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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES 15 a 17 de Maio de 2013 Universidade do Estado da Bahia – Campus I Salvador - BA 1 Graduada em Letras com Ênfase na Língua Inglesa. Especialista em Antropologia, pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. Participante do Grupo de Estudo e Pesquisas em Gênero e Sexualidades –E-mail: Idá[email protected]. 2 Graduanda em pedagogia na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) –E-mail: [email protected] 3 Professor Adjunto do DCB da UESB. Membro da Ong LGBTSOL –E-mail: [email protected] DESCONSTRUINDO PRECONCEITOS NA ESCOLA: INSTIGANDO EDUCANDOS(AS) E EDUCADORES(AS) PARA AS TEMÁTICAS DE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL Idalia Lino dos Santos 1 Beatriz Rodrigues Lino dos Santos² Marcos Lopes de Souza³ RESUMO: Este trabalho apresenta os resultados de um projeto intitulado “Sexualidade Outras”, realizado em uma escola estadual da região periférica da cidade de Jequié-BA durante os anos de 2010 e 2011. O projeto foi desenvolvido com estudantes de quatro turmas de ensino médio tanto diurno quanto noturno e objetivou construir um espaço de reflexões e provocações para formar estudantes críticos em relação às questões de gênero e sexualidade. Os resultados mostraram que os(as) discentes perceberam melhor as ideias e ações homofóbicas e que as pessoas identificadas como LGBT sofrem silenciosamente por não serem compreendidos(as) pelas suas famílias ou a sociedade em si, tendo muitas dificuldades para assumir-se. As dificuldades da execução do projeto ocorreram por conta da crença religiosa de alguns/algumas discentes e por alguns/algumas docentes negativizarem o projeto. Palavras-chave: projeto de intervenção, ensino médio, gênero, orientação sexual.

DESCONSTRUINDO PRECONCEITOS NA ESCOLA - uneb.br · O preconceito abrange toda a comunidade escolar e normatiza, as relações que existem e que possam ser determinadas como anormais

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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES

15 a 17 de Maio de 2013 Universidade do Estado da Bahia – Campus I

Salvador - BA

1 Graduada em Letras com Ênfase na Língua Inglesa. Especialista em Antropologia, pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. Participante do Grupo de Estudo e Pesquisas em Gênero e Sexualidades –E-mail: Idá[email protected].

2 Graduanda em pedagogia na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) –E-mail: [email protected] 3 Professor Adjunto do DCB da UESB. Membro da Ong LGBTSOL –E-mail: [email protected]

DESCONSTRUINDO PRECONCEITOS NA ESCOLA: INSTIGANDO EDUCANDOS(AS) E EDUCADORES(AS) PARA AS TEMÁTICAS DE

GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL Idalia Lino dos Santos1

Beatriz Rodrigues Lino dos Santos² Marcos Lopes de Souza³

RESUMO: Este trabalho apresenta os resultados de um projeto intitulado “Sexualidade Outras”,

realizado em uma escola estadual da região periférica da cidade de Jequié-BA durante os anos de

2010 e 2011. O projeto foi desenvolvido com estudantes de quatro turmas de ensino médio tanto

diurno quanto noturno e objetivou construir um espaço de reflexões e provocações para formar

estudantes críticos em relação às questões de gênero e sexualidade. Os resultados mostraram que

os(as) discentes perceberam melhor as ideias e ações homofóbicas e que as pessoas identificadas

como LGBT sofrem silenciosamente por não serem compreendidos(as) pelas suas famílias ou a

sociedade em si, tendo muitas dificuldades para assumir-se. As dificuldades da execução do projeto

ocorreram por conta da crença religiosa de alguns/algumas discentes e por alguns/algumas docentes

negativizarem o projeto.

Palavras-chave: projeto de intervenção, ensino médio, gênero, orientação sexual.

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1 Graduada em Letras com Ênfase na Língua Inglesa. Especialista em Antropologia, pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. Participante do Grupo de Estudo e Pesquisas em Gênero e Sexualidades –E-mail: Idá[email protected].

2 Graduanda em pedagogia na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) –E-mail: [email protected] 3 Professor Adjunto do DCB da UESB. Membro da Ong LGBTSOL –E-mail: [email protected]

1 INTRODUÇÃO

É preciso pensar em uma escola onde o(a) estudante possa adquirir o conhecimento, tendo

oportunidade de pensar, refletindo a respeito do que aprendeu, desenvolvendo um diálogo para que

a aprendizagem ocorra. A Constituição Brasileira afirma que um dos princípios da dignidade do ser

humano é a liberdade, ressaltamos que o estatuto da criança e do adolescente no art. V nos faz

lembrar que “nenhuma criança ou adolescente será objeto de negligência, de discriminação,

exploração, violência, crueldade e opressão”.

