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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE PROFESSORA PDE MARCIA DA SILVA TELLES CORREA DESENHO E LINGUAGEM ESCRITA NO DESENVOLVIMENTO DO EDUCANDO COM NECESSIDADE EDUCACIONAL ESPECIAL – DEFICIÊNCIA INTELECTUAL TAMBOARA - PR 2009

DESENHO E LINGUAGEM ESCRITA NO DESENVOLVIMENTO … · adequada para a alfabetização de crianças com deficiência intelectual? Para a realização da pesquisa, seguimos os procedimentos

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

PROFESSORA PDE MARCIA DA SILVA TELLES CORREA

DESENHO E LINGUAGEM ESCRITA NO DESENVOLVIMENTO DO EDUCANDO COM NECESSIDADE EDUCACIONAL ESPECIAL – DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

TAMBOARA - PR 2009

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

PROFESSORA PDE

MARCIA DA SILVA TELLES CORREA

DESENHO E LINGUAGEM ESCRITA NO DESENVOLVIMENTO DO EDUCANDO COM NECESSIDADE EDUCACIONAL ESPECIAL –

DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

Artigo apresentado a SEED/SUED/DIPOL como requisito para obtenção do título de Professor PDE, área de Educação Especial. Orientadora: Prof. Ms. Rita de Cássia Pizoli

TAMBOARA 2009

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DESENHO E LINGUAGEM ESCRITA NO DESENVOLVIMENTO DO EDUCANDO COM

NECESSIDADE EDUCACIONAL ESPECIAL – DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

Marcia da Silva Telles Correa ∗

Rita de Cássia Pizoli – Fafipa∗

RESUMO

O presente artigo apresenta os resultados da pesquisa a respeito da relação entre desenho e linguagem escrita na Educação Especial. A partir do referencial teórico-metodológico materialista histórico e dos teóricos que estudam o desenvolvimento e a aprendizagem na perspectiva históricocultural, apontamos possibilidades de mediação do processo de ensino-aprendizagem de alunos com deficiência intelectual na área de alfabetização. Os objetivos que nortearam a pesquisa permitiram-nos compreender a prática pedagógica singular da escola escolhida dentro do movimento histórico de constituição da modalidade de ensino público da Educação Especial, bem como os fundamentos teórico-metodológicos acerca do desenvolvimento da linguagem e suas relações com o desenho e a escrita. O estudo empírico a partir da intervenção com alunos e professores possibilitou o planejamento de um plano pedagógico permanente, articulado com o Projeto Político Pedagógico da escola, contemplando as ações suscitadas pelo estudo da temática apresentada.

Palavras-chave: Educação Especial; linguagem escrita; desenho; mediação.

ABSTRACT

This article presents the results of research on the relationship between drawing and written language in Special Education. From the theoretical and methodological and historical materialist theorists who study the development and learning in cultural historical perspective, we point out possibilities for mediation of the learning process of students with intellectual disabilities in literacy. The goals that guided the research allowed us to understand the unique pedagogical practice of the closer school inside the movement in the history of the formation mode of public education for special education, as well as the theoretical and methodological foundations of language development and its relationship with the drawing and writing. The empirical study from the intervention with students and teachers allowed the planning of an ongoing educational plan, combined with the political-pedagogical project of the school, watching the actions arising from the study of the theme presented.

Key words: Special education; written language; drawing; mediation.

Introdução

∗ Professora da Rede Pública Estadual – PDE/2008 – UEM/Fafipa, graduada em Pedagogia – Fafipa e pós-graduada em Educação Especial – Fafipa. ∗ Professora Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá. Professora Assistente da Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí, atuante no curso de Pedagogia, Departamento de Educação.

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No processo de ensino-aprendizagem dos alunos com necessidades especiais, principalmente dos

alunos com deficiência intelectual, existe uma constante busca, por parte do professor, em entender a

especificidade de cada aluno e oferecer a melhor mediação, adequando o currículo escolar e

proporcionando a estes alunos oportunidades de crescimento.

Entretanto, percebe-se que o atendimento não desenvolve o máximo da potencialidade de cada aluno

com necessidades educativas especiais. Em se tratando sobretudo da linguagem escrita, no processo

de aprendizagem do código formal por alunos classificados como portadores de deficiência mental,

observamos que esta nem sempre é compreendida e interpretada de maneira suficiente a elevar a

aprendizagem do aluno a patamares superiores.

Alguns alunos, sem conseguir dominar o código escrito formal, manifestam seu pensamento por meio

do desenho, que muitas vezes não é explorado e tampouco considerado como uma possibilidade inicial

de expressão escrita. Dessa forma, seu desenvolvimento fica limitado e as atividades repetitivas não

contribuem para seu crescimento, acarretando irritação e desistência ante as atividades intelectuais

mais complexas.

Diante desse problema, na pesquisa realizada durante dois anos na participação do Programa de

formação de professores – PDE1 debruçamo-nos sobre a temática referente às relações entre desenho

e linguagem a fim de potencializar a valorização do desenho como forma de expressão inicial da

escrita. Assim, neste artigo apresentamos os resultados finais da pesquisa e visamos a apontar

possibilidades de mediação do processo de ensino-aprendizagem de alunos com deficiência intelectual

na área de alfabetização.

Durante a trajetória deste estudo, a problematização que nos guiou foi: como a Educação Especial se

organiza na contemporaneidade, particularmente nas escolas especiais? Como e em que contexto

essas escolas foram criadas no Brasil? Quais os fatores históricos que determinaram as políticas para

a Educação Especial? Quais são os problemas enfrentados pelos professores nessas escolas? O que

1 O Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) é oferecido pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná

(SEED) e contempla quatro períodos semestrais, distribuídos em dois anos, com várias ações a serem desenvolvidas, tais

como participação em cursos oferecidos pelas IES, tutoria do grupo trabalho em rede (GTR), produção de material didático,

implementação da proposta de intervenção na escola e produção de um artigo científico.

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impede o pleno desenvolvimento das potencialidades intelectuais da criança com dificuldade de

aprendizagem? Que métodos de alfabetização estão sendo usados nas salas de aulas? Que

alterações metodológicas se fazem necessárias? Quais as relações entre desenho e linguagem

escrita? Como o entendimento dessas relações pode contribuir para a realização de uma mediação

adequada para a alfabetização de crianças com deficiência intelectual?

Para a realização da pesquisa, seguimos os procedimentos metodológicos ancorados na perspectiva

qualitativa, compostos de estudo bibliográfico e pesquisa de campo, com observação, entrevistas

semiestruturadas, intervenção com alunos, coleta de dados, e grupo de estudos com os professores da

escola pesquisada. A coleta de dados foi realizada na Escola de Educação Especial Idalba Abreu

Pierin, no município de Tamboara, localizado no noroeste do Paraná. O grupo de pesquisa foi

constituído por três alunos.

Durante o processo, empreendemos a implementação das propostas desse projeto com o grupo de 10

professores da escola em questão2. Consideraremos as discussões realizadas nesse grupo neste

artigo. Paralelamente, a mesma discussão foi apresentada a 40 professores da rede estadual por meio

de GTR3, possibilitando a sua inclusão virtual na rede, nos estudos, reflexões, discussões e nas

elaborações efetuadas pelo professor PDE na trajetória do programa.

Por meio desse trabalho, desenvolvemos materiais didáticos para serem utilizados nos processos de

intervenção, tanto para a pesquisa empírica como na aplicação do plano de ação e intervenção com os

alunos. Essa prática comprovou a importância do planejamento intencional para a mediação

pedagógica.

Neste sentido, respondemos aos objetivos propostos inicialmente, como compreender as formas

históricas de atendimento ao aluno com necessidades educacionais especiais; refletir sobre a relação

de ensino-aprendizagem, noções de desenvolvimento, desenho e linguagem para a Educação 2 As atividades desenvolvidas no grupo de estudos com os professores no período de 23/03/2009 a 27/05/2009 foram Educação Especial: um breve histórico; Ensino, Aprendizagem, Desenvolvimento Psíquico em Vigotski; Investigação do Desenho como Reprodução da Linguagem Escrita; Algumas Considerações para Análise dos Desenhos; Sugestões de Atividades e Materiais para a Mediação Pedagógica; Elaboração de um Plano de Intervenção Metodológica com Professores. 3 Os Grupos de Trabalho em Rede –(GTR) constituem-se em uma atividade do PDE e caracterizam-se pela interação virtual entre o professor PDE e os demais professores da rede pública estadual, e buscam efetivar o processo de Formação Continuada já em curso, promovido pela SEED/PDE.

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Especial; estudar as relações entre desenho e linguagem no contexto e realidade escolar dos alunos

com necessidades educacionais especiais da Escola de Educação Especial Idalba Abreu Pierin –

APAE do município de Tamboara, PR; apresentar aos professores da escola o resultado da pesquisa

teórica e empírica relativo aos procedimentos teóricos metodológicos de mediação para o processo de

ensino-aprendizagem dos alunos com necessidades educacionais especiais e refletir com os

professores a necessidade de um trabalho de mediação tendo por base a análise do desenho.

