176
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE ESTUDOS GERAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA AMBIENTAL FEDERICA NATASHA GANANÇA ABREU DOS SANTOS SODRÉ DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO: diagnóstico socioambiental e a construção de um índice de desenvolvimento da atividade. Estudo de caso, nos municípios de Anchieta, Guarapari e Piúma. NITERÓI, 2004

DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

  • Upload
    buibao

  • View
    217

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE ESTUDOS GERAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA AMBIENTAL

FEDERICA NATASHA GANANÇA ABREU DOS SANTOS SODRÉ

DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO: diagnóstico socioambiental e a

construção de um índice de desenvolvimento da atividade. Estudo de caso, nos municípios de Anchieta, Guarapari e

Piúma.

NITERÓI, 2004

Page 2: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

FEDERICA NATASHA GANANÇA ABREU DOS SANTOS SODRÉ

DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO: diagnóstico socioambiental e a construção de um índice de desenvolvimento da atividade. Estudo de caso, nos municípios de Anchieta, Guarapari e Piúma.

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. Área de concentração: Análise de Processos Sócio-Ambientais.

Orientadora: Profª Drª VERA LÚCIA FERREIRA MOTTA REZENDE

Niterói, 2004

Page 3: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Sodré, FedDesen

Espírito construção atividade. Guarapari dos Santos

172 f.,Disser

UniversidaBiblio 1. Ma

Espírito S

erica Natasha Ganança Abreu dos Santos

volvimento da maricultura no Estado doSanto: diagnóstico socioambiental e a de um índice de desenvolvimento daEstudo de caso, nos municípios de Anchieta, e Piúma/ Federica Natasha Ganança Abreu Sodré. – Niterói: [s.n.], 2004.

30 cm. tação (Mestrado em Ciência Ambiental) –de Federal Fluminense, 2004.

grafia: f. 158-165.

ricultura. 2. Diagnóstico socioambiental. 3.anto. 4. Desenvolvimento Sustentável.

Page 4: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

FEDERICA NATASHA GANANÇA ABREU DOS SANTOS SODRÉ

DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO: diagnóstico socioambiental e a construção de um índice de desenvolvimento da atividade. Estudo de caso nos municípios de Anchieta, Guarapari e Piúma.

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. Área de concentração: Análise de Processos Sócio-Ambientais.

Aprovada em junho de 2004

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________ Profª Drª Deborah de Magalhães Lima

_________________________________________________________ Profª Drª Erica Pauls

_________________________________________________________ Profª Drª Vera Lúcia Ferreira Motta Rezende

Niterói, 2004

Page 5: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Gostaria que o produto gerado a partir desses poucos anos em que estou em contato com a maricultura, maricultores e estudiosos do assunto, que tanto contribuíram para enriquecer e despertar reflexões, extrapolasse os limites de uma dissertação para obtenção do grau de mestre e se materializasse em um documento que poderá ser pesquisado e aplicado de forma direta, inteligível e concreta por todos aqueles que de alguma forma se interessam pelo assunto.

Além disso, terei o enorme prazer se um dia souber que o mesmo, pode ter contribuído de alguma forma para a atenuação de alguns entraves ao desenvolvimento sustentável da atividade, uma vez que “nem toda representação sobre necessidade diluída ou mesmo expressa junto ao tecido social é reconhecida como demanda, seja pelo Estado, seja pelos organismos políticos tradicionais” (Ferreira & Ferreira, 1995, p. 17).

Sinto, neste momento, a necessidade de funcionar como um amplificador para os reclames dos maiores interessados e ao mesmo tempo atores e espectadores desse “espetáculo” chamado mitilicultura.

Dedico esta dissertação, a todos os mitilicultores que contribuíram para a sua construção.

Page 6: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

AGRADECIMENTOS

¡Gracias a la vida!

Aos meus pais, por todo amor, carinho, apoio e confiança em mim depositados. Mummy, muito obrigada!

Aos meus irmãos, por todo o apoio e compreensão. Aos pequeninos Luiz e Joana.

A Andrés, por toda la fuerza, cariño, compañerismo y comprensión. Que esta sea apenas la primera batalla. Muchas gracias por los dibujos. ¡Quedaron lindos!

À minha orientadora Profª Vera Rezende.

Ao Profº Luis Alejandro Vinatea Arana.

Ao Orlando Alves dos Santos Júnior.

Ao biólogo João Guilherme Centoducatte.

À Mariângela Di Lorenzo (oceanógrafa da SEMPMA).

Aos novos mestres Deborah Lima e Sávio Leopoldi, que tanto contribuíram para a desconstrução e reconstrução de tantos modos de vida e de ver a vida e me apresentaram o fantástico mundo da antropologia.

Aos antigos mestres Gilberto Barroso, Jean Christophe Joyeux e Rosebel Nalesso. Seus ensinamentos nunca serão esquecidos e irão comigo aonde eu for.

À Karlinha, por toda a ajuda a longa e a curta distância.

Aos amigos, Adriana, Airam, Albano, Alejandro, Fabrício, Muniz e Rodrigo por toda troca de informação e momentos de descontração.

Aos colegas do PGCA por todos os momentos de descontração e informações compartilhadas.

Aos colegas da antropologia com quem compartilhei momentos de dúvidas, descontração e de muito trabalho, que me ajudaram a abrir uma nova porta.

Aos maricultores das comunidades de Anchieta, Guaibura, Perocão e Piúma. Que isto sirva como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o presente estudo possa trazer melhorias.

Às Prefeituras Municipais de Anchieta e Guarapari; à ESCOPESCA; às Secretarias de Saúde e Pesca e Meio Ambiente de Anchieta; ao CTA; ao IPES; ao IBAMA e à CAPES, instituições que tornaram possível a realização deste estudo.

À todas as outras pessoas que participaram de uma forma direta ou indireta para a construção e a realização deste trabalho, meu muito obrigado!

Page 7: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

“Desde que não podemos aceitar de esmola nem tomar emprestada a cultura sem trair ao mesmo tempo a essa cultura e a nós mesmos, nada resta a um povo senão produzir a cultura que lhe convém”. (Freyre, 2001 apud John Dewey, p. 160).

Page 8: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 18 Do despertar à inquietação..................................................................................... 23 Apresentação.......................................................................................................... 26

1 AQÜICULTURA: UMA ALTERNATIVA À INSEGURANÇA ALIMENTAR E AOS PESCADORES TRADICIONAIS...................................................................

28

1.1 A adoção de uma nova estratégia..................................................................... 30 1.2 A falência de dois sistemas de obtenção e produção de alimentos: pesca predatória e agricultura moderna............................................................................

32

1.2.1 A exploração do ambiente costeiro...................................................... 33 1.2.2 A exploração da terra.......................................................................... 35

1.3 A aqüicultura.................................................................................................... 36 2 HISTÓRICO DA AQÜICULTURA......................................................................... 39

2.1 Importância da aqüicultura............................................................................... 40 2.2 A aqüicultura no Brasil..................................................................................... 41 2.3 Dificuldades para a implantação da aqüicultura no Brasil............................... 44

3 METODOLOGIA....................................................................................................... 45

3.1 A obtenção dos dados através do trabalho de campo....................................... 46 3.2 Construção do IDAM....................................................................................... 48

3.2.1 Cálculo do IDAM e de seus indicadores.............................................. 51 4 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO E O IDM DOS MUNICÍPIOS ESTUDADOS.................................................................................................................

53

4.1 Anchieta............................................................................................................ 55 4.2 Guarapari.......................................................................................................... 55 4.3 Piúma................................................................................................................ 56 4.4 Índice de Desenvolvimento Municipal – IDM................................................. 57 4.5 Índice de Desenvolvimento Urbano – IDU...................................................... 59 4.6 Índice de Desenvolvimento Social – IDS......................................................... 61 4.7 Índice de Infra-estrutura para Grandes e Médios Empreendimentos dos Municípios do Espírito Santo – IGME..................................................................

62

5 A MARICULTURA NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO................................. 65

5.1 Histórico da atividade no município de Anchieta............................................. 68 5.1.1 A organização da atividade.................................................................. 76 5.1.2 A infra-estrutura dos locais de cultivo................................................. 79 5.1.3 Produção............................................................................................... 81

Page 9: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

5.1.4 Dificuldades e necessidades................................................................. 86 5.1.5 Expectativas.......................................................................................... 86

5.2 Histórico da atividade no município de Piúma................................................. 87 5.2.1 A organização da atividade.................................................................. 88 5.2.2. Infra-estrutura dos locais de cultivo.................................................... 88 5.2.3 Produção............................................................................................... 89 5.2.4 Dificuldades e necessidades................................................................. 90 5.2.5 Expectativas.......................................................................................... 90

5.3 Histórico da atividade no município de Guarapari........................................... 92 5.3.1 A organização da atividade.................................................................. 94 5.3.2 A infra-estrutura do local de cultivo de Perocão................................. 95 5.3.3 A infra-estrutura do local de cultivo de Guaibura............................... 99 5.3.4 Produção em Perocão.......................................................................... 100 5.3.5 Produção em Guaibura........................................................................ 102 5.3.6 Dificuldades e necessidades em Perocão............................................. 102 5.3.7 Dificuldades e necessidades em Guaibura........................................... 103 5.3.8 Expectativas para Perocão................................................................... 103 5.3.9 Expectativas para Guaibura................................................................. 104

5.4 Índice de Desenvolvimento da Atividade de Mitilicultura – IDAM .............. 105 6 RESULTADOS........................................................................................................... 106

6.1 Índice de Desenvolvimento da Atividade de Mitilicultura – IDAM................ 106 6.2 Resultados do IDAM........................................................................................ 115 6.3 Dos parâmetros que compõem o IDAM para o Parque de Cultivo de Anchieta................................................................................................................

116

6.3.1 Integração da comunidade/família..................................................... 116 6.3.2 Impacto ambiental............................................................................... 117 6.3.3 Fonte alternativa de renda.................................................................. 117 6.3.4 Incremento da produção do pescado.................................................. 118 6.3.5 Produção baseada no desenvolvimento sustentável........................... 118

6.4 Dos parâmetros que compõem o IDAM para o Parque de Cultivo de Piúma.. 119 6.5 Dos parâmetros que compõem o IDAM para o Parque de Cultivo de Guaibura................................................................................................................

119

6.5.1 Integração da comunidade/família..................................................... 119 6.5.2 Impacto ambiental; Incremento da produção do pescado; Produção baseada no desenvolvimento sustentável......................................................

120

6.5.3 Fonte alternativa de renda................................................................... 120 6.6 Dos parâmetros que compõem o IDAM para o Parque de Cultivo de Perocão...................................................................................................................

120

6.6.1 Integração da comunidade/família.................................................... 120 6.6.2 Impacto ambiental e Produção baseada no desenvolvimento sustentável....................................................................................................

120

6.6.3 Fonte alternativa de renda.................................................................. 121 6.6.4 Incremento da produção do pescado.................................................. 121

6.7 Índice de Desenvolvimento dos Municípios – IDM-ES.................................. 121 6.7.1 Qualidade ambiental............................................................................ 121 6.7.2 Integridade física e social do maricultor............................................. 125 6.7.3 Infra-estrutura para produção, comercialização e transporte do produto..........................................................................................................

129

Page 10: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

7 ANÁLISE DOS RESULTADOS............................................................................... 133

7.1 O diagnóstico socioambiental e a caracterização dos “parques de cultivo”....................................................................................................................

133

7.2 O IDM e o desenvolvimento sustentável da maricultura.................................. 143 7.3 O IDAM e suas implicações............................................................................. 146 7.4 A associação da maricultura à agricultura pelos maricultores e a presença das mulheres na atividade.......................................................................................

148

8 CONCLUSÃO - A NECESSIDADE DA MUDANÇA DE PARADIGMAS......... 152

8.1 Considerações finais…………………………………………………………. 156 9 OBRAS CITADAS.................................................................................................... 158 ANEXOS........................................................................................................................ 166

Page 11: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Fig. 1 Mapa da área de estudo, destacando os municípios que praticam a maricultura com fins comerciais no Estado do Espírito Santo e o limite Norte de ocorrência da espécie de mexilhão Perna perna no Brasil.

21

Fig. 2 Mapa da área de estudo com a localização dos principais “parques de cultivo” de mexilhões no Estado do Espírito Santo.

25

Quadro 1 Importância do pescado, em termos percentuais como fonte primária de proteína animal ingerida.

41

Fig. 3 Ramos da aqüicultura no Brasil. 42

Quadro 2 Produção nacional de ostras e mexilhões no ano de 2000 e a contribuição do Estado de Santa Catarina.

43

Quadro 3 Trabalhos realizados e em andamento nos “parques de cultivo” de Perocão, Guaibura, Anchieta e Piúma.

47

Quadro 4 Número de entrevistas realizadas e questionários aplicados no trabalho de campo durante o período de janeiro de 2003 a março de 2004.

47

Fig. 4 Mapa da área de estudo, destacando os municípios de Guarapari, Anchieta e Piúma.

54

Fig. 5 Organograma do Índice de Desenvolvimento dos Municípios do Espírito Santo – IDM-ES e seus componentes.

58

Fig. 6 Organograma do Índice de Desenvolvimento Urbano – IDU e seus componentes.

59

Quadro 5 Definição dos índices e indicadores que compõem o Índice de Desenvolvimento Urbano – IDU.

60

Fig. 7 Organograma do Índice de Desenvolvimento Social – IDS e seus componentes.

61

Quadro 6 Definição dos índices e indicadores que compõem o Índice de Desenvolvimento Social – IDS.

61

Fig. 8 Organograma do Índice de Infra-estrutura para Grandes e Médios Empreendimentos dos Municípios do Espírito Santo e seus componentes.

62

Quadro 7 Definição dos índices e indicadores que compõem o IGME - Índice de Infra-estrutura para Grandes e Médios Empreendimentos dos municípios do Espírito Santo.

63

Page 12: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Quadro 8 Principais indicadores relacionados ao desenvolvimento da maricultura e sua importância.

64

Fig. 9 Esquema de preparação da mexilhoneira ou corda de engorda. 69

Fig. 10 Esquema do sistema de cultivo de mexilhões de Anchieta/ES. 71

Quadro 9 Sítios aqüícolas de Anchieta/ES, localização e capacidade máxima de long lines.

81

Fig. 11 Esquema da Unidade de Beneficiamento de um dos grupos de maricultores de Anchieta.

84

Quadro 10 Número de long lines por maricultor, no cultivo da Ilha dos Cabritos, Piúma/ES em fevereiro de 2003.

88

Fig. 12 Esquema do sistema de cultivo de mexilhões de Guarapari/ES. 95

Fig. 13 Esquema da balsa flutuante utilizada pelos maricultores de Perocão, como auxílio para a preparação das mexilhoneiras.

97

Quadro 11 Etapas da mitilicultura e suas necessidades. 98

Quadro 12 Atribuição de valores, aos “parques de cultivo”, quanto ao não atendimento (valor 0), atendimento parcial (valor 1) ou atendimento total (valor 2) dos indicadores selecionados para a construção do IDAM.

110

Quadro 13 Índices e valores máximos obtidos pelos “parques de cultivo” de Anchieta, Guaibura, Piúma e Perocão.

113

Quadro 14 IDAM e a evolução dos “parques de cultivo” de Guarapari, Anchieta e Piúma, desde a implantação até os dias de hoje.

114

Quadro 15 Status dos indicadores que compõem o IDM-ES nos municípios estudados e no Estado do Espírito Santo.

144

Quadro 16 Status dos indicadores que compõem o IDAM nos “parques de cultivo” estudados.

147

Quadro 17 Atuação de homens e mulheres nas diferentes etapas de produção da maricultura.

150

Page 13: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 Contribuição das pescas artesanal e industrial e da malacocultura no volume total do pescado obtido no Brasil, no ano de 2000.

34

TABELA 2 IDM e a respectiva posição no ranking dos municípios de Anchieta, Guarapari e Piúma.

58

TABELA 3 Índices relativos que compõem o IDU, segundo os municípios da região litoral sul – Guarapari, Anchieta e Piúma e suas respectivas posições no ranking, comparando com o Estado do Espírito Santo e o município de Vitória - 2000.

60

TABELA 4 Índices relativos que compõem o IDS, segundo os municípios da região litoral sul – Guarapari, Anchieta e Piúma e suas respectivas posições no ranking, comparando com o Estado do Espírito Santo e o município de Vitória - 2000.

62

TABELA 5 Índices relativos que compõem o IGME-ES, segundo os municípios da região litoral sul – Guarapari, Anchieta e Piúma e suas respectivas posições no ranking, comparando com o Estado do Espírito Santo e o município de Vitória - 2000.

63

TABELA 6 Resumo dos dados obtidos sobre os “parques de cultivo” de Guarapari, Anchieta e Piúma, através de entrevistas, questionários e revisão bibliográfica, durante o período de março de 2002 a março de 2004.

107

TABELA 7 Valores obtidos para o indicador esgoto no IDU dos municípios do Estado do Espírito Santo, destacando-se os municípios de Anchieta, Guarapari e Piúma.

123

TABELA 8 Valores obtidos para o indicador lixo no IDU dos municípios do Estado do Espírito Santo, destacando-se os municípios de Anchieta, Guarapari e Piúma.

124

TABELA 9 Valores obtidos para o indicador educação nos IDU e IDS dos municípios do Estado do Espírito Santo, destacando-se os municípios de Anchieta, Guarapari e Piúma.

127

TABELA 10 Valores referentes à educação obtidos através do Censo 2000, destacando-se os municípios de Anchieta, Guarapari e Piúma.

127

TABELA 11 Valores obtidos para o indicador segurança no IDS dos municípios do Estado do Espírito Santo, destacando-se os municípios de Anchieta, Guarapari e Piúma.

127

Page 14: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

TABELA 12 Valores obtidos para o indicador habitação no IDU dos municípios do Estado do Espírito Santo, destacando-se os municípios de Anchieta, Guarapari e Piúma.

128

TABELA 13 Valores obtidos para o indicador saúde no IDS dos municípios do Estado do Espírito Santo, destacando-se os municípios de Anchieta, Guarapari e Piúma.

129

TABELA 14 Valores obtidos para os indicadores rodovia e telecomunicações no IGME e telefonia no IDU dos municípios do Estado do Espírito Santo, destacando-se os municípios de Anchieta, Guarapari e Piúma.

132

TABELA 15 Dados obtidos no trabalho de campo e na revisão bibliográfica sobre a implantação dos “parques de cultivo” de Anchieta, Guarapari e Piúma – parte A.

135

TABELA 16 Dados obtidos no trabalho de campo e na revisão bibliográfica sobre a implantação dos “parques de cultivo” de Anchieta, Guarapari e Piúma – parte B.

136

TABELA 17 Dados obtidos no trabalho de campo e na revisão bibliográfica sobre a infra-estrutura e divisão do trabalho nos “parques de cultivo” de Anchieta, Guarapari e Piúma.

137

TABELA 18 Dados obtidos no trabalho de campo e na revisão bibliográfica sobre a infra-estrutura e organização dos “parques de cultivo” de Anchieta, Guarapari e Piúma e os conflitos e dificuldades enfrentados pelos maricultores.

140

TABELA 19 Dados obtidos no trabalho de campo e na revisão bibliográfica sobre a comercialização dos mexilhões nos “parques de cultivo” de Anchieta, Guarapari e Piúma.

141

TABELA 20 Dados obtidos no trabalho de campo e na revisão bibliográfica sobre a infra-estrutura, tempo de crescimento dos mexilhões e produção dos “parques de cultivo” de Anchieta, Guarapari e Piúma.

142

Page 15: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

ACARESC – Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa Catarina

ACARPESC – Associação de Crédito e Assistência Pesqueira de Santa Catarina

AMA – Associação de Maricultores de Anchieta

AMAGuarapari – Associação de Maricultores de Guarapari

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária

AVIDEPA – Associação Vilavelhense de Proteção Ambiental

BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A

BMLP – Brazilian Mariculture Linkage Program

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CEFET-ES – Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo

CIDA – Canadian International Development Agency

CNPT – Centro Nacional de Populações Tradicionais

COPLAN – Coordenadoria Geral de Planejamento Setorial

CPES – Capitania dos Portos do Espírito Santo

CTA – Centro de Tecnologia em Aqüicultura

DERN – Departamento de Ecologia e Recursos Naturais

DEF – Delegacia Federal da Agricultura

EMATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural

EMCAPER - Empresa Capixaba de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural

EMPASC – Empresa de Pesquisa Agropecuária de Santa Catarina

EPAGRI – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A.

ESCOPESCA – Escola de Pesca de Piúma

ETE – Estação de Tratamento de Esgoto

Page 16: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

FINAM - Fundo de Investimento da Amazônia

FINOR - Fundo de Investimentos do Nordeste

GERES – Gerência da Região do Sertão

IASC – Instituto de Apicultura de Santa Catarina

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDAM – Índice de Desenvolvimento da Atividade de Mitilicultura

IDE – Índice de Desenvolvimento Econômico

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

IDM – Índice de Desenvolvimento dos Municípios

IDS – Índice de Desenvolvimento Social

IDU – Índice de Desenvolvimento Urbano

IEAPM – Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira

IED-BIG – Instituto de Ecodesenvolvimento da Baía de Ilha Grande

IFM – Índice de Finanças Municipais

IGME – Índice de Desenvolvimento de Infra-estrutura para Grandes e Médios

Empreendimentos

INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural

IPEA –Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IPES – Instituto de Apoio à Pesquisa e ao Desenvolvimento Jones dos Santos Neves

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação

MMA – Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal

PED – Programa de Execução Descentralizada

PEDEAG - Plano Estratégico de Agricultura Capixaba

PMA - Prefeitura Municipal de Anchieta

Page 17: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

PMG – Prefeitura Municipal de Guarapari

PNMA – Programa Nacional de Meio Ambiente

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PRODERUR - Programa de Desenvolvimento Rural

PROGER - Programa de Fomento à Geração de Emprego e Renda

PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

PRORURAL - Programas de Apoio à Pequena Produção Familiar Rural Organizada

SEAG - Secretaria de Agricultura do Estado do Espírito Santo

SEAMA – Secretaria de Estado para Assuntos do Meio Ambiente

SEAP - Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca

SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SEMPMA – Secretaria Municipal de Pesca e Meio Ambiente

SIF – Selo de Inspeção Federal

SIM – Selo de Inspeção Municipal

SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação

SUDENE – Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

SUDEPE – Superintendência para o Desenvolvimento da Pesca

UC – Unidade de Conservação

UFBA – Universidade Federal da Bahia

UFES – Universidade Federal do Espírito Santo

UFMA – Universidade Federal do Maranhão

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina

UVV – Universidade de Vila Velha

Page 18: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

RESUMO

A implantação da maricultura no Estado do Espírito Santo teve inicio de forma experimental no município de Piúma, no ano de 1987. Nos últimos 17 anos, a atividade foi implantada cons fins comerciais em outros 5 (cinco) municípios do Estado através de projetos com objetivos similares e estratégias divergentes. Dentre os municípios que tiveram implantada a maricultura destacamos Anchieta e Guarapari, maiores produtores de mexilhões Perna perna em escala comercial no Espírito Santo. A hipótese de que as técnicas de divulgação, implantação e gestão da mitilicultura no Estado do Espírito Santo, não são eficazes nos quesitos envolvimento e permanência da comunidade alvo na atividade, foi o ponto de partida para a realização da presente dissertação. O objetivo principal é descrever a implantação da mitilicultura nos “parques de cultivo”, localizados nos municípios, de Guarapari; Anchieta e Piúma, no Estado do Espírito Santo, levando-se em consideração os aspectos social, ambiental e econômico inerentes à atividade e característicos de cada “parque”. Os objetivos específicos são: a) o levantamento dos principais desafios e deficiências da atividade em cada município; b) a descrição e a comparação do desenvolvimento da atividade nos diferentes “parques de cultivo” e a participação dos maricultores em cada um deles; c) a criação de um Índice de Desenvolvimento da Atividade da Mitilicultura (IDAM) para cada “parque de cultivo”; d) a verificação da influência do IDM no desenvolvimento e na sustentabilidade da mitilicultura no município; e e) a análise do índice criado (IDAM) e suas implicações como parâmetro para a comparação do desenvolvimento da mitilicultura em diferentes “parques de cultivo”. Para o levantamento dos dados foram entrevistados maricultores e técnicos (entrevistas abertas e semi-estruturadas); sendo feita a aplicação de um questionário fechado a alguns maricultores. Além disso, foram utilizadas a observação participante e a revisão bibliográfica como formas complementares à obtenção dos dados em campo. Os resultados apontam para a importância do trabalho realizado junto à comunidade de forma a torná-la peça integrante dos processos de implantação e gestão do empreendimento, visando o desenvolvimento sustentável do mesmo. Uma melhor organização das fontes de financiamento torna-se necessária para o atendimento efetivo das necessidades dos maricultores, adequando as linhas de crédito existentes ao perfil dos mesmos, contribuindo dessa forma para o crescimento da atividade. Igualmente, a organização dos produtores em associações e/ou cooperativas permitirá a diversificação da área de atuação do produto com a expansão do mercado consumidor através da obtenção dos selos de inspeção municipal e/ou federal. As diferenças socioeconômicas entre os municípios chamam a atenção para que haja uma intervenção do Estado visando o fomento e o fortalecimento da atividade. O levantamento das fontes de fornecimento de produtos indispensáveis à construção e a manutenção das estruturas de cultivo também deve ser feito, abrindo, caso necessário, uma nova área de mercado como forma de incentivar o crescimento da atividade e garantir a sua sustentabilidade. Maricultura; Espírito Santo; estudo socioambiental; desenvolvimento sustentável.

Page 19: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

ABSTRACT

The implantation of mariculture in the state of Espírito Santo started experimentally in the county of Piúma, in the year of 1987. In the last 17 years, the activity has been implanted, commercially, in 5 other counties in the state through projects that had similar objectives but different strategies. Among the counties that had implanted the mariculture we point out Anchieta and Guarapari, the greatest producers of mussels Perna perna in a commercial scale in Espírito Santo. The hypothesis that the techniques of divulging, administration and implementation of mitiliculture in the state of Espírito Santo are not efficient in what involves the continuity of the target community in the activity, this was the starting point for realization of this dissertation. The main objective is to describe the implementation of the mitiliculture in “culture farms”, located at the counties of Anchieta, Guarapari and Piúma, in the state of Espírito Santo, considering social, environmental and economical aspects inherent to the activity and characteristics of each “farm”. The specific objectives are: a) the survey of the main challenges and deficiencies of the activity in each county; b) the description and the comparison of the development in the different “culture farms”, and the participation of the maricultures in each of them; c) the creation of a Mitilicultura Activity Development Indicator (MADI) for each site of production; d) the verifying of IDAM influence on the mitiliculture development and sustainability in the county; and e) the analysis of the created indicator and its implication as a comparison parameter of mitiliculture development on different “culture farms”. For the data survey maricultures and technicians were interviewed (open and semi-structured interviews); the application of a closed questionnaire was also made with some maricultures. Moreover, the participant observation and the bibliographic revision were used as complementary forms for the obtainment of data in field. The results point out the importance of the work realized with the community in a way to make it a key factor of the implementation and administration process, seeking sustainable development. A better organization of the financial sources become necessary to serve effectively the needs of the maricultures, adjusting the existent credit lines to the profile of them, contributing for the growth of the activity. Equally, the organization of the producers in associations and/or co-operative societies will enable the increase of the trade area of the product with the expansion of the consumer market through the obtainment of county and/or federal inspection seals. The social-economical differences among the counties show that is necessary a government intervention seeking fomentation and strengthen the activity. The survey of the supply sources of indispensable products for the construction and maintenance of the production structures also has to be done, opening, if necessary, a new market area as a form to stimulate the growth of the activity and to guarantee its sustainable development.

Mariculture; Espírito Santo; social-environmental study; sustainable development.

Page 20: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

RESUMEN

La implantación de la maricultura en la Provincia/Departamento del Espírito Santo tuvo inicio de forma experimental en el municipio de Piúma, en el año de 1987. En los últimos 17 años, la actividad fue implantada con fines comerciales en otros 5 (cinco) municipios del Estado a través de proyectos con objetivos similares y estrategias divergentes. Dentro de los municipios que hubieran implantado la maricultura destacamos Anchieta y Guarapari, mayores productores de mejillón Perna perna en escala comercial en el Espírito Santo. La hipótesis de que las técnicas de divulgación, implantación y gestión de la mitilicultura en la Provincia/Departamento del Espírito Santo, no son eficaces en los requisitos de envolvimiento y permanencia de la comunidad-albo en la actividad, fue el punto de partida para la realización de la presente disertación. El objetivo principal es describir la implantación de la mitilicultura en los “parques de cultivo”, localizados en los municipios, de Guarapari; Anchieta y Piúma, en la Provincia/Departamento del Espirito Santo, llevándose en consideración los aspectos social, ambiental y económico inherentes a la actividad y característicos de cada “parque”. Los objetivos específicos son: a) el levantamiento de los principales desafíos y deficiencias de la actividad en cada municipio; b) la descripción y la comparación del desarrollo de la actividad en los diferentes “parques de cultivo” y la participación de los maricultores en cada uno de ellos; c) la creación de un Índice de Desarrollo de la Actividad de la Mitilicultura (IDAM) para cada “parque de cultivo”; d) la verificación de la influencia del IDM en el desarrollo y en la sustentabilidad de la maricultura en el municipio; y e) el análisis del índice creado (IDAM) y su sugestión posible aplicación como parámetro para la comparación y el desarrollo de la mitilicultura en diferentes “parques de cultivo”. Para el levantamiento de los datos fueron entrevistados maricultores y técnicos (entrevistas abiertas y semiestructuradas); siendo aplicado un cuestionario cerrado para algunos maricultores. Además de eso, fueron utilizadas la observación participante y la revisión bibliográfica como formas complementares para la obtención de los datos en campo. Los resultados apuntan para la importancia del trabajo realizado junto a la comunidad de forma que se pueda tornar parte integrante de los procesos de implantación y gestión de emprendimiento, buscando el desarrollo sustentable del mismo. Una mejor organización de las fuentes de financiamiento se torna necesaria para el atendimiento efectivo de las necesidades de los maricultores, adecuando las líneas de crédito existentes al perfil de los mismos, contribuyendo de esa forma para el crecimiento de la actividad. Igualmente, la organización de los productores en asociaciones y/o cooperativas permitirá la diversificación del área de actuación del producto con la expansión del mercado consumidor a través de la obtención de los sellos de inspección municipal y/o federal. Las diferencias socioeconómicas entre los municipios llaman la atención para que haya una intervención del Estado buscando el fomento y el fortalecimiento de la actividad. El levantamiento de las fuentes de suministro de productos indispensables para la construcción y la manutención de las estructuras de cultivo también debe ser hecho, abriendo, caso necesaria, una nueva área de mercado como forma de incentivar el crecimiento de la actividad y garantizar su sostenimiento. Maricultura; Espírito Santo; estúdio sócio-ambiental; desarrollo sustentable.

Page 21: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

INTRODUÇÃO

Em julho de 1998, através do Departamento de Ecologia e Recursos Naturais

(DERN) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), inseria-me como bolsista de

iniciação científica no programa Brazilian Mariculture Linkage Program (BMLP)37.

O programa, financiado pela Canadian International Development Agency (CIDA),

contou com a parceria de três universidades canadenses (University of Victoria; University

of Malaspina e Memorial University) e cinco brasileiras (Universidade Federal de Santa

Catarina - UFSC; Universidade Federal do Espírito Santo - UFES; Universidade Federal da

Bahia - UFBA; Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN e Universidade

Federal do Maranhão - UFMA), dentre outras instituições, para a implantação e o

desenvolvimento de projetos de pesquisa e de transferência de tecnologia na área da

maricultura38.

O objetivo geral do programa era minimizar as diferenças socioeconômicas entre os

Estados do Norte (entenda-se região nordeste) e do Sul (entenda-se regiões sudeste e sul)

do Brasil, fortalecendo o capital de recursos humanos no país, através da transferência de

tecnologia para o desenvolvimento da maricultura (BMLP, 1998).

A apreensão da técnica pelas comunidades indígenas e tradicionais, como a dos

“pescadores artesanais”39 (comunidade alvo do programa), permitiria à essas comunidades

a exploração sustentável, dos recursos marinhos da costa brasileira, possibilitando-lhes, o

desenvolvimento de uma nova fonte de emprego e renda.

37 Programa bilateral, Brasil-Canadá. 38 Ramo da aqüicultura responsável pelo cultivo de organismos marinhos, com fins comerciais (Vinatea-Arana, 1999). Dividida em malacocultura: cultivo de moluscos (mitilicultura – mexilhões; ostreicultura – ostras), carcinicultura marinha: cultivo de camarões marinhos, entre outras. 39 “[...] [que] praticam a pequena pesca, cuja produção é em parte consumida pela família e em parte comercializada, [com] unidade de produção [...] familiar [...]” (Diegues & Arruda, 2001, p. 49).

Page 22: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Os Estados selecionados para fazer parte desse programa foram: Santa Catarina,

escolhido para coordenar o programa no Brasil, pelo fato de desenvolver a malacocultura

desde o início da década de 80 e os Estados do Espírito Santo, Bahia, Rio Grande do Norte

e Maranhão.

O Estado do Espírito Santo foi inserido no BMLP, apesar de não pertencer à região

nordeste, pois desde o final da década de 80 e início da década de 90, esforços para a

implantação da maricultura vinham sendo realizados, no município de Piúma, numa

parceria entre a, extinta, Superintendência de Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE), o

Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE-ES), a Prefeitura Municipal de

Piúma e a Escola de Pesca de Piúma (ESCOPESCA).

Além disso, o Biólogo Humberto Ker, sócio do Centro de Tecnologia em

Aqüicultura (CTA), terminava os seus estudos de mestrado em Aqüicultura na UFSC e

com o apoio do SEBRAE-ES, iniciava no Estado a implantação de projetos de fazendas de

cultivo de peixes (piscicultura), camarões (carcinicultura), rãs (ranicultura), mexilhões

(mitilicultura) e ostras (ostreicultura).

Esses fatores chamaram a atenção dos coordenadores do BMLP, que decidiram

então inserir o Espírito Santo como um dos Estados a ser contemplado com a implantação

do programa.

Iniciado, em março de 1997 e com encerramento previsto para o ano de 2001,

prorrogado até 2002, o programa, de cunho assistencialista, envolveu no Estado do Espírito

Santo, duas instituições, a UFES e o CTA. A UFES era responsável pela realização de

pesquisas de monitoramento ambiental dos “parques de cultivo” e da viabilidade das

espécies cultivadas (acompanhamento do crescimento, engorda e tempo de cultivo).

Também estava previsto que essa instituição seria responsável pela realização do

levantamento de dados socioeconômicos das comunidades envolvidas na exploração dos

“parques de cultivo”. O CTA era responsável pela realização dos trabalhos de extensão, ou

seja, da transferência da tecnologia para as comunidades alvo e de prestar assistência

técnica aos maricultores.

A UFES, assim como as demais Universidades envolvidas no programa, recebeu

equipamentos e verba para a contratação de bolsistas de iniciação científica e para os

gastos com o desenvolvimento dos trabalhos de campo, viabilizando dessa forma a

realização das pesquisas.

Page 23: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Os técnicos do CTA iam a campo (locais escolhidos para a implantação dos

projetos), ensinar às pessoas envolvidas no programa, a implantar e a manejar uma fazenda

de cultivo, cabendo-lhes a tarefa de prestar assistência técnica, quanto à resolução de

problemas decorrentes da inexperiência das comunidades em relação à utilização da

técnica.

O projeto, com duração limitada, previa que após o período de apreensão da

técnica, essas pessoas seriam capazes de manejar uma fazenda de cultivo, tornando-a

rentável.

O CTA, através do BMLP, executou projetos de extensão e prestou assistência

técnica às comunidades dos municípios de Conceição da Barra (Fazenda de Cultivo de

Ostras de Conceição da Barra), Aracruz (Fazenda de Cultivo de Ostras e Mexilhões de

Santa Cruz) e Guarapari (Fazendas de Cultivo de Mexilhões de Guaibura e de Perocão)

(Figura 1).

Através do BMLP foram promovidos cursos, como o de “Monitoramento da

contaminação bacteriana e viral dos moluscos bivalves e das águas de cultivo”, realizado

em maio de 2000, pelo DERN/UFES, cujo público alvo eram os técnicos envolvidos no

programa e demais interessados no assunto, além do curso de “Construção de estruturas de

cultivo e lanternas”, realizado no ano de 2001 e ministrado por um maricultor de Santa

Catarina, cujo público alvo eram os maricultores dos “parques de cultivo” de moluscos de

Santa Cruz, Guaibura e Perocão.

O “parque de cultivo” de moluscos de Santa Cruz, inicialmente, era explorado40

pelos índios tupiniquins, que cultivavam a ostra do mangue (Crassostrea rhizophorae) em

estruturas de cultivo do tipo balsa flutuante, no Rio Piraquê-açu em Santa Cruz,

Aracruz/ES. Esse cultivo, realizado no período de 1994 a 1995, contou com o apoio do

SEBRAE/ES, da Prefeitura Municipal de Aracruz e da ESCOPESCA.

Com a “desistência”41 dos índios, a balsa foi transferida para o estuário do Rio

Piraquê-açu e o cultivo passou a ser explorado comercialmente, no ano de 1996, pelos

pescadores artesanais pertencentes à colônia de pesca de Santa Cruz.

40 Não foram obtidas informações sobre o tipo de exploração realizada, se para fins comerciais ou para consumo próprio. 41 A categoria desistência foi utilizada pelos maricultores de Santa Cruz para justificar o desligamento dos índios do projeto e a transferência da balsa para o novo local de cultivo. A causa dessa “desistência”, se é que se trata de uma desistência, não foi averiguada pela autora.

Page 24: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Os pescadores de Santa Cruz, interessados no desenvolvimento da atividade, se

organizaram e fundaram a Associação de Maricultores de Santa Cruz da qual o Sr. Pedro

Melo (pescador artesanal e maricultor) é o presidente42 (informação verbal) 43.

1

3 Conceição da Barra

2

3

4

5

67

LEGENDA

4 Aracruz5 Guarapari6 Anchieta7 Piúma

2 Espírito Santo1 Brasil

Cultivo de Ostra NativaCultivo de Mexilhão

Limite norte de ocorrência do mexilhão P. perna no Brasil

Cultivo de Mexilhão e Ostra Japonesa

Andrés Berrio, 2004

Figura 1 – Mapa da área de estudo, destacando os municípios que praticam a maricultura com fins comerciais no Estado do Espírito Santo e o limite Norte de ocorrência da espécie de mexilhão Perna perna no Brasil.

42 Em fevereiro de 2003. 43 Sr. Pedro Melo, comunicação pessoal à autora em 19 fev. 2003, em Santa Cruz/ES.

Page 25: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Os maricultores de Santa Cruz, continuaram a produzir a ostra do mangue (C.

rhizophorae) e devido à transferência da balsa para uma região estuarina, com maior

salinidade do que a encontrada na região anterior, diversificaram o cultivo, passando a

produzir juntamente com a ostra do mangue, cultivos experimentais de mexilhão (Perna

perna) e de sururu do mangue (Mytela falcata). Essas espécies não poderiam ser cultivadas

na região anterior devido a baixa salinidade encontrada no local.

Durante o período de 1998 a 2001 foram realizadas, pela UFES, seis pesquisas no

“parque de cultivo” de moluscos de Santa Cruz: 1) “Recrutamento de larvas de

Crassostrea rhizophorae, Mytela falcata e Perna perna em substratos naturais e artificiais

no estuário do Rio Piraquê-açu (Aracruz, ES)”44; 2) “Cultivo experimental de Crassostrea

rhizophorae no estuário do Rio Piraquê-açu (Aracruz, ES)”45; 3) “Cultivo experimental de

Mytela falcata no estuário do Rio Piraquê-açu (Aracruz, ES)”46; 4) “Estudos sobre o

fouling em cultivo de moluscos bivalves no estuário do Rio Piraquê-açu (Aracruz, ES)”47;

5) “Avaliação de parâmetros físico-químicos da coluna d’água em áreas de cultivo de

moluscos bivalves no estuário do Rio Piraquê-açu (Aracruz, ES)”48 e 6) “Cultivo

experimental da ostra do mangue Crassostrea rhizophorae”49. Além disso, foi realizado

com o apoio da UFES e do BMLP, um trabalho acadêmico para o Centro Federal de

Educação Tecnológica do Espírito Santo (CEFET-ES), intitulado: “Avaliação dos padrões

e critérios microbiológicos de coliformes para fins de cultivo de bivalves. Estudo de caso:

Parque de Cultivo de Santa Cruz”50.

No município de Guarapari, o cultivo de mexilhões P. perna teve início nos

“parques de cultivo” de Meaípe e de Perocão no ano de 1997 através de um projeto do

SEBRAE/ES, com o financiamento do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social

(BANDES) e com o apoio da Prefeitura Municipal de Guarapari e do CTA através do

SEBRAE/ES. No período de 2000 a 2001, contou com o apoio da UFES através do

convênio firmado entre BMLP/UFES/CTA. Com a desativação do “parque de cultivo” de

Meaípe, em 1999, os quatro módulos de cultivo (long lines) existentes no local, foram

transferidos para a localidade de Guaibura.

