Direito da Família - (Alguns) Casos Práticos

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    Nos termos do art. 4/1 al. a), s pessoas em situao de economia comum atribudo o

    benefcio do regime jurdico de frias () equiparado aos dos cnjuges, nos termos da

    lei.

    Contudo, para que Joaquim e Vanessa pudessem tirar frias ao mesmo tempo seria

    necessrio que as condies de eficcia do regime da Vida em Economia Comum se

    verificassem. Sendo uma das condies de eficcia que a vida em economia comum

    dure h mais de dois anos (art. 1/1 e art. 2/1), e tendo Joaquim e Vanessa comeado a

    partilhar comunho de mesa e habitao em Setembro de 2006, pretendendo usufruir do

    benefcio que consta no art. 4/1 al. a) no Vero seguinte, ora no Vero de 2007, ainda

    no tinha decorrido o prazo de dois anos pelo que tal benefcio no lhes poderia ser

    aplicado.

    b) Em Novembro de 2007, Joaquim morre num desastre de mota. Vanessa

    quer continuar a viver na mesma casa, mas o proprietrio pretende arrend-la a

    um jovem Mdico, disposto a pagar o dobro da renda. Ter Vanessa direito a

    continuar a habitar o andar?

    Lei n 6/2001, de 11 de Maio Medidas de Proteco das Pessoas que Vivem em

    Economia Comum

    Nos termos do art. 5/1, em caso de morte da pessoa proprietria da casa de morada

    comum, as pessoas que com ele tenham vivido em economia comum h mais de dois

    anos () tm direito real de habitao sobre a mesma, pelo prazo de cinco anos, e, no

    mesmo prazo, direito de preferncia na sua venda.

    Sendo uma das condies de eficcia que a vida em economia comum dure h mais de

    dois anos (art. 1/1 e art. 2/1), e tendo Joaquim e Vanessa comeado a partilhar

    comunho de mesa e habitao em Setembro de 2006, quando Joaquim falece em

    Novembro de 2007, ainda no tinha decorrido o prazo de dois anos pelo que no se

    poderia aplicar o art. 5/1.

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    Contudo, nos termos do art. 1106/1, o arrendamento para habitao no caduca por

    morte do arrendatrio quando lhe sobrevida a pessoa que com ele residissem em

    economia comum e h mais de um ano (al. b)).

    Ou seja, nos termos do art. 1106, tratando-se de transmisso do arrendatrio por morte,

    a pessoa que vivia em unio de facto com o arrendatrio ocupa o primeiro lugar, ao lado

    do cnjuge, a hierarquia constante do referido artigo, sendo que as pessoas que com ele

    vivessem em economia comum ocupam o segundo lugar dessa hierarquia.

    Presumindo, uma vez que no caso nada nos indica em sentido oposto, que Joaquim no

    fosse casado nem vivesse em Unio de Facto, nos termos do art. 1106/1 al. b), e uma

    vez que j passara mais de um ano (Setembro de 2006 Novembro de 2007), Vanessa

    poderia continuar a viver na mesma casa.

    c) Em Julho de 2008, Vanessa apaixonou-se por Fernando, jovem professor

    de Engenharia, casado com Teresa, sua colega. Teresa s pretende separar-se de

    pessoas e bens de Fernando, uma vez que tendo casado catoli camente, tem o grave

    dever de no se divor ciar. Em Janeiro de 2009 depois de obter a separao de

    pessoas e bens, Fernando foi viver com Vanessa para uma casa que este acabara de

    herdar de uma tia solteira. Em Julho desse mesmo ano, Fernando dirigiu-se sua

    agncia de viagens e marcou um cruzeiro para as ilhas gregas, no valor de

    5.000,00, para si e para a sua mulher, que os dois vieram a realizar em Agosto.

    Poder Vanessa ser responsabilizada pelo pagamento dessa quantia. Se sim, com

    que fundamento?

    Lei n 7/2001, de 11 de MaioMedidas de Proteco das Unies de Facto

    Nos termos do art. 1/1, entende-se que se encontrem em Unio de Facto as pessoas que

    vivam em comunho de leito, mesa e habitao, como se fossem casadas, apenas com a

    diferena de que no o so, pois no esto ligadas pelo vnculo formal do casamento, h

    mais de dois anos.

    As condies de eficcia da Unio de Facto assentam:

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    No direito actual, equipara-se a unio de facto de pessoas do mesmo sexo unio de facto entre pessoas de sexo diferente (art. 1), salvo para efeitos de

    adopo (art. 7), ou seja s as pessoas de sexo diferente que vivam em unio de

    facto permitida a adopo conjunta.

    No caso, Vanessa e Fernando so duas pessoas de sexo diferente.

    S produz efeitos se j dura h mais de dois anos.

    No caso, Vanessa e Fernando comeam a viver juntos em Janeiro de 2009 e em

    Agosto de 2009 realizaram um cruzeiro a condio de eficcia da Unio de

    Facto, que assenta nos dois anos, no se encontra preenchida uma vez que entre

    Janeiro de 2009Agosto de 2009 s haviam passado 7 meses.

    No deve existir impedimento dirimente ao casamento dos membros da unio defacto (soluo do art. 2 que reproduz as normas do art. 1601 e art. 1602)

    No caso, Vanessa e Fernando passam a viver juntos depois deste obter a

    separao de pessoas e bens, pelo que nos termos do art. 2 al. c) tal no

    traduz nenhuma excepo condio de eficcia da unio de facto pelo que tal

    se encontra preenchido.

    O princpio geral da unio de facto, nas relaes patrimoniais , o de que estas se

    regem pelo direito comum das relaes obrigacionais e reais, podendo eles contratar

    entre si ou com terceiros. Os membros da unio de facto vivem em comunho de leito,

    mesa e habitao, como se fossem casados, criando-se deste modo uma aparncia de

    vida matrimonial que pode suscitar a confiana de terceiros que contratem com ambos

    ou s com um deles.

    Na Unio de Facto no h um regime como o do art. 1691. Soluo

    Se no h regime prprio, o de aplicar o regime geral das obrigaes (sresponde pelas dvidas o patrimnio do prprio devedor);

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    No havendo regime na mesma, no se deixa de aplicar o art. 1691, uma vezque necessrio proteger o terceiro (situao de confiana) o que importa so

    os terceiros, independentemente de ter decorrido os 2 anos ou no.

    Desta forma, estende-se unio de facto o art. 1691 al. b): os sujeitos da relao so

    solidariamente responsveis pelas dvidas contradas por qualquer deles para ocorrer aos

    encargos normais da vida comum.

    Coloca-se a questo de saber, se a responsabilidade por dvidas a ser aplicada por

    analogia no requeria necessrio o prazo de dois anos a partir do qual a Unio de Facto

    produz efeitosquerela doutrinal:

    Prof. Pereira Coelho: devera ser aplicado o art. 1691 mas s no caso dasdvidas comuns do dia-a-dia.