2. Considerações históricas da Educação Especial: situando a escola pesquisada

Apresentamos um breve histórico da Educação Especial no âmbito mundial, nacional e estadual, para

então situarmos a escola onde foi realizada a presente pesquisa, estudo e intervenção.

Para compreendermos melhor a situação atual da Pessoa com Necessidade Educacional Especial, faz-

se necessário relatarmos um pouco da história que influenciou a condição de vida dessas pessoas, a

constante situação de segregação e anulação de suas capacidades, em que suas conquistas e

desenvolvimento estiveram e continuam quase sempre nas mesmas mãos, as de pessoas ligadas a

movimentos particulares, beneficentes, assistencialistas de atendimento às deficiências de acordo com

valores sociais, morais, éticos e religiosos de cada época.

O documento do Paraná apregoa que:

A organização da Educação Especial sempre esteve determinada por um critério básico: a definição de um grupo de sujeitos que, por inúmeras razões, não corresponde à expectativa de normalidade ditada pelos padrões sociais vigentes. (PARANÁ, 2006, p. 17).

Ainda citando tal documento (PARANÁ, 2003), essa concepção que motivou a natureza de

atendimento da Educação Especial esteve vinculada a um movimento social de sistematização de

práticas de disciplinamento relacionadas à caracterização dos indivíduos (loucos, marginais, doentes

mentais, deficientes, a fim de enquadrá-las em categoria que facilitariam seu tratamento). Essa

situação remete à questão histórica dos diagnósticos e prognósticos que, muitas vezes, perpetuaram-

se como práticas de exclusão social.

Em uma retrospectiva histórica, Matos (2003) afirma que a situação das pessoas com deficiência no

contexto mundial, cuja causa e consequências costumam ser agravadas em decorrência do perfil de

desenvolvimento econômico, político e cultural de cada sociedade, o tratamento dispensado a essas

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pessoas evolui dos cuidados primários e do internamento em instituições e asilos ao reconhecimento do

direito à educação e à reabilitação.

Arnal (2007) assinala que, no Brasil, esse processo foi mais complicado:

O percurso histórico da Educação Especial no Brasil tem aspectos muito delicados e discutíveis, particularmente nas questões de políticas públicas Os principais questionamentos sempre foram levantados por pessoas que tinham influência em sua prática e / ou algum familiar que precisasse de atendimento especial. Nesse sentido, a Educação Especial foi constituindo-se como um sistema paralelo ao sistema educacional geral, com características morais, científicas, políticas, econômicas e legais bem específicos (ARNAL, 2007, p. 24).

Dessa forma, a Educação Especial se organizou tradicionalmente como atendimento educacional

especializado substitutivo ao ensino comum, evidenciando diferentes compreensões, terminologias e

modalidades que levaram à criação de instituições especializadas, escolas especiais e classes

especiais.

Na LDB n°9394/96, a Educação Especial é contemplada com um capítulo, detalhando de maneira

clara as possibilidades de sua caracterização. O artigo 58, parágrafo 1º, postula que “haverá, quando

necessário, serviços de apoio especializados na rede regular para atender às peculiaridades do

alunado de Educação Especial”. O parágrafo 2º desse mesmo artigo define que “o atendimento

educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das

condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino

regular”. Na sequência, o parágrafo 3º expõe que “a oferta de Educação Especial, dever constitucional

do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a Educação infantil”.

As APAES, estruturadas pela iniciativa civil e mantidas também pelo poder público, atendem a uma

grande parcela dos alunos com deficiência. Por realizarmos este trabalho de pesquisa e intervenção

em uma Escola Especial historicamente inserida no movimento apaeano, julgamos relevante

apresentar alguns aspectos de sua trajetória no Brasil.

A Educação Especial no Paraná tem pouco mais de 50 anos. Nesse período ocorreram muitas

mudanças relacionadas a sua organização e ao lugar que ocupava no sistema educacional. Desde a

criação da primeira escola especial, em 1939, o Instituto Paranaense de Cegos, reproduzem-se

concepções e práticas atestadas nos movimentos nacionais e internacionais.

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No entanto, Almeida (1998) enuncia que pelo pioneirismo das ações no estado ambientadas, como a

criação da primeira classe especial na rede pública (atual Escola Estadual Guairá, em Curitiba), em

1958 e a implantação do primeiro serviço de Educação Especial, em nível governamental, em 1963,

coloca o Paraná na vanguarda das políticas de atendimento educacional especializado, em nível

nacional.

Em 12 de maio de 2008 foi inaugurada a primeira Escola Estadual de Educação Especial do Paraná, a

Escola Estadual de Educação Especial Lucy Requião de Mello e Silva, para atendimento superior a 260

alunos portadores de necessidades educacionais especiais.

A partir da década de 1970, com a estruturação do Departamento de Educação Especial, integrando a

organização político-administrativa da SEED, o que se mantém até hoje, é que se intensificaram as

ações no âmbito da escola pública, com a expansão do atendimento em diferentes municípios do

Estado e a implantação de classes especiais voltadas ao atendimento de deficiências, por área.

Com o objetivo de sistematizar uma política pública de inclusão educacional, tendo o Departamento de

Educação Especial à frente desse processo, foi elaborado um documento intitulado “Educação

Inclusiva: linhas de ação para o Estado do Paraná”.

No Paraná, a Deliberação nº. 02/03 - CEE, que fixa as normas para a Educação Especial, modalidade

da Educação Básica para alunos com necessidades especiais no Sistema de Ensino do Estado do

Paraná, assegura a oferta de atendimento educacional especializado aos alunos que apresentam

necessidades educacionais especiais decorrentes de:

I- Deficiência mental, física / neuromotora, visual e auditiva;

II- Condutas típicas de síndromes e quadros psicológico

neurológico ou psiquiátrico;

III- Superdotação/ altas habilidades (PARANÁ, 2003, p.12).

As Diretrizes Curriculares da Educação Especial preconizam que o Estado do Paraná realiza uma

inclusão educacional responsável. Todavia a inclusão, antes de ser educacional é social, e portanto, é

uma conquista de toda sociedade. A educação, aliada à vasta legislação que hoje dispomos para a área

e o essencial envolvimento da sociedade é que fortalecerão os sentimentos éticos e de cidadania da

população paranaense.

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Nesse movimento, situamos a Escola de Educação Especial Idalba Abreu Perin. De acordo com o

Projeto Político Pedagógico (PPP), a escola, inserida no movimento apaeano, tem se consolidado em

suas ações pedagógicas, garantindo que as pessoas com deficiência sejam respeitadas nas suas

diferenças e ocupem espaços sociais e educacionais, sendo vistas como parte integrante da

sociedade.

A escola está localizada ao Noroeste do Paraná, no município de Tamboara, cuja população é de 4.564

habitantes (IBGE, 2007), integrante do Núcleo Regional de Educação de Paranavaí, a qual fica a 15 km,

tendo como mantenedora a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Tamboara (APAE).

Desde sua criação, em 24 de setembro de 1999, a escola vem rompendo barreiras para manter-se em

condições de oferecer o atendimento necessário aos educandos e suas famílias. Por ser uma entidade

filantrópica sem fins lucrativos, mantém parcerias com os governos federal, estadual e municipal, os

quais contribuem com pequena parcela, ficando a maior responsabilidade financeira para a sua

mantenedora (APAE), que por sua vez a mantém voluntariamente com promoções, doações da

comunidade do comércio do município.

A organização curricular da escola segue as normas do MEC e processa-se de modo a atender os

níveis de Educação Infantil, Ensino Fundamental (fases iniciais), e as modalidades compatíveis com os

níveis de ensino com os quais atua; segue também a Proposta Curricular da Educação para Jovens e

Adultos, os Parâmetros Curriculares Nacionais – Adaptações Curriculares: Estratégias para Educação

de alunos com Necessidades Educacionais Especiais e o documento da APAE Educadora (FENAPAE,

2001).

No ano 2000, a escola passou a integrar o Sistema Estadual de Educação do Paraná, e a partir desse

marco foi convocada a escrever seu Projeto Político Pedagógico em consonância com o movimento

iniciado em 2002 em todas as escolas do Estado.

Nesse momento, a concepção de aprendizagem da escola está ancorada nos pressupostos da teoria

históricocultural de Vigotski, conforme expõem os excertos do documento:

Ensino–Aprendizagem é o processo pelo qual o indivíduo adquire informações, habilidades, atitudes, valores, etc. a partir de seu contato com a realidade, o meio ambiente e outras pessoas. [...]. Segundo Vigotski (1984), a intervenção é um processo pedagógico privilegiado. O professor tem o importante papel de interferir na

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zona de desenvolvimento proximal dos alunos provocando avanços que não ocorreriam espontaneamente (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, 2007, p. 27).

Em casos de educando com graves comprometimentos mentais e/ou múltiplos, que não possam

beneficiar-se do currículo que não inclua formalmente a base nacional comum, deverá ser

proporcionado um currículo funcional para atender às necessidades práticas da vida.

