127
I. INTRODUÇÃO 1.1. Acesso aos Tribunais. Direito á Tutela Jurisdicional Efectiva. O Prazo Razoável O nº1 doartg.20 daCRP assegura a todos o “acesso ao direito e aos tribunais para defesa dos seus direitos e interesses legítimos, podendo ser a justiça ser denegada por insuciência de meios económicos”. 1.2. Direito ao Processo. Natureza Jurídica do Direito de Acção O direito de acção consagrado no artg.20º da CRP concretiza se atra!"s da acção. #ual$uer cidadão, utilizando os meios faculta pela lei processual ci!il, pode propor em juízo acç%es para faz os seus direitos ou interesses tutelados pelo direito material. se num direito subjecti!o de le!ardeterminada pretensão ao con'ecimento do órgão jurisdicional, solicitando a abertu “processo”, com o conse$uente de!er de pronuncia desse mediante decisão fundamentada (art)*+ ), n)-, /01 2 direito a processo. 3ireito no $ual se integra o direito de !ista do proc consulta domicili4ria dos autos (pelos interessados e re mandat4rios1, sal!as restriç%es especiais. O artº1º do CPC institui e5pressamente a proibição da auto-defesa , e5cepto nos casos pre!istos no artº336º do CC , nº1 e 36 /ecurso 4 acção directa geral ( 336º CC 17 /ecurso 4 acção directa em especial ( 1277º CC 17 8egitima defesa ( 337º CC 17 9ctuação em estado de necessidade ( 339º CC 17 3ireito de retenção ( 75º ss. CC 17 :n!ocação da e!"eptio non adi#p$eti "ontra"tus ( 2%º CC 17 3ireito de resistência ( 21º CRP 1. 0roíbe se, assim, aos particulares, o recurso 4 própria força, assegura, atra!"s de órgãos seus para tal !ocacionados, a todo -

Direito Processual Civil I (1)

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Direito processual Civil I

Citation preview

I. INTRODUO

1.1. Acesso aos Tribunais. Direito Tutela Jurisdicional Efectiva. O Prazo Razovel

O n1 do artg.20 da CRP assegura a todos o acesso ao direito e aos tribunais para defesa dos seus direitos e interesses legtimos, no podendo ser a justia ser denegada por insuficincia de meios econmicos.

1.2. Direito ao Processo. Natureza Jurdica do Direito de Aco

O direito de aco consagrado no artg.20 da CRP concretiza-se atravs da aco. Qualquer cidado, utilizando os meios facultados pela lei processual civil, pode propor em juzo aces para fazer valer os seus direitos ou interesses tutelados pelo direito material. Traduz-se num direito subjectivo de levar determinada pretenso ao conhecimento do rgo jurisdicional, solicitando a abertura de um processo, com o consequente dever de pronuncia desse rgo mediante deciso fundamentada (art205, n1, CRP) direito ao processo. Direito no qual se integra o direito de vista do processo, a consulta domiciliria dos autos (pelos interessados e respectivos mandatrios), salvas restries especiais.O art1 do CPC institui expressamente a proibio da auto-defesa, excepto nos casos previstos no art336 do CC, n1 e 3:

Recurso aco directa geral (336 CC); Recurso aco directa em especial (1277 CC); Legitima defesa (337 CC); Actuao em estado de necessidade (339 CC); Direito de reteno (754 ss. CC); Invocao da exceptio non adimpleti contractus (428 CC); Direito de resistncia (21 CRP).

Probe-se, assim, aos particulares, o recurso prpria fora, o Estado assegura, atravs de rgos seus para tal vocacionados, a todo o titular do direito violado as providncias necessrias sua reintegrao efectiva sistema de justia pblicaO direito de aco: direito pblico. Poder jurdico, de carcter publicistico, conferido a uma pessoa (autor) no sentido de exigir do Estado determinada providencia contra uma outra pessoa (ru) atravs de um conjunto actos (processo), exercitao essa a que corresponde um duplo momento:

a) 1 O tribunal tem de apreciar e decidir sobre a aparente viabilidade formal da providncia;b) Depois, o tribunal tem de averiguar, ouvida a parte demandada ou requerida, da possibilidade de conhecer o mrito da pretenso e de a adoptar quando, em face do direito objectivo aplicvel, se mostre que ela rene as condies necessrias sua procedncia.

1.3. Conceito, Natureza, Autonomia e Relevncia do Direito Processual Civil

Noo

Em sentido tcnico-juridico, o direito processual , o conjunto de normas de direito pblico reguladoras dos diversos tipos, formas e requisitos da aco civil bem como das formalidades que devem ser observadas em juzo da sua propositura e desenvolvimento tendentes justa composio de um litigio de interesses privados, pelo acolhimento ou rejeio da pretenso de um dos litigantes, atravs da interveno de um rgo prprio, imparcial e soberano que o tribunal.

O Direito Processual Civil como Direito Pblico Adjectivo

O direito processual um ramo de direito pblico prprio e autnomo. Chama-se ao direito processual um direito adjectivo, formal ou instrumental e o direito civil ou comercial de direito substantivo ou material. O direito processual civil tem natureza subsidiria em relao aos restantes ramos de direito processual.O direito pblico regula as relaes em que um dos sujeitos, pelo menos, exerce uma funo dominante e em que, por isso, se estabelece, entre os respectivos sujeitos, uma relao de supremacia ou superintendncia. O juiz exerce, em tal relao, uma tpica funo de soberania a funo jurisdicional.O direito processual civil destina-se a disciplinar o exerccio de um funo soberana do Estado, em cujo desempenho ele intervm claramente revestido do seu poder de supremacia. O direito processual civil um instrumento ao servio das solues decorrentes do direito substantivo, sem esquecer a repercusso negativa que a inobservncia de certas regras processuais pode trazer para a concreta relao material objecto do litgio. E, constitui um poderoso meio de preservao da legalidade em geral, que funo jurisdicional cumpre primordialmente assegurar para defesa do direito objectivo e da paz social. Em suma O direito processual civil declarativo :

Um ramo de direito pblico porque, o seu fim assegurar e promover a justa composio de um litgio, assegurar a igualdade de armas utilizadas; Um ramo de direito instrumental ou adjectivo porque se constitui numa relao de necessidade do direito civil, comercial ou societrio; Ramo de direito subsidirio dos demais ramos de direito adjectivo ou instrumental no nosso ordenamento jurdico. Se houver uma lacuna nos outros cdigos de processo vai ser suprida recorrendo ao Cdigo de Processo Civil.

1.4. Integrao de Lacunas das Leis Processuais

Ao aplicador da lei deparam-se, por vezes, situaes carecidas de tutela jurdica que a mesma no contempla, ou porque, aquando a feitura e publicao da lei, tais situaes no tenham sido realmente previstas (caso omisso) ou porque, embora previsveis, o legislador, ao regula-las incorreu em verdadeiros lapsos de regulamentao (lacuna da lei).Dever ser, por isso, o julgador a suprir a regulamentao do caso omisso ou a preencher as respectivas lacunas. Actividade em cujo exerccio ter de socorrer-se dos critrios aplicveis ao direito civil comum plasmados no art10 do CC. Este preceito impe, como 1 critrio: o recurso norma aplicvel aos casos anlogos (analogia) artg.10/1 CC; 2 critrio: h analogia sempre que no caso omisso procedam as razes justificativas da regulamentao do caso previsto na lei artg.10/2 CC; 3 critrio: na falta de caso anlogo, a situao devera ser resolvida de harmonia com a norma que o prprio interprete criaria se houvesse de legislar dentro do esprito do sistema artg.10/3 CC. Segundo o artg.11 do CC, as normas excepcionais no comportam aplicao analgica, mas admitem interpretao extensiva.

* Analogia: pressupe a existncia de uma lacuna da lei determinada situao no est compreendida nem na letra da lei nem no seu esprito.

* Interpretao extensiva: existindo embora um texto legal, mostra-se necessrio estender a respectiva previso, por se reconhecer que a expresso verbal no corresponde ao verdadeiro pensamento do legislador, o qual, ao formular a norma, ter ficado aqum do que efectivamente pretendia dizer.

II. SUCESSES DAS LEIS PROCESSUAIS NO TEMPO

2.1. Princpios Gerais. No Retroactividade da Lei

Deve o processo regular pela lei vigente ao tempo do facto ou relao material subjacente causa ou pela lei em vigor ao tempo da instaurao da aco? A cada acto processual dever ou no aplicar-se a lei em vigor ao tempo da sua prtica?As mais das vezes, o problema solucionado, quer por meio de disposies transitrias gerais, vlidas para todas as novas leis ou para as novas leis de certo tipo ou categoria, quer somente para determinada lei processual (disposies transitrias especiais). Na falta de soluo expressa no texto da nova lei, poder o aplicador encontrar soluo no seu esprito com apelo ratio legis ou occasio legis. Antes do recurso analogia ou aos princpios gerais do direito transitrio, importar sempre, averiguar previamente se a lei nova, atravs das suas prprias disposies, oferece soluo especfica para o efeito. Mas, no seu silncio, o princpio geral a aplicar neste domnio sempre o da aplicao imediata das leis de processo.O direito processual um ramo de direito pblico, no qual predomina o interesse pblico fundamental da administrao da justia na sua vertente de justa e clere composio dos conflitos entre particulares; como assim, de entender que adopo de tais novas normas correspondeu uma melhor e mais perfeita adequao das novas opes ao objectivo em causa. Da que o artg.142 n1 diga a lei em vigor no momento em que so praticados (principio tempus regit actum).O direito processual um ramo de direito adjectivo, no decidindo, por isso, sobre a existncia ou no do direito que o autor adopta; limita-se a regular o modo e as regras atravs dos quais os sujeitos de direito podem /devem fazer valer em juzo os poderes que lhes assistem face ao direito substantivo. Assim, torna-se inaceitvel, retirar a qualquer titular um direito que lhe era conferido pela lei vigente na prtica dos factos, j no se repugna que seja de aplicao imediata uma nova lei que apenas altera o modo de o fazer valer, ou seja o modus faciendi da sua actuao em juzo.Manuel de Andrade dizia que, os diversos actos processuais devem ter como lei reguladora a lei vigente ao tempo da sua prtica.O art12 do CC dispe que a lei s dispe para o futuro. Ainda que lhe seja atribuda eficcia retroactiva, presume-se que ficam ressalvados os efeitos j produzidos pelos factos que a lei se destina a regular (n1). E, mesmo que se apliquem para o passado, presume-se que h a inteno de respeitar os efeitos jurdicos j produzidos.Significa que, a nova lei e de aplicar s aces futuras e aos actos que se vierem futuramente a praticar nas aces pendentes. A validade e regularidade dos actos processuais anteriores continuaro a aferir-se pela lei antiga. O respeito da validade e eficcia dos actos anteriores pode inclusivamente obrigar aplicao da lei antiga mesmo a actos posteriores entrada em vigor da nova lei, se tal for necessrio para que os actos anteriormente realizados no percam a sua utilidade. Este princpio vale para as chamadas leis de direito probatrio material (que versam sobre o nus da prova e a admissibilidade e fora probatria dos diversos meios de prova).Uma lei retroactiva pode ser inconstitucional, no por ser retroactiva, mas por contrariar normas ou princpios constitucionais, como o princpio da proteco da confiana, prprio do Estado de Direito Democrtico (art2 CRP), o que suceder quando a aplicao retroactiva de uma lei violar de forma intolervel a segurana jurdica e a confiana que os cidados e a comunidade ho-de depositar na ordem jurdica que os rege.

