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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO DE LEGISLAÇÃO PARTICIPATIVA EVENTO: Seminário N°: 0621/11 DATA: 31/05/2011 INÍCIO: 10h26min TÉRMINO: 12h17min DURAÇÃO: 01h51min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 01h51min PÁGINAS: 38 QUARTOS: 23
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
SUELI NAVARRO – Secretária de Comunicação da Câmara dos Deputados. PAULO HENRIQUE ARAAÚJO – Representante do Centro de Informática da Câmara dos Deputados — CENIN. FÁBIO LUÍS MENDES – Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados. WAGNER MEIRA JÚNIOR – Professor da Universidade Fed eral de Minas Gerais. GETSEMANE SILVA – Representante da Secretaria de Co municação da Câmara dos Deputados.
SUMÁRIO: Seminário sobre o tema A participação popular no Parlamento no século XXI.
OBSERVAÇÕES
Houve exibição de imagens. O seminário foi suspenso e reaberto.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão de Legislação Participativa Número: 0621/11 31/05/2011
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Pimenta) - Declaro abertos os
trabalhos da 2ª Mesa do seminário realizado pela Comissão de Legislação
Participativa sobre o tema A participação popular no Parlamento no século XXI.
Os vídeos do programa 1ª WebConferência sobre Participação Popular no
Parlamento no Século XXI, gravado no dia 24 último, já estão disponíveis no canal
e-Democracia no You Tube, que pode ser acessado através da página da Câmara
dos Deputados ou diretamente na página do e-Democracia.
No próximo dia 15 de junho, às 14h30min, no Salão Verde da Câmara dos
Deputados, o Presidente da Casa, Deputado Marco Maia, fará o lançamento oficial
da nova versão do Portal e-Democracia, o portal interativo da Câmara dos
Deputados com a sociedade brasileira.
Na ocasião, será lançada a comunidade virtual de combate às drogas, com o
objetivo de promover um amplo debate com a sociedade para auxiliar os
Parlamentares a encontrar soluções para prevenir, tratar e combater problemas
relacionados às drogas.
Dando sequência a essa iniciativa da Comissão de Legislação Participativa,
dentro da programação dos 10 anos da Comissão, e trazendo à sociedade
brasileira, mais uma vez, a reflexão a respeito da participação popular no
Parlamento, trazemos para participar desta reunião como expositores Sueli Navarro,
Secretária de Comunicação da Câmara dos Deputados, que falará sobre o tema
Operação de Rede da TV Digital; Paulo Henrique Araújo, do Centro de Informática
da Câmara dos Deputados — CENIN, que vai falar a respeito do tema Dados
Abertos; Fábio Luís Mendes, Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados, que
vai apresentar o tema Certificação Digital; e o Prof. Wagner Meira, da Universidade
Federal de Minas Gerais, que vai apresentar um estudo inovador de
acompanhamento das mídias sociais que hoje está sendo desenvolvido pela
Universidade Federal de Minas Gerais, através do Observatório da Web.
Esta reunião está sendo transmitida ao vivo pela TV Câmara, e estará
disponível também no You Tube. Cada participação dos convidados será
transformada num vídeo que estará à disposição na biblioteca digital que estamos
criando a respeito desses temas.
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Para iniciar as exposições de hoje, vou passar a palavra a Sueli Navarro,
Secretária de Comunicação da Câmara dos Deputados. Hoje, fala-se muito em TV
digital, mas o que temos percebido é que as pessoas ainda têm muito pouca
informação a respeito da matéria. O que é, de fato, TV digital? Como está prevista a
transição no Brasil? Nós já estamos preparados para a TV digital no Brasil?
A SRA. SUELI NAVARRO - Cumprimento os membros da Mesa e os todos
que estão nos acompanhando agora, seja pela Internet, seja por qualquer outro
meio, porque importante são os meios através dos quais os conteúdos chegam a
eles.
(Segue-se exibição de imagens.)
Vou falar um pouquinho sobre a TV digital. A TV digital no Brasil traz uma
inovação muito grande, dá um grande salto.
O modelo que o Brasil adotou — depois explicarei um pouco tecnicamente o
que é isso — dá um salto. Qual é esse salto? A interatividade com a população
brasileira é a grande novidade do nosso modelo. Adotamos o modelo japonês, mas
junto com ele o Brasil colocou a interatividade. O Brasil e a Universidade de
Campinas introduziram essa grande novidade, o Ginga, de que falamos tanto e que
nada mais é que a interatividade. Estamos aqui e a população vai poder falar
conosco ao vivo, fazer perguntas, participar da nossa exposição.
No PowerPoint que eu trouxe, vou explicar a vocês. Aqui é a atual situação da
TV Câmara. Estamos apenas no sinal analógico: UHF em Brasília; a cabo na NET;
DTH na da Sky, Telefônica e EMBRATEL; e as parabólicas no Star One C2, o
satélite que joga nosso sinal para as parabólicas.
Essa era a nossa situação no Brasil até um tempo atrás, porque em São
Paulo já colocamos, em outubro de 2008, a TV aberta. Em São Paulo, o sinal da TV
digital já está no ar já. Em Brasília, devemos lançar o sinal digital agora, em junho.
O digital e o analógico, dá para entender um pouco, quando simplificamos.
O que acontece com o sinal analógico? O sinal analógico sai, vai para uma
torre de transmissão e desce daquele jeito ali. Quando ele chega à casa do usuário,
vem com sombra, com chuvisco, com toda aquele emaranhado.
Hoje, muitas vezes, nós nos perguntamos: por que algumas emissoras têm o
monopólio da imagem? Costumo dizer que é porque elas chegam a todos os lugares
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no Brasil e chegam bem, chegam com sinal. E, então, o espectador em casa quer
uma boa imagem, sem chuvisco, sem tremor, ou quer ver uma televisão de bom
conteúdo, mas que chega muito ruim? Ele faz a opção pelo melhor sinal.
O sinal digital é 010101. O que acontece? Ele vem, bate ali, vai para o zero;
bate lá, vai para o 1. Essa parte em que ele desce vai sempre ter um sinal limpo, o
digital em engenharia é isso, mais ou menos.
A TV digital no mundo existe dessa forma. O modelo americano de TV digital é o
ATSC, opta por qualidade. Decisão dos americanos. Quando eles foram escolher o
modelo, optaram por telões grandes, por imagens bonitas, por mais nada.
Como os países na Europa são pequenos, um grudado no outro, os europeus
tiveram que dividir o espectro por muitos países. O que eles fizeram? Optaram por
fazer a multiprogramação. Pegaram um canal e dividiram em vários, colocando
diversos conteúdos no ar;
E o modelo japonês tinha uma vantagem. Estudando a questão, o Governo
brasileiro, as universidades e os radiodifusores chegaram à conclusão de que
queriam mobilidade, portabilidade e interatividade, porque 100% das casas no País
têm televisão. As TVs comerciais querem vender produtos; as públicas, falar com a
população brasileira.
Então, no Brasil, adotamos o modelo japonês com um avanço, demos um
salto, porque colocamos a interatividade. No Brasil, o acesso à Internet, hoje, é feito
da seguinte forma — são dados mais ou menos recentes: 40% trabalham em lan
houses, 30% em casa. O acesso da sociedade à televisão ainda é 100%. Então, a
televisão é um meio de comunicação muito importante no Brasil, e temos de pensar
seriamente nele, principalmente nós que estamos no Parlamento e que queremos
falar com a grande maioria da população brasileira.
A TV digital, no Brasil, tem essa novidade, o Ginga, que nada mais é do que
interatividade. É podermos ter a participação da população brasileira nas atividades
do Congresso Nacional.
O objetivo do projeto está claro: melhor qualidade de imagem, de áudio,
multiprogramação e interatividade. Teremos uma imagem digital limpa; o analógico é
aquele quadradinho; o digital expande a imagem, é widescreen.
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Aqui, temos a multiprogramação. Podemos colocar quatro conteúdos
diferentes, 24 horas, num mesmo segmento de espectro, em 6 mega-hertz. Já se
diz, conforme alguns estudos, que pode ser até em 5 canais, 6 canais. Os japoneses
nos asseguram que poderá...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Pimenta) - Por exemplo, a Câmara
poderá transmitir quatro Comissões ao mesmo tempo, num mesmo canal.
A SRA. SUELI NAVARRO - Num mesmo canal.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Pimenta) - O cidadão vai poder, da
cada dele, escolher qual dos programas quer acompanhar. Ele terá condições de
fazer a sua opção.
A SRA. SUELI NAVARRO - Exatamente. Coloca-se no ar, ao mesmo tempo,
ao vivo, a Comissão de Legislação Participativa, onde está havendo um debate, e
outras comissões. Hoje, não podemos fazer isso; no canal analógico, temos um
segmento só. Temos que tirar aquela programação que está ar para substituí-la por
outra. Atualmente, à tarde, fazemos a opção pelo Plenário, e o cidadão vai ver o
Plenário; ele não tem como assistir a outros debates que estão ocorrendo nas
Comissões, e ele pode estar interessado, por exemplo, num debate sobre
reformulação das universidades brasileiras, ou, então, sobre legislação de
comunicação. Conhecemos bem a Câmara e sabemos que, pela manhã, há 20
Comissões discutindo os mais variados temas; é um fórum de debates muito rico, e
não temos condições de mostrar à população brasileira todo o trabalho que se
desenvolve na Casa. A multiprogramação é um grande passo. A multiprogramação
e, depois, a interatividade, porque aí o cidadão vai poder conversar com os
Parlamentares.
Outro ganho importante é a portabilidade. Acho extraordinário esse ganho,
esse salto. O futuro, vemos em todos os países, é isso mesmo: as pessoas gostam
de falar por celular. E é interessante ver que em outros países o sinal é bom, seguro,
tão forte quem mesmo num túnel debaixo do mar, ele não some.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Pimenta) - Para o telespectador
entender. Com a TV digital, ele vai poder acompanhar a programação ao vivo do seu
celular, em tempo real, quebrando essa barreira que existe hoje de ele só poder
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assistir no seu aparelho de televisão. No computador, no celular, no iPad, ele vai
poder assistir à TV digital em qualquer canal de TV digital.
A SRA. SUELI NAVARRO - Em qualquer lugar. Se ele quiser ver futebol,
poderá fazê-lo. Cito o futebol porque é muito popular no Brasil, e às vezes as
pessoas lamentam: “Puxa, Corinthians está jogando” — eu sou paulista — “ e eu
tenho que pegar o ônibus para ir para casa”. No futuro, ele vai pegar o celular dele,
que quase todo mundo já tem — é um pouco caro hoje, mas o preço dos produtos
tecnológicos cai, ainda mais quando popularizarmos no Brasil a TV digital —, e vai
ver o jogo enquanto se desloca para casa. Isso porque ele carrega a televisão
consigo. É a portabilidade, que foi um ganho também, do modelo japonês. Foi muito
discutido no Brasil por que adotamos esse modelo, houve um pouco de
incompreensão, mas havia ganhos.
