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Mistério no Ar ADAM FROST Vencedor do Blue Peter Book Award 2016

DETETIVE RAPOSO EM AÇÃO! Vencedor do Blue Peter Book … · I T Á L I A Há Mistério no Ar Dos canais de Veneza às montanhas da China, o detetive Rodolfo Raposo embarca numa

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I T Á L I A

Há Mistériono Ar

Dos canais de Veneza às montanhas da China, o detetive

Rodolfo Raposo embarca numa aventura alucinante.

A sua missão: encontrar o patife que roubou a fórmula de um

perfume valioso. Mas não penses que vai ser fácil! O ladrão

está envolvido em esquemas que não cheiram nada bem ,

e está disposto a tudo para conseguir escapar.

Um perfume surpreendente

Um esconderijo subterrâneo

Uma perseguição muito

alucinante

MISTÉRIO, AVENTURA E INVESTIGAÇÃO:

DETETIVE RAPOSO EM AÇÃO!

Junta-te ao detetive Raposo nesta perseguição de perder o fôlego!

Há M

istério no Ar

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TAMBÉM VAIS

ADORAR ESTE:

A DA M F R O S TVencedor do Blue Peter Book Award 2016

AD

AM

FR

OS

T

11 mm

N O H

Leitura Infantil

ISBN 978-989-8849-99-1

9 789898 849991

7+

CONVITE

Adolfo Aroma orgulha ‑se de apresentar

a sua mais recente fragrância

CHEIRÍSSIMO

Criado a pensar nas raposas sofisticadas e nas doninhas

ambiciosas, esta fragrância combina notas de madeira

embolorada com um fundo de castanhas ‑da ‑índia esmagadas.

29 de agosto, 18h00

Salão Nobre,

Mansão Aroma, MILÃO

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O RODOLFO FAREJA PROBLEMAS

O Rodolfo Raposo, o maior detetive do mundo, estava em Itália a tratar de um caso muito im‑portante. O famoso criador de perfumes Adolfo Aroma ia lançar uma nova fragrância e precisava desesperadamente da ajuda do Rodolfo. Uma se‑mana antes, a casa de Adolfo fora misteriosamente arrombada. Nada fora roubado, mas o perfumis‑ta estava ansioso e não podia deixar que nada de mal se passasse no lançamento daquela noite. Chamara o Rodolfo para detetar possíveis ladrões, mas o Eduardo Furão, o novo chefe de segurança de Adolfo, não estava a ser muito útil. O Rodolfo queria consultar a lista de convidados, mas o Eduardo insistia que ela era «altamente secreta».

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— Está a atrapalhar o meu trabalho — grunhiu o Rodolfo.

— Bem, se calhar está a levar o seu trabalho longe demais — rosnou o Eduardo.

O Adolfo suspirou. As orelhas do coelho mur‑charam de tristeza.

— Por favor, meus amigos, tentem trabalhar em conjunto — disse ele.

O Rodolfo fitou o Eduardo fixamente. O Eduardo retribuiu o olhar.

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— Muito bem — retorquiu o Eduardo, que entre‑gou ao Rodolfo um papel.

— Agradecido — murmurou o detetive.— Fantástico! — exultou o Adolfo.O Rodolfo dirigiu ‑se a um canto sossegado.

Observou a lista: ia haver pelo menos cem convidados.

Pôs então uns ausculta‑dores e começou a falar.

— Alberto, consegues ouvir‑me?

— Perfeitamente — replicou o Alberto, com a voz a crepitar aos ouvi‑dos do Rodolfo.

O Alberto Toupeira ajuda‑va o Rodolfo em todos os seus casos. Trabalhava nos bastidores, criando en‑genhocas e fornecendo ao detetive informações importantes. Agora estava no seu laboratório secreto, debaixo do escritório do Rodolfo, em Londres.

— Estou a enviar ‑te a lista de convidados — dis‑se o Rodolfo. — Alguém te parece suspeito?

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O detetive manteve o papel colado ao ecrã do telemóvel até se ouvir um bipe.

