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UNIVERSIDADE DO CONTESTADO – UnC PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL CESAR DUARTE DO NASCIMENTO DESENVOLVIMENTO DO SETOR MADEIREIRO NO MUNICÍPIO DE CANOINHAS (SC), PERÍODO 1940 A 2007 CANOINHAS 2009

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UNIVERSIDADE DO CONTESTADO – UnC PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL

CESAR DUARTE DO NASCIMENTO

DESENVOLVIMENTO DO SETOR MADEIREIRO NO MUNICÍPIO DE CANOINHAS (SC), PERÍODO 1940 A 2007

CANOINHAS 2009

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CESAR DUARTE DO NASCIMENTO

DESENVOLVIMENTO DO SETOR MADEIREIRO NO MUNICÍPIO DE CANOINHAS (SC), PERÍODO 1940 A 2007

Dissertação apresentada como requisito para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Regional ao Colegiado do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional, Universidade do Contestado – UnC/ Campus Universitário de Canoinhas – SC, sob a orientação do Prof. Dr. Reinaldo Knorek (UnC) e co-orientação do Prof. Dr Juliano Gil Nunes Wendt (UFSCar).

CANOINHAS 2009

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DESENVOLVIMENTO DO SETOR MADEIREIRO NO MUNICÍPIO DE CANOINHAS (SC), PERÍODO 1940 A 2007

CESAR DUARTE DO NASCIMENTO Esta dissertação foi submetida ao processo de avaliação pela Banca Examinadora para a obtenção do Título de :

Mestre em Desenvolvimento Regional

E aprovada na sua versão final em _______, atendendo às normas da legislação vigente da Universidade do Contestado e Coordenação do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional.

..................................................... Profª Dra Maria Luiza Milani

Coordenadora

BANCA EXAMINADORA .............................................................. Prof. Dr Reinalo knorek - UnC Presidente .................................................................. Prof. Dr Walter Marcos Knaesel Birkner Membro ................................................................................ Prof. Dr Alexsandro Bayestorff da Cunha – Udesc Membro

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DEDICATÓRIA

À minha família, esposa Elizete, meu filho Cesar Junior, minha filha Nathyele Cristina; a vocês, o tributo pelo incentivo, pela força, pelo amor, pela cooperação em

todos os momentos nesta nossa caminhada terrestre. Amo vocês......

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AGRADECIMENTOS A Deus

... infinitamente bom, que vosso nome seja abençoado pelas boas idéias,

inspirações felizes para realização deste trabalho.

Aos professores, Dr. Reinaldo Knorek e Dr. Juliano Gil Nunes Vendt

... pela orientação e co-orientação desenvolvida com profissionalismo e ciência.

À Dra. Maria Luiza Milani - coordenadora e professores do Programa

... pela socialização de conhecimentos e a oportunidade de ver o mundo por outro

ângulo.

À Sra. Rosi Pontarolo Sievers

... pelo tratamento, incentivo, presteza, a nós mestrandos dedicado.

À Professora Dra. Maria da Salete Sachweh

... pelas palavras de apoio e encorajamento.

À UnC – Universidade do Contestado – Campus Universitário de Canoinhas

... pelo apoio financeiro concedido, e por acreditar no potencial dos profissionais da

IES.

Ao companheiro jornalista, Edinei Wassoaski

... pelo entusiasmo e dedicação em me ajudar no resgate da história da madeira no

município de Canoinhas (SC).

Ao Sindimadeira, na pessoa da Sra. Kátia Cirene Feger e empresas associadas

... pela abertura e confiança nas respostas à pesquisa.

Aos companheiros de trabalho do Departamento Comercial da Empresa Industrial e

Comercial Fuck S/A, Herbert Randig, Juliana Rudnik, Robsom Luiz Kerscher, Jacson

Laércio Bechel, Kelly Cristina Schindler Silveira e Ademar Cesar Wosgrau

... pela cobertura dada nas sextas-feiras no trabalho, para que eu pudesse assistir

às aulas.

Aos colegas da Turma I do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional

... pelo companheirismo e boa vivência no período.

E a todas as outras pessoas

...que direta ou indiretamente, me ajudaram apoiando e incentivando a prosseguir e

concluir este trabalho.

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EPÍGRAFE

A violência e a falta de visão parecem dominar o mundo. Precisamos navegar em harmonia,

rejeitar o ódio, a raiva, o medo e o orgulho. Precisamos ter a coragem necessária para

fazer o que é certo. Precisamos amar e respeitar os outros, para enxergar e apreciar a

beleza inata e a dignidade de todo o ser humano. Porque somos almas, todos feitos da

mesma substância. Apenas unindo nossos esforços, agindo como uma tripulação, é que

podemos evitar as tempestades e encontrar o caminho para casa.

(WEISS, 2001, p. 16)

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RESUMO

Esta dissertação tem por objetivo analisar o desenvolvimento, no período de 1940 a 2007, do segmento da cadeia produtiva da madeira, no município de Canoinhas (SC), resgatando a história socioeconômica do município, as empresas que formaram a estrutura fabril da madeira nestes 67 anos, do auge ao declínio, e as sobreviventes. Para tanto, foram demonstradas a importância da madeira para as civilizações, no decorrer dos séculos, em nível de mundo, de Brasil, de Santa Catarina e de Canoinhas. Sua importância econômica como fator gerador de renda, trabalho e riquezas, pesquisadas através de bibliografias, jornais, atas de associações, entrevistas. Dados que retratam como foram estes 67 anos da atividade. As lutas pela instalação da energia elétrica, acesso ao município asfaltado, bem como, o pensamento de algumas lideranças, pela maneira como se expressavam em discursos registrados nas atas e pelas ações que culminaram em alguns rumos para o desenvolvimento. Foram décadas de preocupações voltadas às questões de sustentabilidade, desenvolvimento regional, chamado de futuro permanente e bem coletivo, quando houve a implantação de florestas exóticas como renovação da esperança, da melhora econômica. Constam também as opiniões dos empresários da madeira sobre o desenvolvimento do setor e o que poderá ser feito para torná-lo sustentável, tendo por base conceitos de Desenvolvimento Regional e Capital Social. Palavras-chave: Indústria Madeireira – Desenvolvimento Regional – Capital Social – Canoinhas (SC)

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ABSTRACT This dissertation aims to analyze the development, in the period 1940 to 2007, of the segment of the production chain of wood, in the Canoinhas (SC), recovering the socioeconomic history of the city, the companies that formed the manufacturing structure of wood in these 67 years, from the peak to the decline and the survivors. Thus, we demonstrated the importance of wood to the civilizations over the centuries, at the level of world, of Brazil, of Santa Catarina and Canoinhas. Its importance as an economic generator of income, employment and wealth, searched through bibliographies, newspapers, protocols of organizations and interviews. Data that reflects how these 67 years of activity were. Struggles for installation of electricity, paved access to the city, the thought of some leaders - the way that they expressed themselves in speeches recorded in protocols and actions - that culminated in some directions for development. Decades of concerns were focused on issues of sustainability, regional development, called the future permanent and collective well, when the introduction of exotic forests to renew the hope of economic improvement. Are also the views of executives in the wood market about the development of the sector and what can be done to make it sustainable, based on concepts of Regional Development and Social Capital. Keywords: Timber Industry, Regional Development - Social Capital - Canoinhas (SC)

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LISTA DE SIGLAS

ABIMCI − Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente

ABRAF − Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas ACIC − Associação Comercial e Industrial de Canoinhas BNH − Banco Nacional da Habitação CIMH − Campo de Instrução Marechal Hermes CELESC − Centrais Elétricas de Santa Catarina CISFRAMA − Comércio e Indústria de Madeiras São Francisco Ltda. EUA − Estados Unidos da América FAO − Food and Agriculture Organization FAPESC − Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do

Estado de Santa Catarina FIESC − Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina IBAMA − Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis IBDF − Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal PDS − Partido Democrático Social SBS − Sociedade Brasileira de Silvicultura SDR − Secretaria do Desenvolvimento Regional SEBRAE − Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SPLs − Sistemas Produtivos Locais SBO

− Sociedade Beneficente Operária

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Áreas com florestas plantadas existentes no Brasil (2007)....................18 Quadro 2 - Indicadores socioeconômicos da indústria de base florestal e da

indústria de madeira processada mecanicamente (2007) .....................19 Quadro 3 - Indústria fabril do município (1940) ........................................................40 Quadro 4 - Quantidade da produção (1940) ............................................................41 Quadro 5 – Aspectos econômicos do município de Canoinhas – SC ......................60 Quadro 6 - Pinheiros plantados em setembro de 1942 – Distância entre árvores

3x3m......................................................................................................71 Quadro 7 - Pinheiros plantados em setembro de 1942 – Distância entre árvores

5x7m......................................................................................................71

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Crescimento populacional de SC. Números absolutos e percentuais comparados ao total do Brasil 1872/2007 .............................................24

Tabela 2 - Crescimento médio anual da população SC – Brasil – 1872/2007 ........24 Tabela 3 - Estrangeiros em Santa Catarina 1850/1900 ...........................................25 Tabela 4 - Valor total da exportação média anual: 1904 – 1942 e ano de 2007 ......26 Tabela 5 - Classificação quanto ao tamanho das empresas filiadas ao

Sindimadeira – Canoinhas (SC) ............................................................65 Tabela 6 – Produtos fabricados nas últimas seis décadas em Canoinhas SC.........67 Tabela 7 - Cultura da produção do setor madeireiro que passou do extrativismo

à produção com madeiras de reflorestamentos.....................................69 Tabela 8 – A possibilidade do desenvolvimento de pesquisas com espécie

nativa economicamente viável...............................................................70 Tabela 9 - A mão-de-obra atende as necessidades do setor madeireiro, na

busca de qualidade e produtividade ......................................................73 Tabela 10 - Requisitos necessários para que o setor madeireiro continue tendo

capacidade de competir.........................................................................75 Tabela 11 - Dificuldades do setor madeireiro no município de Canoinhas (SC),

com a atual situação econômica do país...............................................77 Tabela 12 - Fatores que podem ser incluídos no desenvolvimento econômico

de Canoinhas (SC) ................................................................................77

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................12 2 DESENVOLVIMENTO ...........................................................................................14 2.1 A IMPORTÂNCIA DA MADEIRA PARA O DESENVOLVIMENTO......................14 2.2 O BRASIL E O DESENVOLVIMENTO DO SETOR MADEIREIRO.....................16 2.2.1 O Pinus No Brasil .............................................................................................20 2.3 SANTA CATARINA E O DESENVOLVIMENTO DO SETOR MADEIREIRO .....23 2.3.1 Fomento em SC – Solução do Impasse entre Madeireiros e IBDF/IBAMA......27 2.4 HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO DE

CANOINHAS A PARTIR DE 1940.....................................................................36 2.4.1.1 Abordagem histórica......................................................................................37 2.4.1.2 Abordagem histórica na década de 1940......................................................38 2.4.2 Lumber - a Madeireira que Mudou a História ...................................................41 2.4.3 Trajetória de Ciclos ..........................................................................................43 2.4.3.1 Anos 1940 – começa uma nova fase ............................................................44 2.4.3.2 Anos 1950 – União fortalece setor – uma política organizacional .................46 2.4.4 Preocupação Ambiental e Busca por Avanços.................................................48 2.4.5 Anos de 1950 ...................................................................................................49 2.4.5.1 Indústria Urano Madeireira Ltda. ...................................................................49 2.4.5.2 Dietrich Siems & Cia Ltda..............................................................................50 2.4.5.3 Beneficiadora São Luiz Ltda..........................................................................50 2.4.6 Conclave Socioeconômico da Região Norte Catarinense................................50 2.4.6.1 Propostas do conclave ..................................................................................52 2.4.7 Anos 1970 – Sinais de Recrudescimento.........................................................56 2.4.8 Anos 1980 – Crise se Instala............................................................................57 2.4.8.1 Crise atinge fabricantes de compensados de Canoinhas..............................58 2.4.9 Anos 1990 – Outras perspectivas ....................................................................59 2.4.10 Século XXI......................................................................................................60 2.5 CANOINHAS E O DESENVOLVIMENTO DO SETOR MADEIREIRO...............61 2.6 MATERIAL E MÉTODOS....................................................................................63 2.6.1 Caracterização do Estudo ................................................................................63 2.6.2 População e Amostra .......................................................................................64 2.6.3 Instrumentos de Coleta de Dados ....................................................................64 2.7 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS .............................................................66 2.8 CAPITAL SOCIAL, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, SINERGIA E A

ATIVIDADE ECONÔMICA DA MADEIRA NO MUNICÍPIO DE CANOINHAS (SC)...................................................................................................................79

3 CONCLUSÕES......................................................................................................86 REFERÊNCIAS.........................................................................................................90 ANEXOS ...................................................................................................................95 ANEXO 1 - ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO DO SETOR MADEIR EIRO NO

MUNICÍPIO DE CANOINHAS PERIODO 1940 A 2007......... ...........................96

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1 INTRODUÇÃO

A pesquisa tem o objetivo de resgatar a história da evolução socioeconômica

do município de Canoinhas (SC), no período de 1940 a 2007, tendo como base o

setor madeireiro. Para tanto, visou produzir informações, conhecimentos científicos

que possam dar nova dinâmica para a cadeia produtiva da madeira (móveis,

esquadrias, compensados, portas) entre outros e, conseqüentemente, aumentar a

demanda por produtos de origem da madeira, agregando valor e desenvolvendo o

setor nos aspectos, social, cultural e econômico. É amplamente conhecido na

história o fato de que o município de Canoinhas (SC) teve sua riqueza natural

formada por florestas de araucária, imbuia, cedro, entre outras. O principal fator para

o desenvolvimento econômico, durante as décadas do século XX, sob o aspecto que

constitui o recurso natural, de certa forma foi essencial para a urbanização de

diversas cidades do Brasil e do mundo, o que contribuiu para a evolução econômica

no município de Canoinhas (SC).

A exploração desenfreada destas florestas, dos anos 1940 até a década de

1970, resultou na escassez e com isso tornou-se necessária a introdução de

alternativas que pudessem manter as condições operacionais da indústria da

madeira. Assim, foram introduzidas espécies exóticas do gênero pinus elliotti e pinus

taeda, os quais já estavam sendo pesquisados e desenvolvidos para a indústria de

papel e celulose. Desta forma, a proposta deste trabalho é mostrar que influências

sociais, culturais e econômicas determinaram o desenvolvimento do município de

Canoinhas (SC), após a introdução das espécies exóticas no setor madeireiro.

Também se busca co-relacionar este desenvolvimento sociocultural e econômico

baseado na abundância de matéria-prima nativa, em primeiro momento, e depois,

em segundo momento, o desenvolvimento do setor madeireiro em função dos

reflorestamentos com espécies exóticas dos gêneros pinus e eucalypto.

Com o resgate histórico da evolução sociocultural e econômica do município

de Canoinhas (SC), no período de 1940 a 2007, baseado no segmento da madeira,

objetivou-se compreender como o empresário da madeira e todas as pessoas

envolvidas que construíram a sustentabilidade do segmento. Destaca-se a

importância da madeira para o desenvolvimento regional desde os primórdios da

civilização, demonstrando, ao longo da história, o papel fundamental da madeira e o

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valor agregado pelos povos da antigüidade, considerada de vital importância para a

vida da humanidade.

A importância da madeira em nível mundial, através de dados estatísticos das

florestas e da indústria, demonstra o aumento da participação da madeira nos

produtos comercializados, os quais se destacam entre os 10 (dez) maiores,

confirmando assim a importância do segmento.

Focaliza-se também a utilização da madeira no Brasil, em Santa Catarina e

em Canoinhas, no período citado, 1940-2007, o mercado atual, a exploração do pau-

brasil pelos portugueses, áreas reflorestadas, indicadores socioeconômicos dos

produtos de base florestal e da indústria da madeira.

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2 DESENVOLVIMENTO

2.1 A IMPORTÂNCIA DA MADEIRA PARA O DESENVOLVIMENTO

Madeira é sinônimo de desenvolvimento, pois desde os primórdios da

humanidade observa-se que a madeira foi fundamental para que as civilizações se

desenvolvessem e crescessem.

Isto ocorreu em função de que as árvores foram o principal combustível e

material de construção de quase todas as sociedades. Ao longo do tempo, as

árvores forneceram material para fazer fogo, cujo calor permitiu que o homem

adequasse o planeta para o seu uso. Com o calor da queima da madeira, regiões

impossíveis de se habitar, por serem extremamente frias, tornaram-se habitáveis.

Cereais não comestíveis puderam ser transformados em alimento; matérias-primas

como o barro puderam ser transformadas em utensílios para armazenagem de

alimentos; a extração de metais de rochas revolucionou as ferramentas para o

trabalho no campo, embarcações e armamentos; houve possibilidades de fabricação

de materiais de construção duráveis, como tijolos, cimento, cal, argamassa e telhas.

O carvão vegetal e a madeira forneceram o calor necessário para fazer evaporar a

água do mar e produzir sal; a fundição de potassa e areia para fazer vidro.

Todos os meios de transportes, até o século XIX, seriam inviabilizados se não

fosse a madeira. A força mecânica, antes da eletricidade, através das rodas de água

e moinhos de vento era obtida com estruturas de madeira. A madeira foi a base

sobre a qual as sociedades antigas foram construídas.

Segundo Perlin (1989, p.29), as pessoas de civilizações passadas

reconheceram sua dívida em relação à madeira. Platão, de acordo com Diógenes

Laércio, escreveu que todas as artes e ofícios derivam da mineração e da

silvicultura. Lucrécio, um famoso filósofo romano, acreditava que a madeira tornava

a mineração e a civilização possíveis. Grandes fogueiras, escreveu ele, “devoraram

as florestas altas [...] e aqueceram a terra inteira”, fundindo os metais incrustados

nas rochas. Quando as pessoas viram estes metais na superfície do solo, “lhes veio

então à cabeça”, continuou Lucrécio,

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[...] que esses pedaços poderiam ser liquefeitos por meio de aquecimento e modelados em qualquer tamanho ou formato, e depois, com golpes de martelo, podiam ser achatados até virarem lâminas tão afiadas e finas quanto se quisesse, de modo que pudessem se equipar com ferramentas...

As ferramentas, por sua vez, observou Lucrécio, tornavam possível a

silvicultura e a carpintaria, habilitando os homens a “cortar matas, derrubar árvores,

aplainar e até moldar a madeira com verruma, cinzel e goiva”. Foi dessa maneira, de

acordo com Lucrécio, que a civilização surgiu. Plínio, o grande naturalista romano,

concordava com Lucrécio que a madeira era “indispensável para dar continuidade à

vida”.

A história das florestas está intimamente ligada ao desenvolvimento da

civilização. O homem primitivo encontrou na selva o elemento fundamental para a

fabricação de armas, utensílios, construção de abrigos e produção de combustível.

Tudo o quanto necessitava e esse tudo lhe dava a árvore.

O homem foi passando sucessivamente por vários estágios de civilização e,

agora, ainda encontra, na madeira, que lhe fornece a árvore, recursos

extraordinários para as necessidades da vida.

Segundo a Sociedade Brasileira de Silvicultura, as florestas no mundo somam

cerca de quatro bilhões de hectares, cobrindo aproximadamente 30% da superfície

terrestre do globo (FAO, 2007). Cinco países concentram mais da metade da área

florestal total. A Federação Russa, 808,8 milhões há; Brasil, 477,7 milhões há;

Canadá, 310,1 milhões há; Estados Unidos, 303,1 milhões há, e China, 197,3

milhões ha. As florestas tropicais representam 47% do total, com a maior parte

concentrada no Brasil.

As plantações florestais representam uma parcela crescente da área florestal

total em distintas regiões. Os países, com maiores áreas de florestas plantadas no

mundo, detêm 182 milhões de ha, sendo que 73% dessas áreas são manejadas

para fins produtivos e 27% para fins de proteção

Dentre eles, o Brasil ocupa o 9o lugar. Os 5 países com maiores áreas

florestais plantadas são, pela ordem: China (71,3 milhões ha), Índia (30 milhões ha),

EUA (17 milhões ha), Rússia (11,9 milhões ha), e Japão (10 milhões ha).

As florestas plantadas, com fins de produção, respondem por quase 50% da

produção global de madeira, e a área total das plantações florestais cresceu 35% no

período de 1990 a 2005.

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Segundo a Sociedade Brasileira de Silvicultura, o comércio internacional da

madeira, em 2006, movimentou aproximadamente US$ 8,6 trilhões. Os produtos de

origem florestal figuram entre os 10 principais produtos comercializados

internacionalmente com 2.2% do comércio mundial, cerca de US$ 190 bilhões

(STCP1 apud SBS, 2007).

O comércio internacional de produtos de origem florestal tem se comportado

de forma bastante positiva ao longo da última década.

Entre 1985 e 2006, a taxa média de crescimento do comércio internacional

desses produtos atingiu 6.8% ao ano. Isso resulta do aumento da demanda

internacional aliado ao intenso processo de globalização. O fluxo do comércio

internacional de produtos florestais está basicamente concentrado nos países

desenvolvidos com 80%, onde se evidenciam a Europa Ocidental e a América do

Norte (EUA e Canadá).

Gradativamente, mesmo que ainda de forma modesta, observa-se atividade

crescente em países em desenvolvimento, como por exemplo, China, Indonésia,

Brasil, Chile e Coréia do Sul.

2.2 O BRASIL E O DESENVOLVIMENTO DO SETOR MADEIREIRO

Desde os últimos anos do século XV, as costas brasileiras começaram a ser

freqüentadas por navegantes portugueses e espanhóis, os quais encontraram uma

espécie vegetal semelhante à outra já conhecida no Oriente, e da qual se extraía

uma matéria corante empregada na tinturaria. Tratava-se do Pau-Brasil, mais tarde

batizado com o nome científico de Caesalpinia echinata. Os primeiros contatos com

o território que hoje constitui o Brasil devem-se àquela madeira que se perpetuaria

no nome do país. São os portugueses que, antes de quaisquer outros, se ocuparam

do assunto.

1 STCP Engenharia de Projetos Ltda.

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Esta atividade de exploração do pau-brasil, entretanto, foi rápida, em poucas

décadas esgotou-se o melhor das matas costeiras que continham a preciosa árvore,

e o negócio perdeu seu interesse.

