Dez Anos - Gustavo Corção [docx]

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    t;VSTAVC CORÇA:O

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    Falam críticos holandeses:

    "Se a editorn não nos tlvesimdado alguns dados biográficos deCol'ção, tel'famos maginado umaes!cie de #a!ini  brnslletro. atllado es!frlto, nteressado cm !roblemas escatol$gicos, ávidode sabei% o mais !osslvel as coisas da vida . &udo lhe ns!irauma observação. embra (sv)*es Cheste+ton  !ela escolhados  !roblemas e  !elo modo deresolv)-los, !artindo do absur  do.orali*a do  !a+tlcular !ara  ouniversal, do concreto !ara ometafisico". ( Pa1il Hatmonl 

    "/ls um ltvrn 0ue está. ( mar gem da habitual  !rodução de+%1-  mances. 2 llngutigem teme3  !ressão !otica e !lást4ea e, o0ue  mais im!ortante, revela umes  !írito de uma agude* 0uasealu  cimmte. 2nnllsa homens ecoi sas, como um bisturi cortaas mais finas fibras, numn

    lingua  gem (s v)*es sarcá.st4cn ecarica  tural".

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     A m·eus filhos

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    R. Hr f rn llo @omes,+IE ao n,cto da. Hl bl.un.

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    9rtega % 5asset, um ensaísta...........1479 homen+ llassa......................1532 insol)ncia da mediocridade..............159osáico...............................165#rismas........................................................................171Polf gang 2madeu o*art..........................................177

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    M í=8C/

    Centenário de o*art . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .nc)ndios e emerg)ncias . . . . . . . . . . . . . . . . .isria e 5rande*a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .2 &ragdia da du!licidade . . . . . . . . . . . . . . .Suicídio e ar tírio . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    Caridade e car idade . .. . . . . . . ... . . . . . ....#er$n e a greQa . . . . . . . . . . ... . . . . . . . . .. . .arte em o!osição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..2 instabilidade da moeda . . . . . . . . . . . . . . . . .2gradecim ento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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    2migo leitor, a0ui estão tr)s dG*ias de crNni  casres!igadas em de* anos de  Qornalismo, e ar  r umadas emdesordem cronol$gica . inha !ri  meira idia, 0uandome sugeriram esta e3umação,  foi a de lhe dar o título"#r$s e Contras" 0ue me   !arecia ter a vantagem delembrar um retinir de  es!adas. 2dvertiram-me davulgaridade e eu mes  mo me adver ti da !etulRncia detal e !ígrafe. /f e  tivamente, se houve com bate,  br ilhonão houve, e  muito menos vit$r ia e luta assimdestituída de  lances e de resultados a!r eciáveis nãomerece a )n  fase de um letreiro na ca!a & livro .nclinei-me  a uma denominação 0ue ainda lembrasse aidia  de luta, com f eição t-1davia mais discr eta: "/mtem!o e contratem !o". as um autor mais ágil  !assou-me frente, e im!ediu-me de usar a ins  !iração do

    .

    te 0ue o a!$stolo incita &im$teo a lutar !u ve lhos uma ve* 0ue nada de novo e3iste sob o sol

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    te3toem

    0ue o a!$stolo incita &im$teo  a lutar opportune et importune.

    lT"'i0uei sem r$tulo  !ara minha droga.udando de Rngulo, !onderei 0ue talve* fNssemelhor advo  gar, desde o título, o direito de

     !u blicar  !a!is

    ve  lhos, uma ve* 0ue nada de novo e3iste sob o sol .Substituiria a  !ugnacidade !aulina !elo desconsNlo  do/clesiastes, dando ao volume o nome "=ada de  novo"mas logo me !rovaram 0ue eu estaria fa *endo  !ssimaadvocacia, !ois, em ve* de encara

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    +1 5>S&2?N C9@AU9t )

     Qar, eu desanimava o leitor desde a vitrina do livreiro . #oucas serão as coisas 0ue se !odem a!regoar 

     !ela maior velhice, e certamente entre elas não

    estão as idias, 0ue hoQe se de!reciam de ano emano, como os modelos de autom$vel. Se, !or outrolado, !rocurasse uma  !alavr a 0ue tradu*isse a  !erene frescura de uma doutrina, salvava-se a modernidade, mas ficar iam !resunçosas demais estastr)s dG*ias de crNnicas.

    8esistindo de 0ual0uer titulo sugestivo ou significativo, fi3ei-me neste 0ue ao menos singelo."8e* anos" 0uer di*er a0ui e3atamente o 0ue di*:de +DKJ a +DEJ, e !or conseguinte de meus cin

    0Venta aos meus sessenta. 9s ar tigos são variadoscomo as circunstRncias da vida, e tambm mon$tonos como as mesmas circunstRncias. =ão sei o0ue sentirá o leitor 0ue acaso  Qá tenha lido algunsd)les . 2 mim, a im!ressão 0ue essas !áginas re!etidas me !rodu*em melanc$lica. =ão 0ue as re

     !udie ou 0ue delas me arre!enda. 9 fato de estarem elas a0ui, estando eu vivo, !rovam o contrário.@ealmente, salvo alguma construção verbal, ou al

    guma  !re!osição, tornaria hoQe a escrever o 0ueescrevi. =isto estou com #ilatos: #uo$ s%ripsi!s%ripsi.

    9 mal estar 0ue sinto talve* me venha da !r$ !ria convicção 0ue hoQe mantenho do 0ue ontemdisse .  =uma !ágina 0ue o leitor encontrará maisadiante, su!osta sua !erseverança, eu me abri, numsábado de delírio, e confessei  !ublicamente a inve

     Qa 0ue tenho da graciosa liberdade dos !oetas, e não

    f:W/< 2=9S ++

    .,.7tuítei a tentação 0ue (s v)*es me acomete de de

    satar o doido 0ue trago sob cust$dia. as não !osso . Sou militante . /nga Qado . Com!rometido

    . ) Com sete deveres de estado e com  !romessas no

    cu. @ ecentemente assaltou-me a mesma nostalgiaX '

    &a dis!oni bilidade, 0uando andei !elas ruas atrás de 'um amável cronista 0ue seguia a borboleta ama% rela. Hem 0uisera, bem 0uisera, mas não !osso.

    Sou militante . al ou bem, devo tra balhar na dis 1tr ibuição de artigos alimentícios. 8evo moer farinha  !ara as almas.

    as o !ior não isto. ?encida a tentação, aceito o !Nsto no dis!ensário das idias nutritivas, o

     !ior o sentimento da inutilidade do serviço . 9militante 0ue veio cum!rindo, como !Nde, a obrigação de e3!licar e de re!etir, desconfia hoQe 0ueconseguiu agradar sem conscg%uir convencer .

     =ão  se 0uei3a dos leitor es, mas tambm não temcomo se gabar dos resultados atingidos.

     =ão  !osso, realmente, 0uei3ar-me do  !Gblico,

    0ue me tem cumulado de merc)s . #ensando no regime em 0ue viveu um HloO, e na misria em 0uemorreu um o*art, at me envergonho dos favores 0ue rece bi, e 0ue mais me a!ro3imam dos medalh7es e dos acad)micos do 0ue dos grandes. =ofim de sua curta e desordenada vida, #roust di*ia 0ue doravante s$ deseQava ser lido . Fui lido,tanto 0uanto  !ode deseQar 0uem nasceu em terr it$rio onde se fala a gloriosa língua  !ortugu)sa. Fuitradu*ido, e at  !remiado. ais de uma ve* acon

    teceu-me ser a!ontado na rua, e ouvir algum di*er 'I

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    a algum : ali vai o Fulano . . . Yue mais  !odere clamar o escr itor 0ue  Qá lido e a!ontadoZ =ãotive de  !edir esmola "na mesma língua em 0ue n.

     !ediu Cam7es". 9s deveres de estado me r emuner am bem e !or conseguinte me !rivam de um inter essante traço biográfico . 9s leitores futuros, se ostiver,  !refeririam 0ue o escritor tivesse !assadof ome . as não !assei. 5anho bem o !ão e a manteiga !or cima, 0uando o gov)rno, a C9F2#, ou alguma outra organi*ação, me !ermite com!rá-la.Com certa ginástica de favores !ude at com!rar um carrinho de segunda mão, ou de segundas  !er nas, !ara o descanso das minhas. Yue mais  !ode0uerer, sem delírio, sem !aran$ia, um escritor nascido no tr$!ico do Ca!ric$rnioZ

    Yuei3o-me, entretanto, do mundo e de mim.Yuei3o-me  !or0ue nestes de* anos, tr)s mais !or tanto do 0ue os sete de ac$, em lugar de @a0uelme der am ia. 8eram-me ediç7es, traduç7es, remuneraç7es, discursos e  !r)mio: mas não me deram @a0uel, isto , não me deram !rovas cabais, visíveis ou a!enas  !erce !tíveis, !rovas animadoras,

    ou a!enas consolador as, de 0ue tenha valido a !enatrocar a  borboleta !elo serviço de  !lantão. 9 concurso de Filosofia, a !olítica $u %&t' $e %he *ann!e a do outro lado, a !sicotcnica e a academia, aseleiç7es e os costumes, o integralismo, o comunismo e a liberal democracia, os serviços  !Gblicos ea inflação %- tudo em suma, tudo seguiu seuma   Q estoso cur so, sem um dcimo de segundo dede  fle3ão, tudo seguiu sua marcha ine3orável,sem

    0ue o mais atento observador e o mais arguto calculador  !ossam descobrir, na stima casa decimaldos logarítimos dos co-senos dos Rngulos, um mí

    nimo sinal de  !erturbação, de influ)ncia, comoa0u)le da $rbita de >rano 0ue !ro!orcionou ;+ e?errier a descoberta do !laneta invisível.

    Concluo, !ois, 0ue a doce e casta verdade 0u ref ulge na revelação, e 0ue cintila escondida na na ture*a das coisas, andou mal servida . / o descon fNrto dessa im!ressão 0ue me leva a di*er 0ue, a!$s de* anos de labor, em lugar de @a0uel me deram ia. 2 alegria de 0uem milita se torna im%

     !ura, e logo a*eda, 0uando se transf orma em  !ro veito !r$!rio e e3clusivo o resultado da militança . 2 alegria maior de 0uem ensina, de 0uem aceitouessa função intermediária, há de ser medida !elo Gnico valor da coisa transmitida, e não  !elos ata vios do !rocesso de inculcação. 9 verdadeiro  !r) mio do militante como o das mães. Consiste em se a!agar, em se anular, em dei3ar 0ue  brilhe, au tNnoma, com seu  !r$!rio valor, a !ura lu* do ob 

     Qeto . 9ra, essa recom!ensa, eu não a r ece bi, ou não a mereci.

    8e* anos, dirão 0ue não muito mas !ara0uem tarde começou muitíssimo . Cheguei tardena greQa, na filosofia, na !olítica, no  Qornal e nolivro . Cheguei . atrasado em tudo, s$ mer estando  agor a a tentativa de tirar um !ouco doatraso na  descida da serra, como os trens daCentral . /,  !ara não aravar a cu!a do mau

    serviD1, com +:+.

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    cul!a maior da falta de confiança, s$ me resta di*er ( doce e casta ?erdade 0ue dis!onha de mim,e 0ue mai.s de* anos ser virei sem com!utar 

    resulta  dos, e 0ue mais servira, se não fNra  !aratão longo ar:r ::ir tão curta a vida.

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     A Alvaro Tavares

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    Outu+ro!

    +DEJ8ias há em 0ue a gente fica triste com o ofício 

    0ue tem. magino como não deve ser enervante ]'  !ara as co*inheiras, nesses dias, a atmosfera das + fritur as e a com!anhia das caçarolas como não cte^ve-ser -inon$tono  !ara o ferreiro o gemido das 

     bigornas como não deve ser triste, muito triste,

    o vai-e-vem da agulha na mão !icada da velha costureira. Cada of ício uma !risão. Se a gente temo es!ír ito largo dos santos, a !risão vira clausurade amor e torna-se recanto de  !a* mas onde faltaa largue*a de coração, o of ício ofício, e a !risão  !risão: as coisas ficam sendo o 0ue são !elo

     bagaço. / o cárcere do of ício duro, asfi3iante,enervante.

