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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE LETRAS DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GRAMÁTICA E ENSINO DE LÍNGUA. PORTUGUESA ENSAIO CRÍTICO: Mostrando os “furos” da Gramática Tradicional e comparando-a com a Gramática Descritiva Simone Dorneles Severo

Diferenças entre a gramática normativa e a descritiva (científica)

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Trabalho de pós-graduação em Letras abordando a diferença entre gramatica normativa e descritiva(científica)

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Page 1: Diferenças entre a gramática normativa e a descritiva (científica)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SULINSTITUTO DE LETRAS

DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULASCURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GRAMÁTICA E ENSINO DE LÍNGUA.

PORTUGUESA

ENSAIO CRÍTICO:

Mostrando os “furos” da Gramática Tradicional e comparando-a com a Gramática Descritiva

Simone Dorneles Severo

Porto Alegre2008

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Apresentação

Este ensaio crítico aborda os pontos vulneráveis da Gramática Tradicional e

compara-a com a Gramática Descritiva.

Foi solicitado pela Disciplina de Estudos Lingüísticos I (módulo do Prof. Mathias

Schaff Filho) do Curso de Especialização em Gramática e Ensino da Língua Portuguesa –

edição nº 3, ano de 2008, realizado na Escola Técnica de Comércio da Universidade

Federal do Rio Grande do Sul e coordenado pela Profª Sabrina de Abreu Pereira.

Propositalmente apresenta-se em uma linguagem mais coloquial com a intenção de

ressaltar o seu discurso crítico.

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Crônica: Não pise a grama(Parrião Jr)

Com seus pisantes 38 tocou o solo palmense perseguindo, em largos passos, uma quimera. Terra

Nova, nova gente em busca de sonhos e utopias, cada um caminhando a procura de coisa qualquer.

Marchando rumo a um cursinho, desses preparatórios para tudo (acho que até para casar eles preparam), foi se matricular com a intenção de aprender a passar em concurso público. Ser funcionário do governo era seu

maior desejo.Aquela velha mania de ler tudo que ver quase o deixou

espezinhado. Leu, certa vez, uma placa no jardim daquele estabelecimento de ensino que dizia assim: "não

pise na grama", seu cérebro, intrinsecamente, logo processou: se foram eles que escreveram está certo.

Para seu espanto caiu na prova do concurso justamente sobre o verbo pisar, estava lá na questão: observando a

gramática normativa qual é a resposta certa? a) Não pise na grama; b) não pise à grama; c) não pise a grama. Essa é moleza! Pensou logo. Lembrando da placa no

jardim do cursinho a escolha certa foi, então, não pise na grama. Mas quando veio o resultado, imagine qual foi a surpresa, perdeu a vaga por um ponto.Revoltado pôs os pés em direção ao educandário para fazer a correção da prova. Chegando lá, pasmo ficou, quando percebeu que havia errado exatamente a questão em tela.- Mas como! Ta na placa lá fora o certo é não pise na grama ou será

que pisei foi na "grama - tica"?O sujeito respirou fundo, tomou um bom gole d'água e

ouviu a explicação do professor:- O verbo pisar é transitivo direto, ou seja, exige complemento sem

preposição alguma: Não pise a grama é a maneira certa de se usar essa frase.

- Professor, a placa lá fora ta errada?- Não! Sim! É! Talvez!- Se olhar pelo ponto de vista da

gramática normativa está errado a forma que foi escrito na placa.

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- Normativa! E tem outra?- Sim, a gramática se fosse colocada num prisma, como

um raio de luz sairia varias ramificações: gramática descritiva, gramática gerativa, gramática gerativo-transformacional, gramática histórica, gramática

normativa, gramática pedagógica, gramática prescritiva, gramática tradicional, gramática transformacional e

universal.- Então como justificar a placa lá fora?- Modernamente, porém, aceita-se o uso de pisar com a

preposição em Não pise na grama, então, tem sido aceito por alguns gramáticos e dicionários brasileiros.

- Mas para concurso, ta errado?- Sim, no seu caso foi considerado.

Pelo que fiquei sabendo o sujeito bateu em retirada, nunca mais pisou a grama daquele estabelecimento,

soube-se dele em outras terras dantes pisada.

Mostrando os “furos” da Gramática Tradicional e comparando-a com a Gramática Descritiva

"O “furo” da Gramática Tradicional, ou o aspecto mais vulnerável, é que ela tem vinte e três séculos de tradição greco-latina em suas costas e a Gramática Descritiva não!”

Um dos aspectos vulneráveis da Gramática Tradicional é que ela não considera

contextos extralingüísticos, seu limite é o período e, com isso, ela não aborda o parágrafo e,

portanto, o mais grave: não aborda o texto. Como não analisa o texto, não ensina coesão e

coerência e os outros fatores dele, tais como intencionalidade, situacionalidade, intenção,

entre outros. Nas gramáticas pedagógicas modernas, a ênfase tem sido sobre o texto.

