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CURSO DE DIREITO PBLICO DIREITOSHUMANOS.PROF. BRUNO PINHEIRO - CURSO FRUM TV.
1 SEMESTRE DE 2013.
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1 AULA: 10.04.2013.
INDICAO BIBLIOGRFICA:
Valrio Mazzuoli; Flvia Piovesan;
ROTEIRO DAS AULAS
1- CONCEITO DE DIREITOS HUMANOS
2- FUNDAMENTO
3- HISTRICO
4- CARACTERSTICAS
5- DIREITOS HUMANOS X SOBERANIA DO ESTADO
6- DESAFIO DOS DIREITOS HUMANOS
7- TEORIA SOBRE A INTERNACIONALIZAO DOS DIREITOS HUMANOS
8- SISTEMA DE INTERNALIZAO DOS TRATADOS
9- DIREITOS HUMANOS DO BRASIL
10- PROCESSO DE INTRODUO DOS TRATADOS DE DIREITOS HUMANOS
11- PACTO DE SO JOS DA COSTA RICA
12- TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL
13- CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
1. CONCEITO DOS DIREITOS HUMANOS
Importante, primeiramente, estabelecer uma diferena entre direitos humanos e direitos
fundamentais. Desde j importante ressaltar que tais conceitos no se confundem.
Inicialmente, devemos ter em mente que os direitos humanos no se confundem com os direitos
fundamentais.Entre tais podemos estabelecer duas distines, uma formal e outra substancial
(material).Formalmente, os direitos humanos encontram seu fundamento de validade a partir do
direito internacional, de tratados internacionais. J os direitos fundamentais so os positivados
nas Constituies de cada Estado, possuindo fundamento no direito nacional.Com relao ao
contedo (material), os Direitos Humanos so aqueles que buscam estabelecer aqueles direitos e
bens inerentes pessoa humana (pessoa fsica, natural), como a vida, liberdade, integridade
fsica. J os Direitos Fundamentais no se limitam pessoa fsica, alcanam tambm as pessoas
jurdicas, regulando aqueles bens fundamentais de cada Estado, aqueles direitos essenciais, que
no se limitam pessoa humana, pois estes direitos fundamentais se estendem pessoa jurdica,
ao passo que os Direitos Humanos esto limitados pessoa fsica.
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Assim, repetindo, formalmente, os Direitos Humanos so aquelas normas estabelecidas a
partir de tratados internacionais de Direitos Humanos. J o conceito material de Direitos
humanos seria aquele conjunto de bens inerentes prpria condio humana (pessoa fsica)
vida, liberdade, igualdade e outros.
Direitos Humanos e Direitos Fundamentais por sua vez, tambm no se confundem com as
Garantias Fundamentais, que so aquelas normas de cunho assecuratrio, estabelecidas com a
finalidade de dar proteo aos Direitos Fundamentais em sentido mais amplo, garantindo a sua
efetividade HC, MS, HD, MI.
A doutrina estabelece uma distino entre trs espcies de garantias distintas, que podem
ser: institucionais, instrumentais e materiais.As garantias institucionais so aquelas
estabelecidas com a finalidade de assegurar o exerccio de funes constitucionais ex.: as
imunidades parlamentares, a vitaliciedade.J as garantias instrumentais so os remdios
constitucionais, ou seja, as aes disponibilizadas na Constituio para a proteo dos Direitos
Fundamentais so as garantias constitucionais.As garantias materiais, tambm chamadas de
substanciais, seriam aquelas normas de cunho material, substancial, que tm por finalidade a
proteo direta de um direito fundamental que lhe inerente, subjacente. Ex.: o art. 5,
XXXVI, que protege o ato jurdico perfeito, promovendo a segurana jurdica. A inviolabilidade
de domicilio uma garantia material, tendo por finalidade proteger o direito privacidade. As
garantias materiais so muitas vezes tratadas como o prprio direito em si. Odireitotem natureza
declaratria, visa declarar o bem jurdico tutelado. J a garantia tem natureza assecuratria,
visando a proteo do direito estabelecido.
2. FUNDAMENTO DOS DIREITOS HUMANOS:
Neste tpico h vrias Teorias ou Correntes distintas.
2.1.1. Corrente Direito Natural: os Direitos Humanos decorrem do direito natural, nascendo
com o homem. a corrente jusnaturalista. O problema dos direitos naturais que fica difcil
delimitarmos quais so aqueles direitos que nascem com o homem, que fazem parte desta
condio humana. Tudo muito abstrato, no gerando, portanto, segurana jurdica, na
medida em que, pelo contedo abstrato, no se sabe, ao certo, quais so os direitos humanos
a serem tutelados. Para a corrente jusnaturalista, a positivao desses direitos no
necessria.
2.2.2. Corrente Direito Positivo: uma corrente positivista. Os Direitos Humanos decorrem
de positivao expressa, sendo, portanto, fruto de normas jurdicas internacionais, So,
portanto, fruto de normas, decorrendo, pois, do direito posto, positivado, seja pela ordem
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internacional, seja pela ordem interna. Com isso temos uma preciso maior, facilitando no
s a sua delimitao, a definio de quais so esses direitos, bem como a sua extenso,
facilitando ainda o sistema de proteo a esses direitos. Garante segurana na definio e
tambm na aplicao e proteo de tais direitos. Tal corrente critica a corrente jusnaturalista,
por ser esta arbitrria, pois no se sabe ao certo o que so direitos humanos.
2.3.3. Corrente Culturalista: os Direitos Humanos so um produto cultural, pois no se
aplicam tais direitos com a mesma intensidade em todas as culturas. Os Direitos
Humanos so uma construo da cultura ocidental. No se tem essa mesma noo de
Direitos Humanos, por exemplo, nos pases asiticos. Pouco importa seo fundamento de tais
direitos decorrem do jusnaturalismo ou do positivismo, mas sim qual cultura oser humano
est inserido. Assim, os Direitos Humanos um produto cultural, possuem fundamento
cultural, mais precisamente na cultura ocidental.
2.4.4. Corrente Racionalismo ou Racionalista: baseada em Kant, os Direitos Humanos
decorrem do racionalismo crtico. Os Direitos Humanos so produto da razo humana, da
inteligncia humana. Kant desenvolveu sua teoria do racionalismo crtico a partir dos
imperativos categricos (mximas, valores). Tais imperativos categricos so valores de ordem
moral que se aplicam a todos, independentemente do momento histrico, da cultura. Assim, h
um conjunto de normas amorais, aculturais, que no dependem da positivao do Estado, pois
decorrem da razo humana. Essas mximas visam, em ultima instncia, proteger o prprio
indivduo. So normas hipotticas porque no precisam estar previstas, positivadas pelo
ordenamento jurdico. E acabam servindo de fundamento de validade para qualquer norma que
venha a ser positivada. S baseadas (mximas, os valores) em trs premissas essenciais:
autonomia, dignidade e democracia. Autonomia que garante ao individuo a liberdade, a
liberdade de manifestar seu pensamento, a liberdade de crena, ou seja, a liberdade essencial
aos direitos humanos; dignidade corresponde vida, a vida fundamental, o respeito vida
fundamental, que seria a vida digna, o que significa que deve ser garantido ao indivduo os
meios necessrios para desenvolver todas as suas potencialidades, garantido, portanto, o prprio
direito a felicidade. Conjugada a dignidade com a autonomia garantido ao individuo fazer suas
escolhas subjetivas que atendam a sua noo de felicidade. Tal no pode restringindo pelo
Estado, vez que no cabe ao estado fazer escolhas pelo individuo. A democracia garante uma
participao igualitria do individuo na sociedade. A condio de igual do individuo. O Estado
democrtico aquele que respeita a participao igualitria e, sobretudo, aquele que respeita as
diferenas. O Estado em que todos so iguais no um Estado democrtico. Para a Corrente
Racionalista, no teramos direitos naturais, mas sim direitos que seriam fruto da razo humana,
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de uma razo crtica. H uma ligao muito mais moral do que jurdica propriamente dita,
enquanto que na corrente do direito positivo o vis jurdico. A partir das ideias de Kant, da
noo de mnimo tico irredutvel que se fundamenta tal Corrente. Mnimo tico Irredutvel =
H um contedo moral mnimo que se aplica a todos.
ATENO!No mbito jurdico tem prevalecido a posio Positivista.
3. HISTRICO DOS DIREITOS HUMANOS:
3.1.Marcos histricos na Antiguidade:
A doutrina tem citado alguns precedentes do que poderia ser apontado como a ideia da
noo que hoje se tem dos Direitos Humanos: a semente do que isso seria. Eram ideias de cunho
muito mais filosfico do que propriamente um sistema de proteo de Direitos Humanos como
hoje existe.
3.1.1. Grcia antiga (sc. V a.C.) Sofistas - Protgoras: dizia-se que o homem a medida
de todas as coisas, e tal nos passa a noo de centralidade do ser humano, que o centro
e por isso merecedor de maior proteo, figurando como a essncia de tudo. Deve
haver um sistema prprio deproteo. O ser humano no meio, no instrumento.
Essa noo retomada de forma mais profunda em Kant o ser humano no
meio, e sim um fim em si mesmo. A partir desta noo possvel delimitar a atuao
do Estado, pois se o ser humano o centro, o Estado atua para a realizao do ser
humano.
3.1.2. Grego Roma (sc. IV a.C.) Esticos - Imperador Marco Aurlio:Todos possuem a
mesma natureza. Aqui se tem o embrio do direito natural. Entendia-se que todos
possuem a mesma natureza, desta forma todos so merecedores da mesma proteo em
razo de sua condio humana. No importa a sua cor, raa, etnia, etc. Aqui j surge a
ideia do universalismo dos direitos humanos, uma caracterstica que importante para a
sua aplicao e sua efetivao. H incidncia dos Direitos Humanos em razo da
essncia humana dos seres e no em decorrncia de nacionalidade, de opo sexual, de
crena ou raa. a noo que hoje se aprofunda com o universalismo dos Direitos
Humanos. Este universalismo se aprofundou no ps 2 Guerra Mundial, com a
Declarao Universal dos Direitos Humanos da ONU.
