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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CAMPUS CAMPINA GRANDE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL VANDERLEIA DOS SANTOS DESENVOLVIMENTO LOCAL E NOVAS RURALIDADES: representações do turismo rural no município de AREIA/PB CAMPINA GRANDE PB 2013

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

CAMPUS CAMPINA GRANDE

MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL

VANDERLEIA DOS SANTOS

DESENVOLVIMENTO LOCAL E NOVAS RURALIDADES:

representações do turismo rural no município de AREIA/PB

CAMPINA GRANDE – PB

2013

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VANDERLEIA DOS SANTOS

DESENVOLVIMENTO LOCAL E NOVAS RURALIDADES:

representações do turismo rural no município de AREIA/PB

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Desenvolvimento Regional,

Curso de Mestrado da Universidade Estadual

da Paraíba, em cumprimento à exigência para

a obtenção do grau de Mestre.

Orientadora: Profª. Drª. Ramonildes Alves Gomes

CAMPINA GRANDE – PB

2013

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É expressamente proibida a comercialização deste documento, tanto na sua forma impressa

como eletrônica. Sua reprodução total ou parcial é permitida exclusivamente para fins

acadêmicos e científicos, desde que na reprodução figure a identificação do autor, título,

instituição e ano da dissertação

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL - UEPB

S237d Santos, Vanderleia dos.

Desenvolvimento local e novas ruralidades [manuscrito] :

representações do turismo rural no município de Areia/PB /

Vanderleia dos Santos. – 2013.

159 f.: il. color.

Digitado.

Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional).

Universidade Estadual da Paraíba, Pró Reitoria de Pós-

Graduação e Pesquisa, 2013.

“Orientação: Profa. Dra. Ramonildes Alves Gomes,

departamento de pós-graduação em Ciências Sociais”.

1. Turismo rural. 2. Desenvolvimento local. 3. Engenhos.

I. Título.

21. ed. CDD 338.479 1

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DEDICATÓRIA

À minha querida mãe, Maria Angelina dos Santos (in

memoriam), uma mulher de coração e espírito abertos, pelo

apoio e incentivo que sempre me proporcionou, DEDICO.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pelas oportunidades oferecidas e pela força constante nas lutas diárias.

À minha mãe, Maria Angelina dos Santos (in memoriam), que em vida jamais

mediu esforços para me incentivar nesta longa caminhada.

À minha Orientadora, Ramonildes Alves Gomes, pela compreensão, paciência e

dedicação a mim destinadas.

A Luciana Gomes da Silva, pela amizade, apoio, pelos momentos de descontrações e

generosidade.

Aos mestres, pelos conhecimentos e direcionamentos oferecidos.

Aos entrevistados, pela atenção e colaboração, indispensáveis para a confecção do

estudo exposto.

A Todos os funcionários da Universidade Estadual da Paraíba, pelos serviços e

auxílios disponibilizados.

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“... exuberante vegetação cobria a terra feroz. A natureza

verde, de árvores gigantescas, na virgindade de seus

bosques, dominava pelos encantos dos morros até o alto

das quebradas, enquanto lá em baixo, nas várzeas do

massapé, entre fios perenes de água corrente, os partidos

de cana completavam o fundo da paisagem”.

(Horácio de Almeida, em Brejo de Areia)

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Resumo

O presente trabalho objetiva analisar as representações e as dinâmicas territoriais vivenciadas

no município de Areia, localizado no Estado da Paraíba, frente às novas configurações do

espaço rural e a emergência do turismo enquanto atividade alternativa para o desenvolvimento

local. Um dos princípios norteadores da abordagem diz respeito às influências que as

representações exercem sobre os diferentes atores sociais ante a emergência de uma “nova

ruralidade”, que se caracteriza por dinâmicas culturais, econômicas e sociais, mobilizando

lógicas que reforçam permanências e continuidades, favorecendo processos de transformação

e de manutenção das condições de sujeição. Nesse cenário, ganha destaque a presença de

atividades não agrícolas em propriedades, cuja tradição era a agricultura, mais

especificamente a monocultura da cana de açúcar, situação típica dos engenhos de mel e

melaço, cuja expressividade ultrapassa a importância econômica, sendo essas unidades

produtoras referências sociais e culturais, mas também de concentração e exploração de

centenas de famílias. Impulsionados pelo SEBRAE, Secretarias de Cultura e Turismo de

Areia, os proprietários rurais perceberam nos antigos engenhos um potencial para o turismo.

Com a possibilidade de incorporar os engenhos e os espaços circundantes à atividade turística,

estes passam a figurar como um dos principais atrativos da localidade, favorecendo

empreendimentos, como: restaurantes, trilhas ecológicas, casas artesanais, entre outros. Nesse

sentido, atores sociais que antes invisibilizados (como moradores e trabalhadores rurais sem

terra e sem direitos), têm suas possibilidades ampliadas a partir das demandas geradas pela

atividade turística na construção da nova ruralidade. Para realização da pesquisa, análise e

reflexões fez-se uso de um conjunto de técnicas de pesquisas entre as quais as entrevistas

semiestruturadas, foto documentação, observação direta, entre outros. Constatou-se, mediante

a realização do estudo, que existem diversas lacunas que impossibilitam colocar o espaço

rural areiense dentro do sistema de turismo, sendo a fragilização de seu sistema receptivo, a

estrutura modesta dos estabelecimentos locais e a insuficiente participação do poder público

no melhoramento da infraestrutura, alguns dos principais entraves ao estímulo da atividade.

Palavras- chave: Turismo Rural; Desenvolvimento Local; Engenhos do Município de Areia

PB;

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ABSTRACT

This paper aims to analyze the representations and territorial dynamics experienced in Areia,

located in the State of Paraiba, opposite the new settings of the rural and the emergence of

tourism as an alternative activity for local development. One of the guiding principles of the

approach with regard to the influences that representation has on the different social actors

against the emergence of a "new rurality" that is characterized by cultural, economic and

social dynamics. It mobilizes logics that reinforce permanence and continuities and also

favors transformation process and maintains conditions of subjection. In this scenario is

highlighted the presence of non-agricultural activities on properties whose tradition was

agriculture, specifically the monoculture of sugarcane, typical situation of mills that

manufactures honey and molasses. Whose expressiveness exceeds the economic importance

of these mills as social and cultural references, but also of exploration, concentration and

exploitation of hundreds families. Driven by SEBRAE and the Departments of Culture and

Tourism of Areia, the landowners realized the old mills as a potential force for tourism. With

the possibility of incorporating the mills and surrounding areas to tourism, they began to

appear as one of the main attractions of the town. It encourages developments such as:

restaurants, nature trails, craft houses, among others. In this sense, social actors before

invisible (as locals and landless rural workers with no rights), have expanded their scope from

the demands generated by tourism in the construction of the new rurality. To conduct the

study, analysis and reflections it was made the use of a set of research techniques including

semi-structured interviews, photo documentation and direct observation, among others. It was

found by the study that are several gaps that prevent putting the rural population of Areia

within the tourism system, being the embrittlement of its receptive system, the modest

structure of local establishments and insufficient participation of government in improving

infrastructure some of the main obstacles to stimulating the activity.

Keywords: Rural Tourism; Local Development; Mills of Areia PB;

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LISTA DE ILUSTRAÇÃO

Foto 1: Teatro Minerva e Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos .......................... 32

Foto 2: A “ Casa Grande” – Engenho Mineiro ..................................................................... 35

Foto 3: Solar José Rufino ..................................................................................................... 46

Foto 4: “Casa Grande” do Engenho Várzea (Museu da Rapadura) ..................................... 47

Foto 5: Depósitos de conservação da cachaça Triunfo ......................................................... 52

Foto 6: Fabricação artesanal da rapadura – Engenho Bujari ................................................ 54

Foto 7: Moenda utilizada para atração do caldo da cana-de-açúcar – Engenho Mineiro ..... 55

Foto 8: Dependências da Usina Santa Maria – década de 1970 ........................................... 84

Foto 9: Bairro Jussara ........................................................................................................... 86

Foto 10: Fábrica de Fiação e Tecelagem Arenópolis S/A, na década de 1980 .................... 87

Foto 11: Armazéns, almoxarifado e casa de força da fábrica Arenópolis S/A ..................... 87

Foto 12: Formas de ocupação do espaço rural areiense: antiga Usina Santa Maria e atual Vila

do Caroço .............................................................................................................................. 91

Foto 13: Centro Comercial início do século XX e inicio do século XXI ............................. 92

Foto 14: Centro de Artesanato “Arte na Mão” .................................................................... 109

Foto 15: Restaurante “Vó Maria”, na Chã do Jardim .......................................................... 110

Foto 16: Ornamentação regional do restaurante “Vó Maria” .............................................. 111

Foto 17: A Casa do Doce ..................................................................................................... 116

Foto 18: Floricultura Flores da Vila Real ............................................................................ 119

Foto 19: Casa artesanal no centro da sede municipal: A Talha ........................................... 121

Foto 20: Divulgação dos Engenhos Paraibanos .................................................................. 123

Foto 21: Dependências do Engenho Bujari ......................................................................... 125

Foto 22: Caminho do Engenho Mineiro .............................................................................. 128

Foto 23: Nos Caminhos do Engenho Triunfo ...................................................................... 131

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LISTA DE MAPAS

Mapa 1: Polígono de tombamento de 2006, do município de Areia .................................... 30

Mapa 2: Estado da Paraíba, com ênfase ao Brejo ( Areia em destaque) .............................. 33

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Engenhos da Zona Rural de Areia P/B ................................................................. 37

Tabela 2: Areia nos séculos XIX e XX: atividades e condições econômicas ...................... 38

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráficos 1: Índice populacional de 1970 a 2010 com intervalos de 10 anos ....................... 40

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Número de Engenhos de propriedade da Usina Santa Maria – 1978 .................. 39

Quadro 2: Principais produtos comercializados pelos engenhos areenses ........................... 42

Quadro 3: Fases do Desenvolvimento .................................................................................. 73

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LISTA DE FIGURAS

Figuras 1: Perspectivas Territoriais ...................................................................................... 26

Figuras 2: Formas e relevo do Estado da Paraíba – Areia em destaque ............................... 33

Figuras 3: Representações Territoriais de alguns dos atores sociais .................................... 66

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LISTA DE SIGLAS

AMAR - Associação dos Amigos de Areia

COOPERAR - Projeto Cooperar da Paraíba

EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural da Paraíba

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPHAEP - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Estadual

IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

MINC - Ministério da Cultura

PROÁCOOL – Programa Nacional do Álcool

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SESI - Serviço Social da Indústria

SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

UFPB – Universidade da Federal da Paraíba

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SUMÁRIO

Introdução ........................................................................................................................... 17

1. Território e Representações Territoriais: Conceitos e Análises ................................ 21

1.1.Noções Sobre Território .............................................................................................. 22

1.2.Caracterização Territorial do Município Areense: significância Material e Simbólica29

1.3.Representações Territoriais: construções simbólicas e relações sociais no espaço .... 49

2. Desenvolvimento Local: dinâmicas territoriais de significância espacial ................. 71

2.1. Desenvolvimento e Dinâmicas Territoriais: Conceito e Perspectivas ...................... 71

2.2. Histórico das Dinâmicas Territoriais e das relações de Poder no Município Areense78

3. Rural e Ruralidades: A formação do Espaço Turístico em Areia PB ....................... 98

3.1 O rural sob uma nova perspectiva .............................................................................. 99

3.2 Dinâmicas territoriais e configurações atuais do espaço rural areinse ..................... 106

3.3 O turismo rural e a dinâmica sociocultural e econômica dos engenhos areinses ..... 122

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 134

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ............................................................................ 139

ANEXOS ............................................................................................................................ 146

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INTRODUÇÃO

As articulações territoriais suscitadas mediante necessidades econômicas, sociais,

políticas, ideológicas e culturais, têm revestido o território de novas significâncias, abarcando

a perspectiva material e imaterial. Essa forma ampla de entendimento e apreensão inviabiliza

a análise do território apenas enquanto espaço físico, posto que, além de sua estrutura

concreta, palpável, ele também é constituído pelas atividades e relações humanas,

transformando-se em palco no qual se desenvolvem as dinâmicas forjadas pela sociedade.

Sendo assim, o território abarca uma dimensão conceitual ampla e complementar, que

integra a perspectiva materialista e idealista, no qual os atores sociais criam seus espaços de

vida, tanto sob a esfera funcional quanto subjetiva, simbólica. Essas formulações cotidianas

são constituídas por uma série de fatores que transformam o espaço e que por ele são

transformados. Um desses fatores faz referência às representações que o território suscita, em

se tratando de sua dimensão idealista.

As representações que são projetadas sobre o território são fruto da criação dos

símbolos e significados que nele se desenvolvem, e que são capazes de gerar a identidade de

um povo com seu espaço de convívio. Esse entendimento motiva as múltiplas ações dos

diferentes atores sociais sobre os espaços, possibilitando o surgimento de representações

pautadas nas construções históricas, nas ideologias dos diferentes grupos, e nos contextos

social, econômico, político e cultural.

O estudo das representações, enquanto pensamento social dinâmico e diverso, tem

recebido cada vez mais atenção quando se analisa as relações sociais de poder e os usos dos

territórios (concebido como espaço social construído). As representações são formulações de

sujeitos sociais sobre determinados objetos ou conteúdos, de acordo com as condições de

tempo e espaço nas quais estão inseridos. A produção dessas representações pelos atores

sociais possui alguns condicionantes, dos quais podem ser citados: a cultura, a situação

socioeconômica e a ideologia do grupo do qual fazem parte.

Enquanto formulações simbólicas que viabilizam o uso prático dos elementos que

compõem o território, as representações suscitam determinadas ações de controle sobre o

meio em que se vive. A esse processo é dado o nome de dinâmicas territoriais, que seriam

iniciativas desenvolvidas nas localidades, de acordo com as potencialidades que estas

possuem, unidas às formas de leituras que os atores sociais fazem dos espaços.

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Dentre as diversas dinâmicas territoriais desenvolvidas nas localidades, a ênfase do

estudo ora apresentado recai sobre a prática turística, que muitas vezes se alimenta do

crescimento do consumo simbólico, cultural, e gera oportunidades aos membros da

comunidade, promovendo o empreendedorismo, a geração de empregos e, quando gerido

satisfatoriamente, melhorias na qualidade de vida da população local.

Dentre os vários segmentos turísticos, destaca-se o que valoriza o espaço rural,

viabilizando novas funções econômicas para o local, fomentando iniciativas de cunho social e

movimentos de preservação ambiental. Esse enfoque desprendido sobre o meio rural pode vir

a possibilitar – além da revitalização econômica, social e ambiental – a promoção do

patrimônio cultural e a valorização dos produtos característicos da região.

Unindo todos os pontos suscitados (território, representações e dinâmicas territoriais, e

turismo), o presente estudo tem por objetivo analisar como o espaço rural do município de

Areia foi sendo construindo, e que representações ele suscita para os diferentes atores sociais,

a saber: donos de engenhos, trabalhadores, representantes do SEBRAE, gestores das

secretarias de Cultura e Turismo do município, associações locais e os turistas que procuram a

localidade.

Outro pilar que direciona o escopo do trabalho são as dinâmicas territoriais que se

desenvolvem no município, com destaque para o Turismo Rural por este ter sido defendido

pelo SEBRAE, gestores das secretarias já citadas, e pelos proprietários de engenho como uma

alternativa para o crescimento da localidade, mediante a integração da sociedade nas

atividades fomentadas para sua implementação. As realizações no meio rural são analisadas

com base nos estudos apresentados sobre as novas ruralidades, destacando os novos usos dos

espaços que diversificam as atividades para além da agricultura e demais formas tradicionais

de ocupação e trabalho no espaço rural.

Partindo dos pressupostos enunciados, torna-se pertinente o estudo dessas matizes

tendo como objeto de estudo o município de Areia, localizado no brejo paraibano, por possuir

grande relevância na região pela sua expressividade política, econômica e cultural. A história

da cidade é marcada pela sua importância no processo produtivo dos ciclos econômicos que

formaram a economia brasileira, sendo Areia um dos municípios de grande representação no

Estado da Paraíba. Foi grande produtora, inicialmente, da cana-de-açúcar, seguindo com

alternância agrícola pelas culturas do algodão, café, sisal e, num retorno que se estende até os

dias atuais, novamente produtora da cana-de-açúcar.

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Os indícios do passado próspero podem ser encontrados nos engenhos que continuam

atuando no espaço rural. Essas áreas possibilitam a visualização de práticas produtivas

tradicionais, o que acaba por se tornar um atrativo capaz de fomentar o Turismo Rural. Dessa

forma, há a necessidade de se entender quais as representações territoriais que se formam a

partir dos significados e usos que os atores sociais constroem sobre tal espaço, e como as

relações de poder podem ser percebidas. Além disso, o estudo se debruça sobre a questão da

trajetória desenvolvimentista na área rural de Areia, constatando a existência (ou não) de

políticas públicas e iniciativas privadas voltadas para o crescimento das atividades turísticas

no espaço rural.

A pesquisa segue com base em procedimentos qualitativos, com técnicas e

instrumentos da pesquisa diversificados, uma vez que o estudo permite a utilização de vários

recursos na coleta, compilação e análise dos dados. As entrevistas com os donos de engenhos,

trabalhadores rurais, permitem o conhecimento das representações que constroem sobre o

território; entrevista com os gestores das secretarias do Turismo e da Cultura possibilitam o

levantamento de dados sobre as iniciativas na área rural da cidade nas quais se encontram os

engenhos, quais os avanços e limitantes com relação à implementação do turismo como

atividade socioeconômica e ambiental; revisão da bibliografia específica sobre a região que

trate de sua importância enquanto centro produtor de cana-de-açúcar e os produtos derivados

de tal cultura agrícola, como se caracterizavam os trabalhos realizados, a condução social, os

estilos de vida e a construção cultural.

Sistematizada em três capítulos, a abordagem integra a análise conceitual ao estudo

específico do objeto de estudo já especificado. Inicialmente, a preocupação parte da

conceituação de território e da elaboração das representações e dinâmicas territoriais para,

num momento sequencial analisar a trajetória do desenvolvimento local no espaço rural de

Areia mediante a implementação do turismo como uma atividade que expressa uma diferente

leitura do território e o surgimento de novas ruralidades.

O primeiro capítulo – Território e Representações territoriais: Conceitos e análises –

trata sobre as definições atribuídas aos termos em questão, tendo como base para a

conceituação de território as elucubrações sugeridas por Haesbaert (2010), no que tange à

importância de se trabalhar o termo indo além da materialidade, integrando a essa esfera a

perspectiva idealista, cultural que também o compõe. Às representações, acompanha as

relações de poder simbólico (BOURDIEU, 2011) que motiva as formas de apropriação do

espaço. Essa conceituação reflexiva é acompanhada pela análise feita ao objeto de estudo,

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apresentando o município de Areia em sua concepção histórica, dando ênfase ao espaço rural,

especificando o território, as representações elaboradas pelos proprietários de engenhos,

trabalhadores dessas propriedades, SEBRAE e gestores das secretarias de cultura e turismo do

município, a população em geral, e as dinâmicas territoriais desenvolvidas nos engenhos

Mineiro, Bujari e Triunfo.

No segundo capítulo – Desenvolvimento Local: dinâmicas territoriais de significância

espacial – há a preocupação em se apresentar o desenvolvimento como um processo que

envolve os diferentes atores sociais, enquanto um sistema endógeno, a partir do qual o

dinamismo econômico é gerado pela cultura empreendedora que abre espaço para a

colaboração e participação da comunidade local (BARQUERO, 2000). O aporte para a análise

desse desenvolvimento local, no estudo em questão, é o turismo rural, uma das formas de

articulação territorial capaz de estabelecer a integração entre as necessidades de crescimento e

a preservação de laços identitários e culturais de determinadas localidades. E, dentro dessa

abordagem, é apresentada a revalorização do rural e a formação do espaço turístico em Areia,

com ênfase nos engenhos de cana-de-açúcar, tradicionais unidades produtivas na região há

séculos.

E, por fim, no terceiro capítulo – Rural e ruralidades: a formação do espaço turístico

em Areia/PB – o enfoque central são as dinâmicas territoriais desenvolvidas na zona rural do

município, a saber: o Roteiro Turístico Integrado dos “Caminhos dos Engenhos”, tendo como

base a implantação das novas ruralidades e a análise dos avanços do turismo no espaço rural

do município, e os limitantes que freiam as tentativas de crescimento com base nessa

atividade.

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CAPÍTULO I

1 TERRITÓRIO E REPRESENTAÇÕES TERRITORIAIS: CONCEITOS E

ANÁLISES

Tomando como pressuposto a análise sobre o espaço no qual se desenvolvem as

estruturas materiais e as vivências sociais, o presente capítulo objetiva apresentar o Território,

tendo como base a perspectiva integradora, que relaciona as características materiais às

formulações simbólicas que dão sentido ao termo. Num primeiro momento, faz-se necessária

a exposição do conceito de Território, abarcando o significado materialista e idealista que o

espaço rural areiense sugere.

Embora os termos “rural” e “urbano” venham passando por reformulações graças às

modificações sofridas na forma de utilização dos recursos que constituem o espaço e às

diferentes relações sociais que abriga na atualidade, o uso de ambos os termos será constante,

haja vista que o estudo também se debruça sobre as formas de percepção do espaço pelos

atores sociais num recorte temporal em que essa distinção era comum (final do século XIX e

século XX).Tomando como delimitação os engenhos que circundam a cidade, reflete-se sobre

a ligação mútua que esses dois espaços (rural e urbano) despertam, e como as formulações

socioeconômicas e culturais fomentadas nos engenhos influenciam as esferas de vivência, as

relações de poder e a configuração local.

Visto sob o viés materialista e simbólico, o território desperta leituras diversas

realizadas pelos atores sociais que o configuram a partir das vivências grupais e estruturações

econômicas, dotando o espaço de significâncias culturais. Surgem, portanto, as

Representações Territoriais, vistas como fruto das interpretações valorativas e simbólicas que

a localidade aflora.

Nessa conjuntura de representatividade sobre o espaço, há a formulação das relações

de poder, vistas como ações organizadas, vinculadas ao cotidiano e intimamente ligadas às

conjecturas simbólicas que permeiam a vida em sociedade e, consequentemente, o

comportamento humano. Os engenhos areienses, enquanto espaços de identidade, abrangem

essa percepção fenomenológica de produção simbólica imbricada às relações de poder.

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1.1. Noções sobre território

Durante muito tempo os termos que compõem o meio acadêmico estiveram

confinados a uma significação fechada, determinista, com uma definição parcial e funcional

(SANTOS, 1988). Uma dessas definições diz respeito ao conceito de território, visto antes

como uma junção indissociável entre o solo e o povo que compõem um Estado, um espaço

onde se formam as organizações sociais, econômicas e militares exclusivas, com fronteiras

estabelecidas. São os denominados territórios nacionais. De acordo com VALVERDE (2004),

em períodos anteriores o termo território fazia referência apenas à

escala do território nacional, sendo este inteiriço, limitado apenas pelas

fronteiras com outros países, tendo o poder público como única fonte de

poder em relação ao controle espacial e sendo este controle permanente no

tempo. (VALVERDE, 2004, p.120)

Entretanto, essa visão foi sendo gradativamente ampliada nos últimos anos e o

território foi recebendo novas atribuições, indo além dos aspectos físicos, incorporando

também aspectos simbólicos que as áreas que o compõem suscitam. Percebido dessa forma, o

território revela uma pluralidade de relações que são estabelecidas entre os homens e os

espaços. E mais: na conjuntura global que se assiste proliferar, o território passa a ser

associado à articulação de redes, cujos vieses determinantes são as relações de poder,

processos de produção, e os valores e condutas individuais e coletivos (THEIS, 2008).

Numa visão que engloba aspectos físicos e simbólicos, o território é visto como

elemento de apropriação de determinados espaços por grupos sociais que dele fazem uso e

que com ele se identificam, gerando relações políticas e afetivas que possibilitam o despertar

de sentimentos, como afinidade e pertencimento (CORRÊA, 2004).

Para SANTOS (1978), a compreensão do território não é algo simplista, uma vez que

envolve uma intensa complexidade analítica por considerar os muitos atores sociais e as

relações que eles desprendem, criando processos contínuos e espaços mutáveis dentro da

estrutura social e econômica. Segundo SANTOS (1978), embora o termo suscite a

delimitação física e a importância do Estado, o “território em uso” ultrapassa a concepção fixa

quando se afirma ser ele formado pela imbricação de relações e representações múltiplas,

fomentadas pelas ações dos diversificados atores sociais.

O autor afirma que,

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O território é imutável em seus limites, uma linha traçada em comum acordo

ou pela força. Este território não tem forçadamente a mesma extensão

através da história. Mas em um dado momento ele representa um dado fixo.

Ele se chama espaço logo que encarado segundo a sucessão histórica de

situações de ocupação efetiva por um povo (...) como resultado da ação de

um povo, do trabalho de um povo, resultado do trabalho realizado segundo

as regras fundamentadas do modo de produção adotado e que o poder

soberano torna em seguida coercitivas. É o uso deste poder que, de resto,

determina os tipos de relações entre as classes sociais e as formas de

ocupação do território. (SANTOS, 1978, p. 189)

Assim, para Santos, quando se detêm sobre a questão do território deve-se levar em

consideração o poder político que assegura os limites das fronteiras do Estado Nação, sendo

este visto como espaço mediante o processo de ebulição social e econômico que é capaz de

desenvolver por meio dos variados atores sociais que dele fazem uso no decorrer da história.

Essa visão de território atende à perspectiva geográfica do termo. Mas, como ele (o território)

é um elemento pertinente a várias vertentes do saber, seu ponto de destaque e de enlace pode

mudar, de acordo com a visão que se busca apresentar, o que evidencia a amplitude conceitual

que o termo pode vir a desprender.

Dessa feita, a limitação da visão geográfica sobre o território tem sido criticada por se

acreditar que não possua senão a dimensão espacial e as questões concernentes à condição

humana daqueles que o formam, sob o julgo do estado-Nação e suas determinações político-

sociais, político-econômicas, político-cultural e político-militar dentro de fronteiras

específicas.

HAESBAERT (2010) afirma que o entrecruzamento de proposições teóricas deve ser

complementar, posto que o termo território envolve várias dimensões. Essa forma de

entendimento faria cessar as sucessivas necessidades de legitimação de uma abordagem a

partir da refutação de outras. Em suas análises, pautadas em várias abordagens propostas por

autores diversos, Haesbaert apresenta o território sob as perspectivas materialista, idealista

(simbólico) e integradora, abarcando questões referentes ao social, à economia, à política, à

geografia, à cultura, entre outros aspectos.

Na primeira perspectiva, seu entendimento segue duas tendências: por um lado se

percebe o território com ênfase no espaço físico, material; por outro, ele é entendido sob a

égide do simbolismo, dos sentimentos que desperta e que a ele fazem referência.

Território assim, em qualquer acepção, tem a ver com poder, mas não apenas

ao tradicional “poder político”. Ele diz respeito tanto ao poder no sentido

mais concreto, de dominação, quanto ao poder no sentido mais simbólico, de

apropriação (...). Portanto, todo território é, ao mesmo tempo e

obrigatoriamente, em diferentes combinações, funcional e simbólico, pois

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exercemos domínio sobre o espaço tanto para realizar “funções” quanto para

produzir “significados”. (HAESBAERT, 2010, p. 20)

Suas análises revestem o território de significâncias que partem do concreto, da

funcionalidade, além de legitimar suas atribuições referentes às relações de poder e de

dominação. Entretanto, esse aspecto não se fecha em si mesmo, sendo complementado pela

possibilidade de apreensão e apropriação do território por determinados grupos sociais que

nele projetam seus anseios e visões, gerando processos que despertam uma identidade

comum. Assim, “o grupo passa a não poder mais ser compreendido sem seu território, base

de sua história, cultura e sustentação” (LEAL; FONSECA, 2009, p.3)

A visão materialista sugere ser o território um espaço capaz de garantir a subsistência

dos grupos sociais que o formam e que dele se utilizam. É uma questão de utilidade: o

território percebido como recurso capaz de fomentar relações econômicas, o espaço físico

onde se concretizam as mais diversas atividades e que possibilita o desenvolvimento e

consolidação das práticas econômicas que seguem o curso da história.

Outro enfoque materialista quanto ao território diz respeito às concepções políticas,

cujas práticas recortam, delimitam e controlam o espaço. Assim, “o vínculo mais tradicional

na definição de território é aquele que faz a associação entre território e os fundamentos

materiais do Estado” (HAESBAERT, 2010, p.62). Seria essa entidade, portanto, a que

exerceria o maior poder político, embora não seja a única, posto que o espaço possibilita a

consolidação de grupos sociais que reivindicam para si o direito de participar das tomadas de

decisão no campo político.

Ao lado de toda essa concepção funcional do território, há também um elemento que

suscita uma dimensão subjetiva quando do desenvolvimento do aspecto cultural. As práticas

que continuam sendo executadas desde tempos remotos ou que são guardadas na memória do

povo (embora não façam mais parte do seu cotidiano), suas construções arquitetônicas, suas

histórias singulares, tudo se une em um só espectro, sob o julgo do cultural, dando origem ao

espaço, lugares de vivência, de continuidades, de lembranças que revestem o território de

simbologias variadas que formam a identidades dos grupos sociais que nele se encontram e

que dele se sentem parte. Essa é a percepção idealista do território.

Neste contexto o território é primeiro um valor, pois a existência e a

necessidade para toda sociedade humana de estabelecer uma relação forte,

ou mesmo uma relação espiritual com seu espaço de vida, parece claramente

estabelecida. O poder do laço territorial revela que o espaço está investido de

valores não apenas materiais, mas também éticos, espirituais, simbólicos e

afetivos, não podem ser percebidos apenas como uma posse ou como uma

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entidade exterior à sociedade que o habita, pois representa uma identidade,

fonte de uma relação de essência afetiva ou mesmo amorosa ao espaço. (...)

Não existe entre a sociedade e seu espaço uma simples relação de

territorialidade, mas também uma ideologia do território, pois tudo o que se

encontra no entorno entre o homem é carregado de algum significado, o

território não traz em si somente o “ter”, mas o “ser”. (LEAL; FONSECA,

2009, p.06).

É a significância atribuída ao território que o torna o espaço de vivência singular e de

inter-relação, que une todos aqueles que o formam e que por ele são influenciados por um elo

identitário que, embora desperte o sentimento de pertença, possibilita várias leituras e

apreensões sobre seus aspectos constitutivos, gerando uma apropriação heterogênea do

território, principalmente pelas contradições socioeconômicas, políticas e culturais que o

constituem.

Todo território, portanto, “pertence” a um grupo social. E é, também,

produto do entrelaçamento de projetos individuais e coletivos, em que se

instituem processos de identificação e de negociação dos interesses comuns

e conflitantes. (TONNEAU e CUNHA, p. 46, 2005).

Essa perspectiva simbólica atribui ao território uma valoração diferenciada quando

prioriza seu caráter identitário, suas características históricas e culturais, indo além de seus

aspectos meramente físicos. Aliás, a materialidade que forma o território é significante dentro

da visão simbólica quando ela é revestida de significado, de ideologias e representações

territoriais.

Reconhecendo o sentido material do termo, mas sem negar sua dimensão simbólica, o

território passa a ser entendido sob uma perspectiva integradora, a partir da qual as

abordagens que se apresentam sejam complementares. Embora essa junção de perspectivas

não seja fácil (uma vez que apresentam visões diferenciadas sobre o território), é a partir da

lógica integralista que o “território reforça sua dimensão enquanto representação, valor

simbólico” (HAESBAERT, 2010, p.71), relacional, sem perder sua existência utilitarista,

concreta.

Portanto, é possível a superação da dicotomia entre o material e o simbólico, uma vez

que é evidente que o território suscita tanto a materialidade das relações sociais (econômicas,

políticas) como também o conjunto das representações espaciais (culturais). Ou seja, é

mediante um enfoque integrador que dê visibilidade ao social, político, econômico e cultural

que se torna possível a compreensão do termo território em sua complexidade.

Fica evidente neste ponto a necessidade de uma visão de território a partir da

concepção de espaço com um híbrido – híbrido entre sociedade e natureza,

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entre política, economia e cultura, e entre materialidade e “idealidade”, numa

complexa interação tempo-espaço (...). Tendo como pano de fundo esta

noção “híbrida” (e, portanto, múltipla, nunca indiferenciada) de espaço

geográfico, o território pode ser concebido a partir da imbricação de

múltiplas relações de poder, do poder mais material das relações econômico-

políticas ao poder mais simbólico das relações de ordem mais estritamente

cultural. (HAESBAERT, 2010, p.79)

Partindo dos dados expostos, mediante os quais o território é visto sob vieses definidos

de acordo com as acepções pertinentes a quem do termo se utiliza, e levando em consideração

a visão híbrida que se lança sobre o espaço, a análise pretendida pode ser entendida da

seguinte forma:

Figura 1: Perspectivas territoriais

Fonte: baseado em HAESBAERT, 2010.

O entendimento do território sob a óptica integradora tem respaldo nas novas

formulações sociais que são estabelecidas pela dinâmica global, quando esta difunde e

conecta experiências diferenciadas e transformadoras, tanto em uma escala macro quanto

micro, influenciando estruturas organizacionais antes postas em lugares definidos e

assegurados (como é o caso dos estados-nação, que passam a incorporar novas características

e funções frente às necessidades capitalistas). Diante das novas configurações por que passa o

território, é necessário o seu entendimento enquanto organismo que sugere elementos físico-

materiais, mas que também possui um iminente “valor territorial”, representativo de

determinados grupos, que passam a engendrar laços identitários, mesmo quando o processo

que se assiste proliferar é de dialética entre as esferas locais e globais, o que o torna sujeito a

novas interpretações.

Essa visão que sugere ser o território composto pelos elementos concretos e

simbólicos tem respaldo nas análises oferecidas por Henry Lefebre quando este afirma que o

território é formado e transformado a partir das práticas sociais desprendidas pelos diferentes

grupos, dando origem ao que definiu como “espaço dominado” e “espaço apropriado”. Essas

duas concepções se encontram e se entrelaçam, uma vez que quando ocorre a “dominação do

TERRITÓRIO

MATERIALISTA

IDEALISTA

ASPECTOS POLÍTICOS E

ECONÔMICOS

ASPECTOS CULTURAIS, SIMBÓLICOS

PERSPECTIVA INTEGRADORA

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espaço natural para servir às necessidades de um grupo, este se apropria dele” (LEFEBRE,

2000, p.191). Em outras palavras, os atores sociais, ao se servirem dos espaços, transformam-

no de acordo com suas necessidades cotidianas.

A abrangência conceitual que o termo suscita, torna necessário ainda a reflexão sobre

outro aspecto de grande significância: as relações de poder. O território é o “conjunto de

relações mantidas pelo homem enquanto pertencente a uma sociedade, com a exterioridade e

a alteridade com a ajuda de mediadores ou instrumentos” (RAFFESTIN, 1993, p.265).

Portanto, o território tem seus contornos definidos mediante o entrecruzamento de forças que,

ao se chocarem criam novas formas de dominação e de resistência, tornando a dinâmica social

múltipla e em constante mudança.

A abordagem territorial, implicitamente, valoriza a dimensão econômica,

inclusive colocando, no centro das estratégias de competitividade, a coesão

social, como instrumental para modernizar as políticas públicas, através da

transversalidade; bem como o reconhecimento das instâncias locais, sem

deslegitimar as instâncias hierárquicas e os acordos supranacionais. Essas

dimensões estão nas entrelinhas do conceito de desenvolvimento territorial,

fazendo dele uma aposta e um esforço constante para um novo desenho de

política pública. (GOMES, p. 237, 2007)

Com base nessa lógica, o território passa a ser entendido no plural, posto que as

dinâmicas sociais o revestem de outras especificidades. Tal fato poderia gerar a perda de

identidades, e até mesmo a crença no fim do território enquanto espaço de construção

singular. Entretanto, essa desregulação cria um novo entendimento geopolítico do termo,

posto que há uma reconstrução do espaço material e simbólico que forma o território, e não a

sua negação.

A análise de mediação entre subjetividade e objetividade numa perspectiva integradora

(relacional) é defendida também por BOURDIEU (2004) quando este afirma ser o social

constituído por escolhas e apreciações de mundo feitas pelos diferentes atores sociais.

Segundo o autor, a cultura não é apenas um código comum,

nem mesmo um repertório comum de respostas a problemas comuns ou um

grupo de esquemas de pensamento particulares e particularizados. É,

sobretudo, um conjunto de esquemas fundamentais, previamente

assimilados, a partir dos quais se engendram (...) uma infinidade de

esquemas particulares, diretamente aplicados a situações particulares.

(BOURDIEU, 2004, p. 349)

A percepção do território enquanto espaço no qual se formam as relações sociais

interativas e as representações territoriais que têm como base as posições dos indivíduos

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dentro da sociedade, possibilita a interiorização e exteriorização de princípios e valores que

dão origem a uma produção simbólica que permeia a elaboração espacial. Os atores sociais

são frutos, portanto, do território que ocupam e esse, por sua vez, é influenciado pelo

entendimento que suscita e as construções materiais que inspira.

Segundo BOURDIEU (2011), as relações sociais têm em sua estrutura a proeminência

da busca pela afirmação dos grupos dominantes por meio do poder simbólico, sendo suas

ideologias disseminadas por instituições e práticas sociais. Segundo o autor, as produções

simbólicas estruturadas pelas sociedades (língua, cultura...), são instrumentos de dominação

no momento em que são utilizadas para distinguir os grupos sociais dominantes dos demais,

legitimando uma ordem pré-estabelecida e favorecendo a hierarquia social.

A classe dominante é o lugar de uma luta pela hierarquia dos princípios de

hierarquização: as fracções dominantes, cujo poder assenta no capital

econômico, têm em vista impor a legitimidade da sua dominação que por

meio da própria produção simbólica, quer por intermédio dos ideológicos

conservadores os quais só verdadeiramente servem os interesses dos

dominantes por acréscimo, ameaçando sempre desviar em seu proveito o

poder de definição do mundo social que detêm por delegação. (BOURDIEU,

2011, p. 12)

A ideologia fomentada pela utilização da produção simbólica é vista como uma forma

de consciência da realidade, fundamentada principalmente em princípios de dominação.

Entretanto, embora essa ideologia tenha suas bases assentadas em estruturas e “funções mais

específicas às condições sociais da sua produção e da sua circulação” (BOURDIEU, 2011,

p. 13), os conflitos acompanham o movimento gerado pela vida em sociedade. Ou seja, no

processo de construção social são constantes as lutas nos campos de poder, nos quais as

representações e simbologias se tornam frações constituintes do território, sob a perspectiva

idealista.

o território é algo permeado pela lógica da dominação e dos interesses,

muitas vezes conflitantes, inscritos tanto em um espaço físico quanto em sua

forma de ocupação. Temos, portanto, uma concepção do território como

espaço em que se confrontam diferentes poderes e estratégias de gestão –

que poderíamos chamar “território-espaço de poder”. (TONNEAU e

CUNHA, p. 46, 2005)

Foram considerados, para fins desta dissertação, além das características

físico/materiais e histórico/culturais que constituem o espaço rural areiense, as lutas

simbólicas e as relações de poder que nele se desenvolvem, uma vez que a heterogeneidade

dos atores sociais suscita diferentes leituras sobre o território. Entretanto, é importante

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ressaltar que o estudo tem como ponto norteador as novas concepções de “rural” que, ao invés

de dissociá-lo do espaço urbano, percebe-o como parte integrante do todo, destacando as

novas formas de ocupação e de uso caracterizadas “pela combinação da atividade agrícola a

outras ocupações (...), [estimuladas] pela exploração do turismo e pela transformação de

espaços rurais em áreas de lazer” (CARNEIRO, 2012). O “novo rural” areiense evidencia

um momento de mudanças que resulta da “ressignificação da natureza e da cultura”

(CARNEIRO, 2012, p. 35).

1.2. Caracterização do Município Areiense: Significância Material e Simbólica

Os discursos proferidos pelos órgãos municipais, representantes do IPHAN, do

SEBRAE e da AMAR, afirmam ser o município de Areia formado por características físicas

singulares nas redondezas no que se refere ao clima, relevo, vegetação e ambiência

construída. E essas pretensas características peculiares levaram ao seu reconhecimento,

expresso no ato de tombamento coordenado pelo IPHAN, em 20061. Diferentemente do

tombamento em nível estadual que ocorreu em 1979, não apenas o centro histórico da cidade

foi incluído como patrimônio nacional, como também seu entorno e sua paisagem2. Hoje,

Areia é reconhecida por meio do tombamento nacional de seu Conjunto Histórico,

Urbanístico e Paisagístico (BRASIL, 2010).