Ali temos a interatividade. Clicando no ícone da TV Senado, o que vamos
ver? “Senado realiza sessão em homenagem a Barack Obama.” Vamos supor que o
Deputado Paulo Pimenta esteja na tribuna fazendo um discurso, ou defendendo um
projeto. O cidadão clica no Deputado e poderá ter acesso a uma bibliografia, ou aos
projetos que ele apresentou. São aplicativos que ainda vamos desenvolver, em
alguns programas.
Só há um “porém” na interatividade, mas acreditamos que é uma questão
tecnológica que vamos vencer num curto espaço de tempo: o canal de retorno, que
pensamos fazer pela banda larga. Então, o Plano Nacional de Banda Larga — PNBL
é muito importante, porque queremos usar o canal de retorno pela Internet. O
cidadão poderá fazer uma pergunta ao Deputado, que está debatendo ou fazendo
uma exposição, e terá a resposta do Deputado ao vivo.
Para o cidadão e para a democracia brasileira, trata-se de um ganho
inigualável. É um salto para a democracia, um fortalecimento incrível, porque, hoje, a
grande maioria reclama que não consegue acompanhar o Parlamento..
Com a interatividade, poderá haver enquetes: “Você é favorável à aprovação
dessa medida, sim ou não?” E há várias outras coisas que poderemos fazer.
A ideia nossa, da TV Câmara — e conversamos muito com as TVs públicas
no Brasil — é universalizar o sinal. Hoje, o sistema é caro, porque é uma coisa nova.
Queremos universalizar o sinal e chegar aos 5.500 Municípios. A ideia é chegar a
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todos eles, tenham 2 mil habitantes ou 10 mil habitantes. Queremos chegar a todos
os cidadãos brasileiros. Atualmente, para nos ver, o cidadão precisa pagar, e é um
direito dele o acesso à informação. A frente da democratização da informação já
está discutindo isto: é um direito do cidadão ver a TV Câmara, ver os Deputados
discutindo sem pagar nada. É direito dele ter essa opção, e não lhe é dada essa
opção, hoje, no Brasil.
Então, é uma grande luta nossa, é uma grande luta da Câmara dos
Deputados transformar a TV digital da Câmara dos Deputados em aberta, assim
como todas as TVs públicas no Brasil
Para terminar, temos também, com o Governo, um projeto de operadores de
rede, que é um pouco europeu — foi um sucesso lá — e japonês também: é um
operador único de rede. Nós, que fazemos televisão no Brasil — e hoje fazemos
televisão pública —, íamos nos preocupar com produção de conteúdo. Quem iria
levar o nosso sinal à população brasileira seria uma operadora. Faríamos uma
licitação por meio de uma PPP — Parceria Público-Privada e pagaríamos um
empreendedor para levar o nosso sinal a 5.500 Municípios. Essa é a ideia do
operador de rede que estamos discutindo com o Governo, ideia esperamos pôr em
prática este ano.
Muito obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Pimenta) - Muito interessante, de fato,
o tema Operação de Rede de TV digital no Brasil. Agradeço à Sueli Navarro,
Secretária de Comunicação da Câmara dos Deputados, a sua exposição.
Vou passar a palavra de imediato ao Sr. Paulo Henrique Araújo, do Centro de
Informática da Câmara dos Deputados — CENIN, que falará sobre Dados Abertos.
Na realidade, fala-se muito em transparência do poder público, e a Lei de
Responsabilidade Fiscal também trata disso, mas, muitas vezes, a sociedade civil e
a imprensa se queixam de que não conseguem interpretar os dados que são
disponibilizados, porque estão num formato que ninguém consegue entendê-los
direito. O que é esse tema Dados Abertos? Como vocês estão construindo, na
Câmara dos Deputados, o desenvolvimento tecnológico para poder chegar a esse
ponto?
O SR. PAULO HENRIQUE ARAÚJO - Obrigado, Sr. Deputado.
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Bom dia a todos.
A sensação inicial que se tem quando se ouve falar em dados abertos em
relação ao poder público é de quebrar informações que de alguma forma são
sigilosas, informações que não são expostas para a população.
(Segue-se exibição de imagens.)
Um dos componentes dos dados abertos — e o tema vai além disso —
abrange um pouco o que o Deputado abordou na introdução, pois permite que
pessoas façam leituras diferentes das informações de que dispõem. Ou seja,
permite que as pessoas integrem informações que estão dispersas em órgãos
diferentes ou que possam fazer uma avaliação sob um aspecto diferente do que foi
imaginado pelo órgão.
Se olharmos a conceituação de dados abertos, verificaremos que, primeiro,
existe a preocupação de que se precisa disponibilizar os dados num formato aberto,
num formato acessível a toda a população. Então, isso passa pela questão do sigilo.
Um órgão público — especificamente sobre dados abertos, vou focar órgãos
públicos, apesar de que isso se aplica também a entidades privadas —, ter
informações que não possa disponibilizar para a população. Além disso, não adianta
disponibilizar essa informação se ela não estiver num mecanismo que seja
acessível. Não adianta, por exemplo, imprimir um relatório e deixá-lo disponível nas
portarias da Câmara dos Deputados, em Brasília, e esperar que as pessoas venham
até aqui buscá-lo. A informação tem de estar próxima delas, de alguma forma.
Temos de fazer a informação chegar a todo o País, que é continental. Temos de
buscar meios para fazer com que isso aconteça, e fazer isso de forma que permita
às pessoas gerar novos significados. Não adianta dar a informação com o viés que
interessa ao órgão entregar. Ele precisa disponibilizar a informação e permitir que as
pessoas possam inclusive estender o que produz.
Sou da área de TI da Câmara dos Deputados, e a nossa demanda por
produção e prestação de informações para a sociedade é muito grande. Já temos
vários serviços de transparência pública, já disponibilizamos um volume muito
grande de informações. No entanto, por vezes, não podemos atender a todos os
anseios da sociedade e da Casa no que tange à forma de disponibilizar essa
informação e de integrar essas informações com informações de outros órgãos que
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atuam de forma complementar à Câmara. Essa é a visão que tem sido discutida e
que tem sido cobrada dos orgaos públicos: entregar os dados de forma que eles
possam ser reaproveitados de outra forma.
Para dar alguns exemplos, pensemos numa cidade. Aqui, no caso, será
Amsterdã. Essa é a visão de uma região de Amsterdã, sobre a qual se poderia
construir um aplicativo baseado em informações, por exemplo, do mapa do
município, em informações obtidas de máquinas de busca que me dessem a
localização de pontos turísticos, restaurantes e hotéis, para eu compor uma solução
que eles chamam de realidade expandida. Num dispositivo móvel, um celular, por
meio de um GPS, juntamente com essas informações que eu coletei de órgãos
públicos ou mesmo de entidades privadas, eu poderia compor a informação que eu
tenho ali para poder dar orientação para uma pessoa que está caminhando naquele
local.
Aí um outro exemplo. Esse é um serviço brasileiro desenvolvido por alguns
dos membros de um grupo de São Paulo chamado Transparência Hacker. Eles
fizeram o seguinte: a Prefeitura de São Paulo tem um site chamado Serviço de
Atendimento ao Cidadão — SAC/SP, que recebe reclamações do cidadão sobre
toda a cidade. Esse grupo desenvolveu uma solução que, capturando informação
desse site, permitiu mostrar os rankings, os temas mais abordados, as reclamações
mais frequentes num determinado período de tempo. Dado um determinado
assunto, pode-se saber quais são as regiões da cidade às quais esses temas são
mais afetos e sobre os quais há maior interesse.
Aqui, de novo: essa era uma informação que estava pública, disponível num
site público, mas que foi trabalhada com uma visualização diferente. Ela, inclusive,
agrega e complementa o trabalho do poder público. Talvez, dentro do poder público,
isso fosse demandar um tempo muito maior para ser desenvolvido. O fato de a
informação estar disponibilizada, aberta, permitiu que isso acontecesse.
W3C: órgão que define as regras e padrões para a Web no mundo; define o
que são dados abertos e apresenta três leis consideradas fundamentais. A primeira
é a seguinte: se o dado não pode ser indexado e encontrado na Web — esse órgão
é explícito em dizer da Web, porque entende a Web como o canal que vai dar
acessibilidade — não é um relatório que vai estar na portaria da Câmara dos
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Deputados —, porque está disponível num ponto e consegue ser acesssado de
qualquer lugar — então, não existe. Ele está na Web, mas está num formato que eu
não consigo indexar. Por exemplo, eu emito um relatório — vou insistir neste
exemplo —, mas eu o publico como uma imagem que eu não consigo indexar,
porque não consigo retirar da imagem o seu conteúdo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Pimenta) - O pessoal fala muito,
Paulo, dos relatório que estão em PDF.
O SR. PAULO HENRIQUE ARAÚJO - Sim, o PDF tem variações. O problema
é que, muitas vezes, o PDF encapsula uma imagem dentro dele. Se eu tenho um
PDF com texto, eu consigo indexar e ler. É mais difícil do que o formato padrão da
Web, que é o HTML; é mais complicado de conseguir indexação, mas é viável.
Inclusive, o próprio publicador do conteúdo não tem a noção de fazer em PDF com
indexação. Se fizer em HTML, aumentaria mais o alcance desse formato.
Este é um tipo de discussão que o movimento de dados abertos tem
levantado: qual é o formato de dados que você utiliza para poder entregar para a
população suas informações?
Ainda no estágio anterior, outra coisa que é muito debatida: não adianta a
informação estar aberta e não ser compreensível por máquina. Isso vai entrar na
seguinte situação. Eu tenho no portal da Câmara, hoje, todas as informações sobre
o processo legislativo. Se não existe alguma informação, é porque ainda não
percebemos a necessidade de ela estar publicada lá. Até hoje não tivemos nenhuma
restrição para publicar informação sobre isso, porque temos a área de transparência
e todo o acompanhamento do processo. O portal da Câmara não foi feito para
entregar uma informação para alguém processar fora. Ele foi feito para poder
entragar a informação para um usuário normal, para um cidadão, e não para que
alguém desenvolva uma outra solução e dê uma nova interpretação para aquela
informação. As informações lá estão abertas, estão publicadas, mas não são
compreensíveis por máquina nesse sentido.
Uma outra questão: e se houver qualquer dispositivo legal que não permita a
reutilização dessa informação? Isso depende muito de direitos autorais. Essa
questão se aplica mais fora do Brasil. Hoje, eu não conheço órgão público que
imponha restrições sobre a utilização das informações que publica. Mas em outros
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países isso é muito discutido; e mesmo aqui no Brasil começaram a discutir: “Vamos
publicar informação e definir qual é o direito que a pessoa terá de reutilizar essa
informação e como vai reaplicar”. Hoje, elas são publicadas, e está implícito que a
sua reutilização é livre desde que não gere distorções. Então, esse não é um grande
problema para a gente hoje.
