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TREINADORES - ARTIGOS Abril de 2009 www.planetabasket.pt DESENVOLVIMENTO DA FORÇA Universidade Técnica de Lisboa Faculdade de Motricidade Humana Planeamento do Treino Desportivo Periodização de um Macrociclo para o Desenvolvimento da Força - Basquetebol (A nível Sénior) Ricardo Robalo

Desenvolvimento Da Forca

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DESENVOLVIMENTO DA FORÇA

Universidade Técnica de Lisboa

Faculdade de Motricidade Humana

Planeamento do Treino Desportivo

Periodização de um Macrociclo para o Desenvolvimento da Força

- Basquetebol

(A nível Sénior)

Ricardo Robalo

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DESENVOLVIMENTO DA FORÇA

Índice

1. Introdução … 3

a. Caracterização Fisiológica da Modalidade – Basquetebol … 3

b. Conceitos Básicos de Periodização … 4

i. Modelo Linear de Periodização … 5

ii. Modelo Não-Linear de Periodização … 5

2. Periodização do Treino da Força … 6

a. Periodização Aplicada ao Desenvolvimento da Força … 6

i. Periodização da Força pelo Modelo Linear … 8

ii. Periodização da Força pelo Modelo Não-Linear … 9

3. Periodização do Treino da Força no Basquetebol … 9

a. Tendências do Treino nos Jogos Desportivos Colectivos … 9

i. Incorporação da Periodização nos Jogos Desportivos Colectivos … 10

ii. Treino na Fase Competitiva … 10

iii. Efeitos da Periodização Linear no Rendimento na Fase Competitiva … 11

iv. Interacção do Treino da Força com a Carga Aeróbia … 11

4. Periodização Mista … 12

a. Aplicação ao Basquetebol … 13

b. Modelo Linear em Fases Não Competitivas … 13

c. Modelo Não-Linear em Fases Competitivas … 14

5. Caso Prático – Universidade do Texas 2000/2001 … 14

6. Conclusão … 15

a. Modelo Proposto … 15

7. Referências Bibliográficas … 17

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DESENVOLVIMENTO DA FORÇA

Introdução

Neste artigo irá ser feita, inicialmente, uma caracterização das especificidades fisiológicas inerentes

ao basquetebol. De seguida irão ser dados conceitos de básicos de periodização assim como uma explicação

do que são modelos lineares e não-lineares. Depois ira-se explicar a aplicação da periodização ao

desenvolvimento da força fazendo referência aos modelos lineares e não-lineares no caso específico da

força. Mais à frente vai-se desenvolver o tema da periodização nos jogos desportivos colectivos e suas

vicissitudes, mais especificamente o impacto e principais preocupações a ter na periodização da força no

basquetebol. Seguirá então uma apresentação de suporte teórico que sustente a hipótese de periodização

mista no desenvolvimento da força no basquetebol, sendo também apresentado um caso prático onde irão

ser divulgadas as principais conclusões. Finalmente como conclusão irá ser proposto um modelo de

periodização misto para o desenvolvimento da força no basquetebol.

Caracterização Fisiológica da Modalidade - Basquetebol

O basquetebol segundo Bompa (2003) tem como sistema energético dominante o sistema aeróbio-

láctico. O autor caracteriza os sistemas energéticos na modalidade em termos percentuais da seguinte

maneira:

• Sistema Aláctico: 20 %

• Sistema Lático: 40 %

• Sistema Aeróbio: 20 %

É claro que a distribuição percentual dos sistemas energéticos feita por Bompa (2003) é algo subjectiva

e arrisca-se a ter variações interindividuais muito grandes.

Como principais características ergogénicas do basquetebol o autor salienta as seguintes: alto dispêndio

energético com uma média de 40 saltos, com curtos períodos de recuperação; altas acelerações e

desaceleração e outras variações de corrida (de 5 a 7km por jogo), seguidas por uma média de 280

mudanças rápidas de direcção. Quanto à intensidade Bompa (2003) afirma que os batimentos cardíacos

durante um jogo situam-se numa média de 167 batimentos por minuto (bpm) e situam-se acima dos 180

bpm 25 % do tempo.

