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CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL COMISSÃO DE FINANÇAS E TRIBUTAÇÃO EVENTO: Audiência Pública N°: 1005/08 DATA: 01/07/200 8 INÍCIO: 14h20min TÉRMINO: 17h20min DURAÇÃO: 03h00min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 03h00min PÁGINAS: 59 QUARTOS: 36 DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO THOMÁS TOSTA DE SÁ – Coordenador do Plano Diretor do Mercado de Capitais. BERNARD APPY – Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. RICARDO PATAH – Presidente da União Geral dos Trabalhadores — UGT. NILTON MOLINA – Vice-Presidente da Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização – FENASEG. HELMUT SCHWARZER – Secretário de Política de Previdência Social do Ministério da Previdência Social. MARIA HELENA DOS SANTOS FERNANDES DE SANTANA – Presidenta da Comissão de Valores Mobiliários – CVM. JOSÉ AUGUSTO COELHO FERNANDES – Diretor-Executivo da Confederação Nacional da Indústria – CNI. ALFREDO NEVES PENTEADO MORAES – Presidente da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro – ANDIMA. GILBERTO MIFANO – Presidente do Conselho de Administração da Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros – BM&FBOVESPA. SIDNEY CHAMED – Conselheiro da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital – ABVCAP. SUMÁRIO: Debate sobre o mercado de capitais e o desenvolvimento econômico e social. OBSERVAÇÕES Reunião conjunta das Comissões de Finanças e Tributação e de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio. Houve exibição de imagens.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

COMISSÃO DE FINANÇAS E TRIBUTAÇÃOEVENTO: Audiência Pública N°: 1005/08 DATA: 01/07/200 8INÍCIO: 14h20min TÉRMINO: 17h20min DURAÇÃO: 03h00minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 03h00min PÁGINAS: 59 QUARTOS: 36

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO

THOMÁS TOSTA DE SÁ – Coordenador do Plano Diretor d o Mercado de Capitais.BERNARD APPY – Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.RICARDO PATAH – Presidente da União Geral dos Traba lhadores — UGT.NILTON MOLINA – Vice-Presidente da Federação Nacion al das Empresas de Seguros Privadose de Capitalização – FENASEG.HELMUT SCHWARZER – Secretário de Política de Previd ência Social do Ministério daPrevidência Social.MARIA HELENA DOS SANTOS FERNANDES DE SANTANA – Pres identa da Comissão deValores Mobiliários – CVM.JOSÉ AUGUSTO COELHO FERNANDES – Diretor-Executivo d a Confederação Nacional daIndústria – CNI.ALFREDO NEVES PENTEADO MORAES – Presidente da Assoc iação Nacional das Instituiçõesdo Mercado Financeiro – ANDIMA.GILBERTO MIFANO – Presidente do Conselho de Adminis tração da Bolsa de Valores,Mercadorias e Futuros – BM&FBOVESPA.SIDNEY CHAMED – Conselheiro da Associação Brasileir a de Private Equity e Venture Capital –ABVCAP.

SUMÁRIO: Debate sobre o mercado de capitais e o des envolvimento econômico e social.

OBSERVAÇÕES

Reunião conjunta das Comissões de Finanças e Tribut ação e de Desenvolvimento Econômico,Indústria e Comércio.Houve exibição de imagens.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Finanças e TributaçãoNúmero: 1005/08 Data: 01/07/2008

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Jilmar Tatto) - Declaro aberta a presente

reunião de audiência pública, destinada a discutir o mercado de capitais e o

desenvolvimento econômico e social.

Esta audiência pública é o resultado da aprovação dos Requerimentos nºs

128, de 2008, de autoria do Deputado Pedro Eugênio, da Comissão de Finanças e

Tributação, e 130, de 2008, de autoria deste Presidente, Deputado Jilmar Tatto, da

Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio.

Está presente o Deputado Félix Mendonça, Vice-Presidente da Comissão de

Finanças e Tributação.

Eu gostaria de agradecer especialmente aos expositores pela presença. Em

razão do espaço físico e do número de expositores, nem todos poderão compor a

Mesa. Ouviremos cada um deles e, ao final, passaremos a palavra aos Deputados,

para suas interpelações.

Convido, para comporem a Mesa, o Sr. Thomas Tosta de Sá, Coordenador do

Plano Diretor do Mercado de Capitais; o Sr. Bernard Appy, Secretário de Política

Econômica do Ministério da Fazenda; e o Sr. Ricardo Patah, Presidente da União

Geral dos Trabalhadores — UGT.

Estão presentes também e vão fazer suas exposições na segunda rodada, o

Sr. Nilton Molina, Vice-Presidente da Federação Nacional das Empresas de Seguros

Privados e de Capitalização — FENASEG, representando o Sr. Alfredo Setúbal,

Presidente da Associação Nacional dos Bancos de Investimentos — ANBID; o Sr.

Gilberto Mifano, Presidente do Conselho de Administração da Bolsa de Mercadorias

e Futuros — BOVESPA; o Sr. José Augusto Coelho Fernandes, Diretor-Executivo da

Confederação Nacional da Indústria — CNI, representando o seu Presidente,

Deputado Armando Monteiro; o Sr. Helmut Schwarzer, Secretário de Políticas de

Previdência Social do Ministério da Previdência Social; e Sr. Alfredo Neves

Penteado Moraes, Presidente da Associação Nacional das Instituições do Mercado

Financeiro — ANDIMA.

Agradeço a todos a presença.

Na medida em que forem chegando os outros convidados, bem como os Srs.

Deputados, nós os anunciaremos. Está presente o Deputado Gonzaga Mota,

entusiasta desta audiência.

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Cada expositor terá 15 minutos para sua exposição.

Passo a palavra ao Sr. Thomás Tosta de Sá, Coordenador do Plano Diretor

do Mercado de Capitais.

O SR. THOMÁS TOSTA DE SÁ - Primeiramente, eu gostaria de agradecer

aos Presidentes das Comissões pelo convite que nos foi feito para participar desta

audiência pública.

Cumprimento os companheiros palestrantes, os Deputados e demais

presentes.

Agradeço ao meu amigo, Deputado Paulo Lustosa, a presença. Em 1985,

recebi de suas mãos um prêmio, quando era S.Exa. Presidente do SEBRAE.

(Segue-se exibição de imagens.)

Acredito que o Brasil, após vivenciar 25 anos de um crescimento tímido, está

retomando o seu papel de uma das economias mais dinâmicas do mundo. Esse

cenário se concretizará se formos capazes de aumentar a produtividade de nossos

fatores de produção e a nossa poupança doméstica, para não ficarmos dependentes

da poupança externa.

O nosso Deputado, Senador, Embaixador, Ministro, Prof. Roberto Campos,

pouco antes de falecer, em entrevista concedida, dizia: “O crescimento sustentado

do Brasil depende de investimentos em educação e do aumento da poupança

doméstica.” De fato, a educação é o grande fator para o aumento da produtividade

do capital humano.

O aumento da poupança doméstica, através da formação de uma poupança

previdenciária de longo prazo, será o grande instrumento de financiamento do

crescimento econômico e social do País. Hoje, a nossa poupança previdenciária é

de cerca de 20% do PIB. Nos Estados Unidos, ela supera 100% do PIB, tornando o

trabalhador americano o maior sócio das grande empresas daquele País. Mas esse

enorme volume do capital financeiro, resultante dessa poupança previdenciária a ser

criada, deveria ser alocado na economia de uma maneira eficiente para

aumentarmos a sua produtividade. Esse instrumento de alocação de poupança é o

mercado de capitais, que não se justifica como um fim em si mesmo, mas como um

veículo de aumento da produtividade do capital financeiro e de um instrumento de

redistribuição da propriedade do País.

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Foi consciente desse papel do mercado de capitais no desenvolvimento

econômico-social do País que um grupo de entidades dos diversos setores da

sociedade elaborou o Plano Diretor do Mercado de Capitais 2002, cujos resultados

apresentaremos a seguir.

Esse trabalho teve como antecedentes fatos relevantes, que contaram com o

apoio deste Congresso.

Primeiramente, a autorização para a entrada de investidores estrangeiros, a

partir de 1991, teve um efeito semelhante ao papel do consumidor estrangeiro na

melhoria da qualidade do nosso produto exportado. As exigências de qualidade do

investidor estrangeiro muito contribuíram para a melhoria do nosso mercado de

capitais.

A inflação, inimiga pública nº 1 de qualquer modelo de desenvolvimento

econômico sustentado, foi, com o lançamento do Plano Real nesta Casa, do qual

participei como Presidente da CVM, em 1994, com a priorização dada por todos os

Governos em combatê-la desde então, o fato mais importante para o

desenvolvimento do mercado de capitais.

A criação do novo mercado pela BOVESPA em 2000, exigindo novos padrões

de governança de empresas listadas para negociação; o restabelecimento dos

direitos dos acionistas minoritários; o fortalecimento da CVM em 2001; a eliminação

da CPMF nas negociações em bolsa, em 2002; e, finalmente, a elaboração e

apresentação do Plano Diretor do Mercado de Capitais 2002 aos candidatos à

Presidência, resultando no documento de apoio do PT a esse plano entregue em

reunião da FIESP, culminou num exemplo bem-sucedido de parceria público-

privada.

Mais de 80 entidades da sociedade civil, representando todos os setores da

economia, através do Comitê Executivo do Plano Diretor, em conjunto com o grupo

de trabalho de mercado de capitais, de poupança e longo prazo do Governo, criado

em 2003 por decreto presidencial, e o Congresso permitiram que o mercado de

capitais brasileiro atingisse novos patamares de desenvolvimento, como indicado a

seguir.

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A capitalização de mercado das empresas, em 2002, era de 438 bilhões de

reais, tendo atingido, em dezembro de 2007, o montante de 2 trilhões 478 bilhões de

reais. Isso significava, em 2002, 32% do PIB, e, em 2007, 97% do PIB.

O volume diário negociado na BOVESPA, em 2002, era de apenas 600

milhões de reais; em 2007, era de 4,9 bilhões; e, em 2008, esse número já supera a

faixa dos 5 ou 6 bilhões de reais.

O número de IPOs, ou seja, de abertura de capital de novas empresas em

bolsa, que, em 2002, teve uma única empresa, em 2007, foram 64 empresas que

vieram ao mercado se capitalizar.

O número de investidores individuais cadastrados na CBLC era de 94 mil, em

2007; em dezembro, era de 480 mil.

O Índice BOVESPA, que mede a valorização das ações em bolsa, que, em

2002, era de 11.280 pontos, atingiu, em 2007, 63.910 pontos.

Esse gráfico mostra o efeito nefasto que tem a taxa de juros reais sobre os

negócios de mercado de capitais. Evidentemente que isso reflete o efeito nefasto

que altas taxas de juros têm sobre a economia real sobre todo o desenvolvimento

econômico sustentado.

Em 1991, praticava-se taxas de juros da ordem de 25% real. Essa taxa caiu,

está no momento ligeiramente ascendente, mas não significa que teremos isso

como uma perspectiva futura. O desenvolvimento econômico sustentado

seguramente dependerá de uma redução significativa ainda da nossa taxa real de

juros.

O Plano Diretor do Mercado de Capitais, como eu disse, foi um exemplo bem-

sucedido de parceria público-privada pelo envolvimento de todas as entidades do

mercado, de todos os segmentos da sociedade, do Governo e do próprio

Congresso. Setenta e cinco por cento das propostas foram implementadas,

destacando-se as medidas aprovadas no Congresso, entre elas: o novo modelo

previdenciário para o funcionalismo público — ainda está no Congresso projeto de

lei para regulamentação da previdência complementar do funcionalismo público; a

nova tributação para a previdência complementar, que é hoje um marco de

excelência no modelo tributário da previdência complementar, da previdência

privada no mundo inteiro; os novos títulos do agronegócio, que foram

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regulamentados e aprovados por leis aqui no Congresso, criando um novo

instrumento de financiamento do agronegócio; a Lei de Falência, ou seja, a Lei de

Recuperação de Empresas, também aprovada em 2005; o patrimônio de afetação,

que dará e já deu uma nova dimensão ao mercado imobiliário; a isenção de Imposto

de Renda para diversos títulos para as pessoas físicas, para diversos títulos do

mercado imobiliário; a redução da alíquota de IOF sobre prêmios de seguro de vida,

que ampliará em muito o tamanho desse mercado; a nova legislação sobre

demonstrativos contábeis, aprovada no final do ano passado, da maior importância

para que as empresas brasileiras fiquem no padrão internacional, no padrão de

globalização; e outras medidas de tributação de ações e títulos de renda fixa.

Entretanto, o desenvolvimento econômico sustentado dependerá ainda de um

conjunto de ações, que estão sendo trabalhadas e elaboradas no bojo do novo

Plano Diretor do Mercado de Capitais 2008 — e desde já peço autorização aos

senhores desta Comissão, os Deputados aqui presentes, para, oportunamente,

virmos apresentar o nosso Plano Diretor 2008, em que destacamos alguns dos

desafios que serão por ele abordados: o Programa Nacional de Educação

Financeira, que já está em fase de discussão num grupo de trabalho do COREMEC

entre entidades do Governo reguladoras e o setor privado da economia; a ampliação

da participação dos trabalhadores no mercado de capitais e, dessa forma, da

participação dos trabalhadores no crescimento econômico do País; o novo modelo

previdenciário, um desafio que traremos a esta Casa e que levaremos ao Governo; a

utilização mais ampla do FGTS pelos trabalhadores como instrumento de

participação no mercado de capitais, no capital das empresas; a utilização da PLR,

lei aprovada ainda em 1995 (Participação em Lucros e Resultados), que é um forte

instrumento de participação do trabalhador no capital das empresas; o

desenvolvimento do mercado imobiliário, que, na minha opinião, deverá utilizar-se

dos instrumentos do mercado de capitais para resolver o problema mais grave da

sociedade brasileira hoje, que é o da população favelada — temos de encontrar uma

solução através desses instrumentos para equacionar o problema da habitação, de

interesse social. E mais: desenvolvimento do agronegócio; fortalecimento do

empreendedorismo. O Brasil vive hoje uma revolução invisível no âmbito das

universidades e dos centros de pesquisas, relativamente à indústria que apóia o

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mercado de empresas emergentes. Eu fui o Presidente que regulamentou essa

atividade em 1994, a dos fundos de investimentos de empresas emergentes.

Eu fui Presidente da CVM nessa época, e esse instrumento, hoje, atingiu uma

dimensão da maior relevância para o mercado, haja vista a atração de novas

empresas para dentro do mercado de capitais. O mercado de capitais, portanto, é

um fator importante para o desenvolvimento dessas empresas.

Precisamos criar pólos de empreendedorismo, com inovação em tecnologia.

E não posso deixar de falar da minha querida cidade do Rio de Janeiro, que deverá

vir a ser um grande centro de inovação tecnológica do País.

Finalmente, o mercado de longo prazo de títulos de dívida privada. O

financiamento de projetos, através do mercado de capitais, dos fundos de

investimento de participação, da infra-estrutura e mais um conjunto de leis que já se

encontram no Congresso, seguramente auxiliarão muito esse projeto de

desenvolvimento econômico sustentado do País.

Muito obrigado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Jilmar Tatto) - Obrigado, Sr. Thomas Tosta

de Sá, pela sua exposição.

Já está presente também a Sra. Maria Helenas dos Santos Fernandes de

Santana, Presidenta da Comissão de Valores Mobiliários. Obrigado pela presença.

Logo, logo, a senhora vai falar.

Registro a presença do Deputado Duarte Nogueira, do PSDB de São Paulo;

do Deputado Colbert Martins, do PMDB da Bahia; do Deputado Rodrigo Rocha

Loures, do PMDB do Paraná; do Deputado Arnaldo Madeira, do PSDB de São

Paulo; do Sr. Paulo Lustosa, sempre Deputado, ex-Ministro, muito querido por esta

Casa; do Deputado Félix Mendonça. Obrigado a V.Exas. pela presença.

Passo a palavra ao Sr. Bernard Appy, Secretário de Política Econômica do

Ministério da Fazenda.

O SR. BERNARD APPY - Boa tarde a todos. Queria agradecer à Comissão

de Finanças e Tributação e à Comissão de Economia, Indústria e Comércio o

convite para participar desta audiência sobre mercado de capitais. O tempo é muito

curto e, obviamente, não dá para falar tudo sobre a relevância desse mercado. Mas

quero destacar alguns pontos que ressaltam a importância do mercado de capitais

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não apenas no Brasil, mas como forma de intermediação financeira no mundo.

Primeiro como fonte de recursos para financiamento das empresas, principalmente

financiamento de longo prazo. Segundo, na criação de alternativas de poupança e

investimento para pessoas físicas e jurídicas. E, terceiro, o mercado de capitais é

uma das formas mais eficientes pelas quais as pessoas, os investidores, em

particular os pequenos investidores, podem participar dos resultados das empresas.