44 Responsáveis: Rosebel Cunha Nalesso e Maria Alciele Fargi Vasconcellos 45 Responsáveis: Rosebel Cunha Nalesso e Luciana Alvarenga 46 Responsáveis: Rosebel Cunha Nalesso e Karla Gonçalves da Costa 47 Responsáveis: Rosebel Cunha Nalesso e Bianca Alvarenga 48 Responsáveis: Gilberto Fonseca Barroso e Federica Natasha Ganança Abreu dos Santos Sodré 49 Responsáveis: Gilberto Fonseca Barroso e Maria Alciele Fargi Vasconcellos 50 Responsáveis: Gilberto Fonseca Barroso e Emannuel Bersan Pinheiro

Page 26: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

No “parque de cultivo” de Guaibura, no período de agosto de 2000 a outubro de

2001, foram realizados, através do DERN/UFES, com o apoio do BMLP, dois projetos de

pesquisas do curso de especialização em Ecologia e Recursos Naturais: 1) “Avaliação da

qualidade ambiental e crescimento do mexilhão Perna perna (Linné, 1758) no parque de

cultivo de moluscos bivalves de Guaibura, Guarapari – ES”51 e 2) “Jogo didático: uma

possibilidade de educação ambiental com maricultores”52. Além disso, uma lanterna

berçario53, com sementes de ostra nativa, Crassostrea rhizophorae, foi colocada de forma

experimental no local de cultivo com a finalidade de verificar a viabilidade do cultivo

comercial da mesma no local. Em Guaibura, também foi desenvolvido um projeto de

pesquisa de mestrado através do programa de Pós-graduação em Ciências do Instituto de

Biociências da Universidade de São Paulo (USP), no período de novembro de 2000 a

janeiro de 2002, sobre a “Fixação de jovens de Perna perna (Bivalvia, Mytilidae) em

coletores artificiais no Parque de Cultivo de Guaibura, Guarapari/ES – Brasil”54.

Em julho de 2001, foi realizado no local, o evento “Conversando e aprendendo com

a maricultura”55. Esse evento contou com palestras (“Cultivo de sururu”, “Cultivo de

ostras”, “Qualidade ambiental da água dos ‘parques de cultivo’ e aspectos sanitários”),

atividades de investigação com o microscópio (“O alimento do sururu e das ostras:

investigando a água com o microscópio”), além de jogos e brincadeiras (“A educação

ambiental e a qualidade de vida dos maricultores”) e teve como público alvo os

maricultores do “parque de cultivo” de mexilhões de Guaibura, Guarapari/ES.

Do despertar à inquietação – hipótese e objetivos

Durante os 40 meses que fiz parte do BMLP, pude perceber que algumas de suas

metas não haviam sido alcançadas no Estado do Espírito Santo. Intrigada com o fato do

que poderia estar ocorrendo com a maricultura no Estado, e em particular com a

mitilicultura, uma vez que os dados obtidos nas pesquisas de monitoramento ambiental e

de crescimento e engorda dos mexilhões, de uma forma geral, eram satisfatórios para o 51 Responsável: Federica Natasha Ganança Abreu dos Santos Sodré 52 Responsável: Therezinha de Jesus Chanca Lovat 53 Lanterna é o tipo de estrutura utilizada para o cultivo de ostras. Geralmente se utiliza três tipos de lanternas na ostreicultura: berçário, intermediária e final, de acordo com o tamanho (altura) das ostras. A lanterna berçário possui uma malha de 1mm, acondicionando sementes que variam de 7 a 10mm de altura. 54 Responsável: Laura Buitrón Vuelta 55 Organizadores: Gilberto Fonseca Barroso; Federica Natasha Ganança Abreu dos Santos Sodré; Ricardo Luis Gomide e Therezinha de Jesus Chanca Lovat.

Page 27: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

cultivo da espécie, comecei a suspeitar que os problemas poderiam estar além das questões

ambientais, tecnológicas ou de mercado. Visto que o Espírito Santo, além de possuir

ambientes com qualidade ambiental compatível ao desenvolvimento da atividade, ainda

apresenta outros pontos positivos como a ocorrência de bancos naturais da espécie e a

culinária típica local que utiliza o mexilhão em muitos de seus pratos.

Essa reflexão, instigada pelos resultados obtidos através das pesquisas realizadas

pela UFES, e principalmente pelo contato com os pescadores enquanto estes me

auxiliavam no trabalho de campo, fez com que a partir dos relatos de suas insatisfações,

necessidades e problemas enfrentados para dar continuidade à atividade, fosse construída

uma hipótese centralizada no fato de que as técnicas de divulgação, implantação e gestão

da mitilicultura no Estado do Espírito Santo, não são eficazes nos quesitos envolvimento e

permanência da comunidade alvo na atividade.

Os “parques de cultivo”, por mim estudados, estão localizados nos municípios de

Guarapari (“parques de cultivo” de Perocão e de Guaibura); Anchieta e Piúma (Figura 2).

Esses “parques” foram escolhidos por terem sido os pioneiros na atividade, apresentarem

características socioeconômicas distintas, possuírem produção comercial do mexilhão P.

perna e terem sido objeto de estudo de diversas pesquisas já realizadas (Barroso et al,

2000; García-Prado, 2000; Sodré, 2001; Alvarenga, 2002; Lovat, 2002; Buitrón-Vuelta,

2002; Rocha, 2003) e em andamento (Costa56; García –Prado57; Sá58) (ANEXO 1).

Além das diferenças políticas, sociais e econômicas, que envolvem os “parques de

cultivo” escolhidos, estes apresentam características ambientais distintas (García-Prado,

2000; Sodré, 2001; Rocha, 2003) (ANEXO 2), que permitem o crescimento diferenciado

do mexilhão (ANEXO 3).

56 “Impacto da maricultura na comunidade macrobentônica do sedimento”. 57 “Comparação entre o crescimento das ostras Crassostrea gigas e Crassotrea rhizophorae”. 58 “Influência do fouling no crescimento e biomassa dos mexilhões, e a caracterização da comunidade incrustante do cultivo na Praia do Coqueiro”.

Page 28: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

LEGENDA

3 Anchieta

4 Piúma

2 Guarapari1 Espírito Santo

1

2

3

4

A Parque de Cultivo de Perocão - Praia da Cerca

B Parque de Cultivo de GuaiburaC Parque de Cultivo de Anchieta - Praia do Coqueiro

D Parque de Cultivo de Piúma - Ilha dos Cabritos

D

B

C

A

Andrés Berrio, 2004

Figura 2 – Mapa da área de estudo com a localização dos principais “parques de cultivo” de mexilhões no Estado do Espírito Santo.

Page 29: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

O objetivo geral, da presente dissertação é descrever a implantação da mitilicultura

nos “parques de cultivo”, localizados nos municípios, de Guarapari, Anchieta e Piúma, no

Estado do Espírito Santo, levando-se em consideração os aspectos social, ambiental e

econômico inerentes à atividade e característicos de cada “parque”. Tendo como objetivos

específicos:

a) o levantamento dos principais desafios e deficiências da atividade em cada

município;

b) a descrição e a comparação do desenvolvimento da atividade nos diferentes

“parques de cultivo” e a participação dos maricultores em cada um deles;

c) a criação de um Índice de Desenvolvimento da Atividade de Mitilicultura

(IDAM) para cada “parque de cultivo”;

d) a verificação da influência do IDM no desenvolvimento e na sustentabilidade da

mitilicultura no município; e

e) a análise do índice criado (IDAM) e suas implicações como parâmetro para a

comparação do desenvolvimento da mitilicultura em diferentes “parques de cultivo”.

Apresentação

O primeiro capítulo, apresenta a maricultura e destaca a sua importância como uma

atividade alternativa para a produção de alimentos ricos em calorias e proteína animal para

alimentação humana e como possível fonte alternativa de emprego e renda aos pescadores

tradicionais, pressionados econômica e socialmente pelo declínio da pesca.

O segundo capítulo apresenta um breve histórico da aqüicultura no mundo e suas

principais dificuldades de implantação e desenvolvimento no Brasil.

No terceiro capítulo são apresentadas as metodologias utilizadas na obtenção dos

dados em campo e na escolha dos parâmetros e indicadores utilizados na construção do

IDAM, bem como o cálculo desse índice.

O quarto capítulo apresenta a área de estudo, através da caracterização geográfica,

histórica e socioeconômica dos municípios estudados. Nesse capítulo, também é

apresentado o IDM59 de cada município estudado e os índices que o compõe.

59 Índice criado pelo Instituto de Apoio à Pesquisa e ao Desenvolvimento Jones dos Santos Neves - IPES (órgão do Estado do Espírito Santo), que engloba as questões socioeconômicas dos municípios.

Page 30: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

O quinto capítulo apresenta o diagnóstico socioambiental dos “parques de cultivo”

estudados. Esse diagnóstico foi construído a partir dos dados levantados em campo e da

revisão bibliográfica. Nesse capítulo, apresentamos o histórico da atividade nos municípios

de Anchieta, Guarapari e Piúma, as dificuldades para implantação e gestão dos “parques de

cultivo”, as espécies cultivadas, os atores envolvidos e o apoio recebido. A partir dessas

informações, é traçado um perfil dos maricultores dos “parques de cultivo”.

No sexto capítulo são apresentados os dados do IDAM dos “parques de cultivo”

estudados e do IDM-ES e de seus indicadores. Os dados utilizados para a construção do

IDAM foram obtidos através do trabalho de campo e da revisão bibliográfica, enquanto

que os dados do IDM foram obtidos através da revisão bibliográfica.

No sétimo capítulo são analisadas a partir do diagnóstico socioambiental, as

principais características dos “parques de cultivo” estudados, as dificuldades enfrentadas

pelos maricultores para o desenvolvimento desses “parques” e as possíveis causas dessas

dificuldades. Além disso, analisamos a importância do fortalecimento dos indicadores

utilizados na construção do IDM-ES dos municípios estudados para a sustentabilidade e o

desenvolvimento da maricultura. Num segundo momento, analisamos os dados obtidos

através no IDAM e de seus indicadores para os “parques de cultivo” estudados e suas

implicações.

As conclusões são apresentadas no oitavo capítulo, sob o título “a necessidade da

mudança de paradigmas”, em referência à necessidade de mudança do atual paradigma

adotado na implantação e gestão de muitos projetos de maricultura no Estado do Espírito

Santo. No final do capítulo são apresentadas as considerações finais visando à adoção de

estratégias para o fomento, o fortalecimento e o desenvolvimento da maricultura no

Espírito Santo.

Page 31: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

1 AQÜICULTURA: UMA ALTERNATIVA À INSEGURANÇA ALIMENTAR E AOS PESCADORES TRADICIONAIS

Segundo Kliksberg (1998, p. 11), o século XX foi marcado por inúmeros

progressos no campo das telecomunicações, da microeletrônica, da biotecnologia, entre

outros, que estão revolucionando modelos conceituais e transformando os sistemas de

produção. Entretanto, iniciamos o século XXI e continua a existir um abismo entre o

potencial desenvolvido e a vida cotidiana. Os grandes avanços nas capacidades produtivas

não foram capazes de melhorar as difíceis condições de vida em diversos setores do

planeta.

A fome ou a insegurança alimentar, atinge grande parcela da população mundial

(Weid, 1997), principalmente as populações dos países em desenvolvimento como o

Brasil, não obstante o seu destaque entre os maiores produtores mundiais de soja, milho,

café, banana, arroz e ovos, entre outros.

A escassez de empregos e as baixas remunerações, decorrentes da má distribuição

de renda fazem com que grande parte da população brasileira esteja abaixo da linha da

miséria (Weid, 1997; Kliksberg, 1998), levando essa população a um estado de

insegurança alimentar e a um enfraquecimento das relações sociais.

O enfraquecimento das relações sociais é notado principalmente entre as

populações tradicionais, categoria que “está na fase inicial de sua vida e possui uma

existência administrativa: o Centro Nacional de Populações Tradicionais – CNPT/Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, criado em

1992” (Barreto Filho, 20--, p. [S.I])]. Essas populações se utilizam do conhecimento

empírico (saberes tradicionais) para a exploração da terra, dos rios ou do mar de onde

retiram os recursos naturais, indispensáveis à sua sobrevivência (Diegues, 1983; 1995).

Esses saberes são reproduzidos socialmente, através da sua transmissão às futuras

Page 32: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

gerações, garantindo o sustento alimentar e econômico dessas populações em seu território.

A exploração dos recursos naturais, que na maioria das vezes é feita de maneira

sustentável, está cada vez mais ameaçada. O rápido declínio desses recursos,

indispensáveis à sobrevivência humana produz efeitos negativos nas áreas social,

ambiental e econômica. Esse declínio, leva ao deslocamento das populações tradicionais de

seus territórios, em busca de fontes de renda alternativas capazes de proporcionar um

retorno econômico, que garanta o seu sustento (Furtado, 1993). O deslocamento dessas

populações por sua vez, ocasiona o rompimento do ciclo de transmissão desses saberes às

futuras gerações levando ao enfraquecimento das relações sociais (Prado, 2002).

Um exemplo desse rompimento é o caso dos pescadores tradicionais, que se unem

aos demais grupos que compõem a categoria populações tradicionais pelo “fato de que

tiveram pelo menos em parte uma história de baixo impacto ambiental [sem grifo no

original] e de que têm no presente interesse em manter ou em recuperar o controle sobre o

território que exploram [sem grifo no original]” (Cunha & Almeida, 2001, p. 184). Esses

pescadores, sofrem com a pobreza e a insegurança em relação ao trabalho, competindo de

maneira desigual com a pesca industrial (Prado, 2002) e representam a parte mais fraca e

vulnerável na disputa pela captura de recursos cada vez mais escassos. A sobrepesca

ameaça não somente a sobrevivência da pesca tradicional e a sustentabilidade econômica

da pesca industrial, como também a segurança alimentar (Doulman, 2003), uma vez que a

maior fonte de proteína animal para grande parte da população pobre e socialmente

desfavorecida vem do mar.

Além disso, os pescadores tradicionais têm sido alvo da alta especulação

imobiliária existente ao longo do litoral brasileiro (Diegues, 2001). O aumento dessa

especulação vem ocasionando a expulsão desses pescadores de seu território60, reflexo do

paradigma de desenvolvimento, associado ao crescimento econômico, ainda adotado no

Brasil (Holanda, 1995; Weid, 1997; Freyre, 2001).

Expulsar pescadores tradicionais de seus territórios para dar lugar ao crescimento

das cidades e ao incremento do turismo através da ocupação das áreas litorâneas por

condomínios e redes hoteleiras é economicamente viável segundo esse paradigma. Porém,

60 “lugar em que desembocam todas as ações, todas as paixões, todos os poderes, todas as forças, todas as fraquezas, isto é, onde a história do homem plenamente se realiza a partir das manifestações da sua existência. [...] [não sendo apenas] o conjunto dos sistemas naturais e de sistemas de coisas superpostas.[...][e sim] o território usado, não o território em si. [...] o chão mais a identidade. [...] [e] a identidade [...] [como] o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence”. (Santos, 19--?, pp. 7; 8).

Page 33: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

quando analisado sob o ponto de vista do desenvolvimento sustentável, é verificada a

insustentabilidade social, cultural e muitas vezes ambiental da estratégia adotada.

A perda da moradia muitas vezes vem associada à perda de saberes tradicionais e à

degradação ambiental dos “pesqueiros”61, locais que geralmente sofrem com a

contaminação gerada pelo esgoto lançado diretamente no mar ou em corpos d’água que

desembocam neste, inviabilizando a pesca. Sem a pesca tradicional o pescador passa a ser

obrigado a procurar outras fontes de renda, já que a pesca se configura tanto numa fonte de

subsistência alimentar quanto econômica do pescador e de sua família.

O aproveitamento dos pescadores tradicionais na pesca industrial leva ao

empobrecimento do conhecimento empírico desses homens sobre o mar (Prado, 2002). A

marcação62 dá lugar à utilização de equipamentos para a localização dos pesqueiros. Além

disso, a atuação desses homens na construção civil, contribui para o enfraquecimento da

tradição pesqueira (ibid.) através do “desarraigamento das comunidades [...], [e do]

abandono de práticas tradicionais de uso dos recursos” (Leff, 1998, p. 90). Os saberes

adquiridos pelos pescadores mais antigos e mais experientes não são passados para os mais

jovens (Diegues, 1983, 1995; Maldonado, 1993; Prado, 2002). A deterioração cultural

ocasionada é incalculável e o aproveitamento desses saberes imprescindível.

Tanto, a insegurança alimentar quanto a erosão cultural causadas pelo paradigma de

desenvolvimento adotado no Brasil, tornam urgente a sua mudança.

1.1 A adoção de uma nova estratégia Para Weid (1997, p. 21), “romper com o atual padrão de desenvolvimento e

democratizar a economia significa uma mudança radical do atual sistema político-

econômico-social dominante no país”.

Kliksberg (1998, p. 21), questiona o papel e a estrutura do Estado para esse

enfrentamento, chamando a atenção para a renovação do conteúdo da agenda no campo

social, no mundo em desenvolvimento, criticando o modelo do “derrame”, no qual a idéia

central é a de que

61 “Lugar que serve para comedouro, viveiro ou abrigo para peixes”. (Ferreira, 1999, p. 1.556). 62 “prática social ligada à territorialidade, conceito que informa fundamentalmente o conhecimento marítimo e as outras práticas que a ele se associam na construção do horizonte de relacionamento das sociedades pesqueiras com o real. [...] dividindo o mar em zonas de pesca, mares, bancos de peixe, pesqueiros, ‘pedras’ e ‘grounds’”. (Maldonado, 1993, p. 98).

Page 34: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Realizando enormes sacrifícios para alcançar metas de caráter macroeconômico que impliquem equilíbrios econômicos e financeiros, haverá progresso econômico e, finalmente, este se “derramará” para o conjunto da população e chegará aos setores mais pobres, arrancando-o de sua situação de pobreza “dura”.

Esse modelo simplista é facilmente substituível pelo conceito de desenvolvimento

sustentável63, que a partir da adição do termo sustentável, amplia o conceito de

desenvolvimento64, pela incorporação, entre outras, de questões sociais, ambientais e

políticas, expandindo o desenvolvimento para além das questões econômicas. Não pelo

modelo do derrame, uma vez que o caminho para o desenvolvimento e redução das

desigualdades sociais é muito mais complexo. Mas sim pela integração dos campos que lhe

dão sustentação (social, cultural, ambiental, político,...). (Redclift, 1987; Sachs, 200-).

Diegues (2001, p. 40), chama a atenção de que

Esse novo paradigma a ser desenvolvido se baseia, antes de tudo, no reconhecimento da existência de uma grande diversidade ecológica, biológica e cultural entre os povos que nem a homogeneização sociocultural imposta pelo mercado capitalista mundial, nem os processos de implantação do “socialismo real” conseguiram destruir.

A inseparabilidade entre sociedade e meio ambiente é um dos desafios na adoção

do desenvolvimento sustentável (Acselrad, 2000). Devido a essa inseparabilidade, a

implantação de atividades extrativistas ou de cultivo junto à populações tradicionais deve

ser acompanhada por estas, e toda e qualquer decisão deve ser tomada com a ajuda dessas,

não somente no processo de implantação, mas também nas etapas de elaboração e de

gestão da atividade, uma vez que essas populações experimentam uma relação mais

próxima com a natureza e são atores indispensáveis às etapas de gerir e gestar do projeto.

Os saberes tradicionais devem ser respeitados e aproveitados. A comunidade deve

ser ouvida, treinada e orientada. Um modelo de desenvolvimento no qual as comunidades

técnico-científica e tradicional se entendem e se complementam tende ao sucesso,

enquanto que modelos nos quais há a exclusão de um desses atores sociais tendem ao

fracasso. “A articulação entre os processos tecnológicos, ecológicos e culturais determina

as formas de apropriação e transformação da natureza e gera uma produtividade

ecotecnológica sustentável”. (Leff, 2001, p. ). 63 Aquele capaz de satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras satisfazerem as suas. (CMMAD, 1991). 64 “Crescimento econômico, especialmente quando acompanhado por modificações na estrutura produtiva do país ou região, como a industrialização”. (Ferreira, 1999, p. 650).

Page 35: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Às políticas públicas, cabe o papel da “amarração” dos interesses dos diversos

segmentos que compõem a questão ambiental. Fazer o papel de mediador, regulamentador

e legitimador da prática do desenvolvimento sustentável extrapola os limites do conceito

estanque de que a questão ambiental é fundada nas questões ecológicas, na inovação de

tecnologias limpas, reciclagem e internalização das externalidades dos processos

econômicos. Questões culturais, étnicas e regionais, estão diretamente relacionadas à

questão ambiental tanto quanto as anteriores. A prática do desenvolvimento sustentável

dependerá muito mais desses fatores do que de políticas engessadas, de massificação e que

levem em conta apenas os conceitos econômicos e/ou ecológicos.

1.2 A falência de dois sistemas de obtenção e produção de alimentos: pesca predatória e agricultura moderna

As estratégias para obtenção e produção de alimentos variam desde a atuação de

populações tradicionais que exploram ambientes marinhos, costeiros e/ou continentais

através do extrativismo ou de pequenos cultivos até a exploração pelas indústrias. No

primeiro caso a exploração dos ecossistemas ocorre, na maioria das vezes, de forma

sustentável ambientalmente e socialmente e é feita para obter os alimentos necessários à

garantia do sustento de quem explora e de sua família (Diegues e Nogara, 1999). No

segundo caso esses mesmos ambientes são explorados economicamente, na maioria das

vezes, de forma insustentável ambiental e socialmente.

A superexploração dos recursos naturais está levando à escassez dos mesmos e à

sua extinção, ameaçando a qualidade de vida da população mundial. A adoção de políticas

públicas que incorporem o conceito de desenvolvimento sustentável na regulação das

atividades extrativistas e de cultivo e na formulação e implantação de alternativas

sustentáveis em substituição a antigos modelos de exploração insustentáveis ambiental e

socialmente, torna-se necessária.

Page 36: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

1.2.1 A exploração do ambiente costeiro A ocupação dos ecossistemas costeiros é muito antiga65 e vem se intensificando

desde a colonização do Brasil66, devido à facilidade para o escoamento dos produtos

obtidos pelo extrativismo (Holanda, 1995; Silva, 2000), pela grande produtividade desses

ecossistemas, pela facilidade na obtenção de alimentos (Gaspar, 2000) e pela especulação

imobiliária (Silva, 2000; Diegues, 2001). Cerca de 22% da população brasileira ocupa

ecossistemas costeiros (JS, 2003) e tem na pesca sua principal fonte de renda, tornando

essa atividade importante do ponto de vista econômico, social e cultural. A ocupação

desordenada do ambiente associada à facilidade de obtenção de alimentos pode levar à

degradação ambiental e à exaustão de muitos recursos aí existentes, como vem

acontecendo em diversos estuários e manguezais do Brasil (Schaeffer-Novelli, 1989;

Figuti, 1994).

Realizada como atividade econômica, desde o período colonial, a pesca teve

políticas públicas voltadas para a sua regulamentação (a partir dos anos 30) e incentivo da

atividade (a partir dos anos 60) (Abdallah & Castello, 2003), sendo que poucos esforços

foram direcionados para o levantamento dos estoques pesqueiros (ibid.), não obstante a

baixa produtividade pesqueira da costa brasileira (JS, 2003), quando comparada a outros

países como o Peru.

A produção pesqueira marinha estimada, para o ano de 2000, nos diversos Estados

da costa brasileira, aponta uma contribuição da pesca artesanal acima de 49% na produção

total do pescado, principalmente nos Estados do Pará, Maranhão e Bahia e uma tímida

contribuição da malacocultura67, nos Estados do Maranhão, Espírito Santo, Rio de Janeiro,

Paraná e Santa Catarina (TABELA 1).

65 “[...] a ocupação da costa [brasileira] por pescadores e coletores que se instalaram na faixa litorânea [ocorreu] por volta de 6.500 anos AP”. (Gaspar, 2000, p. 8). 66 “Cerca de 80% da população mundial vive nas ou próximo às zonas costeiras, rios e estuários que alimentam essas zonas”. (Diegues, 2001 p. 89). 67 Esses dados não correspondem ao volume total produzido, uma vez que muitos maricultores não estão registrados junto ao IBAMA, órgão responsável pelo levantamento da produção aqüícola brasileira.

Page 37: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Tabela 1 - Contribuição das pescas artesanal e industrial e da malacocultura no volume total do pescado obtido no Brasil, no ano de 2000.

Produção Sigla do Estado Artesanal (t) % Industrial (t) % Total (t) Mexilhão (t) % Ostra (dz) % Vieira (dz) %

AP 3.628 1,57 0,00 3.628 PA 63.813 27,66 37.705 15,91 101.518MA 40.131 17,39 0,00 40.131 144.000 14,10CE 11.546 5,00 2.665 1,12 14.211PI 1.940 0,84 0,00 1.940RN 8.305 3,60 3.333 1,41 11.639PB 2.621 1,14 10.168 4,29 12.789PE 5.383 2,33 56 0,02 5.439AL 7.712 3,34 0,00 7.712SE 3.881 1,68 0,00 3.881BA 38.688 16,77 460 0,19 39.148ES 8.063 3,49 5.160 2,18 13.223 3001 24,01 14.000 1,37RJ 12.899 5,59 47.982 20,25 60.881 10.000 100,00 SP 3.339 1,45 24.553 10,36 27.892 1502 12,02 35.000 3,43 PR 1.514 0,66 0,00 1.514 66.000 6,46SC 6.967 3,02 71.042 29,98 78.009 11.364,85 90,92 762.426 74,64 RS 10.296 4,46 33.830 14,28 44.126

Expectativa 12.500 1.300.000 10.000TOTAL 230.726 236.956 467.687 12.500 1.021.426 10.000

1) mexilhões na concha 2) produção: 1/3 – cultivo; 2/3 - extrativismo Fonte adaptada: IBAMA (2000 apud JS, 2003); Panorama (2001); Proença (2001).

Page 38: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Os incentivos políticos e financeiros para a industrialização da atividade que

tornaram os meios para obtenção do pescado mais eficientes, porém pouco seletivos,

levando à sobrepesca (Lima & Pereira, 1997), resultou, entre outros, na redução do valor

da produção pesqueira e no nível de emprego (Abdallah & Castello, 2003), agravando os

conflitos entre pescadores tradicionais e industriais (Isaac, 2000) e no deslocamento de

grupos humanos inteiros para outras regiões (Silva, 2000).

A reprodução social das populações de pescadores artesanais principalmente das

regiões Norte e Nordeste do Brasil, regiões que representam mais de 80% da produção da

pesca artesanal no país (TABELA 1), depende de práticas de manejo sustentável

empregadas na captura dos recursos marinhos, garantindo à essas populações uma fonte de

renda e de alimento e a perpetuação das práticas de captura tradicionais.

Lópes (2000, p. 18), chama a atenção para o capital humano na pesca pois “se trata

de un proceso productivo en el cual el factor humano no puede ser secundario en la

sustentabilidad de un ecosistema costero que han manejado de alguna forma por

generaciones y con escaza capacitación y educación pertinente”.

Uma gestão pesqueira eficiente visando à recuperação de estoques sobre-

explorados, torna necessária à diminuição do esforço de pesca e ao estabelecimento de

áreas de proteção marinha (Abdallah & Castello, 2003), além do redirecionamento dos

investimentos para sistemas alternativos de produção, como a aqüicultura sustentável

(ibid.; JS, 2003), consolidando uma nova estratégia/política de desenvolvimento pesqueiro,

baseada: “no crescimento econômico, no aumento da oferta de emprego, no aumento da

produtividade, na igualdade social e na sustentabilidade ecológica” (Isaac, 2000, p. 43).

1.2.2 A exploração da terra

A agricultura brasileira viabiliza calorias e proteínas suficientes para alimentar toda

a sua população. O problema é que grande parte do que é produzido é exportado e não

consumido localmente (Weid, 1997). Além disso, tanto os sistemas tradicionais quanto os

modernizados têm se mostrado incapazes de produzir alimentos a preços acessíveis à

população brasileira.

Com uma visão em grande parte contrária à exposta por Weid, que afirma que o

problema está na má-distribuição do que é produzido, Goodland (1997, p. 273), sugere que

o aumento no número de pessoas no mundo que carecem de uma alimentação suficiente

Page 39: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

107

para um mínimo de funcionamento do metabolismo e a queda da produção mundial de

grãos vem comprometendo a segurança alimentar, sendo necessária à triplicação da

produção de alimentos nos próximos cinqüenta anos.

A visão pessimista quanto ao atual panorama da oferta de alimentos no mundo leva

o autor a formular três hipóteses e optar por uma delas para a solução desse problema: 1)

expansão das áreas de cultivo, refutada devido ao fato de que existem hoje, poucas áreas

agrícolas ociosas no mundo; 2) intensificação das áreas cultivadas existentes, descartada

devido ao fato de que poucas soluções técnico-científicas foram apresentadas até o

momento para a solução desse problema e 3) escolha de cereais para alimentar pessoas e

não gado, como vem sendo feito. O autor opta por essa terceira hipótese, justificando que

“comer embaixo na cadeia alimentar melhoraria a saúde e a oferta de comida” (ibid., p.

275). Nesse ponto (“escolha de cereais para alimentar pessoas e não gado”), verificamos

uma correspondência com a opinião de Weid (1997), quanto à má distribuição dos

alimentos produzidos.

Acrescento a essas três hipóteses, visando a diminuição da pressão sobre os

estoques pesqueiros marinhos e paralelamente o aumento da produção de alimentos, a

opção da aqüicultura. A pesca extrativista está em declínio no mundo (FAO, 1997) e os

impactos ambientais gerados pela agricultura intensiva podem levar à insustentabilidade

ambiental (Weid, 1997) e econômica da atividade, devido à degradação, por exemplo, do

solo e à contaminação das águas por adubos químicos.

1.3 A aqüicultura

Como atividade alternativa ao fornecimento de calorias e proteína animal para

consumo humano (ANEXO 4), a aqüicultura, e na presente dissertação, a mitilicultura,

vem atender à demanda comercial por alimentos, contribuindo para a segurança

alimentar107 e à preservação dos estoques naturais para as gerações futuras proporcionando

o cultivo intensivo dos mexilhões (Brandini et al, 2000).

107 Segurança alimentar é definida como o “acesso físico e econômico, por todas as pessoas a qualquer momento, à comida básica que elas necessitam” (Williams, 1997, p.15 apud AGROVAC, definição da FAO usada por AGRIS), incluindo estabilidade, sustentabilidade e previsibilidade de suprimento de comida, eqüidade através do acesso (produção e/ou poder de compra) para todos e qualidade incluindo adequabilidade nutricional para a garantia da vida. Além disso, Williamns (1997 apud Speth, 1993), afirma que a segurança alimentar sustentável, “funde os objetivos da segurança alimentar e da agricultura sustentável, incluindo [os

Page 40: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

108

Igualmente, essa tecnologia pode ser considerada sustentável por possuir uma das

mais baixas taxas de exigência de energia industrial por proteína produzida (Vinatea-

Arana, 1999), além de incorporar em diversas fases de sua atividade, famílias de

pescadores tradicionais, gerando novos empregos e proporcionando-lhes uma alternativa

de renda, podendo aumentar a qualidade de vida das famílias envolvidas e apresentando o

potencial de fortalecer as relações familiares (Pillay, 1992; Vinatea-Arana, 1999; Srinath et

al, 2000).

A coleta de moluscos, base da dieta alimentar de populações nômades que viviam

no litoral do Brasil há cerca de 6.500 anos AP (Gaspar, 2000), é até hoje uma prática

extrativista comum em muitos Estados brasileiros, utilizada como fonte de renda de muitas

famílias. A maricultura, entretanto é uma atividade recente no Brasil (Vinatea-Arana,

1999), iniciada com fins comerciais no Estado de Santa Catarina na década de 80 (séc.

XX) (Poli & Littlepage, 1998). No Estado do Espírito Santo a atividade vem crescendo108,

não obstante, sua produção em “parques de cultivo” seja ainda baixa se comparada a outros

Estados brasileiros como Santa Catarina, pioneiro na atividade.

A manutenção e a expansão dos “parques de cultivo” conflitam com o

desenvolvimento do turismo local e com a expansão imobiliária (Stephenson, 1990). Essas

duas atividades contribuem como potenciais fontes de poluição ambiental, colocando em

risco a sustentabilidade ambiental da maricultura, uma vez que esta necessita de ambientes

isentos de contaminação (José, 1999; Curtius et al., 2003) e com uma boa disponibilidade

de alimentos (Ronbinson & Horzepa, 1988; Phillips, 1998; Barroso et al, 2000).

A maricultura é uma atividade dependente de assistência técnica e de políticas

nacionais favoráveis, que englobem os aspectos: social, ambiental, econômico e político,

tornando-a favorável, aceitável e acessível aos diversos setores da sociedade (Rosenthal &

McInerney-Northcott, 1989; FAO, 1997).

Quanto ao papel dos serviços de extensão no desenvolvimento da aqüicultura, Silva

(2001, p. 53), destaca que

Os serviços de extensão rural são fundamentais para o desenvolvimento da aqüicultura, [...] [uma vez que esta] vem sendo praticada por pequenos produtores/pescadores. [...] Os extensionistas devem atuar

aspectos citados anteriormente] e a proteção e a regeneração dos recursos naturais de base para a produção alimentar – terrestre, aquática e climática”. 108 O Estado possui, cinco principais parques de cultivo (Figura 1) e diversas áreas potenciais para a implantação da atividade conforme o relatório de Andrade et al (1996).

Page 41: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

109

respeitando a condição sócio-econômica e cultural do pescador [sem grifo no original], sem impor pacotes tecnológicos, mas sim utilizando os recursos disponíveis e estabelecendo troca de informações [...] os produtores devem participar da elaboração dos programas de extensão em aqüicultura [sem grifo no original].

A participação do maricultor na elaboração, acompanhamento, execução e

avaliação do projeto de implantação e gestão dos “parques de cultivo”, é fundamental, pois

permite a opção de técnicas adequadas à sua realidade e garante a sustentabilidade da

atividade (Srinath et al, 2000; ibid.).

O aproveitamento dos pescadores tradicionais nessa prática deve permitir a garantia

do seu “modo de vida”, a valorização de seus saberes tradicionais, o fortalecimento da

unidade familiar e relações de parentesco e a permanência do grupo em seu território.

Essas garantias devem ser asseguradas de forma a permitir a sustentabilidade social e

cultural da atividade uma vez que os pescadores tradicionais pertencem à categoria

populações tradicionais, caracterizada por Diegues & Nogara (1999, p. 81), como:

[...] culturas e sociedades tradicionais [...] [que apresentam]: a) dependência e até simbiose com a natureza, os ciclos naturais e os recursos naturais renováveis a partir do qual se constrói um “modo de vida”; b) conhecimento aprofundado da natureza e de seus ciclos que se reflete na elaboração de estratégias de uso e de manejo dos recursos naturais. Esse conhecimento é transferido de geração em geração por via oral [sem grifo no original]; c) noção de “território” ou espaço onde o grupo social se reproduz econômica e socialmente; d) moradia e ocupação desse “território” por várias gerações [sem grifo no original], ainda que alguns membros individuais possam ter se deslocado para os centros urbanos e voltado para a terra de seus antepassados; e) importância das atividades de subsistência, ainda que a produção de “mercadorias” possa estar mais ou menos desenvolvida, o que implica uma relação com o mercado; f) reduzida acumulação de capital; g) importância dada à unidade familiar, doméstica ou comunal e às relações de parentesco ou compadria para o exercício das atividades econômicas, sociais e culturais [sem grifo no original]; h) importância das simbologias, mitos e rituais associadas à caça, à pesca e atividades extrativistas; i) a tecnologia utilizada é relativamente simples, de impacto limitado sobre meio ambiente. Há uma reduzida divisão técnica e social do trabalho, sobressaindo o artesanal, cujo produtor (e sua família) domina o processo de trabalho até o produto final; j) fraco poder político, que em geral reside com os grupos de poder dos centros urbanos; k) auto-identificação ou identificação pelos outros de se pertencer a uma cultura distinta das outras.

Page 42: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

110

2 HISTÓRICO DA AQÜICULTURA

Definida, segundo o Decreto Lei n° 2.869, de 09 de dezembro de 1998, como “o

cultivo de organismos que tenham na água o seu normal ou mais freqüente meio de vida” e

retificada pelo Decreto Lei n° 4.895, de 25 de novembro de 2003, como “o cultivo ou a

criação de organismos cujo ciclo de vida, em condições naturais, ocorre total ou

parcialmente em meio aquático”, a aqüicultura surgiu no oriente, mais precisamente na

China, há cerca de 4.000 anos atrás, através do monocultivo da carpa. Cogita-se,

entretanto, a hipótese de que a atividade possa ter sido iniciada anteriormente, através do

cultivo de macroalgas marinhas, também pelos chineses (Vinatea-Arana, 1999).

Segundo Vinatea-Arana (1995), a aqüicultura está difundida há muitos anos em

diversas partes do mundo: Antigo Egito (cultivo de peixes ornamentais), Antiga Roma

(cultivo de peixes costeiros – ainda existente), Indonésia (nascimento da piscicultura

marinha – cultivo de milkfish), Continente Europeu - Idade Média – nos monastérios

religiosos (piscicultura), Japão – 1934 (nascimento da carcinicultura) e África Central –

pós Segunda Guerra Mundial (cultivo de tilápias). Sendo que os organismos, mais

cultivados, atualmente, no mundo são: peixes (53%), plantas aquáticas (24,4%), moluscos

(18,6%) e crustáceos (5%) (ibid.).

Com taxa mundial de crescimento superior a 8% ao ano, desde 1981 (Vinatea-

Arana, 1999), a aqüicultura é uma das atividades econômicas que mais tem crescido no

mundo nos últimos anos (National, 1992; FAO, 1997). No Brasil, desde 1997, esse

crescimento esteve acima dos 22%, em função das contribuições da carcinicultura e da

ostreicultura109 (Mercado da Pesca, 2004). A intensificação da atividade teve início a partir

109 A implantação e a expansão de empreendimentos de cultivo de moluscos fica suspensa no litoral Sul e Sudeste do Brasil, através da Portaria do IBAMA n° 69 de 30 de outubro de 2003, até a promulgação de ato estabelecendo os procedimentos e critérios específicos para o licenciamento ambiental da atividade.

Page 43: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

111

da década de 50, com a modernização dos meios de comunicação e de transporte, e com o

desenvolvimento da engenharia genética e da nutrição (Vinatea-Arana, 1999), sendo uma

resposta à crescente crise do pescado no mundo, uma vez que muitos estoques pesqueiros

encontram-se superexplorados.

Em 2001, a atividade contribuiu com mais de 36% (37.851.356 t) do total da

produção mundial de pescado (FAO, 2002). A China, berço da aqüicultura, é o maior

mercado consumidor e produtor de organismos aquáticos, respondendo hoje por 68,82%

(26.050.101t) da produção aqüícola mundial, ocupando o primeiro lugar no ranking

(Vinatea-Arana, 1999; Silva, 2001; FAO, 2002). O Brasil aparece em 18° lugar

respondendo por 0,55% (210.000t) dessa produção (FAO, 2002).

Vinatea-Arana (1995), acredita que a pesca será substituída pela aqüicultura da

mesma forma que a caça foi substituída pela agropecuária e a recoleção pela agricultura,

uma vez que o pescado é a fonte primária de proteína animal para diversas pessoas no

mundo, principalmente aquelas de baixa renda que vivem nas zonas costeiras, como o

pescador.

O caçador do mar poderá ter sua própria ‘revolução neolítica’, transformando-se em um eficiente cultivador do mar e, por que não, cultivador de rios, lagoas e qualquer outro corpo de água que permita a vida destes nossos caros organismos com brânquias (ibid., p. 9).

Para o autor, a atividade surgiu, impulsionada pelo franco declínio dos estoques

pesqueiros e conseqüentemente da pesca e do crescimento demográfico, como uma forma

de permitir a produção sustentável de determinadas espécies com valor econômico e

alimentício.

As principais expectativas relacionadas à atividade são as de que esta possa

contribuir significativamente para a diminuição da pobreza e para o aumento da segurança

alimentar (FAO, 1997). Seus principais desafios são a promoção de uma atividade de

cultivo legítima, de longo prazo e sustentável (ibid.).

2.1 Importância da aqüicultura

Além das vantagens relacionadas ao fato de se tratar de uma tecnologia com

relativamente baixo impacto ambiental, ser fonte de renda e emprego para segmentos da

Page 44: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

112

sociedade marginalizados, como os pescadores tradicionais, de fortalecer relações

familiares e de contribuir para o alívio da pressão sobre os estoques pesqueiros, perto de

um bilhão de pessoas tem no pescado a sua primeira fonte de proteína animal (QUADRO

1). Além disso, o pescado é hoje a quinta commodity mundial, representando 7,5% de toda

a produção mundial de alimentos e é o segundo produto na balança de importação norte-

americana, perdendo apenas para o petróleo (Chammas, 1995). Nos países em

desenvolvimento, o volume anual de pescado (60 milhões de toneladas), quase se iguala à

produção de bovinos, ovinos, suínos e aves (70 milhões de toneladas) (ibid.).

Quadro 1 – Importância do pescado, em termos percentuais como fonte primária de proteína animal ingerida.

Região % de proteína animal ingerida, representada pelo pescado

Ásia 28

África 21

Europa Oriental 10

América Latina 8

América do Norte 7

Fonte: Chammas, 1995.

2.2 A aqüicultura no Brasil

A aqüicultura no Brasil encontra-se representada pela piscicultura (cultivo de

peixes), carcinicultura (cultivo de camarões, praticado principalmente no nordeste

brasileiro), ranicultura (cultivo de rãs) e malacocultura (cultivo de moluscos, praticado

principalmente nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil) (FIGURA 3). Sendo a

malacocultura representada, pela mitilicultura (cultivo de mexilhões), ostreicultura (cultivo

de ostras) e pectinicultura (cultivo de pectinídeos, como a vieira) (FIGURA 3).

Page 45: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

113

Aqüicultura

Piscicultura Carcinicultura de água doce

Ranicultura Maricultura

Malacocultura

Ostreicultura

Mitilicultura

Pectinicultura

Carcinicultura de água salgada

Figura 3 – Ramos da aqüicultura no Brasil.

O Brasil se destaca pelo cultivo de camarões, peixes de água doce, ostras e

mexilhões (Proença, 2001). A produção nacional de ostras (ostreicultura e extrativismo) e

de mexilhões110 (mitilicultura e extrativismo), para o ano de 2000, pode ser vista no

QUADRO 2. Esse quadro também destaca a importância do Estado de Santa Catarina no

volume nacional produzido. O Estado contribuiu, no ano de 2000, com 57,62% da

produção nacional de ostras e 90,87% da produção nacional de mexilhões (Panorama,

2001).

