Desigualdades de Gênero Na Carreira Acadêmica

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    O número de mulheres com título de doutorado vem crescendo demaneira constante ao longo das últimas décadas no Brasil, tendochegado a 51,5% do total de doutores titulados em 2008 (CGEE,2010:101). A proporção de professoras no ensino superior tambémcresceu,chegandoa55%dototaldedocentesem2009(Inep,2011).Tra-

    ta-se de uma mudança social significativa, principalmente em setratando de um país onde, à semelhança de outros, trabalhadores dosexo masculino são tradicionalmente maioria nos postos mais presti-giosos e mais bem remunerados do mercado de trabalho (Bruschini,2007; Bruschini e Puppin, 2004). Importa, por isso, verificar o alcanceeas implicações da ampliação da presença feminina nas carreirascientí-ficas e no ensino superior. Particularmente, interessa examinar se amaior igualdade de acesso ao doutorado e o aumento do número deprofessoras terão se traduzido numa maior igualdade de acesso às

    maisaltasposiçõesdacarreiradocentenoensinosuperior,incluindoaías posições de chefia e/ou a participação em colegiados superiores.

    Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa que examinouessa questão por meio do estudo da carreira acadêmica em uma uni-versidade pública brasileira, a Universidade Estadual de Campinas

    http://dx.doi.org/10.1590/00115258201558 749

    Desigualdades de Gênero na Carreira Acadêno Brasil*

    Marília Moschkovich1

    Ana Maria F. Almeida21Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, SP, Brasil. E-mail:[email protected]: [email protected].

    * As autoras agradecem os comentários divulgados nos pareceres anônimos de DADOS–Revista de Ciências SociaiseoapoiodaFundaçãodeAmparoàPesquisadoEstadodeSãoPaulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico(CNPq) às pesquisas que deram origem a este artigo.DADOS–Revista de Ciências Sociais,RiodeJaneiro,vol.58,no 3,2015,pp.749a789.

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    (Unicamp).Essetipodecarreiraéinteressanteporpelomenosduasra-zões. A primeira delas é organizacional: trata-se de uma carreira quegarante estabilidade no emprego já na admissão, sem que os professo-restenhamquepassarporlongosperíodosprobatórios.Alémdisso,asdecisões de promoção estão sob o controle dos próprios professores,num sistema de gestão colegiada. Por esses motivos, essa carreirapode,pelomenoshipoteticamente,oferecercondiçõesmaisfavoráveisparasuperar a desvantagem feminina encontradaem outros contextosorganizacionais.

    A segunda razão do interesse por um caso desse tipo é que a desigual-dade econômica presente na sociedade brasileira oferece às docentes

    do sexo feminino a possibilidade de contar com empregadas domésti-cas para auxiliar no cuidado com os filhos, com a família estendida ecom a manutenção da casa. Isso pode, pelo menos em tese, proporcio-nar melhores condições para que as mulheres dediquem mais tempoao trabalho fora de casa.

    Tomando osdadossobre o corpodocente da Unicamp comoreferência,exploramos três questões: (i) Quais as chances de docentes de cadasexochegaremaopostomaisaltodacarreiraeaoscargosdegestão?(ii)

    Como se diferenciam os docentes de cada sexo em termos da velocida-dedechegadaaonívelmaisaltodacarreira?(iii)Osresultadosdiscuti-dos em (i) e (ii) variam em função do grau de feminização (i.e., maiorpresença de docentes do sexo feminino) da faculdade ou do institutoem que os professores se encontram inseridos?

    Este estudo foi pensado como a primeira etapa de uma discussão maisamplasobreamaneiracomoasrelaçõesdegênerocontribuemparaes-truturar a carreira docente na universidade pública brasileira. Não

    obstante, a categoria sexo é incontornável no tipo de análise que apre-sentamos aqui, pois é por meio dela que a universidade organiza as in-formações sobre seus professores. Também por esse motivo, é incon-tornável o tratamento binário da categoria, segundo o qual só existemdois sexos, o masculino e o feminino, sendo esses tomados como opos-tos e excludentes. Talvez seja útil, portanto, sublinhar o uso apenasdescritivo que fazemos do termo ao longo deste artigo1.

    Na primeira parte apresentamos o problema geral em que se inscreve

    o estudo e os elementos que permitem caracterizar com maior preci-sãoapopulaçãoestudadaaqui.Emseguida,apresentamososdadoseos cálculos realizados, indicando brevemente as escolhas metodoló-

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    gicas que nos orientaram. Ao final, discutimos os resultados obtidosporessecálculoealgumasdesuasimplicaçõesparaadiscussãoteóri-ca sobre as relações de gênero e para as políticas públicas que estãosendopensadasparaapoiardocentesdosexofemininonaacademia.

    DIFERENÇAS NA CARREIRA ACADÊMICA SEGUNDO O SEXO

    As formas desiguais de inserção de docentes dos sexos masculino e fe-minino na carreira acadêmica e no seu posterior desenvolvimento éalgo bem documentado. Estudos realizadosno Brasil revelarama exis-tência de padrões de desigualdade em pelo menos dois sentidos. Emprimeiro lugar, as docentes do sexo feminino se concentram em algu-mas áreas do conhecimento(Tabak, 2002; Vasconcellose Brisolla, 2009;Canêdo, 2004; Leta, 2003; Soares, 2001; Velho e Léon, 1998). Em segun-do, elas estão em menor proporção nas posições mais altas da carreira,isto é, naqueles cargos associados a melhores salários, maior prestígioacadêmico, mais poder universitário etc. (Tabak, 2002; Vasconcellos eBrisolla, 2009; Soares, 2001; Leta, 2003).

    Essa situação não ocorre exclusivamente no Brasil. Estudos realizadosem diferentes países apontam a mesma configuração (Fox, 2001; Longe Fox, 1995; McElrath, 1992 e Mason e Ekman, 2007, para os EstadosUnidos; Musselin, 2008, para a França, os Estados Unidos e a Alema-nha; Probert, 2005, para a Austrália; Gupta e Sharma, 2002, para aÍndia;BagilholeeGoode,2001,paraoReinoUnido).Ostermosconcen-tração horizontal e concentração vertical costumam ser usados para des-crever as formas de distribuição desigual de profissionais segundo osexo no interior de espaços de trabalho. A concentração horizontal in-dicaa ocorrência deuma proporção maisaltadeumdos sexos emalgu-

    mas áreas profissionais. Já a concentração vertical descreve situaçõesem que a proporção de um sexo é muito alta em determinado ponto dahierarquiaemuitobaixaemoutro,dentrodeumamesmaárea,carreiraou profissão. Geralmente, no caso do sexo feminino a proporção émaior nos cargos iniciais, menos valorizados, e muito baixa nos cargosmais altos (Charles, 2003; Charles e Grusky, 2004; Maruani, 2006).

    Este artigo examina o segundo tipo de desigualdade. Na literatura es-pecializada, a menor presença femininanos cargosmais altos é atribuí-

    da ou a fatores organizacionais ou a diferenças entre indivíduos decada sexo no investimento em capital humano. Essas interpretaçõescorrespondem a universos disciplinares distintos: enquanto a primei-

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    ra domina os estudos sobre mulheres e trabalho, geralmente produzi-dos por sociólogos e psicólogos sociais, a segunda prevalece nos estu-dos sobre mercado de trabalho, produzidos por economistas (Probert,2005; Santos, 2008)2.Por fatores organizacionais entende-se o tratamento desigual segun-do o sexo no local de trabalho e tem-se em mente diferenças, porexemplo, na carga ou tipo de trabalho atribuído aos trabalhadores, namaneira como são julgadas as promoções e/ou no acesso a recursosque possam contribuir para o avanço na carreira (Bagilhole, 1993;Benschop e Brouns, 2003; Burton, 1997). Essa argumentação mobili-za, assim, a hipótese da existência de algum tipo de discriminação

    contra trabalhadoras do sexo feminino, que pode ser explícita ou,mais frequentemente, implícita nos princípios que guiam promoçõesou distribuição de recursos. Isso aconteceria sempre que uma pers-pectiva masculina da carreira fosse imposta para o conjunto. Metáfo-ras como a do “teto de vidro” ou, mais recentemente, a do “ firewall”sãousadasemestudosqueexplicamasdesigualdadesentresexosemtermos organizacionais (Bendl e Schmidt, 2010). Elas se referem às barreiras invisíveis que impediriam um grupo de pessoas de avançarpara os postos mais altos da carreira, no caso do “teto de vidro”(Velho e Léon, 1998; Etzkowitz et al., 1994; Soares, 2001; Tabak, 2002;Vasconcellos e Brisolla,2009; Leta, 2003), ou às formas sistêmicas e di-nâmicas de discriminação que compõem a própria estrutura dasorganizações e estão por todos os lados, no caso dos “ firewalls”(Meyerson e Fletcher, 2000; Bendl e Schmidt, 2010).

    Oseconomistasquesededicamaestudaromercadodetrabalhobasea-dos na teoria do capital humano partem de outra perspectiva. Elesmostram que a remuneração menor recebida pelas trabalhadoras do

    sexo feminino está associada ao que classificam como “níveis menoresde capital humano”, em geral medido em termos de diplomas escola-res e/ou experiência, e atribuem as diferenças entre sexos às opçõesque ambos os grupos de profissionais fazem em termos de reproduçãoe cuidado com os filhos (Giuberti e Menezes-Filho, 2005; Cavalieri eFernandes, 1998; Becker, 1985), e não a um eventual tratamento desi-gual no interior das organizações.

    Como se vê, embora as duas hipóteses não sejam antagônicas, os pon-

    tosdepartidasãodiferentes.Aprimeirasupõe,nocasodacarreiraaca-dêmica, que docentes de ambos os sexos dispõem de credenciais e ex-periência similares, mas progridem na carreira de formas diferentes

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    por causa da maneira como são organizados os processos de promo-ção.Asegundasupõequecredenciaiseexperiênciadedocentesdosse-xos feminino e masculino são desiguais e que, por isso, os resultados

    dos processos de avaliação com vistas à promoção são distintos paraumaseparaoutros.Apesardessasdiferenças,asduashipótesessãodi-ficilmente separáveis nos estudos empíricos.