Mapa 1 – Polígono de tombamento de 2006, do município de Areia

Fonte: IPHAN, 2010

1 Em anexo, documento referente ao ato de tombamento de 2006.

2 Estudo de Tombamento do Conjunto Histórico e Urbanístico da Cidade de Areia – PB. Normatização de Áreas

Tombadas. Ficha 1 – Informações sobre o Núcleo Tombado – Conjunto Histórico, Urbanístico e Paisagístico da

Cidade de Areia, Paraíba, 2005.

ENTORNO IMEDIATO

ÁREAS VERDES

ZONAS DE AMORTECIMENTO

ZONAS DE IMPACTO VISUAL

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Embora o ato de tombamento enfatize a área urbana3 que forma o município, a AMAR

e o IPHAN destacam a importância da zona rural, pois é onde se vê florescer pelos séculos os

avanços artísticos, arquitetônicos e comerciais do centro histórico4. ALMEIDA (1980) afirma

terem sido os grandes proprietários de engenhos da região que coordenaram alguns dos

principais eventos culturais que passaram para a história da cidade, assim também como

investiram em construções arquitetônicas vistas como representativas de uma época áurea em

que principalmente o açúcar, propiciava a ascensão e destaque para a localidade. A mais

representativa dessas edificações é o Teatro Minerva, de 1859.

As principais realizações culturais, reconhecidas pelos órgãos públicos5, destacam as

iniciativas dos grupos sociais que em Areia detinham o poder político e econômico. As

políticas públicas de preservação dos bens culturais e artísticos, portanto, visam à perpetuação

de representações e perspectivas que deem destaque aos feitos realizados por membros desses

grupos, revestindo esse patrimônio de significados do ponto de vista da herança e da relação

de poder que envolve seu processo de valorização.

Em suas reflexões sobre as relações de poder inseridas na realidade social,

BOURDIEU (2011) afirma haver, implicitamente, formas de dominação simbólicas, pelas

quais as classes dominantes se tornam beneficiárias, uma vez que podem contar com as

instituições como instrumentos de integração social que favorecem a disseminação e aceitação

dos elementos simbólicos que favorecem a ordem social dominante. Por meio da proliferação

de discursos que venham a legitimar seus feitos, as contribuições para a cultura ou a economia

da localidade, os grupos dominantes em Areia têm assegurada sua importância quando a

concepção de mundo social torna-se homogênea, e suas realizações enaltecidas, propagadas,

preservadas, tombadas como patrimônio nacional.

3 Os estudos mais recentes apontam para novas leituras sobre o “urbano” e o “rural”. A ruralidade, na atualidade,

passou a ser entendida como processo dinâmico, que “implica um movimento em dupla direção, no qual

identificamos, de um lado, a reapropriação de elementos da cultura local a partir de uma releitura possibilitada

pela emergência de novos códigos e, no sentido inverso, a apropriação da cultura urbana de bens culturais e

naturais do mundo rural, produzindo uma situação que não se traduz, necessariamente pela destruição da

cultura local, mas que, ao contrário, pode vir a contribuir para alimentar a sociabilidade e reforçar os vínculos

com a localidade” (CARNEIRO, 1997). As transformações pelas quais passam o urbano e o rural, tanto no que

se refere às relações sociais quanto às ações sobre o espaço, tornam possível seu entendimento e apreensão

dentro de categorias simbólicas, sem os reduzir às distinções econômicas, características físicas e às diferenças

culturais. Essa forma de leitura deve ser levada em consideração quando da utilização dos termos rural e urbano

nesse trabalho, embora essa distinção tradicional seja apresentada, uma vez que se está analisando a forma de

entendimento dos atores sociais sobre o espaço. 4 Parecer proferido por um dos representantes do IPHAN na audiência pública realizada em 2006, no Teatro

Minerva, em Areia. 5 Ver Decreto 8.312, de 04 de dezembro de 1979.

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Entretanto, a população nem sempre se reconhece nesses símbolos da cultura areiense.

Sua importância muitas vezes se reduz ao parecer técnico de especialistas, que primam pela

difusão de um valor que deve ser assimilado de forma consensual pelos membros da

comunidade.

Esse efeito ideológico, produ-lo a cultura dominante dissimulando a função

de divisão na função de comunicação: a cultura que une (intermediário de

comunicação) é também a cultura que separa (instrumento de distinção) e

que legitima as distinções compelindo todas as culturas (designadas como

subculturas) a definirem-se pela sua distância em relação à cultura

dominante (BOUDIEU, 2001, p. 11)

Alguns testemunhos históricos presentes nos bens materiais e simbólicos que fazem

parte da arquitetura e cultura areiense são mais identificados com outros grupos sociais, que

não apenas o dos donos de engenhos e demais grupos dominantes responsáveis pelas

idealizações e investimentos em determinados elementos consagrados como marcantes para a

formação identitária da localidade.

Um dos exemplos mais emblemáticos é a Igreja do Rosário, cuja construção está

associada à impossibilidade dos negros participarem das práticas religiosas na Igreja de Nossa

Senhora da Conceição, frequentada apenas pelas pessoas livres e brancas. Entretanto, como

nas demais edificações do centro histórico areiense, há destaque também para os donos de

escravos, que permitiam que os negros dispensassem alguns instantes de seu cotidiano à

realização de uma obra que estivesse ligada a um interesse comum a esse grupo excluído.

Além disso, é interessante lembrar que a Igreja Católica, no século XIX no Brasil, ainda era

uma das forças mais influentes ideologicamente. Portanto, seus interesses de propagação da fé

cristã também estavam sendo assegurados quando da construção de mais uma igreja na

cidade.

As relações que se desenvolvem no território mediante a representatividade que seus

elementos passam a ter para os diferentes grupos sociais, forma o que BOURDIEU (2011)

classificou como sendo um “campo de posições sociais”, caracterizado como sendo um

espaço de lutas simbólicas, onde os atores sociais buscam conformá-lo aos seus interesses.

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Foto 1: Teatro Minerva e Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos

Fonte: Acervo pessoal-Everaldo Gomes da Silva, 2010; e acervo do Ponto de Cultura (2008).

Tendo como enfoque a perspectiva material, o município areiense se localiza no topo

da Serra da Borborema, a 618 metros acima do nível do mar (MIRANDA, 2007). A altitude

considerável incide sobre o clima, que oscila entre 15º e 30º C, favorecendo, portanto,

temperaturas amenas, umidade e nebulosidade, atrativos naturais da cidade (SILVA, 2011)

Figura 2: Formas e relevo do Estado da Paraíba – Areia em destaque

Fonte: Atlas escolar da Paraíba, 1985.

A cidade compreende uma área de 269 Km2, distando 45 Km de Campina Grande e

122 Km de João Pessoa. Por pertencer à região brejeira do interior paraibano juntamente com

os municípios de Alagoa Grande, Alagoa Nova, Bananeiras, Borborema, Matinhas, Pilões e

Serraria (MORAES, 2008), Areia possui condições físicas necessárias para o

desenvolvimento de várias culturas agrícolas, como o plantio da cana-de-açúcar, do algodão,

do café e do agave, tão importantes para o avanço econômico na região no transcorrer da

história, e que possibilitou parte dos investimentos realizados na esfera cultural, como as

construções arquitetônicas representativas de uma época áurea.

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Mapa 2: Estado da Paraíba, com ênfase ao Brejo (Areia em destaque)

Fonte: Governo da Paraíba, 2000.

Esse avanço econômico ao qual se faz referência deve ser revisto e avaliado, uma vez

que os beneficiados com as atividades agrícolas (e comerciais) no município eram apenas

membros da classe dominante, como proprietários e terras e comerciantes locais de destaque.

A maior parte da população ficava às margens. Trabalhadores, feirantes, moradores das

propriedades rurais, entre outros grupos populares, não eram agraciados com a prosperidade

econômica que o município vivenciou entre os séculos XIX e início do século XX. Essa

trajetória econômica gerou “a riqueza dos senhores de terras e a pobreza de muitos

trabalhadores” ((FIÚZA, 1999, p. 157).

Mesmo caracterizado pela desigualdade social, o espaço rural areiense foi, durante o

século XIX, a principal área de influência econômica da região, computando cerca de 120

engenhos (MIRANDA, 2007), num período em que a cana-de-açúcar, embora não contando

com o mesmo prestígio e importância de séculos anteriores, ainda se destacava como uma das

principais culturas agrícolas na mesorregião do brejo.

Considerando os engenhos de cachaça e rapadura do município de Areia,

existem dois elementos que diferenciam e caracterizam sua paisagem: um é a

topografia, fator considerado tanto na implantação destes, normalmente

situados em fundo de vales, quanto na conformação de suas culturas,

estradas e canavial nas partes mais baixas e a vegetação nativa e pastos nas

áreas mais elevadas do terreno. A outra é a atividade do homem, o uso do

solo e as atividades secundárias, que têm ditado as principais mudanças

ocorridas ao longo do tempo, principalmente quando há alternância da

atividade principal da propriedade, ou a inserção de novas atividades

paralelas, como o turismo cultural ou natural (FERREIRA, 2010, p.27)

LEGENDA

LEGENDA

MESORREGIÃO DA BORBOREMA

MESORREGIÃO DA MATA PARAIBANA

MUNICÍPIO DE AREIA

MESORREGIÃO DO AGRESTE PARAIBANO

MICRORREGIÃO DO BREJO PARAIBANO

MESORREGIÃO DO SERTÃO PARAIBANO

Água Branca

Alcantil

Amparo Aroeiras

Boa VenturaBoqueirão

Camalaú

Caraúbas

Conceição

Coxixola

Imaculada

Manaíra

Monteiro

Prata

Queimadas

Santa Inês

São João do Tigre

São José dos Cordeiros

Tavares

Boa Vista

Olivedos

Soledade

MatinhasMatinhasMatinhasMatinhasMatinhasMatinhasMatinhasMatinhasMatinhas

Alagoa GrandeAlagoa GrandeAlagoa GrandeAlagoa GrandeAlagoa GrandeAlagoa GrandeAlagoa GrandeAlagoa GrandeAlagoa Grande

BorboremaBorboremaBorboremaBorboremaBorboremaBorboremaBorboremaBorboremaBorborema

BananeirasBananeirasBananeirasBananeirasBananeirasBananeirasBananeirasBananeirasBananeiras

PilõesPilõesPilõesPilõesPilõesPilõesPilõesPilõesPilões

SerrariaSerrariaSerrariaSerrariaSerrariaSerrariaSerrariaSerrariaSerraria

AreiaAreiaAreiaAreiaAreiaAreiaAreiaAreiaAreia

Alagoa NovaAlagoa NovaAlagoa NovaAlagoa NovaAlagoa NovaAlagoa NovaAlagoa NovaAlagoa NovaAlagoa Nova

Alagoinha

Algodão de Jandaíra

Araçagi

Arara

Araruna

Areial

Belém

Boa Vista

Cacimba de Dentro

Caiçara

Caldas Brandão

Capim

Casserengue

Cruz do Espírito Santo

Cuité

Cuitegi Cuité de Mamanguape

Curral de Cima

Damião

Dona Inês

Duas Estradas

Esperança

Guarabira

Gurinhém

Itapororoca

Jacaraú

Juarez Távora

Lagoa de Dentro

Lagoa Seca

Logradouro

Mamanguape

Mari

Massaranduba

Montadas

Mulungu

Pilõezinhos

Pirpirituba

Pocinhos

Puxinanã

Remígio

Pedro Régis

Riachão

Riachão do Poço

Sapé

Serra Redonda

Sertãozinho

Sobrado

Solânea

Campo de Santana

Barra de Santa Rosa

Campina Grande

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A vocação para a produção nos engenhos foi sentida já no século XVIII, com a

implementação dessas unidades produtoras de forma rudimentar, “engenhos (...) feitos de

madeira e montados em palhoças sobre armações de almanjarras” (FIÚZA, 1998, 46). Como

afirma ALMEIDA (1957):

Foi ali, naquelas baixadas úmidas e férteis, que a cana-de-açúcar encontrou

campo favorável de cultura.(...) As chuvas constantes e bem distribuídas

cooperavam com o homem no amanho da lavoura, permitindo colheitas

compensadoras na época de estiagem (...). Nas terras dos engenhos, livres de

latifúndios, os bangüês se situavam a pequena distância um do outro,

alimentados de matéria-prima que o dono da terra cultivava, quase que

exclusivamente, sem achega de lavradores. Eram engenhos primitivos, que

davam uma produção diminuta, ma suficiente para manter a economia do

município e a independência da classe produtora. (ALMEIDA, 1957, p.50)

Com o declínio da produção açucareira6 e a baixa nos preços de produtos oriundos das

atividades dos engenhos, como a rapadura, gradativamente o número de engenhos em Areia

decresceu. Segundo levantamentos feitos pelo IBGE em 2000, a zona rural do município

contava com o número de 28 engenhos. Esse número foi ampliado para 34 “engenhocas”

(NASCIMENTO, 2007). Muitos desses espaços ainda resguardam aspectos arquitetônicos do

período imperial, como é o caso do Engenho Mineiro, que ostenta a casa grande em lugar

estratégico, paredes largas, janelas em abundância, detalhes frontais, além de estalagens

próprias para a produção dos derivados da cana-de-açúcar

6 De acordo com CAVALCANTI Filho e MOURA (2003), no final do século XIX a produção açucareira em

Areia começou a declinar pela ocorrência de vários fatores, a saber: pragas nas plantações da cana, queda na

cotação da rapadura no mercado interno, o êxodo rural, e a implantação da estrada de ferro na área circunvizinha,

que excluiu o município de seus benefícios comerciais.

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Foto 2: A “Casa Grande” - Engenho Mineiro

Fonte: acervo pessoal-Vanderleia dos Santos, 2012.

Além da produção dos derivados da cana-de-açúcar, as propriedades rurais de Areia

também foram ocupadas por outras culturas agrícolas, como o algodão, o agave, o café.

Entretanto, foi com a cana-de-açúcar que o município conseguiu firmar sua economia durante

o século XIX, desenvolvendo e aprimorando sua indústria de beneficiamento dos produtos

fabricados nos engenhos, principalmente a rapadura (ALMEIDA, 1957).

Esse momento de apogeu da economia areiense, pautado na prosperidade dos

engenhos, deu à cidade certa efervescência comercial, além do embelezamento de seu centro.

Graças à cana-de-açúcar “o comércio atravessou sua fase áurea (...). A cidade prosperava,

contando com sobrados de sólida estrutura, ruas calçadas, escolas, teatros, bibliotecas e

jornais”. (CAVALCANTI FILHO; MOURA, 2003, p.30).

Parte dessas melhorias aplicadas ao território areiense graças ao desenvolvimento

econômico, entretanto, não eram voltadas para os diversos grupos sociais. Os sobrados eram

idealizações particulares e propriedade dos que possuíam o poder econômico (ALMEIDA,

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1980); os teatros “Oito de Dezembro” (embora conhecido como Teatro Popular) e “Minerva”7

não eram abertos a todo o público, posto que seus primeiros anos de funcionamento se deram

num período de escravidão emblemático no município8, excluindo dessas iniciativas artísticas

um significativo número de pessoas. A ressalva é feita, de acordo com ALMEIDA (1980) às

iniciativas de cunho educacional da primeira metade do século XX.

Especial referência merece o Ginásio Santa Rita, fundado como Escola

Normal, em 1937, pela ordem das madres franciscanas (...). Das 281 alunas

matriculadas, contam-se 21 moças pobres que recebem ensino gratuito,

valendo ainda salientar que o estabelecimento mantém 54 internas que nada

pagam e 48 com sensível redução de preço nas mensalidades. (ALMEIDA,

1957, p. 201).

Os feitos realizados certamente iam além da necessidade vigente nas melhorias das

condições materiais e culturais dos séculos XIX e XX. As realizações deveriam ser a prova de

que os “homens de poder e prestígio” deixaram seu legado, suas marcas na história,

consolidando sua importância na formação identitária da localidade.

Para FOUCAULT (1979):

Uma classe que se torne dominante, que ela assegure sua dominação e que

esta dominação se reproduza, estes são efeito de um certo número de táticas

eficazes, sistemáticas, que funcionam no interior de grandes estratégias que

asseguram esta dominação (FOUCAULT, 1979, p. 252).

Embora as construções e incentivos culturais de destaque estivessem sendo aplicados

na cidade, os engenhos recebiam notoriedade por saírem deles os principais investimentos

que, pretensamente, dotavam o município de expressividade. Os engenhos de maior

7 Em seu livro “O Brejo de Areia”, Horácio de Almeida faz alusão aos associados que levantaram recursos para a

construção do teatro, e os que promoviam e participavam dos espetáculos. Dos nomes citados são reconhecidos

comerciantes bem sucedidos e senhores de terras do período, como: Daniel Eduardo de Figueiredo, Tristão

Grangeiro de Almeida e Melo, Santos da Costa Gondim, entre outros. Nenhuma referência bibliográfica sobre a

história do município areiense faz alusão à integração dos escravos aos espetáculos realizados no Teatro

Minerva. “Quando abordam as expressões artísticas no município [no século XIX] (...) não há referências às

contribuições culturais daqueles agentes históricos submetidos ao trabalho escravo (...), nada que faça

referência às práticas diversionais dos escravos ou as manifestações culturais de origem afrodescendente”

FÉLIX, 2010, p. 34). De acordo com Boris Fausto, em “História do Brasil”, o escravo foi alvo da desigualdade

social e da discriminação cultural, proibido de ter acesso a determinados bens materiais e imateriais produzidos

nos tempos de escravidão no Brasil. Se associados esses dados ao fato de aos escravos areienses ser vetada a

participação nos eventos religiosos promovidos na Igreja Matriz (o que motivou a construção, pelos escravos, da

Igreja do Rosário dos Pretos) [informação contida no foder de divulgação dos atrativos turísticos do município

distribuído no ano de 2012 – ver em anexo], é certo que os eventos promovidos no teatro, durante o período da

escravidão, não tinham os escravos como partícipes. 8 De acordo com Irineu Pinto (1977), a população escrava em Areia, no ano de 1851, era aproximadamente de

2.012 habitantes.

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representatividade que ocuparam ou ocupam o território areiense, e suas atividades

prevalecentes no decorrer de sua existência foram (são):

Tabela 1: Engenhos da Zona Rural de Areia/PB

Implantação Proprietários Propriedade Atividades

ca.1847 José Antônio Cunha Lima Engenho Mundo Novo Engenho de açúcar

1897 Luiz Lira de Melo Filho Engenho Gameleira Eng. de aguardente

... Herdeiros de A. Marcelino Engenho Mandaú Aguardente/rapadura

1842 Arlindo Monteiro da Silveira Engenho Buraco ...

1842 Governo da Paraíba Engenho Várzea Eng. de rapadura9

... Corinto da Costa Lira Eng. Pintura da Baixo ...

1895 Herdeiros de D‟Avila Lins Engenho Ipueira Eng. de aguardente

... Lourival Carvalho Engenho Irene ...

... ... Engenho Guarim Aguardente/rapadura

... Herdeiros de Abel B. da Silva Engenho S. Benedito ...

... Antônio Alves de Lima Engenho Quati do Meio ...

1920 Luiz Lira de Melo Eng. Várzea do Quati Aguardente/rapadura

1860 Fernando de Souza Gondim Eng. Vaca Brava-Cima Eng. de aguardente

1958 Sinfronio Cabral Gondim Eng. Vaca Brava-Meio Eng. de aguardente

1860 Aurélio Leal Eng. Vaca Brava-Baixo Aguardente/rapadura

... Herdeiros de Carlos Barreto Engenho Fechado ...

... Franklin Lira Engenho Caiana Engenho de açúcar

... ... Engenho São Vicente ...

1869 Saulo de Souza Gondim Engenho Tapuio Eng. de rapadura

... Afonso da Costa Neiva Engenho Timbaúba ...

1874 Herdeiros de Carlos Barreto Engenho Mineiro Engenho de açúcar

1847 Herdeiros de Juvenal E. França Engenho Jussara Engenho de açúcar

... ... Engenho Jardim ...

... Djalma Pereira Lemos Engenho Carro Engenho de rapadura

1994 Antônio Augusto Baracho Engenho Triunfo Eng. de aguardente

... Leonardo Jardelino Engenho Bujari Eng. de rapadura/mel

... Solon de Lucena Engenho Bela Vista Eng. de aguardente

... Ercia Maria Maia de Azevedo Engenho S.J. do Ipueira Aguardente/rapadura

Fonte: baseado em MIRANDA, 2007; MORAES, 2008; e dados empíricos.

Essa prosperidade, sentida na implantação de centenas de engenhos até o início do

século XX, foi sendo gradativamente amortecida por problemas de ordens diversas, trazendo

estagnação econômica e o êxodo rural à região (ALMEIDA, 1980). A tabela a seguir

apresenta as principais atividades em Areia entre os séculos XIX e XX, e os motivos para a

oscilação econômica:

9 Hoje, o referido engenho abriga o Museu da Rapadura.

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Tabela 2: Areia nos séculos XIX e XX: atividades e condições econômicas.

Séculos Atividades Períodos de destaque Causas/decadência

XIX Plantio de algodão 1820-1870 Queda da cotação do

algodão no mercado

XIX Plantio de cana-de-açúcar 1830-1900 Desvalorização da rapadura

e pragas

XIX-XX Plantio de café 1890-1920 Pragas na área de plantação

XX Plantio de agave 1944-1952 Queda do preço no mercado

externo

XX Criação de gado 1940-1970 Impossibilidade de

competição

Fonte: (MORAES, 2008).

Além dos dados relatados, ALMEIDA (1957) lembra o fato de Areia não ter sido

agraciada com a estrada de ferro que foi construída na região no final do século XIX. Segundo

o autor, esse fato dificultou significativamente as iniciativas comerciais no município, uma

vez que o deixava em desvantagem no que diz respeito à competitividade, já que o

escoamento de seus produtos não contava com a rapidez e eficiência propiciadas pelos trens

que cortavam o planalto da Borborema.

Outra iniciativa de grande relevância para o território rural de Areia, mas que não

representou necessariamente um ponto positivo para os engenhos, foi a implantação da Usina

Santa Maria, em 1931 (GARCIA JÚNIOR, 1989). Segundo o autor, nas primeiras décadas a

usina passou por momentos de oscilação (safras satisfatórias e períodos de estagnação), e

“apenas durante a década de 1970 (...) a produção é multiplicada por 4,5 vezes, assim

chegando perto da média nacional” (GARCIA JÚNIOR, 1989, p.217).

A partir desse momento até meados da década de 1980 (quando declaram falência), os

usineiros passaram a disputar espaço com os donos de engenhos da região, para atender à sua

necessidade de mais cana-de-açúcar. Esse impulso foi concedido graças à iniciativa

governamental, com o Programa Nacional do Álcool – Proálcool. (ALMEIDA, 2010)10

.

Alguns engenhos pararam sua produção e passaram a vender a cana necessária para alimentar

as máquinas da usina; outros, sem condições de competir, são incorporados às suas terras.

10

De acordo com Boris Fausto, em “História do Brasil”, enquanto iniciativa governamental, o Proálcool buscava

sanar um dos problemas advindos de uma das mais expressivas crises mundiais do petróleo, na década de 1970.

O programa tinha o intuito de beneficiar a produção do álcool combustível. Aos produtores de cana-de-açúcar e

às indústrias automobilísticas que desenvolvessem carros movidos a álcool eram concedidos incentivos fiscais e

juros abaixo das taxas de mercado. Graças a essas ações governamentais, em 1983 assiste-se a elevação das

vendas de veículos movidos a álcool e, em 1991, cerca de 60% dos automóveis tinham esse produto como fonte

de energia. Entretanto, esse momento áureo foi seguido por uma série de problemas, gerados principalmente

pelos benefícios concedidos aos produtores da cana-de-açúcar e aos industriais produtores de veículos movidos a

álcool, tais como: elevação da dívida pública e aumento dos latifúndios produtores de cana-de-açúcar.

www.brasilescola.com.br. – Acesso em 05 de Janeiro de 2013.

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Os engenhos ficam enfraquecidos, diminuindo a fabricação da rapadura e da

aguardente, e sendo obrigados a “forçar o crescimento das canas fornecidas” (GARCIA

JÚNIOR, 1989, p.221). Na década de 1970, há uma considerável anexação de engenhos da

região brejeira pela usina, fato exposto no quadro a seguir:

Quadro 1: Número de Engenhos de Propriedade da Usina Santa Maria – 1978.

Municípios Número Área (em ha)

Areia 04 1.219

Serraria 02 619

Pilões 04 895

Total 10 2.805

Fonte: GARCIA JÚNIOR, 1989.

Esse movimento de apogeu da Usina Santa Maria durou de 1930 até a década de 1980,

quando houve o declínio na produção de álcool, solapando, mais uma vez, a economia

canavieira do município de Areia11

. Sem a representatividade dos engenhos e contando com a

falência da Usina, era evidente o momento de crise, “o que levou várias famílias a

procurarem outros lugares para habitar e trabalhar” (SILVA, 2011, p.59).

Num recorte temporal que vai de 1970 a 2010, evidencia-se o decréscimo

populacional no município de Areia, sendo o campo a área que mais apresenta diminuição

quanto à densidade demográfica. Pode-se afirmar, portanto, que graças às “mudanças que

ocorriam na atividade canavieira no município de Areia (...), as condições de vida e de

trabalho dos antigos moradores foram se agravando com o passar do tempo, o que os levou a

se organizarem” (FIÚZA, 1998, p.101).

11

“A Usina Santa Maria representou, na área, uma nova forma de organização da cultura canavieira. As relações

tradicionais, baseadas na existência do morador e do parceiro, foram sendo substituídas pelo trabalho

assalariado. Os trabalhadores que, anteriormente, viviam na propriedade onde trabalhavam, foram obrigados a se

mudarem para a ciade e passaram a receber por diária ou por tarefa. São conhecidos como ambulantes, diaristas,

volantes, boias-frias, entre outras denominações. Antes existia o morador que vivia no sítio e trabalhava no

engenho de rapadura, agora existe o assalariado que mora na cidade e vai trabalhar na usina. Essa mudança teve

como uma de suas consequências, o crescimento desordenado da cidade que não tinha condições de receber esse

grande número de pessoas que se mudaram do campo e que foram se instalando na periferia, ocupando as

encostas das montanhas”. (FIÚZA, Alexandre Felipe et.al. Uma História de Areia. João Pessoa:

Universitária/UFPB/PRAC/NDIHR, 1998).

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Gráfico 1: Índice população de 1970 a 2010, com intervalos de 10 anos

Fonte: SILVA, 2011.

Assiste-se, portanto, a uma nova configuração do território areiense, tanto no que se

refere à sua importância econômica, quanto à sua densidade demográfica. As perspectivas de

vida nos engenhos, que para os trabalhadores já era marcada pela exploração, se tornaram

ainda menos atraentes por não oferecerem subsídios para a permanência de seus habitantes,

como: empregos permanentes, produção em grande escala, ou melhorias nas condições de

trabalho e habitação.

De acordo com os dados oferecidos no gráfico, é evidente a considerável evasão do

campo entre 1970 e 2010, computando o número de 13.481 moradores que optaram ou foram

levados a deixar as propriedades rurais nos 40 anos apresentados. Inclusive, boa parte dos

trabalhadores de alguns engenhos (como o Triunfo), são moradores da “zona urbana” de

Areia, o que demonstra a preferência da população em habitar a sede do município, mesmo

quando seus meios de subsistência se encontram no “espaço rural”12

.

Segundo FERREIRA (2010),

Alguns engenhos têm caído em fogo morto devido às alterações econômicas

na região. Isto ocorre de uma série de fatores: os terrenos acidentados do

Brejo, que não permitem a mecanização da lavoura; o problema da falta de

trabalhadores rurais na região; o baixo preço da rapadura que dificulta o

aumento do salário e o aumento da mão de obra. Por tudo isso alguns

proprietários estão desistindo da produção canavieira, introduzindo a

pecuária em suas terras, ocorrendo, assim mais uma mudança de cultura

12

Essa é uma das características ressaltadas pelos teóricos quando da análise dos aspectos constitutivos da

ruralidade no momento atual, que registram o “aumento do emprego em certas áreas rurais” (CARNEIRO e

TEIXEIRA, 2012).

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como forma de tentar resolver os problemas econômicos. (FERREIRA,

2010, p.63)

Entretanto, embora não possuam a mesma significância de outrora, nas duas últimas

décadas os engenhos têm ampliado suas atividades e alcançado certa visibilidade enquanto

unidades produtoras de aguardente e de rapadura13

. Um dos principais motivos para esse

retorno às tradicionais movimentações econômicas pautadas nos engenhos é a ampliação

comercial da aguardente, que tem conseguido um mercado consumidor considerável. A

“cachaça Triunfo”, produzida no engenho de mesmo nome, se constitui um dos exemplos

mais emblemáticos da bem sucedida iniciativa econômica pautada nos elementos locais.

Outro aspecto que fomenta as práticas produtivas com base na cana-de-açúcar é a

necessidade de alguns proprietários manterem vivas as características que fazem parte da

história das localidades. O peso da tradição é sentido, principalmente, entre os produtores de

rapadura, posto que, embora o produto venha perdendo a expressividade valorativa no

mercado, tornando onerosa sua fabricação e negociação, alguns insistem em sua fabricação,

ainda que não se detenham apenas a ela. Geralmente, nos engenhos em que há a produção da

rapadura também se fabrica a aguardente como elemento complementar.

Alguns donos de engenhos, ao continuarem a produção da rapadura, buscam manter

vivas imagens de um passado promissor, no qual seus grupos familiares tinham destaque e

visibilidade por meio da produção desse elemento, inclusive projetando-se para além da esfera

econômica, englobando a representação política, social e cultural. Essa continuidade e sua

transmissão estão imbricadas dentro das relações de poder (BOURDIEU, 2011) que se

estabelecem na sociedade areiense por meio dos discursos e das práticas.

Outros proprietários, no entanto, embora reticentes quanto a parar o seu processo

produtivo, terminam por não conseguirem manter suas atividades tradicionais. O Engenho

Mineiro, por exemplo, parou a fabricação de rapadura por ser mais compensatório plantar a

cana-de-açúcar para vender ao Engenho Triunfo, do que manter a atividade produtiva em

questão14

.

De acordo com SILVA; DINIZ (2009), a atual configuração econômica dos engenhos

lhes propicia o desenvolvimento da seguinte produção15

:

13

Parecer do secretário de infraestrutura do município de Areia, em 2012. 14

Dados fornecidos por um dos proprietários do Engenho Mineiro, Gutemberg Barreto, em entrevista no dia 16

de maio de 2012. 15

Alguns engenhos se detêm na fabricação de mais de um produto, sendo mais comum a associação da

aguardente e da rapadura.

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Quadro 2: Principais Produtos comercializados pelos engenhos areienses

Produtos Nº de engenhos que comercializam

Açúcar mascavo 02

Cachaça 19

Rapadura 16

Melaço 03

Mel 06

Batida 03

Fonte: SILVA; DINIZ (2009)

Há, portanto, certo reaquecimento da economia areiense baseada no funcionamento

dos engenhos nas duas últimas décadas, embora de forma modesta, sem a expressividade do

tempo de outrora. Além dos dados expostos, pode-se afirmar que algumas iniciativas de

cunho turístico têm impulsionado a revalorização de parte dessas áreas, principalmente

mediante a implementação de um dos projetos do SEBRAE, o “Caminho dos Engenhos”16

.

Dentre outros que fazem (ou fizeram) parte desse circuito turístico, estão o Engenho Mineiro,

o Engenho Bujari e o Engenho Triunfo.

O Engenho Mineiro possui uma extensão territorial de 150 hectares, dos quais 15

hectares são ocupados por plantações de cana-de-açúcar. Embora tenha sido uma das unidades

mais representativas quanto à cultura de subsistência e produção de gêneros advindos da cana-

de-açúcar em tempos remotos, no momento atual essas atividades não são praticadas de forma

relevante, pois a propriedade, que há mais ou menos três décadas atrás contava no mínimo

com 22 grupos familiares, hoje tem assentadas apenas duas famílias de trabalhadores,

totalizando um número de 8 pessoas. Dessas pessoas contabilizadas, apenas duas são

funcionárias do engenho (o vaqueiro e o ajudante de serviços gerais), sem direitos trabalhistas

assegurados17

.

Segundo seu proprietário, além do cultivo da cana-de-açúcar, a pecuária é apontada

como atividade de grande significância para o engenho, além da produção de queijo e de

polpa de frutas. Enquanto a cana, que anualmente chega a uma produção de 300 toneladas, é

vendida a outros engenhos da região (Engenho Triunfo), o queijo e a polpa de frutas são

destinados às padarias, lanchonetes e restaurantes da cidade. Entretanto, o referido engenho

16

“Os Caminhos do Engenho fazem parte do projeto „Roteiro Turístico do Brejo‟, desenvolvido pelo Sebrae em

dez municípios. Também integram o roteiro os „Caminhos do Frio‟ e os „Caminhos do Padre Ibiapina‟. (…) O

Roteiro Turístico do Brejo surgiu em 2006 e envolve parceiros como o Sebrae/PB, prefeituras municipais,

governo do Estado, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Ministério do Turismo e

iniciativa privada”. www.investne.com.br/.../Caminho-do-Engenho - Acesso em 03 de Janeiro de 2013. 17

Dados fornecidos por um dos proprietários do Engenho Mineiro, Gutemberg Barreto, em entrevista no dia 16 de maio de 2012.

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não mais realiza a produção do mel e do melaço. Outrora, importantes produtores de rapadura,

hoje os proprietários não se detêm mais a atividades dessa natureza. Alguns dos motivos

apresentados são os altos custos e a falta de mão de obra para esse tipo de trabalho.

Outra unidade rural que outrora gozou de destaque econômico na região é o Engenho

Bujari, cuja extensão territorial chega a 500 hectares, sendo boa parte coberto por mata

virgem, excetuando-se 80 hectares destinados à prática da pecuária, e cerca de 120 hectares

voltados ao cultivo da cana-de-açúcar. Como a propriedade abriga 15 famílias (totalizando um

número aproximado de 60 moradores), há a prática da cultura de subsistência18

,

principalmente o cultivo do milho, do feijão e da macaxeira. Os moradores também têm a

liberdade de usufruir de frutas típicas encontradas no engenho19

.

Do número de moradores exposto, 15 exercem funções na produção do engenho,

como: corte e limpeza da cana, produção da cachaça e da rapadura, sendo essas atividades

desenvolvidas na bagaceira, na casa de destilação ou em outras dependências do engenho. Por

dia, esses trabalhadores conseguem produzir 1.800 kg de rapadura e 200 litros de cachaça.

Seguindo uma vertente menos tradicional quanto à produção dos derivados da cana-

de-açúcar, se encontra o Engenho Triunfo que, em comparação aos demais engenhos da

região brejeira, conta com um maquinário mais moderno no processo de fabricação da

cachaça, que leva o mesmo nome da unidade produtiva. A cachaça Triunfo tem grande

aceitação, tanto no mercado local, quanto em outras regiões do Brasil e no exterior.

De acordo com o administrador, o Engenho Triunfo tem por extensão territorial 120

hectares, dos quais aproximadamente 50 hectares são utilizados para o plantio e

beneficiamento da cana-de-açúcar. Outras atividades agrícolas são realizadas visando atender

as necessidades do próprio engenho. Embora não seja voltado diretamente para o comércio, o

cultivo de mangueiras, cajueiros, mamoeiros, cajazeiras e jabuticabeiras possibilita o

oferecimento de frutos da terra no processo de degustação da cachaça, momento oferecido aos

turistas durante a visitação. Além dessas práticas, também é realizada a plantação de culturas

de subsistência, principalmente o feijão, o milho e a mandioca.

O engenho conta com 45 funcionários trabalhando em diversos setores: no corte da

cana, na moagem, na destilação e no engarrafamento da cachaça. Os direitos trabalhistas dos

18

Os moradores do referido engenho constroem suas casas na propriedade, e nas proximidades efetuam o plantio

de algumas culturas agrícolas para seu usufruto. Essas ações são isentas de obrigações para com o dono do

engenho, que também não se preocupa em fornecer ferramentas ou sementes para esses grupos familiares. Além

disso, os moradores podem colher os frutos das árvores localizadas nas terras ocupadas. 19

Dados fornecidos por Leonardo Jardelino, proprietário do Engenho Bujari, em entrevista no dia 08 de maio de

2012.

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funcionários envolvidos no processo de produção são assegurados. Do número de

trabalhadores sugeridos, apenas dois são moradores do referido engenho que, com suas

famílias, computam o número de 10 pessoas a ocuparem o território de forma permanente.

A produção da cachaça atinge uma média de 60 mil garrafas por semana, totalizando

uma média de 250 mil garrafas por mês. Para manter essa produtividade e o escoamento que

ela demanda, são gerados vários empregos indiretos, uma média de 300 trabalhadores, como:

agricultores de outros engenhos que fornecem a cana-de-açúcar para a produção da Cachaça

Triunfo, transportadoras, recepcionistas, entre outros20

.

Embora a propriedade faça o cultivo da cana-de-açúcar para alimentar a demanda na

produção da cachaça, é necessária a compra da cana produzida em propriedades

circunvizinhas, nos engenhos de fogo morto que, mesmo sem produzir derivados da cana,

executam seu plantio para a venda, sendo essa sua principal fonte de renda. No entanto, os

proprietários do Engenho Triunfo almejam se tornar autossuficientes no que se refere à

produção da cana-de-açúcar. Para tanto, começaram a adquirir propriedades na região,

ampliando sua propriedade. Uma das primeiras aquisições foi o antigo Engenho Macaíba, que

já produz a matéria-prima para a fabricação da cachaça.

De acordo com o administrador do Engenho Triunfo, uma das principais concorrentes

da cachaça produzida nessa unidade é a que é fabricada em Pirpirituba, cujo nome é cachaça

Serra Limpa que, inclusive, é autossuficiente no que se refere ao plantio da cana. Numa busca

por não perder mercado consumidor e manter-se firme na concorrência, é imprescindível que

o Engenho Triunfo também consiga plantar 100% do que necessite para alimentar suas

máquinas.

O território areiense é, portanto, uma construção sócio-espacial e cultural quando

compreendido enquanto espaço de uso, com forma, função e estrutura definidas com base nas

relações grupais que nele se desenvolvem, tornando-o espaço vivido. Os engenhos abarcam

em si toda uma complexidade relacional envolvendo questões econômicas, mas indo para

além delas, formando um quadro social distinto e o caráter cultural do espaço rural, numa teia

que não dispensa as relações de poder legitimados por meio do domínio simbólico.

Quer se trate de relações existenciais ou produtivas todas são relações de

poder, visto que há interação entre os atores que procuram modificar tanto as

relações com a natureza como as relações sociais. Os atores, sem se darem

conta disso, se auto modificam também. O poder é inevitável e, de modo

algum, inocente. (RAFFESTIN, 1993, p. 158).

20

Dados fornecidos pelo administrador do Engenho Triunfo, em entrevista concedida no dia 16 de maio de 2012.

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A forma de entendimento que os atores sociais formulam sobre o espaço está

vinculada à construção mental e à sua construção concreta e cotidiana. O processo de

inovação que se firma nos engenhos sugere serem essas unidades produtivas lugares de

continuidades e descontinuidades, de ações variadas e representações múltiplas, já que vários

são os atores sociais que neles atuam (donos de engenhos, trabalhadores, moradores, órgãos

governamentais), cada grupo buscando a significância para esses espaços de vivência, de

acordo com os valores por eles despertados.

Assim, sob a perspectiva idealista (simbólica) sugerida por HAESBAERT (2010), o

território areiense suscita vários elementos representativos para os diversificados grupos

sociais que o compõe. Portanto, a representação significa, (...) “mais do que uma simples

indicação da localidade dos fenômenos; ela permite, com efeito, resgatar a inteligibilidade

que os fatos espaciais adquirem quando são compreendidos a partir de seus contextos

próprios”. (GOMES, 1996, p. 312)

O entendimento e reconhecimento do espaço pode ser apresentado de várias formas,

de acordo com as necessidades dos atores sociais envolvidos em sua dinâmica. No caso de

Areia, uma das formas oficiais de reconhecimento se deu a partir de seus dois processos de

tombamento: em 1979 seu centro foi considerado pelo IPHAEP (Instituto do Patrimônio

Histórico e Artístico do Estado da Paraíba), patrimônio estadual – primeira cidade paraibana a

receber essa classificação (CAVALCANTI Filho & MOURA, 2003); em 2006, por

intermédio do IPHAN, seu centro e entorno são tombados em nível federal ostentando, mais

uma vez, a primazia nesse processo (BRASIL, 2009).

O fato de ter sido pioneira em vários acontecimentos e aspectos é utilizado pelos

escritores que se detêm sobre a história local como sendo um elemento capaz de assegurar ao

município um lugar de destaque entre às demais localidades circundantes.

