Diagnóstico institucional dos fatores que concorrem para o isorfismo

  • Upload
    lammien

  • View
    223

  • Download
    3

Embed Size (px)

Citation preview

  • ADEMILSON RODRIGUES DOS SANTOS

    DIAGNSTICO INSTITUCIONAL DOS FATORES QUE CONCORREM PARA O ISOMORFISMO DAS PRTICAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL UTILIZADAS

    PELAS ORGANIZAES DO SETOR ELTRICO BRASILEIRO

    Dissertao apresentada como requisito parcial

    obteno do grau de Mestre. Programa de

    Mestrado em Contabilidade do Setor de

    Cincias Sociais Aplicadas da Universidade

    Federal do Paran.

    Orientador: Prof. Dr. Lauro Brito de Almeida

    CURITIBA

    2008

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN

    SETOR DE CINCIAS SOCIAIS APLICADAS

    MESTRADO EM CONTABILIDADE

    REA DE CONCENTRAO: CONTABILIDADE GERENCIAL

    DISSERTAO DE MESTRADO

    DIAGNSTICO INSTITUCIONAL DOS FATORES QUE CONCORREM PARA O

    ISOMORFISMO DAS PRTICAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL UTILIZADAS

    PELAS ORGANIZAES DO SETOR ELTRICO BRASILEIRO

    ADEMILSON RODRIGUES DOS SANTOS

    CURITIBA

    2008

  • ADEMILSON RODRIGUES DOS SANTOS

    DIAGNSTICO INSTITUCIONAL DOS FATORES QUE CONCORREM PARA O ISOMORFISMO DAS PRTICAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL UTILIZADAS

    PELAS ORGANIZAES DO SETOR ELTRICO BRASILEIRO

    Dissertao apresentada como requisito parcial

    obteno do grau de Mestre. Programa de

    Mestrado em Contabilidade do Setor de

    Cincias Sociais Aplicadas da Universidade

    Federal do Paran.

    Orientador: Prof. Dr. Lauro Brito de Almeida

    CURITIBA

    2008

  • A Deus, aos meus pais, minha esposa, e aos meus amigos... Companheiros de todas as horas...

  • AGRADECIMENTOS

    Ao Prof. Dr. Orientador pelos insights valiosos em todas as etapas deste trabalho.

    A minha famlia, em especial minha me Maria do Rosrio dos Santos pela

    confiana e certeza de que seria possvel superar os limites.

    Aos amigos e colegas, pela fora e pela vibrao em relao a esta jornada.

    Aos professores e colegas de Curso, pois juntos vencemos mais uma etapa

    importante de nossas vidas.

    Aos profissionais que responderam os questionrios da pesquisa pela concesso de

    informaes valiosas para a realizao deste estudo.

    A todos que, com boa inteno, colaboraram para a realizao e finalizao deste

    trabalho.

    Aos que no impediram a finalizao deste estudo.

    Ao companheiro de todas as horas Rgis Garcia, pois sabemos que nos momentos

    difceis a amizade faz a diferena.

    Em especial a minha esposa Eliane Aparecida Chalupa dos Santos pela fora,

    carinho e disposio diante das dificuldades.

  • Where do interests come from? Do they stem from human nature or are they culturally constructed?

    W. Richard Scott

  • RESUMO

    Identifica os fatores que concorrem para o isomorfismo das prticas de contabilidade gerencial utilizadas pelas organizaes do Setor Eltrico brasileiro segundo os pressupostos tericos da Teoria Institucional. Caracteriza-se como pesquisa qualitativo-quantitativa, exploratrio-descritiva, bibliogrfica, levantamento, e tcnica de coleta de dados questionrio. Utiliza-se de novas abordagens tericas para estudar prticas de contabilidade gerencial. Os enfoques da Velha Economia Institucional (Old Institutional Economics - OIE) e Nova Sociologia Institucional (New Institutional Sociology - NIS) so utilizados para diagnosticar os fatores que concorrem para o isomorfismo das prticas de contabilidade gerencial no Setor Eltrico brasileiro. Elabora o modelo conceitual da pesquisa com base nos construtos de DiMaggio e Powell, Oliver, Scapens e Burns e Scapens. Evidncias empricas demonstram que os fatores que concorrem para o isomorfismo das prticas de contabilidade gerencial para vinte e seis organizaes analisadas so causa-eficincia, constituinte-multiplicidade, contedo-consistncia, controle-difuso, e contexto-interconectado. Em segundo plano causa-legitimidade, constuinte-dependncia, contedo-restrio, controle-coero, contexto-incerto tem potencial para exercer influncia no ambiente analisado. As respostas estratgicas aos fatores preditivos do comportamento organizacional so aquiescncia e compromisso. Estratgias de resistncia mais ativa no se manifestaram tais como esquivana, desafio e manipulao. Infere-se que os respondentes aceitam as prticas de contabilidade gerencial com baixa resistncia com aquiescncia e compromisso. Conclui a partir do diagnstico dos fatores que concorrem para o isomorfismo das prticas de contabilidade gerencial no Setor Eltrico brasileiro que as tcnicas de contabilidade gerencial mais utilizadas so convencionais, esto presentes nas rotinas dirias das organizaes e so aceitas com poucos questionamentos. Desafiam o argumento de que no so adequadas ao ambiente analisado, em que predomina a adequao econmica (eficincia) e presso de mltiplos constituintes, e se apiam na difuso voluntria de normas em um contexto interconectado. Palavras-chave: Teoria Institucional; Instituies, Prticas de Contabilidade Gerencial, Fatores Preditivos, Presses Institucionais.

  • ABSTRACT

    It identifies the factors that contribute to the isomorphism of the management accounting practices used by Brazilian Electrical Industry organizations according to theoretical assumptions of the Institutional Theory. It is characterized as qualitative-quantitative research, exploratory, descriptive, literature research, survey, and questionnaire technique. It uses new theoretical approaches to study management accounting practices. The approaches of the Old Institutional Economics (OIE) and New Institutional Sociology (NIS) are used to diagnose the factors that contribute to the isomorphism of the management accounting practices in the Brazilian Electrical Industry. Draw up the conceptual framework based on the constructs of DiMaggio and Powell, Oliver, Scapens and Burns and Scapens. Empirical evidences show that the factors that contribute to the isomorphism of the management accounting practices for twenty-six organizations analyzed are cause-efficiency, constituents-multiplicity, content-consistency, control-diffusion, and context-interconnectedness. In the background cause-legitimacy, constituents-dependence, content-constraints, control-coercion, context-uncertainty has the potential to exert influence on the environment analyzed. The answers to the predictive strategic factors of organizational behavior are acquiescence and compromise. Strategies of more active resistance are not observed such as avoidance, defy and manipulate. It follows that the respondents accept the management accounting practices with low resistance with acquiescence and compromise. Concludes from the diagnosis of the factors that contribute to the isomorphism of the management accounting practices in the Brazilian Electric Industry that the management accounting techniques most used are conventional, are present in the organizations daily routines and are accepted with few questions. Defy the argument that they are not suitable to the environment in analysis, in which dominates the economic fitness (efficiency) and multiple constituent pressures, and are based on the voluntary dissemination of standards in an interconnectedness context. Key words: Institutional Theory; Institutions; Management Accounting Practices; Predictive Factors; Institutional Pressures.

  • LISTA DE QUADROS

    QUADRO 01 - PRINCIPAIS AUTORES CITADOS EM CADA ABORDAGEM TERICA ...32

    QUADRO 02 - QUADRO TERICO DA PESQUISA ...........................................................57

    QUADRO 03 - TRS PILARES DAS INSTITUIES .........................................................61

    QUADRO 04 - TCNICAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL: TRADICIONAL-

    CONTEMPORNEAS.......................................................................................73

    QUADRO 05 - TCNICAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL: ESTGIOS EVOLUTIVOS74

    QUADRO 06 - PROJETO DO SISTEMA DE CONTROLE GERENCIAL: INFORMAO-

    TCNICAS ........................................................................................................75

    QUADRO 07 - FERRAMENTAS E SISTEMAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL EM

    ESTUDO ...........................................................................................................76

    QUADRO 08 - TRS MECANISMOS DE PRESSO INSTITUCIONAL ISOMRFICA ......87

    QUADRO 09 - PREDITORES DO ISOMORFISMO .............................................................89

    QUADRO 10 - CONSTRUTO DA PESQUISA......................................................................91

    QUADRO 11 - RESPOSTAS ESTRATGICAS AO PROCESSO INSTITUCIONAL ...........92

    QUADRO 12 - ANTECEDENTES DAS RESPOSTAS ESTRATGICAS ..........................100

    QUADRO 13 - QUESTES PRECEDENTES DAS RESPOSTAS ESTRATGICAS........100

    QUADRO 14 - ANTECEDENTES INSTITUCIONAIS E PREDITORES DAS RESPOSTAS

    ESTRATGICAS ............................................................................................101

    QUADRO 15 - HIPTESES PREDITIVAS DO COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL102

    QUADRO 16 - PESQUISAS SOBRE PRTICAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL NO

    BRASIL ...........................................................................................................117

    QUADRO 17 - EVOLUO DO ARRANJO ORGANIZACIONAL (INSTITUCIONAL) DO

    SETOR ELTRICO BRASILEIRO ..................................................................135

    QUADRO 18 - DIRECIONADORES DE CONVERGNCIA DAS PRTICAS DE

    CONTABILIDADE GERENCIAL .....................................................................137

    QUADRO 19 - METODOLOGIA DA PESQUISA................................................................153

    QUADRO 20 - QUESTES SOBRE OS OBJETIVOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

    ........................................................................................................................156

