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* Mestrando em Direito e Inovação pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Brasil. E-mail: [email protected]. DIREITOS HUMANOS E O TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL: Breves reflexões. HUMAN RIGHTS AND THE SLAVE LABOR IN BRAZIL: Brief reflections. Bruno Goulart Cunha* Resumo: Este artigo pretende lançar luzes sobre o tema trabalho escravo no país. Se no mundo a atuação empresarial está sob análise, no Brasil crescem as denúncias de utilização de trabalho escravo por empresas, principalmente nos setores têxtil e da construção. A análise destacará como o tema tem sido tratado hoje, de que forma tem se portado governo, empresas, e principalmente, organizações não governamentais, no que tange a esta odiosa forma de violação a direitos humanos. Ao final, um caso específico, que une os três atores, será abordado, que diz respeito à “lista suja” do trabalho escravo. Palavras-chave: Direitos Humanos; Empresas; Organizações Não Governamentais; Trabalho escravo. Abstract: This article aims to shed light on the subject of slave labor in the country. If in the world the use business activities are under review, in Brazil grow allegations about the use of slave labor by companies, especially in the textile and construction sectors. The analysis will highlight how the issue has been dealt with today, how has the government, business, and especially non-governmental organizations, ported with respect to this odious form of violation of human rights. Finally, a specific case which unites the three actors will be covered, as regards the "dirty list" of slave labor. Keywords: Corporates; Human Rights; Non-Governmental Organizations; Slave Labor.

DIREITOS HUMANOS E O TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL: … · exemplo este que, servirá ainda, para demonstrar a complexidade e a atualidade da questão, permeada por avanços e retrocessos,

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* Mestrando em Direito e Inovação pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Bacharel em Direito pela

Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Brasil. E-mail: [email protected].

DIREITOS HUMANOS E O TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL:

Breves reflexões.

HUMAN RIGHTS AND THE SLAVE LABOR IN BRAZIL:

Brief reflections.

Bruno Goulart Cunha*

Resumo: Este artigo pretende lançar luzes sobre o tema trabalho escravo no país. Se no mundo

a atuação empresarial está sob análise, no Brasil crescem as denúncias de utilização de trabalho

escravo por empresas, principalmente nos setores têxtil e da construção. A análise destacará

como o tema tem sido tratado hoje, de que forma tem se portado governo, empresas, e

principalmente, organizações não governamentais, no que tange a esta odiosa forma de violação

a direitos humanos. Ao final, um caso específico, que une os três atores, será abordado, que diz

respeito à “lista suja” do trabalho escravo.

Palavras-chave: Direitos Humanos; Empresas; Organizações Não Governamentais; Trabalho

escravo.

Abstract: This article aims to shed light on the subject of slave labor in the country. If in the

world the use business activities are under review, in Brazil grow allegations about the use of

slave labor by companies, especially in the textile and construction sectors. The analysis will

highlight how the issue has been dealt with today, how has the government, business, and

especially non-governmental organizations, ported with respect to this odious form of violation

of human rights. Finally, a specific case which unites the three actors will be covered, as regards

the "dirty list" of slave labor.

Keywords: Corporates; Human Rights; Non-Governmental Organizations; Slave Labor.

1 – Introdução.

As discussões atuais a respeito do tema Direitos Humanos avançam em diferentes

sentidos, quanto ao caráter universal ou não, quanto às suas diferentes gerações, quanto à

existência ou não de um conteúdo mínimo, e até mesmo a respeito de seu valor ou desvalor,

mas em um deles e, não menos relevante, as discussões tem estado atreladas a outros vocábulos,

quais sejam, empresas ou corporações. Os termos estão na pauta de debates, que já se

consolidam em âmbito internacional, mas ainda se iniciam no âmbito interno.

Desse modo, a seguir será promovida uma breve análise do cenário internacional

no qual estudiosos e organizações internacionais tem se debruçado no estudo da violação de

direitos humanos por empresas, sobretudo a respeito da evolução da discussão a respeito do

tema “Direitos Humanos e Empresas”, estruturada no seio do Conselho de Direitos Humanos

da ONU. Em seguida, o olhar será lançado para o cenário interno, de modo a se avaliar a atuação

empresarial no que diz respeito a utilização de práticas de redução do trabalhador à condição

análoga a de escravo. A intenção é ressaltar que a nível mundial as empresas estão sob análise,

e que a nível local elas também deveriam estar, sobretudo porque, no país, o panorama de

violações a direitos humanos observado mundo afora se repete. O recorte mais específico está

na demonstração de que a atuação da sociedade civil mobilizada, em especial de organizações

não governamentais, tem se mostrado de grande importância para o incremento na proteção do

trabalhador. Um exemplo deste incremento será trabalhado em pormenores, consiste nos

esforços envidados em prol da elaboração e da expansão da “lista suja” do trabalho escravo,

exemplo este que, servirá ainda, para demonstrar a complexidade e a atualidade da questão,

permeada por avanços e retrocessos, um constante caminhar para a frente e para trás.

2 – ONU, Direitos Humanos e Empresas. Do voluntarismo à vinculação?

Em artigo publicado na Revista “The New York Times Magazine”, no dia 13 de

setembro de 1970, o defensor do liberalismo econômico e vencedor do prêmio Nobel de

Economia de 1976, Milton Friedman, externou sua descrença quanto ao conteúdo do conceito

de responsabilidade social da empresa, manifestando-se no sentido que a única e exclusiva

responsabilidade social que a empresa teria, seria a de aumentar seu próprio lucro, respeitando

regras de livre concorrência, sem cometer enganações ou fraudes (FRIEDMAN, 1970, s/p).

