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CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, MEIO AMBIENTE E MINORIAS EVENTO: Audiência Pública N°: 0300/03 DATA: 15/04/03 INÍCIO: 14h50min TÉRMINO: 19h04min DURAÇÃO: 04h14min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 4h13min PÁGINAS: 78 QUARTOS: 51 REVISÃO: Carla, Lia, Luciene Fleury, Odilon, Silvia SUPERVISÃO: Cláudia Luiza, Debora, J. Carlos, Letícia, Miranda CONCATENAÇÃO: Neusinha DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO NILVO SILVA – Presidente em exercício do IBAMA MARIJANE VIEIRA LISBOA – Secretária de Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos e representante do Ministério do Meio Ambiente SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Secretário-Geral e representante do Ministério das Relações Exteriores EDSON LUPATINI JÚNIOR – Diretor do Departamento de Crédito Exterior e representante do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior GERARDO TOMMASINI – Presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Pneumáticos Câmaras de Ar e Camelback FRANCISCO SIMEÃO – Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Pneus Remoldados — ABIP e Presidente da Empresa BS Colway Remoldagem de Pneus Ltda. MARCOS DE OLIVEIRA – Gerente de Qualidade do INMETRO ARTHUR BADIN – Chefe de Gabinete da Secretaria de Direito Econômico e representante do Ministério da Justiça SUMÁRIO: Discussão sobre o Decreto nº 4.592, de 2003, relativo à isenção do pagamento de multas para importação de pneumáticos reformados. OBSERVAÇÕES Há intervenções inaudíveis. Há oradores não identificados.

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Tudo que estamos discutindo até agora são interesses econômicos das empresas ... facultadas, em qualquer caso, a réplica

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CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, MEIO AMBIENTE E MINORIASEVENTO: Audiência Pública N°: 0300/03 DATA: 15/04/03INÍCIO: 14h50min TÉRMINO: 19h04min DURAÇÃO: 04h14minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 4h13min PÁGINAS: 78 QUARTOS: 51REVISÃO: Carla, Lia, Luciene Fleury, Odilon, SilviaSUPERVISÃO: Cláudia Luiza, Debora, J. Carlos, Letícia, MirandaCONCATENAÇÃO: Neusinha

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃONILVO SILVA – Presidente em exercício do IBAMAMARIJANE VIEIRA LISBOA – Secretária de Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanose representante do Ministério do Meio AmbienteSAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Secretário-Geral e representante do Ministério dasRelações ExterioresEDSON LUPATINI JÚNIOR – Diretor do Departamento de Crédito Exterior e representante doMinistério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio ExteriorGERARDO TOMMASINI – Presidente do Sindicato Nacional da Indústria de PneumáticosCâmaras de Ar e CamelbackFRANCISCO SIMEÃO – Presidente da Associação Brasileira da Indústria de PneusRemoldados — ABIP e Presidente da Empresa BS Colway Remoldagem de Pneus Ltda.MARCOS DE OLIVEIRA – Gerente de Qualidade do INMETROARTHUR BADIN – Chefe de Gabinete da Secretaria de Direito Econômico e representante doMinistério da Justiça

SUMÁRIO: Discussão sobre o Decreto nº 4.592, de 2003, relativo à isenção do pagamento demultas para importação de pneumáticos reformados.

OBSERVAÇÕESHá intervenções inaudíveis.Há oradores não identificados.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Declaro aberta a presente

reunião de audiência pública da Comissão de Defesa do Consumidor, Meio

Ambiente e Minorias, que tem como objetivo debater o Decreto nº 4.592/2003, que

trata da isenção do pagamento de multas para importação de pneumáticos

reformados provenientes dos países que fazem parte do MERCOSUL, bem como

conhecer o programa Rodando Limpo, da ABIP, da Colway Pneus.

O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Sr. Presidente, peço a palavra

pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Tem V.Exa. a palavra.

O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Sr. Presidente, aqui temos altos

funcionários públicos que tratam da questão dos pneus usados. Alguns pneus estão

apresentados aqui com suas respectivas marcas. Assim, solicito que os mesmos

sejam retirados, para que não sejam fotografados ao lado de funcionários que

cuidam dessa questão em suas atividades normais. Não seria correto que os

mesmos fossem transformados, inadvertidamente, em propagandistas desses

pneus.

Vamos discutir o assunto, mas após a retirada dos pneus da frente da Mesa.

É a minha proposta.

O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Sr. Presidente, peço a palavra pela

ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – V.Exa. está com a palavra.

O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Sr. Presidente, minha proposta é

no sentido de que os pneus permaneçam onde estão, até porque são simplesmente

pneus, não são bichos, nem fantasmas. Sou o representante de uma cidade onde há

uma das fábricas de remodelagem, Piraquara, no Paraná, que é motivo de orgulho

para nós. Não queremos que ninguém tire fotografias e que os pneus sejam

transformados em elementos de propaganda, não há esse trauma. Basta virar ao

inverso e deixar a marca escondida.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Deputado João Alfredo, por

favor.

O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO – Sr. Presidente, não se trata de

trauma. Na verdade, trata-se de uma audiência pública da Comissão de Defesa do

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Consumidor, Meio Ambiente e Minorias da Câmara dos Deputados, um Poder

Público. É uma audiência institucional e, sem entrar no mérito, é absolutamente

incompatível com a atividade pública a utilização desse espaço para se fazer

propagada do que quer que seja.

A presença desses pneus com suas marcas à mostra significa efetivamente

uma estratégia de marketing, e não cabe a esta Comissão referendar esse tipo de

comportamento de qualquer empresa, seja ela limpa, ecológica, correta, amiga da

criança. Não se trata disso.

Estamos aqui em um espaço público, oficial; ouviremos representantes de

empresas privadas e de instituições públicas, e não se justifica a colocação desse

material de propaganda na mesa dos trabalhos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) - Deputado João Alfredo, por eu

estar presidindo a sessão, abstenho-me do voto, mas concordo com V.Exa.

Com a palavra o Deputado Antonio Carlos Mendes Thame.

O SR. DEPUTADO ANTONIO CARLOS MENDES THAME – Declaro minha

profunda estranheza e desconforto de ter de abordar este assunto. Quero saber se

houve expressamente solicitação aos funcionários, à Mesa, à Presidência desta

Comissão para que os pneus fossem aí colocados, ou se foram colocados como se

aqui fosse um lugar privado. Esta é a primeira indagação.

Em segundo lugar, se houve essa estapafúrdia autorização, quem foi o

funcionário que autorizou, porque é um absurdo estarmos aqui discutindo um fato

como esse. Como toda a imprensa está presente, o objetivo da empresa, que é criar

um fato para divulgar, já foi alcançado. É lastimável que se aja dessa foram diante

de todos nós, que temos mandato. É inacreditável que estejamos nesse surrealismo

de discutir um assunto como esse. Por isso, endosso as palavras do Deputado

Fernando Gabeira e dos Deputados que me antecederam contra esse capitis

diminutio por que está passando a Casa da representação do povo.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Deputado, a assessoria me

informa que não houve nenhuma solicitação nesse sentido e, conseqüentemente,

nenhuma aprovação. Vou solicitar a retirada do material, visto que a maioria o quer.

O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Sr. Presidente, V. Exa. me

concede a palavra?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Tem V.Exa. a palavra.

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O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Venho acompanhando esse

assunto desde o início.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Deputado, como há flagrante

maioria, podemos mandar retirar e prosseguir o debate.

O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Mas quero discutir o assunto, nem

que a questão seja colocada em votação e eu saia perdedor. Eu quero ser ouvido

porque estapafúrdicos são aqueles a serviço das multinacionais, que não cumpriram

a decisão do CONAMA. Eu estive presente no dia da votação. Deveria haver uma

relação entre a quantidade importada de pneus usados e a quantidade produzida

internamente. Eu estava presente. E as multinacionais não cumpriram essa portaria.

Tudo que estamos discutindo até agora são interesses econômicos das empresas

paulistas. E há Deputados aqui que defendem interesses dessas multinacionais, não

o meio ambiente. Esses pneus que estão aí são uma demonstração de que não são

lixo.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Sr. Deputado Max

Rosenmann, estou no exercício da Presidência e não houve nenhum requerimento

nesse sentido. Assim, vou pedir à nossa assessoria que retire os pneus. Por favor,

providenciem a retirada dos pneus.

O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Eu protesto. V. Exa. não era nem

Deputado quando esse assunto começou a ser discutido.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Sim, eu não era Deputado,

mas hoje presido a sessão. Não foi feito requerimento à Mesa. Delibero no sentido

da retirada.

O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Sr. Presidente, sou Deputado pelo

Estado de São Paulo. Não defendo nenhuma empresa multinacional ou nacional da

indústria de pneus, e solicito ao Deputado, para evitar constrangimento, que nomine

os Deputados representantes dessas multinacionais, segundo a acusação. Do

contrário, vamos nos sentir todos acusados. Gostaria que a acusação, se houver,

seja feita diretamente àqueles que são acusados.

Portanto, solicito ao Deputado que formalize ou retire sua afirmativa.

O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Não retiro minha afirmativa e não

estou aqui para nominar ninguém. Considero todos os Deputados paulistas, no

mínimo, suspeitos.

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O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Vou encaminhar formalmente uma

solicitação à Mesa para que o nobre Deputado faça a nominação, a fim de que

possamos investigar e identificar.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Perfeito, Deputado.

O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Vamos identificar e fazer uma

investigação mesmo: quebrar sigilos bancários, para ver quem recebeu alguma

coisa das multinacionais.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Quero, então, constituir a

Mesa. Sr. Marcos Barros...

O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Quem recebeu patrocínio eleitoral.

Começamos pelo patrocínio eleitoral.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Sr. Nilvo Silva, Presidente em

exercício do IBAMA; Sra. Marijane Vieira Lisboa, Secretária de Qualidade Ambiental

nos Assentamentos Humanos, representando a Sra. Ministra do Meio Ambiente; Sr.

Samuel Pinheiro Guimarães, Secretário-Geral, representando o Ministro das

Relações Exteriores; Sr. Edson Lupatini Júnior, Diretor do Departamento de

Operações de Comércio Exterior, representando o Sr. Ministro do Desenvolvimento,

Indústria e Comércio Exterior; Sr. Arthur Badin, Chefe de Gabinete, representando o

Sr. Ministro da Justiça; o Presidente do Conselho Federal Gestor do Fundo de

Defesa dos Direitos Difusos; Sr. Gerardo Tommasini, Presidente do Sindicato

Nacional da Indústria de Pneumáticos, Câmaras de Ar e Camelback; Sr. Francisco

Simeão, Presidente da Associação Brasileira de Indústria de Pneus Remoldados,

ABIP e Presidente da BS Colway Remoldagem de Pneus Ltda.

Esclareço que também foram convidados a participar como expositores da

presente reunião o Sr. Álvaro Augusto Ribeiro da Costa, Advogado-Geral da União,

que enviou fax, alegando a impossibilidade de comparecer à audiência pública em

razão de compromisso oficial; a Sra. Muriel Sara Goussi, Diretora do Conselho

Nacional de Meio Ambiente — CONAMA, comunicou que a Sra. Marijane Vieira

Lisboa apresentará em plenário sua justificativa de ausência.

Concederei inicialmente a palavra aos expositores por dez minutos e, em

seguida, farão uso da palavra os Deputados Renato Cozzolino, José Borba, Antonio

Carlos Mendes Thame e Fernando Gabeira, que requereram essa audiência. Depois

disso, falarão durante três minutos os Parlamentares previamente inscritos, sempre

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facultadas, em qualquer caso, a réplica e a tréplica. A lista de inscrição se

encontrará à disposição dos Parlamentares com os servidores desta Comissão.

Para facilitar a transcrição deste debate, que está sendo gravado, solicito a

gentileza daqueles que desejarem fazer uso da palavra de declinarem previamente

seus nomes.

Passo a palavra, por dez minutos, ao Sr. Nilvo Silva, Presidente em exercício

do IBAMA.

O SR. NILVO SILVA – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, colegas da

Mesa, o assunto pneus vem causando muita desinformação e controvérsia. Nessa

primeira manifestação, vou tentar distinguir o que estamos tratando quando falamos

da questão pneus no Brasil.

Temos duas questões que devem ser tratadas em princípio separadamente.

Na verdade, elas não tratam apenas de pneus. A primeira delas é relativa às

restrições à importação de resíduos de outros países, que é feito por meio das

relações de comércio internacional e pela Convenção de Basiléia.

Essa é a primeira observação que diz respeito à questão pneus, às restrições

à importação e ao controle de resíduos de outros países, principalmente a discussão

sobre materiais já consumidos, como é o caso do pneu usado, que é considerado

resíduo nos países de origem e aqui no Brasil também.

A restrição à importação de pneus tem acontecido historicamente por meio

das relações de comércio internacional. As primeiras restrições foram estabelecidas

pelo Departamento de Comércio Exterior e, depois, pelas resoluções do Conselho

Nacional de Meio Ambiente. Cito duas resoluções do CONAMA que proíbem a

importação de pneus usados: a CONAMA nº 23, de 1996; e a CONAMA nº 235, de

1998. Essas são as resoluções da área de meio ambiente que proíbem a

importação. Há as normativas da área de comércio exterior, que fazem essa

vedação. Essa é a primeira questão que envolve pneus.

A segunda questão importante diz respeito a uma boa novidade no Brasil, que

não abrange só a questão pneus, ou seja, a implementação da responsabilidade

pós-consumo. Se a responsabilidade por resíduos industriais já está há muito tempo

estabelecida na legislação brasileira, a responsabilidade por produtos após seu

consumo — embalagens, computadores, máquinas e veículos — começa no Brasil a

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ser implementada através de resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente e

não só por este.

Temos hoje no Brasil processos ainda incipientes, mas avançando bastante,

de recolhimento das embalagens vazias de agrotóxicos. Temos a questão das

pilhas. Por mais deficiências que a resolução do CONAMA possua na questão da

obrigatoriedade dos fabricantes de recolherem pilhas usadas, é sem dúvida decisão

que caminha na direção correta.

Quanto a pneus, temos a Resolução nº 258, do CONAMA, que estabeleceu a

obrigatoriedade de os fabricantes e os importadores recolherem pneus usados. É

importante fazer um destaque. Essa Resolução, que trata da responsabilidade pós-

consumo, não cuida da questão da vedação ou autorização de importação de pneus,

mas especificamente da obrigatoriedade de quem produz ou importa pneus no Brasil

dar-lhes destinação adequada. Ela estabelece, também, progressividade na

implementação da Resolução nº 258, a obrigatoriedade de o produtor dar a

destinação final ao pneu depois que o consumidor o utilizou. Ou seja, o fabricante

recebe do consumidor o pneu usado e tem de dar destinação ambientalmente

adequada à carcaça.

O primeiro ano de implementação dessa Resolução do CONAMA foi 2002.

Portanto, temos experiência de um ano. Tenho aqui alguns dados sobre pneus no

Brasil, fornecidos pela equipe técnica do IBAMA: fabricamos 46 milhões de unidades

de janeiro a dezembro de 2002 e importamos cerca de 21 milhões de unidades

nesse mesmo período. Segundo controle do IBAMA, o total de pneus inservíveis

tratados foi de cerca de 13 milhões e 800 mil, um pouco acima do índice de

obrigatoriedade do primeiro ano, que era de um pneu para cada quatro importados

ou fabricados no Brasil.

Este ano a proporção será de dois para um; em 2004, estaremos recolhendo

a mais do que produzimos ou importamos; e, em 2005, o CONAMA deverá revisar

essa Resolução, para que possamos verificar se ela foi bem aplicada e se seus

termos são apropriados para a proteção ambiental no Brasil.

Trataremos aqui de vários outros assuntos. Mas quero ainda manifestar a

preocupação do IBAMA com relação à questão dos pneus. A implementação da

responsabilidade pós-consumo, não somente para pneus, mas para vários outros

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produtos, é uma novidade fundamental para a proteção ambiental no País, e o

Conselho Nacional do Meio Ambiente vem trabalhando para ampliá-la.

O IBAMA preocupa-se com duas questões importantes. Primeiro, a

importação de pneus usados, que consideramos importação de resíduos de outros

países para o Brasil, com o ônus de termos de achar destinação ambiental

adequada, quando já temos um passivo enorme de pneus para o qual não temos

ainda solução. Essa implementação progressiva é uma operação difícil, conforme o

próprio Conselho Nacional de Meio Ambiente a definiu. Portanto, aumentaríamos o

passivo ambiental de carcaças de pneu no País.

A outra questão diz respeito a pneus recuperados, que têm, sabidamente,

vida útil menor. Parece-me que para pneus produzidos no País a recuperação

aumenta a vida útil do pneu, o que pode ser vantajoso para o Brasil. Mas a

recuperação de pneus importados, evidentemente, é mais polêmica e deve ser

discutida pela sociedade brasileira. Até que ponto convém ao Brasil importar pneus

usados? Na opinião do IBAMA, significa importar resíduos para os quais o País

ainda não tem solução adequada. É o mesmo problema, com mais sutilezas, que o

pneu recuperado.

Temos ainda outros dados, mas considero importante ouvir representantes do

Ministério, os colegas da Mesa, e, depois, formarmos o painel da situação,

aprofundando o debate.

Para finalizar, destaco a necessidade real de se separar os temas importação

de resíduos e implementação da responsabilidade pós-consumo no Brasil.

A Resolução do CONAMA, nº 258, trata especificamente desse segundo item.

Muito obrigado.

O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Sr. Presidente, peço a palavra pela

ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Tem V.Exa. a palavra.

O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Nobre Deputado Júlio Lopes, requeiro

seja efetuada de imediato a transcrição dos termos da acusação feita pelo Deputado

Max Rosenmann, para que eu possa encaminhar a defesa da posição que acredito

correta.

Não acuso nenhum dos defensores da indústria de pneus importados de ter

sido beneficiado por financiamento e não admito ser acusado. Não recebi um único

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centavo de nenhum desses atores, de nenhum dos lados, e estou absolutamente

tranqüilo para defender as posições que acredito corretas. Cuidarei de encaminhar a

denúncia à Corregedoria desta Casa e ao Conselho de Ética para que juntos

analisem e procedam à condenação dos que forem culpados, embora haja

legalidade no financiamento de campanha por qualquer indústria, desde que

devidamente assumido.

Requeiro, portanto, com a maior brevidade possível, a transcrição dos termos

da declaração do Deputado Max Rosenmann para que possamos proceder à nossa

defesa. Acho injusto que tenhamos de carregar o ônus de uma acusação dessa

monta.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Deputado Luciano Zica,

determinarei à Taquigrafia que faça a imediata transcrição para que V.Exa. possa

tomar as devidas providências.

O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Sr. Presidente, peço a palavra pela

ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Tem V.Exa, a palavra.

O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Acho muito importante a Mesa

fornecer todos os elementos que o Deputado Luciano Zica considera acusação.

Essa palavra “acusação” sempre foi usada por S.Exa. Nunca fiz acusações, a não

ser respostas a questionamentos feitos aqui. Ouvi expressões estapafúrdias e

inadequadas sobre o assunto. Ou seja, posso ouvir opiniões inadequadas e eles não

podem ouvir o contraditório. Então, é bom mesmo haver essa sua denúncia,

Deputado Luciano Zica, para discutirmos o contraditório e sermos democratas.

Quero que essa transcrição seja entregue o mais rápido possível a V.Exa. para que

possa fazer sua acusação.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Deputado Max Rosenmann,

assim será feito.

Dando prosseguimento à sessão, concedo a palavra à Sra. Marijane Vieira

Lisboa, Secretária de Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos, que

representa a Sra. Ministra do Meio Ambiente.

A SRA. MARIJANE VIEIRA LISBOA – Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Deputados, autoridades presentes, senhoras e senhores, o tema pneus, abordado

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inicialmente pelo meu colega do IBAMA, pode ser analisado sob vários aspectos.

Infelizmente, foi o que ocorreu na política brasileira nos últimos dez anos, sem que

houvesse coordenação entre os diversos Ministérios que analisavam a questão dos

pneus — às vezes do ponto de vista comercial, ambiental e até mesmo relacionado

à questão da saúde, os pneus servirem para maior proliferação de insetos, caso do

dengue.

Fomos convidados para esta audiência certamente em função da celeuma

que o Decreto nº 4.592, publicado em 11 de fevereiro último, causou ao isentar

importadores de pneus reformados, vindos do MERCOSUL, de uma multa de 400

reais. Essa foi a razão da convocação, acredito eu, para prestarmos

esclarecimentos.

Se há aspecto positivo nessa história é o fato de a questão ambiental

relacionada aos pneus poder ser devidamente analisada, o que não estava

acontecendo.

O primeiro equívoco ao se analisar esse decreto foi entender que o mesmo

autorizava a importação de pneus usados. E aí vale a pena recuperarmos as

definições. Pneu usado é pneu inservível; foi usado e não poderá mais ser utilizado

como tal. Evidentemente, pode ser jogado fora ou reformado. Se for reformado,

teremos três categorias: o recapeado, o recauchutado e o remoldado. Em termos de

gradação, cada umas dessas operações torna o pneu um pouco melhor. O pneu

recapeado é o mais simples, o recauchutado é o que mais conhecemos no Brasil e o

remoldado é o recauchutado, digamos assim, de maneira mais incrementada.

Nunca houve, na legislação ambiental, proibição para importar pneus

reformados. Mas houve, sim — e há duas resoluções do CONAMA, uma de 1996 e

outra de 1998, que lista novamente as substância proibidas de serem importadas —,

legislação ambiental que proibia a importação de pneus usados. A lógica é aquela

que o Sr. Nilvo Silva já explicou. Depois de usado, depois que se torna inservível, o

pneu é um problema ambiental porque na sua composição entram metais pesados

que são tóxicos. Na própria composição da borracha entra ácido clorídrico.

Temos, então, um objeto complicado não apenas do ponto de vista da

disposição final — ocupa muito espaço nos aterros —, como também relacionado ao

problema de incêndios nos depósitos de pneu. São famosos os incêndios de

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depósitos de pneu em outros países, que levam mais de ano para serem extintos,

pois o pneu é matéria de alta combustão.