Os factores limitantes da performance segundo Bompa (2003) são a potência de aceleração e

desaceleração, potência de salto, agilidade, coordenação e domínio de bola, velocidade de reacção e tempo

do movimento.

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Como objectivos do treino o autor afirma que o desenvolvimento dos três sistemas de energia deve

ser feito através de tarefas específicas do jogo. Bompa (2003) afirma que a componente aeróbia confere a

capacidade aos atletas que lhes permite treinar e jogar eficientemente durante toda a partida, permitindo

também uma boa recuperação pós actividade. O desenvolvimento da velocidade máxima segundo Bompa

(2003), realizada com boa técnica é um factor de rendimento. Este último conceito carece, provavelmente,

de uma boa explicação, já que a velocidade máxima no jogo de basquetebol é impossível de atingir já que o

campo só tem aproximadamente 25 metros e a fase de aceleração até à velocidade máxima necessita de uma

maior distância. O autor neste caso deve estar a fazer referência à capacidade de aceleração aliada à

velocidade de execução das técnicas específicas da modalidade.

No caso específico da força o desenvolvimento da força máxima é importante, como base de

aperfeiçoamento da potência, da aceleração, da desaceleração, das mudanças rápidas de direcção e do

trabalho rápido e altamente coordenado de pés. O desenvolvimento da força de resistência assume um papel

preponderante, especificamente na capacidade de realizar repetidamente acções de potência durante todo o

jogo.

Conceitos Básicos de Periodização

A periodização tem como objectivo organizar a carga de treino tendo em conta a sua intensidade,

volume, densidade e complexidade de forma a optimizar o rendimento do atleta para a competição

específica da sua modalidade. Pode-se dizer que o rendimento depende da forma desportiva sendo esta o

desempenho competitivo que um atleta consegue realizar num determinado momento da sua carreira ou do

seu processo de preparação. Esta é constituída pelo estado de treino e pelo estado de preparação. O primeiro

reflecte a adaptação biológica geral do organismo, enquanto o segundo diz respeito à capacidade que esse

mesmo organismo tem de manifestar as suas possibilidades máximas no decorrer de uma competição

(Platonov, 1991).

A periodização típica envolve três níveis fundamentais: a macro-estrutura, a meso-estrutura e a

micro-estrutura. Nesta última considera-se o microciclo, de duração semanal típica, podendo ter de maneira

geral de 3 a 10 sessões. Na meso-estrutura surge o mesociclo, estrutura intermédia que agrupa vários

microciclos, orientando o processo de treino de acordo com os objectivos definidos, sistematizando a

alteração das componentes da carga e dos conteúdos dos exercícios de treino, podendo durar de duas a seis

semanas.

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Por último, o macrociclo, que constitui um todo integrando as competições em que o atleta deverá

participar e o período de preparação necessário para que essa intervenção seja bem sucedida, pode

corresponder a uma época inteira no caso de uma periodização simples, mas pode também ser apenas uma

de duas metades da época (periodização dupla) ou apenas uma parcela da época (periodização múltipla).

Modelo Linear de Periodização

As estruturas de periodização no modelo linear são organizadas por estádios sucessivos de um

processo que se pretende unitário e integrado. Cada um deles se caracteriza por uma aplicação selectiva de

conteúdos determinados, assente em meios e métodos de treino que garantam um efeito controlado e

orientado para a evolução gradual do desempenho competitivo, ou seja da forma desportiva.

Daqui se poderá concluir que as leis da periodização do treino são sobretudo, leis de regulação da

evolução da forma desportiva perante objectivos e marcas temporais bem precisos.