2.2. Aplicaes Prticas dos Princpios sobre a Aplicao Temporal

2.2.1. Leis sobre a Competncia dos Tribunais

Estas leis fixam a medida da jurisdio dos diversos tribunais. Ao sucederem-se no tempo, essas leis podem introduzir alteraes orgnicas (criam ou suprimem tribunais) ou simplesmente funcionais (limitam-se a operar uma redistribuio das diversas causas pelos tribunais existentes, modificando assim a medida da sua jurisdio.A LOFTJ/2008 contempla, no seu art24 n1 que, a competncia do tribunal fixa-se no momento em que a aco se prope, sendo irrelevantes as modificaes de facto que ocorram posteriormente; e face ao n2, sendo igualmente irrelevantes as modificaes de direito posteriores, de aplicar imediatamente a nova lei se for suprimido o rgo a que a causa estava afecta ou lhe for atribuda competncia de que inicialmente carecia para o conhecimento da causa.

REGRA: Aplicao imediata da nova lei apenas quanto as aces futuras; relativamente s aces pendentes, a regra j ser a da aplicao da lei vigente data da propositura da aco: se o tribunal for competente no momento da propositura da aco, mantm-se competente at ao julgamento final Principio da prepetuatio jurisditionis

1 Excepo supresso pela nova lei do rgo a que a causa estava afecta:Extinto o tribunal a que a causa se encontrava adstrita, no se prolongar artificialmente a sua existncia e o seu funcionamento para levar at final a aco nele em curso; e as aces pendentes devem ser oficiosamente remetidas para o rgo jurisdicional que passe a ser competente segundo a nova lei (art64, CPC).

2 Excepo em a nova lei atribuir ao tribunal onde pende a aco a competncia de que ele no dispunha no momento da respectiva instaurao: Nesta situao, a nova lei tem aplicao imediata, no s as aces futuras, mas tambm s aces pendentes

2.2.2. Leis sobre o Ritualismo ou Formalismo Processual

So as normas reguladoras dos actos a praticar na proposio e desenvolvimento da aco. Os diversos actos processuais (termos e formalidades) encadeiam-se logicamente num complexo mais vasto do que a prpria sentena a proferir (actos instrumentais, preparatrios ou instrutrios).Neste domnio de acolher o principio da aplicao imediata da lei nova, quanto aos actos processuais, no s os actos a praticar em aces futuras, como ainda os actos a praticar nas aces pendentes data da sua entrada em vigor, isto, a menos que essa aplicao imediata possa acarretar a invalidao de actos praticados sombra da lei antiga ou se revelem contrrios ao esprito da nova lei. O art142 estatui que, a forma dos diversos actos processuais regulada pela lei que vigore no momento em que so praticados (n1) e que, a forma de processo aplicvel determina-se pela lei vigente data data em que a aco proposta (n2).

REGRA: Aqui, de acordo com o princpio do tempus regit actum, quanto aos actos praticados na vigncia da lei pretrita, esta que continua a regular a sua validade, mesmo que a aco destinada a impugn-los seja proposta j no domnio da nova lei; quanto ao futuro, a nova lei deve aplicar-se a todos os actos processuais posteriores sua entrada em vigor; quanto aos actos duradouros em geral (actos de inquirio das testemunhas ou a audincia de discusso e julgamento), a nova lei reguladora desses actos deve aplicar-se s aces pendentes porque, a sua aplicao pode resultar na inutilizao de actos anteriormente praticados. Mas, deve aplicar-se imediatamente a lei que, dentro da forma de processo que est a ser observada, suprima um acto ou altere os pressupostos da sua prtica.

2.2.3. Leis sobre Provas

Provas: so os meios a utilizar para o apuramento da realidade dos factos deduzidos pelas partes e que, face ao direito aplicvel, interessam ao exame e deciso do mrito da causa.Estas normas podem constituir direito probatrio material ou direito probatrio formal.

Direito probatrio material: trata e regula o nus da prova e suas regras distributivas, a admissibilidade e fora probatria dos vrios meios de prova (documental, pericial, por confisso, por inspeco ou por presuno)Direito probatrio formal: regula o modo de produo das provas em juzo, determinando quais os actos a praticar para a utilizao dos diversos meios de prova

REGRA: Deve aplicar-se imediatamente o novo direito probatrio formal porque se trata de puro formalismo processual. A nova lei valer para aces futuras mas, tambm, para as aces pendentes. Quanto ao direito probatrio material, enquanto regula a admissibilidade das provas aplica-se imediatamente a lei nova, quer s aces futuras quer s aces pendentes. No entanto, quanto ao novo direito probatrio material relativo admissibilidade das provas de determinados factos jurdicos especiais (contrato-promessa de compra e venda de imveis artg.410 n2 e 3, arrendamento urbano artg.1069, contrato de compra e venda ou doao de um imvel artg.875 e 947, contrato mutuo superior a certo montante art.1143) deve-se seguir o princpio tempus regit actum.Se se tratar de prova de factos naturais (nascimento, acidente, bito, casamento, etc.) no se aplica o princpio tempus regit actum.No caso especial dos meios de provadas relaes sexuais, em aco de investigao da paternidade dever aplicar-se a lei vigente ao tempo da propositura da aco.No que se refere s provas por presuno ilaes que a lei ou o julgador deduz de um facto conhecido para afirmar um facto desconhecido (artg.349CC) valer o princpio tempus regit actum.

2.2.4. Leis sobre Recursos

Estas leis regulam a admissibilidade e a tramitao dos recursos. Entre estas normas importa distinguir, as que fixam as condies de admissibilidade do recurso e as que se limitam a regular as formalidades da preparao, instruo e julgamento.

REGRA: Quanto tramitao do recurso deve aplicar-se imediatamente a lei nova a todas as decises que venham a ser proferidas nas causas pendentes. E No s aos recursos a interpor futuramente em aces pendentes como aos prprios recursos j pendentes.Relativamente s normas que fixam as condies de admissibilidade do recursos (Ex: alterao da alada dos tribunais): Se a nova lei passar a admitir um recurso de decises que anteriormente o no admitiam, no deve aplicar-se s decises j proferidas data da sua entrada em vigor, caso contrrio, frustrar-se-iam as expectativas fundadas sobre o caso julgado Se a nova lei passar a negar o recurso que a lei anterior admitia, se o recurso j estiver interposto, a nova lei no se aplica as decises anteriores, pois ofenderia as legitimas expectativas do recorrente fundadas na lei vigente data da interposio do recurso; se o recurso ainda no estiver interposto tambm no se aplica a nova lei, porque, de outro modo, a deciso passaria a ter um valor que lhe no competia pela lei do tempo em que foi pronunciada Relativamente s decises que venham a ser proferidas no futuro em aces pendentes, a nova lei imediatamente aplicvel, quer passe a admitir recurso anteriormente no admissvel quer negue o recurso anteriormente possvel.

2.2.5. Leis sobre Prazos Judiciais

1. Prazo legal: prazo estabelecido por lei

a) Prazo dilatrio: difere para certo momento a possibilidade de realizao de um acto ou o incio da contagem de um outro prazo (artg.145 n2)b) Prazo peremptrio: o decurso deste prazo extingue o direito de praticar o acto (artg.145 n3), salvo os casos de prtica (acompanhada do pagamento imediato de uma multa) nos trs dias teis seguintes ao termo do prazo (artg.145) e de justo impedimento (artg.146)

2. Prazo judicial: prazo estabelecido pelo juiz no decurso do processo

REGRA:

a) Deve aplicar-se imediatamente (isto , aos prazos relativos a actos a praticar futuramente no seio das aces pendentes, bem como aos prprios prazos j em curso) a nova lei que alonga um prazo peremptrio, computando-se no novo prazo o perodo temporal j decorrido na vigncia da lei antiga (artg.297 n2 CC); deve tambm aplicar-se imediatamente, por fora desse n2 a nova lei que alongue um prazo dilatrio. b) Deve aplicar-se imediatamente a nova lei que encurte um prazo peremptrio (mesmo aos prazos em curso), mas contando-se apenas o tempo decorrido na vigncia da nova lei, salvo se da resultar, no caso concreto, um alargamento do prazo. c) Deve aplicar-se tambm imediatamente, mesmo aos prazos em curso, a lei nova que venha abreviar ou encurtar um prazo dilatrio; mas se, face nova lei, o prazo j estiver consumado, a dilao deve considerar-se finda na data da entrada em vigor da nova lei, caso contrario seria frustrar as legitimas expectativas das partes e contrario ao esprito do preceito do n1 do artg.297.

* Se a um prazo peremptrio se seguir a um prazo dilatrio, os dois prazos devero contar-se como se tratasse de apenas um de modo continuado (artg.148).

2.2.6. Leis sobre as Aladas

Alada: limite mximo do valor da causa, dentro do qual e ate ao qual o tribunal julga sem admissibilidade de recurso ordinrio.

A nova lei que altere ou modifique os valores das aladas dos tribunais pode suscitar, no que concerne sua aplicao intemporal, uma dupla ordem de questes: qualificao da forma de processo aplicvel s aces abrangidas pela alterao/modificao e recorribilidade/irrecorribilidade das respectivas decises. Uma nova lei que amplie ou eleve o valor limite da alada torna irrecorrvel um maior nmero de causas; se ao invs, diminuir ou reduzir o valor da alada, alarga a possibilidade de recurso das respectivas decises.

REGRA:

a) No que respeita forma do processo, o princpio de economia processual recomenda que um processo iniciado sob determinada forma deva seguir essa forma ate ao final. A forma a observar deve ser a correspondente lei vigente data da propositura da aco (artg.142 n2)b) Quanto admissibilidade de recurso, o n3 do artg.31 da LOFTJ/2008 veio estatuir que, a admissibilidade dos recursos por efeito das aladas regulada pela lei em vigor ao tempo em que foi instaurada a aco (o processo sumario continua sumario, o processo ordinrio continua ordinrio e o processo sumarssimo continua sumarssimo), ou seja, a lei nova ser respeitada para processos futuros.

III. TIPOLOGIA DAS ACES E DAS FORMAS DE PROCESSO

Meios processuais declarativos clssicos

3.1. Aces Declarativas

O art4 consagra uma classificao das diversas espcies de aces consoante o seu fim. Assim, as aces so declarativas ou executivas (n1).

Declarativas: quando o autor pede ao tribunal que declare a existncia ou inexistncia de um direito ou de um facto jurdico (aco de simples apreciao), que condene o ru prestao de uma coisa ou de um facto a que o autor tem direito (aco de condenao) ou que altere a esfera jurdica das partes em conformidade com um direito potestativo do autor (aco constitutiva) n2 al. a) a c) do artg.4

Executivas: quando visam a reparao material de um direito violado, no pressuposto da sua existncia (n3)

3.1.1. Aces de Simples Apreciao

Aquelas em que o autor, reagindo contra uma situao de incerteza objectiva, visa obter unicamente a declarao da existncia ou inexistncia:

apreciao positiva Exemplo: pede-se para se provar que A filho de B apreciao negativa Exemplo: pede-se para se provar que A no filho de B - de um direito ou de um facto artg.4 n1 al. a).Mais exemplos: situaes de litgios de servido de passagem (so aces constitutivas e de simples apreciao).

