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Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais
CEFET/MG
Engenharia de Minas
Disciplina: Lavra de Mina a Céu Aberto
Professor: Marcélio Prado Fontes
VISITA TÉCNICA
Área de extração de argila e garimpo de diamante
7º Período de Engenharia de Minas
Araxá, MG
2015
1- INTRODUÇÃO
No dia 18 de setembro de 2015, às 8 horas, os alunos do sétimo período
do curso de Engenharia de Minas do CEFET-MG/Campus Araxá saíram para
uma visita técnica na empresa Cerâmica Carmelo, figura 1. Os principais
objetivos da visita eram conhecer a extração de argilas e apreciar o garimpo de
diamante na região de Coromandel de forma a complementar os conteúdos
vistos em sala de aula. A visita foi programada pelo professor Marcélio Prado
Fontes.
Durante a visita, foi possível acompanhar a explotação de argila, do tipo
taguá, a qual é utilizada na fabricação de telhas cerâmicas. O material extraído
da região é transportado até a cidade de Monte Carmelo, onde recebe o
tratamento.
Monte Carmelo é conhecido como um “polo ceramista” da região do
Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Isto evidencia que parte da economia da
cidade depende do setor mineral tendo assim um grande número de cerâmicas
em produção e venda de telhas e tijolos. Atualmente os principais fornecedores
de matéria prima (argilas) são os municípios de Abadia dos Dourados, Guarda-
Mor e Coromandel.
Figura 1 - Foto do 7º período de engenharia de minas do CEFET MG - Campus
Áraxa.
2 - História da Região
O Município de Coromandel está situado na Mesorregião do Triângulo
Mineiro/Alto Paranaíba e na Microrregião de Patrocínio, com uma extensão
territorial de 3.296,27 Km2.
No relevo de Coromandel, se destaca as serras, e sua estrutura
geológica é composta por maciços antigos (ou crátons). O município é cortado
pelos rios Buriti, Santo Inácio e pelo ribeirão Santo Antônio do Bonito, que
correm de sul para o norte até desaguar no rio Paranaíba.
As primeiras notícias sobre o povoado que deu origem à cidade de
Coromandel datam do início do século XIX. Por volta de 1824, o arraial de
Santa Ana do Pouso Alegre, também chamado de Carabandela, contava com
aproximadamente 40 casas, a capela dedicada à Santa Ana e uma ponte de
madeira sobre o córrego. A região atraía garimpeiros de diamante e, nessa
época a atividade econômica principal era a pecuária. A extração de diamantes
tem acompanhado permanentemente a história da cidade. Em 1938, foi
descoberto o diamante Getúlio Vargas e quinze entre os vinte maiores
diamantes brasileiros foram encontrados no município. Há alguns anos foi
introduzida a mecanização nos garimpos, mas a forma artesanal não foi
abandonada.
Hoje o garimpo se encontra fechado por determinação da justiça,
deixando assim cerca de 2.500 garimpeiros desempregados na cidade. Não
tendo outros empregos a principal fonte de renda desses garimpeiros é a ajuda
dos familiares.
2.1 - Visita nas área de extração de argila
A argila é um mineral silicato, composto por partículas muito finas. No
local visitado chamado Taguá a argila tem uma extração pelo método de lavra
em meia encosta por operações tradicionais de explotação com escavadeira e
caminhão como pode ser visto na figura 2. O material é totalmente destinado a
fabricação de telhas cerâmicas.
Figura 2 – Escavadeira e caminhão operando na extração de argila.
2.2 - Dimensionamento de frota
A Cerâmica Carmelo Ltda tem uma frota pequena que esta diretamente
ligada a demanda da empresa. A frota da empresa conta com uma escavadeira
de esteira, caminhões rodoviários adaptados para operação em mina e
caminhão bi trem. Alguns deles podem ser visto na figura 3.
Figura 3 – Caminhão rodoviário e escavadeira operando.
As operações de lavra acontecem próximas a um talude muito alto,
figura 4. A escavadeira que fica em uma bancada acima do piso dos
equipamentos de transporte sendo a área de operação bem restrita com o
caminhão muito próximo do equipamento de carregamento. Sendo a manobra
do caminhão feita em manobra de ré.
Figura 4 – Altura e inclinação de talude
A escavadeira faz cerca de 8 a 9 ciclos para encher um caminhão, o que
leva aproximadamente 3 minutos. A argila extraída é transportada para um
pátio próximo a rodovia que leva para Coromandel.
