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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CAMPUS CAMPINA GRANDE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL BRUNO DANTAS MUNIZ DE BRITO TURISMO DE RESORTS E O DESENVOLVIMENTO DO LITORAL SUL DA PARAÍBA CAMPINA GRANDE – PB 2011

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CAMPUS CAMPINA …pos-graduacao.uepb.edu.br/ppgdr/download/dissertacoes/dissertacoes... · Luzia Neide T. M. Coriolano / UECE ... Índice de desenvolvimento

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CAMPUS CAMPINA GRANDE

MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL

BRUNO DANTAS MUNIZ DE BRITO

TURISMO DE RESORTS E O DESENVOLVIMENTO DO LITORAL SUL DA

PARAÍBA

CAMPINA GRANDE – PB 2011

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CAMPUS CAMPINA GRANDE

MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL

BRUNO DANTAS MUNIZ DE BRITO

TURISMO DE RESORTS E O DESENVOLVIMENTO DO LITORAL SUL DA

PARAÍBA

CAMPINA GRANDE – PB 2011

BRUNO DANTAS MUNIZ DE BRITO

TURISMO DE RESORTS E O DESENVOLVIMENTO DO LITORAL SUL DA

PARAÍBA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade Estadual da Paraíba, em cumprimento à exigência para obtenção do grau de Mestre.

Orientadora: Profª Drª Maria Dilma Simões Brasileiro

CAMPINA GRANDE – PB 2011

BRUNO DANTAS MUNIZ DE BRITO

TURISMO DE RESORTS E O DESENVOLVIMENTO DO LITORAL SUL DA PARAÍBA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade Estadual da Paraíba, em cumprimento à exigência para obtenção do grau de mestre.

Aprovada em 26 / OUTUBRO / 2011.

_______________________________________ Profª Drª Maria Dilma Simões Brasileiro / UFPB

Orientadora

_____________________________________ Profa. Dra. Luzia Neide T. M. Coriolano / UECE

Examinadora

___________________________________ Prof. Dr. Júlio Cabrera Medina / UEPB

Examinador

É expressamente proibida a comercialização deste documento, tanto na sua forma impressa como eletrônica. Sua reprodução total ou parcial é permitida exclusivamente para fins

acadêmicos e científicos, desde que na reprodução figure a identificação do autor, título, instituição e ano da dissertação

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL - UEPB

B862t Brito, Bruno Dantas Muniz de. O turismo de resorts e o desenvolvimento do litoral sul da Paraíba [manuscrito] / Bruno Dantas Muniz de Brito, 2011.

208 f. : il. color.

Digitado.

Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional). Universidade Estadual da Paraíba, Programa de Pós-Graduação e Pesquisa, 2011.

“Orientação: Prof. Dra. Maria Dilma Simões

Brasileiro, Departamento de Educação Física.” 1. Desenvolvimento local. 2. Turismo na Paraíba.

3. Jacumã – Paraíba. I. Título.

21. ed. CDD 338.479

DEDICATÓRIA

A minha esposa, Marcela, e as minhas filhas, Laryssa,

Giovanna e Maria Clara, pelo amor e carinho.

AGRADECIMENTOS

A DEUS, soma de todos os elementos no universo, pelas inúmeras

bênçãos nessa vida, muitas das quais obtidas a custo e sacrifício, mas que

contribuíram para dar o valor necessário a este trabalho.

A professora Maria Dilma Brasileiro, por suas palavras seguras e firmes,

as quais contribuíram significativamente nesta orientação.

Aos Professores Cidoval Morais e Marcionila Fernandes, por toda

dedicação e empenho na condução deste importante programa de mestrado.

A todos os professores do Mestrado em Desenvolvimento Regional, a

quem saúdo na pessoa do Prof. Luis Henrique Cunha, pelas leituras sugeridas ao

longo do curso e pela dedicação enquanto docentes.

A CAPES, pelo apoio ofertado à condução do trabalho.

A grande amiga Carmen Porto, pela ajuda e suporte inestimáveis na

obtenção de documentos e dados oficiais do Município do Conde.

Ao meu Irmão Frankie Muniz de Brito, minha cunhada Katharine Hluchan

e a minha linda sobrinha Lara Hluchan Muniz, pelo apoio e carinho em todos os

momentos, felizes e difíceis, de nossas vidas.

A minha avó Ana Dantas Muniz, pelos inestimáveis momentos de força,

amor e contribuições, essenciais para enxergar uma nova perspectiva na vida.

Aos funcionários da UEPB, pela presteza e atendimento quando nos foi

necessário.

Aos colegas de classe, pelos momentos de amizade e cumplicidade

nesta caminhada.

O vento é o mesmo, mas sua resposta é diferente em cada folha. Cecília Meireles

R E S U M O

O contexto em que vem se desenvolvendo a atividade turística no litoral sul da Paraíba destaca-se pela chegada de grandes empreendimentos hoteleiros instalados na localidade. Este estudo tem por objetivo analisar as implicações do turismo de resort no desenvolvimento do distrito de Jacumã. A metodologia da pesquisa compreendeu uma pesquisa hemerográfica junto aos principais portais de notícia do estado que repercutem sobre as ações efetuadas pelo turismo na área de estudo, além da realização de entrevistas junto aos agentes envolvidos no desenvolvimento do turismo na localidade. Os dados foram analisados por meio da técnica de Análise de Conteúdo. Os resultados obtidos com base nas categorias de análise “Desenvolvimento Turístico de Jacumã” e “Turismo de Resorts em Jacumã” demonstram que o turismo de resorts não trouxe relevante nível de desenvolvimento local, haja vista que os problemas encontrados na infraestrutura de Jacumã não foram mitigados ou mesmo discutidos em busca de uma solução. O estudo conclui que a apesar de se constatar o crescimento do turismo na região os discursos apresentados pelos agentes hegemônicos locais assumem um viés cíclico, pois se percebe o despertar para o turismo, existe a consciência de que é necessária a mudança do panorama atual, no entanto não existem ações a médio ou longo prazo que possam solucionar os entraves e dificuldades vividas pela população e necessárias a ampliar o desenvolvimento, por parte do trade local. Nesse sentido, acredita-se que os interesses estão basicamente ancorados na perspectiva de crescimento e não desenvolvimento local por meio do turismo. PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento local. Turismo de resort. Desenvolvimento Turístico. Distrito de Jacumã.

A B S T R A C T

The context in which the tourist activity has been developed stands out for the arrival of large hotels on the southern coast of Paraíba. This study aims to examine the implications of tourism resort about the development in the Jacumã district. The survey methods included a researched with leading sites in order to find out the news on the actions taken by tourism in the study area, as well as interviews with those involved in tourism development in the locality. Data were analyzed using content analysis technique. The results based on the categories of analysis "Jacumã Tourism Development" and "Tourist Resorts in Jacumã" show that the tourism resorts has not brought significant level of local development, considering that the problems encountered in infrastructure have not been mitigated Jacumã or even discussed seeking a solution. The study concludes that although it would appear the growth of tourism in the region the speeches made by local hegemonic agents assume a cyclical bias, because they realize the awakening to tourism, there is awareness that is necessary to change the current situation in. However, there are no actions in the medium or long term that may solve the obstacles and difficulties experienced by the population and needed to expand the development by the local trade. In this sense, it is believed that the interests are primarily anchored in the perspective of growth and not local development through tourism. KEYWORDS: Local development. Tourism resort. Touristic development. Jacumã District

LISTA DE ILUSTRAÇÃO

FOTO 1 – Complexo Costa do Sauípe......................................................................... 102

FOTO 2 –

FOTO 3 –

FOTO 4 –

Distrito de Jacumã, Conde – PB.................................................................

Praia de Tabatinga......................................................................................

Vista aérea da Rodovia Ministro Abelardo Jurema – PB 008......................

105

108

119

FOTO 5 – Área destinada ao Mussulo Resort.............................................................. 127

FOTO 6 – Vista aérea com destaque para a construção do resort.............................. 128

FOTO 7 – Vista aérea do Mussulo Resort................................................................... 128

FOTO 8 –

FOTO 9 –

FOTO 10 –

Visão da piscina e do restaurante Rio Zaire................................................

Visão do Beach Club, na Praia de Tabatinga..............................................

Visão da área do Mussulo Resort................................................................

129

131

133

LISTA DE MAPAS

MAPA 1 – Localização do Conde no Estado da Paraíba............................. 106

MAPA 2 –

MAPA 3 –

MAPA 4 –

MAPA 5 –

MAPA 6 –

Município do Conde....................................................................

Caracterização das potencialidades do Conde...........................

Localização da APA Tambaba....................................................

Rodovia de acesso ao litoral do Conte.......................................

Zoneamento da área da Praia de Tabatinga..............................

107

114

115

118

123

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Loteamentos aprovados pela PMC…........................................... 108

QUADRO 2 –

QUADRO 3 –

QUADRO 4 –

QUADRO 5 –

QUADRO 6 –

QUADRO 7 –

QUADRO 8 –

QUADRO 9 –

QUADRO 10 –

QUADRO 11 –

QUADRO 12 –

QUADRO 13 –

QUADRO 14 –

QUADRO 15 –

QUADRO 16 –

QUADRO 17 –

QUADRO 18 –

QUADRO 19 –

QUADRO 20 –

Vantagens apresentadas aos potenciais investidores..................

Promoção turística do Conde na mídia.........................................

Promoção turística regional do resort...........................................

Conflito entre comunidade e poder público envolvendo resort.....

Qualificação da mão-de-obra em Jacumã....................................

Aspectos da segurança pública em Jacumã.................................

Infraestrutura de acesso à Jacumã...............................................

Presença de estrangeiros em Jacumã..........................................

Ações de promoção turística de Jacumã pelo trade local.............

Problemas na infraestrutura de Jacumã.......................................

Lançamento das obras do Mussulo Resort em Jacumã...............

Litoral de Jacumã é visto como a “bola da vez” para o turismo....

Equipe técnica e operacional do Mussulo Resort.........................

Gestores buscam ampliar vôos entre a Europa e a Paraíba........

Projetos fortalecem o cenário turístico de Jacumã.......................

Especulação criada após a instalação do resort em Jacumã.......

Desempenho do setor turístico em Jacumã.................................

Demanda junto aos serviços públicos em Jacumã.......................

Mobilização do Resort em captar fluxos turísticos regionais........

142

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166

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175

178

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Crescimento populacional, segundo Censo..................................... 111

TABELA 2 – Indicadores sociais do Conde........................................................... 111

TABELA 3 – Índice de desenvolvimento humano do Conde................................. 112

TABELA 4 – Ligações por classe.......................................................................... 116

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – Taxa de crescimento do turismo e da economia mundial.................... 62

GRÁFICO 2 – Distribuição de UH´s por segmentação............................................... 98

GRÁFICO 3 – Evolução das UH´s de resort, por região............................................. 99

GRÁFICO 4 – Evolução da taxa de ocupação dos resorts do país............................ 99

GRÁFICO 5 – Permanência média nos resorts, por segmentação............................ 100

GRÁFICO 6 – Evolução da ocupação dos resorts no NE........................................... 101

GRÁFICO 7 – Crescimento do número de MH no município do Conde..................... 121

GRÁFICO 8 –

GRÁFICO 9 –

GRÁFICO 10 –

GRÁFICO 11 –

GRÁFICO 12 –

Localização dos MH no Distrito de Jacumã.........................................

Natureza dos MH do Conde................................................................

Origem dos investimentos...................................................................

Origem do investimento internacional nos MH do Conde....................

Origem do investimento nacional.........................................................

121

124

124

125

125

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Representação do efeito multiplicador do turismo............................... 54

FIGURA 2 – Relação entre Turismo e Meio Ambiente............................................ 72

FIGURA 3 – Ocupação dos resorts no litoral brasileiro............................................ 97

FIGURA 4 – Mapa do Mussulo Resort..................................................................... 132

LISTA DE SIGLAS

ADHB Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil

APA Área de Proteção Ambiental

BA Bahia

BC Banco Central

BNB Banco do Nordeste do Brasil S.A.

BSH Bosch und Siemens Hausgeräte

CAGEPA Companhia de Águas e Esgoto da Paraíba

CEPAL Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe

CNC Confederação Nacional do Comércio

CTI/NE Comissão de Turismo Integrado do Nordeste

EMBRATUR Empresa Brasileira de Turismo

EMEPA Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A.

ENERGISA Distribuidora de Energia S/A

FIEP Federação das Indústrias do Estado da Paraíba

FMI Fundo Monetário Internacional

GOP Gross Operating Profit (Resultado Bruto Operacional)

HA Hectare

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDEME Instituto de Desenvolvimento Municipal e Estadual da Paraíba

INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

INFRAERO Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária

IPEA Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas

LEPAN Laboratório de Ensino e Pesquisa em Análise Espacial

MTUR Ministério do Turismo

NE Nordeste

OMT Organização Mundial do Turismo

PACET Pesquisa Anual de Conjuntura Econômica do Turismo

PEA População Economicamente Ativa

PIB Produto Interno Bruto

PMC Prefeitura Municipal do Conde

PNT Plano Nacional de Turismo

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PRODETUR Programa de Ação para o Desenvolvimento Turístico do Nordeste

RevPAR Revenue per Available Room (Receita por Quarto Disponível)

SAGRES Sistema de Acompanhamento da Gestão dos Recursos da Sociedade

SEBRAE Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SEPLAN Secretaria de Planejamento da Prefeitura Municipal do Conde

SUDENE Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste

TCE Tribunal de Contas da União

UEPB Universidade Estadual da Paraíba

UFPB Universidade Federal da Paraíba

UHs Unidades Habitacionais

SUMÁRIO

1

INTRODUÇÃO PARADIGMAS DO DESENVOLVIMENTO LOCAL......................................

18

34 1.1 1.2

As dinâmicas do desenvolvimento................................................................. Desenvolvimento local endógeno..................................................................

36 44

1.3 Os agentes locais no processo de desenvolvimento..................................... 48 2 2.1 2.2 2.3 3 3.1 3.2

DESENVOLVIMENTO E TURISMO: INTERAÇÕES POSSÍVEIS................ Condicionantes da atividade turística............................................................. Destinações turísticas: Núcleos receptores................................................... Agentes locais e mercado.............................................................................. TURISMO E MEIOS DE HOSPEDAGEM...................................................... A hotelaria: Significativo elo da cadeia........................................................... O turismo de resort.........................................................................................

52 60 73 75

82 86 88

3.3 Os resorts no Brasil e no Nordeste................................................................ 95

4 4.1 4.2 4.3 5 5.1 5.2 6

O PERFIL REGIONAL DO MUNICÍPIO DO CONDE.................................... Indicadores do desenvolvimento do Conde................................................... O cenário turístico regional do litoral paraibano............................................. O turismo de resorts no Distrito de Jacumã................................................... O REBATIMENTO DO TURISMO DE RESORT EM JACUMÃ..................... A realidade econômica e socioambiental de Jacumã.................................... O Turismo de Resort em Jacumã................................................................... CONCLUSÃO................................................................................................

104 111 117 126

135 135 163

181

REFERÊNCIAS.............................................................................................. APÊNDICES................................................................................................... ANEXOS.........................................................................................................

186 199 211

18

INTRODUÇÃO

Os caminhos pelos quais as relações humanas vêm percorrendo no decurso

da história deixam uma trilha que permite refletir como a humanidade vem

construindo o processo de desenvolvimento. Em tantas e múltiplas perspectivas o

desenvolvimento pode ser analisado sob diferentes prismas, seja no âmbito

econômico, pelas relações de comércio, indústria e serviços que se dão entre os

povos, nações e regiões; no âmbito político pela condução de políticas, programas e

projetos que são desenvolvidos na região. No âmbito sociocultural, por meio das

próprias interações humanas e das trocas culturais que permitem compreender a

sociedade e sua cultura como um processo vivo de construção da vida em

comunidade. E ambiental, pelos impactos causados pela ação humana na natureza,

seu processo de expansão e controle. Essas dimensões vão conduzindo a

humanidade a reavaliar seu processo de desenvolvimento, buscando a redução dos

impactos, na medida em que outras formas de atuar são possíveis.

O ser humano passa a percebe a finitude dos recursos existentes na natureza

e entende que existem limites ao processo de expansão e desenvolvimento,

fenômeno que se traduz na dimensão histórica. A amplitude da reflexão está na

análise que se faz a cerca da trajetória humana, quanto ao uso dos recursos

naturais, dinâmicas das correntes migratórias, da ordem institucional e o relativo

grau de crescimento das economias contemporâneas como fenômeno histórico de

desenvolvimento. Desta forma, o processo de desenvolvimento é construído por

meio da combinação de diferentes fatores e atores com produção de novos valores,

em distintas dimensões. Merece destaque o fato de que o crescimento dos

indicadores econômicos e sociais relacionados à produtividade são vetores

importantes da análise para compreensão do processo de desenvolvimento em

qualquer conjuntura, seja local, regional ou global, como afirma Furtado (2009).

No entanto, há de se ponderar que existem princípios para diferentes escalas

de desenvolvimento, as quais não se dão de forma constante ou ininterrupta – seja

no desenvolvimento exógeno, endógeno ou no desigual e combinado. Diferenciam-

se pela origem dos investimentos, pela natureza da gestão, pelo escopo em que dão

os resultados projetados nas localidades e na sociedade que o resguarda. A quebra

de paradigmas relacionados ao desenvolvimento é objeto de discussão de um amplo

19

número de pensadores, entre eles destacam-se Schumpeter (1934), Prebish (1949),

Rosenstein-Rodan (1961), Hirschman (1960) e Furtado (1980), entre outros.

O processo de construção que envolve essas discussões constitui o cerne do

debate sobre as diversas perspectivas do desenvolvimento, as quais foram

demonstrando seus limites e levando teóricos a rever conceitos e posicionamentos.

Muitas dificuldades definidas por estes pensadores, tais como Hirschman (1960) e

Furtado (1980), a cerca das variáveis que envolvem o desenvolvimento surgem em

decorrência de baixos níveis de produção e aproveitamento do potencial econômico

local. Das intempéries às crises econômicas internacionais é ampla a quantidade de

fatos que promovem a redução dos índices de desenvolvimento.

O movimento crescente e decrescente de desenvolvimento em muitas

localidades está associado, de certa forma, a ação de vários fatores que interagem

nesse contexto, a exemplo das variações cambiais, o nível de desemprego nacional

ou mesmo as taxas de inflação podem descrever o patamar em que se encontra o

desenvolvimento. As constantes oscilações são responsáveis por definir em qual

momento se dará a ação de entrada e saída de agentes importantes de atuação no

cenário em que ocorre o processo de desenvolvimento. Os agentes podem ser

definidos tanto como internos – responsáveis pelo desenvolvimento endógeno nas

pequenas localidades – quanto por externos – classificados pelo desenvolvimento

exógeno, que atua em um composto de trocas, muitas vezes conflitantes e

simultâneos, responsáveis pela construção das condições do desenvolvimento.

O desenvolvimento como um continuum leva a conhecer os atores sociais e

setores da sociedade estão sendo beneficiados com o modelo de desenvolvimento

adotado. Seja no desenvolvimento tecnológico, social, humano ou econômico é

importante considerar como essencial a escala em que se dá o desenvolvimento e

os resultados e benefícios decorrentes de cada ator social, entendendo que só há

desenvolvimento quando este atinge a sociedade, resolvendo seus problemas

básicos, como assevera Coriolano (2003b).

O que se observa neste escopo é que apesar da temática sobre

desenvolvimento estar descrita no âmbito economicista, é preciso refletir e entender

que há outros níveis para se identificar o desenvolvimento, e que eles são

percebidos, sentidos, criticados e devem ser levados em consideração na análise de

realidades locais, como mostram autores como Sen (2000), Zaoual (2003), Sachs

(2004) e Veiga (2005). Os autores revelam a necessidade de se discutir o

20

desenvolvimento sob diversas égides, pois não há um único propósito no

desenvolvimento, entender que existem múltiplos agentes, interesses e forças

atuando no contexto do espaço local.

A possibilidade de coexistirem múltiplos agentes num mesmo território remete

a identificação de múltiplas tensões, coerções e disposições, as quais justificam

múltiplos níveis de desenvolvimento.

Por território entende-se o produto do entrelaçamento de projetos individuais

e coletivos, de interesses comuns e conflitantes (TONNEAU e CUNHA, 2005). Isto

aponta que a implantação de um paradigma de desenvolvimento em um

determinado território acontece em circunstâncias variáveis e distintas, de modo que

interajam mesmo que sejam consideradas de natureza oposta. Assim, enquanto

algumas atividades, a exemplo do turismo, tentam preservar grande parte do meio

ambiente e se utilizar racionalmente dos recursos outras se dedicam a explorar

todos os recursos ao máximo, não encontrando limites ao seu avanço, como é o

caso da mineração – coexistindo num mesmo local setores produtivos distintos.

Tal clivagem consiste na promoção de múltiplas atividades em um mesmo

local, como a exploração mineral em uma determinada área que pode atrair,

paralelamente, a implantação de outras atividades como comércio, serviços e até

mesmo lazer como afirma Eisenstadt (2001). Dessa forma, o conceito de

desenvolvimento territorial remete a espaço socialmente organizado, marcado pela

interação de atores internos ou externos, pela história, cultura e meio ambiente, em

processo antinômico que envolve desde tensões e relações de complementaridade

e dependência, até ampla participação social, dispostos por meio das

potencialidades e vocações existentes na localidade (SAQUET, 2007; ZAPATA,

2007).

Nesse complexo, em distintos cenários atuam forças responsáveis tanto pelo

desenvolvimento endógeno quanto pelo exógeno. O desenvolvimento endógeno

trata-se da promoção das capacidades, competências e habilidades existentes no

interior da comunidade local, haja vista que os atores locais potencializam e agilizam

suas próprias condições, a partir dos investimentos oriundos da própria comunidade

(ÁVILA, 2001). Nessa perspectiva o desenvolvimento é realizado por meio dos

investimentos no local, implementado pela própria capacidade da comunidade atuar

de forma participativa nas decisões que conduzem a obtenção dos próprios anseios.

21

O modelo de desenvolvimento exógeno é caracterizado pela rapidez nos

resultados obtidos na localidade, por meio da aplicação de recursos – sobretudo

oriundos de grandes corporações – que o implantam, tratando-se de capital externo

que é injetado com perspectiva de resgate dos investimentos a curto e médio prazo.

Ocorre baixo índice de relações com a comunidade local, pautado pelo conceito de

empreendimento advindo de tendências globais de mercado e de baixo impacto no

conjunto da economia local. Este formato sugere que o fornecimento de insumos a

serem utilizados na construção e manutenção de sua produtividade é oriundo de

mercados externos, imbuídos em operacionalizar padrões de desenvolvimento que a

localidade não tem condições de atender ou que ainda não atingiu tal conjuntura, na

opinião de Amaral Filho (1995).

Essas concepções de desenvolvimento – por operarem em circunstâncias

distintas e em escopo convergente – remetem a outro âmbito de análise, definido

como desenvolvimento desigual e combinado. O composto sugere que, as vocações

de desenvolvimento trabalhadas pelos atores locais crescem na medida em que se

ampliam os níveis de exploração da atividade. No entanto, esta não é uma regra e

parte desses atores não prosperam de igual forma, causando um desnível

operacional, fazendo com que múltiplas imagens de desenvolvimento sejam

projetadas no recorte local, como afirma Löwy (1998) e Novack (2010).

Por meio deste recorte que o desequilíbrio na esfera local remete ao campo

das tensões, já que essas múltiplas identidades são distintas. Parte das

disparidades do desenvolvimento de certas sociedades fortalece e contribui para o

crescimento de outras, na medida em que diferentes etapas da organização social

dão base para o surgimento de novos modelos de desenvolvimento numa mesma

localidade. Os resultados provenientes do paradigma desigual e combinado são

determinantes no impacto sentido na ordem local – ambiental, sociocultural,

econômica e política – construída com base em múltiplas linhas de desenvolvimento.

Ocorre que, em algumas regiões, o potencial de desenvolvimento acaba

tornando-se elemento de disputa entre contextos diversos: de um lado têm-se os

residentes, que buscam empreender com foco no potencial do mercado local e na

manutenção de seus investimentos; por outro lado, tem-se a força impelida por

grandes grupos empresariais –muitas vezes internacionais – que implantam uma

política de grandes projetos, cujo padrão internacional se superpõe aos grupos

locais, gerando tensões e conflitos. Entre essas tensões destacam-se a elevação

22

nos preços dos terrenos e imóveis; a ocupação de áreas irregulares e de proteção

ambiental; o crescimento de poluição do ar, da água, do solo e sonora em áreas

naturais; e a substituição de atividades tradicionais, como considera Mendonça

Júnior (2000).

Considerando a interação de forças que se mobilizam para ensejar o

desenvolvimento, faz-se importante analisar o lócus em que se dá essa ação.

Ultramari e Duarte (2009) ressaltam a importância de se valorizar o município como

foco de desenvolvimento e de ações, que potencializem os interesses locais e a

competitividade na atração de investimentos. Tanto que se a competitividade passa

a ser proeminente, cabe ao município a responsabilidade de atrair investimento para

o interior de seu território, afirma Ultramari e Duarte (2009). Assim, o município é um

importante espaço de transformações e, desta forma, de análise dos processos que

se dão no seu interior. Objetivando a identificação das ações responsáveis por

desenvolver a localidade e em que medida atua. A construção de uma nova

territorialidade – uma nova função para o território – dentro dos limites do município

objetiva fomentar desenvolvimento, ocupar espaços aptos a esta iniciativa, os quais

são marcados pela mudança do paradigma vigente.

Dentre as atividades que contribuem com a dinâmica territorial, o turismo se

apresenta como uma das mais impactantes, campos de desenvolvimento, tendo em

vista a relevância da sua cadeia de serviços e a amplitude de suas proporções. Isto

acontece devido à força com que o turismo modifica a estrutura local e amplia os

indicadores de desenvolvimento, sejam eles positivos ou negativos, atuando de

forma tanto positiva quanto negativa no desenvolvimento territorial. Os incentivos

físicos, as atividades econômicas e sociais que se dão no município detentoras de

potencial de recursos naturais e culturais tornam o turismo um vetor de

desenvolvimento, sobretudo em municípios situados em áreas litorâneas.

O turismo constitui uma atividade que fomenta o surgimento de diversas

oportunidades em destinos turísticos. Nessas localidades se busca proximidade com

a natureza, a satisfação dos desejos, as comodidades oferecidas e a perspectiva de

contemplar um lugar diferenciado. Em certa medida muitas destas destinações

caracterizam-se como diversificadas, frente ao crescente conjunto dos mercados

turísticos padronizados, no âmbito nacional e internacional. Além disso, as

populações residentes, sua cultura característica e suas tradições locais tornam-se

grandes motivações pelas quais o turista é atraído.

23

Com a disseminação dos mercados globalizados e o avanço cada vez mais

significativo do padrão de qualidade global para o turismo, considerando dispositivos

de excelência na prestação de serviços, tomando como referência os países

desenvolvidos, é possível afirmar que a busca por destinos turísticos que atendam

aos padrões internacionais, demandam dos lugares atitude e transformação

endógena. Tal prática tem se disseminado fazendo com que os destinos sejam

construídos buscando reestruturação que atendam aos níveis de consumo turístico

internacional. O cenário revela que o turismo internacional faz parte do processo de

globalização em curso, comenta Serrano (2000).

O crescimento do turismo e sua abrangência nos diversos mercados, os

empreendedores do setor buscam atrair um número cada vez maior de público e

incentiva o consumo dos diversos produtos à disposição nesses mercados, atuando

no sentido de construir imagens tidas como ideais dos destinos turísticos. Em muitos

casos, a imagem propicia o desejo de viajar e de conhecer lugares, pois a

importância das imagens vai progressivamente se estabelecendo com a ajuda da

mídia.

Também atua no sentido de transformar lugares em mercadoria, por meio do

olhar dos investidores do setor turístico e empresarial, dentro de um contexto de

múltiplas conjunturas. A mobilização de diversos setores da economia e da

sociedade atua de forma quase que simultânea, produzindo um amplo sistema

mercadológico que converge para a dinamização econômica do lugar. Empresas,

profissionais, produtos e serviços atuando na construção da imagem do destino

turístico. Entre esses, merece destaque a relação estabelecida entre os agentes

produtores do turismo, responsáveis pela gestão das destinações.

De acordo com Knafou (1996), pode-se apontar três agentes produtores de

territórios turísticos: o turista, o mercado e os planejadores ou promotores territoriais.

O turista situa-se na perspectiva da demanda, fomentando o desejo e a necessidade

de desfrutar a viagem. O mercado, por sua vez, é estimulado pela procura de novas

tendências, marcado pelos números ora positivos ora negativos que o turismo

carrega em seus anuários. Seguindo Knafou (1996), é tarefa dos planejadores e

promotores territoriais fazer convergir os interesses da demanda com os anseios da

oferta, mediando iniciativas e medidas com vistas a atender ao processo de

construção do lugar, enquanto destinação turística ideal e plural a todos os

“consumidores”.

24

É importante destacar como esses agentes se encontram relacionados no

desenho territorial do desenvolvimento turístico. São eles que impulsionam as

práticas turísticas, ocupando áreas propícias ao soerguimento de empreendimentos,

no intuito de mobilizar esforços dos planejadores e da população residente, numa

convergência de interesses, orientados ao desenvolvimento do turismo.

Aliada a esta reflexão, surge o discurso positivo de desenvolvimento do

turismo local, de modo que áreas naturais e protegidas pelas leis ambientais vêm

sendo consumidas como espaços turísticos, permitindo o soerguimento de diversos

empreendimentos autodenominados de apoio ao turismo. O cenário formado por

empreendimentos de origem e gestão pontualmente familiar – endógeno – vão

cedendo espaço a empreendimentos de grande envergadura – exógeno. Estes, por

sua vez, promovem o discurso do sonhado emprego à comunidade, estimulando a

aceitação desta realidade pela comunidade local, projetando no território a ocupação

de áreas de preservação ambiental, voltadas agora também para o avanço do

processo de especulação imobiliária (CORIOLANO, 1998).

De certa forma, o que se viabiliza nessas localidades, atendendo aos padrões

internacionais postos pelo turismo, foge à realidade e a cultura do lugar. Estas

destinações turísticas, em certas situações alheias à cultura e aos costumes locais,

são definidas como não-lugar (AUGÉ, 1994), pois longe de se criar uma identidade

se produz algo que não é típico daquela localidade, sem autenticidade, induzindo o

visitante a crer que se encontra numa verdadeira ilha da fantasia. O não-lugar

“produz-se no espaço global [...] que nega o local” (RODRIGUES, 1999, p. 32). São

espaços operados para atender a demanda gerada para utilizá-los, mas que não

conservam em nada as características que o entorno lhe confere.

Dentro da perspectiva local trata-se da negação do próprio lugar, da não

aceitação da identidade que tal região detém, atribuída por seus habitantes.

Fortalece o conceito de que o ideal para uma determinada região é algo que ela não

dispõe e que projetos de êxito existentes em outras regiões, de potencial similar,

podem ser reproduzidos de forma a engendrar os mecanismos que movimentam a

dinâmica do desenvolvimento, na tentativa de reproduzir um lugar homônimo.

Assim, empreendimentos de natureza exclusivamente turística – muitos

caracterizados como não-lugar – estão se multiplicando em todo território litorâneo

brasileiro, promovidos pela conjuntura nacional de fomento ao turismo e atraídos por

subsídios e facilidades concedidas pela ação governamental. Seja pelo interesse

25

dos investidores de fugirem de destinos consolidados e saturados de turistas de

baixo consumo, seja pela busca de novos produtos e mercados ainda pouco

explorados, a perspectiva de crescimento da atividade turística ganha espaço no

cenário litorâneo brasileiro.

Considerando esse escopo, um dos maiores setores do turismo é a hotelaria.

Este setor é caracterizado pelo amplo poder de aceitação social, já que sugere

crescimento econômico da localidade, recrutamento de mão-de-obra local,

mobilização econômica, social, estrutural e política, alto volume de investimentos

que são empregados em sua operação – desde a confecção de projetos à

construção e operação dos empreendimentos – no sentido de existir para atender a

atividade turística. A segmentação encontrada na cadeia produtiva da hotelaria

subdivide-se desde equipamentos com menor nível de sofisticação, como as

pousadas, passando por uma grande variedade de hotéis, até se chegar a

equipamentos com um maior nível de complexidade, como os resorts.

O resort é um produto que está pronto para o consumo durante todo ano e

que se baseia em fomentar o potencial turístico que determinada região pode

oferecer. O turismo de resorts – hoje uma realidade observada em todo território

litorâneo nacional – oferece toda comodidade possível em hotéis, com infraestrutura

capaz de proporcionar alimentação, lazer, descanso e entretenimento, serviços de

estética, atividades físicas, recreação e convívio com a natureza dentro do próprio

empreendimento, sem que para isso, o visitante sinta a necessidade de deixar esta

estrutura, para buscar quaisquer destes elementos fora do espaço físico do

empreendimento (BORBA, 2005).

Os resorts são considerados, por definição, empreendimentos capazes de

suprir todas as necessidades dos seus hóspedes, encontrados nas mais distintas

regiões, sejam elas montanhas, lagos, praias ou mesmo florestas (BORBA, 2005).

São caracterizados pelo alto grau de artificialidade, associado ao potencial local de

aproveitamento para o turismo, além de oferecer um grande suporte e logística de

entretenimento ao hóspede, atuando no sentido de converter a realidade em

simulacro, isto é, a concretização da idéia de que o turismo e o seu mercado

conduzem na construção de um destino ideal. As configurações que se visualizam

para esses empreendimentos são tidas como similares, entretanto, a realidade

regional que os cerca é totalmente distinta e detentora de suas particularidades

únicas e específicas.

26

O Nordeste é a região brasileira que detém um montante considerável de

equipamentos hoteleiros classificados como resort, operando em vários Estados

(RESORTS BRASIL, 2011). Entretanto, na Paraíba, a inauguração do primeiro resort

somente se dá em Outubro de 2009, com o início das operações do Mussulo Beach

Resort by Mantra. Por iniciativa de investidores portugueses e angolanos, o

equipamento foi construído no município do Conde, litoral sul do Estado,

precisamente na praia de Tabatinga, situada no distrito de Jacumã.

Abrangendo belas praias do litoral paraibano, o município do Conde destaca-

se pela forte pressão com que o poder público local atua na busca pelo

desenvolvimento do turismo. As ações projetadas vão desde a apresentação do

destino turístico junto aos principais mercados consumidores de turismo do Brasil e

do mundo, à captação de investidores externos para a localidade – notadamente em

mercados europeus – fomentando a aquisição de novos investimentos e a iniciativa

de viabilizar infraestrutura pública para atender a instalação desses

empreendimentos no município.

Apesar da disseminação deste cenário favorável ao desenvolvimento turístico

da localidade, é importante considerar em que bases se assentam as perspectivas

de fomento ao desenvolvimento turístico, qual a percepção dos atores locais sob

está conjuntura e quais os reflexos diretos e indiretos sentidos pela expansão do

turismo de resorts nesta localidade.

Neste intuito, a pesquisa pauta-se em compreender como se dá o processo

de implantação do resort no litoral do Conde/PB e qual a percepção da comunidade

local a cerca do turismo de resorts. Mais especificamente, as questões norteadoras

postuladas por este estudo foram orientadas para reflexões no seguinte sentido:

Conhecer o nível de envolvimento do poder público na implantação do resort e a

perspectiva de desenvolvimento turístico proposta a partir do mesmo; Analisar como

o trade turístico local implanta os resorts e como contribuem para o desenvolvimento

do turismo de Jacumã; Analisar o discurso apresentado pela mídia no que tange ao

processo de gestão do resort para o desenvolvimento do distrito de Jacumã;

Analisar como a comunidade local percebe a implantação do resort; Conhecer a

perspectiva dos representantes do resort para o desenvolvimento turístico do distrito

de Jacumã.

A partir destas questões norteadoras, a metodologia da pesquisa configura-se

como qualitativa e quantitativa, pois procura empreender uma análise focada nas

27

aspirações de múltiplos atores que estão no cenário local de desenvolvimento

turístico. Isto implicou na abordagem flexível e direcionada à busca de

determinantes essenciais sobre o problema focado (LAKATOS, 1986).

Segundo Godoy (1995), a pesquisa qualitativa estimula os entrevistados a

pensarem livremente sobre um tema, objeto ou conceito que seja pertinente ao

estudo proposto. Já a quantitativa conduz a análise de dados e informações que,

uma vez organizados, produzem diversas informações de teor qualitativo. Desta

forma, foram trabalhados nesta pesquisa aspectos relacionados ao desenvolvimento

do turismo de resorts no litoral do Conde, agentes locais mais atuantes no processo

turístico e suas percepções sobre a atividade. Neste contexto, a abordagem

constituída como quali-quantitativa se configura na forma mais adequada de se

entender a natureza dos fenômenos sociais (RICHARDSON, 1985; DENCKER,

1999).

Para a realização do estudo foi considerado um recorte temporal-espacial, na

medida em que as circunstâncias em que se deram o estudo foram analisadas

considerando o período que antecede à implantação e consolidação do

equipamento, focando a sistematização das ações e resultados antes, durante e

após a instalação do resort. Considerando o pensamento de Pearce (2003), a

análise da estrutura em que se situam os resorts tem em vista três conjuntos de

fatores: as características do local, os elementos turísticos e outras funções urbanas.

Partindo das condições locais, Pearce (2003, p. 283) afirma que, “para

determinar o contexto em que o resort se desenvolve [...] é fundamental uma análise

das características locais”. No local há uma conjuntura econômica e sociocultural na

qual o resort se insere; assim como os investimentos empreendidos pelo poder

público visam beneficiar a captação de empreendimentos e identificar impactos

percebidos no meio ambiente.

Com relação aos elementos turísticos, Pearce (2003) considera aqueles que

compõem o potencial local para o desenvolvimento da atividade. Entre eles estão: a

proximidade dos atrativos turísticos – o que pode resultar na promoção de

equipamentos turísticos em maior ou menor grau dependendo da distância entre

estes e os referidos atrativos; as atrações – geralmente relacionados às tradições e

as manifestações da cultura que são identificadas e encontradas ativamente

presentes na localidade; as modalidades de acomodação – quais os tipos de meios

de hospedagem podem estar disponíveis na região, o que resulta em ampla

28

variedade de público que pode visitar o destino além de determinar a duração da

estadia, mobilizando de formas distintas diferentes gastos dos turistas; os meios de

circulação – com os modais de transporte que servem aos destinos, além das vias,

seu estado de conservação e disposição, sinalização e estrutura de apoio; lojas e

serviços direcionados aos turistas – considerando o grau de empreendedorismo

local e percebendo na região o potencial instalado ao desenvolvimento da atividade

turística.

Outro conjunto de fatores considerado por Pearce (2003) são as funções

urbanas, que constituem a infraestrutura pública local e os investimentos

executados, ou seja, as formas de uso do solo, abastecimento de água, coleta de

resíduos, oferta de iluminação pública, atividades industriais, entre outras. Além

disso, faz-se importante analisar, o montante de investimentos dispensados pela

administração pública para fomentar a infraestrutura, a oferta de serviços de

qualidade.

No tocante a estas disposições surge a problemática que pauta este estudo:

seriam os resorts equipamentos capazes de promover desenvolvimento local para

as destinações turísticas? O turismo de resorts pode ser entendido como um

importante instrumento de desenvolvimento turístico local? Quais as repercussões

que podem ser sentidas na localidade após a sua instalação? Qual a percepção da

comunidade local com relação à instalação deste tipo de equipamento?

Neste sentido, estes três conjuntos de fatores (PEARCE, 2003) foram a base

para as análises do presente estudo. Em uma primeira etapa buscou-se entender a

conjuntura e a ocupação do turismo de resorts em Jacumã, a formulação da

proposta e os responsáveis pelo empreendimento. Em seguida, foram realizadas

entrevistas junto a agentes locais e moradores, com o intuito de registrar as

percepções à cerca do desenvolvimento turístico local e conhecer as implicações

oriundas do turismo de resort. Os resultados foram reunidos, com base na

construção de categorias de análise, e estudados utilizando a técnica de análise de

conteúdo, tendo como referência as categorias “desenvolvimento turístico de

Jacumã” e “turismo de resorts em Jacumã”.

Verificou-se a visibilidade dada aos fatos publicados na mídia, por meio dos

portais do Governo do Estado da Paraíba, do Jornal Correio da Paraíba e portal

Turismo em Foco, a cerca do desenvolvimento turístico do litoral sul, notadamente

no distrito de Jacumã. Estes dados, analisados também a partir de uma pesquisa

29

hemerográfica, contribuíram para melhor entendimento a cerca do papel assumido

pelos gestores públicos e grupos empresariais nacionais e internacionais sobre

desenvolvimento turístico com a ocupação dos resorts. Identifica-se a conjuntura

proposta pelo desenvolvimento do turismo de resorts, construída a partir dos meios

de comunicação virtual, por meio das matérias veiculadas nos portais mais

acessados da Paraíba.

As pesquisas conduziram ao estudo hemerográfico dos principais portais de

notícia do estado. Também foram realizadas entrevistas junto aos moradores,

associações, entidades de classe, líderes comunitários, corretores de imóveis,

representantes do poder público e do resort, situado no distrito de Jacumã. As

etapas centram-se na compreensão das interações decorrentes do desenvolvimento

turístico do território, a partir da implantação do empreendimento hoteleiro. Assim, a

pesquisa está dividida em duas etapas:

Na primeira etapa, optou-se por empreender a pesquisa hemerográfica, com

objetivo de verificar a visibilidade pública dada aos fatos conferidos pela exposição

na mídia a cerca do desenvolvimento turístico do litoral sul da Paraíba, notadamente

no que se refere à ocupação do litoral por empreendimentos hoteleiros.

Buscou-se conhecer a perspectiva de desenvolvimento turístico a partir dos

meios de comunicação, os quais veicularam nos portais mais acessados da Paraíba

os aspectos relacionados ao desenvolvimento turístico, condição essencial para

obter ampla repercussão social, de políticas públicas, tanto pela gestão estadual

quanto pela gestão municipal. As matérias publicadas, sobretudo nesses portais,

expressam a dimensão de interesses e conflitos que perpassam a dinâmica dos

fatos (SEIBEL, 2008).

O recorte temporal das matérias analisadas deu-se com base no período em

que se iniciam as investidas de captação de empreendimento hoteleiro e resort pelo

Governo do Estado da Paraíba até a efetiva inauguração no litoral, no distrito de

Jacumã, município do Conde. Assim, as matérias analisadas datam do período de

Janeiro de 2003 à Janeiro de 2011, período inicial de veiculação das primeiras

informações sobre tentativas de sediar empreendimentos hoteleiros da natureza na

Paraíba, seguido pelo período de início de funcionamento do equipamento no distrito

de Jacumã e, por fim, o período pós-instalação do empreendimento.

Para a coleta de dados das matérias publicadas sobre o resort foi utilizado a

busca em portais virtuais de grande representatividade no cenário midiático da

30

Paraíba. Os portais estão disponíveis para acesso e foram selecionados por conta

da grande representatividade na divulgação dos fatos relacionados aos

acontecimentos turísticos no âmbito estadual.

O primeiro portal – Correio da Paraíba – um dos veículos de maior cobertura

e representatividade dos fatos decorridos no Estado da Paraíba, o mais acessado

por internautas em todo estado segundo o portal verificador de audiência Alexa. O

segundo portal – Governo do Estado – por se tratar do canal exclusivo de divulgação

oficial das ações do governo paraibano. Por fim, o terceiro portal – Turismo em Foco

– com conteúdo focado quase que exclusivamente na divulgação de acontecimentos

decorridos no setor turístico, tornando-se fonte regular de acesso aos fatos

direcionados para a conjuntura turística.

Os procedimentos analíticos utilizados na pesquisa hemerográfica buscam

captar o sentido ou o significado das ações adotadas pelos próprios participantes do

contexto. Buscou-se, com isso, empreender análise sobre os interesses ocultos a

cerca da projeção do turismo de resorts. No processo de análise, primeiro foram

lançados grupos de palavras-chave no sistema de busca de matérias nos próprios

portais. As palavras foram: Jacumã, turismo de resorts, desenvolvimento, litoral sul e

Conde. Em seguida, obtidos os resultados da busca nos portais, as matérias foram

reunidas e organizadas cronologicamente, da mais antiga até a mais recente

comunicação. Feito isso, realiza-se leitura flutuante em cada uma, objetivando

descartar aqueles que não são pertinentes à temática ou ao lócus do estudo. Em

seguida, as comunicações foram analisadas e o sentido dado às mesmas foi

extraído, organizado e disposto em cada um dos indicadores presentes nas

subcategorias e suas respectivas categorias de análise.

Nesta etapa não ocorreu exclusão, mas complementação das comunicações

coletadas. Isso porque as informações e dados que não foram possíveis de ser

totalmente elucidados em matéria coletada puderam ser melhor analisados em

outra, a qual traziam maior riqueza de informações. No conjunto, tal metodologia tem

função de habilitar o cientista social a entender e interpretar, de forma crítica, a

lógica das redes de relações sociais entre estado, mercado e sociedade. Trabalhou-

se com a expectativa de desvendamento de categorias que correspondessem a

comportamentos, valores e perspectivas de ação dos atores envolvidos no turismo

de resorts em Jacumã.

31

A organização dos dados ocorreu conforme orientação de Seibel (2008), em

etapas. Na primeira identifica-se a natureza da notícia vinculada pelo portal; na

segunda etapa identifica-se os agentes sociais e institucionais envolvidos na

temática; por fim, na terceira etapa identifica-se a dimensão espacial e temporal do

fato. O recorte temporal das matérias analisadas deu-se com base no período em

que se iniciaram as ações empreendidas pelos agentes públicos – respectivamente,

Governo do Estado e Prefeitura Municipal do Conde – além de empresários e

empreendimentos hoteleiros do tipo resort para a Paraíba, até a efetiva inauguração

no Distrito de Jacumã. Assim, as matérias analisadas datam do período de Janeiro

de 2003 e se estenderam até Fevereiro de 2011, ou seja, o período inicial de

veiculação das primeiras informações sobre tentativas de captar empreendimentos

hoteleiros para a Paraíba, seguido pelo período do início de funcionamento do

primeiro resort do distrito de Jacumã até o período pós-instalação, ou seja, o período

que compreende o planejamento de ocupação do litoral por estes empreendimentos,

seguido pela implantação do primeiro resort até a consolidação no mercado turístico

local.

Na segunda etapa da pesquisa, como instrumento de coleta de dados foi

utilizada a técnica da entrevista semi-estruturada. Técnica que consiste no registro

de “uma comunicação verbal entre duas ou mais pessoas, com um grau de

estruturação previamente definido, cuja finalidade é a obtenção de informações de

pesquisa” (DENCKER, 1999, p. 137). Segundo esclarece Triviños (1987, p. 146):

Podemos entender por entrevista semi-estruturada, em geral, aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam a pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar da elaboração do conteúdo da pesquisa.