Mais de cinco séculos depois da chegada dos portugueses ao território

brasileiro, o pau-brasil, a árvore que deu nome ao País engrossa a lista das

espécies com risco de extinção. Segundo o professor Yuri Tavares Rocha, do

Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), entre os séculos

XVI e XVIII foram cortadas 466.518 unidades. “Este número certamente está

subestimado, uma vez que houve muita exploração ilegal e tráfico, atividades que

logicamente não foram registradas, observa” (BELING, 2006, p.72).

O Pau-brasil, madeira pesada, compacta, dura, muito resistente, casca fina

pardo-acizentada e diferenciada do cerne, de cor vermelha, atinge 30 metros de

altura e pode chegar até a um metro e meio de circunferência. Foi muito usada na

construção civil, carpintaria, móveis, tornearia, moirões e dormentes. Os índios

brasileiros utilizavam a árvore para confecção de arcos e flechas e para a pintura de

enfeites. Da madeira, é extraído um corante, denominado brasileína, Brasil, brasileto

ou brasiliana, de cor vermelha, usado para tingir tecidos e na fabricação de tinta

para escrever.

Até o ano de 1808, período considerado colonial, a madeira foi de importância

insignificante. Foram muito usadas para construções, mas seu aproveitamento

econômico foi difícil devido às dificuldades de penetração nas matas e não se dispor

de equipamentos que viabilizassem a exploração.

Segundo Prado Jr. (2000, p.103):

Em fins do século XVIII, as madeiras do Brasil passam a um importante plano das cogitações da administração. Desleixadas até então, apesar das leis que restringiam o desperdício e que nunca foram efetivamente aplicadas, elas avultam por esta época nas providências administrativas da metrópole; sobretudo porque se tratava de reconstruir a decadente e já quase extinta marinha portuguesa. Tudo isto ligado a um programa de reformas e reerguimento do reino.

Desta forma, houve uma retomada nas atividades, tanto no corte de madeiras

como na construção de embarcações. Entretanto, a indústria não evoluiu, por falta

de técnicas e organização eficiente, mantendo-se em estado vegetativo. O

aproveitamento das madeiras do Brasil fica mais intenso a partir de 1810, quando é

concedida aos ingleses a autorização de explorar as matas da colônia.

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No Brasil, cuja área territorial é de 851,5 milhões de hectares, há 477,7 milhões ha de cobertura florestal. As plantações florestais ocupando apenas 0,67% do território nacional somam 5,74 milhões de ha, sendo 3,55 milhões ha com eucalipto; 1,82 milhão ha com pinus e 370,5 mil de outras espécies (SBS, 2007, p.17).

Segundo a Abraf (2008), no Brasil, a produção de Pinus elliotti e o taeda e da

espécie do gênero eucalypto, em 2007, chegou a 5,7 milhões de hectares, conforme

Quadro 1.

UF PINUS EUCALIPTO TOTAL 2005 2006 2007 2005 2006 2007 2005 2006 2007

MG 153.000 152.000 144.248 1063.744 1083.744 1105.961 1216.744 1235.744 1250.209 SP 148.200 146.474 143.148 798.522 816.880 813.372 946.542 963.354 956.521 PR 677.772 686.453 701.578 114.996 121.908 123.070 792.768 803.361 824.648 SC 527.079 530.992 548.037 61.166 70.341 70.008 588.245 601.333 622.045 BA 54.746 54.820 41.221 527.386 540.172 550.127 582.132 594.992 591.348 RS 185.080 181.378 182.378 179.690 184.245 222.245 364.770 365.623 404.623 ES 4.898 4.408 4.093 204.035 207.800 208.819 208.933 212.908 212.912 MS 38.909 28.500 20.697 113.432 119.319 207.687 152.341 147.819 228.384 PA 149 149 101 106.033 115.806 126.286 106.182 115.955 126.387 MA 0 0 0 60.745 93.285 106.802 60.745 93.285 106.802

AP 27.841 20.490 9.000 60.087 58.473 55.874 87.929 78.963 67.874 GO 13.330 14.409 13.828 47.542 49.637 51.279 60.872 64.045 65.107 MT 43 7 7 42.417 46.146 57.151 42.460 46.153 57.158 Outros 3703 4.189 0 27.409 41.392 46.186 31.112 45.582 46.186 Total 1834.570 1824.269 1808.376 3407.264 3549.148 3751.867 5241.775 5373.417 5560.203

Quadro 1 - Áreas com florestas plantadas existentes no Brasil (2007) Fonte: Abraf (2008, p. 43)

Nos últimos anos, o Brasil vem ganhando espaço no mercado internacional

de produtos de origem florestal. No início dos anos1990, a participação do Brasil,

nas exportações mundiais, não ultrapassava 1,7%. Em 2006, o Brasil contribuiu com

cerca de 4% do total das exportações mundiais de produtos de origem florestal. Isso

reflete o crescimento das exportações brasileiras ocorrido desde a década de 1990.

Já em 2006, as exportações atingiram a cifra de US$ 8,2 bilhões, o que representa

6,0% do montante total exportado pelo Brasil. Em se tratando de produtos de

florestas plantadas, o Brasil figura como o maior exportador mundial de

compensados de pinus e o maior exportador mundial de celulose de fibra de

eucalipto. No caso dos produtos de madeiras tropicais, o Brasil é o terceiro maior

exportador, tanto de madeira serrada como de compensados.

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Em 2006, os 1,33 milhões m³ de madeira serrada de pinus exportados pelo Brasil representaram 46,3% da madeira serrada vendida no mercado externo. No caso da madeira tropical, as exportações foram de 1,54 milhão de m³, 53,7% do total. Dois fatores contribuíram para essa mudança: o câmbio favorável e o aumento da demanda por madeira amazônica no mercado europeu, norte-americano e também asiático (SBS, 2007, p.32).

As exportações brasileiras alcançaram, em 2006, US$ 137,5 bilhões. Nesse

mesmo ano, o setor de base florestal exportou US$ 8,664 bilhões, correspondendo a

6,3% do total exportado pelo país.

A importância do setor de base florestal e indústria da madeira para o Brasil

está representada no quadro a seguir.

INDICADOR INDÚSTRIA DE BASE FLORESTAL

INDÚSTRIA DE MADEIRA PROCESSADA

MECANICAMENTE

PIB Us$ 44,6 bilhões 3,4% PIB nacional

Us$ 13,1 bilhões 1,0% PIB nacional

PEA (empregos) 8,6 milhões 9,0% do PEA nacional

2,0 milhões 2,1% do PEA nacional

Capacidade de geração empregos a cada R$ 10 milhões investidos

352 empregos diretos 374 indiretos e 565 efeito renda

293 empregos diretos 219 indiretos e 294 efeito renda

Consumo de energia elétrica

12.303 gw.h ou 3,5% da energia consumida país

3.281 gw.h menos de 1,2% da energia elétrica consumida pelo país

Arrecadação tributária Us$ 7,2 bilhões (1,5% da arrecadação nacional)

Us$ 2,3 bilhões (1% da arrecadação nacional)

Exportação Us$ 8,8 bilhões (5,5% do total exportação)

Us$ 3,66 bilhões (2,3% do total da exportação)

Superávit Us$ 7,4 bilhões (18,5% do superávit nacional

Us$ 3,65 bilhões (9,1% do superávit nacional

Quadro 2 - Indicadores socioeconômicos da indústria de base florestal e da indústria de madeira processada mecanicamente (2007 ) Fonte: STCP – Disponível em: www.abinci.com.br. Acesso em: Out.2008.

Em função da importância do segmento para o Brasil, realizou-se o II

Congresso Internacional de Produtos de Madeira Sólida de Reflorestamento, quando

reunidos em Curitiba, Paraná, em novembro de 2004, representando o setor

produtivo florestal, o setor público e outros segmentos da sociedade civil

organizadora considerando o foco das discussões na competitividade dos produtos

de madeira cultivada e reconhecendo:

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− A grande capacidade empresarial do setor privado na realização de investimento que resultou em incremento substancial na geração de rendas, empregos e divisas;

− Os esforços que têm sido feitos pelo setor privado apoiando e implementando iniciativas para mitigar barreiras de acesso ao mercado através do desenvolvimento de instrumentos voltados à certificação da qualidade técnica e ambiental, como os programas PNQM e CERFLOR;

− A necessidade de transmitir à sociedade a correta percepção da importância do setor para o desenvolvimento sustentado;

− As limitações atuais no suprimento de madeira de qualidade, a perspectiva de redução nos estoques das florestas plantadas e a necessidade de um planejamento de longo prazo para garantir o suprimento e a manutenção do crescimento sustentado do setor;

− A inexistência de um organismo nacional de coordenação, fomento à produção e de geração de informação que possa dar suporte ao desenvolvimento sustentado do setor florestal e em especial da indústria da madeira;

− A necessidade de uma coordenação mais efetiva entre o setor público e privado para implementação de ações supra, intra e inter setoriais que possam levar um melhor aproveitamento das vantagens comparativas e competitivas do setor;

− O interesse do Governo, da cadeia produtiva, da academia e outros segmentos da sociedade no desenvolvimento sustentado do setor;Recomendam:

− A criação urgente de um Ministério de Florestas, que possa implementar uma política que tenha como objetivos:

− Garantir, através de mecanismos inovadores, o suprimento de matéria prima, melhorar e ampliar a produção e a comercialização de produtos de madeira de florestas plantadas, assegurando através da competitividade a atração de investimentos necessários para seu desenvolvimento sustentado;

− Conduzir a revisão dos dispositivos legais, de forma que considerem as realidades nacionais e regionais, e sejam mais eficientes, reduzindo desta forma do custo de transação;

− Apoiar a pequena e média empresa, que predomina no segmento de produtos de madeira sólida;

− Desenvolver e implementar um sistema de informação e de inteligência de mercado para apoiar o planejamento estratégico de ações do governo e dos investimentos privados;

− Formular e implementar uma estratégia, em conjunto com o setor privado, para atuar em fóruns internacionais relevantes visando à mitigação de barreiras de acesso ao mercado e o fortalecimento da imagem do produto ‘Madeira do Brasil’2.

2.2.1 O Pinus no Brasil

Segundo Kronka, Bertolani e Ponce (2005, p.7); há destaque as conquistas

2 ABINCI. Disponível em: <http://www.abinci.com.br>. Acesso em: out. 2008.

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da implantação do pinus no Brasil.

[...] o espaço conquistado pelo pinus no Brasil, como matéria prima para os mais variados produtos, já demonstra a importância dessa cultura. São aproximadamente 1,8 milhão de hectares plantados no país, que suprem diferentes setores produtivos. Fábricas de celulose e papel, serrarias e indústrias de embalagens, painéis e compensados, madeiras para construção civil, produção de móveis que conquistam cada vez mais o mercado externo, a madeira de pinus alimenta atividades essenciais da economia brasileira.

A evolução e consolidação do pinus no Brasil foram fruto do trabalho de

muitos profissionais, instituições, universidades e empresas que se empenharam no

desenvolvimento de estudos e nas atividades em campo.

Os primeiros resultados referentes à introdução de espécies de pinus no

Brasil são apresentados por A. Löfgren, citado pelos autores Kronki, Bertolani e

Ponce (Ibid., p.11) que foi o primeiro diretor do Instituto Florestal de São Paulo, em

sua obra “Notas sobre as plantas exóticas introduzidas no Estado de São Paulo”,

datada de 1906. Também naquela oportunidade, o referido autor destaca a situação

das espécies de Eucalyptus por ele introduzidas, que serviram de base para aquelas

efetuadas por E. Navarro de Andrade, responsável pela sistematização de sua

silvicultura.

Em 1936, foram feitos os primeiros estudos sobre os chamados pinus

subtropicais, pelo Instituto Florestal de São Paulo, quando o tipo P. elliottii var.

elliottii e de P. taeda , tiveram suas sementes introduzidas em extensas áreas

localizadas nas Estações Experimentais do Instituto, essências que viriam a se

desenvolver muito bem no sul do Brasil.

Um trabalho extraordinário, segundo os mesmos autores, foi aquele feito pelo

agrônomo Silvio Cunha Echenique, em Pelotas (RS), iniciado em 1932 e

abrangendo 22 espécies do gênero pinus, inclusive os bem conhecidos P. taeda e P.

caribaea.

As espécies de pinus sub-tropicais P. elliottii var. elliottii, P. elliotti var. densa,

P. taeda e P. pátula são originárias do Sudeste dos Estados Unidos, sendo que sua

zona de dispersão se estende do Sul da Carolina do Sul, ao centro da Flórida e

Sudeste da Luisiana. Estas espécies encontraram condições ideais de crescimento

desde o Rio Grande do Sul até o centro do Paraná e sul de São Paulo.

As diversas espécies de pinus introduzidas no Brasil, através dos incentivos

fiscais para o reflorestamento, foram pesquisadas por décadas, criando-se

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zoneamentos ecológicos, nos quais, de acordo com as condições de solos, clima,

altitude, relevo e vegetação original, eram definidos quais as espécies que melhor

se adaptariam, de acordo com a região de origem nos Estados Unidos.

Sem dúvida alguma, a madeira produzida pelas florestas de pinus tem

movimentado, durante os últimos anos, de forma razoável a indústria madeireira em

nosso município, região e sul do Brasil, na produção de embalagens, esquadrias,

móveis, gerando empregos diretos e indiretos.

O pinus trouxe a esperança para a indústria madeireira, a qual, em função da

exploração a exaustão das florestas nativas, vinha em decadência, e fez com que

ela se revigorasse, melhorasse, absorvendo novas tecnologias, profissionalizando-

se, desenvolvendo novos produtos e mercados. Apesar da grande evolução em

áreas reflorestadas com pinus, nos últimos vinte anos, o município de Canoinhas

especificamente manteve os mesmos níveis de reflorestamento, conforme se pode

verificar nos dados da ocupação do solo, os quais, em 1986, apresentavam

6.572.607 ha de reflorestamento com pinus elliotti; já em 2006, com 6.104.512 ha.

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Figura 1 – Floresta de Pinus elliotti Fonte: Dados da Pesquisa (2008)- Local Residência Fuck 2.3 SANTA CATARINA E O DESENVOLVIMENTO DO SETOR MADEIREIRO

O desenvolvimento econômico de Santa Catarina começou a destacar-se a

partir da chegada dos novos imigrantes, principalmente alemães e italianos3. Este

novo contingente populacional, denominado genericamente de colonos, criou as

condições para ampliação dos mercados locais, aumento da mão-de-obra e a

divisão entre as atividades do campo e da cidade, proporcionando elevação da

produção.

3 Os primeiros imigrantes alemães chegaram a Santa Catarina por volta de 1829. Instalaram-se inicialmente em São Pedro de Alcântara, colônia do governo. No vale do Itajaí, onde desenvolveram intensa atividade data também válida para o norte do estado. Mais tarde chegaram os italianos, fixando-se nos vales do, aglomeraram-se a partir de 1850, rio Tijucas e Tubarão.

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Portadores de conhecimentos técnicos e empresariais trazidos da Europa, os

alemães e italianos foram recriando a economia catarinense. Também merecem

menção, nesta renovação da economia, os colonos de outras nacionalidades,

poloneses, austríacos e russos, que apesar de não serem dotados da mesma

experiência e espírito empreendedor dos alemães, contribuíram como elementos

estimuladores do crescimento do comércio local, retirando Santa Catarina da

dificuldade econômica em que se encontrava.

NÚMEROS ABSOLUTOS REL/BRASIL ANOS

SANTA CATARINA BRASIL %

1872 159.802 10.112.061 1.58%

1890 283.769 14.333.915 1.97%

1900

1970

2000

2007

320.089

1.663.702

5.356.360

5.866.252

17.318.556

93.139.037

169.799.170

183.987.291

1.84%

1.79%

3.15%

3.19%

Tabela 1 - Crescimento populacional de SC. Números absolutos e percentuais comparados ao total do Brasil 1872/2007 Fonte: Brasil (1936, p.45) apud Bossle (1988, p.23) e IBGE

ANOS SANTA CATARINA BRASIL

1872-1890 3.24% 1.96%

1890-1900 1.22% 1.96%

1900-1910

1910-1970

1970-2000

2000-2007

3.26%

420%

222%

10%

1.91%

438%

82%

8%

Tabela 2 - Crescimento médio anual da população SC – Brasil – 1872/2007 Fonte: Brasil (1936, p.253-54) apud Bossle (1988, p.23) e IBGE

Relacionando-se o crescimento da população em Santa Catarina com o

crescimento da população brasileira (Tabela 1), observou-se que ambos

apresentaram crescimento ascendente: a participação catarinense representava

1.97%, em 1890, sendo a mais elevada do período, compreendido entre 1872 e

1900. Adicionados os dados da Tabela 2, verificou-se que o crescimento

demográfico, no período de 1872-1890, foi superior ao crescimento geral do Brasil,

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quando o crescimento médio anual em Santa Catarina foi de 3.24% e a média

nacional de 1.96%. Deve-se à imigração estrangeira esse crescimento, conforme as

informações da Tabela 3, onde constam os percentuais de estrangeiros fixados em

Santa Catarina.

ANOS NUMEROS ABSOLUTOS=100 % TOTAL

1850 1.342 1.79

1858 6.444 5.04

1872 21.761 13.61

1900 32.146 10.03

Tabela 3 - Estrangeiros em Santa Catarina 1850/1900 Fonte: Câmara (1948, p.218) apud Bossle (1988, p.24)

Com o dinamismo dos novos imigrantes, a economia de subsistência foi

sendo superada e o excedente econômico passou a ser comercializado tanto no

mercado interno quanto externo. Nos anos de 1854-1855, segundo Bossle (Ibid.), a

madeira já representava 23.80% dos valores das exportações em geral.

Os produtos semimanufaturados, que passaram a ocupar lugar de destaque

na exportação em geral, sem dúvida eram oriundos das áreas colonizadas pelos

novos imigrantes.

No período de 1904 a 1942, a madeira foi o principal produto da exportação

catarinense.

Segundo Silveira (2005, p.35), as necessidades doméstica do país, por

madeira, e a demanda internacional com os desdobramentos da segunda guerra

mundial, então em curso, impulsionaram uma frenética e gigantesca corrida pelo

“ouro” da Serra Catarinense, já que as reservas de araucária do Rio Grande do Sul

estavam se exaurindo, e o preço da madeira no mercado nacional e internacional

havia sido valorizado sensivelmente. As reservas de araucária dos municípios de

Lages, Curitibanos, Bom Retiro, São Joaquim; uma área de muitos milhares de

hectares estavam praticamente intocadas no início da década de 1940. O

extrativismo da Lumber ocorreu no planalto norte em direção ao oeste catarinense.

O município de Lages (SC) era, no início da década de 1940, o maior do estado em

extensão territorial, com mais de 10.000 quilômetros quadrados. Na época, não

havia, no país, uma fábrica de papel para imprensa. Todo o papel jornal era,

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importado. Em outubro de 1940, os jornais estampavam manchetes: “O Brasil terá

uma fábrica de papel para a imprensa”. Assim, somado às necessidades internas de

papel, derivado da madeira, e à valorização do pinheiro, juntamente com as

mudanças no cenário nacional e internacional, desencadear-se-ia o processo

econômico do “ciclo da madeira de araucária” que se estenderia, numa visão linear,

na Serra Catarinense, de 1940 a meados de 1970, o período mais intenso, com

numerosas serrarias.

No entanto, a exploração da araucária continuou num processo decrescente

até 1990, quando o governo, através do IBAMA, deu o golpe de misericórdia e

baixou decreto e regulamentação proibindo o corte do pinheiro brasileiro, a

araucária, no estado de Santa Catarina.

“Santa Catarina teve dois governadores oriundos do setor econômico da

madeira, sendo eles Irineu Bornhausen, eleito em 1953 e o Dr. Celso Ramos no

início da década de 1960” (SILVEIRA, 2005, p.107).

PERIODOS % SOBRE O VALOR T OTAL

1900/1904 4.95

1905/1909 8.65

1910/1914 8.39

1915/1919 6.28

1920/1924 9.73

1925/1929 11.48

1930/1934 11.55

1935/1939 1.24

1940 19.18

1941 21.55

1942

2007

23.67

8.40

Tabela 4 - Valor total da exportação média anual: 1 904 - 1942 Fonte: Relatório do Governo apresentado à Assembléia em (1942, p.45). Bossle (1988, p.97) 2007 – Santa Catarina em Dados – Fiesc (2008, p. 17)

Em Santa Catarina, no ano de 1949, existiam 1547 estabelecimentos

madeireiros e, em 1953, 2167 estes representando 37% do total existente no

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Estado, sendo o segmento econômico mais representativo, gerando 14360

empregos, ou seja, 26% da mão-de-obra industrial do Estado.

A participação do segmento madeireiro, no ano de 1962, em termos de

produto industrial, foi de 62.2%, seguido pela indústria têxtil com 26.8% e produtos

alimentares 14.6%.

2.3.1 Fomento em SC – Solução do Impasse entre Madeireiros e IBDF/IBAMA

As primeiras experiências de plantio de araucárias no Sul do Brasil foram

feitas pelos pesquisadores holandeses Kees Van Del Vliet e Jan Wiilem Roorda

(Prange, 2001); eles verificaram que a araucária é uma essência que não pode ficar

exposta a luz solar, enquanto muda pequena, necessitando ter um sombreamento

protetor da floresta primária e não gosta de ser plantada em sistema de mudas, mas

sim ser semeada no lugar definitivo.

Desta forma, o reflorestamento com araucária teria suas limitações. De posse

dessas informações, o IBDF, atual IBAMA, recomendou o plantio do pinus associado

à araucária.

Os madeireiros, na década de 1960, vinham tendo dificuldades para cumprir

as exigências dos órgãos do governo de reposição florestal, pela dificuldade em

obter as mudas, a mortalidade e a falta de motivação, cujos desdobramentos são a

seguir descritos.

