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ESMEG Direito Constitucional ESCOLA SUPERIOR DA MAGISTRATURA DO ESTADO DE GOIÁS ESMEG DIREITO CONSTITUCIONAL Parte 6 PROF. TIAGO BENTES 2011 1

DIREITO CONSTITUCIONAL Parte 6 - esmeg.org.br · ao do término do mandato presidencial vigente. (art. 77, caput). O disposto no art. 77, §4º, CF3, visa evitar conchavos entre os

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ESMEG Direito Constitucional

ESCOLA SUPERIOR DA MAGISTRATURA DO ESTADO DE GOIÁS

ESMEG

DIREITO CONSTITUCIONALParte 6

PROF. TIAGO BENTES2011

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ESMEG Direito Constitucional

ÍNDICE

CAPÍTULO X – ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

X. 1. AS FUNÇÕES DO ESTADO:....................................................................................4X. 1. 1. Teoria dos Freios e Contrapesos:.........................................................................5X. 1. 2. Funções dos Poderes:...........................................................................................6

X. 2. PODER EXECUTIVO:............................................................................................... 7X. 2. 1. Sistema de Governo:.............................................................................................7 X. 2. 2. Presidente e Vice-Presidente da República:.................................................7 X. 2. 3. Mandato:..............................................................................................................8X. 2. 4. Sucessão e Substituição Presidencial:................................................................8X. 2. 5. Subsídios:..................................................................................................................9X. 2. 6. Perda de Mandato:...............................................................................................9X. 2. 7. Atribuições:............................................................................................................10X. 2. 8. Responsabilidade:...............................................................................................11X. 2. 8. 1. Política:..............................................................................................................11X. 2. 8. 2. Criminal (ou Penal):.........................................................................................12X. 2. 9. Prerrogativas e Imunidades:..............................................................................13X. 2. 10. Ministros de Estado:...........................................................................................15

X. 3. PODER JUDICIÁRIO:............................................................................................ 16X. 3. 1. Do Ingresso à Magistratura:...............................................................................16X. 3. 2. Garantias da Magistratura:................................................................................17X. 3. 3. Vedações Impostas aos Juízes:.........................................................................18X. 3. 4. Autonomia Administrativa e Financeira (Autogoverno):.............................18X. 3. 5. O Conselho Nacional de Justiça:.....................................................................19

X. 4. PODER LEGISLATIVO:..........................................................................................23X. 4. 1. Órgãos do Poder Legislativo:.............................................................................23X. 4. 2. O Congresso Nacional:.......................................................................................23X. 4. 3. Autonomia:...........................................................................................................24 X. 4. 3. 1. Prerrogativas:.................................................................................................24 X. 4. 3. 2. Direitos:...........................................................................................................26 X. 4. 3. 3. Incompatibilidades:.....................................................................................26X. 4. 4. Hipóteses de Perda de Mandato:....................................................................27X. 4. 5. Organização Interna:..........................................................................................27 X. 4. 5. 1. A Mesa Diretora:...........................................................................................27 X. 4. 5. 2. As Comissões Parlamentares:.....................................................................28

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CAPÍTULO X

ORGANIZAÇÃO DOS PODERES

X. 1. AS FUNÇÕES DO ESTADO:

Desde a antiguidade, através das ideias de Aristóteles, já se havia identificado três atividades exercidas pelo Estado como meio para se alcançar a felicidade humana: a função administrativa, a função legislativa e a função judicial.

Em tempos mais recentes, deve-se ao filósofo inglês John Locke a teoria original da separação dos Poderes do Estado, por meio da célebre obra Two Treatises of Government, de 1.690, quando se sustentou os princípios de liberdade política da revolução inglesa de 1688 e impugnou o absolutismo real.

Inspirado em Locke, o escritor e filósofo francês Montesquieu defendeu a ideia de poder limitado, em sua não menos célebre obra L'Esprit des Lois (O Espírito das Leis), quando se admitiu que o homem investido no poder tende naturalmente a dele abusar até que encontre limites e que o poder só pode ser limitado pelo próprio poder (te pouvoir arrête le pouvoir). Assim, sustentou a necessidade de um outro poder capaz de limitar o próprio poder.

Segundo o referido filósofo, no Estado existem três poderes, quais sejam, o poder legislativo, o poder executivo e o poder judicial, incumbidos do desempenho de funções distintas, respectivamente: a função de legislar, a função de administrar e a função de julgar. Atentou ele para o fato de que, para que exista liberdade política num Estado, é imperioso que esses três poderes não estejam reunidos na mão de um único órgão. É necessário, pois, que eles se repartam por entre órgãos distintos, de sorte que possa cada um deles, sem usurpar as funções do outro, impedir que os demais abusem de suas funções.

Montesquieu, portanto, preconizou fundamentalmente, para além de uma divisão de funções, a ideia de uma recíproca limitação dos poderes, o que somente seria possível num ambiente em que os poderes distintos fossem exercidos por órgãos também distintos.

Seu pensamento muito influenciou na elaboração da Constituição norteamericana de 17 de setembro de 1787.

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Foi, contudo, com a Revolução Francesa que a doutrina da separação dos poderes tornou-se, definitivamente, um dogma universal. Como consequência disso, o art. 16 da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 dispôs que "Toda sociedade na qual não esteja assegurada a garantia dos direitos nem determinada a separação dos poderes, não tem constituição".

A Constituição Federal de 1988, seguindo a diretriz política das Constituições que lhe precederam, consagrou o princípio da separação dos Poderes (art. 2º) como um aspecto fundamental e estruturante do Estado brasileiro, a ponto de torna-lo imutável (cláusula pétrea) em face da competência constitucional reformadora (CF, art. 60, §4º, III).

X. 1. 1. Teoria dos Freios e Contrapesos:

A ideia fundamental da doutrina da separação dos poderes é a contenção do poder. Daí, fácil perceber-se que o princípio da separação dos poderes é, senão de todas, uma das principais garantias das liberdades públicas, sem a qual, o exercício ilimitado do poder desborda para práticas iníquas e arbitrárias, pondo em risco as liberdades. Ao revés, poder limitado é liberdade garantida.

Atualmente, entre nós, a separação dos poderes se assenta na independência e na harmonia entre os órgãos do Poder político. Isso significa que, não obstante a independência orgânica, no sentido de não haver entre eles qualquersubordinação ou dependência no que tange ao exercício de suas funções, a Constituição Federal instituiu um mecanismo de controle mútuo que permite “interferências, que visam ao estabelecimento de um sistema de freios e contrapesos, à busca do equilíbrio necessário à realização do bem da coletividade e indispensável para evitar o arbítrio e o desmando de um em detrimento do outro e especialmente dos governados”1.

Esse sistema de interferências recíprocas nada mais é do que o Sistema de Freios e Contrapesos, oriundo da expressão americana “checks and balances”.