    Prof. Ana Taveira da Fonseca: possvel aplicar o regime do art. 1691, masnormalmente as pessoas optam pela unio de facto exatamente para fugir

    obrigao de responder pelas dvidas dos cnjuges (embora tal seja incoerente:

    querem os direitos, mas no querem os deveres)

    d) Em Julho de 2011, Fernando morreu e deixou um testamento, realizado

    em Agosto de 2008, no qual consta uma clusula com o seguinte teor Deixo a

    totalidade dos meus bens mveis a Vanessa, a nica pessoa que verdadeiramente

    me amou. Ser vlida esta deixa testamentria?

    Nos termos do art. 2133/3, o cnjuge no chamado herana se data da morte do

    autor da sucesso se encontrar divorciado ou separado judicialmente de pessoas e bens,

    por sentena que j tenha transitado ou venha a transitar em julgado (). Deste modo,

    uma vez que Fernando obteve a separao de pessoas e bens com Teresa em Janeiro de

    2009, Teresa no herdeira de Fernando.

    Nos termos do art. 2196/1, nula a disposio a favor da pessoa com quem otestador

    casado cometeu adultrio. Uma vez que Vanessa se apaixonou por Fernando em Julho

    de 2008 (e supondo que foi reciproco), e uma vez que a separao de pessoas e bens s

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    foi proferida em Janeiro de 2009 conclui-se que Fernando cometeu adultrio pelo que,

    em princpio, a disposio em causa seria nula (fundamento: o dever de fidelidade no

    cessa com a separao judicial de pessoas e bens).

    Contudo, nos termos do art. 2196/2 al. a), a disposio no seria nula se os cnjuges

    j estavam separadosjudicialmente de pessoas e bens () h mais de seis anos data

    da abertura da sucesso.

    Nota: porqu seis anos? Seis anos na medida em que era o prazo que se previa a

    propsito do divrcio, ou seja a separao de facto seria relevante para pedir o divrcio

    se j durasse h seis anos. Hoje, a separao de facto relevante para pedir o divrcio se

    j dura h um ano. necessrio fazer uma interpretao correctiva do art. 2196/1 al. a)

    no seis anos, mas sim um ano.

    Deste modo, tendo o testamento sido realizado em Agosto de 2008 e tendo Fernando

    falecido em Julho de 2011 j havia decorrido 3anos e 11meses, ou seja mais de um ano.

    Daqui se conclui que a clusula seria vlida, nos termos do art. 2196/2 al. b).

    Nota:o regime das doaes, conforme prev o art. 953, diferente a clusula seria

    ad initio nula, no sendo sanvel mesmo que ocorresse a separao judicial de pessoas e

    bens.

    e) Poder Vanessa exigir a Xavier, que conduzindo manifestamente

    embriagado matou Fernando, uma indemnizao por danos morais sofridos com a

    morte deste?

    Nos termos do art. 496/3, a indemnizao em relao ao danos no patrimoniais, se a

    vtima vivia em unio de facto () cabe () pessoa que vivia com ela (), ou seja

    Vanessa poder exigir a Xavier a indemnizao por danos morais.

    Nota: com a alterao de 2010, os unidos de facto passam a ter os mesmos direitos (em

    termos de indemnizao por danos no patrimoniais) que os casados.

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    f) Imagine que Fernando no deixou qualquer testamento e Vanessa

    entende ter direito casa onde sempre viveu com Fernando, como marido e

    mulher, e a uma penso de sobrevivncia, uma vez que acabou o curso, mas ainda

    no se encontrava empregada. Ter razo? A resposta seria a mesma se, em vez de

    Fernando ter morrido, se tivesse reconciliado com Teresa?

    Lei n7/2001, de 11 de MaioMedidas de Proteco das Unies de Facto

    Hiptese de Fernando ter morrido sem deixar qualquer testamento

    Nos termos do art. 8/1 al. a), a Unio de Facto dissolveu-se com o falecimento de um

    dos membros.

    Direito Casa onde sempre viveu com Fernando

    Nos termos do art. 5/1 al. a), em caso de morte do membro da unio de facto

    proprietrio da casa da morada de famlia e do respectivo recheio, o membro sobrevivo

    pode permanecer na casa, pelo prazo de cinco anos, como titular de um direito real de

    habitao e de um direito de uso de recheio.

    Direito de exigir alimentos

    Nos termos do art. 2020/1, o membro sobrevivo de unio de facto tem o direito de

    exigir alimentos da herana do falecido.

    Ou seja, existe um direito a legado legtimo (lei), que se traduz na atribuio de bens,

    certos e determinados, normalmente por testamento.

    Hiptese de Fernando se ter reconciliado com Teresa

    Nos termos do art. 8/1 al. b), a Unio de Facto dissolveu-se por vontade de um dos

    membros (Fernando reconciliou-se simplesmente com Teresa), ou nos termos do art.

    8/1 al. c), a Unio de Facto dissolveu-se com o casamento de um dos membros(Fernando casou-se civilmente com Teresa).

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    Direito Casa onde sempre viveu com Fernando

    O art. 4 manda remete para o art. 1793 (casa prpria art. 1105 - casa arrendada), o

    qual dispe pode o tribunal dar de arrendamento a qualquer dos cnjuges, a seu pedido

    a casa de morada de famlia, quer essa seja comum quer seja prpria do outro,

    considerando, nomeadamente, as necessidades de cada um dos cnjuges e o interesse

    dos filhos do casal.Ou seja, Vanessa pode exigir o arrendamento da casa.

    Direito de Exigir Alimentos

    A lei no prev a hiptese de poder existir o direito de exigir alimentos quando exista

    rutura da unio de facto, ou seja nos termos do art. 2020/1 s h penso de alimentos

    por morte do unido de facto. Tal pode conduzir a situaes injustas.

    g) Suponha, agora, que antes de Fernando morrer, Teresa conheceu

    Manuel, divorciado, com quem passou a manter um relacionamento estvel apesar

    de este residir em Pampilhosa da Serra e ela no Funchal. Tendo tomado

    conhecimento desta situao, Fernando pretende deixar de pagar a Teresa a

    quantia de 1000,00 que mensalmente lhe pagava a ttulo de alimentos. Teresa

    considera que continua a ter direito quantia mencionada. Quid iuri s?

    Nos termos do art. 2019, cessa o direito a alimentos se o alimentado contrair novo

    casamento, iniciar unio de facto ou se tornar indigno do beneficiado pelo seu

    comportamento moral.

    Deste modo, embora Teresa tenha um relacionamento estvel no se encontram

    reunidas as condies de eficcia da unio de facto: comunho de leito, mesa e

    habitao (Teresa reside no Funchal e Manuel na Pampilhosa da Serra). Fernando ter

    de continuar a pagar a Teresa a quantia a ttulo de alimentos.

    Nota:at 2010, o direito a alimentos s cessava se o alimentado se voltasse a casar ou

    tivesse um comportamento indigno, ou seja deixava de fora a hiptese de unio de facto.

