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DIÁRIO DE VIAGEM AO PARAGUAI DO LADO DE LÁ DA JANELA, POSSO VER O PARAGUAI Máxima Graziella Ortolan Schmidt1 RESUMO Este trabalho apresenta algumas experiências vivenciadas em estudos realizados por mim na cidade de Assuncion- Paraguay no ano de 2007, quando em um período de dois anos tive a chance de realizar por quatro meses estudos na capital. Onde pela orientação do professor Aristides Escobar, tive a oportunidade de realizar um trabalho antropológico sobre a vida da população de Assuncion-Paraguay. Destaco alguns elementos que considero importantes e necessários para a compreensão da vida do povo paraguaio neste diário, mostro um pouco dos aspectos referentes à educação e ao trabalho do povo da cidade de Assuncion - Paraguay, seus valores e formação, sobre a minha perspectiva de educadora e estudante. Aqui anseio demonstrar como foi meu olhar sobre esse povo que na sua simplicidade é rico em cultura em sentimentos e em valorização de sua tradição e seus costumes. Palavras-chave: Trabalho. Povo Paraguaio. Valores. Formação. ABSTRACT This work presents some experiences experienced in studies conducted by me in the town of Assuncion-Paraguay in the year 2007, when over a period of two years I had the chance to perform for four months studies in the capital. Where by Prof. Aristides Escobar, I had the opportunity to conduct an anthropological work about the life of the population of Assuncion-Paraguay. I highlight some elements which I consider important and necessary for the understanding of the life of the Paraguayan people in this journal, show some of the aspects related to education and to the work of the people of the city of Assuncion-Paraguay, their values and training, about my perspective of teacher and student. Here I long to demonstrate how was my look on these people that in its simplicity is Rico on sentiments and culture in appreciation of their tradition and customs. Keywords: Work. Paraguayan People. Values. Formation. 1 Professora- Escola Estadual Angelina Franciscon Mazutti Escola Municipal Germano Lazaretti- Campos de Júlio- MT. Especialização em Metodologia e Didática para Educação Básica Numa Visão Interdisciplinar- Especialização em Educação Infantil Séries Iniciais Alfabetização e Letramento- Especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional e Educação Inclusiva. E-mail: [email protected].

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DIÁRIO DE VIAGEM AO PARAGUAI

DO LADO DE LÁ DA JANELA, POSSO VER O PARAGUAI

Máxima Graziella Ortolan Schmidt1

RESUMO

Este trabalho apresenta algumas experiências vivenciadas em estudos realizados por mim na cidade de Assuncion- Paraguay no ano de 2007, quando em um período de dois anos tive a chance de realizar por quatro meses estudos na capital. Onde pela orientação do professor Aristides Escobar, tive a oportunidade de realizar um trabalho antropológico sobre a vida da população de Assuncion-Paraguay. Destaco alguns elementos que considero importantes e necessários para a compreensão da vida do povo paraguaio neste diário, mostro um pouco dos aspectos referentes à educação e ao trabalho do povo da cidade de Assuncion - Paraguay, seus valores e formação, sobre a minha perspectiva de educadora e estudante. Aqui anseio demonstrar como foi meu olhar sobre esse povo que na sua simplicidade é rico em cultura em sentimentos e em valorização de sua tradição e seus costumes.

Palavras-chave: Trabalho. Povo Paraguaio. Valores. Formação.

ABSTRACT

This work presents some experiences experienced in studies conducted by me in the town of Assuncion-Paraguay in the year 2007, when over a period of two years I had the chance to perform for four months studies in the capital. Where by Prof. Aristides Escobar, I had the opportunity to conduct an anthropological work about the life of the population of Assuncion-Paraguay. I highlight some elements which I consider important and necessary for the understanding of the life of the Paraguayan people in this journal, show some of the aspects related to education and to the work of the people of the city of Assuncion-Paraguay, their values and training, about my perspective of teacher and student. Here I long to demonstrate how was my look on these people that in its simplicity is Rico on sentiments and culture in appreciation of their tradition and customs.

Keywords: Work. Paraguayan People. Values. Formation.

1 Professora- Escola Estadual Angelina Franciscon Mazutti – Escola Municipal Germano Lazaretti- Campos de Júlio-

MT. Especialização em Metodologia e Didática para Educação Básica Numa Visão Interdisciplinar- Especialização em

Educação Infantil Séries Iniciais Alfabetização e Letramento- Especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional

e Educação Inclusiva. E-mail: [email protected].