3.1.3. Cristianismo (sc. I):a partir principalmente da noo bblica, d-se ao ser humano a
caracterstica divina, de divindade, eis que o ser humano visto imagem e semelhana
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de Deus, dando ao homem uma natureza divina, diferenciando-os dos outros animais,
sendo passvel, portanto, de uma proteo tratamento especial.
Na antiguidade tnhamos, pois, meras ideias de contedo muito mais filosfico do que
jurdico.Na era moderna inicia-se o surgimento de instrumentos de proteo do ser humano.
3.2.Marcos Histricos no Estado Moderno:
3.2.1. Na Inglaterra:
1 Momento 1215: Magna Carta: aqui prevalecia o Estado Absolutista, no havia limites, o Rei podia tudo. Assim, a noo aqui era proteger o ser humano contra o arbtrio do Estado, do
poder Soberano, limitando o poder do Rei. Daa finalidade neste primeiro momento, com a
Magna Carta, que, a grosso modo, foi um pacto entre o Monarca e seus sditos, era
simplesmente limitar, conter a atuao do soberano, estabelecendo direitos de prestao
negativa, informando o que o Estado no pode fazer. So os Direitos de 1 Gerao/Dimenso.
O Professor enumera alguns outros momentos, como o A Declarao de Direito de 1689 (em
ingls Bill of Rights of 1689), passando, em seguida, a falar da Revoluo Gloriosa.
1688 - Revoluo Gloriosa: limitou-se ainda mais o poder do soberano, estabelecendo-se a supremacia do Parlamento que era responsvel pela elaborao das leis e, uma das Cmaras,
representava o povo (no caso ingls havia a Cmara Baixa).
3.2.2. EUA:
1776: Declarao de Independncia Americana: ligao s ideias de direito natural.1787: Constituio Americana: conferiu-se uma proteo jurdica a estes direitos.3.2.3. Frana:
1789: Revoluo Francesa: houve a ruptura com o Estado Antigo, refundando o Pacto Social a partir do estabelecimento de direitos que protegem o indivduo, que devem lhes ser garantidos.
Tais direitos passam a ser o fundamento de legitimidade do prprio Estado refundado, deste
novo Pacto Social, que s se mostra legtimo enquanto correspondente a esses direitos do ser
humano. Esse Contrato Social refundado a partir da Declarao dos Direitos do Homem e do
Cidado, que defendia os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. No entanto, ainda havia
uma relao de proteo ao cidado, ao nacional daquele Estado, no existindo aqui ainda a
caracterstica da universalidade dos Direitos Humanos.
3.2.4. Estado Social:
1848: Manifesto Comunista1917: Revoluo Russa: baseou-se nos ideais marxistas de 1848. Revoluo do povo oprimido e trabalhador, pleiteando uma maior proteo aos trabalhadores, que eram explorados
pela burguesia. Aqui nasce o Estado de bem estar social.
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Constituio Mexicana de 1917: primeira Constituio a estabelecer direitos sociais.Constituio de Weimar: mais famosa Constituio a estabelecer direitos sociais. Alguns autores dizem que a Constituio de Weimar, com a sua ampla ideia de expresso da liberdade,
essencialmente democrtica, permitindo, inclusive o surgimento do partido Nazista, facilitou a
chegada de Hitler ao poder, que, aps, destruiu a Constituio de Weimar. Da surgiu aqui a
ideia de clusula ptrea, para que qualquer governante que chegasse ao poder no tivesse como
destruir ncleos mnimos fundamentais. A democracia no pode ser uma democracia neutra,
como aquela baseada na maioria de Rousseau (Contrato social),onde a maioria pode tudo. A
maioria democrtica no pode tudo, tem que ser contida, delimitada, e so justamente a
Constituio, os Direitos Fundamentais positivados e os Direitos Humanos que podem
estabelecer estes limites.
3.2.5. Estado contemporneo: a proteo aos Direitos Humanos se intensifica aps a 2
Guerra Mundial, quando nasce a ideia de que necessrio um sistema mais amplo de proteo
dos Direitos Humanos, isso porque estes no podem ficar na dependncia da vontade de cada
Estado isolado para lhe conferir efetividade. O sistema de proteo existente at ento, que
dependia da manifestao da vontade de cada Estado isolado, no se mostrou efetivo, o que se
evidenciou com as atrocidades dos fascistas na Itlia e dos nazistas na Alemanha. Isso ocorreu
porque no existia um sistema de proteo mais amplo. A partir de uma necessidade de proteo
mais ampla, que comeam a surgir os sistemas internacionais de proteo, que podem ser
regionalizados ou universais.
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2 AULA: 10.04.2013.
CONTINUAO DA 1 AULA:
3. HISTRICO DOS DIREITOS HUMANOS:
3.2.6. Internacionalizao dos Direitos Humanos
Evoluo histrica a partir de um processo de internacionalizao e
regionalizao dos Direitos Humanos. O marco histrico desse processo de
internacionalizao ocorreu com a Declarao Universal dos Direitos Humanos da
ONU em 1948, aps a Segunda Guerra Mundial. Fruto de uma necessidade da
prpria sociedade, porque at ento a proteo de Direitos Humanos cabia a cada
Constituio de cada Estado. Cabia a cada ordenamento jurdico estabelecer as suas
prprias normas de proteo de Direitos Humanos. Isso enfraquecia a proteo de
Direitos Humanos, pois, em nome do poder soberano, o Estado no possua
limitaes externas, s eventuais limites internos, limites estes estabelecidos
peloprprio ordenamento jurdico de cada Estado. Assim, cada Estado poderia
ampliar, restringir, mitigar, alterar a sua proteo aos Direitos Humanos, como
ocorreu com a Alemanha nazista,a partir da ascenso de Hitler ao poder, quando
uma srie de Direitos sofreram restries, grupos humanos forma perseguidos, no
tiveram seus direitos reconhecidos, como os ciganos, judeus, deficientes, etc.
Assim, aps a Segunda Guerra, passou a ser necessrio uma proteo maisampla
aos denominados Direitos Humanos, uma proteo verdadeiramente de carter
universal. Nasce aqui a partir da Declarao Universal dos Direitos Humanos da
ONU um processo de expanso de proteo de Direitos Humanos. Tais Direitos
agora no ficam mais limitados s fronteiras de cada Estado. H uma releitura do
prprio conceito de soberania. O Estado no pode mais tudo em nome desse poder
soberano, porque o eventual descumprimento dessas normas internacionais de
proteo de Direitos Humanos pode gerar encargos para o Estado violador destes
Direitos, possibilitando at intervenes internacionais.
Porm, tambm se percebeu que era necessria uma proteo de Direitos
Humanos mais setorizada. Uma proteo que continuaria sendo internacional, mas
regionalizada. Isso facilitaria a prpria efetividade dos Direitos Humanos, porque se
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teria instrumentos de proteo para cadaregio. Assim, agora, nasce o processo de
regionalizao. Esse processo de regionalizao pode ser analisado a partir de cada
proteo especfica. No continente europeu a regionalizao instituda a partirde
1950, com a Conveno Europeia de Direitos Humanos. Esta Conveno busca
regular a proteo de Direito Humanos nos Estados europeus. Nasce aqui um rgo
para a proteo: Comisso Europeia de Direitos Humanos, que uma Comisso de
fiscalizao da aplicao de Direitos Humanos nos Estados europeus. Depois se
criou uma Corte para julgar os casos de violao dos Direitos Humanos, chamada
Corte Europeia de Direitos Humanos. Hoje h tambm a Corte de Justia das
Comunidades Europeias, cujos pases componentes pertencem Comunidade
europeia.
Nas Amricas esta proteo regionalizada dos Direitos Humanos nasce com o
Pacto de So Jos da Costa Rica, de1969. Esse pacto engloba todos os pases
daAmrica. Regionalizao, portanto, nos pases americanos. H, posteriormente, a
criao da Comisso Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana
de Direitos Humanos. Essepacto foi introduzido no Brasil pelo Decreto 678.
Podemos citar ainda o movimento de regionalizao no continente africano,
ainda embrionrio, chamado Carta de Banjul, de 1981. Nos pases rabes, h as
Cartas rabes de 1994, que tal como o sistema africano, tambm um sistema
embrionrio.
Recentemente, ns tivemos um estabelecimento de um outro sistema de
proteo, diferente do sistema regional, baseado em um Tribunal que tem por
finalidade processar e punir pessoas fsicas pela violao das normas de proteo
aos Direitos Humanos, e no mais Estados. Esse sistema foi adotado a partir do TPI
Tribunal Penal Internacional. Ele difere dos sistemas anteriores porque estes
estabelecem punies aos Estados, j o TPI no pune Estados e sim pessoas fsicas
violadoras dos Direitos Humanos. Ele tem um carter internacional e no regional,
pois no se limita a determina regio, mas aplica-se a todas regies, mesmo que o
pas no seja signatrio. , portanto, um rgo internacional independente. No est
submetido jurisdio de qualquer Estado.
Sintetizando, no processo de internacionalizao da proteo aos Direitos
Humanos, temos:
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1948: Declarao Universal dos Direitos Humanos da ONU: os Direitos Humanos passam a funcionar como verdadeiro limitador do poder soberano dos
Estados, havendo uma proteo universal. Os Estados devem se adequar aos
Direitos Humanos, sob pena de excluso (econmica ou politica) dessa Organizao
de Naes, o que pode ocasionar para aqueles que violarem os Direitos Humanos
sanes de diversas ordens, desde embargos at mesmo intervenes internacionais.
So estabelecidas assim formas de obrigar os Estados a respeitarem os Direitos
Humanos, impondo, inclusive, sanes pelo no cumprimento. Tambm se verificou
que para que essa proteo universal fosse mais efetiva, seria importante promover
uma regionalizao ou setorizao dos instrumentos ou sistemas de proteo.Surge,
pois, a era da Regionalizao dos Direitos Humanos. Ateno, pois esta no influi
na universalizao, sendo apenas uma forma de dar maior efetividade aos
Direitos Humanos. A regionalizao no enfraquece a universalizao, pois esta
uma conquista que no pode retroceder.
1 Momento de Regionalizao pode ser apontado em 1950, com o Sistema Europeu de Direitos Humanos, que instituiu a Corte Europeia de Direitos
Humanos, que busca controlar, implementar os Direitos Humanos no mbito do
continente europeu.
