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Universidade de Brasília ANDRÉ LUIZ DE SOUZA OLIVEIRA DIFERENÇAS ENTRE O DESENVOLVIMENTO DO ALUNO PARTICIPANTE DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO EM RELAÇÃO AO ALUNO DA EDUCAÇÃO FÍSICA CONVENCIONAL BELO HORIZONTE 2007

DIFERENÇAS ENTRE O DESENVOLVIMENTO DO ALUNO … · apreciar o próprio movimento de forma crítica, na busca da autonomia e ... série de habilidades destes novos alunos e cobra

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Universidade de Brasília

ANDRÉ LUIZ DE SOUZA OLIVEIRA

DIFERENÇAS ENTRE O DESENVOLVIMENTO DO ALUNO PARTICIPANTE DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO EM

RELAÇÃO AO ALUNO DA EDUCAÇÃO FÍSICA CONVENCIONAL

BELO HORIZONTE

2007

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Universidade de Brasília

ANDRÉ LUIZ DE SOUZA OLIVEIRA

DIFERENÇAS ENTRE O DESENVOLVIMENTO DO ALUNO PARTICIPANTE DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO EM RELAÇÃO

AO ALUNO DA EDUCAÇÃO FÍSICA CONVENCIONAL Trabalho de pesquisa apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do CEAD (Centro de Educação a Distância) da Universidade de Brasília como requisito para a obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar. Orientador: Ms. Newton Santos Vianna Júnior Tutor Leitor: Profª. Ms. Lucila Souto Mayor Rondon – Mestre em Psicologia Comunitária. Universidade de Brasília.

BELO HORIZONTE, 01 DE SETEMBRO DE 2007.

3

"Dedico este trabalho a todos os professores e estudantes

que, na ânsia de conhecer, mas impossibilitados de o

fazerem, pela falta de suporte educacional adequado, não

puderam ir além de suas fronteiras”.

4

A Deus, por demonstrar a todo o momento sua presença

em minha vida.

Aos meus pais, irmãos e amigos por entenderem minha

ausência e me apoiarem mesmo quando estão em

silêncio.

À minha tutora, supervisores, orientador que me

mostraram os caminhos pelos quais devia trilhar.

5

“Viver e não ter a vergonha de ser feliz.

Cantar e cantar e cantar a beleza de ser

Um eterno aprendiz.“

(Gonzaguinha)

6

SUMÁRIO

1- JUSTIFICATIVA DO ESTUDO....................................................................... 8

1.1. PROBLEMA DE PESQUISA E OBJETIVOS ......................................... 10

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.................................................................... 12

2.1. O DESENVOLVIMENTO DO ALUNO NAS ATIVIDADES MOTORAS.. 12

2.1.1. O DESENVOLVIMENTO NA VISÃO INATISTA-

MATURACIONAISTA................................................................................ 14

2.1.2. O DESENVOLVIMENTO NA VISÃO COMPORTAMENTALISTA... 16

2.1.3. O DESENVOLVIMENTO NA VISÃO PSICOGENÉTICA ................ 17

2.1.4. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE AS ABORDAGENS............ 18

2.2. CONSIDERAÇÕES SOBRE AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ............. 19

2.3. O QUE É O PROGRAMA SEGUNDO TEMPO? ................................... 21

4.1.1. Atividades trabalhadas .................................................................... 25

4.1.2. A receptividade do aluno................................................................. 26

4.1.3. O desenvolvimento do aluno........................................................... 28

4.2.1. Atividades trabalhadas .................................................................... 30

4.2.2. A receptividade do aluno................................................................. 31

4.2.3. O desenvolvimento do aluno........................................................... 32

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 35

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 37

7. ANEXOS ...................................................................................................... 39

7.1 QUESTIONÁRIO APLICADO ................................................................. 39

7.2. TRANSCRIÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS APLICADOS........................ 41

7

RESUMO

Nesta pesquisa, foram analisadas as diferenças entre o desenvolvimento do aluno participante do Programa Segundo Tempo em relação ao desenvolvimento do aluno que faz a educação física convencional. Foi construído um questionário com perguntas semi-estruturadas, através do qual se observou as respostas de alguns profissionais da educação física em relação à temática desta pesquisa. A análise desses questionários revelou fatores importantes para a prática das atividades físicas tanto no Programa Segundo Tempo quanto na aula tradicional: a compreensão dos professores sobre a Educação Física tradicional e concepções desses professores em relação às atividades físicas no Segundo Tempo. Também, a análise dos questionários permitiu identificar que em ambas as perspectivas é necessário levar em consideração as atividades que são trabalhadas e a própria receptividade do aluno para que este alcance um melhor nível de desenvolvimento.

Palavras Chaves: Diferenças, Desenvolvimento, Aluno, Programa Segundo Tempo, Educação Física convencional.

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1- JUSTIFICATIVA DO ESTUDO

Existe uma relação muito grande entre o que somos, pensamos e sentimos

com o que expressamos por meio de gestos e movimentos. O corpo é um

campo de expressão que se externa através do movimento. Com um trabalho

sério e praticado com embasamento científico, a criança e o adolescente, em

pouco tempo, começam a se desenvolver de forma magnífica. A Educação

Física vai contribuir para a construção de um estilo pessoal na execução de

movimentos. Com isso, tanto a criança quanto o adolescente serão capazes de

apreciar o próprio movimento de forma crítica, na busca da autonomia e

aprender também, através da participação social, a cooperar com os colegas.

Mediante o exposto acima, esta pesquisa partiu do ponto questionador sobre a

objetividade das aulas de Educação Física e suas implicações na vida dos

estudantes, dentro e fora do ambiente escolar, uma vez que se busca, entre

outros objetivos, fazer com que o aluno se torne, socialmente falando, um

sujeito crítico e atuante. O interesse por este assunto surgiu a partir da

observação das aulas de Educação Física ministradas dentro e fora do

programa Segundo Tempo e, nestas observações, percebemos uma variação

de rendimento dos alunos, que pode ou não estar ligada à participação dele no

programa.

Alguns fatores da minha vida influenciaram na escolha deste tema. O mais

importante deles foi a preocupação com o desenvolvimento dos meus alunos,

diante de uma realidade social pouco favorável. É de nosso conhecimento que

ainda existem professores que privilegiam o ensino tradicional da Educação

Física e para estes profissionais, o que importa nada mais é que a quantidade

de movimentos que os alunos podem realizar com os seus corpos. Em relação

a isto, o programa Segundo Tempo tem procurado auxiliar professores e

monitores a enxergarem esta prática tradicional como um processo alienador e

fruto de uma cultura cheia de regras e de disciplinas.

Assim sendo, a pesquisa sobre as possíveis diferenças entre o

desenvolvimento do aluno participante do programa Segundo Tempo em

9

relação ao aluno de Educação Física convencional, realizado através de um

estudo de caso numa escola pública Municipal de Belo Horizonte, pode ajudar

na compreensão de alguns fatores que vão evidenciar se realmente a

participação neste programa acarreta melhoria no desempenho dos alunos.

No âmbito científico este assunto contribuiu para o esclarecimento de algumas

dúvidas sobre a eficácia do programa Segundo Tempo e sua aplicabilidade em

escolas que se localizam em áreas de vulnerabilidade social. Com relação a

isto, a Comissão de Especialistas de Educação Física do Ministério do Esporte

(2004) descreve o programa Segundo Tempo como um programa que “supõe

criatividade”, onde “professores, monitores, estudantes e pais devem ser

incentivados à reflexão, criação e imersão em um contexto altamente gerador

de novas situações diárias para o processo de aquisição de conhecimento”.

Este assunto pretende também contrapor alguns aspectos das aulas de

Educação Física ministradas no programa com aulas ministradas de forma

mais tradicional. Tem caráter retrospectivo, buscando em diversas fontes

alguns conhecimentos já construídos sobre teoria e prática e os relacionando

com o conhecimento cientifico contemporâneo sobre o ensino de Educação

Física. Tenciona como possível solução para alguns problemas desta área do

conhecimento, de forma que se possam indicar caminhos alternativos para a

elevação do nível de desenvolvimento dos alunos que praticam Educação

Física, não só como o movimento em si, mas como uma prática sócio-cultural

construída e atualizada que detém valores e significados específicos.