No Brasil, esse sistema de controle mútuo é revelado, exemplificativamente, pelo poder que têm os órgãos do Judiciário de declarar a inconstitucionalidade das leis e atos normativos do poder público, quando estes e aquelas ofenderem o texto magno; o poder que têm as chefias do Executivo de vetarprojetos de leis aprovados pelo Legislativo, quando estes forem inconstitucionais ou contrários ao interesse público e, de um modo geral, de participarem do processo legislativo, seja pela iniciativa legislativa que têm, seja pela prerrogativa de solicitar urgência na tramitação de projetos de leis de suas iniciativas.

1 José Afonso da Silva. “Direito Constitucional Positivo”. p. 97.

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X. 1. 2. Funções dos Poderes:

O fato de termos três poderes distintos não quer dizer que cada um deles exerçam apenas uma das três funções do Estado (administrar, legislar e julgar). Em verdade, cada um dos poderes desempenha todas as três funções, sendo uma delas com preponderância (função típica) e as demais de forma excepcional (funções atípicas).

Com efeito, temos a seguinte distribuição das funções entre os Poderes:

Poder legislativo: a) Funções Típicas: legislar e fiscalizar. Cabe constitucionalmente ao poder legislativo criar, discutir e aprovar leis (art. 59 da CF/88); b) Funções Atípicas: administrar e julgar. O legislativo excepcionalmente administra, quando, por exemplo, nomeia e exonera servidores de seu quadro administrativo, ou, ainda, desempenha o papel de julgar o Presidente da República nos crimes de responsabilidade (art. 52, II, da CF/88).

Poder Executivo: a) Função Típica: administrar. É função primordial do poder executivo administrar o patrimônio público, ao cumprir os ditames da lei; b) Funções Atípicas: legislar e julgar. O chefe do poder executivo atua excepcionalmente como legislador, quando, por exemplo, edita uma Medida Provisória, uma Lei Delegada ou quando pratica o veto ou a sanção do projeto de lei. De outro lado, o Executivo também julga nos casos em que se tem, por exemplo, o trâmite de processo administrativo (disciplinar) para averiguar infração de servidor público. Note-se que neste caso o julgamento não produz coisa julgada, como ocorre nas decisões do Poder Judiciário.

Poder Judiciário: a) Função Típica: julgar (exercício da jurisdição). A Constituição Federal conferiu uma atuação una ao poder judiciário, apesar de estruturá-lo em vários órgãos (art. 92 da CF/88); b) Funções Atípicas: administrar e legislar. Semelhantemente, como ocorre com o legislativo, o Judiciário, excepcionalmente administra, quando, por exemplo, nomeia e exonera servidores de seu quadro administrativo, ou, ainda, quando deflagra um procedimento licitatório. De outra banda, desenvolve atividade legislativa, quando elabora seu regimento interno ou quando apresenta projeto de lei de sua iniciativa reservada.

A seguir, estudaremos cada um dos poderes separadamente.

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X. 2. PODER EXECUTIVO:

X. 2. 1. Sistema de Governo:

Conforme já estudado em capítulos anteriores, a Constituição Federal, por meio do art. 76, adota o sistema de governo presidencialista, ou seja, o Poder Executivo é monocrático, caracterizado pelo acúmulo de funções de Chefia de Estado e de Governo na pessoa do Presidente da República, o qual não depende da confiança do Parlamento para ser investido e para permanecer no cargo (ao contrário do sistema de governo parlamentarista), bastando, para isso, a eleição.

X. 2. 2. Presidente e Vice-Presidente da República:

Nos termos do art. 76, CF, o Poder Executivo "é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado", sendo que a sua eleição importará a do Vice-Presidente com ele registrado (chapa única: art. 77, §1º), pelo sistema majoritário, devendo ser realizado um segundo turno de votação, caso o candidato mais votado não tenha obtido a maioria absoluta de votos (princípio da maioria absoluta), para isso não se computando os votos nulos e em branco (art. 77, §§ 2° e 3°)2. O Presidente da República é eleito para um mandato de quatro anos (art. 82), permitida a reeleição para um único período subsequente (art. 14, § 5°).

A eleição do Presidente e do Vice-Presidente da República realizar-se-á, simultaneamente, no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato presidencial vigente. (art. 77, caput).

O disposto no art. 77, §4º, CF3, visa evitar conchavos entre os dois candidatos mais votados que foram para o segundo turno; caso não houvesse tal disposição constitucional, se um concordasse em desistir, o outro seria considerado automaticamente eleito, mesmo sem satisfazer o princípio da maioria absoluta. Porém, essa situação não está completamente evitada, uma vez que se todos os demais desistirem a CF não aponta solução. Neste caso, ao observarmos o princípio da maioria absoluta, afigurar-se-ia plausível admitir a anulação da eleição, que resultara fraudada, marcando-se outra dentro de 2 “Art. 77. (...) §2º - Será considerado eleito Presidente o candidato que, registrado por partido político,

obtiver a maioria absoluta de votos, não computados os em branco e os nulos. § 3º - Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta na primeira votação, far-se-á nova eleição em até vinte dias após a proclamação do resultado, concorrendo os dois candidatos mais votados e considerando-se eleito aquele que obtiver a maioria dos votos válidos.”

3 “Art. 77. (...) §4º - Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer morte, desistência ou impedimento legal de candidato, convocar-se-á, dentre os remanescentes, o de maior votação.”

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vinte dias para realizar outro primeiro turno, passando-se ao segundo, se necessário, dando utilidade ao disposto no art. 77, §3º, que ao ver de alguns doutrinadores foi esquecido quando da nova redação dada pela EC nº 16/97.

A Constituição Federal estabelece os requisitos mínimos que devem ser preenchidos para que uma pessoa possa concorrer à presidência e vice-presidência da República: a) ser brasileiro nato; b) ser alistado eleitoralmente e estar em pleno gozo de seus direitos políticos; c) ter filiação partidária; e d) contar com no mínimo trinta e cinco anos de idade.

X. 2. 3. Mandato:

A posse para o mandato de quatro anos deverá ocorrer no dia 1º de janeiro do ano seguinte ao da eleição (art. 82), diante do Congresso Nacional, em sessão conjunta, que estará em recesso, ensejando, portanto, uma convocação legislativa extraordinária.

Contudo, poderá haver uma exceção quanto ao dia da posse e consequentemente à necessidade dessa convocação extraordinária, como nas hipóteses do art. 81, caput e §1º, CF4. Diante do Congresso Nacional deverão prestar o compromisso previsto no art. 78.

Há ainda possibilidade de reeleição para um único período subsequente (art. 14, §5º e EC nº. 16).

Se, decorridos dez dias da data fixada para a posse, o Presidente ou o Vice-Presidente, salvo motivo de força maior, não tiver assumido o cargo, este será declarado vago (art. 78, parágrafo único). Em caso de vacância do Presidente da República, permite-se a investidura definitiva do Vice no cargo de Presidente. Em caso de vacância dos dois, far-se-á eleição em até noventa dias depois de aberta a última vaga (art. 81, caput).