Desta concepção de Friedman pode-se dizer polêmica, tanto à época em que foi proferida,

quanto o mais hoje, sobretudo por parecer não levar em conta o papel que as empresas podem

(e devem) desempenhar na promoção e no respeito aos direitos humanos.

Surya Deva, aponta no texto “Guiding Principles on Business and Human Rights:

Implications for Companies”, que nos próprios anos 70 encontra-se a origem longínqua do

processo que deu origem à criação dos “Princípios Orientadores” (DEVA, 2012, p.102), que

polarizam hoje o debate sobre direitos humanos e empresas, tendo em vista que, no ano de

1972, o Conselho Econômico e Social da ONU solicitou ao Secretário-Geral, que promovesse

a criação de um grupo de trabalho responsável por elaborar um estudo a respeito da atuação de

empresas transnacionais no processo de desenvolvimento de países, notadamente no de países

em desenvolvimento.

Ao se traçar a evolução do tema de forma geral, e não ponto-a-ponto, pode-se

afirmar que em sequência, merece destaque o lançamento no ano de 1999, do Pacto Global da

ONU, pelo Secretário-Geral da ONU à época, Kofi Annan, uma “iniciativa planejada para

empresas comprometidas em alinhar suas operações e estratégias com os dez princípios

universalmente aceitos nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e combate à

corrupção” (ONU, 1999), de adesão voluntária. Dentre os idealizadores do Pacto, merece

destaque o professor John Ruggie, que, conforme se demonstrará, será peça-chave na evolução

dos estudos e na condução ao estágio no qual a discussão se encontra hoje. O Pacto e seus dez

princípios tiveram o mérito de incrementar os debates, mas ficaram aquém das expectativas da

sociedade civil, principalmente por ser de adesão voluntária, e por não normas de caráter

sancionatório propriamente ditas, ou de restrições às empresas transnacionais violadoras de

direitos humanos, por nem mesmo tratá-las desta forma.

A Subcomissão da ONU sobre a Promoção e Proteção de Direitos Humanos,

atuando em paralelo à equipe que elaborou o “Pacto”, esteve atenta às expectativas sociais,

prova disso é que, em 2003, aprovou um documento intitulado “Normas da ONU sobre as

Responsabilidades das Empresas Transnacionais e outros Empreendimentos Privados com

relação aos Direitos Humanos” (ONU, 2003), comumente chamado só de “Normas”, fruto do

estudo independente iniciado dentro do órgão no ano de 1997.

Segundo Patricia Feenay as “Normas” estariam calcadas em quatro princípios

(FEENAY,2009, s/p.), que se traduziriam: em obrigações para empresas no que tange a direitos

humanos à nível internacional; em obrigações aplicadas universalmente e com vasta gama de

direitos; na necessidade de proteção dos cidadãos pelos governos contra violações cometidas

por empresas; e em mecanismos que garantiriam o cumprimento das normas a nível nacional e

internacional por parte de empresas. Segundo Surya Deva (DEVA, 2004, p.507) as “Normas”

foram um passo imperfeito mas na direção certa, sendo responsáveis por reavivar a esperança

na criação de um regime internacional juridicamente vinculante de responsabilidade

corporativa por violações dos direitos humanos.

Se por um lado a sociedade civil reagiu de modo positivo às “Normas”, por outro

lado, a reação por parte de Estados e empresas foi diversa: estes se mostraram resistentes quanto

à adoção. Resistência esta que rapidamente se transformou em oposição. Instaurada a

controvérsia, a solução engendrada pela Comissão de Direitos Humanos foi abandonar as

discussões relativas às “Normas”, e no ano de 2005, requisitar ao Secretário Geral da ONU a

indicação de um relator, ou representante especial para questões de direitos humanos e

empresas. Nesta esteira, em 2005, foi nomeado o professor de direitos humanos de Harvard,

John Ruggie, como “Special Representative of the Secretary-General” (SRSG). Ruggie e sua

equipe decidiram que parecia ser melhor não levar a discussão a respeito das “Normas” adiante,

e que mais profícuo seria buscar o consenso entre as partes, o que por sua vez, parecia mais

provável de ocorrer com a construção de algo novo. Em última análise, argumentou-se que as

“Normas”, ainda que adotadas, não poderiam vincular juridicamente as empresas, por não

existirem instrumentos de direitos humanos capazes de impor obrigações em negócios a elas,

conforme apontou Carlos López (LÓPEZ, 2013, p.63).

O Trabalho do representante especial teve como primeiro fruto a apresentação, no

ano de 2008, perante o Conselho de Direitos Humanos da ONU, do Framework “Proteger,

Respeitar e Reparar” que obteve ampla aceitação perante representantes de empresas, estados

e organizações da sociedade civil. O Framework está centrado em três diretrizes ou pilares

(ONU, 2008): aos Estados, incumbe o dever de proteger os direitos humanos; às Empresas resta

a responsabilidade de respeitar direitos humanos; perante o descumprimento por parte de

empresas, devem existir mecanismos eficazes de reparo (remédios) à disposição daqueles que

sejam afetados em seus direitos. À apresentação do Framework se seguiu o entendimento de

que este, no próximo passo, deveria ser operacionalizado, de modo que, em junho de 2008, o

mandato de Ruggie foi renovado por mais três anos.

O representante especial cumpriu a tarefa e apresentou em junho de 2011 para o

Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) os “Princípios

Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos”, aprovados por consenso. São trinta e um

princípios que seguem a lógica apresentada no framework (CONECTAS, 2012), ou seja,

reforçam a ideia de que o Estado tem o dever proteger os direitos humanos, (Princípio de

número 1 ao Princípio de número 10), as Empresas tem a responsabilidade de respeitar os

direitos humanos (Princípio de número 11 ao Princípio de número 24), e que devem ser

promovidos meios de acesso à mecanismos de reparação para vítimas (Princípio de número 25

ao Princípio de número 31). Findo o mandato de Ruggie, o Conselho de Direitos Humanos das

Nacões Unidas criou um grupo de trabalho com a intenção de operacionalizar os “Princípios”,

também com mandato de três anos.

