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DIREITO PENALSÚMULAS E JURISPRUDÊNCIA

Professor Alexandre Salim

1. MAUS ANTECEDENTES E PERÍODO DEPURADOR

INFORMATIVO STF 778 (27/03/2015)O Ministro Gilmar Mendes (relator) concedeu a ordem para restabelecer adecisão do tribunal de justiça que afastara os maus antecedentes,considerada condenação anterior ao período depurador (CP, art. 64, I), paraefeito de dosimetria da pena. Afirmou que o período depurador de cincoanos teria a aptidão de nulificar a reincidência, de forma que não poderiamais influenciar no “quantum” de pena do réu e em nenhum de seusdesdobramentos.

Observou que seria assente que a “ratio legis” consistiria em apagar da vidado indivíduo os erros do passado, já que houvera o devido cumprimento desua punição, de modo que seria inadmissível atribuir à condenação o“status” de perpetuidade, sob pena de violação aos princípiosconstitucionais e legais, sobretudo o da ressocialização da pena. AConstituição vedaria expressamente, na alínea b do inciso XLVII do art. 5º, aspenas de caráter perpétuo.

Esse dispositivo suscitaria questão acerca da proporcionalidade da pena ede seus efeitos para além da reprimenda corporal propriamente dita. Nessaperspectiva, por meio de cotejo das regras basilares de hermenêutica,constatar-se-ia que, se o objetivo primordial fosse o de se afastar a penaperpétua, reintegrando o apenado no seio da sociedade, com maior razãodever-se-ia aplicar esse raciocínio aos maus antecedentes.

(HC 126315/SP, j. 17.3.2015)

2. PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO: HOMICÍDIO E POSSE ILEGAL DE ARMA

INFORMATIVO STF 775 (09/03/2015)A 1ª Turma, por maioria, julgou extinto HC em que se discutia aaplicabilidade do princípio da consunção em hipótese de prática dehomicídio com o uso de arma de fogo de numeração raspada. No caso, opaciente fora absolvido sumariamente em relação ao delito de homicídio,uma vez sua conduta haver caracterizado legítima defesa. Não obstante,remanescia a persecução penal no tocante ao crime de posse e porte dearma de fogo.

A Turma reputou que os tipos penais seriam diversos, e que a excludente deilicitude reconhecida quanto ao homicídio não alcançaria a posse ilegal dearma de fogo com numeração raspada. Vencido o Ministro Luiz Fux (relator),que concedia a ordem de ofício, por entender incidir o princípio daconsunção.

(HC 120678, j. 24/2/2015)

3. TEORIA DA DUPLA IMPUTAÇÃO

ANTIGA ORIENTAÇÃO DO STJ – I(...) 5. É possível a responsabilização criminal de pessoas jurídicas por delitos ambientais, desde que haja a imputação concomitante da pessoa física que seja responsável juridicamente, gerencie, atue no nome da pessoa jurídica ou em seu benefício.

(HC 187842, j. 17/09/2013)

ANTIGA ORIENTAÇÃO DO STJ – II1. Para a validade da tramitação de feito criminal em que se apura o cometimento de delito ambiental, na peça exordial devem ser denunciados tanto a pessoa jurídica como a pessoa física (sistema ou teoria da dupla imputação). Isso porque a responsabilização penal da pessoa jurídica não pode ser desassociada da pessoa física - quem pratica a conduta com elemento subjetivo próprio.2. Oferecida denúncia somente contra a pessoa jurídica, falta pressuposto para que o processo-crime desenvolva-se corretamente.

(RMS 37293, j. 02/05/2013)

STF1. O art. 225, § 3º, da Constituição Federal não condiciona aresponsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais àsimultânea persecução penal da pessoa física em tese responsável noâmbito da empresa. A norma constitucional não impõe a necessária duplaimputação. 2. As organizações corporativas complexas da atualidade secaracterizam pela descentralização e distribuição de atribuições eresponsabilidades, sendo inerentes, a esta realidade, as dificuldades paraimputar o fato ilícito a uma pessoa concreta.(...)