    Aqueles realizados até aqui têm apontado que algumas característicasdas instituições de ensino superior são instrumentais para a produçãode desigualdades entre os sexos ao longo da carreira, mas apenas por-que elas se articulam com exigências sociais colocadas sobre as profis-sionais do sexo feminino. Assim, nos Estados Unidos, por exemplo, a

    forma mais prestigiosae recompensadora de ingresso na carreira se dápela modalidadetenure track , que garante estabilidade aos professoresapenasapósumperíodoinicialdefortededicaçãoaotrabalho.Essepe-ríodo, que dura, em geral, entre quatro e seis anos, coincide com osanos de constituição de família e chegada dos filhos para grande partedas pessoas. Num contexto social em que a forma dominante de divi-são sexual do trabalho doméstico atribui às docentes do sexo femininoa maior parte do cuidado com os filhos, o tenure track as penaliza des-proporcionalmente (Mason e Ekman, 2007) na medida em que elas não

    teriam condições de obter o mesmo tipo de credenciais e/ou experiên-ciaqueseuscolegasdosexomasculino.NospaíseseuropeusenaAus-trália, a carreira não se organiza dessaforma. Adesvantagemfemininadocumentada ali decorre principalmente dos resultados de processosde recrutamento e promoção, muitas vezes dirigidos pela percepção,maisdoquepelaconstatação,dequeasjovenscomfilhospequenosse-rão menos produtivas do que seus colegas do sexo masculino, mesmoque tenham demonstrado – por exemplo, durante o doutorado – igualcapacidade de dedicação ao trabalho e de inovação (Bagilhole, 1993;

    Brink e Benschop, 2012).Estudos mais recentes realizados tanto nos Estados Unidos (Kaminskie Geisler, 2012) quanto na Austrália (Probert, 2005) indicam que essesobstáculos organizacionais parecem ter diminuído na última década,sobretudo como resultado de reformas administrativas que, inspira-das por movimentos feministas, implantaramdispositivos de controleda discriminação de gênero nas contratações. No entanto, as profissio-nais do sexo feminino ainda têm mais dificuldade do que aqueles do

    sexo masculino para ingressar na carreira nas áreas das ciências exatase das engenharias (Kaminski e Geisler, 2012) e para chegar aos postosmais altos (Probert, 2005).

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    Pode-sedizer,assim,queambasashipótesessãosustentadaspelosestu-dosempíricos realizadosaté aqui, embora ambas tenhamlimitações im-portantes. A teoria do capital humano, de um lado, não problematiza ofato de que os sistemas de avaliação sejam uma construção social, e quefuncionem como indutores da desigualdade entre os sexos revelada pe-los especialistas. A hipótese dos obstáculos organizacionais, do outro,tem dificuldade em descrever com maior precisão a maneira como ascredenciais e a experiência profissional – isto é, a própria produção inte-lectual de professores dos sexos feminino e masculino – são afetadas pe-las exigências sociais colocadas sobre umas e não sobre os outros.

    Como veremos a seguir, o estudo do caso brasileiro é particularmenteinteressante nesse contexto. Ao mesmo tempoem que a carreira acadê-mica em vigor em universidades como a Unicamp pode anular partedos constrangimentos organizacionais mencionados na literatura, aprática de contratação de empregadas domésticas, possível por causaprincipalmente da desigualdade de renda, pode permitir às professo-rasaliberaçãodepelomenosumapartedotrabalhoqueestariasobsuaresponsabilidade.

    A contribuição específica do nosso estudo em relação aos demais járealizados no Brasil consiste no fato de que analisamos a distribuiçãodos docentes dos dois sexos em função de um grupo de referênciaconstruído no interior da organização a que pertencem. Em outros tra- balhos, a análise consiste em estabelecer, dentre o total de professoresde uma instituição, o número dos que se encontram em cada nível dacarreira num dado momento segundo seu sexo (por exemplo, Tabak,2002; Vasconcellos e Brisolla, 2009). Nossa proposta é levar em contaapenas os professores que realmente podem ser considerados comotendo sido pretendentes às promoções no período em que foram pro-movidos aqueles que chegaram aonível maisalto. Comoveremos maisadiante, a alteração da população de referência influencia significati-vamente a maneira como pode ser descrita a relação entre o sexo dosdocentes e a carreira.

    CARREIRA ACADÊMICA EM UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRA

    Para compreender a situação peculiar dos professores de universida-

    des públicas no Brasil, é importante ter emmente que a categoria “pro-fessor universitário” é aqui muito diversificada, sobretudo em relaçãoàs instituições nas quais os profissionais desenvolvem o seu trabalho e

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    às condições em que o exercem. As instituições se diferenciam em ter-mosdasuaorganização,mastambémemtermosdasuavinculaçãoad-ministrativa. No que diz respeito à organização, a legislação em vigordefine três tipos de instituições: universidades, centros universitárioseinstituiçõesnãouniversitárias.Asuniversidadesdevemserpluridis-ciplinares, desenvolver ensino, pesquisa e extensão. Os centros uni-versitários também podem ser pluridisciplinares, mas dedicam-sefundamentalmente ao ensino. Tanto as primeiras quanto os últimostêm autonomia para criar seus próprios cursos. Já as instituições nãouniversitárias podem ser monodisciplinares, dedicam-se ao ensino enão têm autonomia para criar cursos. Em termos da vinculação admi-nistrativa, as instituições podem ser públicas ou privadas. As públicaspodem ser federais, estaduais ou municipais enquanto as privadas di-videm-se entre filantrópicas ou com fins lucrativos3.

    A cada tipo de instituição correspondem em geral tipos diferentes decontrato de trabalho para os professores. Esses variam em função damaior ou menor estabilidade, da maior ou menor remuneração e domaior ou menor tempo que pode e/ou deve ser dedicado ao ensino e àpesquisa. Num dos extremos, há quem disponha de um título de dou-toretrabalheemregimedededicaçãoexclusivaaoensinoeàpesquisa,com estabilidade no emprego e boa remuneração, pelo menos quandocomparada à recebida por profissionais com a mesma formação. Nooutro, há aqueles que apenas finalizaram a graduação e trabalhamcomosubstitutos,horistas,combaseemcontratostemporárioseremu-neração bastante reduzida se comparada aos demais. Entre uma pontae outra há uma grande variedade de trajetórias e cotidianos de traba-lho de professores do ensino superior. Além disso, variações tambémocorrem no interior de cada instituição.

    Este artigo discute as diferenças entre professores/pesquisadores deuma universidade pública com forte ênfase em pesquisa, segundo seusexo. Nessesegmento do espaço universitário, a carreira é pouco femi-nizada. Profissionais do sexo feminino são 45% do corpo docente nasuniversidades públicas, embora sejam 55% no total do corpo docentedo ensino superior (Inep, 2011). Quando contabilizadas apenas as uni-versidades públicas presentes no estado de São Paulo, esse número émenor ainda, cerca de 40%. Nas três universidades estaduais paulistas

    juntas, as docentes do sexo feminino correspondiam, em 2011, a 38%docorpodocentee,naUniversidadeEstadualdeCampinas,eramape-nas cerca de 35%.

    Desigualdades de Gênero na Carreira Acadêmica no Brasil

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    A Unicamp foi orientada, desde sua fundação nos anos 1960, pela am- bição de desempenhar um papel-chave no desenvolvimento do estadode São Paulo, senão do país (Castilho e Soares, 2008). Mais de 90% dosprofessores trabalham em regime de dedicação integral à docência e àpesquisa (Unicamp, 2012a). Além disso, a pesquisa é considerada nosdocumentos oficiais um elemento fundamental da atuação dos seusprofessores, algo a ser incentivado e cobrado (Unicamp, 2008).Seus professores estão submetidos a um dispositivo institucional dediferenciação dos indivíduos, a “carreira” que, como toda carreira dofuncionalismo público, é estruturada por regras jurídicas impessoaisde caráter universalista.

    O ingresso na carreira se faz mediante concurso, prestado para docên-cia em uma disciplina específica de curso de graduação. Esta pode es-tar vinculada a um ou mais departamentos. No período analisado, acarreira se organizava em três níveis, MS3, MS5 e MS64. A progressãoaonívelmaisalto(MS6)sefaziaporconcursoouprocessodeavaliaçãotambémvinculado a uma disciplina de graduação, combanca compos-ta por membros internos e externos à instituição.

    O formato geral da carreira, a remuneração recebida emcada nível e os

    interstícios obrigatórios entre um nível e outro são objeto de regula-mentação geral, válida para toda a universidade. Exigências específi-casparaapromoçãoemtermosdeproduçãocientífica,cargadidáticaeorientaçãodealunossãofixadaspelasunidadesdeensinoepesquisaeaprovadas pelo Conselho Universitário.

    Diferente de outras universidades brasileiras e estrangeiras, a ocupa-ção de posições de chefia e representação é pouco condicionada aosní-veisdacarreira.Apenasocargodereitoréreservadoaosqueseencon-

    tram no nível MS6. Todos os professores doutores são elegíveis a todosos outros cargos desse tipo (pró-reitorias, diretorias de faculdadese/ou institutos; chefia de departamentos; coordenações superiores ouna unidade etc.). Essa particularidade não deixa de provocar certa di-cotomia na carreira, na medida em que alcançar o nível mais alto emtermos acadêmicos não significa acumular maiores chances de chegaràs posições de mando. Voltaremos a esse ponto mais adiante.

    Alémdisso,pelo menos duascaracterísticasda carreira emvigor, tanto

    na Unicamp quanto nas universidades públicas brasileiras em geral,devem ser levadas em consideração na discussão sobre as diferençasentre professores dos sexos feminino e masculino no acesso aos cargos

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    mais altos. Se, por um lado, a estabilidade no emprego é garantida nomomentodaentrada,poroutro,nãoexisteimposiçãodeumritmoúni-co de progressão para todos.