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1. DO LADO DE LÁ DA JANELA, POSSO VER O PARAGUAI

Nunca é tarde para conhecermos o novo! Vivemos em um mundo que

consideramos Globalizado, de repente sou despertada para algo que está

localizado ao lado de meu país Brasil, que em meu vão conhecimento pensava

não ter nada de interessante a ser vivido, qual foi minha surpresa ao descobrir

algo do outro lado da “janela” o “PARAGUAY”. O mais importante e a primeira

coisa que descobri, que o país não se resume a Cidad Del Leste. O Paraguai é

diversidade, é cultura é principalmente um povo lindo que contribui para a

pluralidade cultura da América Latina.

Meu diário de viagem, gostaria de iniciar pelo percurso percorrido de

Cidad Del Leste – Assuncion no qual tive a oportunidade de observar o

desenvolvimento agrícola da região através do plantio da soja. Neste percurso,

pude perceber que o Paraguai é um país, que apesar de ser considerado como

subdesenvolvido, seu povo luta em prol de uma vida melhor.

Como professora de Ensino Fundamental gostaria de salientar que não

existe no Brasil a preocupação em se ensinar a realidade dos países que nos

cerca, como no caso, o Paraguai, nosso vizinho, país da América Latina que

faz parte do Mercosul, e que tem muito a contribuir, pois sua realidade é

semelhante em muitos aspectos a do Brasil. No entanto, achamos mais

importante mostrar a realidade da Europa e Estados Unidos, do que ensinar

sobre a realidade que nos cerca.

1.1. O Paraguai

A República do Paraguai tem fronteiras com Bolívia, Brasil e argentina

ocupando uma superfície de 400.000 quilômetros quadrados. A capital

Assunção (com perto de 500.000 habitantes), localiza-se a beira do Rio

Paraguai, que divide o país em duas regiões: a Região Oriental e o Charco

Boreal também conhecida como Região Ocidental.

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Sem dúvida nenhuma, o Rio Paraguai o terceiro mais extenso da

América e que divide o país em duas zonas muito diferenciadas, o centro de

todo o ecossistema. Ao oeste do Chaco (o outro rio de importância do país),

localiza-se uma extensa zona árida ocupando mais da metade do território do

país. Pelo contrário, no leste onde se concentra a maior parte da população as

terras são férteis, inclusive em determinadas áreas podem ser vistos bosques

de tipo subtropical, corretamente no curso do Rio Paraná, que marca a fronteira

com Brasil e Argentina. A fauna do Paraguai é muito diversa e rica, abundante

em mamíferos (destacando onças e antas), répteis (como a cobra constritor) e

aves.

1.2. Primeiros Habitantes

Antes do descobrimento da América o Paraguai estava habitado pelos

índios Guaranis, que povoaram certas zonas dos Andes e as margens do rio

Amazonas. Os meios de vida eram a caça, a pesca e a lavoura para conseguir

alguns alimentos. Quando chegaram os espanhóis em 1524 ficou fundada a

cidade de Assunção e transformou-se no centro do poder hispânico no sudeste

de América do Sul.

1.3. A Época Colonial

Durante o século XVII grande parte da população guaraní fugiu para os

bosques não ficando sobre o domínio dos espanhóis, embora os jesuítas

convencessem muitos para que ficassem nas missões.

Ali 150.000 índios construíram as suas moradas, trabalhando a terra,

fazendo artesanato e instrumentos musicais tradicionais. Mesmo assim, ficou

proibida a troca de dinheiro dentro do território de caráter religioso.

Com o tempo as organizações do norte foram prosperando, situação

que não agradou aos coronéis. Tanto o poder econômico quanto o religioso

ameaçaram a sua autoridade e a situação tomou outro sentido. As

comunidades foram saqueadas e alguns índios voltaram de novo para a selva.

