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Direito Penal Parte VIII – Teoria do Delito Item 11 – Teoria do Erro em Direito Penal

Direito Penal - proffelipevianna.files.wordpress.com · Ex. 1: A pede a sua empregada doméstica, B, a comprar goma de tapioca na taberna de C, o qual, planeja matar A. Aproveitando-se

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Direito PenalParte VIII – Teoria do Delito

Item 11 – Teoria do Erro em Direito Penal

1.Noções Introdutórias

Sobre o Erro no Direito

Noções Introdutórias sobre o Erro no Direito

▣ Erro é, na linguagem popular, desacerto, falha, incorreção.

▣ Como o Direito Penal se fundamenta na culpabilidade, é essencialconsiderar se o agente sabe o que faz ou tem consciência de que sua conduta éilegal.□ Se houver desconformidade entre a consciência e a realidade, o erro se liga à estruturada conduta culpável.

▣ A falta de qualquer representação ou a percepção errônea de um fato ou normajurídica vicia o processo formativo de vontade.□ Falhas em relação à assimilação do comportamento praticado ou de suaproibição pelo ordenamento podem indicar ausência de dolo ou um juízo menor dereprovação.

Quem age de forma a atingir um bem jurídico sem saber o que faz ou sem saber que seu comportamento é proibidorecebe tratamento jurídico

diferenciado

Noções Introdutórias sobre o Erro no Direito

▣ O Direito Penal reconhece várias espécies de erro, cada qual comfundamentos e consequências próprias.

▣ Estudaremos as seguintes espécies de erro:□ Erro de tipo;□ Erro de tipo permissivo (descriminantes putativas);□ Erro determinado por terceiro;□ Erro sobre a pessoa;□ Erro de proibição.

2.Erro de Tipo

Incriminador

Erro de Tipo

▣ Art. 20. “O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo,mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.”.

▣ Também conhecido como erro de tipo incriminador, pois recai sobre oselementos da norma penal incriminadora.

▣ O agente, sem saber, pratica uma conduta que se enquadra na norma penal.□ Há vontade de praticar a conduta, mas não há plena consciência acerca dos elementos que

integram o tipo.□ “... o erro de tipo é todo erro ou ignorância que recai sobre circunstância que constitua

elemento essencial do tipo legal; pouco importa se essa circunstância seja fático-descritiva oujurídico-normativa.” (Francisco de Assis Toledo).

Erro de Tipo

▣ O agente percebe falsamente os elementos típicos.□ Não passa por sua cabeça que sua conduta é típica.

▣ Se o crime doloso requer conhecimento dos elementos típicos, a ignorânciaquanto aos elementos do tipo afasta o dolo, mas permite, residualmente, apunição por culpa.

▣ O erro de tipo é um problema de conhecimento fático que se refere às elementaresdo tipo penal.

Ex. 1: Michael Massee dispara contra Brandon Lee arma

cinematográfica que deveria estar carregada com balas de

festim em 1993

Erro de Tipo

▣ O erro de tipo é um problema de conhecimento fático que se refere às elementaresdo tipo penal.□ Ex. 2: pegar um objeto de outra pessoa, acreditando ser o seu próprio, não configurao crime de furto, pois não há consciência da elementar “alheia” constante do tipo.▪ O agente sabe que furtar é crime, mas não sabe que comete tal crime, pois não sabe que

a coisa por ele levada é alheia.□ Ex. 3: o agente que transporta cocaína acreditando ser farinha de trigo.▪ O agente sabe que transportar droga é crime, mas não sabe que comete tal crime, pois

não sabe que transporta droga.

Erro de Tipo

Considerações

Erro de Tipo Vencível

(Inescusável)

a) Poderia ter sido evitado por uma pessoa prudente e diligente,conforme as regras de cuidado.

b) Exclui o dolo, mas permite a punição por culpa, se houver previsãolegal de tal modalidade.

Erro de Tipo Invencível

(Escusável)

a) Não poderia ter sido evitado pela prudência exigida no caso concreto.b) Exclui o dolo e a culpa, impedindo a punição.