    Nessa carreira, a progressão depende, em primeiro lugar, de disponi- bilidade orçamentária. Tanto a fatia do orçamento destinada às promo-ções, quanto sua distribuição pelas diferentes unidades são fixadasanualmente pelo Conselho Universitário. Ambas as decisões são obje-todelutasedisputasemtornodonúmerorelativodepromoçõesqueauniversidade deve autorizar, num quadro em que se opõem a necessi-dade de equilibrar os estímulos aos professores e os limites do orça-

    mento. Isso, por sua vez, gera disputas sobre os critérios pertinentespara atribuição de recursos às diferentes unidades. Ao longo do tem-po, o Conselho Universitário tem oscilado entre lidar caso a caso comas solicitações de recursos para promoção pelas unidades – situaçãomais frequente – ouregular umteto, nesse caso válido para todas elas–situação mais rara, mas que esteve em vigor entre 2008 e 2014, porexemplo. Nesse período, cada faculdade ou instituto não poderia ul-trapassar o teto de 35% do total de docentes na posição MS6.

    Diante disso, as variações na proporção de docentes no nível mais altoda carreira entre as diferentes unidades devem ser compreendidascomo um efeito dessas disputas, já que unidades com mais peso na po-lítica universitária tendem a obter mais recursos para promoção. Aomesmo tempo, elas são também efeito da valorização da promoção (edasuaprecocidade)pelosprópriosdocentes,oquenãodeixadeorien-tar o investimento que fazem na disputa com outras unidades por re-cursos para promoção.

    Para além das disputas entre unidades, há disputas também no inte-rior delas para definição dos departamentos e/ou áreas em que os re-cursos destinados à promoção serão alocados. A complexidade e opeso da política universitária nesses processos são inegáveis e têm efei-tos concretos sobre as chances de promoção de cada professor(a) e so- bre seus salários, como mostra a Tabela 1.

    Outro ônus associado à não progressão na carreira é a desvalorização

    frente aos pares. Esse é um aspecto difícil de ser avaliado objetivamen-te para o caso da Unicamp, onde há poucos indicadores de valorizaçãosimbólica da promoção, como evidenciado pela dissociação já mencio-

    Desigualdades de Gênero na Carreira Acadêmica no Brasil

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    nadaentre posiçãoacadêmica(dada pelo nível alcançadonacarreira)ea ocupação de posições de mando.

    Essa situação parece sugerir maior indeterminação da hierarquia uni-versitária. Ela pode indicar, por exemplo, maior aceitação dos pares adiferentes modalidades de hierarquização e a diferentes velocidadesdepromoção.Emtodososcasos,issopodebeneficiar,oupenalizarme-nos, os indivíduos que são chamados a arcar com outras responsabili-dadesforadauniversidade,sobretudoseissoestiverrelacionadoade-terminados momentos da vida familiar, como aqueles em que o cui-dado com os filhos ocupa maior tempo dos pais.

    Essa característica da carreira pode, portanto, ser especialmente rele-vanteparaasdocentesdosexofeminino.EstudossobreousodotempoporindivíduosdosexofemininoemasculinonoBrasilmostramqueasprimeiras gastam mais tempo com o trabalho doméstico mesmo quan-dorecebemumaaltarenda,quandosãochefesdefamíliaequandotêmumaocupaçãoremunerada,enquantoosúltimosgastammenostempomesmoquandonãosãochefesdefamíliaounãotêmumaocupaçãore-munerada (Ipea, 2012).

    Assim, se as docentes do sexo feminino das universidades públicas brasileiras, e da Unicamp em particular, não são obrigadas a se subme-teraumritmoúnicodeprogressãonacarreira,elaspodem,pelomenosemteoria,sededicaraosfilhosemmomentosemqueestesprecisamdemais atenção e investir mais na carreira durante outros períodos. Faz

    sentido, portanto, num sistema como esse, em que a precocidade ouadiamento das primeiras promoções não tem efeitos óbvios sobre aspromoções seguintes, esperar que uma proporção parecida de docen-

    758 DADOS –Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 58, no 3, 2015

    Marília Moschkovich e Ana Maria F. Almeida

    Tabela 1Salário dos Docentes segundo o Nível da Carreira MS, em Regime de Dedicação

    Integral à Docência e à Pesquisa

    (Unicamp, 2011)Nível da Carreira Vencimento Mensal Vencimento Anual

    Estimado*Variação

    (%)MS3 R$ 9.421,08 R$122.474,04 –MS5 R$11.231,64 R$146.011,32 19,2MS6 R$14.004,40 R$182.057,20 24,7Fonte:TabeladevencimentosdaDiretoriaGeraldeRecursosHumanos (DGRH),Unicamp (2012b).* O vencimento anual estimado foi calculado multiplicando por 13 os vencimentos mensais.

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    tes de cada sexo chegue ao topo da carreira, mesmo que os do sexo fe-minino demorem um pouco mais para fazê-lo.

    Além disso, estudar as carreiras de professores de uma universidadepública brasileira significa estudar um espaço profissional onde as de-cisões não são privilégio de administradores profissionais. São os pró-priosprofessorespesquisadores–enãoumpatrãoouumgerente–que“dãoascartas”emváriasdecisões,incluindoaprogressãonacarreiraeos salários. Organizados em núcleos decisórios que se estruturamcomo colegiados, eles tanto avaliam e decidem sobre os casos de pro-gressão, quanto produzem as regras que orientam tais avaliações e de-cisões.

    Duas consequências podem decorrer dessearranjo. Pode-sesupor queas regras sejam mais negociadas, com maior espaço para que os inte-resses dosdiferentes grupos de professores se manifestem e sejam aco-lhidos, ou pode-se imaginar que a prevalência de decisões colegiadascontribua para garantir a universalidade dos princípios que regem aspromoções, na medida em que tornam os processos mais coletivos,mais explícitos e, portanto, menos personalizados. Embora não seja

    possível supor que as decisões colegiadas façam desaparecer vieses degênero (e outros tipos de viés) nos processos de promoção, essa parti-cularidade da carreira poderia diminuir tais efeitos. Decisões colegia-das podem beneficiar profissionais do sexo feminino e outros gruposque entraram mais recentemente no espaço acadêmico na medida emqueosmembrosdoscolegiadosatuamalicomorepresentantesdeseuscolegas e a eles têm que prestar contas das posições assumidas. Resideaí também um dos interesses da presente análise.

    Dados e Métodos

    Para realizar os cálculos, utilizamos informações sobre os professoresdisponibilizadas (i) pela Diretoria Geral de Recursos Humanos daUnicamp tanto no seu website, para consulta pública, quanto a nossopedido; (ii) pelo Sistema de Informações sobre Pesquisa, Ensino eExtensão da Unicamp (Sipex); e (iii) pela Plataforma Lattes (Base deDados de Currículos, Grupos de Pesquisa e Instituições) do CNPq. Os

    professores desta universidade estão distribuídos por três campi, loca-lizados nas cidades de Campinas (distrito de BarãoGeraldo), Piracica- ba e Limeira5. Os professores estão vinculados a departamentos que,

    Desigualdades de Gênero na Carreira Acadêmica no Brasil

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    por sua vez, constituem “unidades de ensino e pesquisa” (UEPs),como são conhecidos as faculdades e os institutos.

    Paraefeitosdaanáliserealizadaaqui,aunidadebásicadeagrupamen-to dos docentes foi a unidade de ensino e pesquisa (UEP). Nos casos emque esta oferece mais de um curso de graduação com currículos es-tanques, o que significa que os professores não transitam entre os cur-sos, consideramos como unidade de análise o departamento a que estávinculado o curso de graduação no qual o professor ensina. Essa foi amaneira que encontramos para levar em consideração, ao mesmo tem-po, as identidades disciplinares e profissionais dos professores. O es-tudo incidiu, então, sobre o conjunto dos professores atuantes em 28

    UEPs/departamentos, agrupadas aqui como “unidades”6.A primeira etapa do estudo consistiu em calcular a proporção de do-centesdecadasexoemcadaunidadeeverificarcomoissosecompara-va com a média da Unicamp. Incluímos o desvio-padrão para melhorexplicitar a diferença entre elas. Como a nossa discussão é orientadapelo interesseemcompreendera situaçãodas docentesdo sexofemini-no na carreira acadêmica, as unidades em que essas docentes estão emmaior proporção do que a média da Unicamp são tratadas como “mais

    feminizadas” e aquelas em que estão em menor proporção são chama-das de “menos feminizadas”. A Tabela 2 mostra os resultados dessaprimeira etapa.

    Opassoseguintedaanálisefoiverificarsehaveriaumamenorpropor-ção de docentes do sexo feminino no nível mais alto. Para isso, exami-namos a proporção de professores de cada sexo presentes nos diferen-tes pontos da carreira e verificamos que havia uma proporção menordosexofemininonoscargosmaisaltos.Paraverificarseesseresultado

    sustentava a hipótese de um “teto de vidro”, isto é, se indicava a pre-sença de algum mecanismo que impede as docentes do sexo femininode chegarem ao topo, definimos como população de referência todosos professores que, ao menos hipoteticamente, poderiam ter chegadoao nível MS6, comparando-os àqueles que de fato chegaram.