O Alberto fez uma pesquisa rápida.— Apenas três. Estou a enviar -te fotografias

deles. A primeira chama ‑se Tânia Texuga — ex‑plicou a toupeira. — É jornalista de moda para a Gazeta de Pisa. Faz o que for preciso para con‑seguir uma boa história. E isso inclui infringir a lei.

— Parece divertida.— A seguir tens o Zé Doninha — prosseguiu o

Alberto. — É um antigo gângster nova ‑iorquino. Diz que agora é um homem de negócios honesto e trabalha no ramo da moda.

— E o guaxinim? — perguntou o Rodolfo.— Na verdade, trata ‑se de uma panda ‑vermelha

— corrigiu o Alberto. — Chama ‑se Paula Panda‑‑Vermelha. É apenas dona da maior loja de moda e perfumes da China. É implacável. A sua concor‑rência nunca dura muito tempo.

— Obrigado — agradeceu o Rodolfo. — Vou pedir que mudem a distribuição de lugares, para que os três fiquem sentados mais perto de mim e assim consiga tê‑los debaixo de olho.

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— Espera, Rodolfo. Há... Que estranho… Desliga imediatamente! — O Alberto arquejou. — Esta linha já não é segura. Repito: esta linha já não é segura.

Ouviu ‑se um clique e depois silêncio. O Rodolfo guardou o telemóvel. Alguém estivera a ouvir a sua conversa. Mas como? O Alberto era o melhor daquele ramo — até àquele momento, nunca ti‑nham conseguido pôr escutas nos seus telefones.

O Adolfo Aroma e o Eduardo Furão surgiram atrás do detetive.

— Satisfeito com a lista de convidados? — per‑guntou o Adolfo.

— Claro — respondeu o Rodolfo. — Só preciso de fazer umas pequenas alterações na distribui‑ção de lugares...

TÂNIA ZÉ PAULA

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Chegara a hora. Todos os convidados estavam sentados em cadeiras enfileiradas, a conversar alegremente. Numa das extremidades da sala, havia um palco com uma faixa gigantesca dotada de letras brilhantes onde se lia: «CHEIRÍSSIMO».

Na primeira fila encontravam -se a Paula Panda ‑Vermelha, o Zé Doninha e a Tânia Texuga. O Rodolfo estava na fila imediatamente a seguir, a observar e a ouvir tudo o que diziam.

Cheiríssimo

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— Então, Zé, querido — disse a Tânia com uma voz arrastada —, estás a gostar do mundo da moda?

— Ouvi dizer que queres comprar o negócio do Adolfo — acrescentou a Paula.

— A sério? — replicou o Zé. — Bem, não deviam acreditar em tudo o que leem nos jornais. Espe‑cialmente no dela. — E espetou um dedo felpudo na Tânia.

— Por favor, Zé — suspirou a Tânia. — Toda a gente sabe que serias capaz de vender a tua pró‑pria mãe para obter um pedacinho do império do Aroma.

— E toda a gente sabe que tu és capaz de pu‑blicar qualquer porcaria para vender jornais — re‑torquiu o Zé.

A discussão foi interrompida por um rufar de tambor. As luzes apagaram ‑se e uma voz ribom‑bou num altifalante:

— Senhoras e senhores, tenho o prazer de anunciar… Adolfo Aroma!

O espaço foi preenchido por fumo cor ‑de ‑rosa e o Adolfo apareceu, vestido de fraque e com um chapéu alto. Era acompanhado por uma bela

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coelha a segurar um frasco de aftershave sobre uma almofada.

O público exultou.— E agora — declarou o Adolfo — preparem os

vossos narizes para a fragrância mais cintilante, para o odor mais irresistível, para o cheiro mais sensacional que alguma vez sentiram nas vossas vidas. O Cheiríssimo!

O Adolfo abriu o frasco.Caiu uma chuva de purpurinas sobre o palco.

