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Design Faz Tecnologia Criativa? Eduardo Lopes* 1. Por que Design? 2. Polltlca de Criatividade Tecno- lógica. 3. Criatividade - Cibernética - Tecnologia. 4. Um Parêntesis: Heurlstlca e Criatividade. 5. Design... Caráter Interdisciplinar. e Criatividade. 6, Amplitude da Criatividade x Desenvolvlmffflto. 7. O· Design ea Em- prêsa. 8. Exportaçio - Tecnologia Mercadológica. 9. O Produto' - Entidade Aut6noma. 10. Proposlçio. 11. Ter- minologia. 12. S/ntese Proposlolona/. 13. Nota s6bre S/n- tese Proposlonal. 14. Conclusio. 1. Por que D•• Ign1 Do ponto de vista das atividades eco- nômico-sociais, talvez a maior responsabilida- de do design sejà introduzir uma nova dinâ- mica desenvolvimentista. E não o poderla dei- xar de ser, já que sua atividade se processa tlpicamente à base de inovação e criação. No momento, o melhor produto do desenho in- dustrial em nosso pais será o próprio desenho Professor titular da cadeira de Desenho Industrial da F. U. M.A., Minas Gerais, Professor de Criativi- dade da Facl;lldade de Comunicação Publicitária, São Paulo, e Professor de Análise e de Iniciação às Téc- nicas Industriais da FEBASP - Formação. de Profes- sOres. São Paulo. R. Adm. Emp., Rio de Janeiro, Industrial condizente com a realidade brasiJeI•. 'ra. Afinal, o desenho industrial também corre o risco de tornar-se a mais recente importa- ção, pois a Indole geral de nossa conjuntura cultural não crê na geração espontânea, natu- ralou artificial dos conceitos e pensamentos válidos. Esta autêntica modéstia de princlpios está francamente patenteada em nossa his- tória. Eis que somos vítimas a cada momen- to da importação de conceitos alienados de nossa realidade. Apelamos para uma reação em tôdas as áreas, pois ela se faz urgente e imperativa. O govêrno federal deve preocupar-se sêriamente com o produto nacional. Outros países o fazem sistemàticamente. A exemplo, assinalamos o préfácio do livro Made In Ger- many, endossado pelodr. Ludwig Erhardt, ex-chanceler da República Federal da Alema- nha, que, a determinada altura, afirma: ••... Es- ta reputação (do produto nacional) deve ser mantida a custo de qualquer esfOrço". A obra ainda assinala os fatOres genéricos que con- correm para o sucesso do produto alemão e destaca a forma como o fator mais decisivo dentre êles. A nós caberia um procedimento semelhante? Vale a pena estabelecer uma fi- losofia de made In Brazll1 Tal orientação cor- responderia à realidade qualificativa do ori- ginai estrangeiro? Diremos que sim, se a 11(1): 95-106 Jan.lMar. 1971

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Design Faz Tecnologia Criativa?Eduardo Lopes*

1. Por que Design? 2. Polltlca de Criatividade Tecno-lógica. 3. Criatividade - Cibernética - Tecnologia.4. Um Parêntesis: Heurlstlca e Criatividade. 5. Design...Caráter Interdisciplinar. e Criatividade. 6, Amplitude daCriatividade x Desenvolvlmffflto. 7. O· Design e a Em-prêsa. 8. Exportaçio - Tecnologia Mercadológica. 9. OProduto' - Entidade Aut6noma. 10. Proposlçio. 11. Ter-minologia. 12. S/ntese Proposlolona/. 13. Nota s6bre S/n-tese Proposlonal. 14. Conclusio.

1. Por que D•• Ign1

Do ponto de vista das atividades eco-nômico-sociais, talvez a maior responsabilida-de do design sejà introduzir uma nova dinâ-mica desenvolvimentista. E não o poderla dei-xar de ser, já que sua atividade se processatlpicamente à base de inovação e criação. Nomomento, o melhor produto do desenho in-dustrial em nosso pais será o próprio desenho

Professor titular da cadeira de Desenho Industrialda F. U. M.A., Minas Gerais, Professor de Criativi-

dade da Facl;lldade de Comunicação Publicitária, SãoPaulo, e Professor de Análise e de Iniciação às Téc-nicas Industriais da FEBASP - Formação. de Profes-sOres. São Paulo.

R. Adm. Emp., Rio de Janeiro,

Industrial condizente com a realidade brasiJeI•.'ra. Afinal, o desenho industrial também correo risco de tornar-se a mais recente importa-ção, pois a Indole geral de nossa conjunturacultural não crê na geração espontânea, natu-ralou artificial dos conceitos e pensamentosválidos.

Esta autêntica modéstia de princlpiosestá francamente patenteada em nossa his-tória. Eis que somos vítimas a cada momen-to da importação de conceitos alienados denossa realidade. Apelamos para uma reaçãoem tôdas as áreas, pois ela se faz urgente eimperativa.

