If you can't read please download the document
Upload
lammien
View
223
Download
3
Embed Size (px)
Citation preview
ADEMILSON RODRIGUES DOS SANTOS
DIAGNSTICO INSTITUCIONAL DOS FATORES QUE CONCORREM PARA O ISOMORFISMO DAS PRTICAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL UTILIZADAS
PELAS ORGANIZAES DO SETOR ELTRICO BRASILEIRO
Dissertao apresentada como requisito parcial
obteno do grau de Mestre. Programa de
Mestrado em Contabilidade do Setor de
Cincias Sociais Aplicadas da Universidade
Federal do Paran.
Orientador: Prof. Dr. Lauro Brito de Almeida
CURITIBA
2008
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN
SETOR DE CINCIAS SOCIAIS APLICADAS
MESTRADO EM CONTABILIDADE
REA DE CONCENTRAO: CONTABILIDADE GERENCIAL
DISSERTAO DE MESTRADO
DIAGNSTICO INSTITUCIONAL DOS FATORES QUE CONCORREM PARA O
ISOMORFISMO DAS PRTICAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL UTILIZADAS
PELAS ORGANIZAES DO SETOR ELTRICO BRASILEIRO
ADEMILSON RODRIGUES DOS SANTOS
CURITIBA
2008
ADEMILSON RODRIGUES DOS SANTOS
DIAGNSTICO INSTITUCIONAL DOS FATORES QUE CONCORREM PARA O ISOMORFISMO DAS PRTICAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL UTILIZADAS
PELAS ORGANIZAES DO SETOR ELTRICO BRASILEIRO
Dissertao apresentada como requisito parcial
obteno do grau de Mestre. Programa de
Mestrado em Contabilidade do Setor de
Cincias Sociais Aplicadas da Universidade
Federal do Paran.
Orientador: Prof. Dr. Lauro Brito de Almeida
CURITIBA
2008
A Deus, aos meus pais, minha esposa, e aos meus amigos... Companheiros de todas as horas...
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Orientador pelos insights valiosos em todas as etapas deste trabalho.
A minha famlia, em especial minha me Maria do Rosrio dos Santos pela
confiana e certeza de que seria possvel superar os limites.
Aos amigos e colegas, pela fora e pela vibrao em relao a esta jornada.
Aos professores e colegas de Curso, pois juntos vencemos mais uma etapa
importante de nossas vidas.
Aos profissionais que responderam os questionrios da pesquisa pela concesso de
informaes valiosas para a realizao deste estudo.
A todos que, com boa inteno, colaboraram para a realizao e finalizao deste
trabalho.
Aos que no impediram a finalizao deste estudo.
Ao companheiro de todas as horas Rgis Garcia, pois sabemos que nos momentos
difceis a amizade faz a diferena.
Em especial a minha esposa Eliane Aparecida Chalupa dos Santos pela fora,
carinho e disposio diante das dificuldades.
Where do interests come from? Do they stem from human nature or are they culturally constructed?
W. Richard Scott
RESUMO
Identifica os fatores que concorrem para o isomorfismo das prticas de contabilidade gerencial utilizadas pelas organizaes do Setor Eltrico brasileiro segundo os pressupostos tericos da Teoria Institucional. Caracteriza-se como pesquisa qualitativo-quantitativa, exploratrio-descritiva, bibliogrfica, levantamento, e tcnica de coleta de dados questionrio. Utiliza-se de novas abordagens tericas para estudar prticas de contabilidade gerencial. Os enfoques da Velha Economia Institucional (Old Institutional Economics - OIE) e Nova Sociologia Institucional (New Institutional Sociology - NIS) so utilizados para diagnosticar os fatores que concorrem para o isomorfismo das prticas de contabilidade gerencial no Setor Eltrico brasileiro. Elabora o modelo conceitual da pesquisa com base nos construtos de DiMaggio e Powell, Oliver, Scapens e Burns e Scapens. Evidncias empricas demonstram que os fatores que concorrem para o isomorfismo das prticas de contabilidade gerencial para vinte e seis organizaes analisadas so causa-eficincia, constituinte-multiplicidade, contedo-consistncia, controle-difuso, e contexto-interconectado. Em segundo plano causa-legitimidade, constuinte-dependncia, contedo-restrio, controle-coero, contexto-incerto tem potencial para exercer influncia no ambiente analisado. As respostas estratgicas aos fatores preditivos do comportamento organizacional so aquiescncia e compromisso. Estratgias de resistncia mais ativa no se manifestaram tais como esquivana, desafio e manipulao. Infere-se que os respondentes aceitam as prticas de contabilidade gerencial com baixa resistncia com aquiescncia e compromisso. Conclui a partir do diagnstico dos fatores que concorrem para o isomorfismo das prticas de contabilidade gerencial no Setor Eltrico brasileiro que as tcnicas de contabilidade gerencial mais utilizadas so convencionais, esto presentes nas rotinas dirias das organizaes e so aceitas com poucos questionamentos. Desafiam o argumento de que no so adequadas ao ambiente analisado, em que predomina a adequao econmica (eficincia) e presso de mltiplos constituintes, e se apiam na difuso voluntria de normas em um contexto interconectado. Palavras-chave: Teoria Institucional; Instituies, Prticas de Contabilidade Gerencial, Fatores Preditivos, Presses Institucionais.
ABSTRACT
It identifies the factors that contribute to the isomorphism of the management accounting practices used by Brazilian Electrical Industry organizations according to theoretical assumptions of the Institutional Theory. It is characterized as qualitative-quantitative research, exploratory, descriptive, literature research, survey, and questionnaire technique. It uses new theoretical approaches to study management accounting practices. The approaches of the Old Institutional Economics (OIE) and New Institutional Sociology (NIS) are used to diagnose the factors that contribute to the isomorphism of the management accounting practices in the Brazilian Electrical Industry. Draw up the conceptual framework based on the constructs of DiMaggio and Powell, Oliver, Scapens and Burns and Scapens. Empirical evidences show that the factors that contribute to the isomorphism of the management accounting practices for twenty-six organizations analyzed are cause-efficiency, constituents-multiplicity, content-consistency, control-diffusion, and context-interconnectedness. In the background cause-legitimacy, constituents-dependence, content-constraints, control-coercion, context-uncertainty has the potential to exert influence on the environment analyzed. The answers to the predictive strategic factors of organizational behavior are acquiescence and compromise. Strategies of more active resistance are not observed such as avoidance, defy and manipulate. It follows that the respondents accept the management accounting practices with low resistance with acquiescence and compromise. Concludes from the diagnosis of the factors that contribute to the isomorphism of the management accounting practices in the Brazilian Electric Industry that the management accounting techniques most used are conventional, are present in the organizations daily routines and are accepted with few questions. Defy the argument that they are not suitable to the environment in analysis, in which dominates the economic fitness (efficiency) and multiple constituent pressures, and are based on the voluntary dissemination of standards in an interconnectedness context. Key words: Institutional Theory; Institutions; Management Accounting Practices; Predictive Factors; Institutional Pressures.
LISTA DE QUADROS
QUADRO 01 - PRINCIPAIS AUTORES CITADOS EM CADA ABORDAGEM TERICA ...32
QUADRO 02 - QUADRO TERICO DA PESQUISA ...........................................................57
QUADRO 03 - TRS PILARES DAS INSTITUIES .........................................................61
QUADRO 04 - TCNICAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL: TRADICIONAL-
CONTEMPORNEAS.......................................................................................73
QUADRO 05 - TCNICAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL: ESTGIOS EVOLUTIVOS74
QUADRO 06 - PROJETO DO SISTEMA DE CONTROLE GERENCIAL: INFORMAO-
TCNICAS ........................................................................................................75
QUADRO 07 - FERRAMENTAS E SISTEMAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL EM
ESTUDO ...........................................................................................................76
QUADRO 08 - TRS MECANISMOS DE PRESSO INSTITUCIONAL ISOMRFICA ......87
QUADRO 09 - PREDITORES DO ISOMORFISMO .............................................................89
QUADRO 10 - CONSTRUTO DA PESQUISA......................................................................91
QUADRO 11 - RESPOSTAS ESTRATGICAS AO PROCESSO INSTITUCIONAL ...........92
QUADRO 12 - ANTECEDENTES DAS RESPOSTAS ESTRATGICAS ..........................100
QUADRO 13 - QUESTES PRECEDENTES DAS RESPOSTAS ESTRATGICAS........100
QUADRO 14 - ANTECEDENTES INSTITUCIONAIS E PREDITORES DAS RESPOSTAS
ESTRATGICAS ............................................................................................101
QUADRO 15 - HIPTESES PREDITIVAS DO COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL102
QUADRO 16 - PESQUISAS SOBRE PRTICAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL NO
BRASIL ...........................................................................................................117
QUADRO 17 - EVOLUO DO ARRANJO ORGANIZACIONAL (INSTITUCIONAL) DO
SETOR ELTRICO BRASILEIRO ..................................................................135
QUADRO 18 - DIRECIONADORES DE CONVERGNCIA DAS PRTICAS DE
CONTABILIDADE GERENCIAL .....................................................................137
QUADRO 19 - METODOLOGIA DA PESQUISA................................................................153
QUADRO 20 - QUESTES SOBRE OS OBJETIVOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL
........................................................................................................................156
QUADRO 21 - QUESTES SOBRE AS TCNICAS E SISTEMAS DE CONTABILIDADE
GERENCIAL EM ESTUDO .............................................................................156
QUADRO 22 - QUESTES SOBRE OS ANTECEDENTES DAS RESPOSTAS
ESTRATGICAS ............................................................................................157
QUADRO 23 - QUESTES SOBRE AS RESPOSTAS ESTRATGICAS AO PROCESSO
INSTITUCIONAL.............................................................................................157
QUADRO 24 - QUESTES SOBRE AS PRESSES ISOMRFICAS COERCITIVAS,
NORMATIVAS E MIMTICAS ........................................................................158
QUADRO 25 - ESCALA TERICA E ESCALA INSTRUMENTAL .....................................164
QUADRO 26 - QUESTO 4: FATORES PREDITIVOS DO COMPORTAMENTO
ORGANIZACIONAL ........................................................................................182
QUADRO 27 - ESCALA TERICA DOS FATORES PREDITIVOS E ESCALA
INSTRUMENTAL ............................................................................................184
QUADRO 28 - EXEMPLOS DE TTICAS DAS ESTRATGIAS DA QUESTO CINCO ..187