Segundo Pieter W. Prange (2001)4: era 1967:

[...] e havia uma reunião programada com os madeireiros da região do Planalto Catarinense, em Curitibanos (SC). Presença confirmada do General Silvio Pinto da Luz, então Presidente do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) (atual IBAMA) e de uma comitiva de autoridades para examinar, em conjunto, como dar efetivo cumprimento às exigências de reposição florestal. Madeireiros, principalmente operadores de serrarias e laminadoras da árvore nativa da região, a Araucária ou Pinheiro do Paraná, espécie também abundante no Estado de Santa Catarina e, na época, base da economia da região do planalto central do Estado, estavam ansiosos de se verem livre da obrigação legal da reposição florestal. Alternativamente, os madeireiros propunham continuar pagando uma ‘Taxa de Reposição Florestal’ e o IBDF, o beneficiário da

4 Disponível em: <http://www.sbs.org.br/memorias_fomento.htm>. Acesso em: out.2008.

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taxa, que se encarregasse do plantio e de encontrar as mudas para tanto, que eram escassas na época. O General Pinto da Luz, homem franzino, mas autoritário, não aceitava aquela solução dos madeireiros catarinenses, e o ambiente ‘esquentou’. Foi aí, que as empresas produtoras de celulose na região, presentes como ouvintes na reunião, propuseram oferecer e contribuir com as necessárias mudas de outro pinheiro, o pinus, então chamado pinheiro americano, devido a sua origem, para assim dar apoio e ampliarem o desenvolvimento do reflorestamento na região, o que foi aceito tempestivamente pelo então Presidente do IBDF. E estava encerrada a reunião!!!!. Dada a solução ao problema da falta de mudas até então, porém meio contrariados e a contragosto, os madeireiros aceitaram a solução alternativa, e assim registra-se oficialmente o primeiro programa de fomento florestal industrial nos campos de Lages, Curitibanos e Região do Planalto Central Catarinense. Apenas como efeito contrastante, registra-se que, apenas durante o ano de 2002, na mesma região, houve um plantio de mais de 25 mil hectares de novas florestas de produção.

No ano de 1968, as indústrias de madeiras no estado de Santa Catarina

respondiam por 25% do produto industrial catarinense, dado que reflete a sua

importância na economia estadual e que vem se mantendo desde a década de

1940. Para Mattos (1968), a produção basicamente era de madeira desdobrada,

compensada e chapas prensadas.

Segundo a FIESC (2007), a indústria madeireira de Santa Catarina empregou,

no ano de 2006, 43 mil trabalhadores em 2.800 estabelecimentos. Destaca-se

nacionalmente tendo uma participação de 16% sobre igual setor nacional. O estado

de Santa Catarina é o maior fabricante de portas de pinus e batentes do país e líder

em exportação, bem como na produção de móveis com predominância de madeira,

onde emprega mais de 31 mil pessoas, sendo que, nos municípios de São Bento do

Sul e Rio Negrinho, estão 34% dos trabalhadores. No oeste catarinense, encontra-

se o segundo pólo mobiliário do estado, colocando o setor madeireiro como um

ramo dos mais importantes para o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina.

As principais empresas fabricantes de artefatos de madeira no estado de Santa

Catarina, segundo a FIESC (2008), no caderno Santa Catarina em Dados, p. 49 a 53

são as seguintes:

− Sincol S/A – Indústria e Comércio

Possui 1235 empregados, no município de Caçador ( SC) Seu

faturamento, em 2007, foi de R$ 78,3 milhões, com uma produção de

60.270 m/3 de produtos acabados. Os principais produtos que fabrica são

portas, batentes, chapas de madeira, rodapés, cantoneiras e lambris.

Ocupa o primeiro lugar em nível nacional e também na América Latina.

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− Baía Madeiras Renováveis Ltda.

Localiza-se no município de Ponte Serrada, onde conta com 70

empregados. Em 2007, obteve um faturamento de R$ 1,8 milhão, com a

produção de 13.257 portas e batentes, 1.157 mil m3 de ripas, painéis e

madeira serrada e 6.675,87 toneladas de toras em pínus. Principais

produtos que fabrica: portas internas compensadas, portas maciças,

batentes e painéis maciços.

− Battistella Indústria e Comércio Ltda.

Está localizada em Rio Negrinho e possui 455 empregados em seu quadro

funcional. Os principais produtos que fabrica são Istelaplac, madeira

classificada, Lamiplac e Lâmina. Em 2007, sua produção foi de

157.579,740 m3 de madeira serrada e o faturamento de R$ 88,4 milhões.

− Manoel Marchetti Indústria e Comércio Ltda.

Empresa localizada na cidade de Ibirama, onde emprega 665

colaboradores. Em 2007, sua produção foi de 515.636 unidades,

registrando um faturamento de R$ 33,8 milhões. Principais produtos

fabricados: portas lisas, maciças, decorativas, pré-fabricados de madeira,

carretéis de madeira e beneficiados. Ocupa a quarta posição no ranking

nacional. Possui a certificação ISO 9001, é participante do Programa

Nacional de Qualidade da Madeira (PNQM) e membro da ABIMCI.

− Frame Madeiras Especiais Ltda.

Localiza-se em Caçador, tendo em seu quadro 835 colaboradores. Em

2007, obteve um faturamento de R$ 75,2 milhões. Produz portas.

− Industrial Madeireira S/A

Está localizada no município de Videira, onde emprega 283 trabalhadores.

Seu volume de produção no ano de 2007 foi de 21.770 m³ e seu

faturamento foi de R$ 26,5 milhões. Principais produtos: compensado de

pínus, compensado plastificado e painéis de pínus amarrados. Em nível

nacional, está entre as 50 maiores em volume de produção e entre as

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cinco de melhor qualidade em seu segmento de atuação. Possui

certificação européia (CE) e brasileira PNQM.

− Madecal Agro-Industrial Ltda.

Situada no município de Caçador, emprega 408 funcionários. Principais

produtos que fabrica: Clear blanks e blocks, molduras e componentes de

portas. Em 2007, produziu 71.603,480 toneladas de resíduos de

pínus/cavaco e madeira em toros e 29.870,967 m3 de molduras, blanks,

blocks e componentes de portas, atingindo um faturamento de R$ 36

milhões.

− Rohden Artefatos de Madeira Ltda.

Empresa localizada no município de Salete, onde emprega 649

trabalhadores. Concentra sua produção em portas de pínus elliotti. Em

2007, seu faturamento foi de R$ 28,3 milhões, apresentando uma

produção de 367,4 mil peças. Ocupa a primeira posicão em nível nacional,

a segunda posição na América Latina e a quinta em nível mundial.

− Ind. de Madeiras Faqueadas Ipumirim S/A

Está situada na cidade de Ipumirim e emprega 308 trabalhadores.

Principais produtos que fabrica: portas de madeira e molduras de pínus.

Sua produção, em 2007, foi de 202 mil portas e 14.200 m3 de molduras de

pínus. Nesse mesmo ano faturou, R$ 19,7 milhões. Está entre as 10

maiores madeireiras de Santa Catarina.

− Rohden Portas e Painéis Ltda.

Situada em Pouso Redondo, emprega 829 colaboradores. Produz portas

de pínus elliotti. Em 2007, obteve um faturamento de R$ 31,7 milhões,

com a produção de 427.469 peças. Ocupa a primeira posicão em nível

nacional, a segunda posição na América Latina e a quinta em nível

mundial.

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− Goede Lang & Cia Ltda.

Localizada na cidade de Pomerode, onde possui 74 empregados. Os

principais produtos que fabrica são portas, janelas e batentes. Sua

produção, em 2007, foi de 3.269 mil m³ de madeiras diversas e seu

faturamento de R$ 5,9 milhões.

− Madeireira Schmitt Ltda.

Situada no município de Lages, conta com 97 funcionários. Produz

madeiras de pínus serradas em bruto e beneficiadas. Em 2007, sua

produção foi de 4.510.926 m3, obtendo um faturamento de R$ 4,1

milhões.

− Fornecedora e Exportadora de Madeiras Forex S/A

Localizada no município de Três Barras, produz pallets de madeira,

madeira serrada e pisos de madeira. Conta com 250 colaboradores e

obteve um volume de produção de 24 mil m3, em 2007.

− Hachmann Indústria e Comércio Ltda.

Está localizada em Capinzal, onde emprega 52 trabalhadores. Fabricou,

no ano de 2007, 18.879,17 toneladas e faturou R$ 4,5 milhões. Produz

pasta mecânica, resíduos de pínus, toros de madeira de pínus e

maravalha.

− Madeireira Beira Rio Ltda.

Localiza-se no município de Papanduva e emprega 183 trabalhadores.

Fabrica principalmente embalagens, portas, painéis, blanks e blocks. Em

2007 registrou um faturamento de R$ 16,4 milhões e volume de produção

de 25.967 m3, 16.496 toneladas e 15.482 peças.

− MB Exportadora Ltda.

Empresa localizada no município de Braço do Norte, onde conta com 239

empregados. Em 2007, teve um volume de produção de 7.783,66 m3 e

um faturamento de R$ 19,2 milhões. Fabrica molduras em geral.

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− Empresa Industrial e Comercial Fuck S/A

Localiza-se em Canoinhas, empregando 1.158 colaboradores. É fabricante

de portas e compensados. Em 2007, produziu 70 mil unidades/mês de

portas e 4.500 m3 de compensados/mês e faturou R$ 85,2 milhões.

Ocupa o segundo lugar no ranking nacional dentro do seu setor de

atuação, possuindo tecnologia de última geração.

− Brochmann Polis

Industrial e Florestal S/A – Empresa localizada no município de

Curitibanos, onde fabrica lâminas de pínus. Em 2007, registrou volume de

produção de 37.458,194 m3 e faturamento de R$ 19,3 milhões. Possui

208 trabalhadores.

− Madeireira Seleme Ltda.

Possui 170 empregados e está localizada na cidade de Caçador. Em

2007, produziu 50 mil toneladas de madeira de pínus processada e obteve

um faturamento de R$ 8 milhões. Produz componentes para portas e

móveis. A empresa extrai a matéria-prima de florestas próprias renováveis,

possui certificação FSC e forte parceria com clientes no exterior.

− Madeireira Cassias Ltda.

Situa-se na cidade de Mafra, onde conta com 158 empregados. Principais

produtos que fabrica: painéis, estantes, madeira serrada, madeira

beneficiada e pré-cortada para móveis em pínus. Encerrou o ano 2007

com uma produção de 4.471.258 m3, atingindo o faturamento de R$ 5

milhões.

− Indústria de Madeiras Tozzo S/A

Situa-se em Passos Maia e emprega 43 funcionários. Produz painéis em

pínus e produtos manufaturados de pínus e pinho. Em 2007, registrou um

volume de produção de 7.142,04 m3 e faturamento de R$ 3,8 milhões.

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− Possamai & Cia Ltda.

Localizada no município de Ascurra, onde emprega 26 funcionários.

Concentra sua produção em estruturas de madeira e pallets. No ano de

2007, registrou um faturamento de R$ 1,5 milhão e volume de produção

de 1.797 m3. Possui reflorestamento sustentável.

− Madeireira Germano Pisani S/A – Ind., Com. e Exp.

Empresa localizada no município de Lages, onde emprega 245

funcionários. Seus principais produtos são madeiras para exportação,

embalagens de madeira e pallets. No ano de 2007, registrou um

faturamento de R$ 10,7 milhões, com um volume de produção de

11.166.187 m3.

− Indústrias Artefama S/A

Localizada no município de São Bento do Sul, conta com 1.078

funcionários. Os principais produtos que fabrica são camas, armários,

mesas, cadeiras, cômodas e outras peças e componentes de móveis em

madeira com predominância de pínus, sob encomenda dos clientes. Em

2007, processou 46.000 m3 de madeira de pínus e 143.000 m² de chapas

de MDF e aglomerado, obtendo um faturamento de R$ 78,3 milhões. É

uma das maiores fabricantes e exportadoras de móveis do Brasil e

também da América Latina, com grande diferencial de atender sob

encomenda. Destaca-se pelo diferencial em diversos tipos de acabamento

(pintura aplicada) e pelo seu moderno parque fabril. Possui capacidade

produtiva para atender grandes volumes de produção em móveis de

madeira maciça e também em chapas.

− Fritz Móveis Ltda.

Está localizada na cidade de Mafra, onde conta com 207 empregados.

Fabrica móveis de madeira (mesas, cadeiras e roupeiros). Em 2007, seu

faturamento foi de R$ 11,9 milhões sendo estofados e móveis em MDF.

Em 2007, apresentou um volume de produção de 15 mil peças de

estofados e 85 mil peças de móveis em MDF, com um faturamento de R$

13,9 milhões.

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− Móveis Weihermann S/A

Empresa localizada no município de São Bento do Sul, onde conta com

337 colaboradores. Fabrica principalmente dormitórios, estantes e mesas.

Em 2007, seu faturamento foi de R$ 22,9 milhões, com a produção de 120

mil peças. A empresa possui certificação ISO 14001.

− Móveis James Ltda.

Seus principais produtos são conjuntos estofados, poltronas, camas,

cadeiras, mesas e berços. Situa-se no município de São Bento do Sul,

onde emprega 158 colaboradores. Em 2007, produziu 54.513 peças e

obteve um faturamento de R$ 13,9 milhões.

− Indústria de Móveis 3 Irmãos S/A

Situa-se na cidade de Campo Alegre. Os principais produtos que fabrica

são: salas de estar, escritórios, dormitórios, salas de jantar. Emprega 352

funcionários. Seu faturamento, em 2007, foi de R$ 20,6 milhões e o

volume de produção de 99.651 peças.

− Fábrica de Móveis Neumann Ltda.

Possui 64 empregados e está localizada em São Bento do Sul. Seus

principais produtos são: cozinhas e dormitórios. Em 2007, obteve um

faturamento de R$ 18,6 milhões com uma produção de 3.504,1 m3.

− Indústria de Móveis América Ltda.

Localiza-se no município de São Bento do Sul e emprega 321

trabalhadores. Principais produtos que fabrica: componentes de móveis

em pínus, escrivaninhas, portão de cachorro, arquivos, armários, racks e

estantes, todos em pínus. Em 2007, sua produção foi de 145 mil peças e o

faturamento de R$ 14,9 milhões.

− Renar Móveis S/A

Empresa localizada no município de Fraiburgo, onde possui 285

trabalhadores. Os principais produtos que fabrica são camas, cômodas,

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criados-mudos e mesas, todos de madeira. Em 2007, obteve um

faturamento de R$ 38,8 milhões, com uma produção de 11.763 m3. É a

quarta colocada no ranking nacional em exportação.

− Móveis Waely Ltda.

Situa-se em Santa Cecília e emprega 130 colaboradores. Os produtos que

fabrica são cômodas, mesas, estantes e bancos de canto. Em 2007,

fabricou 91.434 unidades e registrou faturamento de R$ 7,3 milhões.

− Indústria e Comércio de Móveis Henn Ltda.

Localizada na cidade de Mondaí, conta com 539 empregados. Seus

principais produtos são móveis para quarto em madeira. Em 2007,

produziu 612.584 unidades e obteve um faturamento de R$ 104,9 milhões.

Conquistou, em março de 2008, o primeiro lugar na categoria Linha Infantil

do Prêmio Top Móbile, uma das marcas mais lembradas do Brasil.

− Intercontinental Indústria de Móveis Ltda.

Concentra suas atividades no município de São Bento do Sul, onde

emprega 138 colaboradores. Em 2007, registrou produção de 57.522

unidades e faturamento de R$ 9,7 milhões. Seus principais produtos são

os dormitórios.

− Móveis Oberlak Ltda.

Conta com 44 colaboradores em Rio Negrinho, onde produz armários,

mesas, camas, balcões, racks e estantes. Em 2007, produziu 2.422,385

m3, resultando em um faturamento de R$ 4,3 milhões.

− Móveis Rudnick S/A

Empresa localizada no município de São Bento do Sul, onde conta com

921 trabalhadores. Os principais produtos que fabrica são móveis de

madeira de uso residencial (cozinhas, dormitórios, salas de jantar etc). Em

2007, seu faturamento foi de R$ 93,5 milhões, com uma produção de

537.861 caixas.

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− Arte Real Móveis Ltda.

Empresa localizada no município de Rio Negrinho, onde conta com 156

trabalhadores. Os principais produtos que fabrica são: salas, dormitórios,

cômodas, escrivaninhas, bares, vitrines, sapateiras, racks, modulares em

madeira e móveis para decoração. Em 2007, seu faturamento foi de R$

7,3 milhões, com uma produção de 163 contêineres de 40HC. Empresa

especializada na fabricação de móveis de madeira maciça extraída de

florestas renováveis e certificadas pelo FSC.

2.4 HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO DE CANOINHAS A PARTIR DE 1940

O município de Canoinhas (SC) (Figura 2) está situado ao norte de Santa

Catarina, na divisa com o Paraná e faz parte da microregião do Contestado. Limita-

se ao norte com o Paraná, ao sul com os municípios de Major Vieira e Timbó

Grande; ao leste com Três Barras, Major Vieira e Bela Vista do Toldo e a oeste com

o município de Irineópolis. Possui uma área de 1.153 km2, uma população de

52.677 habitantes e localização geográfica conforme a Figura 1.

Figura 2 – Localização do município de Canoinhas (S C) e região Fonte: (SDR/CANOINHAS, 2008, p.8)

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2.4.1.1 Abordagem histórica

Antes da abordagem, dentro do período proposto neste trabalho, faz-se

necessário conhecer alguns aspectos da trajetória de colonização da região.

Acredita-se que foi entre os anos de 1765 e 1780 que as primeiras expedições

subiram o Rio Canoinhas, as quais fizeram explorações no Rio Iguaçu e, subindo

pelo Rio Negro, chegaram à foz do Rio Canoinhas, que na época oferecia

navegabilidade até o ponto onde mais tarde foi fundado o povoado.

Entretanto, com estas incursões exploratórias ninguém permaneceu na área.

Somente a partir de 1816, iniciou-se tráfego regular de tropas pela Estrada da

Mata, que atravessava o Passo Canoinhas5um pouco abaixo da foz do Rio da Areia,

hoje município de Papanduva e Major Vieira.6 Esta Estrada da Mata foi a que

permitiu o desbravamento do município e região, pois através dela intensificou-se o

comércio com Curitiba e feiras em São Paulo.

Em 1827, com a reconstrução da Estrada da Mata, entre Campo do Tenente

e Campo Alto, foi o início da fixação dos primeiros povoadores do município, no

então distrito de Papanduva. Este local foi ponto de parada dos tropeiros, pois era

um ponto intermediário entre a serra e Rio Negro. Esses pioneiros passaram a

explorar a erva-mate da região e comercializar em Rio Negro. Entretanto, a área do

município, onde hoje está edificada a cidade de Canoinhas, permaneceu por muito

tempo inacessível, devido à floresta nativa ser densa e fechada.

Em 1892, novas correntes migratórias, vindas do estado do Paraná pelo Rio

Negro, subiram o Rio Canoinhas em pequenas embarcações, desembarcando no

ponto próximo onde hoje está edificado o Colégio Estadual Santa Cruz.

Entre estes pioneiros, veio Francisco de Paula Pereira7, que se instalou em

uma barraca a margem do rio, estabelecendo um novo núcleo de povoamento.

De acordo com Tokarski (2008, p.7):

5 Assim denominado porque a passagem era feita em pequenas canoas, advindo daí, o nome do rio e do município.

6 Denominação dada a um trilho, que atravessava uma mata de cerca de 40 léguas de extensão e que permitia comunicação entre o Rio Grande do Sul, Lages, Curitiba e São Paulo

7 Francisco de Paula Pereira, considerado fundador do município de Canoinhas.

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[...] não é de se duvidar que a transferência de Francisco de Paula Pereira ao abandonar São Bento do Sul SC e se instalar em Canoinhas (SC) tenha sido em razão da existência dos grandes ervais e dos interesses catarinenses pela posse do território desse lugar, bem no centro norte da área sob disputa com o Paraná. Ervateiro e político, ‘Chico Pereira’ é considerado o fundador oficial do povoado de Canoinhas (SC). Sua presença nas barrancas do Rio Canoinhas, bem na divisa sob disputa, não foi mera arte do acaso, até porque com ele também deixou São Bento do Sul um séqüito de capatazes e camaradas que depois se disseminaram pelo sertão contestado. [...].

Sílva (1941), em texto sobre a evolução política e social do município de Canoinhas,

no período 1900 a 1940, relata os fatos históricos que marcaram o desenvolvimento do

município, a Guerra do Contestado8, e a criação do então distrito de Santa Cruz de

Canoinhas, em 03 de julho de 1902. Por meio da Lei Estadual n.907, de 12 de

setembro de 1911, foi elevada à categoria de município, sendo desmembrado do de

Curitibanos, vindo a cognominar-se Santa Cruz de Canoinhas. Em 1923, pela Lei

n.1424, de 23 de agosto, foi a vila de Santa Cruz de Canoinhas elevada à categoria

de cidade, com a denominação de Ouro Verde, nome este sugerido em função da

erva- mate, uma das maiores fontes de riqueza do município. Pela Lei n.1, de 27 de

outubro de 1930, o município voltou a chamar-se de Canoinhas.

Também houve a instalação do ramal ferroviário Porto União - São Francisco do Sul,

e o comércio de erva-mate e a extração de madeira são os fatores que contribuíram para o

desenvolvimento do município, no período até 1940 (SILVA, 1941).

2.4.1.2 Abordagem Histórica na Década de 1940

O município de Canoinhas (SC), no início da década de 1940, despontava

como um grande pólo econômico produzindo produtos derivados da pecuária,

caprinos, suínos, erva mate e madeira.

A erva-mate representou, segundo Sílva (1941), 42,69% da produção total do

8 A Guerra do Contestado foi um conflito armado entre a população cabocla e os representantes do poder estadual e federal brasileiro travado entre outubro de 1912 a agosto de 1916, numa região rica em erva-mate e madeira disputada pelos estados brasileiros do Paraná e de Santa Catarina. Esta revolução teve origem em conflitos sociais, oriundos principalmente da falta de regularização da posse das terras dos caboclos e da insatisfação da população com sua situação material, numa região em que a presença do poder público era limitada. O conflito era permeado pelo fanatismo religioso, expresso pelo messianismo e pela crença, por parte dos caboclos revoltados, de que se tratava de uma guerra santa. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_do_Contestado>. Acesso em: 15 jan.2009.

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estado de Santa Catarina. A indústria extrativa da madeira era a atividade principal

do município de Canoinhas (SC). Na época, as reservas florestais de Canoinhas

(SC) eram muito grandes, pois existiam aproximadamente 4,3 milhões de pinheiros

com altura média de 13 metros, sendo 1.17 milhões com mais de 40 cm de diâmetro

e 3.12 milhões, com menos de 40 cm.

