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DESIGUALDADE SOCIAL, SOLIDARIEDADE JURÍDICA E OS SEUS REFLEXOS NO DIREITO CONTRATUAL BRASILEIRO SOCIAL INEQUALITY AND BRAZILIAN CONTRACTUAL LAW Rodolpho Barreto Sampaio Júnior RESUMO O abandono do modelo nacional-desenvolvimentista e a efetiva inserção em uma economia de mercado exigem, além de instituições sólidas, o respeito à ordem jurídica, pois apenas em um contexto de segurança jurídica os mercados encontram a previsibilidade necessária ao seu pleno desenvolvimento. No Brasil, entretanto, fatores históricos, sociais e culturais constituem importantes obstáculos à aplicação do direito, influenciando decisivamente o magistrado na tomada de suas decisões. O suporte teórico a esses magistrados é fornecido pelos juristas neosolidaristas, que defendem a imposição da solidariedade social nas relações negociais como o meio mais eficiente para se reduzir a desigualdade social. Essa tese, porém, de viés populista e autoritário, não se coaduna com a finalidade do direito contratual, e é um entrave ao desenvolvimento do País. PALAVRAS-CHAVES: TEORIA CONTRATUAL. SOLIDARIEDADE SOCIAL. NEOSOLIDARISMO. ABSTRACT The abandon of a nationalist development model and the effective insertion in an open market economy demand, besides solid institutions, the respect to the judicial order because only in a context of lawful security markets find the necessary predictability to their full development. In Brazil, though, historical, social and cultural factors constitute important obstacles to the application of Law, decisively influencing judges in their decision. The theoretical support to these judicial decisions is given by the “neo- solidarism” scholars who defend the imposition of the social solidarity in the business relations as the most efficient way to reduce social inequality. This thesis, however, has a populist and authoritarian bias and do not coadunate with the objectives of contractual law, constituting a serious barrier to Brazil’s development. KEYWORDS: CONTRACTUAL LAW. SOCIAL SOLIDARITY. “NEO- SOLIDARISM”. 1 Introdução 7278

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DESIGUALDADE SOCIAL, SOLIDARIEDADE JURÍDICA E OS SEUS REFLEXOS NO DIREITO CONTRATUAL BRASILEIRO

SOCIAL INEQUALITY AND BRAZILIAN CONTRACTUAL LAW

Rodolpho Barreto Sampaio Júnior

RESUMO

O abandono do modelo nacional-desenvolvimentista e a efetiva inserção em uma economia de mercado exigem, além de instituições sólidas, o respeito à ordem jurídica, pois apenas em um contexto de segurança jurídica os mercados encontram a previsibilidade necessária ao seu pleno desenvolvimento. No Brasil, entretanto, fatores históricos, sociais e culturais constituem importantes obstáculos à aplicação do direito, influenciando decisivamente o magistrado na tomada de suas decisões. O suporte teórico a esses magistrados é fornecido pelos juristas neosolidaristas, que defendem a imposição da solidariedade social nas relações negociais como o meio mais eficiente para se reduzir a desigualdade social. Essa tese, porém, de viés populista e autoritário, não se coaduna com a finalidade do direito contratual, e é um entrave ao desenvolvimento do País.

PALAVRAS-CHAVES: TEORIA CONTRATUAL. SOLIDARIEDADE SOCIAL. NEOSOLIDARISMO.

ABSTRACT

The abandon of a nationalist development model and the effective insertion in an open market economy demand, besides solid institutions, the respect to the judicial order because only in a context of lawful security markets find the necessary predictability to their full development. In Brazil, though, historical, social and cultural factors constitute important obstacles to the application of Law, decisively influencing judges in their decision. The theoretical support to these judicial decisions is given by the “neo-solidarism” scholars who defend the imposition of the social solidarity in the business relations as the most efficient way to reduce social inequality. This thesis, however, has a populist and authoritarian bias and do not coadunate with the objectives of contractual law, constituting a serious barrier to Brazil’s development.

KEYWORDS: CONTRACTUAL LAW. SOCIAL SOLIDARITY. “NEO-SOLIDARISM”.

1 Introdução

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Foi apenas no início da década de 1990 que o Brasil abandonou o isolamento econômico que se impôs nas décadas anteriores, dando início a um processo de desestatização, abertura e integração econômica que ainda hoje se mantém. O esgotamento do modelo nacional-desenvolvimentista impeliu o País à adoção da economia de mercado, movimento que, na política, se fez acompanhar pela reinstauração do regime democrático.

