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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL ANDREA CARLA DE AZEVÊDO AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL/LOCAL: O CASO DO PROGRAMA ÁGUA DOCE NO SEMIÁRIDO PARAIBANO CAMPINA GRANDE 2012

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL

ANDREA CARLA DE AZEVÊDO

AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO

REGIONAL/LOCAL: O CASO DO PROGRAMA ÁGUA DOCE NO

SEMIÁRIDO PARAIBANO

CAMPINA GRANDE

2012

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ANDREA CARLA DE AZEVÊDO

AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO

REGIONAL/LOCAL: O CASO DO PROGRAMA ÁGUA DOCE NO

SEMIÁRIDO PARAIBANO

Dissertação apresentada ao Mestrado em

Desenvolvimento Regional (MDR) da

Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)

como requisito para a obtenção do título de

Mestre em Desenvolvimento Regional.

Linha de Pesquisa: Desenvolvimento e

Conflitos Sociais

Orientador: Professor Dr. Roberto Mauro

Cortez Motta

Co-Orientador: Professor Dr. Cidoval Morais

de Sousa

CAMPINA GRANDE

2012

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É expressamente proibida a comercialização deste documento, tanto na sua forma impressa

como eletrônica. Sua reprodução total ou parcial é permitida exclusivamente para fins

acadêmicos e científicos, desde que na reprodução figure a identificação do autor, título,

instituição e ano da dissertação

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL - UEPB

A994a Azevêdo, Andrea Carla de.

Avaliação de políticas públicas para o desenvolvimento

regional/local [manuscrito] : o caso do Programa Água Doce no

semiárido paraibano. / Andrea Carla de Azevêdo. – 2012.

154 f. : il. color.

Digitado.

Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional).

Universidade Estadual da Paraíba, Pró Reitoria de Pós-

Graduação e Pesquisa, 2012.

“Orientação: Profa. Dr. Roberto Mauro Cortez Motta,

Mestrado em Desenvolvimento Regional.”

“Co-Orientação: Prof. Dr. Cidoval Morais de Sousa,

Departamento de Comunicação.”

1. Políticas públicas. 2. Desenvolvimento regional. 3.

Recursos hídricos.. I. Título.

21. ed. CDD 333.7

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Aos meus pais, exemplos de vida:

José de Anchiêta Azevêdo (in-memorian), homem

sertanejo, forte e simples, que me ensinou a ser

guerreira e sempre acreditou que eu era capaz de

chegar ao lugar a que me destinasse a ir.

Iêda Guedes de Azevêdo, mulher sertaneja, doce e

modesta, que diuturnamente me ensina a trilhar o

caminho do bem e a melhorar como ser humano.

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AGRADECIMENTOS

É hora de agradecer. Antes, quero fazer uma reverência a Deus – minha permanente

fonte de luz. Em inúmeros momentos dessa caminhada, curvei-me pedindo sua proteção e

bênção. Muitas foram as provações que superei e tenho certeza de que nessas provas consegui

passar com o resguardo divino. Meu Senhor e meu Deus agradeço-lhe por esse grande passo!

Aos meus irmãos: José de Anchieta e Jandira Azevêdo e a minha sobrinha/afilhada

Iêzha Lívia, pessoas relevantes na realização de todos os projetos de vida.

A Roberto Mota minha gratidão pelos ensinamentos recebidos nas aulas e pelas

conversas durante nossos agradáveis encontros. Você me apresentou a teoria social e os seus

grandes pensadores. Esta dissertação está impregnada das suas reflexões e observações

sempre pertinentes. Sua habilidade foi ímpar na condução até o desfecho deste trabalho. Eu

sempre soube que você (mesmo distante geograficamente) estava bem perto para me ajudar.

Foi e é um grande privilégio tê-lo como Orientador (intelectual brilhante) e poder desfrutar da

sua intelectualidade e, sobretudo, da sua amizade. A você o meu carinho, o meu respeito e a

minha admiração. Obrigada por tudo.

A Cidoval Morais de Sousa, amigo de mais de duas décadas, meus agradecimentos.

Professor talentoso, competente e modesto. Sua inteligência e percepção apurada me guiaram

em momentos em que me encontrava perdida.

A Marcionila Fernandes – Pró-Reitora da Pós-Graduação – minha gratidão pela

viabilização de eventos que fortaleceram não só a Universidade Estadual da Paraíba, mas meu

caminhar (e certamente o de muitos outros) no processo de formação dentro do MDR.

A William Monteiro de Lima – eterno companheiro/amigo – minha gratidão pelos

incentivos, conselhos e apoios dados nos momentos de fraqueza e descrença no decorrer dessa

e de outras caminhadas. Seus valiosos conselhos sempre me fortalecem. Obrigada Bem!

A Daisy Martins agradeço pelo apoio constante. Sua disposição em me ajudar foi

imprescindível nessa caminhada. A você que está sempre por perto quando preciso e coloca fé

em mim, mesmo quando não acredito que vai dar certo, serei sempre grata.

A Ciderlânio (Dodô), amigo e parceiro de viagens, faltam-me palavras inefáveis de

agradecimento. Registro que sem sua enorme colaboração, teria sido muito difícil realizar este

trabalho. Obrigada é dizer quase nada diante de tudo que você fez para me ajudar.

A Márcia Liana – Gerente Nacional do Programa Água Doce e a Isnaldo Cândido,

Coordenador Estadual do PAD, quero agradecer por terem aberto o arquivo de informações

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do PAD disponibilizando dados importantes e imprescindíveis para a realização deste trabalho

e pela paciência em me atender todas as vezes em que me apareciam as dúvidas.

Agradeço imensamente aos beneficiados do PAD na Paraíba– agricultores dos

Agrupamentos Fazenda Mata (Amparo) e Fazenda Tigre (Sumé) e do Assentamento

Cachoeira Grande (Aroeiras) – por terem me recebido em suas casas e falado das suas

experiências de vida. As entrevistas e conversas informais facilitaram na compreensão das

nuanças da política pública de acesso à água potável para as comunidades rurais do Semiárido

por meio do PAD. Desses agricultores ouvi histórias e recebi grandes lições que levarei para

minha vida.

A todos os professores do Mestrado em Desenvolvimento Regional, em especial, a

Hermes Tavares, Lemuel Guerra, Rosilene Montenegro, Rogério Zeferino, Jordeana Davi e

Luís Henrique agradeço por tudo o que aprendi. Valeu pelos ensinamentos e pelas sugestões

de leitura. E aos profissionais, envolvidos no PPGDR, particularmente, Luciene Barbosa,

Luciana Rodrigues e Marilene Araújo e, ainda, a Zoraide Pereira e Jefferson Ricardo (Editora)

meu abraço fraterno e agradecimento especial.

Aos meus colegas de Mestrado que compartilharam suas experiências de vida nos

encontros diários e, de forma particular, a Rebeca Casemiro (parceira/amiga desde o primeiro

momento), Geovânia Araújo (amiga com quem dividi momentos de alegria e angústia nesta

caminhada) e Leonardo Alves (grande companheiro que sempre chegou junto com palavras

de incentivo). Que nossa amizade seja forte o suficiente para suportar as intempéries da vida.

Sucesso para todos nós.

Por fim, quero agradecer a todas as pessoas que direta ou indiretamente me ajudaram

neste trabalho. Todos foram muito importantes nessa caminhada.

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Estamos diante de um momento crítico na história

da Terra, numa época em que a humanidade deve

escolher seu futuro. À medida que o mundo torna-se

cada vez mais interdependente e frágil, o futuro

enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e

grandes promessas. Para seguir adiante, devemos

reconhecer que, no meio de uma magnífica

diversidade de culturas e formas de vida, somos uma

família humana e uma comunidade terrestre com um

destino comum. Devemos somar forças para gerar

uma sociedade sustentável global baseada no

respeito pela natureza, nos direitos humanos

universais, na justiça econômica e numa cultura da

paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que

nós, os povos da Terra, declaremos nossa

responsabilidade uns para com os outros, com a

grande comunidade da vida, e com as futuras

gerações (A Carta da Terra, 2002).

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AZEVÊDO, Andrea Carla de. Avaliação de políticas públicas para o desenvolvimento

regional/local: o caso do Programa Água Doce no Semiárido paraibano. 154f.

Dissertação – Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2012.

RESUMO

O objetivo desta investigação foi analisar as políticas públicas de enfrentamento da escassez

hídrica no Nordeste no contexto da retomada dos debates sobre o desenvolvimento

regional/local. Além de passar em revista, numa perspectiva histórica e crítica, as diferentes

políticas, a pesquisa concentrou-se, de modo específico, no Programa Água Doce e seus

impactos em comunidades paraibanas. Tomou-se como parâmetro de análise, dentre outras

questões, a natureza, o processo de elaboração das políticas e a participação dos diferentes

atores nelas envolvidos; os resultados de sua implantação; e a avaliação de tais políticas,

considerando, fortemente, o viés das comunidades beneficiadas. Trata-se de um estudo de

natureza qualitativa, com a utilização de diferentes procedimentos complementares: visitas de

aproximação, observação, entrevistas abertas, conversas informais, consulta a documentos.

Como resultado, observaram-se fragilidades técnicas, endividamento das comunidades,

participação incipiente e resultados socioeconômicos limitados, em grande medida, ao acesso

à água de beber.

Palavras-chave: Políticas Públicas; Desenvolvimento Regional/Local; Produção

Tecnocientífica; Dessalinizadores; Programa Água Doce

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AZEVÊDO, Andrea Carla de. Avaliação de políticas públicas para o desenvolvimento

regional/local: o caso do Programa Água Doce no Semiárido paraibano. 154f.

Dissertação – Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2012.

ABSTRACT

The aim of this research was to analyze public policies meant to face water shortages in

Brazilian Northeast within a context in which the debates about regional/local development

are resumed. Apart from that, it also drew historically and critically upon different policies,

focusing on Programa Água Doce and its impacts on communities in the State of Paraíba.

Their analysis took into account, among other things, the following aspects: nature; process of

elaboration; different actors involved; results; assessment, especially regarding the benefits

which they brought to the assisted communities. It is a qualitative study which uses different

complementary procedures: visits, observation, open interviews, informal talks, and analysis

of documents. Some of its findings show technical fragilities, financial insolvency of the

communities, low participation rate of local people and limited socio-environmental results in

the promotion of access to drinking water.

Key words: Public Policies; Regional/Local Development; Production Technoscientific;

Desalination; Programa Água Doce

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

QUADRO 1: Relação dos Componentes e dos Subcomponentes do PAD ............................ 52

QUADRO 2: Orçamento dos 93 Sistemas Simples de Dessalinização.................................57

FIGURA 1: Rochas Cristalinas ............................................................................................... 20

FIGURA 2: Argumentos Pontuais do Sétimo Objetivo do Milênio (ODM, 2006) ................. 39

FIGURA 3: Esquema representativo construído com base no pensamento de Viana ............. 42

FIGURA 4: Tipos de Estudo da Avaliação de Políticas Públicas (Ham e Hill, 1993) .......44

FIGURA 5: Parâmetros para se Alcançar o Desenvolvimento Sustentável ............................ 63

FIGURA 6: Esquema do Sistema de Produção Integrado do PAD ......................................... 67

FIGURA 7: Sistema de Dessalinização Adotado pelo PAD ................................................... 69

FIGURA 8: Resultado do Índice e Indicadores de Amparo .................................................... 77

FIGURA 9: Resultado do índice e indicadores de Amparo .................................................... 78

FIGURA 10: Evolução Anual do IFDM de Amparo no Período de 2000 a 2010 .................. 78

FIGURA 11: Vista Panorâmica da Fazenda Mata .................................................................. 80

FIGURA 12: Reservatório de contenção do concentrado e dos tanques destinados à criação de

tilápia. Ao fundo, plantio da erva-sal, na Fazenda da Mata ................................................... 80

FIGURA 13: Sequência de imagens: revestimento dos tanques, dessalinizador e plantio da

erva-sal/Fazenda Mata ............................................................................................................. 84

FIGURA 14: Resultados dos indicadores e do índice do Município de Aroeiras ................... 92

FIGURA 15: Dados da Cidade de Aroeiras do ano de 2009. .................................................. 92

FIGURA 16: Índices de Aroeiras no período de 2000 a 2009 ................................................ 93

FIGURA 17: Relação das Pessoas que pegam água dessalinizada no Chafariz do

Assentamento Cachoeira Grande/Aroeiras/PB......................................................................95

FIGURA 18: Dessalinizador instalado (1997) pelo Programa Água Boa/Aroeiras/PB .......... 96

FIGURA 19: Dessalinizador instalado (2011) pelo Programa Água Doce/Aroeiras/PB......99

FIGURA 20: Olivaldo mostra passo a passo como funciona o Dessalinizador....................99

FIGURA 21: Comunidade recebendo orientações técnicas sobre o dessalinizador...........101

FIGURA 22: Comunidade recebendo treinamento sobre criação de tilápias.....................101

FIGURA23: Moradores do Assentamento Cachoeira Grande exibem certificados de

participação dos cursos ministrados por técnicos das Instituições parceiras do PAD.........102

FIGURA 24: Políticos e Técnicos participam da Inauguração da UD. Mauro Pires (MMA) e

Ricardo Coutinho (Governador da Paraíba) Cachoeira Grande/Aroeiras/PB.....................103

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FIGURA 25: Cerca de Proteção do chafariz separa a população das autoridades na festa de

inauguração da UD de Aroeiras.............................................................................................103

FIGURA 26: Coordenadores Nacional e Estadual do PAD participam da inauguração da

UD/Aroeiras/PB, ao lado do Secretário de Mudanças Climáticas do MMA, do Prefeito de

Aroeiras e do Governador do Estado...................................................................................104

FIGURA 27: Registro da primeira despesca no Assentamento Cachoeira Grande.............107

FIGURA 28: Plantio de Artriplex (erva-sal) no Assentamento Cachoeira Grande................108

FIGURA 29: Índices e indicadores de Sumé com dados de 2000 (IFDM, 2008).................110

FIGURA 30: Índices e Indicadores de Sumé do ano de 2009 (IFDM, 2011)....................111

FIGURA 31: Índice de Desenvolvimento de Sumé - 2000 a 2009 (IFDM, 2011)..............111

FIGURA 32: Construção dos Tanques Escavados na UD/Sumé.........................................113

FIGURA 33: Criação de caprinos da Fazenda Tigre...........................................................114

FIGURA 34: Mudas de Atriplex (erva-sal) – Fazenda Tigre/Sumé.....................................115

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LISTA DE MAPAS

MAPA 1: Classificação da qualidade da água dos poços do Semiárido. ................................ 19

MAPA 2: Nova delimitação do Semiárido Brasileiro ............................................................. 53

MAPA 3: Hidrográfica Nacional e o Semiárido Brasileiro ..................................................... 54

MAPA 4: Áreas Susceptíveis à Desertificação ....................................................................... 55

MAPA 5: Municípios com os Sistemas de Dessalinização Diagnosticados ........................... 71

MAPA 6: Municípios com os Sistemas de Dessalinização recuperados................................. 72

MAPA 7: Localização Geográfica e Dados Populacionais do Município de Amparo ........... 76

MAPA 8: Localização Geográfica e Dados Populacionais do Município de Aroeiras ........... 91

MAPA 9: Localização Geográfica e Dados Populacionais do Município de Sumé............109

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1: Relação dos 20 municípios mais críticos no Estado da Paraíba com informações

referentes à população rural e número de domicílios em áreas rurais ..................................... 58

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AESA Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba

ANA Agência Nacional de Águas

ASA Articulação do Semiárido

ATECEL Associação Técnico Científica Ernesto Luiz de Oliveira Júnior

ATER Assistência Técnica e Extensão Rural

BNB Banco do Nordeste do Brasil

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CEPAL Comissão Econômica para a América Latina

CODENO Conselho de Desenvolvimento do Nordeste

CODEVASF Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Paranaíba

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

CHESF Companhia Hidrelétrica de São Francisco

CNUMAD

II Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o

Desenvolvimento Humano

CPRM Serviço Geológico do Brasil

CVSF Companhia de Valorização do Vale do São Francisco

DNOCS Departamento Nacional de Obras Contra a Seca

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EMATER Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural

EMPASA Empresa Paraibana de Abastecimento e Serviços Agrícolas

EPA Environmental Protection Agency

EUA Estados Unidos da América

FBB Fundação Banco do Brasil

FEBRABAN Federação Brasileira de Bancos

FIRJAN Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro

FNE Fundo Constitucional de Financiamentos do Nordeste

GTDN Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste

IBANA Instituto do Meio Ambiente

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDEME Instituto de Desenvolvimento Municipal e Estadual

IDH Índices de Desenvolvimento Humano

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IDH-M Desenvolvimento Humano Municipal

IFDM Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal

IFOCS Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas

INSA Instituto Nacional do Semiárido

IOCS Inspetoria de Obras Contra a Seca

IPCC Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas

MMA Ministério do Meio Ambiente

MME Ministério de Minas e Energias

MI Ministério da Integração Nacional

ODM Objetivos de Desenvolvimento do Milênio

OMS Organização Mundial de Saúde

ONU Organização das Nações Unidas

OPENO Operação Nordeste

PAB Programa Água Boa

PAD Programa Água Doce

PIB Produto Interno Bruto

P1MC Por um Milhão de Cisternas Rurais

PNCF Programa Nacional de Crédito Fundiário

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PERH-PB Plano Estadual de Recursos Hídricos da Paraíba

PETROBRAS Petróleo Brasileiro S/A

PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

SPI Sistema de Produção Integrado

SRHU Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano

SIC Subprojeto de Investimentos Comunitários

SISBACEN Sistema de Informações do Banco Central do Brasil

STN Secretaria do Tesouro Nacional

SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

UD Unidade Demonstrativa

UFCG Universidade Federal de Campina Grande

UFPB Universidade Federal da Paraíba

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

UPs Unidades Produtivas

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... Erro! Indicador não definido.7

1.1 Objetivos da Pesquisa ................................................................................................ 22Erro! Indicador não definido.

1.2 Metodologia ................................................................................................................. 22Erro! Indicador não definido.

2 PRIMEIRO CAPÍTULO – Marcos Teóricos de Políticas Públicas no Nordeste: Acesso a Água e

Desenvolvimento Regional ............................................................................................... Erro! Indicador não definido.4

2.1 Lutas e Conflitos; Conchavos e Alianças ................................................................ Erro! Indicador não definido.5

2.2 – O Desenvolvimento em Pauta ......................................................................................................................................... 31

2.2.1 A Questão Ambiental no Topo da Agenda Global ........................................ 33Erro! Indicador não definido.

2.3 A Relação entre Recursos Hídricos e Desenvolvimento .............................................................................................. 36

2.3 1 O Cerceamento das Liberdades ........................................................................... 37Erro! Indicador não definido.

2.4 Políticas Públicas e Desenvolvimento: a autoridade dos discursos ............................................................................ 40

3 SEGUNDO CAPÍTULO – As Interfaces do Água Doce: o Clima e a Sustentabilidade ...................................... 46

3.1 Mudanças Climáticas e suas Implicações ............................................................ 47Erro! Indicador não definido.

3. 2 A História do Água Doce, sua rede de relações e seus Personagens ....................................................................... 50

3.2.1 A Prioridade do PAD: as comunidades difusas rurais do Semiárido ..................................................................... 52

3.2.2 Critérios para Escolha ............................................................................................. 56Erro! Indicador não definido.

3.2.3 Sistemas de Dessalinização: a tecnologia com seus problemas e correções ........................................................ 58

3.2.4 O Discurso da Mobilização .............................................................................................................................................. 59

3.3 Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade .......................................................................................................... 61

4 TERCEIRO CAPÍTULO – O Programa Água Doce e seus Pressupostos: análise das políticas públicas........ 65

4.1 Processo de Dessalinização da Água ................................................................................................................................. 68

4.1.1 O Discurso Técnico Balizando a Implantação dos Dessalinizadores ........ 70Erro! Indicador não definido.

4.2 As Unidades Demonstrativas (UDs) da Paraíba ................................................ 73Erro! Indicador não definido.

4.3 Análise da Política Pública do Programa Água Doce ................................................................................................... 74

4.3.1 Amparo – A Primeira Unidade Demonstrativa da Paraíba ...................................................................................... 75

4.3.2 Localização de Amparo e a Fazenda Mata ................................................................................................................. 76

4.3.3 Empréstimos versus Incremento da Agricultura ......................................................................................................... 84

4.3 4 O Endividamento do Produtor Rural ............................................................................................................................. 87

4.4 UD de Aroeiras – Um Processo em Construção ................................................ 90Erro! Indicador não definido.

4.4 1 O Sonho e a Realidade: a água salgada fica doce e promete transformar a realidade de comunidades rurais

............................................................................................................................................................................................................ 94

4.4 2 As Exigências Técnicas Determinando as Comunidades Beneficiadas.............................................................97

4.4 3 Peixe: Fonte de Proteínas e Renda (?)........................................................................................................................107

4.5 UD Sumé – Uma Unidade em Execução ...............................................................................................................109

4.5 1 Aproveitamento dos Resíduos Sólidos......................................................................................................................115

4.6 Rrevelações dos dados da pesquisa ................................................................................................................................. 117

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................................................ 120

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................................................ 124

APÊNDICES ........................................................................................................................................................................... 131

ANEXOS ................................................................................................................................................................................... 134

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INTRODUÇÃO

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1 – INTRODUÇÃO

A preocupação com a escassez de água vem ganhando espaço no mundo desde o final

da década de 1980 e ajudou a justificar inúmeras ações governamentais. A água é uma

variável de grande peso nas equações estratégicas e isso a torna elemento de poder, um

instrumento nas mãos dos políticos que pode ser manipulado de acordo com seus interesses.

Segundo relatórios da ONU, 1,1 bilhão de pessoas - o equivalente a 18% da população

mundial - não têm acesso a uma quantidade mínima aceitável de água potável, ou seja, água

segura para uso humano. De acordo com Agência Nacional de Águas (ANA), o Brasil

apresenta uma situação confortável, em termos globais, quanto aos recursos hídricos.

Entretanto, apesar desse aparente conforto, existe uma distribuição espacial desigual desses

recursos no território nacional. Cerca de 80% dos recursos hídricos (disponibilidade hídrica)

do país estão concentrados na região hidrográfica Amazônica, onde se encontra o menor

contingente populacional.

Embora o Brasil disponha da maior concentração de água doce superficial do mundo,

mais de 40 milhões de brasileiros não têm acesso aos sistemas de abastecimento de água. Na

Região do Semiárido brasileiro a situação é mais agravante, pois a grande quantidade de sais

dissolvidos na água limita a forma do seu uso.

A resolução 357/2005 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA)

estabelece que para as águas serem classificadas como DOCE a salinidade deve apresentar um

teor máximo de 0.5g/L. As águas com teores acima desse valor e até 35g/L de sais estão

classificadas como SALOBRAS. Acima desses valores são consideradas SALINAS.

O Mapa abaixo demonstra que, de um total de 24.847 poços para atendimento

doméstico e uso múltiplo da água subterrânea, instalados no Semiárido, 26,6% são

classificados como de água salobra (verde claro, amarelo e laranja). Outros 20,20%

apresentam água doce (verde escuro) e 0,06% contém água salina (vermelho).

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Mapa 1 – Classificação da qualidade da água dos poços do Semiárido

Fonte: MI, 2010.

O Semiárido brasileiro tem apenas 3% das águas doces do País, mas abriga uma

população de 22.598.318 milhões de pessoas, o que significa quase 12% da população

nacional. Desse total, mais de 40% vivem na zona rural. Duas características históricas

marcam a região: secas periódicas prolongadas, que ocorrem aproximadamente a cada dez

anos, e a escassez anual de água durante o período de estiagem (OLIVEIRA, 2009; BLANK;

HOMRICK; ASSIS, 2008).

É o Semiárido mais chuvoso do planeta, com uma pluviosidade média anual de 750

mm/ano (variando, dentro da região, de 250 mm/ano a 800 mm/ano), entretanto as chuvas são

irregulares e se concentram em poucos meses do ano. Além disso, são frequentemente

interrompidas por veranicos, e a evaporação provoca o típico quadro de balanço hídrico

negativo, o que precariza, fortemente, as condições de vida na região.

O subsolo é formado em 70% de sua área por rochas cristalinas pré-cambrianas,

(Figura 1), o que dificulta a infiltração da água e a consequente formação de mananciais

perenes. A composição geológica, portanto, influencia na qualidade das águas subterrâneas e

superficiais, que tendem a ser salinas e duras, e nem sempre adequadas para consumo

(MALVEZZI, 2007).

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Esse embasamento caracteriza-se por porosidade e permeabilidade primárias baixas

que proporcionam pequena capacidade de armazenamento de água subterrânea. São

constituídas de rochas com minerais bem cristalizados, possuindo vastas áreas de imensos

maciços de rochas aflorantes ou subaflorantes. Esse tipo de solo dificulta a infiltração da água

que se acumula nas fraturas e fissuras da rocha formadas pelos movimentos tectônicos da

terra. (MMA, 2010, p. 24)

Figura 1: Rochas Cristalinas

Fonte: BRASIL, MMA, 2010.

A consequência desse tipo de solo são águas subterrâneas com altos teores salinos,

assimilando os sais constituintes dessas rochas, tornando-as impróprias para o consumo

humano. Como a qualidade da água não se adequa às condições de uso, muitos dos poços

existentes no Semiárido encontram-se desativados.

A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2001) destaca que todas as pessoas, em

quaisquer estágios de desenvolvimento e condições socioeconômicas, têm direito a um

suprimento adequado de água. Por isso, o fenômeno se apresenta como desafio às políticas

que visam o desenvolvimento local sustentável.

Em primeiro lugar porque, no caso do Semiárido brasileiro, as secas carregam,

historicamente, uma marca política negativa. Seu enfrentamento sempre se pautou por

políticas paliativas, assistencialistas e eleitoreiras, que, longe de resolverem o problema da

escassez hídrica, asseguraram a manutenção histórica de grupos oligárquicos no poder. E, em

segundo, porque, também historicamente, as soluções técnicas apresentadas de combate às

secas, como a construção de barragens, açudes, poços artesianos, cisternas e implantação de

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dessalinizadores, concentravam mais do que distribuíam a água – neste trabalho

compreendida como bem comum, patrimônio da humanidade, não privatizável.

A busca de soluções tecnológicas para o fornecimento de água aos habitantes do

Semiárido Brasileiro, especialmente para aqueles que vivem nas localidades rurais difusas,

deve oferecer, de um lado, garantias de sustentabilidade, de forma que as atividades

econômicas e sociais desenvolvidas tenham continuação e dinâmicas independentes da

existência ou não de um evento de seca (FERNANDES, 2002); e, de outro, o fim das

privações que comprometem a experiência das liberdades instrumentais, sem as quais não há

desenvolvimento nos termos definidos por Sen (2000), apoiados neste trabalho.

Para Sen (2000), a expansão das liberdades (oportunidades econômicas, liberdades

políticas, serviços sociais, garantias de transparências, segurança protetora) é importante para

o desenvolvimento por duas ordens de razão: a avaliação (a apreciação do progresso tem que

ser feita em termos do alargamento da liberdade das pessoas) e a eficácia (a qualidade do

desenvolvimento depende da ação livre dos indivíduos). O que as pessoas podem

efetivamente realizar depende, assim, do conjunto das liberdades e condições de que

dispuserem para viver com qualidade. O acesso igualitário ao bem comum água é uma dessas

condições.

Defende-se, aqui, que o acesso à água de qualidade e em quantidade suficiente gera

transformações profundas na vida das pessoas: diminui a incidência de doenças, reorganiza as

relações familiares, permite a diversificação da produção (garantindo a segurança alimentar),

e rompe com a dependência política dos carros-pipa e de outras fontes de água sob domínio

privado, favorecendo condições de vida cidadã (BRASIL, 2010).

Este trabalho, como já foi sinalizado acima, tem por tema as políticas públicas

permanentes de acesso à água apropriada ao consumo humano por meio do aproveitamento

sustentável de águas subterrâneas. Pelo menos duas perguntas nortearam a pesquisa: em que

medida as políticas públicas (de acesso permanente à água potável nas regiões do Semiárido,

particularmente o paraibano) têm contribuído para a superação das dificuldades decorrentes,

não só da escassez d’água nessa região, mas, sobretudo, pelo elevado teor de salinidade das

águas dos poços do Semiárido? Qual o impacto social e econômico produzido por esses

programas, especialmente pelo Programa Água Doce, com a instalação dos dessalinizadores?

Os resultados aqui apresentados são frutos de uma investigação sobre o Programa

Água Doce, coordenado pela Secretária de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano, do

Ministério do Meio Ambiente, em parceria com as Instituições federais, estaduais e

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municipais, com foco específico para o acesso à água potável nas comunidades rurais do

Semiárido brasileiro.

1.1 – OBJETIVOS

Diante do exposto, o objetivo geral desta dissertação foi investigar as políticas

públicas de enfrentamento da escassez hídrica no Nordeste, com ênfase particular no

Programa Água Doce, em comunidades rurais da Paraíba, que desde 2003 foi implementado e

faz parte da política regional do Governo Federal na busca de levar água de boa qualidade às

populações que moram em áreas rurais difusas do Semiárido brasileiro. Buscamos, de modo

específico, realizar:

A) Um balanço histórico das políticas de combate às secas e uma síntese reflexiva

dos estudos da relação água-desenvolvimento;

B) Avaliação do Programa Água Doce considerando questões como processos de

implantação, funcionamento e resultados;

C) Análise dos impactos do Programa na vida das comunidades beneficiadas à luz

das lutas do Milênio e da ideia de expansão das liberdades de Sen (2001).

1.2 – METODOLOGIA

Seguindo a Classificação de Gil (2002), a pesquisa será do tipo exploratório-

descritiva, aproximando-se, pelos procedimentos adotados, de pelo menos três outras

categorias, quais sejam: bibliográfica (uma imersão na literatura nacional e estrangeira),

documental (consulta a documentos, registros, arquivos dos programas destinados a

solucionar/minimizar o problema de acesso à água potável) e levantamento (em banco de

dados, como o do Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente

Urbano, e também em campo aberto, nas comunidades beneficiadas com aplicações

tecnocientíficas).

O trabalho foi realizado em etapas interdependentes. Na primeira, buscamos conhecer

e analisar o texto de criação do Programa Água Doce, tomando como fonte documentos da

Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano, do Ministério do Meio Ambiente,

(SRHU/MMA) e da Coordenação do Programa. Em seguida, realizamos levantamento da

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instalação das Unidades Demonstrativas – UDs –nos municípios paraibanos. Traçado esse

perfil, o próximo passo foi a escolha de Unidades Demonstrativas – referências para estudo de

caso. Por fim, realizamos estudo empírico, com avaliação do alcance dos objetivos,

engajamento dos atores e impactos desse programa nas comunidades estudadas.