X. 2. 4. Sucessão e Substituição Presidencial:

Em razão de impedimento, será o caso de substituição; e de vacância, o caso de sucessão.

Entende-se por impedimento: circunstância ocasional, transitória, que gera um afastamento temporário da Presidência como a licença, doença e férias.4 “Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, far-se-á eleição noventa

dias depois de aberta a última vaga. §1º - Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei.”

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Entende-se por vacância: circunstância definitiva, permanente, que desvincula o Presidente de seu cargo (são os casos do item X. 2. 6., a seguir estudados).

Em qualquer das duas impossibilidades, serão chamados sucessivamente ao exercício da Presidência da República: 1) o Vice-Presidente da República; 2) o Presidente da Câmara dos Deputados; 3) o Presidente do Senado Federal; e 4) o Presidente do Supremo Tribunal Federal (arts. 79 e 80); sendo que nos três últimos casos, a ocupação do cargo será sempre provisória, por não guardarem representatividade para a sua ocupação, devendo ser realizada eleição direta (art. 81) ou indireta (art. 81, §1º - única exceção ao voto direto para eleição da Presidência da República), e cumprirão o restante do mandato (o conhecido “mandato tampão”) (art. 81, §2º).

Observar que, por estarem sujeitos a assumir a chefia do Executivo, aqueles deverão preencher os mesmos requisitos exigidos ao Presidente da República (nacionalidade brasileira originária, idade, etc.).

Em qualquer caso, os substitutos exercerão em sua integralidade todas as atribuições próprias do Presidente da República.

X. 2. 5. Subsídios:

A fixação dos subsídios do Presidente e do Vice-Presidente da República é de competência exclusiva do Congresso Nacional (art. 49, VIII), podendo ser revisto anualmente, já que a vigência compreende todo exercício financeiro que vai de 1º de janeiro a 31 de dezembro. Esses subsídios estão sujeitos ao imposto de renda e proventos de qualquer natureza.

X. 2. 6. Perda de Mandato:

Perda difere de fim do mandato, pois este resulta da conclusão temporal e aquele da extinção prematura em razão de fato ocorrido antes do fim do mandato.

A perda ocorrerá sob duas formas: por cassação e por extinção:

A primeira se verificará: a) por crime de responsabilidade, de competência do Senado Federal; b) por crime comum, como efeito da condenação, de competência do Supremo Tribunal Federal.

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Já a segunda ocorrerá: a) nos casos de morte; b) por renúncia; ou c) por abandono: nos casos de ausência do país por mais de 15 dias sem licença do Congresso Nacional (art. 83), e de não comparecimento para posse no prazo constitucional (art. 78, par. único). Neste último caso (abandono), a perda será de cunho meramente declaratório, retroagindo à data limite (16º ou 11º dia subsequente à causa, conforme o caso); d) perda ou suspensão dos direitos políticos; e) perda da nacionalidade brasileira (por naturalização em outro país).

X. 2. 7. Atribuições:

X. 2. 7. 1. Do Presidente da República:

Estão previstas no art. 84, CF, cujo rol, entretanto, não é exaustivo (inc. XXVII). Dentre as várias classificações, é possível enquadrar as atribuições de acordo com três funções básicas:

a) Chefia de Estado: incisos VII, VIII (conjugado com o art. 49, I), XVIII, segunda parte (convocar e presidir o Conselho de Defesa Nacional), XIV (apenas no que se refere à nomeação de ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, por ser função de magistratura suprema), XV (nomeação sujeita ao controle do Senado, por isso nem ato de chefia de Governo, nem ato da chefia da Administração), XVI (primeira parte, ou: nomeação de magistrados do TRF, TRT, TRE; assim classificado porque são órgãos de outro Poder), XIX (conjugado com o art. 49, II), XX (conjugado com o art. 49, II), XXI e XXII (conjugado com os arts. 21, IV, e 49, II);

b) Chefia de Governo: incisos I, III, IV5,V, IX, X, XI, XII (conjugado com o art. 84, § único, portanto, delegável), XIII, XIV (exceto quanto à nomeação dos Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores; e a expressão “quando determinado em lei" só se refere aos "outros servidores"), XVII, XVIII (primeira parte: convocar e presidir o Conselho da República), XXIII, XXIV e XXVII;

c) Chefia da Administração Federal: incisos II, VI (conjugado com o art. 84, § único, portanto, delegável), XVI (segunda parte: nomeação do Advogado-Geral da União, que é um órgão do Poder Executivo), XXIV (também, em certo sentido, um ato da Administração) e XXV (sendo a primeira parte delegável: prover cargos públicos federais; e a segunda parte indelegável: extinguir cargos públicos federais - conjugado com o art. 84, § único). 5 Lembre-se que os Decretos se resumem a regulamentar a Lei, não podendo conter inovações.

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Cumpre alertar que parcela da doutrina tem entendido que o decreto a que se refere o art. 84, inciso VI, CF (alterado pela EC nº 32), é um “decreto autônomo”, agindo, portanto como se lei fosse. Neste caso, excepcionalmente, estaríamos diante de uma norma infraconstitucional secundária agindo como uma primária, sendo suscetível, pois, ao controle abstrato de constitucionalidade.

X. 2. 7. 2. Do Vice-Presidente da República:

É possível classificar suas atribuições em duas espécies:

a) Funções Próprias: expressas na lei constitucional (arts. 79, 80, 89, I, e 91, I) ou em lei complementar (art. 91, § único);

b) Funções Impróprias: é o caso das missões especiais previstas no art. 79, CF.

X. 2. 8. Responsabilidade:

A responsabilização do Presidente ou do Vice-Presidente da República pode ser de duas ordens: uma política e outra criminal (ou penal). Vejamo-as separadamente.

X. 2. 8. 1. Política:

No sistema parlamentarista, a responsabilidade do governo (Conselho de ministros) se apura perante o Parlamento, mediante mecanismos específicos, como um voto de desconfiança ou a moção de censura que obriga a demissão do Ministério, enquanto órgão.

Já no presidencialismo, como no Brasil, o próprio Presidente, enquanto pessoa física, é responsável, ficando sujeito a sanções de perda do cargo por infrações definidas como crimes de responsabilidade, apurados em processo político-administrativo realizado pelas Casas do Congresso Nacional (processo de impeachmant), previstos na Constituição Federal e definidos em lei especial o seu processo e julgamento (art. 85, § único e Lei nº 1.079/50).

As condutas típicas são: a) infrações políticas (art. 85, I a IV); e b) crimes funcionais (art. 85,V a VII).