110 Produção proveniente da malacocultura e do extrativismo, atividade que segundo Marques et al. (1991), é responsável pela oferta da maior parte dos mexilhões comercializados no Brasil.

Page 46: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

114

Quadro 2 - Produção nacional de ostras e mexilhões, no ano de 2000 e a contribuição do Estado de Santa Catarina.

Produção Ostra (dz) Mexilhão (t)

Santa Catarina 749.066 11.359

Nacional 1.300.000 12.500

Fonte: Panorama (2001)

Os Estados brasileiros que desenvolvem a maricultura são: Maranhão, Ceará, Rio

Grande do Norte, Pernambuco, Sergipe, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo,

Paraná e Santa Catarina (Panorama, 2001), e apresentam diferentes graus de

desenvolvimento da atividade, de informação sobre as espécies cultivadas e de produção.

Atual líder nacional na produção de mexilhões (Perna perna), Santa Catarina (SC)

também produz a ostra japonesa (Crassostrea gigas) e a ostra do mangue (C. rhizophorae).

O cultivo de moluscos com fins comerciais teve início no Estado, em 1989, a partir das

experiências da UFSC e da Associação de Crédito e Assistência Pesqueira de Santa

Catarina (ACARPESC) (Silva, 2001). O projeto de cunho social desenvolveu técnicas para

que o pescador artesanal pudesse obter uma renda complementar, através da produção de

moluscos, uma vez que a pesca estava cada vez mais escassa (Tecmap, 2004). Hoje em dia,

a assistência técnica prestada aos produtores é fornecida pela Empresa de Pesquisa

Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A. (EPAGRI), órgão criado em 1990

pela fusão da ARCAPESC, da Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa

Catarina (ACARESC), da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Santa Catarina

(EMPASC) e do Instituto de Apicultura de Santa Catarina (IASC) (Silva, 2001).

Santa Catarina possui cerca de 1.100 maricultores, 19 associações de maricultores e

148 áreas de cultivo demarcadas, distribuídas em 10 localidades ao longo da costa

catarinense (Proença, 2001). No ano de 2000, a contribuição do Estado, representando

mais de 90% da produção nacional de mexilhões, confirmou o sucesso da atividade, que

segundo Andreatta (2000, p. 53), é garantida pela “correta ligação entre os órgãos de

pesquisa e extensão com o meio produtivo”.

Page 47: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

115

2.3 Dificuldades para a implantação da aqüicultura no Brasil

Segundo Chammas (1995), as dificuldades para a implantação da aqüicultura no

Brasil estão relacionadas ao fato de que os caminhos a serem percorridos pelo produtor na

implantação da atividade, não são dos mais fáceis, uma vez que a legalização da atividade

é extremamente burocrática, não possui linhas de crédito para produção, e as linhas de

crédito existentes111 oferecem dificuldades para o enquadramento de compra de

equipamentos. Além disso, os produtores não conseguem isenção de impostos para seus

insumos e nem facilidades para suas importações além da falta de vontade e de poder

político do setor.

Esperamos que esse quadro seja revertido a partir da atuação da SEAP – Secretaria

Especial de Aqüicultura e Pesca, criada através da Lei n° 10.683, de 28 de maio de 2003,

onde segundo o art. 23 é de sua competência:

[...] assessorar direta e imediatamente o Presidente da República na formulação de políticas e diretrizes para o desenvolvimento e o fomento da produção pesqueira e aqüícola, [...] [promover] ações voltadas à implantação de infra-estrutura de apoio à produção e comercialização do pescado e de fomento à pesca e a aqüicultura [...] coordenar e orientar as atividades referentes às infra-estruturas de apoio à produção e circulação do pescado e das estações e postos de aqüicultura e manter, em articulação com o Distrito Federal, Estados e Municípios, programas racionais de exploração da aqüicultura em águas públicas e privadas [...]. (BRASIL, 2003b).

Outros fatores, como o grau de participação do maricultor na implantação da

atividade e a assistência técnica prestada, além das necessidades de apoio político e

financeiro, citadas por Chammas (ibid.), atuam influenciando a permanência do maricultor

na atividade e o sucesso da mesma. Os órgãos responsáveis pelo desenvolvimento da

atividade devem levar em conta esses fatores, quando da formulação de políticas e

diretrizes. Estas devem incentivar a participação dos maricultores na criação de projetos de

implantação da maricultura e investir na qualificação de técnicos, visando uma assistência

técnica participativa, integradora e voltada à realidade local.

111 Os programas nacionais de financiamento para a atividade são: Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), Programas de Apoio à Pequena Produção Familiar Rural Organizada (PRORURAL), Programa de Desenvolvimento Rural (PRODERUR), Banco do Brasil; Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), Programa de Fomento à Geração de Emprego e Renda (PROGER), Fundo de Investimentos do Nordeste (FINOR) e Fundo de Investimento da Amazônia (FINAM), entre outros.

Page 48: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

116

3 METODOLOGIA Durante o período de janeiro a fevereiro de 2003, foi realizado o trabalho de campo

nos municípios de Guarapari, Anchieta e Piúma. A metodologia adotada para o

levantamento dos dados nas comunidades foi: observação participante, entrevistas semi-

estruturadas e aplicação de questionário fechado (ANEXO 5). A minha inserção nas

comunidades ocorreu de diversas formas, descritas a seguir.

No município de Guarapari, pelo fato de já haver trabalhado em Guaibura, não

houve a necessidade de que fossem feitas apresentações. Apenas retornei ao local para

revisitar “velhos conhecidos”, contar-lhes sobre a nova pesquisa e perguntar-lhes se teriam

interesse em estar colaborando para a construção do objeto. Em Perocão, também

localizado em Guarapari, a inserção na comunidade ocorreu através de um morador e

maricultor local, com o qual já havia trabalhado em um projeto no ano de 1996.

Em Anchieta, fui apresentada a alguns maricultores pelos alunos de mestrado da

UFES que desenvolvem seus projetos de pesquisa no local (QUADRO 3). Além disso, em

contato com a Secretaria de Pesca e Meio Ambiente do município, um funcionário que

trabalha com os maricultores, se encarregou de me levar à casa do presidente da

Associação de Maricultores de Anchieta – AMA, enquanto que outra funcionária me levou

aos locais de cultivo existentes no município e me deu uma lista com o endereço e os

nomes dos maricultores que desenvolvem ou já desenvolveram a mitilicultura no local.

No município de Piúma, meu único contato foi com o diretor da ESCOPESCA e

com uma das professoras da escola, aos quais me apresentei e apresentei o projeto de

pesquisa, não tendo sido possível nenhum outro contato posterior. Apenas obtive maiores

informações através de revisão bibliográfica.

Além disso, foram contactadas as seguintes instituições IBAMA-ES, Delegacia

Federal de Agricultura – DFA/ES, Capitania dos Portos do Estado do Espírito Santo –

Page 49: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

117

CPES, SEBRAE/ES, CTA e Prefeitura Municipal de Guarapari - PMG, a fim de obter

maiores informações sobre o desenvolvimento da mitilicultura no Estado. A única

instituição onde não obtive acesso a informações foi a CPES.

A seleção dos municípios para a realização da presente dissertação foi feita baseada

no fato de que é nessas localidades que se concentram as maiores produções de mexilhões

P. perna no Estado do Espírito Santo. Além disso, já haviam sido desenvolvidos diversos

projetos de pesquisa nessas localidades (ANEXO 1), à exceção de Perocão, facilitando

tanto o acesso à informação quanto a minha inserção na comunidade (QUADRO 3). Os

municípios escolhidos apresentam diferentes níveis de organização e de dados disponíveis

sobre a atividade.

3.1 A obtenção dos dados através do trabalho de campo No primeiro contato com os informantes (maricultores, ex-maricultores, esposas de

maricultores, funcionários das prefeituras locais e demais pessoas ligadas à atividade), foi

feita a apresentação da pesquisa e da pesquisadora, esclarecidos os objetivos, bem como a

metodologia a ser empregada para a obtenção dos dados (entrevistas, observação

participante, revisão de documentos referentes ao desenvolvimento da mitilicultura no

local e aplicação de questionário) (QUADRO 4).

As informações obtidas durante esse contato inicial (nomes, datas, problemas

enfrentados, entre outros) foram anotadas num caderno de campo. Algumas entrevistas

foram realizadas durante esse primeiro contato, devido à intenção manifestada pelo

interlocutor (ANEXO 6).

Após o levantamento inicial e a escolha dos informantes privilegiados, foi

elaborado o cronograma de execução das entrevistas semi-estruturadas, que foram

gravadas em um gravador portátil, com o consentimento do entrevistado, e realizada a

aplicação do questionário na comunidade de Anchieta.

Page 50: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Quadro 3 – Trabalhos realizados e em andamento nos “parques de cultivo” de Perocão, Guaibura, Anchieta e Piúma.

Local Possui associação de maricultores? Trabalhos já realizados no local Trabalhos em andamento

Perocão Sim - -

Guaibura Sim Sodré, 2001; Lovat, 2002 -

Anchieta Sim García-Prado, 2000; Alvarenga, 2002

Impacto da maricultura na comunidade macrobentônica do sedimento (Karla Gonçalves da Costa – Mestrado em Biologia Animal/UFES). Comparação entre o crescimento das ostras Crassostrea gigas e C. rhizophorae (José Alejandro García Prado – Mestrado em Biologia Animal/UFES) Influência do fouling no crescimento e biomassa dos mexilhões, e a caracterização da comunidade incrustante do cultivo na Praia do Coqueiro (Fabrício Saleme de Sá – Mestrado em Biologia Animal/UFES).

Piúma Não Rocha, 2003

Quadro 4 – Número de entrevistas realizadas e questionários aplicados no trabalho de campo, durante o período de janeiro de 2003 a março de 2004.

Entrevistas

Município Local/Pessoa/Instituição Ex-maricultor Maricultor Esposa Presidente da Associação

Funcionário da Prefeitura

Outros Outros métodos Questionário

Guaibura - 02 02 - - - -Perocão - 05 01 01 - - - -Guarapari PMG - - - - - - 01 -

Anchieta Anchieta 02 05 02 01 01 01 - 11Piúma ESCOPESCA - 01 - - - 01 01 -

CPES - - - - - - - -CTA - - - - - - 01 -DFA - - - - - - 01 -IBAMA - - - - - - 01 -João Guilherme Centoducatte 01 José Alejandro García Prado - - - - - - 01 -

Vitória

SEBRAE - - - - - - 01 -TOTAL 02 13 05 02 01 02 07 12

Page 51: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

A aplicação do questionário (ANEXO 5) foi facilitada pelo fato de uma reunião da

AMA ter coincidido com o período em que me encontrava em campo, havendo a

possibilidade de participação na reunião e a elaboração e aplicação de um questionário

para os maricultores de Anchieta. O questionário visou à quantificação dos long lines, de

cada maricultor, o número de embarcação e/ou carro por maricultor, para transporte de

equipamentos e dos mexilhões entre os locais de cultivo e de beneficiamento, e o

desempenho de outras atividades por esses maricultores. Nas demais localidades, essas

informações foram obtidas, através de entrevistas, exceto no município de Piúma, onde não

foi possível a obtenção de todos os dados.

As entrevistas gravadas foram transcritas durante o período do trabalho de campo,

estendendo-se até o mês de agosto de 2003.

Os dados obtidos, tanto nas entrevistas quanto no questionário, para cada “parque

de cultivo”, foram agrupados nas seguintes categorias: histórico da atividade; áreas de

cultivo; estruturas de cultivo; capital humano; obtenção das sementes; legalização da

atividade; unidade de beneficiamento; associação de maricultores; materiais utilizados;

comercialização do produto; divulgação do produto e da atividade; necessidades;

dificuldades; conflitos e expectativas, de forma a homogeneizar as informações,

permitindo que esses grupos de dados pudessem estar presentes nos diferentes “parques de

cultivo” para análise e comparação posteriores. As informações obtidas para cada “parque

de cultivo” estão expostas no capítulo 5 da presente dissertação e também foram resumidas

em tabelas para facilitar a comparação entre esses “parques de cultivo”.

3.2 Construção do IDAM

Para a comparação dos “parques de cultivo”, foi construído o Índice de

Desenvolvimento da Atividade de Mitilicultura – IDAM que reflete o desenvolvimento37

da atividade em função dos parâmetros adotados.

Para a construção do IDAM foram levadas em consideração as exigências

ambientais (Robinson & Horzepa, 1988; Pillay, 1990; Smaal, 1991; Folke & Kautsky,

1992; National, 1992; Aiken, 1997; Bardach, 1997; Phillips, 1998; Brandini et al, 2000;

37 “Adiantamento, crescimento, aumento, progresso”. (Ferreira, 1999, p. 650).

Page 52: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Schettini et al, 2000; Sodré, 2001), adicionadas aos fatores sociais (Shang, 1981, 1990;

Weeks, 1990; Pillay, 1992; Paulilo, 2002); à viabilidade econômica (Shang, 1981, 1990;

Pillay, 1992; Henriques et al, 1997; Brummett & Williams, 2000; Krishnan & Birthal,

2002) e à legalização da atividade (Brasil, 1995, 1998, 2001, 2003a), entre outros fatores,

que integram a maricultura e fornecem subsídios para o desenvolvimento de indicadores de

sustentabilidade para a atividade. Os parâmetros adotados para esse exercício atendem às

exigências propostas por Harger & Meyer (1996):

1) simplicidade: os indicadores finais são o mais simples possível;

2) quantificação: os elementos são facilmente mensuráveis;

3) julgamento: os elementos são de fácil monitoramento, permitindo o

estabelecimento de normas para gerenciamento e fiscalização;

4) sensibilidade: os indicadores escolhidos são sensíveis o suficiente para

refletir mudanças importantes nas características ambientais e,

5) disponibilidade: a freqüência e a cobertura dos elementos é suficientemente

eficiente para identificar mudanças nas condições sociais, ambientais e econômicas,

permitindo que se implemente ações a tempo de reverter a situação.

O IDAM é um índice sintético e relativo, com o objetivo de comparar os diferentes

“parques de cultivo” estudados, utilizando-se para isso de indicadores baseados na: a)

Integração da comunidade/família; b) Impacto ambiental; c) Fonte alternativa de renda; d)

Incremento da produção do pescado e e) Produção baseada no Desenvolvimento

Sustentável.

Esses indicadores têm como parâmetros:

1) Integração da comunidade/família

1.1) Levantamento socioeconômico - caracterização da comunidade/sociedade/família

1.2) Levantamento das atividades desenvolvidas pela comunidade, analisando a divisão

por gênero e faixa etária, para possível aproveitamento na maricultura

1.3) Identificação e fortalecimento do associativismo

1.4) Treinamento de mulheres e adolescentes para trabalhar na maricultura

2) Impacto ambiental

2.1) Analisar as comunidades bentônica, nectônica e planctônica na área de influência

da atividade

2.2) Monitoramento da qualidade da água

2.3) Análise de fluxos gênicos e possíveis hibridizações

Page 53: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

2.4) Análise da viabilidade de espécies introduzidas

2.5) Padronização das bombonas

2.6) Análise da capacidade de suporte: produtividade primária, correntes e formação de

biodepósitos

3) Fonte alternativa de renda

3.1) Análise custo-benefício de cultivo de outras espécies

3.2) Implantação de policultivos

3.3) Acompanhamento do tempo de cultivo

3.4) Acompanhamento da produtividade

3.5) Análise de mercado

3.6) Análise custo-benefício da atividade para as famílias envolvidas e candidatas à

maricultura

3.7) Análise de fontes de financiamento

4) Incremento da produção/certificação do pescado

4.1) Formulação de um calendário das atividades de encordoamento, despesca e

manutenção

4.1) Avaliação do potencial de novas áreas de cultivo

4.2) Implantação de cultivos a meia água

4.3) Implantação de um centro de beneficiamento

4.4) Obtenção do SIM/SIF

4.5) Treinamento dos maricultores: higienização e marketing

4.6) Estudar novas formas/equipamentos que auxiliem o cultivo

5) Produção baseada no Desenvolvimento Sustentável

5.1) Determinação de áreas propícias à implantação de coletores

5.2) Reaproveitamento das valvas

5.3) Implantação de um laboratório para produção de sementes

Os indicadores foram escolhidos a partir da revisão da seguinte bibliografia: Shang,

1981, 1990; Robinson & Horzepa, 1988; Pillay, 1990, 1992; Weeks, 1990; Smaal, 1991;

Folke & Kautsky, 1992; National, 1992; Aiken, 1997; Bardach, 1997; Henriques et al,

1997; Phillips, 1998; Vinatea-Arana, 1999; Brandini et al, 2000; Brummett & Williams,

2000; Schettini et al, 2000; Sodré, 2001; Paulilo, 2002; Krishnan & Birthal, 2002.

Page 54: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

3.2.1 Cálculo do IDAM e de seus indicadores

O IDAM é composto por 5 indicadores (Integração da comunidade/família;

Impacto ambiental; Fonte alternativa de renda; Incremento da produção/certificação do

pescado e Produção baseada no desenvolvimento sustentável). Esses indicadores por sua

vez possuem um número variável de parâmetros. Para cada parâmetro, foi atribuído valores

de 0, 1 e 2, quanto ao não atendimento (valor 0), atendimento parcial (valor 1) ou

atendimento total (valor 2) do parâmetro. Esses valores foram atribuídos para cada “parque

de cultivo” estudado, tanto para o período em que foi implantado o cultivo no local, quanto

para a atual fase do cultivo. A atribuição dos valores foi baseada nos dados levantados a

partir das entrevistas, do questionário e da revisão bibliográfica, realizados no período de

março de 2002 a março de 2003 e sintetizados em tabela (apresentada no capítulo 6).

O cálculo dos indicadores que compõem o IDAM é feito a partir da soma dos

valores atribuídos para cada parâmetro do indicador analisado. Esse valor é dividido pelo

valor máximo que o indicador poderia obter, caso os parâmetros fossem atendidos

totalmente, ou seja, para o cálculo do valor máximo de cada indicador basta que se

multiplique o número de parâmetros do indicador por dois. O valor do indicador para cada

“parque de cultivo” é a divisão da soma dos valores atribuídos aos parâmetros do indicador

escolhido do “parque de cultivo” em questão, pelo valor máximo que pode ser obtido nesse

indicador. A fórmula utilizada é a seguinte:

Indicador(x) = ∑vi

∑máx

onde, x = nome do indicador i = parque de cultivo analisado ∑vi = somatório dos valores atribuídos aos parâmetros do indicador escolhido do “parque de cultivo” analisado ∑máx = somatório do número de parâmetros do indicador escolhido, multiplicado por dois

Page 55: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

O IDAM é calculado a partir da soma dos valores de todos os parâmetros que o

compõe, dividido pela constante 54, que é obtida através da multiplicação do número de

parâmetros (27) que compõem o IDAM por dois. A fórmula para o cálculo do IDAM é

apresentada a seguir:

IDAM = ∑p 54

onde, p = parâmetro ∑p = somatório dos valores obtidos em todos os parâmetros que compõem o IDAM

Assim como para os índices criados pelo Instituto de Apoio à Pesquisa e ao

Desenvolvimento – IPES (órgão do Estado do Espírito Santo), quanto mais próximo de

1,0000 for o valor do IDAM do “parque de cultivo” analisado, maior é a adequação do

mesmo aos pressupostos de uma mitilicultura sustentável.

A construção do IDAM tem como objetivo fornecer aos governantes, técnicos e

órgãos financiadores uma ferramenta para o estabelecimento de prioridades para o

desenvolvimento da maricultura, levando em consideração o aspecto local e a evolução da

atividade no local. Esse índice apesar de ser sintético e relativo, em conjunto com diversos

outros parâmetros não mensuráveis como diagnósticos socioambientais, pode funcionar

como um parâmetro para a definição de estratégias políticas para o fortalecimento da

atividade no local, visando o desenvolvimento sustentável da maricultura, o fortalecimento

do capital social local e o incremento da maricultura em se tratando de uma atividade

econômica, capaz de gerar emprego e renda. A variação do índice bem como de seus

componentes podem indicar em que áreas estão sendo feitos os maiores progressos e onde

é necessário um maior investimento, reestruturação da atividade ou mudança da estratégia

adotada.

Page 56: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

4 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO E O IDM DOS MUNICÍPIOS ESTUDADOS

O Estado do Espírito Santo, localizado na região Sudeste do Brasil, entre os

paralelos 17°55’N e 21°41’S, faz divisa ao Norte com o Estado da Bahia, a Oeste com

Minas Gerais, ao Sul com o Rio de Janeiro e a Leste com o Oceano Atlântico. É o 23°

maior Estado brasileiro com 46.184,1 Km2 e uma população total estimada em cerca de

3.097.498 habitantes (IBGE, 2000), o que lhe confere a 14ª posição em número de

habitantes, entre os Estados e Distrito Federal da República Federativa do Brasil, com uma

densidade demográfica de aproximadamente 66,97 habitantes/Km2, 7° colocado no

ranking brasileiro. É composto político-administrativamente por 78 municípios (IBGE,

2000), dos quais 13 são litorâneos. Desses 13 municípios, cinco possuem áreas de cultivo

de moluscos, implantadas, com fins comerciais (Conceição da Barra, Aracruz, Guarapari,

Anchieta e Piúma) (FIGURA 1).

A presente dissertação vai abordar a questão da mitilicultura nos municípios de

Guarapari, Anchieta e Piúma (FIGURA 4). Não foram incluídos os municípios de Aracruz

e Conceição da Barra, pois a atividade praticada nesses municípios é a ostreicultura.

Os municípios de Guarapari, Anchieta e Piúma encontram-se localizados na

macrorregião metropolitana do Estado (divisão macrorregional de planejamento) (IPES,

2000a). Sendo importante destacar que esses municípios constituem uma importante região

pesqueira no sul do Estado do Espírito Santo (FGV-SP, 2003).

Page 57: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

LEGENDA

3 Guarapari4 Anchieta5 Piúma

2 Espírito Santo1 Brasil

1

2

3

45

Figura 4 – Mapa da área de estudo, destacando os municípios de Guarapari, Anchieta e Piúma.

Page 58: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

4.1 Anchieta Município localizado na microrregião administrativa metrópole expandida sul.

Possui uma área de 404,882 Km2 e uma população estimada, para o ano de 2003, em

20.483 habitantes (IBGE, 2000).

Suas principais atividades econômicas são: agricultura, pecuária e comércio (IPES,

2000c).

O município de Anchieta originou-se de um aldeamento jesuítico e sua colonização

teve início com a vinda do Padre Jesuíta José de Anchieta, que construiu um centro de

catequese, polarizando o trabalho jesuítico no litoral sul do Estado. O povoado fundado em

1579 recebeu o nome de Rerigtiba ou Iriritiba, vocábulo indígena que significa local de

muitas conchas (ibid.).

Em 1750 era a mais importante aldeia da costa capixaba. Em 1759 foi elevada à

categoria de vila e passou a ser chamada de Benevente. Em 1790 era, depois de Vitória, a

vila mais populosa do Estado (ibid.).

No século XIX foi porto de entrada de imigrantes, especialmente italianos, além de

entreposto comercial. Foi elevada à categoria de cidade em 1887 e passou a ser chamada

de Anchieta, como é conhecida até hoje (ibid.).

No final do século XIX o município entrou em processo de estagnação, com a

decadência do porto e, a partir da década de 50, iniciou-se o processo de incremento das

atividades urbanas voltadas para o turismo (ibid.).

4.2 Guarapari Município localizado na microrregião administrativa metropolitana. Possui uma

área de 592,231Km2 e uma população estimada, para o ano de 2003, em 96.619 habitantes

(IBGE, 2000).

Suas principais atividades econômicas são: comércio e construção civil (SETEC,

2001).

Apresenta índices de crescimento urbano superiores a 90%, no período de 1970 a

1996, com grande sazonalidade de ocupação dos domicílios (49,35% dos domicílios não

são ocupados durante a maior parte do ano) (IPES, 2000c).

Page 59: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

O município de Guarapari teve origem de um aldeamento jesuítico, fundado em

1585 também pelo Padre José de Anchieta. Esse aldeamento sempre esteve sob a

dependência do centro de catequese de Rerigtiba. A construção de uma capela dedicada a

Santa Ana e mais tarde a construção de uma residência destinada a seus coirmãos de

Companhia, em uma taba de Goitacáz, fez com que o aldeamento recebesse o nome de

Aldeia de Nossa Senhora, depois Aldeia do Rio Verde ou Santa Maria de Guaraparim

(ibid.; SETEC, 2001).

Em 1679 foi elevado à categoria de vila, recebendo o nome de Vila dos Jesuítas,

depois Guaraparim, depois Goaparim e finalmente Guarapari, vocábulo de origem

indígena, derivado de guará (ave Íbis-rubra, que nasce branca, passa pelo cinza e, por fim,

sua coloração torna-se vermelho carmesim, resultado da alimentação à base de crustáceos,

caranguejos e camarões) e do sufixo pari, que significa armadilha, curral (ibid.).

No início do século XIX, era uma das cinco vilas do Estado. O porto de Guarapari

até 1890 era entreposto comercial em escala regional, perdendo este papel importante após

a construção da Estrada de Ferro Sul do Espírito Santo (Vitória–Cachoeiro), e com a

interrupção da exploração de monazita. A cidade soergueu-se a partir de 1940, com o

advento do turismo (IPES, 2000c).

4.3 Piúma Município localizado na microrregião administrativa metrópole expandida sul. É o

menor município do Estado, com uma área de 73,504 Km2 e uma população estimada, para

o ano de 2003, em 16.699 habitantes (IBGE, 2000).

Suas principais atividades econômicas são: comércio e construção civil (IPES,

2000c).

O município de Piúma teve origem de um aldeamento jesuítico, na segunda metade

século XVI. Em 1585 o Padre José de Anchieta instalava-se em Piu, onde viviam os índios

Puris, recebendo a localidade o nome de Aldeia dos índios Puris. O aldeamento inicial era

ponto de apoio ao trabalho dos jesuítas em Benevente. Em 1780 foi criada uma colônia de

pescadores. Foi porto de exportação de café da Colônia do Rio Novo. Em 1883 passou à

categoria de vila, recebendo o nome de Nossa Senhora da Conceição de Piúma, passando a

fazer parte do município de Iconha. Em 1950, a Vila ressurge como balneário e porto

pesqueiro e em 1963 foi desmembrada de Iconha (ibid.).

Page 60: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

A pesca é responsável por 7,4%; 2,0% e 5,5% dos empregos formais nos

municípios de Anchieta, Guarapari e Piúma, respectivamente (ibid.). Esses são percentuais

subestimados, uma vez que há uma grande diferença entre o número de pescadores

registrados e o número de pescadores em exercício. Devendo-se destacar o aumento do

número de famílias dedicadas à atividade pesqueira, no município de Piúma, que cresce a

cada ano, colocando o município em primeiro lugar, com o maior índice de crescimento da

atividade no Estado do Espírito Santo (FGV-SP, 2003).

4.4 Índice de Desenvolvimento Municipal - IDM

Para que seja possível a comparação entre o IDAM e outros índices já existentes,

que representam fatores importantes na sustentabilidade da mitilicultura, como por

exemplo, aqueles que contemplam as características social, econômica e de infra-estrutura

dos municípios, foi necessária a caracterização sócio-político-econômica, de cada

município. Essa caracterização foi feita com base em estudos já realizados por instituições

como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Instituto de Apoio à

Pesquisa e o Desenvolvimento Jones dos Santos Neves (IPES).

Para efeito de comparação do desenvolvimento sócio-econômico dos municípios,

foi utilizado o Índice de Desenvolvimento dos Municípios do Espírito Santo (IDM – ES),

criado pelo IPES, que identifica o grau das desigualdades regionais, através de indicadores

e variáveis das condições urbana (IDU), social (IDS), econômica (IDE), de gestão de

finanças municipais (IFM) e de infra-estrutura para grandes e médios empreendimentos

(IGME), que melhor traduzam as características próprias do desenvolvimento do Estado do

Espírito Santo (FIGURA 5). A metodologia utilizada pelo IPES, para a criação desses

índices, foi a mesma utilizada, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

(PNUD)/Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), para cálculo do Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH) (IPES, 2000b).

Page 61: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

IDM-ES

IGMEIDE IDS IDU IFM

Figura 5 - Organograma do Índice de Desenvolvimento dos Municípios do Espírito Santo – IDM-ES e seus componentes.

O IDM – ES, é um índice sintético e relativo que tem como objetivo estabelecer um

ranking para o desenvolvimento dos municípios que compõem o Estado do Espírito Santo

(ibid.). Os dados utilizados na construção do índice referem-se ao período de 1990 a 2000

(ANEXO 7).

Esse índice revela grandes desigualdades entre os municípios, englobando não

apenas a dimensão econômica do desenvolvimento, mas também a redução das

desigualdades sociais, econômicas e regionais inerentes a esse conceito (ibid.).

O IDM dos municípios de Anchieta, Guarapari e Piúma, assim como a posição no

ranking de cada um deles, está apresentado na TABELA 2. A tabela também apresenta o

IDM de Vitória (capital do Estado) e do Estado do Espírito Santo, sendo este calculado a

partir da média dos índices de todos os municípios que compõem o Estado (ibid.). Essa

mesma forma de apresentação foi utilizada nas tabelas dos demais índices necessários à

construção do IDM-ES.

Os municípios selecionados pelo presente estudo que obtiveram índices menores do

que a média do Estado foram destacados a fim de realçar a sua desigualdade frente aos

demais.

Tabela 2 – IDM e a respectiva posição no ranking dos municípios de Anchieta, Guarapari e Piúma.

Município IDM Posição no ranking Anchieta 0,3821 4° Guarapari 0,2769 9° Piúma 0,2242 14° Vitória 0,6679 1° Espírito Santo 0,2461 - Fonte: IPES, 2000b

Page 62: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

4.5 Índice de Desenvolvimento Urbano - IDU

O índice de desenvolvimento urbano é um instrumento de apoio à gestão do

planejamento urbano, pois “alimenta” um sistema mínimo de informações e de criação de

indicadores com garantia de comparabilidade, refletindo a situação atual e permitindo

perspectivas de desenvolvimento (IPES, 2000b). Os dados desse índice refletem o período

de 1991 a 2000.

O índice mede a disponibilidade e a capacidade relativa de atendimento dos

principais equipamentos e serviços urbanos e é composto por outros dois índices que por

sua vez são obtidos através de diversos indicadores (FIGURA 6). A definição de cada um

dos índices e indicadores adotados encontra-se no QUADRO 5.

O IDU dos municípios de Anchieta, Guarapari e Piúma, assim como a posição no

ranking de cada um deles, está apresentado na TABELA 3.

IDU

IEH IEB

saúde

educação

bancos

correios

saneamento

comunicação

energia

habitação

transporte

Figura 6 - Organograma do Índice de Desenvolvimento Urbano – IDU e seus componentes.

Page 63: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Quadro 5 - Definição dos índices e indicadores que compõem o Índice de Desenvolvimento Urbano – IDU.

ÍNDICE OU INDICADOR DEFINIÇÃO

IDU - Índice de desenvolvimento urbano Informa sobre o grau de desenvolvimento urbano do município.

IEH - Índice de infra-estrutura de habitação

Informa sobre a capacidade relativa do atendimento local de equipamentos e serviços na habitação, assim como a deficiência no estoque de moradias.

Saneamento É a média dos resultados indicados pelos indicadores de água, esgoto e lixo.

Água Percentual de domicílios abastecidos. Esgoto Percentual de domicílios atendidos. Lixo Percentual de domicílios atendidos.

Telefonia Percentual de domicílios particulares permanentes com terminais residenciais

Energia Consumo domiciliar médio mensal medido em MWh. Habitação Quantidade e qualidade dos domicílios.

IEB – Índice de equipamentos básicos Informa sobre a disponibilidade de serviços e equipamentos.

Saúde Percentual de leitos hospitalares a disposição do SUS em relação à população total.

Educação Percentual de matrículas na pré-escola e no ensino fundamental em relação à população total.

Bancos Percentual de bancos (agências, postos, ...) em relação à população.

Correios Percentual de correios (agências, postos, ...) em relação à população.

Transporte Acessibilidade e mobilidade. Fonte: IPES, 2000b. Tabela 3 - Índices relativos que compõem o IDU, segundo os municípios da região litoral sul – Guarapari, Anchieta e Piúma e suas respectivas posições no ranking, comparados com o Estado do Espírito Santo e o município de Vitória - 2000.

Índice/Indicador Guarapari Anchieta Piúma Espírito Santo Vitória IEH 0,4957 0,3852 0,5028 0,3462 0,8719 Saneamento 0,6308 0,4897 0,7722 0,4679 1,0000 Água 1,0000 1,0000 1,0000 0,6350 1,0000 Esgoto 0,3532 0,0046 0,6086 0,3579 1,0000 Lixo 0,5391 0,4646 0,7079 0,4108 1,0000 Telefonia 0,3994 0,1248 0,1676 0,1512 1,0000 Energia 0,5665 0,5308 0,4092 0,3149 1,0000 Habitação 0,1168 0,1866 0,1232 0,2071 0,2313 Ranking 13° 27° 12° - 1° IEB 0,3158 0,3073 0,2735 0,2910 0,7973 Saúde 0,0050 0,0049 0,0055 0,0025 0,0049 Educação 0,8902 1,0000 1,0000 0,9891 0,9818 Bancos 0,2366 0,1123 0,0696 0,0655 1,0000 Transporte 0,2384 0,1283 0,2426 0,1761 1,0000 Correios 0,2088 0,2909 0,0498 0,2218 1,0000 Ranking 13° 17° 44° - 1° IDU 0,4058 0,3463 0,3882 0,3186 0,8346 Ranking 11° 25° 15°

- 1° Fonte: IPES, 2000b

Page 64: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

4.6 Índice de Desenvolvimento Social - IDS

O índice de desenvolvimento social é calculado com base em indicadores que

buscam refletir aspectos das condições de vida da população dos municípios, medindo as

desigualdades relativas às condições de saúde, educação, renda pessoal e segurança da

população residente no município (IPES, 2000b). Os dados desse índice refletem o período

de 1990 a 1998.

O índice é composto por outros dois índices que por sua vez são obtidos através de

diversos indicadores (FIGURA 7).

A definição dos indicadores utilizados para a construção do IDS, encontra-se no

QUADRO 6 e o resultado obtido para cada um dos municípios na TABELA 4.

IDS

Saúde Educação

Renda Segurança

Figura 7 - Organograma do Índice de Desenvolvimento Social – IDS e seus componentes. Quadro 6 - Definição dos índices e indicadores que compõem o Índice de Desenvolvimento Social – IDS.

ÍNDICE OU INDICADOR DEFINIÇÃO

IDS - Índice de desenvolvimento social Calculado com base em indicadores (saúde, educação, renda e segurança) que buscam refletir aspectos das condições de vida da população dos municípios.

Saúde Coeficiente de mortalidade infantil e esperança de vida ao nascer.

Educação Taxa de analfabetismo e escolarização; número médio de anos de estudo.

Renda Renda familiar per capita média e grau de indigência. Segurança Coeficiente de mortalidade por causas violentas. Fonte: IPES, 2000b

Page 65: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Tabela 4 - Índices relativos que compõem o IDS, segundo os municípios da região litoral sul – Guarapari, Anchieta e Piúma e suas respectivas posições no ranking, comparados com o Estado do Espírito Santo e o município de Vitória - 2000.

Indicador Guarapari Anchieta Piúma Espírito Santo Vitória Saúde 0,5685 0,6334 0,5856 0,4967 1,0000 Ranking 27° 21° 26° - 1° Educação 0,4825 0,4698 0,4769 0,4967 1,0000 Ranking 12° 16° 15° - 1° Renda 0,3179 0,2009 0,1922 0,2624 1,0000 Ranking 8° 28° 31°

- 1° Segurança 0,0396 0,0695 0,4705 0,0396 0,0000 Ranking 59° 43° 7°

- 69°

IDS 0,3521 0,3434 0,4313 0,3212 0,6543 Ranking 23° 27° 7°

- 1°

Fonte: IPES, 2000b 4.7 Índice de Infra-estrutura para Grandes e Médios Empreendimentos dos Municípios do Espírito Santo - IGME

O Índice de Infra-estrutura para Grandes e Médios Empreendimentos dos

Municípios do Espírito Santo (IGME-ES), apresenta um grande número de variáveis

representativas da infra-estrutura necessária à grandes e médios empreendimentos

(FIGURA 8), analisando as principais necessidades operacionais das indústrias/empresas

de médio e grande portes em termos energéticos, de logística de transporte e de

telecomunicações (IPES, 2000b). Os dados desse índice refletem o período de 1998 a

2000.

A definição dos indicadores utilizados para a construção do IGME, encontra-se no

QUADRO 7 e o resultado obtido para cada um dos municípios na TABELA 5.

IGME-ES

Rodovias Ferrovias

Aeroportos Portos

Gasoduto Linhas de transmissão

Área potencial para localização de empreendimento Telecomunicações

Figura 8 - Organograma do Índice de Infra-estrutura para Grandes e Médios Empreendimentos dos Municípios do Espírito Santo e seus componentes.

Page 66: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Quadro 7 - Definição dos índices e indicadores que compõem o IGME - Índice de Infra-estrutura para Grandes e Médios Empreendimentos dos municípios do Espírito Santo.

Índice ou indicador Peso relativo do indicador Definição

IGME - Índice de Infra-estrutura para Grandes e Médios Empreendimentos

Os parâmetros que o integram referem-se a disponibilidade, no município, de rodovias, ferrovias, aeroportos, portos, linhas de transmissão de energia elétrica, gasoduto, área potencial para localização de médios e grandes empreendimentos e telecomunicações.

Rodovias 8 Acessibilidade rodoviária do município.

Ferrovias 7 Disponibilidade de infra-estrutura ferroviária do município.

Aeroportos 5 Disponibilidade municipal de infra-estrutura aeroportuária da região de inserção do município.

Portos 9 Disponibilidade de infra-estrutura portuária da região de inserção do município.

Gasoduto 7 Disponibilidade de fornecimento de gás natural.

Linhas de transmissão 9 Oferta de energia elétrica em alta tensão no município.

Área potencial para localização de empreendimentos 4

Disponibilidade do município de áreas potenciais para receber empresas/indústrias de médio e grande porte.

Telecomunicações 10

Disponibilidade de infra-estrutura de telecomunicações: fibra óptica; rádio analógico; satélite e rádio digital a empresas e indústrias.

Fonte: IPES, 2000b Tabela 5 - Índices relativos que compõem o IGME-ES, segundo os municípios da região litoral sul – Guarapari, Anchieta e Piúma e suas respectivas posições no ranking, comparados com o Estado do Espírito Santo e o município de Vitória - 2000.

Indicador Anchieta Guarapari Piúma Vitória Rodovias 0,0696 0,1465 0,0951 0,4812 Ferrovias 0,0000 0,0000 0,0000 0,0982 Aeroportos 0,0000 0,5000 0,0000 1,0000 Portos 0,5000 0,2500 0,0000 1,0000 Gasoduto 0,0000 0,0000 0,0000 0,0649 Linhas de transmissão 0,5758 0,6525 0,2457 0,3050 Área potencial para localização de empreendimentos 0,1661 0,3530 0,0093 0,0000 Telecomunicações 0,4464 0,5292 0,1543 1,0000 IGME parcial 0,2550 0,3077 0,0743 0,5419 IGME total 0,4175 0,5051 0,1167 0,8950 Ranking 12° 11° 33°

3° Fonte: IPES, 2000b

Page 67: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Os principais indicadores, utilizados na construção do IDM, relacionados ao

desenvolvimento da maricultura foram classificados quanto à sua importância para a

atividade nas seguintes categorias: qualidade ambiental, integridade física e social do

maricultor, infra-estrutura para produção e infra-estrutura para comercialização e

transporte do produto (QUADRO 8).

Quadro 8 - Principais indicadores relacionados ao desenvolvimento da maricultura e sua importância.

Índice Indicador Importância Água Infra-estrutura para produção Esgoto Qualidade ambiental Lixo Qualidade ambiental Saúde Integridade física e social do maricultor Educação Integridade física e social do maricultor Telefonia Infra-estrutura para comercialização e de transporte do produto

IDU

Habitação Infra-estrutura de produção Saúde Integridade física e social do maricultor Educação Integridade física e social do maricultor IDS Segurança Integridade física e social do maricultor Rodovias Infra-estrutura para comercialização e de transporte do produto IGME Telecomunicações Infra-estrutura para comercialização e de transporte do produto

A ausência de um índice para a dimensão ambiental, segundo o IPES, “se deve à

impossibilidade de reunir dados estatisticamente homogêneos para os 7738 municípios

capixabas” (IPES, 2000b, p. 7).

38 A construção do IDM-ES contemplou os municípios criados e instalados até o ano de 2000. O município de Governador Lindemberg já havia sido criado, porém sua instalação ocorreu no dia 01/01/01 (Lei n° 5.638).

Page 68: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

5 A MARICULTURA NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

Neste capítulo é apresentado o diagnóstico socioambiental da maricultura no Estado

do Espírito Santo, a partir dos dados levantados em campo.

A atividade, iniciada em caráter experimental/científico em meados da década de

80, fortaleceu-se na década de 90 começando a ser praticada mais intensivamente com fins

comerciais a partir de 1994.

Em 1996, o CTA realizou, através do SEBRAE/ES, três consultorias técnicas para a

área de maricultura no Estado do Espírito Santo. Isso representou 6% da demanda na área

de aqüicultura, para o mesmo ano.

Diversas instituições como a extinta SUDEPE, o SEBRAE/ES, o Banco de

Desenvolvimento do Espírito Santo S/A (BANDES), o Instituto Capixaba de Pesquisa

Agropecuária e Extensão Rural (INCAPER), a ESCOPESCA, a CIDA, o CTA, o

CEPEMAR e a UFES, além das prefeituras municipais locais e de instituições públicas

como a Petrobrás e privadas como a SAMARCO Mineradora S/A, apoiaram e/ou apóiam a

implantação e/ou o desenvolvimento da maricultura no Estado, através da realização de

pesquisa, da transferência de tecnologia, do apoio financeiro para a realização da atividade,

da doação do material de consumo ou do financiamento para a sua compra.