Na etapa final, fizemos várias visitas às três comunidades selecionadas: Fazenda Mata

(Amparo), Cachoeira Grande (Aroeiras) e Fazenda Tigre (Sumé) e levantamos os dados, por

meio da verificação in locus, dos documentos das associações das referidas comunidades, das

entrevistas e conversas informais com os agricultores beneficiados com o Programa.

Os passos percorridos na realização da pesquisa, que deram base para a preparação

desta dissertação, foram os seguintes: 1)Definição do problema de pesquisa; 2)Revisão da

literatura correspondente às políticas públicas relacionadas às questões hídricas no Brasil, à

inovação e ao desenvolvimento regional/local; 3)Descrição dos determinantes identificados a

partir da revisão da literatura; 4)Integração dos determinantes, adaptando-os ao foco proposta

para clarificar a construção do instrumento de pesquisa; 5)Entrevistas e visitas realizadas aos

beneficiados pelas Unidades Demonstrativas do Programa Água Doce; 6)Análise das

entrevistas, conversas informais e observação in loco; 7) Conclusão da pesquisa.

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PRIMEIRO CAPÍTULO

MARCOS TEÓRICOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS NO NORDESTE:

ACESSO À ÁGUA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL

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2 – PRIMEIRO CAPÍTULO – Marcos Teóricos de Políticas Públicas no

Nordeste: Acesso à Água e Desenvolvimento Regional

“Um mundo dividido e uma natureza maltratada

é a herança que lança sua sombra sobre o futuro” (WOLFGANG SACHS, 1997)

Nos fins do século passado se iniciou a atuação do Governo Federal na região

Nordeste através do socorro ao flagelo ocasionado pelas secas. O problema dessa Região (que

ainda não era codificada como Nordeste – essa denominação só viria anos mais tarde) era

Regional, no entanto, exigiu uma intervenção Federal. E essa intervenção, certamente, deveu-

se a vários elementos políticos e socioeconômicos. Para as secas nordestinas apresentaram-se

algumas soluções a exemplo da irrigação feita através de construção de açudes e barragens e a

destinação de verbas para os socorros especiais.

A construção de açudes e estradas apareceu no primeiro momento como molas

propulsoras do desenvolvimento do Nordeste. Mas os açudes de pequenos e médios portes

destinados ao fortalecimento da pecuária foram construídos, em sua maioria, em propriedades

privadas. Os grandes açudes voltados aos projetos de irrigação não foram plenamente

efetivados devido problemas enfrentados desde a gerência até a alienação das terras.

Nos anos de maior força da fase hidráulica, período de 1900 a 1950, o governo federal

conseguiu dar início à criação de uma base técnica para a agricultura no Semiárido do

Nordeste, por intermédio do Serviço Agroindustrial vinculado à IFOCS e, depois, ao DNOCS.

2.1– LUTAS E CONFLITOS; CONCHAVOS E ALIANÇAS

Na tentativa de organizar e coordenador as medidas “contra as secas”, o Presidente

Nilo Peçanha criou, através do Decreto nº 7.619 de 21/10/1909, a Inspetoria de Obras Contra

a Seca – IOCS1. Esse órgão, que marca o início efetivo da política pública federal para o

Nordeste, com base no combate às secas, incentivou a construção de açudes usando como

argumento um bônus aos proprietários que aderissem ao plano do Governo Central. Essa

bonificação se deu no pagamento de 50% do valor da obra, mas com um detalhe: depois do

açude construído. As medidas tomadas pela Inspetoria reforçaram a concentração de água em

1 Inspetoria de Obras Contra a Seca, responsável pelos estudos em que predominaram os levantamentos e

reconhecimentos de áreas e de suas potencialidades de recursos naturais (ARAÚJO, 1990). A IOCS foi o

primeiro órgão a estudar a problemática do Semiárido.

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propriedades particulares. Na Paraíba foram construídos 2.311 açudes em propriedades

privadas e cerca de 24 em espaços públicos.

Posteriormente a IOCS, através do Decreto nº 13.687, passaria a ser chamado de

Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas – IFOCS2, e isso aconteceu no governo de

Epitácio Pessoa, em 1919. O Presidente paraibano queria acabar com as secas e suas

consequências e acreditava que isso era possível3. É importante destacar que foi a partir da

IFOCS que a região Nordeste foi instituída enquanto recorte espacial. Segundo Albuquerque

(1999), Nordeste é o termo utilizado para designar a área de atuação dessa Inspetoria sobre a

parte Norte do país sujeita às estiagens.

A política de combate à seca foi interrompida por quase uma década e só foi retomada

nos anos de 1930 por Getúlio Vargas. Durante a campanha eleitoral à Presidência da

República, Vargas defendeu a política de Epitácio Pessoa para o Nordeste e assumiu o

compromisso de retomar as obras públicas na região. Segundo Tavares (s/d), na década de

1940 os debates envolvendo a questão regional prosseguiram de maneira mais intensa e duas

entidades foram criadas: uma, a Companhia Hidrelétrica de São Francisco – CHESF, para

construir a hidrelétrica de São Francisco, cumpriria o papel na geração e distribuição de

energia elétrica; e a outra, Companhia de Valorização do Vale do São Francisco – CVSF que,

desde o início, foi apropriada pelas oligarquias locais.

Vinte e seis anos mais tarde, a IFOCS (1919) passa a ser denominada de

Departamento Nacional de Obras Contra a Seca – DNOCS4. Essa nova nomenclatura lhe foi

conferida em 1945 pelo Decreto Lei nº 8.846, com a concepção de combate à seca através de

obras, principalmente construção de açudes. A Lei n° 4.229 de 01/06/1963 transformou o

DNOCS em autarquia Federal. As atividades desses órgãos compreendiam não só o

planejamento como também a definição e instauração de medidas de emergência durante os

períodos de estiagem prolongados para socorrer a população atingida. As ações sempre foram

direcionadas para “Obras Contra as Secas” e as s discussões acerca das demandas sociais,

econômicas e políticas, que envolvem a questão hídrica da região, continuaram superficiais e

as soluções emergenciais.

2 Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas, responsável pela atividade de implantação de infraestrutura,

caracterizada pela construção de estradas, açudes, poços e canais, além da eletrificação e campos de pouso

(ARAÚJO, 1990). 3 Para um aprofundamento maior sobre o assunto ler: HIRSCHMAN, Albert O. Os problemas do Nordeste

Brasileiro: In: Perspectivas do Nosso Tempo. Rio de Janeiro. Ed. Fundo de Cultura, 1963. 4 Departamento Nacional de Obras Contra a Seca, responsável pelo desenvolvimento de atividades de

aproveitamento hídrico, com ênfase espacial na construção de açudes para abastecimento, piscicultura e irrigação

(ARAÚJO, 1990).

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A intervenção do Governo Central no Nordeste – através dos órgãos de “combate à

seca” – reforçou a reprodução das estruturas sociais, econômicas e políticas; as

transformações foram de tamanho menor. A Inspetoria de Obras Contra a Seca, por exemplo,

se comportou muito mais como um instrumento de manutenção da estrutura dominante do

que transformador, uma vez que preservava a estrutura de produção local.

As políticas de água elaboradas a partir do paradigma de “luta contra as secas” ou

“combate às secas” reforçaram relações de poder já fundadas no monopólio da terra, na

medida em que a água acumulada em açudes e/ou barragens se localizava em propriedades

particulares dos grandes e médios proprietários de terra. O poder decorrente do controle da

terra era agora reforçado também pelo controle da água. De acordo com Albuquerque (1988),

o homem pobre se submeteu ao grande proprietário não somente pelo acesso à terra, mas

também pelo acesso à água.

Percebe-se que além da inexistência do caráter público das obras e ações executadas

para mitigar os efeitos da seca, haveria também uma subutilização da água acumulada.

Segundo Carvalho (1987), após anos de políticas de represamento, constata-se que essa forma

de intervenção não levou a uma melhor utilização da mesma, já que nunca foi executada a

desapropriação para fins agrícolas das margens das barragens, açudes e poços.

O DNOCS nasceu com uma finalidade clara de realizar “todas as obras destinadas a

prevenir e atenuar os efeitos das secas”, mas o órgão também cumpriu um extenso programa

de transportes e comunicação que assumia um duplo significado: facilitar a integração

demográfica e econômica da região, além do socorro aos flagelados. Os açudes deveriam

fortalecer a resistência à seca no Sertão, fazendo com que a população rural se fixasse no

campo, evitando assim uma migração (invasão) aos núcleos urbanos e consequentemente

problemas de desemprego e tensão social.

A atuação do DNOCS não se guiava apenas em construir açudes, mas proporcionar

uma estrutura de desenvolvimento ao Nordeste. Para Sampaio (1979, p. 35) “as grandes linhas

de atuação do DNOCS consistiram na construção de açudes, perfuração de poços tubulares,

abertura de rodovias, irrigação e instalação de rede hidroelétrica”.

É no final da década de 1950 que emergem um conjunto de medidas admitindo as

potencialidades de desenvolvimento da região Nordeste. Antes a Região era fadada ao

subdesenvolvimento pela aridez das suas terras e pelas secas. Com o Decreto 40.554 de 14 de

dezembro de 1956 Juscelino Kubitschek cria o Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do

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Nordeste (GTDN5) com a incumbência de fazer um estudo minucioso da região, das

atividades e dos gastos efetuados pelo Governo Federal.

É relevante arguir que o fenômeno das secas aliado à estrutura de produção agrária

geraram tensões sociais revestidas de caráter político. Tavares (2006) chama a atenção para

mudanças significativas no quadro político da região nordestina na segunda metade dos anos

de 1950 quando eclodiram os movimentos sociais no campo (as Ligas Camponesas) e na

cidade, organização de vários segmentos sociais (Igreja Católica, empresários, Exército).

De acordo com Tavares,

O jogo de forças sociais no Nordeste do final da década de 1950 e início da década

seguinte teve forte expressão na imprensa do país, de tal forma que, em certos

momentos da conjuntura os grandes periódicos nacionais noticiavam em primeira

página acontecimentos daquela região. É esse o quadro que leva Kubitschek a

apressar a conclusão dos trabalhos do GTDN e, em seguida, lança a chamada

‘Operação Nordeste’ (TAVARES, 2004, p.101).

O Relatório do GTDN – como ficou mais conhecido – teve grande importância e

contribuiu para a mudança de rumo da intervenção do Governo Federal no Nordeste,

conforme observa Tavares (2004). Para o autor, o diagnóstico é abrangente e bastante

articulado (apoiado em dados empíricos) e compreende duas partes: “uma análise do

desenvolvimento da região Nordeste nos anos 40 e 50, com destaque no período de 1948-58,

e a proposta de um plano de ação”. O texto influenciou decisivamente as primeiras fases da

SUDENE6 - Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, sendo fundamental para os

primeiros planos diretores.

Ainda segundo Tavares (2004, p.101), “(...) o GTDN avança no tempo e continua a

inspirar as reivindicações nordestinas, porque o quadro de desigualdades territoriais inter e

intra-regionais não se alterou significativamente nos dias atuais”. O Relatório mostra as

disparidades de desenvolvimento – diferenças econômicas estruturais – entre o Nordeste e o

Centro-Sul, assim como as disparidades de crescimento entre as regiões. As desvantagens são

da região nordestina, cujas desigualdades de níveis de renda da população eram maiores do

que as da população do Centro-Sul. No Nordeste a renda era mais concentrada.

O GTDN faz uma análise das secas que atingem o Semiárido e revela que este não era

o verdadeiro problema da economia da região, mas a sua forma de organização. O texto traz

como alternativa para o desenvolvimento da região a diversificação da produção – como

5 O texto do GTDN é um estudo elaborado pelo economista Celso Furtado. O Presidente JK pediu a conclusão

do trabalho num prazo muito curto: três meses. 6 Para um estudo mais aprofundado sobre a SUDENE e o projeto JK para o Nordeste, ler: Planejamento regional

e mudança: o projeto Furtado - JK para o Nordeste/Hermes Magalhães Tavares. Rio de Janeiro: H.P.

Comunicação/UFRJ/IPPUR, 2004.

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forma de aumentar a dotação de capital – seja na agricultura, seja na indústria (TAVARES,

2004). Muitas advertências são feitas e dentre elas destacamos aqui a associação da

agricultura extensiva-subsistência como fragilidade da economia do Semiárido ao impacto das

secas.

Uma modificação na distribuição das chuvas ou uma redução no volume destas, que

impossibilite a agricultura de subsistência bastam para desorganizar toda a atividade

econômica. A seca provoca, sobretudo, uma crise da agricultura de subsistência. Daí

suas características de calamidade social (GTDN, 1959, p.65).

O Relatório GTDN foi uma importante peça produzida – com detalhamento sobre a

região Nordeste – e usada por Juscelino Kubitschek na Operação Nordeste – OPENO7 –

lançado em fevereiro de 1959, no Palácio do Catete, durante reunião com os governadores do

Nordeste. Essa reunião, fora da rotina, foi carregada de simbolismos e intenções políticas. É

que a região Nordeste estava descontente com a política econômica do Governo Federal e os

reflexos desse descontentamento tinham sido visíveis no resultado das eleições de 1958. A

história mostra que a aliança PSD-PTB, que asseguraria a Kubitschek fazer seu sucessor,

estava sob riscos e a popularidade de Jânio Quadros crescia inclusive no Nordeste. O modo de

neutralizar o avanço das forças de oposição era modificar a ação do Governo Federal na

região.

Compreendendo a gravidade do problema, JK convocou os governadores para essa

reunião. Conforme Tavares (2004, p.109), “ao serem convidados os governadores receberam

cópia do relatório do GTDN, mas não foram avisados da pauta da reunião” e logo esclarece:

“a iniciativa de Kubitschek, na verdade, apanhou os Governadores de surpresa. Por isso na

estada destes no Rio, Cid Sampaio – governador de Pernambuco – queixou-se várias vezes, de

não ter tido conhecimento prévio da pauta de assuntos que seriam tratados”.

Segundo Tavares (2004), parte de Cid Sampaio – porta-voz dos governadores do

Nordeste – a sugestão da criação de um Conselho de Desenvolvimento do Nordeste, ideia

imediatamente aprovada por Juscelino. Ainda em 1959 a OPENO passou a contar com um

órgão oficial, o Conselho de Desenvolvimento do Nordeste – CODENO, que tinha a função

de criar condições para o funcionamento da Superintendência de Desenvolvimento do

Nordeste – SUDENE.

Nota-se que o assunto do “desenvolvimento do Nordeste” fazia parte da preocupação

de JK com a região Nordeste, mas foi pautado com urgência devido à pressão política dos

7 A Operação Nordeste pressupunha um plano de ação destinado a reverter os problemas diagnosticados por

Celso Furtado. Em relação à questão da seca, o principal objetivo era o de criar uma economia resistente às

condições da caatinga’.

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Governadores. Talvez na tentativa de mostrar à população nordestina, principalmente aos seus

representantes, sua preocupação com a Região, o Palácio do Governo – dois dias antes da

reunião – divulgou uma nota sobre o encontro e a apresentação do Plano de Ação para o

Nordeste, assim como medidas para sua execução imediata. “Um projeto de lei seria

submetido ao Congresso Nacional para a instituição de uma agência que coordenaria a

política de desenvolvimento do Nordeste – a futura SUDENE” (TAVARES, 2004, p.109).

E foi por meio da Lei 3.692, de 1959, que se deu a criação da SUDENE que tinha

como principal objetivo encontrar soluções que permitissem a progressiva diminuição das

desigualdades verificadas entre as regiões geoeconômicas8 do Brasil.

Segundo Tavares (2006, p.12), “é fora de dúvida que o carro-chefe da SUDENE era a

sua política de industrialização, cuja base eram os incentivos cambiais financeiros e fiscais”.

Quando o governo de Jânio Quadros impôs o fim das isenções cambiais, em 1961, foi preciso

buscar um novo incentivo: a isenção do Imposto de Renda, que “possibilitava ao empresário

aplicar, em empreendimentos seus ou de terceiros, localizados no Nordeste, até 50% do

Imposto de Renda por ele devido”. Esse dispositivo era o art. 34 da Lei 3.995 de 14 de

dezembro de 1961 que beneficiava apenas as pessoas jurídicas de capital 100% nacional. Em

1963, o benefício é estendido às empresas estrangeiras (art. 18 da Lei 4.239 de 27 de junho de

1963). O Nordeste viveu um boom econômico de 1964 a 1971, graças ao mecanismo 34/18.

É importante registrar que em 1973 o governo militar inicia a política de polos de

desenvolvimento, com a instalação do Polo Petroquímico de Camaçari, mas a SUDENE não

foi consultada. No final da década de 1970, o Banco Mundial chega ao Nordeste e domina a

política de desenvolvimento da região. A influência dessa instituição chega ao auge com a

elaboração do “Projeto Nordeste”.

De acordo com Tavares (2006), na década de 1980, logo após o último governo

militar, as avaliações da política da SUDENE realizadas por diversos estudiosos e

amplamente divulgadas na imprensa destacavam estatísticas sociais para evidenciar que nada

havia se alterado. Nos anos de 1990, é visível o declínio do órgão de planejamento regional

agravado por inúmeras denúncias de práticas de corrupção. Em 2002, no governo de Fernando

Henrique Cardoso, a autarquia foi extinta.

8 Diferente das regiões oficiais do país, as regiões geoeconômicas foram divididas em três macrorregiões:

Amazônia, Nordeste e Centro-Sul. Essa divisão (regiões geoeconômicas) foi propostas pelo geógrafo Pedro

Pinchas Geiger.

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Por cerca de 40 anos, sem escapar dos ataques, das denúncias de favorecimentos, dos

desvios de verbas, das críticas e observações, a SUDENE foi a instituição referência

coordenadora de políticas de desenvolvimento do Nordeste.

2.2 – O DESENVOLVIMENTO EM PAUTA

No início na década de 1930, as políticas econômicas adotadas, quase

simultaneamente, pelo Presidente americano Franklin Delano Roosevelt, conhecidas como

New Deal (Novo Acordo), e por Hjalmar Schacht, na Alemanha, na tentativa de minimizar os

efeitos negativos da Grande Depressão, foram relacionadas por John Maynard Keynes em sua

obra clássica “Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda” (General Theory of

Employment, Interest and Money). Keynes defendia uma política econômica de Estado

intervencionista, através da qual os governos usariam medidas fiscais e monetárias para

mitigar os efeitos adversos dos ciclos econômicos – recessão, depressão e booms.

As teorias clássicas do desenvolvimento no período pós-Keynesiano traziam a ideia de

uma força motriz de caráter exógeno que influenciaria, por meio de encadeamentos, as demais

atividades econômicas gerando desenvolvimento nas regiões periféricas a partir de forças

impulsoras vindas das regiões centrais. François Perroux (1955), com a “Teoria dos Polos”;

Albert Hirschman (1961), com a “Teoria do Desenvolvimento Equilibrado”; e Gunnar Myrdal

(1960), com o “Princípio da Causação Circular Cumulativa”, foram expoentes dessas teorias.

As teorias em questão não levaram em consideração fatores endógenos da sociedade

local a exemplo dos seus valores – individuais e coletivos – hábitos, costumes, condutas,

particularidades e peculiaridades. Valorizava-se o exógeno, fundamentando-se numa força

externa propulsora desse movimento. A institucionalização desse pensamento se dá com a

criação da Organização das Nações Unidas – ONU, em 1945, e da Comissão Econômica para

a América Latina – CEPAL, em 1948.

É nesse período – do pós-guerra – que a questão do desenvolvimento entra fortemente

em pauta. As discussões aquecem o debate tanto de pesquisadores quanto de governos. O

desenvolvimento apoiado numa visão econômica argumentava que os países pobres deviam

usar um modelo próximo daquele concebido e gestado pelos países ricos. Dizendo de outra

forma, a ideia era importar o modelo de desenvolvimento – e, diga-se de passagem, foi

importado – desses países ricos como se fosse uma receita de desenvolvimento “pronta e

acaba para ser usada”, sem levar em conta as peculiaridades dos países pobres.

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Nesse contexto, a ONU e a CEPAL nasceram como “forças em oposição” às ideias

dominantes9 e representou “uma etapa extremamente avançada de reflexão da região sobre a

sua evolução histórica, experiência política e posição na evolução do sistema econômico e

político mundial” (SANTOS, 2000, p.125).

No ano de 1968 o industrial italiano Aurélio Peccei e o cientista escocês Alexander

King, reuniram em Roma um grupo de cientistas, educadores, intelectuais, empresários para

discutir assuntos relacionados à política, economia internacional e, sobretudo, ao meio

ambiente e ao desenvolvimento sustentável, criando assim “O Clube de Roma”.

O Clube torna-se muito conhecido a partir de 1972 devido à publicação do relatório

intitulado The Limits to Growth (Os Limites do Crescimento), elaborado por uma equipe do

Massachusetts Institute of Technology – MIT, contratada pelo Clube de Roma e chefiada por

Dana Meadows, que tratava de problemas cruciais para o futuro da humanidade tais como

energia, poluição, saneamento, saúde, ambiente, tecnologia e crescimento populacional.

Desde a época do estudo do Clube de Roma, observa Wolfgang Sachs – dois campos de

discurso político emergiram um sob a bandeira do “meio ambiente” e outro sob a bandeira do

“desenvolvimento”. Avançamos um pouco no tempo para dizer que, em 1987, a Comissão

Mundial para o Meio Ambiente (Comissão Brundtland) parecia ter conseguido construir uma

ponte conceitual entre esses dois campos, com a definição de desenvolvimento sustentável,

mas essa solução concebida vai maximizar o consenso.

A tarefa de mostrar que crescimento e desenvolvimento não poderiam acontecer a

qualquer preço, sem levar em conta os aspectos ambientais, não foi fácil e aconteceu na

Suécia com a realização da Conferência Estocolmo 72 (Cimeira da Terra). O primeiro grande

evento sobre meio ambiente realizado no mundo.

Nos anos de 1970, Celso Furtado com uma forte influência do Estruturalismo

Cepalino, em o Mito do Desenvolvimento Econômico (1974), faz uma crítica e levanta

questionamentos em relação aos modelos de crescimento econômicos aplicados, os limites do

meio físico e a abordagem social do desenvolvimento. Segundo Furtado (1974, p.75), “o

custo, em termos de depredação do mundo físico, desse estilo de vida, é de tal forma elevado

que toda tentativa de generalizá-lo levaria inexoravelmente ao colapso de toda uma

civilização, pondo em risco as possibilidades de sobrevivência da espécie humana”. O autor

chama atenção para os riscos do excesso de exploração dos recursos naturais e humanos, uma

9 A questão do desenvolvimento era debatida fortemente pelos países desenvolvidos e os seus modelos eram

impostos aos países subdesenvolvidos de maneira a não possibilitar a busca de um caminho próprio.

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vez que julgava irrealizável que o modelo de vida (consumo) dos países centrais se estendesse

para todos os países do planeta.

A elevada disparidade entre o centro e a periferia, no período supracitado, chamaram

atenção de Furtado: de um lado, o centro, localidade das sedes de grandes empresas, donas de

tecnologia e de meios de produção mais eficientes, com uma população com elevado poder de

consumo; de outro, a periferia, em franco processo de industrialização tardia, dependente de

recursos tecnológicos do centro, e vultosas desigualdades sociais, cujos padrões de consumo

similares aos do centro eram restritos a um pequeno grupo da elite.

O intenso estímulo ao consumo e aos padrões de vida do centro geravam impactos

importantes ao meio físico e demonstraram claramente que o pano de fundo dessa questão era

o processo de acumulação de capital. Em uma projeção vinculada ao possível aumento da

renda e consequentemente do consumo, Furtado (1974, p. 73) destaca que uma demanda

crescente por recursos naturais estaria fora da capacidade de controle do ser humano e que o

avanço tecnológico não seria capaz de sanar os problemas advindos dessa contraditória

realidade. O processo da expansão industrial não trazia no seu escopo preocupações com o

esgotamento dos recursos naturais não renováveis que eram usados de forma indiscriminada.

2.2.1 – A Questão Ambiental no Topo da Agenda Global

Na década de 1980, o debate sobre desenvolvimento apresentou preocupações

relacionadas à natureza. As discussões suscitavam questões de utilização da natureza de

maneira indiscriminada e transformando-a em depósito de resíduos. E, como dissemos

anteriormente, os debates em torno das questões ambientais são retomados. Nesse novo olhar

das relações homem/meio ambiente percebe-se que não existe apenas um limite mínimo para

o bem-estar da sociedade; há, também, um limite máximo para a utilização dos recursos

naturais, que precisam ser preservados. Mas foi nos anos de 1990 que a questão ambiental

ocupou o topo da agenda global. Apesar da forte oposição dos Estados Unidos, representantes

de 180 países participaram da Rio 9210

(II Conferência das Nações Unidas sobre o Meio

Ambiente e o Desenvolvimento Humano – CNUMAD) e chegaram a um consenso,

permitindo aprovar, durante esse evento, documentos significativos que influenciam nossa

vida até hoje.

10

A Rio 92 buscou soluções capazes de conciliar as necessidades legítimas de desenvolvimento social e

econômico com a obrigação de conservar os recursos para as gerações futuras. Nessa concepção foi mantido o

cerne do conceito de desenvolvimento sustentável, concebido pelo Relatório Brundtland de 1987, publicado no

Brasil com o título “Nosso Futuro Comum”.

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Os principais documentos da Rio 92 foram: Proposta para a Carta da Terra – uma

espécie de declaração dos direitos do planeta, além das Convenções de Mudanças Climáticas,

Diversidade Biológica e Combate à Desertificação; a Agenda 21 – documento base com os

passos para a transição rumo ao desenvolvimento sustentável, e, ainda, a Declaração dos

Princípios sobre Florestas e a Declaração do Rio de Meio Ambiente e Desenvolvimento.

Depois da Rio 92 outras Conferências foram realizadas nos anos seguintes, colocando

em discussão assuntos como direitos humanos, desenvolvimento social, erradicação da

pobreza, desenvolvimento econômico e preservação ambiental, dentre outros. Dentre elas:

Viena (1993); Cairo (1994); Copenhagen (1995); Istambul (1996); Johanesburgo (2002); Rio

de Janeiro (2012).

Todas essas reuniões provocaram avanços institucionais em alguns setores, como no

empresarial e no nível de informação das pessoas, mas é visível que a saúde do planeta vem

piorando. A Rio 92 mudou a maneira como as questões ambientais são tratadas no mundo e o

tema ganhou espaço nas agendas dos governantes, dos empresários e da sociedade civil.

As décadas de 1990 a 2000 foram marcadas pela construção tanto de discursos

voltados ao desenvolvimento regional quanto de formulação e execução de políticas públicas

consideradas inovadoras dentre as quais: as estratégias de combate à seca, as grandes políticas

hídricas e os projetos de modernização econômica destinados à região do Semiárido

brasileiro. Nesse período, foram apresentadas duas propostas para solucionar o problema da

escassez hídrica na zona rural do Semiárido brasileiro: as cisternas de placa (que armazenam

água de chuva) e os sistemas de dessalinização via osmose inversa de águas subterrâneas

salobras e salinas. Essas diferentes alternativas serviram como fundamento de políticas

públicas para atender os objetivos da ampliação da oferta de água para as populações rurais,

no contexto da “convivência com o Semiárido”.

Em 2003, a Articulação do Semi-Árido (ASA) apresentou o Programa de Formação e

Mobilização Social de convivência com o Semiárido: Programa Um Milhão de Cisternas

Rurais (conhecido pela sigla P1MC), com apoio do Governo Federal e financiamento da

Federação Brasileira de Bancos – FEBRABAN. No ano de 2004, o Ministério do Meio

Ambiente, por meio da Secretaria de Recursos Hídricos (hoje Secretaria de Recursos Hídricos

e Ambiente Urbano), em parceria com Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – a

EMBRAPA, a Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, Associação Técnico

Científica Ernesto Luiz de Oliveira Junior – ATECEL, Serviço Geológico do Brasil – CPRM

e com a participação das Secretarias de Recursos Hídricos Estaduais, implantou o Programa

Água Doce – PAD, voltado para oferta de água via sistemas de dessalinização, com

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financiamentos do Petróleo Brasileiro S/A – PETROBRAS, Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, Fundação Banco do Brasil – FBB, entre

outros.

O PAD é uma nova leitura do Programa Água Boa – PAB, implantado em 1996, com

igual objetivo de levar água para as comunidades difusas do Semiárido através de sistema de

dessalinização, tendo como fonte de abastecimento os poços tubulares. No entanto, o PAB

não apresentava cuidados com a destinação do concentrado11

– causando impactos ambientais

negativos – e também não previa a manutenção preventiva dos equipamentos do sistema de

dessalinização, o que provocava problemas na qualidade da água tratada e desativação de

grande parte dos dessalinizadores. O Programa Água Doce corrigiu as falhas detectadas no

Programa Água Boa, “unindo participação social, proteção ambiental, envolvimento

institucional e gestão comunitária local” e se apresentou, ao menos em discurso, como uma

política pública inovadora com objetivo de ampliar a oferta de água para as populações rurais,

no contexto da convivência com o Semiárido.

Recentemente, 8 de maio de 2012, o Diário Oficial da União publicou portaria nº 261,

do Ministério da Integração Nacional, instituindo o Comitê Integrado de Combate à Seca na

região do Semiárido brasileiro, para coordenação e monitoramento das ações de

enfrentamento da estiagem. O Comitê vai coordenar, monitorar e acompanhar as ações

desencadeadas pelos órgãos dos governos Federal, Estadual e Municipal em todos os estados

do Nordeste e em Minas Gerais, por meio dos núcleos de trabalho. Os núcleos são formados

por técnicos do governo federal e estadual, e das defesas civis nacional, estadual e municipal.

Além de articular ações para reduzir os efeitos da seca, os comitês vão acompanhar a

distribuição de água por carro-pipa e as atividades do Água para Todos – programa que vai

garantir cisternas e barragens para as populações afetadas pela estiagem.

O Governo Federal12

prometeu liberar R$ 2,7 bilhões para ações emergenciais de

“combate aos efeitos da seca no Semiárido” em 2012, considerada uma das piores estiagens

dos últimos 30 anos, e pagar o Bolsa Estiagem aos agricultores afetados pela seca no

Nordeste. Cerca de 400 mil pequenos produtores rurais que estão no Cadastro Único dos

programas sociais do governo receberão cinco parcelas de R$ 80,00 (oitenta reais). Para os

agricultores que fizeram o Seguro Agrícola e perderam a produção, ou nem conseguiram

plantar por causa da seca, será pago o Garantia Safra: são cinco parcelas de R$ 136,00 (cento

11

O concentrado ou rejeito é a água potencializada por sais (que podemos chamar de solução salina) proveniente

do processo de dessalinização. 12

Até o momento da conclusão deste texto parte das verbas não foi liberada e as ações anunciadas para

minimizar os efeitos provocados pela seca no Semiárido não se concretizaram.