    Para localizar esse grupo, utilizamos como referência o ano em que odocente MS6 defendeu o doutorado mais recentemente em cada uni-dade. Todos os docentes da unidade que defenderam seus doutorados

    no mesmo ano ou em ano anterior a esse foram incluídos nessa po-pulação. Assumimos, assim, que a partir do momento em que umprofessor ou professora alcança o cargo mais alto da carreira, todos os

    760 DADOS –Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 58, no 3, 2015

    Marília Moschkovich e Ana Maria F. Almeida

  • 8/17/2019 Desigualdades de Gênero Na Carreira Acadêmica

    13/42

    DADOS –Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 58, no 3, 2015 761

    Desigualdades de Gênero na Carreira Acadêmica

    T a b e l a 2

    N ú m e r o A b s o l u t o e R e l a t i v o

    d e D o c e n t e s e d e D o c e n t e s M S 6 ,

    p o r U n i d a d e d e E n s i n o

    e P e s q u i s a , s e g u n d o o S e x o

    ( U n i c a m p , 2

    0 1 1 )

    U n i d a d e

    D o c e n t e s

    D o c e n t e s M S 6

    A b s o l u t o

    ( N )

    R e l a t i v o

    ( % )

    A b s o l u t o

    ( N )

    R e l a t i v o à P o p u l a ç ã o T o t a l

    ( % )

    F

    M

    T o t a l

    F

    M

    T o t a l

    F

    M

    T o t a l

    F

    M

    T o t a l

    A r q u i t e t u r a

    1 3

    1 0

    2 3

    5 6 , 5

    4 3 , 5

    1 0 0 , 0

    2

    0

    2

    1 5 , 4

    0

    8 , 7

    A r t e s C ê n i c a s

    7

    8

    1 5

    4 6 , 7

    5 3 , 3

    1 0 0 , 0

    0

    0

    0

    0

    0

    0

    A r t e s d o C o r p o / D a n ç a

    1 1

    1

    1 2

    9 1 , 7

    8 , 3

    1 0 0 , 0

    0

    0

    0

    0

    0

    0

    A r t e s P l á s t i c a s

    1 0

    1 2

    2 2

    4 5 , 5

    5 4 , 5

    1 0 0 , 0

    0

    0

    0

    0

    0

    0

    B i o l o g i a

    5 4

    6 1

    1 1 5

    4 7 , 0

    5 3 , 0

    1 0 0 , 0

    1 4

    2 3

    3 7

    2 5 , 9

    3 7 , 7

    3 1 , 9

    C i ê n c i a s A p l i c a d a s

    2 1

    2 8

    4 9

    4 2 , 9

    5 7 , 1

    1 0 0 , 0

    0

    0

    0

    0

    0

    0

    C i ê n c i a s S o c i a i s

    2 0

    2 8

    4 8

    4 1 , 7

    5 8 , 3

    1 0 0 , 0

    6

    9

    1 5

    3 0 , 0

    3 2 , 1

    3 1 , 3

    C o m p u t a ç ã o

    1 0

    3 7

    4 7

    2 1 , 3

    7 8 , 7

    1 0 0 , 0

    2

    6

    8

    2 0 , 0

    1 6 , 2

    1 7 , 0

    E c o n o m

    i a

    1 4

    5 9

    7 3

    1 9 , 2

    8 0 , 8

    1 0 0 , 0

    0

    6

    6

    0

    1 0 , 2

    8 , 2

    E d u c a ç ã o

    5 4

    3 6

    9 0

    6 0 , 0

    4 0 , 0

    1 0 0 , 0

    5

    5

    1 0

    9 , 3

    1 3 , 9

    1 1 , 1

    E d u c a ç ã o F í s i c a

    8

    2 1

    2 9

    2 7 , 6

    7 2 , 4

    1 0 0 , 0

    1

    2

    3

    1 2 , 5

    9 , 5

    1 0 , 3

    E n f e r m a g e m

    2 6

    3

    2 9

    8 9 , 7

    1 0 , 3

    1 0 0 , 0

    0

    0

    0

    0

    0

    0

    E n g e n h a r i a A g r í c o l a

    6

    3 2

    3 8

    1 5 , 8

    8 4 , 2

    1 0 0 , 0

    2

    1 1

    1 3

    3 3 , 3

    3 4 , 4

    3 4 , 2

    E n g e n h a r i a C i v i l

    1 0

    4 0

    5 0

    2 0 , 0

    8 0 , 0

    1 0 0 , 0

    1

    9

    1 0

    1 0 , 0

    2 2 , 5

    2 0 , 0

    E n g e n h a r i a d e A l i m e n t o s

    2 3

    2 6

    4 9

    4 6 , 9

    5 3 , 1

    1 0 0 , 0

    5

    8

    1 3

    2 1 , 7

    3 0 , 8

    2 6 , 5

    ( c o n t i n u a )

  • 8/17/2019 Desigualdades de Gênero Na Carreira Acadêmica

    14/42

    762 DADOS –Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 58, no 3, 2015

    Marília Moschkovich e Ana Maria F. Almeida

    T a b e l a 2

    N ú m e r o A b s o l u t o e R e l a t i v o

    d e D o c e n t e s e d e D o c e n t e s M S 6 ,

    p o r U n i d a d e d e E n s i n o

    e P e s q u i s a , s e g u n d o o S e x o

    ( U n i c a m p , 2

    0 1 1 )

    U n i d a d e

    D o c e n t e s

    D o c e n t e s M S 6

    A b s o l u t o

    ( N )

    R e l a t i v o

    ( % )

    A b s o l u t o

    ( N )

    R e l a t i v o à P o p u l a ç ã o T o t a l

    ( % )

    F

    M

    T o t a l

    F

    M

    T o t a l

    F

    M

    T o t a l

    F

    M

    T o t a l

    E n g e n h a r i a E l é t r i c a

    4

    8 2

    8 6

    4 , 7

    9 5 , 3

    1 0 0 , 0

    0

    3 7

    3 7

    0

    4 5 , 1

    4 3 , 0

    E n g e n h a r i a M e c â n i c a

    7

    7 2

    7 9

    8 , 9

    9 1 , 1

    1 0 0 , 0

    3

    1 5

    1 8

    4 2 , 9

    2 0 , 8

    2 2 , 8

    E n g e n h a r i a Q u í m i c a

    2 1

    2 7

    4 8

    4 3 , 8

    5 6 , 3

    1 0 0 , 0

    9

    7

    1 6

    4 2 , 9

    2 5 , 9

    3 3 , 3

    E s t a t í s t i c a

    6

    1 3

    1 9

    3 1 , 6

    6 8 , 4

    1 0 0 , 0

    1

    1

    2

    1 6 , 7

    7 , 7

    1 0 , 5

    F a r m á c i a

    3

    5

    8

    3 7 , 5

    6 2 , 5

    1 0 0 , 0

    1

    1

    2

    3 3 , 3

    2 0 , 0

    2 5 , 0

    F i l o s o f i a

    3

    1 2

    1 5

    2 0 , 0

    8 0 , 0

    1 0 0 , 0

    1

    2

    3

    3 3 , 3

    1 6 , 7

    2 0 , 0

    F í s i c a

    7

    7 8

    8 5

    8 , 2

    9 1 , 8

    1 0 0 , 0

    0

    2 3

    2 3

    0

    2 9 , 5

    2 7 , 1

    G e o c i ê n c i a s

    1 4

    3 3

    4 7

    2 9 , 8

    7 0 , 2

    1 0 0 , 0

    2

    8

    1 0

    1 4 , 3

    2 4 , 2

    2 1 , 3

    H i s t ó r i a

    7

    1 2

    1 9

    3 6 , 8

    6 3 , 2

    1 0 0 , 0

    3

    5

    8

    4 2 , 9

    4 1 , 7

    4 2 , 1

    L e t r a s

    1 3

    1

    1 4

    9 2 , 9

    7 , 1

    1 0 0 , 0

    5

    0

    5

    3 8 , 5

    0

    3 5 , 7

    L i n g u í s t i c a

    1 9

    1 2

    3 1

    6 1 , 3

    3 8 , 7

    1 0 0 , 0

    3

    2

    5

    1 5 , 8

    1 6 , 7

    1 6 , 1

    M a t e m á t i c a

    6

    3 0

    3 6

    1 6 , 7

    8 3 , 3

    1 0 0 , 0

    2

    7

    9

    3 3 , 3

    2 3 , 3

    2 5 , 0

    M a t e m á t i c a A p l i c a d a

    9

    2 7

    3 6

    2 5 , 0

    7 5 , 0

    1 0 0 , 0

    1

    5

    6

    1 1 , 1

    1 8 , 5

    1 6 , 7

    M e d i c i n a

    1 1 8

    1 7 8

    2 9 6

    5 1 , 9

    4 8 , 1

    1 0 0 , 0

    1 5

    3 6

    5 1

    1 2 , 7

    2 0 , 2

    1 7 , 2

    M i d i a l o g i a

    1

    1 6

    1 7

    5 , 9

    9 4 , 1

    1 0 0 , 0

    0

    2

    2

    0

    1 2 , 5

    1 1 , 8

    ( c o n t i n u a )

    ( c o n t i n u a ç ã o )

  • 8/17/2019 Desigualdades de Gênero Na Carreira Acadêmica

    15/42

    DADOS –Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 58, no 3, 2015 763

    Desigualdades de Gênero na Carreira Acadêmica

    T a b e l a 2

    N ú m e r o A b s o l u t o e R e l a t i v o

    d e D o c e n t e s e d e D o c e n t e s M S 6 ,

    p o r U n i d a d e d e E n s i n o

    e P e s q u i s a , s e g u n d o o S e x o

    ( U n i c a m p , 2

    0 1 1 )

    U n i d a d e

    D o c e n t e s

    D o c e n t e s M S 6

    A b s o l u t o

    ( N )

    R e l a t i v o

    ( % )

    A b s o l u t o

    ( N )

    R e l a t i v o à P o p u l a ç ã o T o t a l

    ( % )

    F

    M

    T o t a l

    F

    M

    T o t a l

    F

    M

    T o t a l

    F

    M

    T o t a l

    M ú s i c a

    6

    2 5

    3 1

    1 9 , 4

    8 0 , 6

    1 0 0 , 0

    0

    0

    0

    0

    0

    0

    O d o n t o l o g i a

    2 9

    5 0

    7 9

    3 5 , 4

    6 4 , 6

    1 0 0 , 0

    8

    2 3

    3 1

    2 7 , 6

    4 6 , 0

    3 9 , 2

    Q u í m i c a

    2 4

    5 1

    7 5

    3 2 , 0

    6 8 , 0

    1 0 0 , 0

    7

    1 9

    2 6

    2 9 , 2

    3 7 , 3

    3 4 , 7

    T e c n o l o g i a

    2 1

    3 9

    6 0

    3 5 , 0

    6 5 , 0

    1 0 0 , 0

    0

    0

    0

    0

    0

    0

    T e o r i a L i t e r á r i a

    5

    1 2

    1 7

    2 9 , 4

    7 0 , 6

    1 0 0 , 0

    1

    3

    4

    2 0 , 0

    2 5 , 0

    2 3 , 5

    U n i c a m

    p

    6 1 0

    1 . 1

    7 7

    1 . 7 8 7

    3 6 , 7

    6 3 , 3

    1 0 0 , 0

    1 0 0

    2 7 5

    3 7 5

    1 6 , 4

    2 3 , 4

    2 1 , 0

    D e s v i o - P a d r ã o

    2 1 , 0

    6

    3 2 , 6 5

    4 9 , 7

    5

    3 , 7 6

    9 , 8 0

    1 2 , 3

    2

    F o n t e : D G R H / U n i c a m p ; P l a t a f o r m a L a t t e s / C N P q .

