Direito Administrativo - Livro Eletronico

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Ministrio da Educao MEC Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior CAPES Diretoria de Educao a Distncia DED Universidade Aberta do Brasil UAB Programa Nacional de Formao em Administrao Pblica PNAP Bacharelado em Administrao Pblica

Direito AdministrativoLus Carlos Cancellier de Olivo

2010

2010. Universidade Federal de Santa Catarina UFSC. Todos os direitos reservados. A responsabilidade pelo contedo e imagens desta obra do(s) respectivos autor(es). O contedo desta obra foi licenciado temporria e gratuitamente para utilizao no mbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil, atravs da UFSC. O leitor se compromete a utilizar o contedo desta obra para aprendizado pessoal, sendo que a reproduo e distribuio ficaro limitadas ao mbito interno dos cursos. A citao desta obra em trabalhos acadmicos e/ou profissionais poder ser feita com indicao da fonte. A cpia desta obra sem autorizao expressa ou com intuito de lucro constitui crime contra a propriedade intelectual, com sanes previstas no Cdigo Penal, artigo 184, Pargrafos 1 ao 3, sem prejuzo das sanes cveis cabveis espcie.

O49d

Olivo, Luiz Carlos Cancelier de Direito administrativo / Luiz Carlos Cancelier de Olivo. Florianpolis : Departamento de Cincias da Administrao / UFSC; [Braslia] : CAPES : UAB, 2010. 162p. : il. Bacharelado em Administrao Pblica Inclui bibliografia ISBN: 978-85-7988-092-6 1. Direito administrativo. 2. Direito Histria. 3. Administrao pblica. 4. Responsabilidade administrativa. 5. Educao a distncia. I. Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (Brasil). II. Universidade Aberta do Brasil. III. Ttulo. CDU: 341.3

Catalogao na publicao por: Onlia Silva Guimares CRB-14/071

PRESIDENTE DA REPBLICA Luiz Incio Lula da Silva MINISTRO DA EDUCAO Fernando Haddad PRESIDENTE DA CAPES Jorge Almeida Guimares UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA REITOR Alvaro Toubes Prata VICE-REITOR Carlos Alberto Justo da Silva CENTRO SCIO-ECONMICO DIRETOR Ricardo Jos de Arajo Oliveira VICE-DIRETOR Alexandre Marino Costa DEPARTAMENTO DE CINCIAS DA ADMINISTRAO CHEFE DO DEPARTAMENTO Gilberto de Oliveira Moritz SUBCHEFE DO DEPARTAMENTO Marcos Baptista Lopez Dalmau SECRETARIA DE EDUCAO A DISTNCIA SECRETRIO DE EDUCAO A DISTNCIA Carlos Eduardo Bielschowsky DIRETORIA DE EDUCAO A DISTNCIA DIRETOR DE EDUCAO A DISTNCIA Celso Jos da Costa COORDENAO GERAL DE ARTICULAO ACADMICA Liliane Carneiro dos Santos Ferreira COORDENAO GERAL DE SUPERVISO E FOMENTO Grace Tavares Vieira COORDENAO GERAL DE INFRAESTRUTURA DE POLOS Joselino Goulart Junior COORDENAO GERAL DE POLTICAS DE INFORMAO Adi Balbinot Junior

COMISSO DE AVALIAO E ACOMPANHAMENTO PNAP Alexandre Marino Costa Claudin Jordo de Carvalho Eliane Moreira S de Souza Marcos Tanure Sanabio Maria Aparecida da Silva Marina Isabel de Almeida Oreste Preti Tatiane Michelon Teresa Cristina Janes Carneiro METODOLOGIA PARA EDUCAO A DISTNCIA Universidade Federal de Mato Grosso COORDENAO TCNICA DED Soraya Matos de Vasconcelos Tatiane Michelon Tatiane Pacanaro Trinca AUTORES DO CONTEDO Lus Carlos Cancellier de Olivo EQUIPE DE DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS DIDTICOS CAD/UFSC Coordenador do Projeto Alexandre Marino Costa Coordenao de Produo de Recursos Didticos Denise Aparecida Bunn Superviso de Produo de Recursos Didticos rika Alessandra Salmeron Silva Designer Instrucional Andreza Regina Lopes da Silva Denise Aparecida Bunn Silvia dos Santos Fernandes Auxiliar Administrativo Stephany Kaori Yoshida Capa Alexandre Noronha Ilustrao Lvia Remor Pereira Projeto Grfico e Finalizao Annye Cristiny Tessaro Editorao Lvia Remor Pereira Reviso Textual Barbara da Silveira Vieira Mara Aparecida Siqueira

Crditos da imagem da capa: extrada do banco de imagens Stock.xchng sob direitos livres para uso de imagem.

PrefcioOs dois principais desafios da atualidade na rea educacional do Pas so a qualificao dos professores que atuam nas escolas de educao bsica e a qualificao do quadro funcional atuante na gesto do Estado brasileiro, nas vrias instncias administrativas. O Ministrio da Educao (MEC) est enfrentando o primeiro desafio com o Plano Nacional de Formao de Professores, que tem como objetivo qualificar mais de 300.000 professores em exerccio nas escolas de Ensino Fundamental e Mdio, sendo metade desse esforo realizado pelo Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB). Em relao ao segundo desafio, o MEC, por meio da UAB/CAPES, lana o Programa Nacional de Formao em Administrao Pblica (PNAP). Esse programa engloba um curso de bacharelado e trs especializaes (Gesto Pblica, Gesto Pblica Municipal e Gesto em Sade) e visa colaborar com o esforo de qualificao dos gestores pblicos brasileiros, com especial ateno no atendimento ao interior do Pas, por meio de polos da UAB. O PNAP um programa com caractersticas especiais. Em primeiro lugar, tal programa surgiu do esforo e da reflexo de uma rede composta pela Escola Nacional de Administrao Pblica (ENAP), pelo Ministrio do Planejamento, pelo Ministrio da Sade, pelo Conselho Federal de Administrao, pela Secretaria de Educao a Distncia (SEED) e por mais de 20 instituies pblicas de Ensino Superior (IPES), vinculadas UAB, que colaboraram na elaborao do Projeto Poltico Pedaggico (PPP) dos cursos. Em segundo lugar, este projeto ser aplicado por todas as IPES e pretende manter um padro de qualidade em todo o Pas, mas abrindo margem para que cada IPES, que ofertar os cursos, possa incluir assuntos em atendimento s diversidades econmicas e culturais de sua regio.

Outro elemento importante a construo coletiva do material didtico. A UAB colocar disposio das IPES um material didtico mnimo de referncia para todas as disciplinas obrigatrias e para algumas optativas. Esse material est sendo elaborado por profissionais experientes da rea da Administrao Pblica de mais de 30 diferentes instituies, com apoio de equipe multidisciplinar. Por ltimo, a produo coletiva antecipada dos materiais didticos libera o corpo docente das IPES para uma dedicao maior ao processo de gesto acadmica dos cursos; uniformiza um elevado patamar de qualidade para o material didtico e garante o desenvolvimento ininterrupto dos cursos, sem as paralisaes que sempre comprometem o entusiasmo dos alunos. Por tudo isso, estamos seguros de que mais um importante passo em direo democratizao do Ensino Superior pblico e de qualidade est sendo dado, desta vez contribuindo tambm para a melhoria da gesto pblica brasileira.

Celso Jos da Costa Diretor de Educao a Distncia Coordenador Nacional da UAB CAPES-MEC

SumrioApresentao .......................................................................................................... 11 Unidade 1 Gnese e evoluo do Direito Administrativo Direito Administrativo como ramo do Direito Pblico .............................................. 17 Histria e Princpios do Direito Administrativo ........................................................ 19 O Direito Administrativo no Brasil .......................................................................... 22 O ensino do Direito Administrativo .................................................................. 22 Princpios da Administrao Pblica ....................................................................... 25 Unidade 2 Agentes pblicos Categorias de Agentes Pblicos ............................................................................... 33 Espcies de agentes pblicos ................................................................................... 35 Regime jurdico ....................................................................................................... 37 Estatutrios ..................................................................................................... 38 Celetistas ......................................................................................................... 39 Emprego pblico ............................................................................................. 39 Regime especial ............................................................................................... 40 Competncia Organizacional .................................................................................. 41 Cargos e funes pblicos ............................................................................... 42

Acumulao de cargos pblicos ....................................................................... 45 Condies de acesso aos cargos pblicos ......................................................... 46 Seleo por concurso ...................................................................................... 47 Sistema remuneratrio dos agentes pblicos ........................................................... 50 Fixao e alterao da remunerao e do subsdio........................................... 51 Teto das remuneraes e subsdios................................................................... 52 Irredutibilidade de remunerao e de subsdio ................................................. 54 Direitos dos servidores ............................................................................................ 56 Frias e dcimo terceiro salrio ........................................................................ 56 Licenas .......................................................................................................... 57 Direito de greve e sindicalizao ...................................................................... 57 Aposentadoria e penso .................................................................................. 59 Modalidades de aposentadoria ........................................................................ 60 Responsabilidade do servidor ................................................................................. 62 Responsabilidade civil ..................................................................................... 62 Responsabilidade penal ................................................................................... 63 Responsabilidade administrativa ...................................................................... 64 Unidade 3 Atos e fatos jurdicos Os atos que movimentam a Administrao Pblica ................................................. 69 Elementos do ato administrativo ............................................................................. 71 Atributos do ato administrativo ............................................................................... 73 Discricionariedade e vinculao .............................................................................. 74 Formalizao dos atos administrativos ..................................................................... 75 Desfazimento dos atos administrativos .................................................................... 76 Prescrio dos atos invlidos ................................................................................... 77

Poder de polcia ...................................................................................................... 79 Interveno na propriedade privada ....................................................................... 82 Unidade 4 Servio pblico e funo pblica A organizao da Administrao Pblica ................................................................. 89 Estrutura da Administrao Pblica brasileira .......................................................... 91 Administrao Direta ....................................................................................... 91 Administrao Indireta ..................................................................................... 93 Autarquia ........................................................................................................ 96 Fundaes ..................................................................................................... 100 Empresa pblica e sociedade de economia mista ........................................... 101 Entidades paraestatais (em colaborao) ............................................................... 104 Ordens e Conselhos Profissionais ................................................................... 104 Fundaes de apoio ...................................................................................... 105 Servios sociais autnomos ........................................................................... 106 O terceiro setor e o direito administrativo brasileiro ............................................... 107 Organizaes sociais ...................................................................................... 107 Organizao da Sociedade Civil de Interesse Pblico (OSCIP) ....................... 109 Unidade 5 Licitao e Contrato Administrativo Previso Constitucional ........................................................................................ 117 A licitao ............................................................................................................. 119 Modalidades .................................................................................................. 122 Tipos ............................................................................................................. 124 Dispensa e inexigibilidade de licitao ........................................................... 125