    9ra, a minha !rofissão - assim me !arece nesses dias - ainda mais tr iste do 0ue asoutras.  2 co*inheira v) seus !ratos feitos,substancialmen  te constituídos e v) a alegr ia dacasa alimentar se de seu feiQão. 9 ferreiro v) oferro curvar-se,  conformar-se, e obedecer. / acostureira v) a !er   severante agulha con0uistar o !ano de  !onto em  !ont, obrigando-o a seguir oscontornos de um  cot !o e os movimentos de umaalma. =esses ofícioD  tudo concreto, tudo

     !al!ável,

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    .+ Consider em agora o meu . Yue fabrico euZ #a

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    átomo sofrera algum desvio milimtrico, as vidas,

    .) lavras. /scritas #1.::+ faladas, da manhã ( noite, no os .c.oraçoes, os seletos coraç7es, aocontrário'se-

    f   !a!el, na sala.-de aula, ou diante de um microfone0ue esconT'.l...ic não sei 0uantos ouvintes-talve*

    /

    nenZ.i-:.:m - eu co*inho !alavras, eu forQo !alavras,eu costuro  !alavras. "Pords, _ords, _ords . .."

    +

    .+· ,,eu ofício um ronronar 0ue *0 dura trinta anos.+

    ;  /  &riste ofício. / não sou eu s$ 0ue d)le descreio .

    guinam seus itinerários sem 0ue o sN!ro das !ala-vras conseguisse desviá-los. 9 0ue uma confer)nciaZ >m sN!ro . >m vento. Falar um modore0uintado de abanar . . .  =o caderninho de notasdo conferencista, estão as outras confer)ncias a!ra-

    . *adas: de!ois de amanhã, dia +E, dia IK, etc. , etc.,

    ·;. .   ) &u tambm, amigo leitor, tu tambm não cr)s no· ,  meu ofício . 5ostas de ler . 2!rovas-me

    0uando

    etc.

    Yuatro meses mais tarde, estando o nosso ora

    ·1t.;,,_,d  logro alinhavar com alguma felicidade os meus'` % adQetivos ou 0uando !rego com boa linha as mi-i nhas conQunç7es . as confessa: na verdade, não. acr editas muito no valor dessa  !rocissão de sinais

    t escritos, e muito menos cr)s no fuga* valor do som Jt  articulado 0ue sai duma velha garganta cansadaf'+ de ronronar . #alavras hoQe,  !alavras amanhã. /m' tem!o e contra tem!o . . .

    9ra, estando eu num d)sses dias de !reamar da melancolia, um outro oficial do mesmo ofíciocontou:me uma linda hist$ria. le !ronunciara,diante de seleto audit$rio Xcomo se costuma di*er]uma confer)ncia sNbre casamento, limitação de natalidade e abNrto. 2cabada a confer)ncia e ouvidas as !almas 0ue, como todos os sons, tambm se

    + !erdem no ar, o nosso conferencista voltou  !ara casa. a triste. @evolvia na mem$ria as ressonRn'

    ' cias do 0ue dissera. 9 seleto audit$rio estava,evi

    dentemente, de acNrdo com o 0ue )le dissera. 9' ' universo continuava o mesmo de!ois da confer)n-

    dor ( !orta de uma livraria a ver !assar o mundo J abordado !or uma moça risonha com sete mese bem contados de gravide* . / sem mais !reRmbu los a!resentou-se:

    - =a0uela confer)ncia eu estava de tr)s meses./ não ia ficar . &inha resolvido não ficar . as 1senhor disse a0uela frase . . .

    2 mZça des!ediu-se. 8obrou a es0uina. o confe+:e c+sta viu ainda uma ve* o maQestoso !erfilda g-rav+de*, e 0uedou-se a !ensar . Yue fraseZ  =ão se lembrava . embrou-se de uma  !ágina de /dgar  2llan #oe, onde o !oeta di* 0ue as estr)las do cu nasceram de !alavras d.e amor . 2 sua frase  C  0ue fraseZ - lá com suas conQun ç7es, advrbiose  !re !osiç7es fi*era alguma coisa maior, infinita mente maior 0ue as estr)las do cu: salvara uma criança. Será menino ou meninaZ

    cia ou se não, se mudara, se o traQeto de algumrlc

    uvi hoQe contar o caso de um acrobata amenno 0ue teve uma idia. "Hrain _ave". >ma idia

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    nova  !ara seu  !rograma de televisão. /' assim:em ! no rebordo do telhado de um arranha-cu)le fa* cabriolas, não com seu !r$!rio cor!o, mas '

    com o cor!o de uma criancinha de meses 0ue )le atira !ara o ar, a!anha, e0uilibra, muda de mãoe !assa entre as !ernas . Como se v), o es!etáculodeve ter sido e3citante e gostoso  !ara as  !u!ilascansadas de outros es!etáculos mais rotineiros.

    /ssa hist$ria lembrou-me outra. /stavam duasou tr)s senhoras de nossa melhor sociedade, dessas0ue tomam chá de cha!u, a discutir o caso de umdesabusado cirurgião Xtambm da melhor sociedade] 0ue  !rovocara um ab7rto sem consultar nin

    gum . 8i*ia então, uma das senhoras, a do cha !u de lila*es : "/u acho 0ue a família deve ser consultada . . ." 2 dama de cha!u cNr-de-%amorafoi mais !recisa: "/u acho 0ue com!ete ( mãe,e3clusivamente, resolver o caso". / estava a conversa nesse !onto 0uando um amigo meu, tímidoe gago, 0ue nunca consegue ser ouvido  !or ningum, suger iu 0ue 0uem devia ser consultada era acriança. / a aus)ncia dessa consulta 0ue me hor rori*ou na hist$ria do acrobata . #or muito menos*angou-se um dia ac ondon, numa tourada,

     !or0ue os touros e cavalos não eram ouvidos.as ningum ouviu a refle3ão de meu amigo.

    Como ningum oGve a misteriosa linguagem c$m0ue os embri7es de dois a tr)s meses declaram categor icamente 0ue 0uerem viver . Como tambmcada dia menos se ouve a linguagem, *0 menos misteriosa, das crianças de dois ou tr)s anos 0ue são

    8/< 2=9S 19

    energicamente contrárias ao div$rcio . o fato )ssc : na ginástica, no a bNrto e no div$rcio, há

     !essoas,  !ersonagens,  !essoas humanas, vivas, 0ueestão envolvidas e 0ue não são ouvidas.

    "9ra, direis, ouvir crianças. . . certo  !erdeste osiso4", dirá algum leitor 0ue ainda se lembre doses!lendores de nosso  !arnaso. Como  !ossível

    % ouvir um em briãoZ Como se  !ode !onderar o 0uedi* uma criança de dois anosZ

    8igo-te eu, leitor, 0ue foste tu 0ue  !erdeste osiso. / acrescento: o mundo está como está, e onosso Hrasil chegou onde sabemos 0ue chegou, !or 0ue as !essoas Xa começar !elas da melhor socieda

    de] não t)m mais ouvidos !ara ouvir e entender a linguagem dos fetos. Fu*ilam -se inocentes, aosm>h7es, sem remorsos, dada a circunstRncia su !er sNnica de seus  !rotestos. ?ou e3!licar-te, amigo,mais uma ve*, como se !ode ouvir o 0ue não fala,e consultar o 0ue não tem a idade da ra*ão . /'muito sim!les: ouvindo e consultando a lei 0ueestá gravada na nature*a das coisas, a lei 0ue 0ual0uer consci)ncia desobstruída de chás e cha!us

     !ode ouvir e consultar . >ma boa lavadeir a, umahonesta co*inheira, sem !r ocurar  !sic$logos e soci$logos, t)m ouvidos !ara a vo* da noc)ncia  !er f elta,  !ara a vo* de 8eus gravada na mais humllde das cr iaturas, !ara essa vo* 0ue condena oubN+to, o div$rcio, e outras acrobacias feitas comcnrne de gente.

    "' 3 3

    I1 5>S&2?9 C9@AB9 8/< 2=9S I+

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    + .

    \+

    #or falar em abNrto, ouvi di*er 0ue na Suíça tornou-se legal. =ão sei detalhes.  =ão sei em 0ue circunstRncias,

     !elos 0uatro cant7es da Suíça, tor  nou-se admissível matar a criança 0ue teve a im  !ertin)ncia de  brotar num ventrede moça . ma-   gino 0ue os suíços, 0ue sãoreconhecidamente um  !ovo ordeiro e asseado, e sobr etudomuito def eren-

    te com os tur istas, tenham descoberto e3celentes  ra*7es !ara assassinar  !e0ueninos suíços. >ma  das ra*7es0ue imagino seria a seguinte: mata-se  a criançae3cedente  !ara o bem da  !átria e da  família. >m !oucocomo se 0ueima o caf , !ara  valori*á-lo. 8e urna senhora,0ue tem um #ontiac  ver de-clar o, Q á ouvi di*er 0ue se  Qustif ica "não guar   dar" !ara manter o "!adrão de vida". =ão se guar da a criança !ara guar dar-se o #ontiac . 9u  trasenhora, um !ouco menos desvairada, alega  0ue fu*ilaa cr iança não nascida em  benefício das  outras  *0

    nascidas.+:sses argumentos chegaram aos ouvidos de meuamigo 2lvaro &avar es 0ue sugere uma emen  da  !ara ateoria dessa senhor a 0ue mata um filho em  benefíciodos outros: admitido 0ue se deva ma  tar um !ara benef ício da família e da sociedade,  devemos dei3ar acriança nascer, e, mais tar de,  num conselho de família,escolher a criança mais  feia, ou mais  bronca natabuada, ou mais birrentana mesa, e então e3ecutá-la  !ara o maior  bem dafamília e da  !átria.

    Concordo inteir amente com essa emenda a!re sentada !elo meu amigo 2lvaro &avares. /m nome

    da  !sicologia, da sociologia e da eugenia, acho !reci!itada a !ena de morte 0ue recai sNbr e a "cri  ançadesconhecida". 9 mundo, entr e seus momen  tos de

     !r olongado desvário,  *0 teve a idia de hon-  +%ar osoldado desconhecido mas nos seus  !iores momentosainda não teve a idia de fu*ilar um criminosodesconhecido. / muito menos um des  l.9nhecido

    inocente . 2!rovo  !ois a emenda e a0ui acrescento omeu !es!onto. /m lugar do conse  lho de família eusugiro 0ue consultem um  !sico-  i$cnico. %:+

    ?oltando aos suíços, confesso 0ue não me1++ !+mtci demais com a notícia. &enho desconf i  unçad)sses  !aíses muito or deiros, muito arruma  dos. &enhohorror a hotis. S$ me es!anto com uma incoer)ncia0ue veQo nessa lei dos suíços : se  tt religião da0uele

     !itor esco !aís o tur ismo, se  utam tão  bem os 0uechegam das 2mricas,  !or -% C\>9 diacho maltratam assim

    o  !e0uenino tur ista  0i+1 ingressa num dos 0uatroscant7es !ela mais ni \l.lgi das  !or tasZ

    -o em+ro! +DEL

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    9S /==9S S/ 2&2

     A Carlos Drummon$ $e An$ra$e

    +

    %.+ %'%. %'

    + .

    9 moço 0ue se matou, di*endo !or escrito 0ueera um "desaQustado social", na verdade matou-se 

     !or 0ue se dei3ou convencer de 0ue não e3iste na vida e no mundo lugar  !ara a dor . atou-se !or%%0ue lhe disseram, com a0u)le vocábulo, e com a fi losofia maldita 0ue  !or tr ás d)le se esconde, 0ue o m undo não concede matrícula aos 0ue choram. nsinuaram-lhe 0ue tudo se reaQusta, e acrescenta  l'um 0ue s$ de!ois dessa reaQustagem  !ode uma alma se inserir . 9r a, o moço viu 0ue a  !rimeira

     !arte da hist$ria era falsa, !or0ue nem tudo se rea Qusta, mas continuou a crer na segunda e então, suicidou-se. Suicidou-se !or0ue era um desa 

     Qustad o. Suicidou-se  !or0ue era uma e3cresc)ncia4 na cr iação. >ma verruga douniverso.