Eles falam em 8 princípios básicos de dados abertos, que deveriam ser
completos.
Primeiro, eu não deveria ter uma solução que entrega só parte da informação.
Por quê? Porque, se eu só entrego parte da informação, não conseguem entender o
contexto como um todo. Eventualmente, pode ser que eu faça uma análise
distorcida da situação porque eu não tenho todo o histórico do que aconteceu, ou eu
não tenho toda a situação. Eu não consigo contextualizar aquilo que está sendo
discutido, aquilo que está sendo abordado.
Que eles devem ser primários. Ou seja, que eu devo dá a oportunidade de as
pessoas poderem recombinar esses dados e apresentar da forma que elas
quiserem. Não deveriam ser dados já formatados para esse tipo...
Outro, os dados devem ser atuais. Ou seja, não faz sentido... O que está na
pauta da Câmara hoje, ou o que está no plenário em discussão, devia ser o que está
publicado, para que essas pessoas pudessem analisar, para que elas pudessem, on
line, se assim for o desejo delas, acompanhar o processo legislativo.
Também, eles devem estar acessíveis de novo. Não basta dizer: “Ah! A
informação está impressa, está aqui na portaria da Câmara; venha a Brasília e retire.
Ou eu gerei um CD, e, se você vier aqui, eu posso lhe entregar, ou eu posso lhe
mandar pelo correio. Quando eu lhe mandar pelo correio, eu vou perder a
temporalidade.” E por aí vai.
Eu quis listar esses princípios para falar um pouco da situação da Câmara.
Hoje, em termos de dados abertos, a Câmara tem duas iniciativas que podem se
encaixar. E eu quero avaliar pela perspectiva desses princípios.
Próximo slide, por favor.
Aqui, para outra aplicação. Eu não sei se vocês conhecem um serviço do
Google, o Google Earth, que faz a combinação de informações de áreas espaciais,
de mapas, com fotos de satélites, para fazer uma composição de ambientes, para
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permitir ao usuário se localizar, para poder navegar pelas coisas. É um outro
exemplo de solução que você pode utilizar para poder implementar com dados
abertos.
Na Câmara, especificamente, temos o portal da Câmara. Olhando para
aqueles princípios — e pegamos os que eu acho que são mais vitais para essa
análise que temos que fazer —, podemos dizer que o portal da Câmara é completo.
Quer dizer, temos todos os dados. Tudo o que acontece aqui está publicado no
portal da Câmara. Então, ele atende bem a esse princípio. Ele é on-line. Esta
reunião está sendo transmitida; este programa está ao vivo pelo portal na Câmara.
Assim como, se estiver ocorrendo alguma outra reunião em outra Comissão,
conseguimos acompanhá-la, conseguimos ver a pauta, observar as discussões que
ocorreram na semana passada. Ele não é discriminatório. Ou seja, ele não exige
que você se cadastre para obter as informações. Ele não é discriminatório, e isto é
importante.
Outro exemplo que eu vou apresentar traz essa restrição. Eu não preciso de
permissão de ninguém para pegar as informações, que são públicas, que estão no
portal da Câmara. É outro ponto positivo.
Agora, legível por máquina. Essa é uma discussão interessante. Digo isso
porque eu mesmo discuto com os militantes de dados abertos. Na prática, ele é
legível com máquina, mas é muito difícil extrair as informações. Ele não está no
formato ideal para permitir a integração de uma aplicação on-line. Consegue-se
extrair os dados? Consegue-se, porque eles são acessíveis, são públicos, estão on-
line; mas a formatação dele poderia ser melhor para que fosse reutilizada por outras
aplicações.
Uma outra deficiência que temos é o uso de alguns formatos proprietários.
Temos alguns casos de PDFs publicados com imagens encapsuladas. Temos
alguns casos de documentos publicados que utilizam formatos proprietários. Até
mesmo o nosso formato de publicação de vídeos não é o mais adequado.
A SRA. SUELI NAVARRO - Eu gostaria de fazer uma pergunta, Paulo.
O SR. PAULO HENRIQUE ARAÚJO - Diga.
A SRA. SUELI NAVARRO - E quanto a esta questão — que é muito
importante, sempre falamos a respeito — de a Câmara abrir todos os seus meios,
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suas informações, tudo o que puder abrir, para a população brasileira? O que a
Câmara tem feito quanto a essas questões? Você, que está lá — sobre essas duas
deficiências —, tem alguma coisa já preparada?
O SR. PAULO HENRIQUE ARAÚJO - Pois é. Em termos de portal da
Câmara, ele atende a esses requisitos. O próximo slide, inclusive, complementa
isso, Sueli. Temos uma outra iniciativa, que é o SIT-Câmara — Serviço de
Integração Tecnológica da Câmara dos Deputados. Vocês vão notar que, por
exemplo, a vantagem que o portal da Câmara tem, por ser completo, ele não tem; a
vantagem que o Portal da Câmara tem, a de ser não discriminatório, ele também
não tem. O SIT-Câmara é feito num formato de web service, que é, digamos, um
canal de integração para aplicações, um canal natural de integração para
aplicações. Ele integra num formato não proprietário, em XML. Então, ele não peca
por aquela questão de proprietário, mas ele é incompleto, só tem parte das
informações. Além disso, ele não é não discriminatório; exige uma autorização de
acesso.
Então, o que eu vejo hoje? Que evolução a Câmara tem que buscar? Temos
que tentar coletar — e é o que temos discutido internamente, inclusive com esses
movimentos de fora — o melhor de cada uma dessas linhas que temos de dados
abertos. Somos incompletos nas duas linhas. Eu tenho um serviço legível por
máquina e que está em formato aberto; mas ele é discriminatório. Eu preciso solicitar
uma autorização para poder ter acesso a esse serviço. Então ele é incompleto. Eu
só tenho parte das informações. Ainda que digam que a parte que está lá é a mais
relevante, tudo bem, ele continua sendo discriminatório. Já o portal da Câmara é
completo.
Então, o próximo passo que temos que dar é pensar o que temos de melhor
nesses dois para tentar completar e oferecer um serviço que seja efetivamente de
dados abertos. O que a Câmara, o que a sociedade tem a ganhar com isso? É
aquele princípio de open mind. Eu não quero acreditar que a melhor visão que
vamos ter das informações que temos na Câmara vai ser elaborada sempre por nós.
Esses movimentos têm trabalhado o seguinte: eles querem a oportunidade de poder
receber nossas informações e gerá-las num formato diferente; de poder
complementar as análises, as avaliações que fazemos aqui dentro, para poder
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estender e integrar as informações que temos às de outros órgãos, como o Senado,
as Assembleias Estaduais, o próprio Executivo; enfim, ampliar o espectro de
informações que poderiam ser tratadas em conjunto.
Era isso. Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Pimenta) - Muito obrigado, Paulo
Henrique Araújo, do Centro de Informática da Câmara dos Deputados, que discorreu
sobre o tema dados abertos.
Vou passar a palavra ao Fábio Luís Mendes, Consultor Legislativo da Câmara
dos Deputados, que vai tratar do tema certificação digital.
Uma das questões que temos destacado, Sueli, nesta iniciativa da Comissão
de Legislação Participativa, nos debates, é a importância da participação dos
servidores da Casa nessas discussões. A Câmara dos Deputados é uma instituição
que tem um número muito grande de profissionais, de várias áreas, com muito
conhecimento, com muito acúmulo teórico. E esta também é uma oportunidade de a
sociedade conhecer um pouco dessa produção, do conhecimento que nós temos
dentro da Casa. Nós queremos valorizar a participação dos nossos servidores, e
ficamos muito felizes quando vemos consultores legislativos, servidores da Casa,
apresentando temas tão atuais e importantes para a sociedade.
O tema certificação digital está hoje na ordem do dia. Queremos entender um
pouco mais, Fábio, o que é essa certificação digital e como esse processo vem
ocorrendo no Brasil.
O SR. FÁBIO LUÍS MENDES - Bom dia, espectadores, Deputado, por meio
de quem cumprimento os outros participantes da Mesa.
É um orgulho participar deste seminário. Minha participação é para tentar
explicar um pouquinho desse conceito de certificação digital, uma tecnologia
sofisticada, que pode ter muita utilidade no sentido de ampliar a participação da
população no processo legislativo. Estamos discutindo hoje muito sobre democracia
direta, que é a participação direta do cidadão nas decisões legislativas, nas
propostas legislativas. Então, minha apresentação é mais ou menos nesse sentido.
(Segue-se exibição de imagens.)
Esta imagem foi publicada originalmente em 1993, na revista The New
Yorker. Apesar de ser uma imagem simples, ela traça o problema da Internet. Na
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Internet, ninguém sabe que você é um cachorro. Quer dizer, a Internet não permite
que se identifiquem as pessoas. Qualquer pessoa pode criar uma conta no
Facebook com o nome de outra e passar a atuar nesse sentido, enganando muita
gente. Esse é o grande problema da Internet. Ela não permite que haja autenticidade
dos dados; não existe identificação.
A certificação digital é um mecanismo tecnológico para corrigir esse
problema, para permitir que você, por meio da Internet, identifique as pessoas e
garanta integridade de dados e, inclusive, não repúdio. Serve, por exemplo, para
evitar que uma pessoa que faça determinada transação ou assine um projeto, dê
apoiamento a um projeto de lei, não possa no futuro falar que não fez isso. Esse é
um dos conceitos.
A tecnologia da certificação digital foi implementada oficialmente no
ordenamento jurídico brasileiro em 2002, com a Medida Provisória nº 2.200-2, que
ainda está em vigor. Ela não foi votada. Houve uma reforma do rito de tramitação
das medidas provisórias, e essa foi uma das que ficou na chamada vala. Ela é
válida. Essa MP criou a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira — ICP-Brasil,
que é um órgão vinculado à Presidência da República. Ela é baseada num conceito
de criptografia. E criptografia é basicamente o quê? Uma forma de embaralhar os
dados para permitir, por exemplo, que você transmita um documento pela Internet
de forma sigilosa — para que esse documento não seja violado — e também use
esse mecanismo para dar autenticidade aos dados.
Existem dois tipos de certificação digital. E vou entrar muito rapidamente
nesses conceitos.
A criptografia de chave simétrica significa basicamente ter o mesmo
algoritmo. A regra que você utiliza para embaralhar os dados é a mesma utilizada
para desembaralhá-los. Isso não permite que você transmita os dados de forma
sigilosa através da Internet. Isso porque, para fazer a negociação entre quem está
transmitindo e quem está recebendo, você teria que transmitir a chave, e aí qualquer
pessoa que tivesse acesso à Internet teria acesso a isso. O dado não seria sigiloso.