2 Momento de Regionalizao pode ser apontado em 1969, com o Sistema Americano de Proteo dos Direitos Humanos, que instituiu o Pacto de So Jos da
Costa Rica, do qual o Brasil signatrio. Existe um rgo de controle, que se d
atravs da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Esta corte responsvel
por julgar Estados, que diferente do TPI, que julga apenas pessoas fsicas.
3 Momento de Regionalizao pode ser apontado em 1981, com o Sistema Africano de Proteo dos Direitos Humanos, com a Carta de Banjul. Tal
aplicvel aos pases do continente africano, mas ainda efmero, pouco efetivo.
4 Momento de Regionalizao pode ser apontado em 1994, com as Cartas rabes, aplicveis aos pases do Oriente Mdio, ainda menos efetivo.
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4. CARACTERSTICA DOS DIREITOS HUMANOS:
Como veremos, muitas caractersticas dos Direitos Humanos so coincidentes
com as caractersticas dos Direitos Fundamentais positivados nas Constituies
de cada Pas.
4.1 Universalidade/Universalismo: protege o indivduo em razo de sua condio
humana, independente da nacionalidade, cidadania, ou qualquer outra
caracterstica. Significa que os Direitos Humanos so universais, aplicando-se a
todo e qualquer ser humano, independentemente de caractersticas especficas,
fsicas, religiosas. H crticas a essa caracterstica universalismo pois tal no
leva em considerao culturas muitas vezes milenares. H quem defenda a tese
de que essa caracterstica uma imposio da cultura ocidental sobre as demais
culturas.
4.2 Fundamentalidade:Formal: os Direitos Humanos (no mbito dos Estados so
os Direitos Fundamentais) so aqueles direitos que servem de fundamento de
todos os demais direitos. Material: significa que os direitos humanos regulam
aqueles bens jurdicos mais essenciais ao ser humano, como a vida, a liberdade,
a autonomia da vontade, a igualdade. Todos esses bens jurdicos mais essenciais
podem ser englobados no conceito de dignidade humana.
4.3 Cumulatividade: pode ser objetiva ou subjetiva.
4.3.1 Cumulatividade subjetiva: significa que os indivduos no possuem um
direito em si, mas sim um conjunto de direitos. Ele ento acumula diversos
direitos: vida, propriedade, igualdade, dentre outros tantos.
4.3.2 Cumulatividade objetiva: significa que cada direito possui vrios aspectos
distintos. Por ex., quando se fala em direito vida, fala-se em direito de
nascer, vida digna, de no ter sua vida interrompida por processos
artificiais, quando se fala em liberdade, esta se divide em vrios aspectos
h liberdade de pensamento, de expresso, de opo sexual, de opo
religiosa, de locomoo.
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4.4 No taxatividade: os Direitos Humanos no so taxativos, mas sim
exemplificativos, de modo que podem sempre ser ampliados. Esto em
constante processo de criao. Criao esta que se pode dar inclusive pela via
interpretativa, a partir de desdobramentos de direitos expressos. Ex: direito
felicidade, que desdobramento da prpria dignidade.
4.5 Dignidade da pessoa humana: na nossa Constituio ela expressa como
princpio fundamental. Significa que os direitos fundamentais garantem ao
indivduo ser quem ele . E isso no pode acarretar perseguies, sanes. A
dignidade no permite ao Estado punir algum pelo que ele ,s pelo o que ele
faz. Isso foi importante para abolir da esfera penal a responsabilidade objetiva. O
indivduo no pode ser punido, sancionado pelo que ele . Significa que a pessoa
no pode ser punida pelo que ela , mas sim pelo que se faz e apenas quando
houver violao do direito de terceiros. uma consequncia da prpria
autonomia da pessoa.
4.6 Autonomia da pessoa humana: o indivduo deve ser livre para fazer suas
prprias escolhas, desde que isso noprejudique diretos de terceiros. Que o
indivduo seja livre para desenvolver todas as suas potencialidades. Fazer suas
escolhas em critrios subjetivos que atendam a seu prprio conceito de
felicidade, desde que no viole direitos de terceiros. Os Direitos Humanos se
prestam, tambm, para promover a autonomia do ser humano. Com isso, temos
que os Direitos Humanos devem garantir um amplo espao aos indivduos,
contra a interferncia do Estado, garantindo que estes faam as suas prprias
escolhas, impedindo que o Estado lhes imponha forma de ser, de pensar, de agir.
Cada ser humano realiza suas prprias opes em busca de sua felicidade. No
se pode impor uma opo religiosa, cabendo tal autonomia do ser humano. O
STF informou, no julgamento da antecipao teraputica do parto, que os
argumentos religiosos no poderiam fundamentar a impossibilidade de tal,
devendo estes, para ser utilizados, ser traduzidos em argumentos jurdicos.
4.7 Valorativos Moral: os Direitos Humanos tm alta carga moral (uma moral
dotada de racionalismo crtico, o que diferente do moralismo), tica,
axiolgica, atuando como aqueles limites em que se estabelecem as relaes
humanas. H aqui aquele mnimo tico a que se refere Kant. Por ex., o Direito
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Felicidade, Dignidade Humana questes altamente valorativas. Ento os
Direitos Humanos no tm um contedo estritamente jurdico, mas tambm
tico, moral, filosfico.
4.8 Indisponibilidade: embora o direito busque proteger o indivduo, ele no est
disposio do indivduo. O indivduo no pode abrir mo dos Direitos Humanos,
sendo indisponveis e irrenunciveis. Cuidado, pois o que indisponvel e
irrenuncivel o direito em si, mas possvel que tal ocorra em relao ao
exerccio de um direito em uma dada extenso. Assim, no pode abrir mo do
direito, mas pode abrir mo do exerccio de determinado direito. Por ex., em
algumas situaes, a pessoa pode abrir mo do exerccio do direito integridade
fsica, submetendo-se a tatuagens. Mas h alguns casos em que no possvel a
disposio quanto ao exerccio, por ex., do direito vida no se pode abrir
mo de tal exerccio.
4.9 Imprescritibilidade: significa que os direitos no prescrevem em razo da sua
no utilizao a longo do tempo. So aptos a serem utilizados a qualquer tempo.
No se perde o direito pelo decurso do tempo, pela sua no utilizao.
4.10 Historicidade: os Direitos Humanos so fruto de uma construo
histrica, construdos ao longo da evoluo histrica da prpria sociedade, no
tendo sido criados num momento especfico.
4.11 Relatividade: significa que os direitos no so absolutos, devendo ser
cotejados entre si, ponderados entre eles, sendo passiveis de relativizao. Parte
da doutrina, a ex. de Norberto Bobbio e no Brasil, Ayres Brito, defende que
existem direitos absolutos. So aqueles direitos que repercutem na dignidade
humana, que no pode ser relativizada. O Prof. menciona um caso na Frana,
onde os anes eram arremessados em uma boate. Entende-se que tal ofenderia a
sua dignidade e no poderia ser relativizado, nem mesmo com sua aquiescncia.
Outro direito absoluto o direito no escravizao. O direito a no tortura
tambm um direito absoluto, mas aqui h uma discusso, por uma corrente
utilitarista defende a sua ponderao para fins de proteo do direito vida e
segurana, mas no Brasil este direito absoluto. O min. Ayres Brito informa que
a nossa Constituio tambm conteria outros direitos absolutos, como o direito a
no extradio do brasileiro nato art. 5 LI CF. Mas deve-se aferir a
nacionalidade deste sujeito, e muitas vezes tal no se resolve apenas pelo critrio
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jurdico, pois pode haver conflito entre duas Constituies de Estados diversos.
Diante disso, em alguns casos preciso que se analise a Teoria da Nacionalidade
de Fato (Real), onde se afere a real nacionalidade do sujeito. Para isso so
necessrias vrias perguntas: 1. Lngua me; 2. Onde aquele sujeito estabeleceu
suas relaes sociais com maior intensidade, onde viveu a sua infncia e
adolescncia, onde tem amizades, trabalha... S assim possvel se aferir a
nacionalidade real ou efetiva deste indivduo. Da, com base nestas ideias, seria
possvel a extradio, mesmo de um brasileiro nato, mas desde que a sua
nacionalidade real no seja o Brasil Este direito seria passvel de relativizao.
Esta discusso veio no HC 83.450 de 2005, onde o STF no chegou a proferir
deciso, pois o inqurito que investigava um brasileiro nato foi arquivado,
ficando a questo prejudicada. Lembrar que o brasileiro naturalizado pode ser
extraditado LI - nenhum brasileiro ser extraditado, salvo o naturalizado, em
caso de crime comum, praticado antes da naturalizao, ou de comprovado
envolvimento em trfico ilcito de entorpecentes e drogas afins, na forma da
lei. OBS.: tambm h um direito a no extradio ao estrangeiro art. 5 LII:
no ser concedida extradio de estrangeiro por crime poltico ou de
opinio.
4.12 Complementariedade: os Direitos Humanos so um conjunto de bens
que se complementam, no podendo ser analisados em um s aspecto, pois a sua
efetivao se d a partir desta noo de complementariedade. No possvel que
se analise o direito vida, de forma estanque ao direito de liberdade vida e
liberdade se complementam, pois no h vida para o escravizado. Com isso
possvel se conferir maior efetividade aos direitos em si, promovendo uma maior
proteo ao ser humano. O STF vem realizando anlises neste sentido.
Verificamos tal especialmente no voto atinente antecipao teraputica do
parto de feto anencfalo, onde se analisou de modo complementar o direito
vida digna, integridade fsica e psicolgica, liberdade da gestante,
informando que esta possua um conjunto de direitos que justificava a prtica em
questo como lcita.