Portanto, além de todos os inconvenientes que o pneu traz, uma vez

inservível, quanto a sua disposição final, várias das operações consideradas como

de reciclagem implicam mais danos ambientais. Por exemplo, se os pneus forem

queimados em fornos de cimento, vão emitir metais pesados, voláteis, que estavam

presentes na sua composição; vão emitir ácido clorídrico. Ou seja, é um produto que

depois de usado torna-se um problema ambiental.

Um critério importantíssimo na área ambiental é o ciclo de vida do produto. Há

produtos que são problema na fabricação, na disposição final, mas não quando são

consumidos. Há outros que não são problema na fabricação, na disposição final,

mas o são quando consumidos. No caso do pneu, ele não causa problema quando

está sendo utilizado, mas somente na disposição final. Para esse tipo de produto —

para o qual não se criou alternativa ou não se encontrou tecnologia capaz de fazer

com que não seja, em algum momento do seu ciclo de vida, problemático do ponto

de vista ambiental —, a melhor alternativa é fazer com que dure o máximo possível.

Por quê? Porque enquanto ele for utilizado, estaremos atrasando o momento em

que se transformará em problema. Com esse raciocínio, como explicou o Sr. Nilvo, é

evidente que a recauchutagem, a recapagem ou a remoldagem de um pneu

produzido no Brasil é a solução para adiar o problema.

Agora, a importação de pneu usado ou reformado já não é boa, porque

estaríamos trazendo problema de outros para nós. O Sr. Nilvo tem toda razão ao

dizer que temos de analisar a questão do comércio de pneus usados ou reformados,

importação e exportação, como parte de um comércio de resíduos. Se o pneu é

problema depois de usado, ele é um resíduo. Tivemos ampla experiência nesse

comércio internacional de resíduos nos últimos dez, vinte anos.

A Convenção de Basiléia tratou de grande parte desses resíduos e mostrou a

lógica econômica mais elementar para explicar os fluxos comerciais. Podemos fazer

um cálculo. Por exemplo, em média, quanto custa o descarte de um pneu usado na

Europa? Dois dólares. Quanto custa, em média, o descarte de um pneu usado no

Brasil? Cinqüenta centavos de dólar. Temos aí um dólar e meio que justifica e

financia qualquer operação de exportação de pneus. É essa a lógica econômica,

perversa, que explica todo o fluxo de resíduos perigosos. A Convenção de Basiléia,

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em 1994, proibiu a exportação de resíduos perigosos dos países desenvolvidos para

os países em desenvolvimento, porque se vigorasse a mera lógica do mercado,

esses países seriam convertidos em lixões, em depósitos de resíduos perigosos dos

países desenvolvidos.

Precisamos analisar o pneu desse ponto de vista. Não precisamos de

nenhum outro ponto de vista — já que esta é a Comissão de Meio Ambiente — para

dizer que não é interessante para o País receber pneus usados. Tanto não é

interessante que em 1996 o CONAMA já havia baixado resolução que proibia a

importação de pneus usados. Naquela época, e até hoje, a importação de pneus

reformados era pequena em termos numéricos. Por isso nunca houve legislação

específica, apenas uma legislação simples sobre pneus usados.

O que houve depois, conforme o Dr. Nilvo expôs, foi uma resolução que

estabeleceu quem deveria assumir a responsabilidade pelos pneus fabricados no

Brasil ou pelos pneus novos, importados, quando esses pneus se tornassem

inservíveis.

Criou-se um mecanismo também chamado na área das políticas ambientais

de responsabilidade estendida, que, em resumo, é um pouco nestes termos: de

quem é a responsabilidade por ter criado um produto cujo destino final não é

ambientalmente adequado? Como poderemos, até economicamente, incentivar um

produtor a procurar boas soluções para o seu produto? Substituição de material

tóxico, novas tecnologias.

A idéia da responsabilidade estendida é que o problema volta, se estende ao

produtor. Fez-se, então, a Resolução nº 258, que estabelece que os produtores, os

fabricantes, os importadores de pneus novos deveriam recolher, numa determinada

proporção, pneus inservíveis à medida que eles os fabriquem.

Houve, porém, falha na redação dessa resolução, em determinado artigo em

que ela estabelece as quantidades de pneus que devem ser recolhidos. Diz o artigo:

”fabricantes nacionais de pneus e importadores de pneus”. Esqueceram-se os

conselheiros do CONAMA de colocar dois adjetivos que teriam sido muito

importantes: pneus novos ou reformados. E é justamente essa ambigüidade do texto

que importadores de pneus usados utilizam para obter liminares na Justiça.

Eles conseguiram, nesses últimos três anos, introduzir no País 6 milhões, 750

mil carcaças de pneus usados importadas da Europa, ao fundamento de que estão

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atendendo à nova resolução do CONAMA sobre responsabilidade estendida. É

claro, eles importam, mas destinam, na porcentagem indicada no texto da resolução,

uma parte desses pneus para ser reciclada e, assim, alegam que estão contribuindo

não só para a questão ambiental com para a da saúde etc. Não preciso fazer

propaganda deles porque eles já fizeram bastante.

Temos de voltar ao simples raciocínio ambiental que é: por mais que se

recicle, por mais que se contribua para recolher os pneus, estamos recebendo

pneus já usados e não precisamos deles. Não precisamos nem dos nossos, que são

um problema também, não temos solução para eles. Esperamos que a indústria de

pneus — já há algum tempo que volta e meia discutimos esse tema — pesquise e

encontre uma forma de fabricar pneus que não causem dano ambiental e de saúde

posteriormente. Esta é a função de todo fabricante: procurar tornar sua produção

mais limpa, eliminar substâncias tóxicas e adotar tecnologias modernas. Enquanto

isso não for alcançado, vamos ficar com um problema que já é nosso, não vamos

receber problemas de outros países.

Por que o decreto assinado em fevereiro levantou toda essa celeuma?

Porque atendeu a um laudo arbitral do MERCOSUL, produzido pelo Governo do

Uruguai, que se queixou que seus pneus reformados, exportados para o Brasil,

estavam sendo multados em 400 reais e que isso era, sem dúvida, uma restrição ao

livre comércio. A argumentação foi meramente comercial.

Efetivamente, havia um problema do ponto de vista legal. O decreto que

introduziu a multa, de 2001, assinado pelo nosso ex-Presidente Fernando Henrique

Cardoso e pelo antigo Ministro do Meio Ambiente, Dr. José Carlos Carvalho,

aplicava multa sobre a importação de pneus reformados e usados, quando só estava

proibida, por legislação ambiental, a importação de pneus usados; não havia

proibição de importação de pneus reformados. Tínhamos uma situação estranha:

multava-se algo que não era proibido. E era um parágrafo acrescentado à lei de

crimes ambientais. Um fato não tipificado tinha penalidade.

Isso impediu que o CONAMA consertasse aquele resolução que comentei

com V.Exas. há pouco, que, embora muito louvável, porque estabelecia o tal

mecanismo de responsabilidade estendida, ficou sem os dois adjetivos, esqueceram

de dizer “os importadores de pneus novos ou reformados”. Diante dessa omissão, a

indústria das liminares funcionou, e os pneus usados entraram no País.

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O CONAMA percebeu o problema e, em março do ano passado, redigiu nova

resolução que acrescentava os dois adjetivos e mais um considerando que deixava

claro, no início da resolução, que os pneus usados continuavam proibidos de serem

importados.

Porém, uma resolução é um texto menor que um decreto. Enquanto tínhamos

um decreto dizendo alguma coisa e uma resolução dizendo outra, era impossível

publicar uma nova resolução. Assim, durante um ano, o CONAMA viu-se impedido

de publicar sua resolução, justamente em razão daquele antigo decreto de setembro

de 2001.

O que aconteceu com o novo decreto é que, embora atendendo à reclamação

do Uruguai, manteve a multa de 400 reais para os pneus importados que não

fossem do MERCOSUL. Portanto, a incongruência jurídica permanecia. O CONAMA

apreciou essa questão na sua primeira reunião deste ano e formou uma comissão

para sugerir nova redação para o decreto, que seria assinada tanto pelo Ministério

do Meio Ambiente quanto pelo Ministério das Relações Exteriores.

Não preciso dizer a V.Exas. que mantivemos entendimentos com o Ministério

das Relações Exteriores e expusemos o problema que a atual redação do decreto

continha, ela não solucionava o problema. Assim, está em andamento a redação de

um novo decreto, que será assinado por ambos os Ministros, permitindo que o

CONAMA possa publicar sua resolução, eliminando a mencionada ambigüidade que

permitia, até recentemente, a indústria de liminares.

Inicialmente, era isso que eu tinha a informar.

Muito obrigada.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Agradeço à Sra. Marijane

Vieira Lisboa, que aqui representa a Ministra do Meio Ambiente.

Passo a palavra ao Sr. Samuel Pinheiro Guimarães, Secretário-Geral, que

representa o Ministro das Relações Exteriores.

O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Boa tarde, Presidente Júlio

Lopes. Quero agradecer muito à Comissão o convite para participar desta audiência

pública. Também agradeço aos Deputados Luciano Zica e Fernando Gabeira,

autores do requerimento que permitiu a realização desta audiência.

A Dra. Marijane e o Dr. Nilvo Silva já apresentaram todas as questões

relativas ao meio ambiente. A própria Dra. Marijane mencionou que estamos em

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tratativas para termos um novo decreto que venha resolver essa questão. Eu quero

dizer que, do ponto de vista do Ministério das Relações Exteriores, é de grande

importância que o Brasil, na esfera internacional, cumpra os compromissos que

assume. Este é um ponto em que temos insistido; o Presidente, o Ministro e todos

os representantes do povo têm insistido. Devemos cumprir nossos compromissos

internacionais.

Assim, temos o Tratado de Assunção, que criou o MERCOSUL, a União

Aduaneira, uma área de livre comércio entre os quatro países membros, que

estabelece a livre circulação de mercadorias para produtos que não são — digamos

— proibidos.

Tivemos, durante longo período, a importação de pneus provenientes do

Paraguai e do Uruguai com livre acesso ao mercado brasileiro. Isso aconteceu até

muito recente, entre 1991 e 2000. Refiro-me a 1991 porque foi neste ano, por meio

de uma portaria do DECEX, que se proibiu a importação de bens de consumo

usados, incluindo pneus.

Há todo um debate sobre se o pneu remoldado é usado ou não-usado, e

assim por diante. Mas esse é um debate técnico, em que também há pareceres

divergentes. O próprio INMETRO tem pareceres no sentido de considerar um pneu

remoldado e um pneu novo como semelhantes. É um parecer técnico do nosso

Instituto de Metrologia.

E essa questão prossegue. A própria legislação ambiental sobre crimes

ambientais e o decreto que a regulamenta não fazem qualquer menção referente à

importação de pneus reformados. Assim, a importação prosseguiu. A legislação data

de 1998.

Mais tarde, em 2000, há uma portaria que proibiu a concessão de licença de

importação de pneumáticos recauchutados e usados. Tal portaria proíbe, se não me

engano, a concessão de licenças, quer dizer, no fundo proíbe a importação. Ou seja,

proíbe a concessão de licença, mas o produto sem licença de importação não pode

ser importado. O que ocorre é que o Uruguai e o Paraguai, países que exportavam

pneus remoldados para o Brasil, possuidores de pequenas fábricas, resolveram

solicitar consultas no âmbito do mecanismo de solução de controvérsias.

Tal mecanismo faz parte de um outro tratado aprovado no protocolo de

soluções de controvérsias, chamado Protocolo de Brasília, aprovado pelo Congresso

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Nacional; ou seja, é lei no Brasil. Por meio desse protocolo, o Estado brasileiro

concordou em submeter suas disputas, suas controvérsias com outros países do

MERCOSUL, relativas à importação e à exportação, ao mecanismo de solução, que

prevê a constituição de um Tribunal Arbitral ad hoc.

O Brasil aceitou participar desse Tribunal Arbitral ad hoc, não contestou a

existência de tal tribunal. Assim, com um membro brasileiro, com um membro

uruguaio, com um advogado diante desse tribunal, concluiu-se por um laudo arbitral

que considerou que aquela medida de proibição de emissão de licenças de

importação contrariava as determinações do MERCOSUL sobre não impor restrições

ao comércio de produtos. Não estamos entrando nas questões ambientais. O

tribunal decidiu dessa maneira.

No meio tempo surgiu um decreto, como já mencionado, que estabeleceu

uma multa, se não me engano, de 400 reais por unidade de pneu, que tem efeito

proibitivo, porque ela proíbe na prática. Aliás, não havia ainda começado o

julgamento que resultou no laudo arbitral, mas foi perto. Não havia decisão ainda,

mas já havia o início do procedimento.

Naturalmente, o Uruguai passou a reclamar do Brasil o cumprimento do laudo

arbitral, que é uma decisão que tem valor jurídico no sistema brasileiro. Foi uma

situação extremamente delicada para o Brasil. Eu não estou entrando e nem vou

entrar, porque não é o caso, na questão dos efeitos ambientais dos pneus usados,

remoldados, recauchutados, recapeados, novos, e assim por diante.

Do nosso ponto de vista, trata-se de um caso de política externa muito

importante, por várias razões paralelas. O Presidente da República, desde o início

do seu Governo, anunciou que o Brasil, na sua política externa, daria toda prioridade

à América do Sul, justamente no seu objetivo de construir um mundo que fosse

multipolar e não hegemônico, e para que o Brasil, na América do Sul, tivesse um

papel ativo.

Mencionou também S.Exa., em seu discurso de posse e em manifestações

posteriores, a importância do MERCOSUL, a questão da sua revitalização e

crescimento, inclusive para fortalecer a posição negociadora do Brasil na

Organização Mundial do Comércio, na União Européia e nas negociações da ALCA.

Temos um país como o Uruguai, em relação ao qual as assimetrias

econômicas são extraordinárias, que tem um laudo arbitral a seu favor, que não está

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exportando para o Brasil, tanto quanto eu saiba, nem exportava, pneus usados, mas

sim remoldados; país que tem situação econômica bastante difícil, em recessão há

pelo menos quatro anos, com o qual temos uma história de relações muito estreitas

por razões óbvias e que nos colocou diante dessa situação.

Eventualmente, foi publicado esse decreto para completar o cumprimento do

laudo arbitral e que isentou da multa prevista as importações de pneumáticos

reformados provenientes dos Estados partes do MERCOSUL. Entendo que o

extraordinário volume de importação de pneus mais prejudicial ao Brasil é o de

usados, que nada tem a ver com esse laudo arbitral. Entendo também que esses

pneus usados não são provenientes do Uruguai nem de outros países do

MERCOSUL.

A situação se nos apresenta desse modo. Se queremos realmente dar

prioridade às nossas relações com os países da América Sul, se queremos

fortalecer o MERCOSUL, se queremos ter uma posição mais firme e mais forte no

contexto das negociações da ALCA e da União Européia e se desejamos o

cumprimento e o fortalecimento do Direito Internacional, temos necessariamente de

cumprir decisões que redundam de compromissos internacionais livremente aceitos

pelo Brasil, os quais, em nenhum momento, foram contestados. Eventualmente,

também interpomos recursos com base nesses mecanismos de solução de

controvérsias. Recorremos a eles para, eventualmente, contestar medidas de outros

países membros do MERCOSUL que os interesses brasileiros consideram

prejudiciais ao Brasil, ou melhor, não só prejudiciais como contrários às normas do

MERCOSUL.

A Secretária Marijane mencionou que há outras questões e que já está sendo

negociado o texto de um novo decreto que permitirá, de um lado, cumprir o laudo

arbitral e, de outro, atender à necessidade de evitar a importação de produtos que

causam prejuízo ambiental. Não entro no mérito se o pneu remoldado causa

prejuízo ambiental. No fundo, qualquer pneu, em algum momento, terá de ser

destruído. Que eu saiba, ainda não existem tecnologias limpas para isso. Já existe

Dra. Marijane? Não existe. Pneu novo, usado, remoldado, em algum momento vai

causar prejuízo ambiental, mas essa é outra questão.

Do nosso ponto de vista, é muito importante o cumprimento do laudo arbitral.

Não se trata de questão de imagem do Brasil, mas da posição do nosso País como

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Estado que cumpre as decisões de mecanismos de arbitragem internacional, mesmo

quando elas possam, eventualmente, não lhe parecer as melhores. Na solução de

mecanismo de controvérsias, o Governo brasileiro defendeu as soluções brasileiras

com os argumentos que pôde, difíceis de articular, defendeu firmemente, mas

perdemos esse laudo arbitral.

(Intervenção inaudível.)

O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES - O juiz brasileiro é independente.

São árbitros indicados pelos países. Tínhamos nosso representante, o advogado da

causa brasileira — se estiver errado, o colega me corrija —, mas nossos argumentos

não convenceram os três árbitros, e perdemos.

Se não cumprirmos as decisões de arbitragem decorrentes de compromissos

livremente aceitos pelo Governo brasileiro, ficaremos numa situação muito frágil

diante das reivindicações que fazemos a outros Estados para que cumpram e

respeitem o Direito Internacional.

Era isso, do ponto de vista do Ministério das Relações Exteriores, o que, no

momento, eu teria a dizer.

Agradeço a atenção dos membros da Comissão.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Agradecemos ao Sr.

Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães.

Tem a palavra o Sr. Edson Lupatini Júnior, Diretor do Departamento de

Operações de Comércio Exterior, que representa o Ministro do Desenvolvimento,

Indústria e Comércio Exterior.

O SR. EDSON LUPATINI JÚNIOR - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,

autoridades, senhoras e senhores, agradeço à Comissão o convite para comparecer

a esta audiência e trazer o ponto de vista do Ministério do Desenvolvimento,

Indústria e Comércio Exterior sobre a questão, no que se refere ao aspecto da

licença de importação de pneus usados.

A importação de bens de consumo usados é proibida. A portaria do

Departamento de Operações de Comércio Exterior, como já foi dito,

independentemente de qual seja o produto, pneus, geladeira, automóveis, roupas,

proíbe a importação de bens de consumo usados. Por outro lado, a importação de

máquinas, equipamentos, aparelhos e instrumentos usados é permitida, mas para

isso há necessidade de se fazer vários exames no âmbito da Secretaria de

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Comércio Exterior, cujo aspecto principal, entre outros, é que não exista produção

nacional daquele bem de capital, daquela máquina ou equipamento que se pretende

importar. Ratificando, no caso de bens de consumo usados, as importações estão

proibidas.

Acontece que o Uruguai abriu controvérsia no âmbito do MERCOSUL, como

foi dito pelo Embaixador Samuel Pinheiro, e, em janeiro de 2002, saiu vencedor.

Assim, a Secretaria de Comércio Exterior, do Ministério do Desenvolvimento,

Indústria e Comércio Exterior, não poderia tomar outra decisão que não dar

cumprimento a essa decisão do Tribunal Arbitral. Com isso, editou a Portaria da

Secretaria de Comércio Exterior nº 2, de março de 2002, que autoriza a importação

de pneus remoldados quando procedentes do MERCOSUL, notadamente do

Uruguai e do Paraguai.

São essas as considerações, Sr. Presidente, que podemos fazer em relação

ao licenciamento das importações.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) - Agradeço ao Sr. Edson

Lupatini Júnior.

Concedo a palavra ao Sr. Arthur Badin, Secretário de Direito Econômico, que

representa o Sr. Ministro da Justiça.

O SR. ARTHUR BADIN – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, antes de

mais nada quero fazer uma retificação. Sou Chefe de Gabinete da Secretaria de

Direito Econômico, represento o Secretário de Direito Econômico Daniel Goldberg.

Parece-me que o debate cinge-se a duas questões que se confrontam. A

primeira é a questão ambiental. O Brasil quer ser o repositório de produto que o

mundo não sabe o que fazer: os pneus usados. A segunda é a questão das relações

exteriores. O Brasil é signatário do Protocolo de Ouro Preto, integra o MERCOSUL,

submete-se às regras de solução de controvérsia do MERCOSUL, participou de um

Tribunal Arbitral legitimamente constituído, indicou um árbitro, Prof. Guido Soares,

que votou em desfavor do Brasil, o que gera uma situação realmente conflitiva.

Existem duas questões que se contrapõem, e esse é o problema.

São duas questões que tangenciam as matérias atinentes à Pasta do

Ministério da Justiça, que fica muito honrado com a possibilidade de participar deste

debate, mas tem pouco a acrescentar, pelo menos neste primeiro momento, às

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informações muito bem apresentadas pelo Dr. Samuel, pela Dra. Marijane e pelos

demais membros da Mesa.

Coloco-me à disposição dos Srs. Deputados para qualquer esclarecimento.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) - Agradeço ao Sr. Arthur Badin.

Concedo a palavra ao Sr. Gerardo Tommasini, Presidente do Sindicato

Nacional da Indústria de Pneumáticos, Câmaras de Ar e Camelback.

O SR. GERARDO TOMMASINI – Em primeiro lugar, agradeço à Presidência

desta Comissão, na pessoa do Deputado Givaldo Carimbão, pela gentileza do

convite e, ao mesmo tempo, cumprimento os Srs. Deputados presentes.

Antes de mais nada, esclareço que a ANIP, a Associação Nacional da

Indústria de Pneus, e o sindicato dessa mesma indústria, entidades que presido,

fundadas em 1959 e 1960, respectivamente, representam quinze fabricantes de

pneumáticos, de câmara de ar, de materiais de reforma, num total de 21 unidades

industriais, instaladas em oito Estados, e não somente no Estado de São Paulo,

distribuídas por dezoito Municípios, com força de trabalho de 20 mil empregos

diretos e arrecadação de impostos diretos da ordem de 1,5 bilhão de reais.

O convite foi-me formulado por duas vezes. O primeiro em 18 de março e,

posteriormente, em 27 de março, devido à publicação do Decreto nº 4.592, de 11 de

fevereiro último, que trata da isenção do pagamento de multa na importação de

pneumáticos reformados oriundos de países parte do MERCOSUL.