Os programas, planos e projetos de apoio à maricultura desenvolvidos ou em

desenvolvimento no Estado do Espírito Santo são: BMLP, Projeto de Execução

Descentralizada (PED), Plano Estadual de Maricultura (financiado pelo BMLP) e Plano

Estratégico de Agricultura Capixaba (PEDEAG), estudo temático – volume 15:

Aqüicultura. As principais linhas de crédito para o financiamento da atividade no Estado,

encontram-se no BANDES e no Banco do Brasil.

Nos municípios localizados ao Norte de Vitória (Conceição da Barra, São Mateus e

Aracruz), é desenvolvida a ostreicultura com a ostra do mangue C. rhizophorae (espécie

Page 69: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

nativa) (FIGURA 1), uma vez que não há a ocorrência de bancos naturais do mexilhão P.

perna, cuja distribuição geográfica, no Brasil, ocorre ao longo da costa dos Estados do Rio

Grande do Sul até o Espírito Santo, possuindo como seu limite norte de ocorrência a cidade

de Vitória (Klappenbach, 1965 apud Buitrón-Vuelta, 2002).

Enquanto que nos municípios localizados ao sul de Vitória (Guarapari, Anchieta e

Piúma), é desenvolvida a mitilicultura com a espécie P. perna (FIGURA 1). Essa é a

espécie de mexilhão mais cultivada e explorada de forma extrativista em todo Brasil

(Marques et al, 1991). Dados da FAO (2002), demonstram que a produção mundial de

mexilhões39 aumentou 23,63% nos últimos seis anos.

Cultivos experimentais realizados em Santa Cruz (Aracruz) com o sururu do

mangue (Mytela falcata) e o mexilhão (P. perna), e em Guaibura (Guarapari) com a ostra

do mangue (C. rhizophorae), não demonstraram efeitos positivos de crescimento,

indicando a inviabilidade da produção comercial dessas espécies nos “parques de cultivo”

supracitados.

A ostra japonesa40 (C. gigas) foi objeto de estudo de cultivos experimentais em

duas localidades no Estado do Espírito Santo. Um no “parque de cultivo” de Piúma, no

período de novembro de 2001 a novembro de 2002, onde ficou comprovada a viabilidade

técnica para a implantação do cultivo da espécie em long lines, na produção comercial da

baby ostra (60mm), com dois ciclos de cultivo por ano (Rocha, 2003). E outro no

município de Anchieta (Praia do Coqueiro), no período de junho de 2002 a abril de 2003,

com o objetivo de comparar o crescimento entre as ostras japonesa e nativa41, no

município. Resultados de crescimento, engorda e taxas de mortalidade favoráveis

tornariam viável a produção comercial da espécie, possibilitando a diversificação do

cultivo de Anchieta, através da introdução do cultivo da ostra japonesa42, 43.

A espécie de pectinídeo, Nodipecten nodosus, também conhecida como vieira, é

cultivada pelo proprietário do hotel Pontal de Ubu em Anchieta, na preparação de pratos

oferecidos no menu.

39 São incluídas nessa categoria diversas espécies pertencentes à família Mytilidae. 40 Espécie exótica 41 Trabalho desenvolvido pelo mestrando, do Programa de Pós-graduação de Biologia Animal/UFES, José Alejandro García-Prado. 42 No dia 15/02/03 foi realizada na sede da colônia de pesca Z-4 (Anchieta/ES) a reunião da AMA onde um dos itens de pauta era a discussão da implantação do cultivo da ostra japonesa. 43 O cultivo da ostra japonesa já foi implantado e os maricultores de Anchieta já a estão comercializando a R$1,50-2,00/unidade (Rosebel Cunha Nalesso, comunicação pessoal à autora em 12 mar. 2004).

Page 70: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Além disso, foi firmado um acordo para a implantação de um projeto piloto de

maricultura offshore, entre os Estados do Espírito Santo e da Bahia. Segundo o biólogo

João Guilherme Centoducatte, Gerente de Projetos da Unidade de Negócio

Aqüicultura/CEPEMAR, as expectativas para a implantação da maricultura offshore “são

as melhores possíveis, pois sabemos da grande potencialidade que temos, e os resultados

com projetos em outros países demonstram que a aqüicultura está caminhando para esse

tipo de projeto”44. Segundo ele, os projetos de maricultura no Estado do Espírito Santo têm

caráter social, sendo desenvolvidos “exclusivamente” por pescadores tradicionais.

O Estado do Espírito Santo não possui levantamento amplamente aceito45 das áreas

potencias para a implantação da maricultura. Sendo assim, esforços para o levantamento

desses dados estão sendo realizados ou fazem parte de projetos futuros das seguintes

instituições: Secretaria de Agricultura do Estado do Espírito Santo (SEAG/ES), que está

realizando um levantamento das áreas potenciais para a implantação da maricultura no

Estado, com previsão para a reabertura de lagoas costeiras para a implantação de cultivos

de ostra; CTA, que está realizando um levantamento (georeferenciado), das possíveis áreas

para implantação da maricultura no Espírito Santo e CEPEMAR, que irá realizar um

levantamento das potencialidades do Espírito Santo para a aqüicultura, incluindo análise de

água e batimetria.

A Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP), pretende investir cerca de

R$1.600.000,0046 na área de aqüicultura no Estado do Espírito Santo. Segundo João

Guilherme Centoducatte, as prioridades da SEAP para o desenvolvimento da maricultura

no Estado estão relacionadas ao projeto Bijupirá47, ao incremento da produção de ostras e

mexilhões, à implantação de laboratório de sementes e de unidades de beneficiamento,

além da criação de cooperativas.

A implantação e a expansão de cultivos de moluscos, nas regiões Sudeste e Sul do

Brasil, estão suspensas através da Portaria do IBAMA n° 69 desde o dia 30 de outubro de

2003, até a promulgação de ato estabelecendo os procedimentos e critérios específicos para

o licenciamento ambiental da atividade. As associações de maricultores de Anchieta e de

Guarapari já deram entrada nos documentos necessários, junto ao IBAMA, para a

celebração do termo de ajustamento de conduta.

44 Comunicação pessoal à autora em 16 mar. 2004. 45 Existe o levantamento realizado por Andrade et al (1996), contestado por diversos pesquisadores. 46 Alejandro Garcia Prado, comunicação pessoal à autora, em 14 mar. 2004. 47 Nome vulgar da espécie de peixe Rachycentron canadus, também conhecida como cobia.

Page 71: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Quanto à obtenção do registro do aqüicultor (obrigatório por lei), segundo João

Guilherme Centoducatte “um número muito pequeno quase insignificante [de maricultores

no Estado] possui. No meu entendimento isto ocorre principalmente por dois motivos: a

falta de informação e a taxa que fica em torno de R$ 450,00. Esse valor, para o pequeno

aqüicultor é muito elevado”48.

5.1 Histórico da atividade no município de Anchieta

Como mencionado anteriormente, o município de Anchieta era chamado

antigamente de Rerigtiba, que em tupi significa local de muitas conchas. A abundância e a

facilidade na obtenção das diferentes espécies de moluscos comestíveis, apreciados pelos

índios e pescadores que aí viviam, transformou-os em hábito alimentar dessas

comunidades, tornando-os sua principal fonte de proteína animal ingerida (IPES, 2000c).

Hoje em dia uma pequena parcela da população local ainda faz uso dos moluscos

como fonte primária de proteína animal, mas a grande maioria da população os substituiu

por carne vermelha e/ou frango.

Não obstante essa mudança no hábito alimentar, os moluscos na região possuem

dois status: o de alimento consumido eventualmente em dias festivos, em pratos típicos da

região e principalmente como tira-gosto, ou seja, como símbolo de algo atípico, de uma

festa, confraternização ou mesmo de uma busca em conhecer e/ou usufruir a culinária

típica regional e o status econômico, decorrente do primeiro, conferindo aos moluscos

devido à demanda comercial, valor de mercado.

A espécie mais explorada economicamente é a do mexilhão P. perna, devido

principalmente à ocorrência natural no município, à facilidade na obtenção e à ampla

utilização em pratos típicos. A produção é destinada principalmente para bares,

restaurantes locais e turistas que visitam a cidade.

Os mexilhões podem ser obtidos de duas maneiras, através da retirada de

exemplares do costão rochoso, com o auxílio de uma raspadeira, instrumento utilizado para

romper o bisso (“cabelo”), estrutura responsável pela fixação dos mexilhões à rocha. E

através da mitilicultura, atividade recente na região, caracterizada pela colocação das

48 Comunicação pessoal à autora em 16 mar. 2004.

Page 72: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

sementes dos mexilhões em mexilhoneiras49 (FIGURA 9), que são amarradas em estruturas

de cultivo flutuantes, denominadas long line.

Corda mestra ou alma

Tubo de PVC

Meinha

Mexilhoneira

Andrés Berrio, 2004

Figura 9 – Esquema de preparação da mexilhoneira ou corda de engorda.

As pessoas que retiram mexilhões do costão são conhecidas como marisqueiros ou

marisqueiras. A retirada dos mexilhões do costão pelos marisqueiros, com o auxílio das

raspadeiras, é considerada uma prática extrativista50 realizada principalmente pelas

mulheres da região e intensificada no verão, aumentando ainda mais no carnaval e na

Semana Santa, devido ao aumento do turismo e à costumes religiosos, como a “proibição”

do consumo de carne vermelha e frango durante a Semana Santa.

Devido à não fiscalização, da quantidade e do tamanho dos mexilhões extraídos dos

costões, alguns bancos naturais do Estado do Espírito Santo, apresentam hoje densidade

populacional muito baixa, chegando em alguns casos a ocorrer a extinção local.

49 Também chamada de corda de engorda. Para a confecção das mexilhoneiras, os maricultores desfiam cordas de amarração de navios (feitas de fio de seda), amarrando-as novamente (com malha aproximada de 6cm) de forma a confeccionar uma estrutura tubular com cerca de 1,5m de comprimento e 15cm de diâmetro. Para o preenchimento dessa mexilhoneira com sementes de mexilhão, utiliza-se um tubo de PVC, que servirá como guia; uma tela tubular (com malha de 2mm), chamada de meinha, (ambos com as mesmas dimensões da corda de engorda), comprada em Santa Catarina e uma corda mestra (com 1,5m de comprimento). O tubo é recoberto com a meinha e a mexilhoneira recobre tanto a meinha quanto a corda mestra que passa pelo interior do tubo de PVC. Uma das extremidades, de cada um dos componentes, é amarrada junto a uma das extremidades da corda mestra (Figura 9), vedando a passagem do mexilhão. As sementes de mexilhão são despejadas dentro do tubo de PVC e aos poucos vão preenchendo a mexilhoneira. Após o preenchimento total da corda, o tubo é retirado e as extremidades livres da meinha, da corda mestra e da mexilhoneira são amarradas. Essa atividade é conhecida como encordoamento. 50 “caracterizada pela coleta do recurso natural não cultivado”. (Ferreira, 1999, p. 867).

Page 73: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

A falta de disponibilidade do produto faz com que os marisqueiros, que dependem

economicamente dessa extração, migrem para outras regiões que ainda possuem bancos

naturais de mexilhões, em quantidade suficiente para permitir a prática da atividade, como

é o caso do município de Anchieta.

O aumento do número de marisqueiros nos bancos naturais de mexilhões de

Anchieta está fazendo com que os marisqueiros locais tenham problemas de conflito de

uso, pois o espaço (costão rochoso), explorado economicamente por eles, passa a ser

explorado de forma mais intensiva com a vinda de marisqueiros de outras regiões,

aumentando a competitividade e causando prejuízo às famílias locais, que possuem o

extrativismo do mexilhão como fonte de renda. Segundo os marisqueiros locais, os

“forasteiros” não respeitam as épocas propícias à prática, a rotação das áreas de extração,

retirando quantidades superiores às retiradas pelos marisqueiros locais, sem a seleção do

tamanho.

A retirada excessiva dos mexilhões sem a seleção do tamanho nos costões

rochosos, vem causando a exaustão desse recurso no município de Anchieta, contribuindo

para a sua extinção. Técnicos da prefeitura local vêm tentando coibir essa prática.

“Os marisqueiros eles não selecionam, eles raspam o costão e colocam [tanto os mexilhões] pequenos [quanto] os grandes. Nós [técnicos] fizemos esse trabalho, levantando um tamanho médio que eles tiram, [mas] eles colocam tudo. E aqui em Anchieta nós tivemos problemas [com as] pessoas de Vitória, que vinham, principalmente [...] de Kombi, de caminhão e levavam tudo embora. Caminhão! Não estou brincando. Ficavam acampados durante 2-3 dias. [...] Nós começamos a agir junto com a polícia para coibir isso, para pelo menos deixar o pessoal da comunidade, e diminuiu”. (Mariângela Di Lorenzo, comunicação pessoal à autora em 11 fev. 2003, na Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Pesca de Anchieta/ES).

Os maricultores, apesar de também explorarem os costões de forma extrativista

para a retirada (autorizada pelo IBAMA) das sementes do mexilhão para engorda em seus

“parques de cultivo”, não são reconhecidos como marisqueiros, uma vez que a sua atuação

no costão está relacionada com a prática da mitilicultura (FIGURA 10).

Alguns marisqueiros não concordam com a forma como os maricultores retiram as

sementes de mexilhões do costão, pois segundo eles, os maricultores fazem a retirada total

dos mexilhões do costão, o que não permite a regeneração dos bancos naturais.

Page 74: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

“A produção [de mexilhões no costão] diminuiu mais agora. Ficou menor depois que puseram o cultivo. Porque eles estão tirando muita semente da pedra para fazer produção. Então logo no início estava acabando. Porque eles tiravam muito [...] nós [marisqueiros] tiramos assim: tiramos um dia num lugar e outro dia no outro. [...]. Porque se você raspa o costão, realmente fica difícil para [o mexilhão] nascer de novo. E eles [maricultores] não. Eles chegam, eles raspam o lugar. Acaba. A pedra chega a ficar lisa!” (marisqueira, 22 anos, Inhaúma, comunicação pessoal à autora em 11 fev. 2003, em Anchieta/ES).

50m

1,5m

350kg

25m

1m

100 - 120 Unidades

50 Unidades

3m

350kg

25m

Maré MortaMaré Alta

Maré Baixa

Anchieta Cultivo Extrativismo

Andrés Berrio, 2004

Figura 10 – Esquema do sistema de cultivo de mexilhões de Anchieta/ES.

Embora uma mitilicultura sustentável do ponto de vista ambiental preveja que as

sementes devam ser captadas pelo próprio maricultor através da colocação de estruturas

específicas denominadas coletores de sementes, como uma forma de diminuir a pressão

que a retirada indiscriminada de sementes de mexilhões exerce sobre os estoques naturais

de sementes dos costões (National, 1992; Leung & El-Gayr, 1997; Buitrón-Vuelta, 2002),

essa prática ainda não foi adotada pelos maricultores, uma vez que estes reaproveitam

apenas as sementes que se fixam nas estruturas de cultivo (cordas e bombonas),

complementando as mexilhoneiras com as sementes provenientes do costão. Segundo os

maricultores os valores percentuais das sementes dos costões utilizadas para a

complementação das cordas no repovoamento podem variar entre 20 e 60%.

O tamanho das sementes utilizadas no povoamento e no repovoamento varia entre

3,0-4,0cm. Os maricultores afirmam que as sementes que se fixam nas estruturas do cultivo

crescem mais rápido do que as retiradas do costão e de que quanto menor for o tamanho da

Page 75: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

semente, mais rápido será o seu crescimento. Quando mencionada a possibilidade de que

as sementes produzidas pelo cultivo poderiam ser coletadas artificialmente, alegaram que

já haviam sido feitas tentativas de implantação de dois tipos de coletores um de bambu e

outro de corda, e que esses tipos de coletores não foram capazes de suprir as necessidades

dos maricultores, pois o número de sementes coletadas não atendia à demanda e por isso

foram abandonados. A intenção de muitos deles é de que a dependência dos costões para o

suprimento de sementes diminua. A estratégia adotada por eles para que haja essa

diminuição é o manejo das cordas, ou seja, quando as cordas são retiradas para a despesca,

após passar pela peneira, os mexilhões que ainda não atingiram o tamanho comercial

voltam para o cultivo.

“Nós estamos usando [cerca de] 40% [das sementes] da reprodução [para o povoamento]. Estamos [aproveitando as sementes] do próprio cultivo, a semente que dá na própria mexilhoneira, nas cordas e nos camburões. Estamos evitando ir ao costão. O projeto inicial é esse. Quanto menos ir ao costão é mais vantagem pra gente. Nós já tentamos colocar coletores e não aprovou bem. [Dessa forma decidimos usar] o que não está em ponto comercial, [para o repovoamento]. O que faltar, aí é que nós vamos ao costão [para retirar as sementes]. Mas evitamos o máximo possível ir ao costão. A intenção nossa é essa”. (maricultor 1, 42 anos, Juca da Mata, comunicação pessoal à autora em 11 fev. 2003, em Anchieta/ES).

“Nós pegamos uma faixa de 20-35% [de sementes] do costão. Porque a gente pega muita semente lá do cultivo. [As sementes que] se fixam nas bóias e na corda. [Além disso,] quando a gente trás as mexilhoneiras [para despesca], que a gente penera, sai aquele [mexilhão] menor, que também volta [para o cultivo]. Então, o que nós usamos mais é a semente do cultivo”. (maricultor 2, 60 anos, Praia do Coqueiro, comunicação pessoal à autora em 31 jan. 2003, em Anchieta/ES).

“Coletor já colocou, mas não coletou. É muita pouca quantidade que gruda ali”. (maricultor 3, 46 anos, Praia do Coqueiro, comunicação pessoal à autora em 12 fev. 2003, em Anchieta/ES).

A implantação e o desenvolvimento da mitilicultura no município de Anchieta/ES

foi fruto dos esforços do engenheiro de pesca Sr. Antônio Carlos Cavalcante e do então

prefeito da cidade, o Sr. Moacyr Carone Assad, que se associaram à Associação

Page 76: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Vilavelhense de Proteção Ambiental (AVIDEPA), através do PED51 do Ministério do Meio

Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal (MMA), para a obtenção de verbas

para a construção de long lines, estruturas utilizadas pelos maricultores de Anchieta para o

cultivo do mexilhão P. perna. Além disso, contaram com o apoio do SEBRAE/ES, através

do CTA para implantação e desenvolvimento do projeto em Anchieta, através de um

convênio firmado entre PMA e o SEBRAE/ES.

O projeto, que teve início em 1998, priorizou a comunidade de Parati, por estar

próxima à Área de Proteção Ambiental (APA)52 da praia da Guanabara, local de

reprodução da tartaruga Caretta caretta (tartaruga cabeçuda).

O objetivo do projeto era o incremento da renda do pescador com o

desenvolvimento da mitilicultura.

A estratégia utilizada pela prefeitura foi do “empréstimo temporário”, de um long

line de 50m, para cada família interessada na atividade. Com custo estimado em R$

1.000,00, esses long lines tinham capacidade para a colocação de 100 mexilhoneiras e uma

produção de aproximadamente 250kg de carne de mexilhões em seis meses.

Cada família ficou responsável pelo long line recebido e contou com o apoio de

técnicos e funcionários da prefeitura, como o Sr. Rui Montovanelli e o Sr. Pedro Gonzaga

da Silva, que são pescadores/maricultores e na época funcionários da PMA.

Além disso, os maricultores contavam com o monitoramento da qualidade da água

da área de cultivo e cursos de educação ambiental, fornecidos pela Secretaria Estadual de

Meio Ambiente (SEAMA) e com o apoio dos técnicos da Empresa de Assistência Técnica

e Extensão Rural do Espírito Santo (EMATER) (atual INCAPER), que no município de

Anchieta era coordenada pelo Engenheiro de pesca Sr. Antônio Carlos Cavalcante.

Os técnicos identificaram dentro das comunidades em que atuavam (Anchieta,

Guarapari, Itaipava e Itaoca), pessoas-chave que possuíssem influência na comunidade em

51 Projeto: “Conservação e recuperação dos ecossistemas costeiros no litoral sul do Espírito Santo”. Objetivo: conservação e recuperação dos recursos naturais remanescentes de ecossistemas costeiros no Estado do Espírito Santo, através da manutenção e implementação de atividades econômicas sustentáveis (pesca e turismo ecológico). Executor: Prefeitura Municipal de Anchieta. Co-executores: Prefeituras municipais de Guarapari, Vila Velha, Piúma e Itapemirim; AVIDEPA; ESCOPESCA. Disponível em <www.mma.gov.br/potr/se/pnma/exec12.html>. Acesso em: 28 nov. 2002. 52 Em 1998, foi criada a APA da Praia da Guanabara através da Lei Municipal 008/98. Segundo o SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação, Lei n° 9.985 de 18 de julho de 2000, Área de Proteção Ambiental (APA) é uma das categorias do grupo das unidades de uso sustentável e se caracteriza de acordo com o caput do art.15., por ser uma área em geral extensa, com certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.

Page 77: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

que viviam e que tivessem interesse e capacidade de repassar a técnica de cultivo de

mexilhões (mitilicultura), para os demais.

A maioria dos escolhidos eram mulheres, que estavam envolvidas direta

(marisqueiras) ou indiretamente (esposas ou filhas de pescador) com a pesca e/ou que

possuíam filhos adolescentes.

As pessoas selecionadas foram até Santa Catarina conhecer o sistema de cultivo de

mexilhões realizado pelos maricultores catarinenses, a fim de que pudessem replicá-lo no

Estado do Espírito Santo.

A visita a Santa Catarina foi de suma importância uma vez que não havia, por parte

dos pescadores, credibilidade na atividade. Quando conheceram o cultivo de Santa

Catarina viram que a atividade poderia dar certo, como pôde ser verificado através do

relato da oceanógrafa da Secretaria de Pesca e Meio Ambiente de Anchieta (SEMPMA),

Mariângela Di Lorenzo:

“[...] a ponto de esconder mexilhão dentro do sapato, para trazer de volta para mostrar [aos outros maricultores] que era realmente do tamanho e da quantidade que nós falávamos”. (Comunicação pessoal à autora em 11 fev. 2003, na Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Pesca de Anchieta/ES).

No final de seis a sete meses, com o lucro da primeira despesca53, esperava-se que o

maricultor fosse capaz de conseguir dinheiro suficiente com a venda do produto para a

construção de um long line próprio, repassando ao maricultor iniciante o que lhe foi

emprestado, estando este sob as mesmas regras estabelecidas pela prefeitura para

empréstimo do long line e assim sucessivamente.

Com a participação de diversos técnicos na atividade e com as experiências

individuais de cada maricultor, começou a haver desentendimentos quanto à melhor forma

de manejo. Estava previsto no projeto que seria feito o “castigo”54, sistema que ao invés de

beneficiar estava prejudicando o cultivo, pois havia a perda das sementes pela escovação,

causava stress nos mexilhões e nos maricultores o que acabava desanimando-os na

continuação da atividade.

53 Retirada ou colheita do mexilhão, que atingiu o tamanho comercial entre 6,0-7,0cm, após o período de engorda. 54 Exposição dos mexilhões ao ar. Em Anchieta havia também a escovação das cordas do mexilhão, duas vezes por mês, para a retirada de incrustantes.

Page 78: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Além disso, havia o fato de que um cultivo necessita de reparo nas estruturas que

por desgaste, entrada de frente fria ou presença de organismos cortantes são danificadas,

exigindo que os maricultores passassem a adotar o hábito da manutenção dos long lines.

Essa manutenção tornava-se mais difícil entre as mulheres55, pois estas dependiam

dos homens para levá-las até os locais de cultivo, para efetuar os reparos necessários na

estrutura, o povoamento e a despesca, como era o caso das maricultoras de Itaoca e de

Inhaúma.

O dinheiro obtido com a venda do produto nem sempre era suficiente para o

repovoamento ou expansão do cultivo, através da construção de novos long lines, devido

às perdas e ao furto do produto, um problema muito freqüente entre os maricultores.

Com as dificuldades relacionadas à falta de dinheiro para novos investimentos, à

falta de prática, às perdas, à falta de embarcação própria e ao furto, os maricultores

envolvidos inicialmente no projeto começaram a ficar muito desanimados, deixando

espaço para que outros pescadores que não compartilhavam dos mesmos problemas, como

por exemplo, os que possuíam embarcação própria, pudessem se inserir na atividade. Dos

cerca de 80 maricultores, que iniciaram as atividades em 1998, apenas dois deles

continuaram nessa nova fase da maricultura em Anchieta, que teve início no ano de 1999 e

cuja maioria dos maricultores são homens e possuem embarcação.

Segundo a oceanógrafa da SEMPMA, Mariângela Di Lorenzo, os maricultores

dessa nova da atividade já tinham uma certa experiência, possuíam embarcação e com isso

poderiam obter maior sucesso do que os anteriores.

“Os pescadores daqui, que são já homens [já que antes a maioria das pessoas envolvidas na mitilicultura eram mulheres], que já têm custo com o barco, que são pescadores que pescam geralmente de arrasto de camarão, esses já cresceram o olho para cima da prática e começaram [...] por conta própria. Aí, seu Pedro começou a ajudar, a passar a tecnologia para eles. Eu fiz algumas reuniões para ensiná-los e ia muito à praia quando eles estavam semeando, para ir ensinando. Aí eles começaram a inventar mesa para debulhar, inventar sistema de lona e roldana para fazer guindaste. Eles foram cada um a sua maneira [...] aprimorando [a técnica] e o [cultivo] foi crescendo muito. E junto [com esse crescimento do cultivo], vieram muitas outras pessoas”. (Comunicação pessoal à autora em 11 fev. 2003, na Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Pesca de Anchieta/ES).

55 Fato também constatado por Alvarenga (2002).

Page 79: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

A redução no número de maricultores em Anchieta e o surgimento da nova fase da

atividade foi resultado de um conjunto de fatores: a) linhas de crédito existentes

inadequadas ao perfil da maioria dos maricultores; b) inadequação das estruturas e das

técnicas de manejo empregadas, que causaram muitas avarias às estruturas de cultivo e

perdas da produção; c) crescimento lento da espécie; d) necessidade de investimentos em

infra-estrutura para comercialização do produto e manutenção das estruturas,

incompatíveis com a realidade econômica de muitos maricultores; e) adequação a uma

rotina diferente da habitual e f) grande número de mulheres envolvidas na atividade, que

não possuem a força muscular necessária ao trabalho braçal exigido e tão pouco

embarcação para levá-las até os locais de cultivo, entre outros fatores.

5.1.1 A organização da atividade A fim de se cumprir as exigências legais para o correto funcionamento da atividade,

foi criada, pelos maricultores de Anchieta, com o apoio da Prefeitura local, a Associação

dos Maricultores de Anchieta (AMA).

Em um primeiro momento, foi feita uma seleção dos maricultores, que atuavam no

local, pois uns iriam continuar na atividade, enquanto que outros iriam ser desligados da

mesma. Essa seleção foi realizada através de votação pelos membros da AMA, baseada em

critérios como o engajamento do maricultor, produtividade e manutenção das estruturas de

cultivo.

O objetivo dessa seleção era a realização de um levantamento do número total de

maricultores de Anchieta e a exclusão dos que não estavam engajados.

A seleção permitiu que os interessados em iniciar a atividade pudessem ter espaço

para a colocação dos seus long lines e para a expansão do cultivo, com o aumento do

número máximo de long lines por maricultor. Como as áreas de cultivo não haviam

aumentado, o aumento do número de long lines por maricultor de quatro para seis e

posteriormente com a demarcação das áreas, pela AMA/CPES para oito, foi possível

graças a essa reorganização. Dos 32 maricultores selecionados e registrados na AMA,

apenas 21 são reconhecidos pela maioria dos maricultores de Anchieta como pessoas que

atuam direta e continuamente na atividade.

Com a preparação e a homologação do estatuto da AMA, a associação passou a

apresentar critérios para a seleção das pessoas com intenção de iniciar a atividade. O

Page 80: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

estatuto prevê, para o cadastramento do maricultor, que ele seja morador do município e

que seja indicado por algum membro da associação.

No momento da realização do trabalho de campo, a AMA não estava cadastrando

novos membros, pois estava aguardando a doação/compra das “correntes” para a colocação

das bóias de sinalização nos locais de cultivo. Essa demarcação permitiria que o número de

long lines por maricultor fosse aumentado de oito para dez56.

As reuniões da AMA ocorrem mensalmente na sede da colônia de pescadores de

Anchieta e o mandato presidencial é de dois anos.

As taxas referentes à legalização da atividade foram rateadas entre os membros da

associação, sendo uma parte paga pela PMA.

Muitas pessoas interessadas em participar da atividade e que não possuem

embarcação ou são de outras áreas que não a pesca ou não dominam as técnicas

relacionadas ao “cultivo do mar”57, optaram pela formação de grupos de trabalho58. Nesses

grupos de trabalho o número de componentes varia entre duas e quatro pessoas, onde cada

membro participa de uma das fases que envolve a maricultura com o objetivo de que mais

pessoas possam participar da atividade, não obstante as dificuldades expostas acima. Além

disso, a formação de grupos facilita a divisão do trabalho, diminui o esforço físico e

otimiza o tempo, uma vez que grande parte dessas pessoas possui outras fontes de renda59.

Em Anchieta, existem e são reconhecidos pelos demais maricultores quatro grupos de

trabalho.

A formação de grupos também é uma forma de contornar os problemas financeiros,

já que a maioria das linhas de crédito existentes não se aplica às necessidades de muitos

dos maricultores, por não financiarem embarcações e/ou veículos automotores (necessários

ao transporte dos produtos e dos equipamentos e para a manutenção das estruturas de

cultivo), e por exigirem documentação (bens fiduciários) que os maricultores não possuem

como escritura de imóvel, já que muitos deles residem em área de jurisdição da Marinha

Brasileira. Até a data da realização do trabalho de campo (fevereiro de 2003), apenas dois

maricultores haviam conseguido financiamento junto aos bancos. Na época, ambos com

embarcação e carro próprio, reconheceram que o pescador que tem interesse em iniciar a

56 Atualmente, com a Portaria do IBAMA n° 69 de 30 de outubro de 2003, está proibida a expansão das áreas de cultivo existentes. 57 Vinatea-Arana, 1995. 58 Os maricultores que compõem esses grupos podem ser membros da família ou companheiros da maricultura. 59 Apenas duas pessoas são reconhecidas pelo grupo como vivendo exclusivamente da mitilicultura.

Page 81: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

atividade hoje e que não possui embarcação ou carro próprio, enfrentará muitas

dificuldades, uma vez que este já não pode contar com o “empréstimo temporário” do long

line pela prefeitura.

Como uma forma de driblar a necessidade do financiamento, alguns grupos têm

reservado o lucro da produção de um ou mais long lines por ano, para a realização de

reformas das estruturas de cultivo, construção de unidades de beneficiamento e para a

aquisição de equipamentos.

Além disso, foi constatada a dependência dos maricultores quanto a doações (feitas

através de empresas, como a SAMARCO Mineradora S/A) de alguns tipos de material

como corda de amarras de navios, necessárias à confecção das mexilhoneiras. Essas

doações são necessárias, pois esse tipo de material é muito caro. Muitas empresas

descartam essas cordas quando desgastadas por questões de segurança. Esse material pode

ser reaproveitado pelos maricultores para a confecção de mexilhoneiras, mas muitas

empresas não fazem doações regulares devido à questões burocráticas inerentes ao

processo de doação e de responsabilidade dessas empresas quanto ao destino e reutilização

desse material ou muitas vezes devido ao desconhecimento. O contato com as empresas é

feito através da associação de maricultores, mas os membros dessas associações queixam-

se de que as doações não possuem uma regularidade durante o ano, provavelmente devido

às dificuldades citadas anteriormente. Algumas empresas alegam o fato de que só dispõem

desse material quando é feita a sua substituição e de que essa não é feita com muita

freqüência, daí o fato de não possuírem material para doação contínua. Caso não seja

possível a doação do material por parte das empresas, os maricultores não se opõem à

compra das cordas usadas, desde que as empresas possam fornecê-las.

Esses maricultores também se encontram nas mãos dos atravessadores, como por

exemplo, para aquisição de bombonas, que anteriormente eram compradas diretamente das

empresas Coca-Cola e Pepsi-Cola e que agora têm que ser compradas de um atravessador,

pois um contrato feito entre essas empresas e o atravessador impede as mesmas de

comercializar suas bombonas para outros interessados. A existência do atravessador

encareceu o produto (o valor da unidade da bombona passou de R$1,00 para R$3,0060),

tornando-o junto com as cordas de amarras de navio os itens mais difíceis de se adquirir,

seja pelo preço (bombonas), seja pela escassez (cordas de amarras de navio).

60 A grande procura pelas bombonas já havia resultado no aumento do preço da unidade (de R$0,30 para R$1,50) (Alvarenga,2002).

Page 82: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Os outros materiais utilizados na prática da mitilicultura como meinha, bandejas de

isopor, diesel, filme PVC, entre outros, têm sido encontrados com facilidade, não obstante

o único Estado a fabricar e a comercializar meinhas seja Santa Catarina, para onde os

maricultores enviam o pedido de compra e de onde recebem a mercadoria.

5.1.2 A infra-estrutura dos locais de cultivo

Em Anchieta, os locais de cultivo são chamados de sítios aqüícolas e as áreas de

interesse mapeadas, pelos pescadores e técnicos da prefeitura, para a instalação desses

sítios foram as que apresentaram a menor quantidade de conflitos de uso e que possuíam

maior facilidade de acesso, em um primeiro momento.

Estudos posteriores quanto às correntes marítimas incidentes, grau de proteção, taxa

de renovação da água, tipo de fundo e profundidade local foram realizados a fim de que

fosse verificada a real viabilidade da instalação do sítio aqüícola no local escolhido pelos

pescadores e técnicos da prefeitura. Nesse momento a experiência dos pescadores foi

fundamental para orientar os técnicos quanto ao tipo de atividade realizada no local,

facilidade de acesso, correntes aéreas e marítimas entre outras informações necessárias à

escolha da área e que fazem parte do conhecimento empírico dos “homens do mar”61.

O monitoramento da qualidade da água, principalmente dos coliformes e dos metais

pesados, pela SEAMA, nas principais áreas de cultivo proporcionou mudanças positivas

para as comunidades de Parati, Inhaúma e Anchieta-sede, que tiveram modificados seus

sistemas de esgotamento sanitário, predominantemente compostos por fossas sanitárias62.

Foi realizada a ligação do sistema de esgotamento sanitário de Parati à rede de tratamento

de esgoto de Ubu, e inserida a comunidade de Inhaúma em um novo projeto de tratamento

de esgoto. Anchieta-sede também foi beneficiada com o projeto de construção de uma

Estação de Tratamento de Esgoto (ETE)63.

61 “o que o identifica e o diferencia perante os outros por sua capacidade de orientação e de interpretação da linguagem da natureza. Articulando tecnologia às relações sociais como a territorialidade que permite ao homem do mar construir um horizonte de relacionamento das sociedades pesqueiras com o real, dividindo o mar em zonas de pesca e orientando as relações hierárquicas fundamentais e tradicionais ao universo pesqueiro” (Maldonado, 1994,). 62 Essa informação pode ser confirmada pelo valor do indicador de esgoto (no IDU) igual à 0,0046 para o município de Anchieta, que reflete a coleta dos esgotos sanitários, representado pelos domicílios particulares que estão conectados à rede geral ou que, possuindo fossa séptica, estejam conectados à drenagem pluvial (IPES, 2000b). 63 A conclusão da construção da ETE está prevista para o ano de 2005 (Mariângela Di Lorenzo, Oceanógrafa SEMPMA, comunicação pessoa à autora em 11 fev. 2003).

Page 83: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Os resultados obtidos com o monitoramento da qualidade da água, durante 13

meses, nas áreas de cultivo fez com que fosse rejeitada a hipótese de que o principal

problema de contaminação a que essas áreas estariam sujeitas seria a contaminação das

águas por agrotóxicos. Os resultados da análise apontaram para a contaminação das águas

por esgoto64, uma vez que após o mapeamento dos principais princípios ativos lançados na

água dos rios do município direta ou indiretamente e que teriam influência no cultivo, não

foi encontrado indício de nenhum dos 30 princípios analisados. A presença maior era de

metais relacionados à esgoto e à bactérias heteromórficas do grupo coliformes.

Um outro efeito da implantação da atividade no local foi que o famoso passeio de

barco, realizado por pescadores/maricultores há muitos anos, no rio Beneventes, teve o seu

trajeto expandido até o sítio aqüícola da Praia do Coqueiro, incrementando o turismo e

divulgando a atividade.

Segundo o projeto da PMA “Desenvolvimento sustentável na produção de

mexilhões”, o município de Anchieta possui uma área demarcada de 29,8ha destinada à

mitilicultura. Esta área está dividida em 09 sítios aqüícolas (QUADRO 9) e possui uma

capacidade de produção anual de mexilhões estimada em 145,5t.

As estruturas de cultivo, do tipo long line, sofreram alterações (desde a implantação

do projeto em 1998) no que se refere ao tamanho das bombonas utilizadas, ao formato da

poita e ao tamanho das mexilhoneiras, de forma a adaptá-las ao local de cultivo, uma vez

que essas estruturas foram copiadas de Santa Catarina, onde os locais de cultivo

apresentam características diferentes das de Anchieta.

As bombonas foram reduzidas (de 100 para 13 litros) como forma de diminuir a

área de atuação dos ventos, já que quanto maior a bombona, maior é a resistência oferecida

por ela, o que prejudica as estruturas de cultivo, causa o arrasto da estrutura e o

rompimento dos long lines e das mexilhoneiras.

As mexilhoneiras também foram reduzidas, de 2,0m para em média 1,5m, como

forma de diminuir o peso final das cordas, que com 1,5m de comprimento pode chegar a

40kg, evitando-se a perda da corda devido a um eventual rompimento da mesma pelo

excesso de peso. Além disso, o local possui uma profundidade mínima de mais ou menos

1,80m, na maré baixa, o que inviabiliza a colocação de mexilhoneiras maiores, mesmo

com um material mais resistente, pois o contato dos mexilhões com o fundo, na maré

64 Estando os valores dentro do previsto para o cultivo de organismos aquáticos para consumo humano na Resolução CONAMA n°20/86.

Page 84: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

baixa, permitirá a acumulação de sedimentos em seus tecidos, comprometendo a qualidade

do produto.

As poitas, que antes eram garatéias simples, foram modificadas incorporando uma

estrutura de cimento ao redor das mesmas, conforme observado pelos maricultores em

Santa Catarina, com o intuito de aumentar o peso das poitas e oferecer uma melhor fixação

aos long lines, evitando dessa forma o arrasto da estrutura por ventos ou correntes

marítimas.

Quadro 9 – Sítios aqüícolas de Anchieta/ES, localização e capacidade máxima de long lines.

Polígono (Sítio aqüícola)

Praia Localização Número máximo de long lines por

polígono

Comentários

1 Boca da baleia Castelhanos 37 2 Do Quitiba 70 Praia de pedra 3 Do Coqueiro e do

balanço Anchieta - sede 90 Maior concentração de

long lines 4 Juca da Mata Anchieta – sede 37 5 Caiao Anchieta – sede 17 6 Sapê Inhaúma 21 7 Ubá Inhaúma 10 8 Do tombo Inhaúma Tinha muitas mulheres e

está com os long lines vazios

9 Do Juiz Iriri 9 5.1.3 Produção

A divisão de trabalho entre homens e mulheres foi constatada durante a realização

do trabalho de campo. Os homens realizam as seguintes atividades: retirada de sementes do

costão, encordoamento, povoamento, manutenção do cultivo (realizadas no período da

manhã devido à menor insolação e à ocorrência de ventos mais amenos), despesca

(realizada à noite devido à menor insolação), aquisição do material e comercialização do

produto. Já o beneficiamento é uma atividade realizada predominantemente por mulheres,

podendo as mesmas, às vezes, ser responsáveis pelo controle dos gastos e de

produtividade, além da confecção das mexilhoneiras. As crianças acompanham os mais

velhos nas atividades de produção como: separação dos mexilhões, encordoamento e

beneficiamento, restando-lhes algumas vezes (como constatado em campo) o ofício de

Page 85: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

reparo das mexilhoneiras. Essa divisão de trabalho também foi observada por Alvarenga

(2002).

A Praia do Coqueiro é o sítio aqüícola considerado, pelos maricultores e ex-

maricultores, como o que possui a maior produtividade65.

“É a área mais preservada [...] ali eles já têm a área onde corre o rio que fica bem mais próximo [do local de cultivo] e aquilo combinou com a matéria orgânica que o sururu precisa. Então a gente trabalhava um pouco mais distante da área deles e na nossa área o sururu não crescia e não engordava tanto quanto os deles. Então eu acredito que lá foi a melhor área que eles pegaram. Por isso que eles continuaram o trabalho. E graças a Deus para eles lá, o trabalho pelo jeito está de vento em popa”. (marisqueira, 22 anos, Inhaúma, comunicação pessoa à autora em 11 fev. 2003, em Anchieta/ES).

Na Praia do Coqueiro, os mexilhões atingem o tamanho comercial (entre 6,0-7,0cm

de comprimento) em seis meses, a partir de sementes de 3,0-4,0cm de comprimento

(García-Prado, 2000). O sítio aqüícola está localizado em Anchieta-sede e possui

aproximadamente 80 long lines, distribuídos entre 12 maricultores, a uma profundidade

máxima de 3m na maré-alta.

Os long lines possuem 50m de comprimento (para a colocação das mexilhoneiras e

50m de lastro). O número de mexilhoneiras por long line, varia entre 100-120, com

comprimento médio de 1,5m (mín. 1,20m e máx. 1,70m) e uma produtividade estimada em

1,5kg (mín. 1,2kg e máx. 2,5kg) por mexilhoneira. Podemos inferir que os long lines

utilizados no local têm uma capacidade de produção estimada entre 120-300kg.