A partir das entrevistas realizadas junto aos agentes locais, representantes

institucionais e moradores de Jacumã foram levantados os indicadores, os quais

tiveram por objetivo servir de elementos de construção da percepção destes a cerca

do turismo de resorts em Jacumã. As entrevistas foram devidamente registradas em

gravador digital e transcritas na íntegra, dispostas de forma a melhor elucidar os

sentidos ocultos que se apresentavam nas falas dos entrevistados. As análises dos

questionamentos foram lançadas em cada um dos indicadores propostos pela

32

análise de conteúdo, sendo reunidos aos dados obtidos junto à análise

hemerográfica.

Foram selecionados quinze entrevistados, tendo como referência de escolha

a relevância das informações e das experiências adquiridas pelos mesmos no

distrito de Jacumã, onde residem e trabalham. Considerando que grande parte dos

conhecimentos não pode ser encontrada na forma escrita, pois fazem parte das

experiências das pessoas, “o pesquisador precisa localizar as pessoas que, em

função dos cargos que ocupam, de sua experiência de vida e de sua situação em

relação ao objeto de estudo, acumulam informações preciosas sobre o problema

que se pretende estudar” (DENCKER, 1999, p. 138).

As entrevistas foram realizadas com os seguintes agentes locais formalmente

constituídos: Representante da Prefeitura Municipal do Conde – PMC, por meio do

Secretário de Turismo; Representante da Associação de Moradores e Amigos de

Tabatinga - AMATA; Representante da Associação de Moradores do Rio D´Ouro -

ASMORO, localizado nas imediações do resort; Representante da Associação dos

Donos de Barracas da Costa do Conde - ADBCC; Representante do mais antigo

escritório de corretores de imóveis da localidade; Representante da colônia de

pescadores de Jacumã; Representante da Associação Turística Costa do Conde -

ATCC; Representante da Associação de Moradores da Costa Oeste de Tabatinga –

ACOTA; Representante do Mussulo Resort. Também foram entrevistados setores de

representação não formal, tais como: Um taxista; Um dono de mercado local; Um

moto taxista; Um dono de posto de combustível; Um dono de loja de artesanato, e;

Um dono de restaurante.

As entrevistas semi-estruturadas foram analisadas a partir da Análise de

Conteúdo, dividida em três fases (BARDIN, 2004): Na primeira fase, a pré-análise,

foi realizada a exploração do material e tratamento dos resultados. Consiste na

organização do trabalho, de modo que a estrutura atendesse ao propósito

estabelecido nas etapas subsequentes. A segunda fase, a exploração do material,

foi realizada com leitura “flutuante”, de modo que possibilita a compreensão da

conjuntura em que se encontram o turismo de resorts. Por fim, na terceira fase,

realiza-se a interpretação referencial, em que as respostas são tabuladas de acordo

com cada categoria, onde se verifica a existência de similaridades, controvérsias e

conflitos existentes nas percepções apresentadas pelos entrevistados. Na última

etapa, foi necessária maior atenção para compreender o sentido da comunicação,

33

os significados relacionados às questões de cunho político, sociológico, cultural e da

conjuntura turística local.

Com as análises dos portais e entrevistas, foram estruturadas as categorias

de análise com o intuito de compreender como a mídia local e os agentes sociais de

Jacumã constroem e interpretam a imagem turística de Jacumã frente ao turismo de

resorts, no que tange ao processo de desenvolvimento do destino turístico. As

categorias utilizadas para a construção do referencial de pesquisa foram

organizadas de forma a se compreender os discursos dos diferentes atores do

turismo. As categorias trabalhadas foram: Desenvolvimento turístico de Jacumã

(subcategorias: análise econômica, sociocultural e ambiental) e Turismo de Resort

em Jacumã (subcategorias: Implantação, operação e consolidação) (Apêndice A).

Dispostos dessa forma, os resultados apresentam o panorama construído por

força da mídia sobre o turismo resorts frente à percepção e entendimento dos

agentes locais e da população a cerca do tema. Os resultados foram organizados de

forma a construir a análise orientada à compreensão do turismo de resort em

Jacumã.

34

1 PARADIGMAS DO DESENVOLVIMENTO LOCAL

A perspectiva de fomentar o desenvolvimento aliado em diversos campos –

tanto no que se referia ao domínio e utilização dos recursos naturais quanto ao

controle da conjuntura social, política e econômica no âmbito global – foi prática

recorrente na história da evolução humana, que sempre elucida em que medida os

povos alcançam níveis cada vez maiores de desenvolvimento. Coriolano (2003)

afirma que as referencias teóricas sempre atuaram no sentido de perpetuar a

compreensão daquilo que se constitui como desenvolvimento, a partir do

continuísmo histórico. Isto é, há dificuldades para construção de novas perspectivas

de pensar ou de promover o desenvolvimento, mas, tendência de querer perpetuar

essa dinâmica utilizando-se das estruturas e princípios vigentes cristalizados por

força da conjuntura econômica, política e social instalada em cada recorte histórico.

Equivale a dizer que não há maior preocupação com a via econômica, motivo

pelo qual o discurso trabalhado pela sociedade valoriza apenas o foco econômico

como alternativa de construção do pensamento a cerca do desenvolvimento. No

entanto, considera-se que não há estrutura linear de desenvolvimento seguida por

diferentes povos, de modo que tantos quanto forem estes haverá diversas nuances

igualmente amplas e diametralmente diferenciadas de desenvolvimento. Da cultura

de subsistência à venda do excedente trabalhado exclusivamente para abastecer o

mercado mundial, as performances são complexas e seu fomento, boa parte das

vezes, se deu na contramão da ordem local vigente.

Na contramão do discurso economicista – considera-se o escalar ponto de

vista das relações humanas fundamentais e da equação e racionalização de ganhos

obtidos pelo desenvolvimento social. Amplo rol de teóricos tem se preocupado em

aprofundar as dimensões conceituais e práticas do desenvolvimento e as

implicações socioculturais que lhes são inerentes. A construção do discurso sobre a

temática do desenvolvimento, como sugere Mészáros (1998), fomenta parte das

alterações no sistema capitalista. Tal discurso de aproximação, junto a novos

cenários sociais, permite mudança de paradigmas, os quais antes se acreditavam

estarem cristalizados.

O processo crítico pelo qual a terra atravessa produz mutações no sistema

capitalista, permitindo que essa nova adaptabilidade transpasse as fronteiras

35

geopolíticas, instalando novos mercados. Assim a fortaleza de alguns produz e

paralelamente retroalimenta a fraqueza de outros, contribuindo para o fortalecimento

do sistema. Contraditoriamente desestabiliza o modelo e cria perspectivas de

implantação de nova lógica de desenvolvimento.

Na tentativa de quebrar com o ciclo é que, nos últimos anos, um amplo

número de eventos e estudiosos têm se dedicado a discutir o alcance da nova

proposta na conjuntura de desenvolvimento. A realização da ECO 92, no Brasil no

ano de 1992, a conferência intitulada Populações e Desenvolvimento no Egito, em

1994, o Desenvolvimento Social em Copenhague em 1995 e o I Fórum Social

Internacional em Curitiba, em 2001 são alguns dos momentos pelos quais se

questiona coletivamente o paradigma de desenvolvimento vigente que não atende

as necessidades da grande maioria da sociedade.

Seja com foco na degradação do meio ambiente, no combate e erradicação

da fome, na distribuição das riquezas e da renda nacional, no crescimento do

desemprego e na opressão racial e de gênero, as discussões buscam apresentar

pontos de vista mais amplos no debate social para constituição da conjuntura mais

abrangente sobre o desenvolvimento.

Vale considerar que “o desenvolvimento como fenômeno complexo mostra-se

com dimensões variadas, dizendo respeito ao território, aos recursos naturais, às

pessoas e suas ações” (CORIOLANO, 2003). Visto também como resultado

concreto de ações antes tidas como conceituais, voltadas a fomentar uma estrutura

de suportes ideológicos que repensam o papel social. Essa mesma estrutura é

sustentada pelo continuísmo histórico e pelas forças hegemônicas que se utilizam

das dimensões do desenvolvimento com vista a perpetuar o modelo.

Autores como Sen (2000), Zaoual (2003), Sachs (2008) e Veiga (2006b)

discutem com profundidade a temática do desenvolvimento enquanto geração de

benesses sociais, econômicas, culturais e ambientais para todas as camadas

sociais. Parte-se do campo industrial como solução para o crescimento econômico,

resultando na desigual geração de oportunidades em diferentes escalas, sejam elas

sociais ou econômicas. A perspectiva vigente culmina com o fortalecimento das

práticas e do potencial local como forma de estruturar o desenvolvimento,

enxergando neste o lócus ideal de realização das perspectivas futuras de construção

de outro modelo de desenvolvimento, denominado local, social, endógeno e na

escala humana.

36

1.1 As dinâmicas do desenvolvimento

As sociedades dispõem de amplo rol de estruturas e ativos diferenciados,

mobilizados com o intuito de engendrar possibilidades de bem-estar cada vez maior

e mais estável frente ao capital social empregado. O surgimento de novas práticas

de produtividade, com a inserção de novas tecnologias aliadas ao campo do

trabalho, amplia o valor e a mobilização das economias. Esta é uma das disposições

defendidas por Schumpeter (1982) e que forma parte da discussão a cerca da sua

teoria do desenvolvimento econômico por ele defendida.

Faz-se importante constatar que o paradigma de desenvolvimento explicitado

por Schumpeter traduz-se no âmbito exclusivamente econômico – especificamente

no campo industrial – já que defende o papel do empresário e das inovações

tecnológicas que figuraram no centro do processo de desenvolvimento. Essas

observações ressoaram em outras vertentes, fazendo com que o conjunto das

inovações no âmbito econômico fosse conduzido também ao modo como a

sociedade conduz sua construção social (COSTA, 2006).

Além disso, a figura do empresário no processo de inovação tecnológica é

ponto crucial na dimensão de escopo tomada pelo autor, mesmo que após este

ponto o empresário se volte a sua condição capitalista, deixando para trás parte do

processo pioneiro que o fez intervir na de produção industrial (COSTA, 2006).

Considerando a ótica de construção do cenário industrial para a formação do

desenvolvimento econômico, Prebisch (1949) afirma que a única forma pela qual

haveria a inserção do progresso técnico – sobretudo em países ditos como

subdesenvolvidos após a hegemonia norte americana advinda da segunda guerra

mundial – seria por meio da industrialização. Na perspectiva do autor não haveria

qualidade de vida para as populações atrasadas fora do contexto do avanço

industrial. Residia na industrialização a solução para todo composto de baixa

produtividade econômica. Foi este um dos fundamentos que fez com que Prebisch

(1949) levasse até a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe –

CEPAL os condicionantes do desenvolvimento requerido para os países

subdesenvolvidos, sobretudo os latino americanos.

No âmago da discussão a cerca do processo de ocupação industrial focado

no desenvolvimento econômico nacional vale citar Rosenstein-Rodan (1961) e sua

contribuição à teoria do desenvolvimento. A questão centra-se a partir da teoria do

37

grande impulso (Big Push) – também chamada de teoria do desenvolvimento

equilibrado – enquanto composição alternativa ao desenvolvimento, já que se

acreditava em uma série de saltos descontínuos na economia (AMARAL FILHO,

1995). Esta descontinuidade é produto da desaceleração do desenvolvimento em

todo conjunto da economia. A resultante disso seria uma estagnação em larga

escala, a qual seria causada pelos baixos níveis de produtividade em setores

industriais considerados essenciais ao desenvolvimento.

Justamente por esses argumentos Hirschman (1961, p. 157) acaba por

criticar a teoria do desenvolvimento equilibrado, concebendo a teoria do

desenvolvimento desequilibrado. Teoria que se baseia na concentração de

investimentos em setores e indústrias consideradas chave para o processo de

desenvolvimento. A questão está assentada na existência de processos, chamados

por Hirschman de “encadeamento para trás e para frente”, onde dois elos de

atuação permitem a articulação de diversas atividades que se complementam,

integrando a estrutura produtiva da economia local.

A esse respeito, Hirschman (1961) acredita que o investimento necessário

para a promoção do desenvolvimento desequilibrado há que ser originado a partir do

capital externo, o que, por sua vez, permitira a circulação de mais recursos no

fortalecimento da economia nacional. Neste momento situa-se a proposta do

desenvolvimento exógeno, caracterizado pela origem dos recursos de financiamento

serem oriundas de fontes externas, pelo grau de gestão estar atrelado a conceitos e

princípios internacionais e pelo baixo índice de relações com a comunidade local.

Esse nível de desenvolvimento econômico atende a interesses transnacionais e está

condicionado à figura centralizadora de sua gestão, que dialoga diretamente com as

ações hegemônicas atuantes no mercado em âmbito internacional.

A expansão tecnológica, na sequência, conduz ao crescimento dos serviços,

das áreas urbanas, bem como a expansão do setor industrial e suas instalações.

Conseqüentemente, será viabilizada a expansão tecnológica e a diversidade na

produção. Por fim, tem-se a ampliação do consumo das massas já que, como

esclarece Rostow (1961), o consumo efetivamente aumentará na medida em que a

renda da população ultrapassa o atendimento das necessidades mínimas de

manutenção, como despesas com saúde, educação, vestuário e habitação, por

exemplo. Nesse cenário a população encontra-se em conjuntura de maior

38

urbanização, com maior possibilidade de trabalho, além de vasto campo de áreas

que viabilizam oportunidades de desenvolvimento.

Outra importante contribuição na discussão dos modelos de desenvolvimento

econômico foi dada por Furtado (2009) quando aborda a questão da dependência

dos países subdesenvolvidos pelos desenvolvidos, por conta dos investimentos

oriundos do capital externo, propondo uma análise sobre as relações

centro/periferia.

Assim, Furtado (2009, p. 84) afirma que “a teoria do desenvolvimento

econômico não cabe, nos seus termos gerais, dentro das categorias de análise

econômica”, já que “a análise econômica não pode explicar a dinâmica das

mudanças sociais senão de maneira limitada”. Seria limitado avaliar em que medida

vem se dando o desenvolvimento apenas pela esfera econômica, ou ainda uma

determinada nação, apenas pelo volume de investimentos governamentais ou

empresariais identificados na economia, a massa salarial em circulação no mercado

ou mesmo pela taxa de empregabilidade em setores produtivos.

Considerando os limites que podem ser atingidos pelo modelo de consumo

dos países desenvolvidos, “em termos de depredação do mundo físico [...] toda

tentativa de generalizá-lo levaria inexoravelmente ao colapso de toda uma

civilização” (FURTADO, 1974, p. 75). Além do custo ecológico desta empreitada é

importante pesar também o custo social e até mesmo o próprio custo econômico – já

que a atividade econômica de forma alguma se passa em sistema isolado – o que

sugere, de maneira bastante pragmática, o mito pelo qual o desenvolvimento pode

vir metamorfoseado em solução para toda a inércia das estruturas industriais e

sociais. Tal mito está assentado na idéia de que a utilização máxima dos recursos

naturais geraria desenvolvimento, já que diversas indústrias seriam criadas para

fomentar esta perspectiva. No entanto, não se leva em consideração o custo

ambiental que tal prática acarretaria, sendo muito maiores os malefícios comparados

aos benefícios oriundos da expansão industrial sobre os recursos naturais.

Consideram-se outros indicadores que contemplam as repercussões sociais,

culturais e ambientais do avanço desenvolvimentista no cotidiano das pessoas e dos

lugares. As discussões propostas por Sen (2000) fomentam essa reflexão, na

medida em que o desenvolvimento requer que se removam as principais fontes de

privação das liberdades das pessoas, tais como pobreza, tirania e carência de

oportunidades econômicas, entre outros. Segundo o autor a liberdade individual –

39

deve ser garantia para cada pessoa – resultará na obtenção do desenvolvimento

social, já que a sinergia obtida pelas liberdades individuais garante a progressão das

nuances de desenvolvimento. A liberdade individual é, essencialmente, um produto

social. Dessa forma, não é possível que “condições” impostos pelas ordens

dominantes venham a tolher as vontades e desejos das pessoas.

Observa-se que o conceito de desenvolvimento ao qual se refere Sen (2000)

está diretamente relacionado à condição de livre agente que as pessoas devem ter

em optar pelo exercício de suas liberdades, considerando esse cenário essencial à

construção do modelo de desenvolvimento. É importante oferecer também

condições e subsídios de modo a ampliar a oferta de liberdades e,

consequentemente, auferir novas perspectivas de crescimento pessoal, profissional

e de mercado.

Desta forma, sob o amplo escopo pelo qual se trata as relações inerentes ao

contexto do desenvolvimento, constata-se que os projetos que objetivam somente o

aspecto econômico não logram mais êxito em sua realização, já que o fim pelo qual

foram concebidos não representa os interesses e as aspirações de um amplo rol de

agentes locais envolvidos com a realidade social. Ao que parece, os projetos que se

somam ao amplo escopo desenvolvimentista contemporâneo mais se dedicam a

atender a conjunturas internacionais de grandes conglomerados econômicos,

desprezando as expectativas, percepções e esperanças depositadas no campo

local. É o que afirma Zaoual (2003, p. 86) ao destaca que a “mundialização sob o

jugo de um só e único modelo, predatório com relação a recursos naturais e

destruidor da diversidade, gera de fato as condições de uma guerra de civilizações e

de culturas”.

Por conta do processo de mundialização das economias evidencia-se a

necessidade de potencializar a ação dos agentes locais e sua inserção na arena de

debates em torno da participação local nos projetos de desenvolvimento. Isto porque

“projetos de desenvolvimento centrados somente no econômico mostraram-se

produtores de endividamento e pobreza. Fica claro para alguns setores sociais que,

ante a diversidade, não pode haver um modelo único de desenvolvimento”

(BELINAZO e JACOMELLI, 2006, p. 8).

Assim Zaoual (2003, p.44-45) entende que “a epistemologia do pensamento

global deixa de evidenciar a interconexão da vida econômica de uma sociedade com

o restante que define sua identidade, seus valores e suas crenças”. A ausência da

40

identidade local na figura dos seus atores constituídos representa a formulação de

uma perspectiva destoante à proposta almejada pelo lócus de interesse e de foco do

desenvolvimento. Equivale a dizer que se trata de um corpo desprovido de alma, o

que para a proposta de desenvolvimento em contingente local não atende as

necessidades, aspirações e interesses almejados pela representação local.

De forma similar entendem Belinazo e Jacomelli (2006) ao considerarem os

condicionantes da mobilização de capital para o soerguimento da proposta de

desenvolvimento. Ambas afirmam que “o apoio externo, ou seja, os financiamentos,

não garantem individualmente melhorias na qualidade de vida se as pessoas em seu

contexto não evoluem a ponto de adquirir habilidades endógenas para um

desenvolvimento autônomo” (BELINAZO E JACOMELLI, 2006, p. 6). As habilidades

endógenas consideradas referem-se ao grau individual em avaliar novas

possibilidades locais de aproveitamento econômico, social e cultural por conta das

oportunidades de financiamento de idéias e atitudes que resguardem os interesses

locais.

É importante que junto à realidade local e seus agentes constituídos seja

garantida a oferta de subsídios que lhes permitam o fortalecimento das estruturas

locais de governança e desenvolvimento. A relevância nesse sentido está em

entender que as propostas de desenvolvimento devem ser instigadas de dentro

dessa realidade, já que os “projetos sem sujeitos se perdem na infinita diversidade

das situações” (ZAOUAL, 2003, p.104).

Neste sentido Sachs (2008) considera que o desenvolvimento vai muito além

da mera multiplicação da riqueza. A idéia de desenvolvimento “implica a expiação e

a reparação de desigualdades passadas, criando conexão capaz de preencher o

abismo civilizatório” entre o que foi e aquilo que se pretende ser (SACHS, 2008, p.

13). Trata-se de empreender uma reflexão sistemática sobre as bases em que se

deram a construção do contexto do desenvolvimento. Isto porque quando se pensa

em desenvolver, espera-se que tudo haverá de mudar, desde sua base conceitual

até a estrutural.

Faltou ao debate no campo econômico do desenvolvimento aquilo que Sachs

(1998) definiu como conseqüências de longo alcance para o desenvolvimento, tendo

a igualdade, equidade e solidariedade seu campo fértil de ocupação. A promoção

desses três pilares de sustentação tem fortes indícios capazes de promover o

soerguimento de concepções de desenvolvimento mais condizentes com a ordem

41

local vigente. O desenvolvimento precisa, portanto, ser visto como um processo

pluridimensional, que permeia desde nações ditas avançadas, até mesmo àquelas

consideradas subdesenvolvidas, alcançando as barreiras caracterizadas como

intransponíveis a certas camadas sociais. Deve ser visto pela ótica da libertação

humana em relação à opressão material, pressupondo divisão igualitária dos bens e

a derrocada de todos os entraves que o impedem, fugindo exaustivamente do

chamado “maldesenvolvimento” (SACHS, 1995).

Após toda caminhada transcorrida pelos teóricos sobre a perspectiva de

chegada de um novo limiar a cerca do desenvolvimento, Veiga (2006b) considera

que é tempo de buscar expandir a discussão sobre o papel que desempenhará o

contexto do desenvolvimento no futuro. Para isso, propõe a idealização de cinco

dimensões pelas quais se farão valer o escopo daquilo que chama de pós-

desenvolvimento, tais como: valorização das sociedades que não se desenvolveram;

desvalorização da idéia de progresso; crítica dos principais vetores do

desenvolvimento; crítica das práticas desenvolvimentistas, e; elogio dos modos de

resistência dos perdedores, que estão abrindo o caminho para a era do “pos-

desenvolvimento” (VEIGA, 2006b, p. 87).

A primeira dimensão – valorização das sociedades que não se

desenvolveram – sugere que deve haver uma valorização da criatividade cultural,

pois esta é entendida como o motor que atua nas forças transformadoras da

estrutura social. O motivo pelo qual alguns povos se sobressaem em comparação a

outros pode ser devido a uma história cultural diferenciada. Isso os distingue e

acaba por construir pontos de vista singulares a cerca de seu desenvolvimento.

A segunda dimensão, que trata da desvalorização da idéia de progresso,

Veiga (2006b) considera que comumente vêem-se aliados os conceitos de

desenvolvimento e crescimento econômico, na medida em que remete à

acumulação de capital e a todos os efeitos positivos e negativos que são conhecidos

decorrentes dessa relação. A base do desenvolvimento sugere continuidade e longo

prazo, enquanto que no crescimento remete a certo imediatismo por força de ações

consideradas pontuais e em determinados setores. Essa resposta rápida se pode

tomar como medida efetiva para a economia, sem representar outras esferas e

indicadores sociais de análise de maior abrangência.

Já a crítica dos principais vetores do desenvolvimento, Veiga (2006b) afirma

que se faz frente ao atual paradigma de análise do desenvolvimento

42

contemporâneo, já que é resultante de uma longa construção ideológica que

perpassa o tempo e caminha lado a lado com a idéia de prosperidade. Constituem-

se nos antagônicos conceitos de progresso, universalismo, domínio da natureza e

racionalidade quantificável como representantes das aspirações universais. Daí se

extrai a crítica das práticas desenvolvimentistas, pois se observa que a semântica

erguida sobre o conceito de desenvolvimento modificou-se com o tempo e ainda,

serviu a parte da população interessada e ativamente dominante do processo, e não

ao universalismo com o qual se obtinha cada vez mais adeptos, os quais buscavam

viabilizar tal circunstância.

Deduz-se então que, o elogio dos modos de resistência dos perdedores que

estão abrindo o caminho para a era do “pos-desenvolvimento” surge como fraude,

pois as novas roupagens que vêem assumindo – desenvolvimento humano e até

mesmo sustentável – são, na verdade, manobras para apenas sugerir uma pseudo

transformação daquilo que se entende por desenvolvimento. A proposta vem

adquirindo cada vez mais adeptos e mobilizando cada vez mais e mais pessoas, já

que ninguém, em qualquer parte do globo, deseja ser responsabilizado pelos

insucessos oriundos dos planos de desenvolvimento em escala global.

Em outro momento Veiga (2006a) realiza profunda reflexão a cerca do

conceito de desenvolvimento, de forma que o questionamento central divide-se entre

a aceitação e a negação de sua real intenção e existência. A ressurreição do

conceito foi proposta justamente no limiar da década de 1980, quando foi publicado

em 1987 o Relatório Bruntland, quando deste preconizava a necessidade de

racionalizar os recursos naturais existentes na atualidade, garantindo a sua

manutenção para as sociedades do futuro.

Isso porque, como esclarece Veiga (2006a, p. 188), “a maioria dos partidários

do otimismo transmitido pelo relatório Bruntland parecem enxergar os problemas

ambientais como meros defeitos na alocação de recursos que poderiam ser

corrigidos através de taxações específicas”, ou seja, esse discurso sugere a

construção de limites ao desenvolvimento a partir da atual conjuntura ambiental,

econômica e social vigente, levando a entender que apenas pela criação de novas

aplicações econômicas a solução para a crise ambiental poderia ser sanada. Assim,

“a melhor maneira de enfrentar a problemática ambiental seria garantir que o preço

de todos os recursos naturais incorporasse completamente sua escassez de longo

prazo, além dos efeitos imediatos provocados por seu uso” (VEIGA, 2006a, p. 189),

43

o que efetivamente não resolve em nada a reposição dos recursos e seu dito uso

“racional”.

É fortemente contestável a tentativa dessa nova ótica que insurge junto ao

conceito de desenvolvimento sustentável de monetarizar toda biota e sua

constituição física, química ou mesmo geológica. Por meio dessa crítica que se

acredita não estar havendo a construção de uma nova lógica desenvolvimentista,

mas a constituição sim de uma nova forma do capitalismo, já que busca auferir mais

dividendos sob a cultura econômica internacional.

Percebe-se que a condução das teorias que remontam os caminhos do

desenvolvimento assemelha-se pela complementaridade e continuidade de seu

escopo ideológico. Isto porque há um acúmulo natural de ações e pensamentos

pautados não em radicalizar ou mesmo reconstruir a estrutura desenvolvimentista

vigente, mas, que buscam uma nova função na medida em que tentam reordenar os

princípios pelos quais a estrutura parece-lhes decadente ou mesmo incipiente.

Enumerando as ações estratégias propostas pelos autores supracitados,

encontram-se elementos que discutem desde a efetivação do desenvolvimento por

meio de fases, ciclos e impulsos – com nítida e fundamental participação das

esferas governamentais fomentando parte ou até mesmo todo processo – até a

ênfase em setores-chave e a busca por um desdobramento nas revoluções

econômicas proferidas pela polarização em economias mais aquecidas,

responsáveis por solapar outras realidades econômicas que não as suas próprias.

Apesar disso, em certos momentos acredita-se que a tentativa de formular uma idéia

sobre desenvolvimento pode não passar de um mito, como sugere Furtado (2005).

No entanto, é importante perceber que todo escopo ideológico que vêm sendo

difundido sobre desenvolvimento relata um momento, uma conjuntura, uma proposta

histórica distinta, atrelada ao seu tempo e espaço. Enxergar contemporaneamente

sob este prisma demanda um olhar mais amplo e detalhado a cerca de um leque de

possibilidades, mercados, demandas sociais, econômicas e políticas que movem a

conjuntura em exercício. Isto não significa dizer, necessariamente, que os

movimentos estão associados ao melhor desempenho no âmago global, mas sim,

ao fato de se desejar suprir as necessidades das sociedades hegemônicas pelas

demais.

Os altos níveis de desenvolvimento de certas economias são obtidos a custa

do completo esgotamento de outras, caracterizadas como subdesenvolvidas e, por

44

tanto, consideradas decadentes. Enquanto isso, as economias subdesenvolvidas

reproduzem os modelos arcaicos de exploração econômica e social vencidos nos

países desenvolvidos, acreditando que o caminho para o desenvolvimento se faz

pelo uso indiscriminado e exaustivo dos recursos naturais, sociais e físicos de sua

própria nação.

Considerando a escala de ação em que se dá esse quadro, o contexto do

desenvolvimento e suas matrizes – sejam elas econômicas, socioculturais,

ambientais, políticas e ideológicas – se fazem não na perspectiva do âmbito global,

mas na dimensão local, berço da pujança e da excessiva utilização dos recursos.

A quantidade de referencias e discussões a cerca desta temática é tão

numerosa quanto a de seus pensadores e críticos mais conhecidos. No entanto,

considerando o núcleo vital para o desenvolvimento a partir da realidade local é

importante asseverar de que forma os estudos que apontam este cenário analisam a

vertente local, como ponto de análise da perspectiva de desenvolvimento. Tanto é

que Barquero (2009) afirma ter se intensificado o processo de integração em nível

global, surgindo múltiplas experiências de desenvolvimento local, sobretudo nos

países configurados pelo subdesenvolvimento.

1.2 Desenvolvimento local endógeno

As iniciativas de desenvolvimento local surgem nos países considerados

subdesenvolvidos, com o claro propósito de neutralizar os efeitos negativos

apresentados como resultado da globalização, além dos efeitos da baixa

produtividade que são repassados para toda população (BARQUERO, 2009). Neste

sentido, em cada território, localidade ou mesmo nação, é possível identificar uma

estrutura produtiva especifica, sobre a qual interagem as iniciativas locais, tais como

mercado de trabalho, conhecimento técnico, capacidade empresarial, recursos

humanos e naturais, estrutura social e política, tradição e cultura. Sob todas elas a

performance exigida pelos níveis de desenvolvimento recai de maneira especifica, já

que para cada setor haverá uma demanda específica, condicionada pela atenção

global com a qual os mercados estão sendo estimulados, buscando maximizar

lucros e minimizar custos. Haverá sempre uma resposta para cada repercussão que

se faz valer dentro desta realidade local, de modo que tal resposta é quase que

imediata dada à velocidade das mudanças no cenário global contemporâneo.

45

O desenvolvimento, sobretudo em uma localidade distinta, sugere que os

agentes públicos e privados executem seus programas de maneira coordenada, por

meio do qual os anseios, interesses e aspirações possam ser atendidos não apenas

em escala local, mas na perspectiva de toda uma esfera global de relações e

assistência (BARQUERO, 2009). Na medida em que o poder público cumpre sua

função social de zelar pelo bem estar público, pela geração de oportunidades

capazes de atender a esses anseios e expectativas sociais – viabilizando

infraestrutura, saúde, educação e ordem social – a iniciativa privada atua,

paralelamente, fomentando condições econômicas, políticas e socioculturais de

interagir com o meio em que se insere e buscar, diante disso, gerar valor pela

mobilização de agentes e ativos capazes de dar resposta a todos os anseios e

expectativas geradas na sociedade onde se insere.

Isso porque a conjuntura política de desenvolvimento local reside nas

iniciativas que potencializam a difusão das inovações presentes e estabelecidas no

pólo produtivo da localidade. Convém destacar o caráter participativo das políticas

de desenvolvimento local, dos agentes locais e das redes territoriais, ambos

participando do desenho, execução e controle das ações e projetos de

desenvolvimento local. O princípio constitui em atender as demandas geradas pela

instalação de novas formas de aproveitamento do potencial local por meio dessas

inovações, que podem ser desde a abertura de uma nova via para escoamento da

produção até a ampliação da rede de abastecimento de energético. Pensando ainda

no campo social, com a maximização da qualificação dos recursos humanos em

áreas onde há demanda de capital social – mesmo que em diferentes setores

produtivos do território – essa difusão se torna ainda mais ampliada, permitindo que

diversos agentes locais participem do desenvolvimento local (BARQUERO, 2009).

O desenvolvimento local é uma estratégia que se baseia na melhoria contínua

dos recursos disponíveis e, particularmente, dos recursos humanos, naturais e do

patrimônio histórico e cultural, já que com ele haverá uma significativa vantagem

competitiva do próprio local frente ao bem-estar da população. Novas perspectivas

surgem por meio disso, como a criação de pequenos empreendimentos como

restaurantes, lanchonetes, pequenos mercados, lojas de artesanato e moda, entre

tantas outras vocações que são despertadas por iniciativa dos próprios agentes

locais. É neste sentido que o cerne do desenvolvimento local atua, quando permite o

46

empoderamento dos atores locais por meio da promoção de suas funções sociais de

enfrentamento da realidade local.

Além disso, a instância local dispõe de plenas condições para conduzir o

próprio destino, gerenciando os projetos de modo à plenamente atender seus

interesses e não se tornando apenas em receptáculos de disposições concebidas

em esferas fora de sua ordem local (ULTRAMARI e DUARTE, 2009). A conjuntura

local é detentora, de certo modo, de uma autonomia direcionada, pois deve permitir

a ocupação local ordenada de setores capazes de lhe conferir desenvolvimento em

diversas matrizes – econômicas, socioculturais e ambientais – corroborando com um

planejamento local coeso e direcionado. Esta é a idéia que figura a partir dos seus

agentes locais, da iniciativa privada e de todo conjunto da sociedade. Na medida em

que esse potencial vai se tornando cada vez maior, latente, o potencial de captação

de outras possibilidades se concretiza, tendo em vista o desenvolvimento dos

indicadores locais, entre eles o grau de escolaridade, urbanidade, fornecimento de

serviços públicos, ou mesmo renda per capita.

Nesse sentido, faz-se importante buscar uma definição que contemple as

nuances do desenvolvimento na esfera local. Existem muitos teóricos que ensejam

perspectivas ora convergentes ora opostas do que seja o desenvolvimento local.

Tais argumentos consideram “o desenvolvimento local entendido como um esforço

para promover tão somente a atividade econômica e a arrecadação municipal,

excluindo, assim, interesses sociais mais imediatos” (ULTRAMARI e DUARTE, 2009,

p. 23), haja vista que essa abordagem em nada atende as aspirações e anseios

postulados pela sociedade hoje, como destacam Ultramari e Duarte (2009).

O sentido posto por esse tipo de conceituação defende, novamente, o

paradigma economicista propalado na metade do século XX. Há também o contexto

que discerne o desenvolvimento local como perspectiva preocupada com o homem

e suas necessidades sociais, superpondo estas ao mercado e suas formas de lucro

conhecidas (CORIOLANO, 2003a). Essa visão necessita ser encorajada, haja vista

que outro sentido diferente deste não atende plenamente aos anseios aspirados

pelos agentes locais.

Um dos conceitos que busca sintetizar essa perspectiva afirma que o

desenvolvimento local consiste no:

47

Processo voluntário e combinado, ou pelo menos conhecido, pelo conjunto de uma coletividade concreta na que se realiza um processo diferenciado daquele que ocorre em seu entorno próximo, mediante a introdução de inovações que geram valor adicionado a suas atividades produtivas e cotidianas (GONZALEZ, 1998, p. 6).

Em sua amplitude o autor revela que a combinação de fatores aliados ao

conjunto da coletividade é capaz de conduzir a realidade deseja por esta última,

potencializando não só as atividades produtivas – como indústria, comércio e

serviços – mas também o cotidiano das localidades, presentes na cultura, nas

tradições, na história e na própria vida humana dos povos. Nesse sentido, o

desenvolvimento local está associado a idéia de endógeno, isto é, cuja iniciativa

partem as decisões de dentro de seu território, por meio daqueles agentes sociais

que o fazem.

Assim, o desenvolvimento local endógeno obedece a uma ótica local “dos

processos de crescimento e mudança estrutural, que parte de uma hipótese de que

o território não é apenas um mero suporte físico dos objetos, atividades e processos

econômicos, mas também é um agente de transformação” (BARROS, SILVA e

SPINOLA, 2006, p.94) do local onde se refere, no qual todos aqueles que o fazem

serão, direta ou indiretamente, integrados às decisões que venham a ser tomadas. É

nesse ínterim que o sentido do empoderamento toma forma, já que são esses

agentes os protagonistas diretos das decisões que venham a ser tomadas.

É importante também salientar que as instituições e os mecanismos de

regulação do território funcionam visando contribuir para o ordeiro direcionamento

das ações voltadas ao planejamento, execução e manutenção das dinâmicas do

desenvolvimento local endógeno. O planejamento efetuado com vistas ao

desenvolvimento local faz convergir ao atendimento dos interesses públicos,

beneficiando a estrutura local no tocante às demandas sociais. Isso porque existem

dimensões importantes nesse contexto que devem ser observadas, a exemplo do

caráter econômico – pensar no uso eficiente dos fatores produtivos, isto por parte

dos empresários e agentes econômicos – e também do cunho sociocultural – no

qual os agentes econômicos e sociais se integram às instituições locais, formando

um sistema amplo de relações – juntamente com o âmbito político, o qual

instrumentaliza as instâncias formais e legais que validem e favoreçam o

desenvolvimento local (BARROS, SILVA e SPINOLA, 2006).

48

Evidente que em alguns momentos coexistem situações e interesses

conflitantes que margeiam as propostas. A mediação desse impasse é realizada de

diferentes formas, porém em todas elas a presença dos agentes locais é necessária

e de suma importância, já que a existência de um contexto em que o

desenvolvimento é o motor das discussões define em qual âmbito essas decisões

devem se dar. Pensar em desacordo com essa proposta implica em riscos, já que o

processo de construção do cenário local de desenvolvimento será moldado por parte

dos seus agentes, evidentemente representando apenas parte de seus interesses e

interessados.

1.3 Os agentes locais no processo de desenvolvimento

Os agentes locais têm promovido iniciativas que respondem aos desafios

erigidos por força do cenário adverso encontrado em suas localidades. Além disso,

de forma marcante em todo âmbito global, tem recaído no contexto local toda

pressão na qual as forças do desenvolvimento atuam no sentido de se utilizar de

suas potencialidades, gerando uma dicotomia de interesses. Enquanto as

representações locais discutem quais os mecanismos que devem engendrar o

desenvolvimento cotidiano, em outro âmbito, representações externas a esse

contexto aliam-se as instâncias políticas locais na tentativa de viabilizar um

paradigma de desenvolvimento que, em muitos casos, não se compatibiliza as

ações decisórias destacadas por seus agentes locais.

Parte, ideologicamente, deste ponto a cisão entre os interesses locais e as

perspectivas de ocupação e aproveitamento local por atores externos, estes últimos

trazendo interesses distintos aos anseios locais, traduzindo-se na tentativa de negar

aos agentes locais o empoderamento e a tomada de decisão sobre sua própria

realidade.

Especificamente na América Latina, a política de desenvolvimento endógeno

se baseia em iniciativas onde os projetos econômicos e sociais são coordenados por

novas formas de governança. Disso decorre a participação dos agentes públicos e

privados, sejam eles organismos nacionais, internacionais e até aqueles descritos

como não governamentais. A ampla participação de múltiplos estratos sociais e

econômicos não chancela, tacitamente, o processo de discussão do

desenvolvimento como democrático, como afirma Barquero (2009). Em muitas

49

circunstâncias haverá uma parte desses agentes que não são convidados, muito das

vezes, para discutir o processo, e sim, para tomar ciência de quais projetos e

propostas serão devidamente implantadas na realidade local, sem que para isso

tenha ocorrido qualquer processo de debate e ponderação a cerca dos efeitos que

serão sentidos futuramente por essa comunidade e seus agentes.

Diametralmente oposta a isso, uma outra estratégia de desenvolvimento local

sugere que tal proposta deve ser planejada de forma diferente em cada caso, já que

as necessidades e demandas de cada localidade ou território são diferentes. A

capacidade dos habitantes, empresas e todos os agentes locais envolvidos são

distintas. Além disso, cada comunidade analisa de forma diferente as prioridades

que incorporam às políticas de desenvolvimento. Disso decorrem estratégias e

atitudes que se coadunam aos anseios locais (BARQUERO, 2009).

Dentre essas estratégias, salienta-se que a construção e melhoria do capital

social e a infraestrutura são os instrumentos mais usados nas políticas de

desenvolvimento (BARQUERO, 2009). Por capital social entende-se todo esforço

desprendido pelos agentes locais em engendrar as peças que movimentam o

complexo sistema do desenvolvimento, cada um em suas frentes operacionais

específicas, agindo no sentido de viabilizar as condições que operam a economia, a

cultura e a vida na comunidade como um todo. Isto se viabiliza por meio de

estruturas dispostas a atender e subsidiar as condições mínimas para permitir que

as forças sejam conduzidas ao ideal de produtividade.

Entre tantas atividades e condições que se somam àquelas dispostas no

cenário territorial – fruto do permanente emprego de esforços em desenvolver as

tangentes econômica, social, cultural e ambiental – tem-se no setor de serviços,

sobretudo na América Latina, grande referencial de atuação. Dentro do setor de

serviços, o turismo apresenta-se como papel marcante na dinâmica de formatação

do desenvolvimento local endógeno. Contemporaneamente, a atividade turística

vem sendo apresentada, defendida e conduzida como umas das mais promissoras

na balança da justiça econômica e social. Afirmam muitos especialistas (MOLINA,

2003; MENDONÇA JÚNIOR, GARRIDO e VASCONCELOS, 2000, e; CORIOLANO

e LIMA, 2003c) que o turismo representa importante papel no contexto da

modernidade.

É importante analisar que não há uma única perspectiva de desenvolvimento

atrelado ao turismo nem mesmo que as existentes na atualidade representam um

50

papel fidedigno daquilo que se espera desta atividade e de todos os ditos benefícios

que a mesma promove. É possível encontrar ampla sucessão de modelos

determinados por uma igualmente ampla sucessão de modernidades que interagem

simultaneamente na produção dos arranjos turísticos locais. Em um mesmo local

podem ser encontrados desde elementos representativos do trabalho informal, na

figura dos vendedores ambulantes ou autônomos, até mesmo grandes

empreendimentos classificados com padrão internacional, que se utilizam da

aproximação territorial para buscar um cenário constitutivo do desenvolvimento local

endógeno (EISENSTADT, 2001). Esse cenário buscado pelo turismo encontra

terreno fértil quando vem sendo trabalhado pelo seu valor paisagístico e de

configuração diferenciada, atendendo aos anseios de representatividade e

competitividade que imprimem no mesmo um escopo diferenciado frente aos demais

locais. Em cada lugar a uma forma especifica de aproveitamento – seja ele

econômico, social ou ambiental – e é nesse momento que o turismo procura

assegurar que o devido valor seja utilizando, tanto em benefício dos seus agentes

locais quanto em benefício de grupos homogêneos e distintos de interessados em

extrair dessa representatividade mais um cenário competitivo frente ao amplo rol de

destinos turísticos disponíveis à visitação em todo o mundo.

Assim é que, contemporaneamente, o espaço litorâneo acaba por imprimir no

seu âmago uma configuração e reconfiguração mercadológica cada vez mais

competitiva, permanentemente buscando se desenvolver, atendendo aos anseios

dos agentes envolvidos com a produção do desenvolvimento turístico. Esta análise

faz-se por meio do conceito de reterritorialização, o qual defini-se pela reocupação

do território por conta de outras atividades produtivas, capazes de mudar não só as

configurações geográficas mas também econômicas, sociais e políticas do território

(SANTOS, 1994). Nesse sentido, os lugares passam a assumir várias formas de

modernização, formas estas que vão se superando. Disto advém a reflexão de que o

mercado turístico é o maior incentivador dessa dinâmica, como argumenta

Tomazzoni (2008) e Theobald (2002). Tanto os agentes responsáveis pela

construção do escopo turístico quanto os mercados que demandam tais elementos

são responsáveis por incentivar a modernização cada vez maior e mais ampla do

cenário turístico litorâneo. Trata-se de um amplo fluxo de interesses que se cruzam

e buscam encaixar-se constantemente, chocando-se com os anseios dos agentes

locais em muitos aspectos. Esses conflitos vão desde o crescimento e a pressão

51

imobiliária nessas áreas litorâneas – deslocando parte da população nativa para

recantos cada vez mais longínquos do que os de sua origem – até a exigência de

qualificação profissional, muitas vezes de padrão internacional visando atender a

públicos desses mercados – o que é totalmente incompatível com o próprio nível

educacional básico oferecido pelos próprios gestores públicos dessas localidades

aos seus habitantes.

Observa-se que há uma ausência de reflexão por parte de alguns agentes

locais detentores do poder de decisão na instância pública quando se opta pela

captação ou mesmo implantação de modelos de desenvolvimento que demanda

circunstâncias distintas daqueles encontradas na localidade. Assim, não se logrará

êxito em determinados territórios que detém certas características, pois ocorre a

adoção e reprodução de modelos de desenvolvimento que muitas vezes não

atendem a proposta e aos interesses dos próprios agentes locais, viabilizando, tão

somente, aos interesses de determinados agentes da conjuntura econômica e

política local.

Diante disso é importante analisar de que forma o turismo traduz os anseios

do desenvolvimento local endógeno quando é construído um desenho que melhor

atendem aos interesses dos seus agentes, das forças produtivas que movimentam

seu território, das ações políticas que engendram a ordem social, com respostas

ambientais a tais nuances.

52

2 DESENVOLVIMENTO E TURISMO: INTERAÇÕES POSSÍVEIS

Entre tantas atividades que conduzem à construção das nuances de

desenvolvimento sociocultural, ambiental e econômico de uma localidade, seja de

natureza endógena ou exógena, o turismo torna-se objeto de análise de vários

estudos, em face da representatividade no cenário local. A aceitação, por parte de

diversos atores sociais, além da mobilização e injeção de recursos é capaz de

prover mudança de paradigma para as localidades, interagindo em diversas

atividades produtivas e sociais locais.

Dentre os campos que se voltam ao desenvolvimento amplo das localidades,

o turismo é um expoente significativo desse contexto. Considerado como um dos

mais importantes vetores de promoção local nos últimos anos – tanto no campo

econômico, quanto no sociocultural e ambiental – as perspectivas de integração do

turismo ao contexto local se mostram amplas, tendo em vista a diversidade de

empresas, setores e atores que podem atuar em conjunto com essa atividade. Isso

por que, de acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT, 2007), o

segmento é responsável por mobilizar mais de 55 setores da economia, com o

objetivo de promover a infraestrutura e superestrutura dos destinos, utilizando-se do

capital social local e do potencial paisagístico enquanto produto turístico.

Por infraestrutura entende-se “a disponibilidade de bens e serviços com que

conta um país para sustentar suas estruturas sociais e produtivas” (BOULLÓN,

2002, p. 58). Já a superestrutura, como esclarece Beni (1998), volta-se ao

atendimento das demandas turísticas, compreendendo todos os organismos

especializados – tanto públicos quanto concernentes à iniciativa privada –

encarregados de otimizar e modificar o funcionamento das partes que compõem o

sistema turístico, permitindo o incentivo e a construção de dispositivos e relações

que facilitem a produção e a venda dos múltiplos serviços que compõem o turismo.

Os empreendimentos turísticos, por estarem atrelados de forma direta ao setor

privado da atividade, constituem-se como a própria superestrutura, por meio do setor

de: meios de hospedagem, alimentos e bebidas, serviços de agenciamento e

recepção turística, transporte e informação turística, entre outras atividades. A partir

deste dimensionamento a cerca da infra e superestrutura, traduz-se quão ampla

pode ser a composição e o impacto representativo do turismo no cenário nacional,

53

regional e local. Na medida em que esses agentes se envolvem com a perspectiva

de atuar junto ao turismo, haverá uma cobrança maior destes para que tanto a infra

quanto a superestrutura possam ser potencializadas, visando um maior crescimento

do turismo, em âmbito local.

