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DIREITO PENAL PROVA SIMULADA N.º 1 Julgue os itens abaixo. 1. No Direito Penal brasileiro, em regra, a pessoa jurídica não pode ser sujeito ativo. Por outro lado, sempre poderá ser sujeito passivo de delitos. 2. A infração penal divide-se em três espécies: delito, crime e contravenção-penal. No Código Penal, somente estão previstos os delitos e os crimes. Na lei especial, estão previstas as contravenções. 3. Somente pode ser considerado sujeito ativo aquele agente que executa a ação descrita na norma penal, realizando concretamente a conduta. 4. Não existe possibilidade do sujeito ativo se confundir com o sujeito passivo na mesma pessoa, porque o sujeito ativo sempre executa a ação lesiva, enquanto o sujeito passivo sofre os danos resultantes desta. 5. As causas de exclusão de ilicitude são normas penais justificantes, gerando a isenção da pena, por meio da extinção da punibilidade. Não excluem o fato típico, mas impedem a aplicação da pena em concreto. 6. A doutrina penal brasileira instrui que o dolo, ainda que eventual, conquanto constitua elemento subjetivo do tipo, deve ser compreendido sob dois aspectos: o cognitivo, que traduz o conhecimento dos elementos objetivos do tipo, e o volitivo, configurado pela vontade de realizar a conduta típica. 7. Segundo o entendimento doutrinário predominante, o dolo e a culpa são elementos da culpabilidade. Portanto, depois de aferida a existência do fato típico e da antijuridicidade, faz-se necessário ainda o juízo de valor sobre o elemento subjetivo do crime. 8. Deixando o agente delitivo de prever o que, pelas circunstâncias, era previsível, responderá pelo resultado a título de dolo eventual. De outra forma, mesmo prevendo o resultado, mas acreditando sinceramente que este não venha a acorrer, haverá culpa consciente. 9. Com o objetivo de evitar interpretações duvidosas ou qualquer tipo de indeterminação, os elementos das normas penais devem ser objetivos,

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DIREITO PENAL PROVA SIMULADA N.º 1 

Julgue os itens abaixo.

1. No Direito Penal brasileiro, em regra, a pessoa jurídica não pode ser sujeito ativo. Por outro lado, sempre poderá ser sujeito passivo de delitos.

2. A infração penal divide-se em três espécies: delito, crime e contravenção-penal. No Código Penal, somente estão previstos os delitos e os crimes. Na lei especial, estão previstas as contravenções.

3. Somente pode ser considerado sujeito ativo aquele agente que executa a ação descrita na norma penal, realizando concretamente a conduta.

4. Não existe possibilidade do sujeito ativo se confundir com o sujeito passivo na mesma pessoa, porque o sujeito ativo sempre executa a ação lesiva, enquanto o sujeito passivo sofre os danos resultantes desta.

5. As causas de exclusão de ilicitude são normas penais justificantes, gerando a isenção da pena, por meio da extinção da punibilidade. Não excluem o fato típico, mas impedem a aplicação da pena em concreto. 

6. A doutrina penal brasileira instrui que o dolo, ainda que eventual, conquanto constitua elemento subjetivo do tipo, deve ser compreendido sob dois aspectos: o cognitivo, que traduz o conhecimento dos elementos objetivos do tipo, e o volitivo, configurado pela vontade de realizar a conduta típica.

7. Segundo o entendimento doutrinário predominante, o dolo e a culpa são elementos da culpabilidade. Portanto, depois de aferida a existência do fato típico e da antijuridicidade, faz-se necessário ainda o juízo de valor sobre o elemento subjetivo do crime.

8. Deixando o agente delitivo de prever o que, pelas circunstâncias, era previsível, responderá pelo resultado a título de dolo eventual. De outra forma, mesmo prevendo o resultado, mas acreditando sinceramente que este não venha a acorrer, haverá culpa consciente.

9. Com o objetivo de evitar interpretações duvidosas ou qualquer tipo de indeterminação, os elementos das normas penais devem ser objetivos, com conteúdo claro e preciso. Dessa forma, não se admite mais os elementos denominados “normativos”.

10. Em relação ao nexo de causalidade, o Código Penal adotou a teoria imputação objetiva, segundo a qual deve existir um liame entre a conduta descrita na norma penal e o resultado ocasionado.  

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GABARITO E COMENTÁRIOS

1. No Direito Penal brasileiro, em regra, a pessoa jurídica não pode ser sujeito ativo. Por outro lado, sempre poderá ser sujeito passivo de delitos. Resposta: “E”. Comentários: De fato, em regra, a pessoa jurídica não pode ser sujeito ativo de crimes, salvo a hipótese dos delitos ambientais. A exceção está sedimentada na Constituição de 1988, no art. 225, § 3º: "As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independente da obrigação de reparar os danos causados". O Art. 3º da Lei Ambiental Lei N.º 9.605/98 ainda  dispõe: "Art. 3º - As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício de sua entidade.O que torna o quesito errado é a segunda afirmação, porque a pessoa jurídica somente poderá ser sujeito passivo, quando a natureza do delito permitir. Dessa forma, a pessoa jurídica não pode ser sujeito passivo dos crimes de homicídio e de estupro. Pode ser sujeito passivo de um crime de dano ou de um crime de furto. Pode ser sujeito passivo de um crime de difamação, porque possui honra objetiva; mas não poderia ser sujeito passivo do crime de injúria, porque não possui honra subjetiva. Resumindo, em alguns delitos, admite-se a pessoa jurídica como sujeito passivo; enquanto em outros, não. O termo “sempre” torna o quesito errado.

2. A infração penal divide-se em três espécies: delito, crime e contravenção-penal. No Código Penal, somente estão previstos os delitos e os crimes. Resposta: “E”. Comentários: A infração penal somente se divide em duas espécies: crime (ou delito) e contravenção-penal. O Código Penal somente possui crimes (delitos). Na legislação penal especial (extravagante), encontram-se a Lei de Contravenções Penais e outras leis especiais. Várias espécies de crimes estão também tipificadas na legislação extravagante.

3. Somente pode ser considerado sujeito ativo aquele agente que executa a ação descrita na norma penal, realizando concretamente a conduta.Resposta: “E”. Comentários: Afirmativa errada, porque os autores de um delito (sujeito ativo) podem ser co-autores ou partícipes. Os co-autores executam a ação nuclear descrita na norma penal. Os partícipes não executam materialmente a conduta descrita na norma, mas contribuem de forma acessória (secundária) para a ocorrência do resultado. 

4. Não existe possibilidade do sujeito ativo se confundir com o sujeito passivo na mesma pessoa, porque o sujeito ativo sempre executa a ação lesiva, enquanto o sujeito passivo sofre os danos resultantes desta.Resposta: “E”. Comentários: Afirmativa errada, porque a possibilidade, apesar de ser exceção, existe sim. O crime de rixa (art. 137) é um exemplo. Os são sujeitos ativos e passivos do mesmo crime. O rixoso é sujeito ativo em relação à sua própria conduta; e sujeito passivo em razão da conduta pratica pelos outros. Note! Apesar de essa ser a posição majoritária, existe entendimento (Damásio) segundo o qual o sujeito ativo jamais poderia ser sujeito passivo da mesma conduta.

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5. As causas de exclusão de ilicitude são normas penais justificantes, gerando a isenção da pena, por meio da extinção da punibilidade. Não excluem o fato típico, mas impedem a aplicação da pena em concreto.  Resposta: “E”. Comentários: Afirmativa errada, porque as causas de exclusão da ilicitude (antijuridicidade) não são causas de extinção da punibilidade, mas sim de exclusão do crime. Somente se fala de causa de extinção da punibilidade, depois de verificada a existência do crime. No caso das excludentes de ilicitude, não existe crime, por ausência de um dos seus elementos estruturais, a antijuridicidade.

6. A doutrina penal brasileira instrui que o dolo, ainda que eventual, conquanto constitua elemento subjetivo do tipo, deve ser compreendido sob dois aspectos: o cognitivo, que traduz o conhecimento dos elementos objetivos do tipo, e o volitivo, configurado pela vontade de realizar a conduta típica.Resposta: “C”. Comentários: Afirmativa correta, porque mesmo no dolo eventual, encontram-se dois momentos, o cognitivo (consciência) e o volitivo (vontade de realizar a conduta). Note! O momento volitivo se caracteriza pela vontade de realizar a conduta, e não de produzir o resultado. O agente deseja praticar a conduta, mas não deseja o resultado, mesmo sabendo da possibilidade desse vir a ocorrer.