Merece destaque, o desfecho da 26ª sessão do Conselho de Direitos Humanos,

realizada entre os dias 10 e 27 de junho de 2014, em Genebra, na Suíça. Nesta sessão, em que

pesem os votos contrários e as abstenções, foi aprovada resolução, capitaneada por

representantes do Equador e da África do Sul (ONU, 2014, p.2), na qual restou consignada que

deve ser criado um grupo de trabalho intergovernamental com vistas a se elaborar um

documento de caráter vinculante a incidir sobre a atuação de empresas transnacionais no que

tange a direitos humanos (CONECTAS, 2014b). Este se afigura um grande passo rumo à

responsabilização de empresas por violações, mas esta discussão, ainda que tenha “ganhado

corpo”, tem um longo período de intensos debates pela frente. Desse modo é preciso estar atento

à evolução do trabalho do grupo. Este pode ser o momento de transição da voluntariedade à

vinculação.

3 – O trabalho escravo, as empresas e as organizações não governamentais no Brasil.

No capítulo antecedente a intenção foi demonstrar que no contexto internacional

ganha força e torna-se a cada dia mais sólida a discussão a respeito da relação entre atuação

empresarial e direitos humanos. Neste capítulo e nos subcapítulos que seguem, pretende-se

demonstrar que o país não pode se manter inerte ao tema, primeiro porque o “III Fórum Anual

sobre Empresas e Direitos Humanos da ONU”, realizado entre os dias primeiro e terceiro de

dezembro, na cidade de Genebra, na Suíça, reafirmou a necessidade dos estados

confeccionarem seus “Planos Nacionais de Ação” para implementação dos já mencionados,

“Princípios Orientadores” (CONECTAS, 2014a), e , segundo, e mais importante, porque é

preciso incrementar à proteção às vítimas, coibindo o avanço das práticas violadoras à direitos.

Se o ponto de partida foi o da breve análise global, é tempo de se aprofundar no âmbito

interno, seguindo o caminho delineado a seguir. O primeiro subcapítulo estará voltado para a

correlação entre trabalho escravo e empresas no Brasil, de modo que o acento estará no

panorama atual de violações. O segundo subcapítulo voltar-se-á para a análise do papel que a

sociedade civil tem desempenhado em meio ao cenário de violações, procurando-se demonstrar

que, se tem existido avanços, estes são obtidos com a parcela de contribuição de organizações

não governamentais. O terceiro capítulo trará os três termos abordados em conjunto, “trabalho

escravo”, “organizações não governamentais” e “empresas”, unidos pelo estudo da questão

referente à “Lista Suja do Trabalho Escravo”, que se acredita ser exemplo de como se dá a

proteção aos direitos humanos no país: de forma vacilante, marcada por avanços e retrocessos.

Antes contudo, é preciso delimitar o conceito legal de trabalho escravo no Brasil,

ao menos como ele é descrito como crime no Código Penal. Com isso será possível entender

de forma mais nítida o modo pelo qual se dá tanto a proteção quanto a violação. O artigo 149

do mencionado código diz que deve-se punir àqueles responsáveis pela prática de se reduzir o

outro à condição análoga a de escravo, “quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada

exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por

qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto”

(BRASIL, 1940), incorrendo ainda nas penas do artigo quem, com a finalidade de reter o

trabalhador no campo, cerceia o uso de meio de transporte, mantem vigilância ostensivo do

local de trabalho ou apreende documentos ou objetos pessoais do trabalhador.

A jurisprudência dos tribunais superiores amplia as garantias e reforça a proteção,

consagrando que configura-se o cometimento do delito ainda que no caso concreto inexista

violência ou uso de força física (BRASIL, 2014h), e/ou restrição à liberdade de locomoção do

trabalhador (BRASIL, 2014e). Os tribunais entendem ser importante observar se em meio à

relação de trabalho, está à ocorrer o processo de “coisificação” do ser humano. Nestes termos

vê-se que no núcleo do crime estão o trabalho forçado, a jornada exaustiva, a servidão por

dívidas e a exposição do trabalhador a condições degradantes.

Após a introdução ao capítulo, e apresentado o delito de redução de outrem à

condição análoga à de escravo, promover-se-á uma breve análise do panorama brasileiro atual

no que diz respeito à questão.

3.1 – Trabalho Escravo e Empresas no Brasil.

O trabalho escravo no país, ao contrário do que se pode pensar, não é encontrado

com exclusividade no meio rural, em localidades longínquas e de difícil acesso. Antes pelo

contrário, ele também se dá no meio urbano, no coração das grandes cidades brasileiras, por

exemplo, conforme será visto a seguir. Aponta o estudo “Trabalho Escravo no Brasil em

Retrospectiva: Referências para estudos e pesquisas”, elaborado pela Secretaria de Inspeção do

Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego, que no âmbito urbano, dois setores se destacam

de modo negativo em função da escravização: o setor da indústria da construção e o setor da

indústria têxtil (BRASIL, 2012a). No mesmo sentido concluiu a Comissão Parlamentar de

Inquérito do Trabalho Escravo, instituída pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo,

que identificou prioritária a investigação nos dois setores supramencionados (SÃO PAULO,

2014). Nestes termos, será traçada uma breve análise destes setores, com a intenção de tornar

claro o elo que une empresas e escravização.