A Tânia Texuga levantou ‑se e começou a tirar fotografias. O Rodolfo olhou à volta para ver se alguém se comportava de forma suspeita — mas tudo parecia estar a decorrer normalmente.

Até o Adolfo e a jovem coelha começarem a tossir. Nesse momento, a primeira fila foi tomada por um burburinho e o criador de perfumes caiu redondo no palco.

O Rodolfo reparou numa nuvenzinha de fumo amarelo a sair do frasco.

Então, chegou ‑lhe ao nariz o cheiro mais re‑pugnante que se possa imaginar: uma mistura de roupa interior suja, bosta de bovino e peixe podre.

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Desataram todos a correr para as portas. A Paula, o Zé e a Tânia tinham desaparecido. Mas naquele momento o Rodolfo não podia preo‑ cupar‑se com eles — tinha de ajudar o Adolfo.

O detetive inspirou profundamente. Quando andava a investigar o Caso dos Pinguins Piratas, conseguira suster a respiração durante quatro minutos. Agora teria de superar esse recorde.

O Rodolfo abriu caminho pelas cadeiras e ma‑las de mão caídas no chão. A pressão no seu peito aumentava e as suas pernas mostravam ‑se cada mais fracas, mas não deixou de avançar, passando por cima de um leitão desmaiado e de um coala sem sentidos.

Olhou para o Adolfo, caído no palco. O peito do perfumista parara de se mover.

O detetive teve de pensar rapidamente — tinha as pernas a começar a ceder, mas os braços ain‑da mantinham a força. Poderia usar as suas habi‑lidades acrobáticas.

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O Rodolfo cerrou os dentes, deu uma camba‑lhota e saltou no ar, aterrando nos seus próprios braços. Ergueu ‑se, deu dois saltos mortais, uma cambalhota tripla e aterrou bem no centro do palco.

Apanhou a tampa do frasco com os dentes, deu outra cambalhota e — sem tirar a tampa da boca — voltou a pô ‑la no frasco.

De uma forma quase instantânea, o vapor amarelo desapareceu.

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O Rodolfo descontraiu ‑se e inspirou profun‑damente. Depois largou o frasco de perfume, ajoelhou ‑se e tentou fazer com que o Adolfo tor‑nasse a respirar. Naquele momento, sentiu ‑se a ser varrido para fora do caminho. Era o Eduardo Furão.

— Eu faço isso — grunhiu ele.O Eduardo pressionou o peito do patrão até o

coelho começar a tossir.— Ele vai ficar bem — disse o Eduardo, com um

suspiro de alívio.O Rodolfo assentiu, tentando recuperar lenta‑

mente o fôlego.— Eu vi o que você fez, Raposo — declarou o

Eduardo. — Pensou rapidamente e agiu de for‑ma ainda mais veloz. Afinal, talvez seja mesmo bom.

O detetive abanou a cabeça.— Não tão bom como devia. Não faço ideia de

quem fez isto. Ou porquê.Naquele instante, uma jovem coelha irrompeu

na sala.— Adolfo! Adolfo! — gritou ela. — A receita

desapareceu!

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UMA RECEITA PARA A DESGRAÇA

O Rodolfo e o Adolfo fitavam o cofre vazio.— Então, o que havia aqui? — indagou o detetive.— A receita do Utopia — respondeu prontamen‑

te o Adolfo. — Só foi feito um único frasco, pelo meu pai. O perfume foi apresentado de forma solene à princesa Parmigiano no dia em que se casou.

— Vocês, os perfumistas dizem sempre isso — comentou o Rodolfo enquanto examinava um resquício de lama no chão.

— Mas desta vez é mesmo verdade — disse o Adolfo. — Foi a maior proeza do meu pai. Mas tinha um efeito secundário infeliz. Toda a gente que sentiu aquele odor entrou em transe. Ficaram

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sentados a sorrir durante dias a fio. Houve um rato que levou duas semanas a despertar.

— Incrível — exclamou o Rodolfo. — Isso poderia provocar muitos problemas se caísse nas mãos erradas. Quanto ao arrombamento da semana passada... acha que andavam atrás da receita?