A grande inovação é a criptografia de chave assimétrica. A diferença em
relação à criptografia de chave simétrica é que você tem duas chaves; você tem
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uma chave que encripta os dados, e, para abri-los, você tem uma outra chave. E
elas são relacionadas matematicamente.
Aí, o que acontece? Na realidade, o que faz a certificação digital, a
Infraestrutura de Chaves Públicas? Uma dessas é a chave pública, e a outra é a
privada, que só a pessoa tem. O que as pessoas conhecem, o que veem no seu
computador e no seu celular é isso aí. Isso é um certificado digital. Ele já contém
uma chave pública, uma chave privada, a correlação matemática entre essas duas
chaves. Da mesma forma que, por exemplo, acredito, um CPF emitido pela Receita
Federal. E, porque é uma instituição brasileira, a certificação digital, no meio digital,
também tem essa cadeia de confiança. No caso, as autoridades certificadoras que
nós temos são a Presidência da República, a SERASA, a Secretaria da Receita
Federal, a Caixa, entre outras. São essas as instituições que garantem essa cadeia
de confiança. Então, essas autoridades certificadoras são elementos dentro da
Internet. A Presidência da República é a principal delas. Enfim, elas garantem a
confiabilidade dos dados.
Hoje, por exemplo, quem tira o e-CPF, fornecido pela Receita Federal, já tem
um certificado digital, uma assinatura digital, o que permite que as pessoas se
identifiquem através da Internet. Um outro mecanismo, que é a nova identidade, o
novo registro civil único, também prevê uma certificação digital. Quer dizer, ele vai
ser válido tanto no meio físico, para fazer compras, quando temos que apresentar a
nossa carteira de identidade, como também no meio digital.
Acontece que um dos elementos de democracia direta que nós temos na
nossa Constituição é exatamente a possibilidade de a população poder apresentar
um projeto de lei, sem depender de um Parlamentar. A população, a sociedade civil
organizada, pode apresentar um projeto de lei a ser apreciado pelo Congresso
Nacional.
Vejam. Esta é uma foto do Projeto de Lei Ficha Limpa. Foram mais de 1
milhão de assinaturas de apoiamento popular. Esse é um processo muito
complicado porque as pessoas... Se algum movimento organizado na sociedade
quiser apresentar uma proposta, é preciso primeiro se organizar nos Estados para
coletar 1 milhão de assinaturas, que precisam depois ser conferidas. Enfim, é um
processo extremamente complicado e não efetivo. Então, nós temos um comando
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na Constituição claramente de democracia direta, que é a legislação popular, o
projeto de lei de iniciativa popular; porém, ele não tem efetividade, pois é muito difícil
fazer coleta de assinaturas e, depois, fazer a consulta.
Então, o que é a nossa proposta? É uma proposta que, acho, está sendo
discutida no âmbito da reforma política — e a Câmara dos Deputados a está
discutindo —, para permitir que as pessoas utilizem a Internet para dar apoiamento a
projetos de lei de iniciativa popular. Agora, há o problema da identificação. Tem de
haver um mecanismo que garanta ser aquele cidadão ele mesmo e que não haja um
robô fazendo 100 mil, 200 mil assinaturas, aleatoriamente, pegando dados, enfim. E,
para isso, um dos mecanismos é a certificação digital, que garante ser a pessoa
aquela pessoa. Então, se a Câmara dos Deputados tiver (e é isso que está sendo
discutido) um sistema que utilize a certificação digital para permitir o apoiamento a
projetos de lei de iniciativa popular, o que aconteceria? A sociedade poderia
apresentar um projeto de lei, e os cidadãos entrariam pela Internet e dariam o seu
apoiamento. A partir do momento em que houvesse a quantidade regimental, por
exemplo, 1 milhão de assinaturas, o que pela Internet é muito fácil (se o projeto tem
apoio popular, é fácil conseguir até mais do que isso), o projeto passaria a tramitar,
passaria a ser discutido no Parlamento.
Esse é um grande desafio. O problema é que a certificação digital não está
universalizada. A gente só tem entre 300 mil a 400 mil certificados digitais, hoje, no
País. Por quê? Porque não há muitos serviços que usam isso. Então, as pessoas
não têm incentivo para comprar uma certificação digital, gastar dinheiro, enfim.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Pimenta) - Só para a gente entender,
Fábio. Por exemplo, foi de autoria da Comissão de Legislação Participativa a
iniciativa do projeto de lei que informatizou o Poder Judiciário. O primeiro projeto foi
da Associação dos Juízes Federais. Então, hoje é possível peticionar no Supremo
Tribunal Federal, no Superior Tribunal de Justiça, 7 dias por semana, 24 horas por
dia. O advogado não precisa mais se deslocar até Brasília. Através da certificação
digital, da assinatura digital, o Poder Judiciário já recebe petições.
Hoje, o cidadão faz, por exemplo, a sua declaração do Imposto de Renda pela
Internet. Isso mudou completamente os conceitos. Hoje, o cidadão movimenta a sua
conta bancária pela Internet. Tanto a declaração do Imposto de Renda como a
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movimentação bancária são atos jurídicos, digamos, até mais complexos, por
exemplo, do que o apoiamento a um projeto de lei de iniciativa popular.
Pergunto: a Câmara tem condições técnicas de viabilizar a possibilidade real
de assinatura do cidadão a um projeto de lei de iniciativa popular através da
Internet?
O SR. FÁBIO LUÍS MENDES - Deputado, eu acredito que sim. O ideal seria
usar a certificação digital, porque é um mecanismo legal e está previsto na Medida
Provisória 2.200-2. Acontece que, como a certificação digital não é universalizada
entre a população, isso cria um óbice. Como a gente vai criar um sistema se a
população não tem o mecanismo? Na minha opinião, é exatamente o que o senhor
perguntou, ou seja, se a Câmara poderia viabilizar um sistema alternativo que não
fosse como iniciativa popular, mas um sistema como o da Receita Federal, que
recebe as declarações, ou dos bancos, para permitir uma maior participação da
população. Eu acredito que seria... O meu próximo slide é exatamente sobre isso.
Então, vamos passar direto para a imagem.
Eu acredito que a Câmara dos Deputados deveria prover o sistema. A
Câmara deveria ter um sistema em que as pessoas — que eventualmente poderia
até ser no âmbito do Democracia — pudessem chegar à Câmara, apresentar o seu
projeto e, depois, correr atrás do apoiamento por meio das redes sociais, etc.
Para o cidadão poder dar apoiamento, eu acho que a Câmara poderia, por
exemplo, criar um cadastro que tivesse dados do título de eleitor e do endereço,
para poder ter aqueles requisitos. Não iria precisar de usar a certificação digital. A
pessoa usaria esse cadastro da Câmara. É lógico que esse cadastro com dados
sigilosos teria de ser protegido, para não haver vazamento de dados. A gente sabe
que em 10 anos o novo registro civil estará universalizado, mas durante esse
período poderia ser usado um sistema alternativo para permitir à população que dê
apoiamento a esses projetos de lei. Com uma resolução da Câmara eu acho que a
gente conseguiria isso, que seria um ganho muito grande para permitir a
participação da população de forma direta. Eu acho que esse seria um ganho
enorme para a democracia brasileira, para o cidadão poder sentir que está
conseguindo isso.
A SRA. SUELI NAVARRO - É muito cara a certificação?
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O SR. FÁBIO LUÍS MENDES - Hoje, a certificação é cara. Ou melhor, não é
que seja cara, porque ela custa em torno de 100 reais. Acontece que ela não tem
utilidade. Então, as pessoas não vão pagar 100 reais por ano por isso apenas.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Pimenta) - Como a Receita Federal,
por exemplo, não exige, não tem por que o cidadão fazer.
O SR. FÁBIO LUÍS MENDES - Exatamente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Pimenta) - A Sueli falou, por exemplo,
sobre a banda larga. Agora vai voltar aqui o tema da banda larga. Então, na medida
em que essas ferramentas forem chegando ao cidadão de maneira mais efetiva e
mais barata, a tendência verificada em outros países é de que a certificação digital
também vá se universalizando, não é?
O SR. FÁBIO LUÍS MENDES - Exatamente. Eu acho que a certificação digital
é o ideal. Mas, como não a temos, podemos criar um outro sistema aqui na Câmara
que seja barato e ao qual a pessoa tenha acesso simples, bastando ter nome,
endereço e título de eleitor. A Câmara faria um cadastro e, assim, a pessoa poderia
dar o apoiamento a um projeto de lei. Assim seria muito mais simples.
É um sistema barato e muito fácil de ser implementado tecnicamente. Haveria
alguns requisitos de segurança, etc. e tal, mas que permitiria a ampliação da
participação da democracia direta.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Pimenta) - Obrigado, Fábio.
Na realidade, o Presidente Marco Maia criou um grupo de trabalho na Casa
que está exatamente discutindo a possibilidade de nós ampliarmos aquilo que o
Constituinte de 1988 criou. O projeto de lei de iniciativa popular surgiu na
Constituição de 1988 como uma grande novidade, uma grande inovação. Mas
naquela época não existia Internet; naquela época não existiam as ferramentas que
hoje podem ser disponibilizadas. E nós, nesse grupo de trabalho, pretendemos
apresentar alternativas e soluções que tenham por objetivo facilitar a participação do
cidadão no processo legislativo.
Com a palavra o Prof. Wagner Meira Júnior, Professor da Universidade
Federal de Minas Gerais, que desenvolveu o Observatório da Web, uma experiência
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que procura, de maneira pioneira, fazer o acompanhamento daquilo que está sendo
produzido e divulgado em tempo real nas mídias sociais.
É um prazer ter a sua participação, professor. Nós gostaríamos de conhecer
um pouco mais do trabalho do Observatório da Web, que está sendo desenvolvido
em Minas Gerais.
O SR. WAGNER MEIRA JUNIOR - Bom dia a todos. É um prazer, uma
satisfação muito grande estarmos aqui hoje. Agradecemos à Comissão de
Legislação Participativa o convite, e cumprimentamos os membros da Mesa.
Apenas para situar, nós fazemos parte do Instituto Nacional de Ciência e
Tecnologia, um dos 120 institutos contratados recentemente pelo CNPq e pelas
agências de pesquisa estatuais.
Um diferencial importante do trabalho que nós temos tentado realizar lá é uma
visão integrada da Web, não apenas no contexto de como os sistemas sociais
interagem através da Web, mas também as plataformas tecnológicas e a própria
infraestrutura que há por baixo disso.
Achei interessante dar este contexto exatamente porque acho que eu sou o
único aqui na Mesa que não é da Casa. Então, talvez o meu discurso seja um pouco
diferente, ou seja, mais de pesquisa, mais acadêmico.
(Segue exibição de imagens.)