    ( c o n t i n u a ç ã o )

  • 8/17/2019 Desigualdades de Gênero Na Carreira Acadêmica

    16/42

    professores que defenderam seus doutorados no mesmo ano ou emanos anteriores, teriam hipoteticamente condições de também ter che-gado a esse cargo.

    O parâmetro de tempo serve, assim, para definir a data mais recente apartir da qual um indivíduo poderia ser incluído no grupo de referên-cia. Comocadaunidadeapresenta ritmos próprios deavançonacarrei-ra, a definição do grupo de referência variou em função do tempo defato despendido pelos seus professores para alcançar o posto máximona carreira e não por um limite externo imposto por nós. A Tabela 3apresenta o intervalo entre a defesa dos doutorados mais recentes emais antigos que foi considerado na definição do grupo de referência

    pertinente em cada unidade.Como pode ser visto na Tabela 4, esse procedimento revelou-sebastan-te inclusivo. Os docentes considerados pertencentes à população dereferência chegaram a representar 79% do total de docentes em umaunidade (Engenharia Agrícola) e 50% ou mais em praticamente doisterços das 27 unidades.

    É importante ter em mente, portanto, que o grupo de referência é bas-

    tante diversificado em termos de idade e, portanto, também no que serefereà sua socialização profissional que, dando-se em momentos bas-tante diferentes, foi resultado de condições também diferentes. Alémdisso, trata-se de um grupo que foi exposto a condições diversas paradesenvolvimento da carreira, que variaram tanto no que diz respeitoaos requisitos necessários para promoção, quanto às condições objeti-vas para pleiteá-las, incluindo aí a disponibilidade de recursos, porexemplo.

    O estudo das mudanças nas normas que regulam a promoção docentedesde que a Unicamp foi criada indica que a universidade optou, du-rante o período, por descentralizar os requisitos. A universidade exigeapenas que eles sejam definidos pelos institutos e faculdades e queconsiderem o envolvimento com a pesquisa, a docência, a administra-ção universitária e a extensão. O exame dos documentos produzidospordiferentesunidadesmostraqueadefiniçãodosrequisitossecarac-terizavaporumaltograudeindeterminaçãoatéoiníciodosanos2000.A partir desse período, ocorre uma diferenciação. Institutos e faculda-

    des das áreas das ciências biológicas e exatas passam a definir commaior precisão os indicadores de originalidade e qualidade da produ-ção acadêmica, alguns chegando mesmo a quantificá-los (citações

    764 DADOS –Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 58, no 3, 2015

    Marília Moschkovich e Ana Maria F. Almeida

  • 8/17/2019 Desigualdades de Gênero Na Carreira Acadêmica

    17/42

    recebidas, publicação em periódicos internacionais etc.), do ensino eda participação na administração universitária, enquanto os institutose faculdades da área de humanidades mantêm a indeterminação. A

    Desigualdades de Gênero na Carreira Acadêmica no Brasil

    DADOS –Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 58, no 3, 2015 765

    Tabela 3Ano de Defesa do Doutorado mais Antigo e mais Recente entre os Professores

    MS6 e Intervalo em Número de Anos, por Unidade

    (Unicamp, 2011)

    UnidadeAno de Defesa doDoutorado mais

    Recente

    Ano de Defesa doDoutorado mais

    AntigoIntervalo

    Biologia 1994 1969 25Medicina 1999 1974 25Química 1995 1970 25Matemática 1998 1974 24Engenharia de Alimentos 1994 1971 23

    Engenharia Agrícola 1997 1974 23Física 1994 1971 23Engenharia Química 1996 1974 22Odontologia 1997 1975 22Ciências Sociais 1992 1974 18Educação 1991 1975 16História 1992 1976 16Matemática Aplicada 1994 1978 16Engenharia Mecânica 1994 1978 16

    Engenharia Elétrica 1994 1978 16Geociências 1996 1980 16Engenharia Civil 1995 1980 15Letras 1995 1980 15Teoria Literária 1992 1980 12Computação 1997 1985 12Economia 1996 1984 12Arquitetura 1990 1980 10Midialogia 1992 1982 10

    Farmácia 1991 1983 8Linguística 1985 1979 6Estatística 1997 1993 4Educação Física 1992 1989 3Filosofia 1983 1982 1Fonte: Cálculo das autoras a partir de dados do DGRH/Unicamp; Sipex/Unicamp; PlataformaLattes/CNPq.

  • 8/17/2019 Desigualdades de Gênero Na Carreira Acadêmica

    18/42

    homogeneização volta a se estabelecer no final da década. Por volta de2011, praticamente todos os institutos e faculdades dispõem de métri-cas para apoiar a definição dos perfis de cada nível da carreira. Emmuitos casos, mas não em todos, isso implicou em quantificação de in-dicadores7.

    Comoa promoçãonão é exigida pela universidadee comonão háqual-querimposiçãoquantoaomomentoemqueeladevasedar,ogrupodereferência que estabelecemos é composto por docentes que, de umamaneira ou de outra, em um tempo ou em outro, submetido a uma ououtra regra, poderiam ter sido, pelo menos hipoteticamente, promovi-dos. Ao mesmo tempo, estão excluídos do grupo todos os docentes so- bre os quais faltam evidências de que poderiam ter sido promovidos, jáque nenhum colega que tenha defendido o doutorado no mesmo anogalgou o nível mais alto da carreira.

    Definindo dessa maneira a população de referência, estabelecemos,para cada unidade, o conjunto de professores sobre o qual incidiu oexamedaschancesdechegaraocargomaisaltodacarreira.Essapopu-lação é apresentada na Tabela 4. As unidades que não contavam comprofessores no nível MS6 no final de 2011, quando encerramos a mon-tagem do banco de dados, aparecem nas últimas linhas da tabela e fo-ram excluídas das análises que se seguem.

    Verificamos, assim, a proporção de docentes dossexos feminino e mas-culino de uma mesma geração que chegaram de fato à posição de pro-fessores MS6 a partir das seguintes operações:

    CF = Ft/F gCM = Mt/M gCT = Tt/T g

    Em que C=Chances; F=Professores do sexo feminino; M=Professoresdo sexo masculino; T=Total de professores; t=Total de professoresMS6; g=Total de professores no grupo de referência.

    Complementamos essa análise com um cálculo da velocidade de che-gada ao cargo mais alto da carreira e das chances de ocuparem cargos

    de gestãouniversitária (coordenador de curso de pós-graduação, dire-tor de unidade, pró-reitor e representantes docentes no Conselho Uni-versitário) para docentes de ambos os sexos em todas as unidades8.

    766 DADOS –Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 58, no 3, 2015

    Marília Moschkovich e Ana Maria F. Almeida

  • 8/17/2019 Desigualdades de Gênero Na Carreira Acadêmica

    19/42

    DADOS –Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 58, no 3, 2015 767

    Desigualdades de Gênero na Carreira Acadêmica

    T a b e l a 4

    N ú m e r o d e D o c e n t e s I n c l u í d o s n a P o p u l a ç ã o d e R e f e r ê n c i a e s u a P r o p o r ç ã o n a P o p u l a ç ã o T o t a l , p

    o r U n i d a d e , s e g u n d o o S e x o

    ( U n i c a m p , 2

    0 1 1 )

    U n i d a d e

    D o c e n t e s n a P o p u l a ç ã o d e R e f e r ê n c i a

    A b s o l u t o ( N )

    D o c e n t e s n a P o p u l a ç ã o d e R e f e r ê n c i a

    R e l a t i v o à P o p u l a ç ã o T o t a l ( % )

    F

    M

    T o t a l

    F

    M

    T o t a l

    E n g e n h a r i a A g r í c o l a

    4

    2 6

    3 0

    6 6 , 7

    8 1 , 3

    7 8 , 9

    E n g e n h a r i a Q u í m i c a

    1 5

    2 1

    3 6

    7 1 , 4

    7 7 , 8

    7 5 , 0

    F í s i c a

    5

    5 7

    6 2

    7 1 , 4

    7 3 , 1

    7 2 , 9

    M a t e m á t i c a A p l i c a d a

    8

    1 7

    2 5

    8 8 , 9

    6 3 , 0

    6 9 , 4

    Q u í m i c a

    1 7

    3 5

    5 2

    7 0 , 8

    6 8 , 6

    6 9 , 3

    E n g e n h a r i a E l é t r i c a

    1

    5 8

    5 9

    2 5 , 0

    7 0 , 7

    6 8 , 6

    M e d i c i n a

    8 1

    1 2 0

    2 0 1

    6 8 , 6

    6 7 , 4

    6 7 , 9

    E n g e n h a r i a M e c â n i c a

    5

    4 8

    5 3

    7 1 , 4

    6 6 , 7

    6 7 , 1

    M a t e m á t i c a

    5

    1 9

    2 4

    8 3 , 3

    6 3 , 3

    6 6 , 7

    B i o l o g i a

    3 7

    3 9

    7 6

    6 8 , 5

    6 3 , 9

    6 5 , 5

    L e t r a s

    9

    0

    9

    6 9 , 2

    0 , 0

    6 4 , 3

    O d o n t o l o g i a

    1 5

    3 2

    4 7

    5 1 , 7

    6 4 , 0

    5 9 , 5

    H i s t ó r i a

    3

    8

    1 1

    4 2 , 9

    6 6 , 7

    5 7 , 9

    E n g e n h a r i a d e A l i m e n t o s

    1 3

    1 5

    2 8

    5 6 , 5

    5 7 , 7

    5 7 , 1

    C o m p u t a ç ã o

    6

    1 9

    2 5

    6 0 , 0

    5 1 , 4

    5 3 , 2

    E s t a t í s t i c a

    2

    8

    1 0

    3 3 , 3

    6 1 , 5

    5 2 , 6

    F a r m á c i a

    1

    3

    4

    3 3 , 3

    6 0 , 0

    5 0 , 0

    G e o c i ê n c i a s

    4

    1 7

    2 1

    2 8 , 6

    5 1 , 5

    4 4 , 7

    E c o n o m

    i a

    3

    2 7

    3 0

    2 1 , 4

    4 5 , 8

    4 1 , 1

    ( c o n t i n u a )