A estrutura fabril do município contava com 62 serrarias, sendo 54 de

madeiras em geral, 5 para a fabricação de caixas e 3 laminadoras, entre elas a

Souther Brazil Lumber and Colonization Company, incorporada ao Patrimônio

Nacional. Além do aparato para exploração da madeira, despontava também a

indústria da cerâmica, com 8 fábricas de tijolos e telhas e 1 de ladrilhos.

Segundo Thomé (1995, p.195), naquela época havia, em Canoinhas,

serrarias, fábricas de caixas e tacos; as empresas eram:

Carlos Itiberê da Cunha & Cia. Ltda., Irmãos Zaniolo, Otto Herbst, Bento de Lima & Irmãos, Wiegando Olsen, Irmãos Fernandes & Cia. Com marcenarias, os destaques eram: Carlos Schwarz, Henrique Voigt, Jorge Thoma, Oto Klosterhoff, Oto Richter e Volker Volrath. Na condição de produtores e exportadores de madeiras, estavam em atividade: Alberto Kohler, Alberto Tokarski, Albino Succow, Alfred Herbst, Artur Voigt, Alberto Voigt, Alberto Wosgrau, Antonio Reusendel, Augusto Krueger, Benedito Linzmayer, Bento José da Sílva, Bernardo Crestani, Bernardo Olsen, Colodel & Fernandes, Constante Fruet, Emiliano Abrão Seleme, Estanislau Wojciekowski, Evaldo Schartz, Francisco Fuck, Francisco Goestmayer, Fermino Soares Lima, Francisco Stoebel, Heise & Irmãos, H. Schwartz & Cia., Henrique Lessmann, Henrique Stoebel, Irmãos Crestani, Inácio Kuminski, João Batista Pigatto, José Pereira do Vale, João Allage, José Grosskopf, José Hennig, Kohler & Friedrich, Max Olsen, Luiz Sperandio, Manoel Estevão Furtado, Otto Friedrich, Paulo Wiese, Pedro Abrão Seleme, Raimundo Barão & Filho, Radke & Koch, Rufino Fernandes Ferreira, Raimundo Crestani, Regina Hiller, Ricardo Diener, Roberto Ehlke, Salin Zattar, Thomasi & Irmãos, Tomaz Ostroski, Waldemiro Olsen e Viese & Irmãos.

Estas empresas formavam a estrutura econômica do segmento da madeira

em Canoinhas, no início da década de 1940, e conforme o Quadro 1, segundo Sílva

(1941) descreve-se o número e as atividades das Empresas.

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DISCRIMINAÇÃO DADO NUMÉRICO Serrarias 54 Serrarias e laminadoras 03 Serrarias: Fábrica de caixas 05 Fábricas de móveis 04 Fábricas de correias 01 Fábrica de ladrilhos 01 Fábricas de cola 01 Fábricas de vaso de xaxim 01 Fábricas de palhões para garrafas 01 Fábricas de cervejas 02 Ferrarias 26 Funilarias 02 Marcenarias 05 Montagem de carroças 20 Carpintarias 14 Cerâmicas 08 Alfaiatarias 23 Sapatarias 09 Selarias 10 Curtumes 02 Moinhos de Cereais 15 Torrefação e moagem de café 03 Panificação 05 Quadro 3- Indústria fabril do município (1940) Fonte: Silva (1941, p.48-9)

Com relação à produção dessas empresas, Sílva (1941) descreve a

quantidade em unidades de m/3 e unitária demonstrados no Quadro 4.

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ESPECIFICAÇÃO UNIDADE QUANTIDADE 1 - Mineral Água mineral Litro 7.500 Areia de construção m/3 1.000 Areia p/pavimentação m/3 2.500 Tijolos Milheiro 623 Telhas Milheiro 500 Pedras p/construção m/3 200 Pedras meio fio m/3 10 2 - Vegetal Carvão Quilo 142.000 Palha de centeio Quilo 190,000 Paina Quilo 650 Timbó p/arcos Feixe 700 Casca gramiúnha Quilo 1.200 Tábuas pinho m/3 90.000 Pranchas pinho m/3 20.000 Vigotes pinho m/3 5.000 Tábuas imbuia m/3 9.000 Toras imbuia tora 424 Toras cedro tora 1.290 Dormentes Unidade 7.500 Lenha em geral m/3 60.000 Nó de pinho m/3 5.000 Erva Mate Quilo 3.750.000 3 – Animal Penas e plumas Quilo 300 Couros Quilo 750 Crina Quilo 1.000 TOTAL GERAL Quadro 4- Quantidade da produção (1940) Fonte: (Ibid., p.46-7) 2.4.2 Lumber - a Madeireira que Mudou a História

Para aprofundar a História da Indústria do município é importante citar a maior

madeireira que já se instalou na região em toda a sua história: A Lumber

A história da Lumber se configura na história de Três Barras, na época,

distrito do município de Canoinhas (SC). O local era um minúsculo ponto verde no

mapa do Estado de Santa Catarina, quando a Lumber se interessou em apagar

substancial percentual deste verde, ao se expandir por toda a região, principalmente

no município de Canoinhas (SC)

Junto com a devastação da floresta nativa, a Lumber trouxe, no entanto, uma

riqueza cultural imensurável, como cita em entrevista ao jornal Correio do Norte

(2005, p.6), o professor Ederson Mota,

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A Lumber trouxe para nós, evolução cultural. Tudo que era moda nos EUA vinha para cá. Tínhamos um cinema no meio da floresta. Sofremos influências nos costumes, no vestuário, na música, sem falar no Hospital que eles construíram em Três Barras. Igual aquele, somente em São Paulo e Rio de Janeiro.

Outra opinião de quem trabalhou na madeireira, não são das mais positivas.

Por exemplo, a opinião de Orlando Stein, que dedicou quatro anos de sua vida

profissional à empresa, diz que “Do local de extração, só saíamos quando a madeira

acabasse. Se alguém morresse, era jogado em cima do trem e a família tinha de

esperar até o corte acabar para receber o corpo do defunto” (CORREIO DO NORTE,

Wassoaski ( 2007b, p.5), recordando assim os dias que os funcionários passavam

no meio do mato cortando madeira.

A concessão de 15 quilômetros de terras à esquerda e à direita da linha

ferroviária que a Lumber deveria construir como parte do acordo firmado com o

governo brasileiro, provocou o início de um verdadeiro banho de sangue na região:

uma disputa pelas terras.

Com a concessão, armados de espingardas, os agentes da Lumber

expulsaram os nativos do território. A mesma impiedade tiveram os oficiais do

Exército, que exterminaram quem não concordava em deixar as terras que o

Governo havia concedido à madeireira estadunidense.

Mesmo agredindo os nativos, a Lumber trouxe para Três Barras muitas

inovações, como o material para montar a empresa, que veio dos EUA, pelo mar,

até o porto; do porto seguiam por via férrea até o rio e vinham em pequenas

embarcações pelo Rio Negro.

Atrás do lendário Clube do Bolinha, em Três Barras, a empresa improvisou

um pequeno porto, onde recebiam os módulos e, aos poucos, iam construindo a

linha férrea que levava o material até o local de instalação da serraria.

As ações para introdução e consolidação da Lumber, no distrito de Três

Barras, foram o ponto de tentativa dos governos catarinense e paranaense na busca

pelo domínio da região, conjecturando a exploração da mata de araucárias e erva-

mate. Essa foi a primeira tentativa do governo em manter o território a qualquer

preço, civilizá-lo e desenvolvê-lo. As mesmas políticas voltadas ao desenvolvimento

regional do início do século XX são, ainda hoje, aplicadas pelos governos estaduais.

Pois segundo Arbix; Zilbovicius e Abramovay (2001, p.55-6):

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Em um país de carências como o Brasil, desenvolvimento já foi totem e tabu. Com profundas raízes no passado, mas encravado nos territórios do futuro, esse conceito foi ao longo do século XX, fonte inesgotável de criação, proteção e destruição de novas imagens do mundo, em especial nos países atrasados. Sob o domínio do Estado, insinuou-se para além do bem e do mal. Momentos houve em que irrompeu prenhe de sentidos, envolvendo governantes e governados com as razões da economia. Em outros, porém, mal conseguiu disfarçar um vazio cínico, que aproximou sua elasticidade de conceito ao de uma usina de ilusões. No Brasil, esse foi o sentido que prevaleceu nas últimas décadas e que embalou uma série de programas modernizadores cuja fama, sintomaticamente, foi inversamente proporcional aos tímidos resultados práticos alcançados, seja na geração de emprego, da renda, seja na diminuição das desigualdades.

Assim, a região e o município, sob a égide do “Poder Econômico“, teve

também na madeira a mesma configuração de exploração como a erva- mate,

conforme o historiador Tokarski (2008, p.4):

[...] na esteira da erva mate surgiram em Joinville as primeiras fortunas criadoras da elite local, os grandes ‘barões do mate’, controladores da economia, da política, das leis e de todos que gravitavam ao redor de um sistema produtivo calcado no que Baccila denominou de ‘escravidão verde’. De acordo com o autor, em função do extrativismo ervateiro monopolista o caboclo foi reduzido a ‘situação de pária’, mal ganhando para sobreviver [...].

Desta forma, tem-se uma relação de semelhança na exploração e nos

desdobramentos econômicos entre a madeira e a erva-mate, relacionada ao

desenvolvimento do município de Canoinhas (SC) e região, os quais geraram

fortunas e concentração de riquezas.

Hoje, em pleno século XXI, mesmo com toda a revolução tecnológica,

continua-se a buscar um novo paradigma, como descreve Zapata (2007, p. 23)

[...] mas, infelizmente, somos um dos países com mais desigualdades do planeta. Desigualdades entre as pessoas e entre as regiões. Algumas políticas e estratégias podem ajudar bastante a melhorar este quadro. O desenvolvimento do território é um dos caminhos inteligentes e viáveis, para buscar alternativas de desenvolvimento com mais participação, eqüidade e sustentabilidade.

2.4.3 Trajetória de Ciclos

A história de Canoinhas pode ser distinta em pelo menos duas fases, ou seja,

dois ciclos, prestes a se completar: - da erva mate, outro, da madeira.

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O ciclo da erva-mate, envolvido no mesmo novelo, colocou Canoinhas no

status de uma região das mais ricas economias do Estado de Santa Catarina,

posição que alcançou também e especialmente na época de ouro da madeira. Foi

nessa época que muitos fatores mudaram o cenário econômico da região, o que é

percebido até hoje.

Quando na primeira metade do século XX, vivia-se a euforia do lucro fácil

proporcionado pela imensa riqueza verde (erva-mate e madeira nativa), a partir da

segunda metade do século, com o enfraquecimento da Lumber, a maior serraria de

todos os tempos, o município foi levado a uma fase obscura de retrocesso

econômico, fundamentando-se no extrativismo. Tudo isso levou a economia a se

agravar com o desaparecimento gradual da erva-mate nativa e a perda de mercado.

As mudanças promovidas naquela época pelo Governo Getúlio Vargas

trouxeram benefícios aos trabalhadores e com isso mudaram a filosofia empresarial.

O cenário de mudanças promovido exigia, da classe empresarial, uma medida que

fortalecesse o setor e evitasse o maior número de falências e concordatas. Assim

novas propostas começam a surgir, e os empresários se unem para garantir a

sobrevivência do setor madeireiro (JORNAL CORREIO DO NORTE, 2006, p.12).

2.4.3.1 Anos 1940 – começa uma nova fase

A partir dos anos de 1940, caso a União tivesse se antecipado nas ações

para solucionar a situação quase falimentar da Lumber, talvez outras alternativas

tivessem sido encontradas.. A falência da empresa abriu uma nova fase na história

industrial do município de Canoinhas (SC). É justamente nesta década que surgem

as maiores empresas madeireiras existentes até hoje.

Em 1942 surgiu a Empresa Irmãos Procopiak e Cia Ltda, que foi a primeira

indústria produtora de madeira compensada no sul do Brasil. Nasceu do espírito

empreendedor dos descendentes de ucranianos. Miguel Procopiak e seus irmãos

Antônio, José Orestes, Clemente e José Kolody. Daí o nome inicial de Irmãos

Procopiak e Cia. Ltda. Vislumbrando uma grande possibilidade de industrialização

da madeira, abundante na época, os irmãos Procopiak se lançaram na construção

de um parque industrial moderno e arrojado para a época, na cidade de Canoinhas,

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com o objetivo de produzir madeira compensada.

Outra empresa que surgiu foi a Fuck, em 1943, que pode ser considerada

uma evolução das serrarias iniciadas por Francisco N. Fuck e da casa de comércio

de Jacob Bernardo Fuck Jr., isto devido a romper o paradigma de somente serrar

toras em tábuas e vigotes e iniciar uma fábrica de esquadrias, portas e janelas.

A Madeireira Zaniolo foi fundada em 1924 por José e os filhos Modesto e

Constante Zaniolo, na localidade interiorana de Rio dos Poços. Foi na década de

1940, que a Madeireira Zaniolo alcançou sua melhor fase; e além de serraria, a

empresa possuía uma laminadora, fábrica de compensados e tacos.

No período, foi criada a Zaniolo e Cia que administrava fazendas, açougues,

lojas, moinho de trigo e cantina de vinho. A empresa provocou uma verdadeira

revolução na localidade de Rio dos Poços, interior do município, que chegou a ter

mais de 300 casas.

Em 1945, a empresa chegou a ter mais de 1 mil funcionários quando a

sociedade entre os irmãos se abriu, ficando a Indústria de Madeiras Zaniolo com o

sócio Sr. Modesto Zaniolo e filhos. A madeira era exportada para diversos países da

Europa e da África. Em 1974, o parque industrial mudou-se de Rio dos Poços para o

bairro Água Verde, na cidade de Canoinhas (SC) onde em 1994, quando por

dificuldades financeiras ocorreu o fechamento da empresa.

A Madeireira Olsen S. A., com uma longa trajetória de êxitos foi também, na

década de 1940, instalada no distrito canoinhense de Marcílio Dias, que viu se

consolidar uma das maiores potências madeireiras que já existiram na região, De

acordo com dados levantados pelo historiador Tokarski (2008, p. 8):

[...] levanta-se a hipótese de que egresso da localidade de Lençol, no município de São Bento do Sul SC, a instalação de Bernardo Olsen em Canoinhas, fundando em 1913 o núcleo colonial São Bernardo, hoje vila de Marcílio Dias, às margens do ramal ferroviário São Francisco do Sul (SC) a União da Vitória (PR), foi resultado de uma ação ordenada pelo Sr. Abdon Baptista, o mais influente dos ervateiros de Joinville.

A história viva do império madeireiro criado por Bernardo Olsen é relatada

pelo Sr. Maurício Voigt, hoje com 72 anos, e que começou a trabalhar na Olsen com

15 anos (CORREIO DO NORTE, 2007a).

Entre as muitas histórias que ele conta da empresa, não esquece um período

tenebroso para a indústria, quando, em fins da década de 1940, a alta do preço e a

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escassez da gasolina castigavam quem precisava do recurso. Foi daí que surgiu a

alternativa do gasogênio, uma revolução estratégica para a Olsen à época.

Nessa época, a empresa tinha mais de 700 funcionários e até mesmo um

“porto” particular. Era assim, um porto, que chamavam a área de desembarque de

barcos nos fundos da serraria.

Outros fatores, a partir dos anos 1940, contribuíram com o desenvolvimento

como: Rádio Canoinhas - 30 Batalhão de Polícia Militar - Hospital Santa Cruz.

A sociedade canoinhense, no final da década de 1940, foi brindada com as

primeiras transmissões radiofônicas. Entrava no ar, em 25 de agosto de 1948, a

Rádio Canoinhas, de propriedade dos irmãos Álvaro e Manoel Machuca, que

transmitia ao vivo, direto da sede da emissora, uma programação variada e com

forte apelo popular, colocando-se como principal diversão dos canoinhenses.

Também os aspectos de segurança e saúde foram atendidos, pois em 1949

foi construído o quartel do 30 Batalhão de Polícia Militar, o qual trouxe a Canoinhas a

centralização dos serviços da PM na região.

Em 05 de novembro de 1950, foi inaugurado o primeiro pavilhão do novo

edifício do Hospital Santa Cruz.

2.4.3.2 Anos 1950 – União Fortalece Setor – uma política organizacional

Em 25 de maio de 1950, surgiu a Federação das Indústrias do Estado de

Santa Catarina (FIESC). Esse dia, oficialmente, é lembrado como dia da Indústria.

Seis anos mais tarde, a Associação Comercial e Industrial de Canoinhas

(ACIC) foi fundada, aos 31 dias do mês de maio de 1956, em um dos salões do

Clube Canoinhense, por representantes das classes industriais e comerciais do

município. Por aclamação, foi eleito o Sr. Osmar do Nascimento como presidente, o

qual relatou a todos, na abertura dos trabalhos, a razão daquela reunião,

enfatizando a necessidade de uma organização, à qual compete o amparo e a

defesa dos seus interesses.

Segundo Tokarski (2002, p.118):

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[...] a entidade foi fundada em 17 de março de 1931 por Rodolfo Olsen e a primeira tentativa de reorganização ocorreu em 1946, sob a presidência de Orestes Procopiack, sem que lograsse êxito nos seus propósitos.

Assim, após 25 anos da primeira tentativa de se organizar uma associação,

aos 10 dias do mês de junho de 1956, realizou-se uma assembléia geral para

aprovação dos estatutos, fixação das contribuições e eleição da primeira diretoria.

Os primeiros aspectos tratados pela Associação foram para mobilizar forças,

no sentido de melhorar o fornecimento de energia elétrica para o município, visto o

drástico racionamento que vinha sofrendo.

(Ata Assembléias Extraordinárias da Acic de 29/12/1956) Em 10 de novembro de 1959, a diretoria da Acic, liderada pelo presidente Sr. Francisco Wilmar Friedrich compareceram a estação ferroviária do distrito de Marcilio Dias para recepcionar o Dr. Getulio Moura, presidente da Rede Ferroviária Federal e sua comitiva que estavam de passagem por esta estação em trabalho de inspeção do sistema, ocasião em que foram oferecidas duas barriquinhas de erva-mate, como gentileza da Acic – Associação Comercial e Industrial de Canoinhas. Na oportunidade foi tratado da supressão da estação férrea de Marcilio Dias e construção de outra nova no Bairro Xarqueada. Quanto ao transporte de madeira serrada de imbuia, foi solicitado o fornecimento de vagões na ordem de chegada dos navios (Ata ACIC 16/11/59)

“Se analisarmos a história da criação das associações, todas elas surgiram de

uma necessidade: aqui não foi diferente”, lembra o ex-presidente da ACIC, Romeo

Vier (2006, p.14).

Essas necessidades são percebidas logo nas primeiras reuniões. Um dos

primeiros assuntos pautados pela entidade foi a precariedade da Canoinhas Força e

Luz, companhia de energia elétrica que era o terror do empresariado local. O

racionamento de energia prejudicava a produção. Boa parte das máquinas era

submetida à precariedade das caldeiras. Com o avanço da tecnologia em municípios

vizinhos, o empresariado não se conformava com as restrições que retardavam o

crescimento da economia local. Era inadmissível às empresas canoinhenses

crescerem com o racionamento de energia elétrica. Depois de muita pressão, anos

depois, a energia permanente, sem quedas ou períodos de racionamento, foi

padronizada.

As conquistas alavancadas pela ACIC, a partir daí, não foram poucas. A

Associação esteve presente nas mais importantes tomadas de decisão do poder

público, influenciou e continua influenciando nas questões que são determinantes

para o progresso econômico do município como, por exemplo, o asfaltamento dos

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acessos a Canoinhas, instalação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e

Pequenas Empresas (Sebrae), Planorte e Junta Comercial, construção do Centro

Comercial e a Travessia Urbana na BR-280, nos trechos de acesso a Canoinhas;

Todas essas conquistas, aliadas a muitas outras, se devem à união de uma

classe interessada em progredir.

2.4.4 Preocupação Ambiental e Busca por Avanços

Em 21 de julho de 1951, o jornal Correio do Norte (1951, p.1) publicou

entrevista com Afonso Maria Cardoso da Veiga, chefe do serviço de Fomento da

Produção Vegetal em Santa Catarina que alerta para a devastação florestal. Ele

afirma que:

Possuímos um Código Florestal de teor avançado que, segundo informes chegados ao meu conhecimento, mereceu sua tradução para diversas línguas. Para nós, ele tem um grave defeito. É amplo, tão rigoroso e tão técnico, que não pode ser posto em execução.

Pela primeira vez se vê um registro jornalístico local que foca a questão da

necessidade de preservar as reservas florestais.

Em 4 de agosto desse mesmo ano, uma reunião presidida pelo então

governador Irineu Bornhausen, com os prefeitos da região, expõe cinco

reivindicações, visando aumentar e facilitar o transporte da produção madeireira – 1)

energia elétrica; 2) transportes; 3) fomento para a agroindústria; 4) impostos e

evasão de rendas e 5) proteção ao comércio legal (CORREIO DO NORTE, 1951a).

Como se vê, as coisas não mudaram muito. O primeiro resultado desta reunião, veio

cerca de um mês depois: o governador de Santa Catarina Sr. Irineu Bornhausen e o

prefeito de Canoinhas (SC), Sr. Benedito Therézio de Carvalho se movimentam para

construir uma rodovia ligando Canoinhas a BR-2 (hoje Br 116).

Nessa época, a Lumber já havia sido nacionalizada e fazia parte dos

empreendimentos geridos pela Superintendência das Empresas Incorporadas ao

Patrimônio Nacional. O órgão era diretamente vinculado ao gabinete da Presidência

da República. Com a posse de Getúlio Vargas na presidência e o início da escassez

de madeira na região, a Lumber demitiu num primeiro momento, 100 operários (Ibid.,

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1951b), seguem-se outros 18 (Ibid., 1951c). O assunto rende manchetes nos jornais

Correio do Norte e Barriga Verde por várias edições.

A maior revolta é com a dispensa dos funcionários sem a indenização prevista

nas leis criadas por Vargas. Na edição 181, de 1° d e dezembro de 1951 do Correio

do Norte, é divulgada a implementação do Campo de Manobras do Exército nos

terrenos da Lumber, em Três Barras.

Na edição 256 do jornal Correio do Norte (1953)9, Aroldo Carvalho assina

artigo defendendo a Lei da Gralha, em defesa do reflorestamento com pinheiro

nativo, advertindo que a seca e o árido nordestino foram produzidos pela devastação

das matas.