O govêrno federal deve preocupar-sesêriamente com o produto nacional. Outrospaíses o fazem sistemàticamente. A exemplo,assinalamos o préfácio do livro Made In Ger-many, endossado pelodr. Ludwig Erhardt,ex-chanceler da República Federal da Alema-nha, que, a determinada altura, afirma: ••... Es-ta reputação (do produto nacional) deve sermantida a custo de qualquer esfOrço". A obraainda assinala os fatOres genéricos que con-correm para o sucesso do produto alemão edestaca a forma como o fator mais decisivodentre êles. A nós caberia um procedimentosemelhante? Vale a pena estabelecer uma fi-losofia de made In Brazll1 Tal orientação cor-responderia à realidade qualificativa do ori-ginai estrangeiro? Diremos que sim, se a

11(1): 95-106 Jan.lMar. 1971

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expressão made In Brazil corresponder, emtêrmos de linguagem universal, a uma consci-entização nacional da necessidade de iden-tificar o produto nacional autêntico, cujas raí-zes criativas tenham origem dentro dos limi-tes do nosso território. No entanto, a divulga-ção franca do dístico fabricado no Brasil, quecomumente encontramos nos produtos resul-tantes de implantação fabril em nosso paísde empreendimentos estrangeiros, simulauma satisfação não ver.dadeira. !: que taisprodutos não são originados de um esfôrçode criatividade nacional. Não queremos negaros benefícios de implantação de indústriasmistas de capital nacional e estrangeiro. Sa-bemo-Ia necessária em muitos casos. Mas aosresponsáveis pelo desenvolvimento econômi-co-social, cumpre integrar em suas equipes odesenhista industrial nacional e fornecer-lheambiente próprio para o melhor desenvolvi-mento de seu trabalho no interêsse geral. Por-tanto, não nos referimos à submissão do de-senho industrial à realidade, ao status, mas àcolocação do design em condições de impri-mir com realismo um impulso diferenciado àtemática do desenvolvimento nacional. Numalinguagem essencial e especlficamente profis-sional, propomo-nos a desenvolver esta ques-tão em nosso trabalho.

O fato é que uma nova profissão es-tá sendo introduzida em alguns estados doBrasil, sem que uma conscientização se pro-cesse em todo o sistema público-privado, nointuito de aceitá-Ia como interessante e real-mente válida para o progresso do país: a dodesenhista industrial. Cumpre provocar umaatitude nacional favorável à importância dacriação. Isto se faz mister, já que o país igno-ra as vantajosas conseqüências econômicase sociais do incremento da criatividade em to-dos os níveis. A criatividade pode ser vistacomo o potencial elaborativo-Inovacional, oua capacidade de um povo de criar, e mesmoacatar Inovações. Sempre fomos pouco dadosao aproveitamento e beneficiamento daquelepotencial, e por isso mesmo, arcamos com as

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conseqüências da necessária importação deidéia e know-how.

"Nem os exércitos, nem os capitais,ou riquezas naturais, são marcas do poderio,mas a capacidade de imaginar e criar." 1 Es-tá implfcita, é claro, a capacidade de ges-tão criativa. Numa comparação mais ou me-nos objetiva, podemos colocar a criatividadecomo capaz de produzir rendimentos muitosuperiores à capacidade de uma nação emexplorar suas próprias riquezas naturais. Is-to porque, até mesmo para explorá-Ias sãonecessárias as inovações.

No momento, portanto, cabe assinalarque no processamento do deslgn, duas ten-dências profissionais concorrem para a suaedificação: a tecnologia e a criatividade; elasrespondem à necessidade de integração, por-que são paralelas entre si e ampliam-se suaspossibilidades quando de suas múltiplas e ten-soriais relações. Digo tensoriais, porque deum modo geral, às iniciativas numa destasáreas deve corresponder sempre uma reaçãona outra, uma imagem de retroalimentação.Por exemplo: um nôvo material criado impli-ca novos produtos (criatividade); mas o opos-to também é verdadeiro, isto é, a necessida-de de se desenvolver novos produtos conduzàs descobertas de laboratório (tecnologia).A ampliação em larga escala desta dinâmi-ca, a sua extensão política, faculta o desen-volvimento auto-sustentado.

2. Política de criatividade tecnológica

Enumeramos, a seguir, as justificativasà sugestão que fazemos no sentido de se se-gUirem providências que possibilitariam a im-plantação da política de criatividade tecno-lógica:HI) Criação de um Ministério de Criatividade

Tecnológica (MCT). Como algumas desuas providências e atribuições, destaca-mos:a) vinculação do atual Instituto Nacional

da Propriedade tndustrtat (antes DNPI)

1 SCHREIBER, J. J. S. o ",fIo americano. p. 273.

Revista de Administração de Emprêsas

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ao MCT e sua total ~namlzação emtêrmos de Criatividade Tecnológica. edeslgn.

b) assistência técnica geral- informação.c) pesquisas de consumo e comunicação.

2') Instituição obrigatória da cadeira de cria-tividade em todos os nlveis escolares, in-clusive superiores e cursos de pós-gra-duação. 2

3') Instituição de um sistema de estimulo fis-cal, para emprêsas que porventura façaminveStimento em criatividade tecnológica.

Para melhor entendimento da amplitu-de do conceito, vale dizer que, do ponto devista poHtico-social e cultural, as regiões nãoevoluldas devidamente, o são porque care-cem de criatividade. Dal, posslvelmente, sepode deduzir sua importância estratégica; efalamos então de criatividade política, um te-ma em abertol... Afinal, até hoje desconhe-cemos uma idéia realmente original que ti-vesse sido capaz, em nosso caso particular,de promover uma integração, sempre resul-tando disso um escoamento de interêSse pa-ra uma outra área de gravitação ideológica,fato inevitável quando não se têm idéias pró-prias.

Num enfoque regional, a SUDENE nosfaz lembrar uma situação clássica de con-tradição e dúvida desenvolvimentista. A situa-ção ali seria outra se se estabelecesse umamplo programa de criatividade. Realmentefala-se muito em falhas, I' principalmente noque concerne aos Departamentos de Indus-trialização e de Recursos Humanos. A verda-de é que as discutidas teses sObre aspectosde investimento, implantando indústrias emestágio avançado de desenvolvimento tecno-lógico, alta mecanização e mesmo automati-

. zação, numa região onde impera a ociosida-de humana, cria problemas de desemprêgo,agravado pela afluência de contingentes depopulação, principalmente trabalhadores atraí-

2 Pouco antes do Sr. Jarbas Passarinho tornar-se mi-nistro da Educação em meados de 1969, tivemos a opor-tunidade de lhe falar na Delegacia Regional do Trabalho,em São Paulo, sObre ••... uma proposta de criatividadetecnológica ••..