QUADRO 29 - RESPOSTAS ESTRATGICAS PREVISTAS............................................191
QUADRO 30 - SNTESE DAS RESPOSTAS ESTRATGICAS PREVISTAS ...................191
QUADRO 31 - SNTESE DA ADERNCIA DAS ESTRATGIAS NAS ORGANIZAES
INVESTIGADAS..............................................................................................192
QUADRO 32 - RESPOSTAS ESTRATGICAS CONSTATADAS COMPARADAS COM AS
PREVISTAS ....................................................................................................193
QUADRO 33 - FATORES PREDITIVOS ADERENTES X RESPOSTAS ESTRATGICAS
CONSTATADAS .............................................................................................193
QUADRO 34 - ESCALA TERICA ABREU (2006) E ESCALA INSTRUMENTAL ............198
LISTA DE TABELAS
TABELA 01 - RESUMO DO PROCESSO DE COLETA DE DADOS .................................163
TABELA 02 - ATIVIDADE ECONMICA DAS ORGANIZAES INVESTIGADAS..........167
TABELA 03 - MACRO-REGIES EM QUE ATUAM AS ORGANIZAES INVESTIGADAS
........................................................................................................................167
TABELA 04 - CONTROLE DO CAPITAL SOCIAL .............................................................168
TABELA 05 - POSSUI AES NEGOCIADAS EM BOLSAS DE VALORES....................168
TABELA 06 - IDADE DOS RESPONDENTES ...................................................................169
TABELA 07 - MAIOR NVEL EDUCACIONAL DOS RESPONDENTES ............................170
TABELA 08 - H QUANTO TEMPO REALIZOU O LTIMO CURSO ACADMICO ........170
TABELA 09 - REA FUNCIONAL DOS RESPONDENTES...............................................170
TABELA 10 - EXPERINCIA DOS RESPONDENTES NA ATUAL REA FUNCIONAL...170
TABELA 11 - H QUANTO TEMPO OS RESPONDENTES TRABALHAM NA
ORGANIZAO..............................................................................................171
TABELA 12 - H QUANTO TEMPO OS RESPONDENTES EXERCEM A ATUAL FUNO
NA ORGANIZAO........................................................................................171
TABELA 13 - QUANDO OCORREU A LTIMA MUDANA NA CONTABILIDADE
GERENCIAL ...................................................................................................172
TABELA 14 - AGENTE DA MUDANA NA CONTABILIDADE GERENCIAL DAS
ORGANIZAES INVESTIGADAS................................................................173
TABELA 15 - OBJETIVOS QUE A CONTABILIDADE GERENCIAL VISA ATENDER NAS
ORGANIZAES INVESTIGADAS................................................................174
TABELA 16 - OBJETIVOS QUE A CONTABILIDADE GERENCIAL VISA ATENDER NAS
ORGANIZAES INVESTIGADAS (ESCALA TERICA) .............................174
TABELA 17 - TCNICAS CONVENCIONAIS DE CONTABILIDADE GERENCIAL...........176
TABELA 18 - TCNICAS CONVENCIONAIS DE CONTABILIDADE GERENCIAL (ESCALA
TERICA) .......................................................................................................177
TABELA 19 - NOVAS TCNICAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL ............................177
TABELA 20 - NOVAS TCNICAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL (ESCALA TERICA)
........................................................................................................................178
TABELA 21 - TABULAO CRUZADA NEGOCIA AES EM BOLSAS DE VALORES E
NOVAS-EBITDA .............................................................................................179
TABELA 22 - FATORES PREDITIVOS DO COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL....183
TABELA 23 - FATORES PREDITIVOS DO COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL
(ESCALA TERICA).......................................................................................184
TABELA 24 - ADERNCIA DOS FATORES PREDITIVOS ...............................................185
TABELA 25 - ESTRATGIAS E TTICAS NAS ORGANIZAES INVESTIGADAS .......188
TABELA 26 - ESTRATGIAS E TTICAS NAS ORGANIZAES INVESTIGADAS .......188
TABELA 27 - ESTRATGIAS E TTICAS NAS ORGANIZAES INVESTIGADAS
(ESCALA TERICA).......................................................................................189
TABELA 28 - ESTRATGIAS E TTICAS NAS ORGANIZAES INVESTIGADAS
(ESCALA TERICA).......................................................................................189
TABELA 29 - ADERNCIA DAS ESTRATGIAS E TTICAS...........................................192
TABELA 30 - TABULAO CRUZADA CAUSA-EFICINCIA-ALTA E PRTICAS DE
CONTABILIDADE GERENCIAL CONVENCIONAIS ......................................201
TABELA 31 - TABULAO CRUZADA CONSTITUINTE-MULTIPLICIDADE-ALTA E
PRTICAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL CONVENCIONAIS .............201
TABELA 32 - TABULAO CRUZADA CAUSA-CONSISTNCIA-ALTA E PRTICAS DE
CONTABILIDADE GERENCIAL CONVENCIONAIS ......................................201
TABELA 33 - TABULAO CRUZADA CONTROLE-DIFUSO-ALTA E PRTICAS DE
CONTABILIDADE GERENCIAL CONVENCIONAIS ......................................202
TABELA 34 - TABULAO CRUZADA CONTEXTO-INTERCONECTADO-ALTA E
PRTICAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL CONVENCIONAIS .............202
TABELA 35 - TABULAO CRUZADA CAUSA-EFICINCIA-ALTA E PRTICAS DE
CONTABILIDADE GERENCIAL NOVAS........................................................203
TABELA 36 - TABULAO CRUZADA CONSTITUINTE-MULTIPLICIDADE-ALTA E
PRTICAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL NOVAS...............................203
TABELA 37 - TABULAO CRUZADA CONTEDO-CONSISTNCIA-ALTA E PRTICAS
DE CONTABILIDADE GERENCIAL NOVAS..................................................204
TABELA 38 - TABULAO CRUZADA CONTROLE-DIFUSO-ALTA E PRTICAS DE
CONTABILIDADE GERENCIAL NOVAS........................................................204
TABELA 39 - TABULAO CRUZADA CONTEXTO-INTERCONECTADO-ALTA E
PRTICAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL NOVAS...............................205
TABELA 40 - TABULAO CRUZADA CAUSA-EFICINCIA E NOVAS-BENCHMARKING
........................................................................................................................205
TABELA 41 - TESTE CHI-QUADRADO CAUSA-EFICINCIA E NOVAS-BENCHMARKING
........................................................................................................................206
TABELA 42 - TABULAO CRUZADA CONTEDO-CONSISTNCIA E CONVENCIONAIS-
ORAMENTO.................................................................................................206
TABELA 43 - TESTE CHI-QUADRADO CONTEDO-CONSISTNCIA E CONVENCIONAIS-
ORAMENTO.................................................................................................207
TABELA 44 - TABULAO CRUZADA CONTEDO-CONSISTNCIA E CONVENCIONAIS-
PESTRATGICO ............................................................................................207
TABELA 45 - TESTE CHI-QUADRADO CONTEDO-CONSISTNCIA E CONVENCIONAIS-
PESTRATGICO ............................................................................................208
TABELA 46 - TABULAO CRUZADA CONTROLE-DIFUSO E NOVAS-BENCHMARKING
........................................................................................................................208
TABELA 47 - TESTE CHI-QUADRADO CONTROLE-DIFUSO E NOVAS-
BENCHMARKING ...........................................................................................209
TABELA 48 - TABULAO CRUZADA CONTEXTO-INTERCONECTADO E
CONVENCIONAIS-AVALIAO.OR ..............................................................209
TABELA 49 - TESTE CHI-QUADRADO CONTEXTO-INTERCONECTADO E
CONVENCIONAIS-AVALIAO.OR ..............................................................210
TABELA 50 - TABULAO CRUZADA CONTEXTO-INTERCONECTADO E
CONVENCIONAIS-LR.ROE.ROA...................................................................210
TABELA 51 - TESTE CHI-QUADRADO CONTEXTO-INTERCONECTADO E
CONVENCIONAIS-LR.ROE.ROA...................................................................211
TABELA 52 - TABULAO CRUZADA CONTEXTO-INTERCONECTADO E
CONVENCIONAIS-ORAMENTO .................................................................211
TABELA 53 - TESTE CHI-QUADRADO CONTEXTO-INTERCONECTADO E
CONVENCIONAIS-ORAMENTO .................................................................212
TABELA 54 - TABULAO CRUZADA CONTEXTO-INTERCONECTADO E NOVAS-
EVA.MVA ........................................................................................................212
TABELA 55 - TESTE CHI-QUADRADO CONTEXTO-INTERCONECTADO E NOVAS-
EVA.MVA ........................................................................................................213
LISTA DE SIGLAS
ABB - Activity-based budgeting
ABC - Activity Based Costing
ABM - Activity Based Management
ABNT - Associao Brasileira de Normas Tcnicas
ABRACONEE - Associao Brasileira dos Contadores do Setor de Energia Eltrica
ABRADEE - Associao Brasileira de Distribuidores de Energia Eltrica
ANEEL - Agncia Nacional de Energia Eltrica
AOS - Accounting, Organizations and Society
BSC - Balanced Scorecard
CFC - Conselho Federal de Contabilidade
CNPJ - Cadastro Nacional de Pessoa Jurdica
CRC - Conselho Regional de Contabilidade
CVM - Comisso de Valores Mobilirios
EBITDA - Earning Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization
ERP - Enterprise Resource Planning
EVA - Economic Value Added
FCD - Fluxo de Caixa Descontado
FEA - Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade
GECON - Gesto Econmica
IBRACON - Instituto dos Auditores Independentes do Brasil
IFAC - International Federation of Accountants
JIT - Just in Time
JMAR - Journal of Management Accounting Research
LAJIDA - Lucro antes dos Juros, Impostos, Depreciao e Amortizao
LR - Lucro Residual
MAR - Management Accounting Research
MME - Ministrio de Minas e Energia
MVA - Market Value Added
NIE - New Institutional Economics
NIS - New Institutional Sociology
OIE - Old Institutional Economics
ONS - Operador Nacional do Sistema Eltrico
OSCIP - Organizao da Sociedade Civil de Interesse Pblico
PL - Patrimnio Lquido
RKW - Reinchskuratorium fuer Winrtschaftlichtkeit
ROA - Return on Asset
ROE - Return on Equity
ROI - Return on Investment
ROS - Return on Sales
S.D. - Standard Deviation
SEC - Securities and Exchange Commission
SIN - Sistema Interligado Nacional
TCE - Transaction Cost Economics
TOC - Teoria das Restries
UFPR - Universidade Federal do Paran
USP - Universidade de So Paulo
LISTA DE ABREVIATURAS
aciclops - Anlise do Ciclo de Vida do Produto e/ou Servio
acvl - Anlise de custo-volume-lucro
alps - Anlise de Lucratividade do Produto e/ou Servio
avaliao.or - Avaliao Oramentria
bench - Benchmarking
cpadro - Custo-Padro
lr/roe/roa - Lucro Residual/Return on Equity/Return on Asset
p.estratgico - Planejamento Estratgico
pt - Preo de Transferncia
targetc - Target-Costing
tpo - Tcnicas de Pesquisa Operacional
SUMRIO
1 INTRODUO ..................................................................................................... 17 1.1 CARACTERIZAO DO PROBLEMA DE PESQUISA .................................................... 18
