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Marie Ange Bordas é uma das forças mais instigantes da jovem geração que se distingue hoje nas artes visuais. Ela tem trabalhado ao longo dos últimos dez anos com fotografia, vídeo e instalações, se sobressaindo pela forma com que põe em contato o indivíduo e o coletivo, as experiências pessoais, políticas e perceptivas. [...] O projeto Deslocamentos é como uma dobra: ao mesmo tempo que oferece aos refugiados mecanismos para que questionem a noção de deslocamento e recuperem a própria imagem, possibilita ver o lado de dentro do cotidiano dos refugiados, o que é geralmente ocultado aos que estão do lado de fora. As imagens produzidas são de uma intensidade rara na arte recente. Revelam a descoberta de um meio de expressão e resistência. São imagens visuais e sonoras de forte impacto emocional cuja relevância está não apenas nas figuras geradas em circunstâncias de exclusão e vazio, mas também no modo como o vídeo, a fotografia e os espaços instalativos são gerenciados: a linguagem é revelada aqui como conhecimento, no atrito estabelecido entre manifestações expressivas da vida. É pela constante negociação com o coletivo que Marie Ange coloca em con- fronto uma visão de mundo, bem como denuncia os abusos da nossa época. Em situação extrema como essa, ela rompe com as forças hegemônicas ao não fazer a diferenciação entre o eu e o outro. Ao contrário, ela nos aproxima e nos coloca na pele do outro, amplia a experiência da imagem, faz convite ao contato direto entre realidades sensíveis. Christine Mello é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC – SP, pesquisadora, professora e curadora no campo da arte e das mediações tecnológicas. O projeto arte<corpo<arte da área de Artes Visuais, propõe uma pesquisa sobre o corpo e sua capacida- de de expressão na coexistência de diferentes forças que o impulsionam a deslocar-se tanto pelo espaço físico e geográfico, quanto pelo universo simbólico. Iniciamos o projeto em 2010, com a exposição cor- po... naturalmente! de Alessandra Cestac e do gru- po TeleKommando. De terça a sexta, das 13h às 21h30. Sábados, domingos e feriados das 10h às 18h30. Agendamento de grupos: 3904 2000 De 14 de abril a 30 de maio de 2010 Marie Ange Bordas é mestre em Imagem e Som pela USP, com especialização no Internatio- nal Center of Photography de Nova York. Desde 1998 concentra-se na realização de proje- tos de arte participativa e na criação de espaços que propõem uma participação interativa e multisensorial do espectador. Em sua obra, procura articular o individual com o coletivo por meio de experiências pessoais, suas ou das pessoas com quem convive em seus projetos, debruçando-se sobre temáticas sociais como deslocamento, migrações e violência e suas re- lações com memória, identidade e pertencimento. Exposição fotográfica 21 fotografias impressas em papel de algodão Realizadas no decorrer do projeto, estas imagens trabalhadas em camadas inspi- ram-se no embate entre o indivíduo e as circunstâncias externas que o definem. Raízes Árvore seca e vestidos Raízes portáteis ou galhos expandidos? Terra ou sangue? Como carregar este "eu" nômade? Nesta era de mobilidade transnacional, de geografias complexas, de novos paradigmas de pertencimento, será que a ideia de plantar raízes ainda está enraizada na terra? Instalação Notícias 9 caixas de luz, espelhos, texto e som 35 milhões de refugiados, 31 mil mortos por dia... Os números são chocantes, mas estatísticas às vezes escondem que atrás dos números há sempre um indivi- duo único em sua história. E que cada história pessoal faz parte de uma intrinca- da rede em que interagem interesses individuais, políticos e ecônomicos. Vídeo Coming In Vídeo, cor, 12min Como apresentar um Campo de Refugiados? Como fazer as pessoas compreen- derem que somos indivíduos como eles e não apenas uma massa de rostos anô- nimos? Como mostrar que cada um de nós tem sua história única? Um grupo de jovens refugiados responde a suas inquietações em imagens. A arte capacita o homem para compreender a realidade e o ajuda não só a suportá-la, mas a transformá-la. Para alguns artistas, é também um meio indivi- dual de retornar ao coletivo. E é pela constante negociação com o coletivo que Marie Ange Bordas confronta uma visão de mundo e denuncia os abusos de nossa época. Ela nos aproxima e nos coloca na pele do outro, amplia a experi- ência da imagem e faz um convite ao contato com os registros de seu processo de trabalho, uma construção de encontros de realidades sensíveis. Nosso novo século enfrenta um dos maiores fluxos migratórios da história mo- derna, com consequências sociais e históricas que não podem ser ignoradas. Como definir uma identidade própria quando são perdidos os referenciais afe- tivos, territoriais e culturais? Com a língua, a raça e os valores culturais dis- persos, como estes deslocados ajudam a desenhar uma nova geografia? Onde estas histórias, que às vezes parecem tão distintas, se encontram? desLocaMentos é um projeto multidisciplinar que traduz a experiência de refu- giados por meio da realização de oficinas artísticas, do resgate de relatos orais e da criação de exposições dentro e fora das comunidades. O projeto nasceu da percepção artística de seus próprios deslocamentos que alteraram profun- damente sua maneira de estar e agir no mundo. Entre 2001 e 2004, ele foi de- senvolvido com refugiados que viviam em Johannesburg, na África do Sul; em Massy na França e no campo de refugiados de Kakuma, no Quênia. Os corpos transcendentes, carregados de histórias, agentes produtores de cultura, contêm identidades e identificações que são retratadas pela artista. Quando estes corpos são forçados a abandonar suas origens, surge a capaci- dade humana de resiliência, de manutenção da dignidade do ser que resiste acima de tudo, mesmo com a apropriação de novos referenciais. A artista viveu oito anos fora do Brasil, em constante movimento entre África, Brasil e França. O interesse da artista pelo assunto nasceu da constatação do quanto sua experiência de deslocamento havia redefinido sua forma de estar no mundo e na sua crença em uma prática da arte contemporânea calcada em um intercâmbio efetivo com a comunidade a partir de dinâmicas participativas. A exposição reúne trabalhos realizados durante as oficinas de criação audio- visual nestes três lugares e na convivência com refugiados vivendo no Brasil. Parte do registro do processo de trabalho de Marie Ange Bordas e de seu con- tato com as comunidades evidenciadas, nesta montagem, traduz-se por uma série de 21 fotografias acompanhada de uma paisagem sonora, pelas instala- ções “Notícias” e “Raízes” e pelo vídeo “Coming In”. Assim, o SESC São José dos Campos prossegue com sua proposta para a área de Artes Visuais composta por exposições, instalações, encontros reflexivos, ações educativas e mediadoras que visam aproximar o público da linguagem e do fazer artístico. Sou um espectador cego da minha própria vida, sem saber o que está naquilo que outros chamam futuro. Ajak, Sudão deSLocaMentos deSLocaMentos Um projeto de Marie Ange Bordas Produção: Cria da Casa / Wilson Aguiar Desenho de Som: Thiago Cury e Amilcar Farina www.marieangebordas.com