No final do dia a argila é carregada em um caminhão bi trem, onde é
levada para sede da empresa na cidade de Monte Carmelo. A produção da
empresa é de dois caminhões bi trem por dia.
A retirada do estéril é promovida pela escavadeira a qual deposita o
material inerte nas áreas já lavradas.
2.3 - Área de extração em recuperação
Na recuperação é necessário buscar uma forma para que a área possa
ser usada de alguma outra forma no processo produtivo, ou tentar voltar às
condições de equilíbrio ambiental amenizando os impactos causados pela
extração. Para isso é feita uma remodelagem na encosta, como visto no local,
feitos os taludes para estabilizar a encosta, para evitar os danos dos processos
erosivos e movimentos de solo. Além disso, é feita a drenagem da encosta
para que as águas da chuva não movimentem grande quantidade de solo
causando deslizamentos. No local a drenagem das bancadas é feita com
caixas e canos que captam a água em cada uma das bancadas.
2.4 - Área de extração de argila em áreas alagadas
Um outro ponto visitado foi a extração de argila de várzea. Neste tipo de
extração é necessário fazer o bombeamento da água para que ocorram as
operações de lavra. De acordo com supervisor da empresa que acompanhou a
visita, cada tipo de argila tem suas propriedades/finalidades diferentes e são
blendadas na fábrica de acordo com o mercado consumidor da empresa.
Na Figura 5 pode-se observar um dos locais de extração de argila de
várzea. Segundo o supervisor da empresa são isoldas pequenas áreas de lavra
e nesta área é feito o bombeamento da água para locais adjacentes ou para o
próprio rio, visto que as águas se encontram com a mesma qualidade da água
do rio. No entanto as operações estavam paradas no dia.
Figura 5 – Local da extração de argila de varzea.
3 - Visita no garimpo de diamante
O garimpo de diamantes da cidade de Coromandel é organizado através
de cooperativas de garimpeiros que compreende a extração manual e através
de maquinário. A cooperativa dos garimpeiros manuais é denominada como
Copemg, composto por um grupo político ligado à atual administração da
cidade. A cooperativa dos garimpeiros maquinários é denominada por
Coopergac – Cooperativa dos garimpeiros da região de Coromandel. Ela é
composta por um grupo de garimpeiros maiores e menores e possui 134
cooperados (14 gingues).
O garimpeiro minerador é aquele que recebe um salário mensal para a
mineração. Ao contrário do garimpeiro manual, possui um vínculo empregatício
com uma mineradora. Os garimpeiros de maquinários são aqueles que
trabalham com jigues, ou seja, maquinários que aceleram a velocidade de
verificação e lavagem das pedras. O processo consiste em uma máquina,
geralmente um trator, remover partes do solo e inseri-lo em uma máquina – os
jigues – para que a mesma faça a lavagem e permita a verificação se existem
diamantes.
Os garimpeiros manuais são aqueles que desempenham as suas
funções no trabalho com a peneira. Os mesmos não atuam sozinhos, mas sim
como sócios de um fornecedor, geralmente um membro da cidade, e que
obtém através de compra os direitos para minerar em uma área específica a
um custo estabelecido. Constitui-se com isso uma relação entre o fornecedor e
o garimpeiro através do qual o garimpeiro manual recebe um salário mínimo
por mês. No caso de encontrar uma pedra, ele tem um percentual de 15% do
valor da pedra. Em termos da composição dos valores dos diamantes
encontrados, 5% por cento ficam para o dono das máquinas. 5% para as taxas
da água de lavagem, e 2% para a cooperativa. Considera-se que todas as
taxas inclusas na mineração permitem a obtenção de um valor líquido de 40%
do preço do diamante. Essas iniciativas são realizadas também como forma de
frentes de trabalho que evitam o aumento do desemprego na cidade. Devemos
considerar que no garimpo manual, em alguns casos, os garimpeiros chegam a
trabalhar anos sem encontrar qualquer diamante.
3.1 - Área de Pesquisa no DNPM
A título de exemplo e curiosidade foi acessado o portal do DNPM
(Departamento Nacional de Produção Mineral) para avaliar como estava o
registro das áreas na região de Coromandel. A seguir são mostrados dois
exemplos de áreas da COOPERGAC.