7. Segundo o entendimento doutrinário predominante, o dolo e a culpa são elementos da culpabilidade. Portanto, depois de aferida a existência do fato típico e da antijuridicidade, faz-se necessário ainda o juízo de valor sobre o elemento subjetivo do crime. Resposta: “E”. Comentários: Afirmativa errada, porque segundo a teoria dominante (teoria finalista), o dolo e a culpa são elementos do fato típico.

8. Deixando o agente delitivo de prever o que, pelas circunstâncias, era previsível, responderá pelo resultado a título de dolo eventual. De outra forma, mesmo prevendo o resultado, mas acreditando sinceramente que este não venha a acorrer, haverá culpa consciente. Resposta: “E”. Comentários: A primeira afirmativa torna o quesito errado. Se o agente deixou de prever o resultado, não há como se configurar o dolo eventual. A previsão é necessária para a existência deste. A ausência de previsão de resultado previsível gera a culpa inconsciente.

9. Com o objetivo de evitar interpretações duvidosas ou qualquer tipo de indeterminação, os elementos das normas penais devem ser objetivos, com conteúdo claro e preciso. Dessa forma, não se admite mais os elementos denominados “normativos”.Resposta: “E”. Comentários: Afirmativa errada, porque os elementos denominados “normativos” estão previstos em vários delitos. Os elementos normativos são elementos da figura típica que exigem um juízo de valor. Bitencourt define os elementos normativos como “aqueles para cuja compreensão é insuficiente desenvolver uma atividade meramente cognitiva, devendo-se realizar uma atividade valorativa. São circunstâncias que não se limitam a descrever o natural, mas implicam juízo de valor” (BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal Parte Geral - V.1, 5.ª ed., São Paulo: Saraiva, 2006, pág. 263). Alguns exemplos: a expressão “funcionário público”, prevista no crime de peculato (art. 312, CP); a expressão “sem autorização legal”, prevista no crime de exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica (art. 182, CP); o termo “decoro”, previsto no crime de injúria (art. 140, CP). Cuidado!!!!! Numa prova de concurso, pode aparecer uma outra denominação: tipo penal anormal! É aquele que traz o elemento normativo.

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10. Em relação ao nexo de causalidade, o Código Penal adotou a teoria imputação objetiva, segundo a qual deve existir um liame entre a conduta descrita na norma penal e o resultado ocasionado. Resposta: “E”. Comentários: Afirmativa errada, porque o Código Penal brasileiro adotou a teoria da equivalência dos antecedentes causais (conditio sine qua non).

DIREITO PENALPROVA SIMULADA N.º 2

1. Haverá culpa consciente quando o agente deixar de observar a diligência a que estava obrigado, prevendo plenamente o resultado, mas confiando que ele não ocorra.

2. Dois indivíduos conduziam seus veículos, com imprudência, no cruzamento de uma avenida. O primeiro vinha com velocidade excessiva. O segundo atravessou o sinal fechado. Ambos os veículos chocaram-se, ocasionando a morte do segundo condutor. Nesse caso, haverá situação típica de compensação de culpas, isto é, a culpa do primeiro será excluída pela culpa do segundo.

3. A colocação de cacos de vidro no muro de uma casa para evitar ação de possíveis ladrões caracteriza situação típica de estado de necessidade, causa de exclusão da antijuridicidade.

4. Em hipótese alguma, as pessoas que possuem o dever legal de agir não poderão alegar motivos para deixar de agir. Assim, frente a um edifício tomado por forte incêndio, membro do corpo de bombeiros jamais poderia se omitir de realizar seu ofício.

5. Certas pessoas não podem eximir-se da responsabilidade pela conduta típica que praticaram em decorrência de seu dever legal de enfrentar o perigo (§ 1°, art. 24, Código Penal). É correto afirmar que o dever legal envolve tão-somente aquele previsto numa norma jurídica (lei, decreto, regulamento, etc.).

6. Um pai, homem de posses, a pretexto de velar pelos seus negócios, deixa de levar ao médico o filho acidentado, nem lhe presta qualquer outra assistência, sobrevindo sua morte. O pai é autor do homicídio porque era garantidor da não-ocorrência da morte.

7. Triptofano, cientista, admite que Gargano mantenha-o em quarto fechado, por horas, tudo em razão de experiência científica em que o próprio Triptofano estava envolvido. Diante dessa situação, é possível afirmar que não há delito de cárcere privado, por exclusão da ilicitude em virtude do estado de necessidade.

8. Um doente mental está sendo espancado por um grupo de desordeiros. Para se ver livre deles, joga-lhes pesada pedra, matando um. O doente mental está isento de pena por ser inimputável.

9. Para que uma conduta típica e ilícita acarrete para o agente a culpabilidade, basta que ele seja imputável e tenha agido com potencial consciência da ilicitude.

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10. O motorista Tirúbio, sentindo um mal súbito na direção de seu veículo automotor, diminuiu a marcha do veículo com intenção de estacioná-lo, mas perdeu a consciência. O automóvel desgovernou-se e atingiu uma pessoa na faixa de pedestres, causando-lhe a morte. Trata-se de um caso de exclusão da culpabilidade.

GABARITO E COMENTÁRIOS DA PROVA SIMULADA N.º 2

1. Haverá culpa consciente quando o agente deixar de observar a diligência a que estava obrigado, prevendo plenamente o resultado, mas confiando que ele não ocorra. Resposta: “C”. Comentários: A culpa consciente ou com previsão é aquela em que o agente prevê o resultado, embora não o aceite. Há no agente a representação da possibilidade do resultado, mas ele a afasta, por entender que a evitará e que sua habilidade impedirá o evento lesivo previsto. Em outras palavras, é aquela em que o agente, embora prevendo o resultado, não deixa de praticar a conduta acreditando, sinceramente, que este resultado não venha a ocorrer. O resultado, embora previsto, não é assumido ou aceito pelo agente, que confia na sua não-ocorrência. A culpa consciente difere do dolo eventual, porque neste o agente prevê o resultado, mas não se importa que ele ocorra ("não vou deixar de agir, aconteça o que acontecer!"). Na culpa consciente, embora prevendo o que possa vir a acontecer, o agente repudia essa possibilidade ("pode acontecer, mas tenho certeza que não ocorrerá, porque não vou deixar”) O traço distintivo é que, no dolo eventual, o agente diz: "não quero nem saber!", enquanto na culpa consciente diz: "não vou deixar acontecer!".

2. Dois indivíduos conduziam seus veículos, com imprudência, no cruzamento de uma avenida. O primeiro vinha com velocidade excessiva. O segundo atravessou o sinal fechado. Ambos os veículos chocaram-se, ocasionando a morte do segundo condutor. Nesse caso, haverá situação típica de compensação de culpas, isto é, a culpa do primeiro será excluída pela culpa do segundo. Resposta: “E”. Comentários: Não existe compensação de culpas no Direito Penal. Desse modo, a culpa do segundo condutor não pode excluir a culpa do primeiro condutor. No caso, somente existe concorrência de culpas para efeito de fixação da pena, porque o art. 59 do Código Penal estabelece, como um dos critérios da pena-base, o "comportamento da vítima", circunstância que deve ser considerada. O primeiro condutor somente não seria responsabilizado penalmente se a culpa fosse exclusiva da vítima (segundo condutor), o que não é o caso, porque empreendia excesso de velocidade na direção de veículo automotor.

3. A colocação de cacos de vidro no muro de uma casa para evitar ação de possíveis ladrões caracteriza situação típica de estado de necessidade, causa de exclusão da antijuridicidade. Resposta: “E”. Comentários: Existem duas correntes doutrinárias acerca das denominadas “offendiculas” ou ofendículos. Para a primeira, seria situação de legítima defesa preordenada (posição defendida por Bitencourt, Magalhães Noronha, Nelson Hungria e Francisco de Assis Toledo, dentre outros), porque seria uma reação a um ataque esperado. Para a segunda corrente (posição defendida por Mirabete, Luiz Flávio Gomes, Aníbal Bruno, dentre outros). Conforme se pode notar, a polêmica reside entre a legítima defesa e o exercício regular de direito. Não se trata, portanto, de estado de necessidade.

