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RELATÓRIO TÉCNICO DE AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE DO PROJETO PROCICLA IMPLEMENTADO PELA ONG ALTERVIDA / PARAGUAI Produto elaborado para a Fundação AVINA REALIZAÇÃO: CENTRO DE REFERÊNCIA DO CATADOR DE MATERIAL RECICLÁVEL NOVEMBRO, 2007

Sustentabilidade do Projeto PROCICLA – Paraguai

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RELATÓRIO TÉCNICO DE AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE

DO PROJETO PROCICLA IMPLEMENTADO PELA ONG ALTERVIDA / PARAGUAI

Produto elaborado para a Fundação AVINA

REALIZAÇÃO:

CENTRO DE REFERÊNCIA DO CATADOR DE MATERIAL RECICLÁVEL

NOVEMBRO, 2007

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EQUIPE EXECUTORA Este relatório foi elaborado pela equipe que integra o Centro de Referência em Estudos sobre os Catadores, projeto sediado e coordenado pelo PANGEA Centro de Estudos Socioambientais. A equipe que participou da elaboração deste relatório foi: João Damásio de Oliveira Filho – Pesquisador Chefe Antônio Bunchaft – Coordenação Geral Adherbal de Almeida Régis – Coordenação Geral Luís Gustavo Delmont – Coordenador de Pesquisa e Informações

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INDICE DE FIGURAS

FIGURA 2.1 - ORGANOGRAMA DO PROCICLA/ALTERVIDA: CAS CENTRAL, FORNECEDORES E SISTEMA CAS ......................................... 11 FIGURA 4.1 - COMPARATIVO DE PREÇOS DE COMPRA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS DE CATADORES E VENDAS À INDÚSTRIA – Agosto/2007 .................... 14 FIGURA 4.2 - MATERIAL ADQUIRIDO PELO CAS CENTRAL E LUCROS NA COMERCIALIZAÇÃO – Agosto/2007 ...................................... 16 FIGURA 4.3 - COMPARATIVO DE VALORES PAGOS NA COMPRA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS DE CATADORES E RECEITAS LÍQUIDAS – CAS CENTRAL – AGOSTO DE 2007 ............................................................... 24 FIGURA 4.4 - COMPARATIVO PERCENTUAL DA GRAVIMETRIA DA PRODUÇÃO FÍSICA DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – KG/MÊS – AGOSTO DE 2007 ............................................ 25 FIGURA 4.5 - COMPARATIVO PERCENTUAL DAS RECEITAS BRUTAS DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – KG/MÊS – AGOSTO DE 2007 ..................................................... 25 FIGURA 4.6 - LUCRO BRUTO DO CAS CENTRAL POR PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS(%)- Agosto de 2007 ....................................... 27 FIGURA 4.7 - LUCROS BRUTOS DO CAS CENTRAL POR GRUPOS DE MATERIAIS RECICLÁVEIS(%)- AGOSTO DE 2007 ..................................... 28 FIGURA 4.8 - PROCEDÊNCIA DOS MATERIAIS RECICLÁVEIS DO CAS CENTRAL - % DA GRAVIMETRIA – AGOSTO DE 2007 .................................... 30 FIGURA 4.9 - RECEITA LÍQUIDA DO CAS CENTRAL POR PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS - CARRINHEIROS(%)- AGOSTO DE 2007 ........................ 32 FIGURA 4.10 - RECEITA LÍQUIDA DO CAS CENTRAL POR PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS – GRANDES GERADORES(%)- AGOSTO DE 2007 ................... 32 FIGURA 4.11 - RECEITA LÍQUIDA DO CAS CENTRAL POR PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS – CATADORES DO VERTEDORO E OUTROS CATADORES(%) ........... 33 FIGURA 4.12 - RECEITA LÍQUIDA DO CAS CENTRAL POR PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS – MÉDIA PONDERADA (%) .................................... 34 FIGURA 4.13 - ORIGENS DAS RECEITAS LÍQUIDAS DO CAS CENTRAL(%)- AGOSTO DE 2007 ............................................................ 36 FIGURA 4.14 - ESTIMATIVA PERCENTUAL DA COMPOSIÇÃO DA PRODUÇÃO FÍSICA DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – CARRINHEIROS (%)- Agosto de 2007 ................................... 41 FIGURA 4.15 - COMPOSIÇÃO DAS RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – CARRINHEIROS (%)- Agosto de 2007 ..................................................... 41 FIGURA 4.16 - ESTIMATIVA PERCENTUAL DA COMPOSIÇÃO DA PRODUÇÃO FÍSICA DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – GRANDES GERADORES (%)- AGOSTO DE 2007 .............................. 42 FIGURA 4.17 - COMPOSIÇÃO DAS RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – CATADORES NOS GRANDES GERADORES (%)- AGOSTO DE 2007 .............................. 43 FIGURA 4.18 - ESTIMATIVA PERCENTUAL DA COMPOSIÇÃO DA PRODUÇÃO FÍSICA DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – CATADORES DO VERTEDERO E OUTROS CATADORES (%) ...................... 45 FIGURA 4.19 - COMPOSIÇÃO DAS RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – CATADORES DO VERTEDERO E OUTROS CATADORES (%) ................................... 45 FIGURA 4.20 - COMPOSIÇÃO DAS RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – MÉDIA PONDERADA DOS TRÊS GRUPOS DE CATADORES (%) ................................... 46 FIGURA 4.21 - EFICIÊNCIAS FÍSICAS DAS SECÇÕES DO SISTEMA CAS(KG/CATADOR)-AGOSTO/2007 ........................................ 53 FIGURA 4.22 - EFICIÊNCIAS ECONÔMICAS DAS SECÇÕES DO SISTEMA CAS(R$/CATADOR)-AGOSTO/2007 ........................................ 54

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INDICE DE TABELAS

TABELA 4.1 - COMPARATIVO DE PREÇOS DE COMPRA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS DE CATADORES E VENDAS À INDÚSTRIA – Agosto/2007 .................... 13 TABELA 4.2 - MATERIAL ADQUIRIDO PELO CAS CENTRAL E LUCROS NA COMERCIALIZAÇÃO – Agosto/2007 ...................................... 15 TABELA 4.3 - PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS SEGUNDO ORIGEM – DADOS PARA 4 SEMANAS – JUL/AGO 2007 - KG ........................... 17 TABELA 4.4 - PERCENTUAIS DA PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS SEGUNDO ORIGEM – DADOS PARA 4 SEMANAS – JUL/AGO 2007 - % ........... 18 TABELA 4.5 - ESTIMATIVA DA PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS SEGUNDO ORIGEM – AGO 2007 – KG/Mes ................................. 19 TABELA 4.6 - ESTIMATIVA DOS PREÇOS MÉDIOS E PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS – AGO 2007 – KG/Mês e Gs ............................... 19 TABELA 4.7 - ESTIMATIVA MENSAL DE VALORES PAGOS A FORNECEDORES Gs – Agosto de 2007 ..................................................... 20 TABELA 4.8 - ESTIMATIVA MENSAL DE VALORES PAGOS A FORNECEDORES R$ - Agosto de 2007 ..................................................... 20 TABELA 4.9 - Receita Bruta do CAS Central – Estimativa Mensal Gs – Agosto de 2007 ..................................................... 21 TABELA 4.10 - Receita Bruta do CAS Central – Estimativa Mensal R$ – Agosto de 2007 ..................................................... 21 TABELA 4.11 - Receita Líquida do CAS Central – Estimativa Mensal – Gs – Agosto de 2007 ................................................... 22 TABELA 4.12 - Receita Líquida do CAS Central – Estimativa Mensal – R$- Agosto de 2007 ..................................................... 22 TABELA 4.13 - Sumário do CAS Central – Estimativa Mensal (Gs) Agosto/2007 ........................................................ 23 TABELA 4.14 - Sumário do CAS Central – Estimativa Mensal (R$) Agosto/2007 ........................................................ 23 TABELA 4.15 - Lucro Bruto do CAS CENTRAL - % - Estimativa Mensal por Material e Fornecedor – Agosto/2007 ................................ 26 TABELA 4.16 - Lucro Bruto do CAS CENTRAL - % - Estimativa Mensal por Tipo de Material Reciclável – Agosto de 2007 ....................... 28 TABELA 4.17 - Estimativa da Procedência dos Materiais Recicláveis do CAS CENTRAL - % da Gravimetria – Ago/2007 ......................... 29 TABELA 4.18 - Receita Líquida do CAS CENTRAL - % - Estimativa Mensal por Tipo de Fornecedor – Agosto de 2007 ............................ 31 TABELA 4.19 - Origens das Receitas Líquidas do CAS CENTRAL - Estimativa por Tipo de Fornecedor e Grupo de Material Reciclável - % - Agosto de 2007 ..................................................... 35 TABELA 4.20 - EFICIÊNCIAS FÍSICA E ECONÔMICA DO CAS CENTRAL – VALORES BRUTOS E LÍQUIDOS DAS RECEITAS - AGOSTO de 2007 .................... 38 TABELA 4.21 - RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – R$ - Agosto/2007 .................. 39 TABELA 4.22 - COMPOSIÇÃO DAS RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL –(%)- Agosto de 2007................................................................... 40 TABELA 4.23 - EFICIÊNCIAS FÍSICA E ECONÔMICA DOS TRÊS GRUPOS DE CATADORES – CARRINHEIROS, GRANDES GERADORES E VERTEDERO - AGOSTO de 2007 ............................................................... 47 TABELA 4.24 - EFICIÊNCIAS FÍSICAS E EFICIÊNCIAS ECONÔMICAS DO SISTEMA CAS – AGOSTO DE 2007 ............................................... 51 TABELA 4.25 - EFICIÊNCIAS FÍSICAS E EFICIÊNCIAS ECONÔMICAS DOS DIVERSOS SEGMENTOS DO SISTEMA CAS – AGOSTO DE 2007 ................. 52 TABELA 4.26 - EFICIÊNCIA COMPARATIVA DAS SECÇÕES DO SISTEMA CAS EM RELAÇÃO À AMOSTRA BRASIL(*) – ORDENAÇÃO – AGO/2007 .................. 56 TABELA 4.27 - EFICIÊNCIA COMPARATIVA DAS SECÇÕES DO SISTEMA CAS EM RELAÇÃO À REDE CATA SAMPA(*) – ORDENAÇÃO – AGO/2007 ................. 58

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ÍNDICE

1 INTRODUÇÃO ...................................................... 5

2 DADOS GERAIS DO PROJETO PROCICLA ................................ 6

2.1 VISITA A ASSUNÇÃO E A COLETA DE INFORMAÇÕES ................. 6

2.2 ANÁLISE ORGANIZACIONAL DO CAS ............................... 8

3 ANÁLISE SOCIOECONOMICA DOS BENEFICIÁRIOS E MODELOS DE DISTRIBUIÇÃO DE RENDA ....................................................... 12

