Direito Agrário - 1ª Unidade (1)

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Resumo direito agrário

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Direito Agrrio1. Razes histricas do Direito Agrrio no Brasil- A primeira grande diviso de territorial, que traou as primeiras delimitaes do que viria ser o Brasil, foi o Tratado de Tordesilhas (1.494), assinado por D. Joo (rei de Portugal) e por D. Fernando e D. Isabel (reis da Espanha). - O Tratado de Tordesilhas foi homologado atravs da Bula Ea quae, o que denota o elevado poder da Igreja Catlica no perodo. - Para fortalecer seu poder sobre o territrio brasileiro, Portugal incumbiu Martin Afonso de Sousa de colonizar o Brasil. 1.1. Perodo sesmarial: de 1531 a 1822- O regime sesmarial j havia sido adotado em Portugal no caso de terras lavradas e no aproveitadas posteriormente. - No Brasil, foi adotado com fins de ocupao, objetivando a colonizao e a defesa do novo territrio. - Em Portugal, as sesmarias tinham natureza de confisco. No Brasil, aproximavam mais da enfiteuse, pois s se transferia o domnio til. - As sesmarias eram concedidas a pessoas que viessem para o Brasil e desejassem aqui residir, inclusive com efeito de transmisso causa mortis. Caso as terras no fossem aproveitadas em dois anos, poderiam ser retomadas e dadas a outras pessoas.Momento histrico: expanso do mercantilismo nas naes europeias- Como funcionava? O beneficirio tinha obrigao de: Colonizar a terra; Fixar moradia habitual; Cultivar; Demarcar os limites das reas; Pagar tributos.

- Quem no cumprisse as obrigaes teria o imvel devolvido para a Coroa Portuguesa.- As terras foram concedidas a amigos da Coroa, que deveriam ter condies financeiras de explor-las.- A extenso das concesses era imensa. - Quais ciclos econmicos se desenvolveram sob o perodo sesmarial? Cana de acar (sc. XVI e XVII); Pecuria; Minerao (sc. XVIII) Incio do ciclo do caf (1800)

- Todos esses ciclos, em maior ou menor intensidade, foram perpassados pela atividade escravista.- A fase sesmarial consolidou a posio do Brasil no mercado mundial como fornecedor de matrias primas, o clientelismo na distribuio de terra e a latifundizao. 1.2. Perodo extralegal ou das posses: de 1822 a 1850- As sesmarias foram abolidas em 1822. - Vcuo legislativo: nesses 28 anos (at 1850), o Brasil ficou sem qualquer marco regulatrio acerca da posse, apropriao e uso de terras. Nem mesmo a Constituio de 1824, editada aps a proclamao da independncia, trouxe normas sobre a aquisio de terras.- Foi caracterizado principalmente pela ocupao problemtica e desordenada do territrio apossamento violento e indiscriminado de terras.- Contexto gerado aps a fase extralegal: Sesmeiros adimplentes (os chamados titulares legtimos); Sesmeiros ou concessionrios no confirmados ou inadimplentes; Possuidores sem ttulos; Terras no apropriadas (aquelas que, dadas em sesmarias, foram devolvidas, porque os sesmeiros caram em comisso); Latifndios e minifndios.1.3. Fase de institucionalizao do Direito Agrrio1.3.1. Lei de Terras (Lei 601, de 1.850)-Marco regulatrio que implantou no Brasil a propriedade privada liberal burguesa: terra como objeto de compra e venda e propriedade absoluta.- Tentativa de regularizar juridicamente as situaes fticas geradas durante o perodo extralegal.- Criaes: Proibiu novos apossamentos de terras devolutas (instituto definido pela Lei de Terras); Estabeleceu a forma de aquisio de terras (por meio de compra e venda). Outorgou ttulos de domnio aos detentores de sesmarias no confirmadas.- Outorgou ttulos de domnio a portadores de quaisquer outros tipos de concesses de terras feitas na forma da lei ento vigorante, uma vez cumpridas as exigncias constantes do devido instrumento. Assegurar a aquisio do domnio de terras devolutas atravs da legitimao de posse, desde que fosse mansa e pacfica, anterior e at a vigncia da lei. Reservas indgenas; Proteo de fronteiras.- As terras devolutas foram definidas na Lei de Terras como aquelas que no estivessem afetadas ao uso pblico, que no constassem em domnio particular, por qualquer ttulo, aquelas no havidas por sesmarias, as que no estiverem ocupadas por posses.- A Lei de Terras validou a posse de quem era sesmeiro, mesmo que em inadimplncia, bem como daqueles que, por ocupao primria, exercesse posse mansa e pacfica.- A aquisio de terras devolutas s seria possvel por meio de ttulo de compra. Todo apossamento foi proibido. A ocupao de terras devolutas ou alheias era punida at mesmo com priso.- A Lei de Terras previa que o governo reservaria as terras devolutas que julgasse necessrias para a "colonizao dos indgenas. - Terras situadas nos limites do Imprio poderiam ser concedidas gratuitamente.- A Lei de Terras, no entanto, no foi suficiente para resolver o problema da distribuio de terras. Continuavam a predominar latifndios nas mos de poucos e minifndios para outra grande parte. 1.4. Constituio de 1891 - Foi a primeira Constituio brasileira a trazer disposies sobre o Direito Agrrio. Transferiu para os Estados as terras devolutas, cabendo Unio apenas a poro do territrio indispensvel defesa das fronteiras, fortificaes, construes militares e estradas de ferro federais. 1.5. Cdigo Civil de 1916 - Matriz ultraliberal. Feio marcantemente individualista, refletindo o pensamento aristocrtico da poca. - Disciplinou a posse, a propriedade e outros institutos jurdicos relacionados.- Orientou a aquisio e o uso da terra conforme princpios de individualismo, formalismo e patrimonialismo. 1.6. Constituio de 1934- Contexto histrico: perodo revolucionrio no Brasil, de disputa entre a burguesia urbana e industrial ascendente e a aristocracia agrria; grandes transformaes internacionais.- Influncias: Movimento tenentista, de 1930. Constituio Mexicana de 1917. Constituio de Weimar de 1919.- Contexto internacional de polarizao entre os regimes capitalista e socialista, que se implantava em algumas regies do planeta.