A partir do momento em que se consegue engendrar produtos, serviços, mão

de obra, suporte técnico, infraestrutura pública e aceitação social admite-se que o

turismo não só tem complexidade suficiente para atuar na promoção

desenvolvimentista das localidades, como também é capaz de mediar ações que

conduzam à inserção de numerosos grupos locais, estejam eles relacionados ao

contexto econômico, sociocultural ou ambiental, envolvendo-os na dinâmica e no

cotidiano local (CRUZ, 2006). Nessa perspectiva, surgem ações que perpassam

esses agentes de diversas formas, de modo que os relacionamentos que se dão

entre ambos fazem surgir as oportunidades de desenvolvimento, em diversos

vetores locais, os quais acabam por criar a idéia de fortalecimento da vida da

localidade por conta do turismo.

No que se refere ao contexto econômico, a priori, o turismo traduz-se numa

importante atividade plural, por conta de sua natureza pulverizadora de ganhos,

diferentemente de outras atividades econômicas, a exemplo da industrial, que acaba

por concentrar renda em determinados setores econômicos (RODRIGUES, 2006).

Esta pulverização nos ganhos pode ser mensurada pelo efeito multiplicador

do turismo. A partir da identificação dos agentes econômicos que participam na

captação de recursos oriundos do fomento ao turismo é possível compreender em

que medida e com qual magnitude a atividade pode influenciar as ações de

ordenamento local.

Nesse sentido, Cooper (2001) promove uma reflexão sobre essa dimensão

econômica. A figura 01 representa o efeito multiplicador que pode ser desencadeado

pelo turista no local, por meio dos seus agentes econômicos. O primeiro elemento

desse contexto é representado pela figura do turista, definido como o sujeito

praticante do turismo, responsável por demandar uma série de produtos e serviços

necessários ao seu atendimento. A demanda, por sua vez, é responsável por

acionar, tanto direta quanto indiretamente, serviços disponibilizados por outros

setores, os quais podem proporcionar o atendimento das necessidades demandadas

pelo mesmo.

54

Figura 01 – Representação do Efeito Multiplicador do Turismo

Fonte: Elaboração própria, 2011

Por sua vez, esses setores vão demandar de outros agentes econômicos

produtos e insumos necessários tanto a sua própria manutenção quanto para a

condução do serviço e do sistema turístico. Significa dizer que “as empresas

adquirem não apenas insumos básicos [...] mas agem também como intermediários

de bens e serviços produzidos por outros estabelecimentos dentro da economia

local” (COOPER, 2001, p. 166).

Dessa forma, todo cenário econômico local será, direta ou indiretamente,

beneficiado pela vinda e instalação temporária do turista. Considerando uma

progressão geométrica desse contexto, quanto maior for o número de turistas

instalados em sua superestrutura, maior será o volume de demandas

desencadeadas em diversos destes setores e seus agentes, permitindo o

crescimento da atividade e, paralelamente, o desenvolvimento econômico,

sociocultural e político local.

Os valores pagos pelas despesas do turista serão, inicialmente, absorvidos

por estes estabelecimentos turísticos da linha de frente – guias turísticos,

restaurantes, transporte, entretenimento e artesanato, entre outros – em maior ou

menor quantidade, dependendo do tamanho e da oferta turística disponível na

localidade. Este recurso arrecadado será novamente gasto por estas empresas,

onde parte será usado para o pagamento de despesas com fornecedores,

manutenção de equipamentos ou prestação de serviços, alguns dos quais situados

55

fora da localidade, isto porque, boa parte dos insumos demandados pelo mercado

local, muitas vezes, não podem ser obtidos a partir dos próprios fornecedores locais,

necessitando que se busquem alternativas de fornecimento dos mesmos em outras

localidades. Outra parte será utilizada na aquisição de bens e serviços, pagamento

de folha de pessoal, tributos e impostos, licenças e demais taxas oriundas de cada

ramo empresarial, sendo definidos por efeitos econômicos diretos (COOPER, 2001).

Já os efeitos econômicos indiretos são sentidos quando as empresas que

recebem pelos serviços de estabelecimentos turísticos investem na compra de

outros bens ou serviços voltados para sua própria manutenção, além do pagamento

de impostos para o governo ou com sua própria folha de pessoal. Essas são as

relações econômicas intrínsecas esperadas pelos agentes econômicos que se

beneficiam direta e indiretamente da atividade turística.

Outro princípio também atrelado ao cenário econômico refere-se ao efeito

aglomeração que, de acordo com Sessa (1983), é um dos efeitos identificados,

sobretudo, pelo setor hoteleiro, o qual reúne uma série de atividades

complementares que estão na origem de uma série cumulativa de ganhos e de

custos em uma determinada localidade turística, podendo culminar em uma ampla

concentração geográfica de agentes econômicos envolvidos com o desenvolvimento

turístico local. Entre essas atividades complementares estão inseridas lojas – tais

como de venda de artesanato, recordações de viagem ou mesmo de impressão de

fotografias – pequenos comércios formais e também de vendedores informais, os

quais vão surgindo na localidade por força da mobilização econômica gerada pelo

turista.

Estes agentes acabam fixando residência na localidade, imprimindo nesta

uma configuração cujo objetivo é obter desde vantagens econômicas, maior contato

com a natureza, até qualidade de vida e uma melhor expectativa de vida, a partir da

aglomeração desencadeada por força da própria atividade turística que os reúne.

Até porque o turismo, no que tange ao contexto econômico, insere-se no

desenvolvimento “seja pelas repercussões diretas identificadas à geração de

empregos” seja pelos efeitos indiretos que possa ser ocasionados por aqueles que o

fazem (BAHL, 2004, p. 48). Esses efeitos podem ser mensurados por força dos

impactos que são acarretados na vida e no cotidiano dessas localidades.

A esse respeito, Mathieson e Wall (1992) e Ruschmann (1997) destacam os

impactos econômicos das localidades turísticas em duas formas distintas: Os

56

impactos econômicos positivos – responsáveis por trazer benefícios a todo conjunto

da economia local – merecendo destaque os seguintes: geração de emprego e

renda geral e com o turismo; geração de divisas por meio da chegada de novos

recursos trazidos pelos turistas, e; estímulo a atividade empresarial com a criação ou

estruturação das empresas locais atuantes na economia formal. Por meio da figura

01 é possível analisar de que forma esse contexto é favorecido, já que a geração de

novas oportunidades advindas com o turismo estimula um amplo rol de

possibilidades no campo econômico.

Já os impactos econômicos negativos – tais como o aumento da inflação na

economia local por conta do aumento da procura por insumos ou produtos

relacionados ao turismo; especulação imobiliária em propriedades situadas próximo

a complexos que reúnem um maior número de turistas na localidade; baixa taxa de

retorno dos investimentos acarretada pelo pequeno volume de ganhos que podem

ser obtidos nos períodos de baixa procura por lazer e turismo devido ao grau de

sazonalidade e, por fim; crescimento no vandalismo e nos índices de criminalidade

registrados na localidade – apresentam-se bastante significativos, sobretudo para os

habitantes locais e seu cotidiano. A inflação, especulação imobiliária, criminalidade e

a troca de atividades tradicionais locais pelo turismo atentam contra o princípio da

sobrevivência local. Se o turismo vem com a promessa de beneficiar a localidade,

então é necessário que sejam tomadas medidas que contemplem a mitigação, ou

mesmo supressão, dessas repercussões. No entanto, o que se vê são

circunstâncias que não permitem reflexão maior a cerca dessa conjuntura, haja vista

que tais nuances se proliferam em vários destinos turísticos em todo mundo.

Esse contexto advém de um amplo cenário econômico resultante de forças

antagônicas, as quais atuam na promoção do crescimento econômico local a partir

dos seus agentes hegemônicos, isto é, o poder financeiro de um grupo ou minoria é

capaz de determinar em que bases pode se dar o desenvolvimento turístico de

certas localidades, sem se preocupar com os reflexos provenientes disso na grande

maioria da população. Esta, por sua vez, não protagoniza o momento e as decisões

que podem ser tomadas visando a repartição dos benefícios, mas, acompanha como

expectadora passiva, e depois atuante, desse desfecho. Na sequência, não haverá

mais como mediar outras alternativas, pois a imagem que se fará do local já estará

consolidada pela visão dos seus agentes hegemônicos. Por meio deste

entrelaçamento, percebe-se que uma parcela dos agentes locais que fomentam o

57

turismo não adquirem significativa representatividade nas decisões resultantes da

construção do cenário turístico local. Isso porque, são esses agentes que acabam

formalizando e engessando essa identidade local, construída muitas vezes por um

grupo distinto, resultando num aglomerado sociocultural homogêneo e similar a

outras localidades, que na verdade reflete muitos interesses que foram forjados à luz

do interesse de grupos econômicos.

Nesse sentido, cabe analisar esses impactos projetados no contexto

sociocultural. O escopo do turismo vai muito além do campo econômico, interagindo

com outros agentes relacionados ao desenvolvimento local de uma forma ainda

mais densa. Significa dizer que sua relação pode atuar tanto no sentido de fortalecer

quanto no de prejudicar as relações socioculturais locais e os interesses desses

agentes. Sobre isso, Mathieson e Wall (1992) e Ruschmann (1997) afirmam que os

impactos socioculturais também podem ser classificados em dois campos, os

positivos e os negativos.

Os impactos socioculturais positivos vão desde a melhoria da infraestrutura

pública, maiores investimentos em educação, crescimento da oferta de empregos

em tempo parcial, maior absorção da mão-de-obra feminina, valorização do

artesanato, da herança cultural, do patrimônio histórico e da cultura étnica local. Isso

porque são gerados benefícios diretos para toda população, e não somente a uma

faixa dessa mesma que atua no sentido de se beneficiar com o turismo. O

aperfeiçoamento dos serviços públicos promove maior qualidade de vida para os

habitantes dessa localidade, de modo que isso possa prover maiores e melhores

oportunidades cotidianas. Outrossim, a atividade turística pode atuar ainda no

sentido de preservar as relações socioculturais, como no caso das tradições

presentes em determinadas comunidades, mantendo vivas essas práticas culturais,

além de promover um amplo intercâmbio cultural entre populações distintas. Em

muitos casos, esta é a principal motivação da viagem dos turistas, na medida em

que conhecer culturas e povos distintos do seu, buscando estabelecer o

aprendizado e as interações decorrentes deste contato, enriquecem a experiência

da viagem e atribuem ao espírito do visitante um novo sentido e uma sensação de

respeito e conhecimento frente aos hábitos e cultura dos povos visitados. Essas

trocas são positivas e traduzem as percepções que podem ser encontradas tanto

nos visitantes quantos naqueles que são visitados.

58

Já os impactos socioculturais negativos podem ser classificados desde o

efeito demonstração – a negação da cultural local e incorporação de outros traços

culturais alheios à sua realidade, alterações da moralidade e posterior exploração

sexual de crianças e adolescentes, neocolonialismo a partir da ocupação de lugares

tradicionais por pessoas que vieram como turistas e passaram a residir na

localidade, descaracterização e posterior homogeneização do artesanato,

vulgarização das manifestações tradicionais com a inserção de elementos que não

são tipos daquela cultural e, por fim e não menos importante, a arrogância cultural,

quando se credita superioridade de uma cultura em detrimento de outra. Pode,

ainda, atuar provocando massificação na comercialização de certos hábitos

culturais, banalizando a encenação da cultura popular local, estimulando um

sentimento e uma prática de vulgarização dos costumes locais. A procura frequente

por costumes e hábitos culturais conduz à comercialização de cerimônias e rituais

tidos como sagrados pela população anfitriã, que acabam por encenar verdadeiros

espetáculos à custa de suas próprias tradições, de forma limitada e muitas vezes

distorcida de sua própria história (COOPER, 2001; BRITO, 2004).

Em certa medida, o sentimento de pertencimento a uma tradição ou cultura

local pode ser ameaçado, como identificado por Brito (2004), quando a própria

população não aceita mais suas tradições e práticas culturais. Assume-se um papel,

uma encenação da cultura, por força do trabalho desempenhado na promoção do

entretenimento para o turista. Acabam se criando referencias icônicas que induzem

o visitante a ser uma caricatura do habitante local, quando na verdade esse

exercício induz ao fortalecimento de uma ilusão, algo feito apenas para turista ver.

Esse comportamento questionável revela-se quando é exigida, tanto da população

quanto de sua cultura, agenda de exposição das tradições em oportunidades,

eventos e situações que criam uma superexposição desses costumes, se que seja

dada a devida atenção para a forma como isso é executado. Considerando que a

cultura é algo vivo e presente na vida das pessoas, a de se questionar se o

excessivo acesso a essa exposição pode acabar por prejudicar a própria essência

do que aquela representação cultural traduz para sua gente e para aqueles que a

contemplam.

No que se refere ao contexto ambiental, a natureza é um elemento essencial

à atividade turística. Isto porque este busca no patrimônio ambiental existente em

determinadas localidades, a obtenção do máximo de rendimentos capazes de serem

59

auferidos, fazendo convergir os interesses dos turistas aos anseios do mercado.

Entretanto, a partir do momento em que o turismo passa a ser agente de

modificações no meio natural, seja para facilitar o acesso ou mesmo para ampliar a

experiência do turista, inevitavelmente a condição requerida de equilíbrio ambiental

será quebrada, proporcionando um efeito negativo e que pode ser sentido em todo

ecossistema, como destaca Swarbrooke (2000).

Os aspectos relacionados à qualidade da água, do ar, do solo, da vegetação

e das espécies faunísticas são impactados de forma significativa pela ação do

desenvolvimento turístico. As leis ambientais vigentes em todo território brasileiro e,

particularmente, em todas as unidades estaduais e municipais estabelecem as

políticas e as diretrizes que devem ser seguidas, visando o pleno atendimento do

equilíbrio ambiental. A legislação brasileira é reconhecida como uma das mais

avançadas do mundo, já que estabelece critérios claros de aproveitamento da fauna

e da flora, visando a manutenção da simbiose entre os produtores e consumidores

de recursos naturais. No entanto, vale salientar que os interesses que movimentam

o turismo podem se tornar determinantes na requalificação de muitas dessas leis.

Os espaços naturais, seu papel e função, acabam sendo reavaliados em função de

uma conjuntura emergente de desenvolvimento, em todas as esferas. Isso leva a

crer que os agentes promotores do território assumem os riscos por conta do avanço

do homem sobre os recursos. Apesar disso, esse custo ambiental é dividido para

todas as parcelas da sociedade.

Os trabalhos de Coriolano (2003), Guedes (2005), Lima (2006) e Silva (2010)

demonstram que esses determinantes foram constituídos como essenciais na

defesa do crescimento das atividades econômicas relacionadas ao turismo sobre o

meio natural, superpondo-se os interesses financeiros aos ambientais. O custo de

exploração dessas atividades sobre o meio natural afeta a reprodução da flora e,

conseqüentemente, da fauna local. Além disso, a busca por espaços naturais,

visando o aproveitamento para o turismo, cria áreas privativas onde deveria haver

um aproveitamento público por parte de alguns empreendimentos. O crescimento

dessa prática leva a contaminação dos solos e dos lençóis freáticos, já que muitas

dessas áreas nativas não dispõem de infraestrutura de saneamento básico ou coleta

de resíduos sólidos. A ação dos atores econômicos e sociais, envolvidos com o

turismo, é sentida quando são comparados os anseios e interesses destes em

detrimento do meio natural, levando a crer que o peso exercido pelo turismo e por

60

toda sua constituição é capaz de influenciar as decisões cristalizadas pela

legislação.

Em todos os contextos apresentados anteriormente, foram discutidas

circunstâncias marcantes ao processo que relaciona desenvolvimento e turismo, os

aspectos positivos que devem ser considerados e, também, os negativos que

precisam ser evitados ou minimizados. Constitui-se como importante, desse modo,

conhecer como esta condicionado todo processo pelo qual a atividade turística pode

se pautar.

2.1 Condicionantes da atividade turística

Ante essas interações, os elementos que condicionam e conferem identidade

ao que se conhece por turismo, por sua vez, carregam em seu sentido referências

que orbitam em parte dos aspectos mencionados anteriormente. Buscam

perspectivas que elucidem o que se constitui como turismo pode ter suas limitações,

pois muitas questões que margeiam esse escopo atribuem a esta atividade uma

visão proativa, positiva, imediatista.

Haja vista o volume de disposições necessárias para se conferir um escopo

preciso a esse respeito, isto é, aspectos relacionados à economia, cultura, história,

geografia e antropologia, entre outros. O turismo foi definido por Oscar de La Torre

como sendo:

Um fenômeno social que consiste no deslocamento voluntário e temporário de indivíduos ou grupos de pessoas que, fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura ou saúde, saem de seu local de residência habitual para outro, no qual não exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada, gerando múltiplas interrelações de importância social, econômica e cultural (OSCAR DE LA TORRE apud IGNARRA, 1999, p. 24).

Apesar das discussões estabelecidas no circuito acadêmico se pautarem nas

limitações existentes no conceito formulado para definir o turismo, adotou-se o

contexto apresentado pela Organização Mundial do Turismo – OMT, organização

vinculada às Nações Unidas, como premissa ao conceito de turismo. Assim,

segundo publicação da OMT (2007), o turismo é definido como:

61

O deslocamento e as atividades realizadas pelas pessoas durante suas viagens e estadias, bem como, as relações que surgem entre eles, em lugares distintos de seu ambiente natural, por um período de tempo consecutivo inferior a um ano, principalmente com fins de lazer, negócio e outros (OMT, 2007, p. 46).

Tal definição remonta o contato social estabelecido entre povos distintos, por

conta do encontro realizado entre estes por meio do turismo, situado em um espaço

geográfico ambientado num contexto local, sob o controle permanente do tempo

dispensado na visitação e já estabelecido na forma de um pacote turístico, tendo

uma motivação determinada por um fim ou atrativo específico, levando o visitado a

se preparar para receber o visitante e dele obter divisas por conta do consumo de

produtos e serviços empreendidos, objetivando atender a tal movimentação. Entre

ambas as conceituações, propostas por Oscar De La Torre (apud IGNARRA, 1999)

e a OMT (2007), é importante destacar que houve uma maior reflexão no

entendimento da motivação das viagens, estas contemplando negócios e,

obviamente, a necessidade de viajar para exercer uma atividade remunerada, o que

antes não compatibilizava com o propósito do que se entendia por turismo como

sinônimo de lazer.

Um dos motivos que levou a OMT a incluir a categoria “negócio”, como foco

das viagens, está no aumento da importância desta frente aos indicadores

decorrentes das viagens contemporâneas, já que os deslocamentos motivados por

negócios ativam em igual forma a estrutura à disposição da atividade turística. Desta

forma, observa-se que o turismo passa a ser entendido como importante atividade, a

qual pode se associar a dezenas de outras, viabilizando um suporte necessário ao

atendimento das interações advindas do cenário turístico e demandadas por estes

públicos.

No âmbito mundial, setores como o de transporte, hospedagem, comércio,

lazer, cultura, além dos serviços públicos prestados na localidade são os principais

vetores que respondem pela atividade turística, representando um campo em

crescimento, já que contempla muitas áreas distintas. As viagens internacionais

cresceram 4,2% entre 2000 e 2008, perfazendo um total de 922 milhões de turistas

somente no ano de 2008, gerando uma renda estimada em US$ 5 trilhões. O

continente Europeu concentrou, em 2008, cerca de 52,9% das viagens

internacionais, seguido pela América do Norte com 11,6%, Ásia e o Pacífico com

62

21%, o Oriente Médio com 7%, a África com 6,1% e, por fim, a América do Sul com

2,2% do fluxo turístico internacional (OMT, 2009).

Comparado ao crescimento do Produto Interno Bruto – PIB mundial, o fluxo

turístico internacional demonstra alto grau de instabilidade, sobretudo por conta de

fatores relacionados à conjuntura social e econômica mundial. As crises

econômicas, os problemas relacionados às epidemias em escala global e as

variações advindas do câmbio, de acordo com dados obtidos junto ao Fundo

Monetário Internacional – FMI e a OMT, são capazes de gerar variações nas

viagens e na visitação de determinados destinos turísticos. Tal circunstância pode

ser observada no gráfico 01, a seguir.

Gráfico 01 – Taxa de crescimento do turismo e da economia mundial – 1996/2008

Fonte: OMT e FMI, 2009

O ano de 2003 significou uma grande queda nos fluxos turísticos mundiais por

conta da deflagração da guerra dos Estados Unidos da América contra o Iraque, no

oriente médio, marcando uma situação de grande instabilidade e insegurança nas

viagens internacionais para aquela região e toda Europa, um dos principais destinos

turísticos do mundo. Nesse mesmo ano, com a prisão do presidente iraquiano

Saddam Hussein, a confiança e a sensação de segurança nas viagens

internacionais foram retomadas, de forma que o mercado voltou a operar dentro das

condições de normalidade e a demanda, reprimida durante todo período de guerra

em 2003, promoveu um salto gigantesco no montante de viagens turísticas no ano

seguinte. Após a reeleição do presidente norte americano George W. Bush, já em

63

2004, e a instalação de diversas normas de segurança, visando o combate ao

terrorismo internacional, os fluxos turísticos voltam a um patamar de normalidade, se

comparados aos períodos que antecederam a guerra no Iraque. Outro importante

fato que marcou a queda desses fluxos, desta vez em 2008, foi o início da crise

econômica mundial, a qual afetou seriamente o mercado Norte Americano e

repercutiu em diversos mercados por todo o mundo. Isso causou uma grave crise no

setor de turismo, promovendo a redução das viagens e impactando, novamente,

todo setor turístico mundial. A partir da análise dessa conjuntura, observada nos

anos de 2003 e 2004, é possível constatar que o setor pode se apresentar bastante

frágil frente aos marcantes fatos que se fizeram presentes na história mundial

(PORTAL UOL, 2011).

Analisando uma perspectiva global, os países com maior visitação turística

registrada no ano de 2010, segundo a OMT (2009) foram: França, Estados Unidos

da América, China, Espanha, Itália, Reino Unido, Ucrânia, Turquia e Alemanha. O

Brasil ocupa a 52º colocação neste ranking. Isto significa que o país não desponta,

até o momento, como um dos grandes destinos turísticos do cenário internacional. A

pequena presença do produto turístico brasileiro, da forma como está concebido,

ainda não é capaz de atrair significativos fluxos de turistas internacionais. Tal fato

denuncia, em certa medida, a precariedade de muitos setores que se prestam ao

turismo no Brasil, como a limitada oferta de vôos internacionais, a falta de fluência

em outros idiomas, os altos níveis de insegurança e o crescimento da criminalidade,

além do custo relativamente alto de se viajar para o Brasil, já que outros destinos

oferecem maior qualidade a preços bem menores (PORTAL UOL, 2011).

De acordo com dados do Ministério do Turismo – MTUR, a atividade turística

vem perfazendo um roteiro de crescimento no país (BRASIL, 2010c). No ano de

2009, desembarcaram mais de 06 milhões de turistas estrangeiros no Brasil, quando

já em 2010 esse número saltou para 7,2 milhões. Os gastos desses turistas

cresceram, quando comparados os indicadores de 2009 e 2010, ficando este último

na ordem de US$ 5,305 bilhões, um valor 11,58% superior ao registrado em 2009.

Segundo o Banco Central um recorde histórico, desde quando o índice passou a ser

medido em 1947. Já os desembarques nacionais – isto é, o número de vôos

domésticos no Brasil – no ano de 2010 registraram saldo de 61 milhões de

passageiros, ampliando em 13% o número obtido no ano de 2009 (BRASIL, 2011a).

64

A partir da projeção da imagem do Brasil no cenário internacional, por conta

da realização dos dois maiores eventos do planeta – a Copa do Mundo 2014 e os

Jogos Olímpicos em 2016 – os fluxos turísticos começaram a identificar o país como

um interessante destino a ser visitado, mesmo como uma forma de reconhecimento

do lugar que sediará esses mega eventos. Já no que tange ao cenário interno, com

o crescimento da economia nacional, da geração de empregos, da estabilidade do

Real e do poder de compra do brasileiro, este passou a viajar mais pelo próprio país.

Além disso, as viagens realizadas utilizando o transporte aéreo fizeram com

que mais empresas começassem a operar nesse setor no país, permitindo um amplo

crescimento do turismo em todos os mercados nacionais e viabilizando a

perspectiva de crescimento em longo prazo, já que mesmo após a realização desses

eventos haverá um crescimento do turismo internacional, de forma idêntica ao que

foi identificado na África do Sul, em 2010, com a realização da Copa do Mundo.

Estes números demonstram o crescimento do Brasil enquanto cenário

propício e competitivo frente ao desenvolvimento do turismo internacional e nacional.

Considerando tal parcela ainda pequena, além de uma colocação tímida frente aos

demais destinos internacionais mencionados, as instâncias políticas de âmbito

nacional manifestaram preocupação com relação à política pública nacional de

turismo, especialmente no que se referia ao planejamento e organização do setor no

país (BRASIL, 2008). Isso porque a ausência de uma regulamentação especifica

para vários setores que atuam no turismo faz com que cada um, indistintamente,

desenvolvida formas particulares de gestão, atentando contra a padronização

mundial de serviços que são demandados por mercados de viagens mais

avançados. Exemplo disso pode ser identificado na classificação hoteleira que, por

conta da falta de normatização, é incapaz de distinguir quais as características que

diferenciam hotéis de pousadas, o que aos olhos do visitante somente se distinguem

pelo preço cobrado nas diárias e pela estrutura operacional que cada um congrega.

Situação idêntica é observada no setor de transporte rodoviário, guiamento turístico

ou mesmo informação turística, onde a falta de sincronia entre diferentes instâncias

organizacionais, tanto do poder público quanto da iniciativa privada, não

estabelecem condicionantes claros para a estrutura e operação do turismo.

Por conta disso, o governo brasileiro passa a definir a política de

desenvolvimento turístico como “um conjunto de regulamentações, regras, diretrizes

e objetivos de desenvolvimento e promoção que fornecem uma estrutura na qual

65

são tomadas decisões coletivas e individuais que afetam diretamente o

desenvolvimento turístico e as atividades diárias” (GOELDNER, RITCHIE e

MCINTOSH, 2002, p. 294) dentro de um destino. Essa política tem por escopo

garantir a receptividade dos visitantes por meio da estruturação da atividade turística

nacional, buscando minimizar os efeitos, custos e impactos negativos acarretados

por ações não planejadas nos contextos econômico, sociocultural e ambiental.

Esses elementos tornaram-se importantes frente ao cenário plural e

competitivo que é o setor turístico. As políticas nessa área procuram conduzir o

desenvolvimento da atividade, de modo a fomentar outros setores relacionados com

o turismo, tais como transporte, hotelaria, cultura e lazer, entre outros.

Sob o ponto de vista que demanda atenção por parte da esfera política,

destacam-se dois eixos que são: a prática social, que lhe é inerente, e as ações

hegemônicas que são tomadas decorrentes do desejo de atender a satisfação do

turista, artífice do todo processo.

A prática social refere-se ao desejo da população em ocupar postos de

trabalho e auferir rendimentos por conta do turismo, o que, por sua vez, é capaz de

ampliar o referencial de qualidade de vida que pode ser sentido na comunidade.

Esse sentimento coletivo torna-se o objetivo das políticas e os governos buscam

promover ações que concretizem esse desejo.

Já as ações hegemônicas referem-se às decisões que são tomadas pelo

governo de acordo com a visão política estes tem em mente, realizando medidas

capazes de fomentar o crescimento do turismo local de forma unilateral, sem ouvir o

que a comunidade almeja ou mesmo que deseja que fosse realizado, visando o bem

comum. Por conta do potencial papel pulverizador de renda, fortalecedor das

economias locais, aglutinador de uma considerável parcela da sociedade de baixa

renda, além da fragilidade e das carências que muitas comunidades apresentam, o

turismo acaba tornando-se numa importante vertente de ações que estão no centro

da discussão sobre política pública nacional.

A forma como a atividade passa a ser apresentada traduz os anseios que a

sociedade projeta nas localidades: um ambiente desenvolvido, onde todos podem

trabalhar, seja direta ou indiretamente. Para isso, os governos procuram empreender

ações e estabelecer políticas para o setor, proporcionando matrizes de expansão do

turismo de forma a responder rapidamente a ocupação dos espaços por empresas

do segmento turístico.

66

A partir disso, são criadas facilidades para a ocupação dessas empresas,

entre elas estão: a redução ou mesmo isenção total de impostos por um período de

tempo, a promoção de cursos com o intuito de qualificar a mão de obra local que

ocupará alguns dos postos de trabalho que serão criados e o investimento em

serviços públicos como pavimentação, manutenção da rede coletora de detritos,

entre outros serviços. A formulação, em maior ou menor grau, de ações que visem

atender a esses eixos se dará de acordo com a dimensão das redes de interesses

que os agentes promotores do turismo puderem formar.

Integrar o turismo em tantas e complexas redes de interesses distintas é

dificuldade abrangente, como discute Butler (2002). A questão perpassa desde as

demandas propostas pelos agentes locais, até temas de maior complexidade, como

a infraestrutura aeroportuária. Tais temas requerem do arranjo político

institucionalizado um amplo debate e proposições que procurem traduzir e

materializar os anseios de toda uma coletividade. Dada a complexidade desse

processo, sugere-se que sejam eleitas as prioridades de trabalho, a escala em que

se processam as intervenções, o estágio ou mesmo a velocidade com que se

percebe o desenvolvimento e, ainda, os conflitos que serão derivados dessas

intervenções presentes, causando graves impactos nos contextos envolvidos com a

política de turismo mal sucedida.

Isso porque no turismo não existe apenas atividades voltadas à sua

manutenção exclusiva, mas tantas outras que atuam a serviço da própria

comunidade residente. Obviamente que essas interações são por demais

significativas para o turismo, para as atividades instaladas no local e para a própria

comunidade, de modo que faz-se necessário haver um posicionamento

representativo e consensual entre tantas e tamanhas representações sociais,

econômicas e políticas. Assim, é importante destacar que “o desenvolvimento do

turismo [...] é uma expressão que inclui não apenas destinos, origens, motivações e

impactos, mas também as ligações complexas existentes entre todas as pessoas e

instituições daquela engrenagem” (DANN, 2002, p. 25).

Diante disso, a partir dos reais interesses que são conduzidos pela

estruturação e gestão da política de turismo, foi institucionalizada no Brasil a criação

do Ministério do Turismo no ano de 2003. O planejamento estratégico da atividade

passou a ser elaborado dentro de matrizes operacionais que objetivavam fomentar a

atividade em todo território nacional. Neste mesmo ano, foi lançada a primeira

67

versão do Plano Nacional de Turismo – PNT, representando os anseios de muitos

agentes econômicos, sociais e políticos voltados a profissionalizar a atividade

turística no Brasil. No entanto, é importante frisar que a política de turismo pensada

naquele momento, traduzia os interesses, dos agentes hegemônicos do país, já que

as especificidades locais e regionais não foram inteiramente contabilizadas na

formatação do referido plano (BRASIL, 2008).

Em sua primeira versão, o plano tinha por finalidade “explicitar o pensamento

do governo e do setor produtivo e orientar as ações necessárias para consolidar o

desenvolvimento do setor Turismo” (BRASIL, 2003, p. 15). Tal planejamento propôs-

se a engendrar os anseios de um amplo número de setores produtivos relacionados

com a atividade, buscando estruturar as destinações turísticas por meio de uma

política pública que desenvolvesse o turismo. Apesar disso, o papel desempenhado

pelos agentes locais relacionados com o turismo não foi, nesse momento, abordado.

Já em sua segunda versão, o PNT (BRASIL, 2007) objetivou desenvolver o

produto turístico brasileiro contemplando as diversidades regionais, culturais e

naturais, promovendo o turismo como fator de inclusão por meio da geração de

emprego e renda, além de fomentar a competitividade do produto turístico brasileiro

no mercado nacional e internacional.

Vale considerar que esta segunda perspectiva atende ao que discutem Baidal

(2004), Aref, Redzuan e Gill (2009) e Mohammadi, Khalifah e Hosseini (2010),

quando defendem que a política de turismo deve ser planejada de forma a atender

os anseios locais, ciente de que os resultados esperados pela mesma apresentam-

se de forma diferenciada, pois cada localidade é detentora de suas particularidades

e especificidades próprias, que a definem de forma singular umas das outras.

Nesse sentido, o contexto regional vem fortalecendo as bases do turismo em

cada localidade do país, cada uma delas com suas especificidades, problemas e

potencialidades, requerendo uma atenção especial em cada realidade turística

vislumbrada no país. No entanto, isso não se traduz em investimentos maiores nas

regiões mais carentes, mas, numa constatação clara de que as disparidades

regionais são amplas e históricas. Por isso mesmo, o planejamento do turismo

regional precisa ser focado não só sobre o prisma do mercado, mas na promoção da

melhoria e qualidade de vida das populações que atuam tanto em regiões turísticas

quanto naqueles que não despertam esse mesmo interesse.

68

Tal conjuntura pensada de forma integrada se associa a elementos que vão

desde a agricultura, a moradia, a assistência médica e a indústria na estruturação da

atividade turística. O processo de planejar o turismo remete-se a todas as esferas

governamentais, contribuindo com os anseios de distintos setores e atores sociais. A

abrangência desse processo remete às dimensões pelas quais o turismo passou a

ser visto sob um jogo de interesses, possibilitando a inserção de um número cada

vez maior e mais complexo de cenários a serem trabalhados em todo país em

também, de atores e fatores que figuram nessa perspectiva.

A análise e os debates sobre o papel do turismo passou a assumir múltiplos

vieses, acrescido de situações encontradas em outras áreas – tais como

antropologia, história, geografia e sociologia – possibilitando um amplo debate

envolvendo os principais campos e setores da atividade, os quais podem contribuir

com uma perspectiva mais plural de participação política nas definições e escopo do

turismo nacional, voltada para o âmbito local. Entre essas bases de discussão do

desenvolvimento turístico nacional, definidas pelo PNT, destaca-se neste trabalho as

que se seguem, já que as mesmas são responsáveis pela promoção da conjuntura

que se analisa na sequência deste trabalho. São elas: a geração de emprego e

renda, o fomento à iniciativa privada e a infraestrutura pública.

Na definição das metas operacionais, o PNT apontou o caminho pelo qual os

setores produtivos deveriam fortalecer as bases do desenvolvimento turístico. Na

geração de emprego e renda o plano projetava, em seus quatro anos de operação, a

criação de 1,7 milhão de empregos e ocupações. Já no que tange ao fomento à

iniciativa privada, estavam previstas ações que se dedicavam à atração de

investimentos – incentivando a construção de equipamentos turísticos por meio da

oferta de linhas de crédito – de modo a ampliar a oferta suporte e de serviços

turísticos, fortalecendo o mercado interno, captando investidores para projetos

situados em regiões de reconhecido potencial e que ainda não estivessem

desenvolvidas nem mesmo consolidadas no mercado turístico nacional.

Em relação à infraestrutura pública, o plano previa uma série de ações

voltadas a identificação e quantificação das necessidades de infraestrutura para o

atendimento ao setor turístico. Os objetivos contemplavam desde a melhoria da

qualidade de vida nos destinos turísticos, a criação de condições de implantação de

equipamentos turísticos até a potencialização dos benefícios decorrentes do

69

desenvolvimento do turismo nas localidades onde estivessem sendo trabalhados

(BRASIL, 2007).

Esses três contextos tornam-se importantes nesta análise, tendo em vista que

os mesmos fomentaram, a partir das experiências locais, uma série de ações que

convergiram para o crescimento do turismo em algumas localidades. As condições

necessárias para a ocupação das localidades por empreendimentos turísticos foram

projetadas atendendo a esses pressupostos.

A esfera local dessas dimensões, caracterizada pelo lócus municipal, passou

a representar o eixo central das propostas e das Políticas Públicas de Turismo

vigentes no país, sobretudo no sentido de alcançar suas metas estipuladas. Isto

porque “os municípios passaram, desde então, a ter mais autonomia política,

administrativa e financeira” (BRASIL, 2008, p. 149), assumindo mais

responsabilidades na execução de propostas e na construção das políticas

direcionadas ao desenvolvimento do turismo. Reside no município o cerne do debate

a cerca do planejamento e do formato que deve assumir o turismo local, já que seus

agentes locais são capazes de externar seus anseios e viabilizar, na forma de

ações, as perspectivas que precisam ser orientadoras do turismo local.

De forma homônima pensam Ultramari e Duarte (2009), quando destacam

que “se agora a competitividade passa a ser proeminente, mais do que nunca cabe

ao município a responsabilidade de atrair investimento para o interior de seu

território” (ULTRAMARI E DUARTE, 2009, p. 23). Essa estratégia vem promovendo

em muitos destinos turísticos do Brasil, de forma que os municípios, na figura de

seus gestores, vêem apresentando todo potencial capaz de ser absorvido pela

edilidade local, destacando cenários, projetos e desafios ao desenvolvimento

particular de cada localidade. Elementos como a proximidade de grandes centros

urbanos, oferta da malha aérea e viária local e localização geográfica, além de

belezas naturais como praias, rios ou montanhas tornaram-se, entre tantas outras,

moeda de valor muito importante frente ao desenvolvimento de atividades

relacionadas com o turismo. A captação de investimentos para os municípios passou

a ser prioridade nacional no PNT, permitindo que estes primeiros realizassem

parcerias com o governo federal visando a promoção de infraestrutura local por

conta da aquisição desses investimentos.

Mesmo assim, muito desse esforço local em promover o desenvolvimento

turístico – viabilizando a captação de investimentos por meio das melhorias na

70

infraestrutura local e aliando diversos setores e atores econômicos, sociais e

políticos relacionados ao turismo – com vistas ao atendimento do planejamento

nacional não foram aceitas de forma pacífica pelas instâncias e agentes locais

relacionados ao turismo. Mais do que captar somente novos investimentos externos

em benefício do desenvolvimento turístico local, é necessário viabilizar condições

para que funções chave na dinâmica do desenvolvimento local sejam atendidas.

Entre elas destacam-se as áreas de saúde, educação, saneamento, segurança

pública e assistência social, entre tantas outras demandas igualmente importantes,

as quais se encontram diferenciadas em vários municípios por todo Brasil.

Nesse sentido, Coriolano (2006) afirma que o turismo submete o estado em

favor do mercado. No momento em que as instâncias de gestão municipal não

conseguem perceber a lógica na qual cada área deve funcionar dentro da esfera

municipal, as demandas apresentadas pelos agentes planejadores do cenário

turístico se sobrepõem às necessidades mais emergenciais e básicas no interior dos

municípios. Nisso surgem formas de gestão do turismo diferentes em diversas

localidades, tanto por força das diferentes realidades locais quanto por conta do

paradigma adotado na condução da organização do turismo. Assim, o crescimento

desses interesses antagônicos demonstra a força com que os agentes hegemônicos

do turismo, representados pelos governos e por grandes grupos ligados ao setor

turístico, conduzem o planejamento local dessa atividade.

São esses agentes que promovem o surgimento de destinos turísticos no

âmbito municipal, atuando no sentido de empreender rumo ao crescimento do

mercado turístico local, criando e estimulando a motivação das viagens dos turistas

a partir do poder de compra dessas classes consumidoras. Os municípios acabam

desencadeando o surgimento de novos produtos e serviços especializados no setor,

na tentativa de atrair mais atenção e se destacar em um cenário competitivo. Muitas

facilidades acabam sendo agregadas às viagens, com vistas a fomentar um estilo de

consumo diferenciado nos pacotes turísticos, resultando em amplos investimentos

empregados tanto pelo setor público quanto pelo setor privado. Isso ocorre, de tal

forma e com tamanha força, que até mesmo as comunidades – elemento particular

entre tantos outros no contexto do turismo – se projetam como atrativos turísticos no

cenário nacional e internacional. Isso faz com que o turismo acabe tornando-se um

instrumento capaz de fomentar essa projeção, já que os mercados globalizados não

oferecem mais fronteiras ao consumo do território turístico (DOWBOR, 1996).

71

Além disso, a atual conjuntura é testemunha de uma busca constante do

mercado turístico por novos destinos, já que “produzir e produzir espaço são

sinônimos, a cada novo modo de produção (ou a cada novo momento do mesmo

modo de produção) mudam a estrutura e o funcionamento do espaço” (SANTOS,

2000, p. 1537). A lógica vigente trabalhada pelo turismo é que o espaço se

transmuta na principal mercadoria a ser consumida pela atividade. No entanto, não é

todo lugar que interessa e se presta ao desenvolvimento do turismo, mas apenas

parte dele.

A construção do perfil, condicionantes e dimensões daquilo que se define

como espaço culminou com a estruturação do espaço artificial, definido como sendo

“aquela parte da crosta terrestre em que predomina todo tipo de artefatos

construídos pelo homem” (BOULLÓN, 2002, p. 78), figurando como elemento central

desse contexto as cidades, concebidas ainda pelo titulo de espaços urbanos.

É nesse sentido que a organização local do turismo passa a ser constituída

pelo conjunto de cristalizações erguidas pela ação do trabalho social, de modo que a

própria sociedade cria seu espaço geográfico de atuação, onde nele se realizam,

cristalizam e reproduzem formas duradouras de vivência social, econômica e

política.

Essa questão, atrelada ao turismo, conflui no que se define por espaço

turístico, sendo este uma “consequência da presença e distribuição territorial dos

atrativos turísticos [...] do patrimônio turístico, mais o empreendimento e a

infraestrutura turísticas” (BOULLÓN, 2002, p. 79), necessárias para promover o

desenvolvimento da atividade em um determinado local.

Assim, diversos cenários modificados pela força das políticas, dos agentes

locais e do próprio mercado procuram promover novos territórios e o potencial

turístico que pode lhe ser conferido, conforme apresentado na figura 02. Estes se

tornam a primeira instância de contato dos turistas com o lugar no qual estes estão

visitando. Por isso mesmo é que esses cenários, ou conjunturas, passam a se tornar

o centro da atratividade dos lugares para o turismo (CRUZ, 2002). Na medida em

que o turismo vai se aproximando do meio ambiente, por exemplo, ocorre a

modificação deste último pelo primeiro, condicionando a transformação da paisagem

nativa em um produto turístico.

72

Figura 02 – Relação entre turismo e meio ambiente

Fonte: Elaboração própria, 2011

Observa-se que na medida em que o turismo e toda estrutura que lhe é

inerente buscam se aproximar do meio ambiente, enquanto atrativo, haverá uma

conversão da paisagem de modo a atender as demandas que são oriundas do

mercado turístico. As riquezas naturais e a paisagem, a cultura, os hábitos locais

além da própria economia vêem sendo utilizadas de maneira crescente por esses

agentes, pelo mercado e ainda nas próprias políticas de turismo.

Essa prática acabou conduzida e utilizada nos mais recônditos destinos pelo

mundo. Isto foi possível graças às ações continuadas, fomentadas pelas vocações

turísticas de cada região e, especificamente, em localidades distintas, amparadas

por um amplo leque de políticas de incentivo e fomento ao turismo. Apesar de ser

considerada uma atividade plural e participativa, nem sempre o turismo pode ser

visto como tal. Como afirma Urry (2000):

Uma das perguntas que devem ser formuladas sobre o desenvolvimento do turismo é desenvolvimento para quem? Muitas das facilidades que resultam do crescimento do turismo como atividade econômica – aeroportos, campos de golfe, hotéis de luxo e outros – são de pouco benefício para a massa da população indigente. A maior parte da riqueza que é gerada é assimetricamente distribuída, e a maior parte da população dos países em desenvolvimento participa de uma pequena parcela dos benefícios. A maioria dos empregos gerados nos serviços relacionados ao turismo é relativamente de baixa capacitação e pode reproduzir o servilismo característico dos regimes coloniais. Deve-se perguntar, entretanto, se muitos países têm outras alternativas ao turismo como uma estratégia de desenvolvimento (URRY, 2000, p. 64).

Nesse sentido, ao mesmo tempo em que se utiliza das definições espaciais

também faz uso dos elementos sociais. No entanto, é importante se contestar para

quem serão direcionados todos esses benefícios, ou mesmo se eles existem de fato.

73

Criar e estimular a demanda e, simultaneamente, produzir novos lugares turísticos a

um custo baixo de instalação e manutenção são as diretrizes trabalhadas pelo

mercado. Dada a fragilidade sociocultural e ambiental de muitos lugares, a escassez

de oportunidades e o vasto contexto econômico de possibilidades que podem ser

inseridas, essa vertente acaba ganhando força junto ao desenvolvimento do turismo,

sem que se façam os devidos questionamentos a respeito das reais benesses que

são criadas pela atividade.

Por conta desses fatores, aliado ao desejo de mudança da conjuntura local

vigente, acaba se criando um sentimento de aceitação do paradigma de

desenvolvimento trazido à sombra do turismo. Além disso, vive-se num período onde

a mídia está presente a todo o momento e em cada parcela da sociedade,

enfocando que “haveria, por conseguinte, uma produção de lugares turísticos

alicerçada, em grande parte, na elaboração de um discurso que contribui para [...]

uma fetichização de certos pontos no território” (SILVEIRA, 2002, p. 36). A força com

que se projetam no imaginário público os discursos e as intenções do mercado

ganha uma nova conotação por meio dos recursos midiáticos.

O sentido dessa ação está em imprimir na própria população o sentimento de

que, com a chegada do turismo, todos os problemas deverão ser esquecidos, já que

uma nova perspectiva se projeta no horizonte local. São esses mesmos espaços

que acabam tornando-se um centro de atração para o turismo, configurados como

destinação turística.

2.2 Destinações turísticas: Núcleos receptores

Reunidos em um campo geográfico de atuação, seja ele municipal ou

regional, as destinações turísticas congregam um conjunto de setores produtivos,

tanto relacionados ao turismo quanto a outros setores da sociedade e da economia

local, os quais são passíveis de visitação e promoção no mercado. Constitui-se, por

definição, no local onde as instalações e os serviços foram projetados, ou não, para

atender às necessidades e motivações do turista. Representam o rol de serviços e

produtos vocacionados ao atendimento do turista, mobilizando a construção da

imagem da localidade, além de demandar das políticas públicas a assistência nas

questões de infraestrutura, como manutenção de vias públicas, sinalização turística,

oferta de água portável e saneamento básico, entre outros.

74

As destinações são constituídas por características próprias e traduzem suas

necessidades, seu funcionamento e parte das ativações econômicas, sociais,

estruturais e ambientais que dispõem, buscando otimizar a prestação desses

serviços para que o atendimento aos fluxos turísticos garantam mais qualidade na

estadia e o aumento da permanência dos turistas.

De acordo com Cooper (2001), as destinações são uma composição de

premissas. São amálgamas; constituídos de experiências culturais; de forma

inseparável, e; de utilização múltipla. Considerar as destinações como amálgamas

parte do princípio de que estas se tratam de um núcleo composto por atrações que

promovem entretenimento, amenidades – tais como hospedagem, alimentos e

bebidas, comércio e outros serviços – acesso, seja ele por via terrestre, aérea ou

marítima, e os serviços auxiliares, na forma de outras empresas e organizações

locais, voltadas para suprir as demandas tanto dos turistas quanto da própria

comunidade local.

As experiências culturais referem-se ao planejamento das paisagens e de

suas características próprias, permitindo um maior aproveitamento do potencial

natural e viabilizando a construção da experiência do turista. Por isso, a vivência e a

cultural local são trabalhadas de modo a oferecer um aproveitamento único, da

forma que é possível reter certas lembranças e situações na memória estando

naquela localidade, usufruindo da experiência proposta pelos elementos que fazem

o destino.

