trânsito deve e pode perfeitamente

ser ministrada — assim como a educação sexual, para o meio ambiente e para

outros temas — de forma transversal nas unidades de ensino públicas e privadas.

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Entendemos que a forma mais correta, até porque a educação para o trânsito

é uma educação para a vida, para a cidadania, é uma formação que deve trabalhar

as questões de cidadania, do uso do espaço público, da solidariedade, do respeito

ao outro e da defesa do meio ambiente. Portanto, não há como se pensar na

educação para o trânsito como uma disciplina à parte, porque a educação para o

trânsito deve estar entrelaçada com a questão da educação como um todo e não

apenas com uma convivência no espaço público entre aquele que dirige e aquele

que caminha. Essa é uma concepção, com certeza, ultrapassada, vencida. Logo,

não se pode pensar numa escola pública de trânsito para tratar apenas dessa

questão.

Na discussão realizada durante dois anos na Câmara Temática de Educação

e Cidadania, chegou-se ao consenso de que esse debate é desnecessário e

impertinente. O caminho a ser seguido é o caminho da educação do trânsito

percorrido pelo Jurandir Fernandes e sua equipe em passagem pelo DENATRAN.

Ou seja, a educação para o trânsito ministrada nas escolas de 1º e 2º graus.

Hoje, todos aqueles que trabalham no trânsito conhecem o Programa Rumo à

Escola. Trata-se de acordo de cooperação entre DENATRAN e UNESCO que

começa a trabalhar a educação do trânsito nas escolas de ensino fundamental e de

1ª à 8ª série. Do mesmo modo, existe proposta da equipe do Dr. Jurandir — embora

não em execução, por razões outras que discutiremos mais tarde — de um

programa de educação para o trânsito a ser ministrado nas escolas de ensino

médio. E aí sim teremos, desde a mais tenra idade à idade mais promissora para

apreender e assimilar, a partir dos cinco anos, toda a nossa população, de forma

abrangente, sendo educada para o trânsito e, conseqüentemente, teremos um

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trânsito seguro. Porque, com certeza, a insegurança no trânsito é decorrência da

falta de educação para o trânsito. Uma vez ministrada essa educação, por meio das

escolas, e desde a mais tenra idade, no 2º grau, de forma mais dirigida e técnica,

para os que serão os futuros motoristas, aí sim teremos um trânsito mais seguro.

Para ganhar tempo, vamos suprimir alguns pontos que havíamos sublinhado

ainda nesse item e passar a falar da concepção de educação que conseguimos

apreender nos textos das resoluções do CONTRAN.

Na verdade, o que aparece nessas resoluções é uma concepção de

educação para o trânsito restrita à formação do condutor de veículos. É uma

educação entendida como processo formal e a ausência de qualquer proposta

educativa que expresse a compreensão das relações no trânsito como sinônimo de

convivência, de interação e de solidariedade.

Para o art. 75, que trata das campanhas educativas de trânsito, há resoluções

do CONTRAN. A mais recente é a de nº 30/98, que define ser competência do

CONTRAN planejar, executar e supervisionar, senão executar, mas definir o que

deve ser feito.

Do ponto de vista da Câmara Temática de Educação e Cidadania, há alguns

aspectos críticos com relação a essas campanhas. O primeiro deles é que,

contrariando o que determina o art. 75, no seu § 2º, essas campanhas têm sido

esporádicas, não-permanentes. Como determina o Código de Trânsito, as

campanhas educativas devem ser permanentes e monitoradas. E também, conforme

define a Resolução nº 30/98, têm de ser avaliadas, considerando o período anterior

e posterior à campanha. E isso não tem sido feito.

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O mais sério nesse aspecto — e faço uma crítica; por favor, entendam como

crítica construtiva e não há como deixar de fazê-la — diz respeito à falta de apoio

efetivo pelo órgão executivo nacional de trânsito aos Estados e/ou Municípios na

realização de suas campanhas. Cito aqui dois casos específicos: o Estado do Pará,

desde o ano de 1998, foi o primeiro Estado a repassar ao órgão nacional executivo

de trânsito o Fundo Nacional de Segurança e Educação de Trânsito — FUNSET.

Cinco por cento sobre as multas pagas no Estado devem ser repassados para o

DENATRAN. Não sei se todos os Estados já fazem isso hoje, mas sei que o Estado

do Pará faz o repasse desde 1998 e o Estado do Rio Grande do Norte desde julho

de 1999. No nosso caso, esse repasse é automático. O banco, ao ser cobrada a

multa, repassa automaticamente os 5% do FUNSET para Estados e Municípios.

Os Estados do Pará e Rio Grande do Norte, há nove meses, solicitam ao

DENATRAN recursos para campanhas educativas. A cada três meses, o órgão pede

a atualização do cronograma de execução para, três meses depois, pedir

novamente a atualização de um segundo cronograma. No entanto, não somos

atendidos, mas entendemos o porquê. Um órgão que, a cada quatro meses, muda

de direção é um problema. Não há política nacional que se sustente dessa forma,

porque cada vez que é mudada a direção do órgão, o projeto, que estava para ser

assinado, é apresentado ao novo diretor. É preciso fazer nova defesa e atualizar o

cronograma de execução. E esses dois Estados, pasmem, não receberam até hoje

um só centavo para realização de campanhas educativas, embora tenham

resultados a apresentar sobre campanhas por eles efetuadas, a despeito da falta de

apoio.

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Portanto, não podemos realmente silenciar diante dessa falta de atenção,

sobretudo com aqueles que cumprem rigorosamente o seu dever, repassando ao

DENATRAN 5% do FUNSET que lhes são devidos.

Como disse há pouco, somente a partir da administração do Dr. Jurandir

Fernandes e sua equipe a questão da educação foi discutida com seriedade pelo

DENATRAN, embora o CONTRAN ainda continue omisso em relação a ela.

Qual é a concepção adotada a partir da passagem do Dr. Jurandir Fernandes

pelo DENATRAN? A educação para o trânsito passa a ser discutida como educação

para a vida, para a solidariedade, para o respeito e para a cidadania, não como uma

educação apenas para o uso do espaço público por quem dirige ou por quem

caminha. Portanto, ganha uma abrangência mais universal. Não vamos educar

apenas o condutor ou o candidato a condutor, mas crianças e jovens sobretudo para

que possam conviver solidariamente e com segurança no trânsito. O foco passa a

ser a cidadania. A educação passa a ser entendida como algo que se dá por meio

de processos formais e também informais.

Outros instrumentos que passam a ser utilizados: concursos sobre educação

de trânsito e forma teatral de fazer educação. Há inclusive uma proposta da Câmara

Temática de Educação e Cidadania para que se faça um concurso nacional sobre o

tema “Educação de Trânsito” por meio de teatro. Há várias grupos teatrais

trabalhando esse tema. Creio que V.Exas. inclusive presenciaram aqui uma dessas

experiências. Essa proposta seguramente foi remetida ao CONTRAN, no sentido de

que fosse instituído um concurso nacional sobre o tema “Educação de Trânsito” por

meio de teatro. Deixamos inclusive uma minuta redigida com os critérios de

realização desse concurso.

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E hoje, fruto dessa concepção, o DENATRAN instituiu o Programa Rumo à

Escola, que se realiza hoje, salvo engano, em quinze Estados, em escolas públicas

e privadas e atinge alunos de 1ª a 8ª série. E existe também a Resolução nº

120/2000 do CONTRAN que aprovou a educação de trânsito nas escolas de ensino

médio. Essa proposta sofreu uma série de reações, sobretudo dos chamados

Centros de Formação de Condutores. Somente quem teve a oportunidade de dirigir

um órgão executivo de trânsito, em âmbito nacional, sabe o quanto essa questão é

séria. A formação do condutor deixou de ser uma preocupação com a qualificação e

passou a ser, por força da existência dos centros e da proliferação deles, uma

mercadoria. E todo tipo de absurdo é cometido, como venda de certificado de

participação de curso. É o mínimo que podemos citar como problema. Mas os

lobbies foram grandes em relação a essa educação para o trânsito no ensino

médio, sobretudo dos chamados Centros de Formação de Condutores, pois seus

representantes diziam que com isso perderiam mercado.

Ora, não se pode, em sã consciência, desconhecer a importância e as

vantagens de uma educação para o trânsito que vai perpassar os três anos de curso

de 2º grau, de ensino médio, porque as pessoas não vão aprender apenas, em seis

horas, a mecânica do veículo e, em oito horas, temas como meio ambiente e

cidadania. Mas elas vão estudar, durante três anos, assuntos pertinentes a essa

área que vão capacitá-las para bem dirigir e relacionar-se, perpassando esse

conteúdo por todas as disciplinas, como Física, Língua Portuguesa, Matemática,

Química etc. É uma educação qualificada para o trânsito. Sabemos que essa

resolução está na gaveta, por força da pressão dos lobbies, particularmente os que

fazem os CFCs.

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Em relação ao papel das Câmaras Municipais do Código de Trânsito

Brasileiro, há alguns equívocos por parte do Poder Legislativo, em âmbito estadual e

municipal, quando se trata do tema “Trânsito”. Alguns desconhecem que, em sendo

uma política nacional de trânsito, é de competência da União legislar sobre ela.

Algumas Assembléias Legislativas têm tomado deliberações no sentido de perdoar e

parcelar multas; as Câmaras Municipais têm alterado limites de velocidade,

estabelecendo, como limites mínimos, independente da classificação da via, uma

velocidade que não é permitida, por força do Código. Portanto, desconhecem que se

trata de uma política nacional de competência da União.

Mas as Câmaras Municipais podem muito contribuir com a questão da

educação e segurança no trânsito. De que forma? Uma da maneiras é somar-se ao

Poder Executivo na obrigação de assegurar a todos o direito à educação de trânsito,

regulamentando o uso do espaço público municipal, a fim de garantir ao motorista e

ao pedestre a liberdade de ir e vir.

Na verdade o que está acontecendo, se não na maioria dos Estados mas em

grande parte deles ou das cidades, sobretudo das Capitais, é uma invasão do

espaço público por motoristas que estacionam os carros nas calçadas, por camelôs

e comerciantes que ocupam o espaço de circulação do pedestre. Isso é gravíssimo

porque o pedestre passa a caminhar na via pública, no asfalto, e a disputar com o

veículo o espaço que lhe deveria ser preservado.

As Câmaras Municipais podem legislar sobre essa matéria e regulamentá-la,

podem ainda colaborar e disponibilizar seus espaços institucionais para o trabalho

de educação para o trânsito, fiscalizar a política de educação de trânsito do

Município e aliar-se ao Poder Executivo para cobrar apoio dos órgãos federais às

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campanhas municipais de educação e segurança no trânsito, com recursos do

DPVAT e do FUNSET, que devem ser usados para esse fim.

Posto isso, gostaria de apresentar uma experiência de educação no trânsito

desenvolvida em Natal. Essa experiência parte da concepção de que a ação de

educação para o trânsito há de ser de caráter permanente, conforme propugna o art.

75 do Código de Trânsito.

A experiência de Natal é múltipla em seus procedimentos metodológicos.

Realizamos aulas expositivas e capacitação de professores por meio de música,

teatro e poesia. Essa experiência é descentralizada em relação aos espaços físicos.

Esse trabalho educativo para o trânsito está presente em todas as regiões e

bairros de Natal, dentro das escolas e fora delas. Concebemos esse trabalho como

ação que deve ser prazerosa e que utiliza sobretudo os recursos lúdicos e artísticos

e como instrumento de resgate e difusão da cultura popular. Então nós trabalhamos

esse tema “Educação para o Trânsito” com a participação de poetas populares,

cantadores de viola e mamulengueiros. Além disso, realizamos entrevistas dentro de

transportes coletivos, com o objetivo de abordar questões de trânsito, espaço e

respeito.

Uma das ações desenvolvidas em Natal é o Programa Rumo à Escola, em

parceria com o DENATRAN. Esse programa abrange cinco escolas públicas,

atingindo 213 professores e 5.529 alunos. Temos também o Programa Trânsito nas

Escolas, que atinge o conjunto das 66 escolas municipais de Natal e capacita 350

educadores. Em todas essas escolas são apresentadas peças teatrais. Realizamos

anualmente um concurso nas escolas e premiamos os melhores trabalhos, que

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podem ser artesanais, redação, poesia, música e teatro. Há permanente realização

de palestras nas escolas sobre o tema “Educação para o Trânsito”.

Além disso, temos uma experiência que se realiza mensalmente na cidade de

Natal: o Programa Nosso Bairro Cidadão, com a participação dos bairros de Natal,

para onde se deslocam as instituições públicas municipais e outras, mas instituições

como a Polícia Militar, Polícia Civil, universidades e toda uma gama de serviços

prestados à população nesses dois dias de realização do programa.

Nesses momentos, fazemos apresentação de vídeos educativos, oficinas,

distribuição de material gráfico e orientação, sobretudo no que diz respeito à

travessia do pedestre, porque constatamos que as pessoas que moram em

periferias, que têm mais baixo nível de instrução, são as que menos assimilam o

direito e o seu dever no momento de fazer a travessia. Então, insisti muito nesse

trabalho quando da realização desses eventos.

Há ainda uma série de outras campanhas. Temos em Natal, no mês de

dezembro, o Carnatal, que é o Carnaval fora de época, em que cerca de dez mil

pessoas chegam a Natal nesse período. Então, há todo um trabalho durante o

evento de educação feito pela Secretaria de Transporte e Trânsito Urbano — STTU,

em parceria com o DETRAN.

A Operação Volta às Aulas é outra campanha que se faz para evitar a famosa

fila dupla nas portas dos colégios, havendo todo um trabalho, nas portas de todos os

colégios, pelas equipes no sentido de conversar, de abordar os motoristas para que

evitem as filas duplas.

Há permanentemente campanhas em vias públicas, através de teatro, de

distribuição de impressos, sobretudo nos cruzamentos de pedestres e no interior dos

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transportes coletivos, em que aqueles atores entram e declamam poesias

relacionadas ao tema, cantadores de viola fazem entrevistas com os usuários do

transporte, enfim, uma série de outras atividades.

O Rio Grande do Norte, basicamente na Capital, mas também em algumas

cidades do interior, foi pioneiro no programa de educação de trânsito, denominado

Programa Nacional de Educação de Trânsito — PNET, que iniciou-se naquele

Estado, no ano de 1996. Portanto, desde esse ano lidamos com educação de

trânsito no ensino fundamental.

Esse programa trabalhava com as séries de 1ª a 4ª e agora, com o Rumo à

Escola, estendendo-se até a 8ª série. Com certeza, tudo o que tem sido feito tem

contribuído para tornar Natal a terceira cidade do Brasil a ter o pedestre respeitado

na sua travessia. Essa campanha realizou-se de 15 de setembro a 30 de dezembro

de 2000, sob a coordenação do DETRAN com a parceria do Município. No seu

encerramento, em 31 de dezembro, pudemos apresentar resultados fantásticos.

Inspiramo-nos na experiência de Brasília. Foram trabalhar conosco o Dr.

Miura e o coronel Azevedo, da Polícia Militar. Enfim, aprendemos muito com essa

experiência.

Para encerrar, gostaria de fazer apenas a leitura de um pequeno texto do

relatório dessa experiência, cuja cópia deixei com o Deputado Ary Kara e posso

deixar outra com o Augusto, para aqueles que se interessarem em ter acesso ao

mesmo. Esse pequeno texto para mim diz o quão importante é a educação como

condição sine qua non para que tenhamos segurança no trânsito. Não dá para

tratar do tema segurança sem tratar ao mesmo tempo da questão da educação.

Passo então a ler o último item da conferência, que diz o seguinte:

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“Trilhando o caminho da educação.

Trilhar o caminho da educação é, sem sombra de dúvida, a melhor alternativa.

Convencida disto, decidi por priorizá-lo quando dirigi o DETRAN/RN, de janeiro de

1999 a dezembro de 2001. Não porque conceba a educação como panacéia, isto é,

remédio para todos os males. Tenho, outrossim, certeza que, através do acesso à

educação, gera-se a possibilidade de cada um integrar-se no processo social,

cultural e político. Democratizar o conhecimento, a informação é uma forma de

produção social da cidadania. Transitar, ir e vir no espaço de circulação pública com

paz e segurança requer formação cidadã que só se dará pela aquisição do

conhecimento.

Campanha educativa dirigida a pedestres e condutores de veículos, incluindo

orientação a uns e outros, ampla divulgação de mensagens educativas por meio de

peças publicitárias, materiais impressos, apresentações artístico-culturais em

escolas, empresas e logradouros públicos relacionados ao tema trânsito constituem

condição necessária para que pedestres e condutores passem a se respeitar em

quaisquer situações relacionais no trânsito.

A certeza de que o pedestre continuava sendo a maior vítima fatal do trânsito

em nossa cidade, totalizando 62.4% das ocorrências no período de janeiro a julho de

2000; e a convicção que tenho, tomando como exemplo o filósofo Sócrates, de que

ninguém que acredita existirem coisas melhores do que as que faz e estão ao seu

alcance recusa-se a mudar de atitude na direção de fazer o melhor impulsionaram-

lhe a planejar e executar campanha em defesa da vida, por trânsito seguro e

pacífico, focando particularmente o respeito ao pedestre.

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Não há mais dúvida do êxito e da acertada decisão de realizar a campanha. O

estudo feito nas dez vias públicas mais críticas do perímetro urbano, palco inicial da

ação educativa, revelou que houve redução de 50.2% no número de acidentes em

geral e de 40% no número de atropelamentos nos trinta primeiros dias da

campanha, resultados observados durante o período de sua execução.

Pode-se afirmar, sem equívocos ou atitudes ufanistas, que o motorista da

cidade de Natal respeita o pedestre, pára antes da faixa e não pára na faixa, como

dizia Gabriel o Pensador, numa campanha equivocada em que ele dizia: “Eu paro na

faixa”, o que não deve acontecer.

A experiência tem mostrado que o intenso desrespeito ao pedestre decorria

da falta de oportunidade dos motoristas de refletirem sobre sua responsabilidade

individual na preservação do bem maior, a vida. Uma vez conscientes e convocados

a defendê-la, respeitando o pedestre, responderam positivamente. Vale ressaltar

que o resultado foi fruto de forte mobilização da sociedade e de ação

essencialmente educativa. Nenhum condutor de veículo foi alvo de qualquer

penalidade administrativa, pecuniária ou de qualquer natureza por desrespeito à

faixa enquanto a campanha esteve em curso.

Os motoristas de Natal, inteligentes e solidários, compreenderam que não

mais poderiam comportar-se diante dos transeuntes como se inimigos fossem ou

estivessem medindo forças e já decidiram por agir de maneira civilizada e cidadã no

espaço público da cidade, respeitando o pedestre, dando-lhe prioridade nos locais

de travessias não semaforizados, demarcados por faixas. Os natalenses já podem

se sentir orgulhosos por viverem na terceira cidade do País em que condutores de

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veículos param antes da faixa em respeito ao pedestre, contribuindo para o trânsito

seguro.

Aqueles que, como eu, acreditam na boa índole do ser humano e não têm

dúvida de que atitudes ou comportamentos inadequados ocorrem, na maioria das

vezes, por falta de informação, conhecimento e saber, requisitos necessários ao

discernimento entre agir certo ou errado, egoísta ou solidário, ético ou antiético,

moral ou amoral, tinham certeza de que a resposta dos motoristas e pedestres seria

positiva. Fica a certeza de que, se a educação não é a solução para todos os males,

é o caminho sine qua non para a solução de muitos deles.