    QUADRO 21 - QUESTES SOBRE AS TCNICAS E SISTEMAS DE CONTABILIDADE

    GERENCIAL EM ESTUDO .............................................................................156

    QUADRO 22 - QUESTES SOBRE OS ANTECEDENTES DAS RESPOSTAS

    ESTRATGICAS ............................................................................................157

  • QUADRO 23 - QUESTES SOBRE AS RESPOSTAS ESTRATGICAS AO PROCESSO

    INSTITUCIONAL.............................................................................................157

    QUADRO 24 - QUESTES SOBRE AS PRESSES ISOMRFICAS COERCITIVAS,

    NORMATIVAS E MIMTICAS ........................................................................158

    QUADRO 25 - ESCALA TERICA E ESCALA INSTRUMENTAL .....................................164

    QUADRO 26 - QUESTO 4: FATORES PREDITIVOS DO COMPORTAMENTO

    ORGANIZACIONAL ........................................................................................182

    QUADRO 27 - ESCALA TERICA DOS FATORES PREDITIVOS E ESCALA

    INSTRUMENTAL ............................................................................................184

    QUADRO 28 - EXEMPLOS DE TTICAS DAS ESTRATGIAS DA QUESTO CINCO ..187

    QUADRO 29 - RESPOSTAS ESTRATGICAS PREVISTAS............................................191

    QUADRO 30 - SNTESE DAS RESPOSTAS ESTRATGICAS PREVISTAS ...................191

    QUADRO 31 - SNTESE DA ADERNCIA DAS ESTRATGIAS NAS ORGANIZAES

    INVESTIGADAS..............................................................................................192

    QUADRO 32 - RESPOSTAS ESTRATGICAS CONSTATADAS COMPARADAS COM AS

    PREVISTAS ....................................................................................................193

    QUADRO 33 - FATORES PREDITIVOS ADERENTES X RESPOSTAS ESTRATGICAS

    CONSTATADAS .............................................................................................193

    QUADRO 34 - ESCALA TERICA ABREU (2006) E ESCALA INSTRUMENTAL ............198

  • LISTA DE TABELAS

    TABELA 01 - RESUMO DO PROCESSO DE COLETA DE DADOS .................................163

    TABELA 02 - ATIVIDADE ECONMICA DAS ORGANIZAES INVESTIGADAS..........167

    TABELA 03 - MACRO-REGIES EM QUE ATUAM AS ORGANIZAES INVESTIGADAS

    ........................................................................................................................167

    TABELA 04 - CONTROLE DO CAPITAL SOCIAL .............................................................168

    TABELA 05 - POSSUI AES NEGOCIADAS EM BOLSAS DE VALORES....................168

    TABELA 06 - IDADE DOS RESPONDENTES ...................................................................169

    TABELA 07 - MAIOR NVEL EDUCACIONAL DOS RESPONDENTES ............................170

    TABELA 08 - H QUANTO TEMPO REALIZOU O LTIMO CURSO ACADMICO ........170

    TABELA 09 - REA FUNCIONAL DOS RESPONDENTES...............................................170

    TABELA 10 - EXPERINCIA DOS RESPONDENTES NA ATUAL REA FUNCIONAL...170

    TABELA 11 - H QUANTO TEMPO OS RESPONDENTES TRABALHAM NA

    ORGANIZAO..............................................................................................171

    TABELA 12 - H QUANTO TEMPO OS RESPONDENTES EXERCEM A ATUAL FUNO

    NA ORGANIZAO........................................................................................171

    TABELA 13 - QUANDO OCORREU A LTIMA MUDANA NA CONTABILIDADE

    GERENCIAL ...................................................................................................172

    TABELA 14 - AGENTE DA MUDANA NA CONTABILIDADE GERENCIAL DAS

    ORGANIZAES INVESTIGADAS................................................................173

    TABELA 15 - OBJETIVOS QUE A CONTABILIDADE GERENCIAL VISA ATENDER NAS

    ORGANIZAES INVESTIGADAS................................................................174

    TABELA 16 - OBJETIVOS QUE A CONTABILIDADE GERENCIAL VISA ATENDER NAS

    ORGANIZAES INVESTIGADAS (ESCALA TERICA) .............................174

    TABELA 17 - TCNICAS CONVENCIONAIS DE CONTABILIDADE GERENCIAL...........176

    TABELA 18 - TCNICAS CONVENCIONAIS DE CONTABILIDADE GERENCIAL (ESCALA

    TERICA) .......................................................................................................177

    TABELA 19 - NOVAS TCNICAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL ............................177

    TABELA 20 - NOVAS TCNICAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL (ESCALA TERICA)

    ........................................................................................................................178

    TABELA 21 - TABULAO CRUZADA NEGOCIA AES EM BOLSAS DE VALORES E

    NOVAS-EBITDA .............................................................................................179

    TABELA 22 - FATORES PREDITIVOS DO COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL....183

  • TABELA 23 - FATORES PREDITIVOS DO COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL

    (ESCALA TERICA).......................................................................................184

    TABELA 24 - ADERNCIA DOS FATORES PREDITIVOS ...............................................185

    TABELA 25 - ESTRATGIAS E TTICAS NAS ORGANIZAES INVESTIGADAS .......188

    TABELA 26 - ESTRATGIAS E TTICAS NAS ORGANIZAES INVESTIGADAS .......188

    TABELA 27 - ESTRATGIAS E TTICAS NAS ORGANIZAES INVESTIGADAS

    (ESCALA TERICA).......................................................................................189

    TABELA 28 - ESTRATGIAS E TTICAS NAS ORGANIZAES INVESTIGADAS

    (ESCALA TERICA).......................................................................................189

    TABELA 29 - ADERNCIA DAS ESTRATGIAS E TTICAS...........................................192

    TABELA 30 - TABULAO CRUZADA CAUSA-EFICINCIA-ALTA E PRTICAS DE

    CONTABILIDADE GERENCIAL CONVENCIONAIS ......................................201

    TABELA 31 - TABULAO CRUZADA CONSTITUINTE-MULTIPLICIDADE-ALTA E

    PRTICAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL CONVENCIONAIS .............201

    TABELA 32 - TABULAO CRUZADA CAUSA-CONSISTNCIA-ALTA E PRTICAS DE

    CONTABILIDADE GERENCIAL CONVENCIONAIS ......................................201

    TABELA 33 - TABULAO CRUZADA CONTROLE-DIFUSO-ALTA E PRTICAS DE

    CONTABILIDADE GERENCIAL CONVENCIONAIS ......................................202

    TABELA 34 - TABULAO CRUZADA CONTEXTO-INTERCONECTADO-ALTA E

    PRTICAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL CONVENCIONAIS .............202

    TABELA 35 - TABULAO CRUZADA CAUSA-EFICINCIA-ALTA E PRTICAS DE

    CONTABILIDADE GERENCIAL NOVAS........................................................203

    TABELA 36 - TABULAO CRUZADA CONSTITUINTE-MULTIPLICIDADE-ALTA E

    PRTICAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL NOVAS...............................203

    TABELA 37 - TABULAO CRUZADA CONTEDO-CONSISTNCIA-ALTA E PRTICAS

    DE CONTABILIDADE GERENCIAL NOVAS..................................................204

    TABELA 38 - TABULAO CRUZADA CONTROLE-DIFUSO-ALTA E PRTICAS DE

    CONTABILIDADE GERENCIAL NOVAS........................................................204

    TABELA 39 - TABULAO CRUZADA CONTEXTO-INTERCONECTADO-ALTA E

    PRTICAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL NOVAS...............................205

    TABELA 40 - TABULAO CRUZADA CAUSA-EFICINCIA E NOVAS-BENCHMARKING

    ........................................................................................................................205

    TABELA 41 - TESTE CHI-QUADRADO CAUSA-EFICINCIA E NOVAS-BENCHMARKING

    ........................................................................................................................206

    TABELA 42 - TABULAO CRUZADA CONTEDO-CONSISTNCIA E CONVENCIONAIS-

  • ORAMENTO.................................................................................................206

    TABELA 43 - TESTE CHI-QUADRADO CONTEDO-CONSISTNCIA E CONVENCIONAIS-

    ORAMENTO.................................................................................................207

    TABELA 44 - TABULAO CRUZADA CONTEDO-CONSISTNCIA E CONVENCIONAIS-

    PESTRATGICO ............................................................................................207

    TABELA 45 - TESTE CHI-QUADRADO CONTEDO-CONSISTNCIA E CONVENCIONAIS-

    PESTRATGICO ............................................................................................208

    TABELA 46 - TABULAO CRUZADA CONTROLE-DIFUSO E NOVAS-BENCHMARKING

    ........................................................................................................................208

    TABELA 47 - TESTE CHI-QUADRADO CONTROLE-DIFUSO E NOVAS-

    BENCHMARKING ...........................................................................................209

    TABELA 48 - TABULAO CRUZADA CONTEXTO-INTERCONECTADO E

    CONVENCIONAIS-AVALIAO.OR ..............................................................209

    TABELA 49 - TESTE CHI-QUADRADO CONTEXTO-INTERCONECTADO E

    CONVENCIONAIS-AVALIAO.OR ..............................................................210

    TABELA 50 - TABULAO CRUZADA CONTEXTO-INTERCONECTADO E

    CONVENCIONAIS-LR.ROE.ROA...................................................................210

    TABELA 51 - TESTE CHI-QUADRADO CONTEXTO-INTERCONECTADO E

    CONVENCIONAIS-LR.ROE.ROA...................................................................211

    TABELA 52 - TABULAO CRUZADA CONTEXTO-INTERCONECTADO E

    CONVENCIONAIS-ORAMENTO .................................................................211

    TABELA 53 - TESTE CHI-QUADRADO CONTEXTO-INTERCONECTADO E

    CONVENCIONAIS-ORAMENTO .................................................................212

    TABELA 54 - TABULAO CRUZADA CONTEXTO-INTERCONECTADO E NOVAS-

    EVA.MVA ........................................................................................................212

    TABELA 55 - TESTE CHI-QUADRADO CONTEXTO-INTERCONECTADO E NOVAS-

    EVA.MVA ........................................................................................................213

  • LISTA DE SIGLAS

    ABB - Activity-based budgeting

    ABC - Activity Based Costing

    ABM - Activity Based Management

    ABNT - Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    ABRACONEE - Associao Brasileira dos Contadores do Setor de Energia Eltrica

    ABRADEE - Associao Brasileira de Distribuidores de Energia Eltrica

    ANEEL - Agncia Nacional de Energia Eltrica

    AOS - Accounting, Organizations and Society

    BSC - Balanced Scorecard

    CFC - Conselho Federal de Contabilidade

    CNPJ - Cadastro Nacional de Pessoa Jurdica

    CRC - Conselho Regional de Contabilidade

    CVM - Comisso de Valores Mobilirios

    EBITDA - Earning Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization

    ERP - Enterprise Resource Planning

    EVA - Economic Value Added

    FCD - Fluxo de Caixa Descontado

    FEA - Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade

    GECON - Gesto Econmica

    IBRACON - Instituto dos Auditores Independentes do Brasil

    IFAC - International Federation of Accountants

    JIT - Just in Time

    JMAR - Journal of Management Accounting Research

    LAJIDA - Lucro antes dos Juros, Impostos, Depreciao e Amortizao

    LR - Lucro Residual

    MAR - Management Accounting Research

    MME - Ministrio de Minas e Energia

    MVA - Market Value Added

    NIE - New Institutional Economics

  • NIS - New Institutional Sociology

    OIE - Old Institutional Economics

    ONS - Operador Nacional do Sistema Eltrico

    OSCIP - Organizao da Sociedade Civil de Interesse Pblico

    PL - Patrimnio Lquido

    RKW - Reinchskuratorium fuer Winrtschaftlichtkeit

    ROA - Return on Asset

    ROE - Return on Equity

    ROI - Return on Investment

    ROS - Return on Sales

    S.D. - Standard Deviation

    SEC - Securities and Exchange Commission

    SIN - Sistema Interligado Nacional

    TCE - Transaction Cost Economics

    TOC - Teoria das Restries

    UFPR - Universidade Federal do Paran

    USP - Universidade de So Paulo

  • LISTA DE ABREVIATURAS

    aciclops - Anlise do Ciclo de Vida do Produto e/ou Servio

    acvl - Anlise de custo-volume-lucro

    alps - Anlise de Lucratividade do Produto e/ou Servio

    avaliao.or - Avaliao Oramentria

    bench - Benchmarking

    cpadro - Custo-Padro

    lr/roe/roa - Lucro Residual/Return on Equity/Return on Asset

    p.estratgico - Planejamento Estratgico

    pt - Preo de Transferncia

    targetc - Target-Costing

    tpo - Tcnicas de Pesquisa Operacional

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ..................................................................................................... 17 1.1 CARACTERIZAO DO PROBLEMA DE PESQUISA .................................................... 18