No entanto, o que se vê hoje é uma negação a esses direitos, no momento em que o PCN

ressalta sobre os temas transversais, sugerindo que:

Seu desenvolvimento deve oferecer critérios para o discernimento de

comportamentos ligados à sexualidade, sem a imposição de determinados valores

sobre outros. (BRASIL, 2001, p. 34)

Propomos que esse aprendizado será de acordo com alguns critérios. Mas, que critérios?

Mudar é difícil, mas é possível assim dizia Paulo Freire, não podemos continuar silenciando o

aprendizado para o estudante, diante de uma educação catequista, dominante que ainda persiste em

nosso país. Desta forma, faz-se necessário que os educadores busquem vencer a si mesmos para que

a educação possa se libertar do olhar preconceituoso e discriminador.

A experiência inicia no momento em que acontece a intervenção com alunos do ensino

médio da rede Estadual, na disciplina de História e em parceria com um professor da Universidade

Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. Na disciplina de História e em parceria com um professor

da UESB, a intervenção “Sexualidade Outras” iniciou em 2010 com uma turma de alunos no turno

matutino.

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Podemos perceber como no dia-a-dia, estamos sendo agredidos, com mensagens que

retratam estereótipos sobre o masculino e sobre o feminino silenciando o prazer, o desejo e

reafirmando preconceitos, discriminações e desigualdades. Na Revista Magnavita (2012) vem

ressaltar, que é do conhecimento que a diversidade sexual é desde a época da Grécia Antiga, e não

havia naquela época nenhum comportamento que denominasse espanto.

Ao propor a intervenção o objetivo foi desconstruir as ideias padronizadas sobre as

sexualidades e que os estudantes reconhecessem a diversidade sexual. Percebe-se que a sociedade

ainda visa à heterossexualidade com uma exigência normativa e única, e desqualifica todo e

qualquer modo de se viver diferentemente do convencionado como “normal”. Fica claro que essas

práticas discriminatórias reforçam a homofobia, a ser cada vez mais nítida e explícita na sociedade

(LOURO, 2000).

Entendo que podemos interferir no aprendizado do discente se houver necessidade para

tornar esse conhecimento crítico e esclarecedor, e buscando rever aquelas atitudes que persistem

com preconceito ou discriminação. O preconceito abrange toda a comunidade escolar e normatiza,

as relações que existem e que possam ser determinadas como anormais.

2 METODOLOGIA

Este trabalho está baseado na abordagem qualitativa, pois está intencionado nas

compreensões de estudantes sobre os gêneros e a sexualidade a partir de um trabalho de

intervenção. Como apresentado por Flick (2009), a pesquisa qualitativa preocupa-se em estudar as

experiências individuais ou coletivas envolvidas nos diferentes fenômenos sociais, estando

interessada em entender as ideias, opiniões e ações das pessoas.

Segundo Minayo (1993, p. 21):

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se ocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes.

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1 Graduada em Letras com Ênfase na Língua Inglesa. Especialista em Antropologia, pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. Participante do Grupo de Estudo e Pesquisas em Gênero e Sexualidades –E-mail: Idá[email protected].

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Com o objetivo de responder a questão de pesquisa apresentada anteriormente, essa

intervenção almejou propiciar um espaço de diálogos e debates sobre as construções sócio-culturais

de gênero e de sexualidade e como isso pode gerar preconceitos e discriminações especialmente em

relação aquelas e aqueles que escapam dos padrões e normatizações.

O projeto foi desenvolvido nos anos de 2010 e 2011. No ano de 2010, trabalhou-se com 26

estudantes do segundo ano do ensino médio do período diurno e em 2011 com outra turma do

segundo ano do ensino médio do período noturno com 32 estudantes.

Em cada ano, o projeto foi desenvolvido em três etapas. No primeiro momento foi solicitada

aos discentes a realização de uma entrevista com duas pessoas de sua família ou da comunidade a

fim de verificar as ideias das pessoas sobre as características do homem e da mulher e em relação à

homossexualidade.