4 ANÁLISE DA PRODUÇÃO, COMERCIALIAZAÇÂO E EFICIENCIAS DO CAS ..... 13

4.1 A ÓTICA DO CAS CENTRAL ..................................... 13 4.1.1 Preços de compras e preços de vendas de materiais

recicláveis..................................................................................................................13 4.1.2 Procedência dos materiais recicláveis adquiridos pelo cas

central ...........................................................................................................................17 4.1.3 As receitas líquidas e os lucros brutos do cas central ...........24 4.1.4 Eficiência física e eficiência econômica do CAS CENTRAL .........37

4.2 A ÓTICA DOS CATADORES ...................................... 39 4.2.1 As receitas dos catadores de materiais recicláveis .....................39 4.2.2 Eficiência física e eficiência econômica dos três grupos de

catadores.......................................................................................................................46

4.3 A ÓTICA DO SISTEMA CAS. .................................... 48 4.3.1 A natureza do “sistema cas”............................................................................48 4.3.2 Eficiência física e eficiência econômica do sistema CAS .........49 4.3.3 Análise comparativa das eficiências dos segmentos do sistema

CAS.....................................................................................................................................55

5 SUSTENTABILIDADE ECONOMICA, SOCIAL, AMBIENTAL E INSTITUCIONAL .. 60

5.1 SUSTENTABILIDADE INSTITUCIONAL ............................. 60

5.2 SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL ................................. 61

5.3 SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA E SOCIAL ........................ 61

6 PRINCIPAIS CONCLUSÕES .......................................... 62

7 RISCOS E OPORTUNIDADES: PROPOSTAS E SUGESTÕES DE APERFEIÇOAMENTO................................................................66

7.1 DIMENSÃO ORGANIZACIONAL E INSTITUCIONAL .................... 66 7.1.1 Construção de um novo sujeito social: o beneficiário ................66 7.1.2 Redefinição dos processos de apropriação do excedente..............66 7.1.3 Redefinição do Arranjo Institucional com o BID ..............................66 7.1.4 Reforço institucional da nova organização a ser criada ...........66 7.1.5 Construção de um sistema de informações ...............................................67

7.2 DIMENSÃO ECONOMICA, LOGÍSTICA E DE MERCADO ................. 67 7.2.1 Aspectos Econômicos...............................................................................................67 7.2.2 Aspectos da Logística da Coleta ..................................................................67

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1 INTRODUÇÃO

O presente relatório foi desenvolvido pelo PANGEA Centro de Estudos Socioambientais, através de seu Centro de Referencia em Estudos sobre os Catadores, tendo como objetivo principal avaliar a atual situação e sugerir recomendações para garantir a sustentabilidade do projeto Procicla realizado e desenvolvido pela ONG AlterVida na cidade de Assunção, Paraguai.

Este trabalho está constituído de sete partes incluindo esta, cujas descrições seguem abaixo: O segundo capítulo apresenta uma breve descrição do Projeto PROCICLA, especificando como foi efetuada a coleta de dados e uma análise organizacional do mesmo. Já no terceiro capítulo são apresentadas as análises dos beneficiários, seguida de uma explicação da forma de distribuição da renda obtida com a coleta e comercialização dos materiais recicláveis. O quarto capítulo é destinado a analisar a produção e a comercialização do CAS através de três óticas distintas: ótica do CAS enquanto uma CENTRAL, ótica dos CATADORES sobre o projeto e por fim, a ótica do SISTEMA CAS como um todo. Nesse mesmo capítulo são apresentadas as eficiências física, econômica e de mercado. Enquanto o capítulo que segue – o quinto – destina-se avaliar a sustentabilidade institucional, ambiental, econômica e social do projeto Por fim, os três últimos referem-se ao fechamento do trabalho, onde estão descritas a sustentabilidade econômica, social, ambiental e institucional do projeto. São apresentados também os riscos e as oportunidades, juntamente com propostas e sugestões de aperfeiçoamento

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2 DADOS GERAIS DO PROJETO PROCICLA

Para que possamos avaliar a situação atual em que se encontra algum grupo de catadores e/ou de qualquer cooperativa, sejam eles formalizados ou não, o ponto inicial de partida para a elaboração dos relatórios sempre foi o de coleta de dados primários, efetuada diretamente in loco, pois permite conhecer de perto a real estrutura do projeto. Não muito diferente, o presente relatório segue o mesmo raciocínio ora apresentado, onde as informações aqui descritas foram obtidas com a aplicação de um questionário para avaliar, principalmente, a infra-estrutura e assim poder medir e analisar as características produtivas da unidade.

Portanto, como o objetivo desse capítulo é apresentar as informações obtidas, os próximos tópicos serão destinados a explicar como foi efetuada a coleta de dados e os problemas ocorridos para tal obtenção, inclusive uma breve análise organizacional do CAS.

2.1 VISITA A ASSUNÇÃO E A COLETA DE INFORMAÇÕES

A visita a Assunção foi extremamente intensa e produtiva. Houve um planejamento hábil por parte da ALTERVIDA, que foi iniciado por uma apresentação do projeto PROCICLA, feita pessoalmente pelo Diretor Jorge Abatte. Ele e sua gerente Cármen Moreira responderam gentilmente às questões e perguntas propostas com educação, rapidez e eficiência. Na tarde do primeiro dia, o questionário já previamente preenchido foi projetado e discutido ponto-a-ponto. Ao final de um dia, já possuíamos os principais dados do CAS, como Central.

Quando da nossa ida, havia previamente informações sobre 5 associações de catadores no aterro sanitário, entretanto quando chegamos para a primeira reunião na ALTERVIDA fomos informados por eles de que de fato não eram organizações estruturadas, mas sim grupos que se uniam para reinvidicar apoios ou interesses pontuais na Prefeitura e para garantir a possibilidade de continuarem a coletar materiais no aterro. Pretendíamos visitar estas associações, no entanto, foi veiculado pela ALTERVIDA de que haveria uma pretensa dificuldade em entrar no aterro para conversar com os catadores que lá trabalham, por parte da Administração deste.

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Durante a visita ao CAS, a pronta participação de dois funcionários da ALTERVIDA, Victor e Alberto, tornou possível o entendimento de detalhes de funcionamento do projeto. Ademais, foi permitido o acesso a informações que viabilizaram a estimativa das proporções de materiais recicláveis originados nos três tipos de “fornecedores”: carrinheiros; grandes geradores; e catadores do Vertedero.

Ao final do segundo dia, novamente com a presença do Diretor Jorge Abatte, duas questões ficaram bastante claras: a) que existem tensões internas legítimas sobre a atual e eventual situação jurídica do CAS; b) que – nas palavras do mesmo Diretor – o CAS “nunca será uma cooperativa”.

Embora dois “grandes geradores” tenham sido visitados, não foi possível efetuar uma visita ao Vertedero – sob o argumento que a entrada era controlada pela Prefeitura de Assunção.

Após o retorno ao Brasil, Cármen, Victor e Alberto prontamente responderam a solicitações de dados adicionais e esclarecimentos.

Segundo informações da ALTERVIDA/GEAM, o projeto tem sido realizado através de apoio do BID, apoio este que se divide em duas linhas de empréstimo, a saber: a primeira, no montante de US$ 300,000.00 à titulo de colaboração para apoio técnico não reembolsável, recurso responsável pelo pagamento da equipe de acompanhamento do projeto. A segunda linha é no valor de US$ 238,000.00 e trata-se de empréstimo reembolsável ao BID com prazo de pagamento em 15 anos. Além disto, informaram ter um apoio da USAID, entretanto não declararam o valor. Ainda informaram o apoio do Município de Assuncion, através da cessão de uso, por 15 anos, de terreno onde está construído o CAS (Centro de Segregação e Armazenamento).

Deve ficar claro que questões relativas à destinação dos recursos apropriados por doação ou empréstimos à ALTERVIDA em nome do projeto CAS/PROCICLA pelo BID, USAID e Prefeitura – embora mencionados – jamais puderam ser devidamente equacionadas. Não havia mandato para proceder à auditoria da ALTERVIDA – nem isso seria possível. Por ser impossível, esta avaliação financeira deixou de ser parte dos objetivos deste diagnóstico. Em outras palavras: recursos do BID a fundo-perdido parecem ser assuntos internos da ALTERVIDA. Por outro lado, recursos tomados simultaneamente por empréstimos ao BID, são atribuídos

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formalmente ao CAS – que assume internamente o papel de prover os recursos para a amortização da dívida.1

2.2 ANÁLISE ORGANIZACIONAL DO CAS

O CAS (Centro de Acopio y Segregación) surgiu do Projeto PROCICLA, como iniciativa da ALTERVIDA2. Desde a sua concepção -- como pode ser observado pela leitura dos materiais relativos ao projeto – tomou como ponto de partida a compra de materiais recicláveis de catadores não-empregados pelo CAS. Nesse sentido – embora a discussão sobre atividade cooperada seja recorrente, mesmo entre funcionários da ALTERVIDA/CAS – é importante ressaltar desde logo que os quarenta catadores que hoje têm função operacional no CAS não são cooperados nem há qualquer proposta de transformar o CAS em uma cooperativa em futuro previsível.

Isto dito, é bom lembrar que no Plano de Negócios é explicitamente frisado que:

“ A forma jurídica que o CAS adotará é a de uma Sociedade Anônima, já que deve gerar lucros e alcançar a rentabilidade necessária para fazer frente aos compromissos financeiros.”3

Uma Sociedade Anônima NÃO é uma cooperativa e não há porque insistir em confundir o que hoje ocorre com os processos operados no CAS com uma atividade de trabalho cooperativo. Assim, desde a sua criação, NÃO houve a intenção de transformar o CAS em unidade cooperada. Dessa forma, não se pode criticar a forma jurídica adotada pelo CAS por NÃO ser cooperada: o móvel de sua criação sempre foi o lucro privado, como qualquer outra empresa competitiva do mercado capitalista. Uma análise imparcial e não-viesada necessita então estar voltada para a viabilidade econômica da atividade de reciclagem desenvolvida pelo CAS, explicitando a sua inserção no mercado e avaliando as implicações de sua entrada em operação.

O surpreendente, entretanto, é que o CAS sequer foi constituído como uma Sociedade Anônima – ao contrário do explicitamente afirmado no citado Plano de Negócios! De acordo com o que pode ser levantado pela equipe de pesquisadores que visitou o projeto em Assunção, o CAS é uma ficção jurídica, sem figura legal própria, apenas um

1 “Hay que pagar la deuda!” foi repetido inúmeras vezes como um mantra …. 2 Consultar “CAS Plan de Negocios” – Procicla – Altervida – Novembro de 2006 3 Op.cit p.3 – Nossa tradução.

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nome-de-fantasia utilizado pela própria ALTERVIDA. Embora apresente uma contabilidade em separado, a sua movimentação financeira é legalmente interna à ALTERVIDA e não pode dela ser juridicamente separada.