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e trinta e seis reais). Outra medida adotada pelo Governo Federal para minimizar os efeitos da

seca foi à disponibilização de R$ 1 bilhão para financiar agricultores familiares, criadores de

gado e de cabras, por meio do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE).

O resgate da história das Leis, Decretos, Portarias e Instituições criadas, além de ações

desenvolvidas pelos vários Governos aqui relacionados nos mostra que as políticas públicas

chegam ao seu destino carregadas de interesses políticos, econômicos e sociais. Vários atores

se articulam e produzem suas ações e seus discursos – desde sempre, assim nos parece –

apoiados, em tese, no bem estar da coletividade, dos menos favorecidos. Os projetos de

“desenvolvimento” e de “solução da escassez hídrica” são apresentados como equação

resolvida.

Dizendo de outra forma, cada política pública de acesso à água potável – objeto desta

pesquisa – é apresentado como a melhor alternativa tecnologicamente pesquisada, gestada e

encontrada para solucionar (pelo menos no discurso) o problema da água e consequentemente

o desenvolvimento da Região Nordeste – principalmente da região Semiárida. Açudes,

barragens, irrigação, poços, cisternas e, mais recentemente, sistemas de dessalinização das

águas salinas e salobras têm sido as alternativas apresentadas ao longo de mais de 100 anos.

No entanto, essas políticas têm aportado em terras semiáridas de maneira dessincronizadas,

sofrendo descontinuidade a cada mudança de governo. Cada política teve uma especificidade

em sua época e atendeu determinados interesses. Do IFOCS ao Água Doce, cada programa

tinha um pacote político e um tecnológico.

Diante do exposto se faz necessário observarmos as reflexões feitas sobre as questões

climáticas (que trataremos a posteriori) e levantarmos alguns questionamentos sobre os

programas de acesso à água potável: esses programas, em especial o Água Doce, têm

alcançado os objetivos a que se propõem? As comunidades difusas do Semiárido têm acesso

à água potável? O sistema de produção integrado das Unidades Demonstrativas é

autossustentável? Essas duas equações juntas trazem desenvolvimento à Região?

2.3 – A RELAÇÃO ENTRE RECURSOS HÍDRICOS E DESENVOLVIMENTO

Reconsiderar os modelos de desenvolvimento até aqui adotados não é apenas uma

questão de modismo, mas uma necessidade urgente para proteger os ecossistemas e,

consequentemente, garantir a sobrevivência da espécie humana. Um dos fatores

preponderantes para a garantia da sobrevivência humana é a água – um dos elementos mais

ameaçado devido o estilo de vida adotado pela sociedade. Se por um lado houve o aumento do

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seu uso, do desperdício e da poluição dos mananciais, do outro não aumentaram as reservas,

razão pela qual cresce a preocupação sobre o assunto no mundo todo. “A água perpassa todos

os aspectos da vida humana. Ao longo da história, a gestão da água tem confrontado as

pessoas e os governos com desafios técnicos e políticos de longo alcance” (PNUD, 2006).

As alterações climáticas aliadas às crescentes pressões sobre os recursos mundiais de

água doce têm se constituído num dos mais importantes desafios a ser resolvido que é a

gestão da água no século XXI.

O suprimento de água doce de boa qualidade é essencial para a qualidade de vida das

populações humanas, para o desenvolvimento econômico e para a sustentabilidade dos ciclos

no planeta. A água não é o único elemento indispensável e importante para o desenvolvimento

de uma região, mas, dentre todos os componentes que fazem parte daquele ecossistema, talvez

seja o principal a servir como elo entre os diferentes compartimentos (EPA, 2009).

Quem vive no Semiárido tem sua história marcada por uma luta constante pela

sobrevivência em ambiente estigmatizado por dificuldades relativas à escassez periódica de

água. Esse problema gerou e continua gerando conflitos e manipulações políticas relacionadas

à água.

2.3.1 – O Cerceamento das Liberdades

A escassez da água condena milhões de pessoas à vida de pobreza, com condições de

saúde precárias e oportunidades limitadas. Esse resultado perpetua profundas desigualdades

não só entre os países, mas também no interior dos mesmos.

Sen destaca que:

Às vezes a ausência de liberdades substantivas relaciona-se diretamente com a

pobreza econômica, que rouba das pessoas a liberdade de saciar a fome, de obter

uma nutrição satisfatória ou remédios para doenças tratáveis, a oportunidade de

vestir-se ou morar de modo apropriado, de ter acesso à agua tratada ou

saneamento básico (SEN, 2000, p.18, grifo nosso)

E as metas estabelecidas pelos Objetivos do Milênio chamam a atenção para “a

compreensão das interligações entre o progresso em diferentes áreas — e da importância

crucial do progresso na água e no saneamento”. Essas metas multifacetadas estabelecidas no

quadro dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (2006) contemplam um vasto leque de

dimensões interligadas do desenvolvimento, desde a redução da pobreza extrema até à

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igualdade de gênero, passando pela saúde, pela educação e pelo ambiente. Todas essas

dimensões ligam-se entre si através de uma complexa teia de interações.

No entanto, destacamos aqui o 7° Objetivo (ODM, 2006), que aborda questões

voltadas à garantia da sustentabilidade ambiental, redução (a metade) da percentagem de

pessoas sem acesso sustentável à água potável e saneamento básico e inversão à tendência de

perda de recursos ambientais.

Pautados nos objetivos do milênio (especificamente no sétimo), algumas razões pelas

quais o mundo deve atuar sobre a problemática da água e do saneamento estão expressas no

quadro esquemático abaixo:

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Figura 2 – Argumentos Pontuais do Sétimo Objetivo do Milênio.

Fonte: ODM, 2006

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2.4 – POLÍTICAS PÚBLICAS E DESENVOLVIMENTO: A AUTORIDADE DOS

DISCURSOS

O Movimento das políticas públicas teve início nos anos de 1960, nos Estados Unidos.

De acordo com Celina Souza (2006), na Europa, a área de política pública surge como um

desdobramento dos trabalhos baseados em teorias explicativas sobre o papel do Estado e de

uma das mais importantes instituições do Estado - o governo -, produtor, por excelência, de

políticas públicas. Nos EUA, ao contrário, a área surge no mundo acadêmico sem estabelecer

relações com as bases teóricas sobre o papel do Estado, passando direto para a ênfase nos

estudos sobre a ação dos governos.

Esse movimento partiu de duas vertentes de interesses, segundo Ham e Hill (1993)

Em primeiro lugar, a escala e a aparente intratabilidade dos problemas frente aos

quais se colocam governos de sociedades industrializadas ocidentais levaram

fazedores de política a buscar ajuda para a solução daqueles problemas. Em segundo

lugar, pesquisadores acadêmicos, particularmente em ciências sociais,

progressivamente voltaram suas atenções a questões relacionadas às políticas

públicas e procuraram aplicar seu conhecimento à elucidação de tais questões (HAM

E HILL, 1993, p.4).

Ham e Hill (1993) explicam que os fazedores de política não recorreram imediatamente

à pesquisa acadêmica, o processo aconteceu ao longo de alguns anos. A origem de programas

universitários de ensino em políticas públicas, produção de vários jornais acadêmicos

voltados à análise de política, estudos políticos e ciências políticas foram lançados. Na

academia, professores e pesquisadores começaram a produzir e publicar sobre temas

relacionados à política. Ao mesmo tempo, as agências governamentais começaram contratar

analistas de políticas, adotando técnicas e práticas no sentido de examinar criticamente

questões como de custo e benefício, orçamento por programas e análise de impacto.

Na área governamental, a introdução da política pública como ferramenta das decisões

do governo é produto da Guerra Fria e da valorização da tecnocracia como forma de enfrentar

suas consequências. Segundo Celina Souza (2006), a área de políticas públicas contou com

quatro grandes "pais" fundadores: H. Laswell (introduziu nos anos 30 a expressão policy

analysis – análise de política pública), H. Simon (adotou o conceito de policy makers –

racionalidade limitada dos decisores públicos), C. Lindblom (questionou a ênfase no

racionalismo de Laswell e Simon e propôs a incorporação de outras variáveis à formulação e à

análise de políticas públicas) e D. Easton (definiu a política pública como um sistema, ou seja,

como uma relação entre formulação, resultados e o ambiente).

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Políticas públicas é um conceito que está muito presente na vida cotidiana dos países

democráticos. Sua presença é constante na imprensa, nas agendas públicas, nos documentos

públicos e não governamentais, nos discursos políticos e institucionais, nas pautas de

movimentos sociais. Mas antes de avançarmos nas discussões, se faz necessário responder

uma pergunta: o que significa efetivamente políticas públicas? Não existe uma única, nem

melhor, definição sobre o que seja política pública. Muitos autores conceituaram o termo, a

exemplo de Lynn (1980), que define políticas públicas como um conjunto de ações do

governo que irão produzir efeitos específicos; Dye (1984) sintetiza a definição como "o que o

governo escolhe fazer ou não fazer”; Peters (1986) segue o mesmo viés de Lynn: política

pública é a soma das atividades dos governos, que agem diretamente ou através de delegação,

e que influenciam a vida dos cidadãos; e Mead (1995) explica como um campo dentro do

estudo da política que analisa o governo à luz de grandes questões públicas. No entanto, a

definição mais conhecida continua sendo a de Laswell; decisões e análises sobre política

pública implicam responder as seguintes questões: “quem ganha o quê”, “por quê” e “que

diferença faz”.

Souza (2006) também chama a atenção para as definições de políticas públicas,

(...) mesmo as minimalistas, guiam o nosso olhar para o locus onde os embates

em torno de interesses, preferências e idéias se desenvolvem, isto é, os governos.

Apesar de optar por abordagens diferentes, as definições de políticas públicas

assumem, em geral, uma visão holística do tema, uma perspectiva de que o todo é

mais importante do que a soma das partes e que indivíduos, instituições, interações,

ideologia e interesses contam, mesmo que existam diferenças sobre a importância

relativa destes fatores (SOUZA, 2006, p.23, grifo nosso).

Diante do que foi colocado até agora, podemos sintetizar dizendo que, políticas públicas

ou políticas sociais é um conceito de Política e da Administração que designa certo tipo de

orientação para a tomada de decisões em assuntos públicos, políticos ou coletivos. Políticas

públicas são definidas aqui como as ações desencadeadas pelo Estado, no caso brasileiro, nas

escalas federal, estadual e municipal, com vistas ao bem coletivo. Elas podem ser

desenvolvidas em parcerias com organizações não governamentais e, como se verifica mais

recentemente, com a iniciativa privada. Porém, não resta dúvida de que diversas forças sociais

integram o Estado. Elas representam agentes com posições muitas vezes antagônicas.

Também é preciso ter claro que as decisões acabam por privilegiar determinados setores, nem

sempre voltadas à maioria da população brasileira.

Nas políticas públicas o sujeito é o Governo e o objeto os cidadãos.

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Figura 3 - Esquema representativo construído com base no pensamento de Viana (1998)

Fonte: Viana 1988

De acordo com Viana (1988), a política envolve intervenção (ação intencional) e a

intenção envolve uma nova relação com os atores privados. Quando a política se torna

operativa, ela passa a contar com recursos e discursos e envolvem ação social e impactos.

Ação e reação social, por sua vez, envolvem vários sujeitos (atores governamentais e não

governamentais) que possuem, também, intenções. No processo político, as intenções dos

atores governamentais e dos outros atores se cruzam e entrecruzam em uma cadeia de

relações.

É em meados da década de 1970 que os programas de ensino universitário e pesquisa

evoluíram no que diz respeito a métodos quantitativos combinados à análise organizacional e

ao desenvolvimento de técnicas práticas de administração por meio de estudos de casos reais.

Nesse período, o ambiente passa a ser mais receptivo por parte dos governantes (DAGNINO

et. al., 2002) os estudos de avaliação de política ganham força e sua importância torna-se

reconhecida. Questões como ética e valores também foram abordados por alguns programas

(HAM E HILL, 1993). Nos anos de 1980, o interesse em análise de políticas continuou a se

desenvolver, só que com um deslocamento na tendência do debate, explicam os autores:

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O ataque ao setor público levou à procura de dispositivos de mercado para se

resolver problemas de alocação social e à ênfase na necessidade de soluções para as

ineficiências do setor público conduziram à aplicação de técnicas de gestão típicas

do setor privado. Assim, a administração pública veio a ser cada vez mais descrita

como gestão pública (HAM E HILL, 1993, p.7).

Os erros cometidos na implantação de vários movimentos de políticas públicas

estimularam as universidades a desenvolverem cursos de análises de políticas públicas, os

quais ainda são o elo de aproximação entre pesquisadores acadêmicos e os responsáveis pelo

processo de elaboração da política, lembra Oliveira (2009).

Políticas públicas precisam estar em constante avaliação. Não basta apenas defini-

las, determinando os seus pontos de atuação e os recursos destinados para que

existam as ações, mas se faz necessário acompanhar a sua execução para conhecer

os trabalhos que estão se propondo a fazer e se eles estão sendo eficazes.

(OLIVEIRA, 2009, p.29)

Cabe destacar que as políticas públicas repercutem na economia e nas sociedades e a

avaliação torna-se “uma ferramenta de aprendizagem para melhorar políticas e torná-las

coerentes”. (WINTJES; NAUWELAERS, 2008, p.175).

Segundo Wintjes e Nauwelaers (2008, p.177), o fato de que muitos aspectos devem ser

levados em conta durante o processo de elaborar uma metodologia de avaliação indica que

“não existe um modelo de melhores práticas perfeito, nem um design ótimo”. Wildavsky

(1979) também corrobora com essa visão e “rejeita a ideia de que seja possível chegar a uma

única definição de análise de política”.

Para Baumgarten (2004, p.34) a dificuldade de estabelecer o melhor modelo de

avaliação “é parte integrante do processo de construção do conhecimento científico, podendo

suas origens serem identificadas com o surgimento da própria ciência”. Mesmo não havendo

um modelo tido como ótimo, é quase um consenso a necessidade e a importância da constante

avaliação das políticas públicas em todos os setores, sobretudo naqueles tidos como essenciais

como o que lida com questões relacionadas ao acesso e uso dos recursos hídricos por parte

das populações que moram em regiões críticas de baixo volume pluviométrico e/ou que

tenham água com alto teor de sais, objeto de estudo deste trabalho.

A avaliação visa observar os procedimentos que devem ser realizados, a metodologia a

ser utilizada e os cuidados a serem tomados para formular políticas que possam ser

implementadas de maneira adequada e para que isso ocorra de forma a alcançar os objetivos e

os impactos visados. (DAGNINO et. al., 2002, p.158).

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A análise de políticas deve ser entendida como uma atividade acadêmica preocupada

primariamente com o avanço da compreensão (análise de política) e, também, como uma

atividade aplicada preocupada fundamentalmente em contribuir com a solução de problemas

sociais (análise para política). Segundo Ham e Hill (1993), existe uma distinção entre essas

categorias: enquanto a análise de política está mais interessada em melhorar o entendimento

da política (policy), a análise para política volta o seu interesse em melhorar a qualidade da

mesma; alguns analistas de políticas estão interessados em ambas as atividades (HAM; HILL,

1993).

Análise de políticas é uma disciplina difícil de ser delimitada e definida. Na visão de

Ham e Hill (1993), o propósito da análise de políticas é, utilizando ideias provenientes de uma

série de disciplinas, interpretar as causas e consequências da ação do governo, em particular

ao voltar sua atenção ao processo de formulação política. Os autores observam que a política

pode por vezes ser identificável em termos de uma decisão, mas muito frequentemente ela

envolve ou grupos de decisões ou o que pode ser visto como pouco mais que uma orientação.

Usando como fonte Hogwood e Gunn (1981), Ham e Hill (1993, p.13) elenca tipos de

estudo da avaliação de políticas públicas, conforme figura abaixo:

Figura 4 – Tipos de Estudo da Avaliação de Políticas Públicas (Ham e Hill)

Fonte: Ham e Hill,1993, p. 13.

De acordo com Ham e Hill (1993), a tipologia proposta por Hogwood e Gunn indica

sete variedades de análise de política; são elas:

1. Estudos do conteúdo da política (studies of policy content), nos quais os

analistas procuram descrever e explicar a gênese e o desenvolvimento de

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políticas particulares. “O analista interessado em conteúdo de políticas

geralmente investiga um ou mais casos a fim de determinar como uma política

surgiu, como foi implementada e quais foram os resultados”;

2. Estudos do processo de elaboração de políticas (studies of policy process), nos

quais os analistas dirigem a atenção para os estágios pelos quais passam

questões e avaliam a influência de diferentes fatores, sobretudo na formulação

das políticas;

3. Estudos de resultados de políticas (studies of policy outputs), que procuram

explicar porque os níveis de gasto ou de provisão de serviços variam entre

diferentes áreas. “Na terminologia de Dye (...) estudos que tomam políticas

como variáveis dependentes e tentam compreendê-las em termos de fatores

sociais, econômicos, tecnológicos e outros”;

4. Estudos de avaliação (evaluation studies) que marcam a fronteira entre análise

de políticas e análise para a política. Estudos de avaliação são muitas vezes

chamados de estudos de impacto por se voltarem ao impacto que as políticas

têm sobre a população;

5. Informação para a elaboração de políticas (information for policy-making),

neste caso, governo e analistas acadêmicos organizam os dados para auxiliar a

elaboração de políticas e tomadas de decisões;

6. Defesa de processos (process advocacy), variante da análise para a política na

qual os analistas procuram melhorar a natureza dos sistemas de elaboração de

políticas;

7. Defesa de políticas (policy advocacy), atividade que o analista desempenha ao

pressionar pela adoção de opções e ideias específicas no processo de elaboração

de políticas, seja individualmente, seja em associação com outros, por

intermédio de grupos de pressão.

Tendo elencado o significado da análise de políticas e as várias formas que ela pode

tomar, o presente trabalho utilizará três tipologias: processo de elaboração de políticas,

resultado de políticas e avaliação, por se aproximarem mais do nosso objeto de estudo:

“Avaliação de Políticas Públicas para o Desenvolvimento Regional/Local: O Caso do

Programa Água Doce no Semiárido Paraibano”. No nosso entendimento, todas as outras

categorias são importantes, no entanto, as escolhidas nos ajuda explicar o impacto que as

políticas públicas têm sobre a população – nesse caso – do Semiárido da Paraíba.

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SEGUNDO CAPÍTULO

AS INTERFACES DO ÁGUA DOCE: O CLIMA E A SUSTENTABILIDADE

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46

3 SEGUNDO CAPÍTULO – As Interfaces do Água Doce: o Clima e a

Sustentabilidade

“Muitas gerações puderam negligenciar os limites da natureza

como fonte e como depósito de resíduos; os custos do presente

foram transferidos para o futuro” (WOLFGANG SACHS, 1997)

Não há como dissociar as mudanças climáticas dos programas de acesso à água

potável e a preocupação com um novo modelo de desenvolvimento que inclui a

sustentabilidade. Essas são variáveis que se entrecruzam na equação do desenvolvimento do

Semiárido. A escassez de água apropriada ao consumo humano e animal da Região se coloca

como um entrave ao desenvolvimento. Para compreendermos melhor a construção das

politicas públicas de acesso à água no Semiárido, teceremos inicialmente algumas

considerações em relação às mudanças climáticas e suas consequências, uma vez que a

variabilidade climática anual e sazonal é significativa e, como condicionante da

disponibilidade hídrica, constitui-se em fator importante para a sustentabilidade das atividades

socioeconômicas da Região.

3.1 – MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SUAS IMPLICAÇÕES

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura –

UNESCO, um recente estudo estima que a mudança climática está acontecendo devido ao

crescimento global da escassez de água e devido ao crescimento populacional e ao

desenvolvimento econômico.

Esse estudo é um exemplo do avanço observado nas últimas duas décadas: o nível de

atenção dado às mudanças climáticas. Da Rio 92 para cá, a gravidade do Problema e a certeza

sobre as consequências aumentaram. Hoje essa agenda cresceu e está na pauta de todo o

mundo. O Protocolo de Kyoto firmado em 1997 gerou resultados positivos na redução da

emissão dos gases de efeito estufa e teve o papel fundamental para dar peso político

importante, no entanto, ainda há muito para melhorar no assunto. Para se ter uma ideia, entre

1998 e 2010, a terra viveu seus 10 anos mais quentes e, ao invés de reduzirmos as emissões

dos gases do efeito estufa, elas continuam a crescer cada vez mais.

Essa variação climática tem afetado a disponibilidade hídrica no Semiárido (Região

marcada por grandes estiagens e cheias). O Relatório do Painel Intergovernamental sobre

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Mudanças Climáticas – IPCC, da ONU, (2007) afirmou que o Semiárido será uma das regiões

brasileiras mais atingidas pelos efeitos das mudanças climáticas. Os estudos sinalizaram uma

tendência de estiagem por praticamente o ano todo no Nordeste.

O último Relatório do IPCC (2011) reforçou a propensão da cessação de chuva e fez

um alerta: “existe uma confiança média de que as secas irão se intensificar no século 21 (...)

devido à menor precipitação e/ou um aumento na evapotranspiração". As regiões listadas no

documento são o sul da Europa e a região do Mediterrâneo, na Europa central, a região central

da América do Norte, a América Central e o México, o Nordeste brasileiro e o sul da África.

O Relatório Especial sobre Gerenciamento de Riscos de Eventos Extremos e Desastres para o

Avanço da Adaptação Climática – SREX, retrata o quão perigosas as mudanças climáticas já

se tornaram.

Ainda de acordo com o documento (IPCC, 2011), é preciso que os países “elaborem

planos para uma reação a desastres, visando à adaptação ao crescente risco de eventos

climáticos extremos ligados às mudanças climáticas provocadas pelo ser humano”. Essa

urgência se dá devido ao aumento nas ondas de calor, chuvas mais intensas, enchentes e

ciclones mais fortes, além de deslizamentos de terra e secas mais severas, que devem ocorrer

neste século no mundo todo, em decorrência do aquecimento do clima na terra, conforme

estudos científicos apresentados em Uganda, em novembro de 2011.

Nessa direção (confirmando as previsões sobre as mudanças climáticas), o Instituto

Nacional do Semiárido – INSA – divulgou no dia 25 de maio de 2012 um diagnóstico dos

municípios do Semiárido brasileiro em situação de emergência e estado de calamidade

pública devido à escassez de chuva. Segundo o INSA, a estiagem já afetou cerca de 60% dos

municípios do Semiárido brasileiro, quase 12 milhões de habitantes.

(...) 659 municípios do Semiárido brasileiro já foram reconhecidos em situação de

emergência e estado de calamidade pública, devido aos efeitos da estiagem e 70

estão em análise. A população total residente os municípios já reconhecidos chega a

11.911.871 habitantes, o que representa 53% da população do Semiárido brasileiro,

que é de 22.598.318 habitantes. Ressalta-se que a população mais vulnerável desses

municípios é a rural (4.452.416 habitantes), por não contar com infraestrutura de

abastecimento de água, e ter a agricultura familiar de sequeiro, a criação de animais

e o extrativismo como única fonte de renda (INSA, 2012, p.1).

Os estados mais afetados são: Bahia, seguido da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande

do Norte onde se concentram os maiores números de habitantes do Semiárido atingidos pelos

efeitos da estiagem.

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E o cenário não é nada animador. As Nações Unidas13

produziram um estudo sobre

condições meteorológicas extremas e concluíram que o efeito das alterações climáticas irá

aumentar a frequência e a intensidade das cheias, secas e ondas de calor. Num cenário

desfavorável, a temperatura poderá subir de 3º a 5,5º C. Por outro lado, existe a possibilidade

de a temperatura subir de 1,5º a 2,5º e, para isso acontecer, Sá e Angelotti (2009) indicam que

o mundo precisa dar ênfase às soluções locais, sustentabilidade econômica, social e ambiental,

com iniciativas comunitárias e inovação social em lugar de inovações globais. As alterações

nas características climáticas do Semiárido tendem a intensificar a aridez da região até o final

do século XXI14

. E esse é um dos motivos que leva o IPCC a pedir que os governos se

concentrem agora na redução dos riscos de desastres que já vêm acontecendo e tendem a

piorar no decorrer das próximas décadas.

É importante ressaltar que, nas últimas quatro décadas, não faltaram diagnósticos,

previsões e um conjunto de tecnologias sociais disponíveis e de baixo custo para solucionar

ou pelo menos minimizar os problemas causados pela falta de chuvas na Região do

Semiárido. No entanto, a cada seca, os antigos problemas aparecem (segurança hídrica,

segurança alimentar, para citar apenas dois) e o fato é que as medidas tomadas são apenas

paliativas, atenuam um mal, procrastina uma crise, quando na verdade deviam-se adotar ações

duradouras e efetivas para a (con)vivência com o Semiárido.

Estudos elencados neste trabalho mostram que, com o aumento de temperatura e por

consequência o aumento das taxas de evaporação na Região, as águas subterrâneas passam a

ser uma das alternativas de acesso à água para a população rural residente no Semiárido

brasileiro. Essa realidade faz com que universidades (produção de conhecimento científico e

tecnológico) e governos (políticas públicas) tenham atenção para o tema e passem a estudar

formas de reverter a situação da falta de acesso à agua potável.

Nesse contexto, o Programa Água Doce se mostra como uma medida de adaptação e

mitigação dos efeitos dos limites hídricos impostos pelo meio físico – e acentuado pelas

mudanças climáticas – uma vez que adota uma metodologia para o aproveitamento

sustentável de águas subterrâneas por meio de sistemas de dessalinização. E esse

aproveitamento de águas subterrâneas se apresenta como uma das alternativas para o

abastecimento humano em áreas rurais.

13

Durante dois anos 220 cientistas a serviço das Nações Unidas desenvolveram um estudo detalhado sobre as

alterações climáticas. 14

Maiores detalhamentos sobre o assunto consultar Marengo, J.A. Mudanças Climáticas Globais e seus efeitos

sobre a biodiversidade: caracterização do clima atual e definição das alterações climáticas para o território

brasileiro ao longo do século XXI. Brasília, DF; MMA, 2006.

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3.2 – A HISTÓRIA DO ÁGUA DOCE E SUA REDE DE RELAÇÕES

Diante da problemática apresentada (escassez da água no Semiárido), políticas

públicas têm sido desenvolvidas no sentido de atenuar os efeitos produzidos, utilizando as

águas subterrâneas como uma possibilidade de acesso à água para as populações difusas da

Região. Nessa conjuntura, em 1996, o Ministério do Meio Ambiente, por meio da Secretária

de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano (MMA/SRHU) implantou o Programa Água Boa

(PAB), que tinha como coordenação técnica a Universidade Federal da Paraíba – campus de

Campina Grande (UFPB/CG), hoje Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), com a

finalidade de instalar dessalinizadores em localidades do Semiárido em que os poços

tubulares com água salobra ou salina eram as fontes de abastecimentos.

O PAB, no entanto, não se preocupava – ao que parece – com os cuidados da

destinação dos concentrados salinos gerados no processo de dessalinização, o que causou

impactos ambientais negativos. O fato é que se, por um lado, os dessalinizadores produziam

água potável, por outro, contribuíam com novos problemas provocados pelo despejo do

concentrado altamente salino. O aumento da desertificação e a erosão nas áreas mais

próximas são dois exemplos desses mencionados problemas. O Programa também não

calculou a manutenção preventiva e gestão dos sistemas de dessalinização, provocando perda

na qualidade das águas tratadas e até desativação de parte dos equipamentos. O efeito

colateral do funcionamento dos dessalinizadores – tratamento adequado para o uso das águas

residuais – foi detectado e estudado pela EMBRAPA Semiárido15

, que desenvolveu um

projeto no qual se utiliza o concentrado da água dessalinizada – que antes era descarta

diretamente no solo – para a criação de tilápia e no plantio da Atriplex (erva-sal). O projeto

piloto dessa técnica foi desenvolvido em 2003 na comunidade de Atalho, 70 km de Petrolina,

Pernambuco, e serviu de referência para integrar o Programa Água Doce.

É dentro do Programa Água Boa que o Laboratório de Referência em Dessalinização

(LABDES) é construído e inaugurado em 2003, na UFPB/CG, com recursos da SRHU/MMA,

com objetivos claros de desenvolver estudos, pesquisas e projetos de sistemas de

dessalinização. Nesse mesmo ano, o Governo Federal decide incrementar, ampliar e fortalecer

projetos voltados à mitigação da problemática da escassez hídrica do Semiárido, direcionado

15

Everaldo Rocha Porto foi o pesquisador da EMBRAPA Semiárido que desenvolveu um sistema complementar

ao processo de dessalinização tradicional que reaproveita o concentrado da água dessalinizada e cria um ciclo

produtivo sustentável. Os sistemas produtivos que utiliza o reaproveitamento do concentrado são conhecidos

como Unidades Demonstrativas (UDs).

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50

ao fornecimento de água potável para consumo humano nas localidades difusas na região

semiárida.

Levando em consideração a ocorrência de águas salinas e salobras na maioria dos

poços no Semiárido brasileiro, e, ainda, a existência de tecnologias para dessalinização da

água – que estava sendo usada pelo PAB – o Governo Federal, formulou o Programa Água

Doce (PAD), com melhorias em sua estrutura de funcionamento, visando aumentar a oferta de

água de boa qualidade para o consumo humano dessa Região.

O Programa considerou as recomendações do Capítulo 18 da Agenda 21, relacionadas

ao desenvolvimento de fontes novas e alternativas de abastecimento de água como a

dessalinização e a delegação da responsabilidade pela implantação e funcionamento dos

sistemas de abastecimento de água. Com a execução do Programa Água Doce, o Ministério de

Meio Ambiente, em conjunto com instituições parceiras, se propôs a contribuir com o

compromisso assumido pelo Governo Federal de atingir a meta da Declaração do Milênio

(2000), que visa reduzir pela metade, até 2015, a proporção da população sem acesso

permanente e sustentável à água potável. O objetivo é de estabelecer uma política pública

permanente de acesso à água de qualidade para o consumo humano por meio do

aproveitamento sustentável de águas subterrâneas, incorporando cuidados ambientais e sociais

na gestão de sistemas de dessalinização atendendo, prioritariamente, localidades rurais difusas

do Semiárido brasileiro. O PAD caracteriza-se como uma medida de adaptação às mudanças

climáticas por reduzir as vulnerabilidades no que diz respeito ao abastecimento de água.

A Coordenação Geral do Água Doce continuou sob a responsabilidade do Ministério

do Meio Ambiente, da Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano (MMA/SRHU), e

o aporte financeiro para o desenvolvimento das ações desse Programa vem de recursos do

próprio MMA e , ainda, do Programa de Revitalização da Bacia Hidrográfica do Rio São

Francisco e das parcerias firmadas com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e

Social – BNDES, Petróleo do Brasil S/A – PETROBRAS, Fundação Banco do Brasil – FBB e

Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Paranaíba – CODEVASF, que

é vinculada ao Ministério da Integração Nacional – MI.