  • 8/17/2019 Desigualdades de Gênero Na Carreira Acadêmica

    20/42

    768 DADOS –Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 58, no 3, 2015

    Marília Moschkovich e Ana Maria F. Almeida

    T a b e l a 4

    N ú m e r o d e D o c e n t e s I n c l u í d o s n a P o p u l a ç ã o d e R e f e r ê n c i a e s u a P r o p o r ç ã o n a P o p u l a ç ã o T o t a l , p

    o r U n i d a d e , s e g u n d o o S e x o

    ( U n i c a m p , 2

    0 1 1 )

    U n i d a d e

    D o c e n t e s n a P o p u l a ç ã o d e R e f e r ê n c i a

    A b s o l u t o ( N )

    D o c e n t e s n a P o p u l a ç ã o d e R e f e r ê n c i a

    R e l a t i v o à P o p u l a ç ã o T o t a l ( % )

    F

    M

    T o t a l

    F

    M

    T o t a l

    E n g e n h a r i a C i v i l

    3

    1 7

    2 0

    3 0 , 0

    4 2 , 5

    4 0 , 0

    U n i c a m

    p

    1 8 5

    4 9 9

    6 8 4

    3 0 , 3

    4 2 , 4

    3 8 , 3

    C i ê n c i a s S o c i a i s

    7

    1 0

    1 7

    3 5 , 0

    3 5 , 7

    3 5 , 4

    T e o r i a L i t e r á r i a

    2

    4

    6

    4 0 , 0

    3 3 , 3

    3 5 , 3

    L i n g u í s t i c a

    5

    3

    8

    2 6 , 3

    2 5 , 0

    2 5 , 8

    M i d i a l o g i a

    0

    4

    4

    0 , 0

    2 5 , 0

    2 3 , 5

    E d u c a ç ã o

    1 1

    9

    2 0

    2 0 , 4

    2 5 , 0

    2 2 , 2

    F i l o s o f i a

    1

    2

    3

    3 3 , 3

    1 6 , 7

    2 0 , 0

    E d u c a ç ã o F í s i c a

    1

    4

    5

    1 2 , 5

    1 9 , 0

    1 7 , 2

    A r q u i t e t u r a

    3

    0

    3

    2 3 , 1

    0 , 0

    1 3 , 0

    A r t e s C ê n i c a s

    0

    0

    0

    0 , 0

    0 , 0

    0 , 0

    A r t e s d o C o r p o / D a n ç a

    0

    0

    0

    0 , 0

    0 , 0

    0 , 0

    A r t e s P l á s t i c a s

    0

    0

    0

    0 , 0

    0 , 0

    0 , 0

    C i ê n c i a s A p l i c a d a s

    0

    0

    0

    0 , 0

    0 , 0

    0 , 0

    E n f e r m a g e m

    0

    0

    0

    0 , 0

    0 , 0

    0 , 0

    M ú s i c a

    0

    0

    0

    0 , 0

    0 , 0

    0 , 0

    T e c n o l o g i a

    0

    0

    0

    0 , 0

    0 , 0

    0 , 0

    F o n t e : C á l c u l o d a s a u t o r a s a p a r t i r d e d a d o s d a D G R H / U n i c a m p ; S i p e x / U n i c a m

    p , P

    l a t a f o r m a L a t t e s / C N P q .

    ( c o n t i n u a ç ã o )

  • 8/17/2019 Desigualdades de Gênero Na Carreira Acadêmica

    21/42

    Outra questão levantada na literatura mencionada anteriormente dizrespeito à relação entre a feminização do corpo docente e as chances deacesso ao topo da carreira. Segundo alguns estudos, um ambiente emque haja maior presença de docentes do sexo feminino ofereceria maisoportunidades e segurança às docentes para que invistam nas ativida-des científicas necessárias para a progressão na carreira (Vasconcellos eBrisolla, 2009; Tabak, 2002; Velho e Léon, 1998). Também examinamosesseaspectodaquestão,verificandoseaschancesdeasdocenteschega-rem aos cargos mais altos eram maiores nos cursos mais feminizados.Os resultados são apresentados na próxima seção.

    RESULTADOS

    No que diz respeito à distribuição de docentes de cada sexo pelas di-ferentes áreas do conhecimento, constatamos que a desigualdade re-latada pela literatura especializada se verifica também nesse caso.Notamos, além disso, que as docentes do sexo feminino estão maisconcentradas em algumas áreas disciplinares, enquanto seus colegasencontram-se presentes emumnúmeromaior delas. Emseguida, mos-tramos que as chances de chegada ao nível mais alto da carreira e aoscargosdegestãovariamsignificativamenteentreasdiferentesunida-des. Por fim, identificamos as áreas em que as docentes do sexo femi-nino estão em vantagem e aquelas nas quais estão em desvantagemno acesso a essas posições.

    a) Distribuição dos docentes de ambos os sexos pelos diferentes cursos

    Alémdeseremminoria,asdocentesestãoespalhadasdemaneirahete-rogênea pelas diferentes áreas do conhecimento, pelas diferentes fa-culdades e institutos que compõem a universidade em estudo e, emconsequência, pelas unidades que construímos para esta análise. Co-moa bibliografia consultadasugeria, os casosde menor presença femi-nina estão nas ciências exatas e nas engenharias. A Tabela 5 mostra osnúmeros absolutos e a proporção de docentes de cada sexo segundo aárea do conhecimento, no vocabulário usado pela Unicamp.

    As causas das diferenças de concentração por áreas do conhecimentosão muitas, remetendo inclusive à história de institucionalização decadaáreadisciplinar noBrasil. Embora a menor proporçãodedocentes

    do sexo feminino seja por vezes relacionada à maior representação, naUnicamp, de cursos de graduação nas áreas exatas e tecnológicas,tradicionalmente menos feminizadas, nossos dados mostraram que

    Desigualdades de Gênero na Carreira Acadêmica no Brasil

    DADOS –Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 58, no 3, 2015 769

  • 8/17/2019 Desigualdades de Gênero Na Carreira Acadêmica

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    Desigualdades de Gênero na Carreira Acadêmica no Brasil

    DADOS –Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 58, no 3, 2015 771

    Tabela 6Docentes por Sexo, segundo a Unidade, em Ordem Decrescente

    de Feminização (%)

    (Unicamp, 2011)

    Unidade Docentes

    F M TotalLetras 92,9 7,1 100,0Artes do Corpo/Dança 91,7 8,3 100,0Enfermagem 89,7 10,3 100,0Linguística 61,3 38,7 100,0Educação 60,0 40,0 100,0Arquitetura 56,5 43,5 100,0

    Medicina 51,9 48,1 100,0Biologia 47,0 53,0 100,0Engenharia de Alimentos 46,9 53,1 100,0Artes Cênicas 46,7 53,3 100,0Artes Plásticas 45,5 54,5 100,0Engenharia Química 43,8 56,3 100,0Ciências Aplicadas 42,9 57,1 100,0Ciências Sociais 41,7 58,3 100,0Farmácia 37,5 62,5 100,0História 36,8 63,2 100,0Unicamp 36,7 63,3 100,0Odontologia 35,4 64,6 100,0Tecnologia 35,0 65,0 100,0Química 32,0 68,0 100,0Estatística 31,6 68,4 100,0Geociências 29,8 70,2 100,0Estudos Literários 29,4 70,6 100,0Educação Física 27,6 72,4 100,0Matemática Aplicada 25,0 75,0 100,0Computação 21,3 78,7 100,0Filosofia 20,0 80,0 100,0Engenharia Civil 20,0 80,0 100,0Música 19,4 80,6 100,0Economia 19,2 80,8 100,0Matemática 16,7 83,3 100,0Engenharia Agrícola 15,8 84,2 100,0Engenharia Mecânica 8,9 91,1 100,0Física 8,2 91,8 100,0Midialogia 5,9 94,1 100,0

    Engenharia Elétrica 4,7 95,3 100,0Fonte: DGRH/Unicamp; Sipex/Unicamp.

  • 8/17/2019 Desigualdades de Gênero Na Carreira Acadêmica

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    Emtermosdaconcentraçãohorizontalnacarreiraacadêmica,osdadosda Unicamp permitem ver, assim, que, embora seja correto pensar queas áreas menos feminizadas encontrem-se bastante impermeáveis àsdocentes do sexo feminino, o contrário não é verdade, já que pratica-mente todas as unidades, com exceção de Letras, Dança e Enferma-gem,são bastanteabertas aos docentes dosexo masculino. Estaconclu-são desafia a ideia de que haja “guetos disciplinares” para cada sexo,embora sustente a percepção de que seja mais difícil a inserção de do-centes do sexo feminino em áreas predominantemente masculinas doque o inverso.

    Discutimos, a seguir, o segundo aspecto da diferença entre os sexos nacarreira acadêmica a partir de umestudo das diferenças entre docentesdosexofemininoemasculinonachegadaaonívelmaisaltodacarreira(MS6) e aos cargos de gestão.

    b) Desigualdades de acesso ao nível mais alto da carreira e aos cargos de gestão universitária

    Como mencionado anteriormente, a estrutura da carreira, os requisi-tos para entrada e promoção, os órgãos e instituições reguladores e ossaláriossãoexpressosnessauniversidadeemregrasenormasburocrá-ticas que não admitem diferenciação entre indivíduos de sexos dife-rentes. Essa situação é compartilhada, claro, por todas as universida-des públicas.

    Como mostra a Tabela 7, a distribuição do total de docentes segundo onível da carreira em que se encontram é desigual entre os sexos. Doisaspectos dessa distribuição são significativos para a discussão desen-volvidaaqui.Emprimeirolugar,nota-sequetantoasdocentesdosexofeminino quanto os do sexo masculino estão mais concentrados no ní-velMS3.Nota-setambémqueaproporçãodedocentesdosexofemini-no é ligeiramente maior no nível MS3, mas significativamente menorno nível mais alto, o MS6. O Gráfico 1 facilita a visualização dessas di-ferenças.

    ATabela8,porsuavez,mostraqueaproporçãodedocentesdosexofe-mininononível de entrada na carreira (39,5%) está umpouco acima damédia de todos os níveis (34,0%). No entanto, ela mostra também quesua proporção nos outros níveis é menor do que a média, principal-mente no mais alto.