Modelo Não-Linear de Periodização

Segundo Wathen (sd) os modelos não-lineares são caracterizados por uma distribuição não constante

das cargas ao longo tempo. Estes modelos, segundo Buford (2007) podem ter variações de dia para dia ou

de semana para semana das cargas de treino aplicadas, não procurando fazer uma evolução constante dos

estímulos, mas sim fazer com que haja alguma variabilidade ao longo do tempo. Este modelo facilita o

treino de mais que uma manifestação de uma qualidade física ao mesmo tempo pois, com a variação das

cargas ao longo do microciclo ou mesociclo, o objectivo de cada sessão poderá variar. Esta possibilidade

contraria as propostas de modelos lineares já que, ao invés de apoiar a sua teoria na continuidade e

progressão das cargas de forma constante, apoia a sua teoria no efeito cumulativo das cargas ao longo

tempo, preconizando que a médio longo prazo os efeitos são semelhantes aos observados nos modelos

lineares, tendo a vantagem de ser mais adaptável a formatos competitivos mais prolongados. Esta maior

adaptabilidade advém de uma maior facilidade em controlar a carga de treino evitando assim a fadiga tanto

física como mental.

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Periodização do Treino da Força

Periodização Aplicada ao Desenvolvimento da Força

Muitos especialistas adaptaram os vários modelos de periodização existentes ao desenvolvimento da

força a longo prazo, tendo como objectivo aumentar a performance de ano para ano focando-se na

manifestação mais característica da força presente na modalidade que o atleta pratica.

Existem duas razões pelas quais se usa a periodização no desenvolvimento da força específica do

desporto do atleta: 1) coordenar estrategicamente a regeneração usando períodos de descompressão

dissipando a fadiga acumulada reduzindo assim o risco de “Overtraining” e potenciando a super-

compensação. (Banister & Calvert, 1981; Fry, Morton, & Keast, 1992 citado por Cole, 1998); 2) Variar o

estímulo de treino ao longo do tempo, pois através da periodização os ganhos, em termos de força, serão

maiores e ocorrerão mais rápido do que se o treino da força for feito à intensidade constante concomitante

ao treino convencional (Kukushkin, 1983; Poliquin, 1997; Sleamaker, 1989 citado por Cole, 1998).

As etapas contempladas na periodização da força, são algo consensuais no universo científico do treino,

embora por vezes as denominações das etapas sejam distintas, aquilo que as compõe tende a não variar

muito. Bompa (2003) propõe quatro etapas na periodização do desenvolvimento da força:

1. Etapa de Adaptação Anatómica

2. Etapa de Força Máxima

3. Etapa de Potência

4. Etapa de Manutenção

Segue então a explicitação das diferentes etapas:

1. Etapa de Adaptação Anatómica – Consiste num aumento do condicionamento geral e de resistência

através do treino de força. Promove uma adaptação dos ligamentos, tendões e tecidos musculares

para as fases seguintes do treino (Bompa, 2003). Segundo Stewart (2005) esta fase serve para

melhorar a flexibilidade funcional na amplitude característica da modalidade; estabilizar e reforçar

os músculos do core para prevenção de lesões e para criar uma boa base para uma eficiência

biomecânica; reforçar tendões, ligamentos e estabilização da musculatura responsável pela

integridade das articulações; fortalecer os músculos que por sobre uso estão enfraquecidos e

provocam desequilíbrios musculares; aumentar a massa muscular nos principais músculos que

sofreram mecanismos catabólicos ao longo da época transacta.

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2. Etapa de Força Máxima – A força máxima é, talvez, de entre as diferentes formas de manifestação

da força, a expressão que com maior unanimidade entre os diferentes autores, podemos encontrar na

literatura. Por força máxima devemos entender o valor mais elevado de força que o sistema

neuromuscular é capaz de produzir, independentemente do factor tempo, e contra uma resistência

inamovível. Se aceitarmos esta definição de força máxima estaremos a dizer que ela se deve avaliar

em termos isométricos, ainda que se possa exprimir também em termos concêntricos ou excêntricos.