No segundo momento, a turma assistiu ao filme Longe do Paraíso (produzido em 2002), o

qual conta a história de um casal Cathleen e Frank que vivem na cidade de Connecticut em 1957. O

início do filme retrata o casal como o exemplo de família tradicional a ser seguido pela sociedade

estadunidense da época. Ela representando a esposa que cuida do lar e da família e ele o executivo

bem sucedido que desenvolve seu papel de marido exemplar que sustenta economicamente o lar. A

crise se inicia quando Frank começa a viver relacionamentos com outros homens e Cathleen, por

sua vez, se apaixona por seu jardineiro, Raymond, um afro-americano. Isso gera um escândalo para

a sociedade conservadora da época. Após a exibição do filme, os estudantes construíram um texto

para apresentar suas opiniões, questionamentos e críticas.

No terceiro momento foi realizada uma dinâmica com os discentes para discutir os papéis de

gênero na sociedade e os seus olhares sobre a diversidade sexual. Esta atividade foi feita com o

apoio de um professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Posteriormente, os

estudantes escreveram um pequeno texto relatando as aprendizagens e as incertezas desenvolvidas

com a dinâmica.

Todas as produções escritas dos discentes, no caso as respostas das entrevistas; as

interpretações do filme e a hipótese repressiva está na base de modelos críticos de educação sexual

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1 Graduada em Letras com Ênfase na Língua Inglesa. Especialista em Antropologia, pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. Participante do Grupo de Estudo e Pesquisas em Gênero e Sexualidades –E-mail: Idá[email protected].

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o texto dissertativo foram analisados com base nos referenciais da área de gênero e sexualidade que

serão apresentados.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

No que tange as questões de gênero, as respostas evidenciaram um pensamento normativo,

binário e essencializado. As mulheres foram relacionadas com os papéis de cuidar da família,

especialmente dos filhos, e realizar trabalhos domésticos. Outras características apresentadas foram:

ser emotiva, sensível ou meiga; ser companheira e obedecer ao marido. Citam-se as seguintes

ideias:

“A mulher foi feita para cuidar do lar, dos filhos, além disto ser estabelecido pela

sociedade, é bíblico e também está presente em Gênesis.”

“Ser uma boa esposa, obedecer o marido, cuidar da casa e dos filhos, ser carinhosa, meiga,

atenciosa, entre outras.”

Já o homem foi identificado como aquele responsável em sustentar economicamente o lar,

além de ser dedicado à família. Outras citações foram: coragem e força física, honestidade;

impulsividade e jogar futebol; educar os filhos. Dentre as respostas destacam-se algumas:

“Trabalhar e manter o sustento da casa (pagando as contas). Isso vem desde a

antiguidade.”

“O homem é a cabeça da casa e por isso a mulher deve sujeitar ao homem, pois como

cabeça, ele está acima.”

Embora tenham predominado ideias que reforçam os padrões de gênero em nossa sociedade,

algumas pessoas apresentaram depoimentos que questionavam os enquadramentos de homens e

mulheres em determinados papéis ou características ressaltando que as pessoas têm o direito de

optarem por outras formas de ser homem e mulher.

“Não concordo com esta afirmação e penso que isto é algo imposto pela sociedade que

utiliza as diferenças entre o homem e a mulher para favorecer um (o homem) em detrimento do

outro (a mulher).”

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“Não tem função definida, a sociedade hipócrita é que determinou que só o homem tem que

trabalhar e colocar comida em casa.”

Simone de Beauvoir já afirmava que ninguém nasce mulher, torna-se, portanto, ser mulher é

uma construção, embora se afirmem cotidianamente que cabe a mulher, por exemplo, cuidar da casa

e dos filhos isso não é algo dado, mas reiterado pela cultura em que se vive. Da mesma forma, o ser

homem não difere da expressão de Beauvoir, portanto, ser homem também é um processo de

produção e afirmação (LOURO, 2000).

Diante de tais violências é necessário entender que as diferenças de gênero e sexualidade são

direitos, para serem reconhecidos. Com base neste pressuposto refletimos em relação ao

questionamento feito por uma aluna:

“Discriminar uma pessoa por que ela é negra ou porque ela prefere se

relacionar com pessoas do mesmo sexo, ou pela classe social, por doença,

religião por ser pobre, rica, gordo ou magro?”

Foucault (1977) nos convida a outra forma de pensar em relação à repressão que não

diferencia da discriminação considerando que a hipótese repressiva está no alicerce dos modelos

críticos da educação sexual, modelos estes que se configuram como propriedade do próprio destino.