    '!:

    .·,

    .;.

    2h 4 como eu 0uereria gritar aos ouvidos dos

    ' )+% 4l lmoços 0ue há no mundo e na vida lugar !ara .."

    ,, /' clar o 0ue e3iste o !roblema da inserção. =ingum nega 0ue o dinamismo iní0uo da sociedada tende a dei3ar ( margem os fracos, os tími

    &s, os  !erturbados.  =ingum nega 0ue o homemt+tiv!. a!render a se inserir na efervescente convi561 e deva lutar !ela defesa de seu lugar . &udo

     /111110 o3lst, e  *0  bastante trágico !ara 0ue ainda

    \ %

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    venham dilatar o cam!o do !roblema com essaidia infernal de 0ue s$ os feli*es estão inseridos e0ue tNdas as máguas, tNdas as feridas, tNdas as tris-te*as são sinais de e3comunhão.

    oços4 há na vida e no mundo um lugar, um ] %enorme lugar !ara a dor. 6á lugar !ara o  !obre 

     !ara o doente !ara o obscuro !ara o aleiQado !arao !ersegufdo.

    /u l+ o comovente artigo de Car los 8rummondsNbre o outro menino, a!ai3onado de um dia, 0ueteve !ressa de matar-se . i, e creio ter c1m!reendido a !ungente aflição da0uela enorme alma de !oeta 0uando lhe  !assa !ela mente 0ue o menino

     !oderia salvar -se s7 algum, na0uelas  !oucas horasde 8l'l'9- !relGdio de dor , o tomasse  !ela mão, o levasse ( !raia, e risse com )le nas es!umas do mar .@aramente senti tamanha afinidade, tamanhasim!atia, como nesse artigo escrito )le todo comum n$ na garganta e lido, )le todo, no outr o ladoda cidade, em outra situação, em outros sentimentos, mas com o mesmo fundamental n$ na gar ganta.

    as discordo do  !oeta no remdio. &alve*desse  bom r esultado o mergulho na onda fria 0uelhe desatasse no !eito as molas da inf Rncia . ascá fora, ali mesmo na !raia, estava a &eoria ( es !era do menino . 2 teoria de 0ue não há no mundoe na vida lugar  !ara a dor . uito mas do 0ue amocinha do bloco, sem cul!a maior do 0ue algumafaceirice, 0uem deseQa imolar os moços de vinteanos essa &eoria de im!lacável otimismo 0ue e3i- .

    ge  !ara a vida,  !ara o ingr esso na vida, condiç7eshigi)nicas e  !sicotcnicas mais rigorosas do 0ueas 0ue se e3igem  !ara os aviadores.  A &eoria di*a moço 0ue 50 tratar -se 7 volte de!ois se 0uer em !r)go no mundo . 2 &eoria dá um  !ra*o !ara0ue o candidato se torne decentemente feli*. Fe

    li* no !adr ão, de 5 !ara cima. Feli* no se3o. Feli*nos nervos. Feli* em tudo . 8ecentemente feli*.

    Hem sei 0ue há deses!eros !recoces 0ue ignoram as coisas  boas de 0ue a vida far ta :Serálom di*er -lhes 0ue e3istem muitos amores, 0uehaver á muitos outros  blocos e muitas, muitíssimasoutras mocinhas amáveis . Yue o cu a*ul, 0ue

    llG  !rados cheios de flores, e 0ue  bom mergulhar 111;t onda fria, com os olhos abertos,  !ara ver uminundo novo fundido em esmeralda. Yue  bom dei na grama, 0ue  bom meter o  ! num estribo,1+++ manhã*inha brumosa, manhã de roça, sentindo

    o cheiro do cour o e o cheiro forte do cavalo 0ue " bom andar d.e mãos dadas em ruas de bairro antiao ao cair da noite confidencial e casamenteira0uo  bom  !isar um tombadilho molhado e sonhar uom cidades de lenda e 0ue  bom ficar ( toa,mtma varanda domingueira, seguindo os !assosdo um inseto de rubis e safiras, 0ue  !asseia numvolho mur o a sua microsc$!ica r i0ue*a 0ue  boml'ti.++ !lrar 0ue  bom viver .

    as não  basta, $ !oeta, mostrar (s almas =.rltn6 a doçura das relvas, a frescura das ondas,p ii ·t.=nura dos r egaços de amor . #or0ue isto não tôlhi. n verdade da vida. /  !reciso ser verdadeiro.

    f  ·

    "

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    E G: · :u:·:11C :..: li ,L

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    zo--,-.,/t:i"""'

    26 5>S&2?9 C9@AU9

    /t ' !r -eciso, sem!re, serverdadeiro %

    /m toda a e3- .,

    esao. /m tNda a !rof undidade.  =os dois hemis- fnos de lu* e sombras da verdade .O 0ue !reciso di*er, a )sses moços 0ue !or tão

     !ouco deses!eram, 0ue e3iste uma dignidade nolcentro m +n a do %. 0ue a dor não e3comungaZ0ue a do+ a foi santificada  !ara 0ue !ossa santifi-

     A #ra$a

    car .: . O 0ue

     !reci%so,o,

     !oeta de alma grande, .  Ah0 sse mun$o %heio $e afli23es0  A gente ai 

    l .,:+, •

    l

    -

    t.1

    aru velas ao mar, e descobrir a verdadeira e3ten 

    sao do mundo e da vida .2h4 essa hist$ria maravilhosa, 0ue a mim mecontaram, como eu gostaria de lhe contar, longamente 4 longamente 4

    4ar2o! +DEJ

    an$an$o! ai an$an$o! e es+arra nas almas. 5 tro

     pe2a nas almas. 5 n6o sa+e o #ue faer e o #ue

    $i  er 7s almas %a8$as. 5 eu a#ni! a es%reer9 e

    o% a8! a ler. 5nergonhemonos! leitor .

    4un$o! mun$ o! tri ste mun$o. Pare%e #ue en

    tou.. Pare%e #ue a enor me ;r or e sa%u$i$a atira seus

    frut os no %h6o. On$e est6o os oper;rios $a %olheita! 

    #1.e en%ham seus %est os! e #ue ao entar$e%er ol  

    tem %antan$o 7 %asa $ o  enhor A gente ai an·$an$ o! ai an$an$o! e trope2a nas almas ma$ura= . 

    l0 1isa as almas %a8$as. 5 eu agora a es%reer 9 e 

    o% agora a ler 9 en#1*nto l; fora se ergi>e o ento

    $o gran$e outono.Como se e?pli%a! leitor ! #iie nosso %ora26o n6o

    se a+rase e n6o se %onsuma! #ue nosso sono n6oen%urte! #ue nosso lo n6o %res2a! n6o %res2a mais!

    %Ld& %res2a sempre! #uan$o %orremos %om os olhos

    ossa imensa  plan8%ie @un%a$a $e af li23es Como se

    e?pli% a. #ue n6o pe2amos a Deus #ue ain$a mais nos

    ensine a pe$ir! a pe$ir #ue nos atire na f ogueira $e

    HC1l %ora26oueimar por #ueimar! antes no amor #ue na

     11., .B2a.  Antes a#ui e agor a. -o $ia. - a hora. -omomento $e ar$er. -o momento $e $ar %om aiegria.

    ,.t.

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    28 GUSTAV C#

    Co$o %& &(li*, l&ito+, u& o (&*$o% *0&u%, $*i% & i*i%, u& o% &%i& * (&i+, u& o% &%i& * (&i+ (*+* *t, u& o% *it& * &%&*+ , * &%&*+ u$ .%o $*i$&%$o, i5til & %6o, * 3+*& fo3u&i+* & %&u *$o+7

    At&% u&i$*+ *%%i$, (o+ *io *% *f li9&%. At&% to+&+-%& * 4*$*, **+ * 4*$*, o$, &%t*lio% & +&(it*9&% &uo, $uo, t+i%t& $uo - &u *ui * &% +&;&+, ;o6 *< * l&+, = l&ito+ - & o ;&to l> fo+* &++u?*o *% *l$*% $*u+*%!

    1 '

    ..

    /=C9='l'@9S C9 9SP28 8/ 2=8@28/

    Foi há dois anos, creio eu, 0ue tive um  !rimeiro rá!ido encontro na  !orta de uma livrar  com 9s_ald de 2ndrade, e a !rimeira im!ressao0ue logo me assaltou foi a de estar começando umaami*ade, um  QNgo, com um menino guloso, truculcnto, direto e  bom. al me lembram as !alavras0ue dissemos e os assuntos 0ue abordamos. :f:lemesmo  !rocurara essa a!ro3imação. Yueria saber como eu era 0ueria tirar a lim!o o conflito, o de

    sa Quste ou a contradição 0ue Qulgava e3istir entremeus livros e meu catolicismo. 9u melhor, e com aneiro! 1!$#  !alavras suas, deseQava verificar se eu !ossuía um

    catolicismo de Hotafogo'' ou algum outro de es !cie mais admissível. / verrumava-me com a0u)lcs fero*es olhos a*uis 0ue dias de!ois, em conversamais íntima, dei3aram esca!ar ref le3os de ternura.

    Ficamos amigos, amigos de uma ami*ade absurda e incom!atível 0ue resistiu a todos cho0ues

    de idias e 0ue, a!esar do abalo !rodu*ido !elo livro"horrivelmente dogmático" 0ue  !ubli0uei um anomais tarde, durou at o seu Gltimo dia.

     =a conversa 0ue tivemos uma noite em minhacasa, )le me ouvia com a atenção de um gato 0uencom !anha uma  !r)sa, e de ve* em 0uando, semdes!egar de mim os olhos, fa*ia um gesto !ara a2ntonieta 2l.min, 0ue assistia silenciosa ao !rimeiro "round" de nossa ami*ade:

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     C\%

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    ,8/< 2=   31

    -9lha a cara d)le, 2ntonieta4 =ão sei o 0ue via ou o 0ue !rocurava na minha

    cara. Sei 0ue me embaraçava !or não conseguir 

    corres!onder generosidade de seu inter )sse !or  + meu mundo. &udo nos se!arava. Seusautores não  eram os meus, suas admiraç7esestavam longe de ser as minhas, e, alm disso,

     !ara acrscimo de di  ficuldade, 0uase nadaconhecia eu de sua hist$ria e de sua obra .  =ão acreditava muito na sua antro!ofagia, e embora  !ouco mais moço, nem de longe !artici!ara do famoso movimento modernista , 0ue ainda hoQe me !arece um  Qovial e0uívoco de + 

    uma irreverente geração .  =a0uele tem!o eu anda va !elos sert7es d)ste desconhecido Hrasil a fa*er coordenadas astronNmicas, e s$ muito raramente . 

     !ercebia 0ue a cultura andava em  !Rnico, e 0ue os ídolos acad)micos eram derrubados !or uma + dG*ia de alegres iconoclastas.

     =o caso foi bom . Foi bom 0ue eu não !udessecorres!onder ao seu inter)sse, 0ue eu não !udesseem sã consci)ncia elogiar sua obra, 0ue eu mal co

    nhecesse seu !assado e seus livros, !or0ue essa em baraçosa situação me  !ermitiu descobrir a largue*a de alma de meu novo amigo, o velho 9s_ald de2ndrade. =ão fácil !ara um escritor curtido noofício,  !ara um auto3 0ue sente !assar seu ef)meromomento, 0ue v) transformar-se em sedimentosde saudade o 0ue um dia fNra uma vulcRnica es!erança, interessar-se !or .um novo autor 0ue a!arece tarde e segue itinerários tão dif erentes. 9s_ald de 2ndrade su!ortou magn.+ficamente

    .essa

     !rova, e !osso af iançar 0ue não lhe vi um s$ sinalde ressentimento em cada ocasião 0ue não !udeev6ar a evid)ncia do desencontro de nossas $rbitas.9 incNmodo foi  !ara mim remunerador, !ois não

    há mais grata e3!er i)ncia do 0ue a descoberta deuma generosidade . / Qulgo estar certo se tiro dessagr ande*a do homem a e3!licação de sua filosofiaantro!ofágica, 0ue mais seria uma doutrina de boma!etite, de larga abertura  !ara o mundo e !ara osoutros do 0ue cruel teoria de entre-devoração so-cial.