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    5.ACAPACIDADE MATRIMONIAL E IMPEDIMENTOS MATRIMONIAIS.CELEBRAO DO

    CASAMENTO:CASAMENTO COMUM E CASAMENTO URGENTE

    VII

    Ana, estudante, e Bernardo, engenheiro, numa viagem de fim-de-semana pela

    Serra da Estrela, sofreram um acidente de viao. Passados escassos instantes

    celebraram casamento receando que Bernardo falecesse. Mais tarde vem a

    descobrir-se que Ana tinha sido cmplice na morte de Carlota, ex-mulher de

    Bernardo.

    Qual a validade e eficcia deste casamento?

    Dados do Caso

    Ana e Bernardocasamento urgente (receio de morte) Ana cmplice na morte de Carlota (ex-mulher de Bernardo)

    No presente caso necessrio averiguar a existncia de impedimentos matrimoniais que

    possam obstar ao casamento:

    Nada nos dizendo no caso sobre as idades de Ana e Bernardo necessrioponderar a hiptese, de nos termos do art. 1601 al. a) estarmos face a um

    impedimento matrimonial dirimente de natureza absoluta ou de estarmos face a

    um impedimento matrimonial impediente, nos termos do art. 1604/1 al. a)

    Quem no tiver atingido a idade de 16 anos sofre de uma verdadeira incapacidade de

    gozo para a realizao do casamento, visto a vontade de contrair casamento ser

    estritamente pessoal em relao a cada um dos nubentes (art. 1619). Quem tiver

    atingido a idade nupcial, mas no for ainda maior, no sofre de qualquer impedimento

    matrimonial dirimente de natureza absoluta, necessitando apenas de autorizao dos

    pais ou do tutor, ou do respetivo suprimento judicial, requisito cuja falta constituiu mero

    impedimento impediente nos termos do art. 1604 al. a) em conjugao com o art.

    1612.

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    O Estabelecimento da Idade Nupcial assenta fundamentalmente em duas ideias:

    Natureza fisiolgica, ligada ideia de copula carnalis, como elemento essencialda comunho matrimonial de vida.

    Caracter psicolgico, mais relacionado com a vontade do que com odesenvolvimento fisiolgico dos nubentes (art. 1612/2 in fine).

    Nos termos do art. 1631 al. a), constituiu causa de anulabilidade do casamento, o

    casamento contrado com algum impedimento dirimente. Caso se tratasse de um

    impedimento matrimonial impediente, ou seja estando no mbito de aplicao do art.

    1604/1 al. a) o casamento no seria anulvel, sendo que se aplicaria o regime do art.

    1649, ou seja existe uma sano de caracter patrimonial.

    Nos termos do art. 1602 al. d), constituiu impedimento matrimonial dirimente denatureza relativa, a condenao anterior de um dos nubentes, como autor ou

    cmplice, por homicdio doloso, ainda que no consumado, contra o cnjuge do

    outro, e nos termos do art. 1604/1 al. f), constitui impedimento matrimonial

    impediente a pronuncia do nubente pelo crime de homicdio doloso, ainda queno consumado, contra o cnjuge do outro, enquanto no houver despronncia

    ou absolvio por deciso passada em julgado.

    No presente caso, uma vez que se indica expressamente que mais tarde tinha sido

    descoberto que Ana tinha sido cmplice na morte de Carlota, ex-mulher de Antnio

    pressupe-se que data da celebrao do casamento Ana ainda no havia sido

    condenada, pelo que neste caso aplicar-se-ia o art. 1604/1 al. f).

    Nos termos do art. 1604/1 al. f) Pretende-se evitar que o homicida consiga realizar o

    casamento, que a lei probe, enquanto no julgado e a deciso condenatria no

    transita em julgado. Para impedir a fraude prescreve-se que o processo de casamento se

    suspenda ou se no instaure, logo que a pronncia seja proferida. Uma vez proferida a

    sentena, o processo s prossegue ou s poder ser instaurado quando o arguido for

    despronunciado ou quando for absolvido da acusao por deciso em julgado.

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    Nos termos do art. 1650, no existe nenhuma sano de caracter patrimonial para os

    casos da al. f) do art. 1604/1. Tal derivada do facto de no processo crime existir uma

    presuno de inocncia ate que se prove o contrario, deste modo no se aplica nenhuma

    sano. Caso seja condenada, ser presa (sano penal).

    Nos termos do art. 1587, podem existir duas modalidades de casamento: catlico e civil

    (sendo que este, depois ainda pode assumir a forma de religioso sobre forma civil).

    Nada nos dizendo no caso, se o casamento urgente celebrado de forma civil ou

    catlica necessrio abrir as duas hipteses.

    Casamento Urgente CivilPressupondo que o requisito para que se verificasse o casamento urgente, constante do

    art. 1622, se encontrasse preenchido, ou seja existindo fundado receio de morte

    prxima de algum dos nubentes, ou iminncia de parto:

    Impedimento dirimente de natureza absoluta resultante da falta de idadenupcial: nos termos do art. 1624 al. c), existiria causa de recusa de

    homologao pelo que nos termos do art. 1628 al. b) o casamento seria

    inexistente.

    Impedimento impediente, nos termos do art. 1604/1 al. a) ou al. f) nestecaso seria necessria a homologao, sendo que se tal no for realizada o

    casamento inexistente nos termos do art. 1628 al. b).

    Sendo o casamento havido como inexistente, nos termos do art. 1630/1, o casamento

    no iria produzir nenhum efeito no podendo ser havido como putativo.

    Casamento Urgente CatlicoPressupondo que o requisito para que se verificasse o casamento urgente se encontrasse

    preenchido, constituiu causa de recusa de transcrio do casamento catlico, nos termos

    do art. 174/1 al. d) do CRCivil, a existncia, no momento da celebrao do casamento,

    de algum impedimento matrimonial dirimente (caso fossem menores). Em relao aos

    impedimentos impedientes, tais no obstam transcrio sendo o casamento vlido,mas enquanto no se realizar a transcrio no produz efeitos civis.

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    VIII

    Antnio e Maria celebraram casamento urgente. Maria era filha adoptiva de

    Pedro, o qual se veio a descobrir mais tarde ser pai natural de Antnio.

    Qual o valor e eficcia deste casamento?

    Dados do Caso:

    Antnio e Maria: casamento urgente Mariafilha adotiva de Pedro Pedropai natural de Antnio

    Em sentido real, Antnio e Maria no so irmos, sendo que s o seriam e a ttulo de:

    Germanos: se fossem filhos dos mesmos pais Uterinos: se fossem filhos da mesma me Consanguneos: se fossem filhos do mesmo pai

    Contudo, necessrio abrir a hiptese de ter sido uma adoo plena ou uma adoo

    restrita.