1.1.1 Motivao da pesquisa................................................................................... 18
1.1.2 Questo de pesquisa...................................................................................... 32
1.1.3 Objetivos: geral e especficos......................................................................... 33
1.1.4 Justificativas e contribuies .......................................................................... 34
1.1.4.1 O setor eltrico brasileiro............................................................................. 41
1.2 ESTRUTURA DA DISSERTAO.............................................................................. 44
2 MARCO TERICO DA PESQUISA ..................................................................... 46 2.1 TEORIA INSTITUCIONAL......................................................................................... 46
2.1.1 Breve desenvolvimento histrico da vertente econmica da Teoria Institucional
.............................................................................................................. 47
2.1.2 Breve desenvolvimento histrico da vertente sociolgica da Teoria Institucional
.............................................................................................................. 54
2.2 INSTITUIO SOCIAL: CONCEITO ........................................................................... 58
2.2.1 Primeiras impresses sobre as instituies sociais........................................ 58
2.2.2 Instituies sociais para o enfoque de pesquisa com abordagem institucional59
2.3 CONTABILIDADE GERENCIAL COMO UMA INSTITUIO: A PERSPECTIVA DA OIE........ 62
2.3.1 Contabilidade gerencial e Teoria Institucional ................................................ 63
2.3.1.1 A contabilidade gerencial como uma rotina................................................. 67
2.3.2 Prticas de contabilidade gerencial ................................................................ 72
2.4 NOVA SOCIOLOGIA INSTITUCIONAL (NIS) PARA O ENFOQUE DE PESQUISA EM
CONTABILIDADE GERENCIAL ..................................................................... 77
2.4.1 Distino entre ambientes institucionais e tcnicos ....................................... 78
2.4.2 O conceito de legitimidade ............................................................................. 78
2.4.3 Introduo de elementos estruturais .............................................................. 79
2.4.4 Delimitao dos elementos ambientais .......................................................... 80
2.4.5 Abordagem de DiMaggio e Powell (1983) ...................................................... 82
2.4.5.1 Trs mecanismos de mudana institucional isomrfica............................... 84
2.4.5.2 Elementos que permitem predizer a mudana isomrfica........................... 88
2.5 ABORDAGEM DE OLIVER (1991) ........................................................................... 89
2.5.1 Tipologia das respostas estratgicas ao processo institucional ..................... 91
2.5.2 Preditores de respostas estratgicas ............................................................. 99
2.6 ESTADO DA ARTE DAS PESQUISAS SOBRE O TEMA: PRTICAS DE CONTABILIDADE
GERENCIAL E TEORIA INSTITUCIONAL ...................................................... 112
2.6.1 Pesquisas sobre prticas de contabilidade gerencial no Brasil .................... 112
2.6.2 Pesquisas sob o enfoque da Teoria Institucional: internacionais e nacionais118
2.6.2.1 Evidncias empricas internacionais ......................................................... 118
2.6.2.2 Evidncias empricas nacionais ................................................................ 126
3 O SETOR ELTRICO BRASILEIRO ................................................................. 130 3.1 EVOLUO DO SETOR ELTRICO BRASILEIRO...................................................... 130
4 METODOLOGIA ................................................................................................ 140 4.1 MODELO CONCEITUAL DA PESQUISA................................................................... 140
4.1.1 Definio dos conceitos utilizados na pesquisa ........................................... 142
4.2 CARACTERIZAO DO MARCO TERICO METODOLGICO DE PESQUISA ................ 146
4.2.1 Plo metodolgico........................................................................................ 147
4.2.2 Plo tcnico.................................................................................................. 151
4.2.2.1 Tcnicas de coleta de dados..................................................................... 152
4.3 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA....................................................................... 154
4.3.1 Populao objeto de estudo ......................................................................... 154
4.3.2 Trajetria da pesquisa.................................................................................. 155
4.3.2.1 Questes sobre as prticas de contabilidade gerencial ............................ 155
4.3.2.2 Questes sobre os fatores preditivos e respostas organizacionais........... 156
4.3.2.3 Questes sobre as presses coercitivas, normativas e mimticas ........... 158
4.3.2.4 Escalas e nveis de mensurao das variveis ......................................... 159
4.3.2.5 Pr-teste do questionrio da pesquisa ...................................................... 161
4.3.3 Processo de coleta de dados ....................................................................... 162
4.4 TRATAMENTO DOS DADOS.................................................................................. 164
5 RESULTADOS DA PESQUISA ......................................................................... 166 5.1 CARACTERIZAO DA AMOSTRA E DOS RESPONDENTES ...................................... 166
5.1.1 Perfil das organizaes investigadas ........................................................... 167
5.1.2 Perfil dos respondentes................................................................................ 169
5.2 PRTICAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL NO SETOR ELTRICO BRASILEIRO........ 172
5.2.1 Mudana e agente de mudana ................................................................... 172
5.2.2 Objetivos das prticas de contabilidade gerencial utilizadas........................ 173
5.2.3 Tcnicas e sistemas de contabilidade gerencial utilizados........................... 175
5.3 TIPOLOGIA DAS RESPOSTAS ESTRATGICAS AO PROCESSO INSTITUCIONAL NO SETOR
ELTRICO BRASILEIRO ........................................................................... 181
5.3.1 Respostas estratgicas s presses e exigncias institucionais.................. 187
5.3.1.1 Antecedentes institucionais e prognsticos das respostas estratgicas ... 190
5.3.2 Grau de institucionalizao dos respondentes ............................................. 198
5.4 ASSOCIAO ENTRE FATORES PREDITIVOS ADERENTES E AS PRTICAS DE
CONTABILIDADE GERENCIAL NO SETOR ELTRICO BRASILEIRO................. 200
5.4.1 Associao descritiva: prticas convencionais e fatores preditivos.............. 200
5.4.2 Associao descritiva: prticas novas e fatores preditivos........................... 203
5.4.3 Associao estatstica: prticas convencionais, novas e fatores preditivos . 205
5.4.4 Discusso dos resultados das anlises descritivas e estatsticas ................ 213
6 CONCLUSES, RECOMENDAES E LIMITAES DA PESQUISA .......... 215 6.1 CONCLUSES.................................................................................................... 215
6.2 RECOMENDAES ............................................................................................. 222
6.3 LIMITAES DA PESQUISA.................................................................................. 223
REFERNCIAS..................................................................................................... 225 APNDICE - QUESTIONRIO ............................................................................. 240
17
1 INTRODUO
Constata-se grande disparidade entre as abordagens tericas existentes em
contabilidade gerencial e as prticas gerenciais efetivamente utilizadas pelas
organizaes (SCAPENS, 1994). Argumentos como globalizao, competitividade,
reduo do ciclo de vida dos produtos, avanos tecnolgicos e outros so
comumente utilizados para justificar a necessidade de as organizaes buscarem
permanente adaptao ao ambiente em que atuam a curto, mdio e longo prazos.
Porm, evidncias empricas demonstram que as organizaes sobrevivem e
geram excedentes utilizando prticas de contabilidade gerencial consideradas
menos eficientes para a gesto de suas atividades (CINQUINI et al., 1999; ABDEL-
KADER; LUTHER, 2002; ASKARANY, 2005; ZOUZA, 2001).
Convergncia e divergncia so tpicos comuns nas pesquisas
internacionais sobre prticas de contabilidade gerencial. No entanto, as discusses
tm se concentrado na divergncia, enquanto o fenmeno da convergncia tem
recebido menos ateno, no entanto, h sinais recentes de interesses na pesquisa
voltada para a discusso relativa convergncia (GRANLUND; LUKKA, 1998).
Partindo dessas afirmaes, busca-se estudar a convergncia das tcnicas e
sistemas gerenciais em uso nas organizaes, mais que enfatizar o paradoxo entre
teoria e prtica (divergncia), e oferecer subsdio para uma anlise interpretativa
das prticas de contabilidade gerencial no Setor Eltrico brasileiro.
Ott (1997) argumenta que a direo das organizaes necessita de
informaes que permitam estabelecer objetivos, escolher estratgias a serem
adotadas e sua posterior implementao e controle. Nesse ambiente, atribui-se
contabilidade gerencial a tarefa de fornecer as informaes requeridas, devendo
para tal fim, no mbito interno, oferecer tcnicas e sistemas teis e eficazes
gesto da organizao, e no mbito externo permitir a adoo de uma dimenso
estratgica.
Como explicar que as organizaes continuem a utilizar prticas contbeis
gerenciais desenvolvidas at o primeiro quarto do sculo XX em pleno sculo XXI?
Quais motivos esclarecem o pfio desempenho das avanadas tcnicas e sistemas
gerenciais prometidos como soluo para enfrentar a nova realidade ambiental em
que atuam as organizaes? As vrias novas demandas de informaes vo desde
18
atender aos investidores externos s necessidades gerenciais internas que
permitam gerar excedentes para remunerar satisfatoriamente os fatores de
produo (empregados, matrias-primas, acionistas e/ou quotistas e o governo).
A abordagem comumente empregada nas pesquisas sobre prticas de
contabilidade gerencial focada no individuo, Teoria Neoclssica da Firma, que
responde racionalmente s demandas ambientais pode no ser a mais apropriada
(SCAPENS, 1994; BURNS; SCAPENS, 2000a; SCAPENS, 2006). Adota-se uma
nova abordagem (com caractersticas interpretativas), a Teoria Institucional.