O Brasil, nos últimos anos, tornou-se o país dos megaeventos, obteve êxito em atrair

a Jornada Mundial da Juventude, a Copa do Mundo de Futebol e os Jogos Olímpicos de Verão

de 2016, e dos megaempreendimentos, como por exemplo a construção da usina de Belo Monte,

no estado do Pará, do Superporto do Açu e da Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA),

ambos no estado do Rio de Janeiro. Em síntese, nos últimos anos, o país colocou “em marcha

o maior pacote de obras públicas da sua história” (ATTUCH, 2008). Alguns programas

adotados pelo governo impressionam pela magnitude, como o “Programa Minha Casa. Minha

Vida”, que nos termos do artigo primeiro da lei 11977/09, tem por finalidade “criar mecanismos

de incentivo à produção e aquisição de novas unidades habitacionais ou requalificação de

imóveis urbanos e produção ou reforma de habitações rurais(...)” (BRASIL, 2009). O programa

tem números grandiosos conforme informou a presidenta Dilma Rousseff através da coluna

semanal “Conversa com a Presidenta”, do dia 27/01/2014: até aquele momento já haviam sido

beneficiadas mais de um milhão e meio de famílias, através de investimentos da ordem de

duzentos bilhões de reais, com meta de se atingir 2,750 milhões de casas contratadas até 2014

(BRASIL, 2014a).

Não é preciso listar de modo exaustivo as obras que tiveram e ainda estão em curso,

para que se consiga visualizar o espantoso crescimento no setor da construção civil. Todavia,

caminharam (e ainda caminham), lado a lado com o “desenvolvimento”, o desrespeito à direitos

e garantias fundamentais. O desrespeito, ou mesmo, a violação a direitos, é cometida tanto por

empresas brasileiras, quanto por empresas transnacionais. Exemplos não faltam, como o

veiculado pela ONG Repórter Brasil, que dá conta de que autoridades governamentais estão

com seus olhos voltados para as obras promovidas pela mineradora britânica Anglo American,

na cidade mineira de Conceição do Mato Dentro. A construção da estrutura de exploração da

mina e daquele que será o maior mineroduto do mundo, responsável por ligar o local de extração

ao Porto de Açu, no estado do Rio de Janeiro, estão envoltas à denúncias e flagrantes de

exposição de trabalhadores à jornadas exaustivas de trabalho com descumprimento de limitação

de jornada máxima semanal, desrespeito ao horário para almoço, terceirização precária,

fornecimento de alimentação de baixa qualidade, com denúncias até mesmo de escravização de

mão de obra imigrante, tendo em vista que foram resgatados trabalhadores haitianos

(WROBLESKI, 2014c).

No mesmo turno, exemplos não faltam de denúncias de utilização de trabalho

escravo por parte de empresas ligadas ao “Programa Minha Casa. Minha Vida”. Conforme

aponta a ONG Repórter Brasil, até mesmo a maior construtora do programa foi alvo de

autuações (REPÓRTER BRASIL, 2012b).

A situação é preocupante, tanto que à data de primeiro de março de 2012 foi firmado

o “Compromisso Nacional para Aperfeiçoar as Condições de Trabalho na Indústria da

Construção”, sob coordenação da Secretaria-Geral da Presidência da República em conjunto

com as entidades representativas de empresários e empregados do setor da construção

(BRASIL, 2012b). A intenção não foi outra senão a de se buscar melhorias para trabalhadores

em canteiros de obras. A preocupação governamental justifica-se pelos dados apresentados

pelo Ministério do Trabalho e Emprego referentes aos seis primeiros meses do ano de 2014

(BRASIL, 2014c), e pelos dados referentes ao ano de 2013 (BRASIL, 2014b), segundo os quais

o ramo da construção civil e pesada tem sido o principal local de resgate de trabalhadores

reduzidos à condição análoga de escravo pela Divisão de Fiscalização para Erradicação do

Trabalho Escravo (Detrae), da Secretaria de Inspeção do Trabalho do Ministério do Trabalho e

Emprego (SIT/MTE). Dados publicados pela Comissão Pastoral da Terra dão conta inclusive

que os resgates de trabalhadores pela primeira vez foram maiores no meio urbano do que no

meio rural, e com maior frequência na região Sudeste do país, ultrapassando quantitativamente

a região Norte, até então a líder em número de resgates (CPT, 2014).

Como dito, no que diz respeito a trabalho escravo no meio urbano, não só o setor

da construção encontra-se em meio a denúncias, de modo que também tem merecido destaque

negativo o setor têxtil. Grandes marcas e grandes empresas deste ramo tem sido alvo de

denúncias e flagrantes, conforme noticia a ONG Repórter Brasil no “Especial: flagrantes de

trabalho escravo na indústria têxtil no Brasil”. Neste âmbito, um fator torna ainda mais sensível

a questão: a escravização de imigrantes, notadamente de países da América do Sul, como

Bolívia e Peru (REPÓRTER BRASIL, 2012a). Esta aliás foi uma das conclusões a que chegou

a CPI paulista do Trabalho Escravo:

“De acordo com os registros do MTE, do MPT e da Defensoria Pública,

quase todos os casos envolvendo trabalho escravo no setor têxtil em São

Paulo nos últimos anos têm como vítimas imigrantes de países vizinhos,

principalmente Bolívia, que buscam o Brasil como alternativa para

fugir da miséria e tentativa de construir uma vida melhor” (SÃO

PAULO, 2014, p.2).