2.4.5 Anos de 1950

Uma das casas comerciais mais populares da cidade foi fundada em 1937 por

Henrique Zugman. Além da loja Novo Mundo (onde hoje está instalado o

Supermercado Novo Mundo), os Zugman tinham uma fábrica de camas e um

descascador de arroz.

Em 1951, a direção da empresa passou para os herdeiros de Henrique

Zugman, os filhos Nathan, Saul e Isaac. Das pequenas serrarias da empresa surgiria

a Indústria Zugman, dissolvida na década de 1980 para dar vez à Lavrasul, de

propriedade da mesma família, que mantém suas atividades ligadas ao setor

madeireiro.

2.4.5.1 Indústria Urano Madeireira Ltda.

Organizada em 26 de fevereiro de 1955 por Gernold Bolmann, Orlando Santi

Gatz, Walfrido Witt, Manoel Granemann Costa, Octavio Granemann Costa, Orestes

José de Souza, Altino Granemann e Manoel Granemann Souza, teve como diretor

9 Lei da Gralha – lei em defesa das matas de araucária

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técnico Geraldo Bolmann, especialista em artefatos de madeira. A Urano fabricava

brinquedos, que eram vendidos a comércios de São Paulo e Rio de Janeiro.

2.4.5.2 Dietrich Siems & Cia Ltda.

Fábrica de esquadrias e madeiras beneficiadas, fundada em 1951 por Dietrich

Siems, Jacob Scheuer e Paulo Bohor. A Dietrich Siems estava localizada no bairro

Água Verde. As esquadrias eram, em boa parte, vendidas a Curitiba e Joinville.

2.4.5.3 Beneficiadora São Luiz Ltda.

Firma de Antônio Tomporoski, Luiz Salomon e Milton Silva, localizada no Alto

das Palmeiras. Especializada no beneficiamento de madeira.

2.4.6 Conclave Socioeconômico da Região Norte Catarinense

Entre 11 e 13 de setembro de 1959, Canoinhas foi sede de um importante

Conclave SocioEconômico que reuniu representantes de toda a região. Foi um

momento histórico para a indústria regional que rendeu um documento que

estabeleceu as principais diretrizes dos mais importantes setores industriais da

região.

Curioso constatar a discussão sobre reflorestamento discriminada no relatório

final do conclave. Herbert Ritzmann e Wiegando Olsen desenvolveram um plano de

reflorestamento embasado nas raízes históricas do assunto.

Relatam os empresários que Osny Duarte Pereira et all., na obra Direito

Florestal Brasileiro (1959, p.93) cita que o culto à silvicultura e proteção florestal

entre as primitivas civilizações “dá-nos conta de que a História Chinesa registra, na

dinastia de Chow, que durou de 1.122 A.C. a 255 A.C., uma recomendação imperial

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para conservar as florestas”. Chin, primeiro imperador da dinastia seguinte, célebre

por suas extravagâncias, determinara a queima de todos os livros existentes, exceto

os que se referiam a árvores e florestas, o que denota o apreço, já naquele tempo,

dedicado a essa riqueza natural. Ainda segundo o mesmo autor citado no conclave,

Tang (220-265) determina de modo explícito o reflorestamento de áreas

desmatadas. Sung (420-589) divulga métodos de agricultura e silvicultura. Ming, cuja

dinastia vai de 1.368 a 1.644, criou estações experimentais, sendo, daí por diante,

“notável o desenvolvimento na China, em tão importante setor, básico para a

sobrevivência desse grande povo dono de uma cultura e tradição milenares” (Ibid.,

p. 93). À época, cita o texto que foi discutido no conclave, a China ministrava cursos

universitários de Reflorestamento em 25 universidades e colégios.

Também os japoneses desenvolveram acendrados cultos à árvore e cuidaram

da conservação de matas ou zonas florestais, principiando daí, a preocupação de

evitar a formação de desertos e o perigo da erosão. “Esse, ao que sabido, o mais

recuado registro da História, com referência à questão” (PEREIRA et al. apud

RITZMANN; OLSEN, 1959, p.94).

Posteriormente, todas as nações e povos europeus vieram exercitando o

reflorestamento e elaborando leis protetoras, compreendendo a importância capital

da influência climática, prevenção da erosão e diminuição das reservas de águas e,

mais propriamente, da extinção da madeira, tão necessária à vida do homem. No

Brasil, desde os mais remotos tempos, existem normas protetoras contra incêndios.

Segundo Ritzmann e Olsen, citando Henrique Boiteux (Id. Ibid.):

[...] as medidas protetoras em Santa Catarina iniciaram-se com a Lei n.903, de 5 de setembro de 1911, no governo de Vidal Ramos, que autorizou o Poder Executivo a ceder à União as terras devolutas necessárias e indispensáveis à reserva florestal perpétua. Em seguida, vieram as Leis n. 997, de 6 de outubro de 1914, do governo Felipe Schmidt, e 1629, de 4 de outubro de 1928, do governo Adolfo Konder. ‘Não ficou nestas Leis, apenas, mas igualmente em outras posteriores, o registro da preocupação dos governantes, inclusive de Santa Catarina, de preservar o solo brasileiro da pobreza decorrente de uma devastação florestal’.

Relatam, os autores que, em Três Barras, a Lumber, que serrava diariamente

800 toras de pinho, imbuia e cedro, não se dava ao trabalho de replantar tais

espécimes.

Deixava quanto ao pinheiro, à gula da gralha a execução de seu contrato. Atrás de si, como registro macabro de sua devastadora ação, deixou uma

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terra exaurida e uma cidade empobrecida. Tudo levou e nada deixou, em troca, de favorável. Apenas a desolação e a miséria (Id. Ibid.).

Com a criação do Instituto Nacional do Pinho, em 1941, surgiu em Três

Barras a Estação Florestal dos Pardos, dando início ao replantio em fase

experimental e em larga escala. Foi o início da participação do Estado no replantio

do pinheiro ou araucária brasiliana (ou brasiliensis), provendo a formação de novos

contingentes de pinheiros, avançando na região pela iniciativa particular.

Para Ritzmann e Olsen, citando Pereira et al. (Id. Ibid.) “à iniciativa particular

deve também, ser concedido papel preponderante”. Os autores sustentam ainda que

o Estado devesse participar como simples financiador, provedor ou orientador

técnico, “ensejando, assim, maior resultado, no conjunto”. Apontam ainda que

Canoinhas é o município do Norte Catarinense mais apropriado para o replantio da

araucária.

2.4.6.1 Propostas do conclave

Ritzmann e Olsen (1959, p.95) referem-se a Pereira et al., relatando as

seguintes conclusões, apresentadas ao Conclave SócioEconômico da Região Norte

Catarinense:

- Que, por intermédio do Ministério da Agricultura ou do Instituto Nacional do Pinho, se organize, dentro do município de Canoinhas, inicialmente, ampliando futuramente para as demais, de preferência entre os pequenos proprietários, 300 hortos florestais de um a dois alqueires cada, premiados ou pagos como abaixo descrevemos: Em um alqueire de terreno, previamente escolhido por um técnico (de preferência onde já houve pinheiros, para assim evitar o mais possível, o exame do subsolo, e também para evitar fracassos futuros), que, nesse alqueire de terreno, sejam plantados, dentro da área do pequeno proprietário, nas distâncias tecnicamente indicadas de 2x2 e 2x3, um total de seis mil pinheiros. - Uma vez preparado o terreno, as sementes plantadas e germinadas, o proprietário perceberá o seguinte: Prêmio de Cr$ 1,00 (um cruzeiro) por pinheiro plantado e germinado, ou seja, Cr$ 6.000,00 (seis mil cruzeiros) pelas seis mil unidades plantadas, prêmio esse que perceberá por 10 anos consecutivos, quando então terá percebido, como prêmio total, a importância de Cr$ 60.000,00 (sessenta mil cruzeiros) por alqueire plantado. - Terminados esses 10 anos, será obrigatoriamente feito o desbaste de acordo com a orientação técnica dada pelos órgãos competentes. Até o 5.º ano, porém, o proprietário obrigar-se-á, inclusive, a manter o terreno limpo, para franco desenvolvimento da árvore, de cuja época, então, para diante, o horto não terá necessidade de maiores cuidados, podendo então deixá-lo

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ao seu desenvolvimento natural, apenas cuidando que não seja atingido por fogo, e que não sofra danos de animais viciados em comer cascas de pinheiros. Para prevenir incêndios se obrigará, também, a manter aceiros contra fogo. Assim, teríamos um custo para a nação, de Cr$ 10,00 (dez cruzeiros) por pinheiro plantado com 10 anos de idade, quando então terminará o pagamento do prêmio anual, e os pinheiros ficarão sendo de propriedade exclusiva do proprietário do terreno, sem nada ter de indenizar ao órgão que patrocinar os prêmios. - Nesta idade, quando então for obrigatório o desbaste por parte do proprietário, orientada por órgão técnico, a renda deste desbaste também será receita que reverterá em benefício do proprietário do terreno. Devemos frisar especialmente a grande vantagem destes pequenos hortos, na proteção contra incêndios. Sendo todos isolados uns dos outros, dificilmente poderá haver perdas motivadas por fogo e facilitará o controle contra pragas já existentes. Estamos sugerindo estas pequenas áreas, devido à facilidade de cada proprietário cuidar melhor, a um preço reduzido, do que, no futuro, será seu. As pequenas áreas não irão prejudicar o desenvolvimento normal da lavoura. Outro fator importante é a distribuição pelo município ou região, evitando-se ainda, com isto, que as grandes indústrias se utilizem deste financiamento ou prêmio, que não irá preencher a verdadeira finalidade que se quer alcançar. Na consecução de tal objetivo, dever-se-á ter a preocupação da simplicidade e facilidade de execução e contratação entre o pequeno lavrador e o órgão controlador, considerando-se, em especial, a generalizada simplicidade do primeiro. Assim fazendo, teríamos uma área reflorestada de, no mínimo 300 alqueires inicialmente, a um custo final e conjunto, para a nação, de 18 milhões de cruzeiros e, ao ano, de apenas um milhão e oitocentos mil cruzeiros, que serão compensados pela produção, por outro lado, para a nação de um milhão e oitocentos mil pinheiros.

Em 12 de setembro de 1959, reunidos no Clube Canoinhense, as sugestões

de Olsen e Ritzmann, citados por Pereira et all. (1959), foram aprovadas por

unanimidade.

O parecer ressalta ainda que o orçamento da União para 1960 previa

Cr$500.000,00 em favor do município de Rio Negrinho, destinados para

reflorestamentos.

Aos 04 de julho de 1960, em reunião realizada nas dependências da

Sociedade Beneficente Operária (SBO), a Acic dava posse ao novo presidente,

Francisco Vilmar Friederich, para o biênio 1960/1962. Em discurso, o Dr. Aroldo

Carneiro de Carvalho, então deputado federal, declarou:

[...] e que este órgão, é a Acic, em cuja frente destaca-se a pessoa batalhadora, dinâmica do Sr. Francisco Vilmar Friederich. Relembrou ainda, que na ocasião em que a Comissão de Energia Elétrica havia ido à Florianópolis, para pleitear medidas para a solução do problema da energia, ele, lá estava também, dando a sua colaboração. Continuando em seu discurso, disse que se rejubilava com o progresso de Canoinhas e achava que os canoinhenses deveriam mudar de orientação, do individualismo para o espírito coletivista, a exemplo do vale do Itajaí: ‘Deveríamos congregar-nos em sociedades anônimas, permitindo assim, uma maior expansão do progresso do município e cuja responsabilidade deixava nas mãos da Acic, no sentido de congregar os esforços visando o bem comum’ (ACIC, 1959 – 1961).

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Nota-se, na mensagem do então deputado federal Aroldo Carneiro de

Carvalho, uma preocupação com os rumos da orientação de desenvolvimento do

município, onde estava prevalecendo o individualismo em detrimento do coletivo.

Segundo Sachs (2001, p.155) citado por Arbix; Zilbovicius e Abramovay:

[...] uma situação muito mais comum, entretanto, é a do crescimento pela desigualdade, com efeitos sociais perversos: a acumulação de riqueza nas mãos de uma minoria, com a simultânea produção de pobreza maciça e deterioração das condições de vida. Nos casos extremos, estamos na presença de crescimento com dês-desenvolvimento [...].

Em 05 de dezembro de 1960, em reunião da Acic, um dos assuntos foi a

proposta da criação dos municípios de Três Barras e Major Vieira. Fazendo uso da

palavra, o associado, Sr. Oldemar Mussi, empresário, manifestou-se contrário à

criação dos municípios. O Sr. Prefeito Municipal, Haroldo Ferreira, disse que em

virtude do atual governo estadual encontrar-se no final de mandato, acha que o

projeto passará na Assembléia Legislativa do Estado, embora venha a prejudicar

muito o município de Canoinhas (SC), com a criação de mais dois municípios. Foi

sugerido então a Prefeitura Municipal, que pedisse informações sobre dados

referente arrecadação dos dois distritos, bem como ao agente de Estatística Federal

desta cidade, com relação aos dados demográficos, a fim de serem informados ao

Governo do Estado e Assembléia Legislativa com voto de protesto desta

Associação.

Em reunião da Acic, em 17 de abril de 1961, foi expedido um telegrama

parabenizando ao Sr. Dr. José Ivan da Costa pela sua posse como chefe dos

Serviços Nacionais de Reflorestamento do Instituto Nacional do Pinho , solicitando a

execução do plano aprovado no Conclave Sócioeconômico Norte Catarinense, de

construir 50 pequenos hortos experimentais nesta região de Canoinhas (SC).

Na ata de 26 de fevereiro de 196210, em reunião, a Associação Comercial e

Industrial de Canoinhas decidiu enviar telegrama ao primeiro ministro, Tancredo

Neves; ministro da Viação e Obras Públicas, Vergilio Távora com o seguinte teor:

Associação Comercial e Industrial de Canoinhas vg atendendo apelo seus associados vg lança veemente protesto contra determinação extinção ramal ferroviário Canoinhas a Marcilio Dias [...]. Retirada ramal causará graves prejuízos Comércio e Indústria região Canoinhas, grande produtora madeiras vg herva-mate vg cerâmica e produtos agrícolas, com parque industrial em florenscência pt Medida causando revolta população virtude de

10 Ibid., p.26.

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ameaçar estagnação instalações de novas indústrias de base vg papel e celulose vg produtos de origem animal pt Confiando vosso alto espírito público, esperamos providencias sentido anulação ato. [sic].11

Em reunião da Acic, em 12 de agosto de 1963, consta na ata a presença do

representante da Câmara de Vereadores, Sr. Benedito Therézio de Carvalho Neto,

que assim falou:

[...] que informou a casa, estar a Câmara elaborando um projeto, com a finalidade exclusiva de acabar de vez, por meio de impostos e taxas cobrados devidamente, com o abuso das devastações de nossas reservas florestais, pois esta irregularidade está se verificando de modo assombroso. Todos na reunião apoiaram a iniciativa (ACIC, 1961-63. p., p.47).

Em 30 de julho de 1967, com a presença do Sr. Wilmar Dalanhol, diretor

financeiro das Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) realizou-se a reunião da

Acic, no qual o mesmo garantia o fim do problema da energia no município.

Salientou que a Empresa Nativa, firma especializada, estava contratada para efetuar

a nova rede de distribuição de Canoinhas (SC).

Os anos 1960 foram de grande tumulto na história política do País. O golpe

militar de 1964 colocou o Brasil em pane e refletiu em todos os setores da economia,

inclusive o madeireiro. Mudança de moeda (em 1967 passou de cruzeiros para

cruzeiros novos), alta inflação, balança comercial decrescendo, problemas nacionais

que influenciavam a todos.

Em Canoinhas, a crise de energia elétrica era um impasse para o

crescimento industrial. Parava maquinários, dificultava a produção e resultava em

dores de cabeça terríveis para os madeireiros. Empresas quase entraram na

interminável onda de falências, que se abateu sobre a indústria brasileira. Era

momento de inovar para sobreviver.

Com a criação do Banco Nacional da Habitação (BNH), em 1964, que

financiava a construção de imóveis de forma facilitada, a indústria da construção é

impulsionada e abre um mercado considerável para madeireiras, que passam a

fornecer esquadrias para as construções financiadas pelo BNH.

Em 1967, enfim, a Canoinhas Força e Luz S.A. foi incorporada à Celesc.

A cidade toda aplaudiu a feliz e esperada decisão, certa de que o Governo do Estado nos olhará com maior carinho e atacará de pronto e de rijo a nova rede de distribuição da cidade, única solução para resolver, em curto prazo, o nosso problema energético em grande área da cidade (CORREIO DO NORTE, 1967, p.1).

11 Reprodução do telegrama na integra.

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Mesmo com crise, em 1968, surge no município de Canoinhas (SC) o Bairro

Industrial n. 01, onde a empresa Industrial e Comercial Fuck S.A. é a primeira a

instalar-se no bairro, onde permanece até hoje com o carro-chefe da Fuck, a

fabricação de portas.

Pouco depois, a Irmãos Zugman, especializada na produção de painéis

compensados, se instala no bairro.

Em 1969, a empresa Rigesa, de Três Barras, anunciou investimentos na construção de uma nova fábrica de celulose e papel Kraft e expansão da fábrica já existente. Os investimentos foram da ordem de NCr$ 75 milhões (cruzeiros novos) (CORREIO DO NORTE, 1969, p.1).

2.4.7 Anos 1970 – Sinais de Recrudescimento

Com a implantação dos reflorestamentos de pinus houve sinais de

recrudescimento, ou seja, uma renovação com maior intensidade a qual foi destaque

na edição n.1069 de 21 de março de 1970, do jornal Correio do Norte, que descreve

um teste de laminação de toras de Pinus elliotti feito pela empresa Rigesa Celulose

Papel e Embalagens Ltda. com uma tora fornecida pela empresa madeireira

Abrahão Mussi S.A, cuja experiência foi das mais positivas.

Embora as novas experiências trouxessem esperanças para os madeireiros,

no entanto, eram cada vez mais evidentes os sinais de que a madeira estava

escassa e que novas alternativas eram necessárias para que a indústria não falisse

por falta de matéria-prima. O pinus viria a ser o grande alavancador do processo de

transformação da indústria madeireira na região.

Em 1978, a Empresa Industrial e Comercial Fuck S.A. dá um sinal de arrojo e

compra a antiga empresa Covema, fábrica instalada em Três Barras, produtora de

chapas de compensados e laminados. Nos barracões da Covema, a Fuck passa a

produzir chapas compensadas e beneficiamento de lâminas faqueadas, que até hoje

são comercializadas com o mundo inteiro, sendo que 90% da produção da unidade

Fuck Compensados destinam-se ao mercado externo.

Em 1979, não somente as madeireiras, mas todas as empresas

canoinhenses que tinham dificuldade em escoar sua produção, receberam um

alento: o Governo do Estado inaugurou a Rodovia Miguel Procopiak, mais conhecida

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como SC-280, que liga Canoinhas ao município de Mafra.

2.4.8 Anos 1980 – Crise se Instala

A devastação florestal empreendida pela indústria madeireira era evidente no

início dos anos 1980. Os reflorestamentos de Pinus elliottii, no entanto, começavam

a apresentar resultados e a encorajar novas empresas como a Comércio e Indústria

de Madeiras São Francisco Ltda. (Cisframa) que, além de trabalhar com a madeira,

recebe boa parte de sua renda da venda de energia excedente que produz em sua

caldeira. Atualmente, a central elétrica da empresa opera à plena capacidade,

atendendo as necessidades térmicas do processo, para o funcionamento da serraria

e da fábrica e, ainda, vendendo cerca de 2.800 kW médios de energia excedente à

concessionária local, Celesc.

A década de 1980 é conhecida como a “década perdida”12, uma referência à

estagnação econômica vivida no Brasil, e conseqüentemente, pela região, quando

se verificou uma forte retração da produção industrial e um menor crescimento da

economia como um todo. Para a maioria dos países, a década de 80 é sinônimo de

crise econômica, volatilidade de mercados, problemas de solvência externa e baixo

crescimento do PIB. No Brasil, a década de 80 trouxe o final do ciclo de expansão

vivido nos anos 70 (milagre econômico)13.

12 A década perdida , é uma referência à estagnação econômica vivida pela região durante a década de 80, quando se verificou uma forte retração da produção industrial e um menor crescimento da economia como um todo. Para a maioria dos países, a década de 80 é sinônimo de crises econômicas, volatilidade de mercados, problemas de solvência externa e baixo crescimento do PIB.No Brasil, a década de 80 trouxe o final do ciclo de expansão vivido nos anos 70 (milagre econômico).Possui por características grande desemprego, estagnação da economia e índices de inflação extremamente elevadas. Houve também, na década perdida, perca do poder de consumo da população. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/A_d%C3%A9cada_perdida. Acesso em: 13. 09. 2008. [grifos no original].

13 O ‘milagre econômico’ é a denominação dada à época de excepcional crescimento econômico ocorrido durante a ditadura militar, ou anos de chumbo, especialmente entre 1969 e 1973, no governo Médici. Nesse período áureo do desenvolvimento brasileiro em que, paradoxalmente, houve aumento da concentração de renda e da pobreza, instaurou-se um pensamento ufanista de ‘Brasil potência’, que se evidencia com a conquista da terceira Copa do Mundo de Futebol em 1970 no México, e a criação do mote de significado dúbio: ‘Brasil, ame-o ou deixe-o’. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Milagre_econ%C3%B4mico >. Acesso em: 13. 09. 2008. [grifos no original].

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2.4.8.1 Crise atinge fabricantes de compensados de Canoinhas

O secretário Etevaldo da Silva, da Indústria e do Comércio, recebeu, na

manhã do dia 27 de maio de 1983, o deputado estadual Marcondes Marcheti e

empresários fabricantes de madeira compensada da região de Canoinhas, onde se

concentra cerca de 80% da produção catarinense.

Por meio da Secretaria da Indústria e do Comércio vieram solicitar o apoio do

Governo do Estado para que se encontrem soluções para dois problemas: a

arrecadação de impostos e as dificuldades financeiras. O secretário Etevaldo da

Silva foi informado de que as empresas do setor enfrentam uma grave crise com a

retração do mercado provocada pela paralisação da construção civil, especialmente

dos programas habitacionais e de obras públicas.