2. Ensino, aprendizagem e desenvolvimento psíquico em Vigotski: conhecendo as bases

teórico-metodológicas do trabalho proposto

Diante do desafio de oportunizar as máximas conquistas para Pessoa com Necessidades Educacionais

Especiais, em particular Deficiência Intelectual, queremos refletir sobre quais devem ser as práticas

que melhor oportunizem essas conquistas.

Para isso, nos voltamos para a prática pedagógica realizada na escola onde trabalhamos durante seis

anos para buscar um entendimento a respeito de questões que há muito tempo nos afligiam.

Decidimos, então, estudar as relações entre ensino-aprendizagem e desenvolvimento psíquico em

Vygotski4, e partimos do pressuposto de que há uma estreita relação entre o ensino-aprendizagem e o

desenvolvimento psíquico.

Segundo Kassar (2001, p. 29), o enfoque históricocultural vem fundamentando novas pesquisas e

práticas educativas bem como abrindo novas possibilidades para atendimento sobre o desenvolvimento

do ser humano, e consequentemente, da pessoa com deficiências. O autor indica o fato das estruturas

psíquicas ocorrerem dentro das possibilidades oferecidas, em última instância, pelas condições

socioculturais. A partir desses pressupostos, a educação da pessoa com deficiência pode ser

percebida como possível, pela prerrogativa dos fatores sociais do desenvolvimento e, assim, pelo

caráter não-limitante desse desenvolvimento.

Queiroz (2005, p. 45) ensina que o termo defeito ou defectologia foi utilizado por Vigotski para se referir

aos portadores de deficiência física, auditiva, visual e mental na antiga União Soviética, sem que isso

4 O nome do autor é encontrado, nas literaturas consultadas, escrito de várias formas, dependendo do idioma de referência. Adotaremos, neste trabalho, a grafia Vigotski, como é grafada nas traduções em espanhol feitas direto do russo.

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representasse uma diminuição do sujeito ou uma maneira pejorativa de designar uma pessoa portadora

de algum tipo de deficiência. Procurando explorar as potencialidades desses sujeitos, Vigotski atentou

mais as suas qualidades do que aos seus defeitos.

Ao explicar o processo de desenvolvimento humano, a teoria históricocultural propala que as

consciências humanas resultam dos processos de vida que sujeito estabelece com a sociedade. Parte

do princípio de que o comportamento humano não foi constituído na evolução e desenvolvimento

biológico, mas pela análise do desenvolvimento cultural.

Na abordagem históricocultural, na compreensão dessa autora por nós compartilhada, essa

especificidade da evolução humana deve-se ao desenvolvimento social do homem que, sob a

perspectiva histórico-materialista, torna-se possível no surgimento do trabalho nas sociedades

primitivas. Juntamente a essa organização e devido a ela surgem a linguagem e o pensamento

caracteristicamente humano.

Por esse enfoque, a peculiaridade do desenvolvimento das crianças com deficiência não está no

desaparecimento de suas funções, que podem ser observadas na criança normal, porém nas novas

formações que se constroem como relação ante a deficiência – uma organização especial da estrutura

psíquica – o que Vigotski (1995) chama de “compensação” do processo de desenvolvimento. O

comprometimento de certas funções faz com que sejam criadas novas vias de desenvolvimento,

caracterizando um tipo novo de desenvolvimento.

Em Educação Especial, esse processo tem que ser acreditado e efetivado, no sentido de contribuir

para a construção das estruturas mentais que possibilitem o desenvolvimento da criança com

necessidades educativas especiais, em uma visão socioeducacional, concebendo-a como um ser

capaz de desenvolver suas potencialidades, respeitando suas limitações.

A abordagem teórica de Vigotski (NUNES, 2001) traz implicações para o campo educacional, na

medida em que mostra que a criança aprende basicamente através das interações sociais. Aquilo que

uma criança faz com auxílio hoje, amanhã será capaz de fazer sozinha. Este autor explica que, para

Vigotski, é dessa sequenciação o processo de desenvolvimento realizando-se após o processo de

aprendizado, com o surgimento de dois níveis de desenvolvimento (real e potencial) – que resultam o

que ele denominou Zona de Desenvolvimento Proximal. Na visão de Queiroz (2005) e Goulart (2006), o

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primeiro nível de desenvolvimento real ou fase pré-intelectual da fala consiste em a criança pequena se

comunicar com adulto através de gestos, choros e balbucios. Apesar de não ter um significado

específico, a criança consegue se fazer entender pelo adulto.

No segundo nível de desenvolvimento proximal – ou a fase da inteligência –, a relação estabelecida

com as pessoas que fazem parte do ambiente no decorrer dos primeiros anos da criança é responsável

pelo desencadeamento dos denominados processos interpsíquicos – os adultos medeiam a ação da

criança para determinados comportamentos.

Nessas duas primeiras fases, os pensamentos e a linguagem não estão interligados, no entanto, à

medida que a criança, em suas interações com o adulto, aprende a usar a linguagem como instrumento

para expressar o seu pensamento, este torna verbal e racional.

No terceiro nível ou desenvolvimento potencial, a resposta ao mundo, anteriormente mediada por

outros seres humanos, se transforma em um processo intrapsíquico (aproximação da fala; ampliação

da capacidade em aprender e a internalizar conceitos, valores sociais presentes em sua cultura).

Portanto, o que foi apropriado pela criança, mediada pela linguagem (signo), será agora utilizado por

ela para orientar a própria ação.

Os autores demonstram em seus estudos que os seres humanos ao nascer são movidos por

comportamentos instintivos: suas respostas ao meio que os rodeia é espontâneo, os primeiros contatos

com outras pessoas em seu ambiente determinarão a manifestação e desenvolvimento das funções

psíquicas (linguagem, pensamento, memória) e esta, enquanto mediada, transforma em capacidade de

aprendizagem (adquire conhecimentos), e essa aprendizagem organizada dará sequência a outros

processos de desenvolvimento, e assim a pessoa consegue, independentemente, conduzir seu próprio

conhecimento, antes mediado por outra pessoa.

Ressaltamos a importância da mediação do professor nesse processo. Seu papel é essencial, pois a

qualidade do pensamento e do raciocínio dos alunos dependerá, diretamente, dos conteúdos por ele

trabalhados em sua prática pedagógica (ARNAL, 2007). Em sua teoria, Saviani destaca esse aspecto:

Cabe ao professor selecionar conteúdos relevantes dentro do conjunto da cultura humana – e as formas adequadas para possibilitar que esses conteúdos sejam

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apropriados pelos alunos, lembrando sempre que as características humanas são aprendidas, pois são externas as pessoas em seu nascimento.

Para efetivação do trabalho pedagógico, compete ao professor a função de atuar no processo

educativo, buscando o desenvolvimento de experiências de ensino-aprendizagem, fazendo articulação

entre conteúdo e a prática social do aluno, sendo o mediador do desenvolvimento de aprendizagem.

Com relação à investigação do desenho como reprodução da linguagem escrita, esse trabalho é assim

compreendido pela teoria históricocultural: para Vigotski, o desenho deve ser interpretado como um

estágio preliminar do desenvolvimento da linguagem escrita, estágio este entendido mais do que como

uma simples antecedência temporal (LEITE; PATROCINIO, 2000).

Ao longo de sua história, o homem, pela necessidade, vem criando uma diversidade de comunicação,

envolvendo linhas, pontos, símbolos, signo, que utiliza para recordar ou transmitir informações,

determinando convenções em sua representação; neste sentido, a escrita gráfica torna-se um sistema

complexo e exige, para sua aproximação, combinação de detalhes e habilidades específicas, sendo

privilégio para alguns e fracasso para outros.

A primeira tarefa de uma investigação científica é revelar essa pré-história da linguagem escrita; mostrar o que leva as crianças a escrever; mostrar os pontos importantes pelos quais passa esse desenvolvimento pré-histórico e qual a sua relação com aprendizagem escolar (VIGOTSKI, 1984, p. 121 apud AZENHA, 1996).

Nesse âmbito, a escola reflete o modelo social que ainda é dominante. Na prática pedagógica, os

primeiros contatos da criança com o registro da escrita ocorrem de forma primitiva, como emaranhado

de linhas ou desenhos, que é registro de seu conhecimento e evolui conforme a mediação do meio

social em que está inserida. Todavia, raramente esse tipo de registro do aluno é alvo de nossa

atenção, porque estamos determinados pelo próprio sistema escolar a ver e a tratar as relações da

criança com a escrita, como a alfabetização, por critérios convencionais, deixando de dar significado a

esse desenvolvimento, não o contemplando como um momento de prazer e desenvolvimento da

criança.