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1.4. A Independência

Em 1811, Paraguai declarou-se independente. Os primeiros ditadores

do Paraguai tentaram tirar o país do subdesenvolvimento evitando a ajuda do

estrangeiro. Durante um tempo foi considerado um dos países com mais índice

de analfabetismo de América Latina e avançava a passos gigantescos no setor

econômico. Por não ter o Paraguai acesso ao mar, as suas exportações

dependiam dos países vizinhos, que aproveitavam a circunstância, o que

reverteu, com a intervenção britânica, em sérios conflitos tanto interno como

externos. Em 1852, os brasileiros derrubaram o ditador Rosas e penetraram no

Paraguai. Isto provocou a guerra da Tríplice Aliança, que este país lutou contra

Argentina, Uruguai e Brasil. Ao final da guerra quase toda a população

paraguaia estava exterminada.

Vários ditadores chegaram ao poder até 1954, em que Alfredo

Stressner ocupou o cargo supremo do país. Stressner praticou um regime

brutal e repressivo, sempre dependente dos Estados Unidos. Finalmente,

depois de muitos anos a pressão interna acabou com o regime, tomando a

direção o general Andrés Rodríguez. A partir de então, a situação econômica

melhorou a passos lentos e produziu0 alguma reforma, a nível político. No ano

de 1993, foi eleito presidente, de forma democrática, Juan Carlos Wasmosy,

que deu certo impulso ao desenvolvimento do país.

1.5. Os Arredores de Assunção

Para quem dispõe de pouco tempo nada melhor que acercar-se a

Itauguá, onde pode adquirir os famosos ñanduti (tecidos feitos por mulheres do

Paraguai) e os centros de lazer de San Bernardino e Areguá todos localizados

no Lago Ypacari.

Ao oeste localiza-se Caacupé o mais importante centro religioso do

Paraguai e o Parque Nacional Ybycuí onde se podem ver impressionantes

bosques pluviais.

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1.6. A Região do Chaco

A região do Chaco é uma zona aonde prevalece uma importante

população indígena.

Filadélfia é a principal cidade do centro do Chaco, o melhor é ver a

atividade da cidade e escutar as histórias dos seus habitantes. Aqui se

encontram uma importante comunidade de menonitas, emigrados do Canadá

(a outra localidade aonde se pode ver a este seguidores das doutrinas de

Memmo Simón são Loma Plata e Neu Halbstad, onde também se podem

adquirir belos trabalhos indígenas).

1.7. Assunção

Perto de 500.000 habitantes é a capital do Paraguai. Houve um tempo

em que esta cidade foi a mais importante do sul do continente, porém decaiu

pela sombra de Buenos Aires. A influência da colônia espanhola ainda deixa-se

ver nas ruas e prédios, especialmente nas zonas perto do rio. Como lugares

dignos de serem visitados destacamos o Jardim Botânico, muito próximo de

Assunção. Ali, podem-se ver insetos, cobras e outros animais e plantas. Na

zona do centro tem que destacar a Catedral e o Palácio do Governo, onde se

podem desfrutar umas boas vistas do rio; a Casa de Cultura Paraguaia em um

belo edifício do século XIX; a Casa da Independência, que é o edifício mais

antigo da capital e o Museu do Barro, com o melhor da arte moderna.

Assunção é uma cidade apesar de seu trânsito muito desordenado e

cheio de árvores. A cidade tem uma parte histórica que pode ser visitada em

pouco tempo porque suas distâncias não são longas.

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Figura 1. Visita a Praça Central de Assunção, Praça dos Heróis . Construção com

arquitetura belíssima que proporciona um retorno ao século passado.

É interessante visitar o Porto (fluvial) de Assunção e a Praça Central

que tem um mercado de artesanato onde se pode encontrar produtos de palha

e couro.

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1.8. Visita ao “Mercado 4”

Figura 2. Chegando ao Mercado 4

Com minha visita ao Mercado 4 pude observar a diversidade humana

existente neste país e principalmente a riqueza antropológica daquele

ambiente.

Gostaria de iniciar meu relato falando sobre as observações que fiz

daquele lugar tão heterogêneo e singular.

Logo ao adentrar naquele ambiente, minha preocupação maior era com

a segurança, no entanto ao olhar para as pessoas percebi que as mesmas me

passavam um olhar de tristeza e ao mesmo tempo de família não consegui

notar pessoas com atitudes marginais. As pessoas a meu ver estão ali

verdadeiramente para trabalhar e o mais importante o fazem isso com

dignidade.