Os empresários pediram, inclusive, a intermediação do secretário num

encontro com o governador Esperidião Amin e com o Secretário da Fazenda, Arno

Batschauer, para exporem as dificuldades dos fabricantes de compensados, que já

estão dispensando empregados ou concedendo férias coletivas. Também

convidaram o secretário da Indústria e do Comércio a visitar Canoinhas para

conhecer a situação.

A reunião, destacada no jornal em 11/06/1983, contou com a participação do

secretário Etevaldo da Silva, deputado Marcondes Marchetti, do Partido Democrático

Social (PDS), e os empresários Saul Zugman, Luiz Fernando Freitas, da Indústria de

Madeiras Zaniolo S.A.; e Miguel Procopiack, presidente da Acic14.

Aliado à escassez da madeira, o cenário nacional não ajudava em nada as

madeireiras da região a sobreviver. Foi neste período que muitas empresas

diminuíram sua produção e outras faliram. Em fins da década de 1980, as

Madeireiras Zaniolo, Mussi e Olsen, ícones da ostentação e progresso, começaram

um lento processo de derrocada, ou seja, desmoronamento que culminaria em

meados da década de 1990. A crise não atingiu somente o setor madeireiro, mas

todos os setores da economia, com o fechamento, por exemplo, até de bancos,

como destaca o jornal:

14 CORREIO DO NORTE (1983).

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A exemplo de mais oito cidades de Santa Catarina, a agência do Banco Meridional de Canoinhas encerrou suas atividades nesta cidade na tarde de ontem. Com o fechamento do Meridional em Canoinhas, o número de agências bancárias na cidade fica reduzido a apenas cinco, enquanto cerca de nove funcionários ficam desempregados (CORREIO DO NORTE, 1986a, p.6).

Contudo, ao meio da crise, é concluída a construção dos 86 quilômetros da

rodovia BR 280, ligando Canoinhas a Porto União, sendo descrito no jornal o

material gasto na obra.

2.4.9 Anos 1990 – Outras perspectivas

A crise iminente se intensifica e, nos anos 1990, as madeireiras abrem

falências, as empresas Mussi, Olsen e Zaniolo.

Ao meio dessa crise, no final da década de 1990, surgiu uma nova empresa

madeireira no município chamada Tecnowood, especializada na produção e

comércio de pisos de madeira maciça pré-acabados, com produção totalmente

voltada para o mercado externo.

Fábio Nabor Fuck (2005, p.1), empresário do ramo madeireiro, em entrevista

concedida ao Jornal Correio do Norte, concorda que a madeira foi, por anos,

símbolo do progresso da região, especialmente de Canoinhas. Mas não acredita que

a falência de inúmeras madeireiras canoinhenses se deva somente à falta de

madeira. “A falência se deu por vendas mal feitas, processos de fabricação

obsoletos e produção cara, sem alternativas mais econômicas”, opina. Acredita

ainda que os empresários têm que sempre pensar em lucro. “É uma necessidade de

sobrevivência”, afirma.

Para Dinoh Corte (2005, p.1), oficial da reserva da Polícia Militar de Santa

Catarina e ex-comandante do 3O Batalhão de Polícia Militar de SC, sediado em

Canoinhas, em entrevista diz que, a derrocada da indústria madeireira foi motivada

pela extração desordenada - “Toda indústria que só extrai, desaparece”.

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2.4.10 Século XXI

Apesar de todos os problemas, nesta história dos últimos 67 anos do

município de Canoinhas (SC) relacionado com o seu desenvolvimento

socioeconômico, vinculado ao setor madeireiro, adentramos no século XXI, com

uma representatividade na economia do município de 40%, conforme quadro:

ATIVIDADES PORCENTAGEM ATIVIDADES

Madeireira 40% Fabricação de lâminas, chapas compensadas e aglomeradas, portas, janelas e papel.

Agrícola 22% Cultivo de fumo, milho, soja, feijão e outros.

Comercial 20% Ramo de móveis, eletrodomésticos e materiais de construção com a presença de grandes redes nacionais.

OUTRAS

Frigorífica 3% Abate de suínos e bovinos; preparação de carnes e seus sub-produtos.

Cerâmica 2% Fabricação de artefatos para a construção civil.

Erva-mate 2% Beneficiamento da erva-mate.

Serviços 11% Transporte de cargas. Hotéis, restaurantes, bares.

Quadro 5 – Aspectos econômicos do município de Cano inhas – SC Fonte: Prefeitura Municipal de Canoinhas (2008)

De qualquer forma, o segmento da madeira contribuiu para o

desenvolvimento do município de uma forma quantitativa, não atingindo o aspecto

qualitativo, cuja definição, segundo Boisier (1999, p.62) “o desenvolvimento bem

entendido é um fenômeno de ordem qualitativa, mesmo tratando-se de alcançá-lo

através de ações de tipo quantitativo”.

Assim, o desenvolvimento regional, nesta visão, precisa apoiar-se no conceito

de capital sinergético para articular nove formas de capital, quase todas de caráter

não concreto e que teriam capacidade de levar uma região no caminho seguro do

desenvolvimento.

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2.5 CANOINHAS E O DESENVOLVIMENTO DO SETOR MADEIREIRO

É incontestável que durante o desenvolvimento econômico do município de

Canoinhas, foi o extrativismo florestal a principal fonte de renda. Durante décadas,

Canoinhas teve marcante presença com suas madeiras, alimentando os ganhos

públicos e privados do Paraná e Santa Catarina, tendo chegado a ser a quinta

economia catarinense, alicerçada nos pilares da madeira e da erva-mate.

As duas últimas décadas do século XIX assinalaram o início do extrativismo

madeireiro no município. Mesmo de forma rudimentar, foi nesse tempo que se

instalaram as primeiras serrarias movidas pela força hidráulica, considerado como o

primeiro ciclo econômico regional.

Com a instalação da madeireira Southern Brazil Lumber & Colonization

Company, na então vila de Três Barras, mais a construção do ramal ferroviário

ligando o município de União da Vitória no Paraná ao porto de São Francisco do Sul

(SC), acelerou-se em todo planalto norte catarinense a atividade madeireira devido à

maior facilidade logística. Assim, fechava-se o segundo ciclo econômico regional.

A partir de 1920, a Cia. Lumber passou a terceirizar a extração da madeira e

a produção da madeira serrada, criando condições na região para que surgissem

diversas indústrias de pequenos e médios portes. Desta forma, estava inaugurada a

terceira fase do ciclo madeireiro na região, o mais longo e devastador que vai

perdurar até princípios da década de 1980.

As matas de araucária, imbuia e cedro sofreram desenfreada devastação,

porém, contribuíram para o crescimento econômico, até hoje sustentado na

exploração madeireira.

O quarto ciclo da exploração madeireira em Canoinhas (SC) inicia-se na

metade da década de 1950, quando regionalmente são introduzidas espécies

exóticas destinadas aos reflorestamentos, como o Pinus elliotti e o eucalipto.

O município de Canoinhas, a partir de 1956, com a chegada da empresa

Rigesa Celulose Papel e Embalagens Ltda., obteve, junto ao governo federal,com o

advento da lei de incentivos fiscais (Lei n. 5106, de 2 de setembro de 1966) ,

condições para que as indústrias de base florestal passassem a investir em plantios

florestais. Desta forma, dando início aos primeiros projetos de reflorestamento,

podendo deduzir as importâncias destinadas nas declarações de rendimentos. Após

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várias pesquisas, identificaram-se os Pinus elliottii e Pinus taeda como sendo os de

melhor adaptabilidade. No entanto, cabe lembrar que o objetivo da empresa era o

fornecimento de matéria-prima para a futura fábrica de papel e celulose, que viria a

funcionar efetivamente a partir de 1974. Porém, a empresa não se deteve naquelas

pesquisas iniciais, e apresentou estudos que buscavam respostas a problemas que

são tidos como verdadeiros problemas mundiais. Assim, ao dar continuidade,

verificou-se a necessidade de apresentar à região, alternativas para suprir a matéria

prima inclusive da indústria madeireira, isto porque a região havia passado por um

abrupto desmatamento.

Portanto, observou-se que era necessário substituir as florestas nativas para

a indústria madeireira o que provocou uma mudança local-regional, pois leis,

decretos e medidas provisórias foram formulados, a fim de garantir a perpetuação

deste segmento econômico, bem como a preservação da floresta nativa que ainda

restava. Com isto, os reflorestamentos começaram a se multiplicar ano a ano,

garantindo matéria-prima abundante e perene, aspecto que motivou uma nova

dinâmica no segmento da madeira.

Neste momento da história do segmento da madeira no município de

Canoinhas (SC), é lançada uma semente em termos de Desenvolvimento Regional,

pois estava se buscando uma estratégia, uma alternativa sustentável para uma

situação de adversidade, que era a escassez de florestas nativas que pudessem

manter a matéria-prima para as indústrias.

A partir daquele momento, conjecturando-se perspectivas, isto fez com que as

pessoas, agentes produtivos, instituições se mobilizassem, dando um sentido maior

ao trabalho, aumentando o espírito de cooperação.

No início dos anos 1970, começa o aproveitamento industrial dessas espécies

exóticas. Os incentivos fiscais também favoreceram a ampliação dos plantios,

iniciado na década de 1950, além da prática das primeiras restrições legais

destinadas à proteção ambiental.

Ainda neste início do século XXI, o gênero Pinus sp. é tido como principal

fomento da indústria madeireira de Canoinhas, garantindo o abastecimento do

mercado interno, as exportações e o emprego a centenas, senão milhares de

trabalhadores, cuja estimativa, para os municípios de Canoinhas, Três Barras, Major

Vieira e Bela Vista do Toldo, se aproxima aos 10 bilhões de árvores plantadas.

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Em 1980, o segmento da madeira representava 27.8% das indústrias do

município de Canoinhas, em 1990, passou a representar 44.9%, isto devido ao

surgimento de micro e pequenas empresas neste ramo. No ano de 1970, existiam

em Canoinhas 38 estabelecimentos industriais madeireiros que empregavam 1.081

pessoas, já em 1980, tínhamos 30 unidades que empregavam 3.033 pessoas ( IBGE

Censo Industrial 1970-1980 p. 17). A matéria-prima principal da indústria madeireira

é o pinus e o eucalipto oriundos da região, complementados com madeiras de lei

importadas do norte do Brasil.

No aspecto tecnológico, para a produção, somente as grandes empresas da

população pesquisada detêm tecnologia atualizada com padrão internacional, ou

seja 04 empresas, 10% do total. As demais se encontram defasadas em termos de

tecnologia.

O município de Canoinhas encerrou o ano de 2008, com 1.508 trabalhadores

vinculados ao segmento da madeira, representando 3% da população total do

município com produção de 960.000 unidades de portas, 120.000 m3 de chapas de

compensados e 72.000 m3 de madeira serrada.

2.6 MATERIAL E MÉTODOS

2.6.1 Caracterização do Estudo

Este trabalho consiste em uma pesquisa aplicada para esclarecer como se

deu o desenvolvimento do município de Canoinhas (SC), no período de 1940/2007

por intermédio do segmento da madeira. Através de um questionário aplicado aos

gestores das indústrias foram obtidas informações do atual cenário de

desenvolvimento e com a revisão de bibliografias, consultas a atas e estatutos de

associações, levantaram-se dados objetivos e subjetivos. Tendo como amostra os

empresários associados ao Sindicato da Madeira foram coletadas opiniões,

sugestões e houve a constatação de fatos.

A estrutura está fundamentada na normatização dos trabalhos acadêmicos da

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Universidade do Contestado.

2.6.2 População e Amostra

A população envolvida nesta pesquisa atinge a totalidade das empresas

cadastradas junto ao Sindimadeira – Canoinhas (SC), Sindicato dos Madeireiros de

Canoinhas, ou seja, é composta de um grupo de 42 (quarenta e dois) madeireiros ou

seus representados (diretores e/ou gerentes) denominados: Adélcio Paulo, Alma

Indústria e Comércio de Madeiras Ltda., Cimar Indústria e Comércio de Madeiras,

Cisframa Comércio e Indústria de Madeiras São Francisco Ltda.,Comercial Fedalto

Ltda., Compensados e Laminados Lavrasul S/A, Diter Hermann Muller, Eduardo

Francisco Gruber, Empresa Industrial e Comercial Fuck S/A, Exata Painéis, Indústria

e Comércio de Madeiras Artner Ltda., Indústria de Madeiras Steilen Ltda.Indústria de

Madeiras JCF Ltda., Justina Greim Fuck, Lauro Ademir Balão, Madeireira Balão

Ltda., Madeireira João Paulo, Madeireira Paul, Madeireira Salseiro, Manumad

Indústria e Comércio de Madeiras, Marcelo Munhoz, Matos Artefatos de Madeiras,

Miguel Freitas Sobrinho & Cia. Ltda., Neri de Santi, Ovande Martins & Cia. Ltda.,

Paulo Kriezinji & Cia. Ltda., Procopiak Compensados e Embalagens S/A, Raimundo

Dambroski, Roal Comércio de Madeira Ltda., São João Madeireira, Sebastião

Gracias de Almeida, Serraria e Beneficiamento de Madeira Sebema, Serraria Jodiras

Ltda., Serraria Osmar, Tamacon Indústria e Comércio Ltda. Tecnowood, Valdir

Giovani Lazzari, Voigt & Ferreira Ltda., White Stone Comercial Exportadora Ltda.,

Wrubleski & Cia. Ltda., Zaniolo Madeira e Agropecuária Ltda., ZM4 Indústria e

Comércio de Madeiras Ltda.

2.6.3 Instrumentos de Coleta de Dados

Os instrumentos de coleta de dados adotados neste trabalho foram

documentos, obtidos através de estudos em livros, atas, aplicação de questionário

aos gestores, bem como entrevistas com pessoas que estiveram envolvidas com as

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empresas do setor no período.

O município de Canoinhas (SC) tem, no segmento da madeira, uma das

molas propulsoras de sua economia, sendo responsável por 40% da movimentação

financeira, demonstrado no Quadro n. 5.(Prefeitura Municipal de Canoinhas – 2008)

Para o desenvolvimento da pesquisa, buscou-se as empresas cadastradas no

Sindicato da Indústria de Serrarias, Carpintarias, Tanoarias, Madeiras

Compensadas, Aglomerados e Chapas de Fibras de Madeira de Canoinhas,

totalizando 42 empresas,

O estabelecimento desta classificação foi adotado baseando-se, na empregada pelo FIESC (1999), em semelhança com a classificação empregada pelo SEBRAE, que distribui as empresas da seguinte forma: de 0 a 19 empregados – micro empresa, de 20 a 99 empregados – pequena empresa, de 100 a 499 empregados – média empresa e, empresas com 500 ou mais empregados são consideradas grandes empresas (MAIEVSKI, 2002, p.96).

A Classificação das Empresas conforme filiação do Sindimadeira no Município

de Canoinhas (SC):

CLASSIFICAÇÃO DA EMPRESAS MICRO MÉDIA GRANDE TOTAL

Absoluto % Absoluto % Absoluto % Absoluto % 38 87,50 1 3,12 3 9,38 42 100

Tabela 5 - Classificação quanto ao tamanho das empr esas filiadas ao Sindimadeira – Canoinhas (SC) Fonte: Dados da Pesquisa (2008)

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2.7 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

A população do universo da pesquisa, em seu início, ano de 2008, era de 42

empresas associadas ao Sindimadeira, a qual, no decorrer da mesma, constatou-se,

que dez delas já não existiam, sendo: Adélcio Paulo, Cimar Indústria e Comércio de

Madeiras, Eduardo Francisco Gruber, Indústria e Comércio de Madeiras Artner Ltda.,

Madeireira João Paulo, Miguel Freitas Sobrinho & Cia. Ltda.,Raimundo Dambroski,

Sebastião Gracias de Almeida, Serraria e Beneficiamento de Madeiras Sebema, e

Zaniolo Madeira e Agropecuária Ltda.

A partir da questão problema voltada para a população deste universo de

pesquisa elaborou-se 07 questões, que pudessem dar alguma resposta à seguinte

indagação: “Que influências sociais, culturais e econômicas determinaram o

desenvolvimento do município Canoinhas após a introdução das espécies exóticas

no setor madeireiro?”. Junto aos 32 representantes das empresas, o primeiro

questionamento foi sobre quais produtos que foram fabricados nas últimas 6 (seis)

décadas.

PRODUTOS DÉCADA DE 1940

Nativo

DÉCADA DE 1950

Nativo

DÉCADA DE 1960

Nativo

DÉCADA DE 1970

Nativo Pinus Madeira Serrada 54 200 120 80 2 Caixas 05 05 05 05 Lâminas 03 03 03 08 Móveis 04 04 06 06 Montagem de carroças

20 12 06 1

Carpintarias 14 11 7 3 Brinquedos 1 Compensados 03 03 Tabela 6 – Produtos fabricados nas últimas seis déc adas em Canoinhas (SC) Fonte: Dados da pesquisa (2009)

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É observável que entre a década de 1950 e 1960 o auge do setor madeireiro

era o extrativismo das espécies nativas, araucária, imbuia e canela guaicá, pois os

dados da quantidade de madeira serrada ficaram entre 200 empresas, em 1950,

com a redução para 120 empresas, no ano de 1960. Destaca-se que em, 1970 o

número de estabelecimentos reduz para 80, despontando o início com duas

empresas explorando a espécie exótica do pinus.

DÉCADA DE 1980 DÉCADA 1990 ANO 2007 PRODUTOS Nativo Pinus Eucalip

to Nativ

o Pinu

s Eucalip

to Nativ

o Pinu

s Eucalip

to Madeira Serrada 16 16 16 16 16 16 Madeira Beneficiada 20 22 22 22 22 Produto sob projeto 02 02 Compensados 03 03 03 03 03 Portas 03 03 03 03 03 03 Clears, Blocks Fingers

03 05

Caixas de madeira 02 02 04 Móveis 04 01 03 Cavaco/Serragem 01 Camas 01 Carrocerias 01 01 01 Lâminas 01 01 01 Componentes p/cabos vassouras

01 01

Tabela 6 Continuação – Produtos fabricados nas últi mas seis décadas em Canoinhas (SC) Fonte: Dados da Pesquisa (2009)

Em anos anteriores a 1990, em destaque na Tabela 6, a madeira nativa era a

matéria- prima mais usada, tanto de origem da região, como oriunda do norte do

Brasil. O pinus, na década de 1980, começava com duas empresas a ser introduzido

e ganhar corpo em função da escassez das nativas, e o eucalipto praticamente não

era usado. Já é observável que na Tabela 6, no final dos anos 1980 e meados da

década de 1990, o número de empresas já chega em 16 na exploração direta do

pinus. Entretanto, observa-se que ocorreu em 2007 a redução para duas empresas

explorando a madeira nativa e o número de 22 empresas explorando o pinus e o

eucalipto.

Na década de 1990, a madeira nativa ainda era bastante usada, proveniente

do norte do Brasil. As leis ambientais não permitiam mais o corte de árvores nativas

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e o pinus passou a ser usado em grande escala, sendo que o eucalipto, neste

período, ainda era madeira para o futuro.

No ano de 2007, o pinus foi a matéria-prima da indústria da madeira,

juntamente com o eucalipto, formando produtos chamados de ecológicos, não

necessariamente, cada vez mais exigidos pelos consumidores.

Observando-se a tabela 6 pode-se concluir que não houve inovação que

consiste na introdução de novas combinações produtivas ou mudanças nas funções

de produção, cujo conteúdo é dado tipicamente por novos produtos, novos métodos

de produção, abertura de novos mercados, novas formas de organização e que

constituem o impulso fundamental que aciona e mantém em movimento a máquina

capitalista. Em nenhum momento, ao longo desses 67 anos, houve uma mobilização

do setor para construção de um projeto de desenvolvimento com mais participação

social, mais eqüidade e sustentabilidade. Os avanços se revelaram pequenos, onde

a grande maioria das empresas não acompanhou a evolução tecnológica, a qual

poderia proporcionar agregação de valor aos produtos. Elas se limitaram a produzir

o que era mais simples e rápido de transformar em valores, deixando de melhorar o

sistema, com novas metodologias de trabalho, investimentos nas habilidades

humanas, para conseguir uma maior eficácia.

A explicação dada por um dos empresários para a não inovação em produtos

foi de que a cultura dos empresários da madeira sempre foi a de produzir grandes

volumes, desde o início das atividades, ou seja, portas, compensados, serrados, os

quais são considerados commodities, produto básico, cujo preço é determinado pelo

mercado internacional. O potencial florestal da região não gerou renda e agregação

de valores em função de diversos fatores, entre eles a forma de gestão, que se

mostrava individualizada, sem integração visando ao bem coletivo.

Na questão sobre cultura da produção, com a transição da matéria-prima

nativa para o pinus, os resultados constam na Tabela 7:

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Aspectos Respostas Escassez matéria prima, necessidade 20 Adaptação gradativa a madeira de pinus 01 A partir dos incentivos governamentais para solucionar a falta de matéria-prima nativa

01

Avanço da agricultura 01 Não trabalham com madeira de pinus 05

Tabela 7 - Cultura da produção do setor madeireiro que passou do extrativismo à produção com madeiras de reflorestamentos Fonte: Dados da Pesquisa (2008)

Neste questionamento, 71,42% das respostas foram que a necessidade

obrigou, confirmando os relatos históricos de que a grande maioria dos madeireiros

não acreditava na espécie pinus como alternativa para a indústria madeireira,

chegando-se, segundo relatos de um empresário, após ter sido plantado mais de 20

hectares da espécie, a mandar arrancar toda a plantação.

A adaptação gradativa, a partir dos anos 1980, após todos os incentivos

governamentais efetuados na década de 1960, foram iniciativas de poucos

empresários, os quais hoje detêm maior poder de competição em Canoinhas. Outro

aspecto relatado também foi o fator agricultura, a produção de batatas, que com a

chegada dos agricultores japoneses, na década de 1970, necessitando de vastas

áreas para o plantio, devastaram grandes áreas de matas nativas, as quais foram

em sua maior parte queimadas.

Segundo relato de um dos empresários, eles eram comunicados que na

semana X a colônia japonesa iria derrubar florestas na localidade Y, assim quem

quisesse aproveitar um pouco da madeira que se preparasse para retirá-la. Como

era impossível de se acompanhar o ritmo da derrubada, efetuada com tratores de

esteira, a maior parte das árvores eram amontoadas e queimadas ou simplesmente

apodreciam. O avanço da agricultura e o desperdício da matéria-prima básica da

indústria da madeira mostravam a escassez e as dificuldades futuras, levando todos

a buscar a alternativa pinus para a continuidade da empresa.