    Adoo Plena

    Constitui impedimento matrimonial dirimente relativo, ou seja impedimento que obsta

    ao casamento entre determinadas pessoas, nos termos do art. 1602 al. a), o parentesco

    na linha reta.

    Tal impedimento, alem de abranger o parentesco natural, ou seja assente nos laos de

    sangue (art. 1578), abrange igualmente o parentesco criado pelo vnculo de adoo

    plena.

    Conferindo ao adotado a condio de filho do adotante, em cuja famlia o integra, bem

    com os seus descendentes (art. 1986), a adoo plena transporta para as relaes entre o

    adotado e o adotante, os descendentes do primeiro e os ascendentes do segundo, deste

    modo explica-se que o art. 1604, quando se refere aos impedimentos impedientes,

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    omita qualquer referencia aos casos de adoo plena. Ou seja, nos termos do art.

    1986/1, o vnculo da adoo plena origina uma relao de parentesco.

    Contra o casamento entre o adotado e o adotante, no caso de adoo plena no existem

    razoes de natureza eugnica, mas apenas razoes de ordem moral e social.

    Importa ainda salientar, que nos termos do art. 1603/1, possibilita-se impedir o

    casamento com base num parentesco, valendo apenas para este efeito (no produz

    qualquer outro efeito e no vale sequer como comeo de prova em ao de investigao

    de maternidade ou paternidade).

    Ou seja, no caso de estar perante um caso de adoo plena, existe um impedimento

    matrimonial dirimente relativo.

    Nada nos dizendo no caso, se o casamento urgente celebrado de forma civil ou

    catlica necessrio abrir as duas hipteses.

    Casamento Urgente CivilPressupondo que o requisito para que se verificasse o casamento urgente, constante do

    art. 1622, se encontrasse preenchido, ou seja existindo fundado receio de morte

    prxima de algum dos nubentes, ou iminncia de parto, nos termos do art. 1624 al. c),

    existiria causa de recusa de homologao pelo que nos termos do art. 1628 al. b) o

    casamento seria inexistente.

    Sendo o casamento havido como inexistente, nos termos do art. 1630/1, o casamento

    no iria produzir nenhum efeito no podendo ser havido como putativo.

    Casamento Urgente CatlicoPressupondo que o requisito para que se verificasse o casamento urgente se encontrasse

    preenchido, constituiu causa de recusa de transcrio do casamento catlico, nos termos

    do art. 174/1 al. d) do CRCivil, a existncia, no momento da celebrao do casamento,

    de algum impedimento matrimonial dirimente.

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    Em suma, o casamento catlico j existe, mesmo antes da transcrio, na ordem jurdica

    civil, que inclusivamente lhe atribui determinados efeitos, mas s pode ser invocado ou

    atendido, e portanto, s produziria a plenitude dos seus efeitos (efeitos do

    casamento) quando a transcrio se efetuar.

    Adoo Restrita

    Nos termos do art. 1604 al. e), o vnculo de adoo restrita constituiu um impedimento

    matrimonial impediente.

    A adoo restrita obsta ao casamento do adotante com o adotado ou seus descendentes

    (art. 1607 al. a)), abrangendo neste caso apenas o parentesco legalmente reconhecido,

    pelo que no se explica a doutrina excecional do art. 1603.

    Tal proibio deve-se a razoes de ordem moral e social que servem de fundamento aos

    graves impedimentos previstos nas trs primeiras alneas do art. 1602, mas que no caso

    da adoo procedem com uma menor fora no que nos casos de parentesco e afinidade.

    O art. 1609/1 al. c) admite a dispensa do impedimento matrimonial impediente fundado

    na adoo restrita.

    Contudo, uma vez que estamos face a uma situao de parentesco no reconhecido (o

    qual se veio a descobrir mais tarde ser pai natural de Antnio), e o impedimento

    assente na adoo plena s se aplica a situaes de parentesco reconhecido, neste caso

    no existiria nenhum impedimento que obstasse ao casamento entre Maria e Antnio.

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    IX

    Antnio casou com Berta em 2008. Em 2009, Berta intenta uma aco de

    anulao do seu casamento com base em casamento anterior de Antnio com

    Carolina. Em 2010, Antnio intenta uma aco de anulao do seu casamento

    com Carolina com base em demncia desta. Em 2011, Antnio morre.

    Dados do Caso:

    2008: Antnio e Berta casam-se 2009Berta intenta uma ao de anulao do seu casamento com Antnio 2010Antnio intenta uma ao de anulao do seu casamento com Carolina 2011Antnio morre

    Nota: em ambos os casamentos se fala em ao de anulao, logo o casamento ter

    sido Civil (a validade dos casamentos civis s podem ser apreciada pelo Tribunais do

    Estado e s estes que declaram a anulao do casamento; a validade dos Casamentos

    Catlicos apreciada pelo Tribunais e Reparties Eclesisticas e s estes que podem

    declarar a nulidade do casamento)

    a) Qual a viabilidade da aco proposta por Berta?

    Nos termos do art. 1601 al. c), constituiu impedimento matrimonial de natureza

    absoluta, ou seja impedimento que se refere pessoa, e no s declaraes de vontade

    dos nubentes ou forma do ato, obstando ao casamento da pessoa a quem respeita com

    qualquer outra, o impedimento de vnculo, ou seja a existncia de casamento anterior

    no dissolvido

    Quem estiver casado, mesmo que o assento do casamento (catlico ou civil) no conste

    dos livros do registo civil, no pode casar de novo. Probe-se a bigamia em nome do

    Princpio da Unidade Matrimonial, considerando-a crime e consequentemente

    penalmente punida (art. 247)o casamento deve ser monogmico.

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    O Princpio da Unidade Matrimonial assenta na essencialidade atribuda comunho

    plena de vida entre os cnjuges, no podendo nenhum deles entregar-se a mais do que

    uma pessoa (s se pode casar o nubente, que seja solteiro, vivo ou divorciado).

    No presente caso, Carolina e Antnio encontram-se casados, sofrendo o casamento de

    um impedimento matrimonial dirimente absoluto, nos termos do art. 1601 al. b),

    assente na existncia de demncia de Carolina, vindo mais tarde Antnio a casar com

    Berta, sem o primeiro vnculo se encontrar dissolvido, o que constitui um impedimento

    matrimonial dirimente absoluto nos termos do art. 1601 al. c).

    Nos termos do art. 1643/3, logo que seja instaurada a ao de anulao do primeiro

    casamento do bgamo (casamento entre Antnio e Carolina), j no ser possvel

    instaurar ao de anulao do segundo casamento, invocando a existncia do

    impedimento de vnculo, nem sequer ser lcito prosseguir nela, enquanto tiver pendente

    a ao anulatria do primeiro. Anulado o primeiro casamento do bgamo ocorre destri-

    se com efeitos retroativos os efeitos produzidos pelo casamento anulvel.