No nus da prova, nas aces de simples apreciao ou declarao negativa, compete ao ru a prova dos factos constitutivos do direito que se arroga (artg.343 n2 CC).

3.1.2. Aces Constitutivas e de Anulao

Tm por fim autorizar uma mudana na ordem jurdica existente (artg.4 n2 al. c)). Atravs delas, o autor pretende obter, com a colaborao e a interveno da autoridade judicial, um novo efeito jurdico material que altera ou modifica a esfera jurdica do demandado, independentemente da vontade deste, e que tanto pode consistir na constituio (aco declarativa constitutiva de constituio) de uma nova relao jurdica como na modificao (aco declarativa constitutiva modificativa) ou extino (aco declarativa constitutiva extintiva) de uma relao jurdica preexistente. Torna-se necessrio para que se possa falar de uma aco constitutiva, que se esteja perante um direito potestativo de exerccio judicial e no de um direito potestativo de exerccio extrajudicial. Enquanto que as aces declarativas reconhecem ou apreciam uma situao jurdica pr-existente, as aces constitutivas criam uma situao jurdica nova. Neste tipo de aces, o autor no requer a condenao do ru, na medida em que o efeito jurdico pretendido obter no depende da vontade do demandado. Devem ser qualificadas como constitutivas as aces de declarao de nulidade de um dado acto ou contrato, por exemplo, por simulao, por impossibilidade fsica ou legal ou indeterminabilidade de objecto ou por contrrio ordem pblica ou aos bons costumes (artg.240 n2, 280 n1 e 2 CC) e as de mera anulao, por exemplo, de um acto ou negcio jurdico por erro, dolo, coaco, simulao, etc. (artg.247, 254 n1, 256 CC).

3.1.3. Aces de Condenao

Tm por fim exigir a prestao de uma coisa ou um facto (artg.4 n1 al. b)), quer a prestao assuma ou no natureza obrigacional (contratual). So estas as aces adequadas ao apuramento da responsabilidade civil extracontratual, delitual ou aquiliana, cuja causa de pedir um facto ilcito imputvel ao lesante. Nelas, o demandante (Autor) arroga-se um direito que diz ter sido ofendido ou lesado pelo demandado (ru), pretendendo que tal se declare e se ordene simultaneamente ao ofensor a realizao de determinada prestao como reintegrao do direito violado ou como um sancionamento legal de tipo diverso. Ex: o autor (lesado), vtima de um acidente de viao causado, em violao das regras do direito estradal, por um dado condutor, pede ao tribunal que condene a seguradora do responsvel no ressarcimento dos danos patrimoniais e no patrimoniais para si advenientes desse evento danoso. Excepcionalmente pode requerer-se a condenao do ru prevenindo-se apenas a violao do direito no futuro ou dando lugar a uma intimao ao ru para que se abstenha dessa violao (artg.472 n2 e 662).s aces de condenao pode corresponder uma qualquer forma de processo declaratrio comum (ordinrio, sumrio ou sumarssimo), uma forma de processo especial ou a forma de processo de jurisdio voluntria.

3.2. Formas de Processo Comum e Processos Especiais

Forma do processo: serie ordenada de actos a praticar, bem como de formalidades a cumprir, tanto na proposio como no desenvolvimento da aco. A tramitao a observar nas diversas aces no obedece a um esquema nico princpio da tipicidade legal das formas de processo. A lei distingue entre processo comum e processos especiais (artg.460 n1).Processo especial: aplica-se aos casos expressamente designados na lei (art460 n2)

Processo comum: aplicvel a todos os casos a que no corresponda processo especialDentro do processo comum de declarao prev a lei trs formas distintas processo ordinrio, processo sumario, e processo sumarssimo (art416 a art462).

Critrio do fim da aco: questes de maior simplicidade nas hipteses concebidas para as formas de processo sumrio e, especialmente, de processo sumarssimo, ao contrrio da maior relevncia das concebidas para o processo ordinrio. Porem, s chamadas aces de estado (Exemplo: divorcio, separao, anulao de casamento, investigao de paternidade, etc.) ou quaisquer outras sobre interesses materiais, corresponde sempre, face superior relevncia dos interesses (pessoais) em jogo, o processo ordinrio.Mas o critrio fundamental o critrio do valor.Assim:

3. Processo ordinrio: aplica-se s causas de maior valor, ou seja, quelas cujo valor exceda o da alada da Relao (30.000 euros) artg.31 da LOFTJ/2008 e 462 do CPC4. Processo sumrio: aplicvel a todas as aces cujo valor da causa seja igual ou inferior ao valor da alada do tribunal da Relao 5. Processo sumarssimo: utiliza-se (no havendo lugar a procedimento especial) quando o valor da causa no ultrapassar o valor fixado para a alada do tribunal da comarca (5.000 euros) e, alem disso, se destinar ao cumprimento de obrigaes pecunirias, indemnizao por dano ou entrega de coisas mveis.

A lei consagra, todavia, a subsidiariedade geral do processo ordinrio relativamente ao processo sumrio e aos processos especiais (artg.463 n1). Sendo que, assiste ao juiz o poder-dever de ex-officio, ouvidas as partes, fazer as adaptaes que as especificidades da causa aconselharem, quando a definio legal abstracta dos actos de sequncia a elas se no adeqem princpio da adequao formal (artg.265 -A).Quer a aco declarativa, quer a aco executiva, podem, em casos expressamente designados na lei (460 n2), normalmente em funo do tipo de pretenso concretamente formulada, dar lugar a formas de processo especiais.

3.2.1. Processos Especiais de Natureza Mista e Aces Especiais Constantes de Leis Avulsas

H formas especiais de aco declarativa, formas especiais de aco executiva e formas especiais mistas de aco declarativa e aco executiva.Os procedimentos cautelares (381 e ss.) assumem frequentemente a natureza mista, iniciando-se com uma fase declarativa, a que se segue a uma fase executiva, como acontece com os procedimentos conservatrios e com alguns procedimentos antecipatrios como a restituio provisria da posse (artg.393), o arresto (artg.406 e ss.) e o embargo de obra nova (artg.412 e 420 n2).Entre o elenco de processos especiais no regulados no CPC, podem incluir-se processos especiais de insolvncia e de recuperao de empresas.

3.2.2. Processos de Jurisdio Voluntria e Processos de Jurisdio Contenciosa

No elenco legal dos processos especiais incluem-se os processos de jurisdio voluntria (art1409 e SS.)

Processos de jurisdio voluntriaProcessos de jurisdio contenciosa

H um interesse fundamental juridicamente tutelado e que ao juiz cumpre regular nos termos mais convenientes. Pressupe que um ou mais interesses particulares se encontrem em situaes anmalas que, sem constiturem um litgio, justificam a respectiva regulao por via jurisdicional.

Exemplo: processo de regulao do poder paternal, porque h superior interesse da criana.

No julgamento aplica-se o critrio da equidade/adequao (1410 CPC).

Quanto consequncia vigora o princpio de livre modificabilidade das decises (1411 n1 CPC)

Vigora a inadmissibilidade do recurso para o STJ das decises proferidas com base na equidade, isto porque o STJ s decide questes de direito. Pode haver recurso at ao Tribunal da Relao.

Predomina o princpio do inquisitrio (admite-se que as partes possam instaurar actos em tribunal) artg.1409 n2 CPC.Encontra-se suscitado um conflito de interesses entre as partes, submetido a um escrutnio do tribunal chamado a exercer a funo (jurisdicional), ditando a soluo concreta que emerge do direito material aplicvel.

Exemplo: violao do direito de propriedade.

No julgamento aplica-se o critrio de deciso (659 n2 CPC).

Quanto consequncia vigora o princpio da inalterabilidade das decises judiciais

Pode haver recurso das decises desde que sejam respeitados os requisitos do art678 CPC.

Predomina o princpio do dispositivo (o recurso depende das partes).

IV. MEIOS PROCESSUAIS E PROCEDIMENTOS ALTERNATIVOS

Falamos de processos alternativos quando se tratam de processos diferentes dos judiciais comuns e especiais

4.1. Processos Alternativos de Natureza Judicial

So titulados pelo Ministrio da Justia:

Regime processual civil simplificado - D.L n211/91 de 14/06 Aco declarativa especial para cumprimento de obrigaes pecunirias emergentes de contratos e injuno - D.L n269/98 de 01/09 Regime processual civil de natureza experimental D.L n108/2006

4.1.1. Regime Processual Civil Simplificado (D.L n211/91 de 14/06)

Visa simplificar os processos declarativos comuns. Consiste em permitir s partes delimitar o objecto do litgio por sua iniciativa, ultrapassando as fases dos articulados e do saneamento e condensao, permitindo assim uma maior celeridade, desburocratizao e economia processual.

Procedimento:

Salvo se respeitar a direitos indisponveis, podem as partes iniciar o processo cvel com a apresentao em tribunal de uma petio conjunta.Nesta petio, as partes devem indicar os factos que admitem por acordo e os que, entre elas, so controvertidos e tomam posio sobre as questes de direito relevantes (art1 e 2). A fase dos articulados circunscreve-se a essa petio subscrita por ambas as partes (art3 n1), sem prejuzo de, quando for total o acordo sobre os factos da causa, se seguir de imediato fase do julgamento, precedida das respectivas alegaes de direito (artg.5 n1).Apresentada em juzo a petio, o juiz profere despacho liminar acerca da admissibilidade do uso dessa forma processual e da existncia de quaisquer excepes dilatrias de conhecimento oficioso. Se o processo houver de prosseguir, o juiz designa, desde logo, o dia e a hora da audincia final, mediante previa concertao entre as partes, assim prevenindo o risco de adiantamento foroso do acto. Essa audincia ser realizada no prazo mximo de 2 meses a contar da apresentao da petio (artg.3 n3 e 4). S haver audincia preliminar quando a complexidade do processo o recomende.

4.1.2. Aco Declarativa Especial para Cumprimento de Obrigaes Pecunirias Emergentes de Contractos e Injuno (D.L n269/98 de 01/09)

Esta aco especial veio introduzir algumas medidas que visam descongestionar os tribunais e os magistrados das aces de baixa densidade, relativas ao consumo de bens e servios. Paralelamente, esta aco props-se tambm a dinamizar e incentivar o recurso figura da injuno, no intuito de permitir ao credor de obrigao pecuniria a obteno de um ttulo executivo de forma clere e simplificada.Emprega-se este processo especial quando o credor pretenda obter a condenao do devedor no cumprimento de obrigao pecuniria de origem contratual cujo montante no exceda os 15.000. o seu mbito de utilizao , pois, determinado, quer pelo valor de credito, quer pela natureza pecuniria da obrigao, quer pela fonte contratual da divida, podendo usar-se sempre que no houver titulo que permita o recurso aco executiva.