Já no que se refere à inseparabilidade, diz-se que é algo característico da

própria natureza do turismo, pois o mesmo só é consumido onde é produzido. Não

existe uma forma de produção, estocagem e despacho para o consumidor. O

turismo é, em si, uma experiência momentânea, que só se permite ser usufruída no

próprio local onde a mesma se situa.

Daí se conferir à destinação esta característica ímpar, de inseparável,

inexistente fora de onde a mesma se origina. Com relação à utilização múltipla, o

conceito advém do fato que tanto os visitantes quanto os seus residentes se utilizam

daquela localidade e daquilo que lhe constitui. É possível, por meio desta

característica, definir se a localidade será utilizada parte por visitantes e residentes,

somente residentes ou exclusivamente ao atendimento do turista que a visita.

Naturalmente podem coexistir outras atividades que não necessitam,

obrigatoriamente, do envolvimento exclusivo com o turismo. Até certo ponto, pelo

75

fato da múltipla utilização, podem ser gerados conflitos nesta localidade por conta de

interesses divergentes entre essas múltiplas atividades. De concreto nisso é preciso

compreender que as destinações não podem ser muradas exclusivamente para o

desenvolvimento de uma única atividade, como é o caso do turismo, já que outras

vertentes podem estar estabelecidas a muito mais tempo do que o turismo.

Quando esses locais passam a ser tomados pelo turismo acredita-se que a

ação desempenhada por seus agentes aliados ao fato de que destinos, outrora

consolidados, já apresentam sinais de decadência, fazendo com que o mercado

busque pela existência de outros produtos voltados ao turismo, levando os agentes

produtores do território turístico – constituído pelo território inventado e produzido

para os turistas – a lograrem êxito quando decidem pela formatação desses cenários

turísticos desejados pelo imaginário do turista.

A dinâmica territorial é constituída de uma constante criação e recriação de

territorialidades. A força exercida pelos agentes do território estabelece essa

transformação e a escolha pelo composto territorial que o lugar acabará assumindo.

Isso porque os agentes que operam frente ao desenvolvimento local estabelecem

diretrizes de ação em diferentes formas e em diferentes segmentos econômicos,

socioculturais e políticos.

2.3 Agentes locais e mercado

É possível afirmar que a dinâmica territorial é sempre criação e recriação de

territorialidades. A questão repercute diretamente na força exercida entre os atores

sociais hegemônicos da localidade, já que parte deles as decisões em instalar ou

não grande empreendimentos nos lugares com vocação turística, estabelecendo,

assim, a escolha pelo composto territorial que o lugar deverá assumir (RODRIGUES,

2006).

Considerando isso, Knafou (1996) acredita que a produção do território

turístico é resultante da ação de três agentes bem distintos. São eles: o turista, o

mercado e os planejadores ou promotores territoriais. É preciso também salientar

que ambos atuam em órbitas distintas de formulação dos cenários turísticos, dentro

de suas especificidades, convergindo para os anseios de um amplo número de

interesses envolvidos. O turista está situado sob o foco da demanda, buscando por

destinações ofertadas no mercado e tidas como propícias ao atendimento dos seus

76

desejos, motivações e interesses. O grande leque de interesses e motivações

desses turistas faz surgir, por sua vez, um grande número de destinos turísticos que

se propõem a atender essa demanda. Por conta disso, existem destinos que

oferecem desde praias e locais paradisíacos à grandes urbes, as quais dispõem de

uma programação capaz de atender a esse público durante 24 horas por dia. A

grande pressão que exerce o turista por força de seus desejos faz com o mercado

responda em igual medida, ofertando serviços cada vez mais distintos e

especializados.

Desse modo, o mercado se vê induzido a buscar novos destinos que

atendam, ou mesmo despertem, novas tendências junto ao seu público consumidor.

Isso implica dizer que cada vez mais a resposta dos investidores, empreendedores e

especuladores dos interesses no turismo atuam no sentido de oferecer um conjunto

maior de atrativos – na forma de destinações – que seduzem os turistas,

estimulando a buscar essas novas experiências.

Isso porque a relação entre o turista e o destino visitado “é sempre transitória,

passageira e, em grande parte das vezes, fugaz e superficial” (CRUZ, 2002, p. 109).

Por meio da grande abrangência com a qual a atividade turística é capaz de

mobilizar – já que 55 setores da economia podem ser beneficiados – o mercado

assume um peso representativo na disputa pela formatação do destino turístico,

dado o montante de interesses e interessados em adquirir com o turismo parte dos

insumos, investimentos e lucros que são gerados.

A força desses dois agentes acaba por mobilizar o terceiro produtor do

território turístico, os planejadores ou promotores territoriais. Representado pela

figura dos gestores públicos – estejam eles posicionados na esfera nacional ou

municipal – assumem a responsabilidade de constituir à destinação o status e o

perfil ideal de atendimento desta perspectiva. Desde o planejamento de obras e

serviços que subsidiem uma infraestrutura necessária, a instalação de equipamentos

capazes de desenvolver uma determinada localidade até a promoção deste mesmo

destino em mercados nacionais e internacionais especializados, os agentes

planejadores do território detêm um papel fundamental nesse processo: promover e

mediar o desenvolvimento local a partir de suas próprias potencialidades.

O quadro apresentado pela figura central do turismo perfaz o seguinte

contexto: os turistas desejam estar num local que reúna todas as condições

elencadas pelos mesmos como ideais e aprazíveis; os empresários identificam esse

77

desejo e projetam suas ações na construção desse cenário ideal e que é o objeto de

desejo desses turistas; por fim, o governo procura fomentar a ocupação do seu

território efetivando um cenário turístico que é planejado pelos empresários e,

paralelamente, desejado pelos turistas. Desta forma, o apoio integral de tantos

interessados na instalação ou ampliação do cenário turístico é vislumbrado, sendo

capaz de mobilizar novos mercados e conduzir à reprodução desse modelo de

turismo, amplamente consolidado em regiões carentes de oportunidades

econômicas e fragilidade sociocultural e ambiental. No entanto, nem sempre é

possível fazer somar os anseios dos turistas e do mercado junto aos planejadores

locais. Isso porque a este último também cabe a defesa dos interesses daqueles que

residem na localidade e que, certamente, recebem algum impacto decorrente da

pressão resultante da exposição de anseios e ações geradas pelo turismo, pesando

nos residentes os esforços empreendidos pela ação dessas múltiplas forças.

Ante a isto, a atividade turística e as próprias destinações acabam ganhando

força, prevalecendo o discurso da geração de emprego, renda, melhoria da

qualidade de vida, desenvolvimento local e captação de recursos que venham a ser

investidos localmente. Muitos desses grandes interesses serão atendidos, em

detrimento de outros considerados menores, sob a figura da chamada

reterritorialização dos espaços, definida por Santos (1985).

Tal situação ocorre quando se recriam novas configurações territoriais numa

determinada localidade, diferentes daqueles que ocupavam este espaço

anteriormente. Aquela atividade, antes empreendida no território, perde sua

atratividade para outra. Após a instalação dessa nova atividade no lugar de sua

antecessora, é possível promover uma nova conotação, tanto econômica quanto

social e política, aumentando de forma significativa os recursos gerados por esta

nova forma de produtividade do território.

Acaba por ganhar força, nesse contexto, o discurso do desenvolvimento

turístico local e a ele se aliam diversos agentes que atuam no universo dos

interesses que podem ser gerados. A idéia toma forma por meio da modernização

dos aspetos locais que passaram a atender o turismo.

Esta conjuntura perpassa um âmbito global de interesses, pois percebe-se o

esforço governamental em incentivar as frentes produtivas locais com vistas ao

turismo, configurando tentativa de modernização local, já que opera na perspectiva

de receptividade a todos os povos e captação de investimentos e dividendos

78

econômicos, em detrimento de qualquer circunstância social ou ambiental que possa

vir a divergir desse escopo (CORIOLANO, 1998). Disso denota um grande esforço,

por parte dos planejadores e agentes locais, em buscar reterritorializar a destinação

turística, contando com os anseios do mercado consumidor – ainda mais se este for

internacional – que virá a compor o cenário turístico local, usufruindo o espaço, suas

paisagens, sua cultura e sua gente, dividindo o campo de atenção com todos os

agentes turísticos locais. Parte desses planejadores são pessoas comuns da própria

comunidade as quais, diante das novas dimensões que se abrem com o turismo,

passam a buscar seu espaço nessa cadeia produtiva, investindo em produtos e

serviços que se prestam ao atendimento do turismo.

Esse esforço, caracterizado pelo desenvolvimento de natureza endógena,

configura o destino turístico na perspectiva de uma maior pluralidade social e

econômica. Os agentes locais, por si mesmos, mostram-se capazes a modificar suas

percepções e limitações locais, buscando atender e se aliar aos anseios e interesses

instalados por força do turismo.

Com o avanço desse paradigma e o próprio desenvolvimento turístico nas

localidades, surgem investidores ávidos por novas perspectivas de aproveitamento

do potencial local, enxergando no turismo e em determinadas destinações a

oportunidade ideal de obter ganhos relevantes. Daí que nesta destinação o capital

externo se apropria de equipamentos, produtos e até serviços com o intuito de se

lançar na produção e potencialização do espaço turístico. O desenvolvimento

endógeno acaba cedendo espaço, posteriormente, ao exógeno.

Por conta da natureza desses investimentos, pela procura do turista em obter

produtos com padrão de qualidade superior e muitas vezes encontrado apenas no

cenário internacional, deduz-se que os investimentos externos ganham força e

campo amplo no mercado local. As grandes empresas começam a instalar-se em

boa parte da localidade, por meio dos circuitos financeiros e pelo próprio estímulo

gerado pela ação dos agentes locais, movimentando dólares para qualquer parte do

globo, desde que sejam do seu interesse, submetendo todos a uma cultura global

(CORIOLANO, 1998).

Outro aspecto, relacionado a este ponto, diz respeito à domesticação do

lugar, já que em muitos casos os visitantes podem estar em um determinado local

sem que haja qualquer contato com a comunidade local. Assim, o turismo acaba

tornando-se “uma cultura mundial, reproduzindo, em várias partes do mundo, um

79

mesmo sistema homogêneo de espaços artificializados [...] que representam

aspectos contemporâneos movidos pelo capital global” (BORBA, 2005, p. 34). Tais

padrões, tidos como mundiais, encontram-se alheios à cultura e aos costumes

locais, instalados e elevados ao status de retórica local.

A lógica do turismo, no âmbito local, é aquela em que o espaço se transmuta

na principal mercadoria do turismo. Enquanto a comunidade busca uma solução

para fomentar o desenvolvimento do turismo, por meio da sua própria capacidade de

mobilização e empoderamento, o poder público procura fomentar a chegada de

novos investimentos, muitos desses de capital internacional, procurando com isso

promover uma tentativa de recolonização da localidade. Em uma mesma localidade

coexistem, no âmbito do turismo, desde empresas de natureza familiar e sem uma

linha hierárquica de gestão clara, até grandes empreendimentos multinacionais com

uma política de trabalho e gestão institucional padronizada.

Em ambos os casos, é perceptível a múltipla atuação de atores distintos em

um mesmo cenário local, objetivando atuar na perspectiva do desenvolvimento

turístico e oferecendo produtos e serviços aos visitantes. Apesar dos interesses

convergentes – desenvolver turisticamente determinada destinação – as práticas e

os resultados constituem-se bastante diferentes, já que as perspectivas locais se

voltam ora para o desenvolvimento endógeno, ora para o exógeno.

É por meio do discurso a cerca do desenvolvimento local, sobretudo no que

se refere aos padrões de desenvolvimento turístico, que se reproduzem localidades

com condições idênticas de exploração e conjuntura. A intenção é de tornarem-se

destinos turísticos de qualidade internacional, conduzindo determinados cenários à

inerente turistificação, em cujas bases se dá a padronização dos serviços, atrativos

e estruturas de suporte ao turismo, de certo modo em dimensões bastante

antagônicas frente ao contexto do seu entorno local.

A composição da destinação vai sendo analisada sob a égide mercadológica

de exploração do seu valor paisagístico e turístico, de suas características

topográficas, proximidade dos centros de suporte regionais, beleza cênica,

infraestrutura instalada e necessária para viabilizar a operacionalização de

equipamentos turísticos, além do apoio político que pode ser obtido, por meio da

ação dos atores governamentais em suas esferas de promoção de poder.

Não só as empresas, mas também os gestores públicos vêm intensificando a

aceitação dessa idéia, já que os múltiplos olhares que convergem para o

80

desenvolvimento atuam em múltiplas propostas. Frente ao contexto nacional de

organização do setor turístico, os municípios passaram a operar numa mesma

perspectiva, desenvolvendo secretarias ou departamentos responsáveis pela gestão

institucional do turismo no âmbito local, respectivamente, buscando construir bases

necessárias ao desenvolvimento da atividade em suas representações.

Todo esse empenho despendido vem resultando em ações interdisciplinares,

as quais procuraram priorizar o desenvolvimento do turismo aliado, de modo

intersetorial, a áreas como de saneamento básico, abastecimento de água, rede

coletora de resíduos, energia elétrica, pavimentação, segurança, saúde, educação e

emprego no âmbito local, priorizando parte de infraestrutura necessária ao

desenvolvimento local voltado para o turismo.

Esse suporte é de extrema importância para a localidade, tendo em vista a

necessidade de se instalarem equipamentos e empreendimentos necessários ao

pleno desenvolvimento local, o qual se volta inexoravelmente para o turismo. Assim,

a infraestrutura permite a chegada e ocupação da superestrutura, viabilizando por

conta das políticas de desenvolvimento turístico nas destinações o amplo acesso

aos recursos que projetam o turismo no campo local.

Entre tantas atividades que podem viabilizar o projeto de desenvolvimento do

turismo local, em especial, é responsável por abranger e demandar um amplo

conjunto de elementos, tanto da infraestrutura quanto da superestrutura. Os meios

de hospedagem representam significativa parcela desse contexto e de boa parte do

desempenho deste. Tal perspectiva será melhor abordada a seguir.

81

3 TURISMO E MEIOS DE HOSPEDAGEM

Considerado um dos setores mais representativos na atividade turística, os

meios de hospedagem detêm uma relação histórica importante frente ao

desenvolvimento desta atividade em todo o mundo. Por conta da envergadura que

mobiliza, é correto afirmar que se trata de um amplo campo de promoção

econômica, sociocultural e política da atividade turística, já que a empresa hoteleira

é “um dos elementos essenciais da infraestrutura turística, constituindo um dos

suportes básicos para o desenvolvimento do turismo num país” (BENI, 1998, p. 17).

Indo mais além dessa perspectiva, a hospedagem pode ser caracterizada

como o maior setor na economia turística e ainda o mais presente. Isso porque “os

turistas querem um lugar que possam descansar e recuperar suas energias durante

as viagens ou estadas em uma destinação” (COOPER, 2001, p. 350). Tem-se a

hospedagem como uma estrutura essencial na promoção do desenvolvimento

turístico e da própria destinação, na medida em que divisas, capital social, recursos

naturais e investimentos são gerados, permitindo que essas instalações cumpram

seu papel de fomentar a atividade do turismo em cada localidade.

O ponto que marca inicialmente a utilização da hospedagem voltada à

promoção do turismo é considerado por muitos autores – Cooper (2001), Beni

(1998), Borba (2005), Oliveira (2002), Ignarra (1999), Castelli (1992) e Rejowski

(2002) – como o início dos Jogos Olímpicos. Milhares de visitantes dirigiam-se para

a Grécia antiga com o intuito de assistir aos jogos, os quais duravam vários dias.

Eles permaneciam alojados em balneários e hospedarias, muitas das quais

oferecendo alimentação junto à estalagem no local. Os deslocamentos desse grande

número de pessoas eram executados pelas estradas que, mais tarde – com a

ocupação e expansão do Império Romano – tornaram-se outro importante

mecanismo de desenvolvimento para o turismo. Por meio da expansão do império

junto às cidades conquistadas, os Romanos dominavam o tráfego pelas estradas,

tornando-as importante meio de escoamento dos suprimentos aos exércitos e

comunicação (CASTELLI, 1992).

No entanto, dadas as grandes distâncias que passaram a ser percorridas

entre as cidades conquistadas, logo se viu a necessidade de oferecer um maior

número de hospedagens aos viajantes. Após a construção da Via Appia, pelo

82

Imperador Romano Apio Claudio no século IV a.C., e dos demais caminhos que

levavam a Roma, os deslocamentos passaram a demandar melhores condições de

estalagem, pois até este ponto os viajantes permaneciam em casas particulares,

templos pagãos dominados pelo exército ou em acampamentos fora das estradas. O

crescimento do número de vias acarretou igualmente no aumento do número de

hospedagens, já que a Pax Romana – de 29 a.C. até meados de 180 d.C. –

assegurou o desenvolvimento dessas estruturas. Surge nesse momento os centros

de tratamento termal, os quais acabaram viabilizando a conjunção entre

deslocamento, hospedagem e descanso. Dadas as condições dos meios de

transporte, que não percorriam mais do que 60 quilômetros diários, as viagens

acabavam durando alguns dias, o que, por sua vez, viabilizou o crescimento de uma

gama de estalagens que ofereciam tais facilidades aos viajantes (CNC, 2005).

Entre as obrigações que os proprietários das estalagens tinham de cumprir

para com o exército estavam: a vigília permanente à noite, garantindo a segurança

dos hóspedes; o registro do nome, a procedência e a nacionalidade dos mesmos,

além do destino para o qual sua viagem estava sendo conduzida. Por conta das

conquistas e da expansão do império muitos hábitos dos povos conquistados foram

se incorporando aos usos e costumes empregados na hospitalidade. Com o fim do

Império Romano e o advento do Cristianismo crescem as peregrinações e com elas

um grande número de fiéis, havidos por visitar as localidades sagradas para o

cristianismo. Os locais, dados ao repouso desses peregrinos, passaram a ser

chamados de pousadas, configurando uma nova mudança no paradigma da

hospitalidade até então. Nesse momento, os próprios hóspedes cuidavam dos

serviços que deveriam se utilizar, tais como alimentação, iluminação e roupas de

dormir na estalagem, não havendo qualquer cobrança de taxas ou impostos por isso

(OLIVEIRA, 2002).

Tempos depois, os serviços oferecidos passaram a ser cobrados aos

viajantes que usufruíssem dessas estalagens, tornando a atividade, de certa forma,

um pouco mais profissionalizada, já que eram oferecidas algumas amenidades aos

viajantes, tais como comidas, bebidas, massagens e outras peculiaridades, de modo

que surgiram muitos equipamentos desse tipo em toda Europa. Com isso, a ordem

religiosa cristã passou a oferecer aos jovens ricos uma experiência de conhecimento

por outras culturas, permitindo que estes jovens adquirissem um grande volume de

conhecimentos sobre diferentes campos do saber, das artes e da cultura em geral.

83

Eram promovidos os chamados Grand Tours, onde acompanhados de seus tutores,

os jovens teriam condições de absorver o máximo de conhecimento que essas

experiências pudessem oferecer (CNC, 2005).

O desenvolvimento dos meios de transporte, sobretudo por conta do

crescimento das vias férreas e dos trens em meados de 1840, fez com que a

hotelaria se modernizasse, já que os grandes fluxos de passageiros trazidos por

essas máquinas iriam deslocar um grande volume de potenciais hóspedes para

esses equipamentos. Igualmente nas zonas portuárias a quantidade de pousadas e

albergues multiplicava-se, dado o grande volume de navios e passageiros que

passaram a se deslocar por todo planeta. O crescimento da hotelaria foi

interrompido pela primeira Guerra Mundial, em 1914. No entanto, já em 1920,

grandes investimentos foram executados, desta vez no mercado hoteleiro dos

Estados Unidos da América, com a inauguração de luxuosos hotéis, equipados com

a mais moderna estrutura disponível na época, além de um amplo rol de serviços

disponíveis aos hóspedes. Este mercado foi, sem dúvida, o mais expressivo no que

tange ao desenvolvimento dos meios de hospedagem. Foi justamente após a

Segunda Guerra Mundial (1931 a 1941) que o setor hoteleiro norte americano

obteve maiores ganhos com o crescimento do setor, já que milhares de americanos

trabalharam muito para permitir a construção e inauguração de muitos hotéis por

todo país, dadas as condições favoráveis que a venda de armamentos para

fomentar a guerra estavam sendo negociados. Nesse momento, surge o conceito

das redes hoteleiras, que trabalhavam no sentido de estabelecer padrões de

qualidade para todos os empreendimentos relacionados à sua marca ou bandeira

(CASTELLI, 1992).

No Brasil da década de 1970, o setor hoteleiro mostrou-se muito promissor

por meio da ampliação do número de leitos, no crescimento da qualidade e

diversidade de meios de hospedagem. Outro fato marcante deu-se por conta da

chegada das cadeias hoteleiras internacionais, responsáveis por grande parte

dessas transformações, além dos investimentos na área. Instala-se, em São Paulo,

no ano de 1975 a primeira cadeia hoteleira internacional, a Hilton. Na época,

gerenciando 400 apartamentos, a rede hoteleira empreendeu uma nova filosofia no

âmbito nacional. Outras redes também se instalaram no país, a exemplo da Holiday

Inn (1975), Sheraton (1975) e as francesas Meridian (1975), Novotel (1976) e Club

84

Mediterrané (1977), destacando a forte tendência do Brasil em captação de capital

internacional (REJOWSKI, 2002).

Diversos cenários marcaram o desenvolvimento da atividade turística no

âmbito internacional. Isto, por sua vez, permitiu que o turismo passasse a ser

trabalhado sob uma perspectiva internacional de qualidade e gestão. Muitos

elementos desta trajetória foram amplamente incorporados ao setor hoteleiro, o qual

hoje opera com base em muitos destes princípios instituídos na história da atividade.

O registro dos hóspedes e sua procedência, a duração de sua estada, os serviços

que podiam lhes ser oferecidos, o valor desses serviços, todos estes elementos

aliaram-se ao composto operacional dos equipamentos hoteleiros e permitiram que

a dinamização no mercado internacional aportasse em empreendimentos nacionais.

Justamente o peso exercido por este setor acaba por projetar, em muitos mercados

globais, a estrutura que demanda padrões internacionais de trabalho, operação e

gestão para os diversos meios de hospedagem que podem ser encontrados em

operação.

Sua segmentação é bastante variável, constituída por hotéis padrão – aqueles

em que simplesmente é possível passar a noite; hotéis de praia – equipamentos

onde é possível usufruir deste tipo de recurso natural como principal motivação para

lazer ou recreação; hotéis de montanha – localizados nas encostas ou no alto de

montanhas, novamente com a utilização do recurso natural como principal estimulo

à visitação; hotéis fazenda – onde é possível retomar parte da vida do campo

durante alguns dias, já que a rotina nas grandes cidades não permite mais tal

convivência; hotéis especializados em eventos e convenções – nos quais a visitação

está condicionada à participação de alguma atividade ou compromisso previamente

agendado e em grupos; hotéis em terminais de transporte – equipamentos

localizados próximos ou mesmo dentro de aeroportos, portos, estações de metrô,

rodoviárias ou ferrovias, para viajantes que se encontram em trânsito ou aguardando

o deslocamento; hotéis de estação de inverno – situados em regiões frias e que

exploram as atividades recreacionais relacionadas com a neve; eco-hotéis –

equipamentos situados em áreas naturais protegidas pela legislação ambiental,

florestas, balsas flutuantes, onde é possível se obter maior contato com a natureza;

hotéis de saúde – destinados exclusivamente a atender pacientes em tratamento

restrito ou regulado, e; hotéis resort – caracterizados por se localizarem em áreas de

85

forte potencial turístico e que oferecem uma ampla variedade de produtos e serviços

aos seus hóspedes (OLIVEIRA, 2002).

Todos estes empreendimentos dispõem de especificidades definidas pela

localização, potencial turístico existente no destino onde estão instalados,

capacidade de suas acomodações, números de serviços ofertados, grau de

desenvolvimento local e infraestrutura local de suporte disponível. A partir disso é

possível mensurar o contexto em que se dá o grau de interação econômica,

sociocultural e ambiental integrada a cada um desses meios de hospedagem. É

importante destacar que, por se tratar do setor mais representativo para a atividade

turística, seu gerenciamento resulta em múltiplas relações que podem ser

constituídas no destino turístico, seja pelo seu volume de participação na economia

local, na geração de empregos, na captação de novos investidores e

empreendimentos de suporte, seja pela participação social resultante de seu

funcionamento.

Apesar de serem concebidos exclusivamente para hospedar os viajantes

oriundos de regiões longínquas, os meios de hospedagem servem também aos

residentes, na forma de empregos, recursos captados para a localidade e na

movimentação da economia local.

3.1 A hotelaria: Significativo elo da cadeia

Os empreendimentos turísticos são integrados por equipamentos e pelas

instalações turísticas. O primeiro inclui todos os estabelecimentos administrados

pelo poder público, os quais se dedicam à prestação de serviços básicos. Já o

segundo diz-se das construções especiais, cuja função é facilitar a prática de

atividades puramente voltadas ao atendimento do turismo. Neste último destacam-

se os meios de hospedagem, tais como os hotéis, pousadas e outros equipamentos

hoteleiros. O hotel é, por natureza, um dos equipamentos mais significativos em

termos de operação dentro da constituição dos meios de hospedagem. Dedica-se,

exclusivamente, a prestação de serviços àqueles que se hospedam em suas

instalações, inserindo-se no setor terciário da economia. Hospedar viajantes

constitui-se numa das mais importantes atividades do mundo, e também uma das

mais antigas.

86

Os meios de hospedagem podem operar a partir de um pequeno escritório

gerencial até por amplos e complexos departamentos administrativos, responsáveis

pela gestão partilhada de vários setores do empreendimento. Isso vai depender do

tamanho do empreendimento e das demais estruturas de suporte que serão

demandadas. Entre esses setores, alguns se destacam como essenciais ao

funcionamento do hotel, de acordo com Castelli (1992). São eles:

▪ Recepção – responsável por receber, registrar e orientar a estadia dos hóspedes,

tanto na chegada quanto na saída destes;

▪ Reservas – responsável pelo controle de ocupação e acomodação dos hóspedes

junto à sua estrutura;

▪ Governança – responsável pela higienização dos ambientes comuns do

equipamento, além da limpeza e organização de cada unidade habitacional;

▪ Alimentos e bebidas – responsável pela gestão de bares, restaurantes ou outras

estruturas existentes no empreendimento e responsáveis pela alimentação aos

hóspedes;

▪ Segurança – responsável pela vigilância das áreas comuns e pela seguridade do

local;

▪ Lavanderia – cuida da manutenção e higienização de peças de uso dos hóspedes

e dos demais ambientes do equipamento;

▪ Manutenção – responsável por zelar por todos os equipamentos e demais áreas

comuns no empreendimento;

▪ Eventos – setor comum apenas para grandes empreendimentos hoteleiros, cujo

objetivo é de organizar todas as demandas referentes à organização de eventos nas

imediações do equipamento;

▪ Esportes e lazer – responsável por produzir uma série de atividades e vivências

visando o lazer e entretenimento dos hóspedes.

Toda essa estrutura precisa ser operacionalizada por um amplo capital social.

Por conta disso a hotelaria “emprega pessoas para cobrir praticamente todas as

atividades em todos os setores, e por isso qualquer escassez de mão-de-obra tem

reflexos imediatos e diretos em seu funcionamento” (BENI, 1998, p. 195). A ampla

segmentação do mercado hoteleiro tornou-se uma realidade consolidada, de modo

que há uma grande variedade de equipamentos com serviços, estrutura e facilidades

87

diferenciadas, de acordo com sua gestão operacional. São hotéis econômicos, com

reduzida tarifa e preços de serviços, até mega resorts de luxo, cujos serviços

ofertados podem ser vistos como um diferencial e tornam-se na própria motivação

que fomenta sua visitação. Até a instalação desses equipamentos vem sendo

facilitada pela ação governamental. Os investimentos que parte dos bancos estatais

– sobretudo no contexto brasileiro – subiram mais de 500% desde o ano de 2003.

Muitos dos empréstimos que foram liberados destinaram-se a investimentos em

obras, instalações e maquinários, além de capital de giro e outros usos no setor

hoteleiro (R7, 2011).

No mercado turístico atual, um dos maiores produtos hoteleiros

comercializados são os resorts. Tanto que sua expansão acabou formando uma

nova designação para as viagens turísticas, já que a motivação da demanda

fomentou o crescimento do turismo de resorts em todo o mundo, de modo que os

empresários do setor investem em modelos de empreendimentos hoteleiros de

grande porte como esses (MILL, 2003). Associado ao fato de se obter capital estatal

que financie esses empreendimentos e com a chegada de grandes grupos de

investidores estrangeiros no Brasil, o crescimento do turismo de resorts tornou-se

uma realidade cada vez mais presente em vários destinos no país.

3.2 O turismo de resort

Os resorts perfazem uma trajetória de origem incerta. Fundadas a partir dos

banhos públicos no século II a.C. essas instalações localizavam-se próximo a fontes

de água mineral, por conta dos fins terapêuticos que esses locais ofereciam.

Algumas atividades eram voltadas ao lazer e ao esporte, “praticados em espaços

abertos e com excelentes condições climáticas” (BORBA, 2005, p. 32). Estes

empreendimentos, com as parte das características que lhe constituem, surgiram na

Europa, especificamente na Inglaterra e França, por volta do século XVIII. Já no

século XIX surge nos Estados Unidos e começam a se proliferar por todas as

cidades costeiras daquele país, promovendo potencial desenvolvimento turístico

destes meios de hospedagem. Devido ao amplo nível de competitividade no

mercado mundial, os resorts tendem a se instalar, preferencialmente, em locais

caracterizados pelo segmento turístico “sol e mar”. São destinos com forte atração

turística tais como balneários, parques nacionais ou ainda em regiões exóticas e

88

pouco exploradas. A expansão desse tipo de meio de hospedagem remonta a uma

tendência de expansão do próprio turismo, pois em diversas partes do mundo

“construíram-se hotéis e resorts como edifícios isolados [...], muitos cercados por

novas construções, levantados em loteamentos colocados no mercado com

antecedência para aproveitar a mais-valia gerada nas terras adjacentes por tais

empreendimentos” (BOULLÓN, 2002, p.231). Após a instalação desse tipo de

equipamento turístico, uma onda de valorização imobiliária em seu entorno é

amplamente sentida pela comunidade local e por todos aqueles que habitam nas

proximidades destes hotéis.

Constituídos por amplas áreas de lazer e recreação, permitem que os clientes

desfrutem longos períodos de tempo apenas estando dentro de suas imediações,

tornando desnecessário ou mesmo dispensável a saída do equipamento para obter

qualquer relação com o seu entorno. Todos os serviços necessários no interior do

resort, e ao pronto atendimento do hóspede, estão disponíveis durante toda estadia,

não sendo cobrados valores extras para o pagamento desses serviços.

Os mesmos já foram embutidos no preço previamente pago pelo hóspede no

ato da entrada no empreendimento ou, por conta da compra de um pacote turístico –

onde podem ser obtidos todos os serviços, passeios e demais amenidades

necessárias na viagem, a um custo fixo. Isso leva a crer que “os resorts são, talvez,

a forma organizacional turística mais moderna que centraliza um conjunto de

serviços” (SILVEIRA, 1999, p.41). Muitos desses resorts vêm adotando esse sistema

que permite ao hóspede pagar de uma só vez todos os serviços oferecidos pelo

empreendimento. Esse sistema foi designado de All Inclusive (do inglês, tudo

incluso).

Lançado em 1976 por John Issa, Presidente da cadeia de resorts jamaicana

Super-Clubs, rapidamente esse sistema foi implantado em todos os hotéis de sua

propriedade, situados no Caribe. A aposta deu-se na inclusão de todos os serviços

oferecidos no equipamento, pagos previamente pelo hóspede, que iam desde

qualquer prato da gastronomia disponível no resort até toda ampla rede de

facilidades e serviços disponíveis, tais como aulas de equitação, competições no

campo de golf, sauna, piscina, tratamentos de beleza e recuperação no Spa,

passeios a cavalo, entre outros (OLIVEIRA, 2002). Logo, o sistema foi amplamente

bem aceito pelo mercado americano e canadense – os maiores consumidores de

viagens e turismo do mercado caribenho na época – de modo que todos os demais

89

equipamentos dessa categoria hoteleira passaram a oferecer o mesmo sistema de

funcionamento. Muitos resorts, inaugurados após essa iniciativa, começaram

exclusivamente operando dessa forma. Isso exigiu dos equipamentos vigilância

permanente em toda estrutura, de modo que o padrão de qualidade oferecido não

ficasse a desejar em decorrência da promessa de fartura e total liberdade de

consumo.

Por sua envergadura e organização operacional, os resorts podem ser

descritos sob diversas tipologias, tais como resorts litorâneos, de campo,

montanhas, ecológicos, entre outros. Na sua essência, essas instalações são

compostas por uma série de serviços que podem ser desfrutados pelos hóspedes,

com uma variabilidade em sua oferta que vai desde a arrumação do quarto a

qualquer tempo que seja solicitado pelo hóspede, até a permanente disponibilidade

de atividades recreativas para todos os membros de uma família. Atribui-se ao

conceito de resorts da atualidade, de acordo com Resorts Brasil, uma série de

características que conferem a identidade e o leque de serviços que são oferecidos

na estrutura desses equipamentos. A partir do próprio posicionamento de mercado

trabalhado pelo marketing turístico desse equipamento, os resorts brasileiros

adotaram a seguinte definição:

Empreendimentos hoteleiros de alto padrão em instalações e serviços, fortemente voltados para o lazer em área de amplo convívio com a natureza, na qual o hóspede não precise se afastar para atender suas necessidades de conforto, alimentação, lazer e entretenimento (RESORTS BRASIL, 2010).

Já o MTUR, desde 2009, vem trabalhando na classificação, características e

estrutura hoteleira que definem este tipo de empreendimento e todos os demais

meios de hospedagem em operação no país. O resultado foi a publicação de uma

série de cartilhas que apresentam as características desses empreendimentos.

Segundo o mesmo, o intuito é de criar mecanismos que possam auxiliar os turistas

na escolha pelos equipamentos que atendam suas necessidades ou motivações.

Sendo assim, foram criadas várias cartilhas que contemplam os mais distintos meios

de hospedagem em operação no país, nas quais estão descritas todas as

informações que constituem cada equipamento. Segundo a cartilha de classificação

que define um resort, este empreendimento define-se como “hotel com infraestrutura

90

de lazer e entretenimento que disponha de serviços de estética, atividades físicas,

recreação e convívio com a natureza no próprio empreendimento” (BRASIL, 2010b).

Em cada uma destas conceituações há similaridades e limitações, sobretudo

no que se refere aos serviços que são oferecidos no empreendimento. A paridade

entre ambos aponta, certamente, para o conjunto de estruturas necessárias ao

atendimento das demandas de lazer, recreação e entretenimento. Já no que tange

as suas limitações, fica caracterizado que o primeiro conceito acredita que todas as

necessidades dos hóspedes podem ser supridas no interior do equipamento, sendo

desnecessária a saída deste para buscar qualquer motivação ou interesse fora do

equipamento. O segundo conceito não evidencia esta circunstância, sobretudo

porque partindo de uma política pública fomentada pela instância máxima de gestão

do turismo nacional, é perceptível que quanto maior for a pluralidade de produtos e

serviços pelos quais os hóspedes puderem desfrutar, melhor será para a economia

e para os setores produtivos fora da estrutura do resort, isto é, toda comunidade

local.

Os resorts dispõem de características distintas aos demais meios de

hospedagem em operação, seja pelo porte estrutural que congregam seja pela gama

de serviços prestados. Tal distinção se deu por conta dos requisitos exigidos, ao

longo do tempo, pela demanda, de modo que os hóspedes solicitavam ou sugeriam

determinadas condições e serviços, os quais passaram a se incorporar ao conceito

do equipamento. Além disso, estes meios de hospedagem passaram a operar com

um número mínimo de Unidades Habitacionais – UH´s para lhe conferir mais uma

característica especifica. A UH é o local destinado ao uso privativo do hóspede

dentro do equipamento, constituindo-se num apartamento, chalé ou quarto usado

para fins de estadia e repouso (SOUZA e CORRÊA, 2000). Visando ponderar com

maior especificidade as características que constituem um resort o MTUR (BRASIL,

2010b) estabeleceu vários requisitos que devem ser atendidos por um equipamento

dessa natureza. Entre eles destacam-se:

• Serviço de recepção aberto 24 horas; • Serviços de mensageiro no período de 24 horas; • Serviços de cofre em 100% das UH´s para guarda dos valores dos hóspedes; • UH com 25m²; • Colchões das camas com dimensões superiores às normais; • Medidas de sensibilização aos hóspedes relativas à sustentabilidade; • Pagamento com cartão de crédito ou de débito.

91

A partir do exposto, percebe-se que um dos principais fatores de

diferenciação dos resorts – comparado a outros meios de hospedagem – refere-se

aos serviços prestados. A oferta destes, durante todo dia e a noite, concede ao

hóspede maior liberdade de usufruto sem que seja necessário regular horários de

funcionamento ou mesmo condicionar o uso ao horário estabelecido pela

administração do empreendimento Segundo Mill (2003), a maior condição que deve

ser respeitada pelo resort, junto aos seus clientes, constitui-se no total atendimento

das suas motivações e desejos, garantindo plena satisfação e suporte necessários

ao hóspede, resultando num trabalho voltado à qualidade de todos os elementos

existentes no empreendimento. Outro importante elemento que compõe a ampla

estrutura dos resorts é a gastronomia, uma vez que por estarem um pouco mais

afastados dos centros urbanos é preciso que este setor trabalhe no pronto

atendimento de todas as refeições, bebidas e serviços relacionados à área.

Dada essa especificidade ao cenário turístico, atribuída pelos resorts, em face

de sua ampla dimensão econômica, sociocultural e ambiental de crescimento, é

importante considerar as repercussões e os impactos oriundos da instalação desses

empreendimentos em determinados destinos turísticos. Esses empreendimentos

acabam tornando-se um ícone desejado pelos mercados turísticos em muitos

destinos. Dessa forma, ocorre uma prática mercadológica de nivelar os destinos

turísticos – como se todos detivessem características uniformes, comuns – traduzida

numa tentativa de promover comparativos sob a ótica do desenvolvimento turístico,

insuflando novas diretrizes de planejamento, cujo objetivo é promover a expansão

do mercado de resorts em muitos destinos, enxergando nestes uma matriz positiva

de desenvolvimento. Assim, muitos autores afirmam que o turismo de resorts

constitui-se nessa matriz, oferecendo um lazer elitizado, já que provê resposta às

necessidades humanas de uma minoria, atendendo sumariamente aos interesses do

capital e de seus investidores (CORIOLANO, 2006).

A lógica global concebida pelo princípio da exploração do turismo de resorts é

comandada pelas grandes corporações, as quais se sobrepõem a autonomia

governamental, ditando a forma de consumo do espaço turístico. Tal lógica assume

um peso decisório e crucial, tanto para os investidores quanto para os governos

constituídos. Isso porque, a implantação de um equipamento desse porte em

determinada localidade significa um importante passo rumo ao crescimento e

92

desenvolvimento econômico local. No entanto, esses empreendimentos, por sua

vez, mantêm relações mínimas com a comunidade local e a cultura nativa. Muitas

dessas, resultando em sérios impactos na transformação de costumes e tradições

locais, as quais acabam sendo utilizadas no entretenimento dos turistas, não

contribuindo de forma significante para a qualidade de vida dos residentes

(CORIOLANO, 1998).

Os resorts constituem-se, como sugere Augé (1994), em espaços

desprovidos de identidade, de relações sociais e de história própria, de forma que os

pontos de trânsito e de ocupação provisória – a exemplo dos hotéis – consistem no

que o autor classificou de “não-lugar”. Muitos estudos acabaram associando a idéia

de não-lugar (BARBOSA, 2001; THEOBALD, 2002; CARDOSO, 2005; SOUSA,

2005; LIMA, 2006) ao conceito atribuído aos resorts, pois os mesmos consistem em

equipamentos de padrão globalizado, em cenários paradisíacos, prontos para

receber os visitantes a qualquer dia do ano, operados por grupos internacionais e

sob uma égide antagônica de desenvolvimento na localidade ao qual está instalado.

Estes empreendimentos buscam concentrar a produtividade turística num único

atrativo, que é ele próprio, de forma que sua implantação em determinada região

acarreta em impactos de diversas ordens – econômico, sociocultural e ambiental –

por conta de seu funcionamento e da forma como são gerenciados.

A esse respeito Gunn (1988 apud MENDONÇA JÚNIOR, GARRIDO e

VASCONCELOS, 2000) afirma que, o verdadeiro motivo que acarreta os impactos

desse tipo de não-lugar não se refere apenas ao crescimento do turismo, mas a

ausência de políticas e planos específicos que possam consolidar o

desenvolvimento local – entendido como o processo de empoderamento dos atores

de um determinado local para, a partir de seus ativos, potencialidades e vocações

nativas, construir um projeto de desenvolvimento com participação social, equidade

e sustentabilidade.

No entanto, a materialização de conflitos de interesse no local se dá de forma

múltipla, por meio da acumulação crescente de impostos pelo estado sem o devido

retorno para aquela comunidade, o lucro obtido pelas empresas turísticas à custa

dos ativos endógenos, as formas de competição e inflação do espaço entre os

residentes e os investidores externos e o estimulo ao crescimento desse paradigma

de desenvolvimento turístico sem que sejam ouvidas as bases locais que residem

nestes destinos turísticos. Diante deste contexto, o processo de “segregação social

93

e espacial das populações nativas, bem como a degradação dos recursos

ambientais, são resultado da inexistência de ações públicas racionais no setor”

(MARCELINO, 1999, p. 181). É nesse âmbito que o não-lugar ganha espaço.

Dessa perspectiva surge uma derivação de lugar, produzida por conta das

espacialidades, ou seja, os espaços produzidos através das relações e tensões de

poder que se estabelecem de forma contraditória. Assim, o modelo de

desenvolvimento desejado pelo turismo de resorts vê no litoral, aliado ao turismo de

“sol e mar”, um amplo campo de expansão.

Observa-se, com isso, a avançada ocupação espacial de solos menos nobres

nas cidades litorâneas, o que por sua vez vem acarretando segregação espacial e

expulsão de comunidades inteiras para campos mais longínquos de residência.

Assim, na “medida em que o valor do solo se eleva, o espaço construído se amplia e

áreas de uso potencial adequado à preservação e/ou conservação são degradadas

em virtude da implantação de estradas e outros fatores típicos da expansão urbana”

(MARCELINO, 1999, p. 180). A ocupação do território litorâneo, para fins de fomento

pelo turismo de resorts, requer controle governamental e participação da sociedade.

Isso porque setores que se prestam ao suporte logístico do turismo, como a

infraestrutura viária, acabam favorecendo a ocupação desordenada do solo e dos

núcleos populacionais. Tal fato, associado à ausência de um planejamento urbano

direcionado a ordenar o desenvolvimento turístico, acarreta na degradação do

ambiente costeiro e consequente deterioração da qualidade de vida da população

residente (CORIOLANO, 2006).

Dito isto, tem-se que “todo el litoral pasa a ser considerado zona apta para el

crescimiento turístico”, já que “se levantam hoteles, apartamentos y zonas

residenciales em todas las zonas posibles”, passando o local a ser considerado,

mercadologicamente, um bem de consumo (LLINAS, 1996, p. 195). O turismo é uma

atividade composta por um rol de antíteses antagônicas, e com o crescimento do

turismo de resorts não é diferente. Muitas das práticas sociais opostas, nesse

ínterim, se dão entre os empresários (associados aos governos) e a comunidade e

pequenos empreendedores locais. Apesar de ser uma atividade plural – capaz de

envolver diversos elos dentro de contextos bem distintos, anteriormente explicitados

– também pode ser considerada como extremamente segregadora.

94

Este cenário, particularmente no Brasil, apresenta características bem

distintas e preocupantes, de acordo com as condições e o nível de desenvolvimento

pouco consolidados em seus destinos turísticos.

3.3 Os resorts no Brasil e no Nordeste

O cenário brasileiro, para esses empreendimentos, veio se mostrando

bastante favorável desde a implantação do primeiro resort, segundo relatório da

BSH Travel Research (2007). Considerando toda extensão do litoral do Brasil é

“cada vez maior o número de resorts de praia, principalmente destinado ao

segmento de lazer” (BSH, 2005, p. 6). As belezas naturais e as condições climáticas

encontradas em toda costa, o estágio relativamente recente de desenvolvimento

turístico no país e os interesses convergentes dos agentes produtores do turismo,

aliados às políticas públicas de fomento para o setor, traduzem os anseios pela

implantação desses equipamentos no país.

Tais circunstâncias promoveram no Brasil uma expansão do turismo de

resorts, cujo conceito estabelece que o mesmo ocorra quando se realiza um

deslocamento para uma determinada localidade, motivada pelo propósito de

hospedagem em um equipamento que congregue uma gama de produtos e serviços

situados em um único complexo turístico, não havendo a necessidade do hóspede

se deslocar para atender quaisquer necessidades que sejam fora desse

equipamento. Aliada a esta perspectiva, a imagem do paradisíaco – que vem sendo

associada ao turismo de resorts – traduz-se no ideal de refúgio, recuperação e

revitalização que esses empreendimentos desejam consolidar.

Por sua vez, o intuito de motivar turistas a buscar destinos pouco conhecidos

acaba por consolidar o forte apelo ao cenário das praias, enquanto local intacto à

ação humana, fazendo do litoral brasileiro um dos mais ricos do mundo nesse

segmento. As próprias ações do Ministério do Turismo, por meio do PNT (BRASIL,

2007) afirmam que o segmento turístico “sol e mar” consiste no grande produto

turístico nacional. Consoante a esta proposta, os resorts acabaram ganhando amplo

espaço no cenário turístico do Nordeste brasileiro, região detentora das mais belas

praias de todo país.

Os primeiros empreendimentos deste tipo foram iniciados no Brasil em 1940,

com a inauguração do Grande Hotel Águas de São Pedro, o Grande Hotel Campos

95

do Jordão, o Tropical das Cataratas Eco Resort & Experience e o Tropical Araxá

Spa & Resort Experience, este último localizado na região Sudeste, estado de Minas

Gerais (BORBA, 2005 e BSH, 2005).

Na década de 1970, o país contava com 14 empreendimentos dessa

natureza, responsáveis pela criação de 4.000 UH´s. A predominância de localização

dos equipamentos, naquela época, era majoritária no interior do país (75%),

enquanto que no litoral (25%) o mercado ainda aguardava maiores investimentos

que pudessem viabilizar essa expansão.

Já na década de 1980, o crescimento do setor foi na ordem de 59% da oferta

de novas unidades habitacionais, perfazendo um aumento de 2.352 UH´s. Naquela

ocasião ocorreu uma inversão no número de empreendimentos no interior em

relação aos situados no litoral, sendo 78% dessa nova oferta encontrada em regiões

de praia, enquanto 22% concentravam-se no interior.

A região Nordeste, naquele momento, despontou como uma grande

promessa na captação desses equipamentos e nos investimentos decorrentes (BSH,

2005), como pode ser constatado na figura a seguir, que ilustra a expansão do

turismo de resorts em todo Brasil.

Na década de 1990 o país encontra-se cercado por sérias crises e mudanças

na conjuntura econômica e política, permitindo que o setor cresça apenas 22%.