Analisa-se, portanto, as organizaes (SCAPENS, 1994) e os campos
organizacionais (DIMAGGIO; POWELL, 1983), buscando estudar a convergncia
das prticas de contabilidade gerencial, sua significncia e seus direcionadores
(GRANLUND; LUKKA, 1998).
Esta pesquisa, portanto, estuda as prticas de contabilidade gerencial que
representam a forma como as organizaes do Setor Eltrico brasileiro conduzem a
gesto de suas atividades diante das peculiaridades internas e dos desafios
ambientais externos (arranjos institucionais). A partir das prticas em uso, estuda os
fatores que concorrem para o isomorfismo das prticas de contabilidade gerencial
nessas organizaes.
1.1 CARACTERIZAO DO PROBLEMA DE PESQUISA
O objetivo desta seo caracterizar o contexto dentro do qual se
desenvolve esta dissertao e est dividida em: motivao da pesquisa, questo de
pesquisa, objetivos geral e especficos, justificativas e contribuies, e como a
mesma est estruturada.
1.1.1 Motivao da pesquisa
O tema estabilidade e mudana em contabilidade gerencial tem se tornado
um tpico muito debatido nos ltimos anos em pesquisas sobre prticas de
19
contabilidade gerencial. Discute-se se a contabilidade gerencial no mudou, mudou,
ou deveria mudar. (BURNS; SCAPENS, 2000a). Enquanto vrias pesquisas tentam
explicar se a contabilidade gerencial mudou ou no mudou substancialmente no
contexto das prticas cotidianas das organizaes nos ltimos (pelo menos) vinte e
cinco anos, o ambiente onde a contabilidade gerencial praticada mudou, com os
avanos em tecnologia da informao, mercados competitivos, diferentes estruturas
organizacionais, novos comportamentos e exigncias dos consumidores, novas
prticas gerenciais, dentre vrios outros aspectos.
Do mesmo modo, a nfase em pesquisas sobre mudana em contabilidade
gerencial reflexo das mudanas que tm acontecido com freqncia no ambiente
competitivo: desregulamentao, mega-fuses, convergncias tecnolgicas e
descontinuidades esto aumentando a intensidade e dinmica da competio
(PRAHALAD, 1998; LUKKA; SHIELDS, 1999 apud LAITINEN, 2001). As prticas de
contabilidade gerencial, que trabalhavam bem em ambientes relativamente
estveis, so na sua maioria irrelevantes para as novas formas de competio que
esto emergindo (LAITINEN, 2001). Porm, tal irrelevncia raramente
corroborada na prtica segundo as evidncias de pesquisas nacionais e
internacionais (p. ex., Askarany, 2005; Souza, 2001).
Diante da atual realidade de atuao das organizaes, e os esforos de
pesquisadores para desenvolver novas tcnicas e sistemas de contabilidade
gerencial, as pesquisas relacionadas investigao das prticas de contabilidade
gerencial no cenrio brasileiro e mundial objetivam, de forma explcita ou no,
verificar qual a aderncia conceitual das prticas gerenciais das organizaes s
teorias recomendadas pela literatura contbil (LAMMINMAKI; DRURY (2001)
denominam literatura normativa), nos seus livros-texto, artigos, dissertaes e
teses sobre contabilidade gerencial. Aderncia conceitual significa que a
organizao utiliza conceitos e componentes definidos na literatura da rea contbil
nas mais diferentes intensidades possveis (FREZATTI, 2004).
Por outro lado, os levantamentos empricos constatam que existe
atualmente um aparente paradoxo no que diz respeito prtica da contabilidade
gerencial. Apesar de fatores indutores e facilitadores do ambiente externo e do rol
de novas tcnicas e procedimentos disposio dos gestores empresariais, o que
se observa efetivamente, na prtica, o baixo ndice de implementao de novas
tcnicas e sistemas gerenciais nas organizaes (FREZATTI, 2004; GUERREIRO;
20
PEREIRA; LOPES, 2004), evidenciando que a contabilidade gerencial na prtica
cotidiana das organizaes tem se modificado pouco. Deixando de lado a questo
de ser recurso de retrica, as mudanas ocorreram (e esto ocorrendo) e esto
presentes direta e indiretamente no dia-a-dia das organizaes (BURNS;
SCAPENS, 2000b).
A exposio das organizaes a cenrios econmicos distintos em funo
dos setores de atividade em que atuam, ensejando maior ou menor concorrncia,
nvel tecnolgico necessrio para a produo ou prestao de servios,
especializao da mo-de-obra, fonte de matria-prima, mercado consumidor,
presses poltico-sociais, viso dos administradores, misso da organizao e
inmeros outros fatores deveriam imprimir uma forma de atuao e aderncia
diferenciada s prticas contbeis concernentes com as recomendaes tericas.
Para Burns e Scapens (2000b) a questo parece estar menos relacionada com a
necessidade de mudar o tipo de tcnica de contabilidade gerencial adotado e mais
com a maneira que a contabilidade gerencial (inclusive de muitas tcnicas
tradicionais) vem sendo utilizada.
Observa-se que as organizaes so diferentes no apenas na perspectiva
das atividades que realizam, mas tambm em tamanho, experincia, complexidade,
ambiente competitivo, comportamento coletivo interno (FREZATTI, 2004), controle
do capital investido, e outros. Essas caractersticas deveriam apresentar-se como
fatores indutores de comportamentos diferenciados quanto utilizao de tcnicas
e sistemas contbeis gerenciais. Essa percepo caracterstica da viso
neoclssica de que as organizaes buscam melhores resultados econmico-
financeiros e padres de qualidade por meio do aperfeioamento de eficincias e
eliminao de deficincias tanto internas quanto externas.
Para Burns e Vaivio (2001, p. 389) estes so tempos interessantes e
extremamente desafiadores para a contabilidade gerencial, seus acadmicos e
seus praticantes. A Nova Economia demanda mudana ou o que aparenta.
Particularmente desde a publicao do livro Relevance lost: the rise and fall of
management accounting (Johnson e Kaplan, 1987), acadmicos, contadores em
organizaes e consultores buscaram desenvolver novas tcnicas (denominadas
avanadas) e novos sistemas de contabilidade gerencial uma contabilidade
gerencial que satisfaa as necessidades de informao de gerentes de negcios no
atual mundo globalizado, e guiado pela tecnologia.
21
Outros argumentos comuns so os avanos em tecnologias da informao
que, supem-se, tm permitido inovaes na coleta, mensurao, anlise e
comunicao de informaes dentro das organizaes e entre organizaes,
facilitado em particular por tecnologias tais como Enterprise Resource Planning
(ERP), e-commerce, Internet, trocas eletrnicas internas de dados e reunies
virtuais (BURNS; VAIVIO, 2001). Todos esses fatores so argumentos comuns de
acadmicos, consultores e outros como justificativa para a necessidade de os
sistemas contbeis gerenciais das organizaes se ajustarem nova realidade
ambiental. Para muitos observadores, to significativas mudanas implicam a
necessidade de que a contabilidade gerencial tambm mude (BURNS; VAIVIO,
2001).
Pode-se afirmar, pelos argumentos apresentados, que as organizaes
deveriam implementar processos de mudanas profundos na sua forma de atuao,
no seu modelo de gesto de negcios, nos seus instrumentos gerenciais e,
portanto, nas prticas de contabilidade gerencial. Esses pressupostos levam em
considerao que os gestores so racionais nas suas tomadas de deciso e
buscam trabalhar com as melhores tcnicas e sistemas gerenciais disponveis no
mercado para maximizar a eficincia e eficcia da organizao. Todavia,
desenvolvimentos tericos relativamente recentes em contabilidade gerencial
fundamentados na Teoria Econmica e Sociolgica so contrrios a essa
percepo determinstica da realidade.
Pesquisas acadmicas no evidenciam nveis de utilizao de novas
tcnicas e sistemas de contabilidade gerencial que permitam aceitar sem
questionamentos a abordagem estritamente racional da realidade. No cenrio
internacional, Cinquini et al. (1999), na Itlia; Chung, Gibbons e Schoch (2000), na
Austrlia; Abdel-Kader e Luther (2002), no Reino Unido; Askarany (2005), na
Austrlia; no cenrio nacional, Ott (1997), Mossambani (2000), Souza (2001),
Barbosa (2004), Frezatti (2004), Machado e Souza (2006), Santos e Almeida
(2006); para citar apenas alguns estudos; confirmam a baixa aderncia conceitual
das organizaes s novas abordagens tericas sobre tcnicas e sistemas
contbeis gerenciais.
Cinquini et al. (1999) estudaram o estado da arte das prticas de
contabilidade gerencial na Itlia, constataram a predominncia das prticas tidas
como tradicionais; e evidncias no-conclusivas para associao entre nvel de
22
adoo de novas tecnologias como o Just in Time (JIT) e produo enxuta e a
tendncia a adotar novas prticas contbeis. Chung, Gibbons e Schoch (2000)
estudaram a relao entre as matrizes e as companhias multinacionais
estabelecidas na Austrlia utilizando a abordagem positivista, diante da no
comprovao da quase totalidade das hipteses, chegaram concluso de que em
termos de lentes tericas para moldar futuras pesquisas em contabilidade gerencial
acreditam que abordagens interpretativas, tal como a Teoria Institucional, pode
prover diferentes insights no disponveis na lente da teoria da contingncia.
Isto ecoa a chamada para o pluralismo paradigmtico como forma de
entender objetos sociais complexos, ou seja, a triangulao de teorias de pesquisa
e mtodos de inquirir sobre a realidade social complexa que se apresenta ao
pesquisador (p. ex., a relao entre subsidirias e suas matrizes) (CHUNG;
GIBBONS; SCHOCH, 2000). Em Abdel-Kader e Luther (2002) os resultados
indicam que as prticas de contabilidade gerencial adotadas no so sofisticadas.
Oramento, rentabilidade de produtos e mensurao de desempenho financeiro so
os pilares centrais das prticas de contabilidade gerencial utilizadas no Reino
Unido.
Askarany (2005), por outro lado, em estudo das prticas de contabilidade
gerencial na Austrlia argumenta que a literatura acadmica tem sido crtica dos
tradicionais sistemas e tcnicas de contabilidade gerencial, em particular da sua
ineficincia e incapacidade de prover informao detalhada e tempestiva, e
satisfazer os tomadores de deciso e potenciais usurios de tal informao. Porm,
os resultados da pesquisa realizada levaram-no concluso de que as tcnicas de
contabilidade gerencial tidas pela literatura como mais apropriadas tambm devem
possuir deficincias que dificultam a efetiva aplicao prtica, pois as tcnicas
tradicionais possuem maior aderncia nos meios empresariais daquele pas.