Ao ser divulgado esse fato, houve uma série de interpretações, algumas

equivocadas, sugerindo que estaria ocorrendo a liberação de importação de pneu

usado, o que obviamente gerou e continua gerando grandes polêmicas em vários

setores da economia nacional.

Na realidade, o que ocorreu foi dito aqui claramente. Segundo nos foi possível

apurar, houve a homologação pelo Presidente da República de uma decisão

unânime do Tribunal Arbitral do MERCOSUL julgou procedente a reclamação do

Governo uruguaio relativamente à queixa de um reformador daquele país que se

sentiu prejudicado, primeiro pela Portaria nº 8 da SECEX, e depois pelo próprio

Decreto nº 3.919. Trata-se daquele famoso decreto que multava em 400 reais os

que fossem apanhados com pneumáticos importados, usados e reformados, ou que

os transportassem, armazenassem, etc. Embora a quantidade dos produtos que

chegam do Uruguai seja extremamente reduzida, é bom lembrar que o reformador

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uruguaio, segundo o Parlamentar que lá esteve, dispõe somente de dezessete

funcionários. Ora, por mais que trabalhe dia e noite, nunca conseguirá trazer para o

país quantidades que impressionem. Enquanto o médio reformador brasileiro dispõe,

no mínimo, de quarenta a sessenta operários, o reformador uruguaio dispõe

somente de dezessete operários.

No que diz respeito ao Paraguai, não deveria haver grandes repercussões.

Em relação à Argentina, não há problema, pois lá a importação de pneus usados

reformados está proibida. Apesar disso, não podemos ignorar que se trata de

precedente extremamente perigoso não só para as pretensões da União Européia,

mas também para os Estados Unidos. Todos sabemos das enormes quantidades de

pneus existentes na Europa, e a melhor alternativa parece ser o envio deles para

algum país que deseje recebê-los.

De qualquer forma, é preciso monitorar o volume das importações para evitar

triangulações perigosas, abusos, situações extras, porém facilmente detectáveis

pelo Departamento de Comércio Exterior da SECEX e pela própria Receita Federal.

Tudo isso se refere ao Uruguai e, eventualmente, ao Paraguai.

Permita-me, Sr. Presidente, ilustrar aos nobres Deputados a outra face da

moeda. Nos últimos oito anos entraram no País mais de 14 milhões de pneus

reformados, grande parte da Europa e não do Uruguai ou do Paraguai, ao preço

médio de 4 a 5 dólares a unidade. Em quatro anos, de 1997 a 2000, foram

importados 9,5 milhões de pneus. De 2001 a 2002, a quantidade de pneus

reformados diminuiu, mas em compensação, de acordo com as estatísticas da

SECEX, subiu vertiginosamente a importação de pneus usados. Para se ter idéia,

nos últimos dez anos, embora proibida por vários atos normativos legais, ela

alcançou a cifra de 28 milhões de unidades. Somadas aos 14 milhões de pneus

reformados dos quais falamos há pouco, obtemos o total de 42 milhões de pneus

usados e reformados que entraram — a maioria por meio de liminares — no País

nos últimos oito anos.

O impacto da importação de 42 milhões de pneus importados, usados e

reformados — cifra impressionante —, na indústria nacional, corresponde a mais de

três anos de produção de pneus novos para automóveis destinados ao mercado de

reposição. Somente no ano passado entraram no País mais de 3 milhões de pneus.

As 21 fábricas instaladas no Brasil, e que citamos há pouco, produziram no período

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12 milhões e 900 mil pneus destinados ao mercado de reposição para automóveis,

gerando 20 mil empregos, com 3 milhões de pneus usados e reformados. Com

estes, seria possível instalar nova fábrica, com produção diária de 10 mil pneus/dia e

500 empregos diretos. Quadro realmente impressionante.

É desnecessário ressaltar os reflexos negativos provocados pelo elevado

número de importações. Quanto aos problemas de caráter ecológico, ambiental e de

saúde, a indústria nacional de pneus, contrariamente ao que foi dito aqui, cumpre

fielmente as disposições da Resolução nº 258 do CONAMA, dos órgãos estaduais e

municipais, muitas vezes de forma voluntária, a custo altíssimo que a indústria evitou

repassar ao consumidor, diferentemente do que acontece tanto na Europa quanto

nos Estados Unidos, onde o consumidor contribui com taxa destinada a cobrir os

custos da coleta e da reciclagem. Para os senhores terem idéia, no norte da Europa,

quando o cidadão compra um carro, depositam-se alguns dólares por pneus, para

posterior reciclagem.

A Resolução nº 258 obrigava a coleta e a reciclagem de um pneu para cada

quatro produzidos ou importados. No ano passado, a indústria colocou no mercado

aproximadamente 476 milhões de pneus novos. Destes, 15 milhões foram

exportados, restando 32 milhões como base de cálculo, que, divididos por quatro —

um pneu a ser reciclado para cada quatro produzidos ou importados —, resultaram

em 8 milhões de pneus ou 79 mil toneladas de material.

Para cobrir a meta constante da Resolução nº 258, a indústria nacional de

pneus, contrariamente ao que foi dito aqui, repito, entregou ao IBAMA certificados de

destinação final ambientalmente adequada, num total superior a 130 mil toneladas,

ou seja, deveriam ter sido recicladas 79 mil toneladas, mas foram recicladas e

tiveram destinação ambientalmente adequada 130 mil toneladas.

Na audiência pública de abril de 2002, nesta Comissão — muitos dos

presentes participaram —, afirmamos que, diversamente do que diziam à época e

dizem hoje, a indústria ia cumprir as suas obrigações relativamente à Resolução nº

258. Os fatos comprovam que cumprimos a meta e estamos orgulhosos por isso.

Existem alguns problemas a serem analisados. Quanto à segurança, por

exemplo, os pneus nacionais exportados para mais de cem países, entre eles

Estados Unidos, União Européia, Japão e outros tantos, geram receita de mais de

500 milhões de dólares por ano, possuem garantia de fábrica de cinco anos contra

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defeitos de fabricação e garantias suplementares contra choques e acidentes de até

105 mil quilômetros.

Quanto ao aspecto econômico, convém ressaltar que todos os pneus

importados, usados e reformados, foram produzidos no exterior; foram pagos

impostos lá fora; e no fim da vida útil, como chamam na Europa o end of life, são

enviados para cá a fim de serem vendidos ao incauto consumidor e depois

reciclados a um custo extremamente elevado.

São essas, Sr. Presidente, as minhas considerações.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Agradeço ao Sr. Gerardo

Tommasini, Presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Pneumáticos.

Tem a palavra o Sr. Francisco Simeão, Presidente da Associação Brasileira

da Indústria de Pneus Remoldados — ABIP e Presidente da Empresa BS Colway,

Remoldagem de Pneus Ltda.

O SR. FRANCISCO SIMEÃO – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,

senhoras e senhores, para mim é importantíssima a oportunidade de participar desta

reunião. Tenho certeza de que estamos a desenvolver cada vez mais no Brasil a

democracia, da qual somos intransigentes defensores.

Não defendo a importação de pneus remoldados, tampouco de bens de

consumo usados. Deixo claro também que tanto um quanto o outro concorrem

conosco. Embora filosoficamente o mercado deva ser mais livre, o consumidor tem

de decidir o que serve para ele. Na nossa empresa, comercialmente preferiria que

fossem proibidas as importações de pneus remoldados e de bens usados,

notadamente os pneus meia vida, cuja importação aumentou muito.

A nossa sugestão conduz efetivamente à solução, ao contrário do que tem

sido tentado até agora. São doze anos de litígio com a Receita Federal e a União.

Trouxemos a solução, debatemos com os Parlamentares, e o Senador Flávio Arns,

que há anos acompanha nossa luta, elaborou projeto de lei — em tramitação nesta

Casa — que resolve definitivamente esse litígio.

Temos sido acusados de produzir pneus menos duráveis do que os novos.

Não é verdade. Não trouxemos nossos pneus para tentar vendê-los neste plenário

ou fazer marketing, mas para apresentar prova material da nossa afirmação.

Dificilmente qualquer um dos senhores conseguirá, visualmente, diferenciar os

nossos pneus de um novo. O INMETRO expediu documento certificando que os

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nossos pneus, testados em laboratório, a mais de 200 quilômetros por hora, com

carga plena, foram todos aprovados.

Fabricamos pneus e inovamos no Brasil a garantia de quilometragem — até

então não existente — de até 80 mil quilômetros e de cinco anos contra defeito de

fabricação. Temos orgulho de dizer que a nossa indústria é exemplar e é aplaudida

internacionalmente porque os nossos pneus são os de melhor qualidade do mundo.

O INMETRO tem conhecimento disso e enviou nota técnica à SECEX, há três anos,

que diz não ser possível a fabricação de pneus remoldados com carcaça de pneus

usados em território nacional.

O próprio INMETRO atesta que o nosso pneu é de qualidade, mas tenho

bradado no deserto e todas as vezes sou obrigado a ouvir afirmações e adjetivações

como lixo na nossa atividade. Desculpe-me, Sra. Marijane, mas preciso citar a nota

técnica distribuída na semana passada por V.Sa. ao CONAMA, alegando que

precisamos acabar com o tráfico de pneus usados, naturalmente se referindo ao

volume majoritário de pneus importados pela indústria de pneus remoldados.

Advogamos aqui a importação de matéria-prima e temos o direito de escolher a

melhor. São importados diversos resíduos como matéria-prima, para a fabricação de

diversos materiais. A indústria de pneumáticos advoga a tese de que se deve

importar borracha porque é mais barata e possui melhor qualidade; de que deve

importar aço porque é mais barato. Temos o direito, sim, de importar a matéria-prima

que nos convém. Não temos o direito de agredir o meio ambiente. Pelo contrário,

temos de protegê-lo. E a nossa empresa possui 403 empregados.

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior baixou a

Portaria nº 08/91, e já são doze anos de litígio contra indústrias do porte da

Goodyear, da Firestone e da Pirelli, com fantásticos números. Elas são muito bem-

vindas no Brasil, eu as aplaudo, bem como toda a Nação, mas isso não lhes dá o

direito de serem protegidas pelo Governo, em detrimento da nossa indústria

tupiniquim. Queremos, no mínimo, os mesmos direitos. Não estamos reivindicando o

direito maior, previsto no art. 170 da Constituição Federal, relativo à ordem

econômica, que trata da proteção da pequena e microempresa. Queremos igualdade

de condições para lutar contra os nossos concorrentes.

A nossa indústria possui cinco pilares que a sustentam. Estão lá como prova

material para quem desejar nos visitar. Insistimos muito em dizer que as pessoas,

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quando decidem ir, mudam de opinião, assim como o INMETRO, que se

manifestava contrariamente a nós e hoje nos defende.

Quanto à qualidade de vida, à defesa do meio ambiente e da saúde pública, à

responsabilidade social e ao desenvolvimento da cidadania, todos esses aspectos

estão materializados na nossa empresa. Qualquer pessoa que a visitar terá provas

materiais e cabais dos resultados. Acompanham-nos na luta pela erradicação da

dengue no Paraná, num programa criado por nós, companheiros como Valter

Sâmara, que veio a esta Comissão nos apoiar, o Vice-Presidente da Assembléia

Legislativa do Paraná, Deputado Estadual Stica, e o Governador do Estado,

atualmente no comando do mutirão. O programa foi criado há dois anos, mas há um

ano a dengue foi erradicada em Curitiba e em mais 26 Municípios da área

metropolitana, como V.Exas. poderão acompanhar no vídeo que mostrarei a seguir.

Esse programa foi levado à ONU pelo Prefeito de Curitiba, foi aplaudido de pé e

indicado aos países-membros. Ele é o sustentáculo do mutirão contra a dengue em

399 Municípios do Paraná.

No dia 24 de fevereiro do próximo ano V.Exas. podem me cobrar a total

erradicação da dengue no Estado do Paraná. Com o apoio da Itaipu Binacional, das

Secretarias de Saúde, Meio Ambiente e Educação de 399 Municípios e sob o

comando do Governador Roberto Requião, assumimos esse compromisso de

público. É bom ressaltar que 278 associações comerciais trabalham no programa, a

custo zero para os cofres públicos.

Ontem, em Curitiba, assinamos convênio com a Rede Globo de Televisão,

que fará campanha publicitária do programa, a custo zero para o Erário, a fim de

ajudar a combater e a erradicar a dengue em Londrina.

O Estado do Paraná, onde nasci e moro, me conhece muito bem. Sou

analisado por todos e tenho orgulho de dizer que a Assembléia Legislativa me

outorgou o título de cidadão benemérito, por unanimidade de votos. Então, não sou

essa pessoa normalmente citada pelo IBAMA e pelo Ministério do Meio Ambiente.

Faço lobby sozinho, arrasto pneus pelo Congresso Nacional e na televisão, tenho

sempre nos braços muito papel. Nunca contratei lobista ou qualquer empresa.

Fizemos o trabalho pessoalmente e com muito orgulho. Podemos dizer, sem medo

de errar, que existem duas eras no Brasil: antes e depois da nossa luta na ABIP e do

nosso trabalho político. Antes não havia solução para o pneu lixo.

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O Deputado Fernando Gabeira é testemunha da luta que travamos nesta

Casa, embora S.Exa. seja contrário à importação do pneu usado porque infelizmente

não sabe do que se trata. S.Exa. ainda não me deu o privilégio e o prazer de levá-lo

ao Paraná. Já o convidei várias vezes para nomear uma comissão e nos auditar,

juntamente com o Deputado Luciano Zica, que tem péssima impressão de nós, que

nos julga muito mal. Embora respeite o Deputado, entristece-me demais o fato de

S.Exa. fazer julgamento prévio da nossa atividade sem ao menos ir ao meu Estado.

Antes de nós, nada existia no setor de pneus.

Todo o mundo enfrenta o problema do pneu lixo. Foi a partir de nossa luta,

em 1995, que nasceu a conscientização de todo o Congresso Nacional. Em equipe,

visitamos 492 dos 513 Deputados e 75 dos 81 Senadores, levando informações e

fitas de vídeo. Elaboramos o Projeto de Lei nº 1.259, e o Deputado Pedro Novais —

se estiver presente, poderá confirmar — acreditando em nossa luta, subscreveu o

projeto.

Em 1994, firmamos convênio com o IBAMA e com o IDT para buscar no

exterior subsídios técnicos que exatamente viabilizassem a obrigação da

contrapartida ambiental pela fabricação e importação de pneus. Mas contra isso

ficou a indústria de pneumáticos novos no Brasil, sob o argumento, lavrado nas

notas taquigráficas desta Casa, de que reciclar era economicamente inviável. Tenho

esses documentos, essas provas.

Está na Internet o documento assinado com o IBAMA, em 1994 — sempre

custo zero para o Erário. Pagamos tudo. Em 1998, fomos ao Conselho Nacional do

Meio Ambiente levar, como sugestão, a Resolução nº 258, de 1999. Se ela hoje

existe, se é a “solução exemplo” adotada no mundo, isso se deve a nós, que a

lavramos e a defendemos e convencemos os senhores conselheiros a acatá-la.

Também iniciamos sua materialização na prática e criamos o mutirão contra a

dengue, hoje exemplo em todo o mundo.

Trouxe material — fico triste ao constatar que algumas pessoas não lêem —

que contém três páginas sobre o Decreto nº 4.592 e sobre o Decreto nº 3.919, este

último uma fraude, que nos favorece — mas ainda assim é fraude, pois não existe

na lei ambiental a palavra "pneu" ou mesmo "pneumático". Alguém pendurou um

artigo na lei. É fácil comprovar o que estou dizendo.

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Há uma página onde se explica a vantagem de se importar carcaças de

pneus usados, desde que previamente se destrua outra, o que é fácil de entender:

para se importar carcaça é obrigatório, antes, retirar outra do meio ambiente daqui,

ao mesmo tempo em que se importa uma de fora. Portanto, para cada pneu

remoldado produzido, duas carcaças são destruídas: uma, no Brasil, definitivamente

retirada do meio ambiente, e, outra, na Europa; ou seja, uma no Brasil e duas no

planeta. Afinal, vivemos no mesmo planeta!

Ao finalizar, Sr. Presidente, se V.Exa. me permitir, desejo exibir breve vídeo

sobre o mutirão contra a dengue. Muitos são contrários ao que digo, e todos

evidentemente exageram. A maior parte sequer sabe do que se trata. Por isso, peço

encarecidamente a V.Exas., de forma democrática, que visitem o Paraná para verem

nosso trabalho; que nos fiscalizem, nos julguem, examinem nossa folha corrida de

serviços prestados à Nação, notadamente no setor de pneumáticos. Depois, então,

respeitarei a opinião de todos.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Obrigado, Sr. Francisco

Simeão, Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Pneus Remoldados —

ABIP.

O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Sr. Presidente, gostaria que a fita

de vídeo fosse exibida.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Como se manifestam os

demais Deputados?

O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Sr. Presidente, sou favorável à

exibição, mas faço uma ressalva. Esta audiência pública destina-se a discutir

decreto específico que sobre importação de pneus no MERCOSUL. Relativamente

aos debates entre a indústria que produz e a indústria que remolda, não

conhecemos tudo, mas já temos visto muito.

A questão que levanto, e também o Deputado Luciano Zica —

compartilhamos o mesmo horizonte intelectual e as mesmas preocupações com o

meio ambiente — é no sentido de que discutamos o decreto do Governo com o

representante do Ministério das Relações Exteriores, Sr. Samuel Pinheiro

Guimarães, em quem devemos nos concentrar.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Deputado, sendo uma

exibição de vídeo com duração de apenas três minutos, peço a V.Exa. que releve

seu pedido.

O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Pensei que fosse de vinte

muitos...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Vamos à apresentação de

vídeo.

(Exibição de vídeo.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Vamos dar prosseguimento à

sessão. Concedo a palavra ao Sr. Deputado Fernando Gabeira, do PT do Rio de

Janeiro, autor do requerimento.

O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Sr. Presidente, as

circunstâncias nos levaram a esta audiência pública com o objetivo de encontrar

saída construtiva para a questão criada com o decreto que retirou a multa de

importação dos pneus.

O nosso diálogo vai ser prioritariamente com o Itamaraty, especificamente

com o Dr. Samuel Pinheiro Guimarães, que admiramos muito, mesmo que,

infelizmente, às vezes tenhamos que entrar em pequenas divergências, mas sem

perder a admiração pelos grandes nomes da política externa que nos visitam. Mas a

vida é assim. À medida que os caminhos avançam, tomamos diferentes posições,

sem perder, contudo, a admiração, o respeito e a vontade de contribuir.

O primeiro aspecto que me preocupa é o fato de o senhor, na sua exposição,

dizer que o Brasil está, a partir da própria decisão do Presidente da República,

disposto a cumprir com seus compromissos internacionais e internos, mas sem

entrar no mérito da questão ambiental. A discussão sobre a mercadoria dava-se no

âmbito legal do MERCOSUL. No entanto, a não-introdução da variável ambiental na

reflexão parece-me a grande lacuna. Não estamos mais no século XIX, quando

apenas se discutia a produção e a distribuição das mercadorias. Estamos no século

XXI, em que discutimos também a produção e a distribuição dos riscos. Esta é uma

questão fundamental.

Se a variável ecológica tivesse sido considerada nas reflexões do Itamaraty, a

Convenção de Basiléia seria um dos instrumentos a serem considerados e a serem

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utilizados, até em nossa defesa, porque, como signatários dela, teríamos a

possibilidade de questionar a nossa participação nisso.

Há outros argumentos empregados pelo Governo que não foram aqui

mencionados.

O Sr. Marco Aurélio Garcia, Assessor Especial do Presidente para questões

de política externa, afirmou ser essa a maneira também de tratar bem, de ajudar e

de fortalecer o MERCOSUL, conforme está mais ou menos implícito na exposição do

Sr. Samuel Pinheiro Guimarães.

No entanto, duas dúvidas me assolam. A primeira: se é para fortalecer o

MERCOSUL, como explicar que dentro do mercado exista um Estado que proíbe? A

Argentina está contra o MERCOSUL? Está. A Argentina faz parte do MERCOSUL e

não aceita; a Venezuela, que é candidata, ou aderiu ao MERCOSUL, ainda que

indiretamente, também não aceita; o Chile também não aceita. Todos proíbem a

importação de pneus. Claro que o Itamaraty poderia proibir a importação de pneus

independentemente do Congresso e das leis existentes. Mas, como existe essa luta

no Congresso desde 1994, seria interessante que, ao se preparar para debater

questão internacional desse porte, essas variáveis ambientais e o histórico delas

fossem levados em conta, o que não aconteceu.

O argumento de que estamos contribuindo com o Uruguai é falso. Recebi

pessoalmente, na semana passada, delegação de trabalhadores do Uruguai, da

única fábrica que produz pneus novos no país. Pois eles diziam que iriam fechar,

que estavam quebrados e estavam tentando se reestruturar em cooperativa. Então,

qual o pneu usado que o Uruguai vai nos enviar se ele não produz?! Evidentemente,

o pneu virá da Europa. E a Europa estará, via Uruguai, jogando o pneu aqui no

nosso País.

Isso interessa ao Brasil? É posição adequada para o Brasil? É algum tipo de

generosidade com o MERCOSUL? Não. No âmbito do MERCOSUL, antes da posse

deste novo Governo, já estávamos negociando a unificação das leis ambientais.

Lembro-me muito bem das reuniões de que participei, algumas com a

presença do Itamaraty, ou lideradas pelo Itamaraty, em que o Brasil era vanguarda

em termos de leis ambientais. O Brasil desempenhava, em relação ao MERCOSUL,

o papel que os chamados países avançados desempenham nas negociações: o de

tentar atrair as outras nações para posições mais avançadas.