Então, é uma forma de democratização do capital, extremamente importante no

mundo atual. Quarto, e talvez o ponto mais importante no que diz respeito ao Brasil,

o mercado de capitais hoje, no meu ponto de vista, é um instrumento essencial para

viabilizar um modelo equilibrado de financiamento do desenvolvimento econômico.

O Brasil tem na sua história vários períodos de desenvolvimento,

principalmente se pegarmos o último século. Acontece que quase todos esses

períodos de desenvolvimento foram marcados por um padrão de financiamento

inadequado que acabou levando a desequilíbrios macroeconômicos, que, por sua

vez, acabaram comprometendo o próprio desenvolvimento. Então, se pegarmos a

época do Plano de Metas nos anos 1950, por exemplo, o financiamento foi

essencialmente via expansão monetária, que acabou levando a uma alta da inflação,

que tem um custo macroeconômico muito elevado. Se pegarmos o II PND, por

exemplo, o financiamento foi essencialmente via endividamento externo, cujo ajuste

durante a crise da dívida externa nos anos 1980 acabou custando ao Brasil um

período extremamente longo de baixo crescimento econômico. E o Brasil tem na sua

história esta característica de ter crescido com padrões inadequados de

financiamento do crescimento. O mercado de capitais é hoje no Brasil um

instrumento essencial para que o País possa crescer e financiar de forma adequada,

através da intermediação de recursos privados, do investimento necessário para

esse crescimento. Então, o desenvolvimento do mercado de capitais é, de um lado,

fruto da estabilidade macroeconômica, e, de outro lado, um elemento essencial para

consolidar a estabilidade macroeconômica no longo prazo no País. Quais são os

requisitos para o desenvolvimento do mercado de capitais? Diria que o Brasil está

bem na foto, nesse ponto de vista. Primeiro, a estabilidade macroeconômica. É

impensável pensar em mecanismos privados de financiamento de longo prazo num

ambiente de grande instabilidade macroeconômica. E o Brasil tem conquistado

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nesses últimos anos esta característica de ser um país estável, um país com um

grau de volatilidade muito menor do que teve no passado. Isso permite o

desenvolvimento do financiamento de longo prazo no mercado de capitais.

Segundo, um marco regulatório e um desenho institucional adequados. Acho

que o Brasil já avançou bastante também nesse ponto de vista. Temos hoje um

órgão regulador independente. A Presidente Maria Helena, da CVM, está aqui. De

todos os nossos órgãos reguladores do sistema financeiro, esse é o único que os

dirigentes têm mandato definido no Brasil. Acho que isso é uma característica

bastante importante. pois que ressalta a independência da CVM na regulação e na

fiscalização do mercado de capitais. Um ambiente de negociação eficiente e

transparente, com arcabouço legal eficiente, com uma segurança jurídica das

operações, com a proteção aos pequenos investidores, e também um desenho

tributário que seja eficiente do ponto de vista do funcionamento do mercado de

capitais. Diria que o Brasil tem hoje uma estrutura do mercado de capitais, tanto do

ponto de vista macroeconômico quanto do ponto de vista institucional, bastante

positiva para o desenvolvimento do mercado. Isso não significa que não haja

desafios nem aperfeiçoamentos a serem feitos. Acho que eles existem sempre. É

possível aperfeiçoar, avançar. Mas temos hoje, do ponto de vista de mecanismo de

proteção dos investidores, do ponto de vista da regulamentação legislativa, da

regulamentação da CVM, uma estrutura que dá bastante segurança para os

investidores no mercado de capitais. Talvez essa seja uma grande diferença em

relação, por exemplo, ao início dos anos 1970, quando o mercado de capitais

brasileiro teve também um período de forte crescimento e uma estrutura de proteção

inadequada dos investidores acabou levando a uma crise do mercado e a grandes

perdas para os investidores na época, inclusive meu pai. Na verdade, houve uma

desconfiança no mercado que demorou décadas para ser restabelecida de forma

adequada no Brasil. Acho que hoje estamos preparados. Tem desafios sim, mas

estamos bem preparados para enfrentar os desafios do crescimento do mercado de

capitais.

Especificamente no que diz ao Governo e mais especificamente à minha

Secretaria, o Governo implantou em 2003 o Grupo de Trabalho sobre Mercado de

Capitais e Poupança de Longo Prazo, que chamamos de GTNK. Esse grupo é

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composto por representantes dos órgãos reguladores do sistema financeiro, da

Receita Federal, do Tesouro Nacional, e é coordenado pela Secretaria de Política

Econômica. Esse grupo tem como objetivo propor e discutir medidas que visem ao

estímulo do desenvolvimento do mercado de capitais e também a analisar as

sugestões trazidas pelas entidades representativas do mercado para serem

discutidas pelo grupo. Ao longo dos últimos anos, o grupo de trabalho propôs e

viabilizou a implementação de um grande conjunto de medidas de desenvolvimento

do mercado de capitais. O Dr. Thomas de Sá apresentou algumas aqui. Não vou

fazer um detalhamento das medidas porque seria bastante longo, mas uma parte

das medidas apresentadas aqui pelo Dr. Thomas passou pela discussão do grupo

de trabalho de mercado de capitais.

Para terminar, passo alguns dados sobre o desempenho do mercado de

capitais. Se pegarmos os últimos 12 meses, as emissões primárias e secundárias do

mercado de capitais alcançaram 200 bilhões de reais, um crescimento

extremamente forte partindo de um nível bastante baixo ao longo de toda a segunda

metade dos anos 1990 até um nível extremamente baixo em 2003. O que vemos é

que o mercado de capitais vem crescendo, cada vez mais, como fonte de recursos

de financiamento das empresas brasileiras. Se pegarmos o total do financiamento

das empresas brasileiras via mercado de capitais, via financiamento de bancos para

pessoas jurídicas — e aqui envolve todos os desembolsos, inclusive de curto prazo,

não só os de longo prazo — e os financiamentos do BNDES, o que vemos é que o

mercado de capitais passou de uma participação de 1,5% do financiamento total das

empresas, em 2003, para 11%, em 2007. O BNDES manteve-se basicamente

estável em 5% do financiamento total das empresas nesse período. E aqui são

apenas as emissões primárias. Não estamos falando aqui também das emissões

secundárias, porque aquelas são as que de fato representam o financiamento

efetivo para as empresas brasileiras.

O mercado de capitais tem assumido papel extremamente importante no

financiamento das empresas mesmo quando comparado com o volume total dos

desembolsos de crédito bancário, inclusive crédito de 1 dia, que está registrado na

conta do financiamento do sistema bancário. O mercado de capitais tem sido, por

exemplo, uma importante fonte de financiamento para a construção civil no País. Se

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pegarmos 2007, entre ações de empresas relacionadas ao ramo imobiliário,

certificados recebíveis imobiliários, debêntures de empresas do setor imobiliário e

fundos de investimento (fundos de desenvolvimento de direito creditório e fundos de

investimentos em participações na área imobiliária), o financiamento via mercado de

capitais para o setor imobiliário ultrapassou 21 bilhões de reais em 2007.

Muitas vezes, as pessoas olham o mercado de capitais como uma fonte de

financiamento via securitização de recebíveis de crédito habitacional. Isso, de fato,

no Brasil, ainda está muito pouco desenvolvido. Chegará o momento de se

desenvolver. Apesar disso, o mercado de capitais já tem hoje uma participação

extremamente importante no financiamento da construção civil, principalmente

através do financiamento das construtoras e incorporadoras através de emissões de

ações e debêntures.

No que diz respeito ao financiamento de médias empresas e à inovação

tecnológica, o mercado de capitais também tem assumido uma posição crescente no

financiamento das empresas. Os fundos de investimento de participação, por

exemplo, passaram de 127 milhões de reais de emissões primárias, em 2003, para

26 bilhões de reais, em 2008. Não é só para médias empresas. Na verdade, uma

parte disso vai para outras finalidades. Mas é o instrumento, por excelência, de

financiamento das empresas que estão crescendo e que pretendem em algum

momento chegar a abrir seu capital. E os fundos de investimentos em empresas

emergentes também têm tido um crescimento bastante relevante, passando de 50

milhões de reais, em 2003, para mais de 400 milhões de reais, em 2008.

Finalmente, o mercado de capitais é hoje um instrumento extremamente

importante de estímulo à governança corporativa. Quando pegamos apenas as

ofertas iniciais, os IPOs do mercado de capital, vemos que o número de empresas

que têm aberto capital é crescente dentro da estrutura do novo mercado, que exige

um grau de governança mais elevado do que a emissão de ações fora do novo

mercado. Isso significa que o mercado de capitais está crescendo, mas estamos

crescendo ao mesmo tempo em que estimulamos a boa-governança das empresas,

que é um dos elementos essenciais de proteção dos investidores.

Era isso que eu tinha a falar. Eu não vim aqui fazer um debate, mas para falar

que, do ponto de vista do Governo, o estímulo ao crescimento do mercado de

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capitais é extremamente importante como estímulo ao desenvolvimento de um

financiamento adequado do desenvolvimento econômico do Brasil, deixando claro

que, para o Governo, o mercado de capitais não é um objetivo em si, mas um meio,

um instrumento extremamente importante de desenvolvimento econômico.

Repetindo, ele não deve ser entendido como um objetivo em si. Para as empresas

dos setores, certamente o é; mas, para o Governo, é um instrumento que precisa ser

gerido de forma eficiente, que precisa ter uma estrutura institucional que permita seu

desenvolvimento. O desenvolvimento do mercado de capitais é extremamente

importante para que o desenvolvimento do Brasil se faça de forma equilibrada ao

longo dos próximos anos.

Acho que era basicamente isso o que eu tinha a falar. Muito obrigado.

(Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Jilmar Tatto) - Sr. Bernard Appy, obrigado

por suas considerações.

Registro a presença dos Deputados Pepe Vargas, do PT do Rio Grande do

Sul; Júlio Cesar, do DEM do Piauí; Gilmar Machado, do PT de Minas Gerais.

Agora ouviremos as palavras do Sr. Ricardo Patah, Presidente da União

Geral dos Trabalhadores — UGT.

O SR. RICARDO PATAH - Sr. Presidente, Deputado Jilmar Tatto,

companheiros de Mesa, Deputados e Deputadas, a UGT nasceu sob alguns signos.

Um é o signo da solidariedade. Ela nasceu da unidade de 3 centrais sindicais: a

antiga CAT, SDS e CGT. Hoje o movimento sindical brasileiro está se

desmembrando. Às vezes, fundam-se sindicatos com interesses pecuniários.

Recentemente, estavam querendo fundar o sindicato de proprietários de

automóveis. Quer dizer, junto com o IPVA, já vinha a cobrança sindical. O Molina

sugeriu um sindicato para os aplicadores na bolsa. E aí vamos receber o imposto

sindical. Mas isso não funcionou. A UGT nasceu no sentido da solidariedade, para

aglutinar e dar mais voz e força aos trabalhadores.

Por outro lado, há também a quebra de alguns paradigmas. Ou seja, a UGT

imagina a sua atividade extrapolando as questões da relação capital/trabalho, indo

ao encontro das necessidades fundamentais do trabalhador, que hoje muitas vezes

está ocupado por uma ONG. Hoje são milhares de ONGs — nada contra as ONGs

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— que ocuparam os espaços do movimento sindical que, nos idos de 1970,

encantava os trabalhadores. É nesse esteio que nós imaginamos a participação da

atividade da UGT, hoje aqui falando sobre mercado de capitais, um trabalhador

falando de mercado de capitais.

Somos até parceiros do Plano Diretor. Participei de várias reuniões com o

Thomas. Estamos iniciando um processo de conhecimento relativo à questão do

mercado de capitais. Sempre imaginamos a Bolsa como um instrumento de

especulação, um instrumento capitalista selvagem. E nunca percebíamos que a

Bolsa tinha um outro viés fundamental no sentido de proporcionar, com um trabalho

importante, a possibilidade de inclusão dos trabalhadores.

Hoje há crescimento econômico, inflação controlada, juros altos — parece

que vão ficar mais altos ainda. De qualquer jeito, a política governamental achou

muito adequada e correta a inclusão, a busca da percepção social, vendo o Brasil

com outro significado.

Algumas questões ainda nos trazem preocupação. Hoje, 190 mil pessoas

apenas detêm metade do PIB do Brasil, enquanto 180 milhões detêm a outra

metade. Percebemos, na cadeia das empresas, que o topo da pirâmide ganha 100

vezes mais do que a base. Então há uma série de questões que só o tempo vai

alterar, e é necessário alterar.

A participação dos trabalhadores no mercado de capitais já ocorreu num

passado recente. Somos um dos que defendemos quando surgiu a possibilidade de

compra de ações do Fundo de Garantia e da Vale do Rio Doce. Naquela

oportunidade, na primeira possibilidade, os trabalhadores não acreditaram muito. Eu

acreditei. Eu tinha 50 mil reais naquela oportunidade. Só podia comprar metade.

Comprei 25 mil reais, e hoje tenho mais de 300 mil reais em ações da PETROBRAS.

Quanto à Vale do Rio Doce, do mesmo jeito. É por isso que a UGT tem um projeto

que está tramitando aqui na Câmara — a Deputada Erundina é a Relatora — no

sentido da mudança da Lei nº 8.036, que rege a questão do Fundo de Garantia, para

permitir que os trabalhadores tenham o seu rendimento adequado.

É um absurdo o dinheiro do trabalhador, tão suado, tão difícil, ter uma

valorização tão pífia. As oportunidades que ocorreram no Governo passado foram

alteradas, valorizando para aqueles trabalhadores que utilizaram esse recurso. Essa

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Lei nº 8.036, mudando, vai permitir a valorização dos recursos dos trabalhadores e,

na oportunidade da retirada desses recursos, ou utilizando esses recursos, o que o

nosso projeto permite, sua utilização para a compra de ações com boa governança.

É lógico que essa é uma questão sobre a qual se tem que tomar uma série de

cuidados.

Outra ação que a UGT tem desenvolvido é quanto à utilização da Lei nº

10.101, medida provisória que vem tramitando desde 1994. em 1997 foi incluída a

questão do trabalho aos domingos e feriados, e em 2000 convalidada em lei. Na

realidade, é uma grande promotora de distribuição de renda. Infelizmente, muitos

empresários ainda não se aperceberam da importância dessa legislação no sentido

de fazer com que os trabalhadores tenham condições de participar e otimizar a

própria estrutura empresarial.

No que tange ao mercado de capitais, já fizemos, através da Lei nº 10.101,

alguns acordos de distribuição de ações. Fizemos um acordo com a Gerdau. A

Gerdau, num dado momento, através de um acordo, distribuiu as ações para os

seus funcionários, o que acho muito salutar. Na medida em que isso seja voluntário

e permita que a pessoa diga que está trabalhando na sua empresa, eu não vejo

nada de contraditório. Eu vejo isso até com muita satisfação. Acho que as pessoas

têm, na realidade, que valorizar cada vez mais a participação e a otimização da sua

relação capital e trabalho e até se ingerir nas questões da própria empresa.

Eu nunca me esqueço da época do apagão. As decisões mais importantes

vinham das pessoas mais simples. Eu me lembro de que, no início do apagão, eu fui

falar com um eletricista dos mais simples, quando estávamos no auge do apagão.

Ele disse: “Sr. Ministro, vamos fazer a tensão desse cabo diminuir um pouco. Isso

não vai diminuir a capacidade da energia, mas vai fazer com que haja um consumo

de energia.” Então é fundamental que também nessa relação capital e trabalho os

empresários percebam seus trabalhadores como colaboradores e parceiros e

possam, na interatividade, resolver uma série de gargalos que as empresas

apresentam.

No que tange à questão de instituidores previdenciários, somos um dos

primeiros a apoiar. Acho fundamental. Nos Estados Unidos, o movimento sindical

tem uma capacidade extraordinária de participação com recursos elevadíssimos.

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Acho que também no nosso País devíamos otimizar cada vez mais a participação

desses instituidores.

Falando até em questões de fundos de pensão, lógico, sempre devemos levar

em conta — estou vendo o Deputado Gonzaga, que defende muito os shopping

centers — que, muitas vezes, os fundos de pensão são os verdadeiros donos dos

shopping centers, e o dinheiro é dos trabalhadores. Às vezes, encontramos

shopping centers que fazem discriminação racial, não permitem negros trabalhar e

coisa que o valha. Então precisamos sempre encontrar um caminho. Eu falei no bom

sentido, Deputado. Não me refiro ao senhor. Eu conheço o senhor, que é um ótimo

Deputado. Mas é fundamental que haja nessas relações uma possibilidade de

valorização das questões sociais, porque nós estamos fazendo isso no intuito de

alcançar crescimento econômico sustentável, inclusão social e participação efetiva

da sociedade. Quanto mais as pessoas participarem de compra de ações, com

certeza quem vai sair ganhando muito é o Brasil.