Procedimento:

Se o ru, citado pessoalmente, no contestar (o prazo o de 15 dias se o valor da aco no exceder a alada do tribunal de 1 instncia ou de 20 dias nos restantes casos), o juiz, com valor de deciso condenatria, limitar-se- a conferir fora executiva petio, a no ser que ocorram excepes dilatrias ou que o pedido seja manifestamente improcedente (art2). Se a aco houver de prosseguir, pode o juiz julgar logo procedente alguma excepo dilatria ou nulidade que lhe cumpra conhecer ou decidir do mrito da causa (art3 n1). Audincia de julgamento: realiza-se dentro de 30 dias, no podendo qualquer das partes requerer a gravao da audincia quando a deciso final admita recurso ordinrio (art3 n3) Provas: so oferecidas na prpria audincia, no podendo o nmero das testemunhas exceder 3 ou 5 por cada parte, consoante o valor no exceda ou exceda a alada do tribunal de 1 instncia. Nas aces de valor no superior a alada do tribunal de 1 instncia (5.000), no existindo mandatrio ou no comparecendo este, a inquirio efectuada pelo juiz (art4 n4) Depoimento: pode ser prestado atravs de documento escrito datado e assinado pelo seu autor se verificado o condicionalismo do art5 Sentena: exige uma sucinta fundamentao e logo ditada para a acta.

Injuno

Providencia que tem por fim conferir fora executiva a requerimento destinado a exigir o cumprimento de obrigaes pecunirias emergentes de contratos de valor no superior a metade da alada da Relao, ou seja, superior a 15.000E, independentemente do valor da divida, vise conferir fora executiva a requerimento destinado a exigir o cumprimento de obrigaes pecunirias emergentes de transaces comerciais abrangidas pelo n1 do art7 do D.L n32/2003, de 17 de Fevereiro

Procedimento:

Representa uma forma especfica de processo de condenao.Trata-se de um procedimento especial cujo escopo a obteno de uma ordem ou mandado judicial de cumprimento de determinada prestao por parte do devedor, aps apreciao sumria da pretenso do credor. No sendo a imposio satisfeita no prazo fixado, ou se no seu decurso no for deduzida qualquer oposio por parte do intimado, a ordem judicial decretada executiva, podendo, consequentemente, servir de suporte ao processo executivo.Se o requerimento no for recusado pela secretaria, o secretrio judicial notifica o requerido por carta registada com aviso de recepo para, em 15 dias, pagar ao requerente a quantia pedida, acrescida da taxa de justia por ele paga, ou deduzir oposio pretenso.No caso de se frustrar a notificao do requerido e o requerente no tiver indicado que pretende que os autos sejam apresentados distribuio nos termos da al. j) do n2 do art10, a secretaria devolve ao requerente o expediente respeitante ao procedimento de injuno. Se, depois de notificado, o requerido no deduzir oposio, o secretrio apor no requerimento a seguinte formula: este documento tem fora executiva.O atraso de pagamento em transaces comerciais confere ao credor o direito de recorrer injuno, independentemente do valor da divida.Porem, tratando-se de transaco comercial de valor superior alada da Relao, a deduo de oposio ou a frustrao da notificao no procedimento de injuno determina a remessa dos autos para o tribunal competente, aplicando-se a forma de processo comum. Mas, se tais obrigaes pecunirias forem de valor no superior alada da Relao, as respectivas aces seguem os termos da aco declarativa especial para cumprimento de obrigaes comerciais emergentes de contratos.Se o requerido deduzir oposio ou se a sua notificao se frustrar, tendo o requerente indicado que pretende que o processo seja apresentado distribuio no termos da al. j) do n2 do art10, o secretario apresent-lo- distribuio que imediatamente se seguir.Em notrio incentivo utilizao dos meios informticos, prev o n1 do art19 do RPCOP que, a entrega do requerimento de injuno por advogado ou solicitador seja efectuada apenas por via electrnica, ficando o requerente que no cumprir tal determinao, sujeito ao pagamento imediato de uma multa no valor de de uma UC, salvo alegao e prova de justo impedimento. Na falta de juno do documento comprovativo do pagamento da taxa de justia, +e logo desentranhada a respectiva pea processual (art20)

4.1.3. Regime Processual Civil de Natureza Experimental (D.L n108/2006)

aplicvel s aces declarativas entradas a partir de 16 de Outubro de 2006, em tribunais a determinar por Portaria do Ministro da Justia. Regime esse relativo a todas as aces declarativas cveis a que no corresponda processo especial e s sanes especiais para o cumprimento de obrigaes pecunirias emergentes de contractos (art1).Aplica-se nos tribunais a escolher de entre os que apresentem elevada movimentao processual.Visou assegurar um tratamento especfico, no mbito dos meios jurisdicionais, aos litigantes de massa, permitindo, designadamente, a pratica de decises judiciais que abranjam vrios processos.A agregao pode ser requerida pelas partes ou, se pendentes os processos perante o mesmo juiz, oficiosamente determinada.A deciso de agregao s pode ser impugnada no recurso que vier a ser interposto da deciso final (art6 n6).No art2est previsto o chamado dever de gesto processual. O juiz dirige o processo cumprindo-lhe especificamente:

a) Adoptar a tramitao processual adequada s especificidades da causa e o contedo e a forma dos actos processuais ao fim que visam atingirb) Garantir que no so praticados actos inteis, recusando o que for impertinente ou meramente dilatrioc) Adoptar os mecanismos de agilizao processual previstos na lei

Pode assim, o juiz, em qualquer momento, praticar um acto ou uma diligncia extensvel a vrios processos. A agregao reveste carcter meramente transitrio e apenas para a prtica do acto em causa. O juiz passa, portanto, a poder praticar actos em massa, bastando que exista um elemento de conexo entre as aces e que da realizao conjunta de um acto processual ou diligncia resulte a simplificao do servio do tribunal.

Procedimento:

Na fase liminar, esto previstos apenas dois articulados (petio inicial e contestao), salvo quando seja deduzido pedido reconvencional ou se trate de uma aco de simples apreciao negativa. A fase liminar pode, no entanto, ser dispensada quando as partes apresentem a aco apenas para saneamento. Neste caso, alem da petio conjunta, onde indicam os factos admitidos por acordo e os factos controvertidos, as partes requerem as respectivas provas e tomam posio sobre as questes de direito relevantes.Com vista uma maior celeridade, impe-se a apresentao do requerimento probatrio com os articulados, garantindo parte a quem for oposto o ltimo articulado admissvel um prazo suplementar de 10 dias para alterar o seu requerimento.Sendo a aco apresentada para saneamento ou se as partes apresentarem a acta de inquirio por acordo das testemunhas arroladas, nos termos do art638-A, ser-lhe- aplicado o regime previsto no CPC para os processos urgentes.Em ambas as situaes, a taxa de justia reduzida a metade da taxa de justia devida a final, em clara propiciao de tais iniciativas das partes.Os depoimentos das testemunhas passam a poder ser prestados por escrito, sem prejuzo de o tribunal poder ordenar a respectiva renovao.Impondo-se a marcao das diligncias mediante acordo prvio com os mandatrios judiciais bvio o adiantamento da audincia de julgamento por falta das partes ou dos seus mandatrios, salvo justo impedimento.A sentena deve limitar-se parte decisria, precedida da identificao das partes e fundamentao sumaria do julgado (art15 n2). Se o ru no contestar, pode a discriminao dos factos provados ser feita por remisso para os articulados, podendo ainda o juiz, limitar-se tambm a remeter para os respectivos fundamentos. Esta deve ser de imediato ditada para a acta, salvos os casos de manifesta complexidade.No mbito dos procedimentos cautelares, permite-se que o tribunal, ouvidas as partes, antecipe o juzo sobre a causa principal, desde que considere que foram trazidos ao processo todos os elementos necessrios para uma deciso definitiva.

4.2. Procedimentos Alternativos de Natureza Extrajudicial

Julgados de paz A mediao nos julgados de paz e em outros litgios excludos da competncia dos julgados de paz Regime de mediao pr-judicial Arbitragem voluntria lei 31/86, de 29 de Agosto Processo de arbitragem necessria ou institucionalizada

Preocupaes de celeridade e economia processuais, face ao congestionamento dos tribunais, ao aumento das despesas das demandas e s delongas prprias da justia comum, tm levado os legisladores a ensaiar vias de desjudicializao de certos litgios. Do que resultou uma crescente introduo de vias de conciliao preventivas e reguladoras, isto meios de resoluo alternativa dos conflitos ou litgios (alternative means of dispute resolution - ADR), face s normas de justia tradicional ou clssica. ADR: qualquer meio de resoluo de litgios fora dos tribunais, em alternativa litigncia normal prpria das vias judiciais comuns.A crescente utilizao do ADR, em termos de direito comparado explica-se porque este procedimento propcia de uma maior economia nos meios e custos da litigncia, pela preferncia por uma maior confidencialidade e pelo desejo (das partes) de um maior controlo sobre o processo de escolha ou indigitao dos decisores ou mediadores da respectiva querela litigiosa. Da diversos pases terem comeado a adoptar programas de ADR, uns de carcter facultativo e outros de carcter obrigatrio. Existem trs subespcies:

1. Negociao: A participao voluntria e directamente operada inter-partes, no havendo um terceiro que facilite ou imponha resoluo do processo

2. Mediao: H um terceiro que simplesmente facilita, ou sugere mesmo, uma soluo, em certo sentido, assumindo-se, na segunda variante, como mediador-proponente, sem que possa prescrever uma qualquer resoluo s partes Processos nos julgados de Paz Processos nos servios de mediao de conflitos no includos na competncia material dos julgados de paz3. Arbitragem: H um terceiro (ou mais do que um em numero impar) que, na veste de juiz privado impe a soluo do conflito.

4.2.1. O Processo nos Julgados de Paz

A sua actuao vocacionada para permitir a participao cvica dos interessados e para estimular a justa composio dos litgios por acordo das partes, sendo os respectivos procedimentos concebidos e orientados por princpios de simplicidade, adequao, informalidade, oralidade e absoluta economia processual (art2 n1 lei n78/2001 de 13/07).A competncia dos julgados de paz circunscrita a aces declarativas porque, para a execuo das decises aplica-se o disposto no CPC e legislao conexa sobre execues das decises dos tribunais de 1instancia. Em razo do valor, os julgados de paz tm competncia para questes cujo valor no exceda a alada do tribunal de 1instancia (5.000).Aplica-se:

s aces destinadas a efectivar o cumprimento de obrigaes s aces de entrega de coisas mveis s aces resultantes de direitos e deveres de condminos s aces atinentes responsabilidade civil contratual e extracontratual Pedidos de indemnizao cvel quando no haja sido apresentada participao criminal ou aps a desistncia da mesma, emergentes de: ofensas corporais simples, ofensa integridade fsica negligente, difamao, injurias, furto simples, etc.

Nos julgados de paz s so admitidos dois articulados: requerimento inicial e contestao (podendo esta ser apresentada por escrito ou verbalmente.Os juzes de paz podem julgar de acordo com a lei ou a equidade, devendo previamente procurar conciliar as partes (art26). As decises tem o valor da sentena proferida por tribunal de 1instncia (art61) e, nos processos cujo valor exceda a metade do valor da alada do tribunal de 1 instncia (2.500), so recorrveis para o tribunal de comarca ou para o tribunal de competncia especfica que forem competentes em razo do lugar em que se encontre sediado o julgado de paz (art62).O regime geral de apoio judicirio aplicvel aos processos que corram os seus termos nos julgados de paz e ao pagamento da retribuio do mediador (art40).