- Normas referentes ao Direito Agrrio estabelecidas: Competncia privativa da Unio para legislar sobre direito rural (art. 5, XIX, c). Usucapio pro labore (aquisio por tornar a terra produtiva por meio do trabalho e por estabelecer moradia) Reduo de tributos sobre pequenas propriedades. Regulamentao da posse das terras silvcolas (art. 129). Art. 129 - Ser respeitada a posse de terras de silvcolas que nelas se achem permanentemente localizados, sendo-lhes, no entanto, vedado alien-las. Funo social da propriedade e desapropriao por necessidade ou utilidade pblica (art. 113, 17).1.7. Constituio de 1937- Constituio ditatorial de 1937: no inovou na temtica agrria.1.8. Constituio de 1946- Manteve a inovao da Carta de 1934 e avanou quanto a outros institutos- Criou a desapropriao por interesse social. - Deu origem ao Instituto Nacional de Imigrao e Colonizao (INIC), criado pela Lei n 2.163/54. Foi o embrio do INCRA. - Contexto scio-histrico: Ps-guerra; Fortalecimento das Ligas Camponesas; Aumento dos sindicatos de trabalhadores rurais; Proposta de reformas de base, no governo Joo Goulart; Implantao do estado de bem-estar social, na Europa aprofundamento da polarizao capitalismo x socialismo.1.9. Golpe de 64- A EC n 10/64 inseriu o Direito Agrrio no rol das matrias cuja competncia para legislar exclusiva da Unio.- Ainda em 1964, foi promulgado o Estatuto da Terra (Lei n 4.504).- Poltica de reforma agrria + poltica de desenvolvimento agrrio.- Consagrou o princpio da funo social da propriedade rural e traou a disciplina das relaes jurdicas agrrias.1.10. Constituio de 1967- Deu continuidade poltica agrria desenvolvida pelo regime ditatorial.- Contexto social no campo: xodo rural; Pobreza rural; Violncia; Represso contra a organizao dos trabalhadores rurais.1.11. Constituio de 1988- Manteve a autonomia do Direito Agrrio e estabeleceu vrias normativas referentes ao tema, relacionando-o a direitos fundamentais, ordem social e econmica, estabelecendo direitos indgenas e quilombolas referentes terra.2. Delimitao conceitual do Direito Agrrio- Como pode ser visto no delineamento histrico, os fenmenos e processos que envolviam a terra, sua explorao e as relaes humanas nelas baseadas tm relevncia social imensa e exigiram do Estado um tratamento jurdico, que gerou o desenvolvimento de um ramo especfico no Direito.- Definio: Ramo do Direito que abrange normas, princpios, interpretaes e atos normativos que visam a regulamentar as chamadas questes agrrias. - Questes agrrias: so os efeitos advindos da atividade agrria (ambientais, sociais, econmicos, sanitrios e at culturais), que emergem da relao que o ser humano estabelece com a terra, a partir do modo de produo vigorante. No apanhado histrico visto anteriormente, pudemos observar, a partir da perspectiva da evoluo normativa, a insero do Brasil e das terras brasileiras na cadeia produtiva capitalista. A posio do Brasil na diviso internacional do trabalho terminou por definir o perfil das atividades agrrias no pas.- Como se conceituam as atividades agrrias no Direito Agrrio?Giselda Hironaka destaca trs elementos que reputa essenciais ao ato agrrio: o sujeito agrrio; o meio ou ambiente, onde se processam os atos agrrios; e o processo agrobiolgico, a vida. Teoria agrobiolgica (Rodolfo R. Carrera): Atividades agrrias so atividades humanas incidentes sobre a terra ou seres vivos, que instigam e se submetem a um processo biolgico, visando produo para o abastecimento humano. Atividade humana + ambiente + processo bilgico = abastecimento humano. Teoria da agrariedade (Antonio Carrozza): Incorporou teoria de Carrera a ideia de ciclo biolgico e os riscos naturais desse ciclo, retirando a centralidade da terra. Ciclo biolgico + riscos naturais. Teoria da acessoriedade (Antnio Vivanco): Incorporou noo de agrariedade tambm as atividades acessrias praticadas pelo produtor rural, como venda dos produtos, transporte etc.- Raymundo Laranjeira dividiu conceitualmente as atividades agrrias da seguinte forma: Exploraes rurais tpicas: compreendem a lavoura, a pecuria, o extrativismo vegetal e animal e a hortigranjearia (hostalias, frutas, verduras, ovos, etc.). Explorao rural atpica: compreende a agroindstria. Ex.: beneficiamento de arroz, produo de rapaduras, farinha de mandioca, etc. Atividade complementar da explorao rural: compreende o transporte a comercializao dos produtos.- Autonomia do Direito agrrio quanto aos aspectos: Legislativo: obtida com a EC 10/64. Didtico: j uma disciplina consolidada na maioria dos cursos de Direito. Cientfico: tem suas normas e princpios prprios. Jurisdicional: no Brasil, essa autonomia no se apresenta sob esse aspecto, porquanto ainda no temos a Justia Agrria.3. Princpios 3.1. Funo social da terraArt. 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes:[...]XXII - garantido o direito de propriedade;XXIII - a propriedade atender a sua funo social;Art. 170. A ordem econmica, fundada na valorizao do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existncia digna, conforme os ditames da justia social, observados os seguintes princpios:[...]II - propriedade privada;III - funo social da propriedade;Art. 186. A funo social cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critrios e graus de exigncia estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:I - aproveitamento racional e adequado;II - utilizao adequada dos recursos naturais disponveis e preservao do meio ambiente;III - observncia das disposies que regulam as relaes de trabalho;IV - explorao que favorea o bem-estar dos proprietrios e dos trabalhadores.- Deve ser cumprida pelo proprietrio e pelo consumidor.3.2. Outros princpios - Progresso socioeconmico do rurcola.- Proteo ao hipossuficiente.- Fortalecimento do esprito comunitrio, via cooperativas e associaes.- Destinao social das terras pblicas.CF. Art. 188. A destinao de terras pblicas e devolutas ser compatibilizada com a poltica agrcola e com o plano nacional de reforma agrria.Estatuto da Terra. Art. 10. O Poder Pblico poder explorar direta ou indiretamente, qualquer imvel rural de sua propriedade, unicamente para fins de pesquisa, experimentao, demonstrao e fomento, visando ao desenvolvimento da agricultura, a programas de colonizao ou fins educativos de assistncia tcnica e de readaptao. 