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dos pelo rumor da implantação de novas in-dústrias. A observação é válida para muitasoutras regiões e, quem sabe, para o pais co-mo um todo. Afinal, o processo mesmo desubstituição de importações se fêz, como é sa-bido, a baixo Indice de absorção de mão-de-obra. ~ um critério de eficiência e integração.Longe, entretanto, de serem absorvidos pelocampo de trabalho, permanecem disponlvels;eis que são poucos os aproveitados pela no-va fábrica. Outro problema, que deve preo-cupar todo brasileiro, é o da necessidade dese dar mais atenção ao produto autóctone,fruto de criatividade (invenções), tal como empalses desenvolvidos da Europa, nos EUA, ealgumas nações orientais. Afinal, indústriasdevem ser implantadas de preferência segun-do produtos criados e registrados em nossoterritório. Ambos os enfoques, integração ver-tical e horizontal, se traduzem num embate en-tre duas correntes e sua harmonização. Estasduas correntes, reafirmamos, são: criativida-de. tecnologia.

Eatabelaçamos um paralelo:

1 .a) A criatividade se processa mediante aelaboração de formas e sistemas noscampos da habitabilidade, vivência, bem-estar e comunicação humana, inovandoem suas estruturas.

1 .b) A tecnologia se desenvolve, segundo apesquisa e descoberta das leis racionaise sua aplicação, quer no campo dos me-canismos, quer no das estruturas, aquiconsideradas face à máquina ou à pró-pria vida. ~ o caso das pesquisas ciber-néticas, por exemplo.

2. a) Constitui tOda a faixa formada pela prag-matização da arte, do cinema, da músi-ca, do teatro, da arquitetura. do desenhoindustrial, das atividades literárias, dasgráficas, da publicidade em gerai, e suasramificações.

2. b) Compreende tOda a faixa onde se achamenvolvidas tanto a investigação cientlfl-ce, como a engenharia em seus diversos

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ramos, as atividades econômico-admi-nistrativas e profissões afins.

3. a) Profissionalmente, também, desenvolverelações graduais desde o nível supe-rior; manifesta-se nos escalões médios eocorre também entre trabalhadores sim-ples, especializados. Em todos êsses ní-veis, o indivrduo assume o papel de in-ventor.

3.b) Idem. Profissionalmente, possui todos osescalões, desde o superior aos nrveistécnicos e inferiores. .

Esta colocação, porém, merece algunsreparos quanto à arquitetura e ao desenho in-dustrial; ambos assumem, por vêzes, uma co-notação arnblçua e envolvente numa área co-mum, de grande afinidade; algo que se po-deria definir como uma teconologia ambiental.Mas no Brasil, como veremos mais adiante, apreocupação maior deve ser outra.

Como pragmatização sistemática daciência, a tecnologia busca o beneficiamentodas descobertas cientrficas. A tecnologia, co-mo ciência, se processa por uma forma depensamento especialmente dedutivo, quer aproposição inicial seja abstrata ou resulte daobservação de um fenômeno natural. Por ou-tro lado, a criatividade é uma pragmatizaçãoda capacidade artrstica, é indutiva e proposi-tiva. ~ forçoso salientar que esta é uma con-ceituação técnica devidamente esclarecida ereconhecida por todos; reafirmamos, no en-tanto, sua validade.

3. Criatividade - Cibernética - Tecnologia

o que nos parece, porém, mais interes-sante neste paralelo (criatividade-tecnologia)é o seu efeito de retroalimentação. ~ que, porum lado, faculta maior iniciativa de pesquisase, por outro, conduz tais pesquisas a bonstêrmos. São dois meios distintos, sem dúvida,mas que unidos compõem um' par bastante di-nâmico. Em meados de 1969 fizemos uma pro-posta ao IPT - Instituto de Pesquisas Tecno-lógicas de São Paulo, sugerindo tal dinâmica.Em verdade, um órgão de pesquisas estrutu-

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rado neste processo híbrido assume a propor-ção de um sistema que é, por si mesmo, auto-sustentável. Tal slstema faculta um ciclo emduplo sentido do material à forma; ou da for-ma à pesquisa do melhor material condizentecom suas necessidades. Por fim, estabelece-se o fluxo informativo bidirecional, como sededuz da Cibernética e Sociedade. 3 ~ comose neste particular o IPT se tornasse clientede si mesmo.

4. Um parintesls: heuristlca e criatividade

Algo semelhante àquele binômio ocor-re também em nosso cérebro. Bem no fundode nosso cérebro, em algum recanto obscuroda mente, um complexo sistema emissor ereceptor televlslonal funciona independente-mente da nossa vontade. O pensar não inde-pende dêsse aparelhamento. Poderíamos de-nominar êsse nívet de captação, de metaper-cepção e meta-emissão, as origens da arte eda criatividade. Mas cada idéia é, a cada mo-mento, uma forma de pensamento. Isto querdizer que no ato de pensar deve concorrera globalidade mental e psíquica e atotalida-de informativa; é tOda a massa fluida que seconforma e deforma em pontos tensoriais. Oespaço converge e se afunila sob tensão cri-ando bolsões. A criatividade como processose diferencia da heurística por ser ela um sub-sistema e a heuristlca, uma estruturação fi-nal. A questão da dinâmica da mOdelação ce-rebral (heurística), segundo novas teorias ci-bernéticas, torna-se altamente complexa, poisneia se aplica tôda uma geometria euclidianaao espaço mental, pois êste assume curvatu-ras positivas, negativas ou reversas; além dis-so, essa conformação é mutável a todo ins-tante, é uma topologia mental a exigir per-cepçã&e visualização espacial. Criativamen-te, uma idéia ~ uma polarização, um sistemagravitacional global; explicamos: nossa men-te é um espaço cósmico, onde perambulamcorpos (informações); quando uma informa-

3 WIENER, N. ClbenMtlca e IOcledade. p. 49.

Revista de AdmlnlstraçiJo de Empr's.,

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çãO maior ou acentuadamente enfatizada secoloca estrategicamente face a um determi-nado repertõrlo, ela cria no espaço, uma po-larização ou uma convergência, isto é, passaa existir um sistema gravitaclonaJ. ~ste siste-ma bem pode ser uma idéia complexa. Assim,podemos descrever a criatividade como sis-tema, o qual ocorre em nível profundo, sincré-tico e subconsciente.