4.2.2. A Mediao nos Julgados de Paz e em Outros Litgios Excludos da Competncia dos Julgados de Paz

A mediao definida pelo n1 do art35 da lei n78/2001 como uma modalidade extrajudicial de resoluo de litgios, de carcter privado, informal, confidencial, voluntria e de natureza no contenciosa, em que as partes, com a sua participao activa e directa, so auxiliadas por um mediador a encontrar, por si prprias, uma soluo negociada e amigvel para o conflito que as ope. um meio alternativo de resoluo de litgios, atravs do qual se procura alcanar um acordo com o auxlio de um profissional (terceiro imparcial) especialmente formado.Utiliza-se:

Nos sistemas de mediao laboral: por exemplo, litgios para marcao de frias, litgios de mudanas de local de trabalho Nos Sistemas de mediao parental: por exemplo, para regular o poder parental Nos sistemas de Tribunais arbitrais de execuo Nos sistemas de mediao penal

Pretende-se uma maior celeridade, uma menor onerosidade (relativamente a uma aco judicial de valor equivalente) e uma maior eficcia na resoluo deste tipo de litgios, para alm de um procedimento mais prtico, mais flexvel e mais clere ( de 3 meses o limite temporal para a obteno do acordo, prazo este susceptvel de prorrogao por acordo entre as partes). Qualquer das partes pode, porm, a qualquer momento, pr-lhe fim, sendo livres de fixar o contedo e os termos do acordo assim obtido: se alcanado o acordo, este reduzido a escrito e assinado; se no obtido o acordo, qualquer das partes pode utilizar a via judicial.

4.2.3. Regime de Mediao Pr-Judicial

O art79 da Lei n 29/2009 de 29 de Junho, veio instituir um sistema (voluntrio) de mediao pr-judicial e suspenso de prazos, aditando ao CPC os novos art249-A, 249-B e 249-C.

Art249-A: permite que as partes possam recorrer a um sistema de mediao antes de propor a aco, sem prejudicar os prazos de prescrio e de caducidade do direito de aco. Art249-B: se a mediao resultar de um acordo (pr-judicial) as partes podem requerer a sua homologao por um juiz.Homologao: certificao de que o acordo no ilegal. Pode ocorrer em qualquer momento do processo porque, a meio do processo, as partes, podem conciliar-se

Art249-C: preserva-se a confidencialidade do que as partes dizem na sesso de mediao. O que as partes dizem neste processo no pode ser usado como meio de prova em tribunal

4.2.4. Arbitragem Voluntria (lei 31/86, de 29 de Agosto)

um meio alternativo ou complementar de resoluo de litgios. As partes submetem-se voluntariamente a resoluo do conflito a um (ou vrios rbitros) organizado em tribunal arbitral.Caracteriza-se pela celeridade e pela menor onerosidade. Surgiu para diminuir o congestionamento dos tribunais por uma certa gama de litgios de ocorrncia frequente.Qualquer litigio que no respeite os direitos disponveis e no esteja submetido por lei especial exclusivamente a tribunal especial, pode ser cometido pelas partes, mediante conveno de arbitragem.A conveno de arbitragem pode ter por objecto um litgio actual, ainda que se encontre afecto a tribunal judicial (compromisso arbitral) ou litgios eventuais emergentes de uma determinada relao jurdica contratual ou extracontratual (clausula compromissria).Da deciso arbitral cabem para o tribunal da Relao os mesmos recursos que caberiam da sentena proferida pelo tribunal da comarca, excepto os casos de renncias aos recursos (art29 n1). Todavia, essa deciso pode ser anulada pelo tribunal judicial por algum dos fundamentos do art27 n1 mas, se da sentena arbitral couber recurso e ele for interposto a anulabilidade s pode ser apreciada no mbito desse recurso (art27 n3).A deciso arbitral goza da mesma fora executiva que a sentena de tribunal judicial de 1 instancia (art26 n2)

Arbitragem voluntria: as pessoas recorrem a esta porque so mais rpida, mais confidencial e menos onerosaArbitragem adoc: apesar de ser rpida e confidencial, cara

A arbitragem pode resolver litgios sobre direitos fundamentais indisponveis (direito fundamentais, direito familiares, etc.).Para haver arbitragem voluntria preciso haver uma conveno de arbitragem, que pode assumir duas formas:

Compromisso arbitral: j h um litgio actual entre as partes e elas acordam resolver o litgio num tribunal arbitral, pode at ser um litgio que j est em tribunal. O compromisso arbitral leva extino do processo em Tribunal Clusula compromissria: estabelece-se um compromisso de que os litgios futuros no devem ser resolvidos em tribunal mas, com recurso ao Tribunal Arbitral. Se uma das partes recorrer, neste caso, a um Tribunal judicial, h incompetncia.Poder haver responsabilidade dos juzes rbitros se no emitirem uma deciso no prazo de 6 meses.

4.2.5. Processo de Arbitragem Necessria ou Institucionalizada

Na arbitragem necessria, a prpria lei que impe (a titulo exclusivo) a submisso via arbitral da dirimncia ou composio de um dado conflito ou de uma certa gama de conflitos de interesses (arbitragens obrigatrias), que no justia estadual ou clssica.

Exemplos:

Litgios de propriedade industrial: tem a ver com a criao cientfica Conflitos laborais colectivos (art508 e 509 CT) Exerccio do direito greve CIMADH: centro de arbitragem para resolver litgios entre seguradoras e hospitais

V. PROCESSO EXECUTIVO

As aces executivas destinam-se realizao coactiva de um direito j pr-reconhecido ao requerente (art4 n3 CPC).A diferena entre o processo declaratrio e o processo executivo reside na diferena entre o simples dizer ou declarar e o fazer ou executar.

Pelo processo declaratrio obtm-se a declarao da vontade concreta da lei ao caso controvertido, atravs de um pronncia jurisdicional a concluir um processo de cognio da relao material subjacente. Nestes, existem processos comuns e processos especiais

Atravs do processo executivo, o autor requer ao tribunal a imposio coactiva ao credor da respectiva prestao ou de um seu equivalente econmico - patrimonial, isto , a actuao prtica daquela vontade (art4 n3 CPC). Nestes, s existem os processos comuns, a no ser para processos muito especficos, para os quais existem processos especiais (execuo de custas e multas art446 n3, 812-A e 813 n1 2; execuo por alimentos art2003 e SS. CC e 1118 a 1121-A CPC; execuo para venda de navio abandonado; processo de execuo para entrega da casa de habitao principal do executado)

O critrio legal da distino contm a situao tpica da prvia emisso de uma sentena de condenao. Assim, o processo executivo antecedido de um processo declaratrio destinado a condenao do ru no cumprimento da respectiva obrigao.

Situaes em que no h processo executivo depois do processo declarativo:

a) Cumprimento voluntrio;b) Quando o ru absolvido. Neste caso h que distinguir duas figuras:

- Absolvio do pedido: quando o autor no fundamenta o seu pedido- Absolvio da instncia: quando o tribunal verifica que no foram apresentados todos os pressupostos processuais. Assim, o tribunal no pode decidir o pedido e absolve o ru daquele processo.

Daqui decorre que, se houver uma absolvio da instncia, o autor pode propor uma aco igual, desde que corrija o que estava errado. Na absolvio do pedido, a aco termina ali, no pode o autor pedir nova apreciao c) Aces de simples apreciao: por exemplo, nas aces de condenao

Situaes em que possam haver processo executivo sem haver processo declarativo:

a) Casos em que o credor tem na sua posse um ttulo executivo (ex: injuno art46 CPC). Nestes casos se o credor vier a usar sem necessidade da aco declarativa, assim violando o princpio da economia processual, deve acartar com as custas do processo (art449 n2 al.c))

5.1. Ttulos Executivos

Qualquer execuo tem por base um ttulo (art45 n1 CPC). Assim, ttulos executivos so documentos que tutelam actos constitutivos ou certificados de obrigaes, a que a lei reconhece eficcia para servirem de base ao desenvolvimento de uma aco executiva. Depois de se provar a constituio ou a existncia da obrigao e do direito subjectivo correspondente, a lei presume a inexistncia de causas impeditivas, modificativas ou extintivas da mesma. O ttulo demonstra o incumprimento da obrigao, j que ao devedor que cumpre alegar e provar as correspondentes causa excipientes (art342, n2).Porem, para o prosseguimento da execuo, torna-se necessrio que a obrigao se tenha tornado certa, lquida e exigvel, se o no for em face da sentena (art802 CPC). Executivamente, a obrigao certa quando o seu objecto j estiver determinado, lquida se o seu quantitativo j se encontra apurado e, exigvel se a prestao j se encontra vencida.5.1.1. Espcies de Ttulos Executivos (art46 n1 CPC)

S podem servir de base execuo:

a) Sentenas condenatriasb) Documentos exarados ou autenticados por notrio que importem constituio ou reconhecimento de qualquer obrigaoc) Documentos particulares, assinados pelo devedor, que importem constituio ou reconhecimento de obrigaes pecunirias d) Documentos a que, por disposio especial, seja atribuda fora executivae) Ttulos executivos extrajudiciais:

Documentos exarados ou autenticados por notrio ou servio registara competente Documentos particulares assinados pelo devedor e dotados dos demais requisitos da al. c) do n1 do art46 Documentos a que, por disposio especial, seja atribuda fora executiva e ttulos exarados em pais estrangeiro

Ttulos executivos admitidos legalmente:

1. Sentenas e demais decises condenatrias: toda a sentena que, reconhecendo ou prevenindo o inadimplemento de um dever jurdico cuja existncia certifica ou declara (condenao in futuro):

Decises condenatrias dos juzes de paz Decises da arbitragem condenatria Sentenas condenatrias dos tribunais Sentenas homologatrias de transaco, de desistncia e de confisso do pedido (art300 n1 e 3) Despachos que arbitrem indemnizaes a testemunhas (664), que imponham multas s partes e s testemunhas (519 n2 e 523)

2. Decises proferidas por tribunais ou por rbitros no estrangeiro: so susceptveis de execuo em Portugal, desde que revistas e confirmadas na Relao, salvo o estabelecido em lei especial, em tratados e convenes internacionais e em regulamentos comunitrios. Trata-se de uma reviso puramente formal.