    1.1.1 Motivao da pesquisa................................................................................... 18

    1.1.2 Questo de pesquisa...................................................................................... 32

    1.1.3 Objetivos: geral e especficos......................................................................... 33

    1.1.4 Justificativas e contribuies .......................................................................... 34

    1.1.4.1 O setor eltrico brasileiro............................................................................. 41

    1.2 ESTRUTURA DA DISSERTAO.............................................................................. 44

    2 MARCO TERICO DA PESQUISA ..................................................................... 46 2.1 TEORIA INSTITUCIONAL......................................................................................... 46

    2.1.1 Breve desenvolvimento histrico da vertente econmica da Teoria Institucional

    .............................................................................................................. 47

    2.1.2 Breve desenvolvimento histrico da vertente sociolgica da Teoria Institucional

    .............................................................................................................. 54

    2.2 INSTITUIO SOCIAL: CONCEITO ........................................................................... 58

    2.2.1 Primeiras impresses sobre as instituies sociais........................................ 58

    2.2.2 Instituies sociais para o enfoque de pesquisa com abordagem institucional59

    2.3 CONTABILIDADE GERENCIAL COMO UMA INSTITUIO: A PERSPECTIVA DA OIE........ 62

    2.3.1 Contabilidade gerencial e Teoria Institucional ................................................ 63

    2.3.1.1 A contabilidade gerencial como uma rotina................................................. 67

    2.3.2 Prticas de contabilidade gerencial ................................................................ 72

    2.4 NOVA SOCIOLOGIA INSTITUCIONAL (NIS) PARA O ENFOQUE DE PESQUISA EM

    CONTABILIDADE GERENCIAL ..................................................................... 77

    2.4.1 Distino entre ambientes institucionais e tcnicos ....................................... 78

    2.4.2 O conceito de legitimidade ............................................................................. 78

    2.4.3 Introduo de elementos estruturais .............................................................. 79

    2.4.4 Delimitao dos elementos ambientais .......................................................... 80

    2.4.5 Abordagem de DiMaggio e Powell (1983) ...................................................... 82

    2.4.5.1 Trs mecanismos de mudana institucional isomrfica............................... 84

  • 2.4.5.2 Elementos que permitem predizer a mudana isomrfica........................... 88

    2.5 ABORDAGEM DE OLIVER (1991) ........................................................................... 89

    2.5.1 Tipologia das respostas estratgicas ao processo institucional ..................... 91

    2.5.2 Preditores de respostas estratgicas ............................................................. 99

    2.6 ESTADO DA ARTE DAS PESQUISAS SOBRE O TEMA: PRTICAS DE CONTABILIDADE

    GERENCIAL E TEORIA INSTITUCIONAL ...................................................... 112

    2.6.1 Pesquisas sobre prticas de contabilidade gerencial no Brasil .................... 112

    2.6.2 Pesquisas sob o enfoque da Teoria Institucional: internacionais e nacionais118

    2.6.2.1 Evidncias empricas internacionais ......................................................... 118

    2.6.2.2 Evidncias empricas nacionais ................................................................ 126

    3 O SETOR ELTRICO BRASILEIRO ................................................................. 130 3.1 EVOLUO DO SETOR ELTRICO BRASILEIRO...................................................... 130

    4 METODOLOGIA ................................................................................................ 140 4.1 MODELO CONCEITUAL DA PESQUISA................................................................... 140

    4.1.1 Definio dos conceitos utilizados na pesquisa ........................................... 142

    4.2 CARACTERIZAO DO MARCO TERICO METODOLGICO DE PESQUISA ................ 146

    4.2.1 Plo metodolgico........................................................................................ 147

    4.2.2 Plo tcnico.................................................................................................. 151

    4.2.2.1 Tcnicas de coleta de dados..................................................................... 152

    4.3 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA....................................................................... 154

    4.3.1 Populao objeto de estudo ......................................................................... 154

    4.3.2 Trajetria da pesquisa.................................................................................. 155

    4.3.2.1 Questes sobre as prticas de contabilidade gerencial ............................ 155

    4.3.2.2 Questes sobre os fatores preditivos e respostas organizacionais........... 156

    4.3.2.3 Questes sobre as presses coercitivas, normativas e mimticas ........... 158

    4.3.2.4 Escalas e nveis de mensurao das variveis ......................................... 159

    4.3.2.5 Pr-teste do questionrio da pesquisa ...................................................... 161

    4.3.3 Processo de coleta de dados ....................................................................... 162

    4.4 TRATAMENTO DOS DADOS.................................................................................. 164

    5 RESULTADOS DA PESQUISA ......................................................................... 166 5.1 CARACTERIZAO DA AMOSTRA E DOS RESPONDENTES ...................................... 166

    5.1.1 Perfil das organizaes investigadas ........................................................... 167

  • 5.1.2 Perfil dos respondentes................................................................................ 169

    5.2 PRTICAS DE CONTABILIDADE GERENCIAL NO SETOR ELTRICO BRASILEIRO........ 172

    5.2.1 Mudana e agente de mudana ................................................................... 172

    5.2.2 Objetivos das prticas de contabilidade gerencial utilizadas........................ 173

    5.2.3 Tcnicas e sistemas de contabilidade gerencial utilizados........................... 175

    5.3 TIPOLOGIA DAS RESPOSTAS ESTRATGICAS AO PROCESSO INSTITUCIONAL NO SETOR

    ELTRICO BRASILEIRO ........................................................................... 181

    5.3.1 Respostas estratgicas s presses e exigncias institucionais.................. 187

    5.3.1.1 Antecedentes institucionais e prognsticos das respostas estratgicas ... 190

    5.3.2 Grau de institucionalizao dos respondentes ............................................. 198

    5.4 ASSOCIAO ENTRE FATORES PREDITIVOS ADERENTES E AS PRTICAS DE

    CONTABILIDADE GERENCIAL NO SETOR ELTRICO BRASILEIRO................. 200

    5.4.1 Associao descritiva: prticas convencionais e fatores preditivos.............. 200

    5.4.2 Associao descritiva: prticas novas e fatores preditivos........................... 203

    5.4.3 Associao estatstica: prticas convencionais, novas e fatores preditivos . 205

    5.4.4 Discusso dos resultados das anlises descritivas e estatsticas ................ 213

    6 CONCLUSES, RECOMENDAES E LIMITAES DA PESQUISA .......... 215 6.1 CONCLUSES.................................................................................................... 215

    6.2 RECOMENDAES ............................................................................................. 222

    6.3 LIMITAES DA PESQUISA.................................................................................. 223

    REFERNCIAS..................................................................................................... 225 APNDICE - QUESTIONRIO ............................................................................. 240

  • 17

    1 INTRODUO

    Constata-se grande disparidade entre as abordagens tericas existentes em

    contabilidade gerencial e as prticas gerenciais efetivamente utilizadas pelas

    organizaes (SCAPENS, 1994). Argumentos como globalizao, competitividade,

    reduo do ciclo de vida dos produtos, avanos tecnolgicos e outros so

    comumente utilizados para justificar a necessidade de as organizaes buscarem

    permanente adaptao ao ambiente em que atuam a curto, mdio e longo prazos.

    Porm, evidncias empricas demonstram que as organizaes sobrevivem e

    geram excedentes utilizando prticas de contabilidade gerencial consideradas

    menos eficientes para a gesto de suas atividades (CINQUINI et al., 1999; ABDEL-

    KADER; LUTHER, 2002; ASKARANY, 2005; ZOUZA, 2001).

    Convergncia e divergncia so tpicos comuns nas pesquisas

    internacionais sobre prticas de contabilidade gerencial. No entanto, as discusses

    tm se concentrado na divergncia, enquanto o fenmeno da convergncia tem

    recebido menos ateno, no entanto, h sinais recentes de interesses na pesquisa

    voltada para a discusso relativa convergncia (GRANLUND; LUKKA, 1998).

    Partindo dessas afirmaes, busca-se estudar a convergncia das tcnicas e

    sistemas gerenciais em uso nas organizaes, mais que enfatizar o paradoxo entre

    teoria e prtica (divergncia), e oferecer subsdio para uma anlise interpretativa

    das prticas de contabilidade gerencial no Setor Eltrico brasileiro.

    Ott (1997) argumenta que a direo das organizaes necessita de

    informaes que permitam estabelecer objetivos, escolher estratgias a serem

    adotadas e sua posterior implementao e controle. Nesse ambiente, atribui-se

    contabilidade gerencial a tarefa de fornecer as informaes requeridas, devendo

    para tal fim, no mbito interno, oferecer tcnicas e sistemas teis e eficazes

    gesto da organizao, e no mbito externo permitir a adoo de uma dimenso

    estratgica.

    Como explicar que as organizaes continuem a utilizar prticas contbeis

    gerenciais desenvolvidas at o primeiro quarto do sculo XX em pleno sculo XXI?

    Quais motivos esclarecem o pfio desempenho das avanadas tcnicas e sistemas

    gerenciais prometidos como soluo para enfrentar a nova realidade ambiental em

    que atuam as organizaes? As vrias novas demandas de informaes vo desde

  • 18

    atender aos investidores externos s necessidades gerenciais internas que

    permitam gerar excedentes para remunerar satisfatoriamente os fatores de

    produo (empregados, matrias-primas, acionistas e/ou quotistas e o governo).

    A abordagem comumente empregada nas pesquisas sobre prticas de

    contabilidade gerencial focada no individuo, Teoria Neoclssica da Firma, que

    responde racionalmente s demandas ambientais pode no ser a mais apropriada

    (SCAPENS, 1994; BURNS; SCAPENS, 2000a; SCAPENS, 2006). Adota-se uma

    nova abordagem (com caractersticas interpretativas), a Teoria Institucional.

