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1 Desenvolvimento Psicomotor Psicologia do Desenvolvimento Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 1º Ano Docente: Nérida Madeira ISCE 2006-2007 3 Nota Prévia Algumas das referências aqui utilizadas são “clássicos” da investigação neste domínio, sem desprimor para os seus contributos, ao longo das aulas são introduzidos informações trazidas pelos mais recentes avanços neste campo. Nérida Madeira ISCE 2006-2007 4 Sumário Definição do conceito e aspectos gerais do desenvolvimento psicomotor Psicomotricidade, emoção e inteligência (esta última a desenvolver no início da próxima unidade programática) Centros nervosos que controlam o movimento Desenvolvimento psicomotor pré-natal e pós-natal Aquisição de comportamentos motores fundamentais para o desenvolvimento psíquico Desenvolvimento/construção do esquema corporal ISCE 2006-2007 5 PSICOMOTRICIDADE (definição e aspectos gerais) «A psicomotricidade resulta da conjugação das funções psicológicas com as funções motoras, responsável pela actividade social e pelo comportamento humano em geral» Ajuriaguerra ...estes dois tipos de funções evoluem estreitamente ligadas, inicialmente, e mais tarde as funções psíquicas passam a dominar as motoras, a separação entre estes dois tipos de funções corresponde a um processo neurofisiológico e psíquico: dominância cerebral e lateralidade O desenvolvimento psicomotor está indissociavelmente ligado aos desenvolvimentos emocional, intelectual e social.

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Psicologia

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Desenvolvimento Psicomotor

Psicologia do Desenvolvimento Psicologia do Desenvolvimento e da

Aprendizagem1º Ano

Docente: Nérida Madeira

ISCE 2006-2007 3

Nota Prévia

• Algumas das referências aqui utilizadas são “clássicos” da investigação neste domínio, sem desprimor para os seus contributos, ao longo das aulas são introduzidos informações trazidas pelos mais recentes avanços neste campo.

Nérida Madeira

ISCE 2006-2007 4

Sumário

• Definição do conceito e aspectos gerais do desenvolvimento psicomotor

• Psicomotricidade, emoção e inteligência (esta última a desenvolver no início da próxima unidade programática)

• Centros nervosos que controlam o movimento• Desenvolvimento psicomotor pré-natal e pós-natal• Aquisição de comportamentos motores fundamentais

para o desenvolvimento psíquico• Desenvolvimento/construção do esquema corporal

ISCE 2006-2007 5

PSICOMOTRICIDADE (definição e aspectos gerais)

• «A psicomotricidade resulta da conjugação das funções psicológicascom as funções motoras, responsável pela actividade social e pelocomportamento humano em geral» Ajuriaguerra

• ...estes dois tipos de funções evoluem estreitamente ligadas, inicialmente, e mais tarde as funções psíquicas passam a dominar as motoras,

• a separação entre estes dois tipos de funções corresponde a um processo neurofisiológico e psíquico: dominância cerebral e lateralidade

• O desenvolvimento psicomotor está indissociavelmente ligado aos desenvolvimentos emocional, intelectual e social.

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axónio

Fonte: http://www.pbs.org/wnet/brain/

sinapse

Fonte: http://www.pbs.org/wnet/brain/

Mielinização

Fonte: http://www.pbs.org/wnet/brain/

Hemisférios cerebrais

Fonte: http://www.pbs.org/wnet/brain/

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Lateralidade funcional

Fonte: http://www.pbs.org/wnet/brain/

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PSICOMOTRICIDADE e EMOÇÃO• necessidades neurovegetativas + emoção =

movimento,

• o movimento é a primeira forma de relação e comunicação com o mundo,

• a emoção exprime-se no movimento e leva ao desenvolvimento de atitudes que antecedem a representação

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O movimento é o deslocamento no espaço de umacarga afectiva, que se apresenta de três formas:

• deslocamentos passivos ou exógenos: constituem respostas a forças exteriores (por exemplo, à acção da gravidade). A hipotonicidadeque caracteriza os músculos da coluna vertebral, condiciona que toda a motricidade se revele descontínua e sincrética. Só a conquista progressivaduma maturidade tónica da coluna irá permitir a evolução da posição de deitado para a posição de sentado e desta para de gatas e por fim de pé.

• deslocamentos activos ou autógenos: são respostas ao própriomundo exterior: locomoção, preensão,...

• deslocamentos dos segmentos corporais, como reacçãoafectiva ao mundo cada vez mais diferenciado.