3. Ttulos executivos constitudos no estrangeiro: no carecem de reviso para serem susceptveis de execuo (art49 n2). Mas, o reconhecimento da sua validade ter de revestir-se dos requisitos formais exigidos pela lei do lugar da respectiva emisso (art365do CC e 540 do CPC), devendo essa exequibilidade ser aferida em conformidade com o estabelecido nos art46 e Seg. Podem ser executas em Portugal (art46 n1 al.C)). So documentos lavrados por notrios no mbito dos seus poderes pblicos (art46 n1 b))

4. Ttulos executivos judiciais: os chamados ttulos judiciais imprprios ou ttulos administrativos. Ex: documento para cobrar impostos, multas, guias que liquidam coimas contra - ordenacionais; acta da Assembleia de condminos (D.L 268/94); ttulos resultantes da falta de pagamento de rendas mediante ordem de despejo

* Documento autntico: prprio assento de nascimento, de bito, de casamento, que so escritos pelo prprio conservador. No uma certido, o documento original

* Documento particular autenticado: documento que elaborado pelas partes mas, que autenticado porque as partes comparecem num notrio que confirma que corresponde vontade das partes

* Documento particular simples: documento elaborado pelas partes sem ser reconhecido pelo notrio

* Documento nominado: aquele previsto na lei. Exemplo: licena, livranas (promessa de pagamento), letras (ordem de pagamento) e cheques

* Documento inominado: outros documentos particulares assinados pelo devedor

VI. PROCEDIMENTOS CAUTELARES (art381 e SS. E 302 a 304 do CPC)

6.1. Noo

No artg.2, in fine, do CPC prev os procedimentos necessrios a acautelar o efeito til da aco. Procedimentos que encontram guarida constitucional no n5 do artg.20 da CRP ao instituir os chamados processos cleres e prioritrios, para proteco em tempo til dos direitos, liberdades e garantias. Com estes meios procedimentais pretende-se que os tribunais possam decretar determinadas providncias cautelares destinadas regulamentao provisria de uma determinada situao de facto at que conhea o seu desfecho uma dada aco declarativa ou executiva j instaurada ou a instaurar. Isto em ordem de precaver o requerente contra a ocorrncia dos danos presumivelmente advenientes da natural demora do processo da aco principal e, assim, evitar que a sentena a proferir, ainda que de sentido favorvel, perca total ou parcialmente as suas eficcia e utilidade. Trata-se de prevenir a inutilidade da sentena, quer por perda definitiva da utilidade, quer por retardamento da respectiva execuo, tendo sempre presentes o interesse da ponderao e o interesse da celeridade. O principal objectivo da tutela cautelar a neutralizao dos prejuzos previsivelmente a suportar pelo interessado (a quem aparentemente assiste razo). O processo cautelar visa assegurar uma forma de tutela aparente ou interina, de carcter supletivo.Desses meios provisrios de tutela judiciria regulados nos artg.381 e ss. Diz-se possurem um carcter de instrumentalidade hipottica, visto a providncia ser decretada na pressuposio de a deciso a proferir na aco principal vir a ser de sentido favorvel ao autor. As providncias cautelares a decretar podem ser: (381 n1) Conservatrias: o titular do direito pretende manter ou conservar um direito em perigo ou em crise, visando to-somente, assegurar o efeito til da aco principal Antecipatrias: pretende-se que tribunal antecipe a prpria realizao do direito que presumivelmente vir a ser reconhecido nessa aco

Estas aces assumem sempre carcter provisrio e urgente. A expresso providncia cautelar significa o tipo de medidas solicitadas ou definidas pelo tribunal, isto , para traduzir a pretenso de direito material que solicitada ou decretada pelo tribunal. Corresponde ao pedido deduzido na aco declarativa.Procedimento cautelar possui subjectivamente a vertente adjectiva ou procedimental das medidas cautelares, ligada forma sequencial concreta de determinados actos-trmite. 6.2. Procedimento Cautelar Comum

6.2.1. Requisitos

Algum que se mostre fundado receio de que outrem cause leso ao seu direito pode requerer a providncia, conservatria ou antecipatria concretamente adequada a assegurar a efectividade do direito ameaado (art381 n1). Este interesse pode radicar num direito pr-existente ou em direito emergente de deciso a proferir em aco constitutiva j proposta ou a propor (art381 n2).

Requisitos para requerer a providncia cautelar (art381 CPC):

necessrio que haja probabilidade seria da existncia de um direito do requerente que tenha por fundamento o direito tutelado: o requerente deve alegar e provar que tem um direito ou interesse juridicamente relevante relativamente ao requerido, embora no seja necessrio um juzo de certeza preciso que haja justo receio de que outrem, antes de proferida a deciso de mrito em aco j intentada (ou a propor futuramente), cause leso grave e dificilmente reparvel a tal direito preciso que a providncia requerida seja adequada a remover o concreto perigo, bem como assegurar a efectividade do direito ameaado preciso que o prejuzo para o requerido resultante do deferimento da providncia no exceda consideravelmente o dano que atravs dela o requerente pretende evitar (principio da proporcionalidade) ponderao relativa dos interesses em jogo, a ser efectuada de modo casustico (art387 n2)

6.2.2. Procedimento

O procedimento da providncia cautelar correr sempre num tribunal de 1 Instncia.Por causa do seu carcter provisrio, precrio e acessrio, o procedimento cautelar depende sempre da causa que tenha por fundamento o direito acautelado e pode ser instaurado ou como preliminar (interposto antes da aco principal) acto preparatrio - ou como incidente (aqui, j h aco principal e autor. interposta a providncia no decurso da aco principal) processado por apenso - de uma aco declarativa ou executiva j proposta ou requerida (383 n1).Chama-se-lhes procedimentos, e no aces, por carecerem de autonomia e dependerem de uma aco, j pendente ou que deva ser seguidamente proposta pelo requerente:

Se requeridos antes da propositura da aco principal (Acto preparatrio) sero apensados aos actos logo que a aco seja instaurada. Mas, se a aco vier a correr noutro tribunal, para a ser remetido o apenso, ficando o juiz da aco com exclusiva competncia nos termos subsequentes remessa (artg.383 n2) Se concludo o procedimento encontrando-se a aco principal em recurso, deve ser remetido ao tribunal superior para efeitos de apensao, podendo esta, contudo, ser efectuada aquando da baixa dos autos 1 instncia (artg.383 n3). Nessa eventualidade, o procedimento constitui mero preliminar da aco e caducar se esta no for proposta dentro de 30 dias subsequentes notificao da concesso da providncia (artg.389 n1 al.a)).

Juridicamente, os procedimentos cautelares so qualificados como meios processuais acessrios, enquanto as aces so qualificadas como meios processuais principais.

Como consequncia do seu carcter urgente, as providncias cautelares:

Possuem uma estrutura agilizada e simplificada (artg.382 n1) Precede (so praticados antes) de qualquer outro servio judicial no urgente (artg.382 n1) Estabelece 2 prazos mximos (artg.382 n1): Prazo mximo de 2 meses para decidir, se instaurados perante um tribunal competente; Prazo de 15 dias, se o requerido no tiver sido citado. Os prazos, nos procedimentos cautelares, contam tambm nas frias judiciais (artg.144 n1, no fim).Os procedimentos cautelares no correm nos tribunais arbitrais porque a estes assiste apenas a competncia declarativa e porque a lei no lhes confere expressamente tal competncia. No corre tambm nos julgados de paz, no s porque a sua competncia confinada ao processo declarativo e lhes falta, por isso, competncia executiva, como tambm, porque os procedimentos cautelares assumem natureza incidental ou para-incidental, sendo que para os incidentes que se suscitem no mbito dos processos nos julgados de paz, so exclusivamente competentes os tribunais judiciais.

No requerimento:

1. O requerente expor as razes de facto e de direito, oferecer prova sumria do direito ameaado e justificar o receio da leso, concluindo por solicitar a adopo de uma providncia que considere adequada tutela do direito que se arroga (art384 n1).Por causa da sua finalidade (prevenir a leso irreparvel ou dificilmente reparvel do eventual direito cuja titularidade e necessidade de tutela urgente o agente se arroga) os procedimentos cautelares no tm, em princpio, cabimento contra leses j consumadas de direitos, j que, nesse caso, no h o fundado receio que a lei pressupe, excepto se h receio de futuras leses do mesmo direito pretendido proteger. E, se desde o incio, no existia qualquer perigo actual e urgente a remover, a providncia cautelar jamais proceder por falta de requisito essencial de periculum in mora.

2. Devendo, embora, e por norma, o tribunal ouvir previamente o requerido, permite a lei que essa audincia no tenha lugar quando possa pr em risco srio o fim ou a eficcia da providncia (Art385 n1). Ao decidir se deve ou no optar pela audincia prvia do requerido, ter o juiz de ter presente a ratio legis, s devendo optar pelo decretamento da providncia revelia do requerido quando o efeito surpresa for fundamental para assegurar a eficcia e a utilidade da mesma. Nesta segunda hiptese, haver um nico articulado requerimento inicial sendo sempre gravados os depoimentos prestados (art386 n4). Se ouvido antes de ser proferida a deciso, poder o requerido contestar no prazo de 10 dias, oferecendo logo o rol de testemunhas e requerendo os outros meios de prova (art303). Devem ser gravados os depoimentos se for admissvel recurso ordinrio e houver sido formulada tal pretenso no requerimento inicial ou na oposio (art304 n3 e 4). Sero igualmente gravados ou registados os depoimentos prestados antecipadamente ou por carta, para alem da j citada hiptese de inobservncia prvia do princpio do contraditrio (art386 n4).

Em vez da prova do direito, o juiz dever bastar-se com uma probabilidade da sua existncia e, em vez da demonstrao do perigo do dano invocado, bastar que o requerente mostre ser fundado o receio da sua leso (art387 n1).

3. Finda a produo da prova, o juiz declarar quais os factos que julga provados e quais os no provados, analisando criticamente as provas e especificando os fundamentos que hajam sido decisivos para a formao da sua convico (art304 n5 e 653 n2). O tribunal no se encontra vinculado a decretar a medida cautelar concretamente requerida, podendo antes decretar a providncia que julgue mais adequada tutela do direito ameaado.Nem o juzo emitido sobre a matria de facto, nem a deciso final do procedimento surte qualquer influncia no julgamento da aco principal (art383 n4).Pode o juiz, mesmo sem audincia da parte contrria tornar a concesso da providncia dependente da prestao de cauo adequada pelo requerente - cauo condicional (art390 n3) - relativamente a arrestos e embargos de obra nova. Pode tambm a providncia decretada ser substituda por aco adequada (a pedido do requerido) sempre que a cauo oferecida, ouvido o requerente, se mostre suficiente para prevenir a leso ou repara-la inteiramente cauo substitutiva (art387 n3).Por razes de economia processual, manda a lei aplicar cumulao de providncias cautelares a que caibam formas de processo diversas o preceituado nos ns 2 e 3 do art31, desde que a tais pedidos no correspondam tramitaes processuais manifestamente incompatveis.

6.2.3. Ponderao Relativa dos Interesses em Jogo

Ainda que observados os requisitos do art381 n1, permite o n2 do art387 a recusa da providncia se o prejuzo desse decretamento para o requerido suplantar manifestamente o dano que, atravs dela, o requerente pretenda evitar ou prevenir (principio da justa ponderao ou de ponderao relativa dos interesses em jogo.).