Assim, a tarefa de entender e avaliar a viabilidade econômica do CAS termina por se confundir com o manejo de recursos da ALTERVIDA – legítima figura jurídica proprietária do CAS. Como este diagnóstico não se propõe – e nem pode se propor – a fazer uma auditoria das contas da ALTERVIDA, torna-se impossível discernir as aplicações financeiras efetivamente destinadas ao CAS daquelas que são operacionalmente voltadas para as demais atividades da ALTERVIDA. Em outras palavras, não existe uma contabilidade legalmente independente do CAS, porque NÃO existe um CAS como pessoa jurídica. Tampouco existe um processo ou planejamento que permita entender quando e como o CAS irá se transformar um uma pessoa jurídica independente da ALTERVIDA.

Assim, nessas linhas iniciais buscou-se dirimir dúvidas em relação a duas questões que deverão nortear o restante das análises que se seguirão:

a) O cooperativismo está fora de questão: o objetivo do projeto PROCICLA é o lucro privado;

b) O CAS não existe juridicamente, senão como apêndice operacional da ALTERVIDA. Isso significa que – embora sejam apresentadas contas específicas como representativas do CAS – não existe contabilidade legal individualizada e independente. O princípio e o fim dos procedimentos legais e financeiros estão na ALTERVIDA e não no CAS.

Diante desse aparente paradoxo – uma vez que o Procicla é apresentado como “criador de riqueza de sensível impacto na sociedade na qual se desenvolve”4, cabe perguntar para quem será criada essa riqueza, e de que forma ela será alocada.

Para superar este impasse – cuja motivação parece evidente – neste diagnóstico apenas trataremos o CAS como unidade produtiva, procurando entender a sua inserção na atividade de catação e reciclagem de materiais. Ademais, serão genericamente chamados de “catadores” todos as pessoas dedicadas a atividades de catação, separação, prensagem, compra e venda de materiais recicláveis que não sejam profissionalmente ocupadas em tarefas administrativas e de direção. Esta observação se faz necessária, pois no CAS

4 Op Cit p. 4

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nenhum catador tem qualquer função no processo decisório e administrativo. São apenas empregados, pagos por trabalho semanal dispendido, sem relação funcional estável e sem qualquer participação nos resultados da produção.

Com o objetivo de nortear esta análise, optou-se por destacar três óticas distintas:

I) A Ótica do CAS CENTRAL. Nessa ótica, o CAS será analisado como Central de aquisições, processamento e revenda de materiais recicláveis procedentes de três tipos de fornecedores: os carrinheiros que recolhem o que foi possível obter até hoje na forma de “coleta seletiva” em ruas e bairros escolhidos de Assunção; os catadores ligados à coletas de Grandes Geradores; e os catadores que recolhem o material que chega ao “Vertedero” – onde caminhões despejam o lixo urbano recolhido e destinado ao aterro sanitário municipal. Nessa ótica, o CAS será temporariamente entendido como entidade autônoma (o que, já foi dito, não é) atuando como interface entre grupos de catadores e a indústria. A intermediação será analisada de forma a explicitar as fontes de valorização e lucros obtidos a partir da centralização de materiais recicláveis. Esta ótica permite entender a origem e dimensão dos excedentes apropriados na Central;

II) A Ótica dos Catadores. Nessa ótica avaliaremos cada um

dos “fornecedores” como unidades autônomas de catação -- submetidos a uma lógica de subordinação que os mantém presos a um círculo vicioso -- sem perspectivas de vantagens financeiras, ou progressão social. Esta ótica permite avaliar a situação específica de cada tipo de “fornecedor”;

III) A Ótica do SISTEMA CAS. Nessa ótica todo o processo de

catação ligado direta ou indiretamente ao CAS será analisado em conjunto, como um sistema interligado. É também a ótica que permitirá visualizar a canalização dos recursos financeiros obtidos a partir da catação de materiais recicláveis e sua destinação à ALTERVIDA sob título de “amortização da dívida”. Aqui, novamente será necessário retornar à realidade, na qual o CAS não é pessoa jurídica independente da ALTERVIDA, havendo sobreposição de contabilidade.

A FIGURA 2.1 na página seguinte será sequencialmente utilizada como referência e sumariza essas três óticas.

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FIGURA 2.1 - ORGANOGRAMA DO PROCICLA/ALTERVIDA: CAS CENTRAL, FORNECEDORES E SISTEMA CAS

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3 ANÁLISE SOCIOECONOMICA DOS BENEFICIÁRIOS E MODELOS DE DISTRIBUIÇÃO DE RENDA

Um dos objetivos gerais que deram origem ao surgimento dos modelos cooperativados é o de possibilitar o aumento e a melhora na forma de distribuição da renda obtida com a catação e comercialização de resíduos entre os cooperados de forma mais justa. Mas, como exposto acima, o Projeto PROCICLA não possui beneficiários, pois os que ali trabalham o fazem por serem meros empregados do CAS. Na verdade, do ponto de vista da operação, a estrutura organizacional hoje posta é de uma administração centralizada do CAS, exercida pela ALTERVIDA/GEAM, onde todos os resultados são remetidos a ALTERVIDA para pagamento da divida como BID. O CAS, assim, age como um intermediário clássico de material reciclável.

Não há qualquer ingerência dos catadores no processo. No caso dos catadores das carroças das ruas e dos que trabalham no CAS, são contratados da organização, isto é, são empregados. Já no caso dos catadores do aterro, estes são fornecedores do projeto, que inclusive tem margens muito pequenas quando dessas vendas, como já explicitado anteriormente.

Por tudo que foi exposto, não há que se falar em modelos de distribuição de renda, na medida em que não existem beneficiários no projeto, não havendo qualquer critério de distribuição de renda, na medida em que os catadores ou são fornecedores ou são empregados.

Não houve informações sobre qualquer intenção ou plano de se formar uma organização auto-gestionaria dos catadores, seja ela cooperativa, associação ou ainda empresa social conforme descrito no projeto. O que existe é apenas o CAS (que não tem personalidade jurídica) sendo um mero braço da organização ALTERVIDA.

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4 ANÁLISE DA PRODUÇÃO, COMERCIALIAZAÇÂO E EFICIENCIAS DO CAS

As análises abaixo descritas foram norteadas pelas três óticas – do CAS como uma CENTRAL, dos CATADORES e por fim do SISTEMA CAS - apresentadas e explicadas conforme exposto no capítulo dois desse relatório.

4.1 A ÓTICA DO CAS CENTRAL

4.1.1 Preços de compras e preços de vendas de materiais recicláveis

Como afirmado anteriormente, esta ótica permite entender o CAS como uma Central, comprando de catadores e vendendo a indústrias. No processo, é apropriada a valorização referente à diferença de preços entre compra e venda.

Na tabela 4.1 são apresentados esses valores. Os níveis de agregação são os resultantes dos dados apresentados pela ALTERVIDA como resposta ao instrumento de pesquisa direta.

Comparando os valores em Guaranis, observa-se que o lucro bruto médio ponderado é de 90%, variando de um mínimo de 61% na compra, processamento e comercialização do PET Óleo até 287% na reciclagem de garrafas.

TABELA 4.1 - COMPARATIVO DE PREÇOS DE COMPRA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS DE CATADORES E VENDAS À INDÚSTRIA – AGOSTO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

A FIGURA 4.1 expressa esses diferenciais de preços em um gráfico de percentuais, onde é possível avaliar essas disparidades em base comum:

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FIGURA 4.1 - COMPARATIVO DE PREÇOS DE COMPRA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS DE CATADORES E VENDAS À INDÚSTRIA – AGOSTO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

Entretanto, os montantes absolutos só podem ser avaliados quando somos apresentados aos dados constantes da tabela 4.2, que explicita os valores de custos de materiais recicláveis adquiridos de catadores; as receitas brutas e líquidas do CAS CENTRAL; e as mesmas taxas de lucros brutos obtidas anteriormente. Os dados monetários expressos em Guaranis foram também convertidos para Reais pelo câmbio dos dias da visita: R$1,00 = Gs 2.550,00.

A FIGURA 4.2, apresenta esses mesmos dados na forma de gráfico de barras.

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TABELA 4.2 - MATERIAL ADQUIRIDO PELO CAS CENTRAL E LUCROS NA COMERCIALIZAÇÃO – AGOSTO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

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FIGURA 4.2 - MATERIAL ADQUIRIDO PELO CAS CENTRAL E LUCROS NA COMERCIALIZAÇÃO – AGOSTO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

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4.1.2 PROCEDÊNCIA DOS MATERIAIS RECICLÁVEIS ADQUIRIDOS PELO CAS CENTRAL

Após haver sido tornado claro que o CAS era antes de mais nada uma central de aquisição, processamento e venda de materiais recicláveis, tornou-se indispensável obter informações quanto à procedência desses materiais. Não apenas essas informações não constavam dos questionários (organizados para servirem de instrumentos de pesquisa diretas sobre cooperativas de catadores que coletam eles mesmos os materiais...) como logo ficou claro que o próprio pessoal técnico do CAS não dispunha de informações que fossem perfeitamente compatíveis com os dados anteriormente fornecidos no questionário.

A alternativa metodológica adotada foi efetuar o levantamento das procedências de materiais recicláveis nas quatro semanas imediatamente prévias às datas da visita a Assunção (de meados de Julho a meados de Agosto de 2007), utilizando os percentuais relativos como ponderadores para aplicação sobre os dados dos questionários. Dessa forma foram obtidas as estimativas sobre as procedências dos materiais recicláveis do CAS, como central de aquisição.

TABELA 4.3 - PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS SEGUNDO ORIGEM – DADOS PARA 4 SEMANAS – JUL/AGO 2007 - KG

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

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As tabelas 4.3 e 4.4 reúnem os dados agregados referentes às procedências dos materiais recicláveis nas quatro semanas a que nos referimos, e seus respectivos percentuais.

TABELA 4.4 - PERCENTUAIS DA PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS SEGUNDO ORIGEM – DADOS PARA 4 SEMANAS – JUL/AGO 2007 - %

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA A partir desses dados foi possível obter as estimativas descritas na tabela 4.5, com as totalizações originárias dos questionários. Notar que – a partir dos dados sobre as procedências dos materiais recicláveis – tornou-se possível passar a tratar de 12 grupos de materiais, ao invés dos 8 grupos anteriormente apresentados.

Adicionalmente, a disparidade encontrada entre as tabelas 4.3 e 4.5 é de cerca de 4% para menos, plenamente justificada pela comparação de totais de 28 dias com totais de 30 dias. Assim, os percentuais foram considerados robustos o suficiente para gerar estimativas com alto nível de confiabilidade estatística.

A tabela 4.6 sumariza os dados estimados para os 12 grupos de materiais recicláveis, além de seus preços de compra e venda por parte do CAS CENTRAL.