Apesar disso a região Nordeste mostrou ampla representatividade nesse segmento,

respondendo por 35% da oferta total de resorts do país (BSH, 2005).

Decorridos dez anos dessa conjuntura, já entre 2000 e 2007, foram lançados

novos empreendimentos no mercado, respondendo por um crescimento de

aproximadamente 48% das UH´s em todo país. A partir daí, desde a inauguração do

primeiro empreendimento deste tipo até os idos de 2007, a localização dos resorts

no litoral brasileiro se consolida de maneira significativa, como pode ser visto na

figura 03 (BSH, 2008).

96

Figura 03 – Ocupação dos resorts no litoral Brasileiro

Fonte: BSH Travel, 2005

Naquele momento, o Nordeste ganhou amplo destaque na captação de novos

resorts, além do forte crescimento do setor turístico. Entre os motivos responsáveis

por esta conjuntura estão: extensas faixas de praias e suas belezas naturais; clima

estável e propício à visitação durante todo o ano; proximidade dos principais

mercados emissores mundiais, tanto da Europa quanto dos Estados Unidos da

América; incentivos financeiros e fiscais subsidiados pelos governos – federal,

estadual e municipal – para projetos na área de turismo e hotelaria; fornecimento de

infraestrutura necessária à instalação dos meios de hospedagem advinda de

políticas públicas de desenvolvimento, como no caso do Programa de

Desenvolvimento do Turismo no Nordeste – PRODETUR-NE, e; ampliação da malha

aérea, o que aumentou o número de vôos nacionais e internacionais (BSH, 2005 e

FONSECA, 2005).

97

Gráfico 02 – Distribuição de UH´s por segmentação – 1979/2007

Fonte: BSH Travel Research, 2008

Assim, nos últimos 30 anos, o crescimento do número e na localização

geográfica dos resorts no Brasil foi superando as expectativas projetadas por seus

investidores. A região Nordeste é detentora de mais de 48% da oferta desse tipo de

empreendimento no país, um crescimento estimado em 176% do número de UHs

construídas. O destaque ficou por conta da grande balneabilidade apresentada pela

região, permitindo que o cenário litorâneo se concretizasse no grande diferencial de

motivação para o turismo, como ilustra o gráfico 02.

No que se refere à geração de empregos, estima-se que para cada

R$150.000,00 investidos na construção de um resort um emprego é gerado no

mercado, de forma que cerca de 90% desses empregos são ocupados pela

comunidade local. A uma variação na contratação dessa mão de obra local que

oscila, entre a alta e a baixa estação, entre 2,5 a 1,0 empregado por UH existente no

empreendimento, respectivamente. Com um total de 31 resorts instalados, em 2008,

a Região Nordeste é constituída por um montante de 7.257 UH´s, o que equivale a

quase a metade do número total de resorts instalados em todos país, como ilustra o

gráfico 03 (BSH, 2008).

98

Gráfico 03 – Evolução das UH´s de resorts por região

Fonte: BSH Travel Research, 2008

No que se refere à aceitação deste produto, por parte do mercado consumidor

nacional, pesquisas da BSH (2008) indicaram que o montante de pernoites

disponíveis e vendidas frente à taxa de ocupação dos equipamentos não apresentou

um cenário otimista aos investidores, conforme ilustra o gráfico 04. Com um

aumento na ordem de 6% ao ano na oferta de UH´s, de 2004 à 2007, a demanda

não respondeu em igual medida, chegando a registrar um crescimento de 4% ao

ano.

Gráfico 04 – Evolução da taxa de ocupação dos resorts do país

Fonte: BSH Travel Research, 2008

Este dado pode ser explicado por meio do tipo de cada empreendimento e de

sua localização, já que outros setores não cresceram em igual medida, como é o

caso do setor de transporte aéreo e sua malha no Nordeste – tanto pelo número de

99

companhias em operação quanto pela rede e localização dos aeroportos –

chegando a tornar-se um fator limitador do crescimento da demanda. Outro

importante dado refere-se à permanência dos hóspedes no equipamento, já que, de

acordo com a BSH (2008), a permanência média dos hóspedes nesses

equipamentos estava na ordem de 4,5 dias. Com base na motivação da viagem, foi

possível observar que o número pôde passar para 6,6 dias, caso a motivação fosse

advinda da busca por lazer, e 3,6 dias no caso destes turistas estarem hospedados

por conta de algum evento que venha a ser sediado nas instalações do

equipamento, como destaca o gráfico 05.

O volume de dias, relativos à permanência motivada por lazer, expressa o

grande número de equipamentos e serviços que se encontram disponíveis para

utilização dentro da estrutura dos resorts à disposição dos hóspedes. Além disso,

por estarem localizados longe dos centros urbanos e dada a dificuldade de acesso a

algumas localidades, houve uma tendência de crescimento da permanência média,

o que acabou contribuindo para o aumento no valor cobrado nas diárias.

Gráfico 05 – Permanência média nos resorts, por segmentação

Fonte: BSH Travel Research, 2008

Geralmente, por força da chamada economia de escala – quando o processo

produtivo é organizado de maneira que se alcance a máxima utilização dos fatores

produtivos envolvidos buscando como resultado baixos custos de produção – acaba

tornando-se mais vantajoso aumentar a permanência média nos resorts, já que isso

pode reduzir o valor cobrado pela diária e todos os serviços oferecidos.

100

O valor atribuído aos preços das diárias sofreu variações que chegaram a

atingir 16,6% no ano de 2007 em relação à 2006, chegando ao valor de R$436,91.

De acordo com a BSH (2008), o RevPAR - Revenue per Available Room (do inglês,

receita por quarto disponível) atingiu o montante de R$222 em 2007, como destaca

o gráfico 06.

Significa dizer que, descontados todos os custos operacionais e tributos

gerados pela ocupação da UH, o lucro obtido atingiu este patamar. No entanto,

comparado à taxa de ocupação e os valores obtidos pelas diárias, não houve um

aumento na receita obtida pela ocupação na UH entre os anos de 2004 e 2007 nos

resorts de praia, como pode ser observado no gráfico que se segue.

A ampliação ou redução da taxa de ocupação nos resorts está relacionada a

diversos fatores que podem explicar essa variação. As flutuações cambiais, redução

de empresas aéreas que operam no país, malha aérea limitada ou mesmo a

operação de outros produtos no cenário turístico nacional são capazes de competir

diretamente frente a oferta do turismo de resorts. No Nordeste, principalmente, o

crescimento desse setor tem relação direta com diversas nuances apresentadas até

o momento.

Gráfico 06 – Evolução da ocupação dos resorts no Nordeste

Fonte: BSH, 2008

O primeiro resort de praia, instalado no Nordeste, situou-se no Estado de

Alagoas, no ano de 1979 nas proximidades da capital Maceió, denominado Jatiúca

Hotéis e Resort, na época com 96 UHs. No mesmo ano foi inaugurado também o

Club Méditerannée em Itaparica (BA), na época com 330 UHs (BORBA, 2005). Após

a instalação destes meios de hospedagem, houve uma expansão do setor para

101

outros Estados da região, tais como: Ceará (1990), Rio Grande do Norte (1996),

Pernambuco (1997), Bahia (2001), Sergipe (2007), Maranhão (2007) e Paraíba

(2009). Em todo Brasil, são mais de 60 resorts em operação, segundo o portal

Resorts Brasil.

É importante destacar o projeto de resort que, de certa forma, significou o

marco para o setor na região Nordeste, e em todo Brasil. A construção do Complexo

Costa do Sauípe, instalado na Bahia no ano de 2001, representou para o setor a

maior aposta que esse tipo de empreendimento tem grande potencial no mercado

nacional, como destaca a foto 01. O resort situa-se a 90 Km da cidade de Salvador e

a 76 Km do Aeroporto Internacional Luís Eduardo Magalhães. Sua estrutura foi

instalada numa área de seis quilômetros de praias, dunas, lagoas, restingas e

manguezais, cobrindo 01 milhão e 720 mil m² de área de proteção ambiental.

Foto 01 – Complexo Costa do Sauípe

Fonte: www.costadosauipe.com.br, 2010.

Em todos os projetos dessa natureza é unânime a opinião dos especialistas

(BSH, 2008; BORBA, 2005; PEARCE, 2003; GUTHERY e PHILLIPS, 2000) que a

realidade brasileira demanda uma participação fundamental do Estado enquanto

promotor do desenvolvimento turístico. É a partir da presença e das ações

institucionalizadas pela gestão pública, em suas distintas esferas, que a iniciativa

privada obtém fomento à instalação de infraestruturas que permitam a ocupação de

localidades disponíveis ao turismo.

102

Ante a essas circunstâncias, será apresentado o quadro encontrado no

Município do Conde, litoral sul da Paraíba, especificamente no distrito de Jacumã. O

cenário, características, localização, infraestrutura e demais dados relativos ao

destino, sua população, economia e o próprio turismo de resorts serão apresentados

de forma detalhada na sequência.

103

4 O PERFIL REGIONAL DO MUNICÍPIO DO CONDE

Localizando na região Nordeste, ocupando uma área de 56.584,6 Km², o

Estado da Paraíba é conhecido por sua posição mais oriental do território brasileiro.

Situa-se entre os estados do Pernambuco (sul), Ceará (oeste), Rio Grande do Norte

(norte) e é banhado pelo Oceano Atlântico (leste). Segundo dados do mais recente

censo demográfico publicado pelo IBGE (2011) sua população é de 3.753.633

habitantes. O estado é constituído por 223 municípios situados nas regiões do

sertão, agreste, borborema e mata paraibana.

Segundo o Instituto de Desenvolvimento Municipal e Estadual da Paraíba –

IDEME (2008a), sua economia baseia-se na produção agropecuária, na indústria de

couro e no turismo. Na agricultura, destaca-se a produção de cana-de-açúcar,

mandioca, milho, feijão, algodão herbáceo, algodão arbóreo e bananas. No que se

refere à pecuária, o estado tem um rebanho de, aproximadamente, 1,4 milhões de

cabeças de gado, criações de suínos, ovinos e eqüinos. Além de artigos de couro,

também são industrializados produtos alimentícios e têxteis, açúcar, abacaxi e

álcool.

A atividade turística, na Paraíba, inicia-se oficialmente no ano 1973 pela

hotelaria, com a inauguração do Tropical Hotel Tambaú, localizado na Praia de

Tambaú em João Pessoa, capital do Estado, por iniciativa do Governo Estadual

(LEAL, 2001; VIDAL, 2009).

Além deste, outros empreendimentos hoteleiros foram lançados em todo

estado pela mesma diretriz, ou seja, financiados e gerenciados com verba estadual,

procurando contribuir com o estímulo ao desenvolvimento turístico. Esta perspectiva,

a qual estruturou instalações essenciais ao desenvolvimento da atividade, viabilizou

uma oferta hoteleira mínima, buscando estimular a vocação turística da Paraíba por

meio da oferta de meios de hospedagem.

Daquele momento até hoje, muitos fatos na história do turismo no estado

marcaram seu sucessivo processo de crescimento e estagnação, de forma que o

turismo paraibano nunca prosperou da maneira que os demais destinos no Nordeste

se desenvolveram. A questão central para tal justificativa esta referenciada nas

mudanças oriundas do cenário político estadual, que por diversas vezes alteraram

as propostas basilares do desenvolvimento turístico paraibano. Os extratos

104

temporais do poder público alternavam-se juntamente com o foco adotado por essas

políticas, dividindo-se entre investimentos empreendidos em promoção e divulgação

turística e a tentativa de construir grandes equipamentos capazes de estimular o

turismo e toda sua estrutura, conforme registra Vidal (2009).

A densidade hoteleira do Estado está concentrada na região da Zona da Mata

paraibana, especificamente no litoral. Aliado ao segmento turístico classificado como

“sol e mar” – referindo-se à principal motivação das viagens turísticas ao litoral

paraibano – a rede hoteleira vem crescendo nos últimos anos, motivada por alguns

fatores. Entre eles, destacam-se: a ampliação da oferta de vôos para os destinos do

Nordeste; crescimento do número de companhias aéreas que operam na região;

aumento do poder de compra do brasileiro; redução de custos operacionais das

empresas aéreas; crescimento da promoção turística de destinos; crescimento da

oferta de meios de hospedagem e consequente, barateamento dos pacotes

turísticos. Somado a esses fatores, é importante destacar os esforços empreendidos

pelos gestores turísticos no âmbito governamental – tanto das esferas municipais

quanto da estadual e federal – buscando promover os destinos do litoral paraibano

nos principais mercados emissores de turistas ao estado, além de ampliar a oferta e

natureza dos equipamentos turísticos do estado.

Foto 02 – Distrito de Jacumã, Conde - PB

Fonte: www.pousadadalua.com, acesso em 25/01/2011

105

A Paraíba dispõe de nove municípios costeiros, são eles: Mataraca, Baía da

Traição, Rio Tinto, Lucena, Cabedelo, João Pessoa (capital), Santa Rita, Conde e

Pitimbú. Destes, o município do Conde está localizado na micro-região do litoral sul

do Estado e mesorregião da Zona da Mata Paraibana. Insere-se nos paralelos 7° 15’

00” e 7° 22’ 30” de Latitude Sul e os meridianos de 34° 45’ 00” e 34° 52’ 00”, de

Longitude Oeste.

O Conde, de acordo com o mapa 01, faz limite com os municípios de João

Pessoa, ao Norte; Alhandra e Pitimbú, ao Sul; Santa Rita e Alhandra, a Oeste e com

o Oceano Atlântico, a Leste. As altitudes variam de 0 a 112 metros e sua área é de

172,35 km². Dista 22 km da capital João Pessoa e dispõe, além da sede municipal,

de áreas rurais e do Distrito de Jacumã, este último visto pela foto 02 . Na zona rural

operam seis assentamentos que foram regularizados pelo Instituto Nacional de

Colonização e Reforma Agrária – INCRA e pela Empresa Estadual de Pesquisa

Agropecuária da Paraíba – EMEPA. São eles: Frei Anastácio, Dona Antônia, Rio

D´ouro, Gurugi II, Barra de Gramame, Rick Charles e Assentamento Tambaba e os

povoados rurais: Caxitu, Cedro, Amparo, Pituaçu, Salsa, Ipiranga, Guaxinduba,

Paripe, Baraúna, Tabuleirinho, Capim-açu, Os Bodes, Mata da Chica, Garapu,

Utinga, e Boa Vista.

Mapa 01 – Localização do Conde no Estado da Paraíba

Fonte: SEPLAN – Conde, 2010

106

As principais vias de acesso, conforme o mapa 02, são pela BR-101, pelas

rodovias PB 018 e pela litorânea PB-008 Ministro Abelardo Jurema, esta última

inaugurada em 2001 por meio de projeto executado pelo PRODETUR I/NE.

Localizado a 8 km da sede municipal, na região costeira do Conde, está o

Distrito de Jacumã, entre as coordenadas 07°16’ 00” e 07° 20’ 00” de latitude Sul e

34° 47’ 36” e 34° 49’ 08”, de longitude Oeste, constituído numa área de 84,63km². A

parte urbana do distrito é de 25,39km², o equivalente a 30% da sua área total e 14%

da área de todo município. Nessa área estão concentradas nove praias do Conde.

São elas, sentido norte-sul: Barra de Gramame, Praia do Amor, Jacumã, Carapibus,

Tabatinga, Coqueirinho, Surfista, Tambaba e Barra do Graú.

Mapa 02 – Município do Conde

Fonte: SEPLAN – Conde, 2010

O Plano Diretor municipal do Conde considerou como área urbana todos os

espaços loteados e aprovados pela prefeitura, como pode ser constatado no quadro

107

02. A principal característica desses loteamentos é a presença maciça de vazios

urbanos, os quais demonstram a forte especulação imobiliária na localidade (SILVA,

2010).

Quadro 01 – Loteamentos aprovados pela PMC

Fonte: PDDM, 2001

A expansão urbana da cidade iniciou com a aprovação dos primeiros

loteamentos pela Prefeitura Municipal, datada de 1968, por meio do loteamento

denominado Cidade Balneário Novo Mundo, de propriedade do senhor Jeranil

Lundgren. Este loteamento está situado na região da Praia de Tabatinga, foto 03, no

Distrito de Jacumã.

Foto 03 – Praia de Tabatinga

Fonte: Acervo do autor, 2010

ÁREA LOTEAMENTO DONO DO LOTEAMENTO ANO DO PROJETO

LIT

OR

AL

CIDADE BALNEÁRIO NOVO MUNDO

Jeranil Lundgren 1968

ENSEADA DE JACUMÃ Constromob - Const. Imob. Coqueirinho

Ltda 1975

VILLAGE DE JACUMÃ I, II C. H. Emp. Imobiliários 1978

COLINAS DO CONDE Rio Tinto Negócios Imobiliários 1979

NOVO CONDE Terra Mar 1979

ENSEADA DE GARAÚ Lundgren Montenegro Emp. Imob. Ltda 1980

PRAIA DE JACUMÃ I, II Nilson Albino (Jacumã Emp. Imob.) 1982

COLINAS DE JACUMÃ Arcelina Clea de Vasconcelos 1982

BARRA DE JACUMÃ (BARRAMARES)

Arcelina Clea de Vasconcelos 1982

GRANJAS CONDENSES Priscila Maria Leite Batista ------

COLINAS VERDES Wallace Soares Moreira 1985

LOT. PLUS FERRO (GRANJAS) Constromob 1986

108

A área que hoje compreende o município do Conde conta com indícios da

presença de tribos Tabajara e Potiguara nas últimas décadas do século XVI,

precisamente em 1585. Quando os holandeses tomaram a Capitania da Paraíba, a

região onde se localiza a sede municipal era habitada por uma tribo de índios

Tabajaras. Em 1636, por ordem do governador holandês, todos os habitantes foram

se alojar na cidade de Frederica, a capital do Estado, João Pessoa. De regresso,

encontrando as aldeias primitivas em ruínas, fundaram um novo povoado que

recebeu o topônimo de Mauricéia, em homenagem ao Conde Maurício de Nassau. O

comando do novo povoado era do capitão inglês John Harrison (CAVALCANTI,

1996).

Quando é restaurado o governo português o topônimo foi mudado para

Conde, o que não deixava de ser uma recordação ao Conde Nassau. A freguesia foi

criada em 1668, em homenagem a Nossa Senhora da Conceição e seu progresso

foi rápido, chegando ao ponto de tornar-se Vila e Sede da Comarca. Em 14 de

setembro de 1768 chegou à categoria de Vila e, em 1831, se tornou sede da

Comarca. Em divisão administrativa datada de 1911, o distrito de Conde figura no

município de Paraíba. Nos quadros de apuração do Recenseamento Geral de 1920,

figura no município de Paraíba o distrito de Conde de Pitimbú, não figurando o

distrito de Conde.

Pela lei estadual nº 700, de 1930, o município de Paraíba passou a

denominar-se João Pessoa. Em divisão administrativa referente ao ano de 1933, o

distrito permanece com a denominação de Conde e ligado ao município de João

Pessoa. Continuou desta forma nas divisões territoriais datadas de 31 de dezembro

de 1936 e 31 de dezembro de 1937.

Pelo decreto-lei estadual nº 520, de 31 de dezembro de 1943, o distrito de

Conde passou a denominar-se Jacoca. No quadro fixado para vigorar no período de

1944-1948, o distrito já denominado Jacoca, figura no município de João Pessoa.

Pela lei estadual nº 7 318, de 07 de janeiro de 1949, o distrito de Jacoca passou a

denominar-se Vila do Conde. Em divisão territorial datada de 01 de julho de 1950, o

distrito já denominado Vila do Conde, figura no município de João Pessoa. Assim

permanecendo em divisão territorial datada de 01de julho de 1960.

Elevado à categoria de município com a denominação de Conde, pela lei

estadual nº 3.107 de 18 de novembro de 1963, foi desmembrado de João Pessoa

com sede no atual distrito de Conde, sendo instalada em 31 de dezembro de 1963.

109

Permaneceu assim até a divisão territorial datada de 15 de julho de 1997. Pela lei

municipal nº 184, de 27 de junho de 1997, é criado o distrito de Jacumã e anexado

ao município de Conde. Em divisão territorial datada de 2003, o município é

constituído de dois distritos: Conde e Jacumã, os quais permanecem até hoje.

Desde sua emancipação, muitos acontecimentos marcaram a sua economia,

a qual basicamente de caráter rural, passou de unidades produtivas arrendadas à

modalidade de foreiros em forma de minifúndios, respondendo aos incentivos do

pró-álcool para plantio de cana-de-açúcar e assistindo a um crescente processo de

loteamento comercial. Instala-se uma tendência de constituição de minifúndios e do

desmembramento de terras em lotes para ocupação residencial e de pequenas

granjas. No inicio da década de 1970 vários loteamentos foram autorizados e

começaram a ser habitados sem qualquer infraestrutura (OLIVEIRA, 2009).

Com o início da atividade imobiliária no município, muitas propriedades foram

negociadas a preços baixos. Além do acesso fácil pela Rodovia PB-018, a estrutura

do distrito de Jacumã passou a ser configurada por moradias de segunda residência,

a qual acolhia uma nova demanda de moradores de fins de semana e feriados

prolongados. Isso gerou um processo de urbanização rápida, muito desejado na

cidade, já que o fluxo sazonal produzia bastante mobilidade urbana e econômica.

Tal fato levou a comunidade local a cobrar uma maior participação do poder público

municipal, já que o grande número de visitantes começaram a demandar dos

serviços públicos nas temporadas, acarretando, em muitas ocasiões, na escassez

de serviços públicos essenciais, como o abastecimento de água e eletricidade

(GUEDES, 2005).

A comunidade, tradicionalmente formada por pescadores e pequenos

agricultores, foi cedendo espaço ao crescimento da oferta e demanda turística em

seu litoral. Com a oficialização da praia de Tambaba – primeira praia dedicada

exclusivamente à prática do naturismo no Nordeste do Brasil – em janeiro de 1981,

houve uma nova perspectiva para o turismo local. A demanda por mais infraestrutura

cresceu significativamente na região de Jacumã, já que esta localidade passou a

figurar como ponto central dessa destinação turística. O distrito de Jacumã é

formado por praias de coqueirais e piscinas naturais, falésias, maceiós e

manguezais. A temperatura média anual sofre variação entre 23°C e 26°C,

registrando mínimas médias mensais de 19°C e máximas médias mensais de 32°C.

110

Os meses mais frios são julho e agosto, já os mais quentes são dezembro e janeiro.

A umidade relativa do ar registrada é em torno de 80% (SILVA, 2010).

4.1 Indicadores do desenvolvimento do Conde

A população municipal, segundo dados do IBGE (2011), é de 21.369

habitantes. Comparando esses dados aos do último senso, de 2000, houve um

crescimento populacional nos últimos dez anos na ordem de 30,19%, em média 3%

ao ano. Uma taxa considerada alta se comparados os indicadores no estado, na

região Nordeste e no Brasil.

Tabela 01 – Crescimento populacional, segundo Censo

2000 2010

Crescimento (%) 2000 – 2010

Brasil 169.799.170 190.732.694 12,33 Nordeste 47.741.711 51.871.449 11,18 Paraíba 3.443.825 3.753.633 9,38 Conde 16.413 21.369 30,19

Fonte: IBGE, 2010

A constituição do gênero populacional é formada por uma pequena maioria

masculina (50,14%) em relação à feminina (49,86%). A grande maioria da população

vive nas áreas urbanas do município (67,8%) em comparação às áreas rurais

(32%2).

Tabela 02 – Indicadores sociais do Conde

Município Total de Homens

Total de Mulheres

População Urbana

População Rural

Conde 10.773 10.645 14.495 6.923 50,14% 49,86% 67,8% 32,2%

Fonte: IBGE, 2010

O Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, formado por uma composição

de indicadores que servem de comparação entre países, cujo objetivo é medir o

grau de desenvolvimento econômico e a qualidade de vida oferecida à população,

no município do Conde apresenta a seguinte configuração:

111

Tabela 03 – Índice de Desenvolvimento Humano do Conde

1991 2000

IDH-M 0,507 0,613

IDH-M Renda 0,445 0,539

IDH-M Longevidade 0,599 0,642

IDH-M Educação 0,478 0,657

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2010.

Entre os anos de 1991 e 2000 o IDH-M do Conde cresceu 20.91%, passando

de 0.507 em 1991 para 0.613 em 2000. A dimensão que mais contribuiu para este

crescimento foi a Educação, com 56.6%, seguida pela Renda, com 29.7% e pela

Longevidade, com 13.6%. Neste período, o hiato de desenvolvimento humano – a

distância entre o IDH do município e o limite máximo do IDH – foi reduzido em

21.5%. Segundo a classificação do Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento – PNUD, o município figura entre as regiões consideradas de

médio desenvolvimento humano – IDH entre 0,5 e 0,8.

Em relação aos outros municípios do Brasil o Conde ocupa a 4416ª posição,

sendo que 4415 municípios (80.2%) estão em situação melhor e 1091 municípios

(19.8%) estão em situação pior ou igual ao município do Conde. Comparado aos

demais municípios da Paraíba, o Conde ocupa a 57ª posição, sendo que 56

municípios (25.1%) estão em situação melhor e 166 municípios (74.9%) estão em

situação pior ou igual.

No que se refere à economia local, o setor industrial concentra-se ao longo da

BR 230, no trecho que vai da entrada para Sede Municipal de Conde até o limite

municipal com a capital do estado, João Pessoa. As vias de acesso para a entrada e

saída de matéria-prima e produção permitem a facilidade no deslocamento, tanto

desta quanto de mão-de-obra.

A economia do município do Conde baseia-se nos seguintes setores (PDDM,

2001):

• Atividades relacionadas com a pesca e aqüicultura;

• Atividades agropecuárias, em especial aquelas relacionadas com o cultivo e

processamento de cana-de-açúcar;

112

• Atividades relacionadas ao turismo de sol e mar, com hotéis, pousadas,

restaurantes, bares, passeios e outras afins ao segmento;

• Atividades imobiliárias, com a implantação de loteamentos, construção,

compra e venda de imóveis, tanto na faixa de praia, onde há uma

concentração de residências de veraneio, como na zona rural, onde é

significativa a existência de granjas e chácaras.

Levantamento recente, empreendido pela Federação das Indústrias do

Estado da Paraíba – FIEP (2009) apresenta no mapa 03 a composição de várias

oportunidades de atividades produtivas, as quais podem ser desenvolvidas no

município do Conde. As referidas áreas são:

• Área potencial para bovinocultura de leite com pastagem nativa e forragem

artificial;

• Área potencial para avicultura, instalação de haras e, criação de equinos;

• Área com exploração de fruticultura (coco, mamão, abacaxi e manga);

• Área potencial para a instalação de condomínios residenciais e meios de

hospedagem;

• Área potencial para instalação de equipamentos turísticos e de negócios.

Em todas as áreas mencionadas tanto pode se encontrar algumas atividades

já em operação quanto outras ainda em estágio inicial ou mesmo em fase de

projetos, conforme o mapa 03.

113

Mapa 03 – Caracterização das potencialidades do Conde

Fonte: FIEP, 2009

Com relação ao setor de serviços na economia local, os dados serão

apresentados a seguir, na parte destinada ao estudo do turismo no município.

No que se refere à proteção dos espaços naturais, o município do Conde é

detentor de uma Área de Proteção Ambiental – APA, denominada APA de Tambaba,

de acordo com o mapa 04. Criada em 26 de março de 2002 pelo Decreto Estadual

nº 22.882, é administrada pela Superintendência de Desenvolvimento do Meio

Ambiente da Paraíba - SUDEMA/PB. Está situada numa área entre os paralelos 7º

25’ 00” e 7º 16’ 30” Latitude Sul, e entre os meridianos 34º 55’ 00” e 34º 47’ 30”

Longitude Oeste, distribuída entre os três municípios da seguinte forma: 45,72%

dentro dos limites da cidade do Conde, 39,55% em Pitimbú e os demais 14,73% no

Município de Alhandra (SANTOS, SOUSA e SILVA NETO, 2010). A APA Tambaba

define-se por ser uma Unidade de Conservação Estadual, de acordo com o Sistema

Nacional de Unidades de Conservação – SNUC, categoria de unidades de uso

114

sustentável, com o objetivo de compatibilizar a conservação da natureza com o uso

sustentado dos recursos naturais existes em sua área.

Mapa 04: Localização da APA Tambaba

Fonte: LEPAN - UFPB, 2006

A referida área é de essencial importância para este bioma, tendo em vista a

necessidade de proteger a cobertura vegetal, as espécies botânicas endêmicas e a

fauna existente.

O abastecimento de água inseriu-se na região da bacia hidrográfica do Rio

Gramame. Os principais cursos d’ água são os rios: Gramame, Água Boa, Gurugi e

Garaú, além dos riachos: da Bica, Ipiranga, Estiva e Pau Ferro. O principal corpo de

acumulação é o Açude Gramame/Mamuaba, com 56.937.000m³. O abastecimento

de água, tanto para a Sede do município quanto para o Distrito de Jacumã, é

realizado pela Companhia de Águas e Esgoto da Paraíba - CAGEPA, utilizando a

reserva da bacia hidrográfica do Rio Gramame. As demais áreas são abastecidas

através de poços artesianos gerenciados pela Prefeitura (IDEME, 2007).

Dados fornecidos pela CAGEPA informam que existem 2.446 pontos de

abastecimento de água cadastrados na Sede do Município, sendo 1.848 ligações

com hidrômetro. No distrito de Jacumã, são 1.578 pontos cadastrados, sendo 1.120

ligações com hidrômetro (LIRA e PEREIRA, 2010).

115

Já no que se refere aos poços artesianos e semi-artesianos existentes no

município, segundo dados do setor responsável na PMC, aproximadamente 405

domicílios, ou 37% do abastecimento da área de Jacumã, é realizado por meio de

poços artesianos. Tanto a sede municipal do Conde quanto o distrito de Jacumã, no

que se refere ao esgotamento sanitário, não possui sistema de coleta e tratamento.

A população residente se utiliza de fossas sépticas ou rudimentares, construídas

sem critério técnico. Dos 6.269 domicílios existentes, cerca de 5.435 possuem fossa

séptica ou rudimentar, num total de 87% dos domicílios. Os demais 13%,

equivalente a 834 domicílios, despejam seus resíduos a céu aberto.

Com relação ao fornecimento de energia elétrica, a tabela 04 mostra que o

serviço é prestado pela operadora ENERGISA Paraíba. Estão cadastrados no

município mais de 4.360 consumidores, dispondo de um total de 16.298 megawatts.

Em 2007, encontravam-se cadastrados, no município, 7.100 consumidores, para um

total consumido de 70.533 megawatts, o que demonstra um acréscimo de 60% em

eletrificação municipal (SILVA, 2010). Considerando por classes de consumo, a

residencial respondeu por 87,08% do número de consumidores e 8,21% do

consumo total. A industrial somou menos de 1% do número de consumidores,

todavia seu consumo respondeu por 52,67% de megawatts consumidos. A classe

rural participou com 4,72% e 5,26%, respectivamente. Por fim, a comercial com

6,25% do número de consumidores e 3,33% do consumo.

Tabela 04 – Ligações por classe

Nº Clientes % MWh %

Residencial 6.183,00 87,08% 5.788,00 8,21% Industrial 32,00 0,45% 37.152,00 52,67% Comercial 444,00 6,25% 2.351,00 3,33% Rural 335,00 4,72% 3.710,00 5,26% Poder Público 94,00 1,32% 774,00 1,10% Iluminação Pública 1,00 0,01% 1.049,00 1,49% Serviço Público 10,00 0,14% 19.707,00 27,94% Próprio 1,00 0,01% 3,00 0,00%

Total 7.100,00 100,00% 70.533,00 100,00%

Fonte: SILVA, 2010

O transporte viário de passageiros e carga no município é composto por 02

linhas, operadas sob o regime de concessão por uma empresa – Boa Viagem – e

gerenciado pelo Poder Público Estadual, através do Departamento de Estradas de

Rodagem - DER/PB.

116

Relativo à coleta de resíduos, a responsabilidade pelo serviço é da PMC. Na

sede municipal, apenas 3.260 tem seus resíduos coletados pelo serviço público, o

equivalente a 52% (SILVA, 2010). Os demais domicílios têm destinações impróprias

ou, simplesmente, são jogados a céu aberto. Já no distrito de Jacumã, dos 1.356

domicílios analisados pela prefeitura em 2009, apenas 869 são abastecidos pela

coleta de lixo municipal, num total de 64%. Quanto aos demais domicílios, ocorre a

destinação imprópria, como a queima ou mesmo o despejo a céu aberto.

4.2 O cenário turístico regional do litoral paraibano

O Governo Federal, por meio da Superintendência do Desenvolvimento do

Nordeste – SUDENE (em parceria com a Empresa Brasileira de Turismo –

EMBRATUR, Banco do Nordeste do Brasil S. A. – BNB e a Comissão do Turismo

Integrado do Nordeste – CTI/NE) criou o Programa de Desenvolvimento do

Turismo/Nordeste – PRODETUR/NE, em 29 de novembro de 1991. Seu objetivo

constituiu-se em fomentar condições favoráveis à expansão e melhoria da qualidade

da atividade turística na Região Nordeste. O programa fora financiado com recursos

do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, e tem como órgão executor o

BNB.

O programa está na segunda fase, onde o MTUR participa por meio do aporte

da maior parte da contrapartida local, compondo ainda o Grupo de Trabalho

responsável pelo acompanhamento dos financiamentos juntamente com o BNB,

analisando os planos turísticos e projetos apoiados.

A implantação da rodovia PB-008 iniciou-se em 1998, com a abertura do

edital de licitação para as empresas concorrerem à execução da obra. A empresa

ganhadora foi a DM Construtora de Obras LTDA, de Curitiba. Os investimentos

somaram mais de R$ 20 milhões por meio do Prodetur/NE I, provenientes do BID e

do Governo do Estado da Paraíba, o qual arcou com 40% dos recursos necessários.

A rodovia liga o município de João Pessoa diretamente ao Distrito de Jacumã, no

Conde, e seguindo até o município de Pitimbú, constituindo-se no maior incentivo

governamental ao turismo para os municípios do litoral sul da Paraíba (LIRA e

PEREIRA, 2010).

São 47 quilômetros de extensão que se iniciam na Ponta do Seixas, em João

Pessoa, até a praia de Acaú – divisa com o Estado de Pernambuco. A implantação

117

dessa rodovia viabilizou o acesso às principais praias do litoral Sul paraibano:

Seixas, Penha, Jacarapé, Jacumã, Praia do Amor, Carapibus, Tabatinga,

Coquerinho, Tambaba, Praia Bela, Abiaí, Pitimbu e Acaú (GUEDES, 2005).

Inaugurada no ano de 2002, a PB 008 viabilizou o crescimento do fluxo de

visitantes às praias do litoral sul, notadamente as do distrito de Jacumã, como pode

ser visto no mapa 05. Decorrente a isso, a especulação imobiliária tornou-se a

principal atividade econômica desenvolvida na área depois da atividade turística. De

acordo com Siqueira (2005, p. 31), “o comércio de terrenos, principalmente na região

litorânea, é uma atividade crescente” e na época era executada por 11 corretoras de

imóveis em todo o município. Além disso, segundo Guedes (2005), o trajeto entre a

cidade de João Pessoa e as praias do distrito de Jacumã fez com que um maior

fluxo de pessoas se deslocassem até essa localidade e, consequentemente, um

acelerado processo de expansão urbana e turística local. Tanto do ponto de vista

turístico – por conta da visitação das praias nos fins de semana – quanto sob o

aspecto imobiliário, já que muitos investidores acabaram conhecendo nas praias do

litoral sul uma boa oportunidade de obter lucro.

Mapa 05 – Rodovias de acesso ao litoral do Conde

Fonte: Guedes, 2005

118

Alguns dos impactos e benefícios socioculturais e econômicos, previstos pelo

Documento de Avaliação do Prodetur-NE I para a Paraíba, após a inauguração da

PB 008 na foto 04, foram:

O impacto gerado pelo Programa de Desenvolvimento Turístico da Paraíba, em termos socioeconômicos, trará grandes benefícios ao Estado como um todo, principalmente na área do litoral paraibano [...]. Com relação aos aspectos sociais, o Programa pretende proporcionar a melhoria do atual padrão de qualidade de vida na região litorânea da Paraíba, através dos investimentos e incentivos gerados, dotando a região de novas oportunidades de trabalho, o que trará reflexos na melhoria das condições de vida nas cidades envolvidas. Quanto ao setor econômico, pretende-se, através da implantação do Programa, alcançar um estilo de desenvolvimento novo e auto-sustentável, com estratégias bem definidas de transformação de setores produtivos essenciais para a região, modificando o quadro de estagnação econômica hoje existente. O turismo [...] deve buscar, sempre que possível, a participação da comunidade local no processo de produção e distribuição dos recursos. O envolvimento de instituições públicas e da iniciativa privada será também de fundamental importância para o sucesso de todo o empreendimento (BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S.A., 2005, p. 9).

Assim, de acordo com o BNB, os impactos e benefícios sociais e econômicos

proporcionariam melhoria da qualidade de vida na faixa litorânea, a geração de

novas oportunidades de trabalho, sugerindo um estilo de desenvolvimento novo e

sustentável, de forma que a transformação de setores produtivos essenciais seria

promovida, além de modificar o quadro de estagnação econômica, o incremento da

receita gerada pelo turismo e integração dos diferentes setores da atividade

econômica no litoral sul do Estado da Paraíba.

Foto 04: Vista aérea da Rodovia Abelardo Jurema – PB-008 Fonte: Governo do Estado da Paraíba, 2002

119

O documento ainda relaciona como resultado positivo o aumento da oferta

hoteleira, o que geraria oportunidades de emprego e renda para a população e o

incremento da receita tributária deste município.

Ao iniciar as obras da Rodovia, em 1998, existiam no município 8 (oito) hotéis que totalizavam 123 UH’s, pesquisa da SCIENTEC registrou em março de 2004 o total de 22 hotéis e 306 UH’s, que representa um incremento de 150% em termos de UH’s para o período de 1998/2004 no município de Conde (BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S.A., 2005, p. 16).

No que se refere aos aspectos sociais negativos acerca da implantação da

rodovia em questão, principalmente em Jacumã, Guedes (2005, p. 31) afirma que:

O aumento do fluxo de pessoas, especialmente turistas e veranistas [...] têm acarretado transtornos constantes relacionados à carências infraestruturais do distrito como congestionamentos no tráfego, falta constante de energia e água [...]. Tais acontecimentos comprometem o exercício de suas atividades, dos estabelecimentos comerciais, bem como dos empreendimentos turísticos – pousadas e restaurantes.

Além disso, outros problemas como poluição visual, acúmulo de lixo nas vias

públicas, crescimento urbano desordenado, são alguns outros fatores negativos

desencadeados, principalmente após a instalação da PB-008, em todo distrito de

Jacumã (GONDIM, 2010).

O crescimento da oferta hoteleira nos últimos anos em Jacumã é um dado

importante nesse contexto. Sobretudo porque muitos dos investimentos efetuados

no local são de capital estrangeiro, sendo geridos por empresários oriundos, em sua

maioria, de países da Europa. Entre a década de 1980 a 1990 a oferta hoteleira do

município era de 02 pousadas, situadas uma na sede do município e a outra no

distrito, precisamente na praia de Jacumã, como pode ser observado no gráfico 07.

Já entre a década de 1990 a 2000 o número de equipamentos hoteleiros do

município cresce para 12 empreendimentos, caracterizados como pousadas e

pequenos hotéis com até 30 leitos.

Entre a década de 2000 e 2011 registra-se o funcionamento de mais 32 meios

de hospedagem no local, perfazendo um total de 46 meios de hospedagem em

funcionamento atual. Desses, 45 foram instalados na área que compreende o litoral

do Distrito de Jacumã e 01 na Sede do município, representando uma oferta

hoteleira de 2.600 leitos.

120

Gráfico 07 – Crescimento do número de meios de hospedagem no Município do Conde

Fonte: Elaboração própria, 2011

Os meios de hospedagem estão instalados em muitas das praias do distrito,

sendo a região das praias de Carapibus, Jacumã, Tabatinga e Tambaba como

aquelas em que há maior número desses equipamentos, de acordo com gráfico 08.

Isso se dá por conta do zoneamento feito pela PMC, qualificando a área dessas

praias como prioritárias ao desenvolvimento de atividades hoteleiras

Gráfico 08 – Localização dos MH no Distrito de Jacumã

Fonte: Elaboração própria, 2011

O Mapa do Zoneamento da Praia de Tabatinga – uma das principais áreas de

especulação imobiliária e fomento à atividade turística em Jacumã – foi elaborado

pela Secretaria de Planejamento do Conde – SEPLAN em parceria com o IBGE, a

121

SUDEMA, o INCRA, a Secretaria de Infraestrutura do Conde – SEINFRA, a

Gerência Regional do Patrimônio da União – GRPU e a ENERGISA.

Consta no mapa 06 o loteamento Cidade Balneário Novo Mundo, situado nas

proximidades da praia de Tabatinga, como uma área constituída por três zonas de

exploração econômica: a Zona Hoteleira – ZH; a Zona de Preservação Permanente

– ZPP; e a Zona Residencial, de Comércio e Serviços - ZRCS.

A zona hoteleira caracteriza-se por ser uma área prioritária para a ocupação

de equipamentos hoteleiros de pequeno, médio e grande porte nessa localidade. A

zona de preservação permanente constitui-se numa área delimitada para fins de

preservação ambiental, a qual não pode ser ocupada por construções ou

equipamentos de qualquer natureza.

Por fim, a zona residencial, de comércio e serviços constitui-se numa área

prioritária à ocupação de residências, instalações prediais com fins comerciais como

mercados ou lojas, e ainda ao setor de serviços, como escritórios de profissionais ou

demais atividades relacionadas ao mesmo.

É nesta mesma área que se encontra a APA Tambaba, de forma que todas as

entidades governamentais, citadas anteriormente, estiveram trabalhando no

zoneamento local, em atendimento ao que dispõe a Lei Nº 9.985, de 18 de julho de

2000.

O artigo 15 prevê que a APA, em geral, é uma área extensa, dotada de certo

grau de ocupação humana, de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais

importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas. Seus

objetivos vão desde proteger a diversidade biológica, organizar o processo de

ocupação até assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. A

ocupação dessas áreas é regulamentada pelo órgão ambiental estadual, no caso a

SUDEMA, juntamente com a Prefeitura do Conde, por meio da sua Secretaria de

Meio Ambiente.

122

Mapa 06 – Zoneamento da área da Praia de Tabatinga

Fonte: SEPLAN, 2010 Os meios de hospedagem, instalados em todo Distrito de Jacumã, podem ser

definidos em dois tipos distintos, em sua grande maioria, como mostra o gráfico 09.

Dos 46 equipamentos encontrados, 67% são pousadas, enquanto que 24% são

123

definidos como hotéis. As estalagens e os bangalôs foram identificados em 9%

desse total, conforme gráfico 09.

Gráfico 09 – Natureza dos meios de hospedagem do Conde

Fonte: Elaboração própria, 2011

Desses meios de hospedagem, foi possível verificar que 60% são constituídos

por investimentos advindos de capital nacional, como se observa no gráfico 10.

Gráfico 10 – Origem dos investimentos

Fonte: Elaboração própria, 2011

Os outros 40% foram construídos a partir de investimentos vindos de fora do

país, por meio dos empresários vindos de países como Argentina, Inglaterra,

Escandinávia, Portugal, Angola, Holanda e Suécia. Desses, 72% são de origem

124

européia, enquanto que os demais são oriundos da América Latina, conforme gráfico

11.

Gráfico 11 – Origem do investimento internacional nos meios de hospedagem do Conde

Fonte: Elaboração própria, 2011

Analisando a constituição do empresariado nacional, constatou-se que esses

eram tanto do próprio Estado da Paraíba quanto de outros estados do Brasil, de

acordo com gráfico 12. Em sua maioria, pode se constatar que 58% deles eram

oriundos de estados com São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte e

Pernambuco.

Gráfico 12 – Origem do investimento nacional

Fonte: Elaboração própria, 2011

125

Dessa forma, é perceptível que um grande número de empresários veio até o

distrito de Jacumã para investir no setor turístico. Os meios de hospedagem

constituem-se num dos setores de maior movimentação financeira, em matéria de

montante de recursos mobilizados. Nesse sentido, merece destaque a análise que

se fará, a seguir, a respeito do turismo de resorts e sua constituição nesta

localidade.

4.3 O turismo de resorts no Distrito de Jacumã

Concluídas as obras de melhoria do acesso ao distrito de Jacumã, por meio

da PB 008, o cenário turístico local foi mudando. Desde então, várias ações foram

realizadas pela edilidade municipal visando a ocupação do espaço turístico do seu

litoral por grupos empresarias hoteleiros. Sobretudo, aqueles de origem estrangeira,

interessados em viabilizar investimentos no Nordeste, em especial nesta área.

O primeiro grande grupo, a consolidar a iniciativa de desenvolvimento turístico

por meio da hotelaria na localidade, foram os investidores portugueses e angolanos,

por meio da GBF Empreendimentos, instalada na Paraíba em 31 de dezembro de

2001. Estes investidores adquiriram uma área de 17 ha no loteamento Cidade

Balneário Novo Mundo, no ano de 2004, de acordo com a foto 05. Já no ano

seguinte, deram início à construção do empreendimento denominado Mussulo

Beach Resort. A idéia dos investidores, naquele momento, era de transformar o

empreendimento num amplo condomínio de segunda residência, focado

exclusivamente para o público estrangeiro, sobretudo aqueles vindos de Portugal,

Angola, Itália e Espanha (GBF, 2010). Além disso, a localização do

empreendimento, inicialmente, estava situada no entorno da praia de Carapibus,

vindo a ser instalado definitivamente na área que compreende a praia de Tabatinga.

A expectativa de retorno do investimento, segundo os empresários, foi definida entre

07 e 10 anos. Além disso, foi cobrada uma maior qualificação profissional por parte

das pessoas residentes no Distrito de Jacumã, de forma que estas pudessem ser

absorvidas para o trabalho no resort.

Essa foi uma das condições negociadas entre a PMC e o grupo de

investidores angolanos e portugueses. Ainda foi solicitado, pelos gestores da

prefeitura aos empresários, que o empreendimento pudesse absorver cerca de 80%

da mão de obra local, além da isenção de tributos municipais por um período de 10

126

anos. Foi solicitado, ainda pelos gestores do empreendimento, que a prefeitura

executasse serviços de drenagem das águas pluviais no entorno do resort, de

acordo com foto 05, conforme descrito na solicitação de Licença de Instalação Nº

1938/2006 da SUDEMA (2006), datada de 22 de dezembro de 2006.

Foto 05 – Área destinada ao Mussulo Resort

Fonte: GBF Empreendimentos, 2004 (adaptado)

Os investimentos, neste meio de hospedagem, foram na ordem de R$ 20

milhões (BRASILTURIS, 2009). O Mussulo Beach Resort está localizado a

7º18´37,28´´ Latitude Sul e a 34º48´58,45´´ Longitude Oeste, inaugurado no dia 07

de outubro de 2009, registrando 100% de ocupação das suas UH´s nesta ocasião.