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4. Em hipótese alguma, as pessoas que possuem o dever legal de agir não poderão alegar motivos para deixar de agir. Assim, frente a um edifício tomado por forte incêndio, membro do corpo de bombeiros jamais poderia se omitir de realizar seu ofício.Resposta: “E”. Comentários: A expressão “Em hipótese alguma” invalida o quesito, porque o dever legal de agir não é absoluto. Luiz Flávio Gomes explica que o “dever legal de enfrentar o perigo não é absoluto. O bombeiro tem que arriscar a própria vida, num incêndio, por exemplo, mas desde que os bens jurídicos que estão correndo risco sejam valiosos. Em duas situações devemos flexibilizar esse dever legal: (a) quando o sacrifício pessoal é totalmente desproporcional (o bombeiro não está obrigado a colocar em risco a própria vida para salvar a de um animal); (b) quando se trata de risco excessivo que sinaliza concretamente a impossibilidade de diminuição ou eliminação do perigo para o bem jurídico ameaçado”. (GOMES, Luiz Flávio e MOLINA, Antonio García-Pablos. Direito Penal – Parte Gera – V.2l, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, pág. 447-448). Em outras palavras, no dever legal de agir não se pode exigir sacrifícios desproporcionais e absurdos, ou então exigir o impossível.

5. Certas pessoas não podem eximir-se da responsabilidade pela conduta típica que praticaram em decorrência de seu dever legal de enfrentar o perigo (§ 1°, art. 24, Código Penal). É correto afirmar que o dever legal envolve tão-somente aquele previsto numa norma jurídica (lei, decreto, regulamento, etc.). Resposta: “E”. Comentários: O dever de agir, previsto no §2.º, do art.13, do Código Penal, também incumbe a quem, de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado. Dessa forma, quem presta serviços de vigilância assume o dever de agir, ocupando a posição de garantidor. É o caso também de uma babá que presta serviços cuidando de uma criança, ou de um profissional de saúde que cuida de pessoas enfermas. Da mesma forma, é garantidor quem se presta a servir de guia numa montanha, ou então num curso de pára-quedismo. Por fim, também tem o dever legal de agir a pessoa que, com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. Em síntese, o dever legal de agir não decorre apenas lei, decreto, regulamento, etc.

6. Um pai, homem de posses, a pretexto de velar pelos seus negócios, deixa de levar ao médico o filho acidentado, nem lhe presta qualquer outra assistência, sobrevindo sua morte. O pai é autor do homicídio porque era garantidor da não-ocorrência da morte.Resposta: “C”. Comentários: Trata-se de situação de omissão penalmente relevante, inserida no §2.º, do art.13, do Código Penal. Os pais possuem por lei obrigação de cuidar dos filhos. A omissão é penalmente relevante quando o agente podia (1.º critério) e devia (2.º critério) agir para evitar o resultado. Note! A omissão, em si, é um não fazer, inatividade; em outras palavras, é a ausência de um comportamento. Por isso mesmo, não é naturalisticamente a omissão que causa o resultado, porque um “nada” não pode gerar um resultado. Entretanto, por expressa disposição normativa, quem tem o dever legal de agir para evitar o resultado, responde por este, caso não faça nada para evitá-lo. No quesito em análise, o pai devia e podia plenamente agir, prestando assistência ao filho, evitando a morte deste, ou ao menos procurando evitá-la. Em síntese, o pai é autor do homicídio, porque era garantidor da não-ocorrência da morte.

7. Triptofano, cientista, admite que Gargano mantenha-o em quarto fechado, por horas, tudo em razão de experiência científica em que o próprio Triptofano estava envolvido. Diante dessa situação, é possível afirmar que não há delito de cárcere privado, por exclusão da ilicitude em

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virtude do estado de necessidade.Resposta: “E”. Comentários: Realmente, não há de se falar de delito de cárcere privado, mas não por causa da excludente da ilicitude do estado de necessidade. A hipótese, no caso, é de consentimento do ofendido, causa supra-legal de exclusão da antijuridicidade. Bitencourt leciona que o “consentimento justificante poderá existir, quando decorrer da vontade juridicamente válida do titular de um bem jurídico disponível. O consentimento do titular de um bem jurídico disponível afasta a contrariedade à norma jurídica, ainda que eventualmente a conduta consentida venha a se adequar a um modelo abstrato de proibição. Nesse caso, o consentimento opera como causa justificante supralegal, afastando a proibição da conduta, como, por exemplo, nos crimes de cárcere privado (art. 148), furto (art. 155), dano (art. 163) etc.” (BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal Parte Geral - V.1, 13.ª ed., São Paulo: Saraiva, 2008, pág. 309-310).

8. Um doente mental está sendo espancado por um grupo de desordeiros. Para se ver livre deles, joga-lhes pesada pedra, matando um. O doente mental está isento de pena por ser inimputável.Resposta: “E”. Comentários: O doente mental não está isento de pena por ser inimputável. No caso, resta configurada situação de legítima defesa. Haverá a exclusão da antijuridicidade e, conseqüente, exclusão do crime. Note! Se o doente mental tivesse desenvolvido uma ação típica e antijurídica, o caso seria de exclusão da culpabilidade, por ausência de um de seus elementos, a imputabilidade penal. Entretanto, não é esta a hipótese. O doente mental estava sendo espancado, tendo arremessado a pedra com o intuito puramente de se defender, repelindo a injusta agressão cometida pelo grupo de desordeiros. Agiu juridicamente (licitamente), absolutamente respaldado pela legítima defesa, consagrada no art. 25 do Código Penal. Em síntese, quando se age em legítima defesa, não cabe considerar o aspecto da inimputabilidade. Este somente teria relevância se a conduta fosse típica e antijurídica.

9. Para que uma conduta típica e ilícita acarrete para o agente a culpabilidade, basta que ele seja imputável e tenha agido com potencial consciência da ilicitude. Resposta: “E”. Comentários: Quesito errado, porque a culpabilidade possui três elementos: a imputabilidade, o potencial conhecimento da ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa. Faltou, na afirmação contida no quesito, o último elemento.

10. O motorista Tirúbio, sentindo um mal súbito na direção de seu veículo automotor, diminuiu a marcha do veículo com intenção de estacioná-lo, mas perdeu a consciência. O automóvel desgovernou-se e atingiu uma pessoa na faixa de pedestres, causando-lhe a morte. Trata-se de um caso de exclusão da culpabilidade.Resposta: “E”. Comentários: Não se trata de hipótese de exclusão da culpabilidade, mas sim do fato típico. O dolo situa-se no fato típico, como um de seus elementos estruturais. Dolo pressupõe vontade de realizar uma conduta. E a vontade exige consciência. No enunciado do quesito em análise, a completa perda da consciência fulmina a vontade; e, por conseguinte, o dolo.

DIREITO PENAL PROVA SIMULADA N.º 3

1. Quem, mentalmente saudável, pratica fato típico e antijurídico, em estado de inconsciência, porque culposa ou voluntariamente sob influência do álcool,deve ter a pena reduzida.

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2. A maioridade penal começa a zero hora do dia em que a pessoa completa 18 (dezoito) anos de idade.

3. O Código Penal Brasileiro, em relação ao dolo direto, adota a teoria da representação.

4. O filho intervém, energicamente, a favor da mãe, diante das ameaças que o pai, embriagado, fazia à esposa. O bêbado não se conforma. Vai até o guarda-roupa, retira de lá uma espingarda e, pelas costas, aciona várias vezes o gatilho contra o próprio filho. Nada acontece. A mãe, pressentindo aquele desfecho, havia retirado da arma todos os cartuchos. O pai cometeu crime impossível.

5. Tício embriagou-se voluntariamente com o fim preconcebido de cometer o crime. E de fato veio a cometê-lo em estado de completa embriaguez. Caio embriagou-se voluntariamente, sem o propósito de cometer o crime, mas assumindo o risco de tal resultado que de fato velo a ocorrer. Nas duas hipóteses, resta configurado crime doloso, segundo a teoria da actio libera in causa.