A heurlstlca se parece com um pro-cesso decisório em que se subentende umasituação estabelecida (ou preestabelecida);ela envolve uma decisão a tomar diante deum bit, " uma opção imprevisível. À luz dateoria da informação, a inovação pode ser en-tendida como uma informação com alto graude imprevisibilidade, tal como um ruído numcanal; êle será tanto mais Informativo quantomenos previsfvel naquele canal. A informaçãodeslocada de seu contexto passa a constituir-se em inovação. Parece-nos que a heurísticafaculta solução de problemas imprevisfveis,mas criatividade implica criá-los, ou seja, al-terar o processamento informático subcons-ciente.

O reconhecimento dinimlco, infcio doprocesso heurfstico, é na realidade, o fim dafase de processamento subliminar ou do ní-vel sincrético 5 de elaboração.

5. Design... caráter Interdisciplinar ecriatividade

O deslgn estabelece a malha de rela-ções: é uma estruturação profissional. Cum-pre ainda examinar as múltiplas interações doprocesso quando a tecnologia pode ser cria-tiva. Prevalece, entretanto, oprlnclplo bási-co que a orienta: a descoberta. O oposto tam-bém é verdadeiro, isto é, a criatividade podemanifestar-se tecnologicamente, especialmen-te quando se fala de uma metodologia siste-mática da criatividade, o que talvez corres-ponda ao conceito de designo Afinal, deslgn é

" As origens do bit inconsciente são desc.onhecidas.O livro Heurrstica, de Puchkin, aponta. a modelaçlo co-mo uma atividade auto-reguladora (p. 100).

5 Sincrético, ou seja, subestruturado.

Janeiro/Março 1971

entendido como a especlallzaçlo em Id61asglobais, o que nos parece uma qualidade in-teressante também ao administrador de em-prêsas a quem interessa estudos de criativi-dade ou da teoria do designo

Ademais. a criatividade envolve umconceito infra-estrutural, do que não podemprescindir. as profissões modernas, especial-mente a do desenhista industrial. Voltemos àsconsiderações sôbre desenvolvimento.

8. Amplitude da criatividade x d••• nvolvl-mento

~ necessário deixar bem claro que oque se propõe no presente trabalho é a com-preensão de uma criatividade assentada embases amplfssimas,que envolvesse a própriaatitude nacional, principalmente das altas es..feras administrativas. Propõe-se uma conta-minação geral. Isto porque vigora um concei-to restrito de criatividade. Ainda mais quandose pretende criar a tecnologia nacional, pró-pria, mais urgente se torna mobilizar as cons-ciências no entendimento do caráter ambí-guo dessa tecnologia. A sêde de tecnologiadeve ser atendida com imaginação e iniciati-va. Assim, tecnologia e criatividade .10 co-mo os dois hemlsf6rlos de uma mesma esfe•.ra. Decisivamente o desenho industrial é asfntese entre ambas.

Lembrando aqui os retatõrlos das co-missões de tecnologia do govêrno do Estadode São Paulo, chamamos a atenção para aênfase que se deu, em certas fases, aose s t u dos da tecnologia mercadológica. I:verdade que o desenho industrial foi aliassinalado como fator de incremento dês-se i d e a I. Mas existe uma grande resis-tência por parte da sociedade, das clas-ses dirigentes e da própria comunidade emreconhecer que é preciso ir ao encontro dasnovas profissões. Nos. relatórios posterioresnota-se, com pesar, uma certa omissão a ês-ses dinâmicos aspectos da tecnologia. 1:, tam-bém, bastante válida a referência que as pri-meiras proposições daquelas comissões fa-zem ao problema das invenções 1"10 estado.

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êste é um aspecto delicado do problema. Emnosso pais, falar em invenções desperta, in-felizmente, uma imagem com uma conotaçãopejorativa; quando não, assume-se uma atitu-de paternalista, como se o individuo criativofôsse digno de comiseração. Como exemplo, .basta verificar o que ocorre com os órgãosdedicados ao amparo, à assistência ao inven-tor. ~ simplesmente degradante. O que se fazé muito pouco, não tem sentido. Há mesmoo perigo de uma tecnologia vir a favorecer, noBrasil, unicamente aos já desenvolvidos poresfôrço de integração vertical. POde tornar-seuma tecnologia tão importada e alienante aoBrasil como certos tipos de empreendimen-tos que vieram a título de substttulçlo deimportações. Ao nosso pais seria posslvelcriar uma ampla rêde de indústrias manufa-tureiras? Imagine só, cobrando royaJtl•• , mer-cê de uma nova tecnologia! A imagem temcabimento; não há de ser, porém, coma-atuale absurda situação. ~ o velho problema damorosidade com que o DNPI (DepartamentoNacional de Propriedade Industrial) vem efe-tuando os registros e as terrlveis conseqüên-cias dêsse atraso. Quando em 1968, o entãopresidente da ABAPI 6 - Associação Brasi-leira dos Agentes da Propriedade Industrial- Dr. Custódio de Almeida, advertiu sObre asconseqüências do atraso nos registros, quetomam cada vez mais um caráter desastrosoe imprevisível, não encontrou um apoio ma-ciço da parte dos interessados, como seriade se esperar. Lutar pela modernização doDNPI é uma campanha meritória que deman-da de nossa parte todo o apoio.