— Sinceramente, não faço ideia — respondeu o Adolfo.

— Bem, pelo menos desta vez deixaram algu‑mas pistas — disse o detetive, apontando para a marca de uma pata na carpete. — Almofada cen‑tral, cinco dedos, garras. Marcas de dentes em torno do cofre... caninos poderosos. Estamos a lidar com um mustelídeo: uma lontra, um furão, uma doninha ou um panda‑‑vermelho, esse tipo de animais.

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— Bem, então vamos deter todos os... hum... musculídeos que encontrarmos e revistá ‑los! — sugeriu o Adolfo.

— Isso é o que o Eduardo está a fazer — retor‑quiu o Rodolfo.

Naquele momento surgiu o Eduardo Furão.— Revistei toda a gente da cabeça aos pés —

anunciou, cheio de orgulho. — Ninguém tinha a receita.

— Fico mesmo muito satisfeito por ver que vo‑cês os dois estão finalmente a trabalhar em con‑junto — afirmou o Adolfo.

— Oh — disse o Eduardo, franzindo o sobrolho. — Bem, é uma emergên‑

cia, não é?Atrás deles deu ‑se um flash.

O Rodolfo e o Eduardo voltaram‑‑se logo.

A Tânia Texuga surgiu à por‑ta com um smartphone na mão.

Atrás dela vinham a Paula Panda‑‑Vermelha e o Zé Doninha.

— Então, Adolfo — disse a Tânia —, acha que conseguirá recuperar deste desastre?

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— Eu... eu não desejo falar com... com a impren‑sa neste momento — gaguejou o Adolfo.

— Se quiser vender o seu negócio, a minha ofer‑ta ainda é válida — lançou o Zé, com um sorriso irónico.

— Apesar do que aconteceu, o Cheiríssimo ain‑da vai estar à venda nas lojas na segunda ‑feira? — perguntou a Paula. — É que, convenhamos, a receita precisa de ser trabalhada.

— Claro que aquilo não era o Cheiríssimo — gru‑nhiu o Adolfo. — O frasco foi trocado.

— Sim, e claro que todos os que estão aqui presentes são suspeitos — afirmou o Rodolfo. — Afinal, todos vocês poderiam beneficiar desta situação.

A Tânia, a Paula e o Zé deram um passo atrás.— Está a dizer que um de nós é responsável por

isto? — ofendeu ‑se a Tânia.— Ainda não — respondeu o detetive. — Mas,

quando descobrirmos quem fez isto, o castigo será uma longa pena de prisão.

O Eduardo empurrou a Paula, a Tânia e o Zé para fora da sala.

— Acha que foi um deles? — indagou o Adolfo.

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— Não tenho a certeza — disse o detetive, pen‑sativamente. — E não é certo que os dois crimes estejam ligados. Comecemos pelo roubo da re‑ceita do Utopia. Quem quereria criar um perfume tão perigoso? E porquê? Não tenho dúvidas de que quem quer que tenha roubado a receita vai tentar fazer o perfume. E, para isso, irá precisar de ingredientes. Então, quais são os ingredientes? Flores especiais? Plantas raras? Tenho de ir ao lo‑cal onde são cultivadas ou vendidas e ver quem as compra.

— Ah… — murmurou o Adolfo, cujas orelhas descaíram. — Lamento, Sr. Raposo, mas a minha memória já não é o que era. Receio não me lem‑brar.

— Bolas… — disse o Rodolfo.— Mas... ainda tenho o meu magnífico nariz! —

acrescentou o Adolfo, torcendo ‑o alegremente. — Se eu tivesse uma amostra do Utopia, seria capaz de dizer o que ela contém.

— Bem, o Adolfo disse que a princesa Parmi‑giano tem o único frasco jamais feito — disse o detetive. — Parece que vou ter de lhe fazer uma visita. E, durante a minha ausência, talvez você

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pudesse descobrir o que havia naquele frasco malcheiroso. Aquele que deu cabo de todos.