1 Somente se admitir a existncia de imveis rurais de propriedade pblica, com objetivos diversos dos previstos neste artigo, em carter transitrio, desde que no haja viabilidade de transferi-los para a propriedade privada.- Monoplio legislativo da Unio.CF. Art. 22. Compete privativamente Unio legislar sobre:I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrrio, martimo, aeronutico, espacial e do trabalho;- Prevalncia da utilizao da terra sobre a titulao dominial. - Carter dplice do Direito Agrrio, que compreende a poltica de reforma (reforma agrria) e a poltica de desenvolvimento (poltica agrcola).- Prevalncia do interesse pblico sobre o individual nas normas jurdicas agrrias.- Constante necessidade de reformulao da estrutura fundiria.- Combate ao latifndio, minifndio, ao xodo rural, explorao predatria e aos mercenrios da terra.- Fortalecimento da empresa agrria.- Proteo ao trabalhador rural.- Proteo propriedade familiar, pequena e mdia propriedade Imunidade do ITR art. 153, 4 - lei 9393/96. Incentivo constitucional para recuperao de terras ridas: CF, art. 43, 3Art. 43. Para efeitos administrativos, a Unio poder articular sua ao em um mesmo complexo geoeconmico e social, visando a seu desenvolvimento e reduo das desigualdades regionais. 3 - Nas reas a que se refere o 2, IV, a Unio incentivar a recuperao de terras ridas e cooperar com os pequenos e mdios proprietrios rurais para o estabelecimento, em suas glebas, de fontes de gua e de pequena irrigao.- Impenhorabilidade da pequena propriedade rural.- Conservao e preservao dos recursos naturais e a proteo do meio ambiente.- Acesso e distribuio da terra ao cultivador direto e pessoal.- Rigor especial com a propriedade improdutiva (desapropriao e progressividade).4. Institutos do Direito Agrrio4.1. Imvel rural4.1.1. Definio legalEstatuto da Terra (Lei 4.504/1964). Art. 4. Para os efeitos desta Lei, definem-se:I - "Imvel Rural", o prdio rstico, de rea contnua qualquer que seja a sua localizao que se destina explorao extrativa agrcola, pecuria ou agro-industrial, quer atravs de planos pblicos de valorizao, quer atravs de iniciativa privada;- Nomenclatura: imvel agrrio vs. imvel ruralPodemos defender a designao imvel agrrio como aquele destinado efetiva ou potencialmente atividade agrria, paralela designao imvel rural como aquele localizado na zona rural do municpio (Gustavo Rezek).- O Estatuto da Terra absorveu o critrio da destinao como elemento diferenciador entre imvel rstico e urbano. (Teoria da Destinao). - H um conflito entre o Estatuto da Terra e o CTN no tocante definio do imvel rural. O CTN adota o critrio da localizao:CTN. Art. 29. O imposto, de competncia da Unio, sobre a propriedade territorial rural tem como fato gerador a propriedade, o domnio til ou a posse de imvel por natureza, como definido na lei civil, localizao fora da zona urbana do Municpio.4.2. Caractersticas - Prdio rstico: rea com o menor nvel de edificao pelo ser humano, que mantenha ao mximo suas caractersticas naturais. As edificaes so somente as necessrias para desenvolver a finalidade (agrria) a que ele se destina. - rea contnua: a continuidade aferida no como caracterstica fsica, mas sim conforme unidade finalstica atribuda terra. Por exemplo, pode haver alguma interrupo natural (ex.: um rio).- Qualquer localizao: pode estar situado tanto na zona rural, quanto na zona urbana. - Destinao voltada para as atividades agrrias.4.3. Classificao dos imveis rurais - Classificao do Estatuto da Terra, art. 4: Minifndio; Propriedade familiar; e Latifndio.- Classificao da Constituio, art.185: Pequena propriedade; Mdia propriedade; e Propriedade produtiva.CF. Art. 185. So insuscetveis de desapropriao para fins de reforma agrria:I - a pequena e mdia propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietrio no possua outra;II - a propriedade produtiva.- Somente a dimenso suficiente para que o imvel seja imune desapropriao-sano ou se exige o cumprimento da funo social dessas propriedades?- A dimenso aferida no pela matrcula do imvel, mas pela unidade finalstica atribuda extenso de terra.A se configurar a unidade econmica de determinado conjunto de matrculas, por exemplo, pode-se identificar o imvel como grande propriedade, passvel de desapropriao para fins de reforma agrria, caso descumpra a funo social, independentemente de se comprovar que o(s) proprietrio(s) tambm detm outro(s) imvel(is). A jurisprudncia, como visto, farta sobre o tema, caminhando no mesmo passo da legislao (v. art. 2, 4 da Lei n 8.629/93), por afastar situaes fictcias de desmembramento, visando identificar e extirpar simulaes que visam apenas dividir um imvel em pequenas ou mdias propriedades como tentativa de furtar-se aferio do cumprimento da funo social da propriedade e possibilidade da desapropriao-sano para fins de reforma agrria. (Lei 8629/93 comentada pro Procuradores Federais. p. 77).

4.3.1. Dimensionamento de imvel rural: mdulo rural, fiscal e frao mnima de parcelamentoMdulo ruralMdulo fiscalFrao mnima de parcelamento

Trata-se da medida de rea mnima necessria para o exerccio do trabalho de uma famlia, que proporcione seu sustento e seu progresso socioeconmico a referncia dimensional para a classificao de uma propriedade como familiar. estabelecido para cada municpio, conforme a rea mdia dos mdulos rurais dos imveis agrrios nele situados, entre outros critrios, como o tipo de explorao predominante no municpio e a renda que gera, formas diversas de explorao existentes etc.Estabelecida pela lei 5.868/72, trata-se de mdulo menor do que o da propriedade familiar, estabelecido conforme o tipo de explorao rural que no necessite das dimenses do mdulo rural.

A rea do mdulo rural definida pelo INCRA para cada imvel, conforme o tipo de explorao, a partir de parmetros como localizao geogrfica, formas de aproveitamento, caractersticas ambientais etc.Referncia dimensional para fixar os parmetros do ITR. a menor rea em que um imvel rural pode ser desmembrado num municpio.