Entendo que essa repressão parte de grupos de ideias dominantes com objetivos de

permanecer controlando especificidades em relação à educação, sendo assim os direitos dos alunos

permanecerá controlados de forma que a orientação sexual e gênero continuem nos padrões

normativos. Acreditamos que a educação e toda a comunidade escolar precisam repensar sobre a

orientação sexual e a identidade de gênero para enfrentar a homofobia em toda sua dimensão.

Infelizmente faltam pesquisas, informações metodologias e formação para os professores,

deixando assim que a discussão aconteça e atinja o conhecimento desejado.

Rogério Diniz Junqueira discutiu as consequências desses fatos:

Ao mesmo tempo em que nós, profissionais da educação, estamos conscientes de que nosso trabalho se relacionem com o quadro dos direitos humanos e podem

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2 Graduanda em pedagogia na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) –E-mail: [email protected] 3 Professor Adjunto do DCB da UESB. Membro da Ong LGBTSOL –E-mail: [email protected]

contribuir para ampliar os seus horizontes, precisamos também reter que estamos envolvidos na tessitura de uma trama em que sexismo, homofobia e racismo produzem efeitos e que, apesar de nossas intenções terminamos muitas vezes por promover sua perpetuação. (JUNQUEIRA, 2009, p. 13).

Assim entendemos que a escola assumindo esse debate em relação ao gênero e à orientação

sexual a sociedade como um todo reconhecerá a necessidade do conhecimento, não podendo

permitir que as políticas públicas contribuam para as ações que forem desenvolvidas.

No que tange ao questionamento de Ana Maria:

“... Quando duas pessoas se amam independente do que sejam, não é crime nenhum

amar uma pessoa do mesmo sexo...”

Percebe-se que as chamadas minorias sexuais tornaram-se visíveis, no entanto a escola,

professores/as o currículo não conseguem lidar com essas minorias. Os modelos educacionais não

atendem mais ao chamamento do aluno, não há como continuar ignorando esse vigor, no entanto

não podemos esquecer que muitos dos professores ou professoras fazem parte dos grupos

dominantes que querem continuar com uma educação normatizadora e diferente ao anseio do aluno,

daí questionamos: o que fazer? Esse também é o questionamento de Guacira Lopes Louro.

O preconceito se modifica de acordo com as classes sociais, grupos étnicos ou até mesmo

classe econômica, ou gênero daí entender que normalmente o educando da escola pública se

encontra muito mais exposto. Em relação aos estudantes que desenvolvemos a intervenção, a

principio foi inquietador, mas o dialogo, as dinâmicas, as entrevistas e a palestra fez com que os

alunos modificassem o seu olhar em relação a diversidade sexual e gênero.

“... Através da palestra, pude perceber que o indivíduo não nasce heterossexual,

homossexual ou bissexual. (...) Mas, com tudo isso acredito que o homem não deixa de

ser homem, porque gosta de outro homem, ou mulher gosta de outra mulher, não deixa

de ser feminina, mas sim todos somos iguais”.

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Com essa conclusão da estudante Joana, confirma-se a necessidade do professor iniciar um

debate que muitos acreditam ser imoral. Quando Guacira Lopes traz questionamentos em relação ao

currículo e à formação dos professores/as, ela propõe a necessidade do professor/a estar disposto a

educar e dependendo da postura do profissional, o diálogo tornará possível. Porque se envolvendo

com os estudos da história da sexualidade, entenderá as perversidades que muita das vezes são

exercidas, e que esse conhecimento só se torna visível quando é feito esse debate.

Nilson Fernandes Diniz confirma:

Pois, em um momento histórico em que mais se fala em educar para a diferença, vivemos um cenário político, mundial de intolerância que se repete também no espaço da vida privada. (DINIZ, 2008, p. 474)

Diante das discussões e pesquisas nos últimos anos em relação a gênero e diversidade sexual

entende-se a necessidade de uma formação dos profissionais em educação e a conscientização da

academia para que esse debate seja mantido e crie formas de resistência para que a educação

alcance novos paradigmas.

A heteronormatividade não deixa de ser uma conduta social, para que o homem e a mulher

possam estar em um olhar vigilante de grupos dominadores, determinando despercebidamente

normas de como o individuo poderá expressar-se como andar, falar, gesticular-se, estando todo o

tempo sendo vigiado para assegurar a heterossexualidade. Manter-se na sociedade é direito de

todos, portanto se os grupos sociais respeitassem seus direitos não seria necessário criar estratégias

de proteção, muito menos campanhas educativas, porque a igualdade de direitos faz-se acontecer.