O desenho como atividade, em muitas das propostas no ambiente escolar, proporciona ao aluno

momentos de desenvolvimento e de descontração, incentiva a criatividade, as possibilidades de

expressão de sentimentos ou mostra o próprio nível de desenvolvimento cognitivo e afetivo das

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crianças. Para a alfabetização o desenho é um instrumento considerado satisfatório de trabalhar a

coordenação motora dos alunos, a sua capacidade de atenção e concentração, seus conhecimentos

sobre cores, formas de leitura. No entanto, os cálculos gradualmente passam a ocupar o espaço do

desenho e a determinar seu novo papel, como ilustração ou apoio para compreensão de determinados

conteúdos, relegando o desenho a segundo plano.

Cruz e Fontana (1997, p. 146) expõem que “a criança, ao nomear o seu desenho depois que o fez,

relaciona os traços que produziu que podem ou não assemelhar-se a algo real a um objeto concreto. E

pelo ato de renomear, seu desenho torna-se significativo”.

Nesse particular, é importante ressaltarmos que a fala tem, assim, um papel fundamental na

descoberta que a criança faz de que seus rabiscos podem significar algo;, e segundo Vigotski, é

importante lembrar que, antes que a criança nomeie seu desenho, ele é nomeado pelos adultos que a

rodeiam.

Embora a descoberta de que os traços do desenho podem representar objetos reais ocorra nos

primeiros anos da infância, Vigotski observa que essa descoberta ainda não equivale à da função

simbólica do desenho; muitas vezes no decorrer do próprio desenho passa a ser outra, e antes mesmo

de completar o desenho lhe atribui outro significado.

A ideia de que a criança desenha o que sabe, e não o que vê, não é exclusiva de Vigotski, tendo sido

defendida também por Luquet, um dos mais conhecidos estudiosos do desenho infantil, que distinguiu

quatro estágios na evolução dessa atividade (CRUZ; FONTANA, 1997).

Os autores propõem que a preocupação com a correspondência do desenho à realidade revela não só

a valorização de determinado padrão estético, mas também o empenho da escola em desenvolver na

criança habilidades de observação, concentração, discriminação visual, orientação espacial e

coordenação motora.

Fazendo-se útil ao processo de conhecimento, o desenho na escola fundamental possibilita a valorização da linguagem gráfica e das habilidades e ela relacionadas, criando espaços para o seu próprio desenvolvimento e condições de interação e de realização pessoal (CRUZ; FONTANA, 1997).

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Relatos e experiências foram apresentados na III Conferência de Pesquisa Sociocultural (2000) por

autores que estudam a aprendizagem da linguagem escrita em deficientes mentais, nos quais o

desenho se manifesta ao invés da escrita. Estes autores salientam o respeito e o valor da produção

desses sujeitos como sujeitos ativos na organização de seu próprio conhecimento, com capacidade de

relacionar e criar seus próprios meios. Trata-se de trabalhos de pesquisa históricocultural,

considerando que, independentemente do desenvolvimento humano, a inteligência e a personalidade

resultam dos processos de vida que os sujeitos estabelecem com a sociedade.

Nessa Conferência, os autores apresentam ainda, na perspectiva vigotskiana, o desenvolvimento da

criança com deficiência de forma que em cada uma de suas fases aparece algo próprio de sua

característica, sua particularidade (deficiência), característica esta separada de seu desenvolvimento,

sendo um tipo especial de desenvolvimento, e não como um desvio de medida em relação à do tipo

normal.

Destacamos que, de acordo com Reily (apud LEITE; PATROCINIO, 2000), no desenho da criança

excepcional pode haver um desenvolvimento artístico mais lento, como também pode ocorrer um

estacionamento em algum estágio, sem progresso aparente. Reily (1986) baseia-se nos trabalhos de

Luquet sobre os estágios no desenvolvimento do desenho, salientando o que ocorre em crianças

deficientes.

Para Luquet (1969), no primeiro estágio ou realismo fortuito, a criança descobre o traçado (rabisco no

papel) de forma espontânea, sem intenção de representação; após, relaciona-o a um objeto de sua

realidade. O segundo estágio, chamado de realismo fracassado, a criança começa a dar formas de

seu desenho. Desenha tudo o que vê de forma casual, sem composição dos elementos representados,

e conforme o autor é nessa fase que aparecem os primeiros desenhos da figura humana. No terceiro

estágio, realismo intelectual, a criança tem a intenção de mostrar o que sabe das coisas e não aquilo

que vê, e já demonstra conhecimento do mundo ao seu redor, e as representações aparecem com

transparência. E na quarta fase, realismo visual, característica da adolescência, passa a representar o

mais parecido possível da imagem que vê, procurando nessa composição o mais fiel da realidade,

deixando de fazer as representações gráficas infantis.

Ao lado da consistência teórica dos autores citados percebemos as contribuições que podem ser

significativas ao tema aqui em estudo – Desenho e Linguagem Escrita no Desenvolvimento da Pessoa

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com Deficiência Intelectual. Nesse contexto, cabe a tarefa de buscar novos caminhos para a superação

de alguns obstáculos presentes na prática pedagógica da escola analisada para este estudo.

Esperamos, com este trabalho, atualização teórico-metodológica que possibilite avanços nas práticas

educativas especiais, contribuindo para que os professores possam analisar e observar o

desenvolvimento dos alunos a partir de seus desenhos, vendo nestes últimos uma representação da

linguagem escrita e não uma barreira em seu aprendizado.

Dessa forma, acreditamos que poderão buscar alguns aspectos relacionados ao processo de

construção de conhecimento e desenvolvimento do Deficiente Intelectual considerando a linguagem

escrita, especialmente o registro gráfico, interpretada por meio desenho, já que para alguns alunos é a

única forma de registro para expressar o seu conhecimento e que, muitas vezes não são valorizados

no ambiente em que estão inseridos como a escola, o meio familiar ou a comunidade.

Como cumprimento de uma das etapas do PDE, constituindo mais uma importante ação do Projeto e

com a finalidade de divulgar, socializar, aplicar e, sobretudo, contribuir com a pertinência do assunto

proposto organizamos estratégias pedagógicas capazes de contribuir para apontar caminhos viáveis

diante dessa problematização.

5. Atividade de Intervenção na escola: buscando alternativas viáveis para o trabalho de

mediação pedagógica

Inicialmente, como procedimentos metodológicos para a implementação desta pesquisa de

intervenção e mediação pedagógica do processo de ensino-aprendizagem, selecionamos um grupo de

três alunos da Escola de Educação Especial Idalba Abreu Pierin (APAE), de Tamboara, sendo dois do

Programa de Escolarização Inicial e um do Programa Iniciação para o Trabalho. A intervenção

proporcionou coleta de dados e aplicação das atividades que constam na Unidade Didática, cumprindo

o objetivo que estabeleceu relações pertinentes do desenho como forma de expressão inicial da

escrita.

Na intervenção realizada com três alunos que apresentam necessidade educacional especial, áreas de

deficiência intelectual, encaminhamos procedimentos metodológicos com a intenção de diagnosticar as

fases do desenho de cada aluno, sua relação com a linguagem oral e escrita e a capacidade de

compreensão dos conceitos. As atividades foram planejadas para atuarem na zona de

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desenvolvimento proximal, visando a estimular ao máximo a percepção, a memória, a atenção, o

esquema corporal, a coordenação motora, a percepção espaço temporal, a imaginação, a

representação do pensamento por meio da linguagem oral e escrita a partir do desenho.

Realizamos a coleta de dados com o grupo de alunos no segundo semestre de 2008, por meio de

intervenções individuais, realizadas em encontros periódicos. Para o direcionamento dos trabalhos,

nesses encontros utilizávamos os espaços disponíveis, tais como salas da fonoaudióloga, fisioterapia

ou terapeuta ocupacional, compreendidos como ambientes favoráveis pela questão de espaço,

materiais disponíveis e mobílias adequadas.

Os alunos selecionados estavam em fase de escolarização, na idade entre 8 a 18 anos de idade,

sendo portadores de Deficiência Intelectual, prioritariamente com dificuldade no registro gráfico

segundo a norma padrão de escrita. A forma que selecionamos, no entanto, não mostra os dados em

proporção geral dos alunos matriculados na escola, tem apenas a intenção de subsidiar esta pesquisa.

A situação de intervenção destaca a intenção de observarmos fatores que impossibilitam o avanço no

processo do grafismo, com a pretensão de intervirmos no processo individual dos alunos, com as

informações coletadas facilitadoras de descobertas e avanços.

Nossa preocupação primeira é descrever e aqui especificar, de maneira sintetizada, o desenvolvimento

e os dados colhidos na prática e na mediação com os alunos, assim como nos estudos de Vigotski, o

qual preferiu estudar o desenvolvimento e uso de signos.

De acordo com a abordagem históricocultural, “a relação entre homem e meio é sempre mediada por

produtos culturais humanos, como o instrumento5 e o signo6, e pelo ‘outro’” (CRUZ; FONTANA, 1997,

p. 58-59). Para os estudos do desenvolvimento da criança, das patologias e da deficiência mental,

Vigotski baseou-se em observações e experimentação em situações variadas, podendo também ser

realizados em situações de brincadeira, de aprendizado, nas conversações informais, na escola, na 5 Enquanto o instrumento está orientado externamente, ou seja, para modificação do ambiente, o signo é internamente orientado, modificando psicológico do homem. 6 O signo é comparado por Vigotski ao instrumento e denominado por ele “instrumento psicológico”. Tudo o que é utilizado pelo homem para representar, evocar ou tornar presente o que está ausente constitui um signo: a palavra, o desenho, os símbolos... São formas de utilização de signos que ampliam nossas possibilidades de memória, raciocínio, planejamento, imaginação.