STF3. Condicionar a aplicação do art. 225, §3º, da Carta Política a uma concretaimputação também a pessoa física implica indevida restrição da normaconstitucional, expressa a intenção do constituinte originário não apenas deampliar o alcance das sanções penais, mas também de evitar a impunidadepelos crimes ambientais frente às imensas dificuldades de individualizaçãodos responsáveis internamente às corporações, além de reforçar a tutela dobem jurídico ambiental.(...)

STF4. A identificação dos setores e agentes internos da empresa determinantesda produção do fato ilícito tem relevância e deve ser buscada no casoconcreto como forma de esclarecer se esses indivíduos ou órgãos atuaramou deliberaram no exercício regular de suas atribuições internas à sociedade,e ainda para verificar se a atuação se deu no interesse ou em benefício daentidade coletiva.

Tal esclarecimento, relevante para fins de imputar determinado delito àpessoa jurídica, não se confunde, todavia, com subordinar aresponsabilização da pessoa jurídica à responsabilização conjunta ecumulativa das pessoas físicas envolvidas. Em não raras oportunidades, asresponsabilidades internas pelo fato estarão diluídas ou parcializadas de talmodo que não permitirão a imputação de responsabilidade penal individual.

(RE 548181, j. 06/08/2013)

NOVA ORIENTAÇÃO DO STJ(...) 7. A pessoa jurídica também denunciada deve permanecer no polopassivo da ação penal. Alerte-se, em obiter dictum, que a Primeira Turma doSupremo Tribunal Federal reconheceu que a necessidade de duplaimputação nos crimes ambientes viola o disposto no art. 225, 3.º, daConstituição Federal.

(HC 248073, j. 01/04/2014)

4. PRESCRIÇÃO PENAL RETROATIVA E CONSTITUCIONALIDADE

INFORMATIVO STF 771 (18/12/2014)O STF aduziu que a inovação legislativa estaria inserta na liberdade de conformação do legislador, que teria legitimidade democrática para, ao restringir direitos, escolher os meios que reputasse adequados para a consecução de determinados objetivos, desde que não lhe fosse vedado pela Constituição e nem violasse a proporcionalidade, a fim de realizar uma tarefa de concordância prática justificada pela defesa de outros bens ou direitos constitucionalmente protegidos.

(HC 122694, j. 10/12/2014)

5. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA: REINCIDÊNCIA E CRIME QUALIFICADO

INFORMATIVO STF 771 (08 A 12/12/2014)O Min. Roberto Barroso assinalou que a reincidência do paciente - antes ele furtara roupas em um varal, e agora um chinelo - não deveria ser tratada como impedimento a que fosse aplicado o princípio da insignificância. Caso se entendesse que o furto de coisa de valor ínfimo pudesse ser punido em caso de reincidência do agente, seria necessário admitir que a insignificância passaria do domínio da tipicidade para o da culpabilidade.

Ademais, não seria possível afirmar, à luz da Constituição, que uma mesma conduta fosse típica para uns e não fosse para outros - os reincidentes - sob pena de se ter configurado inaceitável direito penal do autor e não do fato.

(HC 123108, j. 10/12/2014)

INFORMATIVO STJ 548 (22/10/2014)Aplica-se o princípio da insignificância à conduta formalmente tipificadacomo furto tentado consistente na tentativa de subtração de chocolates,avaliados em R$ 28,00, pertencentes a um supermercado e integralmenterecuperados, ainda que o réu tenha, em seus antecedentes criminais,registro de uma condenação transitada em julgado pela prática de crime damesma natureza.

A intervenção do Direito Penal há de ficar reservada para os casos realmentenecessários. Para o reconhecimento da insignificância da ação, não se podelevar em conta apenas a expressão econômica da lesão. Todas aspeculiaridades do caso concreto devem ser consideradas, como, porexemplo, o grau de reprovabilidade do comportamento do agente, o valor doobjeto, a restituição do bem, a repercussão econômica para a vítima, apremeditação, a ausência de violência e o tempo do agente na prisão pelaconduta.