O procedimento, de outro lado, divide-se em duas fases:

1) Juízo de admissibilidade: feita pela Câmara dos Deputados (art. 86, CF), que decidirá pelo conhecimento, ou não, e pela admissão, ou não, da

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acusação. O não-conhecimento ou a rejeição ensejará o arquivamento da denúncia; o conhecimento e a admissão da denúncia serão feitos pelo voto nominal e aberto de dois terços de seus membros, o que autorizará a instauração do processo (arts. 52, I, e 86).

2) Processamento e Julgamento: uma vez instaurado o processo, o Senado Federal se transforma em uma espécie de Tribunal de juízo político, sob a presidência do Presidente do STF. Note-se que não cabe ao Senado Federal emitir juízo de conveniência ou oportunidade em atender ao que foi deliberado pela Câmara dos Deputados, tratando-se a instauração do processo um ato vinculado daquela Casa. De qualquer forma, é logicamente garantido ao Presidente da República o devido processo legal, a ampla defesa e o contraditório, sem prejuízo da suspensão de suas funções pelo prazo máximo de 180 dias (art. 86, §1º, II, e §2º). Quanto ao julgamento, se o juízo for absolutório, o processo será arquivado, e se condenatório (pelo voto de dois terços de seus membros), haverá a perda do cargo com inabilitação por oito anos para o exercício de função pública (impeachment), cujas sanções são autônomas e cumulativas , sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis. A decisão do Senado Federal, que terá a forma de Resolução (art. 59, VII), é irrecorrível e impede, segundo parte da doutrina, não só o exercício do mandato, conforme a dicção literal, da Lei, mas a própria elegibilidade (candidatura) a cargo público.

A natureza jurídica do processo por crime de responsabilidade política gera divergências doutrinárias, se de natureza penal, política, ou mista, tendo o STF já se posicionado a favor do enquadramento como de natureza penal.

X. 2. 8. 2. Criminal (ou Penal):

Os tipos estão previstos e definidos na legislação penal comum (Código Penal) ou especial (Legislação Extravagante).

Também aqui o processo se divide em duas fases:

1) Juízo de admissibilidade: feito pela Câmara dos Deputados, que decidirá pelo conhecimento, ou não, e pela admissão, ou não, da acusação, pelo voto de dois terços de seus membros (art. 86, CF). Conhecida e admitida a acusação, estará autorizada a instauração do processo (art. 51, I).

2) Processo e julgamento: uma vez admitida a acusação, a denúncia será apresentada ao Supremo Tribunal Federal, o qual poderá, ou não, receber a denúncia ou queixa, ou seja, não está vinculado à deliberação da Câmara dos Deputados, em respeito à separação de poderes, ficando o

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Presidente da República suspenso de suas funções pelo prazo máximo de 180 dias (art. 86, §1º, I). No caso da apuração da responsabilidade criminal, o processo perde o cunho político-administrativo (inerente aos crimes de responsabilidade) e ganha o caráter de Processo Penal. Quanto ao julgamento, a absolvição enseja o arquivamento e a condenação importa em consequência de natureza penal (cumprimento da pena cominada ao crime), e somente por efeitos reflexos e indiretos implica perda do cargo, à vista do disposto no art. 15, III, CF, e no art. 92, CP.

X. 2. 9. Prerrogativas e Imunidades:

As imunidades, também chamadas de inviolabilidades, são classificadas como: formais e materiais.

São imunidades (ou inviolabilidades) formais: a) ser processado, seja por crime de responsabilidade, seja por crime comum, após o juízo de admissibilidade pela Câmara dos Deputados (art. 86, caput, CF); b) ser preso somente após sentença condenatória, quando de infrações penais comuns (art. 86, §3º, CF).

Constitui imunidade (ou inviolabilidade) material: ser responsabilizado apenas por atos vinculados ao exercício de suas funções, havendo, portanto, irresponsabilidade política e criminal relativa, excluída essa proteção quando se tratar de responsabilidade civil (inclusive a por improbidade administrativa), conforme o entendimento pacífico do Supremo Tribunal Federal.

A Constituição Federal, por seu art. 86, §4º, não consagrou, pois, o princípio da irresponsabilidade penal absoluta do Presidente da República. O Chefe de Estado, nos ilícitos penais praticados in officio ou propter officium, poderá, ainda que vigente o seu mandato presidencial, sofrer a persecutio criminis, desde que obtida, previamente, a necessária autorização da Câmara dos Deputados.

No julgamento da ADI nº 978/PB, o Plenário do Supremo Tribunal Federal fixou o entendimento de que as imunidades previstas no art. 86, §§ 3º e 4º, da Constituição Federal, não podem ser estendidas aos Governadores de Estado.

Já a autorização do Parlamento para o processamento da ação (art. 86, caput, CF) poderá ser estendida aos Governadores, desde que

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prevista expressamente na constituição estadual. 6

O Presidente da República não dispõe de imunidade, quer em face de ações judiciais que visem a definir-lhe a responsabilidade civil, quer em função de processos instaurados por suposta prática de infrações político-administrativas, quer, ainda, em virtude de procedimentos destinados a apurar, para efeitos estritamente fiscais, a sua responsabilidade tributária.

A cláusula da exclusão inscrita no art. 86, § 4º, da Constituição Federal, ao inibir a atividade do Poder Público, em sede judicial, alcança as infrações penais comuns praticadas em momento anterior ao da investidura no cargo de chefe do Poder Executivo da União, bem assim aquelas praticadas na vigência do mandato, desde que estranhas ao ofício presidencial.

Segundo o STF, as Constituições estaduais não possuem o poder de estabelecer essas imunidades aos seus governadores, pois são estabelecidas na proteção do Presidente da República (e Vice) enquanto Chefe de Estado e não meramente Chefe de Governo.

A prerrogativa é a do foro privilegiado, competindo ao STF processar e julgar o Presidente da República (e vice) nas infrações penais comuns, e ao Senado Federal para crimes de responsabilidade.