(...) a primeira cidade a abolir a escravatura; onde foi criado o primeiro

teatro do Estado, em 1859 (Teatro Minerva); e o primeiro município a

possuir uma escola de ensino superior voltado às questões agrárias (Escola

de Agronomia, hoje Centro de Ciências Agrárias). (SILVA, 2011, p.56)

O discurso enaltecedor de Horácio de Almeida continua sendo utilizado e ampliado

entre os que se detêm a apresentar a cidade nos dias atuais21

, vista como espaço da

21

Ver: CAVALCANTI Filho; Caju. O Patrimônio Arquitetônico de Areia: Um Inventário. João Pessoa: Ideia,

2005; CAVALCANTI Filho; Moura. O Patrimônio Ambiental Urbano de Areia. João Pessoa: Ideia, 2003.

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expressividade cultural paraibana por ser o berço de vários artistas renomados, a exemplo de

Pedro Américo, “pintor de estilo Neoclassicista de projeção internacional” (SILVA, 2006),

Aurélio de Figueiredo e José Américo de Almeida. A história oficial e a expressividade dos

renomados artistas locais permanecem em seu posto de destaque, inabaláveis.

Outro aspecto de grande relevância na literatura sobre o município areiense diz

respeito à sua constituição arquitetônica. Há destaque para a opulência dos sobrados, para os

prédios geminados com detalhes fronteiriços trabalhados ou cobertos por azulejos, para o

conjunto de edificações comerciais homogeneizado (CAVALCANTI FILHO; MOURA,

2003), para o teatro de estilo imperial, e para as igrejas emblemáticas das relações religiosas e

sociais. Ou seja, todo o conjunto arquitetônico da cidade é apresentado de forma a evidenciar

sua importância dentro do contexto histórico cultural da Paraíba.

Foto 3: Solar José Rufino

Fonte: Acervo pessoal-Everaldo Gomes da Silva, 2010.

Os diversos autores que se detêm a analisar a significância do município areiense

afirmam que, embora o espaço urbano goze de maior visibilidade, é graças às iniciativas

rurais que o centro histórico apresenta uma estrutura histórico/cultural de expressividade, pois

foi a cana-de-açúcar que “trouxe para o brejo Paraibano, em destaque o município de Areia,

uma fonte de riqueza, vista em sua arquitetura remota do século XIX” (SILVA; DINIZ, 2009,

p.10). Portanto, há uma interrelação entre o urbano e o rural areiense, sendo o primeiro visto

como fruto da prosperidade do segundo. Como afirma MORAES (2008),

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Em todas as versões consultadas, está o elemento rural, e durante todo o

processo de desenvolvimento de Areia, percebe-se a força e a forte

imposição das culturas e seus reflexos no desenvolvimento e na riqueza da

cidade. A agricultura e a incipiente indústria açucareira foram os elementos

propulsores do desenvolvimento areiense. (MORAES, 2008, p.34)

Nos antigos engenhos são encontradas construções do século XIX que chamam

atenção por seus distintos detalhes arquitetônicos22

. A casa grande do engenho Várzea (hoje

Museu da Rapadura) demonstra o poder de seu antigo proprietário por meio das várias janelas

(sinal de destaque social), além de portas espaçosas e um acervo mobiliário que desperta o

imaginário dos visitantes23

. Esses objetos se constituem elementos de uma identidade local

quando retratam a história dos antigos habitantes da região. Próximo à casa grande, se

encontra uma das estalagens onde se processava a produção dos pães de açúcar, com moenda

de tração animal, e vários outros objetos referentes à produção açucareira.

Foto 4: Casa Grande do Engenho Várzea (Museu da Rapadura)

Fonte: Acervo pessoal-Luciana Gomes, 2012.

A forma de apropriação do território rural areiense está vinculada à sua cultura e

tradição, embora passe por transformações advindas graças às mudanças no setor agrícola e

suas novas relações de convivência com o urbano, e com as novas visões que se proliferam

sobre os espaços. Há, portanto, uma nova configuração do rural (CARNEIRO, 2012),

inclusive por conta das nuances capitalistas, vistas muitas vezes como contraditórias por

apresentar dois vieses distintos: por um lado busca a renovação, a mudança estrutural

22

Dado constatado mediante visitação aos engenhos Bujari e Mineiro, em novembro de 2012. 23

Parecer oferecido pelo guia turístico do museu, em visita no dia 24 de Junho de 2013.

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apropriando-se do discurso que defende o conforto, a comodidade e o avanço nas práticas

produtivas mediante um processo de modernização; por outro, valoriza o tradicional enquanto

elemento de singularidade que pode ser explorado em atividades econômicas diferenciadas,

como o turismo rural.

Essa forma diferenciada de se perceber o rural no Brasil é fruto da roupagem com a

qual se reveste no período atual, em que se ressalta “os „novos tipos de ocupações‟,

estimulados pela exploração do turismo e pela transformação de espaços rurais em áreas de

lazer” (CARNEIRO, 2012, p. 29).

Com relação ao processo de fabricação dos produtos baseados na cana-de-açúcar,

algumas práticas continuam sendo utilizadas. Entretanto, muito se perdeu com o tempo e as

mudanças por ele trazidas. Uma das tradições preservadas nos engenhos areienses é a maneira

artesanal de se fabricar a rapadura que, sem maiores recursos tecnológicos, conta com a

experiência do mestre para alcançar o ponto do melaço. Porém, as cantigas, antes entoadas no

processo de fabricação, não mais são executadas, segundo os próprios trabalhadores24

. E,

embora abundantes na região, a palha da bananeira dificilmente é utilizada para embalar a

rapadura (como outrora), ainda que a batida seja embalada com a palha da cana-de-açúcar,

prática comum desde que se iniciou a confecção do produto.

Com relação ao aspecto social e sua precipitação sobre o cultural, FERREIRA (2010)

assegura que:

As mudanças sociais, que implicaram na diminuição do número de

trabalhadores moradores dos engenhos, aos poucos extinguiram as festas

religiosas, os folguedos populares e outras manifestações do folclore que

tradicionalmente ocorriam nas propriedades. A tradição das cantigas também

vem perdendo com o tempo, sobretudo aquelas entoadas pelos mestres

durante o preparo da rapadura, sem que haja qualquer tipo de registro. Esse

patrimônio intangível agrega ao engenho o valor cultural, e é uma parte

importante dele que precisa ser preservada. (FERREIRA, 2010, p.78)

Esses aspectos encontrados nos engenhos fomentam os laços identitários dos grupos

sociais com o local, munindo o território areiense de valor cultural, tanto no que se refere à

sua história social e econômica, quanto à sua paisagem natural e construída. Assim, numa

perspectiva relacional, o material e o imaterial formam um todo homogêneo, embora

permeado por visões distintas e relações de conflito.

24

Informação adquirida mediante entrevista realizada entre trabalhadores do engenho Bujari, no dia 8 de maio de

2012.

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É a partir desse intercâmbio entre o sujeito e o espaço que surgem as representações

territoriais, ou seja, os significados atribuídos aos lugares pelos grupos sociais que o

produzem e dele se apropriam. Essas representações se configuram dentro de um espectro

simbólico que leva em consideração um contexto abrangente, dando visibilidade às

formulações sociais, políticas, econômicas e culturais que, inevitavelmente, revelam relações

de poder.

1.3. Representações Territoriais: construções simbólicas e relações sociais no espaço

Partindo dos pressupostos que apresentam o território sob a perspectiva integradora, a

história vivida por determinadas comunidades é um dos principais elementos de constituição

do espaço. Desenvolve-se a relação entre a identidade dos grupos sociais dentro de seu âmbito

de vivência e o seu consequente sentimento de pertença quando há a “elucidação dos padrões

de significação e a explicação interpretativa dos significados incorporados às formas

simbólicas”. (THOMPSON, 1995, p.176)

Essa se constitui uma das várias formas de leitura do espaço vivido que possibilita o

olhar reflexivo e que permite a compreensão dos significados dos lugares (CASTELLAR,

2000). Revestido de novas significâncias, o território abarca o sentido imaginário,

despertando as identidades sociais e culturais. Para além das relações de poder, são levadas

em consideração as experiências dos indivíduos com o seu entorno no decorrer do tempo e

diante das inevitáveis mudanças que acompanham as temporalidades. E é essa possibilidade

de vislumbre que forma as bases propícias para o desenvolvimento das Representações

Territoriais, que seria como se processam o entendimento e a valoração do espaço de vivência

pelos grupos sociais que o constituem, num processo que suscita a subjetividade e as

referências identitárias.

Parafraseando SILVEIRA e RONSINI (2001),

Nas representações articulam-se forma e conteúdo para produzir mensagens,

onde a autoconsciência do sujeito enquanto identidade representada

determina contemplar a realidade da identidade como realidade representada.

(SILVEIRA; RONSINI, 2001, p.24)

As Representações Territoriais têm no âmbito das construções históricas e sociais das

localidades suas condições de existência. Nesses espaços de vivência, são desenvolvidos

processos de significâncias que dão aos seus elementos constitutivos valores próprios,

ímpares, gerando simbologias que ganham força mediante elaborações discursivas que

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defendem os interesses identitários de determinados grupos sociais. Portanto, as

Representações territoriais são forjadas mediante o despertar da sentimentalidade dos atores

sociais para com a localidade da qual se sentem parte, de acordo com os modelos

interpretativos que surgem na dimensão identitária dos territórios.

A identidade, enquanto produto sociocultural, pode ser objeto de interesse

geográfico quando se torna elemento plasmante das disposições territoriais

ou, mais em geral, quando determina, ou está em grau de determinar,

modificações estruturais, relacionais e de sentido no espaço geográfico.

(POLLICE, 2010, p. 08)

Sendo assim, as Representações Territoriais têm na cultura um de seus pontos de apoio,

uma vez que ela se torna um elemento condutor das referências subjetivas das quais se reveste

o lugar e, consequentemente, toma parte do processo de construção e reconstrução do espaço

vivido. À cultura é creditada também a possibilidade de articular os aspectos social e

simbólico (POLLICE, 2010) por meio de suas várias formas de expressão que, por sua vez,

despertam variados olhares e interpretações.

Dentre os principais aspectos culturais representativos estão aqueles cuja materialidade

permite a comunicação dos atributos locais de forma mais concreta, palpável, sendo

considerados valiosos elementos de construção do espaço por também virem nutridos de

simbologias (HAESBAERT, 1997). As elaborações arquitetônicas são um dos mais

destacados bens materiais que sugerem a identidade de grupos sociais que se encontram

presentes em determinados lugares e contextos. Esses elementos construídos são analisados

sob uma perspectiva integradora quando são capazes de comunicar algo mais que estilos e

aparências, quando são capazes de despertar sentimentos, instigar a subjetividade e ligar

homens e espaço num elo paralelo e contínuo, que tem nas construções diárias um

emaranhado de teias que se complementam no curso da história.

Essa importância para além da materialidade que é atribuída aos elementos que formam

os lugares é o que possibilita a construção das representações territoriais. Como afirma

HAESBAERT (1997), é com base nessa leitura que o território passa a ser entendido como

“culturalista”, fruto do imaginário que nutre a identidade sociocultural sobre o espaço. As

representações territoriais são, portanto, “o sentido de pertencer a uma região”

(HAESBAERT, 1997, p.25), levando em consideração que:

A força dos símbolos, das imagens e do imaginário (...) possui um inegável

valor explicativo. (...) as representações permanecem nos dispositivos

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simbólicos, nas práticas codificadas e ritualizadas, no imaginário e em suas

projeções. (CASTRO, 1997, p.156)

Em se tratando dos espaços rurais que formam o território areiense, os conhecimentos

construídos e compartilhados o dotam de significâncias subjetivas, seja por meio da vivência

cotidiana daqueles que o compõem na atualidade, seja pelas concepções e ideologias que

foram formuladas no transcorrer da história. A caracterização do rural enquanto primeiro

espaço de desenvolvimento de atividades econômicas e de socialização no município o torna

“território (...) cultural dinâmico, como lugar de produção de vida, trabalho, cultura, saberes

e valores” (ARROYO, 2006, p. 10). A singularidade quanto à utilização do espaço rural, o

estilo de vida que ele suscita, suas especificidades físico-naturais, e a forma como é entendido

são as bases das referências identitárias que lhe constituem.

Este mundo rural se move em um espaço específico, o espaço rural,

entendido em sua dupla face. Em primeiro lugar, enquanto um espaço físico

diferenciado. Faz-se, aqui, referência à construção sociais do espaço rural,

resultante especialmente da ocupação do território, das formas de dominação

social que tem como base material a estrutura de posse e uso da terra e

outros recursos naturais, como a água, da conservação e uso social das

paisagens naturais e construídas e das relações campo-cidade. Em segundo

lugar, enquanto um lugar de vida, isto é, lugar onde se vive (particularidades

do modo de vida e referência “identitária”) e lugar de onde se vê e se vive o

mundo (a cidadania do homem rural e sua inserção na sociedade nacional).

(WANDERLEY, 2001, p. 32)

Os engenhos areienses guardam em si aspectos materiais e imateriais vistos como

emblemáticos da história econômica e social da região. A estrutura física e as práticas

culturais revestem esses lugares de singularidade e representatividade, guarnecendo-os de

elementos identitários que conectam os atores sociais ao cenário local, num processo

interativo e contínuo. Entretanto, é importante ressaltar a oferta simbólica heterogênea que os

engenhos oferecem, pois vários são os grupos sociais que lançam sobre eles os seus olhares,

entendendo-o e modelando-o de acordo com suas perspectivas, anseios e necessidades.

Para os donos de engenhos, as unidades produtoras têm sua significância atrelada ao

surgimento da cidade e ao desenvolvimento econômico e cultural da região. Segundo um dos

proprietários de Engenho Mineiro, sua unidade produtiva existe desde 1874, assistindo e

participando das etapas de crescimento do município, assim também como de seus momentos

de crise na agricultura e de decadência no que concerne à economia.

De acordo com o proprietário, deve-se ter em mente que a história dos engenhos

areienses, principalmente os que datam do século XIX, está intimamente ligada ao surgimento

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da cidade. Sendo assim, os engenhos se tornam parte indissociável da história do município.

Além disso, levanta a importância do resgate do cultural, numa busca pela revalorização dos

antepassados que fizeram parte da construção das unidades produtivas e que deram os

contornos à economia, às práticas artísticas e à arquitetura local.

Seguindo um viés discursivo similar, o proprietário do Engenho Bujari afirma serem os

engenhos elementos de representatividade quanto às questões concernentes à economia e aos

pioneirismos nesses espaços. Ele afirma:

O Engenho Bujari faz parte da formação socioeconômica e cultural da

região. Posso afirmar que é o fato dessa propriedade ter originado várias

culturas econômicas que acabaram alavancando a economia local como, por

exemplo, introduzindo o agave pioneiramente nessas redondezas- por

Germano de Freitas-, o café e o açúcar. A máquina de desfibrar também foi

empregada pela primeira vez aqui. (L. J., proprietário do Engenho Bujari, em

setembro de 2012)

Quanto à representatividade do Engenho Triunfo, mais uma vez é dado ênfase ao

aspecto econômico excluindo-se, entretanto, sua contribuição quanto à importância cultural.

De acordo com o administrador da referida unidade produtiva, o engenho existe há apenas 15

anos, não possuindo ligações quanto à história socioeconômica do município em séculos

anteriores. Mas, se levado em consideração o momento atual, essa unidade se destaca quanto

às questões trabalhistas, pois gera muitos empregos para moradores da cidade e algunsque

habitam a propriedade (membros de duas famílias).

Foto 5: Depósitos de conservação da cachaça Triunfo

Fonte: Acervo pessoal – Vanderleia dos Santos, 2012

Os discursos proferidos pelos proprietários e administradores dos engenhos Mineiro,

Bujari e Triunfo, deixam claro que para esse grupo o território possui uma conotação

simbólica e concreta de apropriação e, portanto, uma perspectiva integradora que suscita tanto

as experiências vividas no local, quanto as necessidades de uso do espaço. Para Lefebvre, são

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as práticas sociais e técnicas sobre o espaço natural que o transformam, mediante um processo

de dominação que tem por intuito atender as necessidades do grupo (LEFEBVRE, 2000,

p.191).

As representações desprendidas sobre o território, em se tratando do grupo específico

dos donos de engenhos, têm na vertente econômica a maior visibilidade, posto que o espaço é

entendido como fonte de recursos. Sob outro olhar, é possível se perceber o entendimento do

território com base na vertente cultural quando se evidencia o caráter simbólico e subjetivo

dos engenhos.

Ao suscitarem a importância dessas unidades produtivas na construção da economia

local e do desenvolvimento artístico em momentos anteriores, resgatando valores e dando

visibilidade a personagens ilustres (por vezes membros da família dos atuais proprietários), há

uma apropriação simbólica do território e uma tentativa de manter viva a importância de

grupos familiares que outrora eram os eixos formadores da política e da economia locais.

A importância cultural dos engenhos é resguardada entre os proprietários, a exemplo do

dono do Engenho Bujari, quando este afirma que, mesmo sendo a rapadura um produto mais

oneroso que a cachaça, não há pretensão de sua parte em extinguir a confecção desse derivado

da cana, pois é uma forma de manter viva a memória de seu pai, destacado fabricante de

rapadura na região em tempos anteriores.Valendo-se da procura pelo produto por outras

camadas da sociedade que não as mais carentes, a qualidade, pureza e as embalagens foram

modificadas buscando assim, atender um novo mercado consumidor que cada vez mais

valoriza os artefatos locais.

Foto 6: Fabricação artesanal da rapadura – Engenho Bujari

Fonte: Acervo pessoal –

Vanderleia dos Santos, 2012

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Embora passando por um melhoramento quanto à fabricação dos produtos derivados da

cana-de-açúcar, no Engenho Bujari são mantidas as formas tradicionais de produção, nutrindo

o espaço com bens imateriais a partir dos “modos de fazer” antigos, agregando aos elementos

fabricados uma importância simbólica. Entretanto, determinadas iniciativas e atitudes se

modificam na tentativa de atender as demandas e no intuito de tornar mais atraentes os

produtos. A palha da bananeira que em momentos anteriores servia para embalar a rapadura,

por exemplo, vem sendo substituída pelas embalagens plásticas.

Outro elemento da construção rural que atesta as mudanças e continuidades nos

engenhos são as edificações. O proprietário do Engenho Mineiro que exerce a administração

da propriedade construiu, há poucos anos, a casa em que mora com sua esposa e filhos, mas

mantém preservada a antiga “casa grande”, habitada por seus pais. Aos visitantes que chegam,

apresenta com orgulho os detalhes arquitetônicos que remontam o século XIX, ampliando a

importância do engenho enquanto elemento emblemático da história do município do qual

participaram ativamente seus antepassados. E, embora se encontre de “fogo morto”, faz

questão que prevaleçam as construções reservadas propriamente à produção e parte dos

objetos voltados à produção de artefatos originários da cana-de-açúcar.

Foto 7: Moenda utilizada para extração do caldo da cana-de-açúcar – Engenho Mineiro

Fonte: Acervo pessoal – Vanderleia dos Santos

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Essas iniciativas de preservação permitem que sejam apreendidos muitos elementos e

práticas que se faziam presentes na zona rural em períodos anteriores. Utensílios, artefatos,

ferramentas dão ideia dos modos de ser, fazer e viver de grupos sociais que habitavam e

trabalhavam nessas localidades. Além disso, permite a reflexão sobre os principais motivos

que levam esses proprietários a manterem viva a memória de um passado próspero, cujos

principais beneficiados eram seus antepassados, que conseguem destaque tanto no aspecto

econômico, quanto político e social. É uma forma de legitimidade, um orgulho fundamentado

numa construção histórica que dá visibilidade a um grupo social que, mesmo não gozando na

atualidade, da significância produtiva e social de outrora, reivindica certo status por ser

descendente de figuras ilustres, vistas como responsáveis pela construção histórico-cultural

que Areia logra nos dias atuais.

Como afirma FERREIRA (2012):

As propriedades rurais constituem formas originais de organização do

espaço humano, locais de vida e trabalho onde se preservam um rico

repositório de singulares modos de vida, de saber e fazer (...). Esta

característica leva à existência de uma infraestrutura que agrega edificações,

com uma linguagem arquitetônica própria que favorecem o surgimento de

formas construídas e paisagens singulares. (FERREIRA, 2012, p. 26)

Embora não seja um engenho tradicional, o Triunfo tem certa visibilidade graças à

tradição da região em produzir artefatos advindos da cana-de-açúcar. Sendo recente, não

participou do círculo agrícola pelo qual passou boa parte das unidades produtoras da região,

mas se beneficiou desse histórico econômico, sendo um dos engenhos mais visitados, na

atualidade, pelos turistas que adentram a zona rural areiense. Evidente que o fato de estar

numa zona que sofreu influência da cana-de-açúcar não é o único motivo para a importância e

evolução do engenho. De acordo com seu administrador, várias foram as iniciativas nesses

quinze anos que permitiram a ascensão e destaque produtivo do Engenho Triunfo, indo desde

qualificações a investimentos consistentes nas atividades produtivas, além de incentivos e

apoio recebidos do SEBRAE, entre outros órgãos.

De acordo com o administrador do Engenho Triunfo:

A representatividade que o engenho tem para nós que estamos envolvidos

com ele é mais voltada para as questões de ordem prática. A propriedade na

qual ele está localizado pertencia ao pai do atual proprietário. Ele e a esposa

investiram, desenvolveram e colocaram o empreendimento para frente,

iniciativa que gerou vários empregos na região, dando possibilidades de

melhoria de vida para muitas pessoas. (Administrador do Engenho Triunfo,

em setembro de 2012)

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Para os proprietários de engenhos, o território é compreendido dentro do contexto de

vivência, sendo interpretado mediante direcionamento discursivo que legitima a importância

do grupo social do qual fazem parte, no que concerne à economia, à história e à cultura da

região. Os espaços de subjetividade possibilitam as construções representativas que, ao serem

expressas pela linguagem, dão sentido ao lugar mediante as aspirações daqueles que

propagam as ideias e que nutrem os engenhos de simbologia, recriando experiências e

interpretando as construções (vistas como patrimônio) materiais e imateriais, tornando

visíveis os sentimentos e as lembranças localizadas na memória. Sendo assim, torna-se

necessário perceber “a memória não apenas como preservação da informação, mas também

como sinal de luta e como processo em andamento” (PORTELLI, 2005, p. 69)

Preservar, valorizar e propagar, portanto, incidem sobre a questão do poder simbólico.

Os proprietários de engenho vêm na continuidade de práticas e na conservação de elementos

materiais (estalagens do engenho e seu maquinário) uma forma de consolidar sua importância

num momento que não lhes é favorável como outrora. Seus entes, que tamanha relevância

tiveram para a localidade em se tratando das questões econômicas, políticas e sociais, deixam-

lhes um legado que não pode ser esquecido, ignorado. E como herdeiros desse legado, esse

grupo exige que para si sejam voltados os olhares e as iniciativas de investimento

governamentais. Os símbolos, portanto, estariam a serviço das classes dominantes

(BOUDIEU, 2011).

As ideologias, por oposição ao mito, produto colectivo e colectivamente

apropriado, servem interesses particulares que tendem a apresentar como

interesses universais, comuns ao conjunto do grupo. A cultura dominante

contribui para a integração real da classe dominante (assegurando uma

comunicação imediata entre todos os seus membros e distinguindo-os das

outras classes); para a integração fictícia da sociedade no seu conjunto,

portanto, à desmobilização (falsa consciência) das classes dominadas; para a

legitimação da ordem estabelecida por meio do estabelecimento das

distinções (hierarquias) e para a legitimação dessas distinções. Este efeito

ideológico, produ-lo a cultura dominante, dissimulando a função de divisão

na função de comunicação: a cultura que une (intermediário de

comunicação) é também a cultura que separa (instrumento de distinção) e

que legitima as distinções compelindo todas as culturas (designadas como

subculturas) a definirem-se pela sua distância em relação à cultura

dominante. (BOUDIEU, 2011, p. 10-11)

Os donos de engenho areienses, ainda hoje, são os que “mandam”, os que possuem a

terra que serve de moradia para seus trabalhadores, que olham do alto - da casa grande - os

arredores extensos (produtivos ou não) que lhes pertencem. Os atores sociais, e nessa primeira

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instância os proprietários de engenhos, agem sobre o território de acordo com a percepção que

ele suscita, sofrendo influência das dimensões econômicas, culturais, políticas e naturais, num

movimento imbricado e dialético capaz de fomentar a consciência de si. Isso porque:

Esses espaços são artifícios que permitem conceber a relação dos homens

com seu passado, por possuir lugares marcados pelas disputas, construções,

vivências de lazer, (de trabalho), entre outros pontos que abrem caminho

para a reflexão dos projetos fincados na história da comunidade local.

(SILVA, 2011, p. 64)

Entretanto, os engenhos areienses, enquanto espaços de vivência e de entendimento

múltiplo, têm importância que abrange outros grupos sociais, a exemplo dos trabalhadores,

homens e mulheres responsáveis pelas atividades desempenhadas nessas unidades produtoras.

Embora tenha havido uma saída massiva dos habitantes do engenho para os núcleos urbanos,

é possível localizar alguns grupos familiares dentro dos engenhos Mineiro, Bujari e Triunfo.

O Engenho Mineiro, que há mais ou menos duas décadas chegou a abrigar 22

famílias25

, hoje tem esse número reduzido para duas famílias, computando um total de 8

pessoas. Dessa soma, a propriedade conta com constância com os serviços de apenas dois

funcionários: um vaqueiro e um ajudante de serviços gerais. Em tempos de plantio e de corte

da cana, são contratados trabalhadores e utilizados os demais moradores da propriedade.

Para os dois funcionários do Engenho Mineiro, a propriedade possibilita uma melhor

qualidade de vida, já que nas terras eles possuem plantações de subsistência que os permitem

alimentar a família, além de moradia assegurada e um trabalho (mesmo sem direitos

trabalhistas garantidos) que complementa aquilo que eles não retiram da terra. Visto como um

ambiente tranquilo, que passa segurança, o engenho é defendido pelos trabalhadores em

questão como um lugar muito bom para se criar os filhos, embora um pouco distante das

escolas.

Um dos trabalhadores do Engenho Mineiro que mora na cidade desde três anos atrás

relata que quando tinha quatro anos foi levado a morar com o avô na referida propriedade, e

aos sete anos começou a ajudá-lo nas lidas do dia. Afirma que, nos 39 anos em que vem

servindo, realizou atividades diversas. No período de moagem, limpava o caldo, cozinhava e

cortava a rapadura, ofício herdado do avô. E complementa:

Já faz uns oito anos que o engenho não tá moendo, aí eu planto cana, limpo,

e quando tá no ponto, ajudo a cortar. Eu ganho por produção, na diária.

Também ajudo a tomar conta do gado. E mesmo tendo vindo morar na

cidade, tenho lá na propriedade umas plantações de milho, feijão, macaxeira,

25

Dado relatado por um dos herdeiros do referido engenho em entrevista no mês de outubro de 2012.

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batata, mandioca e fava. Só vim pra cidade por causa da mulher, com os

meninos crescendo ela achou melhor vir pra cidade. Por mim, tava morando

lá até hoje. Tô na cidade, mas passo o dia todo no Mineiro. Esse engenho pra

mim é tudo. Foi onde cresci, criei meus filhos, e foi lá que eu arrumei e

ainda arrumo o sustento da minha família. Aprendi a ser gente com meu avô,

que me ensinou o valor do trabalho. Tenho muita lembrança boa do Engenho

Mineiro. (Trabalhador do Engenho Mineiro, em setembro de 2012)

O engenho caracteriza-se, de acordo com os relatos apresentados, como um espaço de

memória por propiciar o resgate de acontecimentos vividos, recriados e recontados. Essa

relação entre memória e identidade nutre o território de significância, tornando-o

representativo para os atores sociais ou para o grupo ao qual eles pertençam. Para

HAESBAERT (1999), “a identidade territorial é uma identidade social definida

fundamentalmente através do território, ou seja, dentro de uma relação de apropriação que

se dá tanto no campo das ideias quanto no da realidade concreta” (HAESBAERT, 1999, p.

172).

O modo como o engenho é percebido pelos trabalhadores, cujos entendimentos e falas

foram expostos, permite assegurar que suas representações se formam mediante o

conhecimento do espaço em que se encontram, a partir de sua vivência e suas formulações

mentais pautadas na memória. Um espaço que oferece a sobrevivência e que é carregado de

emoções e sensações por remeter o trabalhador a momentos e práticas passadas. O engenho,

assim entendido, transforma-se em espaço de relações sociais, políticas e econômicas, e num

elemento simbólico identitário. A representação e os laços de pertencimento surgem, portanto,

“não como uma essência intemporal que se manifesta, mas como uma construção imaginária

que se narra” (CANCLINI, 2005, p. 117).

Entre os moradores mais antigos do Bujari, o território também possui uma

representatividade ampla. Para uma das mulheres que nasceu e cresceu na propriedade, o

engenho lhe remete a boas recordações, desde os tempos de seus avós quando estes

realizavam trabalhos diversos, indo do plantio da cana-de-açúcar à confecção da rapadura. As

tradicionais atividades foram realizadas também por seus pais, que a levavam consigo quando

se destinavam aos trabalhos produtivos. Ela relata:

Eu era bem pequena, mas lembro que meu pai levava um radinho quando ia

fazer a rapadura. Aquelas músicas antigas, sabe?!... Bonitas! Quando escuto

hoje me lembro muito dele. Um homem muito trabalhador. Minha mãe

também trabalhava no engenho. Ah! Era todo mundo trabalhando aqui: meus

tios, primos, tudo, tudo. Meu marido também trabalhou, e hoje a gente tem

dois filhos que ajudam a fazer rapadura. Um dos meus meninos, o tio até

queria levar pra São Paulo pra receber R$ 2.000,00 por mês, mas quem disse

que ele quis ir?! Eles gostam muito daqui. (M. S., moradora do Engenho

Bujari, em setembro de 2012)

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Para a referida moradora, o engenho é o cenário no qual sua vida foi se construindo por

gerações seguidas. Em outro momento, afirma não se imaginar deixando a casa em que mora,

nem o engenho que marcou sua infância, onde é possível recordar tantos momentos bons.

Às vezes eu fecho os olhos e vejo direitinho meu pai com aquele chapéu na

cabeça, a enxada na mão, o suor escorrendo de tanto trabalhar. Mas a gente

era feliz, nunca passou fome. Não tinha luxo, mas na miséria ninguém vivia.

A gente tomava garapa o quanto queria, comia puxa... era bom demais. Meus

pais tinham roçado, plantavam feijão, milho, mandioca, e também criavam

ovelhas. Hoje a gente ainda planta as mesmas coisas e cria galinha e porco.

Isso aqui é minha vida. Meus avós, meus pais, eu e meu marido, os filhos e

meus netos agora, tudo criado aqui.

Seus relatos misturam o saudosismo, a identidade com o território e a importância do

mesmo para a subsistência de toda uma família por gerações. O engenho é, portanto,

constituído por elementos simbólicos e concretos, unindo subjetividade e objetividade na

elaboração de consciências individuais e conjuntas, com base na perspectiva integradora.

Para Bossè (2004), os atores sociais (...) “recebem e percebem, constroem e reivindicam

identidades cristalizadas em suas representações e em suas interpretações dos lugares e das

relações sociais” (BOSSÈ, 2004, p. 158). As representações são construídas no transcorrer da

história por meio de práticas discursivas que são acrescidas mediante novas vivências e novos

relatos, que muitas das vezes vêm a legitimar antigos sentidos e valores atribuídos aos

espaços. Os engenhos areienses, nutridos dessas representações, surgem como lugares de

pertencimento, já que seus elementos constitutivos vão para além da materialidade, sendo

perpassados por significâncias que possibilitam a integração entre o território e os atores

sociais.

A importância simbólica atribuída ao território pelos trabalhadores das duas unidas

produtivas (Engenho Mineiro e Engenho Bujari) recebe uma nova conotação. Embora dentro

do contexto de produção e sendo personagens atuantes no processo de continuação da

moagem e confecção dos produtos baseados na cana-de-açúcar, para esses atores sociais o

engenho se apresenta como um espaço que traduz os traços culturais e cotidianos do grupo a

que fazem parte. Não é a expressividade arquitetônica por si só ou a visibilidade e projeção

econômica que os engenhos propiciaram aos antigos donos e seus herdeiros o que lhes fala

mais alto, e sim as construções das relações cotidianas que eles suscitam, os espaços de

vivência que neles se encontram.

Esses campos de produção simbólica (BOUDIEU, 2011) são onde se formam as lutas,

também simbólicas, percebidas no cotidiano, por meio das representações que são formuladas

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sobre o território. O valor que os engenhos suscitam, embora exista um discurso tido como

oficial, é diverso, amplo e estruturado a partir das relações de sentido.

Em se tratando dos trabalhadores do Engenho Triunfo, há uma atenção voltada

principalmente para a praticidade que a unidade propicia. Criado recentemente e direcionado

principalmente para as necessidades de ordem comercial, é visto por aqueles que o compõem

sob uma perspectiva materialista. Os funcionários do referido engenho (quase em sua

totalidade) moram na zona urbana de Areia, deslocando-se diariamente para o local de

trabalho por meio de transportes pessoais ou destinados pela empresa. Seus direitos

trabalhistas são assegurados, sendo todos contratados e com carteira assinada.

Esses funcionários percebem o engenho como elemento de geração de emprego e renda

para a região, sendo essa a sua principal contribuição para o município. Embora não seja um

engenho tradicional, é o mais procurado pelos visitantes que buscam conhecer a zona rural de

Areia. Isso se deve à propagação da cachaça produzida na unidade e à visão empreendedora

dos proprietários.

Uma das funcionárias do Engenho Triunfo, indagada sobre a importância do

empreendimento para Areia, afirmou:

Aqui representa muita coisa na minha vida porque é aqui que eu consigo o

meu salário. Se não fosse o engenho,eu estaria desempregada porque em

Areia é muito difícil conseguir emprego. Esse trabalho foi uma oportunidade

única que surgiu na minha vida, e eu agradeço muito aos proprietários por

isso. (Recepcionista do Engenho Triunfo, em setembro de 2012)

Segundo o gerente, o Engenho Triunfo possui um amplo mercado consumidor para sua

cachaça, tanto no que concerne às transações comerciais entre as regiões brasileiras, como

para o exterior. Gradativamente, com o aumento da demanda, surge a necessidade de novos

profissionais e de mais matéria prima. Por esses motivos, os proprietários têm ampliado a

propriedade para o plantio da cana-de-açúcar e, em evidência, há maior geração de emprego.

Os laços emocionais que se encontram presentes nos relatos dos trabalhadores do

Engenho Mineiro e do Engenho Bujari, não têm a mesma expressividade em se tratando do

Engenho Triunfo. A representação evidente que a última unidade produtora citada possui é a

de propiciar um aparato econômico para seus funcionários por meio da geração de renda e de

emprego.

O engenho Triunfo se encontra dentro do quadro capitalista que se utiliza da cultura

enquanto elemento singular para a promoção da localidade, “exatamente porque as alegações

de singularidade e autenticidade podem ser melhor articuladas enquanto alegações culturais

distintas irreplicáveis” (HARVEY, 2006, p. 227). Mesmo não sendo um engenho tradicional,

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o Triunfo se vale do histórico sócio/econômico da região para promover-se e dar visibilidade

a seu produto, conseguindo unir as necessidades comerciais aos bens simbólicos. E, dentro

dessa realidade, os funcionários são levados a desempenhar suas funções de modo sistemático

e padronizado, de forma que venha a garantir a produtividade almejada. A relação com o

engenho, portanto, torna-se prática, objetiva, dando os contornos a uma representatividade

materialista da unidade produtora.

Para HARVEY (2006),

Ao procurar explorar valores de autenticidade, localidade, história, cultura,

memórias coletivas e tradição, abrem espaço para a reflexão e a ação

política, nas quais alternativas podem ser tanto planejadas como perseguidas.

(HARVEY, 2006, p. 239)

Embora a relação comercial seja percebida nos três engenhos analisados, o Triunfo se

destaca dentro dos moldes capitalistas: tem uma produção em série mais ampla, com

funcionários assistidos em seus direitos legais, mantém transações comerciais para além das

fronteiras nacionais, utiliza-se de maquinas na confecção da cachaça, possui um funcionário

específico voltado para a administração da empresa, busca ser autossuficiente com relação ao

plantio da cana (a matéria-prima da qual o engenho se alimenta). E essa conduta repercute

sobre o entendimento de seus trabalhadores sobre o espaço que inclusive, salvo dois deles,

não habitam a localidade, característica comum a uma empresa rural, mas que foge às

tradicionais relações entre os trabalhadores e os engenhos na região.

Seguindo a tendência capitalista, o SEBRAE sugere serem as localidades nutridas de

potencialidades que podem ser exploradas em vista ao desenvolvimento. Para os agentes que

representam o órgão e que buscam construir parcerias com a sociedade areiense, a zona rural

do município possui grande expressividade cultural, arquitetônica e histórica26

. De acordo

com o referido órgão, os elementos diversos (como a culinária típica; a ambiência natural e

construída; os costumes na fabricação da cachaça, melaço e rapadura), unidos a iniciativas

planejadas e ousadas de promoção da tradição local poderiam se apresentar como um grande

atrativo na região.

A produção cultural dos engenhos, seus artefatos e os atributos naturais representam,

para o SEBRAE, parte integrante das possibilidades de crescimento econômico para a cidade

de Areia, principalmente a partir da associação com o turismo. Vendo o espaço rural como um

elemento de promoção do local mediante iniciativas turísticas, o órgão institucional oferece

apoio por meio de capacitações, parcerias com os proprietários, implementação de

26

Parecer de um dos representantes do SEBRAE em uma de suas visitas ao município, em novembro de 2012.

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associações de turismo rural, material gráfico com as etapas para o alcance do

desenvolvimento na zona rural, entre outras medidas27

.

Em reunião com grupos artísticos areienses28

, os representantes do SEBRAE sugeriram

a integração entre os dois espaços que unem o território (zona rural e urbana), alegando serem

dois núcleos indissociáveis e, num processo complementar, o aspecto cultural ficaria em

evidência, com apresentações musicais mediante projetos, como “violino ao pôr do sol” e

“sacada musical”, que seriam apresentados em construções históricas do centro da cidade,

após visitações aos engenhos. Ou seja, os turistas teriam a oportunidade de conhecer o

processo de fabricação da cachaça, da rapadura e demais derivados da cana-de-açúcar e, como

culminância viriam as apresentações musicais, promovendo a produção cultural do território

areiense. Além disso, o SEBRAE destaca a riqueza natural dos engenhos, com matas em

abundância, relevo irregular e clima ameno como atrativos naturais.

Os discursos do SEBRAE apontam para o imprescindível melhoramento do ambiente

empreendedor nos municípios para que haja o desenvolvimento local, principalmente a partir

do estímulo a pequenos negócios.

Nesse sentido, a Prefeitura possui um papel fundamental a cumprir para

promover os valores da cultura empreendedora e da competitividade, bases

fundamentais para o desenvolvimento econômico e social. O governo

municipal tem um papel de destaque a realizar para gerar emprego, renda,

dinamizar o comércio, o turismo, apoiar o associativismo e estimular a

sustentabilidade dos programas sociais e de apoio solidário. (CRESTANA,

2005, p. 37)

Para os representantes da instituição, os engenhos são vistos sob a perspectiva

materialista quando o destaque recai sob a possibilidade que a região possui de gerar emprego

e renda. Embora trabalhe com a imaterialidade, como a forma tradicional de confecção dos

produtos advindos da cana, o artesanato realizado na zona rural, o fim último do território

seria o desenvolvimento econômico que ele pode propiciar se trabalhadas suas

potencialidades29

. Com esse discurso, o SEBRAE consegue vencer certas oposições às

iniciativas de fomento à indústria do conhecimento e do patrimônio.

Segundo HARVEY (2006, p. 235), “o que está em jogo é o poder do capital simbólico

coletivo, isto é, o poder dos marcos especiais de distinção vinculados a algum lugar, dotados

27

Ver, em anexo, material de divulgação dos atrativos locais, com o apoio do SEBRAE. 28

No ano de 2012, o SEBRAE realizou várias reuniões com grupos artísticos locais na tentativa de conjugar

apresentações culturais às visitações dos turistas, tanto na zona urbana do município quanto na zona rural,

tornando mais atrativos os passeios turísticos aos engenhos. 29

Esse parecer dos representantes do SEBRAE foi exposto nas várias reuniões realizadas no município de Areia

no ano de 2012.

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de um poder de atração importante em relação aos fluxos de capital de modo mais geral”.

