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exploração sexual de crianças e adolescentes, ora para promover sua visão quanto à prostituição. Neste contexto geral, agências nacionais e internacionais e, principalmente, a mídia visaram instaurar um verdadeiro “pânico moral”, buscando reprimir o direito ao trabalho sexual durante o período. Violações de direitos ocorreram por obra da confusão entre trabalho sexual, tráfico de pessoas e o suposto “aumento” de ambos durante os grandes eventos esportivos. Objetivo: Dando resposta ao que chamamos de “pânico moral” que envolvia a cidade do Rio de Janeiro às vésperas da realização do Mundial, o presente trabalho pretende mostrar o que realmente aconteceu nas principais zonas de prostituição do RJ durante a Copa do Mundo, respondendo as falácias impostas pelos meios de comunicação e averiguando denúncias de violações aos direitos dos/das profissionais dos sexo. Metodologia: O procedimento metodológico se fundamentou em observação em campo, entrevistas qualitativas e quantitativas; foram monitorados 83 pontos de prostituição pelo Centro , Lapa, Vila Mimosa, Copacabana, Ipanema e Leblon. quanto por parte das ações policiais e de organizações governamentais e não- governamentais que vinham atuando nestas áreas ora para coibir a Expectativa Pré-Mundial Muito se especulava como seria durante a Copa do Mundo, tanto nas áreas de prostituição, onde era esperado lucros exorbitantes, tendo em vista o grande número de turistas (nativos e, principalmente, estrangeiros) que participariam deste megaevento, Resultados Dos pontos monitorados, apenas 17 apresentaram aumento de atividade e estes estão na Zona Sul da cidade; em 6, o fluxo foi normal; mas nos outros 60 pontos, estes concentrados no Centro, a clientela diminuiu significativamente graças ao grande número de feriados e pontos facultativos. Assim, ao contrário das previsões alarmantes, a Copa do Mundo foi ruim para o comércio de prostituição do Rio de Janeiro. Durante o Mundial houve uma “migração” para Copacabana, onde estavam os turistas “sexuais” tão divulgados e difamados pela mídia e pelo Governo Federal. Observamos também uma tímida “nova geração” de trabalhadoras do sexo trazidas pela propaganda em torno do “turismo sexual” para o Megaevento. O fluxo de clientes em Copacabana não foi proporcional à concentração (e não “aumento”) de prostitutas. Ou seja, nessa Copa o jogo não foi limpo e os direitos da população foram suspendidos para que a cidade vivesse durante um mês “entre parênteses”. Violações de Direitos Durante a Copa do Mundo, algumas violações de direitos foram mapeadas, entre elas o fechamento do Balcony Bar e Hotel Lido, em frente ao Fifa Fan Fest, em Copacabana, o que proporcionou grande vulnerabilidade à violência e roubos, segundo algumas prostitutas entrevistadas. O caso mais emblemático de violação dos direitos ocorreu no município de Niterói, pouco antes do começo da Copa, quando prostitutas e clientes foram retirados à força de apartamentos em Cidadania e Direitos Humanos A prostituição no Brasil, sobretudo a partir do final dos anos 1970, foi marcada por lutas pela consolidação dos direitos humanos. Nessa trajetória, mobilizações começaram a surgir em busca de uma afirmação social, historicamente desrespeitada. Esta luta política na busca por direitos começou apresentar suas primeiras conquistas, atendendo suas reivindicações por meio de políticas públicas, primeiramente no campo da saúde. Na busca pelo reconhecimento de suas reivindicações essa categoria profissional se articula de diversas maneiras na atualidade para dar voz às suas demandas, em meio a processos de renovação urbana e tentativas de criminalização da atividade. Atualmente o Código Penal Brasileiro não criminaliza a prostituta, mas todo seu entorno, percebido pela lei como “favorecimento” e não como “garantia” para o exercício seguro da atividade. Mesmo com as barreiras legislativas, o MTE, desde 2002, reconhece a atividade como ocupação regular, compondo a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). Apoio: IPPUR Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional Autores: Orientador: Aline Valentim, Amanda Neder, Dayane Gomes, Lucas Dias e Riane de Sá Martins Profª: Soraya Silveira Simões PR-3 Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento Direito ao Trabalho e Inclusão Social da Prostituição: Luta por Cidadania e Justiça durante a Copa do Mundo OBSERVATÓRIO DA PROSTITUIÇÃO LeMetro/IFCS-UFRJ um prédio no Centro e, alguns, levados, sem mandado de prisão, para o cárcere, em Bangu. Em nenhum momento foi indicado o crime cometido e mais de 500 mulheres perderam pertences e ficaram sem local de trabalho e sem assistência alguma por parte do Estado, contra o qual tentaram encaminhar denúncia através de audiência pública na ALERJ, em junho deste ano. Bibliografia: QUAL É O PREÇO DE UM BOATO? Um guia para classificar os mitos e os fatos sobre a relação entre eventos esportivos e tráfico de pessoas – GAATW, 2011. “PROSTITUIÇÃO NÃO É CRIME E TURISMO SEXUAL É LEGAL”, In: Dossiê do Comitê Popular da Copa, 2014.