X. 2. 10. Ministros de Estado:

A Administração Direta Federal é composta pela Presidência da República e pelos Ministérios. Os Ministros são escolhidos livremente pelo 6 “AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DA PARAIBA - OUTORGA DE PRERROGATIVAS DE CARÁTER PROCESSUAL PENAL AO GOVERNADOR DO ESTADO - IMUNIDADE A PRISÃO CAUTELAR E A QUALQUER PROCESSO PENAL POR DELITOS ESTRANHOS A FUNÇÃO GOVERNAMENTAL - INADMISSIBILIDADE - OFENSA AO PRINCÍPIO REPUBLICANO - USURPAÇÃO DE COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DA UNIÃO - PRERROGATIVAS INERENTES AO PRESIDENTE DA REPUBLICA ENQUANTO CHEFE DE ESTADO (CF/88, ART. 86, PAR. 3. E 4.) - AÇÃO DIRETA PROCEDENTE. PRINCÍPIO REPUBLICANO E RESPONSABILIDADE DOS GOVERNANTES. – (...) Os Governadores de Estado - que dispõem de prerrogativa de foro ratione muneris perante o Superior Tribunal de Justiça (CF, art. 105, I, a) - estão permanentemente sujeitos, uma vez obtida a necessária licença da respectiva Assembleia Legislativa (RE 153.968-BA, Rel. Min. ILMAR GALVAO; RE 159.230-PB, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE), a processo penal condenatório, ainda que as infrações penais a eles imputadas sejam estranhas ao exercício das funções governamentais. - A imunidade do Chefe de Estado a persecução penal deriva de cláusula constitucional exorbitante do direito comum e, por traduzir consequência derrogatória do postulado republicano, só pode ser outorgada pela própria Constituição Federal. Precedentes: RTJ 144/136, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE; RTJ 146/467, Rel. Min. CELSO DE MELLO. Analise do direito comparado e da Carta Politica brasileira de 1937. (...) - O Estado-membro, ainda que em norma constante de sua própria Constituição, não dispõe de competência para outorgar ao Governador a prerrogativa extraordinária da imunidade a prisão em flagrante, a prisão preventiva e a prisão temporária, pois a disciplinação dessas modalidades de prisão cautelar submete-se, com exclusividade, ao poder normativo da União Federal, por efeito de expressa reserva constitucional de competência definida pela Carta da Republica. – (...) Os Estados-membros não podem reproduzir em suas próprias Constituições o conteúdo normativo dos preceitos inscritos no art. 86, PAR.3. e 4., da Carta Federal, pois as prerrogativas contempladas nesses preceitos da Lei Fundamental - por serem unicamente compatíveis com a condição institucional de Chefe de Estado - são apenas extensíveis ao Presidente da Republica. (STF. ADI 978/PB. 19/10/1995).

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Presidente, desde que atendidos os requisitos do art. 87 (maior de 21 anos e pleno gozo dos direitos políticos).

São, dentre outras, as atribuições dos Ministros de Estado (art. 87, § único): I - exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades da administração federal na área de sua competência e referendar os atos e decretos assinados pelo Presidente da República; II - expedir instruções para a execução das leis, decretos e regulamentos; III - apresentar ao Presidente da República relatório anual de sua gestão no Ministério; IV - praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe forem outorgadas ou delegadas pelo Presidente da República.

Pode comparecer, por iniciativa própria, diante das Casas do Congresso, ou de suas comissões, por sua iniciativa e mediante acordo com a Mesa respectiva, a fim de expor assuntos de relevância de seu Ministério (art. 50, §1º, CF). Por outro lado, se for determinado que compareça diante das Casas ou suas Comissões e não o fizer, ou se fizer declarações falsas, estará o Ministro sujeito a responder por crime de responsabilidade perante o Supremo Tribunal Federal (art. 102, I, c); se conexo ao do Presidente da República, diante do Senado Federal (art. 52, I), quando autorizado pela Câmara dos Deputados (art. 51, I).

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X. 3. PODER JUDICIÁRIO:

Nos termos em que dispõe o art. 92, CF, integram a estrutura do Poder Judiciário os seguintes órgãos:

1) Supremo Tribunal Federal: (exatos 11 – art. 102)2) Conselho Nacional de Justiça (exatos 15 – art. 103-B);3) Superior Tribunal de Justiça (mín. 33 – art. 105);4) Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais (TRF: mín. 7-art 107);5) Tribunais e Juízes do Trabalho (TST: exat. 27-art 111-A; TRT: mín. 7); 6) Tribunais e Juízes Eleitorais (TSE: mín. 7; TRE: exatos 7);7) Tribunais e Juízes Militares (STM: exatos 15)8) Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.

Suas competências estão dispostas nos artigos 102 e seguintes da Constituição Federal.

X. 3. 1. Do Ingresso à Magistratura:

O ingresso à magistratura se dará: 1) por meio de concurso público de provas e títulos; 2) por nomeação do chefe do Poder Executivo.

O concurso público de provas e títulos se destina ao ingresso na magistratura de primeira instância, cujo cargo inicial é o de Juiz Substituto, exigindo-se o bacharelado em direito e três anos de atividade jurídica (art. 93, I, CF e Resolução nº 11/2006 do CNJ).

Já a nomeação do chefe do Poder Executivo se destina ao ingresso diretamente nas instâncias superiores, por pessoas que ainda não integram a magistratura, que é feito da seguinte forma:

a) Quinto Constitucional (1/5) : um quinto dos lugares do TST, dos TRT’s, dos TRF’s e dos TJ’s é reservado a membros do Ministério Público e a advogados. Em regra, aos membros do MP e advogados exigem-se 10 (dez) anos de atividade; já aos advogados indicados para os TRF’s e TJ’s, além dos 10 anos, também se exige o notório saber jurídico e a reputação ilibada. Os órgãos respectivos indicarão seis membros de seus quadros que atendam aos requisitos para cada vaga oportunizada (lista sêxtupla). O Tribunal que disponibilizou a vaga, por sua vez, reduz a lista para três membros (lista tríplice), a fim de que o Chefe do Executivo escolha um destes últimos;

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b) Terço Constitucional (1/3) : um terço dos lugares do STJ é reservado a advogados e membros do Ministério Público Federal, Estadual e do DF, alternadamente, escolhidos da mesma forma acima;

c) 2/7 (Dois Sétimos) : dois sétimos dos lugares do TSE e dos TRE's são reservados a advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Tribunal de Justiça;

d) Superior Tribunal Militar : é composto de 15 ministros, sendo 10 militares e 05 civis. Estes últimos são nomeados da seguinte forma: 03 advogados de notório saber jurídico e conduta ilibada, com mais de dez anos de atividade; e 02, por escolha paritária, dentre juízes auditores e membros do Ministério Público da Justiça Militar7. Assim, o STM é o único órgão em que apenas 1/15 (um quinze avos) é composto por juízes de carreira;

e) Livre Nomeação (STF) : para nomeações ao cargo de ministro do STF, o Presidente da República tem a livre escolha dentre cidadãos brasileiros, bastando ter idade entre 35 e 65 anos, notável saber jurídico e reputação ilibada. Logo, sequer é exigido o bacharelado em direito ou a condição de integrante de determinada classe.8 Note-se, ainda, que não há formação de listas sêxtuplas ou tríplices.