6. O Oficial de Justiça realiza seqüestro de bens, cumprindo mandado judicial. Posteriormente se constata que tal mandado fora forjado pelo escrivão da Vara. Nesse caso, o Oficial de Justiça será absolvido pela excludente de culpabilidade denominada "estrito cumprimento de dever legal".

7. As hipóteses excludentes de imputabilidade penal incluem a dependência toxicológica comprovada, a embriaguez fortuita completa e a dependência toxicológica comprovada.

8. O Código Penal, ao dispor que “é isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”, adotou o critério biológico de exclusão da imputabilidade.

9. Martiniano foi obrigado, por pessoas que se diziam amigos seus, a ingerir bebida alcoólica até ficar completamente embriagado. Em seguida, essas pessoas levaram-no consigo e, com ele, cometeram roubo contra agência bancária. Nessa situação, por não ser patológica, a embriaguez de Martiniano não lhe retira a imputabilidade nem diminui a pena aplicável ao ato.

10. O potencial conhecimento da ilicitude do fato, para a teoria normativa, integra a culpabilidade.

GABARITO E COMENTÁRIOS DA PROVA SIMULADA N.º 3

1. Quem, mentalmente saudável, pratica fato típico e antijurídico, em estado de inconsciência, porque culposa ou voluntariamente sob influência do álcool,deve ter a pena reduzida. Gabarito: E Comentários:A pena somente será reduzida, de um a dois terços, quando o agente, por embriaguez proveniente caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da

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omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, nos termos do §2.°, do art. 28, do Código Penal. E se a embriaguez, por caso fortuito ou força maior, for completa, haverá a própria exclusão do delito, considerando-se o agente inimputável. Conforme se verifica da assertiva em análise, a embriaguez não ocorreu por caso fortuito ou força maior.

2. A maioridade penal começa a zero hora do dia em que a pessoa completa 18 (dezoito) anos de idadeGabarito: CComentários:A maioridade penal é considerada desde o primeiro instante do dia em que o agente completa 18 anos, não importando a hora do nascimento.  É irrelevante saber se o ilícito foi cometido em horário anterior ao do seu nascimento.

3. O Código Penal Brasileiro, em relação ao dolo direto, adota a teoria da representação.Gabarito: EComentários:O Código Penal, no art. 18, inc. I, adotou as teorias da vontade e do assentimento. Dolo é a vontade de realizar o resultado ou a aceitação dos riscos de produzi-lo. De acordo com a teoria da vontade, dolo é a vontade de realizar a conduta e produzir o resultado. Age dolosamente quem pratica a ação consciente e volun¬tariamente. Em relação ao dolo eventual, foi adotada a teoria do assentimento ou do consentimento: dolo é o assentimento do resultado, isto é, a previsão do resultado com a aceitação dos riscos de produzi-lo. Em síntese, o Código Penal não adotou a teoria da representação.

4. O filho intervém, energicamente, a favor da mãe, diante das ameaças que o pai, embriagado, fazia à esposa. O bêbado não se conforma. Vai até o guarda-roupa, retira de lá uma espingarda e, pelas costas, aciona várias vezes o gatilho contra o próprio filho. Nada acontece. A mãe, pressentindo aquele desfecho, havia retirado da arma todos os cartuchos. O pai cometeu  crime impossível. Gabarito: CComentários:Trata-se da figura do crime impossível, prevista no art. 17 do Código Penal: “Não se pune a tentativa quando, por ineficácia do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime”. Ocorre o crime impossível quando a conduta do agente jamais poderia levar o crime à consumação, quer pela ineficácia absoluta do meio (ex.: uso de uma arma de brinquedo para matar alguém), quer pela impropriedade absoluta do objeto (ex.: tentar matar pessoa já morta).

5. Tício embriagou-se voluntariamente com o fim preconcebido de cometer o crime. E de fato veio a cometê-lo em estado de completa embriaguez. Caio embriagou-se voluntariamente, sem o propósito de cometer o crime, mas assumindo o risco de tal resultado que de fato velo a ocorrer. Nas duas hipóteses, resta configurado crime doloso, segundo a teoria da actio libera in causaGabarito: CComentários:Se o sujeito se embriaga, prevendo a possibilidade de praticar o crime e aceitando a produção do resultado, responde pelo delito a título de dolo. Se ele se embriaga prevendo a produção do resultado e esperando que não se produza, ou não prevendo, mas devendo prevê-lo, responde pelo delito a título de culpa. Nos dois casos, adota-se a teoria da actio libero in causa. Segundo essa teoria, para responsabilizar o agente, considera-se o momento da ingestão da substância e não o da prática delituosa.

6. O Oficial de Justiça realiza seqüestro de bens, cumprindo mandado judicial. Posteriormente se constata que tal mandado fora forjado pelo escrivão da Vara. Nesse caso, o Oficial de Justiça será absolvido pela excludente de culpabilidade denominada "estrito cumprimento de

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dever legal". Gabarito: EComentários:Primeiro, o “estrito cumprimento do dever legal” é causa de exclusão da antijuridicidade, e não da culpabilidade. Segundo, na hipótese em comento, temos a descriminante putativa do “estrito cumprimento do dever legal putativo”. Dispõe o art. 20, § 1.º, do Código Penal: "É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima”. O agente supõe que está agindo licitamente ao imaginar que se encontram presen¬tes os requisitos de uma das causas justificativas (ou de exclusão) da antijuridicidade previstas em lei. 

7. As hipóteses excludentes de imputabilidade penal incluem a dependência toxicológica comprovada, a embriaguez fortuita completa e a dependência toxicológica comprovada. Gabarito: CComentários:A embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, exclui a imputabilidade, nos termos do § 1º, do art. 28, do Código Penal: “É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”. A dependência toxicológica comprovada é considerada doença mental para efeitos penais, excluindo da imputabilidade do art. 26, do Código Penal.

8. O Código Penal, ao dispor que “é isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”, adotou o critério biológico de exclusão da imputabilidade.Gabarito: EComentários:Errado. O Código Penal adotou o sistema biopsicológico, conforme se verifica da análise do art. 26 do CP: - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado (sistema biológico), era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento (sistema psicológico). Verifica-se, portanto, a adoção dos dois sistemas (biológico + psicológico), formando o sistema biopsicológico.

9. Martiniano foi obrigado, por pessoas que se diziam amigos seus, a ingerir bebida alcoólica até ficar completamente embriagado. Em seguida, essas pessoas levaram-no consigo e, com ele, cometeram roubo contra agência bancária. Nessa situação, por não ser patológica, a embriaguez de Martiniano não lhe retira a imputabilidade nem diminui a pena aplicável ao ato.Gabarito: EComentários:Martiniano foi coagido a ingerir bebida alcoólica, embriagando-se completamente. A embriaguez não foi acidental, nem voluntária, muito menos patológica. No caso, existiu coação moral irresistível contra Martiniano.

10. O potencial conhecimento da ilicitude do fato, para a teoria normativa, integra a culpabilidade.Gabarito: EComentários:Errado. A teoria normativa (antiga e não adotada no Código Penal brasileiro) prega que a consciência da ilicitude encontra-se presente no dolo. E este seria elemento da culpabilidade, e não do fato típico. A estrutura da culpabilidade seria a seguinte: imputabilidade + dolo ou culpa + exigibilidade de conduta diversa. Note: o dolo e a culpa seriam elementos da culpabilidade! E ainda, segundo a teoria normativa, não haveria “potencial conhecimento da ilicitude”, mas sim uma “consciência atual da ilicitude”. Por fim, a teoria normativa (também denominada psicológico—normativa) não foi adotada, estando a

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afirmação em análise completamente falsa. O Código Penal brasileiro adota a teoria limitada da culpabilidade (teoria predominante), segundo a qual a culpabilidade se compõe dos seguintes elementos: imputabilidade + potencial consciência da ilicitude + exigibilidade de conduta diversa.

QUESTÕES COMENTADAS DE DIREITO PENAL PARA O CONCURSO DA POLÍCIA FEDERAL

Caríssimos (as) amigos (as),

A seguir, comentamos algumas questões do concurso da polícia federal.