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família ou em um ambiente clínico; logo, as origens e as explicações do fundamento psicológico do

homem devem ser buscadas em interações sociais.

O trabalho inicial desta intervenção foi realizado no segundo semestre de 2008, por meio de

levantamentos de dados históricos de matrícula e avaliação fornecidos pela equipe multidisciplinar. Em

seguida fizemos observações nas turmas e os primeiros contatos com os alunos para o

estabelecimento de vínculos afetivos. Os nomes próprios dos integrantes da pesquisa foram

substituídos por pseudônimos: Rubi, Esmeralda e Diamante, para preservar suas identidades e serem

reconhecidos como referências de preciosidades nesse processo. A partir das constatações,

planejamos as situações de intervenção, organizando-as como uma interação com os educando de

forma que as atividades realizadas durante os encontros foram registradas em desenhos, tendo como

objetivo estudarmos o processo de constituição da atividade mediada.

Rubi tem 8 anos de idade, apresenta deficiência intelectual moderada decorrente de anóxia neonatal.

O aluno apresenta atraso no desenvolvimento de linguagem, com fala ininteligível e déficit nos

aspectos semântico, fonético, fonológico e sintático. Apresenta dificuldade em estabelecer vínculos

afetivos com as pessoas, pois se distrai facilmente e necessita ser alertado constantemente na

execução das atividades. Em determinados momentos, apresenta comportamentos inadequados, foge

da sala ou das pessoas correndo sem destino, necessita de limites e vigia constante de seus impulsos.

Demonstra pouca compreensão, sem reação e expressão facial diante de situações ou emoções

diversas, dependência nas AVAS7, mas com colaboração em tais atividades. Frequenta os setores de

atendimento de Psicologia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional. Está matriculado na Educação

Especializada, turno vespertino, em uma turma com 5 alunos no total.

Durante a pesquisa, em atividades de coordenação motora simples, Rubi executava algumas

atividades, como amassar, pegar, segurar objetos, rasgar com auxílio individual. Em algumas

atividades, reconheceu e identificou em si mesmo os pés e as mãos. No momento que iniciamos nossa

intervenção, apresentou bom relacionamento e se expressou bem gestualmente, demonstrando certo

desenvolvimento em sua linguagem verbal, pronunciando palavras e fazendo tentativas de articulação

de frases completas, pois ao se envolver nas atividades escolares, quer contar os fatos ocorridos e

histórias.

No decorrer das intervenções, observamos um aumento de sua curiosidade: tudo perguntava, 7 Atividades de Vida Autônoma.

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esperando obter resposta, a observação foi acentuada, procurava colaborar, e parou de fugir da sala.

Em atividades acadêmicas, verificamos que necessita ser estimulado para que faça tentativa de

realização. Executa ordens simples, demonstrando ter certo conhecimento dos objetos a sua volta,

como mesa, cadeira, lápis, lixo, apontador e outros. Constatamos ainda não ter adquirido noções

básicas para ler e escrever e que possui falta de memória, percepção, e dificuldade na cognição.

No primeiro momento, quando fomos observar o cotidiano dos alunos, durante a atividade de

confecção de materiais para exposição na Feira de Ciências, Rubi manteve-se sentado com olhar

disperso, calado. A professora da turma o alertava constantemente para voltar a atenção para o que

estava sendo proposto, contudo ele comunicava-se pouco verbalmente, dava respostas apenas em

forma de sons “am’”! “am”!, porém mostrou compreensão em ordens simples e ocupou-se com o que

acontecia ao seu redor.

Em nosso primeiro encontro individual, conversamos informalmente como meio de estabelecer vínculo,

e Rubi apenas respondia de forma repetitiva ao que ouvia. Falou algumas palavras pela metade ou

emitiu sons parecidos, e na sequência iniciamos a exploração de uma música sobre avião, fazendo

atividades posteriores, como ouvir novamente e dramatizar com gestos usando o próprio corpo, depois

construímos o avião e brincamos com este. Durante todo o trabalho, o aluno mostrou-se estimulado,

tentou realizar a sua maneira e a atividade foi desenvolvida para prender sua atenção.

Objetivando trabalhar a linguagem por meio do desenho, privilegiamos atividades que favorecessem o

enriquecimento do conceito. Quando falamos sobre o avião, respondia “ave-âo” – “ao”. Perguntamos:

onde voa o avião? Em resposta, apenas apontava para cima e dizia “ma” “ma” (cima). Imitou o voo do

avião. Desenhou e apontou algumas partes do avião no desenho. E quando indagamos o que havia

representado, debruçou na mesa e foi traçando e falando a sua maneira, saindo da folha e fazendo

uma linha, ao som de “ão voando lá no céu... lá em cima”. Percebemos que os dados principais não

eram as respostas dadas por Rubi, e sim os meios pelos quais chegava às respostas e as condições

em que ele construía, envolvendo, por exemplo, a linguagem, o pensamento, a memória e a

imaginação, conforme sugere a teoria de Vigotski ao tratar do processo de formação e

desenvolvimento das funções psicológicas superiores.

Em um segundo momento, confeccionamos um cartaz com colagem do avião construído e a palavra

AVIÃO. Como havia percebido anteriormente a falta de limites com relação à pintura, oferecemos

desenho do avião com contorno para colar barbante e pintura com tinta guache.

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Necessitou de orientação quanto ao uso de tintas, pincel e organização dos materiais na mesa. Usou

as cores destacando o vermelho, o amarelo, o preto, o branco e o verde. Repetimos várias vezes

insistindo na linguagem, mostramos e pedimos para sentir nos dedos as cores, Rubi correspondia

verbalmente: vermelho dizia “elo”; preto “eto”; branco “anco”; verde “erde”. Preferia mais o preto,

quando solicitávamos outra cor de sua preferência, mostrava o preto. Esfregava o pincel em um só

movimento, em um mesmo espaço, chegando a furar a folha. Necessitou de auxílio no movimento com

o pincel e depois pintou outro avião, utilizando giz de cera. Concluímos esse encontro com o desenho

do avião nomeando a representação das partes do mesmo. 1 – “âo” – avião; 2 – “ce” – hélice; 3 – “as”

– asa; 4 – “apontou a traseira do avião” ; 5 – “dinha – rodinha; 6 – “ome” – seu nome.

Como mediadora nesse processo, percebemos a importância da interação da fala com Rubi,

incentivando, auxiliando e oferecendo materiais que melhor o auxiliassem, mas o tempo

dispensado apenas para ele ainda não foi suficiente para impulsionar o processo neste sentido:

Certos pacientes (com lesão cerebral) perdem a capacidade de agir independente do que vêem. Considerando tais pacientes, pode-se avaliar que a liberdade de ação que os adultos e as crianças mais maduras possuem não é adquirida num só instante, mas tem que seguir um longo processo de desenvolvimento (VIGOTSKI, 2003, p. 127).

Verificando a necessidade de investir ainda mais nas necessidades do educando planejamos outras

ações que atuassem ainda mais na zona de desenvolvimento proximal.

Em um terceiro momento, apresentamos diversos objetos com som inicial igual de avião “A”, com

várias repetições na linguagem oral. Fizemos colagem dos objetos seguindo o traçado “A”, formando

um cartaz. Após, pedimos que representasse os objetos colados. Durante essa atividade, percebemos

que houve maior interesse e entusiasmo. Pedimos que representasse os objetos e nessa realização e

para manter sua atenção, tivemos que repetir para ele o que era para desenhar; verbalizou: 1 – “reia” –

areia; 2 – “arrois” – arroz ; 3 – “ão” – avião; 4 – “aio” – alho; – 5 – “Ito” – apito; 6 – “urc” – açúcar; 7

– “ana” – aranha; 8 – “dor” – apontador; 9 – “im” – amendoim.

No quarto momento, mostrou-se mais expressivo, participou ativamente das atividades, contribuindo no

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desenvolvimento das atividades. Realizou as atividades falando o tempo todo, usando o quadro8 de

desenho. “Em sua fala, – “assim tia” (agora falava de forma espontânea tudo o que fazia no quadro), e

a cada confirmação da professora, víamos o quanto se sentia estimulado a desenhar; “olha, tia, é

assim...”, “olha!”; “Uva” (chuva) tia...”; a professora: “muito bem!“. Desenhou livremente sobre textura no

quadro de desenho.

Continuamos os procedimentos em outros encontros, com intenção de desenvolver as áreas que

necessitavam serem estimuladas, como a cognitiva, motora, afetiva, emocional, imagem, esquema

corporal e acadêmica, utilizando materiais diversificados.