Registro das Áreas de Garimpo no DNPM
Exemplo 1
Ø Área de Garimpo de diamante: Parada devido a licença ambiental
·Número do processo DNPM: 830706\2009
Poligonal:
Figura 6 - Área de número de processo DNPM: 830706\2009
·Dados e coordenadas:
Condição do proprietário do solo:
Está em posse da área a empresa COOPERGAC ( cooperativa dos
garimpeiros da região de Coromandel).
Documentos que compõem o processo:
Está representado na tabela a seguir, todos os documentos
apresentados e protocolados para seguir com a liberação e posteriormente a
extração do diamante.
Documento Data de protocolo
Memorial Descritivo 08/04/2009
Planta de situação da área 08/04/2009
Plano dos trabalhos de pesquisa 08/04/2009
Orçamento de pesquisa 08/04/2009
Cronograma de pesquisa 08/04/2009
Prova de recolhimento de
emolumentos
08/04/2009
A.R.T do plano de pesquisa 08/04/2009
A.R.T do memorial descritivo 08/04/2009
A.R.T da planta de situação/detalhe 08/04/2009
Situação da área:
De acordo com o número de requerimento 830706\2009 a área de
extração de diamante na região de Coromandel, está paralisada devido ao
prorrogamento da AF( licença ambiental de funcionamento ). E posteriormente,
a área cairá em disponibilidade devido ter atingido o tempo limite de liberação
do documento.
Exemplo 2
Ø Área de Garimpo de diamante: Em produção
Número do processo DNPM: 833.660/2004
Poligonal:f
Figura 7 - Área de número de processo DNPM: 833.660/2004
·Dados e Coordenadas:
·Condição do proprietário do solo:
Está em posse da área a empresa COOPERGAC (cooperativa dos
garimpeiros da região de Coromandel).
·Situação da Área:
De acordo com o número de requerimento 833.660/2004 a área de
extração de diamante em Coromandel é uma das maiores que está em
atividade no município, sendo utilizado 133.6 (ha). De ante todos os protocolos
e exigências cobradas pelo dnpm, esta área estará regularizada até o mês de
agosto/2016.
Mediante o responsável técnico, é utilizado no garimpo dois métodos,
sendo eles: o garimpo manual do cascalho e a gigagem (separação por
densidade, metodo mecânico) .
3.2 Direitos Minerários
O subsolo e a apropriação dos recursos que possui, substância conflitos
e disputas. Como afirma Raffestin (1993, p. 251), “todos os recursos são ou
podem ser instrumentos de poder.” A apropriação do subsolo pelas empresas
mineradoras revela relações de conflitualidade e poder de classe do capital.
Isso ocorre de forma direta, através da territorialização da exploração mineral,
ou indiretamente, pelo controle jurídico, conforme o próprio aparato legal
instrumentalizado pelo Estado. No último caso, os registros de subsolo juntos
ao DNPM, concedidos para pesquisa ou exploração a empresas nacionais e
transnacionais é um exemplo claro. “As concessões legais arrancam ao Brasil,
comodamente, suas mais fabulosas riquezas naturais” (GALEANO, 1986, p.
152).
As concessões de pesquisa ou lavra de riquezas minerais resultam da
autorização do Governo Federal, através do DNPM. Isto é lei e está exposto na
Constituição Federal. Conforme o Art. 20, Inciso IX, “os recursos minerais,
inclusive os do subsolo”, são classificados como bens da União. O Art. 176 §
1o expõe: “A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos
potenciais a que se refere o caput deste artigo somente poderão ser efetuados
mediante autorização ou concessão da União, no interesse nacional, por
brasileiros ou empresa brasileira de capital nacional, na forma da lei, que
estabelecerá as condições específicas quando essas atividades se
desenvolverem em faixa de fronteira ou terras indígenas.”
O Art. 176 § 1o, quando formulado, deixou claro que as riquezas do subsolo
são de interesse nacional, prevendo o aproveitamento dos recursos minerais
por brasileiros ou empresas de capital nacional. Originalmente, o Art. 176 § 1o
entende o subsolo como um bem público, assegurado pela União aos
interesses nacionais. Nos anos seguintes à publicação da Constituição, o
neoliberalismo ganhou força e espaço no país, com privatização de empresas
estatais, inclusive do setor da mineração, como a Vale do Rio Doce em 1997.