1. (DELEGADO DA POLÍCIA FEDERAL 2004 NACIONAL – CESPE/UNB) Em cada um dos itens a seguir, é apresentada uma situação hipotética acerca da parte especial do direito penal, seguida de uma assertiva a ser julgada.

Com a utilização de uma arma de brinquedo, João subtraiu de uma pessoa o relógio e a carteira contendo documentos pessoais, cartões de crédito e R$ 300,00 em espécie. Nessa situação, de acordo com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João responderá por crime de roubo qualificado pelo emprego de arma.

Mário, delegado de polícia, com o intuito de proteger um amigo, recusa-se a instaurar inquérito policial requisitado por promotor de justiça contra o referido amigo. Nessa hipótese, Mário praticou crime de desobediência.

Gabarito: EE

Comentários:

A primeira assertiva está errada, porque o Superior Tribunal de Justiça não possui mais o entendimento da arma de brinquedo como circunstância de causa de aumento de pena. Antigamente, em face da cancelada súmula 174, o STJ considerava a arma de brinquedo causa de aumento de pena do crime de roubo. Revendo seu pensamento, deixou de considerar arma de brinquedo como “arma”, para efeito de caracterizar a causa de aumento de pena prevista no inc. I, do §2.º, do art. 157 do Código Penal. De fato, em que pese a divergência presente ainda na doutrina, técnica e objetivamente, a arma de brinquedo não é uma arma, justamente por não possuir idoneidade ou potencialidade lesiva. A segunda assertiva também está errada. O personagem Mário, delegado de polícia, incorreu no crime de prevaricação, e não no delito de desobediência. Descumpriu dever de ofício, em face de um sentimento pessoal, no caso específico, a amizade. A presença do elemento subjetivo do injusto do crime de prevaricação (“sentimento pessoal”) afasta o crime de desobediência.

2. (DELEGADO DA POLÍCIA FEDERAL 2004 NACIONAL – CESPE/UNB) Célio, arrolado como testemunha em processo criminal em que se imputava ao réu crime de homicídio culposo, é

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instigado pelo advogado de defesa a fazer afirmações falsas acerca dos fatos, a fim de inocentar o réu, o que efetivamente vem a fazer. Com base na situação hipotética acima apresentada, julgue os itens que se seguem._ Célio praticou crime de falso testemunho qualificado, pois foi cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal._ De acordo com o entendimento dominante do Supremo Tribunal Federal (STF), como o delito praticado é de mão própria, não se admite co-autoria ou participação, sendo atípica a conduta do advogado de defesa.

Gabarito: CE

Comentários:

A primeira assertiva está correta. Conforme o §1.º do art. 342, as penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta. Na situação da questão, Célio incorreu no crime de falso testemunho em processo criminal. Trata-se, portanto, de causa de aumento de pena. Errada a segunda assertiva. Segundo o entendimento do Supremo Tribunal Federal, o crime de falso testemunho admite co-autoria. Dessa forma, o advogado, instigando a testemunha a mentir, é co-autor do crime de falso testemunho. Essa posição do STF merece críticas, porque o crime de falso testemunho é delito de mão-própria, somente podendo ser praticado pelo agente que reúne as características especiais descritas na norma penal. O advogado, portanto, somente poderia figurar como partícipe, justamente porque somente a testemunha poderia executar a conduta principal (“calar” ou “mentir”).

3. (DELEGADO DA POLÍCIA FEDERAL 2004 NACIONAL – CESPE/UNB) Em cada um dos itens seguintes, é apresentada uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada.C No dia 1.º/3/1984, Jorge foi preso em flagrante por ter vendido lança-perfume (cloreto de etila), substância considerada entorpecente por portaria do Ministério da Saúde de 27/1/1983. Todavia, no dia 4/4/1984, houve publicação de nova portaria daquele Ministério excluindo o cloreto de etila do rol de substâncias entorpecentes. Posteriormente, em 13/3/1985, foi publicada outra portaria do Ministério da Saúde, incluindo novamente a referida substância naquela lista. Nessa situação, de acordo com o entendimento do STF, ocorreu a chamada abolitio criminis, e Jorge, em 4/4/1984, deveria ter sido posto em liberdade, não havendo retroação da portaria de 13/3/1985, em face do princípio da irretroatividade da lei penal mais severa.E Rômulo seqüestrou Lúcio, exigindo de sua família o pagamento de R$ 100.000,00 como resgate. Nessa situação, o crime de extorsão mediante seqüestro praticado por Rômulo é considerado crime habitual.C O médico Caio, por negligência que consistiu em não perguntar ou pesquisar sobre eventual gravidez de paciente nessa condição, receita-lhe um medicamento que provocou o aborto. Nessa situação, Caio agiu em erro de tipo vencível, em que se exclui o dolo, ficando isento de pena, por não existir aborto culposo.C Laura, funcionária pública a serviço do Brasil na Inglaterra, cometeu, naquele país, crime de peculato. Nessa situação, o crime praticado por Laura ficará sujeito à lei brasileira, em face do princípio da extraterritorialidade.

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Gabarito: CECCComentários:

A primeira assertiva está correta. Trata-se de caso concreto, julgado pelo Supremo Tribunal Federal. O teor da decisão é o seguinte: “O paciente foi preso no dia 01.03.84, por ter vendido lança-perfume, configurando o fato o delito de trafico de substancia entorpecente, já que o cloreto de etila estava incluído na lista do DIMED, pela Portaria de 27.01.1983. Sua exclusão, entretanto, da lista, com a Portaria de 04.04.84, configurando-se a hipótese do "abolitio criminis". A Portaria 02/85, de 13.03.85, novamente inclui o cloreto de etila na lista. Impossibilidade, todavia, da retroatividade desta. II. Adoção de posição mais favorável ao réu. III. H.C. deferido, em parte, para o fim de anular a condenação por trafico de substancia entorpecente, examinando-se, entretanto, no Juízo de 1.º grau, a viabilidade de renovação do procedimento pela eventual pratica de contrabando.” (HABEAS CORPUS 68904/SP). Importante observar que o Superior Tribunal de Justiça, julgando situação semelhante, orienta-se pela inocorrência de abolitio criminis. O candidato deve conhecer as duas orientações divergentes. A segunda assertiva está errada. O crime de extorsão mediante seqüestro é crime permanente, e não habitual. Permanente é o delito cuja consumação se prolonga no tempo. No crime de extorsão mediante seqüestro, enquanto durar a privação de liberdade, estará ocorrendo a consumação, elástica no tempo. Diferente, o delito habitual é aquele que precisa de uma reiteração (repetição) de ações para se configurar. Observe: no crime permanente, somente haverá uma única ação, porém elástica no tempo; ao contrário, no crime habitual, encontramos várias ações, necessárias para constituir um único delito.Correta a terceira assertiva. O médico incorreu em erro de tipo, incorrendo em falsa percepção da realidade. Trata-se de erro de tipo vencível (inescusável), porque agiu com negligência. O erro de tipo sempre exclui o dolo, mas admite a responsabilidade a título de culpa, quando for vencível. Entretanto, não existe aborto na forma culposa. Conseqüentemente, o fato é atípico. Haverá, no caso, apenas ilícito civil.Correta a quarta assertiva. É uma situação de extraterritorialidade incondicionada. Aplica-se o princípio da proteção ou da defesa. Estão sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os crimes contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público.

4. (DELEGADO DA POLÍCIA FEDERAL 2004 NACIONAL – CESPE/UNB) Em cada um dos itens subseqüentes, é apresentada uma situação hipotética relativa a crime contra a seguridade social, seguida de uma assertiva a ser julgada com base na legislação aplicável.C João mantinha uma pequena granja em chácara de sua propriedade e contava com o auxílio de dois empregados, que percebiam remuneração mensal equivalente a um salário mínimo. Por exercer o negócio por conta própria e informalmente, João nunca efetuou os registros devidos nas carteiras de trabalho de seus empregados, tampouco recolheu as contribuições previdenciárias correspondentes. Nessa situação, se for flagrado pela fiscalização, João responderá pelo crime de sonegação de contribuição previdenciária, podendo o juiz restringir a pena de reclusão prevista (de um terço até a metade) ou apenas aplicar a pena de multa.C  Como forma de otimizar suas atividades, um grande supermercado contratou os serviços de uma cooperativa de mão-de-obra, buscando o fornecimento de trabalhadores para as funções de empacotamento e limpeza. No entanto, por deixar de consignar nos documentos contábeis adequados os valores pagos à cooperativa, o supermercado não recolheu as contribuições previdenciárias incidentes, da ordem de 15% do valor bruto das notas fiscais respectivas.