Essa é a representatividade que o território areiense desperta no SEBRAE: um local dotado de

riquezas naturais, arquitetônicas e culturais que pode ser explorado em nome da geração de

emprego e renda por meio de atividades turísticas30

. Ainda que predominantemente

materialista, a perspectiva em voga, com relação à instituição, também passa pela perspectiva

integradora apresentada por HAESBAERT (2010), posto que a cultura está em evidência na

busca pela promoção do local. Os modos de ser e fazer nos engenhos entram como um

atrativo essencial, um produto a ser consumido, o que mostra a junção entre a produção

imaterial e as necessidades materiais numa mesma esfera.

O SEBRAE vê o espaço areiense como uma organização coletiva que deve procurar

conhecer e potencializar os aspectos locais que venham beneficiar economicamente o

município. Para tanto, acredita ser indissociável a relação entre os vários setores da sociedade,

abarcando iniciativas particulares e públicas31

. Seria ele o órgão mediador, o orientador desse

processo que desembocaria na identificação da vocação turística a ser desenvolvida, tanto na

zona rural como urbana. É por acreditar nessas possibilidades de crescimento para o local que

defende a necessidade de:

(...) sensibilizar e mobilizar os participantes por meio da demonstração do

potencial turístico e econômico da região, buscando o envolvimento e

participação de cada um, seja para agregar valor às atividades existentes, seja

para organizar e construir novas atividades turísticas como foco na produção

associada. (BRASIL, 2011, p. 32)

A perspectiva materialista defendida pelo SEBRAE com relação ao território areiense é

incorporada também pelos gestores das secretarias de Turismo e Cultura da cidade de Areia.

Para o gestor de turismo32

, o entrelaçamento entre o cultural, o ambiental e as necessidades

comerciais é uma das saídas mais viáveis para o município. De acordo com o secretário, Areia

possui uma estrutura rural receptiva de grande significância, pois é formada por uma

paisagem marcada por exuberante área verde, recortada por várias cachoeiras. Esses atrativos

naturais são transformados em locais de lazer mediante implementação de pesque-pagues,

balneários, entre outras iniciativas dessa natureza.

A esses elementos, unem-se os engenhos, cuja representatividade, para o gestor de

turismo, é material e imaterial, posto que tanto agrega valor econômico para a região (por

30

IVO, Fernando. Agência SEBRAE de Notícias - PB, 13.11.2012. www.agenciasebrae.com.br. Acesso em 06

de Julho de 2013. 31

Parecer mediante análise do artigo da ASN (Agência SEBRAE de Notícia), 15.01.2013.

www.agenciasebrae.com.br. Acesso em 06 de Julho de 2013. 32

Dados coletados por meio de entrevista, realizada no dia 09 de julho de 2012.

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meio da produção de aguardente e rapadura), como é expressão da história sócio-econômica e

cultural do Estado da Paraíba. Sendo boa parte dos engenhos datados do século XIX,

possibilitam a revalorização e revitalização de culturas passadas quando revisitadas e

reutilizadas, principalmente enquanto elementos de reclamo turístico.

Embora não se distancie da necessidade de se utilizar os elementos culturais para o

alcance de melhorias nas condições econômicas e sociais, a gestora de cultura critica o

direcionamento predominantemente materialista do SEBRAE33

. Segundo ela, o discurso

objetivo e as ações dessa entidade artificializam os símbolos identitários que formam o espaço

areiense. De acordo com as suas concepções, o cultural deve ser valorizado, primeiramente,

por toda sua significância enquanto elemento de luta, de resistência, de pertencimento, de

identificação, tendo na comunidade local seu maior agente de preservação e propagação.

Essas críticas ao SEBRAE evidenciam as controvérsias existentes entre representantes de

órgãos públicos quanto à forma de utilização e a expressividade dos elementos culturais que

permeiam o espaço areiense, inclusive com relação aos engenhos.

Para a gestora de cultura, sem Areia a cultura paraibana estaria extremamente pobre. E

expõe:

Areia foi um dos principais municípios culturais do século XIX. Pra se ter

uma idéia, durante esse século foi Areia quem comandou toda a cultura e

política da Paraíba. Tinha até um ditado que dizia o seguinte: “Na Paraíba

nada é de barro, tudo é de Areia”, dado à importância que o município

possuía na época. Essa importância cultural e econômica nasceu desde o

século XVIII, e com o passar do tempo foi sendo ampliada sua vocação para

a arte. Atualmente, ela é uma das cidades mais importantes da Paraíba sobre

vários aspectos, principalmente o cultural. (J. C. A., secretária de cultura do

município areiense, em setembro de 2012)

De forma mais específica, a gestora de cultura afirma serem os engenhos “a alma de

Areia”, pois influenciaram em toda a produção artístico-cultural do município. Segundo ela, a

herança arquitetônica (literária, pictográfica...) é a referência do município, inegavelmente

atrelada aos engenhos, pois neles que se estruturou todo esse legado material e imaterial que

dá os contornos locais e seu reconhecimento enquanto patrimônio histórico e artístico

nacional.

Para a gestora de cultura do município, portanto, a perspectiva idealista (que dá

visibilidade aos elementos imateriais) é predominante. Entretanto, de acordo com suas

colocações, essa pretensa valorização do cultural enquanto símbolo de identificação local não

implica afirmar que haja descaso para com as questões práticas, de cunho utilitário da cultura

33

Dados obtidos mediante entrevista, no dia 27 de setembro de 2012.

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em relação ao desenvolvimento de atividades vinculadas às necessidades dos grupos sociais.

Segundo a gestora de turismo, há um engajamento entre as secretarias de turismo e de cultura,

num trabalho conjunto que busca unir o aparato artístico às práticas de crescimento

econômico e social cotidianas. Os gestores das duas secretarias afirmam que as iniciativas

turísticas que englobam o rural e o cultural são muito promissoras para o município, embora o

momento ainda não seja de grandes realizações.

Diante do exposto, evidenciam-se as representações que os atores sociais que se

debruçam sobre o território areiense formulam, de acordo com suas concepções sobre o

espaço rural e, mais precisamente, os engenhos. Seguindo a diferenciação proposta por

Haesbaert sobre o território, e tendo em vista a formação da identidade territorial, os grupos

analisados podem ser divididos da seguinte maneira:

Figura 3: Representações territoriais de alguns dos atores sociais.

Fonte: baseado em HAESBAERT, 2010

ATORES SOCIAIS

PROPRIETÁRIOS DE

ENGENHO

TRABALHADORES

RURAIS

SEBRAE

SECRETARIA DE

TURISMO

SECRETARIA DE

CULTURA

TERRITÓRIO VISTO

SOB A PERSPECTIVA

INTEGRADORA, COM

PREDOMINÂNCIA

MATERIALISTA

A IMPORTÂNCIA

MATERIAL E

IMATERIAL DO

TERRITÓRIO FORMA

UM TODO COESO,

SENDO ESSE O GRUPO

MAIS

REPRESENTATIVO

QUANTO À VISÃO DE

ESPAÇO SOB A

PERSPECTIVA

INTEGRADORA

TERRITÓRIO

VISTO COMO

ESPAÇO, CUJA

VOCAÇÃO É PARA

O

EMPREENDEDO-

RISMO DE ORDEM

ECONÔMICA. SUA

REPRESENTATIVI-

DADE É

PREDOMINANTE-

MENTE

MATERIAL

TERRITÓRIO VISTO

COMO ESPAÇO DE

ASSOCIAÇÃO ENTRE AS

NECESSIDADES

IDENTITÁRIAS E DE

ORDEM PRÁTICA, COM

PREDOMINÂNCIA

MATERIALISTA

TERRITÓRIO VISTO

SOB A PERSPECTIVA

INTEGRADORA, COM

PREDOMINÂNCIA

IDEALISTA

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Outros importantes agentes de promoção do local que lançam sobre o espaço suas

formulações simbólicas dizem respeito à população, de forma geral, e aos turistas que tomam

como destino o município de Areia. As apreciações desses dois grupos sobre a importância do

município é feita mediante amostragem34

.

Com relação à percepção que o território areiense suscita na população, é ressaltada sua

importância econômica em tempos anteriores quando um dos professores entrevistados afirma

que:

A cana-de-açúcar, por exemplo, nunca deixou de existir. Foi a única cultura

que sobreviveu a todos os círculos agrícolas. Eu acho que a produção da

cana-de-açúcar é uma atividade relevante para o desenvolvimento da cidade,

principalmente agora com o retorno do Festival da Cachaça e da Rapadura.

(B. C., professora da rede pública, em setembro de 2012)

Esse entendimento sobre o território areiense demonstra que parte da população aceita

que o desenvolvimento econômico de outrora seja emblemático da história que circunda o

espaço, tornando seu o discurso oficial que destaca o município por suas contribuições

econômicas. Esse consenso é lembrado por BOURDIEU quando afirma serem os símbolos

elementos de integração social no momento em que seu sentido é aceito, reproduzindo uma

ordem social dominante. O autor destaca que “esse poder invisível (...) só pode ser exercido

com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o

exercem” (BOUDIEU, 2011, p. 7-8).

Embora esse seja o cerne principal destacado no discurso de três outros membros

entrevistados, não é uniforme, pois sofre intervenções contrárias. Outro professor demonstra

uma relação afetiva para com o espaço, mas destaca que o local não oferece subsídios para a

permanência de seus habitantes pela falta de empregos e melhores condições de vida.

Areia é o meu lugar. Nasci, cresci e nunca me afastei daqui. Tenho quarenta

anos e me reconheço aqui. Mas não dá pra fingir que tudo está dentro de

uma lógica satisfatória para a população. Por exemplo, aqui há crescimento,

mas de forma desordenada, e quem se beneficia desse crescimento são

sempre os mesmos grupos, vivenciando outro contexto, mas sempre os

mesmos grupos. São os donos de terras que têm condições de investir, por

exemplo, em hospedagem, em restaurantes, em estabelecimentos comerciais.

Os donos de engenhos se destacaram antigamente e hoje querem continuar

34

A amostragem possibilita o trabalho com um número de representantes extraído dos atores sociais que se

pretende analisar. No estudo em questão, a amostragem da população areiense envolve o número de dez agentes

sociais que habitam o município e exercem diferentes funções, a saber: quatro professores, dois artesãos, dois

garçons e dois comerciantes. Entre os turistas, a amostragem é constituída por pessoas que se hospedaram e

pousadas locais entre meados de 2012 e início de 2013, num total de 20 entrevistados.

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atuantes. Há uma nova conformação no município, mas em se tratando da

questão social, pouco se evoluiu, se transformou. Às pessoas sem posses,

sem poder aquisitivo, são destinadas atividades laborais pesadas, sem boa

remuneração... Fica, ainda assim um sentimento de carinho por esse lugar

tão bonito. (L. G. S., professora da rede particular de ensino, em setembro de

2012)

Essa não é uma apreciação isolada. Os dois membros da população que exercem

funções diretamente relacionadas às novas configurações do espaço areiense levantam

questões sobre as desigualdades que se evidenciam no município, incluindo as relações

estabelecidas nos engenhos.

Entenda, quem não percebe que quem manda é quem tem dinheiro? Eu

trabalho como garçom, e tenho que agradecer por ter como permanecer

nessa cidade porque, apesar de tudo, eu não queria ter que sair daqui. Mas a

gente trabalha muito. Aliás, todo trabalhador, em qualquer lugar, tem que

suar muito a camisa pra receber por seu serviço. Converse com os

trabalhadores dos engenhos, dos supermercados. Mas Areia é um lugar bom

de se viver. É uma região bonita e cheia de tradição. Meus pais moraram por

muito tempo num engenho, eu passei boa parte da minha infância por lá, e

aprendi a gostar dessas redondezas. Quando vou por lá lembro de muita

coisa boa... no engenho eu vivi o melhor período da minha vida. Sei que

meus pais tinham que trabalhar muito (e eu também tinha que ajudar), mas

eu brincava... foi um tempo bom. (S. R., garçom, em setembro de 2012)

O sentimento de pertencimento apresentado no discurso vem acompanhado de uma

análise crítica sobre as condições sociais a que são submetidos os trabalhadores em Areia. O

entendimento da população sobre seu espaço de vida não denota, homogeneamente, uma

“realidade muda” (FOUCAULT, 1972). A centralidade do modelo ideológico dominante que

mascara a realidade é posta em cheque enquanto verdade única que deve ser aceita e

propagada. Os atores sociais opinam sobre seu espaço, criando simbologias diferentes,

percepções controversas que enriquecem as abordagens sobre o local.

Com relação aos turistas, suas formulações sobre o espaço areiense se dão mediante

propagandas vinculadas à prefeitura municipal, ao SEBRAE, à AMAR, unidas às iniciativas

particulares de divulgação de seus estabelecimentos e atrativos locais variados. Dos vinte

turistas entrevistados, 80% disseram terem seu destino motivado pelas propagandas

divulgadas que apresentam o município como propício para o descanso, para o contato com a

natureza, onde é possível a apreensão de aspectos culturais que remontam o período imperial

e o apogeu da sociedade do açúcar. Os 20% restantes são turistas que já tinham visitado o

município em momento anterior e se sentiram motivados a voltar.

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Tanto os turistas que estiveram na região pela primeira vez quanto os que a visitavam

num segundo e até terceiro momento, teceram críticas com relação à fragilidade dos serviços

prestados. Segundo um desses turistas,

O lugar é lindo. Esse friozinho da noite é muito agradável, algo diferente do

que estamos acostumados no litoral. A cidade é simpática e calma. Os

engenhos são fascinantes. Fui ao Bujari e ao Triunfo e achei maravilhosos.

Agora, eu acho que muita coisa deve melhorar. Uma coisa é a propaganda e

outra é a realidade. É inconcebível que nos dias de domingo não se tenha

opções para almoço. E já na vinda para cá se percebe a precariedade das

estradas. Até mesmo para os engenhos, acho que as estradas deveriam ser

melhoradas. O acesso é horrível e isso quebra o encanto pela região.

Inclusive, as propagandas vendem uma imagem que não condiz com a

realidade. Não me refiro aos atrativos naturais, realmente o município é

agradabilíssimo. Mas tem que vir associado a esse aspecto uma melhor

prestação de serviços. (R. R., turista campinense, em setembro de 2012)

No que se refere aos engenhos areienses, de forma mais específica, 70% dos turistas

dizem ser um dos principais atrativos do município, um dos motivos para a escolha de seus

roteiros. Esse grupo diz se encantar com a riqueza histórica que essas localidades apresentam.

O contato com os elementos rústicos me fascinam! Visualizar os aspectos de

uma casa grande, ou o maquinário dos engenhos, conhecer a história que

circunda a região. Ah! Isso é fascinante. Mas eu não entendo porque um

lugar com tanto potencial para se desenvolver na área do turismo não investe

mais. Por exemplo, se você resolve visitar a feira de artesanato, à noite, ela

está fechada. Os bares fecham cedo e você fica sem opção de lazer. (R. R.,

turista campinense, em setembro de 2012)

Portanto, para os turistas, o município areiense representa um espaço rico, de

significância cultural considerável, mas com consideráveis limitações para quem tem

pretensão de tornar o turismo uma de suas principais atividades. Essa fragilidade é sentida

tanto na sede do município, como também em seu entorno. Assim, Areia fragiliza-se em suas

pretensões de avanços no que se refere ao turismo quando “a precariedade da infraestrutura é

fator limitante para sua inserção nos circuitos comerciais e de serviços, como os ligados ao

turismo ambiental e outros” (SCHNEIDER, 2006, p. 10)

O espaço, portanto, desperta diferentes percepções, de acordo com a simbologia que

traz em si, levando em consideração as necessidades de afirmação de cada grupo social que o

analisa (CORRÊA, 2012). Embora haja o florescimento de representações diversificadas, o

espaço também é capaz de unir os atores sociais quando interpretada a realidade cotidiana.

Dessa forma, a multiplicidade de olhares que se voltam para os engenhos areienses é o

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resultado de uma atividade mental daqueles que buscam assegurar para si uma identidade,

uma significância que os retire da inércia e mostre sua importância enquanto agente de

promoção do local.

Assim, mediante as formulações que o espaço suscita em seus diferentes atores sociais,

surgem as mais variadas práticas sociais e dinâmicas territoriais, por ora dando ênfase ao

econômico, por ora destacando os aspectos culturais, ou políticos, ou sociais, dependendo da

necessidade vigente e das expectativas a serem alcançadas35

. O território onde se

desenvolvem as dinâmicas territoriais passa a ser visualizado como espaço de ação, no qual os

grupos sociais apresentam seus objetivos de uso e forjam seus movimentos de construção,

intercalando subjetividade e prática. Os diversos atores são chamados a se posicionar e atuar

frente às roupagens que revestem o espaço, gerando relações de mediação, ou de justaposição,

ou de contradição que tanto podem unir como separá-los ideologicamente, tornando complexa

e fascinante a realidade que nele se constrói.

35

SANTOS (1998) sugere que a produção do território ocorre a partir das relações sociais que a ele determinam

diferentes funções e usos.

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CAPÍTULO 2

2 Desenvolvimento local: dinâmicas territoriais de significância espacial

Unindo interesses e despertando sentimentalidades que integram os indivíduos aos

espaços de vivência, o território alcança significativa expressividade sociocultural e política

por estar permeado de complexidades quando em se tratando de relações grupais e

representativas. E, numa similar densidade analítica, se apresenta o processo de

desenvolvimento local e a importância da ruralidade dentro dessa abordagem.

Ao se fazer referência às dinâmicas territoriais, é indispensável que se recorra às

questões concernentes ao conceito de desenvolvimento, uma vez que sua forma de

entendimento tem influenciado iniciativas econômicas, dotado de significâncias diferenciadas

as questões culturais, e influenciado no desenrolar de processos políticos.

O turismo é uma das atividades de grande significância quando os atores sociais buscam

dotar os espaços de funcionalidades, consolidando-se como uma alternativa para o

desenvolvimento local, visto como um processo que vai além do crescimento econômico.

Essa abordagem sobre as dinâmicas territoriais torna-se pertinente às reflexões sugeridas

nesse capítulo, posto que o município areiense possui uma expressividade não apenas

identitária, como também econômica, uma vez que sua estrutura física é representativa das

interações sociais e das práticas cotidianas.

Nesse capítulo são levantadas as principais formas de utilização do espaço areiense do

século XIX ao século XXI, e de que forma as relações de poder e de não aceitação a esse

poder estiveram presentes nos aspectos sociais e econômicos. Buscando a integração entre o

campo e a cidade, o enfoque recai sobre as dinâmicas territoriais nas feiras e no comércio

citadino, mas também há a análise dessas práticas no campo, mais precisamente nos espaços

dos engenhos e da Usina Santa Maria.

2.1 Desenvolvimento e dinâmicas territoriais: conceito e perspectivas

Embora não trabalhe com uma noção de desenvolvimento, as críticas apresentadas por

SEN (2010) suscitam a necessidade de se analisar o termo associando-o à busca por

estratégias que visem a expansão das liberdades e as melhorias na qualidade de vida das

pessoas. Essa visão se contrapõe à ideia de desenvolvimento pautado no progresso e no

crescimento econômico como questões primordiais, sem muitas aberturas democráticas e

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consolidação de direitos civis e políticos. O autor não nega a necessidade de melhoramentos

da renda familiar e das condições de produção. Entretanto, esses avanços só têm validade se

culminarem em integração social, combate à pobreza, participação política, entre outros

pontos que firmem as ações participativas e permitam a democratização dos espaços. SEN

(2008), em suas colocações afirma a necessidade de se repensar a questão do

desenvolvimento36

, possibilitando a utilização do termo com um sentido mais amplo, como

uma forma de ampliação das liberdades reais que as pessoas possam vir a ter.

Nesta abordagem, a expansão da liberdade é considerada o fim primordial e

o principal meio do desenvolvimento. Podemos chamá-los, respectivamente,

o “papel constitutivo” e o “papel instrumental” da liberdade do

desenvolvimento. O papel constitutivo relaciona-se à importância da

liberdade substantiva no enriquecimento da vida humana. As liberdades

substantivas incluem capacidades elementares como, por exemplo, ter

condições de evitar privações como a fome, a subnutrição, a morbidez

evitável e a morte prematura, bem como as liberdades associadas a saber ler

e fazer cálculos aritméticos, ter participação política e liberdade de

expressão. (SEN, 2010, p. 52)

Essas questões vêm ganhando cada vez mais força, embora a definição tradicional que

prima pelo modelo liberal, de valorização dos paradigmas e dinâmicas capitalistas ainda

ocupe um vasto campo ideológico37

. As motivações para uma nova roupagem para o termo

desenvolvimento é fruto de uma realidade excludente e opressora que o modelo anterior

propiciou a boa parte da população mundial (RIVERO, 2002). Ou seja, a inoperância (ou a

falta de preocupação) do modelo econômico liberal frente aos elevados índices de pobreza e à

exclusão vertiginosa fez surgir novos debates sobre a necessidade de se apresentar uma nova

proposta de desenvolvimento que levasse em consideração a “democracia participativa” e a

“economia solidária” (ARRUDA, 1996)

As teorias do desenvolvimento como meio de fortalecimento das liberdades defendem

as realizações concretas, por experiências marcadamente democráticas, de valorização do

multiculturalismo e por movimentos sociais e participativos (ARRUDA, 1996). Grupos e

espaços antes marginalizados têm suas particularidades valorizadas e postas em evidência.

36

De acordo com BEGNIS e ZERBIELLI (2008), o desenvolvimento é associado diretamente aos aspectos

econômicos e ao livre mercado, cujos debates fazem surgir três proposições, dentre as quais se encontra a visão

tradicionalista que afirma que a ampliação do desenvolvimento para todas as comunidades dar-se-ia por meio da

disseminação das forças do mercado. Ou seja, há um modelo de desenvolvimento a ser alcançado por todos os

países, independente de seu histórico, cultura, de sua construção política e social. Um avanço contínuo e

ascendente rumo às ampliações mercadológicas e econômicas, num processo de superação. 37

A crítica aqui seria com relação às ideias defendidas por John Keynes e seus seguidores, quando defendem que

o desenvolvimento só é possível mediante a realização máxima do processo produtivo.

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Comungando desses princípios elucidativos, TORRAS (1995) sugere ser o

desenvolvimento um caminho que leva à valorização das pessoas, que se beneficiariam do

crescimento econômico, tido como um meio de redução das privações e aflições humanas.

Para tanto, é necessária a integração de grupos até então excluídos, tanto no planejamento

quanto na efetivação das medidas propostas.

O modelo de desenvolvimento vigente até o início do século XX estava vinculado à

ideologia do capital, que tinha no aumento da produção e na ampliação das riquezas seu ponto

crucial (RIVERO, 2002). Essa forma de entendimento do termo atendia aos interesses dos

países industrializados da época (concentrados principalmente na Europa), cuja relação de

dominação para com os países “subdesenvolvidos38” autorizava-os a apresentar modelos a

serem seguidos para se alcançar o desenvolvimento, estágios que levariam ao crescimento

econômico por meio e em função do capitalismo.

De acordo com ESCOBAR (2000), no início da segunda metade do século XX, os

Estados Unidos passam a direcionar as ideias de desenvolvimento, num contexto construído

com base no fim da Segunda Guerra Mundial e todas as mudanças que esse acontecimento foi

capaz de suscitar. Entretanto, segundo o autor, os programas pautados no aumento produtivo e

na geração de riquezas fracassam, dando origem a três fases distintas, mas que apresentam a

insustentabilidade de modelos de desenvolvimento que deveriam ser aplicados em todos os

países:

Quadro 3: Fases do desenvolvimento

PRIMEIRA FASE SEGUNDA FASE TERCEIRA FASE

De 1950 a 1960.

As Nações Unidas passam a

usar como indicador de

diferenciação entre “países

pobres” e os “países ricos”,

o Produto Nacional Bruto

(PNB).

De 1960 a 1970.

Constatada a falência do

modelo anterior, toma-se

consciência da necessidade

de associação entre o

crescimento econômico e as

melhorias das condições de

vida das populações. Surge a

ideia de desenvolvimento

regional

A partir de 1980.

A população dos países

“subdesenvolvidos” passa a

criar estratégias endógenas,

buscando o desenvolvimento

econômico e social. Surge a

ideia de desenvolvimento

local.

Fonte: baseado em ESCOBAR, 2000.

Após a constatação de que o crescimento econômico não era garantia para o

desenvolvimento social, os próprios habitantes dos países marginalizados passaram a procurar

38

Esse termo foi utilizado por Harry Truman, em 1949, numa referência a países que apresentavam pouco

avanço no processo de industrialização, e que ostentavam alto índice de pobreza. De acordo com as ideologias

capitalistas, os países só poderiam ser considerados desenvolvidos se possuíssem um significativo nível de PNB.

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alternativas que viabilizassem avanços no concernente às melhorias de suas condições de

vida, explorando elementos locais capazes de facilitar progressões econômicas, sociais e

culturais (MILANI 2005).

A ideologia do capitalismo industrial que marca principalmente os anos 50 é analisada

e refutada por várias teorias39

. Novas propostas surgem a partir da constatação de falência de

um modelo de desenvolvimento que não leva em consideração as necessidades básicas de

grande parte da população, que não prima pela melhor distribuição de renda e pela

diversificação produtiva. SEN (1993) apresenta a necessidade de se levar todos esses pontos

em consideração quando se fala em expansão das capacidades.

A avaliação da realização e da melhoria dos membros da sociedade é parte

essencial da análise do desenvolvimento (...). O foco na realização humana e

na liberdade, bem como na necessidade de uma avaliação reflexiva – e não

mecânica –, constitui uma adaptação de uma velha tradição que pode ser

utilizada utilmente na formação de uma base conceitual para a análise das

tarefas do desenvolvimento no mundo contemporâneo. (...). O foco em

distintas capacidades implica, por sua própria natureza, um enfoque

pluralista. De fato, ele aponta para a necessidade de conceber o

desenvolvimento como uma combinação de distintos processos, ao invés de

concebê-lo como a expansão de uma magnitude aparentemente homogênea,

tal como a renda real ou a utilidade. As coisas que as pessoas consideram

valioso fazer ou ser podem ser muito diversas, e as capacidades valiosas

variam desde a liberdade elementar, tais como livrar-se da fome e da

desnutrição, até capacidades complexas, tais como a obtenção do auto-

respeito e a participação social. O desafio do desenvolvimento humano

requer atenção a uma variedade de questões setoriais e a uma combinação de

processos sociais e econômicos. (SEN, 1993, p. 334)

O autor enfoca como noção básica a necessidade das pessoas viverem com liberdade,

escolhendo seus modos de ser e fazer, quebrando o princípio da homogeneidade presente na

ideologia capitalista, que apresenta o desenvolvimento como um processo sequencial, cuja

supressão de uma etapa sobre outra leva ao ápice, que seria o crescimento econômico, num

último estágio. Suas críticas denunciam o pensamento econômico reducionista, que se apega a

aspectos produtivos sob a perspectiva capitalista do lucro. E vai além: afirma a necessidade de

se conjugar participação, felicidade e igualdade para que, de fato, o desenvolvimento ocorra.

Para o autor, é por meio da liberdade que surge a pluralidade de objetivos e “a capacidade de

uma pessoa para fazer coisas que ela tem razão para valorizar”. (SEN, 2010, p. 265)

39

Dentre os que criticam o modelo de desenvolvimento econômico de 1950 estão os que pertencem à Teoria da

Dependência, que tem suas bases ideológicas fundamentadas no pensamento de Karl Marx. De acordo com essa

teoria, o subdesenvolvimento e o desenvolvimento não podem ser pensados como etapas de um processo

evolutivo, e sim como realidades distintas e contrapostas.

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Portanto, usar indicadores de renda como representativos de territórios desenvolvidos

é insuficiente. Os dados quantitativos que esses critérios de análise oferecem devem ser

complementados com outros indicadores, como a distribuição de renda e a expectativa de

vida.

Assim, o conceito de desenvolvimento compreende a ideia de crescimento,

superando-a, ou seja, o desenvolvimento passa a ser tratado a partir de

critérios, como a eficiência produtiva, a satisfação das necessidades humanas

e o atendimento dos objetivos da sociedade, o que implica uma boa

administração dos escassos recursos. O desenvolvimento passa a ser

qualitativo, buscando, paralelamente, ao aumento da produção, uma melhor

distribuição de renda e maior qualidade de vida. Ele se refere ap crescimento

de um conjunto de estrutura complexa. Esta complexidade traduz as

diversidades sociais e econômicas. (BASSAN e SIEDENBERG, 2008, p.

145)

A relação entre desenvolvimento e estrutura econômica, portanto, é constante.

Entretanto, isso não significa que seja estanque. Questões sociais vêm sendo cada vez mais

postas em evidência, assim também como as diferenças e necessidades dos distintos lugares.

É dessa realidade que são fomentadas as dinâmicas territoriais, dotando cada local de um tipo

específico de desenvolvimento, de acordo com suas peculiaridades.

A ideia de desenvolvimento territorialmente localizado surge como alternativa para a

redução das desigualdades mediante estratégias e ações socioeconômicas dentro de um espaço

herdado (COELHO, 1996), que a partir das representações é transformado, reconstruído,

possibilitando o incremento de dinâmicas territoriais de acordo com as suas potencialidades.

O desenvolvimento local entra em evidência num contexto em que o progresso material passa

a coexistir com iniciativas comunitárias que buscam sanar problemas básicos em micro

escala.

De acordo com MILANI (2005), falar em desenvolvimento local é trazer para o debate

a necessidade da transformação da consciência da realidade local. Seu entendimento e

caracterização devem primar pela ampliação da participação democrática no processo de

reconstrução do espaço, levando em consideração os anseios dos diversos grupos sociais que

vivem no espaço e que a ele atribuem significâncias e nele depositam suas expectativas. É

entender que sua articulação prescinde da participação de diversos atores sociais, sejam estes

a sociedade civil, órgãos públicos e privados, e os diferentes governos (municipal, estadual e

federal).

As dinâmicas territoriais que buscam dotar o local de visibilidade num período e num

espaço marcadamente globais são entendidas por alguns críticos como uma reação às

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manobras capitalistas de condução das economias mundiais40

. Entretanto, para outros, esse

discurso é propagado pelo próprio sistema capitalista, sendo uma nova forma de se fazer

presente após a falência do modelo de desenvolvimento global e homogêneo, dividido em

etapas41

.

O fato é que não há uma separação entre a esfera global e a local, uma vez que a

realidade atual une esses espaços. Mas se evidencia cada vez mais a preocupação das

localidades em encontrar alternativas que lhes permitam associar elementos culturais e

sociais, às melhorias das condições econômicas e de vida a partir dos mecanismos de

participação dos diversos grupos que as formam. Segundo HARVEY (2006), toda essa

importância atribuída às ações produtivas locais foi uma estratégia para o combate às crises

geradas pelo sistema capitalista decadente.

Para BOISIER (1996), o desenvolvimento local pode ser definido como “um processo

localizado de mudança social sustentável, que tem como propósito último o progresso

permanente de uma comunidade, e de seus respectivos membros, que vivem num determinado

espaço regional”. São os aspectos locais que dão significância ao território específico, sem

que este se apresente desvinculado do processo global. Nessa concepção de desenvolvimento

partindo da potencialização das particularidades dos lugares, há uma nova configuração das

ações dos atores sociais. Se nos modelos tradicionais o Estado nação era o principal agente

promotor do desenvolvimento, com as atenções voltadas para a localidade a comunidade

passa a ter maior importância quando é chamada a atuar, a participar da construção das

atividades econômicas a partir das representações que constrói sobre o espaço e das

expectativas que nutre com relação a ele.

Dentro desse entendimento, o território enquanto espaço de dinâmicas que

potencializam as localidades, é visto como um reflexo das iniciativas que tendem a incluir o

particular dentro do processo global. O desencadeamento dessa iniciativa é possível a partir

da geração de alternativas que venham a fazer uso do patrimônio sociocultural e material,

explorando-o enquanto elemento característico desses locais. Ou seja, o resgate das dimensões

40

Para ULTRAMARI e DUARTE (2009), “o desenvolvimento local é uma forma de desenvolvimento

preocupada com o homem e suas necessidades sociais, antes que com o mercado e suas necessidades de lucro.

Há, pois, na ideia de desenvolvimento local, o compromisso moral de focar seus interesses no homem. Ao

mesmo tempo em que o nível do local garante a flexibilidade de regras para o mercado melhor atuar, também

influencia a formação de novas molduras socioeconômicas, buscando sustentabilidades diversas e construindo

uma cidadania participativa”. 41

BECKER (2008) afirma que o capitalismo se utiliza do discurso que promove o desenvolvimento local, posto

que essa é a nova roupagem que o sistema se utiliza para continuar em cena, ditando as regras do jogo. Para esse

autor, o desenvolvimento local é a mais recente tendência por possibilitar “o surgimento de novas e diversas

utopias” (BECKER, 2008, p. 03)

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material e identitária favorecem a construção de “valores das coletividades, os valores

simbólicos que constituem a cultura” (FURTADO, 2000, p. 70).

No desenvolvimento local, quando são levados em consideração os princípios

norteadores de um processo democratizante e participativo, os grupos sociais passam a fazer

parte da engrenagem que movimenta o conjunto de atividades culturais, sociais e econômicas,

sendo integrantes conscientes do “projeto de transformação local” (BARQUERO, 2002).

Nesse processo de construção, busca-se a integração entre os setores público e privado, tanto

de atuação local quanto global, o que evidencia a heterogeneidade dos atores sociais e suscita

outros aspectos que envolvem a questão do desenvolvimento, que são: as relações de poder,

os conflitos de interesses e a iminente competição. Mas, num movimento integrado, também

são construídas atitudes de cooperação e reciprocidade (ABRAMOVAY, 2000).

Esse conjunto de ações, também conhecido como dinâmicas territoriais, possibilita às

localidades encontrar alternativas capazes de dotar de relevância as dimensões que as formam.

As dinâmicas territoriais podem ser entendidas, portanto, como formas sistematizadas de

ações estratégicas coletivas que objetivam dinamizar os sistemas produtivos e melhorar o

gerenciamento dos recursos de determinadas localidades ou regiões (VERDI, 200842

). Elas

acompanham as trajetórias históricas, mudando suas estratégias funcionais, de acordo com as

características do desenvolvimento empregado.

Entretanto, o desenvolvimento local não pode ser visto como sinônimo de expansão

das capacidades alicerçadas na liberdade de escolha, de participação efetiva nas decisões

políticas, ou de ampliação das escolhas individuais. Embora o desenvolvimento local possa

vir a possibilitar o avanço nos setores sociais, políticos, econômicos, culturais e democráticos,

nem sempre isso ocorre.

O desenvolvimento local proporcional à escala humana deve ser entendido

como a satisfação das necessidades humanas fundamentais através do

protagonismo real e verdadeiro de cada pessoa. Entende-se que criar as

condições para que a comunidade efetivamente exerça este protagonismo se

afigura como o maior desafio para que o desenvolvimento local aconteça,

considerando que (...) estamos diante de realidades locais nas quais

persistem algumas ausências importantes: da cidadania, da identificação

sociocultural e territorial, e do sentido de vizinhança. (MARTINS, p. 10,

2002)

42

Para a autora, existem três tipos de trajetórias dos espaços locais no que se refere à promoção das dinâmicas e

do desenvolvimento, a saber: 1. a aglomeração (pela qual o local se desenvolve pela acumulação quantitativa de

atividades), 2. a especialização (o desenvolvimento está vinculado a uma determinada atividade industrial ou a

um produto específico), 3. A especificação (que seria a possibilidade de criar um bem que não sofresse

concorrência e que seguisse um só processo de produção).

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Assim, para que haja um efetivo desenvolvimento local, de caráter participativo e

democrático, é necessário que a tomada de consciência, a formação do senso crítico e o

sentimento de pertencimento da população para com o espaço sejam despertados, estimulados

e ampliados. Sem o fortalecimento dessa base (vista como indispensável para um verdadeiro

desenvolvimento local), as ações de promoção ao local perdem consistência, haja vista que a

cooperação torna-se inexistente, e os conflitos de interesses se intensificam.

Diante das abordagens realizadas sobre desenvolvimento, a significância dos espaços e

a importância das dinâmicas territoriais para as localidades, a análise recai sobre as

experiências de desenvolvimento local no município de Areia, cuja alternância de estratégias

produtivas tem marcado sua história, tanto no que se refere às práticas econômicas

tradicionais (confecção de produtos advindos da cana de açúcar), quanto às mais recentes

alternativas de promoção das localidades, como o fomento de atividades turísticas. Agrega-se

a esse aspecto os movimentos sociais suscitados e as formas de não aceitação às relações de

poder que cada conjuntura temporal apresenta.

2.2 Histórico das dinâmicas territoriais e das relações de poder no município areiense

Areia, no curso de sua história, vivenciou diversas situações que possibilitaram à

localidade uma construção econômica e cultural emblemática no brejo paraibano. Tendo

condições climáticas e solo propício para o plantio de determinadas culturas, sua vocação

produtiva inicia-se no campo, com maior expressividade a partir do século XVIII com a cana-

de-açúcar, e consecutivamente com o café, o algodão, o agave, voltando a ter significância a

produção da cana-de-açúcar, do início do século XX aos dias atuais .

Sua estrutura econômica influenciou de forma decisiva a construção de uma cultura

local dotada de simbolismos e de representações. A produção da cachaça e da rapadura trazia

consigo bem mais do que a confecção de produtos expostos para a venda. Os trabalhos

realizados nos engenhos eram acompanhados, segundo um dos moradores mais antigos do

engenho Bujari43

(presente na localidade desde 1940), por cantos que embalavam o caldo

quente, e histórias que deixavam os dias frios mais divertidos e envolventes. Momentos de

socialização, de trocas que faziam desses encontros algo prazeroso e criativo.

A noite passava que a gente nem sentia. Era uma alegria! Eu era criança,

mas me “alembro” bem: minha mãe fazia café e a gente tomava com beiju

43

Entrevista concedida em maio de 2013.

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bem quentinho... Ninguém sentia nem peso de trabalho. Era a cantoria, um

“conversero” alto, tudo, tudo.

Nesses espaços de vida eram construídos modos de produção e formas de ser que hoje

dotam a localidade de tradições que demonstram a engenhosidade daqueles que fizeram dos

engenhos mais que unidades produtivas, mesclando necessidades econômicas e construções

cotidianas que permitiam uma maior identificação com local.

A produção dos engenhos areienses do final do século XIX e início do século XX se

destinava tanto ao mercado interno e à comercialização com regiões circunvizinhas (como

João Pessoa, Alagoa Grande, Arara, Remígio e Esperança), quanto com Pernambuco.

Por muito tempo [Areia] foi o maior centro comercial do interior, fechando à

capital as portas do sertão. E como suas relações de negócio eram mantidas

de preferência com as praças de Pernambuco, resolveu o governo abrir uma

estrada da capital até Areia, com o objetivo de conquistar aquele mercado.

(ALMEIDA, 1980, p. 36)

Essa relação do homem com a terra foi responsável, no século XIX, pela diferenciação

entre os senhores de engenho e os trabalhadores que se estabeleceram nessas unidades, e que

eram responsáveis pelo plantio da cana-de-açúcar e pela produção de elementos advindos

dessa cultura agrícola (ANDRADE, 1994). Ao lado das atividades produtoras voltadas para as

necessidades dos donos da terra, os grupos familiares que habitavam essas localidades

desenvolviam também a cultura de subsistência (MELO, 2008). O excedente conseguido nos

roçados era levado à feira local para ser vendido, o que gerava recursos para que os

trabalhadores dos engenhos conseguissem a complementação alimentícia necessária para si e

seus familiares.

Entretanto, essa agricultura de subsistência era realizada em terras que não pertenciam

ao trabalhador. Seu vínculo com o lugar de produção era limitado pela concentração de terras

no município areiense, fato que atesta a desigualdade, a hierarquização social e o subjugo

econômico ao qual eram submetidos os grupos de moradores dos engenhos que, por não

possuírem recursos próprios para sua independência econômica e consequente ascensão

social, viam-se obrigados a uma relativa subserviência com relação aos proprietários.

O contexto vivenciado pelos trabalhadores dos engenhos do século XIX ao início do

século XX restringia suas formas de resistência, haja vista que o uso da violência era comum

para dificultar os enfrentamentos contra os proprietários de terras. Entretanto, como afirma

SCOTT (2002), havia a restrição das contestações, não sua ausência. Segundo MELO (2008),

uma das formas de autoafirmação dos trabalhadores nos engenhos areienses era a saída da

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terra por conta própria, indo para outras regiões brejeiras, ou até mesmo para o alto sertão

paraibano. Embora esse tipo de ação tenha sido praticada em número restrito44

, ainda assim

pode ser vista como forma de oposição à dominação imposta pelos senhores de engenho, uma

vez que foge ao quadro de passividade com relação ao poder estabelecido.