    Analisa-se, portanto, as organizaes (SCAPENS, 1994) e os campos

    organizacionais (DIMAGGIO; POWELL, 1983), buscando estudar a convergncia

    das prticas de contabilidade gerencial, sua significncia e seus direcionadores

    (GRANLUND; LUKKA, 1998).

    Esta pesquisa, portanto, estuda as prticas de contabilidade gerencial que

    representam a forma como as organizaes do Setor Eltrico brasileiro conduzem a

    gesto de suas atividades diante das peculiaridades internas e dos desafios

    ambientais externos (arranjos institucionais). A partir das prticas em uso, estuda os

    fatores que concorrem para o isomorfismo das prticas de contabilidade gerencial

    nessas organizaes.

    1.1 CARACTERIZAO DO PROBLEMA DE PESQUISA

    O objetivo desta seo caracterizar o contexto dentro do qual se

    desenvolve esta dissertao e est dividida em: motivao da pesquisa, questo de

    pesquisa, objetivos geral e especficos, justificativas e contribuies, e como a

    mesma est estruturada.

    1.1.1 Motivao da pesquisa

    O tema estabilidade e mudana em contabilidade gerencial tem se tornado

    um tpico muito debatido nos ltimos anos em pesquisas sobre prticas de

  • 19

    contabilidade gerencial. Discute-se se a contabilidade gerencial no mudou, mudou,

    ou deveria mudar. (BURNS; SCAPENS, 2000a). Enquanto vrias pesquisas tentam

    explicar se a contabilidade gerencial mudou ou no mudou substancialmente no

    contexto das prticas cotidianas das organizaes nos ltimos (pelo menos) vinte e

    cinco anos, o ambiente onde a contabilidade gerencial praticada mudou, com os

    avanos em tecnologia da informao, mercados competitivos, diferentes estruturas

    organizacionais, novos comportamentos e exigncias dos consumidores, novas

    prticas gerenciais, dentre vrios outros aspectos.

    Do mesmo modo, a nfase em pesquisas sobre mudana em contabilidade

    gerencial reflexo das mudanas que tm acontecido com freqncia no ambiente

    competitivo: desregulamentao, mega-fuses, convergncias tecnolgicas e

    descontinuidades esto aumentando a intensidade e dinmica da competio

    (PRAHALAD, 1998; LUKKA; SHIELDS, 1999 apud LAITINEN, 2001). As prticas de

    contabilidade gerencial, que trabalhavam bem em ambientes relativamente

    estveis, so na sua maioria irrelevantes para as novas formas de competio que

    esto emergindo (LAITINEN, 2001). Porm, tal irrelevncia raramente

    corroborada na prtica segundo as evidncias de pesquisas nacionais e

    internacionais (p. ex., Askarany, 2005; Souza, 2001).

    Diante da atual realidade de atuao das organizaes, e os esforos de

    pesquisadores para desenvolver novas tcnicas e sistemas de contabilidade

    gerencial, as pesquisas relacionadas investigao das prticas de contabilidade

    gerencial no cenrio brasileiro e mundial objetivam, de forma explcita ou no,

    verificar qual a aderncia conceitual das prticas gerenciais das organizaes s

    teorias recomendadas pela literatura contbil (LAMMINMAKI; DRURY (2001)

    denominam literatura normativa), nos seus livros-texto, artigos, dissertaes e

    teses sobre contabilidade gerencial. Aderncia conceitual significa que a

    organizao utiliza conceitos e componentes definidos na literatura da rea contbil

    nas mais diferentes intensidades possveis (FREZATTI, 2004).

    Por outro lado, os levantamentos empricos constatam que existe

    atualmente um aparente paradoxo no que diz respeito prtica da contabilidade

    gerencial. Apesar de fatores indutores e facilitadores do ambiente externo e do rol

    de novas tcnicas e procedimentos disposio dos gestores empresariais, o que

    se observa efetivamente, na prtica, o baixo ndice de implementao de novas

    tcnicas e sistemas gerenciais nas organizaes (FREZATTI, 2004; GUERREIRO;

  • 20

    PEREIRA; LOPES, 2004), evidenciando que a contabilidade gerencial na prtica

    cotidiana das organizaes tem se modificado pouco. Deixando de lado a questo

    de ser recurso de retrica, as mudanas ocorreram (e esto ocorrendo) e esto

    presentes direta e indiretamente no dia-a-dia das organizaes (BURNS;

    SCAPENS, 2000b).

    A exposio das organizaes a cenrios econmicos distintos em funo

    dos setores de atividade em que atuam, ensejando maior ou menor concorrncia,

    nvel tecnolgico necessrio para a produo ou prestao de servios,

    especializao da mo-de-obra, fonte de matria-prima, mercado consumidor,

    presses poltico-sociais, viso dos administradores, misso da organizao e

    inmeros outros fatores deveriam imprimir uma forma de atuao e aderncia

    diferenciada s prticas contbeis concernentes com as recomendaes tericas.

    Para Burns e Scapens (2000b) a questo parece estar menos relacionada com a

    necessidade de mudar o tipo de tcnica de contabilidade gerencial adotado e mais

    com a maneira que a contabilidade gerencial (inclusive de muitas tcnicas

    tradicionais) vem sendo utilizada.

    Observa-se que as organizaes so diferentes no apenas na perspectiva

    das atividades que realizam, mas tambm em tamanho, experincia, complexidade,

    ambiente competitivo, comportamento coletivo interno (FREZATTI, 2004), controle

    do capital investido, e outros. Essas caractersticas deveriam apresentar-se como

    fatores indutores de comportamentos diferenciados quanto utilizao de tcnicas

    e sistemas contbeis gerenciais. Essa percepo caracterstica da viso

    neoclssica de que as organizaes buscam melhores resultados econmico-

    financeiros e padres de qualidade por meio do aperfeioamento de eficincias e

    eliminao de deficincias tanto internas quanto externas.

    Para Burns e Vaivio (2001, p. 389) estes so tempos interessantes e

    extremamente desafiadores para a contabilidade gerencial, seus acadmicos e

    seus praticantes. A Nova Economia demanda mudana ou o que aparenta.

    Particularmente desde a publicao do livro Relevance lost: the rise and fall of

    management accounting (Johnson e Kaplan, 1987), acadmicos, contadores em

    organizaes e consultores buscaram desenvolver novas tcnicas (denominadas

    avanadas) e novos sistemas de contabilidade gerencial uma contabilidade

    gerencial que satisfaa as necessidades de informao de gerentes de negcios no

    atual mundo globalizado, e guiado pela tecnologia.

  • 21

    Outros argumentos comuns so os avanos em tecnologias da informao

    que, supem-se, tm permitido inovaes na coleta, mensurao, anlise e

    comunicao de informaes dentro das organizaes e entre organizaes,

    facilitado em particular por tecnologias tais como Enterprise Resource Planning

    (ERP), e-commerce, Internet, trocas eletrnicas internas de dados e reunies

    virtuais (BURNS; VAIVIO, 2001). Todos esses fatores so argumentos comuns de

    acadmicos, consultores e outros como justificativa para a necessidade de os

    sistemas contbeis gerenciais das organizaes se ajustarem nova realidade

    ambiental. Para muitos observadores, to significativas mudanas implicam a

    necessidade de que a contabilidade gerencial tambm mude (BURNS; VAIVIO,

    2001).

    Pode-se afirmar, pelos argumentos apresentados, que as organizaes

    deveriam implementar processos de mudanas profundos na sua forma de atuao,

    no seu modelo de gesto de negcios, nos seus instrumentos gerenciais e,

    portanto, nas prticas de contabilidade gerencial. Esses pressupostos levam em

    considerao que os gestores so racionais nas suas tomadas de deciso e

    buscam trabalhar com as melhores tcnicas e sistemas gerenciais disponveis no

    mercado para maximizar a eficincia e eficcia da organizao. Todavia,

    desenvolvimentos tericos relativamente recentes em contabilidade gerencial

    fundamentados na Teoria Econmica e Sociolgica so contrrios a essa

    percepo determinstica da realidade.

    Pesquisas acadmicas no evidenciam nveis de utilizao de novas

    tcnicas e sistemas de contabilidade gerencial que permitam aceitar sem

    questionamentos a abordagem estritamente racional da realidade. No cenrio

    internacional, Cinquini et al. (1999), na Itlia; Chung, Gibbons e Schoch (2000), na

    Austrlia; Abdel-Kader e Luther (2002), no Reino Unido; Askarany (2005), na

    Austrlia; no cenrio nacional, Ott (1997), Mossambani (2000), Souza (2001),

    Barbosa (2004), Frezatti (2004), Machado e Souza (2006), Santos e Almeida

    (2006); para citar apenas alguns estudos; confirmam a baixa aderncia conceitual

    das organizaes s novas abordagens tericas sobre tcnicas e sistemas

    contbeis gerenciais.

    Cinquini et al. (1999) estudaram o estado da arte das prticas de

    contabilidade gerencial na Itlia, constataram a predominncia das prticas tidas

    como tradicionais; e evidncias no-conclusivas para associao entre nvel de

  • 22

    adoo de novas tecnologias como o Just in Time (JIT) e produo enxuta e a

    tendncia a adotar novas prticas contbeis. Chung, Gibbons e Schoch (2000)

    estudaram a relao entre as matrizes e as companhias multinacionais

    estabelecidas na Austrlia utilizando a abordagem positivista, diante da no

    comprovao da quase totalidade das hipteses, chegaram concluso de que em

    termos de lentes tericas para moldar futuras pesquisas em contabilidade gerencial

    acreditam que abordagens interpretativas, tal como a Teoria Institucional, pode

    prover diferentes insights no disponveis na lente da teoria da contingncia.

    Isto ecoa a chamada para o pluralismo paradigmtico como forma de

    entender objetos sociais complexos, ou seja, a triangulao de teorias de pesquisa

    e mtodos de inquirir sobre a realidade social complexa que se apresenta ao

    pesquisador (p. ex., a relao entre subsidirias e suas matrizes) (CHUNG;

    GIBBONS; SCHOCH, 2000). Em Abdel-Kader e Luther (2002) os resultados

    indicam que as prticas de contabilidade gerencial adotadas no so sofisticadas.

    Oramento, rentabilidade de produtos e mensurao de desempenho financeiro so

    os pilares centrais das prticas de contabilidade gerencial utilizadas no Reino

    Unido.

    Askarany (2005), por outro lado, em estudo das prticas de contabilidade

    gerencial na Austrlia argumenta que a literatura acadmica tem sido crtica dos

    tradicionais sistemas e tcnicas de contabilidade gerencial, em particular da sua

    ineficincia e incapacidade de prover informao detalhada e tempestiva, e

    satisfazer os tomadores de deciso e potenciais usurios de tal informao. Porm,

    os resultados da pesquisa realizada levaram-no concluso de que as tcnicas de

    contabilidade gerencial tidas pela literatura como mais apropriadas tambm devem

    possuir deficincias que dificultam a efetiva aplicao prtica, pois as tcnicas

    tradicionais possuem maior aderncia nos meios empresariais daquele pas.