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O fato de estarmos a um passo atrás da Argentina nessa questão, de sermos

signatários da Convenção de Basiléia, de estarmos prejudicando a força real no

Uruguai são elementos que deveríamos considerar. Mais ainda: deveríamos

considerar alguns aspectos internos no Brasil, porque, no Uruguai — conforme

observei — havia quinhentos operários na indústria e nove funcionários na empresa

para exportar ao Brasil. E o próprio Deputado Luciano Zica constatou essa situação

quando esteve no Uruguai. A informação que tive é de que duzentos trabalhadores

em todo o país trabalham nisso. Segundo o Deputado Luciano Zica, o número é

ainda menor.

Portanto, estamos fechando postos de trabalho no Uruguai e no Brasil.

O segundo aspecto é que estamos no auge da campanha contra a dengue.

Precisamos, por isso, ter a preocupação de reduzir ao máximo essa importação.

Outro dado importante é que as estradas brasileiras estão em petição de

miséria. Quem viaja pelo Brasil ou pelo interior de Minas Gerais verifica que as

condições de segurança das nossas estradas são diferentes das européias; no

entanto, os europeus continuam exportando. A idéia central era a de que o Brasil

proibisse as exportações dos pneus usados, como proíbe a importação de carros

usados. Proibimos a importação de carro usado, de roupas usadas e também de

produtos usados. É simples. Se não há definição, compete a nós apresentar projeto

que trate da proibição da importação de pneus usados e reformados. Agora, existe

séria questão levantada pelo Sr. Francisco Simeão, que acredita não sermos

preconceituosos. Tenho observado com muita atenção o seu trabalho. Li todo o

material de propaganda, acompanhei tudo. Se a indústria brasileira está exportando

e o INMETRO diz que os pneus no Brasil não podem ser remoldados, como explicar

isso? Existe na indústria brasileira a exportação de duas linhas de produção: uma

para o exterior e outra para o interior? Existe essa possibilidade técnica? Temos de

discutir essa questão, porque o ideal é caminharmos para um processo no sentido

da proibição da importação e da remoldagem de parte dos nossos pneus, como em

Portugal. Nesse país há perspectiva de remoldagem de 30%. Os portugueses

definem que 30% dos pneus podem ser remoldados. A nossa perspectiva deveria

caminhar no sentido de proibirmos a importação e determinarmos sério estudo

sobre a qualidade do pneu brasileiro, se comparado com o pneu que circula em

outros países, para que possamos também ajustá-lo.

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É inegável o processo de ajustamento das empresas produtoras no Brasil,

como o caso da reciclagem. De 1994 para cá, esse debate realmente produziu a

idéia da reciclagem e sua responsabilidade. Mas agora é necessário avançarmos

um pouco mais. O Brasil está maduro para proibir, a partir do trauma desse decreto,

essa importação e passar a remoldar os pneus numa determinada quantidade. Essa

é a nossa proposta.

O projeto de Portugal está baseado num sistema integrado, e não trata só da

remoldagem de pneus usados, mas também de toda uma política para o pneu tido

como resíduo — este o caminho por onde devemos marchar.

A arbitragem poderá nos causar alguns problemas na Organização Mundial

do Comércio, porque, de certa maneira, se consideramos que poderemos importar

no MERCOSUL, evidentemente os europeus podem questionar isso na Organização

Mundial de Comércio. Nesse caso, vamos ter de arcar com a importação mais livre,

o que causa problemas mais sérios ainda. Acredito sinceramente que o Itamaraty

não poderia, e não pode, tomar decisão fora da lei, e que deve levar em conta a

situação ambiental do País e de outros países que já trataram do assunto, para

então podermos melhor debater no laudo arbitral e não sermos derrotados até pelo

juiz brasileiro, embora esse juiz seja independente, tanto na OMC quanto no Brasil,

podendo votar à vontade contra o interesse do Brasil.

Nesse caso, creio que houve desarticulação compreensível pelo fato de ter

acolhido o Governo, no início do seu trabalho, os Ministérios novos que estão em

fase de implantação. Mas o caminho é este: ou o Governo decreta, por meio de

medida provisória, a proibição da importação dos pneus, ou aprovamos o projeto. E

esse caminho é perigoso para o Brasil e o Uruguai, uma vez que a própria indústria

de pneus daquele país foi destruída. Não estou falando do Paraguai, porque não

conheço especificamente sua situação, mas tenho a impressão de que aquele país

não produz pneus novos. Não conheço fábrica paraguaia, só a uruguaia. E estamos

ameaçados de também receber, via Paraguai, pneus importados da Europa, o que,

a meu ver, talvez não seja interessante.

A minha posição não é questionar a lógica interna da decisão do Itamaraty.

Se você entra na lógica do que chamamos, em ecologia, de irresponsabilidade

organizada, tudo bem, trata-se de uma mercadoria; vamos discutir de acordo com a

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mercadoria e chegar às conclusões do laudo arbitral. Mas não é dessa maneira que

o Brasil deve resolver seus problemas.

Era o que tinha a dizer.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Muito obrigado,

Deputado Fernando Gabeira.

O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO – Sr. Presidente, peço a palavra

pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Tem V.Exa. a

palavra.

O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO – Sr. Presidente, solicito aos

meus pares compreensão. Não quero fazer pergunta à Mesa, mas, como tenho de ir

ao plenário, farei pequena explanação como Líder.

Desde 1995, esta Comissão vem acompanhando a questão dos pneus

usados e novos. À época, quando Presidente em exercício desta Comissão,

discutia-se a questão da importação de pneus usados. Fizemos amplo debate e

viajamos por todo o Brasil para saber da existência de depósitos de pneus de 50

metros de altura, como nos Estados Unidos e na Europa, e se o pneu importado

usado era problema para o mercado brasileiro. Fui procurado por um grupo de

taxistas, que me disseram: “Deputado, nós compramos pneus usados no Brasil.”

Perguntei: “Como? Pneus usados?” Eles responderam: “Pneus usados importados

no Brasil.” Eu disse: “E aí?!” Responderam o seguinte: “E, aí, é que nós usamos

esses pneus e eles duram mais do que os pneus fabricados aqui no Brasil.” Ou seja,

os pneus de meia vida importados duravam em média 40 mil quilômetros, enquanto

os pneus novos brasileiros, cerca de 35 mil quilômetros. Isso não quer dizer que a

qualidade dos pneus fabricados aqui no Brasil não seja boa. Pelo contrário, é muito

boa. Mas entre qualidade e durabilidade existe grande distância. A Comissão

descobriu, à época — apesar de o Sr. Gerardo Tommasini discordar —, que a

mistura feita para a borracha do pneu brasileiro não era boa e que seria necessário

melhorar a sua durabilidade. Com isso, esta Comissão decidiu autorizar a

importação de pneus usados na carcaça. Só que, quando eles importavam os pneus

usados, vinham no bojo dos contêineres pneus com meia vida que não poderiam

ser, de forma nenhuma, recauchutados. Afora isso, os pneus eram vendidos no

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mercado a 1 dólar ou a 1,5 dólar e faziam concorrência desleal com a indústria

nacional.

Havia também outro fato interessante: esses pneus vieram regular o mercado

brasileiro de pneus. De que forma? A indústria nacional melhorou a durabilidade do

pneu brasileiro, concedendo o certificado de garantia como indústria de

recauchutados para atender ao consumidor, porque não havia certificado de garantia

para o pneu brasileiro.

Esta Comissão não só fez isso como também fez com que o preço do pneu

brasileiro diminuísse.

Estamos agora vivendo a segunda fase, em que temos de analisar, como

muito bem falou o Deputado Gabeira, se os pneus usados importados devem ser

recondicionados. Devem, mas devem ser pneus fabricados no mercado brasileiro,

porque hoje temos uma indústria pseudonacional. Não é nacional, porque são quatro

grandes indústrias que fabricam pneus em todo o mundo. Então, se existe

concorrência, é da indústria para com a própria indústria, mas de país para país.

Então, vamos recauchutar os pneus brasileiros, e não os importados, porque

não precisamos mais disso.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Muito obrigado, Deputado

Celso Russomanno.

Antes de passar a palavra ao Deputado Antonio Carlos Mendes Thame, o Dr.

Gerardo Tommasini, Presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Pneumáticos,

deseja prestar esclarecimento ao Deputado Celso Russomanno sobre pneus

fabricados no Brasil de duas vertentes. Se S.Exa. autorizar, darei a palavra ao Dr.

Gerardo Tommasini.

O SR. DEPUTADO ANTONIO CARLOS MENDES THAME – Está autorizado.

O SR. GERARDO TOMMASINI – Muito obrigado.

Deputado Celso Russomanno, tenho profunda admiração profunda por

V.Exa., mas permito-me discordar da maioria das suas afirmações. Só concordo

com a última.

Com relação à dúvida que possa ter surgido quanto à produção existente nas

fábricas, reafirmo que seria absurdo uma mesma fábrica fazer duas produções com

o mesmo produto. Não é possível tecnicamente. Há alguns anos, o amigo e então

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Deputado Luciano Pizzatto e eu visitamos duas fábricas de pneus e constatamos

que a produção, por oito horas, era exatamente igual, tanto aquela que ia para os

Estados Unidos quanto a que ia para a Europa, para o Paraná ou Mato Grosso.

Convido os Srs. Deputados, que desejarem, a visitar qualquer fábrica para se

certificarem disso.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) - Tem a palavra o Deputado

Antonio Carlos Mendes Thame.

SR. DEPUTADO JOSÉ BORBA - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Tem V.Exa. a palavra.

O SR. DEPUTADO JOSÉ BORBA – Sr. Presidente, peço a V.Exa. que siga

a ordem das inscrições. Os nossos convidados anotariam e, depois das inscrições,

retornaríamos, em vez de fazermos esse sistema de pingue-pongue.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Defiro o requerimento de

V.Exa.

Tem a palavra o Deputado Antonio Carlos Mendes Thame.

O SR. DEPUTADO ANTONIO CARLOS MENDES THAME – Sr. Presidente,

Deputado Júlio Lopes, Sras. e Srs. Deputados, convidados para proferir hoje tão

oportunas e apuradas observações a respeito desse assunto, consegui anotar oito

perguntas, mas vou fazê-las de forma muito rápida. Vou gastar menos tempo do que

a projeção de vídeo, que foi até muito breve e muito nos interessou.

Antes das perguntas, faço duas ponderações conceituais, e não posso perder

a oportunidade de registrar, já que esta sessão está sendo gravada. A primeira diz

respeito ao legítimo interesse econômico. No começo desta reunião, até motivado

por ter falado que a má utilização, que embute o juízo de valor desta sala, era

estapafúrdia, o ilustre companheiro do Paraná — a quem admiro muito — sentiu-se

ofendido e fez algumas considerações a respeito dos interesses econômicos

defendidos por Deputados. Desejo, contudo, fazer rápida observação a esse

respeito.

Tenho projeto que proíbe a produção, a comercialização e a distribuição de

amianto no País. Nem por isso, em momento algum, considerei espúria a forma

como Deputados de Goiás — só Goiás, porque só temos uma única mina lá —

defendem a continuidade da produção do amianto. Pelo contrário, isso é legítima

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defesa, e toda defesa tem seus aspectos, como a defesa do emprego e da

economia regional.

Esse embate dialético deve se dar também no campo das idéias. Por isso,

abandonamos a força e repudiamos toda violência. No Parlamento, deve-se parlar e

se discutir no âmbito das idéias, prevalecendo aquelas que conseguirem galvanizar

maior número de Deputados e, portanto, obterem mais votos.

O Dr. Tommasini mostrou que não é só São Paulo que tem fábricas de pneus.

Ainda que fosse, a defesa de algo produzido naquele Estado seria tão legítima

quanto à legítima defesa que se faz de empresas do vizinho e amigo Estado do

Paraná. Que se defenda com todas as garras! Toda empresa que estiver gerando

empregos, que tiver responsabilidade social e ambiental, deve ser bem vista e muito

bem recebida aqui nesta Casa. Essa é a primeira ponderação. Por isso, jamais iria

pedir que se abrisse o sigilo bancário dos Deputados de Goiás ou do Paraná. Mas o

meu sigilo bancário está absolutamente à disposição...

Na Constituinte, não defendi nenhum lobby espúrio. Nos períodos em que

exerci aqui o mandato de Deputado, ou em que fui Secretário de Estado, em que fui

Prefeito, nunca defendi o lobby espúrio. A transparência deve ser qualidade

fundamental para que haja ética na política.

Ficou também muito claro para nós que há três tipos de empresa, embora a

discussão caísse exatamente naquilo que o Deputado Fernando Gabeira afirmou, de

saber como o Itamaraty está agindo na questão do MERCOSUL.

Mas o debate extrapolou e ficou muito didático. Há empresas que produzem

pneus remoldados com matéria-prima nacional; há as que remoldam pneus com

pneus usados importados, as que usam a possibilidade — fiquei impressionado com

as afirmações do Deputado Celso Russomanno — de importar pneus meia-vida; e

as empresas importadoras de pneus reformados no exterior e que vêm para cá.

Qual a posição em relação às quatro? Parece que há unanimidade contra a

importação de pneus reformados no exterior. Todos são contra; quanto a isso,

parece que ninguém é favorável.

Com relação às empresas que produzem pneus remoldados com matéria-

prima nacional, só na minha cidade há várias que reformam pneus nacionais. A meu

ver, elas contribuem para aumentar a vida útil dos pneus e deveriam ser estimuladas

até com incentivos fiscais.

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Outra situação é a das empresas importadoras de pneus usados, que

consideram pneus usados como matéria-prima. Aqui fazemos juízo importantíssimo.

Devemos considerar se é matéria-prima comum ou se vai ser colocada nova variável

nesse polinômio, que é a questão ambiental. Isso é motivo de algumas perguntas.

Há também a hipótese de se importar pneu meia-vida.

Em face dessas observações, a primeira pergunta é para o representante do

Ministério da Justiça, que fez consideração en passant sobre o assunto que

considero vital para o Ministério. Esta Comissão diz respeito diretamente à defesa

do consumidor. Como é encarada essa questão, no caso de acidentes de trabalho

relacionados a pneus importados? Quem irá dar o laudo e irá se responsabilizar no

caso do pneu reformado, recauchutado, recapeado, remoldado? Como o Ministério

da Justiça vê a questão sob a ótica de defesa do consumidor e de acidentes de

trânsito causados pela má qualidade dos pneus?

A segunda questão diz respeito aos chamados pneus reformados importados.

Se todos são contra e se isso o que ocorreu, esse decreto, foi em função de uma

abertura na lei que suscitou esse questionamento do Uruguai, que foi perquirido num

tribunal arbitral e conseguiu uma vitória, pergunto ao Dr. Edson: o que está

propondo o nosso Itamaraty para mudar a legislação e evitar que, futuramente, essa

abertura continue ocorrendo? Qual a proposta? O que temos que mudar na lei? Qual

a nossa parte para evitar que algum outro país suscite a igualdade, a isonomia e se

queira estender para outros países essa condição dada ao Uruguai?

Tenho uma segunda pergunta ao Dr. Edson: como é que o senhor vê um

projeto de lei que transforme em lei esses decretos e portarias que proíbem a

importação de bens de consumo usados?

Pergunto ao Dr. Samuel: quais são os mecanismos usados para controlar a

triangulação? Quem cuida dessa parte para evitar que os países do MERCOSUL

importem um produto reformado, de acordo com a norma, sem pagar multa, e o

introduzam no nosso País? Como é esse mecanismo? As informações que temos é

de que esse controle é muito débil e frágil.

As duas últimas perguntas são para os representantes do IBAMA. Primeiro,

sobre essa questão que ficou como ponto-chave: pneus usados podem ser

entendidos como matéria-prima comum? Como o Governo Lula vê essa questão?

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Qual é a posição do Governo? Se o Governo é contra, que medida legal vai ser

tomada? O Governo vai fazer vista grossa, vai deixar a coisa correr?

A última pergunta ao IBAMA surgiu em função das observações de um dos

mais brilhantes e ativos Deputados que conheço, o Deputado Celso Russomanno.

Como o IBAMA faz para fiscalizar a venda do pneu usado? Gostaríamos até

de saber se o IBAMA tem conhecimento de alguma empresa no País — talvez até o

próprio Dr. Francisco possa nos informar — que tenha importado pneus usados

como matéria-prima, mas que, como achou que estavam quase novos — nem meia-

vida, mas três-quartos-de-vida —, os lavou e vendeu diretamente como pneus meia-

vida. Como o IBAMA controla a qualidade dessas vendas? Quantos pneus meia-vida

vêm sendo vendidos atualmente no País?

São essas as perguntas. Quero agradecer as informações tão oportunas que

tivemos o privilégio hoje de receber nesta reunião de audiência pública. Muito

obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Obrigado, Deputado Antonio

Carlos Mendes Thame.

Estando ausente o Deputado Renato Cozzolino, do Rio de Janeiro, passo a

palavra ao também autor do requerimento, Deputado José Borba, do PMDB do

Paraná.

O SR. DEPUTADO JOSÉ BORBA – Sr. Presidente, nobres companheiros

Deputados, expositores que compõem a Mesa e que vêm oferecer um debate com

todos os segmentos da sociedade organizada, tenho a alegria de ter tido a

oportunidade de presidir esta Comissão já por várias vezes. Posso afirmar, sem

nenhum menosprezo pelas outras reuniões de audiência pública que já tivemos, que

já dá para avaliarmos esta como a de melhor aproveitamento e acompanhamento,

pautada pelo silêncio, pela atenção de todos os presentes.

Minutos antes do início da instalação desta audiência, estávamos um pouco

tensos e preocupados com o resultado. E o resultado está sendo dos melhores, de

alto aproveitamento!

Não podemos deixar de reconhecer a contribuição para esta Comissão do

Deputado Fernando Gabeira, do Deputado Celso Russomanno, do Deputado

Luciano Zica, nosso amigo e companheiro, do Deputado Antonio Carlos Mendes

Thame, do Deputado Max Rosenmann, deste Deputado que vos fala e dos demais

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Deputados que aqui chegaram, como a Deputada do nosso partido que vem

abrilhantar esta Comissão.

A experiência nos tem mostrado que só a ação conjunta e o entendimento

são capazes de produzir os resultados de que esta Comissão, o Congresso e o País

precisam. Tenho a certeza, em que pesem algumas farpas no início, de que

haveremos de recompor o entendimento entre esses valorosos Deputados. Vamos

caminhar!

Todos tiveram oportunidade de fazer explanações claras e objetivas, com um

longo alcance. Também não podemos esquecer do Presidente da ABIP, que,

mesmo não combinando, mesmo não podendo, acabou apresentando seu produto.

Às vezes, o proibido, o não permitido é mais cobiçado e chama mais a atenção. E

ele acabou alcançando seu papel.

A exibição do vídeo foi muito ilustrativa.

Teve também a sua oportunidade o Presidente do Sindicato Nacional da

Indústria de Pneumáticos. Portanto, ambos em posições antagônicas, mas todas

elas convergindo para um só ponto: o de dias melhores, de melhores condições,

dando a contribuição de que nosso País precisa, contribuindo com o meio ambiente.

A cada dia somos surpreendidos com algo de que se precisou, ou de que se

careceu, ou que tenha faltado cuidado, atenção, entendimento. Tudo isso haverá de

contribuir.

Não podemos esquecer o projeto de lei do então Deputado Flávio Arns, hoje

Senador do PT pelo Estado do Paraná. Acredito que, se atentarmos para esse

projeto de lei e tivermos a oportunidade, a exemplo da nossa presença e a do

Deputado Luciano Zica e a de tantos outros Parlamentares, de ir até o nosso Estado

— e será uma honra recebê-los — observar o investimento e o trabalho

desenvolvidos, o que estamos oferecendo, certamente chegaremos à conclusão de

que a ação desse empresário não prestou nenhum desserviço, nem ao Estado nem

ao País. Muito pelo contrário. Certamente ficaremos convencidos de que lá se

estabeleceu o começo de um serviço que contribui com o nosso Estado e com o

nosso País.

Peço aos experientes Deputados e àqueles que aqui chegam, a nós

somando-se com a maior boa vontade, que retomemos a paz, o entendimento, o

acordo, e vamos em frente para ver a que ponto chegamos. Desejamos que o

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resultado seja benéfico e que atenda a todos os interesses. Que se guarneça a

ordem e principalmente o nosso meio ambiente, que realmente tem sido ameaçado

por vários segmentos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Agradeço ao Deputado José

Borba.

Não estando presente a Deputada Janete Capiberibe, do PSB, passo a

palavra ao Deputado Luciano Zica.

O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,

membros da Mesa, concordo com as palavras do nobre Deputado José Borba,

companheiro e amigo da Comissão, de que cabe a nós exercer a atividade

parlamentar com a responsabilidade que é inerente a cada um de nós; ou seja,

exercê-la com respeito ao próximo. Nesse sentido, disponibilizo meu sigilo bancário,

e entrarei com uma representação assim que estiver de posse da transcrição, já que

não fiz qualquer manifestação. Julgo-me no dever de defender minha honra, uma

vez que foram citados os setenta Deputados da bancada paulista. Membro dessa

bancada, vejo-me na posição de me defender para não ser incluído em situação de

suspeita.

Com relação às minhas questões, para mim não está em debate a parte

exposta pelo Sr. Francisco Simeão ou pelo Sr. Gerardo Tommasini. São questões

que não cabiam, no meu ponto de vista, nesta audiência. Mesmo considerando essa

questão, gostaria de registrar que não tenho absolutamente nada contra a pessoa

ou a empresa do Sr. Francisco Simeão. Tive apenas um contato com ele, o que

infelizmente propiciou uma repercussão negativa. E sinto-me no dever de relatar a

esta Casa, já que fui citado.

No ano de 1995, quando debatíamos as reformas propostas pelo Presidente

Fernando Henrique Cardoso, os sindicalistas eram impedidos de entrar nesta Casa,

para abordar os Deputados, por forte esquema de segurança. No entanto, aqui

transitavam livremente representantes da empresa do Sr. Francisco Simeão. E

lembro-me de que um conjunto de moças, com aparelho de TV e videocassete,

insistiam que assistíssemos a um vídeo sobre as maravilhas do pneu importado.