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Figura 3. Tenda de frutas

Ali a maior parte dos trabalhadores que eu observei eram mulheres e

crianças. Ao conversar com algumas mulheres, constatei que como em outros

países aqui também elas ganham menos que os homens e, que as

trabalhadoras tem dificuldade em trabalhar em razão de não ter com quem

deixar seus filhos. Foi citado diversas vezes que não existem muitas creches

na cidade.

Figura 4. Vendedora de Chipa paraguaia na rua do Mercado 4

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Figura 5. Senhoras comerciantes na rua

Ainda conversando com mulheres, reparei que apesar de estarem

trabalhando aparentam ser submissas ao homem, tive a informação de que o

homem no Paraguai é muito machista, daí talvez a razão de não ter encontrado

ninguém com traços homossexuais aparentes. Com relação a essa questão de

gênero, reparei que as roupas que a população em especial a feminina é muito

comportada, ou seja, discreta em vista que o lugar é extremamente quente.

Figura 6. Circulação de pessoas no Mercado 4

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Compreendi que o desemprego faz com que as pessoas busquem

trabalhos alternativos economicamente onde o Mercado 4, passa desta forma a

ser um grande centro de economia informal de Assunção. Ali no Mercado 4

abordei diversas pessoas que tem formação para exercer outra atividade mais

estão ali trabalhando em subempregos, isso é para mim um sinal de não existir

prepotência por parte dessas pessoas, também conversei com diversas

pessoas que trabalham ali e que estão cursando a universidade. Dentre essas

e outras, afirmaram estar trabalhando com o objetivo de sair do país a fim de

obter uma vida melhor. Um grande número de pessoas demonstrou estar

desencantadas com a situação atual do país, dizendo inclusive que o Brasil é

um país muito rico e por essa razão o brasileiro é tão alegre.

Figura 7. Circulação de pessoas pelas ruas do Mercado 4

Com relação a distribuição espacial, existe uma separação visível no

ambiente. Nos arredores estão localizados os comércios mais simples onde

trabalham pessoas com características predominantemente paraguaias, os

estabelecimentos são extremamente quentes e pouco providos de higiene. As

pessoas vendem produtos mais simples como: frutas, alimentos diversos, chás,

carnes, roupas simples, artesanatos e outros.

Já mais ao centro do Mercado 4, encontramos instalações comerciais

mais sofisticadas em relação ao todo do mercado, ali os donos dos

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estabelecimentos tem traços predominantes orientais, mais precisamente

coreanos, o local tem uma melhor apresentação visual com relação a higiene,

ordenação das lojas comerciais e ventilação. Os produtos são em sua maioria

importados principalmente eletrônicos. Nestas lojas, são poucas as pessoas

que apresentam traços marcantes paraguaios.

Figura 8. Diversidade de mercadorias

No Mercado 4 existe uma diversidade e mistura muito grande de

mercadorias a serem vendidas e uma simplicidade extrema no modo da

disposição dos alimentos, principalmente no que diz respeito aos alimentos

perecíveis. A carne e derivados ficam expostos sem refrigeração adequada.

Observei que os cortes de carne ali oferecida são os mais simples, não há

partes nobres ou a chamada carne de primeira, o melhor da carne soube vai

para a exportação.

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Figura 9. Banca de venda de frutas e verduras

Chamou-me muita atenção à questão dos odores que senti ao circular

pelo ambiente, é uma mistura muito grande, alguns são repugnantes outros

exóticos, uns bons e outros péssimos. Mas, tudo tem haver com a diversidade

e a questão da higiene.

Figura 6. Circulação de pessoas e vendedores de frutas

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Dentre estes cheiros o que se destaca é os oriundos das tendas dos

vendedores de ervas e chás uma quantidade muito grande de pessoas que

comercializam essas especiarias o que está relacionado com o costume da

população de beber o “tereré” as ervas na sua maioria são ingeridas

diariamente através deste hábito. Não recordo de ter visto tenda onde não

houvesse o “tereré”, todos se referem a ele como uma maneira que se tem

para amenizar o calor, que é insuportável. Outra questão do grande comércio

destas ervas, refere-se à medicina alternativa que várias pessoas falaram

serem adeptos desta e que usam também como forma de prevenção a

doenças.

Figura 11 – Barraca típica de ervas para uso como medicina alternativa e também no

Tereré

O “tereré” é sem duvida o maior meio de socialização do povo

paraguaio “este costume não tem classe social, é de todos”. Chamou minha

atenção que muitas pessoas liam jornal, no entanto ali não encontrei

vendedores de livros, jornais ou revistas.