    Souza (2001) encontrou evidncias favorveis ao entendimento de que as

    novas prticas de contabilidade gerencial, principalmente o ABC e o custo-meta,

    na opinio dos gestores investigados, so contribuies relevantes ao fornecimento

    de informaes mais precisas gesto dos negcios, mas no tm aplicao

    acentuada no mbito das organizaes investigadas. Os benefcios das novas

    abordagens conceituais so limitados pela complexidade e pelos custos de

    implantao e manuteno, consistente com a relao custo-benefcio das prticas,

  • 23

    a qual no recomenda a adoo de uma tcnica gerencial cujo custo supere o

    benefcio de sua utilizao.

    Inseridas no contexto da Teoria Neoclssica da Firma, as argies

    anteriores sobre as divergncias entre teoria e prtica em contabilidade gerencial,

    dentro dos pressupostos da racionalidade econmica e do equilbrio de mercado,

    constituem as bases sob as quais se buscava compreender as prticas de

    contabilidade gerencial. Tambm constituem a orientao do desenvolvimento de

    tcnicas e sistemas contbeis gerenciais. As pesquisas, dentro dessa abordagem,

    enfatizavam o gap, a ausncia de uma resposta racional-maximizadora para os

    desafios dos intrincados contextos competitivos, mas no ofereciam explicaes

    suficientes para a persistncia e as causas do gap (GRANLUND; LUKKA, 1998).

    No final dos anos 1980 e decorrer dos anos 1990 uma grande variedade de

    abordagens tericas e metodolgicas comearam a ser utilizadas nas pesquisas

    sobre contabilidade gerencial; estendendo o domnio terico da economia dentro da

    Teoria Organizacional e Social, com trabalho interpretativo e perspectiva crtica

    sendo utilizado ao lado de pesquisa mais convencional (SCAPENS, 2006). As

    disparidades entre teoria e prtica, as novas tcnicas e sistemas gerenciais sendo

    discutidos em livros-texto, artigos, dissertaes e teses, com implementaes

    prticas aqum das expectativas, levaram vrios pesquisadores a testar novas

    abordagens tericas no estudo das prticas de contabilidade gerencial.

    Buscando encorajar os pesquisadores a pensar em diferentes formas de

    visualizar a contabilidade gerencial e empregar diferentes abordagens para dar

    suporte s questes de pesquisa, o Journal of Management Accounting Research

    (JMAR) publicou artigo elaborado por Atkinson et al. (1997) com o ttulo New

    directions in management accounting research. Os autores chegaram a um acordo

    sobre os grandes campos de pesquisa em contabilidade gerencial (o papel da

    contabilidade gerencial na mudana organizacional; a interao entre a estrutura da

    contabilidade e a estrutura organizacional; o papel da informao contbil no

    suporte tomada de deciso), mas no completamente em como decompor esses

    grandes campos em campos menores de pesquisa.

    Resultado do trabalho de nove pesquisadores de vrias universidades

    internacionais, os quais trabalharam de agosto de 1994 a julho de 1995 no comit

    da Seo de Contabilidade Gerencial (Management Accounting Section) do JMAR,

    o trabalho buscou discutir as grandes reas que os pesquisadores deveriam

  • 24

    explorar em novas pesquisas sobre contabilidade gerencial na dcada de 1990 e

    anos posteriores, com nfase na importncia de mltiplos paradigmas e mtodos de

    pesquisa. Os pontos levantados pelos autores so relevantes para o

    desenvolvimento desta pesquisa, pois comeam a ser abordados nas pesquisas

    acadmicas sobre contabilidade gerencial no Brasil, com destaque para o

    entendimento das prticas de contabilidade gerencial como uma rotina.

    O estudo da contabilidade gerencial como uma rotina busca identificar

    caractersticas dos sistemas de contabilidade gerencial que provem estabilidade

    para o sistema organizao sem engendrar em inrcia organizacional; visa observar

    o impacto da mudana organizacional nas rotinas de contabilidade gerencial; e,

    finalmente, pretende documentar a aprendizagem organizacional e sua influncia

    nas inovaes em contabilidade gerencial (ATKINSON et al., 1997). As

    preocupaes desses autores so coerentes com as pesquisas de Scapens e seus

    seguidores que j surtiam efeitos no mundo acadmico h mais de uma dcada.

    Portanto, a primeira base terica desta dissertao so os insights da grande rea

    de pesquisa a contabilidade gerencial como uma rotina organizacional cujos

    fundamentos so encontrados em vertentes da Teoria Institucional.

    A revista Management Accounting Research (MAR) dedicou edio

    completa publicao de artigos versando sobre novas abordagens tericas nas

    pesquisas sobre contabilidade gerencial. Especial nfase recebeu a Teoria

    Institucional; com os seguintes artigos publicados: Management accounting change,

    John Burns e Juhani Vaivio; What does organizational change mean? Speculations

    on a taken for granted category, Paolo Quattrone e Trevor Hopper; Performance

    measurement and institutional processes: a study of managerial responses to public

    sector reform, Sven Modell; The power of accounting: a field study of local financial

    management in a police force, Paul M. Collier; Management accounting and the

    challenge of strategic focus, Willie Seal; Management accounting change in small

    technology companies: towards a mathematical model of the technology firm, Erkki

    K. Laitinen (MAR, 2001, p. 4-5).

    Se Atkinson et al. (1997) no conseguiram identificar as divises das

    grandes reas de pesquisa por eles discutidas, os artigos da MAR sinalizaram os

    vrios caminhos que podem ser seguidos dentro de uma das diferentes abordagens

    tericas: a Teoria Institucional. Enfatizando temas como mudana organizacional, o

    significado da mudana organizacional, desempenho e processo institucional,

  • 25

    relaes de poder e a contabilidade gerencial, contabilidade gerencial e o desafio

    dos focos estratgicos, e mudanas em contabilidade gerencial em pequenas

    organizaes de alta tecnologia. Esses artigos tambm utilizaram abordagens

    metodolgicas diferenciadas, como o estudo de caso, o estudo de campo,

    levantamento (survey); bem como trabalho quantitativo com o desenvolvimento de

    modelos matemticos.

    Os artigos publicados pela revista MAR exploram a abordagem institucional

    e suas vrias inter-relaes dentro de contextos variados como forma de

    compreender a prtica, estabilidade e/ou mudana da contabilidade gerencial no

    dia-a-dia das organizaes. Burns e Vaivio (2001) destacam que a literatura

    recente, acadmica e profissional, abundante em comentrios sobre a natureza

    varivel da prtica de contabilidade gerencial, e enfatizam a mudana em

    contabilidade gerencial. Para Quattrone e Hopper (2001) apesar da quantidade de

    pesquisas sobre o porqu e como as organizaes mudam, o que constitui

    mudana tido como algo dado (inquestionvel), e sua definio evitada, e

    procuram explic-la inspirados na sociologia de translao e construtivista.

    Modell (2001) encontrou evidncias que suportam vrias das hipteses

    levantadas por Oliver (1991) sobre respostas estratgicas dos agentes s presses

    e exigncias institucionais. Collier (2001) estudou as relaes de poder e explicao

    de como o loose coupling, extenso em que os sistemas de controle contbeis

    separam ou acomodam padres externos de legitimidade e internos projetados de

    desempenho esperados, em outras palavras, em que extenso os controles

    contbeis satisfazem ambas as exigncias externas e internas provendo consenso

    entre (ou amortecendo) as demandas aparentemente concorrentes, se estabelece

    pela contabilidade, no qual o oramento desenvolvido pode satisfazer tanto s

    demandas institucionais quanto tcnicas.

    Em Seal (2001) a Teoria Autopoitica, definida por Maturana (2002, p. 15)

    apud Crubellate (2005) como [...] a rede de produes de componentes, que

    resulta fechada sobre si mesma, porque os componentes que produz a constituem

    ao gerar as prprias dinmicas de produo que a produziu e ao determinar sua

    extenso como um ente circunscrito [...], isto , compreende ento a capacidade

    que os sistemas vivos possuem (e que os distingue dos demais sistemas) de se

    autoproduzirem por meio de processo organizacional fechado, processo este que

    a base de sua prpria conservao, serve como metfora para explorar a

  • 26

    contabilidade gerencial e a mudana organizacional dentro de uma mesma

    estrutura terica; e Laitinen (2001) busca explicar a mudana em contabilidade

    gerencial em pequenas organizaes de tecnologia em termos de suas

    caractersticas organizacionais e padres motivacionais.

    Nesse contexto, a crtica ao pensamento convencional, ou seja, Teoria

    Neoclssica da Firma, tornou-se elemento de destaque nas pesquisas sobre

    prticas de contabilidade gerencial, contestando sua aplicabilidade para explicar os

    fatores que influenciam a estabilidade e mudana das prticas gerencias das

    organizaes. A Teoria Institucional, sob o enfoque da Velha Economia Institucional

    Old Institutional Economics (OIE) , destacou-se, segundo Scapens (2006), ao

    introduzir os conceitos de instituies, regras, rotinas e hbitos como os elementos

    essenciais para entender como as organizaes evoluem de um determinado

    estado de equilbrio para outro com o passar do tempo, ou seja, adotam ou no

    novas tcnicas e sistemas gerenciais.

    Tambm se destacaram pesquisas com base na perspectiva sociolgica da

    Teoria Institucional (sociologia das organizaes ou institucionalismo sociolgico),

    nos argumentos de Powell e DiMaggio (2001), como reflexo do renascimento do

    estudo das instituies em vrias reas de conhecimento, tais como a Economia,

    Histria Econmica, Cincia Poltica, Sociologia, Psico-antropologia e outras. A

    abordagem de DiMaggio e Powell (1983) ficou conhecida como Nova Sociologia

    Institucional New Institutional Sociology (NIS). Do mesmo modo, no faltaram

    estudos focados na Nova Economia Institucional New Institutional Economics

    (NIE) , tambm conhecida como Economia dos Custos de Transao

    Transaction Cost Economics (TCE) , corrente institucionalista da economia que

    tem por base pressupostos da Teoria Neoclssica da Firma.

    Diante do ambiente contextualizado, o estudo das instituies experimenta

    um renascimento em todas as cincias sociais. Em alguns setores, este

    desenvolvimento uma reao contra a revoluo comportamental (Teoria

    Neoclssica) de dcadas recentes, a qual interpretou o comportamento econmico

    e poltico coletivo como a conseqncia agregada da escolha individual. Os

    comportamentalistas consideravam as instituies epifenmenas fenmeno que

    um subproduto ocasional de outro, sobre o qual no exerce qualquer influncia, e

    do qual dependente (FERREIRA, 1999) , a simples soma das propriedades no

    nvel individual (POWELL; DIMAGGIO, 2001, p. 34), mas as instituies sociais,

  • 27

    polticas e econmicas tm se expandido, tm se tornado mais complexas e contam

    com mais recursos, e prima facie1 so mais importantes para a vida coletiva.