Pode-se, sem temor de cometer uma asneira, afirmar que somente um povo

educado garantirá um trânsito seguro. As medidas repressivas coíbem os atos

irresponsáveis no trânsito, porém, somente a consciência cidadã que se forma via

educação nas suas mais variadas manifestações se traduzirá em responsabilidade

social, em respeito à própria vida e à do outro.

A segurança no trânsito só será efetivamente alcançada quando os dirigentes

deste País priorizarem a educação do seu povo, caminho indispensável à

construção da cidadania e ao estabelecimento de relações solidárias em quaisquer

espaços de convivência humana.

Muito obrigada. (Palmas.)

A SRA. COORDENADORA (Luciene Maria Becacici Esteves Viana) –

Agradecemos à Profa. Justina Iva a brilhante explanação. Com certeza, pontuou

uma série de aspectos que, além de muito importantes, já suscitam o debate.

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Vamos passar agora para a fase dos debates. Nossa organização prevê que

as perguntas sejam encaminhadas, a partir de agora, por escrito. As recepcionistas

estão circulando para recebê-las.

Peço aos debatedores que respeitem o tempo de cinco minutos para não

comprometermos o próximo painel. Convido a major da PM Vera Cruz, Diretora da

Divisão de Educação de Trânsito do DETRAN de São Paulo.

A SRA. VERA CRUZ – Profa. Justina Iva, Dra. Luciene, Coordenadora dos

debates, demais membros da Mesa, senhoras e senhores, bom dia.

Trânsito é matéria bastante complexa porque envolve não só motoristas,

como se pode pensar, mas também passageiros e pedestres. Envolve o dia-a-dia

das pessoas, porque tudo envolve deslocamento. Muito se costuma dizer sobre a

falta de educação do motorista, mas esquecemos que o pedestre é o maior

causador dos próprios atropelamentos.

Então, a educação deve envolver toda a população e não simplesmente o

motorista ou o processo de cancelamento da habilitação. Esse é um processo longo;

quanto antes começar melhor. Se começarem a desenvolver campanhas e

programas que envolvam crianças desde a mais tenra idade, melhores serão os

resultados.

Sabemos que é obrigação de todos os órgãos que integram o Sistema

Nacional de Trânsito desenvolverem campanhas educativas. E é do nosso

conhecimento que todos os órgãos executivos dos Estados brasileiros desenvolvem

essas campanhas, na maioria das vezes com pouco ou nenhum recurso, contando

simplesmente com a criatividade e com o trabalho das pessoas que os integram. De

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uma forma ou de outra, todos os órgãos estaduais fazem campanhas, bem como

alguns órgãos municipais.

Percebemos que está faltando integração entre os órgãos do Sistema. Apesar

dos esforços feitos pelos órgãos estaduais, ninguém melhor do que o próprio

Município para desenvolver campanhas, com base nas peculiaridades locais. Por

exemplo: não é a primeira vez que venho a Brasília, mas percebi que o respeito dos

motoristas à faixa de pedestres é uma peculiaridade específica da cidade. Embora

percebamos que realmente o sistema é muito eficiente, em São Paulo já não poderia

ser feito assim. Aqui, os pedestres são muito poucos, as vias são de trânsito rápido.

Em São Paulo, ao contrário daqui, há muitos pedestres atravessando as ruas o

tempo todo, em vários locais.

Por isso, a importância de o Município agir de acordo com suas

características específicas. Embora todos os órgãos executivos se esforcem e

desenvolvam campanhas permanentes, o que falta é integração dos Municípios,

bem como campanhas específicas. No Estado de São Paulo, o DETRAN desenvolve

campanhas para as mais diversas idades, desde as crianças do ensino fundamental

até as do 2º Grau. Desenvolvemos também palestras para adultos, para a terceira

idade, para empresas, para motoristas e não-motoristas. Mas somos uma semente,

uma gota d’água no oceano. Desenvolvemos campanhas educativas há mais de 30

anos. Na Cidade Mirim, projeto desenvolvido pelo DETRAN, são recebidas, em

média, 150 crianças por dia; ela já foi visitada por mais de 500 mil crianças. Só que

o trabalho de educação, para surtir efeito e mudar o comportamento das pessoas,

tem que ser contínuo e constante. A criança recebe orientação na Cidade Mirim e

nas escolas, mas não é o suficiente. É necessário que o Município

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permanentemente acompanhe as crianças, desde o ingresso na escola até a idade

adulta. Todos têm obrigação de participar desse processo. Não podemos deixar tudo

para o Poder Público, para os Municípios e para os professores. A educação deve

começar na casa da criança. Pais, tios e adultos que convivem com a criança devem

participar da educação de trânsito, de cidadania e de preservação do meio

ambiente, temas transversais que não podem ser incorporados totalmente como

disciplina escolar. Devem fazer parte da vida de todos; e todos devem participar.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigada. (Palmas.)

A SRA. COORDENADORA (Luciene Maria Becacici Esteves Viana) –

Agradecemos à major Vera Cruz a intervenção.

Passo a palavra à Sra. Rita de Cássia Ferreira Cunha, Coordenadora-Geral

de Qualificação do Fator Humano no Trânsito do DENATRAN.

A SRA. RITA DE CÁSSIA FERREIRA CUNHA – Boa tarde a todos.

Sra. Luciene, Profa. Justina, demais componentes da Mesa, senhoras e

senhores, primeiramente vou fazer algumas observações em relação ao tema

desenvolvido pela Profa. Justina: a escola pública.

A Resolução nº 74 faz menção à escola pública. Creio que deveríamos

repensar o conceito de escola pública. Deveria ser ligada à formação de instrutores?

De que maneira seria essa formação? Seria o aperfeiçoamento da qualidade dos

instrutores ou a formação das pessoas que trabalham na área de trânsito?

De fato, a partir desses novos horizontes, no DENATRAN poderia funcionar

uma escola pública de trânsito. Já existe o Centro de Formação de Condutores, que,

como o próprio nome diz, trabalha na formação dos instrutores. Mas também

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precisamos pensar na formação das pessoas que conduzem veículos, o que passa

pela formação de instrutores e examinadores. A escola pública poderia ter algumas

destas características: qualificação, qualidade e formação das pessoas que

trabalham no trânsito.

Foram feitas algumas observações a respeito do DENATRAN. Realmente,

trata-se de situação delicada para as pessoas que trabalham naquele órgão. A partir

do ano passado, o Dr. Jorge Franciscone, que exercia o cargo de Diretor do órgão,

deu-nos pleno apoio a continuar priorizando a qualidade, ou seja, os processos cuja

intenção era a melhoria do trânsito e as campanhas feitas nos Estados.

Atualmente, estamos empenhados no desenvolvimento dos projetos do Pará

e do Rio Grande do Norte que se encontram na minha Coordenação, a fim de que

tenham continuidade e sejam executados.

Com relação à passagem do Dr. Jurandir Fernandes pelo DENATRAN,

ressalto que houve benefício muito grande. Recebemos uma dádiva: por intermédio

de seu trabalho, foi dado início a uma série de projetos muito importantes para o

cumprimento do art. 76 do Código de Trânsito Brasileiro. O Dr. Joaquim Lopes da

Silva Júnior, que à época estava à frente da Coordenação de Educação para o

Trânsito, deu início a vários projetos importantes. Entre eles, podemos citar o Rumo

à Escola, o do ensino médio e o Mídia Cidadã. Atualmente, sob a coordenação da

Profa. Juciara Rodrigues, o Projeto Rumo à Escola está em pleno funcionamento e

tem obtido sucesso, motivo pelo qual os DETRANs estão satisfeitos.

Além disso, estamos dando início ao Projeto Caminho Aberto à Cidadania,

que objetiva o treinamento de professores para a utilização de material pedagógico.

A exemplo do Rumo à Escola, o Projeto Caminho Aberto à Cidadania trabalha com o

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ensino fundamental, para atender à demanda de outros Estados. O Rumo à Escola

abrange, atualmente, quinze Estados. Existem muitas cobranças de outros Estados

que não haviam sido agraciados na primeira fase do projeto, mas futuramente serão

atendidos.

Pretendemos utilizar o material pedagógico até a chegada do Projeto Rumo à

Escola nos outros Estados. Seria um treinamento dos professores para a utilização

do material. Isso tem por objetivo trabalhar a disciplina trânsito de maneira

transversal nas disciplinas do ensino fundamental. Repito: isso será feito até que o

Projeto Rumo à Escola chegue aos demais Estados.

O DENATRAN também está retomando o projeto do ensino médio que

objetiva incluir a disciplina de educação para o trânsito no 2º Grau. O Dr. Jorge

Franciscone nos autorizou a dar continuidade ao projeto. Então, estamos revendo-o,

para começar a trabalhar tal assunto no ensino médio.

Atualmente, o DENATRAN tem procurado exercer a atividade de distribuição

de material pedagógico para alunos de 1º, 2º e 3º Graus. Temos conseguido

distribuir exemplares do Código Brasileiro de Trânsito; do Programa Rua Legal,

presente na maioria dos Estados: trata-se de filmes de três minutos sobre o trânsito;

da Semana Nacional de Trânsito sobre álcool e trânsito, do ano 2001. Agora, vamos

começar a distribuição do Programa Transitando.

Conseguimos dar continuidade a projeto iniciado pelo Dr. Joaquim. É o

Prêmio DENATRAN, cujo objetivo é incentivar e divulgar os trabalhos de

educadores, estudantes e pesquisadores da área de trânsito. O primeiro Prêmio

DENATRAN foi entregue em 2000. Inicialmente, a premiação seria anual.

Infelizmente, não se pôde dar continuidade ao projeto. Agora, ao assumir a

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Coordenação, fiquei de novo à frente do Prêmio DENATRAN. E estamos a todo

vapor. No dia 10 de junho vão começar as inscrições. Qualquer informação a

respeito do prêmio pode ser encontrada no site do DENATRAN:

www.denatran.gov.br. Serão premiados tanto educadores quanto estudantes de 1ª a

8ª séries, bem como pesquisadores e imprensa.

Seriam essas as atividades que, atualmente, o DENATRAN está executando.

Agradecemos ao Dr. Franciscone, que nos deu a oportunidade de começar a

trabalhar.

Quando estamos no trânsito, muitas vezes desanimamos ao constatar que há

pessoas sem nenhum compromisso. Mas para a nossa grande alegria sempre

aparecem pessoas que têm compromisso, que querem trabalhar no trânsito, que

dão nova vida ao setor. E sentimos vontade de trabalhar e de dar a nossa

contribuição.

Obrigada. (Palmas.)

A SRA. COORDENADORA (Luciene Maria Becacici Esteves Viana) –

Obrigada, Dra. Rita.

Lembramos que as perguntas devem ser encaminhadas à Mesa por escrito.

As nossas recepcionistas estão circulando no recinto e recolherão as perguntas.

Reforçamos o pedido aos debatedores para que cumpram os cinco minutos

estabelecidos, a fim de não comprometermos o próximo painel.

Com a palavra o Dr. Joaquim Lopes da Silva Júnior, Chefe de Gabinete do

Secretário de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo.

O SR. JOAQUIM LOPES DA SILVA JÚNIOR – Sra. Coordenadora, Dra.

Luciene, Sra. Secretária, Profa. Justina, Major Vera, Dra. Rita, Dr. José Carlos

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Sacramone, Dr. Roberto Vaz, Dr. Roberto Scaringella, inicialmente, são muito

importantes eventos como este, em que podemos discutir o tema específico da

educação no trânsito. Hoje, estamos fazendo um retrospecto, um balanço do que

tem sido feito até agora.

As estatísticas — e não se tem muito; há pouco tempo eram produzidas pelo

Instituto Nacional de Segurança no Trânsito, do Dr. Roberto Scaringella — ressaltam

a importância da matéria, pois verificamos o fator humano na ocorrência dos

acidentes.

De certa forma, estou muito contente por perceber que o Sol voltou a brilhar

na área de educação do DENATRAN. Estão sendo retomados os programas. O

Departamento passou por um período meio obscuro, mas agora, pelo que

percebemos, está mais aliviado, começa a fazer aquilo de que gosta, e os

funcionários voltam a se encantar com as mudanças que têm ocorrido.

Os Programas Rumo à Escola, Rua Legal, Transitando, Caminho Aberto à

Cidadania, Vida Cidadã e o do ensino médio nos mostram que temos desafios a

enfrentar ainda. Com relação aos que estavam parados, a Coordenadora Rita de

Cássia disse que estão sendo retomados. Cito o Mídia Cidadã. Como sabemos, não

adianta trabalhar a educação apenas na escola; é preciso chegar aos veículos de

comunicação. O programa buscava a parceria com os veículos de comunicação,

com os profissionais que cobrem as notícias das cidades diariamente. Se ele, que

fala e escreve sobre o trânsito, não estiver sensibilizado para o tema,

compromissado com os valores que temos lembrado, continuará escrevendo errado,

continuará trabalhando com conceitos equivocados que nem sempre atendem aos

propósitos do setor.

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Em relação ao programa do ensino médio, há protocolo de intenção firmado e

assinado pelo Ministro Paulo Renato, da Educação, e pelo então Ministro José

Gregori, da Justiça. A queixa de que o MEC não está disposto a discutir a educação

no trânsito não procede mais. Existe um protocolo de intenção firmado, o que eu

considero meio caminho andado. O Programa TV Escola, convênio firmado com o

DENATRAN, ampliou sobremaneira o Programa Rua Legal, que hoje chega a 60 mil

escolas do País.

A propósito, a Dra. Rita menciona o Programa Caminho Aberto à Cidadania,

que, na verdade, foi uma contribuição da ABDETRAN, que produziu o material

originariamente, com nova formatação. Na ocasião, foi assinado um termo de

cessão para que o DENATRAN distribuísse o material às escolas. Mas ele deve

chegar lá por meio de programas de capacitação e treinamento; não pode, pura e

simplesmente, ser entregue. De minha parte, fico contente porque a Coordenação

está tomando as providências cabíveis.

Há outro aspecto que permanece como desafio e sobre o qual algumas

pessoas falaram. Trata-se dos Centros de Formação de Condutores. Nós

precisamos começar a investir mais na qualificação desses profissionais que, a partir

do novo Código de Trânsito, tornaram-se professores da noite para o dia, mas sem

nenhum recurso ou instrumentalização. É preciso investir na qualificação profissional

dos que estão envolvidos na atividade de formação, na produção de recursos

pedagógicos para dar suporte aos profissionais, na formatação — e ontem alguns

mencionaram esse aspecto durante a discussão sobre a municipalização; esse é o

papel do DENATRAN — de parâmetros de conteúdo das disciplinas a serem

desenvolvidas.

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Finalmente, o banco nacional de questões coroa esse processo, instrumento

que unifica, em âmbito nacional, as questões do processo de formação. Eu não sei

qual é o zelo — imagino que tenha — dos órgãos executivos em relação às

questões oferecidas diariamente, para aprovação dos aprendizes cuja intenção é

tirar a Carteira Nacional de Habilitação. Temos de dar tratamento didático e

pedagógico a essas questões e unificar o programa em âmbito nacional. E,

finalmente, criar um programa nacional de avaliação do processo de formação, o

Provão da CNH, ferramenta que nos forneceria indicadores das regiões do País.

São essas as minhas contribuições.

Obrigado. (Palmas.)

A SRA. COORDENADORA (Luciene Maria Becacici Esteves Viana) –

Agradecemos ao Dr. Joaquim Lopes da Silva Júnior e passamos a palavra ao Dr.

José Carlos Sacramone, Secretário Municipal de Transportes de Jundiaí.

O SR. JOSÉ CARLOS SACRAMONE — Bom dia a todos. Companheiros da

Mesa, senhoras e senhores, concordo com a idéia da Profa. Justina de criar uma

escola específica de trânsito. Da forma como está no Código, na minha opinião, é

uma tremenda bobagem. O aluno não quer mais ouvir alguém falar, copiar e estudar

livros; ele quer participar, principalmente o aluno do ensino médio.

Temos uma experiência maravilhosa em Jundiaí, mas não vou falar disso

agora, porque cada pedacinho do Brasil tem uma experiência diferente em algum

segmento. Em São Luiz do Maranhão, por exemplo, foi feito trabalho maravilhoso

com os carroceiros; em Indaiatuba, Estado de São Paulo, o trabalho envolveu

bicicletas. O Brasil é muito grande para desenvolvermos um programa só.

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O que falta, realmente, é uma política clara com o objetivo de reduzir os

acidentes no trânsito e adaptada às particularidades de cada região. Vou citar um

exemplo: antes da aprovação do Código de Trânsito Brasileiro, muitas cidades, por

liberalidade e até por inconstitucionalidade, adotaram como obrigatório o uso do

cinto de segurança. São Paulo foi uma das primeiras cidades. O cinto de segurança

só deu certo quando virou regra nacional. E quem deve transformar isso em regra

nacional? O DENATRAN, por delegação do CONTRAN. Mas como o DENATRAN

pode fazer alguma coisa se, desde setembro de 1997, teve sete diretores efetivos e

dois interinos? Nove diretores; um diretor a cada seis meses. Estou há nove anos no

mesmo cargo e vi todos eles passarem, ou seja, vi as políticas começarem e

terminarem.

O melhor caminho para isso é a Câmara Temática, prevista no Código de

Trânsito. É o processo mais democrático para definição das políticas a serem

implantadas em cada região. A Profa. Justina disse bem: “Está sendo discutido no

âmbito da Câmara Temática de Educação de Trânsito o que fazer, como fazer. No

Nordeste, vamos usar o folclore da região”.

Temos exemplo claro do que é discutido e ouvido. Aqui neste recinto há uma

faixa de um patrocinador sobre as virtudes da faixa de segurança, hoje aprovada e

considerada uma necessidade. Mas a questão passou por exaustiva discussão na

Câmara Temática de Assuntos Veiculares, foi aprovada por esta Casa e passou por

um processo de negociação em vários Ministérios, envolvendo sociedade,

caminhoneiros, representantes de Municípios, DETRAN, DNER, até que fosse

definitivamente aprovada sem barulho. O caminho democrático é a discussão; e

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quando é feita pelas Câmaras Temáticas, o caminho se torna mais longo, com

certeza, mas produz resultados mais eficientes.

Temos, de alguma forma, que incentivar as Câmaras Temáticas, porque têm

representantes de todos os segmentos: o representante municipal da área de

educação; o representante da área de educação do DETRAN; o especialista em

educação de trânsito do DNER, do DER, da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia

Militar; e os especialistas em geral.

O DENATRAN deve assumir, definitivamente, o seu papel no sistema. E não

se trata de ditar as regras, a exemplo do que fez com o RENACOM ou com a

Portaria nº 28, mas, sim, de ouvir a sociedade. O único caminho é discutir a questão

por intermédio das Câmaras Temáticas. É o processo mais democrático.

Era isso que eu tinha a dizer. (Palmas.)

A SRA. COORDENADORA (Luciene Maria Becacici Esteves Viana) –

Obrigada, Sr. José Carlos Sacramone.

Passamos a palavra ao Dr. Roberto Vaz da Silva, Coordenador-Geral do

Programa de Redução de Acidentes no Trânsito — PARE.

O SR. ROBERTO VAZ DA SILVA – Obrigado, Dra. Luciene Viana. Meus

cumprimentos à Profa. Justina Silva, aos demais colegas de Mesa e a todos os

presentes.