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Nessa situação, os responsáveis pela conduta típica indicada responderão pelo crime de sonegação de contribuição previdenciária.Gabarito: CCComentários:

Correta a primeira assertiva. A conduta de João se enquadra no crime de sonegação previdenciária, previsto nos incs. I (“omitir da folha de pagamento da empresa ou de documento de informações previsto pela legislação previdenciária segurados empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este equiparado que lhe prestem serviço”) III (“omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas ou creditadas e demais fatos geradores de contribuições sociais previdenciárias”), do art. 337-A, do Código Penal. No caso, a situação de João se amolda no §3.º do tipo penal, isto é, na figura do empregador “bagatelar”, conforme Eduardo Rocha Dias (DIAS, Eduardo Rocha. Curso de Direito Previdenciário. São Paulo: Método, 2008, pág. 616), citando expressão de Luiz Flávio Gomes. Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha de pagamento mensal não ultrapassa 2.555,18 (dois mil quinhentos e cinqüenta e cinco reais e dezoito centavos), o juiz poderá reduzir a pena de um terço até a metade, ou apenas aplicar a pena de multa.Correta a segunda assertiva. Retrata situação clara de sonegação previdenciária, prevista no inc. II do art. 337-A, como sendo a conduta de omitir da folha de pagamento da empresa ou de documento de informações previsto pela legislação previdenciária segurados empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este equiparado que lhe prestem serviço.

5. (DELEGADO DA POLÍCIA FEDERAL 2002– CESPE/UNB) Em cada um dos itens seguintes, é apresentada uma situação hipotética relativa à Lei de Entorpecentes (Lei n.º 6.368/1976), seguida de uma assertiva a ser julgada.C1 Diniz era proprietário de um barco, no qual foram encontrados e apreendidos cerca de oitenta quilos de cocaína, apanhada em Belém – PA para ser levada para o Suriname, onde parte seria vendida; a outra parte do entorpecente seguiria para os Estados Unidos da América e a Europa. A substância entorpecente pertencia a Diniz. Nessa situação, Diniz responderá pelo crime de tráfico internacional de entorpecente, com circunstância especial de aumento de pena, sendo a justiça federal competente para processar e julgar a ação penal.E2 Pedro efetuou a postagem, nos correios, de dois embrulhos contendo cinqüenta gramas de maconha, que seriam remetidos a Miguel para consumo. A droga foi interceptada ainda na agência dos correios e apreendida antes da remessa ao destinatário. Nessa situação, e conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Pedro responderá pelo crime de tráfico ilícito de entorpecente, na forma consumada.E3 Cláudio adquiriu, no comércio da cidade argentina de Paso de Los Libres, quinhentos frascos do produto conhecido como lança-perfume, cuja composição contém a substância cloreto de etila, introduzindo-os no território nacional com a finalidade de revenda. No momento em que adentrava no município de Luziânia – GO transportando o entorpecente, Cláudio foi preso em flagrante. Nessa situação, e de acordo com o entendimento majoritário do STJ, Cláudio responderá perante a justiça federal pelo crime de tráfico internacional de entorpecente.C4 Sinval, agente de polícia, tomou conhecimento, por meio de um informante, que João, traficante, detinha no interior de sua residência, em depósito, grande quantidade de cocaína para ser comercializada no município. Sem mandado de busca e permissão dos moradores, Sinval adentrou na residência e apreendeu dez quilos de cocaína, acondicionada em pequenos sacos, efetuando a prisão em flagrante de João. Nessa situação, a apreensão da droga e a prisão de João foram lícitas, uma vez que a diligência prescindia de mandado judicial.C5

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Adauta foi denunciada pelo MP pela prática do crime de tráfico ilícito de entorpecente, em razão de ter sido presa em flagrante, no dia 18/6/2000, trazendo consigo, para fins de difusão ilícita, setecentos frascos da substância entorpecente denominada cloreto de etila, vulgarmente conhecida como lança-perfume, proibida em todo o território nacional pela Portaria n.º 344, de 12/5/1998, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde (SVS/MS), alterada pela Resolução n.º 480, de 23/9/1999, da ANVISA. A Resolução RDC n.º 104, publicada no DOU de 7/12/2000, excluiu o cloreto de etila da lista das substâncias psicotrópicas de uso proscrito no Brasil (lista F2 da Portaria SVS/MS n.º 344/1998) para incluí-la na lista D2 (insumos químicos utilizados como precursores da fabricação e síntese de entorpecentes). Posteriormente, em 15/12/2000, foi republicada a Resolução RDC n.º 104, com a inclusão do cloreto de etila na lista de substâncias de uso proscrito (lista B1). Nessa situação, em relação a Adauta, verificou-se a abolitio criminis, que é causa de extinção da punibilidade.Gabarito: CEECCComentários:

Observação: os comentários a seguir estão de acordo com as disposições da Nova Lei de Drogas (Lei N.º 11.343/2006).01. Correta. Trata-se de crime de tráfico internacional de drogas, previsto no art. 33 da Nova Lei de Drogas, especificamente no núcleo “exportar”.  Neste caso, a competência é da Justiça Federal. E ainda haverá a causa de aumento de pena (1/6 a 2/3) do inc. I do art. 40, porque a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido evidenciam a transnacionalidade do delito.02. Errada. Segundo o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, o caso concreto em análise configura crime de tráfico na forma tentada, e não na forma consumada. 03. Errada. Segundo orientação firmada pelo Superior Tribunal de Justiça, sendo o "lança-perfume" de fabricação Argentina – onde não há proibição de uso – e não constando o "cloreto de etila" das listas anexas da Convenção firmada entre o Brasil e a Argentina – não se configura a internacionalidade do delito, mas, tão-somente, a violação à ordem jurídica interna brasileira (STJ CONFLITO DE COMPETENCIA 2002/0014395-7). Caracterizado apenas o tráfico interno de drogas, sem qualquer cumulação de crimes, eis que não foi apreendido nenhum outro tipo de mercadoria com o indiciado, sobressai a competência da Justiça Estadual para o processo e julgamento do feito.04. Correta. Ocorreu, no caso, flagrante delito, a permitir a prisão do agente criminoso a qualquer hora do dia ou da noite, estando autorizada constitucionalmente a violação do domicílio. Não há necessidade de mandado judicial. 05. Correta. Segundo o Supremo Tribunal Federal, em que pese o erro da Administração Pública, configurou-se a abolitio criminis. Atenção para a seguinte observação: se o enunciado fosse construído com base na orientação do Superior Tribunal de Justiça, a resposta seria o contrário, porque, de acordo com o pensamento deste, não se verificou a abolitio criminis.  

6. (DELEGADO DA POLÍCIA FEDERAL 2002– CESPE/UNB) Acerca dos crimes contra o meio ambiente e de lavagem de dinheiro, julgue os itens a seguir.C1 O depósito de cheques de terceiros recebidos pelo agente, como produto de concussão, em contas-correntes de pessoas jurídicas às quais contava ele ter acesso, basta para caracterizar a figura de lavagem de capitais mediante ocultação da origem, da localização e da propriedade dos valores respectivos.E2 Considere a seguinte situação hipotética. Paulo, cortando clandestinamente várias madeiras de lei, promoveu um desmatamento com queimada e cozimento de carvão em mata localizada em sua propriedade rural, sem a devida autorização legal. Nessa situação, Paulo praticou crime contra a flora e deverá ser processado e julgado perante a justiça

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federal.C3 Considere a seguinte situação hipotética. Sílvio e Henrique, representantes legais da sociedade comercial denominada Madeireira Brasil Ltda., determinaram que os empregados da empresa cortassem árvores em uma floresta considerada de preservação permanente, sem autorização da autoridade competente, para que as madeiras fossem posteriormente comercializadas. Nessa situação, a pessoa jurídica poderá ser responsabilizada penalmente e, na hipótese de condenação, ser imposta pena de prestação de serviços à comunidade.E4 Considere a seguinte situação hipotética. Em uma blitz, Tiago foi preso em flagrante por ter em cativeiro, para a venda, trinta canários-da-terra. Nessa situação, e de acordo com o atual entendimento do STJ, Tiago responderá por crime contra a fauna perante a justiça federal.C5 Considere a seguinte situação hipotética. Instaurou-se inquérito policial contra Jorge, sendo ele indiciado pela prática de crime contra a flora (art. 46, parágrafo único, da Lei n.º 9.605, de 12/2/1998), por haver sido flagrado, em 23/9/1997, transportando uma partida de toras de madeira com uma autorização de transporte de produto florestal inválida. Por ocasião da infração penal, estava em vigor a Lei n.º 4.771/1965, que previa como mera contravenção penal o transporte de madeira sem licença válida. Nessa situação, em face do princípio da irretroatividade da lei penal mais gravosa, a Lei N.º 9.605/1998 não poderá ser aplicada. 