Esta forma de manifestação da força afirma-se como a base de desenvolvimento para todas as outras

manifestações da força.

Os métodos da hipertrofia muscular também designados por métodos sub-maximais, têm como

objectivo incrementar a força máxima, através do aumento da massa muscular, i.e., hipertrofiando o

músculo. Sob esta classificação podemos encontrar diferentes sub-métodos com diversas variantes

ao nível do arranjo da dinâmica da carga, mas com uma filosofia base comum: induzir a fadiga,

através de um estímulo sub-máximo e de longa duração para que ocorra uma determinada depleção

energética e consequentemente se estimulem os fenómenos de resíntese para a prazo se poder

observar aumento da área da secção transversal do músculo.

3. Etapa de Potência – A potência (F x V) é basicamente a capacidade de produzir o maior valor de

força possível em tempos reduzidos. Pode-se dizer que a potência pode se manifestar de duas

formas, pela (1) taxa de produção de força que é a capacidade que o indivíduo tem para acelerar o

movimento o mais rapidamente possível desde o zero, é geralmente mais preponderante em

movimentos onde a resistência a vencer é elevada; (2) e pela força reactiva, que se manifesta em

ciclo alongamento-encurtamento sendo a forma de força mais característica dos desportos colectivos,

e representa a capacidade de produzir força contra resistências de baixa intensidade num

determinado período de tempo. Esta etapa antecede ou coincide geralmente, com as fases

competitivas, pois representa a forma de manifestação da força mais aproximada da realidade

observada no desporto.

4. Etapa de Manutenção – Não é mais que uma etapa em que o objectivo é manter os níveis de força

nas suas manifestações variadas, principalmente nas que estão mais directamente relacionadas com o

rendimento.

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Periodização da Força pelo Modelo Linear

A periodização da força usando o modelo linear é geralmente usada para modalidades onde o “pico”

de forma é o principal objectivo, sendo que o calendário competitivo nestas modalidades não é muito denso.

Assim sendo esta periodização pressupõe períodos preparatórios alargados, constituídos por variados

mesociclos. Nestes modelos o foco está claramente no desenvolvimento da capacidade, para que nos “picos”

de forma pretendidos (dificilmente mais de 3 durante a época) o atleta apresente índices elevados de

rendimento. Estes modelos surgiram primeiramente com Matveyev, seguidos por Verchoshansky e outros,

que apresentaram pontos de vista sobre o desenvolvimento das capacidades seguindo os mesmos princípios

mas apoiando-se em metodologias diferentes. Os princípios da continuidade, progressão da carga e

ciclicidade são os mais característicos destes modelos, que pressupõe que as cargas devem ser aplicadas de

forma contínua e progressiva ao longo do tempo, por ciclos. Só se trabalhando com um objectivo de cada

vez, dentro de cada capacidade física específica.

Relativamente à força propriamente dita, independente da sequência e forma de organização das

cargas de cada autor, nos modelos lineares Cole (1998) generaliza e faz referência a 4 fases que se

prolongam ao longo da época e que geralmente se encadeiam da seguinte maneira: hipertrofia, força,

potência, e “peaking”. O período preparatório geral corresponde ao desenvolvimento hipertrófico, o período

preparatório específico corresponde ao período que Cole (1998) denomina de força (corresponde ao que

parece ser uma aproximação do trabalho entre hipertrofia e taxa de produção de força), no período

competitivo temos a potência e o “peaking” mais no final deste período com o intuito de contribuir para o

“pico” de forma. Sendo estes modelos direccionados para a criação de “picos” de forma, a manutenção da

forma não é a prioridade da periodização linear, embora ao longo dos anos se tenha tentado adaptar este tipo

de modelos aos desportos cuja manutenção da forma desportiva assume especial importância (desportos

com densidades competitivas elevadas e prolongadas ao longo do tempo).