Nem a reincidência nem a reiteração criminosa, tampouco a habitualidadedelitiva, são suficientes, por si sós e isoladamente, para afastar a aplicaçãodo denominado princípio da insignificância. Nesse contexto, não obstante acertidão de antecedentes criminais indicar uma condenação transitada emjulgado em crime de mesma natureza, na situação em análise, a conduta doréu não traduz lesividade efetiva e concreta ao bem jurídico tutelado.Ademais, há de se ressaltar que o mencionado princípio não fomenta aatividade criminosa. São outros e mais complexos fatores que, na verdade,têm instigado a prática delitiva na sociedade moderna.HC 299.185, j. 9/9/2014)

Nem a reincidência nem a reiteração criminosa, tampouco a habitualidadedelitiva, são suficientes, por si sós e isoladamente, para afastar a aplicaçãodo denominado princípio da insignificância. Nesse contexto, não obstante acertidão de antecedentes criminais indicar uma condenação transitada emjulgado em crime de mesma natureza, na situação em análise, a conduta doréu não traduz lesividade efetiva e concreta ao bem jurídico tutelado.Ademais, há de se ressaltar que o mencionado princípio não fomenta aatividade criminosa. São outros e mais complexos fatores que, na verdade,têm instigado a prática delitiva na sociedade moderna.HC 299.185, j. 9/9/2014)

6. INOCORRÊNCIA DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PELO PAGAMENTO DO DÉBITO PREVIDENCIÁRIO APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO DA CONDENAÇÃO

INFORMATIVO STJ 556 (23/02 A 04/03/2015)Nos crimes de apropriação indébita previdenciária (art. 168-A do CP), opagamento do débito previdenciário após o trânsito em julgado da sentençacondenatória não acarreta a extinção da punibilidade.

§ 1º A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão dapretensão punitiva. § 2º Extingue-se a punibilidade dos crimes referidosneste artigo quando a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar opagamento integral dos débitos oriundos de tributos e contribuições sociais,inclusive acessórios”.

O referido dispositivo trata da extinção da punibilidade pelo pagamento dadívida antes do trânsito em julgado da condenação, uma vez que faz mençãoexpressa à pretensão punitiva do Estado. Dessa forma, não há que se falarem extinção da punibilidade pelo pagamento quando se trata de pretensãoexecutória, como na hipótese em análise. Precedente do STJ: RHC 29.576-ES,Quinta Turma, DJe 26/2/2014. Precedente do STF: QO na AP 613-TO,Plenário, DJe 4/6/2014.

(HC 302.059, j. 5/2/2015)

7. HIPÓTESE DE CONFIGURAÇÃO DE CRIME ÚNICO DE ROUBO

INFORMATIVO STJ 556 (23/02 A 04/03/2015)No delito de roubo, se a intenção do agente é direcionada à subtração de umúnico patrimônio, estará configurado apenas um crime, ainda que, no modusoperandi, seja utilizada violência ou grave ameaça contra mais de umapessoa para a consecução do resultado pretendido.

Realmente, há precedente da Sexta Turma do STJ no sentido de que “Se numúnico contexto duas pessoas têm seu patrimônio ameaçado, sendo que umadelas foi efetivamente roubada, configura-se concurso formal de crimes emsua forma homogênea” (HC 100.848-MS, DJe 12/5/2008).

Entretanto, trata-se de situação distinta do caso aqui analisado, visto que, dasimples leitura de trecho da ementa do acórdão mencionado, observa-seque a configuração do concurso de crimes decorreu não da existência deameaça a mais de uma vítima, mas sim da intenção do agente direcionada àsubtração de mais de um patrimônio.

Em suma, como o roubo é um crime contra o patrimônio, deve-se concluirque, se a intenção do agente é direcionada à subtração de um únicopatrimônio, estará configurado apenas um crime, ainda que, no modusoperandi, seja utilizada violência ou grave ameaça contra mais de umapessoa.