A palavra “Mussulo” foi escolhida para nomear o resort por causa da Ilha

Mussulo, localizada a 11 km de Luanda, Capital da Angola, a qual dispõe de

características geográficas, climáticas e turísticas muito semelhantes às encontradas

no distrito de Jacumã.

127

Foto 06 – Vista aérea com destaque para a construção do resort

Fonte: Satélite Quickbird, 2005

De acordo com a foto 06 e 07, o empreendimento localiza-se no Lote 01,

Quadra Z-33, nas proximidades da praia de Tabatinga. Com uma área de 90.324 m²,

sendo 8.517 m² de construção, 13.509,70 m² de área de vias e 5.176 m² de área

verde. Foram construídos 102 bangalôs de 80 m² cada, configurados da seguinte

forma: 70 do tipo Máster, constituídos de 02 quartos; 32 tipo Deluxe, com apenas um

quarto amplo.

Foto 07 – Vista aérea do Mussulo Resort (em construção)

Fonte: Satélite Quickbird, 2005

Além dos bangalôs, a estrutura dispõe de dois restaurantes, sendo o principal

de culinária internacional, piscina, quadras poliesportivas, salão de jogos, sauna,

128

health club, salão de cabeleireiro, sala de massagem, espaço fitness, playground,

área de lazer, bar na área da piscina (foto 08) e um centro de convenções, com

capacidade para 300 pessoas, além do beach club, um ponto de apoio na praia de

Tabatinga e que é de uso exclusivo para os hóspedes.

É importante constatar que a principal via de acesso ao empreendimento não

se encontrava pavimentada. Outro detalhe observado é que a lote localizado em

frente ao resort ainda não estava ocupada por qualquer tipo de empreendimento,

seja ele residencial ou comercial. Um segundo empreendimento hoteleiro estaria

sendo construído nesta mesma área, denominado Vista Morena Resort. O referido

empreendimento vem sendo erguido sob o conceito de segunda residência, similar

ao modelo pensado para o Mussulo Resort antes de sua caracterização atual.

Este fato leva a crer que a ocupação dos espaços situados no entorno do

resort angolano vem desencadeando a construção de outros empreendimentos

turísticos neste local, reconhecidos por seu grande porte, ampla disponibilidade de

terrenos capazes de instalar esses meios de hospedagem, além do esforço

desempenhado pela PMC na captação desses equipamentos.

Foto 08 – Visão da piscina e do Restaurante Rio Zaire

Fonte: Acervo do autor, 2010

Essas condições levaram também o Grupo Mantra – com experiência na área

de hospitalidade e que já administra cassinos e resorts também em Punta del Este,

no Uruguai – a participar do empreendimento, administrando o resort desde sua

129

inauguração. Este é o primeiro hotel resort no segmento da Paraíba e o primeiro

empreendimento no qual o Grupo Mantra faz parte no Brasil.

Suas atividades foram iniciadas no sistema chamado “soft oppening”, que é o

funcionamento parcial do empreendimento e de todos os seus serviços, objetivando

treinar a equipe de funcionários nas atribuições que viriam a ser desempenhadas no

empreendimento, além de verificar toda parte física e operacional dos seus

sistemas.

O empreendimento não utiliza mais o termo “beach” em sua designação

formal, pois sua localização dista 2,4 km da praia de Tabatinga, o que acabava por

induzir ao erro os clientes, os quais achavam que o resort situava-se à beira mar

(GONDIM, 2010).

O resort funciona no sistema all inclusive, ou seja todas as refeições, bem

como consumo de petiscos e bebidas e itens do frigobar em cada UH é incluso no

valor da diária paga pelo hóspede. Não está coberto no pacote o consumo de

bebidas alcoólicas importadas, os serviços do salão de beleza, de lavanderia e

baby-sitter (babá).

O preço médio da diária de casal teve variação entre R$ 550,00 e R$ 980,00,

dependendo do número de noites e do período do ano em que se fizer a reserva,

segundo consulta feita em 2011. Para as solicitações de room service (serviço de

quarto) é cobrada um taxa de entrega de R$ 15,00 por pedido. A taxa passou a ser

cobrada após o excessivo volume de solicitações que ocasionavam a saída dos

garçons para realizar o atendimento, comprometendo o serviço nos bares e

restaurantes.

A infraestrutura do resort conta com três quadras, sendo uma para vôlei de

areia, outra para o tênis e a última para a prática de futebol de salão e basquete.

Ainda há um espaço como sala de ginástica, salão de beleza, enfermaria e sauna,

chamado de Health Club (Clube de Saúde).

As crianças têm espaços para brincar e interagir no playground e no kids club

(clube da criança), além do apoio da copa do bebê, espaço que contém leite, frutas,

cereais, microondas, frigobar e liquidificador disponíveis para o preparo de alimentos

para crianças menores. A supervisão da área é acompanhada por uma equipe de

profissionais que atuam das 07h às 21hs, diariamente.

130

Foto 09 – Visão do Beach Club, na Praia de Tabatinga

Fonte: Portal do Mussulo Resort, 2011

O setor de alimentos e bebidas é composto por um restaurante principal, o

Rio Zaire, o bar da piscina, chamado de Rio Bengo e um outro bar, o Namibe. O

estabelecimento conta ainda com uma extensão na praia de Tabatinga, o Beach

Club (Clube da praia), um bar a beira mar exclusivo para uso dos hóspedes, como

pode ser visto na foto 09.

O hotel divide-se basicamente nos seguintes setores: gerência geral, recursos

humanos, recepção, alimentos e bebidas, governança, segurança, compras,

tecnologia da informação, tecnologia da informação e manutenção.

A relação dos serviços demandados, segundo Gondim (2010), é a seguinte:

no setor de recursos humanos uma empresa presta serviço de recrutamento e

seleção de pessoal para trabalhar no resort; na recepção existem empresas

conveniadas que oferecem serviços de assistência médica, estética e beleza,

traslados, passeios turísticos e demais roteiros turísticos regionais, venda de peças

de vestuário confeccionadas em algodão colorido; já no setor de alimentos e bebidas

três empresas trabalham no fornecimento de produtos para os restaurantes e bares

do hotel; na governança todo material de cama, mesa e banho do hotel é enviado a

duas lavanderias na cidade de João Pessoa, bem como o serviço de higienização e

limpeza de todo complexo é feito por uma empresa do Rio Grande do Norte; o

serviço de segurança é prestado por uma empresa da capital; o setor de compras

trabalha em conjunto com a gerência geral, na aquisição de itens necessários ao

funcionamento do complexo; no setor de tecnologia da informação seis empresas

131

prestam serviço ao resort que vão desde a oferta de TV a cabo até manutenção dos

sistemas de vigilância eletrônica; por fim, os serviços de manutenção são

desempenhados por dezesseis empresas que trabalham na assistência dos poços

semi-artesianos, chaveiro, gás GLP, geradores, conserto de TV, energia elétrica,

limpeza de fossas, piscina, combustível para geradores, construção civil,

dessalinização da água dos poços e serviços de jardinagem.

De acordo com a figura 04, a disposição desta infraestrutura é a seguinte: A –

Piscina; B – Restaurante Rio Zaire; C – Health Club; D – Playground; E – Quadra

Poliesportiva; F – Recepção; G – Salão de Jogos; H – Lounge. A estrutura para

eventos é formada por um centro de convenções, que possui dois auditórios: o Rio

Cumene – que comporta 150 pessoas; e o Rio Cuanza – que tem capacidade para

300 pessoas.

Figura 04 – Mapa do Mussulo Resort

Fonte: Gondim, 2010

132

Foto 10 – Visão da área do Mussulo Resort

Fonte: GBF Empreendimentos, 2010

O abastecimento de água de todos os 102 bangalôs, foto 10, é oriundo de um

poço semi-artesiano tubular profundo de 200 metros e vazão de 15 m³/h, sendo a

água armazenada em reservatório elevado em concreto com capacidade para 50

m³. Um poço é denominado semi-artesiano quando é perfurado com um diâmetro

médio de 80 polegadas e profundidade que pode variar entre 10 e 60 metros. A

água é retirada do solo por meio de uma bomba elétrica. Esse tipo de poço pode

produzir até 150.000 litros de água por dia.

De acordo com Relatório de Inspeção Técnica Nº 4155/2008 da SUDEMA

(2006), considerando que a área não dispõe de rede pública coletora de esgotos

sanitários, foi projetado para o resort um sistema de tratamento e disposição de

efluentes composto de fossa séptica, filtro anaeróbico e sumidouro, dimensionados

em acordo com a NBR 7229/93 e NBR 13969/97.

Já os serviços de manutenção dos equipamentos, máquinas, abastecimento

de derivados de petróleo, sistema de TV por assinatura, gerador, manutenção da

piscina ou serviços de construção e manutenção predial necessários ao

funcionamento do resort são desempenhados por empresas que não são da

localidade.

Isso porque muitos dos serviços demandados pelo equipamento não estão

disponíveis para contratação na comunidade local. Além disso, a especificidade

133

encontrada em alguns desses serviços necessitam que empresas experientes atuem

na manutenção desses equipamentos, o que não é encontrado em Jacumã, tão

pouco no município do Conde.

A maior parte dos prestadores de serviço está localizada na capital, João

Pessoa. Outros são oriundos do estado vizinho, Pernambuco, onde as empresas em

questão estão sediadas na capital, Recife.

Diante dessas colocações, faz-se importante compreender de que forma vem

se dando as interações e percepções deste equipamento turístico frente à

comunidade local. No tocante a esse aspecto, os dados a seguir farão um apanhado

desse contexto, de forma a elucidar as questões que direcionam os interesses desse

estudo.

134

5 O REBATIMENTO DO TURISMO DE RESORT EM JACUMÃ

Aspectos relacionados ao desenvolvimento turístico de Jacumã foram

pesquisados considerando três subcategorias de análise: o âmbito econômico,

sociocultural e ambiental. No que se refere ao âmbito econômico, foram trabalhados

neste estudo os seguintes indicadores: geração de emprego e renda, estímulo a

atividade empresarial e promoção turística do Conde. Já no âmbito sociocultural

foram trabalhados os indicadores: substituição de atividades tradicionais, valorização

da herança cultural e qualificação da mão-de-obra. No que se refere ao âmbito

ambiental os indicadores foram: situação da segurança pública, coleta e descarte de

lixo e ocupação do litoral pelo turismo.

5.1 A realidade econômica e socioambiental de Jacumã

O turismo dispõe de forte apelo econômico, que influencia parte do

desenvolvimento dos destinos turísticos. A criação de novas oportunidades

relacionadas a hospedagem, entretenimento, lazer e artesanato, entre outras,

podem alavancar a economia local, já que estas são diretamente relacionadas com

o turismo. Considerando o efeito multiplicador – descrito por Cooper (2001) e

Rodrigues (2006) – identificado na economia é possível entender porque a atividade

turística ganha tanto apoio de vários setores da sociedade para o seu

desenvolvimento. Os recursos econômicos que podem ser auferidos pela atividade

turística traduzem o anseio de setores da sociedade para obter emprego ou

aumento de renda com a promoção desta atividade econômica.

Esta realidade também está presente em Jacumã quando constata-se, por

meio da análise hemerográfica, que vários grupos de investidores estão

interessados em investir em resorts no litoral sul da Paraíba. O distrito de Jacumã

passa a ser bastante valorizado frente à captação de novos empreendimentos e

investidores.

A área que compreende as praias de Coqueirinho e Tabatinga – distrito de

Jacumã – são consideradas as principais voltadas à instalação de grandes meios de

hospedagem, apresentando muitos espaços disponíveis para instalação de

135

equipamentos turísticos dessa natureza. Associada a esta oferta espacial para

empreendimentos turísticos, apresenta-se a possibilidade de geração de emprego e

renda para a população local, como uma das principais bandeiras de

desenvolvimento turístico. A cada lançamento de um novo empreendimento nessa

localidade cresce a especulação em torno do potencial econômico para o turismo e

os benefícios econômicos que podem ser gerados a toda comunidade.

De acordo com as análises obtidas pelas entrevistas, em relação à geração

de emprego e renda, constata-se que os entrevistados afirmaram que houve um

crescimento considerável na oferta de empregos em Jacumã. Este aumento,

segundo o dono do posto de gasolina, o representante da associação de

barraqueiros e o corretor de imóveis entrevistados, foi ocasionado especificamente

por conta do crescimento dos meios de hospedagem na localidade. “O turismo é a

alma de Jacumã! Aqui a gente sobrevive mesmo, na realidade a mola que faz com

que isso daqui aconteça é o turismo” afirma o presidente da associação de

barraqueiros. Para ele, boa parte da mão-de-obra na atividade turística reside tanto

no distrito quanto na cidade do Conde. Significa dizer então que o próprio distrito de

Jacumã por si só não oferece mão-de-obra suficiente e capaz de promover uma

maior dimensão de desenvolvimento local, sob o aspecto econômico.

Entretanto, as funções que exigem maior grau de escolaridade e

conhecimento técnico da área do turismo são preenchidas por profissionais

originários de João Pessoa ou de outras regiões do país. Esta realidade demonstra

que a falta de qualificação profissional consiste numa grande barreira que precisa

ser superada pela comunidade e pelos próprios empreendimentos com o apoio do

governo, permitindo que a realidade possa ser modificada no sentido de promover

maior capacitação técnica que atenda as demandas de trabalho local.

A ausência de qualificação profissional para o turismo em Jacumã faz com

que muitos dos empregos gerados dividam-se em duas categorias: uma pequena

parte é constituída de funcionários com carteira assinada e recebem salário mínimo

e a outra parte desses funcionários é contratada por demanda ou temporada. Isto

quer dizer que se um meio de hospedagem sedia um evento ou algum tipo de

atividade que seja necessário utilizar grande parte da sua estrutura, os proprietários

contratam algumas pessoas da comunidade para executar algumas funções em

regime de trabalho temporário. As pessoas recebem apenas pelo serviço prestado

136

temporariamente, sem a criação efetiva de novos empregos e sem nenhum direito

trabalhista que possa ser assegurado ao trabalhador.

Este de tipo de trabalho gera fragilidade nas relações trabalhistas nesses

equipamentos, haja vista que o não cumprimento dos direitos trabalhistas e a

contratação em regime temporário contribuem para que as pessoas da comunidade

não tenham na atividade turística uma efetiva segurança de trabalho. Esta situação

está muito bem representada na fala de um dos moradores locais quando afirma que

“se esses empresários contratam gente daqui por empreitada, sem dar as condições

da lei, ele pode ter um grupo de 200 pessoas trabalhando lá e não gerou nenhum

emprego”.

A esse respeito Tavares (2004) afirma que esse tipo de trabalho assume uma

conotação institucionalizada das relações do trabalho informal, de modo que isso

acaba sendo incorporado pela comunidade como uma grande oportunidade que

surge em consequência do crescimento dos fluxos turísticos e do crescimento da

oferta de empregos, mesmo que temporários, na localidade. Nas análises

hemerográficas dos portais também se constata que o turismo contribui muito para a

geração de trabalho informal, colocando dessa forma como algo louvável e digno de

ser estimulado, já que se está gerando renda para a população com baixo nível de

qualificação e com poucas chances de ocupar uma vaga no mercado formal. A

informalidade do trabalho no turismo, nesse sentido, passa a ser vista como uma

tendência que precisa ser reconhecida por todos como algo positivo para a

economia.

Esse modelo de geração de emprego e renda recorrente no turismo em

Jacumã condiciona as pessoas ao subemprego, ao mesmo tempo em que cria na

população local o comodismo da realização de pequenos trabalhos, sem

qualificação profissional e pouco remunerado. Afirma-se, assim, que este modo de

trabalho gerado em Jacumã não resulta em desenvolvimento. As oportunidades

criadas proporcionam fragilidade e instabilidade nas relações sociais e econômicas

do local, nesse sentido também destacadas por Aref, Redzuan e Gill (2009) e Araújo

(1998). Este último afirma que “as percepções da população nativa em relação à

disposição dos turistas em adquirir seus produtos e serviços faz com que a mesma

veja o turista apenas como fonte de renda, caracterizando um relacionamento

puramente comercial” (ARAÚJO, 1998, p. 370), acarretando na população de

Jacumã um sentimento de exploração do turismo, de forma que as chances de obter

137

melhores condições de trabalho limitam-se a atender os chamados proferidos pelos

empresários locais, sem que existe a perspectiva de crescimento profissional, já que

funções com maior qualificação são ocupadas por pessoas de fora da comunidade.

Portanto, os cargos de maior relevância na rede hoteleira local não são

ocupados pela comunidade local, seja pela inexistente oferta de qualificação

profissional na localidade, seja pela falta de experiência dessa mão-de-obra local em

setores considerados essenciais à gestão hoteleira. Apesar disso, a chegada de

grandes equipamentos hoteleiros em Jacumã é considerada por muitos membros da

população como essencial ao desenvolvimento local. Mesmo sendo empregos

caracterizados por pequena qualificação técnica e profissional, ainda assim são

vistos como grandes oportunidades que foram geradas pelo turismo. Fontes de

renda como a pesca ou a agricultura são consideradas atividades econômicas em

decadência na região, como afirma a representante de uma das associações de

moradores ao destacar: “o turismo aumentou muito em Jacumã, que era um lugar

atrasado e agora, depois que começou esse negócio de turismo, ai aumentou mais

ocupação pra população, tanto que o povo nem quer mais ir pra roça nem pescar, só

quer trabalhar nos hotéis daqui”.

O estímulo a atividade empresarial, outro indicador analisado neste estudo,

apresenta-se como uma das principais ações empreendidas pelo poder público

municipal, na perspectiva de fomentar o desenvolvimento turístico local. Entende-se

que o estimulo a atividade empresarial é um fator de captação de investimentos e

que mobilizam o âmbito econômico de uma destinação turística. Como destaca

Wanhill (2002), os incentivos propostos pelos governos para o desenvolvimento do

turismo podem ser analisados de distintas formas, tais como: a atração de mercados

turísticos de alto poder aquisitivo, a maximização da criação de empregos através do

crescimento dos fluxos turísticos nacionais e internacionais, a isenção de impostos e

tributos regionais. Além destes incentivos, o autor ainda considera o fornecimento de

infraestrutura para a instalação de equipamentos que dinamizem o comércio local, a

seção de uso de áreas tidas como preservadas para a exploração de atividades

econômicas de baixo impacto ambiental, entre outras modalidades de incentivos.

Nesse sentido, as primeiras ações, tanto do Governo do Estado da Paraíba

quanto da Prefeitura Municipal do Conde objetivando estimular a atividade

empresarial com a ocupação do litoral por equipamentos de hospedagem de grande

porte, iniciaram-se com a participação de ambos nos grandes eventos nacionais e

138

internacionais de captação de investidores, oferecendo incentivos que viessem a

despertar os interesses por empreender no turismo de Jacumã. Assim, as análises

hemerográficas comprovam que os governos tratam tal estímulo como uma política

prioritária, capaz de gerar desenvolvimento econômico atrelada ao crescimento de

equipamentos hoteleiros, o que por sua vez fortalece o turismo local.

Algumas entidades relacionadas com o setor hoteleiro também afirmam que o

turismo no litoral sul paraibano tem crescido por conta dessas ações, relacionadas

às políticas de investimento empreendidas pelo Governo do Estado da Paraíba e da

Prefeitura do Conde. Pelo discurso do entrevistado da associação do trade turístico

local pode-se constatar que a participação dos gestores públicos na área “está

relacionado a beleza paisagística e ao trabalho desenvolvido pela Prefeitura de

Conde divulgando as potencialidades do Município em feiras a nível nacional e

internacional e incentivos fiscais”. Nesse sentido, percebe-se a importância do papel

desempenhado pelos gestores, na medida em que as ações desempenhadas

convergem para uma mudança na conjuntura turística local, mobilizando atores

locais a participarem, direta ou indiretamente, no processo de transformação do

cenário turístico.

O modelo de desenvolvimento turístico adotado leva os gestores públicos,

envolvidos no desenvolvimento turístico de Jacumã, a buscarem investidores

internacionais para injetar recursos econômicos no setor hoteleiro do litoral sul, a

exemplo das iniciativas voltadas à captação de árabes, suecos, escandinavos,

nórdicos, espanhóis, portugueses, angolanos, ingleses, argentinos, chineses e

canadenses para empreender no setor hoteleiro deste destino turístico. Os

interesses se voltam para a competição entre destinos já consolidados no Nordeste,

tais como a Bahia, o Rio Grande do Norte e Pernambuco. Estes estados são

apresentados como referência em competitividade no Nordeste.

Constata-se, a partir da análise hemerográfica, que a busca pelo

desenvolvimento hoteleiro é a chave para o desenvolvimento turístico da Paraíba,

sempre tendo como referencia o desenvolvimento turístico obtido pelos estados

citados anteriormente. Até mesmo nessa questão os gestores locais buscam copiar

os seus concorrentes próximos, corroborando para uma perspectiva de

desenvolvimento do turismo local destituída de identidade própria, considerando

sempre o exemplo dos outros como o patamar desejado a ser atingido. Isso é

observado na fala do Secretário de Turismo do Conde, quando afirma que “as

139

pessoas reclamam muito que Pipa (RN) e Porto de Galinhas (PE) são muito mais

avançados do que nós. Então a gente olha os erros dos outros pra não cometer os

mesmos erros em Jacumã”. É o que autores como Augé (1994), Barbosa (2001),

Almeida (2003) e Cruz (2007) consideram como não-lugar ou pastiche,

descrevendo-se como um lugar construído a imagem e semelhança não de um, mas

de muitos outros, destituído de sua identidade própria, erigido semelhante a outros

que despontam como sucesso no cenário turístico nacional e internacional na

espera de sorver parte desse destaque. A perspectiva que se deseja passar é que

haverá maior cuidado com as ações que venham a ser empreendidas em Jacumã,

no entanto, na prática tais medidas não se vislumbram.

As análises hemerográficas dos portais também demonstram o interesse dos

empreendedores por áreas consideradas preservadas, com o aceitei dos governos.

Em uma das matérias publicadas no portal institucional do Governo da Paraíba no

ano de 2004 a manchete destaca: “Barra do Camurupim: maravilha selvagem a

60Km de João Pessoa”. Já no portal do Jornal Correio da Paraíba, no ano de 2007,

a manchete destaca: “Europeus invadem a Paraíba em busca de terras virgens do

Litoral Sul”. O interesse dos empreendedores por áreas preservadas tem por

objetivo oferecer a natureza como diferencial dos equipamentos, considerando o

meio ambiente como fundamental para que estes grandes grupos de investidores. É

neste sentido que a Paraíba é denominada como a “bola da vez” para o

desenvolvimento turístico. Tais condições foram oferecidas para a implantação dos

investimentos no setor hoteleiro de Jacumã, promovendo ainda a imagem local

como grande pólo de desenvolvimento turístico no litoral sul da Paraíba

extremamente propício a este investimento.

Tal perspectiva se confirmou, já que a área onde hoje está instalado o

Mussulo Resort e o Vista Morena Resort é definida como APA pelo Decreto Estadual

Nº 22.882, de 26 de março de 2002. A utilização desta área é permitida pela

legislação desde que não venha a produzir prejuízo para o meio ambiente e as

comunidades locais residentes em seu entorno. Isso implica dizer que mesmo que

uma determinada área será reconhecida como importante para a preservação

ambiental haverá sempre o interesse em produzir valor em sua exploração, de forma

que os interesses hegemônicos se sobressaem até mesmo à legislação ambiental

vigente. A anuência dos órgãos ambientais, responsáveis pela liberação dessas

áreas para exploração econômica, desperta o interesse imobiliário em empreender

140

no entorno destes grandes empreendimentos, o que acaba por promover uma ampla

especulação imobiliária no entorno, pondo por terra todo esforço empregado na

preservação ambiental da área.

Nesse sentido, a região de Jacumã passa a ser conhecida como a “bola da

vez” para os investimentos imobiliários dentro do setor turístico. Vale destacar que

esse termo é eminentemente associado ao jogo de interesses que

permanentemente conflitam num ambiente competitivo como no turismo. Isso

porque, considerando a metáfora usada para designar a vez daquela destinação

turística como centro das atenções para os investimentos e desenvolvimento da

atividade, está acaba sendo a melhor oportunidade que pode ser desfrutada pelos

interesses empresariais, consistindo no litoral de Jacumã como o centro aglutinador

de atenções aos investimentos da vez.

Analisando a conjuntura instalada pelas forças operantes na localidade,

desde a permissividade dos governos locais, passando pela captação de novos

investidores, pela especulação imobiliária, pela chegada de público internacional até

a força dos agentes locais em operar a favor do desenvolvimento turístico, é

compreensível o termo “bola da vez”, pois o mesmo sugere que o turismo no litoral

sul paraibano aponta para um grande crescimento na ocupação de equipamentos

hoteleiros de ampla envergadura. Este termo também está instalado nos discursos

dos entrevistados, sobretudo na fala do Secretário de Turismo do Conde, ao afirmar

que esse “plano não seria só para Jacumã, mas para toda localidade que estamos

denominando de Costa do Conde. Daí a região ser considerada a grande bola da

vez do turismo do Nordeste”. Outro entrevistado, um taxista local, afirma que “o

Conde é privilegiado porque têm 30 km de vários acidentes geográficos que dão a

beleza ao lugar. A gente dispõe de falésias, maceiós, rios, fontes minerais, piscinas

e praias naturais. Somos a bola da vez do turismo na Paraíba”.

Os investimentos empregados por esses empresários, bem como a

envergadura dos empreendimentos, suas qualidades e a promessa de um grande

destino turístico para o futuro são amplamente destacadas em muitas matérias e

publicações disponibilizadas aos investidores, na tentativa de consolidar a imagem

de destino turístico como uma grande promessa. A forma de apresentação da

informação turística é também analisada por Sá (2002, p. 69) quando destaca que “a

reportagem turística [...] busca selecionar os pontos fortes, as vantagens, ou as

melhores qualidades de um produto ou serviço para divulgá-lo ao público, com

141

propósitos de promoção”. Além disso, sempre são citados grupos hoteleiros que

postulam outros investimentos nessa mesma linha em outras áreas do litoral sul

paraibano, notadamente no distrito de Jacumã, passando um cenário de ampla

procura, concorrência e especulação vivenciado pela população e os investidores do

setor.

Quadro 02 – Vantagens apresentadas aos potenciais investidores

PORTAL ANO MANCHETE

Governo do Estado da PB

2003 Paraíba busca investidores árabes para complexo hoteleiro

2007 Governador atrai para PB investimento de R$ 1 bilhão no Litoral Sul

2008 Ocupação de hotéis já chega a 70%

Correio da Paraíba

2006 Grupo Sueco anuncia investimento de R$ 5,6 milhões na Paraíba

2007 Conde participou do Invest 2007 na BA

2009 Grupo português poderá construir resort no litoral sul da PB

Turismo em Foco

2008 Governador da Paraíba convida empresários mexicanos a investirem no Estado

2009 Conde confirma presença no Nordeste Invest

2010 Conde terá novo resort e corretora internacional

Fonte: Elaboração própria, 2011.

Assim, pode-se dizer que a política estadual e municipal de captação de

investimentos e empreendedores para o litoral sul da Paraíba, aqui representado por

Jacumã, como sendo de natureza eminentemente exógena. Todo potencial passível

de ser sensibilizado e cooptado para o Estado, nesse sentido, é procurado fora do

da região, do país, buscando nas feiras e nos grandes eventos nacionais e

internacionais a principal fonte de mobilização desses ativos para a instalação de

novos equipamentos turísticos e meios de hospedagem, procurando ativar o setor

turístico. Tal política alcançou o auge até meados de 2010, quando foi anunciada a

participação em 22 eventos nacionais e internacionais voltados à promoção das

potencialidades turísticas do Estado e à captação de novos investimentos.

Considerando o que sugere Amaral Filho (1995) e Ultramari e Duarte (2009),

a perspectiva de desenvolvimento posta pelos gestores públicos assume um viés

eminentemente exógeno. Assim, a projeção de desenvolvimento turístico exógeno

no distrito de Jacumã constitui-se em duas vertentes bastante similares, pois os

142

governos locais trabalham para que os investimentos alocados sejam oriundos de

capital externo, e que seu público-alvo de visitação turística também seja

proveniente de mercados internacionais, garantindo maiores rendimentos aos

empreendimentos.

Entre os diferencias que a região procura oferecer nas matérias, destaca-se a

existência do resort, como um grande equipamento em funcionamento na localidade,

servindo de ícone para destacar o bom momento em que vivi a região. Matérias que

destacam ainda as belezas e a natureza existente na localidade, além da

proximidade com João Pessoa, na qual podem ser encontradas maiores opções de

lazer e entretenimento noturno, além de uma variedade de atrativos que a mesma

pode proporcionar associada ao Conde.

Apesar de todos esses aspectos ressaltados positivamente pela mídia, a

infraestrutura local não é destacada. Isso porque a preocupação desses gestores

resume-se a dotar a localidade de mais meios de hospedagem, em detrimento das

condições de instalação em que estes são erguidos. A lógica adotada por esses

gestores é de primeiro ocupar o máximo das áreas disponíveis com novos

equipamentos capazes de ampliar a oferta hoteleira local e promover o máximo de

empregos possíveis, sem se questionar sobre a qualidade desses empregos, em

detrimento de todas as condições necessárias ao bom planejamento infraestrutural

do espaço para receber esses empreendimentos.

Analisando a opinião dos entrevistados a respeito do estímulo a atividade

empresarial, constata-se que a grande maioria não acreditava que Jacumã pudesse

chegar ao atual estágio de desenvolvimento, sobretudo com relação à ocupação

local por grandes equipamentos hoteleiros, como os resorts. Os representantes das

associações locais e boa parte dos moradores entrevistados viam a região como um

lugar para as pessoas passaram um fim de semana ou mesmo os períodos de

temporada de férias. Para estes entrevistados, as potencialidades da região não

eram vistas para o desenvolvimento do turismo de sol e mar ou mesmo de resorts.

Essa imagem do local identificada pelos moradores é consequência da ampla

precariedade de infraestrutura existente.

Alguns entrevistados afirmaram também que o resort foi construído por

persistência dos próprios empresários, já que os gestores públicos não ofereceram o

suporte necessário à plena instalação do equipamento. O representante da ACOTA

afirmou:

143

“Nós só ficamos sabendo da chegada desse resort, praticamente, quando começaram a construir, porque eles mesmos foi quem fizeram a estrada de acesso até lá. A gente procurou saber porque a prefeitura fez aquela rua e não as outras, daí disseram que não foram eles e sim o resort quem tava fazendo”.

Constata-se que o próprio empreendimento executou a obra de pavimentação

e eletrificação de suas instalações, já que não havia previsão por parte da Prefeitura

Municipal do Conde - PMC em dotar a área dessa estrutura. Segundo alguns

representantes de associações, este fato aconteceu por motivo da lentidão existente

nos processos burocráticos da PMC em liberar as condições necessárias à

ocupação das áreas negociadas. Além disso, à falta de recursos por parte da

edilidade em promover maior estruturação, visando uma maior ocupação

empresarial da localidade, é outro ponto comum a todos os entrevistados.

Segundo o Secretário de Turismo do Conde, a principal estratégia adotada

pelo município traduz-se na promoção turística do destino Costa do Conde, já que

obras de infraestrutura não vêm sendo beneficiadas para Jacumã pela contingência

do orçamento municipal. O mesmo considera Jacumã como:

[...] uma vila de pescadores até insignificante, diante do contexto geral da Costa do Conde que tem 30 Km de praia. E nossos planos para o futuro são para dinamizar mais a captação de novos investimentos e o desenvolvimento do projeto de infraestrutura que supra todos esses atropelos, que é um entrave na vida dos grandes equipamentos.

Implica dizer que a gestão pública reconhece os problemas de Jacumã

apenas como entrave à instalação de grandes equipamentos hoteleiros e não como

um problema também da população residente. Tal afirmação demonstra que a

gestão pública preocupa-se apenas em nutrir os interesses hegemônicos dos

hoteleiros e demais investidores, em oposição às necessidades que advém da

comunidade local. É perceptível, a partir da fala do Secretário de Turismo, que os

problemas locais são tratados apenas como entraves ao crescimento da atividade

turística local e não como uma forma de promover desenvolvimento a uma parcela

ampla e irrestrita da sociedade. Como afirma Bartholo, Sansolo e Bursztyn (2008),

as comunidades locais sofrem com a pressão exercida pelos paradigmas do turismo

mundial, mesmo no âmbito local esses agentes seguem os pressupostos

executados em diferentes regiões do mundo, disseminando conflitos entre os

interesses locais e as expectativas nutridas pelos interesses exógenos. Nesse

144

sentido, o desenvolvimento endógeno e o próprio sistema turístico local são

fortemente impactados pelos paradigmas externos, desconstruindo o sentimento de

pertencimento e de empreendedorismo local.

Ainda fazendo referência ao estimulo a atividade empresarial, na opinião do

Secretário de Turismo, os resorts são extremamente benéficos para a localidade,

pois são equipamentos que dão projeção ao destino e empregam muita gente.

Segundo o mesmo, enquanto uma pousada emprega 03 ou 04 pessoas os resorts

empregam 100, 150 pessoas e é bem mais significativo, sob este ponto de vista.

Esta constatação demonstra que os gestores públicos locais vêem se preocupando

quase que exclusivamente com a quantidade mobilizada de meios de hospedagem,

preferencialmente de grande porte, em detrimento das condições em que esses

equipamentos estão assentados, de forma que quanto maior for a mobilização de

pessoas para atuar nesses equipamentos, melhor será o retorno político e

econômico resultante para os mesmos.

A promoção turística de um destino é vista como uma das principais ações

práticas para o desenvolvimento da economia local, já que é capaz de prover a

mobilização de fluxos turísticos para ocuparem os equipamentos em funcionamento

na destinação turística, como bem esclarece Cruz (2006). Essa autora ainda destaca

que o “aumento espontâneo ou planejado de fluxos turísticos pode dinamizar as

economias locais e regionais pelas demandas que os turistas trazem consigo [...]

multiplicando estruturas, dinamizando a economia e fazendo o dinheiro circular”

(CRUZ, 2006, p. 339).

Os fluxos turísticos têm uma relação direta com a promoção turística do

destino. Neste sentido, para a promoção turística do Conde foram efetuadas várias

promoções turísticas em revistas de grande circulação nacional e internacional, além

da participação em eventos voltados à promoção do destino.

145

Quadro 03 – Promoção turística do Conde na mídia

PORTAL ANO MANCHETE

Governo do Estado da PB

2005 Prefeito do Conde destaca parceria com o Governo do Estado

2008 PBTUR discute participação da PB em evento imobiliário na Espanha

2009 Paraíba divulgará litoral sul em 22 eventos internacionais em 2009

Correio da Paraíba

2008 Conde confirma presença no festival de Gramado

2009 Mídia nacional destaca praias da Paraíba

2010 Conde comemora sucesso na divulgação turística em Gotemburgo

Turismo em Foco

2007 Beleza do Conde atrai estrangeiros 2007 Conde busca aumentar número de turistas

2008 Conde tem sido destino turístico para europeus

Fonte: Elaboração própria, 2011.

Os representantes do Governo do Estado e do Conde estiveram presentes

em diversos eventos internacionais no período pesquisado, realizando a promoção

turística da localidade. Além disso, participam de reuniões com empresários do setor

hoteleiro europeu, apresentando as potencialidades da Paraíba para a implantação

desses equipamentos. Tais ações objetivaram estimular o crescimento tanto do fluxo

turístico de visitantes quanto de investidores ao destino. O resultado dessa iniciativa

vem representando um crescimento no número de imóveis vendidos a estrangeiros,

sobretudo a portugueses, angolanos, italianos, suecos, ingleses e espanhóis

(OLIVEIRA, 2009; SILVA, 2010; LIRA e PEREIRA, 2010). Esse saldo é resultado da

promoção do potencial turístico e das belezas naturais do Estado nos eventos

internacionais, além da promessa de investimentos governamentais em obras que

promovem a infraestrutura e a instalação de novos equipamentos na destinação.

A política de promoção à captação de investimentos e empreendedores do

Governo do Estado apresentou a potencialidade de Jacumã como oportunidade de

investimentos no turismo da Paraíba, afirmando que a prioridade do governo é

fomentar infraestrutura que dê suporte a tal perspectiva. A principal política de

desenvolvimento turístico adotada pela PMC consiste na promoção empreendida na

mídia especializada, participação em eventos nacionais e internacionais de captação

de investidores e as parcerias empreendidas junto às entidades do turismo estadual

146

e federal promove a estruturação de algumas áreas voltadas ao turismo local,

enfocando qualificação e capacitação profissional.

O objetivo dessa política é ampliar o fluxo turístico local e de investidores,

com a meta de geração de emprego e renda, na tentativa de consolidar o

desenvolvimento turístico do Conde. A ênfase dada ao litoral sul paraibano, por meio

do distrito de Jacumã, demonstrou que existiu uma política de ocupação do litoral

voltada ao setor hoteleiro sendo trabalhada conjuntamente tanto pelo Estado quanto

pelo município do Conde.

Considerando esse aspecto, os entrevistados afirmaram que vêem o

desenvolvimento turístico de Jacumã realizado de forma equivocada, pois o temor

consiste no desenvolvimento realizado de forma muito rápida e sem os devidos

cuidados, prejudicando a comunidade por não inseri-la como parceira. Este receio

pode ser constatado na fala do líder dos barraqueiros, ao afirmar que “tem um medo

muito grande da maneira como o turismo tá sendo feito em Jacumã porque ele está

sendo explorado de uma maneira muito selvagem, sem o cuidado que deveria ter”.

Isso se observa com relação à grande quantidade de investidores vindos de

fora da localidade e que ocupam os espaços disponíveis. Estes empreendem na

localidade propondo a criação de postos de trabalho que, muitas vezes, são

incompatíveis com os níveis de qualificação profissional que podem ser

disponibilizados pela população, além da oferta de empregos com baixos salários e

sem seguir as regulamentações trabalhistas que garantam os direitos dos

trabalhadores.

Também foram apresentadas vantagens estratégicas, de acordo com os

dados da pesquisa hemerográfica, que procuraram mobilizar os investidores para o

distrito de Jacumã. São elas: localização privilegiada das áreas ainda disponíveis,

infraestrutura local, investimentos públicos e garantia de uniformidade de preço. As

estratégias que se referem à localização, infraestrutura e investimentos públicos

podem ser descritas como falaciosas, já mesmo após a instalação de alguns

equipamentos ainda prevalece a precariedade nos referidos itens. No que se refere

a uniformidade dos preços, a intenção defendida nesta estratégia é de que seria

cobrado preço justo ao investidor estrangeiro, no mesmo patamar cobrado ao nativo.

No entanto, é sabido que o Estado não tem como interferir nesse âmbito, tendo em

vista que a construção de preços se dá pela lei da oferta e demanda de mercado.

Não há justiça nisso, pois a pressão imobiliária exercida na localidade inflacionou

147

astronomicamente os preços dos imóveis, recaindo sobre o nativo uma

supervalorização imobiliária, devido ao forte poder de compra dos investidores

estrangeiros, os quais – na maior parte das vezes – detêm o poder de compra

ampliado em quase três vezes, considerando a cotação da moeda Real em relação

ao Euro, isto é, a cada Euro trazido para o Brasil seu valor equivale a três Reais, em

média, o que potencializa o volume de recursos trazidos por europeus e amplia seu

potencial de consumo.

A presença dos gestores e dos investidores nos eventos que congregam os

interesses econômicos, sobretudo quando buscam áreas ainda pouco exploradas

para investir, se consolida a partir de uma relação mútua de interesses. De um lado

há a gestão pública que deseja prover o crescimento econômico da localidade por

conta do turismo e do setor hoteleiro e, do outro, os investidores procuram locais

que ainda não despontam no cenário turístico nacional, mas que detêm amplo

potencial de desenvolvimento nesse sentido.

Por conta da constante execução de ações, efetuadas pela PMC, voltadas à

promoção do destino turístico, constata-se que devido à competitividade entre os

destinos nordestinos não há como se afirmar que o mesmo encontra-se consolidado,

como afirmam os portais pesquisados. Em consequência, a referida edilidade tende

a permanecer sua promoção no cenário nacional e internacional, do contrário,

haverá uma queda tanto nos fluxos turísticos quanto nos investidores, o que

resultaria na insustentabilidade da estrutura turística construída em Jacumã.

Com base nesses fatos é que diversos setores relacionados ao turismo de

Jacumã, em parceria com a PMC, promovem campanhas de divulgação do potencial

turístico local, objetivando atrair turistas e investidores. Muitas vezes, as iniciativas

partem do próprio empresariado local, preocupado em manter um nível de

funcionamento regular que possa garantir a sobrevivência e manutenção de seus

empreendimentos.

A paisagem é utilizada como produto turístico pronto para ser consumido,

sem que se faça menção aos aspectos culturais, sociais ou ambientais do local que

podem ter maior relevância. A imagem que se pretende projetar, considerando o

pensamento de Sá (2002), é que o Conde vem sendo um destino muito procurado

pelos europeus e de destaque no cenário turístico paraibano, configurando-se como

um grande pólo turístico. Nesse sentido, muitos dos investidores desta região são

oriundos da Europa, e isso é consequência da participação da PMC em eventos que

148

se propõem a apresentar o diferencial econômico e as oportunidades de negócios

disponíveis na localidade.

A entrada dos resorts no distrito de Jacumã procura desenhar uma tendência

de crescimento turístico a partir do setor hoteleiro e de grandes equipamentos. Essa

imagem de sucesso, construída pela mídia para turismo em Jacumã, passa pela

ação permanente que vem sendo empreendida pela PMC e por todos os esforços

dispensados para sua efetiva consolidação. Além disso, outra perspectiva que

defende a grande força dos estrangeiros e de seus empreendimentos em Jacumã é

a participação destes no mercado hoteleiro local, pois a PMC considera que sem a

presença dos mesmos na localidade não haveria a perspectiva de desenvolvimento

turístico.

Tal tendência de ocupação do litoral de Jacumã pelos resorts pode ser

explicada, em parte, pela tendência nacional com que esses equipamentos vêm

crescendo no cenário turístico, seja pelo grande potencial do Brasil para o

desenvolvimento do turismo de resorts e a quantidade de empreendimentos já em

operação no país, seja pelo grande volume de retorno financeiro que é

proporcionado aos investidores. Os hoteleiros internacionais buscam investimentos

no Brasil, na tentativa de instalar empreendimentos por ocasião dos grandes

eventos que serão realizados no país, a exemplo da Copa do Mundo de 2014 e das

Olimpíadas de 2016.

Na perspectiva dos entrevistados, as campanhas e projetos relativos à

promoção turística do Conde são elaborados pela PMC e apresentados à

comunidade de forma já definitiva, restando apenas as discussões da forma como

as ações serão implementadas. Muitas dessas decisões têm o nítido interesse em

atender as ambições dos donos dos meios de hospedagem local e não da

comunidade, segundo aponta um dos entrevistados: “Não temos conhecimento

sobre essa política de promoção da PMC. A gente só fica sabendo quando as coisas

já vão acontecer, e mesmo assim pelos empresários. A prefeitura não fala muito com

a gente não” (representante da Associação de Moradores de Tabatinga). O próprio

Secretário de Turismo revela que essa promoção é discutida com os empresários

por conta das parcerias firmadas: “A nossa política de promoção é focada no

trabalho em parcerias. Sem o Governo do Estado, o Governo Federal com a

EMBRATUR e os empresários daqui a gente não vai a lugar nenhum”.

149

Apesar disso, algumas propostas foram apresentadas pela comunidade

objetivando o desenvolvimento turismo em vários segmentos para localidade e

buscando garantir mais qualidade de vida à população, atendendo aos interesses da

coletividade, desenvolvendo atividades de acordo com a vocação e os costumes

locais e que garantam a conservação do meio ambiente. Entre essas ações

destacam-se: ampliação da oferta de cursos de qualificação e capacitação

profissional para áreas em expansão em Jacumã; melhoria da coleta de lixo nas vias

públicas; ampliação da sinalização urbana e viária; pavimentação de ruas;

urbanização de praças. Essas foram as principais reivindicações da população

frente às colocações apresentadas pelos gestores municipais.

De acordo com o secretário de turismo da PMC, a política de promoção

municipal consiste, principalmente, na valorização do ecossistema e da beleza

natural. Além disso, a divulgação por meio de feiras, promoção através de

publicação em revistas especializadas, famtours de jornalistas do Brasil e do Mundo,

folheteria em três idiomas e a divulgação das facilidades que a prefeitura faz para

captar os investidores são algumas das estratégias adotadas pelo município na

promoção turística. Constata-se que existe um paradoxo entre as ações declaradas

e adotadas pela gestão de turismo local, não se voltando à preservação do meio

ambiente, como se afirma. Segundo afirmou o taxista entrevistado:

“nós ficamos sabendo que o Rio Graú e a Lagoa Preta, próximo ao resort,

sofreu um impacto muito grande. O pessoal da AMATA falaram que da maneira como foi feito o resort, quando chove, a terra que ta em volta desse e vai aterrando o rio. Então o rio tava com oito metros, agora ta com quatro metros”.

Percebe-se que a ocupação cada vez maior e mais forte de médios e grandes

equipamentos hoteleiros na região é o mote utilizado para que os gestores públicos

busquem dotar a localidade de um número cada vez maior de empreendimentos,

sem que haja qualquer preocupação com as condições de infraestrutura local ou

mesmo de qualidade de vida para a população, como esclarece Silva (2010).

Com relação à captação de novos investimentos para Jacumã, os

entrevistados informaram que não tem acesso aos números nem mesmo sabem

como é gerida a política de investimentos da PMC. A fala de um do líder da colônia

de pescadores resume o sentimento manifestado pelos entrevistados: “Não temos

conhecimento da política de promoção do Conde não, a não ser pelo que vem sendo

150

publicado pela mídia”. A situação demonstra que não existem canais de

comunicação consolidados entre a PMC e a população do distrito de Jacumã, o que

demonstra que o poder hegemônico exercido pela mídia molda parte do

conhecimento e dos sentimentos que permeiam aquela comunidade. Além disso,

ficou constatado que as ocasiões em que os representantes da PMC entraram em

contato com a população se deram por conta da gestão de projetos na esfera

federal, a exemplo das reuniões realizadas por conta do Projeto Orla e do Plano

Diretor do município, os quais exigem a participação popular nas plenárias de

debate.

No que se refere à promoção turística local empreendida pelo resort, segundo

informações do próprio equipamento, constatou-se que no período pesquisado as

ações se voltaram à divulgação direta com o público regional, tanto da própria

Paraíba quanto de Pernambuco e do Rio Grande do Norte, com o intuito de ocupar

suas instalações por meio dos fluxos turísticos regionais, o que pôde ser confirmado

pelo levantamento hemerográfico no quadro 04.

Quadro 04 – Promoção turística regional do resort

PORTAL ANO MANCHETE

Turismo em Foco

2010 Agentes de viagem da Paraíba participam de famtour no Mussulo

2011 Agentes de viagens de Alagoas visitam o Mussulo Resort by Mantra

2011 Mussulo Resort destaca a Paraíba como destino em evento em SP

Fonte: Elaboração própria, 2011.