X. 3. 2. Garantias da Magistratura:

Com o fito de assegurar aos juízes o livre e independente exercício da judicatura, a Constituição federal, por meio de seu art. 95, lhes conferiram certas garantias, que são extensíveis aos membros do Ministério Público e dos Tribunais de Contas. São as garantias:

a) Vitaliciedade: o juiz de primeira instância adquirirá quando completar satisfatoriamente seu estágio probatório, composto de 2 (dois) anos de exercício e a participação em curso oficial ou reconhecido por escola nacional de formação e aperfeiçoamento de magistrados. As pessoas não integrantes da magistratura que ingressam no Judiciário diretamente nas instâncias superiores adquirem a garantia em comento no momento da posse, não se exigindo delas o estágio probatório. O magistrado não-vitalício poderá, durante o estágio

7 Note-se que o juiz de carreira divide espaço no STM com membro do Ministério Público.8 Na história do STF, Cândido Barata Ribeiro era médico e exerceu o cargo de ministro durante

aproximadamente 1 ano

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probatório, perder o cargo por deliberação administrativa do Tribunal a que o juiz estiver vinculado; já o vitalício somente o perderá por sentença transitada em julgado;

b) Inamovibilidade: Em regra, o magistrado somente será movido da unidade judiciária de que é titular por ato de sua livre vontade. Por exceção, poderá o Tribunal ou o CNJ, pelo voto de 2/3 de seus membros, mover o magistrado, desde que haja interesse público e seja assegurada a ampla defesa (art. 95, II, c.c. art. 93, VIII, CF). Essa garantia é conquistada no ato da titularização, quando se deixa de ser juiz substituto; e

c) Irredutibilidade de Subsídios: os magistrados não poderão ter seus subsídios reduzidos, salvo nos casos doas arts. 37, X e XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I

X. 3. 3. Vedações Impostas aos Juízes:

No parágrafo único do art. 95, CF, estão estabelecidas as condutas vedadas aos magistrados, também com o objetivo de garantir a imparcialidade e lisura. São elas:

a) Exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério;

b) Receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;

c) Dedicar-se à atividade político-partidária;

d) Receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei;

e) Exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração (chamada “quarentena”).

X. 3. 4. Autonomia Administrativa e Financeira (Autogoverno):

O art. 99, CF, assegura ao Poder Judiciário considerável autonomia administrativa e financeira, permitindo-lhe exercer as atividades administrativas

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necessárias ao pleno cumprimento de sua missão institucional, bem como gerir suas próprias contas, em consonância com as propostas orçamentárias por ele elaboradas.

Não obstante, o art. 103-B, §4º, CF, estipula que o Conselho Nacional Justiça, dentre outras funções, deverá controlar a atuação financeira do Poder Judiciário.

X. 3. 5. O Conselho Nacional de Justiça:

Quanto à composição, dispõe a Constituição Federal:

“Art. 103-B. O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15 (quinze) membros com mandato de 2 (dois) anos, admitida 1 (uma) recondução, sendo: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 61, de 2009)I - o Presidente do Supremo Tribunal Federal; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 61, de 2009)II - um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado pelo respectivo tribunal;III - um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indicado pelo respectivo tribunal;IV - um desembargador de Tribunal de Justiça, indicado pelo Supremo Tribunal Federal;V - um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal Federal;VI - um juiz de Tribunal Regional Federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça;VII - um juiz federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça;VIII - um juiz de Tribunal Regional do Trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho;IX - um juiz do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho;X - um membro do Ministério Público da União, indicado pelo Procurador-Geral da República;XI um membro do Ministério Público estadual, escolhido pelo Procurador-Geral da República dentre os nomes indicados pelo órgão competente de cada instituição estadual;XII - dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;XIII - dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal.”

Competirá ao CNJ o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos

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juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura (art. 103-B, §4º, CF):

“I - zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências;II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas da União;III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços notariais e de registro que atuem por delegação do poder público ou oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar e correicional dos tribunais, podendo avocar processos disciplinares em curso e determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa;IV - representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a administração pública ou de abuso de autoridade;V - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados há menos de um ano;VI - elaborar semestralmente relatório estatístico sobre processos e sentenças prolatadas, por unidade da Federação, nos diferentes órgãos do Poder Judiciário;VII - elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias, sobre a situação do Poder Judiciário no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar mensagem do Presidente do Supremo Tribunal Federal a ser remetida ao Congresso Nacional, por ocasião da abertura da sessão legislativa.”

Não se pode afirmar que o CNJ desempenha um controle “externo” no Poder Judiciário, já que o integra. O STF julgou improcedente a ADI que discutia a constitucionalidade da EC nº 45/2004, na parte em que cria a figura do CNJ, colocando um basta na controvérsia. Veja-se:

“(...) Conselho Nacional de Justiça. Instituição e disciplina. Natureza meramente administrativa. Órgão interno de 'controle administrativo, financeiro e disciplinar da magistratura. Constitucionalidade reconhecida. Separação e independência dos Poderes. História, significado e alcance concreto do princípio. Ofensa a cláusula

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constitucional imutável (cláusula pétrea). Inexistência. Subsistência do núcleo político do princípio, mediante preservação da função jurisdicional, típica do Judiciário, e das condições materiais do seu exercício imparcial e independente. Precedentes e súmula 649. Inaplicabilidade ao caso. Interpretação dos arts. 2º e 60, §4º, III, da CF. Ação julgada improcedente. Votos vencidos. São constitucionais as normas que, introduzidas pela Emenda Constitucional nº 45, de 8 de dezembro de 2004, instituem e disciplinam o Conselho Nacional de Justiça, como órgão administrativo do Poder Judiciário nacional. (...)” (ADI 3367, relator o Ministro Cezar Peluso, j. 13/04/2005).

X. 3. 5. 1. Competência Normativa e Inovação da Ordem Jurídica:

O Supremo Tribunal Federal, na ADC nº 12, reconheceu competência normativa primária do Conselho Nacional de Justiça, na sua área de atuação:

“AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE, AJUIZADA EM PROL DA RESOLUÇÃO N° 07, de 18/10/2005, DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. (...). A Resolução n° 07/05 do CNJ reveste-se dos atributos da generalidade (os dispositivos dela constantes veiculam normas proibitivas de ações administrativas de logo padronizadas), impessoalidade (ausência de indicação nominal ou patronímica de quem quer que seja) e abstratividade (trata-se de um modelo normativo com âmbito temporal de vigência em aberto, pois claramente vocacionado para renovar de forma continua o liame que prende suas hipóteses de incidência aos respectivos mandamentos). A Resolução n° 07/05 se dota, ainda, de caráter normativo primário, dado que arranca diretamente do § 4° do art. 103-B da Carta-cidadã e tem como finalidade debulhar os próprios conteúdos lógicos dos princípios constitucionais de centrada regência de toda a atividade administrativa do Estado, especialmente o da impessoalidade, o da eficiência, o da igualdade e o da moralidade. O ato normativo que se faz de objeto desta ação declaratória densifica apropriadamente os quatro citados princípios do art. 37 da Constituição Federal, razão por que não há antinomia de conteúdos na comparação dos comandos que se veiculam pelos dois modelos normativos: o constitucional e o infraconstiluciona1. Logo, o Conselho Nacional de Justiça fez adequado uso da competência que lhe conferiu a Carta de Outubro, após a Emenda 45/04. (...) O modelo normativo em exame não é suscetível de ofender a pureza do principio da separação dos Poderes e até mesmo do princípio federativo. Primeiro, pela consideração de que o CNJ não é órgão estranho ao Poder Judiciário (art. 92, CF) e não está a submeter esse Poder à autoridade de nenhum dos outros dois; segundo,

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porque ele, Poder Judiciário, tem uma singular compostura de âmbito nacional, perfeitamente compatibilizada com o caráter estadualizado de uma parte dele. (...) Medida liminar deferida (...)”. (STF, Pleno, ADC-MC 12, j. 16/02/2006).”