No entanto, a adequação ao modelo democrático-liberal exige instituições sólidas, que se assentem sobre a ordem jurídica, assegurando a estabilidade necessária ao desenvolvimento dos mercados. É aí, no entanto, que o passado brasileiro cobra o seu preço.

De fato, décadas de descaso político e a ausência de políticas públicas eficientes conduziram o País ao topo da desigualdade social, com reflexos não apenas na elaboração das leis, mas sobretudo em sua interpretação e aplicação. Como consequência, os mercados se deparam com notável insegurança jurídica, além de arcarem com obrigações que, em princípio, seriam atribuições do Estado, e não do empresariado. Nesse contexto, a ordem jurídica funciona não como estímulo à atividade econômico-produtiva, mas como um entrave, acarretando aumento nos custos ou mesmo impedindo o desenvolvimento de certas atividades.

Neste trabalho, analisa-se como a desigualdade econômica influencia a aplicação das leis civis, e como deu origem ao movimento denominado neosolidarismo, de cunho autoritário e totalmente em desacordo com a origem e a finalidade do direito civil, especialmente do direito contratual. O seu objetivo é demonstrar que, por detrás de um discurso socialmente comprometido, desponta uma corrente teórica de cunho autoritário, despreocupada com os efeitos perversos das teses que endossa.

2 A desigualdade social e seus reflexos no direito civil

Os refinados institutos do direito civil, laboriosamente desenvolvidos ao longo de séculos, parecem incompatíveis com a realidade social brasileira, soando elitista o discurso por sua observância em uma sociedade desigual e excludente.

Não obstante se identifiquem melhorias nos indicadores sociais em geral, o Brasil ainda se apresenta como um dos países com pior distribuição de renda do mundo[1]. Por isso, não causa (muito) espanto decisões judiciais que têm por principal fundamento a redução das desigualdades econômico-sociais, ainda que em detrimento de direitos legalmente assegurados, e tampouco são raras as obras doutrinárias que defendem a função social do Poder Judiciário, atribuindo-lhe uma função distributiva[2].

Considerando que razoável parcela da sociedade se encontra privada de garantias fundamentais mínimas, parece até compreensível, e mesmo sedutor, o discurso de que o magistrado, na análise do caso concreto, deveria preocupar-se mais com a situação

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econômica e social da parte do que com o respeito às normas jurídicas. A propósito, em pesquisas realizadas junto a representantes do Judiciário, 82,9% dos magistrados entrevistados entendeu que o Poder Judiciário não é neutro e o juiz deve interpretar a lei de modo a influir na mudança social, contra apenas 17,1% que entenderam que a não neutralidade do Judiciário ameaça as liberdades, e as mudanças sociais não deveriam ser objeto de sua apreciação. Em outro quesito respondido pelos magistrados, 19,7% identificaram-se com a posição de que "os contratos devem ser sempre respeitados, independentemente de suas repercussões sociais", enquanto 73,1% se identificaram com a outra opção, segundo a qual "o juiz tem um papel social a cumprir, e a busca da justiça social justifica decisões que violem os contratos"[3].

Deve-se ressaltar que quando esses dados foram apresentados aos magistrados que participaram da própria pesquisa, eles argumentaram que a sua preocupação social refletiria os anseios da sociedade brasileira. Entretanto, essas pesquisas também indicaram que essa conclusão estaria totalmente equivocada e divorciada do real anseio da sociedade, pois

[...] o respeito aos contratos, independentemente de suas conseqüências distributivas, é o valor predominante na sociedade brasileira, com as respostas dos membros do Judiciário e do Ministério Público destoando inteiramente da dos outros segmentos, exceto pelos representantes sindicais, religiosos e membros de ONG's.[4]

É ainda a desigualdade social que serve de pretexto para que os demais poderes do Estado imponham aos particulares, cada vez mais, obrigações cujo cumprimento, a rigor, incumbiria ao próprio Estado. Ao negar às escolas privadas o direito à exceptio non adimpleti contractus quando inadimplente o aluno e ao conferir ao idoso o direito ao transporte intermunicipal gratuito, por exemplo, o ente público está, na realidade, transferindo aos particulares a sua obrigação de assegurar a educação gratuita e a inclusão do idoso na sociedade, ao fundamento de que a relevância dessas atividades não permitiria que elas ficassem condicionadas a qualquer tipo de egoísta exigência pecuniária.

Diante da ineficiência do Estado de fornecer à população as garantias mínimas que dele se poderia esperar, transfere-se ao particular a obrigação de se desincumbir de tais encargos. Assim, caberia ao proprietário de imóvel residencial urbano, ao hospital privado, à concessionária de energia elétrica e de telefonia, à escola privada e ao transportador suportar a ausência de políticas públicas que assegurem à maioria da população o acesso à moradia, à saúde, aos serviços de energia e telefonia, à educação e ao transporte.