Eu sou funcionário do Pão de Açúcar, que já abriu o capital, os funcionários

tiveram acesso à compra de ações. Isso é fundamental, porque iniciamos

efetivamente um trabalho em que vai haver crescimento de renda, distribuição justa

de renda, e cidadania.

Por esses motivos, Sr. Presidente, a UGT está aqui para dar seu depoimento

para construir cada vez mais um País que tenha empresas fortes, que possam gerar

empregos, e uma sociedade mais justa.

Fico por aqui, agradecendo à Casa a oportunidade de falar para os

Deputados, para os homens do capital e do trabalho e para o meu Presidente Jilmar

Tatto. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Jilmar Tatto) - Obrigado, Sr. Ricardo Patah,

pelas considerações.

Vamos desfazer esta Mesa. Eu peço licença aos senhores e lhes agradeço as

exposições, por enquanto. Depois os senhores voltam.

Eu chamo para a segunda rodada, depois dessas ricas palavras dos nossos 3

expositores, o Sr. Nilton Molina, Vice-Presidente da Federação Nacional das

Empresas de Seguros Privados e de Capitalização — FENASEG, aqui

representando o Sr. Alfredo Setubal, Presidente da Associação Brasileira dos

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Bancos de Investimento — ANBID; o Sr. Helmut Schwarzer, Secretário de Políticas

de Previdência Social do Ministério da Previdência Social; e o Sr. Alfredo Neves

Penteado Moraes, Presidente da Associação Nacional das Instituições do Mercado

Financeiro — ANDIMA, agradecendo-lhes a presença.

Começa a segunda Mesa o Sr. Nilton Molina, que tem a palavra por 15

minutos.

O SR. NILTON MOLINA - Deputado Jilmar Tatto, Deputado Félix Mendonça,

Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores, eu faço parte do Comitê de

Mercado de Capitais como representante da Federação Nacional das Seguradoras.

Tenho uma atuação especialmente mais forte no capítulo da reforma da

Previdência, que certamente não é assunto muito agradável de ser debatido:

qualquer reforma ou qualquer plano novo de previdência social não significa

aumentar benefícios, significa diminuí-los. Portanto, é uma discussão que a gente

entende não tão fácil e não tão apetitosa para o meio político exercer. Mas a gente

entende que ela é absolutamente necessária.

(Segue-se exibição de imagens.)

Em muitos fóruns há uma enorme discussão sobre se o sistema atual de

seguro social brasileiro tem déficit ou superávit. Os que defendem que tem déficit

consideram unicamente as contribuições sobre folha de pagamento; os que

defendem que tem superávit consideram essa receita, PIS/COFINS, CSLL etc.

Eu entendo que é uma discussão absolutamente sem objetivo. Não se trata

disso. Trata-se, na verdade, do sistema de previdência social sob os custos que

acarretam sobre folha e o que significa isso em termos de empregabilidade e

desinclusão social. Na verdade, hoje em dia um registro de empregado, entre outros

custos, custa 35,8%, sem considerar os outros benefícios.

Esse processo, na minha opinião, é uma terceirização perversa. São poucas

as empresas no Brasil que não têm um grande número de empregados

terceirizados, e basicamente esses terceiros são as pessoas de baixa renda. Por

isso eu digo que o processo, os custos atuais sobre folha acabam representando um

processo de terceirização perversa.

Se eu, na minha empresa, terceirizo os empregados de baixa renda para não

arcar com esses custos — seguro-saúde, vale-refeição etc. —, eu estou

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terceirizando para “gatos” de mão-de-obra, que certamente não fazem esses

pagamentos; caso contrário, ficaria tão caro quanto na minha empresa.

Eu entendo que os custos atuais sobre folha de salário são basicamente o

grande culpado pela desinclusão social e pelo número cada vez mais crescente de

empregados na informalidade.

Eu entendo que o problema da previdência no Brasil é fundamental para o

crescimento econômico, independentemente do crescimento econômico do mundo,

e que o Brasil está preso à armadilha dos custos do seguro social e da legislação

trabalhista.

Em 2005, o total dos gastos previdenciários no Brasil, somente com pensões

e aposentadorias do setor público e privado, foi de 12% do PIB, ou seja, um terço do

total dos recolhimentos de impostos e taxas no País. É disso que se trata. Não há

que se discutir se o sistema é superavitário ou deficitário. O que se tem que discutir

é qual é o custo desse sistema para o País.

Certamente os senhores não vão enxergar muito bem isto, mas é uma

estatística, para mim, das mais impactantes: no eixo vertical estão os gastos sobre

seguridade social, de zero a 25% do PIB; no eixo horizontal vemos o percentual de

pessoas com mais de 65 anos. O Brasil está aqui, gasta mais ou menos 12% do PIB

e tem apenas 5% da população com mais de 65 anos.

Certamente há países velhos e antigos que gastam em previdência mais do

que o Brasil. Vou pegar o máximo, a Bélgica, que gasta 21%, mas tem 16% de

pessoas com mais de 65 anos.

O Brasil está absolutamente fora da curva: tem apenas 5% de pessoas com

mais de 65 anos e gasta 12% do PIB.

É comum economistas brasileiros se referirem aos Tigres Asiáticos e ao

sucesso econômico desses países. A Coréia do Sul tem 7% de pessoas com mais

de 65 anos e gasta 1,5% do PIB. Eu estive há pouco tempo na Índia e na China, e a

minha curiosidade me levava a perguntar logo que chegava a esses países qual era

o custo do seguro social sobre folha. Na Índia é 0,5% do PIB, e na China sequer

existe medida, o problema do velho é da sua família.

Na minha convicção isto aqui espelha o drama brasileiro no seu seguro social.

E eu não estou me referindo a programas assistenciais, estou me referindo a

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aposentadorias e pensões. Há enorme discussão sobre falência do INSS, sobre

esgotamento do modelo. É falência ou esgotamento do modelo? É esgotamento.

O sistema de financiamento do INSS, que é de repartição simples, ou seja,

receita dos ativos paga as despesas dos inativos, esgotou-se no mundo. Não é um

problema brasileiro. A razão é simples: o pacto intergeracional, que era os mais

jovens pagando os benefícios para os mais antigos, rompeu-se. Atualmente

considera-se relação de dependência todos até 16 anos não produzirem riqueza, e

os que têm mais de 60 anos produzirem riqueza. Cada vez se estreita mais. A

demografia mudou totalmente.

Eu sou um exemplo vivo da expectativa de vida ao nascer e da esperança de

sobrevida na idade atingida. Eu, quando nasci, em 1936, a sobrevivência estimada

de um homem no Brasil era de 48 anos. Se eu fosse estatisticamente educado, eu

teria morrido em 1984. Eu estou com 72 anos. Se eu consultar uma tábua de

sobrevivência, eu deverei morrer daqui a 12 anos. Estatisticamente, pelo menos.

Espero que isso não ocorra.

Significa dizer que, estatisticamente, a minha geração, que na média estava

escalada para morrer em 1984, vai morrer em 2020, ou seja, 36 anos depois que eu

fui escalado ao nascer.

Os demógrafos e estudiosos não têm qualquer dúvida de que uma criança

brasileira que nasça hoje, que tem uma esperança de vida de 72 anos, vá viver mais

de 100 anos. Não há dúvida sobre esse capítulo na demografia do mundo. É preciso

saber, quando isso chegar, como já chegou no Brasil, como se financiará o sistema

de previdência.

Foram feitas duas reformas no seguro social brasileiro. Foram 2 esforços,

sem dúvida nenhuma, do Presidente Fernando Henrique e do Presidente Lula, em

1998 e em 2004. Eu escrevi que foram tímidas. Não é verdade, elas foram feitas de

acordo com aquilo que era possível naquele determinado momento político.

Podemos ser a favor, podemos ser contra, mas, definitivamente, não escaparemos

de novas reformas.

Muito obrigado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Jilmar Tatto) - Obrigado, Sr. Nilton Molina,

pelas suas ponderações.

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Vamos ouvir agora a palavra do Sr. Helmut Schwarzer, Secretário de Política

de Previdência Social do Ministério da Previdência Social.

O SR. HELMUT SCHWARZER - Boa tarde. Muito obrigado, Sr. Deputado

Jilmar Tatto. Quero agradecer não só a V.Exa., mas também ao Deputado Félix

Mendonça o convite que as duas Comissões fizeram para a minha participação

neste debate extremamente importante. Quero também parabenizar o Thomas, que

foi membro do Fórum Nacional de Previdência Social e defendeu medidas de

fortalecimento e de reforma da Previdência Social. Tivemos muitas convergências

de opinião, tivemos também algumas divergências, mas isso é natural, porque o

Fórum Nacional de Previdência Social era para nós construirmos as opiniões sobre

o longo prazo do sistema previdenciário.

O meu colega de Governo, Bernard Appy, não teve condição de falar em 15

minutos sobre toda a dimensão que o tema envolve, mas vou me permitir fazer

primeiro alguns comentários conceituais sobre a relação entre Previdência Social e

mercado de capitais, e depois vou falar sobre alguns dados e projetos que estão

caminhando neste momento no sentido da relação entre Previdência Social e

mercado de capitais.

(Segue-se exibição de imagens.)

A primeira transparência que vou me permitir mostrar para as senhoras e os

senhores — peço desculpas se estiver sendo muito simples ou muito simplista,

talvez — é que as pessoas olham para a Previdência Social e a vêem como uma

relação individual. A partir dessa relação individual de contribuição e em troca da

contribuição, um benefício, surge para as pessoas, em um primeiro olhar, a idéia de

que a Previdência Social acumula estoques de capital imensos — afinal de contas,

olhado apenas do ponto de vista da perspectiva de uma pessoa, parece que se está

lidando com uma caderneta de poupança. Quer dizer, um conjunto de recursos que

estão sendo acumulados em um cofrinho e, quando se chega na idade de se

aposentar, quebra-se o cofrinho e vai-se gastando o dinheiro.

Já a Previdência Social, olhada sob outro ponto de vista — na segunda

imagem —, é um contrato social.

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Eu, particularmente, permito-me discordar, com todo o respeito, do meu

antecessor. Acho que o contrato social não é quebrado. Ele é reformulado com o

passar do tempo; o contrato social que está por trás do sistema previdenciário.

Há as transformações da sociedade. Passamos por transformações no

mercado de trabalho, na demografia, na expectativa de vida. Não é a expectativa de

vida ao nascer, mas a expectativa da idade de se aposentar. Passamos por

modificações na estrutura das famílias, na forma de emprego, na forma como o

mercado de trabalho faz a intermediação, os contratos de trabalho. Todo um

conjunto de dimensões da sociedade e da economia vai mudando. A própria cultura

do País também vai mudando e, com isso, as expectativas em relação ao sistema

previdenciário.

O contrato entre as gerações e o contrato social que abrange todos os que

vivem no País vai ter que ser reformulado de tempos em tempos. Essa é, na

verdade, a essência daquilo que é a reforma previdenciária. No nosso dia-a-dia, no

Ministério da Previdência, temos muitas minirreformas ou microrreformas

previdenciárias que acontecem com pequenos ajustes, nas portarias, que vão

criando e adaptando regras às pequenas transformações do dia-a-dia. E, de tempos

em tempos, há grandes transformações da sociedade que exigem grandes

alterações de regras do sistema, como, por exemplo, a grande transformação

demográfica que já foi mencionada e que exige ajustes permanentes da nossa

Previdência Social no longo prazo.

Olhando do ponto de vista de um contrato social e de um círculo, em que uma

geração faz o esforço de contribuição e, ao mesmo tempo, a geração que já foi

contribuinte no passado utiliza esses recursos para o seu sustento, na verdade,

percebe-se que há aparentemente uma ilusão ou, talvez, uma sobrevalorização da

capacidade de o sistema previdenciário gerar poupança no longo prazo.

Não estou dizendo que não há a possibilidade de geração de poupança a

longo prazo. Há, sim. Vou mostrar daqui a pouco um conjunto de informações que

indicam que, por exemplo, a previdência complementar no Brasil é um investidor

institucional bastante importante.

Quanto à previdência básica, aquela que cobre praticamente a totalidade da

população, se a maioria dos países quiser transformar essa previdência básica em

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um regime de capitalização, muito provavelmente vão esbarrar não só em

dificuldades fiscais, como também na própria lógica de funcionamento desse

contrato intergeracional.

Por isso, no slide seguinte, chamo a atenção dos senhores, em uma primeira

frase, para o seguinte: o instrumento da capitalização é uma ferramenta para

financiar um sistema previdenciário. Pode-se financiar o sistema previdenciário em

capitalização integral, parcial, em repartição; pode-se financiar parte do sistema em

um regime e parte em outro regime. É um instrumento que se utiliza de acordo com

as condições em que se obtém o melhor resultado.

Particularmente, acho que a capitalização tem seu melhor resultado na

previdência complementar e não necessariamente na previdência básica. São 2

pilares diferentes do sistema previdenciário. A capitalização, por si, não consegue

superar o desafio da transição demográfica, tanto que, na previdência

complementar, estamos tendo de atualizar as tábuas de expectativa de vida. É um

desafio que nos coloca questões não apenas na previdência básica, mas também na

complementar.

O regime básico de previdência social não tem como objetivo gerar, por si,

poupança para o mercado de capitais. Ele tem como primeiro objetivo fortalecer a

proteção social. Isso deve ser feito de tal modo que esse regime de previdência seja

equilibrado. Nesse sentido, os conceitos de déficit e de superávit têm importância,

sim. Obviamente, temos de discutir de que déficit e de que superávit nós estamos

falando. Existe uma discussão que os ex-Ministros Marinho e Nelson Machado

levantaram ao propor uma nova contabilidade, uma forma diferenciada de se fazer a

contabilidade do regime básico de previdência social. O equilíbrio que esse sistema

tem, em termos de receitas e despesas, hoje e no longo prazo, é importante, porque

um sistema previdenciário com as dimensões que ele possui, dentro das nossas

sociedades modernas — e nós não temos como imaginar uma situação semelhante

à da China, por exemplo, ou à da Índia, que possuem sistemas previdenciários

reduzidos —, nas quais, à medida que as relações econômicas vão ficando cada vez

mais complexas, precisa ter equilíbrio no atual período e na perspectiva do tempo, e

precisa, permanentemente, trabalhar para que esse equilíbrio seja estabelecido, a

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fim de que, macroeconomicamente, dele surjam sinalizações positivas, e não

contrárias à estabilidade das finanças de longo prazo do País.

Esta é uma importante contribuição do sistema previdenciário para o

crescimento do mercado de capitais: não absorver a poupança por conta dos seus

desequilíbrios, que de outra forma seria necessária para se financiar os

investimentos de longo prazo do desenvolvimento econômico.

Acho que esse é o primeiro aspecto do regime básico de Previdência Social.

Não apenas por meio de capitalização, mas também por meio do equilíbrio de longo

prazo, os sistemas previdenciários contribuem para o desenvolvimento do

financiamento dessa economia.

Por fim, eu gostaria de lembrar que, hoje, as entidades fechadas de

previdência complementar brasileiras já têm mais de 450 bilhões de reais em ativos

acumulados. Não preciso nem repetir aqui que são participantes maiúsculos, em

termos de investimentos, do ponto de vista de investidores institucionais no mercado

de capitais brasileiro.

Nós entendemos que essas entidades são atores extremamente relevantes

para o financiamento de longo prazo do sistema brasileiro. É o lugar onde o regime

de capitalização é a ferramenta adequada para a estruturação desse sistema.

Outro lugar, dentro do sistema previdenciário, onde existe aplicação do

conceito de capitalização, em que é possível, pensável, utilizar-se a ferramenta da

capitalização e, portanto, ter efeitos sobre o mercado de capitais, são os regimes

próprios de previdência de servidores. Nós temos um pouco mais do que mil regimes

próprios de previdências estaduais e municipais que, juntos, já têm quase 34 bilhões

de reais acumulados. Não é tanto quanto as entidades fechadas de previdência

complementar possuem, mas estão numa fase de acumulação e estão se

transformando, gradativamente, em atores também muito importantes no mercado

de capitais brasileiro.

Ao mesmo tempo em que a Secretaria de Previdência Complementar tem-se

esforçado, nos últimos anos, para modernizar toda a legislação, todas as diretrizes

do setor — temos na platéia o ex-Secretário de Previdência Complementar Adacir,

que fez grande parte desse esforço de modernização da legislação da previdência

complementar —, na Secretaria de Políticas de Previdência Social estamos também

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nos esforçando para fortalecer tanto a gestão quanto os marcos que permitem a

esses regimes próprios de previdência participar do mercado de capitais.