- Uma distino feita pelo INCRA:

- Mdulo rural calculado para cada imvel rural em separado, e sua rea reflete o tipo de explorao predominante no imvel rural, segundo sua regio de localizao.- Mdulo fiscal, por sua vez, estabelecido para cada municpio, e procura refletir a rea mediana dos Mdulos Rurais dos imveis rurais do municpio.

- Mdulo rural:Estatuto da Terra. Art. 4 Para os efeitos desta Lei, definem-se: (...)II - "Propriedade Familiar", o imvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua famlia, lhes absorva toda a fora de trabalho, garantindo-lhes a subsistncia e o progresso social e econmico, com rea mxima fixada para cada regio e tipo de explorao, e eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros;III - "Mdulo Rural", a rea fixada nos termos do inciso anterior; O mdulo rural uma medida de rea, diretamente afeita eficcia desta, no meio rurgena. Embora questione-se, em nome do direito propriedade privada, a ingerncia do Poder Pblico em estabelecer a indivisibilidade da propriedade rural, essa limitao justificada pelo princpio da funo social, uma vez que unidades de terra muito pequenas tornam-se impotentes para propiciar aproveitamento econmico. Estatuto da Terra. Art. 65. O imvel rural no divisvel em reas de dimenso inferior constitutiva do mdulo de propriedade rural. Apesar da previso acerca da indivisibilidade, h algumas hipteses em que o desmembramento ser possvel: Desmembramentos decorrentes de desapropriao por necessidade ou utilidade pblica ou interesse social (Dec. 62.504/68, art. 2, I) Desmembramentos de iniciativa particular que visem a atender interesse de ordem pblica na zona rural (dec. 62.504/68, art. 2, II). Ex.: instalao de estabelecimentos comerciais, a fins industriais, para servios comunitrios. Ex.: postos de gasolina, hotis, restaurantes, oleodutos, colgios, asilos, igrejas, etc. Hiptese da Lei 5.868/72:Art. 8 - Para fins de transmisso, a qualquer ttulo, na forma do Art. 65 da Lei 4.504/1964, nenhum imvel rural poder ser desmembrado ou dividido em rea de tamanho inferior do mdulo calculado para o imvel ou da frao mnima de parcelamento fixado no 1 deste artigo, prevalecendo a de menor rea. 4 O disposto neste artigo no se aplica:I - aos casos em que a alienao da rea destine-se comprovadamente a sua anexao ao prdio rstico, confrontante, desde que o imvel do qual se desmembre permanea com rea igual ou superior frao mnima do parcelamento;II - emisso de concesso de direito real de uso ou ttulo de domnio em programas de regularizao fundiria de interesse social em reas rurais, incluindo-se as situadas na Amaznia Legal;III - aos imveis rurais cujos proprietrios sejam enquadrados como agricultor familiar nos termos daLei no11.326, de 24 de julho de 2006[footnoteRef:1]; [1: Art. 65. 5. No se aplica o disposto no caput deste artigo aos parcelamentos de imveis rurais em dimenso inferior do mdulo, fixada pelo rgo fundirio federal, quando promovidos pelo Poder Pblico, em programas oficiais de apoio atividade agrcola familiar, cujos beneficirios sejam agricultores que no possuam outro imvel rural ou urbano. (Estatuto da Terra). ]

IV - ao imvel rural que tenha sido incorporado zona urbana do Municpio. Classificao do mdulo rural conforme o tipo de explorao: De explorao hortigranjeira; De lavoura permanente; De lavoura temporria; De explorao pecuria (de mdio e grande porte); De explorao florestal; Mdulo de explorao indefinida (em que no especificado quanto ao tipo de explorao) Na prtica, os dispositivos legais do Mdulo Rural estabeleceram parmetros para a fixao de dois conceitos dimensionais do imvel rural: o Mdulo Fiscal e a Frao Mnima de Parcelamento.- O mdulo rural, alm de constar na base do clculo do mdulo fiscal, ainda utilizado para: Definir os limites dos imveis rurais que podem ser adquiridos por pessoa fsica estrangeira residente no Brasil; Definir o nmero de mdulos do imvel para efeitos de enquadramento sindical; Definir os beneficirios do Fundo de Terras e da Reforma Agrria Banco da Terra.- Mdulo fiscal: Estabelece parmetro para classificao do imvel rural quanto ao tamanho: Pequena Propriedade o imvel rural cuja rea compreendida tem de 1 a 4 mdulos fiscais; Mdia Propriedade o imvel rural cuja rea superior a 4 e at 15 mdulos fiscais. O mdulo fiscal sofre influncia dos seguintes critrios: explorao predominante de cada municpio; renda obtida nesta explorao; de outras exploraes expressivas em funo da renda obtida nesta explorao; do conceito de propriedade familiar. - H controvrsia na doutrina referente utilizao dos termos mdulo rural e mdulo fiscal, pois h quem entenda tratar-se de sinnimo, de modo que o termo mdulo rural teria sido substitudo pelo termo mdulo fiscal. Divergncias jurisprudenciais: Esclarecem as informaes, entretanto, que a classificao da propriedade como pequena, mdia ou grande no depende da rea aproveitvel do imvel, mas, exclusivamente, de sua rea total. 3. Para classificar a propriedade como pequena, mdia ou grande propriedade rural, o nmero de mdulos fiscais dever ser obtido dividindo-se a rea aproveitvel do imvel pelo mdulo fiscal do Municpio, levando em considerao, para tanto, somente a rea aproveitvel, e no a rea do imvel.- Clculo da quantidade de mdulos fiscais de um imvel rural:- Para fins tributrios: aplica-se: Estatuto da Terra. Art. 50, 3 O nmero de mdulos fiscais de um imvel rural ser obtido dividindo-se sua rea aproveitvel total pelo modulo fiscal do Municpio.