Essa prática é justificada com amparo em um suposto dever de solidariedade que deveria pautar a conduta privada, o qual, por sua vez, assenta-se sobre o raciocínio de que parte da população teria uma dívida social com a maioria restante, que deveria ser paga por meio da assunção de obrigações que o Estado não tem condições de cumprir.

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A conseqüência dessa postura, como se pode facilmente deduzir, é a imposição de obrigações civis a quem não pretendia e não estava obrigado a contraí-las. A intervenção estatal, neste quadro, tem um cunho notoriamente autoritário, apesar de, aparentemente, justificar-se sob a veste de socialmente responsável. Em virtude de uma situação social angustiante, põem-se por terra os direitos e liberdades civis, que por essa ótica poderiam ser momentaneamente relegados a segundo plano, enquanto se construiria uma sociedade justa e igualitária. E é por meio de atribuições indevidamente impostas aos particulares, com amparo em uma solidariedade imposta manu militari, que se chegaria a essa sociedade ideal.

Neste contexto, os direitos sociais não seriam conseqüência da consolidação dos direitos civis e, posteriormente, dos direitos políticos. Ao revés, representariam uma conquista obtida em detrimento dos direitos civis, e a despeito deles. Tal rumo, contudo, antes de avançado e socialmente responsável, ignora um passado não tão remoto, revelando-se temerariamente autoritário e contrário à própria essência do direito civil.

3 O solidarismo jurídico

Os 72 dias da Comuna de Paris evidenciam a inquietação social que assolava a França nas últimas décadas do século XIX e são o prenúncio do movimento denominado solidarismo jurídico[5], engendrado pela doutrina francesa que, pressionada entre a manutenção da ordem vigente e a influência do socialismo jurídico, elegeu a solidariedade social o valor máximo a ser buscado pelo Direito.

A solidariedade incorporou-se ao discurso jurídico como o instrumento ideal para apascentar os acirrados ânimos da época e para neutralizar as inflamadas tentativas de subversão da ordem política e social, ao mesmo tempo em que mantinha os fundamentos de uma sociedade capitalista e liberal. Não foi por outra razão que o solidarismo jurídico foi considerado "uma doutrina mais do que asseguradora, que é, por fim, apaziguadora e tranqüilizante"[6].

O solidarismo jurídico propugnava, essencialmente, nas palavras de Léon Bourgeois, um de seus primeiros expoentes, que entre as pessoas haveria "um dever moral que resulta do fato de que as gerações presentes têm uma dívida com o passado"[7]. Ademais, considerando ser o "caráter dos seres ou das coisas ligado de tal maneira que o que acontece com um deles atinge os outros [concluiu que] daí nasce um dever moral de assistência entre os membros de uma mesma sociedade, na medida em que eles se consideram parte de um todo"[8]. Por conseguinte, "a ordem jurídica deve ser organizada de maneira que cada um possa exercer sua função social, em conformidade com as exigências da solidariedade"[9].

Léon Duguit, que funda o direito objetivo na solidariedade social, sustentou que a ordem jurídica reconhece direitos aos indivíduos apenas para que eles possam utilizá-los em prol da sociedade, ou seja, para que possam cumprir a sua função social:

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Estabelecido o direito objetivo na solidariedade social, o direito "subjetivo" daí deriva, direta e logicamente. E sendo todo indivíduo obrigado pelo direito objetivo a cooperar na solidariedade social, resulta que ele tem o "direito" de praticar todos aqueles atos com os quais coopera na solidariedade social, refutando, por outro lado, qualquer obstáculo à realização do papel social que lhe cabe. O homem em sociedade tem direitos; mas esses direitos não são prerrogativas pela sua qualidade de homem; são poderes que lhe pertencem porque, sendo homem social, tem obrigações a cumprir e precisa ter o poder de cumpri-las. [...] Porque existe uma regra de direito que obriga cada homem a desempenhar determinado papel social, é que cada homem goza de direitos - direitos que têm assim, por princípio e limites, o desempenho a que estão sujeitos.[10]

A idéia de justiça pressupunha a eliminação da dívida social pelo agir solidário, e se anunciava "como a faculdade de viver e agir, para todos os indivíduos da sociedade"[11]. A liberdade, a seu turno, somente se justificaria quando exercida em benefício da solidariedade social:

A liberdade, sem dúvida, é um direito e não uma prerrogativa que acompanha o homem pela sua natureza de homem. A liberdade é um direito porque o homem tem o dever de desenvolver sua atividade tão plenamente quanto possível, uma vez que a sua atividade individual é fator essencial da solidariedade por divisão de trabalho. Enfim, o homem desfruta o direito de desenvolver sua atividade com liberdade, mas, ao mesmo tempo, só possui esse direito enquanto consagra seu exercício à realização da solidariedade social. A liberdade concebida dessa forma assume um caráter inabalável, pois nesse sentido consiste unicamente na liberdade de se cumprir o dever social.[12]

Como lembrou André-Jean Arnaud, a doutrina solidarista não opunha a liberdade à justiça, mas ela só seria admissível se exercida em proveito de todos. Nisto consistia a noção de justiça dos solidaristas:

Não se trata de sacrificar a idéia de liberdade pela de justiça. Os solidaristas notam que sua doutrina é menos contestada sobre a existência de uma dívida social, e sobre o caráter injusto que pode ser atribuído ao reembolso desta dívida, que sobre o fato de que a liberdade seria violada se o reembolso da dívida social fosse imposto por via legal. Tratando-se do princípio de liberdade, Duguit é bastante firme quando diz que de nenhuma forma se atingirá o livre desenvolvimento da atividade intelectual, necessária à realização da solidariedade social, a não ser para evitar que essas atividades individuais incomodem mutuamente. De fato, é a proteção da liberdade para todos.[13]

Foi nessa ótica que Charmont afirmou que

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[...] socializar o direito é torná-lo mais compreensivo, mais amplo que antes, estendê-lo do rico ao pobre, do possuidor ao assalariado - do homem à mulher - do pai ao filho, em resumo é conceber o direito em proveito de todos os membros da sociedade.[14]

Desse ideário extrai-se a proposta solidarista:

Antes de mais nada, queremos proteger a família, especialmente a família trabalhadora, contra as misérias e as injustiças... tornar mais fácil sua constituição rompendo com uma regulamentação excessiva... fora da família legítima, não podemos ignorar a união livre... autorizar em certas condições a investigação de paternidade, proteger a criança natural. Em matéria de propriedade, enquanto os próprios burgueses minaram o seu fundamento com o intuito de protegê-la, e os socialistas anunciavam que para conduzir o movimento social no sentido da propriedade coletiva, bastará expandir certas práticas da sociedade burguesa, os solidaristas consideravam que, para evitar esse estado de coisas, era necessário suscitar reformas e desenvolver a consciência da solidariedade social. Neste sentido, o primeiro resultado obtido foi o desenvolvimento do direito, principalmente através da transformação de simples obrigações morais em obrigações positivas, a multiplicação dos casos de responsabilidade, e o aumento da eficácia desta responsabilidade. A este aumento da responsabilidade corresponde uma concepção nova do contrato, de seus efeitos, e de sua força obrigatória... A tendência atual é de substituir esta procura de intenções (das partes) pela preocupação de justiça e do interesse social.[15]

4 O neosolidarismo jurídico

A leitura dos primeiros dispositivos da Constituição da República de 1988 permite concluir que a nação que se pretende constituir e disciplinar é inspirada por consideráveis valores éticos e humanistas. Em seu preâmbulo, assegura-se, pelo Estado Democrático, "o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça"[16], valores considerados supremos em uma "sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social"[17]. Logo na seqüência, o art. 1º, que expressa os princípios fundamentais da República, consagra como seus fundamentos "a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político"[18], e o art. 3º menciona, dentre os objetivos fundamentais da República, "a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, a erradicação da pobreza e da marginalização e a redução das desigualdades sociais e regionais e a promoção do bem comum"[19].

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Esse conjunto de valores, que indubitavelmente caracteriza uma sociedade avançada, encontra na pessoa a sua derradeira ratio e, em seu proveito e benefício, impõe uma série de objetivos a serem satisfeitos. Entretanto, deve-se questionar a quem esses objetivos são impostos e os meios de sua consecução.