6.2.4. Caducidade, Modificabilidade e Revogao

A substncia e a eficcia da providncia cautelar devem caducar ou inoperar, se tal tutela provisria ou transitria no se tornar j possvel ou se vier a revelar-se, em momento ulterior, totalmente incua; caducidade que ocorrer se a aco vier a ser definitivamente julgada improcedente por deciso transitada em julgado (art389 n1 al.c)). Podendo o procedimento ser preliminar, tal instaurao pode vir tambm a revelar-se intil.O procedimento cautelar extingue-se e, se decretada a providencia, caduca nos termos do art389:

a) Se o requerente no propuser a aco da qual a providncia depende dentro de 30 dias, contados da data em que lhe tivesse sido notificada a deciso que tenha ordenado, mas, se o requerido no tiver sido ouvido antes do decretamento da providncia, o prazo para a propositura da aco de que aquela depende j ser o de 10 dias contados da notificao ao requerente e que foi efectuada ao requerido a notificao prevista no n6 do art385 e 389 n2, CPCb) Se, proposta a aco, o processo estiver parado mais de 30 dias por negligencia do requerente em promover o seu andamentoc) Se a aco vier a ser julgada improcedente por deciso transitada em julgado, excepto se o requerente no propuser nova aco para aproveitar os efeitos da proposio anterior. Mas no admissvel no dependncia da mesma causa, a repetio da providncia que haja sido julgada injustificada ou que tenha caducado (art381 n4)d) Se o ru for absolvido da instncia e o requerente no propuser nova aco em tempo de aproveitar os efeitos da proposio da anteriore) Se o acto que o requerente pretende acautelar se tiver extinguido

Quando a providncia cautelar tenha sido substituda por cauo, fica esta sem efeito nos mesmos termos em que ficaria a providncia substituda, ordenando-se o levantamento daquela (art389 n3).A extino do procedimento e o levantamento da providncia so determinados pelo juiz, com prvia audincia do requerente, logo que demonstrada nos autos a ocorrncia do facto extintivo (art389 n4).A caracterstica prpria das medidas cautelares a sua variabilidade, alterabilidade ou mesmo a cessao da eficcia, a solicitao do requerente ou do requerido, por alterao ulterior das circunstncias. Quando algum propuser um requerimento precipitado da providncia, ser obrigado a indemnizar os danos causados ao requerido se, uma vez decretada, vier a ser considerada injustificada ou caducar por sua culpa, mesmo que tenha agido com dolo ou negligencia grave (art456 n2 litigncia de m-f) ou com simples negligncia, isto , com imprudncia (art390 n1).

6.2.5. Impugnao da Deciso Cautelar

Se a providncia foi decretada, distingue-se duas situaes: Se o requerido foi ouvido antes do decretamento Se o requerido no foi ouvido antes do decretamento, segundo o n1 do art388, -lhe licito, em alternativa, na sequncia de notificao prevista no n6 do art385: Recorrer, nos termos gerais do despacho de deferimento quando entenda que, face aos elementos apurados, ela no devia ter sido deferida Deduzir oposio, quando pretenda alegar factos ou produzir meios de prova no tidos em conta pelo tribunal e que possam afastar os fundamentos da providncia ou determinar a sua reduo, sendo nesta situao, de aplicar, com as necessrias adaptaes, o disposto no art386 e 387

Das decises proferidas nas providncias cautelares no h recurso para o STJ (art387A). Destas, s haver um nico grau de recurso de apelao para a Relao, excepto os casos em que o recurso sempre admissvel, independentemente do valor da causa e da sucumbncia (art678 n2 al.a) a c) e n3 al.b)).Tambm no h recurso para o Tribunal constitucional de decises proferidas no mbito dos procedimentos cautelares, j que a apreciao da constitucionalidade das normas em que simultaneamente se fundamentam, quer a providncia requerida, quer a aco correspondente, teria que ser sempre simplesmente provisria, dado natureza tambm provisria do julgamento efectuado, o que incompatvel com um julgamento definitivo da constitucionalidade.

6.2.6. Medidas de Compulso ao Acatamento das Providncias Cautelares. Execuo Cautelar

Para reforar a eficcia das providncias cautelares admissvel, nos termos da lei civil (art829A, do CC), a aplicao:

De sanes pecunirias compulsrias que se mostrem adequadas a assegurar a efectividade da providncia cautelar decretada (art384 n2): o pagamento de uma quantia em dinheiro, por cada dia de atraso no cumprimento ou por cada infraco (art829A n1, CC). Esta sano tem duas finalidades: Reforar a soberania dos tribunais, o respeito pelas suas decises e o prestgio da administrao da justia Favorecer o cumprimento das obrigaes judiciais

Tutela penal do procedimento cautelar: segundo esta tutela, incorre na pena do crime de desobedincia qualificada, todo aquele que infrinja a providncia cautelar decretada, sem prejuzo das medidas adequadas sua execuo coerciva (art391 e 384 n2, CPC)

* Providncias cautelares perfeitas: quando suficiente a interveno do funcionrio judicial, no preciso a interveno da polcia. Exemplo: arresto; arrolamento

* Providncias cautelares imperfeitas: quando necessria a interveno da polcia

6.3. Procedimentos Cautelares Especificados Previstos no CPC

Com a ressalva da ponderao dos interesses em jogo em termos de prejuzo-beneficio (art387 n2), as regras gerais do procedimento cautelar comum (art382 e 391), so de aplicao supletiva dos procedimentos cautelares especificados. Porm, no assim quando se pretende acautelar o risco de leso especialmente prevendo por algumas da providncias subjacentes aos procedimentos nominados (art392 n1). Tambm a faculdade concedida ao juiz pelo n2 do art390 de tornar a concesso da providncia dependente da prestao de cauo adequada pelo requerente, s tem, em princpio, aplicao quanto ao arresto e ao embargo de obra nova (art392 n2).A maior parte dos procedimentos cautelares especificados, tipificados ou nominados encontra-se regulada no artgs.398 a 427 CPC.Os procedimentos cautelares tm:

Carcter conservatrio: quando visam apenas acautelar o efeito til da aco principal, assegurando a subsistncia do status quo ante.

Arresto (art406 a 411), Arrolamento (art421 a 427), Embargo de obra nova (Art412 a 414 e 418 a 420), Suspenso de deliberaes sociais (art396 a 398) Apreenso de veculo automvel.

Carcter antecipatrio: quando antecipam a realizao do direito que previsvel ou presumivelmente dever vir a ser reconhecido na aco principal

Restituio provisria da posse (art393 a 395) Alimentos provisrios (art399 a 402) Arbitramento de reparao provisria (art403 a 505) Entrega judicial e cancelamento de registo

6.3.1. Restituio Provisria da Posse (art393 a 395)

um meio de defesa posto disposio do possuidor da coisa nos casos em que o mesmo dela haja sido privado de forma violenta (art393,395, CPC e 1279 e 1282, CC).Para requerer esta providncia cautelar especfica deve-se provar dois requisitos:

A existncia de uma posse digna de tutela jurdica; A privao dessa posse por esbulho violento.

Satisfeitos estes requisitos, o tribunal ordenar a respectiva restituio, sem audincia prvia do esbulhador (art394 CPC e 1279 CC).Caso a privao da posse no seja violenta e quando tiver ocorrido uma simples turbao da posse (leso ou perigo de leso), esta pode ser defendida atravs do procedimento cautelar comum (art395) ou seja, quando no se verificarem os requisitos prprios da restituio provisria da posse (esbulho violento e existncia de posse digna de tutela jurdica), temos que provar que esto preenchidos os requisitos para o decretamento de uma providncia cautelar normal. restituio provisria da posse dever aplicar-se, por analogia, os termos da entrega judicial da coisa (art162,176 n2 e 189), sendo, para o efeito, emitido um mandado para restituio provisria da posse.Uma vez realizada a restituio deve ser elaborado um auto por um funcionrio judicial.Do respectivo auto de diligncias de restituio provisria da posse devem ser feitas constar, no s a execuo do acto de restituio provisria da posse do bem ao requerente, como ainda a investidura do requerente na posse da coisa esbulhada (art163 n1). Para a eventualidade do requerido (esbulhador) no haver sido ouvido antes do decretamento da providncia, mas estar presente, far-se- ainda a meno no auto de que o mesmo foi notificado para, querendo e no prazo de 10 dias, deduzir oposio, podendo, para tanto, constituir advogado (art385 n6 e 388 n1). O auto ser assinado pelo funcionrio executor, pelo requerente e pelo requerido (se estiver presente) e pelos respectivos mandatrios.A providncia cautelar pode ser substituda por cauo, caso o tribunal conclua que esta idnea a prevenir os autos principais, gozando de coercibilidade e executoriedade. muito frequente haver sanes pecunirias na restituio provisria da posse, ou seja, para cada dia de atraso da restituio, aumenta a sano. um procedimento antecipatrio.

6.3.2. Suspenso das Deliberaes Sociais (art396 a 398)

Tem lugar sempre que, no mbito do direito civil (associaes) ou comercial (sociedades), uma deliberao infrinja a lei, os estatutos ou o contrato social, lesando os direitos dos scios. utilizvel, no s no quadro dos diversos tipos de sociedades, como tambm (a titulo subsidirio) no mbito das cooperativas. Objecto de suspenso podem tambm ser as deliberaes das instituies privadas de solidariedade social, as tomadas no seio das Misericrdias e ainda as deliberaes das associaes de facto e das sociedades comerciais irregulares.No que particularmente respeita suspenso de deliberaes das Assembleias de condminos, decorre o respectivo procedimento do direito potestativo da respectiva impugnao anulatria consagrado no n1 e 5 do art1433 do CC., apenas podendo, contudo, ser requerida pelos condminos que as no hajam aprovado expressa e tacitamente. E, no que tange legitimidade passiva, deve o procedimento ser dirigido apenas contra os condminos que hajam aprovado a deliberao suspendenda. Ser, porm citada para contestar a pessoa a quem compita a representao judiciria dos condminos na aco de anulao (o administrador ou a pessoa que a assembleia para o efeito designar (Art398 n2 CPC).Quatro requisitos de que depende a suspenso:

O requerente tem de justificar a sua qualidade de scio; Tem que provar a existncia de deliberao contrria lei, aos estatutos ou ao contrato social; Demonstrar que da execuo imediata da deliberao pode resultar dano aprecivel (art396 n1); Que as deliberaes no tenham sido ainda executadas ou tenham sido executadas apenas provisoriamente. Caso no se preencha este requisito, a ortodoxia processual leva a indeferir o decretamento da providncia por falta de interesse actual em agir.Reunidos estes requisitos, qualquer scio, associado ou cooperante lesados pode requerer, no prazo de 10 dias (a contar-se da data da assembleia ou da data em que o requerente teve conhecimento da deliberao, caso no tenha sido convocado art396 n3), que a execuo da deliberao seja suspensa.Mas, o juiz pode no suspender a deliberao caso considere que o perigo resultante da deliberao seja superior do que pode derivar da execuo (art397 n2).A eventual execuo da deliberao depois de decretada a sua suspenso, gerar nulidade dos actos executivos consequentes, sendo por isso, invalidas as deliberaes ou os negcios jurdicos subsequentes celebrados com base na deliberao desrespeitadora da ordem de suspenso. A utilizao do procedimento suspensivo supe, porm, que as deliberaes no hajam sido ainda executadas.Quanto s j executadas antes da apresentao do procedimento, a ortodoxia processual leva a indeferir o decretamento da providncia por falta de interesse (actual) em agir. Quanto s executadas entre a data do requerimento e da citao da requerida, haver que extinguir a instncia por inutilidade superveniente (art287 al. e)). E, relativamente executada entre as datas da citao e da deciso (n3 do art397), a eventual execuo no perodo suspensivo determina, ou a ineficcia da providncia ou a responsabilidade civil dos agentes executores, com a consequente inutilidade superveniente da impetrada providncia, consoante se considere que os efeito antecipatrios resulta da prpria citao ou directamente do acto decretador. Esto sujeitos a registo obrigatrio os procedimentos e as decises cautelares de suspenso de deliberaes sociais (art9 al. e) do CRCom.) Esta providncia cautelar tem carcter antecipatrio.