Periodização da Força pelo Modelo Não Linear

Este tipo de periodização força aplicado à foi inicialmente proposta por Charles Poliquin (citado por

Buford, 2007), e é muitas vezes referido como modelo ondulatório, pois se baseia na ideia de que o volume

e a intensidade devem ser alterados frequentemente (diariamente, semanalmente ou bi-semanalmente) à

semelhança do modelo geral (não específico da força) proposto por Tschiene. Esta alteração do volume e

intensidade não só permite ao sistema neuromuscular ter períodos melhores para a recuperação, como

permite através do efeito cumulativo das cargas conseguir trabalhar várias manifestações da força ao longo

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do microciclo ou mesociclo. Trabalhando com volumes e intensidades distintas as adaptações provocadas

divergem entre sessões ou microciclos, fazendo que se treinem manifestações da força distintas em períodos

de tempo relativamente curtos (microciclo ou mesociclo).

Devido à maior facilidade de controlar a fadiga com este modelo, e devido às evidências científicas

que a longo prazo (Buford, 2007) as adaptações provocadas com este método são semelhantes às do modelo

linear, este tipo de periodização parece ser mais indicado para um processo de manutenção da forma em

fases competitivas prolongadas.

Periodização do Treino da Força no Basquetebol

Tendências do Treino nos Jogos Desportivos Colectivos

Neste momento segundo Seirul-lo (1998) o treino nos jogos desportivos colectivos (JDC) tem como

principais objectivos:

1. Um elevado controlo sobre a carga treino

2. Rendimento com um pequeno número de treinos

3. Ser suficientemente variado e atractivo para o jogador

4. De assimilação rápida devido à proximidade das competições

5. Permita manter o estado de forma durante todo o período competitivo

Incorporação da Periodização nos Jogos Desportivo Colectivos

Segundo Gamble (2006) o maior obstáculo para os treinadores de desportos colectivos é trabalhar

com jogos frequentes e uma fase competitiva muito prolongada. Como já dito anteriormente a periodização

linear está mais direccionada para um formato em ciclos de treino criados para preparar progressivamente o

atleta para um momento específico na época competitiva. No entanto nos desportos colectivos,

principalmente na Europa, a fase competitiva pode exceder as 35 semanas. Segundo Gamble (2006) os

treinadores que aplicaram modelos mais clássicos nestas condições concluíram que o treino se torna algo

contraproducente. Urge então a necessidade de adaptar a periodização às especificidades dos JDC.

A dificuldade na periodização dos JDC deve-se à necessidade de articular o treino físico (das várias

qualidades físicas), com o treino técnico-táctico e com o treino psicológico, tendo como agravante o elevado

número de eventos competitivos ao longo da época.

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Treino na Fase Competitiva

Seirul-lo (1998) propõe que durante a fase competitiva deve-se manter a intensidade sempre alta para

que as variações da carga sejam apenas manipuladas através da alteração do volume e assim provocar o

formato ondulatório proposto originalmente Tschiene. As alterações da carga devem ser feitas mediante o

calendário competitivo.

Segundo Seirul-lo (1998) a descida progressiva e intermitente do volume durante toda a época

corresponde à necessidade de manter o estado de forma desejado em todas as competições da época. A

redução do volume faz com que o organismo do atleta responda positivamente e se for adjacente a um

acréscimo do volume pode contribuir para um novo estado de forma, que pode ser mantido ao longo do

resto da época.

Efeitos da Periodização Linear no Rendimento na Fase Competitiva

A periodização linear usada para o desenvolvimento da força em atletas dos JDC mostrou, como dito

anteriormente, pode ser contraproducente (Gamble, 2006), pois pode levar a perdas excessivas de massa

muscular, o que se afirma como um factor desfavorável para todos os desportos onde a potência seja um

factor de rendimento. Estudos indicam que com o uso de cargas concentradas (Moreira, 2004) as

possibilidades funcionais dos atletas de basquetebol tendem a diminuir ao longo da fase competitiva, o que

claramente vai na direcção contrária de qual deve ser o objectivo do treino. Dado isto, parece cada vez mais

evidente a necessidade de um correcto planeamento nos JDC, que permita a manutenção da forma atingida

nas fases pré-competitivas. Segundo Gamble (2006) e Moreira (2004) para que o treino não interfira

negativamente no desempenho do atleta durante a fase competitiva, é necessário que não seja um agente

provocador de “sobressolicitação” por excesso de fadiga. Ambos os autores apontam a variabilidade e

controlo do treino como principais mecanismos de gestão dos índices de fadiga.