Portanto, como não aborda nem ao menos o parágrafo, falha ao abordar as relações

endofóricas e exofóricas dos pronomes, além de ser incoerente em várias teorias da Sintaxe.

Outro problema é que sua análise é feita com base em construções frasais desusadas desde

o séc. XIX.

Outro aspecto vulnerável, é que não apresenta variedades lingüísticas, pois

determina como única e verdadeira uma linguagem fictícia: a literária, elegendo-a como

padrão para a classe social dominante, que é o oposto do que a Gramática Descritiva faz:

descrever as variedades lingüísticas.

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Declara a GT (Cunha, 1986):

A língua padrão, por exemplo, embora seja uma entre as muitas variedades de um idioma, é sempre a mais prestigiosa, porque atua como modelo, como norma, como ideal lingüístico de uma comunidade. (p.3)

Dessa forma, constata-se que a premissa da GT é que a Língua é um todo

homogêneo e, para a GD, é um todo heterogêneo. Como a GT é normativa, sua

metodologia baseia-se em ensinar a língua com regras e exceções; e o que não estiver ali

elencado, é incorreto; ao contrário da descritiva, que analisa as características da língua sem

emitir “juízos de valor”.

A GT trata e aprofunda problemas de linguagem que não existem mais, tais como a

colocação pronominal e a regência, estando com a maioria de seus conceitos teóricos

desatualizados em relação aos atualmente adotados pela Lingüística. Por exemplo, ela

estigmatiza conceitos lingüísticos que hoje são tratados diferentemente, como um capítulo

dedicado a vícios de linguagem, falhas na abordagem de Ordem Indireta, Classe de

Palavras e suas funções, definição errada de fonema (fonema é um som).

Outro grande ponto vulnerável, e talvez o mais grave, é que ela não considera a

linguagem oral e suas variantes, como faz a Descritiva. Embora reconheça a

sociolingüística e a variação dos dialetos, renega-os.

Dessa forma, ela não aborda a língua como um ente em constante evolução,

enfatizando a forma em detrimento da sua função sociopragmática, pois, como todo o

objeto de uma ciência, a língua também evolui.

Outro fator que a torna vulnerável é a sua utilização para fins pedagógicos.

Misturar a gramática normativa com a pedagógica, ou melhor, trabalhar a língua como

objeto de estudo e de ensino, tem sido tão catastrófico para o aprendizado da língua, como

misturar a normativa com a descritiva. Essa é uma diferença fundamental entre a GT e a

GD pois, ao menos com essa última, que possui discurso mais científico, os professores não

têm feito a besteira de utilizá-la em sala de aula, exceto em níveis mais avançados de

estudo e pesquisa.

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Segundo Possenti (2006), uma diferença fundamental entre a GT e a GD é que esta

explicita as regras que são seguidas pelos falantes, e não as que devem ser seguidas,

conforme a GT preconiza. Na Gramática Descritiva (Tipos de Gramática, s/dados):

as análises da língua não são apenas expostas, mas discutidas e nem sempre resolvidas de modo definitivo. Ela é, portanto, o resultado do trabalho do lingüista que, partindo de suas observações, descreve e registra a forma pela qual são construídas as estruturas lingüísticas no contexto por ele escolhido, podendo, eventualmente, formular hipóteses que expliquem essas construções.

Retomando Possenti (2006), cabe-se esclarecer que GT e GD são confundidas

porque a GT possui muitas descrições linguisticas, mas sempre com as formas corretas,

enquanto que a GD descreve o erro e explica o seu motivo através da sociolinguistica.

Para finalizar, para Dacanal (1987), não procede mesmo em se tratando de uma

língua viva, a distinção entre gramática normativa e gramática descritiva:

Esta distinção é um sofisma resultante de um pressuposto idealista implícito: o de que um indivíduo tem a liberdade de falar e escrever como quiser. Isto é uma falsidade evidente e quem afirma tal coisa só pode ser um ingênuo ou um insano. E Expor as normas que regem uma língua ou impô-las são, portanto, atos por natureza idênticos. A única diferença que pode existir é que no primeiro caso a forma de imposição é mais sutil. A imposição porém é a mesma. Afinal, a língua não é apenas – com perdão pela redundância – um fenômeno lingüístico, que, em condições determinadas e específicas pode sofrer transformações segundo leis próprias (menor esforço, imitação, padronização, etc.). Uma língua é, também, e essencialmente, um fenômeno social e político. (p. 28)

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REFERÊNCIAS

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

DACANAL, José Hildebrando. Linguagem , poder e ensino da língua. 2ª ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1987. 56 p. (Série Revisão, 19)

MATTOS e SILVA, Rosa. Tradição gramatical e gramática tradicional. São Paulo, Contexto, 1989.

PARRIÃO JR. Crônica: Não pise a grama. Disponível em: <http://www.gargantadaserpente.com/veneno/parriaojr/01.shtml> Acesso em: 16 jun. 2008.