Esse processo incentivou a apropriação privada dos recursos naturais e
sociais, com participação intensa do capital transnacional.
A apropriação das reservas minerárias do subsolo expressam territórios
em disputa. Com o objetivo de mostrar essa questão baseando em elementos
da realidade, analisamos a atividade garimpeira de diamantes em
Coromandel/MG. A partir da década de 1990 (efetivamente após a Ementa
Constitucional No 6, de 15/08/1995) milhares de hectares de subsolo passaram
a ser registradas por empresas transnacionais com atuação no município. Além
de contribuir para a interdição dos garimpos, a monopolização dos registros de
subsolo gerou conflitos com garimpeiros, fazendeiros e camponeses,
organizados através da COOPERGAC e SINDIGAC.
Os conflitos envolvendo o subsolo diamantífero envolveram críticas e
enfretamentos políticos, principalmente às empresas transnacionais, como o
grupo canadense “BRAZILIAN DIAMONDS” (SANSUL Mineração e COBRE
SUL Mineração). Como meio de divulgação de notícias, críticas e denúncias,
as lideranças da cooperativa e do sindicato usaram o Garimpando Notícias. A
análise desse jornal e as matérias publicadas por ele desde 2003 demonstram
o papel da COOPERGAC e do SINDIGAC na exposição das contradições,
tramas políticas, discursos ideológicos e mecanismo de controle e
subordinação efetuados pelas empresas mineradoras no município.
Em 2003, a concentração de registro de subsolo foi evidenciada pela
COOPERGAC e SINDIGAC (Tabela 1).
As empresas em destaque na tabela 1 especializaram o controle dos
registros de subsolo sem nenhum tipo de geração de renda para Coromandel,
pouco investindo em pesquisas e mineração, emprego ou arrecadação de
impostos. O objetivo de manter milhares de hectares de subsolo registrado
significou possibilidades de lucros negociando ações em Bolsas de Valores,
elemento do capital especulativo. Garimpeiros e camponeses ou a mistura de
sociabilidades entre eles em Coromandel/MG, foram impactados pela
burocratização da legislação minerária entreguista. O “fechamento jurídico” da
exploração do subsolo (PÓVOA NETO, 1998), representou rupturas no
trabalho cotidiano desses sujeitos, muitos dependentes diretos do garimpo. A
posição da COOPERGAC contra o capital transnacional deixou às claras as
contradições que atingiram os garimpeiros, diante da apropriação do subsolo
sob a própria chancelaria do Estado, fortalecido “[...] para atender aos reclamos
da finança e de outros grandes interesses internacionais, em detrimento dos
cuidados com as populações cuja vida se torna mais difícil” (SANTOS, 2001, p.
19).
Com a iminente paralisação dos garimpos em 2005, o principal desafio
emergente para reverter a situação foi transpor as blindagens impostas por
empresas que detinham os registros de subsolo. Por isso, acirraram as críticas
e as estratégias políticas para colocar em evidência as ações no processo de
controle do subsolo. Um dos mecanismos foi usar o próprio sistema que
garante o movimento especulativo, ou seja, as Bolsas de Valores, onde são
negociadas as ações das empresas. Em abril de 2005 a Câmara Municipal,
motivada pela atuação política de vereadores que se envolveram com o
movimento garimpeiro expediu o título de “Juditio Persona Non Grata” a Sam
Sul Mineração Ltda., “pelos malefícios causados à Sociedade Coromandelense
face a posse de 35.000 hectares de direitos de exploração do subsolo,
impedindo o desenvolvimento regular da atividade garimpeira e por não
contribuir em nada para o desenvolvimento do município”, como foi exposto no
documento, assinado pelos vereadores e enviado para as Bolsas de Valores
onde a empresa negociava ações.
No final de 2005, diante da paralisação dos garimpos, a cooperativa e o
sindicato divulgaram uma Carta Aberta à População esclarecendo, criticando o
Estado e o poder público pela inércia perante o que foi chamado de
“Espetáculo de Injustiça” contra os garimpeiros. Anunciado como um momento
“de dor e aflição” para a população local, com o título o “Garimpo vai parar”.
Pelas riquezas do subsolo também ocorrem manifestações sociais, conflitos
entre interesses nacionais e transnacionais, ou seja, revela disputas territoriais.