Interacção do Treino da Força com a Carga Aeróbia

Nos JDC, especialmente no basquetebol é essencial o desenvolvimento tanto da força como da resistência

aeróbia, e sabendo que ambos necessitam de estar permanentemente contemplados pelo treino. Já sabemos

que o desenvolvimento da resistência aeróbia deve ser feito maioritariamente por exercícios específicos, o

mais próximos da realidade possível, mas a forma de articulação entre a carga aeróbia e a

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carga de treino de força, pode ser uma determinante para o treino da força nos JDC, já que ambas as

valências são importantes para o desempenho.

Baseado nos estudos apresentados por Paulo (2005) pode-se concluir que o rendimento desportivo

durante jogos e competições pode ser altamente afectado com a aplicação de treino concorrente (treino da

força + treino da resistência aeróbia) ou seja, a correcta manipulação da força e da resistência aeróbia é

essencial para obtenção da máxima performance sem ter queda no rendimento em nenhuma dessas

capacidades durante uma periodização do treino. Diante disso, Paulo (2005) faz algumas considerações de

aplicação prática na elaboração de protocolos de treino da força e treino da resistência aeróbia:

1- Nenhum dos estudos apresentados demonstrou haver efeito de concorrência no desenvolvimento

da resistência aeróbia até a décima semana de treino. Os programas de treino concorrente

mostraram-se mais efectivos para melhorar a força de resistência, o tempo até à exaustão numa

actividade aeróbia e a velocidade de resistência, quando comparados ao treino exclusivo da força

ou de resistência aeróbia. Portanto, se o objectivo do treino é o melhoramento destes factores, o

treino concorrente é essencial.

2- Por outro lado, se o objectivo for o desenvolvimento da força máxima, ou da potência muscular

deve-se tomar alguns cuidados na estruturação do treino como: a) treinar força e resistência

aeróbia em dias alternados; b) se a sessão de treino tem de abranger as duas capacidades

motoras, é recomendado treinar a sessão de força primeiro, e se possível deixar para treinar força

dos membros superiores no dia da sessão aeróbia;

Por último, independentemente do objectivo do treino é necessário identificar o estado de treino do

sujeito, pois as pesquisas também demonstraram que sujeitos destreinados parecem ser mais susceptíveis ao

efeito nocivo do treino concorrente.

Periodização Mista

Segundo Cole (1998) os modelos não lineares apresentam mais vantagens relativamente ao modelo linear

devido principalmente, ao facto de estes últimos contribuírem para uma maior fadiga neural. Buford (2007)

denota que no início do treino de força os valores dos ganhos de força entre os dois modelos são

semelhantes, e o que os diferencia é que a longo prazo (9 semanas) os ganhos no modelo linear decrescem,

provavelmente devido a alguns efeitos de “sobressolicitação”. Sendo assim todos os estudos caminham para

um favorecimento do método não linear. No entanto para o desenvolvimento de uma manifestação de força

a curto prazo (3, 4 semanas) os modelos lineares já demonstraram terem valores melhores nos ganhos de

força (Cole, 1998). Pode-se concluir segundo Cole (1998) que os métodos lineares favorecem a obtenção de

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“picos” de forma e que os métodos não lineares devido às suas características favorecem a manutenção da

forma desportiva.

Pode-se então tentar associar a obtenção do “pico” de forma ao período não-competitivo e a

manutenção da forma desportiva ao período competitivo.