Vejo que a Profa. Justina Silva tratou com muita propriedade da área de

educação. E acredito que a educação para o trânsito realmente precisa ser uma

responsabilidade do Município. A esfera federal ainda tem grande responsabilidade

no que diz respeito à administração do trânsito. Os Estados já a assumiram antes

mesmo da vigência do nosso atual Código de Trânsito — os DETRANs já tinham

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sua responsabilidade na gestão do trânsito —, e cerca de 400 Municípios já estão

administrando o trânsito local. E está incluída como responsabilidade dos Municípios

a educação para o trânsito.

Se considerarmos que o Brasil tem cerca de 5 mil Municípios, poderemos

achar que a municipalização está muito lenta. Na verdade, os 400 Municípios já

representam percentagem de usuários de trânsito nas áreas urbanas de

aproximadamente 80%. Então, o processo está indo bem.

Eu gostaria de aproveitar a oportunidade para dizer algo a respeito de uma

das campanhas do Programa de Redução de Acidentes no Trânsito — PARE, do

Ministério dos Transportes. Criado em 1993, já tem quase uma década de

atividades. Eu tenho a satisfação e a honra de dirigi-lo. Entre as nossas campanhas

— todas educacionais, lato sensu —, uma tem chamado muita atenção, e eu creio

que muito rapidamente deverá chegar a todos os Municípios do Brasil, porque tem

todas as condições para isso. Trata-se da campanha O Amigo da Vez, de acordo

com o princípio de descentralização, no sentido de abrir espaço a Estados e

Municípios, muito maior do que aquele que ainda hoje é ocupado pela esfera

federal.

Todos nós sabemos que o binômio álcool/direção é extremamente danoso e

um dos responsáveis pelas mortes no trânsito, principalmente nos finais de semana,

atingindo aquela faixa etária mais nobre da nossa população, ou seja, de 18 a 30

anos de idade, aproximadamente. O Amigo da Vez propõe que o grupo de amigos

que freqüenta bares — e entendemos que não há lei seca — escolha o que vai ficar

sóbrio e será responsável pela condução dos demais com maior segurança. A

campanha tem tido uma receptividade imensa; hoje já chegou a Macapá,

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Pernambuco — está aqui o Diretor do DETRAN de Pernambuco, o Dr. Laédson

Bezerra Silva — e Bahia. Já trabalhamos no Rio de Janeiro, em São Paulo e em

Brasília; devemos retornar a essas Capitais. Estamos em Porto Alegre e em

algumas cidades do interior do Rio Grande do Sul, devendo começar a trabalhar em

Santa Catarina no próximo mês.

Essa campanha pode ser assumida pelo Município, pois tem caráter

educacional muito forte sobre um tema que nos preocupa a todos: a mistura álcool e

direção.

O Ministério dos Transportes, com o PARE, tem buscado a municipalização

do trânsito, responsabilidade do Município. É nele que serão pranteados os mortos

no trânsito; não é o Governo Estadual nem o Federal. É no Município que a dor da

perda vai se refletir.

Entendo que a educação para o trânsito deve ser responsabilidade dos

Municípios. Concordo que o tema trânsito deve ser transversal. As escolas devem

inclui-lo no currículo normal.

O DENATRAN e o Ministério da Justiça têm programas muito bons, a

exemplo do Rumo à Escola. Acredito que a Resolução nº 120, citada pela Profa.

Justina, também pode ser implantada; parece-me que isso será feito em parceria

com a UNESCO. Creio que muito em breve a Resolução nº 120 começará a se

tornar realidade, pelo menos no que diz respeito à educação e à participação dos

Municípios na educação para o trânsito.

O tema também nos convida a comentar o papel das Câmaras Municipais na

implantação e no respeito ao Código de Trânsito Brasileiro. A respeito da

participação das Câmaras, em complementação ao que a Profa. Justina já disse,

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creio que caberia muito provavelmente às Câmaras de Vereadores conclamar a

comunidade, as forças vivas do Município a formarem conselhos comunitários de

trânsito, junto com a escolas, administração pública, Judiciário local, enfim, cabe às

Câmaras de Vereadores a iniciativa de despertar a comunidade para o problema,

enfatizando que o trânsito é pernicioso da forma como hoje se apresenta,

procurando conscientizar a população. Acredito que isso vale, principalmente, para

Municípios de pequeno porte; não são as cidades de São Paulo ou do Rio de

Janeiro que vão formar conselhos comunitários; a abrangência deles é específica de

pequenos Municípios.

Aproveitando a presença dos Srs. Vereadores, proponho que reflitam sobre a

conveniência e a possibilidade de criação, em suas cidades, de conselhos

comunitários, para tratar do assunto e torná-lo objeto de constantes debates.

Portanto, não só passivamente vivenciado pela população, mas também ativamente

discutido por ela, alterando comportamentos perniciosos e mudando a característica

do trânsito, que, por enquanto, é assassino, mas que pode se tornar cidadão.

Agradeço ao Deputado Ary Kara o convite e o parabenizo pela realização do

encontro. Meus parabéns à Coordenadora, Dra. Luciene, e aos demais membros da

Mesa.

Muito obrigado a todos. (Palmas.)

A SRA. COORDENADORA (Luciene Maria Becacici Esteves Viana) – Muito

obrigada, Dr. Roberto.

Concedo a palavra ao Dr. Roberto Scaringella, ex-Presidente do CONTRAN.

O SR. ROBERTO SCARINGELLA – Inicialmente, eu gostaria de parabenizar

o Deputado Ary Kara pela iniciativa absolutamente oportuna, que certamente vai

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contribuir para o processo de municipalização do trânsito, que apesar de já cobrir

80% da frota, ainda cobre em torno de 10% dos Municípios. E queria também

parabenizar a Profa. Justina pelo enfoque dado ao tema e que me parece

extremamente apropriado.

Gostaria de dar uma notícia a todos: acabamos de publicar uma pesquisa

inédita sobre investigação de causas de acidentes. Os responsáveis por ela tiveram

o cuidado de, analisando acidentes graves, mandar o perito na hora e no local do

acidente. Isso aconteceu em rodovias e na área urbana. Investigou-se o fator

humano, o fator veículo e o fator via pública/meio ambiente. A intenção da pesquisa

foi tentar lastrear melhor a inspeção veicular. Durante muito tempo, em todos os

congressos, subestimou-se o fator risco associado ao veículo. Eu ouvi muitas

palestras nas quais se dizia que 5% das causas de acidentes são relacionadas aos

veículos; e muitas autoridades dizem que a inspeção veicular não é tão importante,

embora seja norma do Código de Trânsito Brasileiro.

A pesquisa mostrou que o fator veículo não é responsável por apenas 5% dos

acidentes, mas por 27%; mostrou ainda que o fator via pública/meio ambiente é

responsável por algo em torno de 37%; mostrou que raramente o acidente é

provocado por um único fator, sendo a causa a composição dos fatores humano,

veículo e via pública/meio ambiente. Para mim, surpreendente foi o seguinte dado:

em 100% da amostra analisada foi detectada como causa direta do acidente o fator

humano. Isso mostra como é importante debater o assunto e encontrar caminho

eficaz na educação para o trânsito.

Estamos participando de um congresso de municipalização do trânsito,

falando sobre a coordenadoria municipal de trânsito. Acho extremamente

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importante. Muitas vezes, quando se fala em educação para o trânsito, seja com a

participação do Município, seja do Estado, seja da União, enfoca-se a educação da

criança, como se só ela precisasse receber educação de trânsito. Educar a criança é

essencial, imperativo, urgente e básico, mas gostaria de lembrar que as

coordenadorias municipais deveriam se preocupar com a criação de programa

conjunto com empresas, locais extremamente interessantes para tal finalidade.

Prefeituras e coordenadorias municipais de trânsito podem fazer parcerias para

atingir não apenas as crianças. Conforme já foi dito, acredito ser necessária a

integração das três esferas de governo.

A pesquisa também mostrou ser importante analisar a educação sob a ótica

da sensação de impunidade. Identificamos sério fator humano de risco no pedestre e

no condutor do veículo. Sabemos que o processo de habilitação precisa ser mais

incrementado, sob a égide do Código de Trânsito Brasileiro. Apenas começamos a

implantação. Reabilitar o processo de habilitação me parece fundamental no âmbito

do Brasil. A sensação de impunidade gera desrespeito à lei, que gera atitude de

risco, que gera acidente. Muitas vezes se percebem órgãos públicos resistentes à

fiscalização. Estabelecer limites e fiscalizá-los faz parte do processo educativo. A

participação do Mistério da Educação, conforme já foi dito, na educação transversal

me parece parte importante, juntamente com a questão da habilitação e da

fiscalização. Parece-me extremamente importante o desenvolvimento desse trabalho

nas escolas de 1º, 2º e 3º Graus, tal como prevê o Código de Trânsito.

Muito bem lembrou o Dr. Roberto Vaz da Silva dos trabalhos de comunidade.

Em São Paulo já se faz isso há muito tempo, ou seja, os programas de

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gerenciamento de trânsito são discutidos com a comunidade, com as associações

de classe e de bairros. Esse campo de atuação é extremamente importante.

No que se refere às campanhas da mídia, algumas são relativamente caras.

Trata-se de campanhas de sensibilização. É importante dizer: “Fique vivo no

trânsito. Respeite a lei de trânsito. Seja cidadão”. Ótimo. Mas são insuficientes. As

campanhas deveriam abordar a modelagem de comportamento; dizer onde mora o

perigo e como agir corretamente. A população está precisando receber informação

objetiva, pois desconhece o conteúdo do Código de Trânsito. As pessoas não

precisam apenas de sensibilização, mas de orientação concreta sobre situações

objetivas.

Acredito que o desafio da educação para o trânsito, em todos os órgãos

municipais, estaduais e federais, em todo o Sistema Nacional de Trânsito, são os

programas de capacitação de instrutores, seja no Centro de Formação de

Condutores, seja nas escolas, seja nas coordenações municipais de educação de

trânsito. Sempre há quem queira aprender, mas não temos professores com

capacitação para ensinar. No Centro de Formação de Condutores, um instrutor

capacitado em meio ambiente pode não estar capacitado em primeiros socorros. Sei

que estamos apenas começando. Se aumentou o número de horas, ótimo; se

começou um programa de treinamento de instrutores, ótimo. No entanto, precisamos

investir mais em programas de treinamento e em produção de material didático

adequado.

Lembro que a nossa lei de trânsito é moderna. Se não é perfeita, pelos menos

é extremamente avançada, mas precisa sair do papel, precisa ser regulamentada no

que falta. E é necessária vontade política. Estamos ainda no começo da implantação

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da lei, daí a importância do trabalho do Deputado Ary Kara, que preside a Comissão

Especial de Aplicação da Lei que Institui o Código de Trânsito. No dia 23 de

setembro serão completados 5 anos da sanção da lei pelo Presidente da República,

mas estamos ainda no começo de sua implantação.

O art. 320 do Código de Trânsito diz, explicitamente, que o dinheiro

arrecadado em multas deve ser gasto em operação, sinalização, fiscalização e

educação no trânsito. Tenho observado, nas minhas andanças pelo País, que as

autoridades municipais e estaduais não estão cumprindo o que estabelece o artigo.

Gastar no trânsito o dinheiro do trânsito não é facultativo, é obrigatório. Quando o

Código for cumprido, teremos mais recursos. Acho que o FUNSET também tem

papel importante. Se 5% de cada multa são destinados ao Fundo, deveria haver

recursos para desenvolver programas.

As Câmaras Municipais também têm papel importante. Entre outros, o de

fiscalizar o Executivo e de chamar sua atenção quando, explicitamente, não cumprir

o art. 320. Portanto, nosso desafio é muito grande.

Parabenizo, mais uma vez, o Deputado Ary Kara pela iniciativa deste

encontro. E se alguém quiser conhecer mais detalhadamente a pesquisa que

apresentei, o conteúdo completo está no meu site na Internet, projetado naquele

quadro, no Item Cursos e Serviços.

Muito obrigado. (Palmas.)

A SRA. COORDENADORA (Luciene Maria Becacici Esteves Viana) -

Concluímos os debates.

Estamos com uma missão complicada. Há várias perguntas, o que é muito

positivo — o tema é realmente motivador —, porém temos muito pouco tempo.

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Selecionaremos algumas perguntas encaminhadas. Solicitamos a cada debatedor e

à Profa. Justina Iva de Araújo Silva que respondam o mais rapidamente possível, a

fim de que ganhemos tempo. As perguntas que não forem encaminhadas via Mesa,

por favor, as pessoas interessadas procurem, no intervalo, conversar sobre o

assunto. Não saiam deste evento sem as devidas respostas às perguntas.

As sugestões que não vieram sob forma de pergunta encaminharemos aos

respectivos debatedores, em função do assunto.

Primeira pergunta à Profa. Justina Iva de Araújo Silva. Há uma questão sobre

educação para o trânsito como disciplina homologada pelo Conselho de Educação e

outra sobre escola pública de trânsito. São observações, comentários, sugestões, e

o participante pede uma opinião. Deixaremos esses pontos para conversa posterior.

A pergunta é: “Qual o critério para determinar a classificação das cidades que

respeitam a faixa de travessia de pedestre? Registro que, desde 1985, tenho

observado muitos critérios de implantação e respeitabilidade à faixa de travessia em

mais de trinta cidades brasileiras”. Essa é a primeira pergunta à Profa. Justina Iva de

Araújo Silva.

Outra: “O que fazer com a escola estadual que, por competência da LDB — 5ª

à 8ª séries — não estiver adequada à educação para o trânsito, como

prosseguimento complementar ao aluno que teve a matéria da 1ª à 4ª séries no

Município?” (Pausa.)

A SRA. JUSTINA IVA DE ARAÚJO SILVA - Qual o critério para determinar a

classificação das cidades que respeitem a faixa de travessia de pedestres?

Confesso que não está muito clara a pergunta. Critério para determinar a

classificação das cidades é algo que desconheço. Não entendi a questão.

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A segunda pergunta é o que fazer com a escola estadual que, sem

competência, não estiver preparada na questão da educação para o trânsito como

prosseguimento complementar do estudo do aluno que teve a matéria da 1ª à 4ª

séries.

Essa é uma questão muito nova. O Rumo à Escola está chegando agora, de

forma organizada e sistemática. As experiências em educação para o trânsito nas

escolas, em geral, são muito tímidas nos Estados. Um ou outro Estado tem

trabalhado o tema.

Essa questão é precoce, porque começamos a trabalhar o Rumo à Escola no

ensino fundamental de forma bastante sistematizada, competente, através do

DENATRAN, sob a coordenação da Profa. Juciara Rodrigues. Essa questão é

prematura, também, porque foi algo que se iniciou recentemente de forma

abrangente. Portanto, é uma questão para ser discutida posteriormente.

A SRA. COORDENADORA (Luciene Maria Becacici Esteves Viana) -

Obrigada.

Ao Deputado Ary Kara está destinada a questão relativa à competência

federal no assunto educação para o trânsito. Há dois encaminhamentos sobre esse

mesmo tema. Em síntese, pergunta-se o que a Comissão de Acompanhamento da

Câmara dos Deputados tem realizado para combater a inércia e a irresponsabilidade

do Governo Federal com relação não somente à educação, mas também a outros

temas de competência federal.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ary Kara) - Serei meio grosseiro na resposta:

só se mandarmos prender o Ministro da Educação. A referida Comissão já

encaminhou vários ofícios mostrando a S.Exa. que está incorrendo em crime. Os

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arts. 315 e 76 do Código de Trânsito são claros. O art. 76 estabelece que o

CONTRAN e o Ministério da Educação, em 240 dias após a publicação do Código,

teriam de elaborar um currículo mínimo e mandar para todas as escolas públicas e

privadas com vistas ao ensinamento de educação e segurança no trânsito, desde a

pré-escola até o ensino superior. Começando pela educação pré-escolar, não temos

esse currículo mínimo. Se tivéssemos implantado esse currículo, em março de 1998,

como estabelecia o Código, quase 30 milhões pessoas já teriam sido beneficiadas

com esse ensinamento. Então, o Governo é irresponsável. Faço parte da base do

Governo, mas, infelizmente, o Sr. Paulo Renato Souza, Ministro da Educação, não

toma conhecimento do Código de Trânsito. É muito bom fazer média com a

educação, mas, na realidade, de seguir a lei eles não gostam.

Estava conversando com a Profa. Justina e mostrava-lhe que pouquíssimas

pessoas sabem quanto o Governo Federal arrecada por intermédio do trânsito e que

isso não retorna para benefício do mesmo. Só com o Seguro Obrigatório o Governo

Federal recebeu, em 2001, 600 milhões de reais. Repito: 600 milhões de reais, para

usar em campanhas educativas preventivas de acidentes no trânsito, promovidas

por cinco Ministérios — cada um recebe 1% daqueles 5% que vão para o

DENATRAN —, mas não vimos nada. Assistimos a campanhas individuais, que

muitas vezes se chocam uma com a outra, ou a campanhas enganosas, como a do

RENACOM.

Avisamos o Dr. Jorge Franciscone, que acabou de deixar o DENATRAN — o

Dr. Paulino está aqui — de que não existe a cobrança de multa centralizada, de um

Estado para o outro. Quem assiste àquela propaganda pensa que se hoje cometer

uma multa em Brasília, com um carro licenciado em São Paulo, vai pagar a multa em

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São Paulo. Não vai! Então, queremos campanhas que realmente venham ao

encontro de uma educação para o trânsito que atinja a todos nós. Todos temos de

nos educar. Temos de entender que o Código é para ser respeitado; a lei deve ser

respeitada. O Código não foi feito para dar receita para ninguém, mas para salvar

vidas e, principalmente, servir de base para campanhas educativas. Se nos

educarmos para o trânsito, estaremos nos educando para tudo na vida.

Portanto, desculpem-me pelo desabafo, mas a nossa Comissão não agüenta

mais cobrar do Ministro da Educação a aplicação do Código de Trânsito Brasileiro.

(Palmas.)

A SRA. COORDENADORA (Luciene Maria Becacici Esteves Viana) - Temos

aqui para a Dra. Rita duas questões relativas ao Programa Rumo à Escola. Há mais

uma indagação quanto às relações com DETRANs e CIRETRANs, que vou resumir:

“Dra. Rita, poucas cidades tiveram acesso ao programa. Como fazer para que o

Município tenha acesso a este projeto tão importante para a municipalização do

trânsito no País?”

A SRA. RITA DE CÁSSIA FERREIRA CUNHA - O Rumo à Escola,

atualmente, está em quinze Capitais. No momento, só foram selecionadas essas

quinze Capitais porque é um programa que tem como finalidade dar suporte técnico

também para as pessoas que vão trabalhar com o trânsito. Então, em um primeiro

momento, as pessoas estão recebendo treinamento e suporte técnico com relação

ao material que utilizam. Infelizmente, o programa não pôde ser estendido a todos

os Estados. Depois, teremos a segunda etapa do Rumo à Escola, quando o restante

dos Estados e Municípios também serão atendidos.

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O melhor seria entrar em contato com o DENATRAN, fornecer os dados do

seu Município, para ver de que maneira poderia ser beneficiado através do Rumo à

Escola ou do Caminho Aberto à Cidadania, pelo qual poderíamos fornecer o material

aos professores para que possam começar a ministrar a disciplina Educação para o

Trânsito.

Obrigada.