O Adolfo assentiu.— Bem lembrado, Sr. Raposo. Por favor, quando

sair, diga ao Eduardo para mo trazer.Enquanto se afastava devagar, o Rodolfo pôs

os auscultadores.— Alberto, a linha já está segura?— Sim, fica à vontade — replicou o Alberto.— Vou a Veneza — anunciou o detetive. — Envia‑

‑me todas as informações que conseguires sobre a princesa Parmigiano.

— É para já — disse a toupeira.O Rodolfo chegou ao átrio da

casa do perfumista. Ainda havia al‑guns animais a sair, passando pelo Eduardo, que se encontrava de pé junto à porta da frente.

— Livrei ‑me daqueles três desordeiros — afirmou o pe‑queno furão.

— Bom trabalho — re‑torquiu o Rodolfo. — Vou a Veneza, mas avise ‑me se

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acontecer aqui algo suspeito. — O Eduardo assen‑tiu. — E podia levar aquele frasco malcheiroso ao Adolfo? Ele vai tentar descobrir que substância é aquela.

— Er… hum… — gaguejou o Eduardo.— O que foi? — perguntou o detetive.— Desapareceu — respondeu o Eduardo, com

um ar embaraçado.— Desapareceu? — repetiu o Rodolfo.— Quando voltei para aqui, já tinha desapare‑

cido — contou o furão. — Mas não faz mal, pois não? Para que é que alguém quereria aquela coisa fedorenta?

O Rodolfo franziu o sobrolho.— Para não deixar pistas — lançou ele. — E o

nosso malfeitor parece muito bom a fazê ‑lo. — Deu uma palmadinha nas costas do furão. — Mas não se preocupe. Não vou tardar a apanhar ‑lhes o rasto.

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O RODOLFO SEGUE O CHEIRO

O detetive Raposo seguiu no comboio noturno para Veneza. O Alberto enviara ‑lhe uma grande quantidade de dados e de informações sobre a princesa Parmigiano — documentos, artigos de jornal, ficheiros áudio. Ela vivia no Palazzo Fandango, no canal principal. Era uma antílope de 82 anos. Fora casada com o príncipe Parmigiano até este morrer e, desde então, casara ‑se (e divorciara ‑se) duas vezes. Os jornais tanto a des‑creviam como «formidável» — como por outras palavras, «completamente aterradora».

O Rodolfo encostou ‑se ao banco e observou os campos que passavam a alta velocidade. Tinha de encontrar uma forma de convencer a princesa

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a entregar ‑lhe o único fras‑co de Utopia em todo o mundo.

Mas como?Uma hora depois, o detetive chegou a Veneza

e dirigiu ‑se imediatamente ao Palazzo Fandan‑go. Havia luzes a brilhar em todas as janelas, animais andavam de um lado para o outro no seu interior e o ar transportava o som de música e de pessoas a conversar. O Rodolfo subiu velozmente a escada principal e deu com uma porta dupla mo‑numental.

Bateu com força.A porta foi aberta por um

mordomo de máscara bran‑ca decorada com lantejoulas e penas.

— As entregas deverão ser feitas pela porta das traseiras — ladrou ele.

— Vim falar com a prince‑sa — declarou o Rodolfo.

— Não vai ser possível. Não trouxe uma máscara

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— retorquiu o mordomo. — Está a decorrer um baile de máscaras.

— Que disparate o meu — lançou rapidamen‑te o detetive, assumindo um tom de voz afetado. — Pensei que fosse uma festa casual. Por acaso não dispõe de uma máscara a mais? Sou o barão Raposeira, primo em segundo grau do sobrinho da princesa.

O mordomo deu uma fungadela.— Com certeza, senhor. Já o deveria ter men‑

cionado. — E fez sinal para o Rodolfo entrar num enorme átrio, após o que lhe entregou uma más‑cara de tigre.

O detetive pôs a máscara e entrou no enorme salão de baile.