Bompa (2003) propõe três fases de desenvolvimento da força nos JDC antes do período competitivo:

adaptação anatómica, desenvolvimento da força máxima e potência. Bompa (2003) durante a época afirma

que a manutenção dos índices de força sem prejudicar o desempenho deve ser o único objectivo. Assim que

se dá finalizada a época após um período de paragem o ciclo recomeça com a etapa de adaptação anatómica.

Gamble (2006) afirma que é pouco provável que exista um modelo de periodização óptimo para ser mantido

ao longo de toda a época. O autor afirma haver evidências científicas dos benefícios de uma periodização

mista, resultado dos valores observados no final do seu estudo, obtidos por atletas habituados a uma

periodização linear e submetidos a uma periodização não linear.

Aplicação ao Basquetebol

Seguindo o modelo proposto por Bompa (2003) e tendo em conta o tempo de pré temporada de

basquetebol na Europa, pode ter alguma lógica (até pela necessária sequenciação entre adaptação anatómica

– desenvolvimento da força máxima – potência) associar de forma clara um modelo linear à fase pré

competitiva, e um modelo não linear à fase competitiva (onde o principal objectivo é a manutenção).

Modelo Linear em Fases Não Competitivas

Como introduzido anteriormente, o modelo linear pode ser usado em fases não competitivas devido

às características temporais destas e aos objectivos que se pretende atingir nestes momentos da época.

Bompa (2003) e Stewart (2005) consideram fundamental uma etapa de adaptação anatómica antes de iniciar

o trabalho de desenvolvimento da força máxima propriamente dita, assim sendo é necessário realizar um

trabalho de adaptação anatómica que provoque adaptações no organismo de forma a que os prepare a

começar a etapa seguinte. Como a pré temporada está muito limitada no tempo (12 semanas

aproximadamente, num modelo semelhante ao proposto mais à frente) é importante que se provoquem

adaptações o mais rápido possível e que se cumpra a sequenciação desejada. Como não existem grandes

períodos de tempo (mais de 6 semanas) com o mesmo tipo de treino, Buford (2007) afirma que os atletas

não correm o risco de sofrerem de fadiga neural, e assim sendo, de forma a cumprir a sequenciação e a

limitação temporal das fases pré competitivas os modelos lineares parecem ser adequados. Segundo estudos

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feitos por Cole (1998) em 6 semanas de treino a periodização linear optimiza melhor os valores de força

máxima que a periodização não linear. O objectivo da fase pré competitiva é então, elevar ao máximo os

índices de força para que durante a época se faça um esforço para manter os valores o mais próximo

possível dos máximos atingidos antes da fase competitiva.

Modelo Não Linear em Fases Competitivas

Durante a fase competitiva a periodização não linear é sugerida por Gamble (2006) devido à

associação destes modelos à capacidade de manutenção da forma do atleta perto do seu ”pico” durante toda

a época. Como extensivamente estudado atrás, os benefícios dos modelos não lineares são variados quando

usados na fase competitiva, dos quais são de destacar: a facilidade de manipular a carga para uma melhor

gestão da fadiga dos atletas; melhores condições para manter os níveis de força nas suas diferentes

manifestações, pois permite o treino de mais que uma manifestação num microciclo ou mesociclo.

Os melhores resultados a longo prazo obtidos por Gamble (2006), Cole (1998), Buford (2007) e

Whathen (sd), favorecendo os modelos lineares, justificam o seu uso em grande parte da época. Tendo em

conta a importância que a tomada de decisão tem nos JDC e no basquetebol especificamente, evitar a fadiga

neural é determinante para não prejudicar o desempenho dos atletas.

Caso Prático – Universidade do Texas 2000/2001

Twellman (2002) fez uma análise sobre o comportamento dos índices de força de uma equipa

universitária de basquetebol ao longo da época usando uma periodização não linear. O autor afirma que o

trabalho dos treinadores é tentar que os seus jogadores consigam manter um condicionamento físico e

psicológico óptimo nos jogos. Mas que mesmo conseguido esse facto nada garante o sucesso ou mesmo o

rendimento.