6.3.3. Alimentos Provisrios (art399 a 402)

Alimentos: tudo o que indispensvel ao sustento, habitao e vesturio do necessitado, compreendendo tambm a instruo e educao do alimentado no caso de este ser menor (art2003 n1 e 2 CC)

Pessoas vinculadas prestao de alimentos: artg.2009 n1 CC

O interessado pode requerer ao tribunal a fixao de uma quantia mensal dos alimentos provisrios, enquanto no for paga a primeira prestao definitiva (art399 a 401 CPC e 2003, 2005 a 2007 do CC).A fixao da penso provisria de alimentos a favor de menores pode ter lugar em qualquer estado da causa, mormente na pendncia dos processos tutelares cveis a que se reportam os art146 e 157 da OTM e os art114 a 116 da LOFTJ/2008.Pode o tribunal, no s proceder fixao sempre que o entenda por conveniente, como tambm adoptar as medidas cautelares indefensveis a viabilizao do pagamento coercivo da deciso a decretar na deciso tutelar cvel definitiva (n1), bem como alterar provisoriamente as decises j tomadas a titulo definitivo (n2). A penso alimentcia provisria fixada pode tambm vir a ser alterada ou extinta nos termos do art401 n2 do CPC. A concepo desta providncia cautelar depende de dois requisitos:

O requerente deve ter direito a alimentos (art2009 n1 CC) O requerente deve estar em condies de esperar pelos alimentos definitivosO direito de alimentos no pode ser renunciado (art2008 n1 e 2 do CC).Caso as decises fixadoras de penses alimentares devidas a menores no forem voluntariamente cumpridas, os menores (atravs dos seus representantes) ou outras entidades (art186 n1 OTM), instaurar contra o obrigado a execuo especial por alimentos (art1118 a 1121 CPC) a apresentar contra ele queixa-crime (art250 CP). A efectivao do pagamento das prestaes alimentcias j vencidas, a que se reportam os n1 e 2 do art189 da OTM, consubstancia um procedimento pr-executivo diferente e autnomo do da execuo especial por alimentos.Na hiptese de insucesso do procedimento pr-executivo, poder lanar-se mo da execuo especial por alimentos (art1118 a 1121) sendo que as prestaes vencidas e vincendas sero acrescidas de juros de mora, calculados taxa legal, at pagamento integral. Nos termos do art406 a 420, pode mesmo lanar-se mo do procedimento cautelar de arresto.Se ainda assim, no pagar, pode ocorrer-se (caso se trate de alimentos para menor) ao fundo de garantias de alimentos devidos a menores, o qual se substituir ao abrigo s prestaes alimentcias vincendas, desde que se verifique, cumulativamente, os requisitos do art3 do D.L 164/99 de 12 de Maio.A maioridade e a emancipao no determinam, por si s, a cessao da obrigao de alimentos. Se o pagamento de penso de alimentos for desnecessrio e, apesar disso, ter sido feito, pode o mesmo enquadrar-se nas obrigaes naturais, com a consequente insusceptibilidade de repetio do indivduo (art402 a 404 do CC). O filho maior ou emancipado carecido de alimentos tem o direito de instaurar a respectiva aco na conservatria do registo civil da rea de residncia do progenitor obrigado. A penso alimentcia provisria pode ser fixada na pendncia do casamento, nos termos do art2015 e 1675 do CC. No caso de divrcio ou de separao sem o consentimento de um dos cnjuges ou de separao judicial das pessoas e bens, o cnjuge nela interessado pode, tambm, na pendncia da respectiva aco constitutiva, requerer a fixao de penso provisria de alimentos, optando pelo procedimento especial a que alude o n7 do art1407, a ser processado como incidente da instncia ou socorrendo-se do procedimento cautelar de alimentos provisrios regulados nos art399 e 402.Em caso algum haver restituio dos alimentos provisrios recebidos (art2007 n2 CC). Caso o tribunal decrete o pagamento de alimentos definitivos em quantia inferior prestao provisria, no haver reembolso ou restituio da diferena.

6.3.4. Arbitramento de Reparao Provisria (art403 a 505)

a aplicao de uma quantia certa, sob forma de renda mensal, como reparao provisria do dano, a requerimento dos lesados, bem como dos que podiam exigir alimentos ao lesado ou aqueles a quem o lesado os prestava no cumprimento de uma obrigao natural (art495 n3 CC). Aplica-se tambm aos casos em que a prestao indemnizatria se funde em dano susceptvel de por seriamente e em causa o sustento ou habitao do lesado (art403 n4 CPC).So necessrios os seguintes trs requisitos: A indemnizao deve ser fundada em morte ou leso corporal (art403 n1) Prova da existncia de probabilidade sria da existncia da situao de necessidade decorrente dos danos sofridos Verificao da obrigao de indemnizar a cargo do requerido (art403 n2)

Caso o condenado no pague a reparao provisoriamente arbitrada a deciso imediatamente exequvel, observando-se de seguida, os termos da execuo especial por alimentos dos art1118 a 1121A, como acontece com a falta voluntaria de pagamento de alguma prestao mensal vencida nos alimentos provisrios (art404 n2). Nesse caso, s o exequente pode nomear os bens penhora, nomeao essa feita no requerimento inicial.A prestao arbitrada pode ser alterada ou cessar no seio do mesmo processo com observncia de idntica tramitao se, aps a sua fixao, deixar de substituir a sua necessidade, mediante requerimento e produo de prova (art401 n2 e 292 n2). Tambm a providncia decretada pode ser modificada ou cessar por alterao dos pressupostos em que assentou; cessao que pode tambm ocorrer se se vier a esgotar o montante arbitrado a titulo de indemnizao global que previsivelmente venha a ser fixada na aco principal.A pronncia da sentena (no processo principal), a julgar improcedente a obrigao de pagamento de renda mensal, no obsta a que se instaure um novo procedimento cautelar (art403). Trnsito em julgado da deciso desfavorvel (ou que, embora procedente, venha a arbitrar montante inferior quantia antecipada) gera a caducidade da providncia, com a obrigao de restituio do indevido por parte do requerente (art389 n1 al. c) e 405 n2). uma aco antecipatria porque estamos a antecipar a reparao definitiva.

6.3.5. Arresto (art406 a 411)

Traduz-se numa apreenso judicial dos bens do devedor, a decretar mediante solicitao do credor que tenha justo receio de perder a garantia patrimonial desse crdito (art619 e 622 CC e 383 n3, 406, 407 e 408 CPC). So aplicveis subsidiariamente ao procedimento do arresto as disposies relativas penhora constantes dos art821 e ss (n2 do art406).Dado que s a ttulo excepcional o devedor pode ser privado da liberdade com o objectivo de ser compelido a cumprir ou ser punido pelo no cumprimento, o credor s atravs do patrimnio daquele, da instaurao de uma aco executiva, pode ver tornado efectivo o seu direito, salvo os casos de impraticabilidade das diligencias tendentes identificao de bens penhorveis do executado/devedor.Visa garantir que os bens do devedor, uma vez apreendidos, permaneam na sua esfera jurdica at ao momento da realizao da respectiva penhora, por cuja excusso o credor espera obter a satisfao do seu crdito (art601 e 619 CC). Pode incidir sobre o adquirente desses bens se tiver sido judicialmente impugnada sua transmisso atravs de impugnao pauliana. uma providncia conservatria e abrange todos os bens ou direitos de contedo patrimonial susceptveis de converso em penhora.O procedimento pode ser instaurado como preliminar ou incidente da aco declarativa ou executiva e ser requerido junto do tribunal onde deva ser proposta a aco, no tribunal do lugar onde os bens se encontrem ou, havendo bens em vrias comarcas, no tribunal de qualquer uma delas; mas, se aco principal j tiver sido instaurada, o procedimento correr por apenso mesma (art83 al. a) e 383), a menos que a aco esteja pendente de recurso, caso em que a apensao s ocorrer quando o procedimento estiver findo ou quando os autos da aco principal baixarem 1 instncia.O requerente dever, desde logo, no requerimento inicial da providncia, alegar os factos indiciadores da existncia do crdito, bem como dos que justificam o receio invocado, relacionando, desde logo, os bens que pretende ver apreendidos e fornecendo ainda as indicaes necessrias realizao da diligencia, bem como indicar o depositrio (art406 n2 e 407 n1). Se deduzido o arresto contra o adquirente dos bens, deve tambm o requerente afirmar/deduzir os factos susceptveis de conduzir procedncia dessa impugnao (art407 n2).Aps a produo de prova sumria o arresto decretado sem audincia prvia da parte contrria, a fim de no sair gorado o xito da providncia (art408 n1). Se o valor dos bens indicados para arresto ultrapassar o exigvel para garantir a segurana normal do crdito, o juiz reduzir a garantia aos seus justos limites. No pode o arrestado ser privado dos rendimentos estritamente indispensveis aos seus alimentos e da sua famlia, os quais lhe sero fixados nos termos previstos para os alimentos provisrios (art408 n2).O tribunal poder tomar o arresto dependente da prestao de cauo destinada a garantir o ressarcimento de eventuais danos (art620 CC).Estando em causa o arresto de navio ou da sua carga, a prestao de cauo obsta realizao da apreenso (art409).A deciso que decrete a providncia dever ser notificada ao arrestado (art838).Tratando-se de bens imveis, o despacho notificado ao arrestante e ao arrestado. Se arrestados outros bens, o despacho s ser notificado ao arrestado depois de efectuado o arresto.Se arrestados bens mveis, o arrestante notificado para colocar disposio do tribunal todos os meios necessrios realizao da diligencia nos termos do art848A.Cumpre secretaria judicial dar cumprimento deciso cautelar determinativa do arresto, procedendo efectiva apreenso dos bens mandados arrestar. Se os bens a arrestar forem imveis, o arresto concretizado mediante comunicao electrnica feita pela secretaria judicial conservatria do registo predial competente.Quer o procedimento, que a decretada providencia, esto sujeitos a registo, sendo obrigatrio para a decretada providncia de arresto. Isto porque o arresto s produzir efeitos depois de registado, nos termos do art622 n2 e 819 CC. Tambm o arresto de veculos automveis est sujeito a registo.Feita a inscrio na conservatria do registo predial envia ao funcionrio judicial o certificado do registo e a certido dos nus que incidem sobre os arrestados.Ulteriormente pode o arresto ser convertido em penhora com eficcia retroactiva data do seu decretamento.Prev a lei (art854 n2) o arresto de bens do depositrio (de bens penhorados) que, notificado para os apresentar, no s o faz, como no justifica a omisso; nessa eventualidade, deve o depositrio ser notificado para recorrer ou deduzir oposio.No caso do arresto de veculo, se aps o decretamento o arrestado com ele vier a circular, poder o requerido incorrer em crime de desobedincia qualificada.Se o bem for imvel e, o arrestado o destruir, danificar ou provocar a sua inutilizao poder subsumir-se no tipo legal de crime de desencaminho ou destruio de objectos colocados sob o poder pblico (art355 CP).Se o arresto caducar, o arrestante responder pelos danos que causar ao arrestado (art390 n1).

6.3.6. Embargo de Obra Nova (art412 a 414 e 418 a 420)

Qualquer interessado pode solicitar a suspenso de uma obra, trabalho ou servio novo que seja ofensivo dos seus direitos de proprietrio ou comproprietrio ou de o