A SRA. COORDENADORA (Luciene Maria Becacici Esteves Viana) - A

Profa. Justina vai encaminhar uma abordagem relativa à reeducação. Pediria que

esse assunto fosse tratado após o fechamento desse painel.

Uma outra intervenção importante é com relação às pessoas que precisam

ser monitoradas e reeducadas porque apresentam maus hábitos, hábitos de risco.

Essas pessoas necessitam de uma abordagem complementar.

Uma pergunta do Sr. José Carlos Sacramone ao Dr. Roberto Vaz: “Por que a

educação para o trânsito deve ser atribuição somente dos Municípios, já que as

escolas de 2º Grau são, na sua maioria, vinculadas aos Estados, a quem cabe a

fiscalização do condutor e do veículo?

O SR. ROBERTO VAZ DA SILVA - Meu amigo Secretário, na verdade, a

exclusividade não deve ser do Município, mas a maior responsabilidade pela

educação para o trânsito, no meu entender, sim, deve ser do Município, mesmo

porque o Município, já que administra o próprio trânsito, também passa a fiscalizar e

a autuar. Portanto, cabe também à Prefeitura a fiscalização do condutor, restando o

veículo que, até o momento, ainda é atribuição delegada aos DETRANs, por ocasião

da renovação do certificado do licenciamento do veículo. A idéia é a de que a

responsabilidade do Município é sempre maior.

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A SRA. COODENADORA (Luciene Maria Becacici Esteves Viana) -

Obrigada.

Pergunta para o Sr. José Carlos Sacramone: “Joinville gostaria de conhecer

um pouco mais da empolgante campanha de educação para o trânsito na cidade de

Jundiaí”. Pediríamos, então, que esse contato fosse feito após a apresentação do

painel.

Para a Major Vera Cruz: “Na fiscalização existem conflitos entre o Estado e o

Município. Tal conflito existe na área de educação para o trânsito?”

A SRA. VERA CRUZ - A educação para o trânsito é obrigatória para todos os

órgãos que compõem o Sistema Nacional de Trânsito e, felizmente, não

constatamos esse tipo de problema de competências concorrentes, de forma que

todos os órgãos trabalham, como disse o Deputado Ary Kara, de forma

independente e isolada, mas sem conflitos.

A SRA. COORDENADORA (Luciene Maria Becacici Esteves Viana) -

Obrigada.

Outra pergunta: “Os infratores de trânsito mais ‘abastados’ estão fazendo o

curso de reciclagem no DETRAN, em São Paulo?”

A SRA. VERA CRUZ - Sim, porque todo o sistema é informatizado e

contabiliza as multas e a pontuação. Ao atingir a pontuação, o infrator é notificado e

comparece, sim, para freqüentar o curso de reciclagem.

A SRA. COORDENADORA (Luciene Maria Becacici Esteves Viana) - Muito

obrigada.

Assim, concluímos a fase de debates. Gostaria de agradecer a todos a

presença.

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Faremos agora um pequeno intervalo para recompor a Mesa para o próximo

painel.

Agradeço aos debatedores, à Profa. Justina, que nos abrilhantou com sua

presença.

Passo a palavra ao Presidente da Mesa, Deputado Ary Kara, a quem também

agradeço. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ary Kara) - Solicito a todos que

permaneçam no recinto, pois o início do próximo painel será imediato.

Agradecemos à Profa. Luciene Viana, Secretária Municipal de Transportes e

Infra-Estrutura Urbana de Vitória, a bela coordenação desse debate. Agradeço

também à renomada Profa. Justina Iva de Araújo Silva, Secretária Municipal de

Educação de Natal, Rio Grande do Norte, a participação como conferencista. Por

fim, agradeço aos debatedores: Major PM Vera Cruz, de São Paulo; Dra. Rita de

Cássia, do DENATRAN; Dr. Joaquim Lopes, que foi do DENATRAN e hoje está na

Secretaria de Transporte Metropolitano de São Paulo; Dr. José Carlos Sacramone,

Secretário Municipal de Jundiaí, São Paulo; Dr. Roberto Vaz da Silva, do Projeto

PARE; e Dr. Roberto Scaringella, um dos homens de maior conhecimento do

trânsito no nosso País.

Muito obrigado à Mesa. Agradecemos mais uma vez a todos a gentileza de

terem vindo participar desta conferência.

Quero também dizer a Profa. Justina que admiramos muito o seu trabalho. O

Rio Grande do Norte realmente é um exemplo de campanhas educativas. Enviamos

para todas as cidades que estão integradas ao Sistema Nacional de Trânsito

correspondência solicitando que nos enviassem suas campanhas educativas. E

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Natal mandou tudo que está realizando e seus projetos futuros na área de

educação. Leve ao Governador e a todos os seus companheiros de Secretaria o

agradecimento da Comissão Especial de Acompanhamento do Trânsito da Câmara

dos Deputados. Muito obrigado, Profa. Justina.

Estamos acertando com o Dr. Benedito Dantas Chiaradia, Diretor do

DENATRAN — e estão aqui o Dr. Paulino e a Dra. Rita —, a realização de cinco

reuniões, uma em cada Região do nosso País, reunindo a nossa Comissão, o

DENATRAN, os DETRANs e as Secretarias Municipais de Transporte ou de

Trânsito, para que possamos debater não só a municipalização do trânsito, mas

também educação e segurança, enfim, o Código de Trânsito Brasileiro, a fim de

prepararmos as mudanças que teremos que realizar nesse instrumento legal em

2003.

Muito obrigado a todos.

Peço ao mestre de cerimônia que, imediatamente, componha a Mesa para o

próximo painel desta manhã. (Palmas.)

O SR. APRESENTADOR (Ronald Pimenta) - Este evento está sendo

realizado pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados destinada a

acompanhar a aplicação da Lei nº 9.503, de 1997, que instituiu o Código de Trânsito

Brasileiro.

Dando continuidade a este evento, vamos dar início ao Painel F, com o tema

“Responsabilidade fiscal no gerenciamento do trânsito por parte da autoridade

municipal, nos termos da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000.

Aplicação exclusiva da receita de multas. Inteligência do art. 320 do Código de

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Trânsito Brasileiro. Existe indústria de multas? Banco de multas em nível nacional —

RENACOM — e o papel da Polícia Rodoviária Federal”.

Neste momento, vamos fazer a composição da Mesa. Mais uma vez,

chamamos o Exmo. Sr. Deputado Ary Kara para presidir esta Comissão Especial de

Fiscalização e Aplicação do Código de Trânsito Brasileiro. (Pausa.)

Como Coordenador, chamamos para compor a Mesa o Dr. Romualdo

Theophanes de França Júnior, Diretor-Presidente da Companhia de

Desenvolvimento Urbano — CONURB de Joinville, Santa Catarina. (Pausa.)

Como conferencista, queremos chamar para compor a Mesa o Dr. José

Paulino de Castro, Coordenador-Geral de Planejamento Operacional do

DENATRAN. (Pausa.)

Também para compor a Mesa, chamamos os seguintes debatedores: Dr.

Waldemar Antonio Lemes Filho, Presidente da União dos Vereadores do Brasil

(pausa); Dr. José do Espírito Santo, Presidente do Instituto Brasileiro de Segurança

no Trânsito (pausa); Dr. Francisco José de Matos Nogueira, Presidente da Autarquia

Municipal de Trânsito e Serviços Públicos da Cidadania de Fortaleza, Estado do

Ceará (pausa); Dr. Ivan Carlos Alves Barbosa, Secretário Municipal de Transportes

Urbanos de Salvador, Bahia (pausa); Dr. Carlos Eduardo Cruz de Souza Lemos,

Chefe de Representação da Mercedes-Benz em Brasília, Distrito Federal (pausa);

Vereadora Rita Janete de Oliveira Gomes (pausa); Vereador Luís Gonzaga Santos.

(Pausa.)

Queremos registrar também a presença à Mesa do Dr. Altamiro Sathler Filho,

Diretor-Geral Substituto do Departamento de Polícia Rodoviária Federal (Palmas.)

Passo a palavra ao Deputado Ary Kara.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Ary Kara) – Boa tarde a todos. Nós vamos

iniciar rapidamente esse segundo debate. A partir deste momento, até o

encerramento da reunião, o nosso Coordenador, Dr. Romualdo Theophanes de

França Júnior, Diretor-Presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano —

CONURB de Joinville, Santa Catarina vai comandar a discussão entre o Dr. Paulino

o Dr. Sathler e os debatedores.

Agradecemos antecipadamente ao Dr. Paulino. Ele já se sentou aqui, me deu

uma informação, e eu disse a ele que iria falar aqui. Ele nos deu 72 horas para que

os motoristas que cometerem infrações nos dez Estados já inscritos no RENACOM

comecem a receber as notificações. Isso é um bom sinal, porque vamos quebrar

várias locadoras de veículos que fogem de um Estado para outro para licenciar seus

carros.

Eu quero saber se o Paraná está no convênio. (Pausa.) Excelente, porque

todas as locadoras de São Paulo licenciam seus carros em Curitiba. Então, meus

parabéns ao DENATRAN. Essa é uma notícia muito boa que o DENATRAN traz.

Quando eu falo de educação para o trânsito, eu tenho de ressalvar que o

DENATRAN realmente tem dado uma cobertura muito grande. Há uns três anos, o

DENATRAN, junto com o CONTRAN, formou uma comissão para estudar o tema.

Baixaram uma resolução, mas acabou sendo engavetada, porque não houve

continuidade por meio do Ministério da Educação. O DENATRAN tem feito um

esforço muito grande para cumprir o Código.

Passo a palavra ao Coordenador dos trabalhos, que vai fazer a apresentação

dos debatedores.

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O SR. COORDENADOR (Romualdo Theophanes de França Júnior) - Bom dia

a todos. Quero destacar que esse é um painel de extrema importância para quem

vive o dia-a-dia do trânsito nos Municípios. Pediríamos que tivessem muita atenção,

porque aspectos de grande interesse de Municípios e Estados serão debatidos

neste painel.

Considerando o adiantado da hora, peço aos debatedores e, especialmente,

aos conferencistas o cumprimento dos prazos estipulados.

Com a palavra o Sr. José Paulino de Castro.

O SR. JOSÉ PAULINO DE CASTRO - Exmo. Sr. Deputado Ary Kara, Dr.

Romualdo Theophanes de França Júnior, Coordenador do debate, demais

componentes da Mesa, Prefeitos, Vereadores, demais presentes, bom dia. O

Departamento Nacional de Trânsito — DENATRAN sente-se honrado em participar

do I Congresso Brasileiro de Municipalização do Trânsito — CONBRAM, evento de

extrema importância em razão de permitir integração, troca de conhecimentos e

desenvolvimento em prol da municipalização do trânsito. É por este caminho, o da

participação e da integração do Município a um sistema nacional de trânsito, que

alcançaremos uma gestão eficaz no trânsito. É nesse sentido que conduziremos

nossa fala.

O Código de Trânsito Brasileiro — CTB, instituído pela Lei nº 9.503, de 23 de

setembro de 1997, estabeleceu novas competências para os Municípios,

particularmente no que tange a circulação, parada e estacionamento de veículos,

permitindo a aplicação de penalidades e medidas administrativas previstas na lei,

quando integrados ao sistema nacional de trânsito.

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As multas, em função das novas competências, constituem fonte de receita

para os Municípios e, como tal, encontram-se regidas pela Lei Complementar nº

101, de 5 de maio de 2000, a chamada Lei de Responsabilidade Fiscal — LRF.

A LRF é um código de conduta para os administradores públicos de todo o

País, inclusive para os municipais, com o objetivo de melhorar a administração das

contas públicas.

Segundo cartilha distribuída pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e

Gestão, a Lei de Responsabilidade Fiscal representa instrumento para auxiliar os

governantes a gerir os recursos públicos dentro de um marco de regras claras e

precisas aplicadas a todos os gestores públicos, em todas as esferas de governo,

relativas a gestão de receitas e despesas públicas, endividamento e gestão do

patrimônio público.

Limites de gastos com pessoal, limites para endividamento público, definição

das metas fiscais anuais, mecanismos de compensação para despesas de caráter

permanente, mecanismos para controle das finanças públicas em ano de eleição

representam pontos que também merecem destaque na Lei de Responsabilidade

Fiscal.

Voltando ao tema central, na Administração Pública Municipal, o desequilíbrio

fiscal, os gastos sistematicamente superiores às receitas, ocorrem com freqüência. A

partir desse ponto começamos a elencar os principais aspectos da LRF que devem

ser utilizados por parte da autoridade municipal para que o gerenciamento do

trânsito seja realizado de forma eficiente e responsável.

Primeiro, o planejamento.

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O processo de planejamento é contemplado através da elaboração da Lei de

Diretrizes Orçamentárias, a LDO, e da Lei Orçamentária Anual, a LOA.

A LDO deverá conter, entre outros, metas anuais relativas a receitas,

despesas e resultados esperados. A LOA, respeitando as diretrizes e prioridades

estabelecidas na LDO, os parâmetros e limites fixados na Lei de Responsabilidade

Fiscal, deve definir a reserva de contingência e, em anexo, apresentar o

demonstrativo da compatibilização do Orçamento com os objetivos e metas

definidas no anexo das metas fiscais da LDO.

Receitas e despesas.

A Lei de Responsabilidade Fiscal, em seu art. 12, diz:

“Art. 12. As previsões de receita observarão as

normas técnicas e legais, considerarão os efeitos das

alterações na legislação, da variação do índice de preços,

do crescimento econômico ou de qualquer outro fator

relevante e serão acompanhadas de demonstrativo de

sua evolução nos últimos três anos, da projeção para os

dois seguintes àquele a que se referirem, e da

metodologia de cálculo e premissas utilizadas.”

Com relação às despesas, a Lei de Responsabilidade Fiscal, no art. 16,

declara:

“Art. 16. A criação, expansão ou aperfeiçoamento

de ação governamental que acarrete aumento da despesa

será acompanhado de:

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I - estimativa do impacto orçamentário-financeiro no

exercício em que deva entrar em vigor e nos dois

subseqüentes;

II - declaração do ordenador da despesa de que o

aumento tem adequação orçamentária e financeira com a

lei orçamentária anual e compatibilidade com o plano

plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias.

O art. 320, do Código de Trânsito Brasileiro, diz:

“Art. 320. A receita arrecadada com a cobrança das

multas de trânsito será aplicada, exclusivamente, em

sinalização, engenharia de tráfego, de campo,

policiamento, fiscalização e educação de trânsito.

A Deliberação nº 33 do CONTRAN, no seu art. 1º, define com mais precisão

os elementos com que a receita oriunda das multas podem ser aplicadas. Diz o

dispositivo:

“Art. 1° Explicitar as formas de aplicação da receita

arrecadada com a cobrança das multas de trânsito,

prevista no caput do art. 320 do Código de Trânsito

Brasileiro:

I - A sinalização é o conjunto de sinais de trânsito e

dispositivos de segurança colocados na via pública com o

objetivo de garantir sua utilização adequada,

compreendendo especificamente as sinalizações vertical

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e horizontal e os dispositivos e sinalizações auxiliares, tais

como:

a) dispositivos delimitadores;

b) dispositivos de canalização;

c) dispositivos e sinalização de alerta;

d) alterações nas características do pavimento;

e) dispositivos de uso temporário, e

f) painéis eletrônicos.

II - As engenharias de tráfego e de campo são o

conjunto de atividades de engenharia voltados a ampliar

as condições de fluidez e de segurança no trânsito, tais

como:

a) a elaboração e atualização do mapa viário do

município;

b) o cadastramento e implantação da sinalização;

c) o desenvolvimento e implantação de corredores

especiais de trânsito nas vias já existentes;

d) a identificação de novos pólos geradores de

trânsito, e

e) os estudos e estatísticas de acidentes de

trânsito.

III - O policiamento e a fiscalização são os atos de

prevenção e repressão que visem a controlar o

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cumprimento da legislação de trânsito, por meio do poder

de polícia administrativa.

IV - A educação de trânsito é a atividade

direcionada à formação do cidadão como usuário da via

pública, por meio do aprendizado de normas de respeito à

vida e ao meio ambiente, visando sempre o trânsito

seguro, tais como:

a) publicidade institucional;

b) campanhas educativas; DELIBERAÇÃO Nº 32,

de 21 de fevereiro de 2002.

c) eventos;

d) atividades escolares;

e) elaboração de material didático-pedagógico;

f) formação e reciclagem dos agentes de trânsito, e

g)formação de agentes multiplicadores.

O Código de Trânsito Brasileiro, em seu art. 19, I, confere ao DENATRAN,

órgão máximo executivo de trânsito da União, a competência de cumprir e fazer

cumprir a legislação de trânsito e a execução das normas e diretrizes estabelecidas

pelo COTRAN.

Transparência, controle e fiscalização.

A Lei de Responsabilidade Fiscal consagra a transparência da gestão como

mecanismo de controle social, através da publicação de relatórios e demonstrativos

da execução orçamentária, apresentando ao contribuinte a utilização dos recursos

que ele põe à disposição dos governantes.

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Em seu art. 48, a Lei de Responsabilidade Fiscal declara:

“Art. 48. São instrumentos de transparência da

gestão fiscal, aos quais será dada ampla divulgação,

inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os

planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as

prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o

Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o

Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas

desses documentos.

Citando o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, novamente, a

busca de transparência na gestão fiscal é um dos elementos fundamentais para a

manutenção do equilíbrio das contas públicas, pois atestam o atendimento dos

limites, condições, objetivos e metas, firma responsabilidades, justifica desvios e

indica medidas corretivas, define o prazo estimado para correção, dá acesso público

a dados concisos e substancias das contas públicas.

Com relação à fiscalização da gestão, a Lei de Responsabilidade Fiscal, em

seu art. 59, diz:

“Art. 59. O Poder Legislativo, diretamente ou com o

auxílio dos Tribunais de Contas, e o sistema de controle

interno de cada Poder e do Ministério Público, fiscalizarão

o cumprimento das normas desta Lei Complementar, com

ênfase no que se refere a:”

Assim, pode-se observar que a autoridade municipal que objetiva gerenciar

um sistema equilibrado e harmônico no trânsito, com relação à gestão fiscal, deve

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apoiar-se em duas bases: o planejamento sistemático e o atendimento das

exigências da transparência, sendo este o principal instrumento para o controle

social.

Outro ponto abordado pelo CTB é a criação de um instrumento para controle

de infrações de trânsito no âmbito nacional. Foi em função inclusive da Lei de

Responsabilidade Fiscal que o DENATRAN, com base legal, instituiu o RENACOM.

O CTB estabelece as condições para que o trânsito seja operado de forma

segura, constitua-se em direito de todos os cidadãos e dever dos órgãos que

compõem o Sistema Nacional de Trânsito.

Entre os avanços, destaca-se o Registro e Câmara Nacional de

Compensação de Multas Interestaduais — RENACOM. A Portaria nº 57, assinada

em 20 de dezembro de 2001, prevê a ação integrada de todas as instituições

envolvidas com a aplicação de multas interestaduais e define as normas para

uniformizar a cobrança e a compensação das multas de trânsito. O assunto está

contemplado no art. 260 e parágrafos do CTB.

As multas serão impostas e arrecadadas pelo órgão ou entidade de trânsito

com circulação sobre a via onde haja ocorrido a infração, de acordo com a

competência estabelecida no CTB. As multas decorrentes das infrações cometidas

em Unidades da Federação diversas daquela do licenciamento do veículo poderão

ser comunicadas ao órgão ou entidade responsável pelo licenciamento, que

providenciará a notificação.