Quando os mexilhões atingem o tamanho comercial, estes são retirados das

estruturas de cultivo pelos maricultores e levados para serem beneficiados (lavados,

cozidos, desconchados e embalados).

O beneficiamento do produto é feito geralmente pelas esposas dos maricultores,

filhos, parentes e/ou ajudantes contratados para essa etapa da produção. Alvarenga (2002),

estima que cada maricultor emprega cerca de 4 (quatro) membros da família no processo

de beneficiamento.

65 Durante o período de janeiro a abril de 2001 foram comercializados 6.296kg de mexilhão pelos maricultores de Anchieta (Alvarenga, 2002).

Page 86: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

“Hoje mesmo, eu tirei à noite, porque fui eu, os meus filhos e o genro. Nós fomos à noite, fizemos a colheita do sururu, trouxemos para casa. As mulheres foram descascar e meu filho e meu genro, pegaram o barco e já foram pescar polvo, lá pelas 5 horas da tarde é que eles vão estar chegando. Quer dizer, já foram cuidar de outra atividade durante o dia, porque a limpeza agora, fica por conta das mulheres. Aí, é elas que resolvem o problema”. (maricultor 2, 60 anos, Praia do Coqueiro, comunicação pessoal à autora em 31 jan. 2003, em Anchieta/ES).

Os mexilhões são “despinicados” (processo de separação do mexilhão da valva),

após a fervura, e a carne é embalada em bandejas de isopor com capacidade para 0,5kg

quando destinados à venda no varejo ou em sacolas plásticas quando destinados à venda no

atacado. Os valores, do quilo da carne do mexilhão variam, entre R$6,00 (atacado) e

R$7,00 (varejo).

A AMA ainda não possui uma área de beneficiamento própria, pois a prefeitura não

possui escritura de terreno, em local de fácil acesso, para doação ou venda. Sendo assim, a

maioria do beneficiamento do produto ocorre na própria casa do maricultor (em fogão a

gás ou na maioria das vezes a pó-de-serra), à exceção de um grupo que está construindo

uma “unidade de beneficiamento” própria (FIGURA 11).

Os maricultores possuem uma etiqueta para a identificação do produto

comercializado, contendo informações como nome da associação, data da embalagem,

local de produção e número que identifica o maricultor que produziu.

A intenção é a de que se consiga o Selo de Inspeção Municipal (SIM) e

posteriormente, com a construção da unidade de beneficiamento, o Selo de Inspeção

Federal (SIF), para a comercialização do produto em supermercados e para a exportação.

A maioria dos maricultores prefere comercializar o produto sob encomenda e para

pessoas conhecidas, como uma forma de garantir a venda, o pagamento e a qualidade do

produto66.

“O negócio é o seguinte, a nossa preocupação é que nós não vendemos para qualquer um, porque nós queremos garantir a qualidade [do produto]. Porque nós podemos vender para ele, o sururu de boa qualidade e amanhã ou depois, ele pode comprar um da pedra, do costão e misturar [com os sururus de cultivo]. Então

66 Segundo os maricultores, se vendido para alguma peixaria desconhecida, esta pode misturar o produto do cultivo ao do costão que uma vez contaminado e causando alguma intoxicação alimentar pode prejudicar a imagem do cultivo de Anchieta. (maricultor 2, 60 anos, Praia do Coqueiro, comunicação pessoal à autora em 11 fev. 2003, em Anchieta/ES).

Page 87: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

para isso, é que nós temos o maior cuidado [com a venda]. [Só vendemos para os] compradores que nós temos confiança, que nós conversamos com ele. Então, até agora, está tudo bem [não tivemos problemas]”. (maricultor 2, 60 anos, Praia do Coqueiro, comunicação pessoal à autora em 11 fev. 2003, em Anchieta/ES).

Área de “desconchamento”

Área de armazenamento do produto para venda - resfriado

Andrés Berrio, 2004

Área de cocção – fogão a pó-de-serra

Figura 11 – Esquema da Unidade de Beneficiamento de um dos grupos de maricultores de Anchieta.

Os principais mercados consumidores dos mexilhões produzidos no município de

Anchieta são: Anchieta, Vitória e Cachoeiro do Itapemirim. E a maioria dos produtores e

dos consumidores prefere a comercialização do produto fresco, podendo o mesmo ser

congelado ou comercializado na “casca”67.

Os maricultores afirmam que a demanda é maior do que a oferta do produto.

Para a divulgação do produto e da atividade, foi realizada, no ano de 2000, uma

feira de degustação, através de uma parceria entre a PMA e o SEBRAE/ES.

O grande número de encomendas e pedidos de fornecimento semanal/mensal,

decorrentes desta, não puderam ser atendidos, pois faltava, e ainda falta, uma continuidade

67 Vendidos em sua própria concha.

Page 88: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

de produção. Além disso, os maricultores, na época, enfrentavam o preconceito dos

restaurantes locais, que preferiam o mexilhão retirado do costão.

“Os restaurantes daqui tinham uma resistência muito grande. Eles preferiam comprar o [mexilhão] do costão”. (Mariângela Di Lorenzo, oceanógrafa/SEMPMA, comunicação pessoal à autora em 11 fev. 2003, na Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Pesca de Anchieta/ES).

“[...] eu particularmente gosto mais do sururu de cultivo. Agora geralmente eu vendo muito o da pedra. Tem pessoas que chegam a perguntar, principalmente quando elas vêem o sururu muito bonito. Elas perguntam: - Você tem certeza? Você não está mentindo? Porque o sururu de cultivo, eu não como! Eu não gosto! Aí eu até falo: - [Mas está] todo mundo procurando mais [o sururu] de cultivo. Aí eles até brincam: - Não, esse aqui tem um sabor mais natural. Por mais que tenha uma terrinha. Mas é diferente”. (marisqueira, 22 anos, Inhaúma, comunicação pessoal à autora em 11 fev. 2003, em Anchieta/ES).

O festival do sururu com o objetivo de divulgar o que é “produzido” e beneficiado

no município, reflete o apelo econômico que muitas espécies possuem devido à sua ampla

utilização na preparação de pratos típicos regionais, como a torta capixaba e junto aos

consumidores que apreciam os frutos do mar, como são chamadas várias espécies de

crustáceos e moluscos marinhos utilizados na alimentação humana (Ferreira, 1999).

Com a realização do 1° festival de sururu68, a imprensa suscitou a possibilidade da

ocorrência de distúrbios gástricos, devido à ingestão dos mexilhões, possivelmente

contaminados pela água de má qualidade encontrada no local do cultivo. Afinal, essas

pessoas tinham como referência os mexilhões retirados da Baía de Vitória, que apresentam

em sua carne, elevadas concentrações de bactérias heterotróficas do grupo coliformes

(Carmo et al, 1995). Essa preocupação não foi confirmada e até hoje não foi registrada

nenhuma notificação na Secretaria de Saúde de Anchieta relacionada a caso de intoxicação

alimentar causada pelo consumo de mexilhões.

“E aí, veio o primeiro festival de sururu. Aí a imprensa dizia assim: - Vai dar piriri em todo mundo. Come adoidado. Porque [cada um recebia] uma canequinha e comia o quanto queria. E continuava: - Ah! Mas depois todo mundo passa mal. Eles [repórteres], tinham o

68 Foram realizados quatro festivais no período de 2000 a 2003.

Page 89: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

preconceito [com o] mexilhão do mangue. [Principalmente com o retirado] da Baía de Vitória, que é contaminado e acaba realmente provocando diarréias. E aqui o pessoal também foi perdendo esse [medo], vendo que o [mexilhão] de cultivo é de qualidade”. (Mariângela Di Lorenzo, oceanógrafa/SEMPMA, comunicação pessoal à autora em 11 fev. 2003, na Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Pesca de Anchieta/ES).

5.1.4 Dificuldades e necessidades

A principal dificuldade relatada pelos maricultores para dar início à atividade e/ou

aumentar a produção, está relacionada à aquisição de uma linha de crédito que possibilite a

compra de embarcação (fundamental para a manutenção das estruturas de cultivo e para o

manejo da atividade), e/ou de veículo automotor, como por exemplo, um bugre e um

reboque para auxiliar no transporte dos equipamentos e do produto.

No caso dos maricultores que já possuem embarcação, a reivindicação está

relacionada à criação de linhas de crédito que forneçam financiamento para a manutenção

da embarcação, pois esta é o principal instrumento de trabalho do maricultor.

Além disso, também foram relatadas dificuldades quanto: a) ao suprimento de

material como: cordas de navio e bombonas; b) à freqüência de furtos de mexilhoneiras; c)

à instabilidade no fornecimento de sementes e de comprador; e d) ausência de uma unidade

de beneficiamento e conseqüentemente do SIF, reduzindo a área de comercialização do

produto.

Não foram relatados problemas referentes a conflitos de uso.

5.1.5 Expectativas

As expectativas dividem-se entre: a) a implantação do cultivo da ostra japonesa no

local69; b) a intenção da PMA em investir na construção de um laboratório para a produção

de sementes de ostra japonesa, como forma de garantir a sustentabilidade da atividade; c) o

processo de inscrição estadual da AMA; e d) caso seja montada uma unidade de

beneficiamento, o aproveitamento das maricultoras no beneficiamento do produto (mão-

de-obra qualificada, cuja desistência na maricultura está relacionada ao enorme esforço

69 As ostras japonesas já estão sendo comercializadas a R$1,50-2,00/unidade (Rosebel Cunha Nalesso, comunicação pessoal à autora em 12 mar. 2004).

Page 90: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

físico necessário ao desenvolvimento da mesma). Além disso, a construção de uma

unidade de beneficiamento possibilitará a aquisição do SIM e/ou SIF.

5.2 Histórico da atividade no município de Piúma

A maricultura teve início no município de Piúma, no ano de 1987, através de um

projeto experimental intitulado “Implantação de cultivo consorciado de algas marinhas,

ostras e mexilhões no município de Piúma”, com o apoio da extinta Superintendência do

Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), Coordenação Geral de Planejamento Setorial

(COPLAN), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),

Gerência da Região do Sertão (GERES) e a extinta Superintendência para o

Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE).

O cultivo era realizado na Ilha dos Cabritos, distante aproximadamente 600m da

costa. As espécies cultivadas eram: Nodipecten nodosus (vieira), Perna perna (mexilhão

ou sururu da pedra), Crassostrea gigas (ostra japonesa) e macroalgas.

Essa atividade sem fins comerciais, conduzida pelo Sr. Lin Jeung Sik70, extinguiu-

se no ano de 1988.

As sementes utilizadas no projeto eram provenientes de diversos lugares. As de

ostra eram fornecidas primeiramente pelo Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo

Moreira (IEAPM) e posteriormente pela UFSC e EPAGRI, as de vieira eram provenientes

primeiramente do Chile71 e posteriormente do Instituto de Ecodesenvolvimento da Baía de

Ilha Grande (IED-BIG) e as sementes de sururu e de macroalgas eram obtidas nos bancos

naturais existentes no local.

Após o término desse projeto experimental, a maricultura no município ficou

suspensa durante o período de 1988 a 1990.

Em 1990, a ESCOPESCA assume as atividades e dá continuidade aos cultivos de

ostra japonesa, vieira e mexilhão. Esses cultivos passam a ter um novo enfoque com a

mudança da finalidade da atividade, que deixa de ser experimental e passa a ter fins

didático e comercial: ensinar os alunos da ESCOPESCA e fornecer uma fonte alternativa

de renda aos pescadores locais com o aumento do número de long lines.

70 Lotado no Departamento de Pesca e Recursos Naturais do IBAMA. 71 A professora Drª Erica Pauls afirma que o pectinideo produzido no Chile pertence ao gênero Argopecten e não Nodipecten diferindo do que foi informado pelos maricultores (comunicação pessoal).

Page 91: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

5.2.1 A organização da atividade

Quando assumiu a balsa, deixada pela SUDEPE, com aproximadamente 5.000

ostras, a ESCOPESCA as comercializou, após atingirem 7,0cm de comprimento. Com o

dinheiro obtido através da venda, comprou da UFSC e de um laboratório particular em

Santa Catarina mais sementes para o repovoamento e para a expansão da atividade.

Também foram adquiridas novas sementes de vieira do IED-BIG.

As sementes de mexilhão ainda eram retiradas do costão. Hoje em dia, segundo o

diretor da ESCOPESCA, Nelson Xavier e Silva, essa prática é evitada ao máximo, sendo

utilizadas para repovoamento as sementes oriundas do próprio cultivo.

Atualmente o cultivo envolve: a) um professor da ESCOPESCA e dois pescadores

locais, que possuem long lines para fins comerciais; b) universidades como a UFES e a

Universidade de Vila Velha (UVV), que realizam pesquisas no local e c) alunos da

ESCOPESCA, que aprendem, através das aulas de maricultura, como manejar um cultivo

(povoamento, manutenção, despesca e comercialização).

5.2.2 Infra-estrutura dos locais de cultivo

A área de cultivo possui oito long lines de 50m, distribuídos da seguinte forma:

dois pertencentes à ESCOPESCA; dois pertencentes a um professor da escola; um

pertencente ao Departamento de Zootecnia da UVV; dois pertencentes a um dos

pescadores envolvidos na atividade e um pertencente ao outro pescador (QUADRO 10).

Quadro 10 – Número de long lines por maricultor, no cultivo da Ilha dos Cabritos, Piúma/ES (fevereiro de 2003).

Maricultor Número de long lines Pescador 1 02 Pescador 2 01 ESCOPESCA 02 Professor da ESCOPESCA 02 Departamento de Zootecnia – UVV 01 Total 08

No início das atividades, oito pescadores possuíam long lines com fins comerciais

na área de cultivo. Hoje em dia apenas dois pescadores continuam a produzir no local.

Page 92: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

A ESCOPESCA, já contou com a parceria do SEBRAE/ES, para o

desenvolvimento da maricultura no município, mas essa parceria foi desfeita em 1997 e

hoje, a escola, não possui nenhum tipo de apoio. São feitas apenas parcerias com

Universidades para fins de pesquisa.

Os alunos da escola, que se interessam pela maricultura são organizados em um

grupo de doze alunos e no início do ano, esse grupo é então dividido em quatro grupos de

três alunos que visitam semanalmente o cultivo.

A escola já prestou assistência técnica à Prefeitura de Anchieta, quando esta iniciou

a atividade em seu município e presta ainda hoje assistência técnica a um produtor

particular de Ubú (Anchieta/ES), que cultiva vieira. Existe também um produtor em

Anchieta que é ex-aluno da escola.

A área é considerada propícia ao cultivo, pois não apresenta problemas quanto à

qualidade da água (esgoto), possui boa disponibilidade de alimentos (produtividade

primária) e a variação da temperatura durante o ano é pequena, não sendo capaz de causar

altos níveis de mortandade.

O mexilhão e a ostra japonesa, por exemplo, atingem o tamanho comercial entre 6-

7 meses. O local também não possui problemas de conflito de uso com outras atividades

náuticas.

5.2.3 Produção

A produção hoje é considerada baixa, pois não atende sequer o mercado local.

Quando o diretor da ESCOPESCA, foi questionado sobre a aceitação da ostra japonesa, no

mercado interno, a resposta obtida foi: “É total! Tem é muita gente querendo comprar e a

gente não tem é o produto para vender”72, ou seja, a oferta do produto não supre a demanda

pelo mesmo.

O município não possui um centro de beneficiamento para os produtos gerados pela

maricultura. Os moluscos, oriundos dos long lines pertencentes à ESCOPESCA, são

beneficiados na cozinha da própria escola. O produto beneficiado não possui um selo de

identificação informando a origem, o produtor, a forma de armazenamento, a data de

validade ou o peso. Um projeto foi apresentado ao BANDES, para a disponibilização de

72 Nelson Xavier e Silva, comunicação pessoal á autora em 31 jan. 2003, na ESCOPESCA – Piúma/ES.

Page 93: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

verba tanto para a ampliação do cultivo quanto para o melhoramento do beneficiamento do

produto no município.

5.2.4 Dificuldades e necessidades

As dificuldades de produção, crescimento e continuidade da atividade estão

relacionadas aos furtos das cordas (mexilhoneiras), recorrentes no local. Esse foi o

principal motivo para a desistência de muitos pescadores e tem desanimado os que

permaneceram na atividade a fazer um investimento maior, dificultando a expansão da área

de cultivo e o aumento da produtividade. Para tentar contornar esse problema, os

produtores e os interessados em iniciar um cultivo, estão se mobilizando para a contratação

de vigias.

No início das atividades, como citado pelo diretor da ESCOPESCA, o trabalho de

fiscalização e de manutenção dos long lines era mais difícil, porque eles não possuíam

embarcação a motor. Suas embarcações eram todas a remo. Recentemente a escola

adquiriu uma embarcação com motor de popa, facilitando o trabalho.

5.2.5 Expectativas

Quanto à expansão do cultivo, o diretor da escola informou que várias pessoas têm

interesse em iniciar a atividade e que o local possui capacidade para abrigar novos long

lines.

“Nós podemos cultivar em toda essa área. O cultivo é em área aberta mesmo. Agora o sistema de fixar os long lines é que é diferente, não usa poita e nem âncora. Faz um sistema diferente de fixação que pode estar o vento que for, que não afeta a estrutura. Então, com essa experiência, que nós vimos lá em Santa Catarina, a gente pode ver que toda essa área, tem condições, que é propícia para implantar módulos [long lines] de cultivo”. (Nelson Xavier e Silva, diretor da ESCOPESCA, comunicação pessoal à autora em 31 jan. 2003, na ESCOPESCA).

A professora de geografia da ESCOPESCA Rose Gomes, filha de pescador, fez

uma análise da pesca no município e no Estado como um todo, chegando à conclusão de

Page 94: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

que “o volume do pescado tem diminuído bastante, nos últimos anos e que isso está sendo

um incentivo para que os pescadores passem a se interessar pela maricultura”73.

“A pesca aqui está caindo muito. O que está acontecendo? Par] os barcos de peroá, barcos de caída, a pesca está muito pouca. Não está proporcionando uma renda suficiente para os pescadores estarem suprindo as suas necessidades diárias. Então quer dizer, a maricultura surge como uma opção de fonte de renda segura, mensal para o pescador. É uma coisa certa, porque para o mar eles vão, mas eles não sabem o que eles vão trazer, a quantidade, quanto eles vão ganhar. Enquanto que na maricultura não. Ela é uma coisa que está ali, que você já tem uma certeza de que aquilo dali, vai te render alguma coisa, aquele mesmo valor. Basta você ter quem compre. Então, quer dizer, é uma coisa muito mais segura. Por isso é que o investimento na maricultura está crescendo. Tem muito interessado, mas falta recurso para estar fazendo esse investimento”. (Rose Gomes, professora da ESCOPESCA, comunicação pessoal à autora em 31 jan. 2003, na ESCOPESCA).

Os pescadores têm se interessado pela maricultura como uma fonte de renda

alternativa à pesca, porque segundo ela, a pesca é uma atividade que causa muito

sofrimento a quem pratica.

“[...] a vida é muito difícil, é uma vida muito amargurada, o tempo que eles pegam lá fora, eles saem sem saber o quanto vão ganhar e mesmo porque a pesca está ruim”. (ibid.).

Os pais, não desejam que os filhos sejam pescadores também. Mas o que se nota na

escola é que muitos dos filhos querem seguir a profissão do pai.

“Em relação aos alunos, é difícil um que chegue a 8ª série e levante a mão, que não queira ser pescador, que queira ser médico, um advogado e tudo mais. Não, eles querem é ser pescador”! (ibid.). “O pai quando é pescador, o filho também vai ser, porque ele pega aquilo como motivação”. (ibid.).

73 Comunicação pessoal à autora em 31 jan. 2003, na ESCOPESCA – Piúma/ES.

Page 95: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Para a professora, a maricultura surge como uma fonte alternativa de renda para os

pescadores que vêm investindo cada vez mais na atividade. E esse investimento só não é

maior, por falta de recursos próprios.

5.3 Histórico da atividade no município de Guarapari

Em 1997, através de um convênio de cooperação técnica (SEBRAE/ES, CTA e

Prefeitura Municipal de Anchieta) e financeira (BANDES), surge dentro do programa

“Desenvolvimento Tecnológico”, o projeto “Extensão e difusão tecnológica” e o sub-

projeto “Mitilicultura” implantado nas comunidades de Concha D’Ostra, Meaípe e

Perocão, no município de Guarapari, envolvendo 16 famílias, cujo objetivo era: Produzir mariscos, sob a perspectiva da indústria, complementando, desta forma, a renda familiar dos pescadores, o que beneficiará as comunidades pesqueiras envolvidas, proporcionando-lhes melhor qualidade de vida, uma vez que [...] a pesca – como atividade econômica – está rareando. (SEMA, 1998).

O projeto com duração inicial de um ano, prorrogado por mais um, tinha como

estratégia a divulgação através da mobilização e sensibilização das comunidades (por meio

de palestras e reuniões), iniciada em agosto de 1997, o levantamento de preços e a

aquisição de material, a coleta de água para avaliação da qualidade ambiental e a

implantação do cultivo, prevista para setembro de 1997.

Um grupo gestor, formado por representantes do CTA/SEBRAE-ES, BANDES e

PMG, foi responsável pela apresentação do projeto à comunidade, pela definição de

estratégias, pela avaliação e planejamento das ações, pela divisão das responsabilidades,

pela tomada de decisão, pela coesão da atuação e realização de reuniões mensais para o

acompanhamento do cultivo, solução dos problemas e engajamento das famílias

envolvidas, entre outros.

A escolha do local e o monitoramento da qualidade de água do cultivo, realizado de

15/15 dias, foram feitas pelo CTA e a transferência de tecnologia pelo Sr. Rui

Montovanelli (maricultor de Anchieta e, na época, funcionário do CTA).

Os maricultores tinham como atribuições: zelar pelo material recebido, utilizando-o

exclusivamente para a maricultura, participar efetivamente de todos os processos de

Page 96: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

produção e seguir as recomendações do técnico. O não comprometimento com essas

obrigações ocasionava o desligamento do mesmo do projeto.

As espécies cultivadas eram P. perna (em Perocão e Meaípe) e C. rhizophorae (em

Concha D’Ostra) e as estruturas de cultivo utilizadas balsas flutuantes (C. rhizophorae) e

long lines duplos e simples (P. perna).

Às famílias cadastradas74 pelo grupo gestor com interesse em cultivar mexilhões,

foi feita a doação de um long line para cada maricultor. Posteriormente esses maricultores

receberiam mais dois long lines, mas segundo eles, nem todos receberam.

O projeto foi divulgado em vários jornais locais e a divulgação da produção foi

feita principalmente através do 1° Festival de Sururu realizado no dia 19/08/99, com o

apoio do comércio local, da colônia de pescadores, da PMG, do BANDES e do

SEBRAE/ES.

O grupo gestor previa que a primeira despesca realizada na comunidade de

Perocão, seria em maio de 1998 e que a produção seria de 1.000kg de mexilhões nos long

lines simples e de 2.000kg de mexilhões nos long lines duplos em sete meses de cultivo.

Porém nem o período estimado para despesca nem a produção esperada, foram atingidos,

uma vez que o tempo necessário para despesca em Perocão varia entre 10 e 12 meses e a

produção por long line simples entre 100-140kg.

A primeira reunião realizada com os maricultores após a implantação do cultivo

teve destaque para os seguintes pontos: aumento do número de long lines, devido o longo

tempo de espera até a realização da colheita, estratégias para escoamento da produção e

marketing, realização de um festival do sururu, necessidade de um maior engajamento dos

maricultores de Guaibura e falta de fontes de financiamento, entre outros. Também foi

ressaltada a intenção de vários maricultores em abandonar a atividade e esclarecido que a

verba recebida era para a implantação do cultivo e não para sua manutenção, pois esta

deveria correr por conta do maricultor.

No ano de 1999 foram extintos os “parques de cultivo” de Concha d’Ostra e de

Meaípe, sendo os long lines do cultivo de Meaípe transferidos, pelo grupo gestor, para a

localidade de Guaibura. A redução do número de famílias envolvidas no projeto, foi de 40

para 15 (10 em Perocão e 05 em Guaibura).

74 O cadastro contava com cerca de 16 famílias interessadas em iniciar cultivos de ostra (em Concha D’Ostra) e de mexilhão (em Perocão e Meaípe).

Page 97: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Em agosto de 2001, alguns maricultores participaram do programa “Redes

Associativas Empreendedoras”, promovido pelo SEBRAE/ES, com o objetivo de

reestruturar a Associação de Maricultores de Guarapari (AMAGuarapari). A apostila

recebida continha ações para a promoção e o estímulo do espírito associativista, tendo

como palavras-chave para a continuidade do trabalho: união, objetividade e

comprometimento. As principais expectativas e estratégias geradas foram: otimização da

área de produção, busca de linha de crédito pela associação, estabelecimento de parcerias

para produção, criação de um fundo de amparo para o maricultor via associação e

aquisição de uma sede para a AMAGuarapari.

Durante o período de 23 a 30/11/01, quarenta maricultores dos Projetos Maricultura

do Norte (Conceição da Barra e São Mateus) e do Sul (Guarapari), visitaram o pólo de

cultivo de moluscos de Santa Catarina, com o objetivo de ampliar o conhecimento técnico

e promover o intercâmbio de informações sobre a cadeia produtiva dos mariscos e sistemas

de integração.

5.3.1 A organização da atividade

O processo de legalização da atividade junto ao IBAMA e à CPES foi iniciado no

ano de 1997. Todas as taxas referentes à legalização foram pagas e o valor rateado entre os

maricultores. As únicas isenções obtidas foram referentes às taxas da Secretaria Municipal

de Meio Ambiente de Guarapari e da SEAMA. As áreas de cultivo da Praia da Cerca e de

Guaibura foram demarcadas pela CPES.

Para o fornecimento de cabos de amarras de navios, utilizados para a confecção das

mexilhoneiras, foi firmado um termo de compromisso entre a empresa DOCENAVE e a

PMG. No entanto, isso não foi suficiente para que o suprimento desse material atendesse à

demanda dos maricultores.

A AMAGuarapari (CNPJ03.881.938/0001-56), com estatuto social de 01/08/00

(ano da fundação), registro de aqüicultor (n°21018009095/2001-41) de 16/04/02 e com

alvará de funcionamento desde 12/06/02, tem como premissa que somente os maricultores

cadastrados na AMAGuarapari podem realizar a atividade. Para se cadastrar é necessário

ser morador do município e é recomendável que o interessado já conheça a atividade.

Fazem parte da AMAGuarapari, os maricultores de Perocão e de Guaibura.

Page 98: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

O mandato do presidente é de dois anos e a realização das reuniões é mensal. A

falta consecutiva em três reuniões ou cinco intercaladas leva à exclusão do maricultor da

associação.

Alguns maricultores da comunidade de Guaibura demonstraram interesse em se

desligar da AMAGuarapari e de fundar uma associação apenas para Guaibura, já que as

duas áreas de cultivo ficam distantes (aproximadamente 14 Km). Muitos maricultores de

Perocão comentaram a falta de interesse dos maricultores de Guaibura em participar das

reuniões.

5.3.2 A infra-estrutura do local de cultivo de Perocão A primeira área escolhida para o cultivo de mexilhões em Perocão não era

adequada, devido à grande exposição a ventos. A terceira opção, Praia da Cerca (Morro da

Pescaria – Parque Municipal de Guarapari) é onde hoje está sendo realizado o cultivo. A

área tem um hectare e mais ou menos 42 long lines, distribuídos entre os 10 maricultores

cadastrados na AMAGuarapari.

O cultivo está localizado a mais ou menos 200m da praia e utiliza long lines de

50m, com 100-120 mexilhoneiras de 1,50m de comprimento. Tanto as bombonas utilizadas

na confecção dos long lines (FIGURA 12), quanto o tamanho das cordas e do long line,

foram reduzidos de forma a adaptar à estrutura a realidade do local.

Guarapari

50m1m

25m

25m

350kg 350kg

1,5m

Maré BaixaMaré Morta

Maré Alta

6m

50 Unidades

100 - 120 Unidades

ExtrativismoCultivo

Andrés Berrio, 2004

Figura 12 - Esquema do sistema de cultivo de mexilhões de Guarapari/ES.

Page 99: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

O tempo de cultivo varia entre 10-12 meses e a produção por corda é em torno de

1,0-1,2kg.

Ficou constatado que nem todos os maricultores possuem embarcação e, por isso,

dependem dos que possuem para chegar até o local de cultivo.

“Nosso tempo de deslocamento daqui de Perocão até lá na Praia da Cerca [local de cultivo] depende do barco, mas está na faixa de meia hora”. (maricultor 4, Perocão, comunicação pessoal à autora em 07 fev. 2003, em Perocão/ES). “Pior para aquele que não tem a embarcação, porque ele depende do favor dos outros. E você largar o seu [trabalho] para poder ajudar os outros, é difícil. Então quem não tem [embarcação] tem uma dificuldade dupla, porque [além de depender da carona], tem que esperar você terminar o seu serviço [para que ele posa fazer o dele]. E às vezes você não tem tempo, porque você tem que retornar e fica complicado para quem não tem [embarcação]. Esse é um dos itens que dificulta o trabalho de quem não tem o barco [na maricultura]”. (maricultor 4, Perocão, comunicação pessoal à autora em 07 fev. 2003, em Perocão/ES).

A seleção dos mexilhões por tamanho para o povoamento e para a despesca é feita

em mesas selecionadoras, construída pelos maricultores e localizadas na balsa flutuante

(FIGURA 13), próximo à saída do rio Perocão.

Os equipamentos básicos necessários à atividade, segundo os maricultores, são:

corda, meinha, bombona e barco, além do suprimento de sementes. As sementes utilizadas

no cultivo, são provenientes do costão rochoso75 e do próprio cultivo.

A mitilicultura, por ser uma atividade muito cansativa devido ao extenuante

trabalho braçal, torna-se mais leve quando ocorre divisão de trabalho, mas essa não é uma

constante na comunidade de Perocão. Cerca de 90% dos maricultores desenvolvem outras

atividades além da mitilicultura e apenas uma pessoa é reconhecida na comunidade como

quem vive exclusivamente da mitilicultura. Mesmo assim, exerce outra atividade, pois diz

que devido à falta de financiamento, não tem como investir/expandir e fazer com que a

mitilicultura garanta o sustento de sua família. Para os maricultores de Perocão, a

mitilicultura encontra-se sub-dividida nas etapas apresentadas no QUADRO 11.

75 Extração de sementes de mexilhão entre 3,0-4,0cm, devidamente autorizada pelo IBAMA.

Page 100: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Andrés Berrio, 2004

Andrés Berrio, 2004

Figura 13 – Esquema da balsa flutuante utilizada pelos maricultores de Perocão, para o auxílio na preparação das mexilhoneiras.

Page 101: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Quadro 11 – Etapas da mitilicultura e suas necessidades.

Etapa Material necessário

Tempo gasto Número de pessoas

envolvidas

Gênero Local

Aquisição do material

- - - Homens/Associação -

Construção do long line

- Corda - Bombona - Cimento - Ferro

- - Homens -

Confecção de corda

- Corda - - Maioria homens -

Coleta de semente - Sementes de 3,0-4,0cm

- - Homens - Costão - Cultivo

Encordoamento - Mexilhoneiras - Tubo de PVC - Meinha - Corda

- - Maioria homens

Povoamento - Barco 1-2 dias 01 Homens - Cultivo Manutenção - Barco

- Material para substituição

- - Homens - Cultivo - Balsa

Manejo - Barco - Cordas

- - Homens - Balsa

Colheita - Barco ½ dia 02-03 Homens - Cultivo Beneficiamento - Fogão

- Gás ou pó-de-serra - Bandeja de isopor - Filme PVC - Etiquetas

½ dia 03-05 Maioria mulheres - Unidade de beneficiamento

Comercialização - - 01-02 Maioria homens - Os gastos com gás ou pó-de-serra para o cozimento dos mexilhões, além das

pessoas pagas para ajudar nas diferentes etapas da atividade, principalmente no

beneficiamento, estão entre os maiores gastos para a manutenção do cultivo.

O número de desistentes registrado em Perocão desde o início da atividade foi de

dois maricultores.

Quando estava analisando os documentos sobre a maricultura em Guarapari,

encontrei uma reclamação, junto à PMG, dos moradores de um edifício da Praia da Cerca,

situado em frente ao local de cultivo. Esses moradores enviaram um documento à PMG e à

CPES (em 04/03/02), exigindo que fossem tomadas providências quanto à colocação

“descontrolada” de long lines no local. Os moradores argumentavam que o local possuía

15 long lines em julho de 2001 e em março de 2002, esse número subiu para 26. Um outro

Page 102: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

documento já havia sido enviado anteriormente (08/05/00), pedindo a retirada/suspensão

da atividade no local. Em resposta a esse documento, a CPES, em 23/05/00, propôs a

adequação da atividade no local. Estas foram as únicas reclamações relacionadas à

conflitos de uso registradas, durante o trabalho de campo.

5.3.3 A infra-estrutura do local de cultivo de Guaibura O cultivo de Guaibura teve início após a desativação do “parque de cultivo” de

Meaípe. Os long lines utilizados em Meaípe foram transferidos (em agosto de 1999), para a

Praia de Guaibura e as pessoas da comunidade interessadas em desenvolver a atividade,

receberam do grupo gestor da maricultura em Guarapari, um long line para cada dois

maricultores.

No começo tanto a comunidade quanto os maricultores estavam muito desconfiados

de que o empreendimento pudesse ter sucesso, uma vez que o mesmo havia fracassado em

Meaípe.

O “parque de cultivo” de Guaibura, localizado a cerca de 70m da praia, possui uma

área de aproximadamente 3ha (Buitrón-Vuelta, 2002), com profundidade variando entre 4

e 10m. Atualmente conta com 26 long lines, pertencentes a cinco famílias do local.

As estruturas de cultivo, assim como nos demais “parques de cultivo” foram

adaptadas à realidade local.

O número de mexilhoneiras por long line varia entre 90-120. Os long lines possuem

o mesmo comprimento dos cultivos de Perocão e de Anchieta (50m). Cerca de 60% das

sementes são provenientes do costão e de ilhas próximas. O tamanho das sementes

utilizado no “parque de cultivo” é superior ao de Perocão, com o intuito de diminuir o

tempo de cultivo.

“O tamanho do sururu também [mudou]. Porque antes era quanto menor melhor. Agora é quanto maior melhor”. (maricultor 5, Guaibura, comunicação pessoal à autora em 29 jan. 2003).

As mexilhoneiras possuem 1,5m de comprimento e chegam a produzir cerca de

1,5kg de carne de mexilhão, podendo um long line produzir entre 135-180kg.

Page 103: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

As principais vantagens em relação ao “parque de cultivo” de Perocão são: menor

tempo de cultivo (07 meses) e o fato de que todos os maricultores possuem embarcação

(bateiras).

Em Guaibura nenhum dos maricultores vive exclusivamente da mitilicultura e até

hoje, dois maricultores desistiram da atividade no local. Quanto à desistência dos

maricultores de Meaípe, os maricultores de Guaibura, acreditam que tenha sido devido ao

não domínio da técnica e à utilização incorreta do material.

Cerca de 60% dos maricultores contam com a ajuda de suas esposas, no controle da

produção, no beneficiamento e às vezes no encordoamento.

5.3.4 Produção em Perocão

A PMG doou à AMAGuarapari, em dezembro de 2002, 50% do imóvel destinado

ao mercado de peixe de Perocão, para que o mesmo fosse transformado em uma unidade

de beneficiamento. No início, uma pequena resistência foi gerada pelos pescadores quanto

à divisão do mercado para a utilização de 50% do mesmo como unidade de beneficiamento

pelos maricultores. Porém essa situação já foi contornada. Os maricultores argumentaram

que eles são um tipo de pescador.

“O maricultor é um tipo de pescador, afinal de contas eles vivem de alimentos que retiram do mar, então porque não ter o direito à utilização”? (maricultor 4, Perocão, comunicação pessoal à autora em 07 fev. 2003, Perocão/ES).

Em Perocão, 80% dos maricultores utilizam essa unidade para o beneficiamento do

mexilhão, uma vez que fica mais próximo do local de desembarque dos mexilhões do que

as suas casas, facilitando o traslado. O local necessita de diversas reformas para se adequar

aos padrões da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). As melhorias estão

sendo feitas aos poucos, com o dinheiro dos maricultores, pois a expectativa é de que a

unidade possa atender 100% dos maricultores e se transforme em um ponto de venda. A

empresa SAMARCO Mineradora S/A fez a doação de um fogão a pó-de-serra para a

unidade, e um dos maricultores adquiriu um freezer horizontal para a conservação do

mexilhão.

Page 104: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

A comercialização do produto, fresco ou congelado, é feita em bandejas de isopor

contendo 0,5kg de carne de mexilhão recoberta com filme PVC, é vendida a R$8,00/kg. As

bandejas possuem uma etiqueta com as seguintes informações: data de embalagem,

temperatura ideal para a conservação do produto e nome da associação. A colocação da

etiqueta é obrigatória, embora algumas vezes “esquecida”, conforme pôde ser verificado

no trabalho de campo. Esse “esquecimento” constatado em campo, pode ter sido

proposital, pois algumas vezes os maricultores são obrigados a retirar as suas cordas antes

que os mexilhões atinjam o tamanho comercial devido ao desgaste das mesmas. Como os

mexilhões não atingiram o tamanho comercial, os maricultores optam por não colocar a

etiqueta como forma de resguardar a associação, pois os mesmos estão com um padrão de

qualidade inferior ao que costuma ser comercializado pelos maricultores pertencentes à

AMAGuarapari.

O principal destino dos mexilhões produzidos pelos maricultores de Perocão são os

restaurantes e a venda no varejo. Foi relatado pelos maricultores a necessidade dos mesmos

em adquirir noções de estratégia de venda/marketing a fim de incrementar as vendas e a

divulgação do produto.

“O mercado ele absorve. O que é produzido sai. Só que nós sentimos falta, vamos por assim: o projeto colocou pra gente a técnica de produção, então nós estamos sentindo falta de uma técnica para colocar o produto no mercado. O SEBRAE nos trouxe alguma noção, mas estamos esperando ainda esse contato, esse auxílio na comercialização do produto. Cada um vende da forma que lhe convém. Mas nós gostaríamos de ter um modelo que se coloque mais fácil para a pessoa também. Nem todo mundo tem o dom de comercializar. Então só algumas pessoas é que comercializam. Então o freguês quando quer [mexilhão], vem na casa do maricultor. Isso é bom e é ruim, porque você está em casa e às vezes está ocupado e tem que largar o que está fazendo para atender [o freguês]. [...] Mais tarde nós estamos pensando em destinar um espaço para venda [do mexilhão] nessa área de beneficiamento, o que seria o certo né? Você colocar ali um ponto a venda, uma pessoa destinada para isso e então não existiria mais esse negócio de você vender em casa.”. (maricultor 4, Perocão, comunicação pessoal à autora em 07 fev. 2003, Perocão/ES).

Os maricultores atribuem as perdas na produção a duas razões: à utilização de

material inadequado, devido à inexperiência do maricultor. E, particularmente no ano de

2002, à uma agitação atípica do mar, durante a maior parte do ano.

Page 105: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

5.3.5 Produção em Guaibura

Para a cocção do mexilhão, apenas um maricultor utiliza fogão a pó-de-serra

enquanto que os outros utilizam fogão a gás. A comunidade não possui unidade de

beneficiamento, não obstante a doação de 50% do imóvel destinado ao mercado de peixe

de Perocão para a transformação em uma unidade de beneficiamento, ter sido feita pela

PMG à AMAGuarapari. Os maricultores de Guaibura como membros da associação, têm

direito à utilização da unidade, porém a distância de aproximadamente 14 Km entre o local

de cultivo e a unidade de beneficiamento e o fato de que esses maricultores não possuem

veículo automotor para o traslado, impossibilita a utilização dessa unidade por esses

maricultores.

A comercialização dos mexilhões assim como nos outros “parques de cultivo” é

feita em bandejas de isopor de 0,5kg, recobertas com filme PVC e etiquetadas (mesma

etiqueta utilizada em Perocão). A carne do mexilhão é vendida a R$8,00/kg.

Os principais mercados consumidores são os restaurantes e o varejo, onde os

mexilhões são vendidos frescos ou congelados. Além disso, um dos maricultores

comercializa “mexilhão na casca” para o município de Domingos Martins (região serrana

do Estado do Espírito Santo).

No ano de 2002, os maricultores de Guaibura tiveram perda de 50% da produção

devido à agitação do mar que danificou as mexilhoneiras e os long lines, ocasionando a

perda dos mexilhões, assim como aconteceu no “parque de cultivo” da Praia da Cerca, com

os maricultores de Perocão.

5.3.6 Dificuldades e necessidades em Perocão

As linhas de financiamento existentes (BANDES e Banco do Brasil), não

contemplam os maricultores, que não possuem bens fiduciários, como, por exemplo,

escritura de imóvel (uma vez que a maioria deles reside em terreno de marinha), ou pelo

fato de que os financiamentos não se aplicam à aquisição de embarcação, reboque e/ou

carro, meios de transporte importantes para o manejo do cultivo. As linhas de crédito

existentes financiam apenas a aquisição de material de consumo (meinhas, bombonas,

bandejas de isopor), que não apresentam um custo muito elevado (bombonas e meinha) ou

Page 106: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

que por ser muito caro, na maioria das vezes é conseguido através de doação (como as

cordas de amarração de navio).

As principais dificuldades, citadas pelos maricultores, para o desenvolvimento da

atividade no município foram: a) falta de uma linha de crédito compatível à realidade e à

expectativa dos maricultores (o que é refletido na má condição dos barcos, ou na ausência

destes, na dificuldade em obter material, na desistência dos maricultores e no menor

envolvimento destes com a atividade); b) inadequação da técnica empregada, que foi

importada de outro local, sem sofrer modificações, gerando quatro anos de adaptações e

desanimando muitos maricultores; c) má distribuição e irregularidade no fornecimento do

material doado; d) falta de comprometimento de muitos maricultores com a atividade e

com a associação; e) necessidade de um treinamento na área de vendas, assim como a

necessidade de um espaço destinado à venda do produto e f) freqüência de furtos.