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DESENVOLVIMENTO PSICOBIOLÓGICO

• Estas três formas de movimento influenciam-se mutuamentee a sua integração é original de indivíduo para indivíduo.

• A organização do movimento assenta nas funções clónicado músculo (alongamento e encurtamento simultâneo das suas miofibrilhas) e tónica (manutenção de uma certa tensãomuscular).

• O tónus é o suporte e o garante do movimento e a suaexpressão representa a acomodação perceptiva na suaafectividade

(Wallon, cit por Fonseca & Mendes, 1988)

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DESENVOLVIMENTO PSICOBIOLÓGICO

• A coordenação motora, como resposta ao meio, assenta numaestabilidade das reacções interioceptivas (nutrição, respiração, etc.) onde vão assentar as reacções próprioceptivas, que por sua vezpreparam as exterioceptivas.

• DADOS INTERIOCEPTIVOS: tonicidade visceral; carência–satisfação; choro-riso

• DADOS PROPRIOCEPTIVOS: noção de superfície corporal, evolução motora, sentido quinestésico;

• DADOS EXTERIOCEPTIVOS: relação com o espaçoenvolvente; evolução perceptivo-motora.

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EVOLUÇÃO DA PSICOMOTRICIDADEWallon(1979,1983)

1º Estádio impulsivo (0-6m): movimento= descargas de energiamuscular em que as reacções tónicas e clónicas se apresentam sob a forma de espasmos descoordenados e sem objectivo ou significado. Esta acção é jáportadora de uma carga afectiva. Não são um dado da consciência mas são a primeira forma de comunicação com o mundo.

2º Estádio tónico-emocional (6-12 m): a consciência faz as primeirasaquisições, sincréticas e confusas que anunciam o aparecimento do movimentosignificativo. •A excitação é superior à inibição = exagero das funções tónicas.•Esboços de atitudes posturais, vai levar às reacções circulares entre a motilidade e a sensibilidade, e o aparecimento das primeiras representações.•As emoções e os movimentos vão permitir a edificação de posturas e de atitudes, são estruturas intermediárias entre o real e a representação = evolução dainteligência e a afectividade.

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EVOLUÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE3ºEstádio sensório-motor (12-24m): As relações da criança com o seu meio

multiplicam-se e aumenta a maturidade na organização das emoções.

•O subjectivo domina o afectivo = a correlação entre as experiências motoras e sensoriais

•Dá-se a passagem do biológico para o psicológico.

•As percepções e os movimentos tornam-se mais precisos.

4º Estádio projectivo (2- 3 anos): A percepção do objecto e a sua descobertapela respectiva manipulação torna possível a organização das primeiras representações. A acção é um estímulo para a actividade mental.

•A criança conhece os objectos quando age sobre eles. A passagem do acto aopensamento é o prelúdio da consciência. A evolução postural vai permitir uma verdadeiradescoberta e exploração do real.

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EVOLUÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE5º Estádio personalístico (3-4 anos)

• O modelo do outro adquire a sua importância como estímulo e experiência.

• A incorporação de modelos são psico-dramas do movimentoantecipado pela respectiva representação e finalidade a atingir.

• As distâncias deixam de ser o desconhecido, as distâncias passama ser relativas e o meio começa a modificar-se em função dos primeiros esboços de desejos.

• O espaço torna-se num real independente e ao alcance da própriafantasia da criança.

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PSICOMOTRICIDADE E INTELIGÊNCIA

• 1º Estádio: dos reflexos à inteligência prática• 2º Estádio: do aparecimento do pensamento e

linguagem à organização do pensamento adaptado

• 3º Estádio: estruturação das operações mentais• 4º Estádio: aplicação das operações mentais a

fenómenos complexos

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Centros nervosos que comandam aPsicomotricidade

Na criança crescida e no adulto o movimento é controlada pela acção simultânea de três sistemas nervosos:

• Sistema piramidal

• Sistema extrapiramidal

• Sistema cerebelosoFonte: Scheneeberger de Athayde

Sistema sensório motor

Fonte: brainconection.com

Sistema Nervoso Central

Fonte: brainconection.com

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Controle motor -córtex motor primário

Fonte: brainconection.com

Controle motor- córtex motor secundário

Controle motor

Fonte: brainconection.com

Controle motor

Fonte: brainconection.com

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SISTEMA PIRAMIDAL

S.Piramidal é constituído por células piramidais gigantes (células de Betz) situadas na circunvolução frontal de Rolando.