No 119 Seminário Nacional de desenhoindustrial (maio de 1968, Belo Horizonte), 7

foi-nos posslvel levantar debates em tOrnodos problemas relativos ao interêsse repre-

6 Numa série de debates realizados nas federa-ções industriais (Rio de Janeiro, São Paulo e Minas,dentre outras). Participamos das discussões na Fede-ração das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG), em 1968.

7 No 11 Seminário Nacional de Desenho Industrial(Belo Horizonte, maio de 1968) contamos com apresença de um representante da ABAPI (o semináriofoi realizado também na FIEMG). Nosso pronunciamento

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sentado pela Legislação de Propriedade In-dustrial no Brasil, e das conseqüências dano-sas da complexidade e atraso nos registros,requerimento de patentes ou prioridade de fa-bricação. Não só porque desenhos industriaiscomo invenções em geral têm necessàriamenteque ser registrados no DNPI, como também pe-lo fato de que ao deslgn cabe reformular pro-postas inventivas, quer de origem particular,quer industrial, facultando-lhes por seus mé-todos aquelas qualidades formais que lhesgarantirão sua plena realização como produ-to de série. Isto é tanto válido para invençõesmecânicas, como especialmente para mode-los industriais, embalagens, slmbolos ou mar-cas, ou mesmo processos. Isto tem uma finali-dade maior, endógena, de desenvolvimento apartir de fatOres internos, e não só exógenaque é o desenvolvimento por pressão externade novas tecnologias. (Admlnlstraçio nos pai-ses em d•• envolvlmento, de Fred W. Riggs,edição F.G. V.)

Precisamos salientar aqui uma linha decoerência com o pensamento de uma obraimportante de nossos dias, Ideologia da se-ciedade industrial, de Herbert Marcuse que,à página 61, nos diz da "introdução da tecno-logia nos palses atrasados". ~Ie fala da ••tra-dição e dos estilismos autóctones que ofere-cem resistência àquela sobreposição de tec-nologia". E mais, " ... a revolução social, areforma agrária e a redução do superpovoa-mento seriam requisitos, mas nio a Industria-lizaçio nos padrões das sociedades desenvol-vidas" (o grifo é nosso).

O problema ainda consiste em fazercom que êsse desenvolvimento autóctone seproceda sem prejuízo do sistema implantadopelos dois grandes pólos mundiais, superde-senvolvidos, condição esta sine qua non desua operacionalidade.

ali foi no sentido de vincular o atual DNPI - Depar-tamento Nacional de Propriedade Industrial - MIC -e sua modernização, pela adoção do computador, aoMln!stérlo da Tecnologia que na ocasião se pretendiacriar. Também pronunciamos a respeito do interêsseque representaria um Ministério de Criatividade e Tec-nologia - por seu valor altamente estratégico para odesenvolvimento nacional.

Revista de Admlnlstraçl.o de Empr'sa8

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7. O deslgn e a emprês.

Encarado sob determinados pontos devista, cabe reconhecer a existência de certasbarreiras ao desenvolvimento do desenho in-dustrial. Em nosso caso, as dificuldades seiniciam pela avaliação do trabalho criativo.Afinal, empresários e designera iniciam agoraum diálogo nesse sentido e as perspectivasde um entendimento a curto prazo parecemum pouco duvidosas, exigindo afinal um es-fôrço de boa vontade.

.' O sistema de royaltlas ou pagamentode percentuais constitui um método pouco di-vulgado e de diflcil processamento em nossomeio devido à dificuldade de contrOle sObre aprodução e o mercado. Aliás, isto exige umasistemática e legislação de propriedade in-dustrial que, em nosso país, é inteiramenteinsatisfatória. "Uma reformulação naquele se-tor torna-se imperativo de primeira grande-za", reafirmamos. Outros problemas consti-tuem fator de preocupação, tais como a ine-xistência de elementos profissionais de nfvelmédio, capazes de construir protótipos. Talprofissional atenderia ao de.lgner, seu supe-rior em cultura e capacidade criativa, imedia-tamente após o projeto ou nas fases de fer ..mentação e pesquisa. ~ que a indústria na-cional normalmente não conta com empre-gados capacitados para tal e nem pode arcarcom os onerosos custos dos protótipos. Sa-bemos que êsses custos podem atingir deze-nas ou centenas de vêzes o preço de umaunidade produzida em série. Um setor a sersocorrido, portanto, é o da protctípla 8 (têr-mo que propomos à falta de outro). E temuma função estratégica, pois soluciona umduplo problema: o da potencialidade inova-cional e o da capacidade elaborativa. Numpequeno enfoque, assinalamos o que uma ati-vidade de prototipia pode fazer do ponto devista humana ou social:a) a integração de artesão e inventores entre

si (mútua integração processo-inovação), esua real colocação no campus experimen-tai fabril. A título de exemplo, citamos os

Janelro/~ar99 .SQ11

famosos carrozlere., construtores de avan-çadas linhas de veículos automotores. ~melhor que estimular programas de arte-sanato.

b) formação e preparação de um nOvo tipode elemento especializado, num programade formação de mão-de-obra, com um en-foque preciso de tecnologia da forma nosdiversos ramos dos modelos industriais.

c) faculta a primeira avaltaçãc dê um nõvoproduto proposto, permitindo a realizaçãode um trabalho de profunda satisfação psi-cológica.