    Em sequncia de tal, nos termos do art. 1633/1 al. c), sendo o casamento entre Antnio

    e Carolina anulado, o matrimnio entre Antnio e Berta convalidar-se- ipso iure, sem

    necessidade de celebrao de um novo ato, em virtude da eficcia retroativa da anulao

    do primeiro casamento. Tudo se passa, quanto ao vnculo matrimonial entre Antnio e

    Carolina como se eles nunca tivessem estado casados.

    Sub-Hiptese: e se o casamento entre Carolina e Antnio tivesse sido civil, e o

    casamento entre Antnio e Berto fosse catlico?

    A ordem jurdica no iria transcrever o casamento catlico entre Antnio e Berta. ODireito Cannico no reconhece o primeiro casamento civil, e deste modo no haveria

    nenhum impedimento, sendo o casamento vlido.

    Ou seja, no transcrevendo a ordem jurdica civil o casamento catlico e supondo a

    situao de a ao de anulao intentada por Antnio em relao ao seu casamento com

    Carolina ser julgada improcedente, qual seria a situao de Berta uma vez que no

    poderia voltar a casar na medida em que existiria um impedimento de vnculo nostermos do art. 1601 al. c) (casamento anterior no dissolvido () ainda que o

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    respetivo assento no tenha sido lavrado no registo do estado civil), nem se poderia

    divorciar uma vez que o casamento catlico transcrito no produz efeitos civis.

    Art. 1625: refere-se a dispensa, sendo tal uma forma de dissoluo doscasamentos catlicos:

    Casamento rato: casamento vlido entre dois batizados, nascido comosacramento, que ser consumado logo que completado com a cpula

    conjugalcasamento rato e consumado considerado indissolvel.

    Casamento No Consumado: no houve coabitao entre os cnjuges. Ovnculo matrimonial pode dissolver-se ou extinguir-se desde que, alm da

    inconsumao d ato, se alegue e prove a existncia de justa causa dedispensa.

    necessrio, segundo o Prof. Pereira Coelho analisar a constitucionalidade do referido

    artigo: no ser o art. 1625 inconstitucional face ao que dispe a Constituio no seu

    art. 36/2?

    O artigo 36/2 da CRP dispe A lei regula os requisitos e os efeitos do casamento e a

    sua dissoluo, por morte ou divrcio, independentemente da forma de celebrao, e

    uma vez que o art. 1625 prev uma forma de dissoluo dos casamentos catlicos

    (dispensa do casamento rato e no consumado) no estar este ltimo a violar o

    disposto constitucional?

    A resposta negativa, uma vez que quando o legislador constitucional se refere ao facto

    de ser a ordem civil a regular tal verdade, ou seja refere-se ao CC legisladorordinrio remete para outra rea jurdica.

    Contudo, segundo o Prof. Francisco Barona, o art. 1625 poder ser inconstitucional

    na medida em que enquanto o art. 36/2 da CRP se refere dissoluo por morte ou

    divrcio, o art. 1625 refere-se dispensa do casamento rato e no consumado,

    criando-se mais uma formula de dissoluo para os casamentos catlicos. Poder

    ponderar-se a existncia de uma inconstitucionalidade parcial:

    Violao do art. 36/2 da CRP

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    Violao do Princpio da Igualdade

    Privilgio Paulino:dissoluo do casamento legtimo, que o nome dado pelostextos cannicos ao casamento validamente celebrado entre no batizados. Esse

    casamento pode dissolver-se quando um dos cnjuges se converta e receba o

    batismo na Igreja Catlica e o outro no se converta nem torne possvel a vida

    conjugal e familiar sem ofensa da f do convertido. Ou seja, trata-se de um

    instituto do Direito Cannico que permite que as autoridades eclesisticas

    possam dissolver um casamento civil anterior (dois no batizados casamento

    civil; um converte-se f catlica e um batizadocasamento catlico).

    Como, porm, o casamento legtimo, hoc sensu, no um casamento catlico, mas civil

    tem-se entendido que a dissoluo baseada no Privilgio Paulino no esta compreendida

    no texto da Concordata, nem no mbito do art. 1625.

    Prof. Mrio de Figueiredo: a dissoluo de um casamento entre no batizados, em

    razo do Privilgio Paulino no pode ser mandada anular, porque tal casamento no

    catlico e no foi transcrito. Pode existir o registo, mas ento que o casamento foi

    celebrado civilmente e s pelos tribunais civis pode ser anulado ou dissolvido.

    Ou seja, quando no art. 1625 se refere aos Tribunais Eclesisticos tal no abrange o

    Princpio Paulino: tal como os Tribunais Civis no podem declarar a invalidade de um

    casamento catlico luz do Direito Civil, o mesmo em sentido contrario no pode

    acontecer.

    A cada Direito corresponde uma Aopretende-se a remoo do impedimentomatrimonial, uma vez que Berta no se encontra numa situao de igualdade

    (soluo)

    b) Quem sucede a Antnio, sabendo que este no tem ascendentes oudescendentes vivos?

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    Se o casamento entre Antnio e Berta se convalidar, nos termos dos art. 1633/1 al. c),

    com a anulao do casamento entre Antnio e Carolina, quando Antnio falecer, nos

    termos do art. 2133 al. a), ser Berta a suceder.

    No sendo invalidado nenhum casamento, existem duas vivas que iro ser chamadas

    quota legitimria, ocorrendo deste modo uma compresso da quota.

    X

    Amlia casou civilmente com Bernardino, em 1979.

    Poucos meses depois do casamento, Amlia desapareceu sem dar notcias.

    Aps a declarao de morte presumida de Amlia, Bernardino voltou a casarcivilmente com Cristina, em 1997.

    No incio de 1999, reaparece inesperadamente Amlia. Esta explica que

    esteve 20 anos de frias no Brasil, porque tinha cometido um crime, em 1979.

    Amlia quer retomar a vida conjugal com Bernardino. A soluo seria a mesma

    caso Amlia e Bernardino tivessem casado catolicamente, assim como Bernardino

    e Cristina?

    Dados do Caso:

    1979: Amlia e Bernardino casam civilmente/catolicamente. Poucos Meses Depois do Casamento: Amlia desapareceu Aps a Declarao de Morte Presumida, em 1997: Bernardo e Cristina casam-se

    civilmente/catolicamente

    Incio de 1999: Amlia reaparece

    1. Diga qual a validade dos dois casamentos em causa e analise a viabilidade

    da pretenso de Amlia.

    Se um dos nubentes tiver casado anteriormente s obre o sue cnjuge tiver recado a

    declarao de morte presumida haver que se aplicar o art. 116.

    A verso inicial do art. 116 distinguia entre a hiptese de o casamento ser civil e a de

    ser catlico o casamento do presuntivo falecido:

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    requerido e obtido o divrcio, invocando o fundamento do art. 1781 al. c))

    situao de bigamia legal segundo o Prof. Antunes Varela.

    No presente caso, o primeiro casamento, celebrado entre Amlia e Bernardino era

    vlido e dissolveu-se por divrcio quando ela regressa no incio de 1999, e o segundo

    casamento celebrado entre Bernardino e Cristina tambm seria vlido.