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TABELA 4.5 - ESTIMATIVA DA PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS SEGUNDO ORIGEM – AGO 2007 – KG/MES

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA TABELA 4.6 - ESTIMATIVA DOS PREÇOS MÉDIOS E PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS – AGO 2007 – KG/MÊS E GS

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA As tabelas 4.7 e 4.8 apresentam os valores agregados pagos a fornecedores pelo CAS Central, em Guaranis e em Reais:

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TABELA 4.7 - ESTIMATIVA MENSAL DE VALORES PAGOS A FORNECEDORES GS – AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA TABELA 4.8 - ESTIMATIVA MENSAL DE VALORES PAGOS A FORNECEDORES R$ - AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

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As tabelas 4.9 e 4.10 apresentam as receitas brutas do CAS Central após as vendas dos materiais recicláveis processados, em Guaranis e Reais, respectivamente:

TABELA 4.9 - RECEITA BRUTA DO CAS CENTRAL – ESTIMATIVA MENSAL GS – AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe – PANGEA TABELA 4.10 - RECEITA BRUTA DO CAS CENTRAL – ESTIMATIVA MENSAL R$ – AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

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São apresentadas as estimativas das receitas líquidas do CAS Central nas tabelas 4.11 e 4.12, em Guaranis e Reais, respectivamente:

TABELA 4.11 - RECEITA LÍQUIDA DO CAS CENTRAL – ESTIMATIVA MENSAL – GS – AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA TABELA 4.12 - RECEITA LÍQUIDA DO CAS CENTRAL – ESTIMATIVA MENSAL – R$- AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

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Com o objetivo de calcular os rendimentos gerados por cada grupo de materiais procedentes de cada fornecedor, são apresentados os resultados sumarizados para o CAS Central nas tabelas 4.13 e 4.14, em Guaranis e Reais, respectivamente:

TABELA 4.13 - SUMÁRIO DO CAS CENTRAL – ESTIMATIVA MENSAL (GS) AGOSTO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA TABELA 4.14 - SUMÁRIO DO CAS CENTRAL – ESTIMATIVA MENSAL (R$) AGOSTO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

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4.1.3 As receitas líquidas e os lucros brutos do cas central

A figura 4.3 permite a expressão visual da valorização de materiais no CAS Central, a partir dos recicláveis provenientes de cada tipo de fornecedor. Observa-se que – longe de ser marginal, o CAS Central age como intermediário entre os catadores e a indústria, concentrando materiais e recursos e apropriando os excedentes de forma privada. Não há efeito redistributivo dos valores assim amealhados.

Nesse sentido, não há diferenças significativas entre as atividades do CAS Central e os atravessadores tipicamente encontrados nesses mercados – senão pela organização e capacitação de seus gerentes e dirigentes.

FIGURA 4.3 - COMPARATIVO DE VALORES PAGOS NA COMPRA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS DE CATADORES E RECEITAS LÍQUIDAS – CAS CENTRAL – AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

As figuras 4.4 e 4.5 apresentam os comparativos por gravimetria e das receitas dos catadores que fornecem os

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materiais recicláveis ao CAS Central, através de suas vendas a preços aviltados. Notar que os catadores ocupados junto aos grandes geradores e os carrinheiros que operam os resultados da coleta seletiva são responsáveis por cerca de 24% do volume gravimétrico e recebem apenas 19% do que é gasto em compra de materiais recicláveis pelo CAS Central.

FIGURA 4.4 - COMPARATIVO PERCENTUAL DA GRAVIMETRIA DA PRODUÇÃO FÍSICA DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – KG/MÊS – AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA FIGURA 4.5 - COMPARATIVO PERCENTUAL DAS RECEITAS BRUTAS DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – KG/MÊS – AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

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É fácil depreender que o grosso do volume físico (76%) e do valor pago pelo CAS Central (81%) provém, em sua maioria, dos catadores do Vertedero, embora outros catadores eventualmente também ofereçam materiais de forma menos sistemática. Para os efeitos deste diagnóstico chamaremos de “Catadores do Vertedero” ao conjunto de catadores de baixo nível de organização que utilizam o Vertedero do Aterro Sanitário de Assunção como fonte principal da catação de materiais recicláveis. Como observado no Plano de Negócios do CAS, esses catadores “são pessoas de alta necessidade (pobreza) e vendem [os materiais] por qualquer dinheiro”5.

Assim, os altíssimos níveis de lucratividade do CAS – entendido aqui como uma Central de intermediação e de apropriação privada de excedentes – não devem surpreender. O mesmo Plano de Negócios afirma que “o rendimento [...] do mesmo é muito superior ao de qualquer outra oportunidade de aplicação financeira”6.

A tabela 4.15 apresenta as estimativas de taxas de lucros

TABELA 4.15 - LUCRO BRUTO DO CAS CENTRAL - % - ESTIMATIVA MENSAL POR MATERIAL E FORNECEDOR – AGOSTO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA 5 Op.Cit. p.7. “Alta necesidad (pobreza) de su gente venden al que le da la plata” – Nossa tradução. 6 Op.Cit. p.3. Nossa tradução.

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brutos mensais por grupos de materiais recicláveis e por tipo de catadores-fornecedores, além dos lucros brutos médios em cada categoria.

Observa-se que, de longe, os catadores-carrinheiros são os mais explorados (152% de lucros brutos médios), pois dependem de forma mais intensa de seu único comprador – o CAS – também proprietário dos carrinhos por eles utilizados.

Porém mesmo os demais grupos de catadores geram excedentes consideráveis: 78% para os catadores que operam junto aos grandes geradores; e cerca de 82% para os catadores do Vertedero. A figura 3.6 destaca esses valores:

FIGURA 4.6 - LUCRO BRUTO DO CAS CENTRAL POR PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS(%)- AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

Com base nos doze grupos de materiais que estamos analisando, pode-se agora estimar as médias ponderadas de lucratividades brutas por tipo de materiais recicláveis, do ponto de vista do CAS Central, como comprador e vendedor. A tabela 3.16 resume esses valores, e a figura 3.7 os representa em suas grandezas percentuais respectivas:

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TABELA 4.16 - LUCRO BRUTO DO CAS CENTRAL - % - ESTIMATIVA MENSAL POR TIPO DE MATERIAL RECICLÁVEL – AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

FIGURA 4.7 - LUCROS BRUTOS DO CAS CENTRAL POR GRUPOS DE MATERIAIS RECICLÁVEIS(%)- AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

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Torna-se, aqui, interessante analisar mais detalhadamente as procedências e a natureza das receitas líquidas do CAS Central, de forma a explicitar suas origens e proporções relativas.

Retornemos, por um instante, à estimativa da procedência dos materiais recicláveis do CAS Central, mas agora sob o ponto de vista dos percentuais da gravimetria de cada tipo de material e cada tipo de catador-fornecedor. Essas porcentagens estão calculadas na tabela 4.17.

TABELA 4.17 - ESTIMATIVA DA PROCEDÊNCIA DOS MATERIAIS RECICLÁVEIS DO CAS CENTRAL - % DA GRAVIMETRIA – AGO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

A figura 4.8 na página seguinte ilustra os valores desta tabela de difícil visualização:

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FIGURA 4.8 - PROCEDÊNCIA DOS MATERIAIS RECICLÁVEIS DO CAS CENTRAL - % DA GRAVIMETRIA – AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

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A partir dos dados da tabela 4.17 torna-se possível analisar as receitas líquidas do CAS Central do ponto de vista da composição dos diversos grupos de materiais e de suas procedências. Esses valores estão expressos na tabela 4.18:

TABELA 4.18 - RECEITA LÍQUIDA DO CAS CENTRAL - % - ESTIMATIVA MENSAL POR TIPO DE FORNECEDOR – AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

Nas páginas seguintes, as figuras 4.9, 4.10, e 4.11, exibem os percentuais das receitas líquidas do CAS originadas de cada fração de catadores.

Observa-se que os carrinheiros são os únicos a catar quantidades significativas de garrafas de vidro e de bolsas de ráfia – através da coleta seletiva. Como seria de se esperar, a contribuição distintiva dos grandes geradores para a receita líquida do CAS é proveniente do papelão e do vidro, embora componham uma parte própria significativa de PET/Plásticos. Este material, entretanto é o carro-chefe dos catadores do Vertedero, e – como veremos a seguir – é o principal elemento componente das receitas líquidas (e do lucro bruto) do CAS Central.

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FIGURA 4.9 - RECEITA LÍQUIDA DO CAS CENTRAL POR PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS - CARRINHEIROS(%)- AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA FIGURA 4.10 - RECEITA LÍQUIDA DO CAS CENTRAL POR PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS – GRANDES GERADORES(%)- AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

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FIGURA 4.11 - RECEITA LÍQUIDA DO CAS CENTRAL POR PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS – CATADORES DO VERTEDORO E OUTROS CATADORES(%)

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA As percentagens das médias ponderadas das receitas líquidas provenientes da intermediação executada pelo CAS em cada um dos grupos de materiais recicláveis são apresentadas na tabela 4.12. Mais de um terço da receita líquida – no conjunto dos catadores-fornecedores – é proveniente da comercialização de PET/Plásticos (35%). Mais de um quarto da receita líquida provém da comercialização de metais (26%). Polietileno e PET Óleo são responsáveis por outros 21% da receita líquida, enquanto papéis e papelão respondem por apenas 5% dessa receita. Garrafas e bolsas -- provenientes principalmente da coleta seletiva – são responsáveis por 12%, em boa parte pelo alto nível de exploração dos diferenciais de preços sobre os carrinheiros.

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FIGURA 4.12 - RECEITA LÍQUIDA DO CAS CENTRAL POR PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS – MÉDIA PONDERADA (%)

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

Pode-se agora explicitar as origens das receitas líquidas do CAS Central, por tipo de material reciclável e por catador-fornecedor, de forma que sua totalização resulte em 100% da receita líquida. Esses dados constam da tabela 4.19, a seguir:

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TABELA 4.19 - ORIGENS DAS RECEITAS LÍQUIDAS DO CAS CENTRAL - ESTIMATIVA POR TIPO DE FORNECEDOR E GRUPO DE MATERIAL RECICLÁVEL - % - AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

A figura 4.13, na página seguinte, mostra a segmentação das receitas líquidas do CAS Central, por grupos de materiais e por procedência, em termos percentuais aditivos a 100%. É assim possível traçar o significado das parcelas de excedentes extraídas do processo de intermediação e subordinação exercido pelo CAS Central sobre os três segmentos de catadores.

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FIGURA 4.13 - ORIGENS DAS RECEITAS LÍQUIDAS DO CAS CENTRAL(%)- AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

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4.1.4 Eficiência física e eficiência econômica do CAS CENTRAL

Em particular, devido à sua posição centralizadora na compra, processamento e revenda de materiais recicláveis – jogando o efetivo papel de atravessador nesse mercado – o CAS Central, à primeira vista, exibe impressionantes níveis de eficiências físicas e econômicas.