Isso leva a crer que apesar da imagem do empreendimento estar associada a

um esforço de captação de público internacional, percebe-se que as ações de

promoção buscam atrair público regional para ocupar o empreendimento, levando a

crer que o equipamento se tornou concorrente direto dos pequenos e médios meios

de hospedagem da localidade. Essa condição leva a crer que os problemas

enfrentados por força da baixa ocupação em alguns meses do ano fizeram com que

a administração do empreendimento optasse pela ocupação de suas instalações por

público regional.

151

Considerando a subcategoria que abordou os aspectos socioculturais, as

discussões se voltam para a análise do indicador referente à substituição de

atividades tradicionais. A pesquisa hemerográfica constatou que apesar da

crescente ocupação de novos meios de hospedagem nos últimos anos, além da

promessa de chegada de mais equipamentos como resorts, a ausência de mão-de-

obra qualificada na região de Jacumã para atender aos equipamentos locais é

sempre citada como grande gargalo ao desenvolvimento econômico. Como afirma a

representante da ASMORO:

Hoje a tendência é essa, de sempre se qualificar mais. Mas aqui, pela

população ser pequena e as pessoas são muito humildes, eles acabam não procurando muito isso. Seja pela própria formação familiar né, porque os pais não chegaram longe, eles também não pretendem chegar.

Esse fato é visto apenas como uma barreira ao desenvolvimento do turismo,

desconsiderando qualquer perspectiva social ou mesmo que seja trabalhada no

sentido de melhorar a qualidade de vida da população residente. Como afirma Lira e

Pereira (2010) e Mohammadi, Khalifah e Hosseini (2010), a comunidade local não se

percebe como parte importante dentro do processo de desenvolvimento turístico

local. O discurso colocado conduz a um sentimento de que não existissem

oportunidades fora do campo do turismo ou da hotelaria na região e como se todos

devessem isso ao empenho do poder público, em primeiro lugar, e ao

empreendedorismo dos investidores externos em segundo. As condições

necessárias para atingir a um patamar mínimo de inserção na atividade, por parte da

comunidade, soam como inacessíveis e, por conta disso, desestimulam a

comunidade a insistir em maior qualificação profissional.

Outro aspecto que denota o conflito de interesses entre a gestão pública da

PMC e a população vem sendo alvo de muita polêmica na localidade, justamente

por conta da instalação de um complexo hoteleiro de resorts na área que

compreende a praia naturista de Tambaba, considerada a primeira praia naturista do

Nordeste e local voltado para esta prática. O imbróglio se deu porque a PMC, em

parceria com grupos internacionais, pretende dotar a área de um grande

equipamento hoteleiro, o qual poderia inviabilizar a prática do naturismo na

localidade.

152

Quadro 05 – Conflito entre comunidade e poder público envolvendo construção de um resort

PORTAL ANO MANCHETE

Correio da Paraíba 2011 Construção de resort cria polêmica entre naturistas e prefeitura

Turismo em Foco 2011 Privatização da praia de Tambaba provoca polêmica na Paraíba

Fonte: Elaboração própria, 2011.

Outro aspecto desse indicador constata que o crescimento da oferta de mão-

de-obra barata e menos especializada tem feito com que muitas pessoas procurem

no turismo a busca por oportunidades de trabalho. Atividades como a pesca,

agricultura e o serviço público não mais atraem as pessoas. Tendo em vista o

crescimento do número de equipamentos que se prestam a atuarem frente ao

turismo, muitas pessoas vêem nessa área o surgimento da oportunidade de

largarem das atividades antes citadas para entrarem no mundo do trabalho do

turismo. Como afirma o representante dos barraqueiros: “Nesse ponto a gente não

pode negar. Tanto a ATCC quanto a Prefeitura conseguiu vários cursos do SEBRAE

e o pessoal sempre procura fazer esses cursos. São pessoas que chegam a fazer

os cursos e saem dali com uma perspectiva de vida bem interessante”; ele conclui

afirmando que “as pessoas se envolvem procurando um melhoramento, uma

qualificação, pra estar dentro do mercado de trabalho”. Essa é uma ação voltada

para o fortalecimento do desenvolvimento endógeno associado ao turismo. A busca

por atividades em plena expansão na localidade conduzem os atores locais e se

inserirem enquanto protagonistas desse processo, buscando na qualificação

profissional as alternativas necessárias à sua inserção.

Da mesma forma que com o trabalho, as manifestações culturais da

localidade são vistas hoje como uma forma de ganhar algum dinheiro. Em algumas

oportunidades, onde os grupos culturais se apresentam nos meios de hospedagem

e também no resort, as pessoas que respondem por essas atividades culturais

comentam que só se apresentam em locais onde podem receber dinheiro, conforme

observado por Brito (2004). O próprio resort informou que “o período de duração da

apresentação chega a aumentar, pois a gente pede pra eles passarem até 1 hora e

meia de apresentação, dependendo da quantidade de hóspedes que estiverem

apreciando a mesma”. Tal situação traduz bem o que Cooper (2001) considera como

autenticidade encenada, pois ao invés do turista buscar a cultura local, está lhe é

153

apresentada no ambiente onde este turista estiver, sendo produzido um espetáculo

que foge, em parte, da relação que as pessoas do local tem com suas tradições.

Considerando a valorização da herança cultural, a pesquisa hemerográfica

identificou que foram realizadas algumas apresentações culturais com grupos

folclóricos da localidade nas imediações do resort. O objetivo da atividade definiu-se

em levar aos hóspedes um pouco da experiência cultural do local onde os mesmos

estão situados. Os grupos se apresentam na área comum do equipamento para os

hóspedes, levando parte das tradições culturais, da dança e do estilo de vida que a

população detém. Apesar disso, é importante destacar que toda a infraestrutura do

equipamento desponta para os aspectos relevantes da cultura angola, tendo o nome

dos bangalôs, das vias, das áreas comuns e da própria gastronomia servida no

equipamento como de natureza tipicamente angolana.

Em ambos os casos, tanto nas relações de trabalho quanto na preservação

das tradições locais e a valorização de sua herança cultural, constata-se que a

população é influenciada pelos interesses hegemônicos, como constatam Knafou

(1996), Coriolano (2006) e Rodrigues (2006). São esses agentes hegemônicos que

instituem as relações trabalho adotadas pela localidade destoantes daquelas

identificadas por força da legislação vigente, empregando a população sem a

garantia dos direitos trabalhistas, além de utilizaram suas tradições culturais como

entretenimento para seus clientes.

A análise das entrevistas constatou que o município do Conde não conta com

uma política de valorização da cultura local. Isso porque muitas ações estão

concentradas especificamente nas escolas públicas, voltadas às atividades

escolares relacionadas com os períodos festivos ou alusivos as comemorações do

calendário escolar anual. Fora disso não há qualquer ação que procura resgatar e

promover a identidade cultural local como importante herança cultural.

De acordo com o dono da loja de artesanato entrevistado, o que se vê na

maioria das vezes são iniciativas individuais ou de comunidades locais que

procuram por conta própria resgatar a cultura local. “A gente vê é o povo sofrendo

pra comprar uma roupa ou arrumar um equipamento de som pra si apresentar nos

cantos. Pede a um e a outro um trocado pra poder se arrumar”. Constata-se que não

há um reconhecimento público das tradições e da herança cultural da localidade, o

que acaba por tornar ainda mais frágil e suscetível a mudança as relações culturais

154

que se detém em Jacumã e que podem estar associadas diretamente a atividade

turística local, como esclarece Silva e Vieira Filho (2009).

Outro aspecto constatado com as entrevistas é que as questões que se

referem à cultura não foram discutidas em profundidade pelos entrevistados. No

entanto, os aspectos relativos aos ganhos econômicos promovidos pelo tipo de

ocupação de grandes equipamentos hoteleiros na região é tema de amplo

conhecimento dos entrevistados. “Quanto mais turista vier pra cá melhor porque

assim eu trabalho mais. Se eles pedem um remédio o pessoal me chama pra ir

deixar! Se querem qualquer coisa aqui de Jacumã me chamam e eu que entrego lá,

então pra mim ta bom” afirma o mototaxista entrevistado. Constata-se que o discurso

economicista vem atrelado ao turismo, as questões voltadas à geração de emprego

e renda e os benefícios que podem ser obtidos por aqueles que conseguirem

emprego nesses equipamentos rapidamente torna-se assunto presente no senso

comum. Muitos sabem quanto se ganha em certos estabelecimentos, outros afirmam

que algumas pessoas mudaram de vida depois que começaram a trabalhar no

resort, sempre associando a mudança de comportamento aos ganhos econômicos

que foram obtidos pela ocupação do posto de trabalho.

De fato, o que se percebe com relação a valorização da herança cultural é

que a fragilidade nas relações sociais e culturais estão diretamente relacionadas as

oportunidades que podem ser obtidas trabalhando nos setores relacionados ao

turismo. Aqueles que o conseguirem terão maiores ganhos econômicos e,

consequentemente, melhores oportunidades sociais e culturais. Do contrário, restará

apenas o que for possível de se obter com ações esporádicas e destituídas de apoio

público, como os postos de trabalho informal que são criados pela visitação às

praias.

Analisando o indicador referente à qualificação da mão-de-obra, o

levantamento hemerográfica aponta que foi dada muita ênfase a associação entre

desenvolvimento turístico e meios de hospedagem, requerendo ações voltadas para

a qualificação da mão-de-obra local como uma importante ação a ser executada

com vistas ao desenvolvimento do turismo local, como pode ser visto no quadro 06.

155

Quadro 06 – Qualificação da mão-de-obra em Jacumã

PORTAL ANO MANCHETE

Governo da Paraíba 2007 Projeto espanhol vai gerar 400 empregos na Paraíba

Turismo em Foco 2008

Litoral sul da Paraíba pode virar pólo turístico

2009 Governador da PB diz que é preciso incentivar a construção de hotéis no Estado

Fonte: Elaboração própria, 2011.

Foram identificadas ações executadas pela PMC, fruto de uma parceria

empreendida entre a edilidade e o SEST, SENAT e o SEBRAE, voltada para a

qualificação profissional da comunidade local, interessada em atuar no setor

hoteleiro e de alimentos e bebidas. O foco dado a essas ações propôs-se a prover

cursos nas áreas citadas, com o intuito de preparar essa mão-de-obra para a

absorção pelos empresários locais no setor hoteleiro.

Apesar disso, não foram identificadas ações contínuas ou mesmo bem

estruturadas que se propusessem a tal finalidade, de forma que se identificasse uma

política pública objetiva nesse sentido. Existem algumas ações de qualificação por

parte da PMC voltados a preparar a população para ocupar postos nas

oportunidades que surgirem por força do crescimento de novos postos de trabalho,

porém, não há conhecimento das demandas reais de qualificação por parte da

população pela PMC. O resultado desta ausência de ações efetivas traduz-se na

fragilidade das relações de trabalho e na carência de conhecimento técnico e

profissional da população, na tentativa de ocupar os postos de trabalho criados por

força dos meios de hospedagem, os quais acabam por optar por mão-de-obra

melhor qualificada oriunda de fora da localidade, como é o caso identificado no

próprio resort. A fala do dono de um mercado local entrevistado ilustre essa questão:

“A gente sabe que aqui, em Jacumã, isso ainda é muito difícil, porque se

você precisar de uma qualificação melhor você tem que ir até João Pessoa e isso é um gasto pra comunidade, porque a passagem é muito cara pra se ir todo dia. Pra quem já não tem emprego ainda ter que gastar com passagem é muito difícil”.

De acordo com as análises das entrevistas realizadas, a população tem a

percepção de que a saída para o desemprego na região está na qualificação. E é no

turismo que muitas dessas oportunidades foram apresentadas. Segundo as

análises, o perfil do trabalhador local atende parcialmente as necessidades do

156

resort, pois foi informado pelos mesmos que falta mão-de-obra qualificada. Alguns

funcionários consultados pela pesquisa informaram que há pouca iniciativa do poder

público municipal e estadual em oferecer cursos profissionalizantes para a

comunidade e, diante disso, faz-se necessário buscar profissionais com experiência

e melhor qualificação em centros urbanos mais desenvolvidos, como na capital João

Pessoa. Isso ocorre porque o resort não dispõe de uma política de treinamento para

os funcionários de todos os seus setores específicos, de modo que se faz

necessário que o profissional além da qualificação disponha de experiência nas

funções que pretende desempenhar no equipamento.

Com relação à subcategoria ambiental, foram analisados os aspectos

relativos à situação da segurança pública, coleta e descarte do lixo e ocupação do

litoral pelo turismo.

Analisando a situação da segurança pública, a pesquisa hemerográfica

identificou que houve considerável crescimento nos índices de criminalidade na

localidade, atribuindo este fato ao crescimento no fluxo turístico local e a ausência

de um efetivo policial sediado em Jacumã que pudesse prover melhor segurança a

população e aos visitantes.

Quadro 07 – Aspectos da segurança pública em Jacumã

PORTAL ANO MANCHETE

Correio da Paraíba 2008 Policiamento não atende demanda na

região do Conde

Turismo em Foco 2011

Litoral sul é alvo de críticas por parte dos turistas

2011 Litoral sul da PB contará com viatura da PM para atendimento aos turistas

Fonte: Elaboração própria, 2011.

Algumas comunicações afirmam que o crescimento da criminalidade na

região se deu justamente por conta do crescimento do poder aquisitivo tanto da

população quanto da presença constante de turistas na localidade. Este fato foi

associado à inexistência de um efetivo local que pudesse suprir as necessidades de

policiamento permanente que esse tipo de destinação requer.

Já no que se refere às entrevistas, foi unânime a opinião de que não se

percebe a presença da polícia constantemente, patrulhando as áreas de Jacumã.

Muitos afirmam que tal fato só ocorre nos períodos de férias e na época do carnaval,

quando o número de visitantes cresce significativamente. O representante da ATCC

157

afirma: “Segurança! Isso é uma coisa que falta muito pra gente e que a gente vem

batalhando muito em nível de associação e individualmente, pra tentar resolver

esses problemas de modo a tornar isso como um balneário seguro”. Diferente disso

não há permanente patrulhamento, o que dificulta muito a realização de atividades

noturnas fora dos meios de hospedagem, como afirmam muitas pessoas.

Praticamente todas as atividades noturnas de interesse dos hóspedes ou são

realizadas nas imediações dos próprios empreendimentos ou são efetuadas em

locais públicos situados em João Pessoa, o que implica no deslocamento dos

mesmos para a capital, a qual dista 20km do distrito de Jacumã.

Isso leva a crer que a ausência de um efetivo de segurança pública no distrito

de Jacumã penaliza toda sociedade e as oportunidades de desenvolvimento de

outras atividades associadas ao lazer noturno, considerando que muitos dos

hóspedes gostariam de desenvolver atividades dessa natureza, mas ficam

impedidos por conta da situação de insegurança que se instala no local.

Já o indicador referente a coleta e descarte do lixo, a análise identificou

muitas reclamações tanto de visitantes quanto de moradores a cerca desse item. A

sujeira encontrada em muitas praias de Jacumã e nas próprias ruas do distrito foi

destacado como ponto negativo ao turismo da localidade. O representante da ATCC

afirma: “Nosso conceito é ecológico, a gente não quer sujar de esgoto a praia de

jeito nenhum, nem poluir nada, mas que dê empregos, fundamentalmente pra região

que é carente disso”. Já o representante da colônia de pescadores coloca a

importância de se planejar com relação à limpeza urbana, afirmando que:

“[...] tem que ter um projeto que pensasse mais no futuro e atingisse mais o turismo, o fluxo de gente. Olha o exemplo ali, a quantidade de lixo e sujeira no meio da rua. O correto seria a coleta diária, mas são tão poucas pessoas para coletar o lixo que não dá vencimento, porque acumula muito.”

Já os entrevistados informaram que a PMC organizou algumas reuniões com

a população e representantes de associações para debater sobre a questão frente

ao plano diretor do município. Nessa ocasião foram discutidas muitas idéias com o

intuito de solucionar os gargalos existentes em Jacumã, já que muitos problemas

podem ser apresentados – a coleta é feita sem o devido agendamento, o veículo

responsável pelo transporte dos resíduos não tem cobertura de armazenamento, o

que acarreta na descarga ou mesmo queda de alguns resíduos fora dos locais

apropriados, além dos trabalhadores responsáveis por essa coleta não estarem

158

devidamente instituídos com equipamento e fardamento apropriados para execução

de tal atividade, como também identificou Silva (2010).

Apesar da exposição dessas idéias por parte da comunidade, constata-se que

os serviços prestados continuam muito precários e sempre tendem a se agravar no

verão. “Os problemas de Jacumã estão na questão física (o acesso), o lixo (que as

pessoas não tem cuidado com o lixo, apesar de que tenta se implantar um projeto de

coleta seletiva aqui, mas não se tá conseguindo com sucesso)” afirma o

representante dos barraqueiros. As propostas foram apresentadas, discutidas nas

reuniões e definidas entre a comunidade e os gestores públicos responsáveis, no

entanto, não tiveram a devida eficácia, pois a PMC afirma que não dispõe de

recursos necessários para suprir corretamente toda estrutura do distrito de Jacumã.

A ausência na execução desse serviço essencial tem levado algumas pessoas da

comunidade a prover uma destinação alternativa para a questão do lixo, de forma

que os moradores têm reunido seu resíduos em alguns terrenos baldios da

localidade e ateado fogo nestes, agravando os problemas ambientais decorrentes

dessa prática.

Constata-se que, apesar de se registrar o crescimento dos meios de

hospedagem e da própria população do distrito de Jacumã, não existem ações

consolidadas no sentido de estruturar o serviço público da coleta de lixo. A execução

do mesmo é feita de modo inapropriado e deficiente, levando a crer que muitos

problemas de saúde pública podem se agravar com base nesse aspecto.

Já no que se refere ao indicador relativo a ocupação do litoral pelo turismo, a

análise hemerográfica destacou que os programas de infraestrutura do Governo do

Estado – entre eles a pavimentação de estradas, saneamento básico, melhoria dos

aeroportos – seriam um importante passo para o desenvolvimento do turismo no

litoral sul, notadamente para o distrito de Jacumã.

Quadro 08 – Infraestrutura de acesso à Jacumã

PORTAL ANO MANCHETE

Correio da Paraíba 2011

Litoral sul terá binário para melhorar o fluxo de veículos e turistas

2011 DER construirá novo contorno para dar fluência ao tráfego de veículos em Jacumã

Governo da Paraíba 2011 Governador assina ordem de serviço para construção de binário em Jacumã

Fonte: Elaboração própria, 2011.

159

Um forte argumento apresentado para justificar a ocupação do litoral pelo

turismo associado à atração de investidores e fluxo turístico europeu para a Paraíba

é o fato de o Euro poder chegar a valer três vezes mais do que o Real, o que

injetaria mais dinheiro na economia local. Também salienta, de forma muito clara,

que o europeu tem forte tendência empreendedora e é capaz de abrir negócios

lucrativos no Estado a partir do turismo. Esses aspectos identificados revelam forte

tendência do governo em valorizar o desenvolvimento exógeno, já que investimentos

externos tornaram-se a tendência predominante a ser buscada também pelo próprio

município.

Quadro 09 – Presença de estrangeiros em Jacumã

PORTAL ANO MANCHETE

Turismo em Foco

2011 Costa do Conde quer atrair dirigentes e clubes europeus para a Paraíba

2011 Costa do Conde inaugura mais um equipamento turístico de grupo empresarial inglês

2011 Paraíba tem um litoral europeu

Correio da Paraíba

2007 Conde tem maior colônia de suecos do Nordeste

2011 Hoteleiros internacionais estão de olho no Brasil Estrangeiros têm 13 hotéis no Conde

Fonte: Elaboração própria, 2011.

Considerando os dados, afirma-se subjetivamente que a comunidade local

tem poucas chances de empreender no setor turístico, já que tal política de

desenvolvimento na Paraíba para o litoral sul está voltada à captação de grandes

empreendimentos hoteleiros e resorts em detrimento do potencial local de pequenos

meios de hospedagem. Constatou-se que, em algumas comunicações, o

crescimento do fluxo turístico gerou insuficiência no montante de leitos

disponibilizados pelos meios de hospedagem do litoral, dando a intenção de que

este setor tem bastante potencial para crescimento a partir de grandes meios de

hospedagem. Além disso, a integração entre os diferentes agentes turísticos locais

(como hotéis, restaurantes, operadoras e transportadoras) ampliou a promoção

turística do destino, o que por sua vez gerou o crescimento do fluxo de visitantes.

160

Quadro 10 – Ações de promoção turística de Jacumã pelo trade local

PORTAL ANO MANCHETE

Turismo em Foco 2007

Ação de promoção dos hoteleiros do Conde será repetida em Natal/RN

2010 Associação de Turismo Costa do Conde instala Central de Informações

Fonte: Elaboração própria, 2011.

A despeito de todo potencial turístico possível de ser trabalhado em todo

território paraibano, muitas matérias pesquisadas afirmam veementemente que o

desenvolvimento do turismo na Paraíba só depende dos investimentos que foram

executados no litoral. Fora disso, afirma-se que não há perspectiva de crescimento

ou mesmo desenvolvimento da atividade no Estado. Essa visão centralizada pela

mídia de que o desenvolvimento só pode ser obtido pelo turismo do litoral remonta à

conjuntura turística hegemônica que se baseia apenas no potencial econômico

instalado na região que compreende o litoral paraibano. Pelo montante de agentes

envolvidos nessa região – sejam eles meios de hospedagem, agentes de viagem,

representantes do poder público local e outros associados a estes – a pressão e a

força exercida pelos mesmos faz com que não se vislumbrem opções fora desse

eixo dominante.

A grande ocupação de estrangeiros na região tornou a localidade num grande

centro europeu fora da Europa, segundo os portais pesquisados. O litoral paraibano

chegou a essa configuração tendo como base a implantação de projetos hoteleiros

de grande porte. Outro aspecto ressaltado é a falta de empreendedorismo dos

empresários locais nativos da região, tidos como inertes e incapazes de promover

por conta própria o desenvolvimento turístico da região. Foi atribuído crescimento do

local graças à presença dos muitos estrangeiros que vieram e montaram seus

negócios em Jacumã, gerando emprego e renda para a população.

A infraestrutura deficiente é citada por empresários como o maior problema

do local, seguida pela carência de atrativos e equipamentos de lazer, fazendo com

que os visitantes tenham de se deslocar para a cidade de João Pessoa a procura de

lazer noturno e mais opções de entretenimento.

161

Quadro 11 – Problemas na infraestrutura de Jacumã

PORTAL ANO MANCHETE

Governo da Paraíba

2005 Prodetur realiza obras de infraestrutura para o Litoral Sul

2009 Mais investimentos na infraestrutura para estimular o turismo

2009 Secretário de Turismo da Paraíba destaca melhorias da infraestrutura

Correio da Paraíba 2008

Praias atraem, mas falta estrutura Cidades litorâneas ficam “inchadas” e sofrem sem hospitais, policiamento, saneamento, estradas... Só 3 cidades litorâneas tem hospitais Poluição sonora dura todo o verão

Fonte: Elaboração própria, 2011.

Considerando a participação dos entrevistados nesse aspecto, destaca-se

que muitos problemas foram apresentados, tendo em vista a ocupação do litoral pelo

turismo. São eles: Falta de políticas públicas (saúde, educação e infraestrutura);

Cultura de desenvolvimento imediatista, sem que haja planejamento das ações a

curto, médio e longo prazo; Ocupação desordenada; Degradação ambiental; Falta

de qualificação da mão-de-obra. “Esses problemas são crônicos aqui em Jacumã e

a gente tem sempre insistindo muito pela solução por partes do Prefeito e dos

secretários. Se é pra trazer turistas, porque não arrumam a casa para recebê-los?”

afirma o representante da AMATA.

Com base nas informações, constatam-se dois lados do processo de

desenvolvimento turístico de Jacumã. Enquanto os gestores públicos primam pela

promoção turística, captação de mais empreendimentos hoteleiros e a tentativa de

dinamização da economia local, a população residente demanda que sejam

efetuados serviços que se prestem à melhoria da qualidade de vida da localidade.

Os aspectos relativos à infraestrutura de Jacumã são extremamente precários à

instalação e funcionamento de qualquer empreendimento turístico.

Seja pela ausência de abastecimento de água e esgotamento sanitário,

políticas de capacitação e qualificação profissional para a população, assistência

social, segurança pública, saúde e proteção ao meio ambiente, seja por outro rol de

fatores, há de se perceber que o desenvolvimento turístico de Jacumã não dispõe de

plataforma que possa ser considerada estável a longo prazo. Tanto é que tais

162

condições foram reconhecidas pelo próprio Secretário de Turismo do Conde quando

afirma que:

O principal ponto negativo é a falta de infraestrutura. Nós não temos infraestrutura para agregar alguns grandes equipamentos, que é o grande entrave. A gente só não desponta mais porque nós não temos rede coletora de esgotos, não temos distribuição de água potável, vias de acesso, não temos sinalização turística, nós não temos uma urbanização em geral necessária para que o Jacumã seja um pólo turístico. Então o ponto negativo é a falta de infraestrutura.

Considerando esses aspectos, fica claro que apesar da projeção detectada,

com base na pesquisa hemerográfica e nas entrevistas, o distrito de Jacumã carece

de condições essenciais ao seu pleno desenvolvimento turístico. Além disso, é

possível afirmar que o que ocorre na região não se trata de desenvolvimento, mas

sim de crescimento da superestrutura turística, acarretado pelo surgimento

crescente de meios de hospedagem, considerando uma tendência ainda para

grandes equipamentos com o perfil de resorts. Apesar do volume de investimentos

dessa natureza impressionar à primeira vista, é importante salientar que a base de

sustentação desse cenário ainda não se encontra plenamente consolidada. Os

entrevistados foram ainda unânimes em afirmar que a política de desenvolvimento

do turismo deve ser pensada também no aspecto social e não apenas no

econômico. São as dificuldades encontradas no cotidiano da população que, em

muito, dificultam ações que proporcionem maior e melhor estruturação do processo

de instalação do turismo e seu suporte para o desenvolvimento local.

5.2 O Turismo de Resort em Jacumã

Nesta etapa foram relacionados aspectos do turismo de resorts em Jacumã,

considerando três subcategorias de análise: o planejamento, a implantação e a

consolidação do empreendimento. Na etapa de planejamento foram analisados os

aspectos relativos à divulgação sobre a construção do resort, a percepção e os

impactos sentidos pela comunidade. Já na implantação foram trabalhados os

aspectos de oferta de emprego, participação da comunidade e demandas junto aos

serviços públicos. Na consolidação do turismo de resort em Jacumã foram

analisadas as impressões quanto ao funcionamento, os impactos no setor hoteleiro

local e o impacto na economia local. Esses cenários foram analisados a partir dos

163

dados hemerográficos e das entrevistas, colocando em discussão as questões que

pautam as observações deste estudo.

Analisando o planejamento visando o turismo de resort em Jacumã, o

primeiro indicador trabalhado refere-se à divulgação sobre a construção deste. A

pesquisa hemerográfica identificou que a primeira ação efetuada pela PMC em

parceria com o Governo do Estado da Paraíba, objetivando a captação e instalação

de equipamentos hoteleiros de grande porte no distrito de Jacumã, foi registrada no

ano de 2005, com o lançamento da construção do primeiro resort da Paraíba, o

Mussulo Beach Resort. Com investimentos de um grupo angolano e brasileiro na

ordem de R$20 milhões (LIRA e PEREIRA, 2010), gerando diretamente 180

empregos por conta da construção do complexo, a vinda desses investidores

demonstrou que houve eficácia da estratégia adotada pelo governo estadual e

municipal em captar investidores para o litoral sul do Estado, com a intenção de

ampliar a oferta hoteleira local e dotar a região de equipamento até então inédito na

superestrutura turística do litoral.

Quadro 12 – Lançamento das obras do Mussulo Resort em Jacumã

PORTAL ANO MANCHETE

Correio da Paraíba 2007

Primeiro resort da Paraíba está sendo construído no Litoral Sul Investimentos estão em fase de ampliação com a construção de grandes hotéis no litoral da PB Praia de Tabatinga terá resort lançado nos Estados Unidos

2009 Paraíba inaugura primeiro resort do seu litoral Fonte: Elaboração própria, 2011.

Após a divulgação de captação deste empreendimento, outros investidores

internacionais começaram a buscar possibilidades de investimentos no setor

hoteleiro de Jacumã. O mercado de turismo de resorts e seus investidores procuram

novos destinos para se instalar. Nesse sentido, a Paraíba é considerada promissora,

haja vista o baixo grau de desenvolvimento do turismo local, sobretudo no setor

hoteleiro.

164

Quadro 13 – Litoral de Jacumã é visto como a “bola da vez” para o turismo

PORTAL ANO MANCHETE

Governo da Paraíba

2005 Paraíba atrai investidores e é tida como “a bola da vez” do turismo brasileiro

2005 Governo e CVC assinam protocolo para construção de resort

2006 Lauremília recepciona empresários espanhóis do setor hoteleiro

2006 Governador avança nos entendimentos com a BRA para construir resort no litoral paraibano

2007 Governador é convidado a proferir palestra para CRECI em São Paulo

2007 Paraíba é a “bola da vez” no desenvolvimento do Brasil

Correio da Paraíba 2007 Paraíba se destaca no setor imobiliário e hoteleiro como a “bola da vez”

Fonte: Elaboração própria, 2011.

A partir das iniciativas do Governo do Estado e da PMC, foram anunciadas

algumas captações de mais resorts para o litoral paraibano. Os empreendimentos

hoteleiros foram concebidos por meio de uma parceria entre empresas como a BRA,

a Operadora CVC e o Grupo Espanhol Valero Brasil, através da assinatura de

protocolos de intenções. Com a divulgação destes empreendimentos, o segmento

consolida-se como a principal área de interesse do governo, na medida em que

busca fomentar iniciativas voltadas para a ocupação do litoral. Os investimentos

nestes empreendimentos foram mensurados em mais de R$1 bilhão, de forma que o

Governo da Paraíba investiria parte de seus recursos em obras de infraestrutura

local.

Entre os grandes grupos hoteleiros internacionais que se interessaram pela

construção de resorts no litoral sul paraibano e chegaram até a assinar protocolos

de intenção nesse sentido estão: IMNOVALERO, IBEROSTAR e Vila Galé, além de

grupos suecos e espanhóis. As cifras apresentadas pelos investimentos são

geralmente muito altas, na tentativa de classificar a região do litoral sul e o próprio

distrito de Jacumã como principal pólo de desenvolvimento turístico da Paraíba. Os

empreendimentos consistem em um resort voltado exclusivamente para o público

europeu até um complexo desses empreendimentos, dotado de equipamentos e

estrutura de última geração no que se refere a equipamentos de lazer e turismo.

165

Apesar de todas essas informações serem identificadas como especulação

com vistas à ocupação da localidade por grandes equipamentos hoteleiros – já que

nenhum destes grupos citados chegou a realmente construir o empreendimento –

pode-se confirmar que a efetiva inauguração do primeiro resort, o Mussulo,

despertou atenções e promoveu a concretização do processo de instalação desses

equipamentos. Com amplo destaque para sua inauguração, o Mussulo foi visto

como um dos muitos empreendimentos do tipo que iniciaram suas operações no

litoral paraibano, ampliando a tendência de desenvolvimento do turismo de resorts

na região, com a imagem focada na contribuição para o fortalecimento do turismo

local. Gerenciado pelo grupo uruguaio Mantra, o resort destaca sua equipe gerencial

com ampla experiência internacional na gestão de resorts, o que por sua vez

promoveria a abertura de novos fluxos turísticos internacionais para a Paraíba e o

litoral de Jacumã.

Quadro 14 – Equipe técnica e operacional do Mussulo Resort

PORTAL ANO MANCHETE

Turismo em Foco

2009 Gerente geral do Mussulo Beach Resort by Mantra inicia nova etapa

2010 Mussulo Resort recebe novo chef internacional

2010 Mussulo Resort by Mantra tem novo gerente de recepção

Fonte: Elaboração própria, 2011.

Após iniciadas as operações do resort em Jacumã, as matérias publicadas

afirmam que os resultados são positivos para o equipamento. O resort se volta agora

para o público internacional, priorizando o europeu como fluxo turístico a ser

consolidado pelo empreendimento, além do perfil familiar. Ainda destaca que os

vôos fretados priorizam a vinda desse público-alvo para a localidade.

Quadro 15 – Gestores buscam ampliar vôos entre a Europa e a Paraíba

PORTAL ANO MANCHETE

Turismo em Foco 2011

Prefeito e Secretário de Turismo do Conde já estão na Europa para feiras internacionais

2011 PB tenta fechar vôo charter da Holanda pela segunda vez

Fonte: Elaboração própria, 2011.

166

De acordo com as entrevistas, a divulgação da construção de resorts em

Jacumã só torna-se pública após a apresentação pelos meios de comunicação. De

qualquer forma isso contribuiu para o extensivo crescimento da especulação

imobiliária num primeiro momento. Segundo afirma o corretor de imóveis

entrevistado:

“Hoje a grande procura mesmo, em matéria de litoral e sol e praia, é mesmo o distrito de Jacumã. Isso tem feito despertar muitos interesses e interessados em investir lá. Muita gente que é de lá e procura vender seus terrenos apenas pra os gringos, os estrangeiros, porque sabe que fazendo isso vai pegar um dinheiro muito mais alto do que se vendesse pra alguém de lá ou mesmo de outra parte do Brasil, porque o povo vai fazer pesquisas e acabar achando um preço justo pra aquilo. Mas os gringos vêm tudo doido pra comprar, ávidos pra obter uma propriedade de preferência sem construção nenhum e bem grande, que é pra eles poderem construir o máximo que puderem lá pra qualquer empreendimento, seja pra hotel, pousada, condomínio fechado, seja pra só especular em cima de outros gringos que venham depois. Então o lugar ta sendo muito disputado por isso”.

Constata-se que desde o início do anuncio da instalação, as propriedades

disponíveis para venda a estrangeiros só poderiam ser negociadas em euros ou

dólares, já que a forte procura por imóveis estava amplamente aquecida pela força

com que a divulgação institucional do Estado e da PMC se faziam presentes nos

eventos especializados e na mídia turística nacional e internacional, além da efetiva

concretização do soerguimento do primeiro resort do Estado.

Outro aspecto que chama a atenção, desta vez por conta da opinião da

representação dos empresários de pequenos e médios meios de hospedagem

locais, é que os mesmos não vêem o resort como concorrente direto. “Acho que o

Mussulo é um negócio como qualquer outro. Escolheu fazer um resort, escolheu

fazer no lugar que fez, escolheu equipar daquele jeito e ele não compete

diretamente com os outros meios de hospedagem daqui” afirma o representante da

ATCC. Acredita-se que a vinda do empreendimento a localidade promoveu mais

força capaz de produzir valor na promoção turística local, de forma a potencializar o

desenvolvimento do turismo em Jacumã e, certamente, seus próprios equipamentos.

No entanto, considerando as informações passadas pelo resort – já que este visa

também o público regional – constata-se que o mesmo faz concorrência direta dos

pequenos meios de hospedagem local.

Segundo informações da PMC, a política de captação de equipamentos

permanece até o fim da atual gestão do município, onde estima-se que após todas

167

as inaugurações previstas até o fim de 2012, haverá uma oferta de leitos em torno

de 5.000 UH´s em Jacumã, número este quase o dobro das atuais 3.000 UH´s.

“Para o futuro, a gente continua a fazer as mesmas negociações que fizemos com o

Mussulo, de aproveitamento da mão-de-obra, de empregar pessoas da cidade, de

isenção de impostos, de parcerias, da divulgação do destino. Esses são os nossos

planos” afirma o Secretário de Turismo do Conde.

Considerando o indicador referente à percepção da comunidade quanto ao

planejamento do turismo de resort em Jacumã, a análise hemerográfica identificou

grande ênfase no fato de que os estrangeiros estarem literalmente invadindo

Jacumã. Seja pelo crescimento na visitação, seja pelo maior aporte de recursos para

prover investimentos no setor turístico, especialmente na hotelaria. Munidos de

cifras representativas frente à realidade do local, esses investidores ocupam áreas

muito valorizadas objetivando implantar projetos na área de hotelaria.

Quadro 16 – Projetos fortalecem o cenário turístico de Jacumã

PORTAL ANO MANCHETE

Turismo em Foco

2009 Instalação do Mussulo Resort gerou investimento de R$ 20 milhões

2010 Costa do Conde pode ganhar resorts, pousadas e até campo de golfe

2011 Pousada na Costa do Conde teve investimentos de R$ 3 milhões

2011 Costa do Conde inaugura mais um equipamento turístico de grupo empresarial inglês

Fonte: Elaboração própria, 2011.

Apesar disso, recebem muitas críticas da população local que reconhece que

o local vem sendo tomado pelos europeus de uma forma muito rápida. “Segundo

eles [PMC] tem outras empresas que vão vir pra cá, pra gerar emprego, gerar renda.

Mas o que precisa fazer é qualificação de mão de obra, porque a maioria da mão de

obra que eu vejo ai é quase tudo de fora, a não ser pra fazer faxina ou varrer” afirma

a representante da ASMORO. Parte dos estrangeiros que se instalaram no local

deu-se pela pouca exploração da atividade turística na localidade pelos nativos, já

que com os recursos injetados por estes empresários estrangeiros rapidamente se

pode comprar grandes volumes de terra e construir equipamentos que valorizam o

potencial local.

168

A partir das entrevistas, observa-se que a percepção da população era de que

com a chegada do resort muitos serviços públicos importantes – tais como

abastecimento de água e saneamento, iluminação pública, além da melhoria de

outros serviços públicos – se tornaria realidade para a comunidade, no entanto isso

não se confirmou. “Todo mundo achavam que era muito bom. Todos achavam que

com a chegada do resort iria chegar água, chegar iluminação pública, telefonia

celular melhor, de ia vir esgoto e abastecimento de água encanada, ou seja, que

toda infraestrutura ia ser a melhor possível e que não se tinha lá” constata o

representante da ACOTA.

Além disso, pode ser observado que a população encontra-se dividida neste

aspecto, revelando uma perspectiva bastante antagônica. Uma parte acredita que os

empresários do turismo vieram para explorar o turismo local sem se preocupar com

as pessoas que moram lá; outra parte percebe que a geração de empregos para a

comunidade é algo real e que beneficia boa parte das pessoas que residem lá.

Apesar dessa divergência, há o sentimento de que algo mais poderia ser feito para

melhorar a condição de vida da população. O líder dos barraqueiros afirma que:

“Esse retorno social que é uma discussão muito grande e muito aberta com

o pessoal aqui, proprietário de pousada, de restaurante, é que tem que haver um retorno social. Eu acho que o turismo tá explorando, ta trazendo gente de outros municípios, mas esse retorno social não ta chegando como deveria chegar”.

O retorno social seria possível a partir de medidas que pudessem atender aos

demandas apresentadas pela população e que perfazem seu cotidiano, atendendo

de forma mais direta suas necessidades. A fala do representante da ACOTA resume

esse sentimento.

“Sobre as expectativas da comunidade, há um misto de opiniões. Existe a

alegria, a tristeza, aquela desconfiança, existem pessoas que ganham hoje o que nunca se pagou aqui e que estão plenamente satisfeitas. Todo mundo acha que um resort desse que se instalar aqui, com gringos, eles tiram tudo que tem daqui e quando não tiver mais prestando eles mandam derrubar tudo e vão embora. Até os taxistas locais se organizaram, se arrumaram mais e tão conseguindo trabalhar pra o resort o dia inteiro. Eles hoje não trabalham para outros clientes, só pra os do resort. Mas mesmo assim ainda existe algum preconceito com aqueles que não servem ao resort, porque se for da comunidade mas que não tenha costume de ir servir ao resort eles tratam mal, e o povo fica desconfiado”.

Com base nessa colocação, observa-se que existem duas faces do processo

de percepção, já que aqueles que servem ao equipamento são abordados de forma

169

diferente dos que não o fazem. Isso se coloca como um aspecto intimista do

equipamento em questão, já que o sentimento de pertencimento da comunidade

atina para a importância da interação de seus atores junto aos agentes

institucionalizados instalados na localidade. Parte dessa aversão aos membros da

comunidade local em Jacumã demonstra que o sentimento pelo qual a sociedade

identifica sua parcela de contribuição pode ser definido apenas pelo papel

econômico que pode representar junto aos agentes hegemônicos. Se aquele

cidadão se prestar a trabalhar conjuntamente será plenamente aceito, do contrário é

ignorado e relegado à indiferença. Nesse sentido, o retorno social se insere como

uma importante contribuição para toda parcela da sociedade.

Analisando o indicador relacionado ao impacto na comunidade, a pesquisa

hemerográfica afirma que um dos aspectos mais perceptíveis se dá por conta do

crescimento vertiginoso da especulação imobiliária. O crescimento no número de

equipamentos hoteleiros e demais atividades relacionados com o turismo levou a

uma valorização registrada em alguns imóveis em mais de 1000%, causando uma

grande pressão na cotação imobiliária local.

Quadro 17 – Especulação criada após a instalação do resort em Jacumã

PORTAL ANO MANCHETE

Correio da Paraíba

2009 Conde ganha mais de três mil leitos

2010 Especulação pode afastar investidores do Conde

2010 Valorização de 1000% atrapalha desenvolvimento de Jacumã

Governo da Paraíba 2009 Governador da PB diz que é preciso incentivar a construção de hotéis no Estado

Turismo em Foco 2010 Century 21 vai abrir duas franquias na Paraíba: Conde será uma das sedes

Fonte: Elaboração própria, 2011.

Apesar de se registrar uma alta significativa no valor dos imóveis a procura

não se reduziu, o que demonstra que Jacumã despertou uma grande procura por

conta das oportunidades que foram criadas a partir do desenvolvimento turístico e

da ocupação de muitos meios de hospedagem.

Com base nas entrevistas, grande parte da comunidade acredita que não

houve nenhum impacto perceptível por conta do funcionamento do resort. Alguns

chegaram a afirmar que se pode constatar o crescimento do fluxo de veículos na

170

localidade. Outros afirmam ainda que os impactos podem ser observados no entorno

do resort e que se agravaram com este, como o processo de assoreamento do Rio

Bucatú, uma das nascentes do Rio Tabatinga e que é mais conhecida como Lagoa

Preta, situado bem ao lado do resort. O representante da AMATA afirma que:

“Outra coisa diz respeito a saneamento do lugar, que a gente não sabe muito bem pra onde vai todos os resíduos que são produzidos pelo resort, os dejetos mesmo. Muita gente diz que eles mandam os esgotos pra Lagoa Preta, que é uma nascente do Rio Tabatinga. Mas ninguém nunca provou isso não”.

Quando o empreendimento encontra-se com sua capacidade máxima de

hóspedes, parte do esgotamento das fossas sépticas existentes é desviada para a

Lagoa Preta, pois as referidas fossas não comportam a capacidade de absorção

outrora instalada. Apesar disso, não foram encontrados estudos ou pesquisas que

pudessem apontar a consolidação dessa informação.

A partir das análises da subcategoria implantação, o indicador relativo a oferta

de empregos na pesquisa hemerográfica constata que foi selado um acordo entre a

gestão do resort e a PMC, de modo que o referido equipamento deveria empregar

em seus quadros funcionais ao menos 80% da sua mão-de-obra proveniente do

município. Tal iniciativa faz parte das condições que foram oferecidas na época da

instalação do equipamento na forma de contrapartida que o empreendimento

deveria arcar para com a edilidade.

No entanto, segundo as entrevistas, ficou constatado que o montante de

funcionários não atinge o patamar estipulado pela gestão municipal. O principal

gargalo nesse sentido se deu por conta do baixo nível de qualificação profissional

encontrado na localidade, levando o empreendimento a contratar funcionários

oriundos de João Pessoa, os quais dispunham de formação na área e experiência

no setor de hotelaria. De acordo com o representante da ACOTA sobre o assunto:

“Não conheço ninguém da região que trabalhe por lá. Tem gente que diz que foi

bom, outros que foi ruim. Não sei muito bem ao certo”. De forma homônima o

representante da ATCC afirma: “Poucas contratações a nível local, geralmente

cargos relacionados a serviços gerais. Uma boa parte dos funcionários é de João

Pessoa e os mais especializados de outros estados”. Os funcionários residentes na

comunidade ocupam cargos de camareira, auxiliar de serviços gerais e vigilantes,

funções consideradas pelos mesmos de baixa qualificação operacional e que não

171

agregam demandam de maior qualificação profissional. Ainda sobre esse aspecto, a

representante da ASMORO foi taxativa em relação às oportunidades de trabalho,

pois segundo a mesma:

“É pouco né, porque muito do povo que trabalha lá mora fora, né. Em João Pessoa, vai e vem ônibus com gente que trabalha lá todo dia. Mas o povo daqui quer se qualificar melhor mas é difícil né. Porque o povo que ta lá é bem preparado e os daqui ainda tão estudando pra chegar lá. É difícil pro povo daqui, porque num tem escola boa pra ensinar as coisas. Os rapazes e as moças tem que aprender as coisas mais devagar né. Ai demora muito”.

Isto leva a crer que existem condições que não foram plenamente atendidas

pelo equipamento frente à captação de mão-de-obra local. O cenário para algumas

pessoas da comunidade vem se modificando, o que acaba por contribuir para a idéia

de que o resort tornou-se um grande gerador de emprego e renda, mas nesse

sentido não se observa com clareza a contribuição que esse equipamento pode

proporcionar para o desenvolvimento local e humano das pessoas residentes na

comunidade.

Outro aspecto identificado nas entrevistas refere-se a aquisição de produtos

da comunidade pelo resort. Dada a quantidade e a permanente necessidade de se

obter volumes de mercadorias de boa qualidade, o empreendimento não dispõe de

fornecedores no município do Conde. Parte destes fornecedores é oriunda de João

Pessoa ou mesmo do Recife, capital de Pernambuco. Segundo relato do

representante da colônia de pescadores local:

“[...] já foi fornecido peixe para o resort, só que a qualidade e a quantidade demandada do pescado por eles não dá pra gente porque é muito peixe e os melhores que eles querem. Além disso, a gente tem os outros cantos aqui que compram da gente há mais tempo, as barracas, os restaurantes, bares, ai num dava não”.

Isso fez com que os administradores do empreendimento optassem por

outros fornecedores em maior escala. Este exemplo demonstra como a comunidade

pode não estar preparada para uma demanda cada vez maior advinda desses

equipamentos, seja por serviços na área de turismo, oferta de mão-de-obra, seja

pela própria mobilização do comércio local, o qual continuará existindo por conta da

própria demanda local. Constata-se que existem condições que precisam ser

modernizadas na localidade para que se pense no desenvolvimento do turismo de

forma consolidada, seja na aquisição e uso de novas tecnologias aliadas a setores

172

como a pesca, seja na dinamização do mercado consumidor local e nos processos

de logística que demandam dos setores uma produtividade cada vez maior.

Com relação ao indicador que se refere à participação da comunidade, a

análise hemerográfica constatou que apesar do crescente interesse em se investir

em Jacumã, por parte de muitos grupos estrangeiros, há registro do fraco

desempenho do setor turístico local.