Anulao e revogao da licitao ................................................................. 127 Contratos Administrativos ..................................................................................... 129 Regime jurdico ............................................................................................. 130 Contratos de concesso ................................................................................. 131 Contrato de gesto ........................................................................................ 133 Convnios administrativos .................................................................................... 134 Consrcios pblicos .............................................................................................. 137 Unidade 6 Transparncia e controle da Administrao Transparncia na gesto pblical .......................................................................... 143 Controle da Administrao ................................................................................... 145 Controle interno ............................................................................................ 146 Controle externo............................................................................................ 147 Crimes contra a Administrao Pblica ................................................................. 151 Consideraes finais ............................................................................................. 155 Referncias ........................................................................................................... 156 Minicurrculo ........................................................................................................ 160

Apresentao

ApresentaoCaro estudante! Neste incio de sculo, a atividade do administrador est intimamente ligada ao setor pblico. Neste sentido, este curso de Cincias da Administrao Pblica se constitui em uma oportunidade privilegiada para todos que procuram aliar o estudo das teorias da administrao privada aos principais institutos que regulamentam a Administrao Pblica. O Direito Administrativo, como ensina o mestre Celso Antnio Bandeira de Mello, muito mais do que um conjunto de normas definidoras dos poderes da Administrao. Constitui-se em um sistema jurdico que, em defesa do cidado, impe limites atuao dos administradores pblicos. Os princpios constitucionais da legalidade, da moralidade, da impessoalidade, da publicidade e da eficincia so garantias de que o interesse pblico, que deve mover a ao estatal, ter sempre em vista o respeito aos direitos individuais. Um momento importante na rede de conexes entre a Administrao Pblica e o setor privado se d no procedimento de licitao e de contratao de obras, de servios ou de compras pelo Poder Pblico. nesse momento que a iniciativa privada chamada a cogerir os negcios pblicos, e sobre eles esta assume tambm a sua parte de responsabilidade, ao lado dos ganhos financeiros previstos e ajustados. O administrador acima de tudo um profissional bem informado, capaz de produzir conhecimentos e de utilizar todo o manancial de dados sua disposio para tomar decises que resultem em diferenciais competitivos para si e para a organizao onde

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Direito Administrativo

trabalha. Uma das reas em que as informaes so imprescindveis para o bom desempenho da atividade a jurdica. Os temas propostos nesta disciplina esto interligados e formam uma sequncia, a comear pelas pessoas que atuam nas organizaes pblicas e pelos atos que elas praticam. Dentre os atos administrativos, destacam-se os procedimentos mais complexos, o da licitao e do contrato. De tudo o que se faz resulta a avaliao, a responsabilidade e o controle interno e externo. Essas informaes jurdicas podem ser tambm estudadas e compreendidas em conexo com os temas de Contabilidade, notadamente aqueles que tratam da responsabilidade fiscal. A mquina administrativa passou por processos relevantes de modificao nas dcadas mais recentes. No menos interessante a distino entre os mtodos burocrticos e gerenciais. O que necessrio, neste momento, garantir que o princpio constitucional da eficincia seja cumprido e no se torne mais uma letra morta no papel. Isso possvel a partir da reformulao do quadro de agentes pblicos, de sua qualificao permanente, da difuso do conhecimento e da constante atualizao dos meios tecnolgicos disponveis. o caso deste curso de graduao a distncia, chancelado pela Universidade Aberta do Brasil (UAB). Os temas estudados na administrao privada, como gesto de pessoas, planejamento estratgico, teoria dos jogos, empreendedorismo e inteligncia competitiva, devem ser utilizados para tornar sempre eficiente a estrutura administrativa pblica, tendo em vista melhoria dos servios prestados e o respeito com a aplicao dos recursos arrecadados. Se a tais conhecimentos for agregado o dado jurdico de Direito Administrativo, o estudante de Administrao adquire um elemento distintivo que o colocar em franca vantagem no mercado de trabalho. A partir dessas consideraes, esclarecemos que o objetivo da nossa disciplina possibilitar que voc tenha um conhecimento introdutrio sobre os principais temas que dizem respeito ao Direito Administrativo. Servidores pblicos, atos administrativos, licitao,

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Bacharelado em Administrao Pblica

Apresentao

contrato, estrutura da Administrao Pblica e controle, tanto interno quanto externo, so alguns deles. No exerccio de nossas atividades profissionais como administradores pblicos, necessrio levar em conta e dar efetividade aos princpios constitucionais da legalidade, da impessoalidade, da publicidade, da moralidade e da eficincia. Da a relevncia desta disciplina na sua formao profissional. Estudar e conhecer o temrio proposto neste semestre uma oportunidade que no deve ser desperdiada. Portanto, aproveite e, nos seus estudos, conte conosco. Professor Luis Carlos Cancellier de Olivo

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UNIDADE 1Gnese e evoluo do Direito Administrativo

Objetivos especficos de aprendizagemAo finalizar esta Unidade, voc dever ser capaz de:ffRelatar

a histria do Direito Administrativo; os ramos do Direito;

ffIdentificar ffConhecer

os institutos de Direito Pblico que movimentam a Administrao Pblica; os princpios exclusivos da Administrao Pblica; e os princpios constitucionais da Administrao Pblica.

ffEnumerar ffIdentificar

Unidade 1 Gnese e evoluo do Direito Administrativo

Direito Administrativo como ramo do Direito PblicoCaro estudante, Estamos iniciando a disciplina Direito Administrativo. Esta primeira Unidade traz um pequeno histrico da criao do Direito Administrativo e de sua importncia para um administrador e, tambm, um importante referencial para embasar as prximas Unidades. Leia-a com ateno. Se tiver dvidas, releia a Unidade a fim de esclarec-las nas indicaes da seo complementando e, ainda, junto ao seu tutor por meio do Ambiente Virtual de Ensino-Aprendizagem (AVEA). Bons estudos!

Para iniciarmos nossa discusso, importante destacarmos que no Brasil so duas as grandes reas do Direito: Direito Privado e Direito Pblico. Fazem parte do Direito Privado: o Direito Civil, o Comercial e o Trabalhista. E, no Direito Pblico, esto o Direito Constitucional, o Administrativo, o Penal, o Tributrio e o Financeiro. Quando estudamos o Direito Administrativo, a primeira noo que surge a do princpio da supremacia, do interesse pblico sobre o privado, e a sua indisponibilidade pelo poder pblico. Ou seja, toda ao da Administrao Pblica um dever para com o cidado que contribuinte, eleitor, jurisdicionado* etc. O Estado tem, por exemplo, o poder de polcia para lacrar um estabelecimento irregular. Na verdade, se o estabelecimento est nessa condio, o Estado tem o dever de interdit-lo. O poder ento se transforma em dever.

*Jurisdicionado

todo aquele que est sob jurisdio, ou seja, sob o julgamento de um juiz. Fonte: Elaborado pelo autor.

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Direito Administrativo

Se a autoridade pblica responsvel pela Vigilncia Sanitria no age em uma situao como essa, ela responsabilizada por omisso, visto que a abertura de um estabelecimento privado irregular como um cinema ou um restaurante causa dano e insegurana ao pblico. Com base nesse exemplo, podemos afirmar que o interesse pblico se sobrepe ao interesse do particular e o Estado, por sua vez, no pode atuar de outra forma que no seja levando em conta esse princpio, pois o interesse pblico indisponvel. Ou seja, o Estado tem o dever de agir. Essa a noo de Direito Administrativo adotada no Brasil. Ela segue o modelo francs, que, com a Revoluo de 1789, criou as bases do Estado de Direito Democrtico a partir dos princpios filosficos da liberdade, da igualdade e da fraternidade, de um lado, e da separao entre as funes do Executivo, do Legislativo e do Judicirio, de outro. Assim, destacamos que estudar Direito Administrativo importante, pois possibilita conhecer as regras jurdicas que permitem o funcionamento da Administrao Pblica. Essas regras (normas, leis, atos) fornecem meios para um relacionamento mais equilibrado entre a pessoa de direito privado. O Estado deve ser o primeiro a respeitar as leis que cria. Logo, muito importante, tanto para o ele quanto para o cidado, que o Estado se submeta s leis. De acordo com o artigo 5 da Constituio Brasileira de 1988, a lei igual para todos. As normas de Direito Administrativo, por sua vez, procuram obrigar o Estado a respeitar esse princpio constitucional, e, quando isso no acontece, o prprio ordenamento jurdico brasileiro estabelece as possibilidades de punio e controle.

Para conhecer detalhes da

Revoluo Francesa (1789), acesse .

Saiba maisPessoa com

jurdica:

v a e com legalmente de Direito s

Pessoa de direito privado entidade abstrata responsabilidade autorizadas. Pblico (Unio,

existncia

jurdica. Exemplos: associaes, empresas, companhias, Podem ser

Unidades Federativas, Autarquias etc.) ou de Direito Privado (empresas, sociedades simples, associaes etc.). Para efeitos do imposto de renda, empresas individuais so equiparadas pessoas jurdicas. Pessoa fsica: a pessoa natural, isto , todo indivduo (homem ou mulher), desde o nascimento at a morte. A personalidade civil da pessoa comea do nascimento com vida. Para efeito de exercer atividade econmica, a pessoa fsica pode atuar como autnomo ou como scio de empresa ou de sociedade simples, conforme o caso. Fonte: Adaptado deMichaelis (2009).

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Unidade 1 Gnese e evoluo do Direito Administrativo

Histria e Princpios do Direito AdministrativoO Direito Administrativo uma rea do Direito Pblico recente, pois nasceu com a Revoluo Francesa. At ento, no existiam leis especficas para regulamentar a estrutura e a organizao da Administrao Pblica e para definir as atribuies dos seus responsveis. Somente com a Lei de Pluviose que foi concedida organizao jurdica Administrao Pblica na Frana. Essa lei apontada como o primeiro impulso do Direito Administrativo. Estatuiu* os conseils de prfecture conselhos de prefeitura, ou conselhos de governo civil presididos pelos prefeitos, que atuavam circunscritos aos litgios previamente definidos.

Outro importante fato na existncia do Direito Administrativo tem cerne na criao do Conselho de Estado Francs, o Conseil dtat, pela Constituio de maio de 1872. Entre as construes jurisprudenciais que emergiram com a Carta constitucional francesa, e hoje incorporadas ao regime jurdico de inmeros pases, esto:

vinstituir;

Do francs, chuvoso, pode ser traduzido como a lei de 28 de fevereiro de 1800.