Outra forma de não aceitação à dominação imposta nos engenhos areienses era

mostrar indisposição ou ausência de saúde para a lida do dia. Uma das ex-moradoras do

Engenho Mineiro (nascida nesse engenho, em 1933), afirma que:

Vez por outra acontecia de alguém não aparecer no eito pra trabalhar. Um

dia mesmo, meu pai mandou dizer pra o patrão que não ia plantar cana pra

não levar sol porque estava com o dente doendo. Que nada! Depois que meu

irmão mais novo saiu pra dar o recado, ele „ponhou‟ o chapéu e foi limpar

uns „lerão‟ de feijão que tinha „botado‟ perto de casa.45

As formas de resistência nos engenhos areienses são sentidos também nas últimas

décadas. Uma das moradoras mais antigas do Engenho Bujari afirma que, há

aproximadamente 15 anos atrás, por discordância do dono do referido engenho com outra

moradora quanto à criação de gado, houve um dos mais significativos enfrentamentos entre o

dono da terra e um trabalhador, até onde ela tem conhecimento.

A minha amiga e o marido queriam criar uns gados amarrados, mas ele [o

proprietário do engenho] não aceitava que fosse dessa forma porque o gado

se soltava e espezinhava a cana. Ele até dizia que podiam colocar o gado

junto com os dele, mas minha amiga dizia que não dava certo porque o gado

dela ia terminar passando fome porque não ia ter como cuidar direito. Como

num teve acordo e ela ficou desgostosa, procurou os direitos na justiça e

recebeu um dinheiro que deu pra comprar um sitiozinho em outro lugar. Essa

coragem ninguém mais teve. Mas nós „tamo‟ esperando o filho do dono

chegar pra receber o pedacinho de terra que cada um ocupou aqui no

engenho... ele disse que vai dar... e a gente tá esperando.

Diante dos fatos relatados, percebe-se certo enfrentamento e certa resistência às

legitimidades simbolicamente construídas (uns mandam por deterem o poder, outros

obedecem porque são subjugados). As ações desprendidas pelos moradores e trabalhadores

dos engenhos desmistificam a aceitação incondicional à ordem social vigente que categoriza e

44

Um desses episódios (da década de 1920) é narrado por um dos moradores do Engenho Bujari, em entrevista

concedida no dia 12 de fevereiro de 2013. Segundo ele, seu pai relatava que ainda jovem um de seus bisavós se

recusara a realizar determinadas atividades no referido engenho, e temendo a reação do proprietário (mas

também não querendo se curvar à vontade do patrão), abandona a propriedade no meio da noite, indo se alojar

em casa de parente em região próxima à propriedade. 45

Entrevista concedida no dia 05 de maio de 2013.

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divide os atores sociais. As relações estabelecidas criam os princípios de luta, sendo esses

princípios os que geram a dinamicidade da realidade social (BOUDIEU, 1996).

A estabilidade das estruturas recebe considerável impacto diante das práticas de atores

sociais que negam as relações de coerção, de subserviência. Mesmo de forma modesta, com

algumas iniciativas localizadas, os grupos de trabalhadores são capazes de construir uma

realidade social diferente, burlando os modelos existentes, mesmo que de forma sutil.

Entretanto, no século XIX e início do século XX, houve o predomínio da legitimidade do

poder dos senhores de engenho em Areia, arraigado graças a uma continuidade histórica de

beneficiamento a esses atores sociais.

O ser senhor de engenho é título a que muitos aspiram, porque traz consigo o

ser servido, obedecido e respeitado de muitos. E se for, qual deve ser,

homem de cabedal e governo, bem se pode estimar no Brasil o ser senhor de

engenho, quanto proporcionalmente se estimam os títulos entre os fidalgos

do Reino. (ANTONIL, 1982, p. 75)

O prestígio e o poder dos donos de engenho, associados à sua importância econômica,

o transformaram em personagens que deveriam ser respeitados. Em contrapartida, o

trabalhador, homem simples e “sem significâncias políticas e econômicas”, se resignava aos

“favores” dos seus senhores.

O outro caminho trilhado pelo homem pobre teve seu ponto de partida no

caráter prescindível desse sujeito na estrutura socioeconômica. Essa

existência dispensável levou-o, em última instância, a conceber sua própria

situação como imutável e fechada, na medida em que as suas necessidades

mais elementares dependeram sempre das dádivas de seus superiores. Assim,

em sua vida de favor, a dominação foi experimentada como uma graça e ele

próprio reafirmou, ininterruptamente, a cadeia de lealdades que o prendia

aos mais poderosos. Desprovida de marcas exteriores, sua sujeição foi

suportada como benefício recebido com gratidão e como autoridade

voluntariamente aceita, fechando-se a possibilidade de ele sequer perceber o

contexto de domínio a que esteve circunscrito. (Franco, 1983, p. 104)

Entretanto, à medida que as transformações econômicas vão ocorrendo, a realidade se

descortina e os descontentamentos motivam ações contra o poder privado dos donos das

terras. A legitimidade de mando e a condição de subserviência passam, gradativamente, por

um momento de questionamentos que, mesmo de forma localizada, individualizada, começam

a transformar os vínculos de dependência pessoal do trabalhador para com o senhor da terra.

Voltando à questão econômica, com o avanço no campo, foi possível investimentos na

zona urbana do município de Areia. O centro da cidade, que ostenta casarões imperiais ricos

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em detalhes da cultura arquitetônica do século XIX, é um dos indicadores da prosperidade

econômica vivenciada na região pelos senhores de engenho, posto que a eles que se atribui as

iniciativas de construção dos mais destacados prédios da localidade. Essa prosperidade

econômica, entretanto, não era acompanhada de melhorias nas condições de vida dos

trabalhadores. Embora fazendo uso das terras para o fomento da agricultura de subsistência,

para a criação de animais e tendo árvores frutíferas das quais pudessem tirar a

complementação alimentícia, os recursos conseguidos com a cana de açúcar eram um

patrimônio particular daqueles que tinham o poder de mando, os proprietários das terras

(LACERDA, 1996).

Com os investimentos feitos na cidade, Areia passou a ter expressividade, na segunda

metade do século XIX, nas atividades voltadas para o comércio. Era nessa localidade que se

via prosperar as relações de venda e compra de diversos produtos da região. Graças a essa

atividade, as feiras locais passaram a ser consideráveis, e o centro da cidade passou a ser um

dos principais pontos de socialização.

A feira de Areia, nascida com a criação do município, gozou da reputação de

ser a maior da Paraíba, até o fim do século. (...) De longe, ouvia-se o zunzum

do aglomerado humano que enchia os quadros da cidade, atravancada de

animais de carga. (ALMEIDA, 1980, p. 167)

Segundo ALMEIDA (1980, p.168), o comércio em Areia era desempenhado por

“homens honrados, de mentalidade esclarecida (...) e com gosto pela educação dos filhos”.

Em outras palavras, o destaque da atividade era dado às pessoas de posses, estrangeiros (como

o português Jorge Tôrres) que encontravam nessa cidade o espaço necessário para crescer

economicamente.

É válido salientar que esse destaque e enaltecimento a determinados personagens que

fizeram parte da história areiense por Horácio de Almeida se deve ao seu sentimento de

pertencimento dentro da sociedade, às suas origens. O pai do referido autor era comerciante

que, após passar por momentos difíceis, decide se aventurar no campo, adquirindo o Engenho

da Várzea (NASCIMENTO, 2010). Portanto, como afirma CERTEAU (2008):

Toda pesquisa historiográfica se articula com o lugar de produção

socioeconômico, político e cultural. (...) Ela está pois, submetida a

imposições, ligada a privilégios, enraizada em uma particularidade. É em

função deste lugar que se instauram os métodos, que se delineia uma

topografia de interesses que os documentos e as questões, que lhes serão

propostas, se organizam. (CERTEAU, 2008, p. 66)

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Entretanto, é válido lembrar que a efervescência nas feiras e no centro comercial de

Areia se devia aos camponeses que “se deslocavam para vender seus produtos, rever seus

amigos, comprar aquilo que fosse necessário e possível para sua sobrevivência e de sua

família” (FIÚZA, 1999, p. 71). Essa ligação entre o campo e a cidade é uma marca das

dinâmicas territoriais em Areia presente, inclusive, até os dias atuais. A interação existente

entre as duas esferas do município influenciou e influencia as diferentes práticas econômicas.

O trabalhador do campo, que no século XIX levava os frutos de seus esforços para serem

vendidos nas feiras escondia uma relação de dominação. Ou seja, a ocupação da terra em que

plantavam obrigava os trabalhadores a relações de parceria com os proprietários, sendo

levados a entregar parte da produção a quem detinha a posse das propriedades. A outra parte

era negociada por meio de troca ou venda.

Diante da opressão e do quadro de exploração vivenciado pelos trabalhadores

areienses, e das medidas governamentais com os decretos nº 797 e nº 798, no ano de 185146

,

eles passaram a fazer parte de um dos movimentos populares de maior expressividade na

região, denominado Ronco da Abelha. Essa manifestação popular ocorreu principalmente nas

feiras locais (FIÚZA, 1999), sendo os trabalhadores rurais os mais destacados atores.

Décadas depois da eclosão do Ronco da Abelha, é iniciado outro movimento que

demonstra a insatisfação popular para com as medidas governamentais, vistas como processos

de exploração da camada mais pobre da população. A Revolta de Quebra Quilos, que se

estende de 1874 até 1875, é entendido como:

(...) uma extensão do movimento anterior, visto que os problemas antes

apontados, de concentração de terras, dos desmandos dos coronéis e do

governo imperial, se mantiveram e se agravaram ainda mais com os

impostos provinciais e imperiais. (FIÚZA, 1999, p. 73)

Os registros documentais sobre o movimento47

atestam que o Quebra Quilos foi uma

revolta que se estendeu até Areia, mas que os principais representantes a adentrarem o

46

Os decretos nº 797 e nº 798 estabeleciam, respectivamente, a realização do censo geral da população e o

registro civil. Nesse sentido, o batistério, documento emitido pela Igreja Católica e que no período em que se

desenvolve a revolta o Ronco da Abelha, além de atestar o nascimento de uma pessoa, o caracterizava como

livre ou escravo, passa a ser substituído pelos registros dos cartórios. Longe de representar a ignorância do povo,

essa revolta ocorre dentro de um contexto de exploração e de exclusão, fomentado no século XIX principalmente

pela Lei de Terras que, segundo FIÚZA (1999), limitava o acesso dos pobres à terra, uma vez que só teria direito

à posse quem tivesse pago por ela. Além desse aspecto, leva-se em consideração a escassez da mão de obra

escrava (a Lei Eusébio de Queiroz extinguiu o tráfico negreiro, em 1850) e o receio do trabalhador livre,

espoliado e marginalizado, ser levado à condição de escravo. 47

Aqui são levados em consideração os relatos de Horácio de Almeida, em “O Brejo de Areia”, de 1980. O

referido autor afirma que o movimento se iniciou em Fagundes (comarca de Campina Grande), em 1874. Foi

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comércio local e a queimarem “os papéis da Câmara Municipal, [ocuparem] repartições

públicas (...) e [quebrarem] tudo que encontraram de pesos e medidas” (ALMEIDA, 1980, p.

143) eram trabalhadores vindos de outros municípios, como Alagoa Grande e Ingá.

Entretanto, o mesmo autor afirma que os “sublevados, homens rústicos, na sua maioria

camponeses, (...) escolhendo os dias de feira para os assaltos às localidades, vão

conseguindo facilmente a adesão do povo” (p. 137). Portanto, pode-se afirmar que, embora o

movimento tenha sido iniciado por pessoas de outras localidades, os trabalhadores areienses

participaram do levante que buscava por fim ao sistema de pesos e medidas adotado no Brasil

no século XIX.

Já no século XX, as dinâmicas territoriais desenvolvidas em Areia apresentam certa

transformação no que se refere ao processo de produção canavieira e sua utilização. Na

década de 1930 é implantada a Usina Santa Maria, abrindo espaço para a modernização da

indústria da cana-de-açúcar48

(ALMEIDA, 1994).

Foto 8: Dependências da Usina Santa Maria – década de 1970.

Fonte: Acervo pessoal de Carlos Trajano

uma revolta que mostrou a insatisfação dos negociantes de poucas posses para com o “imposto de chão”

(obrigação de pagar para poder expor a mercadoria no chão das feiras populares), e também do povo contra o

sistema de pesos e medidas por acreditarem estarem sendo lesados em suas compras. 48

A Usina Santa Maria, que fora instalada em 1930, atingiu elevados níveis de crescimento, em especial devido

a disponibilidade de mão de obra, pois com o fechamento dos engenhos de rapaduras, muitos trabalhadores

ficaram sem emprego e foram contratados por ela (FIÚZA, 1999, p. 100)

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Algumas modificações foram implantadas no município, gradativamente, a partir

desse período, como o declínio dos engenhos (que passaram a ter suas terras arrendadas para

os proprietários da usina, ou produzir cana-de-açúcar para a mesma) (DANTAS, 2004).

Entretanto, a desigualdade social, a exploração dos trabalhadores e a concentração de terras

entre os que detinham o poder econômico continuaram sendo exercidos. Inclusive, alguns dos

proprietários da Usina Santa Maria, no transcorrer do tempo, estavam diretamente vinculado

aos donos-de-engenhos, o que demonstra que a mobilidade social não ocorreu durante o

período de sua atividade (GARCIA JR., 1990).

Segundo o mesmo autor, o pagamento dos trabalhadores era feito por semana e de

acordo com a produção conseguida individualmente, ao final de cada dia, sendo a exploração

na usina mais intensa do que nos engenhos. “Todos os trabalhadores da parte agrícola, tanto

moradores como trabalhadores da rua, eram clandestinos, isto é, não tinham carteira

assinada, nem seus direitos trabalhistas eram respeitados” (GARCIA JR., 1990, p. 220).

Além da incorporação das terras do engenho à Usina Santa Maria, houve a anexação

dos sítios dos moradores ou posseiros, que passaram a não mais praticar a agricultura de

subsistência, tendo que se tornar um trabalhador, geralmente temporário, da referida usina.

Houve também a substituição de outras culturas agrícolas (fumo, agave e algodão) “em

função da grande produtividade da cana-de-açúcar” (FIÚZA, 1999, p. 109).

O custo social da expansão da agroindústria foi, porém, muito alto. A

maioria de seus empregados é sazonal, isto é, limitado a certa época do ano.

(...) além de que a concentração de terras reduziu culturas de subsistência e

criou focos de tensão social. (MELLO, 1997, p. 33)

Essas tensões sociais, fruto do quadro caótico que envolvia os moradores e

trabalhadores do campo, principalmente entre 1960 e 1970 (com a efetivação das atividades

da usina), fez com que, dos anos 70 a 80, surgissem formas de organização que viessem a

defender seus interesses. (MELLO, 1997), como os sindicatos e a efetiva participação da

Igreja Católica como assessora “organizacional e política” (FIÚZA, 1999, p. 111) em

movimentos de desapropriação de terras.

Essas organizações foram facilitadas também pelo processo de decadência pelo qual a

Usina Santa Maria começa a passar, quando tem início sua falência, em 198249

(LACERDA,

1996). Entretanto, a situação da usina prejudicou os trabalhadores e, de forma geral, todo o

município de Areia. Embora sendo explorados no exercício de suas atividades e com

49

Ver em anexo documentos comprobatórios da falência da Usina Santa Maria.

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condições financeiras insatisfatórias, quando há a desarticulação da usina, os trabalhadores

ficam sem empregos, posto que o município não era capaz de absorver a demanda por

trabalho.

O caminho encontrado como alternativa foi a sua organização para

conquistar as terras da usina e não permitir que o Estado as vendesse. Sendo

assim, criou-se o Comitê de Solidariedade aos Trabalhadores da Usina, com

representações dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Serraria, Pilões e

Areia, das irmãs franciscanas do Colégio Santa Rita, da Paróquia de Pilões,

do SEDUP (Serviço de Educação Popular – Guarabira – PB), do INCRA –

PB, entre outros, que passou a usar, como estratégia de resistência, a

produção na terra, a divulgação na imprensa e a pressão junto às autoridades

políticas locais (municipal e estadual). (FIÚZA, 1999, p. 114)

Alguns desses trabalhadores passaram a ocupar também áreas urbanas, auxiliando o

crescimento desordenado que hoje caracteriza as zonas periféricas de Areia. A área de

ocupação é conhecida atualmente como Bairro da Jussara, um dos espaços mais carentes de

iniciativas governamentais, embora algumas ações tenham sido efetivadas no local nas

últimas décadas (como saneamento básico e calçamento das ruas).

Foto 9. Bairro da Jussara

Fonte: Acervo pessoal – Vanderleia dos Santos, 2013

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Outra iniciativa de relevância econômica no município de Areia no século XX foi a

implantação da Fábrica de Fiação Arenópolis S/A, cujas atividades iniciais eram voltadas para

o descaroçamento do algodão (LIMA, 1972). Boa parte do produto beneficiado, de acordo

com o mesmo autor, vinha de plantações locais, o que atesta, mais uma vez, a ligação

econômica entre o campo e a cidade.

Foto 10: Fábrica de Fiação e Tecelagem Arenópolis S/A, na década de 1980

Fonte: CAVALCANTI Filho; MOURA, 2003

Sua formação inicial se deu entre 1920 e 1924, com artesãos que produziam malhas,

tapetes e redes. Em 1946, a referida fábrica passa a ser produtora de sacos que, segundo uma

de suas antigas funcionárias50

, eram produzidos principalmente para as necessidades da Usina

Santa Maria. Além do mercado interno, a produção da fábrica se destinava ao comércio com o

Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco, entre outros Estados brasileiros (FÉLIX, 1986).

Foto 11: Armazéns, almoxarifado e casa de força da Fábrica Arenópolis S/A

Fonte: CAVALCANTI Filho; MOURA, 2003

50

Entrevista realizada em 12 de abril de 2013.

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Embora de relevância para a economia areiense entre as décadas de 1920 a 1980

(quando se iniciou seu processo de falência), a Fábrica Arenópolis S/A deu continuidade ao

sistema de exploração da camada popular. Seus funcionários eram divididos em três turnos,

sendo que, como os salários eram baixos, muitos eram levados a assumirem dois turnos,

abrindo mão do estudo e do lazer (SILVA e SANTOS, ). Muitas crianças tinham suas idades

alteradas para poder fazer parte do quadro de funcionários da fábrica.

Crianças com 8, 9 e 10 anos eram empregadas recebendo um salário bem

mais baixo do que era pago a homens e mulheres. Na tentativa de não

chamar muito a atenção, essas crianças tiveram suas idades acrescidas de

alguns anos. Tal ação não era de difícil execução, uma vez que muitas

famílias, em décadas anteriores, não tinham a preocupação de registrar o

nascimento de seus filhos. Muitos obtiveram suas certidões de nascimento

anos depois, através do batistério, documento emitido pela Igreja Católica a

todos aqueles que fossem batizados. (...) As famílias carentes viam a

possibilidade de empregar seus filhos como uma das saídas para a obtenção

de recursos, mesmo que elas ganhassem pouco. Diante da necessidade

econômica, poucos eram os pais que abdicavam do ganho infantil. As

crianças eram privadas dos momentos de lazer, da educação, do descanso, e

levadas a participarem da produção fabril, ignorando a falta de segurança e

os riscos que corriam no desenvolvimento dessas atividades. (SILVA e

SANTOS)

Uma das antigas funcionárias assegura que a possibilidade de empregos que a fábrica

gerava atraía até mesmo pessoas vindas dos campos, que não tinham mais como sobreviver

nos engenhos e nem eram incorporadas pela Usina Santa Maria. Ao mesmo tempo, ela relata

o processo de exploração e exclusão a que eram submetidos51

:

Ah! Tinha muita gente que ia procurar emprego na fábrica, só que num dava

pra todo mundo. O povo dos sítios, dos engenhos, tudo ia lá vê se conseguia

um emprego, mas num dava pra quem queria... era mais de 200 pessoas

trabalhando lá! Agora, a gente trabalhava! Quem tinha medo de trabalho

nem chegava perto. E a gente num tinha direito a muita coisa, não. De vez

em quando acontecia acidente e ninguém falava nesses negócios de direito,

não. Ainda assim, uns funcionários moravam em casas da fábrica, onde hoje

é a Vila Operária. Eu não, eu nunca morei lá, não. (Antiga funcionária da

fábrica, em 2013)

Um dos momentos de luta por melhores condições de trabalho e salários ocorreu em

1965, com o movimento grevista que levantava a problemática da questão feminina na

fábrica, uma vez que elas eram obrigadas a continuarem suas atividades até os últimos dias da

51

Entrevista concedida em maio de 2013.

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gravidez, restando-lhes o direito de ficar em casa apenas durante os primeiros dias do

resguarde (FÉLIX, 1986). De acordo com a antiga funcionária entrevistada, as 24 horas que

duraram o movimento foram capazes de assegurar às mulheres o direito de se ausentar do

trabalho antes e depois do nascimento da criança.

Não era como é hoje, que a mulher passa um tempão em casa quando tá pra

ter menino, mas se comparando com o que era antes, ôxe! Mudou muito. Se

a mulher grávida tivesse se sentindo mal, faltava o trabalho e recebia pelo

dia. Quem pensava que isso ia acontecer ali dentro? Eu nunca tinha visto.

Outro movimento que teve como principais protagonistas os grupos de trabalhadores,

e diz respeito à Fábrica ocorreu em 1981 quando, após a declaração de falência os bens, que

deveriam ser leiloados, sofreram intervenção dos operários. O conjunto habitacional

conhecido como Vila Operária foi reivindicado pelos funcionários que ocupavam as casas,

contando com a participação de moradores e estudantes da Universidade Federal (FÉLIX,

1986).

Com o término das atividades na Fábrica de Fiação e Tecelagem Arenópolis S/A e da

Usina Santa Maria, o campo e a cidade passaram a vivenciar dificuldades consideráveis que

repercutiam nos vários aspectos da vida da população. O comércio sofreu forte queda52

, o

número de habitantes foi, gradativamente sendo reduzido (tanto no campo como na cidade), e

áreas periféricas foram se ampliando53

.

52

Essa afirmativa é feita por um dos antigos funcionários da usina, que assegura que “o comércio afracou mais

porque foi muita gente sem ter como comprar. Zé Romeiro mesmo, que mora de frente da Praça do Trabalho,

perto de João Lulu, ele foi um que fechou as portas da venda. Sem contar que aqueles „barracão‟ que

„negociava‟ lá perto da usina, tudo se acabou. Eu mesmo, vou lhe dizer, lá de casa trabalhava eu, meus dois

irmãos e pai, e a gente num teve direito a nada, não. Quando se veio saber que o povo tava conseguindo terra, a

gente foi falar com o advogado, mas ele disse que já fazia mais de dois anos, aí a gente num tinha direito a mais

nada. Por isso meu pai, eu e meus irmãos passamos um tempo de dificuldade, arruma um negócio pra fazer

aqui, um bico ali, e assim a gente seguiu. Mas foi difícil”. (Entrevista concedida no dia 25 de abril de 2013).

Entretanto, essas abordagens que atribuem a fragilização do comércio à falência da Usina Santa Maria e à

Fábrica de Fiação e Tecelagem Arenópolis S/A é questionada por uma moradora da cidade de Areia. Ela afirma

que “o comércio, entre 1960 e 1970 era pequeno. Aliás, a cidade era bem menor. Eu vou lhe dizer quais são os

estabelecimentos que eu me lembro, no centro: na Rua Santa Rita só tinha a Bodega de Pedro Freire e a bodega

de Seu Edésio Sales; na Rua Coelho Lisboa tinha a sapataria de Edvar e subindo um pouquinho tinha a bodega

de Zé Teixeira; perto da Praça Pedro Américo ficava a bodega de Seu Deroci, mais pra cá a bodega de Seu

Bevenuto, mais pra cá a loja de tecidos de Antônio Veado, mais pra cá a padaria de Seu Edgar, em frente a Seu

Deroci ficava a loja de tecidos de Seu Américo Perazzo (um italiano), do outro lado era a farmácia de Dona

Dilza, a relojoaria de Zé Ribeiro, a loja de tecidos de Dona Emilinha; e na Rua do Teatro, a padaria de Seu

Antônio Seboso”. (Entrevista concedida no dia 27 de abril de 2013) 53

De acordo com o IBGE, em 1950 (período de desenvolvimento produtivo da Usina Santa Maria e da Fábrica

de Fiação Arenópolis S/A), o número de habitantes no município de Areia era de 46.300, distribuídos entre a

zona urbana e zona rural. Esse número apresenta significativa queda em 1990 (poucos anos após a falência das

referidas usina e fábrica), computando 28.130 habitantes. Com relação à ampliação de zonas periféricas, segundo

o secretário de infraestrutura de Areia (entrevista concedida em novembro de 2012), os exemplos mais

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Segundo uma das moradoras da cidade de Areia54

:

Depois que a fábrica fechou e a usina foi à falência, houve um aumento

significativo de pessoas pedindo nas portas. Era gente demais pedindo! E

iam até pra outras cidades... Eu lembro também que na usina, alguns

trabalhadores tiveram direito a um pedaço de terra (é onde hoje fica a Vila

do Caroço). Teve um período que a Usina prosperou tanto que os donos

mandaram derrubar os casebres e construir, pra os moradores, casas de

alvenaria. Essas casas, depois da falência, ficaram com eles [os

trabalhadores], junto com um pedaço de terra pra plantarem. Mas também

teve alguns trabalhadores da fábrica e da usina (principalmente da usina) que

foram embora pra outros Estados. Era uma situação triste porque eles

deixavam aqui as famílias, e vinham visitar de tempos em tempos. (J. R.

moradora de Areia, 2013)

Diante do exposto, pode-se observar que a dinâmica territorial desenvolvida em Areia,

do século XIX ao século XX foi diversificada, ora com predominância das atividades

desenvolvidas no campo, ora com destaque para as atividades implementadas nas cidades.

Entretanto, o que se observa é que há, em todos os momentos relatados, a articulação entre o

rural e o urbano na construção da teia econômica e social empreendida, aspecto que suscita

questionamentos sobre a visão separatista que pretende a análise do rural e do urbano de

forma dissociada. Esses dois espaços que constituem o município areiense (o urbano e o rural)

são complementares e dependentes, não só no tocante às questões econômicas e sociais, como

também no que se refere às relações de poder, às formas de resistência empreendidas na

localidade e às simbologias que revestem o espaço.

Segundo WANDERLEY (2002), em períodos anteriores, o rural é visto como oposto

do urbano, e preconceituosamente entendido como espaço periférico por se encontrar isolado

e apresentar precariedade de infraestrutura. Em Areia, os senhores de engenho, detentores de

poder político, econômico e de posição social destacada, investiam em construções na área

urbana (ALMEIDA, 1980) como forma de ostentação de riquezas e de diferenciação dos

demais que habitavam o campo. Possuir um sobrado no centro da cidade era uma forma de

ostentar sua condição social e sua influência econômica e política na localidade. Portanto,

esses senhores não seriam simples moradores do campo, pois possuir imóveis no centro de

Areia lhes retirava do lugar comum, assegurando-lhes visibilidade, respeito e poder.

O rural requer uma análise ampla, sendo considerado dentro do contexto histórico que

o nutre de significância e valores, e em consonância com o restante do território do qual faz

emblemáticos que têm ligação com o contexto descrito são a ocupação da área de encosta que hoje recebe o

nome de Bairro da Jussara e o crescimento da Rua São José, também em região de declive. 54

Entrevista concedida em 25 de maio de 2013.

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parte. O curso das transformações que acompanha cada época possibilita a formulação de

novos olhares sobre os espaços de vida onde ocorrem as construções econômicas, as relações

sociais, as reivindicações por mudanças ou os movimentos de reprodução do sistema

estabelecido.

Com a implantação da Usina Santa Maria, cujo período de atuação vai se 1931 a 1984

(FIÚZA, 1999), assiste-se a uma nova configuração econômica no campo. Embora

continuasse assentada na concentração de terra e na exploração do trabalhador (características

presentes nos engenhos), houve a modernização da agricultura local na busca de atender às

demandas de um mercado que sofria interferências do contexto internacional55

. Esse processo

de implantação de usinas na região Nordeste era motivado pelo apoio do Governo Federal,

por meio do Programa Nacional do Álcool56

(Proálccol).

Foto 12: Formas de ocupação do espaço rural areiense: antiga Usina Santa Maria e atual Vila do Caroço

Arquivo pessoal: Carlos Trajano

No tocante à condição a que eram submetidos os trabalhadores, com a efetivação da usina,

além da exploração, eles foram perdendo os vínculos identitários com os espaços que antes

55

Na década de 1970, ocorreram as chamadas “crises do petróleo” que elevavam o preço do produto a valores

recordes (FAUSTO, 1995). 56

O Programa Nacional do Álcool foi criado em novembro de 1975, em plena vigência do governo militar, sob

o comando do General Geisel. O propósito de sua criação era incentivar a produção de álcool no Brasil que

pudesse ser usado como combustível para veículos, sendo uma alternativa na tentativa de driblar a crise do

petróleo no Brasil (FAUSTO, 1995).

Arquivo pessoal: Vanderleia dos Santos, 2013

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ocupavam, onde construíam suas moradias, viam crescer os filhos e de onde nutriam o

sentimento de pertencimento. Obrigados a se retirar dos territórios de outrora para ceder

espaço à cana, pela qual reclamava voraz o maquinário da usina, os moradores se desfaziam

de uma parte de sua história.

Diante do exposto chega-se à conclusão de que o desenvolvimento que ocorreu no

município areiense entre o final do século XIX e na primeira metade do século XX não esteve

assentado em princípios democráticos, nem na garantia das liberdades. O desenvolvimento

que ocorreu na região tinha como metas principais o crescimento econômico e o

beneficiamento de uma elite agrária e comercial em detrimento da exploração e exclusão de

grupos de trabalhadores que, de forma sucinta, mas expressiva, esboçaram ações que

demonstravam seu desagrado com a situação de marginalização a que eram submetidos.

Com relação às dinâmicas territoriais encontradas no município de Areia da segunda

metade do século XX até os anos iniciais do século XXI, pode-se dizer que são, em parte, um

retorno a antigas práticas econômicas, como atividades voltadas ao comércio e a confecção de

produtos com base na cana-de-açúcar, nos engenhos. Entretanto, dentro de um novo contexto

que se descortina. A essas duas formas de condução da economia areiense se une o amplo

desenvolvimento da Universidade Federal da Paraíba, Campus II que, ao ampliar a quantidade

de cursos de graduação, mestrado e doutorado, atrai grande número de habitantes temporários,

fazendo crescer os empreendimentos imobiliários e tornando mais vistosas as iniciativas

comerciais do local (SILVA, 2011).

Foto 13: Centro comercial: início do século XX e início do século XXI

Fonte: acervo pessoal de José Henrique

O centro da cidade, que tem desde sua formação, abrigado os principais

estabelecimentos comerciais, apresenta um considerável aumento no número de casas

Fonte: Luciana Gomes da Silva, 2010

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destinadas a essa atividade, se comparadas as décadas de 1960 e de 201357

. De acordo com o

secretário de infraestrutura do município, é o comércio a principal atividade econômica de

Areia na atualidade58

, e a principal responsável pela geração de empregos e melhoria dos

serviços prestados à comunidade, aos habitantes temporários e visitantes.

O momento de crise pelo qual passou Areia após a falência da Usina Santa Maria e da

Fábrica de Fiação e Tecelagem Arenópolis S/A, foi seguido pela busca de alternativas locais

capazes de dar continuidade ao desenvolvimento econômico. E nessa busca, além do fato de

Areia ser um dos principais polos educacionais na região59

, é relevante o processo de

tombamento que ocorreu em nível nacional, entre 2005 e 2006.

O processo de tombamento nacional de Areia teve seus primeiros aportes

nos empreendimentos da AMAR (Associação dos Amigos de Areia). (...)

Aproveitando as políticas do governo federal que beneficiavam as cidades

que possuíam significativos bens culturais e artísticos, o grupo enviou para o

Ministério da Cultura um requerimento, cujo intuito era conseguir

reconhecimento do centro histórico areiense como patrimônio nacional. (...)

Após a constatação da importância dos elementos históricos, culturais e

arquitetônicos, em 2005 o centro passa a ser reconhecido pelo Conselho

Consultivo do IPHAN como patrimônio nacional. Restava, portanto, a

aceitação do processo pelo MINC, fato que ocorre com o Decreto de

Tombamento Federal, nº 073, de 29 de agosto de 2006. (SILVA, 2011, p.

80)

Esse fato levou alguns grupos, principalmente proprietários de engenhos, a AMAR, o

SEBRAE e empresários a defenderem o investimento na atividade turística, uma vez que o

município passou a ter sua arquitetura, paisagem e cultura reconhecidas em nível nacional.

Esse movimento e essa forma de pensamento, entretanto, não são recentes. Em 1979, em

plena vigência do governo ditatorial no Brasil, a cidade de Areia passou pelo processo de

tombamento em nível estadual por iniciativa do IPHAEP, e a defesa da utilização de seus

elementos culturais e arquitetônico para o desenvolvimento do turismo já havia sido posto em

evidência (OLIVEIRA, 2002). Mas, diante da falta de autonomia do IPHAEP e do pouco

57

Em 1960, o centro comercial de Areia era formado principalmente pelas ruas Santa Rita, Coelho Lisboa e

Getúlio Vargas. Havia, nesse perímetro e na década especificada, 15 estabelecimentos comerciais caracterizados

como farmácias, bodegas e lojas de tecidos (esses dados foram conseguidos mediante entrevista realizada com o

secretário de infraestrutura do município de Areia, em 2012, e mediante entrevista realizada com antigos

moradores da cidade, também no ano de 2012). Em 2013, a partir de pesquisa de campo realizada na mesma

área, foi computado o número de 67 estabelecimentos comerciais. 58

Dado fornecido mediante entrevista em maio de 2013. 59

A UFPB Campus II oferece, atualmente, os cursos de graduação em Zootecnia, Agronomia, Medicina

Veterinária, Biologia e Química, além de mestrados e doutorados, atraindo estudantes das regiões vizinhas e de

outros Estados, que passam a fazer parte do quadro populacional durante uma média de 5 a 8 anos.

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envolvimento da população, as atividades de cunho turístico em Areia durante os anos de

1980 e 2000 não tiveram consistência.

Um dos principais entraves ao turismo enquanto fonte de geração de emprego e renda

em Areia, de acordo com representantes do IPHAEP e secretários municipais60

, era a falta de

consciência da importância dos elementos culturais do município. Mesmo tendo toda uma

estrutura arquitetônica que remetia ao período imperial e a contribuição de vários artistas de

reconhecimento nacional e internacional, a população não sabia valorizar e conservar esses

traços da cultura local. As construções seguiam sendo modificadas em sua estrutura original,

mesmo diante das intervenções de órgãos estaduais e municipais.

Entretanto, é necessário que se analise os fatos sob um viés diferente: o da exclusão.

No local, conservam-se os elementos que falam dos grandes feitos, dos grandes

empreendimentos realizados pela elite canavieira ou de outros grupos de posses e poder. A

representação popular presente nas danças, nos cantos e nas construções foi se perdendo,

gradativamente, posto que esses não eram os atrativos que se buscava conservar e utilizar

enquanto estratégia de promoção do turismo local nas décadas de 1970 e 1980. Além disso, as

camadas populares não construíam vínculos com a história que se buscava resguardar porque

não eram realizados movimentos consistentes de aproximação da população com esses

aspectos culturais da localidade. Muitos personagens eram desconhecidos e muito da história

que se queria resguardar esquecida entre os membros da comunidade.

Dessa feita, as construções arquitetônicas foram sendo remodeladas, de acordo com as

necessidades de uso de seus proprietários, sendo boa parte dos prédios tombados como

patrimônio estadual, ampliados para atender as demandas comerciais que, entre 1990 e 2010

tem seguido ascendência progressiva no município (SILVA, 2011).

Sem a política de aproximação da comunidade com os bens que se buscava resguardar,

e sem força efetiva de atuação do IPHAEP e demais órgãos interessados no processo de

preservação, o patrimônio edificado do centro de Areia foi alvo de várias transformações que

levaram boa parte à descaracterização, principalmente em seu interior. Ainda assim, muitas

dessas construções mantem aspectos da construção original, no tocante às fachadas.

As políticas de preservação fomentadas pelo IPHAEP de 1979 a 2005 estavam

voltadas principalmente para o perímetro urbano, mais precisamente para o centro histórico

tombado. A preocupação não englobava a permanência das características do campo, como

práticas culturais e artefatos dos engenhos e de pequenas propriedades rurais. Essa é outra

60

Dados adquiridos em reuniões abertas realizadas no Teatro Minerva e no Casarão José Rufino,

respectivamente em 2006 e em 2010.

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crítica feita às pretensões do instituto61

, uma vez que fragmentava o espaço, não percebendo a

ampla ligação entre o campo e a cidade no município de Areia.

Mesmo que seus objetivos fossem o de preservação do patrimônio edificado do centro

histórico de Areia, nos primeiros anos de ação o IPHAEP defendia a utilização do aparato

cultural e arquitetônico com vistas a vencer o entrave econômico da localidade por meio do

incremento do turismo como alternativa para o desenvolvimento local (OLIVEIRA, 2002).

Para tanto, era necessário o apoio efetivo da prefeitura municipal que entraria como parceira

no processo de manutenção do patrimônio histórico cultural e arquitetônico. Entretanto, pouco

foi realizado nesse sentido pelos administradores locais. Em consequência, várias edificações

foram sofrendo modificações para que pudessem se adequar às necessidades comerciais

subjacentes.

O primeiro intuito de implantação da atividade turística em Areia, portanto, não

conseguiu atingir seu objetivo. Uma das explicações sugeridas por um dos representantes do

IPHAEP é que faltou uma maior integração entre o poder público e a população, além de

atuação conjunta entre o poder municipal (a partir das secretarias competentes) e o poder

estadual (por meio dos representantes do instituto), tanto na divulgação dos atrativos do

município, como o melhoramento dos serviços prestados e de infraestrutura. Segundo ele, as

ações iniciais no município pelo órgão estadual foram mais de restrição às modificações

estruturais do que de conscientização e planejamento. Com exceção do Festival de Artes de

Areia62

, poucos atrativos culturais e artísticos foram oferecidos entre 1970 e 1980 buscando

apresentar o município aos paraibanos e a outras regiões do Brasil. E ainda assim, esse não foi

um evento de iniciativa do IPHAEP, nem da prefeitura municipal quando de sua realização

nas décadas em questão.

61

Essa constatação foi alcançada mediante entrevista realizada a um grupo de cinco habitantes da cidade, cujas

profissões variavam entre garçons, comerciantes, artesãos e professores. Segundo eles, a preocupação do

IPHAEP sempre foi muito restrita, não merecendo sua atenção os elementos artísticos e culturais que não

estivessem dentro de seu perímetro de tombamento. Além disso, sua intervenção (sem diálogos) se voltava para

a preservação das edificações do centro, como se essa fosse sua única preocupação. Entrevista realizada em maio

de 2013. 62 O Festival de Artes de Areia teve sua primeira edição em 1976, sendo fruto da ação de professores da

Universidade Federal da Paraíba. Com o seu sucesso, passou a ser repetido anualmente, chegando à sua sexta

edição em 1982. Após esse ano, o evento teve sua realização encerrada. Em 1998 e 1999, o festival voltou a ser

realizado sob coordenação da prefeitura municipal. Em 2005 os responsáveis pelo evento foram membros da

população local (com incentivo de empresas privadas e governamentais) (BRASIL, 2011). Em 2011 e 2012 o

governo do Estado tem assumido a coordenação e os investimentos no referido festival. Em todas as edições a

preocupação foi divulgar a arte nacional, seja no cinema, no teatro, na música, na literatura. Em alguns anos

houve um maior empenho em propagar os aspectos da cultura local.

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Num momento posterior, entre 2005 e 2006, o centro da cidade passa por um novo

tombamento, sendo esse em nível nacional63

. O objetivo dessa iniciativa era, mais uma vez,

tentar conter o avanço da depredação do patrimônio edificado e resgatar algumas práticas

culturais realizadas na região. Dessa feita, são dados enfoques aos grupos de artesanato, às

manifestações populares, além de programas que viabilizassem a identificação da população

local com o espaço, a cultura e a história da cidade.

Entidades governamentais e membros da sociedade organizada se uniram na

realização de projetos, cursos de capacitação, movimentos de educação patrimonial visando

uma maior integração da comunidade com o seu patrimônio histórico cultural. Entretanto,

essa iniciativa de tombamento que aparentou ser positivo, suscitou diversas críticas entre os

habitantes de Areia. A insatisfação inicial decorreu do fato de a população local não ser

consultada se queria ou não que o centro da cidade passasse por um novo tombamento. A

alegação dos comerciantes que possuem seus estabelecimentos na área tombada é que essa

iniciativa repercutiu diretamente sobre seus interesses quando lhes é tolhido o direito de

dispor de suas edificações de acordo com suas necessidades de uso. Portanto, para esse grupo,

era indispensável a consulta popular sobre o ato de tombamento do centro histórico.