Gabarito: CECECComentários:

01. Correto. Trata-se de crime de lavagem de capitais, previsto no art. 1.º da Lei N.º 9.613/98, consistente na conduta de ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente de crime contra a Administração Pública (inc. V). 02. Errado. De acordo com a orientação firmada e reiterada do Superior Tribunal de Justiça, compete à Justiça Estadual o processo e julgamento de feito que visa à apuração de possível crime ambiental, consistente no desmatamento, sem autorização, de área, quando não restar demonstrada a existência de eventual lesão a bens, serviços ou interesses da União a ensejar a competência da Justiça Federal. A competência da Justiça Federal, expressa no art. 109, IV, da Constituição Federal, restringe-se às hipóteses em que os crimes ambientais são perpetrados em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, ou de suas autarquias ou empresas públicas. Não restando configurada, na espécie, a ocorrência de lesão a bens, serviços ou interesses da União, a competência para processar e julgar o feito é da Justiça Estadual. (REsp 620819 / TORecurso Especial)03. Correto. Trata-se da responsabilidade penal da pessoa jurídica nos crimes ambientais, consagrada no §3.º, do art. 225, da Constituição Federal de 1988 (“As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”). A disposição constitucional da responsabilidade penal da pessoa jurídica é regulamentada no art. 3.º da Lei Ambiental (Lei N.º 9.605/98), dispondo o seguinte: “As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.”. O art. 21 desta Lei estabelece como sanções penais aplicáveis à pessoa jurídica a multa, as restritivas de direitos e a prestação de serviços à comunidade.  04. Errada. Conforme entendimento consolidado no Superior Tribunal de Justiça, em regra, o processo e o julgamento dos crimes ambientais é de competência da Justiça Comum Estadual. E tratando-se de suposta infração cometida em área particular, inexistente qualquer circunstância

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determinante de especial interesse da União, declara-se a competência da Justiça Estadual. Inexistindo, em princípio, qualquer lesão a bens, serviços ou interesses da União (artigo 109 da CF), afasta-se a competência da Justiça Federal para o processo e o julgamento de crimes cometidos contra o meio ambiente, aí compreendidos os delitos praticados contra a fauna e a flora.05. Correto. A situação retrata situação bastante clara da aplicação do princípio da irretroatividade da lei penal mais maléfica. No caso, aplica-se a Lei n.º 4.771/1965, em vigor no momento da prática do crime. A nova Lei n.º 9.605/98 não poderia retroagir, por ser mais maléfica.

 

7. (DELEGADO DA POLÍCIA FEDERAL 2002– CESPE/UNB) Em cada um dos itens subseqüentes, é apresentada uma situação hipotética relativa à aplicação da lei penal no espaço, seguida de uma assertiva a ser julgada.E1 Em águas territoriais do Brasil, a bordo de um navio mercante que ostentava a bandeira da Argentina, um brasileiro praticou um homicídio contra um argentino, ambos tripulantes da embarcação. Nessa situação, aplicar-se-á a lei penal argentina.C2 Em alto-mar, a bordo de uma embarcação de recreio que ostentava a bandeira do Brasil, Júlio praticou um crime de latrocínio contra Lauro. Nessa situação, aplicar-se-á a lei penal brasileira.E3 Um navio mercante que ostentava a bandeira do Brasil naufragou em alto-mar. Sobre os destroços da embarcação, Leonardo ceifou a vida de Bento. Nessa situação, aplicar-se-á a legislação do primeiro país em que Leonardo descer à terra após o homicídio (prevenção).E4 Whesley, cônsul honorário no Brasil do país BBB, exasperou-se com a secretária no consulado daquela República por causa de um ex-namorado dela, tendo-a constrangido, mediante violência, a manter com ele conjunção carnal e cópula anal. Nessa situação, pelo fato de o autor dos eventos ser funcionário consular, aplicar-se-á a lei do país BBB.C5 Augusto, diplomata em serviço na embaixada do Brasil no país CCC, exigiu de alguns fornecedores estrangeiros a importância de US$ 1.200 para agilizar o pagamento de serviços prestados e de mercadorias adquiridas pela embaixada. Nessa situação, Augusto ficará sujeito à lei penal brasileira.

Gabarito: ECEECComentários:

01. Errada. Aplica-se a lei brasileira, em face do princípio da territorialidade. Somente seria aplicada a lei penal argentina se o navio fosse. A lei brasileira é aplicável aos crimes cometidos a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil (§2.º, art. 5.º, do Código Penal). Observe: se o navio argentino fosse de natureza pública ou a serviço do governo argentino, aplicar-se-ia a lei penal deste País.02. Correto. Trata-se da aplicação do princípio do pavilhão ou da bandeira, ou ainda da representação (art. 7.º, II, b, CP), segundo o qual, quando em alto-mar, ao crime cometido em embarcações de propriedade privada, o foro competente é o da bandeira da embarcação. Nas situações de crimes praticados em águas territoriais estrangeiras, a lei penal brasileira somente se aplica caso o governo estrangeiro não tenha interesse de punir o criminoso.03. Errado. O raciocínio é semelhante ao da situação anterior, isto é, vale o princípio do pavilhão ou da bandeira, aplicando-se a lei penal brasileira, ainda que o crime tenha sido praticado nos

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destroços da embarcação. 04. Errado. Não existe imunidade para cônsul honorário, nem para qualquer tipo de funcionário consular honorário. O cônsul honorário não é de carreira. É um cidadão de um país, nele residente, que exerce as atribuições de cônsul, representando uma outra nação. Por isso mesmo, não possui imunidade penal.05. Correto. Augusto possui imunidade, mas esta não é sinônima de impunidade. Dessa forma, ficará sujeito à lei penal brasileira. Afora isso, estando a seu serviço, praticou crime contra a Administração Pública (princípio real, ou da defesa ou da proteção).

8. (DELEGADO DA POLÍCIA FEDERAL 2002– CESPE/UNB) Acerca dos crimes contra o patrimônio e a administração pública, julgue os itens abaixo.E1 Considere a seguinte situação hipotética. Nardel, assistente de transporte do Ministério da Saúde, previamente ajustado com Leandro, seu primo, que estava desempregado, parou em um estacionamento público um veículo oficial que transportava R$ 20.000,00 em medicamentos, deixando-o aberto e com a chave na ignição. Leandro, valendo-se da facilidade, estacionou uma caminhonete ao lado do veículo oficial e subtraiu todo o medicamento. Nessa situação, Leandro responderá pelo crime de furto.C2 Considere a seguinte situação hipotética. Sílvio interceptou o veículo de Mariana e, mediante grave ameaça exercida com o emprego de um revólver, privou-a de sua liberdade de locomoção. O fato ocorreu em Brasília – DF. Oito horas após a abordagem, Sílvio entrou em contato com a família de Mariana e exigiu como condição para libertá-la a importância de R$ 150.000,00 em dinheiro, a ser entregue na cidade de Goiânia – GO. No dia seguinte, enquanto Mariana permaneceu no cativeiro em Brasília, Sílvio deslocou-se até a cidade de Goiânia, onde foi preso em flagrante no momento em que iria receber o dinheiro do resgate. Nessa situação, Sílvio responderá pelo crime de extorsão mediante seqüestro, na forma consumada.E 3 Por ser a concussão crime próprio, inadmissível é a participação de pessoa estranha ao quadro do funcionalismo público (particular).C 4 O advogado que é designado pelo juiz, em audiência, para exercer a defesa de alguém (ad hoc) e, nessa condição, solicita vantagem indevida da parte adversa para deixar de praticar algum ato no processo não perpetra, de acordo com o STJ, o crime de corrupção passiva.E 5 Considere a seguinte situação hipotética. Luiz, empregado da ECT, empresa pública federal, apropriou-se da importância de R$ 2.000,00 referente à venda de selos, numerário de que tinha a posse em razão da função. Nessa situação, Luiz praticou o crime de apropriação indébita. 