Souza (2001) encontrou evidncias favorveis ao entendimento de que as
novas prticas de contabilidade gerencial, principalmente o ABC e o custo-meta,
na opinio dos gestores investigados, so contribuies relevantes ao fornecimento
de informaes mais precisas gesto dos negcios, mas no tm aplicao
acentuada no mbito das organizaes investigadas. Os benefcios das novas
abordagens conceituais so limitados pela complexidade e pelos custos de
implantao e manuteno, consistente com a relao custo-benefcio das prticas,
23
a qual no recomenda a adoo de uma tcnica gerencial cujo custo supere o
benefcio de sua utilizao.
Inseridas no contexto da Teoria Neoclssica da Firma, as argies
anteriores sobre as divergncias entre teoria e prtica em contabilidade gerencial,
dentro dos pressupostos da racionalidade econmica e do equilbrio de mercado,
constituem as bases sob as quais se buscava compreender as prticas de
contabilidade gerencial. Tambm constituem a orientao do desenvolvimento de
tcnicas e sistemas contbeis gerenciais. As pesquisas, dentro dessa abordagem,
enfatizavam o gap, a ausncia de uma resposta racional-maximizadora para os
desafios dos intrincados contextos competitivos, mas no ofereciam explicaes
suficientes para a persistncia e as causas do gap (GRANLUND; LUKKA, 1998).
No final dos anos 1980 e decorrer dos anos 1990 uma grande variedade de
abordagens tericas e metodolgicas comearam a ser utilizadas nas pesquisas
sobre contabilidade gerencial; estendendo o domnio terico da economia dentro da
Teoria Organizacional e Social, com trabalho interpretativo e perspectiva crtica
sendo utilizado ao lado de pesquisa mais convencional (SCAPENS, 2006). As
disparidades entre teoria e prtica, as novas tcnicas e sistemas gerenciais sendo
discutidos em livros-texto, artigos, dissertaes e teses, com implementaes
prticas aqum das expectativas, levaram vrios pesquisadores a testar novas
abordagens tericas no estudo das prticas de contabilidade gerencial.
Buscando encorajar os pesquisadores a pensar em diferentes formas de
visualizar a contabilidade gerencial e empregar diferentes abordagens para dar
suporte s questes de pesquisa, o Journal of Management Accounting Research
(JMAR) publicou artigo elaborado por Atkinson et al. (1997) com o ttulo New
directions in management accounting research. Os autores chegaram a um acordo
sobre os grandes campos de pesquisa em contabilidade gerencial (o papel da
contabilidade gerencial na mudana organizacional; a interao entre a estrutura da
contabilidade e a estrutura organizacional; o papel da informao contbil no
suporte tomada de deciso), mas no completamente em como decompor esses
grandes campos em campos menores de pesquisa.
Resultado do trabalho de nove pesquisadores de vrias universidades
internacionais, os quais trabalharam de agosto de 1994 a julho de 1995 no comit
da Seo de Contabilidade Gerencial (Management Accounting Section) do JMAR,
o trabalho buscou discutir as grandes reas que os pesquisadores deveriam
24
explorar em novas pesquisas sobre contabilidade gerencial na dcada de 1990 e
anos posteriores, com nfase na importncia de mltiplos paradigmas e mtodos de
pesquisa. Os pontos levantados pelos autores so relevantes para o
desenvolvimento desta pesquisa, pois comeam a ser abordados nas pesquisas
acadmicas sobre contabilidade gerencial no Brasil, com destaque para o
entendimento das prticas de contabilidade gerencial como uma rotina.
O estudo da contabilidade gerencial como uma rotina busca identificar
caractersticas dos sistemas de contabilidade gerencial que provem estabilidade
para o sistema organizao sem engendrar em inrcia organizacional; visa observar
o impacto da mudana organizacional nas rotinas de contabilidade gerencial; e,
finalmente, pretende documentar a aprendizagem organizacional e sua influncia
nas inovaes em contabilidade gerencial (ATKINSON et al., 1997). As
preocupaes desses autores so coerentes com as pesquisas de Scapens e seus
seguidores que j surtiam efeitos no mundo acadmico h mais de uma dcada.
Portanto, a primeira base terica desta dissertao so os insights da grande rea
de pesquisa a contabilidade gerencial como uma rotina organizacional cujos
fundamentos so encontrados em vertentes da Teoria Institucional.
A revista Management Accounting Research (MAR) dedicou edio
completa publicao de artigos versando sobre novas abordagens tericas nas
pesquisas sobre contabilidade gerencial. Especial nfase recebeu a Teoria
Institucional; com os seguintes artigos publicados: Management accounting change,
John Burns e Juhani Vaivio; What does organizational change mean? Speculations
on a taken for granted category, Paolo Quattrone e Trevor Hopper; Performance
measurement and institutional processes: a study of managerial responses to public
sector reform, Sven Modell; The power of accounting: a field study of local financial
management in a police force, Paul M. Collier; Management accounting and the
challenge of strategic focus, Willie Seal; Management accounting change in small
technology companies: towards a mathematical model of the technology firm, Erkki
K. Laitinen (MAR, 2001, p. 4-5).
Se Atkinson et al. (1997) no conseguiram identificar as divises das
grandes reas de pesquisa por eles discutidas, os artigos da MAR sinalizaram os
vrios caminhos que podem ser seguidos dentro de uma das diferentes abordagens
tericas: a Teoria Institucional. Enfatizando temas como mudana organizacional, o
significado da mudana organizacional, desempenho e processo institucional,
25
relaes de poder e a contabilidade gerencial, contabilidade gerencial e o desafio
dos focos estratgicos, e mudanas em contabilidade gerencial em pequenas
organizaes de alta tecnologia. Esses artigos tambm utilizaram abordagens
metodolgicas diferenciadas, como o estudo de caso, o estudo de campo,
levantamento (survey); bem como trabalho quantitativo com o desenvolvimento de
modelos matemticos.
Os artigos publicados pela revista MAR exploram a abordagem institucional
e suas vrias inter-relaes dentro de contextos variados como forma de
compreender a prtica, estabilidade e/ou mudana da contabilidade gerencial no
dia-a-dia das organizaes. Burns e Vaivio (2001) destacam que a literatura
recente, acadmica e profissional, abundante em comentrios sobre a natureza
varivel da prtica de contabilidade gerencial, e enfatizam a mudana em
contabilidade gerencial. Para Quattrone e Hopper (2001) apesar da quantidade de
pesquisas sobre o porqu e como as organizaes mudam, o que constitui
mudana tido como algo dado (inquestionvel), e sua definio evitada, e
procuram explic-la inspirados na sociologia de translao e construtivista.
Modell (2001) encontrou evidncias que suportam vrias das hipteses
levantadas por Oliver (1991) sobre respostas estratgicas dos agentes s presses
e exigncias institucionais. Collier (2001) estudou as relaes de poder e explicao
de como o loose coupling, extenso em que os sistemas de controle contbeis
separam ou acomodam padres externos de legitimidade e internos projetados de
desempenho esperados, em outras palavras, em que extenso os controles
contbeis satisfazem ambas as exigncias externas e internas provendo consenso
entre (ou amortecendo) as demandas aparentemente concorrentes, se estabelece
pela contabilidade, no qual o oramento desenvolvido pode satisfazer tanto s
demandas institucionais quanto tcnicas.
Em Seal (2001) a Teoria Autopoitica, definida por Maturana (2002, p. 15)
apud Crubellate (2005) como [...] a rede de produes de componentes, que
resulta fechada sobre si mesma, porque os componentes que produz a constituem
ao gerar as prprias dinmicas de produo que a produziu e ao determinar sua
extenso como um ente circunscrito [...], isto , compreende ento a capacidade
que os sistemas vivos possuem (e que os distingue dos demais sistemas) de se
autoproduzirem por meio de processo organizacional fechado, processo este que
a base de sua prpria conservao, serve como metfora para explorar a
26
contabilidade gerencial e a mudana organizacional dentro de uma mesma
estrutura terica; e Laitinen (2001) busca explicar a mudana em contabilidade
gerencial em pequenas organizaes de tecnologia em termos de suas
caractersticas organizacionais e padres motivacionais.
Nesse contexto, a crtica ao pensamento convencional, ou seja, Teoria
Neoclssica da Firma, tornou-se elemento de destaque nas pesquisas sobre
prticas de contabilidade gerencial, contestando sua aplicabilidade para explicar os
fatores que influenciam a estabilidade e mudana das prticas gerencias das
organizaes. A Teoria Institucional, sob o enfoque da Velha Economia Institucional
Old Institutional Economics (OIE) , destacou-se, segundo Scapens (2006), ao
introduzir os conceitos de instituies, regras, rotinas e hbitos como os elementos
essenciais para entender como as organizaes evoluem de um determinado
estado de equilbrio para outro com o passar do tempo, ou seja, adotam ou no
novas tcnicas e sistemas gerenciais.
Tambm se destacaram pesquisas com base na perspectiva sociolgica da
Teoria Institucional (sociologia das organizaes ou institucionalismo sociolgico),
nos argumentos de Powell e DiMaggio (2001), como reflexo do renascimento do
estudo das instituies em vrias reas de conhecimento, tais como a Economia,
Histria Econmica, Cincia Poltica, Sociologia, Psico-antropologia e outras. A
abordagem de DiMaggio e Powell (1983) ficou conhecida como Nova Sociologia
Institucional New Institutional Sociology (NIS). Do mesmo modo, no faltaram
estudos focados na Nova Economia Institucional New Institutional Economics
(NIE) , tambm conhecida como Economia dos Custos de Transao
Transaction Cost Economics (TCE) , corrente institucionalista da economia que
tem por base pressupostos da Teoria Neoclssica da Firma.
Diante do ambiente contextualizado, o estudo das instituies experimenta
um renascimento em todas as cincias sociais. Em alguns setores, este
desenvolvimento uma reao contra a revoluo comportamental (Teoria
Neoclssica) de dcadas recentes, a qual interpretou o comportamento econmico
e poltico coletivo como a conseqncia agregada da escolha individual. Os
comportamentalistas consideravam as instituies epifenmenas fenmeno que
um subproduto ocasional de outro, sobre o qual no exerce qualquer influncia, e
do qual dependente (FERREIRA, 1999) , a simples soma das propriedades no
nvel individual (POWELL; DIMAGGIO, 2001, p. 34), mas as instituies sociais,
27
polticas e econmicas tm se expandido, tm se tornado mais complexas e contam
com mais recursos, e prima facie1 so mais importantes para a vida coletiva.