Segundo procedimento definido pela Portaria nº 57, após aplicação da multa,

o órgão autuador repassará os dados da infração ao centro de processamento do

RENACOM, operado pelo Banco do Brasil, e em seguida será validada e

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processada a multa em seu sistema, impedindo também o licenciamento ou

transferência da propriedade do veículo (art. 256 do CTB).

As informações referentes aos pagamentos das multas serão registradas pelo

RENACOM, na base de dados nacional de núcleos interestaduais, e enviadas ao

DETRAN da Unidade da Federação na qual o veículo tenha sido registrado,

liberando-o para o licenciamento.

A cobrança das multas e o repasse dos valores pertinentes a cada órgão que

integra o sistema ficarão a cargo do órgão arrecadador e de controle do RENACOM.

Atualmente já foram visitados 21 Estados, ou 21 DETRANs, e até o final de

junho serão visitados os demais.

A Polícia Rodoviária Federal e sete DETRANs já assinaram o convênio. Cinco

DETRANs estão em fase de assinatura. Os demais estão em adequação técnica

para integrar o sistema RENACOM.

Nesta primeira fase, os DETRANs estão se adaptando ao sistema. Como

havia informado ao Deputado Ary Kara, o sistema aplicará cinco mil multas nas

próximas 72 horas. Torço para que nenhum de vocês esteja entre os que vão

recebê-las.

Gostaria de registrar que o DENATRAN estará à disposição dos Municípios

para orientá-los, numa constante busca, juntamente com os demais órgãos, por um

novo cenário para o trânsito brasileiro, a fim de que se possa oferecer ao cidadão

melhores condições para circulação nas vias terrestres.

Lembremos que trânsito é educação, trânsito é direito humano, trânsito é

cidadania.

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Finalizando, agradeço mais uma vez a todos a atenção dispensada e aos

organizadores deste evento o convite.

Passo a palavra à equipe técnica do RENACOM, que realizará apresentação

sobre o tema.

Obrigado. (Palmas.)

O SR. APRESENTADOR (Ronald Pimenta) - Dando continuidade ao nosso

evento, vamos convidar para compor a Mesa o Sr. Aroldo Cezário Diniz, delegado

de polícia de Rio Claro. (Palmas.)

O SR. COORDENADOR (Romualdo Theophanes de França Júnior) -

Agradecemos ao Sr. José Paulino, Coordenador-Geral de Planejamento Operacional

do DENATRAN, a exposição.

Passo a palavra ao Sr. Altamiro Sathler Filho, Diretor-Geral Substituto do

Departamento de Polícia Rodoviária Federal, para sua exposição.

Antes a equipe técnica do DENATRAN procederá a uma apresentação.

Com a palavra o Sr. José Eduardo Quintella.

O SR. JOSÉ EDUARDO QUINTELLA - Bom dia. Faço parte da equipe

técnica do Projeto RENACOM, que está em fase final de implantação.

(NÃO HÁ CASAMENTO ENTRE OS QUARTOS NESTE PONTO)

(Não identificado) - ... porque sei que esta multa não chega a lugar nenhum,

e um dos trabalhos mais importantes desse projeto é a criação da isonomia.

O objetivo a nós solicitado pelo DENATRAN é definir e operar uma

sistemática de intercâmbio de dados que viabilize a notificação e a cobrança de

multas interestaduais e o controle da pontuação. E essa é uma das exigências mais

importantes do DENATRAN, ou seja, que tramitemos a pontuação.

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Tentarei ser rápido, para não extrapolar o tempo estabelecido. O RENACOM

integra no âmbito da informação todos os órgãos do Sistema Nacional de Trânsito e

não pressupõe, para sua implantação, a padronização dos sistemas operacionais

existentes em cada órgão. Assim sendo, o RENACOM prevê que o sistema se

adaptará às condições de cada órgão do Sistema Nacional de Trânsito.

Com o intuito de viabilizar a implantação do RENACOM, as atuais diferenças

de procedimentos foram respeitadas. Atualmente, há DETRANs e órgãos

autuadores que fazem suspensão com 90, 120 dias. As variações, quando não

regulamentadas, são definidas como a do órgão, e o RENACOM respeita a maneira

de trabalhar de cada órgão executivo de trânsito.

O sistema está adequado para cada realidade, no aspecto relativo à

plataforma tecnológica. Cada DETRAN tem hoje um sistema diferente, adaptado às

condições de seu Estado. O Brasil é um país muito grande, há Estados com 50 mil

carros, outros com milhões de veículos. Logo, as condições são diferentes, e os

tratamentos são feitos para prever tudo isso. Uma das solicitações feitas a nós,

quando começamos a implantação, foi no sentido de que o sistema provocasse o

menor impacto possível dentro do órgão executivo de trânsito. Ele tem de se adaptar

às necessidades do órgão, obviamente dentro do possível. Estamos tentando fazer

com que se adapte, por isso a adaptação sempre deve ficar por conta do

RENACOM, de modo que o trabalho do órgão seja o menor possível.

O RENACOM, como sistema novo, foi totalmente construído prevendo grande

flexibilidade para adaptações. Sabemos que o Código de Trânsito Brasileiro está

sendo regulamentado e novas implementações e regras estão sendo feitas. Uma

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das características primordiais foi a busca da flexibilidade, de forma a tornar o

sistema perene, dando longa vida aos processos hoje existentes.

Isso é só para definir a nomenclatura, que não é normal. Chamamos de

bloqueio o lançamento de uma multa na base de dados do DETRAN para impedir a

pontuação. E há o registro de pontos no prontuário do condutor entre os

procedimentos de suspensão de Carteira Nacional de Habilitação — CNH. O

RENACOM não vai suspender CNH; esta é uma responsabilidade do DETRAN. O

RENACOM só informará o ponto, para que o DETRAN processe a suspensão.

Parece brincadeira, mas atualmente há muitos Estados reclamando de que de 30%

a 40% das multas têm indicação de real infrator de outro Estado, para a pessoa

escapar do processo de pontuação.

Embora ainda estejamos em fase de definição, criamos dois conceitos. Um

deles ainda não existe no Código e visa diferenciar duas funções, principalmente, no

DETRAN. O órgão autuador, que vamos falar na apresentação, é quem multa os

infratores e, segundo o Código de Trânsito Brasileiro, é o dono da receita. São os

Municípios, os DERs, a Polícia Rodoviária Federal, os DETRANs e os demais

órgãos que emitem multa dentro do processo do Código de Trânsito Brasileiro.

Os órgãos de registro que mantêm o controle do veículo e das carteiras de

habilitação são os DETRANs. O DETRAN faz dois trabalhos: autuação e registro.

Ele está nas duas pontas do sistema. Essa separação é exatamente para mostrar as

duas funções do DETRAN.

O DENATRAN é responsável pela orientação, articulação e indução da

padronização — e esta é uma das coisas mais importantes que vamos fazer. Com a

implantação do RENACOM, estamos vendo diversas diferenças de interpretação da

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lei. Como o Código já foi implantado no Brasil inteiro, a lei está recebendo várias

interpretações. Cada pessoa faz uma interpretação distinta. No final da implantação

desse projeto, o DENATRAN pretende padronizar, de acordo com as melhores

idéias, os procedimentos nacionais.

Teremos também a integração dos 27 órgãos autuadores e de registro e dos

mais de 400 órgãos de autuação, se considerarmos os DERs, que estarão

integrados com o RENACOM, independentemente.

Para entender o que é uma multa interestadual é preciso ver que há várias

unidades envolvidas. Cito como exemplo um motorista do DF, uma estrada que leva

ao Rio de Janeiro e um veículo de Santa Catarina. Existem nesse caso três Estados

para uma mesma autuação. Assim sendo, o Rio de Janeiro vai aplicar a multa,

Santa Catarina vai fazer o bloqueio do veículo na sua base, e o motorista vai ser

pontuado pelo DETRAN do DF. Nesse caso, o motorista está com uma cara de

bêbado e pode até ser que cortem a carteira dele. Detalhando, o órgão do Rio de

Janeiro autua, o DETRAN de Santa Catarina bloqueia. Em Santa Catarina, o

proprietário do veículo indica que o condutor é um motorista do DF, o que pode ser

feito pelo próprio guarda ou a posteriori pelo proprietário do veículo, e o DETRAN

do DF pontua o condutor.

O DENATRAN preocupou-se muito com os instrumentos institucionais para

criar o processo nesse tipo de ação. Foi feito um contrato para gestão do

RENACOM entre o Banco do Brasil e o DENATRAN. Preparou-se uma portaria que

tem diversas imperfeições, mas que está sendo analisada para ser implantada mais

adiante. Hoje já temos contratos operacionais do DENATRAN com o Banco do Brasil

e com diversos órgãos autuadores e de registro. Nesses acordos, os DETRANs são

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contratados para fazer bloqueios e pontuação. Repito, nesses acordos o DETRAN é

contratado. O Banco do Brasil contrata o DETRAN de Santa Catarina, naquele

exemplo, para fazer um bloqueio no carro do RENACOM e por isso ele será

remunerado. Nesse contrato operacional, o DENATRAN e os órgãos autuadores que

querem participar do sistema contratam o Banco do Brasil para fazer o

processamento das multas interestaduais, inclusive fazendo bloqueio nos diversos

DETRANs.

Para participar do RENACOM, os órgãos autuadores contratam o Banco do

Brasil com intervenção do DENATRAN para prestar esse serviço. Os DETRANs são

participantes obrigatórios e assinam o contrato para formalizar as responsabilidades,

também com intervenção do DENATRAN. Os DETRANS se comprometem em fazer

o bloqueio e as pontuações dos motoristas ou condutores que cometerem infrações

fora dos Estados onde estão registrados. Assim sendo, serão assinados ene

contratos com os diversos órgãos autuadores e 27 contratos com os DETRANs, para

a realização dos bloqueios dos carros.

A metodologia de implantação desse sistema começa com uma reunião de

apresentação do RENACOM, que já foi feita em todos os Estados. Logo em seguida,

é agendada uma reunião técnica. Estamos providenciando para que nos próximos

dois meses todos os Estados sejam atendidos.

Os Estados que não foram visitados receberão uma visita, quanto será feita

uma reunião em que o pessoal técnico discutirá trocas de arquivos, para que o

layout do DETRAN seja respeitado, e serão definidos os prazos para o envio das

multas. Com o pessoal administrativo vai-se discutir o uso do malote, porque o

RENACOM criou um malote para a transferência de recursos. Há toda uma parte de

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recursos no programa, porque o infrator pode recorrer, embora não seja obrigado a

recorrer. Se a pessoa é multada no Rio de Janeiro, o DETRAN do Rio de Janeiro é

que vai julgar seu recurso. Mas se ele é de Santa Catarina, terá que apresentar seu

recurso no seu Estado. Há um procedimento criado pelo RENACOM para que esse

documento seja enviado para o Rio de Janeiro, a fim de ser julgado.

O RENACOM facilita também a contabilização financeira para o órgão

autuador e/ou DETRAN, inclusive colocando o resultado na conta do órgão

autuador. O pessoal gerencial discutirá detalhes de contrato e convênio, detalhes de

cobrança bancária, enfim, a reunião com os diversos DETRANs é bastante longa.

Todos os DETRANs do Brasil já receberam uma apresentação do

RENACOM. Nem todos eles foram visitados. Temos de visitar ainda seis Estados.

Nos outros Estados foram feitas reuniões de que os Estados participaram. A reunião

foi realizada em Manaus, onde foi apresentado o RENACOM.

No próximo mês de junho cobriremos todos os Estados que estão faltando.

Será feita a apresentação do programa a todos eles e serão marcadas as reuniões

técnicas.

Dez Estados já assinaram os contratos, entre eles o Rio Grande do Sul e o

Paraná. Santa Catarina está em fase final de assinatura. A Polícia Rodoviária

Federal, como órgão autuador, já está emitindo multas.

Temos aqui uma pequena idéia do que é a rede do RENACOM. O RENACOM

falará com todos os órgãos autuadores através da Internet. Totalizamos

quatrocentos órgãos autuadores. É muito difícil criar uma rede para todos eles. A

rede é segura, certificada, para evitar problemas.

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Está sendo criada uma rede para todos os DETRANs, com contingência, com

99% do tempo uptime contratado com a EMBRATEL, numa rede privada, que serve

somente ao RENACOM.

O RENACOM está sendo instalado dentro do DENATRAN, com uma

contingência física no Rio de Janeiro. Se cair a rede de computadores do

DENATRAN, pode-se trabalhar com contingência no Rio de Janeiro.

Isso tudo que está aqui pertence ao Banco do Brasil. A rede de cobrança, de

agências do Banco do Brasil é separada do RENACOM, que tem uma rede somente

para ele. Há ligação aos dados, ao processamento do RENAVAM, porque tenho que

ir à base do RENAVAM para localizar o Estado em que está o carro, para depois ir à

base do Estado e informar ao DETRAN. Primeiro tenho que localizar o carro.

Quanto ao funcionamento do processo, há um determinado grupo de multas

que o órgão autuador processa. Algumas multas são resolvidas em âmbito estadual.

Se as placas são do meu Estado, tenho de processá-las, resolver o problema.

Outras não são do processo estadual e podem ou não ser interestaduais. Nesse

caso, o órgão autuador envia essas multas ao RENACOM, que vai à base do

SERPRO, localiza em que Estado está e devolve a informação com os dados do

veículo para o órgão autuador validar. Temos de dar o exemplo, porque, se o guarda

anotou uma multa, e o carro é um fusca vermelho, voltando à base de dados,

verifico que a placa é de um pálio azul, a pessoa não validará a multa, porque vai

dizer que a placa é clonada e assim por diante. Ele faz um processo de validação

nas multas. As multas, após validadas como multas impostas ao órgão autuador,

são enviadas por este órgão ao RENACOM, que cadastra, a notifica, arquiva o AR e

retorna a confirmação ao órgão autuador.

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Alguns DETRANs querem, no instante da notificação, receber a multa e fazer

um pré-bloqueio, porque a multa ainda não venceu; ela tem um prazo de

vencimento. Outros DETRANs não podem trabalhar assim. Dependendo da regra,

se o Departamento tiver condição, ele já faz imediata informação ao DETRAN do

bloqueio. O DETRAN só pode bloquear multa vencida; por isso, informo ao

Departamento a data do vencimento, para que ele faça o bloqueio.

Vou falar sobre pontos também de acordo com a regra do DETRAN.

Considerarei a parte de pontos sem informação do real infrator. Existe a parte de

pontos em que o período varia de acordo com a regra do DETRAN. O Departamento

considera, após 120 dias sem informação, o ponto como detalhe. Alguns DETRANs

aguardam 90 dias, outros, 135 dias ou 180 dias. As regras são variadas. Numa

determinada hora, de acordo com a regra do DETRAN, informo ao Departamento

que há um ponto para aquele condutor e/ou proprietário. Numa determinada hora,

vão considerar o pagamento, e a pessoa pagará a multa nas agências do Banco

Brasil; se pagar em qualquer outra agência, o pagamento chegará ao Banco do

Brasil. Não vou entrar no detalhe da parte da cobrança, porque isso é complicado e

tudo é acertado no DETRAN, inclusive para ser feito o licenciamento.

Quando o dinheiro chega no Banco Brasil, o DETRAN desbloqueia e o carro é

liberado imediatamente. Aliás, isso também depende das condições do DETRAN.

Alguns DETRANs trabalham on-line e, nesse caso, trabalhamos on-line com ele.

Outros conseguem trabalhar apenas uma vez por dia; mandamos o arquivo uma vez

por dia. Outros DETRANs trabalham duas ou três vezes por dia; trabalhamos duas,

três vezes por dia. Seguimos a maneira de cada Departamento. O dinheiro cai numa

conta transitória. É feita uma distribuição: o dinheiro cai na conta, eu pago o

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DETRAN, que fez o bloqueio na época do pagamento da multa, faço a transferência,

tiro 5% do FUNSET, do DENATRAN, e o resto do dinheiro entrego ao Município de

origem e distribuo para o DETRAN que fez o bloqueio e/ou a pontuação.

Essa é a parte de tratamento de recurso. Não sei se o enfoque está

adequado. Há a parte de tratamento de recurso feita via web, com protocolo para

acompanhar o recurso e saber onde ele se encontra e onde está sendo julgado.

Existe um procedimento complexo nessa parte que vamos pular, porque não é o

objetivo dessa apresentação.

O dinheiro do FUNSET é importante.

Quando uma pessoa entra com recurso e recebe o valor da multa, e em

determinado momento ganha este recurso, o próprio RENACOM devolve ao órgão

autuador, com desconto, na próxima multa, o dinheiro do FUNSET recolhido

indevidamente. Para facilitar o processo, ele abate e faz a contabilização de modo

que esse valor seja acertado no processo sem problema. Contabiliza-se

corretamente, mas lança. Trata-se de uma devolução do valor do recurso ao órgão

autuador.

A parte correspondente ao real infrator é informada e digitada, nós recebemos

todos os documentos numa caixa postal, e todo o processo é arquivado e

processado. A parte de pontuação do real infrator é algo muito interessante, porque

nós estamos trabalhando com o RENACOM para tentar resolver o problema da

multa estadual.

Atualmente, existe um problema no âmbito da multa estadual que diz respeito

à informação de real infrator de outro Estado. O RENACOM está tentando resolver

essa situação para dar cabo a esse problema. No que tange à multa estadual,

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informa-se o real infrator de outro Estado e, com isso, escapa-se do ponto. Há

Estados em que 30% a 40% das multas estão com o real infrator de outro Estado.

Para que o público esteja informado, todos os dados estão acessíveis na

Internet. Essa é uma prerrogativa do RENACOM, que evita lidar com o público

diretamente. Quem o faz é sempre o órgão autuador ligado a ele, por meio de link

do órgão autuador. O objetivo do RENACOM é facilitar o trabalho do órgão autuador.

Quem autuou a multa é o responsável por aquele trabalho, e os conveniados têm a

seu dispor todo o processo de extra-net.

Este sistema é extremamente complexo porque mantém relação com muitas

Prefeituras e Municípios. Há uma série de formalismos que fazemos questão de

manter, tendo em vista a implantação; há um sistema de segurança muito rígido no

que se refere à separação, para evitar a ação de hacker nos computadores, e todas

as informações são criptografadas. A pedido do DENATRAN, estamos

extremamente alertos com a parte de segurança, para que o sistema esteja sempre

ativo, no ar. Segundo nosso sistema, dois computadores trabalham em cidades

diferentes e copiam o sistema de uma máquina para outra, a fim de evitar que ele

saia do ar.

O SR. COORDENADOR (Romualdo Theophanes de França Júnior) -

Solicitamos ao expositor que termine seu pronunciamento.

O SR. JOSÉ PAULINO DE CASTRO – Nós conduzimos esta palestra no

DETRAN e gastamos quase uma manhã inteira porque são muitos detalhes. Mas,

como não dispomos de tempo, eu tentei passar uma idéia do que é o RENACOM.

Estamos à disposição para tirar possíveis dúvidas.

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Trata-se de um projeto cuja implantação sofre muita dificuldade, tendo em

vista as peculiaridades do Brasil. Nós estamos à frente de um trabalho cujas

características são muito peculiares, e a realidade dos Estados é completamente

diferente, quando se trabalha na uniformização e implantação de um projeto como

este. A realidade de um Estado é completamente diferente do outro. Não se pode

comparar um Estado com 40 mil veículos com um como São Paulo, que possui 15

milhões de carros. São volumes e relações diferentes, mas nós não podemos deixar

nenhum Estado de fora.