Disse-lhes que tinha opinião formada, contrária, que conhecia o assunto. E, assim,

passei um longo tempo sem assistir ao vídeo. No entanto, uma delas me procurou e

disse que ganhava sessenta reais por exibição de quinze minutos do filme. Por essa

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nobre razão, resolvi assistir ao filme. Naturalmente, ela anotou meu nome em seu

relatório de trabalho.

No dia seguinte, deparei, na porta do meu gabinete, com o Sr. Francisco

Simeão, que me deu de presente uma agenda eletrônica muito bonita. Hesitei em

recebê-la, mas acabei pegando a agenda. Entrei em meu gabinete e, em dez

minutos, fiz um requerimento e encaminhei-o à Corregedoria da Câmara, para que

proibisse aquele lobby, já que os trabalhadores não podiam entrar na Casa.

Esse ato que pratiquei, aliado à manifestação de outros Deputados que

protestaram contra as abordagens no aeroporto, se transformou em matéria da

revista Veja. Felizmente, conseguimos, naquele momento, parar aquela situação. As

meninas até hoje me olham torto, porque perderam o emprego. Mas, como disse, fui

um dos últimos a ser abordado. Não tiveram tanto prejuízo; portanto, estou tranqüilo.

Não tenho nada contra o Sr. Francisco Simeão, mas divirjo da forma e do

objeto da sua indústria.

Foi dito que há um apoio do INMETRO à indústria do pneu reformado, usado

e importado. Tenho em mãos a Resolução nº 133, do INMETRO, que trata de

caracterizar, entre outras coisas, o que é pneu usado ou reformado:

“Pneu reformado é pneu usado — portanto,

proibida a importação — que passou por um dos

seguintes processos para reutilização de sua carcaça:

recapagem, recauchutagem ou remoldagem.

Recapagem é o processo pelo qual um pneu é

reformado pela substituição de sua banda de rodagem.

Recauchutagem é o processo pelo qual um pneu é

reformado pela substituição de sua banda de rodagem e

de seus ombros.

Remoldagem é um processo pelo qual um pneu é

reformado pela substituição de sua banda de rodagem,

dos seus ombros e de toda a superfície de seus flancos.

Esse processo também é conhecido como

recauchutagem de talão a talão.”

Há uma nota técnica que pode estar sendo usada como testemunho de que o

INMETRO é favorável.

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Outra questão que queria comentar: a citação do Deputado Fernando Gabeira

sobre a viagem que fiz ao Uruguai. Estive, no início do mês de março, em

Montevidéu, representando a Presidência da Câmara dos Deputados, na condição

de Ouvidor-Geral da Câmara, numa Conferência da Organização dos Estados

Americanos, atividade interparlamentar.

Abri mão do almoço, numa quarta-feira, no meio da viagem, e solicitei ao

Embaixador do Brasil que organizasse uma visita à empresa que, no Uruguai,

processa essa recuperação dos pneus, no que fui prontamente atendido.

Fui muito bem recebido pelo Sr. Ralph, o proprietário. Segundo ele, são

processados 300 mil pneus por ano, importados da Europa — nenhum do Uruguai.

O dono da empresa me mostrou os pneus empilhados. O processo era esse

terceiro, o chamado recauchutagem talão a talão. O pneu é todo descascado e lhe é

aplicada uma nova camada de borracha. É a popular recauchutagem feita no Brasil,

mas o processo é um pouco diferente. Para minha surpresa, essa empresa só

trabalha em dois turnos, com dezessete empregados diretos e doze indiretos, que

fazem o processo de descarga no porto até a entrega. O proprietário ainda fez uma

demonstração de todos os custos.

Acredito que nosso Ministério das Relações Exteriores poderia aprofundar a

análise, já que, para mim, estamos diante de uma fraude. Essa ação tem vício de

origem, e o Brasil precisa defender-se melhor nesse aspecto.

Considero muito importante a integração do MERCOSUL, mas acho que ela

não deve ser feita por esse lado. Segundo o Sr. Ralph, o dono da empresa que

processa esses 300 mil pneus por ano no Uruguai, 80% são vendidos para o Brasil;

e ele pretende ampliar o negócio. Só há outra empresa do mesmo tamanho no

Paraguai que faz esse processo no MERCOSUL. Há uma legislação, aprovada no

dia 17 de julho e sancionada no dia 8 de agosto de 2002, que veda a importação

desses pneus pela Argentina, como o Deputado Fernando Gabeira citou, assim

como ocorre em outros países do MERCOSUL.

O Uruguai é hoje o quinto maior produtor de arroz no mundo, e o Brasil está

importando arroz dos Estados Unidos. Se queremos integrar o MERCOSUL, vamos

importar arroz do Uruguai. Vamos fazer uma integração positiva, com qualidade,

valorizando o que temos de bom. Vamos deixar que a Europa ou os Estados Unidos

resolvam o problema do seu lixo. Nós já temos muito o que resolver.

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Sinto-me contemplado pelas perguntas feitas pelos Deputados Fernando

Gabeira e Antonio Carlos Mendes Thame, mas quero lembrar algo que me preocupa

sobremaneira com relação a essa iniciativa tomada pelo MERCOSUL, diante do

Tribunal Arbitral, frente às perspectivas que vamos enfrentar na OMC.

Evidentemente, não lidamos nesse mercado com anjos. Há interesses dos

mais diversos. Quem nos garante que o grande Embaixador Samuel Guimarães não

terá que se preparar com muita dedicação para defender na OMC que não

tenhamos que implantar a isonomia com todos para dar o mesmo tratamento dado

ao MERCOSUL? É óbvio que teremos que enfrentar isso. Seríamos irresponsáveis

se não nos preparássemos para esse enfrentamento.

Gostaria de perguntar ao Embaixador Samuel Guimarães, por quem tenho um

profundo respeito: como nos estamos preparando para esse enfrentamento, que

inevitavelmente virá, já que esse é um dos mais graves problemas do mundo?

Quero fortalecer minha preocupação com o aspecto do direito internacional.

De resto, tenho informações de que se busca construir um decreto no sentido

de estabelecer o cumprimento da norma estabelecida pelo Tribunal Arbitral,

vedando, definitivamente, a importação de pneus usados. Queria saber se a Mesa

confirma essa perspectiva.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Deputado Luciano Zica,

solicitei a nossa assessoria que me informasse se havia qualquer posição oficial do

INMETRO com relação à divergência levantada por V.Exa. Fui informado, então,

que está presente a esta audiência o Dr. Marcos de Oliveira, Gerente de Qualidade

do INMETRO.

Portanto, concedo a palavra ao Sr. Marcos de Oliveira, para esclarecer a

posição do INMETRO aos Srs. Deputados.

O SR. MARCOS DE OLIVEIRA – Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a

oportunidade de poder esclarecer o que foi dito sobre o INMETRO. Quero deixar

bem claro que não regulamentamos a possibilidade de importação de pneu usado,

novo ou reformado. O que o INMETRO estabelece, através de regulamentos

técnicos, refere-se à qualidade e à segurança do pneu a ser utilizado ou

comercializado em vias públicas nacionais.

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Há cinco ou seis anos, estabelecemos um regulamento técnico para pneus

novos de automóveis e caminhões. Em setembro de 2001, a portaria citada pelo

nobre Deputado Luciano Zica estabeleceu o regulamento técnico, ou seja, as

características quanto à segurança do pneu reformado, que entrará em vigor em

janeiro de 2004. Houve, portanto, um tempo de adequação do mercado nacional às

exigências estabelecidas. A partir de janeiro de 2004, o pneu reformado só poderá

circular em território nacional se estiver certificado segundo o nosso sistema.

O INMETRO trabalha de forma imparcial. Não apoiamos ou deixamos de

apoiar determinado setor. Trabalhamos para atender as necessidade do País para

regular o mercado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Com a palavra o Deputado

João Alfredo.

O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO – Gostaria de saber se houve alguma

certificação dos pneus da empresa BS Colway.

O SR. MARCOS DE OLIVEIRA – Não tenho informação sobre a existência de

certificação voluntária por parte do fabricante BS Colway, até porque, no caso de

pneus reformados, ainda não há organismos de certificação credenciados, aquelas

instituições que executam a certificação.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Agradeço a participação ao

Sr. Marcos de Oliveira, Gerente de Qualidade do INMETRO. Peço a V.Sa. que

encaminhe ofício a esta Comissão esclarecendo a posição do INMETRO diante do

que ouviu e presenciou nesta sala hoje.

Com a palavra o Deputado Mendes Thame. (Pausa.) S.Exa. abriu mão da

inscrição.

Com a palavra a Deputada Ann Pontes.

A SRA. DEPUTADA ANN PONTES – Exmo. Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Deputados, gostaria de dividir com os membros desta Mesa quatro

questionamentos.

Segundo artigo da revista Época, edição de 10 de março de 2003, ainda que

haja no Brasil uma legislação que proíba a importação de pneus usados e

recauchutados, isso ocorre em função das liminares concedidas pela Justiça. O

Brasil é o maior comprador desse produto. Só em 2002, 3 milhões de pneus usados

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entraram no País, o que corresponde a 10% da produção nacional de pneus. Ainda

segundo a revista, menos de 5% dessa importação vinha do MERCOSUL.

Pergunto ao Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães: com a isenção, não

corremos o risco de receber mais pneus usados e recauchutados vindos da Europa

e dos Estados Unidos via MERCOSUL?

Segundo: não se estará abrindo um precedente, como muito bem lembrou o

nobre Deputado Fernando Gabeira, para que outros países exijam o mesmo

tratamento na Organização Mundial do Comércio?

À Dra. Marijane Lisboa pergunto: o Brasil tem tecnologia para reciclar esse

contingente de produtos que, num curto espaço de tempo, se tornarão sucata,

gerando efetivo dano ambiental?

Finalmente, pergunto ao Dr. Edson: a segurança ambiental não foi colocada

em segundo plano diante dos interesses econômicos? Como conciliar a manutenção

de acordos internacionais com a defesa dos direitos difusos, do qual o meio

ambiente faz parte?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) - Com a palavra o Deputado

Max Rosenmann.

O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Sr. Presidente, Srs. Deputados,

quero deixar claro que não costumo utilizar o debate de forma ofensiva, e não o fiz

nos meus dezesseis anos de vida pública. Agora, não aceito que colegas ajam de

forma absolutista, não permitindo o contraditório.

Estou tratando desse assunto desde que foi encaminhado a esta Casa.

Orgulho-me de ter participado ativamente desse processo, ainda mais de ter estado

presente, junto com o Deputado Luciano Pizzatto, quando foi aprovada a resolução

do CONAMA que estabelece a reciclagem, coisa que não existe em outros países.

Portanto, participamos, e muito, da busca de soluções para a questão ambiental.

É claro que há Deputados novos, com grande vontade de contribuir, e alguns

colegas, como o ilustre amigo Mendes Thame, que foi Constituinte e por muito

tempo esteve em São Paulo, atuando como Prefeito e Secretário de Estado. S.Exa.

perdeu uma parte importante dessa discussão e, pelo que percebi, ainda não

conseguiu distinguir o pneu recauchutado do remolde, o que dificulta sua

visualização sobre assunto tão sério para que possa fazer afirmações absolutas.

Esse assunto merece ser bem discutido e explicado.

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Gostaria de fazer algumas perguntas. A indústria — que, segundo o Sr.

Gerardo Tommasini, são em torno de vinte no Brasil, mas ouvi do Deputado

Fernando Gabeira e de outros que são apenas quatro grandes — sempre fabricou

pneus. Sou um consumidor, um cidadão normal, não um técnico em pneus. Não sei

se nesta sala há algum especialista em durabilidade de pneus, mas também não há

nenhum bobo. Todos nós, consumidores, sabemos que, no Brasil, um pneu

raramente chega aos 40 mil quilômetros. Nunca vi um pneu brasileiro durar 105 mil

quilômetros sem ficar completamente careca. O senhor afirmou há pouco, com muito

orgulho, que a indústria nacional está produzindo pneus com capacidade de rodar

105 mil quilômetros. Comungo da posição do Deputado Fernando Gabeira no

sentido de que, se eles são bom para exportarmos, são bons também para termos

no mercado interno. Por que não temos no mercado interno pneus com durabilidade

de 105 mil quilômetros?

Quando iniciamos essa discussão, um pneu normal de automóvel custava 80

dólares no Brasil. Depois, a partir do grande patriotismo desta Casa, os pneus

chegaram a 30, 35 dólares no mercado. Sem dúvida alguma, essa discussão é

muito séria e importante não só pelo lado ambiental mas pelo lado econômico, da

economia do povo brasileiro. Insisto em pedir que pneus com essa qualidade,

capazes de rodar 105 mil quilômetros, assim como as garantias oferecidas aos

consumidores estrangeiros, sejam oferecidas também ao consumidor brasileiro.

O IBAMA e o Ministério do Meio Ambiente têm uma participação muito

importante nessa questão. Na verdade, o início dessa discussão deu-se a partir de

uma portaria do então Ministro José Eduardo Andrade Vieira, do Paraná. Ninguém

sabe que a iniciativa partiu do Ministério da Indústria e Comércio, nem que, na

época, foi pedida a revogação dessa portaria porque o nosso Exército era um

grande comprador de sucata. Quando viram o projeto, pediram sua suspensão

imediata, porque grande parte do que é utilizado pela frota de aviões e de navios é

material de segunda mão. Digo isso só para ilustrar, para informar aqueles que não

sabem. Não estou entrando no mérito dos procedimentos do Exército, apenas

ressaltando que não foi iniciativa do Ministério do Meio Ambiente.

Uma vez que temos uma decisão do CONAMA, quero saber se houve

fiscalização por parte do IBAMA e do Ministério a respeito do efetivo pagamento pela

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decisão de destruir adequadamente tantos pneus inservíveis para haver o direito de

importação ou mesmo de produção.

Ouvi da Sra. Marijane Lisboa que não existe uma tecnologia comprovada.

Tenho a informação de que o meu Estado, o Paraná, de que me orgulho muito,

através da PETROBRAS Xisto, dominou a tecnologia e, junto com a empresa BS

Colway, está fazendo a destruição dos pneus de forma adequada. A destruição não

está sendo feita em fundo de quintal, para obter documento falso de destruição; está

sendo feita com a PETROBRAS, e acreditamos todos que ela está dando os

números corretos e fazendo um serviço que nos orgulha.

Há um domínio tecnológico que também resultou de discussão nesta Casa.

Se não houvesse o pedido de reciclagem feito por esta Casa, a PETROBRAS nem

teria entrado nessa questão e hoje não teríamos esse domínio tecnológico. É mais

uma conquista desta Casa nessa matéria, que é polêmica mas também positiva, Sr.

Presidente. Por isso devemos ter muito cuidado, respeito e conhecimento para

discutir esse assunto e não fazê-lo de olhos fechados, porque podemos nos dar mal

e dizer palavras ofensivas. Sinto-me ofendido pela forma como fui impedido na

minha proposta inicial.

Portanto, gostaria de saber se há controle por parte do IBAMA, se tudo foi

cumprido pelas vinte empresas, se não houve falha na questão da destruição e se,

por acaso, algum dos importadores ou produtores de pneu não cumpriram a sua

parte. Gostaria de saber se o IBAMA efetivamente fez esse serviço.

Outra coisa interessante. Também sou brasileiro, patriota, nacionalista, gosto

ao máximo das coisas brasileiras. Gostaria muito que, para a fabricação do pneu

remolde, fossem utilizados pneus brasileiros e não fosse preciso importar pneus

europeus. Há oito anos venho ouvindo que, para que os pneus sejam remoldados, é

preciso que sejam pneus europeus. Nem pneu americano serve, muito menos os

pneus fabricados por seus companheiros, Sr. Gerardo Tommasini, verdadeiras

drogas que, após chegarem aos 30 mil quilômetros, ficam carecas e mal servem

para aquela recapagem clássica.

Nós, brasileiros, estamos cansados de saber de casos de pneus de

caminhões e de automóveis que estouram nas estradas, matando brasileiros. Eles

não só trazem prejuízo econômico como ceifam vidas. Temos de aprender a

respeitar as vidas e não somente os lucros, pelos quais os senhores procuram,

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assim como grandes empresários do setor. Não estamos tristes porque V.Sa. não

está montando mais uma fábrica; estamos tristes porque pessoas estão morrendo

no País por causa dos pneus mal fabricados no Brasil.

Está na hora de defendermos a qualidade do pneu brasileiro. Não sou

técnico, mas sei que um pneu nacional não dura 40 mil quilômetros em condições de

segurança.

O Deputado Antonio Carlos Mendes Thame indagou como sabemos se o

pneu é inservível. Existem na Europa medidas por milímetro da espessura da

borracha para considerar pneus meia-vida. A meia-vida tem regulamentação, tem

até aparelhos de medição. A meia-vida não é medida no olho, tem realmente

condições de verificação.

Sr. Gerardo, vou dizer uma coisa que posso dizer, porque são minhas

palavras contra as suas. No dia em que o CONAMA aprovou, o senhor disse: “Eu

não vou cumprir”. Hoje estou feliz ao ver que o senhor está manso, dizendo que

cumpriu e está feliz porque atingiu a sua meta. O senhor aprendeu a respeitar o

nosso País. Então, o senhor aprendeu a respeitar a decisão do CONAMA, sendo

que naquele dia o senhor disse publicamente que de forma alguma iria cumpri-la. O

senhor sabe que o Brasil é um país que está-se tornando sério.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Agradeço ao Deputado Max

Rosenmann. A requerimento do Sr. Gerardo Tommasini, vou encaminhar-lhe o

certificado de garantia de alguns pneus que passam dos 40 mil quilômetros.

Quero esclarecer que a Mesa mandou retirar os pneus que estavam diante

dela em função da majoritária decisão dos Srs. Deputados aqui presentes.

Passo a palavra ao Deputado João Alfredo.

O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO - Sr. Presidente, Sras. e Srs.

integrantes da Mesa, convidados para esta audiência pública, demais companheiros

Parlamentares aqui presentes, antes de fazer meus questionamentos, gostaria de

expressar minha solidariedade a duas pessoas. A primeira é a Dra. Marijane Lisboa,

não por esta audiência de hoje, mas pela audiência passada, em que foi, de forma

grosseira e injusta, agredida. Eu já havia usado a palavra, e a única forma que

encontrei de fazer um desagravo foi aplaudindo-a quando foi citada pela nossa

Ministra Marina Silva. O segundo é o Deputado Luciano Zica, cuja integridade

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conheço. Sei que S.Exa. defende os interesses do povo brasileiro na Câmara dos

Deputados e não tem vinculação com nenhum lobby. Quero ainda manifestar ao

Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães meu apreço e minha admiração pela

história e pela defesa que tem feito dos interesses nacionais. Já o fiz pessoalmente,

e agora o faço publicamente.

Preocupou-me, Embaixador, acredito que pela exigüidade do tempo, o fato de

V.Exa. não ter abordado o aspecto ambiental desse decreto. Sou um admirador,

talvez dos mais entusiastas, da nossa Ministra Marina Silva. Um dos princípios da

política ambiental do Governo, que S.Exa. tem repetido sempre por onde tem

passado, inclusive nesta Comissão, é a transversalidade, ou seja, ou a política

ambiental — vou usar uma expressão ecológica — percola todos os setores das

ações governamentais ou será mais uma, como ocorreu desde que se criaram os

órgãos ambientais no Governo. Muitas vezes, a política industrial e agrícola

caminhava numa direção e a política ambiental em outra, completamente adversa,

sempre colocada, na verdade, como uma política marginal, mais para alcançar

credibilidade internacional do que propriamente por uma ação de fato.

Então, essa é uma questão básica, porque me parece que ficou claro aqui —

digo isso até como Deputado do PT — que há uma visão divergente do Governo

nesse caso, seja pelos aspectos comerciais de defesa do interesse nacional, já

citados pelo Dr. Edson Lupatini Júnior, seja pelos aspectos ambientais ou mesmo

tendo em vista o MERCOSUL. Isso me preocupa, porque essa questão pode tornar-

se insolúvel. Mesmo com a edição de um novo decreto, esse precedente poderá

tornar o nosso País destinatário de lixo, de resíduos perigosos.

Portanto, pergunto ao Embaixador Samuel Pinheiro e à Dra. Marijane: como

conciliar esses dois aspectos?

Custo a acreditar que uma pequena empresa de um país vizinho ao nosso,

integrante do MERCOSUL, empregando dezessete pessoas, cause essa comoção

aqui. Parece-me, com todo o respeito e admiração que tenho por V.Exa, uma

situação surreal abrirmos esse precedente para uma empresa fraudulenta, segundo

o testemunho absolutamente isento do Deputado Luciano Zica. Isso é um absurdo,

uma vez que essa empresa alcança posição adotada por governos passados, não

um governo do PT, cujo Ministério do Meio Ambiente é comandado pela Sra. Marina

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Silva, uma personalidade fantástica. O que vale mais: a Convenção de Basiléia,

assinada por nós e por todos os países do MERCOSUL, ou esse laudo arbitrário?

Como estudante de Direito, principalmente no mestrado, estudei o princípio

da proporcionalidade, e percebo que as coisas estão desproporcionais pelo lado

comercial, da defesa dos interesses nacionais e da defesa do emprego, uma vez

que o MERCOSUL não pode passar por isso. Não será essa a questão que irá

definir o futuro do MERCOSUL.

Ressalto que somos defensores ardorosos da nova política de relações

externas do Governo do nosso companheiro Lula. Este Governo foi muito feliz ao

colocar à frente do Ministério das Relações Exteriores o Ministro Celso Amorim. Eu

dizia ao Ministro da minha alegria ao ver o Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães,

depois do que sofreu, assumir a Secretaria-Geral daquele Ministério, assim como ao

ver José Bustani, que havia sido defenestrado da OPAQ por pressão do Governo

dos Estados Unidos, assumir o cargo de Embaixador em Londres. Isso mostra a

independência, a altivez e a soberania do Governo brasileiro. Hoje, nosso País é

respeitado porque deixou de ser capacho do Governo dos Estados Unidos e firmou

uma política própria. Por isso, tenho absoluta confiança na política de relações

exteriores deste Governo a despeito do decreto que está engasgado na nossa

garganta, que mexe com nossos brios de ambientalistas — apesar de novato nesta

Casa, aprendo muito com os Deputados Fernando Gabeira e Luciano Zica.