5.3.7 Dificuldades e necessidades em Guaibura

Em Guaibura, as principais dificuldades foram relacionadas à falta de material

(irregularidade na doação), que dificulta o trabalho e assim como em Perocão, às inúmeras

promessas feitas pelos técnicos, quanto ao fornecimento de material e financiamento

através de linhas de crédito que não foram cumpridas.

5.3.8 Expectativas para Perocão

As expectativas dos maricultores de Perocão estão relacionadas: a) à implantação

de coletores de sementes para a diminuição da pressão que a retirada de sementes exerce

sobre os costões; b) à realização de um curso de comercialização; c) ao fortalecimento da

associação; d) às linhas de crédito para financiamento dos equipamentos necessários à

prática da mitilicultura; e) à ampliação da área de cultivo; f) à formação de uma

cooperativa, visando a divisão de tarefas, tornando a atividade menos árdua; g) à melhoria

no fornecimento de material e h) ao desenvolvimento de tecnologias que facilitem o

manejo do cultivo.

Page 107: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

5.3.9 Expectativas para Guaibura

Para os maricultores de Guaibura, as expectativas estão relacionadas

principalmente à aquisição de uma linha de crédito para a expansão da atividade.

Foi notado um certo desânimo por parte desses maricultores em relação ao

fortalecimento e à expansão da atividade no local. Durante as entrevistas, foram feitas

diversas comparações entre a maricultura praticada em Guaibura e a praticada no

município de Anchieta que, segundo eles está mais desenvolvida devido à assistência

técnica prestada e às características do local de cultivo que permitem um maior

crescimento e principalmente engorda dos mexilhões (ANEXO 3). Além disso, diversas

vezes era reforçado o fato de que estão cansados de promessas não cumpridas, afirmam

que o que eles precisam é de material para trabalhar e não de promessas. Os maricultores

demonstram um alto grau de insatisfação em relação às pessoas e instituições responsáveis

pelo desenvolvimento da atividade no local. Esse quadro vem se agravando nos últimos

anos.

Quando estava desenvolvendo a monografia de especialização em Guaibura,

(agosto de 2000 a novembro de 2001) fiquei impedida de coletar amostras de água e de

mexilhões para análise, durante o período de dezembro de 2000 a janeiro de 2001, pois os

maricultores de Guaibura nessa época, já se mostravam insatisfeitos com a atuação dos

técnicos e demais pessoas responsáveis pelo desenvolvimento da atividade no local. A

forma encontrada para protestar foi a da “greve”. Cheguei no mês de dezembro de 2000,

no dia marcado para a minha coleta e fui recebida com o seguinte discurso:

“Nós estamos cansados de fazer tudo o que eles [técnicos] mandam e até agora nada. Eles só sabem pedir e a gente fica aqui esperando material e fica ouvindo as promessas deles. Agora chega. Não vamos fazer mais nada. Estamos cansados de promessas. Só vamos ajudar quando as promessas forem cumpridas”. (maricultor 6, Guaibura, comunicação pessoal à autora em 29 jan. 2003).

Foram necessários dois meses de negociações e esclarecimentos para que eles

pudessem voltar a me levar até o local de cultivo para dar continuidade ao experimento.

Quando retornei ao local para a realização da presente dissertação, pude perceber

que, apesar dos maricultores ainda conservarem a idéia paternalista em relação ao

desenvolvimento da atividade (interpretação feita pelos maricultores a partir dos discursos

Page 108: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

realizados na implantação do projeto), estes estão tentando mudar de atitude, estão

procurando outros tipos de material para substituir os que não chegam através de doações.

Apesar disso, ainda guardam um ranço quanto às promessas não cumpridas e

desenvolveram uma desconfiança em relação aos discursos das pessoas interessadas em

desenvolver a atividade no Estado. Esta é provavelmente a principal barreira a ser

transposta pelas pessoas interessadas em trabalhar com a comunidade.

Page 109: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

6 RESULTADOS

Os dados apresentados no presente capítulo são referentes ao IDAM dos “parques

de cultivo” estudados e ao IDM-ES e seus indicadores. Os dados utilizados na construção

do IDAM foram obtidos através do trabalho de campo e da revisão bibliográfica, enquanto

que os dados do IDM foram obtidos através da revisão bibliográfica.

6.1 Índice de Desenvolvimento da Atividade de Mitilicultura – IDAM

A TABELA 6 apresenta uma síntese das informações dos “parques de cultivo”

estudados, obtidas através do trabalho de campo e da revisão bibliográfica utilizados na

construção do IDAM.

Os dados obtidos (TABELA 6) determinam a atribuição dos valores 0, 1 ou 2, para

os indicadores selecionados (QUADRO 12). Os resultados da soma desses valores,

apresentado em totais parciais, para análise dos diferentes indicadores por área, e em total

geral, para análise do IDAM estão apresentados no QUADRO 13. Já os valores do IDAM

de cada “parque de cultivo” estão apresentados no QUADRO 14.

Page 110: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Tabela 6 – Resumo dos dados obtidos sobre os “parques de cultivo” de Guarapari, Anchieta e Piúma, através de entrevistas, questionários e revisão bibliográfica, durante o período de março de 2002 a março de 2004.

GUARAPARI Perocão Guaibura

ANCHIETA PIÚMA

Cultivo Espécie cultivada Perna perna P.perna P.perna P.perna Qual a origem das sementes? Costão/cultivo Costão/cultivo Costão/cultivo Costão/cultivo

Há quantos anos existe a atividade? 05 04 05 09

Legalização da atividade A área é legalizada? Em andamento Em andamento Em andamento - A área é sinalizada? não não não não Apoio Possui acompanhamento técnico? Eventual Eventual Eventual -

Possui algum convênio para financiamento? não não não não

Possui o apoio de alguma esfera do governo (Municipal, Estadual, Federal)?

sim sim sim -

São realizados cursos relacionados à mitilicultura (produção, beneficiamento, venda)?

Eventualmente Eventualmente Eventualmente -

Organização Possui associação? sim sim sim não Número de associados 10 5 32 - Número de associados que estão com módulos povoados na água

10 5 21 -

Há formação de grupos de trabalho? não não sim não

Todos possuem embarcação? não sim não sim

Qual o percentual de maricultores que possui embarcação?

70% 100% 80% 100%

Qual o estado de conservação da embarcação?

ruim ruim ruim -

Possui cooperativa? não não não não Há participação familiar? sim sim sim sim Existem mulheres trabalhando na atividade? sim sim sim sim

Número máximo de módulos/maricultor 8 8 8 -

Page 111: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

GUARAPARI

Perocão Guaibura ANCHIETA PIÚMA

Estrutura Estrutura utilizada Long line Long line Long line Long line Qual o tamanho dos long lines? (m) 50 50 50 50

Qual é a quantidade de módulos existentes? 42 26 Aproximadamente 80 08

Qual o tamanho das cordas? 1,5m 1,5m 1,20-1,70m -

Qual é a quantidade de cordas por long lines? 100-120 90-120 100-120 -

Qual a capacidade das bombonas? (L) 13 13 13 e 20 13

Como adquirem as bombonas? Compram Compram Compram -

Como adquirem as cordas? Doação/Compra Doação Doação/Compra -

Como adquirem a meia de algodão? Compram Compram Compram -

Monitoramento Possui monitoramento da qualidade da água? Às vezes Às vezes sim -

Possui monitoramento da qualidade da carne? não não Às vezes não

Manejo Há uma mortandade muito alta (> 50%)? não não não Não

Aplica alguma técnica de manejo? sim sim sim -

É empregada alguma técnica para recrutamento da semente?

não não não -

As sementes recrutadas nas estruturas de cultivo são aproveitas?

sim sim sim -

Aproveitam as valvas dos mexilhões? não não não -

Produção Tempo de cultivo 10-12 meses 7 meses 6 meses - Produção por módulo (kg) 100-140kg 135-180kg 120-300kg - Beneficiamento Possui unidade de beneficiamento? sim não particular Não

Qual o tipo de fogão utilizado? Gás/pó-de-serra Gás/pó-de-serra Gás/pó-de-serra gás

Possui etiqueta para identificação do produto? sim sim sim -

Possui selo de inspeção municipal? não não Em andamento não

Page 112: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

GUARAPARI

Perocão Guaibura ANCHIETA PIÚMA

Comercialização Há um critério de seleção de tamanho para os mexilhões comercializados?

sim sim sim -

Existe um tamanho comercial para a venda do sururu?

sim sim sim -

Qual é o preço do kg de mexilhão (R$)? 8,00 8,00 6,00-7,00 -

Como é comercializado? Bandeja de 500g Bandeja de 500g

Bandeja de 500g ou a granel

Há resistência do consumidor para a compra do produto?

não não não não

O que é produzido hoje atende ao mercado consumidor?

não não não não

Perspectivas Existe a intenção de iniciar outro tipo de cultivo?

não não sim -

Page 113: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Quadro 12 – Atribuição de valores, aos “parques de cultivo”, quanto ao não atendimento (valor 0), atendimento parcial (valor 1) ou atendimento total (valor 2) dos indicadores selecionados para a construção do IDAM.

“Parque de Cultivo” de Anchieta “Parque de Cultivo” de

Guaibura “Parque de Cultivo” de

Perocão “Parque de Cultivo” de Piúma Pressupostos Implantação Fase Atual Implantação Fase Atual Implantação Fase Atual Implantação Fase Atual

Integração da comunidade/família Levantamento socioeconômico para caracterização da comunidade/sociedade/família

0 0 0 0 0 0 0 0

Levantamento das atividades desenvolvidas pela comunidade, analisando a divisão por gênero e faixa etária, para possível reaproveitamento na maricultura

0 0 0 0 0 0 0 0

Identificação e fortalecimento do associativismo 0 1 0 0 0 2 0 0

Treinamento de mulheres e adolescentes para trabalhar na maricultura

2 0 0 0 1 0 0 0

TOTAL PARCIAL 2 1 0 0 1 2 0 0Impacto ambiental Analisar as comunidades: bentônica, nectônica e planctônica na área de influência da atividade

0 1 0 0 0 0 0 0

Monitoramento da qualidade da água 2 1 2 0 2 0 2 0 Análise de fluxos gênicos e possíveis hibridizações 0 0 0 0 0 0 0 0

Análise da viabilidade de espécies introduzidas 0 2 0 1 0 0 2 0

Padronização das bombonas 0 1 0 1 0 1 0 0 Análise da capacidade de suporte: produtividade primária, correntes e formação de biodepósitos

0 1 0 1 0 0 0 0

TOTAL PARCIAL 2 6 2 3 2 1 4 0

Page 114: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

“Parque de Cultivo” de Anchieta “Parque de Cultivo” de Guaibura

“Parque de Cultivo” de Perocão “Parque de Cultivo” de Piúma Pressupostos

Implantação Fase Atual Implantação Fase Atual Implantação Fase Atual Implantação Fase Atual Fonte alternativa de renda Análise custo-benefício de cultivo de outras espécies 0 2 0 1 0 0 2 0

Implantação de policultivos 0 1 0 1 0 0 2 2 Acompanhamento do tempo de cultivo 2 2 2 2 2 2 2 2 Acompanhamento da produtividade 2 2 2 2 2 2 2 2 Análise de mercado 0 1 0 0 0 1 0 0Análise custo-benefício da atividade para as famílias envolvidas e candidatas à maricultura

1 1 0 0 0 0 0 0

Análise de fontes de financiamento 0 2 0 2 0 2 0 1 TOTAL PARCIAL 5 11 4 8 4 7 8 7Incremento da produção/certificação do pescado

Formulação de um calendário das atividades de encordoamento, despesca e manutenção

0 1 0 1 0 1 0 0

Avaliação do potencial de novas áreas de cultivo 0 2 0 2 0 2 0 0

Implantação de cultivos a meia água 2 2 2 2 2 2 2 2 Implantação de um centro de beneficiamento 0 0 0 0 0 2 0 0

Obtenção do SIM/SIF 0 0 0 0 0 0 0 0Treinamento dos maricultores: higienização e marketing 0 0 0 0 0 1 0 0

Estudar novas formas/equipamentos que auxiliem o cultivo 0 2 0 2 0 2 0 1

TOTAL PARCIAL 2 7 2 7 2 10 2 3

Page 115: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

“Parque de Cultivo” de Anchieta “Parque de Cultivo” de

Guaibura “Parque de Cultivo” de

Perocão “Parque de Cultivo” de Piúma Pressupostos Implantação Fase Atual Implantação Fase Atual Implantação Fase Atual Implantação Fase Atual

Produção baseada no Desenvolvimento Sustentável

Determinação de áreas propícias à implantação de coletores 1 0 0 1 0 0 0 0

Reaproveitamento das valvas 0 0 0 0 0 0 0 0Implantação de um laboratório para produção de sementes 0 1 0 0 0 0 0 0

TOTAL PARCIAL 1 1 0 1 0 0 0 0TOTAL GERAL 12 26 8 19 9 20 14 10

Page 116: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Quadro 13 - Índices e valores máximos obtidos pelos “parques de cultivo” de Anchieta, Guaibura, Piúma e Perocão.

“Parque de Cultivo” de Anchieta “Parque de Cultivo” de Guaibura “Parque de Cultivo” de Perocão “Parque de Cultivo” de Piúma Implantação Fase atual Implantação Fase atual Implantação Fase atual Implantação Fase atual

Integração comunidade/família (a) 2 1 0 0 1 2 0 0

Máximo (b) 8 8 8 8 8 8 8 8Índice [a/b] 0,2500 0,1250 0,0000 0,0000 0,1250 0,2500 0,0000 0,0000Impacto ambiental (a) 2 6 2 3 2 1 4 0 Máximo (b) 12 12 12 12 12 12 12 12Índice [a/b] 0,1667 0,5000 0,1667 0,2500 0,1667 0,0833 0,3333 0,0000Fonte alternativa de renda (a) 5 11 4 8 4 7 8 7 Máximo (b) 14 14 14 14 14 14 14 14Índice [a/b] 0,3571 0,7857 0,2857 0,5714 0,2857 0,5000 0,5714 0,5000Incremento da produção/certificação do pescado

2 7 2 7 2 10 2 3

Máximo (b) 14 14 14 14 14 14 14 14Índice [a/b] 0,1428 0,5000 0,1428 0,5000 0,1428 0,7143 0,1428 0,2143Produção baseada no desenvolvimento sustentável 1 1 0 1 0 0 0 0

Máximo (b) 6 6 6 6 6 6 6 6Índice [a/b] 0,1667 0,1667 0,0000 0,1667 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000Onde: a = total parcial; b = 2*n; n = número de parâmetros que contém o índice.

Page 117: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Quadro 14 – IDAM e evolução dos “parques de cultivo” de Guarapari, Anchieta e Piúma, desde a implantação até os dias de hoje.

“Parque de Cultivo” de

Anchieta “Parque de Cultivo” de

Guaibura “Parque de Cultivo” de Perocão “Parque de Cultivo” de Piúma

Implantação Fase Atual Implantação Fase Atual Implantação Fase Atual Implantação Fase AtualIntegração da comunidade/família 0,2500 0,1250 0,0000 0,0000 0,1250 0,2500 0,0000 0,0000Impacto ambiental 0,1667 0,5000 0,1667 0,2500 0,1667 0,0833 0,3333 0,0000Fonte alternativa de renda 0,3571 0,7857 0,2857 0,5714 0,2857 0,5000 0,5714 0,5000Incremento da produção do pescado 0,1428 0,5000 0,1428 0,5000 0,1428 0,7143 0,1428 0,2143

Produção baseada no desenvolvimento sustentável 0,1667 0,1667 0,0000 0,1667 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000

IDAM 0,3529 0,7647 0,2353 0,5588 0,2647 0,5882 0,4117 0,2941

Page 118: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

6.2 Resultados do IDAM Os “parques de cultivo” de Guaibura, Perocão, Piúma e Anchieta apresentaram

IDAM com variação de 0,1764 entre o menor valor do IDAM (0,2353), para Guaibura e o

maior (0,4117) para Piúma no período de implantação da atividade. Na fase atual, essa

diferença aumenta para 0,4706 entre os cultivos de maior IDAM, Anchieta e menor IDAM,

Piúma.

Quanto ao indicador integração da comunidade/família, na fase de implantação do

projeto, os “parques de cultivo” de Guaibura e Piúma com índice de 0,0000 contrastavam

com Anchieta cujo índice era de 0,2500. Na fase atual quem apresenta o maior índice é

Perocão (0,2500), enquanto que Piúma e Guaibura mantêm o pior índice (0,0000). Esse

indicador é reflexo da preocupação dos técnicos com a comunidade envolvida. O destaque

de Perocão na fase atual é decorrente de iniciativas dos próprios maricultores que buscam o

fortalecimento do associativismo e do capital humano através de cursos, treinamentos e

reuniões.

O indicador relacionado ao impacto ambiental na fase de implantação era maior no

“parque de cultivo” de Piúma (0,3333) em relação aos demais (0,1667), pois o projeto

desenvolvido tinha o caráter técnico/científico, contemplando as questões referentes a

minimizaçãos dos impactos ambientais decorrentes da atividade. Hoje em dia, Anchieta

apresenta o maior índice (0,5000) devido ao desenvolvimento de diversas pesquisas no

local, enquanto que Piúma e Perocão apresentam os piores índices (0,0000 e 0,0833,

respectivamente).

Como fonte alternativa de renda, o “parque de cultivo” de Piúma apresentava o

melhor índice na implantação (0,5714) enquanto que na fase atual, apresenta o pior índice

dentre os “parques de cultivo” estudados, junto com Perocão (0,5000). Guaibura e Perocão

apresentavam os piores índices (0,2857) na fase de implantação. Anchieta detém o melhor

índice na fase atual (0,7857). Esses valores são verificados devido ao objetivo dos projetos

implantados em Anchieta e Guarapari, de gerar uma fonte de renda alternativa aos

pescadores tradicionais e ao desenvolvimento de um projeto de caráter técnico/científico

em Piúma, na fase de implantação, contemplando os parâmetros analisados enquanto que

nos outros municípios essas avaliação foi feita de acordo com a demanda.

O incremento da produção do pescado é maior na fase atual no “parque de cultivo”

de Perocão, devido aos maiores investimentos na formulação de calendários da atividade

Page 119: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

de encordoamento, despesca e manutenção, implantação de um centro de beneficiamento,

treinamento dos maricultores e desenvolvimento de novas formas/equipamentos que

auxiliem o cultivo. Na fase inicial todos os “parques” apresentavam o índice 0,1428,

indicando a deficiência dos projetos implementados que não previam de forma adequada a

expansão da atividade e a comercialização do produto.

O último indicador, produção baseada no desenvolvimento sustentável, era maior

na implantação do cultivo de Anchieta (0,1667), do que nos demais (0,0000) enquanto que

na fase atual, há a formação de dois grupos, o dos “parques de cultivo” de Guaibura e de

Anchieta (0,1667) e dos “parques de cultivo” de Piúma e Perocão (0,0000). Esses valores

refletem o maior número de pesquisas realizadas por instituições de ensino e pesquisa,

como a UFES, nas localidades.

Quando analisamos o IDAM dos “parques de cultivo” na fase atual, verificamos

que há a formação de 3 grupos:

Grupo 1) Anchieta com maior IDAM,

Grupo 2) Perocão e Guaibura com IDAM intermediários e

Grupo 3) Piúma, com menor IDAM

Porém, essa homogeneidade entre Perocão e Guaibura é quebrada quando são

levados em consideração o diagnóstico socioambiental e os valores obtidos em cada

“parque” nos cinco indicadores utilizados na construção do IDAM. Isso demonstra que o

IDAM, por ser um índice obtido pela média de outros índices, não reflete as principais

necessidades de cada “parque de cultivo”. Esse fato nos leva a analisar cada índice

individualmente, para detectarmos as necessidades e particularidades de cada “parque”.

6.3 Dos parâmetros que compõem o IDAM para o Parque de Cultivo de Anchieta 6.3.1 Integração da comunidade/família

O “parque de cultivo” de Anchieta apresenta em sua fase de implantação, o maior

índice de integração da comunidade/família, em relação aos demais cultivos, refletindo a

aplicação de uma metodologia participativa, que envolveu tanto pescadores quanto

técnicos, políticos e pessoas de outros Estados.

Na fase atual, a forma de ingresso na atividade se modificou e já não conta com o

sistema de doação temporária de long lines, oferecido pela PMA. Além disso, adquiriu o

Page 120: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

status econômico, regido pelo paradigma desenvolvimentista, adotado no Brasil, onde a

economia não se “mistura à sociedade”, “estando acima dela” (Almeida, 1998; Freyre,

2001). Esse fator torna-se preocupante uma vez que a atividade encontra-se na fase inicial

e o público alvo dos projetos são os pescadores tradicionais. O fortalecimento do capital

humano é fundamental à sobrevivência da atividade.

O pescador, que tem interesse em ingressar na mitilicultura, tem que possuir

recursos para investir na implantação de seus módulos de cultivo, pois as linhas de crédito

têm um perfil específico, que muitas vezes não se encaixa no perfil do pescador, fazendo

com que nem todos os que se interessam pela atividade possam iniciá-la. Haja visto a

quantidade de mitilicultores de diversas profissões que hoje atuam na mitilicultura, entre

outros, no município de Anchieta.

Devemos tomar cuidado para que isso não se transforme na elitização da

mitilicultura, como aconteceu com a agricultura (revolução verde) que privilegiou os

agricultores mais prósperos em detrimento dos pequenos (Weeks, 1990).

6.3.2 Impacto ambiental

O “parque de cultivo” de Anchieta teve um incremento no indicador impacto

ambiental desde a implantação, devido principalmente aos estudos (García-Prado, 2000;

Alvarenga, 2002) realizados e que estão sendo executados no “parque de cultivo”, através

da UFES. Esses estudos contribuem para a melhoria técnica e tecnológica da atividade,

contribuindo para o desenvolvimento sustentável.

6.3.3 Fonte alternativa de renda

O objetivo inicial do projeto de funcionar como uma alternativa de renda vem

sendo alcançado, não obstante todas as dificuldades relacionadas a financiamento e

obtenção de material. Reforçando a importância da atividade para o município e

confirmando o valor econômico das espécies cultivadas e sua aceitação junto ao mercado

consumidor. Devem ser feitos maiores investimentos na atividade, a fim de que seja

suprida a demanda comercial do produto, levando-se em conta a possibilidade de

diversificação do cultivo com a implantação de novas espécies.

Page 121: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

6.3.4 Incremento da produção do pescado

O incremento desse indicador, vem trazendo melhorias para a atividade através da

experiência de cada maricultor. Essas melhorias estão relacionadas principalmente com a

comercialização e a identificação do produto.

“Quando nós começamos o projeto, é que nós fomos cozinhar e fomos procurar quem achava a embalagem melhor. O Rui, por exemplo, começou com uns potezinhos assim de conserva em material plástico, muito bom, que você vê todo o sururu. Só que ficava muito caro. Eu comecei com as bandejas, passando aquele filme e é o que está dando certo. Peguei também umas combucas, onde só a tampa é que era transparente. Também era bom, mas também ficava caro. Aí, eu puxei para a bandeja de isopor e é essa que nós estamos trabalhando. Mas também tem a sacola, que nós usamos quando vendemos por atacado”. (maricultor 2, 60 anos, Praia do Coqueiro, comunicação pessoal à autora em 31 jan. 2003, em Anchieta/ES).

“Então cada maricultor tem a sua quantidade e número de selo. Se der algum problema com algum turista, ele [turista] vai olhar na embalagem e vai ver o número do selo. Quando vier reclamar, nós vamos saber de quem é”. (maricultor 1, 42 anos, Juca da Mata, comunicação pessoal à autora em 11 fev. 2003, em Anchieta/ES).

Investimentos na área de beneficiamento do produto são necessários, como pôde

ser verificado pela ausência do SIM ou do SIF.

“Mas nós estamos primeiro organizando as nossas cozinhas, porque nós não temos ainda uma oficial da associação”. (maricultor 7, Juca da Mata, comunicação pessoal à autora em 14 jan. 2003, em Anchieta/ES).

6.3.5 Produção baseada no desenvolvimento sustentável

Nesse ponto, o “parque de cultivo” de Anchieta não sofreu modificações no valor

desse indicador desde a implantação do “parque”. É necessária uma maior atenção para a

implantação de coletores de semente e utilização das valvas. Caso o cultivo de ostra

Page 122: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

japonesa seja implantado também deve ser dada especial atenção quanto ao suprimento de

sementes.

6.4 Dos parâmetros que compõem o IDAM para o Parque de Cultivo de Piúma

O “parque de cultivo” de Piúma tem seu caráter técnico científico comprovado

através do índice nulo obtido no indicador de integração da comunidade/família.

Não obstante o aumento do indicador: incremento da produção/certificação do

pescado, não foram observados interesses/incentivos político/financeiros para o

desenvolvimento comercial da atividade.

A região, além do cultivo de mexilhão, apresenta potencial ambiental para a

implantação comercial de cultivos de ostra japonesa e de vieira, espécies de alto valor

comercial. Além disso, o município dispõe de mão de obra qualificada e pescadores

experientes, que contam com o apoio técnico-científico da escola de pesca do município.

6.5 Dos parâmetros que compõem o IDAM para o Parque de Cultivo de Guaibura 6.5.1 Integração da comunidade/família

A forma como a mitilicultura foi implantada, é refletida nesse indicador (0,0000).

A comunidade não participou da escolha da área e nem da metodologia a ser empregada no

cultivo e até hoje carece de apoio relacionado ao fortalecimento do associativismo.

Além disso, o sistema paternalista empregado gerou uma insatisfação, dependência

e resistência muito grandes, oriundas, segundo os mitilicultores, de promessas não

cumpridas. Esse mesmo discurso é verificado em Perocão.

É preciso que seja dispensada uma maior atenção aos mitilicultores de Guaibura,

uma vez que residem numa área que sofre fortes pressões relativas à especulação

imobiliária e são em sua grande maioria, pescadores artesanais.

Page 123: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

6.5.2 Impacto ambiental; Incremento da produção do pescado; Produção baseada no desenvolvimento sustentável

O aumento desses indicadores deve-se ao fato de que foram realizadas diversas

pesquisas através da UFES (experimento com C. rhizophorae; Sodré, 2001; Lovat, 2002;)

e da USP (Buitrón-Vuelta, 2002), que contribuíram para a elevação do mesmo.

6.5.3 Fonte alternativa de renda

Não obstante o indicador tenha aumentado, devido às pesquisas realizadas,

chamamos a atenção para as dificuldades dessa comunidade em adquirir material, pois

pouca coisa tem sido feita para a abertura de uma linha de crédito, compatível com o perfil

do produtor e a falta do material acaba comprometendo a produção.

6.6 Dos parâmetros que compõem o IDAM para o Parque de Cultivo de Perocão

6.6.1 Integração da comunidade/família

Em Perocão, o indicador integração da comunidade/família, não apresenta valor

igual a zero na fase de implantação, como verificado em Guaibura, porque alguns

membros do “parque” tiveram a oportunidade de estar realizando um intercâmbio com

outros mitilicultores no Estado de Santa Catarina, permitindo troca de informação.

O aumento desse indicador deve-se principalmente ao treinamento oferecido pelo

SEBRAE-ES (“Redes associativas empreendedoras”), no qual alguns dos mitilicultores de

Perocão, puderam estar adquirindo conhecimentos para o fortalecimento do associativismo

entre eles.

6.6.2 Impacto ambiental e Produção baseada no desenvolvimento sustentável

Ao contrário de Guaibura, o parque de cultivo de Perocão é prejudicado nesses dois

indicadores devido ao fato de que não foram realizadas pesquisas científicas no local onde

é realizado o cultivo.

Page 124: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

6.6.3 Fonte alternativa de renda

Os esforços dessa comunidade em procurar outro tipo de material adequado ao

cultivo, fontes de financiamento, entre outros, têm contribuído para a elevação desse

indicador. Assim como para os demais mitilicultores é patente a necessidade de uma linha

de crédito compatível, para dar continuidade e expandir a mitilicultura no local.

6.6.4 Incremento da produção do pescado

A doação de parte de um imóvel destinado à implantação da unidade de

beneficiamento e os esforços dos mitilicultores para a adequação deste, além da

preocupação com as técnicas de marketing, contribuíram para o aumento desse indicador.

6.7 Índice de Desenvolvimento dos Municípios – IDM-ES

Os indicadores que compõem o IDM-ES e que estão diretamente relacionados à

atividade foram classificados nas categorias: qualidade ambiental (QA), integridade física

e social do maricultor (IFSM), infra-estrutura para produção (IEFP) e infra-estrutura para

comercialização e transporte do produto (IECT). Estes índices serão analisados

separadamente.

6.7.1 Qualidade ambiental

Uma das principais preocupações para a escolha da área de implantação da

maricultura é a qualidade ambiental da água. Um local com boa produtividade, isento de

contaminação por esgoto doméstico e/ou industrial e que satisfaça as exigências ambientais

da espécie (temperatura, salinidade, pH, entre outros), garante a qualidade do produto e a

sustentabilidade econômica da atividade.

Sendo assim, podemos destacar dentre os indicadores que compõem o IDM: (1) o

esgoto, relacionado ao índice de infra-estrutura urbana do município, que contribui para a

sustentabilidade ambiental da atividade, pois a eficiência do sistema de esgotamento

Page 125: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

sanitário implantado no município contribui para a boa qualidade ambiental das águas onde

será ou está implantado o cultivo e (2) o lixo, relacionado aos domicílios particulares

permanentes que possuem algum tipo de coleta (direta ou indireta).

Conforme podemos observar na TABELA 7, o município de Anchieta é o mais

vulnerável à contaminação das águas por coliformes, uma vez que o indicador de

esgotamento, que reflete “a coleta dos esgotos sanitários, representado pelos domicílios

particulares que estão conectados à rede geral ou que, possuindo fossa séptica, estejam

conectados à drenagem pluvial” (IPES, 2000b, p. 36), apresenta o valor de 0,004676

(TABELA 7), atribuindo ao município o 73° lugar no ranking entre os 77 municípios

analisados. Esse resultado corrobora a informação obtida pela oceanógrafa Mariângela Di

Lorenzo.

“E a grande surpresa foi que a gente acabou vendo que os maiores problemas das áreas prováveis de cultivo, muitas delas nem eram áreas de cultivo ainda, era o esgoto, pelo menos para os padrões que tinham sido analisados na SEAMA. Nós fizemos 30 princípios ativos para agrotóxico, mas nenhum deles foi encontrado. Nenhum vestígio. Os resultados indicavam que havia muitos metais, que estavam relacionados ao esgoto. [...] Aí, nós vimos que várias áreas estavam comprometidas”. (Comunicação pessoal à autora em 11 fev. 2003, em Anchieta/ES).

Os valores de coliformes fecais, segundo a resolução CONAMA n°20/86, deverá

ser de até 14NMP/100ml de água para o consumo de organismos crus e acima de 14 até

1.000NMP/100ml de água para o consumo de organismos na forma não crua.

O limite máximo de 1.000NMP/100ml de água é questionado por José (1999), uma

vez que o mesmo é significativamente mais alto do que o aceite internacionalmente. A

legislação internacional (americana, canadense e mexicana), proíbe a extração de bivalves

em áreas com mais de 88NMP/100ml de água. Segundo essa mesma legislação, quando os

valores de coliformes fecais, presentes na água, forem maiores do que 88NMP/100ml de

água e até 700NMP/100ml de água, os bivalves deverão passar pelo sistema de purificação

controlada antes da comercialização.

76 Em 2000, o número de domicílios particulares permanentes no município de Anchieta era de 4.973 e apenas 313 possuíam banheiro ou sanitário com esgotamento sanitário. Um déficit de 93,71% (IBGE, 2000).

Page 126: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Jorge et al (2002), também questionam a legislação do Ministério da Saúde do

Brasil quanto ao valor de até 10.000NMP/100g de carne de mexilhão para o consumo in

natura, defumado ou pré-cozido frente a legislação internacional, muito mais restritiva.

Um outro município que também apresenta valores para o indicador esgoto abaixo

da média do Estado é Guarapari (0,353277 – 37° lugar no ranking) (TABELA 7),

mostrando-se vulnerável a esse tipo de contaminação, que compromete a utilização de

diversas áreas de cultivo, dependendo da quantidade de coliformes fecais encontrada na

água.

Piúma foi o município que apresentou o melhor índice para o indicador esgoto

(0,608678 – 16° lugar no ranking), porém esse índice representa apenas 39,10% do valor

máximo (1,000).

Tabela 7 – Valores obtidos para o indicador esgoto no IDU dos municípios do Estado do Espírito Santo, destacando-se os municípios de Anchieta, Guarapari e Piúma.

Município Esgoto Ranking

Anchieta 0,0046 73°

Guarapari 0,3532 37°

Piúma 0,6086 16°

Vitória 1,0000 1°

Estado 0,3579

Fonte: IPES, 2000b.

Em relação ao indicador lixo, após o beneficiamento do produto, milhares de

conchas, que podem gerar toneladas de lixo, são acumuladas pelas pessoas responsáveis

por essa etapa da produção. Enquanto não se viabiliza o reaproveitamento desse material,

rico em carbonato de cálcio, torna-se necessária uma eficiente e regular coleta de lixo, pois

o mesmo atrai insetos e ratos, que podem contaminar os mexilhões e/ou transmitir doenças

às pessoas que estão trabalhando no beneficiamento do produto, uma vez que o

77 Em 2000, o número de domicílios particulares permanentes no município de Guarapari era de 24.535 e apenas 8.510 possuíam banheiro ou sanitário com esgotamento sanitário. Um déficit de 65,31% (IBGE, 2000). 78 Em 2000, o número de domicílios particulares permanentes no município de Piúma era de 4.114 e apenas 1.812 possuíam banheiro ou sanitário com esgotamento sanitário. Um déficit de 55,96% (IBGE, 2000).

Page 127: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

beneficiamento ocorre, na maioria das vezes, na residência dos maricultores onde esses

animais podem ficar alojados.

Todos os municípios obtiveram valores para o indicador lixo acima da média do

Estado, mas esses valores correspondem à 46, 53 e 70% do valor máximo (1,0000). O

município de Piúma foi o que apresentou o melhor sistema de coleta de lixo entre os

municípios estudados (TABELA 8).

Tabela 8 – Valores obtidos para o indicador lixo no IDU dos municípios do Estado do Espírito Santo, destacando-se os municípios de Anchieta, Guarapari e Piúma.

Município Lixo Ranking Anchieta 0,4646 29° Guarapari 0,5391 21° Piúma 0,7079 9° Vitória 1,0000 1° Estado 0,4108 - Fonte: IPES, 2000b.

No município de Anchieta, na localidade de Iriri, um dos maricultores que possui o

artesanato, como uma outra fonte de renda, passou a incorporar as valvas dos mexilhões em

suas obras. Não obstante essa prática seja incipiente para absorver o volume total de valvas

descartadas, o aproveitamento das valvas por esse maricultor gera uma nova fonte de renda

para o mesmo, além de permitir o aproveitamento de 100% do que é produzido no cultivo.

Durante as entrevistas, apenas uma maricultora reconheceu a importância do

reaproveitamento das valvas.

“A casca [valva], por exemplo, eu acho um desperdício jogar fora. Para mim é um crime o que eu estou fazendo. Ela serve pra correção de solo, calcário. Porque na época do avô dele [esposo] se fazia cal”. (maricultora, Praia do Coqueiro, comunicação pessoal à autora em 11 fev. 2003).

Em relação às exigências ambientais das espécies cultivadas, o levantamento

bibliográfico realizado (ANEXO 1), demonstra que os locais onde estão sendo realizados

os cultivos apresentam condições satisfatórias para o bom desenvolvimento das mesmas

(ANEXO 2). Sendo assim, as autarquias estadual e municipal devem dar maior atenção às

questões referentes aos sistemas de esgotamento sanitário implantados nos municípios,

Page 128: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

tornando-os mais eficientes e implantando-os onde não existem. Isso contribuiria para a

melhoria da qualidade de vida das comunidades, melhoraria a balneabilidade das praias,

proporcionando-lhes áreas de lazer isentas de contaminação, responsabilidade do poder

público e garantiria a sustentabilidade econômica e ambiental da atividade.

Investimentos nas áreas de esgotamento sanitário e coleta de lixo nos municípios

citados, que além de desenvolver a maricultura são municípios turísticos, vêm a contribuir

para a elevação da qualidade de vida da população e principalmente evitar que durante os

períodos de alta temporada, um incremento da população possa sobrecarregar os ineficazes

sistemas de esgotamento sanitário e coleta de lixo, comprometendo a saúde do consumidor,

a qualidade do alimento e a fonte de renda do maricultor.

6.7.2 Integridade física e social do maricultor

Os indicadores aqui analisados (educação, segurança, habitação e saúde) estão

relacionados ao IDU e ao IDS de cada município.

A educação no IDS corresponde à taxa de analfabetismo e a taxa de escolarização

existentes no município. No IDU, corresponde ao número ideal de salas de aula e ao

número médio de anos de estudo e déficit ou superávit de salas de aula no município,

segundo matrículas existentes em 1999, considerando a diferença entre o número de salas

existentes.

A segurança é medida pelo coeficiente de mortalidade por causas violentas no

município.

A habitação procura retratar a deficiência de estoque de moradias, quanto aos

aspectos quantitativos e qualitativos relativizado aos domicílios particulares permanentes.

O aspecto quantitativo está sendo captado pela coabitação responsável pela maioria do

déficit nacional e o aspecto qualitativo, pela rusticidade das moradias, outro componente

importante do déficit.

A saúde é avaliada no IDU, a partir do índice de leitos conveniados ao Serviço

Único de Saúde79, da acessibilidade em função da distância por vias pavimentadas e do

número de leitos SUS dos municípios vizinhos.

79 Número de leitos SUS por habitante.

Page 129: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

O indicador educação é avaliado no IDS, conforme previsto na Constituição

Federal, art. 205.

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho [sem grifo no original]. (BRASIL, 2000, p. 118).

Enquanto que no IDU, é avaliada quanto à infra-estrutura do sistema educacional

previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB).

No aspecto educacional, apontado pelo IDS, previsto na Constituição Federal,

observamos que os três município (Anchieta, Guarapari e Piúma), apresentam deficiência

nesse quesito, haja visto que as posições no ranking são inferiores à média obtida para o

Estado (17°; 16° e 13° lugares no ranking, respectivamente) (TABELA 9), com diferenças

acima de 50% em relação ao índice obtido para o município de Vitória. Cabe lembrar que

esses municípios fazem parte da macrorregião metropolitana do Estado, para efeitos de

divisão macrorregional de planejamento (IPES, 2000a).

Segundo a Constituição Federal (art. 205), a educação é fundamental para “o pleno

desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação

para o trabalho” (BRASIL, 2000, p. 118). Sendo assim, maiores investimentos devem ser

direcionados para garantir a qualificação desses profissionais. Porque é através do

incremento do capital humano, que se viabiliza o desenvolvimento sustentável.

Em relação ao IDU, os valores obtidos para os municípios de Anchieta e Piúma,

demonstram que o número de salas de aula existentes no município são satisfatórias em

relação ao número de alunos matriculados (TABELA 9). Os dados do IBGE para o ano de

2000 demonstram que das 5.963 pessoas residentes no município em idade escolar (dos 5

aos 19 anos), apenas 4.920 estavam matriculadas em escolas do município (IBGE, 2000).

Para as outras 1.043 pessoas, ou seja, 17,49% das pessoas residentes no município em

idade escolar, não foi informado se estavam matriculadas em escolas de outros municípios

ou se estavam fora da escola (TABELA 10). Para o município de Piúma esse índice foi de

21,15% (TABELA 10), não obstante o município possuir a mesma colocação de Anchieta

no ranking (1° lugar), superior a Vitória (7° lugar). Esses índices não refletem o grau de

evasão das escolas, que compromete o aprendizado do aluno e o seu desenvolvimento

pessoal. Guarapari, com o valor de 0,8902, para o indicador educação, está abaixo da

Page 130: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

média do Estado (0,9891) e ocupa o 18° lugar no ranking (TABELA 9) apresentando

14,65% da população em idade escolar não matriculada nas escolas do município ou fora

da escola (TABELA 10).

Tabela 9 – Valores obtidos para o indicador educação nos IDU e IDS dos municípios do Estado do Espírito Santo, destacando-se os municípios de Anchieta, Guarapari e Piúma.

Educação Município IDU IDS

Ranking

Anchieta 1,0000 0,4698 17° Guarapari 0,8902 0,4825 13° Piúma 1,0000 0,4769 16° Vitória 0,9818 1,0000 1° Estado 0,9891 0,4967 - Fonte: IPES, 2000b.

Tabela 10 – Valores, referentes à educação, obtidos através do Censo 2000, destacando-se os municípios de Anchieta, Guarapari e Piúma.

Município Número de pessoas residentes em idade escolar (5 a 19 anos)

Número de pessoas em idade escolar,

matriculadas em escolas do município

Déficit

Anchieta 5.963 4.920 17,49% Guarapari 26.563 22.671 14,65% Piúma 4.633 3.653 21,15% Fonte: IBGE, 2000.

A segurança pública que segundo a Constituição Federal, art. 144 é “dever do

Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem

pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”. (BRASIL, 2000, p. 88),

apresentou valores superiores à média do Estado (TABELA 11), em todos os municípios,

sendo que o município de Piúma foi o que apresentou a melhor colocação no ranking (7°

lugar), com uma diferença de 40,10% em relação a Anchieta, segundo melhor colocado.

Page 131: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Tabela 11 – Valores obtidos para o indicador segurança no IDS dos municípios do Estado do Espírito Santo, destacando-se os municípios de Anchieta, Guarapari e Piúma.

Município Segurança Ranking Anchieta 0,0695 43° Guarapari 0,0396 59° Piúma 0,4705 7° Vitória 0,0000 70° Estado 0,0396 - Fonte: IPES, 2000b.