    (MARCH; OLSEN, 1984, p. 734 apud POWELL; DIMAGGIO, 2001, p. 34).

    O ressurgimento do interesse nas instituies contempla uma tradio mais

    antiga da economia poltica, associada com Veblen e Commons (precursores da

    OIE), que se concentrava nos mecanismos mediante os quais ocorria a ao social

    e econmica; contempla tambm os esforos de funcionalistas como Parsons e

    Selznick para compreender as interconexes duradouras entre a organizao

    poltica, a economia e a sociedade. Essas tradies se desprestigiaram no porque

    fizeram as perguntas equivocadas, mas sim porque proporcionavam respostas

    demasiadamente descritivas e historicamente especficas, ou to abstratas que

    careciam de efetividade explicativa (POWELL; DIMAGGIO, 2001, p. 34-35).

    O esforo atual para combinar os motivos de investigao dessas tradies

    com os desenvolvimentos contemporneos na teoria e no mtodo no s um

    retorno s razes acadmicas (POWELL; DIMAGGIO, 2001), mas tambm um

    esforo para proporcionar respostas novas a velhas perguntas acerca do modo que

    os arranjos institucionais conformam, mediam e canalizam as escolhas sociais.

    Trata-se de um renovado interesse em vincular novamente os fatores

    institucionais anlise econmica e outras anlises, pelo pouco xito que teve a

    Teoria Neoclssica em explicar como so tomadas realmente as decises nas

    organizaes (GMEZ CHIAS, 2002, p. 84). Parafraseando Scott (2001b): como

    as organizaes supostamente elegem este ou aquele sistema ou tcnica gerencial

    para desempenho das suas atividades cotidianas de gerenciamento?

    Com as limitaes de poder explicativo, com o passar dos anos, a Teoria

    Neoclssica, foi se desdobrando em linhas de pesquisa que passaram a incorporar

    uma perspectiva institucional (p. ex., NIE). A constatao das chamadas falhas de

    mercado, as quais impedem a consecuo de uma alocao eficiente do ponto de

    vista de Pareto, por meio do livre jogo das foras de mercado, tornou essa

    incorporao necessria. Para a superao dessas falhas e, portanto, para o

    estabelecimento de uma alocao dos recursos Pareto-eficiente, constatou-se a

    _____________ 1 Que se pode verificar de pronto, sem ser preciso maior exame (FERREIRA, 1999).

  • 28

    fundamental relevncia do papel desempenhado pelas instituies sociais.

    (MORAES, 2001).

    Powell e DiMaggio (2001 p. 35) relatam que dentro dos estudos

    organizacionais, a teoria institucional tem respondido a anomalias empricas, ao fato

    de que, como discorrem March e Olsen (1984, p. 747), o que observamos no

    mundo incongruente com a forma que as teorias contemporneas pedem que nos

    expressemos apud (POWELL; DIMAGGIO, 2001 p. 35). Os estudos da mudana

    organizacional e poltica habitualmente apontam descobrimentos difceis de

    conciliar seja com as explicaes funcionalistas ou com as que se baseiam no ator

    racional. Parafraseando Powell e DiMaggio (2001), existem descobertas difceis de

    conciliar em contabilidade gerencial, principalmente na relao teoria e prtica nos

    diversos contextos organizacionais nacionais e internacionais.

    Powell e DiMaggio (2001 p. 35) explicam as vrias anomalias que podem

    ser encontradas na prtica cotidiana das organizaes: os administradores e os

    polticos advogam por programas que se estabelecem, mas que no se levam a

    cabo; os gerentes renem informao assiduamente, mas no a analisam;

    contratam-se especialistas, no em razo dos seus conselhos, mas para exibir

    legitimidade (p. ex., laudos, pareceres). Esses descobrimentos to comuns da

    investigao baseada em casos tm gerado esforos para substituir as teorias

    racionais da contingncia tcnica ou da escolha estratgica por modelos

    alternativos que so mais consistentes com a realidade organizacional que tem

    observado os investigadores.

    A necessidade de novas abordagens tericas que permitam entender e

    responder s anomalias empricas (no aderncia conceitual) encontradas nas

    pesquisas em contabilidade gerencial tem como objetivo dar respostas novas a

    velhas perguntas (p. ex., por que existe tal disparidade entre teoria e prtica em

    contabilidade gerencial?). Nesse contexto, o ambiente do final dos anos 1990 e

    incio dos anos 2000 propiciou o surgimento de expressiva quantidade de estudos

    em contabilidade gerencial com abordagens tericas institucionais como as da OIE,

    NIS e NIE nos Estados Unidos, pases europeus, Austrlia, e outros.

    Diante das anomalias entre teoria e prtica, Scapens (1994) discorre que a

    perspectiva institucional oferece uma abordagem alternativa para se estudar a

    prtica da contabilidade gerencial. Essa perspectiva induz o pesquisador a uma

    anlise detida da natureza das prticas vigentes na organizao. Muito mais do que

  • 29

    desqualificar determinadas prticas da contabilidade gerencial que no se

    conformam com as diretrizes das modernas teorias apresentadas nos livros-texto, a

    contabilidade gerencial deve ser estudada como produto de processos institucionais

    que do coerncia e significado ao comportamento da organizao.

    Guerreiro (2006, p. 3) faz a seguinte interpretao: na prtica, os sistemas

    de contabilidade gerencial no incorporam, necessariamente, os melhores

    conceitos tcnicos ditados pela teoria convencional (Teoria Neoclssica). Mas sim,

    os conceitos que estejam em linha com as expectativas dos indivduos e em

    conformidade com as normas sociais de comportamento aceitvel na organizao,

    e se convertam com o tempo em hbitos e rotinas amplamente aceitos por aqueles

    indivduos. As discusses e constataes apresentadas, no entanto, esto longe de

    representar um paradigma slido de pesquisa no cenrio nacional.

    Constata-se a existncia de poucas pesquisas sob a abordagem

    institucional no Brasil. Mesmo em Administrao, cincia mais voltada para anlises

    organizacionais, pesquisas com abordagem institucional comeam somente em

    1993 e desde ento, embora tenha ocorrido um pequeno aumento no final dos anos

    1990 e incio dos anos 2000, foram poucos os estudos desenvolvidos com tal

    abordagem. (ROSA; COSER, 2004). A popularidade da teoria institucional um

    fenmeno relativamente recente no ciclo acadmico, especialmente nas ltimas

    dcadas (MACHADO-DA-SILVA; FONSECA; CRUBELLATE, 2005, p. 2).

    Guerreiro, Pereira e Lopes (2004) deram os primeiros passos dentro da

    nova perspectiva ao realizarem estudo terico, fundamentado em Burns e Scapens

    (2000a) e outros, explorando a OIE, buscando refletir sobre o paradoxo da

    estabilidade dos sistemas de contabilidade gerencial, ou seja, porque as

    organizaes, na prtica, utilizam muito pouco, a base conceitual disponvel. Os

    autores apresentam crticas Teoria Neoclssica e concluem, segundo a

    abordagem da OIE, que a contabilidade gerencial praticada pelas organizaes

    uma instituio formada a partir de hbitos e rotinas que do sentido aos

    relacionamentos dos grupos na organizao.

    As organizaes, segundo a teoria da OIE, no utilizam em larga escala as

    novas abordagens em contabilidade gerencial porque os processos de

    institucionalizao dos novos conceitos efetivamente no ocorreram (GUERREIRO;

    PEREIRA; LOPES, 2004). Porm, essa afirmao carece de anlises empricas que

    a corroborem. Devido baixa quantidade de estudos com tal abordagem no Brasil,

  • 30

    as afirmaes dos autores merecem ressalvas, as quais com o desenvolvimento de

    novos estudos considerando as vrias implicaes das instituies na evoluo das

    organizaes empresariais e de suas prticas contbeis gerenciais cotidianas

    contribuiro para trazer novos insights ao contexto nacional da pesquisa

    institucional em contabilidade gerencial.

    Outros esforos nacionais os sucederam: Guerreiro, Pereira e Rezende

    (2005) realizaram estudo de caso da organizao Bearings, com abordagem

    emprico-analtica, buscando entender a formao dos hbitos e das rotinas da

    contabilidade gerencial; Pereira e Guerreiro (2005) analisam, tambm estudo de

    caso, a institucionalizao da Controladoria no Banco do Brasil, e Guerreiro e

    Pereira (2006) voltam ao caso Banco do Brasil para fazer uma nova anlise do

    processo de institucionalizao da rea organizacional de controladoria. Zan

    (2006b) analisou o uso de instrumentos da contabilidade gerencial no Brasil (ABC,

    ABM, EVA, MVA, BSC)2 e a influncia do setor econmico na institucionalizao

    dos mesmos, nas organizaes presentes no Anurio Exame Melhores e Maiores.

    Guerreiro, Frezatti e Casado (2006) introduziram os fatores inconscientes

    da psicologia humana e da cultura organizacional, numa abordagem de ensaio,

    buscando aprofundar o nvel de entendimento sobre as causas do gap existente

    entre teoria e prtica em contabilidade gerencial tendo o fator humano como tomo

    do processo. A hiptese de pesquisa colocada foi de que determinados conceitos

    da psicologia e da cultura organizacional podem contribuir para uma melhor

    compreenso da abordagem institucional aplicada contabilidade gerencial.

    Santos, Almeida e Crozatti (2007) estendem o raciocnio anterior e o

    complementam. Os estudos supracitados (artigos cientficos) trabalham com os

    pressupostos tericos da OIE e representam alguns dos primeiros insights

    institucionais (nacional) de pesquisa em contabilidade gerencial.

    Adicionalmente, o tema da estabilidade e mudana nos sistemas de

    contabilidade gerencial tem sido pouco explorado em pesquisas no Brasil na forma

    de Dissertaes e Teses. Destaque para Abreu (2006) que analisou em dissertao

    de mestrado, sob o enfoque da NIS, se a variao do grau de institucionalizao

    dos gestores do processo de planejamento de determinada organizao influencia a

    _____________ 2 Respectivamente: Activity Based Cost; Activity Based Management; Economic Value Added; Market

    Value Added; Balanced Scorecard.

  • 31

    percepo de desempenho manifestada no oramento anual. Buscou, por meio de

    estudo de caso de subsidiria brasileira norte-americana, constatar o quanto os

    gestores organizacionais aderem aos principais fatores isomrficos (polticas

    internas, exigncias da matriz e prescries de entidades profissionais) que

    exercem presso sobre o ambiente de processo de planejamento na organizao.