4.13 Inviolabilidade da pessoa humana: o ser humano no pode se utilizado
como instrumento de proteo para outros, pois ele no meio, mas sim um fim
em si mesmo. H posio utilitarista no sentido de que o ser humano poderia ser
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utilizado como um instrumento de proteo da maioria, mas isso no se justifica
em nossa ordem jurdica, que preconiza uma viso racionalista, onde o indivduo
um fim e ele no pode ser utilizado para a proteo de quem quer que seja,
nem mesmo das maiorias. Esta a perspectiva da inviolabilidade do ser humano
no mbito dos Direitos Humanos, que no pode ser instrumentalizado, eis que o
ser humano no meio, mas fim.OBS.1: Direito Penal do Inimigo preconiza
a viso utilitarista: os direitos fundamentais no se aplicam ao inimigo. Mas se
o Estado deixar de aplicar aqueles direitos, o Estado funcionaria como inimigo,
pois ele estaria atuando desconsiderando o direito, deixando de ser um Estado de
Direito. O Estado no pode desconsiderar o direito, pois a sua atuao apenas se
legitima se fundamentar-se neste direito. um paradoxo, pois se preconiza que
o Estado desconsidere suas normas para proteger as suas normas. OBS. 2:os que
eram contrrios interrupo da gravidez de feto anencfalo informavam que se
a me leva a gravidez ao fim ela estaria ajudando vrias pessoas, por viabilizar a
doao de rgos. E mesmo que o beb viesse a nascer e a morrer, ele poderia
salvar outros bebs que precisavam de um transplante de rgos. Neste caso a
mulher funcionaria como um instrumento para a proteo de terceiros, no
entanto, a mulher, como ser humano, no instrumento, no meio, mas fim,
eis que no pode haver a coisificao do ser humano.
4.14 Indivisibilidade: os Direitos Humanos no so objeto de fracionamento,
sendo indivisveis, de modo que cada direito possui o seu prprio conjunto de
normas protetivas.
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3 AULA: 29.04.2013.
PROCEDIMENTO DE INTRODUO DOS TRATADOS DE DIREITOS HUMANOS NO
BRASIL:
H um processo de introduo que pode ser dividida em trs fases:
1. Fase Cabe ao Poder Executivo:
1. Etapa: envolve a negociao. Tal se d no mbito internacional e de competncia do
Presidente da Repblica, a quem cabe negociar os termos desses tratados (art. 84, VIII da CF).
havendo um consenso em relao aos termos desse tratado, o mesmo passa para a 2 etapa;
2. Etapa: assinatura. At ento o tratado no gera qualquer obrigao, seja no plano internacional
ou no interno, dependendo de introduo efetiva no ordenamento interno. Os tratados devem ser
submetidos ao Congresso Nacional art. 84, VIII da CF: Compete privativamente ao Presidente
da Repblica: VIII - celebrar tratados, convenes e atos internacionais, sujeitos a referendo do
Congresso Nacional. A competncia do Congresso Nacional est no art. 49, I da CF: da
competncia exclusiva do Congresso Nacional: I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos
ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimnio
nacional;.
2. Fase Cabe ao Poder Legislativo: h a submisso ao Congresso Nacional, sendo o tratado
submetido Cmara dos Deputados e ao Senado Federal, submetendo-se ao processo legislativo,
que hoje pode ser o ordinrio ou de emenda. Isso importante para o Tratado de Direitos Humanos,
pois a depender do processo legislativo que ele passar, repercutir em sua hierarquia. No
Procedimento Ordinrio h um turno de deliberao e votao em cada uma das Casas. O qurum
de aprovao tem previso no art. 47 da CF, de maioria simples. Salvo disposio constitucional
em contrrio, as deliberaes de cada Casa e de suas Comisses sero tomadas por maioria dos
votos, presente a maioria absoluta de seus membros. No atingido esse qurum mnimo, o tratado
no ser introduzido em nosso ordenamento. A rejeio no enseja qualquer ato administrativo,
bastando que o Congresso Nacional envie mero recado ao Presidente da Repblica, informando que
o tratado foi rejeitado. Sendo aprovado, ser editado um decreto legislativo, encerrando-se a atuao
do Poder Legislativo. No entanto, adotando-se o Procedimento das Emendas Constitucionais, o que
se altera em relao ao Procedimento Ordinrio ser, primeiramente, o n de deliberaes e votao
h dois turnos de discusso e de votao em cada Casa do Congresso Nacional, e o qurum de
votao, que ser de 3/5. Havendo rejeio, envia-se somente um comunicado ao Presidente da
Repblica, como ocorre no P. Ordinrio. Ocorrendo aprovao temos a mesma situao do P.
Ordinrio: a edio de um decreto legislativo. Temos, pois, que a diferena entre o Procedimento
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Ordinrio e o Procedimento das Emendas para a aprovao dos Tratados de Direitos Humanos, est
apenas no n de deliberaes e votao e no qurum. Essa situao repercute na posio hierrquica
que esse tratado ser introduzido no ordenamento.
A concluso acima, quanto diferenciao do procedimento, pode ser alcanada a partir de uma
interpretao a contrario sensu do art. 5 3 da CF: Os tratados e convenes internacionais
sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois
turnos, por trs quintos dos votos dos respectivos membros, sero equivalentes s emendas
constitucionais.
Encerrada esta fase, vamos para a 3, onde a questo volta para anlise do Poder Executivo.
importante termos em mente que os tratados esto sujeitos a referendo do Congresso Nacional, e
no a ratificao, sendo esta feita pelo Poder Executivo, na 3 fase.
3. Fase Cabe ao Poder Executivo: cabe agora, ao Poder Executivo, ratificar ou no o tratado,
inexistindo obrigao em se ratificar. O Presidente da Repblica pode adotar duas medidas
distintas: uma medida que visa dar obrigatoriedade ao tratado no plano internacional e outra que
confere executoriedade no plano interno. No plano internacional tal se t atravs da troca (tratados
bilaterais) ou do depsito (tratados multilaterais). J no plano interno ser editado um decreto
presidencial, que ser publicado no dirio oficial, promulgando o tratado. atravs deste ato que h
a introduo efetiva do tratado no ordenamento interno. S assim encerra-se o procedimento.
Alguns defendem a necessidade de se levar esse tratado ONU para registro, impedindo-se, com
isso, tratados secretos.
OBS.: Procedimento de Retirada ou de Eliminao dos Tratados de nosso ordenamento. Aqui
h divergncia doutrinria:
1. Corrente: se d atravs do procedimento de denncia, ato simples, que compete nica e exclusivamente ao Presidente da Repblica, com fundamento no art. 84, VII CF, sendo um
ato simples. Com isso se retira, daquele pas, a obrigatoriedade de se observar aquele
tratado. a posio at ento prevalente no STF, defendida pelo ex. min. Nelson Jobim.
2. Corrente: defendida pelo min. Joaquim Barbosa, que informa que a denncia no seria um ato simples, mas um ato complexo, fundamentando-se no paralelismo das formas, pois
se h um procedimento complexo para introduzir o tratado no ordenamento, igualmente
deve haver um procedimento complexo para retira-lo do ordenamento. Com isso preciso
que haja uma aprovao do legislador para que se efetive a denncia do tratado. Esta
posio vem sendo criticada porque o Presidente pode romper acordos internacionais sem o
crivo do Legislativo, e assim o tratado no obrigar o Brasil no plano internacional, mas
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como foi introduzido no Brasil no plano interno ainda ser observado e obedecido. Por
exemplo, se o Brasil romper no plano internacional com o Pacto de So Jos de Costa Rica
ele no se submeter mais no caso de descumprimento a eventuais sanes impostas pela
Corte Interamericana de Direitos Humanos, mas continua tendo que observar as regras do
pacto introduzido no Brasil pelo Decreto 678 no plano interno enquanto este ato no for
revogado pelo legislador ou no for confirmada a denncia pelo Legislativo.
O STF ainda no adotou uma nova posio e, portanto, ainda entende que o ato de denncia um
ato simples praticado pelo Presidente e no depende de confirmao do congresso Nacional.
Mas esta era uma posio de quando s existia o procedimento ordinrio. Atualmente ns tambm
temos o procedimento de emenda (art. 5, 3). O que este procedimento de emenda d aos tratados
de direitos humanos? Diz a doutrina majoritria que:
1. Hierarquia constitucional de equivalncia s emendas;
2. Rigidez constitucional.
O que significa esta rigidez? Para este tratado aprovado por este procedimento ser eliminado do
ordenamento jurdico brasileiro ele teria que passar pelo mesmo procedimento exigido para a sua
introduo. Isso no mbito doutrinrio, pois o STF no se manifestou a respeito do tema.
HIERARQUIA DOS TRATADOS DE DIREITOS HUMANOS NO BRASIL:
Teorias sobre a hierarquia dos tratados de direitos humanos:
Teoria da Fora Legal: os Tratados de Direitos Humanos possuem a mesma hierarquia das
leis, encontrando-se, pois, no mesmo patamar hierrquico das leis, de um ato normativo primrio.
Teoria defendida por Carlos Maximiliano e prevaleceu por muito tempo no STF, isso porque se
considerava o critrio formal para definir a hierarquia de tais tratados. Com isso, temos que o STF
considerava no o contedo do tratado, mas sim o procedimento e a forma pela qual este era
introduzido em nosso ordenamento. Antes da EC 45 existia apenas um procedimento de introduo
dos tratados, o ordinrio, mas ps EC 45, fala-se em dois procedimentos de introduo, o ordinrio
e o de emenda. por tal motivo que o STF entendia que os tratados equivaliam lei, pois eram
inseridos a partir do mesmo procedimento das leis.
Teoria da Fora Constitucional: o que essencial para definir a hierarquia de um Tratado de
Direitos Humanos no a sua forma ou o seu procedimento de introduo, mas sim o seu
contedo, ou seja, a matria que ele trata. Com isso, a natureza daquela matria que vai nos
informar qual a hierarquia daquele tratado. Falando de Direitos Humanos, falamos de normas de
natureza constitucional, dotadas, pois, de fora constitucional. Para esta teoria, pouco importa o
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procedimento de introduo, porque normas de Direitos Humanos so materialmente
constitucionais. Posio de Flvia Piovesan.
Teoria da Supraconstitucionalidade: os Tratados de Direitos Humanos seriam normas
superiores Constituio, porque decorrem de um processo internacional de universalizao
dos Direitos Humanos. O que significa que os Direitos Humanos aplicam-se a toda e qualquer
pessoa, pela sua razo e condio humana, portanto, tais direitos no ficam na dependncia das
Constituies, pelo contrrio, so as Constituies que devem se adequar aos Tratados de Direitos
Humanos. Com isso, tem-se que para tal teoria, os Tratados de Direitos Humanos funcionam como
normas supraconstitucionais, limitando a prpria soberania dos Estados e limitando as prprias
normas constitucionais. Posio defendida pelo prof. Antnio Augusto Canado Trindade.