Com relação à habitação, os três municípios apresentaram valores abaixo da média

do Estado (TABELA 12). Lembramos que os maricultores utilizam suas casas como

pontos de venda e beneficiamento do mexilhão. Maiores investimentos na maricultura

podem contribuir para a melhoria da moradia dos maricultores, uma vez que com o

aumento do número de emprego e da renda, os maricultores terão condições de

proporcionar melhores condições de vida às suas famílias, investir na aquisição de um

imóvel, diminuir o índice de coabitação, contribuir para a melhoria da infra-estrutura de

suas habitações e para a aquisição de um local apropriado para a comercialização e

beneficiamento do produto.

Tabela 12 – Valores obtidos para o indicador habitação no IDU dos municípios do Estado do Espírito Santo, destacando-se os municípios de Anchieta, Guarapari e Piúma.

Município Habitação Ranking Anchieta 0,1866 38° Guarapari 0,1168 62° Piúma 0,1232 61º Vitória 0,2313 26° Estado 0,2071 - Fonte: IPES, 2000b.

No indicador saúde, todos os municípios apresentaram valores maiores do que a

média do Estado, porém esses valores foram muito baixos, representando em média 0,5%

do valor máximo possível de ser obtido nesse tipo de índice (TABELA 13). Sendo assim,

esforços para a promoção da saúde devem ser promovidos nos município a fim de

assegurar o bem-estar da população e a integridade física do maricultor, contribuindo para

Page 132: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

a qualidade dos alimentos por eles manipulados e comercializados. Segundo a Constituição

Federal, a saúde é

Art. 196. [...] direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco à doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 2000, p. 115).

Tabela 13 – Valores obtidos para o indicador saúde no IDS dos municípios do Estado do Espírito Santo, destacando-se os municípios de Anchieta, Guarapari e Piúma.

Município Saúde Ranking Anchieta 0,0049 18° Guarapari 0,0050 17° Piúma 0,0055 14° Vitória 0,0049 18° Estado 0,0025 - Fonte: IPES, 2000b.

A educação contribui para a formação de um bom profissional, enquanto que saúde,

segurança e condições dignas de moradia, permitem o seu pleno desenvolvimento.

Os maricultores, que atuam em todas as etapas da maricultura, necessitam de

integridade física e social para dar continuidade à atividade.

Um município que disponha de boa qualidade ambiental, programas educacionais

para crianças, jovens e adultos e eficientes sistemas de saúde e de segurança públicos,

contribui para o incremento do capital humano. Os moradores que disponham desses

serviços, terão plenas condições para o desenvolvimento de suas atividades.

As preocupações com a saúde e a moradia do maricultor são decorrentes da

preocupação com a qualidade final do produto comercializado, uma vez que os

maricultores lidam diretamente com o beneficiamento do produto em suas próprias

residências.

A segurança oferecida pelo município estimula os investimentos na atividade,

enquanto que a educação fortalece a auto-estima do maricultor e favorece o associativismo.

Page 133: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

6.7.3 Infra-estrutura para produção, comercialização e transporte do produto

Os indicadores selecionados neste item estão relacionados à infra-estrutura para

produção (água) e infra-estrutura para comercialização e transporte (rodovia,

telecomunicações e telefonia) do produto.

Considera-se no indicador água, o abastecimento por água potável através da rede

geral, representado pelos domicílios particulares permanentes que têm acesso ao serviço.

O indicador telecomunicações no IGME representa a porcentagem da área de

atendimento de cada empresa de telecomunicações dentro do município, considerando a

tecnologia de transmissão e o tipo de serviço oferecido enquanto que o indicador telefonia

no IDU, este indicador reflete o número de terminais telefônicos representados pelos

terminais residenciais em serviço.

A distância da sede municipal à BR que corta o Estado e que esteja mais próxima, e

a distância da sede municipal ao pólo regional mais próximo estão refletidas no indicador

rodovia.

O abastecimento de água potável é fundamental para garantir a qualidade do

produto, uma vez que o beneficiamento é feito na maioria das vezes na própria residência

do maricultor. Existe uma grande chance de que produtos oriundos de áreas de cultivo com

boa qualidade ambiental sejam contaminados no processo de beneficiamento. Nessa etapa

da produção é imprescindível que sejam respeitados os requisitos de higiene, na

manipulação do produto, como garantia da qualidade do mesmo (BRASIL, 1969).

Segundo os dados do IPES, todos os município apresentaram valores máximos

(1,0000) para o indicador. Porém, dados do IBGE (2000), mostram que apenas 71,93% dos

domicílios particulares permanentes do município de Anchieta possuem rede de

abastecimento de água. Os índices para os demais municípios são maiores: 84,52% para

Guarapari e 92,46% para Piúma. Além da necessidade de garantir a boa qualidade da água

em que são cultivados os moluscos, também deve ser dada atenção ao local e à forma

como são beneficiados, como garantia de que os alimentos terão boa qualidade para

consumo.

Os indicadores de rodovia, telecomunicações e telefonia (TABELA 14) estão

relacionados à facilidade do escoamento da produção, seja pelo contato com o consumidor,

seja pela facilidade de transporte do produto, uma vez que uma das grandes dificuldades

apontadas pelos maricultores foi em relação à insegurança gerada pela instabilidade do

Page 134: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

comprador, ou seja, o não saber para quem vai comercializar o produto. Caso os mexilhões

fiquem nos “long lines”, uma frente fria pode ocasionar a perda da produção e caso seja

feita a despesca os mexilhões podem ficar estocados por um longo período, levando a

perda de suas características palatáveis e nutricionais.

“Quando nós começamos, eu não conhecia o cultivo. Conhecia o sururu, o sururu da pedra, mas não conhecia o cultivo. Eu ia para Cachoeiro [do Itapemirim], mostrar o produto”. (maricultor 3, 46 anos, Praia do Coqueiro, comunicação pessoal à autora em 12 fev. 2003, em Anchieta/ES).

“No começo, foi complicado porque nós tivemos problema com a venda, passamos a produzir muito mexilhão e ninguém vendia. Nós esbarramos nas vendas, mas não desistimos não, fomos ver no que ia dar. Começamos a plantar menos, deixamos os módulos ali sem plantar. Aí quando começou a melhorar, nós plantamos, plantamos tudo. Deixamos tudo plantado e esperamos que os compradores chegassem”. (maricultor 1, 42 anos, Juca da Mata, comunicação pessoal à autora em 11 fev. 2003, em Anchieta/ES).

“Porque agora apareceram compradores que antes não tinha. Então, a gente ficava com ele [mexilhão] estocado. Agora como tem comprador, não vai dar para nós ficarmos com muito lá no long line”. (maricultor 2, 60 anos, Praia do Coqueiro, comunicação pessoal à autora em 31 jan. 2003, em Anchieta/ES).

“Nós recebemos telefonema de Vitória, de Cachoeiro, de Marataízes. A quantidade que nós conseguirmos tirar é só chegarmos tal horário, que o rapaz chega para pegar o produto da gente”. (maricultor 1, 42 anos, Juca da Mata, comunicação pessoal à autora em 11 fev. 2003, em Anchieta/ES).

Segundo a classificação do IPES, para grandes e médios empreendimentos, o valor

de 0,1900 é o limite mínimo para o município oferecer uma infra-estrutura razoável à esse

tipo de empreendimento. Enquanto que valores entre 0,1901 e 0,4199 são considerados

razoáveis, entre 0,4200 e 0,5099 são considerados bons e acima de 0,5100 são

considerados ótimos. Seguindo a classificação do IPES, nenhum dos municípios teria a

infra-estrutura mínima necessária para um empreendimento de grande ou médio porte. O

município que apresentou a melhor condição foi Guarapari e o que apresentou a pior

Page 135: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

condição foi Anchieta (TABELA 14). Esse é um fator relevante, uma vez que o município

de Anchieta se encontra mais distante de Vitória do que Guarapari.

Em relação ao indicador de telecomunicações (IGME), apenas Piúma se encontra

abaixo do limite mínimo, enquanto que em Anchieta o serviço está classificado como bom

e em Guarapari a classificação para o serviço é ótima (TABELA 14). Quanto ao indicador

telefonia (IDU), somente Anchieta se encontra abaixo do valor médio para o Estado. Isso

significa que, apesar de possuir uma área de cobertura boa, a relação entre o número de

linhas telefônicas e a população residente é baixa, principalmente quando comparado a

Piúma que tem o pior serviço de cobertura, entre os três municípios, mas possui uma

relação maior do número de linhas telefônicas em função da população residente

(TABELA 14). Esse indicador deve ser relativizado, uma vez que com o fortalecimento do

associativismo e a implantação de cooperativas, o baixo valor do mesmo não irá alterar o

padrão do serviço fornecido pelas cooperativas, uma vez que todos os municípios possuem

área de cobertura para serviços de telecomunicações, e não será um obstáculo para o

contato com compradores, ao contrário do índice de rodovias, uma vez que as condições

das rodovias de Vitória a Guarapari variam de excelentes (RODOSOL) a razoáveis

(BR101-S), diminuindo à medida em que caminhamos para o Sul do Estado em direção

aos demais municípios.

Em termos da pequena produção, esses valores não são significativos, pois a

estrutura existente é suficiente. Caso a intenção seja a expansão dessas áreas de cultivo,

com a criação de um pólo de maricultura, torna-se necessária a reavaliação e o incremento

desses indicadores.

Tabela 14 – Valores obtidos para os indicadores rodovia e telecomunicações no IGME e telefonia no IDU dos municípios do Estado do Espírito Santo, destacando-se os municípios de Anchieta, Guarapari e Piúma.

Município IGME IDU Rodovia Ranking Telecomunicações Ranking Telefonia Ranking Anchieta 0,0696 40° 0,4464 13° 0,1248 39° Guarapari 0,1465 13° 0,5292 8° 0,3994 3° Piúma 0,0951 32° 0,1543 25° 0,1676 23° Vitória 0,4812 3° 1,0000 1° 1,0000 1° Estado - - - - 0,1512 - Fonte: IPES, 2000b.

Page 136: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

7 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Neste capítulo fazemos uma análise através do diagnóstico socioambiental das

principais características dos “parques de cultivo” estudados, das dificuldades enfrentadas

pelos maricultores para o desenvolvimento da maricultura e das possíveis causas dessas

dificuldades. Analisamos também a importância do fortalecimento dos indicadores

utilizados na construção do IDM-ES dos municípios estudados, para a sustentabilidade e

desenvolvimento da maricultura.

Num segundo momento analisamos os dados obtidos através no IDAM e de seus

indicadores para os “parques de cultivo” estudados e suas implicações.

7.1 O diagnóstico socioambiental e a caracterização dos “parques de cultivo” A implantação e a organização dos “parques de cultivo” foi realizada de diferentes

formas nos três municípios. Enquanto que em Anchieta e Guarapari o objetivo da

implantação da maricultura estava relacionada à geração de uma nova fonte de renda e de

emprego, contemplando principalmente pescadores tradicionais, em Piúma o objetivo era

experimental (caráter técnico/científico) (TABELA 15). Além disso, o grau de participação

da comunidade nos processos de escolha da área, de aprimoramento da técnica e de

decisão, também foram diferentes. Da mesma forma que o treinamento recebido e a

assistência técnica prestada (TABELA 16).

“Então, por que todo projeto de pesca aqui dá certo? Porque eu tenho a prática. Então nós conversamos muito, quando eu quero saber alguma coisa da teoria dele lá, a gente conversa com ele. E nós nos entendemos muito bem. Se todo lugar tiver um técnico que

Page 137: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

converse com a comunidade, que os dois se entendam bem, aí as coisas funcionam. Senão, as coisas não funcionam. Porque um puxa para um lado e o outro puxa para o outro. Aí é o tal negócio, os dois têm que puxar para o mesmo lado, senão, não funciona”. (maricultor 2, 60 anos, Praia do Coqueiro, comunicação pessoal à autora em 31 jan. 2003, em Anchieta/ES).

“Teve uma reunião, fomos convidados pela prefeitura, na época a secretária de meio ambiente fez contato com algumas pessoas. Eu fui convidado, com os demais. Presenciamos a reunião onde colocaram a novidade pra gente, do quê que seria a maricultura, a esperança de uma nova fonte de renda, um complemento da fonte de renda para os pescadores. A proposta foi bem animadora, só que as dificuldades fizeram com que a maioria desistisse”. (maricultor 4, Perocão, comunicação pessoal à autora em 07 fev. 2003, em Perocão/ES).

“Em primeiro lugar a própria implantação do projeto. Por ser novidade nem quem estava implantando tinha ainda dominado a técnica. Então muita coisa precisou ser modificada no meio do caminho porque o que eles achavam que era bom para um determinado local, aqui não se adequava. Tinha que ser feito uma modificação. E é isso que a gente vem sofrendo nesses quatro anos. A adequação ao projeto, para que ele decole”. (maricultor 4, Perocão, comunicação pessoal à autora em 07 fev. 2003, em Perocão/ES).

Com relação à unidade de beneficiamento, a comunidade de Perocão apresenta uma

grande vantagem em relação às demais (TABELA 17). Através de investimentos para a

adequação dessa unidade de beneficiamento às normas da ANVISA, poderá ser obtido o

SIF para os mexilhões beneficiados no local, aumentando a oferta de emprego e da renda

no município.

Page 138: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Tabela 15 – Dados obtidos no trabalho de campo e na revisão bibliográfica sobre a implantação dos “parques de cultivo” de Anchieta, Guarapari e Piúma – parte A.

Apoio Município Início das atividades Projeto Objetivo Inicial Em fev/2003

Anchieta 1998 Conservação e recuperação dos ecossistemas costeiros no litoral sul do Espírito Santo Fonte alternativa de renda

- CTA - PMA - MMA - SEAMA

- PMA - UFES

Guarapari 1997 Mitilicultura Fonte alternativa de renda

- CTA - SEBRAE/ES - BANDES - PMG - BMLP - UFES

-

Piúma 1987 Implantação de cultivo consorciado de algas marinhas, ostras e mexilhões de Piúma Experimental

- SUDENE - COPLAN - BANDES - GERES - SUDEPE

- ESCOPESCA - UVV - UFES

Page 139: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Tabela 16 – Dados obtidos no trabalho de campo e na revisão bibliográfica sobre a implantação dos “parques de cultivo” de Anchieta, Guarapari e Piúma - parte B.

Comunidades envolvidas Espécies cultivadas Número de maricultoresMunicípio Participação da comunidade Inicial Em fev/2003 Inicial Em fev/2003 Inicial Em fev/2003

Anchieta Intensa - Parati Inhaúma

- Anchieta sede - Iriri - P. perna - P. perna

- C. gigas 80 32(21)

Guarapari Pouca ou nenhuma- Concha D’ostra - Meaípe - Perocão

- Guaibura - Perocão

- P. perna - C. rhizophorae - P. perna 40 16

Piúma Pouca ou nenhuma - -

- P. perna - C. gigas - N. nodosus - Macroalgas

- P. perna - C. gigas

- 05

Page 140: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Tabela 17 –Dados obtidos no trabalho de campo e na revisão bibliográfica sobre a infra-estrutura e divisão do trabalho nos “parques de cultivo” de Anchieta, Guarapari e Piúma.

Local Todos possuem embarcação própria?

Há formação de grupo de trabalho? Quais as tarefas em há a participação de mulheres? Quais as tarefas em há a participação

de jovens ou crianças?

Anchieta Não Sim

- Beneficiamento - Confecção de redinha - Encordoamento - Controle de plantio e colheita/ gastos e lucros

- Reparo de material - Encordoamento

Guaibura Sim Não- Beneficiamento - Controle de plantio e colheita/ gastos e lucros - Encordoamento

-

Perocão Não Não - Beneficiamento - Piúma - - - -

Page 141: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Para a comercialização do produto em supermercados e em outros Estados,

mercados que requerem grandes quantidades de produto e regularidade no fornecimento do

mesmo, além da obtenção do SIM e/ou SIF, torna-se necessária à organização da atividade

em termos de fornecimento de sementes (fornecimento regular e compatível com a

demanda), devendo ser estudadas novas formas para a obtenção das mesmas, como a

colocação de coletores artificiais. Além da regularidade na oferta do produto, também são

necessários: a qualidade e a disponibilidade de material de consumo, a adequação,

disponibilidade e bom estado de conservação dos equipamentos de trabalho como as

embarcações e a formação de uma cooperativa. A implantação de uma cooperativa

permitirá a divisão do trabalho entre produção e beneficiamento, gerará novos empregos,

permitirá uma oferta mais regular do produto, contribuindo para o aumento da

produtividade no local.

O “parque de cultivo” de Piúma está em desvantagem frente aos demais, por não

possuir associação (TABELA 18), infra-estrutura para comercialização e estratégias de

venda/marketing, como a colocação de etiqueta (TABELA 19) para a identificação do

produto. Trabalhos relacionados ao fortalecimento do associativismo e à segurança devem

ser realizados, uma vez que os maricultores estão muito desanimados devido ao furto de

mexilhoneiras muito freqüente na região (TABELA 18). Esses trabalhos, aliados à linhas

de crédito compatíveis à realidade do público alvo dos projetos no Estado (pescadores

tradicionais), podem incentivar a participação de novas pessoas na atividade aumentando a

produção local.

O número máximo de long lines por produtor e a produtividade de cada um deles

são parecidos nos “parques de cultivo” dos municípios de Anchieta e de Guarapari80

(TABELA 20). Em relação ao tempo de cultivo, há a formação de dois grupos. O grupo 1,

formado por Anchieta, Guaibura e Piúma, que apresenta um crescimento mais rápido dos

mexilhões em relação à Perocão, representante do grupo 2 (TABELA 20). Essa diferença

no tempo de cultivo dos mexilhões da Praia da Cerca (Perocão), torna necessária a

permanência dos mesmos nas estruturas de cultivo, por mais seis meses do que nos outros

locais, até que seja atingido o tamanho comercial. Esse fato torna urgente o

estabelecimento de um plano de manejo capaz de garantir a sustentabilidade econômica do

“parque”.

80 Faltam dados para a comparação com o “parque de cultivo” de Piúma.

Page 142: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Além disso, o término do levantamento das áreas potenciais para a implantação da

maricultura no Estado, é imprescindível para a expansão da atividade e o aumento da

produção.

A produção pode ser afetada, entre outros, pelas intempéries, como ventos e

chuvas, que danificam as estruturas de cultivo e causam a morte dos mexilhões ou por

fenômenos biológicos como as marés-vermelhas, que podem causar a morte dos mexilhões

ou comprometer a qualidade do produto. Nos “parques de cultivo” estudados, a principal

dificuldade para o aumento da produção está relacionada à disponibilidade de material e de

recursos para o investimento na atividade, uma vez que as áreas de cultivo são

consideradas propícias ao desenvolvimento da mesma (boa qualidade ambiental) (ANEXO

2) e não foram relatados sérios problemas de conflito de uso ou perdas na produção

(TABELA 18).

Deve ser ressaltada a importância da identificação do produto para a divulgação do

mesmo. A retirada dos mexilhões com tamanho inferior ao tamanho comercial deve ser

evitada ao máximo e o “esquecimento” da colocação da etiqueta não deve ocorrer. Para

isso, um bom plano de manejo deve ser adotado, com um cronograma adequado ao local

de cultivo, prevendo períodos de entrada de ventos fortes, de chuvas e de ressaca, além da

época em que devem ser feitos o plantio e a despesca, a fim de garantir uma oferta regular

do produto no mercado.

A superação das dificuldades está relacionada às expectativas de obtenção de linhas

de crédito adequadas. Os maiores problemas enfrentados pelos maricultores hoje, estão

relacionados à falta de recursos para investimento na maricultura.

Page 143: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Tabela 18 – Dados obtidos no trabalho de campo e na revisão bibliográfica sobre a infra-estrutura e organização dos “parques de cultivo” de Anchieta, Guarapari e Piúma e os conflitos e dificuldades enfrentadas pelos maricultores.

Local Tamanho da área (ha)

Número de áreas

Espécies cultivadas

Número aproximado de

long lines

Número de maricultores em

fev. 2003

Principais conflitos

Principais dificuldades

Existe associação de maricultores?

Anchieta 29,8 09 P. perna C. gigas 90 32(21) Não detectado - Furto de

mexilhoneiras

- Financiamento

- Preço do material

Sim

Guaibura 03 01 P. perna 26 05 Não detectado - Financiamento - Falta de material Sim

Perocão 01 01 P. perna 42 11- Moradores da Praia da Cerca

- Pescadores

- Falta de embarcação - Furto de mexilhoneiras - Financiamento - Irregularidade no fornecimento de material - Baixo engajamento na associação - Técnicas de comercialização - Espaço para comercialização

Sim

Piúma - 01 P. perna C. gigas 08 08 Não detectado - Furto de

mexilhoneiras Não

Page 144: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Tabela 19 – Dados obtidos no trabalho de campo e na revisão bibliográfica sobre a comercialização dos mexilhões nos “parques de cultivo” de Anchieta, Guarapari e Piúma.

Local Possui unidade de beneficiamento?

Quais são os principais “compradores” demexilhão?

Quais são as principais formas de comercialização do mexilhão?

Possui etiqueta de identificação do

produto? Principais dificuldades

Anchieta Não

- Atravessador - Peixaria - Bar - Restaurante - Turista

- Sob encomenda - Na casca - Fresco - Congelado - Bandejas de isopor de 0,5Kg (varejo) - Sacos plásticos (atacado)

Sim - Incerteza quanto ao comprador

Guaibura “Não” - Restaurante - Turista

- Na casca - Fresco - Congelado - Bandejas de isopor de 0,5Kg

Sim

- Falta do produto para atender o mercado consumidor - Custo dos materiais de consumo como gás e cordas

Perocão Sim- Restaurante - Atravessador - Turista

- Fresco - Congelado - Bandejas de isopor de 0,5Kg

Sim - Estratégias/Técnicas de comercialização - Espaço próprio para a venda

Piúma Não - - - -

Page 145: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Tabela 20 – Dados obtidos no trabalho de campo e na revisão bibliográfica sobre a infra-estrutura, tempo de crescimento dos mexilhões e produção dos “parques de cultivo” de Anchieta, Guarapari e Piúma.

Local Tamanho inicial

das sementes (cm)

Origem das sementes

Tamanho comercial (cm)

Preço (R$) do Kg do mexilhão

Número máximo de long

lines por maricultor

Número médio de long lines

por maricultor

Produção (Kg) média de carne de mexilhão por

long line

Tempo de cultivo (meses)

Valor(R$) médio obtido

com a produção de um long line

Anchieta 3,0-4,0 Costão/cultivo > 6 6,00 (atacado) & 7,00 (varejo) 08 05 165 06

990,00 (atacado) &

1.155,00 (varejo)

Guaibura 3,0-4,0 Costão/cultivo > 7 8,00 08 05 157 07 1.256,00 Perocão 3,0-4,0 Costão/cultivo > 7 8,00 08 04 120 12 960,00

Piúma - Costão/cultivo

Laboratório - - - 02 - 6-7 -

Page 146: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

7.2 O IDM e o desenvolvimento sustentável da maricultura Quando os indicadores do IDM mais importantes para o desenvolvimento da

maricultura foram destacados, esse procedimento teve como objetivo realçá-los perante os

demais, pois estes são balizadores importantes na definição de políticas públicas para o

fomento e o fortalecimento da maricultura, por possuírem uma relação mais próxima com a

mesma e com os que a praticam.

A necessidade de ambientes isentos de contaminação para a implantação de

“parques de cultivo”, não deve ser superior à preocupação com a higiene e a infra-estrutura

necessárias ao beneficiamento do produto e ao escoamento da produção. Além disso, deve

existir a preocupação com o bem-estar dos maricultores para que estes possam

desempenhar suas funções de maneira digna e correta.

Os “parques de cultivo” estudados apresentam problemas e dificuldades diversas e

em alguns casos convergentes. Na maioria dos casos a convergência ocorre em relação a

falta de infra-estrutura oferecida pelo município e pelo fato de que a atividade é recente no

Estado. Enquanto que os problemas divergentes estão relacionados ao tipo de assistência

técnica prestada e ao grau de envolvimento dos maricultores com a atividade e o seu

entrosamento com os técnicos.

Quanto à importância dos indicadores, utilizados na construção do IDM para o

desenvolvimento da maricultura, cabe ressaltar que de uma forma geral, os que

apresentaram os piores desempenhos nos municípios estudados, apresentando uma média

inferior à média do Estado foram os relacionados à infra-estrutura física e social do

maricultor (saúde e habitação), infra-estrutura para produção (habitação) e infra-estrutura

para comercialização e transporte do produto (rodovias) (QUADRO 15).

Quando analisamos cada município separadamente, Anchieta apresenta deficiências

em maior ou menor grau para os seguintes indicadores: maior grau – qualidade ambiental

(esgoto), infra-estrutura física e social do maricultor (segurança), infra-estrutura para

transporte e comercialização (telefonia) e menor grau – qualidade ambiental (lixo), infra-

estrutura física e social do maricultor (educação), infra-estrutura para produção (água) e

infra-estrutura para comercialização e transporte do produto (telecomunicações). Guarapari

apresenta deficiências em maior grau para os itens relacionados à infra-estrutura física e

social do maricultor (segurança) e em menor grau para qualidade ambiental (esgoto e lixo),

infra-estrutura física e social do maricultor (educação) e infra-estrutura para

Page 147: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

comercialização e transporte do produto (telecomunicações e telefonia). Piúma apresenta

em maior grau deficiências relacionadas à infra-estrutura para comercialização e transporte

do produto (telecomunicações e telefonia) e em menor grau à infra-estrutura física e social

do maricultor (educação e segurança) (QUADRO 15).

Quadro 15 – Status dos indicadores que compõem o IDM-ES nos municípios estudados e no Estado do Espírito Santo.

Indicador A G P ES Qualidade Ambiental Esgoto Lixo Integridade física e social do maricultor Educação – IDU Educação – IDS Segurança Habitação Saúde Infra-estrutura para produção Água Habitação Infra-estrutura para comercialização e transporte Rodovia - Telecomunicações - Telefonia

Legenda Melhor 1° 2° Pior

Os baixos valores para os indicadores água e esgoto comprometem a qualidade do

produto, a saúde e conseqüentemente o crescimento da atividade. Enquanto que baixos

valores nos indicadores rodovia e telefonia comprometem o escoamento da produção, uma

vez que os grandes centros consumidores encontram-se distantes do local de origem do

produto. O aumento da produção está diretamente relacionado à expansão do mercado e a

infra-estrutura necessária ao atendimento da demanda, onde a facilidade de comunicação

entre produtores e consumidores e a existência de vias adequadas para o escoamento da

produção tornam-se itens indispensáveis, visto que não adianta aumentar a produção se não

existir comprador ou se a produção não chegar ao local de consumo.

Page 148: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Os baixos valores dos indicadores de habitação e telecomunicações (IGME), não

comprometem tanto o fomento, o fortalecimento e a expansão da maricultura em Piúma

quanto à falta de um suporte financeiro. A existência de uma assistência técnica capacitada

no local não é suficiente para a expansão da atividade, que necessita de financiamento e de

investimentos em infra-estrutura e segurança, a fim de se incrementar a produção,

viabilizar o beneficiamento e a comercialização do produto e de se evitar as perdas devido

ao furto das mexilhoneiras. Essas necessidades podem ser constatadas quando analisamos a

evolução do “parque de cultivo” de Piúma, através do IDAM, que apesar de ser o mais

antigo do Estado do Espírito Santo apresenta-se de forma estacionária e para alguns

parâmetros o quadro é de regressão.

Todos os municípios apresentam potencial para o desenvolvimento da maricultura,

mas a qualidade ambiental dos municípios deve ser incrementada, através da implantação

de ETEs e de sistemas de coleta de lixo efetivos, principalmente em Anchieta e Guarapari,

a fim de se garantir a qualidade do produto. Anchieta é o município que apresenta a melhor

organização da maricultura e apoio técnico aos maricultores, destacando-se como o maior

produtor de mexilhões do Estado. Guarapari apresenta as melhores infra-estruturas para

comercialização e transporte do produto, devido principalmente à sua localização

geográfica, mais próxima a Vitória e as melhores vias de acesso, mas a prefeitura local

pouco tem contribuído para o crescimento da atividade. Piúma, o município com os

melhores resultados para o indicador qualidade ambiental, não foi contemplado com um

projeto capaz de explorar as suas potencialidades para o cultivo comercial de mexilhões e

inclusive de outras espécies devido às características ambientais locais. As prefeituras

locais devem levar em consideração as características de seus municípios e explorá-los.

Trabalhos de monitoramento ambiental, estudos sobre a capacidade de suporte, sobre o

crescimento ordenado da atividade, sobre o perfil socioeconômico dos maricultores e o

incremento da segurança dos “parques de cultivo”, como forma de proporcionar ao

maricultor segurança para o seu empreendimento, são fundamentais para o crescimento da

atividade. Posteriormente, com o aumento da produção e a necessidade de escoamento da

mesma serão necessários maiores investimentos em infra-estrutura para comercialização e

transporte do produto, como a melhoria das rodovias e das telecomunicações.

Page 149: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

7.3 O IDAM e suas implicações

Os dados apresentados no IDAM, de uma forma geral, indicam que pouca atenção

tem sido dada à maricultura no Estado do Espírito Santo, diante do seu enorme potencial.

Mais de 66% dos 48 indicadores estudados, apresentam valores baixos (<0,3333) ou nulos

(0,0000) (QUADROS 14 e 16). Quando analisamos cada “parque de cultivo”

separadamente, verificamos que esses percentuais são em média de 50% para Anchieta,

75% para Guaibura e Perocão e 66,7% para Piúma. Quando os “parques” são analisados

nas fases de implantação e atual, esses valores são respectivamente 66,7 e 33,3% para

Anchieta, 100 e 50% para Guaibura e Perocão e 50 e 83,3% para Piúma (QUADROS 14 e

16).

O “parque de cultivo” de Anchieta foi o que apresentou a melhor estratégia de

implantação da atividade, buscando contemplar todos os pontos necessários ao

desenvolvimento de uma maricultura sustentável, enquanto que Guaibura e Perocão

apresentaram os piores modelos. O aumento do número percentual de indicadores baixos

ou nulos em Piúma, deve-se ao atual panorama da atividade no município. O potencial da

atividade não está sendo explorado. Faltam investimentos e incentivos políticos para que a

atividade deslanche.

O indicador fonte de renda alternativa, apresenta os maiores valores, exceto para a

fase atual em Perocão. Esse resultado deve-se ao fato de que esse é o objetivo dos projetos

de maricultura implantados no Estado e o que desperta o interesse das pessoas em iniciar a

atividade.

Os resultados mostram o incremento dos indicadores impacto ambiental e produção

baseada no desenvolvimento sustentável em alguns “parques de cultivo”. Esse incremento

só é possível como a ajuda de pessoal técnico capacitado, vinculado à instituições de

ensino, pesquisa e extensão e de regulação, como as secretarias de meio ambiente. Sendo

assim, tornam-se necessários maiores investimentos dessas instituições para possibilitar a

igualdade de incremento desses índices nos “parques de cultivo” de Perocão e Piúma à

despeito do que vem sendo feito em Guaibura e Anchieta, “parques de cultivo” que

possuem o maior número de pesquisas sobre maricultura já realizadas.

O aumento do indicador incremento na produção do pescado, está associado ao

indicador fonte alternativa de renda. O incremento desses indicador é o que torna viável o

Page 150: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

indicador fonte alternativa de renda, do ponto de vista econômico. Esses são os indicadores

através dos quais foram observadas as maiores participações dos maricultores.

A integração da comunidade/família é o indicador mais importante para a

permanência da comunidade alvo na atividade. É de extrema importância que na fase de

implantação da atividade, os técnicos responsáveis pela elaboração do projeto e os

extensionistas tenham em mente “para quem?” eles estão criando o projeto. O “parque de

cultivo” que apresentou o melhor resultado para esse indicador foi Anchieta, que também

apresenta o maior número de maricultores do Estado. Mas mesmo em Anchieta isso não

garantiu a permanência da comunidade alvo na atividade, pois pouco estudo foi feito para

determinar o perfil do público-alvo, suas necessidades, dificuldades e potencialidades.

A construção do IDAM permitiu a comparação dos “parques de cultivo” e sua

evolução, apontando suas deficiências. A aplicação do índice em outras áreas de cultivo

deve vir acompanhada de um diagnóstico socioambiental, pois sendo os índices valores

sintéticos e relativos, os números obtidos podem mascarar, minimizar ou maximizar as

deficiências de cada “parque” ou as diferenças entre eles, conforme o observado no

“parque de cultivo” de Perocão e na comparação deste com o “parque de cultivo” de

Anchieta no parâmetro Integração da comunidade/família, onde no primeiro a iniciativa de

integração partiu dos técnicos e no outro da comunidade, respectivamente.

Quadro 16 – Status dos indicadores que compõem o IDAM nos “parques de cultivo” estudados.

Anchieta Guaibura Perocão Piúma Indicador I A I A I A I A Integração comunidade/família Impacto ambiental Fonte alternativa de renda Incremento na produção do pescado Produção baseada no desenvolvimento sustentável IDAM Legenda

I Implantação do cultivo A Fase atual (fevereiro de 2003) Melhor 1° 2° Pior

Page 151: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

7.4 A associação da maricultura à agricultura pelos maricultores e a presença das mulheres na atividade

No decorrer das entrevistas, quatro maricultores, associaram a mitilicultura a outras

atividades como a pesca e a agricultura. Essas mesmas comparações foram verificadas por

Alvarenga (2002).

As comparações com a pesca destacavam a vantagem da mitilicultura sobre ela,

desde que fossem feitos investimentos na área e que se criasse uma secretaria de

aqüicultura com pessoas competentes e capazes de dialogar com os mitilicultores, sendo

estas as únicas formas através das quais haveria o crescimento da atividade.

Também foi destacada a vantagem que os pescadores levam sobre as outras pessoas

quanto à apreensão e ao desenvolvimento da técnica e à confecção das mexilhoneiras.

“E a facilidade é porque a gente já conhece tudo. Já sabe fazer rede, tem facilidade de mexer com barco. Então tem tudo a ver”. (maricultor 8, 40 anos, Praia do Coqueiro/ Mar Vila. comunicação pessoal à autora em 11 fev. 2003, em Anchieta/ES). “Por se tratar de uma atividade correspondente e complementar à pesca”. (maricultor 7, Juca da Mata, comunicação pessoal à autora em 14 jan. 2003, em Anchieta/ES).

Além disso, para eles não há diferença entre pescador e maricultor

“Não tem diferença. A gente só fala: - Ah! O maricultor! Mas é pescador mesmo. Eu tenho 40 anos de pesca. Não vou mudar. Só 2 ou 3 anos de maricultura. Sou pescador”! (maricultor 2, 60 anos, Praia do Coqueiro, comunicação pessoal à autora em 31 jan. 2003, em Anchieta/ES).

Os pescadores entrevistados demonstraram uma grande insatisfação por não poder

se dedicar integralmente à maricultura, pois esta ainda não se constitui numa fonte de

renda efetiva, capaz de garantir o sustento de sua família. Muitos são os planos e os sonhos

para que a maricultura possa um dia suprir essa necessidade. Além disso, demonstraram a

vontade de diversificar o cultivo com a inclusão de novas espécies.

Page 152: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Quanto às comparações com a agricultura, essas eram referentes ao trabalho duro

no campo, aos termos adotados, às perdas devido às intempéries, à necessidade do cultivo,

do tratar da terra, para que seja realizada a colheita.

“O agricultor limpa o terreno, vai plantar, vai semear e aí, com um bom tempo, de chuva direitinho, vai bem a lavoura. Mas se der um tempo de sol, ele perde tudo. É igual à maricultura. Você prepara sua área, aí vai crescer. Mas, se depois que ele crescer, que está na hora de colher, bater um sudoeste bravo, você perde tudo. É igual ao agricultor. Chega na hora dele colher, bate o sol, ele perde tudo”. (maricultor 2, 60 anos, Praia do Coqueiro, comunicação pessoal à autora em 31 jan. 2003, em Anchieta/ES).

“Acha que é um trabalho pesado, mas tudo na vida é assim mesmo. Tem que dar duro. E o que esse povo não sabe é o que é trabalho pesado. Trabalho pesado é na lavoura, onde se trabalha de segunda a sábado, e que se pega muito sol, morre tudo e que se dá uma enchente estraga tudo e você perde tudo. Já no cultivo, pode fazer sol, chuva, que está tudo bom”. (maricultor 9, Praia do Coqueiro, comunicação pessoal à autora em 13 fev. 2003, em Anchieta/ES).

“A maricultura é como fazer farinha. Tem que dar duro. Dá trabalho”! (maricultor 9, Praia do Coqueiro, comunicação pessoal à autora em 13 fev. 2003, em Anchieta/ES).

A atividade que surgiu como uma forma complementar à renda dos pescadores, se

aproxima um pouco mais da agricultura, quando analisamos as etapas necessárias à

produção e difere da pesca e da retirada dos mexilhões do costão, por estas se

caracterizarem como atividades extrativistas.

Apesar das categorias adotadas na maricultura pemearem os universos da pesca e da

agricultura esta possui uma identidade própria. Da pesca veio o entrosamento com o mar e

o saber decorrente deste entrosamento e da agricultura o saber cultivar. Mas da junção

desses dois saberes nasceu a maricultura para a qual está sendo desenvolvida uma

tecnologia com baixo impacto ambiental para o cultivo de espécies marinhas em estruturas

adaptadas aos diversos ambientes e às diferentes espécies cultivadas.

Page 153: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Quando o projeto para o desenvolvimento da maricultura foi implantado no

município de Anchieta, um grande número de marisqueiras sentiu-se atraída e resolveu

experimentar a atividade, pois os mexilhões eram um organismo bastante familiar.

O grande número de mulheres no início da atividade no município deve-se

principalmente ao fato de que a extração de mexilhões é uma atividade praticada na

maioria das vezes por essas, existindo em Anchieta um grupo de mulheres conhecido como

as “marisqueiras de Inhaúma”. O que as identifica é o seu trabalho nas pedras (costões

rochosos) de onde retiram os mexilhões e através da venda dos mesmos, complementam a

renda familiar.

Com o passar do tempo, a necessidade de outros fatores como força física e

embarcação fez com que as marisqueiras desistissem da atividade. As mulheres dos

pescadores, auxiliam seus maridos no beneficiamento do produto, enquanto que as

primeiras voltaram para as pedras e uma pequena parcela às vezes participa do

beneficiamento.

A integração entre homens e mulheres no desenvolvimento da atividade é possível e

pode tornar-se uma alternativa de renda para ambos os sexos. Se dividirmos, grosso modo,

as etapas de produção, podemos ter a divisão de trabalho quanto ao gênero conforme o

apresentado no QUADRO 17.

Quadro 17 – Atuação de homens e mulheres nas diferentes etapas de produção da maricultura.

Etapa da maricultura Homem Mulher

Encordoamento X X

Despesca X

Beneficiamento X X

Comercialização X X

Manutenção das estruturas X

Confecção das mexilhoneiras X X

Page 154: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

As perspectivas de desenvolvimento de maricultura offshore no Estado do Espírito

Santo, a diversificação dos cultivos e os esforços para a elaboração de um levantamento

legítimo de áreas propícias ao desenvolvimento da atividade, além do envolvimento de

instituições como a UFES, o SEBRAE e o BANDES, entre outras, colabora para o fomento

e o fortalecimento da atividade.

Page 155: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

8 CONCLUSÃO - A NECESSIDADE DA MUDANÇA DE PARADIGMAS

O estudo demonstrou que o Estado do Espírito Santo não obstante a sua

potencialidade para o desenvolvimento da maricultura, apresenta algumas deficiências

relacionadas principalmente à assistência técnica prestada pelos extensionistas, ao suporte

técnico oferecido pelas prefeituras locais e instituições de fomento da maricultura e aos

financiamentos disponíveis para os maricultores.

O planejamento da atividade visando a segurança alimentar, o fornecimento de uma

fonte alternativa de renda às populações tradicionais como a dos pescadores artesanais, o

manejo como forma de aumentar a produtividade e garantir a disponibilidade do produto

durante todo o ano, além do bom conhecimento dos principais fatores limitantes da

produção, da dinâmica do ecossistema e das intempéries objetivando minimizar as perdas,

junto com o levantamento do mercado consumidor e das linhas de crédito existentes, de

estudos sobre a capacidade de suporte local e da vocação e interesse da comunidade em

desenvolver a atividade, são peças chaves para o sucesso e o desenvolvimento da

maricultura.

Muitas vezes, os problemas que podem surgir durante o manejo de um “parque de

cultivo” não estão relacionados aos aspectos ambientais e podem ser evitados caso os

aspectos sociais e culturais da comunidade em que a atividade tenha sido implantada,

sejam levados em conta.

O ponto de partida para a elaboração de um projeto de extensão tem que ser a

comunidade na qual ele vai ser implantado, pois a relação dessa comunidade com o

território experimentado produz a cultura local e os ensinamentos necessários à sua

sobrevivência.

A apreensão de novas técnicas para a otimização da exploração sustentável dos

recursos naturais existentes é importante, porém as considerações técnicas e econômicas

Page 156: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

não devem sobrepor a sustentabilidade social. Além disso, os estudos econômicos

realizados para definir o tempo de retorno do investimento, a produtividade local, as fontes

de financiamento e as formas de fornecimento do material de consumo não devem ser

ignorados, minimizados ou maximizados.

Os envolvidos no projeto devem ter acesso à informações confiáveis e seguras a

fim de aumentar a sua credibilidade tanto no projeto quanto nos técnicos.

Os técnicos e extensionistas detêm-se muitas vezes na transmissão da técnica,

esquecendo que o seu papel, enquanto agente de extensão, também é o de integrar a

comunidade e participar da mesma, ouvindo-a e buscando conhecer os pontos fortes e

identificar os fracos, a fim de que os ensinamentos sejam melhor apreendidos, e seja

assegurada a sustentabilidade social do empreendimento.