A escola não pode continuar sendo indiferente à sexualidade, sexismo e a homofobia,

portanto faz-se necessário que as desigualdades sejam superadas e que a heteronormatividade seja

renunciada. Porém, os educadores e educadoras não podem fortalecer os grupos preconceituosos e,

a escola não pode continuar sendo omissa e ausente dessa temática no currículo.

Não é justo, impedir os alunos e alunas de discutir sua identidade de gênero e a orientação

sexual por princípios particulares de grupos dominadores. A escola mantida pelo Estado é pública,

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laica e gratuita; preceitos universais que visam vencer qualquer constrangimento. Paulo Freire diz

que:

A educadora progressista não se permite a dúvida em torno do direito de um lado, que os meninos e as meninas do povo têm de saber. (...) os meninos e as meninas das zonas felizes da cidade, mas de outro, jamais aceita que o ensino não importa qual conteúdo pode dar-se aliado da análise crítica de como funciona a sociedade. (FREIRE, 2000, p. 44)

Fatos interessantes aconteceram a partir do momento que os alunos começaram a perceber

que debater a respeito de sexualidade e gênero era importante porque começaram a identificar em

alguns familiares estereótipos que faziam com que percebessem a identidade sexual e passavam a

compreender o porquê do conflito desse ente querido. A aluna G conta:

“Professora, agora eu entendo porque a minha cunhada separou, não teve como

continuar o casamento, e hoje ela vive isolada na casa de sua mãe, só conversa com

uma amiga... Ela vive muito triste normalmente, não saí e não quer saber mais de

casamento; eu sei agora que ela é lésbica e sua mãe jamais aceitaria que ela vá viver

com outra mulher. (...) Eu vou tentar ajudá-la, falar pra ela ser feliz, sair da casa da

mãe e procurar um trabalho para ser feliz. Não é pecado nenhum ter prazer com outra

mulher”.

Esse depoimento foi muito importante, pois podemos perceber como o professor pode ajudar

o aluno e como é importante acreditar em nosso trabalho. Pensamos inclusive, que a educação é

desafio sempre, não há como ficar preso a normas, ou a currículo.

Em outro momento de discussão, outro Júnior relata:

“Professora eu nunca ouvir falar sobre sexualidade, nunca tive oportunidade de

dialogar e saber o que aprendi hoje aqui. Se eu tivesse aprendido antes o que é

sexualidade e gênero, talvez não tinha acontecido tantos problemas em minha vida”.

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Compreendemos que nós professores temos responsabilidades e podemos contribuir muito

para que a educação transforme, podendo assim buscar novas estratégias. Percebemos na avaliação

que os objetivos propostos foram alcançados, nas varias falas dos estudantes, e como todas as

atividades contribuíram para o entendimento das múltiplas formas de pensar e viver os gêneros e as

sexualidades.

No entanto, muitos afirmaram que iam de encontro aos princípios bíblicos, Porém, logo após

as reflexões, eles passaram a perceber o que eles entendiam, que além de direitos eram seres

humanos. Júnior questiona “quem somos nós para julgarmos os outros”, todos silenciam e

continuam a questionar quem somos nós para julgar ou levar o outro a constrangimentos?

4 REFERÊNCIAS

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: pluralidade

cultural, orientação sexual/Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997.

MAGNAVITA. Alexey Dodsworth. O surgimento dos Homossexuais. Revista Filosofia:

Ciência&Vida. Ano VI. nº 70, 2012.

LOURO, Guacira Lopes. O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte:

Autêntica, 2000.

FLICK, U. Desenho da pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Artmed, 2009.

MINAYO, Maria Cecília de Sousa. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis:

Vozes, 1993.

FOUCALT, Michael. Historia da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro, Graal, 1977.

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SOUSA FILHO, A. Teorias sobre a gênese da homossexualidade: ideologia, preconceito e fraude.

In: JUNQUEIRA, Rogério Diniz (org.). Diversidade sexual na educação: problematizações sobre

a homofobia nas escolas. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada,

Alfabetização e Diversidade, UNESCO, 2009, p. 95-123.

DINIS, Nilson Fernandes. Educação, Relações de Gênero e Diversidade Sexual. Campinas, 2008.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: UNESP, 2000.