O Amapá é um exemplo. Trata-se de um Estado ao qual não chegam

estradas. Mas, se deixarmos o Amapá de fora, garanto que todos os carros de

aluguel irão para o Amapá, todos eles irão se transferir para lá. Ao olharmos a pauta

do Amapá, veremos que é gigantesca, porque lá não se multa. Nós não podemos

deixar nenhum Estado de fora e fazer o Brasil como uma Federação. (Palmas.)

O SR. COORDENADOR (Romualdo Theophanes de França Júnior) -

Agradecemos mais uma vez ao Dr. José Paulino de Castro e sua equipe a

apresentação.

Com a palavra o segundo conferencista, Dr. Altamiro Sathler Filho, Diretor-

Geral Substituto do Departamento de Polícia Rodoviária Federal.

O SR. ALTAMIRO SATHLER FILHO – Senhores, bom dia. Tenho a honra de

cumprimentar todos em nome do nosso Diretor-Geral do Departamento de Polícia

Rodoviária Federal, General Álvaro Henrique Vianna de Moraes, que está em

atividade no Maranhão, reunido com nossas superintendências, e se faz representar

pelo seu chefe de gabinete e vice-diretor. Ao Presidente da Mesa, Dr. Romualdo,

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tenho a honra de cumprimentar e estender os agradecimentos ao Deputado Ary

Kara pelo convite formulado. Cumprimento todos os integrantes dessa seleta Mesa.

Antes da abordagem direta da nossa exposição, queria permitir-me aqui

algumas considerações. Primeiro, cumprimento todos os participantes deste evento

pela sua importância.

Dizia o Dr. Vidal, ontem, que daqui devemos sair com o espírito sacerdotal,

sentindo a importância da municipalização do trânsito em relação ao que hoje ele

representa para a segurança do nosso País e no ceifar de vidas, na moldura de

comportamentos da nossa população. Municipalizar o trânsito é como recrudescer

na Bíblia a um ensinamento maior. Ensina a criança o caminho em que ela deve

andar e quando ela for grande não se desviará dele.

Por quê? Nas rodovias hoje estamos colhendo os frutos da falta da

municipalização do trânsito. Recebo a resenha diária, de todo o País, dos números

de acidentes de trânsito. É estarrecedor o número de mortes a cada dia, em média

vinte, trinta mortes; chegamos a cinqüenta por dia. Vejam que a insensibilidade para

com essa realidade é um fator mais grave do que o número de mortes em si.

Trabalhei como policial rodoviário muito tempo nas centrais de comunicação.

A imprensa telefonava de hora em hora para saber o número de acidentes de

trânsito. Quando se falava de um número pequeno, não interessava muito divulgar.

Mas quando morria uma pessoa importante, ou um grande número de pessoas,

aquilo causava uma certa comoção.

Ora, quando ocorreu o incêndio do Edifício Joelma, em São Paulo, com cerca

de 60 vítimas, aquilo causou um clamor mundial. Quando acontece um acidente com

uma aeronave, e é grande o número de vítimas, causa uma divulgação mundial. Se

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somarmos apenas o número de vítimas que temos diariamente no trânsito, aquelas

que morrem no local do acidente, temos um número muito maior do que essas

catástrofes isoladas, que ceifam vidas, sobretudo jovens.

O motorista que mais morre no trânsito é principalmente aquele no primeiro

ou terceiro ano de habilitação, dos 18 aos 21 anos de idade, no qual a Nação

acabou de investir. Portanto, estamos perdendo valores importantes. Será que

conhecemos os números da nossa realidade? As nossas estatísticas refletem

realmente essa verdade? Não refletem. Anotamos apenas aquilo que acontece

enquanto o policial está abordando a ocorrência. O número de mortes que

conhecemos hoje se refere apenas àqueles contabilizados no local do acidente. No

entanto, há países que consideram o número de mortes um dia depois, uma semana

depois, um mês depois e até dois anos depois, quando a morte ocorreu por uma

relação de causa e efeito.

Então, nossa realidade é muito mais dura do que conhecemos. Nossas

estatísticas são falhas. De um modo geral, as causas de acidentes — como aqui

afirmou o Dr. Scaringella —, quando analisadas do ponto de vista da participação do

fator humano, vão chegar a cem por cento de participação. É claro! Conhecíamos

somente aquela chamada de atenção em que 70% dos acidentes são causados por

fator humano, dez por cento por fatores da via, dez por cento por fatores do veículo

e outros dez por cento por fatores generalizados. Assim eram as estatísticas dos

últimos quarenta, cinqüenta anos. Isso não é a verdade. Quando você encontra um

fator ligado ao veículo, ligado à via, seguramente há um fator humano atrás disso

tudo, porque é o homem que comanda essa situação.

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Quando nós analisamos, através do Instituto de Pesquisas Rodoviárias do

DNER, os atropelamento em vias de trânsito rápido, com velocidade acima de 60

quilômetros por hora, causou-nos espécie a revelação de que 95% dos

atropelamentos são causados pelo pedestre. É ele quem atropela o motorista.

Quando eu me ofereci, como, além de policial rodoviário, médico especialista

em medicina de tráfego, para ser testemunha de um atropelamento a que assisti do

décimo andar de um hospital e socorri — coloquei meu nome para defender o

motorista —, o delegado e o advogado da vítima se estarreceram quando eu disse

que o pedestre estava atropelando a vítima.

Mas o raciocínio é simples. A Associação Brasileira de Medicina de Tráfego

— para quem se interessar — divulga muito esses tipos de dados. Ora, o motorista

precisa de dois a três segundos para ter três momentos entre ver, interpretar e

reagir. Entre esses dois a três segundos, segundo o seu grau de saúde do condutor,

estando bem, não estando sob efeito de bebida alguma, com o carro em ótimas

condições mecânicas e a pista em condições normais, há um tempo mínimo para

que o carro pare. Esse tempo de dois a três segundos em que ele reage

corresponde a uma distância que é o quadrado, em metros, do primeiro algarismo

da velocidade do carro. Trocando em miúdos: o carro está a 50 quilômetros por

hora, cinco vezes cinco; 25 metros é o mínimo necessário de espaço para que esse

motorista administre essa situação — ver, interpretar e reagir. Se for um animal, ele

vai resolver deixar bater. Se for uma pessoa, vai desviar. Se a situação é em cima

de um viaduto, ele vai tentar manter-se em cima das proteções e guarda-corpo do

viaduto. Então, ele precisa de 25 metros, estando a 50 quilômetros por hora, para

conter o veículo em ótimas condições.

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Ora, toda vez que um atropelamento acontece num espaço inferior ao que o

motorista necessita para ver, interpretar e reagir, então, o pedestre está atropelando

o motorista ou o condutor do veículo, da motocicleta e assim por diante.

Pois bem, se nós então partimos para o que disse o Dr. Scaringella, tratarmos

da educação de trânsito num aspecto muito mais informativo da verdadeira situação

em que o motorista se encontra no trânsito, nós podemos obter resultados muito

maiores.

Cito um exemplo no caso do alcoolismo: um motorista em condições sadias,

estando em perfeitas condições de saúde, se ele beber apenas um copo de cerveja,

já perde 30% do campo de visão lateral, 15% de graus em cada lateralidade. Ocorre

que nós nos orientamos pela nossa visão central, e a nossa visão central — aquela

história de o bêbado ficar esperando a porta parar para ele enfiar a chave na

fechadura — só é afetada quando o indivíduo está muito alcoolizado, muito

impregnado de álcool. Então, é necessário que nós informemos o indivíduo que

aquele Programa do “PARE”, a respeito do amigo do motorista amigo, tem

importância maior, porque o indivíduo que bebeu e não está se apercebendo que

está afetado já tem o campo de visão lateral afetado. E quanto mais velocidade,

tanto mais estreito seu ângulo de visão central.

Então, temos que trabalhar educando a criança, mostrando o caminho em

que ela deve andar, ou seja, colocando informações importantes para que o

indivíduo saiba o quanto ele é fator causador de acidentes, ainda que não queira

admitir. E que um jovem, comparado a um ancião, não pode se sentir melhor no

domínio do veículo, porque as estatísticas que comparam os motoristas idosos com

os motoristas jovens ou recém habilitados mostram que o indivíduo afoito, com seu

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temperamento colérico, ou com seu temperamento sangüíneo extremamente

extrovertido, ou vestindo-se do carro e não dirigindo o veículo projeta, através deste,

todos seus distúrbios emocionais, todos seus problemas interiores. E o veículo

passa a ser não apenas um instrumento de transporte, mas um instrumento de auto-

afirmação dos seus problemas mais íntimos.

Pois bem, dentro dessas considerações, nós deveríamos lembrar a

importância da municipalização do trânsito no que tange à preparação dos centros

de formação de condutores. O preparo de um indivíduo para dirigir um veículo

significa aquisição de reflexo condicionado. Vai formar um arco nervoso de

neurônios entre o cérebro e nosso sistema muscular.

Ora, tanto faz pegar um indivíduo pouco culto quanto pegar um magistrado,

ele vai ter que treinar seus reflexos. Quando ele se assenta ao volante tudo para ele

é novo, ele vai condicionar os reflexos. Pois bem, você condiciona os reflexos num

trânsito urbano lento e depois esse indivíduo, que não treinou para trabalhar na

estrada, vai morrer na rodovia, porque nossa legislação não permite treiná-lo para

um trânsito que ele irá enfrentar. No entanto, ele está autorizado a dirigir na estrada.

Esse indivíduo trabalha treinando em trânsito absolutamente ameno. Depois,

quando bate numa rodovia secundária, ou sem pavimento asfáltico, ou numa pista

com maiores inclinações ele vem a ser fator causador de acidentes.

Daí entendermos que nossos centros de formação de condutores precisam

deixar a via urbana cotidiana. É necessário que você use uma grande área em volta

das cidades, seja fazenda, ou onde se constroem pistas de asfalto, ou tenha pátios à

vontade, ou aproveitando as elevações anormais, onde vai dirigir de noite e de dia

para que condicione seus reflexos à altura, e depois, sim, enfrentar o trânsito em

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condições de ter respostas previamente elaboradas, para que o organismo possa

trabalhar e evitar acidentes.

Lembramos somente que 50% das mortes em rodovias — das mortes no local

do acidente, não os que morrem no hospital — acontecem quando um indivíduo faz

ultrapassagem ou por excesso de velocidade. E o que é ultrapassagem? Na maioria

delas o indivíduo aperta o primeiro estágio do acelerador, o segundo ou o terceiro.

Entra normalmente tentando concluir uma ultrapassagem. Se ele já percorreu um

terço da distância do veículo, não pode mais voltar, tem que prosseguir na sua

tentativa de ultrapassagem. Se ele ficar oscilando ali, vai gastar um tempo muito

maior para concluir a ultrapassagem. Pois bem, essas informações são partes

daquilo que tem que sair do centro de formação de condutores.

Por último, apenas para chamar a atenção sobre a importância da

municipalização, dos centros de formação de condutores e do que acontece dentro

das rodovias federais. Um veículo que pese 840 quilos, a 60 quilômetros por hora

esse veículo está pesando apenas 40 a 50 quilos sobre a pista, oferecendo índice

de atrito do pneu com o solo, se não tiver problemas de aquaplanagem. Imaginem

então de 840 quilos pesar apenas 40 a 50 quilos! Imagine um indivíduo que pese 70

quilos e esteja nesse carro. Se o veículo parar abruptamente, as forças de

desaceleração provocam nele um choque da ordem de 10 toneladas. Daí nós

compreendermos as causas de morte até em baixa velocidade, quando o baço, o

fígado, o pâncreas, órgãos soltos, esponjas de sangue dentro do corpo, chocam-se

ao mesmo tempo que têm a sua ruptura e o indivíduo vem a morrer durante o

socorro, principalmente se estiver sem cinto de segurança. Por quê? Porque são

órgãos soltos e sem proteção de uma arcada maior óssea.

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Sabemos que o cinto de segurança protege 75% das lesões da coluna

vertebral que causam a invalidez; 55% das lesões do crânio, da face e sobretudo

oculares; mas o cinto de segurança protege 100% das lesões pélvicas, quando o

motorista vem a ter traumatismo abdominal, morre com hemorragia durante o

socorro ou chega ao hospital num estado de hemorragia fatal.

Pois bem, esses são valores que temos de passar dentro do Município

porque, se não educarmos o motorista adequadamente no âmbito do Município, não

adianta ficar gastando dinheiro na rodovia, pois lá já é conseqüência.

É necessário que realmente tenhamos esse espírito sacerdotal em cima da

importância desse momento em que estamos refletindo sobre a municipalização do

trânsito, os esforços que já têm sido feitos, aqueles que virão ainda a complementar

os Municípios, que já tendo iniciado esse processo estão crescendo na sua missão,

e dando força para aqueles que se sentem pequenos, impotentes, com dificuldades,

no sentido de poderem organizar suas estruturas de municipalização de trânsito,

ainda que para ensinar o pedestre a respeitar a faixa e o motorista a respeitar o

pedestre. É dessa disciplina do respeito que virá a disciplina do respeito ao trânsito

nas rodovias federais e nas vias de trânsito rápido em geral.

Eu estou sentindo a importância de abordar esses dados de tal maneira, e até

em respeito à administração do tempo da Mesa, que eu gostaria de abdicar da

exposição que faria de 26 slides. Por serem extremamente teóricos, acho que

podemos sintetizá-los em alguns pontos de maior importância e encerrar a

exposição apenas com este ponto de veemência da importância da municipalização

do trânsito em geral.

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Digo isso porque, com trinta e seis anos e meio de atividade policial

rodoviária, sendo quinze anos como médico especialista de tráfego, enxerguei e

senti as conseqüências do trânsito em situações bastante diversas. Tive pacientes

grávidas morrendo durante o socorro do acidente, e pessoas mutiladas que

realmente queria ajudar e via que não tinha condições de atender adequadamente.

Daí me especializei em medicina de tráfego para compreender a importância do

atendimento pré-hospitalar.

Quando nós falamos em estruturar o Município adequadamente, muitas vezes

vem o primeiro estímulo, que é aquele de poder cobrar multa e o Município ter algum

recurso para administrar seus problemas. Essa não é a realidade. Os recursos das

multas não chegam para nós em tempo hábil. O Departamento de Polícia Rodoviária

Federal passou anos e anos sem ver o dinheiro das multas, como hoje ainda não vê.

Bendito RENACOM que está nascendo. Antes da chegada do RENACOM nós só

colocávamos a mão em 20% da nossa arrecadação. Quando conseguíamos muito

eram 30% da nossa arrecadação. Isso porque a maioria dos Estados não tinha

convênio conosco e alguns Estados exigiam a percentagem de 60% para cobrar as

multas. Assim, do que adiantaria a medida disciplinar na rodovia se ao motorista não

chegava a cobrança pecuniária desse seu comportamento com iminência de

acidente? Pois bem, chegando o RENACOM, nós encontramos os DERs, antes do

DENATRAN, preocupados com o SIM, Sistema Integrado de Multas.

Nós estivemos no VII Encontro Nacional de Conservação Rodoviária, na

semana passada, em Vitória, e dez Estados estavam preocupados em encontrar

soluções para esses problemas, e criaram o Sistema Integrado de Multa. Bendito

RENACOM, que pode somar-se aos Municípios, porque a Polícia Rodoviária Federal

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tem sido procurada por vários Municípios para saber como podem participar de um

convênio em que fosse possível uma cobrança de multas integradas, já que ao

Município também faltava esse tipo de recurso. De maneira que, hoje, vamos nos

instrumentalizando.

Mas quero voltar um pouco ao que falei sobre o atendimento pré-hospitalar. O

sistema de cobrança de multa SIM é importante, é vital para que nós possamos dar

resposta ao motorista, seja na pontuação da carteira, na educação, ainda que

disciplinar, e a mais severa, na repressão. Não é o ideal, mas é preciso lembrar que

municipalizar um trânsito implica em outras responsabilidades: conhecer a

engenharia de tráfego e a medicina de tráfego. E na medicina de tráfego, se nós não

tivermos atendimento pré-hospitalar adequado, para que essa vítima de trânsito, no

seu primeiro minuto, tenha uma abordagem adequada, ou, no máximo, a primeira

hora de atendimento médico seja muito bem conjugada com o hospital, nós vamos

encher os hospitais de custos, de pessoas acidentadas e tirar do hospital a

ocupação de leitos para os atendimentos eletivos.

Estatísticas do Ministério da Saúde e do Ministério da Previdência mostram

que cada enfermo que entra num hospital em São Paulo custa ao Governo em torno

de 5 mil reais e implica num afastamento de trabalho em torno de 60 dias. Ontem, a

rádio CBN, enquanto vínhamos para cá, divulgava um dado interessante. Somente

os congestionamentos de trânsito no País causam um prejuízo de 6% do PIB

nacional, 6% de 3 trilhões de reais. Por que o congestionamento? Por causa do

atraso de veículos, do atraso nos negócios, atraso na composição do conjugar da

hora do dia para todos os que estão trabalhando. Agora, imaginemos se nós

fôssemos computar socialmente o custo dos acidentados em geral. A Nação tem um

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peso muito maior em custo da saúde que vem do trânsito do que nós possamos

imaginar.

Concluiremos, abdicando de nossa apresentação, agradecendo a

compreensão de todos, mas em louvor ao tempo. Nossa grande preocupação com

as estatísticas serve para que possamos, em cada Município organizado, fazer

melhores convênios com as universidades que cuidam da análise das verdadeiras

causas de acidentes.

Se analisarmos as pistas, elas matam em proporção maior, porque não têm a

superelevação necessária, o índice de atrito do pneu com o solo, nem oferecem o

índice de desaceleração necessário para um veículo chegar a seu ponto de

diminuição da velocidade. Muitas vezes, então, na engenharia de tráfego,

encontramos elementos importantíssimos para a segurança do trânsito. Outras

vezes, volto ao que disse o Dr. Roberto Scaringella, são ao todo 100% de

participações do fator humano em todas elas.

Ontem um participante de Palmares, Pernambuco, comentou a respeito da

arrecadação de multas nas rodovias. Ele perguntou a um dos debatedores e ao

Presidente da Mesa se as multas aplicadas pela Polícia Rodoviária Federal ao longo

da rodovia federal da cidade de Palmares poderiam reverter para o Município. Isso

não seria possível, respondeu o Dr. Cyro Vidal, porque a Polícia Rodoviária Federal

tem sua missão constitucional elaborada e amparada, e o obtido através de

cobrança de multas na rodovia federal pertence à Polícia Rodoviária.

Aproveito a preocupação desse participante para dizer que o quantum das

multas é muito pequeno; o que gastamos para assistir as rodovias é muito maior.

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Pensar em arrecadar sobre a rodovia é ter apenas miopia na visão da administração

do trânsito.

A rodovia hoje nos toma um tempo enorme na segurança pública. Há grande

quantidade de assaltos, de cargas roubadas, de veículos trafegando

inadequadamente e nossa incapacidade de atender a toda a frota de veículos. A

frota aumenta 250 mil veículos/mês, em média, somente veículos de transporte

pesado. Isso ocorre há longo tempo. Se compararmos o efetivo de pessoas hoje ao

existente há vinte anos, verificaremos que ele é inferior. Como é possível multiplicar

tanto assim?