Para finalizar, quero dizer que esse precedente não tem justificativa, quer do

ponto de vista ambiental, comercial, quer do ponto de vista do direito internacional.

Como Deputado Federal, como petista e como ambientalista, peço ao Governo

brasileiro que reveja a sua posição, sem que isso crie dificuldades diplomáticas ou

ameace o MERCOSUL.

Em outro momento, devemos discutir o aproveitamento, ao qual nenhum de

nós mostrou-se contrário. Nosso problema está ligado à importação desses resíduos

perigosos que vêm para o Brasil.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Com a palavra o Deputado

Takayama.

O SR. DEPUTADO TAKAYAMA – Sr. Presidente, no calor do debate,

percebo que algumas palavras acabam ofendendo um ou outro. No entanto, tudo

isso faz parte da nossa democracia. Hoje, por exemplo, se encontram presentes

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pessoas com todos os sobrenomes lutando pelo nosso produto nacional, brigando

por Pirelli, Firestone, Bridgestone, Michelin e Goodyear — na verdade, tudo produto

importado. Até nós somos. Há algum brasileiro aqui? Aqui, quem defende? O Silva,

o Lisboa, o Guimarães, o Lupatini, o Simeão, que deve ser nome judeu; Gabeira,

não sei se é espanhol ou português; o Rosenmann, o Zica e eu, Takayama. Todos

temos ascendência estrangeira. Todos nós somos matéria-prima importada, mas

fomos fabricados aqui — uns mais, outros menos; alguns com um pouquinho de

produto mais nacional — e estamos discutindo a questão de ser ou não importado.

Gente, estamos aqui discutindo o crescimento do Brasil! Eu sei que as

grandes multinacionais, como Firestone, Pirelli ou Michelin, têm que lutar, mas

estamos diante da oportunidade de baratear um produto que não é de má qualidade,

como o INMETRO detectou.

Tenho certeza de que não se trata de uma briga entre os Estados de São

Paulo e Paraná, que sofre muito por ter sido a 5ª Comarca de São Paulo. Até hoje

sofremos com o IBAMA em função de certos produtos produzidos nas divisas com

São Paulo e Santa Catarina, como o camarão, que não podem ser produzidos no

Paraná; há peixes que podem ser produzidos no Rio Paraná, um pouquinho mais

acima, no Estado de São Paulo ou no Mato Grosso, mas não no Paraná. Não sei se

está havendo um cerceamento, acredito que não, mas estamos lutando pelo

crescimento do Brasil.

Eu tinha a mesma preocupação da Deputada Ann Pontes: era radicalmente

contra a vinda de pneu, lixo lá de fora, para promover a destruição no meio

ambiente. Mas que alegria a minha ao saber que a PETROBRAS, na cidade de São

Mateus do Sul, Paraná, conseguiu reciclar pneus, produto tido pelo mundo como um

problema que não se sabia como resolver. Hoje, quanto mais pneus velhos vierem,

melhor para nós, porque, com esse produto barato, produziremos asfalto e outros

derivados nas refinarias daquela cidade.

Para os senhores terem uma idéia, na década de 50, o Japão, arrasado pela

Segunda Guerra Mundial, importava lixo do Brasil, e hoje é uma potência mundial.

Por que isso aconteceu? Deixaram a hipocrisia de lado. Claro, desta discussão

nascerá a luz para nos conduzir a um melhor caminho para o Brasil, mas se

começarmos a discutir demais, pode-se repetir o que aconteceu com o café, que foi

tão discutido e hoje o mercado está sendo tomado por países como a Colômbia.

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Outra hipocrisia é dizer que não podemos mexer com produtos de fora.

Desafio os Deputados aqui presentes se não têm pelo menos um produto de origem

asiática no seu corpo, como um botão, um relógio. Até o bottom que usamos talvez

seja fabricado lá fora.

Querem defender o MERCOSUL quando a Argentina, quando lhe interessa,

faz propaganda dizendo aos argentinos para não comprar produtos do Brasil? Ora,

minha gente, vamos acabar com isso. Vamos permitir que o nosso empresário, que

achou talvez a galinha dos ovos de ouro, traga o melhor produto. Eu queria até

saber quantos empregos ele está gerando, qual sua capacidade de produção, o

custo. Como peguei a coisa no meio do caminho, não sei se isso foi dito. Quantos?

(Intervenção inaudível.)

O SR. DEPUTADO TAKAYAMA - São quatrocentos empregos, minha gente!

Peçam para o Simeão instalar uma indústria em São Paulo, em Santa Catarina, que

talvez a coisa melhore.

Vamos lembrar que precisamos defender o menor preço e o desenvolvimento

do Brasil. Não podemos fechar a porta. Não vou dizer que seja demagogia. Cada

um, segundo sua ótica, procura o melhor para o Brasil, mas temos de evitar a

hipocrisia e ver que a vinda desses pneus, em nenhum momento, traz prejuízos.

Pelo contrário, ajudou o Brasil a desenvolver uma tecnologia que transforma aquilo

que alguns chamam de lixo, mas não é. O Japão aceitou tudo quanto é sucata do

mundo todo, principalmente do Brasil, e hoje está na situação em que está.

Então, deixo meu pensamento de que precisamos avançar. Não podemos

ficar para trás, como aconteceu com a borracha. O látex era do Brasil e levaram

nossas mudas para a Malásia e a Polinésia, que estão hoje competindo com o

Brasil. É hora de repensarmos a situação e entender que isso é bom para todos nós.

Não estamos pensando no Paraná, em Santa Catarina, em empresa nacional ou

estrangeira; estamos pensando no desenvolvimento do Brasil.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Concedo a palavra ao

Deputado Dr. Heleno.

O SR. DEPUTADO DR. HELENO – Muito obrigado, Sr. Presidente. Cheguei

no final, mas acho que o assunto mexe com todos nós.

O Deputado Fernando Gabeira fez uma exposição de motivos baseada no

que acredita — e, de fato, defende à facão e ferro —, que é o alto padrão de vida do

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ser vivo. Um colega disse que no Brasil temos de importar tudo. Ele tem razão,

porque se formos parar de importar pneu, temos de parar também de importar todos

esses produtos das lojas de 1,99. Temos de parar de importar gravatas, certos

alimentos e até de modificar certos hábitos.

Agora, eu quero sair daqui com a certeza de que, de fato, defenderei alguma

coisa, porque uma das fábricas de remoldeds, de pneus remoldados, está na minha

cidade, Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, onde há bolsões de miséria. A

fábrica emprega 280 trabalhadores. Eu não quero que ninguém aqui defenda isso

apenas como uma bandeira qualquer, mas o fato é que essa atividade gera

emprego, embora não queira que aconteça um crime ecológico no meu País.

Sr. Presidente, pergunto, primeiro, com relação aos cata-pneus. Aqueles que

catavam papel hoje estão catando pneu? Não sei a quem direcionar essa pergunta,

mas quero saber se isso é verdade, porque vi num jornal uma foto de uma montanha

de pneus e abaixo se dizia que o Brasil estava cheio de lixo. Quando fui olhar direito,

vi que a foto tinha sido tirada nos Estados Unidos. Será que pensam que sou bobo

para engolir isso? Quero que me provem, que me digam onde estão esses

depósitos.

Segundo: o pó do pneu é aproveitado no asfalto? Não tenho certeza disso,

mas gostaria de saber.

Terceiro: o pneu remoldado tem tanta duração quanto o pneu novo, fabricado

aqui?

Quarto: a transformação forçou, de verdade, a queda do preço do pneu novo

de 80 para 45 dólares?

Quinto: a carcaça do pneu importado transformada em pequenas bolachas de

borrachas, adicionando-se carvão, ao queimar, libera mais calor?

Sexto: parece que o remoldado trouxe um benefício tremendo para o Brasil,

porque obrigou as fábricas de pneu a dar um destino adequado aos pneu usados. A

mesma coisa está acontecendo com a carcaça do pneu importado?

Sr. Presidente, não sei se entenderam minhas perguntas e quem poderá, de

fato, respondê-las a fim de que eu tome uma decisão.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Concedo a palavra ao

Deputado Ronaldo Vasconcellos.

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O SR. DEPUTADO RONALDO VASCONCELLOS – Sr. Presidente, Sras. e

Srs. Deputados, serei brevíssimo, até porque, estudioso da área ambiental, sou

totalmente contrário a essa importação de pneus. Sou do PTB, partido da base de

apoio do Governo, e fiquei mais que assustado, fiquei preocupadíssimo ao saber

que este Governo que apóio, que tem uma Ministra competente, dedicada, assinou

um decreto nesse sentido.

Aproveito para fazer minha pergunta — posso estar equivocado — aos

representantes do IBAMA e do Ministério do Meio Ambiente. Não escondo de

ninguém — e estou aqui há cinco anos — que sempre defendi o pensamento do

Ministério do Meio Ambiente e do IBAMA e vou continuar fazendo assim enquanto

acreditar nesses dois órgãos. Queria saber, então, a posição dos dois nesse caso.

Minha posição, quero lembrar, é inteiramente contrária à importação de pneus.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Vamos passar à fase das

respostas. Pela ordem, a primeira pergunta foi do Deputado Fernando Gabeira.

O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Sr. Presidente, pela ordem. Só queria

alertar os Srs. Deputados para o fato de que foi iniciada a Ordem do Dia. Sugiro que

nos alternemos para marcar presença no plenário. Quem ainda não marcou

presença, que o faça, para não prejudicarmos o processo de votação.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Agradeço a V.Exa. a

sugestão. Peço, porém, ao Deputado Fernando Gabeira que aqui permaneça em

função de que será dada resposta à pergunta de S.Exa.

O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO - Pela ordem, Sr. Presidente. Sem

querer ensinar o Padre Nosso ao vigário, sugiro que V.Exa. dê a palavra a todos os

integrantes da Mesa, a fim de que respondam um a um os questionamentos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) - Estando os demais Deputados

de acordo, procederemos nessa ordem.

Primeiro, concedo a palavra ao Sr. Arthur Badin, representante do Ministério

da Justiça.

O SR. ARTHUR BADIN – O Deputado Antonio Carlos Mendes Thame muito

me honrou dirigindo-me o seu questionamento, externando sua preocupação com

relação ao vício e aos fatos do produto pneu recauchutado. A preocupação do

Deputado Antonio Carlos Mendes Thame é muito coerente com a história de sua

vida política, sabidamente voltada à defesa dos consumidores. Muito alegra a

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Secretaria de Direito Econômico e o Departamento de Proteção e Defesa do

Consumidor poder contar com sua colaboração.

O vício do produto — e vale a pena fazer uma rápida distinção técnica — diz

respeito aos defeitos que tornam o produto inadequado ao fim a que se destina. Por

exemplo, pode-se citar o caso do pneu que se esvazia com freqüência. O fato do

produto geralmente diz respeito aos acontecimentos relacionados a uma ameaça à

segurança do consumidor, que pode ser ocasionada por um defeito do produto.

O Deputado manifestou preocupação com relação aos acidentes que podem

vir a ocorrer por causa do uso de pneus recauchutados e remodelados. A questão

aqui debatida é a importação dos pneus usados do Uruguai. Do ponto de vista da

defesa do consumidor, é irrelevante a origem do insumo ou do produto a ser

colocado no mercado; ou seja, tanto faz o produto nunca ter sido utilizado como ser

remodelado, desde que não cause danos ao consumidor. No caso do produto

remodelado ou recauchutado, desde que o consumidor seja devidamente informado

de que está comprando um produto dessa natureza, o direito do consumidor estará

sendo perfeitamente atendido.

Ainda que precise de novo fôlego, o Brasil possui um dos mais avançados

sistemas de defesa do consumidor, formado por todos os PROCONs e entidades de

defesa do consumidor muito ativas.

Antes de encerrar, com relação especificamente a acidentes com veículos

automotores, por incrível que pareça, apesar de pertencerem ao mesmo Ministério,

nunca houve um entendimento entre a Polícia Rodoviária e o Departamento de

Proteção e Defesa do Consumidor. Com o novo Governo, por orientação do Ministro

Márcio Thomaz Bastos, ambos os Departamentos estão conversando para que,

quando ocorrer um acidente numa das estradas federais, os funcionários da perícia

técnica estejam preparados para levantar informações que digam respeito às causas

daquele acidente. Muitos acidentes acontecem por causa de defeitos nos veículos

ou no pneu, mas esse dado não entra nas estatísticas porque rapidamente o carro

acidentado é recolhido e as provas de um eventual vício ou defeito do produto são

perdidas.

Eram esses os esclarecimento que tinha a dar. Espero haver atendido aos

anseios desta Comissão.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Muito obrigado, Sr. Arthur

Badin.

Tem a palavra o Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, Secretário-Geral

do Ministério das Relações Exteriores.

O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Desejo fazer alguns comentários,

pois foram muitas as perguntas que, de uma forma ou de outra, se referem à política

exterior brasileira. Antes, porém, agradeço as menções a mim feitas. Fico muito

grato e um pouco encabulado. Mas, enfim, as pessoas podem cometer erros de

julgamento.

Nos últimos anos, o Ministério das Relações Exteriores tem-se destacado por

uma atuação muito firme na área do meio ambiente. O Ministério muito se preocupa

com as questões relacionadas ao meio ambiente. Essa preocupação não é de hoje.

Ela vem desde a conferência realizada no Rio de Janeiro e, mais recentemente, da

conferência na África do Sul e da Rio + 10. Portanto, temos dado uma atenção muito

grande às questões ambientais.

Talvez seja preciso olhar a questão dos pneus remoldados e importados do

Uruguai de outro ângulo. Temos de levar em conta o que é necessário considerar do

ponto de vista da política internacional.

Quanto ao número de funcionários envolvidos, essa é uma questão relativa.

Afinal, dezessete operários no Uruguai não é o mesmo que no Brasil, pois aquele

país tem 3 milhões de habitantes, enquanto temos sessenta vezes essa população.

Então, se considerarmos o problema do ponto de vista proporcional, para eles, o

número de operários tem de ser multiplicado por sessenta.

O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA - E os quinhentos funcionários da

fábrica que fechou?

O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Qual fábrica?

O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – A fábrica que produzia pneus.

O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – A fábrica que produzia pneus no

Uruguai?

O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Exatamente.

(Intervenção inaudível.)

O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Ela fechou, quebrou.

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O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Estou comentando apenas que

temos de relativizar a questão. Estou apenas dizendo que há uma assimetria muito

grande entre o Brasil e o Uruguai, mas ambos os países estão no mesmo processo

e projeto de integração. Até por causa de questões nacionais, institucionais e

políticas, o Uruguai é muito suscetível a esses problemas. Talvez pudéssemos dizer

que esse comportamento é exagerado, mas é um fato.

Em segundo lugar, temos no Brasil pneus remoldados. É feita a importação

de pneus usados que, aqui, são remoldados. Já o Uruguai importa pneus usados

que, lá, são remoldados e exportados para cá. Por causa do MERCOSUL, uma

união aduaneira, o fato de o pneu ser remoldado no Uruguai significa o mesmo de

ele ser remoldado no Paraná ou em Minas Gerais. Não podemos estabelecer

restrições à importação somente por que os pneus vêm do Uruguai. Podemos ser

contra o sistema do MERCOSUL e a união aduaneira, mas, no momento em que

admitimos que o Brasil faz parte de uma união aduaneira, temos também de admitir

que o produto vindo do Uruguai pode ser vendido tanto lá como aqui, desde que

cumpra os requisitos dessa união, isto é, que haja uma agregação de 60% do valor.

Além disso, nossa defesa se torna mais difícil na medida em que também

remoldamos pneus no Brasil, e em quantidade muito superior ao Uruguai. Não estou

defendendo o Uruguai, mas comentando o problema. Produzimos um produto que é

vendido no Brasil, e o Uruguai produz o mesmo produto e da mesma forma, porque

importa o pneu usado, transforma-o em pneu remoldado e o vende lá mesmo ou em

nosso País. Falta-nos o argumento ecológico, pois permitimos que o Brasil importe

pneus usados e os remolde.

Não havia uma multa que impedisse a produção do pneu remoldado ou a

importação de pneus usados no Brasil. A maior parte dessas importações é feita

com o uso de liminares. Estou dizendo isso para que V.Exas. saibam que

dificuldades foram encontradas.

O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Dr. Samuel, o senhor é um

homem extremamente inteligente e conhece os princípios do MERCOSUL. Os

países integrantes do MERCOSUL se associaram para produzir mais e abrir frentes

de trabalho. Então, fez-se um acordo que é essencialmente contrário aos princípios

do MERCOSUL. Liquida-se uma fábrica no Uruguai, reduz-se o número de operários

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naquele país e passamos a importar da Europa via Uruguai. Como eu já disse, isso

é contra os princípios essenciais do MERCOSUL.

O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – O princípio do MERCOSUL é que

qualquer país pode importar uma matéria-prima, transformá-la, agregar valor até o

percentual mínimo de 60%, se não me engano. A partir daí, esse produto é

considerado nacional. É claro que se o país não está agregando os 60% de valor,

isso se constitui em fraude, que é outro problema; talvez seja preciso investigar se

aquela fábrica agrega ou não os 60% ao valor do produto. A regra é esta: um país

pode importar matéria-prima e processá-la, e o produto novo pode ser consumido

pelo próprio país ou por qualquer outro integrante do MERCOSUL.

O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – A informação dos trabalhadores

do setor é de que existe a agregação de 22%.

O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Então, se essa informação é

verdadeira — não quero afirmar que o Uruguai está cometendo uma fraude —, a

situação tem de ser verificada. E quem faz essa investigação é a Receita Federal.

O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Esse é o primeiro passo.

O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Quanto a isso não há dúvidas, e

isso vale também para outros casos. Da mesma forma, há a questão da

triangulação. Se o pneu entra no Uruguai e depois vem para cá, esse é um problema

de fiscalização e não de essência.

Quanto à OMC e ao fato de havermos aberto um precedente, devo dizer que

podemos dar tratamento preferencial ao Uruguai, ao Paraguai e à Argentina, em

termos comerciais, em relação aos países não-membros do MERCOSUL, mas não

podemos dar um tratamento ambiental mais favorável, isto é, por razões ambientais.

Naturalmente já fazemos isso, porque os produtos oriundos do MERCOSUL vêm

com tarifa zero, enquanto os de outros países aqui chegam com tarifas mais

elevadas. Isso é permitido, portanto, não podemos ser atacados em âmbito de OMC,

mas não podemos afirmar que não vamos importar de outros países da OMC por

razões ambientais e que vamos importar do Uruguai.

Por enquanto, essa questão não se apresentou. De acordo com as

informações de que disponho, não há decisão da Justiça no sentido de que a

importação de pneus remoldados seja proibida.

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O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Permita-me dizer que a Portaria nº 133,

que regulamenta a caracterização do pneu reformado, reformulado ou remoldado,

afirma que esse é um pneu usado, portanto...

O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Trata-se do regulamento do

INMETRO?

O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Exatamente.

O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Mas isso não é lei. Um

regulamento do INMETRO não é lei.

(Intervenção inaudível.)

O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Enfim, há uma questão jurídica.

Amanhã pode ser promulgada uma lei que determine o que faz a Lei nº 9.650 —

segundo me informaram —, que é recente e não tipificou como crime ambiental a

fabricação, comercialização e importação de pneus recauchutados ou remodelados.

(Intervenção inaudível.)

O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Aí, tudo se torna diferente.

Estamos no momento anterior a essa lei, ou seja, do laudo arbitral. A argumentação

do Uruguai é que era feita importação tradicional e que a lei brasileira não a proibia.

A importação...

O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Sr. Presidente, desejo prestar um

esclarecimento importante. Estive no Uruguai, onde visitei a empresa. O empresário

me informou que não existe a importação histórica e que a empresa ficou fechada

durante dois anos; ela foi mantida não por sei por que interesses ou quem pagava

pela manutenção da empresa. Essa questão precisa ser analisada.

O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Os dados de importação

brasileiros indicam que havia a importação do Uruguai.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Solicito aos colegas a

permissão para me ausentar desta reunião, pois vou ao plenário registrar minha

presença.

Assumirá a Presidência o Deputado Ronaldo Vasconcellos.

O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – A informação de que disponho é

que há importações do Uruguai registradas.

(Intervenção inaudível.)

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O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – De pneus remodelados? Não.

Há, sim. Desculpe-me, Deputado.

O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Só para esclarecer: a não ser que o

empresário tenha tentado me enganar fornecendo informações contra ele mesmo.

O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – A informação de que disponho é

de que há...

(Intervenção inaudível.)

O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Não. Quando passa a haver a

proibição e a multa, naturalmente...

O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Só para esclarecer definitivamente

essa questão: a empresa é nova, é a única existente no Uruguai que compra pneus

na Europa e os traz. Durante dois anos, essa empresa ficou aguardando a

possibilidade de instalar-se e começar a funcionar. Portanto, aquela empresa, que é

a única fábrica de produto no Uruguai — a não ser que aquele país estivesse

funcionando como entreposto —, não trabalhava; a não ser que o empresário, dono

da empresa, tenha me enganado com informações contra si mesmo. Juntamente

com o adido comercial de nossa Embaixada, fiz uma visita àquele país; e o

empresário me relatou o drama que, segundo ele, viveu por ter ficado fechado

durante todo aquele período, porque ele não operou antes. Não houve operação

anterior.

Conheci as instalações da empresa, as adaptações feitas e a história. Pelo

menos, foi essa a informação passada pelo empresário.