    Casamento CatlicoComo a declarao de morte presumida no dissolve ocasamento, apenas se ressalvando o disposto do art. 116, que limita a

    possibilidade de novas npcias ao cnjuge casado civilmente, o cnjuge do

    ausente casado catolicamente no pode casar novamente, enquanto no for dada

    como certa, atravs da respetiva certido de bito, a morte do desaparecido.

    Nota: o art. 116 estava pensado para quando era possvel o divrcio nos casos de

    casamento catlico, o que se tornou possvel com a Reforma de 77.

    Prof. Antunes Varela: no pode haver um segundo casamento catlico,enquanto no for dada como certa, atravs da respetiva certido de bito, a

    morte do desaparecido. Contudo, o cnjuge do ausente pode requerer o divrcio

    para poder voltar a casar civilmenteinterpretao literal do art. 116.

    Prof. Pereira Coelho: faz uma interpretao extensiva do art. 116 - adeclarao de morte presumida permite a celebrao vlida do segundo

    casamento.

    Problema: sendo o segundo casamento catlico (posio do Prof. PereiraCoelho), se o ausente regressa, o segundo casamento ir considerar-se nulo

    (cnone 1085)

    Deste modo:se um dos cnjuges ficar ausente, o outro pode:

    Pedir o Divrcio

    Pedir a Declarao de Morte Presumida

    com tal declarao, se o primeirocasamento catlico:

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    Prof. Antunes Varela: no pode o outro cnjuge casar Prof. Pereira Coelho: no pode ser impedido o segundo casamento (no

    h qualquer razo valida para tal)

    6.FALTA E VCIO DO CONSENTIMENTO DOS NUBENTES

    XIV

    Maria casou civilmente com Joo, em Janeiro de 2005, para que este

    adquirisse a nacionalidade portuguesa. Maria no queria casar, mas o seu Pai

    obrigou-a, invocando que, de outra forma, denunciaria a Me pela prtica de um

    crime de homicdio. Dois meses depois de terem casado, Joo passou a viver com

    Maria. Em Abril desse mesmo ano, Joo tomou conhecimento de que Maria

    acabava nesse ms de completar 16 anos de idade. Joo est desgostoso com a

    imaturidade revelada por Maria. Esta recusa-se a realizar qualquer tarefa

    domstica, passa os dias a ver televiso e envergonha o marido em pblico. Depois

    de vrias tentativas mal sucedidas, para conseguir viver com a mulher de forma

    harmoniosa, Joo pretende extinguir o seu casamento contra a vontade de Maria,

    que est satisfeita com a relao.

    Pronuncie-se sobre as hipteses que Joo ter de extinguir a sua relao

    matrimonial e sobre a respectiva viabilidade.

    Dados do Caso:

    Janeiro de 2005: Maria e Joo casam-se civilmente Joo casa com Maria com o intuito de obter nacionalidade portuguesa Coao Moral sob Maria por parte do seu pai Maro de 2005: Joo e Maria passam a viver juntos Abril de 2005: Maria completa 16 anos de idade

    Opes de Joo para extinguir a sua relao matrimonial com Maria

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    1. Nos termos do art. 1601 al. a), constitui impedimento matrimonial dirimenteabsoluto, obstando ao casamento da pessoa a quem respeitam com qualquer

    outra, a idade inferior a 16 anos.

    Quem no tiver atingido a idade de 16 anos sofre de uma verdadeira incapacidade de

    gozo para a realizao do casamento, visto a vontade de contrair casamento ser

    estritamente pessoal em relao a cada um dos nubentes (art. 1619). Quem tiver

    atingido a idade nupcial, mas no for ainda maior, no sofre de qualquer impedimento

    matrimonial dirimente de natureza absoluta, necessitando apenas de autorizao dos

    pais ou do tutor, ou do respetivo suprimento judicial, requisito cuja falta constituiu mero

    impedimento impediente nos termos do art. 1604 al. a) em conjugao com o art.

    1612.

    O Estabelecimento da Idade Nupcial assenta fundamentalmente em duas ideias:

    Natureza fisiolgica, ligada ideia de copula carnalis, como elemento essencialda comunho matrimonial de vida.

    Caracter psicolgico, mais relacionado com a vontade do que com odesenvolvimento fisiolgico dos nubentes (art. 1612/2 in fine).

    Nos termos do art. 1631 al. a), constituiu causa de anulabilidade do casamento, o

    casamento contrado com algum impedimento dirimente. Nos termos do art. 1639/1

    Joo teria legitimidade para intentar a ao de anulao fundada em impedimento

    dirimente (Tm legitimidade para intentar a ao de anulabilidade fundada em

    impedimento dirimente, ou para prosseguir nela, os cnjuges ()), podendo faz-lo

    dentro dos trs anos seguintes celebrao do casamento, mas nunca depois damaioridade (), nos termos do art. 1643/1.

    2. Nos termos do art. 1635 al. d), consubstancia uma situao de divergncia entrea Vontade da Declarao e a Declarao dos Nubentes (Falta de Vontade), o

    casamento simulado.

    A Simulao do Casamento consiste especialmente no acordo das partes em no se

    sujeitarem s obrigaes e no exercitarem os direitos que, essencialmente, decorrem do

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    Ameaa de um mal, a Cominao de um Dano: se a declarao do nubenteprovem do receio de um mal, mas esse estado de receio se formou

    espontaneamente no espirito do declarante, sem nenhuma ameaa explicita ou

    velada do mal feita por interesse no existe coao moral, mas sim Temor

    Reverencial (art. 255/3):

    No caso, Maria no queria casar, mas o seu pai obrigou-a, invocando que de

    outra forma, denunciaria a me pela pratica de um crime de homicdio

    requisito verificado: ameaa de uma mal o pai denunciaria a me; cominao

    de um danoa me iria presa

    Intencionalidade da Ameaa (pelo autor) e determinante (pelo lado da vtima):havendo ameaa de um mal, mas sem o propsito de forar o nubente a emitir a

    declarao de vontade, no existe extorso da declarao. Contudo, havendo

    ameaa e a cominao do mal visava fora a declarao, mas no provocando

    tal ameaa medo no declarante, no existe extorso da declarao por coao

    apesar da ameaa e da tentativa de extorso da declarao mostra-se que a

    ameaa no foi determinante, tendo o declarante agido livre e espontaneamente.

    O mal com que o declarante ameaado, para haver coao pode respeitar:

    pessoa, como honra ou ao patrimnio, seja do declarante seja de terceiro

    essencial que seja determinante.

    No caso, Maria no queria casar, mas o seu pai obrigou-a, invocando que de

    outra forma, denunciaria a me pela pratica de um crime de homicdio

    requisito verificado: intencionalidade da ameaao pai sabia que o nico modo

    de a obrigar a casar era ameaando-a com a denncia da me; determinante

    se no fosse por tal, Maria no se casaria.