(MARCH; OLSEN, 1984, p. 734 apud POWELL; DIMAGGIO, 2001, p. 34).
O ressurgimento do interesse nas instituies contempla uma tradio mais
antiga da economia poltica, associada com Veblen e Commons (precursores da
OIE), que se concentrava nos mecanismos mediante os quais ocorria a ao social
e econmica; contempla tambm os esforos de funcionalistas como Parsons e
Selznick para compreender as interconexes duradouras entre a organizao
poltica, a economia e a sociedade. Essas tradies se desprestigiaram no porque
fizeram as perguntas equivocadas, mas sim porque proporcionavam respostas
demasiadamente descritivas e historicamente especficas, ou to abstratas que
careciam de efetividade explicativa (POWELL; DIMAGGIO, 2001, p. 34-35).
O esforo atual para combinar os motivos de investigao dessas tradies
com os desenvolvimentos contemporneos na teoria e no mtodo no s um
retorno s razes acadmicas (POWELL; DIMAGGIO, 2001), mas tambm um
esforo para proporcionar respostas novas a velhas perguntas acerca do modo que
os arranjos institucionais conformam, mediam e canalizam as escolhas sociais.
Trata-se de um renovado interesse em vincular novamente os fatores
institucionais anlise econmica e outras anlises, pelo pouco xito que teve a
Teoria Neoclssica em explicar como so tomadas realmente as decises nas
organizaes (GMEZ CHIAS, 2002, p. 84). Parafraseando Scott (2001b): como
as organizaes supostamente elegem este ou aquele sistema ou tcnica gerencial
para desempenho das suas atividades cotidianas de gerenciamento?
Com as limitaes de poder explicativo, com o passar dos anos, a Teoria
Neoclssica, foi se desdobrando em linhas de pesquisa que passaram a incorporar
uma perspectiva institucional (p. ex., NIE). A constatao das chamadas falhas de
mercado, as quais impedem a consecuo de uma alocao eficiente do ponto de
vista de Pareto, por meio do livre jogo das foras de mercado, tornou essa
incorporao necessria. Para a superao dessas falhas e, portanto, para o
estabelecimento de uma alocao dos recursos Pareto-eficiente, constatou-se a
_____________ 1 Que se pode verificar de pronto, sem ser preciso maior exame (FERREIRA, 1999).
28
fundamental relevncia do papel desempenhado pelas instituies sociais.
(MORAES, 2001).
Powell e DiMaggio (2001 p. 35) relatam que dentro dos estudos
organizacionais, a teoria institucional tem respondido a anomalias empricas, ao fato
de que, como discorrem March e Olsen (1984, p. 747), o que observamos no
mundo incongruente com a forma que as teorias contemporneas pedem que nos
expressemos apud (POWELL; DIMAGGIO, 2001 p. 35). Os estudos da mudana
organizacional e poltica habitualmente apontam descobrimentos difceis de
conciliar seja com as explicaes funcionalistas ou com as que se baseiam no ator
racional. Parafraseando Powell e DiMaggio (2001), existem descobertas difceis de
conciliar em contabilidade gerencial, principalmente na relao teoria e prtica nos
diversos contextos organizacionais nacionais e internacionais.
Powell e DiMaggio (2001 p. 35) explicam as vrias anomalias que podem
ser encontradas na prtica cotidiana das organizaes: os administradores e os
polticos advogam por programas que se estabelecem, mas que no se levam a
cabo; os gerentes renem informao assiduamente, mas no a analisam;
contratam-se especialistas, no em razo dos seus conselhos, mas para exibir
legitimidade (p. ex., laudos, pareceres). Esses descobrimentos to comuns da
investigao baseada em casos tm gerado esforos para substituir as teorias
racionais da contingncia tcnica ou da escolha estratgica por modelos
alternativos que so mais consistentes com a realidade organizacional que tem
observado os investigadores.
A necessidade de novas abordagens tericas que permitam entender e
responder s anomalias empricas (no aderncia conceitual) encontradas nas
pesquisas em contabilidade gerencial tem como objetivo dar respostas novas a
velhas perguntas (p. ex., por que existe tal disparidade entre teoria e prtica em
contabilidade gerencial?). Nesse contexto, o ambiente do final dos anos 1990 e
incio dos anos 2000 propiciou o surgimento de expressiva quantidade de estudos
em contabilidade gerencial com abordagens tericas institucionais como as da OIE,
NIS e NIE nos Estados Unidos, pases europeus, Austrlia, e outros.
Diante das anomalias entre teoria e prtica, Scapens (1994) discorre que a
perspectiva institucional oferece uma abordagem alternativa para se estudar a
prtica da contabilidade gerencial. Essa perspectiva induz o pesquisador a uma
anlise detida da natureza das prticas vigentes na organizao. Muito mais do que
29
desqualificar determinadas prticas da contabilidade gerencial que no se
conformam com as diretrizes das modernas teorias apresentadas nos livros-texto, a
contabilidade gerencial deve ser estudada como produto de processos institucionais
que do coerncia e significado ao comportamento da organizao.
Guerreiro (2006, p. 3) faz a seguinte interpretao: na prtica, os sistemas
de contabilidade gerencial no incorporam, necessariamente, os melhores
conceitos tcnicos ditados pela teoria convencional (Teoria Neoclssica). Mas sim,
os conceitos que estejam em linha com as expectativas dos indivduos e em
conformidade com as normas sociais de comportamento aceitvel na organizao,
e se convertam com o tempo em hbitos e rotinas amplamente aceitos por aqueles
indivduos. As discusses e constataes apresentadas, no entanto, esto longe de
representar um paradigma slido de pesquisa no cenrio nacional.
Constata-se a existncia de poucas pesquisas sob a abordagem
institucional no Brasil. Mesmo em Administrao, cincia mais voltada para anlises
organizacionais, pesquisas com abordagem institucional comeam somente em
1993 e desde ento, embora tenha ocorrido um pequeno aumento no final dos anos
1990 e incio dos anos 2000, foram poucos os estudos desenvolvidos com tal
abordagem. (ROSA; COSER, 2004). A popularidade da teoria institucional um
fenmeno relativamente recente no ciclo acadmico, especialmente nas ltimas
dcadas (MACHADO-DA-SILVA; FONSECA; CRUBELLATE, 2005, p. 2).
Guerreiro, Pereira e Lopes (2004) deram os primeiros passos dentro da
nova perspectiva ao realizarem estudo terico, fundamentado em Burns e Scapens
(2000a) e outros, explorando a OIE, buscando refletir sobre o paradoxo da
estabilidade dos sistemas de contabilidade gerencial, ou seja, porque as
organizaes, na prtica, utilizam muito pouco, a base conceitual disponvel. Os
autores apresentam crticas Teoria Neoclssica e concluem, segundo a
abordagem da OIE, que a contabilidade gerencial praticada pelas organizaes
uma instituio formada a partir de hbitos e rotinas que do sentido aos
relacionamentos dos grupos na organizao.
As organizaes, segundo a teoria da OIE, no utilizam em larga escala as
novas abordagens em contabilidade gerencial porque os processos de
institucionalizao dos novos conceitos efetivamente no ocorreram (GUERREIRO;
PEREIRA; LOPES, 2004). Porm, essa afirmao carece de anlises empricas que
a corroborem. Devido baixa quantidade de estudos com tal abordagem no Brasil,
30
as afirmaes dos autores merecem ressalvas, as quais com o desenvolvimento de
novos estudos considerando as vrias implicaes das instituies na evoluo das
organizaes empresariais e de suas prticas contbeis gerenciais cotidianas
contribuiro para trazer novos insights ao contexto nacional da pesquisa
institucional em contabilidade gerencial.
Outros esforos nacionais os sucederam: Guerreiro, Pereira e Rezende
(2005) realizaram estudo de caso da organizao Bearings, com abordagem
emprico-analtica, buscando entender a formao dos hbitos e das rotinas da
contabilidade gerencial; Pereira e Guerreiro (2005) analisam, tambm estudo de
caso, a institucionalizao da Controladoria no Banco do Brasil, e Guerreiro e
Pereira (2006) voltam ao caso Banco do Brasil para fazer uma nova anlise do
processo de institucionalizao da rea organizacional de controladoria. Zan
(2006b) analisou o uso de instrumentos da contabilidade gerencial no Brasil (ABC,
ABM, EVA, MVA, BSC)2 e a influncia do setor econmico na institucionalizao
dos mesmos, nas organizaes presentes no Anurio Exame Melhores e Maiores.
Guerreiro, Frezatti e Casado (2006) introduziram os fatores inconscientes
da psicologia humana e da cultura organizacional, numa abordagem de ensaio,
buscando aprofundar o nvel de entendimento sobre as causas do gap existente
entre teoria e prtica em contabilidade gerencial tendo o fator humano como tomo
do processo. A hiptese de pesquisa colocada foi de que determinados conceitos
da psicologia e da cultura organizacional podem contribuir para uma melhor
compreenso da abordagem institucional aplicada contabilidade gerencial.
Santos, Almeida e Crozatti (2007) estendem o raciocnio anterior e o
complementam. Os estudos supracitados (artigos cientficos) trabalham com os
pressupostos tericos da OIE e representam alguns dos primeiros insights
institucionais (nacional) de pesquisa em contabilidade gerencial.
Adicionalmente, o tema da estabilidade e mudana nos sistemas de
contabilidade gerencial tem sido pouco explorado em pesquisas no Brasil na forma
de Dissertaes e Teses. Destaque para Abreu (2006) que analisou em dissertao
de mestrado, sob o enfoque da NIS, se a variao do grau de institucionalizao
dos gestores do processo de planejamento de determinada organizao influencia a
_____________ 2 Respectivamente: Activity Based Cost; Activity Based Management; Economic Value Added; Market
Value Added; Balanced Scorecard.
31
percepo de desempenho manifestada no oramento anual. Buscou, por meio de
estudo de caso de subsidiria brasileira norte-americana, constatar o quanto os
gestores organizacionais aderem aos principais fatores isomrficos (polticas
internas, exigncias da matriz e prescries de entidades profissionais) que
exercem presso sobre o ambiente de processo de planejamento na organizao.