Por um lado, a entrada em operação de uma unidade organizada inserida entre os catadores e a indústria, colabora com a petrificação dos diferenciais de preços entre os materiais recolhidos pelos catadores e vendidos ao CAS, e os materiais processados vendidos pelo CAS à indústria.

Nesse sentido, a existência do CAS expande e perpetua esses diferenciais, contribuindo ativamente para perpetuar as condições de exclusão social dos efetivos catadores de materiais recicláveis de Assunção. Assim, o CAS Central assume o seu papel de atravessador dos atravessadores, por demonstrar invejável capacidade de atuação na extração de lucros nessa atividade, ao mesmo tempo em que mantém uma retórica de integração social7. Esse discurso esvazia-se na medida em que se constata que no CAS – e ao seu redor – os catadores não são protagonistas em nenhum sentido. São, isto sim, descartáveis, na medida em que deixem de cumprir os seus papéis dentro da lógica de valorização privada de capitais aplicados na reciclagem de materiais.

Por outro lado, o fato do CAS Central não gerar materiais recicláveis de maneira autônoma, faz com que os custos de aquisição sejam deduzidos de suas receitas brutas8. Os valores das receitas líquidas são aqueles sobre os quais a eficiência econômica deve ser inicialmente avaliada.

7 O mesmo Plano de Negócios do CAS afirma “o alto impacto social em um meio com pouco desenvolvimento real. Assim pode-se concluir que além de rentável, é sustentável, criador de riqueza de sensível impacto na sociedade na qual se desenvolve” – Op.cit. p. 4. Basta lembrar que – ao contrário da maioria das cooperativas de catadores de materiais recicláveis existentes no Brasil, os catadores-vendedores nada recebem além dos preços aviltados pelos materiais comprados pelo CAS. Nem sequer os quarentas catadores do próprio CAS têm direito a refeições diárias gratuitas em seu local de trabalho (!). 8 É curioso que – por seu discreto distanciamento do coletivo dos catadores – o CAS tenha que dispender recursos financeiros para remunerar os catadores ligados tanto aos grandes geradores quanto à coleta seletiva executada por carrinheiros, aos quais fornecem os carrinhos, e dos quase são os únicos e cativos compradores. Esse dispêndio, acaba por excluir os catadores de quaisquer participações sobre os lucros da atividade, porém exige que esses dispêndios sejam deduzidos da receita bruta.

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A tabela 4.20 exibe as eficiências do CAS – na ótica de central compradora e revendedora de materiais recicláveis – tanto para valores de suas receitas brutas, como para valores de suas receitas líquidas:

TABELA 4.20 - EFICIÊNCIAS FÍSICA E ECONÔMICA DO CAS CENTRAL – VALORES BRUTOS E LÍQUIDOS DAS RECEITAS - AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

Como os catadores ocupados no CAS Central são apenas 40, tanto a produtividade física como a produtividade econômica são espantosas, por serem resultados per capita! Em valores brutos resultam em eficiências superiores à mais eficiente dentre todas as vinte cooperativas amostradas na Brasil em outro trabalho executado pelo PANGEA9. Mesmo em valores de suas receitas líquidas, suas eficiências são superiores às demais dezenove cooperativas amostradas no mesmo trabalho, sendo ultrapassada apenas pela mais produtiva e eficiente das cooperativas brasileiras de catadores de materiais recicláveis. Mas – como argumentaremos mais tarde – esses valores são ilusórios, e obtidos por prestidigitação e ocultação dos sujeitos ativos no processo de catação, que acabam sendo, um tanto ardilosamente, retirados do denominador dos cálculos de eficiência per capita...

Retornaremos ao assunto quando da apresentação da ótica do SISTEMA CAS10.

Passemos agora à breve discussão da Ótica dos Catadores.

9 Favor consultar Damásio, J. “ANÁLISE DO CUSTO DE GERAÇÃO DE POSTOS DE TRABALHO NA ECONOMIA URBANA PARA O SEGMENTO DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS” – PANGEA 2006 – no prelo. 10 Expressão cunhada para evitar que seja tomada pelo Projeto Procicla, objeto interno `a ALTERVIDA.

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4.2 A ÓTICA DOS CATADORES

Nessa ótica avaliaremos cada um dos “fornecedores” como se fossem unidades autônomas de catação. Esta ótica permite avaliar a situação específica de cada tipo de “fornecedor” com instâncias de articulação relativamente autônomas e diferenciadas – embora com o vínculo comum de estarem condicionados aos preços de compra oferecidos pelo CAS. Essa vinculação acaba por submetê-los a uma lógica de subordinação que os mantém presos a um círculo vicioso -- sem perspectivas de vantagens financeiras, ou progressão social.

4.2.1 As receitas dos catadores de materiais recicláveis

Com essa perspectiva de observação, o que é custo para o CAS, é entendido como receita pelos catadores de cada uma dessas instâncias.

As tabelas 4.21 e 4.22 apresentam, respectivamente os valores das receitas mensais dos catadores que fornecem materiais recicláveis ao CAS, e as proporções nas quais cada grupo de materiais contribui com suas receitas.

TABELA 4.21 - RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – R$ - AGOSTO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

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TABELA 4.22 - COMPOSIÇÃO DAS RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL –(%)- AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

4.2.1.1 Carrinheiros

Os aqui chamados de “carrinheiros” compõem um grupo de apenas onze pessoas, literalmente “recrutadas” pelo CAS para operar um sistema de coleta seletiva, ainda pouco eficiente, parcialmente implementado a partir de 13 bairros da cidade de Assunção. Nesta primeira etapa, em etapa piloto, o CAS trabalha em seis bairros, que são: Recoleta; Mcal. Estigarribia; Tembetary; Villa Morra; Los Laureles e San Cristóbal11. Embora dependam crucialmente do CAS, pelo fornecimento dos carrinhos e, por isso mesmo, pela compra dos materiais coletados, esses carrinheiros não são considerados funcionários do CAS, e não têm qualquer vantagem adicional.

As figuras 4.14 e 4.15 apresentam, respectivamente, as estimativas percentuais das composições físicas e das receitas mensais dos catadores carrinheiros que fornecem materiais recicláveis para o CAS:

11 Op.cit. p.3

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FIGURA 4.14 - ESTIMATIVA PERCENTUAL DA COMPOSIÇÃO DA PRODUÇÃO FÍSICA DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – CARRINHEIROS (%)- AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA FIGURA 4.15 - COMPOSIÇÃO DAS RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – CARRINHEIROS (%)- AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

4.2.1.2 Os catadores nos grandes geradores

Apesar da gerência do CAS haver declarado que recebem materiais recicláveis de onze “grandes geradores”, apenas

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sete deles constam das relações de materiais efetivamente processados pela unidade: o Shopping; a Unilever; a Polpar; a Mimbi; a Abasto; a Coyote; e a Comico. Oito catadores estão ligados permanentemente às atividades de catação dos materiais desses grandes geradores e são remunerados de acordo com o volume de material recolhido.

Pela própria natureza de sua operação,são de fato funcionalmente atrelados à existência do CAS. Porém, não mantém com o CAS qualquer vínculo de natureza empregatícia, nem auferem quaisquer outras vantagens adicionais. Por essa especificidade, dependem da natureza e dos volumes dos materiais recicláveis recolhidos a partir dos grandes geradores. Por esse fato, podem ser, com essas especificidades, diferenciados como grupo de catadores com funções peculiares.

As figuras 4.16 e 4.17 apresentam, respectivamente, as estimativas percentuais das composições físicas e das receitas mensais dos catadores ligados ao recolhimento nos grandes geradores que fornecem materiais recicláveis para o CAS:

FIGURA 4.16 - ESTIMATIVA PERCENTUAL DA COMPOSIÇÃO DA PRODUÇÃO FÍSICA DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – GRANDES GERADORES (%)- AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

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FIGURA 4.17 - COMPOSIÇÃO DAS RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – CATADORES NOS GRANDES GERADORES (%)- AGOSTO DE 2007

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4.2.1.3 Catadores do vertedero e outros catadores

Nesta denominação encontram-se 95 catadores de materiais recicláveis que recolhem os seus materiais principalmente no Vertedero da Cateúra. Esses catadores foram selecionados dentre um universo que é situado entre 500 e 600 pessoas que atuam no Vertedero e seus arredores. É relatado que na época da inauguração do CAS, até 400 catadores buscaram cadastramento para vender materiais. Diante de uma forte oferta – muito superior à capacidade de processamento hoje instalada no CAS – foram selecionados os atuais 95 catadores.

Não existe qualquer tipo de estabilidade ou de compromisso entre o CAS e os catadores, que são tratados individualmente, independentemente do fato de serem ligados ou filiados a alguma associação ou cooperativa de catadores. Assim, o fato de reputadamente existirem cinco associações / cooperativas

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de catadores, as relações se dão ao nível pessoal, e jamais ao nível institucional12.

Como nenhuma das associações / cooperativas ligadas à coleta no vertedouro ou imediações possui qualquer espaço físico próprio ou equipamento, a venda direta à indústria é difícil, senão impossível. Os catadores que atuam nessas condições não são obrigatoriamente atrelados ao CAS, já que – pelo menos em tese – podem optar por vender os seus materiais recicláveis a outros atravessadores. Porém, o CAS utiliza a sua proximidade física ao Vertedero da Cateúra como diferencial locacional, oferecendo vantagens de acesso e beneficiando-se de vantagens preferenciais: os catadores que têm os seus produtos comprados pelo CAS julgam-se favorecidos e recompensados...

Assim, esses 95 catadores acabam por permanecer relativamente incorporados à lógica de funcionamento do CAS, que, entretanto, não guarda com eles qualquer compromisso formal de compra em volumes ou prazos determinados.

As figuras 4.18 e 4.19 apresentam, respectivamente, as estimativas percentuais das composições físicas e das receitas mensais dos catadores ligados ao recolhimento de materiais recicláveis no Vertedero da Cateúra – ou seus arredores – e que são fornecedores do CAS:

12 Entre as associações identificadas, encontram-se a COSIGAPAR (Comité sindical de ganchero particular ); a ASOTRAVERMU (Asociación de Trabajadores de Vertedero Municipal) e a ASOGAPAR (Asociación de Ganchero Particular ). É alegado que, embora trabalhem todas em mesmos lugares, com horários semelhantes, o que as distingue seria o acesso a determinados caminhões de coleta de lixo urbano e/ou suburbano.