Dois projetos estão em tramitação no Congresso Nacional. Um deles, já

mencionado, é o projeto de lei do Fundo de Pensão Complementar do Servidor

Federal, o FUNPRESP. É outro projeto que pode fortalecer o vínculo entre

previdência e mercado de capitais. Trata-se de um fundo de previdência

complementar, uma transição do regime de previdência do servidor público, hoje

financiado integralmente em repartição. Uma parte desse regime transitaria para a

capitalização, com a aprovação do FUNPRESP. Há um custo, num primeiro

momento, que se chama custo de transição, mas ele se mantém, segundo as

nossas avaliações, dentro de limites. E o ganho para o País, tanto pelo

fortalecimento da previdência complementar do servidor quanto do ponto de vista de

se criar mais um ator de peso importante para o financiamento de longo do País,

justifica esse esforço.

É possível que no projeto de lei que ainda vai ter que ser encaminhado ao

Congresso Nacional, nos próximos tempos, de organização, de unificação do regime

básico do servidor federal — nós temos que cumprir a Emenda Constitucional 41,

que diz que é necessário construir um órgão gestor único da previdência do

funcionalismo público —, sejam utilizados princípios semelhantes aos que os

Estados e Municípios utilizam para capitalizar, a partir de determinado ponto. Fazem

a técnica da segmentação de massas e uma transição gradativa para o regime de

capitalização dos servidores públicos. É possível. Nós estamos estudando se isso

cabe para o regime básico do servidor federal ou não.

Mas, de qualquer forma, é necessário avaliar sempre, cuidadosamente,

custos de transição. E, até por esse motivo, eu entendo que uma transição para a

capitalização, no caso do INSS, como é aventado por algumas pessoas, não teria

cabimento, no caso brasileiro, porque o custo de transição seria extremamente

elevado. O custo de transição, no caso brasileiro — diversas entidades fizeram

avaliações — ficaria entre 200% e 300% do PIB, dada, digamos, a dimensão da

cobertura do sistema previdenciário brasileiro, o que exigiria esforço fiscal, ainda que

tivéssemos capacidade de financiamento fiscal, o que poderia ser feito para financiar

outros investimentos com rentabilidade maior de longo prazo.

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O Chile fez a opção de transitar para o regime de capitalização pleno, no

longo prazo. Isso foi feito em 1981, no governo do então Presidente Pinochet. Essa

transição, que foi associada também a uma privatização do sistema de previdência

chileno, naquela época, custou para o Chile 4% do PIB ao ano de custo de

transição. Então é um esforço que, após 30 anos, custou em torno de 120% do PIB.

A contrapartida foi os fundos de pensão chilenos terem acumulado estoque de

capital significativo. Do ponto de vista do Tesouro chileno, houve esforço

correspondente de financiamento. Então, é até duvidoso se uma transição dessa

gera poupança nova. A poupança que você cria no regime que muda da repartição

para a capitalização é compensada pelo esforço fiscal no Tesouro, mas depende de

uma série de outras regras de como você conecta esses fundos de pensão com o

mercado de capitais, depende de perspectivas de longo prazo para que essa riqueza

financeira que se cria nesses fundos, no caso de uma transição, se transforme em

investimento concreto de longo prazo.

Concluindo, eu acho que há uma relação positiva entre previdência e

mercado de capitais, naqueles setores em que a técnica da capitalização é mais

apropriada. No caso brasileiro, especificamente, no regime básico de previdência, o

INSS, a contribuição é muito mais do ponto de vista de garantir a sua estabilidade no

longo prazo, de fazer os ajustes da transição demográfica, fazer aquilo que é

necessário para se garantir também a sustentabilidade desse sistema no longo

prazo, do que mudá-lo para a capitalização. E, sim, ao mesmo tempo fortalecer os

fundos de previdência complementares, como, por exemplo, o Fundo de Previdência

dos Servidores do Governo Federal.

Obrigado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Félix Mendonça) - Obrigado, Sr. Helmut

Schwazer pelas suas considerações.

Quero registrar as presenças do Sr. Adelmar Silveira Sabino, ex-Diretor-Geral

da Casa, e do Deputado Jurandil Juarez. Obrigado pela presença.

Vamos passar a palavra agora ao Sr. Alfredo Neves Penteado Moraes,

Presidente da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro —

ANDIMA. Tem V.Sa. a palavra.

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O SR. ALFREDO NEVES PENTEADO MORAES - Agradeço ao Deputado

Jilmar Tatto, ao Deputado Félix Mendonça, ao Thomas Tosta de Sá, companheiro e

testemunha de nossos esforços no Plano Diretor.

Como este bloco é sobre previdência, e eu terei a felicidade de falar por

último, posso eventualmente trazer a mesma opinião dos panielistas que me

antecederam, o que graças a Deus, deve casar bastante com a minha

apresentação.

O que se deve discutir primeiro, a meu ver, é a natureza do contrato

previdenciário básico, como foi abordado aqui pelo Helmut.

Ele tem 3 ângulos. Primeiro, o da poupança. Ele é um instrumento efetivo de

poupança para os trabalhadores, visto que a capacidade de geração de renda das

pessoas não se distribui uniformemente ao longo de suas vidas. Então, durante a

fase em que se tem maior capacidade de geração de renda, uma parte dos recursos

é destacada a fim de, no futuro, o trabalhador possa se valer deles.

Onde são investidos esses recursos? Se esse investimento é para pagamento

de aposentadoria de outrem, se esse investimento é para compra de títulos do

mercado de capitais, se esse investimento é para uma poupança privada, faz pouca

diferença, porque o princípio geral é salvar algo para utilizar num momento futuro.

O contrato atual parece ser um pacto entre gerações. Mas, de fato, ele é um

pacto entre gerações com uma contraparte central, o Governo Federal, o instituidor

do plano. Ele garante tudo. Ou seja, tanto faz se vai ter trabalhador no futuro ou não

para me sustentar. O Governo Federal tem a obrigação de me sustentar.

Realmente, o grande punido por descompassos ou por um plano mal

instituído é o Estado brasileiro, e não o trabalhador das outras gerações. Tanto que

a taxa de dependência da previdência brasileira, de uma taxa inicial de 8 para 1,

caiu para uma taxa de 2 para 1, e o sistema continua funcionando. Fomos

encontrando formas de encaixar essa queda dentro do orçamento.

O segundo aspecto realizado pelo sistema previdenciário é a mutualização.

Hoje tudo é feito em cima de médias, como bem disse o Nilton Molina. Existe uma

sobrevida média, um prazo de contribuição médio. Tudo é feito em cima de

estatísticas. Só não sabemos exatamente qual é o nosso ponto dentro dessas

estatísticas: se somos os que viverão mais, ou os que vão adoecer, ou os que

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viverão menos, mas mais sadios. Então, esse intercâmbio entre os que estão fora,

para cima ou para baixo da média, não é oneroso; é simplesmente uma forma de

proteger as pessoas, a fim de que elas possam se distribuir uma em relação a outras

e, no geral, ficar na média.

Porém, a característica mais forte da previdência, de uns tempos para cá, tem

sido a sua utilização como instrumento de distribuição de renda. E onde está a

distribuição de renda nesse processo? Está em prometer às pessoas um retorno

superior ao que ele contribuiu, corrigido por um determinado índice de eficiência

nacional.

Quando prometemos às pessoas mais do que ele contribuiu, alguém tem de

cobrir isso. E quem cobre isso hoje? O resto da sociedade. A maior parte das

contribuições da Previdência não vem do trabalhador em si; grande parte dessas

contribuições vem de empresas, e o restante de deslocamentos do orçamento,

quando ela apresenta seus furos.

No geral, a previdência é um sistema que transfere recursos da sociedade

para o aposentado. Depois, veremos as conseqüências disso.

Da maneira como está instituído esse plano, ele tem um sistema de

contabilização bem perverso. Ele considera todas as receitas e despesas como

receitas fiscais e despesas fiscais. Tudo o que entra na Previdência e tudo o que sai

da Previdência é receita e despesa fiscal.

Obviamente, boa parte desses recursos é uma poupança previdenciária. É o

próprio participante salvando para o seu futuro. Poupança não precisa ser tratada

como receita e despesa. Por quê? Porque se coloca e se retira dinheiro. Exemplo

claro disso é o FGTS. No FGTS, fazem-se contribuições e resgates. Isso não implica

nenhum ônus ao orçamento fiscal. Não integra o orçamento fiscal, porque é de você

para você mesmo. O jeito que se contabiliza é a mesma parte da poupança da

Previdência, o que a gente dá para recuperar no futuro é receita e despesa fiscal.

Isso incha todas as contas fiscais.

Quanto ao regime de reconhecimento, devo dizer que infelizmente toda

contabilidade pública é feita em regime de caixa. Não há espaço para se fazer

provisões na contabilidade pública. É o que entra e o que sai. É assim que se

contabiliza. Infelizmente, no caso da Previdência, isso produz um efeito muito ruim.

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Ou seja, se eu prometer um benefício maior no futuro, eu posso ter um ganho de

receita no presente. Por exemplo, se eu chegar aqui e disser que vou subir um

pouco o quanto você paga para a previdência e, em contrapartida, prometer mais

benefícios para você no futuro, o primeiro movimento é de aumento de receita,

porque o contrato que se vem pagando não tem esse benefício. Esse aumento só

aparece muitos anos depois. Isso leva gradativamente a uma bola de neve. Vou

aumentando os benefícios para conseguir ganhos de receita que zerem minha conta

no momento presente.

Esse é o imbróglio em que estamos hoje. Começamos com uma receita

equilibrada, com uma lógica de funcionamento em que se gerava superávit. E

quando se institui um sistema de previdência ele vai sempre gerar superávit, que,

deveria ser traduzido em dívida do Governo para com esse sistema de previdência,

a fim de que, no futuro, essa dívida fosse recuperada para pagar os benefícios que

vínhamos obtendo.

O sistema de contabilização que utilizamos não favorece isso. Toda receita

que entra no Governo vira receita fiscal e aí, quando temos de pagar as despesas,

resta essa sensação ruim.

Qual a conseqüência desse formato de previdência para a economia?

Primeiro, o inchaço das contas públicas, como já mencionei. Entram receita e

despesa de coisas que não precisariam ser nem receita nem despesa, no caso, a

parte da poupança.

Segundo, falta de transparência sobre os reais efeitos redistributivos do plano.

Hoje, nós temos uma completa desconexão entre contribuição e benefício. Algumas

pessoas que não contribuem recebem benefícios; outras contribuem menos

relativamente aos benefícios recebidos; e há um grupo mais equilibrado entre

contribuição e benefício. Não há ninguém que contribua mais do que tira de

benefícios. Existem graus variados de subsídios. E aí chegamos àquela situação de

pagar um subsídio para alguém sem poder justificar se aquela pessoa encontrava-se

mesmo em estado de necessidade. No final, o sujeito tem direito a uma

aposentadoria. Vamos pensar aqui, objetivamente, numa pessoa com um padrão de

vida melhor, que tem sobrevida maior. O salário de sua aposentadoria é maior.

Então, qual o sentido em se proteger esse cidadão com um plano generoso à custa

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do restante da sociedade. Eventualmente não há nenhum sentido macroeconômico

em protegê-lo. Mas não conseguimos dizer ao certo o volume de contribuição feito

vis-à-vis o que vem recebendo. Não há parâmetro. Mas se não há parâmetro, não

há dificuldade de se fazer.

Terceiro, ele também tem uma condição que pode ser considerada de

tratamento bastante iníquo com pessoas exatamente na mesma condição. Depende

se é empregado ou autônomo. Se é empregado, a empresa assume uma série de

encargos pelo fato de ser empregado; se é autônomo, esses encargos são

substancialmente menores para você que paga, e o benefício é exatamente igual.

Tanto faz se é empregado ou autônomo, o benefício no final é o mesmo. Trata-se

então de forma igual pessoas em condições diferentes.

Por último, a insegurança em relação à sustentabilidade do programa. Apesar

de a previdência ser um bom negócio, ou seja, quem adere a ela ganha mais do que

contribui com ela, existe um sentimento de que ela não é sustentável. Então as

pessoas, às vezes, optam por ficar fora do sistema previdenciário em função de não

confiar na capacidade do Governo de honrar seus compromissos no futuro, o que

não tem ocorrido. De fato, isso tem sido um bom negócio, mas causa grande evasão

de contribuintes que poderiam se encaixar nesse programa e se beneficiar da

segurança que ele pode dar aos indivíduos.

Entre os riscos do contrato previdenciário brasileiro, hoje, estão as variáveis

demográficas. Do momento em que se entra na previdência e que se morre ou que

seus dependentes param de receber os benefícios podem se passar mais de 50

anos, e normalmente passam. A chance de conseguirmos acertar como vão ser os

desempenhos das variáveis demográficas nesse período é pequena. Elas variam

além do que a gente consegue estimar. Como o Nilton Molina bem disse, tem

variado o aumento da expectativa de vida das pessoas e também a capacidade de

trabalho ao longo da vida.

Como o plano é formulado logo no início — quando você entra eu já crio uma

expectativa para você —, fica difícil alterá-lo depois, porque você sente que te

cortaram direitos. Na realidade, é uma expectativa de direito, mas o sentimento é de

que cortaram direitos. Então, é uma coisa que causa muito ruído, muito atrito e que

poderia ser razoavelmente resolvido se saíssemos do plano de benefício definido e

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fôssemos para o de contribuição definida. Ou seja, faz-se uma contribuição e, em

determinado momento, compra-se uma renda vitalícia. E esse período de renda

vitalícia, em termos de anos, é muito menor do que o tempo do plano como um todo.

O crescimento do salário, da produtividade e dos juros domésticos são outras

variáveis muito importantes para equilibrar um plano de previdência. Nós que

conhecemos a história do Brasil sabemos como esse negócio flutua

consideravelmente.

Desvirtuamento de finalidade. A previdência está se tornando cada vez mais

um plano de assistência social, deixando de ter o objetivo de dar proteção ao

trabalhador e permitir que ele faça uma poupança para se sustentar no futuro. Há

também o problema de fraudes e malversações que o sistema, que tem um baixo

nível de controle individual, permite.

O Helmut Schwazer defendeu o sistema de repartição. Eu vou defender a

previdência em regime de capitalização.

Primeiro, precisamos definir o que é regime de capitalização. A capitalização

não significa necessariamente que os recursos precisam ser aplicados no mercado

financeiro. Capitalização significa identificar a contribuição de cada um e aplicar nela

alguma forma de correção, por parâmetro fixo ou variável.

Por parâmetro variável é bem melhor, porque traz menos riscos para o Estado

e permite a maximização da alocação da poupança. Mas a capitalização não é

necessariamente vinculada a uma aplicação em mercado de capitais. Quando é feita

via mercado de capitais, aumenta consideravelmente a eficiência da economia.

Então, de um lado, temos eventualmente perdas e receitas que não são tão

significativas assim, mas de outro lado há um ganho de eficiência econômica que

mais do compensa.

O Helmut nos apresentou o caso do Chile, um excelente exemplo de uma

economia que cresceu bastante. Eu não diria que foi exclusivamente pelo seu

sistema previdenciário, mas, com certeza, ele deu uma contribuição forte para o

desenvolvimento econômico.

Capitalizar é criar contas e aferir como esses valores chegam ao final e se

transformam numa renda vitalícia.

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Melhoram porque elas permitem essa administração do subsídio que se dá.

Sabemos claramente quem não atingiu determinada capitalização para poder fazer

jus à renda que está recebendo. E permite uma ação muito focada dos planos de

assistência social.

Existe algum mito. É mito dizer que migrar do sistema atual de repartição para

esse sistema provocaria um grande custo fiscal. Toda essa transição demora 50

anos. A gente não consegue de pronto dizer, mas sabe quanto vai significar em

termos de arrecadação, vis-à-vis o que determina que vai ficar no nosso sistema de

capitalização. Mas não sabe quanto vai ganhar em termos de eficiência

macroeconômica pela melhor empregabilidade dos recursos.

Essas contas são extremamente subjetivas. No caso brasileiro,

especificamente, estamos dizendo que a contribuição do empregado e do

empregador, na proporção do empregado — isso é o que se precisaria para

constituir um fundo de capitalização — não chegam a 3% do PIB.

Então, mesmo que a gente imaginasse que fosse um contrato que pegaria

todos os aposentados hoje nessa proporção, a gente está falando de uma sobrevida

média de 15 anos a 3%. Então nós não poderíamos estar falando de mais de 45%,

espalhados em 50 anos. Ou seja, não seria mais do que 1% do PIB por ano, se a

gente não tivesse nenhum outro tipo de benefício.

Outro mito: a capitalização significaria a privatização da previdência. Isso não

tem nenhuma relação de causa e efeito. O fato de ser capitalizado não significa que

a administração precisa ou não ser pública ou privada.

Outro mito: isso precisaria de reformas profundas. Não precisa de reformas

profundas. É adaptação do modelo já existente de leis.