O PAD avança, em termos de gestão, principalmente, em três aspectos (MI, 2010,

p.30):

I – A descentralização de sua operação;

II – Maior estímulo à participação dos estados nas atividades do Programa;

III – A definição de horizontes de médio e longo prazo.

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51

Neste sentido, passa a ter seis componentes na sua linha de atuação, conforme quadro

abaixo.

Quadro 1 – Relação dos componentes e dos subcomponentes do Programa Água Doce

Componentes

Subcomponentes

Gestão

apoio ao gerenciamento

formação de recursos humanos

diagnóstico técnico e ambiental

consolidação dos centros de referência

sistemas de informações e de monitoramento

operacionalização e manutenção dos sistemas

Estudos/Pesquisas/Projetos pesquisa e desenvolvimento de tecnologias

apropriadas

Sustentabilidade Ambiental

Análise de risco sócio-ambiental das

comunidades

Definição das comunidades a serem atendidas

Acompanhamento dos resultados obtidos

Monitoramento da qualidade ambiental

Mobilização Social

Diagnóstico social

Acordos de gestão

Acompanhamento dos acordos

Sistema de dessalinização

Recuperação de sistemas já instalados

implantação de sistemas de dessalinização novos

Monitoramento da qualidade da água e dos

tanques de contenção

Unidade de aproveitamento do

concentrado

Implantação de unidades demonstrativas

Implantação de unidades produtivas Fonte: (MI, 2010, p.32)

São esses componentes e subcomponentes acima elencados, gerados pelas falhas

detectadas, que diferenciam o Programa Água Doce do Programa Água Boa.

3.2.1 – A Prioridade do PAD: As Comunidades Difusas Rurais do Semiárido

Conforme dito anteriormente, o PAD se apresenta como uma política pública

permanente de acesso à agua de qualidade para o consumo humano, aproveitando de maneira

sustentável as águas subterrâneas, considerando cuidados ambientais e sociais na gestão de

sistemas de dessalinização. A prioridade do Programa é atender as localidades rurais difusas

do Semiárido brasileiro – uma Região que tem uma grande complexidade de fatores que são

responsáveis pelo seu estado de pobreza – cuja área é de 969.589,4 Km² (em torno de 11%

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52

do território brasileiro), de acordo com a nova delimitação feita pelo Ministério da Integração

(2005).

Para a atual delimitação do Semiárido, três critérios técnicos reconfigurados foram

tomados como base:

I. Precipitação pluviométrica média anual inferior a 800 milímetros;

II. Índice de aridez de até 0,5 calculado pelo balanço hídrico que relaciona as

precipitações e a evapotranspiração potencial, no período entre 1961 e 1990; e

III. Risco de seca maior que 60%, tomando-se por base o período entre 1970 e 1990.

(BRASIL, MI, 2005, p.03)

O mapa geográfico do Semiárido brasileiro agora está assim constituído:

Mapa 2: Nova delimitação do Semiárido brasileiro.

Fonte: BRASIL, MI (2005, p.17)

Com essa atualização, a área classificada oficialmente como Semiárido brasileiro teve

um acréscimo de 8,66%. (aumentou de 892.309,4 km² para 969.589,4 km²). Segundo o

Instituto Nacional do Semiárido (INSA), o Semiárido tem um regime pluvial irregular, com

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53

400 a 800 mm anuais, seus solos são rasos, com ocorrência de vegetação do tipo xerófila16

,

resistente a longos períodos de estiagem.

Parte de quatro Regiões Hidrográficas compõe o Semiárido brasileiro: São Francisco,

Parnaíba, Atlântico do Nordeste Oriental e Atlântico Leste.

Mapa 3: Divisão Hidrográfica Nacional e o Semiárido

Brasileiro

Fonte: BRASIL, MI (2005, p.19).

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, o Semiárido tem algumas

características fisiográficas naturais que são marcantes e que favorecem a escassez hídrica.

São elas:

Pouca chuva: a precipitação média anual para o período de 1961 a 1990 variou de

550 mm a 1550 mm;

Concentração das precipitações pluviométricas em um curto período do ano –

aproximadamente 4 meses;

A evapotranspiração potencial é bastante elevada, variando de 1400 a 2000 mm

resultando em taxas negativas no balanço hídrico;

O índice de aridez nessa região varia de 0,21 - 0,50. Este índice é definido como a

razão entre a precipitação e a evapotranspiração potencial. As áreas com índice de

aridez abaixo de 0,65 são susceptíveis à desertificação (Brasil, 1998) 17

;

Vegetação rala, constituída de árvores de pequeno porte, formando o bioma da

caatinga, vegetação arbóreo-arbustiva e, muito raramente, arbórea, comportando

folhas miúdas e hastes espinhentas adaptadas para conter os efeitos de uma

evapotranspiração muito intensa. (BRASIL, MI, 2005)

16

Vegetação adaptada à aridez. Esse conjunto de plantas tem raízes compridas para buscar água no solo,

apresentam folhas pequenas e muitas vezes cobertas de ceras, para diminuir a perda de água; possuem também,

folhas em forma de espinhos para diminuir a perda de água. A caatinga é exemplo de vegetação xerófila. 17

Brasil. MMA. Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação. 2. Ed. Brasília, 1998.

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54

Mapa 4: Áreas Susceptíveis à Desertificação

Fonte: BRASIL, MMA, 200718

.

O mapa acima é uma representação dos biomas das áreas susceptíveis à desertificação.

No Semiárido existe, como falamos anteriormente, um predomínio da vegetação de

caatinga19

. De acordo com Instituto do Meio Ambiente (IBAMA), constitui-se por uma

vegetação xerófila composta por gramíneas, arbustos e árvores de porte baixo ou médio,

caducifólias (folhas que caem nos períodos de estiagem), com grande quantidade de plantas

espinhosas, entremeadas de outras espécies como as cactáceas e as bromeliáceas.

Outras duas características são:

Baixa disponibilidade hídrica superficial. As bacias localizadas em terrenos

cristalinos, com regime de chuva irregular, possuem vazões de estiagem muito

baixas. A rede hidrográfica é densa, constituída, em sua maior parte, de rios

intermitentes, o que gera necessidade de captação e armazenamento de água por

meio de obras hídricas (açudes, cacimbas, poços amazonas, poços tubulares,

cisternas, barragens subterrâneas);

Baixa vocação hidrogeológica, ou seja, reduzida capacidade de armazenamento de

água subterrânea.

(BRASIL, MI, 2005)

O Plano Estadual de Recursos Hídricos da Paraíba (PERH-PB, 2006) assinala que o

Brasil detém 12% da água doce do planeta e que desfruta de uma situação privilegiada diante

18

Atlas das Áreas Susceptíveis à Desertificação no Brasil. Secretaria de Recursos Hídricos. Universidade

Federal da Paraíba. Marcos Oliveira Santana (organizador). Brasília: MMA, 2007. 19

O termo Caatinga é originário do tupi-guarani e significa mata branca.

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55

da maioria das nações. Mas alerta que essas águas não estão bem distribuídas no território

brasileiro.

A bacia Amazônica, habitada por 5% da população, dispõe de 73% da água doce do

país, restando 27% dos recursos hídricos para atender a 95% da população. Na

região Nordeste, que conta com 29% da população e apenas 3,30% dos recursos

hídricos nacionais, o Estado da Paraíba desponta como um dos mais carentes do

recurso água. Com cerca de 85% do seu território inseridos no Semi-árido (...) onde

o fenômeno das estiagens ocorre de forma recorrente (...) tem nessa limitação um

dos maiores entraves em alcançar o desenvolvimento socioeconômico (...) (PERH-

PB, 2006, p.10, grifo nosso)

Estudos apontam o aumento da evaporação e redução da disponibilidade hídrica o que

agrava ainda mais o déficit hídrico característico do Semiárido, afetando, consequentemente,

a disponibilidade de água para o consumo animal e, principalmente, humano, além de

prejudicar as atividades produtivas das áreas dependentes de chuva. Dessa forma, replicando

o discurso institucional de desenvolvimento das sub-regiões e diminuição das desigualdades

interregionais existentes no país, o Programa Água Doce – objeto de estudo deste trabalho –

se coloca como uma política pública com o principal objetivo de melhorar a qualidade de vida

dessas localidades por meio da potabilidade da água.

3.2.2 – Critérios para Escolha dos Municípios

Os primeiros municípios atendidos pelo Programa Água Doce na Paraíba foram aqueles

que apresentaram situações mais críticas e com áreas mais suscetíveis ao processo de

desertificação. Alguns critérios técnicos balizaram as escolhas das cidades que foram os

contemplados pelo PAD, dentre eles: menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH);

altos percentuais de mortalidade infantil; baixos índices pluviométricos e dificuldade de

acesso aos recursos hídricos. Os três municípios contemplados com o Programa no Estado

foram: Amparo, Aroeiras e Sumé.

De acordo com a Coordenação Estadual do PAD/Paraíba, de 2004 a 2011, o Programa

capacitou mais de 600 pessoas entre técnicos estaduais e operadores/gestores dos sistemas de

dessalinização e garantiu o acesso à água potável para cerca de 100 mil pessoas, em 150

comunidades distribuídas pelo Semiárido brasileiro. A meta do Programa é atender um quarto

da população rural do Semiárido até 2019, ou seja, aproximadamente 2,5 milhões de pessoas

em 10 anos.

Desde 2011, o Programa Água Doce se tornou um dos componentes do “Água para

Todos” e, consequentemente, passou a ser parte do Plano Brasil sem Miséria. O Plano é uma

ação do Governo Federal que se propõe a reduzir as desigualdades sociais e garantir

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56

melhorias na qualidade de vida da população brasileira. Um dos eixos do Plano é a ampliação

da oferta de serviços de públicos, entre eles o abastecimento de água potável onde foi criado o

Programa Água para Todos. Nesse novo contexto, o PAD assumiu o compromisso de

recuperar, implantar e garantir a gestão de 1.200 (mil e duzentos) sistemas de dessalinização

até 2014. Em dezembro de 2011 foi assinado um convênio entre Governo Federal e o da

Paraíba20

no valor de R$ 14.000.000,00 (quatorze milhões de reais) para serem investidos em

93 sistemas simples de dessalinização, que compreendem: poço, chafariz e reservatório para o

concentrado.

Quadro 2 – Orçamento dos 93 Sistemas Simples de Dessalinização

Componentes Valor (R$)

Apoio à gestão 1.366.867,86

Diagnóstico técnico, social e

ambiental 1.688.677,26

Mobilização Social 172.029,90

Sustentabilidade Ambiental 366.635,16

Sistema de dessalinização 10.967.761,42

Total 14.561.971,60

Valor da contrapartida 1.456.197,16

Valor do repasse 13.105.774,44

Fonte: AESA/PB (2011)

Os próximos 20 municípios selecionados serão contemplados com sistemas simples de

dessalinização previsto para estarem funcionando até dezembro de 2013. Abaixo expusemos

tabela com dados dos Municípios que possivelmente poderão ser beneficiados com a

implantação do sistema simples de dessalinização.

20

A celebração do convênio aconteceu no Sítio Cachoeira Grande, em Aroeiras/PB, durante solenidade de

inauguração da Unidade Demonstrativa daquela comunidade.

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57

Tabela 1 – Relação dos 20 municípios mais críticos no Estado da Paraíba com informações

referentes à população rural e número de domicílios em áreas rurais.

De

extensão

urbana

Povoado NúcleoOutros

aglomerados

1 Cacimbas (PB) 6.814 1.641 5.173 946 - 386 - -

2 Maturéia (PB) 5.939 3.857 2.082 530 - - - -

3 Imaculada (PB) 11.352 5.063 6.289 1.408 - 89 - -

4 Santa Cecília de Umbuzeiro (PB) 6.658 1.868 4.790 1.178 - 91 - -

5 Desterro (PB) 7.991 4.889 3.102 701 - 186 - -

6 Teixeira (PB) 14.153 9.631 4.522 1.170 - - - -

7 Gado Bravo (PB) 8.376 908 7.468 1.752 - 194 - -

8 Água Branca (PB) 9.449 4.061 5.388 1.067 - 286 - -

9 Santa Inês (PB) 3.539 1.430 2.109 529 - - - -

10 Areia de Baraúnas (PB) 1.927 1.017 910 137 - 84 - -

11 São João do Tigre (PB) 4.396 1.529 2.867 771 - 152 - -

12 Itatuba (PB) 10.201 5.955 4.246 907 - 263 - -

13 Juru (PB) 9.826 4.359 5.467 1.083 - 370 - -

14 Sossêgo (PB) 3.169 1.582 1.587 329 - 98 - -

15 Livramento (PB) 7.164 3.752 3.412 888 - - - -

16 Taperoá (PB) 14.936 8.939 5.997 1.553 - - - -

17 Emas (PB) 3.317 2.132 1.185 260 - - - -

18 Olho d'Água (PB) 6.931 3.868 3.063 775 - - - -

19 Quixaba (PB) 1.699 633 1.066 257 - - - -

20 Piancó (PB) 15.465 11.278 4.187 1.174 - 42 - -

153.302 78.392 74.910 17.415 2.241

Área rural

(exceto

aglomerado)

AglomeradoPopulação

rural (Censo

2010)

Total

N Município

População

total (Censo

2010)

População

urbana

(Censo 2010)

Domicílios Ruais (Censo 2010)

Fonte: Censo 2010/AESA.

De acordo com o Coordenador Estadual do Programa Água Doce, Isnaldo Cândido,

essa relação não é definitiva e pode sofrer alteração, uma vez que os dados se baseiam nas

informações do ano de 2010. Outro elemento que pode modificar esse quadro é a articulação

entre as diversas esferas e atores envolvidos no processo de implantação dos sistemas de

dessalinização.

3.2.3 Sistemas de Dessalinização: a tecnologia com seus problemas e correções

A região Semiárida tem duas estações bem distintas: a estação das chuvas, com

duração de três a cinco meses, e a estação da seca. A mudança climática da região aumenta a

vulnerabilidade de um sistema ecológico e, também, aumenta as incertezas no processo de

administração da água. Pelo exposto, acredita-se e defende-se que a convivência com os

longos períodos de estiagem exigem mecanismos advindos de conhecimentos técnicos e

estudos, principalmente, climáticos, que viabilizem projetos e políticas públicas com medidas

capazes de mitigar os efeitos das secas.

Foi na década de 90, com os avanços tecnológicos e os programas oficiais de apoio a

municípios afetados pela seca, que montadoras nacionais viabilizaram melhorias para

unidades de dessalinização, aproveitando a água salobra de poços já perfurados e

transformando as unidades para capacidades de porte médio, de 2 mil a 5 mil litros por hora.

Estima-se que duas mil unidades de dessalinizadores tenham sido instaladas no Nordeste

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durante esse período, porém grande número destas hoje está inoperante por falta de operação

adequada, de manutenção e custeio. É possível que tenha faltado, também, um gerenciamento

adequado de recursos técnicos e humanos visando à racionalização e à otimização do uso e da

manutenção desses dessalinizadores. Essa é mais uma das questões que tentaremos verificar e

responder ao final do trabalho.

3.2.4 – O Discurso da Mobilização

É por meio da mobilização e da articulação de diversos atores da sociedade civil que o

Programa Água Doce se apresenta como uma nova política pública de acesso à água potável

nas regiões rurais do Semiárido brasileiro.

De acordo com o Documento Base do PAD, um dos maiores desafios do Programa é

contribuir com a criação de estruturas permanentes de gestão dos sistemas de dessalinização –

nos níveis estadual, municipal e comunitário.

A experiência de programas anteriores ensinou que instalar ou recuperar os sistemas

de dessalinização não é suficiente para garantir a oferta continuada de água de boa

qualidade para as famílias do semiárido. É preciso, também, investir na organização

de mecanismos de gestão que viabilizem o funcionamento dos sistemas de

dessalinização a médio e longo prazo (DOCUMENTO BASE DO PAD, 2010, p,

105).

Essa nova roupagem vem refletir, pelo menos, dois momentos recentes

experimentados pela sociedade brasileira: o primeiro diz respeito à participação ativa da

sociedade civil com ações mais politizadas; e, o segundo, retrata uma conjuntura nacional em

que novas relações são estabelecidas entre o Estado e a sociedade civil. O primeiro momento

corresponde a um processo de fortalecimento da sociedade civil, construído inicialmente

durante o período de redemocratização, consolidado pela constituição de 1988 e que se

desdobrou em importantes conquistas políticas da sociedade civil, sobretudo, na

institucionalização da participação social na formulação e na implementação de políticas

públicas. E o posterior está marcado por uma reforma do Estado empreendida, sobretudo,

durante os anos 1990 (assinalada pela institucionalização da consulta da “sociedade civil

organizada” nos processos de formulação de políticas públicas locais) que aponta para novos

desafios para essa relação sociedade civil e Estado.

Vários documentos nos anos 1990 colocam a participação no centro do debate sobre

práticas de desenvolvimento. É o caso, por exemplo, do Human Development Report (UNDP)

de 1993, publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

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(PNUD/Brasil), que tenta examinar como e de que forma as pessoas participam de eventos e

processos que têm implicações sobre suas vidas, sob a perspectiva de três grandes olhares: os

mercados solidários, a governança descentralizada e as organizações comunitárias (UNDP,

1993). Outra importante publicação, feita pelo Banco Mundial, em 1999, Voices of the Poor,

teve significativa repercussão no mundo da cooperação internacional e contribuiu muito para

a disseminação de práticas participativas em projetos de desenvolvimento. A disseminação

desses documentos veio, evidentemente, sustentar a reflexão sobre os programas de reformas

da administração pública local.

Segundo Gohn (2007), observa-se no cenário brasileiro dos anos 90 um conjunto

extraordinário de profundas alterações estatais no modo de operar a economia, as políticas

públicas, e na forma de se relacionar com a sociedade civil. Ainda de acordo com a autora,

A construção de uma nova concepção de sociedade civil é resultado das lutas sociais

empreendidas por movimentos e organizações sociais nas décadas anteriores, que

reivindicaram direitos e espaços de participação social. Essa nova concepção

construiu uma visão ampliada da relação Estado-sociedade, que reconhece como

legítima a existência de um espaço ocupado por uma série de instituições situadas

entre o mercado e o Estado, exercendo o papel de mediação entre coletivos de

indivíduos organizados e as instituições do sistema governamental (GOHN, 2007, p.

301)

Fazer participar os cidadãos e as organizações da sociedade civil no processo de

formulação de políticas públicas foi transformado em modelo da gestão pública local

contemporânea. Para Milani (2008), na deliberação democrática, o mundo das instituições

políticas se abre aos atores da sociedade civil com o objetivo ideal de compartilhar a

responsabilidade da decisão política e de construir consensos sobre os conteúdos da política

pública local. O autor acredita em que para o governar localmente adquirir relevância política

nesse segundo conjunto de reformas do Estado e da administração pública, é essencial

conceber políticas efetivas de descentralização de meios e recursos, que é fundamental na

construção da institucionalidade participativa, visto que não haveria nada mais desgastante

para a participação do cidadão e das organizações da sociedade civil do que uma série de

discussões sem a posterior prática das decisões.

A participação social tem, nesse caso, o sentido de apelo e convocação dos cidadãos e

das organizações da sociedade civil para compartilhar a decisão em matéria de políticas

públicas locais. No entanto, o apelo ao cidadão e às organizações da sociedade civil para que

participem da formulação de políticas públicas locais pode significar: a) controlar a qualidade

dos serviços prestados (a participação cidadã na prestação de serviços sociais pode ajudar a

incrementar a efetividade dos serviços sociais, tornando os gastos mais eficientes); b) a

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participação pode significar a expressão de prioridades acerca de bens públicos futuros e c)

participar pode ser sinônimo de politizar as relações sociais no processo de constituição de

espaços públicos para a formulação de políticas públicas locais.

As práticas participativas e suas bases sociais evoluem, variando de acordo com os

contextos sociais, históricos e geográficos. Os atores locais (do governo à sociedade) têm

função estratégica na renovação do processo de formulação de políticas públicas locais. A

aplicação do princípio participativo pode contribuir na construção da legitimidade do governo

local, promover uma cultura mais democrática, tornar as decisões e a gestão em matéria de

políticas públicas mais eficazes (ZICCARDI, 2004). Os governos locais, em particular, não

são mais considerados simples agências prestadoras de serviços, são chamados a garantir a

articulação do que Duran e Thoenig (1996) denominaram “ação pública local”.

Fomentar a participação dos diferentes atores sociais e criar uma rede que elabore,

implemente e avalie as decisões políticas tornou-se o paradigma de inúmeros projetos de

desenvolvimento local qualificados de inovadores e de políticas públicas locais consideradas

progressistas.

É com base nesse discurso que envolve a participação popular, promoção de melhorias

adaptativas, correção de falhas no gerenciamento de recursos técnicos e inovações nas

unidades de dessalinização, conforme consta nos documentos da SRHA/MMA, que o

Programa Água Doce surge mobilizando comunidades, capacitando técnicos, recuperando e

instalando sistemas de dessalinização – inserindo tanques para contenção do concentrado do

dessalinizador, evitando, assim, que o concentrado salino seja despejado diretamente no meio

ambiente – com a promessa de promover um desenvolvimento sustentável.

3.3 – DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SUSTENTABILIDADE

Antes de descortinarmos as nuances do PAD, é preciso compreender o conceito de

desenvolvimento sustentável (como surge e o que propõe) para posterior análise do seu uso

político.

Apesar de muitas discussões que datam da década de 1950, o conceito de

desenvolvimento sustentável foi lançado em 1987, pela World Commission on Environment

and Devolopment (BRUNTLAND, 1987). De acordo com o Relatório de Brundland/Nosso

Futuro Comum (1991), Desenvolvimento Sustentável pode ser definido como um modelo

econômico, político, social, cultural e ambiental equilibrado, que satisfaça as necessidades das

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gerações atuais, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas

próprias necessidades.

A noção de desenvolvimento sustentável traz no seu cerne o princípio de que não se

deve combater a natureza, mas conviver com suas particularidades e limitações. Importante

ressaltar que a adoção desse conceito mudou a maneira do mundo gerenciar os recursos.

No entanto, o conceito ainda está em construção segundo a maioria dos autores que

escrevem sobre o tema, como por exemplo, Carla Canepa (2007), José Eli da Veiga (2005) e

Henri Ascelrad (1999). O fato é que a ideia desse conceito surgiu na tentativa de se encontrar

novas formas de desenvolvimento econômico, sem a redução dos recursos naturais e sem

danos ao meio ambiente. Apesar de o conceito estar em construção, o desenvolvimento

econômico, a proteção ambiental e a equidade social foram definidos pelo Relatório de

Brundland como os três princípios básicos a serem cumpridos, dada a importância dos

mesmos como sustentáculos de uma nova concepção de Desenvolvimento.

A promoção dessa configuração de desenvolvimento (sustentável) virou moda nos

anos de 1990. Os discursos e os planos políticos que se revestiam dessa expressão tinham

mais chances de serem aprovados. Logo em seguida, questões sociais e ambientais passaram a

fazer parte da vitrine do desenvolvimento.

Segundo Chacon (2007), no Brasil o desenvolvimento sustentável chegou como um

novo “dever de casa”, imposto pelos organismos internacionais de financiamento do

desenvolvimento e passou a constar primeiro como base obrigatória para os planos de

governo, sendo depois incorporado por todas as instâncias da sociedade.

Em 2000, a Declaração do Milênio referendou as metas planejadas para o

desenvolvimento, sobretudo o sustentável. Impulsionado pelo crescimento econômico, o

desenvolvimento foi e é pautado no uso intensivo dos recursos naturais, cujos resultados

geram enormes desequilíbrios e apontam para o esgotamento desses recursos.

Para Barbosa (2008), o desenvolvimento sustentável deve ser uma consequência do

desenvolvimento social, econômico e da preservação ambiental. A figura abaixo representa a

visão do autor acerca dos parâmetros para se alcançar o desenvolvimento sustentável.

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Figura 5: Parâmetros para se Alcançar o Desenvolvimento

Sustentável

Fonte: BARBOSA, 2008

No Brasil, o desenvolvimento sustentável encontra respaldo na comunidade e através

do Direito Ambiental ganha competência para definir um novo modelo de desenvolvimento

para o País.

Carla Canepa defende que o desenvolvimento sustentável é um processo de mudanças

“no qual se compatibiliza a exploração de recursos, o gerenciamento de investimento

tecnológico e as mudanças institucionais com o presente e o futuro.” (CANEPA, 2007).

Apesar de defender a necessidade de se buscar um novo paradigma científico capaz de

substituir os paradigmas do “globalismo”, José Eli da Veiga – em seu livro “Desenvolvimento

Sustentável: o desafio para o século XXI” – afirma que o conceito de desenvolvimento

sustentável é uma utopia para o século XXI. Para ele, o desenvolvimento sustentável é

considerado um enigma que pode ser dissecado, mesmo que ainda não resolvido (VEIGA,

2005).

O desenvolvimento sustentável é um processo que envolve uma pluralidade de atores

sociais e interesses presentes na sociedade – como não é um processo estável (harmônico),

mas um processo de mudanças (negociações) – essa diversidade coloca-se como um entrave

para as políticas públicas e consequentemente para o desenvolvimento sustentável.

Definir desenvolvimento sustentável é discutir sustentabilidade. Embora existam

dezenas de definições que circulam entre políticos e especialistas que discorrem sobre o tema,

a exemplo de Henri Acselrad (2001) e Sachs (1993), replicaremos aqui a visão de Clovis

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Cavalcanti (2003). Segundo ele, a sustentabilidade “significa a possibilidade de se obterem

continuamente condições iguais ou superiores de vida para um grupo de pessoas e seus

sucessores em dado ecossistema”. Ainda de acordo com o autor, as discussões sobre o

significado do termo “desenvolvimento sustentável” mostram uma aceitação da ideia de

colocar um limite para o progresso material e para o consumo, antes visto como ilimitado,

criticando a ideia de crescimento constante sem preocupação com o futuro.

É possível que o discurso da sustentabilidade não produza alterações substantivas – é

um risco que se corre – podendo o mesmo ser reduzido a um simples marketing. No entanto,

se faz necessário que se busquem modelos de desenvolvimento que possam ser agregados aos

valores ambientais, outros como autonomia, solidariedade e responsabilidade.

Na sociedade atual, redesenhada em função de novos paradigmas, e da constituição de

uma nova ótica sócio-espacial, emerge a necessidade de um processo de desenvolvimento

capaz de permeabilizar as dimensões econômica, social e ambiental, cuja amplitude se

estabelece como um grande desafio para os governos com a participação da sociedade civil na

definição de estratégias e políticas de desenvolvimento.

Diante do exposto, fica o sentimento de que ainda há muito a ser feito para que

tenhamos certeza de que o respeito aos limites ecossistêmicos e a preocupação com a

qualidade de vida dos indivíduos, pelo poder público, tornem-se uma referência significativa

para a proposição de políticas sociais e de desenvolvimento no país.

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TERCEIRO CAPÍTULO

O PROGRAMA ÁGUA DOCE E SEUS PRESSUPOSTOS – ANÁLISE DAS

POLÍTICAS PÚBLICAS

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4 TERCEIRO CAPÍTULO – O Programa Água Doce e seus Pressupostos –

Análise das Políticas Públicas

O Programa Água Doce trouxe no seu discurso a promessa de produzir água potável,

eliminar o impacto ambiental, utilizando o concentrado na criação de peixes e cultivo da erva-

sal, promovendo, dessa forma, melhorias na qualidade de vida da população beneficiada

usando como aporte fortes elementos discursivos: desenvolvimento e sustentabilidade

ambiental.

Lembremos que o termo desenvolvimento sustentável remonta aos anos 70, quando

surgiu como uma nova opção de desenvolvimento, incorporando estratégias ambientalmente

mais adequadas na busca de um desenvolvimento mais equilibrado, também chamado

inicialmente de Eco-desenvolvimento. Lembremos também que o Desenvolvimento

Sustentável busca maximizar os resultados sociais e minimizar os impactos ambientais e

reúne, assim, quatro dimensões principais: a ambiental, técnica, a sócio-econômica, e a

político-institucional. Nesse sentido, a racionalidade ambiental se integra à racionalidade

econômica, pois considera que o ser humano tem direito ao atendimento de suas necessidades

básicas, sem prejuízo do atendimento destas para as gerações futuras. (PERH-PB, 2006, p.46).

O Programa Água Doce (PAD) se propõe a promover um desenvolvimento

sustentável. E as Unidades Demonstrativas – UDs, modelos de reprodução do sistema de

dessalinização usados pelo PAD, são usadas como vitrines desse modelo de desenvolvimento

onde podem ser realizadas visitas, exposições, aulas e demonstrações do processo produtivo.

A figura 2 traz um esquema do que o Programa chama de Unidades Demonstrativas – UDs21

.

21

A responsabilidade das UDs é da Coordenação Geral do Programa Água Doce e conta com apoio a pesquisas e

a bolsas de estudos.

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Figura 6 – Esquema do Sistema de Produção Integrado do PAD

Fonte: MMA (2010, p. 46).

Esse sistema utiliza os resíduos do processo de dessalinização de águas subterrâneas

salobras e salinas integrando ações de forma sustentável22

. O Sistema de Produção Integrado,

adotado como referência pelo Programa Água Doce, foi desenvolvido pela Embrapa

Semiárido23

assim como o dimensionamento dos tanques de contenção (que pode ser

observado no anexo A, p. 135) para o concentrado do processo de dessalinização. Os estudos

revelaram que uso do concentrado diminuiu os impactos ambientais e contribuiu de certa

forma para a segurança alimentar.

O SPI é composto por quatro subsistemas interdependentes. O primeiro dessaliniza a

água e a torna potável; o segundo envia o concentrado para tanques de criação de peixes; em

seguida, o concentrado dessa criação – que é enriquecido com matéria orgânica – é utilizada

na irrigação da erva-sal (Atriplex numulária) que, na sequência, se destina à produção de feno

e, por último, a forragem – de teor proteico de 14 a 18%, é usada na engorda de caprinos,

ovinos e bovinos da região, completando assim o sistema de produção integrado.

Os viveiros de cultivo assim como os tanques de armazenamento do concentrado são

revestidos com uma geomembrana de PEAD ou PVC – materiais impermeabilizantes –

22

O conceito de sustentabilidade aqui é o mesmo concebido por Marengo (2008) que significa a capacidade de

um sistema manter-se em uma determinada condição. 23

A Embrapa Semiárido tem desenvolvido tecnologias para a região semiárida brasileira de convivência com a

seca e, diante dessa constatação, surgem algumas perguntas: por que a transferência e a validação da tecnologia

não acontecem na prática? O conhecimento das comunidades locais é incorporado nessas tecnologias? Faltam

ações conjuntas envolvendo órgãos de pesquisas, universidades, governos, sociedade, entre outros? Ou as

técnicas desenvolvidas nessas pesquisas não são aplicáveis?