Ainda, deve proporcionar conhecimentos para melhor compreensão dos

problemas sociais que circundam a escola e para a solução de alguns

problemas da sociedade contemporânea. Retoma a concepção tradicional de

Educação Física e imediatamente fez um paralelo como a nova abordagem do

ensino desta disciplina, este assunto oferece aspectos importantes que devem

ser levados em consideração no planejamento e execução de aulas de

Educação Física.

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1.1. PROBLEMA DE PESQUISA E OBJETIVOS A temática desse trabalho aborda as diferenças entre o desenvolvimento do

aluno participante do programa Segundo Tempo em relação ao aluno da

educação física convencional. Sabendo-se que as aulas de Educação Física

ministradas no Programa Segundo Tempo não devem ser meramente a

reprodução de movimentos corporais e que o programa possui um caráter

também social e é de fundamental importância que o professor tenha pleno

conhecimentos destas premissas direcionadoras do Programa Segundo

Tempo.

Então, diante das considerações acima e partindo dessas afirmações surge o

problema que direcionou este trabalho: Existem diferenças entre o

desenvolvimento do aluno que participa das atividades do programa Segundo

Tempo em relação ao desenvolvimento do aluno participante das atividades da

Educação Física convencional?

Esta pesquisa teve como objetivo mais delimitado a busca de informações

sobre o desenvolvimento do aluno que participa das atividades do programa

Segundo Tempo e também informações sobre o desenvolvimento do aluno

participante das atividades da Educação Física convencional. Para esta

verificação foram observadas algumas aulas ministradas na Escola Municipal

Padre Edeimar Massote em Belo Horizonte – Minas Gerais, no período

compreendido entre setembro e dezembro de 2005 e aplicados questionários

para alguns professores e estagiários de Educação Física desta mesma escola

no período compreendido entre novembro de 2006 e fevereiro de 2007.

OBJETIVO GERAL:

• Apontar a possível existência de diferenças significativas entre o

desenvolvimento do aluno que participa do programa Segundo Tempo

em relação ao desenvolvimento do aluno que participa das aulas

convencionais de Educação Física na Escola Municipal Padre Edeimar

Massote em Belo Horizonte.

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OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

• Definir o que é e como ocorre o programa Segundo Tempo nas escolas,

em especial na Escola Municipal Padre Edeimar Massote em Belo

Horizonte;

• Levantar considerações sobre as aulas convencionais de Educação

Física na Escola Municipal Padre Edeimar Massote em Belo Horizonte;

• Analisar e comparar os resultados obtidos na pesquisa sobre o

desenvolvimento dos alunos do programa Segundo Tempo e sobre o

desenvolvimento dos alunos das aulas convencionais de Educação

Física Escola Municipal Padre Edeimar Massote em Belo Horizonte;

12

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1. O DESENVOLVIMENTO DO ALUNO NAS ATIVIDADES MOTORAS

A respeito da importância das atividades físicas, Maslow (1973), citado por

Appley e Cofer (1976) hierarquiza as necessidades do homem, afirmando que

a necessidade posterior só é realizada quando a anterior estiver satisfeita. Os

tipos de necessidades citados pelo referido autor são por ordem de

importância: necessidades fisiológicas, de segurança, de afeição, de auto-

estima e de auto-realização.

Através da atividade física a criança pode satisfazer seus desejos, sejam de

ordem afetiva, relacionada à estima ou a realização de objetivos e finalidades.

Durante a prática dessas atividades, a criança exercita suas capacidades de

relacionamento, aprende a ganhar, a perder, opor-se, expressar suas vontades

e desejos, negociar, pedir, recusar, compreende que não é um ser único e que

precisa viver em grupo respeitando regras e opiniões contrárias; enfim, adquire

afeição.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação Física (1997, p.

27) “a Educação Física escolar pode sistematizar situações de ensino e

aprendizagem que garantam aos alunos o acesso a conhecimentos práticos e

conceituais”. A prática da Educação Física poderá favorecer a autonomia dos

alunos para monitorar as próprias atividades, regulando o esforço, traçando

metas e conhecendo as potencialidades e limitações. Isto tudo se daria através

de um processo de desenvolvimento bastante específico a cada indivíduo.

Diversos autores procuram descrever o processo de desenvolvimento da

criança e do adolescente, quer seja de maneira geral, quer seja de maneira

mais específica ligada a uma determinada área da cognição. Para tal, alguns

adotam concepções diferentes de infância e adolescência e, contudo são

conclusivos ao declararem que o lugar que a criança ou adolescente ocupa no

grupo social muda ao longo do seu desenvolvimento por conta das

circunstâncias de sua vida.

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Existem muitas diferenças entre a criança que chega à escola no Ensino

Fundamental com a criança que deixa a Educação Infantil. Agora tudo mudou.

E mudou de forma radical. Essa escola do Ensino Fundamental vai exigir uma

série de habilidades destes novos alunos e cobra deles uma quantidade

enorme de tarefas. Todos precisarão terminar o ano lendo, escrevendo e

fazendo bem as suas lições de sala e casa.

Nesse ínterim, é preciso que o professor tenha conhecimento do que o aluno

precisa aprender e como ele aprenderá. Para tentar explicar este processo de

desenvolvimento da criança e do adolescente, diversas teorias e modelos

explicativos foram colocando posições de todo tipo, na tentativa de formular

uma explicação convincente, especialmente para a relação entre o

desenvolvimento e as diversas aprendizagens humanas. De acordo com o

Veredas (2004: 131) três posições tornaram-se clássicas:

1. O desenvolvimento seria um processo relativamente independente e dissociado das diversas aprendizagens e, portanto, das práticas educativas. Como conseqüência do desenvolvimento biológico, seguiria um percurso de mudanças mais ou menos estável e, até certo ponto, pré-programado; 2. O desenvolvimento e a aprendizagem seriam processos coincidentes. A ênfase é dada a aprendizagem. O ambiente e a experiência são determinantes do comportamento. O desenvolvimento nada mais é do que o resultado das aprendizagens acumuladas durante a vida. Dessa forma, os dois processos não se distinguem; 3. O desenvolvimento e a aprendizagem são dois processos que se inter-relacionam. O desenvolvimento é visto como um processo mediado, ou seja, as mudanças que ocorrem ao longo da vida estão marcadas pela interação que as pessoas estabelecem com seu meio social e cultural. Considera-se o desenvolvimento biológico como um dos fatores do desenvolvimento psicológico, na medida em que esta se relaciona como o meio sociocultural. MINAS GERAIS. Secretaria de Estado da Educação. Veredas – Formação Superior de Professores: módulo 5, volume 2. Belo Horizonte: SEE – MG, 2004.

Dessa forma, desenvolvimento e aprendizagem expressam as duas fontes do

conhecimento: uma interior a uma pessoa, grupo ou sistema; e outra que vem

ou se produz no exterior. O desenvolvimento da criança deve interessar aos

professores que atuam a partir das séries iniciais do Ensino Fundamental para

que não haja equívocos da parte destes profissionais em relação ao estágio de

desenvolvimento em que estes alunos se encontram e terminem assim

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tratando-os de maneira desconforme para a fase em que se encontram. Se o

professor tiver um conceito mais apurado sobre o desenvolvimento humano

poderá inter-relacionar cada uma das dimensões do desenvolvimento humano.

Para um entendimento um pouco mais aprofundado sobre o desenvolvimento

humano, selecionamos três visões diferentes que o irão retratar. São elas: 1. o

desenvolvimento humano de acordo com os inatistas-maturacionistas, 2. o

desenvolvimento segundo os comportamentalistas e 3. o desenvolvimento

segundo as teorias psicogenéticas.

Descreveremos de maneira sucinta como cada uma dessas posições se

organiza e quais fatores são considerados essenciais para o desenvolvimento

humano.

2.1.1. O DESENVOLVIMENTO NA VISÃO INATISTA-MATURACIONAISTA De acordo com esta perspectiva o desenvolvimento se dá a partir de fatores

hereditários (características da criança que foram herdadas de seus pais) ou de

maturação1. Algumas particularidades, como a cor dos olhos e do cabelo,

fazem parte da herança genética individual que cada um de nós recebe desde

a concepção. Isso significa deixar em segundo plano os fatores que estão

relacionados à aprendizagem e à experiência cotidiana.