Efector dos movimentos voluntários;Relacionar a ideia com a acção (sistema ideocinético);Dirigir o movimento para um determinado fim (projecção do movimento);É responsável pelas PRÁXIAS – actividade motora intencional

controlada psiquicamente;Intervém na musculatura, principalmente nos músculos extensores e vai

contrariar a acção dos músculos tensores (contracção).Controla a motricidade fina.

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LESÕES DO SISTEMA PIRAMIDALAs lesões das áreas cerebrais motoras e da via piramidal (feixes nervososem ligação com a zona piramidal) provocam:

•Perturbações ao nível dos movimentos voluntários (paralisia total nalgunscasos; perda dos movimentos precisos ou paralisia espasmódica noutros);

•Os músculos extensores podem sofrer hipertonia e lesões do tónus;

•Pode existir uma falha do sistema idiocinético, ou seja, é capaz de se imaginar uma acção mas não é capaz de a reproduzir fisicamente;

•Podem surgir movimentos involuntários e incontroláveis (sincinésias).

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SISTEMA EXTRA-PIRAMIDAL

• É filogeneticamente mais antigo e ontogeneticamente maisprecoce. Situa-se no mesencéfalo, engloba o 3º e 4º nervoscranianos que controlam o movimento dos olhos; no subtálamo –corpo estriado– e no tálamo (paleo-striatum e neo-striatum): o nucleo caudado, globus pallidus; nucleorubro, putamen,...

• Nos primeiros meses de vida o sistema extra-piramidal tem uma acção de comando mais extensa sobre a motricidadeaté a via piramidal adquirir um nível eficiente. No recém-nascido a motilidade é alotonica e predominantementebilateral sinérgica por estar na dependência deste sistema.

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SISTEMA EXTRA-PIRAMIDAL

No adulto e na criança evoluída, intervém: •Nos movimentos automáticos: os movimentos expressivos ( mímicaemocional); movimentos instintivos (reacções de alarme); os movimentosassociados (andar - movimento de acompanhamento dos braços / falar -movimentos de acompanhamento com as mãos);•Movimentos automatizados: andar, nadar, escrever,...•Facilita e torna mais suaves os movimentos voluntários;•Manutenção do tónus;•Mobiliza as estruturas que orientam os olhos, a cabeça, o corpo para um ponto determinado.

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LESÕES DO SISTEMA EXTRA-PIRAMIDAL

Paleo-striatum: Acentuação da tonicidade muscular – contratura dos músculos (a

contratura é mais acentuada neste sistema do que no sistemapiramidal)

Surgimento de tremores: movimentos bizarros quer na face , querem segmentos maiores do corpo;

Perda dos movimentos associadosNeo-striatum

Hipotonia muscular (uma parte do corpo que perde a força; ex. perda da força do braço tendo de o trazer ao peito);

Movimentos involuntários anormais e/ou estranhos.ISCE 2006-2007 31

SISTEMA CEREBELOSO

situa-se no cerebelo e encontra-se ligado ao tronco cerebral, mantendo estreitas relações com o sistema extrapiramidal.

• Intervém na manutenção do equilíbrio e da postura• É fundamental em relação à harmonia do movimento;• Intervém em relação à isostenia (intensidade e a força necessárias

para executar o movimento) e isometria (exacta medida) dos movimentosl;

• Assegura também a sinergia - coordenação dos diversos gruposmusculares, contraíndo-se uns (agonistas) e distendendo-se outros(antagonistas) - e a diadocinésia, ou seja quando e quais músculosse devem contrair na realização de movimentos simultâneos e sucessivos.

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LESÕES DO SISTEMA CEREBELOSO

O equilíbrio e a postura podem ser afectados;

Pode afectar a harmonia e a adequabilidade do movimento: dismetria, assinergia, adiadocinésia;

Hipotonias e tremores;

Movimentos anormais.

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DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATALMinkowsky cit por Bergeron, 1982

1ª Fase Germinal Embrionária ( 1ª e 2ª semanas), processosde divisão e diferenciação celulares;

2ª Fase de Esboço dos Orgãos ( 3-5 semanas), formam-se o coração, músculos, sistema nervoso e os gomos das extremidades;

3ª Fase Fetal Inicial ou de Motilidade Aneural ( 5-8 semanas), o feto começa a ganhar forma, o coraçãoapresenta batimentos regulares. Observam-se jámovimentos lentos e vermiculares, de naturezaidiomuscular;

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DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATAL

4ª Fase de Transição Neuromuscular (2-3 meses)a actividade tem características idiomusculares intercalada com

movimentos cuja irregularidade, assimetria e tendência àgeneralização é própria da actividade inicial do sistema nervoso.