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FIGURA 4.18 - ESTIMATIVA PERCENTUAL DA COMPOSIÇÃO DA PRODUÇÃO FÍSICA DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – CATADORES DO VERTEDERO E OUTROS CATADORES (%)

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

FIGURA 4.19 - COMPOSIÇÃO DAS RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – CATADORES DO VERTEDERO E OUTROS CATADORES (%)

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

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4.2.1.4 Carrinheiros, grandes geradores e catadores do vertedero: médias ponderadas

Agora é possível – na ótica dos catadores de materiais recicláveis – calcular as médias ponderadas para a composição das receitas mensais dos catadores que vendem para o CAS. A figura 4.20 descreve essa composição:

FIGURA 4.20 - COMPOSIÇÃO DAS RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – MÉDIA PONDERADA DOS TRÊS GRUPOS DE CATADORES (%)

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

4.2.2 Eficiência física e eficiência econômica dos três grupos de catadores

A partir dos dados de produção física e de receitas auferidas calculados e apresentados nas seções anteriores, torna-se possível estimar as eficiências físicas e econômicas de cada um dos três grupos de catadores-fornecedores do CAS.

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A tabela 4.23 apresenta esses resultados:

TABELA 4.23 - EFICIÊNCIAS FÍSICA E ECONÔMICA DOS TRÊS GRUPOS DE CATADORES – CARRINHEIROS, GRANDES GERADORES E VERTEDERO - AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

Desta tabela, pode-se concluir, sem surpresa, que todos os três grupos de catadores apresentam baixíssimas eficiências econômicas – embora tenham médias eficiências físicas. Salta aos olhos o fato que poderiam apresentar melhores eficiências econômicas caso apresentassem melhores eficiências de mercado13.

Porém, suas eficiências econômicas são baixíssimas pelas mesmas razões que as eficiências econômicas do CAS Central (apresentadas na seção anterior) são altíssimas! Uma conclusão NÃO É independente da outra, uma vez que uma causa a outra, ao mesmo tempo em que é conseqüência da outra.

Em outras palavras: as eficiências econômicas dos três grupos de catadores são baixas para permitir que a eficiência econômica do CAS seja alta: um aumento na eficiência econômica de qualquer desses três grupos, inevitavelmente implicaria em uma redução da eficiência econômica do CAS!

Esta constatação apenas ressalta o artificialismo utilizado nas duas óticas anteriormente apresentadas: nem o CAS CENTRAL é independente dos grupos de catadores; nem esses catadores podem ser vistos como independentes do CAS CENTRAL. Suas eficiências físicas e econômicas são atreladas de forma inextrincável, e a oposição de seus comportamentos apenas

13 Observe-se que os cálculos das respectivas eficiências de mercado – nesse caso – resultariam em tautológico raciocínio circular, uma vez que a estrutura do CAS mantém esses três grupos de catadores atrelados a preços vis para a compra de seus materiais recicláveis.

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evidencia a natureza exploratória da atividade do CAS. Ao privatizar os benefícios do processamento e venda dos materiais recicláveis, e ao contribuir para ossificar a distribuição muito desigual dos rendimentos dessa atividade, o CAS só poderá ser inteiramente apreciado se tomarmos o conjunto das atividades de catadores-fornecedores-processamento-venda à indústria como um todo consistente. Isto significa a conceituação do SISTEMA CAS, que passamos a discutir brevemente na seção seguinte.

4.3 A ÓTICA DO SISTEMA CAS.

Nessa ótica todo o processo de catação ligado direta ou indiretamente ao CAS será analisado em conjunto, como um sistema interligado, o “SISTEMA CAS”. Assim, as eficiências físicas e econômicas serão calculadas de forma conjunta – aliás como ocorreria se a opção institucional de organização jurídica fosse a cooperada.

Esta também é a ótica que permitirá visualizar a canalização dos recursos financeiros obtidos a partir da catação de materiais recicláveis e sua destinação à ALTERVIDA sob título de “amortização da dívida”. Aqui, novamente será necessário retornar à realidade, na qual o CAS sequer é pessoa jurídica independente da ALTERVIDA, havendo sobreposição de contabilidade.

4.3.1 A natureza do “sistema cas”

O SISTEMA CAS é composto por um total de 154 catadores – segregados em quatro grupos diferentes:

• 40 catadores ocupados no CAS Central; • 11 catadores-carrinheiros atrelados à coleta seletiva; • 08 catadores atrelados aos grandes geradores; e • 95 catadores selecionados no Vertedero e arredores.

Qualquer análise que deixe de considerar esse complexo de instâncias articuladas, será incapaz de capturar o conjunto do processo de trabalho humano que é capaz de recolher,

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processar e comercializar 127.135 Kg de materiais recicláveis mensalmente, ao valor agregado de R$ 53.359,22.

Fracionar a análise, sem dúvida esclarece as partes e componentes, mas deixar de compreender a sua totalidade, além de contribuir para fraudar e obscurecer a natureza do processo em sua dinâmica, e em suas partes constitutivas.

Assim procedendo, os custos de aquisições de materiais embutem-se – pela consideração das produtividades físicas e econômicas do conjunto dos trabalhadores envolvidos direta e indiretamente nas atividades do CAS. Como conseqüência, a receita líquida do CAS – tão importante para o cálculo da rentabilidade e dos lucros brutos do empreendimento – precisa ser substituída pela receita bruta, nos cálculos das eficiências econômicas do SISTEMA CAS.

4.3.2 Eficiência física e eficiência econômica do sistema CAS

Antes que possamos apresentar os resultados dos cálculos das eficiências física e econômica do SISTEMA CAS, é necessário fazer uma observação:

Com respeito à eficiência econômica: uma coisa é calculá-la considerando a valoração per capita bruta, sem penalizá-la com encargos e amortizações. Outra coisa é introduzir uma dedução compulsória sobre todo o valor da produção bruta, a título de amortização da dívida contraída com o BID.

Somos informados que no momento um montante equivalente a US$ 800 semanais14 são transferidos à ALTERVIDA a título de amortização dessa dívida. Na prática – diante da inexistência de figura jurídica de um CAS independente da ALTERVIDA – isto significa apenas transferência interna de caixa dentro da própria empresa. Mas este fato, obviamente, influencia nos valores economicamente disponíveis para os cálculos da eficiência econômica.

Para evitar dúvidas e ambigüidades, optou-se por apresentar ambos os cálculos: a) no primeiro caso, a eficiência

14 Algo como US$ 3.200 mensais, ou, ao câmbio da época, uns R$ 6.400,00 por mês.

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econômica foi calculada a partir do SISTEMA CAS conjunto, a partir dos valores brutos da produção, sem qualquer dedução15; b) no segundo caso, a eficiência econômica foi calculada a partir dos valores brutos da produção, deduzidos dos R$ 6.400,00 mensais, retirados a título de amortização da dívida contraída com o BID16. As eficiências físicas são idênticas em ambos os casos.

Deve-se repetir que nenhuma consideração pode ser feita a respeito dos recursos transferidos a fundo-perdido pelo mesmo BID à ALTERVIDA por conta do Projeto PROCICLA17; dos recursos alocados pela USAID18; ou dos montantes transferidos pela Prefeitura de Assunção19. Nenhuma destinação dessas alocações é conhecida nem suas formas de aplicações, financeiras ou não. Assim, tampouco qualquer benefício é adicionado ao cálculo da eficiência econômica do SISTEMA CAS. Se benefícios existem, eles devem estar incorporados ao patrimônio da ALTERVIDA que – embora juridicamente ligada ao CAS, e dele indistinguível – é considerada como externa ao SISTEMA CAS, para efeito desses cálculos.

Não é necessário voltar a declarar que esclarecimentos adicionais a este respeito exigiriam uma auditoria das contas do Projeto PROCICLA no âmbito da ALTERVIDA – tarefa que extrapola os limitados objetivos deste diagnóstico e de muito excede as competências da equipe executora.

A tabela 4.24 apresenta os resultados dos cálculos efetuados para as eficiências físicas e econômicas do SISTEMA CAS, respectivamente SEM, e COM a dedução da parcela de “amortização da dívida” com o BID.

15 Aliás, como é tradicionalmente feito nos cálculos de eficiências econômicas apresentadas em outros trabalhos da equipe do PANGEA 16 Declarada como sendo US$ 238.000,00. 17 Esta parcela não-reembolsável é declarada como equivalente a US$ 300.000,00. 18 Não foi possível obter os valores não-reembolsáveis transferidos pela USAID à ATERVIDA. 19 Tampouco foi possível obter dados definitivos sobre os montantes desta contribuição, assim como de outros possíveis financiadores cujas logomarcas aparecem nos folders do Projeto Procicla.

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TABELA 4.24 - EFICIÊNCIAS FÍSICAS E EFICIÊNCIAS ECONÔMICAS DO SISTEMA CAS – AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

Esses valores para as eficiências físicas e econômicas, colocam ambas as situações em enquadramento de atividades de baixas eficiências, muito ao contrário do que foram os resultados obtidos na análise do CAS CENTRAL. E este é efetivamente o caso do conjunto das atividades de catação, processamento e venda de materiais recicláveis para a indústria, no bojo do Projeto PROCICLA, de responsabilidade da ALTERVIDA. O projeto, entretanto, é extremamente rentável – do ponto de vista da lucratividade privada – como já foi demonstrado anteriormente.

A tabela 4.25 coteja as diferentes eficiências físicas e econômicas dos diversos segmentos nos quais se pode seccionar o conjunto das atividades do SISTEMA CAS:

*01 - CAS CENTRAL - Valores Brutos *02 - CAS CENTRAL - Valores Líquidos *03 - Carrinheiros *04 - Grandes Geradores *05 - Catadores do Vertedero *06 - TOTAL FORNECEDORES *07 - SISTEMA CAS CONJUNTO - V. Brutos *08 - SISTEMA CAS CONJUNTO – V. Brutos Após Amortização da Dívida

As figuras 4.21 e 4.22, respectivamente, justapõem as eficiências físicas e as eficiências econômicas desses oito segmentos, diferencialmente conceituados.

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TABELA 4.25 - EFICIÊNCIAS FÍSICAS E EFICIÊNCIAS ECONÔMICAS DOS DIVERSOS SEGMENTOS DO SISTEMA CAS – AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

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FIGURA 4.21 - EFICIÊNCIAS FÍSICAS DAS SECÇÕES DO SISTEMA CAS(KG/CATADOR)-AGOSTO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

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FIGURA 4.22 - EFICIÊNCIAS ECONÔMICAS DAS SECÇÕES DO SISTEMA CAS(R$/CATADOR)-AGOSTO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

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4.3.3 Análise comparativa das eficiências dos segmentos do sistema CAS

Com o que foi exposto nas seções anteriores, pode-se entender – fazendo agora o raciocínio inverso -- como é possível partir de um sistema de baixas produtividades física e econômica (itens *07 e *08 da tabela 5.2); segmentar o conjunto dos catadores envolvidos em três grupos, excluídos dos cálculos pela compra de seus materiais a preços vis (itens *03, *04, *05 e a sua totalização no item *06); e finalmente exibir níveis altíssimos de produtividades física e econômica, ao considerar como base apenas os 40 catadores remunerados de forma proto-assalariada na central do CAS (itens *01 e *02 da mesma tabela).