Quadro 18 – Desempenho do setor turístico em Jacumã

PORTAL ANO MANCHETE

Correio da Paraíba

2007 Fraco desempenho do setor turístico no Conde não desanima empresários

2008 Baixa estação torna difícil o turismo no litoral sul da Paraíba

2008 Aeroporto, divulgação e dólar baixo trabalham contra o turismo da Paraíba

2008 Beleza não basta: falta muita infraestrutura no turismo do Conde

2008 PBTUR não tem pesquisa de fluxo turístico no litoral sul

Turismo em Foco 2011 Litoral Sul é alvo de críticas dos turistas que visitaram a Paraíba

Fonte: Elaboração própria, 2011.

Entre os fatores enumerados que demonstram tal conjuntura, atribui-se ao

período de chuvas na região, pouca divulgação do destino e baixo nível de

empreendedorismo local como alguns dos principais fatores que acarretam o

reduzido número de turistas nacionais e estrangeiros na localidade. O esforço da

própria comunidade local em desenvolver turisticamente a região é visto como um

gargalo, destacando que a região vem crescendo graças apenas aos esforços

dispensados pelas pessoas de foram que se interessam em investir e empreender

na localidade. Isso demonstra ainda que o estrangeiro que empreende na região é

visto como a única salvação ao desenvolvimento turístico local, considerando que o

desenvolvimento exógeno traduz as melhores expectativas que o turismo local

possa esperar.

Analisando as entrevistas, constata-se que houve certa frustração da

comunidade em acreditar que boa parte dos mesmos poderia participar como

funcionários do empreendimento. A principal alegação para a negativa reside na

173

ausência de qualificação e propriamente experiência em trabalhar num

empreendimento desse tipo. Segundo informou a representação do resort:

Apesar da solicitação da PMC de que mais de 80% da mão-de-obra contratada deveria ser local, a maioria de nossos funcionários não é daqui. Algumas camareiras e garçons são naturais de Jacumã, num percentual aproximado de 20% dos funcionários do equipamento como sendo da comunidade local. A principal motivo para esse percentual a baixo do que havia sido combinado entre o resort e a PMC foi por conta do baixo grau de qualificação profissional da comunidade. Diante disso, foi preciso contratar profissionais com maior qualificação oriundos de João Pessoa, tendo ainda que custear as despesas com transporte nos três turnos de funcionamento do equipamento.

Não se registrou maior insatisfação de parte da comunidade por conta disso,

nem tampouco alguma iniciativa da gestão municipal que pudesse modificar essa

realidade, até porque como se trata de um acordo institucional entre a administração

do resort e a PMC, fugir a essa regra não seria considerado ato falho ou grave que

gerasse algum demérito ao equipamento. As argumentações do líder dos

barraqueiros ilustra a questão, do ponto de vista da comunidade:

“Considero totalmente importante a participação da comunidade. Sem a participação da comunidade não se consegue ter uma cidade interessante não. Eu acho que o principio básico é partir justamente do desenvolvimento. E é onde eu brigo muito aqui com a questão da cidadania. Eu vejo que as pessoas daqui, até certo ponto não sei se por medo ou por algum outro motivo, eles não conseguem viver a cidadania. Fazer disso uma arma na mão deles. Existe muita omissão aqui. O envolvimento da população é baixo”.

Como constata Mendonça e Irving (2004), a visão do “nativo mudo” ainda é

muito forte em Jacumã. É preciso que a participação da comunidade no processo de

tomada de decisão a cerca do desenvolvimento turístico seja mais efetiva, pois

observa-se que existe uma pequena parcela da comunidade que deposita apenas

na figura dos representantes de associações a confiança e a voz necessárias para

se buscar soluções para os problemas. Apesar disso, os próprios representantes se

vêem na obrigação de desempenhar uma voz que, muitas vezes, precisa ser

mobiliza junto à sociedade.

No que se refere à demanda junto aos serviços públicos, com base na

pesquisa hemerográfica, identificou que a captação de recursos pelo Prodetur/PB

para o investimento em infraestrutura no litoral sul ganhou certo destaque.

174

Quadro 19 – Demanda junto aos serviços públicos em Jacumã

PORTAL ANO MANCHETE

Turismo em Foco 2007

Valero Brasil inicia construção de resort e pede infraestrutura ao governador

2009 Secretário de Turismo da Paraíba destaca melhorias da infraestrutura do litoral sul

Correio da Paraíba 2008 Consumo de água no litoral sul aumenta 30% na alta estação e provoca pane no abastecimento

Fonte: Elaboração própria, 2011.

Constata-se que as obras necessárias para promover a instalação de novos

empreendimentos hoteleiros, tendo a região do litoral sul como prioridade, dispõe de

um histórico de precariedade e deficiência. Apesar de receberem destaque as obras

de saneamento, esgotamento sanitário, vias de acesso, reurbanização de áreas,

capacitação profissional e sinalização turística as limitações ficam bastante visíveis,

sobretudo nos períodos de alta estação. Nesse ínterim não é possível se conceber

que o crescimento da atividade turística, com base no atual nível, possa atingir

patamares ainda maiores tendo em vista o alto grau de precariedade dos serviços

públicos existentes em Jacumã.

As entrevistas constataram que após o início das operações do resort não

houve nenhuma mudança na oferta de serviços públicos, permanecendo da mesma

forma, isto é, extremamente precária. “Após a implantação do resort não houve

nenhuma mudança nos serviços públicos daqui, nada, nada. Não houve nenhuma

perturbação na calmaria do mercado aqui, nenhuma, nenhuma” afirma o

representante da ATCC. O dono de posto de combustível afirma que:

“Houve uma melhorada na iluminação, o lixo (apesar de ter uma série de problemas) não melhorou muito por causa da falta de um programa de educação, porque tem muitas pessoas que não tem educação e jogam o lixo em qualquer lugar. Eles não querem deixar o lixo nas suas portas, mas deixam no vizinho e fazem isso sem o menor problema. Mas alguns serviços melhoraram, não só por conta do resort, mas também de outros empreendimentos que vieram se instalar aqui”.

A necessidade de serviços melhores, voltados tanto para a população quanto

para os equipamentos instalados na região, é constantemente requerida à PMC pela

população, pelas associações e demais empresários. No entanto muitos não são

realizados e quando o são, mostram-se extremamente paliativos frente às reais

necessidades.

175

Foi feita uma grande promoção do resort, do desenvolvimento, da melhoria que o local ia passar a ter, mas, depois que acabou, foi todo mundo embora e ficaram os problemas aqui por conta das águas das chuvas, do lixo, da precária iluminação pública e da segurança do local. As galerias que foram feitas não têm a preservação e a conservação para garantir o fluxo das águas, causando erosão demais ao solo. Nós não temos água encanada em nenhuma propriedade da região do resort, mas apenas poços artesianos em cada propriedade. Esgoto também não temos, é tudo fossa (Representante da ACOTA, 2011).

A partir desta declaração é possível se resumir as opiniões dadas pelos

entrevistados. Observa-se a completa ausência de infraestrutura e serviços públicos

mínimos, que possam vir a garantir o desenvolvimento local atual e mesmo futuro de

Jacumã. Não houve qualquer mudança nos serviços públicos após a instalação do

resort. A mudança veio após as constantes reclamações da comunidade, sobretudo

por causa da coleta do lixo. A prefeitura alega que não oferece o serviço público

como deveria porque muitos moradores não pagam os seus impostos. Mesmo

assim, é importante destacar que a saúde pública e a prestação de serviços de

qualidade é uma obrigação da gestão municipal, considerando que o repasse

mensal de recursos para a referida edilidade garante a manutenção mínima dos

serviços públicos que devem ser prestados pelos mesmos.

Considerando a subcategoria relativa à consolidação do turismo de resorts

em Jacumã, a análise do indicador referente às impressões quanto ao

funcionamento, obtidas a partir da análise, afirma que passados alguns meses após

a inauguração, algumas mudanças foram efetuadas no empreendimento. A primeira

delas diz respeito à nomenclatura do mesmo, retirando-se de sua designação o

termo “beach”, já que devido a algumas reclamações dos hóspedes por conta da

distância de 3 Km entre o equipamento e a praia, não haveria porque o resort

receber tal designação. A renovação da equipe operacional, como já apresentado

anteriormente, é outra modificação que é importante constatar, já que a contratação

de novos funcionários advindos do mercado paulista demonstra que o equipamento

aposta em mão-de-obra melhor qualificada para assumir postos gerenciais

estratégicos.

No que se refere as impressões, quanto ao funcionamento, obtidas pelas

entrevistas, as opiniões são bastante distintas. Alguns afirmam que apesar da PMC

insistir na captação desses equipamentos, as mais simples condições de

infraestrutura de suporte para os mesmos é inexistente. É o que considera o

representante da AMATA: “Olha, é uma tendência que está acontecendo aqui. A

176

gente sabe que a prefeitura procura estimular isso, mas não dão qualquer condição

de infraestrutura pra quem quiser vir pra cá”. Outros afirmam que a iniciativa foi

benéfica e trouxe muitos benefícios econômicos para a localidade, já que a renda

das pessoas que trabalham no equipamento pode ser investida na localidade. É o

que pondera o representante da associação de barraqueiros:

“Nós vemos como positiva a implantação desse empreendimento aqui. Eu acho que todo investimento é positivo. O que precisa é direcionar um retorno social. Nós agora nos juntamos com a colônia dos pescadores e distribuímos alimentos, brinquedos, diversão pra molecada, distribuímos cestas básicas. Então a gente faz isso buscando oferecer um retorno social. A comunidade precisa desse impulso, pra ir tomando gosto”.

Outro aspecto, desta vez ressaltando pela representante da ASMORO,

destaca o seguinte: “Dizem que é bom né, porque gera emprego e renda. Mas pra

gente mesmo não tem diferença não. O resort é muito isolado da gente, não temos

contato com eles não. Até os turistas que vão pra lá, é um nível mais elevado”. A

partir dessa fala, observa-se que foi concebida certa dimensão de desenvolvimento

ao equipamento e seus benefícios à comunidade, no entanto, destaca de forma

tácita que existe um nivelamento social e econômico entre aqueles que o

frequentam e os que dele se utilizam como instrumento de trabalho e produtividade.

No geral, todos percebem como positiva a instalação do resort, já que boa

parte da população sente como real a necessidade de voltar a estudar e a buscar

maiores e melhores condições de qualificação, constatando que com o surgimento

de outros equipamentos hoteleiros, novos postos de trabalho serão gerados. É

importante ainda afirmar que o Mussulo serviu para destacar o potencial existente

frente ao desenvolvimento local e todas as dificuldades e desafios que precisam ser

enfrentados, tanto pela gestão pública quanto pelos próprios empresários e a

comunidade, para aperfeiçoar o processo de crescimento e desenvolvimento do

turismo local.

O indicador responsável pela análise do impacto hoteleiro afirma que houve

destaque para a promoção feita pelos administradores do Mussulo visando a

captação de fluxos turísticos regionais. Apesar dos grandes esforços dispensados

pela PMC e setores produtivos do distrito de Jacumã em captar fluxos turísticos

internacionais, percebe-se que o resort busca na promoção regional obter e

mobilizar fluxos turísticos regionais que garantam sua ocupação e funcionamento,

177

mesmo nos períodos de baixa ocupação, como destacado anteriormente.

Considerando as deficiências e limitações do setor aéreo na Paraíba, percebe-se

que é no fluxo regional, auxiliado pelos deslocamentos feitos pelas rodovias, que se

busca garantir a ocupação do equipamento na baixa estação, além da tentativa de

consolidar seus clientes. Esse aspecto decorre diretamente da concorrência entre os

meios de hospedagem, pequenos, médios e agora também os grandes,

interessados em disputar parte das fatias de mercado para aquele destino.

Analisando os dados das entrevistas para este indicador o representante da

ATCC, o trade local, afirma que não foram impactados de forma alguma pelo

empreendimento:

“Não houve uma interferência no processo do aparecimento do resort, não houve uma interferência significativa em nada, nem nos impactos. Então, todo mundo tem a mesma opinião que eu, possivelmente. A gente não discutiu se quer o resort em nível de associação, só pra você ter uma idéia. O que era problema não era problema”.

Isto levou o mesmo a crer que o resort procura fortalecer suas ações de

promoção no mercado internacional, de modo que o trade local não se vê como

concorrente do equipamento. No entanto, é importante salientar que o resort vem

empreendendo ações no sentido de captar fluxos turísticos regionais com o intuito

de manter sua ocupação, tanto na alta quanto na baixa estação. Dessa forma,

constata-se que o resort é, na verdade, um concorrente direto de todos os pequenos

e médios meios de hospedagem de Jacumã.

Quadro 20 – Mobilização do Mussulo Resort em captar fluxos turísticos regionais

PORTAL ANO MANCHETE

Turismo em Foco

2010 Agentes de viagem paraibanos participam de famtour no Mussulo

2010 Mussulo dá 50% de desconto para agentes de viagem do Nordeste

2011 Mussulo já se prepara para o carnaval: visitantes são predominantes de Estados vizinhos como RN e PE

Correio da Paraíba 2010 Costa do Conde é destaque em revista de bordo da GOL

Fonte: Elaboração própria, 2011.

178

Com relação ao indicador de impacto na economia local, por meio da

subcategoria de consolidação do turismo de resort em Jacumã, a análise

hemerográfica considera que a infraestrutura das praias urbanas do litoral do Conde,

especificamente no distrito de Jacumã, é destaque em matéria que afirma ser a

região a preferida de estrangeiros para aplicar seus investimentos. Estes afirmam

que sentiram interesse em investir no local após participar de eventos em que a

PMC esteve promovendo a localidade. O crescimento imobiliário da região, por

conta da instalação de grandes equipamentos hoteleiros como os resorts, fez

aumentar os preços dos imóveis de acordo com um dos corretores de imóveis locais.

O mesmo indicador, frente a análise empreendida pelas entrevistas,

considera que o principal impacto na economia local se deu nos imóveis da região,

por conta da forte valorização com a instalação do resort, sobretudo na área onde

está instalado o empreendimento.

Outro destaque foi constatado por um dos entrevistados que afirma:

Há uma mudança, não muito visível, mas há a mudança sim. Antigamente não haviam muitos mercadinhos e hoje há quatro ou cinco mercadinhos. Tá todo mundo vendendo e sobrevivendo. Hoje a muitas barracas e barzinhos na praia e isso tem feito a gente pensar em como o turismo tem sido forte nesses últimos anos aqui em Jacumã.

A partir dessa fala, que foi de formas distintas constatada por outros

entrevistados, verifica-se que houve um crescimento no consumo interno acentuado,

haja vista o crescimento da economia formal, seja pelo número de mercados seja

pelo crescimento populacional que, segundo dados do último senso do IBGE (2011),

foi maior que 30% nos últimos 10 anos. Isso demonstra que apesar de não existirem

dados oficiais que possam servir à mensuração da atividade turística na localidade,

há considerável crescimento populacional, social, econômico e político em Jacumã

no cenário turístico da Paraíba.

179

CONCLUSÃO

Um dos aspectos responsáveis pelo fortalecimento da atividade turística

refere-se ao fato deste ser percebido como um importante agente promotor de

desenvolvimento local. O campo das viagens desponta pelo forte contexto

econômico que o envolve, sendo tratado como um dos mais importantes geradores

de emprego e renda da atualidade, fazendo desta a principal bandeira de promoção

do turismo. Muitos outros aspectos deveriam também serem tratados com a mesma

atenção, a exemplo da cultural, do meio ambiente e da própria sociedade.

Distintos tipos de desenvolvimento são identificados em países e

responsáveis por esse paradigma, na medida em que na sociedade do século XXI

se reproduz, com grande velocidade, toda sorte de ações e empreendimentos

capazes de gerar lucros rápidos às grandes corporações e seus lideres constituídos.

Dessa forma, um produto turístico de sucesso em uma determinada localidade

rapidamente se projetar para outra que disponha das mesmas condições que

possam promover a replicação dos resultados positivos. Assim, a costa brasileira

representa o cenário perfeito para a propagação do turismo de resorts em toda sua

extensão, independente das distintas condições em que isso venha a se dar, da

percepção da população e do grau de desenvolvimento que podem estar instalados

certos destinos.

Apoiado nesse preceito, o conflito que se dá entre aquilo que é trazido de fora

para dentro das localidades e que disputa internamente com o que é nativo traduz

os atritos que se dão entre questões que envolvem o exógeno e o endógeno para o

turismo. A resultante desse processo desencadeia um terceiro aspecto, que é o

desenvolvimento que se dá de forma desigual mas, na medida em que se combina,

promove um cenário que é tido como típico dentro do turismo. É comum se ver em

um mesmo espaço turístico equipamentos e serviços à disposição dos visitantes, ao

passo em que também podem ser encontrados diversos problemas urbanos e

sociais que se conflitam no ambiente que é um misto de riqueza e miséria,

prosperidade e decadência, desenvolvimento e precariedade. Esse misto de forças e

agentes atuando as voltas com a realidade local representa desenvolvimento que os

lugares produzem, a partir do sistema de produção capitalista. Não se pode ficar

indiferente e achar natural e desejável por todos os membros da sociedade.

180

Múltiplos atores e agentes que orbitam no desenvolvimento do turismo local

estão as voltas com diversas tensões geradas por este processo, sejam eles

tomados por interesses individuais ou coletivos nessa concorrência. Sempre haverá

um lado que sairá mais fortalecido em detrimento do outro, que se enfraquece mas

não desaparece, pois sempre haverá o mais forte que se utiliza do mais fraco para

sobreviver. É nesse jogo que se instalam as peças responsáveis pela construção do

cenário turístico, com ocupação de empreendimentos e serviços, responsáveis pela

produção do lugar turístico. Considerando isso, o turismo de resorts – objeto central

deste estudo – desponta como campo de atenção desses esforços, os quais muitas

vezes se pautam pela determinação de distintos níveis de desenvolvimento local,

tornando propícias as instalações e funcionamento de empreendimentos turísticos.

Nesse sentido, observa-se que o processo de instalação do turismo de resort

no Distrito de Jacumã se deu por conta das iniciativas empreendidas principalmente

pelo órgão público local, por meio da Prefeitura do Conde, em parceria com o

Governo da Paraíba e o próprio Governo Federal, promovendo maior visibilidade ao

litoral sul e, conseqüentemente, ao distrito de Jacumã. Além disso, os interesses

despertados nos empresários nacionais e internacionais que se instalaram no local

demonstram que a vertente do desenvolvimento exógeno apresenta-se como

importante ao processo de construção das destinações. Constata-se, nesse ínterim,

que o poder público municipal detém papel decisivo na transformação de sua

realidade local. A adoção do turismo como vetor de desenvolvimento local assume

responsabilidade marcante e contornos claros de que a promoção do destino

turístico perpassa diversas matizes de desenvolvimento, seja ele endógeno,

exógeno, desigual e combinado ou mesmo local.

O envolvimento do poder público e a perspectiva de desenvolvimento

proposta pelos mesmos vão de encontro ao interesse de ocupar o local de uma

quantidade cada vez maior de equipamentos turísticos de grande envergadura,

como hotéis resorts. O crescente número de participações em eventos nacionais e

internacionais de promoção turística e captação de investidores demonstra que a

divulgação do potencial local é mais fácil de ser empreendida, além de interessante

para os gestores locais, que acabam por apresentar à população um resultado

falacioso de desenvolvimento local por força do turismo, já que a esmagadora

maioria da população não percebe ações que venham a convergir para a

sustentabilidade do quadro de manutenção do desenvolvimento turístico de Jacumã.

181

Tanto é que não foram identificados quaisquer projetos que venham a proporcionar

a melhoria da infraestrutura local, no que se refere à urbanização, iluminação

pública, coleta de resíduos, abastecimento e tratamento de água, qualificação da

mão-de-obra local e geração de postos de trabalho dentro das leis trabalhistas

nacionais.

O trade local percebe que a promoção do turismo de resorts para Jacumã é, a

priori, extremamente positiva, já que o resort trouxe mais promoção ao destino

turístico, o que por sua vez gera mais interesse pela região e leva o turista a buscar

mais informações sobre o lugar, encontrando outras possibilidades de hospedagem

que não apenas no resort. No entanto, constata-se que o equipamento não é

reconhecido pelos pequenos meios de hospedagem locais como concorrente, mas

este último vem empreendendo esforços, desde o início de suas operações, no

sentido de captar o mesmo tipo de público-alvo para usufruir de suas instalações, o

que demonstra existir forte competitividade entre as pousadas locais e os resorts.

Apesar disso, os resultados são ainda desconhecidos e não se tornou objeto central

deste estudo, requerendo maiores análises sobre o viés destacado.

No que se refere à construção do cenário pela mídia, é importante destacar

que o Distrito de Jacumã é visto como centro polarizador dos investimentos no setor

turístico, na medida em que as iniciativas de desenvolvimento fora dessa

perspectiva não se apresentam como consolidadas ou mesmo possíveis, atrelando

ao turismo a única alternativa possível para a localidade. Além disso, todo

referencial de desenvolvimento turístico que se atribui a essa localidade volta-se

quase que exclusivamente para o âmbito econômico, deixando em aberto os

aspectos que se referem à preservação ambiental, a promoção da estrutura pública

com ênfase na qualidade de vida de sua população e ainda aos aspectos

socioculturais que traduzem as manifestações da cultura e do costume do lugar.

É importante salientar ainda que a tendência de surgimento de mais resorts

em Jacumã é fortemente estimulada. Isso porque a política pública estadual de

desenvolvimento turístico tende a estimular ainda mais a ocupação de equipamentos

hoteleiros, sobretudo os resorts, no litoral paraibano.

Como observado nas matérias analisadas, todo desenvolvimento turístico que

se quer projetar em Jacumã repercute diretamente nas cifras que podem vir a ser

obtidas por força da exploração turística, sem que se comente ou discutam os

problemas e gargalos que são encontrados e que afligem a maior parte da

182

população residente e que, certamente, também se tornam barreiras ao

desenvolvimento local. Apesar da latente constatação – tanto por parte dos gestores

públicos quanto pela população e seus lideres locais – de que a infraestrutura

existente e instalada é totalmente inapropriada ao processo de ocupação de mais

equipamentos turísticos, a gestão pública municipal não dispõe de qualquer projeto

nesse sentido e que venha a prover melhores condições, tanto para a população

quanto para a instalação de novos empreendimentos. Ao contrário do que se possa

pensar, a promoção do destino – com vistas à captação de mais e maiores

empreendimentos turísticos – continua com força total, apresentando uma realidade

que nem de longe é a ideal para a instalação de qualquer equipamento hoteleiro,

sobretudo os resorts que são estruturas que demandam grande quantidade de

serviços públicos necessários à sua operação.

Por sua vez, a comunidade local enxerga de forma contraditória a questão, já

que tanto os aspectos positivos quanto negativos ressaltam à percepção daqueles

que vivem nessa localidade. O turismo de resort é visto como algo importante e

significativo em diversos aspectos, seja pelo crescimento da oferta de emprego, seja

pelo despertar de uma consciência que atenta para a necessidade de melhorar a

qualificação profissional de sua população, todos percebem que a realidade local

mudou significativamente por conta do turismo. Apesar de todos os percalços que

são encontrados na localidade, no que se refere à sua infraestrutura, a comunidade

apóia as ações adotadas pelos representantes municipais. Isso se dá por conta do

crescimento de oportunidades de emprego e de possibilidades de auferir

rendimentos onde antes não existiam as referidas perspectivas. Isso porque aqueles

que conseguem empregos nos empreendimentos hoteleiros locais passam a auferir

salário e benefícios sociais, como carteira assinada e plano de previdência, os quais

antes não seriam facilmente obtidos em atividades como a agricultura ou o trabalho

doméstico.

A melhoria da qualificação profissional foi perseguida pela gestão municipal,

do contrário restará à população apenas postos de trabalho que rapidamente podem

ser ocupados por pessoas com pouca instrução, o que por sua vez acarreta em

baixos salários e um custo de vida.

Além disso, fica demonstrado de forma bastante clara que a PMC só passou

a debater as questões relativas ao turismo de Jacumã com a população depois que

projetos no âmbito federal passaram a ser de co-responsabilidade com a gestão

183

municipal. Ações que envolvem projetos como o Plano Diretor Municipal e o Projeto

Orla só obtiveram espaço junto à comunidade por conta da exigência que é

requerida em seus próprios marcos de referência. Isto é, se não houvesse tais

iniciativas de participação popular, a comunidade não teria outra forma de

apresentar suas inquietações frente às demandas que obstaculam o

desenvolvimento turístico local. Fora dessas ações não existe possibilidade de se

estabelecer diálogo entre a comunidade e seus representantes públicos municipais.

Com relação à perspectiva de desenvolvimento observada pelo próprio resort,

constatou-se que o equipamento foi primeiramente pensado para atender a

demanda do mercado internacional, mas passou a trabalhar o público regional como

aquele necessário à sua própria sobrevivência, tendo em vista que a Paraíba não

detém expressivo destaque na captação de fluxos turísticos internacionais. Isso leva

a crer que o resort passou a competir diretamente com pequenos e médios meios de

hospedagem de Jacumã, construindo uma imagem – enquanto produto turístico –

equivocada, se comparado aquilo que era seu plano inicial, ou seja, operar quase

que exclusivamente visando o público internacional. Os gargalos existentes na

infraestrutura da Paraíba nesse sentido, como a inexistência de vôos internacionais

e a própria precariedade de muitos serviços e atrativos turísticos existentes no

distrito de Jacumã, impedem que tal conjuntura possa se consolidar concretamente.

Por fim, considera-se que a adoção de modelos de desenvolvimento turístico

consolidados em condições próprias de cada localidade respeite a participação

popular e pense na perspectiva de promoção social, ambiental, econômica e política

de formas distintas e convergentes. A adoção de paradigmas de desenvolvimento

turístico decadentes ou ineficientes, implantados em outras localidades e replicados

em lugares que ofereçam condições consideradas equivocadamente similares não

fortalece a proposta de desenvolvimento local e não apresenta uma base segura de

manutenção da vida social.

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APÊNDICE A – Categorias de análise trabalhadas pelo estudo

CATEGORIAS

SUBCATEGORIAS INDICADORES

Desenvolvimento

Turístico de

Jacumã

1. Econômico

2. Sociocultural

3. Ambiental

1.1 Geração de Emprego e Renda

1.2 Estímulo a atividade empresarial

1.3 Promoção turística do Conde

2.1 Substituição de atividades tradicionais

2.2 Valorização da herança cultural

2.3 Qualificação da mão de obra

3.1 Situação da segurança pública

3.2 Coleta e descarte do lixo

3.3 Ocupação do litoral pelo turismo

Turismo de

Resort em

Jacumã

1. Planejamento

2. Implantação

3. Consolidação

1.1 Divulgação sobre a construção do resort

1.2 Percepção da comunidade

1.3 Impacto na comunidade

2.1 Oferta de empregos

2.2 Participação da comunidade

2.3 Demandas junto aos serviços públicos

3.1 Impressões quanto ao funcionamento

3.2 Impactos no setor hoteleiro local

3.3 Impacto na economia local

APÊNDICE B – Relação de meios de hospedagem do Distrito de Jacumã

Nº Empreendimento Localização Início da atividade Origem do proprietário

1 Pousada da Lua Jacumã 2004 Alemanha

2 Pousada Chalés Gurugi Jacumã 2004 Pernambuco – BR 3 Hotel Solemar / Beach Hotel Jacumã 1984 São Paulo 4 Pousada da Tranquilidade Jacumã 1997 Pirpirituba – PB

5 Pousada do Inglês Jacumã 1999 Inglaterra

6 Pousada Brasiluso Jacumã 1992 Portugal 7 Pousada dos Arcos Jacumã 2000 Malta – PB 8 Pousada Beija Flor Jacumã 2002 Barra de Santa Rosa – PB

9 Pousada Recanto da Lua Jacumã 2004 Itabaiana – PB

10 Pousada Rekinte Jacumã 1997 João Pessoa – PB 11 Hotel Pousada Viking Jacumã 1994 Suécia 12 Onze Praias Hotel Carapibus 2004 Inglaterra – UK

13 Pousada Porto do Sol Carapibus 2000 São Gabriel – RS

14 Zekas´s Pousada Carapibus 1998 Caicó – RN 15 Hotel Pousada Corais de Carapibus Carapibus 1995 Sapé – PB 16 Pousada das Cores Carapibus 2003 Argentina

17 Pousada Neptun Carapibus 2003 São Paulo

18 Bangalôs de Carapibus Carapibus 2000 João Pessoa – PB 19 Pousada Anauê Carapibus 2003 Campinas – SP 20 Pousada Enseada do Sol Carapibus 2001 João Pessoa – PB

21 Pousada das Flores Carapibus 1995 Bélgica

22 Pousada das Conchas Tabatinga 1998 Rio Grande do Sul – RS 23 Pousada Tabatinga Tabatinga 1996 Bauru – SP 24 Pousada Praias do Sul Tabatinga 2000 Pernambuco – PE

Pousadas localizadas no distrito de Jacumã Fonte: Elaboração própria, 2011

APÊNDICE B – Relação de meios de hospedagem do Distrito de Jacumã

Nº Empreendimento Localização Início da atividade Origem do proprietário

25 Hotel Pousada dos Duendes Tabatinga 2004 Argentina

26 Hotel Pousada Maria Bonita Tabatinga 2006 São Paulo – SP

27 Pousada dos Mundos Tabatinga 2003 Argentina 28 Ekoara´s Chalés Coqueirinho 2003 Argentina 29 Pousada Arca de Bilu Tambaba 2002 Rio Grande do Norte – RN

30 Estalagem Aldeia dos Ventos Tambaba 1994 Pernambuco

31 Pousada Dom Quinzote Tambaba 1994 São Paulo – SP 32 Hotel Pousada Vivenda de Ocean Tambaba / Tabatinga 2009 Inglaterra – UK 33 Pousada Aruanã Carapibus 2007 João Pessoa – PB 34 Pousada Bem Te Vi Tabatinga 2011 Holanda

35 Pousada Catavento Tabatinga Tabatinga 2002 São Paulo

36 Mussulo Beach Resort Tabatinga 2009 Portugal e Angola

37 Hotel Brisas de Carapibus Carapibus 2011 Inglaterra – J. L. Group 38 Jacumã Lodge Hotel Jacumã 2004 São Paulo – SP 39 Pousada da Luz Carapibus 2008 Argentina – UK

40 Pousada Bangalôs de Carapibus Carapibus 2004 João Pessoa – PB

41 Pousada Enseada do Sol Carapibus 2002 Inglaterra – UK 42 Sun Paradise Residence Carapibus 2003 Pernambuco 43 Beach Hotel Jacumã 2007 Scandinavia 44 Pousada Anduara Jacumã 2009 Paraíba

45 Pousada Chácara Colina dos Ventos Gurugi – Sítio Ipiranga 2008 Suécia – BR

46 Hotel Fazenda – Water Park Conde – Fazenda Amparo 1986 Conde – PB

Pousadas localizadas no distrito de Jacumã – Gurugi e sede Conde- PB Fonte: Elaboração própria, 2011

APÊNDICE C – Roteiro de entrevista com associações

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBAUNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBAUNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBAUNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA PROGRAMA DE PÓSPROGRAMA DE PÓSPROGRAMA DE PÓSPROGRAMA DE PÓS----GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONGRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONGRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONGRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONALALALAL

Entrevistado:Entrevistado:Entrevistado:Entrevistado: Data:Data:Data:Data:

Entidade:Entidade:Entidade:Entidade:

Data de criação:Data de criação:Data de criação:Data de criação:

Número de associados:Número de associados:Número de associados:Número de associados:

Localização da sede:Localização da sede:Localização da sede:Localização da sede:

Telefone de contato:Telefone de contato:Telefone de contato:Telefone de contato:

ENTREVISTA ENTREVISTA ENTREVISTA ENTREVISTA ---- ASSOCIAÇÕESASSOCIAÇÕESASSOCIAÇÕESASSOCIAÇÕES

1. Por favor, diga seu nome completo, grau de escolaridade e ocupação atual. 2. O senhor reside no Conde? Há quanto tempo atua neste local? 3. Qual a sua relação com o turismo em Jacumã? 4. Caso seja proprietário de algum empreendimento turístico em Jacumã descreva-o, por

favor! 5. É associado a alguma entidade de Jacumã? Caso sim, a qual?

5.1 Quando e como surgiu essa entidade? 5.2 Participa ativamente de suas reuniões? 5.3 Conhece todos os demais associados?

6. A entidade tem conhecimento sobre a política de promoção turística do município? 7. Qual a importância do turismo para o distrito de Jacumã? 8. Quais os problemas no distrito de Jacumã hoje que retardam o desenvolvimento turístico? 9. Como se dá a oferta de serviços essenciais (por ex.: abastecimento de água, coleta de lixo,

esgotos, iluminação pública, segurança, saúde, educação, lazer e cultura) à população? 10. Você considera importante a inserção da população residente no planejamento municipal?

E no planejamento do turismo? 11. Os participantes discutem e se posicionam a cerca das propostas apresentadas pela PMC

para o turismo local? 12. A PMC dispõe de algum canal de comunicação com a comunidade sobre as questões que

envolvem o turismo no distrito de Jacumã? 13. A PMC chegou a informar a comunidade sobre a captação de investimentos para o setor

turístico? 14. Como é percebido o desenvolvimento turístico de Jacumã nos últimos anos?

Sobre o Mussulo Resort

15. Como você analisa a implantação de um resort nessa região? 16. Qual o envolvimento da comunidade local com o Mussulo Resort? 17. A comunidade foi impactada de alguma forma por este empreendimento?

18. O resort mudou a rotina da comunidade de alguma forma? 19. Quais impactos podem ser percebidos por você e que foram acarretados pelo resort? 20. O resort ampliou a oferta de empregos na localidade? 21. Tem conhecimento se pessoas da comunidade trabalham neste empreendimento? Em quais

funções? 22. A população tem procurado se qualificar mais para tentar uma vaga de emprego no

resort? 23. Qual a opinião da associação sobre a implantação e funcionamento do Mussulo Resort

nessa região? 24. Tem conhecimento se algum empreendimento do setor hoteleiro da região foi impactado

desde o início do funcionamento do Mussulo Resort? 25. Sobre o crescimento e ocupação de Jacumã por resorts, a associação tem alguma opinião

sobre o assunto? 26. O crescimento e valorização imobiliária chegaram a se ampliar após o início das atividades

do Mussulo Resort? 27. Quais eram as expectativas que a comunidade tinha sobre a chegada do resort? E quais

têm atualmente? 28. Após a instalação do resort houve alguma mudança nos serviços públicos prestados pela

PMC? 29. O senhor tem conhecimento dos futuros planos da PMC para a ocupação de novos resorts

no distrito de Jacumã?

APÊNDICE D – Roteiro de entrevista com corretor de imóveis

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBAUNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBAUNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBAUNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA PROGRAMA DE PÓSPROGRAMA DE PÓSPROGRAMA DE PÓSPROGRAMA DE PÓS----GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONALGRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONALGRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONALGRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Entrevistado:Entrevistado:Entrevistado:Entrevistado: Data:Data:Data:Data:

EEEEmpresampresampresampresa::::

LLLLocalizaçãoocalizaçãoocalizaçãoocalização::::

Telefone de contato:Telefone de contato:Telefone de contato:Telefone de contato:

ENTREVISTA ENTREVISTA ENTREVISTA ENTREVISTA ---- CORRETORES DE IMÓVEISCORRETORES DE IMÓVEISCORRETORES DE IMÓVEISCORRETORES DE IMÓVEIS

1. Por favor, diga seu nome completo, grau de escolaridade e ocupação atual. 2. O senhor reside no Conde? Há quanto tempo atua neste local? 3. A quanto tempo é corretor de imóveis na região? 4. É associado a alguma entidade de Jacumã? Caso sim, a qual?

5.1 Participa ativamente de suas reuniões? 5. Qual a importância do turismo para o distrito de Jacumã? 6. Comente como vêm se dando o desenvolvimento imobiliário na região nos últimos anos. 7. Houve um crescimento nos preços dos imóveis após a inauguração da PB 008? 8. E na região dos resorts, como o Mussulo Resort, houve crescimento? 9. Quais os problemas no distrito de Jacumã hoje que retardam o desenvolvimento turístico? 10. Como se dá a oferta de lotes na região? 11. Quais as faixas de preço para lotes na região do resort e nas regiões mais afastadas? 12. A PMC informa sobre a captação de investimentos para o setor turístico?

Sobre o Mussulo Resort

13. Como você analisa a implantação de um resort nessa região? 14. Qual o envolvimento da comunidade local com o Mussulo Resort? 15. O resort mudou a rotina da comunidade de alguma forma? 16. Quais impactos podem ser percebidos por você e que foram acarretados pelo resort? 17. O resort ampliou a oferta de empregos na localidade? 18. Qual a sua opinião sobre a implantação do Mussulo Resort nessa região? 19. Sobre o crescimento e ocupação de Jacumã por resorts, tem alguma opinião sobre o

assunto? 20. O senhor tem conhecimento dos futuros planos da PMC para a ocupação de novos resorts

no distrito de Jacumã?

APÊNDICE E – Roteiro de entrevista com Secretário de Turismo do Conde

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBAUNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBAUNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBAUNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA PROGRAMA DE PÓSPROGRAMA DE PÓSPROGRAMA DE PÓSPROGRAMA DE PÓS----GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONALGRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONALGRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONALGRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Entrevistado:Entrevistado:Entrevistado:Entrevistado: Data:Data:Data:Data:

SecretariaSecretariaSecretariaSecretaria::::

Tel.:Tel.:Tel.:Tel.: EEEE----mail: mail: mail: mail:

ROTEIRO DE ENTREVISTAROTEIRO DE ENTREVISTAROTEIRO DE ENTREVISTAROTEIRO DE ENTREVISTA

1. A quanto tempo o senhor desempenha sua atual função na PMC? 2. Na sua opinião, quais são os principais pontos positivos do turismo no litoral do Conde? 3. E quais os principais entraves do turismo no litoral do Conde? 4. Qual a atual oferta hoteleira instalada hoje no litoral do Conde? 5. Quais as atuais estratégias adotadas pela PMC para captar investidores nacionais e

internacionais para o setor turístico? 6. O que a PMC pensa sobre a instalação de grandes empreendimentos turísticos no litoral

do Conde? 7. Quais os planos e estratégias para o futuro do turismo no litoral do Conde? 8. A PMC trabalha sua política de turismo em parceria com os governos Federal e Estadual? 9. Como se caracteriza a política de promoção turística do destino “Costa do Conde”? 10. Em quais áreas vem sendo feitos investimentos para o desenvolvimento do turismo do

litoral do Conde? 11. Qual montante de recursos foram empregados para viabilizar projetos na infraestrutura de

Jacumã nos últimos anos? 12. Cite as principais ações empreendidas para o desenvolvimento do turismo no litoral do

Conde nos últimos anos? 13. Quais os problemas no litoral do Conde que retardam o desenvolvimento turístico? 14. Como é percebido o desenvolvimento turístico no litoral do Conde nos últimos anos?

Sobre o Mussulo Resort

15. Como analisa a implantação de um resort nessa região? 16. Como se deu a captação dos investidores do Mussulo Resort? 17. Quais condições a PMC fomentou para a instalação deste empreendimento? 18. Quais contrapartidas foram pedidas pela PMC ao Grupo Angolano para a instalação do

empreendimento? 19. Qual o nível de percepção que a população tem hoje a cerca deste empreendimento? 20. Como os empresários locais avaliaram a implantação do resort no litoral do Conde? 21. O resort ampliou a oferta de empregos na localidade?

22. Tem conhecimento se pessoas da comunidade trabalham neste empreendimento? Em quais funções?

23. Ações de promoção para qualificação da mão de obra local vêm sendo empreendidas pela PMC?

24. Tem conhecimento se algum empreendimento do setor hoteleiro da região foi impactado desde o início do funcionamento do Mussulo Resort?

25. A PMC vem acompanhando o crescimento da valorização imobiliária no distrito de Jacumã?

26. Após a instalação do resort houve alguma mudança nos serviços públicos essenciais prestados pela PMC?

27. Quais os futuros planos da PMC para a ocupação de novos resorts no distrito de Jacumã?

APÊNDICE F – Roteiro de entrevista com representante do resort

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBAUNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBAUNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBAUNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA PROGRAMA DE PÓSPROGRAMA DE PÓSPROGRAMA DE PÓSPROGRAMA DE PÓS----GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONALGRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONALGRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONALGRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Entrevistado:Entrevistado:Entrevistado:Entrevistado: DataDataDataData::::

Entidade:Entidade:Entidade:Entidade:

Data de criação:Data de criação:Data de criação:Data de criação:

Número de associados:Número de associados:Número de associados:Número de associados:

Localização da sede:Localização da sede:Localização da sede:Localização da sede:

Telefone de contato:Telefone de contato:Telefone de contato:Telefone de contato:

ENTREVISTA ENTREVISTA ENTREVISTA ENTREVISTA –––– RESORTRESORTRESORTRESORT

1. Qual o histórico de instalação e funcionamento do Mussulo Resort no Conde? 2. A PMC / Governo do Estado concederam algum para instalação do empreendimento nesta

localidade? 3. Como se caracteriza a política de gestão do Grupo Mantra para este resort? 4. O resort é associado a alguma entidade do turismo local? Caso sim, a qual? 5. Existe algum problema na localidade hoje que a gerência percebe como limitante ao

funcionamento deste equipamento? 6. Quais meses podem ser classificados como de alta e baixa estação? 7. Quais as formas de promoção para captação de hóspedes que o resort vem trabalhando? 8. Participa de feiras e eventos junto ao mercado regional e nacional? 9. Existem parcerias firmadas com o trade local? E nacional? 10. Qual sua opinião sobre o crescimento da oferta hoteleira local por conta da instalação de

mais resorts? 11. O resort promove alguma ação de responsabilidade social junto à comunidade?

Infraestrutura

12. Como se dá o abastecimento de água no resort? 13. E com relação ao saneamento básico, como é feita a coleta de afluentes? 14. Como se dá a coleta de lixo? 15. Há alguma política de reciclagem ou separação de resíduos? 16. A obra de pavimentação de acesso da rodovia até o empreendimento foi executada pela

PMC, Governo do Estado ou pelo próprio resort? Funcionários

17. Qual o número de funcionários trabalhando hoje no resort? Desse montante quantos são

nativos do Conde? Em quais funções estão trabalhando? 18. Qual a faixa de escolaridade desses funcionários? 19. Qual perfil requerido pelo resort para a mão de obra? O perfil da mão de obra local

atende às necessidades de qualificação do resort?

20. Qual a política de treinamento e qualificação da mão de obra do resort? 21. Como se dá o acesso dos funcionários ao resort?

Fornecedores

22. Quais fornecedores atendem ao equipamento hoje? 23. Que tipo de produtos e serviços são demandados pelo resort? 24. De onde são os fornecedores? 25. Há fornecimento de algum produto ou serviço da própria localidade? 26. Qual a periodicidade do fornecimento desses serviços? 27. O resort contrata atrações locais para se apresentar nas suas imediações? Quais são

contratadas?

Turistas

28. Qual a procedência dos hóspedes do resort (país, estado, cidade)? 29. Em que tipologia os hóspedes do resort se configuram (casais, famílias, solteiros...)? 30. Qual a média de permanência no equipamento? 31. Qual o principal meio de transporte de acesso dos hóspedes ao resort? 32. Existem parcerias com entidades do trade local que beneficiam os hóspedes? 33. Quais os principais produtos turísticos da região são procurados pelos hóspedes? 34. Existe alguma programação cultural para os hóspedes fora das instalações do resort? 35. Os hóspedes procuram obter mais informações a cerca da cultura local? 36. Após a inauguração do resort houve alguma mudança na prestação dos serviços públicos

por parte da PMC?

APÊNDICE G – Roteiro de entrevista com moradores de Jacumã

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBAUNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBAUNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBAUNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA PROGRAMA DE PÓSPROGRAMA DE PÓSPROGRAMA DE PÓSPROGRAMA DE PÓS----GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONALGRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONALGRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONALGRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Entrevistado:Entrevistado:Entrevistado:Entrevistado: Data:Data:Data:Data:

Entidade:Entidade:Entidade:Entidade:

Data de criação:Data de criação:Data de criação:Data de criação:

Número de associados:Número de associados:Número de associados:Número de associados:

Localização da sede:Localização da sede:Localização da sede:Localização da sede:

Telefone de contato:Telefone de contato:Telefone de contato:Telefone de contato:

ENTREVISTA ENTREVISTA ENTREVISTA ENTREVISTA –––– MORADORES DE JACUMÃMORADORES DE JACUMÃMORADORES DE JACUMÃMORADORES DE JACUMÃ

1. Por favor, diga seu nome completo, grau de escolaridade e ocupação atual. 2. O senhor reside no Conde? Há quanto tempo atua neste local? 3. Qual a sua relação com o turismo em Jacumã? 4. Caso seja proprietário de algum empreendimento turístico em Jacumã descreva-o, por

favor! 5. É associado a alguma entidade de Jacumã? Caso sim, a qual?

5.1 Quando e como surgiu essa entidade? 5.2 Participa ativamente de suas reuniões? 5.3 Conhece todos os demais associados?

6. A entidade tem conhecimento sobre a política de promoção turística do município? 7. Qual a importância do turismo para o distrito de Jacumã? 8. Quais os problemas no distrito de Jacumã hoje que retardam o desenvolvimento turístico? 9. Como se dá a oferta de serviços essenciais (por ex.: abastecimento de água, coleta de lixo,

esgotos, iluminação pública, segurança, saúde, educação, lazer e cultura) à população atualmente?

10. Você considera importante a inserção da população residente no planejamento municipal? E no planejamento do turismo?

11. Os participantes discutem e se posicionam a cerca das propostas apresentadas pela PMC para o turismo local?

12. A PMC dispõe de algum canal de comunicação com a comunidade sobre as questões que envolvem o turismo no distrito de Jacumã?

13. A PMC chegou a informar a comunidade sobre a captação de investimentos para o setor turístico?

14. Como é percebido o desenvolvimento turístico de Jacumã nos últimos anos?

Sobre o Mussulo Resort

15. Como você analisa a implantação de um resort nessa região? 16. Qual o envolvimento da comunidade local com o Mussulo Resort? 17. A comunidade foi impactada de alguma forma por este empreendimento? 18. O resort mudou a rotina da comunidade de alguma forma?

19. Quais impactos podem ser percebidos por você e que foram acarretados pelo resort? 20. O resort ampliou a oferta de empregos na localidade? 21. Tem conhecimento se pessoas da comunidade trabalham neste empreendimento? Em quais

funções? 22. A população tem procurado se qualificar mais para tentar uma vaga de emprego no

resort? 23. Qual a opinião da associação sobre a implantação e funcionamento do Mussulo Resort

nessa região? 24. Tem conhecimento se algum empreendimento do setor hoteleiro da região foi impactado

desde o início do funcionamento do Mussulo Resort? 25. Sobre o crescimento e ocupação de Jacumã por resorts, a associação tem alguma opinião

sobre o assunto? 26. O crescimento e valorização imobiliária chegaram a se ampliar após o início das atividades

do Mussulo Resort? 27. Quais eram as expectativas que a comunidade tinha sobre a chegada do resort? E quais

têm atualmente? 28. Após a instalação do resort houve alguma mudança nos serviços públicos prestados pela

PMC? 29. O senhor tem conhecimento dos futuros planos da PMC para a ocupação de novos resorts

no distrito de Jacumã?

ANEXOS