E o último mito: diminuiria a solidariedade, ou seja, ficariam impedidos os

programas de amparo social. Também não há nenhum óbice a que se instituam

programas de amparo social para quem não atinge os valores de que precisa.

Alternativas para reduzir o risco para o Estado. Primeiro é o momento da

definição da renda vitalícia. A gente propõe que seja quando ele solicita.

Taxa de aplicação dos recursos. Entendemos que o melhor é que seja

através de um redirecionamento desses recursos para o mercado de capitais, que

pode maximizar a aplicação.

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E o índice de correção da renda vitalícia deveria ser desvinculado do salário.

A renda vitalícia deveria ser um percentual do PIB per capita, e não estar atrelada ao

salário, como é hoje, que dá uma insegurança à política de salários no Brasil.

Eu estou correndo um pouco porque meu tempo está esgotado.

As diferenças entre uma previdência básica, essas situações específicas e o

assistencialismo social estão basicamente nestas 3 variáveis.

Primeiro, o grau de contribuição. Onde há grande participação da contribuição

na geração de benefício, nós estamos falando de um sistema previdenciário; onde

há pequeno grau de contribuição, vis-à-vis o benefício, nós estamos falando de uma

ação de assistência social. Elas atingem os mesmos objetivos de amparar as

pessoas que não têm capacidade de renda na sua velhice. Mas elas têm matrizes

diferentes.

Carreiras com características peculiares. Nós temos algumas carreiras que se

aposentam antes. Não há problema nenhum, só que elas não são bem tratadas

através do sistema básico e precisam de um sistema diferenciado. Ou seja, o

processo de contribuição do empregado e do empregador é diferente nesse caso do

de um trabalhador normal, que tem uma carreira de tantos anos de contribuição e

depois outros tantos anos de benefício. Só precisa ser separado. Não dá para ser

encaixado dentro da previdência básica.

Tratamento dos dependentes. Hoje o dependente tem sido um grande

problema. É comum uma pessoa deixar um dependente que não necessariamente

compartilhou da vida dessa pessoa ao longo de sua existência. Se ele quer destinar

uma parte dos recursos que ele poupou para que o seu dependente possa comprar

um plano de renda vitalícia no futuro não há problema nenhum. O problema é que o

contrato hoje não permite identificar se ele realmente direcionou esses recursos e

para quem. Então isso também pode ser bem melhorado se a gente puder identificar

os contribuintes e de quem é esse dinheiro.

Conclusão.

O contrato previdenciário precisa de um processo de racionalização. Os

ganhos do lado fiscal são evidentes. Podemos partir para um patamar muito

parecido com o das outras economias do mundo.

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Quando o Dr. Molina colocou aqueles 12% para 5% da população, é porque o

que os outros fazem através de outros sistemas nós fazemos através do sistema de

previdência básica. Então, o nosso fica alto.

Não acredito que nos Estados Unidos o aposentado gaste pouco. O problema

é que ele tem muitas outras fontes de renda própria que não a previdência, o que lhe

permite manter o seu padrão de gasto e não ser contabilizado dessa maneira. Esse

é o grande diferencial. Aqui, a gente põe uma grande carga sobre o sistema de

previdência para fazer isso.

Mudar é bem menos complicado do que parece. É uma coisa relativamente

simples. Basta vontade. E essa vontade está aqui, neste fórum do Congresso

Nacional, no qual essas discussões deveriam ser maturadas. Nós, do Plano Diretor

do Mercado de Capitais, teremos o maior prazer em colaborar com os senhores

nessa tarefa.

Obrigado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Jilmar Tatto) - Obrigado, Sr. Alfredo Neves

Penteado Moraes.

Vamos passar à terceira e última rodada.

Convido o Sr. Gilberto Mifano, Presidente do Conselho de Administração da

Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros — BM&FBOVESPA; a Sra. Maria Helena

dos Santos Fernandes de Santana, Presidenta da Comissão de Valores Mobiliários

— CVM; e o Sr. José Augusto Coelho Fernandes, Diretor-Executivo da

Confederação Nacional da Indústria — CNI.

Registro a presença do nobre Deputado Laurez Moreira, do PSB do

Tocantins. Obrigado pela presença.

Com a palavra o Sr. Gilberto Mifano.

O SR. GILBERTO MIFANO - Antes de mais nada, quero agradecer ao Sr.

Presidente e ao Sr. Vice-Presidente o convite feito pelas Comissões de Finanças e

Tributação e de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio. E quero

cumprimentar nesta oportunidade os demais Sras. e Srs. Deputados aqui presentes.

Hoje tenho a honra de me apresentar aqui na qualidade de Presidente do

Conselho de Administração da BM&FBOVESPA — A Nova Bolsa, que é a grande

bolsa brasileira hoje, surgida da integração da BOVESPA e da BM&F. Até 30 dias

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atrás, eu era o Diretor-Geral só da BOVESPA. Em 20 de maio, fui eleito Presidente

do Conselho, e o meu colega Edemir Pinto, que era Diretor-Geral da BM&F, hoje é o

Diretor-Presidente da BM&FBOVESPA.

A BM&FBOVESPA é uma das mais importantes bolsas do mundo. Digo isso

com muito orgulho. De fato, ela é a terceira bolsa do mundo, em valor de mercado,

apenas superada pela Deutsche Börse, a bolsa alemã, e a Chicago Mercantile

Exchange, uma bolsa de futuros americana.

Atrás dela estão bolsas tradicionais e muito importantes, como a New York

Stock Exchange, a London Stock Exchange, a NASDAQ, a Bolsa de Hong Kong e

outras. Esse é um feito nosso, brasileiro. Não é um trabalho só conquistado pelas

bolsas, mas pelo País inteiro. E veio coincidentemente ao mesmo tempo em que o

Brasil ganhou o seu tão desejado investment grade.

Esse valor da nossa bolsa hoje é fruto da percepção dos investidores do

mundo inteiro sobre o potencial do nosso País, que se reflete, portanto, na

percepção de valor da nossa bolsa.

Temos enorme campo para desenvolver nossas atividades. Eu diria que ainda

estamos apenas no começo, enquanto, na maioria dos países desenvolvidos, as

Bolsas estão no seu limite e, para crescerem, dependem de outros mercados.

Mercados de outros países precisam comprar Bolsas em outro lugar e buscar

desenvolvimento no exterior.

Quero também agradecer aos senhores a oportunidade de falar neste

momento especial para o mercado de capitais. O mercado de capitais, como já foi

dito aqui, é um instrumento muito importante à disposição do País. É um

instrumento, repito, não é um fim em si mesmo, é um meio. Mas é um instrumento

essencial para financiar e alavancar o desenvolvimento da economia brasileira. É a

forma mais racional que as empresas encontram para se capitalizar e investir na sua

competitividade, modernização, crescimento, geração de emprego, formação de

mão-de-obra, pesquisa, desenvolvimento e formalização da atividade. Isso, de certa

forma, já foi dito aqui.

Quero ainda registrar que, há alguns anos, muitos acreditavam que o

desabrochar do mercado de capitais brasileiro não ia acontecer e que nem era

importante termos um mercado de capitais nacional forte e desenvolvido. Alguns

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achavam que o País podia se desenvolver sem o seu próprio mercado de capitais,

podia usar o mercado de capitais de outros países. Felizmente, as coisas mudaram.

Tudo isso ficou visível, ficou claro para muita gente. E foi resultado de uma série de

ações de ajustes na infra-estrutura institucional e na própria economia, alavancada

na busca da estabilidade de longo prazo, sendo que o ponto inicial desse processo

talvez possa ser localizado lá atrás, quando decidimos fazer da nossa moeda uma

moeda com credibilidade, uma moeda forte.

Para o mercado de capitais, 2 grandes movimentos podem explicar, de forma

muito simplista, o seu bom momento de hoje, um momento de estabilidade

macroeconômica. Não vou falar muito sobre isso, quero apenas lembrar que tem a

ver com o fim da inflação, com a recuperação do valor da nossa moeda, com a

redução da taxa de juros, pelo menos a taxa de juros real — e o Dr. Thomas

mostrou um quadro muito interessante a respeito — e, principalmente, com a

capacidade de nós, brasileiros, sejamos empresários, sejamos pessoas físicas

normais, cidadãos comuns, planejarmos o nosso futuro, pensarmos o nosso futuro.

É claro que uma regulamentação moderna e adequada é fundamental para

isso — e uma regulamentação ajustada às necessidades atuais significa que muda

de tempos em tempos para ser sempre atual. Temos de reconhecer o grande

esforço das nossas autoridades mais imediatas, a Comissão de Valores Mobiliários,

aqui representada pela sua Presidenta, Maria Helena Santana, e o Banco Central,

secundados pelas demais entidades do mercado que têm ajudado também nesse

processo.

Quero mostrar para os senhores uma foto dessa história, uma fotografia com

jeitão de filme — na verdade, são 4 quadros. Não vale a pena nos determos nos

detalhes, mas apenas vermos o sentido e perceber o resultado da mudança dessa

fotografia, que mostra bem uma inflexão, marcada lá atrás, em 2003 e em 2004. É

claro que nada aconteceu nos anos de 2003 e 2004. É o resultado de um processo

em que muita coisa foi feita. E foi iniciada, muitos anos atrás, uma construção, tijolo

a tijolo. Com certeza, não foi fruto de ação isolada, de ação pontual, muito menos de

improvisos e de mágicas.

Diria que todos nós, brasileiros, cada um e o Congresso Nacional,

principalmente, fizemos nossa lição de casa. E essa lição de casa foi feita mesmo

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durante anos difíceis, em todas as crises que importamos e naquelas que tivemos o

direito de criar. Dessa forma, quando as coisas melhoraram, e os ventos ficaram a

favor, os tijolos estavam empilhados, e estávamos prontos para aproveitar o bom

momento.

Falando da estabilização como o objetivo da política econômica, eu diria que

ela está na base de tudo. Evidentemente, o abandono das soluções mágicas que

marcaram os anos 80, o contínuo esforço de buscar o equilíbrio fiscal, a política de

metas inflacionárias, não pelas metas em si, mas pela explicitação de um objetivo

que toda a sociedade enxerga e para cujo atingimento busca contribuir,

principalmente cobrando desse atingimento.

Finalmente, a inflação é vista como grande inimigo, não de uma parte da

sociedade, mas de toda ela. Isso é alvissareiro. E gostaria aqui de lembrar um

importante fato: a isenção da CPMF para o mercado de ações, que ocorreu no ano

de 2002 e significou específica conquista para o mercado de ações. Foi, como disse,

um momento muito especial, sem o qual a história de hoje seria completamente

diferente. E, nesse aspecto, preciso registrar o nosso muito obrigado ao Congresso,

porque foi uma conquista dele, uma conquista desta Casa. Foi o resultado de um

consenso geral quanto à importância do mercado de capitais, não só para ele, mas

para a economia, para a Nação como um todo. E, no final, representou a

recuperação, se é que um dia antes nós a tivemos, da nossa competitividade, da

possibilidade de competirmos em pé mais ou menos de igualdade com o restante do

mundo.

Não foi uma proteção indevidamente conquistada por mercado de capitais,

não foi um ganho de privilégios, não foi uma artificialidade. Foi o reconhecimento de

que o mercado de capitais era importante para o País e representou, como disse, a

recuperação da nossa competitividade. Mas nada disso teria funcionado tão bem

como funcionou, se não tivéssemos contado com a necessária credibilidade.

Mercado de capitais é, antes de tudo, credibilidade, a qual é conquistada no

dia-a-dia, a cada ação tomada, a cada nova regra introduzida pela CVM e pelo

Banco Central. E existem alguns exemplos, tais como o Sistema de Pagamentos

Brasileiros, que é a estada da arte em todo o mundo, a reforma das leis das S.As. E

apenas uma observação: esse trabalho não está completo. Eu diria até que não

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termina nunca. A cada instante, Sr. Presidente, temos de estar atentos às

necessidades do momento e enfrentar isso com coragem e fazer alterações e

ajustes nas regras.

Agora, vou falar um pouquinho do papel do setor privado. A auto-regulação é

muito importante, ela complementa o arcabouço regulatório estabelecido pelos entes

do Estado. As autoridades não conseguem fazer o seu trabalho isoladamente.

Vivemos numa democracia e, nesse sentido, o setor privado tem de dar sua parcela

e estar em sintonia com os agentes reguladores.

Algumas vezes, complementamos o que os agentes reguladores fizeram e,

muitas vezes, até nos antecipamos, como no caso do Novo Mercado.

A auto-regulamentação é muito importante, mas também a criação de

produtos e serviços que atraem investimento ajuda a levar para o restante do mundo

e para a nossa economia essa imagem fundamental de sofisticação, de

modernidade e de segurança do nosso mercado.

Cabe lembrar o movimento que nós, Bolsas, fizemos no ano passado e que

foi completado este ano, da abertura de capital das próprias Bolsas, reconhecendo

que esse instrumento é um remédio tão importante que também serve para elas.

Abrimos o nosso capital, viramos empresa de capital aberto, como as demais que

estão no mercado, e, em seguida, decidimos fundir nossas atividades. Como eu

disse, é um orgulho de todos os brasileiros, não exclusivamente da Bolsa, porque

não é um trabalho que possa ser feito isoladamente por nós.

E não foram apenas essas as iniciativas privadas tomadas, há aqui uma lista.

Gostaria de lembrá-los do Brazil Excellence in Securities Transaction — BEST, que,

aliás que não é só privada, mas um mix do esforço das autoridades, com CVM,

Banco Central e Tesouro Nacional, junto com a então separadas BOVESPA e a

BM&F, a ANBID e outras entidades que decidiram ir para fora e mostrar a

infra-estrutura que tínhamos construído — de repente, nós, brasileiros não sabemos

fazer a adequada propaganda. O resultado foi excelente em termos de investment

grade. Se olharmos melhor, veremos que há aí um componente que é fruto desse

trabalho de mostrar ao mundo o que é a infra-estrutura do nosso mercado.

A BOVESPA, o Novo Mercado, a Câmara de Arbitragem, a certificação das

corretoras na BM&F; o desenvolvimento de produtos para a administração da dívida

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pública; o desenvolvimento de produtos agropecuários; o selo ANBID para os

prospectos, exigência que vai além dos requisitos legais e regulatórios; a certificação

dos profissionais de investimento no IBGC — Instituto Brasileiro de Governança

Corporativa, do qual eu tenho a honra de ser Vice-Presidente; a Associação dos

Profissionais de Investimento trazendo a certificação para os analistas; a Associação

das Corretoras, trazendo a certificação dos agentes autônomos, e a ANDIMA

trazendo também um código de conduta para o todo o mercado, tudo isso voluntária

e não obrigatoriamente, são códigos de melhores práticas de governança e

exemplos de como as empresas têm de se comportar. Claro, foi realizada uma

coordenação entre todas essas atividades pelo Plano Diretor do Mercado de

Capitais, coordenado brilhantemente pelo Dr. Thomas Tosta de Sá.

Tudo isso levou a uma onda de calmaria — e espero que não termine — no

que diz respeito à abertura de capital de empresas brasileiras, o que traz vantagens

enormes para a sociedade. As empresas se tornaram públicas no sentido de

pertencerem ao público. Aliás, o sinônimo ou a tradução de companhia aberta em

inglês é companhia pública. Eu acho que esse contexto da companhia pública nos

confunde com empresa de propriedade do Governo do Estado, é um conceito muito

interessante. A empresa vai ao público, capta recursos para fazer investimentos em

produção, em geração de empregos, em melhoria da renda do trabalhador. E, no

final, o pagamento de tributos, porque, dessa forma, a empresa se formaliza 100%,

passa a ser totalmente visível, transparente para a sociedade, passa a ser

acompanhada, escrutinada no dia-a-dia por analistas, auditores, jornalistas,

acionistas e um montão de outros “istas”. E o Governo é sócio. Nós, que somos

acionistas do Governo, vamos dizer assim, somos sócios desse desenvolvimento

por meio da arrecadação, federal, estadual, municipal, que cresce, e há até o próprio

reconhecimento da Receita Federal explicando esse crescimento da arrecadação

pelas, no mínimo, 64 empresas que se formalizaram no ano passado. Há aí um

pouco de exagero, porque muitas delas já eram totalmente formalizadas, mas,

enfim, passaram a lucrar mais e a recolher mais impostos.

Agora, apenas um parênteses para fazer uma ressalva, porque cabe aqui

pelo menos um aviso de nossa parte, da parte do mercado de capitais: não

podemos exagerar. Hoje, o Brasil é o campeão mundial em termos de carga

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tributária em cima das empresas totalmente formalizadas, aquelas que não recorrem

a caixa 2, a faturamento por fora e coisas do tipo, práticas totalmente rejeitadas pelo

mercado de capitais.