A partir de 2005 centenas de garimpeiros tiveram que abandonar
definitivamente os garimpos. Por outro lado, a (re)organização dos garimpeiros
contra a intervenção de empresas transnacionais mostrou o caráter dialético
dos garimpos no município. O movimento contribuiu para desvelar os
mecanismos de controle efetuado pelas empresas que perpetuaram
(perpetuam) o “fechamento do subsolo” (PÓVOA NETO, 1998) à garimpagem.
Houve a paralisação dos garimpos depois de 2005/2006, mas, diante da ação
política empenhada pelos garimpeiros, as intervenções das empresas
transnacionais em Coromandel foram enfraquecendo aos poucos, abrindo
possibilidades para o caminho da legalização, o que não aconteceu de forma
ampla, atendendo a todos os garimpeiros e sim concentrada, diante da
emergência de empresários do garimpo, detentores do capital, conhecimentos
e investimentos para cuidar da parte burocrática. Os anos seguintes também
foram marcados pela progressiva fragmentação, passividade do movimento
garimpeiro e das mobilizações coletivas.
O SINDIGAC se tornou inativo. Perante divergências políticas e
interesses particulares, também surgiu a Cooperativa dos Pequenos e Médios
Garimpeiros (COOPEMG). Quanto ao processo de apropriação do subsolo,
muitas áreas aluvionares continuam sendo registradas e controladas,
principalmente nos vales dos rios (Mapa 1), historicamente apropriado por
garimpeiros e camponeses que ainda vivem na terra.
O mapa 1 demonstra que as áreas requeridas para diamantes
(autorização de pesquisa, requerimento de pesquisa, requerimento de lavra,
concessão de lavra e lavra garimpeira) se concentram principalmente nos
terrenos aluvionais, no leito dos rios e córregos do município, ou seja, nos
“espaços tradicionais de garimpagem”. Os registros junto ao DNPM e através
deles a gestão, apropriação e controle do subsolo diamantífero permanecem
fortalecendo os interesses conflitantes envolvendo garimpeiros, cooperativas,
camponeses, empresários, fazendeiros e empresas de mineração. A
legalização de novas áreas através de cooperativas de garimpeiros permanece
como desafio. Isso significa romper com o monopólio do subsolo. Os
mecanismos de apropriação e controle do subsolo demonstram que os
recursos naturais redefinem as tramas e estratégias políticas do capital,
territorializando mecanismos de espoliação da sociedade e da natureza. A
leitura geográfica dos territórios não pode prescindir da visão integrada e
forjada no conflito.
No contexto atual, a garimpagem na Comunidade de Santo Inácio
permite interpretar os processos de (re)organização do trabalho e do território
nos garimpos de diamantes com atuação de garimpeiros manuais e
mecanizados. Através das ações da COOPERGAC os garimpeiros continuam
praticando a garimpagem legalmente na Comunidade. Mas, a ampliação das
áreas de garimpagem legalizadas, agregando mais trabalhadores no garimpo
de diamantes permanece um desafio.
3.3 - Métodos de lavra e operação do garimpo
As fontes de diamante na região acontecem de duas formas, em
cascalhos ou em conglomerados. Os cascalhos são depósitos recentes ou sub-
recente, encontradas nos leitos dos rios. Enquanto os conglomerados são
rochas com uma grande variedade de tamanhos de cascalhos. E são uma
fonte extremamente importante de Diamantes.
Muitas vezes a extração de diamantes é feita de forma artesanal por
pequenos grupos de pessoas que utilizam técnicas ineficazes e ferramentas
rudimentares. É de extrema importância que a mineração do diamante seja
feita de forma mecanizada, já que a oportunidade econômica oferecida pela
mecanização é grande e existem varias soluções técnicas disponíveis para
isto.
A mecanização da atividade diamantífera aumenta a produtividade e
maximiza o lucro, possibilita a racionalização da produção, ajudando assim à
legalização e formalização, além de melhorar as condições de vida e de
trabalho dos mineiros.
A explotação de sedimentos inconsolidados em dunas, aluviões, praias,
lagos, entre outros depósitos sedimentares, é feita pelo método de lavra
aluvionar (Placer Mining). Os principais bens minerais que são lavrados através
desse método no Brasil são: ouro, cassiterita, ilmenita, rutilo, zircão, monazita e
diamante. Este método envolve utilização de dragas, desmonte hidráulico e
bombeamento por sucção, e pode ser intitulado garimpagem mecanizada.