A questão é complexa. Conforme já perceberam as entidades mobilizadas, não é

fácil identificar o infrator e a infração. As grandes empresas refinam o processo de escravização

do trabalhador mediante contratações, subcontratações, intermediários, fornecedores escusos,

que funcionam como véus a encobrir a forma verdadeira pela qual funcionam as engrenagens

da cadeia produtiva. A obscuridade na cadeia produtiva torna ainda mais silencioso o

cometimento do delito. E neste ínterim empresas e até órgãos públicos podem estar a se valerem

de trabalho escravo sem saber, tal qual se passou no caso dos coletes dos funcionários do censo

de 2010 do IBGE. A empresa vencedora da licitação para confecção dos coletes, segundo

noticiou a ONG Repórter Brasil, fez o que tem-se mostrado comum no setor têxtil: o repasse

da produção. A produção é seguidamente repassada a outros responsáveis, até que o trabalho

seja efetivamente realizado mediante baixíssima remuneração e sob condições degradantes

(PYL, HASHIZUME, 2010).

A terceirização, enquanto ferramenta empresarial para o repasse de atividades a

terceiros, tem sido levado ao extremo em alguns casos no país, transformando o que

suspostamente era um ganho em eficiência, em verdadeira forma de precarização do trabalho,

a ensejar a violação de direitos dos trabalhadores. Os temas mencionados acima, trabalho

escravo e terceirização, caminham lado a lado, como afirma o auditor fiscal do trabalho Dr.

Vitor Araújo Filgueiras:

“Dos 10 maiores resgates de trabalhadores em condições análogas à de

escravos no Brasil em cada um dos últimos quatro anos (2010 a 2013),

em 90% dos flagrantes os trabalhadores vitimados eram terceirizados,

conforme dados obtidos a partir do total de ações do Departamento de

Erradicação do Trabalho Escravo (Detrae) do Ministério do Trabalho e

Emprego” (FILGUEIRAS, 2014).

Nestes termos, vê-se que é necessário punir o responsável imediato pela prática

delituosa, mas que esta medida é paliativa e promove um ganho que se mostra efêmero. Se se

quer obter resultados mais efetivos e duradouros é preciso subir na cadeia de produção.

Conforme se verá mais à frente, a “lista suja” do trabalho escravo, mostrou-se eficaz sobretudo

porque expos o nome de empregadores violadores, o nome de quem realmente se beneficiava

da atividade criminosa.

Neste breve excurso a intenção foi demonstrar a ligação entre a escravização e

empresas, que tem se dado em setores como o têxtil e o da construção. No próximo tópico

procurar-se-á demonstrar que a sociedade não ficou inerte perante a questão, que dela surgiram

iniciativas vitais para que o tema seja levado a sério no país.

3.2 – Trabalho Escravo e as organizações não governamentais no Brasil.

A escravização do trabalhador afigura-se um delito silencioso. Na verdade, o

silencio é imposto, sobretudo por ameaças e pela violência. Nestes ínterim, nem mesmo

autoridades estatais são poupadas, tal qual se passou no episódio conhecido por “Chacina de

Unaí”, no qual três auditores do trabalho e um motorista foram assassinados quando faziam

uma operação de fiscalização na cidade mineira que dá nome à chacina (WROBLESKI, 2014b).

Nesse cenário árido merece destaque o papel desempenhado por entidades da sociedade civil,

sobretudo por organizações não governamentais. Elas tem sido responsáveis por dar voz às

vítimas.

A origem próxima do cenário atual pode ser encontrada na denúncia pública da

existência de escravização no meio rural promovida por D.Pedro Casaldáliga, Bispo Emérito

da Prelazia de São Félix do Araguaia, no ano de 1971, uma das primeiras de que se tem notícia

(BRASIL, 2012a, p.03). Após esta primeira denúncia, nasce no ano de 1975 a primeira

organização não governamental voltada para os conflitos no campo, a Comissão Pastoral da

Terra-CPT, vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB (BRASIL, 2012a,

p.03).

Há que se destacar que o estado brasileiro já havia se comprometido a garantir a

proteção do trabalhador, muitos anos antes da criação da Comissão Pastoral da Terra. Prova

disso é que havia ratificado em 1957, a Convenção nº 29, sobre Trabalho Forçado ou

Obrigatório, e em 1965, a Convenção nº 105, sobre Abolição do Trabalho Forçado, ambas da

Organização Internacional do Trabalho - OIT. Contudo, em que pesem estes compromissos, a

questão restou ignorada por um longo período de tempo por parte das autoridades estatais. Não

há exagero em se afirmar que a inércia estatal somente foi rompida com a atuação de

organizações da sociedade civil. No ano de 1992, por exemplo, o padre Ricardo Rezende, da

Comissão Pastoral da Terra, conseguiu fazer com que parlamentares visitassem a localidade de

Rio Maria no estado do Maranhão, a fim de que presenciassem a dura realidade de trabalho na

região, que à época estava de luto em razão do assassinato do ex-presidente da associação local

de trabalhadores rurais (BRASIL, 2011b, p.57). No mesmo ano a CPT levou a questão ao

exterior, através do pronunciamento no plenário da Subcomissão de Direitos Humanos da

Organização das Nações Unidas – ONU, em Genebra, a convite da Federação Internacional dos

Direitos Humanos (BRASIL, 2012a, p.05).