*Estatuir estabelecer por meio de estatuto, decreto, lei etc.; decretar; pr em vigor; estabelecer, Fonte: determinar. Houaiss (2009).

ff flexibilizao das condies de recursos por excesso de apoder;

ff distino da responsabilidade do Estado e de seus afuncionrio; e

ff teorizao dos contratos administrativos e dos demais aprincpios, hoje incorporados ao regime jurdico de inmeros pases.

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Direito Administrativo

Saiba mais

Caso Blanco

A menina Agns Blanco foi atropelada por um vagonete da Companhia Nacional de Manufatura de Tabaco, de explorao do Estado, em 1873, em Bordeaux, na Frana. O pai da menina acionou a justia, com um pedido de indenizao alegando a responsabilidade civil do Estado por prejuzos causados a terceiros, em face das atividades de seus agentes. O pedido chegou ao Conselho de Estado Francs, que decidiu pela responsabilizao do Estado pela reparao dos danos causados menina

Nesse contexto, a deciso mais clebre do Conselho de Estado Francs refere-se ao caso Blanco, cuja soluo datada de 1873 comportou a construo do princpio da responsabilidade do Estado. De incio, segundo Di Pietro (2006), o caso Blanco implicou um conflito de competncia entre o Conselho de Estado e a Corte de Cassao do Tribunal de Conflitos a quem incumbia a resoluo de conflitos entre a jurisdio comum e a administrativa.

Ao assentar, pela primeira vez, a competncia do Conselho de Estado pelo critrio da natureza atropelada. Fonte: . Acesso em: 18 maio 2010. pblica dos servios ensejadores do dano, essa corte entendeu que aquele Conselho deveria julgar a questo em termos publicsticos, informados por princpios prprios, em detrimento das regras civilistas. Desde ento, a doutrina jurdica tem evocado a contribuio desse Conselho para o Direito Administrativo, principalmente aps o acolhimento pela Constituio Francesa de 1958 dos princpios administrativos, reiteradamente elaborados e reconhecidos pelo Conselho de Estado. A historiografia do Direito Administrativo, todavia, comporta registros dissonantes da verso dominante sobre o seu nascimento, tanto pela tica de sua materialidade, expressa pela Lei 28 Pluviose, quanto pelos seus fundamentos declarados, associados Revoluo Francesa e conteno do poder soberano. Dentro dessa lgica, a desvinculao do Direito Administrativo do Direito Civil pelo prprio Conseil d tat, na Frana, por meio das construes jurisprudenciais emanadas daquela Corte Administrativa, decorreu de uma postura ativista e insubmissa daquele rgo administrativo vontade do parlamento (DI PIETRO, 2006, p. 5) sendo configurada mais como uma deciso autovinculativa do Poder Executivo do que uma expresso da vontade geral.

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Unidade 1 Gnese e evoluo do Direito Administrativo

Considerando o exposto, propomos a seguinte reflexo: a justia administrativa criada e at mesmo a Lei de Pluviose representariam o fim dos pressupostos absolutistas ou, na verdade, a sua continuidade?

Medauar (2005, p. 11), ao assentar que no mesmo crvel o entendimento de uma ruptura total, de um prodgio ou de uma condescendncia da nova ordem dominante, contemporiza:Melhor se configura a orientao que leva em conta os dois aspectos, sem extremos, para vincular o Direito Administrativo Revoluo Francesa em termos de princpios, no em virtude da origem de um tipo de organizao; e para levar em conta noes e mesmo prticas do Antigo Regime acolhidas em parte pelo direito em formao, embora em outro contexto sociopoltico.

certo tambm que, alm do repertrio jurisprudencial prolatado pelo Conselho de Estado Francs, outros fatores contriburam para a formao do Direito Administrativo. Esses primeiros impulsos so identificados nas obras de Romagnosi, na Itlia, em 1814; de Macarel, na Frana, em 1818; e com a criao, na Universidade de Paris, de uma ctedra de Direito Pblico e Administrativo no ano de 1819. A formao do Direito Administrativo no aconteceu de forma linear em todos os pases nem como efeito residual da Revoluo Francesa de 1789. Nos sistemas anglo-americanos, por exemplo, esta disciplina (Direito Administrativo) apresenta um desenvolvimento distinto, no qual podem prevalecer as regras emanadas do direito privado, conforme o tipo de Estado adotado.

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Direito Administrativo

O Direito Administrativo no BrasilNo Brasil, no Perodo Colonial quando os donatrios das capitanias eram contemplados com o poder absoluto pelo monarca portugus , mesmo com a criao do governo-geral, subsistiu o exerccio indissociado de poder e de funes (administrativas, judiciais e legislativas). Essa situao fora interrompida pela instaurao do Imprio, quando j se afigurava a separao dos poderes.

Saiba mais

Capitanias

Entre os anos de 1534 e 1536, o rei de Portugal, D. Joo III, dividiu o territrio brasileiro em faixas de terras conhecidas como Capitanias Hereditrias, que foram doadas para nobres e pessoas de confiana do rei, os donatrios. Eles tinham a funo de administrar, colonizar, proteger e desenvolver as regies. Em troca desses servios, os donatrios tinham a permisso de explorar as riquezas minerais

Ainda assim, o Direito Administrativo no foi objeto de criao de uma justia especializada e vegetais da capitania. Fonte: . Estado previsto pela Constituio Brasileira Acesso em: 13 out. 2010. de 1824 regulado pela Lei n. 234, de 23 de novembro de 1841 e extinto em 1889 figurava, apenas, como rgo consultivo superior do imperador.

O ensino do Direito AdministrativoNo Brasil, o desenvolvimento da disciplina Direito Administrativo registrado a partir da criao das cadeiras pertinentes nas faculdades de Direito de So Paulo e Olinda (transferida para Recife), no ano de 1851. Estas ainda eram influenciadas pela doutrina europeia e regidas, respectivamente, por Antnio Joaquim Ribas e Vicente Pereira do Rego. Este ltimo,

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Unidade 1 Gnese e evoluo do Direito Administrativo

segundo Caio Tcito (apud GASPARINI, 2005, p. 40), foi o primeiro sistematizador do Direito Administrativo na Amrica Latina, com a publicao: Elementos de Direito Administrativo Brasileiro, em 1857. A partir desse marco, emergiram as primeiras construes doutrinrias, claramente influenciadas pelos modelos franceses, expressas pelos seguintes autores e obras: Prudncio Gireldes Tavares da Veiga Cabral (Direito Administrativo Brasileiro, 1859); Visconde do Uruguai, que se debruou sobre os repertrios de jurisprudncia brasileiros e europeus (Ensaio sobre o Direito Administrativo Brasileiro, 1862); Francisco Maria de Souza Furtado de Mendona (Excerto de Direito Administrativo Ptrio, 1865); Antnio Joaquim Ribas (Direito Administrativo Brasileiro, 1866); e Jos Rufino de Oliveira (Eptome de Direito Administrativo, 1884). Como os mais importantes doutrinadores brasileiros contemporneos, segundo as anotaes de Cretella Jnior (1994, p. 167-168) e de Gasparini (2005, p. 41-42), figuram os nomes de Osvaldo Aranha Bandeira de Mello, Hely Lopes Meirelles, Celso Antnio Bandeira de Mello, Diogo Figueiredo Moreira Neto, Carlos Pinto Coelho Mota, Edimur Ferreira de Faria, Lcia Valle Figueiredo, Juarez Freitas, lvaro Lazzarini, Jos dos Santos Carvalho Filho, Odete Medauar, Carlos Ari Sundfeld, Wolgran Junqueira Ferreira, Toshio Mukai, Mrcio Cammarosano, Weida Zancaner Brunini, Maral Justen Filho, Jess Torres Pereira Jnior, Jorge Ulisses Jacoby Fernandes, Edgar Guimares, Sidney Bittencourt e Maria Sylvia Zanella Di Pietro. Entre todos esses publicistas, assim chamados os grandes mestres dedicados ao Direito Pblico, um nome merece destaque, o de Hely Lopes Meirelles (1917-1990), autor da mais conhecida obra geral de Direito Administrativo Brasileiro, publicada e reiteradamente atualizada, mesmo aps a sua morte, de viso predominantemente didtica, como o prprio autor prefaciava (1990, p. VII):No livro para mestres, nem para tericos do Direito. um modesto compndio para estudantes e para os que se defrontam, na prtica, com problemas jurdicos de Administrao Pblica.

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Mas, em sentido contrrio ao de suas expectativas, as lies legadas por Meirelles ainda hoje so as que mais ilustram e informam as decises dos Tribunais brasileiros.

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Princpios da Administrao PblicaOs princpios que regem a Administrao Pblica esto contidos na Constituio brasileira, em especial no seu artigo 37.Artigo 37. A Administrao Pblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios obedecer aos princpios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficincia [...]. (Redao dada pela Emenda Constitucional n. 19, de 1998).

Para melhor entendimento desses princpios constitucionais, veja a descrio apresentada a seguir:

ff Legalidade: para o direito comum, o princpio dalegalidade significa que o cidado pode fazer tudo aquilo que a lei no o proba. Para o Direito Administrativo, a legalidade impe ao administrador a obrigao de fazer, ou deixar de fazer, exatamente aquilo que a lei estabelece de forma determinada, como a obrigatoriedade de realizar concurso pblico para ingresso em cargo de provimento efetivo.

ff Impessoalidade: por esse princpio cabe ao administradorpblico agir no sentido de atender a todos, sem preferncia ou favorecimento em funo de ligaes polticas ou partidrias. Por isso o ato de um funcionrio pblico representa uma vontade da administrao. O administrador no age em seu prprio nome, mas em nome do Estado, quando atesta a validade de um documento, por exemplo.

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*Probidade qualidade do que probo; integridade, honestidade, retido. Fonte: Houaiss (2009).

ff Moralidade: o princpio da moralidade impe aoadministrador agir de maneira tica, com probidade*, considerando que o interesse pblico se sobrepe ao interesse particular. A acumulao ilcita de dois cargos pblicos um bom exemplo de afronta ao princpio da moralidade.

ff Publicidade: todas as pessoas tm direito de saber o quea administrao faz, por isso os seus atos so pblicos e devem ser publicados nos rgos oficiais de divulgao para que tenham validade. A divulgao, por exemplo, dos atos oficiais no deve servir para a promoo pessoal das autoridades pblicas.

ff Eficincia: o princpio da eficincia no constavada redao original da Constituio de 1888. Ele foi introduzido em 1998, quando da chamada Reforma do Estado, que incorporou noes adotadas na iniciativa privada, como eficincia, eficcia, resultados, controle, avaliao e cumprimento de metas. Exemplo de eficincia oferece o prefeito que cria, em sua estrutura administrativa, o quadro de auditores internos.