Há alguns anos, o Prof. Carlos Antonio Rocca nos fez um estudo que mostra

que a carga tributária dessas empresas ultrapassa 53% do seu PIB, que seria o seu

faturamento. Não podemos exagerar e olhar para essas empresas e dizer: “Bom,

vamos elevar os tributos e buscar mais tributação”. O risco é matarmos a galinha

dos ovos que espero sejam de ouro, porque essas empresas hoje estão expostas ao

mundo e precisam ser competitivas — e, aí, é realmente um problema.

A propósito, lembro que isso não pode ocorrer, por exemplo, com a

Companhia Vale do Rio Doce. Tenho acompanhado as notícias de jornal e fico

preocupado. É claro que essas empresas que se tornam públicas de capital aberto

buscam recursos. E vou mostrar mais um gráfico para ressaltar que o mercado de

capitais, que historicamente financiava menos do que o BNDES, que é um banco só,

no ano passado, financiou mais que o dobro do que foi financiado pelo BNDES, e

estamos apenas no começo.

Como disse o Secretário Bernard Appy, o mercado de capitais ainda tem

muito a fazer — já fez bastante — e é um instrumento válido, adequado, para

financiar os investimentos do novo Brasil. Isso ainda é só o começo. Mas o mercado

de capitais também teve importante papel na transformação da cultura de

investimento, de poupança no Brasil.

Esse quadro é para mostrar o esforço que nós, lá na BM&F/BOVESPA,

chamamos de popularização. É um esforço de educação do cidadão comum,

explicar-lhe o que é o mercado de capitais, o que é Bolsa de Valores, o que é uma

companhia aberta, o que é ser acionista de uma companhia aberta.

E o resultado está aí. Em 2000, tínhamos alguma coisa ao redor de 90 mil

investidores diretos na Bolsa, hoje, como mostra esse gráfico, que vai até final de

2007, eles já passaram de 500 mil. É um belíssimo número se comparado com o

passado, mas é muito pequeno em relação ao tamanho do nosso País, da nossa

população. Estamos apenas no começo — e essa é a boa notícia.

A pessoa física que está atrás da popularização do nosso mercado é muito

importante. Como já foi dito aqui, pulveriza a propriedade das companhias abertas,

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dá oportunidade de inserção dos trabalhadores no capital das empresas em que

trabalham, aumenta a liquidez desses ativos, estabiliza o mercado, porque cria uma

base muito maior de participantes e não número pequeno de investidores

institucionais e, no final, dá mais consistência ao preço desses ativos que, afinal, é a

riqueza do nosso País.

Esse esforço nos colocou, no ano passado, no terceiro lugar entre os países

emergentes em termos de captação de recursos para o financiamento das

empresas. Vejam que perdemos apenas para China e Hong-Kong. E eu diria que

Hong-Kong é China, então, perdemos para os chineses, o que não é nada mal —

quem sabe ganhamos agora, nas Olimpíadas? —, mas, em termos de mercado de

capitais, eu diria que nos ganhamos. Não ficamos nada mal nessa fotografia.

E, se olharmos de modo mais próximo, aqui na nossa liga, a liga da América

Latina, vamos ver que representamos hoje mais de 80% do mercado de ações da

região. Em segundo lugar, lá embaixo, vêm o México, o Chile, a Colômbia, a

Argentina, o Peru, o resto é traço.

Precisamos reconhecer o nosso mercado e dele nos orgulhar, elevando a

nossa auto-estima. Hoje, realmente somos a América Latina. Do México para baixo,

temos toda condição de representar esse pedaço da geografia internacional e

aproveitarmos isso, porque se o nosso mercado ainda tem de se desenvolver muito,

o dos demais países da América Latina ainda nem começou a desenvolver — e

podemos ajudar esses países a desenvolver o seu mercado e tirar vantagem disso.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado a todos. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Jilmar Tatto) - Obrigado, Sr. Gilberto Mifano.

Com a palavra a Sra. Maria Helena dos Santos Fernandes de Santana,

Presidenta da Comissão de Valores Mobiliários — CVM.

A SRA. MARIA HELENA DOS SANTOS FERNANDES DE SANTANA - Boa

tarde a todos.

Agradeço à Comissão de Finanças e Tributação e à Comissão de

Desenvolvimento Econômico da Câmara dos Deputados o convite para, em nome

da CVM, falar um pouco sobre esse assunto tão vital e estratégico para o nosso

País.

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É duro ser quase a última a falar — estou com pena do Sr. José Augusto.

Nessa condição, e se tratando de painel de especialistas, dificilmente vou dizer

alguma coisa nova para os senhores, mas quero trazer o comentário do ponto de

vista do órgão regulador, olhando o que conquistamos, o mercado que temos hoje, e

fazer uma pequena avaliação sobre como chegamos até aqui e o significado de tudo

que conquistamos. No fim, quero falar um pouco sobre com o que temos de nos

preocupar para continuar fazendo e para garantir um futuro para esse mercado,

contribuindo para o desenvolvimento do País.

(Segue-se exibição de imagens.)

Os senhores já viram esses números apresentados de outras formas. Esse é

o total de valores mobiliários registrados na CVM ofertados para investidores nos

últimos anos, cuja trajetória — isso aqui é 2008, janeiro a junho — evidencia grande

crescimento, alcançando o volume extremamente significativo de R$167 bilhões no

anos passado.

Esse volume é grande e significativo não apenas quantitativamente falando,

mas também pela circunstância em que ele se deu. Não temos hoje em vigor

nenhum tipo de artifício para incentivar o mercado de capitais. Não temos incentivos

fiscais para investidores ou para empresas que abrem o capital, não temos nenhum

tipo de alocação compulsória de poupança por parte de investidores institucionais,

como já tivemos no passado. Não temos nada que não seja mecanismo de mercado

funcionando, regras do jogo, para atender à expectativa dos investidores, combinada

com um ambiente macroeconômico, que, evidentemente, foi favorável para isso.

Aqui, o volume das ofertas de ações: 75 bilhões de reais no ano passado. É

um orçamento do BNDES sozinho, captado por empresas. Destaquei aqui em 2

cores: em verde escuro, as captações primárias. O que se chama de emissão

primária no mercado, nesse caso, emissões de ações, é a porção que significa

aumento de capital, é o recurso que vai diretamente para investimento ou para

redução, a fim de equacionar passivos, melhorar a condição das empresas de se

manterem solventes e de investirem no seu futuro. A outra metade é a oferta

secundária, que significa a venda de ações já em poder de investidores. Também é

muito positivo ver a receptividade dos investidores para esse tipo de oferta. Embora

ela não vá financiar o crescimento daquela empresa, porque não é um recurso que

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vai para o caixa dela, é recurso que permitiu a muitas famílias monetizarem o seu

patrimônio, resolverem questões de sucessão e questões que muitas vezes

inviabilizavam a continuidade do próprio negócio, foi responsável por grande parte

do incremento de arrecadação, ao qual se referiu o Secretário Jorge Rachid, quando

falou dos números de 2007 e mencionou a pujança do mercado de capitais como um

dos fatores para o crescimento da arrecadação. Tributaram-se os ganhos desses

empreendedores na venda de suas ações no mercado, ali na boca do caixa, como

ganho de capital, e se permitiu que os investidores financeiros, chamados de capital

de risco e de private equity, que o Dr. Thomas mencionava, que são investidores

que investem em empresas menores, de capital fechado, em estágios anteriores de

desenvolvimento e que, em geral, correm mais risco que o investidor de Bolsa,

também vendessem participações em negócios que eles trouxeram para a Bolsa,

numa abertura de capital, para poderem voltar para o começo da cadeia e investirem

novamente. Quer dizer, esse tipo de possibilidade de saída com a abertura de

capital também é muito relevante para esse negócio.

Aqui, o número de ofertas. Aproveito para comentar que são 111 empresas,

desde 2004. Antes disso, praticamente não tínhamos aberturas de capital. Entre

1995 e 2000, para os senhores terem idéia, 8 empresas fizeram ofertas de ações e

abriram capital; entre 2001 e 2003, uma empresa. Evidentemente, não há mágica,

como o Sr. Gilberto Mifano disse. Não foi à toa que esse ciclo aconteceu a partir de

2004. É claro que há um componente de fundo, que é a melhoria da nossa situação

macroeconômica como país, a condição de as empresas, de um lado, planejarem e

precisarem de recursos e, de outro lado, a confiança do investidor de trazer esses

recursos para um país como o Brasil. Há também um cenário de liquidez abundante

no mercado internacional, mas isso não explica tudo, na minha opinião. Se isso

explicasse tudo, outras economias emergentes, grandes, que crescem mais do que

o Brasil e que têm mais para oferecer desse ponto de vista, teriam tido um

desempenho como o nosso no ano passado, o que não aconteceu. Eles não

tiveram. Mencionou o Sr. Mifano que o Brasil foi o terceiro país entre os emergentes,

quer dizer, na verdade, a terceira Bolsa, as 2 chinesas e, depois, a Bolsa brasileira,

que está em quinto lugar no mundo nesse ranking: Nova Iorque, Londres, as 2

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Bolsas chinesas e a brasileira. Isso não reflete exclusivamente condições

macroeconômicas ou cenário de liquidez internacional.

A minha avaliação é a de que isso reflete o ambiente que conseguimos

construir aqui. E há um fato muito eloqüente para falar sobre isso: em média, mais

de 70% do que foi vendido nessas ofertas foi para investidores institucionais

estrangeiros. São grandes fundos de pensão internacionais, como os nossos,

administradores de fundos mútuos, aplicadores da poupança dos pequenos

investidores no mundo afora, que procuram diversificação e que compraram ações

das empresas brasileiras listadas na nossa Bolsa. Entre essas 111, somente duas

fizeram uma abertura de capital simultânea na Bolsa americana. Todas as outras

apenas se listaram aqui. E esses investidores compram contando com a liquidez no

mercado brasileiro, com a infra-estrutura que o País tem para oferecer, com o

sistema de pagamentos, que funciona, e com o ambiente regulatório, que não se

compõe apenas de regulação pública. É evidente que há uma contribuição muito

grande do setor privado, com iniciativas que têm compromisso de longo prazo

tocadas pelo setor privado, lideradas e capitalizadas lá atrás no Plano Diretor de

Mercado de Capitais de 2002, que foram se concretizando e foram servindo de guia

para atuação, catalisadas pela BOVESPA com a criação do Novo Mercado, que

propôs, no âmbito privado, uma regra do jogo que deu segurança para o investidor,

para que ele se sentisse mais protegido e com acesso à informação e a um preço

mais justo pelas ações. Isso estimulou os empreendedores e fez com que esse ciclo

pudesse acontecer.

Do ponto de vista macroeconômico, o Secretário Bernard Appy começou

dizendo que um mercado de capitais desenvolvido é um ativo, e é um ativo

estratégico que contribui até mesmo para a estabilidade macroeconômica do País.

Do lado micro, há alguns aspectos que já foram tocados de alguma forma,

mas que eu gostaria de destacar.

Os senhores podem ver a mudança, o número de setores que têm vindo para

o mercado, o tipo de oxigenação que isso tem trazido para a Bolsa, de um lado, o

número de setores econômicos que não eram sequer representados na nossa Bolsa

e que hoje estão à disposição para o investidor, digamos, diversificar. Mas o que é

muito interessante é observar, do ponto de vista microeconômico, que esse ciclo e

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tudo o que vem pela frente — acho que estamos só começando — têm potencial

para revolução muito profunda e muito ampla.

O mercado de capitais é um fator de disciplina, de incentivo à boa gestão, de

estímulo à prestação de contas, ao cumprimento de metas, que vai servir como fator

de estímulo ou de incremento da produtividade, para se trazer mais empresas para o

âmbito formal, mais empresas que têm de contratar, por meio de emprego formal, os

seus trabalhadores. Acho que tudo isso tem um potencial de revolução neste campo

que algum economista há de medir, pois o setor está apenas começando a mostrar

o seu potencial. Ainda há muito a se fazer pelo nosso País também nesse aspecto.

Aqui, o crescimento do valor das empresas listadas em bolsa, a proporção

sobre o PIB, que é um indicador de desenvolvimento do mercado, 92%.

O valor das emissões por meio de instrumentos de dívidas também é

extremamente representativo e com prazos crescentes, o que é a grande boa

notícia. Por fim, emissões de recebíveis securitizados, que ainda não são usados

dessa forma, mas que têm grande potencial de servir principalmente a pequenas e

médias empresas e à desintermediação do sistema bancário, por meio do mercado

de capitais.

Falamos aqui do ponto de vista do recurso que entra no sistema produtivo, do

recurso que é do patrimônio, que é monetarizado, que pode voltar para esse sistema

produtivo. Tudo isso não é viável, evidentemente, sem o investidor, sem o outro lado

dessa história, sem o fornecedor de capital. E a principal missão da CVM é proteger

o investidor, sobretudo garantindo informações adequadas. É o que fazemos. Nosso

papel nesse mercado não é substituir o investidor na sua capacidade de decidir

quanto risco ele quer correr, é o de pôr à disposição informações suficientes,

garantir que essas informações sejam prestadas e que estejam de acordo com a

regulamentação, para que seja possível comparar as ofertas existentes, e que essa

informação chegue a todos ao mesmo tempo. Esse é o nosso papel.

Em relação aos fundos de investimento, é uma indústria muito importante,

representa quase metade do nosso PIB e é o veículo por excelência de investimento

para pessoa física, por permitir uma diversificação com valores pequenos de

poupança, por permitir aplicações de valor bem reduzido, mesmo para aquele

investidor mais conservador.

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Então, dedicamo-nos muito a supervisionar. É uma das nossas principais

prioridades supervisionar esse setor.

Concluo, lembrando apenas que, além de garantir informações para o

mercado, o nosso papel é fazer com que as regras sejam observadas, regras essas

que eventualmente podem ser bem-vistas, consideradas equilibradas, atualizadas,

mas sempre é preciso mudar, é claro, sempre tem de melhorar. Sem isso, o

mercado não tem como se desenvolver.

A percepção dos investidores, daqueles que colocam seu capital para

rentabilizá-lo na mão de emissores no nosso mercado está muito atrelada à visão

que eles tenham sobre a eficácia desse nosso trabalho.

A partir de 2005 — apenas para comentar do ponto de vista do regulador do

mercado —, fazer cumprir as regras, que é o chamado enforcement, foi escolhido

como a prioridade estratégica nº 1 da CVM. E, a partir de então, os colegas e

antecessores se têm dedicado a reduzir os prazos entre uma eventual conduta

irregular no mercado e a decisão com a aplicação de punição, a fazer com que isso

aconteça num prazo mais curto, para que chegue ao mercado, mais cedo possível, a

mensagem de que a regra é para valer. Tem-se dedicado a CVM também à ação

preventiva, no sentido de que, olhando operações no mercado, tem a faculdade, a

prerrogativa legal de se manifestar a respeito de sua legalidade.

No ano passado, por exemplo, num caso de perfil muito alto em que a CVM

se manifestou previamente, foi exigido que a Mital fizesse aqui no Brasil uma oferta

para os acionistas minoritários da Arcelor, uma vez que a Arcelor, lá fora, teve seu

controle adquirido pela Mital. Essa oferta foi feita aqui, custou 10 bilhões para o

controlador da empresa lá fora. Eles entendiam que não tinham o que fazer, foi uma

batalha de meses, com os melhores escritórios de advocacia do outro lado, mas a

CVM tem cada vez mais atuado dessa forma, procurando se manifestar diante das

questões.

Muito poucos enfrentam a CVM. Na verdade, isso é resultado da credibilidade

construída pelos Presidentes que me antecederam ao longo da história. O Judiciário,

felizmente, tem grande respeito técnico pelas opiniões manifestadas pela CVM.

Então, em geral, o mercado percebe que não vale a pena, e aí as opiniões que

manifestamos dificilmente são desafiadas.

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Finalmente, a educação do investidor. O enforcement também pode ser feito

pelo investidor bem informado, diligente, que saiba quais são os seus direitos, que

conheça o que deve conhecer para investir nos produtos e que, dessa forma, ele

próprio fiscalize e faça valer esses direitos. Por isso, participamos de diversas

iniciativas. Inclusive, como o Dr. Thomas mencionou, no fim do ano, a COREMEC

fará uma proposta de construção de uma estratégia nacional de educação financeira

para a população brasileira.

O Congresso Nacional tem tudo para nos ajudar dando apoio a esse nosso

trabalho. Por exemplo, na hora do orçamento, ajudando a garantir para a CVM os

recursos de que precisamos para trabalhar. Por exemplo, ao analisar — o que vai

acontecer brevemente aqui nesta mesma Comissão — a mensagem do Executivo

que virá por projeto de lei, criando vagas para a CVM. O mercado tem crescido essa

barbaridade toda, e, evidentemente, precisamos enfrentar essa situação do lado de

cá adequadamente preparados para continuar crescendo.