É evidente que a razão subjacente para que esses fatos possam ter lugar – à parte certo grau de prestidigitação contábil – reside no isolamento dos benefícios gerados no processo, mais coerente com uma lógica de apropriação privada do que com a repartição solidária dos resultados.

Resta, entretanto, estabelecer uma relação comparativa com outras unidades de catadores de materiais recicláveis existentes, e já estudadas – e que fossem capazes de prover um pano-de-fundo para que o que se passa no SISTEMA CAS possa ser melhor evidenciado.

No âmbito do Centro de Referência do Catador de Material Reciclável do PANGEA, existem dois estudos prévios que podem servir a esta função: a) O estudo amostral executado em 2006 para o conjunto das cooperativas / associações de catadores brasileiras ligadas ao Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis20, e; b)O recém concluído estudo sobre as cooperativas paulistas ligadas à Rede Cata Sampa21.

Com base nesses dois estudos, torna-se possível aquilatar as eficiências globais comparadas das diversas segmentações do SISTEMA CAS, e que podem ser melhor apreciadas.

20 Damásio, J. “ANÁLISE DO CUSTO DE GERAÇÃO DE POSTOS DE TRABALHO NA ECONOMIA URBANA

PARA O SEGMENTO DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS” – PANGEA 2006 – no prelo. 21 “RELATÓRIO TÉCNICO DE AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE DO PROJETO REDE CATA SAMPA, SÃO PAULO, BRASIL” – Produto elaborado para a Funcação AVINA – Salvador – Novembro de 2007.

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A tabela 4.26 apresenta as eficiências globais, de forma comparativa, das diversas secções do SISTEMA CAS, cotejando-as com aquelas das 20 cooperativas da amostra representativa do Brasil.

TABELA 4.26 - EFICIÊNCIA COMPARATIVA DAS SECÇÕES DO SISTEMA CAS EM RELAÇÃO À AMOSTRA BRASIL(*) – ORDENAÇÃO – AGO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe – PANGEA *Consultar Damásio(2006) Observa-se que – ao apresentar-se como unidade isolada, o CAS CENTRAL – tanto em sua versão com valores das receitas brutas, quanto em sua versão com valores das receitas líquidas – exibe uma altíssima eficiência global (itens *01 e *02).

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Os segmentos dos catadores-fornecedores situam-se na zona de baixa eficiência – particularmente pela baixíssima eficiência de mercado que lhes é imposta pelo CAS CENTRAL (itens *03, *04, *05, e sua totalização *06).

Ao ser integrado aos seus catadores-fornecedores, o CAS CENTRAL passa a demonstrar a verdadeira eficiência global do sistema: cai da faixa de alta e altíssimas eficiências, ultrapassa toda a faixa de média eficiência, e vem alocar-se em plena faixa de baixa eficiência (itens *07 e *08). Em particular, os valores obtidos para o Sistema CAS conjunto -- analisado após a retirada dos valores para a amortização da dívida com o BID, item *08 – coloca-se acima apenas da eficiência dos catadores do Vertedero, item *05 ( e de sete das vinte cooperativas da amostra-Brasil) e abaixo até mesmo da produtividade do conjunto dos segmentos catadores-fornecedores, item *06.

Efetuando-se a comparação com outra base de dados – a das cooperativas paulistas associadas à Rede Cata Sampa – são obtidos os dados constantes da tabela 5.4.

De forma semelhante ao anteriormente descrito, o CAS CENTRAL em sua contabilidade de receitas brutas (item *01) demonstra uma eficiência global superior mesmo à da Central da Rede Cata Sampa. Mesmo ao serem consideradas apenas as suas receitas líquidas (item *02)– descontando os pagamentos efetuados aos catadores-fornecedores – a sua eficiência global permanece na faixa de alta eficiência, abaixo apenas da Central da Rede Cata Sampa e da Coopamare.

Porém, como já sabemos, essas são avaliações ilusórias da eficiência global do CAS, adequadas apenas para ilustrar a capacidade de extrair excedentes privatizáveis da atividade de catação de materiais recicláveis. Nessas mensurações são eliminadas quaisquer possibilidades de capilaridade dos rendimentos, na forma que a Rede Cata Sampa procurou instituir -- seja via dos mecanismos da comercialização conjunta, seja via das participações nas retiradas de resultados obtidos a partir dos grandes geradores, feiras e eventos.

Pelo lado dos catadores-fornecedores, observa-se que os segmentos dos catadores alocados aos grandes geradores (item

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TABELA 4.27 - EFICIÊNCIA COMPARATIVA DAS SECÇÕES DO SISTEMA CAS EM RELAÇÃO À REDE CATA SAMPA(*) – ORDENAÇÃO – AGO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe – PANGEA *Consultar PANGEA(2007) *04) e os carrinheiros (item *03) inserem-se na faixa de baixa produtividade global, abaixo da CooperGlicério e da Cruffi e imediatamente acima da CORA.

Os catadores do Vertedero (item *05) aproximam-se perigosamente da faixa de baixíssima produtividade -- acima apenas da AME, ainda na faixa de baixa produtividade, mas abaixo de todas as demais.

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O SISTEMA CAS em seu conjunto, após a dedução das amortizações da dívida com o BID (item *08) insere-se em faixa de produtividade global baixa, abaixo da CORA, e acima da CooperSantos.

Acreditamos que as comparações de eficiências globais relativas, que foram acima apresentadas, resumem o verdadeiro estatuto da CAS – unidade central do Projeto PROCICLA – em suas articulações sistêmicas com as atividades de catação, processamento e comercialização de materiais recicláveis em Assunção.

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5 SUSTENTABILIDADE ECONOMICA, SOCIAL, AMBIENTAL E INSTITUCIONAL

5.1 SUSTENTABILIDADE INSTITUCIONAL

No que se refere à sustentabilidade institucional, observa-se que a concepção do projeto e sua aplicação gerou uma espécie de armadilha e paradoxo: pois é preciso gerar fortes excedentes, e neste sentido explorar o trabalho dos catadores, que se tornaram meros fornecedores de matéria prima, para pagar uma dívida que foi contraída, pelo menos em tese, para gerar resultados sociais e benefícios para estes catadores!

Este processo é reforçado quando, ademais, não foi observado nenhum plano de se estimular a construção de uma cooperativa, ou associação, ou empresa social22, que possa vir a tornar-se o ente que representa o processo de emancipação dos pretensos beneficiários.

Caso houvesse este plano, o mesmo já deveria, há muito tempo, ter sido implementado, na medida em que se sabem as tradicionais dificuldades de construir um novo sujeito econômico de baixo para cima, autônomo e ciente das complexidades do mercado.

Até o momento o único beneficiário do projeto é o próprio CAS, que não é uma figura jurídica, e que encontra-se subordinado ao ALTERVIDA/GEAM 23

Neste sentido não se observa sustentabilidade institucional pelo menos no que se refere à mesma estar articulada a algum tipo de processo de emancipação dos catadores24. A sustentabilidade institucional atualmente está calcada na ALTERVIDA/GEAM, comprometendo a efetividade do projeto ao longo do tempo25.

22 E aqui não se pretende analisar qual o melhor modelo, mas que haja algum ! 23 Cabe perguntar: de quem será os equipamentos ao final do projeto se não existe nenhum beneficiário de fato nem formalizado? 24 E aqui cabe uma nova pergunta: para que ter realizado cursos de cooperativismo/associativismo se não surge desse processo uma nova organização? 25 Entendo efetividade como capacidade de permanência da ação ao longo do tempo pergunta-se: quem dará continuidade a ação em longo prazo se não foi criado este sujeito?

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5.2 SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

No que se refere à dimensão ambiental, a iniciativa no galpão conta com os elementos básicos de um processo de triagem. No entanto, seria necessário implantar uma esteira para que a coleta possa ser mais adequadamente realizada. Quando, porém, se analisa a fonte da matéria prima que alimenta a operação, observa-se que quase 75,8% proveniente do lixão. Neste sentido, cabe registrar que a coleta no lixão, da forma como é feita, é absolutamente desprovida de sustentabilidade ambiental. Por outro lado, o projeto não se envolveu com a solução desta questão, instalando-se nas proximidades do lixão, e comprando os recicláveis da sua rede de fornecedores (os catadores do lixão) sem maiores comprometimentos com a questão.

Esta postura se acentua quando se observa que o projeto conta com apenas 10,9% de recicláveis originários da coleta seletiva residencial, uma operação que teria, em tese, mais sustentabilidade ambiental.

De fato, são apenas 11 (onze) catadores trabalhando com 6 (seis) carrinhos de coleta em 13 bairros, sendo que a abrangência em cada um destes bairros é muito reduzida. O projeto não previu investimentos significativos na operação da coleta seletiva (por exemplo, mais carrinhos de coleta, ações de educação ambiental, etc), o que indica que esta não é uma prioridade, pelo menos no momento.

5.3 SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA E SOCIAL

Pelo exposto nos capítulos anteriores observa-se que a sustentabilidade econômica está baseada no processo de compra de materiais recicláveis a preços muito baixos dos que deveriam ser beneficiários do projeto, visando gerar excedentes para pagar o empréstimo do BID. Observa-se neste sentido um profundo equívoco de concepção do projeto que o compromete de forma decisiva.

A concepção equivocada compromete assim a avaliação da sustentabilidade social. Isto porque se pode concluir que como não há beneficiários no projeto, o mesmo é insustentável do ponto de vista social.26

26 Foi observado dois trabalhos na área de assistência social voltado para os filhos de catadores e a construção de instrumentos musicais. No entanto, fica-se no campo da filantropia, e não na formação e estimulação de uma construção de um sujeito social emancipado, que deveria ser o foco do trabalho social.

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6 PRINCIPAIS CONCLUSÕES

As baixas eficiências do SISTEMA CAS são – antes de mais nada – atribuíveis aos seus baixos níveis de investimento em produtividade operacional. Isto é evidenciado pela pequena disponibilidade de equipamentos – até mesmo na planta da unidade central do CAS. Isto parece injustificável, diante dos montantes que são citados como tendo sidos investidos no processo. No CAS existe apenas uma prensa27, assim mesmo declaradamente tomada por “emprestada” e não-legalmente de propriedade do CAS / ALTERVIDA. O responsável pela contabilidade paralela do CAS declara explicitamente que uma prensa adicional reduziria em muito os custos operacionais, uma vez que “as luzes não precisariam ficar acesas a noite inteira para permitir a prensagem do material a tempo: os custos com o consumo de energia elétrica diminuiriam muito” (!!) Imaginar que uma unidade de catação que gera um excedente mensal de US$ 3.400 – apenas a parcela da amortização, desconsiderados outros excedentes -- não disponha de recursos para a aquisição de uma prensa adicional a sete ou oito mil dólares – e que aumentaria a sua eficiência financeira – beira as raias do ridículo e do surreal.