Estava mesmo muito cheio de animais, a maio‑ria dos quais a dançar, todos com máscaras e disfarces. Como haveria ele de encontrar a prin‑cesa Parmigiano ali, no meio daquela confusão? Precisava de um plano — e rápido.

Tinham ‑se passado quase quatro horas desde que ocorrera o roubo no lançamento do perfume. O malfeitor poderia estar já a reunir os ingredien‑tes para criar o Utopia.

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Um animal (provavelmente um pónei) com uma máscara de palhaço passou a valsar. O Rodolfo sabia que a princesa era uma antílope de cerca de 80 anos. Mas não era fácil identificá -la entre todos aqueles animais mascarados — teria de a descobrir pelo cheiro.

O detetive deslocou -se pelo salão, identificando cuidadosamente os diferentes odores dos convi‑dados. Sentiu o cheiro de focas, cães e até águias.

Apenas dois minutos mais tarde, identificou pela primeira vez o odor de um antílope. Mas aquele estava a saltar e a fazer cabriolas — defini‑tivamente, não tinha oitenta e tal anos. O segundo antílope que descobriu era do sexo masculino e o terceiro falava com um forte sotaque russo. Por fim, a um canto, localizou uma antílope apoiada a uma bengala. Que usava, ironia do destino, uma máscara de raposa.

O Rodolfo caminhou na sua direção.— Princesa Parmigiano? Vim pedir a sua ajuda.— Não conheço nenhuma princesa Parmigiano

— retorquiu vagarosamente uma voz de trás da máscara.

— Por favor — sussurrou o detetive. — É sobre o Utopia. Milhares de vidas de animais podem estar em perigo.

O Rodolfo viu os olhos atrás da máscara pisca‑rem lentamente.

— Hum… — disse ela. — Venha comigo.O detetive arrancou a máscara e seguiu a prin‑

cesa para fora do salão de baile, através de um corredor e depois por uma escadaria em caracol, assimilando tudo o que via à sua volta, em bus‑ca de quaisquer pistas. Não tardaram a chegar a uma grande porta dupla de metal. A princesa tirou a máscara, introduziu um código num painel e as portas abriram ‑se.

O Rodolfo viu ‑se numa grande sala cor ‑de‑‑rosa. Havia prateleiras em todas as paredes e frascos de perfume em cada uma delas.

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As portas da sala fecharam ‑se com estrondo. Naquele momento, o detetive sentiu algo mover‑‑se atrás de si. Voltou ‑se e viu que a princesa erguera a bengala, apontando ‑lha à cabeça.

— Muito bem, signor Raposo — grunhiu ela —, diga ‑me o que está efetivamente a acontecer. Te‑nho um dardo tranquilizador na bengala, por isso não se arme em engraçadinho.

— Pronto, calma — disse o Rodolfo, erguendo as mãos. E rapidamente explicou o motivo da sua presença ali.

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A princesa baixou a bengala lentamente.— Muito bem — disse ela. — Mas, se o senhor

é um detetive, prove ‑o. Encontre o frasco de Utopia.

O Rodolfo observou a princesa e a seguir as inú‑meras prateleiras cheias de frascos de perfumes. Prodigiosodor. L’Odeur Parfait. Superfragrância. Ser ‑lhe ‑iam precisos dias para examinar todos aqueles frascos. Então teve uma ideia. Quando a princesa desviou o olhar, o detetive bateu violen‑tamente com o pé no chão.

— Terramoto! — arquejou ele quando os frascos estremeceram.

— O ‑o quê? — balbuciou a princesa, olhando ansiosamente para o outro lado da sala.

Sem perder tempo, o Rodolfo correu na direção da alcova. Em cima de uma pequena prateleira estava um frasco sujo e sem rótulo.

— O Utopia! — disse ele, a sorrir.

— O ‑o quê? C ‑como é possível? — conti‑nuou a princesa a gaguejar.

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— Quando pensou que ocorria um sismo, a se‑nhora olhou para aqui, para se certificar de que o seu frasco mais precioso estava seguro — expli‑cou o Rodolfo.

— Hum… — retorquiu friamente a princesa. — Muito bem.