    9 sculo de*enove foi marcado  !or uma conce !ção da sociabilidade 0ue  !ostula a antinomia

    ontre o indivíduo e a sociedade e 0ue fundamentao  convívio na luta. 9 essencial, o formal da convi , \vNncia humana, de @ousseau a ar3, do individualismo liberal ao totalitar ismo, não a ami*adeclvicn. de 2rist$teles e dos escolásticos antes oduelo de morte, a luta  !ela vida, em suma oegoísmo, a inimi*ade, cruel em =iet*che, es!ortivaom althus e 8ar_in . 9 homem o animal de ra

     !ina de S!engler, ou o mais a!to sobrevivente deum tor neio de símios. / !ara outros, na e3trema es0uerda, a !arusia de uma sociedade !erfeita tem deaor dialeticamente atingida  !ela luta de classes .

     =casc clima cultural, 0ue nas crises agudas !rodul0 o na*ismo e no estado crNnico constitui a disci

     !linação meramente e3trínseca do egoísmo burgu)s,n nntro!of agia de 9s_a+d de 2ndrade nadateriaTto or lgtnal e muito menos de moderno, e sobretudonu.du. teria de elevado, embora, !ara a maioria das

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     !essoas 0ue ve* !or outra correm os olhos  !elomundo, a descoberta da ferocidade humana !areçaconstituir u m vrtice de su!rema sabedor ia. #enso, !orm, 0ue a filosofia de 9s_ald de 2ndrade era

    mais uma avide* 0ue uma crueldade . /stou com

    8/< 2=9S 33

    uma redobrada ferocidade de !irata da lha do '&esouro . Yuando entrei, a admirável 2ntonieta 2l mln atava-lhe ao !escoço um enorme guardana!o, e

    a!ressava-se a servir um !rato de canQica cheio ata  beira, 0ue )le reclamava com rugidos de im !a2ntNnio CRndido, no seu Pref;%io BnDtil a Em Homem em Profiss6o X9s_ald de 2ndrade, /d. os

    c6m' cia .-Yuem voc)Z4 gritou vendo-me entrar. #re

    + ,.

    9lím !io] em !ensar 0ue a antro!ofagia de 9s_aldde 2ndrade tem raí*es numa cosmo-visão, e diria eu,.numa es!cie de dilatação do estNmago es!iritual . %

    Hom a!etite, e3celente  bNca, )le via o mundo,como um colossal e ine3tinguível alimento, e ailrav.:se na vida, at os sessenta anos, como um faminto

    se !reci!ita sNbre as iguarias de um ban0uete . #or %isso, en0uanto eu, enf astiado, afastava de mim o re0uentado modernismo, e a!enas !rovara seus l+·vros, 9s_ald de 2ndrade engulira os meus, s$ dei%%3ando na beira do !rato os es !inhos mais duros do dogma .

    ?i-o !ela Gltima ve* no 6os!ital das Clínicas deSão #aulo . 8e !ois de uma emocionante aventura,em 0ue me  !arecia estar atravessando a cortina deferro com !assa!ortes falsos, conseguir entrar nafortale*a das clínicas !aulistas, e graças ( inter venção de um moço 0ue.. . mas isto outra hist$ria

    - cheguei ao 0uarto letra tal nGmero tanto

    onde o

    velho modernista se refa*ia de recente e difícil o!e ração na cabeça .

    agro, envelhecido, estava 0uase irreconhecível.  

    9 turbante manchado de sangue, 0ue lhe envolvia a cabeça, ta!ando o Nlho direito, dava ao es0uerdo

    gou em mim o Nlho dis!onível sem conseguir decifa minha identidade na !enumbra do 0uarto . 2n tonieta disse-lhe 0uem era, e logo o Nlho duro e m+

    lálico revestiu-se de uma doçura de hort)nsia. 2bra çamo-nos. /ntre duas colheradas sorvidas vor a*..mente  !erguntava-me se estava escrevendo outro livro e interessava-se !or meus !roQetos. 8evorava l\ canQica, e devorava-me a mim, com a mesma gran de fome, com a mesma grande bNca aberta  !ara a V+7la e !ara o mundo. 2ntonieta, a e3celente e com

     !assiva 2ntonieta, fa*ia-me agora,  !or trás d)le, si%%nnis misteriosos. 2!ontava com insist)ncia  !ara a 

     !r$!r ia blusa e de!ois !ara o com!anheiro coroado de sangue. /ntendi afinal 0ue devia olhar !ara o 

     !olo de 9s_ald, e descobri então meia dG*ia de san tinhos !r egados no seu !iQama. 2li estavam as me dalhas de nosso bravo corsário, as condecoraç7es de auna Gltimas façanhas. =otando uma delas, uma humilde medalhinha milagrosa de alumínio, !edi ( ?irgem Santíssima 0ue tomasse conta da0uele filho vor a* e 0ue lhe ensinasse a0uela !assagem deNtllt cRntico -- esurientes impleit +anis - 0ue

      u m com!)ndio da filosofia antro!of ágica docu.

    Deem+ro! +DEK

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    Foge-me ( mem$ria a data do nosso !rimeiroencontro, 0ue foi  !or volta de +DIL masguardo ainda bem viva a lembrança do lugar, dosdetalhes  e das circunstRncias. a eu  !assando narua do @o  sário, 0uando notei 0ue havia umaarrumação nova  na 5aleria orge, e 0ue láestavam e3!ostos uns !e  0uenos 0uadros muitoclar os e muito mal emoldu  rados . /ntrei. =a0uele tem!o era a !intura a minha  !ai3ão, uma  !ai3ão violenta, e at dir ia des

    "regrada,  !or0ue não tinha  !or base as sementes de + .

    'dons e o mister ioso chamamento 0ue marcam o ver% 

    dadeiro artista . Foi uma febre 0ue durou tr)s ou·' 0uatro anos, e de 0ue me curei devagar, 0uase im !erce!tivelmente, como 0uem se cansa de amores

    mal corres!ondidos.as na0uela tar de foi o ardor de se*ão, e não

    a sim!les curiosidade de transeunte vadio, 0ue metravou o !asso. /ntrei, e logo vi, nas !e0uenas telase3 !ostas, mar inhas singelas e claras, a reali*ação do0ue eu sonhava  !intar, isto , a concreti*ação doideal im!ressionista 0ue mais valori*a a lu* do0ue as substRncias, e 0ue !rocurava tra*er !ara atela a unidade de iluminação e a harmonia musical das cNrcs bem timbradas. as o im!ressionismode 5arcia Hento tinha uma curiosa contradição na

    + '

    .'lua tcnica .  =ão era va!oroso como ascatedrais  !ontilhadas de um onet, não eraambiental e flui

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    0* *?&* *o% (@% &+* (o?+& . 0&%& * $*+* *%t

    ambiental e flui-

    + '

    :

    ,,.

    5>S&2?9 C9@A9

    do como as  !aisagens de um #issarro ou como as bailar inas de lu* de um 8egas. 5arcia Hento !intava e3clusivamente com a es!átula, e assim aliava ( trans!ar)ncia das !alhetas im!ressionistas a subs tancialidade da cerRmica ou do mosaico. Chegava (sv)*es ao e3cesso na !rocura do tom alto e elo  QNgo

    de cNres com!lementares, e2 na cor!orei- . dade e  !lasticidade da feitura. / desse cho0ue es tranho entre o mGsico de cNres e o artífice mode 

    lador resultava um im!r evisto 0ue !rendia a aten çãoe 0ue sugeria ao mesmo tem!o, coo um C *annea idia de mestria e de rusticidade. ais

    ] 2

    tarde, em +DI, 0uando 5arcia Hento obteve o !re-mio de viagem ( /uro!a, a /s!anha de

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    • 1

    ·'f. ·

    LM 5>S&2?9 C9@AB9

    marinhista diante do 0uadr o vivo 0ue ia roubar ao % a*ul da manhã. /n0uanto eu me !reci!itava, sacri-- % ficando o desenho, esbanQando tinta e suQando ascalças, )le se !re!arava com os gestos medidos de0uem está longamente habituado a governar seus 

    deseQos. /ra asseado e econNmico, e essas virtude ficaram marcadas em sua arte. Sua !alheta sim- ,  !les com!unha-se das cNres essenciais do es!ectro im!ressionista:  branco de !rata, cromo ou cádmio, vermelho f ranc)s, laca carme*im, verde esmeraldae a*ul ultramar. 2s terras, os !ardos, as cNres com

     !ostas não entravam no arco-íris econNmico 0ue5ar cia Hento es!remia no semicírculo da  !alheta.

    >m dia, diante de um f lam+oyant maravilhoso,de!ois de ter es !etado na areia os !es desmontáveisde sua velha cai3a, 5arcia Hento !rocurava em volta um lugar ade0uado onde  !udesse !endurar o seucasaco. m!aciente, atir ei o meu no chão e griteillle 0ue fi*esse o mesmo. Com um sorriso manso etriste, )le me ensinou 0ue o lir ismo não !odedis!en  sar a  !aci)ncia, e 0ue um casaco  bem

     !endurado  *0  um com)ço de arte. Yuando,enfim, se !unha a  !intar, dava gNsto ver a !recisãocom 0ue acer tava  o mati*, sem mastigar demais,sem co*inhar o tom, e, sobr etudo, a segurança com0ue a!licava na tela,  com a !onta da es!átula, oseu mosaico de tinta.

    /m +DI 5arcia Hento conseguiu reali*ar umsonho longamente acalentado. 5anhara o !r)mio deviagem ( /uro!a, e com a bolsa, 0ue em geral eraconsiderada insuficiente !ara um s$, levou a mulher e o filho, e assim mesmo )sses !oucos meses !ar ece-

    8/< 2=9S

    ram-lhe fr ias de ca!italista. Foi em #or tugal e na/s!anha 0ue 5arcia Hento !intou os seus melhores0uadros e foi lá, nesse breve descanso, 0ue )le !Ndecolher o seu fuga* 0uinhão de alegr ias terrestres.?oltou mais fir me na arte e um  !ouco mais forte

    no cor!o mas as !rivaç7es anter iores *0 tinham ar rematado a insidiosa cons!iração . Chegava tarde o !r)mio. Chegava tarde a relativa folga 0ue seusnovos amigos lhe  !ro!orcionavam . #oucos mesesde!ois, sentiu 0ue as fNrças declinavam r(!idamente,#re !arou ainda uma e3!osição na 5aleria org%e,onde conseguiu, !ela !rimeira ve*, vender mais demetade dos trabalhos . as o sucesso chegava tarde%tam bm . >m dia, Qá 0uase a encerrar a e3!osição.estando sentado no fundo da galeria, e com seu ar ha bitual, encolhido e triste, foi acometido  !or umasínco!e. 9 !or tugu)s 0ue vigiava a sala ffião chegoua tem!o de am !ará-lo: 5arcia Hento  Qa*ía de  bruços, im$vel, atirado no chão, entre seus 0uadros delu* e de alegria. 9s olhos largos e triste 0,tie se fechavam  !ara a ef )mera !alheta d)ste mundo,a briam-se !ara os abismos de esmeralda,  !ara oscus de eterno ultramar e !ara o f ulgor de cádmiodo Sol ncriado.

