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Arq Bras Oftalmol. 2007;70(6):1001-5 Color vision discrimination in employees of a photographic laboratory Trabalho realizado no Departamento de Oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - São Paulo (SP) - Brasil. 1 Doutora, Professora Adjunto do Departamento de Oftal- mologia da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - São Paulo (SP) - Brasil. 2 Tecnóloga Oftálmica, Estagiária do Setor de Eletrofi- siologia Visual Clínica do Departamento de Oftalmo- logia da UNIFESP - São Paulo (SP) - Brasil. 3 Livre Docente, Professora Adjunto Departamento de Oftalmologia da UNIFESP - São Paulo (SP) - Brasil. Endereço para correspondência: Adriana Berezovsky. Departamento de Oftalmologia - Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP. Rua Botucatu, 822 - São Paulo (SP) CEP 04023-062 E-mail: [email protected] Recebido para publicação em 14.09.2006 Última versão recebida em 17.07.2007 Aprovação em 18.07.2007 Nota Editorial: Depois de concluída a análise do arti- go sob sigilo editorial e com a anuência da Dra. Maria Teresa Brizzi Chizzotti Bonanomi sobre a divulgação de seu nome como revisora, agradecemos sua participa- ção neste processo. Adriana Berezovsky 1 Nívea Nunes Cavascan 2 Solange Rios Salomão 3 INTRODUÇÃO A visão de cores é uma função complexa do sistema visual. Quando prejudicada pode revelar precocemente pequenos distúrbios no sistema de sensibilidade espectral dos fotorreceptores (1-2) . A avaliação da visão de cores pode envolver várias propostas como: diagnosticar o tipo e a gravidade de defeitos congênitos ou adquiridos; controlar e verificar eficácia de tratamentos medicamentosos; auxiliar na orientação vocacional e na seleção profissional (3-4) . Também se mostra útil na avaliação da toxicidade retiniana em pacientes tratados com difosfato de cloroquina e hidroxi-cloroquina para artrite reumatóide, lúpus eritre- matoso ou malária, que pode acometer a visão de cores (5) . Além disso, pode ser de utilidade na detecção de danos ocupacionais à visão de cores em trabalhadores expostos a neurotóxicos químicos (solventes orgânicos e metais) (6-10) . Na indústria, tem sido de grande valia, aplicar testes de cores em profis- Discriminação de cores em profissionais da área técnica de empresa de material fotográfico Descritores: Percepção de cores; Testes de percepção de cores/métodos; Defeitos da visão cromática/diagnóstico Objetivo: Avaliar a discriminação de cores em profissionais da área técnica de empresa de material fotográfico. Métodos: Foram incluídos 47 profissionais (37 homens) com idades variando de 18 a 41 anos (média 27,2 ± 5,6 anos), alocados em área técnica especializada em calibração e assistência de máquinas de revelação de fotos em 1 hora. O tempo de trabalho nesta atividade variou de 1 mês a 18 anos. O grupo controle constituiu de 22 voluntários (5 homens) com idades variando de 18 a 55 anos (Média 25,0 ± 10,6 anos). A discriminação de cores foi avaliada com o teste Farnsworth-Munsell 100-Hue. Os critérios de inclusão para os dois grupos foram: acuidade visual com a melhor correção óptica e 0,1 logMAR, fundo de olho normal, ausência de doenças hereditárias, sintomas visuais ou cirurgia ocular prévia. Resultados: Vinte e quatro (51%) profissionais do laboratório fotográfico apresentaram discrimina- ção superior, comparados a 18% dos voluntários. Vinte (42%) apresenta- ram discriminação de cores dentro da média e 3 (7%) apresentaram discriminação inferior. O índice de erros foi estatisticamente menor no grupo de profissionais quando comparado ao grupo controle (T=968.000, P=0,011). Não houve correlação entre o tempo de atividade na profissão e os resultados da discriminação de cores. Conclusões: Os profissionais da área técnica da empresa fotográfica mostraram discriminação de cores superior à do grupo controle. RESUMO

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Arq Bras Oftalmol. 2007;70(6):1001-5

Color vision discrimination in employees of a photographic laboratory

Trabalho realizado no Departamento de Oftalmologiada Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - SãoPaulo (SP) - Brasil.

1 Doutora, Professora Adjunto do Departamento de Oftal-mologia da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP- São Paulo (SP) - Brasil.