Alm desses princpios encontrados no artigo 37, em outros momentos a Constituio brasileira faz referncia a princpios como o, j citado, da supremacia do interesse pblico sobre o privado, o da igualdade, assim como o da finalidade pblica de suas aes, da indisponibilidade do interesse pblico, da continuidade, da motivao e fundamentao dos Atos Administrativos, da razoabilidade e da proporcionalidade, da hierarquia, do controle judicial e da especialidade.

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Complementando...Para aprofundar seu conhecimento a respeito dos assuntos desta Unidade, recomendamos as leituras propostas a seguir:

Revoluo, a nao e a paz de Domenico Losurdo. Nessa obra voc Aconhecer mais sobre a Revoluo Francesa.

Constituio brasileira de 1988 disponvel em: . Nesse site voc tem a oportunidade de saber mais sobre as leis que regem o Brasil. Princpio da legalidade na Administrao Pblica de Luciana Varassin. Nele voc pode conhecer mais sobre a Lei de Pluviose, conforme Varassin.

Sistematizao

do Direito Administrativo de Francisco de Salles Almeida Mafra Filho. novo paradigma para o direito administrativo. De Gustavo Binenbojm. Disponvel em: . Acesso em: 18 maio 2009.

supremacia do interesse pblico ao dever de proporcionalidade: um Da

de Direito Administrativo de Maral Justen Filho. Curso

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Direito Administrativo

ResumindoO Direito Administrativo, como ramo do Direito Pblico, pauta-se pelo paradigma da supremacia do interesse pblico sobre o privado. Essa supremacia entendida como dever, antes que poder. o dever que obriga o Estado a cumprir polticas pblicas eficientes. Destacamos tambm, nesta Unidade, a influncia que teve a jurisprudncia francesa na construo do Direito Administrativo brasileiro e os principais doutrinadores que contriburam para a formao de uma teoria administrativista nacional. Na atualidade, os princpios da Administrao Pblica esto inseridos no artigo 37 da Constituio Federal de 1988.

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Bacharelado em Administrao Pblica

Unidade 1 Gnese e evoluo do Direito Administrativo

Atividades de aprendizagemConfira se voc teve bom entendimento acerca do que tratamos nesta Unidade realizando as atividades propostas a seguir. Se precisar de auxlio, no hesite em fazer contato com seu tutor. 1. Os princpios constitucionais da Administrao Pblica, previstos no artigo 37 da Constituio Federal de 1988, so os da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da eficincia e da publicidade. Cite e comente exemplos que demonstrem ofensa a esses princpios.

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UNIDADE 2Agentes pblicos

Objetivos especficos de aprendizagemAo finalizar esta Unidade, voc dever ser capaz de:ffDiferenciar ffConhecer

as principais categorias de agentes pblicos;

o estatuto jurdico que disciplina os direitos e deveres dos servidores pblicos; e as responsabilidades dos agentes pblicos.

ffIdentificar

Unidade 2 Agentes pblicos

Categorias de Agentes PblicosCaro estudante, Nesta segunda Unidade, voc vai conhecer as regras jurdicas as quais regulamentam as atividades dos agentes pblicos, que so todas aquelas pessoas que, de uma forma ou de outra, vinculam-se Administrao Pblica por meio de uma atividade, seja ela remunerada ou no. O agente pblico pauta sua atuao, em especial, pelo princpio da impessoalidade, como vimos na Unidade anterior. Aos direitos e aos deveres desse agente correspondem responsabilidades, tanto na esfera administrativa quanto civil e penal. Vamos l? Bons estudos!

Para iniciar nossa discusso, vamos considerar a definio de Meirelles (2005, p. 71) que define agentes pblicos como todas as pessoas incumbidas definitiva ou transitoriamente, do exerccio de alguma funo estatal. Essa funo pode ser remunerada ou gratuita, poltica ou jurdica. Segundo ele, os agentes podem ser: polticos, administrativos e honorficos*. De outro lado, Gasparini (2005), ao evocar a sistematizao constitucional, classifica os agentes pblicos em agentes polticos, agentes temporrios, agentes de colaborao (por vontade prpria, por compulso e por concordncia), servidores governamentais, servidores pblicos (estaturios e celetistas) e agentes militares (federal, estadual e distrital). J Mello (2006) classificou os agentes pblicos em agentes polticos, servidores estatais, abrangendo os servidores pblicos e os servidores governamentais de direito privado, e os particulares em colaborao com o Poder Pblico.

*Honorfico

que

confere considerao, respeito, independentemente de qualquer vantagem material ou poder real; que se destina a prestar honra, homenagem. Fonte: Houaiss (2009).

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Direito Administrativo

Muito prximo dessa ordenao, Di Pietro (2006), que tambm toma como base a Constituio de 1988, com as alteraes promovidas pela Emenda Constitucional 18/98, enuncia as categorias dos agentes pblicos desta forma: agentes polticos; servidores pblicos; militares; particulares em colaborao com o Poder Pblico. Carvalho Filho (2006) reconhece a dificuldade em se agrupar em classes uma categoria to ampla, mas defende essa necessidade por motivos didticos de sistematizao e de identificao das caractersticas mais relevantes: assim, considera-os: agentes polticos, agentes particulares, colaboradores, servidores pblicos e agentes de fato (subdivididos estes em agentes necessrios e putativos*).

*Putativo aquilo que, embora ilegtimo, objeto de suposio de legitimidade, fundada na boa-f. Fonte: Houaiss (2009).

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Bacharelado em Administrao Pblica

Unidade 2 Agentes pblicos

Espcies de agentes pblicosPara efeitos didticos, considera-se aqui a classificao proposta por Medauar (2005), como segue:

ff Agentes Polticos: todos os eleitos pelo sufrgiouniversal, secundados pelos auxiliares imediatos dos chefes dos executivos (Ministros de Estado e Secretrios de Estado e Municpios) e aqueles que exercem funes constitucionais, como os membros da Magistratura, do Ministrio Pblico e do Tribunal de Contas. A despeito de sua considervel margem de atuao, compatvel, de forma geral, com a complexidade das funes que desempenham, os agentes polticos so equiparados a funcionrios pblicos para fins penais, quanto aos crimes relacionados ao exerccio da funo, nos termos do artigo 327 do Cdigo Penal Brasileiro.

ff Servidores Pblicos: todas as pessoas fsicas quetrabalham de forma remunerada na Administrao Pblica, por vnculo empregatcio. Para a autora, os servidores pblicos podem ser:

ffos servidores estatutrios, regidos pelas normaslegais especficas denominadas de estatutos, sendo ocupantes de cargos pblicos; da Consolidao das Leis do Trabalho (CLT), sendo ocupantes de empregos pblicos; e

v

O Cdigo Penal Brasileiro foi institudo pelo Decreto-Lei de 1940. Veja mais em n. 2.848, de 7 de dezembro .

ffos empregados pblicos, que se submetem s regras

ffos servidores temporrios, definidos pelo artigo37, inciso IX, da Constituio Federal de 1988, como os contratados por tempo determinado para atender necessidade temporria de excepcional interesse pblico, detentores apenas de funo pblica.

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Direito Administrativo

ff Funcionrios Pblicos: aqueles que antes da vigncia daatual Carta Poltica eram os ocupantes de cargos pblicos. Para os seus efeitos, o artigo 327 do Cdigo Penal concebe a expresso em sentido mais amplo.

ff Agentes de Colaborao: aqueles que desempenhamalguma atividade pblica, em carter transitrio, sem qualquer vnculo empregatcio ou estatutrio e, via de regra, sem remunerao. Para Meirelles (2005), o agente de colaborao conhecido como agente honorfico; por Gasparini (2005), como agente de colaborao, e por Carvalho Filho (2006) como agente particular colaborador.

Nesse sentido, Gasparini (2005) oferece uma distino mais didtica para os agentes pblicos, concebendo que eles podem prestar estes servios na seguinte ordem:

ff colaboradores, por vontade prpria, quando assumem umafuno por ao espontnea para a salvaguarda dos interesses pblicos, como no caso da priso de um criminoso;

ff colaboradores compulsrios, ou seja, os que, em virtude delei, so obrigados ao desempenho de determinada funo pblica, no clssico exemplo das pessoas convocadas para os servios eleitorais, os jurados integrantes do Conselho de Sentena do Tribunal do Jri e os recrutados para o servio militar obrigatrio. Esses agentes tm relao de subordinao com a autoridade requisitante, sendo o tempo de servio computvel para certos efeitos, como a aposentadoria. Por fim, a lei poder equipar-los aos servidores pblicos, como nos casos assinalados pelos artigos 327, do Cdigo Penal, e 283, I e II, do Cdigo Eleitoral; e

Amplie seu conhecimento sobre o Cdigo Eleitoral disponvel em: .

v

ff colaboradores, por concordncia da Administrao osPblica, so os que desempenham funes pblicas em carter privado, por contrato ou delegao de funo, de ofcio ou servio pblico. Exemplos de colaboradores por concordncia so os contratados para a realizao de uma obra de arte ou parecer. Quanto aos delegados por funo ou ofcio, figuram os tabelies, os juzes de paz, os leiloeiros ou, ainda, os despachantes aduaneiros.

eleitorais/codigo-eleitoral/

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Unidade 2 Agentes pblicos

Regime jurdicoAps nossa discusso em busca da compreenso quanto ao termo servidor pblico, vamos continuar nosso estudo discutindo o regime jurdico sob o ponto de vista constitucional. A locuo regime jurdico dos servidores significa o corpo normativo pertinente aos deveres, aos direitos e aos demais aspectos de sua vida funcional. A Carta Constitucional Brasileira vigente fixa as regras fundamentais aplicveis ao servidor pblico nas sees I e II do captulo dedicado Administrao Pblica, presentes nos artigos 39 a 41. A Constituio Federal de 1988 estatuiu, inicialmente, em seu artigo 39, o regime jurdico nico e plano de carreira para os servidores da Administrao Pblica direta, autrquica e fundacional, em todos os entes da Federao.Saiba maisArtigo 39

O citado artigo 39 da Magna Carta foi totalmente alterado pela Emenda Constitucional 19/98, desaparecendo a expressa norma que ento

obrigava o regime jurdico nico para os Entretanto, ao julgar a Ao Direta de servidores pblicos. Fonte: Elaborado pelo autor. Inconstitucionalidade n. 2.135-(4), o Supremo Tribunal Federal, em agosto de 2007, suspendeu a eficcia do artigo 39, caput, da Constituio Federal, com a redao da Emenda Constitucional n. 19, de 4 de junho de 1998. Dessa forma, mantm-se vlida a redao original, que prev a existncia de um regime jurdico nico para os servidores pblicos.