    -orr eu de fome4 -disse algum a meulado, 0uando fui ver o cor!o na sua casinha doSam !aio.Sim, de fome: dessa fome !rolongada, tena*, met$dica, !erseverante, 0ue obriga e 0ue a!risiona dessafome 0ue um regime e 0uase um !rograma dessarome de 0ue morr e mais da metade do mundo . asa f ome d)sse moço bom e manso foi fecunda, e fi-

    1.

    %,

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    K1 5>S&2?9 C9@AB9

    cou gravada !ara n$s com as cNres do arco-íris.  !oderia talve* ter comido .se não tivesse !intado,mas 2ntNnia 5arcia Hento o!tou !ela !intura e

     !ela fome. 2 C52@@2 / 2 F9@52

    Xoderníssima fábula destituída de 0ual0uerres0uício de moralidade]

    1

    4l.fl

     

    Cenário:  Amplo e mo$erno es%rit&rio. Poltronas $e formas au$a%iosas. Fapete %Gr $e ti@olo.

    ua$ros a+stra%ionistas. lores.  ) es#uer$a

    um enorme  bureau %o+erto $e pap'is! %ampainhas! +ot3es! aparelhos telefGni%os e elet rG

    ni%os. -o fun$o uma larga @anela $ei  ?an$o

    er arranha%'us e uma nesga $e mar.  ) $i 

    reita uma por ta. - o in8%io $a %ena! gor$a e

     pr&spera! a Cigarra est; a+rin$o sita %orres

     pon$n%ia. Em $os aparelhos eletrGni%os $;

    um sinal $is%reto e o altof alante anun%ia o

    isitante nmero LMK, hora mar%a$a + e KE,re%omen$a26o : 4inistro $a Iuerra! assunto :emprgo. A Cigarra tem um moimento $e

    enf a$o! mas aper ta um +ot6o e f ala $iante

    $o mi%rof one.

    Ci g arra

    - #ode entrar.

    ,or mi ga! entran$o timi$amente

    - Hoa tarde, dona Cigarra.

    C i garra

    - Yue veQo euZ C, est $ane toi! ma%here  Cornment a %e $role $e >a

    ontaine 

     

    t

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    KI 5>S&2?j C9@AU9

    ormiga

    - 2h4 não me fale dona Cigarra4 Foi um

    in  trigante . :5:le inventou a0uela hist$ria  !arame in

    + dis!or com a senhora... / não me fale em franc)s, !or favor, !or0ue at 0ue  *0 ando es0uecida. ?im !ara o Hrasil, naturali*ei-me. Sou uma !o bre for 

    l miga brasileira, e a0ui me chamam de saGva. 2. '

    ' senhora não imagina o 0ue eu tenho  !assado: umaverdadeira !r ovação. nventaram outra intriga:0ue sou eu, uma  !obre formiga, 0ue 0uero acabar com o Hrasil4 /3iste at uma frase . . .

    Cigarra

    -- /u sei. Sei tambm 0ue a senhora hoQe  uma !erseguida, 0ue o !obre a Fontainesaiu de  moda e 0ue os tem!os mudaramR. asnem !or isso  menos verdade 0ue a senhora metenha fechado a  !orta na cara na0uela noite deinverno.

    ormiga! %om um gemi$o.

    -2 senhora com!reende... os mausconselhos%..   as idias da !oca . . .

    Cigarra! +oa pessoa

    - as não falemos mais nessas misrias.Sen  te-se, sente-se a0ui dona Formiga.

    ormiga

    - sto uma !oltronaZ

    Cigarra

    - k. Sente-se. / conte-me o 0ue temf eito.  ?oc) está magra . . . ?amos, conte-mecomo vai andando sua vida.

    8/< 2=9S KL

    or·miga

    - /uZ Sem!re a mesma. &ra balhei. &raba  lhei.&rabalhei. 2 senhora sabe 0ue lá em casa so  mosmuitas  bNcas. / sou eu !ara tudo. < co  *inhar, lavar, arrumar o formigueiro. Fi* mui tossacrif ícios e consegui  !Nr de lado algumas economias . . .

    C igarra! saltan$o na %a$eira

    - /conomias4 /conomias4 ?oc) teve a cora  gem defa*er economias4 nsensata4 /ntão voc)  não sabe0ue dinheiro não se guardaZ =ão estu douZ  =ãosa be 0ue foi essa  !olítica econNmica 0ue  !erdeu a/s!anhaZ

    ormiga! $ e olhos +ai  ? os

    - #ois . Fi* economias, mas veio a inflação e  meudinheiro ficou sem valor .

    Cigarra

    - Claro4 Claríssimo4 / agoraZ

    ormiga

    - 2gora vim bater ( sua !orta  !ara  !edir   umem!r)go.

    Ci garra! solene

    - inha cara Formiga, se eu f Nsse rancorosar es !onderia assim : "2h 4 voc) f)* economias,então coma agora as suas a !$lices sem valor4" aseu  enho  bons sentimentos . 2  !ros!eridade tira ogNsto da desfor r a . ?ou arranQar-lhe um em!r)go.

    +

    +

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    44 5>S&2?9 C9@AB9

    H ormiga! aliia$a! olhan$o em olta

    - 2 senhora generosa. / como está  bem íns  talada,como isto a0ui  bonitoZ

    Cigarra

    - 9 escr it$rio confortável. á obser vou a  vista  !arao marZ

    Hormiga

    - >ma bele*a 4. . . &udo isto me dei3a tão ad mirada. . . 8iga-me uma coisa, dona Cigarra, e !er   doe-me a indiscreção: como foi 0ue a senhora fi  coutão ricaZ alguma herançaZ

    Cigarra! re%ostan$ose--  =ão. /u segui o seu conselho : dancei e

    cantei.

    Hormiga

    - 9ra, dona Cigarra, não *ombe de uma  !o   br eformiga necessitada .

    Cigarra

    - #alavra4 < a  !ur a verdade4 =os !r imeiros tem!os

    f oi muito difícil. 9 idiota do fabulista me  tinhadif amado. 9s tem!os er am de economia e !-de-meia. / eu andava de viola (s costas comouma  !obre mendiga . Cantei  barato. Cantei atde graça, !ara não !er der a vo* . Cantei !ara namorados em bancos de Qardins cantei em noitesde verão  !ara anunciar  bom tem!o e adormecer crianças. Cantei  !ar a  !oetas 0ue me roubaram as

    8/< 2=9S KE

    canç7es, as rimas, as imágens estivais, a dol)nciadas tardes mo+nas . /ntravam )les nas academiase eu ficava na rua. as os tem!os mudavam. #oucoa !ouco o mundo foi descobr indo a fNr ça da mGsica.

    #ouco a  !ouco o comrcio e a indGstria valor i*aram as cordas de minha viola. /ntr ei na #ro!aganda . #rimeiro fui speaJer de rádio . @imei sa

     bonetes, solf eQei  !urgativos,  !astas dentif rícias,em !r )sas f unerárias, meias de senhora, etc . Consegui assim o meu  !rimeiro milhão com o 0ual montei uma !e0uena estação. 9fereci então minha vo*aos  !oderosos, e cantei os regimes. / ai está4 8iaa dia o !oder dos  !oderosos vinha ref orçar minha

    viola. 6oQe controlo uma r)de de Broa$%asting (=como se di*] , com do*e canais, modulação de fre0V)ncia e televisão. 2liás, não gosto muito da televisão 0ue me !ar ece estar numa outra linha. 2minha fNrça a mGsica . ./u entro !elos ouvidos./stou in0uieta. . . mas não falemos disto. &emostem!o. 6o Qe eu sou  !oderosa, controlo as guerrase as eleiç7es. Sou !oderosíssima4

    ormiga! assusta$a

    - 8ona Cigarra4  =ão seria  bom a senh.ora ir dei3ando alguma coisa de lado, no seguro, casovenha a triunfar a tal televisãoZ

    Ci garra

    - á vem voc) com seu !-de-meia, com suaanti0uada economia . inha fortuna como a mGsica, =' fluida, feita de !alavras, de telef onemas,de canç7es. 2 economia moderna modulada. <

    :46 5>S&2?9

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    : C9@AB9

    8/< 2=9S K

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    uma economia de alta fr e0V)ncia . Se voc) me !er guntar de re!ente 0uantos  !rdios  !ossuo, eunão sa ber ei res!onder . < tudo f luente, areo .. . (Fo%a um telef one) "2lN4 2lN4 &r )s milh7esZ?enda. ?en- . da logo4" (1,o% a outro t elef one )"2lN4 Cigarra. Sim. Yuatro milh7esZ Com!re.9fereça tr)s. as com  !re". (Pon$o o fone nogan%ho) . São os meus cor  r etores . /u sou ummaestro e )les são os meus vio  linos. (Fo%aoutrp telefone) "2lNZ Yuin*e minutos  ( hora

    do Qantar Z 6einZ =ão  !ossível, 5eneral.&udo tomado. ComoZ @ evoluçãoZ #ressão sN breos  amer icanosZ ?ou  !ensar . ogo mais dar eiuma res  !osta . Hoa tar de, 5eneral". ( repon$oo fone) .  l4:le 0uer 0uin*e minutos . /u vendotem!o. ?endo  megaciclos. ?endo modulaç7 es .6á gente 0ue tem  conseguido for tuna vendendoágua com alguma  coisa dentro . /u vou maislonge, vendo minutos,  com mGsica dentro . /com isso vou am!arando os  regimes, im!edindo

    as revolu ç7es, e confortando os  soldados 0uemorreram no e3tremo oriente . . .

    or mi ga/stou tão  !er  !le3a, tão confusa, donaCi

    Cigarra

    -

    ?ou encaminhá-la  !ar a o8e!artamento de  Seleção de #essoal. . .as não se assuste4 < uma  sim!lesf ormalidade . &enho lá uns ra!a*es 0ue seentret)m fa*endo testes e estatísticas.#ossuímos  os melhores ar0uivos e os maisabundantes dados   !ara a seleção !rofissional. 20ui entre n$s, 0ue so  mosvelhas amigas, eu lhe digo sinceramente: naminha o!inião )sses calculistas são loucos,

    de uma  loucura semelhante (0uela 0ue lheatacou em ou  tros tem!os, 0uando voc) sea!egava aos nGmeros  e ( economia. :lesnão descobriram 0ue s$ e3iste  umarealidade: a f rase . Fa*em lá seus cálculos,ar 0uivam seus resultados, e disso tudo eutiro fra  ses4 frases4 frases4 8igo assim  !or e3em!lo: "  !re  ciso intr odu*ir naadministração !Gblica os mais  modernos !rocessos de seleção  !essoal, e os mais cientificas mtodos tra*idos  !ela análiseobQetiva e   !sicotcnica". 9u então:"8evemos  !lasmar uma nova mentalidade deservidor !G blico em consonRncia com os  !rogressos !sicol$gicos". Comfrases d)sse ti!o Xaliás eu tenho umde!artamento es

    .+

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    garr a 4

    #ois  !r eciso ada!tar -se.  =ão lhe aconselhoa dançar e cantar !or0ue voc) meiodesengonçada  e não tem vo* . .as hei de lhearranQa r uma ocu!a ção condi*ente com seus

     !ecialmente dedicado a descoberta de frases. .. ]  mas, di*ia eu, com frases assim n$smodificamos  ministrios, n$s desencadeamosguerras n$s mu damos a face da &erra

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    Ci g ar ra

    -

     

    arran Qa r uma ocu!a  ção condi*ente com seusdotes.

    H ormiga

    - 2 senhora tão boa4

    guerr as, n$s mu  damos a face da &erra.Frases4 Frases + . . . as o 0ue 0ue voc)está sentindoZ

    Pormi ga! $esf al e%en$o

    -/' fome, dona Cigarra4 #or favor,arranQe-m e  um !edaço de !ão 4

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    KM 5>S&2?9 C9@AB9

    Cig arra

    - #ão4 #ão4Z $ insensata, $ retr$gradaFor-, miga, tuandod a !rendder á =v c) o nov

    idioma e C],

     =9SS9S S/@?A9S #HC9S

    novo n mo o mun o+ ao !eça !ao, criatura. '  + 

    . +

    ,/>.'