2 Tecnóloga Oftálmica, Estagiária do Setor de Eletrofi-siologia Visual Clínica do Departamento de Oftalmo-logia da UNIFESP - São Paulo (SP) - Brasil.

3 Livre Docente, Professora Adjunto Departamento deOftalmologia da UNIFESP - São Paulo (SP) - Brasil.

Endereço para correspondência: Adriana Berezovsky.Departamento de Oftalmologia - Universidade Federalde São Paulo - UNIFESP. Rua Botucatu, 822 - SãoPaulo (SP) CEP 04023-062 E-mail: [email protected]

Recebido para publicação em 14.09.2006Última versão recebida em 17.07.2007Aprovação em 18.07.2007

Nota Editorial: Depois de concluída a análise do arti-go sob sigilo editorial e com a anuência da Dra. MariaTeresa Brizzi Chizzotti Bonanomi sobre a divulgaçãode seu nome como revisora, agradecemos sua participa-ção neste processo.

Adriana Berezovsky1

Nívea Nunes Cavascan2

Solange Rios Salomão3

INTRODUÇÃO

A visão de cores é uma função complexa do sistema visual. Quandoprejudicada pode revelar precocemente pequenos distúrbios no sistema desensibilidade espectral dos fotorreceptores(1-2).

A avaliação da visão de cores pode envolver várias propostas como:diagnosticar o tipo e a gravidade de defeitos congênitos ou adquiridos;controlar e verificar eficácia de tratamentos medicamentosos; auxiliar naorientação vocacional e na seleção profissional(3-4). Também se mostra útilna avaliação da toxicidade retiniana em pacientes tratados com difosfatode cloroquina e hidroxi-cloroquina para artrite reumatóide, lúpus eritre-matoso ou malária, que pode acometer a visão de cores(5). Além disso, podeser de utilidade na detecção de danos ocupacionais à visão de cores emtrabalhadores expostos a neurotóxicos químicos (solventes orgânicos emetais)(6-10).

Na indústria, tem sido de grande valia, aplicar testes de cores em profis-

Discriminação de cores em profissionais da áreatécnica de empresa de material fotográfico

Descritores: Percepção de cores; Testes de percepção de cores/métodos; Defeitos da visãocromática/diagnóstico

Objetivo: Avaliar a discriminação de cores em profissionais da áreatécnica de empresa de material fotográfico. Métodos: Foram incluídos 47profissionais (37 homens) com idades variando de 18 a 41 anos (média27,2 ± 5,6 anos), alocados em área técnica especializada em calibração eassistência de máquinas de revelação de fotos em 1 hora. O tempo detrabalho nesta atividade variou de 1 mês a 18 anos. O grupo controleconstituiu de 22 voluntários (5 homens) com idades variando de 18 a 55anos (Média 25,0 ± 10,6 anos). A discriminação de cores foi avaliadacom o teste Farnsworth-Munsell 100-Hue. Os critérios de inclusão paraos dois grupos foram: acuidade visual com a melhor correção óptica e≥0,1 logMAR, fundo de olho normal, ausência de doenças hereditárias,sintomas visuais ou cirurgia ocular prévia. Resultados: Vinte e quatro(51%) profissionais do laboratório fotográfico apresentaram discrimina-ção superior, comparados a 18% dos voluntários. Vinte (42%) apresenta-ram discriminação de cores dentro da média e 3 (7%) apresentaramdiscriminação inferior. O índice de erros foi estatisticamente menor nogrupo de profissionais quando comparado ao grupo controle (T=968.000,P=0,011). Não houve correlação entre o tempo de atividade na profissãoe os resultados da discriminação de cores. Conclusões: Os profissionaisda área técnica da empresa fotográfica mostraram discriminação de coressuperior à do grupo controle.

RESUMO

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sionais que atuam em laboratórios de produção de tintas ecorantes(11), materiais têxteis e fotográficos, já que tais ocu-pações exigem uma discriminação cromática apurada(12), re-presentativa da maioria da população consumidora(13). A ex-clusão de defeitos na visão de cores torna-se imprescindível(13)

para a organização e otimização das tarefas de trabalho.O sistema Munsell foi desenvolvido no ano de 1905, pelo

artista e educador, Albert Henry Munsell (1858-1918), comoum sistema de ordenamento de cores. Suas especificações temsido utilizadas na aplicação de testes psicofísicos para ava-liação de deficiências na visão de cores(1).