Não existem argumentos razoáveis para explicar o porquê da não existência de uma cozinha comunitária no CAS, que permitisse aos catadores efetuar as suas refeições no local do trabalho, reduzindo os seus custos pessoais. Apenas a mais tacanha mentalidade de “privatização das vantagens” e “distribuição das desvantagens” pode explicar este fato. É urgente a criação e instalação de cozinha-comunitária no CAS, extensiva aos catadores efetivamente ligados à atividade.

Apenas dois dos quatro barracões previstos no projeto foram construídos. Mesmo assim, um deles está ocupado com uma estrutura de salas para o pessoal administrativo, deixando pouca área útil para o processamento de materiais. Um terceiro barracão existe apenas em forma estrutural, coberto de forma precária, utilizado como espaço emergencial. Pergunta-se: porque o investimento necessário para a construção de espaços adequados não foram efetuados a partir dos recursos obtidos pelo Projeto Procicla juntos às entidades que o apoiaram financeiramente? Não sabemos, e é claro que apenas uma auditoria das contas da ALTERVIDA responderia a essa questão. Novamente lembrar – e pedimos desculpas pela repetição – que o CAS não tem personalidade jurídica própria.

27 Uma prensa nova pode ser adquirida por valores entre US$ 7.000,00 e US$ 8.000,00.

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Mesmo admitindo-se que seja correto retirar mensalmente dos valores líquidos gerados pelo CAS uma parcela referente à amortização da dívida com o BID; e mesmo admitindo que essas parcelas de fato remunerem o BID e amortizem a citada dívida, resta, entretanto uma pergunta: como obviamente essa amortização está sendo efetuada a partir do trabalho coletivo dos catadores do SISTEMA CAS – ou pelo menos a partir do trabalho dos 40 catadores diretamente ocupados no CAS CENTRAL – ao final dessa amortização quem serão os proprietários efetivos da unidade de processamento, enfim, do CAS? Parece-nos que a resposta é óbvia: não serão os catadores. Nem os quarenta que hoje atuam na central (e que, afinal, nem têm estabilidade), nem muito menos os 114 catadores-fornecedores. A unidade certamente permanecerá na propriedade jurídica da ALTERVIDA, privada, a não ser que imediatamente sejam apresentadas propostas que demonstrem as formas de transferência dessa propriedade aos catadores. Ou – o que nos parece mais de acordo com o espírito que hoje norteia a implementação do Projeto Procicla – que sejam explicitamente abandonados a “retórica social” e o “discurso de integração com os catadores” e seja declarada a natureza de “empreendimento privado” desse projeto. Assim, o verdadeiro papel de “atravessador eficiente” que a implantação da unidade do CAS vem implementando tornar-se-ia explícita, e poderia ser melhor avaliada pelas entidades de financiamento.

Na unidade do CAS existem funcionários administrativos formalmente contratados que legitimamente esperam estar contribuindo para a construção de uma atividade de fato cooperada. Isto ficou bastante claro e patente durante as conversas mantidas no período de nossa visita. Como a direção da ALTERVIDA lhes parece distante e inatingível, mantêm a “esperança” de que um dia o CAS vire uma cooperativa. Não estão a par, no entanto, de qualquer iniciativa ou proposta que lhes indique essa direção. Declaram que se soubessem que isso jamais acontecerá, deixariam a unidade. E a equipe que efetuou o trabalho direto foi testemunha – ao lado do Dr. Eduardo Rotella – de trocas conflituosas de opiniões a respeito, entre a direção da ALTERVIDA e esses funcionários. A tensão interna entre esses “esperançosos sinceros” e a pragmática direção centralizadora da ALTERVIDA aparentemente continuará presente por algum tempo.

A unidade central do CAS está localizada em um terreno de 1.500 m2, cedido pela prefeitura de Assunção, situado SOBRE o aterro sanitário da Cateúra. Isto significa que não há como obter água pura a partir de poços artesianos, uma vez que os lençóis freáticos da região estão profundamente

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contaminados pelo “chorume” do lixo ali depositado – e mais recentemente enterrado – por décadas de utilização. A necessidade de adquirir água a partir da rede pública de Assunção aumenta os custos e limita a expansão de atividades água-intensiva no processamento de alguns materiais recicláveis. Ademais, existe a preocupação local – fundada ou não – que os barracões possam eventualmente sofrer abalos em suas fundações, pelas especiais características do terreno sobre as quais foram os mesmos erigidos. A própria existência de “fossas sépticas” fica comprometida.

A única unidade de transporte de materiais recicláveis reputadamente adquirida como parte do investimento em equipamentos para o CAS é uma camioneta de cabine dupla – declarada como comprada de “segunda-mão”- mais adequada para passeios em fins-de-semana do que para o eficiente transporte de materiais. Como a propriedade do veículo está registrada na ALTERVIDA, a equipe tampouco se sentiu habilitada para tecer comentários adicionais a respeito...

Os quarenta catadores ocupados na unidade central do CAS não falam. As seguidas tentativas, da equipe que esteve em Assunção, de estabelecer um diálogo com eles foram frustradas. Olhares fugidios, respostas monossilábicas e disposição em encerrar logo a conversa. Talvez seja timidez. Talvez seja o contato com o “estrangeiro”. Talvez a convicção de não serem protagonistas. Talvez a sensação de não serem interlocutores legítimos. Talvez seja outra coisa qualquer...

A presença da unidade do CAS -- com sua situação privilegiada junto ao VERTEDERO da Cateúra -- em nada contribui para minorar a exclusão social dos catadores, ou para eliminar ou atenuar a exploração que os intermediários e atravessadores do mercado de materiais recicláveis de Assunção exercem sobre os catadores. Pelo contrário: a presença do CAS – e a sua eventual ampliação e estabilização nos moldes jurídicos e operacionais no qual hoje se encontra – significa a formalização de uma eficiente atividade de exploração e marginalização dos catadores de materiais recicláveis de Assunção. Na verdade, parece ser provável que os únicos agentes que de fato sintam quaisquer impactos pela presença do CAS sejam as indústrias (efeitos positivos, pela melhor qualidade do material recebido, e pela regularidade das entregas); e os demais atravessadores de Assunção (efeitos negativos) pela presença de um novo concorrente mais eficiente, o CAS. Do ponto de vista dos catadores de Assunção, o efeito de curto prazo é majoritariamente neutro: não melhora nem piora a

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sua situação atual. Porém, do ponto de vista prospectivo, o efeito é amplamente negativo, pois significará a eliminação da possibilidade de mobilidade social e do escape ao círculo vicioso da pobreza e exclusão.

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7 RISCOS E OPORTUNIDADES: PROPOSTAS E SUGESTÕES DE APERFEIÇOAMENTO

7.1 DIMENSÃO ORGANIZACIONAL E INSTITUCIONAL

7.1.1 Construção de um novo sujeito social: o beneficiário

O desafio será aquele de construir um novo sujeito social emergencialmente e regular qual será a relação econômica com o projeto. Este novo sujeito (cooperativa, associação ou empresa social) deverá estabelecer uma nova relação com a ALTERVIDA, horizontal e com transparência absoluta para ambas as partes.

7.1.2 Redefinição dos processos de apropriação do excedente

Como salientado anteriormente é absolutamente impróprio as elevadas taxas de excedentes geradas pela operação. A redefinição deve ter como pressuposto a criação do novo sujeito social e negociação com o mesmo e não mais com pessoas físicas.

7.1.3 Redefinição do Arranjo Institucional com o BID

Tendo como pressuposto a criação do beneficiário, há de se incluir na relação do BID este novo sujeito social. Há de se estimular esta organização a ser criada a se relacionar com o projeto e acordar formalmente uma co-responsabilização sobre a divida com o BID28, a titularidade final dos equipamentos e infra-estruturas adquiridas, a atual situação econômico-financeira do contrato e as perspectivas futuras do mesmo.

7.1.4 Reforço institucional da nova organização a ser criada

Será necessário reforçar a capacidade de planejamento e intervenção da organização, para que possa ocorrer efetividade do projeto. Será necessário também fortalecer os vínculos coletivos visando aperfeiçoar a identificação dos catadores com a organização.

28 Desde que em condições justas para ambas as partes

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i) Contratação de psicóloga social/assistente social que possa trabalhar estas questões alocadas na organização

ii) Capacitação, com metodologias lúdicas a base de dinâmicas de grupo, dos catadores visando à construção desta identidade com a cooperativa.

iii) Capacitação da diretoria da organização para aumentar a sua capacidade de gestão, através de conteúdos como procedimentos cooperativos e tributários.

7.1.5 Construção de um sistema de informações

Na comercialização de recicláveis a informação atualizada de alterações do mercado é estratégica. Em poucas semanas, determinados preços podem subir em função de algum desabastecimento ou por outro fator eventual e rapidamente voltar a um patamar mais baixo.

Sugere-se fortemente a necessidade de criar um sistema de avaliação e monitoramento de informações, atualizado constantemente, articulado a indicadores de desempenho econômico e social, sem o qual pouco se pode fazer em nível de planejamento estratégico.

7.2 DIMENSÃO ECONOMICA, LOGÍSTICA E DE MERCADO

7.2.1 Aspectos Econômicos

Como salientado qualquer operação para aumentar a eficácia da comercialização tem que estar subordinada ao empoderamento dos catadores, o que hoje não ocorre.

7.2.2 Aspectos da Logística da Coleta

Do ponto de vista da logística da coleta sugere-se:

a) Articular no galpão a montagem de uma estrutura de esteira para que parte da coleta do lixo in natura seja despejada na mesma, garantindo ao mesmo tempo, o volume e a escala necessários. Esta operação para dar certo tem que ter uma forte articulação com a Prefeitura municipal b) aumentar o numero de carrinhos e de catadores na coleta seletiva, instalando entrepostos na cidade;

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c) aumentar o número de grandes geradores; d) adquirir caminhão bau para fazer a coleta de grandes geradores na cidade; e) adquirir pelo menos 03 prensas enfardadeiras; f) melhorar o lay-out de fluxos de operação do atual galpão, por exemplo a administração encontra-se no meio de um dos galpões, comprometendo a operação.

Portanto, recomenda-se à Fundação AVINA que eventuais aportes financeiros destinados ao Projeto PROCICLA sejam devidamente analisados quanto à sua efetiva destinação. A perdurar a identidade jurídica entre o CAS e a ALTERVIDA – e a curiosa mescla/separação de valores não-retornáveis e amortizações de dívidas assumidas – parece uma fonte de risco destinar novos aportes29. É óbvio que a unidade operacional do CAS necessita maior volume de investimentos em equipamentos, e que pelo menos uma prensa adicional é imediatamente vital. Porém, antes de efetuar aporte adicional, cabe indagar sobre as destinações efetivas de aportes anteriores, que definitivamente não são fisicamente evidenciados na estrutura física operativa do CAS, na forma em que ele hoje existe.

29 Há que distinguir entre aportes earmarked e aqueles de destinação geral.