    ,'4l

    #eça caviar. #eça marron-glac. (Fo%a um +ot6o efala $iant e $ e i im mi%rofone ) . "&ragam imediatamente o lanche recu!erador e vitaminado, nGme-ro MK-H-I. / açGcar, muito açGcar".

    Hormiga

    -  =ão sei como lhe agradecer, dona Cigarra.

    Ci g ar ra ,,

    -  =ão me fale. &rate de se r ecom !or e so bre- Xtudo de se ada!tar . ?eQa se consegue a!r eender % o r ítmo, o com!asso d)ste sculo de dança . . . Ho nita frase. 8ei3e-me tomar nota . 9lha, aí vemo seu lanche . 2 vontade Formiga, sem cerimNnia.

    ( C ai o  pano $eagar en#uant o a C igarratoma  not a $a f r ase! e a ormiga $i r igese

    %ura$a! su+alterna!  par a a mesa $o lan%he ) .

     A+ril ! +DEI

    9 f uncionamento dos ser viços !Gblicos um dos  !rimeiros sinais indicativos da saGde de um cor!o   !olítico . #or sua nature*a, e at diria  !or sua ine- %vitável magnitude, a em!r)sa 0ue distribui ela .multidão as utilidades essenciais torna-se um índi- % ce da reali*ação do bem comum e ser ve !ara a0ui 

    latar a situação !olítica e cultural de um !ovo . Se %um mdico fNsse chamado ( ca beceira de uma nação ,. com balida, dever ia, antes de 0ual0uer outra inves- % tigação, fa*er esta  !er gunta carinhosa : -/ então.   como vão seus bondes, seus telefonesZ &em des!eQado-  seu li3o com regularidadeZ / a águaZ &em ela a .

     !ressão suficiente  !ara atingir todos os  !ontos do organismoZ

     =ão chego a di*er 0ue o bom funcionamentodos serviços !Gblicos seQa !rova suficiente de saGde

     !olítica. #ode-se imaginar um !ovo bem servidonas coisas materiais e muito mal servido nas coisas0ue transcedem essas utilidades e 0ue constituem.e3ig)ncias maiores da nature*a humana.  =a 2lemanha na*ista, os trens eram  !ontualíssimos e '.]li3o era des !eQado com comovente r egularidade.2s má0uinas da civili*ação funcionavam  bem, en0uanto os dirigentes da disci!linada comunidade

     !re!ar avam um cataclisma, e em  !ouco tem !o anoOft Dr .$e.n .n.a*Qst.a se t+msf ormou na maises!an-

    K

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    E1 5>S&2?9 C9@AB9 D  ANOS   51

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    tosa desordem dos Gltimos sculos. as, se  !os- . sivel imaginar num !aís enlou0uecido a !erfeita re- ' gularidade dos serviços !Gblicos, im!ossível ima- % ginar uma !olítica saudável onde falta água, trans 

     !orte, comunicaç7es, e onde o li3o !ermanece es0ue % cido semanas a fio a em!estiar os 0uarteir7es. Com . mais rigor diremos 0ue o bom funcionamento dos ser vços  !Gblicos ,  !ara a saGde do cor!o  !olítico, condição necessária mas não suficiente.

    ?ista sob )sse Rngulo, !ssima a situação doHrasil .  =ossos serviços  !Gblicos f uncionam mal, muito mal, tão mal como se estivssemos há de* anos em guerra contra im!lacáveis inimigos. 2 ág%ua não corre, o li3o a!odrece diante das casas, e os bondes carregam gente com maior desconf Nrto do 0ue vag7es de gado, e não há o menor indício de 0ue venha a melhorar )sse estado de coisas. 2o contrár io, v)-se 0ue as medidas 0ue tomam os di rigentes tendem a agravar a situação, e v)-se -o 0ue ainda  !ior - 0ue o !ovo não dánenhum sinal de estima  !elos serviços  !Gblicos.6á !or  e3em!lo uma em!r)sa !articular 0ue

    e3!lora o ser  viço de fNrça e lu*,  bondes etelefones. /ssa em  !r)sa hostili*ada !ela o!inião !Gblica e !ela  !o lítica econNmica inflacionária. =ão tem a!oio na im!rensa !ara !oderreivindicar o chamado rea

     Q ustamento de tarifas 0ue a instabilidade da moedanacional reclama .  =ão !ode contar com o  !oder constituído  !ara af rontar a im!o!ular idade. / assim, entre dois fogos, a em !r)sa caminha !ara um

    im!asse, sem 0ue ningum se !reocu!e com o f u turo dos serviços !Gblicos Qá tão deficientes.

     =ão me comovo com a sorte da /m!r)sa e coma  !ros!eridade dos acionistas mas comovo-me com

    ++ sombria  !ers!ectiva de uma crescente dificuldadede vida causada  !elo em!erramento da má0uinados serviços !Gblicos. /, nesse caso, en0uanto nãome convenço da  !ossibilidade e das vantagens danacionali*ação e da sociali*ação de tais serviços,sinto minha sorte de muníci!e ligada ( sorte daem!r)sa e de seus acionistas . #ara ser sensato devodese Qar a !ros!eridade das em!r)sas 0ue nos ser vem ainda 0ue seQam estrangeiras e ca!italistas.

    S$ há dois modos de reali*ar serviços como o deuma rede telefNnica: ou entregamos o serviço a umaem!r)sa  !articular nacional ou estrangeira, ou então, como no caso do serviço  !ostal e telegráfico,toma o gov)rno a si o encargo da administração .

     =o  !rimeiro caso,  !ara atender convenientementeao bem comum, as tarifas devem ser remuneradorase fi3as durante um !ra*o longo, o 0ue s$  !ossívelfa*er em regime de moeda estável.  =o segundocaso as tarifas !odem ser  bai3as e at nulas Xcomo

    no ensino !rimário munici!al] !or0ue a subvençãod)sses serviços !ode ser coberta indir etamente !or outras f onte de receita . Cum!re entretanto notar 0ue não há nem !ode haver nenhum serviço absolutamente gratuito. /m economia, o serviço gratuito tão absurdo como o moto-contínuo em mecRnica. 9 0ue há  !agamento indireto, distribuído

     !or tNda a comunidade, e de tal forma orani*aY.o

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    0ue beneficie realmente as classes menos favorecidas. 8e 0ual0uer modo, !ago diretamente ou indiretamente, o 0ue im!orta 0ue o serviço seQa

     bem feito . 9 mais im!ortante numa escola  !Gbltca não 0ue se Q a gratuita, e sim 0ue seQa umaescola . 9 mais im!ortante num serviço telegráfico não o  !reço irris$rio 0ue custa um telegrama, e sim 0ue o telegrama chegue ao destinatário com uma brevidad e 0ue, ao menos a!ro3imadamente, lembre a velocidade da lu*. 2 idiade baratear ( custa das 0ualidades essenciais doserviço uma das mais difundidas e das mais nefastas em nossa terra. Yuerem todos os !residen

    tes e !refeitos transformar nossas cidades em  !araísos de gratuidades, e s$ conseguem r eali*ar infernos de dificuldad es crescentes. #ara não aumentar tarifas dos meios de trans!ortes dei3a-sea !o!ulação sem trans!ortes, ou !ermite-se )ssesimulacro em 0ue sofre a carne e a dignidade./m  !rincí!io admito, como disse atrás, 0ue umserviço !Gblico seQa deficitário !ara atender ( multidão dos desfavorecidos, mas tenho certa sus!eitade 0ue )sse  barato sáia caríssimo !ara o  !ovo.

    SeQa como fNr, e dei3ando de lado minhas sus !eitas sNbre a vantagem do !agamento indiret1.,uma coisa cer ta:  !ara 0ue o serviço  !Gblico  !ossa ser  bem administrado  !elo gov)rno  !reciso0ue )le fi0ue isento dos com!romissos  !olíticos,e 0ue a direção dos serviços seQa feita !or homens0ue conheçam bem a materia administrativa, enão !or homens 0ue tenham corr`do atr.ás çQ.o can%.

    clfdato durante a- cam!anha eleitoral., #ara. a di recão geral dos Correios e &elgraf os e

     !recisogu'm  0ue conheça os  !roblems, inda 0.ueos na% conheça como es!ecialista. 2 ideia do  !ur 

    d+ nistrador 0ue teria ca!acidade de adm+mstrar 0ual0uer coisa inteiramente insensata . .s chegar aos e3ageros do tecnicismo 0ue . e3+g+.na.u,m

    tcnico de tele-comunicaç7es !ara a diretona geraldos telgrafos, o bom senso nos di* 0ue ?, om administrador !recisa conhecer bem a maena ,a ser administrada . 9ra, o critrio 0ue !reside as escolhas !ara )sses cargos tem sido !urament  !olítico . 9uvi di*er 0ue a dir etor ia do 8C& vai sr oferecida a um homem do #@, como tem!os atrasfoi ofer ecida a um homem do sr . 2dernar de Har-ros . t %

    Costuma-se di*er 0ue o regime  !arlamen ans-ta instável  !or0ue a chefia. do gov)rno  !ode mudar duas ou tr)s v)*es num m)s '. as nosso r e

    gime  !residencialista muito mais mLtavel do -0eo franc)s ou o ingl)s, !or0ue a0ui nao muda so .ochef e do gov)rno . uda tudo . uda . a . cef:a

    do tráf ego, a direçã.o dos Correios, a

     !r esidec+a do Hanco do Hrasil, os chefes deeçao, e. ate .ssub-chef es e contínuos. 2 sucessao . !residencialtem o efeito de um ter remoto e o con+unto de ser 

    viços  !Gblicos, 0ue na França e na glaten:a. desafia im!(vidamente tNdas as oscilaçoe  !ollt+cas,sorre um !rof undo abalo ele ci:ico ei:n cmco anos:

    @ esumindo as consideraçoes feitas at a0ui,diremos 0ue as duas Gnicas alternativas  !ara o ser 

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    vço !G blico, a em!r )sa !articular e a admínistr ro  çaogovrnamental, encontr am atualmente e 'l. nosso !aisgraves im!edimentos !ara o  bom de se+ !enho de s starefas. 2 em!r )sa !articul sofr e . a onse uencias dainstabilidade da moedi a adm+mstraZ !Gblica sofre as

    conse0V)ncias dos com!ron:+ssos eleitorais.  =ão admira,assim. 0e andem tao mal. / não se v) a menor tend)n.  eiade melhor ia uma ve* 0ue, ao contr ário s agravan ascausas de  !erturbação. ' .

    . Sera interessante com !arar dois serviços s+%% m+ares,? telefone e o telgrafo, um em egimd m !rea  !articular, e outrn em regime de ad  mm+straçao

     !Gblica,  !ara melhor avaliarmos em cada modalidade, o graude morbide* de nosso' cor  !o !olítico . /' o 0ue !retendo fa*er no !r$3imo artigo.

    4ar2o! +DEJ

    .......