Tentando descobrir se o trabalho do treinador estava a ser conseguido Twellman (2002) analisou vários

parâmetros de força ao longo de toda a época.

Twellman (2002) depois de analisar os dados constatou que: por muito cuidado que se tenha para

evitar a acumulação de fadiga (mesmo usando uma periodização não-linear) esta vai sempre provocar uma

pequena queda nos índices de força. O autor preconiza que como factor crítico de gestão da fadiga está a

capacidade de calcular o stress gerado por cada microciclo e por cada jogo. O autor afirma que se se tiver a

capacidade de medir o impacto fisiológico que cada jogo e cada treino tem no atleta, a manipulação das

variáveis do treino da força torna-se mais fácil e origina melhores resultados. Twellman (2002) afirma que o

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impacto fisiológico de um jogo num atleta que jogue mais de 30 minutos é significativo e que este facto

condiciona a sua capacidade de treinar força nas sessões seguintes. Sendo assim, quando se está na presença

de uma semana com mais de 2 jogos dificilmente se poderá realizar treinos de força com os atletas sem

induzir fadiga exagerada nos atletas.

Conclusão

Toda a investigação neste trabalho convergiu para o modelo no fim proposto. Gamble (2006) como já

referido anteriormente, afirma que é pouco provável que exista um modelo de periodização óptimo para ser

mantido ao longo de toda a época. O autor afirma haver evidências científicas dos benefícios de uma

periodização mista, resultado dos valores observados no final do seu estudo, obtidos por atletas habituados a

uma periodização linear e submetidos a uma periodização não linear. Seguindo essa linha de pensamento,

introduziu-se no modelo proposto 2 tipos de periodização distintos.

Pode-se observar no modelo a sequenciação das 3 etapas que compõem a fase preparatória, respeitando a

sequência lógica proposta por Bompa (2003), onde adaptação anatómica precede o desenvolvimento da

força máxima que por sua vez precede o trabalho de potência. Através de uma periodização linear cada

etapa da fase preparatória tende a produzir resultados de forma mais rápida (Cole, 1998) permitindo o

desenvolvimento da força em cada uma das três etapas ao longo das 12 semanas disponíveis.

Os estudos disseram-nos então que a continuação do uso da periodização linear nos JDC poderia ser

contraproducente (Gamble, 2006; Moreira, 2004) e seguindo as evidências que a longo prazo a periodização

não-linear trazia benefícios semelhantes às da periodização linear mas com melhores factores de gestão de

fadiga (Buford, 2007) optámos por este modelo para o período competitivo. A alteração das cargas

(diariamente, semanalmente ou bi-semanalmente) não só permite ao sistema neuromuscular ter períodos

melhores para a recuperação, como permite através do efeito cumulativo das cargas conseguir trabalhar

várias manifestações da força ao longo do microciclo ou mesociclo. Assim sendo optou-se por realizar a

manutenção dos índices de força no período competitivo usando uma periodização não-linear.

Na fase final do período competitivo, correspondente aos Playoffs, a carga de jogos é muito elevada

(4 por semana) fazendo com que o stress acumulado das situações competitivas impeça uma recuperação

suficiente, não permitindo ao atleta efectuar treino de força sem entrar em fadiga acumulada (Twellman,

2002), o que na fase actual de competição correspondente ao ponto alto da época não pouco recomendável.

Após o período competitivo foi atribuído no modelo um mês de férias, onde o controlo da actividade dos

atletas é quase inexistente ou mesmo nulo. Este período é essencial para dissipar a fadiga acumulada e para

provocar um abaixamento do estado de forma essencial para a renovação da forma na época seguinte.

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DESENVOLVIMENTO DA FORÇA

Modelo Proposto

* Este artigo foi realizado no âmbito da disciplina de Planeamento do Treino Desportivo do curso de

Ciências do Desporto na especialização em Treino Desportivo leccionada pelo docente Francisco Alves

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