J a situao funcional dos servidores das empresas pblicas e das sociedades de economia mista, por fora do artigo 173, pargrafo 1, inciso II, da Carta Federal, circunscrita, precipuamente, s regras celetistas.

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Direito Administrativo

EstatutriosO regime estatutrio o conjunto normativo que rege a relao jurdica funcional entre o servidor pblico estatutrio e o Estado. Os servidores pblicos estatutrios so os ocupantes de cargos pblicos na Administrao Pblica direta, autrquica e fundacional pblica e tm a sua respectiva situao funcional regida por um Estatuto, como o caso dos servidores pblicos federais, cujo regime jurdico disciplinado pela Lei n. 8.112/90 (Estatuto dos servidores pblicos civis da Unio), de 11 de dezembro de 1990. Esses Estatutos, submetidos s normas constitucionais pertinentes aos servidores, podem ser gerais, aplicveis, mediante permissivo expresso, a servidores de poderes diversos ou, ainda, especficos para categorias determinadas, a exemplo de carreiras como o Magistrio, o Ministrio Pblico e a Magistratura. Entre as caractersticas que definem esse regime, apontadas pela doutrina, destacamos a pluralidade normativa, decorrente da prerrogativa de cada ente da Federao para organizar e regular as suas relaes funcionais. Isso significa que, assim como os servidores federais possuem o seu Estatuto prprio, tambm os servidores estaduais e municipais dispem de um Estatuto prprio, que disciplina o regime jurdico adotado. Por fim, vale destacarmos ainda que as relaes de trabalho entre servidores e Unio so da competncia da Justia do Trabalho, por fora da Emenda Constitucional n. 45/04.

Esta Lei dispe sobre

o regime jurdico dos

servidores pblicos civis da

Unio, das autarquias e das

fundaes pblicas federais. Veja mais em: .

v

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Bacharelado em Administrao Pblica

Unidade 2 Agentes pblicos

CeletistasO regime celetista o regime jurdico submetido s regras da CLT por meio do Decreto-Lei n. 5.452, de 1 maio 1943, de natureza contratual. Esse regime aplicado, por exemplo, aos empregados que atuam nas sociedades de economia mista.

Emprego pblico

v v

Para consultar esse

Decreto-Lei que dispe

sobre a CLT, acesse .

www.planalto.gov.br/ccivil/

A reforma administrativa, introduzida pela Emenda Constitucional n. 19/98, ensejou a edio da Lei n. 9.962, de fevereiro de 2000, que passou a disciplinar o regime de emprego pblico, vlido apenas para a Administrao Pblica Federal. O vnculo laboral equivalente o trabalhista, celebrado mediante contrato por tempo indeterminado, que s poder ser rescindido quando estabelecidas as situaes, a saber:

Esta lei dispe sobre a emprego pblico do

disciplina, o regime de

pessoal da Administrao

Federal direta, autrquica

ff prtica de falta grave (artigo 482 da CLT); ff acumulao ilegal de cargos, empregos e funes pblicas; ff necessidade de reduo de despesas, no caso de excessode despesas (artigo 169 da Constituio Federal); e

e fundacional, e d outras

providncias. Veja mais em: .

ff insuficincia de desempenho comprovado em processoadministrativo.

A redao original da referida lei, vetada pelo ento presidente da Repblica, impedia a aplicabilidade desse novo regime s denominadas carreiras de Estado, s carreiras especiais; mas, inobstante vetada, essa a prevalecente opinio da doutrina.

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Direito Administrativo

Regime especialO regime especial destinado a disciplinar a contratao de servidores temporrios para o atendimento de excepcional interesse pblico, consoante regra do artigo 37, XXI, da Constituio Federal. Mas de se considerar a compreenso da excepcionalidade do interesse pblico ensejador da contratao temporria, conforme decidiu em 2005 o Supremo Tribunal Federal, na ADI 3.068, tendo como Relator o Ministro Eros Grau:O art. 37, IX, da Constituio do Brasil autoriza contrataes, sem concurso pblico, desde que indispensveis ao atendimento de necessidade temporria de excepcional interesse pblico, quer para o desempenho das atividades de carter eventual temporrio ou excepcional, quer para o desempenho das atividades de carter regular e permanente. A alegada inrcia da Administrao no pode ser punida em detrimento do interesse pblico, que ocorre quando colocado em risco o princpio da continuidade da atividade estatal.

Esta Lei que dispe sobre a contratao por tempo

determinado para atender a necessidade temporria de excepcional interesse pblico, nos termos do inciso IX do artigo 37 da

Constituio Federal, e d outras providncias. Voc .

a encontra disponvel em:

v

De resto, para o exerccio de funes meramente burocrticas, a edio de leis que contrariam as caractersticas inscritas na matriz constitucional tem sido considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal e ofensiva exigncia de concurso pblico, inscrita no artigo 37, II, da Constituio Federal. A lei reguladora desse dispositivo para a esfera federal a de n. 8.745/1993, com diversas alteraes, que arrolou as hipteses incidentes autorizativas da contratao temporria.

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Unidade 2 Agentes pblicos

Competncia OrganizacionalQuanto competncia organizacional, ante a autonomia assegurada pelo artigo 18 da Constituio Federal, Mello (2006) ensina que, respeitados os limites circunscritos pela Lei Maior, cada uma das pessoas polticas (Unio, Estados e Municpios) legisla para si, fixando as regras que melhor lhes paream para a organizao e disciplina da atividade funcional de suas atividades. No entanto, tambm cabe ressalvar que essa autonomia no impede que o municpio edite lei consagrando a aplicabilidade das regras presentes no estatuto estadual ou federal aos servidores locais, desde que esta extenso compreenda expresso permissivo. Os limites constitucionais, anteriormento aludidos, na ordem de regras gerais e princpios, significam, ainda, que os benefcios ali admitidos no podem ser ampliados ou restringidos em seu mrito ou em seu alcance. Dallari (1992) ensina que essa alterao, para mais ou para menos, mediante lei estadual, municipal ou distrital das disposies constitucionais, incorre na vulnerao no equilbrio concebido pela Constituio entre o servidor e a Administrao. A iniciativa das leis que dispem sobre regime jurdico dos servidores da Unio e dos Territrios de iniciativa do Poder Executivo, conforme o artigo 61, pargrafo 1 c da Constituio Federal. O Supremo Tribunal Federal (ADI MC 22249-DF, Rel. Min. Silveira, ADI 1.421-DF, Rel. Min. Nelson Jobim; ADI 700-RJ, Rel. Min. Maurcio Corra, ADI 1.136-DF, Rel. Min. Eros Grau) decidiu que as Casas Legislativas no possuem esse poder de iniciativa.

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Direito Administrativo

Cargos e funes pblicosA Constituio Federal Brasileira, em vrios de seus dispositivos, reporta-se s expresses cargo, emprego e funes. Meirelles (1990, p. 360), em via mais didtica, escreve que cargo pblico[...] o lugar institudo na organizao do servio pblico, com denominao prpria, atribuies e responsabilidades especficas e estipndio correspondente, para ser provido e exercido por um titular, na forma estabelecida em lei.

O Estatuto Federal dos Servidores, Lei n. 8.112/90, artigo 3, registra que cargo o conjunto de atribuies e responsabilidades previstas na estrutura organizacional que devem ser cometidas a um servidor. Para o estudo do presente tema, necessrio o conhecimento de determinados conceitos relacionados com o exerccio da atividade funcional nos cargos e nas funes pblicas. Entre tais conceitos, destacamos para seu conhecimento:

ff Provimento: preenchimento de cargo vago. ff Posse: a aceitao das atribuies, das responsabilidadese dos direitos do cargo pelo nomeado, efetuando-se por assinatura de um termo. Para o servio pblico federal, foi abolida a possibilidade de prorrogao do prazo de posse (Lei n. 9.527/97, que alterou a redao do artigo 13, pargrafo 1 da Lei n. 8.112/90). Para o incio de exerccio, o Estatuto Federal concede o prazo improrrogvel de quinze dias.

ff Quadro: conjunto de carreiras, cargos isolados e funesgratificadas de um mesmo servio, rgo ou Poder;

ff Carreira: conjunto de classes da mesma profisso ouatividade, escalonadas segundo a hierarquia do servio, para o acesso privativo dos titulares dos cargos que a integram.

ff Cargo de carreira: cargo que se escalona em classes,para o acesso privativo de seus titulares.

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Unidade 2 Agentes pblicos

ff Classe: agrupamento de cargos da mesma profisso, comidnticas atribuies, responsabilidades e vencimentos; so os degraus de acesso na carreira.

ff Cargo de provimento efetivo: o que se reveste decarter de permanncia e s pode ser ocupado por prvia aprovao em concurso pblico, por fora do artigo 37, III, da Constituio Federal. O seu titular somente pode se efetivar e adquirir estabilidade aps o decurso de trs anos de exerccio, interregno* correspondente ao estgio probatrio, caso avaliado positivamente (artigo 41, da Constituio Federal). Depois de estabilizado, o servidor somente poder ser exonerado mediante processo administrativo ou judicial, presentes o direito ao contraditrio e ampla defesa (artigo 41, pargrafo 1, incisos I, II e III, da Constituio Federal).

*Interregno intervalo, interrupo momentnea, interldio. Fonte: Houaiss (2009).

ff Cargo de provimento em comisso: o que, na acepodo artigo 37, inciso II e V da Constituio Federal, de livre nomeao e exonerao, independe de concurso pblico, porque o seu critrio de nomeao poltico. Alguns critrios podem ser institudos, como idade mnima, pleno exerccio dos direitos polticos (para Ministros de Estado, artigo 87 da Constituio Federal), ou, ainda, de escolaridade, de aptido fsica e de quitaes militares e eleitorais.

ff Cargo isolado: institudo em regime de exceo naorganizao funcional, porque no pressupe promoo vertical.

ff Cargos de provimento vitalcio: na simples definiode Meirelles (1990), so os que, por determinao constitucional, comportam investidura em carter perptuo, s permitindo-se a extino do vnculo funcional em virtude de sentena judicial transitada em julgado. Essa vitaliciedade subsiste em nosso sistema constitucional, sustenta muitos doutrinadores, em razo da necessria independncia de alguns agentes pblicos, o que os resguardaria de eventuais presses impostas por determinados grupos de pessoas. So cargos de provimento vitalcio: os de Magistrados (artigo 95, I, da Constituio Federal), os de membros do Ministrio Pblico (artigo 128,

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Direito Administrativo

pargrafo 5, inciso I, a, da Constituio Federal), os de Ministro do Tribunal de Contas (artigo 73, pargrafo 3, da Constituio Federal) e os de Oficiais Militares (artigo 142, inciso VI, da Constituio Federal). Quanto s demais pessoas polticas, essa vitaliciedade atribuda, em igual ordem, pelo artigo 75 da Carta Federal, aos Conselheiros dos Tribunais de Contas Estaduais, do Distrito Federal e dos Municpios.