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produzindo um isolamento entre o concentrado e o solo. A ideia é evitar o contato da água

que está concentrada de sais com o solo e utilizar essa água no cultivo da erva-sal.

O custo de cada Unidade Demonstrativa girou em torno de R$ 150.000,00 (cento e

cinquenta mil reais), acima do valor estimado (R$ 118.000,00 – cento e dezoito mil reais). O

valor do equipamento (que dessaliniza a água) utilizado pelo PAD custou R$ 23.000,00 (vinte

e três mil reais). Na Paraíba, desde a implantação do Programa Água Doce, foram construídas

três Unidades Demonstrativas. Dessas, duas foram inauguradas, sendo uma no município de

Amparo – a primeira no Estado – e a outra na cidade de Aroeiras. A terceira Unidade – ainda

em fase de construção – fica no município de Sumé. Junto com água de boa qualidade, as

Unidades Demonstrativas sugerem a garantia alimentar da comunidade beneficiada através

das Unidades Produtivas (UPs), Ao verificarmos essas questões, constatamos que a garantia

alimentar não aconteciam na prática.

4.1 PROCESSO DE DESSALINIZAÇÃO DA ÁGUA

O sistema de dessalinização da água é um processo físico-químico que consiste na

retirada do sal presente nas águas dos mares e oceanos, ou de regiões onde a consistência de

sais no líquido é maior que o normal. E esse é o caso de regiões do Semiárido onde as águas

dos poços, na sua maioria, têm sais acima do recomendado para o consumo humano. A água

doce é limitada e, às vezes, escassa. Assim, a dessalinização se apresenta como uma das

alternativas para minorar o problema da falta de água potável uma vez que consegue, através

desse sistema, obter água de qualidade a partir de águas salobras para atender as comunidades

difusas da região do Semiárido que sofrem com esse problema.

Existem várias técnicas e processos para dessalinizar a água, no entanto, o de osmose

inversa tem se revelado o mais viável e utilizado em diversos países desde o final da década

de 1960. Nos anos de 1970, esse sistema de filtragem foi se tornando cada vez mais popular e

a facilidade da adaptação da tecnologia às condições locais de cada região, tanto econômicas

quanto socioculturais, podem ser um elemento definidor do uso dessa técnica.

A literatura tem mostrado que a tecnologia de dessalinização via osmose inversa é um

fato consolidado nos países mais avançados. No Brasil, as membranas utilizadas na produção

de água dessalinizada para as regiões carentes e que não possuem água de boa qualidade ainda

são importadas e isso provoca um encarecimento do dessalinizador. Diante dessa constatação,

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tem-se a certeza de que o investimento em pesquisa para o desenvolvimento de membranas se

faz necessário, visando, principalmente, baratear essa demanda de ordem social e ambiental.

O processo de dessalinização via osmose inversa por membrana – que requer a

perfuração de poços – consiste, fundamentalmente, em pressurizar a água salobra, fazendo-a

circular por cima da superfície de membranas seletivas, acomodadas em módulos e que

praticamente só deixam permear a água pura. Essas membranas são poliméricas e sobre o

efeito de uma dada pressão aplicada, superior à pressão osmótica da água de alimentação do

sistema, realizam a dessalinização. O sal retido se concentra na corrente que não passa pela

membrana, sendo este recolhido para descarte ou aproveitamento posterior, por exemplo, em

tanques de criação de peixes, cultivo da erva-sal e fenação, como se verifica nas Unidades

Demonstrativas do Programa Água Doce.

Os sistemas de dessalinização utilizados pelas famílias beneficiados com o Programa

são compostos principalmente por uma fonte hídrica (poço tubular, bomba do poço e adução);

reservatório para água bruta (chamado de reservatório de alimentação); abrigo para o

dessalinizador (com uma área de 15m²); equipamento de dessalinização (que vai depender do

grau de salinidade da água. Esse equipamento pode variar de uma região para outra);

reservatório para água potável e concentrado; chafariz para distribuição da água potável;

reservatórios para contenção do concentrado e, ainda, cerca de proteção e portão de acesso ao

sistema. A figura 7 mostra um desenho esquemático dos sistemas de dessalinização usado

pelo Programa Água Doce (PAD).

Figura 7 – Sistema de Dessalinização Adotado pelo PAD

Fonte: MI (2010, p.35)

A dessalinização das águas é feita através de membranas tecnológicas, permitindo a

produção de água potável a um custo aproximado de R$ 6,00 (seis reais) por mil metros

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69

cúbicos, isentando-as de quaisquer componentes que venham afetar a saúde, uma vez que as

bactérias são eliminadas no processo.

Os componentes existentes num sistema de dessalinização vão depender do nível de

sais encontrados na água, mas podemos listar os elementos que compõem um equipamento

para termos uma ideia do conjunto. Então, podemos dizer que um equipamento de

dessalinização é composto por:

Pré-tratamento

- Bomba dosadora e reservatório para solução de anti-incrustante

- Filtros de cartucho de 5 cm de acetato de celulose

Moto-bomba auxiliar

Moto-bomba de alta pressão (potência a definir em função da produção requerida)

Permeadores (vaso de alta pressão) compostos com os elementos de membranas

Sistema para autolavagem dos elementos de membranas (moto-bomba e reservatório

de 50 litros)

Instrumentos de medidas

- Rotâmetros para registrar produção do permeado e concentrado

- Manômetros para registrar a variação de pressão dos filtros e das membranas

- Pressostato para proteger a bomba de alta pressão

- Quadro elétrico com amperímetro e voltímetro

Válvulas e registros, linha hidráulica de baixa e alta pressão

Estrutura metálica protegida contra corrosão

Nos Programas que antecederam o Água Doce, o concentrado não tinha uma

destinação objetiva, o seu descarte era feito diretamente no meio ambiente, provocando um

impacto ambiental negativo, causando, dentre outros problemas, a esterilidade do solo.

4.1.1 O Discurso Técnico Balizando a Implantação dos Dessalinizadores

O PAD começou suas atividades no Estado fazendo um diagnóstico das condições dos

equipamentos de dessalinização implantados pelo Projeto Água Boa. No primeiro momento,

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70

foram diagnosticados 35 sistemas de dessalinização nos Municípios sinalizados no mapa a

seguir:

Mapa 5 – Municípios com os Sistemas de Dessalinização Diagnosticados

Fonte: ATECEL, 2011

Nesses Municípios acima relacionados, foram feitos relatórios técnicos das condições

dos equipamentos de dessalinização e das obras civis existentes. O Núcleo Estadual da

Paraíba priorizou diagnosticar essas comunidades por apresentarem situações mais críticas de

escassez de água potável.

Das 35 localidades diagnosticadas, 21 selecionadas tiveram seus sistemas de

dessalinização recuperados, conforme indica mapa abaixo:

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71

Mapa 6 – Municípios com os Sistemas de Dessalinização recuperados

Fonte ATECEL, 2011

A recuperação/implantação dos sistemas de dessalinização compreende os

equipamentos de dessalinização e sua infraestrutura pública (como poço tubular, casa de

proteção, cerca, chafariz para uso da comunidade etc.) assim como a implantação de tanques

de contenção do concentrado.

Um elemento que diferencia o Programa Água Doce do Água Boa é a celebração de

um “acordo local” através de assinaturas de todos os atores envolvidos na gestão do sistema

de dessalinização. Esse acordo, que consta nos anexos, firmado ao final das obras, é o

instrumento adotado pelo PAD “para fortalecer a gestão dos sistemas implantados, em âmbito

local” (SRHS/MMA, 2010, p, 73).

O acordo é um documento que estabelece as regras que nortearão os direitos e deveres

de todas as pessoas que serão beneficiadas pela água produzida pelos sistemas de

dessalinização recuperados ou instalados pelo Programa Água Doce. Nas Unidades

Demonstrativas, o acordo inclui orientações relacionadas à água, criação de peixes e cultivo

da erva-sal.

Segundo o MMA, os acordos permitem o controle e a participação das comunidades

necessários à garantia da oferta de água potável para as famílias beneficiadas e, ainda, podem

contribuir na solução dos conflitos internos e possibilitar que a própria comunidade tome as

decisões relacionadas à gestão dos sistemas, conforme explicita o trecho:

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Estas ações (mobilização social, integradas às atividades dos componentes técnico e

ambiental) objetivam o estabelecimento de bases sólidas de cooperação e

participação social na gestão dos sistemas de dessalinização (...) e dos sistemas

produtivos a serem implantados (...) garantindo não apenas a oferta de água de boa

qualidade em regiões historicamente sacrificadas pela seca, mas também a

viabilidade de alternativas de geração de renda que se integrem às dinâmicas locais

(MMA, 2010, p.40)

Os acordos para a gestão dos sistemas de dessalinização devem conter regras, direitos

e deveres relacionados a quatro aspectos da oferta de água doce às famílias atendidas, são

eles:

A. Normas relativas ao funcionamento dos sistemas de dessalinização e quem são as

pessoas responsáveis pela gestão cotidiana do equipamento;

B. Direitos de acesso e uso à água dessalinizada e do concentrado (para lavar roupa,

uso como água de gasto, para uso dos animais, e outros usos);

C. Como serão cobertos os custos para funcionamento e manutenção dos

Equipamentos;

D. Quais serão as instâncias para aperfeiçoamento do acordo de gestão, resolução de

conflitos e monitoramento pela própria comunidade do cumprimento do acordo.

(MMA, 2010, p.115)

Os aspectos acima relacionados indicam que a política permanente de manutenção

(preventiva e corretiva) e o monitoramento sobre os sistemas de dessalinização são

mecanismos que o PAD utiliza para observar (acompanhando) e garantir (controlando),

através dos dados enviados ao Programa, o funcionamento das Unidades de Operação. O

monitoramento constante evita o desgaste precoce dos equipamentos, a interrupção do

tratamento e a distribuição da água potável, sem perde de vista a dinâmica, seja do

assentamento, do agrupamento ou da comunidade beneficiada. Sinalizam também que o

envolvimento da comunidade é feito objetivando que a mesma assuma a gestão dos sistemas

de dessalinização. É também um mecanismo usado pelo Estado para dividir

responsabilidades. Se os resultados propostos não forem alcançados, a comunidade é

responsabilizada com meia (ou máxima) culpa.

4.2 AS UNIDADES DEMONSTRATIVAS (UDS) DA PARAÍBA

A seleção dos municípios para receber as UDs no Estado se deu mediante alguns

critérios estabelecidos pelo Programa Água Doce: baixos Índices de Desenvolvimento

Humano Municipal (IDH-M) e Níveis Pluviométricos; alto índice de mortalidade infantil e

inexistência de outras fontes para abastecimento de água potável para a população. No

Semiárido paraibano, existem hoje 21 sistemas simples de dessalinização funcionando.

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Uma das inovações do PAD são as Unidades Demonstrativas (UDs) – Sistemas

Integrados de Produção – que propõe uma dinâmica envolvendo inicialmente as três esferas

do poder (federal, estadual e municipal), além da comunidade e, no segundo momento, sugere

que apenas esta última caminhe com suas próprias pernas. Na Paraíba, existem três UDs

implantadas nos municípios de Amparo, Aroeiras e Sumé. No total, existem 24 sistemas de

dessalinização funcionando por meio desse Programa.

Na escolha das áreas foram observadas várias características: fonte hídrica (poço) fora

do aglomerado urbano (localizada a uma distância máxima de 100 metros de áreas que

possam ser exploradas com agricultura com vazão mínima, de pelo menos 3000 litros de água

por hora); a salinidade da água do poço não pode ser superior a 6,0 gramas de sais por litro; a

área necessária para implantação da UD deve ser pública, plana, ou com declividade não

superior que 1,0%; (livre de risco de inundação quando do período chuvoso); o acesso deverá

ser fácil. Outras exigências são: o solo da área a ser escolhida não deverá ser argiloso, para

facilitar a drenagem e precisa ter uma profundidade de perfil de, pelo menos, 1,0 metro, sob a

alegação de que isso facilitará a escavação dos tanques e favorecerá um melhor

desenvolvimento do sistema radicular da erva-sal; e a comunidade deverá ter atividades com

caprinos ou ovinos, pois a erva-sal será utilizada como forragem para esses animais.

A relação de itens observados é extensa e parece que ter acesso à água potável, por

meio do PAD, é tão complexo como é para essas comunidades se apropriarem da tecnologia

de dessalinização que é utilizada como alternativa para a solução hídrica.

4 3 ANÁLISE DA POLÍTICA PÚBLICA DO PROGRAMA ÁGUA DOCE

Esse item busca apresentar as características gerais da política de potabilidade da água

para o Semiárido e analisar de que forma essas políticas – e, em especial, aquelas voltadas

para as comunidades rurais – vêm incorporando a participação das comunidades nos

processos decisórios.

Sachs (1993) preconiza que não se pode compreender o desenvolvimento da

humanidade apenas sob a ótica de uma ciência, ou promovendo apenas um fator como

responsável pela melhoria da qualidade de vida da população. Não é possível promover o

desenvolvimento de um local sem levar em conta seu contexto sociocultural e econômico.

Nesse sentido, as políticas públicas devem ser concebidas levando em consideração as

peculiaridades e os saberes locais. Historicamente, as políticas públicas foram e são

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fortemente clientelistas, paternalistas e orientadas às ações assistenciais, tendo pouca ou

nenhuma participação popular.

Diante do exposto, queremos saber se as políticas públicas conseguem promover um

processo sustentável para o Semiárido por meio da potabilidade da água. Tentaremos

responder essa questão ao analisarmos o Programa Água Doce nos municípios de Amparo,

Aroeiras e Sumé à luz de Ham e Hill (1993), utilizando, neste trabalho, três tipologias:

processo de elaboração de políticas, resultado de políticas e avaliação, por se aproximarem

mais do nosso objeto de estudo.

4 3 1 Amparo – A Primeira Unidade Demonstrativa da Paraíba

Foi sobre Amparo que nossa análise se debruçou mais detalhadamente, por ser a

primeira Unidade Demonstrativa implantada no Estado e por ser a experiência que se

enquadrou dentro dos critérios de escolha pré-estabelecidos definidos pela antiguidade,

indicadores de produtividade e beneficiamento da população e realidades distintas de

participação dos atores tanto científicos (suporte técnico) quanto a comunidade local.

A avaliação foi feita com base nos dados colhidos nas instituições parceiras do

Programa Água Doce e durante visitas feitas à Fazenda Mata onde observamos como a

comunidade está gerenciando a UD, sem a interferência direta e, também, sem apoio das

instituições que estavam presentes no início do processo.

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4 3.2 Localização de Amparo e a Fazenda Mata

Mapa 7 – Localização Geográfica e Dados Populacionais do Município de Amparo.

Fonte: IBGE (2011)

Amparo24

é um município localizado na mesorregião da Borborema, na microrregião

do Cariri Ocidental, distante 314 km de João Pessoa, capital da Paraíba. Sua emancipação se

deu pela lei estadual nº 5.894, de 29 de abril de 1994, sendo que a instalação aconteceu no dia

01 de janeiro de 1997. Tem uma área de 121,983 km², população de 2.088 habitantes, o que

corresponde a uma densidade demográfica de 17,12hab./Km². O clima é tropical quente de

seca acentuada e a vegetação predominante é a caatinga. O Índice de Desenvolvimento

Humano Municipal – IDH-M (2000) – é de 0,603 (que é considerado um IDH de nível médio,

embora esteja consideravelmente abaixo do IDH brasileiro que é de 0,800). Mas, levando em

conta que em 1991 o IDH-M era de 0,493 podemos dizer que houve um aumento significativo

desse índice. Na ausência do IDH-M 2010, previsto para ser publicado em 2013, faremos um

parâmetro comparativo com o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal - IFDM25

2000 a

2009 para termos uma ideia do crescimento econômico e possível desenvolvimento da cidade.

24

Amparo encontra-se inserido nos domínios da Bacia Hidrográfica do rio Paraíba, na Região do Alto Paraíba.

Tem como principais afluentes os riachos da Jureminha, Cariri, dos Caboclos, do Boi, Soberba, Olho d’ Água,

do Açude Novo e da Barroca, a maioria de regime intermitente. Conta ainda com os açudes Escurinho e Pilões,

com capacidade de acumulação de 13.000.000 m³, além da Lagoa do Meio. 25

O IFDM foi criado pelo Sistema Firjan para acompanhar a evolução socioeconômica dos 5.565 municípios

brasileiros. A periodicidade é anual, com recorte municipal e abrangência nacional. O IFDM considera três áreas

de desenvolvimento – Emprego e Renda, Educação e Saúde – e utiliza-se de estatísticas oficiais municipalizadas

divulgadas pelos Ministérios do Trabalho, Educação e Saúde.

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De acordo com a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro - FIRJAN

(2011), os dados de 2009 revelaram que:

(...) o país tem 62,9% de cidades com desenvolvimento de moderado a alto; que o

Centro-Oeste está bem próximo do patamar do Sudeste; e que o Norte e o Nordeste

vão demorar, respectivamente, 20 e 10 anos para chegar à condição das regiões mais

desenvolvidas. A expectativa é que só em 2037 os municípios do país garantam à

população brasileira atendimento básico de saúde, ensino fundamental de qualidade

e maior inserção no mercado formal de trabalho (IFDM, 2011).

Sobre a região Nordeste, os dados revelam avanços, mas com ressalvas preocupantes.

Segundo a FIRJAN, 2011:

O Nordeste revelou avanços, com aumento do índice de desenvolvimento em 74,8%

dos municípios. A região passou de 7,7% de seus municípios na faixa acima de 0,6

pontos para 24,6%. Mas a situação ainda preocupa, já que 382 municípios (21,3%),

além de registrar redução de seus indicadores, apresentaram IFDM baixo, menor que

0,4, ou regular, entre 0,4 e 0,6 (FIRJAN, 2011).

Em 2008 (de acordo com dados de 2000 da FIRJAN), os resultados dos indicadores e

do índice do Município de Amparo foram os seguintes:

Figura 8 – Resultado do Índice e Indicadores de Amparo

Fonte IFDM, 2008

Em relação ao índice do Estado (data base 2000 edição 2008), Amparo teve baixo

desenvolvimento (inferior a 0,4 pontos).

No ano de 2011, os dados (colhidos em 2009) se apresentaram conforme descritos

abaixo:

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Figura 9 – Resultado do índice e indicadores de Amparo

Fonte: IFDM, 2011)

Comparando o índice do Estado em relação ao município (data base 2009 edição

2011), o desenvolvimento de Amparo é considerado regular (entre 0,4 e 0,6 pontos).

Os índices relacionados mostram a evolução anual de Amparo no período de 2000 a

2010:

Figura 10 - Evolução Anual do IFDM de Amparo no Período de 2000 a 2010

Fonte: IFDM (2008)

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Segundo o censo do IBGE 2010, Amparo tem uma população de 2.088 habitantes,

sendo 1.026 vivendo na zona rural, isto é, quase a metade da população do Município.

Empiricamente percebem-se fortemente aspectos como hábitos, costumes e relações sociais

que se aproximam mais do rural do que do urbano.

Além das relações sociais visíveis entre o campo e a cidade, há uma indiscutível

interdependência entre eles. Reis (2006) chama atenção para a relação de interdependência

entre os espaços do campo e da cidade, um não existe sem o outro.

Os espaços rural e urbano não podem ser compreendidos separados um do outro,

visto que são realidades que não existiriam isoladamente. Tais espaços se

relacionam e se interpenetram, levando estudiosos a formular abordagens que

considerem os diferentes níveis de integração ou distanciamento (REIS, 2006, p.3).

Nas relações entre o campo e a cidade, o rural e o urbano estão presentes em ambos os

espaços. Apesar de o Brasil ter um grau de urbanização considerado elevado, ou seja, mais de

84%, em muitas cidades, a presença do rural é mais evidente que do urbano, principalmente

nos pequenos centros urbanos. Nesse contexto, José Eli da Veiga (2010) afirma que o Brasil é

menos urbano do que se calcula. O autor lembra que

Foi o Decreto-Lei 311 de 1938 que transformou em cidades todas as sedes

municipais existentes, independentemente de suas características estruturais e

funcionais. Da noite para o dia, ínfimos povoados ou simples vilarejos viraram

cidades por norma que continua em vigor, apesar de todas as posteriores evoluções

constitucionais (VEIGA, 2004, p.63).

Veiga faz uma crítica ao Decreto-Lei de 1938, destacando que o Brasil é um país

atrasado do ponto de vista territorial. Na visão de Santos (1979), Amparo seria uma

pseudocidade, por ser uma localidade que depende basicamente de atividades produtivas

primárias (rural).

Definições à parte, foi na zona rural de Amparo que se instalou a primeira Unidade

Demonstrativa (UD) do Programa Água Doce, no estado da Paraíba. A UD, que teve

financiamento do Banco do Brasil, localizada no Agrupamento Fazenda Mata, 33 km distante

da sede do Município, atendendo 29 famílias – num total de 85 pessoas – pertencentes à

Associação dos Produtores Rurais do Sítio Caiçara26

, criada em 2004, cujas principais

atividades econômicas são a agricultura e a criação de animais. A Associação adquiriu a

Fazenda da Mata, que tem 574 hectares, com recursos do Programa Nacional de Crédito

Fundiário (PNCF). A terra foi partilhada entre as famílias assentadas e cada uma ficou com 15

26

A Associação dos Produtores Rurais do Sítio Caiçara comprou a Fazenda Mata no valor de R$ 313.000,00

(trezentos e treze mil reais), cuja parcela anual para cada associado gira em torno de R$ 635,00 (seiscentos e

trinta e cinco reais). A comunidade desenvolve atividades na agricultura (com destaque para o milho e o feijão) e

na pecuária (com a criação de bode e ovelha).

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hectares (o que soma 435 hectares). O restante da terra, 139 hectares, é destinado à Reserva

Legal27

, conforme o Código Florestal através da Medida Provisória 2.166- 67 de 2001. A UD

de Amparo começou ser implantada em 2008 e foi inaugurada em 22 de outubro de 2009 e

beneficia uma média de 400 pessoas que moram próximas à Unidade.

Figura 11 – Vista Panorâmica da Fazenda Mata

Fonte: AESA (2008)

Figura 12 – Reservatório de contenção do concentrado e tanques destinados à criação de tilápia. Ao fundo,

plantio da erva-sal, na Fazenda Mata

Fonte: AESA (2008)

Em Amparo, na Fazenda Mata, existe um dessalinizador com seis membranas e dois

poços (ver anexos do E, p. 141; F, p. 142; G, p. 143; H, 144; e I, p145 com características

gerais) cujas vazões são de 1,500M³/H e de 1,200M³/H, totalizando 2,5 mil litros por hora,

atendendo cerca de 500 pessoas que moram na Fazenda e no entorno através de chafariz. O

sistema produtivo da Unidade Demonstrativa é formado por dois viveiros para criação de

tilápia, um tanque para reciclagem do concentrado enriquecido em matéria orgânica (um

hectare) e uma área irrigada para cultivo da erva-sal (um hectare), além de uma área para a

fenação. A água subterrânea salina é captada de poços tubulares profundos e armazenada em

27

O conceito de Reserva Legal, hoje vigente no ordenamento jurídico brasileiro, é matéria disciplinada pelo

Código Florestal Brasileiro – Lei 4.771/65, com as modificações que lhe foram feitas, em um primeiro momento,

pela Medida Provisória 1956-50, de 26.05.2000 e, em seguida, mantido pela Medida Provisória 2.166-67, de

24.08.2001, em vigor por força da EC 32/2001. Está contido no seu inciso III, do § 2º do citado diploma, de onde

se extrai: “§ 2º - III - Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a

de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos

processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas”.

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um reservatório de água bruta. Em seguida, passa pelo dessalinizador, que, por meio da

osmose inversa, separa o sal da água que será potável.

Diferentemente do que ocorre comumente na região do Semiárido, em que a água é

retirada dos poços e, depois de usada, lançada no solo sem nenhum tratamento, favorecendo

cada vez mais a salinização e a desertificação da região, a proposta da Unidade Demonstrativa

é utilizar o concentrado produzido pelo processo de dessalinização.

No processo, metade da água retirada é dessalinizada e armazenada num reservatório

de água potável e a outra metade se torna um concentrado salinizado que é enviado a tanques

de criação de tilápia – peixe que se adapta com facilidade tanto à água doce como à água

salgada. Periodicamente a água desses tanques é trocada e esse rejeito, em vez de ser lançado

no solo, é enriquecido de matéria orgânica e aproveitado na agricultura.

De acordo com o Coordenador Nacional do PAD, Renato Saraiva Ferreira,

As UDs são uma forma de gerar água potável, aumentar a segurança alimentar com

a produção da tilápia e o aumento de renda com a engorda do gado ovino e caprino

que será alimentado com a forrageira erva-sal – planta típica da Austrália

introduzida no processo de dessalinização da água e preservação do solo28.

(TEIXEIRA, 2012).

As atividades que envolvem o sistema produtivo das Unidades são sempre acordadas

em assembleias. No que diz respeito à distribuição da água dessalinizada, ficou acertado, na

Fazenda Mata, 40 litros de água por dia para cada família e o horário de distribuição das 5h às

8h da manhã, de domingo a domingo. Segundo José Nogueira de Morais – Presidente da

Associação do Agrupamento Fazenda Mata – Amparo/PB, e beneficiário do Programa Água

Doce, o Programa democratizou o acesso à agua de qualidade. Ele afirma que:

O PAD veio resolver nosso problema de água para consumo humano e também para

alimentação, cozinhar. Se não fosse esse programa as nossas dificuldades seriam

bem maiores (...) Outras famílias de comunidades vizinhas também são

contempladas com a água do nosso dessalinizador (TEIXEIRA, 2012)

Com relação aos peixes – criados com o concentrado – uma parte é consumida pela

comunidade e a outra parte é vendida. Durante visita feita – em novembro de 2011 – à

Fazenda Mata, constatamos a falta de equipamentos importantes no manuseio da criação de

peixes (há um ano os dois aeradores – que oxigenizam os criadouros – estavam quebrados,

assim como os equipamentos que medem o peso e tamanho dos peixes, com problemas há um

mês). Em entrevista feita com o presidente da Associação da Fazenda Mata, José Nogueira de

28

Renato Saraiva Teixeira esteve na inauguração da Unidade Demonstrativa do Assentamento Cachoeira

Grande, em Aroeiras, dia 09 de fevereiro de 2012, momento em que o entrevistei.

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Morais, perguntamos quais as providências que tinham sido tomadas para recuperar os

equipamentos, ele disse que “Os equipamentos foram levados para serem consertados;

estamos esperando. Enquanto isso a gente vai usando a experiência adquirida aqui para cuidar

dos peixes e não deixar que eles morram”.

A fala do Presidente da Associação do Sítio Caiçara revela fragilidade na assistência

técnica por parte dos parceiros do Programa Água Doce.

Desde o início do funcionamento da UD da Fazenda Mata (2009) até novembro de

2011 foram feitas seis despescas, conforme comemora José Nogueira Morais: “a primeira

despesca foi um grande sucesso. Foi emocionante pra todos nós!!! Até porque a gente não

conhecia essa forma de criação de peixe. E todos se admiraram. Foi muito bom!!!”.

Na última despesca, em novembro de 2011, aconteceu um problema de oxigenação

nos criatórios e 90% dos peixes morreram, sobrando apenas 300 quilos de peixes (uma parte

foi distribuída na comunidade e a outra vendida).

As águas dos tanques foram baixadas à noite e a falta de oxigênio gerou a morte dos

peixes. Perguntamos a José Morais porque a água tinha sido baixada na noite anterior à

despesca e, ainda, se o cuidador dos tanques não sabia que os peixes podiam morrer com a

falta de oxigênio. A resposta foi: “Ele pensava que baixando a água à noite os peixes

chegariam vivos pela manhã. Era para facilitar a retirada das tilápias. É assim mesmo. Foi um

erro. A gente vai aprendendo com os erros também”.

Esse dado revela, pelo menos, dois problemas: o responsável pela criação dos peixes

não acumulava experiência suficiente para acompanhar o processo e a falta do aerador

(equipamento que oxigena a água dos tanques, usados principalmente à noite quando cai o

nível de oxigenação) foi decisivo na mortalidade das tilápias.

Também questionamos como eram feitas as visitas do técnico da EMPASA (um dos

parceiros do Água Doce) à Fazenda Mata: “o técnico veio no começo. Foi dado um curso e

ensinado como devia fazer para dar comida aos peixes, trocar as águas e colocar o aerador à

noite. Mas quem mais vem aqui é Isnaldo” (Cândido – o Coordenador do PAD na Paraíba,

complemento nosso).

No dia em que estávamos visitando a comunidade, presenciamos a chegada de Isnaldo

Cândido à Fazenda Mata para acompanhar a troca das lonas que revestem os tanques onde são

criadas as tilápias. Havia ocorrido o rompimento das lonas e precisavam ser trocadas com

urgência: primeiro, para impedir o contato do concentrado com o solo e, segundo, pelo fim da

assistência da verba que o governo destinava pelo Programa Água Doce àquela comunidade,

uma vez que o acompanhamento e o aporte financeiro tem prazo para acontecer – três anos.

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Ao conversar com Isnaldo Cândido, ele explicou que o Governo Federal – através das

parcerias – banca toda a infraestrutura da Unidade Demonstrativa e se responsabiliza pela

assistência técnica e pela ração dos peixes no período de três anos. No primeiro ano, 100% da

ração é financiada pelo Programa Água Doce; no segundo, 50% e no terceiro, 25% da ração é

custeada pelo Programa. Ao final desses anos, a comunidade assume completamente o

gerenciamento, contado com apoio técnico que é estabelecido entre a comunidade e algumas

instituições parceiras do PAD.

Para o Presidente da Associação do Agrupamento Fazenda Mata, José Nogueira de

Morais, o Programa traz desenvolvimento socioeconômico local e regional, oferecendo não só

“água doce”, mas também melhores condições de vida:

O PAD acelerou a vinda da eletrificação (Programa Luz Para Todos) da nossa

comunidade. Eu acho que se não fosse esse Programa a energia ainda não teria

chegado aqui, pois necessitava do uso de energia elétrica para a unidade

demonstrativa como um todo. (JOSÉ NOGUEIRA DE MORAIS – Agrupamento

Fazenda Mata - Amparo/PB)

Para a execução da 1ª Unidade Demonstrativa do Programa Água Doce na Paraíba, foi

necessária a liberação de recursos do Subprojeto de Investimentos Comunitários (SIC) no

valor de R$ 216 mil, utilizados na construção de dois poços para o suporte do programa. O

recurso também financiou a fundo perdido a compra de 58 matrizes bovinas, a construção de

21 casas e a reforma de residências.

José Nogueira Morais, Presidente da Associação e morador do Agrupamento Fazenda

Mata, acredita que é preciso criar meios para fixar as famílias na sua terra de origem e o PAD

tenta fazer isso: “o PAD nos deu mais experiência e nós agora estamos buscando outros

programas que tragam mais sustentabilidade para a comunidade e nos ajudem a permanecer

nesse lugar. Por isso temos que nos aprimorar e nos aperfeiçoar cada vez mais”.