Zan (2006a) defendeu dissertao buscando responder seguinte questo
de pesquisa: como os antecedentes na implantao de uma mudana na
contabilidade gerencial podem ser diagnosticados pela teoria institucional? Com
enfoque na NIS e OIE buscou verificar, por meio de estudo de caso de subsidiria
brasileira anglo-sax, se a teoria institucional pode contribuir para um diagnstico
na implantao de mudanas na contabilidade gerencial dentro de uma
organizao. Consistiu em utilizar conceitos institucionais que permitissem a
diagnose, apontassem solues ou cursos de ao para uma organizao com
problemas na implantao de novas tcnicas de contabilidade gerencial e avaliar a
preditividade das respostas organizacionais s mudanas na contabilidade
gerencial.
Abreu (2006) e Zan (2006a) concentram-se nas respostas das organizaes
s presses isomrficas ambientais que so exercidas sobre suas prticas
contbeis gerenciais segundo os pressupostos de Oliver (1991). Para Oliver (1991)
os estudos sobre contabilidade gerencial focam-se na passividade das
organizaes (p. ex., Meyer e Rowan, 1977; DiMaggio e Powell, 1983), mas no se
atentam para a questo das respostas estratgicas que as organizaes
empreendem contra as foras mimticas exercidas sobre as mesmas.
Portanto, abordagens de pesquisa com enfoque na convergncia
(GRANLUND; LUKKA, 1998) que contemplem as respostas estratgicas de Oliver
(1991); ou o isomorfismo institucional de DiMaggio e Powell (1983); ou a
estabilidade e mudana e regras e rotinas de Scapens (1994) e Burns e Scapens
(2000a); apresentam-se como um campo frtil de pesquisa a ser explorado.
A estrutura conceitual e terica proposta por Oliver (1991) aponta para a
complementaridade de sua abordagem a abordagem de DiMaggio e Powell (1983),
assim como estudos subseqentes com base em Scapens (1994) e Burns e
Scapens (2000a); sendo, desse modo, conveniente explor-la. Por conseguinte, no
contexto supracitado, surgiu o interesse de estudar as presses institucionais
internas (OIE), presses isomrficas institucionais internas e externas (NIS), e as
32
respostas estratgicas organizacionais (NIS e Dependncia de Recursos: OLIVER,
1991), como indutores do isomorfismo de prticas de contabilidade gerencial. O
QUADRO 1 apresenta um resumo dos principais autores citados em cada uma das
abordagens tericas discutidas neste tpico.
PRINCIPAIS AUTORES CITADOS EM CADA ABORDAGEM TERICA Velha Economia Institucional (OIE) Nova Sociologia Institucional (NIS)
Scapens (1994) Scapens (2006) DiMaggio e Powell (1983) Burns e Scapens (2000a) Moraes (2001) Oliver (1991) Burns e Scapens (2000b) Zan(2006a) Scott (2001b)
Burns e Vaivio (2001) Guerreiro, Pereira e Lopes (2004) Powell e DiMaggio (2001)
Quattrone e Hopper (2001) Guerreiro, Pereira e Rezende (2005) Granlund e Lukka (1998)
Modell (2001) Pereira e Guerreiro (2005) Abreu (2006) Collier (2001) Guerreiro e Pereira (2006) Zan (2006a)
Seal (2001) Guerreiro, Frezatti e Casado (2006) Zan (2006b)
Laitinen (2001) Santos, Almeida e Crozatti (2007) Machado-da-Silva, Fonseca e Crubellate (2005)
Gmez Chias (2002) Meyer e Rowan (1977) QUADRO 1 PRINCIPAIS AUTORES CITADOS EM CADA ABORDAGEM TERICA FONTE: O autor (2008) dados de pesquisa
O Setor Eltrico foi escolhido como em Tsamenyi, Cullen e Gonzlez
(2006)3 pelas transformaes institucionais ocorridas no mesmo desde sua criao
por indicar convergncia das prticas de contabilidade gerencial em uso diante de
presses isomrficas comuns. Este discutido no captulo trs (3 O Setor Eltrico
Brasileiro).
1.1.2 Questo de pesquisa
A necessidade de abordagens tericas alternativas que visem contribuir
para entender as prticas contbeis gerenciais que deram (do) certo nas
organizaes e as disparidades entre teoria e prtica em contabilidade gerencial,
tendo como base os estudos de Scapens (1994), Burns e Scapens (2000a),
Scapens (2006), e outros focados na abordagem da OIE; DiMaggio e Powell (1983),
Oliver (1991), e outros com enfoque na NIS, inseridas na problemtica abordada,
_____________ 3 Realizou estudo de caso em organizao do Setor Eltrico espanhol.
33
levam seguinte questo de pesquisa: que fatores concorrem para o isomorfismo
das prticas de contabilidade gerencial utilizadas pelas organizaes do Setor
Eltrico brasileiro segundo os pressupostos tericos da Teoria Institucional?
1.1.3 Objetivos: geral e especficos
Os objetivos gerais referem-se a conceitos mais ou menos abstratos, os
especficos referem-se s caractersticas que podem ser observadas e mensuradas
em determinado grupo (GIL, 2002); ambos tm a finalidade de mostrar o que se
deseja da pesquisa (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006, p. 36). Portanto, esta
pesquisa tem como objetivo geral identificar os fatores que concorrem para o
isomorfismo das prticas de contabilidade gerencial utilizadas pelas organizaes
do Setor Eltrico brasileiro segundo os pressupostos tericos da Teoria
Institucional.
Os objetivos especficos tentam descrever, nos termos mais claros
possveis, exatamente o que ser obtido num levantamento ou qualquer outro
delineamento de pesquisa (GIL, 2002). Nesse contexto, verificada a necessidade de
atender ao objetivo geral do estudo e levando em considerao suas
caractersticas, trabalha-se com os seguintes objetivos especficos:
a) identificar as presses isomrficas sofridas pelas organizaes
(privadas, economia mista, ou pblicas) segundo estabelecido nos
construtos tericos institucional de DiMaggio e Powell (1983),
Oliver (1991), Scapens (1994), e Burns e Scapens (2000a);
b) identificar as presses isomrficas (regulativas, normativas,
mimticas) comuns s organizaes do Setor Eltrico brasileiro;
c) estruturar a matriz terica das presses institucionais sofridas
pelas organizaes do Setor Eltrico brasileiro e as respostas
estratgicas empreendidas pelas mesmas segundo o construto
terico institucional de Oliver (1991);
d) interpretar os fatores que concorrem para o isomorfismo das
prticas de contabilidade gerencial utilizadas pelas organizaes
34
do Setor Eltrico brasileiro segundo os construtos tericos
institucional de DiMaggio e Powell (1983), Oliver (1991), Scapens
(1994), e Burns e Scapens (2000a).
1.1.4 Justificativas e contribuies
Aps o choque psicolgico provocado por Johnson e Kaplan (1987) sobre a
irrelevncia dos sistemas de contabilidade gerencial das corporaes [...] para a
realidade atual, ou seja, enfrentada no final dos anos 1980, muito se tem escrito
sobre as exigncias de novas tcnicas e sistemas gerenciais que atendam s
necessidades de organizaes que atuam em mercados cada vez mais
competitivos. Nos ltimos 20 anos (pelo menos) esforos foram empreendidos no
desenvolvimento de novas abordagens em contabilidade gerencial para substituir as
tradicionais e obsoletas prticas gerenciais que segundo Johnson e Kaplan (1987)
haviam sido desenvolvidas para atender necessidades gerenciais de antes do
primeiro quarto do sculo XX. No entanto, o desenvolvimento de novas tcnicas e
sistemas gerenciais como ABC, ABM, BSC, EVA, GECON e outras; no foi
acompanhado por uma implementao expressiva pelas organizaes.
Por que as organizaes no aderiram (aderem) s novas prticas na
extenso desejada, mesmo diante de presses externas e exigncias internas?
Constatou-se que as tcnicas e sistemas gerenciais foram desenvolvidos com base
na Teoria Neoclssica da Firma, cujos pressupostos esto estruturados na
racionalidade dos indivduos e no resultado econmico timo. Os ambientes
organizacionais internos so permeados de inter-relaes complexas entre
indivduos e grupos de indivduos (SCAPENS, 1994); e as foras ambientais que
exercem presses sobre as organizaes, e as respostas organizacionais s
mesmas no obedecem a parmetros de racionalidade, eficincia e eficcia pr-
definidos.
Os indivduos no possuem capacidade ilimitada de anlise das diversas
situaes e escolhas que enfrentam no dia-a-dia, assim, os tericos
institucionalistas (p. ex., NIE, NIS) recorrem ao conceito de racionalidade limitada
35
(Bounded Rationality) de Simon (1961). Racionalidade limitada refere-se ao
comportamento que pretende ser racional, mas consegue s-lo apenas de forma
limitada. Resulta da condio de competncia cognitiva limitada de receber,
estocar, recuperar e processar a informao. Simon constri o conceito de
racionalidade limitada focando o indivduo e os evolucionrios (p. ex., Nelson e
Winter, 1982) assumem as caractersticas dadas por Simon ao indivduo, mas as
aplicam ao estudo das organizaes (SBICCA; FERNANDES, 2005).
Os neo-institucionalistas buscam em March e Simon (1958) o insight de que
a informao estabelece as premissas das decises, e as premissas das decises
determinam os resultados das decises. Como os indivduos se comportam nas
organizaes depende menos do mundo objetivo e mais de como estes indivduos
percebem aquele mundo objetivo. Essas percepes subjetivas no so, no
entanto, individuais e idiossincrticas. So construdas institucionalmente, as aes
dos indivduos possuem bases institucionais, so entendimentos coletivos baseados
em categorias cognitivas compartilhadas. (CARRUTHERS, 1995).
fcil estar de acordo com o valor normativo da teoria do ator racional, mas
um tanto mais complexo aceitar seu valor descritivo, j que poderia ser verdade que
num mundo racional ideal a pessoa se comportar segundo as prescries da
Teoria da Escolha Racional (ou Neoclssica); no mundo real, a pessoa tambm
est sujeita a pagar o preo de seus erros e suas crenas; incluso se a pessoa real
quisesse adequar seu comportamento a essas prescries, seria incapaz de fazer
todos os clculos e predies que resultaria o faz-lo. (WILLIAMSON, 1993;
TSEBELIS, 1990, p. 14 apud ROMERO, 2001). As pesquisas focadas em entender
e explicar o gap entre teoria e prtica buscam, portanto, uma lgica no presente na
realidade observada.