- O que a rea aproveitvel? Trata-se da rea que resta da propriedade aps a subtrao das reas no aproveitveis, que so:Lei 8.629/93. Art. 10. Para efeito do que dispe esta lei, consideram-se no aproveitveis:I - as reas ocupadas por construes e instalaes, excetuadas aquelas destinadas a fins produtivos, como estufas, viveiros, sementeiros, tanques de reproduo e criao de peixes e outros semelhantes; II - as reas comprovadamente imprestveis para qualquer tipo de explorao agrcola, pecuria, florestal ou extrativa vegetal; III - as reas sob efetiva explorao mineral;IV - as reas de efetiva preservao permanente e demais reas protegidas por legislao relativa conservao dos recursos naturais e preservao do meio ambiente.4.3.2. MinifndioEstatuto da Terra. Art. 4. Para os efeitos desta Lei, definem-se:IV - "Minifndio", o imvel rural de rea e possibilidades inferiores s da propriedade familiar;- Imvel agrrio de rea menor do que a mnima exigida para um aproveitamento da terra que propicie o desenvolvimento socioeconmico de quem a cultiva rea menor que o mdulo rural ou frao mnima de parcelamento.- Os fracionamentos de terras que gerem minifndios so proibidos. - No geram impostos nem viabilizam a obteno de financiamentos bancrios pelo minifundirio. - Meios de combate do minifndio: Proibio de alienao de reas inferiores ao mdulo rural ou frao mnima de parcelamento (art. 8, Lei 5.868/72). Remembramento das reas minifundirias (art. 21, ET).4.3.3. Propriedade familiar Estatuto da Terra. Art. 4. II - "Propriedade Familiar", o imvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua famlia, lhes absorva toda a fora de trabalho, garantindo-lhes a subsistncia e o progresso social e econmico, com rea mxima fixada para cada regio e tipo de explorao, e eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros;Constituio Federal. Art. 5. XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela famlia, no ser objeto de penhora para pagamento de dbitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento.- A propriedade familiar pressupe os seguintes elementos: Titulao, que o ttulo de domnio em nome de algum dos membros da entidade familiar. Questiona-se a necessidade de ttulo de domnio, uma vez que h outras formas de acesso terra, como a concesso de uso real. Explorao direta e pessoal, pelo titular do domnio e sua famlia. rea ideal para cada tipo de explorao, conforme a regio. Possibilidade de eventual ajuda de terceiros. - Impenhorabilidade: Lei 8.009/90. Art. 4. 2 Quando a residncia familiar constituir-se em imvel rural, a impenhorabilidade restringir-se- sede de moradia, com os respectivos bens mveis, e, nos casos do art. 5, inciso XXVI, da Constituio, rea limitada como pequena propriedade rural.Aplicao jurisprudencialDiscutia-se, assim, qual extenso deveria ser considerada impenhorvel, se a de um mdulo rural ou fiscal, ou da frao mnima de parcelamento (art. 65, Estatuto da Terra; art. 8, Lei n 5.868/72). A jurisprudncia tendeu considerao pela aplicao do mdulo fiscal. Confira-se STJ: RESP 149363/PR, Resp 66672/RS. J o STF, quando abordou a matria, eminentemente infraconstitucional, posicionou-se ora pela aplicao do conceito de mdulo rural do Estatuto da Terra (v. RE 136.753/RS), ora ponderando aplicao direta do art. 4, II, da Lei n 8.629/93 (v. AI 220.115/PR). Com a Lei n 8.629/93 a controvrsia passou-se a estabelecer sobre a impenhorabilidade abranger a extenso de 1 a 4 mdulos fiscais ou restringir-se a um s mdulo.- Tem prevalecido o entendimento de que a impenhorabilidade restringe-se a um s mdulo fiscal. 4.3.4. Pequena propriedadeLei. 8.629/93. Art. 4. Para os efeitos desta lei, conceituam-se:II - Pequena Propriedade - o imvel rural:a) de rea compreendida entre 1 (um) e 4 (quatro) mdulos fiscais.CF. Art. 5. XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela famlia, no ser objeto de penhora para pagamento de dbitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento.- No exige o componente do trabalho direto do conjunto familiar. ATENO! Gustavo Rezek sustenta que o tratamento dado pela Constituio pequena propriedade e propriedade familiar no art. 5, XXVI, teria criado uma relao de gnero e espcie dos dois conceitos. Dessa forma, a propriedade familiar teria o intervalo dimensional idntico ao da pequena propriedade: 1 a 4 mdulos fiscais.4.3.5. Mdia propriedadeLei 8.629/93. Art. 4 Para os efeitos desta lei, conceituam-se:III - Mdia Propriedade - o imvel rural:a) de rea superior a 4 (quatro) e at 15 (quinze) mdulos fiscais.4.3.6. LatifndioArt. 4 Para os efeitos desta Lei, definem-se:V - "Latifndio", o imvel rural que:a) exceda a dimenso mxima fixada na forma do artigo 46, 1, alnea b, desta Lei, tendo-se em vista as condies ecolgicas, sistemas agrcolas regionais e o fim a que se destine;- Latifndio por extenso: trata-se do imvel com dimenso 600 vezes maior que a mdulo mdio da propriedade rural ou da rea mdia dos imveis rurais, na respectiva zona (art. 46, 1, b, do Estatuto da Terra). No ser considerado latifndio o imvel rural com rea superior ao mdulo fiscal, desde que no exceda 600 vezes a ele, utilizado com adequados e racionais critrios econmicos. b) no excedendo o limite referido na alnea anterior, e tendo rea igual ou superior dimenso do mdulo de propriedade rural, seja mantido inexplorado em relao s possibilidades fsicas, econmicas e sociais do meio, com fins especulativos, ou seja deficiente ou inadequadamente explorado, de modo a vedar-lhe a incluso no conceito de empresa rural;- Latifndio por explorao: imvel de dimenso maior que o mdulo rural que tenha explorao deficitria. No definido a partir de um dimensionamento, mas sim do seu aproveitamento.- As duas formas de latifndio so indesejadas pelo Direito Agrrio- No ser considerado latifndio: O imvel que satisfizer aos requisitos de empresa rural; O imvel classificado como propriedade familiar, pequena propriedade e mdia propriedade; O imvel rural, qualquer que seja sua rea, cujas caractersticas recomendem, sob o ponto de vista tcnico e econmico, a explorao florestal racional, mediante adequado planejamento; O imvel que tenha como objeto a preservao florestal ou de outros recursos naturais, consoante aferio pelo INCRA.- Para combater os latifndios, podem ser utilizados dois instrumentos eficazes: a desapropriao e a tributao progressiva. 