    Ilicitude da ameaa do mal: a cominao do mal usada para extorquir adeclarao tem de ser injusta.

    Requisito no verificadoa ameaa assenta no exerccio normal de um direitoque a lei confere ao autor.

    Requisitos Especficos do Casamento

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    Essencialidade: o erro necessita de ser essencial tanto a nvel subjetivo como anvel objetivo.

    Essencialidade Subjetiva: quando se mostra que o nubente no teriacasado, sem o erro de que foi vtima.

    Essencialidade Objetiva: necessria a reao presumvel do enganadoseja razovel, e que sem o erro, razoavelmente, o casamento no teria

    sido celebrado. A atitude do enganado ser razovel sempre que seja

    justifica, compreensvel e humana (e no puramente excntrica,

    disparatada, censurvel ou condenvel)

    existe um critrio tico derazoabilidade.

    Propriedade do Erro: o erro necessita de ser prprio (autnomo=,ou seja o erro no deve recair sobre qualquer requisito legal de

    existncia ou validade do casamento.

    Nota: no confundir entre as qualidades que podem reputar-se essenciais ao casamento

    e as que so apenas prprias. No se torna indispensvel que a reao eventual

    (presumvel ou conjetural) do nubente corresponda da generalidade ou do comum das

    pessoas.

    7.CASAMENTO PUTATIVOXV

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    Em 2007, Antnio e Berta casaram. Em 2008, Berta adquiriu um imvel para

    habitao, tendo pago do preo e ficado a dever o restante. Em 2009, Antnio

    intenta uma aco de anulao do seu casamento invocando coaco moral. Em

    2010, Berta morre e precisamente nesse dia proferida a sentena no processo

    de anulao.

    Dados do Caso

    2007: Antnio e Berta casam-se (civilmentever tpico seguinte) 2008: Berta adquiriu um imvelpagou do preo e ficou a dever o resto 2009: Antnio intenta uma ao de anulao com base em coao moral 2010: Berta morre e nesse dia proferida sentena de anulao no processo

    Se a declarao de nulidade (casamento catlico) ou a anulao do casamento

    (casamento civil) desencadeasse os mesmos efeitos caractersticos da nulidade ou da

    anulabilidade dos negcios jurdicos em geral a relao matrimonial passaria a ser

    considerada como uma pura relao ou unio de facto. Para evitar tais situaes, o nosso

    ordenamento jurdico consagra o instituto do casamento putativo que figura no art.

    1647 e art. 1648.

    O casamento putativo necessita para a sua aplicao de preencher determinados

    requisitos:

    indispensvel a celebrao de um casamento com existncia jurdica, de umcasamento que no padea de qualquer dos defeitos radicais consagrados no art.

    1628. Nos termos do art. 1630/1, o casamento inexistente no produz qualquer

    efeito jurdico e nem sequer havido como casamento putativo.

    Na medida, em que o casamento celebrado entre Antnio e Berta no padece de nenhum

    dos defeitos consagrados em nenhuma das al. do art. 1628, considera-se o casamento

    existenterequisito verificado.

    essencial a deciso que anule ou declare nulo o casamento. Enquanto ostribunais do Estado no decretarem a anulao do casamento civil, ou os

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    Tribunais ou Reparties Eclesisticas no declarem a nulidade do casamento

    catlico, do casamento celebrado (e no do casamento putativo) que

    promanam os efeitos aplicveis as relaes entre os cnjuges ou s relaes

    deles com terceiros. Deste modo, conclui-se que nem a nulidade do casamento

    catlico, nem a anulabilidade do casamento civil opera ipso iure, e o casamento

    putativo s se instala sobre a situao de facto resultante da declarao de

    nulidade ou de anulao, nos termos do art. 1647/1 e 3.

    No caso, nos dito que Antnio intenta uma ao de anulao invocando coao moral.

    Nos termos do art. 1638, a existncia de coao moral consubstancia um vcio do

    consentimento.

    Nos termos do art. 1631 al. b), o casamento celebrado sob coao anulvel, sendo que

    Antnio teria legitimidade para intentar a ao nos termos do art. 1641 (a ao de

    anulao fundada em vcios da vontade s pode ser intentada pelo cnjuge que foi

    vtima () da coao).

    Ora, no presente caso, expressamente dito que no dia em que Berta falece em 2010,

    proferida a anulao do processorequisito verificado.

    Existncia de boa f, por parte de ambos os cnjuges (art. 1647/1) ou por partede um deles pelo menos (art. 1647/2), no momento da celebrao do casamento.

    Entende-se por boa f o facto do cnjuge ter ignorado (no momento da celebrao do

    casamento) o vcio causador da nulidade ou anulabilidade, o em ter prestado o seu

    consentimento nupcial sob coao, nos termos do art. 1648/1. Trata-se de uma boa fem sentido tico, ou seja o sujeito tenha contrado o casamento em termos que no seja

    merecedor de censura. O conhecimento da boa f da exclusiva competncia dos

    Tribunais do Estado, na medida em que se encontram em causa efeitos civis, nos termos

    do art. 1648/2 e presume-se, nos termos do art. 1648/1.

    No presente caso, nada nos diz sobre quem coagiu quem, sendo necessrio abrir duas

    hipteses:

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    Nos termos do art. 2133/1 al. a), Antnio seria cnjuge legitimrio pelo que sucederia

    na herana.

    XVI

    Em Abril de 1998, Ana e Bernardo, ambos cidados portugueses e mdicos,

    conheceram-se no Rio de Janeiro onde se tinham dirigido com o objectivo de

    aperfeioarem os seus conhecimentos de cirurgia esttica.

    Em Julho de 1999, Carolina, tia-av de Ana, deu-lhe uma carrinha Golf, no

    valor de 32.000 Euros, e um quadro de Malhoa, avaliado em 500.000 Euros.

    Ana e Bernardo vieram a casar civilmente, em 15 de Setembro de 2000,

    aps terem celebrado uma conveno antenupcial em que estipularam a

    comuni cabil idade dos bens, adquir idos a ttulo gratui to, antes do casamento.

    Bernardo, em Abril de 1996, durante a viagem de finalistas do curso de

    Medicina, tinha entrado numa Wedding Chapelem Las Vegas com a sua namorada

    da altura, Graa, e casou perante os seus colegas. Nem Bernardo nem Graa

    requereram a transcrio do casamento, que alis nunca levaram a srio.

    Pronuncie-se sobre a validade dos casamentos celebrados entre Bernardo e

    Graa, e Bernardo e Ana?

    Supondo que o casamento de Ana e Bernardo vem a ser efectivamente

    invalidado, diga a quem pertence o quadro de Malhoa?