Também na década de noventa, precisamente no ano de 1994, duas organizações

não governamentais, Américas Watch e Centro pela Justiça e o Direito Internacional-CEJIL,

deram início ao processo no qual o estado brasileiro viu-se compelido à responder perante a

Comissão Interamericana de Direitos Humanos-CIDH pela violação a dispositivos referentes à

proteção a direitos humanos. E mais, foi devido a essa ação que, pela primeira vez, o país

reconheceu publicamente a existência de trabalho escravo em seu território (BRASIL, 2011b,

p.28). O caso, que na Corte recebeu o número 11289, é comumente denominado “Zé Pereira”,

em menção ao nome da vítima. Escravizado ainda adolescente em uma fazenda do sul do estado

do Pará, José Pereira Ferreira tentou fugir e foi alvo de uma emboscada orquestrada por

funcionários da propriedade, a qual conseguiu sobreviver de forma milagrosa, porque os

funcionários acreditavam tê-lo matado (CIDH, 2003). A mesma sorte não teve seu companheiro

de fuga.

As peticionárias expuseram à CIDH o panorama de leniência e cumplicidade das

autoridades estatais a nível local e regional para com os responsáveis pelo delito. Em síntese, o

desfecho positivo no ano de 2003, quando o estado reconheceu sua responsabilidade ao assinar

um acordo de solução amistosa, foi possível graças à coragem da vítima, à atuação das

organizações não governamentais e à via que estas escolheram para o trato da questão, a via

internacional, que expôs o país de forma negativa no cenário internacional.

Até este ponto já é possível perceber que o país deve muito às entidades da

sociedade civil quando o assunto diz respeito a combate ao trabalho escravo. A elas são devidas

as primeiras denúncias públicas (modernas), quer seja em âmbito nacional ou internacional. A

despeito das já mencionadas, merece destaque a atuação da ONG Repórter Brasil, que tem se

notabilizado pela atuação especializada no tema. Ela foi criada no ano de 2001, por jornalistas,

cientistas sociais e educadores, e tem atuado em diversas frentes, em parceria com outras

organizações não governamentais, com órgãos e entidades públicas e com organizações

internacionais. Promove denúncias, propõe iniciativas, publica estudos, estatísticas, artigos e

cartilhas, como a “Escravo nem pensar” (REPÓRTER BRASIL, 2009), cria inclusive

ferramentas e aplicativos para dispositivos móveis, como o aplicativo “Moda Livre”

(REPÓRTER BRASIL, 2013a), que traz informações ao consumidor sobre empresas do setor

têxtil que foram denunciadas por irregularidades na sua cadeia produtiva. Todo o esforço, e

todo o trabalho, com a intenção de não deixar que reste silenciosa a exploração do trabalhador.

Dentre os inúmeros projetos com os quais a ONG Repórter Brasil encontra-se

engajada, um deles será destacado e abordado de forma detalhada a seguir, sobretudo pela sua

relevância, pela atualidade e pelo risco que a iniciativa corre de perecer. Ela trouxe inestimáveis

ganhos, e colocou o país como modelo perante a comunidade internacional, contudo é alvo de

ação direta de inconstitucionalidade e encontra-se no centro da discussão que envolve trabalho

escravo, empresas (também pessoas físicas) e direitos humanos. O próximo tópico será a

respeito da “Lista Suja” do Trabalho Escravo no Brasil.

4 – A Lista Suja do Trabalho Escravo no Brasil.

A “Lista Suja” do Trabalho Escravo decorre de uma ideia simples mas ao mesmo

tempo poderosa. Trata-se de um cadastro de empregadores, tanto pessoas físicas, quanto

jurídicas, flagrados na prática de redução do trabalhador à condição análoga a de escravo. A

origem está na Portaria nº 1.234, de 17 de novembro de 2003, do Ministério do Trabalho e

Emprego, posteriormente revogada pela Portaria nº 540, de 15 de outubro de 2004, do mesmo

ministério. Esta portaria, encontra-se igualmente revogada, desta vez pela Portaria

Interministerial nº. 2, de 12 de maio de 2011 da lavra do Ministério do Trabalho e Emprego e

da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, que ampara e disciplina a

matéria hoje. Na verdade, vive-se situação atípica tendo em vista que, a portaria nº. 2/2011

encontra-se com sua eficácia suspensa por força da liminar concedida pelo presidente do

Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, à data de 27/10/2014, no bojo da

Ação Direta de Inconstitucionalidade de número 5209/DF, ajuizada pela Associação Brasileira

de Incorporadoras Imobiliárias, ABRAINC. Nestes termos o cadastro não está disponível para

acesso enquanto perdurar a decisão (BRASIL, 2014g).

Como visto, a constitucionalidade da “Lista” está sob análise. A profundidade da

questão somente pode ser compreendida se se analisa o modo de funcionamento do cadastro,

os motivos que levaram à sua criação, e os desdobramentos que se tornaram possíveis graças à

participação da sociedade civil. As regras que disciplinam o modo de funcionamento do

cadastro encontram-se na já mencionada portaria interministerial nº. 2/2011 (BRASIL, 2011a).

Lá é possível observar que a lista deve ser atualizada de modo semestral pelo MTE (em virtude

de decisão judicial ele não foi atualizado, nem mesmo está disponível para consulta). A inclusão

do nome no cadastro tem início com o auto de infração e se dá mediante decisão final em

processo administrativo, no qual se garante o contraditório e a ampla defesa. A exclusão, por

outro lado, se dá por meio do monitoramento do infrator pelo prazo de dois anos, a contar da

data da inclusão, que constate não haver reincidência na prática da escravização. Inclusão,

permanência e exclusão do nome no cadastro, ocorrem sem que exista a expedição de qualquer

certidão pelo poder público.

Apresentada a definição, a portaria na qual a matéria está regulamentada, e as

regras de funcionamento, cumpre analisar a intenção por trás da criação da “Lista”. A intenção

mediata foi lançar luzes sobre a escravização de trabalhadores, que reitera-se é prática criminosa

violadora de direitos humanos que se mantem na sombra e em silêncio. A intenção imediata foi

a de se procurar restringir o acesso dos infratores a linhas de crédito e financiamentos públicos,

de se sinalizar ao mercado que aquele particular ou empresa não é um parceiro honesto para

negócios, de se mostrar que as leis da concorrência empresarial encontram-se prejudicadas

porque alguém reduz seus custos de produção mediante práticas ilegais, e de se expor à

sociedade que há algo de errado na cadeia de produção do bem que lhe é colocado a consumo.