Teoria da Supralegalidade: para esta teoria, os Tratados de Direitos Humanos, introduzidos pelo
procedimento ordinrio, no podem ter hierarquia constitucional, pois no podemos ter uma
norma, aprovada pelo procedimento de lei (qurum de maioria simples, um turno em cada casa), e
dar a tal norma hierarquia constitucional. Para que haja hierarquia constitucional, a norma deve
passar por um procedimento de criao mais severo, mais dificultoso. Neste ponto temos uma
semelhana com a teoria da fora legal, pois se considera o critrio formal. Por outro lado, h uma
diferena, pois se afirma que o contedo dos tratados tambm deve ser levado em considerao, de
modo que a teoria em exame tambm se vale do critrio material, pois ela cuida de assuntos de
maior relevncia, ou seja, de Direitos Humanos. Com isso, os tratados no podem ter a mesma
hierarquia de uma norma ordinria. Considerando a conjugao do critrio formal (tratado
abaixo da Constituio) com o critrio material (tratado acima das leis por versar sobre Direitos
Humanos), teramos uma supralegalidade dos tratados, o que significa que leis anteriores em
sentido contrrio tm a sua eficcia paralisada, no podendo ser editadas leis posteriores violadoras
deste tratado, sob pena de ilicitude das mesmas. Veja que tais no seriam inconstitucionais, mas
ilcitas. No se fala em inconstitucionalidade, pois o tratado no tem hierarquia constitucional, ele
intermedirio. Essa teoria adotada na Alemanha e defendida no Brasil por Gilmar Mendes.
Tratamento da questo no Brasil:
TRATADOS ANTERIORES
EC 45
TRATADOS POSTERIORES
EC 45
1. Corrente: posio anterior do
STF Teoria da Fora Legal
critrio formal.
1. Corrente: Flvia Piovesan
Tratados de Direitos Humanos tm
hierarquia constitucional, pois
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deve-se considerar o contedo do
tratado.
2. Corrente: Flvia Piovesan e
prevalente na doutrina Teoria da
Fora Constitucional critrio
material.
2. Corrente: prevalente hoje no
STF e de Gilmar Mendes. H duas
situaes possveis: a.
Procedimento ordinrio Teoria
da Supralegalidade; b.
Procedimento de emenda Teoria
da Fora Constitucional.
3. Corrente: Gilmar Mendes e
atual STF (5x4) Teoria da
Supralegalidade critrio
formal/material.
QUESTES ATINENTES AOS TRATADOS ANTERIORES EC 45.
A anlise de tais correntes tem reflexos prticos, pois se o tratado tiver hierarquia constitucional, ele
integrar o Bloco de Constitucionalidade (conjunto de normas paramtricas, ou seja, que servem de
parmetro para o controle de constitucionalidade). Ou seja, com isso, seria possvel propor uma
ADI, impugnando uma lei por violar o Tratado de Direitos Humanos.
J quem entende que o tratado supralegal, este no integra o bloco de constitucionalidade, no
gerando a inconstitucionalidade de uma lei que com ele conflite, mas sim a sua ilicitude.
Por ex., a SV 25: ilcita a priso civil de depositrio infiel, qualquer que seja a modalidade do
depsito. Fala-se em ilicitude e no em inconstitucionalidade, at porque a Constituio permite a
priso civil do depositrio infiel e do devedor de obrigao alimentcia, a ser regulada por lei (art.
5 XLVII1). H ilicitude em decorrncia do Dec. 638/92, que introduziu em nosso ordenamento o
Pacto de San Jose da Costa Rica, um Tratado de Direitos Humanos, que probe este tipo de priso.
Com isso tivemos a paralisao da eficcia das leis que dispunham em sentido contrrio a tal
tratado, proibindo a edio de novas leis, sob pena de ilicitude, enquanto o tratado estiver vigente
em nosso ordenamento.
Para ser possvel a priso civil hoje, deveria ocorrer a denncia do tratado ou haver a regulao
direta na Constituio. A Constituio permite, deixando a regulao para as leis.
1LXVII - no haver priso civil por dvida, salvo a do responsvel pelo inadimplemento voluntrio e inescusvel de obrigao alimentcia e a do depositrio infiel;
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A Teoria da Fora Constitucional defende os seus argumentos a partir de um dispositivo
constitucional especfico, firmando que seus argumentos no so meramente doutrinrios. Afirma-
se que a prpria Constituio teve a inteno de conferir a estes tratados hierarquia constitucional, e
tal se infere do 2 do art. 5 da CF: Os direitos e garantias expressos nesta Constituio no
excluem outros decorrentes do regime e dos princpios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a Repblica Federativa do Brasil seja parte. Entende-se que os Tratados de
Direitos Humanos, por veicular direitos fundamentais, integram os direitos constitucionais. Isso
porque os direitos constitucionais previstos na Constituio no so exaustivos, englobando
tambm os direitos previstos nos tratados.
Entende a teoria da fora constitucional, o 2 do art. 5 da CF tem a inteno de englobar, como
direitos constitucionais, os direitos constitucionais implcitos e os direitos decorrentes de Tratados
Internacionais de Direitos Humanos.
No obstante a tese que tem prevalecido a da supralegalidade.
QUESTES ATINENTES AOS TRATADOS POSTERIORES EC 45.
Temos a 1 posio de Flvia Piovesan que adota a Teoria da Fora Constitucional, devendo-se
considerar o critrio material. Qual seria a diferena entre o tratado que segue o procedimento de
emenda e o que segue o procedimento ordinrio? Entende-se que se o tratado seguir o procedimento
de emenda, ele tem o rigor de emenda, de modo que para ser eliminado do ordenamento, pela
denncia, ele dever seguir o pertinente procedimento mais rigoroso. Esta a diferena. Havendo
aprovao pelo procedimento de emenda, h hierarquia e rigidez constitucional. J o que segue o
procedimento ordinrio tem apenas hierarquia constitucional, no possuindo rigidez constitucional.
Hierarquia no se confunde com a rigidez. Hierarquia diz respeito ao posicionamento daquela
norma na estrutura normativa do ordenamento jurdico. J a rigidez se liga ao seu processo de
criao, de introduo.
Com isso, para a teoria da fora constitucional, sendo o tratado aprovado pelo procedimento
ordinrio, ele ser materialmente constitucional. Sendo aprovado pelo procedimento de emenda, ele
ser materialmente e formalmente constitucional, o que dificultar a sua retirada e a sua
modificao.
Para a Teoria atualmente seguida pelo STF, podemos ter tratados de Direitos Humanos de
hierarquias diversas, a depender do procedimento de aprovao. Seguindo o procedimento
ordinrio, clssico, comum, a hierarquia ser de supralegalidade, mas se seguir o procedimento de
emenda, ter hierarquia constitucional.
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A partir disto temos a implicao de que se seguir o procedimento de emenda, o tratado integra o
bloco de constitucionalidade.
SISTEMAS DE INTERNALIZAO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE
DIREITOS HUMANOS NO BRASIL:
Temos dois sistemas distintos: Dualista e Monista.
Sistema Dualista
Para o sistema dualista temos duas ordens jurdicas que correm em paralelo. A ordem jurdica
internacional e a ordem jurdica nacional. So ordens que no se tocam, com situaes e deveres
prprios.
Sistema Monista
Neste sistema, a partir do momento em que o pas adota um tratado internacional passa-se a ter uma
s ordem jurdica, por isso que monista, um s ordenamento jurdico. Mas se passa a ter uma ordem
jurdica qual norma prevalecer? A norma internacional ou a norma nacional? Neste momento, o
monismo se divide em monismo internacionalista e monismo nacionalista.
O monismo internacionalista era defendido por Hans Kelsen que defendia que prevaleceriam as
normas internacionais. J o monismo nacionalista diz que prevalecem as normas nacionais.
No Brasil, o sistema monista majoritrio. Entretanto, temos posio em contrrio asseverando que
adota-se o sistema dualista ao fundamento de que no plano internacional um tratado que assinado
pelo Presidente mas que depende de introduo formal no plano interno por lei ou ato equiparado
(decreto legislativo). Para a maioria, temos no Brasil o monismo ao fundamento de que a partir do
momento que se introduz um tratado temos uma s ordem jurdica. A maioria no Brasil entende que
temos o monismo nacionalista prevalecendo as normas nacionais (Constituio).
CONFLITO ENTRE TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS E
CONSTITUIO DA REPBLICA:
Para a tese da supralegalidade prevalece a Constituio.
E para a Teoria da Fora Constitucional? Quem prevalecer? Poderamos utilizar as tcnicas para
solucionar o conflito de normas do ordenamento jurdico: critrio hierrquico; critrio da
especialidade; e critrio temporal.
O critrio hierrquico no d porque elas tm a mesma hierarquia. Critrio da especialidade tambm
no d porque as normas tratam da mesma matria, ou seja, direitos humanos ou de direito
fundamentais. Usaramos o critrio temporal? Neste caso poderamos ter inconvenientes porque se
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admitindo este critrio seria tambm dizer que uma norma posterior mesmo sendo mais restritiva
em relao aos direitos humanos iria prevalecer. A doutrina busca outra soluo que tem por base o
principio da vedao ao retrocesso, portanto, uma norma posterior mais restritiva no pode
prevalecer em relao ao uma norma anterior mais ampliativa, mais protetiva.
Assim, qual teria iremos adotar para soluo de conflito entre tratados internacionais de direito
humanos e Constituio? A chamada Teoria da Primazia da Norma Mais Benfica ou da Norma
Mais Protetiva. Desse modo, prevalecer a norma mais protetiva.
A ideia que uma vez criada uma proteo esta no pode sofrer restries, apenas ampliaes e
servindo como argumento de reforo temos o princpio da vedao ao retrocesso.
DESAFIOS DA MODERNIDADE AOS DIREITOS HUMANOS:
Direitos Humanos e Soberania:
O desafio dos Direitos Humanos na atual conjuntura se fazer respeitar em todo e qualquer Estado.
Com isso, no basta simplesmente o reconhecimento dos Direitos Humanos atravs de tratados e
normas internacionais.
preciso garantir que os Estados venham a respeitar esses direitos.