De outro lado, a funo pblica a atribuio ou o conjunto de atribuies a serem exercidas pelos agentes pblicos, e referida pela Constituio brasileira, segundo Madeira (2005), em duas instncias: ff funes exercidas pelos servidores contratados as temporariamente, com fundamento no artigo 37, XXI, para cujo exerccio no se exige concurso pblico precedente; e

ff funes de natureza permanente, exercidas por asservidores ocupantes de cargo efetivo, pertencentes s funes de direo, chefia e assessoramento, previstas no artigo 37, inciso V, da Constituio Federal.

Podemos evidenciar, portanto, que no existe cargo sem funo, mas a funo subsiste sem cargo; e, por outro lado, que a ordem jurdica brasileira no admite a estabilidade de servidor em funo, mas somente no exerccio de cargo, com provimento decorrente da admisso em concurso pblico.

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Unidade 2 Agentes pblicos

Acumulao de cargos pblicosO artigo 37, XVI, da Constituio Federal, alterado pelas Emendas Constitucionais 19/98 e 34/01, veda a acumulao simultnea e remunerada de cargos pblicos, empregos e funes pblicas, regra vlida para todos os agentes da administrao direta, das autarquias, das fundaes, das empresas pblicas, da sociedades de economia mista, de suas subsidirias e das sociedades controladas direta e indiretamente pelo poder pblico. Contudo, o mesmo dispositivo oferece as seguintes ressalvas regra:

v

Para conhecer mais das acesse .

ff cargos de professor; dois ff cargo de professor com outro tcnico ou cientfico; e um ff cargos ou empregos privativos de profissionais de doissade, com profisses regulamentadas.

A Constituio Federal acrescenta duas hipteses de acumulao legal, quais sejam: o cargo de juiz e um cargo ou uma funo de magistrio, conforme artigo 95, pargrafo nico, inciso I; e um cargo no Ministrio Pblico e um cargo ou uma funo de magistrio, conforme artigo 128, pargrafo 5, inciso II, d. Ainda sobre a acumulao de cargos importante destacarmos:

ff artigo 38, inciso III, da Constituio Federal de 1988, oque faculta ao servidor investido em mandato de Vereador permanecer no cargo, emprego ou funo, percebendo ambas as remuneraes, desde que haja compatibilidade de horrios; e

ff artigo 142, pargrafo 3, inciso II, que prescreve que oo militar empossado em cargo ou emprego pblico civil permanente ser transferido automaticamente reserva; o inciso III, do mesmo dispositivo, permite a aceitao de cargo, emprego ou funo temporria, no eletiva, mas enquanto estiver nessa situao ficar agregado ao respectivo quadro e somente poder ser promovido por antiguidade, contando o tempo de servio apenas para

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Direito Administrativo

promoo transferncia, sendo depois de dois anos de afastamento, contnuos ou no, transferido para a reserva; a mesma norma aplicada aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territrios, conforme artigo 42, pargrafo 1.

Por outro lado, a Emenda Constitucional n. 20, de 15 de dezembro de 1998, que acrescenta o pargrafo 10 ao artigo 37, consagrando o entendimento do Supremo Tribunal Federal e o que j dispunha a Lei n. 8.112/90, com a redao dada pela Lei n. 9.527/97, cobe a acumulao de proventos de aposentadoria com a remunerao de outro cargo efetivo. Salvo naqueles casos em que a prpria Constituio admite a acumulao, j aludidos. No entanto, a Emenda Constitucional 20/98 preservou, por meio do artigo 11, os direitos dos que j acumulavam proventos com a remunerao de outros cargos pblicos, limitando-os ao teto, vedada a acumulao de duas aposentadorias, com base no artigo 40 da Carta Federal.

Condies de acesso aos cargos pblicosNo mbito do Direito Pblico, a palavra acesso guarda dois significados possveis. Um deles consiste no direito que tem o administrado de ingressar no servio pblico pelo provimento de cargos, funes e empregos e o outro se dirige ascenso funcional, como destaca Rocha (1999). O artigo 37, inciso I, da Carta Poltica, com a redao dada pela Emenda Constitucional n. 19/98, prescreve que a acessibilidade aos cargos pblicos se afigura admissvel aos brasileiros que atendam aos requisitos legais e aos estrangeiros na forma da lei. Sobre esse assunto, Di Pietro (2006, p. 442) sublinha que a locuo na forma da lei trata-se de lei de cada entidade da

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Unidade 2 Agentes pblicos

federao, observando que a matria de servidor pblico no reservada competncia privativa da Unio. Antes, ainda, com a edio da Emenda Constitucional 11/96, que acresceu dois pargrafos ao artigo 207 da Constituio, foi permitido o acesso nas Universidades e nas instituies de pesquisa de professores, de tcnicos e de cientistas estrangeiros, na forma da lei. Essa possibilidade foi disciplinada, na esfera federal, pela Lei n. 9.515, de 20 de novembro de 1997; as demais pessoas polticas devero editar as suas prprias normas. Se, no entanto, a admisso de estrangeiros no servio pblico ainda depende da existncia de lei, o ingresso dos portugueses com residncia permanente em solo ptrio encontra permissivo no artigo 12, II, e pargrafo 1, da Constituio Federal, desde que haja reciprocidade em favor dos brasileiros.

Quanto ao ingresso de brasileiros, natos ou naturalizados, os requisitos legais so os concebidos mediante o exerccio da competncia privativa do Chefe do Executivo, nos termos do artigo 61, pargrafo 1, II, c, da Constituio Federal, para a iniciativa das leis que disponham sobre o regime jurdico dos servidores pblicos.

v

Lei n. 9.515, de 1997, que dispe sobre a admisso de professores, tcnicos e cientistas estrangeiros instituies de pesquisa cientfica e tecnolgica

pelas universidades e pelas

federais. Disponvel em:

. Acesso em: 2 fev. 2009.

No que toca s formas de ingresso no servio pblico, a prvia realizao de concurso pblico, inscrita no artigo 37, II, da Constituio Federal, inexigvel para os cargos de provimento vitalcio, para os cargos comissionados, j abordados, e, ainda, para os ex-combatentes que tenham efetivamente participado de operaes blicas durante a Segunda Guerra Mundial (artigo 53, inciso I, do ADCT da CF/88).

Seleo por concursoNos termos do artigo 37, inciso II, com a redao dada pela Emenda Constitucional n. 19/98, a investidura em cargo ou emprego pblico depende da aprovao prvia em concurso pblico de provas ou de provas e ttulos, de acordo com a natureza e a complexidade

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Direito Administrativo

do cargo ou emprego, na forma prevista em lei ressalvadas as nomeaes para cargo em comisso, declaradas em lei de livre nomeao e exonerao. Cretella Jnior (1994) relata que o processo de seleo mediante concurso pblico foi desenvolvido primeiramente na Frana napolenica, de incio acirradamente combatido, para s ento se firmar como instrumento democrtico. A regra constitucional, agora em tela, exigida tanto para a composio dos quadros funcionais da Administrao Pblica Direta quanto para a Indireta (empresas pblicas e sociedades de economia mista). Di Pietro (2006) entende que a contratao em nvel de funo pblica possvel, juridicamente, em duas situaes, quais sejam:

ff o atendimento de excepcional interesse pblico, no paraqual sobressai o carter emergente da contratao, o que inviabiliza a realizao do certame pblico; e

ff as funes de confiana, cuja titularidade s pode paraser exercida por servidores ocupantes de cargo efetivo, destinadas s atribuies de direo, chefia e assessoramento.

Quanto ao requisito de idade, Medauar (2005) destaca que a Emenda Constitucional n. 19/98, ao manter a aplicao do inciso XXX do artigo 7 aos servidores, acresceu que a lei pode estabelecer requisitos diferenciados de admisso, de acordo com a natureza do cargo. O Supremo Tribunal Federal tem definido a impossibilidade de requisito de idade como regra geral, admitindo-se exigncia desse quilate quando necessria para o desempenho do cargo, conforme o registrado na Smula 683:O limite de idade para a inscrio em concurso pblico s se legitima em face do art. 7, XXX, da Constituio, quando possa ser justificado pela natureza das atribuies do cargo a ser preenchido. (BRASIL, 2003).

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Unidade 2 Agentes pblicos

No que concerne ao prazo de validade do concurso pblico, o inciso III do artigo 37, da Magna Carta, o circunscreve a at dois anos, prorrogvel uma vez por igual perodo. O Ministro do Supremo Tribunal Federal Nri da Silveira, na relatoria do RE 192.568-0, de 1966, afirmou que:[...] s cabe entender subsistente o ttulo nomeao, enquanto o concurso pblico tiver seu prazo de validade vigente. Cessa, destarte, a eficcia do ttulo de aprovao em concurso pblico, no instante em que este caduca, pelo decurso do prazo de sua validade, se no houver a prorrogao prevista na norma constitucional.

Outra questo que merece meno o direito nomeao. No se discute que a nomeao dos candidatos classificados se encontra submetida ao interesse da Administrao Pblica, mas a nomeao de qualquer concursado margem da ordem classificatria enseja a todos os que estiverem melhor classificados o direito nomeao. Por oportuno, a jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal tem declarado que o candidato aprovado em concurso pblico, quando preterido em face da nomeao de outro candidato, tem tambm o direito ao recebimento de indenizao (RE 188.093-RS, 2. Turma, Rel. Min. Maurcio Corra) (BRASIL, 1999). A matria relacionada exigncia de concurso pblico j foi definitivamente resolvida pelo Supremo Tribunal Federal por meio da Smula 685, de 2003, declarando: inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prvia aprovao em concurso pblico destinado ao seu provimento, em cargo que no integra a carreira na qual anteriormente investido.

Nas contrataes margem do comando constitucional do artigo 37, inciso II, da Constituio Federal, a Justia Trabalhista determinou, segundo o Enunciado 363 (BRASIL, 2000), que essas so nulas e s geram para os empregados o direito a salrios e aos valores relativos ao Fundo de Garantia por Tempo de Servio (FGTS).