Para os inatistas-maturacionistas o desenvolvimento psicológico teria o mesmo

padrão do desenvolvimento biológico. Assim, a inteligência e as aptidões

individuais seriam herdadas dos pais e seguiriam padrões fixos, guiados pelos

processos de maturação, que se dariam independentemente da aprendizagem

ou da experiência.

1 Maturação: dentro desta perspectiva, significa um padrão comum de mudanças que se dá em todos os membros de uma mesma espécie, como por exemplo, as transformações do corpo na adolescência. MINAS GERAIS. Secretaria de Estado da Educação. Veredas – Formação Superior de Professores: módulo 5, volume 2. Belo Horizonte: SEE – MG, 2004. p. 132.

15

Longos anos de estudos foram utilizados para se chegar a estas conclusões.

Os pesquisadores que desenvolveram esta linha de pensamento se dedicaram

à observação de crianças e constataram que algumas pessoas com

habilidades especiais, na maioria das vezes, tinham familiares que

apresentavam traços idênticos. Diante dessas evidencias, estes pesquisadores

concluíram que características psicológicas seriam transmitidas de pai para

filho através da herança biológica. O meio social e a educação, portanto

cumpririam o papel de impedir ou deixar aflorar essas características.

Os principais estudiosos desta teoria foram Alfred Binet (1857-1911) e

Théodore Simon (1873-1961), que construíram o primeiro teste para medir a

inteligência: o famoso teste do QI – quociente de inteligência. Estes

pesquisadores acreditavam que fatores hereditários e a própria maturação

biológicas seriam determinantes no desenvolvimento da criança. Os testes de

inteligência permitiram a construção de alguns padrões de normalidade. Isto

significa que os psicólogos poderiam determinar se as crianças estariam se

desenvolvendo normalmente.

Porém, esta forma de pensar trouxe várias conseqüências, inclusive a famosa

ideologia do dom. Nesta ideologia, uma criança filha de jogadores famosos de

basquetebol, já nasceria com uma herança genética que a levaria a se tornar

também uma ótima jogadora de basquetebol. Mas nós sabemos que nem

sempre é assim. Se pensarmos desta maneira, estaríamos desconsiderando

totalmente a influência que o meio exerce sobre o desenvolvimento da criança

e estaríamos reforçando o processo de exclusão e discriminação.

O conhecimento desta teoria torna-se importante para o profissional de

Educação Física porque lhe fornece bases teóricas importantes para discutir

sobre o desenvolvimento do aluno e, principalmente, derrocar a idéia de que

alunos que moram em áreas de vulnerabilidade social estariam propensos ao

aprendizado de determinados esportes. Neste caso, pode-se citar o exemplo

do futebol que seria considerado o esporte das camadas mais pobres da

população. Esse modo de pensar estaria retirando a oportunidade de

aprenderem outro tipo de esporte de várias crianças.

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2.1.2. O DESENVOLVIMENTO NA VISÃO COMPORTAMENTALISTA Segundo esta perspectiva o ambiente e as experiências que as crianças

possuem são fatores determinantes para o seu aprendizado. O

desenvolvimento seria resultado de uma diversidade de aprendizagens que

estariam sendo acumuladas durante a vida. Para os comportamentalistas, o

desenvolvimento e comportamento humanos poderiam ser explicados pelos

mesmos princípios do comportamento e desenvolvimento animal.

O principal estudioso desta teoria foi John Broadus Watson (1878-1958).

Segundo ele, a idéia de aprendizado inato é falsa e, na verdade, o

desenvolvimento e aprendizagem se dão sob influência de fatores externos. A

criança é vista como uma folha em branco na qual se escreveriam uma história

de vida através das experiências obtidas em sua trajetória de vida. Para os

comportamentalistas a aprendizagem e o desenvolvimento se dariam por

condicionamento2.

O estudioso norte-americano Burrhus Frederic Skinner (1931-1980) foi quem

aperfeiçoou esta teoria, mostrando novas maneiras de condicionar o

comportamento humano. Segundo Skinner, aprendemos quando ganhamos

uma recompensa por ter praticado uma determinada ação. A esta recompensa,

ele deu o nome de “reforço” e a esta aprendizagem deu o nome de

“condicionamento operante”. Quais seriam então as conseqüências da

aplicação desta teoria nas aulas de Educação Física?

Se o professor partir destes princípios, ele entenderá que é o detentor do

conhecimento absoluto dos conteúdos a serem repassados e poderá

programá-lo de forma que o aluno aprenda por repetição e acumulação,

assimilando-os. O aluno na concepção comportamentalista ocuparia uma

2 Condicionamento: um estímulo externo provocando um determinado tipo de comportamento. Este tipo de aprendizagem é denominado condicionamento clássico. MINAS GERAIS. Secretaria de Estado da Educação. Veredas – Formação Superior de Professores: módulo 5, volume 2. Belo Horizonte: SEE – MG, 2004.

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posição passiva e somente estaria se desenvolvendo se o professor lhe der

uma recompensa durante o processo de ensino-aprendizagem.

Assim, um aluno somente poderá se tornar um bom atleta se receber estímulos

por parte do seu professor ou treinador, ou então, se estiver se exercitando

num ambiente extremamente promissor. Isso estaria desconsiderando os

desejos e anseios que este aluno tem com relação ao esporte que ele pratica.

Se um profissional adotar os ensinamentos da teoria comportamentalista

podemos entender que nem sempre o esporte praticado é o que o aluno

realmente queria estar fazendo e as suas experiências acumuladas durante a

vida estariam sendo deixadas de lado. Se o aluno se sair bem na realização

das atividades, no final ele recebe um prêmio ou gratificação pelo desempenho

alcançado.

2.1.3. O DESENVOLVIMENTO NA VISÃO PSICOGENÉTICA

De acordo com esta visão, os estudos sobre o desenvolvimento devem se dar

a partir da sua gênese ou origem. Para esta teoria todos os fatores internos

ligados à maturação dos indivíduos, e externos originados no ambiente, seriam

responsáveis pelo desenvolvimento humano. Para os pesquisadores que

adotam esta perspectiva, o desenvolvimento não é o mesmo que a

aprendizagem.

Segundo o Veredas (2004: 135) “esses dois processos não se confundem,

como na visão dos comportamentalistas, nem tampouco há o predomínio

absoluto do desenvolvimento sobre a aprendizagem, como na perspectiva

inatista-maturacionista”. Desde o seu nascimento o bebê se encontra em

processo de desenvolvimento e aprendizagem, agindo sobre os problemas que

são colocados pelo ambiente em que se encontra.

O desenvolvimento, então, é visto como um processo mediado, marcado pelas

interações que as pessoas estabelecem em seu meio sócio-cultural. Como fica

a escola diante desta perspectiva? Como ocorreriam as aulas de Educação

Física segundo o olhar dos psicogeneticistas?

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A escola deve articular-se com a vida cotidiana dos seus alunos, sabendo que

as crianças e adolescentes já possuem pré-conhecimentos e que os mesmos

devem ser levados em consideração dentro e fora da sala de aula. Cabe ao

professor deixar que o aluno se expresse sobre o seu modo de pensar e ver a

vida e estimular o seu senso crítico. Na Educação Física, se a história de vida

do sujeito não for levada em consideração, o processo de desenvolvimento

pode ser fatalmente prejudicado.

De acordo com os PCN’s – Educação Física (1997: 38) “o êxito e o fracasso

devem ser dimensionados tendo como referência os avanços realizados pelos

alunos em relação ao seu próprio processo de aprendizagem e não por uma

expectativa de desempenho predeterminada”. Este “próprio processo de

aprendizagem” refere-se a situações de ensino e aprendizagem que

possibilitam o aluno ser valorizado naquilo que ele já conhece.