(AgRg no REsp 1.490.894, j. 10/2/2015)

8. RECEBIMENTO DE DENÚNCIA POR AUTORIDADE INCOMPETENTE E PRESCRIÇÃO

INFORMATIVO STJ 555 (11/03/2015)Quando a autoridade que receber a denúncia for incompetente em razão deprerrogativa de foro do réu, o recebimento da peça acusatória será atoabsolutamente nulo e, portanto, não interromperá a prescrição. Precedentecitado do STJ: REsp 819.168-PE, Quinta Turma, DJ 5/2/2007. Precedentecitado do STF: HC 63.556-RS, Segunda Turma, DJ 9/5/1986.

(APn 295, j. 17/12/2014)

9. COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR CRIME CARACTERIZADO PELA DESTRUIÇÃO DE TÍTULO DE ELEITOR

INFORMATIVO STJ 555 (11/03/2015)Compete à Justiça Federal - e não à Justiça Eleitoral - processar e julgar ocrime caracterizado pela destruição de título eleitoral de terceiro, quandonão houver qualquer vinculação com pleitos eleitorais e o intuito for, tãosomente, impedir a identificação pessoal.

A simples existência, no Código Eleitoral, de descrição formal de condutatípica não se traduz, incontinenti, em crime eleitoral, sendo necessário,também, que se configure o conteúdo material do crime. Sob o aspectomaterial, deve a conduta atentar contra a liberdade de exercício dos direitospolíticos, vulnerando a regularidade do processo eleitoral e a legitimidade davontade popular.

Ou seja, a par da existência do tipo penal eleitoral específico, faz-senecessária, para sua configuração, a existência de violação do bem jurídicoque a norma visa tutelar, intrinsecamente ligado aos valores referentes àliberdade do exercício do voto, à regularidade do processo eleitoral e àpreservação do modelo democrático.

Dessa forma, a despeito da existência da descrição típica formal no CódigoEleitoral (art. 339: “Destruir, suprimir ou ocultar urna contendo votos, oudocumentos relativos à eleição”), não há como minimizar o conteúdo doscrimes eleitorais sob o aspecto material. (CC 127.101, j. 11/2/2015)

10. DESCAMINHO E EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

INFORMATIVO STJ 555 (11/03/2015)O pagamento do tributo devido não extingue a punibilidade do crime dedescaminho (art. 334 do CP). A partir do julgamento do HC 218.961-SP (DJe25/10/2013), a Quinta Turma do STJ, alinhando-se ao entendimento da SextaTurma e do STF, passou a considerar ser desnecessária, para a persecuçãopenal do crime de descaminho, a apuração administrativa do montante detributo que deixou de ser recolhido, tendo em vista a natureza formal dodelito, o qual se configura com o simples ato de iludir o pagamento doimposto devido pela entrada de mercadoria no país.

Na ocasião, consignou-se que o bem jurídico tutelado pelo art. 334 do CP vaialém do valor do imposto sonegado, pois, além de lesar o Fisco, atinge aestabilidade das atividades comerciais dentro do país, dá ensejo ao comércioilegal e à concorrência desleal, gerando uma série de prejuízos para aatividade empresarial brasileira.

Verifica-se, assim, que o descaminho não pode ser equiparado aos crimesmateriais contra a ordem tributária, o que revela a impossibilidade de que oagente acusado da prática do crime de descaminho tenha a sua punibilidadeextinta pelo pagamento do tributo. Ademais, o art. 9º da Lei 10.684/2003prevê a extinção da punibilidade pelo pagamento dos débitos fiscais apenasno que se refere aos crimes contra a ordem tributária e de apropriação ousonegação de contribuição previdenciária - arts. 1º e 2º da Lei 8.137/1990,168-A e 337-A do CP.

Nesse sentido, se o crime de descaminho não se assemelha aos crimes acimamencionados, notadamente em razão dos diferentes bens jurídicos por cadaum deles tutelados, inviável a aplicação analógica da Lei 10.684/2003.

(RHC 43.558, j. 5/2/2015)