5ª Fase Fetal Precoce ou Bulbo-Espinal (3-4 meses)movimentos mais activos, mais coordenados, mais amplos, com

tendência à irradiação e generalização como resposta a estimulosexteriores, movimentos que se podem considerar como percursoresdos reflexos.Aparecem os reflexos patelar, preensão, oral, palpebral e deglutição e reacções reflexas percursoras dos reflexos labirinticos, indiciadores daprecocidade dos mesmos.

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DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATAL• 6ª Fase Fetal Média ou Vestíbulo-Tegumento- Bulbo-

Espinal (4-6 meses):dá-se uma diferenciação e limitação relativas das reacçõesmotoras. Aumenta a mielinização na medula e no bulbo, abrangendo os nervos cranianos motores e muitossensitivos, que faz que as respostas motoras se tornemmais rápidas e mais circunscritas. Desenvolvem-se osmecanismos de coordenação dos reflexos: reflexo plantar e reflexo dos encurtadores; reflexos de preensão da mão e do pé; resposta pupilar à luz; reflexos diagonais e reflexo de Moro.

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DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATAL

7ª Fase Fetal Tardia ou Pálido- Rubro- Cerebelo- Tegumento- Bulbo-Espinal (7-9 meses): A postura, até então simétrica, é substituída aos 6 meses por umapostura assimétricaOs movimentos e os reflexos tornam-se mais precisos. Em prematurosde 7 meses podem observar-se: o reflexo dos pontos cardiais, reacçãode apoio, marcha automática e reflexo córneo. A componente tónicado reflexo de preensão já pode permitir a suspensão.Dá-se uma evolução da sensibilidade geral, das funções vestibularese dos sentidos (reflexo pupilar, olfacto, gosto e audição).

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PSICOMOTRICIDADE - abordagem ontogenética

• Após o nascimento, o desenvolvimento neuro-fisiológico traduz-se no aparecimento e desaparecimento de reflexos e alterações da postura e do tónus.

• A ausência de alguns reflexos primitivos na altura do nascimento ou a sua permanência para lá de certa idade pode traduzir perturbações ou lesões do SNC.

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EVOLUÇÃO PSICOMOTORA PÓS-NATAL• O nascimento:aumenta a mielinização e todo o conjunto de processos

de maturação do sistema nervoso. No nascimento grande parte do sistema nervoso encontra-se já em condições de funcionamento. Nosprimeiros meses de vida existe um predomínio subcortical noscomportamentos motores da criança, apesar de existir logo a partir do nascimento uma influência, ainda que primária do córtex cerebral.

1ª Fase do Recém-Nascido ou Fase Cortical Inicial (6-8 primeirassemanas):mielinização activa da via piramidal responsável pelo reflexocutâneo plantar em flexão; a evolução das sensibilidades e a actividadedos orgãos dos sentidos está dependente das influências das estruturassuperiores.

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EVOLUÇÃO PSICOMOTORA PÓS-NATAL

• Esta é a fase da alotonia, do predomínio tónico dos músculos flexorese de certos músculos adutores. A postura é em flexão e assimétrica. Os reflexos arcaicos manifestam-se de forma nítida, a actividademotora é bilateral e sincrónica ou axilar e sempre com tendência àgeneralização.

• Postura assimétrica condicionada pela posição da cabeça, no queGesell (cit. Bergeron, 1982) denominou padrão reflexo tónico-cervical, assim como a apresentação de reflexos tónico-cervicais (reflexo de Magnus Klejn) provocados pela movimentação passiva da cabeça, estão relacionados com a importância dos estímulos proprioceptivosprovenientes dos músculos profundos do pescoço, e revelam o predomínio dos centros extrapiramidais.

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EVOLUÇÃO PSICOMOTORA PÓS-NATAL

• Alguns reflexos arcaicos presentes no recém-nascido:• Reflexo óculo-nucal – extensão cefálica =luz• Marcha automática – ( desaparece a partir do 7º mês)• Reflexo de Magnus Klejn (até ao 4º mês)– resposta reflexa obtida por

manipulação passiva da cabeça, para além dos 4-5 meses tem um significado patológico.