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Sistema remuneratrio dos agentes pblicosO sistema remuneratrio dos agentes pblicos est previsto na Constituio da Repblica, no artigo 37, incisos X a XV, e nos incisos do artigo 39, com as expressivas alteraes introduzidas pela Emenda Constitucional n. 19/98. A Lei Maior prev hoje duas formas de retribuio pecuniria pelo trabalho dos agentes pblicos, a saber: a de remunerao, ou vencimento, e a de subsdio. Medauar (2005) define que vencimentos, ou remunerao, designam o conjunto formado pelo vencimento (referncia) do cargo ou da funo, mais outras importncias percebidas, denominadas vantagens pecunirias. Com a Emenda Constitucional n. 19/98, a Constituio Federal institui, por meio do artigo 39, pargrafo 4, mais um tipo de estipndio* para os agentes polticos e para certas categorias de servidores pblicos, adimplido* em parcela nica, insuscetvel de qualquer acrscimo ou aditamento*, a exceo das verbas admitidas pelo pargrafo 3 do mesmo artigo de lei (dcimo terceiro salrio, adicional noturno, remunerao por servio extraordinrio, adicional de frias). relevante observarmos ainda o pargrafo 8, do artigo 39 da Constituio Federal, que faculta a edio de lei regrando a extenso do subsdio aos demais servidores pblicos. Segundo o artigo 39, pargrafo 4, e demais dispositivos da Constituio Federal, devem receber subsdio os seguintes agentes pblicos:

*Estipndio salrio ou retribuio por servios prestados.

Fonte: Houaiss (2009). *Adimplido dar

cumprimento a (obrigao, negcio etc); executar. Houaiss (2009). *Aditamento adicionar, ato Fonte:

ou efeito de se aditar, adio. Aquilo que se acrescenta a (algo) a fim de se elucidar, complementar etc. Fonte: Houaiss (2009).

ff membros de Poder, os parlamentares, os magistrados, osos chefes de executivo;

ff detentores de mandato eletivo; os

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ff Ministros de Estado; os ff Secretrios Estaduais; os ff Secretrios Municipais; os ff Ministros do Tribunal de Contas da Unio e os osConselheiros dos Tribunais de Contas Estaduais e dos Municpios (artigo 73, pargrafo 3, e artigo 75);

ff integrantes do Ministrio Pblico (artigo 128, pargrafo os5, inciso I, c);

ff membros da Advocacia-Geral da Unio, os Procuradores osdo Estado e do Distrito Federal e os membros da Defensoria Pblica (artigo 135); e

ff servidores policiais (artigo 144, pargrafo 9). osA retribuio pecuniria pelo trabalho Administrao Pblica, dado o seu imediato carter alimentar, incorre nas seguintes premissas:

ff proibio de desconto, salvo por imposio legal, mandadojudicial ou consentimento do servidor (artigo 45 da Lei n. 8.112/90);

ff existncia de limite para descontos, que no pode excedera um percentual; e

ff preferncia de pagamento das diferenas ou das parcelasfixadas por sentena judiciria (artigo 100 da Constituio Federal).

v

O artigo 46 da Lei

n. 8.112/90 fixa at a

dcima parte os descontos mensais para reposies e indenizaes ao errio.

Fixao e alterao da remunerao e do subsdioA fixao ou alterao da remunerao ou do subsdio dos servidores pblicos dependem de lei especfica, assegurada reviso anual e sem distino de ndices, conforme impe o artigo 37, X, da Constituio Federal, observada a iniciativa privativa em cada caso. Essa ltima exigncia, reviso anual sempre em mesma data

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e sem distino de ndices, h de ser observada em cada esfera de governo (DI PIETRO, 2006).

Conhea mais a respeito

desse tema nos artigos 169 e 20 da Lei Complementar disponveis em: e em: .

Teto das remuneraes e subsdiosSaiba maisO problema estaria centrado, explica Di Pietro (2006, p. 543), no artigo 48, XV, na prpria Carta Federal, que exigia lei de iniciativa conjunta do presidente da Repblica, do Senado, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, para a fixao dos subsdios de Ministro do Supremo Tribunal Federal. Este ltimo, marco do teto remuneratrio para a implementao do sistema pretendido. Fonte: Di Pietro (2006).

O estabelecimento de um limite de remunerao dos agentes pblicos vem sendo projetado desde a promulgao da Constituio Federal de 1988. primeira redao do artigo 37, inciso XXI, seguiu-se nova tentativa de se limitar a remunerao dos agentes pblicos, por meio da Emenda Constitucional n. 19/98 e por deciso administrativa do Supremo Tribunal Federal (STF). Sobre o tema, Di Pietro (2006) apresenta a seguinte sistematizao:

ff teto atinge a todo o sistema remuneratrio o independentemente do regime jurdico a que se submete o servidor, exceo das empresas pblicas, sociedades de economia mista e subsidirias, que somente seria alcanado pela norma limitadora se recebessem

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recursos da Unio, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municpios, para pagamento das despesas de pessoal ou de custeio geral, como se infere do pargrafo 9, do artigo 39, da Constituio Federal;

ff teto atinge os proventos de aposentadoria e de penso odevidos aos dependentes do servidor falecido;

ff servidor que estiver em regime de acumulao sujeita-se oa um teto nico que abrange a soma da dupla remunerao (artigo 37, XVI, da Constituio Federal);

ff aplicao do teto, esto excludas as parcelas de cunho naindenizatrio, conforme o disposto no pargrafo 11, do artigo 37, includo pela Emenda n. 47, de 5 de julho de 2005, com efeitos retroativos data da vigncia da Emenda Constitucional n. 41/03;

ff teto, no mbito federal, o mesmo para todos os oservidores, correspondendo ao subsdio dos Ministros do Supremo Tribunal Federal. No mbito estadual, diferenciado para os servidores de cada um dos trs Poderes do Estado, sendo representado pelos subsdios dos Deputados, do Governador e dos Desembargadores, incluindo-se no teto desses ltimos algumas categorias do Executivo (membros do Ministrio Pblico, Procuradores e Defensores Pblicos). Pela Emenda Constitucional 47/05, foi acrescentado o pargrafo 12 ao artigo 37, permitindo que, para fins do teto previsto no inciso XI do caput, os Estados e o Distrito Federal fixem, por emenda Constituio e Lei Orgnica, como limite nico, o subsdio dos Desembargadores do respectivo Tribunal de Justia, limitado a 90,25% do subsdio mensal dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no se aplicando o disposto nesse pargrafo aos subsdios dos Deputados Estaduais, Distritais e Vereadores. No mbito municipal o teto igual para todos os servidores, sendo representado pelo subsdio de prefeito;

ff os parlamentares dos Estados e dos Municpios, parao entendimento do artigo 37, XI, deve ser conjugado ao disposto nos artigos 27, pargrafo 2, 29, VI e VII, e 29-A. O subsdio limitado a 75% da remunerao dos

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Deputados Federais. Para os parlamentares municipais, o subsdio mximo varia entre 20%, 30%, 40%, 50%, 60% e 75% do subsdio dos Deputados Estaduais, por causa do nmero de habitantes do Municpio. Em razo do disposto no inciso VII, do artigo 29 da Constituio Federal, o total de despesas com a remunerao dos vereadores no pode ultrapassar o limite de 5% da receita do Municpio, observados, outrossim, os limites totais de despesa com pessoal; e

ff os membros da Magistratura, a norma do artigo 37, XI, paratem de ser combinada com o artigo 93, V, que estabelece, para os Ministros dos Tribunais Superiores, o montante dos subsdios em 95% do subsdio mensal fixado para os Ministros do Supremo Tribunal Federal. Para os demais magistrados, a fixao ser feita em lei, observado um escalonamento em nveis federal e estadual, conforme as categorias da estrutura judiciria nacional, no podendo a diferena entre uma e outra ser superior a 10% ou inferior a 5% nem exceder 95% do subsdio mensal dos Ministros dos Tribunais Superiores.

Irredutibilidade de remunerao e de subsdioA irredutibilidade dos vencimentos e dos subsdios dos agentes pblicos, imposta pelo artigo 37, XV, da Carta Federal, encontra ressalva nesse mesmo Diploma Legal nos incisos XI e XIV do prprio artigo 37; e nos artigos 39, pargrafo 4; 150, II; 153, III; e 153, pargrafo 2, I. Logo, a norma constitucional da irredutibilidade limitada, a exemplo do que decidiu o Superior Tribunal de Justia (RMS n. 8.852- ES, 6 Turma, Rel. Min. Fernando Gonalves, julgamento em 15/08/2000): somente os vencimentos so irredutveis, as

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gratificaes, salvo aquelas de carter individual, podem, para efeito de aplicao do denominado redutor salarial, sofrer limitaes quantitativas. Nesse caso, aquela Corte de Justia determinou que a gratificao de produtividade deve ser alcanada pelo mencionado redutor salarial, se a remunerao, no total, ultrapassar o limite legal estabelecido. O entendimento da irredutibilidade protege o servidor. Portanto, somente contra a reduo direta, anota Carvalho Filho (2006, p. 601):[...] no se incluindo nessa garantia os adicionais e as gratificaes devidos por fora de circunstncias especficas e muitas vezes de carter transitrio, as quais podem suscitar at sua absoro em vencimento mais elevado, como ocorre na implantao de novos planos e carreiras.

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Direitos dos servidoresAssim como os trabalhadores da iniciativa privada, tambm os agentes pblicos remunerados pela Administrao tm garantida, constitucionalmente, uma srie de direitos. Entre estes, alguns merecem nosso destaque, como: frias e dcimo terceiro salrio, licenas, direito de greve e sindicalizao, aposentadoria e penso.

Frias e dcimo terceiro salrioO direito ao gozo de frias anuais de 30 dias e ao acrscimo de um tero sobre a remunerao, atribudo aos trabalhadores do setor privado pelo artigo 7, inciso XVII, da Carta Federal, foi estendido aos servidores ocupantes de cargo pblico pelo artigo 39, pargrafo 3, da Constituio Federal. Como no mais constitucionalmente possvel a contagem de tempo fictcio, a questo que se alinha para debate o entendimento dos direitos decorrentes da no fruio de frias. Neste sentido, o Supremo Tribunal Federal, ao interpretar o artigo 78, pargrafo 3 do Estatuto Federal, reconheceu o direito indenizatrio servidora que se aposentara com frias no gozadas (RE n. 234.068-DF, 1 Turma, Rel. Min. Seplveda Pertence, julgamento em 19 de outubro de 2004). Assim sendo, o dcimo terceiro salrio, com base na retribuio pecuniria integral, concedido aos servidores, inclusive aos aposentados, por fora do artigo 39, pargrafo 3, da Constituio Federal.