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X. 4. PODER LEGISLATIVO:

Conforme acima visto, tem como objeto as funções precípuas de: a) criação de normas jurídicas primárias, que inovam a ordem jurídica, e b) fiscalização e controle dos atos do Executivo.

X. 4. 1. Órgãos do Poder Legislativo:

O Poder legislativo no Brasil é exercido por órgãos próprios e autônomos, sem que haja hierarquia entre eles. Em razão da forma federal de Estado e de sua estrutura tríplice, a Constituição brasileira proveu a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios de competência legislativa que a exercem por meio de seus órgãos legislativos próprios.

Por isso, há entre nós órgãos legislativos da União (Congresso Nacional), dos Estados (Assembleia Legislativa), do Distrito Federal (Câmara Legislativa) e dos Municípios (Câmara de Vereadores).

X. 4. 2. O Congresso Nacional:

O órgão do Poder legislativo da União é o Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. É característica das federações o sistema bicameral, ou de duas casas, diante da necessidade de uma delas representar a vontade do povo (Câmara dos Deputados) e a outra a vontade dos Estados-membros (Senado Federal – número igual de senadores para cada Estado). O sistema bicameral é adotado apenas no âmbito federal e decorre da própria forma federativa de Estado.

No âmbito federal, adotam-se algumas características do bicameralismo de moderação (ou sistemático), que pretende afastar o Senado de interesses político-partidários e, consequentemente, introduzir certa ponderação às deliberações junto à Câmara dos Deputados. Por esta razão, o Senado Federal é tido como órgão conservador e de revisão, destacando-se as seguintes peculiaridades: a) exige-se idade mais avançada (35 anos, contra 21 para Deputado); b) o mandato possui duração em dobro (8 anos, contra 4 dos Deputados); e c) a eleição de novos Senadores é feita de forma alternada, entre 1/3 e 2/3 das cadeiras a cada quatro anos, impossibilitando a troca simultânea de todos os Senadores em uma só eleição.

São, portanto, as principais diferenças entre as Casas legislativas:

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CÂMARA DE DEPUTADOS

(513 membros)

SENADO FEDERAL

(81 membros)

REPRESENTANTES Do Povo Dos Estados e do DF

REPRESENTAÇÃOProporcional

mínimo = 8 e máximo = 70Paritária = 3 por Estado

Nº DE PARLAMENTARES513 Deputados. Nenhum Estado/DF terá menos de 08, nem mais do que 70. Os territórios terão 4.

81 Senadores, sendo 3 por Estado/DF, cada qual com 2 suplentes.

SISTEMA ELEITORAL Proporcional Majoritário

DURAÇÃO DO MANDATO 4 anos 8 anos (1/3 e 2/3)

SUPLÊNCIA Próximo mais votado no partido. 2 suplentes, eleitos na mesma chapa

IDADE MÍNIMA 21 anos 35 anos

Mas é importante frisar que o Congresso Nacional tem existência própria, distinta das casas que o compõem. Isso porque a Constituição a ele atribuiu importantes competências políticas, que se encontram concentradas no art. 49, CF. Não obstante, é de se reconhecer que a atividade legislativa daUnião é majoritariamente exercida pelas Casas que integram o Congresso Nacional e não por ele propriamente, tendo em vista o modelo de processo legislativo que a Constituição adotou, que envolve, basicamente a atuação separada, porém conciliada, da Câmara e do Senado, só intervindo o Congresso (com a reunião dos componentes da Câmara e do Senado) na eventual hipótese de veto presidencial, a fim de sobre ele deliberar.

X. 4. 3. Autonomia:

O Legislativo tem capacidade de se auto-organizar através do seu Regimento Interno, que determina as regras segundo as quais a Casa prepara e conduz suas deliberações e fixa os direitos e deveres internos dos seus membros, de acordo com o art. 2º conjugado com os arts. 51, III e IV (Câmara dos Deputados); 52, XII e XIII (Senado Federal); e 57, §3º, II (Congresso Nacional).

Ainda a fim de garantir a autonomia do Poder Legislativo Federal, a Constituição estabeleceu certas prerrogativas, direitos e incompatibilidades aos congressistas.

X. 4. 3. 1. Prerrogativas:

São as prerrogativas dos parlamentares federais: a) inviolabilidade; b) imunidade; c) privilégio de foro; d) isenção do serviço militar e; e) limitação ao dever de testemunhar.

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A inviolabilidade, também chamada de imunidade material (freedom of speech), significa que os deputados e senadores, desde a posse, são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras ou votos no exercício da função parlamentar (art. 53, CF).

A imunidade material protege o congressista da incriminação civil, penal, política ou disciplinar em relação aos chamados “crimes de opinião” ou “crimes da palavra”, tais como a calúnia, a difamação e a injúria. Assim, não há crime quando o membro do poder legislativo federal se pronunciar (opinião, palavras ou votos) sobre alguém ou assunto no exercício de sua função parlamentar dentro ou fora Congresso Nacional, mesmo que tal manifestação venha causar danos a terceiros que não parlamentares.

Se o legislador estiver na tribuna, suas opiniões, palavras e votos terão presunção absoluta de inviolabilidade.

Em regra, não há limite territorial para a incidência dessa imunidade. Porém, quanto aos vereadores, a Constituição Federal a restringe aos limites da circunscrição do município. 9

De qualquer modo, para os demais delitos ou situações jurídicas, o parlamentar ainda continua responsável, como, por exemplo, responsabilidade civil por danos materiais causados em virtude de colisão de veículo automotor ou responsabilidade fiscal de recolher devidamente o Imposto de Renda.

Já a imunidade processual ou formal (freedom of arrest), não exclui o crime, mas protege o parlamentar a partir da diplomação com a sustação do processo ou a restrição às prisões.

Assim, há possibilidade de a respectiva casa legislativa, pelo voto da maioria de seus membros, suste o andamento do processo, perante o Supremo Tribunal Federal, por crime ocorrido após a diplomação e desde que haja a iniciativa de partido político nela representado e ocorra antes da decisão final.

Note que não há prazo para manifestação de intenção de sustar o andamento do processo junto ao Supremo Tribunal Federal, de maneira que o processo poderá ser suspenso até antes da decisão ou antes do término do mandato. O prazo, reside, por sua vez, apenas sobre a deliberação sobre o pedido de sustação solicitado por partido político, que será apreciado, no prazo improrrogável de quarenta e cinco dias do recebimento pela mesa Diretora.