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Espécie Respostas Sim Respostas Não % Araucária (Araucária Angustifolia)

23 79.4%

Canela-Guaíca ((Ocotea Puberula)

13 44.8%

Pessegueiro Brabo (Prunus Sellowii)

06 20.7%

Bracatinga ( Mimosa Scabrella)

19 65.5%

Cedro ( Cedrela Odorata) 03 10.3% Vassourão Branco (Piptocarpha Angustifólia Dusén

02 6.9%

Nenhuma 03 Tabela 8 – A possibilidade do desenvolvimento de pe squisas com espécie nativa economicamente viável Fonte: Dados da Pesquisa (2008)

Torna-se visível, na tabela 8, que existe um desejo latente nos empresários

de que fosse viabilizada alternativa para a produção com espécies nativas da região,

além das espécies exóticas pinus e eucalipto.

Alguns empresários entusiastas disseram que é possível abastecer o mundo

com madeira de qualidade e maior dureza. Algumas das espécies citadas pelos

empresários com possibilidades de tornarem-se economicamente viáveis, como o

Vassourão, Canela Guaicá, Cedro e Pessegueiro Brabo, segundo Facin (2005), já

possuem um estudo detalhado ao longo de toda a cadeia produtiva das essências,

iniciando com trabalhos referentes à germinação de sementes e encerrando com a

utilização do material. Ressaltando ainda e recomendando a continuidade dos

estudos das características físicas e mecânicas destas espécies para melhor

conhecer e divulgar o seu potencial madeireiro e, assim, impulsionar o seu manejo e

cultivo, como alternativas ao reflorestamento que hoje é quase que totalmente

voltado à monocultura de espécies exóticas.

Segundo um dos empresários, o pinus, na época, impediu a evolução das

pesquisas para o melhoramento genético da araucária, o qual já vinha sendo

estudado, inclusive com um experimento apresentado no Conclave Socio econômico

da Região Norte Catarinense, realizado em setembro de 1959, no qual os senhores

Herbert Ritzman e Wiegando Olsen apresentaram uma proposta para reflorestar

com araucária e apresentaram os dados estatísticos de amostras com 17 anos.

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(CM) (M3) (M3)

UNIDADE DIAMETRO M/3 PARCIAL M/3 TOTAL

01 Pinheiro 08 0.060 0.060

03 Idem 11 0.069 0.207

06 Idem 14 0.112 0.672

04 Idem 17 0.146 0.584

17 Idem 20 0.230 3.910

16 Idem 22 0.276 4.416

22 Idem 25 0.358 7.836

18 Idem 28 0.450 8.100

18 Idem 30 0.518 9.324

12 Idem 33 0.638 7.656

06 Idem 36 0.744 4.464

08 Idem 39 0.870 6.960

02 Idem 42 1.110 2.220

133 Unidade 56.409

Quadro 5 - Pinheiros plantados em setembro de 1942 – Distância entre árvores 3x3m Fonte: Ritzmann; Olsen (1959, p.97) – Adaptado por Nascimento (2008) Nota: Resultado: Comprimento médio do tronco – 24 pés – 7,32 metros

Média 0.424 m/3 por pinheiro em 17 anos Pinheiros plantados em setembro de 1942 – Distância 5x7m Resultado: Comprimento médio do tronco – 22 pés 6,70 m.

UNIDADE DIAMETRO M/3 PARCIAL M/3 TOTAL 01 Pinheiro 11 0.063 0.063 03 Pinheiros 20 0.210 0.630 06 Idem 22 0.254 1.524 04 Idem 25 0.328 1.312 20 Idem 28 0.412 8.240 28 Idem 30 0.472 13.216 33 Idem 33 0.572 18.876 26 Idem 36 0.680 17.680 19 Idem 39 0.798 15.162 05 Idem 42 0.926 4.630 02 Idem 44 1.018 2.026 03 Idem 47 1.160 3.480 01 Idem 50 1.314 1.314 151 Idem 88.163

Quadro 6 - Pinheiros plantados em setembro de 1942 – Distância entre árvores 5x7m Fonte: Ritzmann; Olsen (1959, p. 98) Nota: Média 0.583 m/3 por pinheiro em 17 anos - variedade Caiová

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Observa-se que a preocupação com a sustentabilidade e renovação das

matérias-primas para manter a indústria da madeira com essências nativas, com

pequeno grau de melhoramento, vem de longa data, infelizmente a teoria nem

sempre se torna prática e a experiência deste caso não se tornou realidade. Isto

também em função das políticas públicas incentivarem, na época, somente o

reflorestamento com essências exóticas. Nenhum empresário em sã consciência

investiria em algo incerto e duvidoso, mas sim naquilo que era um programa de

governo, do momento, que dava todo o apoio e subsídios.

Segundo Carvalho (2008, p.3), “diversificar as espécies de árvores para a

produção de madeiras é uma questão de sobrevivência”; este alerta foi feito em um

encontro da Associação Catarinense de Empresas Florestais, realizado na

Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa

Catarina (Fapesc). O pesquisador lembrou-se da árvore de canafístula plantada no

oeste do estado de Santa Catarina, que tolera solos de baixa fertilidade e cresce três

metros por ano, além de dar belas flores amarelas. Citou também a bracatinga, que

lembra a espécie carvalho e é usada em móveis de luxo que fazem sucesso no

exterior. Disse ainda que há que se usar melhor nossos recursos naturais, mas para

isso é preciso ter ajuda do governo, linhas de crédito e financiamento à pesquisa.

Segundo os empresários, um grande projeto deveria ser elaborado visando

ao desenvolvimento florestal do município, estruturado na criação de um

zoneamento ambiental onde as espécies nativas citadas poderiam ser plantadas e

futuramente exploradas, formando um ciclo perpétuo como o do pinus e eucalipto

nos dias atuais.

Uma das sugestões seria fazer uso do espaço pertencente ao IBAMA e

Campo de Instrução Marechal Hermes (CIMH), no município de Três Barras, para

instalação de um viveiro permanente em parceria com Universidade e outros órgãos

no desenvolvimento das sementes e seu melhoramento genético. Sugeriu-se,

durante a pesquisa que também espécies nativas de árvores frutíferas fossem

plantadas para manter a fauna e a flora da região.

Esses corredores ecológicos poderiam ser aproveitados de forma sustentável,

atendendo necessidades diversas e melhorando a qualidade de vida e o meio

ambiente.

Os empresários também entendem que o município deveria delimitar espaços

para o plantio de pinus, evitando a pressão sobre o que resta de mata nativa. Se

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houve o tempo em que a vilã destruidora da floresta nativa era a pecuária e a

agricultura, nos dias atuais é muito forte a demanda por áreas para reflorestamentos

com pinus, o que tem ocasionado muita devastação, mesmo em locais considerados

de preservação permanente.

Alternativas Respostas % Sim 06 17.70 Não 22 69.80 Não Responderam 04 12.50

Tabela 9 - A mão-de-obra atende as necessidades do setor madeireiro, na busca de qualidade e produtividade Fonte: Dados da Pesquisa (2008)

Nesta questão, pode-se observar que 69.80 % dos empresários concordam

que a mão-de-obra não atende as necessidades do segmento, não há iniciativas

nem dos empresários e órgãos de ensino profissionalizante de se investir forte na

qualificação, buscar alternativas de valorização do segmento, pois conforme a

opinião de empresários, os jovens de hoje consideram ser depreciativo trabalhar na

área de produção de uma fábrica de produtos da madeira, pois a indústria é pobre

no sentido de não pagar um salário condizente, não proporcionando perspectivas

mais concretas como ocorre com outros segmentos, devido ainda à existência de

mentalidade extrativista.

O alto índice de rotatividade existente comprova a afirmação do empresário,

que julga necessário um grande projeto para solução desse problema, com escolas

profissionalizantes, mudanças na legislação trabalhista que permitam ao jovem

aprendiz, na faixa etária de 14 a 15 anos, estagiar em empresas com o objetivo de

conhecer, experimentar, desenvolver suas aptidões e tomar gosto pela atividade. É

necessário romper o paradigma, criar um novo modelo de valorização do segmento,

uma mudança organizacional que, segundo Amboni e Andrade (2007, p.161-2),

“podem ser planejadas e não planejadas”. A mudança planejada pode ser definida

como aquela promovida pela organização, para que esta se ajuste às mudanças no

ambiente externo e alcance novo objetivos. A mudança planejada pode ser definida

também como o projeto e a implementação deliberados de uma inovação estrutural,

de uma política ou objetivo, ou de uma mudança na filosofia, no clima ou no estilo

gerencial. A mudança planejada busca preparar toda a organização para se adaptar

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à mudança significativa em seus objetivos e direcionamentos. Geralmente são três

os motivos básicos para a realização das mudanças: as mudanças do ambiente

direto e do indireto ameaçam a sobrevivência da organização; as mudanças

ambientais oferecem oportunidades de prosperidade; a estrutura da organização

está reduzindo sua velocidade de adaptação às mudanças ambientais.

Desta forma, o segmento econômico da cadeia produtiva da madeira, no

município de Canoinhas, em função das dificuldades oriundas em relação à mão-de-

obra (capital humano) e sua melhor qualificação profissional, bem como inserção

como cidadão nestes tempos de globalização, deve buscar nos conhecimentos

científicos do Serviço Social, através de uma gestão social, as melhorias

necessárias para enfrentar a competição.

Partindo dos objetivos corporativos, o profissional do Serviço Social pode

buscar articular valor, fins e modalidades de intervenção capazes de tornar a ação

profissional apta a ser reconhecida pelo requisitante-empregador, quebrando assim

o paradigma de que o assistente social realizará somente o assistencialismo.

A gestão social deve ser implementada como um gerenciamento nesta

cadeia, visando à inserção social do trabalhador, transformando-o em um ser

cidadão, com direitos, deveres, reduzindo os conflitos, criando um espírito

cooperativo, onde a promoção social contribua para a reintegração da força de

trabalho às novas exigências do processo de acumulação de capital.

Portanto, na cadeia produtiva da madeira, no município de Canoinhas, urge

por parte dos empresários reverem seus conceitos sobre a gestão social, pois ela

poderá responder crítica e criativamente às exigências colocadas pela

reestruturação produtiva, defender suas condições de trabalho e resistir às práticas

de passivização que são, a rigor, os grandes desafios que estão postos para o

assistente social e para os demais trabalhadores “que vivem do seu trabalho”

(MOTA, 2000, p. 118-9).

Como conseqüência da agregação de conhecimento aos trabalhadores, via

gestão social, incorporando-o de fato e de direito ao sistema, fazendo-o poder

exercer a cidadania na acepção da palavra, ter-se-á maior probabilidade de obter-se

produtividade e poder de competitividade, e todos ganharão, culminando com o

desenvolvimento. Segundo um empresário e outros autores, um trabalhador

qualificado proporciona 20% a mais em termos de produção sem aumento de custo,

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gerando, portanto, redução de desperdícios e, conseqüentemente produtividade

superior. Entretanto, as empresas não investem em treinamento, qualificação.

Requisitos Número de Respostas Projeto macro 28 Cooperação 28 Valorização 28 Tecnologia 28 Gestão Profissional 02 Aproveitamento integral das florestas 01 Políticas públicas 28

Tabela 10 - Requisitos necessários para que o setor madeireiro continue tendo capacidade de competir Fonte: Dados da Pesquisa (2008)

Basicamente toda a população do universo de pesquisa foi unânime em dizer

da necessidade de um projeto macro para o segmento da madeira, o qual deverá

contemplar todos os aspectos da gestão, recursos humanos, tecnologia, pesquisa e

desenvolvimento.

Entretanto, ficou evidente que nada mudará se o setor não iniciar um

processo de articulação no sentido de cooperação, fator este que passa pelo

conceito de capital social, aspecto propulsor do desenvolvimento. No entendimento

de Robert Putnam, citado por Birkner (2006, p.15), o termo está relacionado às

“características da organização social como confiança, normas e sistemas que

contribuam para aumentar a eficiência da sociedade, facilitando as ações

coordenadas”

Uma alternativa para ser inserida em um projeto no segmento da madeira

seria o de Sistemas, arranjos e núcleos produtivos locais. Os Sistemas Produtivos

Locais (SPLs) representam uma fase evolutiva em termos de divisão de tarefas

entre as diversas empresas que o constituem. As sinergias resultantes dessa

complementaridade e especialização tendem a favorecer a eficiência coletiva,

facilitando a inovação e gerando benefícios para os produtores e mercados

envolvidos com o negócio.

Nos sistemas produtivos locais

[...] a interdependência, articulação e vínculos consistentes resultam em interação, cooperação e aprendizagem, com potencial de gerar o incremento da capacidade inovativa endógena, da competitividade e do desenvolvimento local. Exemplos de sucesso destes sistemas são a

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produção de calçados no Vale dos Sinos no Rio Grande do Sul, a região da Itália conhecida como ‘Terceira Itália’ e o Vale do Silício nos Estados Unidos (AMORIN, 2007, p.69).

Neste projeto de reorganização do segmento da madeira, questões como a

valorização do madeireiro, rompendo o paradigma de destruidor da natureza e a

revisão das leis ambientais seriam os primeiros passos para a retomada da auto-

estima dos empresários do setor que entendem que políticas públicas para o setor

florestal e madeireiro deveriam ser implementadas da mesma forma que ocorrem

com o agronegócio, isto em função da representatividade do setor para a economia

do Brasil.

Conforme constatado na pesquisa, ouvindo-se explicações dos empresários,

as leis ambientais não promovem a proteção ambiental, mas sim, possibilitam a não

proteção. Segundo eles, a lei é rigorosa, mas faltam projetos que permitam o

aproveitamento das espécies como araucária, as quais poderiam ser replantadas.

Hoje a espécie é cortada ao nascer para evitar o crescimento, desta forma, a lei não

protege a natureza, mas sim a prejudica. Este é um aspecto crítico urgente a ser

equacionado para a sobrevivência do setor, afirmam.

Outro aspecto relatado pelos empresários é a questão da gestão do

segmento da madeira, o qual não se enquadrou nas necessidades do mundo

globalizado. Prevalecendo uma gestão familiar que não possui as habilidades

necessárias para adaptar-se aos novos tempos de concorrência acirrada e

mudanças organizacionais.

Assim, na composição deste projeto macro, seriam contemplados todos os

aspectos apontados pelos empresários na Tabela 10, buscando novas técnicas de

gestão, sistema de qualidade, certificação, programas de desenvolvimento de

produtos, formação de mão-de-obra técnica e gerencial, apoio para a participação

em feiras e rodadas de negócios, infra-estrutura para atividades cooperativas (

instalações, equipamentos e laboratórios), formação de mão-de-obra em Pesquisa e

Desenvolvimento com universidades, inserção nos programas de apoio à exportação

e incentivo a programas de responsabilidade social.

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Aspectos Número de Respostas Custo Brasil 28 Burocracia 28 Carga Tributária 28 Logística 04 Cambio 04

Tabela 11 - Dificuldades do setor madeireiro no mun icípio de Canoinhas (SC), com a atual situação econômica do país Fonte: Dados da Pesquisa (2008)

Todos os aspectos enumerados nas respostas dos empresários se encaixam

nas questões de Custo Brasil, que segundo o Dicionário Houaiss (2001) significa o

conjunto dos custos da produção no Brasil em relação aos dos concorrentes

estrangeiros, ou seja, burocracia, carga tributária, logística, câmbio, entre outros, os

quais, de longa data, afligem o empresariado brasileiro. Não há linhas de crédito

específicas para o setor, os empresários têm pouco conhecimento dos programas

de financiamento e por isso grandes dificuldades para ter acesso. Quando

conseguem créditos, há uma demora excessiva para a concessão. A carga tributária

penaliza o segmento que ainda sofre concorrência predatória com a guerra de

preços.

Fatores Número de Respostas Infra-estrutura 23 Reflorestamentos 23 Tecnologia 23 Agricultura 23 Mão de Obra 23 Comércio 23 Nenhum 05

Tabela 12 - Fatores que podem ser incluídos no dese nvolvimento econômico de Canoinhas (SC) Fonte: Dados da Pesquisa (2008)

Sem dúvida, os fatores de desenvolvimento apontados pelos empresários

advindos do segmento da madeira proporcionaram o crescimento do município de

Canoinhas (SC), apesar de que alguns responderam que não existe nenhum.

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Boisier (2006, p.69) escreve o conceito de desenvolvimento que se encontra,

no momento,

[...] numa fase de transição entre a antiga concepção, que o assimilava à idéia de crescimento econômico e, por conseguinte, a algo objetivo, quantificável e associado à conquistas materiais, e a nova concepção, que o representa como processo e estado intangível, subjetivo e intersubjetivo, e que está associada mais com atitudes e menos com conquistas materiais.

Desenvolvimento sustentável é “o desenvolvimento que satisfaz as

necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras gerações

satisfazerem as suas próprias necessidades” (RELATÓRIO BRUNDTLAND, 1987,

p.9 apud MOLINA In: SIEDENBERG, 2006, p.73.)

Segundo Siedenberg (Ibid., p.83), “a estratégia que enfatiza o

equacionamento das necessidades básicas como modelo de desenvolvimento

configurou-se a partir da década de 1970”. A adoção de políticas

desenvolvimentistas baseadas na modernização, durante a década de 1960, trouxe

certo grau de crescimento econômico para alguns países, sem que os mesmos

obtivessem resultados satisfatórios na esfera social.

Partindo destas abordagens de Desenvolvimento Regional, Desenvolvimento

Sustentável e estratégia como modelo, os empresários do segmento da madeira

estão corretos em apontar aqueles fatores como inclusos no desenvolvimento do

município. Mesmo os que não apontaram nenhum fator também estão, tendo em

vista a obtenção de desenvolvimento quantitativo somente, pois o segmento não

proporcionou resultados no aspecto social.

Segundo Santos Sílva (2005, p.134), citando Tenani,

[...] argumenta que não há outra maneira de um país crescer de forma sustentada, senão por meio da acumulação conjunta dos dois insumos de produção: capital físico, por meio de poupança e investimento, e capital humano, pela educação; em decorrência afirma que capital humano e investimento em educação não estão ligados somente ao campo social, mas também ao campo econômico. O crescimento baseado apenas na acumulação de capital físico enfrenta difícil restrição econômica: é sujeito a retornos decrescentes de escala e, por isso, tende a se extinguir, uma vez que não é possível alocar os mesmos insumos de produção, indefinidamente, de maneira cada vez mais eficiente. Em médio prazo, a produtividade marginal desses insumos diminui, exaurindo-se o crescimento econômico, que pode tornar-se insuficiente até mesmo para compensar a depreciação do capital e o crescimento da população.

Daí que, reitera Tenani, sem o acúmulo de capital humano, não existe

crescimento econômico sustentado. A dinâmica que surge da interação entre

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poupança e educação tem por efeito influência mútua entre a produtividade do

capital humano e a do capital físico, resultando em que a lei dos rendimentos

decrescentes deixa de ser um fator limitante para o processo de crescimento

econômico. Portanto, países e regiões que possuem um sistema educacional mais

produtivo, gerando mais capital humano e mais qualificado, tendem a crescer mais

rapidamente, no médio e longo prazo.

2.8 CAPITAL SOCIAL, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, SINERGIA E A ATIVIDADE ECONÔMICA DA MADEIRA NO MUNICÍPIO DE CANOINHAS (SC)

Os desafios do terceiro milênio podem ser sintetizados na seguinte

expressão: “As coisas não acontecem; é preciso fazer com que aconteçam”

(RODRIGUES, 1997, p.18). Aspectos como recursos naturais escassos,

desestatização das economias, livre mercado forçam a uma nova percepção de

organização empresarial e desenvolvimento regional.

Esta mudança de paradigma implica em riscos e oportunidades, que

demandam novas idéias, metodologias e técnicas que possam melhorar o

crescimento econômico, dentro do contexto social, ambiental, político, cultural. Isto

passa pelo capital social, bem articulado, que deverá estar atento a estas

transformações.

Em Santa Catarina, foi criada pela Lei Complementar Estadual n. 243, de 30

de janeiro de 2003, as Secretarias de Estado do Desenvolvimento Regional

“que promovem o intercâmbio entre o governo do Estado, as Prefeituras Municipais

de sua região, órgãos federais, órgãos estaduais, indústria, comércio e turismo,

aportando recursos para o desenvolvimento da região” (SDR/CANOINHAS, 2008,

p.7).

Com este sistema descentralizado, o objetivo principal do governo é fazer

com que o capital social de cada região que detém uma secretaria se articule,

atingindo seus objetivos previamente projetados mais rapidamente, pois as

decisões, quando tomadas no nível mais próximo da população interessada,

garantem eficiência, eficácia e efetividade.

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Diante da realidade que nos aponta severas desigualdades regionais, expressas por meio de múltiplas escalas, o tema de desenvolvimento regional vem retomando importância crescente nos debates e na formulação de políticas públicas no Brasil. Depois de um período em que foi relegado a um plano por demais secundário, levando a um processo de desestruturação de instituições, de métodos, instrumentos e mecanismos, o tema foi resgatado [...] (ZAPATA, 2007, p.5).

O desenvolvimento regional é um fator motivador de muitos pesquisadores na

atualidade. Em nível mundial, se pode citar Putnam (2002), em sua obra

“Comunidade e Democracia a experiência da Itália Moderna”, evidenciando que a

descentralização político-administrativa do país, com a criação de governos

regionais foi fator preponderante para o desenvolvimento. A pesquisa também

mostra a importância do capital social, entretanto, enfatiza o efeito da ação das

instituições políticas sobre o mesmo.

O desenvolvimento regional é uma estratégia para mudar uma situação de

adversidade. O capital humano e o capital social são os eixos mais importantes

desta estratégia; o capital humano são as pessoas com habilidades e competências

enquanto o capital social são as pessoas articuladas e organizadas. Uma região

possui capital social quando existem organizações sociais atuantes, que se

comunicam entre si; quando existem confiança e espírito de cooperação entre as

organizações sociais e as instituições.