O teste Farnsworth-Munsell 100-Hue (FM 100) foi origi-nalmente elaborado para avaliar anormalidades congênitas,mas atualmente é um dos testes mais utilizados para defeitosadquiridos, no controle de doenças de retina e nervo ópti-co(12,14). O teste compreende um método simples para avaliar eclassificar a discriminação cromática (superior, inferior oudentro da média), que fornece o eixo de confusão nos indiví-duos com alteração na visão de cores(3).

O objetivo deste estudo foi avaliar a discriminação decores em um grupo de profissionais da área técnica de empre-sa de material fotográfico.

MÉTODOS

Participantes

Este protocolo de pesquisa foi aprovado pelo Comitê deÉtica em Pesquisa da UNIFESP (CEP 0610/06). A discrimina-ção de cores foi avaliada em 69 indivíduos divididos em doisgrupos: grupo de 47 profissionais de empresa de materialfotográfico alocados em área técnica especializada em cali-bração e manutenção de máquinas de revelação de fotos em 1hora e grupo controle incluindo 22 voluntários normais comoutras atividades profissionais e que não trabalhavam emempresa de material fotográfico. Os critérios de inclusão paraos dois grupos foram: acuidade visual com a melhor correçãoóptica ≥0.1 logMAR (medida para longe, a 4 metros, pelatabela ETDRS), fundo de olho normal, ausência de doençashereditárias, ausência de sintomas visuais ou de cirurgia ocu-lar prévia.

Procedimento

Teste de 100 Matizes de Farsworth-Munsell

A discriminação cromática foi avaliada pelo FM 100,após a medida da acuidade visual com a melhor correçãoóptica. O procedimento foi realizado em sala escurecida emuma mesa iluminada apenas por uma lâmpada fluorescentefria(5) (Sylvania Octron 6.500 K FO32W/65K) cuja emissãoespectral se assemelha à luz solar (luz dia)(3), com nível deluminosidade constante de 500 lux, posicionada perpendicu-larmente(3) a um metro da mesa(1). O sujeito foi instruído aordenar 85 pastilhas(2-4,11-13,15) de 12 mm de diâmetro(2,12,15),posicionadas a uma distância de 50 cm(1). O tempo de examefoi registrado para cada uma de 4 séries de pastilhas.

As pastilhas são agrupadas em 4 caixas distintas(2-4,11-13,15):a 1ª com as pastilhas de número 85 a 22, correspondendo amatizes de rosa a amarelo; a 2ª de 21 a 43 com matizes deamarelo a verde; a 3ª de 42 a 64 com matizes de verde a azul;e a 4ª de 63 a 85 com matizes de azul a rosa(2,4,12,15). A tarefa deordenamento dos matizes é realizada a partir de duas peçasfixas como referência da seqüência e 21 livres ao acaso para omanuseio(2-4,11,15). A ordenação deve ocorrer com base nasdiferenças de matiz entre as peças(3,11-13,15), já que possuemmesmo brilho e saturação(1-2,4). O verso das pastilhas é nume-rado para que o examinador possa determinar a pontuação doindivíduo(2-3,11,15).

Ao final de cada série, o examinador registrou os dadosem um programa de computador que acompanha o teste (FMtest - Gretag Macbeth)(15-16). Este aplicativo gera um gráficopolar acompanhado do cálculo de erros cometidos, subtrain-do-se dois da soma das diferenças entre o valor numérico decada pastilha e suas adjacentes. Portanto a seqüência perfeita,ou seja, uma discriminação de cores perfeita resulta em umerro total igual a zero(2-4,11-12,15).

A classificação dos participantes foi baseada no total deerros apresentados, seguindo a classificação da Visão de Co-res Farnsworth-Munsell(3,11,15), portanto:

• Discriminação superior: erro total de 0 a 16• Discriminação média: erro total de 17 a 100• Discriminação inferior: erro total >100

Método estatístico

A análise para comparação estatística do total de erros obti-dos pelos sujeitos dos dois grupos foi realizada utilizando oteste-t de Student. A correlação de Pearson foi utilizada paraverificar a possível influência do tempo de atividade pro-fissional técnica na discriminação de cores. Em todas as aná-lises, o parâmetro de significância considerado foi de p≤0,05.