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Projeto feito para a Exposição deSLocaMentos da Artista Marie Ange

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Marie Ange Bordas é uma das forças mais instigantes da jovem geração que se distingue hoje nas artes visuais. Ela tem trabalhado ao longo dos últimos dez anos com fotografia, vídeo e instalações, se sobressaindo pela forma com que põe em contato o indivíduo e o coletivo, as experiências pessoais, políticas e perceptivas.

[...] O projeto Deslocamentos é como uma dobra: ao mesmo tempo que oferece aos refugiados mecanismos para que questionem a noção de deslocamento e recuperem a própria imagem, possibilita ver o lado de dentro do cotidiano dos refugiados, o que é geralmente ocultado aos que estão do lado de fora.

As imagens produzidas são de uma intensidade rara na arte recente. Revelam a descoberta de um meio de expressão e resistência. São imagens visuais e sonoras de forte impacto emocional cuja relevância está não apenas nas figuras geradas em circunstâncias de exclusão e vazio, mas também no modo como o vídeo, a fotografia e os espaços instalativos são gerenciados: a linguagem é revelada aqui como conhecimento, no atrito estabelecido entre manifestações expressivas da vida.

É pela constante negociação com o coletivo que Marie Ange coloca em con-fronto uma visão de mundo, bem como denuncia os abusos da nossa época. Em situação extrema como essa, ela rompe com as forças hegemônicas ao não fazer a diferenciação entre o eu e o outro. Ao contrário, ela nos aproxima e nos coloca na pele do outro, amplia a experiência da imagem, faz convite ao contato direto entre realidades sensíveis.

Christine Mello é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC – SP, pesquisadora, professora e curadora no campo da arte e das mediações tecnológicas.

O projeto arte<corpo<arte da área de Artes Visuais, propõe uma pesquisa sobre o corpo e sua capacida-de de expressão na coexistência de diferentes forças que o impulsionam a deslocar-se tanto pelo espaço físico e geográfico, quanto pelo universo simbólico. Iniciamos o projeto em 2010, com a exposição cor-po... naturalmente! de Alessandra Cestac e do gru-po TeleKommando.

De terça a sexta, das 13h às 21h30. Sábados, domingos e feriados das 10h às 18h30.