Além dos comerciantes do centro histórico, os moradores também expõem sua

insatisfação com a forma de condução do processo de tombamento. Os imóveis tombados

passaram a sofrer uma maior intervenção por parte de órgãos públicos, uma vez que o IPHAN

passou a estudar pretensas mudanças que os moradores buscavam realizar nos imóveis.

Segundo alguns desses moradores, os técnicos do IPHAN demoravam muito na análise dos

projetos arquitetônicos enviados. Além do que, essa intervenção do poder público sobre bens

particulares era considerado um ultraje por alguns.

De acordo com uma proprietária de imóvel tombado na Rua Getúlio Vargas64

,

Os representantes do IPHAN não têm muito jeito de chegar até os donos das

casas. Acho que, às vezes, eles são muito autoritários. Não são todos, mas

uns que chegam aqui não são muito simpáticos, e querem impor a vontade

deles. Não é assim! Não nego a importância de se cuidar da história, da

memória da cidade. Mas como se faz isso é onde está a questão. Eu sou a

dona disso aqui, entende?! Quero ser respeitada enquanto proprietária! (B.

P., membro da população areiense, 2013)

63

Ver documento de tombamento em anexos. 64

Entrevista realizada em junho de 2013.

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A insatisfação com o procedimento que culminou com o tombamento do centro de

Areia e seu entorno é questionado também por membros da comunidade que não possuem

edificações tombadas. De acordo com um professor do município65

, o tombamento foi feito

para o povo, mas sem contar com sua participação, sem levar em consideração a opinião dos

diversos grupos locais. Para ele, a AMAR não pode falar pela população areiense, uma vez

que alguns dos membros da associação não residem no município.

Podem até terem nascido aqui, mas boa parte não mora aqui. É uma

associação formada por “amigos de Areia”, não por aqueles que constroem o

espaço. O tombamento aconteceu, e nós tivemos que engolir, sem ter

nenhuma participação efetiva. Agora, é claro que muita coisa positiva

aconteceu das iniciativas tomadas pelos IPHAN e pela AMAR. Exemplo

disso são as gincanas que são promovidas e que enfocam a história local

entre os estudantes, as oficinas de restauração que permitem aos nossos

jovens um conhecimento que eles não tinham acesso anteriormente, o

melhoramento na estrutura dos museus... não se questiona isso. Mas é

necessário que os governantes e as associações passem a perceber que o

povo quer participar da construção de sua história, que ele é capaz de opinar

e decidir o que é melhor pra ele. A gente percebe muita insatisfação, e isso

poderia ser diferente se as atitudes fossem conjuntas, envolvessem a

população. Nós não queremos só receber, nós queremos ser construtores

também. (P. A., professor da rede particular de ensino, 2013)

O que se percebe, diante das ações desprendidas pela AMAR e as contestações da

população local é que o município, assim como no passado, continua a vivenciar medidas

impostas pelos grupos que detêm o poder, seja intelectual, cultural, ideológico ou político. As

realizações sobre o território que vêm a influenciar a vida da comunidade devem receber desta

a contribuição nas tomadas de decisão.

Não obstante, objetivar as pessoas e propor a sua participação em todo o

processo de desenvolvimento (do planejamento à ação), mesmo que resultem

em melhorias efetivas das condições materiais de vida, são insuficientes para

assegurarem a continuidade do processo. O verdadeiro diferencial do

desenvolvimento local não se encontra em seus objetivos (bem-estar,

qualidade de vida, endogenia, sinergias etc), mas na postura que atribui e

assegura à comunidade o papel de agente e não apenas de beneficiária do

desenvolvimento. Isto implica rever a questão da participação. (MARTINS,

2002, p. 52)

Sem dar a devida importância às críticas tecidas pelo corpo social areiense, os

discursos proferidos pelo SEBRAE, AMAR, IPHAN e Prefeitura Municipal apontam para o

65

Entrevista realizada em junho de 2013.

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turismo como atividade capaz de conciliar a necessidade de desenvolvimento econômico, o

avanço nas relações sociais, a melhoria na qualidade de vida da população e a preservação do

patrimônio histórico, arquitetônico e cultural do município, englobando nessa perspectiva o

urbano (com o centro tombado) e o rural (onde se encontram os engenhos, unidades de

produção econômica mais representativas da região).

O ressurgimento do discurso que aponta o turismo como alternativa para o

desenvolvimento do município circunda os espaços areienses desde o tombamento do centro

histórico e entorno, em 2006 até os dias atuais. Mas, o que de fato foi efetivado para a

promoção dessa atividade? Que grupos são beneficiados com as medidas implantadas? Qual a

participação da comunidade local nos programas sugeridos? Que programas seriam esses?

Existe a distinção entre o urbano e o rural em Areia? Que associações são feitas entre esses

espaços de vivência? Essas e outras perguntas de natureza similar endossarão o corpo do

próximo capítulo, que trata das iniciativas territoriais em Areia vinculadas ao turismo, com

ênfase ao rural onde se encontram os engenhos de mel e melaço da região.

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CAPÍTULO 3

3. RURAL E RURALIDADES: A FORMAÇÃO DO ESPAÇO TURÍSTICO EM

AREIA/PB

Para se pensar o rural na atualidade é necessário que os conceitos pré-estabelecidos

sejam analisados, principalmente em sua pretensa divisão entre a cidade e o campo, na

petrificação do lugar social dos atores, nas atividades tipicamente características de uma e

outra instância que constituem o município (SILVA, 1998). Portanto, pensar o rural requer

uma ruptura dos conceitos deterministas e uma abertura para a abrangência de sua

dinamicidade econômica, social e cultural. A abordagem que se pretende nesse capítulo busca

apresentar o rural dentro do contexto dinâmico no qual está inserido e do qual participa

ativamente, mas sem encará-lo como sinônimo de urbanização, sem negar as suas

especificidades enquanto espaço de vivência.

No que se refere às novas leituras sobre o campo e às transformações ocorridas graças

aos diferentes padrões de produção, à revalorização dos aspectos culturais, à necessidade de

entendimento de contextos sociais e históricos, a atividade turística recebe impulso como

alternativa para as localidades quando “o campo passa a ser reconhecido como espaço de

lazer” (CARNEIRO, 1997) e de conhecimento. Assim, o turismo rural surge como

modalidade capaz de tornar possível a ampliação das possibilidades de utilização do espaço,

de promover uma nova alternativa para o desenvolvimento econômico, viabilizar outras

formas de relações entre os atores sociais, e intensificar o contato entre pessoas de diferentes

culturas.

O presente capítulo se volta para a construção do espaço areiense sob essas duas

perspectivas: as novas formas de entendimento do rural e a evocação do turismo como

sistema alternativo para o desenvolvimento socioeconômico no campo. São analisadas as

percepções que o rural areiense desperta nos diferentes atores sociais e as motivações que os

levam a acreditar na possibilidade de práticas turísticas na localidade.

Sendo os engenhos os mais emblemáticos pontos representativos da história, da cultura

e da economia areiense no campo, é analisado de que maneira as pretensões turísticas

influenciam esses espaços, se há a implantação de políticas públicas consistentes que possam

viabilizar iniciativas dessa natureza, e como os grupos locais avaliam as decisões tomadas.

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3.1.O rural sob uma nova perspectiva

Quando se pensa em “rural” várias características preestabelecidas são atribuídas a

essa esfera territorial. De acordo com ABRAMOVAY (2000), são criadas determinadas

fronteiras entre o rural e o urbano que podem ser vistas como insatisfatórias quando se pensa

sempre o rural de forma depreciativa, preconceituosa e emblemática de desigualdades sociais

e econômicas locais.

Segundo o autor, existem três aspectos dominantes em se tratando das delimitações

territoriais que envolvem os municípios, a saber: 1) o rural é definido, inicialmente pela

carência ou pela ausência de acesso facilitado a determinados serviços (como assistência

médica, escolas) em localidades de predominância agrícola; 2) o principal critério de

definição da ruralidade é a atividade econômica voltada para a agricultura e a consequente

ocupação da mão-de-obra e relações sociais ditadas por esse aspecto; 3) são consideradas

localidades rurais aquelas que possuem um baixo índice populacional.

Para ABRAMOVAY (2000), é inconveniente conceber o espaço rural tomando como

pontos cruciais pilares tradicionalmente utilizados, uma vez que os limites territoriais não

apresentam as situações geográficas refletidas, nem o aspecto populacional permite “uma

abordagem regional da ruralidade”. Com relação à questão populacional, afirma que:

Ele [o índice populacional] nos diz que tal localidade ou tal município é ou

não rural – segundo os critérios estipulados –, mas não é capaz de indicar se

existem regiões ou territórios mais ou menos rurais. Uma aglomeração

populacional de 25 mil habitantes cercada por pequenos povoados e distritos

de 2 ou 3 mil habitantes será caracterizada – a justo título – como urbana,

mas sem que se tenham instrumentos estatísticos que permitam perceber que

ela está no meio de uma região que, globalmente, é rural. (ABRAMOVAY,

2000, p.04)

Essa nova configuração do espaço na atualidade torna inconsistente a permanência da

definição tradicional do ser rural e ser urbano. Vários estudiosos ressaltam as novas dinâmicas

e os novos tipos de ocupação realizados nos campos66

, assegurando a existência de

pluriatividades67

, como a implementação do turismo, os loteamentos e a formação de

condomínios, áreas de lazer que evidenciam os aspectos naturais, entre outros. Ao ser dotado

66

Ver: TEIXEIRA, Vanessa Lopes. Pluriatividade e agricultura familiar na região serrana do Estado do Rio de

Janeiro. Dissertação de Mestrado em Ciências em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade. Seropédica:

UFRJ, 1988. 67

A pluriatividade seria uma busca alternativa de renda entre os membros de famílias rurais mediante a

integração de atividades agrícolas a outras atividades ocupacionais (BAUMEL; BASSO, 2004). Entretanto, uma

das críticas tecidas ao termo é sua limitação às atividades econômicas, negligenciando a necessidade de um olhar

mais atento às relações sociais.

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de outras funcionalidades, o campo passa a ser reinterpretado, possibilitando “o resgate e

valorização da cultura e da sociedade local” (CARNEIRO, 2012). As mudanças pelas quais a

sociedade passa repercutem diretamente sobre suas formulações espaciais. Assim, a

significância do rural passa a dar os contornos de sua formulação material, ampla pelas

possibilidades de construção espacial.

A produção de signos (tanto os novos como as reapropriações de expressões

culturais não hegemônicas, como os saberes e práticas “tradicionais”) passa

a constituir um elemento importante dos processos econômicos e sociais

contemporâneos. Observamos, nesse contexto, uma revalorização do rural

não mais como espaço de produção de bens materiais, mas como uma rica

fonte de bens simbólicos que, ressignificados, passam a alimentar uma nova

dinâmica econômica e social. (CARNEIRO, 2012, p. 35)

Os costumes, as expressões artísticas, os modos de produção, entre outros aspectos

locais passam por um processo de revalorização quando vistos sob a perspectiva cultural. A

diversidade presente no campo passa a ter uma singularidade que atrai, que provoca e que

dialoga com o que comumente se estipulou caracterizar como espaço citadino, favorecendo

uma troca recíproca e o surgimento das ruralidades contemporâneas.

Entretanto, para alguns autores68

, essa interação do mundo rural com o mundo urbano

não anula ou descaracteriza os espaços. A expansão dos atributos urbanos redefine ou

reelabora práticas e códigos culturais, “a partir da relação de alteridade com o que é

reconhecido como de „fora‟, de maneira a poder consolidar a identidade local com base no

sentimento de pertencimento a uma dada localidade” (CARNEIRO, 1997, p.73). Segundo a

autora, o processo de socialização e projeção econômica vem de múltiplas formas num

mesmo local, mas esse fato não deve dissociar as partes que constituem o todo como se

houvesse uma evidente oposição – rural X urbano. Nesses dois espaços de vida assiste-se

proliferar movimentos de interação entre os atores sociais, estruturações econômicas

complementares e formulações culturais múltiplas, mas não divergentes.

Seguindo a tendência moderna de transformações, portanto, o rural é redefinido. Mas,

como exposto anteriormente, esse processo não implica a uniformização campo/cidade, posto

que as identidades forjadas pelos momentos históricos, as relações sociais determinadas

práticas econômicas se constituem

especificidades atuais dos espaços rurais brasileiros, entendidos, ao mesmo

tempo, como espaço físico (referência à ocupação do território e aos seus

68

Entre os autores pode ser citada Silvana Gonçalves de Paula, com sua obra O campo na cidade: esporte

country e ruralidade estetizada, 1999.

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símbolos), lugar onde se vive (particularidades do modo de vida e referência

identitária) e lugar de onde se vê e se vive o mundo (a cidadania do homem

rural e sua inserção na sociedade nacional. (WANDERLEY, 2004, p.82)

As particularidades entre as duas esferas territoriais enriquece os espaços tornando-o

misto na forma de entendimento entre os atores sociais, o que pode vir a favorecer a troca de

experiências e o intercâmbio cultural dentro de uma mesma localidade. Em municípios

pequenos, a ligação entre o campo e a cidade é evidenciada nas transações comerciais que se

realizam nas feiras e nos centros artesanais, pela busca dos moradores do campo por serviços

que são oferecidos na cidade, pela procura realizada pelos moradores da cidade por áreas de

lazer com atrativos naturais no campo. Entretanto, embora as recentes percepções sobre o

rural deem visibilidade a seus pontos de sedução, a cidade, enquanto sede municipal, ainda

goza de destaque, graças à sua função administrativa (QUEIROZ, 1973).

A análise sobre os pressupostos que definem o campo e a cidade no Brasil tem sido

alvo de questionamentos, posto que, para alguns teóricos69

, os pequenos aglomerados

populacionais, para serem caracterizados como urbanos, devem estar sob a influência de

metrópoles, tanto no que se refere ao estilo de vida, quanto às formas de organização. Além

disso, deve possuir uma população de, pelo menos, cinco mil habitantes (LOPES, 2008),

sendo esse número ampliado para o mínimo de 20.000 habitantes, de acordo com alguns

estudiosos70

.

Para além da objetividade dos números, o espaço rural tem sido visto como algo que

vai além das demarcações territoriais, das atividades agrícolas que durante séculos foi tida

como uma de suas peculiaridades enquanto atividade econômica, e que rompe com as

assimilações preconceituosas que o apresentam como uma área rudimentar, e de habitantes

com costumes grotescos. O espaço que o constitui passa por uma revalorização quando

reconhecidas suas contribuições culturais, econômicas e naturais.

Esta percepção positiva crescente, real ou imaginária, encontra no meio

rural, alternativas para o problema do emprego (...), para a melhoria na

qualidade de vida, através de contatos mais diretos e intensos com a

natureza, de forma intermitente (turismo rural) ou permanente (residência

rural) e através do aprofundamento de relações sociais mais pessoais, tidas

69

Ver: LOPES, Juarez Rubens Brandão. Desenvolvimento e mudança social: formação da sociedade urbano-

industrial no Brasil. Centro Edelstein de Pesquisas Sociais. Rio de Janeiro, 2008.

www.bvce.org/DownloadArquivo.asp?...LOPES_Desenvolvimento_e_mudacasocial. Acesso em julho de

2013. 70

Ver: FARIA, Vilmar E. Desenvolvimento, urbanização e mudanças na estrutura do emprego: a experiência

brasileira dos últimos 30 anos. In: SORJ, Bernardo & ALMEIDA, Maria Hermínia Tavares de. Sociedade e

Política no Brasil pós-64. Centro Edelstein de Pesquisas Sociais. Rio de Janeiro, 2008.

www.bvce.org/DownloadArquivo.asp?Arquivo=ALMEIDA. Acesso em julho de 2013.

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como predominantes entre os habitantes do campo. (WANDERLEY, 2004,

p. 95)

Portanto, pensar o rural e o urbano hoje, implica romper com os pressupostos

estabelecidos, permitindo uma abordagem mais ampla sobre o que conforma esse mundo,

levando em consideração as novas dinâmicas territoriais e as representações que o os espaços

suscitam. Segundo CARNEIRO (2012):

As propriedades estruturais do rural (...) são possibilidades simbólicas, mas

também possibilidades práticas. Elas orientam as práticas sociais sobre um

determinado espaço, diria, sobre uma localidade, de acordo com os

significados simbólicos que lhes são atribuídos. É nesse contexto que devem

ser entendidas as novas dinâmicas da ruralidade associadas às atividades de

lazer e, em particular, à ampliação e transformação do significado da terra.

(CARNEIRO, 2012, p. 47)

São várias as possibilidades e efetivações de uso do espaço rural que, unindo os

significados simbólicos e as práticas locais, despertam olhares diversificados, possibilitando

novas formulações espaciais ou antigos costumes revestidos de outros interesses. É dentro

desse contexto que o Turismo rural surge como alternativa para os diferentes grupos sociais

que povoam o campo.

De modo geral, o turismo é definido pela primeira vez no início do século XX

(SEABRA, 2007), levando em consideração vários processos que envolvem a atividade, mas

com evidente destaque à questão econômica e às etapas de chegada, permanência e saída do

turista em um determinado município, país ou Estado (BARRETO, 1995). A ideia de turismo

nasce vinculada à geração de lucro, sendo as particularidades de cada região vistas como

atrativos capazes de motivar viagens temporárias. Para que o turismo ocorra, de acordo com

essa visão materialista, é necessária a interação entre os diversos atores sociais locais

objetivando favorecer a oferta de serviços, uma vez que o viés econômico que caracteriza a

atividade exige uma “cadeia multissetorial complexa e interativa” (SANTOS,1988).

Dentro dessa lógica, os serviços oferecidos precisam ser satisfatórios. E para que haja

a satisfação do turista com o serviço que lhe é oferecido, torna-se indispensável o

planejamento turístico, que implica refletir sobre as possibilidades e implicações

“econômicas, sociais, culturais, políticas e ecológicas de um território; e, ao mesmo tempo,

pensar as bases para ações culturais na esfera do turismo com propósito de estabelecer

critérios, formas e programas de desenvolvimento sustentável71” (MARIANI, 211, p. 2007).

Para tanto, destaca-se a importância da atribuição de funções a diversos membros da

71

De acordo com a autora, o termo sustentável refere-se às questões relacionadas ao desenvolvimento/meio

ambiente, mas também ao desenvolvimento social e econômico estável e equilibrado.

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sociedade que são chamados a atuar, possibilitando as mais diversas formas de produção, na

expectativa de que o consumidor de seus serviços e produtos fique satisfeito, fator

indispensável para a consolidação e manutenção das atividades turísticas.

De forma específica, por meio do planejamento do turismo (que deve envolver o poder

público, empresas particulares e os diferentes grupos sociais locais), é possível ampliar as

possibilidades de hospedagem e de alimentação, tornar atrativos os elementos culturais da

localidade, melhorar os serviços de transporte e as vias de acesso aos espaços de visitação,

realizar o fornecimento satisfatório de água e de outros recursos indispensáveis. Essas e outras

medidas viriam a favorecer não apenas os turistas, como também a comunidade que, além de

ter maiores oportunidades de empregos, poderiam usufruir da organização estrutural do local,

quando usuárias em potencial dos empreendimentos realizados72

. Portanto, além de ter um

potencial turístico a ser explorado, é necessário que a estrutura receptiva seja apropriada para

a realização de atividades que venham a favorecer a sua implementação.

Observa-se certa diversificação de olhares sobre as questões turísticas que não

exclusivamente a busca pelo lucro. Gradativamente, o conceito de turismo com preocupação

predominante sobre as questões econômicas vem sendo revisto e reformulado na atualidade.

No Brasil, o Ministério do Turismo sugere que essa atividade seja percebida também como

capaz de promover “a igualdade de oportunidades, a equidade, a solidariedade e o exercício

da cidadania na perspectiva da inclusão” (BRASIL, 2009). Há, portanto, uma necessidade de

se conjugar questões econômicas a questões sociais. Assim, além de ser visto enquanto

possibilidade de desenvolvimento econômico, o turismo passa a ser encarado também como

elemento capaz de promover uma ação participativa em que os diferentes atores sociais

passam a ser atuantes, sejam trabalhadores, comerciantes, proprietários de terras, entre outros

grupos. O objetivo seria a integração da comunidade em geral (BRASIL, 2009)73

.

Entretanto, para RODRIGUES (2007), embora outros aspectos sejam levados em

consideração no que se refere ao desenvolvimento das atividades turísticas na atualidade

(como a preservação dos elementos materiais e imateriais que constituem a cultura local; a

72

As atividades turísticas apresentam duas facetas. Para MAZUEL: Apesar de numerosos casos nos quais a

utilização do patrimônio com fins turísticos serve mais a beneficiar alguns políticos, esbanjando as finanças

públicas ou a fazer frutificar os interesses particulares de uma agência privada desconectada do contexto local,

pode-se dizer que, sob vários aspectos, o impacto sobre o desenvolvimento local é positivo. Um patrimônio

valorizado traz a uma população rural orgulho e o sentimento de pertencer a uma comunidade cujo patrimônio

torna-se emblemático. Além disso, este patrimônio valorizado age como incentivador de novas atividades

produtivas e culturais, a partir do simples objeto turístico (MAZUEL, 2000, p. 103). 73

Entretanto, é necessário olhar esses discursos com cuidado, posto que, ao lado da pretensa sugestão de parceria

entre os diferentes grupos que constituem uma determinada comunidade, sabe-se que as divergências

permanecem, e que as relações de poder muitas vezes beneficiam um grupo em detrimento de outro.

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integração de grupos sociais distintos, inclusive muitos que em processos históricos anteriores

estiveram fadados ao esquecimento), o crescimento econômico prevalece como principal meta

a ser alcançada.

Das diversas e imbricadas dimensões do turismo é, sem dúvida, a econômica

que tem recebido mais a atenção dos estudiosos, assim como do setor

privado, dos governantes, dos planejadores, da mídia, que comumente

alardeia seus efeitos e desenha otimistas estimativas de crescimento a curto

prazo, tendo em vista a velocidade com a qual a prática se propaga em escala

planetária, não desconsiderando nenhum território. (RODRIGUES, 2007,

p.15)

Além dos aspectos levantados quando em se tratando do turismo, há de se fazer

referência também à sua amplidão de alcance que origina várias segmentações, de acordo com

os atrativos oferecidos e as atividades predominantes. O Ministério do Turismo organiza e

apresenta a atividade no Brasil, dividindo-a em: a) Turismo Social, b) Ecoturismo, c) Turismo

Cultural, d) Turismo de Estudos e Intercâmbio, e) Turismo de Esportes, f) Turismo de Pesca,

g) Turismo Náutico, h) Turismo de Aventura, i) Turismo de Sol e Praia, j) Turismo de

Negócios e Eventos, k) Turismo de Saúde, l) Turismo Rural (BRASIL, 2010). Para o

Ministério do Turismo,

Turismo Rural é o conjunto de atividades turísticas desenvolvidas no meio

rural74

, comprometido com a produção agropecuária, agregando valor a

produtos e serviços, resgatando e promovendo o patrimônio cultural e

natural da comunidade (BRASIL, 2010, p. 49).

De acordo com MAZUEL (2000), para que o meio rural se consolide em atividades

turísticas, há que se levar em consideração três pontos básicos e indispensáveis: 1) a

capacidade de investimentos (seja pessoal, seja coletivo) daqueles que formam o local,

elemento esse que deve vir associado à consciência dos atores sociais da importância dos bens

que fazem parte do cenário local; 2) atrativos reais, e não idealizações que se constroem sobre

74

Segundo o Ministério do Turismo, o meio rural “baseia-se na noção de território, com ênfase no critério da

destinação da terra e na valorização da ruralidade. Assim, considera-se território um espaço físico,

geograficamente definido, geralmente contínuo, compreendendo cidades e campos caracterizados por critérios

multidirecionais, como ambiente, economia, sociedade, cultura, política e instituições e uma população com

grupos sociais relativamente distintos, que se relacionam interna e externamente por meio de processos

específicos, onde se pode distinguir um ou mais elementos que indicam coesão social, cultural e territorial. Nos

territórios rurais, tais elementos manifestam-se, predominantemente, pela destinação da terra, notadamente

focada nas práticas agrícolas, e na noção de ruralidade, ou seja, no valor que a sociedade contemporânea concebe

ao rural. Tal valor contempla as características mais gerais do meio rural: a produção territorializada de

qualidade, a paisagem, a biodiversidade, a cultura e certo modo de vida, identificadas pela atividade agrícola, a

lógica familiar, a cultura comunitária, a identificação com os ciclos da natureza” (BRASIL, 2010, p. 50).

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o território; 3) a eficiência organizacional, apresentando uma boa estruturação e

gerenciamento, tanto dos atores locais, como do espaço oferecido como atrativo.

Embora ao se pensar o rural as formulações tradicionais ainda sejam bastante fortes, as

novas atividades as quais se destina esse espaço de vida exigem uma abertura conceitual que o

inclua, por exemplo, quando das análises das “mudanças desencadeadas pela intensificação

da exploração turística” (RODRIGUES, 2012). As relações entre os agentes locais e os

visitantes é de interação, de troca mútua que promove transformações no jeito de ser, pensar e

agir. Entretanto, num movimento oposto, se percebe a tentativa de permanência dos elementos

locais, muitas vezes não pela necessidade de identificação, mas sim pelo fato de atender uma

expectativa do turista, que é o contato com antigas práticas locais, dando origem ao processo

de “museificação” dos bens materiais e imateriais do meio rural (RODRIGUES, 2012). Um

ponto de equilíbrio com relação à interatividade entre os atores locais e os visitantes seria:

(...) pensar a ruralidade como um processo dinâmico em constante

reestruturação dos elementos da cultura local mediante a incorporação de

novos valores, hábitos e técnicas. Tal processo implica um movimento em

duas direções, nas quais se identificam, de um lado, a reapropriação dos

elementos da cultura local a partir de uma releitura possibilitada pela

emergência de novos códigos e, de outro lado, a apropriação pela cultura

urbana de bens culturais e naturais do mundo rural, produzindo, assim, uma

situação que pode contribuir para alimentar a sociabilidade e reforçar os

laços com a localidade. Desse encontro podem surgir também expressões

culturais singulares que representariam a síntese ou a combinação de

universos culturais distintos, mas que sustentam noções de espaço e de

tempo sociais diferentes um do outro (CARNEIRO, 2012, p. 50)

Diante das novas leituras que redefinem o rural e o urbano75

, ambos os termos serão

utilizados quando da apresentação dos espaços areienses, cuja constituição geofísica e

elaboração simbólica traduzem as experiências históricas e a expressividade cultural, mas que

evidenciam as mudanças de hábitos e as novas dinâmicas econômicas e sociais que emergem

e buscam se consolidar na localidade, no momento atual. Um espaço em ebulição, em

movimento, numa construção contínua que traduz, entre outros aspectos, relações sociais

mediadas por laços de solidariedade, inclusive quando analisadas as formulações das

atividades turísticas no meio rural.

75

A utilização dos termos não segue a tradicional definição que apresenta o urbano como centro de

desenvolvimento em detrimento do atraso que comumente se atribuía ao rural. Entretanto, não há a pretensão de

torna-los homogêneos, entendendo-os como espaços nos quais se desenvolvem processos de recriação

constantes, de acordo com as representações sociais, as simbologias e as necessidades econômicas de cada

época. (CARNEIRO, 2012)

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3.2.Dinâmicas territoriais e configurações atuais do espaço rural areiense

Quando se pensa o espaço rural areiense, os primeiros elementos destacados são os

engenhos de mel e melaço e toda a conotação política, econômica, social e cultural que os

envolve. Entretanto, nas duas últimas décadas a localidade tem passado por significativas

transformações que vêm diversificando a paisagem e a sociabilidade no campo, gerando

novas estratégias econômicas que têm possibilitado uma reorganização, apresentada a seguir,

e que sugere a existência de diferentes relações entre os setores agrícolas, de lazer, de

alternativas produtivas e de formas diferenciadas de ocupação territorial. Essas ações sobre o

espaço mostram os múltiplos entendimentos que o rural areiense desperta entre os atores

sociais.

Na tentativa de sanar problemas comuns à região76

(como a saída das pessoas mais

jovens para outras partes em busca de emprego, ausência de alternativas agrícolas

consistentes), os atores locais, em parceria com órgãos públicos, buscam dotar o meio rural

explorando suas diversificadas atribuições, indo além das atividades agrícolas e pastoris que

marcam esses espaços de vida. Em Areia, uma das mais significativas iniciativas relativas aos

usos e funções do espaço rural pensada com o intuito de dinamizar a economia e promover

melhorias sociais está relacionada à formação de grupos que unem moradores do campo, por

meio de associações que têm no artesanato, na culinária e na comercialização de produtos

agrícolas uma alternativa de geração de emprego e renda77

.

Para uma das coordenadoras da “Associação Para o Desenvolvimento Sustentável da

Chã do Jardim78”, existente desde 2006, o grupo tem como principal objetivo promover o

desenvolvimento sustentável da comunidade, fazendo com que os jovens permaneçam no

local, capacitando-os para o trabalho e incentivando-os a concluírem os estudos. Com os

conhecimentos adquiridos, os jovens promovem o crescimento da comunidade e, além disso,

eles próprios se beneficiam com os recursos que a comunidade oferece.

76

Parecer anunciado pelos técnicos do IBGE, em maio de 2012. 77

Um dos técnicos do SEBRAE, na Feira Regional de Turismo Rural (RuralTur), em 2012 afirmou ser possível

avançar na esfera econômica mediante incentivo à exploração dos recursos naturais, culturais e artísticos que o

meio rural areiense propicia. Dessa forma, os grupos locais passam a ter maior reconhecimento e se libertar de

determinados limitantes sociais. 78

A Chã do Jardim é uma comunidade formada por moradores do Engenho Bujari dos espaços da zona rural

areiense que fica a aproximadamente 6 km da sede municipal, na direção oeste, seguindo o caminho que leva a

Campina Grande.

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De forma efetiva, 15 jovens, todos moradores da Chã do Jardim, são partícipes

efetivos da associação79

, cuja gestão se pretende democrática, com reuniões mensais e com

decisões conjuntas. Segundo a coordenadora dos trabalhos na comunidade, as opiniões dos

envolvidos são levadas em consideração, com medidas previamente votadas (desde os

investimentos e os gastos, até a escolha dos diretores)80

.

Com a associação, e para além dela, a referida comunidade se dedica a atividades

várias, como: produção de polpa de fruta, artesanato com a folha da bananeira, restaurante

com comidas naturais e caseiras, e participação em feiras no centro de Areia e no centro de

artesanato. E todas essas atividades se integram a uma das iniciativas que os atores locais

buscam implementar cada vez mais: a produção associada ao turismo.

Essa produção associada ao turismo é quando se tem uma comunidade

turística que atrai excursionistas de várias regiões, e todo mundo se une para

produzir para esse turista, procurando oferecer o que eles necessitam ou

procuram. Somos uma associação de 15 jovens e esses jovens trabalham em

três frentes ou em três atividades: trabalham na recepção do turista (fazendo

trilha, piquenique ao ar livre, explicando o que é a comunidade e o que ela

tem a oferecer); outra parte de jovens trabalha com a polpa de fruta que

geralmente é vendida para merenda escolar, vendemos para as pousadas,

hotéis, lanchonetes; e demos início a essa nova atividade, que é o restaurante

rural “Vó Maria”. Por sua vez, a comunidade Chã do Jardim, como um todo

e as pessoas que estão no entorno, trabalham em outras três atividades:

temos alguns de mais idade (senhoras donas de casa) que colocam as

barraquinhas na feirinha que a gente realiza na quarta, na sexta e no sábado

na cidade; outra parte do pessoal trabalha no artesanato com a folha da

bananeira (que é vendido em feiras, eventos, estantes do Espaço do Artesão,

e também na própria comunidade, onde temos uma loja para vendê-los); e

outra parte da comunidade trabalha oferecendo os produtos que nosso

restaurante e a fábrica da polpa de frutas necessitam (galinhas, bodes,

legumes, hortaliças, frutas). É uma rede de interação, por isso se diz que

trabalhamos com uma forma de produção associada ao turismo. Ou seja,

tudo que a comunidade produz vem para o centro da associação e daqui são

consumidos pelos turistas que aqui chegam. É mais ou menos esse o nosso

trabalho. A Associação de Jovens é quem coordena tudo, mas toda a

comunidade Chã do Jardim se encontra envolvida. (L. B., representante da

Associação para o Desenvolvimento Sustentável da Chã do Jardim, julho de

2013)

O depoimento exposto leva a crer que as atividades desenvolvidas na Chã do Jardim se

apoiam no envolvimento e na cooperação do grupo. A imagem que se pretende propagar é

que os empreendimentos objetivam a melhoria na qualidade de vida de seus membros, unindo

atividades que viabilizam o crescimento econômico, mas indo além, possibilitando aos seus

79

Levando em consideração o Grupo Artesanal “Arte na Mão”, o Restaurante “Vó Maria” e a fábrica de polpas,

o número de pessoas diretamente envolvidas com a atividade chega a 45, segundo a representante da Associação. 80

Os dados expostos nesse trabalho referentes à comunidade da Chã do Jardim são fruto dos relatos oferecidos

pela representante do grupo, em julho de 2013.

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membros fazerem o que sabem e gostam, permitindo-lhes a permanência em seu lugar de

origem, se assim o quiserem.

Quando há a interação dos membros da comunidade nas decisões a serem tomadas e

que dizem respeito às suas vidas, isso vem a favorecer o alargamento das liberdades (SEN,

1993). Entretanto, a livre expressão e a visibilidade no aspecto social a grupos que em outros

períodos viviam em condições marginalização à replicação dessas iniciativas no meio rural.

Para as mulheres que se dedicam à confecção de produtos artesanais, as atividades que

realizam é uma “terapia”81

. Elas sentem-se satisfeitas com o reconhecimento e a valorização

dos seus trabalhos, e com o fato de se tornarem partícipes na resolução de problemas

familiares de origem financeira. Questões antes delegadas exclusivamente aos seus maridos

(comumente trabalhadores dos engenhos, com renda mínima de R$ 125,00 por semana82

), a

compra de produtos para higienização da casa, alimentos não produzidos nas terras que

ocupam, roupas para as crianças, entre outros, passaram a ser assumidos pelas mulheres

ligadas ao grupo Arte na Mão83

.

Foto 14: Centro de Artesanato “Arte na Mão”

Fonte: Acervo pessoal – Vanderleia dos Santos, 2013

81

Entrevista concedida por uma das artesãs do Grupo Arte na Mão (Chã do Jardim), em julho de 2013. 82

Segundo um dos trabalhadores do Engenho Bujari, esse é o valor aproximado recebido por uma semana de

trabalho. Entrevista concedida no dia 26 de agosto de 2013. 83

Arte na Mão é um grupo constituído por 12 moradoras da Chã do Jardim, e que produzem artesanato, tendo

como principal produto primário a folha da bananeira. A produção varia, de acordo com a demanda. Segundo

uma das integrantes do grupo, quando há congressos na UFPB-CAMPUS II é comum a encomenda de 300 a 500

bolsas; enfeites são comprados pelos proprietários de pousadas de Areia; mas o público alvo são os turistas que

frequentemente procuram a localidade. Entrevista concedida em 26 de agosto de 2013.

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Com o desenvolvimento das atividades artesanais, as mulheres asseguram a

continuidade de uma prática comum na região, que é a utilização da folha da bananeira para a

confecção de bolsas, descansos de pratos, cintos, sandálias, entre outros. A forma de

organização da comunidade, portanto, faz do território um espaço de ação fortemente

influenciado pela construção simbólica, fomentando os laços identitários dos atores sociais

com a localidade. Para a compreensão da relação entre a representação e a ação torna-se

imprescindível levar em consideração:

a força dos símbolos, das imagens e do imaginário, (...) [pois] o domínio do

simbólico possui um inegável valor explicativo (...). Apesar da racionalidade

moderna ter conquistado os espaços objetivos das relações sociais, as

representações permanecem nos dispositivos simbólicos, nas práticas

codificadas e ritualizadas, no imaginário e em suas projeções. (CASTRO,

1997, p.156)

O fortalecimento dos laços identitários é percebido em outras iniciativas no meio rural

areiense. O restaurante “Vó Maria” recebeu esse nome como forma de tornar presente e

homenagear uma das personagens da Chã do Jardim que se tornou referência quanto à

culinária local. A preocupação no restaurante, segundo a representante da associação, é

preservar o modo como a comida era preparada pelas antigas donas de casa, com produtos

agrícolas sem agrotóxicos, animais criados na própria comunidade, e preparados “à moda

antiga”. De acordo com a representante da associação, o único curso oferecido pelo SEBRAE

e que não é aceito é o de culinária. “Se agradamos do jeito que sabemos fazer, pra que

mudar?”, indaga.

Foto 15: Restaurante Rural “Vó Maria”, na Chã do Jardim

Fonte: Vanderleia dos Santos, 2013

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A fabricação das polpas de frutas, a produção artesanal e a comida caseira oferecida

no restaurante Rural “Vó Maria”, além de outras atividades integradas, favorecem a procura

do turista à região. A Chã do Jardim, hoje, é um dos exemplos mais bem sucedidos no meio

rural areiense, principalmente no que se refere às questões turísticas84

. Os atores sociais

envolvidos na prestação dos serviços participam de oficinas variadas oferecidas pelo

SEBRAE e, de acordo com um dos turistas que costuma ir ao local, não apenas a estrutura

física é muito bem elaborada e aconchegante, como as pessoas responsáveis pelo atendimento

estão muito bem preparadas85

.

Foto 16: Ornamentação regional do restaurante Rural “Vó Maria”

Fonte: Vanderleia dos Santos, 2013

Segundo a representante da comunidade (entrevista realizada em julho de 2013):

A Chã do Jardim é vista hoje como uma referência em se tratando de turismo

rural na Paraíba. Recebemos aqui quase toda semana pessoas de outras

regiões para saber como foi que conseguimos esse desenvolvimento. Se

84

De acordo com um dos técnicos do SEBRAE, durante o RuralTur 2012, em Campina Grande, os

empreendimentos fomentados na Chã do Jardim permitiram ao meio rural areiense uma significativa

representação turística no Brejo paraibano. Fazendo uma ligação entre as atividades desenvolvidas na

comunidade e a curiosidade do visitante em conhecer os engenhos, o turismo rural deixa de ser apenas uma

possibilidade e passa a ser algo concreto. 85

Diretamente, existem 10 pessoas envolvidas nas atividades realizadas no restaurante, que funciona de terça a

sexta das onze horas até aproximadamente 15 horas. No estabelecimento chegam a ser atendidos cerca de 1.000

turistas por mês (não existe registro de visitação, por esse motivo os números não são precisos). Aos

frequentadores do restaurante são oferecidas comidas caseiras, típicas da região, como: buchada, cabidela,

galinha de capoeira, macaxeira, bode guisado, batata doce, feijão verde, entre outros, Entrevista realizada em

julho de 2013.

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fizermos uma conta rápida, hoje temos 10 pessoas envolvidas no restaurante,

mais 10 pessoas envolvidas na fábrica de polpas, mais 30 pessoas envolvidas

de forma direta e indiretamente com o artesanato da folha da bananeira, mais

as pessoas que plantam e criam animais e que nós utilizamos de sua

produção... vai pra mais de 50 pessoas envolvidas nesse projeto. E tudo o

que produzimos aqui é voltado para o turismo. É claro que temos outros

clientes, como por exemplo, os estudantes que vêm ao restaurante, os

comerciantes que compram a nossa polpa. Mas os grandes investimentos

aqui foram feitos pensando no turista, no excursionista. E há toda uma

estrutura receptiva montada. Temos o cuidado de oferecer rampa de acesso

para deficientes, banheiros com portas largas, e por aí vai.

Essa visão empreendedora, unida à gestão democrática dos recursos disponíveis

propiciam a liberdade de viver bem (SEN, 1993) e o avanço em direção a uma das atividades

que mais cresce em todo o mundo, que é o turismo (ALMEIDA; RIEDL, 2000). Todo o

esforço e dedicação da comunidade são coroados com a procura de mais ou menos 2.500

turistas por mês às instalações da associação, na Chã do Jardim86

.

Os efeitos e impactos da atividade turística sobre os grupos sociais que se encontram

no campo podem ser percebidos de forma diversa. Visto como um processo de mudança, o

turismo implica reestruturações nas esferas social, cultural e econômica com sensíveis

reflexos sobre a vida das pessoas. A implantação dessa atividade no meio rural suscita

intervenções nas relações sociais e produtivas, mas é necessário que haja respeito às

especificidades e essências do lugar (ALMEIDA, 2000), e que uma das preocupações com a

implantação do turismo seja atender as necessidades e demandas dos grupos sociais locais.