Os desdobramentos da “Lista” revelam que ela é, na verdade, exemplo de como a

atuação de organizações não governamentais, é vital para a promoção da dignidade humana,

para a proteção ao trabalhador contra a escravização, para a maior vigilância da atuação

empresarial e das relações empregatícias. Não há como expor os acontecimentos subsequentes

à sua criação sem fazer menção a entidades como a ONG Repórter Brasil, que contribuíram

diretamente para que a iniciativa governamental apresentasse resultados para além dos

esperados, responsáveis por tornar o país referência global no que diz respeito a engajamento

em prol da erradicação. Esta organização atuou na divulgação da primeira “lista”, criada pelo

Ministério do Trabalho e Emprego em 2003, até a última atualização, no ano de 2014. Não só

divulgou, como facilitou o acesso ao cadastro de infratores, tanto que, no ano de 2005, ao lado

da Organização Internacional do Trabalho e do Instituto Ethos, atuou na criação de um sistema

de consulta ao cadastro ainda mais completo e refinado, disponível não só português, como

também em francês, inglês e alemão.

A Repórter Brasil divulgou, facilitou o acesso e investigou as ligações comerciais

de alguns dos nomes presentes na lista (REPÓRTER BRASIL, 2006). A organização, ao lado

da OIT, no ano de 2004, atendeu ao pedido da Secretaria Especial dos Direitos Humanos

(SEDH) e investigou o modo pelo qual atuavam propriedades rurais que figuravam no cadastro

de infratores à época. A intenção por traz da iniciativa foi traçar o mapa da cadeia produtiva,

da origem remota do produto até a etapa final no varejo ou na exportação. O estudo serviu de

base para informar não só a sociedade, mas também industrias, empresas, exportadores e

importadores, a respeito de irregularidades que estas desconheciam na cadeia de produção de

seus bens.

De posse do estudo, as suas responsáveis, somadas ao Instituto Ethos, deram início

a uma nova empreitada: estreitar os laços para com o setor empresarial, com vistas a conseguir

conscientizar a este a não negociar com fornecedores que se utilizavam de mão de obra escrava.

Desse diálogo foi concebido o “Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo” no ano

de 2005, que já conta com 220 signatários, que somados representam aproximadamente 20%

do produto interno bruto brasileiro (PACTO, 2005). O Pacto teve o mérito de despertar nas

empresas a responsabilidade pela questão. Na verdade, fez mais, transformou-se em ferramenta

para elas, tendo em vista que também ganham direta e indiretamente com a transparência e com

os indicadores positivos que o pacto gera. O Pacto transformou-se inclusive em política pública

através do “2º Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo”.

Esta junção entre governo e entidades não governamentais, que procurou atrair

também a participação do setor privado, colocou o país como referência no combate ao trabalho

escravo. Despertou a atenção da Organização Internacional do Trabalho-OIT, como pode ser

visto no estudo “Fighting Forced Labour: The Example of Brazil”, publicado em 2009, e

despertou também a atenção da Organização das Nações Unidas-ONU, que através de sua

Comissão de Direitos Humanos, enviou ao país no ano de 2010, a relatora especial Gulnara

Shahinian, para conduzir a primeira visita de inspeção do órgão sobre tema no território

nacional (ONU, 2010a). A conclusão inicial do relatório exaltou os esforços empreendidos

pelos país:

“The Special Rapporteur commends Brazil for recognizing that slave labour

exists and for the exemplary programmes and policies that the Government

has put in place to combat it. The Government should therefore share its

examples with other countries beyond Latin America” (ONU, 2010b, p.17).

Apontou a importância da “lista suja”, como se pode ver abaixo, inclusive por

ela servir de base ao “Pacto”:

“The Special Rapporteur believes that this is an effective tool for combating

slave labour. Its success is highlighted by the fact that a significant number of

companies, such as Walmart and Carrefour, have already signed the National

Pact by which they commit to end all business relations, direct or indirect, that

they may have with farms on the list” (ONU, 2010b, p.09).

No Relatório consta ainda que: “The “dirty list” should be strengthened by

incorporating it into law. Additionally, it should be extended to other sectors, such as the garment

industry” (ONU, 2010b, p.18). Ou seja, recomendou-se que à lista deveria ser dado amparo legal,

e que ela deveria ser expandida, de modo a cobrir também outros setores, tais como o setor

têxtil, que à data apresentava crescimento no que tange a denúncias, autuações e resgates. A

primeira consideração é a de que a lei não foi criada. A segunda é que, de fato representantes

de outros setores passaram a figurar no cadastro de infratores, com destaque para dois: empresas

da construção civil e do mencionado, setor têxtil. Matérias da Repórter Brasil a respeito das

atualizações da “lista”, como o “Especial: 10 anos da ‘lista suja’ do trabalho escravo”

(REPÓRTER BRASIL, 2013b), e “Cresce número de casos de trabalho escravo urbano na ‘lista

suja’” (WROBLESKI, 2014a), evidenciam esta realidade. O correr dos anos demonstrou que o

relatório realçou dois pontos que hoje estão de certa forma envolvidos com o risco que corre a

“lista suja”. A abertura para outros setores, notadamente o da construção, fez com que

aumentasse a pressão dos violadores por sobre a “lista”. Nestes termos a Associação Brasileira

de Incorporadoras Imobiliárias, ABRAINC acionou o Supremo Tribunal Federal questionando

a constitucionalidade da portaria que hoje fundamenta o cadastro (ADIN 5209/DF). A partir de

então, todo o processo que culminou na suspensão liminar dos efeitos da Portaria

Interministerial MTE/SDH nº 2/2011, transcorreu rapidamente: a ação foi impetrada no dia

22/12/2014 e a medida liminar foi concedida pelo presidente da Corte logo no dia 27/12/2014

(BRASIL, 2014g).