Os modernos constitucionalistas são acordes em atribuir juridicidade aos princípios constitucionais, não mais entendidos como simples proposições de ordem moral ou política, destituídas de qualquer eficácia jurídica:

A norma que dita um princípio constitucional não se põe à contemplação, como ocorreu em períodos superados do constitucionalismo; põe-se à observância do próprio Poder Público do Estado e de todos os que à sua ordem se submetem e da qual participam.[20]

São esses mesmos constitucionalistas, no entanto, que alertam para o subjetivismo na interpretação e aplicação dos princípios constitucionais. Por sua própria natureza, a linguagem é insuficiente para a sua formulação adequada e exata, o que dificulta a compreensão da real dimensão jurídica desses princípios, que acabam por serem complementados por meio de "sentimentos, intuições e vontades"[21]. Advertem, então, que

[...] a mera percepção sentimental dos princípios ou a "impressão intuitiva de sua correção ou evidência" - Alexy [já advertia que a] "referência ao evidente significaria dar uma resposta racionalmente não controlável e conduziria a um intuicionismo jusfundamental" - não bastam: a imprescindibilidade desse recurso não há de significar sua suficiência. Para que o fenômeno de aplicação do direito não descambe para a irracionalidade (e acabe, talvez, por assentar-se no lastro da força bruta, econômica ou física), impõe-se, após a revelação e aceitação dessa dimensão não-intelectual dos valores, uma fundamentação racional e razoável.

Este seria, na arguta visão de R. Alexy, o modo de escapar-se do subjetivismo (algo aleatório) a que conduziria o "intuicionismo" [...][22].

Mas qual seria a relação dos princípios declinados no pórtico da Constituição de 1988 com o controle autoritário e impositivo exercido no âmbito das relações privadas? Em resposta, pode-se inferir da análise de parte da doutrina brasileira que a solidariedade, aqui, não se limita a um valor ético ou moral que orienta a ordem jurídica; ao revés, ela própria se torna um valor jurídico a ser observado, e se necessário imposto, nas relações intersubjetivas.

As características culturais do Brasil mostram que a idéia do solidarismo jurídico não é estranha à nossa cultura e bem poderia ter sido escrita por um dos juristas brasileiros contemporâneos a afirmação de Bonnecase de que "em muitos espíritos, o direito social

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é o direito da solidariedade social, em oposição do direito do egoísmo que seria o direito individualista"[23].

A desigualdade e a noção de dívida social permearam a tal ponto o tecido social que nas próprias escolas brasileiras se ensinava a importância da submissão dos interesses particulares aos superiores interesses da sociedade. No ensaio intitulado The maximum norm of the exercise of liberty, menciona-se o negativo impacto sobre a sociedade brasileira - que se tornou incapaz de se organizar politicamente - da exposição a uma propaganda que evocava "a ideologia corporativista dos anos 1930 [...] e a técnicas usadas pelas autoridades para obter cooperação e evitar o dissenso"[24]. De um livro escolar utilizado no segundo grau, os autores destacam o ilustrativo excerto de como os brasileiros deveriam se portar em sociedade:

Nós, brasileiros, sabemos que o trabalho em equipe é mais efetivo que o esforço individual. Equipes nos preparam para o diálogo e aumentam a nossa eficiência. A ordem social é melhor servida pela liberdade, justiça, amor, verdade e solidariedade. O homem, no seu constante processo de aperfeiçoamento individual, lida com outros homens. Logo, as responsabilidades não são simplesmente individuais, mas sociais também. A ordem social resulta da perfeita inter-relação de necessidade e liberdades, e o meio termo para isso é a responsabilidade. Subordinar a nossa própria liberdade ao bem comum é a regra máxima para o exercício da liberdade na ordem social.[25]

Dessa forma, o neologismo ora utilizado, neosolidarismo, refere-se à concepção doutrinária que ressurge no direito brasileiro contemporâneo e que, à semelhança dos solidaristas franceses, insere a solidariedade no mais alto grau do panteão dos valores jurídicos e não teme em recorrer à lei para a sua imposição.

Essa é, por exemplo, a posição de Alberto Pasqualotto, ao discorrer sobre os reflexos do Código de Defesa do Consumidor sobre a aplicação do Direito Civil em geral:

[...] se a lei não mudava, já que o projeto de Código Civil, remetido ao Congresso em 1975, não lograva progredir, a jurisprudência fez a sua parte, em grande medida instigada por uma doutrina de vanguarda, apesar de assim a todos não parecer, e lentamente passou a regrar à margem do Código Civil e de seus princípios superados uma nova dinâmica das relações contratuais, inspirada na superação das desigualdades por uma dimensão solidarística, que colocava o contrato na perspectiva de uma cooperação em busca de uma finalidade comum, com base na boa-fé.[26]

No mesmo sentido se posiciona Judith Hofmeister Martins Costa, que defende a autonomia privada solidária em oposição ao individualismo, "entendido como apologia insensata do interesse pessoal"[27]. Reeditando, talvez inconscientemente, a doutrina autoritária militar, afirmou que

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[...] a liberdade de cada um se exerce de forma ordenada ao bem comum, expresso na função social do contrato, pressupondo internamente conformado o direito de liberdade (de contratar) em campos de especial relevância ao bem comum.[28]