Esmeralda tem 13 anos, apresenta deficiência moderada, com grandes dificuldades nas atividades

acadêmicas e atraso no desenvolvimento da linguagem e cognitivo, com déficit nos aspectos

semântico, sintático e pragmático. Encontra-se em fase de alfabetização, e lê e escreve com

dificuldade, principalmente as frases simples. Demonstra em seu comportamento retraído grande

sentimento de inferioridade, e dificuldade nas relações interpessoais. É independente nas AVAS,

porém necessita de orientação, particularmente com relação à higiene e autocuidado e com seus

pertences. Frequenta a Educação Especializada Escolar, turno vespertino.

No momento em que iniciamos a intervenção, a educanda apresentava boa capacidade de

concentração e interesse pelas atividades escolares, entretanto necessitava de estímulos e auxílio

individual na execução dessas tarefas. Sua linguagem expressiva necessitava ser estimulada, devido a

sua dificuldade e trocas de fonemas na fala. Quanto à leitura, lia pequenos textos, mas nem sempre os

interpretava. Escrevia palavras simples e tinha dificuldades em pronunciar sílabas mais complexas,

bem como na organização e representação das ideias formuladas por ela (formação de frases e

pequenos textos), contudo fazia tentativas após estímulos e auxílio da professora da turma. Observa-se

timidez em seu comportamento, e necessitava ser estimulada verbalmente para comunicar-se

espontaneamente por conta de sua baixa autoestima.

Em um primeiro contato, fomos até uma sala e conversarmos sobre a escola e sobre como Esmeralda

estava se desenvolvendo; e ela respondeu, de forma retraída, “mais ou menos”. Indiretamente,

8 Quadro confeccionado pela pesquisadora, revestido com velcro, possibilita o traçado de linhas, preensão, coordenação dos movimentos; para os alunos que não conseguem utilizar o papel e o controle motor, permite a realização do desenho.

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iniciamos propondo a brincadeira com o jogo: Trilha de letras.9 Exploramos oralmente a ilustração de

cartela e explicamos as regras do jogo. Durante o jogo, Esmeralda participou sem muita empolgação,

mas pronunciava as palavras com que iniciava as letras. Mostrou trocas de letras com de bola, v

(vaca), k (caneca), e após duas rodadas, pedíamos a Esmeralda que repetisse as palavras que falara

durante o jogo, e registramos a sequência das palavras, que foram 1 – abelha; 2 – ovo; 3 – xícara; 4 –

tatu; 5 – prato; 6 – mágico; 7 – faca; 8 – ovelha.

Quando solicitada para registrar em forma de desenho, deixou de registrar alguns elementos. No final

manteve-se calada, mas percebemos certa satisfação em conseguir concluir a atividade proposta.

Em um segundo momento, por meio de conversa dirigida relativa às brincadeiras desenvolvidas no

encontro anterior; perguntamos de quais brincadeiras também gostava. Demorou para responder, se

mexia, abaixou o olhar e respondeu: “brincar de bola” e parou de falar. A professora da turma interveio,

também indagando: “Que outras brincadeiras?”; “Hein?; “Você brinca de outras brincadeiras?”;

“Quais?”, ao que a aluna demorou para responder. Esmeralda disse: “boneca!”. E novamente a

professora da turma interveio: “fala mais duas”, Esmeralda disse: “escolinha”, “esconde- esconde”; e

professora insistiu: “Qual mais?”. Esmeralda respondeu “barata”, “pula-corda”. Em seguida, pedimos

que representasse, por meio de desenho, o que falou. Esmeralda desenhou de forma silenciosa: 1 –

bola, 2 – boneca, 3 – escolinha, 4 – esconde-esconde, 5 – barata, 6 – pula corda.

Novamente pedimos que escolhesse a brincadeira que mais gostava e realizasse o desenho; como já

tem noção gráfica da escrita, pedimos-lhe que escrevesse algo sobre a brincadeira, e Esmeralda

representou livremente a brincadeira “escolinha”, registrando: “ESCONHA A ESCONHA PARA

ESQUER VERE”.

Representou uma ideia (frase) com palavras unidas, faltando letra. Percebemos que quando são

palavras soltas, Esmeralda as registra com mais acerto, porém quando se trata de organização de

ideias relacionando mais elementos, apresenta dificuldade, necessitando da mediação oral para fazer-

se entender. Esmeralda demonstrou maior motivação na realização do desenho; na escrita demorou a

registrar, olhava para os lados, perguntava, resistiu a escrever.

Observamos, nesse encontro, a necessidade de intervir no processo de desenvolvimento de Esmeralda

9 Possibilita associar a letra aos conceitos; linguagem oral;orientação espacial e temporal; discriminação visual e auditiva; alfabetização.

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pela dificuldade de organização de ideias e sua representação. Para tanto, planejamos atividades para

contribuir em seu desenvolvimento.

No terceiro dia, Esmeralda manteve-se calada, de cabeça baixa. Iniciamos informalmente, falando do

dia a dia na escola, como se ela estivesse participando normalmente, para que Esmeralda se

descontraísse. No entanto, continuou calada, não respondendo. Quando viu o material, olhou com

interesse e começou observar o livro silenciosamente e em alguns momentos distraía-se e lia alto.

Deixamos como se tudo estivesse normal enquanto organizávamos o material para iniciar. Esmeralda

apenas respondia com a cabeça para afirmar algo, como para as perguntas “você já conhece essa

história?”; “Já ouviu?”; “Gostou?”.

Ouviu a história do CD com atenção e em silêncio, não reproduziu oralmente quando inquirimos: “O

que entendeu da história?”. Após insistência e estímulo oral, falou que havia representado 1 –

Rapunzel ; 2 – príncipe; 3 – a flor com espinhos que furou o olho do príncipe; 4 – sol; 5 – nuvem.

Nesse dia, nosso trabalho teve de ser interrompido, pois Esmeralda tinha aula de canto (coral da

escola), a acompanhamos e observamos que ela também participou da aula de forma retraída, e

quando alguém se dirigia a ela, não dava retorno.

Na sequência, demos continuidade à reprodução da história Rapunzel, já que no dia anterior esta havia

sido interrompida. Esmeralda recusou-se a sair de sala; mas depois acabou concordando. Apresentou-

se calada, não querendo participar. Com muitos estímulos orais, deu início, relembrando de algumas

partes da história. Pedimos que escrevesse da maneira que ela consegue, verificamos que se retraiu

mais e ficou resistente novamente para realizar a atividade, porém acabou registrando: “ABUXA DEU

LAVICO DONTE PARA BECAR”; “RABOZER FELIZ PARA ZEBRE”; ”LELE FICO CEGO MAIS A BUXA

CAIU”;”ABUXA LEFV AMIMENA”. Reescrita: A BRUXA ELA FICOU DOENTE SEMPRE; PEGAR

RAPUNZEL; RAPUNZEL FELIZ PARASEMPRE; ELE FICOU CEGO MAIS A BRUXA CAIU; A BRUXA

LEVOU A MENINA. Não deu tempo de continuar, fomos interrompidos novamente pelo ensaio do coral.

Nesse dia, a produção de Esmeralda apresentou registro gráfico sem sequência ou sentido, e

acrescentou fatos inexistentes na história, enquanto que no desenho representou com maior sentido os

personagens, dando vida a sua representação, o que não aconteceu na grafia das letras.

Em um quinto momento, demonstrou mais participação e mais estímulo, e pedimos que lesse sua

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produção anterior e ela a leu de forma soletrada, sem entender bem, no entanto quando perguntamos

se estava tudo certo, respondeu: “já”. Explicitamos a atividade com exemplos do texto da história de

Rapunzel e Esmeralda retornou a história, apresentamos a sequência e a organização das ideias do

texto, citamos outras.

Apresentamos material denominado frase fatiada da história10, pedimos que observasse e organizasse

a frase de acordo com a história. Ficou olhando, manuseou cada palavra, demorou para iniciar, e

depois de vários estímulos verbais fez uma tentativa e disse: “é assim!”. Não estava correto. Pedimos

que encontrasse na história onde estava a frase, achou parecido (porque não preparamos idêntica da

história), e conseguiu ordenar a frase. Na sequencia, pedimos-lhe para escrever a frase (sem ver a

escrita), e esta respondeu que não sabia. Repetimos oralmente, e na primeira tentativa não soube

escrever, pegou a frase para copiar, e quando falamos para escrever sem olhar, não quis mais

escrever.

Pedimos-lhe que desenhasse a frase, e na primeira tentativa tivemos que repetir, desenhou um casal e

mais uma pessoa, tivemos de intervir explicando que a frase era sobre um casal de camponeses

vizinhos de uma bruxa. Indagamos: “Quem era esse outro?”, ao que Esmeralda respondeu: “era o cego

da história” (príncipe). Explicamos-lhe que a frase não falava do príncipe, mas mesmo assim

respondeu: “É o filho da bruxa”. Perguntamos, “e na história apareceu o filho da bruxa?”; “E na frase

que estamos representando?”; “Então, temos que representar o que fala na frase”.