Gabarito: ECECEComentários:

01. Errado. Leandro incorreu no crime de peculato. Ambos (Nardel e Leandro) responderão pelo mesmo crime de peculato, em concurso de agentes. O quesito demanda aplicação da regra do art. 30 do Código Penal, estabelecendo a comunicabilidade das circunstâncias de caráter pessoal, quando elementares do tipo. No caso, a circunstância de caráter pessoal de Leandro (ser autoridade pública) comunica-se ao outro agente, fazendo com que este responda pelo mesmo crime. 02. Errado. O crime de extorsão mediante seqüestro é formal, consumando-se com o seqüestro, independentemente da obtenção ou não do resgate. Esta, na verdade, quando efetivamente vem a ser entregue ao seqüestrado, caracteriza apenas exaurimento do crime. A consumação ocorre em momento anterior, com a ação de seqüestrar a vítima.03. Errado. Realmente, a concussão é crime próprio, praticado pela autoridade pública contra a Administração Pública. Porém, isso não impede o concurso de agentes com o particular.

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Havendo vinculo associativo, a circunstância de caráter pessoal do crime (ser autoridade pública) transmite-se para o outro agente, respondendo este também pelo crime de concussão. 04. Correto. Fundamentação da questão à época da elaboração da prova. Considera-se autoridade pública para efeitos penais aquela pessoa que exerce função pública, ainda que transitoriamente e sem remuneração. O Superior Tribunal de Justiça considera que o advogado que exerce um “munus publicum” não exerce função pública e, conseqüentemente, não pode ser considerado funcionário público para efeitos penais (STJ, RHC 3900 / SP 1994/0027399-1). O defensor dativo, ao contrário do integrante da Defensoria Pública (art. 5º, inciso LXXXIV c/c art. 134 da CF), não exerce função pública, mas somente munus publicum, razão pela qual a sua conduta, referente à cobrança indevida de honorários, não pode ser enquadrada como ato de funcionário público, refugindo ao âmbito do Direito Penal. Atenção !!!!!! O Superior Tribunal de Justiça reviu sua orientação sobre o tema. Atualmente, considera que o advogado que, por força de convênio celebrado com o Poder Público, atua de forma remunerada em defesa dos agraciados com o benefício da Justiça Pública, enquadra-se no conceito de funcionário público para fins penais (RHC 17321 / SP RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS 2005/0022685-3)05. Errado. Como é empregado de empresa pública, Luiz é considerado autoridade pública para efeitos penais. No caso, apropriando-se de valores da Administração Pública, incorreu no crime de peculato-apropriação, disposto no art. 312 do Código Penal.

9. (DELEGADO DA POLÍCIA FEDERAL 1997– CESPE/UNB) Acerca dos elementos constitutivos do crime (tipicidade, ilicitude e culpabilidade), julgue os itens a seguir.C1) A previsibilidade objetiva do resultado da conduta é elemento da tipicidade culposa, ao passo que a previsibilidade subjetiva é elemento da culpabilidade. C2) O potencial conhecimento da ilicitude do fato, para a teoria normativa, integra a culpabilidade.C3) Na culpa consciente, o agente tem a previsão do resultado.E4) Não há concorrência de culpas no direito penal.E5) O erro de proibição exclui a ilicitude da conduta.

Gabarito: CCCEEComentários:

01. Correta. A previsibilidade objetiva, elemento da tipicidade culposa, significa que o agente não previu o resultado, apesar da possibilidade de se prevê-lo, tomando-se como referência uma pessoa normal, isto é, a média das pessoas. Ao contrário, no tipo penal doloso, o agente possui consciência de sua ação e do resultado que esta pode ocasionar (previsibilidade subjetiva). Em outras palavras, no tipo penal culposo (culpa inconsciente), o agente não possui consciência do nexo causal entre a sua conduta e o resultado; enquanto no tipo penal culposo, essa consciência não existe. Dentro desse contexto, ressalve-se apenas a hipótese da denominada culpa consciente, em que o agente prevê o resultado, porém espera sinceramente que este não aconteça. 02. Segundo a teoria normativa, a culpabilidade possui os seguintes elementos: a) imputabilidade; b) potencial conhecimento da ilicitude; c) exigibilidade de conduta diversa. Nesta teoria, o dolo e culpa não seriam elementos da culpabilidade. O dolo é retirado da culpabilidade e inserido no fato típico. A consciência da ilicitude é excluída do dolo e colocada na culpabilidade. 03. Correto. Na culpa consciente, existe previsão do resultado, apesar do agente sinceramente não querê-lo, confiando plenamente em sua capacidade de evitá-lo. 04. Errado. No direito penal, existe concorrência de culpas. Consiste em considerar a culpa da vítima na fixação da pena do criminoso. Conforme o art. 59 do Código Penal, a

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participação da vítima é um dos critérios que o juiz deve levar em consideração, quando da dosimetria da pena. Somente não se admite compensação de culpas, isto é, não poderá o agente excluir a sua culpa pela culpa da vítima. A concorrência de culpas deve ser considerada, na aplicação da pena, justamente porque assim como existem vítimas ocasionais, também se encontram vítimas provocadoras e agressoras. O juiz não pode deixar de considerar a participação da vítima na pena aplicada. 05. Errado. O erro de proibição ou erro sobre a ilicitude do fato exclui a culpabilidade. O agente imagina estar praticando um ato lícito, porque age sem a consciência da ilicitude (um dos elementos da culpabilidade).

 

10. (DELEGADO DA POLÍCIA FEDERAL 1997– CESPE/UNB) Nos crimes contra o patrimônio,C1) a expressão coisa alheia, incluída, por exemplo, na definição dos crimes de furto e roubo, indica o elemento normativo do tipo.C2) segundo entendimento predominante no STJ, o emprego de arma de brinquedo qualifica o crime.C3) se um dos agentes quis participar de um furto, não assumindo o risco de que o comparsa viesse a cometer roubo, responderá apenas por furto, com a pena aumentada de até a metade se o resultado mais grave fosse previsível.C4) desde que não ocorra violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.C5) se o marido subtrai as jóias de sua esposa, na constância da sociedade conjugal, com o auxílio de um terceiro, este responderá por furto qualificado pelo concurso de agentes, ao passo que o marido da vítima estará isento de pena.

Gabarito: CCCCCComentários:

01. Correto. A expressão “coisa alheia” é elemento normativo do tipo, isto é, precisa ser valorado pelo juiz. Considera-se doutrinariamente como coisa alheia tudo aquilo que pertença a alguém, seja a posse, ou seja a propriedade.  02. Atenção !!!!! No gabarito oficial, o quesito estava correto, porque a afirmação baseava-se na antiga súmula 174 do Superior Tribunal de Justiça. Atualizamos o gabarito. A afirmação hoje está errada, em face do cancelamento da referida súmula. Segundo a posição atual do Superior Tribunal de Justiça, a arma de brinquedo não pode ser considerada arma para majorar a pena do crime de roubo. 03. Correto. Trata-se do dispositivo previsto no §2.º do art. 29, do Código Penal, segundo o qual se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até a metade, na hipótese de ter sido previsto crime mais grave.04. Correto. Trata-se do instituto do arrependimento posterior, previsto no art. 16, do Código Penal. Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços. 05. Correto. É caso de aplicação da escusa absolutória (ou imunidade absoluta), prevista no art. 181 do Código Penal. É isento de pena quem comete crimes contra o patrimônio de cônjuge, de ascendente e de descendente. Exige-se apenas que não sejam os crimes de roubo e extorsão, nem delitos contra o patrimônio com violência ou com grave ameaça à pessoa. A imunidade não se estende para terceiro participante do crime.