Na sua maioria as pessoas que abordei sabiam ler. Muitos dos jovens

que estão ali são estudantes e os pais falam com orgulho dos filhos que estão

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na escola secundária, no entanto relataram que não tem condição de

proporcionar aos filhos o ingresso e permanência na universidade.

A população que faz parte daquele ambiente é bilíngue, falam além do

espanhol o guarani. Muitos relataram ser o guarani a verdadeira língua do povo

paraguaio e que tem muita satisfação em saber que é ensinado nas escolas.

Inclusive as crianças por mim abordadas disseram falar o guarani e que o

aprendem na escola.

Observando as condições das pessoas, surgiu a curiosidade em saber

da condição dos idosos. Descobri por relatos que mais ou menos 90% da

população que tem idade para receber o benefício da aposentadoria não

recebem em razão desta situação, muitos idosos tem que continuar trabalhando

e muitos o fazem ali no Mercado 4.

1.9. Relatos Individuais

Quando eu abordava as pessoas e dizia que era brasileira e estava

realizando uma pesquisa acadêmica, a primeira reação era de espanto onde

logo se voltavam com algumas indagações como:

- Por que vem estudar aqui no Paraguai?

- O que você estuda aqui?

- É verdade que vocês brasileiros também não gostam dos argentinos?

- Para conhecer o Paraguai tem que ir ao campo. Já foi ao campo?

Outras pessoas faziam observações referentes ao Brasil, do tipo:

1. Brasil, lá só é alegria, carnaval.

2. Brasileiros são muito ricos.

3. Futebol é muito bom.

4. Gosto muito das musicas brasileiras.

5. Já estive no Brasil, é muito lindo.

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E muitos outros comentários, o que chamou a atenção, que todas as

pessoas abordadas tinham algo a dizer do Brasil. E também que aqui, se ouve

muita música brasileira. Muitas pessoas se referem ao presidente Lula. Conclui

que “que os paraguaios sabem mais do Brasil do que os brasileiros sabem do

Paraguai”.

1.10. Conversando com Tereza

Tereza é uma atendente em uma das lojas que entrevistei:

Ela relatou-me que é casada, há vinte anos, tem três filhos, todos os

seus filhos estão estudando e que trabalha no Mercado 4 a mais de seis anos.

Sobre o “guarani”: que todos em sua família falam o guarani e

diariamente o falam, acha que é muito bom que as escolas estejam ensinando

pois é preciso que todos o conheçam.

Educação: -”Trabalho muito para manter meus filhos na escola”, é

muito importante que as crianças e jovens estudem. Naquele dia estava muito

feliz, pois no dia seguinte seu filho mais velho faria o exame para ingressar na

universidade. Disse que teria que trabalhar mais para poder manter seu filho na

universidade, que já tinha na família cinco sobrinhos que estão cursando a

universidade. Sua família acha muito importante o estudo, no entanto nenhum

de seus irmãos, tão pouco ela, tiveram esta oportunidade de cursar a

universidade.

Família: Tereza comentou que se casou muito cedo seu marido é um

homem muito bom e trabalhador ambos esperam poder dar uma boa educação

aos filhos e pretendem que seus filhos cursem a universidade. –É uma alegria

e um orgulho para os pais verem seus filhos na escola.

1.11. Falando na Loja de Susana

Susana é uma senhora de mais de 80 anos, tem um comércio, dentro

do Mercado 4, ela é viúva de Duarte, o que fazia questão de mencionar a todo

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momento. Na loja Susana trabalha com seus netos e sua filha. Aqui vou relatar

a conversa com a filha de Susana, Leona.

Leona contou que tem 68 anos é a filha mais velha de Susana e que

nunca casou, pois sempre deu preferência a ficar com a mãe e ajudar a cuidar

dos irmãos e mais tarde dos sobrinhos. Leona disse que apesar da idade

obedece a sua mãe e tem muito respeito por ela. Contou que trabalha no

Mercdo 4 com sua mãe a mais de quarenta anos e sempre venderam os

produtos de artesanato que vem do campo. Seus irmãos trabalham em outros

locais e que alguns dos sobrinhos trabalham junto naquela loja.