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    &/k5@2F9 /

    serviços de comunicaç7es telegrá ficas etelefNnicas, !ela semelhança de nature*ae  !ela dissemelhança dos regimesadministrativos  em 0ue se acham

    l d i f

    sistema telegráfico 0ue con  sistia em sinaisluminosos acesos nos montes. ais  tarde osromanos a!rimor ar am )sse telgrafo $tico  !or meiode combinaç7es de sinais corres!ondentes  (s letrasl lf b t / f i ) t l f i l i

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    9s

     nossos 

    colocados, !ermitem-nos fa*er   umacom!aração e chegar a uma conclusãono 0ue toca  bondade ou (malignidade d)sses regimes.  2ntesdisso,  !or m, será  !roveitoso rever r(!ida mente a hist$ria da tcnica das

    comunicaç7es .9  !roblema das comunicaç7es tem a

    idade do  homem. ?encer as distRncias, nãosomente  !ara o  trans!orte material mastambm !ara o contacto  dasintelig)ncias, uma das  !rimordiaisas!iraç7es  da alma humana. /m 6omero .encontramos men  ção de um rudimentar 

    elo alf a beto. / foi )sse telgraf o visual,  com maisalguns insignificantes melhor amentos,  0ue chegouat meados do sculo . 6á 0uem  imagine 0ueessa lentidão do  !rogresso tcnico nos  sculos

     !assados deva ser e3!licada  !ela menor   intelig)nciade nossos ante!assados ou  !ela nefasta  influ)ncia 0ue

    os #a!as ter iam e3er cido na civili  *ação ocidental. =o momento não  !osso atender   ao desaf io 0uetal idia me lança, e contento-me

    .,... ...-

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    com a e3!osição dos fatos. Faltava' 7: telegrafia O"agente ade0uado, como faltou nos sonhos aero

    náuticos de eonardo da ?inci o motor dee3!fosão.  ogo a!$s a descoberta da correnteeltrica, o t .  lgrao dá um salto enorme .Coube a um  !into1r%americano, Samuel orse, a gl$ria d)sse salto e% !oucos anos de!ois do estabelecimento da !rimeira:

    .linha telegráfica entre Pashington e Haltimor eíXlMKK] os fios telegráficos davam a volta ao mundo.20ui no Hrasil, graça ( clarivid)ncia de homens

    i como o ministro /usbio de Yueir$s e o Harão de tCa!anema, tivemos a !r imeira linha telegráfica ' lconstruída entre o 0uartel do Cam!o de Santanae a Yuinta m!erial, anos antes da aceitacão do

    invento !elo gov)rno franc)s. ,9 telef one, mais ainda do 0ue o telgrafo, es !erava !ela descoberta da corrente eltrica . l4"'oi5ranham Hell, c)rca de trinta anos de!ois deorse, 0ue demonstrou  !Gblicamente a !ossibili

    ,, dde de um circuito telefNnico. Com grande ra !ide*, como no caso anterior , surgiram !or tNdaa !arte centros telefNnicos locais e !e0uenas linhasinter-urbanas, mas as grandes distRncias resis

    ; 1 tiam mais ( comunicação telefNnica,  !or causa de

    sua maior com!le3idade, do 0ue haviam r esistido% ao telrfo de orse. Faltava o agente ade0uado,o am!lificador, !ara com!ensar as !erdas das iinhas muito longas.  =os  !rincí!ios de nosso sculo%.surge a lRm!ada eletrNnica, 0ue viria resolver 1, !roblema, e foi tambm nessa !oca 0ue se encon-.traram os dois elementos mar avilhosos 0ue iriam :

    %:9/< 2=9S- $'

    constituír o telgrafo%e% o telefone sem fio: a lRm !ada eletrNnica e as radiaç7es eletro-magnticas.uita gente  !ensou 0ue o rádio viria substituir com!letamente as linhas terr estres, tornando-asobsoletas. as a evolução da tcnica, !rovou 0uea eletrNnica e o uso das altas fre0V)ncias, em ve*de su!erar, vinha com!letar o !roblema das comunicaç7es em fios . 9 estado atual das comunicaç7es telegráficas e telefNnicas consiste numa es!cie de simbiose entre a tcnica do rádio e a tcnicadas comunicaç7es em fios. 9s chamados sistemasde ondas  !ortadoras  !er mitem, mediante o uso defai3as de fre0V)ncias deslocadas e filtradas, o trá : :fego de mGlti!los sinais no mesmo !ar de fios onde antigamente cor r ia uma s$ comunicação . 2 tcnica de comunicaç7es está neste  !onto: em!r)gode ondas !ortadoras no 0ue se refere áo mtodo detransmissão, e em!r)go de cabo coa3ial e microondas no 0ue se refere ao su!orte da0uelas ondas

     !ortadoras.2ntes de a!licarmos ao nosso caso essas consi

    deraç7es, lembremos ainda 0ue a telef onia consider(velmente mais com!le3a do 0ue a telegrafia.

    o sinal transmitido num sistema telegráfico de nature*a muito mais sim!les do 0ue o sinaltelefNnico. /n0uanto a oscilação eltrica, 0ue imitaas infle37es da vo* humana, tem finos mati*es deintensidade e co bre uma fai3a de fre0Vencia vintev)*es maior, o sinal telegráfico formado !or umc$digo de elementos de um sistema binário . @e-

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    sulta dísso o 0ue  *0 dissemos: a telefonia tremen% damente mais difícil do 0ue a telegrafia. .,

    ?amos agora (s com!araç7es entre as dois ser viços em nosso  !aís . 9 serviço telefNnico e3!lora-

    . do !or uma com!anhia  !ar ticular, 0ue, conforme 

    demonstração feita  !or inGmeros Qornalistas e tri4' 0  bunos, s$ visa o lucro. /ssa em!r)sa  !articular, .+ávida de lucro, ainda !or cima estrangeira, e, ',

    qor, c)rca de oito v)*es .maior4 / devemos lem brar 0ue )sses lugares são centros  !rodutores dematerial telef Nnico .

    1+%a, com tNda a sua malignidade e com tNdas

    as desvantagens criadas  !ela inflação, a Com!anhia &elef Nnica Hrasileira mantm em nosso territ$rio a mais moderna e eficiente a!arelhagem, 0ue

    assim sendo, como nos !rovam os !atriotas s$ visa em nada difere da 0ue usam os !aíses mais adi--·- "" ' .

    sugar nosso amado Hrasil em !roveito dos acionis- tascanadenses .

    8o 0ue venho escrevendo há vinte anos ouso.es!erar 0ue o leitor não me considere um defensor  do liberalca!italismo, nem me recuse o direito de  !roclamar o amor 

    0ue tenho ao meu !aís. /stou  !ronto a concordar com 0uemme a!ontar a malig nidade da organi*ação !articular e

    estrangeira 0ue e3!lora tão essenciais serviços !Gblicos noHrasil. Sou o !rimeiro a estranhar 0ue essa em!r)sa não ouse,

    não sei  !or 0ue, res!onsabili*ar, diretamente e lealmente, ogov)rno do  !aís  !ela instabilidade da moeda 0ue torna

    im!ossível a estabilidade de  tarifas, e, em ve* disso, siga umaoutra !olítica 0ue dei3a na o!inião !Gblica a im!ressão dehaver su  bornos cada ve* 0ue !rocura o mais indiscutlvel

    mente merecido aQustamento de tarif as. 8isse e re!ito:indiscutivelmente merecido aQustamento,  !ois convmlembrar 0ue a assinatura do telef one no @io ele aneiro uma das mais  baratas do mundo.  =a Hlgica, o !reço

    duas v)*es e meia maior em ondres, tr)s ou 0uatro v)*es em =ova

    .....,....

    +

    antados domundo.&emo

    oras, cabo coa3ial, onde  !odem . traf egar nove  centas e sessentacomunicaç7es simultRneas, e  brevemente teremos em f uncionamento os

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    um e0uívoco do 0ue  um !rogresso real, o8e!artamento de Correios e  &elgrafos estáatrasado mais de meio sculo, e  0uase se acha namesma situação 0ue tinha no  tem!o do m!rio./m +DKJ foi criado !or de creto o !lano #ostal

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    ssistemasdeondas !or 

    tad

    canais de micro-ondas.Yual , nesse mesmo tem!o, o estado da

    r)detelegráfica !atri$ticamente administrada

     !or di  retores gerais a!ontadosdiretamente !ela  !resid)n  cia da@e!GblicaZ  =ão contando algumasestaç7es de rádio, 0ue constituem mais

    /m +DKJ, foi criado, !or de  creto, o  !lano #ostal-&elegráfico, 0ue congregou e3  celentes tcnicos einiciou o !rimeiro !roQeto de um sistema de ondas !ortadoras .

    9 !roQeto foi estudado com com!et)ncia e condu*ido com entusiasmo, mas, at hoQe, em de* anos,en0uanto a Com!anhia &elefNnica reali*ava taref asde* ou vinte v)*es maiores, o sistema ainda nãoentrou em funcionamento4

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    / então, se admitirmos a malignidade intr ín-% seca daorgani*ação ca!italista se dermos !or !rovada a avide* de lucro, e mais a im!lacável indif e-% •rença 0ue a em!r)sa estrangeira nutre !elos destiinos desta infeli* re!Gblica sul-amer icana se, al:0i ' dessas ruindades essenciais, levarmos em conta as dificuldades tra*idas !ela inflação e se finalmente%tornarmos a lembrar 0ue a telef onia de* ou vinte  v)*es

    mais dif ícil do 0ue a telegrafia, então n$s con  cluir emos,irr esistivelmente, irretor0uivelmente,  0ue e3iste naadministração brasileira do serviço telegráfico um mal milv)*es maior do 0ue a avide*  dos ca!italistas estrangeiros ./'  !reciso imaginar   uma malignidade es!antosa, !rodigiosa, colossal,   !ara e3!licar convenientemente oatraso do serviço  dir igido  !or uma  !essoa escolhidadir etamente !elo  !residente da @e!Gblica em com!araçãocom ser   viço análogo, mas muito mais dif ícil, dir igido

     !or   inimigos do Hr asil .8essas consideraç7es não dedu*o o  !rincí!io  0ue

    atribui ( administração !Gblica uma essencial

    .

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    inca!

    e . 9utros e3em !los  !eleW mundo nos  !ro?ã.m-0ue a administração governamenta l dos  serviços !Gblicos !ode ser tão boa ou melhor do  0ue aadministração  !rivada. =ão há, !ois, uma  regrageral mandando entregar ( livre concorr)n cia e (s

    o atraso do 8e !artamento de Correios e &e  grafos a!enas o índice de um atraso mais grave.o veneno dos serviços vem de cima, dos ministr iose das !r esid)ncias . / tão violento 0ue 0uase seri-:imelhor 0ue o !residente eleito tivesse uma verba

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     !acidad

    geral mandando entregar ( livre concorr)n cia e (sem!r)sas ca!italistas a administração dos  serviços !Gblicos, mas há o fato !articular , o fato brasileiro, 0ue ser ve !ara a0uilatar o grau de mor  bide* !olítica a 0ue chegamos.

    .

    melhor 0ue o  !residente eleito tivesse uma ver  bavultosa, du*entos ou tre*entos milh7es de cr u*eiros,

     !ara distri buir entr e os com !anheiros de cam!a nhaeleitoral, em ve* de ter )sse !residente eleito o

     !r ivilgio de distribuir !or seus com!arsas os  !ostosde administração dos serviços  !Gblicos.

     A+ril! +DEJ

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    O MILAGRE DA BOA VONTADE

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    niciando hoQe uma colaboração semanal no 9 5sta$o $e 6o Paulo! 0uero  !edir ao leitor a li cença de escrever ora sNbre fatos, ora sNbre idias, ao sabor dos acontecimentos ou das cogitaç7es.  =ão digo 0ue vá fa*er da versatilidade um !rogra ma. 9 0ue !retendo a!enas, se me derem a !ermis são, estar neste canto do Qornal ( vontade, falan do de uma coisa hoQe, de outra amanhã, ou me lhor, na semana seguinte, sem obrigação de roteiro, nem com!romisso de g)nero literár io . Creio 0ue assim não me faltará assunto. =os dias grandes terei es!is$dios candentes a comentar, consideraç7es  !olíticas, econNmicas e sociol$gicas a tecer, e at a!$strof es a ver  berar contra o !oder !Gblico e nos dias mon$tonos sem!re terei uma rosa em minha mesa, uma criança ( mão, uma lembrança, um nada, e cuidarei de e3!lorar o imenso mundo das coisas  !e0ueninas, 0ue de onde se tiram as mais

     !roveitosas meditaç7es.  =ão  !recisarei assim de sancar algum bei de &unis como aconteceu ao /ça de Yueir$s, nem ficarei, como a mim Qá me tem acontecido muitas v)*es, a !rocurar assuntos subs tanciais e condignos 0ue recom!ensem a atenção do leitor e corres!ondam ( remuneração do  Qornal. @esta saber se conseguirei obter do leitor  !aulista tfl.manha benevol)ncia !ara tão vadios !ro!$sitos

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    de uma  !ena carioca . 9 0ue !osso !rometer, nestacolcha de retalhos 0ue começo a0ui a  !es!ontar, a unidade da linha com 0ue coso, mas isso mes-mo s$ com o tem!o se verá.