Além disso, do Conselho de Reguladores do Mercado de Capitais, que é o

COREMEC — Banco Central, SPC, SUSEP e CVM — também está sendo trazida

em breve para cá para os senhores analisarem uma proposta de alteração na Lei

Complementar nº 105, que vai permitir à CVM e aos demais reguladores acesso

mais ágil às informações bancárias de investigados no curso de investigações. Isso

vai nos permitir ter muito mais agilidade e sucesso na hora de conseguir provar os

ilícitos cometidos no mercado. Tudo isso entendemos que é estratégico e pode

contribuir para o mercado continuar sendo útil e crescendo para o bem da nossa

economia.

Obrigada. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Jilmar Tatto) - Agradeço à Sra. Maria Helena

as considerações.

Registro a presença do Deputado Carlito Merss, do PT de Santa Catarina.

Obrigado pela presença.

Passo a palavra ao último palestrante, Sr. José Augusto Coelho Fernandes,

Diretor-Executivo da Confederação Nacional da Indústria — CNI.

O SR. JOSÉ AUGUSTO COELHO FERNANDES - Boa tarde. Muito obrigado,

Deputado Jilmar Tatto, Deputado Félix Mendonça. Eu vou me permitir iniciar esta

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última apresentação com um pouco de reflexão sobre o que eu acabei terminando

de ouvir nesta tarde.

Eu fiz a seguinte associação. Lembrei-me do iPod, da EMBRAER e do Plano

Diretor do Mercado de Capitais. Qual o elemento comum que une o iPod à

EMBRAER e ao Plano Diretor do Mercado de Capitais? Inovação. Ou seja, nós

estamos falando de inovação de produto, no caso da EMBRAER e do iPod, e aqui

nós estamos falando sobre inovação institucional. Eu acho que esse trabalho de

inovação institucional começou há mais de 10 anos com a mudança de modelo

mental. Ele começou num trabalho de educação. As pessoas tiveram que reformatar

as suas mentes e os seus corações para entender o conjunto de mudanças que

precisavam ser feitas. E essas mudanças nasciam de várias forças, nasciam de

forças tecnológicas — a sincronização, a ligação de diversas Bolsas no mundo;

nasciam também do próprio processo de globalização das nossas firmas buscando

capitais lá fora, tanto nas Bolsas de fora quanto trazendo capital para o País.

Então, essa capacidade de fazer adaptação institucional parece-me que

merece um especial relevo no início desse trabalho, na medida em que isso foi um

produto de liderança, de persistência, de agenda que hoje faz com que nós

possamos ter os resultados que foram apresentados pela CVM, pelo Thomas, pelo

Appy e pelo Gilberto. A inovação institucional que nós construímos nesse período foi

associada a romper as barreiras ao financiamento e criar novas oportunidades de

financiamento para a empresa brasileira.

Então, os resultados são evidentes, eu não preciso voltar a eles. Eu vou

apenas me concentrar em uma outra inovação que faz parte de todo esse processo,

que é a Lei nº 3.741, que seguiu a mesma história e tem os mesmos ingredientes. O

foco dessa lei são práticas contábeis e demonstrações financeiras e o seu principal

propósito é dar segurança e transparência. Esses 2 elementos sempre andam

muito juntos, transparência e segurança, através da modernização, da aproximação

do padrão contábil e das demonstrações financeiras do Brasil do que ocorre no

mundo. Esse foi o movimento. É um produto também de transformação. Eu não

tenho mais uma economia isolada. Essa economia tem que se adaptar às

transformações e desenvolver as instituições, os regulamentos e as regras

apropriadas para essa nova fase.

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Então, o que esse projeto fez foi aproximar o padrão das práticas contábeis e

demonstrações financeiras do Brasil com o que existe de melhor prática no mundo.

É uma síntese bastante simplificada desse processo. E para quê? Para que as

nossas empresas tenham mais acesso ao mercado externo e possam atrair capital

para as nossas Bolsas de Valores ou para outros sistemas de participação entre

acionistas.

Acho que a nossa Diretora da CVM fez menção a alguma coisa como 70% da

IPO (Oferta Inicial de Ações), que são hoje de investidores institucionais

estrangeiros. Esses investidores institucionais precisam ter segurança sobre o que

estão lendo nas normas contábeis; precisam ter garantias também sobre o acesso à

informação, de forma a dar segurança.

E eu me lembro até de antiga conferência de um grande contador de uma

empresa inglesa, em seminário sobre contabilidade, em que ele dizia: “Os senhores

todos são sem humor, muito estritos etc. e etc., mas, nesse caso, é uma qualidade.”

(Risos.) Então, nós estamos falando de um padrão extremamente importante.

As diretrizes desse projeto, que foi construído aqui no Congresso nacional,

com forte apoio de todos os organismos do Executivo associados com o tema, foi o

de aproximar o Brasil do padrão internacional e de fornecer maior transparência para

as demonstrações financeiras. Quer dizer, o conjunto de mudanças feitas no Brasil

incorreram em algumas inovações, mas o foco central sempre foi mais

transparência. Transparência, por exemplo, na demonstração do valor agregado das

sociedades abertas, no ajuste do valor presente para as ações de longo prazo e nas

informações contábeis de empresas de grande porte. Essa foi uma importante

mudança na legislação anterior. Antes, só as sociedades anônimas tinham

obrigação de publicar suas demonstrações.

Parece-me que o produto de todo esse conjunto de mudanças é o maior

acesso das nossas empresas a novas fontes de financiamento e mais proteção aos

investidores minoritários, que são exatamente os financiadores desse ciclo de

expansão.

Para sintetizar, a partir da experiência do Plano Diretor de Mercado de

Capitais e da experiência da lei específica que eu acabei de mencionar, relatada

pelo Deputado Armando Monteiro Neto, Presidente da CNI, eu acho que nós temos

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algumas lições sobre processos de modernização institucional. Ou seja, esses

processos normalmente envolvem mudanças de regras, mudanças de legislação,

para que essas legislações se adaptem às transformações de tecnologia, de forma

de relacionamento das empresas etc. E foi isso exatamente o que ocorreu no Plano

Diretor de Mercado de Capitais.

Aqui foi importante a clareza da agenda. Desde o início, o Plano Diretor de

Mercado de Capitais tinha um rumo, um propósito, sabia o que deveria ser feito.

Em segundo, educação. As pessoas tiveram de entender por que essas

mudanças estavam ocorrendo. Houve longo processo de educação, não apenas do

Congresso, do Executivo, mas do conjunto dos próprios players do setor privado.

Mas a terceira lição também desse processo de modernização institucional é

a continuidade e persistência. Não foi obra de apenas um governo, mas de uma

sucessão de governos que se encadearam entre si. Ninguém rasgou a agenda e

começou a fazer outra coisa no outro dia. Houve persistência ao longo tempo.

Houve também liderança. Em cada momento, houve liderança no setor privado, no

Congresso Nacional e no Executivo para que esse tipo de ação se desenvolvesse.

Foi o produto de uma ação coletiva entre o setor privado, o Executivo e o Congresso

Nacional.

Então, no fundo, parece-me, Sr. Deputado, que nós estamos hoje celebrando

um exemplo de modernização institucional no País. E o desafio que fazemos aos

senhores é que multipliquemos isso à enésima potência.

Obrigado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Jilmar Tatto) - Obrigado, Sr. José Augusto

Coelho Fernandes.

Passo agora a Presidência ao Deputado Félix Mendonça, para que eu possa

fazer minha intervenção.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Félix Mendonça) - Com a palavra o

Deputado Jilmar Tatto.

O SR. DEPUTADO JILMAR TATTO - Obrigado. Eu quero primeiro

parabenizar os convidados pelas intervenções.

Na qualidade de Presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico,

Indústria e Comércio, devo dizer que o tema é bastante palpitante, e, por isso, o

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Deputado Gonzaga Mota me provocou para travarmos este debate em conjunto com

a Comissão de Finanças e Tributação.

O Brasil passa por momento privilegiado em relação ao mercado de capitais,

estratégico setor da economia que alavanca o crescimento e hoje tem grande

credibilidade, conforme foi aqui dito pelos nossos convidados. E a credibilidade é

realmente grande. Chegou ao ponto de passar de 90 mil para 500 mil o número de

investimentos num mercado até então obscuro, difícil, em que se corria risco muito

grande de perder dinheiro. Assim como é fácil ganhar também é fácil perder. E hoje

há certa segurança do ponto de vista de investimento nesse setor.

E o Brasil passa por momento privilegiado não só nesse setor. Hoje nós

temos uma reserva de 200 bilhões, algo fantástico, ou seja, um crescimento de 5%.

Falou-se muito aqui da China, das Bolsas de Xangai e Hong Kong. Por acaso,

estava hoje com um dos membros do bureau, do PC chinês, do governo chinês, e

tomei conhecimento de que o crescimento da China era de 14% ao ano, e a

projeção para este ano é de 10,3%. Mas era um crescimento sem preocupação com

as condições sociais e ambientais. Agora estão revertendo essa questão, tanto que

estão diminuindo o crescimento econômico. E me parece que esse é o pacto,

Helmut, que o Brasil está fazendo. Não adianta crescermos 8%, 10%, 12% se não

conseguirmos ter realmente distribuição de renda e preocupação com o meio

ambiente, com o desenvolvimento sustentável.

E o Bernard Appy, parece-me, que na sua intervenção e em outras aborda

inclusive essa questão. Esse é o grande modelo que nós temos de persistir e

perseguir no Brasil, um crescimento econômico que tenha sustentabilidade,

segurança jurídica e segurança democrática com distribuição de renda. E ai entra a

Previdência.

Se atentarmos para todos os índices econômicos do Brasil relativos ao ano

passado, de 2006 para 2007, e, provavelmente, de 2007 para 2008, vamos observar

que os gráficos irão subir cada vez mais.

Uma das notícias mais importantes que recebemos o ano passado foi a de

que 20 milhões de pessoas saíram das classes D e E e passaram para a classe C.

Qual é o sentido de uma nação, qual é o sentido de um país? Qual é o sentido do

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Brasil, qual é o nosso papel? Nosso papel é fazer com que a população como um

todo, enquanto País, consiga realmente dar qualidade de vida para todos.

E quanto á Previdência, podem até ter razão aqueles que disseram estar ela

sendo bancada pelo Estado; que a conta não é suficiente para cobrir os benefícios;

que quem trabalha não está cobrindo quem está aposentado; ou que as futuras

gerações não conseguirão ter sustentabilidade, em face de estar aumentando a

estimativa de vida das pessoas. Mas é verdade o fato de que há uma

responsabilidade do País. A distribuição de renda da Previdência é muito grande.

Nós podemos tirar do Orçamento do Estado recursos para bancar a Previdência.

Mas quem paga essa conta? Hoje é o Estado, o povo brasileiro. Por isso, talvez

possamos fazer outro debate, como, por exemplo, da desigualdade entre ricos e

pobres no Brasil.

Alguém aqui falou do Chile. O Chile fez um pacto de diminuição entre ricos e

pobres. Qual a necessidade de as pessoas no País e no mundo acumularem riqueza

do ponto de vista da sustentabilidade do planeta? Esse o debate que temos de

fazer. A taxação das grandes riquezas. Essa nova fortuna que existe hoje no mundo

e no Brasil não é taxada. Nós taxamos hoje a riqueza tradicional, aquela que

emprega, aquele que produz, aquela que comercializa. Mas há uma riqueza hoje

volátil que não estamos taxando.

Então, parece-me que é esse debate macro sobre o futuro do País que temos

de fazer.

E tem de ser pactuado. O Brasil mostrou, e está mostrando, que à força

ninguém consegue nada. Eu acho que é isso que nós conseguimos.

Aqui se falou da estabilidade econômica que tivemos na transição do Governo

anterior para este Governo. Ideal seria conseguirmos um modelo de transição

também para garantir direitos. Porque não vale — e parece que é consenso aqui

entre os debatedores — é perder direitos. Não adianta o Brasil crescer, alguns

setores da economia ganharem credibilidade, se o custo disso é perder direitos.

Parece-me que ninguém hoje é favorável a isso.

Então, quando se fala de reforma da Previdência é bom que se entenda que

jamais vamos reformar a Previdência perdendo direito, porque aí não vale. Não vale

do ponto de vista moral, mas também não vale do ponto de vista da Constituição, se

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não basta o moral. Parece-me que deveria valer só do ponto de vista moral, mas

também a Constituição diz que não vale.

Então, o debate é outro: de onde vamos tirar recursos para bancar um

exército de pessoas que contribuíram, se não no todo, em parte, para a riqueza do

País? Pelo avanço da medicina, da tecnologia, hoje, felizmente, aquela pessoa que

estava projetado para viver 40, 50 anos, vai viver 100, 120 anos no futuro.

Esse é o debate macro que temos de fazer do ponto de vista de projeto de

nação, e de uma forma bastante ponderada, num ambiente tranqüilo. Porque eu fico

imaginando outros momentos do Congresso, do País: fazer um debate como este,

dessa envergadura, com esses temas espinhosos, principalmente a questão da

Previdência, não era fácil.

Então, eu acho que é esse o debate que nós temos de fazer. E as Comissões

de Desenvolvimento Econômico e de Tributação e Finanças, parece-me, estão

dando boa contribuição para darmos o pontapé inicial e, quem sabe, no futuro,

repactuarmos, para que o Brasil como um todo ganhe, e não apenas um setor da

sociedade.

Obrigado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Félix Mendonça) - Obrigado, Deputado.

Devolvo a Presidência a V.Exa.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Jilmar Tatto) - Viu como é fácil?

Passo a palavra a V.Exa., Deputado Félix Mendonça.

O SR. DEPUTADO FÉLIX MENDONÇA - A primeira conclusão que eu tiro

desse simpósio, na prática, é que é um simpósio importante e que vai ser gravado

para depois ser distribuído a todos Deputados.

Pela exposição do Milton Molina, concluo que eu sou um ser improvável, nos

meus 80 anos.

A visão que tenho do mundo é que os avanços, desde Graham Bell à

cibernética, chegando finalmente à Internet, foram fantásticos, permearam todas as

nações com informações, quebraram estruturas ideológicas no mundo, como as

chamadas grandes Esquerdas, grandes Direitas.

Exemplo disso é a China, que era um país comunista e passou a ser de

estrutura capitalista. A Índia sempre foi uma democracia, e das mais importantes do

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mundo, porque a liberdade ali é muito grande, por sua estrutura e história. Mas a

Índia tem um sistema muito ruim, que é um sistema muito burocrático.

Mas isso tudo criou nações que se interligam de tal forma que os seus povos

começaram a se valer desse processos para se transformar em grandes potências

econômicas. A China, a Índia, a Rússia, o Leste Europeu, que era dominado, todos

eles avançaram, e muito.

E isso criou um novo parâmetro, que é o do consumo. O consumo é uma

coisa fantástica e está acontecendo no mundo, por isso a inflação é mundial, porque

o consumo está requisitando mais alimentos. Por exemplo, no caso da agricultura

brasileira, embora o câmbio não favoreça, mesmo assim a nossa agricultura está

tendo grandes vantagens. Até fico satisfeito porque o cacau chegou a 82 (risos), e

nós produzimos cacau. Mas não é só o cacau.

O que notamos é que esses avanços também foram acompanhados pela

educação. Quando Roberto Campos era Deputado fazíamos toda semana uma

reunião no gabinete dele, às vezes no gabinete do ex-Deputado Delfim Neto, e ele

dizia que a educação era uma coisa importantíssima. Ele apresentou um projeto

para criar a previdência complementar. E disse: “A previdência complementar vai

equivaler a 5 BNDES”. O que está aqui provado. Vi na estatística 457 bilhões,

quando, na verdade, o BNDES tem 80 bilhões. É 5 vezes mais.

Dentro desse contexto, o que aconteceu no mundo foi que esses povos se

adaptaram aos novos avanços, e uma coisa que está crescendo muito é a

credibilidade. A Maria Helena falou da segurança da credibilidade, é uma coisa

importantíssima.

A Bolsa de Valores é reguladora. Essa nova atitude de regulação cria também

um clima para que se tenha uma visão reguladora de todos os setores brasileiros. A

educação não só se deve fazer nesse setor, mas em todos os setores da vida

brasileira.

Por exemplo, educação para a violência. Quando eu era estudante fui aluno

no colégio de um grande educador, Isaias Alves de Almeida, irmão do ex-

Governador da Bahia, que era um grande educador, e ele fazia exposições sobre a

violência, sobre o jogo, enfim, fazia simpósios. A educação se transmite, não é a

educação formal que o menino recebe.

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Mas isso aconteceu no Brasil. Tivemos governos, não só o atual, mas o

anterior, e alguns outros governos que tentaram de tal forma absorver isso, que veio

naturalmente com uma liquidez excessiva que havia no mundo. Essa liquidez veio e

foi conduzida para nossa economia.