• Reflexo de Landau (até ao 8º mês)• Reflexos de preensão da mão (até aos 4 meses) e do pé (até aos 7/8

meses)

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EVOLUÇÃO PSICOMOTORA PÓS-NATAL

• 2ª Fase do Lactente ou Córtico-Subcórtico-Espinal de PredomínioSubcortical (2-24 meses):

• Entre o 2º e o 5º mês assiste-se a uma diminuição do predomíniotónico dos flexores, mas o desaparecimento da alotonia só é notória a partir do 6º/ 7º mês, devido a um efeito inibidor do córtex, entre o 15º e o 20º mês - hipotonia fisiológica, (lento desenvolvimento funcional do neo-cerebelo). O neo-cerebelo permite o aparecimento de movimentosespontâneos de grande amplitude, com carácter unilateral por voltados dois meses. O predomínio da actividade bilateral vai manter-se durante muito tempo. 3º / 4º mês aparecem alguns movimentosvoluntários, (córtex).

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EVOLUÇÃO PSICOMOTORA PÓS-NATAL

• A postura habitual assimétrica – padrão reflexo-tónico cervical – e a atitude em flexão atenuam-se. Alguns reflexos começam a desaparecer ou são substituídas por acções intencionais.

• O aumento da capacidade de focagem e de convergência tornandomais coordenada a perseguição visual dos objectos, conjugada com a capacidade de manter a cabeça erecta e a alteração da postura de assimétrica para simétrica, torna possível o aparecimento da preensãovoluntária (3 meses) e o padrão visuo-manual-preensor a partir do 4º / 5º mês.

• A acentuação da actividade funcional do córtex no final deste períodotem a ver com a grande evolução da motilidade voluntária (preensão e locomoção).

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EVOLUÇÃO PSICOMOTORA PÓS-NATAL

• 3ª Fase Córtico-Subcórtico Espinal de predomínio Cortical (a partir dos 12/24 meses)

• Marcha livre e o aparecimento da linguagem. • A hipotonia fisiológica ainda se continua a manter (o

pico, 15 e 20 meses). A actividade psíquica acentua-se grandemente devido ao avançado grau de maturação de certas áreas do córtex.

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EVOLUÇÃO PSICOMOTORA PÓS-NATAL- em síntese segundo V. Fonseca, 1995

• Tonicidade: tem um papel fundamental no desenvolvimento motor, é ela que garante as atitudes, a postura, as mímicas, as emoções, de onde emergem todas as actividades motoras humanas .

•Equilíbrio: conjunto de aptidões estáticas (sem movimento) e dinâmicas (com movimento), abrangendo o controle postural e o desenvolvimento das aquisições de locomoção. O equilíbrio estático é o tipo de equilíbrio conseguido em determinada posição, ou a capacidade de manter uma certa postura. O equilíbrio dinâmico é conseguido com o corpo em movimento, determinando sucessivas alterações da base de sustentação.

•Lateralidade: traduz-se pelo estabelecimento da dominância lateral da mão, olho e pé, do mesmo lado do corpo. Geralmente acontece a confusão da lateralidade com a noção de direita e esquerda, que está relacionada com o esquema corporal. A criança pode ter a lateralidade adquirida, mas não saber qual é o seu lado direito e esquerdo, ou vice-versa. No entanto, todos os factores estão intimamente ligados. A lateralidade manual surge no fim do primeiro ano de vida, mas só se estabelece fisicamente por volta dos 4-5 anos.

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EVOLUÇÃO PSICOMOTORA PÓS-NATAL segundo V. Fonseca, 1995

• Noção Corporal: consciência de seu corpo e das possibilidades de expressar-se por seu intermédio. Ajuriaguerra (cit. por Fonseca,1995), diz que a evolução da criança é sinónimo de consciencialização e conhecimento cada vez mais profundo do seu corpo, e através dele esta elabora todas as experiências vitais e organiza toda a sua personalidade.

• Estruturação espaço-temporal: corresponde à organização funcional da lateralidade e da noção corporal, uma vez que énecessário desenvolver a consciência espacial interna do corpo antes de projectar o referencial somatognósico no espaço exterior (Fonseca, 1995). Emerge da motricidade, da relação com os objectos localizados no espaço, da posição relativa que ocupa o corpo, enfim das múltiplas relações integradas da tonicidade, do equilíbrio, da lateralidade e do esquema corporal.