4.3.7. Empresa ruralDecreto 84.685/80. Art. 22. III - Empresa Rural, o empreendimento de pessoa fsica ou jurdica, pblica ou privada, que explore econmica e racionalmente imvel rural, dentro das condies de cumprimento da funo social da terra e atendidos, simultaneamente, os requisitos seguintes: a) tenha grau de utilizao da terra igual ou superior a 80% (oitenta por cento), calculado na forma da alnea a do art. 8;b) tenha grau de eficincia na explorao, calculado na forma do art. 10, igual ou superior a 100% (cem por cento);c) cumpra integralmente a legislao que rege as relaes de trabalho e os contratos de uso temporrio da terra.- Os requisitos para caracterizao da Empresa Rural englobam os da propriedade produtiva.- Tem por finalidade o lucro e sua natureza civil, no empresarial.- O rgo de registro competente o INCRA e no a junta comercial. Todavia, tratando-se de pessoa jurdica, alm do registro no INCRA, necessrio o arquivamento dos atos constitutivos no Cartrio de Registro de Pessoas Jurdicas, com o fito de ganhar personalidade jurdical.- A doutrina tambm aponta, como requisitos da empresa rural, o emprego de tecnologia e condies mnimas de administrao.4.3.8. A propriedade produtiva - aquela que atende ao critrio econmico da funo social da terra, atingindo, a um s tempo, os ndices de utilizao e de eficincia em sua explorao, fixados pelo INCRA.Lei 8.629/93. Art. 6. Considera-se propriedade produtiva aquela que, explorada econmica e racionalmente, atinge, simultaneamente, graus de utilizao da terra e de eficincia na explorao, segundo ndices fixados pelo rgo federal competente. 1 O grau de utilizao da terra, para efeito do caput deste artigo, dever ser igual ou superior a 80% (oitenta por cento), calculado pela relao percentual entre a rea efetivamente utilizada e a rea aproveitvel total do imvel. 2 O grau de eficincia na explorao da terra dever ser igual ou superior a 100% (cem por cento), e ser obtido de acordo com a seguinte sistemtica:- Exigem-se os mesmos requisitos para a configurao da empresa rural, o que levou parte da doutrina a confundir empresa rural com propriedade produtiva. Parte da doutrina, no entanto, defende que a propriedade produtiva, como foi definida na Lei n 8.629, somente exigia para sua configurao o componente econmico, abstraindo-se inteiramente os componentes social e ecolgico. - Grau de Utilizao da terra (GUT): rea efetivamente utilizada rea til x 100Lei 8.629/03. Art. 6, 3. Considera-se efetivamente utilizadas:I - as reas plantadas com produtos vegetais;II - as reas de pastagens nativas e plantadas, observado o ndice de lotao por zona de pecuria, fixado pelo Poder Executivo;III - as reas de explorao extrativa vegetal ou florestal, observados os ndices de rendimento estabelecidos pelo rgo competente do Poder Executivo, para cada Microrregio Homognea, e a legislao ambiental;IV - as reas de explorao de florestas nativas, de acordo com plano de explorao e nas condies estabelecidas pelo rgo federal competente;V-as reas sob processos tcnicos de formao ou recuperao de pastagens ou de culturas permanentes, tecnicamente conduzidas e devidamente comprovadas, mediante documentao e Anotao de Responsabilidade Tcnica O valor obtido deve ser maior do que 80% rea til: a rea que sobra depois de excludas as reas no aproveitveis.- ATENO! Excluem-se desses clculos os aproveitamentos obtidos da explorao indevida de rea ambientalmente protegida. - ATENO! O imvel que, por razes de fora maior, caso fortuito ou ocasio de renovao de pastagens tecnicamente conduzida, deixar de apresentar os graus de eficincia na explorao no ser considerado improdutivo.4.4. Terras devolutas - So aquelas que no esto aplicadas a qualquer uso pblico federal, estadual ou municipal, ou que no estejam incorporadas ao domnio privado.Lei 601/1850. Art. 3 So terras devolutas: 1 As que no se acharem applicadas a algum uso publico nacional, provincial, ou municipal. 2 As que no se acharem no dominio particular por qualquer titulo legitimo, nem forem havidas por sesmarias e outras concesses do Governo Geral ou Provincial, no incursas em commisso por falta do cumprimento das condies de medio, confirmao e cultura. 3 As que no se acharem dadas por sesmarias, ou outras concesses do Governo, que, apezar de incursas em commisso, forem revalidadas por esta Lei. 4 As que no se acharem occupadas por posses, que, apezar de no se fundarem em titulo legal, forem legitimadas por esta Lei.- O principal objetivo da Lei de Terras foi conferir titulao a todos aquelas que no a tinham, mas ocupavam reas de terras. - Titularidade:Art. 20. So bens da Unio:II - as terras devolutas indispensveis defesa das fronteiras, das fortificaes e construes militares, das vias federais de comunicao e preservao ambiental, definidas em lei;Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:IV - as terras devolutas no compreendidas entre as da Unio.- DestinaoArt. 188. A destinao de terras pblicas e devolutas ser compatibilizada com a poltica agrcola e com o plano nacional de reforma agrria.Art. 225. Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras geraes 5 - So indisponveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por aes discriminatrias, necessrias proteo dos ecossistemas naturais.- Natureza: As terras devolutas, em regra, tem a natureza jurdica de bens pblicos dominicais bens submetidos ao regime privado (art. 101, CC) Excepcionalmente, so bens pblicos de uso especial (art. 100, CC)4.5. Discriminao - Instituto criado pela Lei de Terras, tem como finalidade separar as terras devolutas do domnio dos particulares, bem como as terras de diferentes entes da federao.- regulamentada pela lei 6.383/76, que fixa os procedimentos administrativo e judicial (as normas gerais e as normas especficas para a Unio).