    Zan (2006a) defendeu dissertao buscando responder seguinte questo

    de pesquisa: como os antecedentes na implantao de uma mudana na

    contabilidade gerencial podem ser diagnosticados pela teoria institucional? Com

    enfoque na NIS e OIE buscou verificar, por meio de estudo de caso de subsidiria

    brasileira anglo-sax, se a teoria institucional pode contribuir para um diagnstico

    na implantao de mudanas na contabilidade gerencial dentro de uma

    organizao. Consistiu em utilizar conceitos institucionais que permitissem a

    diagnose, apontassem solues ou cursos de ao para uma organizao com

    problemas na implantao de novas tcnicas de contabilidade gerencial e avaliar a

    preditividade das respostas organizacionais s mudanas na contabilidade

    gerencial.

    Abreu (2006) e Zan (2006a) concentram-se nas respostas das organizaes

    s presses isomrficas ambientais que so exercidas sobre suas prticas

    contbeis gerenciais segundo os pressupostos de Oliver (1991). Para Oliver (1991)

    os estudos sobre contabilidade gerencial focam-se na passividade das

    organizaes (p. ex., Meyer e Rowan, 1977; DiMaggio e Powell, 1983), mas no se

    atentam para a questo das respostas estratgicas que as organizaes

    empreendem contra as foras mimticas exercidas sobre as mesmas.

    Portanto, abordagens de pesquisa com enfoque na convergncia

    (GRANLUND; LUKKA, 1998) que contemplem as respostas estratgicas de Oliver

    (1991); ou o isomorfismo institucional de DiMaggio e Powell (1983); ou a

    estabilidade e mudana e regras e rotinas de Scapens (1994) e Burns e Scapens

    (2000a); apresentam-se como um campo frtil de pesquisa a ser explorado.

    A estrutura conceitual e terica proposta por Oliver (1991) aponta para a

    complementaridade de sua abordagem a abordagem de DiMaggio e Powell (1983),

    assim como estudos subseqentes com base em Scapens (1994) e Burns e

    Scapens (2000a); sendo, desse modo, conveniente explor-la. Por conseguinte, no

    contexto supracitado, surgiu o interesse de estudar as presses institucionais

    internas (OIE), presses isomrficas institucionais internas e externas (NIS), e as

  • 32

    respostas estratgicas organizacionais (NIS e Dependncia de Recursos: OLIVER,

    1991), como indutores do isomorfismo de prticas de contabilidade gerencial. O

    QUADRO 1 apresenta um resumo dos principais autores citados em cada uma das

    abordagens tericas discutidas neste tpico.

    PRINCIPAIS AUTORES CITADOS EM CADA ABORDAGEM TERICA Velha Economia Institucional (OIE) Nova Sociologia Institucional (NIS)

    Scapens (1994) Scapens (2006) DiMaggio e Powell (1983) Burns e Scapens (2000a) Moraes (2001) Oliver (1991) Burns e Scapens (2000b) Zan(2006a) Scott (2001b)

    Burns e Vaivio (2001) Guerreiro, Pereira e Lopes (2004) Powell e DiMaggio (2001)

    Quattrone e Hopper (2001) Guerreiro, Pereira e Rezende (2005) Granlund e Lukka (1998)

    Modell (2001) Pereira e Guerreiro (2005) Abreu (2006) Collier (2001) Guerreiro e Pereira (2006) Zan (2006a)

    Seal (2001) Guerreiro, Frezatti e Casado (2006) Zan (2006b)

    Laitinen (2001) Santos, Almeida e Crozatti (2007) Machado-da-Silva, Fonseca e Crubellate (2005)

    Gmez Chias (2002) Meyer e Rowan (1977) QUADRO 1 PRINCIPAIS AUTORES CITADOS EM CADA ABORDAGEM TERICA FONTE: O autor (2008) dados de pesquisa

    O Setor Eltrico foi escolhido como em Tsamenyi, Cullen e Gonzlez

    (2006)3 pelas transformaes institucionais ocorridas no mesmo desde sua criao

    por indicar convergncia das prticas de contabilidade gerencial em uso diante de

    presses isomrficas comuns. Este discutido no captulo trs (3 O Setor Eltrico

    Brasileiro).

    1.1.2 Questo de pesquisa

    A necessidade de abordagens tericas alternativas que visem contribuir

    para entender as prticas contbeis gerenciais que deram (do) certo nas

    organizaes e as disparidades entre teoria e prtica em contabilidade gerencial,

    tendo como base os estudos de Scapens (1994), Burns e Scapens (2000a),

    Scapens (2006), e outros focados na abordagem da OIE; DiMaggio e Powell (1983),

    Oliver (1991), e outros com enfoque na NIS, inseridas na problemtica abordada,

    _____________ 3 Realizou estudo de caso em organizao do Setor Eltrico espanhol.

  • 33

    levam seguinte questo de pesquisa: que fatores concorrem para o isomorfismo

    das prticas de contabilidade gerencial utilizadas pelas organizaes do Setor

    Eltrico brasileiro segundo os pressupostos tericos da Teoria Institucional?

    1.1.3 Objetivos: geral e especficos

    Os objetivos gerais referem-se a conceitos mais ou menos abstratos, os

    especficos referem-se s caractersticas que podem ser observadas e mensuradas

    em determinado grupo (GIL, 2002); ambos tm a finalidade de mostrar o que se

    deseja da pesquisa (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006, p. 36). Portanto, esta

    pesquisa tem como objetivo geral identificar os fatores que concorrem para o

    isomorfismo das prticas de contabilidade gerencial utilizadas pelas organizaes

    do Setor Eltrico brasileiro segundo os pressupostos tericos da Teoria

    Institucional.

    Os objetivos especficos tentam descrever, nos termos mais claros

    possveis, exatamente o que ser obtido num levantamento ou qualquer outro

    delineamento de pesquisa (GIL, 2002). Nesse contexto, verificada a necessidade de

    atender ao objetivo geral do estudo e levando em considerao suas

    caractersticas, trabalha-se com os seguintes objetivos especficos:

    a) identificar as presses isomrficas sofridas pelas organizaes

    (privadas, economia mista, ou pblicas) segundo estabelecido nos

    construtos tericos institucional de DiMaggio e Powell (1983),

    Oliver (1991), Scapens (1994), e Burns e Scapens (2000a);

    b) identificar as presses isomrficas (regulativas, normativas,

    mimticas) comuns s organizaes do Setor Eltrico brasileiro;

    c) estruturar a matriz terica das presses institucionais sofridas

    pelas organizaes do Setor Eltrico brasileiro e as respostas

    estratgicas empreendidas pelas mesmas segundo o construto

    terico institucional de Oliver (1991);

    d) interpretar os fatores que concorrem para o isomorfismo das

    prticas de contabilidade gerencial utilizadas pelas organizaes

  • 34

    do Setor Eltrico brasileiro segundo os construtos tericos

    institucional de DiMaggio e Powell (1983), Oliver (1991), Scapens

    (1994), e Burns e Scapens (2000a).

    1.1.4 Justificativas e contribuies

    Aps o choque psicolgico provocado por Johnson e Kaplan (1987) sobre a

    irrelevncia dos sistemas de contabilidade gerencial das corporaes [...] para a

    realidade atual, ou seja, enfrentada no final dos anos 1980, muito se tem escrito

    sobre as exigncias de novas tcnicas e sistemas gerenciais que atendam s

    necessidades de organizaes que atuam em mercados cada vez mais

    competitivos. Nos ltimos 20 anos (pelo menos) esforos foram empreendidos no

    desenvolvimento de novas abordagens em contabilidade gerencial para substituir as

    tradicionais e obsoletas prticas gerenciais que segundo Johnson e Kaplan (1987)

    haviam sido desenvolvidas para atender necessidades gerenciais de antes do

    primeiro quarto do sculo XX. No entanto, o desenvolvimento de novas tcnicas e

    sistemas gerenciais como ABC, ABM, BSC, EVA, GECON e outras; no foi

    acompanhado por uma implementao expressiva pelas organizaes.

    Por que as organizaes no aderiram (aderem) s novas prticas na

    extenso desejada, mesmo diante de presses externas e exigncias internas?

    Constatou-se que as tcnicas e sistemas gerenciais foram desenvolvidos com base

    na Teoria Neoclssica da Firma, cujos pressupostos esto estruturados na

    racionalidade dos indivduos e no resultado econmico timo. Os ambientes

    organizacionais internos so permeados de inter-relaes complexas entre

    indivduos e grupos de indivduos (SCAPENS, 1994); e as foras ambientais que

    exercem presses sobre as organizaes, e as respostas organizacionais s

    mesmas no obedecem a parmetros de racionalidade, eficincia e eficcia pr-

    definidos.

    Os indivduos no possuem capacidade ilimitada de anlise das diversas

    situaes e escolhas que enfrentam no dia-a-dia, assim, os tericos

    institucionalistas (p. ex., NIE, NIS) recorrem ao conceito de racionalidade limitada

  • 35

    (Bounded Rationality) de Simon (1961). Racionalidade limitada refere-se ao

    comportamento que pretende ser racional, mas consegue s-lo apenas de forma

    limitada. Resulta da condio de competncia cognitiva limitada de receber,

    estocar, recuperar e processar a informao. Simon constri o conceito de

    racionalidade limitada focando o indivduo e os evolucionrios (p. ex., Nelson e

    Winter, 1982) assumem as caractersticas dadas por Simon ao indivduo, mas as

    aplicam ao estudo das organizaes (SBICCA; FERNANDES, 2005).

    Os neo-institucionalistas buscam em March e Simon (1958) o insight de que

    a informao estabelece as premissas das decises, e as premissas das decises

    determinam os resultados das decises. Como os indivduos se comportam nas

    organizaes depende menos do mundo objetivo e mais de como estes indivduos

    percebem aquele mundo objetivo. Essas percepes subjetivas no so, no

    entanto, individuais e idiossincrticas. So construdas institucionalmente, as aes

    dos indivduos possuem bases institucionais, so entendimentos coletivos baseados

    em categorias cognitivas compartilhadas. (CARRUTHERS, 1995).

    fcil estar de acordo com o valor normativo da teoria do ator racional, mas

    um tanto mais complexo aceitar seu valor descritivo, j que poderia ser verdade que

    num mundo racional ideal a pessoa se comportar segundo as prescries da

    Teoria da Escolha Racional (ou Neoclssica); no mundo real, a pessoa tambm

    est sujeita a pagar o preo de seus erros e suas crenas; incluso se a pessoa real

    quisesse adequar seu comportamento a essas prescries, seria incapaz de fazer

    todos os clculos e predies que resultaria o faz-lo. (WILLIAMSON, 1993;

    TSEBELIS, 1990, p. 14 apud ROMERO, 2001). As pesquisas focadas em entender

    e explicar o gap entre teoria e prtica buscam, portanto, uma lgica no presente na

    realidade observada.