O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Os dados que tenho referem-se

aos pneus recauchutados de borracha provenientes do MERCOSUL, de 1996 a

2003. Não são pneus provenientes da Argentina.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Ao assumir os

trabalhos, esta Presidência tomará uma atitude constrangedora, mas que precisa ser

adotada.

Solicito ao Sr. Samuel que conclua sua exposição e que os Srs. Deputados

colaborem.

Já foi dado início à Ordem do Dia. Daqui a pouco teremos de nos dirigir para

o plenário imediatamente.

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O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Mas os culpados pelo atraso

fomos nós, Deputados, que o interrompemos várias vezes.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Por isso, solicito

aos Srs. Deputados que me auxiliem na condução dos trabalhos e não interrompam

mais o Dr. Samuel.

(Não identificado) – Essa posição não foi diplomática.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – De fato, ela não foi

diplomática, mas necessária e objetiva.

O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Sr. Presidente, não se preocupe.

Não há problema em ser interrompido.

É preciso apresentar a questão da seguinte forma: podemos não gostar da lei

e considerá-la prejudicial ou podemos também não gostar de determinada decisão

judicial, e até com razão, mas o que existe é uma decisão. Estou apenas

comentando a posição na qual o Governo brasileiro se viu.

O Governo brasileiro é membro de um sistema de solução de controvérsias

no MERCOSUL e aceitou discutir determinada questão nesse sistema; entretanto,

foi-nos apresentado um laudo contrário aos nossos interesses. Se o Brasil não

cumprir o que foi decidido, não teremos mais qualquer possibilidade de exigir o

cumprimento de certas decisões quando os laudos nos forem favoráveis. O

problema do sistema judiciário é que temos de aceitar a conclusão do laudo. Além

disso, é preciso estudar muito cuidadosamente a questão ambiental para que,

depois, não pareça que uma nova medida legal não foi tomada apenas para

contornar determinada decisão arbitral. Essa é uma situação delicada. E dessa

maneira foi interpretada a multa de quatrocentos reais, isto é, como uma medida

para contornar o laudo.

A situação é delicada porque o Brasil, por qualquer índice, corresponde a

mais de 60% do MERCOSUL. Então, nossa situação é muito delicada. Não

podemos querer construir um projeto de integração e, ao mesmo tempo, manter

determinados mecanismos inviáveis, por razões que admitimos serem de política

externa brasileira e, no caso específico, do próprio MERCOSUL — não estou

entrando no âmbito ambiental, pois existem outras pessoas que podem discutir

muito melhor do que eu os danos causados ao meio ambiente. Essa é uma questão

muito delicada. Era só isso que gostaria de lembrar.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Agradecemos ao

ilustre Dr. Samuel Pinheiro Guimarães a participação.

(Não identificado) – Sobre a Convenção de Basiléia, que tal suscitar outra

controvérsia...

O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES - A Convenção de Basiléia não fez

parte do procedimento de arbitragem. Ela não foi...

(Não identificado) - Mas o Governo poderia suscitar?

O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – O Governo não poderia suscitar,

na época, porque, quando se vai fazer o laudo para elaborar o exame arbitral, tem

de ser definido o objeto da questão. O Uruguai não levantou a questão ambiental, e

sim a comercial. Ficamos limitados a isso.

(Não identificado) - Vamos levantar agora.

O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES - Outras pessoas conhecem muito

melhor do que eu a Convenção de Basiléia e poderão dizer se é resíduo perigoso ou

não. Estamos levantando a questão do tema ambiental para o âmbito do

MERCOSUL, para definir uma política nessa área. A Dra. Marijane é quem lidera

essa questão no âmbito do MERCOSUL e poderá dar melhores explicações.

Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Vou passar a

palavra imediatamente ao Dr. Nilvo Silva, Presidente em exercício do IBAMA.

O SR. NILVO SILVA – Já deixamos claro em nossa primeira intervenção que

é importante separar a implementação da responsabilidade pós-consumo no Brasil

da discussão sobre a importação de resíduos.

Então, sobre as questões de fiscalização, de como o IBAMA está fazendo o

controle, o primeiro elemento que gostaríamos de destacar, e que citamos no início,

é a resolução do CONAMA que estabeleceu a responsabilidade pós-consumo, em

1999, e concedeu prazo bastante elástico para o início dos trabalhos. Iniciou-se o

primeiro ano em que houve responsabilidade pós-consumo com a proporção de

quatro para um, ano passado.

O IBAMA fiscaliza com base na declaração dos importadores da destinação

prévia, e eles devem estar autorizados pelos órgãos estaduais de meio ambiente.

Hoje, há quatorze empresas destinadoras de pneumáticos inservíveis e cinco em

vias de regularização junto aos órgãos estaduais de meio ambiente, por meio do

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licenciamento ambiental. Essas empresas estão localizadas no Rio Grande do Sul,

no Paraná, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, em Goiás e em

Mato Grosso. O Brasil está criando capacidade de processamento desses pneus

utilizados.

É importante destacar a questão dos pneus usados. Pela gradualidade

estabelecida pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente, em 2002 sequer

conseguimos recuperar os pneus que produzimos nesse mesmo ano. A proporção é

de quatro para um. Então, aumentamos o passivo de pneus no Brasil e sequer

tratamos do passivo que já havia, do ponto de vista quantitativo.

Portanto, o IBAMA vê com muita preocupação a intenção de importarmos

pneus usados. A matéria-prima produzida no País — se quisermos tratar como

matéria-prima, mas pela legislação é resíduo — já representa resíduo por muito

tempo. E seria, segundo o IBAMA, um equívoco para o País, do ponto de vista

ambiental, tratarmos de também dar uma destinação final ao resíduos de outros

países.

Então, se a questão é geração de emprego, é busca de matéria-prima, sequer

começamos a tratar do passivo que o Brasil produziu. Portanto, há plena

possibilidade de que isso gere emprego, de que isso resolva os problemas

ambientais.

O importante para o IBAMA é que desenvolvamos tecnologia e capacidade de

processamento para tratar dos resíduos que produzimos aqui. Não há sentido em o

Brasil desenvolver tecnologia para tratar dos resíduos produzidos em outros países

quando ainda não temos condição de tratar do nosso próprio, repito. Essa é a

posição clara do IBAMA.

Quanto às questões de importação no MERCOSUL, fica claro que estamos

no início do Governo e estamos procurando construir. Ainda há desencontros, mas

nós, do IBAMA, queremos e vamos trabalhar para isso. No MERCOSUL, o Governo

brasileiro buscará, com os demais países, a uniformização dos procedimentos e

normas ambientais. Não abriremos mão, evidentemente, de critérios que o Brasil já

adota para termos condições iguais dentro do MERCOSUL. Queremos, sim, ajudar e

trabalhar juntos com os países do MERCOSUL, mas no sentido de uniformizar com

outros países a legislação ambiental que o Brasil já possui.

Eram essas as minhas palavras.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Com a palavra o

Deputado Fernando Gabeira.

O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Quero fazer uma proposta à

Mesa. Esse processo mereceria a visita de uma Comissão ao Uruguai e ao

Paraguai, a fim de levantar toda essa situação. Não é o primeiro caso, não é o

primeiro problema do Uruguai que temos aqui.

Se formos buscar a gênese desse processo, vamos passar pelo Paraná, com

o Governador Roberto Requião, vamos chegar ao Uruguai e a essa empresa que

estava lá meio fechada, meio sonolenta e foi subitamente reativada, com a

participação oficial dos dois Estados.

Valeira a pena, na próxima reunião, consideramos a possibilidade de se criar

Comissão Externa que vá ao Paraguai e ao Uruguai e passe pelo Paraná, para

levantarmos toda essa situação, repito. Na verdade, do jeito que está sendo

apresentado pelo nosso querido Samuel Guimarães, é apenas o cumprimento da lei.

Ao examiná-la, sem analisar a gênese e o contexto em que foi desenvolvida, até

concordamos com ela. Mas quando a vemos, percebemos que os Governos foram

caindo numa armadilha. Ou foram, de certa maneira, cúmplices desse processo.

Isso vamos ver no futuro.

Vamos aprender mais sobre o que aconteceu realmente e, dessa forma,

chegaremos ao ponto desejado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – A idéia do

Deputado Fernando Gabeira é muito boa, só que a criação de Comissão Externa

tem de ser aprovada pelo Plenário da Casa e por esta Comissão — S.Exa sabe

disso. Se for o caso, poderemos, na reunião de amanhã, formar um grupo de

trabalho, Deputado Fernando Gabeira.

Com a palavra Deputado Max Rosenmann.

O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Só queria, de forma objetiva,

formular as seguintes perguntas ao Presidente do IBAMA: a fiscalização está sendo

feita pelo IBAMA? É satisfatória? Tecnologicamente está convencido da destruição

dos pneus com condição ecologicamente correta? Há alguma das vinte empresas

produtoras ou importadoras que não cumpriu a regra de quatro por um? Foram

essas as perguntas que fiz, e S.Sa. não respondeu a elas.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Consulto o Dr.

Nilvo Silva sobre se vai responder ou se será a Dra. Marijane Vieira.

O SR. NILVO SILVA – Rapidamente falei sobre o cumprimento na minha

apresentação inicial. O trabalho de destinação final ou destruição, do ponto de vista

técnico e do controle, é feito pelos órgãos estaduais de meio ambiente que licenciam

e controlam essas atividades nos Estados por mim mencionados anteriormente.

Como esse assunto requer mais detalhes, proporia ao Deputado ou ao

Presidente da Comissão que encaminhassem pedido de uma resposta formal.

O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Gostaria de dar minha opinião:

V.Sa. não está por dentro do assunto. Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Estão registradas

as palavras do Deputado Max Rosenmann.

Com a palavra a Dra. Marijane Vieira Lisboa, Secretária de Qualidade

Ambiental nos Assentamentos Humanos, do Ministério do Meio Ambiente.

A SRA. MARIJANE VIEIRA LISBOA – Bem, seguindo a ordem de minhas

anotações, a primeira questão é referente à Convenção de Basiléia. O Deputado

Gabeira e outros se referiram à Convenção de Basiléia como um marco legal que

nos poderia permitir ou impedir a importação de pneus usados. Nesse caso,

infelizmente não cabe.

A Convenção de Basiléia trata de exportação e importação de resíduos

perigosos e lista o que considera resíduos perigosos. É discutido se poderão ser

incluídos ou não como resíduos perigosos aqueles que ainda não estão listados ali.

Informo aos senhores que já houve, por parte da Dra. Zilda Veloso, do IBAMA e que

participou durante muito tempo dessas discussões, o intuito de incluir pneus usados

nessa lista, mas infelizmente isso foi rejeitado pela maioria dos países.

Portanto, a Convenção de Basiléia não representa um marco para a questão

de pneus usados. Isso depende do nosso País. Podemos pedir ao Ministro Everton

Vargas, que acompanha a Convenção de Basiléia, se for o desejo do País, que

proponha seja novamente examinada a categoria de pneus usados.

O Deputado Fernando Gabeira perguntou o que podemos fazer em relação

aos pneus reformados. E o Deputado Luciano Zica deseja saber como é que vamos

conciliar a questão do MERCOSUL. Vou comentar a parte técnica.

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É matéria-prima ou não um pneu usado? Claro, pode ser, assim como o

arsênico ou o curare — este veneno indígena também pode ser matéria-prima.

Usa-se o curare para fazer uma série de remédios, vacinas, etc.

Algo que é tóxico pode ou não servir de matéria-prima para outro tipo de

produto. A questão é: interessa-nos reciclar algo que é perigoso e tóxico? É a

mesma discussão que já se fez na Convenção de Basiléia, ainda que pneus não

faça parte dela.

Também naquela época vários exportadores de resíduos perigosos diziam:

“Não, isso é matéria-prima”. Tivemos vários casos no Brasil, resíduos perigosos de

indústrias siderúrgicas e metalúrgicas vinham para o País, onde de fato se podia

sempre fazer alguma coisa com aqueles resíduos, mas com um custo para o meio

ambiente, para a saúde dos trabalhadores e para a população que não se

justificava.

É matéria-prima perigosa para o meio ambiente? Queremos trazê-la para ser

utilizada e com isso causar mais estrago? Essa que é a questão do ponto de vista

das matérias-primas.

Vou responder ao questionamento do Deputado Takayama. O que se pode

fazer? A questão fundamental — esta é uma Casa de legisladores e V.Exas. sabem

disso mais do que qualquer um de nós — é que só são elaboradas leis quando as

situações estão criadas. Não temos leis para situações futuras. Embora tenha

surgido o estilo de guerra preventivo, as leis preventivas ainda não surgiram. Só

existem resoluções referentes a pneus usados. Por quê? Porque a quantidade de

pneus que vinha para o País era muito pequena. Então, o CONAMA elaborou duas

resoluções: uma proibindo e a outra insistindo em incluir no anexo que classificava

os produtos proibidos de serem importados os pneus. Os pneus reformados vão se

tornar — é minha opinião pessoal — grande fluxo de importação. Chamo a atenção

de V.Exas. para o grande problema: não foi publicada a resolução do CONAMA que

acrescentava que estava proibida a importação de pneus usados, e por isso há

ambigüidade.

Nosso grande problema tem sido, até agora, a importação de pneus usados.

Mas acredito que, na medida em que se proíba claramente a importação, os pneus

vão continuar a fluir pela lógica econômica que já tinha sido discutida anteriormente.

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Com uma pequena atividade industrial de remodelagem, recauchutagem, alguma

coisa será feita para que, já que a lei permite, continue entrando no País.

Temos um novo problema. Sob o ponto de vista ambiental, há que haver

legislação sobre a importação de pneus reformados. Há a resolução do CONAMA

sobre pneus usados, mas não temos legislação sobre pneus reformados. Até

defenderia o Itamaraty porque, na verdade, a decisão do laudo arbitral do tribunal do

MERCOSUL foi referente a uma portaria que não concedia licenciamento para a

importação de pneus reformados. Por isso, em nenhum momento considerou-se a

questão ambiental no laudo.

E já respondendo à pergunta do Deputado João Alfredo de como conciliar a

questão do MERCOSUL com a ambiental, acho que nunca aconteceu essa

comparação. Todo laudo arbitral referiu-se à questão comercial. A argumentação

ambiental nunca esteve presente, não foi considerada pertinente. E acredito que, se

houvesse uma legislação que proibisse a importação de pneus reformados,

referente a argumentos ambientais, o laudo não seria o mesmo, porque em todos os

casos de acordo de livre comércio reconhece-se o direito de países colocarem

restrições ao comércio a partir de razões ambientais ou de saúde. Esse direito é

reconhecido, tanto na OMC quanto no MERCOSUL.

Que eu saiba, o Ministério do Meio Ambiente não teria sido solicitado — ainda

no ano passado, quando foi feito esse laudo —, a fornecer argumentação de ordem

ambiental, mas também os juízes teriam considerado inapropriada tal

argumentação, já que se dirigiam a uma portaria do Ministério do Desenvolvimento,

Indústria e Comércio Exterior, e não a uma legislação ambiental.

Portanto, acho perfeitamente possível conciliar, como achamos que isso

poderia ter sido feito, já respondendo à pergunta do Deputado Luciano Zica e do

Deputado Ronaldo Vasconcellos, Presidente da Comissão. A Ministra não assinou

esse último decreto, de 11 de fevereiro. Aconteceu, justamente como comentou o

Deputado Fernando Gabeira, no período de transição de Governos. Quando o

decreto foi assinado, a Ministra e o Secretário-Executivo estavam no Fórum Social

Mundial, no Rio Grande do Sul, e eu, que seria a pessoa competente imediatamente

seguinte, ainda não havia sido nomeada. Portanto, não havia quem consultar no

Ministério. Houve uma razoável dificuldade de contato. Esse decreto foi assinado

pelo Ministro Celso Amorim.

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Acredito que a solução seria um decreto que apenas se referisse aos pneus

usados, não porque queiramos deixar liberada a porta para os pneus reformados,

mas queremos resolver o problema da publicação da resolução do CONAMA, do

ano passado, que fecha a porta para as liminares. Os juízes lêem a resolução —

nem todos, mas muitos deles, pois 6 milhões e 700 mil pneus-carcaça entraram no

País devido à interpretação dos juízes —, que se refere a “fabricantes e

importadores de pneus que recolherem um em cada quatro”, e concedem a liminar.

O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Gostaria de um esclarecimento: que

indústrias ou setores do comércio têm impetrado essas petições de liminares?

A SRA. MARIJANE VIEIRA LISBOA - Tenho a lista completa.

O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA - Gostaria de recebê-la. Obrigado.

A SRA. MARIJANE VIEIRA LISBOA - Vamos por partes. Precisamos permitir

a publicação da resolução do CONAMA que vai acabar com a ambigüidade do texto

anterior, que permite sejam concedidas liminares. Em seguida, o País precisa

enfrentar o novo problema — pneus reformados começarão a ser problema daqui

por diante. Aliás, isso já está acontecendo.

Portanto, Deputado, acredito existirem várias possibilidades. No âmbito do

Ministério, já abrimos a discussão. Na primeira reunião do ano do novo CONAMA,

sugerimos a realização de seminário em que analisaremos as soluções técnicas

existentes para a reciclagem de pneus no Brasil e em outros países.

Analisaremos também a legislação referente a pneus usados e reformados

em todos os países exportadores de pneus e no MERCOSUL, a fim de detectarmos

as diferenças de legislação, as lacunas e as incompatibilidades de legislação —

legislação comparada.

Em terceiro lugar, analisaremos o comércio de pneus usados e reformados no

mundo, os principais fluxos, as tendências, as evoluções, para informar ao

CONAMA, a fim de que o órgão possa, então, elaborar uma política que deverá ser

de proibição ou de, por exemplo, aplicação de multa, levando-se em conta o ponto

de vista ambiental. Isso está em aberto. Temos de detectar o mecanismo mais

eficiente.

É evidente que melhor que uma resolução é um decreto, que melhor que um

decreto é uma lei. É pertinente que os senhores considerem a possibilidade de uma

legislação. A Argentina tem uma legislação.

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Enfim, há saída. Mas, em primeiro lugar, precisamos liberar o CONAMA para

publicar sua resolução. Para isso é preciso um decreto mais restrito do que os dois

últimos sobre pneus usados e reformados. É preciso tratar apenas de pneus usados,

para que não haja contradição entre decreto e resolução, que é uma lei menor, e

para que o CONAMA possa, então, publicar sua resolução, que está pronta há um

ano.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Esta Presidência

agradece à Sra. Marijane Vieira Lisboa a participação.

Solicito ao Deputado Luciano Zica que pegue a lista de que dispõe a Sra.

Marijane, para que também tenhamos essas informações em mãos.

Com a palavra o Deputado Max Rosenmann.

O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Sr. Presidente, gostaria de saber

da Dra. Marijane há quanto tempo S.Sa. lida com esse assunto.

A SRA. MARIJANE VIEIRA LISBOA – Deputado Max Rosenmann, há dez

anos, no Greenpeace, descobrimos esse problema de importação de pneus. Como

trabalhava, no Greenpeace, justamente na Convenção de Basiléia, com o comércio

de exportação e importação de resíduos perigosos, é um tema com o qual sou

bastante familiarizada.

O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Então, a senhora é mais uma

pessoa do Greenpeace no IBAMA. Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Com a palavra o

Deputado Dr. Heleno.

O SR. DEPUTADO DR. HELENO – Foi dito que na Argentina já há uma lei

que proíbe isso. Quanto custa um pneu novo na Argentina hoje?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – V.Exa. quer saber

se alguém da Mesa sabe disso?

O SR. DEPUTADO DR. HELENO – Certo.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Não sabemos.

O SR. DEPUTADO DR. HELENO – Era só isso, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Concedo a palavra

ao Sr. Edson Lupatini Júnior, representante do Ministério do Desenvolvimento,

Indústria e Comércio Exterior.

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O SR. EDSON LUPATINI JÚNIOR – Foram-me feitas três perguntas. Uma

delas, feita pela Deputada Ann Pontes, é relativa a seguro ambiental. Creio que a

Sra. Marijane tenha dado a resposta no seu pronunciamento.

As outras duas foram feitas pelo Deputado Antonio Carlos Mendes Thame,

sobre o que seria necessário para as importações de remoldados. Para reforçar,

gostaria de dizer que as importações de bens de consumo usados, incluídos os

pneus remoldados, recapados, rechapados, ou seja, toda sorte de pneus que não

são considerados novos, já são proibidas, por portaria do nosso departamento,

desde 1991. Ou seja, já existe um arsenal de medidas e dispositivos legais que

proíbem a importação de bens de consumo usados. Todavia, existem liberações,

como está se dizendo aqui a todo momento. E essas liberações ocorrem por conta

de decisões na Justiça, ou seja, com base em medidas liminares.

A outra pergunta é sobre a possibilidade de elaboração de projeto de lei que

venha a proibir importação de pneus usados. São medidas e iniciativas importantes,

sobretudo vindas desta Casa, que se somarão às já existentes no Ministério do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio, no que diz respeito à proibição de

importação de bens de consumo usados, incluídos os pneus usados.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Concedo a palavra

ao Sr. Gerardo Tommasini.

O SR. GERARDO TOMMASINI – É uma pena que o Deputado Max

Rosenmann tenha saído da reunião, porque queria dizer que sempre tive maior

respeito por S.Exa., porém não concordo com as observações que fez a respeito da

indústria nacional de pneus e à minha pessoa.

Gostaria que a Presidência da Mesa registrasse que eu, na condição de

convidado, sinto-me ofendido. Já participei muitas vezes de reuniões nesta Casa, e

isso nunca aconteceu. Talvez, no fogo da discussão, S.Exa. tenha se excedido.

Quanto às considerações de S.Exa., não é verdade que a qualidade dos

pneus nacionais melhorou quando entraram os pneus usados. Qualquer pessoa de

inteligência mediana se ofenderia ao ouvir tal afirmação, que não é verdadeira.

