des Do Texto 3[1]

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VI. 2: Qualidades do texto: Coerncia, Coeso (III)Coerncia e progresso textualA pesca Affonso Romano de SantAnna o o o o o o anil anzol azul silncio tempo peixe a garganta a ncora o peixe a boca o arranco o rasgo aberta a gua aberta a chaga aberto o anzol aquelneo gilclaro estabanado o peixe a areia o sol

a agulha vertical mergulha a gua a linha a espuma o tempo a ncora o peixe

Apesar dos poucos elementos de coeso, temos um texto coerente porque h unidade de sentido que dada a partir do prprio ttulo; ele tambm elemento de referncia e ativa o conhecimento de mundo. As palavras, assim, ganham sentido e vemos que se trata da descrio de uma pescaria, situao que corresponde ao esquema que temos arquivado na memria. Como j dissemos, a coerncia o todo de sentido em que resulta o texto. Para que ela se estabelea, preciso observar a no-contradio de sentidos entre partes do texto, o que se constri pelos mecanismos de coeso j explicitados. Alm disso, de acordo com Fiorin & Plato (1999), h vrios nveis que devem ser levados em conta, como o narrativo, o figurativo, o temporal, o argumentativo, o espacial e o de linguagem. Para todos eles, dois tipos de coerncia so fundamentais: a coerncia intra e extratextual. A primeira corresponde organizao e encadeamento das partes do texto, ao passo que a segunda pode estar relacionada tanto ao conhecimento de mundo como ao conhecimento lingustico da falante. No entanto, h textos que podem ser incoerentes aparentemente. Para se verificar se o texto tem sentido, preciso considerar vrios fatores que podem levar atribuio de significado ao texto. So eles: o contexto, a situao comunicativa, o gnero, o(s) intertexto(s). Esses fatores determinam as condies de produo e de recepo de um texto. preciso ter conhecimento dessas condies para julgar coerente (ou no) um texto. Para exemplificar, um texto literrio, por ser ficcional, admite o uso da linguagem figurada, ao passo que um texto cientfico no a admite. Portanto, se houver o uso de uma metfora em um texto cientfico, por exemplo, este ser julgado incoerente. Vejamos um texto para melhor ilustrar o que foi dito at aqui.O leo, o burro e o rato Um leo, um burro e um rato voltavam, afinal, da caada que haviam empreendido juntos(1) e colocaram numa clareira tudo que tinham caado: dois veados, algumas perdizes, trs tatus, uma paca e muita caa menor. O leo sentou-se num tronco e, com voz tonitruante que procurava inutilmente suavizar, berrou: Bem, agora que terminamos um magnfico dia de trabalho, descansemos aqui, camaradas, para a justa partilha do nosso esforo conjunto. Compadre burro, por favor, voc, que o mais sbio de ns trs, com licena do compadre rato, voc, compadre burro, vai fazer a partilha desta caa em trs partes absolutamente iguais. Vamos, compadre rato, at o rio, beber um pouco de gua, deixando nosso grande amigo burro em paz para deliberar. Os dois se afastaram, foram at o rio, beberam gua(2) e ficaram um tempo. Voltaram e verificaram que o burro tinha feito um trabalho extremamente meticuloso, dividindo a caa em trs partes absolutamente iguais. Assim que viu os dois voltando, o burro perguntou ao leo:

Pronto, compadre leo, a est: que acha da partilha? O leo no disse uma palavra. Deu uma violenta patada na nuca do burro, prostrando-o no cho, morto. Sorrindo, o leo voltou-se para o rato e disse: Compadre rato, lamento muito, mas tenho a impresso de que concorda em que no podamos suportar a presena de tamanha inaptido e burrice. Desculpe eu ter perdido a pacincia, mas no havia outra coisa a fazer. H muito que eu no suportava mais o compadre burro. Me faa um favor agora divida voc o bolo da caa, incluindo, por favor, o corpo do compadre burro. Vou at o rio, novamente, deixando-lhe calma para uma deliberao sensata. Mal o leo se afastou, o rato no teve a menor dvida. Dividiu o monte de caa em dois: de um lado, toda a caa, inclusive o corpo do burro. Do outro apenas um ratinho cinza(3) morto por acaso. O leo ainda no tinha chegado ao rio, quando o rato chamou: Compadre leo, est pronta a partilha! O leo, vendo a caa dividida de maneira to justa, no pde deixar de cumprimentar o rato: Maravilhoso, meu caro compadre, maravilhoso! Como voc chegou to depressa a uma partilha to certa? E o rato respondeu: Muito simples. Estabeleci uma relao matemtica entre seu tamanho e o meu claro que voc precisa comer muito mais. Tracei uma comparao entre a sua fora e a minha claro que voc precisa de muito maior volume de alimentao do que eu. Comparei, ponderadamente, sua posio na floresta com a minha e, evidentemente, a partilha s podia ser esta. Alm do que, sou um intelectual, sou todo esprito! Inacreditvel, inacreditvel! Que compreenso! Que argcia! exclamou o leo, realmente admirado. Olha, juro que nunca tinha notado, em voc, essa cultura. Como voc escondeu isso o tempo todo, e quem lhe ensinou tanta sabedoria? Na verdade, leo, eu nunca soube nada. Se me perdoa um elogio fnebre, se no se ofende, acabei de aprender tudo agora mesmo, com o burro morto. MORAL: S UM BURRO TENTA FICAR COM A PARTE DO LEO. (1). A conjugao de esforos to heterogneos na destruio do meio ambiente coisa muito comum. (2). Enquanto estavam bebendo gua, o leo reparou que o rato estava sujando a gua que ele bebia. Mas isso j outra fbula. (3). Os ratos devem se contentar em se alimentar de ratos. Como diziam os latinos: Similia similibus curantur. (FERNANDES, Millr)11