Do ponto de vista da indústria e domercado, o protótipo se presta ainda a estu-dos de pré-Iançamento, isto é, a construção(ou produção em pequena escala) de mode-los com a finalidade precípua de testes mer-cadológicos, pesquisa de opinião ou em ní-vel subliminar, de tendências, gostos e pre-ferências do consumidor.

Assim como o desenho industrial pro-move a integração tecnologia-criatividade, aprototlpla conduz também à sua integraçãonum nível médio e, por isso mesmo, mais ime-diato. A formação de prototipistas constituia superação de uma grande dificuldade ao de-senvolvimento do próprio desenho industrial,como da indústria, e por extensão, do produ-to nacional.

8. Exportação - tecnologia mercadológica

Perguntemos se é possível falar de di-versificação e de exportação quando os pro-dutos essencialmente nacionais não se achamdevidamente evoluídos para uma tal conquis-ta mercadológica. Falamos das qualidadesformais que lhes possibilitarão tão almejadapenetração nos mercados externos em fran-ca concorrência, quando falta até mesmo aImagem da amprêsa. Ali, especialmente, oproduto deve ser, por si mesmo, a mensagem.

8 PROTOTIPIA - tOda atividade relacionada à exe-cução de modelos, simulacros, testes em protótipos: usode protótipos para efeito de pesquisa de mercado etc.

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9. O produto - entidade aut6noma

Num enfoque essencialmente criativo,dentre os fatôres primordiais, contamos aquê-leem que, no âmbito dos manufaturados ebens de utilização em geral, o produto as-sume um caráter superior até mesmo à pró-pria indústria. Em têrmos de desenho indus-trial brasileiro, cabe uma concieituação doproduto como uma entidade absolutamenteautônoma do mundo da produção. Isto querdizer que devemos buscar uma colocação doproblema, face à estratificação empresarialbrasileira, ainda atomística em têrmos um tan-to mais proposltlvos, com certo desprendimen-to e natural fluência criativa. Tais produtosdevem superar o lapso do mútuo conhecimen-to, deslgn-indústria, impossível de ser resol-vido a curto prazo, deslocando a atividadede criação do produto, forma ou modêlo, pa-ra uma área transcendente, Independentemen-te da emprêsa que o deverá adotar. À emprê-sa caberá, num esfôrço de percepção e inte-gração, inserir-se no sistema proposto, à me-dida de suas possibilidades operacionais, pro-dução e mercado. ~ que os novos produtosou modelos serão portadores de um poten-cial que lhes permita a abertura de amplaspossibilidades mercadológicas, às quais asemprêsas se vincularão parcial ou totalmen-te. Convém, naturalmente, nesses casos, arealização do projeto específico, envolvendoengenharia do produto e marketing dentrodas novas coordenadas econômico-adminis-trativas.

No Brasil, portanto, o desenho indus-trial 9 deve suprir a falha criativa global, pre-encher o vazio, isto é, o desenhista industrialdeve Inventar, 10 êle próprio, sempre que pos-sível, as novas utilidades e destinações diver-sas do desenho industrial. Ou mesmo, atravésde grandes Instltulç~es de pesquisa e de.en-

9 Um nome grosseiro para uma atividade tio amplae sutil.

10 Perdoem o têrmo Invençlo colocado aqui; subs-tltul-Io-emos logo adiante por outro mais interessanteface ao de.lgn. '

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volvlmento, planejar atividades; programas in-tegrados e grandes sistemas administrativose econômico-sociais, como, por exemplo, noplanejamento de núcleos industriais (distritosou cidades), no sentido de promover as ativi-dades do potencial criativo-elaborativo local,mobilizando inventores e núcleos de produ-ção semi-artesanal. Podemos denominar talroteiro criatividade industrial. Sentimos ne-cessário, enfim, que alguns dos nossos co-legas de profissão, que posalvelmente pen-samde forma diferente, reflitam no fato deque na nossa conjuntura é preciso preocupar-se menos com os poucos e grandiosos pro-jetos e, em maior escala, com a deflagraçãode uma grande quantidade de pequenos emédios empreendimentos. Mas uma atividadeassim Indireta pode desenvolver-se mediantea criação de sistemas de produtos e formasautônomas, assimiláveis pela emprêsa, medi-ante plariejamento. ~ que precisamos ser ori-ginalmente produtivos.

10. Proposiçlo

Tôda a problemática anteriormente as-sinalada, sua dinâmica operacional, os aspec-tos positivamente reflexivos de sua imagemcoerente e autêntica, têm para o futuro daprofissão no Brasil e no interêsse geral queé Ó da nacionalidade, uma importância funda-mentaI. Tudo se liga às razões históricas doIndustrial deslgn, mas num sentido diferencia-do. i:sse têrmo inglês, como se sabe, não temum correspondente perfeito em nossa língua.Por outro lado, essa profissão se desenvol-veu em países onde a evolução industrial jáera uma realidade; onde a indústria se for-mava em bases profundamente criativas e só-lida tradição artesanal. E especialmente on-de já se dispunha de uma consciência tecno-lógica própria e ainda uma consistente for-mação cultural, que originava um sadio es-pírito de concorrência mercadológica tantointerna como externa. Lembremos,' porém,que no Brasil, como é sabido em especialnas áreas de planejamento, tal estágio de de-

Revista de Administração de Emprêsas

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senvolvimento está apenas em formação. Aproblemática do desig.n, numa região não de-senvolvida, mereceu o pronunciamento de To-maz Maldonado, ex-diretor do Hochschule FürGestaltung Ulm (uma escola de deslgn), noCongresso Internacional de Desenho industrial(o International Council of Societies of Indus-trial Design realizou-se em Viena em 1965),quando êle se declarou a favor de umdesigndiferenciado para regiões subdesenvolvidas. 11