Abaixo uma sequência de fotos feitas durante o processo de pesquisa na Unidade

Demonstrativa de Amparo: a cobertura dos tanques escavados; o dessalinizador e o plantio da

erva-sal.

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Figura 13 – Sequência de imagens: revestimento dos tanques, o dessalinizador e o plantio da erva-

sal – Fazenda Mata.

Fonte: Da Autora

Apesar de o Programa Água Doce se colocar como uma política pública que trata da

potabilidade da água através dos sistemas de dessalinização, utilizando o concentrado num

sistema integrado de produção, evitando assim o impacto ambiental pela água potencializada

de sais, Amparo – umas das cidades beneficiadas pelo PAD– não possui nem Conselho

Municipal de Meio Ambiente e tampouco Fundo Municipal de Meio Ambiente. Além do

mais, o Município não realiza licenciamento ambiental de impacto local. De acordo com os

Objetivos do Milênio (2000) e diante das ocorrências impactantes com frequência no meio

ambiente observadas nos últimos 24 meses no Município de Amparo (data de referência ano

de 2008), a escassez hídrica, juntamente com as queimadas, desmatamentos e a contaminação

do solo se destacam como as mais frequentes e preocupantes.

4 3.3 Empréstimos versus Incremento da Agricultura

Para incrementar a agricultura e a criação de animais e aproveitar melhor o sistema

integrado de produção do Programa Água Doce, muitos produtores rurais buscaram o Banco

do Nordeste para fazer empréstimos, através do Programa Nacional de Fortalecimento da

Agricultura Familiar – PRONAF, criado em 1995 pelo Governo Federal para beneficiar de

maneira diferenciada “os mini e pequenos produtores rurais que desenvolvem suas atividades

mediante emprego direto de sua força de trabalho e de sua família”. O PRONAF (Banco do

Brasil) também tem várias linhas de créditos e de acordo com Silva Filho29

uma delas é o

“Pronaf Semi-árido”:

29

Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF. José Brandt Silva Filho. Analista

Técnico Rural – Banco do Brasil - Disponível em www.ceplac.gov.br/radar/Artigos/artigo26.htm

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84

(...) crédito especial para os agricultores da região do semi-árido, enquadrados nos

Grupos “C” e “D”, destinados à construção de pequenas obras hídricas, como

cisternas, barragens para irrigação e dessalinização da água, com juros de 1% ao ano

e prazo para pagamento de 10 anos, com até 3 anos de carência (SILVA FILHO,

s/d)

Com recursos do Fundo Constitucional de Financiamentos do Nordeste (FNE30

), da

Secretaria do Tesouro Nacional (STN), os financiamentos são distribuídos em Setoriais,

conforme setores de atividade econômica financiados, e Multissetoriais, ou seja, aqueles

programas que abrangem mais de um setor econômico, onde está inserida a Linha de Crédito

de Investimento para Obras Hídricas no Semiárido (Pronaf – Semiárido).

Os empréstimos operacionalizados, tendo como fonte de recursos o FNE, têm prazos

determinados de acordo com o ciclo das atividades financiadas, sendo o prazo máximo fixado

em dois anos. Sobre os juros, o Programa Regional do FNE (2011), esclarece:

a) Para os recursos do FNE*:

5% a.a. para miniprodutores, suas cooperativas e associações.

6,75% a.a. para pequenos produtores, suas cooperativas e associações.

7,25% a.a. para pequenos-médios e médios produtores, suas cooperativas e

associações.

8,5% a.a. para grandes produtores, suas cooperativas e associações.

*Condições atuais do FNE, sujeitas a alterações.

b) Para os recursos da Secretaria do Tesouro Nacional (STN): taxa de juros efetiva

de 1,5% a.a., no caso do PRONAF-Grupo A/C.

c) Para os recursos da caderneta de poupança rural: taxa a ser definida por ocasião

da contratação da operação.

Bônus de adimplência – sobre os juros incidirão bônus de adimplência de 25%, para

empreendimentos localizados no semiárido, e de 15%, para empreendimentos

localizados fora do semiárido, concedidos exclusivamente se o mutuário pagar as

prestações (juros e principal) até as datas dos respectivos vencimentos.

*Apenas para os Recursos do FNE.

Fonte: FNE (2011)

Para ter acesso ao financiamento e limite de crédito aprovados no Banco do Nordeste,

é preciso apresentar o Projeto de Financiamento ou a Proposta de Crédito. As Tarifas

obedecem à regulamentação vigente e as garantias serão cumulativas ou alternativamente:

hipoteca, penhor, alienação fiduciária, fiança ou aval.

De acordo com dados fornecidos pelo Sistema de Informações do Banco Central do

Brasil (SISBACEN), o Banco do Nordeste do Brasil alocou para o Semiárido nordestino cerca

de R$ 35,1 bilhões, no período de 1989 até o primeiro semestre de 2011 (BNB, 2011, p.8).

Diante de problemas apresentados pelos pequenos produtores rurais em diversas

regiões do País, o Governo Federal anunciou (em 04 de julho de 2012) aumento nos recursos

30

O FNE atende a 1.990 municípios situados em nove estados nordestinos e no norte dos estados do Espírito

Santo e Minas Gerais, incluindo, neste último, os vales do Jequitinhonha e do Mucuri. Regulamentado pela Lei

nº 7.827/1989, o FNE é um instrumento de política pública federal, com dotação de recursos federais operados

pelo Banco do Nordeste do Brasil S.A. – BNB, instituição financeira de caráter regional (BNB, 2011, p.7).

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85

destinados ao Plano de Safra 2012/2013. De acordo com o Ministério de Desenvolvimento

Agrário, o Governo vai liberar R$ 22, 3 bilhões – um montante 24% maior que o volume

disponibilizado ano passado. Desse total, o Plano Safra prevê R$ 18 bilhões para crédito de

custeio e investimento à agricultura familiar. Outros R$ 4,3 bilhões devem chegar aos

agricultores familiares por meio de programas como os de assistência técnica e aquisição de

alimentos. A taxa máxima de juros paga pelos agricultores, que antes era 4,5%, agora será

4%. Além disso, mais agricultores poderão buscar o financiamento com a ampliação da renda

bruta anual para acesso ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

(Pronaf) de R$ 110 mil para R$ 160 mil.

Para 2012/2013, o plano amplia o limite do financiamento de custeio do Crédito

Pronaf de R$ 50 mil para R$ 80 mil. O limite de financiamento para investimento das

cooperativas também foi ampliado, passando de R$ 10 milhões para R$ 30 milhões e, no caso

de associações, de R$ 500 mil sobe para R$ 1 milhão. O investimento para financiar

agroindústrias familiares sobe de R$ 50 mil para R$ 130 mil.

Aumentou, ainda, a cobertura da renda do seguro da agricultura familiar de R$ 3,5 mil

para R$ 7 mil. Além de assegurar a quitação da operação de crédito contratada em caso de

sinistro por adversidade climática, o seguro garantirá renda para que o agricultor tenha

condições de chegar à próxima oportunidade de plantio. Uma novidade são as ações de

sustentabilidade na agricultura familiar. Todas as novas contratações de Assistência Técnica e

Extensão Rural (Ater) passarão a exigir orientação específica para melhorar a gestão

ambiental da propriedade e reduzir o uso de agrotóxicos. O Ministro do Desenvolvimento

Agrário, Pepe Vargas, prometeu “colocar a assistência técnica na rota da sustentabilidade,

prevendo assistência e manejo sustentável do solo, da água e dos insumos” e, com isso,

“reduzir muito o volume de agrotóxicos usados na agricultura familiar”.

Para o Presidente da CONTAG – Confederação Nacional dos Trabalhadores na

Agricultura, Alberto Brochi, o Plano Safra promete mudanças e grandes desafios:

implementação da política anunciada e o acesso dessa política por parte dos agricultores

familiares, em todos os Estados brasileiros:

É o maior Plano de Agricultura Familiar já anunciado no Brasil, tanto no volume do

recurso como na melhoria das políticas existentes. Temos um grande desafio que é a

implementação dessa política anunciada. Para que o conjunto dos milhares de

agricultores familiares que vive nos mais diversos recantos do País possam ter

acesso a essas políticas (BROCHI, 2012)

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86

Os anúncios de políticas públicas continuam acontecendo, mas até o momento – essas

políticas – não têm se mostrado suficientes e eficientes no sentido de mudar o cenário que

envolve as comunidades rurais, em especial, as do Semiárido Nordestino. O resultado das

mudanças por meio dessas políticas ainda são tímidos e pouco significativos na transformação

dos números que desenham o quadro de pobreza e privações vividas no Semiárido, por causa

de um conjunto de características complexas naturais dessa região e, também, devido à

descontinuidade dessas políticas.

4 3 4 O Endividamento do Produtor Rural

Embora o documento do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste

(Programação Regional – Banco do Nordeste do Brasil – 2011) destaque que as atividades a

serem estimuladas e financiadas devem considerar, sobretudo, a fragilidade do Bioma

Caatinga, a significativa degradação ambiental, o desmatamento, as técnicas ancestrais de

preparação da terra para o plantio, bem como a prática de atividades econômicas

inapropriadas, o produtor rural não tem conseguido renegociar suas dívidas.

As medidas de combate à estiagem prometidas pelo Governo Federal ficam muitas

vezes apenas na notícia, na prática há muito discurso e pouca ação. O fato é que muitos

produtores rurais precisam renegociar suas dívidas junto aos bancos. Cerca de 4.000

produtores rurais (em maio de 2012) foram cobrados judicialmente pelo Banco do Nordeste.

Na Fazenda Mata, em Amparo, por exemplo, quase todos os agricultores contraíram

empréstimos no BNB. Cada família podia contrair até R$ 21.500,00 (vinte e um mil e

quinhentos reais). O técnico que elaborou o projeto/pedido analisado pelo banco recebeu o

valor de R$ R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais), ficando o agricultor com o valor de R$

20.000,00, que aplicou na terra. Os relatos abaixo revelam que os agricultores contraíram

muitos empréstimos e agora não sabem como vão pagar a dívida.

O agricultor Antônio Francisco Neto, 51 anos, casado, cinco filhos – analfabeto –

contraiu quatro empréstimos no valor de R$ 14.420,00 (quatorze mil quatrocentos e vinte

reais) somados aos R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais) pagos ao técnico que elaborou o

projeto submetido à instituição financeira para aprovação dos empréstimos, resulta num total

de R$ 15.920,00, restando para liberação final o valor de R$ 5.580,00 (cinco mil quinhentos e

oitenta reais). Os valores contraídos foram utilizados no beneficiamento da terra, conforme

pode ser observado no anexo J, p.144.

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Ao ser perguntado como iria saldar a dívida com o banco, Francisco Neto respondeu

na entrevista:

Deus vai dá um jeito. Pode ser que o Presidente Lula perdoe nois, né? Já que ele deu

isso pra gente (NETO, Janeiro de 2012)

A fala do agricultor mostra, de um lado, a espera de uma solução divina para seu

problema e, do outro, o desconhecimento em relação a quem está no comando do Governo

Federal (que já não é mais Luís Inácio Lula da Silva e sim Dilma Rousseff) e, ainda, a

personificação das ações ligadas às políticas públicas na figura do ex-presidente.

Noutro momento da conversa, seu Francisco fala da importância do dessalinizador

para a comunidade. Relata que é uma alegria ter “água boa na porta de casa” e se refere ao

equipamento como elemento mágico.

É uma maravilha, né? Parece uma coisa mágica. A comunidade tá satisfeita demais.

Antes era um aperreio danado, a gente tinha que caminhar léguas e léguas para

apanhar água. Agora é diferente e a água é na mão da gente (NETO, 2012)

O dessalinizador não é percebido como resultado do conhecimento científico e

tecnológico, ele é tido como algo sobrenatural que transforma a água salgada em doce. O

dessalinizador encurtou a distância do acesso a água e isso é uma mudança considerável para

os moradores do agrupamento.

Ao perguntar se a água, depois de dessalinizada, apresentava leve sabor de sal, seu

Francisco disse:

A água é doce, doce qui nem o programa. A gente nem precisa frever. Do jeito que

sai daqui se bebe, se cozinha. Não tem problema nenhum. É agua sadia. (NETO,

2012)

É bem visível a associação feita com o Programa Água Doce. A fala sugere estado de

contentamento com o PAD. No entanto, há momentos em que essa alegria dá lugar à tristeza.

Depois de um momento em silêncio, Neto diz:

Nois tamo aqui sem saber o que fazer, porque só água num enche os bucho da gente.

Nois tem que comer cumida de sustança. Eu tô preocupado mermo com os

empréstimo (outro momento de silêncio) não sei como vou pagar. (NETO, 2012)

Conforme dados levantados na pesquisa de campo, os agricultores da Fazenda Mata

tiveram que desembolsar no mês de junho/2012 cerca de R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais)

para o pagamento da primeira parcela do empréstimo (R$ 800,00) + a parcela da compra da

Fazenda (R$ 635,50).

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Outro agricultor entrevistado, Roberto Francisco Maciel, 32 anos, solteiro, que tem

ensino fundamental incompleto – e contraiu dois empréstimos – falou sobre a produção

integrada:

De peixe não se tirou um real até hoje. O bom é que a gente tem o peixe aqui para

completar a alimentação. Tudo na zona rural é difícil. A erva-sal a gente não dá

muito ao gado porque ele não gosta muito não, acredito que é falta de costume – sei

não (MACIEL, 2011).

A frase em tom de desabafo mostra que até o momento a criação de tilápia não tem

trazido nenhum retorno financeiro para a comunidade, não se constituindo em uma fonte de

renda adicional. Em relação à erva-sal, a utilização é mínima, atribuída pelos agricultores à

rejeição do gado “que não gosta muito”. Roberto reconhece que o peixe é mais um alimento

disponível e revela acreditar no Programa:

Nós trabalhamos aqui para ver o futuro. Com trabalho vamos conseguir melhorar as

condições de vida. Vamos pra frente. Aqui é melhor que a rua (se referindo à

cidade). É bom morar aqui. (MACIEL, 2011)

Pedimos que descrevesse esse “futuro”. Depois de um longo silêncio, ele explica:

Olhe, como eu disse é bom viver aqui. É uma tranquilidade pra quem gosta do mato.

A gente tem nossa terra e quer trabalhar para um amanhã melhor. Melhorar de vida.

Criar nossas criaçãozinha, plantar milho, feijão e viver. É isso (MACIEL, 2011).

Perguntamos durante a entrevista como ele e os demais agricultores do agrupamento

conseguem dinheiro para desenvolver as atividades na Fazenda:

Bem, a gente pediu empréstimo no Banco do Nordeste. Com esse dinheiro a gente

capinou, brocou (limpou a terra), cercou o lote, comprou umas cabrinhas, palma...

Acho que foi isso. Compramos as coisas (MACIEL, 2011).

Procuramos saber dele se as condições impostas pelo banco possibilitam o pagamento

em dia das parcelas do empréstimo:

Olha a gente vai pagando... agora se tivesse um prazinho mais pra frente seria bom,

porque esse ano mesmo foi seco, seco, seco. Ninguém fez nada aqui. Não houve

plantação e nem vai haver colheita. Só tem muita poeira aqui. (MACEIL, 2011)

Em relação à implantação da Unidade Demonstrativa na Fazenda Mata, ele diz:

Acho que a gente pode melhorar de vida. Eu mesmo tenho esperança que as coisas

mudem aqui. Agente até já tem água encanada nas casas. Vamos melhorar de vida é

preciso trabalha pra isso acontecer. (MACIEL, 2011)

Assim como Roberto Maciel, os demais moradores da Fazenda acreditam que a

dessalinização pode promover melhoria na qualidade de vida e trabalham em função disso. Há

uma visível aposta que o amanhã será promissor e que o hoje é o momento de construí-lo.

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De acordo com o Ministério da Integração Nacional (2010), os Municípios que

integram a região do Semiárido podem se beneficiar de algumas condições especiais e

políticas setoriais, como bônus de adimplência de 25% dos recursos do Fundo Constitucional

de Financiamento do Nordeste (FNE), enquanto no restante da Região Nordeste esse

percentual é de 15%. Além disso, produtores rurais beneficiários do Pronaf do Semiárido, por

exemplo, têm acesso a crédito com juros mais baixos e prazos de pagamentos mais longos. Os

incentivos tentam alavancar o desenvolvimento da Região que ainda registra em sua maior

parte concentração da pobreza e onde os pobres são exatamente os que residem no mundo

rural.

O agricultor Roberto Maciel diz que os empréstimos facilitam a vida do produtor que

não tem dinheiro para investir na terra, mas tem consciência de que é preciso ter cautela na

hora de “ir ao banco buscar o dinheiro”. Ainda segundo o agricultor:

No dia de pagar a prestação os bancos não querem saber se chove ou se faz sol; eles

querem receber de todo jeito. Se a gente não tiver o dinheiro a coisa fica complicada.

Essa seca de agora está braba e ninguém aqui plantou nada, porque não deu. A gente

não sabe o que fazer. O jeito é arrumar o dinheiro pra pagar (o banco), não é?

(MACIEL, 2011)

O depoimento revela uma realidade bastante preocupante: o endividamento dos

produtores rurais que contraíram empréstimos e estão sem condições de honrar os

compromissos assumidos perante as instituições financeiras devido à estiagem prolongada.

4. 4 UD DE AROEIRAS – UM PROCESSO EM CONSTRUÇÃO

A segunda Unidade Demonstrativa da Paraíba foi inaugurada em fevereiro de 2012,

em Aroeiras. O processo de construção envolveu e envolve atores e discursos que se

mobilizaram e são mobilizados de maneira a forjarem uma legitimação da necessidade da

política pública de potabilidade da água, por meio do sistema de dessalinização.

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Mapa 8 – Município de Aroeiras: localização e dados populacionais

Fonte: IBGE (2011)

Aroeiras está incluída no domínio de abrangência do Semiárido brasileiro, localizada

na mesorregião do Agreste31

e tem uma área de 375 km² representando 0.6638% do Estado,

0.0241% da Região e 0.0044% de todo o território brasileiro.

O município que fica distante 105 km de João Pessoa, capital do Estado, tem uma

população de 19.082. Desse total, 9.531 residem na zona urbana e 9.551 residem na zona

rural, segundo o censo demográfico do IBGE 2010. Os dados revelam que um grande número

de habitantes está concentrado na zona rural; um pouco mais da metade da população. O

Índice de Desenvolvimento Humano Municipal de 1991 foi de 0,435 e do ano de 2000 passou

para 0,559. Aqui também faremos um parâmetro comparativo utilizando o Índice Firjan de

Desenvolvimento Municipal – IFDM – para termos um indicativo do desenvolvimento de

Aroeiras, uma vez que o IDHM (2010) ainda não foi publicado.

Em 2008 (dados de 2000) , segundo A FIRJAN (IFDM), os resultados dos indicadores

e do índice do Município de Aroeiras foram os seguintes:

31

Delimitação feita pelo Ministério da Integração Nacional em 2005, levando em consideração critérios como o

índice pluviométrico, o índice de aridez e o risco de seca.

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91

Figura 14 - Resultados dos indicadores e do índice do Município de Aroeiras

Fonte: IFDM, 2008.

Em relação ao índice do Estado (data base 2000 edição 2008), Aroeiras teve baixo

desenvolvimento (inferior a 0,4 pontos).

No ano de 2011, os dados (com base em 2009) se apresentam conforme descritos

abaixo:

Figura 15 – Dados da Cidade de Aroeiras do ano de 2009

Fonte: IFDM, 2011

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92

Comparando o índice do Estado em relação ao município (data base 2009 edição

2011), o desenvolvimento de Aroeiras é considerado regular (entre 0,4 e 0,6 pontos).

Os índices relacionados mostram a evolução anual de Aroeiras no período de 2000 a

2009:

Figura 16 - Índices de Aroeiras no período de 2000 a 2009

0,3587

0,4521

0,5687

0,50880,5379

0,5639

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

2000 2005 2006 2007 2008 2009

IFDM CONSOLIDADO/2000 A 2009

Fonte: IFDM, 2011

Os dados acima revelam, de acordo com o IFDM, que há uma oscilação no que diz

respeito ao desenvolvimento do Município. Diante dos dados apresentados, o Município

mostra indicadores sociais instáveis, principalmente os relacionados ao emprego e renda, que

sofreram alteração acentuada, de 0,2023 (2000) para 0,4878 (2009). Como o município tem

uma parcela substancial da população no meio rural, a água é um dos fatores determinantes

para a sobrevivência do homem no Semiárido, na agricultura de subsistência e

consequentemente no desenvolvimento da Região. De acordo com o IBGE (2010), o Produto

Interno Bruto se distribui nos setores da economia da seguinte maneira: Indústria 7.053,

Agropecuária 8.004 e Serviços 55.048.

De acordo com o Ministério de Minas e Energias (MME, 2005), o potencial de água

subterrânea de Aroeiras é quase sempre baixo a muito baixo, aparecendo pequenas áreas com

potencial mais alto, com a qualidade variando em função do substrato. A vegetação

predominante a Caatinga e o clima é caracteristicamente muito quente. O período de chuvas

inicia-se em março e se estende até setembro.

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A precipitação pluviométrica anual do município, com base nos dados do Instituto de

Desenvolvimento Municipal e Estadual – IDEME32

(2008), tem uma média de 343,9 (mm),

considerada baixa, evidenciando um quadro de escassez hídrica, emergindo a necessidade de

alternativas para uma (con)vivência com o Semiárido, por isso o uso dos dessalinizadores

como uma opção para o acesso à água potável.

4.4.1 O Sonho e a Realidade: a água salgada fica doce e promete transformar a

realidade de comunidades rurais

Antes da instalação do primeiro dessalinizador no Sítio Cachoeira Grande, que ocorreu

em 1997, através do Programa Água Boa (PAB), a comunidade utilizava-se da água do açude

existente naquela localidade e das águas armazenadas nas cisternas, por meio de carros-pipa.

O equipamento de dessalinização instalado pelo PAB funcionou até 2003.

No relato feito por Olivaldo Felipe da Silva, 57 anos, casado, pai de sete filhos,

morador e operador do dessalinizador, antes dos Programas Água Boa e Doce, a vida era

muito difícil. No trecho abaixo ele fez um desabafo e se emocionou:

Antes eu juntava o povo da minha casa, pegava as latas e ficava na fila esperando,

por horas sem fim, a chegada do carro-pipa. Os olhos da gente brilhava quando se

ouvia o barulho do carro, porque sem água ninguém faz nada. Tudo por tudo

depende da água. Só sabe o valor da água quem não tem nem para beber (SILVA, a.

2011)

Olivaldo conta que a chegada do primeiro dessalinizador foi um sonho:

Menina quem imaginava ter água na porta de casa? A gente já ficava contente com o

carro trazendo água e agora com o equipamento fazendo água doce para beber é uma

felicidade só. Agora tem água todo dia pra beber e pra cozinhar. E a gente ainda cria

e come peixe. É muita fartura, graças a Deus (SILVA, a. 2011)

As falas de Olivaldo, Diácono da Igreja Assembleia de Deus no Assentamento

Cachoeira Grande, cheias de simbolismo são replicadas pelos demais beneficiados do PAD.

De um lado, revelam a luta para sobreviver e permanecer numa terra cheia de dificuldades e

de restrições que cerceiam a liberdade humana. Do outro, mostram que as políticas públicas

chegam envolvidas numa cortina de fumaça que cobre a maior parte do problema (a falta de

políticas mais eficientes e eficazes) e mostra apenas “a caixa mágica” que transforma a água

salgada em água doce. À mostra fica a parte que interessa e sustenta os discursos e, ainda,

garante o sucesso daquilo que se coloca como política pública.

32

Órgão de regime especial vinculado à Secretaria de Estado do Planejamento e Gestão da Paraíba.

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Olivaldo mostra – como quem exibe um troféu – o antigo dessalinizador e fala que

desde o começo ele foi o responsável pela “guarda do aparelho”:

Aqui (tocando o dessalinizador) só quem mexia era eu ou o técnico, quando o

problema era mais sério. No dia a dia eu sabia como resolver. Pequenas coisas a

gente vai aprendendo com o tempo. Mexe aqui, mexe acolá e sempre acaba

descobrindo o defeito (SILVA, a. 2011)

Ao tocar o equipamento, Olivaldo se mostra orgulhoso de ser o operador e deixa

transparecer o poder que sente ao ser o operador e responsável pela chave que abre o chafariz.

É possível perceber que a água produzida pelos dessalinizadores também tem sua forma de

controle. Abaixo imagem de anotações com registro das famílias que pegam água no chafariz

do assentamento Cachoeira Grande.

Figura 17 – Relação das Pessoas que pegam água dessalinizada no Chafariz

do Assentamento Cachoeira Grande/Aroeiras/PB

Fonte: Da Autora

O espaço de controle da água, antes privatizada nos açudes construídos nas

propriedades particulares, mudou para as “caixas que guardam a água doce”:

Aqui todo mundo sabe a hora de pegar a água. Se tiver uma precisão tudo bem, mas

se a pessoa não vem por preguiça, aí só pode pegar na hora acertada mesmo

(SILVA, a. 2011).

Outra reflexão pode ser feita com base nessa fala de Olivaldo que é sobre a

organização da Unidade. Os horários de funcionamento do chafariz e as responsabilidades

pelo acompanhamento dos outros componentes da UD (como cultivo da erva-sal, criação da

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tilápia) foram e são definidos em reuniões33

. Percebe-se, portanto, a existência de uma linha

tênue entre o controle e a organização que, dependendo da condução dada, pode ir para um

lado ou para o outro.

Abaixo um registro do antigo dessalinizador que funcionava com uma membrana.

Figura 18 - Dessalinizador instalado em 1997 pelo Programa Água

Boa/Aroeiras/PB

Fonte: Da Autora

De acordo com informações repassadas por Olivaldo Felipe da Silva, operador do

dessalinizador do Assentamento desde 1997, o equipamento parou em 2003, quando foi

desativado pelo poder público municipal alegando que um novo programa iria trazer mais

benefícios à comunidade. Ele explicou que, durante quatro anos, tempo decorrido até a

implantação da Unidade Demonstrativa que trouxe o novo dessalinizador, por meio do

Programa Água Doce, a comunidade ficou novamente sem água dessalinizada e voltou a

consumir água do açude e das cisternas.

A explicação dada por Olivaldo revela que o dessalinizador foi “aposentado” mesmo

estando em condições de trabalhar, prejudicando toda a comunidade que de uma hora para

outra voltou a beber água sem tratamento e ficou exposta às doenças que têm como vetores as

águas poluídas. Há outra leitura que também pode ser feita, a paralisação do dessalinizador

33

As reuniões no Assentamento Cachoeira Grandes, em Aroeiras, acontecem normalmente no segundo sábado

de cada mês. Durante as assembleias são debatidos temas relacionados à Unidade Demonstrativa e à própria

dinâmica da comunidade.

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96

em condições de funcionamento pode ter sido uma estratégia usada pelo poder público

municipal para forçar a imediata colocação de um novo equipamento.

No levantamento realizado pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural

(EMATER), existem cerca de 250 dessalinizadores na Paraíba que estão sem funcionar

(sucateado, obsoleto e com falta de manutenção) Esse dado vem reforçar a importância de

entender que a descontinuidade das políticas públicas agrava e problematiza ainda mais o

cenário das regiões Semiáridas. As atenções e ações para esses espaços são visíveis, com

maior frequência nos períodos próximos às campanhas eleitorais. Faz-se urgente perceber que

nem só de água (e circo) vive o Semiárido. É preciso que os poderes constituídos elaborem

políticas públicas diferenciadas, políticas que de fato mudem a dura realidade de um povo que

resiste às adversidades e quer continuar na terra onde construiu sua história de vida. Um povo

que quer “VIVER O SEMIÁRIDO”.

4.4.2 As Exigências Técnicas Determinando as Comunidades Beneficiadas

Segundo o Documento Base do Programa Água Doce (MMA/SRHU, 2010), para a

implantação de uma Unidade Demonstrativa numa determinada comunidade, algumas

exigências técnicas estabelecidas pela Embrapa Semiárido devem ser atendidas:

Em termos gerais, a área mínima para cada tanque é de 30 x 50 m, totalizando 1.500

m2. Como será constituída por dois viveiros e um tanque, a necessidade de área total

é de 4.500 m2. Já a área para o cultivo da Atriplex é de um hectare. Assim, a área

total para a implantação do sistema completo é de aproximadamente 1,5 a 2,0

hectares (MMA/SRHU, 2010, p.75).

Outros critérios também fazem parte das exigências, são eles:

1. Com relação à fonte hídrica:

O poço deverá estar fora da zona urbana;

Estar localizado a uma distância máxima de 100 metros de áreas que possam

ser exploradas com agricultura;

Ter uma vazão mínima de 3.000 litros de água por hora;

A salinidade não deverá ser superior a 6,0 gramas de sais por litro.

2. Com relação à área:

Deverá ser de domínio público (titularidade da área), além de possuir

documentos referentes ao licenciamento ambiental (ou à sua dispensa) e à

outorga do uso da água (ou dispensa);

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Livre de risco de inundação;

Plana ou com declividade não superior que 1,0%;

De fácil acesso.

Obrigações também fazem parte da lista de exigências: a comunidade na qual a

Unidade é implantada deve ter experiência em trabalhos cooperativos e em atividades com

caprinos ou ovinos e a erva-sal que será utilizada como forragem para esses animais

(MMA/SRHU, 2010, p.75).

A Unidade Demonstrativa do Assentamento Cachoeira Grande, que fica 15 km da

sede do Município, foi implantada devido várias ações combinadas que atendiam grande parte

dessas exigências. Embora não esteja nos itens elencados, as UDs são implantadas em

Agrupamentos e Assentamentos e a existência de uma Associação de Moradores se torna

imprescindível no processo. Em agosto de 2005, o Assentamento Rural de Cachoeira Grande

recebeu a missão de posse do terreno e em cinco de junho de 2007 houve a criação da

Associação do Assentamento Rural de Cachoeira Grande o que possibilitou a instalação da

UD. Segundo Isnaldo Cândido, Coordenador Estadual do Programa Água Doce, essas

Unidades são implantadas em comunidades de Agrupamentos e Assentamentos “por serem

essas comunidades mais organizadas e são elas que vão cuidar do sistema de dessalinização”.

Cumprindo todos os requisitos exigidos, a Unidade Demonstrativa de Aroeiras foi

instalada no Assentamento Rural de Cachoeira Grande, no Sítio de mesmo nome, cuja área é

de 960 hectares, onde cada família (o Assentamento conta com 33 famílias) tem a posse de

19,5 hectares, totalizando 643,5 hectares. Os outros 316.5 hectares restantes são destinados à

Reserva Florestal. A vazão do poço de 2.700 litros por hora alimenta o dessalinizador de seis

membranas instalado no Assentamento.