Um dos maiores desafios que os Direitos Humanos tm, na atualidade, sair do plano terico para o
concreto, ou seja, se fazer respeitar.
Neste sentido, vrios instrumentos tm sido criados.
A efetivao dos Direitos Humanos se d, basicamente, atravs de dois sistemas distintos de
proteo: Universal e Regional.
O Sistema de Proteo Universal implementado a partir da criao da ONU, e permite as
seguintes sanes queles Estados descumpridores dos Direitos Humanos: Sanes econmicas,
Embargos Comerciais e Intervenes Internacionais, intervenes essas que para serem efetivadas
pela ONU devem ser objeto de consenso, so as chamadas Intervenes Consensuais. No entanto
esse consenso no to democrtico, pois o mesmo depende dos membros permanentes do
Conselho de Segurana. Esse sistema permite tambm, mas sem a interferncia da ONU, as
Intervenes no Consensuais, onde se dar a interveno internacional a partir de uma coaliso de
pases, mas sem a chancela da ONU, por ex., como se deu na guerra do Iraque.
Tais punies so impostas aos pases.
Mas hoje, ns temos um sistema, tambm de cunho universal, que permite a punio a pessoas
violadoras dos Direitos Humanos. o sistema introduzido atravs do Tribunal Penal Internacional
(TPI).
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O TPI um tribunal de carter universal, que processa e julga pessoas, no Estados.
Existem ainda os Sistemas Regionais de proteo, os quais so criados para buscar conferir uma
maior efetividade proteo dos Direitos Humanos, pois o sistema meramente universal dificulta
um pouco essa proteo, pelo fato de se aplicar a todo e qualquer Estado.
Como j vimos no processo histrico, aqueles sistemas criados para o continente europeu Corte
Europeia de Direitos Humanos Sistema de Regionalizao das Amricas atravs do
estabelecimento de uma Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Esses Sistemas Regionalizados julgam Estados e no pessoas.
Direitos Humanos e Terrorismo Internacional:
At que ponto os Direitos Humanos se aplicam aos terroristas ou investigao/processo,
preveno e represso ao terrorismo internacional.
Os Direitos Humanos limitam tambm as condutas tendentes a reprimir o terrorismo ou em relao
a tais praticas h uma mitigao?
H uma teoria de vis utilitarista que vem surgindo, que busca mitigar a aplicao dos Direitos
Humanos aos envolvidos com praticas terroristas. Essa teoria foi desenvolvida na Alemanha por
Gnter Jakobs, embora se tenha precedentes anteriores, tal foi responsvel por teorizar a questo
o Direito Penal do Inimigo.
Segundo essa teoria defendida por Jakobs, ns temos dois tipos de pessoas. Aquele que
considerado cidado e aquele que considerado inimigo.
O cidado merecedor da proteo decorrente dos Direitos Humanos. Esse sujeito no pode ter os
seus direitos mitigados, afastados.
J o inimigo, no faz jus proteo dos Direitos Humanos.
Porque? Segundo Jakobs, o inimigo aquele que quer derrubar uma ordem jurdica instituda,
portanto, quer derrubar a ONU, o Sistema de Direitos Humanos Internacionais, o Estado de Direito,
para impor uma nova ordem, impondo, por ex., o Islamismo exacerbado ou fundamentalista ou
qualquer outra prtica fundamentalista ou ordem de cunho autoritrio.
daqui que parte o argumento simplista de Jakobs: se o indivduo quer derrubar a ordem jurdica
instituda, rompendo com o Estado Democrtico de Direito, como pode este sujeito, pleitear em sua
defesa, a aplicao das normas que se pretende derrubar. o mesmo que se dizer que se eu quero
rasgar a Constituio e instituir uma ordem arbitrria e autoritria, eu no posso me valer dos
direitos previstos na Constituio, na ordem instituda, em minha proteo. Para Jakobs no h
sentido lgico para isso.
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No entanto, segundo o prof. tal argumento parece se partir de uma premissa equivocada. O terrorista
quer romper com o sistema de proteo de direitos, que limita a todos. Caso admitamos a tortura
deste terrorista, o Estado estaria, ele prprio, rompendo com o seu prprio sistema, atuando como
inimigo do sistema de proteo de direitos.
O Estado estaria sendo inimigo, pois estaria atuando contra a Constituio e contra os Direitos
Humanos. Com isso passaramos a ter um Estado sem limitaes, sendo to arbitrrio quanto o
terrorista.
Em razo disto que temos uma segunda posio, de cunho racionalista, que defende que os
Direitos Humanos se aplicam a todos, inclusive aos terroristas, isso porque o Estado no pode atuar
fora dos limites estabelecidos pelo direito e mais especificamente pelos Direitos Humanos. Caso
houvesse uma atuao fora dos limites, o Estado deixaria de ser Democrtico para ser Autoritrio.
Com isso, mesmo as praticas terroristas no afastam a aplicao dos Direitos Humanos.
Os Direitos Humanos so aplicados no pelo fato de o sujeito ser um terrorista ou no, mas pela sua
condio de ser humano, e como tal merece toda a proteo.
A doutrina Utilitarista baseada na noo de proporcionalidade. E porque utilitarista? Significa que
aquela prtica traz uma maior utilidade, sendo mais til para um maior n de pessoas. Com isso, o
utilitarismo se baseia naquilo que mais til para o maior n de pessoas. Esse utilitarismo baseado
na viso democrtica, mas tal pode ter vieses de vrias naturezas Utilitarismo Estatal. Mas aqui
trabalhamos com o Utilitarismo Democrtico ou Majoritrio uma medida til se ela for
proporcionalmente melhor para um maior n de pessoas. O prof. afirma que tal perigoso, pois se
adequa tortura dos terroristas: torturo um terrorista para salvar milhes de pessoas.
Seria proporcional e til a tortura de um terrorista para se evitar o atentado das torres gmeas. Isso
muito perigoso.
Essa teoria permite, portanto, que mitiguemos a aplicao dos Direitos Humanos a partir de uma
ponderao entre benefcios maioria e prejuzos. Tal muito utilizado nos EUA.
muito complexo aferir quais so os interesses da sociedade...
O justo o que respeita a liberdade e a igualdade um mnimo tico irredutvel.
preciso que o atuar do direito seja razovel, que mais do que racional, buscando beneficiar a
todos, a partir de uma reciprocidade.
Concluindo: A teoria que vem prevalecendo na doutrina de Direitos Humanos a do Racionalismo
e no a Utilitarista. Com isso os Direitos Humanos se aplicam a todos, mesmo a terroristas.
Os Direitos Humanos se aplicam a toda e qualquer pessoa pela sua condio humana.
Direitos Humanos e Assimetrias Globais:
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Um dos grandes problemas que se verificam, que os Direitos Humanos vm sendo impostos,
normalmente pelos pases dominantes e ricos, aos pases dominados, mais pobres e fracos
econmica/poltica e militarmente. No entanto, muito da dificuldade de aplicao e efetivao dos
Direitos Humanos, decorre das assimetrias que se tm dentre os Estados submetidos a essa
jurisdio internacional de Direitos Humanos.
Assimetria, principalmente econmica, que inviabiliza essa efetivao dos Direitos Humanos.
Com isso, os Direitos Humanos, em busca de uma maior efetividade/efetivao passam a ter uma
funo no s de limitar a atuao dos Estados, mas de promover, implementar positivamente os
direitos naqueles Estados menos favorecidos, atravs de uma cooperao internacional, em busca de
um desenvolvimento em mbito mundial, possibilitando que os Estados componentes dessa ordem
internacional disponham, tenham minimamente meios de efetivar os Direitos Humanos.
Essa efetivao, portanto, depende muito dessa cooperao dos pases ricos com os pases pobres,
feita atravs de polticas internacionais e humanitrias. muito comum o fornecimento de
medicamentos, de alimentos, foras humanitrias, profissionais de sade, enfim, de meios para
implementar o direito nesses Estados.
Ocorre que tais polticas no podem se restringir a ajudas excepcionais e espordicas, sendo
necessrio, portanto, se implementar o desenvolvimento dessas regies, desses Estados, atravs de
uma poltica de verdadeira integrao econmica, de um maior equilbrio de distribuio de
riquezas. Isso possvel atravs de financiamentos internacionais que so garantidos por um fundo
internacional formado por todos os pases componentes dessa ordem internacional.
Isso ainda no funciona como verdadeiro instrumento de financiamento de desenvolvimento, pois
se verifica a existncia de juros exorbitantes.
No entanto a finalidade dos Direitos Humanos que cheguemos a esse ponto. Os Direitos Humanos
mostram aos Estados dominantes que no possvel apenas se exigir o respeito aos direitos, mas
sim cooperar para que estes possam, de fato, ser efetivados, aplicados.
Esse ponto talvez seja um dos mais difceis de ser alcanados.
Direitos Humanos e Fundamentalismo Religioso:
Os Direitos Humanos partem da noo de um Estado secularizado, laico. Um Estado Laico que
aquele que no deve professar qualquer f ou qualquer religio, eis que o Estado no deve ser
conduzido por religies, devendo atuar de forma neutra.
A religio, portanto, deve se adequar aos Direitos Humanos, e no o contrrio.
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Isso essencial para os dias atuais, pois impe o que a doutrina humanstica denomina por Releitura
das Escrituras Religiosas. Uma reinterpretao das estruturas religiosas de forma a adequ-las aos
Direitos Humanos.
No mbito da Constituio Federal do Brasil garantida a liberdade religiosa, o exerccio dessa
religio, mas tais no so absolutos.
A Religio condicionada pelos Direitos Humanos, e aquela sim que fruto de escolhas e adeso
voluntria a partir de critrios subjetivos e pessoais, que no pode impor seus conceitos morais
queles que no professam a mesma f.
Com isso as religies devem ser adequadas ou readequadas aos Direitos Humanos, de modo que a
sociedade baseada na liberdade de escolha, inclusive religiosa, garantindo-se ao indivduo que
opte por dada religio ou por nenhuma.
Isso tem vrias repercusses prticas. Vejamos a recente deciso do STF, no que toca ao feto
anenceflico e tambm no caso da unio e do casamento homoafetiva. O grande argumento
daqueles que eram contrrios a tais pontos eram de cunho religioso.