Quando chegam à escola, os alunos já possuem conhecimentos referentes a

uma cultura corporal, que foram sendo construídos a cada dia no seu ambiente

específico de moradia. Estes conhecimentos estão ligados a uma prática de

Educação Física apreendida no campinho próximo à sua casa, no quintal da

sua residência, nas casas dos colegas e vizinhos e vão desde as brincadeiras

mais conhecidas como a “amarelinha” e a famosa “pelada” até práticas

esportivas menos realizadas e tão divulgadas ultimamente pelas mídias como o

tênis e o basquetebol.

2.1.4. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE AS ABORDAGENS

Cabe ao professor tomar conhecimento do conteúdo destas abordagens e a

escolha de uma que promova aprendizado, desenvolvimento da autonomia e

capacidade de criação por parte dos alunos. Como resultado, o aluno tem a

oportunidade de ser mais autônomo e gestor de suas próprias decisões, bem

como as circunstâncias boas ou más que são advindas delas.

Talvez este seja um dos maiores desafios da Educação Física: dar ao

educando a oportunidade de sentir o seu corpo como um instrumento através

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do qual ele possa se comunicar e dar vazão às suas necessidades e, ao

mesmo tempo, ter os seus pré-conhecimentos valorizados pelo professor e

utilizados de forma que se alcance um entendimento do mundo e de

movimento. Então, pode-se entender que a escola não deve negar a existência

da corporeidade humana, a infinidade de gestos, expressões, movimentos, que

os seres humanos encontram-se capazes de realizar.

O pensamento, de uma forma de educação física, que separa o homem em

corpo e mente (dualismo) tem limitado a disciplina Educação Física a ocupar-

se simplesmente do movimento corporal e a tem distanciado das influências

que o meio exerce sobre o corpo, desconsiderando aspectos importantes como

os aspectos sociais, culturais, ideológicos e afetivos.

Como está posto no PCN’s – Educação Física (1997:28) “é tarefa da Educação

Física escolar, portanto, garantir o acesso dos alunos às práticas da cultura

corporal, contribuir para a construção de um estilo pessoal de exercê-las e

oferecer instrumentos para que eles sejam capazes de apreciá-las

criticamente”.

2.2. CONSIDERAÇÕES SOBRE AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA Até bem pouco tempo, o que se observava das aulas de Educação Física era

um costumeiro bate-bola na quadra da escola entre os professores e alunos.

As tradicionais aulas sob comando faziam-se com exercícios de repetição e

ênfase no treinamento físico. Mas com o decorrer dos tempos, a situação atual

exigiu que esta prática fosse repensada uma vez que o mundo globalizado tem

exigido uma determinada quantidade de conhecimentos, em diversas áreas da

formação humana. E, não escapa à Educação Física fazer parte desta

situação, porque como área do conhecimento, objetiva a formação integral do

ser humano.

Assim sendo, novas abordagens desta disciplina fizeram com que os alunos

passassem a se aprofundar no mundo das pesquisas sobre a história dos

esportes, relatórios, participassem de debates e estudassem recriando os

20

regulamentos de uma diversidade de jogos. Desta maneira, o papel do

professor como aquele profissional que vai dar suporte a todas as

transformações no ensino desta disciplina, torna-se fundamental.

Passamos a perceber que o professor procura ensinar não só a competição,

mas acima de tudo a cultura corporal. Esta nova forma de ensino da Educação

Física vai exigir mais conversas entre professor e aluno e um planejamento de

aula mais detalhado, incluindo a sua intencionalidade que deve estar bem

definida. Pode-se fazer um paralelo entre a abordagem tradicional e a atual do

ensino de Educação Física.

Na abordagem tradicional estimula-se a busca de resultados e o

desenvolvimento de capacidades físicas dando bastante atenção à saúde física

e à higiene. Nela, o corpo é tratado do ponto de vista biológico e deve ser

limitado às práticas esportivas, tendo atividades que se restringem à quadra e

que denotam aulas sob comando, com alunos organizados em fileiras e

colunas.

Nesta abordagem, os sexos são separados, havendo maior valorização dos

alunos que são mais fortes ou que apresentam melhor desempenho físico. O

professor procura controlar a classe com disciplina rígida, e verdadeiramente

se considera o detentor do conhecimento, concentrando o poder de decisão e

assegura o cumprimento das regras sem questionamentos ou modificações.

Nestas aulas os alunos simplesmente repetem gestos mostrados pelo

professor e não desenvolvem a sua autonomia e a criatividade de movimentos.

Já na nova abordagem existe uma valorização da variedade e da historicidade

dos movimentos humanos. As atividades físicas são adequadas ao gosto,

necessidades e interesses individuais do aluno. O corpo deixa de ser o foco

central, mas considera-se bastante o cuidado com a saúde, a higiene e o

prazer pelo movimento. Além dos jogos, inclui aulas de ginástica, danças, lutas,

artes circenses, brincadeiras e jogos populares.

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Nesta abordagem ganham espaço as pesquisas, debates, entrevistas e

estudos complementares como atividades fortalecedoras dos exercícios em

quadra. A competitividade perde espaço para que os exercícios cooperativos,

expressivos e criativos entrem em cena. Todos os alunos têm oportunidade de

participar das atividades e não há mais a separação de meninos e meninas.

Existe uma maior flexibilidade nas aulas e o poder de decisão do professor é

dividido com a turma. O aluno torna-se mais autônomo sem se prender a

modelos de desempenho físico ditados pelas mídias.

2.3. O QUE É O PROGRAMA SEGUNDO TEMPO?

O programa Segundo Tempo é um programa realizado pelo Ministério do

Esporte em meados de 2003, em parceria com o Ministério da Educação,

promovido pela Secretaria de Esporte Educacional e destinado a possibilitar o

acesso à prática esportiva aos alunos que estão matriculados no ensino

fundamental e médio, em estabelecimentos públicos de educação do Brasil,

principalmente em escolas de áreas que oferecem algum tipo de risco social.

Além de ser considerado um programa de inclusão social, o programa Segundo

Tempo oportuniza aos jovens o acesso à informação. No programa Segundo

Tempo os estudantes também têm alimentação, uniforme e material esportivo,

além de noções de saúde / higiene e reforço escolar.

O programa Segundo Tempo veio substituir o programa Esporte na Escola e

parte do antigo programa Esporte Solidário. Objetiva a implantação de um

segundo turno, ampliando o tempo de permanência de crianças e jovens na

escola. Neste programa os alunos podem optar pela prática do esporte

educacional e das modalidades oferecidas de acordo com o seu interesse,

desenvolvendo suas capacidades e habilidades motoras.

Além dos objetivos citados acima, o programa Segundo Tempo busca

implementar indicadores de acompanhamento e avaliação do esporte

educacional no Brasil e qualificar os recursos humanos profissionais

envolvidos. Entre as diretrizes do programa está a autonomia da organização,

22

para permitir que órgãos governamentais e não-governamentais interessados

se mobilizem e agreguem os estabelecimentos públicos de educação às suas

regiões de atuação.

Com relação à qualificação de recursos humanos, o programa Segundo Tempo

conta ainda com a realização de cursos de educação à distância, em parceria

com o Ministério do Esporte e a Fundação Universidade de Brasília. Na UnB

(Universidade de Brasília) encontra-se o CEAD (Centro de Educação) onde

acontecem os cursos de Especialização em Esporte Escolar (desenvolvido

com os módulos Esporte e Sociedade; Dimensões pedagógicas do Esporte;

Jogo, corpo e escola; Manifestações dos Jogos e Elementos do processo de

pesquisa em Esporte Escolar - Pré Projeto) e Extensão com o módulo

Pedagogia do Esporte - Texto complementar.

Atualmente, o Programa Segundo Tempo atende a mais de um milhão de

crianças em mais de 600 municípios brasileiros, principalmente municípios de

Brasília, Bahia (estado onde há o maior número de crianças atendidas pelo

programa), Rio de Janeiro, Goiás, e Minas Gerais. O programa ainda é

responsável por 11 mil empregos diretos de profissionais e estagiários das

áreas de Pedagogia e Educação Física, envolvidos na organização e gestão

dos núcleos e capacitados a orientar devidamente os jovens, recuperando-lhes

a auto-estima, estimulando o contato social, incentivando a cooperação entre

equipes, diminuindo os índices de violência local, promovendo o bem-estar e a

saúde, e melhorando a qualidade de vida destes.