Além dessa deste tipo de garimpagem também existe a manual (por águas
pluviais, fluviais e catas), relatado anteriormente como artesanal.
A garimpagem manual é a técnica em que o processo é feito pela
lavagem do cascalho com ajuda de equipamentos rudimentares e de
ferramentas manuais para retirada do estéril. Esta técnica pode ser feita com o
auxilio da ação de águas pluviais que proporcionam a abertura de sulcos na
superfície do terreno, deixando o cascalho que esta mineralizado a mostra e
concentrando o material carregado pelas enxurradas, depois este material será
investigado e passará pela catação manual. Outra maneira de se fazer a
garimpagem artesanal é com o auxílio da ação de águas fluviais, em que será
feito o desvio de pequenos córregos, os quais são direcionados ao
decapeamento do material estéril de áreas definidas aleatoriamente ou que
tenham sido submetidas a um trabalho de prospecção anterior, permitindo a
concentração do material transportado, que peneirado posteriormente. Além
destes dois métodos existe um terceiro feito por catas que consiste na
abertura de poços retangulares e de dimensões variadas, com o intuito de se
alcançar níveis mineralizados utilizando equipamentos como pá, picareta,
enxada, suruca (bateria de peneiras com espaçamento das malhas
diferenciado), cuias e bateias, concentrando o material de interesse, e em
seguida é feita a catação manual.
A garimpagem mecanizada pode ser feita pelo desmonte hidráulico, em
que o material estéril sofre decapeamento quando esta recobrindo o depósito
de interesse. A extração desse material é realizada por meio de um jato d'água
em alta pressão levado por mangueiras e direcionado pesadamente na base do
talude da frente de lavra, provocando um desmoronamento controlado e a
movimentação por gravidade, concentrando a polpa formada. Ou por desmonte
hidráulico em leitos submersos com auxílio de mascarita (máscara de
mergulho), escafandro(roupa de mergulho) e chupadora. Este método consiste
num sistema de bombeamento que promove a sucção da polpa formada a
partir da superfície de ataque do leito submerso, muitas vezes com lâminas
d'água de até 30 metros, o ponto de sucção no fundo da água é atingido
através de tubulação, em cujo interior a polpa é transportada. A Chupadora é
um sistema flutuante, onde são acopladas motor, bomba de sucção,
compressor, caixa de seleção (concentração preliminar do material retirado do
fundo do rio).
Uma ultima forma de se fazer a garimpagem mecanizada é por
dragagem, que utiliza de dragas que trabalham nos leitos dos rios, e a lavra é
executada contracorrente e requer o represamento do curso d'água para
proporcionar condições operacionais à draga. Esse método reúne quatro
operações em uma única, ou seja: a draga desmonta, carrega o material,
transporta e beneficia numa única operação, permitindo a viabilidade
econômica da jazida, pois transforma depósitos em jazidas aluvionares, aliadas
a alta mecanização e alta produtividade horária. Comumente são utilizadas as
chamadas dragas de alcatruzes e de sucção.
O que determina as técnicas que serão utilizadas no processo de
mineração é a geologia do local, a situação geográfica e principalmente o
regime hidráulico, independente do tamanho da operação.
A figura 8 foi retirada do relatório “Mecanização da mineração artesanal
de diamantes aluviais: As Barreiras e os Factores de Sucesso” feito pela
organização internacional DDI (A iniciativa Diamante e Desenvolvimento). Na
figura 8 é mostrada a sequência de um processo de mineração de diamantes
aluviais, em que são indicadas as formas de se fazer a extração do diamante.
E a tabela mostra as características da mineração de diamantes para
diferentes tipos de depósito e o potencial das técnicas manuais e mecanizadas
de mineração artesanal para cada tipo de depósito.
Figura 8: Sequência de um processo de mineração de diamantes aluviais
5 - Sugestões:
- EXTRAÇÂO DE ARGILA DO TIPO TAGUÀ
O decapeamento pode ser melhorado, pois não há separação do
solo orgânico do estéril;
Possível Solução: Retirar o solo orgânico e depositá-lo em uma área
separada do estéril o mais próximo possível da frente de lavra. Este material
poderia ser utilizado para recuperação ambiental ao final do processo de lavra.
Resultados obtidos: Redução de custos com a recuperação mais eficiente da
área degradada visto que, atualmente não há cobertura vegetal na área de
recuperação.