No podemos impor tais argumentos religiosos a terceiros, sob a tica dos Direitos Humanos.
Deve-se considerar que principalmente a liberdade, entendida como autonomia da vontade, limita a
atuao da religio como um todo e especialmente o fundamentalismo religioso.
Tem-se, pois, que os Direitos Humanos funcionam como uma forma de conter o fundamentalismo
religioso, limitando essas prticas fundamentalistas.
O prof. cita o ex. da Frana, que proibiu a utilizao de burcas nas escolas pblicas e reparties
pblicas, por entender que tal degradante para a mulher, violando a sua dignidade.
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4 AULA: 03.06.2013.
DIREITOS HUMANOS E FEDERALIZAO DO PROCESSO E JULGAMENTO NO
BRASIL INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETNCIA IDC:
A partir do momento em que Brasil se insere na ordem internacional de proteo dos direitos
humanos o Brasil tambm se obriga a dar efetividade aos direitos humanos. Como forma de dar
maior efetividade a estes tratados tem se adequado que as causas relativas aos direitos humanos ou
que afetem aos direitos humanos sejam ou possam ser federalizados.
O IDC tambm foi institudo na Constituio a partir da EC 45, e h previso em dois dispositivos
constitucionais:
Art. 109, V-A. as causas relativas a direitos humanos a que se refere o 5 deste artigo;
Art. 109. 5. Nas hipteses de grave violao de direitos humanos, o Procurador-Geral da
Repblica, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigaes decorrentes de tratados
internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poder suscitar, perante o
Superior Tribunal de Justia, em qualquer fase do inqurito ou processo, incidente de
deslocamento de competncia para a Justia Federal.
Foi introduzida pela EC 45 o art. 109, 5:
Temos que fazer uma distino. A justia federal competente originariamente para aplicar tratados
internacionais (art. 109, III, da CRFB/88). No podemos confundir com o inciso V, a, do mesmo
artigo porque as causas fundadas diretamente nos tratados internacionais j pertencem justia
federal. No caso do art. 109, V, a, a causa no fundada diretamente em tratado internacional,
mas envolve direitos humanos. Nesta hiptese, a competncia originria no necessariamente da
justia federal, pelo contrrio, da justia estadual, por exemplo, a pratica de um crime de tortura.
Nesta situao, o que a EC 45 traz com o art. 109, 5 o que chamamos de IDC (incidente de
deslocamento de competncia).
Finalidade do IDC: deslocar, transferir a competncia para investigao, processo e julgamento da
Justia Estadual para a Justia Federal, das causas que envolvam graves violaes aos Direitos
Humanos. Portanto, sua finalidade garantir a efetividade da aplicao dos Tratados de Direitos
Humanos do qual o Brasil seja parte.
Natureza jurdica do IDC: um incidente processual de deslocamento de competncia.
Se temos, por exemplo, uma causa na justia estadual em que aquele processo de alguma forma
possa ser fraudado, objeto de corrupo, de influncias que tornem inefetiva a proteo dos direitos
humanos possvel se suscitar o deslocamento de competncia para a justia federal.
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Assim, o PGR (legitimado) pode suscitar o IDC em qualquer fase do inqurito ou do processo. Pode
ser, portanto, suscitada o IDC em qualquer fase de investigao. O PGR suscita o incidente pedindo
que a competncia seja deslocada da justia estadual para a justia federal. A competncia para
analisar o IDC do STJ e determinar ou no o deslocamento. Se o STJ no determina o
deslocamento a questo mantida no mbito da justia estadual. Se o STJ determina o
deslocamento de competncia ele determina que se transfira o processo ou inqurito para a justia
federal aproveitando-se os atos j praticados anteriormente mesmo porque a justia estadual era
competente originariamente.
Em relao ao IDC, ns temos o que se chama de Ciso Funcional de Competncia no Plano
Vertical, ou seja, dividida a competncia para anlise da questo.
Isso porque a competncia dividida em duas partes. A competncia para analisar o incidente e a
competncia para julgar a causa que envolva grave violao a Direitos Humanos.
No confundir com a ciso funcional de competncia no plano horizontal no controle de
constitucionalidade concentrado.
Temos algumas crticas a este instituto, pois alguns autores asseveram a inconstitucionalidade neste
IDC. A primeira questo relativa ao princpio do juiz natural, pois temos a transferncia de um
processo retirando do juiz natural a causa servindo como um similar juiz ad hoc. O STJ define quem
ser o juiz a julgar a causa (juzo ad hoc). A escolha seria poltica na maioria das vezes. J a
corrente favorvel ao IDC entende que no porque defendem que no se trata de tribunal ad hoc,
constitudo aps o fato para julgar aquele crime anteriormente praticado. J existe rgo
jurisdicional competente para julgar estes crimes. O que existe que competncia decidida
previamente subsidiria, ou seja, ser exercida quando a justia estadual no se mostrar apta para
tanto. A anlise ser jurdica e no poltica. Reforando esta corrente temos o argumento que o
poder judicirio uno e indivisvel, tanto verdade que no art. 92 da CRFB/88 temos os rgos do
poder judicirio e fazem parte do poder judicirio tanto a justia estadual quanto a justia federal.
A doutrina faz uma segunda crtica, a saber: se formos ao art. 109, 5 no veremos quais crimes
tero sua competncia deslocada. A segunda crtica persiste quanto ao princpio da taxatividade,
pois deveria ter sido definido de forma taxativa quais crimes que comportam este IDC. Que
situaes caracterizariam graves violaes a direitos humanos? A CRFB/88 no define.
Caber ao PGR, pois se ele no suscitar o IDC no ocorrer. Depender da discricionariedade do
PGR para termos o IDC. A anlise, portanto, ser restritamente subjetiva. A anlise feita pelo STJ
tambm subjetiva. Esta corrente crtica assevera novamente que esbarra a questo em critrio
polticos. A segunda corrente favorvel assevera que no h violao ao princpio da taxatividade
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porque este princpio j estar definido quando da tipificao do crime. O crime j vem definido
taxativamente na norma penal. O que se faz aqui simplesmente uma anlise se aquele processo e
julgamento por determinado crime caracteriza ou no uma possvel violao grave a direitos
humanos e consequentemente se justifica possvel pedido de deslocamento de competncia. Pedido
este que no absolutamente discricionrio. S poder suscitar o incidente quando houver a
finalidade de se cumprir estas obrigaes decorrentes dos tratados internacionais dos quais os Brasil
seja signatrio, por exemplo, proibir a tortura, neste caso, a finalidade do deslocamento cumprir
de forma efetiva este tratado internacional.
Ateno, pois qualquer pessoa pode levar o assunto ao PGR, mas apenas ele possui legitimidade
para interpor o incidente de deslocamento de competncia. Ento a 1 anlise feita grave violao
de Direitos Humanos feita pelo PGR. H uma anlise de discricionariedade, pois que este no est
obrigado a propor o incidente.
Num 2 momento, quem decide se h ou no grave violao dos Direitos Humanos que justifiquem
a transferncia da competncia da JE para a JF o STJ.
Mantendo-se a competncia para a JE, a mesma prossegue at o fim do processo. Transferindo-se
para a JF, vige o princpio do aproveitamento dos atos processuais, aproveitando-se os atos
anteriores, desde que no haja uma nulidade absoluta.
O IDC tem, portanto, dois pressupostos de admissibilidade:
Grave violao de direitos humanos, mas no basta haver uma suposta violao grave de direitos humanos (no so cumulativos);
Inefetividade da justia estadual no cumprimento de obrigaes decorrentes de tratados de direitos humanos dos quais o Brasil seja signatrio.
A deciso do STJ dobre o IDC irrecorrvel.
TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL:
Hoje o TPI tem previso constitucional e legal.
Art. 5 4 da CF:O Brasil se submete jurisdio de Tribunal Penal Internacional a cuja criao
tenha manifestado adeso. (Includo pela Emenda Constitucional n 45, de 2004)
O Brasil manifestou adeso atravs do Decreto 4388/02. Este foi o ato que introduziu o TPI no
Brasil.
No entanto, antes mesmo da EC 45, j havia previso para que o Brasil buscasse a formao do
Tribunal Internacional de Proteo dos Direitos Humanos. Tal residia no art. 7 do ADCT:
Art. 7. O Brasil propugnar pela formao de um tribunal internacional dos direitos humanos.
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O TPI um rgo que no est submetido jurisdio de qualquer Estado, sendo, portanto, um
rgo internacional independente, autnomo. A partir daqui temos que o TPI no est vinculado
jurisdio de qualquer Estado.
Universalizar a proteo dos direitos humanos instituindo um tribunal que seja independente e
autnomo e no dependa para a sua criao, para processo e julgamento, para definio de sua
competncia, de decises politicas, de acordos entre pases. So aqueles tribunais criados pela ONU
a partir de acordos entre aqueles pases componentes do conselho de segurana para se instaurar um
tribunal casos especficos. O TPI no depender de qualquer manifestao de pas de quando e
como julgar. O TPI no depende de nenhuma autorizao. Isso faz com que o TPI seja dotado de
maior legitimidade porque j um tribunal definido previamente para julgar os casos graves contra
os direitos humanos. O TPI no um tribunal de Nuremberg, pois este sim era um tribunal ad hoc,
sendo criado aps as praticas nazistas para justamente process-las e julg-las.
O TPI j tem competncia previamente definida e dotado de autonomia e composio prvia. No
TPI temos o rgo acusador e o rgo julgador. O TPI respeita, portanto, o prprio princpio do juiz
natural.
Natureza Jurdica do TPI:
uma instituio/rgo internacional independente e autnomo que possui jurisdio de natureza
penal complementar jurisdio dos Estados.
Competncia:
O TPI possui competncia para investigar, processar, julgar e executar a pena em relao a
determinados crimes especficos, que envolvam a violao de Direitos Humanos.
Crimes objetos de jurisdio pelo TPI:
Crime de genocdio envolve homicdio, leso contra grupos de pessoas. Por ex., o crime que Saddam teoricamente cometeu contra os curdos. Tambm na 2 Guerra Mundial dos
nazistas cometidos contra os judeus.
Crimes contra a humanidade por ex., crimes de escravido, tambm cometidos pelos nazistas, estupros contra as vtimas de guerra.