    Exame de 21 de Janeiro de 2006

    Dados do Caso:

    Abril de 1996, Las Vegas: Bernardo e Graa casam-se numa Wedding Chapelperante os seus colegascasamento sem transcrio

    Abril de 1998: Ana e Bernardo conhecem-se no Rio de Janeiro Julho de 1999: Carolina (Tia-Av de Ana) deu-lhe (1) carrinha Golf; (2) Quadro

    de Malhoa

    15 de Setembro e 2000: Ana e Bernardo casaram-se civilmente com umaconveno antenupcial

    Casamento entre Graa e Bernardo: nos termos do art. 1651 em conjugao com o art.

    1669 o casamento vlido mas no produz efeitos civis.

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    Casamento entre Bernardo e Ana Nos termos do art. 1601 al. c), constituiu

    impedimento matrimonial de natureza absoluta, ou seja impedimento que se refere

    pessoa, e no s declaraes de vontade dos nubentes ou forma do ato, obstando ao

    casamento da pessoa a quem respeita com qualquer outra, o impedimento de vnculo, ou

    seja a existncia de casamento anterior no dissolvido

    Quem estiver casado, mesmo que o assento do casamento (catlico ou civil) no conste

    dos livros do registo civil, no pode casar de novo (o casamento anterior no

    dissolvido, catlico ou civil, ainda que o respetivo assento no tenha sido lavrado no

    registo do Estado Civil). Probe-se a bigamia em nome do Princpio da Unidade

    Matrimonial, considerando-a crime e consequentemente penalmente punida (art. 247)

    o casamento deve ser monogmico.

    O Princpio da Unidade Matrimonial assenta na essencialidade atribuda comunho

    plena de vida entre os cnjuges, no podendo nenhum deles entregar-se a mais do que

    uma pessoa (s se pode casar o nubente, que seja solteiro, vivo ou divorciado).

    Nos termos do art. 1631 al. a), o casamento celebrado entre Ana e Bernardo seria

    anulvel.

    Se a declarao de nulidade (casamento catlico) ou a anulao do casamento

    (casamento civil) desencadeasse os mesmos efeitos caractersticos da nulidade ou da

    anulabilidade dos negcios jurdicos em geral a relao matrimonial passaria a ser

    considerada como uma pura relao ou unio de facto. Para evitar tais situaes, o nosso

    ordenamento jurdico consagra o instituto do casamento putativo que figura no art.

    1647 e art. 1648.

    O casamento putativo necessita para a sua aplicao de preencher determinados

    requisitos:

    indispensvel a celebrao de um casamento com existncia jurdica, de umcasamento que no padea de qualquer dos defeitos radicais consagrados no art.

    1628. Nos termos do art. 1630/1, o casamento inexistente no produz qualquerefeito jurdico e nem sequer havido como casamento putativo.

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    Na medida, em que o casamento celebrado entre Ana e Bernardo no padece de nenhum

    dos defeitos consagrados em nenhuma das al. do art. 1628, considera-se o casamento

    existenterequisito verificado.

    essencial a deciso que anule ou declare nulo o casamento. Enquanto ostribunais do Estado no decretarem a anulao do casamento civil, ou os

    Tribunais ou Reparties Eclesisticas no declarem a nulidade do casamento

    catlico, do casamento celebrado (e no do casamento putativo) que

    promanam os efeitos aplicveis as relaes entre os cnjuges ou s relaes

    deles com terceiros. Deste modo, conclui-se que nem a nulidade do casamento

    catlico, nem a anulabilidade do casamento civil opera ipso iure, e o casamento

    putativo s se instala sobre a situao de facto resultante da declarao de

    nulidade ou de anulao, nos termos do art. 1647/1 e 3.

    No caso, existindo um impedimento matrimonial dirimente absoluto, que assenta na

    existncia de um vnculo anterior no dissolvido, nos termos do art. 1601 al. c), tal

    casamento seria anulvel nos termos do art. 1631 al. a) requisito verificado

    Existncia de boa f, por parte de ambos os cnjuges (art. 1647/1) ou por partede um deles pelo menos (art. 1647/2), no momento da celebrao do casamento.

    Entende-se por boa f o facto do cnjuge ter ignorado (no momento da celebrao do

    casamento) o vcio causador da nulidade ou anulabilidade, o em ter prestado o seu

    consentimento nupcial sob coao, nos termos do art. 1648/1. Trata-se de uma boa f

    em sentido tico, ou seja o sujeito tenha contrado o casamento em termos que no seja

    merecedor de censura. O conhecimento da boa f da exclusiva competncia dos

    Tribunais do Estado, na medida em que se encontram em causa efeitos civis, nos termos

    do art. 1648/2 e presume-se, nos termos do art. 1648/1.

    No presente caso, nada nos indica sobre se estavam os dois ou apenas um de boa f,

    pelo que ser necessrio abrir as duas hipteses:

    Antnio de m fum de boa f e outro de m f.

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    Considerando as relaes jurdicas estabelecidas entre os cnjuges (dvidas contradas

    por ambos ou por um deles, alienaes realizadas por ambos ou por um deles, com ou

    sem o consentimento do outro), s o cnjuge de boa f, depois de definitivamente

    declarada a nulidade ou a anulao do casamento, pode invocar os benefcios do estado

    matrimonial, para resguardar os efeitos ate ento produzidos. Porem uma vez invocados

    por ele os benefcios do estado matrimonial, os respetivos efeitos mantm-se, no s

    entre os cnjuges, como reflexamente, em relao a terceiros, quer estes sejam

    favorveis, quer desfavorveis ao cnjuge de boa f.

    Nota: mero reflexo das relaes havidas entre os cnjuges, ou seja no comporta

    relaes diretas havidas entre os cnjuges e terceiros, como por exemplo o caso da

    afinidade.

    Bernardo como nunca levou a srio o casamento celebrado com Graa estaria deboa fambos de boa f

    Respeitam-se todos os efeitos que o casamento tenha produzido at ao trnsito em

    julgado da sentena de anulao ou ate ao averbamento da deciso declaratria de

    nulidade, sendo que o efeito mantm-se tanto nas relaes entre os ex-cnjuges como

    em relao a terceiros. Deste modo ocorre apenas a destruio do vnculo matrimonial,

    sendo que o casamento putativo opera-se de modo automtico.

    Regime de Bens: Ana e Bernardo celebraram uma conveno antenupcial na qual

    estipularam a comunicabilidade dos bens adquiridos a ttulo gratuito, antes do

    casamento existindo uma conveno antenupcial, nos termos do art. 1698 tal iraplicar-se na parte convencionada, aplicando-se deste modo supletivamente o regime do

    art. 1717, ou seja da comunho de adquiridos, em relao aos restantes bens.

    Ana e Bernardo ambos de boa f: o quadro e carrinha seriam comuns na medidaem que se trata de um bem que a conveno antenupcial regula.

    Bernardo de M F (art. 1647/2):

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    Ana Invoca Casamento Putativo: quadro e carrinha passam a ser deambos

    Ana no invoca casamento putativo: destruio retroativa de todos osefeitos, pertencendo o quadro e a carrinha a Ana.