Se fosse passar todos os slides de relatórios que trouxe, os senhores veriam

dados alvissareiros: reduzimos os acidentes em, aproximadamente, 7% ao ano;

nosso índice de morte por 10 mil veículos é de 6,8% no âmbito nacional. Chamo a

atenção dos senhores para os asteriscos que estão embaixo. Os dados divulgados

pelo DENATRAN são parciais, porque esse departamento não recebe de todos os

DETRANs do País as informações necessárias para concluir seus relatórios. Porque

não temos dados fidedignos, conhecemos apenas uma parte de nossa realidade.

Cumprimento todos as pessoas que se esforçaram em estar presentes a este

seminário, entendendo a importância da municipalização do trânsito, do papel de

cada Município no contexto nacional. A Polícia Rodoviária Federal tem recebido

pedidos de Municípios que querem firmar convênio com essa instituição, a fim de

saber como se deu a transformação das rodovias em trajeto urbano, se há todo um

contexto social da parte urbana. Trata-se muito mais de socorro social à população,

atendendo os ribeirinhos com conflitos sociais que não o da rodovia em si. A Polícia

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tem analisado esses pedidos, que serão encaminhados ao diretor do órgão para

que, se possível, sejam atendidos.

Nesta platéia, encontra-se o representante do Estado do Pará, através de seu

Secretário de Transportes, que já havia estado conosco, para apresentar um estudo

da situação das rodovias que, passando em trajetos urbanos, precisam de uma

presença maior dentro do perímetro urbano, de ter capacidade de atendimento.

Como podemos superar essa incapacidade de atendimento? Devemos

superar pela visão da implantação dos Centros de Controle Operacionais, ou seja,

monitoramento do tráfego com câmeras. Não há crescimento do efetivo dos agentes

de trânsito, das polícias rodoviárias estaduais, federais e das guardas municipais

para acompanhar o crescimento diário do trânsito. É preciso colocar monitoramento

eletrônico. Somente com rodovias monitoradas eletronicamente, centros de

aproximação, com câmeras nas rodovias a cada xis distância, segundo a

sinuosidade da estrada, no caso das vias de acesso a perímetros bastante

populosos, com menor aproximação das câmeras, poderemos suprir nossa

deficiência. Do contrário, vamos ficar brigando por concursos para efetivos. Chegar

ao ponto que chegou agora a Polícia Rodoviária Federal. Um concurso nacional

para 600 vagas está dando mil candidatos por vaga. Desses, 100 mil não atenderam

às condições da Universidade de Brasília e novecentos por vaga estão sendo

selecionados. É um absurdo realmente estarmos com concursos tão defasados,

tanto tempo sem concurso, sem suprir a necessidade a ponto de admitirmos hoje

600 para cumprir nossa tarefa. O nosso efetivo nacional hoje é 10 mil e 200

homens. Nós só possuímos 8 mil. Tivemos 600 vagas autorizadas e, ao mesmo

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tempo, precisamos de 20 mil atualmente e 40 mil dentro dos próximos quatro anos.

Mas não vamos conseguir suplantar essa realidade.

Então, é necessário tecnologia, metodologia científica para suprir nossas

necessidades. E é assim que eu vejo os Municípios. Ontem procurei um dos colegas

aqui, diretor de trânsito de uma cidade turística no Estado de São Paulo, e disse

para ele: É preciso implantar monitoramento de imagens para que o turista chegue e

sinta segurança, para que no trânsito saibamos quem entrou e saiu da rodovia, para

que as casas roubadas não passem nas nossas barbas e fiquemos a perguntar:

passou? Não passou? Para que o usuário, ao parar na estrada, não fique pedindo

pelo amor de Deus que alguém o socorra e ele esteja assistido permanentemente.

Isso é custo de uma única vez. É apenas implantação. Se não for assim, não adianta

nos lamuriar e pensar que de recursos advindos do faturamento e de multas ou da

receita delas vamos suplantar nossos desafios.

A todos, por este momento de reflexão, nossos cumprimentos e os votos de

sairmos todos bastante motivados para retornar aos nossos Municípios imbuídos do

espírito de vencer as dificuldades, sobretudo com metodologia nova a ser

implantada em cada local, enriquecendo o trabalho daqueles que, sem condições,

trouxeram até agora resultados maravilhosos e apresentaram para nós esforços

próprios e dignos de nos estimular a sempre participar cada vez mais.

Um bom-dia a todos e muito obrigado. (Palmas.)

O SR. COORDENADOR (Romualdo Theophanes de França Júnior) –

Agradecemos ao Dr. Altamiro Sathler Filho a exposição.

Solicito aos debatedores cumprimento maior dos cinco minutos determinados

para cada posicionamento.

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Passamos, então, ao Dr. Waldemar Antônio Lemos Filho, Presidente da

União dos Vereadores do Brasil.

O SR. WALDEMAR ANTÔNIO LEMOS FILHO – Nossa participação nem

tanto é dentro do tema, mas apenas para encerrarmos o encontro dos Vereadores.

Eu ouvi atentamente as palestras, estarrecido até com os dados, principalmente por

desconhecer que no nosso País trinta pessoas morrem por dia de acidente de

trânsito, sem computar aqueles que morreram porque vêm de um acidente

acontecido anteriormente.

Quero cumprimentar a Comissão por este Congresso. Dizer que nós

Vereadores brasileiros devemos estar encaminhando a cada Câmara Municipal

comunicação no sentido de que haja, por parte dos executivos municipais, uma

agilização maior para enviar às Câmaras Municipais projeto de lei que versa sobre a

municipalização de trânsito no nosso País. Sabemos que cerca de 5% dos

Municípios brasileiros já estão com a situação regulamentada, com o trânsito

municipalizado. E é claro que os Vereadores que estiveram presentes aqui e os

Prefeitos Municipais hoje têm maiores informações no sentido de agilizar esse

projeto de municipalização.

Então, congratulamo-nos com a Câmara Federal, que tem sido parceira com

a União dos Vereadores do Brasil não apenas neste evento, mas em vários outros.

Vamos para nossos Municípios com a certeza de que o melhor nessa questão é de

que assumamos realmente o trânsito; sabedores, ainda, de que se não houver um

apoio e um investimento maior na educação do trânsito, com certeza, a situação não

será resolvida.

Obrigado. (Palmas.)

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O SR. COORDENADOR (Romualdo Theophanes de França Júnior) – Lembro

que as perguntas devem ser encaminhadas por escrito à Mesa, através dos nossos

recepcionistas e orientadores.

Concedo a palavra ao Sr. José do Espírito Santo, Presidente do Instituto

Brasileiro de Segurança no Trânsito.

O SR. JOSÉ DO ESPÍRITO SANTO – Senhores integrantes da Mesa,

senhoras e senhores, participo desse evento como Presidente de uma ONG,

Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito e, como tal, quero dizer que nosso

objetivo é colaborar com o Governo no que for preciso. As autoridades

governamentais precisam do apoio de uma organização do tipo da nossa para

trabalhar pela qualidade de vida no trânsito. Para tanto, elegemos, no ano de 2000,

o tema Municipalização do Trânsito como um dos principais para que pudéssemos

trabalhar em cima dele. Naquele mesmo ano, tivemos a Lei de Responsabilidade

Fiscal. Já no ano seguinte, tivemos o Estatuto da Cidade. Então, preparamos um

trabalho sobre o trânsito no Município, que resultou num livro que procura dar

informações técnico-jurídicas aos Municípios, no sentido de se debater questões

relacionadas ao trânsito — o que não estavam acostumados — em igualdade de

condições, como ente da Federação, tal como a Constituição de 1988 colocou, ou

seja, o Município é um ente da Federação.

Entendemos que os Municípios têm de ser ouvidos a respeito das questões

de que têm interesse.

Na exposição do RENACOM, por exemplo, em momento nenhum verifiquei a

participação ou as sugestões dos Municípios. É importante a gente ter idéia de que

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no Brasil as coisas não podem ser impostas de cima para baixo. Afinal, estamos

num Estado democrático de Direito e temos que discutir essas questões. (Palmas.)

Portanto, acho importante que os Municípios sejam ouvidos, os Vereadores

exerçam suas reais funções, acompanhem e fiscalizem o Poder Público,

especialmente o Governo Federal, que muitas vezes fica de olhos vedados para não

ouvir as reclamações.

Quero passar às mãos do Presidente da União Brasileira de Vereadores um

exemplar do nosso trabalho, no qual há sugestões da Lei Orgânica para a criação da

estrutura de trânsito nos Municípios, a criação das Guardas Municipais, dos órgãos

de fiscalização de trânsito e todas as sugestões possíveis e cabíveis dentro do

nosso trabalho para que os Vereadores do Brasil possam exercer efetivamente

essas atividades e, assim, municipalizarmos o trânsito, para que no Brasil não

tenhamos tantas mortes nas estradas e nas rodovias.

Muito obrigado. (Palmas.)

O SR. COORDENADOR (Romualdo Theophanes de França Júnior) –

Concedo a palavra ao Sr. Francisco José de Matos Nogueira, Presidente da

Autarquia Municipal de Trânsito e Serviços Públicos de Cidadania de Fortaleza.

O SR. FRANCISCO JOSÉ DE MATOS NOGUEIRA – Senhoras e Senhores,

quero saudar os presentes. Esses debates são importantes.

Estive analisando as apresentações e algo me chamou muita atenção: Lei de

Responsabilidade Fiscal e RENACOM. Gostaria de salientar o trabalho dos

funcionários do DENATRAN, que, infelizmente, deveria ser chamado de

Departamento Nacional em Trânsito, porque os diretores não duram mais do que 6

meses, e tudo acontece meio atropelado. Os Municípios não são ouvidos.

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Gostaria de falar um pouco do RENACOM. Nenhum Município — esta é uma

posição dos nossos fóruns, tanto o Fórum Nacional de Secretários, como o Fórum

Nordeste, que aconteceu na semana passada, em Fortaleza — é contra o

RENACOM; pelo contrário, é mais do que necessário. Agora, os Municípios têm que

ser ouvidos, porque eles vão responder perante a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Como posso justificar perante a Lei de Responsabilidade Fiscal que por uma multa

leve, paga em dia pelo cidadão, o Município irá receber 42 reais? No nosso caso,

ainda temos que descontar mais 15% para o DETRAN local. Ou seja, iremos receber

em torno de 36 reais. E o custo disso, já que temos de pagar ao sistema

RENACOM? Não sei porque deve-se pagar 21 reais para o Banco do Brasil. Essa

planilha não foi aberta para os Municípios; a Frente Nacional não foi convidada a

participar. Então, nosso custo fica em 38 reais. Será que daqui a três, quatro anos,

quando formos auditados por alguém do TCM ele vai dizer: “Não, você assumiu

arrecadar menos do que vai pagar, por que está investindo no futuro? Tem algum

acordo sobre isso?” Quer dizer, mais uma vez os Municípios estão a reboque,

porque infelizmente as câmaras temáticas não funcionam. O DENATRAN vive em

trânsito.

Quero novamente louvar o trabalho dos funcionários do DENATRAN, que não

são culpados por isso. Infelizmente, nosso DENATRAN é uma Secretaria que fica

junto ao Ministério da Justiça, e pelos dados que temos — o Dr. Altamiro citou aqui

dados de mortes — parece que não estamos levando muito a sério essa

problemática.

Hoje, o trânsito mata mais do que qualquer outro tipo de violência. Para terem

uma idéia, em Fortaleza, em um grande hospital que faz atendimento

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traumatológico, não só para a população de Fortaleza, mas para todas as cidades

do Ceará, basicamente, no ano de 2000, fez 10.600 atendimentos de vítimas de

acidentes de trânsito. No mesmo período tivemos 6.700 atendimentos de vítimas de

tiros, facadas, pauladas e outros.

Os Municípios devem ser chamados a participar. Fóruns como este são mais

do que necessários. Foi muito esclarecedora e interessante a palestra sobre

educação de trânsito feita anteriormente. Falamos muito em educação de trânsito no

âmbito de escolas. Mas queria convocar o Deputado Ary Kara para que

comprássemos uma nova batalha junto ao MEC, no sentido de exigir que os cursos

de Direito de todo o Brasil incluíssem o estudo do CTB, que fosse matéria

obrigatória. Os advogados se formam, fazem concurso para a Magistratura, sabem

de cor o Código, até o Canônico, Romano, mas não estudam o CTB. Por isso,

acontecem medidas esdrúxulas. (Palmas.) Já tive mandato de segurança, em

Fortaleza, no qual o juiz pedia certificado do INMENTRO para uma multa efetuada

por um agente de trânsito. Fica até uma pergunta: como seria um certificado desse?

Tem que ser louro, moreno, alto, baixo, gordo, magro? Como é?

O RENACOM diz que vai ser muito bom, porque vai acabar esse negócio das

locadoras. Pode ser para o resto do Brasil, mas em Fortaleza um juiz decretou,

mediante um mandato de segurança — inclusive eu, pessoalmente, tive que

responder, na semana passada, junto ao Ministério Público, porque disse ele que

não estava sendo cumprida a ordem — que as multas das locadoras, em Fortaleza,

devem ser transferidas para o infrator. Fere totalmente o Código. Mas juiz é juiz, e é

lei, eu tenho que cumprir.

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Às vezes o Ministério trata multa no DECOM. Ninguém compra multa!

Portanto, não há relação de consumo.

O que existem são muitas mortes. No trânsito do Brasil há uma verdadeira

guerra, e eu acho que com a municipalização, se os Municípios forem ouvidos e

levados a sério, o número de mortes pode ser reduzido.

Muito obrigado. (Palmas.)

O SR. COORDENADOR (Romualdo Theophanes de França Júnior) -

Concedo a palavra ao Dr. Ivan Carlos Alves Barbosa, Secretário Municipal de

Transportes Urbanos de Salvador.

O SR. IVAN CARLOS ALVES BARBOSA – Sr. Coordenador, senhores

conferencistas, inicialmente agradeço ao Deputado Ary Kara o convite para

participar deste evento. É imensa a nossa satisfação por estarmos aqui para debater

o trânsito, este assunto tão importante.

Os temas que foram objeto do debate hoje foram bem abordados pelo Sr.

José Paulino, que falou a respeito da Lei de Reponsabilidade Fiscal.

Primeiro, eu entendo que hoje já é uma obrigação do administrador prestar

contas em tudo o que faz e ter transparência sobretudo na aplicação dos recursos,

que vêm do cidadão diretamente para os cofres públicos, no nosso caso, os cofres

municipais.

Por isso mesmo eu entendo que todos os meses deve haver uma prestação

de contas, como nós fazemos, com relatórios mensais encaminhados para o

Conselho de Administração e para a Câmara de Vereadores, que os analisa e vê a

aplicação desses recursos. Como se não bastasse, também existe o Tribunal de

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Contas do Município para a averiguação de todas as nossas contas, no que diz

respeito a essa aplicação.

O outro tema desta conferência talvez não tenha sido abordado. Trata-se

daquela pergunta que não quer calar e faz parte deste debate: existe uma indústria

de multas?

Este tema foi abordado de maneira bastante leve aqui, mas o que eu gostaria

realmente de enfatizar é que eu não sei se existe uma indústria de multas, mas sei

— e tenho certeza, efetivamente — que, depois da municipalização do trânsito e da

aplicação do Código de Trânsito Brasileiro, realmente nós conseguimos diminuir o

número de acidentes no nosso País.

Um exemplo disso é a minha cidade, Salvador, um centro turístico, com

quase 2 milhões e 400 mil habitantes. Nos fins-de-semana, sobretudo nos

corredores mais estruturantes, que se dirigem para a orla marítima, havia quatro

acidentes com vítimas fatais. Todos eles, como já foi dito aqui, envolvendo pessoas

na faixa de 18 a 22, 23, 25 anos. Que pena para a nossa sociedade que isso esteja

acontecendo!

Esses dados também se aplicam aos atropelos, sobretudo nos corredores de

maior movimento com invasão no final. Era nesses locais onde mais aconteciam

esses acidentes, os atropelos, com vítimas fatais.

Efetivamente, de lá para cá, em dois anos de aplicação do Código, nós

conseguimos reduzir esses números em 140 vítimas. Portanto, 140 pessoas

deixaram de falecer graças à aplicação desse Código. Houve uma redução de 970

acidentes com vítimas fatais.

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Estou dizendo isso tudo porque nós, administradores públicos, às vezes

somos taxados de irresponsáveis por termos aplicado tantas multas. Na nossa

cidade nós somos chamados de chupa-cabra. A imprensa tem sido veemente contra

a aplicação dessas multas.

Eu quero dizer aos senhores, com absoluta tranqüilidade, que tenho a

consciência absolutamente tranqüila. Se uma só vítima tivesse deixado de falecer

graças à aplicação dessas multas, eu já me sentiria satisfeito. E não foi apenas uma,

mas tantas, o que realmente nos deixa muito satisfeitos.

Aqui se falou sobre a educação para o trânsito, que é muito importante que

aconteça, mas creio que existe um momento necessário a todas as sociedades

democráticas em que têm que haver também o poder e, às vezes, a coação, para

que realmente aconteça a diminuição desses loucos acidentes com pessoas que

realmente extrapolam na bebida e que precisam ser chamadas à razão.

Vejo esse fato com absoluta tranqüilidade, pois, quando iniciamos a

instalação de radares e sensores, verificou-se mudança no perfil das multas

aplicadas. As multas por excesso de velocidade caíram cerca de 30%, a partir do

momento em que começamos a aplicar os radares nos corredores estruturantes da

cidade. Isso significa conscientização do motorista, uma vez que sabe que será

punido.

Por outro lado, a partir dessa aplicação, também caíram os índices de

ultrapassagem de sinais de trânsito, responsáveis por grande quantidade de mortes

por atropelo. No entanto, este ano aumentou a quantidade de multas aplicadas pelos

agentes de trânsito, às quais chamo multas da cidadania, quais sejam a não

permissão de estacionamento em lugar indevido, a exemplo de calçadas, porque ali

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tem de passar o paraplégico, o idoso, enfim, pessoas em geral. Isso se chama

cidadania.

Quero dizer aos senhores que, efetivamente, como administrador público,

sobretudo num órgão tão importante do ponto de vista da cidadania, sinto-me

absolutamente tranqüilo e satisfeito por estar prestando este depoimento. Percebo

que avançamos bastante nesse aspecto em nosso País. Lembro-me de que

Caetano Veloso dizia como seria bom o dia em que todos nós, brasileiros,

pudéssemos ter a certeza do uso do cinto de segurança. Parecia uma utopia; no

entanto, hoje, no nosso País, há uma grande quantidade de pessoas que usam o

cinto de segurança, com percentual muito maior do que em países às vezes muito

mais desenvolvidos. Isso é orgulho para nós, brasileiros.

Quero deixar uma mensagem de esperança a todos no sentido de que

realmente vamos mudar o perfil do nosso trânsito nos próximos anos.

Muito obrigado. (Palmas.)

O SR. COORDENADOR (Romualdo Theophanes de França Júnior) -

Concedo a palavra ao sexto debatedor, Dr. Aroldo Cezário Diniz, Delegado de

Polícia de Rio Claro.