Crimes de guerra aqueles envolvendo armas qumicas e biolgicas. Crimes de agresso por ex., violao soberania dos Estados, invaso de territrio soberano, ataque por grupos mercenrios, bloqueios de acesso a dados Estados ou embargos.
Alguns autores criticam essa previso vaga dos crimes objeto da jurisdio do TPI, afirmando que
tal viola ao princpio da legalidade na sua vertente taxatividade, em matria penal, que exige que as
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condutas criminalizadas sejam definidas de forma taxativa, detalhada, de forma a resguardar ao
individuo da prpria arbitrariedade do Estado na punio quela conduta.
Por outro lado, os defensores do TPI dizem que seria muito difcil para que se obtenha um consenso
no mbito internacional, o que envolve um grande n de pases, estabelecer essas condutas de forma
taxativa.
Com isso h uma facilitao da aceitao e da aplicao das regras estipuladas para o TPI.
Competncia formal:
A competncia formal investigatria. O TPI tem competncia para investigar, e assim pode
conduzir suas prprias investigaes. O TPI tem tambm competncia processual (acusatria),
possuindo, portanto, um rgo no mbito da sua diviso interna prprio para acusar. Tem ainda
competncia jurisdicional (julgar). Tem o rgo julgador separado do rgo acusador. Tem ainda a
competncia executria, competncia esta para executar a pena imposta, pena esta que pode ser
executada nos pases signatrios ou ainda em Aya (sede).
Competncia no aspecto subjetivo:
O TPI, diferentemente da Corte Interamericana de Direitos Humanos, no julga Estado e sim
pessoas. O TPI no reconhece qualquer espcie de imunidade porque o TPI quer evitar impunidade.
Competncia residual e complementar:
A competncia do TPI ainda residual e complementar porque ele julgar aquelas causas quando a
justia dos Estados soberanos no se mostrarem apta e efetiva para julgamento do referido crimes.
O TPI s instaurar o processo se entender que o Estado soberano no esta apto a processar a causa.
Crtica: parte da doutrina critica dizendo que pode haver violao do princpio do ne bis in idem que
veda que o indivduo seja julgado duas vezes pelo mesmo fato e ainda a violao do princpio da
coisa julgada, porque mesmo aps o trnsito em julgado se entender que aquele processo for um
processo inefetivo ainda sim a causa poder ser julgada pelo TPI. Alguns autores entendem que a
introduo do TPI por parte da CRFB/88 seria inconstitucional por violar o princpio do nebis in
idem e da coisa julgada. Aqueles que so favorveis asseveram que no haveria estas violaes
pelas seguintes razes:
O prprio poder constituinte originrio ao qual no podemos opor a coisa julgada j teria previsto a hiptese do Brasil se submeter ao TPI de direitos humanos. Seria uma mitigao autorizada pelo
prprio poder constituinte originrio, que pode faz-lo. Esta mitigao decorre do art. 7 do ADCT.
Este raciocnio servir para outras duas objees porque os crimes definidos pelo TPI so
imprescritveis. O TPI estabelecer a possibilidade de priso perptua. Assim teramos outras
possveis violaes a CRFB/88. Na CRFB/88 s temos dois crimes imprescritveis (art. 5, XLII e
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XLIV). Imprescritveis no Brasil so racismo e ao de grupos armados civis e militares contra a
ordem constitucional e o estado democrtico. Porm nenhum destes crimes de competncia do
TPI e este estabelece outros crimes como imprescritveis. Assim, o individuo pratica o crime de
genocdio no Brasil, e prescreve no Brasil, mas mesmo assim processado pelo TPI porque para ele
imprescritvel. E isso seria inconstitucional. Logo, defendem uma adaptao do TPI CRFB/88
dizendo, por exemplo, que o Brasil s envia o indivduo se o crime no estiver prescrito no Brasil.
Mas isso no pode porque o Estatuto de Roma tem uma clusula que veda qualquer reserva em
relao aos seus dispositivos, ou seja, no se admite ratificao com reservas do TPI. Ou se ratifica
na ntegra ou no se ratifica. Uma vez feita a adeso, esta feita na integra. Novamente o art. 7 do
ADCT serve como porta aberta pelo constituinte originrio, significando que o poder constituinte
originrio teria permitido a adeso a este TPI nos termos definidos no tratado internacional no qual
o Brasil participou do processo de elaborao e voluntariamente prestou a adeso no exerccio da
sua soberania. E assim seria constitucional tambm o estabelecimento da imprescritibilidade destes
crimes, pois tratam-se de gravidade extrema.
Fazemos o mesmo raciocnio em relao objeo de previso perptua pelo Estatuto de Roma
(pena de morte no prev). A priso perptua tambm vedada pela CRFB/88 e os argumentos
trazidos anteriormente tambm servem para esta situao.
Temos outra objeo quanto o inciso LI do art. 5. Neste caso, a doutrina diz que a CRFB/88 veda a extradio de brasileiro nato em qualquer hiptese e naturalizado salvo no caso de crime
cometido antes da naturalizao ou envolvimento com trfico de entorpecentes. Qual a razo da
CRFB vedar a extradio de brasileiro? Em nome da prpria soberania do Estado. Se somos um
Estado soberano temos que julgar os nossos nacionais no podendo entreg-los a outros Estados
porque isso violaria a prpria soberania do nosso Estado. O TPI, como vimos, no admite qualquer
reserva e sendo assim o TPI prev a possibilidade de deteno e entrega de qualquerpessoa
envolvida nos crimes de competncia do TPI sendo que o pas signatrio no pode se recusar a
realizar a chamada entrega (este foi um dos motivos que os EUA no assinou o Estatuto de Roma).
Por que os EUA no assinou? No assinou porque o TPI no reconhece vencedores ou vencidos.
Por exemplo, os tribunais ad hoc s julgavam os acusados dos pases vencidos. O TPI para evitar
esta crtica no reconhece vencedor ou vencido julgando qualquer pas que pratica o crime. Assim,
temos os EUA ocupando o Iraque quando o Estatuto de Roma foi elaborado e por isso no o
reconheceu ao alegar que estaria renunciando sua soberania, mas que eventuais crimes praticados
por seus nacionais seriam apurados internamente.
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No Brasil temos duas correntes sobre a extradio de brasileiro para ser julgado pelo TPI. A
primeira corrente diz que o brasileiro no poder ser enviado para processo e julgamento no TPI em
nome da soberania do Estado. A segunda corrente diz que no podemos confundir extradio com
entrega, pois naquela temos uma relao entre Estados soberanos onde um Estado soberano faz um
pedido de extradio a outro Estado soberano para que determinado indivduo seja extraditado, seja
levado deste Estado soberano onde o individuo se encontra para ser processado e julgado no Estado
soberano requerente. A extradio, portanto, pode ser ativa e passiva, sendo a ativa aquela realizada
pelo Estado requerente e a passiva pelo Estado que envia. O Brasil veda, portanto, a extradio
passiva de brasileiro nato e naturalizado em relao ao ultimo em crime comum praticado antes da
naturalizao ou de comprovado envolvimento com trfico ilcito de entorpecentes. Cabe lembrar
que o STF o competente pra julgar a extradio passiva. A extradio ativa quem julgar ser o
pas requerente. A entrega no seria vedada porque na entrega no teramos relao entre dois
Estados soberanos e sim entre um Estado soberano e um rgo internacional independente,
autnomo, do qual o prprio Estado soberano faz parte, adere voluntariamente em nome da sua
soberania. Assim, a CRFB no veda a entrega de brasileiros. Neste sentido temos um voto da Ex-
Ministra do STF Elen Gracie.
Penas aplicveis pelo TPI:
Como j afirmamos, o TPI julga pessoas e no Estados. Com isso, admitem-se penas restritivas de
liberdade, normalmente, tendo como limite, 30 anos, mas admite-se tambm a priso perptua, o
que gera tambm uma crtica principalmente no que diz respeito sua aplicao no direito
brasileiro.
A CF/88, no art. 5, XLVII, b probe as penas de carter perptuo.
Neste ponto temos duas correntes: 1. Corrente: O Brasil no pode entregar algum ao TPI para
cumprir pena de priso perptua. Ento teria que haver uma restrio ou uma comutao para que
no fosse aplicada a pena de priso perptua, pois a aplicao de tal no Brasil seria inconstitucional.
2. Corrente: Destaca a dificuldade da situao, pelo fato de o TPI possuir jurisdio irrestrita, de
modo que este no estaria condicionado por limites impostos pela Constituio de qualquer Estado.
Tanto assim, dizem os defensores da 2 corrente, que o TPI no admite a chamada adeso com
reservas, devendo a adeso se dar na ntegra. O Brasil o fez, aderiu na ntegra. Afirma-se ainda que
a prpria Constituio, no que diz respeito formao do TPI, deixaria aberto ao Estado a
possibilidade de aderir a determinadas regras mesmo que aparentemente violadoras da Constituio
Federal. Tal se encontra no art. 7 do ADCT, onde temos a manifestao de vontade do constituinte
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originrio. H ainda um 3 argumento, que no sentido de que a vedao priso perptua se
aplica ao Estado Brasileiro, aos processos e julgamentos que se deem no Estado Brasileiro, no
podendo tal restrio ser estendida, ampliada a um rgo internacional independente e autnomo ao
qual o Brasil tenha manifestado adeso.
Procedimento de deteno e entrega:
O TPI depende da cooperao dos Estados na captura e entrega dos indivduos processados pelo
mesmo, at mesmo porque no podem membros ou rgos do TPI violar a soberania dos Estados
para capturar um acusado.
H um pedido do TPI, dirigido aos Estados componentes, onde supe que o acusado esteja, para
que se proceda a captura, deteno e entrega do mesmo ao TPI.
Alguns afirmam que a Constituio Federal veda a extradio de brasileiro nato no art. 5 LI da CF,
logo, o Brasil no poderia enviar ao TPI um brasileiro nato.
Por outro lado, h outra posio que se contrape a tal. preciso que diferencemos Extradio de
Entrega.
O que a Constituio veda a Extradio de Brasileiros Natos e Naturalizados, exceto para crimes
cometidos antes da naturalizao e de trfico, e no a Entrega propriamente dita.