O fraco envolvimento dos técnicos com a comunidade e a falta de credibilidade

nestes podem comprometer o desenvolvimento do projeto e o sucesso da atividade. Esse

quadro foi observado em campo e comprova a hipótese de que algumas das técnicas de

divulgação, implantação e gestão da mitilicultura no Estado do Espírito Santo, apresentam

deficiências do ponto de vista da assistência técnica prestada, que associada à falta de

linhas de crédito adequadas, contribui para o desestímulo e a não permanência dos

maricultores na atividade.

Comparando-se os resultados do IDAM dos “parques de cultivo” de Anchieta e de

Guarapari, comprovamos o alto grau de responsabilidade nos quesitos envolvimento e

permanência da comunidade alvo na atividade durante a implantação e desenvolvimento da

maricultura, a que estão submetidos os responsáveis pela elaboração de projetos de

extensão e os extensionistas que irão executá-los. Em Anchieta, onde o interesse pela

maricultura partiu dos maricultores e onde a participação destes foi maior, tanto quanto o

apoio dos técnicos e da prefeitura local, constatamos o maior IDAM tanto na fase de

implantação quanto para o ano de 2003, dentre todos os “parques de cultivo” estudados.

A reformulação dos modelos de divulgação, implantação e gestão da mitilicultura

que adotem técnicas como as que foram utilizadas no município de Guarapari torna-se

necessária.

Muitos técnicos insistem no sistema de implantação de projetos de “cima para

baixo”, sem que a sociedade seja ouvida e/ou que participe da escolha do local, do método

e dos equipamentos a serem utilizados. Isso vem sendo constatado, mesmo após a

comprovação da eficácia da gestão participativa, em diversos estudos que ressaltam a

Page 157: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

importância da participação da sociedade para o desenvolvimento sustentável de uma

atividade econômica. Projetos que utilizem sistemas de implantação de “cima para baixo”,

na maioria das vezes são incompatíveis com a realidade sócio-econômico-cultural da

sociedade e não satisfazem as suas necessidades.

Também foi constatada na presente dissertação, a necessidade da adequação das

linhas de crédito existentes ao perfil e às necessidades do maricultor, para o qual estão

sendo direcionados os projetos de implantação e expansão da atividade no Estado.

Os projetos não devem ser paternalistas, não devem entregar o “peixe”, devem,

ensinar os maricultores a “pescar” e para isso o maricultor necessita entre outras coisas de

embarcação, item não contemplado nas atuais linhas de crédito oferecidas aos

maricultores.

O levantamento de fontes de fornecimento de material e de compradores torna-se

necessário a fim de se evitar a figura do intermediário, uma das grandes dificuldades que o

pescador enfrenta e que também tem sido enfrentada pelos maricultores no Estado, como

por exemplo, para a aquisição das bombonas.

A irregularidade no fornecimento das cordas de amarras de navio, pode ser

contornada através da formação de um cadastro de todas as empresas que utilizam esse tipo

de material no Estado. Esse cadastro poderia estar vinculado à um programa de doação ou

venda das cordas às associações de maricultores, aumentando a oferta das mesmas e

fazendo com que as necessidades dos maricultores sejam supridas.

A maioria dos projetos de implantação da maricultura no Estado do Espírito Santo

contempla os pescadores tradicionais como público alvo, conforme já citado anteriormente

pelo Sr. João Guilherme Centoducatte. Entretanto, não obstante a maioria dos interessados

e que deu início aos projetos nos municípios estudados serem de fato pescadores

tradicionais, estes tem a sua participação diminuída a medida em que a atividade cresce.

Com o crescimento da maricultura aumentam-se as necessidades de investimento e

de tempo por parte dos maricultores para o reparo das estruturas e manejo do cultivo. Esses

fatores fazem com que muitos pescadores artesanais desistam da maricultura, pois as linhas

de crédito existentes não são adequadas ao seu perfil. Além disso, esses maricultores não

possuem verba própria para investimentos na atividade.

O tempo destinado ao cultivo, para o reparo das estruturas danificadas e para o

manejo, concorre com a necessidade de pescar para sustentar a família.

Page 158: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

O que desperta o interesse das pessoas (pescadores artesanais ou não) em iniciar a

atividade e o que motiva a sua continuação é o fator econômico, a possibilidade de uma

fonte de emprego e renda.

Através da maricultura, são fortalecidas as relações familiares com a atuação do

marido, mulher e filhos na atividade e das relações sociais com a participação dos amigos e

demais parentes nas etapas de produção.

A falta de condições igualitárias para o desenvolvimento da atividade ocasiona

dentro do grupo de maricultores locais, diferentes graus de desenvolvimento da

maricultura, reflexo das diferentes condições de investimento de cada maricultor.

As relações sociais proporcionadas pela maricultura e as diferentes condições de

investimento dos maricultores, podem ser verificadas nas comunidades de Perocão e de

Anchieta.

Em Perocão, são oferecidas “caronas” até os locais de cultivo pelos maricultores

que possuem embarcação, para aqueles que não a possuem. Além disso, eventuais

reboques são feitos quando a embarcação de um colega quebra devido ao mau estado de

conservação. Essas atitudes, apesar de fortalecer as relações sociais entre os maricultores,

através da camaradagem, deixam clara a diferença de condições de investimento existente

entre os diversos maricultores do local. Em Anchieta, o fortalecimento das relações sociais

e a diminuição das diferenças das condições de investimento entre os maricultores é feita

através da formação dos grupos de trabalho.

O estágio atual de desenvolvimento da maricultura devido à falta de investimentos

e de financiamentos, ainda não permite a dedicação exclusiva desses pescadores à

atividade. A maricultura é então encarada como uma atividade econômica complementar à

pesca, não permitindo ao pescador/maricultor o abandono da pesca ou a transformação

desta numa atividade complementar à maricultura ou até mesmo de lazer.

O interesse dos maricultores de transformar a maricultura em sua principal fonte de

renda através da expansão dos cultivos, da agregação de valor ao produto com a aquisição

do SIM/SIF, da expansão do mercado consumidor e da diversificação dos cultivos com a

implantação de espécies de maior valor comercial, esbarra nas dificuldades de aquisição de

uma linha de crédito compatível com as necessidades e o perfil do maricultor.

Os projetos implantados até o momento falham no quesito permanência do

maricultor na atividade, porque não prevêem linhas de crédito adequadas ao perfil e

necessidades dos pescadores tradicionais, público alvo dos projetos. Sem essas linhas de

Page 159: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

crédito para investimentos na atividade, os pescadores artesanais não têm como arcar com

os gastos necessários à manutenção e à expansão do cultivo de forma a torná-lo rentável.

O sistema de doação de long lines é eficiente para apresentar a maricultura ao

pescador artesanal, mas não é eficiente para a permanência do maricultor na atividade, uma

vez que os lucros obtidos com a produção de um long line, não são suficientes para que o

maricultor aumente o número de long lines sem que haja dependência destes da doação de

materiais por parte de terceiros. Ou seja, ou são apresentadas linhas de crédito para esses

maricultores ou eles serão eternamente dependentes de doações e nunca poderão

transformar a maricultura em uma atividade econômica rentável. Caso essas doações não

sejam feitas ou linhas de crédito adequadas não sejam criadas, a atitude mais provável por

parte desses maricultores, conforme o observado em campo, será a de abandonar a

atividade.

Sugiro então que os governos municipais e/ou estadual estabeleçam políticas de

incentivo permanente à maricultura, com linhas de crédito compatíveis principalmente ao

perfil do pescador tradicional que precisa incrementar a sua renda, tendo em vista a pesca

em declínio. Além disso, o acompanhamento da atividade é fundamental para o sucesso da

mesma. Fortalecer o associativismo, identificar gargalos e propor mudanças devem ser

itens de pauta principais da associação de maricultores e do governo interessado em

proporcionar o real desenvolvimento da atividade e a redução das desigualdades sociais.

Além dos fatores mencionados, os diferentes graus de desenvolvimento dos

municípios quanto à infra-estrutura urbana, social e econômico/financeira, permite concluir

que o Estado possui um papel fundamental na diminuição dessas desigualdades,

contribuindo junto às prefeituras locais para a implementação, o desenvolvimento e a

sustentabilidade da atividade.

8.1 Considerações finais Diante do exposto, concluímos ser necessário ao fomento, fortalecimento e

desenvolvimento da maricultura no Estado do Espírito Santo:

Desenvolvimento/conclusão de estudos para a determinação de áreas propícias ao

desenvolvimento da atividade, incluindo diagnósticos ambiental (estudo da capacidade de

suporte), social e de viabilidade econômica;

Page 160: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

Em se tratando de áreas de cultivo já existentes, elaboração de estudos de

capacidade de suporte e identificação das dificuldades enfrentadas pelos maricultores nos

locais (diagnóstico socioambiental);

Assistência técnica articulada com o público-alvo dos projetos;

Criação de fontes de financiamento e/ou adequação das fontes existentes ao perfil

dos maricultores;

Levantamento dos fornecedores dos materiais utilizado nas estruturas de cultivo e

beneficiamento do produto, incentivando a criação de mercados locais para o fornecimento

desse tipo de material, visando a sua regularidade;

Criação de um cadastro das empresas que utilizam cordas de amarras de navio no

Estado do Espírito Santo, para que as mesmas sejam doadas ou vendidas às associações de

maricultores do Estado;

Melhoria da infra-estrutura básica necessária à comercialização do produto

(estradas, telecomunicações, divulgação do produto junto ao consumidor, unidade de

beneficiamento, cooperativas, transporte e armazenamento);

Investimentos em pesquisa para o desenvolvimento de coletores de sementes

eficientes, visando a redução da pressão exercida pelos maricultores sobre os estoques

naturais (costões rochosos), através de práticas extrativistas para a retirada de sementes;

Maior segurança/patrulhamento dos locais de cultivo para evitar a ocorrência de

furtos e garantir a segurança do empreendimento;

Investimentos na área de beneficiamento do produto, construção de unidades de

beneficiamento dentro dos padrões exigidos pela ANVISA;

Treinamento dos maricultores quanto a higienização e embalagem de produtos

alimentícios e estratégias de venda/marketing; e

Formação de cooperativas como forma de regularizar a oferta do produto no

mercado.

Page 161: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

9 OBRAS CITADAS

ABDALLAH, Patrízia Raggi; CASTELLO, Jorge P. O momento de repensar a economia pesqueira no Brasil. ComCiência, n. 40, mar. 2003. Disponível em <www.comciencia.br>. Acesso em: 07 mar. 2003.

ACSELRAD, Henri. Sustentabilidade, espaço e tempo. In: HERCULANO, Selene (Org.). Meio ambiente: questões conceituais. Niterói: Pós-Graduação em Ciências Ambientais [sic] da UFF: Riocor, 2000. 215 p. p. 97-122.

AIKEN, D. E. Prospects for shellfish culture. A A C Special Publication, n. 2, p. 100-104, 1997.

ALMEIDA, Luciana Togeiro de. Política ambiental: uma análise econômica. Campinas, SP: EdUNESP, 1998. 192 p.

ALVARENGA, Luciana. Do sururu à panela de barro: a realidade de heranças milenares. Niterói, 2002. 198f. Dissertação (Mestrado em Ciência Ambiental) - Programa de Pós-graduação em Ciência Ambiental, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2002.

ANDRADE, H. K. DE; OLIVEIRA, E. B.; PINTO, A. T.; ZACHÉ, G. S. Levantamento de áreas costeiras propícias ao cultivo de mariscos (ostras e mexilhões) no litoral do Espírito Santo. Relatório final: SEBRAE/ES, 1996. 76 p.

ANDREATTA, Edemar Roberto. A experiência do Estado de Santa Catarina no desenvolvimento da maricultura. In: CARNEIRO, Marcus Henrique. A sustentabilidade das atividades de aqüicultura e pesca: conferências selecionadas da REUNIÃO ANUAL DO INSTITUTO DE PESCA, 6. Série Relatórios Técnicos, São Paulo: Instituto de Pesca/APTA/SAA, n. 03, 2000. p. 50-53.

BARDACH, J. E. (Ed.) Sustainable aquaculture. New York: John Willey & Sons, 1997. 251 p.

BARRETO FILHO, Henyo T. Populações tradicionais: introdução à crítica da ecologia política de uma noção. [S.l.: s.n., 20--].

BARROSO, Gilberto Fonseca; SODRÉ, Fedrica Natasha Ganança Abreu dos Santos; PINHEIRO, Emannuel Bersan; VASCONCELLOS, Maria Alciele Fargi; GOMIDE, Ricardo Luiz. Monitoramento da qualidade da água em áreas costeiras de cultivo de moluscos bivalves. In: Workshop Internacional de Controle de Poluição das Águas Costeiras, Vitória/ES, 25 a 28/04/00.

Page 162: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

BMLP – BRAZILIAN MARICULTURE LINKAGE PROGRAM. Mission statement. Disponível em <web.uvic.ca/bmlp>. Acesso em: 19 jun. 1998.

BRANDINI, F. P.; SILVA, A. S. da; PROENÇA, L. A. de O. Oceanografia e maricultura. In: VALENTI, W. C. P.; PEREIRA, C. R.; BORGHETTI, J. R. Aqüicultura no Brasil: bases para um desenvolvimento sustentável. CNPq: Ministério da ciência e tecnologia, 2000. cap.3, p.107-142.

BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução 20 de 18 de junho de 1986. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF.

BRASIL. Constituição 1988: texto constitucional de 5 de outubro de 1988, com as alterações adotadas pelas emendas constitucionais nº 1/92 a 28/2000 e emendas constitucionais de revisão n° 1 a 6/94. Brasília: Senado Federal, 2000.

BRASIL. Decreto Lei n° 986, de 21 de outubro de 1969. Instrui normas básicas sobre alimentos. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF.

BRASIL. Decreto Lei n° 1.695, de 13 de novembro de 1995. Regulamenta a exploração da aqüicultura em águas públicas pertencentes à União e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF.

BRASIL. Decreto n° 2.869, de 09 de dezembro de 1998. Regulamenta a cessão de águas públicas para exploração da aqüicultura, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF.

BRASIL. Decreto n° 4.895, de 25 de novembro de 2003. Dispõe sobre a autorização de uso de espaços físicos de corpos d’água de domínio da União para fins de aqüicultura, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, n. 230, 26 nov. 2003a.

BRASIL. Instrução Normativa n° 5, de 18 de Janeiro de 2001. Trata do registro geral da pesca – RGP. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF.

BRASIL. Lei n° 10.683, de 28 de maio de 2003. Dispõe sobre a organização da presidência da República e dos Ministérios e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF. 29 maio 2003b.

BRUMMETT, Randall E.; WILLIAMS, Meryl J. The evolution of aquaculture in African rural and economic development. Ecological Economics, v. 33, p. 193-203, 2000.

BUITRÓN-VUELTA, Laura. Fixação de jovens Perna perna (Bivalvia, Mytilidae) em coletores artificiais no Parque de Cultivo de Guaibura, Guarapari/ES – Brasil. São Paulo, 2002. 61f. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, São Paulo. 2002.

CARMO, Tânia Mara Simões do; BRITO-ABAURRE, Maria da Glória; MELO, Rosa Maria Senna; ZANOTTI-XAVIER, Sonia; COSTA, Mércia Barcellos; HORTA, Maximillian Monteiro Morgado. Os manguezais da baía norte de Vitória, Espírito Santo: um ecossistema ameaçado. Revista brasileira de biologia, v. 55, n.4, p. 801:818, 1995.

CHAMMAS, Marcelo. Aqüicultura: por quê ainda tão discriminada no Brasil?! Panorama da aqüicultura, [S.l: s.n],, p. 8-9, set/out. 1995.

CMMAD – Comissão Mundial sobre Meio Ambiente. Nosso futuro comum. 2. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1991. 430 p.

Page 163: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

CUNHA, Manuela Carneiro da; ALMEIDA, Mauro W. B. Populações tradicionais e conservação ambiental. In:CAPOBIANCO, João Paulo Ribeiro (Coord. geral). Biodiversidade na Amazônia Brasileira: avaliação e ações prioritárias para a conservação, uso sustentável e repartição de benefícios. [S.I.]: Instituto Socioamabiental/ Estação Liberdade, 2001. p. 184-193.

CURTIUS, Adilson; SEIBERT, Edson L.; FIEDLER, Haidi D. Avaliando a contaminação por elementos traço em atividades de maricultura. Resultados parciais de um estudo de caso realizado na Ilha de Santa Catarina, Brasil. Química Nova, São Paulo: Sociedade Brasileira de Química. v. 26, n. 1, p. 44-52, 2003.

DE BRAVO, M. I. S.; CHUNG, K. S.; PEREZ, J. E. Salinity and temperature tolerances of the green and brown mussels, Perna viridis and Perna perna (Bivalvia : Mytilidae). Revista de Biologia Tropical, n. 46, v. 5 , p. 121-125, dez/1998.

DIEGUES, Antônio Carlos Sant’ana. Ecologia humana e planejamento costeiro. 2. ed. São Paulo: NUPAUB/USP, 2001. 225 p.

_____________________________. Pescadores, camponeses e trabalhadores do mar. São Paulo: Ática, 1983. 287 p.

_____________________________. Povos e mares: leituras em sócio-antropologia marítima. São Paulo: NUPAUB/USP, 1995. 260 p.

DIEGUES, Antônio Carlos Sant’ana; ARRUDA, Rinaldo S. V. (Org.). Saberes tradicionais e Biodiversidade no Brasil. Brasília: MMA/NUPAUB, 2001. 171 p.

DIEGUES, Antônio Carlos Sant’ana; NOGARA, Paulo José. O nosso lugar virou parque. 2.ed. SP: NUPAUB, 1999.

DOULMAN, David J. Observações sobre o panorama da pesca mundial. Perspectivas econômicas: revista eletrônica do departamento de Estado dos Estados Unidos, v. 18, n. 1, p. [S.I.], jan. 2003. Disponível em <http://usinfo.state.gov/journals/ites/0103/ijep/doulman.htm>. Acesso em: 02 jun. 2004.

EPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A. Receitas com ostras e mexilhões: IV Fenaostra. Florianópolis: EPAGRI/EMAPA, 2002. 17 p.

FAO. Aquaculture development. FAO Technical Guidelines for Responsible Ficheries, n.5. Rome: FAO, 1997.

_____. FAO fisheries series, Rome: FAO, 2002.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3. ed. RJ: Nova Fronteira, 1999. 2.128 p.

FERREIRA, Leila da Costa; FERREIRA, Lúcia da Costa. Limites ecossistêmicos: novos dilemas para o estado e para a sociedade. In: HOGAN, Daniel Joseph; VIEIRA, Paulo Freire (org.) Dilemas socioambientais e desenvolvimento sustentável. 2. ed. Campinas, SP: UNICAMP, 1995. p.13-35.

FIGUTI, L. Ecossistemas costeiros e homens pré-históricos. In: SIMPÓSIO DE ECOSSISTEMAS DA COSTA BRASILEIRA: subsídios a um gerenciamento ambiental, 3., 1994, São Paulo. Anais... São Paulo: ACIESP, 1994. v. 1, p. 212-217.

Page 164: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

FGV-SP. Ensinando a pescar e a vender o peixe: escola de pesca de Piúma. Disponível em <inovando.fgvsp.br/conteudo/documentos/historias2000/HBrasil2000/Pi%Fama-1.rtf>. Acesso em: 25 jan. 2003.

FOLKE, Carl; KAUTSKY, Nils. Aquaculture with its environment: prospects for sustainability. Ocean & Coastal Management, v. 17, p. 5-24, 1992.

FREYRE, Gilberto. Interpretação do Brasil: aspectos da formação social brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. 355 p.

GARCÍA-PRADO, José Alejandro. Verificação da possível influência dos incrustantes (“biofouling”) no desenvolvimento do mexilhão Perna perna (Linné, 1758) no cultivo da Praia do Coqueiro, município de Anchieta-ES. Vitória, 2000. 34 f. Monografia (Especialização em Ecologia e Recursos Naturais) – Programa de Pós-graduação em Ecologia e Recursos Naturais, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2000.

GASPAR, Madu. Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. 89 p.

GOODLAND, Robert. Sustentabilidade ambiental: comer melhor e matar menos. In: CAVALCANTI, Clóvis (Org.). Meio ambiente, desenvolvimento sustentável e políticas públicas. São Paulo: Cortez, 1997. 436 p. cap. 17, p. 271-298.

HARGER, J. R. F.; MEYER, F. M. Definition of indicators for environmentally sustainable development. Chemosphere, 33 (9): 1749 – 1775, 1996.

HENRIQUES, M. B.; FAGUNDES, L.; OSTINI, S.; GELLI, V. C. Viabilidade econômica da mitilicultura no litoral Norte do Estado de São Paulo. In: COLACMAR - CONGRESSO LATINO-AMERICANO SOBRE CIÊNCIAS DO MAR, 7., 1997, Santos. Resumos Expandidos... Santos: BSP-IOUSP/ALICMAR/FIESP, 1997. v. 2, p. 13.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. 220 p.

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis. Portaria n° 69, de 30 de outubro de 2003. Institui termo de ajustamento de conduta para o cultivo de moluscos. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo 2000. Disponível em <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 16 mar. 2004.

IPES – Instituto de Apoio à Pesquisa e ao Desenvolvimento Jones dos Santos Neves. ES: perfil 2000. Vitória, ES: Governo do Estado do Espírito Santo/ Secretaria de Estado do Planejamento/ IPES, 2000a.

_________. IDM-ES: índice de desenvolvimento municipal do Espírito Santo, 2000. Vitória, ES: Governo do Estado do Espírito Santo/ Secretaria de Estado do Planejamento/ IPES, 2000b. 1 CD-ROM.

_________. Região litoral sul: indicativos para o desenvolvimento - Anchieta, Guarapari, Itapemirim, Marataízes, Piúma, Presidente Kennedy. Vitória, ES: Governo do Estado do Espírito Santo/ Secretaria de Estado do Planejamento/ IPES, 2000c. 1 CD-ROM.

ISAAC, Victoria Judith. Gerenciamento pesqueiro: do planejamento à administração. Reflexões sobre a política de gerenciamento pesqueiro no Brasil com ênfase no exemplo da Amazônia. In: CARNEIRO, Marcus Henrique. A sustentabilidade das atividades de aqüicultura e pesca: conferências selecionadas da REUNIÃO ANUAL DO INSTITUTO

Page 165: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

DE PESCA, 6. Série Relatórios Técnicos, São Paulo: Instituto de Pesca/APTA/SAA, n. 03, 2000. p. 42-49.

JORGE, Leila Cristina et al. Organismos aquáticos como bioindicadores da qualidade ambiental com enfoque no mexilhão Perna perna (Linnaeus, 1798), em Niterói - RJ. Mundo & Vida - Alternativas em estudos ambientais. Ano 3, v. 3, n. 2, Niterói, 2002.

JOSÉ, Vivian Feres. Bivalves e a segurança do consumidor. In: JACOBI, P. R. (Org.). Ciência Ambiental: os desafios da interdisciplinaridade. São Paulo: FAPESP/Annablume, 1999. p. 39-60.

JS. Pesca brasileira é pobre em produção de pescado. ComCiência, [S.l.]: SBPC, n. 40, mar. 2003. Disponível em <www.comciencia.br>. Acesso em: 07 mar. 2003.

KLIKSBERG, Bernardo. Repensando o estado para o desenvolvimento social: superando dogmas e convencionalismos. São Paulo: Cortez, 1998. 92 p.

KRISHNAN, M.; BIRTHAL, Pratap S. Aquaculture development in India: an economic overview with special reference to coastal aquaculture. Aquaculture Economics and management, v. 6, n. 1/2, p. 81-96, 2002.

LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. 343 p.

LEUNG, Pingsun; EL-GAYR, Omar R. The role of modeling in the managing and planning of sustainable aquaculture. In: BARDACH, J. E. (Ed.) Sustainable aquaculture. New York: John Willey & Sons, 1997.

LIMA, Roberto Kant de.; PEREIRA, Luciana Freitas. Pescadores de Itaipu: meio ambiente, conflito e ritual no litoral do Estado do Rio de Janeiro. Niterói: EDUFF, 1997. 333 p.

LÓPES, Maria Teresa B. Perspectiva de género para el desarrollo sustentable en las comunidades costeras: trabajo y pesca responsable. In: CARNEIRO, Marcus Henrique. A sustentabilidade das atividades de aqüicultura e pesca: conferências selecionadas da REUNIÃO ANUAL DO INSTITUTO DE PESCA, 6. Série Relatórios Técnicos, São Paulo: Instituto de Pesca/APTA/SAA, n. 03, 2000. p. 15-22.

LOVAT, Therezinha de Jesus Chanca. Jogo didático: uma possibilidade de educação ambiental com maricultores. Vitória, 2002. 60f. Monografia (Especialização em Ecologia e Recursos Naturais) – Programa de Pós-graduação em Ecologia e Recursos Naturais, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2002.

MALDONADO, Simone Carneiro. Mestres e mares: espaço e indivisão na pesca marítima. 2. ed. SP: AnnaBlume, 1994. 194 p.

MARQUES, Hélcio Luis de Almeida; PEREIRA, Ricardo Toledo Lima; CORREA, Benedito Carlos. Crescimento de mexilhões Perna perna (Linnaeus, 1758) em populações naturais no litoral de Ubatuba (SP), Brasil. Boletim do Instituto de Pesca, v. 18, n. único, p. 61-72, 1991.

MERCADO DA PESCA. Aqüicultura no Brasil. Disponível em <www.mercadodapesca.com.br/aquicultura01.php>. Acesso em: 14 mar. 2004.

NATIONAL Research Council (U.S.) Marine aquaculture: opportunities for growth. USA: National Academy of Sciences, 1992.

Page 166: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

PANORAMA da malacocultura brasileira. Panorama da aqüicultura, [S.l: s.n.], p. 25-31, mar/abr. 2001.

PAULILO, Maria Ignez Silveira. Maricultura e território em Santa Catarina – Brasil. Cadernos de pesquisa, n. 31, p. 1-21, ago. 2002.

PHILLIPS, Michael J. Tropical mariculture and coastal environmental integrity. In: SILVA, S. S. de. (Ed.) Tropical mariculture. San Diego: Academic Press, 1998. 487 p. cap. 2, p. 17-69.

PILLAY, T. V. R. Aquaculture and the environment. New York: John Willey & Sons, 1992. 189 p.

PILLAY, T. V. R. Aquaculture: principles and practices. UK: Fishing news books, 1990. 575 p.

POLI, C. R.; LITTLEPAGE, J. Desenvolvimento do Cultivo de Moluscos Bivalves no Estado de Santa Catarina. In: AQÜICULTURA BRASIL’98, 1998, Recife. Anais... Recife, 1998. v.1, p. 163-181.

PRADO, Simone Moutinho. Da anchova ao salário mínimo: uma etnografia sobre injunções de mudança social em Arraial do Cabo. Niterói: EdUFF, 2002. 145 p.

PROENÇA, Carlos Eduardo Martins de. Plataforma do agronegócio da malacocultura. Brasília: CNPq, DPA/MAPA, 2001. 76 p.

REDCLIFT, Michel. Sustainable Development: exploring the contradictions. Londres e New York: Routledge, 1987.

ROBINSON, Keith; HORZEPA, George. New Jersey’s coastal water quality management project – methodologies for the protection of estuarine water quality and shellfish resources. Journal of Shellfish Research, v. 7, n. 2, p. 253-259, 1988.

ROCHA, Gerusa Bueno. Cultivo experimental da ostra Crassostrea gigas em Piúma, ES. Vitória, 2003. 75f. Dissertação (Mestrado em Biologia Animal) - Programa de Pós-graduação em Biologia Animal, da Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2003.

ROSENTHAL, H.; McINERNEY-NORTHCOTT, M. E. Technology development and transfer & environmental considerations. In: BOGHEN, A. D. (Ed.) Cold-water aquaculture in Atlantic Canada. Canada: The Canadian Institute for Research on Regional Development, 1989. cap. 8, p. 275-325.

SÁ, Fabrício Saleme de.; NALESSO, Rosebel Cunha. Comunidade associada ao cultivo do mexilhão Perna perna (Linnaeus, 1758), na Praia do Coqueiro, município de Anchieta – ES In: MANGROVE 2003: Articulando Pesquisa e Gestão Participativa de Estuários e Manguezais, 2003, Salvador. Livro de Resumos... Salvador, 2003.

SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. 2. ed. Rio de Janeiro: Garamond, 200-.

SANTOS, Milton. O dinheiro e o território. In: AULA INAUGURAL DO MESTRADO DE GEOGRAFIA DA UFF E ABERTURA DO ANO LETIVO DE 1999, 1999. Transcrição da palestra proferida pelo autor, revisada pelo mesmo [S.l: s.n., 19--?], p. 7-13.

SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Perfil dos ecossistemas litorâneos brasileiros, com especial ênfase sobre o ecossistema manguezal. Publicação especial do Instituto Oceanográfico, n. 7, p. 1-16, 1989.

Page 167: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

SCHETTINI, C. A. F.; D’AQUINO, C. A.; CARVALHO, C. E. V. Ressuspensão e transporte de sedimento sob áreas de cultivo de moluscos: caso da Armação do Itapocory, SC. In: SEMANA NACIONAL DE OCEANOGRAFIA, 8., 2000, Itajaí. Anais... Itajaí, 2000. p. 364 – 366.

SCOTT, P. C.; ROSS, L. O potencial da mitilicultura na Baía de Sepetiba. Panorama da Aquicultura, p. 13-19, set./out. 1998.

SEMA – Secretaria de Meio Ambiente de Guarapari. Relatório 1998. Guarapari: SEMA, 1998.

SETEC – Secretaria Municipal de Turismo, Esporte e Cultura. Informações turísticas de Guarapari. Guarapari, ES: SETEC/ Prefeitura Municipal de Guarapari, 2001.

SHANG, Yung C. Aquaculture economics: basic concepts and methods of analysis. Colorado, USA: Westview, 1981.

SHANG, Yung C. Socioeconomic constraints of aquaculture in Asia. World aquaculture, v. 21, n. 1, p. 34-37, 1990.

SILVA, Luiz Geraldo. Abordagem histórico-cultural da atividade pesqueira no Brasil. In: CARNEIRO, Marcus Henrique. A sustentabilidade das atividades de aqüicultura e pesca: conferências selecionadas da REUNIÃO ANUAL DO INSTITUTO DE PESCA, 6. Série Relatórios Técnicos, São Paulo: Instituto de Pesca/APTA/SAA, n. 03, 2000. p. 27-28.

SILVA, Newton José Rodrigues da. A extensão rural e o desenvolvimento da aqüicultura. Panorama da aqüicultura, [S.l] p. 50-53, jan/fev. 2001.

SMAAL, A. C. The ecology and cultivation of mussels: new advances. Aquaculture, 94: 245 –261, 1991.

SODRÉ, Federica Natasha Ganança Abreu dos Santos. Avaliação da qualidade ambiental e crescimento do mexilhão Perna perna (Linné, 1758) no parque de cultivo de moluscos bivalves de Guaibura, Guarapari/ES. Vitória, 2001. 99 f. Monografia (Especialização em Ecologia e Recursos Naturais) – Programa de Pós-graduação em Ecologia e Recursos Naturais, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2001.

SRINATH, Krishna; SRIDHAR, Manpal; KARTHA, P. N. R.; MOHANAN, A. N. Group farming for sustainable aquaculture. Ocean & Management, v. 43, p. 557-571, 2000.

STEPHENSON, Robert. Multiuse conflict: aquaculture collides with traditional fisheries in Canada’s bay of Fundy. World aquaculture, v. 21, n. 2, p. 34-45, jun. 1990.

TECMAP - Tecnologia em Maricultura e Piscicultura. Histórico. Disponível em <www.appeltdobrasil.com.br/tecmap/tecm_hist01.htm>. Acesso em: 13 mar. 2004.

VINATEA-ARANA, Luis Alejandro. Aqüicultura e desenvolvimento sustentável: subsídios para a formulação de políticas de desenvolvimento da aqüicultura. Florianópolis, SC: EDUFSC, 1999. 310 p.

________________________________. Aqüicultura: evolução histórica. Panorama da aqüicultura, [S.l: s.n.], p. 8-9, jul/ago. 1995.

WEEKS, Priscilla. Aquaculture development: an anthropological perspective. World aquaculture, v. 21, n. 3, p. 69-74, set. 1990.

WEID, Jean Marc von der. Fome em meio a abundância. Rio de Janeiro: AS-PTA, 1997. 30 p.

Page 168: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

WILLIAMS, Meryl J. Aquaculture and sustainable food security in the developing world. In: BARDACH, J. E. (ed.) Sustainable aquaculture. New York: John Willey & Sons, 1997. 215p. cap. 2, p. 15-51.

Page 169: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

ANEXO 1

Tabela 1 –Pesquisas já realizadas e em andamento nos “parques de cultivo” de Anchieta, Guaibura, Perocão e Piúma.

Local Período Área/Título Responsável Tipo de estudo

set/99 a abr/00 Verificação da possível influência dos incrustantes (“biofouling”) no

desenvolvimento do mexilhão Perna perna (Lineé, 1758) no cultivo da Praia do Coqueiro, município de Anchieta – ES.

José Alejandro García-Prado Monografia de especialização

jan/01 a jan/02

Do sururu à panela de barro: a realidade de heranças milenares. (descrição e análise de como os maricultores organizam o meio produtivo). Luciana Alvarenga Dissertação de mestrado

ago/02 a jun/03 Impacto da maricultura na comunidade macrobentônica do sedimento. Karla Gonçalves da Costa Dissertação de mestrado maio/02 a

mar/03 Influência do fouling no crescimento e biomassa dos mexilhões, e a

caracterização da comunidade incrustante do cultivo na Praia do Coqueiro. Fabrício Saleme de Sá Dissertação de mestrado

jun/02 a abr/03 Comparação entre o crescimento das ostras Crassostrea gigas e C. rhizophorae. José Alejandro García-Prado Dissertação de mestrado

- Análise de metais pesados SEAMA Monitoramento

Anchieta

- Colimetria SEAMA Monitoramento

ago/00 a nov/01 Avaliação da qualidade ambiental e crescimento do mexilhão Perna perna

(Lineé, 1758) no Parque de Cultivo de moluscos bivalves de Guaibura, Guarapari/ES.

Federica Natasha Ganança Abreu dos Santos Sodré Monografia de especialização

ago/00 a ago/01 Jogo didático: uma possibilidade de educação ambiental com maricultores.

(investigação da relação da comunidade com o ambiente que a cerca e o cultivo).

Therezinha de Jesus Chanca Lovat Monografia de especialização

nov/00 a jan/02 Fixação de jovens Perna perna (Bivalvia, Mytilidae) em coletores artificiais no Parque de Cultivo de Guaibura, Guarapari/ES – Brasil. Laura Buitrón Vuelta Dissertação de mestrado

Guaibura

- Parâmetros físico-químicos1 CTA Monitoramento Perocão - Parâmetros físico-químicos1 CTA Monitoramento

Piúma nov/01 a nov/02 Cultivo experimental da ostra Crassostrea gigas (Thunberg, 1975) no

município de Piúma, ES

Gerusa Bueno Rocha Dissertação de mestrado

1) salinidade, pH, oxigênio dissolvido e temperatura.

Page 170: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

ANEXO 2

Tabela 1 – Variação dos parâmetros físico-químicos da água (oxigênio dissolvido; salinidade e temperatura); coliformes fecais; material particulado orgânico (MPO) e clorofila a, dos parques de cultivo dos municípios de Guarapari (Perocão e Guaibura); Anchieta e Piúma.

Oxigênio dissolvido (mg/l) Salinidade Temperatura (°C) Coliformes fecais (NMP/100ml) MPO (mg/l) Clorofila a (µg/l) Local Fonte

Mín. Média Máx. Mín. Média Máx. Mín. Média Máx. Mín. Média Máx. Mín. Média Máx. Mín. Média Máx. Perocão - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Guaibura Sodré, 2001 5,21 6,28 8,21 34,00 34,49 34,90 19,35 23,28 26,52 <2,00 3,50 8,00 2,67 8,13 17,75 0,19 1,20 2,15

Sá & Nalesso,

2003 3,33 5,17 7,00 30,10 33,75 37,40 23,20 24,95 26,70 - - - 0,60 2,28 3,95 0,15 2,64 5,12

Anchieta García-Prado, 2000

6,00 7,75 9,50 31,60 34,35 37,10 23,00 23,75 24,50 - - - - - - - - -

Piúma Rocha, 2003 3,84 5,96 8,07 33,30 35,60 37,90 22,90 24,45 26,00 - - - 0,00 2,60 5,20 0,10 5,25 10,40

Tabela 2 - Limites de tolerância do mexilhão Perna perna e valores ideais para o cultivo, dos parâmetros físico-químicos da água (oxigênio dissolvido; salinidade e temperatura) e coliformes fecais.

Oxigênio dissolvido (mg/l) Salinidade Temperatura (°C) Coliformes fecais (NMP/100ml) Fonte Mín. Ideal Máx. Mín. Ideal Máx. Mín. Ideal Máx. Mín. Ideal Máx.

Scott & Ross, 1998 2,0 >5,0 - - 34-36 - - 21-28 - - - - De Bravo et al, 1998. - - - 8 - 54 3,0 - 34,5 - - - CONAMA 20/86 - - - - - - - - - - <14 700

Page 171: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

ANEXO 3

Tabela 1 – Dados de crescimento e engorda dos mexilhões Perna perna nos “parques de cultivo” de Anchieta e Guaibura. “Parque de cultivo”

Tamanho inicial (mm)

Tamanho final (mm)

Peso fresco inicial (g)

Peso fresco final (g)

Tempo de cultivo (meses)

Fonte

Anchieta 26,35 72,75 0,41 9,27 7 García-Prado, 2000

Guaibura 43,03 62,43 1,59 5,45 6 Sodré, 2001

Page 172: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

ANEXO 4

Tabela 1 - Composição química de 100g de carne do mexilhão Perna perna.

Constituintes Valor Umidade 83,0% Proteínas 14,4% Gorduras 2,3% Carboidratos 3,0% Cinzas 2,0% Calorias 96Kcal

Fonte: Epagri, 2002.

Page 173: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

ANEXO 5

QUESTIONÁRIO

“A MARICULTURA NO ESTADO DO ES”

Nome: ___________________________________________________________________

Idade: ____________ anos

Profissão: _____________________________________

Local de Nascimento: ________________________________

1) Há quantos anos trabalha na maricultura? _________ anos 2) O que fazia antes de trabalhar com a maricultura? _____________________________ 3) A maricultura é a sua única fonte de renda? ( ) sim ( ) não Se a resposta for não, o que faz além da maricultura? ______________________________ 4) Quantas pessoas da sua família te ajudam na maricultura? _____________ pessoas 5) Você possui quantos filhos? ___________ filhos 6) Você possui quantos módulos? __________ módulos. 7) Desses módulos, quantos estão: a) plantados? ___________ módulos b) vazios? ______________ módulos 8) Em que praia ficam esses módulos? _____________________________________ 9) Possui embarcação própria? ( ) sim ( ) não 10) Possui carro para transporte do sururu? ( ) sim ( ) não

Muito obrigado, por ter me ajudado com as informações acima. Elas serão muito úteis para o desenvolvimento do projeto!

Natasha Sodré

Page 174: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

ANEXO 6

Tabela 1 – Cronograma de execução das atividades (visitas, entrevistas e aplicação de questionário) realizadas no trabalho de campo.

Local/Entrevistado Primeira visita Primeiro Contato Entrevista Questionário Outros CPES 18/02/03 CTA 27/01/03 27/01/03 DFA 18/02/03 18/02/03 IBAMA 17/02/03 17/02/03 João Guilherme Centoducatte 15/03/04 16/03/04

José Alejandro García Prado 14/03/03

PMG 14/02/03 Reunião da AMA 15/02/03 Anchieta 14/01/03 Carne Seca 14/01/03 Loinha 12/02/03 12/02/03 Mariângela 10/0/03 11/02/03 Marlene 12/02/03 12/02/03 Néa 11/02/03 11/02/03 Pedro 31/01/03 31/01/03 Rildo 14/01/03 11/02/03 Rose 14/01/03 12/02/03 Rui 13/02/03 Vavá 14/01/03 12/02/03 Zé Luiz 11/02/03 11/02/03 Guaibura 29/01/03 Adilson 29/01/03 29/01/03 Almir 29/01/03 Anilton 29/01/03 Cláudia 29/01/03 29/01/03 Fátima 29/01/03 Perocão 31/01/03 Belini 31/01/03 07/02/03 Dinheirão 07/02/03 07/02/03 Izaías 07/02/03 07/02/03 Lucas 07/02/03 07/02/03 Ronaldo 07/02/03 07/02/03 Rose 07/02/03 07/02/03 Piúma 31/01/03 Nelson 31/01/03 31/01/03 Rose 31/01/03 31/01/03

Page 175: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,

ANEXO 7 Tabela 1 – Série de dados utilizados pelo IPES na construção do IDM-ES Índice Indicador Ano Fonte

Saúde 1991/1998 Ministério da Saúde; IPEA/PNUD; FJP Educação 1991/1996 IBGE; IPES

Renda 1990/1991 PNUD/IPEA; FJP IDS

Segurança 1996/1998 SESA Transporte 1999 DETRAN; DER; IPES; CETURB; IBGE

Saúde 1999 SESA; DER Educação 1996 SEDU; IBGE Correios 2000 ECT Bancos 2000 Banco Central do Brasil

Saneamento 1991/1998 IBGE; CESAN; FNS Telefonia 1998 TELEMAR Energia 1998 ELFSM; ESCELSA

IDU

Habitação 1991 IBGE Estradas 1998 DER-ES Ferrovias 1998 DER-ES

Portos 1998 DER-ES Aeroportos 1998 DER-ES Gasoduto 1998 DER-ES

Áreas para localização de empreendimentos 1998 Ministério das Minas e da Energia/Projeto

RADAM Brasil Linhas de transmissão 2000 ESCELSA

IGME

Telefonia 2000 EMBRATEL; TELEMAR; TELEFONICA; ATL; ESCELSA

Page 176: DESENVOLVIMENTO DA MARICULTURA NO ESTADO … · como um incentivo para que vocês continuem a acreditar na atividade e que o ... Estado de Santa Catarina ... da Ilha dos Cabritos,