Agendamento de grupos: 3904 2000

De 14 de abril a 30 de maio de 2010Marie Ange Bordas é mestre em Imagem e Som pela USP, com especialização no Internatio-nal Center of Photography de Nova York. Desde 1998 concentra-se na realização de proje-tos de arte participativa e na criação de espaços que propõem uma participação interativa e multisensorial do espectador. Em sua obra, procura articular o individual com o coletivo por meio de experiências pessoais, suas ou das pessoas com quem convive em seus projetos, debruçando-se sobre temáticas sociais como deslocamento, migrações e violência e suas re-lações com memória, identidade e pertencimento.

Exposição fotográfica21 fotografias impressas em papel de algodão

Realizadas no decorrer do projeto, estas imagens trabalhadas em camadas inspi-ram-se no embate entre o indivíduo e as circunstâncias externas que o definem.

RaízesÁrvore seca e vestidos

Raízes portáteis ou galhos expandidos? Terra ou sangue? Como carregar este "eu" nômade? Nesta era de mobilidade transnacional, de geografias complexas, de novos paradigmas de pertencimento, será que a ideia de plantar raízes ainda está enraizada na terra?

Instalação Notícias9 caixas de luz, espelhos, texto e som

35 milhões de refugiados, 31 mil mortos por dia... Os números são chocantes, mas estatísticas às vezes escondem que atrás dos números há sempre um indivi-duo único em sua história. E que cada história pessoal faz parte de uma intrinca-da rede em que interagem interesses individuais, políticos e ecônomicos.

Vídeo Coming InVídeo, cor, 12min

Como apresentar um Campo de Refugiados? Como fazer as pessoas compreen-derem que somos indivíduos como eles e não apenas uma massa de rostos anô-nimos? Como mostrar que cada um de nós tem sua história única? Um grupo de jovens refugiados responde a suas inquietações em imagens.

A arte capacita o homem para compreender a realidade e o ajuda não só a suportá-la, mas a transformá-la. Para alguns artistas, é também um meio indivi-dual de retornar ao coletivo. E é pela constante negociação com o coletivo que Marie Ange Bordas confronta uma visão de mundo e denuncia os abusos de nossa época. Ela nos aproxima e nos coloca na pele do outro, amplia a experi-ência da imagem e faz um convite ao contato com os registros de seu processo de trabalho, uma construção de encontros de realidades sensíveis.

Nosso novo século enfrenta um dos maiores fluxos migratórios da história mo-derna, com consequências sociais e históricas que não podem ser ignoradas. Como definir uma identidade própria quando são perdidos os referenciais afe-tivos, territoriais e culturais? Com a língua, a raça e os valores culturais dis-persos, como estes deslocados ajudam a desenhar uma nova geografia? Onde estas histórias, que às vezes parecem tão distintas, se encontram?

desLocaMentos é um projeto multidisciplinar que traduz a experiência de refu-giados por meio da realização de oficinas artísticas, do resgate de relatos orais e da criação de exposições dentro e fora das comunidades. O projeto nasceu da percepção artística de seus próprios deslocamentos que alteraram profun-damente sua maneira de estar e agir no mundo. Entre 2001 e 2004, ele foi de-senvolvido com refugiados que viviam em Johannesburg, na África do Sul; em Massy na França e no campo de refugiados de Kakuma, no Quênia.

Os corpos transcendentes, carregados de histórias, agentes produtores de cultura, contêm identidades e identificações que são retratadas pela artista. Quando estes corpos são forçados a abandonar suas origens, surge a capaci-dade humana de resiliência, de manutenção da dignidade do ser que resiste acima de tudo, mesmo com a apropriação de novos referenciais.

A artista viveu oito anos fora do Brasil, em constante movimento entre África, Brasil e França. O interesse da artista pelo assunto nasceu da constatação do quanto sua experiência de deslocamento havia redefinido sua forma de estar no mundo e na sua crença em uma prática da arte contemporânea calcada em um intercâmbio efetivo com a comunidade a partir de dinâmicas participativas. A exposição reúne trabalhos realizados durante as oficinas de criação audio-visual nestes três lugares e na convivência com refugiados vivendo no Brasil.

Parte do registro do processo de trabalho de Marie Ange Bordas e de seu con-tato com as comunidades evidenciadas, nesta montagem, traduz-se por uma série de 21 fotografias acompanhada de uma paisagem sonora, pelas instala-ções “Notícias” e “Raízes” e pelo vídeo “Coming In”.

Assim, o SESC São José dos Campos prossegue com sua proposta para a área de Artes Visuais composta por exposições, instalações, encontros reflexivos, ações educativas e mediadoras que visam aproximar o público da linguagem e do fazer artístico.

Sou um espectador cego da minha própria vida, sem saber o que está naquilo que outros chamam futuro. Ajak, Sudão

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Um projeto de Marie Ange BordasProdução: Cria da Casa / Wilson AguiarDesenho de Som: Thiago Cury e Amilcar Farina

www.marieangebordas.com

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