Erro de Tipo

▣ Ex. de erro de tipo vencível□ “Francisco, o autor do disparo, disse que costuma caçar animais silvestres na região para

ajudar no sustento da família. No momento do incidente, ele disse que confundiu o amigocom um animal. ‘Ele tinha ido pescar no rio e eu não sabia, avistei aquele movimento a uns15 metros de distância e jurei que era um animal comendo. Quando cheguei perto que vimeu amigo no chão fiquei desesperado, não consigo acreditar”, disse em lágrimas oaposentado que se encontra em observação no hospital de Mâncio lima.” (g1,09/06/2014).

▣ Ex. de erro de tipo invencível□ Sujeito acusado de receptação que trabalhava com transporte de cargas erecebeu uma motocicleta, acompanhada de seus documentos, para transportá-laem seu veículo e deixa-la em determinado endereço, mas, na verdade, a motoera produto de furto (TJ/RS, ACR 70043249515, DJ 22/09/2011).

Erro de Tipo

▣ Erro sobre elementos acidentais□ O CP não regula expressamente o erro sobre elementos acidentais, ou seja, o quetornam os crimes mais graves (qualificadoras, agravantes, ou causas especiais deaumento de pena).

□ Contudo, esse erro também é relevante e impede o acréscimo da pena.□ Difere do erro sobre os elementos essenciais porque esses formam a estrutura do

crime.▪ Ex.: são elementos essenciais do crime de homicídio “matar” e “alguém”; ser avítima maior de 60 anos é elemento acidental que pode agravar a pena (art. 121,§4º). Se o agente mata alguém sem ter condições de saber a idade da vítima,responde sem a causa de aumento.

3.Descriminantes Putativas

Erro de Tipo Permissivo

Descriminantes Putativas

▣ Art. 20, §1º. “É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelascircunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima.Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível comocrime culposo.”.

▣ Erro que recai sobre a existência de causas de justificação.□ O agente sabe que comete fato típico, mas acredita agir acobertado por uma excludente de

ilicitude, ou seja, supunha estar agindo em estado de necessidade, legítima defesa, estritocumprimento do dever legal ou exercício regular de um direito.

□ “...situações em que o agente se supõe achar, erradamente, em legítima defesa, em estado denecessidade, no estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular de direito (causasgerais de justificação ou as descriminantes). Cuida-se, portanto, de erro sobre asdescriminantes, daí seu nome.” (Paulo Queiroz)

Descriminantes Putativas

▣ O fundamento das descriminantes putativas é a falsa percepção sobre umanorma permissiva que não existe no caso concreto, mas foi imaginada pelo agente.□ Não há dolo de praticar o crime, pois o agente acredita estar amparado por uma causa de

justificação.

▣ “Se o dono da casa, em vista da situação de fato, supôs, sem culpa, tratar-se deladrão o vizinho que entrava de madrugada, era razoável que nele atirasse, comoatirou.” (TACrSP, Julgados 87/190).

▣ “Configura-se [a legítima defesa putativa] se a vítima, useira e vezeira emameaçar pessoas com a arma que traz na cintura, faz gesto de sacá-la.” (TJ/SC,RT 521/459).

Descriminantes Putativas

▣ Não há critérios objetivos previstos em lei, mas as circunstâncias de fato devemcriar um cenário de licitude, que exclua a boa-fé do sujeito.□ “Para a tipificação de legítima defesa putativa não basta uma situação ofensiva

imaginária, exigindo-se um princípio da realidade. Mister se torna que atos e fatos sejuntem na ocasião do evento, permitindo a suposição errônea dessa situação, que, severdadeira, permitiria a reação empreendida” (TACRIMSP, RT 728/574).

▣ O elemento subjetivo é essencial.□ “A legítima defesa putativa supõe que o agente atuou na sincera e íntima convicção da

necessidade de debelar agressão atual e injusta.” (TJ/SP, RT 609/323).

Descriminantes Putativas

Considerações

Erro de Tipo Permissivo

Vencível (Inescusável)

a) Poderia ter sido evitado por uma pessoa prudente e diligente,conforme as regras de cuidado.

b) Exclui o dolo, mas permite a punição por culpa, se houver previsãolegal de tal modalidade.

Erro de Tipo Permissivo Invencível

(Escusável)

a) Não poderia ter sido evitado pela prudência exigida no caso concreto.b) Exclui o dolo e a culpa, impedindo a punição.