Podemos acrescentar que uma tal atividadeno Brasil deve levar-nos a preocupar-nos compropostas de produtos capazes de absorverampla mão-de-obra, fundamentando-se, por-tanto, em especial, sObre razões de custo so-cial, diferentemente das origens tradicionaisdo deslgn. Assim, o que nos países industriali-zados se constituiu em retroação positiva,com Uma função mais ou menos suplementarde alimentação do processo em marcha, aqui,entre nós, significa mais um esfOrço no sen-tido de mobilizar o próprio sistema, contraum status contraditório, ou seja retroação ne-gativa, origem da própria evolução. Sendo as-sim, se não é uma função alimentadora, queseja terapêutica. Mas essa verslo profissio-nal, fruto de tão vastas argumentações con- .junturais implica necessàriamente uma revi-são terminológica. Essa questão levou-nos adefender, no referido seminário nacional dedesenho industrial em Belo Horizonte, a te-se de que o nome da profissão deve ser mu-dado (em português).

11. Terminologia

Sugerimos a adoção do têrmo proposi-ção como a caracterização do deslgn maiscondizente com a realidade brasileira. Outrasdenominações foram estudadas: projeto, pla-nejamento, etc. Deduziu-se que, ou já estão

11 •••.. um tipo de de.lgner que funcione como con-sultor de organismos oficiais para a soluçA0 de projetosde interêsse sociaL"

12 Meta ~ dealgn - recentemente, um grupo dede.lgner. liderados por Andries Van Onck, na Ollvettl,vem desenvolvendo estudo de programaçAo aplicado aodesenho industrial. )

Janeiro/Março 1971

demais difundidos noutras áreas ou são re-dundantes em têrmos da realidade presente.Ademais, não correspondem ao caráter defla-grador e de base infra-estrutural que o dese-nho industrial brasileiro precisa assumir pelomenos por um período de alguns anos. Se-Que-se um rápido estudo terminológico:

Atividade - proposlçlo IndustrialEspecificação - proposição de produtosProfissionalidade - proposHorConsultoria - assessoria propoalclonal

Generalização - proposltorlaObservação: Alguns dicionários assim

traduzem o têrmo deslgn:DesfgnioConcepçãoDestinaçãoCriação

ProposlçloProjeto(outros)

Segue um quadro-síntese consideran-do-se a linguagem:

Industrial deslgn - Proposição industrialMetadesign - Metaproposição. 12

12. Sinte•• proposlclonal

Mais que a elaboração formal, a pro-positoria almeja a variabilidade dos fins edestinações diversas. Em têrmos de projeçãoa propositoria se assemelha a um processode reação em cadela. Objetiva-se, com isso,atribuir ao trabalho criativo maior efeito mul-tiplicador. A atividade proposicional não de-ve aprofundar-se na precisa definição formaldo produto, pois, como ficou visto atrás, aprópria realidade empresarial não o faculta.Ela parte de um processamento formal sistâ-mico. As proposições produtológicas nascem

. das propriedades gerais de elementos formaiscriados. A partir da proposiçlo de um sinalbásico, explora-se aquelas suas propriedadesde natureza bi ou tridimensionais. Tais pro-priedades são de natureza geométrico-com-posicional, de variabilidade e mutabilidade oupropriedades flsicas d~.equitrbrio estático ou

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dinâmico, aspectos de natureza tensorlal eoutros. Cronologicamente, a proposltoria im-plica redução, buscando a maior valorizaçãodo tempo criativo, pela conseqQente simplifi-cação do elemento proposto; é forçoso criaro máximo com o mínimo de trabalho empre-gado (operacionalidade criativa ou proposi-cional). Um processamento formal sistêmicose faz na razão direta da necessidade de ace-leração do desenvolvimento industrial. Umade suas características fundamentais é a pos-sibilidade que o mesmo deve apresentar depoder assimilar-se a produtos diferentes. A ca-da processo formal sistêmico deve correspon-der uma civillzaçlo de produtos. A semelhan-ça dos gêneros topológicos, 13 as formas so-frerão de Identidade dentro do grupo da re-ferida composição. Para o empresariado sig-nificará múltiplas aberturas produtol6glcas eampla diversificação. A proposição de um sis-.tema produtológico é um Induto ao complexoindustrial que o absorverá. ~ um modêlo con-centrado passível de ser difratado (uma no-ção baseada nas idéias de Fred W. Riggs). 14

13. Nota 16bre a sínte•• propOliclonal

o Centro Acadêmico Administração deEmprêsas (CAAE) da Escola de Administra-ção de Emprêsas de São Paulo, da FundaçãoGetúlio Vargas, exibiu, em outubro de 1970,uma pesquisa do autor dêste artigo, constan-do de um desenho multícomposicional: umaforma triangular (figura 2) permite a deter-minação de uma grande variedade de com-posições diferentes e admite aplicação emprodutos variados. A construção dêsse linal

13 Topologia - ramo avançado das matemáticas, cha-mada também geometria de lugar e relações. Identificaformas e espaços a partir de certas propriedades carac-terlstlcas: assim identificam-se formas de O, 1, 2, 3, ngêneros. A esfera como o cubo, por exemplo, slo degênero O. O toro ou anel circular é do gênero 1, e assimpor diante.

14 Vide Admlnlstraçlo no. pai... em d••• nvolvlmen-to. Rio de Janeiro, Fundaçlo Getúlio Vargas, p. 26 a 31.

15 Patente requerida pelo autor ao DNPI (Departamen-to Nacional de Propriedade Industrial), publicada noDiário Oficial .da Unllo em 19/03/1969, têrmo 175.337.