Esmeralda apagou esse desenho. Desenhou novamente, insistimos para que escrevesse, porém

demonstrou resistência e disse que não sabia. Repetimos verbalmente as palavras da frase bem

devagar e Esmeralda escreveu, apagou, às vezes olhava esperando ajuda ou respostas que a

auxiliassem mais e escreveu: “ABUXADEU LA VICO DONTE PARA BECAR” “RABOZER FELIZ PARA

ZEBRE.” “LELE FICO GEGO MAIS A BUXA CAIU” “ABUXA LEFV AMIMENA”. Pedimos que

desenhasse e desenhou, representando Rapunzel, a bruxa e o príncipe, enquanto que na escrita

grafou errado o nome e acrescentou outro elemento.

Apresentamos outra frase fatiada com elementos da história, “O CAMPONÊS FOI BUSCAR

RABANETES NO QUINTAL DA BRUXA”. Esmeralda demorou a entender a organização da frase, fez

várias tentativas, necessitou de várias intervenções e mediação da professora da turma e, em uma das

tentativas, sua frase ficou assim,” FOI BUSCAR O CAMPONÊS QUINTAL DA BRUXA” , deixou de lado 10 Um casal de camponês era vizinho de uma bruxa.

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a palavra “RABANETES”, realizou outras tentativas, pediu o livro, porém mesmo assim não conseguiu,

e depois de várias intervenções e mediação concluiu espontaneamente, todavia, não na ordem correta,

e quando questionada, respondeu: “tá certo assim...” Após repetição da frase pela professora, acabou

concordando e fez a tentativa da escrita “O COPISE FOI BUSCAR RASERER XUXA”, e nesse registro

o que chamou atenção é que fez letra cursiva; depois desenhou.

Continuamos investindo nas produções de Esmeralda, possibilitando o processo de seu

desenvolvimento da linguagem oral, a imaginação, a organização do pensamento, a reprodução oral e

por meio de desenho dos personagens e ações da memória espacial e temporal, oferecidas por meio

de vários instrumentos de apoio planejados de formas intencionais, a partir de diversos gêneros

textuais, com uso de variados recursos, como textos e frases fatiadas, quadro revestido com velcro,

meio pelo qual os conceitos mediados se fixam, permitindo o melhor manuseio bem como o melhor

desenvolvimento.

Diamante tem 18 anos de idade, apresenta disartria decorrente de paralisia cerebral por anóxia

neonatal. Por esse motivo sua fala é ininteligível a maior parte do tempo e apresenta também uma

intensa sialorreia, déficit motor e de linguagem. A locomoção e o equilíbrio são conseguidos com

dificuldade, assim, todas as atividades que exigem habilidades motoras são afetadas, porém tem boa

compreensão, pois seu cognitivo é preservado. Na área acadêmica encontra-se em processo de

alfabetização. Produz frases e pequenos textos oralmente, entretanto demora para verbalizar de forma

compreensível e no registro faz tentativa, mas necessita de muito tempo e esforça-se para concluir. É

uma aluna que falta com frequência em todos os setores de atendimento na escola. Encontra-se na

turma Iniciação para o trabalho, turno vespertino.

Tem seu cognitivo preservado. Na área acadêmica é desenvolvido, no entanto, seu registro gráfico não

é legível devido aos sérios comprometimentos motores. Diamante necessita de instrumentos

adaptados que visam ao empenho de mobilidade do tônus e equilíbrio. Também apresenta intensa

sialorréia11, sua fala é ininteligível e necessita de tempo e calma para expressar-se e fazer-se entender.

Na preensão de lápis ou objetos que envolvem movimentos de pinça precisa de adaptador para facilitar

e ajudar em seus movimentos.

Nos encontros, mostrou-se cooperativa e empenhada em desenvolver o que era proposto e

demonstrou preocupação em realizar as atividades. No primeiro momento, iniciou conversa espontânea 11 Abundância de salivação.

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para estabelecer vínculo. Devido aos seus limites motor e fonoarticulatório para expressar-se, esforça-

se imensamente retorcendo-se, principalmente em sua expressão facial e membros superiores e

inferiores, tentando fazer gestos para falar o que pensa. Apresentamos o Jogo Trilha de letras. Durante

a realização do mesmo, participou ativamente, interagindo verbalmente, compreendendo o objetivo do

jogo, concluindo com sucesso, se considerarmos suas limitações.

Quando convidada a representar as palavras ditas durante a rodada, quis negar, dizendo não

conseguir. No entanto, com estímulos e elogios, representou as palavras, mas manteve a preocupação

em errar: 1 - HOMEM ; 2 - CEBOLA; 3 - TAMIRES; 4 - NAVIO.Também fez registro gráfico. A

seqüência das palavras orais foi: “1 – homem”; “2 – dedo”; “3 – janela”; “4 – Tamires”; “5 – ovo”; “6 –

hospital”; “7 – navio”; “8 – cebola”.

Em um segundo momento, iniciamos uma conversa dirigida. Indagamos: “o que comemoramos no mês

de agosto?” Diamante respondeu: ”a semana do excepcional”. A professora da turma interveio dizendo:

“isto mesmo, mas também comemoramos o folclore”. E a professora continuou: “O que é folclore?”.

Diamante, com muito esforço na articulação da fala, respondeu: “é lenda”. A professora elogiou: “muito

bem, a lenda faz parte do folclore, temos outros usos e costumes que também fazem parte de nosso

folclore, como...”.

Dramatizamos algumas músicas e adivinhas e, em seguida, apresentamos uma coleção ilustrada com

várias lendas, pedindo-lhe que escolhesse a que mais gostava para ouvirmos no áudio. Li a lenda Saci-

Pererê, e Diamante reproduziu oralmente a história, com dificuldade, necessitando de muito tempo

para concluir verbalmente. Posteriormente, solicitamos que registrasse em forma de desenho o que

sabia da lenda.

Durante a reprodução, falou que tinha um problema, não conseguia desenhar, e após incentivo, disse

que tentaria fazer como sabia. Fez e falou que representou o saci, o saci na garrafa e o cavalo

correndo do saci para não amarrar sua crina. No momento em que pedimos para escrever, teve

preocupação com a grafia correta e fez perguntas como: “correndo é com dois R?”; “Saci escreve com

C”. Diamante gosta muito de conversar, fez várias perguntas pessoais à professora da turma, e

interagiu oralmente com a professora o tempo todo.

Diamante continuou cooperativa e estimulada a participar de nossos encontros, interagindo dentro de

suas possibilidades. Apresentamos a coleção de história de sua preferência. Escolheu Rapunzel. Ao

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ouvir a história no áudio, manteve-se atenciosa e envolvida. Na sua reprodução oral, contou a história

com todo o seu comprometimento de linguagem (de forma lenta, necessitando de tempo até concluir

seu pensamento, sendo necessário pedir-lhe que repetisse o que queria dizer, por não

compreendermos sua fala). Para realizar o registro e desenhar o que havia entendido da história, com

uso de pincel e tinta, iniciou, mas precisou de orientação com os materiais e posição dos mesmos, já

que não equilibrava os objetos, deixava cair o papel, que não parava na mesa. Pediu um lápis para

desenhar primeiro e depois pintar. Durante sua produção, pediu cores que não tinha. Solicitamos-lhe

que fizesse misturas das cores, e fez. Na conclusão do desenho, indagamos o que desenhara e

respondeu: “1 – Torre, o castelo”; “2 – Rapunzel”; “3 – príncipe”; “4 – a flor que furou o olho do

príncipe”; “5 – A árvore; “6 – O chão”.

Perguntamos que entendera da história ou os valores e atitudes que representa para ela. Respondeu,

com muito esforço na fala, “eu entendi que a gente tem que ser boa para os outros serem bons para

nós”. “Devemos ajudar uns aos outros”.

Em um quarto momento, intensificando sua linguagem oral e treino gráfico, retornou a história

Rapunzel. Ouviu novamente a história com bastante atenção. Em seguida, pedimos-lhe que

escrevesse a história, e iniciou com muita dificuldade no uso do lápis e no firmar a folha na mesa.

Escreveu lentamente e, a todo o momento dizia: “não me lembro, não sei o que aconteceu”...

Tinha preocupação em escrever a grafia correta e perguntava “é com R, RR, Ç ou S”. Percebemos que

consegue memorizar e tem noção da produção de um texto, mas necessita de mediação oral

constante, retomando o que havia escrito. Como demora muito tempo, não terminou nesse dia.

No quinto momento, tentou retornar a escrita, porém nesse dia estava acontecia na escola o Dia da

Beleza, e Diamante disse que não estava bem, estava sentindo dores. Muito educada, pediu desculpas

a sua maneira. No encontro seguinte, Diamante continuou cooperativa e interessada, ilustrou a história

do dia anterior, mostrou-se preocupada com a estética e a limpeza de folha, porque devido a sua

salivação, molha o papel, sujando-o quando força seus movimentos no mesmo. Realizou a escrita a

sua maneira. Devido a outras atividades do cotidiano escolar e à ausência de Diamante na escola,

demoramos para nos encontrar novamente. Demos sequência às atividades da história e Diamante

continuou demonstrando o mesmo comportamento cooperativo. Ouviu com atenção, leu a sua maneira,

e a professora da turma sempre demonstrou respeito por seus limites de linguagem. Em seguida, com

o uso do quadro com velcro, organizou a letra da música sobre a história da Rapunzel. Na tentativa, fez

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troca de um verso, mas logo percebeu e fez corretamente.