www.uol.com.br/millor (acesso em 05/12/06) Ao analisarmos o texto, podemos verificar o seguinte:

No texto, a coerncia narrativa estabelecida, primeiramente, pela seqncia de aes que se encadeiam: o leo prope um desafio ao burro e ao rato, ambos aceitam, mas o burro no capta a verdadeira inteno do leo e acaba morto; o rato, por sua vez, ao ver o burro morto, entende a mensagem e, para preservar sua vida, faz a diviso do alimento considerada justa para o leo e, assim, obtm sucesso. Na seqncia temporal, a narrativa apresenta uma sucesso de fatos que estabelece a progresso temtica do texto a respeito da explorao do homem pelo homem, ou da lei da sobrevivncia em uma sociedade competitiva, tema(s) este(s) que (so) figurativizado(s) pelos animais partilhando o alimento, em que se destaca a soberania do leo na cadeia alimentar. A fim de se concretizar a verdade do texto, h tambm a coerncia espacial, visto que os animais encontram-se em uma floresta, ambiente que concretiza o cenrio em que se desenvolve a histria. Como se trata de um texto ficcional, a coerncia estabelecida pela criao desse mundo possvel em que os personagens se inserem. Quanto linguagem, coerente ao tipo de texto, que permite o uso do coloquial, a fim de aproximaraproximar-se do interlocutor desse tipo de texto. Por isso, o vocabulrio acessvel e h construes prximas oralidade, como Me faam um favor, em que o pronome oblquo inicia a orao, uma forma que a norma padro rejeita. H um jogo de pressupostos e subentendidos, que caracterizam o texto como literrio e consiste em uma estratgia argumentativa para a defesa do ponto de vista implcito de que vence o mais forte. Dessa forma, podemos considerar este um texto coerente, pois observamos tanto a coerncia interna, como a coerncia externa dele. A primeira corresponde aos fatores ligados ao conhecimento lingstico, j apresentados anteriormente, ao passo que a segunda relaciona-se s condies de produo e/ou recepo do texto, tais como o gnero, a situao comunicativa e as relaes intertextuais. Nesse sentido, podemos verificar que, por se tratar de uma crnica, um texto que trata de tema do cotidiano, em uma linguagem coloquial, mas que constri opinio pelas estratgias argumentativas. Alm disso, de modo subentendido, faz aluso a outros textos existentes, do tipo fbula, que pressupem a

existncia de uma moral, recurso que se denomina intertextualidade. Pode-se notar que por esse recurso h construo de uma ironia em relao moral, que apresentada de uma maneira subvertida, isto , de modo a levar o leitor reflexo sobre a estupidez humana em suas relaes sociais. Sugesto de atividade Sugerimos que, para amadurecer sua competncia leitora, escolha um outro texto narrativo, at mesmo uma nova fbula, e desenvolva sua anlise, contemplando os aspectos abordados at aqui.

EXERCCIOS1) Observe atentamente estas frases: I. Encontrei belas as palavras o qual no duvido da sinceridade de quem as escreveu. II. Descobri a verdade de cuja lhe falei h trs meses atrs. Nessas frases ocorrem erros, assim descritos: A falta de coeso em I: o pronome relativo o qual antecedente. B falta de coeso em II: o pronome relativo de cuja est solto (sem funo); a expresso h trs meses atrs redundante; C falta de coeso em I e II. D falta de coeso e de coerncia em II, apenas. E falta de coeso e de coerncia em I, apenas. 2) Leia com ateno o pargrafo seguinte e assinale a alternativa correta.Os problemas decorrentes do divrcio vm suscitando polmicas entre os que se interessam por essas questes. A instabilidade econmica e social dos nossos dias muito tem contribudo para agravar a situao das famlias de classe mdia. (apud GARCIA, Othon. Comunicao em prosa moderna. FGV: 1980, p.476.) A O texto segue a norma culta e apresenta coeso e coerncia. B A coerncia do texto prejudicada porque a instabilidade econmica e social no causa do agravamento da situao da classe mdia. C O texto incoerente porque o segundo perodo, ao invs de estabelecer uma relao lgica com o primeiro, inicia uma nova temtica. D A coerncia do texto prejudicada porque o divrcio no mais uma questo polmica. E O texto incoerente porque, ao contrrio do que afirma, no apenas famlias de classe mdia se divorciam. 3) Assinale a ordem em que os fragmentos a seguir devem ser dispostos para se obter um texto com coeso, coerncia e correta progresso de ideias. I. Por isso tem tanto consumidor confuso por a, por isso h tanta gente postergando consumo, sem saber que produto comprar, como decidir entre as dezenas de alternativas, sem a informao necessria para avaliar. II. Talvez seja essa a razo da queda da publicidade na maioria dos jornais e na televiso. Nem nossos comerciais sabem mais vender o produto, s sabem criar emoes, sensaes positivas, marcas amigas ou socialmente responsveis. Vender o produto hoje considerado dmod. III. A impresso que o consumidor tem a de que todo produto exatamente igual, o que muda so as emoes escondidas nos anncios. Vende-se um estilo de viver, uma atitude perante a vida, mas o produto em si, nem pensar. IV. Estamos no caminho errado. Precisamos voltar a valorizar as equipes de vendas como se fazia no passado, voltar a contratar pessoas que saibam vender e no somente tirar pedidos.