A provocação inicial que eu gostaria de colocar é que nós falamos muito do
uso da Web, da Internet, e é importante que nós voltemos 20 anos para verificarmos
o que aconteceu nesses 20 anos e como a Web, que inicialmente era uma biblioteca
digital — ou seja, foi simplesmente projetada para ser um repositório de informações
—, passou a ser um instrumento de interação social.
Esta figura que eu coloquei aí é exatamente para dar uma medida da
efervescência que aconteceu nos eventos recentes no Oriente Médio e nas
discussões que ocorreram. As coisas em azul são em língua inglesa; as coisas em
vermelho são usuários em língua árabe e como eles interagiram e se influenciaram
mutuamente na construção e na articulação desse movimento que eclodiu no
Oriente Médio recentemente.
A gente fala de observar a Internet, de entender o que está acontecendo, mas
isso sempre foi um desafio. Então, essa figura, por exemplo, é a representação do
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tráfego que existe na rede mundial entre os vários canais e os vários lugares.
Tecnicamente, é um problema insolúvel tirar uma foto da Internet em dado instante.
Se observarmos as máquinas que compõem a Internet, que seria um ambiente até
mais amistoso, que seria um problema complicado, capturar as interações sociais é
um desafio ainda maior. Embora não seja possível ver, esta é uma das redes sociais
mais antigas já mapeadas. Aquele nó maior, ali no meio, representa Jesus Cristo. E
aí já se tem toda a interação, toda a complexidade da interação que há por trás do
contexto das redes sociais, o que agora vem sendo devidamente instanciado,
utilizando-se a Internet.
Por que é difícil observar a Web? Porque os números são muito grandes. São
números impressionantes e que crescem continuamente, seja em termos de
usuários, seja em volume de informações, seja quanto a vários objetos multimídia,
eis que o tratamento hoje em dia tem sido muito limitado, como é o caso de fotos e
vídeos.
O ponto em que nós, como instituto de pesquisa, nos inserimos, é este: as
tecnologias correntes estão aquém da demanda. E acho que aqui cabe um
parêntese, que é o grande motivador para o nosso trabalho. Se nós pegarmos o que
foi a tônica da Web até este momento... Vocês se lembram de que, inicialmente, a
Web, na condição de uma biblioteca digital, era um instrumento de registro. Havia
aquela figura da homepage, da página pessoal, em que a pessoa colocava quase
que um curriculum vitae dela; ou seja, você é o ser, o que você é. E nós vemos uma
transição hoje representada pelas redes sociais, onde o estar se torna muito mais
importante. Então, quando você vê um perfil numa rede social, um perfil no Twitter,
você não sabe o que aquela pessoa é, mas está interessado no que ela está falando
naquele momento. E quando nós olhamos as ferramentas disponíveis para tratar a
Web hoje dia, vemos que elas têm muito a lógica de uma foto. Então, quando nós
trabalhamos, por exemplo, com a máquina de busca, o que ela faz é ampliar
pedaços da foto que tirou a respeito da Internet. Vejam que as máquinas de busca
não trazem muito a data em que aquela informação foi coletada ou quando ela foi
produzida. Quando nós olhamos as redes sociais e a efervescência que há por trás
de eventos, como aquele no Egito que eu mencionei, o que nós queremos não é ver
a foto, mas o filme, a dinâmica, ou seja, o filme que está passando e como essas
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coisas vão formando um novo contexto, uma nova posição da sociedade como um
todo. E nesse cenário existe toda uma carência, existe toda uma demanda pela
construção de novas ferramentas que capturem essa dinâmica.
Então, essa é a lógica que está por trás do Observatório da Web; ou seja, nós
temos, com missão, tentar transformar, em tempo real, grandes volumes de dados
em informações. E os cenários que escolhemos são, em geral, de relevância social
e que buscam trazer essa informação tão instantânea quanto possível.
Um dos observatórios que instanciamos no ano passado e que tem mais
proximidade com a atuação legislativa e a legislação participativa é o Observatório
das Eleições Presidenciais. Então, fizemos o acompanhamento em tempo real da
visibilidade dos candidatos a Presidente em 2010 em meios mais tradicionais de
notícias, como portais e jornais, blogs e rede social do Twitter.
Talvez a maior virtude desse Observatório das Eleições era prover uma visão
integrada de mais de 100 fontes de informação, provendo sumários quantitativos,
analisando o teor e o sentimento do conteúdo e também das interações que se
estabeleciam em torno daquela campanha presidencial.
Essa é a figura da entrada do portal, que está disponível para acesso, e
mostra, como falávamos tanto, notícias, vídeos, páginas, Twitter. Vou aproveitar e
detalhar alguns aspectos interessantes que pudemos observar durante esse
trabalho.
Essa é uma parte que chamamos de mídias e temas e que pega todas as
informações vindas de portais, blogs, revistas, jornais, sites dos próprios partidos ou
dos candidatos. Nós capturávamos e classificávamos esse conteúdo de acordo com
o assunto.
Esse gráfico mostra a efervescência dos debates nesses vários canais a
respeito do aborto. Inclusive, tem uma notícia retirada de um jornal mencionando a
posição da candidata Dilma, na época, sobre a questão do aborto. A segunda curva
mostra quanto o candidato José Serra era citado naquela mesma época, quando se
falava desse assunto.
Outra visão que trazíamos, apenas mais ilustrativa, é que colocávamos as
menções que apareciam no Twitter em tempo real e georreferenciadas, podendo-se
observar onde os usuários daquela rede social estavam e que tipo de manifestação
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faziam. Na verdade, isso para nós era um exercício interessante, e que hoje, por
exemplo, pode ser acompanhado no Observatório da Dengue, funcional neste
momento, no sentido de mostrar que, em questões de minutos, conseguimos ir
desde o momento em que a pessoa posta a informação até quando já tenha sido
processada e apresentada pelo Observatório.
Esse é um sumário da visibilidade dos vários candidatos em vários portais de
notícia, mesmo os on-line, como o UOL, e vários outros jornais e revistas,
dependendo do número de menções que apareciam aos candidatos em cada um
dos portais, seja por mídia, por personalidade, e por vários granulações de tempo.
Mas o que achamos mais interessante é a possibilidade de acompanhar o que está
acontecendo em tempo real.
Então, esse é um exemplo que gosto de mostrar e que aconteceu durante o
debate entre os candidatos à Presidência na TV Canção Nova e Rede Aparecida. É
um debate que acredito que não tenha tido audiência muito grande em termos de
TV, mas que trouxe um aspecto muito interessante.
Está realçado o momento em que houve um pico combinando a candidata
Dilma Rousseff e o candidato Plínio de Arruda Sampaio. Focamos nos quatro
candidatos que tinham participação legislativa, a exemplo dos vários canais de
comunicação. Uma pergunta importante: temos de entender por que isso aconteceu
de repente, no meio do debate, quando houve essa subida súbita de informações.
Quando olhamos o que estava circulando na rede, percebemos o que aconteceu
naquele momento. Nesse debate, em particular, a candidata Dilma não participou,
enquanto os outros três candidatos compareceram. Em algum momento, alguém
pautou ao candidato Plínio que a candidata Dilma, apesar de não ter ido ao debate,
estava postando mensagens no Twitter. Ele se utilizou disso para criar uma
situação, e ela teve uma reação imediata nas redes, como podemos ver pelas frases
que foram mais frequentemente mencionadas pelos vários usuários do Twitter.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Pimenta) - Só para as pessoas
poderem entender, Wagner, ao mesmo tempo em que o debate estava sendo
passado ao vivo, vocês monitoravam, por meio do Observatório, a movimentação
das redes, a forma com que aqueles nomes iam sendo citados e o conteúdo
agregado a cada citação.
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O SR. WAGNER MEIRA JUNIOR - Exatamente. E nós sumarizávamos essas
frases mais frequentes, em tempo real, minuto a minuto. Do ponto de vista histórico
e de resgate, ao repassar esse debate, vemos exatamente quais foram os tópicos
mais referenciados, as discussões mais efervescentes e como aquilo se refletiu nas
redes sociais e na população como um todo.
Uma outra técnica que também aplicamos no Observatório das Eleições é a
questão da análise dos sentimentos. Então, pegamos todo o volume de informações
gerado a respeito dos candidatos nas redes sociais e aplicamos um conjunto de
técnicas para tentar categorizar se aqueles menções eram positivas ou negativas
aos candidatos. Então, a despeito do volume de menções, que não é o que estamos
mostrando aqui, conseguimos perceber que os quatro candidatos já citados se
organizavam de uma forma muito clara ao longo do tempo. Vejam que estamos
falando de alguma coisa como centenas de dias.
O candidato cuja curva é mais positiva, que está acima, a curva amarela, é o
candidato Plínio, seguido da candidata Marina, do candidato Serra e, finalmente, da
candidata Dilma, que teve um número de menções negativas muito maior do que os
outros candidatos, como podemos ver. Enquanto isso, o candidato Serra teve um
numero mais ou menos parecido, e fomos atrás para descobrir o que motivava isso.
A eleição do ano passado, na Internet, foi muito peculiar. Várias pessoas
especulavam que seria parecida com as eleições nos Estados Unidos. Mas
realmente não aconteceu nada próximo ao que havia acontecido naquele país.
Essa técnica de análise de sentimentos é inovadora, no sentido de que
observa somente o que a pessoa manifesta, mas também olha para o que aquela
pessoa manifesta apoio, para quem normalmente ela dá apoio, e como faz isso.
Então, mesmo que nunca tenha postado nada, pela simples participação dela na
rede, eu consigo saber qual o viés dessa pessoa e qual candidato apoia mais isso
ou aquilo.
Essa figura tem tanto bolinhas brancas como pretas, e a gradação de cinza
mostra usuários da Internet que são apoiadores de mais de um candidato.
Essa aí é uma figura que obtivemos a partir da disputa presidencial no
segundo turno.
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Voltando àquela questão mais negativa que temos a respeito da candidata
Dilma, há um aspecto que pode ser explicado por esse gráfico e essas quatro
curvas. Essas curvas mostram a frequência de participação de usuários que
normalmente apoiavam mais o candidato Serra ou a candidata Dilma e de qual
candidato falavam mais frequentemente. Então, é interessante notar que a curva
mais baixa, em cor lilás, é a daqueles usuários apoiadores do candidato Serra e que
falavam do candidato Serra. Então, os apoiadores do candidato Serra não falavam
muito do candidato Serra.
Por outro lado, a curva mais alta era dos apoiadores do candidato Serra que
falavam da candidata Dilma. As duas curvas intermediárias eram dos apoiadores da
candidata Dilma falando tanto dela quando do candidato Serra. Então, isso mostra
um pouco por que houve aquela desproporção de um número exacerbado de
avaliações negativas da candidata Dilma e um número equilibrado em relação ao
candidato Serra, naquela ocasião.