RESULTADOS

Participaram do estudo 10 mulheres e 37 homens (idadesde 18 a 41 anos; média 27,2 ± 5,6 anos; mediana 26,5 anos)profissionais de empresa de material fotográfico alocados emárea técnica especializada em calibração e manutenção demáquinas de revelação de fotos em 1 hora. O tempo de ativida-de na profissão variou de 1 mês a 18 anos (média 4,3 ± 4,6 anos;mediana 2 anos). Fizeram parte do grupo controle 17 mulherese 5 homens (idades de 18 a 55 anos; média 25,0 ± 10,6 anos;mediana 20,5 anos).

As figuras 1 e 2 mostram a discriminação cromática dosprofissionais do laboratório fotográfico e dos voluntários deacordo com a classificação da Visão de Cores Farnsworth-Munsell e o total de erros, respectivamente. Vinte e quatro(51%) profissionais apresentaram discriminação cromáticasuperior (20 homens) com índice de erros variando de 0 a 16(média= 7 ± 5,5 erros; mediana= 8 erros), 20 (42%) profissio-nais apresentaram discriminação dentro da média (14 ho-

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mens) com índice de erros variando de 20 a 92 (média= 41,8 ±19,3 erros; mediana= 36 erros) e 3 (7%) profissionais apresen-taram discriminação inferior (todos homens) com índice deerros variando de 104 a 240 (média= 157,3 ± 72,5 erros; me-diana= 128 erros). Quatro (18%) dos voluntários normaisapresentaram discriminação cromática superior (3 homens)com índice de erros variando de 8 a 12 (média= 11 ± 2 erros;mediana= 12 erros) e 18 (82%) apresentaram discriminaçãodentro da média (2 homens) com índice de erros variando de20 a 100 (média= 53,7 ± 29,3 erros; mediana= 54 erros). Nogrupo de profissionais, a média do total de erros foi de 31,4 ±42,3 erros com mediana equivalente a 16 erros. No grupocontrole, a média do total de erros foi de 46 ± 31,3 commediana equivalente a 32 erros. O índice de erros foi estatisti-camente menor no grupo de profissionais quando comparadoao grupo controle normal (T=968.000, p=0,011).

Figura 1 - Distribuição da classificação de discriminação cromática(superior, média ou inferior) dos profissionais da área técnica delaboratório fotográfico e dos voluntários normais de acordo com a

classificação da Visão de Cores Farnsworth-Munsell

Figura 2 - Box plot17 do total de erros apresentados pelo Grupo Ex-perimental (profissionais da área técnica de laboratório fotográfico)e pelo Grupo Normal (voluntários) na avaliação da discriminação decores pelo FM 100. Os pontos mostram 4 profissionais com total de

erros fora da distribuição padrão.

Figura 3 - Valores individuais do total de erros apresentados na avaliaçãoda discriminação de cores dos funcionários do laboratório fotográficoe dos voluntários normais. A correlação de Pearson revela não havercorrelação entre a experiência profissional e o total de erros na discrimi-

nação de cores dos profissionais (r=0,16, p=0,298)

Os valores individuais do total de erros apresentados naavaliação da discriminação de cores para ambos os grupossão mostrados na figura 3. A correlação de Pearson revelouque não houve correlação entre o tempo de atividade na pro-fissão e o total de erros na discriminação de cores dos pro-fissionais (r=0,16, p=0,298).

A figura 4 mostra gráficos polares do FM 100 representati-vos de discriminação de cores superior, média e inferior de pro-fissionais do laboratório fotográfico e de voluntários normais.

DISCUSSÃO

O presente estudo mostrou que os profissionais da áreatécnica de empresa de material fotográfico tiveram melhordesempenho no teste de discriminação cromática quandocomparados aos voluntários do grupo controle. Não houvecorrelação entre o tempo de atividade na profissão e o total deerros apresentados pelos profissionais.

O FM 100 detectou discriminação cromática inferior, su-postamente até então desconhecida, em três profissionais dosexo masculino que trabalhavam diretamente com a qualida-de e precisão da revelação fotográfica. Como a habilidade dediscriminar cores para esses sujeitos era fator imprescindívelno âmbito profissional, os mesmos foram re-alocados dentroda empresa. Estes resultados vão de acordo com a literatura,que relata uma maior prevalência de discromatopsia congêni-ta na população masculina(18).