    772 DADOS –Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 58, no 3, 2015

    Marília Moschkovich e Ana Maria F. Almeida

  • 8/17/2019 Desigualdades de Gênero Na Carreira Acadêmica

    25/42

    Desigualdades de Gênero na Carreira Acadêmica no Brasil

    DADOS –Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 58, no 3, 2015 773

    Tabela 7Docentes, por Sexo, segundo o Nível em que se Encontravam na Carreira (%)

    (Unicamp, 2011)

    Nível Sexo TotalF M

    E.M.S. 0,1 0,1 0,1MS1 0,0 0,3 0,2MS2 0,4 2,0 1,4MS3 44,4 39,5 41,3MS5 37,0 30,5 32,9MS6 14,8 24,2 20,7Não MS 3,2 3,6 3,4

    Total 100,0 100,0 100,0Fonte: DGRH/Unicamp.

    Gráfico 1Docentes, por Sexo, segundo o Nível em que se Encontravam na Carreira (%)

    (Unicamp, 2011)

    Fonte: DGRH/Unicamp.

  • 8/17/2019 Desigualdades de Gênero Na Carreira Acadêmica

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    Tabela 8Docentes, por Nível em que se Encontravam na Carreira, segundo o Sexo (%)

    (Unicamp, 2011)

    Nível F M TotalMS3 39,5 60,5 100,0MS5 33,1 66,9 100,0MS6 26,2 73,8 100,0Total 34,0 66,0 100,0Fonte: DGRH/Unicamp.

    Para compreender a diferença que se aprofunda no nível mais alto, exa-

    minamosaschancesdeosdocenteschegaremaessenívelsegundooseusexo, em cada unidade. Os resultados são apresentados na Tabela 9.

    A Tabela 9 mostra, em primeiro lugar, que, se analisarmos as chancesgerais do conjunto de docentes dos sexos feminino e masculino descri-tasnalinha“Unicamp”,veremosquesãomuitopróximas.Noentanto,quando se examina a situação das diferentes unidades, vê-se que aschancesdedocentesdossexosfemininoemasculinochegaremaotopoda carreira não são tão equilibradas.

    Das 28 unidades analisadas, as docentes do sexo feminino tiverammais chances do que seus colegas de chegar ao cargo mais alto da car-reira em dez, isto é, naquelas em que a razão F/M é maior que 1. Se so-marmos a essas aquelas unidades onde não há docentes do sexo mas-culino no grupo de referência, caso de Letras e Arquitetura, vê-se queas docentes do sexo feminino não estão em desvantagem em 12 delas.Além disso, vê-se que a maioria dessas unidades pertence à área deCiências Exatas e Engenharias (sete), se não contarmos Arquitetura.Apenas duas dessas unidades pertencem à área de Ciências Humanas(Letras e História) e duas à área de Biomédicas (Educação Física e Far-mácia).

    Em outras dez unidades, as chances das docentes são menores do queas dos docentes do sexo masculino, inclusive em várias das pertencen-tesàáreadeCiênciasHumanas,comoéocasodeEconomia,Educação,Linguística e Teoria Literária. As docentes tiveram chances maiores de

    chegaraocargomaisaltodacarreiraemtrêsunidadesquepertencemàárea das Engenharias – Agrícola, Química e Mecânica – do que na Fa-culdade de Educação, onde são maioria tanto na geração profissional

    774 DADOS –Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 58, no 3, 2015

    Marília Moschkovich e Ana Maria F. Almeida

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    27/42

    estudada quanto no corpo docente em geral no momento em que con-cluímos o banco de dados utilizado nessa pesquisa, em 2011.

    Esses resultados indicam que a relação entre maior feminização docursoemaiorchanceparadocentesdosexofemininonãoseverificademaneira linear. As docentes do sexo feminino têm menos chance

    Desigualdades de Gênero na Carreira Acadêmica no Brasil

    DADOS –Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 58, no 3, 2015 775

    Tabela 9Proporção dos Docentes Incluídos na População de Referência a Chegar ao Nível

    MS6, por Sexo, segundo a Unidade

    (Unicamp, 2011)

    Unidade ChancesFChances

    MRazãoF/M

    ChancesGerais

    Economia 0,0 22,2 – 20,0Engenharia Elétrica 0,0 63,8 – 62,7Física 0,0 40,4 – 37,1Midialogia 0,0 50,0 – 50,0Matemática Aplicada 12,5 29,4 0,4 24,0Medicina 18,5 30,0 0,6 25,4

    Engenharia Civil 33,3 52,9 0,6 50,0Biologia 37,8 59,0 0,6 48,7Teoria Literária 50,0 75,0 0,7 66,7Engenharia de Alimentos 38,5 53,3 0,7 46,4Odontologia 53,3 71,9 0,7 66,0Química 41,2 54,3 0,8 50,0Educação 45,5 55,6 0,8 50,0Linguística 60,0 66,7 0,9 62,5Ciências Sociais 85,7 90,0 1,0 88,2Unicamp 54,1 55,1 1,0 54,8

    Filosofia 100,0 100,0 1,0 100,0Computação 33,3 31,6 1,1 32,0Geociências 50,0 47,1 1,1 47,6Matemática 40,0 36,8 1,1 37,5Engenharia Agrícola 50,0 42,3 1,2 43,3História 100,0 62,5 1,6 72,7Engenharia Química 60,0 33,3 1,8 44,4Engenharia Mecânica 60,0 31,3 1,9 34,0Educação Física 100,0 50,0 2,0 60,0Farmácia 100,0 33,3 3,0 50,0Estatística 50,0 12,5 4,0 20,0Arquitetura 66,7 0,0 – 66,7Letras 55,6 0,0 – 55,6Fonte: Cálculo das autoras a partir de dados obtidos junto ao DGRH/Unicamp; Sipex/Unicamp;Plataforma Lattes/CNPq.

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    de chegar ao nível mais alto do que os do sexo masculino em três (Lin-guística, Educação e Medicina) dos cinco cursos mais feminizados dauniversidade (Letras, Linguística, Educação, Arquitetura e Medicina).Simetricamente, elas têm mais chance em dois (Engenharias Mecânicae Agrícola) dos cinco cursos menos feminizados (Engenharia Elétrica,Midialogia, Física, Engenharia Mecânica e Engenharia Agrícola).

    Otempodecorridoentreodoutoradoeachegadaaonívelmaisaltodacarreira é outro elemento que pode indicar a desigualdade de gêneronessa carreira. Para analisar esse aspecto, comparamos o tempo quedocentes do sexo feminino e masculino levaram para chegar ao nívelMS6. A Tabela 10 apresenta esses resultados. A coluna “Razão de tem-poF/M”indicaoscasosemqueotempodechegadaaoMS6dasdocen-tesdosexofemininoémenordoqueodeseuscolegasdosexomasculi-no (valores menores do que 1), maior (valores maiores que 1) ou igualpara ambos os sexos (valores iguais a 1).

    Assim,excluindoasunidadesemqueocálculonãofoipossível,obser-va-se que, enquanto as docentes do sexo feminino chegam ao nívelmais alto com maior rapidez que seus colegas do sexo masculino emseteunidadese namesma velocidade que eles emduas, os docentes do

    sexo masculino chegam mais rápido em 14 delas.Note-se, porém, que não há situações tão díspares quanto aquelas en-contradas no caso das chances de acesso ao nível MS6. Nesse caso, asrazões entre as chances para o sexo feminino e para o sexo masculinovariaram entre 0,4 e 4. Já com relação à razão entre o tempo investidodo fim do doutorado até a chegada ao MS6 por docentes dos sexos fe-mininoemasculino,essavariaçãoémenor:asrazõesvariamentre0,71e 1,60.

    Quando comparamos ambas as razões (de tempo e de chances de che-gadaaoMS6)comafeminizaçãodasunidades,nãoencontramosasso-ciações muito consistentes. A Tabela 11 mostra esses dados.

    Há, ainda, outros indicadores que nos ajudam a construir o quadro dadesigualdade entre os sexos na carreira acadêmica na Unicamp. Umdeles é a diferença, segundo o sexo, na proporção de docentes que che-garam a ocupar altos cargos da gestão universitária. Outra vez, como

    não há critério de elegibilidade para a ocupação de cargos de gestãonessa universidade, consideramos para estes cálculos os docentes queocupavam cargos de coordenador de graduação, de pós-graduação e

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    Marília Moschkovich e Ana Maria F. Almeida

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    Desigualdades de Gênero na Carreira Acadêmica no Brasil

    DADOS –Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 58, no 3, 2015 777

    Tabela 10Medianas do Tempo, em Anos, entre Conclusão do Doutorado e Chegada ao MS6,segundo o Sexo (F e M) e para Ambos os Sexos (Total), em cada Unidade; Razão

    entre Mediana para o Sexo Feminino e Mediana para o Sexo Masculino; e Razãoentre as Chances de Docentes de Cada Sexo Chegarem ao Nível MS6(Unicamp, 2011)

    Unidade TempoFTempo

    MTempoTotal

    Razão deTempo F/M

    Razão deChances F/M

    Engenharia de Alimentos 17 24 20 0,71 0,7Matemática 14 19 18 0,74 1,1Engenharia Civil 13 17 16,5 0,76 0,6Estatística 10 12 11 0,83 4,0

    Medicina 13,5 15 15 0,90 0,6Farmácia 17 18 17,5 0,94 3,0Engenharia Mecânica 15 15,5 15 0,97 1,9Educação 20 20 20 1,00 0,8Geociências 14 14 14 1,00 1,1Engenharia Química 15,5 15 15 1,03 1,8Linguística 20 19 19,5 1,05 0,9Ciências Sociais 19 18 19 1,06 1,0Unicamp 17 16 16 1,06 1,0

    História 15 14 14 1,07 1,6Educação Física 18 16,5 18 1,09 2,0Odontologia 11 10 11 1,10 0,7Química 21 19 20 1,11 0,8Filosofia 16 14 15 1,14 1,0Biologia 21 18 19 1,17 0,6Teoria Literária 23 19 20,5 1,21 0,7Computação 16 13 13,5 1,23 1,1Engenharia Agrícola 24 16 16 1,50 1,2

    Matemática Aplicada 24 15 15,5 1,60 0,4Arquitetura 20,5 n/a 20,5 – –Economia n/a 17 17 – –Engenharia Elétrica n/a 17 17 – –Física n/a 18 18 – –Letras 19 n/a 19 – –Midialogia n/a 20,5 20,5 – –Fonte: Cálculo das autoras a partir de dados obtidos junto ao DGRH/Unicamp; Sipex/Unicamp;Plataforma Lattes/CNPq.Obs.: Em itálico, medianas substituídas pela média (apenas dois docentes MS6 na categoria); negri-to,medianas substituídaspelo tempo correspondenteao único indivíduo nacategoria;n/a,nenhumdocente MS6 na categoria.