Esse é também o posicionamento de Maria Celina Bodin de Moraes, que prega a ponderação entre a liberdade e a solidariedade, pois somente assim os seus

conteúdos se tornam complementares: regulamenta-se a liberdade em prol da solidariedade social, isto é, da relação de cada um, com o interesse geral, o que, reduzindo a desigualdade, possibilita o livre desenvolvimento da personalidade de cada um dos membros da comunidade.[29]

O raciocínio desenvolvido por esses autores em muito se aproxima do pensamento nacionalista autoritário que Boris Fausto demonstra ter alcançado seu auge no Brasil entre as décadas de 1920 e 1940, e que teve como características "a defesa de uma ordem autoritária, a repulsa ao individualismo em todos os campos da vida social e política, o apego às tradições, o papel relevante do Estado na organização da sociedade"[30].

Os pensadores autoritários, como afirma Boris Fausto, sujeitavam a liberdade à ordem social, como fundamento de manutenção da própria sociedade[31], pois

[...] há muito mais perigo de desorganização do todo pela rebeldia das partes do que da compressão excessiva destas por um poder desmedido da coletividade. Assim, para que uma nação se organize com probabilidades de enfrentar vitoriosamente as vicissitudes com que o futuro a pode surpreender, o conceito de liberdade tem de ajustar-se aos imperativos da sobrevivência, que impõem a necessária ascendência de um ritmo unificador expresso na idéia de autoridade.[32]

Foi exatamente neste sentido que Francisco José de Oliveira Vianna, um dos principais expoentes do pensamento autoritário no Brasil, assegurou que

[...] a subordinação dos interesses dos indivíduos, do grupo, do clã, do partido ou da seita ao interesse supremo da coletividade nacional - da Nacionalidade - exprime-se, para cada cidadão, na vida de todos os dias, pela capacidade de obediência e disciplina, pelo culto do Estado e da sua autoridade. Há lugar aqui para este raciocínio: o

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sentimento nacional forte gera a subordinação do indivíduo ao grupo; esta subordinação gera a obediência ao Estado, gera a força, a grandeza, o domínio.[33]

Essa submissão aos interesses estatais, no entanto, é criticada por Giuseppe D'Eufemia que demonstra a estreita vinculação existente entre a limitação da liberdade do indivíduo em face da supremacia dos interesses sociais e os regimes autoritários:

No Estado corporativo, a autonomia privada é, portanto, conformada de modo que esta se manifeste em função dos interesses nacionais: a iniciativa individual e a capacidade de auto-regramento dos próprios interesses são reconhecidos aos privados, mas ao mesmo tempo são predispostos limites de controle que rendem à autonomia privada um instrumento de consecução de determinados fins do Estado.[34]

O mais emblemático exemplo do caráter autoritário da sujeição do interesse privado aos fins do Estado está na política econômica do nacional-socialismo. Ao discorrer acerca da formação do governo nazista, Franz von Papen explicita como, em um momento de convulsão social, é sedutora a idéia de que o interesse individual deve se subordinar aos interesses coletivos:

Ora, quando realmente chegou a hora de formar o governo nazista sob aquelas circunstâncias complicadas, os principais pontos que vieram à cabeça de todos os alemães foram os 8 milhões de desempregados, os 12,5 milhões que não estavam plenamente empregados e as greves que resultavam da luta de classes. A principal preocupação de todos os alemães era encontrar uma solução para os problemas sociais. Hitler sempre enfatizou o fato de que a solução desse problema social não poderia ser encontrada dentro do espírito do marxismo ou do bolchevismo, e sim no espírito capitalista mesclado a certo grau de socialismo. Não se tratava de socialismo de Estado - mas era socialismo na medida em que a empresa privada não deveria visar dividendos e lucros abusivos. Todo lucro auferido em qualquer ramo da economia seria revertido para a comunidade, e não apenas usado em benefício particular. Aquilo me parecia sensato.

Um dos slogans do governo nazista era algo no sentido de que os lucros fossem primeiro para a comunidade. A diferença entre os tipos de socialismo defendidos pelos nacional-socialistas e pelos comunistas era que os interesses de pessoas particulares não seriam apoiados como eram no Estado comunista.