23

3. MÉTODOS E TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS

Para coletar as informações necessárias ao desenvolvimento desta pesquisa,

utilizou-se a pesquisa exploratória, considerando que ela pode resultar em

dados significativos na área educacional, no sentido de proporcionar ao

pesquisador e a todos que tiverem acesso à mesma, uma visão diferenciada

sobre as diferenças entre o desenvolvimento do aluno participante do

Programa Segundo Tempo em relação ao aluno de Educação Física

convencional.

De acordo com Santos (2004: 26) "a pesquisa exploratória é quase sempre

feita na forma de levantamento bibliográfico, entrevistas com profissionais que

estudam ou atuam na área, visitas a websites, etc.". Assim, buscando obter as

informações necessárias à construção de tais conhecimentos foram

selecionados e utilizados como procedimentos metodológicos a análise de

documentos e aplicação de questionários.

Em relação à análise dos documentos, buscaram-se informações coesas em

documentos eletrônicos, periódicos, revistas, livros, todos relacionados com

conteúdos voltados para a área educacional. Os questionários foram entregues

para profissionais da educação que atuam ministrando aulas de Educação

Física, sendo eles professores atuantes do Ensino Fundamental e estagiários

(as) do curso de Educação Física de algumas faculdades de Belo Horizonte. O

trabalho de campo contou com a aplicação de 10 questionários, sendo que

foram devolvidos oito para a análise. A coleta de dados foi realizada no período

de novembro de 2006 a fevereiro de 2007. O uso do questionário torna-se

viável por:

(...) lembrar que se mostra econômico no uso e permite alcançar rápida e simultaneamente um grande número de pessoas, uma vez que elas respondem sem que seja necessário enviar-lhes um entrevistador. A uniformização assegura, de outro lado, que cada pessoa veja as questões formuladas da mesma maneira, na mesma ordem e acompanhadas da mesma opção de respostas, o que facilita a compilação e a comparação das respostas escolhidas e permite recorrer ao aparelho estatístico quando do momento da análise. (LAVILLE, DIONE; 1999, p. 183-184)

24

Desta maneira, os procedimentos de pesquisa acima descritos possibilitaram a

coleta de informações que favoreceram as investigações e análises das

diferenças entre o desenvolvimento do aluno participante do programa

Segundo Tempo em relação ao aluno de Educação Física convencional na

Escola Municipal Padre Edeimar Massote em Belo Horizonte. Os questionários

aplicados encontram-se em anexo.

25

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO

Para a discussão das informações obtidas através da aplicação dos

questionários elegeram-se duas grandes categorias de análise, a saber: 1. O

que pensam os profissionais sobre as aulas da Educação Física tradicional e 2.

O que pensam os profissionais sobre as aulas de Educação Física no

Programa Segundo Tempo. Para a composição destas duas categorias, foram

eleitas três categorias menores que discutiram sobre as atividades trabalhadas

pelos profissionais, a receptividade e o desenvolvimento dos alunos nas duas

formas de trabalhar a Educação Física.

4.1. O QUE PENSAM OS PROFISSIONAIS SOBRE AS AULAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA TRADICIONAL

4.1.1. Atividades trabalhadas Para os que responderam os questionários as principais atividades que eles

conhecem e que trabalham nas aulas de Educação Física tradicional giram em

torno de atividades variadas que exigem do aluno tanto um esforço físico

quanto mental, com predominância das atividades que necessitam de maior

esforço físico. Entre essas atividades foram citadas: vôlei, basquete, futebol,

dama, xadrez, handebol, queimada, atletismo, peteca, ginástica geral, futebol

de salão, basquetebol, capoeira, dança, natação.

Apenas duas atividades (xadrez e dama) não exigem grandioso esforço físico

dos alunos, o que demonstra a preferência dos professores por atividades

físicas intensivas. Tal preferência pode ser entendida como uma das principais

características das aulas na abordagem tradicional uma vez que essas

atividades priorizam apenas o movimento como forma de construção de

conhecimentos sobre a Educação Física.

Podemos pensar ainda que, ao priorizar o movimento em suas aulas, o

profissional está dicotomizando o processo de desenvolvimento do aluno ligado

às atividades físicas.

26

Com relação a isto, Santim (1987:62), considera que:

“(...) o homem não age por partes, mas age sempre como um todo; o pensar as emoções, os gestos são humanos, não são ora físicos, ora psíquicos, mas sempre totais... o homem é corporeidade e, como tal, é movimento, é gesto, é expressividade, é presença.”

Nas aulas tradicionais as atividades são dirigidas de maneira fragmentada e

priorizam o processo de aprendizagem de habilidades técnicas, na sua maioria

das vezes. Ao serem questionados sobre as atividades trabalhadas na

Educação Física tradicional, os entrevistados citaram atividades que, segundo

o nosso entendimento, fizeram parte das suas trajetória de estudantes.

Prazerosas ou não, essas atividades podem afetar de maneira profunda a vida

dos alunos, pois são atividades que devem procurar fazer a integração entre as

diversas facetas do ser humano. Para os PCN’s – Educação Física (1997: 27),

a Educação Física na atualidade:

“(...) contempla múltiplos conhecimentos produzidos e usufruídos pela sociedade a respeito do corpo e do movimento. Entre eles, se consideram fundamentais as atividades culturais de movimento com finalidades de lazer, expressão de sentimentos, afetos e emoções, e com possibilidades de promoção, recuperação e manutenção da saúde.”

Há que se considerar que muitas atividades que foram citadas pelos

profissionais que responderam os questionários ainda fazem parte de uma

prática intensiva do ensino da Educação Física, refletindo apenas gestos

estereotipados que são ensinados aos alunos para que eles automatizem e

reproduzam sem que haja apropriação dos conhecimentos relacionados ao

corpo nem sua utilização de forma consciente.

4.1.2. A receptividade do aluno Para os profissionais, a Educação Física nos moldes tradicionais “nem sempre

são de acordo com as modalidades e aulas propostas”. Podemos perceber

que, por mais que haja um trabalho do profissional para o planejamento de

uma boa aula e para que ele consiga ter uma considerável receptividade nas

atividades que ele propõe realizar, este acaba se deparando com a falta de

interesse por parte de alguns alunos uma vez que “as aulas são obrigatórias,

27

estão dentro do currículo escolar, o aluno não escolhe a atividade que quer

fazer. Assim, eles fazem a atividade mesmo que não seja do gosto dele”.

O fato de o aluno realizar atividades físicas “mesmo que não seja do gosto dele3”, nos remete a duas características importantes da Educação Física

tradicional: aquela que diz respeito à falta de autonomia do aluno e à pobreza

de tomada de decisões. De acordo com os PCN’s – Educação Física (1997:

33), a Educação Física deve “capacitar o indivíduo a refletir sobre suas

possibilidades corporais e, com autonomia, exercê-las de maneira social e

culturalmente significativa e adequada”.

Já a tomada de decisões por parte daqueles envolvidos no processo de ensino

e aprendizagem da Educação Física deve ultrapassar a etapa que os deixa

vulneráveis à aplicação de um conceito ou uma nota. Para alguns pesquisados,

“nas aulas de Educação Física convencional, os alunos se comportam da

mesma forma como nas outras disciplinas, com o objetivo de ganharem nota,

freqüência, entre outros”. Neste caso, torna-se necessário que o profissional

trabalhe de forma a estimular e desenvolver a criatividade, a criticidade e

alargar o horizonte de respostas de seus alunos, para que este possa, de

forma autônoma, participar das atividades e decidir qual delas é a melhor para

o momento da experiência cotidiana que ele está vivendo.

Dentre as respostas dos questionários, nas aulas de Educação Física

tradicional, encontramos máximas ligadas à relação da questão do gênero com

as atividades físicas: “os alunos preferem as atividades do gosto deles, como

futebol para homem e vôlei para as mulheres. Quando se propõe novas

atividades elas não são bem-vindas”. Segundo os PCN’s – Educação Física

(1997: 67), a Educação Física deve proporcionar que ao aluno “interagir com

seus colegas sem estigmatizar ou discriminar por razões físicas, sociais,

culturais ou de gênero”.