Pedimos-lhe que reproduzisse por escrito a música sem olhar a letra. Diamante perguntou se a palavra

Rapunzel no final é “U” ou “L”. Respondemos o correto. Teve dúvida na palavra, se era perto ou

pertinho, e respondemos “pertinho!”. Percebemos a má postura de seu corpo ao sentar e ao escrever,

procuramos orientá-la para a postura correta. Durante toda a produção salivou muito, encostava a

cabeça muito próxima da mesa, parava, pensava, olhava-nos. Indagamos: “sabe continuar?” Afirmou

que “sim”. Novamente parou e perguntou: “trança é com Ç”; confirmamos, e ela deu continuidade.

Demorou em torno de 25 minutos para escrever os 6 versos12 curtos da música, apresentando boa

memorização. Realizou a escrita como consegue, contudo trocou torre por montanha. Solicitamos-lhe

que desenhasse a música, e desenhou e disse “1 – montanha”; “2 – Rapunzel”; “3 – janela; “4 –

príncipe”. Após a conclusão, a professora fez intervenções na elaboração do desenho, para que este

apresentasse melhor desempenho e compreensão.

6. Avanços e dificuldades no trabalho proposto com os alunos

Nas situações de intervenção com Rubi, analisamos alguns aspectos de sua linguagem, a forma como

interage com o meio social, a compreensão, a ausência de conceitos e o modo de representação

internalizado por ele.

Ao considerarmos sua fala que ainda não está internalizada, entendemos com Vigotski (2003, p. 33-36)

que a linguagem oral adquire uma importância tão vital que, se não for permitido seu uso, as crianças

pequenas não são capazes de resolver a situação durante o processo mediato. Com Rubi, a fala foi

objeto central para distinguir as ações e as soluções mais elaboradas. Durante os encontros, na

relação entre o uso de instrumentos, a fala afeta várias funções psicológicas, em particular a

percepção, as operações sensório-motoras e a atenção, sendo que cada uma delas é parte de um

sistema dinâmico de comportamento. Vigotski afirma que a representação simbólica primária deve ser

atribuída à fala e que utilizando-a como base, todos os outros sistemas de signos são criados.

Identificamos nos desenhos de Rubi o primeiro estágio do desenho, denominado realismo fortuito.

12 Rapunzel, Rapunzel No alho de uma torre... Tão pertinho lá do céu Rapunzel, Rapunzel Jogue suas tranças Que eu te levo pão e mel!

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Nessa etapa, pelo traçado, as produções criadas mostram o prazer do gesto e da necessidade de

repetição. No entanto, à medida que Rubi faz associação de gestos e traços, ele desenvolve sua

atividade mental, sendo capaz de antecipar o que vai desenhar, diferenciando de suas produções, ou

seja, o seu rabisco exprime sua realidade, possui intencionalidade. Neste sentido, na análise de

Vigotski, esses fatos nos fornecem os elementos para passarmos a interpretar o desenho das crianças

como um estágio preliminar no desenvolvimento da linguagem escrita.

No desenvolvimento subsequente do desenho das crianças, há um momento crítico na passagem dos

simples rabiscos para o uso de grafias, como sinais que representam ou significam algo. Há uma

concordância entre os psicólogos que a criança deve descobrir que os traços feitos por ela podem

significar algo.

Tivemos oportunidade de observar, nas representações de Esmeralda, como o desenho das crianças

se torna linguagem escrita real, quando na atividade de formar frase com palavras fatiadas e desenhar

a aluna montou: “um casal de camponês era vizinhos de uma bruxa”, e depois desenhou a figura de um

casal e outra figura feminina com um chapéu grande de “bruxa”.

Os estudos de Vigotsky possibilitam a análise de que Diamante e Esmeralda, ao desenharem objetos

complexos, não o fizeram pelas suas partes e componentes, e sim pelas suas qualidades gerais. A

representação dos personagens da história, os complementos ou adereços da cena mostram

significados complexos, assim como a representação escrita.

Para dominar esse código, as crianças necessitam trazer dois eixos básicos: codificação e

decodificação. Esta última se dá pela decomposição de elementos que se centram em fonemas e

sinais gráficos. As crianças que apresentam condições desfavorecidas, como as singularidades de

Rubi, Esmeralda e Diamante, demoram mais para adquirir domínio desse código, e esse fato, no

ensino regular e mesmo no ensino especial, necessita ser trabalhado com outro olhar, considerando

outras formas de registro, como o desenho. Vigotski (2003, p. 157) enfatiza que o que deve ser feito é

ensinar às crianças a linguagem escrita, e não apenas a escrita das letras.

A presente pesquisa contou com reflexão e discussão teórica e prática sobre todo o processo aqui

descrito, realizado junto aos professores da escola especial citada, para assegurar e consolidar a

compreensão de nossa realidade a partir dos dados diagnosticados. Foi também organizado

coletivamente um plano de ação para a prática de mediação visando ao desenvolvimento da linguagem

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escrita por meio de desenho com os alunos de cada professor da escola. Os estudos e a prática do

grupo seguiram as mesmas bases teórico-metodológicas da pesquisa.

O grupo identificou a importância do trabalho do professor para realizar a mediação pedagógica na

alfabetização dos alunos com deficiência intelectual, com ênfase na valorização do desenho, e durante

esse processo conseguimos sistematizar as reflexões acerca da problemática o domínio do código

formal escrito, considerando o desenho como possibilidade inicial de expressão escrita. A partir de

estudos realizados acerca do desenvolvimento do grafismo infantil compreendemos que nenhuma

produção gráfica da criança pode ser considerada um conjunto de rabiscos, ou desenhos desprovidos

de significações. É a forma de representação pela qual a criança manifesta sua visão de mundo,

inserida em um contexto sociocultural e dotada de um determinado nível de desenvolvimento.

Entendemos que o desenho da criança poderá ser considerado não apenas como uma modalidade de

expressão ou de representação de “realidade”, mas também como o resultado de atividade intencional

envolvendo aspectos cognitivos emotivos.

Este plano veio ao encontro da necessidade do professor em planejar procedimentos metodológicos

oportunizando ao aluno a expressão das potencialidades que mais se destacam na Educação Especial

que é o desenho e, por meio deste, o professor poderá explorar a escrita inicial de forma lúdica e

prazerosa. Observamos que, durante a implementação, houve mais interesse, criatividade e os alunos

puderam se expressar e mostrar o que foi aprendido durante o trabalho, através dos materiais

produzidos. Enfim, o trabalho realizado proporcionou aos educadores um conhecimento amplo sobre a

utilização do desenho no trabalho de ensino da linguagem escrita.

O estudo empírico, a revisão bibliográfica e o trabalho teórico prático na escola demonstram que as

questões relativas ao desenho na alfabetização dos alunos com deficiência intelectual estão

estreitamente relacionadas.

Frente às possibilidades apontadas, o registro deve ter significado para os educandos, de que uma

privacidade interior dever ser alertada nelas e escrita apropriada a uma execução necessária e

influente para vida.

Um dos aspectos que precisamos salientar como importante é o papel que concedemos o contexto no

qual foram realizadas as intervenções, já que levamos em consideração os diferentes sujeitos e as

situações em que estão envolvidos; escolas; professor; o aluno; estratégias de ação e recursos

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pedagógicos, bem como a elaboração conjunta de planejamentos a partir de metas estabelecidos

quanto às capacidades esperadas em cada patamar de aprendizagem.

Assim, uma importante conquista serão as ações desenvolvidas pelo sistema de ensino, com propostas

efetivamente voltadas para as condições de trabalho do professor; ampliação do tempo destinado para

as atividades de planejamento, e garantia de sua formação continuada, na perspectiva valorizada na

proposta por nós apresentada.

Todo investimento supracitado na realização dessas atividades envolve tempo; o tempo de seu

planejamento, o tempo de sua preparação, o tempo de acontecer no momento da aula, quando está

diretamente com as crianças, o tempo a ser assegurado para as intervenções. São inúmeras as

solicitações com as quais nos deparamos em nosso cotidiano: das famílias dos alunos, das campanhas

e dos projetos sociais com informações sobre saúde, alimentação higiene, trânsito, violência e

comportamento, que parece não nos sobrar tempo para investir nas questões pedagógicas.

Reiteramos que a escola desempenha um papel fundamental com a deficiência intelectual, pois é sua a

função de realizar um trabalho pedagógico de qualidade, no sentido de desenvolver as potencialidades

e explorar as habilidades e os talentos intelectuais de um público especial.

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