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EVOLUÇÃO PSICOMOTORA PÓS-NATAL segundo V. Fonseca, 1995

• Praxia Global: define-se pela capacidade de realizar um movimento voluntário pré-estabelecido para um objectivo. A praxia global esta relacionada com a realização e a automatização dos movimentos globais complexos, que se desenrolam num determinado tempo e que exigem a actividade conjunta de vários grupos musculares.

Praxia Fina: compreende todas as tarefas motoras finas onde associa a função de coordenação dos movimentos dos olhos durante a fixação da atenção, e durante a fixação da atenção e manipulação de objectos que exigem controle visual, além de abranger as funções de programação, regulação e verificação das actividades preensivas e manipulativas mais finas e complexas.

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POSTURA / VERTICALIZAÇÃO

• 1 mês, atitude em flexão, a cabeça permanece oscilante e assiste-se já a uma torsão incompleta do tronco. Movimentos bilaterais.

• 3 meses, a postura passa a distendida–padrão reflexo tónico-simétrico;• 3 ½ meses, cabeça mantem-se direita;• 4 ½ meses, movimentos dissociados unilaterais. Segura a

cabeça quando arrastada pelos braços para a posiçãosentada. Parte superior do tronco encontra-se direita e a parte inferior curvada.

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POSTURA / VERTICALIZAÇÃO

• 6 meses, faz tentativas infrutíferas para se sentar, apoia-se emequilíbrio precário nas mãos colocadas à frente. Se agarrada pelasaxilas e apoiada nos pés, ergue-se fazendo força durante brevesmomentos.

• 7 meses, mantém-se sentada por momentos sem apoio;• 8 meses, ergue-se para se sentar. Mantèm-se de pé agarrada pelas

axilas, esticando as nádegas para trás.• 10-11 meses, o tronco apruma-se, desenha-se a lordose lombar e

pode por-se de pé firmando-se num apoio.• 12-14 meses põe-se de pé sozinha.

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ANDAR

• 6 meses, agarrada pelas axilas esboça passosisolados;

• 9-10 meses pode andar agarrada pelos duas mãose olhando para os pés;

• 14-15 meses anda sózinha.

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PREENSÃO: reacção do indivíduo face aoobjecto (Baruk, cit . Bergeron, 1983)

1º Interesse platónico pelo objecto que a criança segue com osolhos, mas não é acompanhado por qualquer acto (1º mês);

2º Aparecimento de descargas afectivas à vista do objecto (2º mês);3º Esboço de movimentos (impulsos que frequentemente não

atingem o objecto ) em direcção ao objecto (3º mês);4º Verdadeira preensão voluntária que sintetiza e coordena o

impulso para o objectivo e a sua realização (7 ½ meses).

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PREENSÃO:evolução do comportamento face aos objectos (Halverson, cit. Bergeron, 1983)

1º Localização visual dos objectos;

2º Aproximação da mão;

3º Preensão propriamente dita;

4º Exploração do objecto.

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PREENSÃO:evolução da aproximação da mão

1ª Fase-3-4 meses – a aproximação é lateral, faz-se com a extremidadedo braço. A única articulação que intervem é a do ombro.

2ª Fase - 6-8 meses – a mão aborda o objecto depois de ter descrito um movimento aproximadamente parabólico. O cotovelo já intervem mascontinua a dominar a articulação da espádua.

3ª Fase- 9 meses – a aproximação é directa fazento intervir todas as articulações do braço e da mão.

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PREENSÃO (Koupernick, cit. Bergeron, 1983)

1ª (3-4 meses) –Preensão cubito-palmar, que se faz entre a primeirafalange do auricular e a eminência hipotenar. É bastante imperfeita, a criança larga rapidamente aquilo que segura e é frequentementebimanual e simultanea. A aproximação é lateral.

2ª (5-6 meses) – Preensão palmar simples, consiste na empalmaçãoentre os 3 ou 4 últimos dedos e a palma da mão. Quando a criançaquer largar um objecto pequeno, raspa com os nós dos dedos sobreuma superfície dura para contrariar o reflexo tónico dos flexores. Nãoconsegue ainda agarrar dois objectos ao mesmo tempo, no final destafase larga um objecto para agarrar no outro. Fase intermédia de aproximação.