9 “Art. 29. (...) VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município;”

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Por fim, se a casa legislativa se pronunciar pela suspensão do processo perante o Supremo Tribunal Federal, ocorrerá também a suspensão da prescrição, enquanto perdurar aquele mandato.

De outro lado, um congressista somente poderá ser preso se for em flagrante de crime inafiançável. E mesmo nessa hipótese, a prisão será comunicada no prazo de 24 horas à Casa respectiva, a qual, pelo voto da maioria de seus membros, decidirá sobre a sua manutenção (art. 53, §2º).

Através do foro privilegiado, os congressistas, desde a expedição do diploma, serão julgados, em processo penal, pelo Supremo Tribunal Federal (art. 53, §1º). Neste caso, o fim do mandato encerra a competência do STF, ensejando a remessa dos autos à Justiça de primeiro grau.

Os parlamentares federais possuem, ainda, isenção do serviço militar. A incorporação às Forças Armadas de Deputados e Senadores, embora militares e ainda que em tempo de guerra, dependerá de prévia licença da Casa respectiva. (art. 53, § 7º).

Por fim, a constituição federal estabeleceu uma limitação ao dever de testemunhar, por meio da qual os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações. (art. 53, § 6º).

X. 4. 3. 2. Direitos:

Tratam-se de direitos genéricos decorrentes de sua própria condição de parlamentar, como, por exemplo, o direito de participar de um processo legislativo hígido. Muitos desses direitos são líquidos e certos e, portanto, amparáveis por mandado de segurança.

X. 4. 3. 3. Incompatibilidades:

Consistem na proibição de ocupações ou atos enquanto no exercício do mandato. São elas: a) incompatibilidades funcionais - desde a diplomação (art. 54, I, b) e desde a posse (art. 54,II,b); b) incompatibilidades negociais - desde a diplomação (art. 54, I, a); c) incompatibilidades políticas - desde a posse (art. 54, II, d); d) incompatibilidades profissionais - desde a posse (art. 54, II, a, c).

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X. 4. 4. Hipóteses de Perda de Mandato:

a) por “cassação”: entende-se cassação a decretação da perda do mandato por ter o seu titular incorrido em falta funcional, definida em lei e punida com esta sanção. São casos de “cassação” os incisos I, II e VI, do art. 55. Trata-se de uma decisão constitutiva.

b) por extinção: entendendo-se por extinção do mandato o perecimento pela ocorrência de fato ou ato que torna automaticamente inexistente a investidura eletiva. São casos de extinção do mandato os incisos III, IV e V, do art. 55. Trata-se de uma decisão declaratória.

X. 4. 5. Organização Interna:

A organização interna de cada casa legislativa compreende a estruturação de órgãos indispensáveis à condução de seus trabalhos e ao desempenho de suas atividades.

Entre os seus órgãos internos fundamentais, há a mesa diretora, as comissões parlamentares e os órgãos administrativos, entre outros.

X. 4. 5. 1. A Mesa Diretora:

Todo órgão legislativo tem uma Mesa, que é o órgão de direção da casa legislativa e responsável pela condução dos trabalhos legislativos e administrativos. No Poder legislativo da União, existe uma Mesa diretora da Câmara dos Deputados, uma Mesa diretora do Senado e uma Mesa diretora do Congresso Nacional.

Os cargos da Mesa são definidos no Regimento interno de cada casa. Tradicionalmente, os Regimentos da Câmara, do Senado e do Congresso Nacional dispõem dos seguintes cargos: um Presidente; dois Vice-Presidentes (1º Vice-Presidente e 2° Vice-Presidente); quatro Secretários e quatro suplentes de Secretários. Todavia, segundo a Constituição, na constituição das Mesas é assegurada, tanto quanto possível, a representação proporcional dos partidos ou dos blocos parlamentares que participam da respectiva Casa (art. 57, §5º).

Os membros das Mesas da Câmara e do Senado são eleitos para um mandato de dois anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente (art. 57, § 4°).

A Mesa do Congresso Nacional, que se compõe conjuntamente de deputados e senadores, não é formada por eleição, pois a Constituição já

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indicou quais serão os seus membros, entre aqueles que compõem as Mesas da Câmara e do Senado. Assim, de acordo com o art. 57, § 5°, a Mesa do Congresso Nacional será presidida pelo Presidente do Senado Federal, e os demais cargos serão exercidos, alternadamente, pelos ocupantes de cargos equivalentes na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.

X. 4. 5. 2. As Comissões Parlamentares:

As Comissões parlamentares são órgãos de natureza técnica competentes para examinar as propostas legislativas em curso nas casas legislativas e sobre elas emitir pareceres ou para controlar e investigar fatos relevantes determinados. São elas:

a) Comissões Permanentes: aquelas criadas para durarem por tempo indeterminado, permanecendo por sucessivas legislaturas e são instituídas em razão da matéria ou tema, daí porque são chamadas de comissões temáticas (Ex: Comissão de Constituição e Justiça; Comissão de Educação e Cultura, etc).

b) Comissões Temporárias: aquelas criadas para fins específicos e durarem o tempo necessário para conclusão de seus trabalhos ou no prazo previamente fixado. São comissões temporárias as especiais, as de inquérito e as externas.

c) Comissões Mistas: aquelas criadas no âmbito do Congresso Nacional e se compõem conjuntamente de deputados e senadores. Podem ser permanentes ou temporárias. São exemplos de comissão mista permanente: a comissão para examinar as medidas provisórias antes de serem apreciadas pelas casas separadamente (art. 62, §9º) e a comissão do orçamento (art. 166, §1º).

d) Comissões de Inquérito (CPI): São comissões necessariamente temporárias, que podem ser criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.

Nos moldes do art. 58, § 3° da Constituição, as comissões parlamentares de inquérito terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas.

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São órgãos que instauram um procedimento administrativo de feição política, de cunho meramente investigatório, semelhante ao inquérito policial e ao inquérito civil público, apesar de não assumirem natureza preparatória de ações judiciais.

O art. 58, §3º, CF, estabelece como regra geral que as CPI´s terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, devendo, inclusive motivar suas decisões (art. 93, inciso IX).

Contudo, alguns poderes judiciais não podem ser desempenhados em face da chamada “reserva de jurisdição”. Ou seja, a Constituição preferiu reservar ao Poder Judiciário certos atos, tendo em vista a imparcialidade e a especialização jurídica ínsitas à esse Poder.

Desse modo, não podem as CPI´s decretar: prisões (art. 5º, inciso LXI), salvo as em flagrante delito; buscas domiciliares (art. 5º, inciso XI); e interceptações telefônicas (art. 5º, inciso XII).

De outro lado, podem elas: requisitar documentos e informações dos órgãos da Administração Pública; determinar intimação de testemunhas; acessar diretamente dados fiscais, financeiros e bancários (quebra de sigilo).

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