PERINI, Mário A. Gramática descritiva do português. 4ª ed. São Paulo: Ática, 2001. POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola? Campinas: Associação de Leitura do Brasil, 1996. (Coleção Leituras no Brasil).

Tipos de Gramática. Disponível em: < www.caminhosdalingua.com/Gramatica.html> Acesso em: 20 maio 2008.

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LÍNGUA. PORTUGUESA

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Atividades pedagógicas com formação de palavras

Simone Dorneles Severo

Porto Alegre2008

APRESENTAÇÃO

Este trabalho descreve atividades pedagógicas para o ensino da

formação de palavras na Língua Portuguesa, a partir de diferentes tipos

de textos, apresentados na Disciplina História da Língua Portuguesa

(módulo da Profª Lúcia Sá Rabello) do Curso de Especialização em

Gramática e Ensino da Língua Portuguesa – edição nº 3, ano de 2008,

realizado na Escola Técnica de Comércio da Universidade Federal do Rio

Grande do Sul e coordenado pela Prof.ª Sabrina de Abreu Pereira.

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ATIVIDADE 1

Texto Poemas Forma e Durassolado de José Lino Grunevald

Séries 6ª ao Ensino MédioObjetivo Análise e aplicação da derivação prefixal e sufixal

na construção das palavras a partir dos poemas citados

Atividade Tarefa da Gincana da Festa JuninaBaseados nos poemas, equipes da Gincana deverão criar o maior número possível de palavras com micro (supermicro, prómicro,submicro,minimicro,polimicro,multimicro, etc.), tele (televisão,telefone,minitel,vídeotel, fonetel, etc.) e cloro (do Grego chloros=esverdeado) e entregar para o líder da gincana no prazo estabelecido. A listagem será avaliada pelo professor de Língua Portuguesa e será nivelada por série. Alunos poderão usar os dicionários.

Transdiciplinaridade

Festa Junina anual da escola

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ATIVIDADE 2

Texto O sapato-bomba, O primeiro-ombro, O craque-galã e a primeira-filhinha, Como se vestir na moda sem pagar mico, A nova tribo de micreiros

Séries 7ª, 8ª e 1º ano do Ensino Médio Objetivo Levar os alunos a constatarem que a língua evolui

através da criação/desuso de palavras. Inferir a relação da influência cultural/econômica na língua, através da criação de novos termos para designar os novos inventos e modismos: palavras criadas pela moda (França), alimentação (Itália, Espanha), Japão e Estados Unidos.

Atividade Leitura dos textos, recapitulação dos conceitos de composição por justaposição, empréstimos (short, legging, skinnies, minis) e neologismos (micreiros - derivação sufixal de micro+desinência de número). Análise da formação de palavras contidas nos textos.

ATIVIDADE 3

Texto Sábado passado meu filho pediu o carro para dar uns amassos

Séries 7ª, 8ª e Ensino Médio Objetivo Constatação da transformação das consoantes

finais e u finais do Latim: sabattu, filiu,carru, massa,ae (a+massa+ar)

Atividade Pesquisa, em duplas, em dicionários na biblioteca da escola. Correção no quadro pelo professor e comentários.

Interdisciplinaridade

Projeto “Prevenção de Acidentes no Trânsito” com Física (movimentos retilíneos e curvilíneos, velocidade) Química (efeitos do álcool), Religião (violência no trânsito)

ATIVIDADE 4

Texto Um carro bom de arranque. Arrancou elogios de

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todo mundo. Potência popular. VitaminadoSéries Ensino MédioObjetivo Latim: carru (carro), bom (de bonu), elogios (de

eloquor), mundo (mundus,i) potência (potentia,ae, poder, força) popular (popularis,e do povo) vitaminado (de vita,ae, vida)

Atividade Em História da Língua Portuguesa, alunos pesquisam na Internet origem das palavras. Trabalho para entregar.

Interdisciplinaridade

Projeto “Prevenção de Acidentes no Trânsito” com Física (movimentos retilíneos e curvilíneos, velocidade), Química (efeitos do álcool), Religião (violência no trânsito)

ATIVIDADE 5Texto Promoção cheese salada+refri lata 350 mlSéries 8ª série e Ensino Médio Objetivo Hibridismo e redução de palavras: cheese (Inglês)

salada (Francês salade) + refri (redução de refrigerante do Latim refrigeratione) lata (lata do Baixo Latim). Aproveitar para estudar empréstimos da língua: sanduíche (Conde de Sandwich) champanhe (Província de Champagne - França)

Atividade Ao introduzir a origem das palavras na 5ª série, professora apresenta o texto, distribui material sobre o assunto e pede que alunos elaborem lista com nomes de alimentos fast food. O professor fará a pesquisa da origem delas e trará para os alunos, apresentando-as com aula expositiva-dialogada.

Interdisciplinar Projeto alimentação saudável na escola, com a participação das disciplinas de Inglês, Física e Química, Educação Física.