- Procedimento administrativo: Nomeao de comisso especial, composta por trs membros: 1 bacharel em Direito, 1 engenheiro agrnomo e 1 servidor do rgo competente para o procedimento. Levantamento de informaes sobre o imvel. Abertura de prazo para que as pessoas interessadas (convocadas por edital) possam se manifestar. Realizao de vistoria no imvel pela Comisso Especial e anlise dos documentos apresentados. Demarcao da terra, com a devida discriminao. Designao de agrimensor e possibilidade de indicao de peritos por parte dos interessados. - Ao discriminatria: ter lugar quando:Lei 6.383/76. Art. 8 - Reconhecida a existncia de dvida sobre a legitimidade do ttulo, o presidente da Comisso Especial reduzir a termo as irregularidades encontradas, encaminhando-o Procuradoria do Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria - INCRA, para propositura da ao competente.Art. 19 - O processo discriminatrio judicial ser promovido:I - quando o processo discriminatrio administrativo for dispensado ou interrompido por presumida ineficcia;II - contra aqueles que no atenderem ao edital de convocao ou notificao (artigos 4 e 10 da presente Lei); eIII - quando configurada a hiptese do art. 25 desta Lei. A hiptese trazida pelo art. 19, III, refere-se ao atentado, situao em que h a alterao de divisas, derrubada da cobertura vegetal, construo de cercas e transferncias de benfeitorias, sem assentimento do representante da Unio. Competncia: tanto da Justia Federal, quando da Estadual (no caso das terras devolutas estaduais), a depender das pessoas e/ou interesses envolvidos na ao. Rito: sumrio. Inicial + memorial descritivo. Citao por edital. 60 dias para os interessados manifestarem seu interesse, apresentando documentos e rol de testemunhas. Audincia uma (em tese) de instruo de julgamento. Sentena: homologatria. Serve de ttulo de proprietrio para o registro imobilirio competente. Obs.: o procedimento discriminatrio judicial tem carter preferencial e prejudicial em relao s aes em andamento, que se refiram ao domnio ou posse de imveis situados, no todo ou em parte, na rea discriminada. 4.6. Da posse agrria- A posse , pois, o instrumento da concretizao do dever constitucional de observncia da funo social da propriedade (Fredie Didier Jr.).- Bem se v, destarte, que o princpio da funo social diz respeito mais ao fenmeno possessrio que ao direito de propriedade (Teori Albino Zavascki).- Posse agrria o exerccio direto, contnuo, racional e pacfico, pelo possuidor, de atividade agrria desempenhada sobre um imvel rural, apto ao desfrute econmico, gerando a seu favor um direito de natureza real especial, de variadas consequncias jurdicas e visando ao atendimento de suas necessidades socioeconmicas. (Getlio Targino Lima). Direta: deve ser exercida diretamente pelo prprio interessado, o que, de plano, diferencia da posse civil. CC. Art. 1.205. A posse pode ser adquirida:I - pela prpria pessoa que a pretende ou por seu representanteII - por terceiro sem mandato, dependendo de ratificao. Contnua: no pode sofrer interrupes. Racional: uso que promova um desenvolvimento sustentvel. Pacfica: consolidada, isenta de conflitos atuais. O possuidor deve estar no exerccio de atividades agrrias. A posse deve gerar o progresso e bem-estar econmico e social: cumprimento da funo social.- Diferencia-se da posse civil e da posse urbana em razo de caractersticas e peculiaridades prprias. Constitui um tipo de posse qualificada pelo trabalho e pela habitao. A posse regrada pelo direito civil se legitima apenas ficando merc do possuidor, desde que com isso ele exera a vontade de verdadeiro dono (animus domini). No exige efetividade. Mas, na posse agrria, h necessidade que o possuidor demonstre que: Explora uma atividade tipicamente rural; De forma racional e adequada; Que respeite o meio ambiente e as relaes de trabalho.- Principais efeitos da posse agrria: Aquisio do imvel rural, seja ele pblico ou particular. Indenizao por benfeitorias. Reteno da coisa, caso ela tenha ensejado despesas que devam ser reembolsadas. Defesa possessria, que pode ser exercida conforme todos os meios jurdicos e processuais cabveis.4.7. Legitimao da posse- Remonta primeira lei de terras no Brasil, quando o legislador buscou positivar uma situao de fato (apossamento das terras). Lei de Terras. Art. 5 Sero legitimadas as posses mansas e pacificas, adquiridas por occupao primaria, ou havidas do primeiro occupante, que se acharem cultivadas, ou com principio de cultura, e morada, habitual do respectivo posseiro, ou de quem o represente, guardadas as regras seguintes:- Ato administrativo atravs do qual o Poder Pblico reconhece ao particular sua condio de legitimidade, outorgando o formal domnio pleno. Estatuto da Terra. Art. 99. A transferncia do domnio ao posseiro de terras devolutas federais efetivar-se- no competente processo administrativo de legitimao de posse, cujos atos e termos obedecero s normas do Regulamento da presente Lei.- Doutrina: a obteno do ttulo de domnio por vias judiciais s ser possvel nos casos em que, preenchidos todos os requisitos da Lei 6.383/76, o Poder Pblico negue a deciso. - O instituto da legitimao de posse regulamentado pela lei 6.383/76, que estabelece os seguintes requisitos:Lei 6.383/76. Art. 29 - O ocupante de terras pblicas, que as tenha tornado produtivas com o seu trabalho e o de sua famlia, far jus legitimao da posse de rea contnua at 100 (cem) hectares, desde que preencha os seguintes requisitos:I - no seja proprietrio de imvel rural;II - comprove a morada[footnoteRef:2] permanente e cultura efetiva, pelo prazo mnimo de 1 (um) ano. [2: Portaria 812/91-INCRA.Art. 1. A alienao de terras pblicas federais, ocupadas, destinadas atividade agropecuria, nos termos da Lei n.4.947, de 6 de abril de 1966, fica condicionada ao implemento, pelo respectivo pretendente, dos seguintes requisitos:[...]c) manter residncia no imvelou em local prximo a ele, de modo que possibilite a sua explorao.]