3 Grifo do autor.

28

4.1.3. O desenvolvimento do aluno Alguns profissionais consideraram que trabalha com “alunos desinteressados,

desmotivados, desatentos em todas as disciplinas. Grande parte destes alunos

não demonstrou interesse por nenhuma atividade proposta”. Para outros, o

aluno da Educação Física tradicional seria uma pessoa “desmotivada,

desinteressada, agitada porque estes moldes não atendem aos anseios dos

alunos no momento histórico”.

A velocidade acelerada das transformações sociais tende a intervir nas

relações do aluno com as suas preferências em relação às atividades físicas.

Só para exemplificar, houve uma época em que se tinha urgência de

determinadas atividades para o corpo e que estavam ligadas a um momento

histórico vivido por professores e alunos e estas urgências estavam ligadas à

implícita pretensão de formar homens de corpo e caráter fortes, para servirem

à Pátria. Assim, homens e mulheres eram constantemente submetidos a

movimentos próprios de uma conduta disciplinar bastante rígida.

Refletindo um pouco mais sobre os escritos acima, percebemos que os

próprios educadores que utilizam a Educação Física tradicional sentem uma

necessidade de estar relacionando as aulas com o momento presente vivido

por seu aluno. Cabe agora questionar principalmente sobre qual o momento

histórico vivido e qual o tipo de aluno que se deseja formar quando se está

trabalhando atividades físicas nos moldes tradicionais.

Como a Educação Física é uma disciplina que possibilita espaços onde se

pode dar início a mudanças significativas na maneira de se implementar o

processo de ensino e aprendizagem, tendo em vista as diversas situações em

que os dados do cotidiano associados à cultura de movimentos podem ser

utilizados como objetos para reflexão, algumas considerações importantes

também foram feitas em relação ao desenvolvimento do aluno na sua

totalidade. Alguns professores consideraram que o aluno “cresce no social,

moral, cognitivo, físico, além de saber inclusive respeitar regras, professores e

os próprios colegas”. Por este ângulo, é possível ver que existe uma

29

preocupação do professor em educar, mais que fisicamente, mas educar para

a vida e sua qualidade.

Esse fundamento nos permite entender a Educação Física, mesmo sendo

aquela que tem o movimento como seu principal instrumento como um

processo integral na formação do ser humano que, de acordo com Rodrigues

(2001: 243):

“(...) envolve todo esse instrumental de formas de percepção do mundo, da comunicação e de intercomunicação, de auto-conhecimento, das necessidades humanas. E propõe-se a prover as formas de superação das necessidades, sejam elas materiais, ou psíquicas, de superação ou de reconhecimento de limites, de expansão do prazer e outras”.

A ênfase das respostas encaminhou sempre para o entendimento de que uma

aula de Educação Física nos moldes tradicionais que objetivasse o

desenvolvimento do aluno deveria conter sempre atividades que envolvessem

movimentos, o aprendizado de técnicas esportivas e uma seqüência lógica que

privilegie características de um determinado esporte.

Para alguns professores, os alunos que participam de aulas de Educação

Física tradicional “(...) têm teoricamente um melhor desenvolvimento, pois as

aulas são dadas por partes com maiores detalhes, aprendem técnicas

esportivas tendo um seguimento nas aulas” ou apresentam seu bom

desenvolvimento porque “nela trabalham-se esportes variados e habilidades

variadas, trabalhando-se assim habilidades motoras diferentes em cada aula”.

Porém, nem todos os que responderam o questionário corroboram com as

idéias acima. Houve considerações de que, no desenvolvimento da aula de

Educação Física nos moldes tradicionais, “alguns alunos são bem sucedidos, e

outros não. Pois a aula de Educação Física é imposta a eles como outra

matéria de feito obrigatório. E existem alguns alunos que não se desenvolvem

bem, pois não gostam de fazer Educação Física, como também podem não

gostar de português, da matemática. E os que se desenvolvem bem é porque

30

gostam de praticar as aulas de Educação Física, com as modalidades que são impostas4”.

4.2. O QUE PENSAM OS PROFISSIONAIS SOBRE AS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO

4.2.1. Atividades trabalhadas Ao analisar as respostas encontradas nos questionários percebe-se que as

atividades que os professores trabalham no Programa Segundo Tempo

também se enquadram dentro das atividades que são trabalhadas nas aulas

tradicionais de Educação Física. Estas atividades (futebol de salão, handebol,

basquete, vôlei, danças, futebol, capoeira, ginástica acrobática, ginástica

artística, ginástica localizada, ginástica olímpica, atletismo), assim como nas

aulas tradicionais, exigem um determinado esforço físico do aluno que está

associado a uma oportunidade de escolha da modalidade esportiva. A dança e

a capoeira são duas atividades físicas que surgiram nas respostas, mas que

não deixaram claro para a pesquisa o motivo pelo qual elas foram incluídas

como atividades trabalhadas.

Assim, entende-se que o Programa Segundo Tempo, mesmo trabalhando

atividades físicas que também são desenvolvidas nas aulas tradicionais,

precisa demonstrar, através das outras respostas do questionário, que existe

um diferencial para ele. No caso específico da educação física, é recorrente

que o profissional, dentro do Programa Segundo Tempo – analisando-se

através das premissas do programa - possua ferramentas valiosas para

provocar estímulos que levem ao desenvolvimento de uma forma de aprender

bastante prazerosa, quer seja ela através da brincadeira, do jogo e do esporte

que se diferencie em algum aspecto das aulas tradicionais de Educação Física,

ainda que utilizando os mesmos tipos de atividades.

4 Grifo do autor

31

4.2.2. A receptividade do aluno Diferentemente das respostas dadas em relação à receptividade do aluno nas

aulas tradicionais de Educação Física, os professores consideraram que,

dentro do Programa Segundo Tempo, “a receptividade é dentro do esperado:

alunos participativos, interessados, freqüentes, assíduos, motivados,

receptivos, criativos e felizes”. Esta receptividade foi explicada por um

professor quando ressaltou que “as aulas são escolhidas por eles e não é

obrigatório fazê-las (...)”.

Quando o professor fala que o aluno não é obrigado a fazer a aula de

Educação Física está nos mostrando a necessidade de compreender que,

mesmo existindo uma legislação que regulamente a Educação Física como

disciplina da grade curricular, diversas questões do cotidiano social dos

indivíduos podem ser trazidas para a escola e pedagogicamente trabalhadas

de forma a serem compreendidas e proporcionarem maneiras através das

quais poderão atuar nesta sociedade.

A Educação Física, embora fazendo parte de um sistema social maior, não

aproveita, de modo geral, as contradições existentes na sociedade e as

experiências cotidianas dos alunos como objeto do seu discurso pedagógico.

Porém, ao pensar desta forma, é possível estarmos perseguindo um sonho

cada vez mais afastado da realidade, porque quando priorizamos alguns

conteúdos escolares e omitimos outros, revelamos interesses relacionados a

uma visão política, econômica e social do mundo. E isto pode ser traduzido na

idéia de que a Educação Física é uma disciplina menor e, portanto, não

necessita ser desenvolvida na sua amplitude dentro do ambiente escolar.

Outro professor tenta explicar o motivo da receptividade dos alunos em relação

às aulas do Programa Segundo Tempo: “eles são receptivos, pois os alunos

escolhem as modalidades a serem trabalhadas”. Em outras palavras, de outro

professor: “nas aulas do Programa Segundo Tempo os alunos ficam livres para

praticar as modalidades esportivas como forma de lazer, por isso, a

receptividade deles é maior e melhor”.

32

Ao terem a oportunidade de escolher as modalidades da atividade física a ser

trabalhada, o aluno desenvolve a sua autonomia. Fato é que, para os alunos

desenvolverem a sua autonomia na execução das atividades físicas, eles

precisam participar da escolha dos conteúdos, dos jogos que serão trabalhados

durante o processo de ensino e aprendizagem, isto é uma escolha pessoal e

que a escola não necessita interferir em sua prática.