Isso conseguimos extrapolar, olhando vídeos postados no YouTube. Ou seja,
esse problema de analisar o sentimento de vídeos é muito complicado, porque você
teria que assistir ao vídeo, e a tecnologia existente hoje em dia não é capaz de
permitir muito que você assista a vídeos e interprete-os em tempo real.
Entretanto, usando essa lógica da propagação, conseguimos até entender o
teor do vídeo. Então, em um dado momento das eleições, este vídeo, Top 5 Dilma
Rousseff, era um dos mais populares que circulavam pela Internet. E a pergunta é
esta: esse vídeo fala bem ou mal da candidata Dilma? Quando olhamos quem são
os usuários que mais propagavam esse vídeo, vemos que eram apoiadores do
candidato José Serra. Um número muito pequeno de apoiadores da candidata Dilma
fez a propagação desse vídeo. E isso acontecia na direção contrária também. Foi só
um exemplo que peguei.
A partir dessa concepção, considerando que o vídeo versava sobre a
candidata Dilma, e a maioria dos que divulgaram esse vídeo era de apoiadores do
candidato Serra, nós podemos dizer que esse vídeo tinha uma conotação negativa
em relação àquela candidata. Mas isso aconteceu em ambas as direções — não
quero ser partidário aqui em relação a esse processo.
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Uma última técnica muito interessante mostra como a cultura brasileira dá um
perfil diferenciado para a utilização da Internet. É o que chamamos de análise de
propagação. Esse gráfico mostra a rapidez de propagação de uma mensagem na
rede social Twitter que dizia que o Plínio era uma espécie de tartaruga. Vemos que,
ao longo de 4 minutos, isso alcançou mais de 70 mil pessoas na rede social Twitter.
A pergunta que a nossa análise de propagação tenta responder é esta: quem
é aquele usuário que fez saltar de 17 mil, 18 mil para 40 mil em 2 minutos ou
menos? Vou dizer para vocês que é a aquela coisa da cultura. O maior formador de
opinião durante as eleições, aquele que, ao propagar suas mensagens, alcançava o
maior número de usuários mais rapidamente, era o site Kibe Loco. É um traço
cultural do Brasil essa questão da piada, de fazer troça de tudo, e isso, nas eleições,
foi muito presente.
Mesmo em contextos muito mais sérios, isso é uma coisa comum. Por
exemplo, temos desenvolvido recentemente o Observatório da Dengue. Procuramos
saber como a população percebe a epidemia de dengue, e 20% do que capturamos
é piada. Isso é algo comum mesmo para assuntos muito mais sérios, como epidemia
de dengue.
O nosso trabalho continua. Temos outros observatórios que estão em
desenvolvimento, sobre o campeonato brasileiro, a questão da segurança pública e
do trânsito e também novas técnicas, considerando-se segmentação social, a
definição do perfil desses usuários, a partir da sua manifestação e da detecção de
quem são os maiores formadores de opinião.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Pimenta) - Muito obrigado, Prof.
Wagner. Realmente é um trabalho muito interessante que está sendo desenvolvido
no Observatório da Web. Quero dizer que vamos contar muito com vocês, professor,
porque estamos trabalhando aqui na Câmara para lançar um concurso de aplicativos
que vai servir para o e-Democracia e também para os canais de comunicação da
Casa.
Quero agradecer a participação à Sueli Navarro, Secretária de Comunicação
da Câmara dos Deputados, que nos falou sobre operação de redes na TV digital; ao
Paulo Henrique Araújo, do Centro de Informática — CENIN da Câmara dos
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Deputados, que conversou conosco sobre dados abertos; ao Fábio Luis Mendes,
consultor legislativo, que nos trouxe outro tema extremamente atual, a certificação
digital, e ao Prof. Wagner Meira, nosso convidado que, como ele mesmo disse, é o
único da Mesa que não é servidor de carreira do Poder Legislativo. Seja muito
bem-vindo. Obrigado por sua participação. É professor da Universidade Federal de
Minas Gerais e nos trouxe um estudo sobre o Observatório da Web.
Vamos fazer um rápido intervalo e depois voltar com a segunda Mesa de
hoje, com a participação do Deputado Miguel Corrêa, Ouvidor-Geral da Câmara dos
Deputados, que nos vai apresentar a Ouvidoria Parlamentar da Casa, e de
Getsemane Silva, da Secretaria de Comunicação da Câmara dos Deputados, que
nos vai apresentar os canais de participação da Secretaria de Comunicação da
Câmara dos Deputados.
Rapidamente retornaremos para este debate, promovido pela Comissão de
Legislação Participativa, sobre o tema A Participação Popular no Parlamento no
Século XXI.
(A reunião é suspensa.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Pimenta) - Nós estamos retomando a
audiência pública da Comissão de Legislação Participativa que trata do tema A
Participação Popular no Parlamento no Século XXI.
A Comissão de Legislação Participativa, que neste ano completa 10 anos,
terá durante todo o ano uma programação tratando dos temas relativos à interação
da Câmara dos Deputados com a sociedade.
No próximo dia 15, a partir das 14h30min, no Salão Verde da Câmara, o
Presidente da Casa, o Deputado Marco Maia, fará o lançamento oficial da nova
versão do Portal e-Democracia, que é o portal de interação da Câmara dos
Deputados com a sociedade.
Os vídeos desta segunda edição e também o da edição do dia 24 de maio
último, sobre participação popular, estão disponíveis no canal do YouTube do
e-Democracia, para que sejam acompanhados os debates que estamos realizando.
Esta Mesa terá a participação de Getsemane Silva, da Secretaria de
Comunicação, que falará conosco sobre os canais de comunicação da Secretaria de
Comunicação da Câmara dos Deputados.
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Está aqui também conosco o Deputado Miguel Corrêa, que é o Ouvidor-Geral
da Câmara dos Deputados. A Ouvidoria é um dos principais canais de comunicação
do Parlamento brasileiro com a sociedade. O Deputado Miguel vai nos apresentar a
ideia da Ouvidoria e falar sobre as iniciativas que ele está adotando e levando à
sociedade, na função de Ouvidor-Geral da Câmara dos Deputados.
Iniciamos com o Getsemane. É uma satisfação. A Comissão de Legislação
Participativa quer que a sociedade brasileira saiba quais são os canais e o que há
de novidade na Câmara dos Deputados sobre a questão da participação popular e
na nova programação da Secretaria de Comunicação desta Casa.
O SR. GETSEMANE SILVA - Obrigado.
Bom dia a todos. Bom dia a quem está em casa e a quem está aqui. Bom dia,
Deputados.
Realmente é importante este momento deste seminário, porque a Secretaria
de Comunicação vem, na Câmara, há mais ou menos 13 anos, desenvolvendo
atividades informativas em diversos veículos. Hoje em dia, a gente tem a TV
Câmara, a Rádio Câmara, a Agência Câmara e também alguns outros serviços que
geram informação da Câmara dos Deputados para o cidadão.
Eu costumo dizer o seguinte: quem assiste à programação dos veículos da
Câmara dos Deputados tem um interesse especial. Na verdade, a intenção primária
de todos os milhões de pessoas que assistem à nossa programação, em qualquer
um dos veículos, creio, é participar. Isso para mim ficou muito claro quando a gente
começou a fazer pesquisa de audiência e de perfil de espectador, principalmente da
TV Câmara. A gente começou a perceber que o canal TV Câmara é segmentado.
Mas a segmentação dele não é de escolaridade nem de renda, é uma segmentação
de interesse nos temas da política, nos temas do cotidiano da política pública e da
política partidária.
Há espectadores da TV Câmara, em qualquer um dos canais, tanto por
parabólica quanto por cabo, de todas as escolaridades e de todas as idades. Não é
um grupo extremamente maior da classe B, por exemplo, que tem acesso à
universidade, ao terceiro grau, não; há uma quantidade significativa de integrantes
das classes D e E, inclusive, que assistem ao canal.
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A partir daí, a gente começou a perceber que esse nosso grupo é um grupo
de interesse. Não é um grupo de renda nem de escolaridade. Qual é o interesse
desse grupo? Participar.
Os canais de comunicação da Câmara dos Deputados têm essa característica
a mais, além de ser um canal de comunicação tradicional, além de levar informação,
além de construir narrativa sobre a informação, é uma porta de participação da
população. Todo o mundo que assiste à TV Câmara está interessado em dizer
alguma coisa.
Outro dia eu conversava sobre isso com alguns outros servidores da Câmara,
e eles confirmaram: “Isso é verdade, sempre que eu assisto à TV Câmara, que eu
vejo um debate, eu quero dizer alguma coisa”.
(Segue-se exibição de imagens.)
Eu vou fazer um pequeno panorama aqui, muito rápido, sobre os canais de
participação popular. Participar, isso era o que eu estava dizendo. Hoje, a audiência
semanal que a gente já tem aferido, apenas no caso da Agência Câmara e da TV
Câmara — quanto à Rádio Câmara, estamos em processo de pesquisa —, é de 6
milhões e 120 mil pessoas, mais ou menos. São pessoas que assistem a esses
canais, que acessam a Agência ou assistem à TV Câmara. São 6 milhões e 127 mil
pessoas que querem participar.
A dificuldade, um pouco, é de tecnologia e, um pouco, de cultura de abrir
caminhos e construir fontes para que essas pessoas efetivamente participem. Para
mim, fica muito claro que todo aquele pessoal quer participar, não quer só sentar na
poltrona, ligar o aparelho na TV Câmara e ficar assistindo ao que está passando.
Hoje em dia, então, para parte desse pessoal, a gente já tem muitas portas
abertas. A gente está abrindo portas. Por exemplo, a Agência Câmara faz uma
enquete principal no site home dela, no site principal dela, sempre tem uma enquete
sobre algum tema que está sendo discutido em alguma Comissão ou no plenário.
Semanalmente há uma enquete diferente. O usuário pode dar a sua opinião. Já é
alguma coisa, é um abrir portas.
Outra coisa que se faz: opiniões para Deputados. Em todas as matérias da
Agência Câmara, o usuário pode mandar um e-mail, opinar diretamente para o
Deputado que está envolvido com aquela matéria, que tenha interesse nela, ou para
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o Relator, ou para o que participou da audiência pública, ou para qualquer Deputado
que foi citado na matéria. Clica-se em “enviar opinião para os deputados”. Também
já é uma janela, digamos, abrindo-se para a participação do usuário.
Também há comentários. Todas as matérias da Agência Câmara têm
comentários. As pessoas podem comentar, dizer o que acham. Esses comentários
geram certa rede, porque quem postou vai ver o que o outro postou, vai concordar
ou discordar. Muitas vezes até o próprio Deputado participa desse comentário, ou a
assessoria dele, ou o consultor legislativo que está trabalhando naquele tema.