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    778 DADOS –Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 58, no 3, 2015

    Marília Moschkovich e Ana Maria F. Almeida

    Tabela 11Razão de Tempo (F/M), Razão de Chances (F/M) e Feminização (F)

    nas Diferentes Unidades (%)

    (Unicamp, 2011)

    Unidade Razão de TempoF/MRazão de

    Chances F/M Feminização

    Engenharia Elétrica – – 4,7Midialogia – – 5,9Física – – 8,2Engenharia Mecânica 1,0 1,9 8,9Engenharia Agrícola 1,5 1,2 15,8Matemática 0,7 1,1 16,7Economia – – 19,2Engenharia Civil 0,8 0,6 20,0Filosofia 1,1 1,0 20,0Computação 1,2 1,1 21,3Matemática Aplicada 1,6 0,4 25,0Educação Física 1,1 2,0 27,6Teoria Literária 1,2 0,7 29,4Geociências 1,0 1,1 29,8Estatística 0,8 4,0 31,6Química 1,1 0,8 32,0Odontologia 1,1 0,7 35,4Unicamp 1,1 1,0 36,7História 1,1 1,6 36,8Farmácia 0,9 3,0 37,5Ciências Sociais 1,1 1,0 41,7Engenharia Química 1,0 1,8 43,8

    Engenharia de Alimentos 0,7 0,7 46,9Biologia 1,2 0,6 47,0Medicina 0,9 0,6 51,9Arquitetura – – 56,5Educação 1,0 0,8 60,0Linguística 1,1 0,9 61,3Letras – – 92,9Fonte: Cálculo das autoras a partir de dados obtidos junto ao DGRH/Unicamp; Sipex/Unicamp;Plataforma Lattes/CNPq.

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    de diretor de faculdade/instituto em 2011, em relação ao conjunto dedocentes da universidade nesse ano. Excluímos num primeiro mo-mento o cargo de reitor porque somente professores MS6 podem con-correr a ele, e tratamos, em separado, a proporção de docentes do sexofeminino entre representantes do Conselho Universitário. A Tabela 12apresenta as chances de que docentes tenham ocupado cargos admi-nistrativos altos segundo seu sexo e para ambos os sexos em2011, parao conjunto da universidade. A coluna “Razão de gestão (F/M)” apre-senta a razão entre as chances de docentes do sexo feminino e masculi-no terem ocupado tais cargos na gestão universitária.

    Tabela 12

    Número Absoluto de Docentes em Cargos Administrativos Altos segundoo Sexo e o Cargo, Chances de Ocupar Cargo Administrativo Alto segundo o Sexo eo Cargo, Razão entre as Chances Encontradas para o Sexo Feminino

    e o Masculino segundo o Cargo(Unicamp, 2011)

    CargoF

    (N)M(N)

    Total(N)

    Chances F(%)

    ChancesM (%)

    ChancesTotal (%)

    Razão deGestão(F/M)

    Direção 5 17 22 0,82 1,44 1,23 0,57Coordenação de

    Pós-Graduação 5 17 22 0,82 1,44 1,23 0,57Coordenação de

    Graduação 12 14 26 1,97 1,19 1,45 1,65Total Cargos

    Administrativos 22 48 70 3,61 4,08 3,92 0,88Total Unicamp 610 1.177 1.787 – – – –Fonte: Cálculo das autoras a partir de dados disponibilizados pela SG-Unicamp.

    Esses resultados mostram que há uma diferenciação entre os cargos

    administrativos altos, no que diz respeito ao acesso das docentes dosexo feminino. As chances de que elas ocupem esses cargos são apenas12% menores do que as chances dos seus colegas do sexo masculino.No entanto, elas se concentram nas coordenadorias de graduação.Nessetipodecargo,suapresençaé35%maiorqueadeseuscolegasdosexo masculino que, no entanto, ficam em vantagem nas coordenado-riasdepós-graduaçãoenadireçãodefaculdadeseinstitutos.Elesesta-vam 43% mais presentes nesses cargos do que suas colegas do sexofeminino9.

    Esse tipo de desigualdade na alta gestão da universidade se apresentatambém de outras maneiras. Examinando os mandatos dos direto-

    Desigualdades de Gênero na Carreira Acadêmica no Brasil

    DADOS –Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 58, no 3, 2015 779

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    res(as) dos 20 institutos e/ou faculdades que existiam entre 1999 e201410, contabilizamos um total de 80 mandatos durante esse período(cada mandato tem a duração de 4 anos). Desses, apenas 21 (ou 26,2%)foram exercidos por docentes do sexo feminino.Alémdisso, entre os 12 indivíduos que ocuparamo cargo de reitor des-deacriaçãodaUnicamp,observamosacompletaausênciadedocentesdo sexo feminino. Aprimeira docente a ocupar uma das seis pró-reito-rias da universidade o fez apenas em 2006. Apesar disso, em 2013 ha-via três docentes do sexo feminino atuando como pró-reitoras.

    Por fim, em 2011, o Conselho Universitário contava com 20 docentes

    como representantes docentes titulares. Desses, apenas cinco (ou 25%)eram do sexo feminino. Essa é aproximadamente a mesma proporçãoda composição por sexo do Conselho Universitário entre 2002 e 2011 –períodoemque,entreos151docentesqueatuaramcomoconselheiros,apenas 34 (22,5%) eram do sexo feminino.

    Esses dados indicam que os docentes do sexo masculino têm significa-tivamente mais chances do que suas colegas do sexo feminino de ocu-pardiretoriasdefaculdadeseinstitutos,ecargosnoconselhouniversi-

    tário. Suas chances de atuarem como reitores ou pró-reitores são aindamaiores. Isso mostra o quanto as professoras têm mais dificuldade deocuparcargosqueacumulammaiorpoderuniversitário.Finalmente,éinteressantenotar quenãoencontramos correlaçãodiretaentre nenhu-ma das medidas de desigualdade na carreira acadêmica que construí-mos até agora – (i) presença em cargos administrativos altos, (ii) chan-cesdechegaraMS6e(iii)velocidadenachegadaaoMS6–eafeminiza-ção do corpo docente em cada unidade.

    OBSERVAÇÕES FINAISNosso estudo tomou como ponto de partida algumas particularidadesda carreiraacadêmica na universidade pública brasileira para indagarsobre as diferenças na distribuição de docentes dos sexos feminino emasculinopelasáreasdoconhecimento,pelosdiferentesníveisepeloscargos de gestão universitária.

    Os resultados mostraram que as docentes do sexo feminino estão mais

    concentradas em alguns cursos e que os seus colegas do sexo masculi-no encontram-se mais espalhados pelos diferentes cursos. Isso pareceindicarqueasprimeirastêmmaisdificuldadedoqueosúltimosemin-

    780 DADOS –Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 58, no 3, 2015

    Marília Moschkovich e Ana Maria F. Almeida

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    gressar em certas áreas disciplinares. Além disso, o estudo mostrouque as chances de chegada ao cargo mais alto da carreira segundo osexo dos professores variam bastante em função da unidade a que es-tão vinculados e que docentes dos sexos masculino e feminino estãoem vantagem e desvantagem num número aproximado de unidades.No entanto, as professoras levam mais tempo do que os professorespara chegarem ao topo da carreira, na maior parte dos casos. Aveloci-dade de chegada ao topo e as chances de acesso ao MS6 não apresen-tam correlação com a maior ou menor feminização da unidade.

    Examinamos também as diferenças entre os sexos na ocupação de car-gos de gestão, que representam outra hierarquia de poder e prestígio

    em vigor na universidade. Aanálise mostrou que, embora as docentesdo sexo feminino tenham chances maiores de ser coordenadoras degraduação, elas estão mais excluídas da coordenação de pós-gradua-ção, das diretorias de faculdades e institutos, da reitoria e do conselhouniversitário. A exceção recente foi o caso das pró-reitorias, sinalizan-do que talvez possa ter havido, ou estar em curso, alguma mudançanas relações de poder entre os sexos nessa universidade, ao menos noque diz respeito aos cargos da alta gestão universitária. Ressaltamos,porém, que mais pesquisas são necessárias para verificar essahipótese.Finalmente,vimosqueamaioroumenorfeminizaçãodeumaunidadenão está diretamente relacionada a maiores ou menores chances dasdocentesdosexofemininochegaremaotopodacarreira,nemàveloci-dade com que o fazem.

    Emboraocorraumgraurazoáveldeigualdadequandoseexaminaasi-tuaçãodoconjuntodeprofessoresdaUnicamp,issonãodeveocultara

    significativadesigualdade de chances entre docentes de cada sexo quepodeserpercebidanamaioriadasunidades.Emalgunscasos,oprejuí-zo é das docentes do sexo feminino; em outros, dos docentes do sexomasculino. Isso parece indicar a utilidade da categoria gênero para aanálise da carreira acadêmica na universidade pública brasileira, em- bora não necessariamente da maneira como o problema tem sido apre-sentado na literatura especializada.

    A vantagem relativa de docentes do sexo feminino observada em vá-

    rias engenharias e em alguns cursos das áreas de ciências exatas, atéentão não verificada em nenhum estudo sobre a questão, nem no Bra-sil, nem em outros países, aliada à sua desvantagem em áreas tradicio-

    Desigualdades de Gênero na Carreira Acadêmica no Brasil

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    nalmente mais feminizadas, mostra a pertinência de se atentar para asespecificidades de cada área do conhecimento, suas relações com omercado de trabalho e, especialmente, as particularidades da estrutu-ra da carreira acadêmica nas universidades públicas brasileiras quepodem ter efeito sobre os docentes de cada sexo. Esses resultados pe-dempormaispesquisasquenospermitamsubmeteradiscussãosobreefeitos das relações de gênero n