Não há uma área específica para a deposição de estéril, sendo
realizada na entrada da área de operação;
Possível Solução: Realizar estudos na área a fim de determinar a localização
de minério, evitando que o estéril seja depositado nessa região, bem como em
locais que dificultam o acesso a frente de lavra.
Resultados obtidos: Melhor aproveitamento da área e maior facilidade de
acesso para os equipamentos.
O acesso é muito estreito em relação ao equipamento de
transporte, havendo a necessidade do mesmo realizar manobras de
ré a uma distância considerável, para atingir a frente de lavra;
Possível Solução: Criar acessos com largura igual a 2,0 vezes à largura do
maior equipamento.
Resultados obtidos: Aumento da segurança de operação, redução do tempo
de ciclo de transporte assim como do número de manobras, reduzindo também
os custos com a manutenção.
A praça de manobra da escavadeira também é muito restrita;
Possível Solução: Aumentar a área da frente de lavra.
Resultados obtidos: Maior espaço para trabalhar, aumento da segurança de
operação e maior produtividade.
A inexistência de controle da geometria, inclinação dos taludes e
drenagem, havendo o risco de desabamento;
Possível Solução: Utilizar o método em tiras, fazendo bancos com geometria
e inclinações de taludes adequadas. Construir canaletas com revestimento em
PEAD (polietileno de alta densidade) com inclinação adequada para que seja
feita uma drenagem eficiente.
Resultados obtidos: Uma drenagem eficiente facilita a movimentação dos
equipamentos, reduz o risco de desabamento e minimiza a quantidade de água
que é transportada juntamente com o minério, aumentando a produtividade.
Uma geometria adequada da cava reduz o tempo de ciclo de operação e
consequentemente o custo com a manutenção dos equipamentos é menor.
Outro aspecto é o aumento do número de frentes de lavras gerando uma maior
produtividade aumentando assim os lucros.
O tempo de ciclo de carregamento muito elevado;
Possível Solução: Substituir a caçamba da carregadeira por uma de maior
capacidade.
Resultados obtidos: Redução de tempo de ciclo e aumento na produtividade.
Falta de instalações que atendam às necessidades dos
trabalhadores.
Possível Solução: Criação de um galpão com bancos e mesas para serem
feitas as refeições, banheiros e local adequado para guardar os pertences e
EPI’s, respeitando a NRM – 15.
Resultados obtidos: Uma maior motivação dos funcionários, pois os mesmos
se sentirão valorizados e consequentemente apresentarão um maior
rendimento.
Área de recuperação, na qual foram observados problemas na
inclinação do talude, no método de drenagem e na recuperação da
cobertura vegetal.
Possível solução: seria ao invés de instalar canalizações, fazer canaletas com
revestimento em gramíneas com a inclinação adequada com apoio da
topografia para que seja feita uma drenagem eficiente. Para a revegetação
deve ser feita inicialmente uma cobertura de material orgânico (40 cm)
proveniente da área de lavra que serão abertas ou estoques para posterior
plantio de gramíneas e arbustos nativos.
- EXTRAÇÂO DE ARGILA DE VÁRZEA
Na extração de argila de várzea, onde será realizada a futura
explotação da argila. Esta apresenta um problema de como drenar
a água e para onde a mesma será bombeada.
Possível solução: seria utilizar o método de dragagem para explotação da
argila.
6 - CONCLUSÃO
Os alunos agradecem a empresa pela disponibilidade e receptividade
oferecida. Em suma, a visita foi de grande valia para consolidação dos
conhecimentos adquiridos em sala de aula, sendo possível presenciar o ciclo
operacional de carregamento e transporte. Como forma de agradecimento
sugere-se melhorias para o processo em sua totalidade. Com todos os
investimentos propostos em melhorias na operação de mina a empresa irá
alcançar uma maior produtividade, aumentando os lucros, a segurança e
melhorando as condições de trabalho.
7 - Referências
ACQUASOLO. O impacto das atividades minerárias, ?.Disponível em:
<http://www.acquasolo.com.br>. Acesso em 13 out. 2015.
BIOCEV, serviços e consultoria ambiental. Programa de Monitoramento
Recuperação e Conservação dos solos. Minas Gerais, 2013. 11 p.
BRAY, R. N.; BATES, A. D. e LAND, J. M. Dredging, a Handbook for
Engineers.John Wiley & Son, Inc. Second edition.New York, 1997.
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