Além do que foi exposto, os membros da comunidade também se utilizam dos

recursos naturais para atrair os turistas. A Mata do Pau Ferro (a única reserva de Mata

Atlântica na região) possibilita a formação de trilhas com graus de dificuldades diversificados,

além de espaços para o relaxamento e contemplação. Dentro da mata, são preparados

piqueniques coordenados pela associação87

, e ao som de música ao vivo (uma cantora da

comunidade, acompanhada de seu violão).

Embora vários moradores da Chã do Jardim permaneçam a serviço dos donos de

engenho, essas iniciativas relatadas diagnosticam a tomada de consciência dos trabalhadores

de suas potencialidades e das possibilidades que a localidade lhes oferece com relação à

realização pessoal, sem se subjugar a relações de trabalhos humilhantes, alicerçadas na

exploração e na dominação, tradicionalmente vivenciadas nos engenhos em décadas

anteriores.

86

Esses números foram fornecidos pela representante da associação, em julho de 2013 (enfatizando que a

procura mais significativa se dá nos meses de maio, junho, julho e agosto – os meses frios). 87

G1 Paraíba – 27 de Janeiro de 2013. www.g1.globo.com/pb/paraiba/.../projetos-em-areia-na-paraiba

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112

De acordo com a representante da associação, além do dono de engenho da região88

, a

associação recebe outros apoios, como o do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

(SENAI) e do SEBRAE, com cursos de capacitação e divulgação; a EMATER que os auxilia

na parte do financiamento para as instalações; o COOPERAR, que possibilita a aquisição de

material necessário para o desenvolvimento das atividades; a prefeitura de Areia que compra

as polpas de frutas para as escolas; a Universidade Federal da Paraíba (Campus II) com a

doação da madeira necessária para a confecção do restaurante e o envio de estudantes para

auxiliar na realização da horta, entre outros.

Os principais agentes externos de promoção do desenvolvimento têm uma

preocupação evidente com o crescimento econômico. Entretanto, o SEBRAE afirma que suas

orientações, integradas à valorização de uma identidade e à política participativa da

comunidade, contribuem positivamente sobre a localidade89

. De acordo com das moradoras

do centro da cidade90

, membro da população areiense, mesmo que se tenha dado muita

importância à parte urbana como espaço preferencial para o incremento do turismo cultural e

histórico, é o rural que tem atraído as pessoas à Areia.

Esses turistas visitam Areia hoje principalmente por causa dos engenhos que

ficam na zona rural, por conta da Mata do Pau Ferro, por conta da Casa de

Doce, do Balneário Furnas, do Restaurante Rural da Várzea, do Restaurante

Bagaceira, e tantos outros atrativos. O turismo rural hoje é o ponto forte de

Areia. Digo isso sem medo. (B. P. moradora da sede municipal de Areia,

agosto de 2013)

No tocante à mercantilização dos espaços rurais, os discursos proferidos e as ações

empreendidas demonstram que o turismo rural exige dos atores sociais envolvidos em sua

prática a racionalidade e objetividade para que seja possível a maximização das oportunidades

e do lucro (SCHNEIDER, 2006). Para tanto, suas ações passam a ser mediadas por órgãos

especializados na venda da cultura, do espaço, dos produtos, como o SEBRAE e o SENAI, o

que favorece a personalização dos elementos ofertados, fazendo com que o aspecto

econômico seja preponderante, mesmo que para assegurar o êxito da venda seja necessário

artificializar a cultura, as relações e os costumes.

De acordo com SCHNEIDER, 2006:

88

As terras onde se localizam o Restaurante Vó Maria e a indústria de polpa de frutas foi doada pelo proprietário

do Engenho Bujari, em 2011/2012. 89

Essa afirmativa foi feita por uma das representantes do SEBRAE em reunião com grupos artísticos locais, em

abril de 2013. 90

Entrevista concedida em agosto de 2013.

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Nas comunidades rurais é preciso perceber que outros valores e regras

entram em linha de conta quando se quer determinar e conhecer os

mecanismos através dos quais se viabilizam as relações econômicas e

comerciais. Conhecê-los e atribuir-lhes sentido é um passo fundamental para

ativar as redes que estão por detrás desta complexa organização social que é

o mercado e, por seu intermédio, patrocinar formas de inclusão daquelas

famílias e produtores que, em geral, são percebidos como pouco

profissionais ou destituídos de espírito empreendedor. Por isso, iniciativas

que envolverem estímulo à empreendimentos de turismo em comunidades

rurais deveriam considerar estes apontamentos sobre a natureza social que

envolve a construção dos mercados e como se posicionam os indivíduos nas

relações de troca em face de suas raízes socioculturais. (SCHNEIDER, 2006,

p.08)

Como os impactos do turismo sobre o meio rural são inevitáveis, as políticas públicas

devem estar voltadas para as pequenas comunidades, para os trabalhadores, a fim de assegurar

que as transformações lhes tragam resultados desejados. Quando comunidades ou

proprietários rurais abrem seus espaços de vida para a visitação, ou quando os recursos

naturais da região são utilizados pelos turistas, ou quando há motivações para apresentações

culturais, os mediadores (representantes do SEBRAE, secretários de cultura ou de turismo, e

demais entidades) devem ter em mente que são as minorias fragilizadas os verdadeiros

agentes de promoção do local (SCHNEIDER, 2006).

No tocante à prestação de serviços, embora haja um significativo avanço quanto à

acolhida dos turistas em alguns pontos das áreas rurais areiense, deve se fazer ressalvas no

tocante à procura e à demanda. Os próprios coordenadores dos trabalhos no Restaurante “Vó

Maria” dizem não estarem preparados para receber um número maior de frequentadores,

afirmando que várias vezes precisaram ficar no acesso de entrada pedindo para que os turistas

aguardassem ou se destinassem a outro local91

.

Essa fragilização no tocante ao sistema de restaurantes atinge todo o município, se

constituindo em um dos principais pontos de reclamação dos turistas que têm Areia por

destino. Um dos turistas92

afirma ser inconcebível que uma localidade que se pronuncia como

ponto turístico feche parte de seus estabelecimentos nos dias de domingo.

Gosto muito de Areia. Esse clima frio é maravilhoso, a paisagem é linda.

Mas fico indignado quando venho aqui e não encontro restaurante para fazer

minhas refeições. Isso ocorre principalmente nos domingos. Os restaurantes

que estão abertos são insuficientes para atender os visitantes, e outros estão

fechados. Falta visão para o empreendimento. Se a atitude fosse outra, com

certeza o turismo seria uma excelente alternativa. Não basta ter atrativos,

91

Parecer apresentado por um dos coordenadores dos trabalhos realizados no Restaurante Vó Maria, em Julho de

2013. 92

Entrevista concedida em agosto de 2013.

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tem que saber receber. (M. L., turista de João Pessoa em visita a Areia em

agosto de 2013)

A ausência de estrutura e de serviços básicos (que caracterizam o turismo rural93

)

atestam que Areia ainda não conseguiu assumir maior significância com relação a essa

atividade. São problemas de ordem básica, primária, e que expõem a fragilidade dos fatores

condicionantes necessários ao efetivo funcionamento do empreendimento turístico. Outro

exemplo dessa afirmativa e que também se constitui motivo de queixa por parte dos turistas, é

o acesso ao município. As estradas, tanto a que levam a João Pessoa quanto a que dá

passagem a Campina Grande se encontram em situação pouco satisfatórias para o uso94

.

Venho pra esse restaurante (Vó Maria), que fica a um passo do asfalto... tudo

certo, a localização é ótima! Mas pra chegar aqui eu faço malabarismo. É

tanto buraco que se você não conhece a estrada, termina se prejudicando e,

ao invés de relaxar, você volta pra sua casa com uma tremenda dor de

cabeça. (turista do município de Campina Grande, em agosto de 2013)

Mesmo diante da constatação da frágil estrutura receptiva, há de se fazer referência a

várias outras iniciativas particulares ou de associações que foram implementadas no meio

rural nas duas últimas décadas. Uma delas é a Casa de Doces, inaugurada em junho de 2012.

Segundo uma das três funcionárias95

, em apenas um ano de funcionamento (com atendimento

diário), o estabelecimento recebeu cerca de 4.000 turistas.

Foto 17: A Casa do Doce

Fonte: www.facebook.com/ACasadoDoceAreiaPB, 2012

93

Alguns condicionantes para que uma localidade seja considerada turística é o oferecimento de pousadas rurais,

restaurantes onde sejam oferecidas comidas típicas, vias de acesso satisfatórias, entre outros elementos.

(RODRIGUES, 2000) 94

As vias de acesso são mal sinalizadas, com buracos em sua extensão, sem faixas divisórias em boa parte dos

trechos. As estradas que levam aos engenhos carecem de maiores benefícios, o que se evidencia pelo lamaçal e

os sulcos que se formam durante os meses chuvosos, tornando difícil e perigosa a sua utilização 95

Entrevista concedida em julho de 2013.

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Além dos 73 sabores de doces, a proprietária busca atrair a atenção do turista por meio

de uma estrutura física rústica, oferecendo um cenário que remete às antigas construções de

sapê, a utilização de potes e tachos de barro, e o cozimento em fogo à lenha96

.

Estrategicamente, o estabelecimento se encontra localizado na rota dos “Caminhos dos

Engenhos”, no trecho que leva à Triunfo, o engenho mais visitado nas redondezas97

. Algumas

dessas medidas que possibilitam a visibilidade ao local tiveram influência da forma de

empreendedorismo do SEBRAE que, segundo a funcionária do estabelecimento, é um dos

principais parceiros, auxiliando na propaganda e na qualificação dos profissionais.

Para um dos guias turísticos que acompanha as excursões constantes a essa região, o

acolhimento aos turistas ainda precisa ser melhorado, não apenas com relação aos

funcionários. Segundo ele, os proprietários muitas vezes tolhem determinados desejos dos

turistas fáceis de serem atendidos98

.

Fiz essa rota com alguns turistas franceses há poucos dias, e sabendo eles da

importância da cana de açúcar pra nossa história, pediram uma muda da

planta, mas isso simplesmente lhes foi negado, como se fosse difícil

encontrar outra pra colocar no lugar. É essa mentalidade pequena que precisa

ser transformada. (F. L., guia turístico areiense, em julho de 2013)

No mesmo caminho, nas terras do Engenho Tapuio, se encontra outra iniciativa que

denota novas dinâmicas territoriais emergentes no meio rural areiense. Desde 2005 um grupo

organizado, (e que hoje faz parte da Associação de Desenvolvimento Sustentável de Macacos

e Furnas) se formou para promover a prática do cultivo de flores, cujo “nome fantasia” é

Flores da Vila Real.

De acordo com uma das integrantes, a Associação de Desenvolvimento Sustentável de

Macacos e Furnas é formada por grupos diversos que se dedicam ao plantio de flores, à

criação de galinhas e à plantação de horticultura, computando um total de 53 sócios, dos quais

12 trabalham na floricultura. Em mais esse empreendimento, o SEBRAE se destaca como

principal parceiro, possibilitando aos associados visitações a municípios onde são praticadas

atividades de natureza similar às que são realizadas em Areia, e cursos de capacitação99

.

Todos os cursos que a gente recebeu (de cultivo, da parte administrativa)

foram gratuitos. O SEBRAE está presente em tudo, desde o embrião até

hoje. A universidade também pode ser citada como parceiro, pois desde o

96

Agência SEBRAE de Notícia, junho de 2012.

http://www.agenciasebrae.com.br/noticia/13683757/ultimas-noticias/interatividade-atrai-visitantes-ao-brejo-

paraibano 97

Afirmativa possível mediante levantamento de dados, posteriormente apresentados. 98

Entrevista concedida pelo guia turístico pertencente à comunidade areiense em julho de 2013. 99

Informações adquiridas mediante entrevista a uma das integrantes da Floricultura Flores da Vila Real, em

Julho de 2013.

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início também recebemos seu apoio, (as primeiras estufas foram cedidas pela

UFPB – campus II). Outra ajuda importante foi derivada da baixada da

Holanda, pois começamos esse empreendimento sem nenhum centavo,

ninguém tinha dinheiro. Tínhamos a vontade de trabalhar, tínhamos a

experiência, pois já havia pessoas que cultivavam de forma caseira suas

plantas, mas dinheiro ninguém tinha. Hoje, conseguimos aprovar um projeto

frente ao Governo do Estado da Paraíba, pelo qual temos que agregar mais

mão de obra. À medida que a floricultura vai crescendo, temos como

disponibilizar mais empregos para a comunidade. (integrante da Floricultura

Flores da Vila Real, em julho de 2013)

Segundo os membros da floricultura, o cultivo de flores já era realizado nas casas dos

moradores. Eram plantadas em saquinhos e em latas, e vendidas na feira livre da cidade. Foi

dessa prática que surgiu a ideia do plantio por meio de uma cooperativa.

Mais uma vez, as dinâmicas do meio rural areiense evidenciam a crise no sistema

tradicional e a criativa reinvenção do espaço pelos moradores que encontram alternativas para

sua subsistência, realizando atividades que os possibilitem também a realização pessoal

quando fazem o que sabem e gostam100

, e participam das decisões tomadas101

. Além disso,

boa parte dos jovens que participam da associação, como um todo, é incentivada a continuar

os estudos, alguns chegando a ingressar na universidade, optando pelo curso de agronomia

por acreditarem possibilitar o crescimento das atividades por meio dos conhecimentos

adquiridos.

As técnicas de plantio, a paisagem e o ambiente construído fazem da floricultura

Flores da Vila Real um lugar atrativo, propício à visitação e à consequente exploração da

atividade turística. Sobre esse aspecto a representante da floricultura afirma:

A floricultura é bastante visitada, mas temos que reconhecer que não

estamos preparados, estruturalmente falando, para receber turistas em nosso

empreendimento. E também não temos um controle dessa procura, mas

estimo que recebamos uma média de 80 a 90 turistas mensalmente. Essa

falta de preparo, a meu ver, é um ponto negativo porque acaba por contribuir

para o não faturamento com a atividade turística. Na verdade, a gente está

tentando melhorar a nossa infraestrutura para conseguir desenvolver essa

questão, porque ainda não temos banheiro, nem escritório. No momento,

temos um projeto aprovado pelo governo do Estado, o dinheiro já está na

conta, mas pra ter acesso é uma burocracia que temos que vencer. Ainda

assim, o turista compra bastante a nossa mercadoria porque a gente expõe as

flores no salão do artesanato, no centro de Areia. (Representante da

Floricultura Flores da Vila Real, julho de 2013)

100

Em entrevista, uma das associadas declara: “Todos amam plantar as flores de paixão! Inclusive, teve uma das

nossas que dizia que quando se aposentasse ia sair da associação. Só que ela não aguentou ficar distante do

cultivo das flores, e voltou”. Entrevista concedida em julho de 2013. 101

Todas as decisões são tomadas coletivamente. De acordo com os membros da floricultura, toda semana há

reunião para prestação de contas e previsão de ações futuras. Entrevista concedida em julho de 2013.

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De acordo com os membros da floricultura, embora não tenham pensado inicialmente

no fomento ao turismo, vêm hoje a possibilidade de se adaptar a essa atividade que tanto

cresce na região. Como constatado, a fragilização do setor receptivo se constitui um

empecilho para o avanço nessa direção. Entretanto, é válido ressaltar que seus membros se

encontram envolvidos em projetos do governo estadual, objetivando a melhoria em sua

estrutura física, e a consequente ampliação das condições para sua integração no turismo

rural102

.

Foto 18: Floricultura Flores da Vila Real

Fonte: Acervo pessoal, Vanderleia dos Santos, 2013

Esses são os empreendimentos mais recentes no meio rural areiense que constatam a

preocupação em se construir em Areia um ambiente propício ao turismo rural. A essas

iniciativas se unem outras, como o Restaurante da Várzea do Quati, cuja origem remete ao

desejo de satisfazer do engenho, de forma a torná-lo receptivo, sendo oferecido almoço

regional103

e um ambiente propício à contemplação dos atributos naturais da região.

Entretanto, as maiores queixas dos turistas são com relação às vias de acesso. Aliás, a questão

da acessibilidade é um dos principais motivos apontados pela proprietária da Pousada Rural

102

Esses dados foram fornecidos em conversa informal com os membros da floricultura mas, com relação aos

projetos do governo estadual no qual estariam inseridos, os associados não quiseram entrar em detalhe. 103

Prefeitura Municipal de Areia – Notícias. Publicação de 24.07.2013.

areia.pb.gov.br imprensa noticias.php id 331 pagina 5 . Acesso em agosto de 2013.

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Engenho Cepilho, no meio rural areiense. A referida pousada rural, de pequeno porte e sem

ostentação de luxo (com uma estrutura arquitetônica que buscava aproximar o turista da vida

no campo, sem sofisticação) foi mantida aberta por apenas oito meses, tendo o início de suas

atividades datado do ano de 2006104

.

A procura pelos serviços que oferecíamos aos turistas era relevante para a

localidade, mas a gente não tinha apoio junto à prefeitura, e o que evidencia

isso que lhe digo são as péssimas condições das estradas... Sinceramente, no

momento eu não penso em abrir esse empreendimento novamente.

(Entrevista concedida pela proprietária da Pousada Rural Engenho Cepilho,

em julho de 2013)

Observa-se que várias dinâmicas territoriais foram realizadas no espaço rural areiense,

sendo as iniciativas de cunho turístico algumas das mais expressivas105

. Na última década

vários investimentos foram realizados com o intuito de tornar o município mais atraente aos

olhos dos visitantes, e nesse processo os espaços rural e urbano passaram a ter uma maior

integração. Segundo a secretária de cultura do município, quem procura a localidade pelos

atrativos arquitetônicos e estabelecimentos do centro histórico não se restringem a essa

esfera106

. O turista busca conhecer os atrativos do centro cultural e os arredores, atraídos

principalmente pelos engenhos da localidade107

.

Entretanto, mesmo que seja crescente a apropriação dos espaços rurais para a

implantação do turismo em Areia, e que se evidencie a possibilidade de contribuição

econômica, social e cultural dessa atividade para a localidade, há uma significativa distância a

ser percorrida entre ser uma localidade com potencial turístico e ser efetivamente uma

localidade turística. Embora haja a contribuição de órgãos públicos (como o SEBRAE) e

iniciativas privadas (seja por meio de ações individuais ou conjuntas), o apoio de órgãos

municipais e a infraestrutura se mostram insuficientes para o incremento do turismo como

atividade de relevância.

Segundo um dos turistas, a propaganda é maior do que o que se pode encontrar no

município, e que os poderes públicos e privados não são capazes de atender as exigências dos

104

Dados fornecidos pela proprietária da pousada por meio de comunicação telefônica, em julho de 2013. 105

Além de restaurantes, pesque-pagues, balneários, revitalização dos engenhos, pousadas, docerias, no meio

rural areiense também vem sendo construídos vários condomínios, a saber: Condomínio Quintas do Lago,

Condomínio Colinas do Brejo, Condomínio Alti-Plano, Condomínio Villas de Areia, Condomínio Reserva do

Brejo e Condomínio Chácaras da Serra. www.villasdeareia.wordpress.com/.../a-cidade-de-areiapb 106

Entrevista concedida em agosto de 2013. 107

Segundo SHIKI (1997), com as novas formas de atuação sobre os espaços, a delimitação do que é rural e do

que é urbano torna-se cada vez mais difícil e cada vez menos relevante, pois as mudanças ocorridas nas últimas

décadas têm nutrido o campo de características tidas como tipicamente citadinas: a redução do isolamento, a

melhoria nos meios de transporte, o incremento de elementos de comunicação, empreendimentos habitacionais,

assistência médica. Além disso, para o autor, o novo rural brasileiro tem realizado a combinação dos

componentes agropecuários a atividades distintas, como o turismo.

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visitantes por falta de visão sobre o que é uma localidade voltada para o turismo. Para ele,

Areia tem potencial histórico, cultural e natural para crescer no ramo, mas falta um maior

compromisso das instâncias envolvidas108

.

A ineficiência do poder público em oferecer estruturas condizente com a condição de

localidade turística (como melhoramento das vias de acesso), a falta de preparo de muitos

prestadores de serviço que não têm a atitude receptiva e acolhedora, entre outros elementos

ilustram a situação atual em Areia no tocante às questões turísticas. É válido ressaltar que o

município se propõe ao desenvolvimento de atividades turísticas desde seu tombamento em

nível estadual, em 1979 e, se levados em consideração os avanços nessa área, é possível

afirmar que a última década foi expressiva, embora não satisfatória.

De forma geral, unindo os dois espaços que constituem o município, na parte urbana

entre os anos de 2000 a 2013 foram abertos 4 estabelecimentos voltados à hospedagem, 2

expressivos centros artesanais (O Espaço do Artesão e A Talha), 5 restaurantes, além de

pizzarias, bares, confrarias e cachaçarias. Unindo esses feitos às realizações anteriores, pode-

se afirmar que houve avanços no processo de implementação do turismo, embora lento e

modesto109

.

Foto 19: Casa artesanal no centro da sede municipal: A Talha

Fonte: Acervo pessoal Vanderleia dos Santos, 2013

108

Mostrando indignação, o turista recifense afirma voltar com frequência à localidade entre os meses de junho a

agosto porque gosta do clima e da visão natural que a região oferece durante o inverno, mas que não se sente

bem recepcionado. Entrevista concedida em agosto de 2013. 109

Os dados expostos foram adquiridos mediante pesquisa de campo realizada entre os meses de abril e julho de

2013.

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O maior impulso com relação ao turismo em Areia foi dado quando o meio rural

passou a ser visto como espaço propício à pluriatividade, e as iniciativas voltadas para esse

fim foram implantadas. Os novos empreendimentos somam-se a outros atrativos locais como

o restaurante Furnas (que tem como atributos, além da comida regional, cachoeiras e trilhas

naturais), o Pesque-Pague (localizado em lugar privilegiado se levado em consideração todos

os aspectos naturais que o circundam), e o Rancho do Jorge (outro empreendimento recente

que se oferece como mais uma alternativa para o turista que visita o meio rural areiense)110

.

Tanto as novas construções como as antigas formas de utilização dos recursos naturais

ou ambientes construídos passam a ter nova significância a partir da visibilidade que possuem

no contexto atual, tanto no que se refere à sua estrutura material quanto imaterial. Os

engenhos de mel e melaço da região são unidades produtivas vistas como os principais

atributos culturais do vasto espaço rural areiense e, dentro de uma nova perspectiva de

utilização do rural, despontam como principais pontos de visitação.

3.3. O turismo rural e a dinâmica sociocultural e econômica dos engenhos areienses

Quando se fala dos empreendimentos na zona rural areiense é necessário que fique

clara a importância dos engenhos em suas formulações e execuções, não apenas no tocante à

sua influência identitária para a região, mas também porque é nas terras pertencentes aos

proprietários dessas unidades produtivas que se apresentam os mais recentes processos de

utilização do meio rural. Exemplo disso é a Floricultura Flores da Vila Real, situada nas terras

do Engenho Tapuio, o Restaurante “Vó Maria”, em terras do Engenho Bujari, a Pousada

Rural Engenho Cepilho, localizada no engenho de mesmo nome, Restaurante da Várzea do

Quati, no Engenho do Quati, entre outros.

O fato dessas iniciativas estarem vinculadas, em grande medida, aos engenhos não

retira a importância dos atores locais antes marginalizados, a exemplo das artesãs, dos

agricultores que hoje estão organizados em associações , no tocante às suas novas formas de

atuação, tomando decisões e se tornando protagonistas de um processo de transformação

econômica e social. Evidencia-se o surgimento do novo rural, mesmo que haja a resistência e

existência de algumas das antigas formas de ocupação dos espaços e a permanente exploração

da mão de obra. Essa construção multifacetada no território pode ser compreendida se levada

em consideração a sua capacidade de se tornar contínuo ao mesmo tempo que promove a

dinamicidade (SILVA, 1998).

110

Levantamento realizado por meio de pesquisa de campo entre os meses de março a agosto de 2013.

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121

Sobre esse aspecto que produz rupturas e continuidades, SILVA (1998), afirma que o

rural tem uma constituição complexa: ao mesmo tempo em que resistem determinados modos

de vida e de dominação petrificados pelo tempo histórico, há abertura para várias

transformações que permitem a visualização do campo como um local de variadas atividades,

indo para além da produção agrícola. As produções artesanais, a divulgação dos sabores, a

abertura para que se conheça os modos de produção (da cachaça, da rapadura, do mel, do

melaço) e sua associação aos elementos naturais e à tradicional cultura popular consolidam e

revalorizam o campo, tornando-o propenso ao desenvolvimento do turismo.

Foto 20: Divulgação dos engenhos paraibanos

Fonte: Ministério do Turismo – www.eventos.turismo.gov.br

Sendo assim, os engenhos areienses, com sua produção dos derivados da cana-de-

açúcar, têm em seu processo produtivo, na cultura local e no ambiente natural e construído um

atrativo que viabiliza iniciativas de cunho turístico do qual podem tirar proveito, tanto os

donos dos engenhos como os trabalhadores locais. De acordo com o proprietário do Engenho

Bujari111

, seus projetos são de ampliar os atrativos de sua propriedade para a recepção

turística, criando uma bodega próxima à casa grande e à casa de produção da cachaça.

O Engenho Bujari é uma das unidades produtoras que participa do projeto

desenvolvido pelo SEBRAE que objetiva a promoção dos engenhos frente às ampliações

turísticas no brejo paraibano. O projeto “Caminhos dos Engenhos” está dentro do “Roteiro

Turístico do Brejo”, implementado em dez municípios paraibanos. Além do referido projeto,

integram o roteiro “Os Caminhos do Frio”, e “Os Caminhos do Padre Ibiapina”112

. Esse

roteiro teve início em 2006, numa parceria entre o SEBRAE, os governos municipais, o

governo estadual, o Ministério do Turismo, o IPHAN e a iniciativa privada. De acordo com os

representantes do SEBRAE, os municípios beneficiados com a participação no Roteiro

111

Entrevista concedida em março de 2013. 112

Invest NE, 07 de março de 2007. www.investne.com.br/...Paraiba/Caminho-do-Engenho

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122

Turístico do Brejo recebem cursos de qualificação empresarial, de gestão, de gastronomia

regional, assistem palestras de capacitação para o turismo, entre outros113

. Todo esse aparato é

seguido por divulgações publicitárias dentro e fora da Paraíba dos atrativos encontrados nas

localidades.

Os “Caminhos dos Engenhos114

” passou a ser implantado em Areia no ano de 2008, de

acordo com o proprietário do Engenho Bujari, que também afirma fazer parte do projeto

desde sua execução. Para o referido proprietário, o turismo ainda não é uma atividade

plenamente desenvolvida no meio rural areiense, mas que tem todas as possibilidades para

crescer nos próximos anos. Para ele, participar dos “Caminhos dos Engenhos” é uma

oportunidade de divulgar os produtos confeccionados e ampliar as vendas, uma vez que os

turistas que procuram o local sempre levam consigo rapadura e cachaça, e fazem o engenho

conhecido ao transmitirem as informações dos momentos vividos a outras pessoas que, por se

sentirem atraídas pelos relatos, procuram conhecê-lo.

O turismo é uma atividade interessante para o meio rural areiense, em

especial para os engenhos. Hoje estou produzindo uma rapadura

diferenciada, e mostrando como o produto é fabricado ao turista. Eles

gostam muito disso, saber como as coisas são feitas. E eu acho que os

engenhos são os que mais contribuem para o desenvolvimento do turismo no

município porque, além do processo de produção da rapadura e da cachaça,

os visitantes têm acesso ao acervo cultural com peças que datam do século

XIX, podem fazer trilha pela reserva natural da Mata Atlântica, conhecer a

vida no campo, ir até os canaviais, e também degustar o caldo de cana na

hora, a rapadura e a cachaça. (Proprietário do Engenho Bujari, em setembro

de 2012)

Para o dono do Engenho Bujari, a questão da acessibilidade é um problema115

,

principalmente nos meses de chuva. Para sanar essa dificuldade, mediante iniciativa

particular, os serviços necessários são contratados e a melhoria das estradas realizada. Mas,

quanto à questão receptiva, admite falhas ao afirmar que não possui funcionários qualificados

para atender os turistas, cabendo exclusivamente a ele, enquanto proprietário, realizar essa

ação de acolhida.

113

Parecer apresentado pelos técnicos do SEBRAE em reunião no município de Areia em março de 2013. 114

O Roteiro “Civilização do Açúcar”, como é mais conhecido o projeto em outras localidades, recebe na

Paraíba o nome de “Caminhos dos Engenhos”. O número de municípios envolvidos nesse roteiro tem variado

com o passar dos anos. Até 2009 foram catalogados 12 municípios. (RODRIGUES, 2009). 115

Segundo o dono do Engenho Bujari, muitos ônibus com turistas não chegam à propriedade, e boa parte do

percurso é feita a pé.

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Por semana vem uma média de 40 a 50 visitantes (não faço registro, por isso

não sei o número preciso). São estudantes, pessoas da “melhor idade” que,

inclusive, têm um poder aquisitivo muito bom, compram bastante e gostam

do que veem. Muitas vezes são pessoas que têm raízes nesse lugar, e que ao

visitarem se encontram com seu passado; e tem também pessoas que vêm de

outros Estados, como Pernambuco e Rio de Janeiro, e que se encantam com

o nosso ambiente. Mas, infelizmente o turismo ainda é uma atividade que

está engatinhando no Engenho Bujari, e aí o lucro não é satisfatório. Acho

que o que mais dificulta o avanço do turismo é a ausência de parcerias com a

prefeitura. Já o SEBRAE é um parceiro presente, sempre disponível quando

solicitado, seja pra divulgação, ou pra qualificação. Inclusive já fiz cursos

através do SEBRAE voltados para o aspecto higiênico na produção da

cachaça e da rapadura. (Proprietário do Engenho Bujari, em setembro de

2012)

Quanto aos empregos gerados direta ou indiretamente com o turismo no Engenho

Bujari, pode-se afirmar que não são expressivos, a não ser pelo fato atribuído pelo dono da

propriedade de que, graças a essa atividade, houve o aumento da produção, o que o fez

contratar novos funcionários para a fabricação da cachaça e da rapadura, e para a embalagem

desses produtos116

. Não há um envolvimento programado entre o turista e os trabalhadores.

Os funcionários recebem para produzir, e os visitantes assistem a realização de seus trabalhos.

Dessa forma, os trabalhadores mantêm-se em suas funções tradicionais, sem maiores

benefícios com a atividade turística. Aliás, é válido salientar que, segundo o proprietário, o

turismo por si, ainda não se tornou uma atividade rentável e inclusiva em seu engenho,

auxiliando sim, mas no aumento da produção.

Foto 21: dependências do Engenho Bujari

Fonte: Acervo pessoal – Vanderleia dos Santos, 2013

116

Há aproximadamente 5 anos atrás, o proprietário do engenho estima que trabalhavam diretamente na

produção da aguardente e da rapadura cerca de 40 pessoas. Não há um registro seguro, uma vez que não há

direitos trabalhistas. Hoje, são empregadas cerca de 10 pessoas a mais, principalmente pela necessidade de

embalar a mercadoria de forma a deixar o produto mais atrativo, uma preocupação recente.

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Sem direitos trabalhistas, para os funcionários do Engenho Bujari, as vantagens da

prática turística é a divulgação de seus trabalhos, que assegura as vendas constantes e,

consequentemente a sua permanência no engenho. O que esses trabalhadores esperam é que a

propriedade possa se vir a montar uma infraestrutura receptiva de qualidade e que isso possa

melhorar as suas condições de vida117

.

De acordo com a visão empreendedora do SEBRAE, os elementos culturais, as

práticas econômicas, o ambiente natural ou construído, a culinária regional, tudo pode ser

utilizado de forma a possibilitar o incremento do turismo, sendo o espaço rural amplo em

possibilidades dessa natureza por possuir várias manifestações culturais, produtos

agropecuários diversificados, entre outros aspectos relevantes para a promoção do turismo

rural. É por meio de todo esse aparato que o referido órgão sugere o fortalecimento do brejo

por meio do projeto (ou circuito) “Caminhos dos Engenhos”.

Entretanto, essa determinação objetiva em tornar o modo de ser e de fazer um objeto

de consumo, tem despertado críticas ao SEBRAE. Para a Secretária de Cultura, essas ações

artificializam a cultura local, retirando delas seu significado de resistência, tornando os estilos

de vida próprios de um espaço meros espetáculos. Para a secretária, toda a engenhosa

criatividade do povo dos espaços rurais areiense deve lhes trazer melhorias na condição de

vida, mas sem que se retire a naturalidade da expressão, sem forjar identidades. Ainda

segundo ela, “Caminhos dos Engenhos” é uma iniciativa interessante e que tem tudo para dar

certo, mas se for conduzido com responsabilidade social e com respeito à cultura local, sem

torná-la superficial ou mecânica118

.

Outra unidade produtiva de destaque no meio rural areiense é o Engenho Mineiro. De

acordo com um de seus proprietários, o engenho esteve na rota turística “Caminhos dos

Engenhos” por três anos: de 2008 a 2010, mas assegura que durante esse tempo nenhum

benefício foi sentido significativamente. Para ele, a ineficiência do projeto em sua

propriedade está associada à falta de compromisso do poder público.

Se os governantes destinassem mais atrativos para o interior, o turismo seria

viável. Só que hoje em dia, quando os turistas chegam querem ver o engenho

moendo, e não podemos moer o tempo todo. Se os governantes fossem

realmente parceiros daria pra conseguir um ambiente pequeno, só pra

mostrar como é que a gente trabalha com a cana. Outra coisa que dificulta o

turismo é que o Ministério do Trabalho, e em parte o Ministério da

117

Segundo um grupo de 5 trabalhadores, entrevistados em setembro de 2012, não houve melhoria em suas

condições de trabalho, ou de moradia, ou de salários por causa do turismo. A única diferença que sentiram diz

respeito à presença desses grupos vindos de fora no momento em que realizam seus afazeres. 118

Parecer transmitido por meio de comunicação telefônica, em novembro de 2012.

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Agricultura, diz que o funcionário tem que estar equipado, tirando a

originalidade da forma como se produzia antigamente. Mas a atividade

turística pode se desenvolver porque Areia tem uma riqueza cultural

inigualável. Aqui mesmo, a casa grande ainda possui características do

período colonial (no entanto, meus pais já estão com idade avançada, e

moram na casa grande, e a visitação de turistas acabava tirando a privacidade

deles. Sem contar que geralmente essa visitação não tinha hora certa para

acontecer, fato que nos deixava presos à propriedade, pois não sabíamos

quando ia chegar visitantes). (Proprietário do Engenho Mineiro, em

setembro de 2012)

Para o proprietário do Engenho Mineiro, fazer parte do circuito “Caminhos dos

Engenhos” não repercutiu positivamente. Embora recebesse um número de turistas que

considera razoável (por semana atendia a uma média de 30 a 40 pessoas), o lucro era baixo.

A gente lucrava muito pouco com o turismo. A cada turista era cobrado o

valor de R$5,00, mas o visitante tinha direito a um lanche que ficava pra

gente por R$2,00, sem contar que a agência de turismo que conduzia os

visitantes cobrava R$2,00 por cada pessoa que trazia. O que era interessante

é que vendíamos consertas de doces, queijos, rapaduras. Mas ainda assim

não deu certo porque esses produtos tinham data de validade para o

consumo, e como nem sempre conseguíamos vender o que era produzido,

acabávamos ficando com essa mercadoria parada, sem rotatividade.

(Proprietário do Engenho Mineiro, em setembro de 2012)

Ainda de acordo com o proprietário do Engenho Mineiro, embora hoje se dê certa

visibilidade ao interior, a propaganda enfatiza com mais veemência o litoral, e os pacotes

turísticos geralmente estão direcionados para essa tendência. Além disso, mais uma vez é

lembrada a precariedade na acessibilidade e falta de envolvimento do poder local. Para ele, o

órgão que se faz presente e tenta agilizar o desenvolvimento turístico na região é o SEBRAE.

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Foto 22: Caminhos do Engenho Mineiro

Fonte: Acervo pessoal – Vanderleia dos Santos, 2013

No tocante à representação e significado dos engenhos para o município, o

proprietário do Engenho Mineiro afirma:

Devemos ter em mente que a história dos engenhos areienses,

principalmente os que datam do século XIX, está intimamente relacionada

com o surgimento da cidade. E essa história pode e deve ser usada como

atrativo. Futuramente pretendo ingressar novamente nas iniciativas turísticas,

mas quando houver maior organização e desenvolvimento. Quando eu

perceber que as coisas estão dando certo, volto a receber visitantes. No

momento, não vejo vantagens que me motivem a continuar. (G. B.

proprietário do Engenho Mineiro, em setembro de 2012)

Para um dos trabalhadores do Engenho Mineiro, o turismo não era uma atividade que

lhe dizia respeito, nem aos seus companheiros. Sem direitos trabalhistas, seus ganhos advêm

de sua produção diária. Mas, relata que os turistas os observavam em seus afazeres sempre

que se destinavam à propriedade.

O interesse dos turistas quando chegavam era sempre de ver a produção da

rapadura, como era e como não era... acho que só. Tinha uns que se

interessavam em ver também os “cambiteiros” (os trabalhadores que

transportam a cana com a ajuda de boi ou de burro de carga). Outros também

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iam para o campo, para assistir o plantio da cana. E tinha até turista que

acompanhava da colheita da cana até a chegada no engenho. (Trabalhador do

Engenho Mineiro, em setembro de 2012)

Os trabalhadores, protagonistas do espetáculo oferecido, não se viam beneficiados

com o turismo. Nem mesmo a produção de rapadura permaneceu. No Engenho Mineiro, a

tradicional atividade estagnou por motivos variados, sendo a queda no preço um dos mais

evidenciados. Segundo outro trabalhador,

Os turistas vinham ver justamente a produção da rapadura, mas hoje não tem

nem mão de obra pra produção... o pessoal foi todo morar na cidade,

inclusive eu. Fazia 39 anos que eu morava aqui, mas a mulher pressionou e

eu fui embora. Mas continuo trabalhando aqui: venho de manhã cedo e só

volto de tardezinha. Na verdade, a falta de mão-de-obra também provocou o

fechamento do engenho, e como os turistas vinham ver o funcionamento,

pararam de procurar a propriedade. Hoje os turistas não têm interesse de

visitar a propriedade. Pra ver o quê? Um trabalhador limpando mato?

Plantando cana? Quem vai vir de longe pra ver isso? (Trabalhador do

Engenho Mineiro, em setembro de 2012)

O depoimento exposto afirma que um dos objetos de contemplação turística que esteve

vinculado ao circuito “Caminhos dos Engenhos” parou a sua tradicional produção de

rapadura, o que evidencia o momento de dificuldade frente às novas estruturações do campo.

A rapadura, de acordo com o proprietário do engenho, foi perdendo seu valor de mercado,

dificultando a continuidade da produção nos moldes antigos. Para G. B., só é possível a

fabricação da rapadura por meio de dois caminhos: 1) sendo um produto complementar, que

se sustente na capacidade do engenho em oferecer, por exemplo, a aguardente, que é bem

mais vantajosa economicamente; 2) ou pelo melhoramento da embalagem, do formato, da

diversificação do gosto, fazendo com que o produto tenha melhor preço de mercado.

Para o proprietário do Engenho Mineiro, no período inicial acreditava-se na

possibilidade de promoção do engenho por meio da atividade turística, o que não demorou

muito a se mostrar uma percepção enganosa. Segundo ele, a ausência do poder público

municipal vai muito além da questão da acessibilidade:

Não há parceria, não há investimento. Eu falo em auxiliar no que se poderia

oferecer dentro dos engenhos. Por exemplo, prestar auxílio financeiro para a

construção de restaurantes nas propriedades, pequenos museus com

elementos que falassem da história daquele engenho, especificamente, e

assim por diante. (G. B., proprietário do Engenho Mineiro)

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Com relação ao Engenho Triunfo, pode-se afirmar que a atividade turística foi

implantada já com certa dinâmica. Inserido em um contexto tradicional de utilização da cana-

de-açúcar para produção diversificada (embora não seja um engenho antigo), os proprietários

fazem uso da história econômica e do aspecto cultural na promoção dos atributos locais. Seu

ingresso no circuito “Caminhos dos Engenhos”, assim como no Engenho Bujari e no Engenho

Mineiro, se deu no ano de 2008119

. De acordo com a administradora, a média de visitação ao

engenho é algo surpreendente para a localidade, chegando ao número de 600 pessoas por

semana, vindas das mais variadas partes.