O SR. AROLDO CEZÁRIO DINIZ – Quero agradecer a oportunidade de

compor a Mesa com Ministros e autoridades, cumprimentar a todos na pessoa do

Deputado Ary Kara, organizador do evento. Com relação ao Cadastro Nacional de

Multas, ele veio em boa hora. Como Diretor de Trânsito, percebo não haver

dificuldade em suspender a habilitação do condutor-infrator. Isso era muito difícil, em

razão da lentidão da comunicação das autuações ocorridas nos Municípios. Os

Municípios faziam as autuações, notificavam, cobravam, mas os dados não eram

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repassados aos DETRANs, e, por conseqüência, não chegavam aos Municípios

onde o condutor era cadastrado. Com esse cadastro, temos certeza de que isso

será agilizado e os condutores infratores serão punidos com maior rapidez e a

educação também virá com maior eficiência.

Agradeço mais uma vez a oportunidade. (Palmas.)

O SR. COORDENADOR (Romualdo Theophanes de França Júnior) -

Como último debatedor, concedo a palavra ao Vereador Luiz Gonzaga Santos .

O SR. LUIZ GONZAGA SANTOS – Boa tarde a todos e aos componentes da

Mesa. Agradeço a todos os palestrantes que abrilhantaram tema tão importante para

nossa sociedade, aos presentes e principalmente ao Deputado Ary Kara, que é da

nossa cidade de Taubaté. Temos acompanhado veementemente seu trabalho em

prol de causa tão justa e nobre, que tem sido debatido aqui e que será de grande

benefício para os nossos filhos, para o nosso povo.

Temos acompanhado diariamente o trabalho de V.Exa., Deputado Ary Kara,

Relator do Código de Trânsito. Deixo aqui os nossos agradecimentos pela

realização deste evento tão importante. A todos os palestrantes, a todos aqueles

que contribuíram, que deram noção de cidadania, nesta atitude democrática, o

nosso muito obrigado. (Palmas.)

O SR. COORDENADOR (Romualdo Theophanes de França Júnior) –

Considerando o pequeno volume de questionamentos, passamos, então, para

responder diretamente à primeira parte das questões, a palavra ao nosso

conferencista Dr. José Paulino de Castro.

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O SR. JOÃO ZARUR – Pergunta sobre a BR-Santa Catarina: Os valores

arrecadados em multas por órgãos ou entidades do Estado podem ser repassados

para investimento de um Município na forma prevista no art. 320, do CTB?

O SR. JOSÉ PAULINO DE CASTRO – Sr. João Zarur, a sua pergunta tem

dois sentidos. Eu não sei se você tem convênio com o Estado para fazer o

gerenciamento do trânsito do seu Município, mas o DENATRAN e o CONTRAN

fizeram publicar uma Resolução de nº 33 no Diário Oficial, onde ele dá algumas

sugestões, entre outras, sobre o que se pode fazer com a aplicação, o entendimento

do art. 320 do Código de Trânsito Brasileiro.

O SR. COORDENADOR (Romualdo Theophanes de França Júnior) –

Pergunta do Sr. Aloízio Neto, da Câmara de Vereadores de Paranaguá, Paraná:

“Sabemos que há, no caso, o famoso jeitinho brasileiro. O senhor já viu esse jeitinho

brasileiro na quebra de multa? O Diretor que gerencia um Município do setor pode

vir a ser enquadrado na Lei de Responsabilidade Fiscal, uma vez que não pode

existir a renúncia do imposto, caso venha a ser devidamente comprovada a atitude

desse Diretor?”

O SR. JOSÉ PAULINO DE CASTRO – O Sr. Aloízio Neto pergunta duas

coisas. Primeiro, não estou a par do assunto por ser uma execução local; segundo,

jeitinho brasileiro eu não conheço. Digamos que seja — entendo — parcelamento. É

isso?! A pessoa está aí? Se o jeitinho brasileiro puder ser interpretado como

parcelamento... Mas, como não-pagamento, lembro que a multa, com relação ao

trânsito, é de legislação federal. Então, o Estado e o Município não podem legislar

sobre multa. Para isso já há jurisprudência do Supremo Tribunal Federal definindo

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essas questões. Nesse caso, quanto à renúncia, ele vai ser enquadrado na Lei de

Responsabilidade Fiscal, entre outros crimes de improbidade administrativa.

O SR. COORDENADOR (Romualdo Theophanes de França Júnior) –

Pergunta do Sr. Álvaro Domingos Neto, Câmara Municipal de Paranaguá. Indago

qual é a sugestão: o meu Município é demarcado no quilômetro zero, a uma

distância aproximada de cinco quilômetros do centro urbano, e possui, dentro desse

centro urbano, uma via federal, sem investimento da concessionária que administra

a via; ela não repassa os recursos ao Município e recebe uma grande quantidade de

caminhões os quais danificam as vias urbanas. Um pedágio municipal seria viável?

O SR. JOSÉ PAULINO DE CASTRO – Se é via federal só compete à

administração da unidade federal. Como ele pede o pedágio municipal, parece-me

que não seria possível. O Dr. Altamiro Sathler Filho me poderia auxiliar na resposta.

(Intervenções paralelas fora do microfone – ininteligíveis.)

O SR. JOSÉ PAULINO DE CASTRO – O.K. Consegui compreender a

pergunta do colega. Essa é uma situação comum no território nacional. Temos uma

série de Prefeituras que reclamam que as rodovias que têm cobrança de pedágio

têm danificado as vias municipais porque o pessoal arranja vias secundárias para

fugir. Com isso, o indivíduo que contorna o pedágio, que deveria ser incontornável,

acaba danificando o Município nos lugares onde ele consegue realmente se desviar

do pedágio. Os pedágios são programados para receber uma certa frota de

veículos/dia e, no entanto, têm recebido, às vezes, metade do previsto. Sem falar

que eles também gastam o dobro do que tinham previsto gastar para contornar a

situação da engenharia de tráfego. Na verdade, a pergunta se resume no seguinte: o

meu Município está recebendo só os estragos e o pedágio é que está levando o

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dinheiro? Tem jeito de cobrar o pedágio? Respondo que não. Esse problema é do

Município. E, se por acaso ele quiser se entender com o pedágio, ele vai fazer o que

temos feito: criar dificuldades para que o indivíduo não fuja do pedágio. Mas dizer

que o pedágio pode destinar recursos para cobrir aquilo que o Município está

sofrendo de prejuízo, quanto a isso não se vai conseguir solução. Tivemos duas

Prefeituras que procuramos compensar com medidas junto ao DNER para que

modificassem as vias de acesso à fuga lateral que estavam prejudicando as cidades.

Afinal de contas, são veículos com cargas excessivas passando em ruas que não

estão preparadas para isso. Então, é dever do DNER evitar isso. A fuga é

inadequada, já que as cargas não se destinam àquelas cidades. É a resposta.

O SR. COORDENADOR (Romualdo Theophanes de França Júnior) –

Esclarecidos os questionamentos selecionados ao Dr. José Paulino de Castro,

passamos então aos questionamentos feitos diretamente ao Dr. Altamiro Sathler

Filho.

O SR. ALTAMIRO SATHLER FILHO – Pois não. O nosso colega Tavares, do

Departamento de Trânsito, da Prefeitura Municipal de Guaraí, pede informações

sobre se já existe algum convênio firmado com prefeituras onde há posto da Polícia

Rodoviária Federal. Naturalmente, convênios que permitissem à Prefeitura operar o

trânsito no local. Não existe nenhum convênio, em âmbito nacional, com Prefeituras.

Segundo, o único convênio que há — e agora estão terminando de estabelecer as

suas cláusulas — é com a Polícia Militar do Estado de Minas Gerais, para fiscalizar o

Anel Rodoviário de Belo Horizonte. Um outro convênio que está em estudo, mas

ainda numa fase mais incipiente, é com a Polícia Militar Rodoviária do Estado de

São Paulo.

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É bom que a pergunta tenha surgido pelo seguinte: quando imaginamos

assumir a responsabilidade sobre a rodovia, existem algumas outras

responsabilidades que não interessam ao Município, como a responsabilidade sobre

a segurança pública. Como é que podemos fazer frente ao que se passa numa

rodovia, com um volume de tráfico enorme, em relação ao que essa rodovia

representa na segurança pública? Primeiro, o palco de manifestações dos

movimentos sociais. Hoje, os sem-terra resolvem arranjar um verdadeiro inferno na

rodovia. Não há polícia que dê conta. Ultimamente, chegaram ao ponto de adotar

uma estratégia de deitar todos — mulher, crianças, gato, sapato, cachorro — na

rodovia. Teríamos que ter um policial para cada homem, porque quando tiramos um

e o colocamos em pé, ao lado da pista, e ele volta de novo, obstruindo o tráfego.

Isso é afetar a segurança nacional e fazer a polícia de palhaço. Mas interessa ao

Município assumir uma encrenca dessas?! A Polícia Rodoviária tem o respaldo da

Polícia Militar do Estado e da Polícia Federal, tendo autoridade nacional. Mas ao

Município não interessaria enfrentar problemas de ordem social dessa natureza.

Segundo problema de ordem social: a rodovia como palco de manifestações

dos indígenas. O indígena é protegido pela legislação federal, de maneira que tudo

que ele faz de ruim não se pode imputar contra ele. Entendem? Então, o indivíduo

chega lá, obstrui a rodovia, resolve cobrar pedágio — como ontem também os sem-

terra resolveram cobrar pedágio na rodovia — e, ao mesmo tempo, o indígena

ainda resolve pedir coisas ao usuário etc. Vira um horror e não há condições de

dominar.

Provavelmente, alguns Municípios não têm problemas como esse de servir de

palco de manifestações sociais, mas há outros problemas, como o crime, por

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exemplo. Hoje trabalhamos com uma detecção altíssima de tráfico de armas, de

drogas, de cargas roubadas em rodovias. Será que a Prefeitura teria estrutura para

assumir a rodovia e promover a segurança pública? Acho uma tarefa muito pesada,

porque o volume de cargas desviadas é muito grande, o número de furtos é

altíssimo e há incapacidade para exames metalográficos e procurar veículos

roubados ou desmontados.

Falamos da possibilidade de parceria entre Governo e Prefeitura. Agora eu

queria responder à pergunta de maneira mais ampla ainda. Nesse convênio com a

Polícia Militar do Estado, a Polícia Rodoviária Federal está analisando se a Polícia

Militar tem homens para cobrir a necessidade da rodovia ou se, dessa forma,

estariam simplesmente passando o problema adiante, fazendo com que a população

sofra ainda mais?! Em segundo lugar, é preciso analisar se a Polícia Militar tem

viaturas para atender àquela necessidade. O Corpo de Bombeiros tem homens e

viaturas para atender à necessidade? Ou eles não estão dando conta das suas

próprias responsabilidades e querem assumir o que não têm condições de cumprir?

Isso é uma vitrine ou é há senso de responsabilidade para com a população? Essas

perguntas cabem ao órgão concedente.

No convênio com a Polícia Militar do Estado de Minas Gerais, os recursos

destinados à ela têm que ser revertidos para a própria rodovia, para a compra de

viaturas e para o efetivo, a fim de serem supridas suas necessidades. Não adianta

deixar de enxergar essa incapacidade de assumir sua responsabilidade local e

querer ir além do seu terreno.

Espero ter respondido à altura.

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O SR. COORDENADOR (Romualdo Theophanes de França Júnior) – Ao

darmos por concluídos os trabalhos, agradecemos a participação dos conferencistas

e debatedores, destacando a persistência, a tolerância e, principalmente, a

dedicação de todos os presentes.

Concedemos a palavra ao Deputado Ary Kara, Presidente da Mesa, para as

considerações finais.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ary Kara) – Ao encerrar o I Congresso

Brasileiro de Municipalização do Trânsito, informo que, nesses dois dias, estiveram

presentes quarenta e dois gestores do trânsito em nosso País. Faço questão de citar

os nomes dos conferencistas, coordenadores e debatedores:

Dr. Gidel Dantas, ex-Diretor do DENATRAN; Joaquim Lopes da Silva Júnior,

ex-Coordenador de Educação do DENATRAN e atual Chefe de Gabinete da

Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo; Pedro Wilson

Guimarães, Prefeito de Goiânia; Laédson Bezerra, Diretor do DETRAN de

Pernambuco; Luiz Carlos Bertotto, Diretor Presidente da Empresa pública de

Transporte e Circulação de Porto Alegre; Marcelo Pazzini, Chefe de Trânsito de

Guarantiguetá, São Paulo; Deputado Federal Mauro Lopes, ex-Diretor-Geral da

Polícia Rodoviária Federal; César Roberto Franco, Diretor-Geral do DETRAN do

Paraná; Cyro Vidal, ex-Diretor do DETRAN de São Paulo, advogado especialista em

trânsito; engenheiro Luis Antonio Seraphin, assessor técnico da Presidência da

Companhia de Engenharia de Tráfego — CET, São Paulo; Emerson Rozendo

Salgado, assessor do Diretor de Planejamento do Departamento Nacional de Infra-

Estrutura de Trânsito — DNIT; Major PM José Ricardo Rocha Cintra de Lima,

Comandante da Companhia de Polícia Rodoviária do Distrito Federal; Antonio José

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Brilhante, Presidente do Sindicato dos Mensageiros, Motociclistas, Ciclistas

Autônomos e Serviços Afins do Estado de São Paulo; Deputado Federal Gonzaga

Patriota; Waldemar Antônio Lemes Filho, Presidente da UVB — União dos

Vereadores do Brasil; José Escobar Cavalcante, Superintendente da União dos

Vereadores do Brasil; Deputado Federal José Carlos Aleluia, Relator da nossa

Comissão; Vereador Alceu, Presidente da União dos Vereadores do Estado do Rio

de Janeiro; Vereador Davi, Presidente da União dos Vereadores do Estado de

Pernambuco; Vereador José Rogério Martins, Presidente da Câmara Municipal de

Cruzeiro, São Paulo; Vereadora Sônia Regina, Vice-Presidente da Câmara

Municipal de Alagoinhas, Bahia; Vereador Clériton Henrique, Presidente da

Associação de Câmaras do Estado de Santa Catarina; Vereador André Raposo, da

Câmara Municipal de Pindamonhangaba, São Paulo; Vereador Elder Alberto Boff,

Presidente da Associação de Câmaras de Vereadores do Estado do Paraná; Cleusa

Pereira do Nascimento, Prefeita de Salgueiro, Pernambuco; Luciene Maria Becacici

Esteves Viana, Secretária Municipal de Transportes e Infra-Estrutura Urbana de

Vitória, Espírito Santo; Profa. Justina Iva de Araújo Silva, Secretária Municipal de

Educação de Natal, Rio Grande do Norte; Major PM Vera Cruz, Diretora da Divisão

de Educação de Trânsito do DETRAN, São Paulo; Rita de Cássia Ferreira Cunha,

Coordenadora-Geral de Qualificação do Fator Humano no Trânsito do DENATRAN;

José Carlos Sacramone, Secretário Municipal de Jundiaí, São Paulo; Roberto Vaz

da Silva, Coordenador-Geral do Programa de Redução de Acidente no Trânsito –

PARE; Roberto Scaringella, ex-Presidente do CONTRAN; Altamiro Sathler Filho,

Diretor-Geral substituto do Departamento de Polícia Rodoviária Federal; Dr.

Waldemar Antonio Lemes Filho, Presidente da UVB, União dos Vereadores do

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Brasil; José do Espírito Santo, Presidente do Instituto Brasileiro de Segurança no

Trânsito; Francisco José de Matos Nogueira, Presidente da Autarquia Municipal de

Trânsito e Serviços Públicos de cidadania de Fortaleza; Ivan Carlos Alves Barbosa,

Secretário Municipal de Transportes Urbanos de Salvador; Carlos Eduardo Cruz de

Souza Lemos, chefe da representação da Mercedes Benz em Brasília; Aroldo

Cezário Diniz, Delegado de Polícia de Rio Claro, São Paulo; Luis Gonzaga Santos,

Vereador de Taubaté, minha cidade, no Estado de São Paulo.

No total, quarenta e duas pessoas compuseram a Mesa. Fiz questão de citar

o nome de cada um, em agradecimento a todos que aqui estiveram, que vieram com

recursos próprios, pois nossa Comissão não dispunha de condições financeiras para

ajudar. Só recebemos ajuda do DENATRAN, do Ministério da Justiça e da UVB.

Praticamente, “passamos o chapéu” para realizar este congresso. Por isso agradeço

a todos os senhores que compõem a Mesa, que participaram do evento e o

abrilhantaram, colaborando para que ele fosse um sucesso total. Não houve uma só

pessoa que saísse daqui sem nos cumprimentar, ressaltando a necessidade de

realizarmos mais vezes seminários como este. Realmente, ele foi muito importante.

Por isso, o Diretor-Geral do DENATRAN, Dr. Benedito Dantas Chiaradia, está

acertando com os Diretores dos DETRANs a realização de um evento em cada

Região — no Norte, no Nordeste, no Sul, no Sudeste e no Centro-Oeste —, ainda

neste ano, para que possamos, cada vez mais, aperfeiçoar nosso Código de

Trânsito Brasileiro.

Até hoje só houve uma mudança no Código, que foi aquela do kit de

primeiros socorros. Estamos segurando quase trezentas propostas de mudança do

Código, na Câmara e no Senado. Mas pretendemos, em 2003, por meio desta

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Comissão, com a participação dos senhores e, principalmente, do DENATRAN,

apresentarmos as primeiras mudanças necessárias no Código de Trânsito Brasileiro.

Peço aos senhores maior atenção à educação no trânsito. Que todos cobrem

do Ministério da Educação sua participação no que determina a lei, que é o currículo

mínimo a ser enviado a todas as escolas, públicas e privadas, do ensino infantil ao

universitário, para que possamos oferecer educação e segurança no trânsito em

todas as escolas brasileiras.

A Comissão Especial que estuda a aplicação do Código de Trânsito Brasileiro

na Câmara dos Deputados agradece, primeiramente, ao DENATRAN — solicitando

que o Dr. Paulo leve ao Ministro da Justiça, Miguel Reale Júnior, e ao Diretor-Geral

do DENATRAN, Dr. Benedito Chiaradia, nossos agradecimentos pela ajuda, pela

participação, pela colaboração que prestaram para a realização deste Congresso; à

União dos Vereadores do Brasil – UVB, que também teve uma participação efetiva;

aos Vereadores que aqui discutiram sua participação na municipalização do trânsito;

aos Prefeitos que aqui estiveram presentes; à ABRAMET — Associação Brasileira

de Medicina de Tráfego; à ANTP — Associação Nacional de Transportes Públicos; à

VITRAN — Associação Vida no Trânsito; à TAM, empresa que nos ajudou na

realização deste evento; ao Governo do Distrito Federal, na pessoa do Governador

Joaquim Roriz, que nos cedeu o espaço, gentil e gratuitamente — o aluguel do

espaço seria 56 mil reais; e a todos os participantes.

Tenham todos a certeza de que nossa luta vai continuar!

Declaro encerrado o I CONBRAM – Congresso Brasileiro de Municipalização

do Trânsito. (Palmas.)

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O SR. COORDENADOR (Romualdo Theophanes de França Júnior) -

Agradecemos a participação de todos os Congressistas e de todos os que

colaboraram para a realização do evento. Realização: Câmara dos Deputados, ONG

Vida no Trânsito, União dos Vereadores do Brasil, Associação Nacional de

Transportes Públicos, Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, DENATRAN,

Ministério da Justiça e Governo Federal, trabalhando em todo o Brasil.

Tivemos o apoio de Guia de Fornecedores Principais, TAM — Transportadora

Oficial, TAM — Viagens, Toledo’s Propaganda e Marketing e FENTRAN — Feira

Nacional de Trânsito.

Muito obrigado a todos.