— E se agora me desse aquilo de que preciso? — pediu o detetive. — Uma amostra de Utopia.

A princesa encolheu os ombros.— OK, mas tape o nariz. Com força.O Rodolfo protegeu o nariz com a pata.A princesa pôs um algodão em cada uma das

narinas. Então verteu uma gota de Utopia num frasco de plástico.

Embora estivesse a tapar o nariz com for‑ça, o Rodolfo detetou um odor estranho e doce. Sentiu os olhos rolarem para trás. O seu estômago deu uma vol‑ta. Foi tomado de uma sensação de alegria.

— U ‑uau… — gaguejou ele.— Não é preciso muito —

disse a princesa. — É por essa razão que nunca

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poderá ser usado. — E entregou a amostra ao detetive. — Por isso, guarde ‑o com todo o cuida‑do.

O Rodolfo assentiu.— E, talvez, quando tiver resolvido o caso do

Adolfo, possa ajudar a resolver o meu — acres‑centou ela.

— Como assim? — perguntou o detetive.— Tive um pretendente jovem e elegante —

contou a princesa com um suspiro. — Enviava ‑me flores todos os dias. Escrevia ‑me cartas todas as semanas. Até que, há meses, desapareceu.

— Quem era ele? — indagou o Rodolfo.— Não sei. É esse o problema — explicou a

princesa. — Ele usava sempre uma máscara. Foi por isso que comecei a dar estes bailes de máscaras, esperando que ele voltasse a apa‑ recer.

O Rodolfo pôs ‑se a refletir. Seriam o preten‑dente da princesa e o ladrão da receita o mesmo indivíduo?

— Ele alguma vez mencionou o Utopia? — per‑guntou o Rodolfo.

A princesa franziu o sobrolho.

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— Sim. Quis saber se o perfume existia de facto. Respondi que era segredo, mas que deixaríamos de ter segredos quando nos casássemos.

O detetive empolgou ‑se: aquilo realmente pare‑cia suspeito.

— Ainda guarda as cartas?— Certamente — retorquiu a princesa. E tirou

algo do vestido. — Este foi o primeiro postal que ele me enviou.

O Rodolfo tirou a lupa do bolso e examinou a caligrafia. Ao meu belo anjo veneziano. Não dei‑xava de ser bastante neutro, considerou. Então observou o carimbo junto ao selo: PISA.

Ao meu belo

anjo venezian

o.

Tenho saudade

s

Princesa Parmigiano

Palazzo Fan

dango

Canal Principal

VENEZA

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O Rodolfo pensou nos seus principais suspei‑tos: A Paula Panda ‑Vermelha, o Zé Doninha e a Tânia Texuga.

— Aproveitei um momento de distração para lhe tirar um pouco de pelo — informou a princesa, que entregou ao detetive um tufo que mantinha guardado num medalhão.

O Rodolfo estudou o tufo. Era preto e branco, como o de um texugo…

— E como era a voz dele? — perguntou o dete‑tive.

TÂNIA ZÉ PAULA

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— Hum… bastante suave e doce, tendo em con‑ta que se tratava de um macho. Mas talvez fosse porque falava sempre através de uma máscara. As máscaras abafam a voz, está a ver?

O Rodolfo assentiu. Todas as pistas apontavam para a Tânia. Parecia que ela tentara obter o fras‑co de Utopia seduzindo a princesa. Disfarçara ‑se de um belo desconhecido, mas então a prince‑sa dissera que teriam de se casar, o que pôs um ponto final àquilo. A única alternativa de Tânia fora roubar a receita de Adolfo.

A Tânia trabalhava para a Gazeta de Pisa. Para que quereria ela a receita do perfume Utopia?

O detetive sorriu e ergueu lentamente a amos‑tra de perfume.

— Obrigado, princesa. Já tenho aquilo de que precisava. Agora vou deixá ‑la voltar para a sua festa.

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está envolvido em esquemas que não cheiram nada bem ,

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Um perfume surpreendente

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9 789898 849991

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