De acordo a Companhia de Desenvolvimento de Recursos Minerais (CDRM, 2012),

existem na Paraíba 11.704 poços que abastecem além das comunidades rurais (assentamentos,

associações), indústrias, residências, aeroportos e outros. Mas, segundo o Coordenador do

Programa Água Doce, Isnaldo Cândido, “um dos agravantes nosso é que de 70 a 90% dos

poços tem uma vazão que varia de 800 a 1000 litros por hora”.

Cândido explica que para atender o Programa Água Doce, por exemplo, “é preciso que

o poço tenha uma vazão acima de 2.500 litros por hora para não acontecer de a baixa

produção impedir o funcionamento do sistema integrado do PAD”. Essa “nova forma” que

envolve o Sistema de Dessalinização requer poços com uma vazão considerável.

Na sequência, uma foto do novo dessalinizador que foi instalado no Assentamento

Cachoeira Grande com capacidade de produção de 800 litros por hora de água doce.

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Figura 19- Dessalinizador instalado em 2011 pelo PAD – Aroeiras/PB

Fonte: Da Autora

A água dessalinizada é usada para beber, cozinhar, dar banho em recém-nascidos e

idosos. A água utilizada para outros afazeres domésticos (como limpar casa, lavar roupa) e

para os animais são provenientes do poço, sem tratamento. A operacionalização do

dessalinizador continua a cargo de Olivaldo Felipe da Silva. Abaixo um registro do Operador

explicando o funcionamento do equipamento.

Figura 20 – Olivaldo mostra passo a passo como funciona o Dessalinizador

Fonte: Da Autora

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O operador do sistema de dessalinização de Aroeiras, Olivaldo, recebe da Prefeitura

Municipal um salário de R$ 297,00 (duzentos e noventa e sete reais) por mês. De acordo com

o Prefeito Gilseppe Oliveira de Souza, Olivaldo continua cuidando do dessalinizador porque

já tem experiência, “sabe mexer com a máquina e conhece todo o sistema de distribuição, é

gente nossa”.

As informações contidas no parágrafo acima nos leva a algumas reflexões: a primeira

é sobre o valor pago a Olivaldo – muito abaixo do salário mínimo vigente que é de R$ 622,00

(seiscentos e vinte e dois reais); a segunda é sua permanência como operador do

dessalinizador, decidida pelo Prefeito, já que as decisões dentro da Unidade Demonstrativa

são tomadas nas assembleias e não de maneira unilateral. Como justificar o salário e a

interferência do Prefeito no funcionamento da UD do Assentamento Cachoeira Grande? Uma

resposta simplificada pode ser dada: exerce o poder e a autoridade de ser o maior

representante político (eleito) do município e um forte e decisivo parceiro no processo de

instalação do Programa Água Doce. A conclusão a que se chega é que as decisões não são tão

participativas como propagadas pelo Programa.

Todo processo de implantação das UDs envolve muitos atores, negociações e

capacitações. E este último elo da cadeia é imprescindível para o andamento do Programa,

uma vez que é de responsabilidade da comunidade beneficiada o gerenciamento do sistema

integrado de produção. Por esse motivo, no decorrer da implantação da Unidade, alguns

membros da comunidade são capacitados por técnicos de Instituições parceiras do PAD, a

exemplo da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Empresa Brasileira de

Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Empresa Paraibana de Abastecimento e Serviços

Agrícolas (EMPASA), entre outros.

Isnaldo Cândido explica que a capacitação técnica dada à comunidade beneficiada

com a UD é mais uma correção feita aos programas anteriores “que não tinham essa

preocupação” e esse era um dos gargalos encontrados nas experiências antecedentes. Ainda de

acordo com Cândido, “às vezes o dessalinizador parava de funcionar devido ao desgaste de

um anel de borracha que custava centavos e a própria comunidade podia trocar, porque a troca

era simples, mas isso não acontecia, porque eles não eram preparados”.

Abaixo alguns registros da capacitação e treinamentos feitos por técnicos das

Instituições parceiras do Programa Água Doce:

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Figura 21 – Comunidade recebendo orientações técnicas sobre o dessalinizador

Fonte: AESA/PB

Figura 22 – Comunidade recebendo treinamento sobre criação de tilápias.

Fonte: AESA/PB

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Figura 23 – Alguns moradores do Assentamento Cachoeira Grande exibem

certificados de participação dos cursos ministrados por técnicos das

Instituições parceiras do PAD

Fonte: AESA/PB

A capacitação de pessoas da comunidade tem o objetivo de dar autonomia para

resolver pequenos problemas que venham acontecer em decorrência do funcionamento do

dessalinizador. Para dar um maior suporte à comunidade, após a implantação do sistema

completo (reservatórios, depósito, casa de bomba, isolamento da área, sistema de irrigação,

viveiros, peixamento e plantio da erva-sal), o técnico do Estado, responsável pela produção,

deveria fazer visitas periódicas: a cada 15 dias, nos três primeiros meses. De acordo com a

metodologia adotada pelo PAD, um dos técnicos do componente produção da equipe nacional

deveria visitar a área a cada 45 dias, ou a qualquer momento, caso houvesse necessidade.

Constatou-se que as visitas dos técnicos das instituições parceiras não obedeceram ao

período determinado (15 dias) e no caso do técnico da equipe nacional só foi feita no dia da

inauguração da UD, segundo inúmeros depoimentos colhidos na comunidade. Essa falha

compromete, sem dúvida, as atividades desenvolvidas na Unidade, uma vez que o suporte

técnico é fundamental nesse processo.

É importante lembrar que a falta de assistência técnica foi um dos pontos falhos

detectado no levantamento feito em 2003 pelo Ministério do Meio Ambiente no que diz

respeito à política pública adotada que utiliza o dessalinizador para levar água potável, de

qualidade, para as comunidades difusas da região do Semiárido.

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A construção da UD de Aroeiras foi iniciada em janeiro de 2011 e a comunidade teve

acesso à água potável quatro meses após o início das obras. A inauguração oficial da Unidade

se deu em 9 de fevereiro de 2012 e a espetacularização marcou a solenidade inaugural. As

fotos a seguir apresentam três momentos da inauguração da Unidade implantada em Aroeiras

pelo Programa Água Doce:

Figura 24 – Políticos e Técnicos participam da Inauguração da UD. Mauro

Pires (MMA) e Ricardo Coutinho (Governador da Paraíba) no Assentamento

Cachoeira Grande/Aroeiras/PB

Fonte: Da Autora

Figura 25 – Cerca de proteção do chafariz separa a população das

autoridades na festa de inauguração da UD de Aroeiras

Fonte: Da Autora

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Figura 26 – Coordenadores Nacional e Estadual da PAD participam da

inauguração da UD/Aroeiras/PB, ao lado do Secretário de mudanças

climáticas do MMA, do Prefeito de Aroeiras e do Governador do Estado.

Fonte: Da Autora

Nos discursos dos representantes do PAD e dos políticos presentes34

, a inauguração da

UD aparece como uma “vara mágica” que transforma a sofrida realidade da comunidade. O

Coordenador Estadual do PAD, Isnaldo Cândido, um entusiasta do Programa, diz que “o

momento é de celebração, a comunidade deve comemorar e ficar feliz com a chegada do

Sistema Integrado de Produção”.

O Secretário de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, Mauro Pires,

destacou o papel das comunidades beneficiadas, do Governo e das prefeituras na gestão das

unidades de dessalinização. Ele disse, ainda, que “o desafio do Governo Federal é chegar às

comunidades distantes, cuja população precisa de água de qualidade para sobreviver e

promover seu sustento”. E o Governador Ricardo Coutinho agradeceu os investimentos do

Governo Federal e disse que os dessalinizadores dão acesso à água de qualidade e

possibilitam a inclusão produtiva e a geração de emprego e renda no Semiárido. Segundo

Coutinho, “esse projeto caminhará junto com outros, como o Cooperar35

e a compra de

alimentos da agricultura familiar para serem utilizados na merenda escolar”.

34

A solenidade de inauguração da Unidade Demonstrativa de Aroeiras contou a presença de muitas autoridades

constituídas. Dentre elas: o Coordenador Nacional do Programa Água Doce, Renato Saraiva, o Secretário de

Desenvolvimento Agropecuário e Pesca, Marenilson Batista, o Secretário Executivo de Agricultura Familiar,

Alexandre Eduardo, o Presidente da EMATER, Geovanni Medeiros, a Presidente da AESA, Ana Maria Torres,

de representantes da Embrapa, o Prefeito de Aroeiras, Gilseppe Oliveira, e o Deputado Estadual Doda de Tião. 35

O Projeto Cooperar trabalha com Associações e Cooperativas de Agricultores Rurais.

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A comunidade também se mostrou cheia de expectativa com a chegada do Programa.

O agricultor Olivaldo Felipe da Silva, o operador do dessalinizador e um dos beneficiados

com a unidade, não escondia a satisfação de ter acesso à água de qualidade:

Primeiramente, temos água tratada, algo distante há bem pouco tempo. Além desses

benefícios, estamos utilizando a água de uma forma que serve para a criação de

tilápia e de pasto para a criação de animais. Sem dúvida, a parceria do Governo

Federal, do Governo do Estado e da Prefeitura vai beneficiar e dar mais qualidade de

vida às 33 famílias do nosso assentamento (SILVA, a. 2012).

Outro depoimento foi o da agricultora, que é professora do ensino fundamental, Flávia

Maria do Nascimento.

Hoje é um dia de festa. A gente tem esperança de a vida melhorar com essa água,

porque água é vida, esse peixe e a criação de animais. Todos aqui estão com muita

fé na mudança. Essas parcerias: Governo Federal, Estadual, Municipal, AESA,

Isnaldo não pode deixar de lembrar (se referindo ao Coordenador do Água Doce na

Paraíba), EMBRAPA, todos, todos mesmo, fortalecem o Assentamento. Assim, não

estamos sozinhos. É mais fácil caminhar com o apoio de todas as instituições

(NASCIMENTO, 2012)

Nas falas de Olivaldo Felipe e de Flávia Maria, assim como nas de outras pessoas

beneficiadas com o PAD, percebe-se o cuidado de mencionar todas as esferas envolvidas.

Durante as entrevistas, houve quem pedisse um tempinho para mencionar o nome de quem

“ajudava” com assistência técnica. É muito transparente na maior parte dos beneficiados que

eles devem favor a muita gente e não podem esquecer os nomes de quem está envolvido no

processo, pois é importante para eles continuarem tendo acesso à água potável.

De acordo com a Agente Comunitária, Joelma Felipe da Silva, também moradora da

comunidade Cachoeira Grande, antes da implantação desse novo dessalinizador, havia muitos

casos de diarreia e de hipertensão. Joelma diz que, “a UD mudou a vida da comunidade, em

parte. Antes era um tumulto medonho para se pegar água no açude e nos carros-pipa. Agora é

uma coisa controlada com horários”.

Tentamos saber a opinião dela em relação à água dessalinizada:

Ah! Sim é excelente, água de boa qualidade, que é tratada, mas se não tiver cuidado

nos recipientes que leva a água pra casa pode-se tomar água contaminada. Foi feito

um levantamento aqui nas casas dos moradores e se constatou que a água era

imprópria para o consumo; porque a vasilha d’água eram baldes de cloro. Depois

disso a Prefeitura distribuiu os filtros e Isnaldo conseguiu os bujões para armazenar

água. Mesmo assim ainda tem gente que carrega água nos baldes contaminados. O

ser humano é difícil de lutar. Para se conscientizar leva tempo (SILVA, b. 2012).

Joelma disse que a implantação do Programa no Assentamento gerou ciúmes nas

comunidades circunvizinhas e acredita que a UD desenvolve a comunidade, em parte:

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O Programa Água Doce gerou ciúmes nas comunidades que não foram beneficiadas.

A gente escuta falar: é um programa bom, devia ter em toda comunidade. Em parte,

o PAD gera desenvolvimento em relação às localidades que não tem. A qualidade do

peixe é boa, que é bem tratado e que não tem contaminação. Isso é importante e o

dinheiro da venda do peixe dá muito bem para a manutenção do sistema. Só que tem

que ter o interesse de todos (SILVA, b. 2012).

Nas falas da Agente Comunitária, a água dessalinizada evitou (e evita) o surgimento

de muitas doenças e o fato de ter água boa próxima às residências facilita a vida e a dinâmica

da comunidade e do assentamento Cachoeira Grande, assim como a vida das famílias que

moram no entorno. Ela avalia que não basta apenas ter água dessalinizada, é preciso ter

cuidados no manuseio e armazenamento da mesma para que não haja contaminação. É

possível perceber, ainda, no discurso de Joelma, que a conscientização é um processo lento e

que há uma personificação do PAD na pessoa de Isnaldo Cândido (o Coordenador Estadual

do Água Doce). Essas falas também suscitam questões relacionadas à cultura de um povo,

porque o mais difícil – que é o acesso à água potável – eles conseguiram, no entanto, hábitos

antigos continuam presentes no dia a dia das pessoas, impedindo melhorias ainda mais

significativas nos indicadores de saúde da comunidade.

Quem também falou sobre a importância do Programa foi a agricultora Maria das

Graças Andrade Souza, Presidente da Associação do Assentamento:

Ah, minha filha a importância foi grande, foi grandiosa. É de muita importância esse

Programa ele trouxe água para a porta da casa da gente. Antes a gente bebia água do

açude cheia de micróbios. Agora todo mundo pega água direitinho. A mudança foi

muita, mudou pra melhor, muito melhor. O Assentamento ficou valioso. Todo

mundo vem aqui pra ver a Unidade. Isso é desenvolvimento (SOUZA, 2012)

Na visão da Presidente da Associação, a mudança já aconteceu, porque agora não se

toma “água cheia de micróbios”, e o desenvolvimento chegou com a água potável e a visita

dos curiosos para conhecer a UD – o que valoriza o Assentamento. O senso comum da

comunidade entende a água como desenvolvimento.

Embora seja o mesmo Programa, cada lugar tem seus arranjos específicos. Em

Cachoeira Grande há uma visível tensão na relação dos moradores da comunidade e do

Assentamento no que diz respeito ao controle da água dessalinizada. Uma parte da UD fica

dentro do domínio do Assentamento (os tanques dos peixes e a área do plantio da erva-sal) e a

outra parte (os poços e o chafariz) está inserida na área da comunidade. Potencializando essa

particularidade, o nível de politização dos moradores de ambos os espaços é grande, o que

gera conflitos constantes.

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4.4.3 Peixe: Fonte de Proteínas e Renda (?)

Dentro do Sistema Integrado de Produção das UDs, o rejeito é destinado à criação de

tilápia. Uma parte da produção é vendida e a outra é consumida pela comunidade. A carne do

peixe é uma importante fonte de proteína e contém ácidos graxos. O alimento é rico em

nutrientes como sais minerais e vitaminas. Outra qualidade é a presença da gordura Ômega 3,

que ajuda a prevenir vários tipos de doenças. Estudos demonstraram a redução do LDL

colesterol (considerado ruim) e o aumento do HDL (colesterol bom) nesse alimento.

O primeiro peixamento em Aroeiras foi feito em nove de junho de 2011 e a primeira

despesca aconteceu em 29 de novembro de 2011. Abaixo registro da despesca.

Figura 27 - Momento registrado na primeira despesca no Assentamento

Cachoeira Grande

Fonte: Da Autora

Aqui, como nas outras Unidades Demonstrativas, existem dois tanques de alevinos

para a produção de tilápia, plantação de Atriplex (erva-sal), para alimentar o rebanho de

caprinos, ovinos e/ou bovinos como também um dessalinizador e conta com um chafariz onde

a comunidade tem acesso à água tratada. No primeiro peixamento foram colocados 1.500

alevinos (com uma mortalidade de 10%). No final, foram pescados 1.350 peixes (com uma

média de 500 gramas por peixe). Cerca de 680 quilos de peixes foram vendidos na própria

comunidade ao preço de R$ 5,00/quilo.

O segundo peixamento aconteceu em 29 de setembro de 2011 e a despesca foi feita em

fevereiro de 2012. Os números dessa despesca foram equivalentes ao da primeira e toda

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produção foi vendida na própria comunidade. Não houve alteração no valor da venda do quilo

do peixe, que foi de R$5,00 (cinco reais o quilo). A terceira despesca está prevista para

acontecer em agosto.

De acordo com a Presidente da Associação do Assentamento Cachoeira Grande, Maria

das Graças Andrade Souza, o dinheiro da venda do peixe é revertido para a manutenção da

Unidade Demonstrativa. Em relação à erva-sal, ela diz que a planta tem sido paulatinamente

introduzida na alimentação do gado “que ainda não está se acostumando ao gosto da ração” e

que ainda não é possível avaliar sua eficácia no que diz respeito à melhoria do peso do animal

e no aumento da produção do leite.

Abaixo registro feito em dezembro de 2011 do plantio da erva-sal no Assentamento

Cachoeira Grande, em Aroeiras.

Figura 28 - Plantio de Artriplex nummularia36

(erva-sal) no Assentamento

Cachoeira Grande

Fonte: Da Autora

Maria das Graças informou que uma média de 60 famílias utiliza a água dessalinizada,

além das 33 famílias do Assentamento, outras 27 que moram no entorno também têm acesso

ao chafariz, totalizando uma média de 300 pessoas beneficiadas pelo Programa Água Doce.

Cada família tem direito a 40 litros d’água por dia, o Programa de Saúde da Família (PSF)

100 litros/dia e a escola que funciona na comunidade também pode pegar 100 litros/dia. A

36

Essa espécie foi introduzida no nordeste brasileiro, através da Inspetoria Federal de Obras contra as Secas, na

década de 30.

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água é distribuída de segunda a sexta-feira, das 07h00 às 09h00. Sábados, Domingos e

feriados o chafariz fica fechado não havendo, portanto, acesso à água dessalinizada.

O funcionamento do chafariz, assim como as ações relacionadas à criação de tilápia e

o cultivo da erva-sal foi celebrado mediante um “acordo” assinado pelos assentados, que pode

ser encontrado no anexo C, pp. 136-137 deste trabalho. O “acordo” aconteceu, após seis

reuniões, numa assembleia envolvendo os moradores do Assentamento. Nesse documento,

assinado por todas as famílias beneficiadas, encontram-se as regras estabelecidas para o

funcionado da UD e cada comunidade constrói suas próprias regras desde que a essência do

documento – cujo modelo é elaborado pela Coordenação Nacional do PAD – não seja

alterada. Nesse assentamento, a Coordenação Nacional do Programa Água Doce

(MMA/SRHU) tem como parceiros institucionais a Associação Técnico-Científica Ernesto

Luiz de Oliveira Júnior – ATECEL, Fundação Banco do Brasil – FBB, Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, Petróleo Brasileiro S/A – PETROBRAS,

Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba – CODEVASF.

4.5 UD SUMÉ – UMA UNIDADE EM EXECUÇÃO

Mapa 9– Mapa do Município de Sumé com dados populacionais

Fonte: IBGE (2011)

A cidade de Sumé tem uma área de 838 km²e fica localizada na mesorregião da

Borborema, na microrregião do Cariri Ocidental. Tem uma população de 16.060, deste total,

3.824 residem na zona rural, segundo o IBGE (2010), e fica a 264 km da capital – João

Pessoa. O Índice de Desenvolvimento Humano de Sumé em 1991 foi de 0,573 e em 2000 teve

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um acréscimo e registrou 0,658. Embora haja um diferença entre os dados apresentados pelo

IDH-M e o IFDM, utilizaremos os dados deste último para vermos o desempenho de alguns

setores importantes para o desenvolvimento da cidade.

Em 2008 (dados de 2000) , segundo a Federação das Indústrias do Estado do Rio de

Janeiro - FIRJAN (IFDM), os resultados dos indicadores e do índice do Município de Sumé

foram os seguintes:

Figura 29 – Índices e indicadores do Município de Sumé com dados de 2000

Fonte: IFDM, 2008

Em relação ao índice do Estado (data base 2000 edição 2008), Sumé teve baixo

desenvolvimento (inferior a 0,4 pontos).

No ano de 2011, os dados (com base em 2009) se apresentam conforme descritos

abaixo:

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110

Figura 30 – Índices e Indicadores do Município de Sumé/PB do ano de 2009

Fonte: IFDM, 2011

Comparando o índice do Estado em relação ao município (data base 2009 edição

2011), o desenvolvimento de Aroeiras é considerado regular (entre 0,4 e 0,6 pontos).

Os índices relacionados mostram a evolução anual do Índice de Desenvolvimento de

Sumé no período de 2000 a 2009:

Figura 31 – Índice de Desenvolvimento de Sumé no período de 2000 a 2009

Fonte: IFDM, 2011

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111

Os dados revelam, de acordo com o IFDM, que há um crescimento relevante nos

indicadores da saúde nos anos de 2007 (0,8008) e 2008 (0,8032) e indica também, nesse

mesmo período, um desenvolvimento moderado na educação (2007 - 0,6828 e 2008 - 0,6563)

e um baixo desenvolvimento no indicador relacionado ao emprego e renda, (2007 - 0,2604 e

2008 - 0,3319). Embora a maior parte da população esteja concentrada na zona urbana

(12.240), a exploração de atividades agropecuárias representadas pela policultura (feijão,

arroz e milho) e pela criação de gado bovino e caprino é de extrema importância para a

população que reside no meio rural (3.832) onde a água é determinante para a produção local.

A contribuição da agropecuária para o PIB Municipal é de apenas 5.992 e está abaixo da

contribuição dos setores secundário (Indústria 8.240) e terciário (Serviços 54.590), sendo

último o setor mais importante da economia do município.

A precipitação média anual do município é de 777,2mm – mais elevada que a média

microrregional. No entanto, a água encontrada no solo é – em sua maior parte – salina e

salobra o que dificulta o desenvolvimento das atividades no campo e ao acesso à água doce

para consumo humano. Diante desse problema que não é só de Sumé, mas de todo o

Semiárido brasileiro, se faz necessário recorrer muitas vezes aos “pacotes tecnológicos” para

se ter acesso a água potável. As UDs se apresentam como uma alternativa para possibilitar o

acesso à água dentro de um processo de sustentabilidade.

A Unidade Demonstrativa de Sumé está sendo construída no Agrupamento Fazenda

Tigre sendo financiada com recursos do BNDES e ainda está em fase de implantação. As

obras foram iniciadas em maio de 2011 e estavam previstas para serem concluídas em

novembro do mesmo ano. Até o mês de maio (2012), a UD não tinha sido oficialmente

entregue à comunidade, mas já era possível o acesso à água tratada. Na Fazenda Tigre, 15

famílias fazem parte da Associação, no entanto, apenas três famílias estão usando a água

dessalinizada.

O vice-presidente da Associação, Francisco João da Silva, que está construindo a parte

estrutural da Unidade, alega que as outras famílias não usam a água tradada porque elas têm

cisternas nas suas casas (que são abastecidas com água da chuva ou através dos carros-pipa).

Segundo Francisco João: “no momento são três famílias pegando água aqui. As famílias que

têm água no quintal de casa, nas cisternas, não vêm buscar água no chafariz, mesmo que essa

seja melhor tratada”.

Essa fala de Francisco Silva revela que muitas famílias preferem beber água sem

tratamento (por estar dentro de casa) a ter que ir buscar na Unidade Demonstrativa – distante

alguns quilômetros da sua morada.

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Marineide Silva Melo, moradora do Agrupamento Tigre, tentou explicar o motivo de

outras famílias não estarem usando a água dessalinizada:

É uma questão de costume. Essa água é nova aqui. Então, com o tempo elas vão ver

que a água é boa, que evita doenças e ainda tem outra coisa boa que é o peixe. Se

todo mundo se unir, todos saem ganhando. Não dá para arriscar tomar água bruta.

Essa água é muito diferente, ela é saudável. É boa mesmo (MEL0, 2011).

Com ensino fundamental incompleto, Marineide diz ter consciência de que a água

tratada traz inúmeros benefícios e evita contrair doenças transmitidas pelas “águas impuras”.

Fica evidente na fala dela, também, o chamamento para a importância do trabalho envolvendo

a comunidade (que não está acontecendo) como força propulsora para que todos possam

melhorar de vida.

Figura 32 - Construção dos Tanques Escavados na UD/SUMÉ

Fonte: Da Autora

Em Sumé, quinze famílias fazem parte do Agrupamento Tigre, onde a UD está

inserida, no entanto, apenas nove famílias firmaram acordo por estarem próximas ao chafariz.

Toda mão de obra local está sendo absorvida pelo Programa Água Doce e a comunidade está

participando da construção da Unidade.

A Fazenda Tigre tem uma área de 301,1 hectares e foi adquirida no valor de R$

120.000,00. Através do Subprojeto de Investimento Comunitário (SIC) – a fundo perdido –

foram construídas as casas e cisternas, plantio de palma forrageira e capim de corte, aquisição

de animais, perfuração e instalação de poços artesanais. A Associação dos Produtores Rurais

do Agrupamento Tigre, sob forma de sociedade civil sem fins lucrativos, foi constituída em

29 de março de 2007. Os associados já pagaram duas parcelas no valor aproximado de R$

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500,00 (quinhentos reais) – por família. A previsão é que até 2020 ocorra o pagamento total

da Fazenda. Em relação aos empréstimos contraídos pelos produtores rurais – através do

Pronaf A – o pagamento da primeira parcela (em torno de R$ 1.200,00) está previsto para

junho (2012).

As unidades de aproveitamento do concentrado englobam as Unidades Demonstrativas

(UDs) e as Produtivas (UPs). De acordo com o Documento Base do Programa Água Doce

(2010), “a Unidade Demonstrativa é um sistema de produção integrado onde são realizadas

visitas, exposições, aulas e demonstrações do processo produtivo com o objetivo de

replicação do modelo” (MI, 2010, p.45).

As Unidades Demonstrativas são compostas por três subsistemas interdependentes,

formados por uma cadeia sustentável: “aquicultura, produção de erva-sal irrigada com

efluente da agricultura; e arraçoamento de caprinos, ovinos e bovinos com feno e, ou silagem

da erva-sal”.

Figura 33 - Criação de caprinos na Fazenda Tigre - parte do Sistema

Integrado do PAD

Fonte: Da Autora

Além do fornecimento de água de qualidade para o consumo humano, o sistema de

produção integrado se apresenta como alternativa para o uso adequado do concentrado –

gerado pelo processo de dessalinização da água – minimizando os impactos ambientais para

essa e futuras gerações e contribuindo para a segurança alimentar.

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Figura 34 – Mudas de Atriplex (erva-sal) – Fazenda Tigre/Sumé

Fonte: Da Autora

Ainda de acordo com o Documento Base do Programa Água Doce, as Unidades

Produtivas propõem o aproveitamento do concentrado para fins de aquicultura, irrigação de

plantas halófitas (que habitam meios ricos em sal) e criação de animais.

As UDs e as UPs se diferenciam no processo de gerenciamento e no apoio a pesquisas

e bolsas de estudos, conforme explicitado em:

Nas UPs, o processo de gerenciamento será feito pelas comunidades e ou

municípios, e não está programado financiamento para pesquisas. Já as UDs são de

responsabilidade da Coordenação Geral do PAD e está programado o apoio a

pesquisas e a bolsas de estudos (MI, 2010, p.48).

O desenvolvimento de tecnologias no aproveitamento do concentrado se torna

necessário e imprescindível aos programas que buscam levar água potável (e

desenvolvimento) às comunidades difusas do Semiárido. O apoio às pesquisas na descoberta

de alternativas para solucionar o problema das águas salobras e salinas vai ajudar na vivência

dos que habitam essa Região.

4.5.1 Aproveitamento dos Resíduos Sólidos

Conforme explicamos em momentos anteriores deste trabalho, o concentrado da água

dessalinizada, do sistema de produção integrado utilizado pelo PAD, é aproveitado na criação

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de tilápia e no cultivo da erva-sal. No primeiro momento, o sistema de dessalinização torna a

água potável. No seguinte, a solução salobra ou salina é enviada para os tanques de criação de

peixes, a tilápia. Na fase posterior, o efluente (concentrado) dessa criação, enriquecido em

matéria orgânica, é aproveitado na irrigação da erva-sal, que ao final é utilizado na produção

do feno. Essa forragem com teor proteico entre 14 e 18% é usada para a engorda de caprinos,

ovinos e/ou bovinos da região, fechando assim o Sistema de Produção Integrado. O sistema

de cultivo utilizado na criação da tilápia é o Semi-intensivo, conduzida em viveiros escavados

em terreno natural. Nele, os peixes cultivados dependem da indução da produção do alimento

e do suprimento da ração.

Estudos apontam várias vantagens da tilápia adaptada ao cultivo: crescimento rápido;

resistência a doenças; altas taxas de sobrevivência; ciclo de cultivo curto (seis meses);

reprodução durante todo o ano nas regiões mais quentes do país; facilidade de adaptação ao

clima do Semiárido; tolerância às variações de salinidade; facilidade da despesca,

armazenamento e transporte e fácil comercialização.

Embora o SPI seja bastante interessante, algumas correções precisam ser realizadas

tanto no que diz respeito à assistência técnica – que falha no acompanhamento dos

componentes produtivos – quanto ao gerenciamento da UD – que é feita de maneira

improvisada. Observamos que a erva-sal – que deveria ser usada no reforço da alimentação

dos caprinos, ovinos e bovinos, envelheceu e secou na área de cultivo; não foi sequer cortada

para a fabricação do feno. Em relação à criação de Tilápia, a quantidade de peixes criada nos

tanques das Unidades foi pequena e não gerou lucro. No apêndice B (p. 132) encontra-se a

estimativa de uso da ração e os custos de produção da tilápia das UDs do Programa Água

Doce que nos levaram a essa constatação.

No que diz respeito à água dessalinizada, os usuários contribuem com uma cota de R$

2,00 (dois reais) mensais destinados à manutenção do equipamento. Cada 1.000 l (de água

após o processo) custam R$ 6,00 (seis reais) e para termos uma ideia deste custo comparamos

com o valor da água – que utiliza o mesmo processo de dessalinização – comercializada em

Campina Grande. O garrafão de 20 l de água dessalinizada (pesquisa feita em maio de 2012) é

comercializado em média a R$ 4,00 (quatro reais), ou seja, em relação ao custo de produção a

água comercializada tem um valor bruto da ordem de 28 vezes o seu valor de produção. Vale

salientar que o valor líquido da água comercializada inclui custos adicionais como mão de

obra, transporte, impostos dentre outros.