Os resultados das pesquisas apontam mais similaridade que diferena, mas
as diferenas so enfatizadas (GRANLUND; LUKKA, 1998). Como resultado uma
infinidade de pesquisas empreendidas sobre prticas contbeis gerenciais em
vrios pases chegaram a resultados no mnimo incongruentes: a contabilidade
gerencial teimava em no mudar. As evidncias empricas levantadas por estudos
focados em entender as prticas e inovaes gerenciais pela Teoria Neoclssica da
Firma no so coerentes com a suposta utilidade das novas tcnicas e sistemas
gerenciais apresentados s organizaes. Nesse contexto, a aplicabilidade da
36
abordagem neoclssica para entender a estabilidade e mudana em prticas
contbeis gerenciais passou a ser questionada (BURNS; SCAPENS, 2000a).
Fundadas na abordagem esttica (neoclssica), muitas das pesquisas
existentes na rea contbil focam-se nas mudanas em contabilidade gerencial
como resultado, poucas pesquisas tm investigado porque e como a contabilidade
gerencial da organizao se torna o que , ou no (p. ex., a contabilidade
gerencial como um processo). (BURNS; SCAPENS, 2000a, p. 4). Enquanto a
Teoria Neoclssica foca-se na eficincia dos sistemas produtivo como resultado de
decises racionais maximizadoras dos atores organizacionais, a Teoria Institucional
(p. ex., OIE) argumenta que as organizaes passam de um estado de equilbrio
para outro por processos evolutivos onde nem sempre ser relevante a eficincia da
mudana, mas sua conformidade com a realidade organizacional instituda.
Burns e Scapens (2000a) argumentam que aceitar a teoria neoclssica para
explicar as prticas de contabilidade gerencial no o enfoque mais adequado para
estudar a empresa como uma organizao. A Teoria Neoclssica mais
consistente com a predio de racionalidade ou resultados timos que em explicar
a no conformidade dos processos de mudana na contabilidade gerencial entre um
estado de equilbrio e outro (BURNS; SCAPENS, 2000a). Estudar o processo de
mudana em contabilidade gerencial requer a conceituao das formas como as
novas prticas de contabilidade gerencial evoluem com o tempo (NELSON;
WINTER, 1982). Como a realidade social interna da organizao construda com
o tempo e institucionaliza formas inquestionveis de atuao.
Para tal conceituao a OIE parte do pressuposto de que em muitas
organizaes o sistema e prticas de contabilidade gerencial constituem regras
estveis e rotinas institucionalizadas e oferece um arcabouo terico para
compreender a mudana em contabilidade gerencial que enfatiza no somente a
estabilidade fundada em comportamento baseado em regras, sistema de rotinas
organizacional e prticas, mas tambm reconhece que as regras e rotinas podem
mudar, da a idia de estabilidade e mudana (SCAPENS, 1994; BURNS;
SCAPENS, 2000a). A estabilidade e mudana refere-se a como a organizao
passa de determinado estado de equilbrio para outro, chegando
institucionalizao.
O novo arcabouo terico oferecido como ponto de partida para
pesquisadores interessados em estudar mudana em contabilidade gerencial como
37
um processo, enquanto a pesquisa, por seu turno, ajuda a ampliar e refinar a
abordagem terica (BURNS; SCAPENS, 2000a). As prticas contbeis gerenciais
podem, com o passar do tempo, suportar as inquestionveis formas de pensar e
fazer em uma organizao tornando-se rotinas institucionalizadas que do sentido
existncia da organizao. Diante da realidade dos estudos sobre prticas de
contabilidade gerencial no cenrio internacional focados em abordagens de
pesquisa alternativas, plausvel aceitar os argumentos da Teoria Institucional em
detrimento da abordagem esttica para estudar a prtica de contabilidade gerencial
no cenrio nacional.
Nos Estados Unidos da Amrica e Europa j se observa uma consciente
mudana no foco das pesquisas em contabilidade gerencial com novas abordagens
tericas e metodolgicas. Dessas abordagens destacou-se a Teoria Institucional
que segundo Burns e Scapens (2000a) se apresenta como um campo terico mais
robusto para entender as prticas contbeis gerenciais remanescentes nas
organizaes. Com base na OIE, cujos argumentos tericos buscam entender as
regras, hbitos, rotinas e prticas como fatores indutores e limitadores do processo
de institucionalizao de prticas contbeis gerenciais foram desenvolvidos vrios
estudos (p. ex., Macintosh e Scapens (1990), Scapens e Roberts (1993), Scapens
(1994), Barley e Tolbert (1997), Burns (2000), Burns e Scapens (2000a).
Dentro da perspectiva econmica das instituies recebeu ateno a
pesquisa em contabilidade gerencial com enfoque na NIE, corrente institucional com
razes na Teoria Neoclssica da Firma (SCAPENS, 1994; BURNS, 2000). A NIE
busca estudar os custos de transao como o indutor dos modos alternativos de
organizao da produo (governana), dentro de um arcabouo analtico
institucional. A unidade de anlise fundamental passa a ser a transao, operao
onde so negociados direitos de propriedade e o objetivo passa a ser analisar
sistematicamente as relaes entre a estrutura dos direitos de propriedade e
instituies. (ZYLBERSZTAJN, 1995, p. 15). Em contabilidade estuda temas gerais
como controle e avaliao de desempenho, accountability e preos de transferncia
em termos de otimizar escolhas entre arranjos institucionais alternativos (p. ex.,
Spicer; Ballew, 1983; Spicer, 1988; Colbert; Spicer, 1995).
Tambm receberam destaque as pesquisas focadas na perspectiva
sociolgica das instituies (NIS) (p. ex., Covaleski, Dirsmith e Michelman, 1993;
Covaleski, Dirsmith e Samuels, 1996; Carruthers, 1995) e vrios outros com
38
enfoque nas presses isomrficas sobre as prticas contbeis gerenciais das
organizaes. Segundo Burns (2000) embora haja significantes pontos comuns
entre a OIE e a NIS, esta assume as instituies como dadas enquanto aquela lida
mais diretamente com a emergncia, continuidade e mudana das instituies com
o passar do tempo. A NIS foca mais o nvel macro, p. ex., princpios contbeis
geralmente aceitos (MEZIAS, 1990), enquanto a OIE foca o nvel micro, p. ex.,
regras, hbitos e rotinas dentro das organizaes (SCAPENS, 1994; BURNS, 1996,
1997).
Estudar a contabilidade gerencial e as inovaes em tcnicas e sistemas
gerenciais como uma instituio tem como objetivo e contribui para entender porque
determinadas prticas gerenciais consideradas inovadoras to discutidas pela teoria
encontram baixa utilizao nas prticas gerenciais das organizaes. A viso
tradicional neoclssica, na qual os indivduos escolheriam as melhores prticas
gerenciais como suporte de decises que maximizariam os resultados da
organizao, mostrou-se ineficiente para explicar a baixa aderncia s inovaes
em contabilidade gerencial pelas organizaes.
Tambm uma tentativa de testar novos horizontes de pesquisa em
contabilidade gerencial no mbito nacional, pois, neste sculo XXI os pesquisadores
esto adotando uma grande variedade de perspectivas metodolgicas e tericas o
que implica novas formas de observar e analisar a realidade. A diversidade
metodolgica inclui pesquisa interpretativa e crtica, ao lado da tradicional pesquisa
funcionalista e positivista; adicionalmente, uma variedade de mtodos de pesquisa
continua sendo utilizada incluindo surveys, estudo de campo e estudo de caso
assim como trabalho quantitativo e tambm algum trabalho analtico; especialmente
na interface entre contabilidade financeira e gerencial (SCAPENS, 2006).
Como constataram Rosa e Coser (2004), a abordagem institucional (NIS)
na rea de estudos organizacionais, no cenrio brasileiro, ganha seu devido espao
a partir do final da dcada de 1980, com pesquisas realizadas inicialmente em
Santa Catarina e Paran, posteriormente no Rio Grande do Sul e Pernambuco, e
atualmente em outros Estados brasileiros. A predominncia do paradigma
neoclssico mostra a necessidade de novas abordagens, constituindo um terreno
frtil para o desenvolvimento de abordagens tericas como a institucional. Os
artigos publicados pela revista MAR, por exemplo, apresentam uma pequena
39
amostra de pesquisas dentro dessa abordagem terica, sem deixar de apresentar
tambm grande diversidade metodolgica e interao terica (MAR, 2001).
Baxter e Chua (2003) constatam a considervel diversidade terica com
pesquisadores lidando com disciplinas to amplas quanto a Economia, Teoria
Organizacional, Sociologia, Teoria Social, Poltica e Antropologia Social; e utilizando
muitas abordagens tericas diferentes: Teoria Econmica, da Contingncia,
Institucional, da Rede de Relacionamento, do Processo de Trabalho; Economia
Poltica, Genealogia Foucaultiana, Desconstrucionismo de Derrida, e outras. Nesse
contexto, os autores justificam a anlise feita das publicaes da revista Accounting,
Organizations and Society (AOS): a contabilidade uma disciplina social e nos
pareceu importante entend-la no contexto de um extenso grupo de discursos
provenientes das cincias sociais (BAXTER; CHUA, 2003, p. 98). Para os autores,
os desenvolvimentos contemporneos em pesquisa fornecem interessantes
direcionamentos para questionar e estudar a prtica de contabilidade gerencial.
Nesse contexto, a contabilidade gerencial passou a ser estudada sob vrios
enfoques tericos: no contexto organizacional e social com foco nas relaes de
poder e conhecimento (p. ex., Hopwood, 1990; Ezzamel, 1994); no contexto
institucional que reala as regras, rotinas, e prticas de processos organizacionais
(p. ex., Burns; Ezzamel; Scapens, 1999; Burns; Scapens, 2000a) e vrios outros; ou
buscando descrever as prticas contbeis gerenciais sem qualquer abordagem
terica especfica (p. ex., Green; Amenkhienan, 1992). (LAITINEN, 2001). As
pesquisas nacionais se enquadram na sua grande maioria nessa ltima abordagem,
no utilizam uma abordagem terica especfica, mais precisamente, consciente ou
inconscientemente,