    Os resultados das pesquisas apontam mais similaridade que diferena, mas

    as diferenas so enfatizadas (GRANLUND; LUKKA, 1998). Como resultado uma

    infinidade de pesquisas empreendidas sobre prticas contbeis gerenciais em

    vrios pases chegaram a resultados no mnimo incongruentes: a contabilidade

    gerencial teimava em no mudar. As evidncias empricas levantadas por estudos

    focados em entender as prticas e inovaes gerenciais pela Teoria Neoclssica da

    Firma no so coerentes com a suposta utilidade das novas tcnicas e sistemas

    gerenciais apresentados s organizaes. Nesse contexto, a aplicabilidade da

  • 36

    abordagem neoclssica para entender a estabilidade e mudana em prticas

    contbeis gerenciais passou a ser questionada (BURNS; SCAPENS, 2000a).

    Fundadas na abordagem esttica (neoclssica), muitas das pesquisas

    existentes na rea contbil focam-se nas mudanas em contabilidade gerencial

    como resultado, poucas pesquisas tm investigado porque e como a contabilidade

    gerencial da organizao se torna o que , ou no (p. ex., a contabilidade

    gerencial como um processo). (BURNS; SCAPENS, 2000a, p. 4). Enquanto a

    Teoria Neoclssica foca-se na eficincia dos sistemas produtivo como resultado de

    decises racionais maximizadoras dos atores organizacionais, a Teoria Institucional

    (p. ex., OIE) argumenta que as organizaes passam de um estado de equilbrio

    para outro por processos evolutivos onde nem sempre ser relevante a eficincia da

    mudana, mas sua conformidade com a realidade organizacional instituda.

    Burns e Scapens (2000a) argumentam que aceitar a teoria neoclssica para

    explicar as prticas de contabilidade gerencial no o enfoque mais adequado para

    estudar a empresa como uma organizao. A Teoria Neoclssica mais

    consistente com a predio de racionalidade ou resultados timos que em explicar

    a no conformidade dos processos de mudana na contabilidade gerencial entre um

    estado de equilbrio e outro (BURNS; SCAPENS, 2000a). Estudar o processo de

    mudana em contabilidade gerencial requer a conceituao das formas como as

    novas prticas de contabilidade gerencial evoluem com o tempo (NELSON;

    WINTER, 1982). Como a realidade social interna da organizao construda com

    o tempo e institucionaliza formas inquestionveis de atuao.

    Para tal conceituao a OIE parte do pressuposto de que em muitas

    organizaes o sistema e prticas de contabilidade gerencial constituem regras

    estveis e rotinas institucionalizadas e oferece um arcabouo terico para

    compreender a mudana em contabilidade gerencial que enfatiza no somente a

    estabilidade fundada em comportamento baseado em regras, sistema de rotinas

    organizacional e prticas, mas tambm reconhece que as regras e rotinas podem

    mudar, da a idia de estabilidade e mudana (SCAPENS, 1994; BURNS;

    SCAPENS, 2000a). A estabilidade e mudana refere-se a como a organizao

    passa de determinado estado de equilbrio para outro, chegando

    institucionalizao.

    O novo arcabouo terico oferecido como ponto de partida para

    pesquisadores interessados em estudar mudana em contabilidade gerencial como

  • 37

    um processo, enquanto a pesquisa, por seu turno, ajuda a ampliar e refinar a

    abordagem terica (BURNS; SCAPENS, 2000a). As prticas contbeis gerenciais

    podem, com o passar do tempo, suportar as inquestionveis formas de pensar e

    fazer em uma organizao tornando-se rotinas institucionalizadas que do sentido

    existncia da organizao. Diante da realidade dos estudos sobre prticas de

    contabilidade gerencial no cenrio internacional focados em abordagens de

    pesquisa alternativas, plausvel aceitar os argumentos da Teoria Institucional em

    detrimento da abordagem esttica para estudar a prtica de contabilidade gerencial

    no cenrio nacional.

    Nos Estados Unidos da Amrica e Europa j se observa uma consciente

    mudana no foco das pesquisas em contabilidade gerencial com novas abordagens

    tericas e metodolgicas. Dessas abordagens destacou-se a Teoria Institucional

    que segundo Burns e Scapens (2000a) se apresenta como um campo terico mais

    robusto para entender as prticas contbeis gerenciais remanescentes nas

    organizaes. Com base na OIE, cujos argumentos tericos buscam entender as

    regras, hbitos, rotinas e prticas como fatores indutores e limitadores do processo

    de institucionalizao de prticas contbeis gerenciais foram desenvolvidos vrios

    estudos (p. ex., Macintosh e Scapens (1990), Scapens e Roberts (1993), Scapens

    (1994), Barley e Tolbert (1997), Burns (2000), Burns e Scapens (2000a).

    Dentro da perspectiva econmica das instituies recebeu ateno a

    pesquisa em contabilidade gerencial com enfoque na NIE, corrente institucional com

    razes na Teoria Neoclssica da Firma (SCAPENS, 1994; BURNS, 2000). A NIE

    busca estudar os custos de transao como o indutor dos modos alternativos de

    organizao da produo (governana), dentro de um arcabouo analtico

    institucional. A unidade de anlise fundamental passa a ser a transao, operao

    onde so negociados direitos de propriedade e o objetivo passa a ser analisar

    sistematicamente as relaes entre a estrutura dos direitos de propriedade e

    instituies. (ZYLBERSZTAJN, 1995, p. 15). Em contabilidade estuda temas gerais

    como controle e avaliao de desempenho, accountability e preos de transferncia

    em termos de otimizar escolhas entre arranjos institucionais alternativos (p. ex.,

    Spicer; Ballew, 1983; Spicer, 1988; Colbert; Spicer, 1995).

    Tambm receberam destaque as pesquisas focadas na perspectiva

    sociolgica das instituies (NIS) (p. ex., Covaleski, Dirsmith e Michelman, 1993;

    Covaleski, Dirsmith e Samuels, 1996; Carruthers, 1995) e vrios outros com

  • 38

    enfoque nas presses isomrficas sobre as prticas contbeis gerenciais das

    organizaes. Segundo Burns (2000) embora haja significantes pontos comuns

    entre a OIE e a NIS, esta assume as instituies como dadas enquanto aquela lida

    mais diretamente com a emergncia, continuidade e mudana das instituies com

    o passar do tempo. A NIS foca mais o nvel macro, p. ex., princpios contbeis

    geralmente aceitos (MEZIAS, 1990), enquanto a OIE foca o nvel micro, p. ex.,

    regras, hbitos e rotinas dentro das organizaes (SCAPENS, 1994; BURNS, 1996,

    1997).

    Estudar a contabilidade gerencial e as inovaes em tcnicas e sistemas

    gerenciais como uma instituio tem como objetivo e contribui para entender porque

    determinadas prticas gerenciais consideradas inovadoras to discutidas pela teoria

    encontram baixa utilizao nas prticas gerenciais das organizaes. A viso

    tradicional neoclssica, na qual os indivduos escolheriam as melhores prticas

    gerenciais como suporte de decises que maximizariam os resultados da

    organizao, mostrou-se ineficiente para explicar a baixa aderncia s inovaes

    em contabilidade gerencial pelas organizaes.

    Tambm uma tentativa de testar novos horizontes de pesquisa em

    contabilidade gerencial no mbito nacional, pois, neste sculo XXI os pesquisadores

    esto adotando uma grande variedade de perspectivas metodolgicas e tericas o

    que implica novas formas de observar e analisar a realidade. A diversidade

    metodolgica inclui pesquisa interpretativa e crtica, ao lado da tradicional pesquisa

    funcionalista e positivista; adicionalmente, uma variedade de mtodos de pesquisa

    continua sendo utilizada incluindo surveys, estudo de campo e estudo de caso

    assim como trabalho quantitativo e tambm algum trabalho analtico; especialmente

    na interface entre contabilidade financeira e gerencial (SCAPENS, 2006).

    Como constataram Rosa e Coser (2004), a abordagem institucional (NIS)

    na rea de estudos organizacionais, no cenrio brasileiro, ganha seu devido espao

    a partir do final da dcada de 1980, com pesquisas realizadas inicialmente em

    Santa Catarina e Paran, posteriormente no Rio Grande do Sul e Pernambuco, e

    atualmente em outros Estados brasileiros. A predominncia do paradigma

    neoclssico mostra a necessidade de novas abordagens, constituindo um terreno

    frtil para o desenvolvimento de abordagens tericas como a institucional. Os

    artigos publicados pela revista MAR, por exemplo, apresentam uma pequena

  • 39

    amostra de pesquisas dentro dessa abordagem terica, sem deixar de apresentar

    tambm grande diversidade metodolgica e interao terica (MAR, 2001).

    Baxter e Chua (2003) constatam a considervel diversidade terica com

    pesquisadores lidando com disciplinas to amplas quanto a Economia, Teoria

    Organizacional, Sociologia, Teoria Social, Poltica e Antropologia Social; e utilizando

    muitas abordagens tericas diferentes: Teoria Econmica, da Contingncia,

    Institucional, da Rede de Relacionamento, do Processo de Trabalho; Economia

    Poltica, Genealogia Foucaultiana, Desconstrucionismo de Derrida, e outras. Nesse

    contexto, os autores justificam a anlise feita das publicaes da revista Accounting,

    Organizations and Society (AOS): a contabilidade uma disciplina social e nos

    pareceu importante entend-la no contexto de um extenso grupo de discursos

    provenientes das cincias sociais (BAXTER; CHUA, 2003, p. 98). Para os autores,

    os desenvolvimentos contemporneos em pesquisa fornecem interessantes

    direcionamentos para questionar e estudar a prtica de contabilidade gerencial.

    Nesse contexto, a contabilidade gerencial passou a ser estudada sob vrios

    enfoques tericos: no contexto organizacional e social com foco nas relaes de

    poder e conhecimento (p. ex., Hopwood, 1990; Ezzamel, 1994); no contexto

    institucional que reala as regras, rotinas, e prticas de processos organizacionais

    (p. ex., Burns; Ezzamel; Scapens, 1999; Burns; Scapens, 2000a) e vrios outros; ou

    buscando descrever as prticas contbeis gerenciais sem qualquer abordagem

    terica especfica (p. ex., Green; Amenkhienan, 1992). (LAITINEN, 2001). As

    pesquisas nacionais se enquadram na sua grande maioria nessa ltima abordagem,

    no utilizam uma abordagem terica especfica, mais precisamente, consciente ou

    inconscientemente,