     *

    2liás, !or falar em leitor  !aulista e em escritor carioca, veio-me a idia de contar 0ue, umave* ao menos, a nossa anar0ui*ada e indolente me

    tr$!ole deu !rovas de uma efici)ncia 0ue nada ficoua dever ao 0ue seria se a0uilo 0ue a0ui se  !assouhouvesse ocor rido na o!erosa e dinRmica  !aulicia.

    @efiro-me ao congresso eucarístico, e mais  !ar ticularmente a )sse as!ecto de ordem e de $timoandamento 0ue tiveram os serviços da grande sole

    nidade . 8ei3o de lado a grande*a da significaçãoreligiosa do certame, 0ue Qá foi ob Qeto de outras  !u blicaç7es,  !ara cuidar es!ecialmente do desem!enho. Foi admirável. Foi comoventemente !erfeit7.2 com!le3idade de serviços mobili*ados, desde oenorme at)rro at o !e0uenino invento de  !a !el0ue servia de ventarola ou de guarda-sol desde adistribuição harmoniosa de tresentas mil  !artículas

    onsagradas at a ditribuição generosa de tresentas mil mer endas de criança desde a im!ressionan

    te bele*a do altar at a  !erfeição dos ser vços .Tlle:som, de lu* e de trl'].s!ortes em tudo, em todos os.detalhes, a ordem era tanta 0ue nos dava a !ouco !atri$tica im !r essão de não estarmos no Hrasil,e muito menos na sua desvairada ca!ital .

    /u 0ue sem!re temera a confusão, e com e3ce.l entes motivos, declarei-me logo vencido !elo reimltado. / ho. Qe ouso formular uma su. estão0ue

    talve* !areça esdrG3ula: se algum dia o Hrsil entrar em guerra com !aíses de alm-mar, e t+v:r ne%

    T

    cessidade de concertar uma vultosa o!eraçao dedesem bar0ue de tro!as, viveres e muniç7es, enre

    gue 1 ministro da guerra a direção d)sses srv+çosaos tr)s  bis!os e (s boas senhoras 0ue orgam*aram1 congresso eucarístico no !alácio São oa0uim.elhor do 0ue )les, e elas, não far iam decer to osmais eficientes estrategistas do mundo .

    Foi realmente uma  batalha, uma grande  ba-talha, o 0ue levaram a ca bo . á estavam os m..r uQos de guerr a a manobr ar a enorme vela donav+1ancorado, lá estavam as tr o!as de terra, os r efleto

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    res dos combates anti-ar eos, o ver de-oliva dos car r os de assalto e a  brancura das am bulRncias. &udoenfim 0ue entr a nas grandes o!eraç7es militares,e f uncionando  bem, r igor osamente de acNrdo comas  !r evis7es do comando. /3traviava-se uma ,c %i +

    ançaZ ogo os alto-f alantes circulavam a noticia, !ublicavam os sinais de identificação, at 0ue oslencos de um gru!o notifica,ssem o encontro daovelha tresmalhada. 8esf alecia uma senhor aZ o

    go a!arecia o mdico e a f armácia . / ssim as.0u:nhentas mil  !essoas aglomeradas sentiam-se guar   dadas, e  !odiam, com alma livre, cntregarseaore  colhimento !iedoso . / 0ue di*er das conf +ssoes co  lllidas  !elos  batedores de Cristo noim!rovi o ds  contriç7es sGbitasZ S$ eu, de ondeestav, .v+ mais  de uma dG*ia de cor!os, baleados

     !elo d+vmo  !er  dão, cair em de  Qoelhos diante deum conf essor saídonão sei de onde.

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    2ludi, há  !ouco, (s merendas distribuídas nodia da comunhão das crianças. evava eu as mi nhas e,  !elo sim, !elo não, lá me acautelara com um !e0ueno farnel. 6abituado (s soluç7es indivi- ]

    dualistas, e receando a demora da cerimNnia, dei3a ra-me guiar !elo adágio 0ue recomenda a ateus o cuidado dos seus . 2rr e!endi-me, 0uando vi 0uealgum cuidar a de todos. al terminava a missa' 

    chegavam viaturas do e3rcito, (s de*enas, carre gadas de sacos volumosos, e logo um regimento ele moças  ba+. +deirantes, bem escolhidas entre as de !ernas mais grossas e dorsos mais robustos, acer  cou-se dos carros do glorioso e3rcito brasileiro. Cada uma das moças toma nas costas um enorme : s:o, e 0uando algum varão, ve3ado com a dis!o s+çao delas, esboça um gesto de aQuda, encontra uma altiva relutRncia: o !Nsto era delas. / ade- . mais, se o  !eso dever as era gr ande, iria diminu indo !elas  brechas da generosidade, dei3ando de mão em mão um  !e0ueno saco de !a!el com asinsígnias do congresso  !or fora, e uma  boa ra.cão de biscoitos !or dentro . ,

    20uela guerra er a branca, era de !a* . Sem 

    regatear elogios aos organi*adores, devo entretan

    niram !ar a a !rocur a da !a* . Com as migalhas da boa-vontade, 0ue sem!r e sobeQam nos ban0uetesdos egoismos, estiver am a  !rocurar a conc$rdia,a  !a* do mundo, como se fNsse  !ossível armar em

    e0uilíbrio as fNrças 0ue dividem, 0ue se!aram, 0uedesagregam. / a mesma 5enebra, a erusalm doindividualismo, de onde saíram as f$rmulas maisinsensatas da filosofia do egoísmo, hos!eda os a!reensivos em bai3adores dos inter)sses em cho0ue . =ão sei o 0ue resultará d)sses conciliá bulos massei, !or0ue vi, o 0ue  !ode resultar 0uando os homens se entregam totalmente ( lei da boa-vontade.?i o 0uase milagre, ou milagre mesmo, ele uma or gani*ação monumental  !lenamente reali*ada, a0ui,

    entre n$s cariocas, 0ue somos reconhecidamentedesvair ados e dis!licentes.2inda guardo na retina o es!etáculo raro, diria

    at diver tido, suavemente irNnico, 0ue nos der amos marinheiros, a  !olícia, os soldados, os refletoresde guerra, e os im!onentes carros de assalto a ser viço do mais  !acífico dos reis .

     ulho! +DEE

    4'S  +

    to assinalar o mr ito !rinci!al do essencial #a

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    cif 

    icador 0ue

    multidão, f undido nas almas, a murmurar noín%  timo dos cor aç7es: KPa%em relin#uo o+i.s! pa%em meam $o o+is . . .".

    á no outro lado do mundo, nos mesmos dias,os  !oder osos senhores dos  !ovos tambm se r eu-

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    aliestava!r esente,es!alhadona

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     )2  !rimeira im!ressão colhida ao abordar aobra de on HloO, 0ue !erdur a, (s v)*es, não s(

    mente no es !írito de seus críticos, mas tambm node seus admir adores, a de um magnífico im!recador ou de um amargo revoltado . 9 0ue chama logoa atenção a veem)ncia, a viol)ncia, a trucul)ncia.HloO a!arece, !ara os 0ue o louvam e  !ara os 0ueo censuram, 0uase um  !rofeta ou 0uase umenergGmeno:  Quba er içada, olhar em  brasa, em  !

    entre dois sculos, n$s o vemos denunciando, a!ostrof ando, fustigando os homens, os costumes e asidias de seu tem!o. Hasta !r onunciar seu nomeem r odas liter árias !ar a 0ue cada um tenha umafrase sua a relem brar , contra a rainha ?it$ria,contra os  belgas em geral, contra 6uOsmans oucontra eão . Suas indignaç7es,  Qustas ouinQustas, são louvadas a0ui como e3em!los de sinceridade, e censuradas acolá como e3em!los de insubordinação . / muitos são os admírador es 0ueadmiram  Qu stamente o 0ue os outros r e !rovam,ficando assim tNda a obra e todo o de!oimento deon HloO ( merc) das inclinaç7es tem!eramentais./logiam uns a am!litude de seu rugido criticamou tros a as!ere*a de seus urros.

    ?ivemos numa !oca de ím!etos. 2 ?ontade, divini*ada, afirma sua !re!ond erRncia, !ara de-

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    sencadear e !ara encadear o delírio fascista ou o

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    sencadear e  !ara encadear o delírio fascista ou otor!or mar3ista, são e3!ress7es !ouco diferentes dbmesmo im!rio da vontade. 2 realidade substitu-se o dinamismo ( intelig)ncia substitui-se o gest1 e o grito e na mesma linha d)sse dinamismo esã 

    os amadores de im!recaç7es e os amadores de rn'or  daças. #or isso, a !artir da  !rimeira im!ressão 1os admiradores e os detratores de HloO se dividen:iem tNrno da a!reciação de seus ím!etos, dei3andode lado o conteGdo !ositivo da grande obra cristãonde a vontade est)ve sem!re, em cada !ágina, em

    t cada linha, humildemente submissa.

    Se eu conseguisse  !rovar cabalmente, nos es treitos limites d)ste !e0ueno estudo, 0ue a obra de HloO tão intelectual como a de aritain, embora: de um modo diferente, certo 0ue o nGmero de seus% admiradores volunt aristas e anticlericais ficaria consider(velmente redu*ido,  !or0ue o 0ue lhes  !a rece admirável, nesse ortodo3o, nesse dogmático, nesse obediente, a im!ressão, tão grata a nossos mil recal0ues, do indivíduo 0ue Xafinal4] rom!eu tNdas as barreiras 0ue travam nossos gestos e nos 

    sas !alavras. Foi um 0ue ousou4 Foi um 0ue sou-:  be di*er verdades -o 0ue muito mais es!etacular ' do 0ue di*er a verdade .

    • 3 32 segunda im!r essão, 0ue a meu ver ainda

    su!eliicial, mas um !ouco mais !rof unda, referese ( mensagem do !obre, do solitário, a!risionado,acorrentado, fi3ado no centro de sua misria . /o im!recador a!arece agora e3!licado: vocíf era !or-

    0ue tem de 0ue vocif erar grita !or0ue um mundoiní0uo o mantm no centro mesmo da misr ia ruge !or 0ue v) um filho morrer de fome e de f r io%.

    se a !rimeira im!r essão, 0ue se detinha namagnific)ncia dos clamores, se  !restava a um Qulgamento segundo as inclinaç7es da vontade, estasegunda im!ressão, da vocif eração motivada e e3

    4 .

     !licada, entrega a obra de HloO ( s)ca ra*ão 0ue racionali*a tNdas as atitudes e des!oQa o homem deseu mistr io .

    as a obra de HloO tem um conteGdo !ositivo,uma mensagem de intelig)ncia, uma !artícula d:::verdade eterna. =ão foi s$mente !ara  !assar trotesnos  belgas e fa*er  !irraças aos ingl)ses, não foi

    s$mente  !ara denunciar  !ro!rietários gananciosose bis!os 0ue se o!unham aos deseQos de =ossa Senhora, e3!ressos entre lágrimas em a Salette, não "foi somente !ara re!reender 6uOsmans ou maltratar Hourget (>,eimu#ue $es $ames) 0ue o #eregrino do 2bsoluto viveu sua longa vida de sofrimentos indi*íveis. Sua obra tem um conteGdo  !rinci!al,uma verdade 'bni!resente, um sentido, uma idiaclara e constante, tão constante, tão clara, tão evi

    dente, 0ue se torna invisível, como o mistrio invisível, como o sol invisível. / eu diria, com amais firme convicção, 0ue )sse nGcleo sim!lesmente o nono artigo do sím bolo elos a!$stolos: aComunhão dos Santos.

    2travs de cem mil acidentes, em todos osseus livros, e  !rinci!almente em seu  Qornal X0ue ameu ver a  !arte !rinci!al de sua obra] , corre o

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