Uma das propostas do Programa Segundo Tempo, destacadas nas respostas

dos professores da área, concebe a Educação Física como componente

curricular responsável, de acordo com Bracht (2001: 76), “por inserir os alunos

no universo da cultura corporal de movimento, de maneira que nele possam

agir de forma autônoma e crítica”. Reafirma a idéia de Bracht, a seguinte fala:

“uma criança participante do Segundo Tempo consegue se desenvolver bem.

Pois o programa não é algo imposto a ela. Ela participa se desejar e faz o

esporte no qual ela votar, para ser implantado dentro do Segundo Tempo”.

4.2.3. O desenvolvimento do aluno

“Uma criança que participa do Programa Segundo Tempo,

(...) além de ampliar o modo de ver o que é esporte,

também se desenvolve melhor fisicamente,

cognitivamente e até mesmo intelectualmente. Ela

aprende que dentro de um projeto que sua participação é

imprescindível e que os benefícios são mútuos”.

A frase acima, retirada dentre as respostas dos questionários, serve para

ilustrar de maneira geral qual a visão que os professores possuem das

atividades físicas que são trabalhadas dentro do Programa Segundo Tempo.

Mais que desenvolver as atividades corporais simplesmente, o Programa

Segundo Tempo surgiu com a intenção de se trabalhar a inclusão social e

oportunizar aos jovens o acesso à informação, o que fica claro na resposta

acima.

Quando dissemos na análise sobre as atividades trabalhadas, basicamente

encontramos as mesmas citações de exemplos de atividades. Porém, o que os

33

professores deixaram transparecer foi que, por ser um programa diferenciado,

o Segundo Tempo trabalha sim físico dos alunos, mas priorizando o

crescimento enquanto cidadão nas áreas cognitiva e intelectual, visando

melhor preparação para a sua participação como sujeito transformador da

realidade onde vive.

Destaca esta concepção a seguintes respostas: “O aluno cresce no sentido

cognitivo, afetivo, psicossocial, moral, além do aspecto físico” e “As

crianças têm aprendido valores, disciplina, integração e percebido o quanto

é importante fazer esporte como lazer, é um bem estar para a mente e o

corpo”. Essa compreensão de Educação Física está voltada para a concepção

de que o profissional necessita dos conhecimentos produzidos por outras

diversas áreas do saber, todos relacionados com manifestações da cultura

corporal.

Dentro da idéia de que a Educação Física necessita trabalhar conhecimentos

afins nos seus alunos, o professor de Educação Física necessita criar aulas

educativas nas quais, tão importante quanto realizar uma tarefa de um

determinado esporte, é ensinar os alunos a respeitar as normas estabelecidas

pelo grupo, reconhecer uma falta ou resolver uma discussão.

Quando isso ocorre, podemos dizer que o professor compreendeu esse

processo, ajudou os alunos a se tornarem menos ansiosos e mais capazes de

contribuir para o desenvolvimento de suas habilidades. Eticamente, está

preparando seus alunos para a realização de um trabalho educacional mais

efetivo, para serem mais organizados e para atuar autônoma e criticamente em

uma sociedade democrática, através do respeito mútuo, da busca pela

igualdade de direitos e de oportunidades, da solidariedade, e do diálogo. Ao

considerarem que “os alunos apresentaram disposição, interesse, boa

vontade”, pode-se perceber que os professores nos direcionam para uma

concepção de corpo que ultrapassa o visível.

Assim, o trabalho com as atividades lúdicas precisa estar sempre presente na

prática, porque de acordo com Lowem (1993: 56):

34

“Corpo vivo canta, vibra, brilha, está carregado de sentimentos, tem uma mobilidade que se manifesta pela espontaneidade dos gestos dos movimentos e pela vivacidade do sentimento, isto é pela ludicidade das ações”.

Assim, de acordo com um dos professores, o Programa Segundo Tempo “além

de promover diversão, favorece o autoconhecimento, alivia tensão e conflitos,

facilita a expressão de emoções, estimula o convívio com regras e limites,

amplia os critérios de aceitação dos diferentes”. Dentro do desenvolvimento do

aluno, percebe-se que as atividades trabalhadas no programa permitem a

descarga da agressividade, estimulando a auto-expressão, mantendo assim a

saúde e favorecendo o crescimento do aluno.

35

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa teve como foco principal a realização de uma análise das

diferenças entre o desenvolvimento do aluno participante do programa

Segundo Tempo em relação ao aluno que participa de aulas da educação física

convencional. Apesar de se ter enfrentado alguns problemas que estão ligados

à questão operacional da coleta dos dados (alguns professores que atuam no

Programa Segundo Tempo sentiram-se desconfortáveis na elaboração das

respostas, dificultando a entrega dos questionários em tempo hábil,

prejudicando maior intensidade da análise), procurou-se desenvolver da melhor

maneira possível a análise de todos os questionários a que tive acesso.

A análise dos questionários evidencia que os professores de Educação Física,

seja ela tradicional ou dentro do Programa Segundo Tempo, possuem uma

compreensão precisa sobre o desenvolvimento do aluno dentro dessas duas

óticas. Porém, questões de ordem das “atividades praticadas pelos alunos nas

aulas” evidencia que existe uma igualdade na escolha das atividades

trabalhadas, fato que iguala um programa diferenciado como é o Segundo

Tempo com uma forma tradicional de se ensinar educação física.

De acordo com os professores, é possível afirmar que para haver o

desenvolvimento do aluno é necessário que este também desenvolva sua

crítica em relação à realização de exercícios físicos, gestos e procedimentos

esportivos, preferencialmente direcionados para as performances

preestabelecidas. O aluno carece ter acesso aos objetivos e conteúdos que

estão sendo trabalhados, promovendo um espaço de trocas de conhecimentos.

A participação em conjunto de alunos e professores nesta tarefa tende a tornar

o desenvolvimento do aluno mais promissor, tanto no Segundo Tempo quanto

nas aulas tradicionais, mesmo sabendo que as preferências são diversas,

como mostradas pelas respostas dos questionários, dentro de um grupo de

alunos e que, em muitas ocasiões, o professor não atinge o interesse de todos

com suas propostas.

36

Desejamos enfatizar a importância das práticas de Educação Física, no

processo de desenvolvimento do ser humano, a partir das concepções

trabalhadas neste texto como formas de democratizar, humanizar e diversificar

as práticas pedagógicas da área de Educação Física, buscando ampliar a visão

á cerca da referida área de estudo no que tange as dimensões afetivas,

cognitivas e socioculturais que foram apontadas pelas respostas dos

professores, considerando as experiências cotidianas dos seus alunos e as

utilizando na produção de novos conhecimentos no ambiente escolar.

“Caminhamos aqui sobre os espinhos do estudo, com dificuldade, com dor. A frustração e ansiedade serão minimizadas caso tenhamos trabalhado em nós, e em nossos educandos, o enfrentamento humilde, mas obstinado do nosso não saber como etapa constitutiva do saber posterior, nunca final nem absoluto, mas antes, sujeito a corte e revisões”. (CAMARGO, 1995: 57)

37

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

APPEY, M. H. & COFER, C. N. Psicologia da motivação. México: Trilhas,

1976.

BRACHT. V. Saber e fazer pedagógicos: acerca da legitimidade da Educação

Física como componente curricular. In: CAPARROZ, F. Educação Física escolar: política, investigação e intervenção. Vitória: Proteoria, 2001

BRASIL. Ministério do Esporte: Comissão de Especialistas de Educação Física.

Esporte e Sociedade. 2ª ed. Brasília, 2004.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília, 1997.

CAMARGO, Fátima. A propósito do ato de estudar. In: WEFFORT, Madalena

Freire (org.). Observação, registro, reflexão: Instrumentos metodológicos I.

São Paulo: Espaço Pedagógico, 1995.

LAVILLE, Christian & DIONNE, Jean. Trad. Heloísa Monteiro e Francisco

Settineri. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto alegre: ARTMED, 1999.

LOWEN, Alexander. O Corpo Traído, o Jogo Como Elemento da Cultura.

São Paulo: Perspectiva, 1993.

MINAS GERAIS. Secretaria de Estado da Educação. Veredas – Formação Superior de Professores: módulo 5, volume 2. Belo Horizonte: SEE – MG,

2004.