Recebemos visitações de chineses, franceses, mas principalmente de

espanhóis e portugueses. A procura também é oriunda de Estados vizinhos,

como Pernambuco e Rio Grande do Norte. Muitas vezes eles vêm

acompanhados por guias da capital (João Pessoa). Esse pessoal deixa, por

mês, um lucro médio de 20.000 reais. Eles pagam a taxa de visitação, que é

de R$5,00 por pessoa, e compram produtos do engenho que são vendidos na

loja de artesanato. Daqui nós orientamos os turistas a visitarem outras

instalações da zona rural, como a Floricultura do Engenho Tapuio, a

Bagaceira, e o Engenho Bujari. Pra gente é interessante que o turista tenha

outros lugares pra visitar. (Administradora do Engenho Triunfo, em

setembro de 2012)

Segundo a administradora, o atendimento oferecido aos turistas no Engenho Triunfo

recebe as orientações do SEBRAE. Além da proprietária, existem três funcionárias voltadas a

essa função. Segundo a administradora, o maior parceiro no processo de implementação do

turismo é o SEBRAE, que oferece treinamento, principalmente no que se refere à produção e

à divulgação do produto a ser comercializado, no caso, a cachaça. Além do órgão citado, o

Engenho Triunfo também recebe o apoio do Serviço Social da Indústria (SESI), que insere o

engenho em eventos a nível nacional.

119

Dados fornecidos pela administradora do Engenho Triunfo, em setembro de 2012.

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Foto 23: Nos Caminhos do Engenho Triunfo

Fonte: Acervo pessoal – Vanderleia dos Santos, 2013

Além da produção e venda da cachaça, a atividade turística é apontada pela

administradora como uma das principais atividades. Graças a esses dois empreendimentos,

indissociáveis, há emprego para 45 funcionários, distribuídos nas funções de moagem,

destilação, corte da cana, engarrafamento da cachaça e recepção aos turistas. Todos trabalham

formalizados e com carteira assinada.

De acordo com a administradora do referido engenho, a empresa faz largo uso dos

meios de divulgação do produto e da propriedade, o que facilita e amplia a aceitação da

cachaça no mercado interno e externo, e favorece a visitação turística à localidade. Entretanto,

o município, segundo ela, carece de uma propaganda mais consistente e uma melhor estrutura

receptiva para que o turismo desponte como um meio viável e lucrativo como um todo.

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A atividade turística está, a cada dia que passa, mais desenvolvida. Mas

ainda falta muita coisa pra alcançar um índice satisfatório. Falta uma melhor

propagação dos atrativos locais para se ter a visibilidade desejada. Se você

chega lá fora e fala que é de Areia, geralmente as pessoas lembram logo do

Triunfo porque a parte de divulgação da nossa cachaça é bem trabalhada, o

que não acontece com o município. Um dos problemas é a falta de

integração do poder municipal e a setor privado. Isso se evidencia em

aspectos bem visíveis, e eu estou me referindo à acessibilidade,

principalmente durante o período de chuva quando as estradas se

deteriorizam, e esse é o maior período de procura pela região. Com o circuito

“Caminhos dos Engenhos” se apresenta como um elemento de motivação

porque o engenho passa a ser uma rota certa pra quem vem pra Areia, e aí se

investe até no que deveria ser uma preocupação dos governantes, como a

melhoria das estradas. (Administradora do Engenho Triunfo, em setembro de

2012)

Para uma das funcionárias do Engenho Triunfo que trabalha na loja onde são vendidas

as cachaças, tanto a produção quanto o turismo rural são atividades essenciais para a sua

permanência no engenho120

. Além do salário mínimo, ela conta com boas gorjetas,

principalmente quando o fluxo de turistas aumenta.

Toda iniciativa que venha a possibilitar que o turismo se desenvolva na zona

rural é bem vinda. Além dos “Caminhos dos Engenhos”, Areia participa de

eventos artísticos e culturais, como os “Caminhos do Frio”, o “Brega Areia”,

o “Festival de Artes”, são eventos que chamam a atenção das pessoas. Elas

vêm pras festas promovidas e, claro, aproveitam para conhecer a produção

da cachaça e da rapadura nos engenhos, onde a história toda começou.

(Vendedora, Engenho Triunfo, em setembro de 2012)

Os eventos lembrados, embora sem constância anual e realizados na sede municipal,

têm repercussão em todo o município, criando um ambiente propício à propagação dos

atrativos locais. De acordo com uma das moradoras, esses momentos são relevantes, pois

permitem a muitas pessoas que realizam artesanato divulgarem seus trabalhos, aumenta o

fluxo de visitantes fazendo com que haja mais dinamicidade comercial, e desperta o

reconhecimento da população local para com a cultura que lhes diz respeito.

De modo geral, percebe-se que no meio rural areiense são desenvolvidas iniciativas

diversas que redundam em projetos turísticos, dotando o espaço de novas atribuições, muitas

vezes criativas, inovadoras, e que promovem o envolvimento de diversos atores sociais

(artesãos, agricultores, associações, proprietários de engenhos, representantes do SEBRAE,

secretários de turismo e da cultura) em sua implantação. Em alguns casos, é possível

relacionar o turismo à identidade cultural e à promoção social, além de sua dimensão

120

Entrevista concedida em setembro de 2012.

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131

econômica tão visada121

. Para tanto, é necessário que o território seja visto em sua dimensão

material e imaterial, que incorpora relações sociais diversas, distintas atividades econômicas,

variadas formas de representações e apropriações culturais e simbólicas.

A dinâmica territorial é sempre vida e morte de territórios, sejam eles

contíguos ou espacialmente descontínuos, produzidos pela estrutura das

redes, cujos fluxos conduzem pessoas, bens materiais e imateriais, tais como

ideias e informações. (RODRIGUES, 2007, p. 17)

Num mesmo processo em que se vislumbra o avanço das atividades turísticas, também

se detecta vários pontos de fragilização. A falta de maior envolvimento do poder público local

é apontado por diversos atores sociais como sendo um dos principais entraves à ampliação

dos serviços e consequente melhoria no sistema receptivo. Para que o espaço rural areiense

consiga se transformar em um território turístico, é inevitável que haja sua readequação à

funcionalidade a que se propõe. Essa nova ruralidade exige “a criação de um sistema de

objetos que dê familiaridade ao novo sistema de ações trazido pela demanda social do

turismo” (MARIANI, 2007, p. 215)

121

Um dos exemplos são os trabalhos desenvolvidos pela comunidade da Chã do Jardim.

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Considerações Finais

As intervenções sobre o espaço são motivadas pelas simbologias e significâncias que

ele desperta entre os atores sociais (moradores, trabalhadores e proprietários dos engenhos,

comunidade rural organizada em associações, secretaria de turismo, secretaria de cultura, SEBRAE e a

população local), dando origem às representações e às formulações territoriais. Ou seja, os

sujeitos operam sobre o espaço mediante suas concepções, ao mesmo tempo em que são

influenciados por ele, num processo dialético e contínuo. Esses aspectos marcam o

dinamismo das localidades, vistas como territórios onde emergem as inovações, motivadas

pela ação e reação de forças internas.

Identidade e cultura, dentro desse processo socialmente construído, passam a serem

vistos como aspectos importantes para a revitalização econômica e a reestruturação social,

inclusive por meio do incremento da atividade turística. Assim, elementos materiais e

imateriais das localidades são valorizados enquanto atrativos socioculturais que viabilizam o

desenvolvimento local por meio do mercado turístico.

Com base nos princípios apresentados, analisou-se a construção das novas ruralidades

no município de Areia, e as iniciativas na busca de empreender o turismo rural. Nesse

processo, foi possível perceber que as dinâmicas das comunidades rurais estão relacionadas ao

sistema de turismo. A Casa de Doces, o restaurante “Vó Maria”, os passeios ecológicos, a

visitação aos engenhos, todas essas práticas atestam a preocupação em tornar possível uma

atividade que os atores sociais acreditam ser viável no município. Alguns dos estímulos estão

na possibilidade de melhorias nas condições de vida dos habitantes, na geração de emprego e

renda, e na permanência dos membros da comunidade em seus lugares de origem.

Aproveitando a valorização pela qual passam os elementos formadores das culturas

(como o artesanato, os costumes, o modo de produção dos derivados da cana-de-açúcar),

alguns membros das comunidades rurais areienses, associados a órgãos governamentais (dos

quais o mais lembrado como parceiro e mediador das relações comerciais e de promoção do

local é o SEBRAE), enveredam por novas dinâmicas buscando agregar valores aos

tradicionais produtos confeccionados na região, e dar destaque aos atributos ambientais,

construídos ou naturais. Constata-se, no espaço rural areiense, características da

pluriatividade, que consiste na combinação de atividades agrícolas e não-agrícolas por aqueles

que habitam a localidade, diversificando as formas de produção e de trabalho. Dessa feita, as

atividades agrícolas (como o plantio da cana-de-açúcar), passam a coexistirem com outras

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elaborações, como o comércio artesanal ou de polpa de frutas, ou os serviços de hotelaria e de

gastronomia, ou o incremento do turismo, o que auxilia na nova concepção sobre o espaço

rural, para além da agricultura.

Constatou-se ainda que, embora permaneçam antigas práticas econômicas, essas se

revestem de outra configuração, mais pertinente ao momento vivido. Os engenhos, unidades

produtoras de significância econômica, cultural e histórica são revisitados em sua essência,

ultrapassando a sua concepção produtiva e integrando diferentes usos, vistos como espaços

lúdicos, ambientais e turísticos. Numa tentativa de tornar plausíveis os esforços para a

implantação do turismo, os proprietários de engenho se unem a órgãos públicos, como o

SEBRAE, a secretaria de Cultura e secretaria de Turismo do município, além de outros

parceiros, como o SENAI e a Universidade Federal da Paraíba, Campus II. Do SEBRAE parte

o mais expressivo apoio, com cursos de capacitação, apoio técnico e divulgação dos atrativos

locais. É desse órgão a autoria de projetos e roteiros turísticos que tendem a mostrar o espaço

rural do interior da Paraíba, principalmente com o Circuito “Caminhos dos Engenhos”, do

qual participam (ou participaram) algumas das unidades produtoras areienses, tendo destaque

os Engenhos Mineiro, Bujari e Triunfo, seja por sua expressiva história, seja por sua

importância econômica.

Verificou-se que, embora tenha havido certa divulgação dos atrativos locais a partir

dos “Caminhos dos Engenhos”, suas realizações foram insuficientes para fazer com que o

espaço rural areiense se configurasse como uma área turística. Não se pode falar em fracasso,

mas em insuficiência. O Engenho Mineiro é prova de que as iniciativas encabeçadas pelo

SEBRAE não atenderam ao que se esperava, posto que o referido engenho não permaneceu

no circuito, tendo inclusive cessado sua fabricação de rapadura, detendo-se apenas ao plantio

da cana-de-açúcar para vender a outros engenhos.

Os proprietários dos engenhos se ressentem da falta de colaboração do poder público

local, apontando como principal falha o não investimento no que se refere à acessibilidade.

Dos engenhos analisados apenas o Triunfo apresenta um quadro satisfatório, se avaliados os

números de visitantes e retorno econômico que o turismo propicia aos seus proprietários.

Entretanto, como o estudo se propõe também apresentar desenvolvimento como ampliação

das liberdades, é necessário que se enfoque as condições de vida e de inclusão que essa

atividade foi ou não capaz de assegurar.

Dentro das unidades produtoras, o que se pode observar é que os trabalhadores,

principalmente nos Engenhos Mineiro e Bujari, não sentem o impacto do turismo em suas

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vidas. A atividade se processa a revelia de suas necessidades, não se constituindo um

elemento de integração e de melhorias nas condições de vida. Mesmo que no Engenho Bujari

tenha havido o acréscimo de 10 trabalhadores por causa da demanda de produtos, graças à

divulgação por meio do turismo, os direitos trabalhistas continuaram inexistentes na

propriedade, o que atesta ser o turismo na zona rural areiense uma prática seletiva nesse

aspecto, que não é capaz de promover a inclusão.

No caso do Engenho Mineiro, a estagnação econômica, atribuída ao alto custo da

produção e ao baixo preço da rapadura, além da inviabilidade do turismo enquanto atividade

econômica, demonstra a fragilidade das iniciativas turísticas na região, principalmente quando

da falta de participação ativa dos órgãos municipais competentes. Ao analisar os relatos dos

trabalhadores, mesmo quando a propriedade estava inserida no circuito “Caminhos dos

Engenhos”, a sua participação se restringia a servir de espetáculo para os turistas quando

buscavam conhecer os trabalhos realizados na produção do mel, do melaço e da rapadura.

Com relação ao Engenho Triunfo, sua caracterização difere dos demais trabalhados.

Não é um engenho tradicional, e sua produção é mecanizada. Seus trabalhadores têm seus

direitos trabalhistas assegurados, e no tocante ao turismo, existem funcionários específicos e

especializados para a recepção e venda da cachaça e dos produtos artesanais. Entretanto, os

beneficiados de fato com o avanço do turismo na localidade são os proprietários, que têm

cada vez mais um mercado consumidor assíduo e crescente. Aos trabalhadores resta o

desempenho produtivo, sem maiores expectativas de ascensão no processo que se desenvolve

no referido engenho.

Algo que deve ser levado em consideração quando analisado o ingresso na atividade

turística, é que em todos os engenhos ela se constitui uma atividade complementar: no

Engenho Mineiro a atividade principal era a produção de rapadura; no Engenho Bujari se

destaca a fabricação de cachaça e de rapadura; e o Engenho Triunfo é famoso pela sua

produção de aguardente. Assim, o turismo rural nessas unidades produtoras, desponta como

uma nova forma de geração de emprego e renda capaz de diversificar a economia local, mas

sem se constituir a principal atividade.

Quando observados outros mecanismos de promoção do turismo no espaço rural

areiense, que não diretamente relacionados aos engenhos, percebe-se uma configuração

diferente. Organizados em associações, grupos de determinadas comunidades (como a da Chã

do Jardim e a do Engenho Tapuio) pensam o turismo sob a perspectiva da inclusão social,

promovendo a participação dos envolvidos, criando mecanismos de integração quando são

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chamados a opinar, a tomar decisões. Tecendo seus saberes com a palha da bananeira, as

artesãs da Chã do Jardim garantem sua autonomia e contribuição na resolução de problemas

financeiros familiares; plantando suas margaridas, as mulheres da Floricultura “Flores da Vila

Real” asseguram sua independência e realização, fazendo o que sabem e gostam.

O modo de organização da comunidade em associações demonstra uma nova

construção das relações sociais no espaço rural areiense. Geralmente filhos de moradores e

trabalhadores dos engenhos, os associados buscam alternativas diferentes, fora do julgo dos

proprietários ou da lida braçal desgastante das unidades produtoras. Burlando uma ordem pré-

estabelecida de subserviência, eles encontram, no apoio mútuo, forças para superar as

adversidades e se tornarem construtores de outra realidade socioeconômica.

Os discursos que pretendem apresentar o município de Areia como localidade turística

datam de 1979, quando ocorreu o seu primeiro processo de tombamento, em nível estadual.

Mas, há apenas uma década é que alguns empreendimentos vieram a se consolidar de maneira

convincente, como é o caso das pousadas Villa Real, o Hotel Fazenda Triunfo, a casa de

artesanato “A Talha”, entre outros estabelecimentos localizados na sede do município. No

espaço rural, o Restaurante “Vó Maria”, a Casa de Doces, a casa de artesanato “Arte na Mão”

são alguns dos indícios de que se está avançando no sentido de tornar a localidade um espaço

propício para o turismo.

Entretanto, foi possível verificar lacunas que impossibilitam colocar o município de

Areia dentro do sistema de turismo. Um dos exemplos é a não preocupação em se ter um

controle mais preciso quanto ao número de turistas que procuram determinadas localidades e

estabelecimentos. Em nenhum dos restaurantes, casas de doces e engenhos foram

disponibilizados registros que pudessem apresentar com maior precisão o número de

visitantes por semana, ou por mês, ou por ano. Os cálculos são sempre “aproximados”.

Outra constatação que sugere a fragilização das iniciativas de implantação do turismo

diz respeito à estrutura modesta dos estabelecimentos, como o restaurante “Vó Maria”, a casa

de Doces, entre outros. Os próprios membros da comunidade reconhecem que em meses frios,

os clientes ficam em filas aguardando que as mesas sejam desocupadas para poderem

desfrutar do ambiente e dos serviços oferecidos.

Quanto aos engenhos, embora o SEBRAE, os proprietários e os secretários de turismo

e de cultura afirmem serem os mais destacados atrativos locais, percebe-se que não há uma

efetiva preocupação em se oferecer um serviço que realmente seja condizente com o de um

local turístico. No Engenho Bujari essa atividade só conta com a participação do proprietário

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L. J., que é o que acompanha os turistas em suas visitações. Quando o Engenho Mineiro

integrava o quadro dos “Caminhos dos Engenhos”, quem estava envolvido diretamente com a

atividade turística era o proprietário, G. B., e sua esposa. Com exceção do Engenho Triunfo,

que possui todo um ambiente voltado para o acolhimento ao turista, os demais não se

configuram espaços preocupados em oferecer bem estar e serviços que façam florescer no

turista o desejo de indicar o local a outros ou de voltar.

A importância histórico-cultural e econômica dos engenhos para o município é um

aspecto evidente. Entretanto, é necessário que a esses elementos sejam agregados a outros

atrativos, como espaços alternativos (áreas de lazer), atendimento especializado, otimização

da produtividade que atrai o olhar e a atenção do visitante, e expansão e melhoramento da

infraestrutura.

O espaço rural areiense apresenta, portanto, vários desafios a serem vencidos na

implantação do sistema de turismo. A pouca participação do poder público, que restringe suas

ações a propagandas modestas e promoções de festas municipais, se mostrou ser um dos

principais entraves ao estímulo da atividade em áreas rurais. A fragilização também é

evidenciada no que diz respeito à inserção dos agricultores e demais representantes da

população rural, uma vez que os benefícios adquiridos com o turismo vão para os que estão

ligados às associações ou às iniciativas fomentadas pelos órgãos públicos (como os

“Caminhos dos Engenhos”). Mesmo que os representantes das associações e dos engenhos

afirmem gerar empregos indiretos ou beneficiar o restante da comunidade rural ao comprar

seus produtos, não existe um vínculo formalmente estabelecido entre as atividades turísticas e

a produção agrícola desempenhada pelos agricultores locais. Há também de se melhorar a

prestação de serviços (sistema de hospedagem, restaurantes, áreas de lazer) e a receptividade,

que agregados aos atrativos naturais podem viabilizar a regulamentação dos empreendimentos

turísticos e a sociabilidade das comunidades rurais.

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ANEXO

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA ASSOCIADO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO

REGIONAL (MESTRADO – UEPB/UFCG)

DESENVOLVIMENTO LOCAL E NOVAS RURALIDADES:

representações do turismo rural no município de AREIA/PB

Orientadora: Ramonildes Gomes

Mestranda: Vanderleia dos Santos

Entrevista realizada ao proprietário do Engenho Mineiro

Perguntas

1-Qual a extensão territorial que o engenho ocupa? Quanto dessa extensão especificada é utilizado para a

produção com base na cana de açúcar?

2-Há atividades voltadas para a cultura de subsistência? Quais?

3-Quantos moradores (famílias) habitam a propriedade?

4- Quantos trabalhadores exercem funções na produção do engenho e gozam de direitos trabalhistas

(advindos de terem carteira assinada)

5-Quais atividades econômicas são desenvolvidas na propriedade?

6-Qual a produção média dos produtos citados? (pecuária e cana de açúcar)

7-Há quanto tempo o Engenho pertence a seus atuais donos?

8-Há quanto anos aproximadamente o engenho existe?

9-Por quanto tempo o engenho fez parte do circuito “Caminhos dos Engenhos”

10-Em termos práticos que benefícios a participação nesse circuito ofereceu ao Engenho?

11- Que tipos de atividades estão vinculadas ao circuito “Caminhos dos Engenhos”

12-Você considera que o turismo é uma atividade interessante para o engenho? E para o município de

Areia? Que indicadores podem exemplificar a viabilidade do turismo, partindo da realidade vivenciada

nesse engenho em particular?

13-Quais são as ações empreendidas no engenho com vistas a deixá-lo mais atrativo à visitação?

14-Há funcionários qualificados para o acolhimento aos turistas?

15-Qual era a media de visitação mensal de turistas ao engenho, e qual o perfil desse turista em termos de

consumo, instrução, origem, etc.?

16-Mensalmente qual era o lucro médio do Engenho advindo do turismo?

17-O que era mais rentável para o Engenho, a produção agrícola ou as atividades turísticas? Mais você

não acha que esse fluxo poderia aumentar com o tempo, ou seja, com o tempo a tendência era aumentar a

visitação ao engenho, com melhoramento de infra-estrutura, com qualificação de funcionários para

receber esses turistas?

18-Quais os entraves que impossibilitam o desenvolvimento da atividade turística?

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19- Que órgãos (públicos ou privados) se apresentam como parceiros na busca da promoção da atividade

turística?

20-Quantos empregos eram gerados direta e indiretamente através do turismo rural na propriedade?

21- De forma ampla qual a importância dos engenhos areenses que fazem parte do circuito Caminhos dos

Engenhos para a historia socioeconômica e cultural da região?

22-Qual a finalidade da atividade turística na zona rural areense: a propagação da cultura, crescimento

econômico, ou melhorias nas condições de vida da população local?

23- No futuro você se ver voltando a trabalhar com a atividade turística?

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA ASSOCIADO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO

REGIONAL (MESTRADO – UEPB/UFCG)

DESENVOLVIMENTO LOCAL E NOVAS RURALIDADES:

representações do turismo rural no município de AREIA/PB

Orientadora: Ramonildes Gomes

Mestranda: Vanderleia dos Santos

Entrevista realizada no dia 05/2012 ao proprietário do Engenho Bujarí

Perguntas

1- Qual a extensão territorial que o engenho ocupa? Quanto dessa extensão especificada é utilizada

para a produção com base na cana-de-açúcar?

2-Há atividades voltadas para a cultura de subsistência? Quais?

3-Quantos moradores (famílias) habitam a propriedade?

4-Quantos exercem funções na produção do engenho e gozam de direitos trabalhistas (Advindos do fato

de terem carteira assinada)?

5-Quais atividades econômicas são desenvolvidas na propriedade?

6-Qual a produção média das atividades citadas à cima?

7-Há quanto tempo o Engenho pertence a seus atuais donos?

8-Há quanto anos aproximadamente o engenho existe?

9-Solicitação de breve relato histórico do Engenho.

10- Há quanto tempo o engenho faz parte do circuito “Caminhos dos Engenhos”

11- Em termos práticos, que benefícios a participação nesse circuito tem oferecido ao Engenho?

12- Você considera que o turismo é uma atividade interessante para o Engenho? E para o município de

Areia? Que indicadores podem exemplificar a viabilidade do turismo, partindo da realidade vivenciada

nesse engenho em particular?

13-Quais as ações empreendidas no engenho com vistas a deixá-lo mais atrativo à visitação?

14-Há funcionários qualificados para o acolhimento aos turistas?

15-Qual a media de visitação mensal de turistas ao engenho, e qual o perfil desse turista em termos de

consumo, instrução, origem etc.?

16-Mensalmente qual o lucro médio do Engenho advindo do turismo?

17-O que é mais rentável para o Engenho a produção da cachaça, rapadura ou a atividade turística?

18- Quais os entraves que impossibilitam o desenvolvimento da atividade turística?

19-Que órgãos (públicos ou privados) se apresentam como parceiros na busca da promoção da atividade

turística?

20-Quantos empregos são gerados direta e indiretamente através do turismo rural na propriedade?

21-De forma ampla, qual a importância dos engenhos areenses que fazem parte do circuito “Caminhos

dos Engenhos”, para a historia socioeconômica e cultural da região

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22- Qual a finalidade da atividade turística na zona rural areense: a propagação da cultura, crescimento

econômico, ou melhorias nas condições de vida da população local?

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representações do turismo rural no município de AREIA/PB

Orientadora: Ramonildes Gomes

Mestranda: Vanderleia dos Santos

Entrevista realizada em 05/2012, no Engenho Triunfo direcionada ao auxiliar administrativo

da empresa, que tem como funções: controle de estoque, recepção aos turistas, controle de

vendas da Cachaça e compras de cana-de-açúcar. Trabalha na empresa desde o ano de 2009.

Perguntas

1-Qual a extensão territorial que o engenho ocupa? Quanto dessa extensão especificada é

utilizado para a produção com base na cana-de-açúcar?

2-Há atividades voltadas para a cultura de subsistência? Quais?

3-Quantos moradores (famílias) habitam a propriedade?

4-Quantos trabalhadores exercem funções na produção do engenho e gozam de direitos trabalhistas

(advindas do fato de terem carteira assinada)?

5-Quais atividades econômicas são desenvolvidas na propriedade?

6- Qual a produção média dos produtos citados a cima?

7- Há quanto tempo o Engenho pertence a seus atuais donos?

8- Há quantos anos aproximadamente o engenho existe?

9-Breve Histórico do Engenho Triunfo.

10- Há quanto tempo o engenho faz parte do circuito “Caminhos dos Engenhos”

11- Em termos práticos, que benefícios a participação nesse circuito tem oferecidos ao Engenho?

12- Que tipos de atividades estão vinculados ao circuito “Caminhos dos Engenhos”

13- Você considera que o turismo é uma atividade interessante para o engenho? E para o município

de Areia? Que indicadores podem exemplificar a viabilidade do turismo, partindo da realidade

vivenciada nesse engenho em particular?

14- Quais são as ações empreendidas no engenho com vistas a deixá-lo mais atrativo à visitação?

15- Há funcionários qualificados para o acolhimento aos turistas?

16- Qual a media de visitação mensal de turistas ao engenho, e qual o perfil desse turista em termos

de consumo, instrução, origem etc?

17- Mensalmente, qual o lucro médio do Engenho advindo do turismo?

18- O que é mais rentável para o Engenho, a produção da cachaça ou a atividade turística?

19- Quais os entraves que impossibilita o desenvolvimento da atividade turística?

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20- Que órgãos (públicos ou privados) se apresentam como parceiros na busca da promoção da

atividade turística?

21- Quantos empregos são gerados direta e indiretamente através do turismo rural na propriedade?

22- De forma ampla, qual a importância dos engenhos areenses que fazem parte do circuito

“Caminhos dos Engenhos”, para a historia socioeconômica e cultural da região?

23- Qual a finalidade da atividade turística na zona rural areense: a propagação da cultura,

crescimento econômico, ou melhorias nas condições de vida da população local?

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Orientadora: Ramonildes Gomes

Mestranda: Vanderleia dos Santos

Roteiro de perguntas para as Entrevistas aos cidadãos Areenses

1 – Você é natural de Areia? Caso não seja há quanto tempo vc mora no município? Qual

sua qualificação? Atualmente qual é sua ocupação profissional?

2- Vc considera que o turismo é uma atividade interessante para o Município de Areia?

Que indicadores podem exemplificar a viabilidade do turismo, partindo da realidade

vivenciada no município?

3- De acordo com o seu ponto de vista quais são as ações empreendidas (privadas ou

publicas) no município com o objetivo a deixá-lo mais atrativo à visitação?

4- Há funcionários qualificados para o acolhimento aos turistas? Quais?

5- Em sua opinião o Turismo é uma atividade capaz de proporcionar um

desenvolvimento satisfatório para Areia? Por quê?

6- Atualmente na cidade de Areia quem são os beneficiados com a pratica da atividade

turística?

7- Em sua opinião quais são os entraves que impossibilitam um maior desenvolvimento

da atividade turística em Areia?

8- Você conhece a zona rural areense? Caso a resposta seja positiva esse espaço se

caracteriza de fato com atrativos turísticos? Por quê?

9- De forma sucinta, qual a importância dos engenhos areenses para a história

socioeconômica e cultural da região?

10- Qual a finalidade da atividade turística na zona rural areense: a propagação da cultura,

crescimento econômico, ou melhorias nas condições de vida da população local?

11- Você conhece a zona rural areense? Caso a resposta seja positiva esse espaço se

caracteriza de fato com atrativos turísticos? Por quê?

12- De forma sucinta, qual a importância dos engenhos areenses para a história

socioeconômica e cultural da região?

13- Qual a finalidade da atividade turística na zona rural areense: a propagação da cultura,

crescimento econômico, ou melhorias nas condições de vida da população local?

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Orientadora: Ramonildes Gomes

Mestranda: Vanderleia dos Santos

Entrevista realizada aos trabalhadores dos engenhos: Engenho Mineiro, Engenho

Triunfo e Engenho Bujarí.

Perguntas

1- Nome completo e idade do trabalhador.

2- Quantos anos trabalham na propriedade e qual função exerce?

3- Qual grau de escolaridade?

4- Você habita ou apenas trabalha nessa propriedade? Em caso de habitar, mora com quantas pessoas? E

há quanto tempo?

5- Você pratica cultura de subsistência na propriedade? Quais?

6- Você usufrui de direitos trabalhistas? Como carteira assinada?

7- Quais as atividades econômicas desenvolvidas na propriedade?

8- Em termos práticos, quais as vantagens da pratica da atividade turística na engenho para você?

9- Você considera que o turismo é uma atividade interessante para o engenho? E para o município de

Areia? Por quê?

10- Que indicadores podem exemplificar a viabilidade do turismo, partindo da realidade vivenciada

nesse engenho em particular?

11- De acordo com o seu ponto de vista quais as ações empreendidas no engenho com vistas a deixá-lo

mais atrativo à visitação?

12- Há funcionários qualificados para o acolhimento aos turistas? Exemplificar as qualificações caso a

resposta seja positiva.

13- O que é mais rentável financeiramente para você, a produção agrícola ou as atividades turísticas no

engenho?

14- Mensalmente qual é o seu lucro, médio, advindo do turismo?

15- Quais os entraves que impossibilitam o desenvolvimento da atividade turística na propriedade onde

você trabalha?

16- De forma ampla qual a importância dos engenhos areenses para a historia socioeconômica e cultural

da região?

17- Qual a finalidade da atividade turística na zona rural areense: a propagação da cultura, crescimento

econômico, ou melhorias nas condições de vida da população local?

18- Qual a representatividade que o engenho.... possui para você?

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19- Você trabalha diretamente com a atividade turística no Engenho?

20- O engenho possui infraestrutura adequada para o acolhimento dos turistas. Justificar a reposta.

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Orientadora: Ramonildes Gomes

Mestranda: Vanderleia dos Santos

Entrevista Realizada a Secretaria de Cultura do Município de Areia/PB

Data da Entrevista: 09/2012

Formação ou qualificação da atual secretaria: Cursei Direito e desisti, iniciei no curso de

letras, terminei, e a minha ligação com a cultura vem do curso que fiz junto com o SEBRAE,

de Gestão Cultural e elaborações de Projetos Culturais, foi a partir daí que entrei mesmo nessa

área, participando das elaborações do eventos culturais aqui em Areia, sempre fiz parte do

conselho de Turismo, sempre estive ligada a essa área voltada para a cultura.

Questões

1-Há quanto tempo se encontra no cargo de secretaria da Cultura do Município em Areia?

2- Qual a importância cultural do Município de Areia no cenário Regional e nacional?

3- Os principais atrativos turísticos da zona Rural de Areia estão sobre o viés Cultural ou

paisagístico? Por quê? Exemplos

4- Você considera que o turismo é uma atividade interessante para a Zona Rural Areense? Por

quê?

5- Que indicadores podem exemplificar a viabilidade do turismo Rural, partindo da realidade

vivenciada na região?

6- Quais as ações empreendidas pelo poder publico com parceiras ou não poder privado com

a finalidade de revitalizar a cultura da zona Rural do município com vistas de deixa-lo mais

atrativo à visitação?

7- De forma ampla, qual a importância cultural dos engenhos areenses (Triunfo, Mineiro,

Bujarí) para a historia socioeconômica e cultural da região?

8- Qual a finalidade da atividade turística na zona rural areense: a propagação da cultura,

crescimento econômico, ou melhorias nas condições de vida da população local?

Justificativas.

9- Qual a importância da criação da secretaria da Cultura para o município? E como ela pode

influenciar do desenvolvimento do turismo em Areia?

10- Quais os principais avanços e quais suas criticas às politicas de cultura voltadas à

promoção do turismo do município?

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11- Qual a representatividade que a zona rural tem para o município em termos culturais e

econômicos?

12- Que significância os engenhos areenses tem em se tratando do aspecto social? Promove a

exclusão ou permite a interação?

13- Como você analisa as ações do SEBRAE nos engenhos? Há diálogos constantes entre

órgãos e os gestores de turismo e de cultura do município?

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Orientadora: Ramonildes Gomes

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Entrevista Realizada ao Secretario de Turismo do Município de Areia/PB

Data da Entrevista: 07/2012

Formação ou qualificação do atual secretario: Curso Superior Incompleto em Direito, cursou

o magistério, é professor do ensino fundamental da Rede Municipal de Ensino, afastado da

sala de aula para assumir o cargo de Secretario de Turismo.

Questões

1-Há quanto tempo se encontra no cargo de secretario do Turismo do Município em Areia?

2- Quais os principais atrativos turísticos da Zona Rural de Areia?

3- A Zona Rural de Areia detêm infraestrutura (hotéis, pousadas, restaurantes, estradas

acessíveis) adequada para o acolher seus visitantes? Quantos ou quais são?

4- Você considera que o turismo é uma atividade interessante para a Zona Rural Areense? Por

quê?

5- Que indicadores podem exemplificar a viabilidade do turismo Rural, partindo da realidade

vivenciada na região?

6- Quais as ações empreendidas pelo poder publico com parceiras ou não com poder privado

com vistas a deixar a zona Rural do município mais atrativo à visitação?

7- Que órgãos (públicos ou privados) se apresentam como parceiros na busca da promoção da

atividade turística na zona Rural no município?

8- Quantos empregos são gerados direta e indiretamente através do turismo rural na cidade?

9- De forma ampla, qual a importância dos engenhos areenses que fazem parte do circuito

“Caminhos dos Engenhos”, para a historia socioeconômica e cultural da região

10- Qual a finalidade da atividade turística na zona rural areense: a propagação da cultura,

crescimento econômico, ou melhorias nas condições de vida da população local?

Justificativas.

11-Qual a media de visitação mensal de turistas ao município, e qual o perfil desse turista em

termos de consumo, instrução, origem etc.?

12- O município disponibiliza funcionários qualificados para o acolhimento aos turistas?

13- Em termos práticos, que benefícios a participação no Circuito “Caminhos dos Engenhos”

tem oferecido ao Município?

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14- Qual a representatividade que a zona rural tem para o município em termos culturais e

econômicos?

15- Quais são os engenhos que fazem parte do circuito “Caminhos dos Engenhos”. A

secretaria de turismo oferece algum apoio a esses engenhos, como apoio em eventos,

divulgação de suas potencialidades, melhoramentos das vias de acesso, incentivos fiscais e

etc?

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ENTREVISTA – MEMBROS DA ASSOCIAÇÃO FLORES DA VILA REAL

( Associação de Desenvolvimento Sustentável de Macacos e Furnas)

1. Antes da organização do grupo, os membros praticavam atividades voltadas ao plantio

e comercialização de flores? De que forma?

2. Por que a opção pelas flores, e não outro tipo de plantio mais comum na região?

3. Em que ano começaram a atuar enquanto grupo organizado? Que dificuldade

enfrentaram antes e que dificuldades enfrentam agora?

4. Quem faz parte do grupo? De que forma essas pessoas foram beneficiadas com essa

forma de atuação conjunta?

5. Quem são os principais parceiros com os quais vocês podem contar? De que forma

eles auxiliam?

6. Os benefícios das atividades encabeçadas pelo grupo são sentidos na comunidade?

Como?

7. A floricultura é visitada por turistas? Em média, quantos procuram conhecer o

trabalho realizado por vocês?

8. Acredita que o turismo influencia, de alguma maneira, o desenvolvimento das

atividades realizadas na floricultura? Como?

9. Há algum tipo de propaganda realizada por vocês na busca de promoção do produto?

A que grupo essa propaganda se destina?

10. Estando a floricultura localizada no campo, de que maneira vocês interagem com a

parte urbana do município?

11. Os membros da associação e demais pessoas envolvidas no processo de produção

habitam o espaço rural de Areia?

12. Os membros envolvidos nos trabalhos da floricultura gostam do que fazem, ou estão

nesse ramo apenas porque foi uma das únicas possibilidades que se abriu para que

pudessem se manter?

13. As decisões tomadas são realizadas mediante consulta prévia aos envolvidos? Como é

o procedimento?

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Entrevista direcionada a proprietária da Pousada Rural: Engenho Cepilho

1. Nome do estabelecimento e quando foi aberto.

2. Por que a pousada foi aberta no meio rural?

3. Em média, quantos turistas se hospedam na pousada, mensalmente?

4. Quais as principais dificuldades enfrentadas para a continuação desses trabalhos?

5. Quantas pessoas estão empregadas na pousada? São moradores locais?

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ENTREVISTA DIRECIONADA A PARTICIPANTES DA ASSOCIAÇÃO PARA O

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA CHÃ DO JARDIM

1. Em que ano foi criada a Associação para o Desenvolvimento Sustentável da Chã do

Jardim? A que se destina essa associação?

2. Quem são os membros que compõem o grupo? Quais as vantagens que eles alcançam

estando integrado a essa associação?

3. Ao todo, quantas pessoas participam dos trabalhos realizados? Todos moram na Chã

do Jardim?

4. Você classificaria como democrática a forma de participação dos membros da

associação? Por quê?

5. As pessoas envolvidas nos trabalhos realizados estão porque se sentem realizadas,

porque sentem prazer nesse tipo de atividade, ou estão porque as alternativas de

sobrevivência mediante outras atividades são escassas?

6. Que tipo de relação existe entre o turismo e o desenvolvimento das atividades do

grupo?

7. Há uma estrutura receptiva favorável ao turismo na localidade? A partir de que

mecanismos?

8. Em média, quantos turistas procuram a localidade por mês?

9. Mesmo estando localizada no campo, que relações a associação mantém com a

cidade?

10. Quais são os parceiros com os quais a associação pode contar para a realização de seus

projetos? Como esses grupos se mostram ativos?

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Orientadora: Ramonildes Gomes

Mestranda: Vanderleia dos Santos

ENTREVISTA DIRECIONADA A PARTICIPANTES DO GRUPO ARTE NA MÃO

1. Quais os tipos de trabalhos artesanais desenvolvidos pelos membros da Associação de

Artesanato arte na Mão?

2. Quantas pessoas fazem parte do grupo? Todas moram na região?

3. Pode-se afirmar que essa iniciativa trouxe melhorias na vida das pessoas envolvidas?

De que forma?

4. As decisões são tomadas de forma participativa?

5. Acredita que essa associação possibilita o desenvolvimento econômico para a região?

Quais os indicadores?

6. Que relação existe entre essa associação e o espaço urbano?

7. Há visitação dos turistas à localidade? Em média, quantos turistas procuram a

localidade por mês?

8. Quais os atrativos locais que podem ser apresentados como interessantes para os

turistas?

9. O restaurante é uma iniciativa vinculada à associação? Quantas pessoas são

empregadas, graças a essa iniciativa?

10. As pessoas se mostram realizadas no desempenho de suas funções? O que atesta sua

afirmativa (ou negativa)?

11. Pode-se dizer que o turismo rural é significativo para o município areiense? Que

indicadores você apresentaria?

12. De que forma os recursos naturais são utilizados para satisfazer os turistas que

procuram pelo exótico, o diferente, o conhecimento do outro? Em que termos entraria

a trilha da Mata do Pau Ferro?

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Pedido de Tombamento

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Portaria de Tombamento

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164

Fotos do Centro Histórico de Areia

Foto: Praça Pedro Américo

Fonte: Acervo pessoal – Vanderleia dos Santos, 2013

Foto: Vista aérea do espaço urbano e entorno

Fonte: AMAR, 2010.

Foto: Vista aérea do espaço urbano e entorno

Fonte: AMAR, 2010. Foto: Vista aérea do espaço urbano e entorno

Fonte: AMAR, 2010.

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FOTOS DA ZONA RURAL DE AREIA/PB

Foto: Vista aérea do espaço urbano

Fonte: AMAR, 2010.

Foto: Casarão José Rufino

Fonte: acervo pessoal – Vanderleia dos Santos, 2013.

Foto: a bagaceira, Engenho Bujari

Fonte: acervo pessoal - Vanderleia dos Santos, 2013

Foto: dependências do Engenho Mineiro

Fonte: Acervo pessoal – Vanderleia dos Santos, 2013

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Foto: a bagaceira, Engenho Triunfo

Fonte: acervo pessoal Vanderleia dos

Santos, 2013

Foto: acervo do Museu da Rapadura

Fonte: acervo pessoal – Vanderleia dos Santos, 2013.