Também já é outra janela de participação que se abre.
Temos bate-papos com Relatores. Isso aí já é marcado, é anunciada a data, o
horário. Então, o Relator do tema tal vai estar disponível para bater papo com os
usuários da Agência Câmara naquele momento.
Mais recentemente se começou essa iniciativa de perguntas para audiências
públicas. A audiência pública está acontecendo num plenário de Comissão, e
através da Agência Câmara o usuário da Agência manda perguntas, que são
levadas até a Mesa da audiência pública e podem ser respondidas.
Também temos e-mails e 0800, a ligação telefônica gratuita, para dois
programas da TV Câmara — todos aqueles exemplos que citamos são da Agência
Câmara. Na TV Câmara nós temos dois programas que utilizam esses serviços de
e-mail e 0800, para que a pessoa então participe, mande perguntas para Deputado
ou para entrevistado e participe um pouco daquele debate.
Hoje em dia, nós temos isso. Isso gera o quê? Cerca de 5 mil participações
por mês. Juntando-se todas essas pequenas janelas que a tecnologia nos permite
abrir, são 5 mil participações por mês. É um número considerável. Por outro lado,
são 6 milhões de pessoas nos assistindo. É uma diferença grande, mas o número de
5 mil já é bastante considerável. Se formos pensar em termos de pessoas que vêm
à Câmara pessoalmente, numa terça ou numa quarta-feira, é mais ou menos esse
número, até menos. A depender dos temas que estão em discussão nas Comissões,
vêm mais pessoas ou não. Mas é uma quantidade significativa de pessoas que já
estão participando das informações que a gente disponibiliza para os usuários.
Eu trouxe esse panorama por quê? Neste momento estamos num ponto de
mudança, num ponto de construção de novas pontes. Todo esse processo da
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Comissão de Legislação Participativa, deste seminário, do grupo que está tratando
dessa participação popular digital trata exatamente do quê? De ampliar essas
janelas de participação com novas tecnologias que estão sendo colocadas para a
gente, tecnologia de certificação, por exemplo, tecnologia da TV digital. São
tecnologias novas que chegaram. Mas também de desenvolver uma nova cultura,
uma cultura em relação às pessoas, aos consultores, aos Parlamentares, aos
servidores, a cultura da participação digital. Isso está se colocando para a gente de
maneira muito forte. As pessoas em casa estão bastante interessadas em participar.
Quando a tecnologia permitir que, de 5 mil, a gente parta para 30 mil
participações por mês, o que a gente vai fazer com toda essa participação? Então,
vai aumentar muito o volume de participação, e a gente tem que estar preparado
para isso. Estamos discutindo. As pessoas em casa também podem ficar sabendo
que nós estamos pensando algumas maneiras.
E uma delas é o quê? O próximo passo dessa participação. É isso o que eu
falei para vocês. O que a gente está pensando? A Secretaria de Comunicação já fez
um piloto recentemente. Pegamos o tema reforma política, juntamos todas as
participações feitas sobre o tema reforma política durante 1 mês, fizemos um
relatório sobre isso, demos sentido a isso, porque as participações chegam de várias
áreas, de várias janelas, com vários interesses. Reforma política é um tema muito
amplo. Pegamos tudo isso e fizemos um especial do programa Expressão Nacional,
um dos programas da TV Câmara, para apresentar esse material para os Relatores
da reforma política. Convidamos então os Relatores, trouxemos esses Deputados
para este estúdio, convidamos uma audiência, uma plateia, e parte das pessoas que
mandaram sugestões também foram convidadas para integrar o auditório. Fizemos
um programa ao vivo. E o que se fez? Promoveu-se essa interação.
Toda aquela participação que chegou para a SECOM, ou via SECOM, sobre
reforma política chegou ao seu destinatário final, o Relator, o Deputado Relator.
Afinal de contas, a democracia representativa funciona dessa maneira, o Deputado
está aqui para receber essas sugestões, pensar, conversar, debater e fazer o seu
relatório.
Foi um piloto que fizemos, pensando exatamente que isso pode tornar-se um
programa frequente, um tipo de programa frequente, em que semanalmente se vai
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levar isso para o destino final, dar-lhe sentido, criar uma inteligência em cima disso.
Foi um piloto. Estamos estudando os resultados. Os Relatores, os Deputados
gostaram muito. As contribuições foram muito bacanas. As pessoas participaram.
Isto foi interessante. Alguém mandou um e-mail, ou fez um comentário na
Agência Câmara; após 3 semanas, essa pessoa foi convidada para vir aqui: “O seu
comentário foi muito pertinente. Foi muito interessante o seu comentário como
cidadão, via Agência Câmara. Por favor, venha aqui conversar com o Deputado no
auditório da TV Câmara”. Então, fazemos pontes.
Estamos agora, Deputados, realizando também uma conversa sobre
reestruturação da SECOM que está muito interessante. E se está pensando numa
coordenação de participação digital, para dar sentido a tudo isso, para cuidar
exatamente desse processo e construir essas pontes.
Voltando ao que falei no início, acho que o nosso grande desafio hoje é pegar
toda essa audiência que a gente tem e transformá-la em uma participação mais
efetiva que ajude o trabalho do Parlamentar, que, enfim, construa mesmo a nossa
democracia e vá terminando de construir a nossa República. Isso deve estar
funcionando nos próximos meses.
Eu acho que é isso.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Pimenta) - Muito obrigado,
Getsemane, nosso representante da Secretaria de Comunicação da Câmara dos
Deputados.
Falou para nós um pouco sobre os canais de participação da Secretaria de
Comunicação da Câmara dos Deputados. Há uma série de novidades. Com certeza,
com a TV digital, vai-se ampliar muito essa possibilidade de participação.
Sem dúvida alguma, a Ouvidoria Parlamentar da Câmara dos Deputados é
um dos principais espaços de interação do Parlamento brasileiro com a sociedade.
Está conosco aqui o Deputado Miguel Corrêa, que é o Ouvidor-Geral. O Deputado
Miguel tem apresentado uma série de ideias inovadoras para fazer com que, de fato,
a Ouvidoria da Câmara chegue a todo o Brasil.
A Comissão de Legislação Participativa, neste ano, em que completa 10
anos, Deputado Miguel, quer saber um pouco mais sobre o trabalho da Ouvidoria,
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sobre o que o senhor está pensando quanto a novidades para apresentar à
sociedade brasileira, para aproximar ainda mais a nossa Casa do povo.
O SR. DEPUTADO MIGUEL CORRÊA - Bom dia a todos. Minha saudação a
quem nos assiste, ao Deputado Paulo Pimenta e ao Getsemane, pela exposição.
Na verdade, quando eu assumi a Ouvidoria, o principal motivo, o tema
motivador era fazer com que a participação popular tivesse acesso pelas pessoas
via redes sociais, mas também fazer com que elas entendessem que era o momento
de se mudar a concepção a partir dessa intervenção.
Eu acho interessantíssimo esse caso que o Getsemane citou. A pessoa envia
um e-mail, discute sobre um tema que o Congresso debate, um dos temas mais
debatidos no Congresso, e em 15 dias ela está aqui podendo opinar
presencialmente e trazer a sua contribuição ao Relator e à discussão do tema que
está sendo proposto.
A ideia de mudança um pouco dos raios de ação da Ouvidoria tem a ver com
isso. A questão é que esse efeito seja difundido, que as pessoas compreendam que
a interferência delas, o desejo e a opinião delas terão realmente valor e vão
influenciar a discussão de temas no Congresso Nacional. Então — eu uso como
exemplo esse fato que você mencionou —, esse era o maior fator de motivação para
tentar alterar e fazer com que os processos que chegassem à Ouvidoria tivessem
reflexos e influência nas decisões dos Relatores e dos autores dos projetos.
O primeiro objetivo era entender um pouco o funcionamento da Ouvidoria. Eu
queria explicar rapidamente que o principal papel da Ouvidoria era passivo, em um
sistema muito bem organizado.
Deputado Paulo Pimenta, a Ouvidoria também completa 10 anos. Tem,
portanto, uma similaridade muito profunda com a Comissão de Legislação
Participativa, apesar de a Comissão atuar proativamente nesse debate.
A Ouvidoria usou esse tempo para se organizar internamente. Criou um
grande programa, que é o SISOUVIDOR, por meio do qual ela recebe toda a
orientação, todas as influências e as abordagens do cidadão. Procura então
direcioná-las para o canal adequado, mas também fazer com que ele acompanhe o
andamento do projeto pelo qual tem interesse.
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Mas era limitador e não era influenciador esse mote. Por consequência, ela
simplesmente cumpria a sua definição de canalizar os temas e apontar os caminhos
diversos dos debates, para que desse fim à informação, ao desejo, à necessidade
que aquele cidadão tinha naquele momento.
Entendo que você pode incluir também a Ouvidoria nos seus dados. A
participação é feita única e exclusivamente por interesse. Dentro do tema de
interesse, há a diversidade completa dos públicos, mas a mobilização sempre tem a
ver com o tema de interesse.
A ideia da Ouvidoria, a partir daí, era fazer com que mudasse um pouco
também. Eu acho que esse é o grande desafio não só da Ouvidoria, mas de toda a
Casa legislativa, de todos nós servidores desta Casa, no sentido de que possamos
mostrar a todo cidadão que, além de a opinião dele ter um reflexo aqui dentro, nós
podemos fazer com que ela influencie nas decisões principais quanto aos temas a
serem discutidos.
A primeira coisa era colocar os principais temas em discussão. Colocando os
principais temas em discussão, nós transformaríamos o debate localizado aqui em
um debate nacional. As redes sociais, o e-Democracia é a maior inovação da
sociedade nos últimos tempos, em especial dos Poderes, em relação à forma como
a gente pode acompanhar, fiscalizar, participar, debater, apresentar as ideias.
Também é a forma mais precisa que temos de um diálogo estreito e preciso. É
incrível, a todo momento que se pronuncia, a todo momento que se traz uma ideia
nova, um fato novo, pode-se dialogar instantaneamente com qualquer pessoa no
mundo inteiro, especialmente com os nossos cidadãos brasileiros que têm interesse
nesse debate.
Por aí a Ouvidoria tentou construir um projeto. Tentou não, perdão, construiu
o projeto A Câmara quer te Ouvir, para fazer com que essa concepção fosse levada
para a sociedade. Eu não falei isso com o nosso Presidente Marco Maia
diretamente, disse-lhe apenas que estava trabalhando uma idéia. Mas anuncio aqui
publicamente que acredito em que a Casa deve se mobilizar, inclusive na difusão da
ideia do que significa “publicizar” o e-Democracia e os debates virtuais que podem
acontecer dentro do Congresso Nacional. Nós temos que divulgar essas
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ferramentas. Nós temos que mostrar o poder dessas ferramentas para os cidadãos,
o poder dessas ferramentas quanto a exercer influência aqui dentro.