Como eu disse, aquilo me parecia um princípio sensato. A formação do governo pelos nazistas não desagradou ao grupo conservador que eu presidia. Cheguei à conclusão de que a solução dos problemas da Alemanha se basearia em uma cooperação mais estreita entre empresas privadas, gerência e mão-de-obra.[35]

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A crítica a essa sujeição do indivíduo ao Estado é reforçada pela posição de Edgar Moniz de Aragão, ao apontar a precariedade de se sustentar a ordem jurídica sobre noções como o interesse coletivo, lembrando "a manipulação de normas e dos princípios, entre comunistas, nazistas, fascistas, seus respectivos seguidores e satélites"[36], acompanhado, nesse particular, por Humberto Theodoro Júnior:

Nunca é demais lembrar que foi uma visão exageradamente livre e ideológica do Direito que serviu de sustentação e legitimação às duas maiores hecatombes político-institucionais do século XX: o nazismo e o comunismo. As atrocidades que mancharam a civilização européia não foram produto apenas de puro autoritarismo. Ao contrário, a doutrina do Estado Alemão e das Repúblicas Soviéticas se respaldavam em posições filosóficas e seus ordenamentos jurídicos eram justificados por valores ideológicos muito bem declarados. Juízes e tribunais, em nome da ideologia do Estado, no entanto, puderam conviver com crimes contra a humanidade até então inimagináveis. Bastava que um pequeno e miraculoso ideário do "partido" fosse invocado para que resultados concretos, mesmo absurdos, se tornassem legítimos e constitucionais. Não se tinha uma visão de conjunto do Estado social, mas apenas a do sectarismo exagerado da ideologia partidária.[37]

A veia autoritária manifestada por certos doutrinadores pátrios revela, assim, não apenas a sua descrença nos direitos civis, especialmente na liberdade, como também, e talvez esse aspecto seja o mais preocupante, a falta de preocupação com a efetiva modificação da sociedade para torná-la mais justa, fraterna e menos desigual. Isso, porque o que se observa é

[...] uma dogmática populista ou reacionária e provavelmente, a meu ver, as duas juntas. Será populista porque vai acreditar que basta invocar um nome ou uma palavra para exorcizar a realidade das diferenças sociais e das relações injustas. Será reacionária porque como o exorcismo será claramente ineficaz, teremos como resultado a manutenção das coisas como estão, com a consciência tranqüila de termos feito o possível.[38]

5 Conclusão

Como se observou, desponta no direito contratual brasileiro a idéia de que a relação contratual, mais do que uma simples relação de coordenação de interesses, deveria consistir em uma relação de cooperação, pela qual as partes, colocando de lado os seus interesses próprios - tidos como egoístas e, por conseguinte, indesejados - almejariam

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precipuamente o interesse do outro contratante. Impõe-se ao contratante a consideração do interesse do outro, e se lhe impõe a contratação quando esse interesse for socialmente relevante. É por tal razão que a escola privada não poderia impedir o aluno inadimplemente de continuar a frequentar as aulas, ou que a concessionária de energia elétrica não poderia suspender o fornecimento de energia para o consumidor inadimplemente. Nos dois casos, diante de interesses socialmente relevantes, não seria razoável limitar o direito do co-contratante, ainda que inadimplemente, em face da importância social do objeto do contrato.

Esse discurso, que se assenta em primorosa retórica, revela-se, na realidade, autoritário, demagógico, e, pior ainda, extremamente perverso. Trazendo à tona a idéia da necessidade de se pagar uma histórica dívida social, transfere para os ombros das classes produtivas a responsabilidade por tal dívida. Ignoram, no entanto, os adeptos dessas idéias, que elas impedem que se reivindique do Estado políticas públicas adequadas e necessárias, além de fazer recair sobre os próprios consumidores o custo das medidas indevidamente impostas aos mercados.

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[1] A bibliografia referente à desigualdade social no Brasil é realmente copiosa. Para a análise de suas causas, remete-se a MELLO, João Manuel Cardoso de. O capitalismo tardio: contribuição à revisão crítica da formação e do desenvolvimento da economia brasileira. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 1982; PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 14. ed. São Paulo: Brasiliense, 1971; PRADO JÚNIOR, Caio. História e desenvolvimento: a contribuição da historiografia para a teoria e prática do desenvolvimento brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 1999 e FERNANDES, Florestan. A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica. 5. ed. São Paulo: Globo, 2006. Para a análise de seus efeitos, remete-se a LIMA, Délcio Monteiro de. Brasil: o retrato sem retoque. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1978; BACHA, Edmar; KLEIN, Herbert (Org.). A transição incompleta: Brasil desde 1945. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986; KOWARICK, Lúcio (Org.). As lutas sociais e a cidade: São Paulo, passado e presente. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988; com dados mais recentes, mas com a mesma essência, Cf. CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.

[2] FARIA, José Eduardo. A função social do judiciário. São Paulo: Ática, 1989; FARIA, José Eduardo (Org.). Direitos Humanos, Direitos Sociais e justiça. São Paulo: Malheiros, 1998.