Diante desses valores, podemos concluir que a dessalinização não é uma tecnologia de

um custo tão baixo assim, entretanto, argumentamos aqui que os dessalinizadores são ainda

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uma alternativa que tem se mostrado inviável para as comunidades bancarem sozinhas

(devido os altos custos), mas importante dentro do processo das políticas públicas de acesso à

água potável. Os custos do sistema de dessalinização reforçam também a necessidade de se

investir em pesquisas (buscando, por exemplo, utilizar energias alternativas) para se encontrar

meios de baratear essa tecnologia. As informações, os estudos e as reflexões feitas durante as

visitas às Unidades Demonstrativas nos municípios de Amparo, Aroeiras e Sumé nos leva à

conclusão de que o Sistema Integrado de Produção do PAD não é autossustentável e não

produz desenvolvimento local. No entanto, registramos sua importância que reforça o sistema

de dessalinização como uma alternativa para tornar doce a água amarga do Semiárido. O que

falta é um aprimoramento das políticas públicas de potabilidade da água que precisam deixar

de ser pontuais e emergencias para se tornarem permanentes, dando condições para que se

VIVA NO SEMIÁRIDO.

4.6 – Revelações dos dados da pesquisa?

Neste item recorremos a Ham e Hill (1993) resgatando aqui três categorias de análises

que foram adotadas para compreender como se deu a construção, quais os resultados e

avaliação do Programa Água Doce no Semiárido paraibano.

A pesquisa utilizou como eixos de estudo, sustentação e argumentação: a) o processo

de elaboração de políticas – observando e avaliando os diferentes fatores que influenciaram na

formulação dessa política pública que leva água potável para as comunidades rurais do

Semiárido brasileiro, em particular o paraibano; b) o seu resultado – procurando entender os

níveis de gasto ou de provisão de serviços que variam entre diferentes áreas para explicar sua

(in) viabilidade levando em consideração fatores sociais, econômicos, tecnológicos e outros;

e, c) e qual a avaliação (que chamamos de impacto) das políticas públicas de acesso à água de

boa qualidade sobre a população rural do Semiárido.

O primeiro eixo, processo de elaboração da política, mostrou que a política pública de

acesso à água potável para a região do Semiárido foi avaliada e modificou-se corrigindo erros

detectados nos programas anteriores, a exemplo do mau uso do dessalinizador, falta de

manutenção preventiva, e o não envolvimento da comunidade. A remodelação do Programa

Água Boa que originou o Programa Água Doce deveu-se à detecção desses e de outros

defeitos. O “novo programa” foi elaborado levando em conta aspectos ambientais, sociais e

econômicos trazendo como elemento inovador a Unidade Demonstrativa (UD) – que oferece

não apenas água potável, mas também utiliza o concentrado, produzido pelo processo de

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dessalinização da água, na criação da tilápia e no cultivo da erva-sal que se torna alimento

para caprinos, ovinos e bovinos.

No entanto, o PAD apresenta algumas falhas e, dentre elas, destacamos a falta de

assistência técnica sistemática dos parceiros nas Unidades Produtivas, uma vez que os relatos

dão conta da irregularidade das visitas técnicas que comprometeram o andamento do Sistema

Integrado. Outro ponto crucial foi a preparação superficial dos beneficiados que

operacionalizam os trabalhos dentro das Unidades (não há apropriação da tecnologia, nem um

conhecimento técnico) e, ainda, a baixa produtividade da criação de tilápias, que não gera

renda extra, até o momento, e a não utilização da erva-sal como complemento de ração para

caprinos, ovinos e bovinos, seja pela cultura dos criadores ou por qualquer outro motivo.

As UDs – que chamamos de vitrines tecnológicas – apresentam os ajustes promovidos

na concepção do PAD: aprimoramento do equipamento de dessalinização – montado levando

em consideração aspectos técnicos e sociais como o nível de sais da água encontrada na

localidade e o número de famílias a serem atendidas; a utilização do concentrado, e o

envolvimento da comunidade (mesmo que ainda precário) na gestão dos recursos hídricos –

que entra como mais um elemento de novidade da política de (con)vivência com o Semiárido.

O número de instituições federais, estaduais e municipais envolvidas no processo de

construção do PAD chegou a vinte, o que é um fator importante e positivo. O envolvimento

da comunidade beneficiada no momento inicial da elaboração do Programa foi quase

inexistente, salvo uma informação dada aqui e ali durante as visitas feitas aos locais aonde

diagnosticou-se a situação dos poços e dessalinizadores, realizadas em 2003. A decisão de

como construir, implantar e inovar continuou sendo unilateral.

O segundo eixo, estudos de resultados da política, desnudou as nuances do Programa

Água Doce no Estado e denunciou a fragilidade do alcance dos números (os ganhos obtidos).

No período 2004/2012 foram implantados e/ou recuperados, por meio do PAD, um total de 24

sistemas de dessalinização, sendo três Unidades Demonstrativas e 21 sistemas simples,

atendendo cerca de 30 mil pessoas. Considerando a população da Paraíba, segundo o IBGE

2010, de 3.766. 528 habitantes e levando também em consideração que quase todo o Estado

fica dentro do Semiárido e, ainda, uma considerável quantidade de poços, mais de 11 mil,

com água salobra, imprópria para o consumo humano, o número de beneficiados pelo PAD

está muito aquém do desejável ou necessário no sentido de promover transformações

significativas. Embora o Programa seja relevante, o seu alcance social se mostra pequeno

diante da problemática da escassez de água para o consumo humano na região do Semiárido

paraibano.

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Outro número que nos chamou a atenção, realidade dentro e fora das UDs, foi o

endividamento dos agricultores rurais. Quase todos os agricultores contraíram empréstimos

junto às instituições financeiras e estão com dificuldades de saldar suas dívidas. Esse

endividamento se deu por vários fatores: períodos de estiagem prolongadas, falta de política e

juros diferenciados para os agricultores do Semiárido e, sobretudo, falta de uma política

direcionada à solução de problemas relacionados à escassez hídrica – que causa diversos

transtornos e impede que aconteça o desenvolvimento social, econômico e, sobretudo,

humano nessa Região.

O terceiro eixo, a avaliação, teve como premissas a elaboração e o resultado da

política pública. Com base nos dados coletados nos documentos do PAD, nas visitas de

campo e nas entrevistas com os beneficiados, os números falam por si mesmos. As

transformações promovidas pelo Programa, embora importantes, alcançam apenas um

reduzido número de pessoas. Na prática, verificou-se que as Unidades Demonstrativas, cujo

preço gira em torno de R$ 250 mil – cada, têm um custo elevado e, ainda, que o Sistema

Integrado não se sustente por si só, não é autossustentável. Com relação à participação da

comunidade, notou-se que aconteceu de maneira tímida e que as decisões direcionadas ou

tomadas pelas instituições financiadoras nas várias esferas (federal, estadual e municipal)

tiveram um peso maior na construção desse processo.

O exposto reforçou a visão e argumentação presentes nesta pesquisa (com base em

Ham e Hill, 1993) de que as políticas públicas precisam estar em constante avaliação para que

os erros sejam detectados e os acertos aprimorados. Essa trilogia escolhida (estudos do

processo de elaboração de políticas, estudos de resultados de política e estudos de avaliação)

nos ajudou a entender o impacto que as políticas públicas, de maneira geral, e em particular

do Programa Água Doce, de acesso à água de boa qualidade têm sobre a população rural do

Semiárido da Paraíba.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados apresentados neste trabalho mostraram que há sérios problemas relacionados

às políticas públicas de potabilidade de água para o Semiárido. Sinalizaram a carência de

investimentos no meio rural e de planejamento quanto ao tema, uma vez que os programas de

acesso à agua potável chegam de maneira dessincronizadas às diversas comunidades da

Região.

Revelaram também que permanece a escassez de infraestrutura nessas áreas,

restringindo os direitos de acesso à água potável de parte significativa da população. O acesso

limitado a recursos naturais como a água exerce impactos de grande intensidade no cotidiano

dos mais pobres, sobretudo dos que habitam na zona rural do Semiárido paraibano.

Entretanto, o gerenciamento dos recursos hídricos na região Semiárida depende da

variabilidade do clima. A mudança climática e a escassez de recursos hídricos aumentam as

incertezas no processo de administração da água. O cenário é preocupante e as mudanças

climáticas no Brasil ameaçam intensificar as dificuldades de acesso à água.

A combinação das alterações do clima (falta de chuva ou pouca chuva) acompanhada

de altas temperaturas e altas taxas e evaporação desencadeia uma competição por recursos

hídricos e mostra a face dos mais vulneráveis nessa fotografia, que são os pequenos

agricultores, as famílias que vivem da agricultura de subsistência na região do Semiárido.

As secas estão mais frequentes e o Semiárido está mais árido e isso implica a

diminuição da base de sustentação das atividades humanas e pode ocasionar uma migração da

população (principalmente dos que moram na zona rural) para as cidades, aumentando assim

os problemas sociais já existentes. Mas, a ocorrência de chuvas, por si só, não é garantia de

sucesso às culturas de subsistência e nem promovem desenvolvimento local/regional.

Ao longo dos anos, as políticas públicas relacionadas aos problemas causados pela

escassez de recursos hídricos no Semiárido têm apresentado pacotes tecnológicos que são

introduzidos nas comunidades. São açudes (esses em sua maioria construídos com verbas

públicas em propriedades privadas), barragens, cisternas, poços e dessalinizadores etc. que

aportam em terras semiáridas (quase áridas) sem consulta e sem participação da comunidade.

E a cada tecnologia introduzida renova-se a promessa da solução definitiva da falta d’água e

dos problemas existentes na Região.

Na região Semiárida da Paraíba encontram-se facilmente vestígios ou presença desses

vários projetos (implantados em diferentes épocas) revestidos por um discurso que promete

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resolver o problema do acesso à água. Também é possível encontrar comunidades desprovidas

de qualquer assistência governamental, entregues à própria sorte. Chamamos a atenção para

dois pontos sempre constantes nas políticas públicas de acesso à água: os projetos e/ou

programas lançados prometem, primeiro, resolver o problema da falta de água das

comunidades (que têm pouco ou nenhum recurso hídrico) e, segundo, através de uma

construção discursiva – chancelada por diversas Instituições – gera-se a esperança que o

“milagre” da água potável, por si só, vai possibilitar a permanência do homem do campo na

sua terra e o desenvolvimento da região por meio de programas “autossustentáveis”.

Um desses pacotes tecnológicos – nosso objeto de estudo – é o Programa Água Doce

(PAD), desenvolvido pelo Ministério do Meio Ambiente, por meio da Secretaria de Recursos

Hídricos e Ambiente Urbano (MMA/SRHU), desde 2004. O Programa tem recuperado e

construído sistemas de dessalinização visando garantir água potável para comunidades difusas

do Semiárido brasileiro, mas a ação não é suficiente nem para resolver e nem minimizar o

problema da falta de acesso à água potável pelas comunidades difusas do Semiárido. As ações

do PAD têm se mostrado, ainda, muito tímidas, mas são importantes e precisam ser

ampliadas. O Sistema de Produção Integrada (com três Unidades), a recuperação de 21

sistemas simples de dessalinização e a futura instalação de outros 93 sistemas ainda é

insuficiente diante do problema da escassez de água na região.

É urgente e necessário que o Governo Federal, as Instituições de Pesquisas

(Universidades e Institutos) e a sociedade civil trabalhem juntos no sentido de encontrar

meios e ações para mitigar os danos sofridos pela população do Semiárido. As estratégias

nacionais de desenvolvimento não podem negligenciar a necessidade da adoção de

mecanismos que melhorem a gestão dos recursos hídricos no Semiárido. E o Estado tem uma

importância fundamental na promoção de planos de desenvolvimento sustentável nessas

localidades com a participação de atores governamentais e não governamentais.

Quanto às práticas participativas e suas bases sociais, a evolução varia de acordo com

os contextos sociais, históricos e geográficos. Verificou-se no Assentamento Cachoeira

Grande, em Aroeiras, um nível de tensão maior do que no Agrupamento Fazenda Mata, em

Amparo. No primeiro, mais politizado, observaram-se níveis de participação e tensões

maiores, que vão desde a discussão da operacionalização da Unidade Demonstrativa até o

comando da Associação de Moradores. No segundo, há uma certa passividade, um

conformismo aliado a uma acomodação diante dos problemas e situações vividos no

Agrupamento.

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Notou-se que quanto maior a densidade da participação e a capacidade da experiência

de incluir um leque diversificado de atores locais, maior a intensidade da ação pública local.

Percebeu-se também que a pluralidade de atores com desejos, objetivos e intenções diferentes

gerou (e gera) conflitos.

Se um dos desafios maiores para a gestão pública local diz respeito à necessidade de

democratizar os processos decisórios na formulação de políticas públicas e de torná-las mais

efetivas, as ações públicas locais podem ser uma oportunidade, sobretudo, para as políticas

sociais. As práticas participativas e suas bases sociais evoluem, variando de acordo com os

contextos sociais, históricos e geográficos.

Por fim, foi possível identificar que o modelo de comunicação das tecnologias de

dessalinização tem fortes características unidirecionais, uma vez que o discurso técnico não

dialoga com os saberes locais. Também se identificaram ausência de discussão sobre impactos

ambientais e ausência de discussão sobre a viabilidade da universalização da tecnologia e,

particularmente, do Programa Água Doce.

As reflexões, as críticas e informações disponibilizadas neste trabalho se propuseram a

ampliar a discussão em torno das políticas públicas, tanto para o entendimento e ampliação da

participação popular no processo de construção dessas políticas sociais, quanto para o

aperfeiçoamento técnico dos órgãos gestores. Os resultados aqui apresentados não são

definitivos, até porque a ciência é obra de indivíduos colaborando com outros indivíduos e

encontra-se em permanente processo de mudança. Nossa intenção, em síntese, foi agendar

uma leitura crítica das políticas aqui discutidas.

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REFERÊNCIAS

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130

APÊNDICES

Apêndice A – Estimativa de Uso de Ração

Semanas Ração

Indicada

Ração

para 1.000

peixes

TESTE

1 Kg de

Ração

Total kg/tipo

de ração

Total Saco 25

kg/ tipo

de ração

Porcentagem/ Tipo de ração

(%)

Sobrevivência %

Número

de Peixes

1 Ração 45% 1,0 1

100 1.000

2 Ração 45% 2,0 2 6 0 1 99 994

3 Ração 45% 3,0 3

45 ou 50%

proteína 99 989

4 Ração 40% 4,5 4

98 983 5 Ração 40% 6,5 6 31 1 3 98 978 6 Ração 40% 8,5 8

40% proteína 97 972

7 Ração 40% 12,5 12

97 967

8 Ração 35% 17,0 16

96 961 9 Ração 35% 22,5 22

96 956

10 Ração 35% 30,0 29 147 6 13 95 950 11 Ração 35% 38,5 36

35% proteína 94 944

12 Ração 35% 47,5 45

94 939

13 Ração 32% 51,0 48

93 933

14 Ração 32% 52,5 49

93 928

15 Ração 32% 57,5 53

92 922

16 Ração 32% 62,5 57

92 917

17 Ração 32% 67,5 62

91 911

18 Ração 32% 71,0 64 979 39 84 91 906

19 Ração 32% 73,5 66

32% proteína 90 900

20 Ração 32% 76,5 68

89 894

21 Ração 32% 78,5 70

89 889

22 Ração 32% 80,5 71

88 883

23 Ração 32% 82,5 72

88 878

24 Ração 32% 84,5 74

87 872

25 Ração 32% 85,5 74

87 867

26 Ração 32% 87,5 75

86 861

27 Ração 32% 88,5 76

86 856

1164

47 100

Sacos %

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131

Apêndice B – O Custo de Produção da Tilápia

O manejo é observado de forma produtiva onde a criação de tilápia, em tanques

escavados, apresentam os seguintes custo/produção conforme descrição abaixo:

Preço de Alevinos Preço de Ração Quantidade Energia

/6meses

Mão de obra/

6 meses

Milheiro R$ 90,00

Ração 50% PB R$ 64,00/sacos

Ração 40% PB R$ 58,00/sacos

Ração 35%PB R$ 45,00/sacos

Ração 32% PB R$ 35,00/sacos

1 saco x R$ 64,00 =

R$ 64,00

2 sacos x R$ 58,00 =

R$ 116,00

15 sacos x R$45,00 =

R$ 675,00

40 sacos x R$35,00 =

R$ 1.400,00

R$ 480,00/6

= R$ 80,00

R$ 4.500,00/6

= R$700,00

R$ 90,00 58 sacos = R$ 2.255,00 R$ 480,00 R$ 4.500,00

Tabela – Custo de Produção

TOTAL = PA + PR + ENERGIA + MÃO DE OBRA

TOTAL = R$ 90,00 + R$ 2.255,00 + R$ 480,00 + R$ 4.500 = R$ 7.325,00

1000 KG X R$ 5,00/KG = R$ 5.000,00

Observando a quantidade criada de 1000 peixes ela não gera lucro e, sendo assim, não é

autossustentável. Para que houvesse lucro seria necessária a criação de 5000 peixes (levando

em conta que cada peixe tenha 700 gramas ao final de seis meses) o que totalizaria 3.500

quilos de peixes que se vendido no valor de R$ 5,00 totalizaria R$ 17.500,00. Tirando os

custos de produção (energia, alevinos, ração e mão de obra) isso significa que ao final teria o

um lucro de R$ 795,00.

TOTAL = PA + PR + ENERGIA + MÃO DE OBRA

TOTAL = R$ 450,00 + R$ 11.275,00 + R$ 480,00 + R$ 4.500 = R$ 16.705,00

3.500 KG X R$ 5,00/KG = R$ 17.5000,00

LUCRO = R$ 17.500,00 - 16.705,00 = R$ 795,00

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Apêndice C – Custo da Água Dessalinizada

Total de Água Dessalinizada/Mês Valor da Energia/Mês

10.000 L R$ 60,00

1.000 L R$ 6,00

1 L R$ 0,006

10.000l R$ 60,00

1l X

Cada 1.000 l de água dessalinizada custa R$ 6,00

Em Campina Grande o garrafão de 20 l de água dessalinizada é comercializado em média a

R$ 4,00 ou seja

20l R$ 4,00

1l Y

Em relação ao custo de produção a água comercializada tem um valor bruto da ordem de 28

vezes o seu valor de produção.

Vale salientar que o valor líquido da água comercializada inclui custos adicionais como

mão de obra, transporte, impostos dentre outros.

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133

ANEXOS

Anexo A – Modelo Padrão do Reservatório do Concentrado do Programa Água Doce

A construção do reservatório para o concentrado é feita em terreno natural do próprio

local, escavando-se 1,00m de profundidade e elevando-se os maciços laterais a uma altura de

1,00 m através de espalhamento e compactação a 110% do proctor normal, conforme descrito

para os viveiros e com largura de coroamento de 2,00 m. A profundidade final será de 2,00m

e o fundo ficará 0,50m abaixo da cota de fundo dos viveiros no ponto de descarga.

Modelo Padrão de Reservatório do Concentrado

Fonte: MI, 2010.

A construção do reservatório do concentrado tem formato retangular e área de 360 m2

e com capacidade de armazenamento de 540 m3, cujas dimensões seguem abaixo:

Largura superior (borda)........................................................... 12,00 m;

Comprimento superior (borda)................................................. 30,00 m;

Comprimento inferior (leito)..................................................... 26,00 m;

Largura inferior (leito) – abastecimento..................................... 8,00 m;

Largura inferior (leito) – drenagem............................................ 8,00 m;

Largura do coroamento............................................................... 1,10 m;

Altura do dique – abastecimento................................................. 2,00 m;

Altura do dique – drenagem........................................................ 2,00 m;

Altura da lâmina d’água.............................................................. .1,50 m;

Declividade dos taludes................................................................ 1:1.

Fonte: MMA (2010, p.211).

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134

Anexo B – Dimensões adotadas na Construção dos Viveiros

Os viveiros para piscicultura também tem formato retangulares e ocupam uma área

total de espelho d’água de 360 m², com capacidade de armazenamento de 414 m³, cujas

dimensões são as seguintes:

Quadro – Dimensões Adotadas na Construção dos Viveiros.

Largura superior (borda) 12,00m

Comprimento superior (borda) 30,00m

Comprimento Inferior (leito) 27,30m

Largura inferior (leito) – abastecimento 9,60m

Largura inferior (leito) – drenagem 9,00m

Largura do coroamento 1,10m

Altura do dique – abastecimento 1,20m

Altura do dique – drenagem 1,50m

Altura da lâmina d’água –

abastecimento 1,00m

Altura da lâmina d’água – drenagem 1,30m

Fonte: MMA, 2010, p.211).

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Anexo C – Acordo celebrado na Fazenda Mata em Amparo/Paraíba

ACORDO DE GESTÃO DO SISTEMA DE DESSALINIZAÇÃO DO AGRUPAMENTO FAZENDA MATA - AMPARO/ PB

Nós, do agrupamento Fazenda Mata, município de Amparo, em reunião realizada no dia 12 de agosto de 2009 às 15h30min horas, resolvemos que o sistema de dessalinização dessa localidade obedecerá às seguintes regras:

1. A responsabilidade pelo funcionamento do dessalinizador de Fazenda Mata será

do operador Sr. José Almir Alves da Costa sob a supervisão do grupo gestor.

1.1 As atribuições do operador são as seguintes: ligar e desligar o equipamento;

fazer a distribuição da água de boa qualidade; cuidar do equipamento obedecendo

às orientações recebidas no curso; não permitir que outras pessoas manuseiem o

equipamento; evitar a entrada de animais nas imediações do sistema para evitar

danos ao mesmo; lavar o tanque de água limpa de 15 em 15 dias e o de água bruta

de 30 em 30 dias; comunicar ao Grupo Gestor quando surgir algum problema;

participar da prestação de contas.

1.2. O Grupo Gestor do Sistema é formado por: José Almir Alves da Costa; Maria

Aparecida Martins Maciel; Valdenice Ramos Américo da Costa; Adjalma Francisco

de França; Pedro Nogueira Neto de Morais; José Nogueira de Morais.

1.3. As atribuições do grupo gestor são: supervisionar o funcionamento do

dessalinizador; ouvir as queixas e sugestões da comunidade sobre o funcionamento

do dessalinizador; marcar reuniões com a comunidade para eventuais mudanças no

acordo de gestão.

2. O horário de distribuição de água será das 05h30min às 06h30min de segunda-

feira a sábado.

2.1. O equipamento funcionará para fazer água doce das 05h30min às 6h30min de

segunda-feira a sábado. 3. Terão direito a água dessalinizada as famílias residentes no agrupamento Fazenda Mata.

3.1. A quantidade de água distribuída obedecerá aos seguintes critérios: 20 litros para as famílias que possuam até 4 pessoas e 40 litros para famílias que possuam acima de 5 pessoas.

3.2. A água dessalinizada deverá ser utilizada para beber, cozinhar, escovar os

dentes e dar banho em recém-nascidos.

4. O governo do Estado da Paraíba, por intermédio da Secretária de Ciência,

Tecnologia e Meio Ambiente – SECTMA, através do órgão executor – AESA, terá

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136

como responsabilidade prestar assistência técnica e orientação à comunidade,

através dos técnicos treinados pelo PAD.

4.1. É responsabilidade do Programa Água Doce, pela parceria entre a Secretaria de

Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente –

SRHU/MMA e Fundação Banco do Brasil – FBB, instalar o sistema de

dessalinização dessa comunidade; treinar o operador; orientar a comunidade na

construção do acordo de gestão; contribuir com o manejo sustentável dos recursos

hídricos locais. 5. O acordo acima será cumprido por todas as famílias que residem no agrupamento Fazenda Mata, beneficiadas pelo sistema de dessalinização do Programa Água Doce.

Fazenda Mata, em 12 de agosto de 2009.

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Anexo D – Condições de Potabilidade da Água (OMS)

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138

Anexo E – Análise da Água do Sítio Caiçara 01 – Fazenda Mata – Amparo/PB

Fonte: AESA/PB (2008)

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139

Anexo F – Análise da Água do Sítio Caiçara 02 – Fazenda Mata – Amparo/PB

Fonte: AESA/PB (2008)

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140

Anexo G – Laudo com os Resultados Analíticos das Amostras de Águas – Fazenda Mata

– Amparo/PB

Fonte: AESA/PB (2009)

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141

Anexo H – Teste de Produção do Poço 01 – Sítio Caiçara – Fazenda Mata – Amparo/PB

Fonte: AESA/PB (2008)

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142

Anexo I – Teste de Produção do Poço 02 – Sítio Caiçara – Fazenda Mata – Amparo/PB

Fonte: AESA/PB (2008)

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143

Anexo J – Tabela com a relação dos Produtores Rurais do Sítio Caiçara – Fazenda Mata

ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES RURAIS DO SÍTIO CAIÇARA

FAZENDA MATA – AMPARO – PB (PRONAF – A)

Nome Estado

Civil

N° de Filho Escolaridade Valor

Contratado

Bônus

Adimplência

Valor das

Parcelas

Geovanio Francisco

Maciel

Amasiado* 01 5ª Série R$ 21.500,00 40% R$ 433,00

José Nogueira de Morais

Solteiro Não tem filhos Superior R$ 21.500,00 40% R$ 530,00

Antonio Silva Araújo Casado 03 Ensino Médio R$ 21.500,00 40% R$ 674,00

Pedro Nogueira Neto

de Morais

Casado 02 Ensino Médio R$ 21.500,00 40% R$ 624,00

André Luís Divino

Ferreira

Solteiro Não tem filhos Ensino Médio R$ 21.500,00 40% R$ 364,00

Mauro de Oliveira

Ferreira

Solteiro Não tem filhos Ensino Médio R$ 21.500,00 40% R$ 420,00

José Fernandes

Maurício

Amasiado 01 Fundamental R$ 21.500,00 40% R$ 670,00

Irenelson Miguel da

Silva

Amasiado 01 Alfabetizado R$ 21.500,00 40% R$ 329,00

Adriano Francisco

Maciel

Amasiado 02 Alfabetizado R$ 21.500,00 40% R$ 290,00

José Miguel da Silva Casado 07 Alfabetizado R$ 21.500,00 40%

R$ 580,00

Antonio Francisco

Neto

Casado 05 Alfabetizado R$ 21.500,00 40% R$ 560,00

Adejama Francico de

França

Amasiado 01 Ensino Médio R$ 21.500,00 40% R$ 520,00

Antonio Carlos Maciel Amasiado 01 Alfabetizado R$ 21.500,00 40% R$ 425,00

Carlos A. Lima de

Moura

Amasiado 01 5ª Série R$ 21.500,00 40% R$ 460,00

José A. Alves de

Oliveira

Amasiado 01 Alfabetizado R$ 21.500,00 40% R$ 205,00

Adelson Nino da Silva Casado 02 Alfabetizado R$ 21.500,00 40% R$ 530,00

Hélio Francisco

Maciel

Casado 04 Alfabetizado R$ 21.500,00 40% R$ 480,00

Ailton Divino Ferreira Solteiro Não tem filhos Ensino Fundamental II

R$ 21.500,00 40% R$ 535,00

Ailton D. Nino da

Silva

Amasiado 02 Alfabetizado R$ 21.500,00 40% R$ 545,00

José Carlos Alves da Costa

Amasiado 03 Alfabetizado R$ 21.500,00 40% R$ 480,00

Janio Miguel da Silva Solteiro Não tem filhos Alfabetizado R$ 21.500,00 40% R$ 266,00

Edinaldo Divino

Ferreira

Solteiro Não tem filhos Alfabetizado R$ 21.500,00 40% R$ 333,00

Roberto Francisco

Maciel

Solteiro Não tem filhos Alfabetizado R$ 21.500,00 40% R 265,00

Inaldo Miguel da Silva Amasiado 03 Alfabetizado R$ 21.500,00 40% R$ 277,00

Antonio Caetano de Araujo

Solteiro Não tem filhos Alfabetizado R$ 21.500,00 40% R$ 275,00

Jakson G. de Araujo

da Silva

Amasiado 01 Ensino Médio R$ 21.500,00 40% R$ 445,00

Gilmarcio Araujo da Silva

Solteiro Não tem filhos Ensino Médio R$ 21.500,00 40% R$ 275,00

José Nogueira de Morais

Presidente

*Estado civil, ou estado conjugal, é a situação de um indivíduo em relação ao matrimônio ou à

sociedade conjugal. De acordo com as leis brasileiras, existem apenas cinco tipos de estado civil,

solteiro, casado, separado, divorciado e viúvo, os demais termos como amigado, amasiado, e etc. são

utilizados coloquialmente e não tem qualquer valor jurídico. Maiores informações consultar site:

http://www.significados.com.br/estado-civil/. (Informação adicional nossa)

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Anexo L – Análise da Água Sítio Cachoeira Grande – Aroeiras/PB

Fonte: AESA/PB (2009)

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145

Anexo M – Análise do Solo

Fonte: AESA/PB (2010)

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146

Anexo N – Análise de Solo – Fertilidade/Salinidade

Fonte: AESA/PB (2010)

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147

Anexo O – Análise de Água do Poço do Sítio Cachoeira Grande – Aroeiras/PB

Fonte: AESA/PB (2009)

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148

Anexo P – Teste de Produção do Poço do Sítio Cachoeira Grande – Aroeiras/PB

Fonte: AESA/PB (2009)

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149

Anexo Q – Análise da Água do Poço 01 do Sítio Tigre – Sumé/PB

Fonte: AESA/PB (2010)

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150

Anexo R – Teste de Produção do Poço 01 do Sítio Tigre – Sumé/PB

Fonte: AESA/PB (2010)

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151

Anexo S – Análise da Água do Poço 02 do Sítio Tigre – Sumé/PB

Fonte: AESA/PB (2010)

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Anexo T – Teste de Produção do Poço 02 do Sítio Tigre – Sumé/PB

Fonte: AESA/PB (2010)

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ANEXO U – Número de famílias atendidas pelo Programa Água Doce – 2004/2012

Programa Água Doce – Comunidades da Paraíba – relação das famílias atendidas

MUNICÍPIO / COMUNIDADE QUANTIDADE DE FAMÍLIA

Alcantil - Sítio Barra de Aroeira 200

Barra de Santana - Sitio Pedra D’Água 100

Boa Vista - Sítio Caluete 50

Cabaceiras – Sede 300

Camalaú - Roça Velha 130

Campina Grande - Açude de Dentro 100

Campina Grande – Carretão 50

Caraúbas – Barreiras 150

Caraúbas – sede 200

Caturité - Sítio Pedra D’água 100

Cuité – sede 1.500

Juazeirinho – Sítio Mendonça 400

Nova Palmeira – Sede 800

Parari – Sede 100

Picuí - Santa Luzia 100

São Sebastião do umbuzeiro - Sede 250

São José dos Cordeiros - Sítio Cardoso 250

Serra Branca – Farias 100

Serra Branca – Sede 380

Serra Branca - Sítio Ligeiro 80

UNIDADES DEMOSTRATIVAS

AMPARO / FZ MATA (Inaugurada.) 90

AROEIRAS/CACHOEIRA GDE (Inaugurada)

150

SUMÉ/FZ TIGRE (A ser Inaugurada) 50

5.630 x 5 = 28.150 pessoas atendidas.

Fonte: AESA/PB (2012)