1 - A legitimao da posse de que trata o presente artigo consistir no fornecimento de uma Licena de Ocupao, pelo prazo mnimo de mais 4 (quatro) anos, findo o qual o ocupante ter a preferncia para aquisio do lote, pelo valor histrico da terra nua, satisfeitos os requisitos de morada permanente e cultura efetiva e comprovada a sua capacidade para desenvolver a rea ocupada. 2 - Aos portadores de Licenas de Ocupao, concedidas na forma da legislao anterior, ser assegurada a preferncia para aquisio de rea at 100 (cem) hectares, nas condies do pargrafo anterior, e, o que exceder esse limite, pelo valor atual da terra nua.- Trata-se de procedimento obrigatrio e gratuito (o posseiro paga apenas um valor simblico para aquisio do domnio).- rgo competente para o procedimento: INCRA (no caso de terras federais)- ATENO! O procedimento da legitimao de posse s concedido a pessoas fsicas (portaria 812/91-INCRA). - A licena de ocupao documento intransfervel por ato inter vivos e no pode ser objeto de penhora ou arresto. - A doutrina defende que se o posseiro j tem 5 anos ou mais de posse seria desnecessria a licena de ocupao. O texto legal, no entanto, exige a legitimao da posse como pr-requisito. - Inadimplncia:Art. 30 - A Licena de Ocupao dar acesso aos financiamentos concedidos pelas instituies financeiras integrantes do Sistema Nacional de Crdito Rural. 1 - As obrigaes assumidas pelo detentor de Licena de Ocupao sero garantidas pelo Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria - INCRA. 2 - Ocorrendo inadimplncia do favorecido, o Instituto Nacional de colonizao e Reforma Agrria - INCRA cancelar a Licena de Ocupao e providenciar a alienao do imvel, na forma da lei, a fim de ressarcir-se do que houver assegurado.- A LO ainda poder ser cancelada por necessidade ou utilidade pblica. 4.8. Regularizao da posse- Modo derivado, oneroso e preferencial de aquisio de terras pblicas, mediante procedimento tpico do rgo executivo, em benefcio daqueles que, estando na posse dessas terras na forma da lei, provocam a liberalidade do Poder Pblico de alienar-lhes as terras apossadas, independentemente de concorrncia pblica. - Doutrina majoritria a principal diferena entre a legitimao e a regularizao de posse se d em relao dimenso da terra: se o imvel tiver rea superior a 100ha, quanto ao excedente o procedimento ser de regularizao (sendo os limites mximos entre 2.000 e 3.000ha).- Lucas Abreu Barroso sustenta que quem exerce a posse agrria fora das caractersticas que se apresentam para a legitimao pode ter a preferncia de adquirir o imvel, caso concretize todos os requisitos legais para a regularizao, entendendo, inclusive, que ela pode ser feita por quem seja proprietrio rural ou por quem exera a posse atravs de preposto.- O beneficirio paga o valor da terra nua.- Procedimento eminentemente administrativo, no ensejando judicializao (a menos que preenchidos os requisitos, haja negatria do Estado), uma vez que constitui uma liberalidade do Poder Pblico. What?4.9. Usucapio agrrioCF/1988. Art. 191. Aquele que, no sendo proprietrio de imvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposio, rea de terra, em zona rural, no superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua famlia, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe- a propriedade.Pargrafo nico. Os imveis pblicos no sero adquiridos por usucapio.- O elemento trabalho trabalho direto do posseiro e sua famlia fundamental. Por essa razo, o UER tambm denominado usucapio pro labore.- H certa discusso na doutrina acerca da terminologia utilizada. Alguns chamam de usucapio pro labore, outros usucapio especial e, ainda, usucapio agrrio. Benedito Ferreira Marques argumenta que no seria adequado chamar de usucapio especial porque esse se trataria de gnero, englobando o usucapio especial agrrio e o usucapio especial indgena. - Trata-se de usucapio que, diferentemente do civil, seja ele ordinrio ou extraordinrio, fundamenta-se na posse agrria. Logo, tem ligao direta com a funo social da terra.- Requisitos do UER: Como ocorre com o usucapio extraordinrio, no necessita de justo ttulo ou de boa-f. A posse deve ser ininterrupta por 5 anos, sem oposio; e estabelecer-se com nimo de dono pelo possuidor. O interessado no deve ser proprietrio de imvel rural ou urbano. A rea deve ser situada em zona rural (h controvrsias). rea no superior a 50 hectares. A terra deve ser tornada produtiva atravs do trabalho direto do interessado e sua famlia. O possuidor deve estabelecer sua moradia no imvel. O imvel deve ser privado.- ponto pacfico na doutrina agrarista que, no usucapio agrrio, no se conhece a figura do preposto, nem se admite que a posse do antecessor se some atual. - A posse deve ser direta e pessoal. Quando muito se concebe a successio possessiones em caso de morte do possuidor agrrio, porque, no contexto agrrio, a chamada propriedade familiar constitui um dos seus postulados.- As normas processuais referentes ao UER encontram-se na lei 6.969/81 (esta norma no foi recepcionada pela CF/ 1988 quanto conceituao do UER, mas o rito estabelecido por ela permanece).- Sendo proibido o usucapio de bens pblicos, os dispositivos que tratavam do UER por via administrativa tambm no foram recepcionados.- Procedimento judicial:Lei 6.969/81. Art. 5 - Adotar-se-, na ao de usucapio especial, o procedimento sumarssimo, assegurada a preferncia sua instruo e julgamento.- A Fazenda Pblica da Unio, do Estado e do Municpio e o MP devem ser cientificados:Lei 6.969/81. Art. 5. 3 - Sero cientificados por carta, para que manifestem interesse na causa, os representantes da Fazenda Pblica da Unio, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territrios e dos Municpios, no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias.- Devem constar na inicial: alegao de posse quinquenria, ininterrupta e sem oposio de imvel situado na zona rural, de rea no superior a 50 ha, declarando que o tornou produtivo por meio de seu trabalho, que nele tem sua moradia e que se trata de imvel particular.Lei 6.969/81. Art. 5, 1 - O autor, expondo o fundamento do pedido e individualizando o imvel, com dispensa da juntada da respectiva planta, poder requerer, na petio inicial, designao de audincia preliminar, a fim de justificar a posse, e, se comprovada esta, ser nela mantido, liminarmente, at a deciso final da causa. 2 - O autor requerer tambm a citao pessoal daquele em cujo nome esteja transcrito o imvel usucapiendo, bem como dos confinantes e, por edital, dos rus ausentes, incertos e desconhecidos, na forma doart. 232 do Cdigo de Processo Civil, valendo a citao para todos os atos do processo.- A existncia da ao de UER d a seu autor proteo possessria integralArt. 9 - O juiz de causa, a requerimento do autor da ao de usucapio especial, determinar que a autoridade policial garanta a permanncia no imvel e a integridade fsica de seus ocupantes, sempre que necessrio.- O UER pode ser invocado como matria de defesaArt. 7 - A usucapio especial poder ser invocada como matria de defesa, valendo a sentena que a reconhecer como ttulo para transcrio no Registro de Imveis.- SMULA 237/STF. O usucapio pode ser arguido em defesa.

http://jus.com.br/artigos/19467/a-protecao-possessoria-do-imovel-rural-e-a-posse-agraria