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básico é feita pela concordância de arcos decirculo, que obedecem à relação r, 2r, 4r. Apesquisa tridimensional resuítou na constru-ção de várias formações estruturais, do que éum testemunho a elCultura apresentada noinfcio do artigo. Ali revelou-se um fato indis-cutrvel: êsse triângulo surge sempre com ovazio ou Intersliclo, quando se organizam de-terminados agrupamentos de formas diferen-tes e posições relativas. ele é o mesmo paraformações volumétricas diferentes, sólidos se-mi-arredondados, entremeados de esferas, ouda mesma forma familiar, como o elipsóide eoutros. 15

Tal propriedade faculta Inúmeral apli-cações Industrlall, para o que se torna ne-cessário o desenvolvimento de projetos es-peclficos, em produtos ou processos, sistemasde moldes ou matrizes. O autor afirma terchegado a tal conclusão extrapolando os ele-mentos: se agrupamentos formais determinamcomplexos intersticiais, éstes podem ser or-ganizados de maneira a determinar aglome-rados de formas diferentes.

14. Conclullo

A propositorla será essa atividade In-direta, a emi•• lo de Ilstemas. Mas essa atua-ção deve encontrar um ambiente favorável,uma situação propicia, uma disposição em-presarial para aceitar e digerir. Ressalta,aqui, a importância do anteriormente referi-do programa de implantação da criatividadeampla, que chamamos infra-estrutura de de-slgn.~ste doravante em nosso trabalho serásubstituldo definitivamente pelo térmo propo-Ilçlo. Uma criatividade ampla, clbernetlzadapela propositoria tem éste sentido maior: aestimulação do almejado propósito de con-duzir as populações àquela situação ideal deconsumidores potenciais de inovações. Suge-rimos, nesse caso, a adoção de um sloganobjetivo a ser colocado somente em produtosoriginados de criatividade nacional. No mais,determinar diretrizes, roteiros, condições bá-sicas, prognósticos, estabelecer alternativas

Revista de Adminlstraçlo de Emprêsas

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, metodizar estrategicamente através do pró-prio projeto as condições ideais para a for-mação de grupos empresariais, quando aproposição assim o justificar. Também deve-se estabelecer as bases para o futuro proje-to especifico de designo J: que, para melhorcompreensão de sua amplitude, a proposito-ria pode ser concebida ao nível das ativida-des de planejamento urbano. Portanto, a pro-positoria industrial deve ser efetivada emequipes, onde além do propositor, contar-se-ácom administradores, economistas, engenhei-ros de produto e operação, comunicadoresindustriais e publicistas, arquitetos, e soció-logos, dentre outros agentes de industrializa-ção. Foi com êsse objetivo que criamos emBelo Horizonte, em 1~66. o Instituto de Pla-nejamento e Produtos Industriais (I. P.P .1),uma cooperativa de profissionais nas áreasapontadas e é o que pretendemos fazer futu-ramente em São Paulo.

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Mas tudo ainda depende de um es-fôrço de abertura, tal como o fazemos ago-ra nesta revista, pois é verdade que aindadependemos da compreensão nacional paraa nova profissão. Torna-se necessário ino-cular o sistema, a realidade econômico-so-cial e cultural, instalando, por assim dizer,

"i uma nova realidade paralelamente; o que pos-sibilitará realimentação efetiva, tal como nobinômio tecnologia-criatividade. Assim, a pro-positoria tem uma importância estratégicaconsiderável. Ela possibilitará partir de umtranscendentalismo, buscando atingir, em futu-ro próximo, a imanência substantiva.

Estamos efetivando agora numa pes-quisa, objetivando uma colocação ampla dapropositoria ao nlvel do desenvolvimento glo-bal, a sua conceituação extensa, numa áreaambígua: a mobilização de empreendimentosespecíficos, que será assunto de um próximoartigo. Omitimos aqui essa parte do trabalho

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a fim de não tornar êste artigo demasiadolongo neste número da revista. Mas, num rá-pido enfoque, queremos assinalar ainda o in-terêsse, que a nosso ver, representaria parao Brasil a implantação de um sistema deAgências de Desenvolvimento Industrial, talcomo ocorre em alguns países preocupadosem vencer o subdesenvolvimento. Embora emnosso país a realidade seja um pouco dife-rente e de características muito.próprias, cita-mos o livro Comunicação de idéias indus-triais, de Jean Marie Ackerman, como umbom ponto de partida para a formulação deum programa de comunicação industrial; é

uma obra simples, mas objetiva, que pode darao leitor uma idéia inicial do nosso pontode vista a respeito. Diremos que, à luz da pro-positoria, as atividades dos agentes de de-senvolvimento industrial assumem uma enor-me amplitude, pois os processos e métodosassinalados por Ackerman são de cunho pes-soal, semi-artesanais, diretos e .próprlos pararegiões subdesenvolvidas. O Brasil, entretan-to, malgrado os desequilíbrios regionais, pos-slvelmente já admite uma ação numa dimen-são maior, ampla; uma ação que pode ser de-senvolvida hoje pelo melhor uso dos moder-nos meios de comunicação.

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A coleçlo PEQUENAEMPREsA BRASILEI·RA, edltad. sob a r.s-pons.bllld.de t6cnlco-ci-entlflc. d. Escol. d.Admlnlstr.çlo d. Em-prêsas d. Slo Paulo,reúne trab.lho. que vi-sam • Informar o .dmi-nistr.dor e o .mpre.6riobrasil.iros sObre.s prá-tic••• dmini.tr.tivas daspequenas .mprê ••••Nas prlncip.l. livr.riasdo p.rs ou pelo R.em-bOI.o post.l.Pedidos à FUNDAÇÃOGETÚLIO VARGAS -SERViÇO DE PUBLlCA-ÇOES.Pral. d. Bot.fogo, 188CP 211- ZC-02 - Rio deJ.nelro, Gb.

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