No centro da fundamentação encontra-se a ausência de positivação da “lista

suja” em lei, ponto frágil que a relatora especial da ONU já destacava. Em que pese a ausência

de lei sobre o assunto, tem-se que a concessão da medida liminar provocou certa perplexidade

porque no mesmo mês de dezembro de 2014, a “Lista Suja” foi premiada no Concurso de Boas

Práticas da Controladoria Geral da União na categoria “Promoção da Transparência Ativa e/ou

Passiva” (BRASIL, 2014d). Perplexidade também porque a ADI 5209/DF não trouxe à

apreciação do Supremo um tema novo, na verdade ela tem o mesmo teor de pedidos da ADI

5115/DF, impetrada pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA à

data de 24/04/2014, que tramita, desde então sem produzir qualquer efeito de suspensão liminar

(BRASIL, 2014f).

A suspensão dos efeitos da portaria que disciplina o cadastro de infratores

obstaculiza o acesso à informação, e desse modo torna menos eficaz as ações do governo. Ela

deixa às cegas a sociedade e também as empresas. Apresenta reflexos em outras iniciativas

como o “Pacto Nacional Pela Erradicação do Trabalho Escravo”, que tem a “lista” como base.

BNDES e Caixa Econômica Federal já afirmaram que, após a decisão do STF, passaram a não

mais chegar a “lista suja” no processo de concessão de empréstimos públicos a empresas

(MAGALHÃES, 2015). É retrocesso na proteção a direitos humanos e na proteção ao

trabalhador. Hoje, a manutenção da “lista suja” é um dos grandes desafios para entidades não

governamentais que tanto fizeram para que ela fosse divulgada, estudada e ampliada para outras

iniciativas que, somadas, levaram o país a se tornar modelo no combate ao trabalho escravo no

mundo. No que tange à matéria, os avanços e retrocessos, fazem valer a máxima de Bobbio

quando este diz que “O problema fundamental em relação aos direitos do homem, hoje, não é

tanto o de justificá-los, mas o de protegê-los” (BOBBIO, 2004, p. 23).

5 – Conclusão.

O presente trabalho procurou lançar luzes sobre a questão que congrega

empresas, organizações não governamentais e direitos humanos. O recorte esteve centrado na

questão do trabalho escravo e nas feições que a questão possui na atualidade. Primeiro

procurou-se demonstrar que no cenário internacional a atuação empresarial encontra-se sob

análise, em discussão que avança hoje especialmente no seio da Organização das Nações

Unidas. Procurou-se demonstrar através do eixo “trabalho escravo-empresas”, que o país não

tem motivos para se manter alienado à discussão, tendo em mente que setores empresariais,

como o têxtil e o da construção civil, tem se destacado por serem alvo de denúncias e autuações,

como locais de resgates a trabalhadores escravizados.

Se setores empresariais encontram-se em meio a denúncias, o próximo passo foi

o de se aprofundar no tema específico do trabalho escravo no país. Argumentou-se que não se

pode adentrar no tema sem se destacar a atuação de organizações não governamentais, atuação

que foi e continua a ser vital para que a questão seja “levada à sério” pelo estado. A junção

governo e organizações não governamentais, foi essencial para que o Brasil se tornasse

referência no combate a esta forma odiosa de exploração do trabalhador.

Em seguida, foi trabalhada a questão da “lista suja” do trabalho escravo, como elo

entre governo, organizações não governamentais e empresas. O governo foi o responsável pela

sua criação e manutenção. As organizações não governamentais atuaram em prol da divulgação,

da facilitação ao acesso e consulta, da promoção e publicação de estudos e da ampliação dos

limites da iniciativa governamental. As empresas, por seu turno, foram atingidas pela “lista”

de duas formas diretamente relacionadas com o modo pelo qual atuam: se atuam de modo

positivo, com respeito aos direitos humanos, viram nela uma ferramenta, um referencial para

não estabelecerem relações comerciais com violadores; se, de outro modo, atuam em

desrespeito à direitos humanos por se valerem de trabalho escravo, enxergaram-na de modo

negativo, tanto em razão da inserção quanto pelo temor de poder virem a ser inseridas na “lista”.

Como visto a “lista suja” está em perigo no momento, em virtude da suspensão

dos efeitos da portaria na qual está regulamentada. O deferimento da liminar enfraquece o

combate ao trabalho escravo. A confirmação desta decisão, através da declaração da

inconstitucionalidade da portaria, pode enfraquece-lo ainda mais. É preciso que a análise da

questão dê ao tema o acento necessário. Como visto a questão é complexa, a “lista suja” é mais

do que é possível ler na portaria. Ela é fruto do incansável trabalho de organizações não

governamentais que já há muitas décadas trabalham pela defesa das vítimas. Ela significa que

o país está em consonância com o contexto internacional e que ele é modelo no que tange ao

combate ao trabalho escravo, significa ainda, que o Brasil está preocupado com a atuação

empresarial e com as relações empregatícias. Por fim ela representa ferramenta para empresas

que pretendem manter relações comerciais sérias.

Em síntese, a proteção a direitos humanos no que diz respeito a trabalho escravo,

passa pela promoção da “lista suja”.

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