Figura 12 – Produtos artesanais trazidos do campo para serem vendidos no Mercado

4

Observei que na parede havia uma foto de “Lino”, perguntei sobre ele.

Ela falou:-“os que tão no poder são maus e não o querem no poder, porque ele

é bom e nós pedimos a liberdade para Lino”.

Religião: Leona comentou que é muito religiosa que todos de sua família

rezam pela Virgem (nossa senhora). Notei que na parede havia imagens

sacras.

Sobre a língua guarani disse: -“é com as pessoas do campo que fala

mais o guarani”.

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1.12. Conversando com o taxista

Quando saímos do mercado optamos por voltar de taxi, já que estava no

ritmo, iniciei uma conversa com o taxista, de imediato ele percebeu que era

brasileira e perguntou: - Oque fazem no Paraguai? . Respondi que mestrado

em Ciências da educação e ai me falou algo que me deixou impressionada.

_ “Digo com propriedade que a Ciência da Educação é letra morta no

Paraguai, sou pai de um menino superdotado que se comprovou ter QI de 177,

aos treze anos entrou na faculdade de Engenharia e quando isso aconteceu

procurei a Ministra da Educação para que ajudasse meu filho, ela mandou dizer

que “temos experiência com infradotado e não com superdotado”, e nunca

recebeu meu filho para conversar. Hoje meu filho está no quarto ano de

Engenharia da Computação na Universidade do Cone Sul da América – UCSA,

ele é diretor acadêmico de sua própria empresa e se Deus quiser vai aos

Estados Unidos dar continuidade a seus estudos. Meu nome é Dawciano

Orera, tenho documentos que podem comprovar o que lhe digo.

Figura 13. Eu Maxima, taxista Dawciano e Vanderléia minha irmã

Fiquei muito impressionada com as palavras do taxista depois de falar

ele deu o cartão de seu filho e comentou que poderia procurá-lo em seu

trabalho. Decidi por tirar uma foto com ele para registrar aquele momento.

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1.13. O Jogo De Futebol

Uma das melhores experiências que vivenciei no Paraguai foi a de ir a

um jogo de futebol no Estádio Defensores Del Chaco. Quando o grupo de

brasileiros do qual eu fazia parte entrou no estádio senti que os paraguaios que

estavam lá se alegraram com nossa presença, pois éramos um grupo muito

animado. O decorrer do jogo ocorria naturalmente. No intervalo, surgiu um

vendedor de Chipa e eu aproveitei para registrar com uma foto.

Figura 14. No jogo de futebol, com cesto de Chipa

Com o movimento causado veio para perto de mim um menino que

vendia água, suco e refrigerante percebi que ele não estava conseguindo

vender seus produtos e decidi dar uma ajuda. Solicitei que me passa-se a caixa

com seus produtos e comecei a fazer a propaganda dos mesmos, os

brasileiros e demais pessoas que estavam ali se animaram e comeram a

comprar. Em questão de minutos já havia vendido tudo, o garoto empolgado

com a venda corria e trazia mais produtos, feliz por eu estar ajudando, para ele

era trabalho, pra eu ajudar era satisfação e diversão. Devo ter vendido muito

mais do que ele era habituado, pois o menino olhava para mim com satisfação

e alegria. Percebi o quanto o trabalho era importante para ele.

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Figura 15 - Momento em que assumi a atividade de vendedora no estádio

O que me deixou triste é não recordar o nome deste menino. Sei que

ele estuda, tem 12 anos, fala guarani e que trabalha vendendo seus produtos

para ajudar sua família.

“Peço a Deus que lhe de uma janela com um grande horizonte de

prosperidade.”

Figura 16. Momento em que acerto com o menino as vendas feitas e me despeço.

Assim, termino essa pequena espiada que dei pela janela para observar

à vida, a cultura, os costumes e hábitos daqueles que tão carinhosamente

chamam a nós brasileiros de “irmãos brasileiros” e que muitas vezes nós não

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nos damos conta que apesar da globalização fazemos parte da mesma família

somos seres humanos filhos de um mesmo planeta “TERRA”.

Espero que continue...

Referências

http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/paraguai/paraguai.php

http://manu-paraguai.blogspot.com.br/2011/11/informacoes-sobre-o-paraguai-parte-

1.html

Imagens arquivo pessoal de Maxima Graziella Ortolan Schmidt.