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ISCE 2006-2007 54

PREENSÃO (Koupernick)

3ª (7-8 meses) – Preensão palmar-polegar ou radio-palmar, o polegardeixa de ser um acessório inútil e passa a ter uma função auxiliarapesar de não haver ainda uma verdadeira oposição entre este e osoutros dedos. Inicia-se a preensão fina ainda de forma muitodesajeitada entre o polegar imóvel, colado contra a mesa e o bordolateral da falange do indicador –”pinça grossa”. Passa um objecto de uma mão para a outra e é capaz de agarrar um objecto em cada mão.

4ª (9/10 meses) – Preensão Radio-digital, instala-se o tipo definitivo de preensão. Aproximação é directa, com a intervençaõ de todas as articulações – o indicador serve de guia e é ele que se dirige para o objecto a agarrar. No final do primeiro ano a preensão fina efectua-se com a ajuda da “pinça fina”: oposição polegar-indicador

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NOÇÃO DE ESPAÇO

• Espaço bucal: coordenação sensório -motora=instrumento de investigação do mundo.Asactividades bucais também produzem sons. Às diferentes coordenações irão corresponderdiferentes sons que se vão relacionando com as impressõe quinestésicascorrespondentes. A audição irá participar nestas coordenações.

• Espaço próximo, relações semelhantes irão estabelecer-se entre as impressões visuaise as impressões que resultam da acção sobre os objectos circundantes, o que acaba porlevar a visão a assumir o comando das relações com o meio. Constitui-se o espaçopróximo que tem como raio o comprimento dos braços. A manipulação é essencial paradar às coisas uma significação objectiva, para que através dos gestos as distânciaspossam ser suprimidas e, o espaço se torne unificado e não uma mera sucessão de confinações.

• Espaço locomotor, à medida que o andar evolui o espaço próximo dá lugar ao espaçolocomotor.

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ESQUEMA CORPORAL

• «uma forma de integração, a partir dos dados sensoriais e sensíveis, que leva a uma representação mais ou menos consciente do nossocorpo, activo ou imóvel,, da sua posição no espaço, da postura dos diferentes segmentos e do revestimento cutâneo pelo qual entramosem contacto com o mundo » (Bergeron, 1982)

• Resulta da inter relação entre os desenvolvimentos neurológico e sensorial, motor e intelectual. Estrutura-se a partir dos dados exterioceptivos, interioceptivos e proprioceptivos provenientes do mundo exterior, dos segmentos corporais e do corpo total respectivamente.

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Aquisição do ESQUEMA CORPORAL: imagem no espelho

•Só aos 3-4 meses a criança fixa pela primeira vez a superfície do espelho colocada na suafrente;•Aos 6 meses relaciona pela primeira vez a relação entre o outro e a sua imagem no espelho;•Aos 8 meses procura agarrar a imagem no espelho;•Com 1 ano compreende que a imagem no espelho é apenas o reflexo do corpo e não umaentidade com vida própria. Esta imagem suscita e orienta reacções para com o seu pópriocorpo;•Aos 14-15 meses inicia exercícios espontâneos frente ao espelho (esconde-esconde, caretas,...);•Aos 2 anos adquire a noção do todo corporal: ainda que já antes a criança tenha tomadoconsciência das partes do corpo, a sua intgração no todo é tardia.NOTA: TODOS OS ESQUEMAS QUE A SEGUIR SE APRESENTAM FORAM RETIRADOS OU ADAPTADOS DE Fonseca, V. & Mendes, N., 1989

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ESQUEMA CORPORAL: SomatognosiaSOMATO GNOSIA

CORPO CONHECIMENTO

ASPECTO MOTOR ASPECTO PSIQUICO

ACÇÃO REPRESENTAÇÃO

PRAXIAS GNOSIAS

DADOS PROPRIOCEPTIVOS DADOS EXTEROCEPTIVOS

TOTALIDADE PSICOMOTORA DA CRIANÇA

ISCE 2006-2007 59

ESQUEMA CORPORAL: perspectivaneurofisiológica

Tomada de consciência do corpo na sua totalidade e respectivas partes intimamente ligadas e interrelacionadas com a evolução dos movimentos intencionais.