Direito ao Trabalho e Inclusão Social da Prostituição ...lemetro.ifcs.ufrj.br/semana_pur.pdf · A prostituição no Brasil, sobretudo a partir do final dos anos 1970, foi marcada

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Page 1: Direito ao Trabalho e Inclusão Social da Prostituição ...lemetro.ifcs.ufrj.br/semana_pur.pdf · A prostituição no Brasil, sobretudo a partir do final dos anos 1970, foi marcada

exploração sexual de crianças e adolescentes, ora parapromover sua visão quanto à prostituição. Nestecontexto geral, agências nacionais e internacionais e,principalmente, a mídia visaram instaurar umverdadeiro “pânico moral”, buscando reprimir o direitoao trabalho sexual durante o período. Violações dedireitos ocorreram por obra da confusão entretrabalho sexual, tráfico de pessoas e o suposto“aumento” de ambos durante os grandes eventosesportivos.

Objetivo: Dando resposta ao que chamamos de

“pânico moral” que envolvia a cidade do Rio de Janeiroàs vésperas da realização do Mundial, o presentetrabalho pretende mostrar o que realmente aconteceunas principais zonas de prostituição do RJ durante aCopa do Mundo, respondendo as falácias impostaspelos meios de comunicação e averiguando denúnciasde violações aos direitos dos/das profissionais dossexo.

Metodologia: O procedimento metodológico se

fundamentou em observação em campo, entrevistasqualitativas e quantitativas; foram monitorados 83pontos de prostituição pelo Centro , Lapa, VilaMimosa, Copacabana, Ipanema e Leblon.

quanto por parte dasações policiais e deorganizaçõesgovernamentais e não-governamentais quevinham atuando nestasáreas ora para coibir a

Expectativa Pré-MundialMuito se especulava como seria durante a Copa doMundo, tanto nas áreas de prostituição, onde eraesperado lucros exorbitantes, tendo em vista o grandenúmero de turistas (nativos e, principalmente,estrangeiros) que participariam deste megaevento,

ResultadosDos pontos monitorados, apenas 17 apresentaramaumento de atividade e estes estão na Zona Sul dacidade; em 6, o fluxo foi normal; mas nos outros 60pontos, estes concentrados no Centro, a clienteladiminuiu significativamente graças ao grande númerode feriados e pontos facultativos. Assim, ao contráriodas previsões alarmantes, a Copa do Mundo foi ruimpara o comércio de prostituição do Rio de Janeiro.Durante o Mundial houve uma “migração” paraCopacabana, onde estavam os turistas “sexuais” tãodivulgados e difamados pela mídia e pelo GovernoFederal. Observamos também uma tímida “novageração” de trabalhadoras do sexo trazidas pelapropaganda em torno do “turismo sexual” para oMegaevento. O fluxo de clientes em Copacabana nãofoi proporcional à concentração (e não “aumento”) deprostitutas. Ou seja, nessa Copa o jogo não foi limpo eos direitos da população foram suspendidos para quea cidade vivesse durante um mês “entre parênteses”.

Violações de Direitos

Durante a Copa do Mundo, algumas violações dedireitos foram mapeadas, entre elas o fechamento doBalcony Bar e Hotel Lido, em frente ao Fifa Fan Fest,em Copacabana, o que proporcionou grandevulnerabilidade à violência e roubos, segundo algumasprostitutas entrevistadas. O caso mais emblemático deviolação dos direitos ocorreu no município de Niterói,pouco antes do começo da Copa, quando prostitutas eclientes foram retirados à força de apartamentos em

Cidadania e Direitos Humanos

A prostituição no Brasil, sobretudo a partir do final dosanos 1970, foi marcada por lutas pela consolidaçãodos direitos humanos. Nessa trajetória, mobilizaçõescomeçaram a surgir em busca de uma afirmaçãosocial, historicamente desrespeitada. Esta luta políticana busca por direitos começou apresentar suasprimeiras conquistas, atendendo suas reivindicaçõespor meio de políticas públicas, primeiramente nocampo da saúde. Na busca pelo reconhecimento desuas reivindicações essa categoria profissional searticula de diversas maneiras na atualidade para darvoz às suas demandas, em meio a processos derenovação urbana e tentativas de criminalização daatividade. Atualmente o Código Penal Brasileiro nãocriminaliza a prostituta, mas todo seu entorno,percebido pela lei como “favorecimento” e não como“garantia” para o exercício seguro da atividade.Mesmo com as barreiras legislativas, o MTE, desde2002, reconhece a atividade como ocupação regular,compondo a Classificação Brasileira de Ocupações(CBO).

Apoio:

IPPURInstituto de Pesquisae Planejamento Urbano e Regional

Autores:

Orientador:

Aline Valentim, Amanda Neder, Dayane Gomes, Lucas Dias e Riane de Sá Martins

Profª: Soraya Silveira Simões

PR-3Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento

Direito ao Trabalho e Inclusão Social da Prostituição: Luta por Cidadania e Justiça durante a Copa do Mundo

OBSERVATÓRIO DA PROSTITUIÇÃO

LeMetro/IFCS-UFRJ

um prédio no Centro e, alguns, levados, sem mandadode prisão, para o cárcere, em Bangu. Em nenhummomento foi indicado o crime cometido e mais de 500mulheres perderam pertences e ficaram sem local detrabalho e sem assistência alguma por parte doEstado, contra o qual tentaram encaminhar denúnciaatravés de audiência pública na ALERJ, em junho desteano.

Bibliografia:QUAL É O PREÇO DE UM BOATO? Um guia para classificar os mitos e os fatos sobre a relação entre eventos esportivos e tráfico de pessoas –GAATW, 2011.“PROSTITUIÇÃO NÃO É CRIME E TURISMO SEXUAL É LEGAL”, In: Dossiê do Comitê Popular da Copa, 2014.