RODRIGUES, Neidson. Educação: da formação humana à construção do

sujeito ético. Educação & Sociedade, ano XXII, n.76, out. 2001.

38

SANTIM, Silvino. Educação Física: a abordagem filosófica da corporeidade.

Ijuí: Unijuí, 1987

SANTOS, Antônio Raimundo dos. Metodologia científica: a construção do conhecimento. 6ª ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.

SITES VISITADOS

• www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2001/ccm/ccm0.htm;

• http://www.brasil.gov.br/governo_federal/Plan_prog_proj/editesp/progr_e

sporte/informacoes/infofolder_view;

• www.vermelho.org.br/diario/ 2005/0324/0324_segundo-tempo-df.asp.

39

7. ANEXOS

7.1 QUESTIONÁRIO APLICADO

Prezado (a) professor (a),

Gostaria de contar com a sua colaboração no sentido de responder o

questionário que você recebeu, a fim de que eu possa concluir o meu trabalho

monográfico cujo tema é Diferenças entre o desenvolvimento do aluno participante do Programa Segundo Tempo em relação ao aluno da educação física convencional.

1. Cite algumas atividades que você conhece e que trabalha ou já trabalhou

nas aulas de Educação física convencional.

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

2. Cite algumas atividades que você conhece e que são trabalhadas no

Programa Segundo Tempo.

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

3. Descreva como é a receptividade dos alunos em relação às atividades que

são trabalhadas nas aulas de Educação Física convencional.

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

4. Descreva como é a receptividade dos alunos em relação às atividades

trabalhadas nas aulas do Programa Segundo Tempo.

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

5. Como você descreveria o desenvolvimento de uma criança que participa de

aulas de Educação Física nos moldes tradicionais?

40

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

6. Que observações você pode fazer em relação ao desenvolvimento de uma

criança participante do Programa Segundo Tempo?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

41

7.2. TRANSCRIÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS APLICADOS

1. Cite algumas atividades que você conhece e que trabalha ou já trabalhou nas aulas de Educação Física convencional.

• Vôlei, basquete, futebol, dama, xadrez, handebol, queimada,

atletismo, peteca, ginástica geral, futebol de salão, basquetebol,

capoeira, dança, natação.

2. Cite algumas atividades que você conhece e que são trabalhadas no Programa Segundo Tempo.

• Futebol de salão, handebol, basquete, vôlei, danças, futebol,

capoeira, ginástica acrobática, ginástica artística, ginástica

localizada, ginástica olímpica, atletismo.

3. Descreva como é a receptividade dos alunos em relação às atividades que são trabalhadas nas aulas de Educação Física convencional.

• Nem sempre são de acordo com as modalidades e aulas propostas;

• Demonstrar interesse somente para atividades que gostam de

praticar, com algumas exceções;

• Nas aulas de Educação Física convencional, os alunos se

comportam da mesma forma como nas outras disciplinas, com o

objetivo de ganharem nota, freqüência, entre ouros, mesmo assim a

receptividade é boa;

• Eles não são receptivos às coisas novas, que lhe são impostas;

• As aulas são obrigatórias, estão dentro do currículo escolar, o aluno

não escolhe a atividade que quer fazer. Assim, eles fazem a

atividade mesmo que não seja do gosto dele;

42

• Os alunos preferem as atividades do gosto deles, como futebol para

homem e vôlei para as mulheres. Quando se propõe novas

atividades elas não são bem-vindas.

4. Descreva como é a receptividade dos alunos em relação às atividades que são trabalhadas nas aulas do Programa Segundo Tempo.

• A receptividade é dentro do esperado: alunos participativos,

interessados, freqüentes, assíduos, motivados, receptivos, criativos e

felizes;

• A receptividade dos alunos em relação às atividades é boa, pois as

aulas são escolhidas por eles e não é obrigatório fazê-las, só faz

quem quer;

• Por não ser obrigatória, não são todos que fazem e os que fazem

escolhem a atividade que lhe agradam;

• Eles são receptivos, pois os alunos que escolhem as modalidades a

serem trabalhadas;

• Nas aulas do Programa Segundo Tempo os alunos ficam livres para

praticar as modalidades esportivas como forma de lazer, por isso, a

receptividade deles é maior e melhor;

• O aluno participa efetivamente das atividades com interesse, com

alegria e prazer;

• Bem animada, com entusiasmo em cada atividade, com freqüência

assídua;

• Por ser um programa, atende alunos que realmente estão

interessados a participar.

5. Como você descreveria o desenvolvimento de uma criança que participa de aulas de Educação Física nos moldes tradicionais?

• Cresce no social, moral, cognitivo, físico, além de saber inclusive

respeitar regras, professores e os próprios colegas;

43

• Eu trabalho com alunos desinteressados, desmotivados, desatentos

em todas as disciplinas. Não sei dizer se a Educação Física tem

colaborado para o crescimento deste aluno. Grande parte destes

alunos não demonstrou interesse por nenhuma atividade proposta;

• A Educação Física nos moldes tradicionais é muito importante para o

desenvolvimento de uma criança. Muitas vezes a criança não tem

ambientes favoráveis a esta prática e por isso é muito beneficiada. A

Educação Física nos moldes tradicionais também auxilia a criança na

parte teórica;

• Algumas são bem sucedidas, e outras não. Pois a aula de Educação

Física é imposta a eles como uma outra matéria de feito obrigatório.

E existem alguns alunos que não se desenvolvem bem, pois não

gostam de fazer Educação Física, como também podem não gostar

de português, da matemática. E os que se desenvolvem bem e

porque gosta de praticar as aulas de Educação Física, com as

modalidades que são impostas;

• Elas têm teoricamente um melhor desenvolvimento, pois as aulas

são dadas por partes com maiores detalhes, aprendem técnicas

esportivas tendo um seguimento nas aulas;

• O desenvolvimento de uma criança na Educação Física nos moldes

tradicionais desenvolve bem as crianças, pois nela trabalham-se

esportes variados e habilidades variadas, trabalhando-se assim

habilidades motoras diferentes em cada aula;

• Eu descreveria uma criança desmotivada, desinteressada, agitada

porque estes moldes não atendem aos anseios dos alunos no

momento histórico.

6. Que observações você pode fazer em relação ao desenvolvimento de uma criança participante do Programa Segundo tempo?

• Muito bom, cresce no sentido cognitivo, afetivo, psicossocial, moral,

além do aspecto físico;

44

• Que pelo objetivo do projeto, as crianças têm aprendido valores,

disciplina, integração e percebido o quanto é importante fazer

esporte como lazer, é um bem estar para a mente e o corpo;

• Eu vou relatar sobre os alunos que vieram participar do projeto

Segundo Tempo à tarde. Os alunos apresentaram disposição,

interesse, boa vontade. Os alunos que tem boa freqüência. São

pontuais. Em relação ao desenvolvimento técnico, tático percebi uma

melhora acentuada na turma de ginástica artística e de handebol

feminino. Não percebi melhora significativa na turma de futebol

masculino;

• Uma criança que participa do Programa Segundo Tempo, de acordo

com as experiências adquiridas, além de ampliar o modo de ver o

que é esporte, também se desenvolve melhor fisicamente,

cognitivamente e até mesmo intelectualmente. Ela aprende que

dentro de um projeto que sua participação é imprescindível e que os

benefícios são mútuos. Enfim, um aluno compreende que sua cultura

cresce de acordo com sua atitude na sociedade;

• Uma criança participante do Segundo Tempo consegue se

desenvolver bem. Pois o programa não é algo imposta a ela. Ela

participa se desejar e faz o esporte no qual ela votar, para ser

implantado dentro do Segundo Tempo;

• Não tem tanta motivação, porque já sabe sobre um determinado

esporte, participa mais, mas quem não sabe acaba nem ficando, pois

é mais difícil ensinar uma atividade em partes para que todas

possam aprender;

• A criança desenvolve apenas na atividade na qual ela participa,

ficando a desejar muitas outras habilidades das quais a criança

precisa para se desenvolver;

• Além de promover diversão, favorece o autoconhecimento, alivia

tensão e conflitos, facilita a expressão de emoções, estimula o

convívio com regras e limites ampliam os critérios de aceitação dos

diferentes.