Talvez muitos dos amigos não saibam que dentro das fábricas existe o total

quality system, o sistema total de qualidade, e o processo de melhoramento

contínuo. Portanto, a qualidade de qualquer produto segue aquilo que os japoneses

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chamam de “a perseguição do defeito zero”. Não há nada demais em dizer que a

qualidade de hoje é melhor que a de dez, quinze ou vinte anos atrás.

Também, Sras. e Srs. Deputados, não é verdade que o pneu custava 80

dólares e, depois, 40. É claro que, quando o dólar valia 1 real, podia ser 80, mas o

dólar passou a valer dois reais. Ocorreu, então, o efeito-câmbio. Dizer isso ofende

não a mediana, mas a mais pobre das inteligências.

Quanto aos pedaços de pneu que se vê nas estradas — meu Deus —, isso

não é de pneu novo, é de pneu mal recauchutado, que se solta da banda de

rodagem. Aliás, atenção. Quando alguém dirige um carro, é bom não ficar muito

perto de caminhão ou ônibus, porque pode ser que tenham feito recauchutagem em

uma firma não muito recomendada. Há firmas maravilhosas, mas também há

aquelas de fundo de quintal. O INMETRO eliminará esse problema. Se um pedaço

de pneu a uma velocidade de duzentos quilômetros por hora bate no pára-brisa do

carro, as pessoas que estão na frente podem morrer.

Portanto, os pedaços de pneu que S.Exa. vê não são de pneu novo. Foi

comprovado que são pedaços de pneu que se soltam da banda de rodagem, porque

mal vulcanizados.

Por último, quilometragem. Entreguei ao Sr. Presidente, que encaminhou a

S.Exa., anúncio de jornal em que uma de minhas associadas põe todas as medidas,

por coincidência, e todos os tipos de garantia. Há garantia de cinco anos contra

defeito de fabricação e a garantia de quilometragem vai de 40 mil, 50 mil até 105 mil

quilômetros, dependendo do tipo de pneu. Há um tipo de pneu para carro esportivo,

e não existe quilometragem garantida para um carro que participa de competição, é

óbvio.

Senhores, não se olha somente a quilometragem e a durabilidade de um

pneu, olha-se também a performance. Quando um pneu é seguro? Quando, bem

calibrado, o carro freia em vinte ou trinta metros em determinada velocidade, no piso

seco ou molhado. O pneu bom não é só aquele que dura, senhores, é também

aquele que, na curva, não tira o carro da estrada; ou aquele que, à velocidade de

120 quilômetros por hora, se passar um cachorro e o motorista tiver de fazer uma

manobra brusca, consegue manter o carro na direção logo após uma virada para a

esquerda ou para a direita.

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Portanto, quando se fala em qualidade de pneus — pelo amor de Deus —,

vamos pôr em dúvida pessoas que fabricam pneus de carros de Fórmula 1 e

Fórmula Indy? São os mesmos, têm uma tecnologia elevadíssima. Então, não

deveria haver essa discussão.

Volto a repetir: todos os Srs. Deputados desta Comissão que quiserem fazer

visita às fábricas de pneumáticos — localizadas em Feira de Santana, na Bahia; em

Resende, no Rio de Janeiro; em São Paulo; no Rio Grande do Sul — estão

convidados. Podem organizar visitas, para que tudo isso seja esclarecido e para que

não se fale simplesmente com a experiência de consumidor. Quando se fala que o

produto é bom ou não, há que ter base, com experiências claras, com testes. Não se

pode simplesmente falar que a durabilidade no meu carro foi de 30 mil, 40 mil ou 50

mil quilômetros.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) - Muito obrigado.

Agradeço ao Sr. Gerardo Tommasini a participação. O seu convite será

analisado posteriormente pelos membros desta Comissão.

Consulto os Srs. Deputados sobre se querem fazer uso da palavra. (Pausa.)

Consulto os senhores expositores sobre se querem fazer uso da palavra,

desde que seja rapidamente, por gentileza.

Com a palavra o Sr. Francisco Simeão.

O SR. FRANCISCO SIMEÃO - O representante do Itamaraty fez uma

brilhante exposição. S.Sa. afirmou que, em relação aos pneus remoldados, não se

discutiu no MERCOSUL o problema ambiental, até porque esse produto é permitido

no Brasil. A proibição da importação por razão ambiental tem de corresponder à

proibição do uso dos pneus fabricados e produzidos no Brasil.

O que se pretende também, como foi dito, é criar uma lei que proíba a

importação e até a fabricação de pneus remoldados.

Eu faço um alerta: o nosso pneu BS Colway é produzido com a mesma

tecnologia utilizada na fabricação de pneus de avião. Pneus remoldados de avião

são importados pelo Brasil, e a importação é autorizada pelo DECEX. Então, ao se

tentar proibir, por lei, a importação de pneus remoldados, há que se lembrar que se

estará proibindo também a importação de pneus remoldados fabricados pela

Goodyear, pela Firestone e pela Pirelli nos outros países.

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Quanto à definição da Portaria nº 62 do INMETRO, não se estabelecia que o

pneu remoldado é pneu usado. Publicada a portaria, houve enorme reação por parte

das empresas industriais Goodyear, Firestone e Pirelli, e o INMETRO voltou atrás e

publicou portaria com texto fornecido pela Dra. Lytha Spíndola, então Secretária de

Comércio Exterior, dizendo que o pneu remoldado é pneu usado.

Sem dúvida, é uma completa inconseqüência essa afirmação. O pneu

remoldado é industrializado e, portanto, é passível de IPI. É um produto verde no

mundo inteiro. Na Itália, por exemplo, é obrigatória, por lei, a utilização pelos órgãos

públicos de 20% desse produto, em defesa da ecologia e do meio ambiente, porque

são economizados vinte litros de petróleo para cada pneu remoldado que substitui

um novo. No caso de pneus de caminhonete, quarenta litros. Outro motivo também é

a economia. Existe uma lei, que eu deixei nas mãos do diretor do IBAMA, para que

S.Sa. a analise. Na Itália, há uma lei que determina isso.

Temos um atestado de qualidade fantástico da nossa empresa, fornecido pela

Receita Federal. Numa fiscalização, justificando multa de mais de 10 milhões de

reais, numa das devassas fiscais que sofremos, o fiscal disse que os nossos pneus

são de muito melhor qualidade do que os recapados e recauchutados. Ele visitou as

fábricas. Afirmou que a tecnologia é de ponta, que as máquinas são de última

geração, que os pneus eram novos e que haviam sido aprovados em testes de

laboratório indicados pelo INMETRO.

Isso é o que eu afirmei. Eu não falei que o INMETRO me deu um atestado.

Ainda não deu. Mas, dentro de dois meses, vai me dar, porque estamos em

processo espontâneo de certificação. Eu disse que fomos testados por laboratórios

indicados pelo INMETRO. Passamos, a duzentos quilômetros por hora, com carga

plena. Os pneus são excelentes mesmo.

Assim o fiscal do imposto de renda referiu-se a nós. E disse que nossos

pneus, portanto, eram novos. E ainda que nunca aqueles pneus, com aquela

qualidade, vendidos com a garantia contra defeitos de fabricação de cinco anos e 80

mil quilômetros de garantia de durabilidade, poderiam ser pneus recapados,

recauchutados ou remoldados. Eles eram, de fato, novos. Estamos defendendo essa

multa, porque achamos mesmo que foi a atividade industrial que transformou o

produto.

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Ele tem razão em todos os argumentos na sua citação das leis. Mas se

esqueceu apenas de que o IPI do pneu remoldado é zero, a alíquota é zero. Se o

Governo Federal entender que deve mudar a alíquota, ele tem de fazê-lo inclusive

para recapado e recauchutado. Mas existe IPI, sim, portanto, é um produto

industrializado.

Quanto à nota técnica assinada pelo representante do INMETRO que acabou

de se pronunciar nesta reunião, embora digam que ela não foi reconhecida pelo

Instituto, seu próprio representante a assinou junto a outro funcionário e ficou

incumbido de elaborar ofício. Disse ainda que, pelas avaliações dos técnicos, estava

claro e absolutamente correto afirmar que não havia disponibilidade de pneus

usados brasileiros para fabricação de pneu remoldado. Existe, sim, disponibilidade

para fabricar pneu recapado e recauchutado, de qualidade muito inferior. Para o

remoldado, não existem pneus usados no Brasil, em função da condição das

estradas, do tipo de usuário e dos cuidados que este aplica ao veículo. Essa é a

razão. Essa nota técnica, que é oficial, foi assinada e encaminhada para o DECEX.

Finalizando, será formada uma comissão. O Dr. Tommasini se aborrece, com

razão, pelas muitas afirmações e acusações voluntariosas feitas contra ele. Da

mesma forma, também me sinto no direito de querer ser julgado, mas por alguém

que vá nos analisar, alguém que discuta conosco ponto a ponto as nossas

sugestões e a verdade da nossa fábrica. Orgulhamo-nos de dizer que temos a

melhor fábrica de pneus remoldados do mundo e podemos substituir a importação

desses pneus no Brasil, mas por competência, não queremos decreto nos

favorecendo. É evidente que para nós é muito confortável um decreto que proíba a

importação. E essa luta de pneus do Dr. Tommasini, que representa a ANIP, e

minha, que represento a ABIP, só aconteceu por interesses econômicos.

Felizmente, no decurso das discussões, descobrimos o problema ambiental, e partiu

de nós a sugestão de solucioná-lo. Temos orgulho de dizer que, se existe hoje uma

resolução do CONAMA, é lavra nossa. Eu mesmo levei o texto dessa resolução ao

Conselho Nacional do Meio Ambiente e consegui convencê-los de que fosse

organizado um grupo de trabalho, e as coisas aconteceram. No mínimo, merecemos

melhor avaliação.

Peço à Comissão a ser constituída e que irá ao Uruguai e ao Paraguai para

analisar esse assunto que, por favor, atenda à sugestão do Deputado Gabeira de

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também nos visitarem e nos auditarem. Que esse grupo de trabalho faça todos os

questionamentos, pois teremos imenso prazer em responder.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) - Agradeço ao Sr.

Francisco Simeão a participação.

O SR. DEPUTADO JÚLIO LOPES – Sr. Presidente, peço a palavra pela

ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) - Tem V.Exa. a

palavra.

O SR. DEPUTADO JÚLIO LOPES – Presidente Simeão, V.Sa. conhece a

alíquota para pneus novos?

O SR. FRANCISCO SIMEÃO - A alíquota de importação?

O SR. DEPUTADO JÚLIO LOPES – Não, a alíquota do IPI para pneus novos.

O SR. FRANCISCO SIMEÃO - Se não me engano, não tenho certeza, é uma

alíquota maior do que 10%, talvez 15%.

O SR. DEPUTADO JÚLIO LOPES – V.Sa. há de convir que há um novo

problema a ser examinado profundamente por esta Comissão.

O SR. FRANCISCO SIMEÃO - Esse eu admito.

O SR. DEPUTADO JÚLIO LOPES – Há a questão da disparidade fiscal,

importantíssima.

O SR. FRANCISCO SIMEÃO - Se o Brasil achar que deve apenar a

reciclagem...

O SR. DEPUTADO JÚLIO LOPES – Apenar, não, dar equidade fiscal.

O SR. FRANCISCO SIMEÃO - Exatamente, se quiser achar que deve ser

diferente do mundo e apenar, estarei feliz de pagar o IPI. Se achar que deve pagar

15%, pagaremos 15% também. Acho justo. Se o Ministério da Fazenda chegar ao

entendimento de que em nosso produto industrial, fabricado a partir de

matéria-prima importada, tem de incidir IPI igual ao do novo, desde já digo que estou

de acordo.

O SR. DEPUTADO JÚLIO LOPES - Sr. Simeão, neste momento não desejo

fazer nenhuma consideração afirmativa, porque desconheço a matéria. Apenas,

para fins de registro nesta Comissão, parece-me haver também um problema de

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imposto, de eqüidade fiscal, que tem de ser profundamente tratado, uma vez que há

uma distorção.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) - A Presidência pede

à Secretaria que registre as palavras do Deputado Júlio Lopes, para constar da ata,

atendendo ao pedido do ilustre Deputado.

Com a palavra a Sra. Marijane Vieira Lisboa, para fazer considerações de sua

visão, e do Ministério do Meio Ambiente, sobre a questão do MERCOSUL.

A SRA. MARIJANE VIEIRA LISBOA – O Sr. Samuel pediu que comentasse

sobre como o Ministério do Meio Ambiente está pensando em tratar a questão da

importação de pneus reformados no âmbito do MERCOSUL. V.Exas. sabem que,

entre os diversos subgrupos de trabalho que negociam no MERCOSUL, há um

especializado em questões ambientais, que surgiu tardiamente, mas que realiza seu

trabalho há alguns anos. Na primeira reunião deste ano, que aconteceu em final de

março, início de abril, introduzi o tema de importação de pneus reformados, historiei

a crise que tivemos com decreto, a decisão do tribunal, do MERCOSUL, etc., e

houve total acordo. É verdade que o representante do Governo uruguaio não estava

presente no subgrupo, mas estavam os representantes da Argentina e do Paraguai

e também, como observadores, os da Bolívia e do Chile. Houve total acordo de que

esse será um tema de pauta, e nosso objetivo será harmonizar a legislação, trocar

informações e ver a legislação comparada, quais as tecnologias, os problemas, e, na

medida do possível, estabelecer uma política comum para a questão dos pneus.

Também há iniciativa no sentido de explorar esse tema para verificar os problemas

ambientais dele decorrentes.

Acho que será uma excelente oportunidade de obter mais informações sobre

a questão dos pneus, a origem dos pneus importados. Creio que a Comissão

formada por V.Exas. poderá nos fornecer subsídios para uma análise na próxima

reunião do subgrupo do MERCOSUL.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) - Obrigado, Sra.

Marijane.

Passo a palavra ao Sr. Edson Lupatini Júnior, para as considerações finais.

O SR. EDSON LUPATINI JUNIOR – Obrigado, Presidente. Parece-me que o

Dr. Francisco Simeão citou o nome da Dra. Lytha numa questão que, no momento,

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não consegui compreender. Gostaria de saber exatamente o que S.Sa. disse, para,

eventualmente, fazer algum esclarecimento, até porque a Dra. Lytha foi nossa

Secretária de Comércio Exterior.

O SR. FRANCISCO SIMEÃO - Afirmei que o INMETRO, depois de discutir

durante um ano e meio a regulamentação de pneus remoldados, decidiu, aprovou

consensualmente todos os pontos e publicou a Portaria nº 62. Isso não foi do agrado

do Sr. Ivan Ramalho, da Dra. Lytha e de toda a equipe na época, porque não dava

ao pneu remoldado a definição de que era, sim, um pneu usado. Houve uma

orientação do Ministério, mais especificamente da Secretaria de Comércio Exterior,

que coordenou o trabalho, no sentido de que fosse determinado ao INMETRO a

republicação da portaria, modificando o texto. Estivemos lá com o então Senador

Roberto Requião, na ocasião da publicação da nova portaria. Tínhamos recebido a

informação, e o então Senador, hoje Governador do Paraná, questionou o Dr. Lobo

sobre se era verdade que se pretendia mutilar a primeira para fazer a segunda, com

o intuito de atender aos interesses comerciais das multinacionais. Assim se

posicionou o Senador Requião na época. O Dr. Lobo garantiu que não. Algum tempo

depois, foi publicada a Portaria nº 133, cuja redação é diferente da Portaria nº 62.

O que aconteceu com a Portaria nº 62, que foi objeto do consenso do setor, e

por que surgiu a Portaria nº 133, que substituiu a outra sem razão maior? O que

levou à publicação da Portaria nº 133? A diferença é apenas dizer que o remoldado

é um pneu usado, porque isso serve para justificar a Portaria nº 8/2000, que

englobava todos os produtos e estabelecia que pneu remoldado era usado, quando,

na verdade, não é. Foi um argumento vitorioso do Uruguai, contra o nosso interesse

e o do Paraguai. A discussão sobre a Portaria nº 8/2000 já havia sido derrotada em

projeto de decreto legislativo do então Senador Roberto Requião aprovado na

Comissão de Constituição e Justiça e não aprovado no Senado que continua

tramitando, pois tinha a intenção de revogar a portaria.

Estamos apresentando sugestões que colocariam um ponto final ao litígio do

setor de pneu usado com o do meio ambiente e o da saúde pública. Creio que, se o

Dr. Tommasini verificasse bem, isso atenderia aos seus interesses e aos de toda a

Nação brasileira e pacificaria o setor.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Agradeço ao Sr.

Francisco Simeão a participação.

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Passo a palavra ao Sr. Nilvo Silva, Presidente em exercício do IBAMA.

O SR. NILVO SILVA – Sras. e Srs. Deputados, a elaboração de normas do

CONAMA é feita por grupos de trabalho e por câmaras técnicas. A responsabilidade

e o mérito pela aprovação de resoluções dentro do Conselho é dos senhores

conselheiros e daqueles que os representam, evidentemente reconhecida a

colaboração de todos os que participam do Conselho, das câmaras técnicas e dos

grupos de trabalho.

Meu agradecimento é direcionado aos Srs. Deputados que trouxeram à

discussão pública tema tão importante. É necessária uma política muito clara, devido

à enorme extensão das possíveis repercussões de qualquer decisão sobre a

importação de pneus reformados e mesmo de pneus usados. Então, cumprimento

os Deputados pela iniciativa.

O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Sr. Presidente, peço a palavra pela

ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) - Tem V.Exa. a

palavra.

O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Deputado Ronaldo Vasconcellos, pedi

a palavra pela ordem para, primeiro, ser solidário com o Presidente anterior,

Deputado Júlio Lopes, quando mencionou, frente à posição do Sr. Simeão, a

questão do IPI do pneu reciclado. Na minha opinião, as palavras de S.Sa. foram

irônicas ao dizer que o Brasil poderia querer ficar na contramão do mundo cobrando

um IPI maior sobre o reciclado. Acredito que, se levássemos pneu de qualquer outro

país para reciclar na Inglaterra, na França ou na Alemanha, seria a ele atribuída

carga tributária maior para apenar a importação do resíduo.

Sr. Simeão, gostaria de deixar registrado que seria francamente favorável à

alíquota zero de IPI para o pneu recuperado brasileiro, porque estaríamos dando

uma contribuição ao meio ambiente, e à isenção de IPI para matérias-primas

recicladas brasileiras, e não para lixo estrangeiro.

Portanto, faço esse registro, além de render minhas homenagens ao

Deputado Júlio Lopes, que, com muita clareza, abordou tema que passava

despercebido e que foi, em certa medida, ironizado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) - A Presidência faz

questão de que conste em ata a solicitação do Deputado Júlio Lopes, de forma

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separada daquelas famosas frases que lotam as atas. A consideração do ilustre

Deputado Júlio Lopes será feita à parte das considerações generalizadas.

Com a palavra o Deputado Eduardo Cunha.

O SR. DEPUTADO EDUARDO CUNHA – Sr. Presidente. Serei breve. Não

sou membro desta Comissão, mas se trata de tema muito importante para o País.

Estava no plenário e vim à Comissão a tempo de dar minha contribuição.

Sr. Presidente, há anos que assistimos nesta Casa a um lobby por importação

de pneus usados. Assisto em Brasília, há pelo menos oito anos, a uma tentativa de

lobby para fazer o que foi feito agora rapidamente, em início de governo. Já

participei de várias discussões sobre esse tema. Temos de tratar de proteger a

indústria nacional. Neste momento de desemprego no País e de queda de produção,

vamos estimular a entrada de pneu usado, lixo que vem de outro lugar? Estamos

numa situação absurda. Quem gera emprego, quem paga imposto no País?

Espanta-me muito o Presidente da República, de origem humilde, trabalhador,

membro do Partido dos Trabalhadores, colocar sua assinatura num decreto dessa

natureza para facilitar o prejuízo da indústria nacional.

Sr. Presidente, na condição de Parlamentar, pretendo tomar a iniciativa de

fazer decreto legislativo para revogar esse decreto de iniciativa do Governo Federal,

a fim de que a indústria nacional seja protegida e possamos gerar mais empregos no

Brasil, mas não para que lixo importado de outro lugar passe pelo Paraguai e acabe

no Brasil.

Sr. Presidente, gostaria de deixar registrada minha intenção de levar essa

propositura ao meu partido.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) - Concedo a palavra

ao ilustre Deputado Júlio Lopes.

O SR. DEPUTADO JÚLIO LOPES – Sr. Presidente, como foi mencionado

auto da Secretaria da Receita Federal relativo à empresa BS Colway, poderíamos

requerê-lo para que a Comissão o examinasse, porque, no meu entendimento, a

Receita extrapola a competência quando tece considerações se as fez da forma

mencionada pelo Presidente da empresa.

Peço a V.Exa. que requeira o auto, para que possamos examiná-lo no âmbito

da Comissão.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) - O ilustre Presidente

Francisco Simeão o envia para a Comissão?

O SR. FRANCISCO SIMEÃO - Concordo.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) - Solicito a V.Sa. que

o envie para a Comissão, para que se imprima aspecto mais institucionalizado, e o

passarei depois ao Deputado Júlio Lopes e a quem mais se interessar.

O SR. DEPUTADO JÚLIO LOPES - Na realidade, Sr. Presidente, estou

requerendo à Receita Federal e como Comissão temos competência para fazê-lo,

independentemente da manifestação do senhor presidente da empresa.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) - Então, tenho de

solicitar a V.Sa. que, na reunião de amanhã, apresente o requerimento de maneira

formal.

O SR. DEPUTADO JÚLIO LOPES - Perfeito.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) - O que não impede o

Sr. Francisco Simeão de nos enviar e se antecipar ao fato.

O SR. DEPUTADO JÚLIO LOPES - Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) - Não havendo mais

quem queira fazer uso da palavra, declaro encerrada a presente reunião de

audiência pública, agradecendo aos expositores e demais convidados a presença.

Antes, porém, informo aos membros desta Comissão que, amanhã, dia 16 de

abril, quarta-feira, às 10h, neste plenário, teremos reunião ordinária deliberativa para

apreciação de requerimentos e proposições.

Está encerrada a presente reunião.