COMPONENTES:QUINESTÉSICA

SOCIAL VISUAL

LIBIDINAL VESTIBULAR

TÁCTIL

ISCE 2006-2007 60

ESQUEMA CORPORAL:concepçãopsicanalítica

• Sem a relação EU-CORPO não seria possível a relação Eu-Mundo e a relação Eu-Outros, nem a relação da criança consigo mesma. A imagem do corpo estrutura-se a partir das zonas erógenas:

ORALANAL

FÁLICO GENITAL

BOCA ÂNUS ORG.GENITAL MATU.SEXUAL

1 ANO 2-3 A 4-5 A adolescência

ISCE 2006-2007 61

Esquema Corporal:PSICOPATOLOGIA

ANOREXIA HIPOCONDRIA DISMORFOFOBIA DESPERSONALIZAÇÃOMENTAL SOMATOPSÍQUICA

CORPO

DEFOR-MADO

ALIENA-DOAMEAÇA-DO

AMEA-ÇADOR

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ISCE 2006-2007 62

Esquema Corporal:GÉNESE1. RELAÇÃO CRIANÇA - OBJECTO

OOBJECTO

O OBJECTO EXISTEO OBJECTO EXISTE PARA EM -SIESTÁ PARA SI ALÉM DE SI

A CRIANÇA A CRIANÇA A CRIANÇA AGE É O AGE SOBRE O SEM O OBJECTO

OBJECTO OBJECTO

ISCE 2006-2007 63

Esquema Corporal:GÉNESE• O CORPO é primeiro percebido como um objecto em si mesmo

para mais tarde ser um objecto no meio dos outros:

CORPO:objecto em si próprio

CORPO:objecto no meio dos outros

AGIR O CORPO AQUIS. CONHECI-MENTO DO CORPO

Aspecto operacional da IMAGEM do CORPO

Aspecto figurativo da IMAGEM do CORPO

ISCE 2006-2007 64

Esquema Corporal:GÉNESE• «O CORPO que age é uma unidade psíquica e mental que só pode

agir depois de identificado com o seu semelhante...» (Ajuriaguerra)

OS OUTROS

INTROJECÇÃO IMITAÇÃO IDENTIFICAÇÃO PROJECÇÃO

IMAGEM DO CORPO DA CRIANÇA

a criança é um objecto de relação com os outrosISCE 2006-2007 65

Esquema Corporal:GÉNESE• Pela relação com os objectos e com os outros O CORPO vai

passar de corpo agido a um instrumento criador e de apoio áconsciência:

CORPO AGIDO

CORPO ACTUANTE

CORPO TRANS-FORMADOR

RECEPTOR ESPECTADOR ACTOR

diálogo corporal diálogo corporal diálogo corporalcom a mãe com os objectos consigo próprio

REFLEXOS LOCOMOÇÃO PRAXIAS

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ISCE 2006-2007 66

Esquema Corporal:GÉNESEA criança descobre o seu CORPO função da utilização que lhe dá, das suas vivências e

experiências psicomotoras (subjectivas) - Wallon

descoberta dosoutros

descoberta de sipróprio

imitação descoberta dosobjectos

EXPERIÊNCIA

Asp.exterior

experimentaçãoautonomia

Asp interior

ISCE 2006-2007 67

ESQUEMA CORPORAL: desenvolvimentosegundo Ajuriaguerra

CORPO CORPO CORPO CORPOVIVIDO PERCEBIDO CONHECIDO REPRESEN-. TATIVO

Narcisismo Auto-erotismo Complexo IdentificaçãoÉdipo

receptáculo habitáculo localizado simbólico

ACÇÃO PERCEPÇÃO OPERAÇÃO REPRESEN-TAÇÃO

ISCE 2006-2007 68

Bibliografia geral

• Ajuriaguerra, J. (2000). Manual de Psiquiatria Infantil. Barcelona: Paidós.• Bergeron, M. (1982). Psicologia da Primeira Infância. Lisboa: D.Quixote.• Fonseca, V. & Mendes, N. (1988). Escola, Escola, Quem és tu?-perspectivas

psicomotoras do desenvolvimento humano. Lisboa: Notícias.• Fonseca, V.(1988). Contributo para a génese da psicomotricidade. Lisboa: Notícias.• Fonseca, Vítor da (1999). Perturbações do desenvolvimento e da aprendizagem:

tendências filogenéticas e ontogenéticas. Lisboa. Edições FMH.• Le Boulch,J. (1987). O desenvolvimento psicomotor - do nascimento até 6 anos.

Porto Alegre: Artes Médicas. • Schneeberger de Athayde, J. (1987). Elementos de Psicopatologia. Lisboa: Fundação

Calouste Gulbenkian.• Wallon, H. (1979). Do Acto ao pensamento. Lisboa: Moraes.• Wallon, H. (1983). As Origens do Carácter na Criança. Lisboa: Moraes.• Wallon, Henri (1995). A evolução psicológica da criança. Lisboa: Nova Biblioteca

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