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LicenasSo consideradas licenas os afastamentos do servidor permitidos em lei. A Constituio Federal, por exemplo, em seus artigos 39, pargrafos 3 e 7, incisos XVIII e XIX, concede aos servidores as licenas-maternidade, de 120 dias, e paternidade, disciplinadas pelos estatutos, ambas remuneradas. Medauar (2005) ressalta que outras licenas figuram admitidas nos Estatutos, como:

ff licenas para tratamento de sade do servidor ou de aspessoa de sua famlia;

ff licena-prmio por assiduidade, para desempenho demandato classista; e

ff licenas no remuneradas, como as destinadas a trato deassunto particular de servidor.

O artigo 38 da Constituio Federal assegura tambm ao servidor pblico o direito de ficar afastado do cargo, do emprego ou da funo, computando esse tempo de afastamento para todos os efeitos legais, exceto para promoo por merecimento. Quando se tratar de eleio para prefeito ou para vereador, quando incompatveis os horrios, facultada a opo pela melhor remunerao.

v

Apenas no caso de eleio para Vereador, como j foi exerccio e a remunerao

comentado, assegurado o simultnea dos dois cargos.

Direito de greve e sindicalizaoO direito de greve do servidor, mencionado pelo artigo 37, VII, da Constituio Federal, de sensvel polmica, sobretudo no que concerne incidncia da norma, de eficcia contida ou imediata. O respeitado constitucionalista Jos Afonso da Silva j defendeu esta ltima hiptese inferindo que a lei mencionada na Constituio Federal teria apenas a propriedade de fixar termos e

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limites do exerccio do referido direito. Entendimento semelhante de Gasparini (2005, p. 189), para quem, no obstante isso:[...] o direito de greve do servidor pblico exercitvel. Ressalvadas, como ensina Celso Antnio Bandeira de Mello, apenas as necessidades inadiveis da comunidade, que no podem sofrer soluo de continuidade, conforme se infere do disposto no pargrafo 1 do artigo 9 da Constituio Federal.

Do repertrio de jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia obtemos esse mesmo entendimento, ou seja, o servidor pblico tem o direito subjetivo e constitucional de declarar greve (STJ, RMS, 2675. Rel. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, DJ 09.08.1993, p. 15237). Em oposio a essa compreenso da possibilidade do exerccio do direito de greve do servidor, expressa pela Constituio Federal, tem-se o discurso de Carvalho Filho, que arrola a deciso do Supremo Tribunal Federal, sob a relatoria do Ministro Celso de Mello no Mandado de Injuno n. 20, de 1996. Em qualquer caso, no h controvrsia relevante na doutrina e na jurisprudncia no que se refere ao desconto dos dias no trabalhados, como decidiu o Superior Tribunal de Justia, no j mencionado Recurso em Mandado de Segurana n. 2.675. fato que o referido dispositivo legal alude necessidade de regulamentao do referido direito lei especfica, de cunho federal, observando a sua validade para todos os entes federados. O STF, em deciso de 25 de outubro de 2007, reconheceu o direito de greve do servidor pblico. Conforme a deciso, a greve do funcionalismo pblico dever seguir a mesma lei que regula o movimento grevista de empregados da iniciativa privada (Lei n. 7.783/89, a chamada lei de greve), enquanto o Congresso Nacional no aprovar lei especfica para regular a matria. J o direito sindicalizao assegurado pelo artigo 37, incisos VI e VII, da Carta Federal, com a redao da Emenda Constitucional n. 19/98, norma de eficcia plena e imediata.

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Unidade 2 Agentes pblicos

Aposentadoria e pensoA aposentadoria o direito inatividade remunerada, desde que preenchidos os requisitos assinalados pela Lei. As Emendas Constitucionais n. 20/98 e 41/03, conhecidas como a Reforma da Previdncia, introduziram profundas modificaes no sistema sobre as quais ainda se debruam os estudiosos. No direito ptrio, a aposentadoria do servidor pblico tratada de forma diferente da inatividade dos trabalhadores da iniciativa privada. necessrio dizer, de incio, que os apontamentos que se seguem esto circunscritos ao artigo 40 da CF/88, que incidem, especificamente, sobre os servidores pblicos estatutrios titulares de cargos efetivos. Na aposentadoria dos servidores trabalhistas, dos servidores temporrios, e dos ocupantes exclusivamente de cargos comissionados, aplica-se o regime geral da previdncia social, regulado pelos artigos 201 e 202 da Carta Federal, conforme determina o pargrafo 13 do artigo 40 da Constituio. Um dos principais signos distintivos do novo sistema previdencirio o seu carter contributivo, como norte de sustentabilidade desse regime, secundado pelas exigncias de idade mnima, tempo de servio pblico e tempo de exerccio no cargo em que se dar a aposentadoria. Seguiu-se edio da Emenda Constitucional n. 20/1998 a promulgao da Lei n. 9.717, de 27/11/1998 (com alteraes posteriores), fixando normas gerais sobre a previdncia dos servidores pblicos da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios, ao institurem os seus respectivos regimes de previdncia. Os pargrafos 14 a 16, do artigo 40, na redao dada pela Emenda Constitucional n. 20/98, possibilitam a todos os entes da Federao a instituio de regime de previdncia complementar para os seus servidores titulares de cargos efetivos. O adjetivo solidrio, atribudo ao novo regime previdencirio, cunhado pela alterao do pargrafo 18, do artigo 40 da Constituio

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Federal pela Emenda Constitucional n. 41/03, introduz a incidncia da contribuio previdenciria sobre os proventos de aposentadoria e penses superiores ao limite mximo dos benefcios gerais do regime geral da previdncia social, mais tarde confirmada pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI n. 3015/DF, sob a relatoria da Ministra Ellen Gracie, em 2004. Em sequncia, a Lei Federal n. 10.887/04 se ocupou da aplicabilidade da Emenda Constitucional n. 41/03 para estabelecer as normas aplicveis aos servidores pblicos ativos e inativos federais, estaduais e municipais, inclusive no que se refere s alquotas e base de clculo de contribuio previdenciria. Entre as inovaes trazidas pela Emenda Constitucional 41/03, em sede de regime previdencirio, podemos destacar:

ff indicao das fontes de custeio, incluindo a contribuiodo ente pblico, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas (art. 40, caput);

ff definio dos critrios para fixao, em lei, do valor dapenso dos dependentes do servidor falecido (artigo 40, pargrafo 7);

ff extino, respeitados os direitos adquiridos, da paridadeentre, de um lado, os proventos e penses, e, de outro, os vencimentos dos servidores em atividade (atual redao dos pargrafos 7 e 8 do artigo 40); e

ff extino do direito a proventos integrais, na medidaem que, ao instituir o regime previdencirio prprio do servidor, cada ente da federao ter de definir a remunerao sobre a qual incidir a contribuio, que ser o parmetro para o clculo dos proventos.

Modalidades de aposentadoriaQuanto aposentadoria dos servidores titulares de cargos efetivos, so previstas as seguintes modalidades:

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I.

aposentadoria por invalidez permanente, que incorre na percepo de proventos proporcionais ao tempo de contribuio, exceto se decorrente de acidente em servio, molstia profissional ou doena grave, contagiosa ou incurvel, na forma da lei;

II. aposentadoria compulsria, aos 70 anos de idade, com proventos proporcionais ao tempo de contribuio; e III. aposentadoria voluntria, condicionada a dez anos, no mnimo, de efetivo exerccio no servio pblico, com cinco anos no cargo efetivo em que se dar a aposentadoria, observados, ainda, os seguintes requisitos: a) 60 anos de idade e 35 anos de contribuio, se homem; e 55 anos de idade e 30 anos de contribuio, se mulher; e b) 65 anos de idade, se homem; e 60 anos de idade, se mulher, com proventos proporcionais ao tempo de contribuio.

Os requisitos de idade e de tempo de contribuio sero reduzidos em cinco anos, no caso do item supra, para o professor que tenha tempo exclusivamente de efetivo exerccio das funes de magistrio na educao infantil e no Ensino Fundamental e Mdio (pargrafo 5 do artigo 40, na redao da Emenda Constitucional n. 20/98). Aos Ministros e aos Conselheiros dos Tribunais de Contas, aos Magistrados e aos integrantes do Ministrio Pblico, aplicam-se as regras do artigo 40 da CF de 1988.

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Responsabilidade do servidorO servidor pblico, no exerccio de suas funes, sujeita-se responsabilidade civil, penal e administrativa. O artigo 121 da Lei n. 8.112/90 no destoa das noes doutrinrias ao prescrever que o servidor responde civil, penal e administrativamente pelo exerccio irregular de suas atribuies. Em razo da independncia das funes, o artigo 125 da Lei n. 8.112/90 dispe que [...] as sanes civis, penais e administrativas podero cumular-se entre si. (BRASIL, 1990). Em interpretao convergente, o Supremo Tribunal Federal (Mandado de Segurana n. 21.708-DF, Pleno, Rel. p/ acrdo o Min. Maurcio Corra, julgamento em 09/11/2000) assentou que a Administrao pode aplicar a pena de demisso em processo disciplinar, ainda que em curso a ao penal a que responde pelo mesmo fato.

Responsabilidade civilA primeira esfera de responsabilidade decorre do disposto no artigo 186 do Cdigo Civil Brasileiro, fundamentada no princpio basilar de que todo aquele que causa dano a outrem obrigado a repar-lo. O ilcito civil se configura na presena de dano, de ao ou de omisso jurdica, da culpa ou dolo, desde que haja nexo de causalidade entre a ao ou a omisso e o dano.

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A responsabilidade civil do servidor no objetiva, e para isso h de se comprovar que o servidor agiu com culpa civil. Ou seja, por meio de comportamento doloso ou culposo, apurado em processo administrativo, informado pelo direito ao contraditrio e ampla defesa, conforme o artigo 5, inciso IV, da Constituio Federal. As leis estatutrias, em geral, estabelecem os critrios para ressarcimento dos prejuzos apurados, por meio do desconto da remunerao do servidor responsvel pelo dano, circunscrevendo limites mensais para esses descontos. Para o servidor celetista, esse desconto s possvel se com ele o servidor concordar, de acordo com artigo 466, pargrafo 1 da Consolidao das Leis do Trabalho (CLT), que tambm autoriza esse desconto no caso de comprovado dolo do empregado. Nesse sentido, o STF deliberou vedando a autoexecutoriedade administrativa impositiva do desconto, no mandado de Segurana n. 24.182-DF de 2004. , Contudo, quando se trata de danos causados a terceiros, aplicvel o disposto no artigo 37, pargrafo 6, da Constituio Federal, em decorrncia do qual o Estado responde objetivam