[3] Os dados foram retirados de PINHEIRO, Armando Castelar. Magistrados, judiciário e economia no Brasil. In: ZYLBERSZTAJN, Décio; SZTAJN, Rachel (Orgs.). Direito e economia: análise econômica do direito e das organizações. Rio de janeiro: Elsevier, 2005, p. 244-283.

[4] PINHEIRO, 2005, p. 267.

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[5] A propósito do solidarismo jurídico, com farta indicação bibliográfica, Cf. ARNAUD, André-Jean. Uma doutrina tranqüilizante do Estado: o solidarismo jurídico. In: O Direito traído pela Filosofia. Porto Alegre: SAFE, 1991, p. 55-79.

[6] ARNAUD, 1991, p. 57.

[7] BOURGEOIS, León. Solidarité, 1896 apud ARNAUD, 1991, p. 55.

[8] BOURGEOIS, 1896 apud ARNAUD, 1991, p. 57-58.

[9] BOURGEOIS, 1896 apud ARNAUD, 1991, p. 61.

[10] DUGUIT, Léon. Fundamentos do Direito. São Paulo: Ícone, 1996, p. 27-28.

[11] ARNAUD, 1991, p. 70.

[12] DUGUIT, 1996, p. 28.

[13] ARNAUD, 1991, p. 70.

[14] CHARMONT, Joseph. La socialisation du droit. In: Revue de métaphysique et de morale, Paris, p.400-405, 1903 apud ARNAUD, 1991, p. 78.

[15] CHARMONT, 1903 apud ARNAUD, 1991, p. 72.

[16] BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Vade Mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 23.

[17] BRASIL. Constituição, p. 23.

[18] BRASIL. Constituição, p. 23.

[19] BRASIL. Constituição, p. 23.

[20] ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. Princípios constitucionais da administração pública. Belo Horizonte: Del Rey, 1994, p. 26.

[21] ROTHENBURG, Walter Claudius. Princípios constitucionais. Porto Alegre: SAFE, 1999, p. 64.

[22] ROTHENBURG, 1999, p. 65-66.

[23] BONNECASE, Jean. La pensée juridique. p. 172 apud ARNAUD, 1991, p. 78.

[24] LEVINE, Robert M.; CROCITTI, John J. The maximum norm of the exercise of liberty. In: The Brazil reader: history, culture, politics. Durham: Duke University Press, 1999, p. 259.

[25] LEVINE; CROCITTI, 1999, p. 259.

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[26] PASQUALOTTO, Alberto. O Código de Defesa do Consumidor em face do novo Código Civil. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, Revista dos Tribunais, v. 43, p. 97, jul./set. 2002.

[27] COSTA, Judith Hofmeister Martins. Reflexões sobre o princípio da função social dos contratos. In: CUNHA, Alexandre dos Santos (Coord.). O direito da empresa e das obrigações e o novo Código Civil brasileiro. São Paulo: Quartier Latin, 2006, p. 248.

[28] COSTA, 2006, p. 248.

[29] MORAES, Maria Celina Bodin de. Constituição e Direito Civil: tendências. Revista dos Tribunais, v. 779, p. 55-59, set. 2000.

[30] FAUSTO, Boris. O pensamento nacionalista autoritário. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001, p. 15.

[31] FAUSTO, 2001, p. 47.

[32] AMARAL, Antônio José de Azevedo. O Estado autoritário e a realidade nacional. Brasília: UNB, 1981, p. 37.

[33] VIANNA, Francisco José de Oliveira. Problemas de política objetiva. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1930, p. 153.

[34] L'autonomia privata e i suoi limiti nel diritto corporativo. Milano: Giuffrè, 1942, p. 10-11.

[35] GOLDENSOHN, Leon. As entrevistas de Nuremberg: conversas de um psiquiatra com os réus e as testemunhas. São Paulo: Companhia das Letras, 2005, p. 222-223.

[36] ARAGÃO, Edgar D. Moniz de. Hobbes, Montesquieu e a teoria da ação, Revista de Direito Processual Civil, Curitiba, n. 25, p. 442, jul./set. 2002.

[37] THEODORO JÚNIOR, Humberto. O contrato e sua função social. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 115-117.

[38] LOPES, José Reinaldo de Lima. Direito Civil e Direito do Consumidor: princípios. In: PFEIFFER, Roberto Augusto Castellanos; PASQUALOTTO, Adalberto (Coord.). Código de Defesa do Consumidor e o CC/2002: convergências e assimetrias. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 118.

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