E nós nos estruturamos para isso. A grande vantagem é que tivemos uma

posição positiva, afirmativa, e não negativa nesse sentido. O Presidente Lula, por

exemplo, é um intuitivo, a exemplo de Hjalmar Schacht, o grande economista que

elevou a economia alemã e que era um intuitivo também, homem de grande cultura,

mas intuitivo. O nosso Presidente, embora não seja homem de grande cultura, é

homem de grande intuição para perceber as mudanças que estão ocorrendo.

Eu sou oposição, portanto, posso falar isso de cátedra.

Com relação à Previdência, eu acho que devemos definir bem o que é

Previdência e o que é Seguridade Social. Temos que ter isso claro. PIS, PASEP,

COFINS complementam a nossa seguridade, por isso se diz que ela não é

deficitária, porque esses recursos são, pela Constituição, destinados à Seguridade

Social.

Mas a Previdência é viável, acredito eu, à proporção que o País cresça. Mas

quem quiser ter uma visão do que é o País, do que ele significa para nós, é só

verificar as periferias das cidades. O transporte de massa é uma coisa importante; a

casa não é só a casa, é a infra-estrutura, a água, o esgoto, a educação, a energia.

Temos ainda um índice de pobreza muito grande nessas periferias. E por que

aconteceu isso? Porque a industrialização se deu fortemente no Brasil, e as

populações passaram do campo para a cidade de maneira brusca. Em 20 anos nós

passamos de uma população rural para uma população urbana, e nisso nós

transformamos nossas 7 grandes metrópoles em cidades ilhadas pela pobreza, pela

violência e pela carência, sobretudo.

Eu acredito que tudo isso que nós ouvimos aqui dos senhores — que nos

apresentaram, com competência, as melhores soluções dentro de cada campo, com

uma técnica muito boa — nos dá a certeza de que vai acontecer no Brasil.

Eu sou Vice-Presidente desta Comissão e represento nesta reunião o

Presidente Pedro Eugênio, que me pediu que o fizesse, juntamente com o Deputado

Jilmar Tatto, que também conduz com muito tato a nossa reunião de hoje.

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Quero dizer que tudo isso aqui foi inspirado pelo nosso Gonzaga Mota, ex-

Governador e Deputado por 6 Legislaturas, sempre empenhado em servir à causa

pública.

Estou certo de que nós estamos aqui, neste instante, fazendo as

considerações finais com relação ao problema acerca do qual, conforme a visão do

Presidente da Comissão de Finanças, sobre cada setor desses nós poderíamos

fazer seminário.

Muito obrigado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Jilmar Tatto) - Obrigado, Deputado Félix

Mendonça.

Concedo a palavra ao Deputado Duarte Nogueira, do PSDB de São Paulo.

O SR. DEPUTADO DUARTE NOGUEIRA - Sr. Presidente da Comissão de

Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio, Deputado Jilmar Tatto, autor do

requerimento que possibilitou a realização desta reunião; Sr. Presidente em

exercício da Comissão de Finanças e Tributação, Deputado Félix Mendonça, eu tive

o privilégio de permanecer nesta reunião o tempo todo para ouvir todos os

palestrantes — à exceção de 1 minuto em que saí para ir a uma Comissão Especial.

Cumprimento os autores do requerimento e o Deputado Gonzaga Mota. Nós

aqui, junto com o Deputado Paulo Henrique Lustosa, assistimos todas as

apresentações. Quero dizer que eu gostaria muito que outros Parlamentares

pudessem ter tido a oportunidade de ouvir tão seletos e ao mesmo tempo

importantes debatedores. O tema é muito palpitante e vai na linha do Brasil

moderno, do País que todos nós queremos.

Eu não deixo também de fazer a consideração de que nós poderíamos estar

muito mais à frente do que estamos hoje, mas temos que reconhecer que andamos

muito.

Quanto ao atual Governo, que tinha uma visão diferente da que tem hoje,

graças a Deus, que combateu tanto o nosso Governo, do Presidente Fernando

Henrique — nós, da Oposição, temos que fazer esta crítica, e, ao mesmo tempo,

elogiar aquilo que vem sendo adequadamente considerado —, seus membros e

seus representantes votaram contra o Plano Real, votaram contra a Lei de

Responsabilidade Fiscal, fizeram de tudo para naufragar a reforma da Previdência,

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mas hoje têm que reconhecer que, se tivessem colaborado para que nós

plantássemos um pouco mais no passado, o atual Governo não estaria só colhendo,

mas também plantando um pouco mais para o Brasil poder crescer.

É bom comemorar um crescimento de 5,8%? É bom. Mas hoje mesmo os

analistas já projetam para este ano um crescimento de 4,8% e, para 2009, só de 4%.

Afinal, nós estamos vivendo uma sobreposição de fatos ruins para o País: juros

altos, aumento do gasto público, câmbio sobrevalorizado, e, simultaneamente,

aumento da carga tributária, que está beirando 40%. E agora, a inflação. A dona de

casa, o cidadão, que elogia tanto o Governo, hoje começa a pensar que no primeiro

mandato ele deu com uma mão e no segundo ele está tirando com as duas.

Eu acho que nós temos que cumprimentar o setor privado pelo que ele soube

fazer em conjunto com o setor público, procurando, como disse a Dra. Maria Helena,

garantir a estabilidade institucional, a regularidade dos contratos, o ambiente de

segurança jurídica para que os investidores — não os grandes investidores, mas

esses 500 mil, que gostaríamos que fossem 1 milhão ou mais — pudessem tanto

fazer parte deste ambiente de crescimento do País e desfrutar da capacidade de

gerar uma renda e uma poupança diferenciadas quanto a ajudar as empresas a

crescer e gerar empregos.

Nós observamos, aqui, no debate da Medida Provisória nº 413, uma tentativa

do Governo de ampliar a carga tributária incidente sobre o mercado de capitais, em

especial sobre a bolsa de mercado a termo, a BMF, mas, depois de uma discussão

lúcida, buscou-se o bom senso e isso não foi feito.

Às vezes eu fico imaginando que alguns colegas — com todo o respeito ao

PT e à base do Governo — que no passado contemplavam o intervencionismo,

batiam palmas para o Evo Morales e para o Hugo Chávez, vira e mexe estão

visitando o túmulo do Milton Friedman lá em Chicago para agradecer algumas

noções de boa economia que ele deixou.

Quero encerrar cumprimentando o autor do requerimento, Deputado Jilmar

Tatto, colega que enfrento democraticamente, mas que admiro pela qualidade da

sua vida pública e do seu debate.

Por fim, sugiro que nós editemos e publiquemos, com o que foi dito por todos

os palestrantes, uma cartilha sobre esta audiência pública para que outras pessoas,

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inclusive Parlamentares, possam ter contato com a qualidade do tema hoje aqui

trazido e, ao mesmo tempo, com o brilhantismo com que todos os membros do

Governo e do setor privado aqui souberam tratar a questão.

Eu faço uma ressalva de que, no setor público, independentemente de quem

ganhou a eleição e está governando, nós temos sempre bons quadros à frente de

instituições públicas, que se somam às qualidades daqueles que estão à frente das

instituições do setor privado. E é neste momento que nós temos que procurar

colocar a luta política de lado, fazer a crítica ou o enfrentamento democrático que

tem que ser feito, mas pensar sempre no País.

Nem sempre essas coisas são feitas. Nós, políticos, às vezes colocamos o

enfrentamento e a luta política acima dos interesses do País. Isso, aliás, aconteceu

no passado. Nós estávamos no Governo e vivemos isso, e estamos a todo instante

procurando não cometer os mesmos erros que cometeram conosco no passado. Eu

acho que, se nós pensarmos o País dessa maneira, não só os resultados do Plano

Diretor do Mercado de Capitais, mas muitas outras coisas feitas em parceria com a

iniciativa privada e que precisam da regulação, da fiscalização, da aprovação de leis

no Congresso Nacional, poderão caminhar mais celeremente, e as taxas de

crescimento do País poderão ser muito maiores do que as que estão sendo neste

momento projetadas.

Muito obrigado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Jilmar Tatto) - Muito obrigado, nobre

Deputado Duarte Nogueira.

Nós acatamos a sugestão de V.Exa. de editar o material deste rico debate, já

que tudo foi gravado. Acho importante a sugestão. Vamos verificar a possibilidade e

a viabilidade de isso ser feito.

Vou dar um desconto a V.Exa. porque eu sei que está difícil fazer oposição.

Então, não vou usar a Presidência para fazer comentários. Mas a vontade é grande.

(Risos.) Ser oposição hoje não é fácil, eu sei!

O SR. DEPUTADO DUARTE NOGUEIRA - Nós ficamos mais qualificados. É

nas adversidades que ficamos com o couro mais grosso. (Risos.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Jilmar Tatto) - Para não darmos aos

trabalhos tratamento burocrático, do qual eu tenho horror, pergunto aos expositores

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se querem usar da palavra para alguma consideração, alguma observação. Fiquem

à vontade. Não estou constrangendo ninguém. É mais para facilitar os nossos

trabalhos.

Com a palavra o Sr. Bernard Appy.

O SR. BERNARD APPY - Queria só aproveitar este momento final, primeiro,

para parabenizar as 2 Comissões pela qualidade das apresentações feitas hoje no

debate e reforçar aqui a posição que o Helmut trouxe com relação à questão da

Previdência no mercado de capitais. O equacionamento ou o desenho adequado da

Previdência Social acho que é um grande desafio para o Governo. Acho que a

Previdência Social tem, pelo menos a Previdência que hoje chamamos de Regime

Geral da Previdência Social, 2 componentes. Talvez não esteja clara a separação

entre os componentes: um componente redistributivo e um componente que, na

verdade, é a devolução para o trabalhador daquela contribuição que ele fez ao longo

da sua vida contributiva. Acho que tem aperfeiçoamentos a serem feitos nesse

desenho. Com certeza, é importante pensar em como adequar a Previdência à

mudança demográfica, porque o Brasil está crescendo; como adequar a Previdência

ao desenho institucional de outros países que competem com o Brasil; como

encontrar um desenho que contemple a finalidade da Previdência de proteção

social. E aqui o Brasil está bem. É um dos países em desenvolvimento que tem o

maior grau de cobertura previdenciária ou assistencial de idosos no mundo. No

mundo em desenvolvimento, é um dos que tem maior cobertura. Nesse ponto de

vista, ele está bem. Mas tem problemas também. Tem problemas no desenho. É

uma aposentadoria talvez muito cedo para o perfil demográfico, que vem mudando

mundo no mundo; tem benefícios de risco talvez mais generosos que em outros

países. Mas, do ponto de vista macroeconômico e mesmo do ponto de vista social,

entendo que se justifica que a Previdência pública, aquela Previdência do regime

básico de previdência, faz todo sentido ser montada dentro de um modelo que é

feito hoje no Brasil, dentro de um modelo de repartição, num modelo de

solidariedade entre o conjunto dos contribuintes e o conjunto das pessoas que

percebem os benefícios previdenciários. Do ponto de vista estritamente

macroeconômico, por exemplo, deslocar o sistema previdenciário para um sistema

de capitalização e não mudar em nada o desenho das demais despesas públicas, o

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desenho inclusive dos benefícios previdenciários, o efeito disso, na melhor das

hipóteses, é neutro. Capitaliza-se aquilo que entra na receita da Previdência e esse

recurso capitalizado, na verdade, vem financiar o próprio Governo através do maior

endividamento do setor público, se não mexer no desenho geral das despesas que

existem. E, na pior das hipóteses, pode piorar o desenho macroeconômico se este

aumento da dívida pública acabar levando a uma piora na percepção da capacidade

de solvência do setor público, o que acaba trazendo consigo eventualmente o

aumento das taxas de juros e um menor potencial de crescimento do País.

Volto a falar aqui, não entendo. O desenho geral do sistema previdenciário

público é extremamente importante para o potencial desenvolvimento do País,

inclusive do mercado de capitais, ainda que isso seja feito apenas no âmbito do

setor público e não com um regime de capitalização. Ter um sistema previdenciário

adequado do ponto de vista fiscal, do ponto de vista da sua sustentabilidade no

longo prazo, tem sim conseqüência grande sobre o potencial de crescimento

macroeconômico do País, sobre a taxa de juros e sobre o próprio potencial de

desenvolvimento do mercado de capitais, ainda que isso não seja feito através do

regime de capitalização dentro do regime básico de previdência social. Talvez no

futuro, se chegarmos a uma situação de dívida pública muito baixa, de taxa de juros

muito baixa, eventualmente uma transição poderá haver, num regime com algum

modelo de capitalização, mantida sua liberdade, que acho essencial dentro do

desenho do regime de previdência básica; acho que não deve ser de capitalização

individual; esse é um desenho incorreto do ponto vista no desenho básico de

Previdência. Então, no futuro talvez seja possível pensar numa transição dessas.

Hoje, com certeza, é um erro do ponto de vista de política econômica fazer essa

transição.

Nesse ponto de vista, queria só deixar aqui meu reforço para o Helmut e dizer

que o mercado de capitais vem se desenvolvendo e vai se desenvolver sem que

tenhamos que alocar compulsoriamente recursos da Previdência para ele. Ele não

precisa de realocação compulsória. Ele tem capacidade de crescer sem alocação

compulsória de recursos. Vem mostrando isso e vai continuar mostrando, com

certeza, o bom desenho institucional. O crescimento econômico e a estabilidade são

o que é preciso para um mercado de capitais se desenvolver. E volto a falar: Ele é

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instrumento, ele é meio e não é fim. É uma forma de o País poder se desenvolver,

que tem de ser viabilizada. Não é uma finalidade em si.

Era apenas isso que eu queria dizer. Como não tratei do tema, quis reforçar

um pouco a posição do Helmut de solidariedade governamental nesta discussão.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Duarte Nogueira) - Por favor, Sr. Thomás.

O SR. THOMÁS TOSTA DE SÁ - Quero agradecer tanto ao meu amigo

Helmut quanto ao Bernard Appy a solidariedade demonstrada em nível de governo.

Mas acho que, por enquanto, a nossa proposta ainda não está efetivamente

formulada.

Defendemos um modelo de capitalização dentro de uma parcela pequena do

sistema do INSS. O que defendemos foi principalmente um instrumento eficiente,

efetivo de participação do trabalhador no crescimento econômico do País.

O modelo que olho sempre não é o chileno. É o modelo desenvolvido nos

Estados Unidos, que fez com que a poupança previdenciária americana saísse de

30% do PIB, em 1970, e fosse para mais de 100% do PIB. Essa poupança

previdenciária, alocada nas maiores empresas do país, deu ao trabalhador

americano participação numa representação de 70% do capital das empresas. É

isso que imagino que vai acontecer neste País.

Ainda temos muito para conversar sobre o assunto, mas tenho absoluta

certeza de que chegaremos lá.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Duarte Nogueira) - Obrigado.

Mais alguém quer falar?

O SR. SIDNEY CHAME - Posso fazer uma observação?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Duarte Nogueira) - É claro.

O SR. SIDNEY CHAMEH - Sou da associação brasileira de investimentos

privados — Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital. O Thomás

nos representou.

Essa indústria tem o potencial de apoiar as empresas na fase anterior à

abertura de capital. E o Brasil se consolida como um mercado que atrai investimento

externo para esse tipo de setor, incentivando empresas que estão na sua fase

nascente. Isso vai fazer com que a alavancagem desse mercado seja muito grande.

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Quero, então, parabenizar todos os agentes pela iniciativa. É muito

interessante dar um impulso ao Brasil.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Duarte Nogueira) - Obrigado pela

intervenção.

Agradeço ao Sr. Bernard Appy; ao Sr. Ricardo Patah, que teve de se retirar e

justificou sua ausência; ao Sr. Nilton Molina; ao Sr. Helmut Schwazer; ao Sr. Alfredo

Neves Penteado Moraes; ao Sr. Gilberto Mifano; à Sra. Maria Helena dos Santos

Fernandes de Santana; ao Sr. José Augusto Coelho Fernandes.

A ata já está sobre a mesa. Portanto, considero-a lida. Podemos aprová-la?

(Pausa.) Está aprovada a ata.

Vamos acatar a sugestão do Deputado Hélio Nogueira e editar esse material.

Agradeço a presença aos expositores e aos Srs. Parlamentares.

Nada mais havendo a tratar, declaro encerrada a presente reunião. Antes,

porém, convoco os Srs. Parlamentares para as seguintes reuniões, que serão

realizadas amanhã, dia 2 de julho, quarta-feira: às 10h, no Plenário IV, reunião de

audiência pública com a presença do Sr. Guido Mantega, Ministro de Estado da

Fazenda, destinada a discutir o modelo de fundo soberano que o Governo Federal

pretende implantar no Brasil (vai ser na Comissão de Finanças e Tributação); às

14h, no Plenário III, reunião extraordinária deliberativa; às 10h, no Plenário V,

reunião da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio.

Está encerrada a presente reunião.