Descriminantes Putativas

▣ Teoria Pura (Estrita) da Culpabilidade□ Todo erro sobre a ilicitude é um problema da culpabilidade, seja sobre aproibição dessa conduta ou sobre a existência de causa de justificação.

▣ Teoria Limitada da Culpabilidade□ Erro sobre os pressupostos fáticos da excludente▪ Erro de tipo;▪ Ex. na LD: “agressão”, “atual ou iminente”.

□ Erro sobre os pressupostos jurídicos da excludente▪ Erro de proibição;▪ Ex. na LD: “injusta”, direito seu ou de outrem”, “moderadamente dos meiosnecessários”.

4.Erro Determinado por

TerceiroArt. 20, §2º

Erro Determinado por Terceiro▣ Art. 20, §2º. “Responde pelo crime o terceiro que determina o erro.”.

□ Terceira pessoa induz o agente a praticar o fato criminoso de boa-fé, sem saber que seucomportamento é proibido.

▣ Ex. 1: A pede a sua empregada doméstica, B, a comprar goma de tapiocana taberna de C, o qual, planeja matar A. Aproveitando-se daingenuidade de B, C vende a ela Bromadiolona (veneno de rato em póbranco), a qual B cozinha e serve a A, que morre envenenado.

▣ Ex. 2: A convence B que determinado objeto de C na verdade é seu (deA), e que ele doa esse objeto a B, que o leva embora consigo.

▣ Ex. 3: A vê B se aproximando pelas costas de C e diz a ele, falsamente,que B está prestes a agredi-lo, fazendo C revidar a agressão inexistente.

5.Erro Sobre a Pessoa

Art. 20, §3º

Erro Sobre a Pessoa

▣ Art. 20, §3º. “O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isentade pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima,senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.”.

▣ O agente executa a ação planejada contra pessoa diversa da inicialmentepretendida.□ Ex.: A, matador de aluguel, quer matar B, que conhece apenas por fotografia, eatira contra C, irmão de B, acreditando que ele era B.

Leila queria matar Fátima, mas matou Odete Roitman(Vale Tudo, 1988-1989)

Erro Sobre a Pessoa

▣ A regra legal considera o dolo do agente, apesar do resultado diverso, ou seja,considera-se o crime como se tivesse atingido a pessoa pretendida.□ Ex.: A quer matar B, seu pai, mas se confundiu a matou C, amigo de seu pai,responderá como se tivesse matado o próprio pai, com a agravante respectiva (art. 61,II, “e”).▪ O inverso também é verdadeiro: tivesse matado B querendo matar C, nãoresponderia pela agravante.

Direto penal do autor?Responsabilidade objetiva?

Excesso e Proibição Deficiente?

6.Erro de Proibição

Art. 21

Erro de Proibição

▣ Art. 21. “O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato,se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a umterço.”□ Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a

consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingiressa consciência.

▣ Recai sobre o conhecimento da ilicitude da conduta (requisito da culpabilidade).□ O agente sabe o que faz, mas não sabe que essa conduta é proibida.

▣ Exige-se do agente aquilo que se exige de qualquer pessoa, mormente uma quenão possua formação jurídica.

Erro de Proibição

Considerações

Erro de Proibição Vencível

(Inescusável)

a) A pena é obrigatoriamente reduzida de um sexto a um terço.b) “considerando o fato da arma de fogo ser registrada anteriormente a entrada

em vigor da referida lei, possível o reconhecimento de que o réu pudesseacreditar na desnecessidade de renovação, notadamente porque o certificado deregistro antigo continha a indicação de que o prazo de validade erapermanente.” (TJ/RS, ACR 70069623981, j. 01/09/2016).

Erro de Proibição

Invencível (Escusável)

a) Exclui a culpabilidade, pois não há nenhum grau de reprovabilidade.b) “...o réu é pessoa de idade avançada [74 anos], além de ser hipossuficiente

social, educacional (nunca estudou, analfabeto) e economicamente (recebeaposentadoria rural de valor mínimo e vive do trabalho na lavoura); éagricultor e sobrevive do que planta...” (TRF/4, AC 2005.71.18.002887-1,DJ 29/07/2010)

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