O programa que o Presidente Marco Maia aprovou — a Comissão de
Legislação Participativa tem recebido, o tempo inteiro, as informações desses
debates, dessas audiências — objetiva fazer com que fique mais próximo do
cidadão o Congresso Nacional, a Câmara Federal. Esse é o grande objetivo.
A ideia do programa A Câmara quer te Ouvir é sair do Congresso, em
primeiro lugar. Sabemos que as pessoas que vêm participar aqui, os organismos, as
entidades, as ONGs que vêm discutir aqui dentro, óbvio, estão num setor de
organização muito aprofundado. Não é o cidadão comum que sai do Amazonas ou
do interior de Minas Gerais e vem até Brasília discutir tema em relação ao qual tem
interesse. Trata-se de levar a Câmara até os locais. Levar a Câmara significa levar
os Relatores dos principais temas, ou os Parlamentares que se debruçam sobre o
assunto e aprofundam o debate, até a cidade deles, até a capital deles, até um local
próximo da casa deles e ali realizar a discussão.
A grande dificuldade que temos é mudar a concepção. Não é fácil, Deputado
Paulo, chegar à cidade e dizer a oito Deputados: “Nós não vamos falar, nós vamos
ouvir”. Não tem sido fácil. Esse tem sido o principal desafio da Ouvidoria. É natural...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Pimenta) - O Rio de Janeiro já
recebeu...
O SR. DEPUTADO MIGUEL CORRÊA - Nós estivemos no Rio de Janeiro,
fizemos uma prévia em São Paulo, estaremos em Natal agora, nos dias 15 e 16 de
junho. Em seguida, em julho, vamos a Manaus.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Pimenta) - E a participação no Rio de
Janeiro foi boa?
O SR. DEPUTADO MIGUEL CORRÊA - A participação no Rio de Janeiro foi
impressionante, especialmente porque atingiu o cidadão comum. Vários líderes
comunitários falaram da desapropriação relativa a obras da Copa do Mundo. Eles se
debruçaram sobre esse tema. Pessoas de religião islâmica falaram um pouco sobre
a islamofobia, vamos dizer assim, que existe nas escolas. Houve diversidade. Foram
quatrocentas e tantas participações presenciais em 3 horas.
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Objetiva-se, portanto, promover essa mudança de concepção, fazer com que
as pessoas possam de verdade interferir.
Era um compromisso dos Parlamentares que ali estiveram presentes ouvir
muito. Eu disse que teríamos de falar de 5 a 10 minutos e ouvir de 2 a 3 horas. Foi
um compromisso que firmei com todos os Parlamentares antes da audiência.
Depois, fazer com que as opiniões tenham reflexo e eco dentro do Congresso. Este
é o principal ponto: fazer com que essas pessoas acompanhem essas decisões
também.
Isso provocou diversos requerimentos. Nós produzimos um grande relatório,
que encaminhamos a vários setores da Casa, inclusive ao Presidente Paulo
Pimenta, da Comissão de Legislação Participativa, que tem coordenado esse projeto
em conjunto com o e-Democracia. Nós o enviamos para todos os Relatores citados.
É claro que a população entende esse espaço, mas, como ainda há uma
carência muito grande do Executivo que tangencia esse tema de discussão, quanto
a ouvir, receber propostas do cidadão, o que é mais característico do Parlamento, as
pessoas acabam levando até nós muitas demandas do Executivo, do Judiciário e
também muitas demandas individuais. Mas não há problema. Esse espaço não era
para tolher, e sim para potencializar esse debate.
Foram produzidos vários requerimentos para o Executivo e alguns para o
Judiciário. São três novos projetos de lei que estão começando a ser formatados
pela assessoria da Casa, com a assinatura de todos os Deputados que participaram
dessa primeira audiência no Rio. E o relatório, encaminhado com a informação
precisa de quem fez a sugestão, com o nome da entidade que representava, para os
Relatores e para os autores desses projetos.
O desafio agora é fazer com que esses fatos sejam de conhecimento público,
geral e irrestrito. As ferramentas a serem utilizadas para esses debates são as redes
sociais que são colocadas. Eu vi um programa sendo apresentado por uma pessoa
no Congresso Nacional, fantástico, com participação e tudo. Mas o problema é que
ele recorta a rede social, porque ele cria um programa, um acesso dentro da rede
social. Nós temos de ter um grande portal, que vire o nosso banco de informações.
Mas, as redes sociais estão consolidadas na sociedade.
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Eu vi um estudo. Sou professor de Comunicação e Administração. Eu gosto
de debater muito o tema de como o Twitter hoje supera os sites. Meu hábito no caso
da Internet, era acessar os sites UOL, Globo, R7, G1, os blogs de que eu gosto, as
colunas de que eu gosto. O Twitter acabou com isso, porque todos eles estão na
sua timeline, todos eles estão na sua página, todos eles têm a informação que você
quer ou não. O que você deseja você abre. Há um programa superbacana agora na
Internet que já abre as matérias pelo Twitter, já fica aberto — daqui a pouco eu
lembro o nome do programa e passo essa dica para quem é usuário do Twitter. Por
consequência, você tem todo esse acesso, e todo esse debate é colocado à sua
frente de forma instantânea.
Nós temos que forçar — vamos usar esse termo mais jovem...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Pimenta) - O grande desafio,
Deputado Miguel, é exatamente conseguirmos transformar todas essas
possibilidades que as novas tecnologias oferecem em um canal efetivo de
participação da sociedade no processo legislativo.
O SR. DEPUTADO MIGUEL CORRÊA - No processo legislativo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Pimenta) - Eu acho que esse é o
grande desafio que está colocado. A Ouvidoria tem um papel decisivo, porque ela
tem institucionalmente essa tarefa. Há essa iniciativa de ir até os Estados.
Costumamos dizer que, como não há como diminuir a distância física entre os
Estados e Brasília, Brasília tem que ir até os Estados.
O SR. DEPUTADO MIGUEL CORRÊA - É verdade.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Pimenta) - Essa iniciativa é
fundamental. Ela vai também consolidando a mudança de cultura no que se refere à
relação do Parlamento com a sociedade.
O SR. DEPUTADO MIGUEL CORRÊA - Isso. O grande objetivo do projeto,
algo até muito forte, é a mudança de concepção. Se tivéssemos as redes sociais
trabalhando a todo vapor, não seria necessário ir. Aqui mesmo poderíamos fazer
todos os debates. Como ainda temos que mudar a concepção — o Deputado Paulo
Pimenta abordou muito bem esse aspecto —, em especial quanto ao que nos cabe,
que são os debates dos grandes temas nacionais, as discussões dos grandes
projetos, as discussões dos grandes relatórios, bastam as redes sociais para
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conseguirmos produzir esse efeito, inclusive em escala gigantesca. Seis milhões,
Deus queira, esse será o número de participantes desse projeto. Espero que nossos
trabalhos consigam influenciar nesse processo.
O SR. GETSEMANE SILVA - Gostaria de fazer a seguinte pergunta a vocês:
como realmente construímos essa ponte? Na audiência pública na Comissão ocorre
a presença física: os Deputados estão ali, as entidades estão ali, a Mesa está
composta. Como vamos conseguir que aconteça uma audiência pública virtual, por
exemplo, em que as pessoas dela participem por redes sociais e tenham essa
mesma força? O senhor acha possível isso?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Pimenta) - Veja bem, Deputado
Miguel, até no sentido também de colaborar com esse raciocínio, é um processo de
transição. O que observamos? A Câmara tem um canal que, às vezes, quando
debatemos a questão das redes sociais, da TV digital, esquecemos um pouco, o
0800, mas ainda é um dos canais de maior participação do cidadão.
Ano passado, quase 500 mil ligações chegaram à Câmara dos Deputados
pelo 0800 para tratar de um projeto, o fim da tarifa básica da telefonia fixa. Quase
500 mil pessoas ligaram para o 0800 pedindo que esse projeto fosse priorizado.
Como fazemos com que esse canal tenha alguma influência na pauta do Poder
Legislativo? Uma interferência, o que Getsemane está provocando, Deputado
Miguel, para pensarmos como poderemos construir. Com a TV digital, vai aumentar
ainda mais essa interação, e o cidadão vai participar, mas ele quer ver o resultado
de sua participação.
O SR. DEPUTADO MIGUEL CORRÊA - O fim da tarifa básica é esse
sucesso todo também na Ouvidoria. Eu acho que ele ganha em todos os critérios.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Pimenta) - Está na hora de votarmos
esse projeto.
O SR. DEPUTADO MIGUEL CORRÊA - Passamos do tempo de votar o
projeto, mas o debate tem acontecido. Então, o primeiro efeito tem causado.
De domingo para cá, há um debate na Internet sobre “publicizar” os donos de
rádio e concessões no Parlamento. Várias pessoas têm divulgado isso e colocado
esse tema em discussão. Imaginem o seguinte: estamos no século XXI, e agora é
que teremos o direito de saber quem são os donos e ter acesso à informação. A
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Internet vai multiplicar isso — ainda não foram divulgados alguns nomes —, em uma
velocidade de horas. Em horas, há 10,12, 20, 30, 40, 50 milhões de acessos.
Por isso eu continuo fazendo essa aposta. Convido o Deputado Paulo
Pimenta e todos vocês, o Getsemane, para fazermos uma cruzada pelas redes
sociais no Congresso Nacional. Temos que fazer com que o acesso das pessoas
seja facilitado. Temos que continuar usando todos os canais, o 0800, todas as
ferramentas de interação. É o cidadão que decide o que é mais fácil, o que é mais
simples para ele para fazer essa intervenção. O contato pelas redes sociais é
instantâneo, direto, objetivo; ele já vem no formato impresso, escrito, se for
necessário. Por consequência, faz com que possamos dialogar o tempo inteiro,
simultaneamente, colher as opiniões e abordar os temas aqui.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Pimenta) - Agradeço imensamente a
participação do Deputado Miguel Corrêa, Ouvidor-Geral da Câmara dos Deputados,
neste debate, promovido pela Comissão de Legislação Participativa, que trata do
tema A Participação Popular no Parlamento no Século XXI; e do Sr. Getsemane
Silva, que apresentou os canais de participação da Secretaria de Comunicação da
Câmara dos Deputados.
O tema é extremamente atual. Com certeza vamos voltar a ele. Na próxima
edição dos debates promovidos pela CLP, vai haver a possibilidade de participação
dos internautas, com perguntas, em tempo real. Certamente, Deputado Miguel, em
breve o miguel@deputadofederal vai ser uma prática cotidiana de todos os
Parlamentares desta Casa, através do Twitter e de outras redes sociais, facilitando
muito o contato e o acesso da população ao Poder Legislativo. Muito obrigado pela
participação.
Até a próxima edição do Participação Popular no Parlamento!