Esta estratégia chama para a ação, mobiliza as pessoas, os agentes

produtivos e as instituições, dá sentido ao trabalho, torna as pessoas da região

protagonistas e sujeitos da história.

Desenvolvimento Regional significa melhoria da qualidade de vida da

população, maior participação nas estruturas de poder, autonomia e independência,

compreensão do meio ambiente como ativo de desenvolvimento, igualdade de

oportunidades entre homens e mulheres, e a construção de novos paradigmas

éticos, que apontem para modelos de desenvolvimento mais sustentáveis que

contribuam para a felicidade e a realização humana.

Putnam (2002, p.177) afirma que a superação dos dilemas da ação coletiva e

do oportunismo contraproducente daí resultante depende do contexto social mais

amplo em que determinado jogo é disputado:

A cooperação voluntária é mais fácil numa comunidade que tenha herdado um bom estoque de capital social sob a forma de regras de reciprocidade e sistemas de participação cívica. [...] Aqui o capital social diz respeito a características da organização social, como confiança, normas e sistemas, que contribuam para aumentar a eficiência da sociedade, facilitando as ações coordenadas.

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Verificando-se todo o histórico evolutivo do município de Canoinhas (SC),

desde a fundação até o ano de 2007, fica evidente que a formação do capital social,

segundo a definição de Putnam (2002), ficou deficiente. O entrave da Guerra do

Contestado, nos primeiros anos da emancipação política do município, causou um

trauma na população, que levou alguns anos para recompor-se e ainda não está

recuperada.

As dificuldades para a formação deste capital social são observadas nas

tentativas de formação de uma Associação Comercial e Industrial, a qual foi

conseguida somente na terceira oportunidade, em 1956, vinte e seis anos após a

primeira, ocorrendo ainda liderada por uma força exógena.

Alguns empresários citaram a diversidade de etnias formadoras do capital

social do município de Canoinhas (SC), como fator de aumento do grau de

dificuldade para melhor articulação deste capital. O órgão representativo do

segmento da madeira, até maio de 1986, era a Acic. A partir de 13 de maio de 1986

surgiu a Associação Profissional das Indústrias de Serrarias, Carpintarias,

Tanoarias, Madeiras Compensadas e Laminados de Canoinhas, a qual foi

transformada em Sindicato (SINDIMADEIRA), em 04 de setembro de 1992,

constando no livro de atas número 1, página 1, o relato da Reunião da Fundação da

Associação, realizada em 13 de maio de 1986.

Segundo Ritzmann citado por Feger (2007, p. 8):

A criação de um Sindicato Madeireiro se fazia necessário na época, no sentido de organizar uma entidade que aglutinasse todos os empresários do setor, com o sentido de organizar as discussões, debates e reivindicações da categoria, que até então não tinha representação oficial na região. Além disso, os trabalhadores do ramo da madeira já estavam na época organizados e iniciavam suas reivindicações através de dissídio coletivo. Assim, era preciso que houvesse uma entidade patronal da categoria, para a discussão dos assuntos relacionados às relações trabalhistas. O Sindicato passou, então, a ter, significativa participação em todos os assuntos relacionados à economia da região, às reivindicações e às ações da iniciativa privada e também dos Poderes Públicos dos Municípios abrangidos pelo Sindicato.

Conforme empresários entrevistados é louvável a intenção do Sindicato,

entretanto Feger (Ibid., p.12):

[...] na análise ambiental do mesmo podemos identificar como pontos fracos a pouca participação dos empresários, falta de parcerias, poucos associados, dados ultrapassados, empresas inativas e outras sem conhecimento.

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Desta forma, empresários disseram que sem unidade não haverá mudanças,

mesmo com toda a infra-estrutura, reflorestamentos. Observa-se que o nível de

cooperação na instituição é bastante aquém do mínimo necessário, para que se

possa mudar o contexto de enfraquecimento da grande maioria da população

pesquisada, a qual vem confirmar a preocupação de empresários de que o

segmento da madeira em Canoinhas ficará na mão de poucos, estimando em 10%

dos cadastrados no Sindimadeiras.

Em 19 de novembro de 2008, com a manchete intitulada “Sindimadeira tem

novo presidente e empresários pedem união e fazem desabafo”, o Jornal Diário do

Planalto noticiou a mudança de diretoria do sindicato do segmento da madeira. O Sr.

Genésio Müzel Filho, presidente que deixou o cargo, manifestou-se em seu discurso

de despedida lembrando que é preciso união dos empresários, pois isoladamente

não há chances de vencer no mercado nacional e nem mundial. Ele citou o exemplo

dos ursos brancos do Pólo Sul, em que o segredo para vencer o frio intenso é andar

juntos, mantendo o calor e a harmonia do grupo. Representando o presidente eleito,

Norberto Fuck, o Sr. Miguel Procopiak ressaltou a importância da união para que o

Sindimadeira tenha sucesso nos seus projetos. O Sr. Prefeito Leoberto Weinert

disse que a madeira faz parte da história do Planalto Norte e que o Sindimadeira

merece respeito e, acima de tudo, apoio (SCHULKA, 2008).

O presidente da Acic, Sr. Rafael Mirando, fez um desabafo, dizendo que

madeireiro não é vilão e que as regras hoje impostas ao setor impedem que projetos

sejam executados. Criticou a falta de políticos que estejam ao lado da classe, bem

como normas que realmente ajudem no desenvolvimento do setor. Concluiu dizendo

que é preciso uma política inteligente e realmente voltada para os anseios dos

madeireiros.

Segundo Douglas North, citado por Santos Silva (2005, p.136),

[...] nenhum país consegue crescer de forma consistente por um longo período de tempo sem que antes desenvolva de forma sólida suas instituições. Por instituição ele entende uma legislação clara que garanta os direitos de propriedade e impeça o não cumprimento dos contratos firmados, um sistema judiciário eficaz, agências regulatórias firmes e atuantes.

Os empresários, nos diálogos durante a pesquisa, em suas colocações sobre

o desenvolvimento do segmento da madeira e do município, praticamente em outras

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palavras referiram-se ao que Boisier (2005, p.133) cita como elementos necessários

que devem estar presentes em qualquer território ou organização, sendo eles:

a) atores, b) instituições, c) cultura, d) procedimentos, e) recursos, e f)

entôrno. Basicamente a questão dos recursos para o desenvolvimento foi o aspecto mais abordado, sendo quatro as categorias: 1) Recursos materiais (recursos naturais, equipamento de infra estrutura e recursos de capital); 2) Recursos Humanos (não apenas em quantidade, mas sobretudo em relação a qualidade; 3) Recursos Psicossociais, que adquirem importância cada vez maior e são associados a questões como auto-confiança coletiva, a vontade coletiva, a perseverança, o consenso; 4) Recursos de Conhecimento (elemento fundamental para o desenvolvimento).

Entende-se por atores os individuais, os corporativos, os atores coletivos

identificados pelos movimentos sociais, os quais devem ter nas mãos o processo de

tomada de decisão. Observou-se que o comando da ACIC, desde sua fundação até

1986, esteve nas mãos de empresários do segmento da madeira. A partir de 1986,

com a criação do SINDIMADEIRA, a intenção era de ter-se um órgão exclusivo para

atender as necessidades do setor madeireiro.

Entretanto, diferentemente do ocorrido em municípios com o mesmo perfil,

no município de Canoinhas formaram-se grandes indústrias de compensados e

portas, mantendo-se na produção somente daquele produto. Não houve abertura

para o desenvolvimento de pequenos negócios, micro-empresas, que pudessem vir

a contribuir com as grandes com algum componente da produção.

Comparando-se com o município de São Bento do Sul (SC), a indústria foi

caracterizada por uma forte integração produtiva, a evolução da demanda e da

técnica levou à multiplicação de pequenas empresas especializadas, ocorreram

trocas de informações, de equipamentos, de matérias-primas. Houve cooperação,

expressa por relações informais entre as empresas, favorecida pela concentração

territorial, pelo pertencimento a uma tradição industrial e a uma comunidade

homogênea do ponto de vista cultural que se consolida por encontros freqüentes nos

diversos espaços de socialização existentes no município, ou seja, nas instituições

setoriais. Existem esforços constantes na busca da melhoria contínua, inovação,

para adaptação à evolução.

Enquanto em Canoinhas, entre 1970 e 1985, vislumbrava-se um futuro difícil

para o segmento madeireiro, São Bento do Sul revelava o seu dinamismo. Segundo

(RAUD, 1999. p.125), neste período, o número de estabelecimentos aumentou

203% no Brasil e 711% em São Bento; o número de empregos aumentou 113% no

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Brasil e 572% em São Bento, a produção aumentou 399% no Brasil e 2663% em

São Bento.

Entrementes, hoje o setor madeireiro de São Bento do Sul está passando por

drásticas transformações devido ao mesmo ter sido desenvolvido para o mercado

externo, e com a crise financeira mundial, iniciada nos Estados Unidos, o mesmo

vem acumulando altas quedas nos indicadores descritos no parágrafo anterior. Já

para o setor madeireiro de Canoinhas, que é diferente do de São Bento do Sul,

esses fatores externos pouco influenciaram, devido ao mesmo estar direcionado

principalmente ao fornecimento de produtos ao mercado interno.

Verifica-se que estes elementos apontados por Boisier, isoladamente não são

eficazes, como no exemplo citado na organização do setor madeireiro nos

municípios de São Bento do Sul e Canoinhas. Portanto, as lideranças, ou atores,

que deveriam chamar para si a responsabilidade da organização do sistema como

um todo, fazem com que as instituições locais desempenhem seu papel, visando ao

desenvolvimento qualitativo, e não conseguem atingir seus objetivos sem estarem

em sintonia com todos os elementos descritos pelo autor.

Mesmo com os setores organizados, os fatores internos e externos, que

muitas vezes não são controláveis, podem alterar todo um cenário desenvolvido em

pouco tempo, como o que está desencadeando com essa crise mundial instalada.

Não ocorreu equilíbrio no aproveitamento destes recursos em função da

desarticulação do capital social, gerando um desenvolvimento quantitativo em

detrimento do qualitativo. Segundo Peyrefitte (1999, p. 448),

[...] por trás das combinações entre capital e trabalho, por trás das mudanças tecnológicas e sociais, por trás das estruturas do intercâmbio e dos vaivéns da conjuntura, existem, sempre existiram, sempre existirão, as decisões, ou a desistência dos homens, sua energia ou sua passividade, sua imaginação ou seu imobilismo. É inútil procurar do lado de fora, no que os economistas chamam – palavra erudita – ‘externalidades’, a causa profunda dos avanços ou das estagnações. ‘Não vás para fora’, diz Santo Agostinho, ‘entra em ti mesmo, a verdade mora no interior do homem’. É em nós que reside o desenvolvimento. Enterrá-lo ou fazê-lo frutificar depende de cada ser.

Sinergia é definida como o efeito ativo e retroativo do trabalho ou esforço

coordenado de vários subsistemas na realização de uma tarefa complexa ou função.

O trabalho de equipe é quando um grupo ou uma sociedade resolve criar um esforço

coletivo para resolver um problema. Partindo deste pressuposto, observa-se que a

cultura individualista prevaleceu e continua prevalecendo no município. O que existe

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hoje é fruto de uma evolução de certa forma inconsciente, fundamentada em idéias

de uma minoria que direcionava e direciona os objetivos de acordo com seus

interesses. Existem coisas magníficas em Canoinhas, é apreciável o patrimônio de

riquezas. Mas, será que houve plena consciência da evolução que resultou na

estrutura socioeconômico hoje disponível? Sem dúvida, o trabalho foi árduo, foram

produzidas e criadas riquezas para se chegar à condição atual. Mas, não houve uma

dedicação maior para enxergar muito além do cotidiano e da rotina. A visão ampla

do horizonte distante não foi observada. Construiu-se o desenvolvimento, mas sem

torná-lo sustentável. Pode-se justificar que o planejamento foi construído por ações

intuitivas, conseguiu-se muito, mas poderia ter sido melhor.

Canoinhas poderia conhecer melhor a sua realidade. Serão suficientes os

estudos feitos até agora, sobre a situação atual e as perspectivas econômicas?

O investimento em pesquisas está adequado? Verifica-se que o segmento da

madeira praticamente não desenvolve nenhum estudo. A falta de compreensão dos

problemas leva à dispersão dos recursos, à duplicidade de esforços, às falências, às

crises e impossibilita a abertura de novas fronteiras, a aglutinação de todos em

grandes objetivos e o aproveitamento de todas as suas potencialidades. A falta de

conhecimento conduz a soluções caras, que refletem nos custos e ausência de

estudos distorce o entendimento da realidade, levando ao erro.

Jacques Le Goff, citado por Silveira (2005, p.439), afirmou que “a inovação

aparece em uma sociedade sob a forma de um regresso ao passado: é a idéia –

força das ‘renascenças’”.

Para que ocorra um processo sinérgico é necessária a mobilização e a

participação dos atores locais, ACIC, SINDIMADEIRA, SINDICATOS, EMPRESAS,

PREFEITURA, entre outros, criando uma instituição para o desenvolvimento local,

que estabeleça laços econômicos (para produção, o comércio, as infra-estruturas),

sociais e culturais. Formando assim uma aliança estratégica entre as empresas,

para unir as forças e compensar as fraquezas.

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3 CONCLUSÕES

O desenvolvimento do setor madeireiro, no município de Canoinhas (SC), no

período 1940 a 2007, aqui apresentado, percorreu diversos aspectos, desde a

importância da madeira para o progresso das civilizações e atendimento às

necessidades de vida da sociedade humana. Como fator fundamental, a extração da

madeira nativa impulsionou a economia, desencadeando uma série de outros

segmentos econômicos que contribuíram para o desenvolvimento socioeconômico

do município. A Lumber, como elemento positivo, representando tecnologia, gestão

profissional, evolução cultural, as influências nos costumes, no vestuário, na música

e a mesma Lumber como sinônimo de violência e devastação.

A estrutura fabril do município, na década de 1940, qualificou Canoinhas

como um pólo econômico no Estado de Santa Catarina. Houve o surgimento das

maiores madeireiras do município como Procopiack, Fuck, Zaniolo, Wiegando Olsen,

Zugman. A Associação Comercial e Industrial de Canoinhas, inaugurada em 1956,

desenvolveu seu trabalho como órgão oficial empresarial para organizadamente

ajudar nos inúmeros problemas da classe. As preocupações com o desenvolvimento

sustentável levaram a organização do Conclave Socioeconômico da Região Norte

Catarinense, em setembro de 1959, numa demonstração de preocupação com o

Desenvolvimento Regional. Na década de 1960, ocorreu o auge do setor madeireiro,

já na década de 1970, houve os primeiros testes com madeira de pinus e surgiram

sinais de exaustão de espécies nativas.

A inauguração,em 1979, da Rodovia Miguel Procopiack, BR 280, ligando

Canoinhas a Mafra, foi motivo de festa no município. Os anos 80 foram

denominados como década perdida, na qual o setor madeireiro padeceu, houve

escassez de matéria-prima, retração da construção civil e muitos aspectos

financeiros que levaram as grandes empresas a iniciar um processo de diminuição

das atividades. Nos anos 90 houve o fechamento de algumas empresas e novas

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perspectivas com a chegada de outras. Adentramos ao século XXI com o setor

madeireiro respondendo por grande parte do movimento financeiro do município,

indicando que, com algumas mudanças, poderá voltar a ter a representatividade de

outras épocas.

O advento do pinus surgiu como alternativa sustentável para manutenção da

indústria madeireira, com sua origem e adaptabilidade com o desenvolvimento das

pesquisas e a implantação gradativa da esperança.

Partindo-se dos conceitos sobre Desenvolvimento Regional e o

Desenvolvimento do Setor Madeireiro no município de Canoinhas, fundamentado na

pesquisa de campo, pode-se concluir que uma articulação coerente do capital social,

em cada momento dos períodos aqui relatados, poderia ter mudado a trajetória e

proporcionado maior vigor aos sobreviventes. As questões de inovação de produtos,

que se mostraram ao longo do tempo, analisados quase sem alteração, demonstram

que o capital econômico, os recursos financeiros que, de período em período,

deveriam estar disponíveis com finalidade de inversão na região não foram

disponibilizados.

O baixo nível tecnológico, a inexistência de relações com centros

tecnológicos e universidades, a falta de linhas de crédito e atividades de lobby junto

a órgãos governamentais, aumentaram o grau de dificuldade. O Capital Cognitivo, o

conhecimento científico e técnico disponíveis na região, poderia ser desenvolvido a

partir dos recursos naturais da região, especialmente a madeira. Observa-se, que

mesmo sabendo-se da futura escassez de matérias-prima, o segmento manteve a

mesma rota, não acreditando no fim das florestas nativas e na substituição por

exóticas e somente mudando por força das circunstâncias.

O desenvolvimento de pesquisas com essências nativas é algo latente na

grande maioria dos empresários e mesmo com a existência de pesquisas e

conhecimento à disposição, esse fato não se transforma em realidade prática

através de reflorestamentos.

As questões de qualidade e produtividade, que não atendem as necessidades

do setor, sendo um dos requisitos básicos para a capacidade de competir, vêm

comprometendo o segmento e nenhuma ação eficaz é desenvolvida.

O Capital Simbólico, o poder da palavra, o poder do discurso para construir a

região faz parte do Evangelho, segundo São João Evangelista “No princípio era o

Verbo”, para gerar imaginários, mobilizar energias. A auto-estima do empresariado

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do segmento da madeira está em baixa, por isso é necessária uma reciclagem

baseada neste capital para romper o paradigma atual.

O Capital Cultural, o acervo de tradições, os mitos e crenças, a linguagem,

relações sociais são componentes que melhoram e estruturam o desenvolvimento.

O Capital Psicossocial, os sentimentos, as emoções, as recordações são

fatores que podem melhorar a autoconfiança coletiva, a fé no futuro, proporcionando

capacidade para superar o individualismo. Desta forma, a desarticulação do capital

social não permitiu que cada um dos capitais pudesse ser gerido de forma a obter-se

um desenvolvimento sustentado.

Portanto, a madeira contribuiu para o desenvolvimento econômico

quantitativo do município, gerando fortunas que se concentraram na mão de poucos

e não contribuindo para uma evolução sociocultural da população a ela vinculada.

A manutenção do setor madeireiro no município ocorreu em função da

introdução da espécie exótica pinus, sem o qual a grande maioria já teria encerrado

as atividades.

Os eixos mais importantes para uma estratégia que dinamize os aspectos

produtivos, econômicos, potencializando as dimensões sociais, culturais, ambientais

e político - institucionais que constroem o bem estar da sociedade são o capital

humano, as pessoas com habilidades e competências e o capital social que é as

pessoas organizadas e articuladas. Assim, uma região ou organização depende do

capital social atuante, que se comunica entre si, inspirando confiança e espírito de

cooperação.

Sugere-se que o capital social, vinculado ao Sindimadeira, a população do

universo pesquisado neste trabalho busque nos conceitos de Desenvolvimento

Regional o elo perdido, para que possam obter desenvolvimento sustentado com

coesão social, integradas pela eqüidade, possibilitando a capacidade de competir. O

empresariado canoinhense do segmento da madeira deve atuar mais na defesa dos

interesses do setor, agindo mais em grupo, explorando todas as possibilidades

existentes para fazer um novo começo.

É importante destacar na conclusão, a dificuldade de disponibilidade de

dados relacionados ao setor madeireiro, como: produção, rotatividade de

funcionários, custos e lucratividade, projetos inovadores; como na cooperação entre

empresários que fazem parte do SINDIMADEIRA. Também, relata-se que o

Sindicato não tem infraestrutura suficiente para coordenar a cooperação entre

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empresas e empresários, de modo que projetos inovadores dificilmente surgirão

como respostas de sustentabilidade ao setor madeireiro. Uma das soluções

possíveis seria a de articular entre os atores envolvidos uma melhor cooperação e

desempenho voltados ao horizonte holístico e global do setor madeireiro e não

apenas em nível local, com interesses de alguns integrantes do sistema.

Por fim, as sugestões para trabalhos futuros, que podem seguir o seguinte

percurso:

a) Além dos dados apresentados neste trabalho, sugere-se que sejam

investigados novos dados de infraestrutura, de organização, de capital

social para o setor madeireiro, a partir da implantação do pinus.

b) Desenvolver um estudo sobre a formação de gestores, com funções

voltadas à valorização do desenvolvimento do ser humano, envolvido

diretamente na produção, chão de fábrica, do setor madeireiro.

c) Outra possibilidade para o setor madeireiro seria o de investigar todo o

manejo florestal das espécies nativas da região, bem como, as melhores

formas de exploração econômica das mesmas.

d) Um melhor estudo sobre as funções das instituições voltadas ao setor

madeireiro como: os sindicatos, associações, organizações

governamentais e não governamentais.

e) O desenvolvimento de um Cadastro Técnico Multifinalitário (CTMF) que

seja alimentado com dados georeferenciados, econômicos, sociais e de

infraestrutura voltados ao setor madeireiro.

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ANEXOS

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ANEXO 1 ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO DO SETOR MADEIREIRO NO MUNICÍPIO DE

CANOINHAS PERIODO 1940 A 2007

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ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO DO SETOR MADEIREIRO NO MUNICÍPIO DE CANOINHAS PERIODO 1940 A 2007

QUESTIONÁRIO DA PESQUISA DE OPINIÃO COM EMPRESÁRIOS

Nome: ........................................................................................................................................ E-mail: ........................................... ............................................................. Nome da Empresa ................................... .................................................................... Site da Empresa ................................... .......................................................................

1- Quais os principais produtos fabricados pela empresa neste momento? E

quais foram os produzidos em tempos passados (década de 1990 e anos anteriores)

2- Como V.S.a distingue a cultura da produção do setor madeireiro que

passou do extrativismo a produção com os reflorestamentos? 3- Na sua visão, é possível o desenvolvimento de pesquisas com alguma

espécie nativa, que possa tornar-se economicamente viável? 4- A mão de obra atende as necessidades do setor madeireiro, na busca de

qualidade e produtividade? Por quê? 5- Ao seu ver quais os requisitos necessários para que o setor madeireiro

continue tendo capacidade de competir? 6- Como você relaciona as dificuldades do setor madeireiro no município de

Canoinhas, com a atual situação econômica do país? 7- O município de Canoinhas desenvolveu-se tendo como base econômica a

madeira. A seu modo de ver: quais são os fatores que podem ser incluídos neste desenvolvimento?

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