no est em acordo com o

V. Se a sua empresa no est crescendo, talvez o problema no seja a poltica econmica do ministro Palocci, a taxa de juros ou o cmbio. Provavelmente voc mais um daqueles que se esqueceram de que vendas tudo aquilo que preciso fazer para que uma venda seja concretizada. A IV II III I V B I IV III II V C IV V - III I II D II V IV I III E I V IV III II

4) Leia o texto de Oswald de Andrade, que vem a seguir:Infncia O camisolo O jarro O passarinho O oceano A visita na casa que a gente sentava no sof Adolescncia Aquele amor Nem me fale Maturidade O Sr. E Sr Amadeu Participam a V. Ex O feliz nascimento De sua filha Gilberta

Leia as afirmaes: I. Apesar do texto no apresentar elementos coesivos, possvel atribuir um significado a ele.

II. Os ttulos Infncia, Adolescncia e Maturidade colaboram para que se estabelea a unidade de sentido do texto. III. Em cada estrofe, o poeta nos apresenta flashes que caracterizam cada uma das trs grandes fases da vida. IV. A falta de elementos coesivos no texto impede que o leitor depreenda sua unidade de sentido do texto, ou seja, o texto no coerente. Assinale a alternativa correta: A Apenas as afirmaes I, II e III esto corretas. B Apenas as afirmaes II, III e IV esto corretas. C Apenas as afirmaes I e III esto corretas. D Apenas as afirmaes II e IV esto corretas. E Todas as afirmaes esto corretas.

5) Assinale a alternativa corretaA "A prova est difcil, mas como estudei bastante consegui realiz-la com facilidade" Substituir a adversativa mas, por porm, significaria alterar, totalmente, o sentido da frase, tendo em vista o rompimento do princpio da coeso. B Coeso um mecanismo que se preocupa com as grandes estruturas textuais, no dizendo respeito, portanto, escolha dos vocbulos que formam as frases. C A presena dos conectivos e, pois, assim, etc., pouco importante para se construir a estrutura coesiva das frases.

D Tendo em vista que coeso e coerncia so instncias distintas, desnecessrio verificar como se articulam para configurar os sentidos textuais. E A estruturao sequencial de palavras, frases, enunciados, mecanismo essencial para garantir a procedncia lingustica dos textos, conhecida por coeso.

6) Assinale a alternativa que transgride as regras de coeso e coerncia de acordo com a norma culta.A A escola o lugar de onde podem sair futuros cidados conscientes, com os quais se podero construir uma nao mais crtica. B Embora no tenham conseguido a vitria, porque o adversrio exerceu forte marcao no meio de campo, os jogadores empenharam-se bastante durante a partida. C A seca era to intensa naquela regio que os lavradores no tinham mais gua nem comida e no mais confiavam nas promessas das autoridades, porque essas nada faziam para soluo do problema. D Caso os atos de violncia se tornem frequentes no Brasil, a sociedade brasileira se mobilizar para exigir providncias para diminu-los. E Embora fosse prolixo, o apresentador ultrapassou o tempo previsto.

7) Leia o texto atentamente e aponte a alternativa que melhor descreva sua incoerncia:No cinema, no teatro, no converse. No mexa demais a cabea, no fique aos beijos. Cuidado com o barulho do papel de bala, do saco de pipocas. No os jogue no cho, quando acabar. Se o seu vizinho estiver fazendo tudo isso e incomodando, seja discreto. Pea que interrompam a sesso e acendam as luzes a fim de inibir o transgressor.

A B C D E

impossvel no fazer barulho com o papel de balas e sacos de pipoca. No h lei que proba beijos no teatro ou cinema. impossvel no mexer a cabea em teatros ou cinemas. Mesmo que algum esteja incomodando, no h a quem recorrer em cinemas ou teatros. O texto recomenda que o espectador deve ser discreto no cinema, mas se o vizinho estiver transgredindo as

regras, que ele d um escndalo.