Estudos mostram que o FM 100 é um método prático eeficaz na avaliação da visão de cores de profissionais envol-vidos na indústria de tintas e corantes, pedras preciosas emateriais têxteis e fotográficos(3-4,11-13).

Outros estudos relacionados à atividade ocupacional ediscriminação de cores mostram a importância deste tipo deavaliação em distintos grupos profissionais. Por exemplo, ainterpretação de cortes histológicos depende da habilidadedos patologistas em discriminar corretamente as cores. Um

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estudo envolvendo a discriminação cromática de patologis-tas relatou que 30% da amostra apresentou melhor desempe-nho na realização do FM 100 quando comparados a 16% dapopulação padrão de referência(11).

Danos ocupacionais à visão de cores de trabalhadoresexpostos a neurotóxicos químicos (solventes orgânicos emetais) foram descritos em diversos estudos, que mostraram anecessidade de avaliação periódica da discriminação cromá-tica nesses profissionais. A perda foi progressiva proporcio-nal ao nível de exposição e de reversibilidade duvidosa(7-10).

A perda da discriminação de cores pelo FM 100 e dasensibilidade ao contraste também foi descrita em um grupode sujeitos adultos expostos a altos níveis de mercúrio metá-lico ou componentes organomercuriais, que acarreta gravecomprometimento do sistema nervoso central e atinge princi-palmente o cerebelo e o córtex visual(6).

A perda da reconstrução do espaço de cores avaliada emestudo com pacientes com discromatopsia adquirida por in-toxicação por vapor de mercúrio, mesmo com mais de um anode afastamento da fonte de intoxicação, sugeriu a não reversi-bilidade do dano à visão de cores(1).

Os resultados apresentados sugerem que a avaliação davisão de cores pode auxiliar na seleção de profissionais(3-4)

para ocupações que exigem uma discriminação cromáticaapurada(12-13), contribuindo para melhor organização e otimi-zação das tarefas de trabalho.

CONCLUSÕES

Cinqüenta e um por cento dos profissionais da área técnicada empresa fotográfica apresentaram discriminação de coressuperior. Os resultados demonstraram diferença estatistica-mente significante quando comparados aos do grupo controle.

ABSTRACT

Purpose: The objective of this study was to evaluate chro-matic discrimination in employees of a photographic labo-ratory. Methods: A total of 47 professional employees of thetechnical area devoted to calibration and technical assis-tance for one-hour photo machines (37 men), aged 18 to 41

Figura 4 - a) Gráfico polar representativo de discriminação de cores pelo FM 100 de profissional do laboratório fotográfico, mostrando discriminaçãode cores perfeita (sem erros); b) Gráfico polar representativo de discriminação de cores pelo FM 100 de voluntário normal, mostrando discriminaçãode cores superior (total de erros= 8); c) Gráfico polar representativo de discriminação de cores pelo FM 100 de profissional do laboratório fotográfico,mostrando discriminação de cores média (total de erros= 40); d) Gráfico polar representativo de discriminação de cores pelo FM 100 de voluntárionormal, mostrando discriminação de cores média (total de erros= 60); e) Gráfico polar representativo de discriminação de cores pelo FM 100 de

profissional do laboratório fotográfico, mostrando discriminação de cores inferior com tritanomalia (total de erros= 240)

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years (mean of 27.2 ± 5.6 years). The period working in thisfunction ranged from one month to 18 years. Twenty-twonormal volunteers (5 men) aged 18-55 years (mean of 25.0 ±10.6 years) were tested as a control group. Color discrim-ination was evaluated by the Farnsworth-Munsell 100-Huetest. The inclusion criteria were visual acuity ≥0.1 logMAR,normal fundus, absence of hereditary eye disease, absence ofvisual symptoms or ocular surgery. Results: Twenty-fourpeople (51%) of the professional group presented superiorcolor discrimination when compared to 18% of the controlgroup. Twenty people (42%) presented average discrimi-nation and 3 (7%) presented inferior discrimination. Colorvision discrimination was statistically better in professionalswhen compared to controls (T=968.000, P=0.011). There wasno correlation between the period working in the functionand color discrimination. Conclusions: Technical profes-sionals working in a photographic laboratory showed bettercolor discrimination than controls.

Keywords: Color perception; Color perception tests/methods; Color vision defects/diagnosis

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